Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2019
LARA KÉSSIA MARTINS ÁVILA
CURITIBA
2019
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS –
SIBI/UFPR COM DADOS FORNECIDOS PELO(A) AUTOR(A)
Bibliotecário: Eduardo Silveira – CRB 9/1921
AGRADECIMENTOS
me levanto
sobre o sacrifício
de um milhão de mulheres que vieram antes
e penso
o que é que eu faço
para tornar essa montanha mais alta
para que as mulheres que vierem depois de mim
possam ver além
- legado
Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota
de água no mar, mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.
Madre Teresa de Calcutá
7
RESUMO
This paper aims to investigate how motherhood permeates in the identity and roles constitution
of women working in the private sector. This field research has qualitative nature and
interpretative bias. The data was collected through the Life Story of women who are mothers
and work in the private sector in Curitiba/PR, and analyzed through narrative analysis. The
interviewees see work as a necessity that goes beyond material; for them, work means self-
realization, possibility of being themselves, an expression of their lives and choices. Work plays
a central role of the identity of these women and is a reference in their identities. Motherhood
has reassigned the way these women deal with time, money, their desires, priorities,
relationships with friends and family members (father, mother and siblings), perspectives for
the future and relationship with work.
Keywords: Work. Woman. Motherhood. Identity. Social role.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
1.1. PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 18
1.2. OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 18
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................... 19
1.4. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA............................................................... 19
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 24
2.1. SOCIEDADE E TRABALHO ................................................................................... 24
2.1.1. Maternidade e Trabalho ...................................................................................... 26
2.2. REVISANDO O CONCEITO DE IDENTIDADE.................................................... 28
2.3. IDENTIDADE INDIVIDUAL .................................................................................. 30
2.3.1. Maternidade e identidade.................................................................................... 39
2.4. PAPÉIS ...................................................................................................................... 40
2.5. MATERNIDADE E PAPÉIS .................................................................................... 42
2.5.1. Conflito trabalho-família .................................................................................... 43
2.5.2. Sobrecarga de papéis .......................................................................................... 44
2.5.3. Ambiguidade de papéis ...................................................................................... 45
2.6. O SETOR PRIVADO ................................................................................................ 46
2.7. A ÚLTIMA DÉCADA DE PESQUISAS .................................................................. 48
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 69
3.1. CONCEPÇÃO ONTOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA ......................................... 69
3.2. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ....................................................................... 71
3.2.1. Questões de pesquisa .......................................................................................... 71
3.2.2. Definição das categorias analíticas ..................................................................... 72
3.2.3. Definição de outros termos relevantes................................................................ 73
3.3. DELIMITAÇÃO E DESENHO DA PESQUISA ...................................................... 73
3.4. DELINEAMENTOS DA PESQUISA ....................................................................... 73
3.5. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA ............................... 77
3.6. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 79
3.7. TÉCNICAS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................ 81
3.8. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................... 82
4. APRESENTANDO AS PROTAGONISTAS E SUAS HISTÓRIAS............................... 84
4.1. A PERSISTENTE ...................................................................................................... 85
4.1.1. Como Persistente conta sua história ................................................................... 85
15
1. INTRODUÇÃO
trabalham no setor privado têm a sua identidade, e seus papéis permeados pela
maternidade.
as ciências sociais (sob um ponto de vista masculino) encaravam o poder feminino como
ilegítimo; após uma série de estudos, alguns pesquisadores e teóricos postularam que os papéis
da mulher e do homem resultam de uma construção social e de suas redes de significações.
(ROCHA-COUTINHO, 1994)
O século XIX marcou a saída da mulher do trabalho doméstico para o industrial, para
fora de casa. Isto mudou a dinâmica da relação homem-mulher, proporcionando maior
flexibilização dos papéis, maior participação da mulher no mercado de trabalho e acadêmico,
oportunidade de capacitação profissional e mudança nos valores morais. (ROCHA-
COUTINHO, 1994; PINTO, 2005)
No entanto também marcou o início do discurso que legitima sua dupla jornada,
colocando a mulher como naturalmente inclinada ao trabalho doméstico e cuidados para com a
família: “apesar dos avanços, tais mulheres assumem as tarefas no espaço público a que se
lançaram sem, no entanto, abrir mão de suas antigas atividades (...) procurando responder o
melhor possível às cobranças sociais” (ROCHA-COUTINHO, 1994, p. 238)
Para Castells (2013b) a entrada da mulher no mercado de trabalho abalou a
legitimidade da dominação do homem, mas trouxe o peso de uma jornada quádrupla para a
mulher: trabalho remunerado, organização do lar, criação dos filhos e uma jornada noturna em
benefício do marido. Com o decorrer do tempo e das lutas feministas, houve progressos na
legislação que diminuíram a discriminação legal, e os movimentos de mudança têm causado
impacto na sociedade e na conscientização da mulher.
A transformação da economia e do mercado de trabalho, a abertura de oportunidades
para as mulheres no campo da educação, as transformações tecnológicas que proporcionaram
controle, cada vez maior, sobre a gravidez, o movimento feminista e a rápida difusão de ideias
na cultura globalizada foram duros golpes no modelo patriarcal que hoje sofre em crise.
(CASTELLS, 2013b)
Apesar dos progressos, ainda há desigualdade de gênero e as mulheres “continuam a
enfrentar a discriminação, marginalização e exclusão, ainda que a igualdade entre homens e
mulheres seja um preceito internacional universal, um direito humano fundamental e
inviolável” (ONU, 2016, p. 4) Por estas situações e desvantagens da mulher ainda existirem
atualmente, é necessário estudar sobre questões ligadas à mulher e os fenômenos que mudam
sua vida e sua relação com a sociedade e trabalho, esta é uma das contribuições deste trabalho.
No mundo do trabalho a desigualdade é perceptível: as mulheres representam mais de
50% das pessoas com nível superior desde 1999, desde 1995 são 40% da população
economicamente ativa, mas ocupam somente 14% dos quadros executivos, 11% dos conselhos
21
“Por ser a identidade crucial no que e como o indivíduo valoriza, pensa, sente e faz
em todos os âmbitos sociais (inclusive nas organizações), e por ser um conceito útil
ao unir níveis individuais, grupais, profissionais e organizacionais (...), é preciso
compreender as diversas dinâmicas da identidade”. (GHADIRI; DAVEL, 2006, p. 3)
Mudando a identidade e os papéis da mulher, a relação com o trabalho não fica intacta;
por isto, estudar como a maternidade permeia a identidade e papéis da mulher que trabalha é
importante. Este trabalho busca compreender estas mudanças e influências, com a ciência dos
limites e que não esgotará o tema e as discussões sobre ele.
Apesar de proporcionar tantas mudanças nas mulheres que trabalham, sua identidade
e seus papéis, este conjunto é pouco estudado na área de administração. Como exposto no
decorrer deste trabalho, a produção dos últimos 10 (dez) anos tanto nacional quanto
internacional, usando as combinações de palavras “trabalho + maternidade + identidade +
papéis” e “work + motherhood + identity + role” é inexistente (zero artigos encontrados) nas
bases de dados: Scielo, portal de periódicos da CAPES, Spell, Scopus e Web of science.
Com estes resultados, foi necessário recorrer a pesquisas com a combinação de outras
palavras. Assim foi pesquisado o seguinte grupo de palavras: “identidade + maternidade +
22
trabalho” em bases nacionais e “work + motherhood + identity” nas internacionais nos campos
título, resumo e palavras-chaves. Nestas pesquisas 753 (setecentos e cinquenta e três) artigos
foram filtrados, mas pertinentes ao tema e às categorias pesquisadas foram 54 (cinquenta e
quatro), sendo 697 (seiscentos e noventa e sete) descartados. A última década de pesquisas
sobre estes temas será detalhada na seção 2.7 desta dissertação.
Espera-se que esta pesquisa contribua para o aumento do interesse de pesquisa e do
conhecimento teórico acerca das mudanças na identidade pessoal, dos papéis da mulher, do
conflito entre o papel de trabalhadora e o de mãe. Outra contribuição deste estudo é
proporcionar o aumento do conhecimento no contexto brasileiro.
Em contribuições práticas, espera-se que a compreensão das mudanças identitárias que
ocorrem em uma mulher que trabalha propicie dados para a elaboração de políticas favoráveis
às trabalhadoras que possuem filhos, o que pode encorajar estas mulheres a entrarem e
permaneceram no mercado de trabalho. (ADISA; GBADAMOSI; OSABUTEY, 2016;
CARVALHO, 2016)
Também se espera que os resultados obtidos contribuam para a concepção de
iniciativas de trabalho e familiar que ajudarão a aliviar o conflito trabalho-família
experimentado por mães e para a redução das desigualdades de gênero no mercado de trabalho
brasileiro.
Quando melhoram as condições de trabalho das mulheres, elas têm maior possibilidade
de adentrar, permanecer e progredir no mercado de trabalho; isto aumenta a participação da
mulher na economia e ajuda a construir economias mais fortes, estabelecer sociedades mais
justas e estáveis e aumenta o desenvolvimento mundial. (ONU, 2016)
Isto pode refletir em aumento do Produto Interno Bruto - PIB do Brasil e melhora da
qualidade de vida de toda a população. “Em 2007, o banco Goldman Sachs indicou que
diferentes países e regiões do mundo poderiam aumentar seu PIB de modo significativo ao
simplesmente reduzir a discrepância nas taxas de emprego entre homens e mulheres.” (ONU,
2016, p. 9)
Sem pretender esgotar o tema ou abarcar todos as facetas e pontos de vista, espera-se
que este trabalho contribua para melhorar o entendimento sobre o tema e, assim, melhorar a
vida das mulheres, mesmo que poucas, mesmo que em pequenas proporções.
Estas contribuições são como uma gota no oceano, mas é com gotas, uma a uma, que
um oceano se forma, e quem sabe, a configuração do oceano possa ser mudada para melhor
com a adição de várias pequenas gotas vindas de muitos lugares no globo e de diferentes
pessoas. A música Imagine, interpretada por John Lennon, ilustra este pensamento:
23
1
Texto original: “You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one. I hope some day you'll join us,
and the world will be as one” (LENNON; ONO; SPECTOR, 1971)
24
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Esta seção faz referência a artigos e livros já publicados que propiciam contribuições
importantes para os temas estudados. Apresenta-se o levantamento da literatura existente que é
fundamental para a compreensão das categorias analisadas e para a coleta e interpretação dos
dados. O referencial teórico tem início com o tema sociedade e trabalho, revisando o conceito
de identidade, identidade individual, papéis, maternidade e papéis, seguidos da caracterização
do campo de pesquisa: o setor privado.
Desde 2012 o mercado de trabalho brasileiro tem passado por mudanças, o ano de
2014 foi marcado pelo início da crise devido ao esgotamento das atividades econômicas,
crescimento do produto, da renda e dos empregos. Os anos seguintes, 2015 e 2016, foram
marcados pela queda do PIB e do emprego formalizado em diversos setores e aumento do
número de trabalhadores por conta própria (sem carteira assinada). (IBGE, 2017)
Em seus estudos acerca da população brasileira o IBGE (2017) aponta que o percentual
de ocupação é semelhante quando comparadas categorias de cor ou raça. Isto muda quando se
compara homens e mulheres, sendo menor a participação feminina. Em1970 somente 18,5%
das mulheres eram economicamente ativas, em 2010, este número passou para 50%. Entre os
anos de 2012 e 2016 esta diferença entre a ocupação masculina e feminina diminuiu de 23,6
para 21,7 pontos percentuais e a taxa de mulheres envolvidas em atividade laboral aumentou
de 52,5% para 53,7%, as mulheres também apresentam maior escolaridade, 23,8%, em
comparação aos homens com 14,3% em 2016. (IBGE, 2017)
Em contraponto aos bons índices de crescimento, as mulheres também têm maior taxa
de subutilização da força de trabalho que os homens: 25,1% e 17,2% respectivamente, e a
categoria de mulheres entre 16 a 29 anos é a que apresenta a taxa mais alta de desocupação
entre todos os grupos populacionais: 24%. (IBGE, 2017)
Assim o aumento do trabalho feminino não foi suficiente para que, sozinho, fosse
responsável pela diminuição da diferença de percentual de ocupação entre homens e mulheres.
Esta diferença também diminuiu devido ao aumento da taxa de desocupação masculina, que
ocorreu, provavelmente, devido à diminuição de postos na Agropecuária, Construção e
Indústria, setores que predominantemente empregam homens. (IBGE, 2017)
No setor agropecuário, a redução de pessoas ocupadas foi de 11%, no de Construção
e Industria houve queda de 4,1% e 13,2%, respectivamente, na Administração Pública a redução
25
foi de 11,7%. Contrário aos outros setores, o setor de serviços cresceu em número de pessoas
ocupadas, compreendendo 70% das pessoas ocupadas no Brasil em 2016.Mas este aumento não
representa, necessariamente, um avanço, pois o aumento neste setor está associado a postos de
trabalho com menor formalização e jornadas de trabalho mais flexíveis. (IBGE, 2017)
O aumento de postos informais é prejudicial às mulheres porque neste setor seus
rendimentos são menores e aumenta a diferença salarial. As mulheres ganham 23,7% a menos
que os homens no trabalho formal e 36,5% a menos se o trabalho for informal. A diferença
aumenta ao comparar os rendimentos do trabalho entre mulheres: as que trabalham no setor
informal recebem o equivalente a 41,7% dos rendimentos das que trabalham no setor formal.
(IBGE, 2017)
O crescimento da flexibilização e diminuição da formalidade no trabalho são duas das
característica do que Castells (2013a) conceitua como a nova forma de organização social e de
sociedade, uma sociedade em rede. Esta nova forma de sociedade é originária da reestruturação
do capitalismo e da revolução tecnológica, principalmente na área de comunicação, que teve
impacto em nível mundial sobre as culturas. A sociedade em rede tem como características a
“globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua
organização em redes; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e a individualização da
mão-de-obra” (CASTELLS, 2013a, p. 17)
Outras características dessa nova sociedade são: cultura de virtualidade real,
modificação da noção de tempo e espaço, movimentos de transformação das relações humanas
básicas e movimentos reativos, que buscam a manutenção de padrões, contraditórios aos
movimentos de transformação, dentre outras. (CASTELLS, 2013a)
No entanto, este movimento de globalização tecnoeconômica é contestado e talvez
modificado pelo poder da identidade: como resistência a essa nova forma de organização social
têm surgido movimentos de identidade coletiva altamente diversificados cuja finalidade é
modificar as relações humanas. Isto promove um conflito constante que molda o mundo:
“Nosso mundo, e nossa vida, vêm sendo moldados pelas tendências conflitantes da globalização
e da identidade” (CASTELLS, 2013b, p. 17).
Estas mudanças afetam as formas familiares, há uma diversificação e mudança no
sistema de poder familiar: a distribuição de papéis e responsabilidades não são garantidos ou
seguem a forma tradicional, precisam ser negociados. Neste panorama, o homem tem três
26
opções para lidar com estas mudanças: A separação, tornar-se gay2 ou renegociar o contrato da
família heterossexual. (CASTELLS, 2013b)
A primeira opção, a da separação, traz como consequência para o homem dificuldades
em constituir vínculos, a taxa de suicídio e depressão é maior entre homens que vivem sós. O
contrário acontece com as mulheres que se divorciam. A segunda opção, tornar-se gay, aumenta
as chances de redes de apoio e possibilita arranjos mais igualitários.
Castells (2013b) aponta que a melhor solução para lidar com as mudanças é a terceira:
a renegociação do contrato da família heterossexual. Esta solução é mais estável a longo prazo
e inclui “compartilhar o trabalho doméstico, parceria econômica e sexual e, acima de tudo,
responsabilidade pelos filhos totalmente compartilhada”. (CASTELLS, 2013b, p. 270)
Neste contexto, alguns acontecimentos da vida cotidiana têm forte impacto na vivência
em sociedade e na identidade, um deles é a maternidade, que ressignifica a relação com o
trabalho, a identidade e os papéis que a mulher desempenha. Para contribuir neste sentido, no
próximo tópico será abordado o tema maternidade e trabalho
2
O termo gay é utilizado pelo autor em seu texto original. Compreende-se que não abarca todas as
possibilidades de representação da sexualidade masculina. Apesar de existirem termos mais abrangentes, a escrita
manteve-se fiel ao termo que Castells (2013b) usa.
27
trabalho e papéis familiares, como experimentam esses papéis, como combinam seu trabalho,
família e indivíduo, e o significado que fazem dessa integração. O estudo concluiu que uma
relação complexa de dinâmica relacionada ao trabalho e fatores pessoais moldaram o
significado dessas mulheres em meio a competências de trabalho, vida familiar e individual.
Um efeito do trabalho na maternidade é seu adiamento. Souza, Lopes e Hilal (2017)
apontam que mulheres escolarizadas tendem a reduzir o número de filhos ou postergar a
maternidade para depois da carreira profissional porque ainda recaem sobre as mulheres a maior
carga do trabalho doméstico e familiar. Essa dupla jornada implica para as mulheres desafios
quanto à ascensão profissional ou de competitividade no mercado de trabalho.
E no momento que mais precisa de recursos para lidar com as demandas e dificuldades
da conciliação de papéis de mãe e trabalhadora, o salário da mulher sofre depreciação
relacionada ao fato de possuir filhos: mulheres que possuem filhos, ganham cerca de 30%
menos que os colegas homens que também possuem filhos, o que alguns pesquisadores
denominam como: “the motherhood penalty”, em uma tradução livre: penalidade por ser mãe.
(KERR; RAFFO, 2016; OIT, 2016; WILLIAMS, 2017)
A maternidade afeta a relação das mulheres com o trabalho de formas distintas, que
perpassam pela configuração familiar. As pesquisas de Galbaldon, Anca e Galdón (2015) e de
Murtorinne-Lahtinen et al. (2016) apontam que mulheres chefes de famílias monoparentais
enfrentam ainda mais obstáculos devido ao acumulo de funções maternas e paternas e as mães
que trabalham por conta própria tendem a gastar mais tempo com seus filhos quando são
menores de dez anos e trabalham mais horas do que as mães assalariadas.
Além das mudanças objetivas, há mudanças subjetivas que alteram a significação do
trabalho, as decisões, dedicação de tempo e expectativas de carreira. A maternidade também
desencadeia mudanças na relação com o parceiro(a), grupos sociais e com o próprio corpo, em
sua identidade e seus papéis. (MCINTOSH et al., 2012; GROSS SPECTOR; CINAMON,
2017b; WILLIAMS, 2017)
Um veículo que permeia nestas mudanças é a mídia, que provê significados e
significantes e tem grande impacto nas expectativas relacionadas aos papéis de mãe e
trabalhadora. Infelizmente, a mídia retrata os papéis de mãe e de trabalhadora de maneira
contrária à permanência nas organizações. A mídia retrata o papel de mãe como adquirido,
enquanto o papel de trabalhadora é abordado como problemático. Isto fomenta uma visão
negativa das mulheres que são mães e trabalham. (BJURSELL; BÄCKVALL, 2011)
Outro obstáculo a ser transposto é a maneira como as organizações encaram a
maternidade: como desorganização e inconveniência. Enquanto as propagandas de saúde
28
promovidas pelos governos tratam a maternidade como algo próximo ao sagrado, nas
organizações o corpo materno é tratado como fonte de desgosto. (LEWIS et al., 2015)
Apesar de tantos desafios a serem superados na relação com o trabalho, ao estudar a
centralidade do trabalho na vida das mulheres Souza, Lopes e Hilal (2017) concluíram que o
trabalho continua central e importante, mas aumenta a busca por conciliá-lo com outros
aspectos e a maternidade é um fator que contribui significativamente que as mulheres
estabeleçam novas dinâmicas cotidianas a fim de participar da criação dos filhos e da rotina
familiar.
Resistir às pressões e repressões mostrou-se fundamental para a construção identitária,
fortemente determinada pelo papel profissional, das mulheres que ocupam cargos de gestão e
foram participantes da pesquisa Lima, Lucas e Fischer (2011). Com tantas mudanças e
dificuldades associadas à maternidade e ao ser mulher, a identidade da mulher não fica intacta.
Por isto é necessário compreender as mudanças que ocorrem na constituição da identidade de
uma mulher que trabalha e é mãe.
Sendo um conceito que permeia a construção da realidade social, a identidade tem sido
tema de pesquisa em áreas diversas como: Antropologia, Sociologia, Filosofia e Ciências
Sociais. No entanto a noção de identidade é complexa e possui muitos sentidos, sendo
necessário compreender melhor este conceito para poder pesquisá-lo. (CALDAS; WOOD JR.,
1997)
O termo identidade deriva dos vocábulos entitas (que significa entidade) e
Idem/Identitas (que significam “o mesmo”), sendo usado primeiramente a lógica, álgebra e
filosofia. Na lógica, segundo o axioma princípio da identidade, uma entidade é idêntica a ela
mesma. Na álgebra existe identidade quando um mesmo número representa duas expressões. A
filosofia, por meio dos conceitos do filósofo Heráclito, associou o termo às características de
permanência, singularidade e unicidade. (CALDAS; WOOD JR., 1997)
No início de seu uso nas ciências sociais a ideia de identidade referia-se e limitava-se
ao indivíduo, tendo grande influência da noção psicanalítica que “tomou o sentido de unidade
e continuidade, de um processo localizado no indivíduo, porém influenciado pelo seu meio e
pela sua cultura” (CALDAS; WOOD JR., 1997, p. 5).
Existem vários autores que expressam diferentes conceitos de identidade individual:
Adler; Filloux; Allport; Freud; Erikson; Lacan; Jung; Freitag; Lyra. Todos eles têm em comum
29
a identidade como um processo interno do indivíduo permeado pela cultura e como “modo de
expressão do self do indivíduo, que lhe permite ser reconhecido como diferente dos demais e,
ao mesmo tempo, como similar aos membros de uma categoria ou classe.” (MACHADO-DA-
SILVA; NOGUEIRA, 2001, p. 42)
O conceito de self e identidade, por vezes confundidos, são diferentes. O self tem
características permanentes e universais, é um senso contínuo de ser um e o mesmo sujeito,
surge cedo na vida e é a fonte da autoconsciência reflexiva que dura ao longo da vida. O self
inclui a representação mental de experiências pessoais e a consciência de que se é único e
diferente dos outros, ao mesmo tempo é indiferenciado, pois não distingue as mudanças que
ocorrem durante o desenvolvimento ou entre diferentes culturas. A identidade é uma
propriedade que depende do surgimento prévio do self, resulta da interação do sujeito com a
natureza, prática e sociedade, é o resultado da conexão do self com os eventos da vida.
(ARCHER, 2000; FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010; MACEDO; SILVEIRA,
2012)
Posteriormente o termo identidade foi aplicado para conceitos que englobam o coletivo
como grupos sociais, religiosos, nações, entre outros, resultando em: identidade individual,
identidade como fenômeno social, identidade organizacional e identidade em nível macro. A
identidade individual engloba os estudos sobre o self a partir dos trabalhos de Erikson,
identidade individual expressa e comportamento. (CALDAS; WOOD JR., 1997;
FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
A identidade como fenômeno social pode ser encontrada em estudo clássicos da
Psicologia Social como autoconceito ou relacionando identidade individual com a grupal,
destacando o processo de identificação. Nesses estudos a identidade é um atributo
sóciocognitivo, não é exclusiva ao sujeito e deriva dos significados que o indivíduo atribui à
interação com múltiplos grupos durante a vida. (CALDAS; WOOD JR., 1997; FERNANDES;
MARQUES; CARRIERI, 2010)
O conceito de identidade organizacional surgiu a partir dos trabalhos de Albert e
Whetten (1985) e pode ser visto como uma metáfora derivada do conceito de identidade
individual de Erikson aliada aos estudos sobre cultura e simbolismo organizacional. (CALDAS;
WOOD JR., 1997; FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010). Albert e Whetten (1985)
definem identidade organizacional como as crenças compartilhadas pelos membros da
organização e por meio destas pode-se identificar o caráter central, distintivo e duradouro da
organização.
30
pessoa faz de si, autoconceito. Estes estudos relacionam identidade individual e grupal e o
conceito de identificação. (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
Sob o viés psicanalítico, identificação é “um processo psicológico pelo qual um sujeito
assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou
parcialmente, sob o modelo daquele” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 252)
A identificação é a primeira expressão de um vínculo com outra pessoa, baseia-se no
amor ou no medo, e sua forma pode ser amorosa ou hostil. Nela está inclusa a capacidade de
contestar, reconhecer a diferença e o ato livre. O processo de identificação possibilita que o
indivíduo saia da passividade e apreenda objetos externos geradores de angústia e medo.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001; FREITAS, 2006)
Em grupos a identificação permite estabelecer um vínculo entre os membros: surge
por meio da percepção de certa comunidade, ou similaridade, com uma pessoa. Quanto mais
significativa a similaridade, maior a possibilidade de estabelecer vínculos. (FREITAS, 2006)
Por fazer parte de vários grupos, o sujeito envolve-se em diversos processos de
identificação, nos quais podem haver disfunções ou rupturas que dificultam o processo
identificatório. Esses múltiplos processos fornecem meios para compreender e conhecer o outro
e a vida coletiva. (FREITAS, 2006)
Relações que possuem grande importância na referência da vida social de um
indivíduo passam da identificação ao social, à identidade dele. A exemplo a relação mantida
com o trabalho ou com a família. (FREITAS, 2006)
Na segunda corrente a identidade “é entendida como fenômeno social que deriva dos
significados que os indivíduos atribuem à sua interação com múltiplos grupos durante sua vida
(...) relaciona-se também ao grau de identificação que os membros têm com a organização”
(FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 30–31)
Esta segunda definição é a que permitiu a evolução do conceito de identidade numa
perspectiva interpretativista. Para continuar as ponderações acerca do conceito de identidade
individual, é necessário delimitar os autores de acordo com a visão ontológica que orienta esta
pesquisa. Tratam do conceito de identidade os seguintes autores: Cooley (1902), Mead (1992),
Berger e Luckman (2003) e Castells (2013b, 2013a) e a escola Social Identity Theory - STI
(Teoria Social da Identidade).
Estes autores incorporaram aspectos sociais e relacionais ao conceito de identidade,
dando a este um aspecto social e contextual. A identidade passou a ser um fenômeno social
construído a partir das interações do indivíduo com o coletivo. (FERNANDES; MARQUES;
CARRIERI, 2010)
32
Cooley (1902) contribuiu com o conceito de identidade com sua perspectiva orgânica
na qual o indivíduo não é separável do todo humano, mas um membro vivo dele, derivando sua
vida do todo através da transmissão social e hereditária, não podendo desvencilhar-se da
influência da hereditariedade e da educação. Esta relação é dialética, pois social é em algum
grau dependente de cada indivíduo, porque cada um contribui com algo para a vida comum que
ninguém mais pode contribuir.
Além da relação dialética com a sociedade, o autor discorre sobre a relação entre
indivíduos, sendo necessário ter certa semelhança para compreenderem-se e certa diferença
estimulante que cause excitação e abra a comunicação, para que haja interesse mútuo e um
influencie a identidade do outro. (COOLEY, 1902)
Para Mead (1992), o que possibilita esta interação entre os indivíduos e com a
sociedade é a linguagem, a comunicação que pode ser falada ou gestual. A inserção no meio da
linguagem, a comunicação simbólica e a internalização das estruturas simbólicas presentes
neste meio de comunicação permitem a constituição social do self, uma consciência de si
mesmo. O self só pode existir a partir da relação do sujeito com outras pessoas do grupo social
ao qual pertence, quando o sujeito internaliza a atitude ou o papel social do outro. É uma relação
dialética porque o sujeito influencia outros por meio de um ato social e adota a atitude dos
outros.
Além da influência dos outros sujeitos como indivíduos, a pessoa é influenciada pelo
“outro generalizado”, uma representação simbólica da vontade coletiva organizada. Essa força
da influência do outro generalizado é respondida por uma das bipartições do self: o “mim”, uma
conduta adaptativa dentro das normas do grupo social, do “outro generalizado”. A outra parte,
o “eu” representa o que há de individualidade, o que não pode ser previsto, a representação
imaginativa do próprio sujeito. Tanto o “eu” quanto o “mim” essenciais para o self. “Não
existiria um ‘eu’, no sentido em que usamos esse termo, se não houvesse um ‘mim’; não haveria
um ‘mim’ sem uma reação na forma do ‘eu’. Os dois, tal como aparecem em nossa experiência,
constituem a personalidade. (MEAD, 1992, p. 182)
Após 45 anos da publicação da primeira edição do livro de Mead (1992) “Mind, self,
and society: from the standpoint of a social behaviorist”, a partir de 1979 os trabalhos da
“Escola de Bristol” ampliaram os estudos sobre o comportamento e a influência dos grupos e
as condições de pertencimento, fundando a Social Identity Theory - STI (Teoria Social da
Identidade). (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
Para a STI, as pessoas tendem a classificar a si e aos outros em várias categorias
sociais, a exemplo: membros organizacionais, religião, sexo e faixa etária. As pessoas não são
33
restritas a uma única classificação ou grupo, nem as possíveis classificações são restritas, uma
pessoa pode ser classificada em diversas categorias e a maneira de categorizar não é um
esquema fixo, varia. (ASHFORTH; MAEL, 1989)
A classificação social tem duas funções: a primeira é a de oferecer ao sujeito uma
maneira sistemática de definir os outros, segmentando cognitivamente e ordenando o ambiente
social; a segunda função é permitir que o indivíduo possa localizar-se ou definir-se no ambiente
social, propiciando a possibilidade de uma identificação social, parte integrante do
autoconceito. O autoconceito é formado pela identidade individual que engloba a maneira de
ver, de sentir e de reagir, própria de cada pessoa, e pela identidade social, que engloba as
classificações grupais às quais a pessoa se identifica. A identificação social consiste no
sentimento de pertencer a um grupo, perceber-se como um membro simbólico deste grupo e
compartilhar o destino do grupo como sendo o seu próprio. (ASHFORTH; MAEL, 1989)
“(...) as categorias seriam utilizadas pelos indivíduos tanto para identificar os outros,
quanto para se autoidentificar. Tais categorias, por sua vez, não seriam fixas e nem
comparáveis entre si, sendo vinculadas às fases de vida do indivíduo, seus papéis e o
sentido que lhes fosse conferido no contexto social ao qual pertencessem”
(FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 38)
objetivo como dotado de sentido, isto é, como manifestação de processos subjetivos de outrem,
que desta maneira torna-se subjetivamente significativo para mim” (BERGER; LUCKMAN,
2003, p. 174), é tornar subjetivamente significativo, para si mesmo, a manifestação de processos
subjetivos de outra pessoa. Apesar de não garantir a congruência entre os processos subjetivos
dos indivíduos envolvidos, a subjetividade do outro ainda é objetivamente acessível.
(BERGER; LUCKMAN, 2003)
Além da significação, a interiorização requer que o indivíduo reconheça o mundo em
que o outro vive, faça desse mundo seu próprio, participe do mesmo tempo de forma duradoura,
compreenda as definições das situações e as defina reciprocamente. Assim haverá uma
identificação mútua e contínua, na qual os sujeitos partilham o mesmo mundo e participam do
ser um do outro. Em resumo, a interiorização é um meio de compreender outros sujeitos e de
apreender o mundo como realidade social dotada de sentido, permitindo ao indivíduo tornar-se
membro da sociedade. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Na interiorização da realidade, o primeiro processo é a Socialização Primária, no qual
a criança identifica-se com outros significativos, absorve papéis e atitudes e os interioriza.
Através disso, torna-se capaz de identificar a si mesma. Este movimento traz uma dialética entre
a identidade atribuída e a identidade apropriada, entre o objetivo e o subjetivo, entre o que lhe
é atribuído e do que se apropria subjetivamente. Vale ressaltar que apesar desse movimento de
identificação e inserção na sociedade, a socialização nunca é total e jamais finalizada.
(BERGER; LUCKMAN, 2003)
Ao final da socialização primária a criança consegue reconhecer a existência de um
outro generalizado, sendo o sujeito capaz de identificar-se com uma sociedade, interioriza-la e
à realidade objetiva nela estabelecida. Ocorre a criação de uma identidade em geral,
subjetivamente apreendida como constante e que abrange os papéis e atitudes interiorizadas.
“A sociedade, a identidade e a realidade cristalizam subjetivamente no mesmo processo de
interiorização. Esta cristalização ocorre juntamente com a interiorização da linguagem”
(BERGER; LUCKMAN, 2003, p. 172)
Diferentemente da socialização primária, que se cristaliza subjetivamente no processo
de interiorização, o processo de socialização secundária perpassa por problemas de
identificação e escolhas. A socialização secundária envolve a aquisição do conhecimento de
funções específicas, funções direta ou indiretamente com raízes na divisão do trabalho, um
conhecimento especial que engloba vocabulário específico de funções, ritos e mitos e a
interiorização de “submundos” institucionais ou baseados em instituições. Os submundos são
realidades parciais, mais ou menos coerentes, caracterizadas por componentes normativos,
35
afetivos e cognoscitivos; sua extensão e caráter são determinados pela complexidade da divisão
do trabalho e distribuição social do conhecimento. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Outras características do processo de socialização secundária são; as limitações
biológicas tornam-se cada vez menos importantes nas sequencias de aprendizagem; o contexto
institucional é em geral percebido; as funções têm um alto grau de formalismo e anonimato; e
o indivíduo consegue estabelecer distância entre seu eu total e sua realidade. (BERGER;
LUCKMAN, 2003)
O processo de socialização secundária tem um problema fundamental: a coerência
entre as interiorizações primitivas e as novas. A realidade já interiorizada (na socialização
primária, principalmente) tende a persistir e os novos conteúdos precisam sobrepor-se à
realidade já presente por isso é relativamente fácil anular a realidade das interiorizações
secundárias. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Este processo de conflitos entre realidades e mudança acontece corriqueiramente, pois
estar em sociedade envolve um contínuo processo de modificação da realidade subjetiva. Este
processo de modificação pode ser ainda mais intenso, pode ser um processo de ressocialização,
no qual o indivíduo renuncia à questão da coerência e reconstrói a realidade de novo: o passado
é reinterpretado para se harmonizar com a realidade presente. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Apesar de destacar as constantes mudanças no indivíduo, o contrário acontece com a
sociedade: uma busca para conservar a realidade, uma tentativa de estabelecer um elevado grau
de simetria entre a realidade objetiva e a subjetiva. O máximo de sucesso numa socialização
está em sociedades com divisão muito simples do trabalho e mínima distribuição do
conhecimento, onde não existe o problema da identidade, raramente conseguindo uma
socialização bem-sucedida. A socialização imperfeita pode resultar da heterogeneidade do
pessoal socializador ou da mediação de mundos agudamente discordantes por outros
significativos A socialização imperfeita ou bem-sucedida não depende só do indivíduo: a
socialização imperfeita em um mundo social pode ser acompanhada pela socialização bem-
sucedida em outro mundo. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Também existem as possibilidades de socialização malsucedida, resultantes de
acidentes biográficos, biológicos ou sociais. São casos individuais e não há fundamentos para
institucionalização de uma contra-identidade. Para haver uma contra-realidade é necessária uma
estrutura de plausibilidade para contradefinições da realidade. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Para Berger e Luckman (2003), compreender o processo de socialização é fundamental
para compreender a identidade, pois esta está em uma relação dialética com a sociedade. Para
estes autores a identidade é formada pela interação do organismo, da consciência individual e
36
por processos sociais, que são determinados pela estrutura social, um fenômeno que deriva da
dialética entre indivíduo e sociedade. Por sua vez, a identidade reage sobre a estrutura social
podendo mantê-la ou modificá-la, sendo um elemento-chave para a construção e compreensão
da realidade subjetiva.
A teoria de Berger e Luckman (2003) sobre a formação do eu e da identidade tem base
na teoria de Mead (1992): o eu do ser humano se forma ao mesmo tempo que o organismo se
desenvolve, esta formação se relaciona com o desenvolvimento orgânico e com os processos
sociais e significados. Sendo formado por fatores orgânicos e sociais, o eu é experimentado
como uma identidade subjetiva e objetivamente reconhecível. Esta identidade subjetiva é
precária, ela é constantemente ameaçada pelas mudanças e metamorfoses. O indivíduo
consegue legitimá-la ao coloca-la como uma entidade real num universo simbólico, não sendo
necessário ser conhecida a todo o momento, mas somente que seja conhecível. Isto permite ao
sujeito viver em sociedade tendo segurança do que realmente é e ainda desempenhar papéis que
se referem a outros significados.
A relação dialética entre identidade e sociedade está em constante tensão: a identidade
social precisa reafirmar-se sobre a animalidade pré-social/antissocial, pois o organismo
continua a afetar cada fase da atividade humana, e é afetado por ela e a animalidade é
transformada em socialização, mas não é abolida. Sempre há uma luta entre um eu superior
(identidade social) e um eu “inferior” (animalidade pré-social/antissocial). (BERGER;
LUCKMAN, 2003)
Posteriormente, no livro “Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do
homem moderno”, Berger e Luckman (2004) dão um papel mais importante aos meios de
comunicação em massa, igrejas, psicanálise e profissões da indústria do conhecimento: eles têm
um papel-chave na orientação moderna de sentido e em sua produção e comunicação.
Para Meditsch (2010), pode-se falar dos meios de comunicação em massa com uma
função de socialização terciária, uma forma tênue de construção da realidade com um papel de
conservação e atualização das realidades internalizadas nas socializações primária e secundária.
Assim os meios de comunicação participam da construção da realidade, as mensagens e
significações transmitidas são fonte de conteúdo e significados para a construção da realidade
social objetiva e subjetiva, permeando a construção das identidades e a determinação das
funções sociais.
Reconhecendo as contribuições dos autores citados anteriormente, a noção de
identidade a ser usada nesta pesquisa é a de Castells (2013b). Para o referido autor, a identidade
do ator social também é construída, mas por um processo de autoconstrução e individuação. É
37
A origem ou início de uma identidade não constitui uma essência nem determina seu
desenrolar, pois uma identidade de resistência pode resultar em projeto ou tornar-se
legitimadora. No conceito de identidade de Castells (2013b) a identidade de indivíduos, grupos
e sociedades é construída por meio do processamento e reorganização de significados da
matéria retirada da história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, memória
coletiva, fantasias pessoais, aparatos de poder e revelações de cunho religioso. O processamento
e reorganização é feito com base nas tendências sociais e projetos culturais pertinentes a
determinada estrutura social e visão de tempo e espaço.
A identidade é fonte de significado para os próprios autores sociais e uma pessoa pode
ter mais de uma identidade, identidades múltiplas, mas isto será uma fonte de tensão e
contradição na autorrepresentação e na ação social. (CASTELLS, 2013b)
A identidade não é uma articulação de dimensões aparentemente contraditórias, nem
é um conceito limitado. A identidade é um ponto de referência, uma identidade pressuposta que
envolve a ação do indivíduo e as relações nas quais está envolvido. A identidade conta com
suporte biológico, engloba o caráter ativo e transformador do indivíduo (personagem e autor) e
aponta para outra dicotomia dentro da interação social: papéis sociais e o lugar no grupo social.
(JACQUES, 2001)
Para Jacques (2001), o conceito de identidade tem uma diversidade terminológica e
teórico-metodológica que leva a uma subdivisão dos sistemas identificatórios e uma
qualificação da identidade como pessoal e/ou identidade social, esta última podendo ser mais
específica, a exemplo: identidade religiosa, identidade étnica. Apesar da separação conceitual,
as fronteiras não são bem delimitadas, o sujeito não vive uma única subdivisão da identidade
por vez, por isto neste trabalho, esta subdivisão será descartada, sendo a identidade individual
ou pessoal e social não estudadas em separado, mas como uma única identidade individual do
sujeito.
Esta identidade individual não é imutável e está sujeita a influência de acontecimentos
da vida cotidiana, um exemplo é a maternidade, que afeta a identidade e os papéis de uma
mulher. A pesquisa de Valcour e Ladge (2008) aponta que já durante a gravidez, começa a ser
formulada uma nova identidade materna e a reconstruir sua identidade vocacional. Por isto
maternidade e identidade são temas da próxima sessão.
39
Para Kimura (1997), a maternidade leva a uma redefinição da identidade que decorre
dos novos papéis sociais vividos pela mulher, passa pela identificação com o modelo de mãe
mais próximo, aquisição das tarefas e papéis maternos, diretrizes externas, até que a mulher
desenvolva uma interpretação própria sobre o papel materno.
Corroborando com a noção de Meditsch (2010) de que a mídia fornece significados e
auxilia na manutenção de uma determinada construção social, fornece material para esta
redefinição da identidade. Segundo a pesquisa 'Barrigão à mostra' - vicissitudes e valorização
do corpo reprodutivo na construção das imagens da gravidez (VARGAS, 2012) a mídia dá
destaque à gravidez e à maternidade como parte da identidade feminina, como algo autônomo
e desvinculado das relações sociais. A identidade feminina retratada em revistas exalta a
manutenção da beleza corporal, aos valores relativos ao trabalho, a constituição da família e a
presença masculina. Este estereótipo transmitido pela mídia não compreende todas as
possibilidades de formação familiar.
A pesquisa “Concepções de gênero nas narrativas de adolescentes” (BORDINI; SPEB,
2012) mostra que a noção do feminino associada à beleza, vaidade e subordinação está presente
no discurso dos adolescentes entrevistados. À mulher também é atribuída a imagem de
responsável pela família a ponto de sacrificar-se pelo bem-estar familiar, sem poder contar com
o apoio do parceiro para as tarefas e responsabilidades.
Esta noção de mulher e de maternidade é produto do final do século XVIII, quando
um novo conceito de afetividade materna passou a ser exaltado como um valor natural e social.
Isto deu-se pela necessidade em valorizar o cuidado com as crianças a fim de propiciar maior
taxa de sobrevivência e mais mão de obra. (EMIDIO; HASHIMOTO, 2008)
O discurso mudou e incluiu uma promessa de maior igualdade e papel de cidadãs para
as mães que assumissem o papel desejado. Esta positivação da maternidade tornou-a primordial
na constituição da identidade da mulher, algo tido como natural e inerente à sua identidade. A
mulher só seria mulher em seu sentido completo quando tornava-se mãe. (EMIDIO;
HASHIMOTO, 2008)
Estas pesquisas demonstram construções de padrões de identidade feminina que não
conseguem abarcar todas as formas de ser e por isso limitam as formas de existência. Na
maternidade também há esta construção social que elabora um perfil desejado, normatizado de
maternidade que envolve: tempo e idade certos para ser mãe, número de filhos e condições
financeiras. (MOREIRA; NARDI, 2009)
40
Esta norma criada para a mulher e a maternidade compõe o que Castells (2013b)
determina como a identidade legitimadora, a qual os atores sociais irão tentar reproduzir mesmo
de maneira conflitante as crenças e valores compartilhados socialmente e as representações
acerca da maternidade.
Estes conceitos são incorporados e vivenciados como algo naturalmente relevante para
a identidade. (NOGUEIRA; NASCIMENTO, 2014) Os aspectos da visão naturalizada estão
presentes nos discursos das mulheres participantes da pesquisa Mulheres na Força Aérea
Brasileira - um estudo sobre as primeiras oficiais aviadoras (SANTOS; ROCHA-COUTINHO,
2010). Os pesquisadores apontam que a identidade dessas mulheres ainda é construída a partir
dos padrões ditos como tradicionais
2.4. PAPÉIS
Cooley (1902), ao falar sobre a sociedade e o sujeito como um organismo, ressalta que
cada membro contribui com a sociedade, pois cada pessoa possui individualidade e uma
diferença funcional, um papel próprio. Um indivíduo bem desenvolvido só pode ser assim por
meio de um papel bem desenvolvido e vice versa. Este é um ponto de convergência com o que
Berger e Luckman (2003; 2004) postulam sobre os papéis:
41
Identidade
• Fonte de Papéis
significados
• Organizam
• Significados funções
organizados
• Normas
entorno de uma
estruturadas
identidade
primária
Castells (2013b) trouxe ao conceito de identidade a noção de poder, e delega aos papéis
o lugar de função. Neste sentido, é importante nesta dissertação, os conceitos de identidade de
resistência e de projeto, formulados por Castells (2013b), que contribuem para que se questione
por meio destas identidades, os papéis historicamente e culturalmente atribuídos as mulheres.
Para Castells (2013b), a entrada da mulher no mercado de trabalho abalou a
legitimidade da dominação do homem, mas trouxe o peso de uma jornada quádrupla para a
42
mulher: trabalho remunerado, organização do lar, criação dos filhos e uma jornada noturna em
benefício do marido. A sociedade precisa rever esta questão, as próprias mulheres, seus pares,
mas, enquanto não ocorre a transformação, trabalhos como este podem ajudar neste caminho
de mudanças sociais.
Já tendo discorrido acerca da maternidade, trabalho e identidade, seria incompleto sob
o olhar teórico e prático não incluir nesta pesquisa estudos sobre maternidade e papéis, tema do
tópico a seguir.
Para Vieira, Lima e Pereira (2012), os papéis têm duas dimensões: afetivo/funcional e
imaginária, seu exercício é a unidade básica de integração social e para a constituição das
identidades. Os autores usam o estudo da profissão professor para ilustrar como a falta de
clareza no papel a ser desempenhado gera conflitos de interesses e dificulta a compreensão das
expectativas sobre si mesmo, aos outros e às instituições, deixando claro que na dinâmica dos
papéis sociais estão presentes conflitos, sobrecarga e ambiguidade.
Mesmo sob pressões patriarcais, o papel social da mulher tem sofrido mudanças, de
um papel determinado por diferenças biológicas e rotulado como sinônimo de fragilidade, a um
papel construído socialmente, com margem para mudanças que abrem espaço para um
protagonismo da mulher nesta construção. (ROCHA-COUTINHO, 1994)
Apesar destas mudanças, a mulher ainda se encontra no meio de um furacão de
demandas e cobranças, altas expectativas nos papéis que desempenha, conflitos, sobrecargas e
ambiguidades, e a entrada do papel de mãe na dinâmica da sua vida exacerba estas questões.
Há uma expectativa que a mulher consiga conciliar seu papel profissional com as
vivências da maternidade, mas isto nem sempre acontece de maneira tranquila, em algumas
mulheres, ocorre o contrário: depressão pós-parto, crises de ansiedade, dentre outras
consequências. (OLIVEIRA et al., 2011)
O resultado da pesquisa Avaliação de Necessidades para a Implementação de um
Programa de Transição para a Parentalidade (MURTA et al., 2011) indica que a mulher ao
tornar-se mãe lida com maior número de estressores específicos à parentalidade. Os estressores
específicos são: dificuldades para compreender e ajustar-se aos ritmos do bebê, choro do bebê,
dificuldade de alimentação do bebê, cólica do bebê, visitas no primeiro mês, insegurança em
relação à capacidade do pai de cuidar do bebê. Esta situação de estresse é agravada pela carga
de trabalho não-remunerado (familiar) que fica a cargo da mulher.
43
Na busca por conciliar família e trabalho, a mulher encontra alguns desafios: conflito
de demanda profissional e familiar, crenças disfuncionais de desempenho, e desequilíbrio na
divisão de tarefas relativas aos cuidados domésticos e dos filhos. (OLIVEIRA et al., 2011) Estes
três desafios referem-se ao conflito (demandas), ambiguidade (crenças disfuncionais de
desempenho) e sobrecarga (desequilíbrio na divisão de tarefas) de papéis, temas dos tópicos a
seguir.
Lagos, precisa ter algumas mudanças. As mães usam estratégias variadas de enfrentamento e
as estratégias usadas precisam ser ajustadas à cultura e contexto local.
A tentativa de copiar estratégias usadas por outras mães está ligada à ambiguidade
presente no papel de mãe e em outros papéis sociais. (APPEL-SILVA; ARGIMON; WENDT,
2011)
O papel de mãe é ambíguo e sua interpretação afeta a dedicação ao trabalho. Por
interpretarem de maneira diferente o papel de mãe, mulheres com atitudes tradicionais de papel
de gênero e mulheres com atitudes igualitárias, dedicam-se ao trabalho de maneira diferente
após tornarem-se mãe. As mulheres com atitudes tradicionais tendem a dedicar menos tempo
ao trabalho quando tem filhos pequenos. (ANDRINGA; NIEUWENHUIS; VAN GERVEN,
2015)
Conflitos, sobrecarga e ambiguidades são fatores que influenciam diretamente na
saúde mental da mulher. Mães que sofrem de angústia psicológica relatam menor suporte do
que mães mais saudáveis, assim como mães com pouca saúde física. (OFFER, 2012)
Robinson, Magee e Caputi (2016) mapearam cinco perfis de relação trabalho-família
nas mães que trabalham: Nocivo, Ativo negativo, Ativo benéfico e Cumprido. Ele, testou se os
perfis diferem entre mães solteiras e com parceiros e examinou se estão associados ao burnout.
A adesão ao perfil diferiu significativamente entre as solteiras e as mães com parceiros, com
mães solteiras mais propensas a estar no perfil nocivo. Os cinco perfis tiveram diferentes
implicações para o burnout.
Em outra perspectiva, a maternidade pode ser um fator de motivação para buscar
progressão na carreira. Van der Horst, Van der Lippe e Kluwer (2014), concluíram em sua
pesquisa que classificar a criação de crianças como a mais importante aspiração do papel de
vida está positivamente relacionada aos ganhos financeiros entre os pais.
A pesquisa de Leung (2011) aponta que uma forte identificação com seus papéis
familiares, em particular com o papel de mãe, leva as mulheres japonesas ao caminho
empresarial, pois, para as mulheres pesquisadas, o empreendedorismo permite dedicar-se aos
filhos. Uma forte identidade de papel de gênero também se reflete na identidade dos
empreendimentos, produtos e serviços fornecidos por esses empreendimentos e sua estrutura e
práticas organizacionais. No entanto, o caminho para o empreendedorismo também foi
escolhido pela dificuldade em conciliar o trabalho nas companhias que não possuíam programas
46
“Alguns autores referem que a constante demanda do mercado de trabalho faz com
que o envolvimento profissional das mulheres seja cada vez maior, muitas vezes em
detrimento da qualidade de vida nos âmbitos profissional e pessoal, incluindo a
vivência da maternidade” (OLIVEIRA et al., 2011, p. 273)
A cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres (ONU, 2016) sugere ações para
empresas do setor privado a fim de promover ou manter a equidade de gênero. O primeiro passo
á a autoavaliação e reconhecimento dos motivos que levaram a este estado, entendendo
desníveis de oportunidades, atração, retenção e de desenvolvimento relacionados às questões
de gênero. A fim de promover a igualdade de gênero na empresa particular, seus gestores podem
criar políticas e práticas, a exemplo: flexibilidade de modelos de trabalho, projetos de cuidados
à família, procedimentos que coíbam assédio moral e sexual
48
A identidade é estudada nas ciências sociais e na administração por sua interação com
as organizações. As organizações funcionam como âncoras “(...) tornam-se contextos ainda
mais relevantes na construção das identidades dos indivíduos podendo chegar a substituir
grupos relevantes.” (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 40)
As pessoas não abandonam suas identidades raciais, sexuais ou étnicas quando entram
em uma organização. Então a relação entre identidade pessoal e organizações é dialética: as
organizações influenciam na identidade pessoal e esta influencia as organizações. (KNOMO;
COX, 2007) Por isto é importante estudar a identidade e suas mudanças durante a vida.
Segundo Valcour e Ladge (2008) já durante a gravidez a mulher formula uma nova
identidade. Sendo a maternidade algo que permeia a identidade individual das mulheres, e
portanto, em suas relações sociais, inclusive com o trabalho, é necessário estudar o tema na área
de Administração.
A produção dos últimos 10 (dez) anos, 2008 a 2017 tanto nacional quanto
internacional, usando as combinações de palavras “trabalho + maternidade + identidade +
papéis” e “Work + Motherhood + Identity + role” é inexistente (zero artigos encontrados) nas
bases de dados: Scielo, portal de periódicos da CAPES, Spell, Scopus e Web of science.
Com estes resultados, foi necessário recorrer a pesquisas com a combinação de outras
palavras, assim foi pesquisado o seguinte grupo de palavras: “identidade + maternidade +
trabalho” em bases nacionais e “Work + Motherhood + Identity” nas internacionais nos campos
título, resumo e palavras-chaves. Nestas pesquisas 753 (setecentos e cinquenta e três) artigos
49
Na base Spell o resultado das três combinações de palavras buscadas em título, resumo
e palavras-chaves foram zero artigos encontrados. Na base Scielo foram encontrados 5 (cinco)
artigos na pesquisa com as mesmas palavras e nos mesmos campos. Destes, 4 (quatro) não eram
pertinentes ao tema, resultando em 1 (um) pertinente à pesquisa.
Pesquisar na base de dados do portal da CAPES é um processo diferente das outras
bases de dados: o limite de dois campos para pesquisa fez ser necessário compilar duas palavras
em uma linha de pesquisa, ficando “Maternidade” na primeira linha e “identidade trabalho” na
segunda. Nesta combinação de palavras foram encontrados 421 (quatrocentos e vinte e um)
artigos, mas somente 1 (um) era pertinente ao tema.
A soma de todos os artigos designados para a análise resultou em 56 (cinquenta e seis).
No entanto, por serem pesquisas em bases de dados interligadas, alguns artigos apareceram em
mais de uma base de dados, um total de 16 (dezesseis) artigos repetidos. Resultando em 40
(quarenta) artigos selecionados dos quais foram analisados os seguintes aspectos: a base de
dados de onde os artigos foram retirados, a quantidade existente em cada, o ano de publicação,
50
periódico onde os artigos foram publicados, país, nível de análise, os autores e suas respectivas
instituições. A listagem dos artigos analisados está disposta no Quadro 2:
QUADRO 2 - ARTIGOS ANALISADOS POR ANO, PAÍS, CITAÇÃO, TÍTULO, PERIÓDICO E OBJETIVO
Ano País Citação Título Periódico Objetivo
2017 Austrália (HAYNES, Accounting as Critical Revisar 25 anos de pesquisa contábil
2017) gendering and Perspectives crítica sobre gênero, abordando o que
gendered: A on aprendemos até hoje e quais são as
review of 25 Accounting áreas mais desafiadoras a serem
years of critical investigadas no futuro.
accounting
research on
gender
2017 Estados (HIDALGO- De la Prisma Aprofundar a evolução temporal e
Unidos MARÍ, 2017) maternidad al Social histórica da representação feminina na
empoderamient ficção espanhola e estabelecer
o: Una perspectivas nesta representação.
panorámica
sobre la
representación
de la mujer en
la ficción
Española
2017 Reino (GROSS Identity Career Expandir nossa compreensão sobre a
Unido SPECTOR; exploration Development forma como as mulheres moldam suas
CINAMON, during the International decisões de carreira durante a transição
2017b) transition to para a maternidade, através do processo
motherhood: de exploração, seus fatores facilitadores
facilitating e resultados.
factors and
outcomes
2017 Brasil (MCGANNON; Mother runners Psychology Estender o entendimento em um
MCMAHON; in the of Sport and contexto sócio-cultural, examinando
GONSALVES, blogosphere: A Exercise como as identidades das mães
2017) discursive recreativas dos atletas foram
psychological construídas dentro de uma forma de
analysis of novas mídias - os blogs.
online
recreational
athlete identities
2017 China (VON HIPPEL; Stereotype Frontiers in Compreender como as mulheres veem
KALOKERINO Threat and Psychology políticas favoráveis à família,
S; ZACHER, Perceptions of particularmente mulheres que sofrem
2017) Family-Friendly ameaças de estereótipos com base em
Policies among gênero, ou a preocupação de serem
Female vistas através das lentes dos
Employees estereótipos de gênero no trabalho.
2017 Canadá (HENNEKAM; When lesbians Journal of Explorar as experiências de casais de
LADGE, 2017) become Vocational lésbicas à medida que passam pelas
mothers: Behavior diferentes fases da gravidez e reentram
Identity na força de trabalho após a licença
validation and maternidade.
the role of
diversity climate
51
6
5
4
3
3
1
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Os Estados Unidos têm sido o principal local de coleta de dados para os estudos do
tema identidade, maternidade e trabalho, 25% dos artigos analisados coletaram seus dados
unicamente nos Estados Unidos, local de coleta não especificado compreende 10% dos artigos,
59
Austrália, Brasil e Canadá (em separado) são palco de coleta de dados de 7,5% cada. Pesquisas
internacionais, na Itália e Reino Unido representam 5% cada. Estes dados apontam para a
necessidade de expandir o estudo acerca da identidade, maternidade e trabalho em nível
mundial, diversificando os países e regiões estudados.
A busca realizada em bases de dados nacionais e internacionais demonstra que as
pesquisas acerca da interação entre maternidade, identidade, papéis e trabalho são escassas.
Apesar da maternidade proporcionar mudanças nas mulheres que trabalham e em sua
identidade, este conjunto é pouco estudado na área de estudos organizacionais. Os dados
obtidos demonstram que há poucas publicações sobre o tema identidade, maternidade e
trabalho, e no Brasil, ainda é maior a necessidade de desenvolver estas pesquisas, pois o país
conta com somente 2 das 40 pesquisas publicadas no mundo. As publicações acerca do tema na
última década têm passado por uma curva invertida, diminuindo do ano de 2008 ao ano de 2002,
onde não há artigos publicados sobre o tema, aumentando o número de publicações nos anos
seguintes, mas sem uma constância, variando entre 3 e 7 publicações por ano. Os últimos cinco
anos concentram 67,5% das publicações sobre o tema, mostrando que é um tema em ascensão
nas agendas de pesquisa.
Ao observar os locais de coleta de dados, os Estados Unidos concentram 10 dos 40
artigos analisados, apontando para a necessidade de diversificar os países/regiões de coleta de
dados e expandir as pesquisas em nível mundial o que pode contribuir para a melhora das
condições de vida das mulheres ao redor do mundo.
A fim de conhecer melhor as pesquisas realizadas no Brasil, outras pesquisas foram
realizadas somente em bases nacionais durante os anos 2009 a 2018. Assim foram pesquisados
os seguintes grupos de palavras: “maternidade + identidade + papéis”, “maternidade +
identidade” e “maternidade + trabalho” em bases nacionais nos campos título, resumo e
palavras-chaves. Nestas pesquisas 2.067 (dois mil e setenta e sete) artigos foram filtrados, mas
pertinentes ao tema e às categorias pesquisadas foram 112 (cento e doze), sendo 1.955 (um mil
novecentos e cinquenta e cinco) descartados.
Os artigos que constam como descartados foram retirados da análise por motivos
variados: a noção de papéis presente no artigo se referia ao papel teatral; a palavra trabalho
estava escrita referindo-se ao próprio artigo, não ao trabalho enquanto sinônimo de labor ou
emprego; eram trabalhos voltados a análises biológicas, perfil de pacientes, respostas a
campanhas ou comportamento de pacientes; artigos na área de marketing, de medicina e
antropologia que não comtemplavam o tema. Os resultados estão dispostos na tabela 5:
60
Na base Spell o resultado das três combinações de palavras buscadas em título, resumo
e palavras-chaves foram cinco artigos encontrados, em dois a palavras maternidade referia-se
ao tipo de hospital que estava sendo estudado, por isto, estes dois artigos foram descartados da
análise, então restaram três artigos referentes aos resultados com as palavras: “maternidade +
trabalho”, as demais combinações de palavras não apresentaram resultados.
Na base Scielo foram encontrados 227 (duzentos e vinte e sete) artigos na pesquisa
com as mesmas palavras e nos mesmos campos. Deste total, 183 (cento e oitenta e três) não
eram pertinentes ao tema ou categorias buscadas, resultando em 44 (quarenta e quatro)
pertinentes à pesquisa, 38 (trinta e oito) com a combinação de palavras “maternidade +
trabalho”, 6 (seis) com a combinação de palavras “maternidade + identidade” e 0 (zero)com a
combinação de palavras “maternidade + identidade + papéis”.
Pesquisar na base de dados do portal da CAPES tem diferenças das outras bases de
dados: o limite de dois campos para pesquisa fez ser necessário compilar duas palavras em uma
linha de pesquisa, ficando “Maternidade” na primeira linha e “identidade papéis” na segunda.
Esta base também apresenta resultados que contém as três palavras, mas também resultados que
possuem somente uma ou duas das palavras. Sendo necessário fazer duas verificações, a
primeira se as três palavras constam em algum lugar do artigo, a segunda se o artigo é pertinente
à pesquisa.
Na combinação de palavras “maternidade + trabalho” foram encontrados 1.245 (um
mil duzentos e quarenta e cinco) artigos, destes 1194 (um mil cento e noventa e quatro) não
eram pertinentes ao tema ou categorias analisadas e foram descartados. Resultando em 43
(Quarenta e três) artigos a serem analisados.
A pesquisa com a combinação de palavras “maternidade + identidade” resultou em
421 (quatrocentos e vinte e um) artigos, 404 (quatrocentos e quatro) descartados e 17
(dezessete) para análise. Na pesquisa usando a combinação das palavras “maternidade,
identidade e papéis” surgiram 172 resultados que combinavam as três palavras, duas, ou
61
somente uma. Depois de selecionar os que possuíam as três palavras em algum lugar do artigo
e eram pertinentes ao tema, chegou-se à 8 artigos. Dois destes artigos não tinham a versão
completa disponível na internet, somente resumos, então foram descartados da análise e 6 (seis)
artigos foram analisados. Segue a tabela 6, que compila os resultados encontrados com cada
combinação de palavras nas devidas bases de dados:
A soma de todos os artigos designados para a análise é 139 (cento e trinta e nove), no
entanto, por serem pesquisas com palavras em comum, alguns artigos apareceram em mais de
uma base de dados e em mais de uma combinação de palavras, um total de 64 (sessenta e quatro)
artigos repetidos. Resultando em 75 (setenta e cinco) artigos selecionados dos quais foram
analisados os objetivos e metodologia, conforme disposto nas tabelas a seguir, separando por
conjunto de palavras da pesquisa.
A ordem das tabelas segue a quantidade crescente de artigos encontrados, iniciando
com o resultado do conjunto de palavras “maternidade + identidade + papéis” (tabela 7),
posteriormente “maternidade + identidade” (tabela 8) e em seguida “maternidade + trabalho”
(tabela 9), Como são pesquisas com palavras que coincidem, constam na tabela 7 todos os
artigos analisados da pesquisa “maternidade + identidade + papéis”, na Tabela 8 encontram-se
todos os artigos analisados na pesquisa “maternidade + identidade”, exceto os que já foram
analisados na pesquisa “maternidade + identidade + papéis” (Tabela 7). Na tabela 9 constam os
artigos analisados da pesquisa “maternidade + trabalho” exceto os que já foram analisados nas
pesquisas anteriores.
Por meio desta compilação, pôde-se perceber que os artigos que tratam da maternidade
e permeiam sua relação com o trabalho, identidade e papéis não abordam esses quatro
elementos ao mesmo tempo. O resultado das buscas nas bases de dados indicou que o tema
maternidade, identidade, papéis e mulher que trabalha pouco foi explorado em nível nacional e
pode ser melhor explorado em pesquisas brasileiras.
Com base nos elementos conceituais aqui expostos, almejou-se conduzir este estudo
segundo os procedimentos metodológicos detalhados a seguir.
69
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o interpretativismo, nenhum observador pode ser objetivo porque todos vivem no
mundo social e são afetados pela construção social da realidade, todos estão sujeitos a uma
70
dupla hermenêutica: o mundo é interpretado pelos atores e sua interpretação é interpretada pelo
observador. O pesquisador nega a realidade como dada e segue o conceito de que não há uma
essência, tudo é uma constituição social. O fenômeno não é possuidor de uma essência universal
e natural, ele está situado na cultura e tempo. (FURLONG; MARSH, 2002)
Nesta perspectiva, a realidade social, ou a realidade de um indivíduo ou grupo, é a
experimentação significativa de eventos. As pessoas constroem sua experiência de mundo
através de ações que não se limitam ao entendimento individual, elas se tornam mais
significativas num contexto mais amplo (SMIRCICH, 1983)
Aliada a este conceito sobre a realidade, os sujeitos são compreendidos como pessoas
em interação simbólica como as construtoras dos processos organizativos. Esta não é uma
construção voluntariosa com total liberdade, pois estão em um contexto, lugar, que possui
regras próprias, valores, projeto e metas, cuja definição pode ser autônoma ou heterônima. A
construção dos processos também é permeada pela hierarquia, amplitude de poder, caminhos
disponíveis; as interações simbólicas são limitadas pela dimensão técnica disponível e pelo
ambiente socioeconômico e cultural no qual está inserida. (SATO, 2007)
Assim, a forma de conhecimento foca-se na relação sujeito/sujeito e no significado
intersubjetivo. Por isso não é um conhecimento com pretensões universais, mas específico a
pessoas em seus relacionamentos. (SMIRCICH,(1983).
No interpretativismo, nenhum observador pode ser objetivo porque todos vivem no
mundo social e são afetados pela construção social da realidade, todos estão sujeitos a uma
dupla hermenêutica: o mundo é interpretado pelos atores e sua interpretação é interpretada pelo
observador. (FURLONG; MARSH, 2002)
Estudar sob o viés interpretativista requer do pesquisador a busca pelo fazer cotidiano,
pelas interações simbólicas que tem sustentação na cultura, costume e acordos. Ao observar
uma realidade organizada, o pesquisador observa o fluxo de ações e significados, e como estes
“encontram a sua racionalidade interna e singular nos métodos práticos, criados, apropriados e
partilhados pelas pessoas envolvidas”. (SATO, 2007, p. 3)
Além das ações e dos significados, o pesquisador estuda a interpretação deles.
Estudando este conjunto, o pesquisador pode compreender como os sujeitos constroem e dão
significado ao mundo externo e como dão forma a sua natureza como seres humanos.
(SMIRCICH, 1983)
Para que isto seja possível, o pesquisador precisa estar próximo às interações sociais,
dedicar um período para compreender seu objeto de pesquisa. A metodologia deve estar em
consonância com esta ontologia e epistemologia, sendo capaz de auxiliar o pesquisador a
71
compreender os processos que cotidianamente são conduzidos. (SATO, 2007) A fim alcançar
este objetivo, o pesquisador busca estabelecer um relacionamento que conduz à aprendizagem,
de maneira que o ambiente não seja ameaçador para os sujeitos e o ouvir seja efetivo e a atenção
flutuante e livre. (SMIRCICH, 1983)
Apesar das grandes contribuições que a perspectiva interpretativista traz para as
pesquisas em ciências sociais, como qualquer ciência e metodologia, há dificuldades e desafios
a serem superados: a questão da entrada, com o risco de o pesquisador poder ser visto como um
disruptor; e a manutenção do papel do aprendiz, pois, geralmente, lhes é esperado conceder
algumas respostas. O pesquisador não é portador de respostas, é para colocar-se no papel de
aprendiz da perspectiva do grupo sobre a situação. (SMIRCICH, 1983; SATO, 2007)
Identificação
DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA: É “um processo psicológico pelo qual um sujeito
assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou
parcialmente, sob o modelo daquele”. (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 225) O processo
de identificação possibilita que o indivíduo saia da passividade e apreenda objetos externos
geradores de angústia e medo. Em grupos a identificação permite estabelecer um vínculo entre
os membros: surge por meio da percepção de certa comunidade, ou similaridade, com uma
pessoa. Quanto mais significativa a similaridade, maior a possibilidade de estabelecer vínculos.
As várias identificações do sujeito lhe fornecem meios para compreender e conhecer o outro e
a vida coletiva. (FREITAS, 2006)
estruturas que podem ser captadas. (JONES, 1983; COSTA, 1999; JAIME; GODOY;
ANTONELLO, 2007)
A História de Vida tem forma narrativa, ponto de vista em primeira pessoa e postura
subjetiva e busca “um relato fiel da experiência e interpretação por parte do sujeito no mundo
no qual vive”. (BECKER, 1993, p. 102). Queiroz (1991, p. 6) define História de Vida como
uma representação do “relato de um narrador sobre sua existência através do tempo, tentando
reconstituir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que adquiriu”.
Na História de Vida os fenômenos sociais são compreendidos por meio dos discursos
e narrativas dos atores sociais. Esta metodologia pode contribuir com as pesquisas sob a
perspectiva interpretativista, pois é uma via de acesso às experiências e significações subjetivas
construídas pelos atores sociais. Por meio dele se pode “desenvolver uma estrutura
interpretativa por meio da qual significados da experiência são revelados” (JAIME; GODOY;
ANTONELLO, 2007, p. 5)
A fim de assegurar que o método abranja tudo o que pesquisador deseja conhecer e
que a interpretação do entrevistado seja apresentada de forma honesta, o pesquisador precisa
estar preparado, manter o entrevistado orientado para o tema, questionar os acontecimentos que
exigem aprofundamento e dar maior importância às interpretações do sujeito sobre sua própria
experiência. (BECKER, 1993)
Yow (2005) aponta etapas de preparação pré-entrevista a fim de que o pesquisador
esteja devidamente preparado, estas etapas foram compiladas na figura 2:
Neste projeto o equipamento usado para gravação foi um smartphone e sua preparação
antes da entrevista consistiu em: carregar a bateria do aparelho, verificar se há memória
disponível para armazenar o áudio a ser gravado, testar a gravação e conferir se o aparelho está
na bolsa antes de sair para a entrevista.
A explanação acerca do projeto deu-se em dois momentos distintos: a primeira por
meio do whatsapp com seguinte texto: “Boa noite. Meu nome é Lara, sou psicóloga e faço
mestrado na UFPR. A (nome da semente que indicou a entrevistada) lhe indicou para participar
da minha pesquisa. Estou pesquisando como a maternidade permeia a identidade, os papéis e a
76
relação com o trabalho de mulheres que trabalham no setor privado. A pesquisa consiste em 2
ou três entrevistas que seriam realizadas em dia e horário que você tiver disponibilidade. Você
teria disponibilidade para fazer parte da pesquisa?” e a segunda em uma nova explanação antes
de iniciar a entrevista. Na segunda explanação foi explicado o objetivo da pesquisa, como seria
a entrevista: iniciaria com uma pergunta e a entrevistada iria ter fala livre, com o mínimo
possível de participação da pesquisadora. A escolha dos locais para as entrevistas partiu das
próprias entrevistadas. A elas foi dada a opção de uma sala nas dependências do Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná (PPGADM/UFPR) ou
algum local no qual se sentissem mais confortáveis. Três escolheram café e lanchonetes,
somente uma preferiu realizar as entrevistas por telefone. Os locais escolhidos pelas
entrevistadas lhes deixavam à vontade, mas trouxeram percalços devido a interrupções de
outras pessoas e barulhos que dificultaram as transcrições.
O tempo reservado para cada entrevista foi de uma hora, podendo estender-se ou
findar-se antes, dependendo do andamento da entrevista. As entrevistadas foram avisadas da
expectativa de duração de uma hora e possibilidade de extensão de tempo caso elas desejassem.
Cada mulher foi entrevistada duas vezes, a primeira entrevista com duração de cerca de uma
hora, em todas a segunda entrevista foi mais breve, durando cerca de quarenta minutos.
Após estes preparativos, e antes das entrevistas serem realizadas, o guia de entrevista
foi elaborado com os tópicos a serem propostos durante a entrevista. Estes tópicos não
restringiram as entrevistas nem ditaram uma ordem no relato; sua funcionalidade era meramente
de guia para assuntos necessários a serem abordados durante as entrevistas que poderiam
emergir de forma voluntária ou estimulados por meio de perguntas abertas.
Trabalhar com a História de Vida requer alguns cuidados do pesquisador a fim de
evitar situar-se nas oposições: microssocial ou macrossocial, realidade subjetiva versus
realidade objetiva, indivíduo ou sociedade. Também demanda do pesquisador uma
sensibilidade para criar o vínculo com o entrevistado e captar os significados e interpretações;
um preparo para escutar o outro e um nível de maturidade e experiência prévia. (JAIME;
GODOY; ANTONELLO, 2007; FERNANDES, 2010; NASCIMENTO et al., 2013)
Thomson (2000) aconselha preparar-se antes da entrevista, estabelecer uma conexão e
intimidade com o entrevistado, ouvir sem interromper, fazer perguntas abertas, permitir as
pausas e tempos naturais da fala do entrevistado, evitar jargões e frases feitas, não usar tom
investigativo e tentar minimizar o impacto da presença do gravador.
77
rede social com o perfil da pesquisa. Esta solicitação pode ser feita a todos os entrevistados e o
número de pessoas da amostra pode crescer de acordo com a necessidade da pesquisa.
(VINUTO, 2014)
Nesta pesquisa, vizando trazer maior variedade de experiências, foram selecionadas
três sementes, informantes-chaves, que indicaram mulheres a serem entrevistadas denominadas
LR, ML e FOK.A escolha das sementes foi realizada de acordo com as indicações de Sharafizad
(2018) e Vinuto (2014): eram pessoas da rede de contato da pesquisadora que se dispuseram a
indicar mulheres com o perfil necessário para a entrevista. Segue um esquema para ilustrar na
figura 3:
Prioridade
Indicou aceitou
Semente 2 - ML
Prioridade participar da
pesquisa
Guerreira
Indicou aceitou
Semente 3 - FOK Guerreira participar da
pesquisa
Nas transcrições constam os significados e desejos expressados nas falas que vão além
da simples escrita de palavras, pois, conforme Nascimento et al. (2013), a transcrição engloba
os significados intrínsecos nas falas: nervosismos, entonações, raiva, hesitação, dentre outros.
Duas das oito entrevistas foram realizadas por telefone, isto não prejudicou a pesquisa, pois a
gravação das ligações, realizada com autorização da entrevistada, também permite acesso a
entonações, hesitações e expressões outras que transparecem na fala. Compreender as sutilezas
presentes nas falas das entrevistadas requer uma sensibilidade e cuidado no tratamento e análise,
tema da sessão a seguir.
Por ser uma pesquisa qualitativa de paradigma interpretativista, esta investigação tem
ênfase na interpretação. (STAKE, 1995) Para possibilitá-la, os dados obtidos por meio das
entrevistas foram transcritos e organizados para, posteriormente, serem analisados por meio da
análise de narrativa.
A análise de narrativa compreende a análise de tópicos, conteúdos, estilos e contextos:
visando compreender a estrutura na narrativa, os motivos das escolhas, presenças e ausências,
sentimentos expressos por entonações, pausas e hesitações. A análise tem início com a leitura
e releitura das transcrições, buscando por eventos, experiências, relatos, explicações e
desculpas. Analisou-se a estrutura da narrativa, forma linguística de contar os eventos, interação
entre o entrevistado e o pesquisador (narrador e público), sequência temporal, personagens,
intrigas e imagens. Nesta fase o pesquisador procura por temas comuns e recorrentes. Estes
passos estão compilados na figura 4:
82
Leitura e releitura
Breve resumo
Eventos
Experiências Anotar idéias temáticas e questões estruturais
Identificar
Relatos, características
explicações, Memorandos
fundamentais da Transições entre os
desculpas história temas Marcar
Narrativa Início, meio e fim Diferentes tipos de Ideias que surgirem
transições Estrutura geral da
Temas por etapas história Mini-histórias ou
da biografia subtramas
Contradições
Indicar ligações
entre elementos
3
O termo “protagonistas” foi escolhido para referir-se às entrevistadas no sentido destas serem as
personagens entorno das quais gira a história contada, afinal, é a história de suas vidas.
83
foram incorporadas ao conjunto de análise. Isto permitiu um certo treino inicial à pesquisadora
que não prejudicou a pesquisa.
Por limitar-se a pessoas de uma mesma rede social, usar a amostragem do tipo bola de
neve também pode resultar em um limite de variabilidade de narrativas e acesso a
argumentações semelhantes. Isto pode ser amenizado obtendo indicadores-chaves de redes
(sementes) variadas, aumentando a possibilidade de acessar redes e narrativas diversas.
(COSTA, 1999)
O ponto de saturação e o tempo para a realização da pesquisa também foram um
desafio a ser contornado. Como meio de evitar o encerramento da pesquisa mais cedo que o
devido, Vinuto (2014) sugere que o pesquisador deve estar atento às sutilezas do campo e
compreender as novas informações dadas pelos entrevistados para não concluir, erroneamente,
que atingiu o ponto de saturação.
Para que a pesquisa não fosse encerrada antes do ponto de saturação por questões de
limitação temporal, a pesquisa foi realizada de acordo com planejamento prévio e os resultados
do planejamento e execução constam na sessão seguinte.
84
Assim como o pesquisador precisa aproximar-se dos indivíduos para ouvir sua história
de vida, antes de analisar as histórias contidas nesta pesquisa, é necessário conhecer as
protagonistas dessas histórias. Por fins éticos, os nomes das protagonistas foram omitidos, mas
diferentemente de outras pesquisas, aqui não se pôde simplesmente reduzir a denominação
destas mulheres à abreviatura de seus nomes ou escolher um nome qualquer. Os codinomes
dados às protagonistas foram selecionados da fala delas, características que elas atribuem a si
mesmas, deixando sua denominação o mais pessoal o possível. E na impossibilidade de colocar
fotos das protagonistas, foram escolhidas imagens representativas.
As imagens escolhidas, figuras 5 a 8, são de autoria de Grace Ciao (2017a, 2017b,
2017c, 2018), uma ilustradora Fashion que tornou-se famosa ao postar seu trabalho que mistura
flores com moda. Antes de seguir a carreira, Grace foi persuadida pela família a seguir um ramo
mais tradicional de carreira, formou-se em Administração, mas desenhar sempre foi sua paixão.
Seguindo esta paixão ela começou seu trabalho como ilustradora fashion e hoje é famosa no
mundo inteiro, tendo seu escritório em Singapura. (CIAO, 2016; EVON; GORDON, 2017)
Por esta paixão da ilustradora estar impressa em cada traço das imagens que produz,
suas fotos foram escolhidas para retratar as protagonistas desta pesquisa. No início da
apresentação há alguns dados sobre o perfil de cada protagonista: codinome, idade,
escolaridade, estado civil, nível hierárquico, renda familiar, quantidades de filhos, idade dos
filhos.
As falas foram analisadas de acordo com a ordem que aparecem nos relatos, por isto
há uma variação de temas e o retorno constante a temas já tratados, o que é natural em uma
entrevista de História de Vida. (GIBBS, 2009)
85
4.1. A PERSISTENTE
FIGURA 5 – IMAGEM REPRESENTATIVA
DE "A PERSISTENTE"
Codinome: A Persistente
Idade: 44 anos
Escolaridade: Pós-Graduação
Estado Civil: Casada
Classificação da empresa: Multinacional
Função: Executiva
Renda familiar: de 15 a 20 salários mínimos
Quantidade de filhos: 2 meninos
Idade dos filhos: 12 e 7 anos
Ensaio de outono porque na região as estações não têm tanta constância nesta cidade: pela
manhã às vezes um frio de inverno que é seguido de um sol de verão ao meio dia, então nesta
cidade o tempo parece ensaiar estações.
O local escolhido por Persistente foi o restaurante de seu irmão. O local estava cheio
e com muito barulho, particularmente na mesa ao lado da nossa, onde um casal conversava
empolgadamente em alto volume. Para tentar diminuir o barulho, pedimos para trocar de mesa
e conseguimos ir para uma área menos barulhenta. Persistente pediu para saber melhor sobre a
pesquisa e sobre a pesquisadora, então ocorreu uma breve explicação sobre os motivos que
levaram à realização da pesquisa, a escolha do tema e como isto se encaixava nos planos de
vida futuros.
Esta conversa prévia denotou um tom de intimismo na entrevista, como se duas amigas
estivessem contando suas histórias uma para a outra, o que propiciou um relaxamento e maior
abertura de Persistente. Ao ser indagada com a pergunta: Como é ser mãe, mulher e
trabalhadora? Persistente começou o relato com um suspiro, como se ali fosse o começo de um
jorrar de lembranças.
Já no início Persistente demonstrou algo que está presente em todo o seu relato: a
sensação de luta, de batalhar para superar as adversidades constantemente em busca do
equilíbrio. Também relata o conflito entre o papel de trabalhadora e de mãe e a necessidade de
fazer arranjos para lidar com as diferentes demandas.
86
Olha, é um desafio, porque é difícil você equilibrar todos os papeis e eu acho que
quanto mais se cresce na carreira mais você tem que abrir mão da maternidade e
quanto melhor mãe você é você tem a tendência de querer abrir mão de outras coisas
e você não consegue. Então a grande dificuldade eu acho que é equilibrar tudo isso.
Eu acho que tudo resume nisso. Ou você cede de um lado, ou você cede do outro. Ou
você desiste de uma coisa de um lado ou desiste do outro. É, você tem uma eterna
sensação de que parece que não dá conta, onde você olha você está devendo alguma
coisa. E é difícil porque são duas funções importantes que você desempenha. É, então
é muito difícil você ver aonde você vai colocar o teu foco, eu acho que a grande
dificuldade é esta. (Persistente)
Após relatar suas dificuldades em conciliar ser mãe e trabalhadora, Persistente destaca
a diferença que o trabalho faz em sua vida e autorrealização.
O bom é que eu vejo que comparando com pessoas que eu vejo que não tem trabalho
fora de casa ou que não seja o próprio negócio, eu vejo que tem uma autorrealização
maior, apesar de toda essa cobrança, você tem uma vida, que apesar, de certa forma é
paralela e que não se contamina com a sua função de mãe e você consegue ser você
mesma. Eu acho que esse é o grande benefício de você ter um trabalho autônomo,
desvinculado da família, desvinculado do marido, desvinculado do negócio próprio,
porque você é você independente das outras funções que você exerce. Pra mim este é
um dos pontos que mais impactam, assim, sabe? Eu adoro trabalhar, eu não sei se...
Já fiquei um tempo sem trabalhar, vivendo não como madame, porque eu nunca tive
dinheiro para ser madame, mas vivendo numa situação, assim, relativamente
tranquila. Eu não consigo... Eu me realizo trabalhando. Eu não conseguiria ser uma
mãe em tempo integral ou não ter destaque na minha profissão. (Persistente)
No entanto, a autorrealização que vem do trabalho tem um preço em seu papel como
mãe:
Mas foi muito difícil no começo, porque eu acho que o homem não está preparado,
ainda para aceitar, para atender e viver esse modelo. Eu acho que a sociedade não está
pronta e o homem não está pronto para isto, para este mundo, que de uma certa forma
é o mundo moderno, assim, a gente, eu fui educada para ser mulher, o homem ser o
homem provedor, a mulher deixa na escola, pega na escola, dar o almoço, deixa a
criança dormir, dar banho... Então o mundo tanto o homem não estão preparados para
esta diferença de viver. (Persistente)
87
Novamente a autorrealização e o preço que Persistente paga por ela aparecem em sua
história:
O que é que tem de bom? O que tem de bom é que eu sou uma pessoa realizada e bem
resolvida por conta disso. Que eu tomei, doeram essas opções, principalmente as que
eu precisei testar porque as pessoas te cobram independente das tuas vidas paralelas.
(Persistente)
Então independente da tua vida paralela como mãe o negócio te cobra, independente
da tua vida como negócio a tua família te cobra. Então são explicações que elas
explicam, mas não justificam, sabe? Ou justificam, mas não explicam, já não sei te
dizer como, mas as situações se contaminam.
O que é que eu acho de ruim... Eu abri mão de muita coisa, assim eu não vou levar
meus filhos na escola quase nunca, eu raramente vou buscar meus filhos na escola. Já
vivi o modelo que eu ia buscar meus filhos na escola, vivi um estresse daqueles
absurdos, porque tinha que sair cinco e meia do trabalho. Eu não consigo sair cinco e
meia do trabalho, cinco e meia é quase meio da tarde, então eu tinha que sair 6 horas
porque seis e meia era o horário de carro, ai sair seis horas, seu eu sair as seis e dez o
transito já estava um caos, ai sai nervosa, já tinha que ir correndo, parava no sinal
amarelo, apertava a mão na buzina, e daí chegava esbaforida na escola, as vezes eles
estavam muito tempo esperando na portaria ou... Até que chegou... (Persistente)
Este conflito gera uma sensação de falha em relação ao seu papel de mãe:
Eu acho que esta é a atividade. Constantemente eu me sinto uma mãe deficitária, uma
mãe fora do convencional, uma mãe diferente da que eu tive, né, em termos de
atividades, funções... Em alguns pontos uma mãe omissa, porque hoje eu vejo que
meus filhos tem um laço com meu marido diferente do que eles tem comigo, o laço é
forte, mas o laço com ele é forte, mas não é aquele laço que você escuta dizer: “nossa
os filhos não vivem sem a mãe”, “a mãe é referência”, “os filhos quando separam
ficam com a mãe”, sabe essas coisas que a gente escuta que, que se se cresce escutando
isso? O filho é da mãe, que quando separa o filho é da mãe, que o maior amor é da
mãe, eu não vivo muito essa realidade. Eu acho que meus filhos me amam demais, eu
tenho um excelente laço, mas não acredito mais nesses mitos. Ou não acredito ou eu
vivo um modelo que não é esse mito, que ele não concretizou na minha família. Nem
por isso a família é mais ou menos feliz, né? (Persistente)
Mas essa é a dificuldade que eu encaro no dia a dia. É um pouco triste até, mas por
outro lado é consequência da vida que eu escolhi. Mas por outro lado eu tento ver a
vida assim como ganhos e pesos. Se você ganhar algumas coisas vai perder outras. É,
eu tento ver, assim, na balança final, o que é que está bom, as vezes dá um aperto no
peito de talvez eu não estar tão próxima. (Persistente)
88
Por exemplo, grupo de mães, eu quase não conheço mãe nenhuma. E eu tenho dois
grupos de mães que eu participo por causa das duas crianças, e tem laços, mas são
mais ou menos superficiais, assim, eu acho que muda um pouco o tipo de assunto que
você está, você está envolvida. Porque como você não está no dia-a-dia você vai
ficando cada vez mais afastada ao invés de estar mais próxima. Esse é o desafio.
(Persistente)
Sua relação com os filhos também não é a que Persistente considera ideal, no modelo
que para ela é tradicional, conforme ela já relatou acima, mas em sua fala há uma tentativa de
mostrar-se conformada com a situação:
Com relação as crianças eu acho que meus filhos são crianças bem resolvidas com
este modelo, assim. Meu marido fica...
E, não tem muito mais o que falar, sabe, mas esse é o desafio. E eu não acho que
crianças gosta mais ou menos dos pais, eu acho que criança gosta diferente do pai do
jeito que gosta da mãe. E na minha casa, além de ser diferente um do outro, é diferente
do modelo tradicional que existe, né? Quando tem um problema na escola, né, caiu,
não sei o que, machucou. Eles ligam para o pai porque as vezes não conseguem falar
com a mãe, porque as vezes eu estou em uma reunião e quando vou ver a ligação já
tocou. (Persistente)
E esse é o, esse é o preço que se paga, na verdade, mas por outro lado eu me sinto uma
mulher bem resolvida, assim, sabe, já sofri muito por esse modelo, por ser assim, mãe
diferente do que a sociedade às vezes busca. Porque eu sou totalmente diferente,
minha família é totalmente diferente, minha família é meio que invertida sabe? Eu não
sou o homem da casa porque eu meio que nem tenho essa pretensão, mas assim, eu
sou mais arremo da família que meu marido. Ele tem o negócio dele, assim, mas não
tem garantia que eu vou conseguir pagar a escola deles, porque as vezes tem, as vezes
não tem. Ele leva na escola, ele busca na escola, agora que eu to com o carro eu
consigo equilibrar mais isso, mas em termos gerais a minha disponibilidade é muito
mais difícil. E o preço é ai porque as pessoas, tinha uma época que eu me preocupava
muito com as pessoas, hoje eu já aprendi a estar bem com o meu modelo. Sabe, porque
ruga é ruim mas traz umas vivencias boas. (Persistente)
Então assim, hoje eu vejo que eu não conseguiria ter a vida que eu tenho se eu não
tivesse este padrão de vida, este jeito de viver, eu trabalhando, sabe. Eu não sei se eu
conseguiria colocar meus filhos nessa escola, sabe. (Persistente)
89
Mas o trabalho não vem sem desconforto, uma certa dificuldade de desapegar-se que
Persistente deixa clara no seguinte trecho:
É, às vezes a gente cansa porque, pode parecer um preconceito meu, mas as vezes a
mulher não tem tanta, não sei se é força, a palavra, não sei como simplificar essa ideia,
mas as vezes eu acho que a mulher, ela não tem tanta, tanto desprendimento como o
homem. (Persistente)
No entanto Persistente não restringe suas dificuldades ao apego, ela sinaliza uma
cobrança social maior em relação à mulher, diferenças físicas e maior conflito de papéis:
O homem me parece que às vezes ele faz, ele faz aqui, depois ele faz aqui, e ele não
vive dilemas porque os “aquis” diferentes, as vezes se contradizem, e a mulher acaba
sofrendo por causa desses papéis que ela quer performar bem em todos, e ela que ser
a superperfeita, e ela acaba vivendo dilemas, e ela tem situações físicas, porque eu
acho que a mulher ela passa mais estresse do que o homem, a mulher tem funções
físicas, tem TPM, prémenopaus, pósmenopaus, tem préTPM, tem pósTPM, tem tudo
né?
Não é? Fisicamente são reações diferentes e eu acho que isso interfere inclusive na
relação das coisas na personalidade no jeito que as pessoas reagem, então, é, talvez
isto que possibilite a gente ter tantas multifunções, sabe.
Não sei se eu estou certa ou estou errada, mas é mais ou menos como eu vejo, sabe?
(Persistente)
Nossa! Eu vou longe então porque tem mais de 20 anos de história. Puxa vida! Eu
comecei como estagiária num grande escritório de advocacia aqui. Na época, isso era
a muito tempo atrás, 20, 24 uns 23 ou 24 anos atrás. Hoje Curitiba, tem um monte de
escritórios, naquela época não tinha. Então os que tinham eram poucos, e os que eram
bons, bons, bons, era poucos ainda.
E eu tive a sorte de bater num escritório que estava precisando de uma vaga. Eu fui
buscar a vaga de primeiro emprego, nunca tinha trabalhado na minha vida. E daí fui
bater no escritório de porta em porta e bati neste. E eles estavam, por sorte, estava
saindo um estagiário e eles falaram: “Olha, tem uma vaga aqui, quer tentar?” fui
conversar com a advogada que era a dona de lá e acabei gostando dela e ela gostando
de mim, eu era uma menina tinha 20 anos, estava no terceiro ano de faculdade. Como
o escritório era um escritório de nome e ela era meio exigente demais. Então assim,
consegui ficar um ano naquele escritório. “Nossa, conseguiu trabalhar com a É*****
um ano, coisa rara, porque ela era uma pessoa muito difícil. Por conta disso acabou
criando uma experiência muito marcante na carreira, não sei se foi pelo escritório ou
pela área, que era tributária que naquela era aquela época quase ninguém queria saber.
E aquilo foi me viabilizando outras coisas. Aí saí de lá depois de um ano, porque ai
ficou difícil o gênio dela e eu queria conhecer outras coisas no trabalho. (Persistente)
90
Aí fui trabalhar com um professor que me chamou para trabalhar na Sanepar. Ele era
diretor jurídico da Sanepar, tinha uma vaga lá para ser assistente. Acabei indo.
Cheguei lá no meu quinto ano de faculdade aí terminou, porque quando você se forma
ou prestava concurso público, não é emprego contratado. Emprego contratado era só
como estagiário. Mas aí terminou o período, me formei não tinha vontade de prestar
concurso aí saí. Daí me formei. Fiquei uns 3 meses procurando, os dois primeiros
meses janeiro e fevereiro trabalhando com formatura, comissão de formatura,
trabalhando com Formaturas, esse tipo de coisa. Daí depois me formei, fiquei mais
três meses esperando e eu comecei meu primeiro emprego num escritório na área de
advocacia tributária, muito influenciada por conta daquela primeira experiência.
(Persistente)
Olha, e dois anos, eu acho, depois... Ah, eu fiquei lá uns dois ou três anos. Ah, já faz
tanto tempo que eu não lembro mais as quantidades de tempo, mas depois eu montei
um escritório com um cara meio conhecido, a gente trabalhou junto nesse primeiro
escritório. Ai a gente abriu um escritório junto ai eu vi que eu não era empreendedora.
Que assim, eu não tinha perfil de venda, de cliente. Sabe? E não deu certo, perdi a
amizade, perdi o emprego perdi, foi ruim, assim. (Persistente)
Aí eu fui chamada para voltar para escritório que era meu primeiro escritório. Aí voltei
para coordenar uma área, e assim eu fiquei acho que uns 4 ou 5 anos.
Ai de lá eu cheguei, no escritório, eu cheguei no topo, mas era um escritório ovo,
assim, cheguei no topo do que eu conseguiria chegar. E eu falei: Gente! Eu preciso
fazer mais na minha vida! (Persistente)
Com dificuldades para lidar com o novo ambiente e o marido querendo mudar de país,
Persistente deixou o emprego para acompanha o marido que iria montar um restaurante em seu
país natal:
E daí meu marido queria voltar para país dele, que ele é de Israel. Aí ele foi antes aí
eu fui alguns meses depois fui grávida, fiquei lá dois anos e pouco que foi o período
que eu não trabalhei. Trabalhava com ele, tinha ele eu não trabalhava, então eu era
meio dondoca, assim, não fazia nada. E no segundo ano eu trabalhava, ele abriu um
restaurante daí eu trabalhava com ele. Foi um negócio que eu vi que não dá para
trabalhar com família também. Não tenho esse, hoje talvez eu tivesse um outro olhar
mas naquela época, não estava preparado para isso.
Daí decidi voltar para o Brasil. Não queria mais assim, minha família, o meu pai tava
doente. E eu já não tava gostando do país, com saudade da minha vida profissional
aqui porque eu via que lá não ia seguir para frente daí voltei.
Daí comecei a trabalhar no B***** que é onde eu tô nos últimos 10 anos. (Persistente)
Entrei como advogada daí depois virei consultora daí depois virei coordenadora e
depois gerente. E daí hoje tô lá numa função executiva e aonde eu vejo mais a
viabilidade ser testada seja por mim seja por terceiros. Porque eu gerencio uma equipe
de 5 mulheres e um homem e quase todas tem filhos, salvo uma que não é casada, as
outras tem filhos pequenos. Então eu vivo este dilema seja por mim ou por elas. Né
que ás vezes é mais difícil ainda porque quando você for você tomar suas próprias
decisões, fala mal, eu tô disposto a fazer isso ou eu não tô disposta a fazer isto. Quando
você gerencia pessoas você sabe o que é necessário, você sabe até onde vai aquela
função, você já passou por isso também e você não tem a decisão que você tenha
função alí de preposto da empresa, você tem que fazer as coisas acontecerem. Então
é um dilema ao quadrado na verdade. Você testa esses teus valores e princípios
normais. Não sei se resumi bem ou muito. (Persistente)
Nesta rotina de trabalho, conflitos e teste, Persistente ressalta como a dor tem sido
constante em sua vida e aprendizado:
No pain no gain. Eu acho que é o lema para tudo. Que no fundo, eu não sei se é
verdade ou não, mas eu acho que assim, todo mundo fala que a gente cresce na dor e
no amor, e eu acho que a gente cresce na dor de verdade, né. Eu não acredito em
crescimento no amor, não acredito. Talvez porque não tenha vivido. Eu acho que
precisa ter amor no meio de tanta dor, mas eu não acho que é no momento de amor
que se cresce.
É, mas eu tô saindo até do campo do desafio, tô olhando na dor mesmo, sabe. Porque
as vezes é um desafio sem dor. Eu acho que para você crescer, para conseguir o
92
máximo, eu acho que é com dor. Tipo, num esforço quase de dor. Algum sofrimento,
assim, sabe, não e uma coisa, meio né, uma coisa... (Persistente)
Eu? Persistente, eu acho. Persistente, um pouco teimosa. Acho que uma coisa meio
junto da persistência, né, inclusive. às vezes insegura, me acho uma pessoa às vezes
insegura apesar dos pesares... Acho que persistente é a palavra que mais me define.
Eu sou de desistir pouco, sabe? Coisa assim que eu... No geral, assim, não tenho
muito... (Persistente)
Não sei se foi a maternidade que me mudou. Eu não senti aquela coisa que, sabe que
todo mundo fala que quando nasce uma criança nasce uma mãe. Eu não senti que
nasceu uma mãe quando nasceu meu primeiro filho. É uma emoção indescritível de
fato. Tanto é que eu me lembro até hoje do primeiro olhar do meu filho quando nasceu.
Eu me lembro até hoje, assim, está gravado na minha memória. É uma emoção que é
difícil de definir. (Persistente)
Novamente a dor aparece como fator que muda sua vida e como conseguiu manter
seus objetivos pessoais:
Mas, mas eu não sei, assim, o que me fez crescer de verdade não acho que foi a
maternidade. Acho que foram as lambadas que eu levei, sabe? As vezes, as vezes
olhando de ré, assim, eu nem acho que fui uma mãe tão boa assim, sabe? Sempre fui
uma pessoa presente. Sempre pensei muito nos meus filhos, na família, mas eu acho
ne fundo eu nunca desisti do que eu queria em prol dos meus filhos, sabe? (Persistente)
Eu acho que é muito bom, eu vejo assim, as mulheres que eu conheço que trabalham,
eu vejo que elas são mais, não sei se bem resolvidas é a palavra, mas eu vejo assim,
elas têm, parece, que problemas mais sob controle, sabe? (Bem Resolvida)
Porque elas veem que você não consegue controlar tudo, elas veem que você está
sempre devendo, mas assim, você acaba se sentindo forte, você tem várias
oportunidades para se sentir forte enquanto ser humano. Você as vezes vai mal no
trabalho, você acaba ficando na tua casa. Você as vezes vai mal na tua casa, porque
as vezes vai, você está de saco cheio daquela casa, da tua família, ou do teu conjunto,
né? Não dá pra gente achar que a vida é perfeita. Você tem o trabalho para compensar.
Então eu acho que você tem mais chances de fazer as coisas, de você se sentir bem. E
por você se sentir bem você consegue fazer com que as coisas sejam melhores em
cada um dos ambientes que você está. É, é a experiencia que eu vejo comigo e com
os outros. Então assim, eu não conheço tanta gente assim, eu não sei dizer se isso é
uma visão minha, real eu seu eu estou viciada no grupo que eu convivo, mas eu vejo
que isso funciona bem, sabe? É... bom, não sei se é isso que você precisava...
(Persistente)
Apesar de anteriormente ter dito que a maternidade não a mudou, Persistente relata
posteriormente como suas escolhas de vida mudaram:
Como você gostaria? Como você quer fazer? Por exemplo. Os filhos te travam. Ou
porque você tem que dar uma vida com um pouco mais de rotina e as vezes viajar o
mundo não é tão compatível. Ou porque você acaba não sendo prioridade na hora das
despesas porque você vai pensar em viajar, em você ou você vai pensar em pensar em
pagar a tua escola? Por exemplo, eu sou casada a 15 anos, meu filho mais velho tem
12. Agora é que eu tô conseguindo para e dizer assim: “bom, agora eu tenho dinheiro
que eu posso tirar um pedacinho pra mim”. Ou para eu viajar ou para eu fazer um
curso, assim, não tem que pensar duas vezes, posso ir num restaurante, vou comer o
que tiver a fim sem ter que escolher o prato do cardápio que se encaixa, sabe? Hoje,
depois de 44 anos, depois de muito tempo trabalhando, depois de uma vida muito
corrida, trabalho a mais de 20 anos. Hoje que depois de ter filhos que eu consigo me
dar ao luxo de fazer este tipo de coisa. Porque é uma... é abrir mão. Né? E você, eu
não imaginava, isso é uma coisa que mudou muito quando eu, quando você vira mãe,
você tinha me perguntado antes e eu não tinha lhe falado, você aprende a equilibrara
quando você é prioridade e quando você não pode ser a prioridade sabe? Que é a maior
parte das vezes. Você poderia investir em joias, não é nem em joias, eu digo, assim,
em batuaques, coisas, sabe? E tava acostumada a ter meu dinheiro para comprar, e
com o filho você vai pensar: comida pro teu filho, escolha pro teu filho, tudo, tudo,
toda a estrutura, e quando você escolhe uma coisa, você vai ver, eu já tinha época que
a gente comia na minha casa pão com café. Nunca tinha comida, comida farta. Tinha
que cuidar das crianças, tinha que, sabe? Tinha outras coisas para alocar o dinheiro.
São coisas que quando você, quando você é um casal ou uma pessoa sozinha sem
filhos você tem dinheiro, você tem mais condições de pensar em você, você tem um
monte de poder ser menos contábil, você sabe que tem e que você pode repor qualquer
problema que aconteça, né? E quando você tem filho as vezes essa segunda
oportunidade não tem, tipo uma escola como aquela que meus filhos estão, não é a
melhor escola, mas ela tem um nível mínimo. Ai a criança por exemplo, meus filhos,
querem sair juntos, brincar, jogar bola com os amigos, a fins, e tal, os coleguinhas,
como é que você, como é que você não vai deixar teu filho com, à mercê desse mundo?
Né? Por exemplo, todo dia, toda semana eles vão lá com o grupinho deles comer lá
no shopping, eles já podem sair da escola para comer. Como é que você vai dizer:
“Não, não vou te dar dinheiro”? então são pequenos grandes, pequenos grandes coisas
94
que você vai ter pensar e ceder porque sei lá, vinte trinta reais que eu tenho que abrir
mão se eu tenho eu não vejo diferença, mas se você não tem, você vai abrir mão de
alguma coisa em prol do teu filho, porque você vive por você e por um alguém. Eu
acho que isso muda muito na maternidade, sabe? A tua vida não te pertence mais
totalmente. Ou a vida que te continua te pertencendo ela te dá mais trabalho de ser
dimensionada junto com a maternidade. Você tem que pensar mais em como o teu
mundo reflete nos outros mundos. Coisa que você não vê quando está sozinho ou
quando você é sozinho sem filho. Você tem o privilégio de poder ser mais
irresponsável e a irresponsabilidade ela tem um preço para todo mundo e ela parece
que custa menos caro quando você não tem filho. (Persistente)
Após a apresentação das falas de Persistente, segue um roteiro com os principais temas
que ela abordou.
Para resumir e melhor compilar os principais temas e sua ordem na fala de Persistente,
segue um roteiro:
1. Equilíbrio na vida;
2. Trabalho versus maternidade;
3. Trabalho e autorrealização;
4. Ser ela mesma no trabalho;
5. Necessidade de trabalhar;
6. Demandas do trabalho atrapalhando as atividades de mãe;
7. Adaptação do marido e filhos;
8. Dificuldade masculina para lidar com o modelo de mãe atual;
9. Funções tradicionais do homem e da mulher;
10. Autorrealização;
11. Cobrança social;
12. Demanda das funções de mãe e trabalhadora;
13. Abrir mão;
14. Como sente-se em relação ao seu desempenho como mãe;
15. Relação com mulheres do grupo de mães;
16. Relação com os filhos;
17. Função de esposa;
18. Relação com o marido;
19. Trabalho e o padrão de vida;
20. Dificuldade de desprendimento;
21. Cobrança social;
22. Situações físicas próprias da mulher;
23. Trabalho: Primeiro estágio;
24. Segundo estágio;
25. Primeiro trabalho – Organizadora de festas;
26. Segundo trabalho – Escritório de Advocacia;
27. Experiência como empreendedora;
28. Retorno ao emprego anterior;
29. Troca de emprego;
30. Dificuldades no novo trabalho;
31. Mudança de país;
95
que pedíssemos algo para comer. Cada uma fez seu pedido e após a garçonete se afastar a
entrevistada foi esclarecida acerca dos objetivos da pesquisa e foi feita a pergunta inicial: Como
é ser mulher, mãe e trabalhadora?
É desafiador, né!? Bom, assim, eu gosto muito de trabalhar. É uma coisa que eu não
me vejo, eu não me vejo como mulher não trabalhando. Então esta foi uma opção
minha desde muito cedo. Por exemplo, a minha irmã é uma, ela optou por ficar em
casa cuidando das filhas, né. Eu não consigo viver assim, né. Em momentos de muito
estresse ai às vezes eu penso: ai seria bom jogar tudo pro alto e ficar em casa! Mas ai
me dá cinco minutos, eu paro e penso: não, eu ia ser uma pessoa muito infeliz, né.
Mas tem momentos que realmente é, conciliar as coisas é complicado. (Planejadora)
Por iniciativa própria, Planejadora continua sua narrativa falando do início de sua
carreira:
Eu vou começar contando para você do início da minha carreira e que tem a relação
ai com mãe. Eu comecei minha carreira na indústria, já sou engenheira de alimentos.
Sou formada já vai fazer, faz 18 anos e eu comecei trabalhando numa indústria onde
eu trabalhava bem na parte da produção. Então assim, eu tinha horário para entrar mas
não tinha horário para sair. Eu tinha que estar lá era assim, a regra era que tinha que
estar as 7 horas da manhã, tinha que estar lá vestida, pronta para trabalhar. Não tinha
hora para sair. Eu tinha problema que eu não conseguia nem ir em médico ou, sabe,
não tinha flexibilidade nenhuma. (Planejadora)
Eu fiquei oito anos trabalhando lá e comecei a ter vontade de ser mãe, né. E ai eu
falava assim: bom, aqui eu não posso continuar trabalhando se eu for mãe, aqui eu
não vou ter qualidade de vida. Minha vida vai ser muito ruim. E a partir daquele
momento e que eu comecei a identificar isso, eu comecei a abrir meu olho, eu gostava
muito de trabalhar lá, mas comecei a abrir o olho para buscar outras oportunidades.
(Planejadora)
A escolha da nova empresa para trabalhar foi orientada pela vontade de ser mãe.
Não estava no plano, queria esperar mais, mas engravidei. E no começo, na verdade,
foi bem tranquilo, assim. No estágio de carreira que eu tava, eu estava numa empresa
que eu pude sair, foi aceito muito bem, né, a questão da maternidade. (Planejadora)
Na verdade eu lembro que na entrevista o diretor, ele, claro, eu tinha 30 anos, não
tinha filho ainda, já com tempo de casada ele me falou: “olha, não se preocupe com
essa história de engravidar, acontece, né.” (Planejadora)
E foi assim mesmo, foi bem tranquilo e eu acho que quando você está grávida, está
num momento da empresa, assim, eu acho que a gente fica numa preocupação, fica
preocupada em como vai ser vir e de repente estou ausente. (Planejadora)
Mas a experiência que teve na empresa a fez sentir-se segura e repensar a maternidade
em relação a sua vida laboral.
Mas se você pensar na sua vida de carreira, aquele pedaço é tão curto, é tão pequeno
né, que na verdade não faz realmente uma diferença, né. (Planejadora)
Assim, eu acho que é uma coisa que dá, que é gerenciável, mas a mulher acaba se
cobrando, se pondo mais medo. Então no primeiro filho eu fiquei, ainda não existia a
licença maternidade de 6 meses então eu fiquei quatro e tirei mais um mês de férias,
fiquei cinco meses. A volta, assim, claro que eu tinha uma vontade de ficar em casa
com meu pequeno, mas também sabia que tinha que voltar. Ai eu tinha a opção de
voltar por meio período. Ai o que eu comecei a fazer, eu ia a tarde porque eu sabia
que se eu começasse a fazer. Se eu fosse de manhã, não conseguia sair, né. Então eu
ficava de manhã em casa, isso foi por um mês. Então eu ficava de manhã em casa e a
tarde eu ia, ficava só meio período. (Planejadora)
O que acontece, na época eu tinha uma chefe bem demandante, assim, o que eu lembro
de sofrimento é que eu amamentava ainda e o peito ia enchendo, começava a doer e
98
eu tinha que falar para ela assim: “agora deu eu preciso ir para casa”. Então eu acho
que este foi um dos primeiros conflitos que eu tive assim, de ter que lidar com o lado
profissional de que eu queria voltar queria tá inteira mas não podia à tarde porque
tinha até uma restrição física, sentia dor e tudo mais e eu precisava voltar para casa
para amamentar. (Planejadora)
Mas os primeiros anos com o filho foram bem tranquilos, na verdade, para mim. Ai
eu tive o segundo filho, e depois eu acho que começou a complicar pra mim porque
enfim, com a mudança de função eu comecei a viajar e tudo mais.
Com as viagens, e eu viajo até hoje, as viagens é mais difícil pra mim, pra lidar, né.
Porque, assim a organização para viagem né, eu vejo que é um desgaste porque eu
quero deixar tudo organizado, tudo estruturado. É questão do lanchinho, e dorme com
quem, organizar a agenda. Este dia fica com a avó, este dia fica com a tia, se é com o
marido. Então eu me cobro isso, de deixar organizado, porque quando viajo eu viajo
a semana toda. Saio domingo e volto só na sexta, né. Então aí pra mim é um desafio.
(Planejadora)
Então quando eu viajo, para ser bem sincera, eu não me estresso. Eu entro no trabalho,
entro na cabeça, assim, não sou de ligar para as crianças porque eu acho pior pra mim
e para elas, né. Se elas têm vontade de falar comigo elas pedem e eu falo, a gente se
dá super bem, mas a gente estabeleceu um modo de não fica se conectando o tempo
todo. Eu já organizei antes. Depois que eu tô lá, eu tô inteira. Tô na viagem, tô onde
eu tô e aí entrego nas mãos de Deus. E as crianças recebem bem isso. Quando eu volto
é aquela festa, né, sempre. “aí mamãe, tô com saudades!” e tudo mais. Mas eu
consegui lidar bem dessa forma, assim. (Planejadora)
Meus horários, bom, eu tenho assim, eu acho é, é bem flexível. Eu não tenho uma
cobrança de qual horário eu tenho que começar e terminar. Acontece que eu tenho
uma posição que é regional, eu trabalho com a América Latina, então os fusos horários
me atrapalham um pouco. Porque as vezes, dependendo do país que a gente está, tem
assim, as vezes chega a dar três a quatro horas de diferença. Então você tem que estar
disponível as vezes no final do dia. Pra mim já é 8 da noite, as vezes lá no México
ainda é 4 horas da tarde. Então eles estão, ainda, a todo vapor, né. Então eu tenho
assim um horário bem flexível. Quando eu sei que vou ter reunião até mais tarde, as
vezes, né, eu faço alguma coisa no meio. (Planejadora)
Tem que pegar os meninos na escola. Ai eu deixo o espaço alí no horário de pegar
eles livre, né, pego, volto, e as vezes, eles sabem, o meu marido é professor, ele
trabalha na faculdade e aí... E aí os meninos já sabem, mamãe vai ter que voltar e aí
continuar trabalhando. Ai eu venho de casa, me conecto no computador, né. E aí é
uma loucura. Imitando os filhos: “Posso falar mamãe? Alô?” (Planejadora)
E assim, é flexível, mas ao mesmo tempo é demandante. Porque não tem muito janela,
assim, aquela coisa fixa, ah, então você entra num horário. É bom? É bom. Por
exemplo, hoje de manhã eu não queria ver o jogo e ai eu precisava ir no médico e o
médico falou: “Então eu tenho esse horário”. Aí eu aproveito e vou e não tenho que
dar satisfação a ninguém. Então é entrega por resultado, independente do tempo que
você trabalha. Você tem que entregar o que tem que entregar. Se você tiver que
trabalhar 24 h todo dia para isso, paciência. Se eu trabalhar 4 e conseguir, ninguém
vai me cobrar pelas horas que trabalho por dia. (Planejadora)
Nesta vida cheia de compromissos e demandas, Planejadora fala de sua vida em ciclos
e sobre qualidade de vida:
E assim, eu acho que vem os ciclos, e aí com os ciclos eu acho que eu lido com a
relação com os meninos melhor. Tem momentos mais tranquilos no trabalho e tem
momentos mais estressantes. Eu até brinquei com a L*: Ih L*, se sua amiga quer
alguma coisa para saber sobre qualidade de vida esqueça! Porque... Começa a rir
Porque não estou no momento, de qualidade de vida. Porque, assim, eu estou vivendo
um período muito demandante. É um momento que eu tento pensar como passageiro.
Porque eu acho que se eu não pensar assim eu começo a pesar e questionar.
(Planejadora)
Mas por horário é, e tanto que eu posso trabalhar alguns dias de casa, se quiser. Não
preciso ir para o escritório. As vezes eu vou porque a internet está muito ruim e eu me
estresso mais ficando aqui em casa do que ir. E com as viagens, que eu não tenho
muita... Claro, eu posso fazer minha agenda, mas as vezes tem coisas que tem que
viajar e ficar vários dias fora. (Planejadora)
O que é apoio para você? Ajudar a lidar com tudo isso? Olha, na verdade meu maior
apoio é o meu marido. Eu tenho um marido fora da curva. Olhando os homens e os
maridos das minhas amigas, de irmã, primas, ele é fora da curva. Ele é um homem
que sempre morou sozinho, sempre foi independente, sempre soube se cuidar. Fazer
sua comida, lavar sua roupa, cuidar da casa, deixar organizado. Ele é extremamente
100
organizado, não gosta de bagunça. Risos. Então quem chama atenção da bagunça da
casa é ele. Risos.
Então ele é meu ponto de apoio principal. Ele realmente consegue organizar muito
bem as coisas do dia a dia com as crianças. Ele é quem, na maioria das vezes, busca e
leva para a escola, né. A gente varia um pouco pela agenda dela porque ele dá aula na
P** e aí os horários dele são de manhã e à noite. Varia a cada semestre. Então cada
semestre a gente se adapta pelos horários dele. Então, assim tem semestre como esse
que ele só tem aula bem cedo, que é o dia que eu levo as crianças e segunda e sexta
que eu pego. Nos outros dias ele leva e busca. (Planejadora)
Na divisão de tarefas, Planejadora aponta alguns pontos que o marido pode melhorar:
Vou falar assim, o quê que meu marido não faz bem, que eu acho que não faz bem,
mas eu não cobro porque eu não consigo fazer, é a questão da alimentação,
alimentação saudável. Para mim criança tem que comer saudável, lanchinho com
fruta. Quando às vezes eu acordo e vou tomar banho, quando eu vou na cozinha o
lanche está pronto, das crianças. Você entendeu? Eu penso assim: Deus me livre
reclamar! Imagina! Risos. A pessoa fez! Né, a pessoa pôr o lanchinho, uma
bolachinha, não sei o que, né. Ai de vez enquanto eu vou lá, escondidinha, brinco com
ele, ele vê, e troco uma bolacha por uma frutinha, ponho um iogurtinho, né, e ele dá
uma risada. Não posso de forma alguma reclamar, falar... (Planejadora)
O que a gente precisa de um suporte adicional é que, como ele dá aula à noite, quando
eu viajo, aí a gente precisa de suporte, e aí a aminha mãe, eu tenho mãe aqui. Ai ela
fica com as crianças e faz essa gestão de leva e trás, às vezes tem que dormir porque
ele chega muito tarde e já passou do horário das crianças dormirem, né.
E ai não tem nem como eles ficarem sozinhos e nem voltarem para casa. Ai eles já
dormem na avó. E ai varia um pouco de semestre a semestre. Por exemplo, segunda-
feira eu já viajo. Viajo de novo. Mas ai eu teria que ir no domingo, na verdade, mas
ai para ficar um dia a menos dormindo na avó, ai a gente já, sabe, aí eu ajusto a data
de ir e voltar, um dia, justo para eles poderem ficarem mais em casa e ficarem mais
tranquilos e manterem a rotinazinha deles. (Planejadora)
Assim como em Persistente, Planejadora relata uma inversão dos papéis com o marido:
Então quando a gente olha friamente, assim a gente tem um pouco papel mais
invertido do que a maioria das famílias tradicionais, onde o homem é mais o provedor
de casa. A gente tem um papel um pouco invertido e ele é uma pessoa que lida super
bem com isso, e acho que eu também. Eu acho que a gente... O pessoal fala assim:
Seu marido lhe ajuda? Não, sou eu quem ajudo ele. Eu tenho muita consciência, sei
como é difícil, como é complicado. Então essa questão, assim, de gestão, tudo o que
eu posso fazer, a gente tá junto. E é o mesmo de educação, de... é... De como agente
junto passa os valores para as crianças, precisa estar alinhado, né. (Planejadora)
Antes, bom, eu era muito mais individualista, quem sabe mais tranquila. Eu fiquei
casada muito tempo sem filho. Era, tipo, você vive sua função, alí, não tem hora, você
101
faz do jeito que você quer. Depois de ser mãe eu acho que você muda no olhar pra
vida, assim, o senso de responsabilidade, né. (Planejadora)
Uma das mudanças foi a maneira como encarava as atitudes de seus próprios pais.
Você começa a entender coisas dos pais, onde, as vezes eu me pego repetindo
comportamentos que eu criticava dos meus pais. Ai eu falo assim: Nooooosa tô
fazendo igual, né. Ou assim: Não, agora eu entendo porque eles faziam, né.
(Planejadora)
Eu acho que por mais que a gente, é inevitável que a gente muda a maneira de ver a
acaba repetindo umas coisas ou acaba sendo mais crítico, tipo, em alguns pontos de
vista, assim, tipo relação com tudo, relação com droga, né, de como... Aí antes eu:
não, restringir, ficar oferecendo bebida pra criança. Pra criança não, pro adolescente
em casa. Hoje eu já penso: os meninos vão crescer e como é que eu vou lidar com
isso? Risadas.
O que é certo? O quê que não é? Então assim, acho que é muito mais... Hoje eu sou
mais questionadora em algumas coisas pela preocupação deles, como, de como
acertar. E não só do que eu acredito, mas de como fazer, como formá-los e praí eles
terem, poderem fazerem a escolha deles. Como ajudá-los a fazer a escolha certa, que
não dê problemas. (Planejadora)
As relações sociais também não saem imunes das mudanças após a maternidade.
Então, o que mais mudou? Eu acho que assim, relação com amigos muda. Porque
antes você tem uma relação de sair, estar disponível o tempo todo. Quando você tem
filhos, isto muda. Até porque muitos dos meus amigos e minhas amigas eles acabaram
não casando ou não tendo filhos. Então eu acho que esta relação mudou
Não que a amizade muda de carinho, amizade muda na, de quando tá junto, de
frequência, porque são outras realidades. Eu acho até que quando você tem é, aí
começa a criar famílias junto, famílias conseguem até agregar, mas assim, quando
você não tem filhos da mesma idade fica mais difícil de conectar porque os interesses
e os horários são muito diferentes. (Planejadora)
Então acho que essa, esse tempo, e as vezes quando você tem mais um tempo é de
ficar com a família. De ir ver avó, vô, primos, entendeu? Eu acho que eu virei muito
mais viver com família do que com amigos. (Planejadora)
Acho que é um pouco, assim, do que a gente falou no começo. As mulheres acabam
ou postergando muito a maternidade, pensando na carreira. Mas é um período, que se
102
você pensar em carreira, é muito pequeno. Eu acho que a gente dá uma freada, se é
uma pessoa que quer se desenvolver, quer crescer na carreira e tudo o mais, ter um
filho dá uma, é um pesinho no freio, assim, né.
Eu quem sabe não senti. A minha relação com a profissão foi bem porque eu me
preparei muito para isto, estava querendo isto. Não veio num momento que eu estava
querendo coisas diferentes, querendo novos desafios, e não podia gerenciar isto. Não,
eu estava num momento que eu consegui lidar, mas eu acho que tem mulheres as vezes
estão querendo crescimento. Vem o filho e ai deve dar um, uma confusão, assim.
(Planejadora)
Mas eu acho que tem que ter essa noção, assim. Tenha, que tudo passa, tudo se ajeita,
né. É passageiro, ao lado da vida profissional, esse momento de ser mãe e com um
neném pequeno, que é o mais complicado, isso passa. E depois as crianças vão
crescendo, você vai vendo que vão criando identidade. (Planejadora)
Dentre os arranjos para conseguir conciliar maternidade e trabalho, a escola dos filhos
aparece como um auxílio para diminuir os conflitos e dificuldades.
Claro, você vê meu exemplo, meus filhos fazem escola integral, agora desde
pequenininhos eles foram e eu não sofro com isso. Porque eu acho que eles ficam
bem. Eles vão para a escola felizes, eles voltam da escola felizes. Eu não sofro por vê-
los um dia inteiro na escola. Eu acho melhor do que eles ficarem em casa no tablet,
no computador, televisão o dia inteiro, assim, né. Então eu lido bem com isso. Eu vejo
que tem mulheres que não, se culpam “Meu Deus”, eu vejo, assim, cobranças, mais
tias: “Mas eles ficam o dia inteiro na escola?! Coitados! Não podem brincar”
Eles são... Eles voltam com energia, voltam brincando e voltam bem. Não vejo como
um problema, né. Mas tem que saber lidar com isso, ele pode querer, é, assim, acho
que é, a mulher tem que pensar que ela tem que ser mãe, mas tem que continuar sendo
ela, né, ela tem que continuar sendo mulher e ela não precisa parar a vida dela. As
crianças que tem que se adaptar e elas podem se adaptar e viver muito bem, sabe?
Acho que a mulher não deve se culpar; “Não, meu filho não pode ficar o dia inteiro
na escola se não ele vai ser infeliz”. Não necessariamente, né. Eu acho que é uma
questão, assim, tenha, veja, é você que está no comando, é você que consegue, vai ter
que saber administrar, ter jogo de cintura, mas tudo é possível. (Planejadora)
Sobre o tempo para ser mãe, Planejadora aconselha a não postergar a maternidade.
Então, eu acho que não diria ao contrário, assim. E eu falo muito para as meninas,
assim, que trabalham muito comigo, que são mais novas, eu falo: “Olha, não fiquem
esperando muito para ter filho, assim, não esperem para ficar muito mais velha, porque
eles são tão demandantes, a gente tem que ter energia”. Então, assim, no final das
contas eu acho que quanto mais novo tiver filho, minha opinião, mais você consegue
acompanhar e viver aquilo junto, sabe? Porque eu não sei, a gente não sabe como,
parece que põe dois segundos na tomada e recarrega 100%. Então, eu acho que a
mulher não deveria esperar. Porque hoje eu vejo muitas esperando 40 anos para ter,
sabe? Tem mais cedo que isso, até por cabeça e geração é mais tranquilo.
(Planejadora)
Como parte do programar-se para ser mãe, está a escolha do local de trabalho.
103
Eu acho que foi bem, eu acho que foi, é, pelo menos assim, na empresa que eu estava
antes, eu sabia que não ia ser, que ia ser um caos. E eu vivenciei, por exemplo, uma
chefe, que ela assim, com dois meses de neném o diretor chamava ela, e acessava,
queria, sabe, né, ajuda, pedia para voltar. E eu tinha muito medo disso.
Aonde eu trabalhava, aonde, eu né, quando eu tive as crianças, essa parte de licença
maternidade é muito respeitada. Então, assim, durante o momento que eu estava de
licença eu desconectei totalmente do mundo, não senti pressão nenhuma. Antes de
sair, teve a pressão de assim: “então você vai sair, deixa tudo organizado.”
(Planejadora)
“Né, então vamo fazer um planejamento para deixar tudo organizado”. E os meus
dois meninos nasceram antes do tempo. O primeiro foi meio no susto e aí para o
segundo eu me preparei um pouco mais, tentei deixar as coisas organizadas justamente
com medo, e acabou acontecendo a mesma coisa. (Planejadora)
A licença maternidade foi solicitada com uma certa apreensão, mas foi bem respeitada
pelos chefes e pelos colegas. Mas no retorno houve uma demanda de rapidez na adaptação e
uma pressão dos colegas e da chefe imediata para um melhor desempenho.
Então assim, eu senti aquela pressão antes de sair, durante nada. E quando eu voltei,
na verdade é assim, eu senti que quando você volta, você volta total, assim, as pessoas,
não é você que voltou total, são as pessoas que “Ah, agora que você tá aqui, então
você tá aqui”, e ai te demandam, então a adaptação para isso tem que ser rápida,
porque as pessoas já estão “Ah, você teve seu tempo, ficou 5, 6, 7 meses que seja fora
e a gente respeitou, mas agora que você voltou vamo, né...” Então isso eu senti, mas
nunca uma cobrança de dizer assim “Ah você engravidou, né”. Ou “Ai você deixou
de cumprir isso porque você saiu e teve fora”, não, eu acho que, é, e como eu trabalho
numa área, que, digamos 70% é mulher, então é muita mulher, sempre grávida.
Sempre tem isso, então acho que é, não é só da boca pra fora. Mas voltou, volte! Tinha
esse caso, que lhe falei, da minha chefe, que quando eu voltei que eu falava para ela
“Vou embora porque eu tenho que dar de mamar”. Mas assim, eu lembro que eu ficava
brava com ela, que falava “Meu Deus!”, que não tem respeito, mas acho que hoje eu
olha pra trás e entendo, assim, por ela, e era o jeito dela, que ela queria entregar as
coisas, queria fazer, é. Na época foi um pouco difícil, mas hoje eu falo: “Ah, não sei
como eu estaria lidando também, né, ás vezes uma pressão de entrega”. Se por no
lugar, assim. (Planejadora)
Eu acho que quando você, antes de ser mãe, eu só tinha o que era, eu imaginava o
momento mais de cuidar do bebê, do início da maternidade. Eu não tinha muita noção
do todo, (...) eu acho que a preocupação que você mais imagina é: Será que eu vou
conseguir lidar com bebezinho? Será que eu vou fazer crescer saudável, bem? Eu acho
que as minhas preocupações eram essas. Assim, não pensava muito de: “Ah, vou ter
que mudar como pessoa”, não. Quando meu primeiro filho nasceu, ele era
extremamente tranquilo, era um bebê que dormia, só que ele nasceu muito pequeno e
104
eu tinha que, assim, eu era do tipo que eu tinha que acordar pra dar de mamar, porque
ele dormiiiiiia. Era uma tranquilidade. Foi um momento de transformação muito
tranquilo. (Planejadora)
Apesar de dizer que a primeira gravidez foi tranquila, Planejadora relata o sentimento
de angústia e preocupação ligados à saúde do filho e a sua capacidade como mãe
Assim, claro, era difícil de acordar, e tudo mais, eu tinha um pouco de angústia de que
ele não crescia, e se realmente dar mama era o suficiente. Começaram a aparecer
aquelas angústias de: será que eu estou sendo uma boa mãe? Será que estou fazendo
a coisa certa? Será que eu sou capaz mesmo? Né, e ai você vai se pondo a prova e ai
não, eu consigo. (Planejadora)
Enquanto o primeiro filho lhe trouxe uma data de nascimento inesperada, mas um
comportamento tranquilo, Planejadora teve maiores dificuldades nos primeiros meses de vida
do segundo filho, pois o comportamento do bebê a privava do sono e a fez questionar como
seria sua vida se a situação continuasse daquela forma.
Quando veio meu segundo filho, ele era muito bravo, muito bravo. Ele chorava dia e
noite. E ai ele me tirou do prumo, porque eu não dormia. E aquilo foi me deixando
doida. Então, assim eu dormia na poltrona do quarto dele, do lado, porque ele
acordava de hora em hora. Então ele acordava, eu dava assim, balançava um
pouquinho, ele dormia, e ai ele acordava de novo, daí, de 2 em 2 horas eu dava de
mamar, assim. Isso foram por 6 meses. Ai eu já estava ficando bem doida e aí eu entrei
num momento de eu, assim, eu falava assim: Gente! Como que vai ser lidar com essa
criança pelo resto da vida? Será que ele, assim, sempre vai ser assim? Será que ele
nunca vai se acalmar? O que é que vai acontecer? Como é que eu vou lidar com isso?
Aí eu lembro que ia no pediatra e ele era bravo, e o pediatra falava assim: “Calma,
calma que ele vai amadurecer”. E foi passando um ano, passando um mês ele “Calma,
calma que ele vai amadurecer”. “Mas dotô quando é que ele vai amadurecer?”
(Planejadora)
E a minha sogra: “calma que ele vai ser a alegria da casa”. E menina, foi até uns dois
anos ele muito bravo, muito. E ai eu era muito firme com ele. E quando ele foi
crescendo mais ai eu “não, peraí, não é você que manda em mim, sou eu quem manda
em você.” E ele foi amadurecendo e se acalmando, eu hoje é eu que falo, ele é o
xodozinho ele é quem faz carinho, abraça, “mamãe”, ele, né, realmente não sei se
amadureceu, mudou, está sabendo lidar com as coisas dele. Então, assim, por um
momento eu me questionei muito como mãe. Foi bem difícil lidar com tudo isso. Mas
hoje eu vejo, assim, não, as pessoas tinham razão. Era um momento que eu tinha que
ter paciência, né. E hoje ele é um doce. Ele não é uma pessoa tranquilinha, né, ele ás
vezes tem suas... Mas ele é uma graça, uma menino amoroso, né. (Planejadora)
105
Planejadora ressalta que as experiências que teve como mãe aceleraram sua mudança:
Então hoje eu vejo hoje eu como uma pessoa aprendendo no caminho, entendeu?
Como que eu era, como que eu sou? Eu acho que a gente vai mudando todos os dias,
né. A maternidade pode acelerar a mudança, mas quando você está vivendo, tudo o
que você passa de experiência te muda, né. (...) Então eu sou uma pessoa
completamente diferente do que eu era antes. Mas, assim, não sei seu eu tenho para
você uma referência, os meus valores não mudaram. Assim, você começa a questionar
umas coisas, assim, mas o valor, o que eu sou, isso não mudou, isso não. Eu acho que
só fortalece. (Planejadora)
Pelo menos no trabalho temos várias mulheres assim. (...) É, e na área de pesquisa e
desenvolvimento, majoritariamente somos mulheres. Então, assim, tem homens no
meio, mas nós somos mulheres. E lá nós temos muitas discussões disso, e a mulher
no ambiente de trabalho, né, o empoderamento de mulheres, etc. (Planejadora)
Só que assim, quando a gente tá, quando vê a carreira, a gente vê lá, tem muito mais
mulher, mas a medida que vai subindo na carreira, vão ficando mais homens. Ai vai
diminuindo muito o nível, aí inverte. Nas grandes posições, nas mais altas posições,
tem muito mais homens, essa é um ponto de discussão que a gente leva muito lá. Se
discute assim: o que é que faz isso? Porque a mulher vai bem e ela chega num ponto
que ou não vai mais, ou não cresce, o que é que acontece? E aí são várias as discussões
e teorias, né.
E eu acho que assim, a maioria é realmente a família que barra. O que a gente vê, é
que assim, vai ficando demandante as carreiras e nas famílias a maioria chega um
limite que tem que se optar, ou um ou outro. Porque os dois seguirem numa carreira
e, numa carreira demandante, tudo mais, é muito difícil. Pode acontecer? Pode, mas
eu acho muito difícil. E sempre que tem lá discussões, a gente sempre fala assim; “Ah,
como é que são as mulheres que estão nos cargos de liderança?” A maioria os homens
estão em casa ajudando. Assim, eu não lembro ainda de nenhum caso em que os dois
estão progredindo na carreira e tenham família, tenham filhos. A não ser que os filhos
já sejam grandes, bem mais velhos, que ai não tenha mais essa relação de dependência.
E aí a gente chega assim, realmente. Acaba que a família acaba sendo o bloqueio. As
mulheres acabam por optar, quando chega num momento que vê que vai impactar a
vida dos filhos, aí, ó opta por parar. (Planejadora)
Isso de carreira eu me preocupo, porque eu tenho muita energia, tenho muita vontade,
adoro o que eu faço, mas as vezes eu falo assim: Nossa! Se eu não puser o pé no freio,
eu, assim, eu não sei como vai ficar, porque ai eu vou me dedicando, dedicando... Eu
tenho que por um pé no freio, tenho que dar mais atenção à minha família, assim, né.
Mas é uma coisa que eu fico me policiando. É uma coisa que eu gosto, que vou e, né.
Nunca precisei fazer em algum momento, as acho que em algum momento pode
acontecer. E, bom o caminho para estar preparada, anda não tenho. (Planejadora)
Outra coisa que a gente fala muito e eu acho que tem é a questão da vaidade. Assim,
né, que os homens são mais vaidosos, ou gostam mais do poder. Né, porque eu acho
que, pra mim, carreira, eu tenho que ver um sentido, eu tenho que ver algo que os
valores da empresa têm que estar iguais os seus, você tem que ter um propósito.
Crescer numa carreira porque você pode dar mais, porque você pode ensinar a pessoa,
você pode, que seja uma coisa natural, pra mim isso é gostoso. Agora, a partir do
momento que você quer crescer por poder, isso não me atrai. E eu acho que isso pros
homens, eles atraem mais. Sabe, então essa relação de poder eu acho que faz o homem
subir mais alto e para as mulheres menos. (Planejadora)
Então, assim, se você me perguntar hoje, o que eu falaria pra você, assim, olha, eu
gostaria de poder ficar na posição que eu estou hoje por muito mais tempo pra ficar
numa zona de conforto melhor, poder cuidar mais dos meninos, ter tempo para ver
eles crescerem. O que acontece é que a empresa te cobra, sempre tem que estar
crescendo, sempre querendo mais. Né, pelo menos na, aonde eu estou, que é uma
empresa americana. Então esse é um pouco de um dilema, assim, de você falar: “aqui
já tá bom pra mim”. Sabe, eu falo assim, eu já cheguei no ponto de carreira que eu
sonhava chegar. Quando, eu sempre me imaginei, eu já atingi. Então as vezes eu acho
que eu vou entrar numa crise se eu tiver que, por imposição da empresa, continuar
crescendo e não conseguir levar, não conseguir lidar e ter esse equilíbrio pessoal e de
trabalho. Por que pra mim já tá ótimo assim, eu já me sinto realizada, né. Não tenho
muita ambição de quero mais, mais, mais! Eu acho que é um limite aonde você, é, ter
prazer e simplesmente ter poder, ou ser sugado. Assim, né, ai eu acho que essa relação
não pode existir. Você não pode ser uma pessoa que se sinta que está ai só porque
você está, tem que entregar, entregar, entregar e não ter propósito, né. Então eu não
gostaria de ter que precisar crescer. Só tenho que convencer minha chefe a isso.
(Planejadora)
Sobre as mudanças, Planejadora aponta que não foi um período de mudanças só para
ela, o marido também precisou adaptar-se.
Acho que assim, na verdade é para ele foi uma mudança grande também, porque como
eu trabalhava ele também teve que se adaptar, acho que como pai né? E a cuidar dos
filhos fazer papel de cuidar das crianças. (...) graças a Deus ele não é nada machista
então para ele o fato de eu trabalhar e ele tem que cuidar das crianças também é um
supernatural, assim, é uma coisa não existe eu te ajudo e você me ajuda, né? Nós dois
assim, cada um faz a sua parte de só que normalmente cada um faz mis o que gosta,
né? Eu acho que o que a gente teve que aprender juntos foi isso né de assim.
107
É uma demanda diferente também, quando eu trabalhava, mas era só nós dois fazer o
tempo que queria dormir a hora que eu queria, né? Depois além do trabalho como eu
tinha que dar conta aí ele também tinha que dar conta. Aí a gente tem que aprender
acho que nesse sentido né? Como se adaptar e falando de aprendizado assim, ele teve
uma mudança profissional bem grande depois que teve filho mas a mudança dele foi
assim, ele viajava muito ele viajava de carro. (Planejadora)
Assim como Planejadora, seu marido também mudou de trabalho por causa da
paternidade.
Ele viajava todo o sul do Brasil e ele teve vários acidentes porque ele viajava toda
semana, assim fazia tipo mil quilômetros sabe assim, chegava na cidade e quando
nasceu as crianças ele falou assim “eu não quero correr esse risco por causa deles e aí
depois que o V*** já tinha nascido, ele tinha tinha 1 aninho, ele decidiu largar tudo.
E aí ele falou “eu vou procurar outra coisa para fazer”. E aí eu apoiei ele falou assim,
“olha então fica tranquilo, porque se você não conseguir nada eu aguento as pontas
porque eu to trabalhando até você conseguir alguma coisa” e só que assim não deu
uma semana e ele começou a trabalhar na faculdade se incluiu no mercado, né? Eu
acho que foi um desafio e nesse aspecto que trabalhava tudo apoiei “ vai que eu
aguento as pontas, que a gente da um jeito” Mas é isso algo mais agora não me vem
na cabeça, quem sabe se eu for falando outras coisas. (Planejadora)
Planejadora retorna ao tema de como imaginava ser mãe e novamente fala que o real
vai muito além do que se pode imaginar ou planejar.
Aí não da para imaginar mas as pessoas falaram que vai cuidar do bebezinho que vai
chorar que ele vai ser dependente, mas não a gente não consegue imaginar. Se planeja
para uma dificuldade, mas quando vem a realidade assim você falar uau os desafios
são, ne quando te pega, são muito maiores, mas também a compensação assim.
Quando você recebe um sorriso um carinho, né? E aí como já tudo compensa né?
Então antes de ter filho. Eu sabia que eles iam precisar muito de mim, né? Que eu ia
ter que me dedicar, mas não tinha noção do que que era se dedicar não tinha essa
percepção real do que é.
Você ter que formar as pessoas não só cuidar, dar de comer, mas educar, essa noção
do que é educar, não tinha acho que só tem a noção do cuidar não do educar que para
mim é o mais desafiador é mais importante no final das contas. (Planejadora)
E aí saiu uma posição para mim que é uma posição digamos que eu vou dar um passo
atrás, mas fico mais sossegada aqui em Curitiba ou. Porém é uma posição que eu sei
que eu não posso ficar muito tempo porque pelo salário que já tenho, não se sustenta
por muito tempo então a possibilidade que me deram era ir pra Argentina, mudar pra
Argentina, e agora estou num dilema assim, o que é melhor na vida ter esse momento
mais de paz na vida e curtir mais as crianças poder aproveitar mais eles né? Ou é
continuar desafios e ter mais segurança fazer eles passarem por uma experiência
também diferente no lugar diferente aprender uma língua uma cultura diferente, né?
108
Nesse momento hoje a decisão, os filhos pesaram muito de assim, o que é o que eu
faço da minha vida, eu acho que eu que eu vou decidir eles vão ser muito fortes nesse
ponto porque quando veio assim a possibilidade falar de mudança uma mudança
maior ter eles assim foi muito mais forte do que se fosse sozinha. Eu já acho que já
tinha tomado a decisão, mas pensando neles de proteção e o que é melhor para eles.
Aí me pegou e aí é um conflito assim é um momento muito de conflito entre escolhas
e pensando neles, né? Não quero.
Priva-los também de outras oportunidades, mas também sei que eles adoram aqui
adoram aqui o Colégio. Os dois não querem mudar e tem a família. Temos alguns tios
ne, então é um misto de sentimentos difícil de lidar. Então o que eu combinei com
meu marido é que a gente vai sentar, conversar bem colocado papel pros e contras,
né? E do que a gente deve fazer né? Se é ficar aqui por um tempo arriscar e esperar
uma outra mudança ou já é ficar esperto, antenada pra outras oportunidades né?
(Planejadora)
Ao ser indagada sobre como seria a vida de trabalho e de mãe se o marido não a
apoiasse, Planejadora ressalta a importância do trabalho em sua vida.
Ai ia ser bem complicado, ia ser bem complicado porque eu já falei isso para você,
eu não consigo me imaginar sem trabalhar. (...) Que isso que eu gosto, né, então se ele
não me apoia-se eu acho que ia ser bem chato nem acho que a gente ia se dar bem
como se dá hoje, eu acho que seria outra vida, outro casal tendo experiências. Eu vejo
na minha irmã e o marido não apoia que ela trabalha faz de tudo para dar errado os
trabalhos que ela arruma, acho que também viveria em conflito. Não sei se sustentaria,
sinceramente acho que afetaria meus valores assim não sei se conseguiria sustentar.
O amor para mim é você aceitar o outro com as coisas que ele gosta né então alguém
que barrasse isso de mim acho que não ia ser bom. (Planejadora)
Sobre sua vida, em geral, Planejadora se mostra satisfeita com sua família e com os
desafios e estímulos do trabalho.
Me sinto realizada por que eu faço o que eu gosto, eu sou sempre desafiada que é uma
coisa que eu também gosto, eu acho que isso traz crescimento e eu tenho experiências
que eu acho que me fortalecem como pessoa.
Eu tenho no trabalho na parte de que eu tenho contato com pessoas de vários lugares
do mundo que isso é uma coisa que eu gosto, eu tenho uma família que se dá bem né
é, que tem seus desafios obvio né e acho que me sinto como uma pessoa também como
um olho tem todos os problemas. (Planejadora)
Além dos filhos e do marido, Planejadora também precisa ajudar os pais que estão
ficando idosos.
Acho que meus pais pelo tempo que tá passando eles ainda, não é que exigem, né?
Mas a medida que vai passando você vai vendo que eles vão ficando cada vez mais
vulneráveis, né? Então de dependência de fazer coisas não. Acho que é uma atenção
emocional que eles estão precisando, né? E aí as vezes claro entra em conflito porque
nem sempre eu consigo dar toda atenção que eu queria mas ao mesmo tempo a minha
mãe sabe da minha forma é que eu não sou daquela filha que liga todos os dias que
toda hora me forço a ligar algumas vezes por semana para saber como é que tá você
tá tudo bem. Fala rapidinho, mas ela me conhece. Ela sabe que eu tô aí, se ela precisar
109
assim como eu sei que ela tá se precisar, né? Mas é a nossa relação é muito respeitosa
em relação a isso, né? (Planejadora)
Neste ponto Planejadora pede por mais uma pergunta e lhe é feito o seguinte
questionamento: Na entrevista passada você disse que mudou de emprego por que queria ser
mãe, como foi a escolha da empresa que você está hoje?
Na verdade eu não escolhi muito assim, eu fui convidada, mas quando eu vi na minha
conta eu trabalhava numa empresa pequena. Onde eu tinha que ser o faz tudo, então
assim eu tinha hora de entrar não tinha hora par sair, eu tinha que entrar as 7 em ponto
e não tinha hora pra sair as vezes eu trabalhava durante a madrugada rodava os turnos
ne, as vezes só saia de manhas as vezes as 3 da manhã então quando eu vi, eu não, é
uma multinacional horário de uma função administrativa não ia ta mais em fábrica,
né? Eu conversei com as pessoas. Tipo assim, eu acho que vou ter mais qualidade de
vida que realmente teve uma mudança da água pro vinho, né? Então eu busquei saber
da empresa se realmente tinha essa qualidade de vida e eles tinham muita fama de
equilíbrio de vida pessoal e do trabalho que era uma coisa que dava muita importância,
flexibilidade de horário e realmente eu não tinha horário tinha as horas que eu
precisava trabalhar mas eu tinha flexibilidade de horário. Então realmente foi eu acho
que melhorou a minha qualidade de vida.
Com o tempo a carga de trabalho foi aumentando então o equilíbrio foi diminuindo.
Mas eu ainda acho comparado às vezes com alguns colegas com alguns amigos que
eu vejo o trabalho em empresas menores, você meio que consegue organizar o seu
horário se você precisar sair um momento você vai resolve, eu faz mais de uma
semana que eu não vou trabalhar no escritório que tava muito pesada semana e ficar
em casa para conseguir pegar os meninos, então não fui e aí ninguém me cobra. Assim
claro que você tem que ir para fazer o networking para conversar. Então foi escolhida
uma empresa que dava esse equilíbrio que eles chamam de work with balance, né o
pessoal e trabalho. (Planejadora)
(Os filhos) Eles gostam de ir no clube no final de semana para fazer esportes, eles
adoram futebol adoram.
Às vezes tenho preguiça né? Não sei o que que eu faço. Tá bom eu vou junto, mas
sim, se eu não tô afim, aí eu fico lá com eles, mas eu fico no meu livro, nem sempre
dá certo, né? Então eu tenho que tirar esses momentinhos sabe que eles estão
brincando com o pai, dô minha relaxadinha aqui me permito mais ou menos uma hora.
Mas hoje em dia é um pouco isso, só que eu faço no máximo é falar eu vou tomar uma
taça de vinho à noite. (Planejadora)
Para resumir e melhor compilar os principais temas e sua ordem na fala de Planejadora,
segue um roteiro:
1. O trabalho;
2. Dificuldade em conciliar as tarefas de mãe e trabalhadora;
3. Início da carreira;
4. Horários de trabalho;
5. Mudança de emprego;
6. Descoberta da 1ª gravidez;
7. Posicionamento do diretor da empresa atual acerca da maternidade;
8. Receios em relação ao trabalho por estar grávida;
9. Licenças maternidade;
10. Atividades da maternidade em conflito com dedicação ao trabalho;
11. Retorno ao trabalho após a licença maternidade;
12. Atividades da maternidade em conflito com dedicação ao trabalho;
13. Relato da 2ª gravidez;
14. Mudança de cargo no trabalho e viagens recorrentes;
15. Organização familiar para poder viajar;
16. Apoio da mãe e da irmã;
17. Separação trabalho e casa;
18. Horários flexíveis no trabalho;
19. Gestão do tempo;
20. Demandas do trabalho;
21. Ciclos de vida;
22. Qualidade de vida;
23. Local de trabalho e home office;
24. O marido;
25. Divisão dos cuidados com os filhos;
26. Aspectos nos quais o marido pode melhorar;
27. Apoio familiar;
28. Rotina dos filhos;
29. Inversão das funções tradicionais;
30. Mudanças após a maternidade;
31. Mudanças na relação com os pais;
32. Mudanças na maneira como encara a vida;
33. Mudanças nas relações com amigos;
34. Estreitamento dos laços familiares.
35. Maternidade e carreira;
36. Transitoriedade das situações;
37. A escola dos filhos;
38. Momento para engravidar;
39. Mudar de trabalho pensando em ser mãe;
40. Ausência do trabalho para licença maternidade;
41. Retorno ao trabalho;
42. Ser mãe;
43. Como foram os primeiros anos de vida do primogênito;
44. Angústias em ser mãe;
45. Nascimento do filho mais novo;
111
46. Rotina durante os dois primeiros anos de vida do filho mais novo;
47. Maternidade e mudanças na identidade;
48. Ambiente de trabalho;
49. Carreira da mulher e a família;
50. Trabalho e família;
51. Motivações ligadas ao trabalho;
52. Vontade de crescer;
53. Divisão dos cuidados com os filhos;
54. Mudança de trabalho do marido;
55. Maternidade imaginada e maternidade real;
56. Proposta de novo cargo;
57. Preocupação em relação às mudanças que aconteceriam na vida dos filhos;
58. Trabalho como algo central em sua vida;
59. Autorrealização;
60. Auxílio aos pais idosos;
61. Mudanças de emprego;
62. O que determinou a mudança de emprego;
63. Convivência com os filhos;
64. Tempo para si mesma
4.3. PRIORIDADE
FIGURA 7 – IMAGEM REPRESENTATIVA
DE "PRIORIDADE"
Codinome: Prioridade
Idade: 44 anos
Escolaridade: Mestrado
Estado Civil: Casada
Classificação da empresa: Médio porte
Função: Psicóloga Clínica e Professora
Renda familiar:12 a 15 salários mínimos
Quantidade de filhos: 2 filhos
Idade dos filhos: 9 anos (filho) e 14 anos
(filha)
Outro dia eu perguntei para minha filha: “O que você quer ser quando crescer?” Minha
filha respondeu: “Quero trabalhar bem pouco para ter tempo para ficar com a minha
filha”. Ai nisso eu parei e pensei sobe a minha vida e sobre se valia a pena levar aquela
vida, pensei em quanto a vida estaria passando, os meninos crescendo e eu só
trabalhando. (Prioridade)
Isto fez Prioridade questionar-se sobre suas escolhas de vida. Após conversar com o
marido, Prioridade diminuiu suas horas de trabalho para poder dar mais atenção aos filhos. Ao
falar sobre o como seria a vida se não tivesse sido mãe, Prioridade relata que teria mudado o
rumo da sua vida por completo, desde o país onde moraria até a profissão que estaria exercendo.
113
Na época da faculdade eu até tentei fazer uma extensão do meu curso que tinha que
ser a convite da universidade de lá, acabou que eu mandei toda a documentação falei
com o reitor tudo e não deu certo. Então ele brincando (o marido), “se você tivesse
ido pra lá se você não tivesse ficado em Londrina a gente não teria formado uma
família”, mas não que eu não queira, não quisesse ter a família que eu tenho, mas se
as coisas tivessem tomado outro rumo com certeza a história hoje seria outra né. Teria
ficado mais na área acadêmica, uma outra coisa que me fez pensar nisso, não com
desejo, mas enfim, quando eu converso com algumas amigas que são doutoras, pós-
doutoras eu penso para mim mesma se eu tivesse seguido por essa carreira talvez eu
não tivesse casado não meus filhos, não teria tido o que tenho hoje e não penso que
teria sido uma boa opção. Eu gosto de ter tido a opção pela maternidade, de levar
assim aos tranco e barrancos (...) de fazer as coisas assim cronometradas e com a ajuda
do meu marido consegui fazer dar certo. (Prioridade)
As escolhas profissionais não foram as únicas afetadas pela maternidade, o dia a dia
de Prioridade também requer renúncias, a exemplo, as horas de sono:
Abrir mão, acho que do tempo e do sono, principalmente do sono, quando eu vejo
uma grávida eu falo assim olha sabe quando as pessoas falam pra você dormir, eles
tão falando sério, durma, porque você nunca mais vai dormir igual seu sono nunca
mais vai ser tranquilo amiga, então durma tudo que você puder. (Prioridade)
Prioridade relata que para conciliar seus objetivos profissionais com a maternidade
tem que gerenciar com habilidade seu tempo, aproveitando todas as lacunas de tempo entre seus
compromissos.
(...) pra estudar pra ingressar em mestrado, concurso assim meu filho ta agora com
nove anos mas desde bebê sete horas ele tem o despertador interno e ele acorda. Então
o que que eu fazia, eu acordava 5:30, ai das 5:30 as 7 eu estudava, 7 ele acordava
quando mamava, ele mamava e agora café e tal. Agora eu to estudando de manhã
tranquilo, mas o tempo que acaba ficando um pouco mais escasso, mas a
administração do tempo também é uma coisa que a gente tem que aprender a lidar e
quando a gente consegue articular direitinho você não percebe que isso é uma
dificuldade ou não percebe como dificuldade entendeu? Sendo que eu falei do sono
ne, mas o sono a gente dá um jeito, cochilo aqui e ali. (Prioridade)
Foi surgindo necessidade né, não sei quando assim exatamente, mas um dia eu vi ele
de calção de banho e falei você tá de calção de banho pra alguma atividade aquática?
E meu marido respondeu: “Não, não é que tá faltando roupa pra vestir”. Assim,
brincadeira, mas como eu te falei tem que ajudar a passar roupa, que ele é bancário
então camisa precisava passar, mas o cuidado das crianças levar pra cima e pra baixo
pro ballet, até teve um episódio que ele já estava meio cansado e falou, não amor essa
atividade do ballet é um horário que dá pra você ir ne que você as antes e tal, dai eu
fui e tinha que dançar ne ainda bem que eu fui. Ai eu fui na atividade dancei com a
meninada e só tinha mulher eu acho que ele já estava sentindo ou minha filha falou o
papai vai ter que dançar. (Prioridade)
114
Mas sempre a gente foi se adaptando, como eu te falei ele conseguiu até um horário
diferente pra entrar na agência. Porque como ele é bancário a agência fecha pro
público, mas ela continua aberta, então ele conseguiu que entrasse mais tarde e ficasse
depois com a agencia aberta com o trabalho interno e isso favorecia que eu
conseguisse ministrar na faculdade no turno da manhã. Agora de 2016 pra cá que a
gente tem feito as coisas no horário realmente comercial ne. (Prioridade)
Prioridade volta a citar as escolhas que precisou fazer em relação ao trabalho por
priorizar a criação dos filhos:
Mesmo com a diminuição da carga horária de trabalho, a família ainda precisa fazer
ajustes, principalmente quando é necessário que Prioridade viaje a trabalho.
A gente consegue ter mais horários livres, consigo leva-los pra minhas viagens
também, o pessoal fala agora vocês tão de férias, eu falo que não, eles estão de férias,
mas a gente dá um jeito, porque não tendo a viagens agora dá pra fazer alguma coisa
no final de semana. (Prioridade)
Nesses 17 anos a gente tirou férias junto duas vezes, das outras vezes a gente
conseguiu conciliar final de semana, três dias, quatro dias, e como ele trabalha no
banco as vezes ele pega um banco de horas, então pega uma sexta ai viaja uma sexta,
sábado, domingo ou pega uma segunda e tem sido assim com ajuda colaboração, faz
comida, dá uma olhada nas crianças, olha a tarefa, as vezes esquece de fazer tarefa,
mas tudo o que acho que em outras casas tem. (Prioridade)
Apesar de relatar estar com um ritmo de vida mais leve que anteriormente, a família
de Prioridade ainda pede que ela diminua as horas trabalhadas, por preocupação com sua saúde.
Mas trabalhar em várias funções é algo que Prioridade descreve como sendo parte de sua
identidade, algo que não consegue mudar.
Olha, primeiro meus familiares, falando principalmente pela minha mãe e minha sogra
elas falam diminui o ritmo, porque elas lembram do período que eu adoeci que
ficamos meio assustados esperando pra saber se o cisto era benigno ou maligno, então
115
o pessoal ainda tá meio apegado aquela história, mas acho que é uma coisa intrincada
assim em mim de não poder fazer pouca coisa, faço várias atividade simultâneas,
quando vejo que o ritmo ta ficando meio pesado assim ai eu abro mão de uma ou de
outra, me faz sofrer um pouco assim. (Prioridade)
Eu estava trabalhando num lar de idosos não sei se eu cheguei a falar isso na primeira
parte e pra conseguir preparar melhor as aulas e o esquema de não estar trabalhando
a tarde, tentei reduzir pra 10, de 15 pra 10 horas, gostando muito mas abrindo mão, é
um dos trabalhos que deixei de fazer, quando adoeci também tive que parar de dar
aula na faculdade, já tinha feito qualificação e TCC e eu queria muito estar na banca
mas tive que fazer esse afastamento pra tranquilizar e descobrir de que ordem era
aquele problema e eu vejo que a dor de cabeça era desse cisto e tal, mas quando eu
vejo que eu tenho que deixar um desses trabalhos eu fico pensando sabe quando você
não quer deixar uma coisa sem terminar, já deixei engatilhado ne a coordenadora foi
na banca do TCC mas é uma história que fica sem final, já duas vezes que isso
aconteceu, no meu afastamento das aulas e na saída do lar dos idosos então outra coisa
quando vou me envolver numa atividade vejo se eu vou dar conta se posso me
comprometer com aquilo ali e acabo me botando a meta de cumprir e vou cumprir e
vou fazendo mil coisas. (Prioridade)
A postura do meu marido sempre foi de apoio, da minha filha teve aquela fase de eu
ficaria mais em casa não precisa fazer tanta coisa, quando eu volto da aula a noite fala
“Ah de novo aula de noite não pode mudar de horário?”, por que na faculdade a
concentração de horários costuma ser de noite então uma noite pra faculdade e a pós
ocasionalmente a noite, mas nem sempre. (Prioridade)
Apesar do apoio do marido, as demandas dos filhos por mais tempo de convivência
continuam, além disso a sogra também demanda que ela trabalhe menos, pensando que
Prioridade o faz por dinheiro. No entanto Prioridade relata trabalhar por vontade de trabalhar e
para dar uma educação melhor aos filhos.
Então tem noite que eles falam “A gente queria jantar todo mundo junto”, não é um
boicote, não uma vontade de que eu não faça, mas eles preferem quando eu tô com
eles. Já chego a ter comentários assim da minha sogra no sentido de não precisa ficar
rica, tem coisas mais importantes, como se fosse por meta de ganhar mais de ter mais
bem e não é. É porque a gente optou por uma redução por eu sair da coordenação por
exemplo a gente concentrou tudo num carro só, ficou mais apurado, não que nosso
objetivo os dois trabalhando seja ter grande fortuna, muito pelo contrário e a gente
consegue financiar atividades como equitação pro meu filho e ballet pra minha filha,
futebol pro meu filho, são coisas que a gente vê que estão se tornando atividade,
formação, lazer, desenvolvimento, então é um trabalho que você faz com gosto, não
é uma coisa pra pagar dívida, não é dívida entendeu? (Prioridade)
116
Ao ser indagada: então se uma pessoa estivesse preocupada em ser mãe e atrapalhar o
trabalho o que você diria para ela? Prioridade responde:
Falaria para ela olhar as prioridades, porque existem momentos pra tudo na vida, por
exemplo a questão do meu mestrado e doutorado, eu tive a possibilidade de ir pra fora
fazer mestrado no Uruguai só que meu filho tinha dois anos e eu queria ficar dois
meses depois mais dois meses e como eu te falei uma das deslimas era
desenvolvimento, eu falei não posso fazer isso com uma criança de dois anos, é uma
questão de prioridade. Tem que ver o que você tá priorizando no momento, se é
formação, se é profissional, se é pessoal, tem tempo pra tudo na vida. De repente se
você não for aproveitar uma oportunidade de trabalho agora pra ser mãe depois você
busque esse profissional ou tenta depois conciliar quando a criança estiver na escola
como eu fiz com meus filhos, mas pra maternidade natural, assim se a pessoa quer
engravidar ela tem que pensar nisso como o topo da lista de prioridades dela a não ser
que ela tente uma adoção já discutida aqui em casa mais tarde enfim, a gravidez
natural pra própria pessoa fica mais difícil a recuperação tudo ne? O que se deve
analisar é qual a prioridade no momento pra sua vida, mas também esperar a coisas
estabilizarem para depois ter um filho talvez a pessoas não consiga depois, e olha que
conosco foi tarde casei aos 29 e fui mãe aos 36, eu considero tarde, em uma geração
onde aos 23 já estavam casadas. (Prioridade)
Hoje mais próxima e mais presente que no começo que eu tinha só minha filha. Depois
a gente foi fazendo uma adaptação pra estar mais presente do que inicio de casamento.
Primeiro filho 4 meses, colocar na escolinha que foi o caso dela ne, no caso dele a
gente já esperou colocou com dois anos já fez as coisa diferentes quando acontece
quando se tem mais de um filho a gente vai ajustando corrigindo e errando menos e
assim a referência também melhorou que na época que eu estava na coordenação e ele
ficou doente e tive que deixar ele com minha sogra eu ligava pra perguntar como ele
tava e ele falava: “ah quando você vier pra Curitiba passa na casa da vovó pra comer
um bolo”, e eu estava em Curitiba, então ele tava perdendo as referências de onde eu
estava e hoje não, ele sabe que vai me encontrar sabe meus horários também já tá um
pouquinho maior. Mas aquilo fez a gente tomar a decisão que não, a gente precisa
levar a coisa de um jeito humanamente possível que a gente consiga conciliar tudo
sem o afastamento e foi ai que eu disse não para o mestrado fora. Foi uma opção
acertada a gente tem uma vivência tranquila na escola, consigo ajeitar meus horários
pra estar presente em apresentações e encerramento de semestre coisas que eu gostaria
de ter feito com minha filha, então entrou na minha vida funções e atividades que
permitem que eu tenha flexibilidade. (Prioridade)
Sobre suas gestações, Prioridade relata que a primeira filha foi uma surpresa, ela não
esperava engravidar, mas o segundo filho foi planejado.
Da minha filha a catorze anos eu tava numa comunidade terapêutica onde tínhamos
feito uma oficina com comidas com soja e no outro dia estava passando mal numa
reunião quando acordei em uma ambulância: Como vim parar aqui? “Você deu uma
desmaiada”. Deve ser porque comi muita soa ontem, fiz o exame e estava grávida
então todo mundo passou a chamar ela de sojinha. Do meu filho foi planejado pra
diferença não ser tão grande entre as crianças então já foi bem planejado e antes de
fazer o teste já pensava. (Prioridade)
117
Foi muito boa teve o apelido de sojinha, lá na parte administrativa. Quando com quatro
meses ela teve pneumonia, depois de ela ficar boa, se eu precisasse podia levar ela e
deixar lá. O batizado dela foi na comunidade terapêutica, os pacientes cantaram no
batizado. Do meu filho também, só que eu nunca precisei levar ele pro trabalho, já era
a faculdade, como eu fazia meus horários precisava me reportar, era melhor de
conciliar coisas da escola, já com ela era mais difícil já que só podia fazer as coisas
entre um horário e outro de folga. (Prioridade)
Foi muito bom responder isso foi uma revisão da minha história da minha
maternidade, faz a gente refletir bastante ainda bem que em tempo eu consegui
retomar as rédeas de algumas coisas porque no começo era meio caótico mesmo,
fazendo uma retrospectiva agora pra você eu penso com é que eu conseguia, as coisas
acabam se ajustando a gente aprende com as experiencias de vida e é bom quando a
gente aprende em tempo ainda. (Prioridade)
4.4. A GUERREIRA
Codinome: Guerreira
FIGURA 8 – IMAGEM REPRESENTATIVA
Idade: 42 anos DE "GUERREIRA"
Escolaridade: Mestrado
Estado Civil: Divorciada
Classificação da empresa: Médio porte
Função: Professora
Renda familiar: 8 a 10 salários mínimos
Quantidade de filhos: 1 Filha
Idade dos filhos: 8 anos
Então é ter vários turnos, 31 dias todos os dias sem sábados e domingos, sem feriados,
sem final de ano, não tem folga. É muito cansativo, é na verdade o tempo inteiro uma
contradição porque você precisa e quer ter tempo para passear com o teu filho, com
minha filha no meu caso. Tenho uma filha de 8 anos, então quero ter tempo para estar
com a minha filha para fazer as coisas com ela, mas daí eu preciso de dinheiro para
fazer as coisas com ela para comprar as coisas para ela dá para sustentar a casa. Daí
eu preciso trabalhar mais horas para conseguir ter mais dinheiro, então eu fico menos
tempo com ela, então é uma sensação de culpa o tempo inteiro não viu, e o mulher a
gente esquece as vezes, é quando sobra, e ainda sendo mestranda, vamos combinar
que né.. (Guerreira)
Ao contar sua história de vida Guerreira começa falando não sobre sua relação com o
trabalho, mas sobre a da sua mãe.
Então, eu nasci aqui em Curitiba, meu pai é militar, minha mãe na época era dona de
casa. Minha mãe assim na época ela trabalhava no banco e na época mulheres casadas
eram proibidas de trabalhar no banco, então ela pediu para sair do banco, ela assinou
um termo porque ela era concursada da Caixa Econômica para casar e daí ela parou
119
de trabalhar e começou a ficar em casa. Daí ela começou a trabalhar com costura,
depois passou em concurso de novo foi trabalhar na Telepar. Então assim ela ficou
muito tempo quando eu era pequena em casa trabalhando, trabalhando com costura.
(Guerreira)
Em seguida sua história passa a ter o foco no pai, na origem dele e na profissão.
Eu sou de uma família de classe média baixa, depois eu acho que foi melhorando um
pouco. Meu pai era uma pessoa muito rigorosa, descendente de alemão militar,
educação muito voltada ao trabalho o tempo inteiro trabalho, tem que trabalhar, tem
que obedecer, né, lá em casa era proibido inclusive falar gíria, né? Não podia falar
nada, não deu, certo nota-se que essa educação não teve frutos. (Guerreira)
A relação de Guerreira com o pai era tensa, sem proximidade ou afeição. Sua ligação
familiar próxima é com a mãe e o irmão mais velho.
Meus pais se separaram quando eu tinha 16 anos, foi uma adolescência bem
complicada, meu pai é muito complexo assim uma pessoa alcoólatra violenta, né?
Então muito difícil assim. Enfim, eles se separaram e então ficou eu, minha mãe e
meu irmão. Tenho um irmão 2 anos mais velho, e agora que lembrei de outra coisa,
eu vou e volto, né? (Guerreira)
Foi a difícil relação com o pai que a fez sair de casa e a impulsionou a procurar o
primeiro trabalho.
Um pouco antes deles se separaram e fugi de casa uma vez, eu fui uma adolescente
que fugiu de casa, porque meu pai era muito bravo e muito violento. Fiquei quase um
ano fora de casa daí resolvi voltar, quando eu voltei falei que só voltava quando eu
conseguisse me sustentar sozinha. E aí com 16 anos eu saí de casa, saí e voltei para
casa e comecei a trabalhar. (Guerreira)
Daí voltei e comecei a me arrumar para ir embora do Brasil para fazer toda a parte de
imigração para o Canadá e daí eu conheci meu ex-marido. E aí em 8 meses a gente se
juntou, quatro anos depois que estávamos morando juntos a gente resolveu ter filho,
casamos, e faz 2 anos, quase três, aí em fevereiro vai fazer 3 anos que a gente tá
separado. É meu grande amigo, meu melhor amigo, assim um superpai que nem agora
que eu tô nessa correria, e ele tá ficando, eu pedi essa semana para ele ficar com a
minha filha, para conseguir terminar esses 15 dias aí a minha pesquisa, também tem
um resumo, tem algo mais... (Guerreira)
Sobre sua infância e seus sonhos, Guerreira relata como o pai lhe desencorajava a
seguir seus sonhos:
Eu não tenho muitas lembranças da minha infância até os 8 anos, já tá ruim de gravar
e eu chorando aí é que dá errado mesmo. Mas eu não consigo me lembrar de sonhos
da infância, assim lembro que eu sempre fui muito sonhadora, sempre queria fazer
alguma coisa que não tem na haver com o que eu faço hoje, assim uma coisa muito
mais pro lado artístico ou dança, música algo nesse sentido, mas sempre foi muito
tolhido isso, sempre foi tipo assim, “quem, você? Você não, você não tem capacidade
para fazer isso”. Por isso o choro, mas realmente eu tenho algumas partes da minha
infância assim que eu não lembro, uma boa parte assim, eu acho que eu lembro bem
assim depois dos 8 anos, a primeira infância até os 7 anos, eu lembro de muito pouca
coisa, inclusive quando converso com meu irmão que é mais velho. Ele lembra por
exemplo do bolo de primeiro ano de aniversário dele. Eu não lembro das coisas sabe,
mas era muito só nós, eu, minha mãe e meu irmão assim. Tinha os vizinhos, uma coisa
assim para brincar, mas não lembro de grandes coisas assim. (Guerreira)
Apesar das dificuldades no início da vida, Guerreira se define como uma pessoa forte,
que sempre luta:
Como uma titânica. Esses dias um mineiro me deu esse apelido e eu falei, é verdade.
Eu acho que uma pessoa que luta eternamente, mas eu acho que uma coisa bacana,
que com a idade, durante muito tempo eu tinha pena de mim, por isso, agora eu meio
que aceitei isso sabe, tipo é uma oportunidade e acho que eu estou me julgando menos
porque eu já me julguei, isso foi muito mais doído. (Guerreira)
Sobre julgamentos, Guerreira relata os julgamentos que sofre por ser mãe.
Então mesmo é essa coisa da culpa da mãe que não tá o dia inteiro com a filha, que a
sociedade mesmo cobra isso porque ser mãe é uma sociedade que se coloca no outro
lugar as pessoas vivem mais você é a mãe parece que vira um ser assexuado né? Parece
que a sociedade te coloca no outro lugar então, você tem a culpa tua e a culpa que te
jogam né hoje eu já estou conseguindo olhar isso de outras formas sabe e até ver isso
como um aprendizado para minha própria filha, sabe esse mundo colorido de fantasia,
não existe. (Guerreira)
121
Guerreira relata que já compreendeu que este papel comunicado pela sociedade não
condiz com a realidade, e tenta ensinar o máximo possível da realidade para a filha.
Eu nunca tive que sonho de fadinha por exemplo é que às vezes às vezes às mães com
as colegas a minha filha falando disso a princesa eu nunca fui isso e não quero isso
para minha filha também porque a vida não é essa, entendeu, tu pode ser várias coisas
mas não é isso né então acho que todo esse meu ritmo essa coisa é a Guerreira, aquela
mulher que vai, que faz, que acontece que qual que é o leão que eu tenho que matar
hoje aqui então daqui eu vou dar conta não tenho mais medo disso sabe, e ela também
tem que entender isso, que isso faz parte. (Guerreira)
Sobre a relação com o ex-marido e a divisão dos cuidados com a filha, Guerreira fala:
Somos muito amigos e somos muito diferentes, mas nesse ponto a gente tem uma
comunicação muito boa, a gente se ajuda muito então é muito dividido isso sim, ele
tem a forma dele de fazer as coisas e eu tenho a minha por exemplo. Hoje eu fui levar
minha filha para escola, peguei os dois, dei uma carona para ele levar ela para a escola,
porque ele tá sem carro, estava chuviscando eu estava perto: “Para, eu vou passar aí
já vou te dar uma carona” (...). Então a gente está o tempo todo se falando, o tempo
inteiro se ajudando sempre. (Guerreira)
Quando eu cheguei lá, a G*** estava com uma calça que estava rasgada no joelho, se
ela estivesse na minha casa, ela não iria com aquela calça, aí entrou no carro eu falei
“pô filha, você tem outras calças, não tem que estar andando com essa calça rasgada”.
Eu não brigo com ele porque ela já é grande, ela já sabe que ela tem ela outra calça
porque se eu for discutir com ele, na minha casa está fazendo do meu jeito tá na sua
casa faz do seu jeito. (Guerreira)
A gente respeita muito com relação à isso, se eu quiser que ela esteja do jeito que eu
quero, ela vai estar comigo como ela não está então eu também respeito o jeito dele
contanto que ela esteja bem, então você para ela não é um negócio que pega e que ela
teria condições de resolver e ela não resolveu problema é dela entendeu, mas se tivesse
comigo seria outra forma. Então eu acho que esse respeito da forma de cada um lhe
dar faz uma grande diferença. Meu ex-marido tem uma namorada, às vezes eles vão
lá, as vezes ela chega na minha casa, e o nome do gato dela é Calefas, o Calefas deve
estar sem um pelo naquele corpo dele porque todos os pelos dele estão na roupa da
minha filha, e ela com roupa preta do colégio, parece um pinheirinho de tanto pelo.
Então eu brinco, mas eu estou feliz que tipo ela foi lá no gato ela se divertiu com gato,
entendeu? Então a gente consegue levar de uma forma tranquila. Agora assim eu
cuido, ele cuida, eu levo para escola, ele leva, ele faz almoço, eu faço almoço, os 2
lavam roupa, o tempo inteiro assim, não tem algo que eu faça que ele não faça ou que
ele faça que eu não faço. (Guerreira)
O que tenho de diferente que pode colocar é que quando ela não está bem ele me
chama, por exemplo, deu uma briga com algum coleguinha na escola ou deu um choro
lá alguma coisa e ela se fecha e não quer contar para ninguém, aí a gente tá “Vem aqui
porque deu alguma coisa que eu não sei o que que é”, às vezes eu consigo resolver
por telefone, mas aí é uma conversa diferente, porque eu tenho uma conversa com ela
e ele tem outra, então a gente conversa, são relações diferentes. Eu acho que sempre
é, pai e mãe são relações diferentes. (Guerreira)
Assim, estava tudo muito programado sim, então 4 anos para chegar no 35, falei hoje
que vai ter filho ou não vai ter, ou vai ter agora ou não vai ter, então decidimos que
vamos ter filho e aí a gente resolveu casar para ter filho. Daí a gente casou, ia passar
na locadora para pegar um filme e ir para casa uma coisa assim só para formalizar e
daí a gente casou com 4 meses, no primeiro mês eu quis descolorir o meu cabelo e
falei, L**** não vou engravidar agora, pintei meu cabelo inteiro de branco muita
química, no mês seguinte engravidei. (Guerreira)
Apesar de uma gravidez esperada, Guerreira ainda teve dificuldades ema creditar na
notícia.
Assim eu fiz todos os testes de todas as marcas de farmácia para eu entender que
aquele negócio tava certo, entendeu? Eu cheguei no médico com o resultado de todos,
o médico falou, bom, você tá grávida, né? Eu falei: “Como assim estou grávida?! Não
estou grávida”. Nisso, nisso o pai do meu filho já tinha chorado, se emocionado três
dias e eu ainda não entendia porque o negócio dizia que faz xixi e fica vermelho e
ficava Rosa tal da faxinha dos exames de farmácia, aí eu falei não, rosa não é
vermelho, então não é. (Guerreira)
Eu achava, assim quando minha filha nasceu eu falava para todo mundo assim, a
sociedade me enganou, na gravidez eu já falava isso, que essa história de tipo, ai que
linda, tá gravida, isso é normal, aí eu falei, gente não é normal, não é normal um ser
estar se desenvolvendo dentro de você. Entende, tipo assim cada vez que eu ficava
nervosa trabalhando, a minha barriga endurecia inteira, aí eu falava, gente normal,
normal, normal essas coisas não são né? Mas foi tipo, trabalhei pra caramba, fiz os
projetos mais importantes minha vida durante a gravidez assim, mas reconhecidos
internacionalmente foi durante a gravidez só que daí quando nasceu eu tive tudo pós-
parto. (Guerreira)
Eu tive miopia pós-parto, que eu nem sabia que existia, eu tive síndrome do túnel do
carpo, que as pessoas geralmente tinham na gravidez, eu tive pós-parto, então tive
síndrome do carpo, eu inchei bastante. Com 3 meses eu fui para Colômbia para
123
apresentar artigo, participar de mesa redonda e até que foi bem bacana de certa forma
porque eu tava amamentando eu aprendi a tirar leite na mão como as senhorinhas que
fazem do banco de leite evangélico, elas me ensinaram eu fui para Colômbia tirando
leite, voltei tirando leite e minha filha pegou de volta e o pai dela e ela criaram um
relacionamento por causa desses dias que eu fiquei fora, fiquei fora por 4 dias, mas
eles se entenderam nesses 4 dias ali então é bem bacana. (Guerreira)
Eu achava que o primeiro mês, eu falava, meu Deus o que eu fiz da minha vida sabe?
Eu achava que era um negócio de outro mundo e eu chegava para minha mãe e
perguntava: “Porque você nunca me contou que era assim?”, e ela me falou que “É
porque a gente esquece”. Como é que se esquece disso!? Porque você não é mais
aquela pessoa de antes, você não sabe o que é, não tem dia, não tem noite, não tem
nada não só tem aquela criança que faz cocô, chora, dorme, né? E você com cirurgia
com os pés doendo com tudo aquilo então até você se entender que aquilo faz parte
de uma rotina, não tem rotina, é o seu dia-a-dia, demora. (Guerreira)
Sobre as dificuldades da gravidez e de ser mãe, Guerreira fala que sente que estas
dificuldades não são relatadas com frequência, que há um tabu sobre o assunto.
Isso não tem nada a ver com amor pela criança, as pessoas confundem muitas vezes
isso com amor, mas eu acho que as pessoas não gostam de falar sobre isso que elas
dizem, a vão achar que eu não amo a criança, não tem absolutamente nada a ver com
isso, né com 3 meses e meio minha filha foi pra creche a primeira vez, e eu falava, vai
ser tranquilo imagina, já fui para Colômbia, voltei, ela ficou sozinha, vai dar tudo
certo voltar a trabalhar com 4 meses fazer a adaptação de 15 dias e vai dar tudo
chuchu. E aí que chegou o tal do dia de deixar na creche, eu chegava na frente
começava a chorar e dava a volta na quadra e respirava, falei, não vou entregar minha
filha lá chorando, né? Porque coitada da criança, ver a mãe chorando entregando, falei,
não quero que ela fique com essa imagem. Na terceira volta que eu tava dando na
quadra, eu liguei para o pai dela e falei: “Você tá almoçando?”, ele falou: “Não estou
só esperando você ligar, eu já sabia que não ia não ia ser fácil. Então eu tô indo aí te
buscar para você ir comigo lá”. Não é fácil esse negócio, eu não conseguir esticar os
braços entregar ela e ele entende que o amor de mãe é a sua expectativa eu te falei, né
a expectativa de ser mãe. (Guerreira)
Não sei, eu achava que eu teria mais dificuldade para lidar numa parte de criança que
não interage, mas facilidade numa criança que interage mais com essa parte lúdica de
brincar porque eu sempre fui muito assim e não só isso e não foi nem uma coisa nem
outra, eu acho que a relação quando ela era menor era maior. Hoje ela já tem uma
relação mais estreita com o pai nessa parte lúdica do que comigo, que eu achava que
teria entendeu? Então achava uma coisa diferente e acho que tenho uma companheira,
uma super companheira, as vezes ela vai dar aula comigo, eu achava que minha filha
ia adorar esportes, porque eu adoro. Não, não gosta. Aprender também isso, eu gosto
de acordar muito cedo e eu achava que ela acordaria cedo comigo, que a gente iria
fazer um monte de coisa juntas, não minha filha dorme até tarde, adora dormir até
124
tarde, fico com dó de levantar. Quando ela levanta já fiz um monte de coisa sozinha,
então tudo isso é aprender a lidar com um outro ser, ter individualidade dele.
Características dela e a gente tem que respeitar né? Mas eu achava que iria ser
diferente. (Guerreira)
Que eu respeito muito as pessoas que decidem não ter filhos porque não é fácil
trabalhar, ser mulher, mãe, tudo junto, não é nem um pouco fácil, mas para quem tem
um pouco de vontade, sofra, vai que dá certo. E é muito legal, você faz parte de um
ciclo de ser humano, é assim, eu fui criança, fui filha, fui neta e hoje estamos aí. Então
para mim e parece que eu entendo a vida de uma forma diferente, eu entendo a minha
mãe de uma forma diferente. (Guerreira)
Tornar-se mãe fez Guerreira enxergar a própria mãe com outros olhos, por outra
perspectiva.
Eu acho que eu admiro muito mais e cuido muito mais dela, porque ela passou por
coisa bem mais complexas do que eu e eu acho que eu devo muito a ela, acho que eu
sou o que sou muito por ela, claro que eu devo ao meu pai também, na educação. Mas
assim, a mulher é foda pra caramba, minha mãe fez duas faculdades com a gente
grande já adulto assim, passou em dois concursos públicos. Ela é uma mulher que
construiu tudo sozinha na vida dela. Não sei se eu vou fazer o que ela fez, não sei se
vou chegar na idade dela tendo todas as coisas que ela tem. Hoje eu me vejo de forma
bem diferente, e é um sentimento que por exemplo meu irmão, que por mais que ele
seja pai também, ele vê ela como aquela mãe que eu via antes de ter filho, entendeu?
A minha cunhada já não, minha cunhada depois que teve filho começou a também a
respeitar mais minha mãe, entendeu? Muito mais a minha mãe assim a gente percebe
isso nas relações. O meu irmão não, ele continua naquele mesmo estágio entendeu?
Não sei te explicar exatamente isso assim, mas a mãe você vê a pessoa de outra forma,
assim. (Guerreira)
Eu era muito workaholic, eu tive depressão por estresse, para você ter uma ideia, eu
trabalhava muito, muito, muito. Sempre uma vida bem voltada para o trabalho assim.
Acho que é isso, eu saia bastante, o meu negócio sempre foi praia, não fui muito de
sair assim, mas tive minhas fases de saída também. Meu ex-marido é curador de
performance arte da Bienal aqui, em São Paulo, então eu sempre estava no meio desses
eventos artísticos assim. Foi DJ durante muito tempo a noite, tocou aqui, tocou em
São Paulo, tocava na Europa, então a gente viajava muitas vezes para ver ele tocar,
mas tudo por mais que fosse diversão, você vê que é uma diversão em função do
trabalho né então é diferente você sair e curtir com os meus amigos e você sair porque
vai tocar entendeu, é uma outra história né mas eu acho que eu trabalhava muito mais
e me divertia muito menos do que agora que eu tenho filho e minha filha me ensinou
muito com relação a esse tipo, qualidade de vida por mais que não pareça neste ano,
final de mestrado, do primeiro e segundo aniversário, mas quando eu tô com ela, daí
eu tô com ela né? (Guerreira)
125
Apesar de querer dedicar-se à filha, Guerreira precisa abdicar de algumas horas com a
filha para dar conta de suas tarefas, por isso Guerreira tenta equilibrar o trabalho e o papel de
mãe.
Tem dias que tipo a mãe precisa estudar e ela sabe disso, mas tem hora que agora nós
vamos fazer então alguma coisa a gente entendeu. Se eu não tivesse com ela eu ia
tocar direto trabalhando, isso que iria acontecer provavelmente. (Guerreira)
Guerreira volta a falar de como ser mãe mudou a maneira como se relaciona com outras
mulheres de sua família:
Eu acho que minha relação não só com a minha mãe, mas com as outras mulheres da
minha família mudou também, minha proximidade com minha tia, minha avó que já
é falecida a muitos anos. Minha mãe e minha vó não se davam muito bem, mas eu
sempre fui a netinha querida da minha avó, fui saber disso muito tempo depois que
ela faleceu e hoje eu entendo o quanto era difícil isso para minha mãe, entendo a
posição da minha vó, eu consigo mais ver as mulheres de uma outra forma. Aí você
olha para tua filha e começa a ver aquelas mulheres, a tua família naquela figurinha
ali também, é interessante, vai fazer uma rede assim. São poucos homens na minha
família, por isso que eu não falo muito deles. (Guerreira)
Acho que titânica, uma mulher guerreira, sensível pra caramba, bonita, acho que eu
sou um mulherão. (Guerreira)
Indagada sobre quais são as coisas mais importantes da sua vida, Guerreira responde:
Eu vou dizer minha filha, 5 coisas então, pera aí, acho que a saúde da minha filha, a
felicidade da minha filha, a saúde mental da minha filha que é diferente da Saúde
física, a minha saúde e a minha felicidade. (Guerreira)
nasci para trabalhar pouco e ganhar bastante.” Falei brincando com ele e eu fiquei
bem doente, bem doente sim, emocionalmente assim, eu tive um problema muito sério
de estômago, as pessoas achavam que eu estava com depressão, eu deveria tá.
Comecei a correr e me fez mal, várias patologias juntas. E aí eu me lembrei dele e
voltei lá, falei assim, se lembra que o senhor falou isso, isso e isso, ele falou: “Você
tá brincando que eu te falei isso”. “Você falou então, eu estou aqui”. Assim você nunca
vai conseguir baixar o seu ritmo, você tem que levar isso de uma maneira saudável.
Então eu acho que se eu tivesse todos os recursos, alguma coisa eu iria inventar para
fazer, eu acho que eu não consigo ser uma pessoa que é viver, por exemplo, como eu
tenho amigas que vivem tipo assim, eu vou no salão, daí eu vou sei lá fazer uma
compra e daí eu vou cuidar da minha filha. Eu acho que isso não é meu, mas eu posso
ter e posso estudar também só tá. Sei lá, eu vou, posso estudar em outros países, posso
fazer curso de várias línguas por exemplo, não precisa ser algo dentro de uma
academia por exemplo, entendeu? Mas sem produzir absolutamente nada eu acho
muito difícil, eu tenho que produzir. (Guerreira)
Dentre as entrevistadas, Guerreira foi a que mais trouxe seus sentimentos em seus
relatos. Para melhor compreender a maneira como ela relata sua história, segue um roteiro
temático de suas falas:
1. Rotina;
2. Sensação de culpa;
3. Relacionamento com a mãe;
4. Relacionamento com o pai;
5. Relacionamento familiar;
6. Primeiro trabalho;
7. Casamento e gestação;
8. A infância;
9. Autodefinição;
10. Cobrança social;
11. Divisão dos cuidados com a filha;
12. Relação com o ex-marido;
13. Relação com a filha;
14. Decisão de ser mãe;
15. Como soube que estava grávida;
16. Durante a gestação;
17. Pós-parto;
18. Maternidade e mudanças na rotina;
19. Expressar-se sobre a maternidade;
20. Maternidade idealizada e maternidade real;
127
Mudanças no
Progressão Mudanças
trabalho
Papéis
Mudanças nos
Autorrealização • Conflito
relacionamentos
• Sobrecarga
• Ambiguidade
Apoio
• Trabalho
• Companheiro
• Família
5.1. O TRABALHO
Início
Trabalho Progressão
Autorrealização
Então assim, hoje eu vejo que eu não conseguiria ter a vida que eu tenho se eu não
tivesse este padrão de vida, este jeito de viver, eu trabalhando, sabe. Eu não sei se eu
conseguiria colocar meus filhos nessa escola, sabe. (Persistente)
O bom é que eu vejo que comparando com pessoas que eu vejo que não tem trabalho
fora de casa ou que não seja o próprio negócio, eu vejo que tem uma autorrealização
maior, apesar de toda essa cobrança, você tem uma vida, que apesar, de certa forma é
paralela e que não se contamina com a sua função de mãe e você consegue ser você
mesma. Eu acho que esse é o grande benefício de você ter um trabalho autônomo,
desvinculado da família, desvinculado do marido, desvinculado do negócio próprio,
porque você é você independente das outras funções que você exerce. Pra mim este é
um dos pontos que mais impactam, assim, sabe? Eu adoro trabalhar, eu não sei se...
Já fiquei um tempo sem trabalhar, vivendo não como madame, porque eu nunca tive
dinheiro para ser madame, mas vivendo numa situação, assim, relativamente
tranquila. Eu não consigo... Eu me realizo trabalhando. Eu não conseguiria ser uma
mãe em tempo integral ou não ter destaque na minha profissão. (Persistente)
131
Para Morin (2001), há uma relação entre o trabalho, o salário conseguido por meio
deste e a autorrealização. O salário propiciado pelo trabalho, além de atender a necessidades
materiais, pode despertar um sentimento de segurança, possibilitar a autonomia e a
independência. A autora também aponta que o dinheiro ganho por meio do trabalho também
traz respeito de outras pessoas, a preservação da dignidade pessoal perante as mesmas. O
trabalho estrutura o tempo, dá estrutura para organizar sua própria história, e se tem sentido,
permite conviver com pessoas:
Para Persistente, Planejadora e Prioridade, a busca pelo primeiro trabalho está ligada
à vontade de trabalhar, de ganhar experiência. Para Guerreira, além destes significados, o
trabalho aparece como uma maneira de libertar-se de um ambiente familiar conflituoso, de
estabelecer-se como sujeito em meio à dinâmica familiar. Posteriormente o trabalho adquiriu o
significado de mobilidade e conquista de novos horizontes.
As entrevistadas deixaram claro a importância do trabalho em suas vidas. Guerreira
relata que antes de ser mãe era uma workaholic, viciada em trabalho. Mas se para estas mulheres
o trabalho era prioridade, a maternidade fez isto mudar. Após a maternidade as decisões
relacionadas ao trabalho, rotina e recursos financeiros são tomadas sempre pensando no bem-
estar dos filhos.
Na trajetória de Planejadora, a vontade de ser mãe a fez procurar um trabalho com
melhores horários, mais flexibilidade e maior respeito à licença maternidade. O mesmo
aconteceu com o marido de Planejadora que mudou de profissão, pois na profissão anterior o
risco de sofrer algum acidente de trânsito era alto. Para Gross, Spector e Cinamon (2017b) se
as organizações desejam manter o envolvimento e compromisso das mulheres com o local de
trabalho, elas podem criar políticas favoráveis à família, que apoiem a integração entre a vida
profissional e a familiar.
A pesquisa de Von Hippel; Kalokerinos e Zacher (2017) aponta que a alta presença
masculina em cargos de alto escalão e a pequena proporção de mulheres ocupando estes
mesmos cargos leva as trabalhadoras à percepção de que a organização não apoia políticas
favoráveis à família em sua prática cotidiana, levando-as a acreditar que usar arranjos no
trabalho que beneficiem a família seria prejudicial a suas carreiras.
132
5.2. MATERNIDADE
Mudanças no trabalho
Maternidade
Mudanças nos
Trabalho
relacionamentos
Apoio Companheiro
Família
O quadro 5 apresenta uma síntese dos principais temas ligados à maternidade e como
se apresentam em cada entrevistada.
Não sei se foi a maternidade que me mudou. Eu não senti aquela coisa que, sabe que
todo mundo fala que quando nasce uma criança nasce uma mãe. Eu não senti que
nasceu uma mãe quando nasceu meu primeiro filho. É uma emoção indescritível de
fato. Tanto é que eu me lembro até hoje do primeiro olhar do meu filho quando nasceu.
Eu me lembro até hoje, assim, está gravado na minha memória. É uma emoção que é
difícil de definir. (Persistente)
Eu achava, assim quando minha filha nasceu eu falava para todo mundo assim, a
sociedade me enganou, na gravidez eu já falava isso, que essa história de tipo, ai que
134
linda, tá gravida, isso é normal, aí eu falei, gente não é normal, não é normal um ser
estar se desenvolvendo dentro de você. Entende, tipo assim cada vez que eu ficava
nervosa trabalhando, a minha barriga endurecia inteira, aí eu falava, gente normal,
normal, normal essas coisas não são né? Mas foi tipo, trabalhei pra caramba, fiz os
projetos mais importantes minha vida durante a gravidez assim, mas reconhecidos
internacionalmente foi durante a gravidez só que daí quando nasceu eu tive tudo pós-
parto. (Guerreira)
Acho que assim, na verdade é para ele foi uma mudança grande também, porque como
eu trabalhava ele também teve que se adaptar, acho que como pai né? E a cuidar dos
filhos fazer papel de cuidar das crianças. (...) graças a Deus ele não é nada machista
então para ele o fato de eu trabalhar e ele tem que cuidar das crianças também é um
supernatural, assim, é uma coisa não existe eu te ajudo e você me ajuda, né? Nós dois
assim, cada um faz a sua parte de só que normalmente cada um faz mis o que gosta,
né? Eu acho que o que a gente teve que aprender juntos foi isso né de assim.
(Planejadora)
igualdade entre maternidade e paternidade ser construída num ritmo muito lento, ela é
necessária para que as mulheres possam “ser produzidas não apenas como mães, mas como
mulheres que desejam os homens, e os homens poderão ser criados não só como amantes das
mulheres, mas também como pais de filhos” (CASTELLS, 2013b, p. 27)
Nas 4 histórias de vida ouvidas nesta pesquisa foi possível perceber a presença de uma
construção acerca da maternidade e do que é ser mulher. Esta presença corrobora com a
pesquisa que Ainsworth e Cutcher (2008) fizeram na Austrália, onde chegaram à conclusão de
que há uma construção nacional e cultural acerca da maternidade e do gênero. No Brasil, a
construção social acerca da maternidade atribui à mulher o papel de cuidadora primária da
família, responsável pelo bem-estar e pelas tarefas da casa (FABBRO et al., 2010; OLIVEIRA
et al., 2011; SIFUENTES; RONSINI, 2011; LOUREIRO; COSTA; FREITAS, 2012). Esta
construção da mulher e mãe também pode ser percebida em outros países. (SUN, 2008; ANNE;
PARAM, 2015; MANOOGIAN et al., 2015; WILLIAMS; BERDAHL; VANDELLO, 2016;
GROSS SPECTOR; CINAMON, 2017a)
Então mesmo é essa coisa da culpa da mãe que não tá o dia inteiro com a filha, que a
sociedade mesmo cobra isso porque ser mãe é uma sociedade que se coloca no outro
lugar as pessoas vivem mais você é a mãe parece que vira um ser assexuado né? Parece
que a sociedade te coloca no outro lugar então, você tem a culpa tua e a culpa que te
jogam né hoje eu já estou conseguindo olhar isso de outras formas sabe e até ver isso
como um aprendizado para minha própria filha, sabe esse mundo colorido de fantasia,
não existe. (Guerreira)
Eu nunca tive que sonho de fadinha por exemplo é que às vezes às vezes às mães com
as colegas a minha filha falando disso a princesa eu nunca fui isso e não quero isso
para minha filha também porque a vida não é essa, entendeu, tu pode ser várias coisas
mas não é isso né então acho que todo esse meu ritmo essa coisa é a Guerreira, aquela
mulher que vai, que faz, que acontece que qual que é o leão que eu tenho que matar
hoje aqui então daqui eu vou dar conta não tenho mais medo disso sabe, e ela também
tem que entender isso, que isso faz parte. (Guerreira)
137
Esta é uma atitude que reflete o tipo primário de identidade, não só de Guerreira, mas
de todas as entrevistadas: identidade de projeto (CASTELLS, 2013b). As análises sobre a
identidade das entrevistadas e seus papéis constam na sessão a seguir.
5.3. IDENTIDADE
Papéis Sobrecarga
Ambiguidade
Eu vou dizer minha filha, 5 coisas então, pera aí, acho que a saúde da minha filha, a
felicidade da minha filha, a saúde mental da minha filha que é diferente da Saúde
física, a minha saúde e a minha felicidade. (Guerreira)
Antes, bom, eu era muito mais individualista, quem sabe mais tranquila. Eu fiquei
casada muito tempo sem filho. Era, tipo, você vive sua função, alí, não tem hora, você
faz do jeito que você quer. Depois de ser mãe eu acho que você muda no olhar pra
vida, assim, o senso de responsabilidade, né. (Planejadora)
138
Você começa a entender coisas dos pais, onde, as vezes eu me pego repetindo
comportamentos que eu criticava dos meus pais. Ai eu falo assim: Nooooosa tô
fazendo igual, né. Ou assim: Não, agora eu entendo porque eles faziam, né.
(Planejadora)
Que eu respeito muito as pessoas que decidem não ter filhos porque não é fácil
trabalhar, ser mulher, mãe, tudo junto, não é nem um pouco fácil, mas para quem tem
um pouco de vontade, sofra, vai que dá certo. E é muito legal, você faz parte de um
ciclo de ser humano, é assim, eu fui criança, fui filha, fui neta e hoje estamos aí. Então
para mim e parece que eu entendo a vida de uma forma diferente, eu entendo a minha
mãe de uma forma diferente. (Guerreira)
Então independente da tua vida paralela como mãe o negócio te cobra, independente
da tua vida como negócio a tua família te cobra. Então são explicações que elas
explicam, mas não justificam, sabe? Ou justificam, mas não explicam, já não sei te
dizer como, mas as situações se contaminam. (Persistente)
Olha, é um desafio, porque é difícil você equilibrar todos os papeis e eu acho que
quanto mais se cresce na carreira mais você tem que abrir mão da maternidade e
quanto melhor mãe você é você tem a tendência de querer abrir mão de outras coisas
139
e você não consegue. Então a grande dificuldade eu acho que é equilibrar tudo isso.
Eu acho que tudo resume nisso. Ou você cede de um lado, ou você cede do outro. Ou
você desiste de uma coisa de um lado ou desiste do outro. É, você tem uma eterna
sensação de que parece que não dá conta, onde você olha você está devendo alguma
coisa. E é difícil porque são duas funções importantes que você desempenha. É, então
é muito difícil você ver aonde você vai colocar o teu foco, eu acho que a grande
dificuldade é esta. (Persistente)
Bertolini et al. (2015) apontam que há uma tensão entre as ideias dominantes acerca
da maternidade que englobam um modelo de maternidade intensiva, e as demandas do mercado
de trabalho. Os autores apontam que as ideias, os planos e as decisões relativas aos cuidados
infantis são altamente marcados pelo gênero, sendo influenciados pelas expectativas dos
parceiros, empregadores e colegas e por uma cultura de trabalho que não é favorável à família.
A nova transição para a parentalidade força as mulheres a redefinir sua identidade e carreira de
maneira altamente feminina. Planejadora deixa clara esta tensão em sua fala:
É desafiador, né!? Bom, assim, eu gosto muito de trabalhar. É uma coisa que eu não
me vejo, eu não me vejo como mulher não trabalhando. Então esta foi uma opção
minha desde muito cedo. Por exemplo, a minha irmã é uma, ela optou por ficar em
casa cuidando das filhas, né. Eu não consigo viver assim, né. Em momentos de muito
estresse ai às vezes eu penso: ai seria bom jogar tudo pro alto e ficar em casa! Mas ai
me dá cinco minutos, eu paro e penso: não, eu ia ser uma pessoa muito infeliz, né.
Mas tem momentos que realmente é, conciliar as coisas é complicado. (Planejadora)
O que é apoio para você? Ajudar a lidar com tudo isso? Olha, na verdade meu maior
apoio é o meu marido. Eu tenho um marido fora da curva. Olhando os homens e os
maridos das minhas amigas, de irmã, primas, ele é fora da curva. Ele é um homem
que sempre morou sozinho, sempre foi independente, sempre soube se cuidar. Fazer
sua comida, lavar sua roupa, cuidar da casa, deixar organizado. Ele é extremamente
organizado, não gosta de bagunça. Risos. Então quem chama atenção da bagunça da
casa é ele. Risos.
Então ele é meu ponto de apoio principal. Ele realmente consegue organizar muito
bem as coisas do dia a dia com as crianças. Ele é quem, na maioria das vezes, busca e
leva para a escola, né. A gente varia um pouco pela agenda dela porque ele dá aula na
P** e aí os horários dele são de manhã e à noite. Varia a cada semestre. Então cada
semestre a gente se adapta pelos horários dele. Então, assim tem semestre como esse
que ele só tem aula bem cedo, que é o dia que eu levo as crianças e segunda e sexta
que eu pego. Nos outros dias ele leva e busca. (Planejadora)
140
Tanto nas entrevistadas que colocaram o papel de mãe como o principal em suas vidas
(Prioridade e Guerreira) quanto nas que o papel de trabalhadora é o principal (Persistente e
Planejadora) há uma negação da identidade tradicional feminina que Castells (2013b, p. 265)
caracteriza: “filhos como objeto de seu instinto maternal; redes de relação femininas, como sua
principal fonte de apoio emocional; homens como objetos eróticos; e homens, como provedores
de família.”. Apesar de ainda contarem com redes de relação femininas para apoio emocional,
como é o caso do apoio maternal, das irmãs, amigas e colegas de trabalho, para estas mulheres
o homem não é o único provedor da família.
Por também serem provedoras, elas enfrentam o conflito trabalho-família, e precisam
abrir mão de momentos compartilhados com os filhos:
O que é que eu acho de ruim... Eu abri mão de muita coisa, assim eu não vou levar
meus filhos na escola quase nunca, eu raramente vou buscar meus filhos na escola. Já
vivi o modelo que eu ia buscar meus filhos na escola, vivi um estresse daqueles
absurdos, porque tinha que sair cinco e meia do trabalho. Eu não consigo sair cinco e
meia do trabalho, cinco e meia é quase meio da tarde, então eu tinha que sair 6 horas
porque seis e meia era o horário de carro, ai sair seis horas, seu eu sair as seis e dez o
transito já estava um caos, ai sai nervosa, já tinha que ir correndo, parava no sinal
amarelo, apertava a mão na buzina, e daí chegava esbaforida na escola, as vezes eles
estavam muito tempo esperando na portaria ou... Até que chegou... (Persistente)
Mas foi muito difícil no começo, porque eu acho que o homem não está preparado,
ainda para aceitar, para atender e viver esse modelo. Eu acho que a sociedade não está
pronta e o homem não está pronto para isto, para este mundo, que de uma certa forma
é o mundo moderno, assim, a gente, eu fui educada para ser mulher, o homem ser o
homem provedor, a mulher deixa na escola, pega na escola, dar o almoço, deixa a
criança dormir, dar banho... Então o mundo tanto o homem não estão preparados para
esta diferença de viver. (Persistente)
que leva a um sentimento de culpa. No entanto, ser capaz de conduzir suas vidas pessoais e
carreiras profissionais lhes dá uma sensação de completude. Embora suas carreiras profissionais
sejam importantes, a maternidade é sua identidade predominante. Sentimentos de culpa também
podem ser percebidos na fala das entrevistadas nesta pesquisa, a exemplo, Persistente:
Eu acho que esta é a atividade. Constantemente eu me sinto uma mãe deficitária, uma
mãe fora do convencional, uma mãe diferente da que eu tive, né, em termos de
atividades, funções... Em alguns pontos uma mãe omissa, porque hoje eu vejo que
meus filhos tem um laço com meu marido diferente do que eles tem comigo, o laço é
forte, mas o laço com ele é forte, mas não é aquele laço que você escuta dizer: “nossa
os filhos não vivem sem a mãe”, “a mãe é referência”, “os filhos quando separam
ficam com a mãe”, sabe essas coisas que a gente escuta que, que se se cresce escutando
isso? O filho é da mãe, que quando separa o filho é da mãe, que o maior amor é da
mãe, eu não vivo muito essa realidade. Eu acho que meus filhos me amam demais, eu
tenho um excelente laço, mas não acredito mais nesses mitos. Ou não acredito ou eu
vivo um modelo que não é esse mito, que ele não concretizou na minha família. Nem
por isso a família é mais ou menos feliz, né? (Persistente)
Para lidar com as diferentes demandas, as entrevistadas contam com o apoio dos
maridos e ex-maridos e de membros da família: mães, pais e irmãs. Estes apoios ajudam a lidar
com as mudanças ocasionadas pela gravidez: mudanças no corpo, na relação com a mãe e na
maneira como tomam decisões. (OLIVEIRA et al., 2011; CARVALHO, 2016). Planejadora
aponta o apoio do conjugue e da família como essencial para que a mulher possa progredir na
carreira.
E eu acho que assim, a maioria é realmente a família que barra. O que a gente vê, é
que assim, vai ficando demandante as carreiras e nas famílias a maioria chega um
limite que tem que se optar, ou um ou outro. Porque os dois seguirem numa carreira
e, numa carreira demandante, tudo mais, é muito difícil. Pode acontecer? Pode, mas
eu acho muito difícil. E sempre que tem lá discussões, a gente sempre fala assim; “Ah,
como é que são as mulheres que estão nos cargos de liderança?” A maioria os homens
estão em casa ajudando. Assim, eu não lembro ainda de nenhum caso em que os dois
estão progredindo na carreira e tenham família, tenham filhos. A não ser que os filhos
já sejam grandes, bem mais velhos, que ai não tenha mais essa relação de dependência.
E aí a gente chega assim, realmente. Acaba que a família acaba sendo o bloqueio. As
mulheres acabam por optar, quando chega num momento que vê que vai impactar a
vida dos filhos, aí, ó opta por parar. (Planejadora)
Por meio da fala de Planejadora e das demais entrevistadas, pode-se perceber que
mesmo nas entrevistadas que tem o papel de trabalhadora como central, a maternidade permeia
sua constituição identitária, refletindo na maneira como tomam suas decisões no trabalho, na
área financeira e no planejamento de suas vidas. Com as análises realizadas, foi possível chegar
às considerações finais, que constam na sessão seguinte.
142
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que dizer destas mulheres? Que ao mesmo tempo guerreiras em carreira acolhem de
peito aberto e puro amor as pessoas que amam. O que dizer de mulheres que amam, apaixonam-
se e vivem intensamente as diversas faces delas mesmas, uma hora mães, outra trabalhadoras,
esposas, filhas, amigas, mas sempre mulheres, apesar de as vezes esquecerem.
Em cada mulher uma história, em cada história, várias histórias, e ao mesmo tempo
todas compartilhando os mesmos caminhos. Como as Moiras em seu tear, essas mulheres
teceram suas vidas, fio a fio. Para elas a Roda da Fortuna é composta por suas escolhas: ao
colocar um hemisfério da roda para cima, outro teria que ficar abaixo, ao colocar a vida
profissional como principal objetivo, algo teria que ser delegado a segundo plano, ao colocar a
família como prioridade, o trabalho já não poderia ficar no topo da roda. (BULFINCH, 2014)
As mulheres entrevistadas trouxeram histórias ricas, cheias de significados. Cada uma
conta sua história de maneira própria, mas as histórias convergem para experiências similares.
Isto demonstra que todas estão imersas em uma construção de significados que vai além do
próprio indivíduo, são significados construídos e compartilhados socialmente.
Em suas histórias o trabalho orienta a narrativa, dá uma estrutura temporal que ajuda
no contar das histórias. Persistente, Planejadora e Prioridade contam suas histórias a partir do
início de suas trajetórias de trabalho, Guerreira também começa sua história falando de um
trabalho, não o seu próprio trabalho, mas o trabalho da mãe, pois as possibilidades de trabalho
da mãe e seu exemplo refletem na maneira como Guerreira encara o trabalho. Todas veem o
trabalho como uma necessidade que vai além do material: para elas o trabalho significa
autorrealização, possibilidade de serem elas mesmas, uma expressão de suas vidas e escolhas.
O trabalho desempenha papel central na identidade dessas mulheres, é uma referência em suas
identidades; elas não se imaginam sem o trabalho.
Ao vivenciarem a maternidade, estas mulheres passaram por um processo de
reorganização de significados, modificando a constituição de suas identidades. Este processo
não é abrupto, é vivenciado no dia a dia, e por isto as protagonistas tiveram dificuldade em
darem-se conta de como a maternidade modificou a constituição de suas identidades. Estas
modificações ficam aparentes em suas falas.
A maternidade ressignificou a maneira como estas mulheres lidam com tempo,
dinheiro, suas vontades, prioridades, a relação com amigos, familiares: pai, mãe e irmãos,
perspectivas para o futuro e a relação com o trabalho. Se antes suas vidas giravam ao redor de
143
Longe do tema ter sido esgotado neste trabalho, ele pode ser explorado de outras
maneiras e olhares. Ainda no tema da mulher que trabalha no setor privado, a maternidade e
sua identidade, também pode-se estudar as emoções desta vivência, também é possível expandir
a pesquisa para outras regiões do país e para diferentes perfis de mulheres.
Durante esta pesquisa o desempenho dos homens no papel de pai apareceu como
fundamental para o bom andamento da rotina familiar. Então no futuro, pode-se estudar como
se dá esta participação e como isto auxilia os membros da família a lidar com o conflito
trabalho-família. Também pode ser tema de uma pesquisa futura a maneira como os homens
lidam com o conflito trabalho-família em situação de divisão igual de tarefas entre o casal.
Esta pesquisa permite que as organizações possam conhecer a história de mulheres que
trabalham e são mães, conhecendo como as entrevistadas fazem suas escolhas de trabalho
pensando em suas carreiras e na maternidade, quais ações mais ajudam estas mães a conciliar
trabalho e família. Nesta pesquisa as entrevistadas demonstraram que uma cultura
organizacional que visa ao equilíbrio e à qualidade de vida é um atrativo para a captação e
retenção de talentos, e que os horários flexíveis ajudam a conciliar trabalho e família sem
prejudicar o rendimento destas trabalhadoras. Conhecendo estas trabalhadoras as organizações
podem pensar em ações que as ajudem a manterem-se no trabalho e a gerenciar melhor o
conflito trabalho-família.
145
146
REFERÊNCIAS
Sons, 1902.
COSTA, C. de L. The (mis)uses of life histories. The linguistic turn, life histories and
(women’s) life stories. Horizontes Antropológicos, v. 12, n. 5, p. 133–151, 1999. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ha/v5n12/0104-7183-ha-5-12-0133.pdf>. Acesso em: 21 mar.
2018.
COSTA, S. G. Conforto, proteção social e emprego doméstico (Brasil e Região
Fluminense, 1960-2000). Serviço Social & Sociedade, n. 120, p. 767–794, dez. 2014.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
66282014000400010&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa : métodos qualitativo, quantitativo e
misto. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CROWLEY, J. E. Staying at Home or Working for Pay? Attachment to Modern
Mothering Identities. Sociological Spectrum, v. 34, n. 2, p. 114–135, 28 mar. 2014. Disponível
em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02732173.2014.878605>. Acesso em: 1
maio. 2018.
D’ELIA, T. C. P. Mulher, maternidade e trabalho: dilemas contemporâneos.
Psicologia Clínica, v. 21, n. 2, p. 503–503, 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
56652009000200032&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
DEBERT, G. G. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In:
A aventura antropológica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 141–156.
DINIZ, C. S. G.; BATISTA, L. E.; KALCKMANN, S.; SCHLITHZ, A. O. C.;
QUEIROZ, M. R.; CARVALHO, P. C. de A.; DINIZ, C. S. G.; BATISTA, L. E.;
KALCKMANN, S.; SCHLITHZ, A. O. C.; QUEIROZ, M. R.; CARVALHO, P. C. de A.
Desigualdades sociodemográficas e na assistência à maternidade entre puérperas no Sudeste do
Brasil segundo cor da pele: dados do inquérito nacional Nascer no Brasil (2011-2012). Saúde
e Sociedade, v. 25, n. 3, p. 561–572, set. 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902016000300561&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
DUBERLEY, J.; CARRIGAN, M. The career identities of ‘mumpreneurs’: Women’s
experiences of combining enterprise and motherhood. International Small Business Journal,
v. 31, n. 6, p. 629–651, set. 2013. Disponível em:
<http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0266242611435182>. Acesso em: 1 maio. 2018.
DURKHEIM, É. Da Divisão do Trabalho Social. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
EKINSMYTH, C. Mothers’ business, work/life and the politics of ‘mumpreneurship’.
Gender, Place & Culture, v. 21, n. 10, p. 1230–1248, 26 nov. 2014. Disponível em:
<http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0966369X.2013.817975>. Acesso em: 11 abr.
2018.
EMIDIO, T. S.; HASHIMOTO, F. Poder Feminino e Poder Materno: Reflexões Sobre
a Construção da Identidade Feminina e da Maternidade. Colloquium Humanarum, v. 5, n. 2,
p. 27–36, 2008. Disponível em:
<http://revistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.php/ch/article/viewFile/289/255>.
EVON, C.; GORDON, N. L’Officiel. Disponível em:
<https://www.lofficielsingapore.com/fashion/fashion-illustration-artists-interview-with-grace-
ciao-from-singapore>. Acesso em: 1 jan. 2019.
FABBRO, M. R. C.; HELOANI, J. R. M.; MÁRCIA REGINA CANGIANI FABBRO;
JOSÉ ROBERTO MONTES HELOANI; FABBRO, M. R. C.; HELOANI, J. R. M. Mulher,
maternidade e trabalho acadêmico. Investigación y Educación en Enfermería, v. 28, n. 2, p.
176–186, 1 jul. 2010. Disponível em:
151
<http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-
53072010000200004&lang=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
FERNANDES, M. E. HIistória de vida: dos desafios de sua utilização. Revista
Hospitalidade, v. VII, n. 1, p. 15–31, 2010. Disponível em:
<https://revhosp.org/hospitalidade/article/viewFile/292/320>. Acesso em: 4 mar. 2018.
FERNANDES, M. E. R.; MARQUES, A. L.; CARRIERI, A. P. Elementos para
compreensão dos estudos de identidade em teoria organizacional. In: CARRIERI, A. P. (Ed.).
Identidade nas organizações. Curitiba: Editora Joruá, 2010. p. 29–62.
FONTOURA, N.; ARAÚJO, C. Uso do tempo e gênero. 1. ed. Rio de Janeiro:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, 2016.
FRANÇA, M.; FRANÇA, M. A vida pessoal de trabalhadoras do sexo: dilemas de
mulheres de classes populares. Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro), n. 25, p. 134–
155, abr. 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
64872017000100134&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
FREITAS, M. E. de. Parte II: Cultura organizacional e processos psicológicos
inconscientes. In: Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2006. p. 83–167.
FURLONG, P.; MARSH, D. A skin not a sweater: ontology and epistemology in
political science. In: MARSH, D.; STOKER, G. (Ed.). Theory and Methods in Political
Science. Cambridge: Palgrave Macmillan, 2002. p. 17–41.
GABALDON, P.; ANCA, C. de; GALDÓN, C. Measures of success for self-employed
mothers in Spain. International Journal of Entrepreneurial Behavior & Research, v. 21, n.
1, p. 128–145, 2015. Disponível em: <https://doi.org/10.1108/IJEBR-12-2013-0209>. Acesso
em: 4 jan. 2018.
GATRELL, C. J. Monstrous motherhood versus magical maternity? An exploration of
conflicting attitudes to maternity within health discourses and organizational settings. Equality,
Diversity and Inclusion: An International Journal, v. 33, n. 9, p. 633–647, 2014. Disponível
em: <https://doi.org/10.1108/EDI-07-2012-0056>. Acesso em: 4 jan. 2018.
GHADIRI, D. (Sacha) P.; DAVEL, E. Do sólido ao fluido: contradição organizacional
e paradoxo na reconstrução de identidade. RAE-eletrônica, v. 5, n. 1, p. 1–23, 2006. Disponível
em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/30098/do-solido-ao-fluido--contradicao-
organizacional-e-paradoxo-na-reconstrucao-de-identidade/i/pt-br>. Acesso em: 13 mar. 2018.
GHASEMI, A. Muslim Iranian women working in broadcast media (IRIB): Between
motherhood and professionalism. Women’s Studies International Forum, v. 53, p. 167–173,
1 nov. 2015. Disponível em:
<http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0277539515000047>. Acesso em: 11 abr. 2018.
GIBBS, G. Análise de biografias e narrativas. In: Análise de dados qualitativos. Porto
Alegre: Artmed, 2009. p. 79–96.
GODOI, C.; MATTOS, P. L. C. L. de. Entrevista qualitativa: instrumento de pesquisa
e evento dialógico. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; SILVA, A. . (Ed.).
Pesquisa qualitativa em Estudos Organizacionais. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 301–324.
GODOY, M. B.; GOMES, F. A.; STEFANELLO, J.; MONTEIRO, J. C. dos S.;
NAKANO, A. M. S. Situação trabalhista da mulher no ciclo grávido-puerperal. [s.l: s.n.]v.
29
GONÇALVES CAMACHO, K.; DA COSTA VARGENS, O. M.; PROGIANTI, J.
M.; SPÍNDOLA, T. Vivenciando repercussões e transformações de uma gestação: perspectivas
de gestantes. Ciencia y enfermería, v. 16, n. 2, p. 115–125, ago. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-
95532010000200012&lng=en&nrm=iso&tlng=en>. Acesso em: 4 abr. 2018.
152
n_in_Dual-Earner_Families>.
HOULE, L.; CHIOCCHIO, F.; FAVREAU, O. E.; VILLENEUVE, M. Role conflict
and well‐being among employed mothers: the mediating effects of self‐efficacy. v. 24, p. 270–
285, 12 jun. 2009. Disponível em: <https://doi.org/10.1108/17542410910961550>. Acesso em:
4 jan. 2018.
IBGE, C. de P. e I. S. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de
vida da população brasileira. 2017. IBGE, Rio de Janeiro, Brasil, 2017. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101459.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2018.
IBGE, I. B. de G. e E. IBGE | Brasil em Síntese | Paraná | Curitiba | Panorama.
Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/curitiba/panorama>. Acesso em: 6 fev.
2019.
JACQUES, M. . Identidade. In: STREY, M. . (Ed.). Psicologia social
contemporânea. Petrópolis: Editora Vozes, 2001. p. 58–72.
JAGA, A.; BAGRAIM, J. Work-family conflict among Hindu mothers in South
Africa. International Journal of Manpower, v. 38, n. 8, p. 1086–1101, 6 nov. 2017.
Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/doi/10.1108/IJM-12-2013-0280>. Acesso
em: 3 jan. 2018.
JAIME, P.; GODOY, A. S.; ANTONELLO, C. S. História de Vida: Origens, Debates
Contemporâneos e Possibilidades no Campo da Administração. In: I Encontro de Ensino e
Pesquisa em Administração e Contabilidade, Refice/PE. Anais... Refice/PE: 2007. Disponível
em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2591494/mod_resource/content/0/Jaime%2C
Godoy Antonello %282007%29 História de Vida origens%2C debates contemporâneos e
possibilidades no campo da adm.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2018.
JIMENO, N. F. Desafiando la institución de la maternidad: reapropiaciones
subversivas de las tecnologías de reproducción asistida (TRA). Revista iberoamericana de
ciencia tecnología y sociedad, v. 11, n. 31, p. 119–146, 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1850-
00132016000100007&lang=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
JONATHAN, E. G. Mulheres empreendedoras: medos, conquistas e qualidade de vida.
Psicologia Em Estudo, v. 10, n. 3, p. 373–382, 1 dez. 2005. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/237789617_Mulheres_empreendedoras_medos_co
nquistas_e_qualidade_de_vida>.
JONES, G. R. Life history methodology. In: MORGAN, G. (Ed.). Beyond Methods.
California: SAGE Publications, 1983.
KALIL, I. R.; AGUIAR, A. C. de. Trabalho feminino, políticas familiares e discursos
pró-aleitamento materno: avanços e desafios à equidade de gênero. Saúde em Debate, v. 40,
n. 110, p. 208–223, set. 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
11042016000300208&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
KAUR, R. O que o sol faz com as flores. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.
KERR, K.; RAFFO, C. Exploring the relationship between equality, equity and social
justice in education. In: [s.l.] Tufnell Press, 2016.
KIMURA, A. F. A construção da personagem mãe: considerações teóricas sobre
identidade e papel materno. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 31, n. 2, p. 339–
343, ago. 1997. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
62341997000200013&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
KING, E. B.; BOTSFORD, W. E. Managing pregnancy disclosures: Understanding
and overcoming the challenges of expectant motherhood at work. Human Resource
Management Review, v. 19, n. 4, p. 314–323, dez. 2009. Disponível em:
154
OLIVEIRA, S. C.; RIGONI DE FARIA, E.; CASTELLÁ, J.; CESAR, S.; PICCININI,
A.; TRENTINI, C. M. Maternidade e trabalho: Uma revisão da literatura. Revista
Interamericana de Psicología, v. 45, n. 2, p. 271–280, 2011. Disponível em:
<https://journal.sipsych.org/index.php/IJP/article/viewFile/157/135>. Acesso em: 4 abr. 2018.
ONU. Princípios de Empoderamento das Mulheres. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<http://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2016/04/cartilha_ONU_Mulheres_Nov2017_digital.pdf>. Acesso em: 6 abr.
2018.
PARKE, C. Working mothers in the boardroom. Human Resource Management
International Digest, v. 20, n. 5, p. 3–6, 2012. Disponível em:
<https://doi.org/10.1108/09670731211249305>. Acesso em: 4 jan. 2018.
PASINATO, L., L.; MOSMANN, C., C. Transição para a parentalidade e a
coparentalidade: casais que os filhos ingressaram na escola ao término da licença-maternidade.
Avances en Psicología Latinoamericana, v. 34, n. 1, p. 129–142, 15 jan. 2016. Disponível
em: <http://revistas.urosario.edu.co/index.php/apl/article/view/4395>. Acesso em: 4 abr. 2018.
PATIAS, N. D.; BUAES, C. S. “Tem que ser uma escolha da mulher”! representações
de maternidade em mulheres não-mães por opção. Psicologia & Sociedade, v. 24, n. 2, p. 300–
306, ago. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822012000200007&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
PÉREZ, A.; DOMÍNGUEZ, S.; CORTÉS GALLEGO, M. M. Políticas públicas para
la mujer en Colombia: La doble condición de madre y trabajadora en la legislación del siglo
XX. Entramado, v. 8, n. 1, p. 72–88, 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1900-
38032012000100006&lang=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
PETERSEN, E. J. Redefining the Workplace: The Professionalization of Motherhood
through Blogging. Journal of Technical Writing and Communication, v. 44, n. 3, p. 277–
296, 11 jul. 2014. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/10.2190/TW.44.3.d>.
Acesso em: 28 abr. 2018.
PFAU‐EFFINGER, B. Women’s employment in the institutional and cultural context.
International Journal of Sociology and Social Policy, v. 32, n. 9/10, p. 530–543, 31 ago.
2012. Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/doi/10.1108/01443331211257634>.
Acesso em: 8 dez. 2017.
PINTO, E. L.; MIDLEJ, S. Programa Pró-Equidade de Gênero: uma discussão sobre
relações entre homens e mulheres na Caixa Econômica Federal. Revista de Administração
Pública, v. 46, n. 6, p. 1529–1550, 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
76122012000600006&lng=pt&tlng=pt>.
PINTO, V. C. Identidade feminina, família e profissão: a experiência de ser
mulher na contemporaneidade. 2005. Universidade Católica de Pernambuco, 2005.
PONTES, M. F.; FÉRES-CARNEIRO, T.; MAGALHÃES, A. S.; PONTES, M. F.;
FÉRES-CARNEIRO, T.; MAGALHÃES, A. S. Homoparentalidade feminina: laço biológico e
laço afetivo na dinâmica familiar. Psicologia USP, v. 28, n. 2, p. 276–286, ago. 2017.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
65642017000200276&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
QUEIROZ, M. I. P. de. Variações sobre a técnica de gravador no registro da
informação viva. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991.
QUEIROZ, V. dos S.; ARAGÓN, J. A. O.; QUEIROZ, V. dos S.; ARAGÓN, J. A. O.
Alocação de tempo em trabalho pelas mulheres brasileiras. Estudos Econômicos (São Paulo),
v. 45, n. 4, p. 787–819, dez. 2015. Disponível em:
158
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
41612015000400787&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
RADCLIFFE, P. Motherhood, pregnancy, and the negotiation of identity: The moral
career of drug treatment. Social Science & Medicine, v. 72, n. 6, p. 984–991, mar. 2011.
Disponível em: <http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0277953611000608>. Acesso
em: 1 maio. 2018.
RAMOS, D. P.; RAMOS, D. P. A família e a maternidade como referências para
pensar a política. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 16, p. 87–120, abr. 2015.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
33522015000200087&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
ROBINSON, L. D.; MAGEE, C. A.; CAPUTI, P. Work-to-family profiles, family
structure and burnout in mothers. Journal of Managerial Psychology, v. 31, n. 7, p. 1167–
1181, 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.1108/JMP-03-2015-0102>. Acesso em: 4 jan.
2018.
ROCHA-COUTINHO, M.; COUTINHO, R. R. Mulheres brasileiras em posições de
liderança: Novas perspectivas para antigos desafios. Economia Global e Gestão, v. 16, n. 1, p.
61–79, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-
74442011000100005&lang=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
ROCHA-COUTINHO, M. L. Tecendo por trás dos panos: A mulher brasileira nas
relações familiares. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
ROCHA-COUTINHO, M. L. Variations on an old Theme: Maternity for Women with
a Very Successful Professional Career. The Spanish journal of psychology, v. 11, n. 01, p.
66–77, 10 maio 2008. Disponível em:
<https://www.cambridge.org/core/product/identifier/S1138741600004121/type/journal_article
>. Acesso em: 1 maio. 2018.
SANTOS, M. M. L.; ROCHA-COUTINHO, M. L. Mulheres na Força Aérea
Brasileira: um estudo sobre as primeiras oficiais aviadoras. Estudos de Psicologia (Natal), v.
15, n. 3, p. 259–267, dez. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
294X2010000300005&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
SATO, L. Processos cotidianos de organização do trabalho na feira livre. Psicologia
& Sociedade, v. 19, n. 1, p. 95–102, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v19nspe/v19nspea13.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2018.
SCHERER, A. G. Modes of explanation in organization theory. In: TSOUKAS, H.;
KNUDSEN, C. (Ed.). The oxford handbook of organization theory. England: Oxford
University Press, 2005.
SCHULTHEISS, D. E. P. To Mother or Matter: Can women do both? Journal of
Career Development, v. 36, n. 1, p. 25–48, 7 set. 2009. Disponível em:
<http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0894845309340795>. Acesso em: 1 maio. 2018.
SHARAFIZAD, J. Informal learning of women small business owners. Education +
Training, v. 60, n. 1, p. 82–103, 2018. Disponível em:
<http://www.emeraldinsight.com/doi/pdfplus/10.1108/ET-01-2017-0006>. Acesso em: 5 jan.
2018.
SIFUENTES, L.; RONSINI, V. O que a telenovela ensina sobre ser mulher? Reflexoes
acerca das representacoes femininas. Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia, v. 18,
n. 1, p. 131–147, 1 jan. 2011. Disponível em: <http://go-
galegroup.ez22.periodicos.capes.gov.br/ps/i.do?&id=GALE%7CA306514498&v=2.1&u=cap
es&it=r&p=AONE&sw=w&authCount=1>. Acesso em: 14 mar. 2018.
SILVA, F. F. da; RIBEIRO, P. R. C. Trajetórias de mulheres na ciência: “ser cientista”
159
e “ser mulher”. Ciência & Educação (Bauru), v. 20, n. 2, p. 449–466, abr. 2014. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
73132014000200449&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 1 maio. 2018.
SILVA, F. R. da; UZIEL, A. P.; ROTENBERG, L. Mulher, tempo e trabalho: o
cotidiano de mulheres comissárias de vôo. Psicologia & Sociedade, v. 26, n. 2, p. 472–482,
ago. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822014000200023&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
SIMORANGKIR, D. N. Negotiated identities : Between “ moral career ” and
professional career of single mothers in Jakarta. Asian Journal of Women’s Studies, v. 21, n.
2, p. 126–146, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1080/12259276.2015.1062264>.
SIMPSON, B.; CARROLL, B. Re-viewing “Role” in Processes of Identity
Construction. SAGE, v. 15, n. 1, p. 29–50, 2008. Disponível em:
<http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1350508407084484>. Acesso em: 19 fev. 2018.
SMIRCICH, L. Concepts of Culture and Organizational Analysis. Administrative
Science Quarterly, v. 28, n. 3, p. 339–358, 1983. Disponível em:
<http://www.jstor.org/stable/2392246>. Acesso em: 6 jan. 2018.
SOCRATOUS, M.; GALLOWAY, L.; KAMENOU-AIGBEKAEN, N. Motherhood:
an impediment to workplace progression? The case of Cyprus. Equality, Diversity and
Inclusion: An International Journal, v. 35, n. 5/6, p. 364–382, 2016. Disponível em:
<http://www.emeraldinsight.com/doi/pdfplus/10.1108/EDI-02-2016-0019>. Acesso em: 4 jan.
2018.
SOLARI, S. S. Cuidados y subjetivación de género. Un análisis de discurso de las
mujeres que constituyen hogares monoparentales con hijos pequeños. Psicología,
Conocimiento y Sociedad, v. 7, n. 1, p. 141–168, 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1688-
70262017000100141&lang=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
SOUZA, P. M. da R. A. de; LOPES, A. L. S. V.; HILAL, A. V. G. Centralidade do
Trabalho na Perspectiva de Mulheres em Diferentes Faixas Etárias. RACE: Revista de
Administração, Contabilidade e Economia, v. 16, n. 1, p. 9–36, 2017. Disponível em:
<http://www.spell.org.br/documentos/ver/44802/centralidade-do-trabalho-na-perspectiva-de-
mulheres-em-diferentes-faixas-etarias/i/pt-br>.
SOUZA, L.; SPERLI, Z.; SANTOS, M.; SASAKI, N.; SOUZA, L. H.; SPERLI
GERALDES SOLER, Z. A.; SPERLI GERALDES SANTOS, M. de L.; SPERLI GERALDES
MARIN DOS SANTOS SASAKI, N. Puerperae bonding with their children and labor
experiences. Investigación y Educación en Enfermería, v. 35, n. 3, p. 364–371, 15 out. 2017.
Disponível em:
<http://aprendeenlinea.udea.edu.co/revistas/index.php/iee/article/view/329215/20785852>.
Acesso em: 4 abr. 2018.
STAKE, R. E. The Art of Case Study Research. [s.l.] Sage, 1995. v. 80
STRAUSS, A. L. Espelhos e máscaras-A busca de identidade. [s.l.] Edusp, 1999.
STROBINO, M. R. de C.; TEIXEIRA, R. M. Empreendedorismo feminino e o conflito
trabalho-família. Rev. Adm., v. 49, n. 1, p. 59–76, 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rausp/v49n1/a06v49n1.pdf>. Acesso em: 30 out. 2017.
SUN, Z. Worker, Woman, Mother: Redefining Urban Chinese Women’s Identity via
Motherhood and the Global Workplace. Asian Journal of Women’s Studies, v. 14, n. 1, p. 7–
33, 4 jan. 2008. Disponível em: <http://apps-
webofknowledge.ez22.periodicos.capes.gov.br/full_record.do?product=UA&search_mode=G
eneralSearch&qid=9&SID=7FWuFQk5TZback5dyuH&page=5&doc=206>. Acesso em: 1
maio. 2018.
TEDESCHI, L. A. Por uma história menor - uma análise deleuziana sobre a história
160
das mulheres. Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 1, 15 jan. 2018. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2018000100211&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
THOMSON, A. Aos Cinquenta Anos: uma perspectiva internacional da História Oral.
In: FERREIRA, M. M.; FERNANDES, T. M.; ALBERTI, V. (Ed.). História Oral: desafios
para o século XXI. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000. p. 47–66.
THOMSON, R.; KEHILY, M. J. Troubling reflexivity: the identity flows of teachers
becoming mothers. Gender and Education, v. 23, n. 3, p. 233–245, maio 2011. Disponível
em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09540253.2010.490205>. Acesso em: 1
maio. 2018.
TOMAZ, R.; TOMAZ, R. Feminismo, maternidade e mídia: relações historicamente
estreitas em revisão. Galáxia (São Paulo), n. 29, p. 155–166, jun. 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
25532015000100155&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 27 mar. 2018.
TURNER, P. K.; NORWOOD, K. Unbounded Motherhood: Embodying a Good
Working Mother Identity. Management Communication Quarterly, v. 27, n. 3, p. 396–424,
28 ago. 2013. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0893318913491461>.
Acesso em: 28 abr. 2018.
VALCOUR, P. M.; LADGE, J. J. Family and career path characteristics as predictors
of women’s career success outcomes. Journal of Vocational Behaviour, v. 73, n. 2, p. 300–
309, 2008.
VAN DER HORST, M.; VAN DER LIPPE, T.; KLUWER, E. Aspirations and
occupational achievements of Dutch fathers and mothers. Career Development International,
v. 19, n. 4, p. 447–468, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1108/CDI-12-2012-0128>.
Acesso em: 4 jan. 2018.
VANALLI, A. C. G.; BARHAM, E. J. Após a licença maternidade: a percepção de
professoras sobre a divisão das demandas familiares. Psicologia & Sociedade, v. 24, n. 1, p.
130–138, abr. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822012000100015&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
VARGAS, E. P. “Barrigão à mostra”: vicissitudes e valorização do corpo reprodutivo
na construção das imagens da gravidez. História, Ciências, Saúde, v. 19, n. 1, p. 237–258,
mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702012000100013&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
VIEIRA, A.; LIMA, C. H. .; PEREIRA, G. . Papéis sociais e expectativas. In: VIEIRA,
A.; GOULART, I. B. (Ed.). Identidade e subjetividade na gestão de pessoas. Curitiba: Juruá
Editora, 2012. p. 27–54.
VINUTO, J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em
aberto. Temáticas, v. 22, n. 44, p. 203–220, 2014.
VON HIPPEL, C.; KALOKERINOS, E. K.; ZACHER, H. Stereotype Threat and
Perceptions of Family-Friendly Policies among Female Employees. Frontiers in Psychology,
v. 7, 5 jan. 2017. Disponível em:
<http://journal.frontiersin.org/article/10.3389/fpsyg.2016.02043/full>. Acesso em: 1 maio.
2018.
WILLIAMS, J. The Motherhood Penalty. In: Women vs Feminism. [s.l.] Emerald
Publishing Limited, 2017. p. 69–91.
WILLIAMS, J. C.; BERDAHL, J. L.; VANDELLO, J. A. Beyond Work-Life
“Integration”. Annual Review of Psychology, v. 67, n. 1, p. 515–539, 4 jan. 2016. Disponível
em: <http://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-psych-122414-033710>. Acesso
em: 28 abr. 2018.
161
YONGKANG, Z.; WEIXI, Z.; YALIN, H.; YIPENG, X.; LIU, T. The Relationship
among Role Conflict, Role Ambiguity, Role Overload and Job Stress of Chinese Middle-Level
Cadres. Chinese Studies, v. 3, n. 1, p. 8–11, 2014. Disponível em:
<http://www.scirp.org/journal/chnstd>. Acesso em: 6 jan. 2018.
YOW, V. R. Recording Oral History: a Guide for the Humanities and Social
Scientists. 2. ed. Oxford, UK: Altamira, 2005.
ZAHMACIOGLU, O.; ATALAY, H.; AKBAS, N. B. Motherhood as a “Profession”:
Post-career motherhood experiences of women from the upper-middle class in Turkey.
Dusunen Adam: The Journal of Psychiatry and Neurological Sciences, v. 28, n. 3, p. 255–
264, 15 set. 2015. Disponível em:
<http://www.dusunenadamdergisi.org/ing/DergiPdf/DUSUNEN_ADAM_DERGISI_b57af29
c38364d879bf0a5fb7e9e10d5.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2018.
ZAHMACIOGLU, O.; ATALAY, H.; BERFU AKBAS, N.; OGUZHAN
ZAHMACIOGLU, A. Motherhood as a “Profession”: Post-Career Motherhood Experiences of
Women from The Upper-Middle Class in Turkey. Düşünen Adam The Journal of Psychiatry
and Neurological Sciences Journal of Psychiatry and Neurological Sciences, v. 2828, n. 3,
p. 255–264, 2015. Disponível em:
<http://www.dusunenadamdergisi.org/ing/DergiPdf/DUSUNEN_ADAM_DERGISI_b57af29
c38364d879bf0a5fb7e9e10d5.pdf>. Acesso em: 1 maio. 2018.
162
• Trabalho
Início da carreira
Objetivos/metas e progressão
• Maternidade
A gravidez
Mudanças na rotina
Mudanças no trabalho
• Apoio
Trabalho
Companheiro
Família
• Identidade
Autodefinição
Mudanças
• Papéis
Conflito
Sobrecarga
Ambiguidade
• Família
Companheiro
Filhos
Mãe e pai
Outros familiares
• Como lidar
Gestão do tempo
Apoio
Cônjuge
Família
Trabalho
163
Eu, _________________________________________________________________
___________________________________________________________________________,
CPF:_______________________________________, declaro, por meio deste termo, que
concordei em ser entrevistada e/ou participar na pesquisa de campo intitulada COMO É SER
MULHER, TRABALHADORA E MÃE? UM ESTUDO SOBRE A IDENTIDADE DA
MULHER QUE TRABALHA NO SETOR PRIVADO, desenvolvida por Lara Késsia Martins
Ávila quem poderei contatar /consultar a qualquer momento que julgar necessário por meio do
telefone nº (41) 99730.3582 ou e-mail larakessia@hotmail.com.
Fui informada, ainda, que a pesquisa é orientada pela Profa. Dra. Mariane Lemos a
quem poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário através do telefone
nº (41) 99232.4875 ou e-mail psimari@uol.com.br. Afirmo que aceitei participar por minha
própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a
finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informada dos objetivos
estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é compreender como as mulheres que
trabalham no setor privado têm a sua identidade, e seus papéis permeados pela maternidade.
Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista a ser gravada a partir da
assinatura desta autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela
pesquisadora, sua orientadora e membros auxiliares da pesquisa.
Fui ainda informada que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem
sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos. Atesto recebimento de uma cópia assinada deste
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
___________________________________________________
Lara Késsia Martins Ávila
165