Resumo: Direitos
Humanos
Os direitos dos povos ou os direitos
da solidariedade
A terceira geração dos direitos humanos
 A ampliação do conteúdo dos direitos
fundamentais da pessoa humana seguiu o
caminho indicado pelas diferentes lutas
sociais e pelas transformações
socioeconômicas e políticas que marcaram as
sociedades nos últimos trezentos anos, e que
foram importantes conquistas para a
humanidade.
 Esse processo de ampliação de direitos passou
a encarnar reivindicações e lutas democráticas
e populares especificas que historicamente
passaram a expressar os anseios de toda a
humanidade.
 Durante o século XX, após grandes conflitos
sociais, novas reivindicações humanas,
sociais e estatais passaram a fazer parte do
cenário internacional e do imaginário social
das sociedades contemporâneas. As condições
para a ampliação do conteúdo dos direitos
humanos se apresentavam através de novas
contradições e confrontos que exigiam
respostas no sentido da garantia e proteção
das liberdades e da vida.
 A partir do pós-guerra desenvolvem-se os
direitos dos povos, também chamados de
"direitos da solidariedade", a partir de uma
classificação que distingue entre os "direitos
da liberdade (os direitos individuais da
primeira geração), os "direitos da igualdade"
(os direitos sociais, económicos e culturais da
segunda geração) e os "direitos da
solidariedade" (novos direitos, ou direitos da
terceira geração). Assim, os direitos dos
povos são ao mesmo tempo "direitos
individuais" e "direitos coletivos", e
interessam a toda a humanidade.
 O contexto histórico inaugurado com o fim da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe
para a humanidade uma nova era. A luta nos
campos de batalha da Europa e do Oriente se
desenvolveu contra os modelos totalitários
dos Estados de terror de inspiração fascista,
como as ditaduras de Hitler, Mussolini e
Hirohito, revelando as grandes violações de
direitos humanos ocorridas nos campos de
concentração nazistas, como o massacre de 6
milhões de judeus e outros grupos étnicos e
religiosos.
 A realidade do fim do conflito mundial foi, no
entanto, mais complicada do que o desejo
romântico daqueles que acreditavam em uma
luta democrática neutra e sem contradições,
que colocava lado a lado aliados como os
Estados Unidos, a União Soviética do período
stalinista, a
Inglaterra, a China de Chiang Kai-chek e
mesmo o Brasil do Estado Novo.
 Acontece que o fim da guerra, no ano de
1945, abriu uma nova realidade mundial,
Junto com a valorização de um ideal
democrático, o mundo do pós-guerra nasceu
dividido em blocos de poder (Ocidente-
Estados Unidos x Comunismo-URSS), sob o
 fantasma da guerra fria dramaticamente
vivida após a explosão das bombas atómicas
em Hiroshima e Nagasaqui, macabro ensaio
geral da "Era Nuclear", que, pela primeira vez
na história humana, mostrou corno o
conhecimento e a ciência podem ser
utilizados para o exercício ilimitado do poder,
possibilitando a completa destruição do
mundo.
 Pela primeira vez o ser humano passou a
viver não mais apenas sob a ameaça de
guerras convencionais, de genocídios
destruidores de classes, de grupos étnicos, de
raças, de grupos culturais, de nações, mas sob
o signo da destruição completa, não deixando
vivalma para contar a versão histórica dos
vencedores. E a solução final, sem
vencedores. Todos vencidos.
 As novas relações internacionais do pós-
guerra apresentam novos atores, com o
processo de descolonização da Ásia e da
África, propiciando o surgimento do
movimento dos não-alinhados a partir da
Conferência de Bandungem 1955.
 A nova divisão internacional do trabalho
possibilitava o início de uma nova era de
acumulação econômica do capital: a "Era das
Multinacionais".
 O período de 1945 até fins da década dos
1960 foi marcado por um grande impulso
econômico com base no capital das grandes
multinacionais, e com a ampliação do uso
intensivo das fontes de energia e dos recursos
naturais de todas as regiões do mundo
 Tal modelo de desenvolvimento ampliou a
níveis inimagináveis o quadro de destruição
ambiental, afetando principalmente os países
do Terceiro Mundo.
 Essa nova e complexa realidade nascida no
bojo do pós-guerra colocou na ordem do dia
uma série de novos anseios e interesses
reivindicados por novos movimentos sociais.
 Os direitos a serem garantidos com o esforço
conjunto do Estado, dos indivíduos, dos
diferentes setores da sociedade e das
diferentes nações. Entre essas novas
necessidades humanas, aparecidas após a
Segunda Guerra Mundial, destacam-se:
 O direito à paz: uma clara referência ao
clima tenso da guerra fria que, além da
constante ameaça da guerra nuclear, tem
patrocinado guerras localizadas, como a
guerra da Coreia, do Vietnã.
 O direito ao desenvolvimento e o direito à
autodeterminação dos povos: são anseios
que estão interligados e que redefinem os
padrões de desenvolvimento impostos pelos
países mais desenvolvidos, buscando garantir,
através do direito à autodeterminação política
de cada nação, sem interferência de Estados
estrangeiros, A implementação de um modelo
de desenvolvimento alternativo com base em
uma nova ordem econômica internacional.
 O direito a um meio ambiente saudável e
ecologicamente equilibrado: diz respeito ao
quadro de destruição ambiental que tem
afetado a própria vida humana, colocando em
risco uma existência digna para toda a
humanidade. É um direito que questiona os
modelos De desenvolvimento adotados. Por
exemplo: o caso do modelo de
desenvolvimento adotado no Brasil levou à
ocupação desordenada da Amazônia, com a
consequente destruição ambiental, e o
agravamento dos problemas sociais.
 O direito à utilização do patrimônio
comum da humanidade: está ligado ao
direito ao meio ambiente, e à constituição de
uma nova base de convivência internacional
solidária entre os povos do mundo. Todos os
povos devem ter direito à utilização comum e
solidária do alto-mar, do fundo dos mares, do
espaço extra-atmosférico e da Antártida.
Os direitos humanos na história
A internacionalização dos Direitos
Humanos
 Inicialmente as declarações de direito
humanos foram elaboradas no âmbito de uma
nação, independentemente da constituição.
Pouco depois elas foram incorporadas às
constituições dos países que as tinham
aprovado.
 Há um a mudança de gênero quando aparece
a Declaração Universal dos Direitos do
Homem.
O conceito de Declaração Universal
 Principais motivos e objetivos da
Declaração:
 1) Reconhecimento dos direitos humanos: a
liberdade, a justiça e a paz no mundo.
 2) Barbárie da Segunda Guerra Mundial,
propondo um ideal de liberdade fazendo
implicitamente referência às quatro liberdades
definidas por Roosevelt a 6 de janeiro de
1941 diante da opinião mundial com o aquilo
que estava em jogo na vitória: liberdade de
falar, de crer, libertação do terror e da
miséria.
 3) A exigência de proteção dos direitos
humanos para que o homem não seja
compelido à rebelião contra a tirania e a
opressão.
 4) Estabelecimento de relações amigáveis
entre as nações.
 5) Abertura da perspectiva, ao lado dos
direitos individuais e das liberdades públicas
e políticas, dos direitos sociais e econômicos.
 6) 7° se referem ao compromisso assumido
pelas nações nesta causa e a importância de
uma concepção comum dos direitos e
liberdades para cumprir este compromisso.
 No Preâmbulo termina pela proclamação de
que a presente Declaração constitui não
somente "o ideal comum a ser atingido por
todos os povos e todas as nações", mas a
exigência de "assegurar por medidas
progressivas de ordem nacional e
internacional seu reconhecimento e aplicação
efetivas"
 Direitos individuais: a) Sobre a liberdade
individual ou segurança (art. 3º ao 12):
Direito à vida, à segurança, abolição da
escravidão, condenação da tortura,
reconhecimento da personalidade jurídica,
igualdade perante a lei, direito a recurso junto
às jurisdições competentes, garantias contra a
arbitrariedade, imparcialidade da justiça,
presunção de inocência, respeito à vida
privada.
 b) Sobre as liberdades públicas e políticas
(art. 13 ao 21): Liberdade de circulação e de
expatriação, direito de asilo, direito à
nacionalidade, direito ao casamento e à
família, direito à propriedade, liberdade de
pensamento, de consciência e de religião,
liberdade de opinião e de expressão, liberdade
de reunião e de associação, direitos e
responsabilidades cívicas.
 Direitos sociais e econômicos (art. 22 ao
27): Direito à segurança social e direitos
econômicos, sociais e culturais, direito ao
trabalho, ao salário, à organização sindical,
duração do trabalho e lazer, direito a um
padrão de vida que assegure saúde e bem
estar: alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos, serviços sociais,
assistência na doença, no desemprego, na
velhice, direito à educação, direito à cultura,
direito a ordem social e internacional.
 O art. 29 afirma que todo homem tem
deveres para com a com unidade.
 O art. 30 formula o princípio da oposição
da declaração a todo ato que vise a
destruição das liberdades.
A Proteção Internacional dos
Direitos Humanos
 A Declaração Universal não constitui um
documento de caráter jurídico no sentido
técnico da expressão. Suas normas não
possuem o valor das demais normas do direito
internacional público: não é um documento
que imponha obrigações legais.
 A Declaração é uma simples "resolução"
adotada como tal pela Assembleia Geral das
Nações Unidas - só tem valor moral. Não há
nada que obrigue os Estados a cumprir a
Declaração que assinaram. Nas intenções
primitivas de seus autores, a Declaração devia
fazer parte de uma Carta Internacional dos
Direitos do Homem, com força de lei. Mas o
Pacto e as medidas de ativação que deviam
acompanhar a Declaração não se efetivaram.
 muitas vezes designada como "escravidão",
A Proteção Internacional dos Direitos humanos
 A Declaração Universal não constitui um
documento de caráter jurídico no sentido
técnico da expressão. Suas normas não
possuem o valor das demais normas do direito
internacional público: não é um documento
que imponha obrigações legais.
 A Declaração é uma simples "resolução"
adotada como tal pela Assembleia Geral das
Nações Unidas - só tem valor moral. Não há
nada que obrigue os Estados a cumprir a
Declaração que assinaram. Nas intenções
primitivas de seus autores, a Declaração devia
fazer parte de uma Carta internacional dos
Direitos do Homem, com força de lei. Mas o
Pacto e as medidas de ativação que deviam
acompanhar a Declaração não se efetivaram.
AS CLASSES POPULARES E SEUS DIREITOS (p. 95 a
158)
 Direito de Viver como gente. Problemas
cruciais, de necessidades básicas que são
insuficientemente atendidas ou mesmo não o
são, e que tornam a vida do povo
extremamente dura.
 Como é que a gente vai viver?
 - Qual a fórmula mágica que o operário
tem mais de viver?
 Na opinião geral dos grupos entrevistados, as
classes populares têm seus direitos
desrespeitados. Essa realidade é expressa da
seguinte forma: “os direitos que eu conheço
como direitos humanos são exatamente os
direitos que eu não tenho...”. “Olha, gente, eu
acho que o direito humano tá pouco, viu? Tá
diminuindo de uma tal maneira que a gente tá
flutuando no ar sem saber como”
 “Os direitos hum anos hoje em dia tá muito
vazio, entendeu? Realmente tá muito vazio...”
 Essa situação geral da vida das classes
populares - que encontram dificuldades nas
coisas mais básicas: alimentação, roupa,
moradia, transporte, escola, saúde, etc. - é
 Viver e viver como gente são exigências que
se opõem respectivamente a "morrer aos
poucos" - por falta de condições básicas - e a
"viver como escravo", em condições infra-
humanas, vegetativas - que são as condições
em que as classes populares vivem
atualmente. "... como gente" é um a
explicitação do que entendem por "viver",
para distinguir nitidamente o tipo de vida a
que têm direito.
Direito a um salário para viver
 Questão: salário é muito baixo gera um a série
de consequências: a preocupação constante
com o dinheiro insuficiente para atender às
necessidades da família provoca tensão,
nervosismo, doenças ligadas ao sistema
nervoso, inclusive brigas na família. A vida
familiar acaba sofrendo as consequências do
baixo salário.
 O trabalhador acaba dominado por um a
preocupação. A luta pela sobrevivência - que
lhe consome as energias e dificulta o
exercício de outras atividades, inclusive a
atividade intelectual, a tomada de consciência
de seus direitos.
 O trabalhador é então forçado a buscar formas
de complementação de seu salário para
responder a todas as necessidades: horas
extras, biscates inclusive aos domingos.
 A ajuda da mulher e dos filhos. O excesso de
trabalho tem suas consequências: maior
 desgaste físico e emocional, menor tempo de
repouso, aumento do risco de acidentes,
doenças. Uma relação que aparece
constantemente é entre salário e custo de
vida: aumento incessante do custo de vida e
os aumentos salariais que acabam anulados
por ele.
 O salário baixo é resultado de uma relação de
exploração, em que o trabalhador trabalha
demais, produz muito, e ao final recebe uma
mínima parte daquilo que produziu.
 Em síntese, o salário deve ser baseado nas
necessidades do trabalhador e de sua família,
e deve ser suficiente para cobrir todas essas
necessidades, "pra manter a sua família sem
precisar de aborrecimentos".
 O salário "justo" não é, portanto, uma
categoria vaga, indeterminada: recobre as
determinações supracitadas.
Outros direitos Relativos ao
Trabalho
 Opressão: ambiente de trabalho exerce
pressão sobre o operário para obter o máximo
de rendimento com o mínimo de desgaste
para a empresa. Acima do operário está um
poder mais forte - o poder do patrão - que o
controla a partir de um elemento básico: o
salário. A ameaça mais séria para o operário é
a demissão.
 O trabalhador denuncia a desigualdade de
direitos existente na prática: todos os direitos
que o trabalhador tem, estabelecidos em lei,
se tornam inúteis frente ao direito real e legal
que tem o patrão de demitir.
 Por esta razão é grande o poder do patrão. E
tudo que representa diminuição do salário -
atraso, suspensão, etc. é prejudicial. Do
mesmo modo, ser promovido a um nível
superior (oficial) é importante porque
significa salário maior, e estar em níveis
inferiores (meio oficial, ajudante, etc.)
implica uma certa insegurança, pois a
promoção não depende de critérios somente
objetivos (teste) e sim em grande parte da boa
vontade dos chefes.
 Frente a este poder o operário se encontra
desprotegido: carece de poder de decisão, de
dinheiro, e de conhecimento de seus direitos.
Além disso, não pode pagar advogado para se
defender.
 Atrasos (tolerância de 10 minutos, podendo
descontar até 1 dia inteiro), horas extras
(inclusive domingo) não remuneradas, não
pagamento do adicional de insalubridade
(pagando uma porcentagem menor do que a
devida, deixando de incluir as horas extras no
cálculo de férias e 13° salário), assinando a
carteira com salário menor do que o operário
recebe de fato (o que implica em pagar menos
ao INSS, e isso tem consequências negativas
para o trabalhador em caso de doença e na
aposentadoria).
 Empresas utilizam pequenas manobras para
obter cada vez mais lucros.
 Trabalhadores na prática não podem reclamar.
 Ser sindicalizado é visto com maus olhos
(maioria dos sindicatos nas mãos de
"pelegos").
 Queda do direito de estabilidade do emprego
e a instituição do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS).
 O exército industrial de reserva e a oferta de
empregos menor do que a procura.
 Acidentes de trabalho: falta de condições de
segurança e cansaço provocado pelo excesso
de trabalho, são alguns dos fatores
apresentados com o causa para a ocorrência
desses acidentes. E uma reclamação que
aparece várias vezes é quanto à situação
depois do acidente; o trabalhador muitas
vezes não é indenizado e quase sempre perde
o emprego.
 Ausência de liberdade de escolha do
emprego: necessidade de sustentar a família e
o desempregado.
 Nítida distância entre o direito legal e o
direito real.
 Trabalho para todos?
 Salário desemprego?

O custo de vida e o Direito à
Alimentação
 Aumento dos custos de vida: refere-se
fundamentalmente ao preço dos alimentos: é
aí que os aumentos trazem os maiores danos à
economia familiar, porque a maior parte do
orçamento do trabalhador é dedicado à
alimentação: E se torna evidente a
deterioração do poder aquisitivo dos salários.
 Gradativamente o trabalhador é obrigado a
reduzir suas compras, à comprar alimentos
mais baratos.
 O mínimo necessário para sobreviver,
reservando somente para algumas
oportunidades a compra de alimentos mais
caros, como a carne.
 Alimentos que antes faziam parte do regime
alimentar das camadas populares, como café,
feijão, frango (para substituir a carne de boi)
estão encarecendo de modo surpreendente, e
passam a ser menos utilizados
 Preços altos dos alimentos, queda na
quantidade e na qualidade da oferta
resultando no consumo nutritivo cada vez
menor para as classes populares.
 Não som ente o trabalhador não pode ter
acesso a produtos mais nutritivos porque são
mais caros; com o também muitos alimentos
são destituídos de seu valor nutritivo, para
render mais lucro, como é o caso do leite. O
trabalhador é então prejudicado na
alimentação devido ao baixo salário, à
carestia e também às manobras da indústria
alimentícia.
A alta do custo de vida é um a violação
do direito à alimentação.
 A injustiça de tal situação é ainda mais
flagrante na medida em que os trabalhadores
têm seus aumentos salariais rigidamente
controlados, ao passo que o aumento do custo
de vida se dá constantemente, com o se não
fosse passível de controle.
 A ascensão dos preços serve a interesses bem
determinados; os interesses dos "grandes"
 A reivindicação fundamental é pelo direito ao
salário, mas não só isso, ela está centrada no
custo de vida inferior ao aumento do salário
sendo controlado para dar condições de
subsistência e segurança alimentar.
Direito à Saúde
 A saúde é uma das condições determinantes
de vida
 Quando se trata de classes populares, a
situação torna-se cada vez mais crítica e
vários fatores contribuem para isso; falta de
condições financeiras; más condições de
trabalho; falta total de infraestrutura nos
bairros (água, esgoto, vala, iluminação,
asfalto); condições precárias de transporte;
baixos salários e desequilíbrio entre salário e
custo de vida; alimentação é inadequada;
insuficiência de postos de saúde, de hospitais
e o péssimo atendimento.
 Nesse ponto cabe uma observação,
resguardado o tempo histórico em que a
pesquisa foi realizada, configurava-se como
referência em Saúde o Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS), mas se considerarmos as
condições postas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) algumas questões levantadas
pelos entrevistados são latentes até hoje.
 Outra questão levantada pelo autor é a
mortalidade infantil que no município de
realização da pesquisa estava em torno de 9%,
tendo como principais causas pneumonia,
diarreia e desnutrição. “Os últimos dados
disponíveis revelam que 38% das mortes
ocorridas em Nova Iguaçu se dão em crianças
menores de 5 anos. Com relação à população
total, as doenças infecciosas e parasitárias
constituem 0 segundo grupo de causas de
morte em Nova Iguaçu - o que nos leva
diretamente às condições de vida, à falta de
infraestrutura e saneamento básico"
(LEBAUSPIN, 1984, p. 124).
 Para as classes populares, mais do que para as
outras classes, a saúde é um elemento
imprescindível. Na medida em ela representa
o que o principal bem que o trabalhador
possui, ou seja, ela é a sua capacidade de
trabalho, com a qual ele obtém os meios de
subsistência para a família e qualquer fator
que possa diminuir ou anular esta capacidade
é visto como um a dupla ameaça, à sua
própria integridade e à capacidade de produzir
e, portanto, de ganhar seu sustento.
 A família não tendo praticamente reservas, a
interrupção do trabalho de quem é
responsável pelo sustento da casa é sempre
um acontecimento grave. Também é
particularmente grave se problemas de saúde
atingem a responsável pelas tarefas
domésticas. Se a gravidade é menor no caso
de outros membros da família, não deixa de
se agrave, porque a assistência médica é
sempre difícil, e implica em gastos
extraordinários.
 Em caso de doença ou acidente, o salário é
sempre menor do que aquele que o
trabalhador recebia quando em atividade,
além do fato de que o trabalhador deixa de
poder cumprir certas tarefas em casa
(consertos, etc.) e fica impossibilitado de
buscar formas complementares ao seu salário
(biscates, etc.).
 O descaso dos funcionários e, sobretudo, o
descaso dos médicos: não examinam o
paciente ou examinam muito mal; marcam
consultas para meses depois.
 Depois da consulta, muitas vezes não se
consegue o remédio receitado. E, em geral, os
remédios que faltam são os mais caros. "Fica
evidente que tudo isso "tira o direito pra
saúde". O direito à saúde aparece em todas as
entrevistas e em todas as listas de direitos
pequenas ou grandes feitas por alguns
entrevistados: direito à assistência médica, a
ser bem atendido pelos funcionários- do
INAM PS, a ser bem examinado pelo médico,
a ter os remédios de que se necessita"
(LEBAUSPIN, 1984, p. 127).
 A reivindicação é bem clara: o "encostado"
deveria ganhar salário igual ao que ganha
normalmente, ou mesmo maior que o
trabalhador na ativa.
Direito à Educação
 O grande problema com relação à educação é
a falta de escolas públicas e a falta de vagas
escolares.
 Considerando quando a pesquisa foi realizada
e que a mesma se deu em Nova Iguaçu, o
autor destaca que naquele momento haviam
"cerca de 150 mil crianças entre 7 e 14 anos
sem estudar" (LEBAUSPIN, 1984, p. 130).
 Nos depoimentos apresentados fica clara a
relação existente entre a falta de escolas
públicas e os interesses dos donos de escolas
particulares, pois muitos deles ocupavam
importantes cargos na Administração
Municipal.
 Poucos eram os bairros que tinha escola, o
que obrigava as crianças a percorrer longas
distâncias até a escola mais próxima, a pé ou
de ônibus e, neste último caso, pesando no
orçamento familiar devido ao preço das
passagens.
 Basta somente haverem vagas?
 Então o direito à educação implica no direito
a ter escolas públicas, a haver escolas
próximas, a haver vagas para todos, a que os
pais tenham condições para obter alimentação
suficiente, roupa, material escolar.
 As condições de vida aparecem como fator
determinante, no caso, para piores condições
de educação, sendo um fato notório que nos
remete à evasão escolar.
 Não é apenas o ensino primário que é
reivindicado. Os grupos entrevistados exigem
também o direito aos estudos subsequentes,
um direito que lhes é negado seja por falta de
escolas seja porque não têm recursos.
 O problema da educação está, pois, vinculado
a situações de classe. O ensino ê seletivo, de
modo que o acesso a níveis superiores se
torna cada vez mais difícil para as classes
populares" (LEBAUSPIN, 1984, p. 132).

Direito a boas condições de moradia
 A Infraestrutura dos bairros, acesso a água
potável (encanada representando o o que obriga as pessoas a esperar muito pela
privilégio), rede de esgoto (valas e valões),
coleta urbana do lixo, iluminação pública,
segurança pública, dentre outros.
 "A situação só não é pior porque os próprios
moradores fazem mutirões de tempos em
tempos para melhorar as ruas, desobstruir as
valas, fazem coleta para comprar elementos
necessários à conservação do bairro: porque o
povo promove melhorias do seu próprio bolso
e com seu próprio esforço, como é o caso da
instalação de manilhas, aterro de ruas,
tubulações para água, luminárias e até mesmo
a construção de mini postos de saúde e
prédios escolares" (LEBAUSPIN, 1984, p.
133).
 Casas construídas pelos próprios moradores:
condições clássicas das habitações em
comunidades.
 Para os que moram em conjuntos
habitacionais do BNH o risco constante é o do
despejo, devido ao sistema extorsivo de
pagamento: segundo o Encontro (informativo
do MAB) n° 18, de maio de 1979, 90% das
vinte mil famílias que moram em conjuntos
habitacionais do BNH acham-se em situação
irregular. O correu uma série de despejos no
primeiro semestre de 1978 e outros eram
anunciados. A partir daí desenvolveu-se toda
um a luta dos moradores dos conjuntos,
apoiados pelo Movimento Amigos de Bairro e
pela Comissão Diocesana de Justiça e Paz
para sustar os despejos e propor um plano de
pagamento diferente" (LEBAUSPIN, 1984, p.
134).
Direito ao Transporte
 A luta por melhores condições de transporte é
uma constante, visto que o transporte coletivo
é o único meio de locomoção dos moradores.
Desde a ida e volta do trabalho, as compras de
alimentos, a escola das crianças, o tratamento
de saúde, todas estas atividades são
diretamente afetadas pelas condições de
transporte, que são extremamente precárias.
 Os ônibus e trens são em número insuficiente,
condução e a viajar em veículos superlotados,
sobretudo nas horas de ida e de volta do
trabalho.
 O operário tem de acordar bem cedo para
assegurar-se de não chegar atrasado no
trabalho e ainda tem de lutar para conseguir
lugar enfrentando as filas dos terminais ou os
ônibus que já passam cheios, quando ele mora
em pontos intermediários da linha.
 As empresas mantêm poucos ônibus de modo
que eles viajem sempre cheios, para obter o
máximo de lucro. Por outro lado, colocam
mais ônibus nas horas de "rush" e menos nas
demais horas, o que prejudica os que
trabalham em horários diferentes, as pessoas
que vão fazer compras, as mães que levam as
crianças à escola, etc.
 São os que moram em bairros sem rua
calçada, os que têm de tomar mais conduções
- gastar mais dinheiro em passagem - para
chegar ou voltar do seu trabalho, porque aí as
linhas ligam os bairros a um centro urbano, o
trabalhador tem de tomar pelo menos mais
uma condução deste centro até seu local de
trabalho.
 Se, durante o dia, o transporte já é um
problema para os moradores dos bairros
populares, à noite, a partir de determinada
hora, os ônibus param de trafegar. Em se
tratando de bairros cujo único meio de
locomoção é o ônibus, já que são raras as
pessoas que têm carro e não há táxis, são os
necessitados de atendimento médico os que
mais sofrem, e, particularmente, as mulheres
grávidas.
 O preço das passagens é outro elemento
agravante.
 O resultado é que o trabalhador, que já tem de
enfrentar uma jornada de trabalho dura,
muitas vezes com horas extras, é ainda
 sobrecarregado com as precárias condições de
transporte, as longas horas de espera ou
dentro de ônibus (pelo menos 4 horas diárias
são gastas em condução), o preço das
passagens, a superlotação, a poeira ou a lama,
o que contribui ainda mais para o seu desgaste
físico e emocional.
Direito ao Lazer
 Vivendo com baixos salários, tendo
necessidades básicas para satisfazer
alimentação, transporte, saúde, roupa, etc. -, o
setor mais atingido na vida das classes
populares é o lazer.
 A falta de condições financeiras é o principal
fator que impede que o trabalhador e sua
família tenham algum tipo de lazer. Resulta
que a principal diversão acaba sendo a
televisão. Não é sem razão que as camadas
populares fazem sacrifícios enormes para
poder comprar uma televisão. Para os que não
têm quase nenhuma outra forma de lazer a
televisão deixa de ser um bem supérfluo.
 Por outro lado, o trabalhador emprega seus
fins de semana para construir a casa ou fazer
consertos e também para fazer melhora
mentos no bairro junto com outros moradores,
em mutirão. Às vezes, para complementar o
seu salário, ele consegue algum biscate no
sábado e mesmo no domingo. As férias
raramente são aproveitadas para descanso:
alguns "tiram as férias trabalhando"
 Quando falam de suas condições de lazer, os
entrevistados comparam-nas com as
condições de lazer de outras classes sociais,
ressaltando a diferença: às classes populares é
vedado o direito ao lazer enquanto que "eles"
(os ricos) têm esse direito respeitado. E
reivindicam a igualdade no direito ao lazer.
 Praça? Praia? Parque? Atividades para
crianças? Recreação? Diversão?
 Em suma, reivindica-se o direito ao lazer com
as implicações que isso comporta: um salário
que dê também para o lazer; áreas de lazer -
praças, parques; locais para diversão pública
(campos de futebol, etc.).
Direito à Segurança
 A Baixada Fluminense é, reconhecidamente,
uma das áreas do país onde a violência é
maior. Quase diariamente os jornais noticiam
assaltos e mortes ocorridos nesta região. O
"Esquadrão da Morte" - grupo policial que
age cladestinamente - costuma despejar lá
suas vítimas. Sendo uma região com alto
índice de pobreza e de miséria, com
problemas sociais gravíssimos - como já foi
visto nos itens anteriores -, uma das
consequências é o alto índice de
criminalidade.
 Se é verdade que os moradores reclamam do
clima de insegurança na Baixada, eles
reclamam também do fato de a região onde
moram ser tratada pela grande imprensa como
uma região violenta, um foco de marginais,
de tal modo que a população é assimilada aos
marginais reação semelhante é encontrada na
população que mora em favelas.
 A população se sente insegura. Mas não se
trata apenas de as saltantes, ladrões,
traficantes de tóxicos. A situação é mais
complexa, porque há uma relação entre
ladrões e polícia. A polícia também está
envolvida de algum modo no tráfico de
tóxicos e em outras ocorrências criminais. A
presença de um posto policial no bairro não
indica necessariamente maior proteção – às
vezes, representa um aumento da violência
para o bairro.
 A polícia não representa segurança inclusive
porque é esta mesma polícia que exerce um
controle severo sobre as classes populares,
prendendo operários que esquecem a carteira
de trabalho, reprimindo as filas de alimentos
em frente aos supermercados, que faz cumprir
ordens de despejo de conjuntos habitacionais,
etc.
 Assim, quando reivindicam o direito à
segurança, vários grupos entrevistados
insistem na proteção contra assaltos, mas
também contra A polícia.
 A insegurança existe também no âmbito da
participação política. Os opositores do regime
político vigente veem-se constantemente alvo
de ameaças, de prisões e torturas. (Ditadura
Militar).
Direito à terra
 A situação dos trabalhadores rurais é
apresentada como dramática. É uma situação
de marginalização e de exploração. A grande
maioria não possui a terra na qual trabalha. A
propriedade da terra no Brasil está
concentrada nas mãos de uma pequena
minoria de grandes proprietários.
 Muitos lavradores que moram e trabalham
num pedaço de terra há dezenas de anos
veem-se repentinamente expulsos de suas
terras por latifundiários interessados em
expandir suas propriedades. Nos últimos anos
grandes empresas adquiriram terras e grandes
projetos agropecuários foram desenvolvidos,
expulsando os lavradores da terra.
 Além disso, os lavradores são explorados no
preço de seus produtos: são obrigados a
vende-los a intermediários por um preço
baixíssimo. Falta-lhes também apoio em
termos de recursos, de financiamento, de
máquinas apoio este de que não carecem os
grandes proprietários. O êxodo rural é
consequência de toda esta situação.
 Direto a terra, mas não basta a terra. O
lavrador tem direito a assistência por parte do
governo naquilo de que necessita para lavrar a
terra, como adubo, semente, máquinas.
 Outros direitos são exigidos para o
trabalhador rural: o direito a um preço
compensador para os seus produtos, o direito
à saúde, o direito à educação.
Direito à Participação Politica
 Direito de falar.
 A primeira exigência no plano político diz
respeito à liberdade de expressão.
 Direito de organização.
 As classes populares também não têm o
direito de se organizar livremente.
 Trabalhadores se reúnem em sindicatos,
moradores se unem em associações, formam-
se movimentos reivindicatórios, movi mentos
em defesa de seus direitos, mas as
organizações populares veem-se
frequentemente às voltas com vigilância,
ameaças, intimidações, quando não repressão,
prisões e até mortes. O direito de se associar,
de se organizar, é, pois, limitado por ações
que visam gerar medo, dificultando o
funcionamento dessas organizações.
Constante mente ocorre que entidades mais
combativas sejam fechadas ou sofram
intervenção por parte do governo.
Direito à participação do povo no
poder politico
 A afirmação primeira a respeito da
participação política é que o povo não
participa de nada, nem é chamado a
participar. As classes populares não têm
influência direta alguma sobre as decisões
políticas. O rumo político do país é decidido
independentemente de suas opiniões, de seus
anseios, de seus interesses. Em suma, as
classes populares estão excluídas do poder.
 O único tipo de participação política
permitido às classes populares é o voto e,
ainda assim, com todas as limitações
exercidas sobre esse direito: Os partidos
permitidos pelo governo, a escolha dos
candidatos, o cerceamento à propaganda
eleitoral, a pressão exercida sobre o povo na
época das eleições, os favores concedidos
pelos candidatos em troca de votos, etc.
 As decisões políticas são tomadas de cima
para baixo, isto é, das classes e frações de
classes que detêm o poder econômico e
político para as classes populares. Estas não
são sequer consultadas sobre o que lhes
convém ou não. "O governo faz o que quer* e
não busca a satisfação das necessidades e dos
anseios da grande maioria da população.
 Os entrevistados afirmam que a situação
política é esta porque as classes populares não
 participam do poder. Os setores que detêm o que existe riqueza suficiente para todos, mas a
poder são setores da burguesia, cujos maior parte é acumulada nas mãos de uma
interesses, pelo lugar mesmo que ocupam no pequena minoria.
processo de produção, são não apenas
diferentes, mas opostos aos interesses da Direito à Cultura
classe operária e dos trabalhadores rurais.  Não apareceu na pesquisa, mas é um ponto a
 "Então acontece o seguinte: (...) hoje o país é ser discutido.
mal administrado, porque todo mundo que tá
lá dentro da política, lá em cima, são os
burgueses. Lá nunca se viu falar que entrou
um operário. Por exemplo, o dia que entrar lá
um Presidente da República no Poder que ele
tivesse que enfrentar um trem daqui até na
Central e da Central até aqui, eu tenho certeza
que ele vai fazer prevalecer os direitos
humanos. Porque ele vai sentir na carne
aquilo que os operários sentem. O Presidente
da Re pública nunca viveu um dia de salário
mínimo! Ele nunca entrou num trem pra
viajar daqui até a Central! Ele nunca soube o
que foi dificuldade da vida, como é que ele
vai compreender as dificuldades dos outros?
Ele, ele tá sabendo que o pessoal tá morrendo
de fome. Ele tá cansado de saber disso mas
isso interessa pra eles? Não! Então eu acho
que quem nasceu em berço de ouro, ele é
burguês, também, então isso pra ele não
interessa" (dona-de-casa) (LEBAUSPIN,
1984, p. 152-153).
 Até as leis que dizem respeito
especificamente aos trabalhadores são
elaboradas sem a sua participação.
 O exercício do poder político deve se dar ao
inverso do que está ocorrendo, deve vir de
baixo, dos anseios e aspirações das classes
populares. As leis devem ser feitas por estes
setores sociais, do contrário não virão atender
às suas necessidades e interesses.

Direito à Participação da Riqueza

 Várias vezes os entrevistados vão além da
exigência de direitos específicos, como
salário, alimentação, saúde, e reivindicam um
direito mais amplo: o direito à participação na
riqueza. Esta exigência parte de uma
constatação que é também uma denúncia: a de