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Immanuel Kant (1724-1804)

Immanuel Kant foi um filósofo Prussiano (Alemão), nascido em 22 de abril de 1724


na cidade de Konigsberg, hoje atual Kaliningrado (Alemanha). Kant é considerado um dos mais
importantes filósofos da modernidade. Autor de livros: Crítica da Razão Pura (1781), Crítica
da Razão Pratica (1788) e Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785). Sendo esse
último que trata sobre os Princípios éticos e a famoso Imperativo Categórico. Esse livro é
fundamental para a compreensão do pensamento kantiano.

Kant e a Ética como ação segundo o Dever


No século XVIII, Immanuel Kant desenvolveu uma ideia de ética baseada na ideia de que as
ações humanas são orientadas por intenções. Kant destaca a noção do dever como intenção
fundamental das ações humanas. As perguntas feitas por Kant ao começar filosofar e refletir
sobre a ética, foram: O que devo fazer? Como devo agir? Esses questionamentos inquietaram
o filósofo, ao ponto de escrever a Fundamentação da Metafísica dos Costumes em 1785.
Segundo Kant, o sujeito moral é aquele que age de um modo racional. O sujeito do
conhecimento é o indivíduo que busca saber. O sujeito estético é o indivíduo que percebe o
mundo e produz arte.

Dois conceitos centrais

O filósofo pensou duas esferas ou tipos de razão: A razão teórica e a razão prática. A
primeira está voltada para o conhecimento, enquanto a segunda está voltada para a ação.
Cada uma dessas esferas da razão corresponde a aplicações distintas de nossa faculdade
racional. Enquanto a razão teórica está relacionada às determinações da vontade a razão prática
é aquela que legisla (elabora) sobre a vontade, impondo normas que conduz a ação moral. A
vontade, de acordo com Kant é racional, é resultado do exercício da razão.

A razão prática é a possibilidade da liberdade humana. Somos livres, diz o filósofo,


porque somos seres de vontade. E se a vontade resulta do exercício da razão, somos livres
porque somos racionais. Ser livre é estar submetido a uma razão prática. Somos livres quando
temos nossa própria lei, quando nossa lei não é imposta pelo outro, ou seja, somos livres quando
somos autônomos.

Notas: Autônomo – do grego auto - próprio, em si mesmo; nomos – regra, lei. Refere-
se ao direito de reger segundo leis próprias, a capacidade de governara a si mesmo. Para Kant,
liberdade é autonomia.

Heteronômio – do grego hetero – outro, outrem. Refere-se ao indivíduo governado por


uma autoridade, leis; independente da sua vontade.

É importante afirmar, que a autonomia não significa não se submeter a qualquer


autoridade. Pois, quando uma autoridade é sancionada pela razão e exercida de modo que os
cidadãos compreendam seus motivos e concordem com eles, ela não representa perda de
autonomia, mas sim, o agir de modo ético. Para o filósofo, somente o pensamento autônomo
pode conduzir as pessoas à liberdade e à inteligência. O problema para Kant era como ser livre
e autônomo agindo racionalmente e ao mesmo tempo mantendo sob o comando ou mandamento
de um governante. Mas, se o governante fosse um "agente esclarecido", inteligente, o problema
estaria resolvido. O governante não impediria os governados de serem autônomos, de viverem
por si mesmos, de serem livres.

A moral Kantiana se opõe a moral cristã, porque na moral cristã, o dever é entendido
como um heteronomia (domínio direto e indireto do outro) de um nomo/lei vindo de fora pra
dentro à partir da bíblia.
A ética Kantiana fundamenta-se na razão humana e sua capacidade de criar regras para
própria conduta. Kant buscou substituir a autoridade/domínio imposto pela igreja pela
autoridade da razão.

O imperativo categórico de Kant como princípio universal

As ações da ética kantiana devem estar fundamentadas em um princípio universal. Pois,


se cada um de nós agir de maneira que nos convêm, não teremos uma comunidade humana. É
necessário que haja algo de comum em nossas ações, para que possamos construir uma
coletividade. Para Kant, esse comum é lei racional, a lei que nós próprio exercermos com base
em nossa autonomia. Kant acredita que a razão é a mesma em todos os sujeitos e, a lei pensada
por essa razão também será a mesma, ainda que nós sejamos diferentes. Se agirmos com
vontade individual em meio a outras pessoas, a ação de cada um precisa ser validada, aceita
pelos demais. Apenas assim garante-se a universalidade das ações humanas. De certo modo,
encontramos essa universalidade quando pensamos na moral segundo os costumes. É o que
vemos em formulações como: “Não faça aos outros aquilo que não quer que faça à você.” Essa
frase tem o intuito de colocar um princípio de ação comum entre os indivíduos. Se você não
quer ser insultado, não insulte; se não quer ser agredido, não agrida.

Mas, segundo Kant, essa universalidade de uma regra moral, nessa esfera vulgar, não
estava garantida. Essa regra é uma aposta. Você não insulta o outro e espera não ser insultado,
mas nada está garantido que o outro seguirá essa regra. Você pode não insultar e acabar sendo
insultado por outra pessoa. Como você agiria? Revidaria? Ou manteria seu princípio? Aí está
a questão de Kant.

É necessário, diz Kant, que a lei moral seja, de fato uma regra universal. É fundamental
que nossas justificativas de ação sejam válidas para todos e aceito por todos. Isso sé é possível
com a razão prática. Por esse motivo kant diz que tal lei precisa ser apresentada na forma de
um Imperativo Categórico, uma fórmula que ordena de modo incondicional. No livro
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, o filósofo elabora 3 formulações desse
imperativo:

● Aja unicamente de tal forma que sua ação possa se converter em lei universal.

● Aja de modo que sua regra de conduta possa ser convertida em lei universal da natureza.

● Aja de acordo com princípios que considerem a humanidade sempre com um fim e
nunca como um meio.
Em todas essas fórmulas acima, encontra um princípio de ação (e não uma finalidade) que
é universal, válida para todos, em qualquer época. Com esses Imperativos Categóricos, Kant
faz seu projeto de uma moral racional universal: agimos como devemos agir, baseando em
regras universais que nos são dadas pelo exercício do pensamento racional. Não se trata de
agir com os costumes, tradições ou crenças de uma cultura. Trata de agir com um princípio
que me é dado por minha própria razão, determinando minha vontade como um ato de
liberdade. Ex: encontra-se na moral cristã “não roubarás”. O cristão deve viver de acordo
com essa regra. Ao fazer isso, o cristão está agindo de maneira heterônoma, pois obedece a
uma regra que não foi criada por ele, mas que seguiu o costume e tradição da comunidade
dele, que ensinou o jovem a respeitar e seguir essa regra. Caso o jovem não obedeça, o
mesmo poderá ser punido. Em determinada situação, o jovem sente vontade de roubar um
objeto (caneta) que não pertence a ele, mas evita roubar, porque obedece a tradição e o
costume. Se o jovem deixa de fazer o que ele quer apenas porque é obrigado a isso, ele está
abrindo mão da liberdade dele em nome de uma regra geral externa moral a ele. Se ele tiver
vontade de roubar, na verdade ele não concorda com essa regra.

Convido vocês, queridos alunos, a analisarmos essa situação de acordo com o


imperativo categórico Kantiano: O jovem pode decidir, por vontade própria não roubar a
caneta ou qualquer outra coisa porque ele é capaz de pensar e julgar que não é correto tomar
aquilo que não lhe pertence, e este é um valor universal, que deve ser seguido pelo jovem e
por todos. Dessa forma, o jovem está agindo de acordo com um princípio que ele assumiu
para a vida dele. Se assim for, o jovem não terá vontade de roubar a caneta ou qualquer
outra coisa, não importa as circunstâncias, porque a vontade do jovem é livre, fruto da
própria razão, se ele seguiu um princípio que assumiu como dele, de forma autônoma, que
é válida para todos e que condiciona a vontade do jovem e a ação do mesmo. Deste modo,
a ética kantiana apresenta-se na ideia do dever. A ética que se baseia no dever é chamada
ética deontológica. Deontologia – do grego – deon (dever). Assim sendo, a deontologia
nada mais é que ciência do dever. Nessa ética chega-se a conclusão de que o dever é
entendido como a finalidade da própria ação.

O agir ético e a saída da menoridade

Em 1784, Kant publicou em um jornal da cidade de Berlim, um pequeno texto de título,


“Resposta à pergunta: que é esclarecimento?” Nesse artigo, ele responde uma questão
enviada por um leitor do jornal que pedia uma explicação sobre esse conceito. Kant definiu
esclarecimento como “a autonomia do indivíduo no uso da própria razão.” Quando age de
modo racional e autônomo, o indivíduo adquire maturidade, e só assim pode ser
efetivamente livre.
A regra básica do esclarecimento é o lema: Sapere aude! (ouse saber) em que Kant
enuncia em latim. A ousadia do conhecimento próprio e autônomo é a base para qualquer
ação humana livre. É preciso saber governar a si mesmo, elaborar suas próprias regras, para
que seja possível uma ação coletiva. Um ser humano livre e autônomo, quando participa de
uma coletividade, não se deixa governar e conduzir pela vontade do outro; ele se conduz
pela própria vontade livre. Sendo livre em meio a outros indivíduos livres, pode construir
uma comunidade livre, uma comunidade de iguais, governado por uma vontade comum.
Sendo assim, o esclarecimento de acordo com Kant, é a saída uma condição de menoridade,
o qual indivíduo não é autônomo e é governado por outro, para uma condição de
maioridade, do exercício da autonomia da razão.

“ O esclarecimento é a saída do sujeito da condição de menoridade autoimposta.


Menoridade é a incapacidade de servir-se de seu entendimento sem a orientação de outro.
Essa menoridade é autoimposta quando a causa da mesma reside na carência do
entendimento, mas da decisão e coragem em fazer uso do seu próprio entendimento sem
orientação alheia. Sapere aude! Tenha coragem em servir-se de seu próprio entendimento!
Esse é o mote do esclarecimento.”

Ao estudarmos a ética kantiana, vamos agora pôr em prática o que aprendemos a partir de
algumas questões:

1°) De que maneira Kant articula as ideias aparentemente contraditórias de imperativo


categórico e liberdade?

2°) Qual é o limite de toda investigação moral? Por quê?

3°) Segundo o autor o que pode produzir nos seres humanos um interesse pela lei moral?

4°) Por que, segundo Kant, o imperativo categórico é importante para a construção de uma
comunidade humana?

5°) Na filosofia de Kant, agir eticamente significa a "saída da menoridade". O que ele quer dizer
com essa ideia?

6°) Acidentes de trânsito são a terceira causa de morte entre jovens no Brasil. Pesquise na
internet informações o por que das causas de mortes em trânsito no Brasil e elaborem uma
dissertação sobre os princípios que regem o comportamento no trânsito. E a partir do que
estudamos em sala de aula como os princípios da ética kantiana, o dever ético em Kant poderia
ajudar neste quesito a evitar essa tragédia em trânsito no nosso país.

ENEM MEC/2017)
Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que
não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente
pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência
bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta
maneira? Admitindo que e decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em
apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca
sucederá.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

De acordo com a moral Kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto:

A) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa.

B) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.

C) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.

D) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.

E) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas.

(ENEM MEC/2019)

TEXTO I

Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu estrelado
sobre mim e a lei moral em mim.

KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado).

TEXTO II

Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.
FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo: Hedra, 2015.

A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do pensamento kantiano:

A)Possibilidade da liberdade e obrigação da ação.

B) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.

C) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão.

D) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica.

E) Aprioridade do juízo e importância da natureza.

Referências: GALLO, Silvio. Experiência do pensamento, 2° edição São Paulo, 2016.


Editora: Scipione.

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