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Aluno: Bruno da Silveira Alves

Cartão UFRGS: 326929


Disciplina: Introdução à Filosofia do Direito
Avaliação 2 do semestre 2021/1

Questão: Como se relaciona a ideia de um reino dos fins com as


formulações deontológicas (de dever) dos Imperativos Categóricos em
Kant?
Immanuel Kant discorre, na sua obra “Fundamentação da metafísica dos
costumes”, sobre a moral e sobre como devemos agir para formarmos uma
sociedade justa. Para Kant, o homem deve seguir à risca as formulações de
dever, de modo a agir pelo dever, e não conforme ele. Agir pelo dever seria
aquela ação feita que tem fim no próprio dever, sem segundas intenções.
Portanto, o antônimo agir conforme o dever faz com que o ser aja por amor a si
próprio, por egoísmo e, por isso, acaba agindo de forma indiferente.
Kant viveu numa época em que começa a busca pela razão, uma vez
descoberto que os sentidos humanos são passíveis de traírem seus
possuidores. Se os sentidos nos traem, devemos agir pela razão para termos
certeza de que estamos agindo corretamente. Para Imannuel, todo ser racional
é capaz de ser dono das suas próprias ações. Portanto, todo ser humano é
capaz de “transcender”. Transcender é o nome que Kant deu a etapa em que o
ser deixa de agir por interesses individuais (empíricos) e passa a agir de
acordo com a universalidade (interesses de todos). A partir daí pode-se dividir
os sujeitos em sujeitos empíricos e sujeitos transcendentais. O sujeito que
transcende ingressa no chamado “Reino dos Fins”, reino transcendental onde
todos conhecem as leis morais e as seguem.
O sujeito transcendental deve comandar o sujeito empírico, pois o racional é
agir de acordo com o universal. Todos os interesses individuais são empíricos
e, portanto, ruins. Na versão de 2007 do livro “Fundamentação da Metafísica
dos Costumes”, presente na coleção de livros “70 textos filosóficos”, é citado:
“Tudo portanto o que é empírico é, como acrescento ao princípio da moralidade, não só
inútil mas também altamente prejudicial à própria pureza dos costumes; pois o que
constitui o valor particular de uma vontade absolutamente boa, valor superior a todo o
preço, é que o princípio da acção seja livre de todas as influências de motivos
contingentes que só a experiência pode fornecer. Todas as prevenções serão poucas
contra este desleixo ou mesmo esta vil maneira de pensar, que leva a buscar o princípio
da conduta em motivos e leis empíricas; pois a razão humana é propensa a descansar
das suas fadigas neste travesseiro e, no sonho de doces ilusões (que lhe fazem abraçar
uma nuvem em vez de Juno), a pôr em lugar do filho legítimo da moralidade um bastardo
composto de membros da mais variada proveniência que se parece com tudo o que nele
se queira ver, só não se parece com a virtude aos olhos de quem um dia a tenha visto na
sua verdadeira figura” (KANT, 1785, p. 65).
O sujeito transcendental age moralmente, e Kant fora questionado várias
vezes sobre o que seria moral. Partindo do ponto de que agir moralmente é
agir pela universalidade, uma forma simples de identificar o que é universal é
imaginar uma situação em que você comete uma ação. Se alguém fizer o
mesmo com você e não for maléfico, essa é uma ação moral.
Immanuel Kant afirma que aquilo que é moral será sempre moral e o
sujeito transcendental será capaz de encontrar outras formas de agir
corretamente, mesmo em situações complicadas. Por exemplo: se uma pessoa
está sendo perseguida e correndo risco de vida e pede apoio a você. Você,
caso seja um ser moral, irá ajudá-lo. Mas se o assassino bater em sua porta
para perguntar sobre o paradeiro da pessoa em perigo, você mente? Não. O
sujeito transcendental consegue encontrar uma forma de fugir da situação,
como por exemplo simplesmente não atender a porta.
É a partir desses conceitos que é formulada a ideia do Imperativo
Categórico. Para entendê-lo, é interessante dividi-lo em duas partes. Ele é
imperativo pois dá normas que devem ser seguidas, sem questionamentos e
sem interesses externos. Ele também é categórico pois deve-se ser digno da
razão. Como possuidor de razão, para honrá-la, o ser deve seguir a regra
acima de tudo.
Vale salientar que o Imperativo Categórico é um dever, não uma lei. Todo
dever pode simplesmente não ser cumprido (nesse caso, se o ser não cumprir
o dever, estará sendo imoral), já uma lei é uma lei em qualquer circunstância,
por exemplo a Lei da Gravidade.
Kant afirma que o ser, quando alcança a transcendentalidade, passa a ser
livre. Para ele, ser livre é ser guiado pela razão. Perceba que, para Kant, o
Reino dos Fins não garante felicidade. Ele acreditava que a felicidade seria
uma recompensa posterior ao ser que alcançasse o Reino dos Fins.
Trazendo a ideia de Kant para o atual contexto, a política é um exemplo
de tentativa de reino dos fins possível em um mundo imperfeito. Ela cria regras
e leis que norteiam as ações humanas, direcionando-as para um caminho cujo
fim se aproxima do Reino dos Fins. Ser cidadão deste Reino é agir
moralmente. É importante lembrar que o Reino dos Fins não é um lugar físico.
O Reino dos Fins é um lugar ideário em que os seus cidadãos agem
independentemente, apenas compartilham a mesma característica de serem
sujeitos transcendentais.

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