Você está na página 1de 13

Direitos Humanos

Princípios, garantias e violações


1. O que são os direitos humanos
São direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser humano, por sua própria
natureza, e pela dignidade que a ela é inerente. São frutos de lutas políticas e dependem de
fatores históricos e sociais, que refletem valores e aspirações das diversas sociedades do
planeta. São, ainda, considerados universais, inalienáveis, imprescritíveis e individuais,
devendo ser garantidos a todos os cidadãos, de qualquer parte do mundo, e sem qualquer tipo
de discriminação, como cor, religião, nacionalidade, gênero, orientação sexual e política.

2. A construção histórica dos direitos humanos

. Cilindro de Ciro (539 AC): O imperador perso Ciro libertou os escravos, declarou que todas as
pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade racial

. Direito romano (27): preconizava a existência de uma lei Natural pela qual as pessoas tendiam a
seguir certas leis não escritas no curso da vida, as leis naturais, ou seja, o corpo de leis que foram
considerados comuns a todos os seres.

. Carta Magna (1215): Instituiu o direito de todos os cidadãos livres possuírem e herdarem
propriedade, de serem protegidos de impostos excessivos e igualdade perante a lei.

. Petição de Direitos – Bill of Rights (1628): feita em 1628 pelo Parlamento Inglês e enviada a
Carlos I como uma declaração de liberdade civis. Institui que nenhum tributo poderia ser imposto sem
o consentimento do Parlamento, nenhum súbdito poderia ser encarcerado sem motivo demonstrado
(habeas corpus), nenhum soldado poderia ser aquartelado nas casas dos cidadãos, e a Lei Marcial não
poderia ser usada em tempo de paz.

. Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776 ): O Congresso publicou a Declaração


de Independência de várias formas. No começo foi publicada como uma folha de papel impressa de
grande formato que foi largamente distribuída e lida pelo público. Filosoficamente, a Declaração
acentuou dois temas: os direitos individuais e o direito de revolução. Estas ideias tornaram–se
largamente apoiadas pelos americanos e também se difundiram internacionalmente, influenciando
em particular a Revolução Francesa.

. A Constituição dos Estados Unidos da América (1787) e a Declaração dos Direitos (1791):
lei fundamental do sistema federal do governo dos Estados Unidos e documento de referência do
mundo Ocidental, é a mais antiga constituição nacional ainda em uso. As dez primeiras emendas da
Constituição compõem a Declaração dos Direitos, que entrou em vigor em 1791, limitando os poderes
do governo federal dos Estados Unidos e para proteger os direitos de todos os cidadãos, em território
norte-americano. A Declaração dos Direitos protege a liberdade de expressão, a liberdade de religião,
o direito de guardar e usar armas, a liberdade de assembleia e a liberdade de petição. Proíbe, ainda a
busca e a apreensão sem razão alguma, o castigo cruel e insólito e a auto–inculpação forçada. Entre
as proteções legais que proporciona, a Declaração dos Direitos proíbe que o Congresso faça qualquer
lei em relação ao estabelecimento de religião e proíbe o governo federal de privar qualquer pessoa da
vida, da liberdade ou da propriedade sem os devidos processos da lei. Em casos de crime federal é
requerida uma acusação formal por um júri de instrução para qualquer ofensa capital, ou crime
infame, e a garantia de um julgamento público rápido com um júri imparcial no distrito em que o crime
ocorreu, e proíbe um duplo julgamento.

2
. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): Elaborada após o triunfo da
Revolução Francesa a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (foi adotada pela Assembleia
Constituinte Nacional como o primeiro passo para uma constituição republicana na França. A
Declaração proclama que todos os cidadãos devem ter garantidos os direitos de “liberdade,
propriedade, segurança, e resistência à opressão”. O exercício de tais direitos tidos como naturais de
cada homem só tem como limites os mesmos direitos assegurados a todos os outros membros da
sociedade.

. A Carta das Nações Unidas (1945): Elaborado como resposta ao cenário de guerra, o documento
funda a Organização das Nações Unidas, inspirada nos postulados kantianos (“A paz perpétua”) sobre
a necessidade de uma ordem política supranacional para resolução de conflitos. Em abril de 1945,
delegados de cinquenta países reuniram–se em San Francisco na 1ª Conferência das Nações Unidas na
Organização Internacional, cujo objetivo era formar um corpo internacional para promover a paz e
prevenir futuras guerras. Os ideais da organização foram declarados no preâmbulo da sua carta de
proposta: “Nós os povos das Nações Unidas estamos determinados a salvar as gerações futuras do
flagelo da guerra, que por duas vezes na nossa vida trouxe incalculável sofrimento à Humanidade”.

. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Foi adotada pelas Nações Unidas no dia
10 de dezembro de 1948. No seu preâmbulo e no Artigo 1.º, a Declaração proclama inequivocamente
os direitos inerentes de todos os seres humanos: “O desconhecimento e o desprezo dos direitos
humanos conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade, e o advento de
um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi
proclamado como a mais alta inspiração do Homem... Todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e em direitos.” Os Estados Membros das Nações Unidas comprometeram–se a trabalhar
uns com os outros para promover os trinta artigos de direitos humanos que, pela primeira vez na
história, tinham sido reunidos e codificados num único documento. Em consequência, muitos destes
direitos, de várias formas, são hoje parte das leis constitucionais das nações democráticas.

3. As 5 gerações dos direitos humanos


3.1. Direitos humanos de primeira geração (individuais): resultantes das Revoluções Burguesas do Século
XVIII contra o Estado Absolutista, esses direitos estão sintetizados principalmente na Declaração Francesa dos direitos do
Homem e do Cidadão de 1789 e na Constituição dos Estados Unidos da América de 1787. São direitos resultantes das
lutas que afirmaram os direitos de indivíduos em face do poder soberano do Estado. (...) Esses direitos, que visam a
proteção das liberdades individuais ao impor limites ao Estado, recebem a denominação de “direitos humanos de primeira
geração” (...) São direitos concebidos como inerentes ao indivíduo e tidos como direitos naturais, uma vez que
precederiam o contrato social. São direitos civis e políticos como a liberdade, a segurança, as garantias processuais, a
propriedade, o voto, etc. São direitos individuais, mas tem como limite o reconhecimento do direito do outro [...]”.
Filosoficamente alinhados à moral individualista e secular - que colocava o indivíduo como centro do poder e rechaçava,
de outra parte, a promiscuidade entre poder político e religioso - fundamentam-se ainda ideais iluministas extraídos do
pensamento filosófico de pensadores como Rousseau, Locke e Montesquieu.

3.2 Direitos humanos de segunda geração (coletivos): resultantes das lutas políticas - principalmente as lutas
trabalhistas - do século XIX e início do XX, dizem respeito a direitos políticos e sociais conquistados a partir dessas lutas.
Na sua concepção, o indivíduo singular, dotado de direitos individuais naturais (de 1ª geração), passa a ser considerado
em relação ao grupo a que pertencem, seja o grupo familiar, étnico ou mesmo religioso e, portanto, portador de direitos
coletivos. Trata-se, portanto, de direitos sociais, como o direito ao trabalho, à saúde, à educação, que deveriam ser
garantidos pelo Estado aos seus cidadãos. Tais direitos ganharam força no período pós Guerra com a instituição do Estado
de Bem Estar Social (Welfare State).

3
3.3 Direitos humanos de terceira geração (de solidariedade e fraternidade): para além do
reconhecimento dos direitos individuais e coletivos - por cuja efetivação as lutas sociais se empenhavam -, outros direitos
ainda não contemplados naquelas conquistas foram colocadas em pauta no mundo pós segunda Guerra (1945). São
direitos associados a valores como a solidariedade e à fraternidade entre os povos e que podem ser considerados como a
3ª geração dos direitos humanos. Tais direitos compreendem os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao
desenvolvimento, ao meio ambiente e à qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do patrimônio
histórico e cultural, além do direito de comunicação. Trata-se na verdade do resultado de novas reivindicações
fundamentais do ser humano, geradas, dentre outros fatores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crônico de
beligerância, bem como pelo processo de descolonização do segundo pós-guerra e suas contundentes consequências,
acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais. Tais direitos, sabe-se, caracterizam-se pelo distintivo
de demandarem a participação intensa dos cidadãos, sem a qual não tem eficácia, requerendo a existência de uma
consciência coletiva na atuação individual de cada membro da sociedade, em aliança com Estado.

3.4 Direitos humanos de quarta geração (em relação ao biopoder): alguns estudiosos reconhecem a
existência de uma quarta geração de direitos humanos, fruto direto de avanços em diversos campos da vida humana
como a biotecnologia, as relações de gênero, a sexualidade etc. e que trouxeram novas questões culturais, filosóficas,
existenciais e pragmáticas. Tratam-se de direitos como o direito contra a manipulação genética, o direito de morrer com
dignidade, o direito à mudança de sexo, etc. todos pensados para a solução de conflitos jurídicos inéditos, novos, frutos
da sociedade contemporânea.

3.5 Direitos humanos de quinta geração (em relação a vida em rede): os direitos que por essa geração
são reconhecidos dizem respeito a necessidade de garantias surgidas no contexto da sociedade em rede, advindo dos
avanços promovidos pela informática. Trata-se de direitos como os direitos de imagem, de livre acesso ao conhecimento,
a privacidade, além da proteção contra violações no mundo cibernético.

4. A declaração universal dos direitos do homem (1948)

CONSIDERANDO que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

CONSIDERANDO que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram
a consciência da Humanidade, e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de
crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade,
CONSIDERANDO ser essencial que os direitos do homem sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem não
seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

CONSIDERANDO ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,


CONSIDERANDO que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos do homem e da mulher, e
que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

CONSIDERANDO que os Estados Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o
respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do homem e a observância desses direitos e liberdades,
CONSIDERANDO que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno
cumprimento desse compromisso,

A Assembléia Geral das Nações Unidas proclama a presente "Declaração Universal dos Direitos do Homem" como o
ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da
sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o
respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados
Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

4
Artigo 1: Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem
agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2: I) Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. II) Não será também feita nenhuma distinção
fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate
de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3: Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4: Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão proibidos em
todas as suas formas.
Artigo 5: Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6: Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7 Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos tem direito
a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação.
Artigo 8 Todo o homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que
violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10 Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele.

Artigo 11 I) Todo o homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua
culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias a sua defesa. II) Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
momento, não constituiam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais
forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 12 Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência,
nem a ataques a sua honra e reputação. Todo o homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou
ataques.

Artigo 13 I) Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. II)
Todo o homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo 14 I) Todo o homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. II) Este
direito não pode ser invocado em casos de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por
atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15 I) Todo homem tem direito a uma nacionalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua
nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16 I) Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, tem o
direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e
sua dissolução. II) O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. III) A família é o
núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo 17 I) Todo o homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. II) Ninguém será arbitrariamente
privado de sua propriedade.
Artigo 18 Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade
de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto
e pela observâcia, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

5
Artigo 19 Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios,
independentemente de fronteiras.
Artigo 20 I) Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. II) Ninguém pode ser obrigado a
fazer parte de uma associação.
Artigo 21 I) Todo o homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos. II) Todo o homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. III) A
vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas,
por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo 22 Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço
nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indipensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.

Artigo 23 I) Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à proteção contra o desemprego. II) Todo o homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração
por igual trabalho. III) Todo o homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
assim como a sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário,
outros meios de proteção social. IV) Todo o homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção
de seus interesses.

Artigo 24 Todo o homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias
remuneradas periódicas.

Artigo 25 I) Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à seguranca
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle. II) A maternidade e a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. Todas
as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26 I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e
fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico profissional será acessível a todos, bem como
a instrução superior, esta baseada no mérito. II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A
instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. III) Os pais têm prioridade de direito na
escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo 27 I) Todo o homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
participar do progresso científico e de fruir de seus benefícios. II) Todo o homem tem direito à proteção dos interesses
morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28 Todo o homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos
na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo 29 I) Todo o homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua
personalidade é possível. II) No exercício de seus direitos e liberdades, todo o homem estará sujeito apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e
liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
democrática. III) Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos
e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30 Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer
Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de
quaisquer direitos e liberdades aqui estabelecidos.

6
5.Proposta de Redação/Unesp 2017
Texto 1
O advogado Carlos Velloso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, diz que a redução da maioridade penal vai
inibir jovens e criminosos: “O jovem de hoje é diferente do jovem de 1940, quando essa maioridade penal de 18 anos
foi instituída. Agora, ele é bem informado, já compreende o que é uma atitude del ituosa. Muitos jovens de 16 anos
já estão empregados no crime organizado. A redução vai inibir os adolescentes e criminosos que aliciam menores.”
(“Para ex-ministro do STF, redução da maioridade penal diminuiria crime”. www.folha.uol.com.br, 01.04.2015. Adaptado.)

Texto 2
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a redução da maioridade penal, debatida
atualmente no Congresso Nacional, não deve diminuir a violência no país: “Não vamos dar uma esperança vã à
sociedade, como se pudéssemos ter melhores dias alterando a responsabilidade penal. Cadeia não conserta
ninguém.” (“‘Cadeia não conserta ninguém’, diz ministro sobre redução da maioridade”. http://g1.globo.com, 01.04.2015. Adaptado.)

Texto 3
A presunção de que ao adolescente de 16 anos falta o entendimento pleno da ilicitude da conduta que pratica podia
encontrar justificativa décadas atrás, quando o Brasil era uma sociedade agrária e atrasada socialmente. Hoje, com
a densificação populacional, o incremento dos meios de comunicação e o acesso facilitado à educação, esse
adolescente amadurece muito mais rápido. O jovem de 16 anos já possui maturidade para votar. E o Código Civil,
atento ao fato de que o jovem amadurece mais cedo, permitiu a emancipação aos 16 anos de idade. Emancipado,
poderá constituir família, com os pesados encargos daí decorrentes como manutenção do lar e criação e educação
da prole. Poderá também constituir uma empresa e gerenciá-la, respondendo, sem interferência de terceiros, por
todas as obrigações inerentes ao exercício do comércio. É notório que os adolescentes se valem conscientemente da
menoridade para praticar ilícitos infracionais, sabendo quanto são brandas as medidas passíveis de serem aplicadas
a eles. Uma das causas da delinquência juvenil é a falta de políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente.
Mas a sociedade não pode esperar indefinidamente que essas políticas sejam implementadas. O problema deve ser
enfrentado de duas formas: criando políticas sociais de trabalho, educação e emprego, mas simultaneamente
fazendo jovens entre 16 e 18 anos responderem penalmente pelos seus atos. (Cláudio da Silva Leiria (promotor de justiça).
“Questão de maturidade”. O Estado de S.Paulo, 05.04.2015. Adaptado.)

Texto 4
Confrontado com situações extremas de violência e criminalidade, nas quais há adolescentes envolvidos, o
Congresso Nacional de novo discute o rebaixamento da idade de responsabilidade penal de 18 para 16 anos como
uma das soluções para o problema. No entanto, leve-se em conta que a maioria esmagadora dos criminosos são
jovens entre 19 e 25 anos e adultos. Atrás do adolescente infrator, há sempre adultos. O núcleo duro da
criminalidade violenta são organizações comandadas por adultos, que a polícia não consegue desbaratar por
incompetência na coleta de informações, fraqueza da investigação e por manter, a despeito da consagrada
impunidade, a concepção sabidamente equivocada de “guerra contra o crime”. O rebaixamento da idade penal é
um logro que não terá nenhum efeito para aumentar a segurança dos cidadãos. Se as instituições brasileiras de
tratamento de crianças e adolescentes infratores não educam nem regeneram, sendo masmorras disfarçadas
apenas pelo nome, trancafiá-los em prisões de adultos seria condená-los à tortura, à violência sexual e à solitária.
Está mais do que na hora de ir além do atual debate relativo ao estabelecimento arbitrário de uma idade mínima
de responsabilidade pela infração das leis penais. Mas, enquanto não atingirmos essa etapa, o esforço do Estado
democrático não deve ser de despejar mais e mais adolescentes miseráveis, pobres e afrodescendentes no sistema
penal de adultos. O esforço deve ser no sentido de aperfeiçoar as atuais instituições de tratamento das crianças e
adolescentes, para evitar que eles, tornados adultos, entrem naquele sistema. (Paulo Sérgio Pinheiro (ex-secretário de
Estado de Direitos Humanos). “Adolescentes: o elo mais fraco”. Folha de S.Paulo, 11.01.2013. Adaptado.)

7
Texto 5

Texto 6

Texto 7

Maioridade Penal
É uma pena, querem aumentar a pena e diminuir a idade
Como se isso fosse diminuir a criminalidade
Mas isso só diminui a nossa sociedade, que não entende
Que o Brasil já é o 4º país do mundo que mais prende
Se prender resolvesse o problema, o problema já teria tido uma pausa
Mas nosso maior defeito é querer combater o efeito e não a causa
Quase metade da população não tem o fundamental completo
Mais de 13 milhões de jovens no Brasil são analfabetos
É fácil virar insano quando não se tem ensino
É fácil julgar o menino e pedir que a pena dobre
Ainda mais quando você descobre que é quase sempre preto e pobre
A diminuição não resolve a questão, só encobre
Fabio Brazza

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero
dissertativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A redução da maioridade penal contribuirá para a diminuição da criminalidade no Brasil?

8
1.1 Projeto de texto
1. Frase tema:

2. Questão:

3. Tese:

4. Argumentos (causas)

5. Argumentos (consequências)

6. Conclusão

7.Perspectivas (coletânea e repertório)

9
6. Textos complementares
A. Violações de Direitos Humanos
1.Direito à vida violência esteja relacionada historicamente à guerra civil, o
O direito à vida é um direito humano inerente a todos os seres autoritarismo por parte do Estado, os abusos por parte dos
humanos. No entanto, em muitos países a questão dos delitos, policiais e uso das forças armadas contra as gangues estão
infrações e transgressões a lei, são punidos com a perda da entre as causas da situação. Para saber mais acesse: como El
vida. Segundo a ONU, a pena de morte não tem lugar no século Salvador tornou-se uma das nações mais violentas do mundo.
21 e faz pouco para deter os criminosos ou ajudar as vítimas. 3. Escravidão
A Anistia Internacional também se opõe à pena de morte Com a Lei Áurea de 1888, o trabalho escravo formal se tornou
considerando-a um castigo cruel, desumano e degradante ilegal, sendo o Brasil o ultimo país do Ocidente a abolir a
bem como uma violação grave do direito à vida. No entanto, escravidão. E, apesar disso e mesmo com as políticas públicas
ela ainda é extremamente comum pelo globo. A ONU alertou de combate ao trabalho escravo reconhecidas
para retrocessos na eliminação da pena de morte no mundo. internacionalmente, a escravidão não deixou de existir. Nos
Segundo a organização, desde 2007, cerca de 170 países dias de hoje, a escravidão é diferente daquela praticada
aboliram ou suspenderam execuções, mas onde a prática durante os períodos colonial e imperial. Naquela época, as
ainda ocorre, as sentenças são definidas em processos sem pessoas escravizadas eram compradas como mercadorias.
transparência e incompatíveis com padrões internacionais de Atualmente, são aliciadas. Entre as vítimas da prática estão
direitos humanos. (...) Os conflitos entre nações, terrorismo, a indivíduos analfabetos ou com baixa educação formal, pouca
criminalidade e a violência policial também ferem noção de direitos humanos ou trabalhistas, além de
constantemente o princípio do direito a vida. No Afeganistão, perspectivas sociais limitadas, e, muitas vezes, imigrantes em
por exemplo, o número de civis mortos na guerra bateu um situação irregular em determinado país. O trabalho escravo
recorde em 2018, com 3.804 óbitos, em sua maioria atribuídos pode ocorrer em ambiente urbano – atividades terciárias como
aos grupos insurgentes talibã e Estado Islâmico (EI). Os construção civil e indústria têxtil, e em ambiente rural – que
ataques deliberados contra civis em atentados suicidas de abrange pecuária, agricultura, carvoarias e madeireiras. Ela
grupos insurgentes, os bombardeios aéreos e os combates das está presente em todas as regiões do mundo, inclusive nos
forças leais ao governo são responsáveis por esses números. países desenvolvidos, e, em numerosas cadeias produtivas
2. Violência globais. As formas contemporâneas de escravidão são ainda
A violência contra a pessoa ocorre em diversos setores da mais urgentes. Segundo a ONU, o mundo tem mais de 40
sociedade, possui ramificações complexas e impactos milhões de vítimas da escravidão moderna sendo que 25% das
preocupantes. Uma forma de tentarmos definir a polícia vítimas deste tipo de abuso são crianças. O tráfico de pessoas,
moderna pode ser definida como um conjunto de pessoas que a exploração sexual, o casamento forçado e recrutamento
recebem autorização do Estado para regular as relações entre forçado de crianças para uso em conflitos armados são
pessoas em um determinado território através do uso da força exemplos da evolução da escravidão. De acordo com dados de
física. Para cumprir sua função, a polícia possui autoridade 2019: mais de 150 milhões de crianças estão sujeitas ao
para intervir quando for necessário, restaurar a ordem pública trabalho infantil; dos 24,9 milhões de pessoas em situação de
e o simbolismo da justiça ao investigar e esclarecer crimes. trabalho forçado, 16 milhões são exploradas no setor privado,
Sabemos que atualmente há uma crescente necessidade do como trabalho doméstico, construção ou agricultura;
uso dessa força pelo Estado devido aos altos índices de exploração sexual forçada afeta 4,8 milhões de pessoas;
criminalidade em alguns países. No entanto, não é incomum mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas,
ouvirmos falar em excessos das ações policiais o que dá força representando 99% das vítimas na indústria comercial do sexo
ao debate acerca da violência policial. Como ocorrido no ano e 58% em outros setores.
de 2018, onde a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo 4. Tortura e maus tratos
excesso em mais de 70% das ações policiais com morte no A tortura é o ato de aplicar a indivíduos dor e sofrimento
Estado. (...) Definir os contextos históricos e particularidade de intencionalmente por meio de mecanismos desumanos com
cada Estado é de suma importância para compreendermos se uma finalidade específica, para castigar, intimidar, ameaçar,
episódios violentos policiais de fato ocorreram. Há um obter informações, confissões ou submissão de alguém à
consenso: mensurar a violência policial é bastante difícil e vontade de outrem pela imposição de dor física ou intenso
depende da análise de cada caso. No entanto, existem análises sofrimento mental. A tortura foi utilizada através dos séculos
acerca de alguns países. O Brasil é um destes. Em 2014, 15,6% com diferentes destinações: meio de prova; como fator de
dos homicídios tinham um policial no gatilho e segundo o intimidação; como pena ou castigo, e, como satisfação. No
relatório da Anistia Internacional, boa parte deles poderia ser entanto, as percepções sobre a tortura foram se
evitado. Os Estados Unidos também possuem números transformando e se modificando e por isso, atualmente, outras
trágicos. A polícia americana é considerada uma das três práticas passaram a ser consideradas tão graves quanto essa
polícias mais violentas. Não existem números oficiais sobre a prática – caso dos tratamentos degradantes e desumanos.
violência policial no país inteiro mas estatísticas regionais Talvez por esse motivo, a primeira Convenção especializada
sugerem que o perfil das pessoas mortas pelos agentes da lei contra um tipo específico de violação de direitos tenha sido a
são muito parecidos com o do Brasil, sendo a maioria de Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos Desumanos
homens jovens e negros. Outro exemplo, El Salvador, é ou Degradantes em 1984.
considerado o país mais violento do mundo. Embora a

10
Considerada atualmente, como conduta criminosa e ilegal em ocorrem repressões estatais à expressão comportamental das
quase todos os países instituídos sob o regime do estado mulheres muçulmanas ao utilizarem suas vestimentas
democrático de direito e mesmo diante a existência de acordos características em locais públicos. Um exemplo disso ocorreu
e tratados internacionais, diversos os países em todo o globo no ano de 2016, onde quase 30 cidades do litoral francês
(apesar dos seus compromissos em erradicarem a prática) proibiram o burkini – traje de banho integral islâmico -, porque
insistem em violar essa norma comum de Direitos Humanos. alguns consideravam a peça uma provocação depois de um
Segundo dados da Anistia Internacional, no panorama global, atentado ocorrido em 14 de julho em Nice. Na Síria, há forte
em pelo menos 3/4 do mundo – 141 países, existem relatos de opressão pelos extremistas a quaisquer manifestações
tortura. Em geral, as vítimas são criminosos ou suspeitos de ter individuais dos muçulmanos mais liberais e das minorias
cometido crime, mas, minorias étnicas e sexuais, imigrantes e étnicas e sexuais. Contra o rigor imposto, há as penas de
exilados também sofrem com a prática. Os métodos comuns multa, escravização e morte, amplamente aplicada. No Irã, leis
encontrados incluem choques elétricos, estupro e abuso sexual e políticas discriminatórias contra outras minorias sexuais e
sob custódia, suspensão do corpo, golpes nas solas dos pés, aqueles que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais ou
sufocamento, falsa execução ou ameaça de morte e transgêneros (LGBT) colocam esses grupos em risco de assédio,
confinamento prolongado em solitária. A tortura é, portanto, violência e até mesmo de morte, tornando esses indivíduos em
uma forma de submeter alguém à vontade de outrem pela vítimas tanto de atores do estado como privados. Nos Estados
imposição de dor física ou intenso sofrimento mental, uma Unidos diariamente os hispânicos são vítimas silenciosas da
forma agravada de tratamento degradante e desumano. violência policial e sofrem inúmeras discriminações e
Mas, os índices preocupantes não se relacionam somente a repressões pelo simples fato se expressarem em sua língua
tortura. Os tratamentos degradantes e desumanos (maus natal. 5.2 repressão à liberdade religiosa: O direito à
tratos) também representam sérias violações de direitos. Os liberdade religiosa e de crença sofre contínuos episódios de
estabelecimentos prisionais que surgiram com o propósito de violação. Nas sociedades atuais, a intolerância, a
ser o lugar do cumprimento da pena, e, posteriormente, meio discriminação, a perseguição e a violência religiosa, são
para ressocialização, no Brasil, são na realidade, locais de formas de restrição à essa liberdade. Esse fenômeno pode ser
inúmeros abusos. Entre as violações no sistema prisional observado por duas vertentes: discriminação: ocorre quando
brasileiro podem ser citadas desde o encarceramento de há leis que se aplicam só a alguns grupos religiosos;
inocentes, a superlotação, condições precárias de higiene, perseguição: consiste em uma campanha sistemática para
celas pequenas para a quantidade de detentos, falta de subjugar, afastar ou exterminar determinados grupos
assistência médica, maus-tratos à tortura. Em outros cantos religiosos, feita por atores estatais e não estatais. A
do mundo não é diferente. Segundo a ONU, a maioria dos perseguição tem como consequência habitual a discriminação,
países de todo o mundo lutam contra a superlotação, as más podendo então, coexistirem, embora existam casos em que a
condições nas prisões e buscam uma prestação de serviços perseguição ocorre sem discriminação. Segundo Relatório
básicos para as pessoas privadas de liberdade. Quando não sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, ao menos 21 países
são administradas de maneira correta, essas instituições se possuem “graves restrições e/ou muitos episódios de
tornam terrenos férteis para negligências, abusos, corrupção e intolerância social ou legal relativamente à religião: Arábia
contaminação criminal. Saudita, Bangladesh, China, Coreia do Norte, Cuba, Egito,
5. Repressão Eritreia, Iêmen, Índia, Irã, Iraque, Laos, Maldivas, Myanmar
Segundo o dicionário, repressão significa “castigo ou punição (antiga Birmânia), Nigéria, Paquistão, Somália, Sudão,
que busca reprimir, proibir, controlar ou penalizar”. Esses atos Uzbequistão e Vietnam”. O estudo é organizado pela
podem possuir relação com repressão a ideias, crenças, Associação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e abrange mais de
manifestações culturais e de opinião entre outras. A seguir, 190 países de todo o globo. Um mapa interativo com os dados
iremos analisar algumas destas. 5.1. repressão à liberdade de do relatório pode ser acessado em no site da fundação.
expressão: existem diversas formas de expressão, sendo que a Analisando números globais, a restrição religiosa está
manifestação desta, pode ser de maneira individual ou associada aos muçulmanos, aos cristãos ortodoxos. No
coletiva, artística, escrita, virtual, dentre outras. Os casos de entanto, em cada território nacional, é possível observar
intolerância e opressão à diferentes maneiras de expressão minorias religiosas que sofrem discriminações e perseguições.
ocorrem em todo o globo, inclusive nos países ditos
democráticos. Podem envolver desde questões culturais ou (Fonte: www. Politize.com )
ideológicas a opiniões individuais e as retaliações podem vir da
população ou por ações do próprio Estado. Na Europa,

B. Direitos humanos, direito de bandido?


É muito comum encontrar pessoas que associam os direitos humanos. Neste sentido bandidos também têm
direitos humanos com a defesa do crime ou ao menos dos direitos humanos. A afirmação. no entanto, é falaciosa,
criminosos. Esta associação não é fundada num simples quando busca forjar a idéia de que o movimento de direitos
equívoco, pois como os criminosos também são humanos, eles humanos apenas se preo-cupa com o direito dos presos e
têm direitos. Se houve algo de revolucionário trazido pela suspeitos, desprezando os direi-tos dos demais membros da
Declaração Uni-versal de 1948, foi a idéia de universalidade comunidade.
dos direitos. Por universalidade entenda-se a proposição de Esta falácia começou a ser difundida no Brasil, no
que todas as pessoas. independentemente de sua condição inicio dos anos oitenta, por intermédio de programas de rádio
racial. econômica, social, ou mesmo criminal, são sujeitos aos e tablóides policiais. Como os novos responsáveis pelo

11
combate à crimina-lidade no início da transição para a E evidente que, ao se contrapor a toda a forma de
democracia haviam sido fortes críticos da violência e do exclusão e (opressão, o movimento de direitos humanos não
arbítrio perpetrado pelo Estado. houve uma forte campanha poderia deixar de incluir na sua agenda a defesa da dignidade
articulada pelos que haviam patro-cinado a tortura e os daqueles que se encontram envolvidos com o sistema de
desaparecimentos. para deslegitimar os novos governantes justiça criminal. Isto não significa. porém, que o movimento de
que buscavam reformar as instituições e pôr fim á práticas direitos humanos tenha se colocado, a qualquer momento, a
violentas e arbitrárias por parte dos órgãos de segurança. Era favor do crime; aliás a luta contra a impunidade tem sido uma
fundamental para os conservadores demonstrar que as novas das principais bandei-ras dos militantes de direitos humanos.
lideranças democráticas não tinham nenhuma condição de No entanto, esta luta deve estar pautada em critérios éticos e
conter a criminalidade e que somente eles eram capazes de jurídicos, estabelecidos pelos instrumentos de direitos
impor ordem á sociedade. Mais cio que isso, os con-servadores humanos e pela Constituição, pois toda vez que o Estado
jamais toleraram a idéia de que os direitos deveriam ser abandona os parâmetros da legalidade, ele passa a se
estendidos ás classes populares de que, qualquer pessoa, confundir com o próprio criminoso, sob o pretexto de combatê-
independentemente de sua etnia, gênero, condição social ou lo. E não há pior forma de crime do que aquele organizado pelo
mesmo condição de suspeito ou condenado, deveria ser Estado.
respei-tada como sujeitos de direitos. Por fim, é fundamental que se diga que o movimento
Outro objetivo desse discurso contrário aos direitos pelos direitos humanos tem uma agenda bastante mais ampla
huma-nos, não apenas no Brasil, foi, e ainda é, buscar criar um do que a questão dos direitos dos presos e dos suspeitos. Não
conflito dentro das camadas menos privilegiadas da seria Incorreto dizer que hoje a maior parte das organizações
população, eximindo as elites de qualquer responsabilidade que advogam pelos direitos humanos estão preocupadas
em relação à criminalidade. Ao vilanizar os que comentem um primordialmente com outras questões, como o racismo, a
crime, como se tosse um ato estritamente voluntário, exclusão social, o trabalho infantil, a educação, o acesso à
dissociado de fatores sociais, como desigualdade. fragilidade terra ou à moradia, o direito à saúde, a questão da
das agências de aplicação da lei, desemprego ou falta de desigualdade de gênero etc. O que há de comum corre
estrutura urbana, jogam a população vítima da violência todas essas demandas é a defesa dos grupos mais
apenas contra o criminoso, ficando as dites isentas de
vulneráveis. Embora os direitos humanos sejam direitos
responsabilidades, pela exclusão social ou pela omissão do
Estado, que impulsiona a criminalidade. Nesse contexto,
de todos, é natural que as organizações não
associar a luta pelos direitos humanos à defesa de bandidos foi governamentais se dediquem à proteção daqueles que
uma forma de buscar manter os padrões de violência se encontram em posição de maior fragilidade dentro de
perpetrados pelo Estado contra os negros e os pobres, uma sociedade. (Oscar Vilhena – PUC)
criminosos ou não..

C. Redução da maioridade, Agamben e política da morte


Por Marcio de Souza Castilho*
Jovens negros, pobres, moradores de periferias e favelas, sem estado mantém um regime de excepcionalidade cotidiano,
acesso ao sistema educacional, são o alvo preferencial do permanente, como ocorre com a presença das Forças Armadas
nosso sistema penal seletivo, excludente e depositário de uma no conjunto de favelas da Maré ou com a ocupação do
parcela da população que se quer escondida ou mesmo Complexo do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de
eliminada pelas pessoas de “bem” da sociedade. As Janeiro, por tanques e blindados para abrir caminho para a
consequências desse estado-penitência (Wacquant) são os instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). É por isso
números do quadro carcerário brasileiro, que concentra a que não há um sentido de repressão nas favelas que pode ser
quarta maior população de presidiários no mundo, com mais localizado num momento histórico específico ou como
de 500 mil confinados. As estatísticas tendem a crescer com a anomalia de um passado ditatorial, mas uma violência
proposta da redução da maioridade penal. Se aprovada, será contínua.
a confirmação da lógica de um Estado que, para promover a Diante do recrudescimento das medidas de exceção tornando-
vida, não em sua totalidade, adota mecanismos de uma se regra no Brasil, não há como não recorrer a Agamben neste
violência depuradora de eliminação do outro, agora com a momento, retomando a discussão sobre a maioridade penal:
imputabilidade da sua população mais jovem. Materializa-se, “Na medida em que o estado de exceção é, de fato, ‘desejado’,
portanto, a coexistência, para além dos regimes totalitários, ele inaugura um novo paradigma jurídico-político, no qual a
da biopolítica com a tanatopolítica ou, como afirma Esposito, norma torna-se indiscernível da exceção. O campo é, digamos,
uma “morte necessária para conservar a vida, uma vida que se a estrutura em que o estado de exceção, em cuja possível
nutre da morte alheia”. decisão se baseia o poder soberano, é realizado
Ao falar de um sistema que tende a se transformar normalmente”. Acrescentaria que o poder soberano hoje no
continuamente em máquina letal, Agamben faz referência aos Brasil não reside na figura singular de um mandatário. Será
campos de concentração nazistas durante a 2ª guerra mais apropriado falar num tipo de soberania parlamentar
mundial. Ao mesmo tempo, o filósofo italiano vai concluir que cujos representantes decidem a necessidade para praticar a
o campo é o paradigma das chamadas sociedades exceção, buscando incluí-la num ordenamento jurídico,
democráticas modernas. A violência que se impõe nos espaços fazendo-o coincidir com a política. O debate em torno da
populares, em favelas ou periferias dos grandes centros, redução da maioridade penal nos obriga a discutir, como
representa os nossos processos de guetificação sugere o pensador italiano, o que significa agir politicamente
contemporâneos. Sob o imperativo da “lei e da ordem”, o neste momento?

12
13

Você também pode gostar