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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

LARA KÉSSIA MARTINS AVILA

COMO É SER MULHER, TRABALHADORA E MÃE? UM ESTUDO SOBRE A


IDENTIDADE DA MULHER QUE TRABALHA NO SETOR PRIVADO

CURITIBA
2019
LARA KÉSSIA MARTINS ÁVILA

COMO É SER MULHER, TRABALHADORA E MÃE? UM ESTUDO SOBRE A


IDENTIDADE DA MULHER QUE TRABALHA NO SETOR PRIVADO

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção


do grau de Mestre em Estratégia e Organizações, no Curso
de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, Setor de
Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do
Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Mariane Lemos Lourenço

CURITIBA
2019
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS –
SIBI/UFPR COM DADOS FORNECIDOS PELO(A) AUTOR(A)
Bibliotecário: Eduardo Silveira – CRB 9/1921

Ávila, Lara Késsia Martins


Como é ser mulher, trabalhadora e mãe? Um estudo sobre a
identidade da mulher que trabalha no setor privado / Lara Késsia Martins
Ávila. - 2019.
165 p.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná. Programa


de Pós-Graduação em Administração, do Setor de Ciências Sociais
Aplicadas.

Orientadora: Mariane Lemos Lourenço.

Defesa: Curitiba, 2019

1. Mulheres - Trabalho. 2. Mães trabalhadoras. 3. Setor privad


I. Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Sociais Aplicadas.
Programa de Pós-Graduação em Administração. II. Lourenço, Mariane
Lemos. III. Título.
CDD 331.44
4

À minha mãe e à minha vó Rita, exemplos de determinação, coragem e amor ao trabalho.


A todas as mulheres que encontram seu jeito próprio de ser.
A todas que são mulheres, mães e trabalhadoras.
A todos os homens que apoiam a carreira de suas companheiras.
Meu respeito e admiração a todas e todos vocês.

FONTE: (AUTOR DESCONHECIDO, 2013)


5

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Causa Primeira de todas as coisas, à Inteligência Suprema, ao Amor


Universal. Agradeço minha mãe, minha irmã e toda minha família, sou tudo o que sou porque
vocês me amam.
Obrigada a minha orientadora Profa. Dra. Mariane Lemos Lourenço, um exemplo de
professora e pesquisadora, que sempre teve uma palavra amiga e amorosa que me ajudou a
conseguir trilhar este caminho.
Às Professoras Dra. Denise Maria Carvalho e Dra. Yara Bulgacov por terem aceitado
participar das bancas de qualificação e defesa. Suas contribuições enriqueceram este trabalho e
me ajudaram a melhorar como pesquisadora.
A todos os professores do PPG ADM UFPR. Um agradecimento especial às Profa.
Dra. Natália Rese, Profa. Dra. Jane Mendes, Profa. Dra. Mariane Lemos Lourenço, Profa. Dra.
Yara Bulgacov, Profa. Dra. Rivandra Teixeira. Professoras dedicadas como vocês são uma
inspiração e exemplo de empoderamento feminino.
Às mulheres que aceitaram compartilhar suas histórias de vida de coração aberto.
Vocês foram incríveis.
Aos colegas de mestrado: Élita Martins de Andrade, Flávia Obara Kai, Gabriel
Adorno, Rosa Liliana, Guilherme Matias, Fábio Farago, Wladimir Denkewski, Pedro Henrique
da Fonseca, Rodrigo Seefeld, Luciana Rigotto e Amanda Cristina Castro.
Às colegas de apartamento Tati e Raquel, que sempre me alegram quando preciso.
À Priscila Porto, que me incentivou a fazer o mestrado em Administração.
À pessoa que eu fui e à que me tornei durante esta jornada.
Ao CNPQ e a CAPES pelo apoio financeiro.
6

me levanto
sobre o sacrifício
de um milhão de mulheres que vieram antes
e penso
o que é que eu faço
para tornar essa montanha mais alta
para que as mulheres que vierem depois de mim
possam ver além
- legado

FONTE: (KAUR, 2018, p. 243–244)

Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota
de água no mar, mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.
Madre Teresa de Calcutá
7

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de investigar como a maternidade permeia a


constituição identitária e dos papéis de mulheres que trabalham no setor privado. Esta pesquisa
de campo é de natureza qualitativa e viés interpretativista. Os dados foram coletados por meio
da História de Vida de mulheres que são mães e trabalham no setor privado em Curitiba/PR, e
analisados por meio da análise de narrativa. As entrevistadas veem o trabalho como uma
necessidade que vai além do material; para elas, o trabalho significa autorrealização,
possibilidade de serem elas mesmas, uma expressão de suas vidas e escolhas. O trabalho
desempenha papel central da identidade dessas mulheres e é uma referência em suas
identidades. A maternidade ressignificou a maneira como estas mulheres lidam com o tempo,
dinheiro, suas vontades, prioridades, relação com amigos e familiares (pai, mãe e irmãos),
perspectivas para o futuro e relação com o trabalho.

Palavras-chave: Trabalho. Mulher. Maternidade. Identidade. Papel.


ABSTRACT

This paper aims to investigate how motherhood permeates in the identity and roles constitution
of women working in the private sector. This field research has qualitative nature and
interpretative bias. The data was collected through the Life Story of women who are mothers
and work in the private sector in Curitiba/PR, and analyzed through narrative analysis. The
interviewees see work as a necessity that goes beyond material; for them, work means self-
realization, possibility of being themselves, an expression of their lives and choices. Work plays
a central role of the identity of these women and is a reference in their identities. Motherhood
has reassigned the way these women deal with time, money, their desires, priorities,
relationships with friends and family members (father, mother and siblings), perspectives for
the future and relationship with work.
Keywords: Work. Woman. Motherhood. Identity. Social role.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - DIFERENÇA ENTRE IDENTIDADE E PAPÉIS EM CASTELLS .................. 41


FIGURA 2 – ETAPAS PARA PRÉ-ENTREVISTA DE HISTÓRIA DE VIDA. ................... 75
FIGURA 3 - COMO OCORREU A AMOSTRAGEM POR BOLA DE NEVE .................... 78
FIGURA 4 - PASSO-A-PASSO DA ATIVIDADE ANALÍTICA .......................................... 82
FIGURA 5 – IMAGEM REPRESENTATIVA DE "A PERSISTENTE" ............................... 85
FIGURA 6 – IMAGEM REPRESENTATIVA DE "PLANEJADORA" ................................ 95
FIGURA 7 – IMAGEM REPRESENTATIVA DE "PRIORIDADE" ................................... 112
FIGURA 8 – IMAGEM REPRESENTATIVA DE "GUERREIRA" .................................... 118
FIGURA 9 – TEMAS DAS HISTÓRIAS DE MÃES TRABALHADORAS ....................... 127
FIGURA 10 – TEMAS RELACIONADOS AO TRABALHO ............................................. 129
FIGURA 11 – TEMAS RELACIONADOS À MATERNIDADE ........................................ 132
FIGURA 12 – TEMAS RELACIONADOS À IDENTIDADE ............................................. 137
FIGURA 13 - RELATÓRIO DO PROGRAMA ANTI-PLÁGIO ......................................... 165
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - RESULTADO RESUMIDO DAS PESQUISAS EM BASES DE


DADOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS .................................................. 49
TABELA 2 - FREQUÊNCIA DOS NÍVEIS DE ANÁLISE PRESENTES NOS
ARTIGOS ANALISADOS ................................................................................. 56
TABELA 3 - PRINCIPAIS ÁREAS TEMÁTICAS RELACIONADAS AO
ESTUDO DA INTERAÇÃO ENTRE IDENTIDADE, MATERNIDADE E
TRABALHO ....................................................................................................... 56
TABELA 4 - NÚMERO DE ARTIGOS QUE COLETARAM DADOS POR
PAÍS/REGIÃO .................................................................................................... 58
TABELA 5 - RESULTADO RESUMIDO DAS PESQUISAS EM BASES DE
DADOS NACIONAIS ........................................................................................ 60
TABELA 6- ARTIGOS ANALISADOS POR CONJUNTO DE PALAVRAS. 61
TABELA 7 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS:
“MATERNIDADE +IDENTIDADE + PAPÉIS” ............................................... 61
TABELA 8 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS:
“MATERNIDADE + IDENTIDADE” ............................................................... 62
TABELA 9 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS:
“MATERNIDADE + TRABALHO” .................................................................. 64
11

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - FORMAS E ORIGENS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES EM UM


CONTEXTO MARCADO POR RELAÇÕES DE PODER ............................. 37
QUADRO 2 - ARTIGOS ANALISADOS POR ANO, PAÍS, CITAÇÃO, TÍTULO,
PERIÓDICO E OBJETIVO .............................................................................. 50
QUADRO 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÕES .............................. 73
QUADRO 4 – SÍNTESE DOS ASPECTOS DO TRABALHO DAS PROTAGONISTAS .. 129
QUADRO 5 – SÍNTESE DOS ASPECTOS DA MATERNIDADE DAS PROTAGONISTAS
......................................................................................................................... 132
12

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - NÚMERO DE ARTIGOS ANALISADOS POR ANO DA PUBLICAÇÃO


NACIONAL E INTERNACIONAL................................................................. 55
LISTA DE SIGLAS

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração


BAR Brazilian Administration Review
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
OIT Organização Internacional do Trabalho
PIB Produto Interno Bruto
PIB Produto Interno Bruto
RAC Revista de Administração Contemporânea
RACE Revista de Administração, Contabilidade e Economia
SCIELO Scientific Electronic Library Online
SPELL Scientific Periodicals Electronic Library
STI Social Identity Theory (Teoria Social da Identidade)
TAC Tecnologias de Administração e Contabilidade
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
1.1. PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 18
1.2. OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 18
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................... 19
1.4. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA............................................................... 19
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 24
2.1. SOCIEDADE E TRABALHO ................................................................................... 24
2.1.1. Maternidade e Trabalho ...................................................................................... 26
2.2. REVISANDO O CONCEITO DE IDENTIDADE.................................................... 28
2.3. IDENTIDADE INDIVIDUAL .................................................................................. 30
2.3.1. Maternidade e identidade.................................................................................... 39
2.4. PAPÉIS ...................................................................................................................... 40
2.5. MATERNIDADE E PAPÉIS .................................................................................... 42
2.5.1. Conflito trabalho-família .................................................................................... 43
2.5.2. Sobrecarga de papéis .......................................................................................... 44
2.5.3. Ambiguidade de papéis ...................................................................................... 45
2.6. O SETOR PRIVADO ................................................................................................ 46
2.7. A ÚLTIMA DÉCADA DE PESQUISAS .................................................................. 48
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 69
3.1. CONCEPÇÃO ONTOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA ......................................... 69
3.2. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ....................................................................... 71
3.2.1. Questões de pesquisa .......................................................................................... 71
3.2.2. Definição das categorias analíticas ..................................................................... 72
3.2.3. Definição de outros termos relevantes................................................................ 73
3.3. DELIMITAÇÃO E DESENHO DA PESQUISA ...................................................... 73
3.4. DELINEAMENTOS DA PESQUISA ....................................................................... 73
3.5. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA ............................... 77
3.6. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 79
3.7. TÉCNICAS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................ 81
3.8. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................... 82
4. APRESENTANDO AS PROTAGONISTAS E SUAS HISTÓRIAS............................... 84
4.1. A PERSISTENTE ...................................................................................................... 85
4.1.1. Como Persistente conta sua história ................................................................... 85
15

4.1.2. Roteiro da história de vida de Persistente ........................................................... 94


4.2. A PLANEJADORA ................................................................................................... 95
4.2.1. Como Planejadora conta sua história.................................................................. 95
4.2.2. Roteiro da história de vida de Planejadora ....................................................... 110
4.3. PRIORIDADE ......................................................................................................... 112
4.3.1. Como Prioridade conta sua história .................................................................. 112
4.3.2. Roteiro da história de vida de Prioridade ......................................................... 117
4.4. A GUERREIRA ....................................................................................................... 118
4.4.1. Como Guerreira conta sua história ................................................................... 118
4.4.2. Roteiro da história de vida de Guerreira ........................................................... 126
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................................................ 129
5.1. O TRABALHO ........................................................................................................ 129
5.2. MATERNIDADE .................................................................................................... 132
5.3. IDENTIDADE ......................................................................................................... 137
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 142
6.1. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ...................................................... 144
6.2. CONTRIBUIÇÕES PARA A SOCIEDADE .......................................................... 144
6.3. CONTRIBUIÇÕES PARA AS ORGANIZAÇÕES ................................................ 144
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 146
APÊNDICE 1 – GUIA DE ENTREVISTA ........................................................................... 162
APÊNDICE 2 -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................... 163
APÊNDICE 3 - DECLARAÇÃO ANTI-PLÁGIO ................................................................ 164
APÊNDICE 4 -RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PLÁGIO .................................................. 165
16

1. INTRODUÇÃO

As últimas décadas foram palco de uma revolução tecnológica, principalmente na área


de comunicação, que teve impacto em nível mundial sobre as culturas. Esta revolução e a
reestruturação do capitalismo deram origem ao mundo contemporâneo atual e a uma nova
forma de sociedade que Castells (2013a) denomina como sociedade em rede. Estas mudanças
alteraram as relações de trabalho que agora são caracterizadas pela flexibilidade, instabilidade
e individualização da mão-de-obra. (CASTELLS, 2013a)
Por isto, o mundo do trabalho está em constante mudança, novas configurações e
tecnologias surgem com frequência e as pesquisas têm diversificados seus temas e incluído o
estudo da diversidade e questões de gênero. O estudo das questões de gênero se faz importante
porque a desigualdade de gênero está presente no ambiente de trabalho devido a uma construção
cultural que corrobora com essa desigualdade. Um dos efeitos desta desigualdade é a menor
remuneração e dificuldade da mulher em evoluir nas empresas. Este cenário demanda um
aumento do tema nas agendas de pesquisa e na elaboração de políticas e ações para compreender
a desigualdade e buscar soluções em prol da igualdade, tendo a pesquisa na área de
administração um papel importante nesta tarefa. (PFAU‐EFFINGER, 2012)
A participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro tem crescido, e esse
aumento reflete nos índices econômicos: em 1970 somente 18,5% das mulheres eram
economicamente ativas, em 2010, este número passou para 50%. Apesar de ativas
economicamente, a presença das mulheres no mercado de trabalho ainda é menor que a dos
homens. Entre os anos de 2012 e 2016 esta diferença diminuiu de 23,6 para 21,7 pontos
percentuais e a taxa de mulheres envolvidas em atividade laboral aumentou de 52,5% para
53,7%. (BRASIL, 2017; IBGE, 2017)
Os salários das mulheres representam entre 70 e 90% dos salários de seus colegas
masculinos. A depreciação cresce entre os 20 e 30 anos, período de maior fertilidade feminino,
mas somente para as mulheres que possuem filhos, pois mulheres solteiras e sem filhos
continuam ganhando cerca de 10% menos que os homens. A diferença salarial de uma mulher
que possui filhos para os colegas homem que também possuem filhos é cerca de 30% menos.
(KERR; RAFFO, 2016; OIT, 2016)
Além da menor remuneração, a mulher tem uma carga de trabalho não-remunerado
maior que o homem. As normas culturais que reforçam a percepção de que as mulheres devem
ser as cuidadoras primárias são uma barreira para a entrada e o avanço das mulheres no trabalho.
17

(SOCRATOUS; GALLOWAY; KAMENOU-AIGBEKAEN, 2016). A OIT (2016) aponta que


as práticas culturais que designam a mulher como o principal responsável pelas tarefas
domésticas e cuidados familiares excluem uma porção das mulheres jovens do mercado de
trabalho.
No Brasil, a categoria de mulheres entre 16 a 29 anos é a que apresenta a taxa mais
alta de desocupação entre todos os grupos populacionais: 24%. Em pesquisa do IBGE (2017),
34,6% das mulheres justificaram sua desocupação por afazeres domésticos e cuidados
familiares, 1,4% dos homens apontaram o mesmo motivo para sua desocupação. Dentre os
entrevistados, 92,1% das mulheres e 61,3% dos homens relataram desempenhar tarefas e
cuidados domésticos.
Quando é atribuída à mulher a função de cuidadora primária ela torna-se responsável
pelos membros da família, pelo cuidado e pela maior parte das tarefas. Isto vai além do
desempenho das atividades: envolve um alto nível de responsabilidade e poder de decisão e
gera uma grande carga de trabalho não-remunerado. O acúmulo dessas horas de trabalho que
não geram renda como as dedicadas ao trabalho remunerado é um dos impedimentos que as
mulheres enfrentam a caminho dos níveis superiores da escala organizacional. (SOCRATOUS;
GALLOWAY; KAMENOU-AIGBEKAEN, 2016)

As diferenças entre homens e mulheres na distribuição das tarefas domésticas não


remuneradas e nos cuidados significam que há uma maior probabilidade das mulheres
trabalharem menos horas numa atividade remunerada de qualquer natureza (OIT,
2016, p. 7)

Este acúmulo de horas de trabalho é intensificado quando a mulher que trabalha


também é mãe. As responsabilidades atribuídas culturalmente como maternas demandam uma
carga de trabalho maior da mulher que é mãe, principalmente nos primeiros anos de vida dos
filhos. Isto aumenta a tensão no conflito entre as demandas do trabalho e da família e tem
reflexos na constituição identitária e nos papéis da mulher que trabalha. (GATRELL, 2014)
Esta demanda e conflito são maiores em famílias monoparentais, nas quais a mulher
não pode contar com um parceiro e tem maior dificuldade em conciliar as atividades de cuidado
com a família e o trabalho. As saídas disponíveis para estas mães que trabalham são: contratar
alguém para auxiliar nos cuidados para com a criança, deixar a criança em casa sem supervisão
ou abandonar o emprego. (MOILANEN et al., 2016) No Brasil, esta situação é agravada pelas
condições financeiras: famílias monoparentais compostas por mulheres com filhos de até 14
18

anos correspondem a 55,6% da população considerada pobre monetariamente, ganham abaixo


de 5,5 dólares por dia. (IBGE, 2017)
Diante de tantas mudanças e desvantagens para as mulheres que são mães e trabalham,
questiona-se: como isto permeia a identidade e os papéis dessas mulheres? A busca realizada
em bases de dados nacionais e internacionais demonstra que as pesquisas acerca da interação
entre maternidade, identidade, papéis e trabalho são escassas. E quando a maternidade é tema
de pesquisa, geralmente é um subtópico de pesquisas sobre o conflito trabalho-família, gênero,
sobre aspectos que permeiam as decisões das mulheres no trabalho ou sobre sua relação com a
progressão das mulheres na carreira.
A fim de contribuir para aumentar o conhecimento acerca de mulher que é mãe e
trabalha, por meio desta pesquisa se propõe responder a seguinte pergunta: Como a maternidade
permeia a constituição identitária e os papéis da mulher que trabalha no setor privado?
Este projeto está estruturado de acordo com as sugestões de estrutura de Creswell
(2010) e Amadeu et al. (2015) e consiste nesta introdução, desenvolvimento e elementos pré e
pós-textuais. A introdução do trabalho aborda o tema, objetivos e justificativas. O
desenvolvimento compreende a fundamentação e o referencial teórico necessários para
compreender a mulher no mercado de trabalho, a maternidade na vida da mulher que trabalha,
os conceitos de identidade e de papéis e suas inter-relações. Também dentro do
desenvolvimento consta a metodologia e o cronograma da pesquisa.
Por fim, constam os apêndices. No apêndice 1 consta o guia de entrevista, no apêndice
2 consta o modelo do termo de consentimento de livre esclarecimento, no apêndice 3 há uma
declaração antiplágio, a fim de assegurar a autoria, e por fim no apêndice 4 consta o relatório
de um programa detector de plágio ao qual este documento foi submetido.

1.1. PROBLEMA DE PESQUISA

Conforme a temática exposta na introdução, com o objetivo de analisar as mudanças


que ocorrem na identidade e nos papéis da mulher que trabalha após tornar-se mãe, estabelece-
se o seguinte problema de pesquisa: Como a maternidade permeia a constituição identitária
e os papéis da mulher que trabalha no setor privado?

1.2. OBJETIVO GERAL

Esta pesquisa busca contribuir com os estudos relacionados à mulher, à identidade e


ao mundo do trabalho. Por isso, tem como objetivo geral compreender como as mulheres que
19

trabalham no setor privado têm a sua identidade, e seus papéis permeados pela
maternidade.

1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Compreender como a maternidade é significada e vivida pelas mulheres que trabalham


no setor privado.
2. Investigar a participação da maternidade na constituição da identidade da mulher que
trabalha no setor privado.
3. Entender como o papel de mãe se entrelaça com outros papéis da mulher: conflitos,
sobrecargas, ambiguidades e outros.
4. Compreender como a maternidade se interliga ao significado de sucesso no trabalho.
5. Investigar sistemas de apoio organizacional disponíveis para as trabalhadoras que são
mães e suas repercussões na constituição identitária e nos papéis dessas mulheres.

1.4. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA

Como é ser mulher, trabalhadora e mãe? Observando as estatísticas, a resposta a esta


pergunta não é otimista. Cerca de 70% das pessoas abaixo da linha da pobreza são mulheres;
em países em desenvolvimento, as mulheres são proprietárias de menos de 2% das terras
produtivas, também são 72% de todos os refugiados do mundo, 60% das mulheres são vítimas,
ao longo da vida, de alguma forma de abuso por parte de um parceiro íntimo. No trabalho, entre
40% e 50% das mulheres que vivem na União Europeia já denunciaram algum tipo de assédio
sexual. (CARVALHO et al., 2016)
A mulher está em uma situação mais vulnerável que o homem, tem maior
probabilidade de sofrer com a violência e a pobreza. Isto se dá nas sociedades contemporâneas
porque o patriarcalismo é uma das estruturas sobre as quais elas se apoiam. Para ser efetivo, o
patriarcalismo precisa permear toda a organização da sociedade, produção, consumo, política,
legislação e cultura a fim de fomentar uma autoridade do homem sobre a mulher e os filhos
imposta institucionalmente. A cultura e as instituições patriarcais dão origem à dominação e
violência que permeiam os relacionamentos interpessoais e a personalidade. (CASTELLS,
2013b)
Não congelado pela repressão do patriarcado, apesar das condições desfavoráveis, o
papel social da mulher vem mudando: passou de um período determinista cuja diferença entre
homens e mulheres era reforçada pelas ciências biológicas; transitando por um período no qual
20

as ciências sociais (sob um ponto de vista masculino) encaravam o poder feminino como
ilegítimo; após uma série de estudos, alguns pesquisadores e teóricos postularam que os papéis
da mulher e do homem resultam de uma construção social e de suas redes de significações.
(ROCHA-COUTINHO, 1994)
O século XIX marcou a saída da mulher do trabalho doméstico para o industrial, para
fora de casa. Isto mudou a dinâmica da relação homem-mulher, proporcionando maior
flexibilização dos papéis, maior participação da mulher no mercado de trabalho e acadêmico,
oportunidade de capacitação profissional e mudança nos valores morais. (ROCHA-
COUTINHO, 1994; PINTO, 2005)
No entanto também marcou o início do discurso que legitima sua dupla jornada,
colocando a mulher como naturalmente inclinada ao trabalho doméstico e cuidados para com a
família: “apesar dos avanços, tais mulheres assumem as tarefas no espaço público a que se
lançaram sem, no entanto, abrir mão de suas antigas atividades (...) procurando responder o
melhor possível às cobranças sociais” (ROCHA-COUTINHO, 1994, p. 238)
Para Castells (2013b) a entrada da mulher no mercado de trabalho abalou a
legitimidade da dominação do homem, mas trouxe o peso de uma jornada quádrupla para a
mulher: trabalho remunerado, organização do lar, criação dos filhos e uma jornada noturna em
benefício do marido. Com o decorrer do tempo e das lutas feministas, houve progressos na
legislação que diminuíram a discriminação legal, e os movimentos de mudança têm causado
impacto na sociedade e na conscientização da mulher.
A transformação da economia e do mercado de trabalho, a abertura de oportunidades
para as mulheres no campo da educação, as transformações tecnológicas que proporcionaram
controle, cada vez maior, sobre a gravidez, o movimento feminista e a rápida difusão de ideias
na cultura globalizada foram duros golpes no modelo patriarcal que hoje sofre em crise.
(CASTELLS, 2013b)
Apesar dos progressos, ainda há desigualdade de gênero e as mulheres “continuam a
enfrentar a discriminação, marginalização e exclusão, ainda que a igualdade entre homens e
mulheres seja um preceito internacional universal, um direito humano fundamental e
inviolável” (ONU, 2016, p. 4) Por estas situações e desvantagens da mulher ainda existirem
atualmente, é necessário estudar sobre questões ligadas à mulher e os fenômenos que mudam
sua vida e sua relação com a sociedade e trabalho, esta é uma das contribuições deste trabalho.
No mundo do trabalho a desigualdade é perceptível: as mulheres representam mais de
50% das pessoas com nível superior desde 1999, desde 1995 são 40% da população
economicamente ativa, mas ocupam somente 14% dos quadros executivos, 11% dos conselhos
21

de administração e 10% do Congresso e das Câmaras Legislativas Municipais e Estaduais.


(ONU, 2016)
Em relação aos ganhos econômicos, há uma depreciação relacionada ao fato de possuir
filhos: mulheres entre os 20 e 30 anos solteiras e sem filhos ganham cerca de 10% menos que
os homens. Já mulheres que possuem filhos, ganham cerca de 30% menos que os colegas
homens que também possuem filhos, o que alguns pesquisadores denominam como: “the
mother hood penalty”, em uma tradução livre: penalidade por ser mãe. (KERR; RAFFO, 2016;
OIT, 2016; WILLIAMS, 2017)
Ao estudar a maternidade em conjunto com a identidade e papéis, este trabalho
contribui para a compreensão destas mudanças e como estas situações são significadas e
perpetuadas no decorrer das trajetórias de trabalho e, quem sabe por meio deste estudo,
encontre-se maneiras de mudar esta situação e não mais perpetuá-la.
A diferença salarial é um exemplo de mudança, mas, além das mudanças objetivas, há
mudanças subjetivas que alteram a significação do trabalho, as decisões, dedicação de tempo e
expectativas de carreira. A maternidade também permeia em mudanças na relação com o
parceiro(a), grupos sociais e com o próprio corpo, em sua identidade e seus papéis.
(MCINTOSH et al., 2012; GROSS SPECTOR; CINAMON, 2017b; WILLIAMS, 2017)

“Por ser a identidade crucial no que e como o indivíduo valoriza, pensa, sente e faz
em todos os âmbitos sociais (inclusive nas organizações), e por ser um conceito útil
ao unir níveis individuais, grupais, profissionais e organizacionais (...), é preciso
compreender as diversas dinâmicas da identidade”. (GHADIRI; DAVEL, 2006, p. 3)

Mudando a identidade e os papéis da mulher, a relação com o trabalho não fica intacta;
por isto, estudar como a maternidade permeia a identidade e papéis da mulher que trabalha é
importante. Este trabalho busca compreender estas mudanças e influências, com a ciência dos
limites e que não esgotará o tema e as discussões sobre ele.
Apesar de proporcionar tantas mudanças nas mulheres que trabalham, sua identidade
e seus papéis, este conjunto é pouco estudado na área de administração. Como exposto no
decorrer deste trabalho, a produção dos últimos 10 (dez) anos tanto nacional quanto
internacional, usando as combinações de palavras “trabalho + maternidade + identidade +
papéis” e “work + motherhood + identity + role” é inexistente (zero artigos encontrados) nas
bases de dados: Scielo, portal de periódicos da CAPES, Spell, Scopus e Web of science.
Com estes resultados, foi necessário recorrer a pesquisas com a combinação de outras
palavras. Assim foi pesquisado o seguinte grupo de palavras: “identidade + maternidade +
22

trabalho” em bases nacionais e “work + motherhood + identity” nas internacionais nos campos
título, resumo e palavras-chaves. Nestas pesquisas 753 (setecentos e cinquenta e três) artigos
foram filtrados, mas pertinentes ao tema e às categorias pesquisadas foram 54 (cinquenta e
quatro), sendo 697 (seiscentos e noventa e sete) descartados. A última década de pesquisas
sobre estes temas será detalhada na seção 2.7 desta dissertação.
Espera-se que esta pesquisa contribua para o aumento do interesse de pesquisa e do
conhecimento teórico acerca das mudanças na identidade pessoal, dos papéis da mulher, do
conflito entre o papel de trabalhadora e o de mãe. Outra contribuição deste estudo é
proporcionar o aumento do conhecimento no contexto brasileiro.
Em contribuições práticas, espera-se que a compreensão das mudanças identitárias que
ocorrem em uma mulher que trabalha propicie dados para a elaboração de políticas favoráveis
às trabalhadoras que possuem filhos, o que pode encorajar estas mulheres a entrarem e
permaneceram no mercado de trabalho. (ADISA; GBADAMOSI; OSABUTEY, 2016;
CARVALHO, 2016)
Também se espera que os resultados obtidos contribuam para a concepção de
iniciativas de trabalho e familiar que ajudarão a aliviar o conflito trabalho-família
experimentado por mães e para a redução das desigualdades de gênero no mercado de trabalho
brasileiro.
Quando melhoram as condições de trabalho das mulheres, elas têm maior possibilidade
de adentrar, permanecer e progredir no mercado de trabalho; isto aumenta a participação da
mulher na economia e ajuda a construir economias mais fortes, estabelecer sociedades mais
justas e estáveis e aumenta o desenvolvimento mundial. (ONU, 2016)
Isto pode refletir em aumento do Produto Interno Bruto - PIB do Brasil e melhora da
qualidade de vida de toda a população. “Em 2007, o banco Goldman Sachs indicou que
diferentes países e regiões do mundo poderiam aumentar seu PIB de modo significativo ao
simplesmente reduzir a discrepância nas taxas de emprego entre homens e mulheres.” (ONU,
2016, p. 9)
Sem pretender esgotar o tema ou abarcar todos as facetas e pontos de vista, espera-se
que este trabalho contribua para melhorar o entendimento sobre o tema e, assim, melhorar a
vida das mulheres, mesmo que poucas, mesmo que em pequenas proporções.
Estas contribuições são como uma gota no oceano, mas é com gotas, uma a uma, que
um oceano se forma, e quem sabe, a configuração do oceano possa ser mudada para melhor
com a adição de várias pequenas gotas vindas de muitos lugares no globo e de diferentes
pessoas. A música Imagine, interpretada por John Lennon, ilustra este pensamento:
23

Você pode dizer


que sou um sonhador,
mas eu não sou o único.
Eu espero que um dia,
Você se junte a nós
E o mundo será como um só
(LENNON; ONO; SPECTOR, 1971 tradução nossa) 1

1
Texto original: “You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one. I hope some day you'll join us,
and the world will be as one” (LENNON; ONO; SPECTOR, 1971)
24

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção faz referência a artigos e livros já publicados que propiciam contribuições
importantes para os temas estudados. Apresenta-se o levantamento da literatura existente que é
fundamental para a compreensão das categorias analisadas e para a coleta e interpretação dos
dados. O referencial teórico tem início com o tema sociedade e trabalho, revisando o conceito
de identidade, identidade individual, papéis, maternidade e papéis, seguidos da caracterização
do campo de pesquisa: o setor privado.

2.1. SOCIEDADE E TRABALHO

Desde 2012 o mercado de trabalho brasileiro tem passado por mudanças, o ano de
2014 foi marcado pelo início da crise devido ao esgotamento das atividades econômicas,
crescimento do produto, da renda e dos empregos. Os anos seguintes, 2015 e 2016, foram
marcados pela queda do PIB e do emprego formalizado em diversos setores e aumento do
número de trabalhadores por conta própria (sem carteira assinada). (IBGE, 2017)
Em seus estudos acerca da população brasileira o IBGE (2017) aponta que o percentual
de ocupação é semelhante quando comparadas categorias de cor ou raça. Isto muda quando se
compara homens e mulheres, sendo menor a participação feminina. Em1970 somente 18,5%
das mulheres eram economicamente ativas, em 2010, este número passou para 50%. Entre os
anos de 2012 e 2016 esta diferença entre a ocupação masculina e feminina diminuiu de 23,6
para 21,7 pontos percentuais e a taxa de mulheres envolvidas em atividade laboral aumentou
de 52,5% para 53,7%, as mulheres também apresentam maior escolaridade, 23,8%, em
comparação aos homens com 14,3% em 2016. (IBGE, 2017)
Em contraponto aos bons índices de crescimento, as mulheres também têm maior taxa
de subutilização da força de trabalho que os homens: 25,1% e 17,2% respectivamente, e a
categoria de mulheres entre 16 a 29 anos é a que apresenta a taxa mais alta de desocupação
entre todos os grupos populacionais: 24%. (IBGE, 2017)
Assim o aumento do trabalho feminino não foi suficiente para que, sozinho, fosse
responsável pela diminuição da diferença de percentual de ocupação entre homens e mulheres.
Esta diferença também diminuiu devido ao aumento da taxa de desocupação masculina, que
ocorreu, provavelmente, devido à diminuição de postos na Agropecuária, Construção e
Indústria, setores que predominantemente empregam homens. (IBGE, 2017)
No setor agropecuário, a redução de pessoas ocupadas foi de 11%, no de Construção
e Industria houve queda de 4,1% e 13,2%, respectivamente, na Administração Pública a redução
25

foi de 11,7%. Contrário aos outros setores, o setor de serviços cresceu em número de pessoas
ocupadas, compreendendo 70% das pessoas ocupadas no Brasil em 2016.Mas este aumento não
representa, necessariamente, um avanço, pois o aumento neste setor está associado a postos de
trabalho com menor formalização e jornadas de trabalho mais flexíveis. (IBGE, 2017)
O aumento de postos informais é prejudicial às mulheres porque neste setor seus
rendimentos são menores e aumenta a diferença salarial. As mulheres ganham 23,7% a menos
que os homens no trabalho formal e 36,5% a menos se o trabalho for informal. A diferença
aumenta ao comparar os rendimentos do trabalho entre mulheres: as que trabalham no setor
informal recebem o equivalente a 41,7% dos rendimentos das que trabalham no setor formal.
(IBGE, 2017)
O crescimento da flexibilização e diminuição da formalidade no trabalho são duas das
característica do que Castells (2013a) conceitua como a nova forma de organização social e de
sociedade, uma sociedade em rede. Esta nova forma de sociedade é originária da reestruturação
do capitalismo e da revolução tecnológica, principalmente na área de comunicação, que teve
impacto em nível mundial sobre as culturas. A sociedade em rede tem como características a
“globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua
organização em redes; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e a individualização da
mão-de-obra” (CASTELLS, 2013a, p. 17)
Outras características dessa nova sociedade são: cultura de virtualidade real,
modificação da noção de tempo e espaço, movimentos de transformação das relações humanas
básicas e movimentos reativos, que buscam a manutenção de padrões, contraditórios aos
movimentos de transformação, dentre outras. (CASTELLS, 2013a)
No entanto, este movimento de globalização tecnoeconômica é contestado e talvez
modificado pelo poder da identidade: como resistência a essa nova forma de organização social
têm surgido movimentos de identidade coletiva altamente diversificados cuja finalidade é
modificar as relações humanas. Isto promove um conflito constante que molda o mundo:
“Nosso mundo, e nossa vida, vêm sendo moldados pelas tendências conflitantes da globalização
e da identidade” (CASTELLS, 2013b, p. 17).
Estas mudanças afetam as formas familiares, há uma diversificação e mudança no
sistema de poder familiar: a distribuição de papéis e responsabilidades não são garantidos ou
seguem a forma tradicional, precisam ser negociados. Neste panorama, o homem tem três
26

opções para lidar com estas mudanças: A separação, tornar-se gay2 ou renegociar o contrato da
família heterossexual. (CASTELLS, 2013b)
A primeira opção, a da separação, traz como consequência para o homem dificuldades
em constituir vínculos, a taxa de suicídio e depressão é maior entre homens que vivem sós. O
contrário acontece com as mulheres que se divorciam. A segunda opção, tornar-se gay, aumenta
as chances de redes de apoio e possibilita arranjos mais igualitários.
Castells (2013b) aponta que a melhor solução para lidar com as mudanças é a terceira:
a renegociação do contrato da família heterossexual. Esta solução é mais estável a longo prazo
e inclui “compartilhar o trabalho doméstico, parceria econômica e sexual e, acima de tudo,
responsabilidade pelos filhos totalmente compartilhada”. (CASTELLS, 2013b, p. 270)
Neste contexto, alguns acontecimentos da vida cotidiana têm forte impacto na vivência
em sociedade e na identidade, um deles é a maternidade, que ressignifica a relação com o
trabalho, a identidade e os papéis que a mulher desempenha. Para contribuir neste sentido, no
próximo tópico será abordado o tema maternidade e trabalho

2.1.1. Maternidade e Trabalho

O século XIX é marcado pela entrada de um grande contingente feminino nas


indústrias, abrindo espaço para a mulher sair do trabalho no âmbito doméstico e desenvolver
uma atividade remunerada. Por volta dos anos 80, com o aumento da quantidade de mulheres
que trabalham, questões ligadas ao feminino e às particularidades dos eventos que ocorrem no
decorrer da vida laboral da mulher tem sido tema de pesquisas em diversas áreas. (ROCHA-
COUTINHO, 1994; OLIVEIRA et al., 2011)
A maternidade, em particular, tem sido tema de pesquisa em áreas como Sociologia,
Enfermagem, Psicologia e Administração. Em sua revisão de literatura acerca do trabalho e
maternidade, Oliveira et al. (2011) identificaram dois tipos de publicação: um estuda o efeito
da maternidade no trabalho e o outro faz o caminho contrário, estuda como o trabalho reflete
na maternidade.
Esta relação não é simples, sendo necessário recorrer a diversas pesquisas para
compreendê-la. Grady e Mccarthy (2008) realizaram uma pesquisa qualitativa com 18
participantes com idade entre 37 e 55 anos com pelo menos uma criança dependente com menos
de 18 anos a fim de compreender como as mães que trabalham se percebem em relação ao seu

2
O termo gay é utilizado pelo autor em seu texto original. Compreende-se que não abarca todas as
possibilidades de representação da sexualidade masculina. Apesar de existirem termos mais abrangentes, a escrita
manteve-se fiel ao termo que Castells (2013b) usa.
27

trabalho e papéis familiares, como experimentam esses papéis, como combinam seu trabalho,
família e indivíduo, e o significado que fazem dessa integração. O estudo concluiu que uma
relação complexa de dinâmica relacionada ao trabalho e fatores pessoais moldaram o
significado dessas mulheres em meio a competências de trabalho, vida familiar e individual.
Um efeito do trabalho na maternidade é seu adiamento. Souza, Lopes e Hilal (2017)
apontam que mulheres escolarizadas tendem a reduzir o número de filhos ou postergar a
maternidade para depois da carreira profissional porque ainda recaem sobre as mulheres a maior
carga do trabalho doméstico e familiar. Essa dupla jornada implica para as mulheres desafios
quanto à ascensão profissional ou de competitividade no mercado de trabalho.
E no momento que mais precisa de recursos para lidar com as demandas e dificuldades
da conciliação de papéis de mãe e trabalhadora, o salário da mulher sofre depreciação
relacionada ao fato de possuir filhos: mulheres que possuem filhos, ganham cerca de 30%
menos que os colegas homens que também possuem filhos, o que alguns pesquisadores
denominam como: “the motherhood penalty”, em uma tradução livre: penalidade por ser mãe.
(KERR; RAFFO, 2016; OIT, 2016; WILLIAMS, 2017)
A maternidade afeta a relação das mulheres com o trabalho de formas distintas, que
perpassam pela configuração familiar. As pesquisas de Galbaldon, Anca e Galdón (2015) e de
Murtorinne-Lahtinen et al. (2016) apontam que mulheres chefes de famílias monoparentais
enfrentam ainda mais obstáculos devido ao acumulo de funções maternas e paternas e as mães
que trabalham por conta própria tendem a gastar mais tempo com seus filhos quando são
menores de dez anos e trabalham mais horas do que as mães assalariadas.
Além das mudanças objetivas, há mudanças subjetivas que alteram a significação do
trabalho, as decisões, dedicação de tempo e expectativas de carreira. A maternidade também
desencadeia mudanças na relação com o parceiro(a), grupos sociais e com o próprio corpo, em
sua identidade e seus papéis. (MCINTOSH et al., 2012; GROSS SPECTOR; CINAMON,
2017b; WILLIAMS, 2017)
Um veículo que permeia nestas mudanças é a mídia, que provê significados e
significantes e tem grande impacto nas expectativas relacionadas aos papéis de mãe e
trabalhadora. Infelizmente, a mídia retrata os papéis de mãe e de trabalhadora de maneira
contrária à permanência nas organizações. A mídia retrata o papel de mãe como adquirido,
enquanto o papel de trabalhadora é abordado como problemático. Isto fomenta uma visão
negativa das mulheres que são mães e trabalham. (BJURSELL; BÄCKVALL, 2011)
Outro obstáculo a ser transposto é a maneira como as organizações encaram a
maternidade: como desorganização e inconveniência. Enquanto as propagandas de saúde
28

promovidas pelos governos tratam a maternidade como algo próximo ao sagrado, nas
organizações o corpo materno é tratado como fonte de desgosto. (LEWIS et al., 2015)
Apesar de tantos desafios a serem superados na relação com o trabalho, ao estudar a
centralidade do trabalho na vida das mulheres Souza, Lopes e Hilal (2017) concluíram que o
trabalho continua central e importante, mas aumenta a busca por conciliá-lo com outros
aspectos e a maternidade é um fator que contribui significativamente que as mulheres
estabeleçam novas dinâmicas cotidianas a fim de participar da criação dos filhos e da rotina
familiar.
Resistir às pressões e repressões mostrou-se fundamental para a construção identitária,
fortemente determinada pelo papel profissional, das mulheres que ocupam cargos de gestão e
foram participantes da pesquisa Lima, Lucas e Fischer (2011). Com tantas mudanças e
dificuldades associadas à maternidade e ao ser mulher, a identidade da mulher não fica intacta.
Por isto é necessário compreender as mudanças que ocorrem na constituição da identidade de
uma mulher que trabalha e é mãe.

2.2. REVISANDO O CONCEITO DE IDENTIDADE

Sendo um conceito que permeia a construção da realidade social, a identidade tem sido
tema de pesquisa em áreas diversas como: Antropologia, Sociologia, Filosofia e Ciências
Sociais. No entanto a noção de identidade é complexa e possui muitos sentidos, sendo
necessário compreender melhor este conceito para poder pesquisá-lo. (CALDAS; WOOD JR.,
1997)
O termo identidade deriva dos vocábulos entitas (que significa entidade) e
Idem/Identitas (que significam “o mesmo”), sendo usado primeiramente a lógica, álgebra e
filosofia. Na lógica, segundo o axioma princípio da identidade, uma entidade é idêntica a ela
mesma. Na álgebra existe identidade quando um mesmo número representa duas expressões. A
filosofia, por meio dos conceitos do filósofo Heráclito, associou o termo às características de
permanência, singularidade e unicidade. (CALDAS; WOOD JR., 1997)
No início de seu uso nas ciências sociais a ideia de identidade referia-se e limitava-se
ao indivíduo, tendo grande influência da noção psicanalítica que “tomou o sentido de unidade
e continuidade, de um processo localizado no indivíduo, porém influenciado pelo seu meio e
pela sua cultura” (CALDAS; WOOD JR., 1997, p. 5).
Existem vários autores que expressam diferentes conceitos de identidade individual:
Adler; Filloux; Allport; Freud; Erikson; Lacan; Jung; Freitag; Lyra. Todos eles têm em comum
29

a identidade como um processo interno do indivíduo permeado pela cultura e como “modo de
expressão do self do indivíduo, que lhe permite ser reconhecido como diferente dos demais e,
ao mesmo tempo, como similar aos membros de uma categoria ou classe.” (MACHADO-DA-
SILVA; NOGUEIRA, 2001, p. 42)
O conceito de self e identidade, por vezes confundidos, são diferentes. O self tem
características permanentes e universais, é um senso contínuo de ser um e o mesmo sujeito,
surge cedo na vida e é a fonte da autoconsciência reflexiva que dura ao longo da vida. O self
inclui a representação mental de experiências pessoais e a consciência de que se é único e
diferente dos outros, ao mesmo tempo é indiferenciado, pois não distingue as mudanças que
ocorrem durante o desenvolvimento ou entre diferentes culturas. A identidade é uma
propriedade que depende do surgimento prévio do self, resulta da interação do sujeito com a
natureza, prática e sociedade, é o resultado da conexão do self com os eventos da vida.
(ARCHER, 2000; FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010; MACEDO; SILVEIRA,
2012)
Posteriormente o termo identidade foi aplicado para conceitos que englobam o coletivo
como grupos sociais, religiosos, nações, entre outros, resultando em: identidade individual,
identidade como fenômeno social, identidade organizacional e identidade em nível macro. A
identidade individual engloba os estudos sobre o self a partir dos trabalhos de Erikson,
identidade individual expressa e comportamento. (CALDAS; WOOD JR., 1997;
FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
A identidade como fenômeno social pode ser encontrada em estudo clássicos da
Psicologia Social como autoconceito ou relacionando identidade individual com a grupal,
destacando o processo de identificação. Nesses estudos a identidade é um atributo
sóciocognitivo, não é exclusiva ao sujeito e deriva dos significados que o indivíduo atribui à
interação com múltiplos grupos durante a vida. (CALDAS; WOOD JR., 1997; FERNANDES;
MARQUES; CARRIERI, 2010)
O conceito de identidade organizacional surgiu a partir dos trabalhos de Albert e
Whetten (1985) e pode ser visto como uma metáfora derivada do conceito de identidade
individual de Erikson aliada aos estudos sobre cultura e simbolismo organizacional. (CALDAS;
WOOD JR., 1997; FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010). Albert e Whetten (1985)
definem identidade organizacional como as crenças compartilhadas pelos membros da
organização e por meio destas pode-se identificar o caráter central, distintivo e duradouro da
organização.
30

No decorrer dos anos de pesquisa, outras perspectivas emergiram e os estudos do final


da década de 80 estabeleceram uma ligação entre os estudos organizacionais e a Psicologia
Social, nesses estudos a identidade organizacional é definida pela forma que a organização
percebe a si mesma. (CALDAS; WOOD JR., 1997)
Hatch e Schultz (1997) a definem identidade organizacional como o que os membros
percebem, sentem e pensam sobre suas organizações, uma compreensão coletiva e comum dos
valores e características distintivos da organização. Ela emerge das interações contínuas entre
os membros da organização, bem como da influência da alta administração.
A identidade em nível macro compreende a identidade de nações ou humanidades. É
composta pelas formas de distinção de um povo observadas na cultura, idioma, costumes, dentre
outros aspectos que são fontes de significado e experiência. (FERNANDES; MARQUES;
CARRIERI, 2010; CASTELLS, 2013b)
Com a expansão do uso do conceito de identidade, aumentou a diversidade teórica e
as interpretações acerca dos conceitos. (CALDAS; WOOD JR., 1997) Com os limites de tempo
e acesso à informação, não seria possível desenvolver uma pesquisa sobre todos os tipos de
identidades ou em todos os níveis de análise. Sendo necessário delimitar o foco desta pesquisa,
a escolha recaiu sobre a identidade individual, tema da sessão a seguir.

2.3. IDENTIDADE INDIVIDUAL

O conceito de identidade individual não existia até o Iluminismo e Cartesianismo,


século XVIII, por meio desses movimentos a visão de homem mudou de um ser humano como
sopro divino para o homem como ser racional dotado de um núcleo interior, uma identidade
que permaneceria imutável durante a vida. Para Durkheim (1999) o estudo do indivíduo
começou a fazer sentido a partir das sociedades modernas devido à divisão do trabalho que
proporcionou uma diferenciação e a necessidade de considerar a individualidade.
As contribuições para o conceito de identidade pessoal continuaram com o
Interacionismo simbólico, Colley, Mead, Goffman, Freud, Erikson, Laing, Teoria Social da
Identidade (Escola de Bristol) - TSI, Blake, Ashforth e Fred Mael; Dubbar; Berger e Luckman.
(CALDAS; WOOD JR., 1997; FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
Há duas correntes de estudos da identidade individual, uma de origem psicanalítica,
baseada nos trabalhos de Erikson que foca no self e comportamento; e outra presente nos
estudos contemporâneos da Psicologia Social, nesta a identidade é vista como o conceito que a
31

pessoa faz de si, autoconceito. Estes estudos relacionam identidade individual e grupal e o
conceito de identificação. (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
Sob o viés psicanalítico, identificação é “um processo psicológico pelo qual um sujeito
assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou
parcialmente, sob o modelo daquele” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 252)
A identificação é a primeira expressão de um vínculo com outra pessoa, baseia-se no
amor ou no medo, e sua forma pode ser amorosa ou hostil. Nela está inclusa a capacidade de
contestar, reconhecer a diferença e o ato livre. O processo de identificação possibilita que o
indivíduo saia da passividade e apreenda objetos externos geradores de angústia e medo.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001; FREITAS, 2006)
Em grupos a identificação permite estabelecer um vínculo entre os membros: surge
por meio da percepção de certa comunidade, ou similaridade, com uma pessoa. Quanto mais
significativa a similaridade, maior a possibilidade de estabelecer vínculos. (FREITAS, 2006)
Por fazer parte de vários grupos, o sujeito envolve-se em diversos processos de
identificação, nos quais podem haver disfunções ou rupturas que dificultam o processo
identificatório. Esses múltiplos processos fornecem meios para compreender e conhecer o outro
e a vida coletiva. (FREITAS, 2006)
Relações que possuem grande importância na referência da vida social de um
indivíduo passam da identificação ao social, à identidade dele. A exemplo a relação mantida
com o trabalho ou com a família. (FREITAS, 2006)
Na segunda corrente a identidade “é entendida como fenômeno social que deriva dos
significados que os indivíduos atribuem à sua interação com múltiplos grupos durante sua vida
(...) relaciona-se também ao grau de identificação que os membros têm com a organização”
(FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 30–31)
Esta segunda definição é a que permitiu a evolução do conceito de identidade numa
perspectiva interpretativista. Para continuar as ponderações acerca do conceito de identidade
individual, é necessário delimitar os autores de acordo com a visão ontológica que orienta esta
pesquisa. Tratam do conceito de identidade os seguintes autores: Cooley (1902), Mead (1992),
Berger e Luckman (2003) e Castells (2013b, 2013a) e a escola Social Identity Theory - STI
(Teoria Social da Identidade).
Estes autores incorporaram aspectos sociais e relacionais ao conceito de identidade,
dando a este um aspecto social e contextual. A identidade passou a ser um fenômeno social
construído a partir das interações do indivíduo com o coletivo. (FERNANDES; MARQUES;
CARRIERI, 2010)
32

Cooley (1902) contribuiu com o conceito de identidade com sua perspectiva orgânica
na qual o indivíduo não é separável do todo humano, mas um membro vivo dele, derivando sua
vida do todo através da transmissão social e hereditária, não podendo desvencilhar-se da
influência da hereditariedade e da educação. Esta relação é dialética, pois social é em algum
grau dependente de cada indivíduo, porque cada um contribui com algo para a vida comum que
ninguém mais pode contribuir.
Além da relação dialética com a sociedade, o autor discorre sobre a relação entre
indivíduos, sendo necessário ter certa semelhança para compreenderem-se e certa diferença
estimulante que cause excitação e abra a comunicação, para que haja interesse mútuo e um
influencie a identidade do outro. (COOLEY, 1902)
Para Mead (1992), o que possibilita esta interação entre os indivíduos e com a
sociedade é a linguagem, a comunicação que pode ser falada ou gestual. A inserção no meio da
linguagem, a comunicação simbólica e a internalização das estruturas simbólicas presentes
neste meio de comunicação permitem a constituição social do self, uma consciência de si
mesmo. O self só pode existir a partir da relação do sujeito com outras pessoas do grupo social
ao qual pertence, quando o sujeito internaliza a atitude ou o papel social do outro. É uma relação
dialética porque o sujeito influencia outros por meio de um ato social e adota a atitude dos
outros.
Além da influência dos outros sujeitos como indivíduos, a pessoa é influenciada pelo
“outro generalizado”, uma representação simbólica da vontade coletiva organizada. Essa força
da influência do outro generalizado é respondida por uma das bipartições do self: o “mim”, uma
conduta adaptativa dentro das normas do grupo social, do “outro generalizado”. A outra parte,
o “eu” representa o que há de individualidade, o que não pode ser previsto, a representação
imaginativa do próprio sujeito. Tanto o “eu” quanto o “mim” essenciais para o self. “Não
existiria um ‘eu’, no sentido em que usamos esse termo, se não houvesse um ‘mim’; não haveria
um ‘mim’ sem uma reação na forma do ‘eu’. Os dois, tal como aparecem em nossa experiência,
constituem a personalidade. (MEAD, 1992, p. 182)
Após 45 anos da publicação da primeira edição do livro de Mead (1992) “Mind, self,
and society: from the standpoint of a social behaviorist”, a partir de 1979 os trabalhos da
“Escola de Bristol” ampliaram os estudos sobre o comportamento e a influência dos grupos e
as condições de pertencimento, fundando a Social Identity Theory - STI (Teoria Social da
Identidade). (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010)
Para a STI, as pessoas tendem a classificar a si e aos outros em várias categorias
sociais, a exemplo: membros organizacionais, religião, sexo e faixa etária. As pessoas não são
33

restritas a uma única classificação ou grupo, nem as possíveis classificações são restritas, uma
pessoa pode ser classificada em diversas categorias e a maneira de categorizar não é um
esquema fixo, varia. (ASHFORTH; MAEL, 1989)
A classificação social tem duas funções: a primeira é a de oferecer ao sujeito uma
maneira sistemática de definir os outros, segmentando cognitivamente e ordenando o ambiente
social; a segunda função é permitir que o indivíduo possa localizar-se ou definir-se no ambiente
social, propiciando a possibilidade de uma identificação social, parte integrante do
autoconceito. O autoconceito é formado pela identidade individual que engloba a maneira de
ver, de sentir e de reagir, própria de cada pessoa, e pela identidade social, que engloba as
classificações grupais às quais a pessoa se identifica. A identificação social consiste no
sentimento de pertencer a um grupo, perceber-se como um membro simbólico deste grupo e
compartilhar o destino do grupo como sendo o seu próprio. (ASHFORTH; MAEL, 1989)

“(...) as categorias seriam utilizadas pelos indivíduos tanto para identificar os outros,
quanto para se autoidentificar. Tais categorias, por sua vez, não seriam fixas e nem
comparáveis entre si, sendo vinculadas às fases de vida do indivíduo, seus papéis e o
sentido que lhes fosse conferido no contexto social ao qual pertencessem”
(FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 38)

Na teoria da construção social da identidade de Berger e Luckman (2003), as


identificações são apreendidas de forma contínua. Para explicar sua teoria social da identidade
os autores apresentam a socialização, os processos de interiorização da realidade e seus
impactos na formação da identidade. A socialização é a introdução (ampla e consciente) de um
indivíduo no mundo objetivo, seja de uma sociedade ou de um setor dela, é caracterizada por
três momentos: exteriorização, objetivação e interiorização, esses momentos não podem sem
pensados em separado, são simultâneos. O indivíduo é participante da dialética da sociedade,
onde exterioriza seu próprio ser no mundo social, e por sua vez, interioriza este mundo como
uma realidade objetiva.
Nesta perspectiva, a sociedade é, ao mesmo tempo, uma realidade objetiva e subjetiva
e o indivíduo não nasce membro da sociedade, mas predisposto à sociabilidade. (BERGER;
LUCKMAN, 2003) Nesta visão o ser humano não é um ser pré-formado e atomístico que, junto
com outros, gera a estrutura social. Ele é um agente social, formado com matéria da sociedade,
que energiza o sistema social após a socialização adequada, é um “ser da sociedade”.
(ARCHER, 2000)
A introdução na dialética da sociedade tem início por meio do processo de
interiorização definido como a “apreensão ou interpretação imediata de um acontecimento
34

objetivo como dotado de sentido, isto é, como manifestação de processos subjetivos de outrem,
que desta maneira torna-se subjetivamente significativo para mim” (BERGER; LUCKMAN,
2003, p. 174), é tornar subjetivamente significativo, para si mesmo, a manifestação de processos
subjetivos de outra pessoa. Apesar de não garantir a congruência entre os processos subjetivos
dos indivíduos envolvidos, a subjetividade do outro ainda é objetivamente acessível.
(BERGER; LUCKMAN, 2003)
Além da significação, a interiorização requer que o indivíduo reconheça o mundo em
que o outro vive, faça desse mundo seu próprio, participe do mesmo tempo de forma duradoura,
compreenda as definições das situações e as defina reciprocamente. Assim haverá uma
identificação mútua e contínua, na qual os sujeitos partilham o mesmo mundo e participam do
ser um do outro. Em resumo, a interiorização é um meio de compreender outros sujeitos e de
apreender o mundo como realidade social dotada de sentido, permitindo ao indivíduo tornar-se
membro da sociedade. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Na interiorização da realidade, o primeiro processo é a Socialização Primária, no qual
a criança identifica-se com outros significativos, absorve papéis e atitudes e os interioriza.
Através disso, torna-se capaz de identificar a si mesma. Este movimento traz uma dialética entre
a identidade atribuída e a identidade apropriada, entre o objetivo e o subjetivo, entre o que lhe
é atribuído e do que se apropria subjetivamente. Vale ressaltar que apesar desse movimento de
identificação e inserção na sociedade, a socialização nunca é total e jamais finalizada.
(BERGER; LUCKMAN, 2003)
Ao final da socialização primária a criança consegue reconhecer a existência de um
outro generalizado, sendo o sujeito capaz de identificar-se com uma sociedade, interioriza-la e
à realidade objetiva nela estabelecida. Ocorre a criação de uma identidade em geral,
subjetivamente apreendida como constante e que abrange os papéis e atitudes interiorizadas.
“A sociedade, a identidade e a realidade cristalizam subjetivamente no mesmo processo de
interiorização. Esta cristalização ocorre juntamente com a interiorização da linguagem”
(BERGER; LUCKMAN, 2003, p. 172)
Diferentemente da socialização primária, que se cristaliza subjetivamente no processo
de interiorização, o processo de socialização secundária perpassa por problemas de
identificação e escolhas. A socialização secundária envolve a aquisição do conhecimento de
funções específicas, funções direta ou indiretamente com raízes na divisão do trabalho, um
conhecimento especial que engloba vocabulário específico de funções, ritos e mitos e a
interiorização de “submundos” institucionais ou baseados em instituições. Os submundos são
realidades parciais, mais ou menos coerentes, caracterizadas por componentes normativos,
35

afetivos e cognoscitivos; sua extensão e caráter são determinados pela complexidade da divisão
do trabalho e distribuição social do conhecimento. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Outras características do processo de socialização secundária são; as limitações
biológicas tornam-se cada vez menos importantes nas sequencias de aprendizagem; o contexto
institucional é em geral percebido; as funções têm um alto grau de formalismo e anonimato; e
o indivíduo consegue estabelecer distância entre seu eu total e sua realidade. (BERGER;
LUCKMAN, 2003)
O processo de socialização secundária tem um problema fundamental: a coerência
entre as interiorizações primitivas e as novas. A realidade já interiorizada (na socialização
primária, principalmente) tende a persistir e os novos conteúdos precisam sobrepor-se à
realidade já presente por isso é relativamente fácil anular a realidade das interiorizações
secundárias. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Este processo de conflitos entre realidades e mudança acontece corriqueiramente, pois
estar em sociedade envolve um contínuo processo de modificação da realidade subjetiva. Este
processo de modificação pode ser ainda mais intenso, pode ser um processo de ressocialização,
no qual o indivíduo renuncia à questão da coerência e reconstrói a realidade de novo: o passado
é reinterpretado para se harmonizar com a realidade presente. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Apesar de destacar as constantes mudanças no indivíduo, o contrário acontece com a
sociedade: uma busca para conservar a realidade, uma tentativa de estabelecer um elevado grau
de simetria entre a realidade objetiva e a subjetiva. O máximo de sucesso numa socialização
está em sociedades com divisão muito simples do trabalho e mínima distribuição do
conhecimento, onde não existe o problema da identidade, raramente conseguindo uma
socialização bem-sucedida. A socialização imperfeita pode resultar da heterogeneidade do
pessoal socializador ou da mediação de mundos agudamente discordantes por outros
significativos A socialização imperfeita ou bem-sucedida não depende só do indivíduo: a
socialização imperfeita em um mundo social pode ser acompanhada pela socialização bem-
sucedida em outro mundo. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Também existem as possibilidades de socialização malsucedida, resultantes de
acidentes biográficos, biológicos ou sociais. São casos individuais e não há fundamentos para
institucionalização de uma contra-identidade. Para haver uma contra-realidade é necessária uma
estrutura de plausibilidade para contradefinições da realidade. (BERGER; LUCKMAN, 2003)
Para Berger e Luckman (2003), compreender o processo de socialização é fundamental
para compreender a identidade, pois esta está em uma relação dialética com a sociedade. Para
estes autores a identidade é formada pela interação do organismo, da consciência individual e
36

por processos sociais, que são determinados pela estrutura social, um fenômeno que deriva da
dialética entre indivíduo e sociedade. Por sua vez, a identidade reage sobre a estrutura social
podendo mantê-la ou modificá-la, sendo um elemento-chave para a construção e compreensão
da realidade subjetiva.
A teoria de Berger e Luckman (2003) sobre a formação do eu e da identidade tem base
na teoria de Mead (1992): o eu do ser humano se forma ao mesmo tempo que o organismo se
desenvolve, esta formação se relaciona com o desenvolvimento orgânico e com os processos
sociais e significados. Sendo formado por fatores orgânicos e sociais, o eu é experimentado
como uma identidade subjetiva e objetivamente reconhecível. Esta identidade subjetiva é
precária, ela é constantemente ameaçada pelas mudanças e metamorfoses. O indivíduo
consegue legitimá-la ao coloca-la como uma entidade real num universo simbólico, não sendo
necessário ser conhecida a todo o momento, mas somente que seja conhecível. Isto permite ao
sujeito viver em sociedade tendo segurança do que realmente é e ainda desempenhar papéis que
se referem a outros significados.
A relação dialética entre identidade e sociedade está em constante tensão: a identidade
social precisa reafirmar-se sobre a animalidade pré-social/antissocial, pois o organismo
continua a afetar cada fase da atividade humana, e é afetado por ela e a animalidade é
transformada em socialização, mas não é abolida. Sempre há uma luta entre um eu superior
(identidade social) e um eu “inferior” (animalidade pré-social/antissocial). (BERGER;
LUCKMAN, 2003)
Posteriormente, no livro “Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do
homem moderno”, Berger e Luckman (2004) dão um papel mais importante aos meios de
comunicação em massa, igrejas, psicanálise e profissões da indústria do conhecimento: eles têm
um papel-chave na orientação moderna de sentido e em sua produção e comunicação.
Para Meditsch (2010), pode-se falar dos meios de comunicação em massa com uma
função de socialização terciária, uma forma tênue de construção da realidade com um papel de
conservação e atualização das realidades internalizadas nas socializações primária e secundária.
Assim os meios de comunicação participam da construção da realidade, as mensagens e
significações transmitidas são fonte de conteúdo e significados para a construção da realidade
social objetiva e subjetiva, permeando a construção das identidades e a determinação das
funções sociais.
Reconhecendo as contribuições dos autores citados anteriormente, a noção de
identidade a ser usada nesta pesquisa é a de Castells (2013b). Para o referido autor, a identidade
do ator social também é construída, mas por um processo de autoconstrução e individuação. É
37

um “processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um


conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras
fontes de significado”. (CASTELLS, 2013b, p. 22)
Isto quer dizer que uma identificação simbólica (significado) da finalidade de uma
ação que o ator social prática se sobrepõe a outras. Na sociedade em rede, esta identificação
simbólica (o significado) organiza-se em torno da identidade primária (autossustentável ao
longo do tempo e espaço, e estrutura as demais identidades).
O diferencial da teoria de Castells (2013b) é sua noção de sociedade que alia ao
conceito de identidade a dimensão das relações de poder e as diferenças de poder, abrindo
espaço para a discussão das identidades de grupos minoritários e/ou sujeitos a posições
desfavoráveis nas relações de poder, como é o caso da mulher na sociedade atual.
Em Castells (2013b), a construção social da identidade sempre ocorre em um contexto
de relações de poder que pode originar de três formas de identidade primária: Identidade
legitimadora, de resistência ou de projeto. Segue o quadro 1 que resume os três tipos de acordo
com origem, objetivo e benefícios que geram:

QUADRO 1 - FORMAS E ORIGENS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES EM UM CONTEXTO


MARCADO POR RELAÇÕES DE PODER
Tipo de
Origem Objetivo Benefícios
identidade
Legitimadora Instituições dominantes Expandir e racionalizar a Origina uma sociedade civil.
da sociedade dominação das instituições Os atores sociais reproduzem a
que as introduziram em identidade que racionaliza as fontes
relação aos atores sociais de dominação estrutural, ainda que
de modo conflitante.
Resistência Atores que se Construir trincheiras de Formação de comunas ou
encontram em posições resistência e sobrevivência comunidades, formas de resistência
desvalorizadas e/ou baseadas em princípios coletiva com base em identidades
estigmatizadas pela diferentes ou opostos aos que foram definidas com clareza e
lógica da dominação que permeiam as facilitam a “essencialização” dos
instituições da sociedade. limites da resistência
Projeto Atores sociais Construir uma nova Produz sujeitos (ator social coletivo)
utilizando-se de identidade capaz de Transformação da sociedade.
qualquer material redefinir sua posição na
cultural ao seu alcance. sociedade e, assim,
transformar toda a estrutura
social.
38

FONTE: adaptado de Castells (2013b, p. 24–28)

A origem ou início de uma identidade não constitui uma essência nem determina seu
desenrolar, pois uma identidade de resistência pode resultar em projeto ou tornar-se
legitimadora. No conceito de identidade de Castells (2013b) a identidade de indivíduos, grupos
e sociedades é construída por meio do processamento e reorganização de significados da
matéria retirada da história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, memória
coletiva, fantasias pessoais, aparatos de poder e revelações de cunho religioso. O processamento
e reorganização é feito com base nas tendências sociais e projetos culturais pertinentes a
determinada estrutura social e visão de tempo e espaço.
A identidade é fonte de significado para os próprios autores sociais e uma pessoa pode
ter mais de uma identidade, identidades múltiplas, mas isto será uma fonte de tensão e
contradição na autorrepresentação e na ação social. (CASTELLS, 2013b)
A identidade não é uma articulação de dimensões aparentemente contraditórias, nem
é um conceito limitado. A identidade é um ponto de referência, uma identidade pressuposta que
envolve a ação do indivíduo e as relações nas quais está envolvido. A identidade conta com
suporte biológico, engloba o caráter ativo e transformador do indivíduo (personagem e autor) e
aponta para outra dicotomia dentro da interação social: papéis sociais e o lugar no grupo social.
(JACQUES, 2001)
Para Jacques (2001), o conceito de identidade tem uma diversidade terminológica e
teórico-metodológica que leva a uma subdivisão dos sistemas identificatórios e uma
qualificação da identidade como pessoal e/ou identidade social, esta última podendo ser mais
específica, a exemplo: identidade religiosa, identidade étnica. Apesar da separação conceitual,
as fronteiras não são bem delimitadas, o sujeito não vive uma única subdivisão da identidade
por vez, por isto neste trabalho, esta subdivisão será descartada, sendo a identidade individual
ou pessoal e social não estudadas em separado, mas como uma única identidade individual do
sujeito.
Esta identidade individual não é imutável e está sujeita a influência de acontecimentos
da vida cotidiana, um exemplo é a maternidade, que afeta a identidade e os papéis de uma
mulher. A pesquisa de Valcour e Ladge (2008) aponta que já durante a gravidez, começa a ser
formulada uma nova identidade materna e a reconstruir sua identidade vocacional. Por isto
maternidade e identidade são temas da próxima sessão.
39

2.3.1. Maternidade e identidade

Para Kimura (1997), a maternidade leva a uma redefinição da identidade que decorre
dos novos papéis sociais vividos pela mulher, passa pela identificação com o modelo de mãe
mais próximo, aquisição das tarefas e papéis maternos, diretrizes externas, até que a mulher
desenvolva uma interpretação própria sobre o papel materno.
Corroborando com a noção de Meditsch (2010) de que a mídia fornece significados e
auxilia na manutenção de uma determinada construção social, fornece material para esta
redefinição da identidade. Segundo a pesquisa 'Barrigão à mostra' - vicissitudes e valorização
do corpo reprodutivo na construção das imagens da gravidez (VARGAS, 2012) a mídia dá
destaque à gravidez e à maternidade como parte da identidade feminina, como algo autônomo
e desvinculado das relações sociais. A identidade feminina retratada em revistas exalta a
manutenção da beleza corporal, aos valores relativos ao trabalho, a constituição da família e a
presença masculina. Este estereótipo transmitido pela mídia não compreende todas as
possibilidades de formação familiar.
A pesquisa “Concepções de gênero nas narrativas de adolescentes” (BORDINI; SPEB,
2012) mostra que a noção do feminino associada à beleza, vaidade e subordinação está presente
no discurso dos adolescentes entrevistados. À mulher também é atribuída a imagem de
responsável pela família a ponto de sacrificar-se pelo bem-estar familiar, sem poder contar com
o apoio do parceiro para as tarefas e responsabilidades.
Esta noção de mulher e de maternidade é produto do final do século XVIII, quando
um novo conceito de afetividade materna passou a ser exaltado como um valor natural e social.
Isto deu-se pela necessidade em valorizar o cuidado com as crianças a fim de propiciar maior
taxa de sobrevivência e mais mão de obra. (EMIDIO; HASHIMOTO, 2008)
O discurso mudou e incluiu uma promessa de maior igualdade e papel de cidadãs para
as mães que assumissem o papel desejado. Esta positivação da maternidade tornou-a primordial
na constituição da identidade da mulher, algo tido como natural e inerente à sua identidade. A
mulher só seria mulher em seu sentido completo quando tornava-se mãe. (EMIDIO;
HASHIMOTO, 2008)
Estas pesquisas demonstram construções de padrões de identidade feminina que não
conseguem abarcar todas as formas de ser e por isso limitam as formas de existência. Na
maternidade também há esta construção social que elabora um perfil desejado, normatizado de
maternidade que envolve: tempo e idade certos para ser mãe, número de filhos e condições
financeiras. (MOREIRA; NARDI, 2009)
40

Esta norma criada para a mulher e a maternidade compõe o que Castells (2013b)
determina como a identidade legitimadora, a qual os atores sociais irão tentar reproduzir mesmo
de maneira conflitante as crenças e valores compartilhados socialmente e as representações
acerca da maternidade.
Estes conceitos são incorporados e vivenciados como algo naturalmente relevante para
a identidade. (NOGUEIRA; NASCIMENTO, 2014) Os aspectos da visão naturalizada estão
presentes nos discursos das mulheres participantes da pesquisa Mulheres na Força Aérea
Brasileira - um estudo sobre as primeiras oficiais aviadoras (SANTOS; ROCHA-COUTINHO,
2010). Os pesquisadores apontam que a identidade dessas mulheres ainda é construída a partir
dos padrões ditos como tradicionais

Da mesma forma, na opinião das entrevistadas, as dificuldades associadas a um


possível casamento e maternidade/paternidade continuam a pesar mais sobre as
mulheres que sobre os homens, já que essas ainda parecem acreditar que a mulher é a
principal responsável pela casa e pelos filhos. (SANTOS; ROCHA-COUTINHO,
2010)

Ao mesmo tempo que valorizam a maternidade, a família e a casa, também há


características de resistência aos padrões tradicionais nos discursos destas mulheres, como:
independência financeira, investimento na carreira profissional. (SANTOS; ROCHA-
COUTINHO, 2010)
Esta mudança foi possível graças às mudanças no papel social da mulher e aos avanços
tecnológicos na área do controle de natalidade. O desejo da mulher tomou um lugar de destaque
e ser mãe não é mais condição indispensável para ser uma mulher plena, deixa de ser o traço
que define a identidade da mulher. (EMIDIO; HASHIMOTO, 2008)
A fim de compreender estas mudanças propiciadas pela transformação no papel social
da mulher, é necessário discorrer sobre a teoria de papéis e apreender as especificidades do
papel de mãe e de trabalhadora.

2.4. PAPÉIS

Cooley (1902), ao falar sobre a sociedade e o sujeito como um organismo, ressalta que
cada membro contribui com a sociedade, pois cada pessoa possui individualidade e uma
diferença funcional, um papel próprio. Um indivíduo bem desenvolvido só pode ser assim por
meio de um papel bem desenvolvido e vice versa. Este é um ponto de convergência com o que
Berger e Luckman (2003; 2004) postulam sobre os papéis:
41

“Quando as instituições funcionam normalmente, o indivíduo cumpre os papéis a ele


atribuídos pela sociedade na forma de esquemas institucionalizados de ação e conduz
sua vida no sentido de currículos de vida assegurados institucionalmente, pré-
moldados socialmente e com alto grau de auto-evidência. Em seu resultado, as
instituições substituem os instintos: possibilitam um agir para o qual nem sempre é
preciso pesar cuidadosamente as alternativas” (BERGER; LUCKMANN, 2004, p. 54)

Na perspectiva de Berger e Luckman (2003) os papéis são definidos como


representações institucionais e mediações de conjuntos de conhecimento institucionalmente
objetivados. Eles refletem a mediação entre universos macroscópicos de significação,
objetivados por uma sociedade, e como estes universos são subjetivamente reais para os
indivíduos. Na visão de Strauss (1999), os papéis são como "máscaras" sociais diferentes que
os atores podem escolher adotar em suas construções contínuas de eu e sociedade.
Para Castells (2013b), os papéis são definidos por normas estruturadas pelas
instituições e organizações da sociedade. Acordos e negociações entre estas e os indivíduos
determinam a importância de cada papel e sua capacidade de influenciar no comportamento das
pessoas. Enquanto identidades organizam e são fonte de significados, os papéis organizam
funções, mas algumas autodefinições podem coincidir com papéis sociais quando o ator social
significar o papel como sua mais importante autodefinição. A figura 1 contém as diferenças
entre identidade e papéis na teoria de Castells (2013b).

FIGURA 1 - DIFERENÇA ENTRE IDENTIDADE E PAPÉIS EM CASTELLS

Identidade
• Fonte de Papéis
significados
• Organizam
• Significados funções
organizados
• Normas
entorno de uma
estruturadas
identidade
primária

FONTE: adaptado de Castells (2013b, p. 23)

Castells (2013b) trouxe ao conceito de identidade a noção de poder, e delega aos papéis
o lugar de função. Neste sentido, é importante nesta dissertação, os conceitos de identidade de
resistência e de projeto, formulados por Castells (2013b), que contribuem para que se questione
por meio destas identidades, os papéis historicamente e culturalmente atribuídos as mulheres.
Para Castells (2013b), a entrada da mulher no mercado de trabalho abalou a
legitimidade da dominação do homem, mas trouxe o peso de uma jornada quádrupla para a
42

mulher: trabalho remunerado, organização do lar, criação dos filhos e uma jornada noturna em
benefício do marido. A sociedade precisa rever esta questão, as próprias mulheres, seus pares,
mas, enquanto não ocorre a transformação, trabalhos como este podem ajudar neste caminho
de mudanças sociais.
Já tendo discorrido acerca da maternidade, trabalho e identidade, seria incompleto sob
o olhar teórico e prático não incluir nesta pesquisa estudos sobre maternidade e papéis, tema do
tópico a seguir.

2.5. MATERNIDADE E PAPÉIS

Para Vieira, Lima e Pereira (2012), os papéis têm duas dimensões: afetivo/funcional e
imaginária, seu exercício é a unidade básica de integração social e para a constituição das
identidades. Os autores usam o estudo da profissão professor para ilustrar como a falta de
clareza no papel a ser desempenhado gera conflitos de interesses e dificulta a compreensão das
expectativas sobre si mesmo, aos outros e às instituições, deixando claro que na dinâmica dos
papéis sociais estão presentes conflitos, sobrecarga e ambiguidade.
Mesmo sob pressões patriarcais, o papel social da mulher tem sofrido mudanças, de
um papel determinado por diferenças biológicas e rotulado como sinônimo de fragilidade, a um
papel construído socialmente, com margem para mudanças que abrem espaço para um
protagonismo da mulher nesta construção. (ROCHA-COUTINHO, 1994)
Apesar destas mudanças, a mulher ainda se encontra no meio de um furacão de
demandas e cobranças, altas expectativas nos papéis que desempenha, conflitos, sobrecargas e
ambiguidades, e a entrada do papel de mãe na dinâmica da sua vida exacerba estas questões.
Há uma expectativa que a mulher consiga conciliar seu papel profissional com as
vivências da maternidade, mas isto nem sempre acontece de maneira tranquila, em algumas
mulheres, ocorre o contrário: depressão pós-parto, crises de ansiedade, dentre outras
consequências. (OLIVEIRA et al., 2011)
O resultado da pesquisa Avaliação de Necessidades para a Implementação de um
Programa de Transição para a Parentalidade (MURTA et al., 2011) indica que a mulher ao
tornar-se mãe lida com maior número de estressores específicos à parentalidade. Os estressores
específicos são: dificuldades para compreender e ajustar-se aos ritmos do bebê, choro do bebê,
dificuldade de alimentação do bebê, cólica do bebê, visitas no primeiro mês, insegurança em
relação à capacidade do pai de cuidar do bebê. Esta situação de estresse é agravada pela carga
de trabalho não-remunerado (familiar) que fica a cargo da mulher.
43

“A alocação das horas no trabalho remunerado e não remunerado influenciam


fortemente nas diferenças de papéis sociais e de poder desempenhados por mulheres
e homens. Há uma injusta distribuição de tarefas domésticas e de cuidado que são
refletidas no mundo do trabalho e que devem ser mais bem compreendidas”.
(FONTOURA; ARAÚJO, 2016, p. 11)

Na busca por conciliar família e trabalho, a mulher encontra alguns desafios: conflito
de demanda profissional e familiar, crenças disfuncionais de desempenho, e desequilíbrio na
divisão de tarefas relativas aos cuidados domésticos e dos filhos. (OLIVEIRA et al., 2011) Estes
três desafios referem-se ao conflito (demandas), ambiguidade (crenças disfuncionais de
desempenho) e sobrecarga (desequilíbrio na divisão de tarefas) de papéis, temas dos tópicos a
seguir.

2.5.1. Conflito trabalho-família

Do tema conflito de papéis, o conflito trabalho-família é o que mais se relaciona com


a mulher que trabalha e tem sido estudado desde de 1964, sendo originado das tensões entre a
incompatibilidade das demandas do trabalho e da família. (STROBINO; TEIXEIRA, 2014)
Um fator que pode ser mediador da interação entre os papéis familiares e laborais é a
cultura. Numa pesquisa que buscou compreender a interação entre valores culturais e conflitos
trabalho-família entre mães hindus na África do Sul, três temas surgiram da narrativa trabalho-
família das participantes: uma identidade coletiva forte em relação à família, crenças
tradicionais de gênero e deferência familiar. Esses temas refletem os principais valores culturais
hindus e demonstram que a cultura ajuda a moldar as percepções do conflito trabalho-família.
(JAGA; BAGRAIM, 2017)
Ao explorar as táticas que as mães trabalhadoras que estão no meio de sua trajetória
de carreira usam para melhorar seu equilíbrio entre o trabalho e o lar. Araujo, Tureta e Araujo
(2015) detectaram quatro dimensões de táticas para estabelecer fronteiras para o papel de
trabalhadora: comportamentais, temporais, físicas e comunicativas. Essas táticas são adotadas
a fim de construir um nível satisfatório de segmentação ou integração entre trabalho e lar.
No artigo “Empreendedorismo feminino e o conflito trabalho-família: estudo de
multicasos no setor de comércio de material de construção da cidade de Curitiba” de Strobino
e Teixeira (2014), as autoras analisam como duas empresárias do setor de comércio de material
de construção da cidade de Curitiba percebem o conflito trabalho-família e suas estratégias para
lidar com ele. O conflito trabalho-família é analisado dentro de três dimensões: tempo, tensão
44

e comportamento. A pesquisa concluiu que a dimensão de maior conflito é o tempo, e o controle


emocional é a estratégia mais usada para lidar com este conflito.
Além das estratégias pessoais, o conflito trabalho-família pode ser diminuído com
algumas ações das organizações. Oliveira, Lucas e Casado (2017) realizaram uma pesquisa
sobre como homens e mulheres percebem as ações das empresas que participaram do “Melhores
Empresas para Trabalhar de 2015” em relação ao conflito trabalho-família. Para as mulheres, o
apoio do chefe imediato e o menor envolvimento com o trabalho diminuem a incidência, ou
intensidade, do conflito trabalho-família. O menor apoio social dos colegas e menor equilíbrio
entre vida profissional e pessoal aumenta a ocorrência ou intensidade do conflito trabalho-
família.

2.5.2. Sobrecarga de papéis

Enquanto o conflito de papéis envolve demandas simultâneas de mais de um papel ou


demandas inalcançáveis de um único papel, a sobrecarga de papel refere-se à falta de tempo
para finalizar as tarefas inerentes a um papel. A maior causa da sobrecarga de papéis é a grande
quantidade de atividades a serem feitas em uma quantidade limitada de tempo. (YONGKANG
et al., 2014)
As demandas familiares são maiores para as mulheres e tem maior impacto na
sobrecarga e conflito de papéis do que para os homens. As mulheres escolarizadas tendem a
reduzir o número de filhos ou postergar a maternidade para depois da carreira profissional
porque ainda recaem sobre as mulheres a maior carga do trabalho doméstico e familiar. Essa
dupla jornada implica para as mulheres desafios quanto à ascensão profissional ou de
competitividade no mercado de trabalho. (CARVALHO, 2016)
Os conflitos e sobrecargas existem e as mulheres procuram maneiras de lidar com eles:
são as estratégias de enfrentamento. Essas estratégias permitem que as mulheres sejam capazes
de combinar com algum sucesso as demandas de trabalho e familiares. (HIGGINS;
DUXBURY; LYONS, 2010)
O artigo Work-family balance: A case analysis of copingstrategies adopted by
Nigerian and British working mothers, (ADISA; GBADAMOSI; OSABUTEY, 2016) descreve
a exploração das várias estratégias de enfrentamento do conflito trabalho-família utilizadas
pelas mães que trabalham nas cidades de Londres (Grã-Bretanha) e Lagos (Nigéria). Os achados
revelaram que uma estratégia usada em Londres, não pode simplesmente ser copiada para
45

Lagos, precisa ter algumas mudanças. As mães usam estratégias variadas de enfrentamento e
as estratégias usadas precisam ser ajustadas à cultura e contexto local.

2.5.3. Ambiguidade de papéis

A tentativa de copiar estratégias usadas por outras mães está ligada à ambiguidade
presente no papel de mãe e em outros papéis sociais. (APPEL-SILVA; ARGIMON; WENDT,
2011)
O papel de mãe é ambíguo e sua interpretação afeta a dedicação ao trabalho. Por
interpretarem de maneira diferente o papel de mãe, mulheres com atitudes tradicionais de papel
de gênero e mulheres com atitudes igualitárias, dedicam-se ao trabalho de maneira diferente
após tornarem-se mãe. As mulheres com atitudes tradicionais tendem a dedicar menos tempo
ao trabalho quando tem filhos pequenos. (ANDRINGA; NIEUWENHUIS; VAN GERVEN,
2015)
Conflitos, sobrecarga e ambiguidades são fatores que influenciam diretamente na
saúde mental da mulher. Mães que sofrem de angústia psicológica relatam menor suporte do
que mães mais saudáveis, assim como mães com pouca saúde física. (OFFER, 2012)
Robinson, Magee e Caputi (2016) mapearam cinco perfis de relação trabalho-família
nas mães que trabalham: Nocivo, Ativo negativo, Ativo benéfico e Cumprido. Ele, testou se os
perfis diferem entre mães solteiras e com parceiros e examinou se estão associados ao burnout.
A adesão ao perfil diferiu significativamente entre as solteiras e as mães com parceiros, com
mães solteiras mais propensas a estar no perfil nocivo. Os cinco perfis tiveram diferentes
implicações para o burnout.
Em outra perspectiva, a maternidade pode ser um fator de motivação para buscar
progressão na carreira. Van der Horst, Van der Lippe e Kluwer (2014), concluíram em sua
pesquisa que classificar a criação de crianças como a mais importante aspiração do papel de
vida está positivamente relacionada aos ganhos financeiros entre os pais.
A pesquisa de Leung (2011) aponta que uma forte identificação com seus papéis
familiares, em particular com o papel de mãe, leva as mulheres japonesas ao caminho
empresarial, pois, para as mulheres pesquisadas, o empreendedorismo permite dedicar-se aos
filhos. Uma forte identidade de papel de gênero também se reflete na identidade dos
empreendimentos, produtos e serviços fornecidos por esses empreendimentos e sua estrutura e
práticas organizacionais. No entanto, o caminho para o empreendedorismo também foi
escolhido pela dificuldade em conciliar o trabalho nas companhias que não possuíam programas
46

especiais voltados para a diminuição do conflito trabalho-família e para as necessidades das


mulheres que são mães e trabalham.
Como pôde ser visto na pesquisa de Leung (2011), as ações desenvolvidas pelas
empresas do setor particular podem auxiliar a mulher que trabalha e é mãe ou dificultar a
conciliação do papel de trabalhadora e de mãe. Por isto, o setor privado é o tema da próxima
sessão.

2.6. O SETOR PRIVADO

Desde a metade da década de 70 há um aumento intenso e constante da participação


feminina no mercado de trabalho brasileiro, mas predominando em atividades precárias e
informais. Nos anos 80 tendências inovadoras, a conquista de bons empregos, o acesso a
profissões de nível superior e a escolarização causaram uma mudança no perfil das
trabalhadoras: mais velhas, casadas, com filhos e maior nível de escolaridade. (BRASIL, 2015;
OIT, 2016; IBGE, 2017)
No Brasil, as mulheres ocupam 44% das vagas de trabalho e têm maior
representatividade no setor militar e na administração pública, devido ao setor privado
apresentar menor estabilidade laboral e maior diferença salarial entre homens e mulheres que
no setor público. Outra característica deste setor é que suas demandas de trabalho são, na
maioria das empresas, maiores do que no setor público. (BRASIL, 2015; OIT, 2016; IBGE,
2017)
Eventos do estágio da vida, como a maternidade, podem ter uma profunda influência
na percepção e na promulgação de carreiras e transições de carreira. No decorrer do tempo, a
relação das mulheres que trabalham no setor privado com o trabalho sofre mudanças de relação
afetiva e temporal: quanto mais maduras, mais repensam suas prioridades. (LEWIS et al., 2015)
A retenção de talentos também passa pela gestão do conflito trabalho-família. Quanto
mais as mulheres se sentirem emocionalmente exauridas, menos comprometidas e estarão mais
propensas a considerar mudar de emprego ou sair do mercado. (HOULE et al., 2009)

“Alguns autores referem que a constante demanda do mercado de trabalho faz com
que o envolvimento profissional das mulheres seja cada vez maior, muitas vezes em
detrimento da qualidade de vida nos âmbitos profissional e pessoal, incluindo a
vivência da maternidade” (OLIVEIRA et al., 2011, p. 273)

Apesar do conflito entre o trabalho e a vida familiar sempre estar presente, as


organizações do setor privado podem desenvolver programas e estratégias para ajudar os
47

funcionários a lidarem melhor com o conflito trabalho-família, principalmente as mulheres que


são mães. A organização e a coordenação de múltiplas atividades com apoio de várias fontes é
fundamental para encontrar o equilíbrio trabalho-família. (GRADY; MCCARTHY, 2008;
BROWN, 2012)
O estudo de Murtorinne-Lahtinen et al.(2016) sugere horários de trabalho não-
padronizados: as mães de crianças pequenas se beneficiam da regularidade e flexibilidade. Nas
entrevistadas, o fator chave que gerou experiências positivas foi a capacidade de manter a
regularidade e a união, que foi reforçada por características específicas do trabalho, como
autonomia e regularidade, e arranjos bem-sucedidos de assistência à infância.
Araujo, Tureta e Araujo (2015) ressalta a importância dos gerentes de Recursos
Humanos desenvolverem programas de equilíbrio entre o trabalho e o lar que fornecem políticas
que se adaptem às preferências de fronteira do lar de trabalho para aquelas mães que desejam
integrar e segmentar esses domínios.
O apoio organizacional é particularmente importante em pontos de crise da carreira,
quando as mulheres têm de tomar a decisão sobre a melhor forma de equilibrar suas vidas
domésticas e de trabalhadoras, principalmente no retorno ao trabalho após a licença-
maternidade. (PARKE, 2012)
A organização e a coordenação de múltiplas atividades com apoio de várias fontes é
fundamental para encontrar o equilíbrio. Sendo ou não a primeira prioridade, a carreira tem
grande importância, pois o trabalho proporciona estimulação, desafios, conquista e
enriquecimento. (GRADY; MCCARTHY, 2008)

Para promover um ambiente não-discriminatório, onde homens e mulheres desfrutem


de oportunidades iguais de desenvolvimento profissional, o primeiro passo para
qualquer organização é compreender que existem desafios que exigem medidas
específicas. A busca da meritocracia, por si só, não é capaz de gerar essa situação de
igualdade de gênero nas empresas.(ONU, 2016, p. 12)

A cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres (ONU, 2016) sugere ações para
empresas do setor privado a fim de promover ou manter a equidade de gênero. O primeiro passo
á a autoavaliação e reconhecimento dos motivos que levaram a este estado, entendendo
desníveis de oportunidades, atração, retenção e de desenvolvimento relacionados às questões
de gênero. A fim de promover a igualdade de gênero na empresa particular, seus gestores podem
criar políticas e práticas, a exemplo: flexibilidade de modelos de trabalho, projetos de cuidados
à família, procedimentos que coíbam assédio moral e sexual
48

Outras ações recomendadas são revisar e analisar a remuneração de todos


trabalhadores de empresa por gênero, área de atuação e nível hierárquico; e o percentual de
mulheres e homens com alta performance e alto potencial em relação ao percentual de mulheres
e homens de cada nível hierárquico; obter as opiniões de mulheres e homens quanto à sua
percepção em relação às políticas e práticas da empresa na promoção de oportunidades iguais,
inclusão e não-discriminação, por meio de pesquisas de clima, satisfação ou grupo focal. (ONU,
2016)
Após a exposição dos principais temas e da caracterização do campo de pesquisa,
segue o levantamento das pesquisas da última década em bases de dados nacionais: Scielo,
Spell e Portal CAPES e em bases internacionais: Scopus e Web of Science

2.7. A ÚLTIMA DÉCADA DE PESQUISAS

A identidade é estudada nas ciências sociais e na administração por sua interação com
as organizações. As organizações funcionam como âncoras “(...) tornam-se contextos ainda
mais relevantes na construção das identidades dos indivíduos podendo chegar a substituir
grupos relevantes.” (FERNANDES; MARQUES; CARRIERI, 2010, p. 40)
As pessoas não abandonam suas identidades raciais, sexuais ou étnicas quando entram
em uma organização. Então a relação entre identidade pessoal e organizações é dialética: as
organizações influenciam na identidade pessoal e esta influencia as organizações. (KNOMO;
COX, 2007) Por isto é importante estudar a identidade e suas mudanças durante a vida.
Segundo Valcour e Ladge (2008) já durante a gravidez a mulher formula uma nova
identidade. Sendo a maternidade algo que permeia a identidade individual das mulheres, e
portanto, em suas relações sociais, inclusive com o trabalho, é necessário estudar o tema na área
de Administração.
A produção dos últimos 10 (dez) anos, 2008 a 2017 tanto nacional quanto
internacional, usando as combinações de palavras “trabalho + maternidade + identidade +
papéis” e “Work + Motherhood + Identity + role” é inexistente (zero artigos encontrados) nas
bases de dados: Scielo, portal de periódicos da CAPES, Spell, Scopus e Web of science.
Com estes resultados, foi necessário recorrer a pesquisas com a combinação de outras
palavras, assim foi pesquisado o seguinte grupo de palavras: “identidade + maternidade +
trabalho” em bases nacionais e “Work + Motherhood + Identity” nas internacionais nos campos
título, resumo e palavras-chaves. Nestas pesquisas 753 (setecentos e cinquenta e três) artigos
49

foram filtrados, mas pertinentes ao tema e às categorias pesquisadas foram 54 (cinquenta e


quatro), sendo 697 (seiscentos e noventa e sete) descartados.
Os artigos que constam como descartados foram retirados da análise por motivos
variados: a palavra trabalho estava escrita referindo-se ao próprio artigo, não ao trabalho
enquanto sinônimo de labor ou emprego; eram trabalhos voltados a análises biológicas, perfil
de pacientes, respostas a campanhas ou comportamento de pacientes; artigos na área de
marketing, de medicina e antropologia que não comtemplavam o tema. Os resultados estão
dispostos na tabela 1:

TABELA 1 - RESULTADO RESUMIDO DAS PESQUISAS EM BASES DE DADOS NACIONAIS E


INTERNACIONAIS
Artigos Artigos Artigos pertinentes Artigos Artigos
Base de dados
encontrados Descartados ao tema Repetidos analisados
Spell 0 0 0
Scielo 5 4 1
CAPES 421 420 1
1 1
Total nacional 426 424 2
Scopus 124 98 26
Web of Science 203 175 28
Total internacional 327 273 54 15 39
TOTAL 753 697 56 16 40
FONTE: A autora (2018)

Na base Spell o resultado das três combinações de palavras buscadas em título, resumo
e palavras-chaves foram zero artigos encontrados. Na base Scielo foram encontrados 5 (cinco)
artigos na pesquisa com as mesmas palavras e nos mesmos campos. Destes, 4 (quatro) não eram
pertinentes ao tema, resultando em 1 (um) pertinente à pesquisa.
Pesquisar na base de dados do portal da CAPES é um processo diferente das outras
bases de dados: o limite de dois campos para pesquisa fez ser necessário compilar duas palavras
em uma linha de pesquisa, ficando “Maternidade” na primeira linha e “identidade trabalho” na
segunda. Nesta combinação de palavras foram encontrados 421 (quatrocentos e vinte e um)
artigos, mas somente 1 (um) era pertinente ao tema.
A soma de todos os artigos designados para a análise resultou em 56 (cinquenta e seis).
No entanto, por serem pesquisas em bases de dados interligadas, alguns artigos apareceram em
mais de uma base de dados, um total de 16 (dezesseis) artigos repetidos. Resultando em 40
(quarenta) artigos selecionados dos quais foram analisados os seguintes aspectos: a base de
dados de onde os artigos foram retirados, a quantidade existente em cada, o ano de publicação,
50

periódico onde os artigos foram publicados, país, nível de análise, os autores e suas respectivas
instituições. A listagem dos artigos analisados está disposta no Quadro 2:

QUADRO 2 - ARTIGOS ANALISADOS POR ANO, PAÍS, CITAÇÃO, TÍTULO, PERIÓDICO E OBJETIVO
Ano País Citação Título Periódico Objetivo
2017 Austrália (HAYNES, Accounting as Critical Revisar 25 anos de pesquisa contábil
2017) gendering and Perspectives crítica sobre gênero, abordando o que
gendered: A on aprendemos até hoje e quais são as
review of 25 Accounting áreas mais desafiadoras a serem
years of critical investigadas no futuro.
accounting
research on
gender
2017 Estados (HIDALGO- De la Prisma Aprofundar a evolução temporal e
Unidos MARÍ, 2017) maternidad al Social histórica da representação feminina na
empoderamient ficção espanhola e estabelecer
o: Una perspectivas nesta representação.
panorámica
sobre la
representación
de la mujer en
la ficción
Española
2017 Reino (GROSS Identity Career Expandir nossa compreensão sobre a
Unido SPECTOR; exploration Development forma como as mulheres moldam suas
CINAMON, during the International decisões de carreira durante a transição
2017b) transition to para a maternidade, através do processo
motherhood: de exploração, seus fatores facilitadores
facilitating e resultados.
factors and
outcomes
2017 Brasil (MCGANNON; Mother runners Psychology Estender o entendimento em um
MCMAHON; in the of Sport and contexto sócio-cultural, examinando
GONSALVES, blogosphere: A Exercise como as identidades das mães
2017) discursive recreativas dos atletas foram
psychological construídas dentro de uma forma de
analysis of novas mídias - os blogs.
online
recreational
athlete identities
2017 China (VON HIPPEL; Stereotype Frontiers in Compreender como as mulheres veem
KALOKERINO Threat and Psychology políticas favoráveis à família,
S; ZACHER, Perceptions of particularmente mulheres que sofrem
2017) Family-Friendly ameaças de estereótipos com base em
Policies among gênero, ou a preocupação de serem
Female vistas através das lentes dos
Employees estereótipos de gênero no trabalho.
2017 Canadá (HENNEKAM; When lesbians Journal of Explorar as experiências de casais de
LADGE, 2017) become Vocational lésbicas à medida que passam pelas
mothers: Behavior diferentes fases da gravidez e reentram
Identity na força de trabalho após a licença
validation and maternidade.
the role of
diversity climate
51

Ano País Citação Título Periódico Objetivo


2016 Estados (LEWIS et al., Becoming an International Relatar um arcabouço teórico
Unidos 2016) entrepreneur: Journal of empiricamente fundamentado para
opportunities Gender and compreender o papel do
and identity Entrepreneu desenvolvimento da identidade
transitions rship empreendedora na descoberta,
desenvolvimento e exploração de
oportunidades, e para elaborar como
essas transições de identidade tanto
mobilizam quanto constrangem as
empreendedoras.
2016 Estados (WILLIAMS; Beyond Work- Annual Revisar a pesquisa sobre trabalho e
Unidos BERDAHL; Life Review of família até o momento.
VANDELLO, “Integration" Psychology
2016)

2016 Estados (HENNEKAM, Identity Human Compreender como as mulheres


Unidos 2016) transition Relations grávidas integram sua futura identidade
during materna com sua identidade existente
pregnancy: The relacionada ao trabalho.
importance of
role models
2015 Brasil (MANOOGIAN “My Kids Are Journal of O objetivo foi identificar como as mães
et al., 2015) More Important Family que tomaram identidade que expressam
Than Money” Issues centralidade na maternidade com
escassos recursos econômicos,
resistindo a expectativas de reforma do
bem-estar para o trabalho e a família.
2015 Não (BAXTER et A Life-Changing Social O objetivo foi investigar mudanças nas
especific al., 2015) Event: First Forces atitudes de homens e mulheres em
ado Births and relação às divisões maternas e de
Men's and gênero na transição para a parentalidade
Women's
Attitudes to
Mothering and
Gender
Divisions of
Labor
2015 Estados (ANNE; Battling with Asian O objetivo foi explorar as Interações
Unidos PARAM, 2015) Ourselves*: Woman cotidianas da classe média das mulheres
Exploring How indianas enquanto negociam espaços de
Far Indian educação, trabalho e casa. As
Middle-Class realidades vividas das mulheres
Working revelam como elas luta para esculpir
Mothers in uma identidade em meio à intersecção
Malaysia Are de gênero e raça política.
Able to
Negotiate
Gendered
Spaces
2015 Reino (ZAHMACIOG Motherhood as Düşünen Identificar como mulheres profissionais
Unido LU et al., 2015) a "Profession": Adam combinam a maternidade com o
Post-career trabalho remunerado e como mães
motherhood compreendem essa combinação em
experiences of termos de identidades de gênero e
women from the normas.
upper-middle
class in Turkey
52

Ano País Citação Título Periódico Objetivo


2015 Canadá (GHASEMI, Muslim Iranian Women's Examinar como as mulheres
2015) women working Studies muçulmanas iranianas que trabalham na
in broadcast International mídia de radiodifusão se posicionam
media (IRIB): Forum em relação à maternidade e ao trabalho.
Between
motherhood and
professionalism
2015 Não (SIMORANGK Negotiated Asian Responder às seguintes questões de
especific IR, 2015) identities: Journal of pesquisa: Como mães solteiras em
ado Between "moral Women's Jacarta negociam suas carreiras morais
career" and Studies e carreiras profissionais? Que auto-
professional identidades eles adotam por meio dos
career of single quais se consideram diferentes das
mothers in outras mães?
Jakarta
2015 Estados (BERTOLINI et Working women Journal of Ilustrar as tensões entre as ideias
Unidos al., 2015) in transition to Romance dominantes e os ideais da maternidade
motherhood in Studies (o modelo "maternagem intensiva") e as
Italy demandas prementes do mercado de
trabalho em mutação.
2014 Estados (BARNES, Deciding on Families, Esta pesquisa contribui para o diálogo
Unidos 2014) leave: How US Relationship sobre a política de licença-maternidade
women in dual- s and nos Estados Unidos analisando como as
earner couples Societies professoras grávidas com acesso a
decide on licença maternidade decidem pela
maternity leave licença prolongada.
length
2014 Estados (LANEY et al., Expanding the Journal of Determinar as contribuições da
Unidos 2014) Self: Family maternidade para o desenvolvimento da
Motherhood and Issues identidade adulta.
Identity
Development in
Faculty Women
2014 Itália (MAZZUCCHE Moms & Work: Journal of Analisar a relação complexa entre
LLI, 2014) A Complex comparative maternidade e remuneração e o
Relationship family trabalho, um tema tratado com alguma
studies ambivalência, tanto na literatura
socioeconômica quanto políticas
europeias atuais com foco nos estudos
italianos.
2014 Reino (EKINSMYTH, Mothers' Gender, Explorar o debate relativas à mudança
Unido, 2014) business, Place & de práticas de trabalho, locais e
Estados work/life and Culture identidades de sociedades afluentes.
Unidos e the politics of Explora se as pesquisas e as
Australia ‘mumpreneurshi transformações de tecnologias,
p’ comunicação e as práticas têm o
potencial de fornecer maior escolha
para o trabalho das mães, expectativas e
arranjos do papel de gênero dentro das
famílias.
2014 Não (PETERSEN, Redefining the Journal of Investigar mães blogueiras baseando-se
especific 2014) Workplace: The Technical na teoria do profissionalismo, e como
ado Professionalizat Writing and elas se igualam profissionalmente,
ion of Communicat mesmo trabalhando em casa e cuidando
Motherhood ion dos seus filhos.
through
Blogging
53

Ano País Citação Título Periódico Objetivo


2014 Estados (CROWLEY, Staying at Home Sociological Investigar se a maioria das cuidadores-
Unidos 2014) or Working for Spectrum mães ou mães-trabalhadoras acreditam
Pay? que existe um arranjo “ideal”, ficar em
Attachment to casa ou trabalho remunerado - o que é
Modern melhor para as crianças.
Mothering
Identities
2014 Brasil (SILVA; Trajetórias de Ciência & Abordar a trajetória acadêmica e
RIBEIRO, mulheres na Educação profissional de mulheres na ciência.
2014) ciência: "ser (Bauru)
cientista" e "ser
mulher"
2013 Canadá (CADSBY; How Journal of Desenvolver e testar experimentalmente
SERVÁTKA; competitive are Economic o argumento de que as identidades de
SONG, 2013) female Behavior & gênero / família e / ou profissional,
professionals? A Organizatio ativadas através do priming,
tale of identity n influenciam a preferência pela
conflict competição.
2013 Austrália (DUBERLEY; The career International Examinar as experiências de mulheres
CARRIGAN, identities of Small que estabelecem novos
2013) "mumpreneurs': Business empreendimentos para combinar a
Women's Journal geração de renda com
experiences of responsabilidades de cuidado infantil.
combining
enterprise and
motherhood
2013 Malaysia (TURNER; Unbounded Management Demonstrar um meio de tornar a
NORWOOD, Motherhood: Communicat amamentação enquanto se trabalha
2013) Embodying a ion mais viável, bem como a forma como
Good Working Quarterly os corpos dos trabalhadores podem ser
Mother Identity locais de resistência e reforço das
ordens simbólicas de gênero nas
organizações.
2011 Sri (RADCLIFFE, Motherhood, Social Analisar a literatura corrente sobre
Lanka 2011) pregnancy, and Science & igualdade de gênero e maternidade
the negotiation Medicine levando em consideração mulheres
of identity: The grávidas e em período pós-parto.
moral career of
drug treatment
2011 Iran (HAGELSKAM Negotiating Community, Explorar as várias maneiras pelas quais
P et al., 2011) motherhood and Work & as mulheres de baixa renda constroem e
work: a Family experimentam a relação entre suas
typology of role funções de mãe e de trabalhadoras.
identity
associations
among low-
income, urban
women
2011 Indonési (THOMSON; Troubling Gender and Explorar a transição para a maternidade
a KEHILY, 2011) reflexivity: the Education pela primeira vez, experimentada por
identity flows of uma pequena sub-amostra de mulheres
teachers envolvidas em cuidados profissionais
becoming de crianças pequenas.
mothers
2010 Itália (FABBRO et Mulher, Investigació Descrever a vivência do trabalho
al., 2010) maternidade e ny acadêmico e da maternidade
trabalho Educación
acadêmico en
Enfermería
54

Ano País Citação Título Periódico Objetivo


2009 Canadá (KING et al., Identity work Journal of Examinar a construção da identidade
2009) among street- Youth entre mulheres jovens grávidas.
involved young Studies
mothers

2009 Não (KING; Managing Human Topografar um modelo e proposições


especific BOTSFORD, pregnancy Resource correspondentes para entender os
ado 2009) disclosures: Management determinantes e resultados da revelação
Understanding Review da gravidez.
and overcoming
the challenges
of expectant
motherhood at
work
2009 Não (HADLEY; The expression Psychoanaly Explorar as influências complexas da
especific STUART, of parental tic identificação parental nas decisões das
ado 2009) identifications Psychology mães lésbicas sobre o trabalho
in lesbian remunerado e a vida familiar, e sobre o
mothers' work conforto delas com essas decisões.
and family
arrangements.
2009 Não (SCHULTHEIS To Mother or Journal of Discurtir a teoria de carreira existente à
especific S, 2009) Matter: Can Career luz do trabalho materno feminino.
ado women do both? Development

2008 Espanha (AINSWORTH; Expectant Gender, Explorar a relação entre a construção de


CUTCHER, Mothers and Work & identidades masculinas e femininas em
2008) Absent Fathers: Organizatio torno do trabalho e da paternidade e a
Paid Maternity n falta de progresso na reforma política.
Leave in
Australia
2008 Israel (MCQUILLAN The Importance Gender & Contribuir para as pesquisas feministas
et al., 2008) of Motherhood Society e de gênero sobre a maternidade,
Among Women avaliando se há, de fato, uma diferença
in the na importância da maternidade entre
Contemporary mães e não-mães, e por que essa
United States diferença pode existir.
2008 Estados (HAYNES, Transforming Critical Investigar a relação entre a experiência
Unidos 2008) identities: Perspectives da maternidade e o emprego na
Accounting on profissão contábil do Reino Unido,
professionals Accounting examinando as narrativas da história
and the oral de um pequeno grupo de
transition to contadores que recentemente se
motherhood tornaram mães e retornaram ao trabalho
2008 Austrália (ROCHA- Variations on The Spanish Compreender, o senso de maternidade,
COUTINHO, an old Theme: journal of como ele se encaixa / é adequado à
2008) Maternity for psychology maternidade em suas vidas, quais
Women with a caminhos e soluções foram procurados
Very Successful e encontrados por elas para melhor
Professional exercer suas funções como mãe, como
Career tentaram reconciliar a maternidade com
sua carreira profissional e que
concessões eles estavam fazendo /
fizeram em uma ou mais áreas de suas
vidas para lidar melhor com esse duplo
papel
55

Ano País Citação Título Periódico Objetivo


2008 Holanda (SUN, 2008) Worker, Asian Entender a complexidade da identidade
Woman, Journal of de gênero da China no mundo global de
Mother: Women's trabalho na contemporânea China.
Redefining Studies
Urban Chinese
Women's
Identity via
Motherhood and
the Global
Workplace
FONTE: A autora (2019)

Em bases nacionais, a busca em 6 artigos no total, sendo 4 descartados e 2 a serem


analisados. Nas bases internacionais, 327 artigos foram encontrados, 273 descartados e 54
analisados, destes, 16 artigos repetiam-se nas bases de dados. Ao excluir os artigos repetidos,
resultaram em 40 artigos a serem analisados somando as bases nacionais e internacionais.
Estes dados demonstram que a produção nacional está aquém da produção
internacional, e o tema pode ser melhor explorado em pesquisas brasileiras publicadas.
Quanto ao ano de publicação, não há uma constância nas publicações; estas variam
durante os anos, tendo máxima de 7 artigos publicados, como ocorreu nos anos de 2014 e 2015
e mínima de zero artigos, o que ocorreu no ano de 2012, conforme está disposto no Gráfico 1.

GRÁFICO 1 - NÚMERO DE ARTIGOS ANALISADOS POR ANO DA PUBLICAÇÃO NACIONAL E


INTERNACIONAL
7

6
5

4
3

3
1

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

FONTE: A autora (2019)

Comparando os anos de 2008 a 2012 com os últimos cinco anos de publicações,


verificou-se que há uma concentração de 67,5% dos artigos produzidos entre os anos de 2013
a 2017, um sinal de que as pesquisas na área estão aumentando.
Os estudos que envolvem algum aspecto da identidade apresentam diferentes níveis
de análise: pessoal/individual, profissional, social/grupal. No levantamento realizado, os
trabalhos tinham foco de análise de acordo com a tabela 2:
56

TABELA 2 - FREQUÊNCIA DOS NÍVEIS DE ANÁLISE PRESENTES NOS ARTIGOS ANALISADOS


Nível de análise Frequência absoluta Frequência relativa
Pessoal/individual 15 37,5%
Social/grupal 14 35,0%
Pessoal/individual e profissional 9 22,5%
Profissional 2 5,0%
Total 40 100,0%
FONTE: A autora (2019)

Nos artigos analisados, 37,5% usaram o nível de análise pessoal/individual, 35% o


nível social/grupal, 22,5% combinaram pessoal/individual com profissional e 5% somente o
nível profissional. O nível pessoal/individual destaca-se nos artigos, estando presente em 60%
das publicações sendo o único nível de análise ou combinado com o nível profissional. A
presença do nível de análise profissional em 27,5% aponta para a possibilidade de aumentar os
estudos neste nível de análise.
Além das presenças, é necessário analisar as ausências, os níveis de análise
organizacional e territorial/regional não apareceram em nenhum dos artigos analisados, pois se
referem ao nível macro de análise no tema identidade, não se aplicando ao tema identidade,
maternidade e trabalho; que se relaciona ao nível do indivíduo e suas relações com os grupos e
as organizações.
As áreas temáticas dos artigos analisados foram definidas pelo escopo das revistas. Na
tabela 3 constam as principais áreas temáticas relacionadas ao estudo da interação ente
identidade, maternidade e trabalho:

TABELA 3 - PRINCIPAIS ÁREAS TEMÁTICAS RELACIONADAS AO ESTUDO DA INTERAÇÃO


ENTRE IDENTIDADE, MATERNIDADE E TRABALHO
Área temática Nº de publicações
Estudos Organizacionais 13
Estudos Familiares 6
Estudos de mulheres 5
Estudos de Gênero 5
Psicologia 5
Educação 3
Estudos Sociais 3
Total 40
57

FONTE: A autora (2019)

A área de Estudos Organizacionais compreende 32,5% do total de publicações,


seguida da área de Estudos familiares 15% e a de Estudos de mulheres, Estudos de Gênero e
Psicologia, cada uma com 15,5%. Nos estudos na área de Estudos Organizacionais envolvem
pesquisas sobre: a relação entre a experiência da maternidade e o emprego na profissão contábil
(HAYNES, 2008), as experiências de mulheres que estabelecem novos empreendimentos para
combinar a geração de renda com responsabilidades de cuidado infantil (DUBERLEY;
CARRIGAN, 2013), como mulheres profissionais combinam a maternidade com o trabalho
remunerado e como mães compreendem essa combinação em termos de identidades de gênero
e normas (ZAHMACIOGLU et al., 2015), sobre a forma como as mulheres moldam suas
decisões de carreira durante a transição para a maternidade, através do processo de exploração,
seus fatores facilitadores e resultados (GROSS SPECTOR; CINAMON, 2017b), dentre outras
pesquisas.
Na área de Estudos familiares, destacam-se pesquisas com objetivos diversos:
examinar a construção da identidade entre mulheres jovens grávidas na rua (KING et al., 2009),
explorar as várias maneiras pelas quais as mulheres de baixa renda constroem e experimentam
a relação entre suas funções de mãe e de trabalhadoras (HAGELSKAMP et al., 2011),
contribuir para o diálogo sobre a política de licença-maternidade nos Estados Unidos analisando
como as professoras grávidas com acesso a licença maternidade decidem pela licença
prolongada (BARNES, 2014), determinar as contribuições da maternidade para o
desenvolvimento da identidade adulta (LANEY et al., 2014), e identificar como as mães que
tomaram identidade que expressam centralidade na maternidade com escassos recursos
econômicos, resistindo a expectativas de reforma do bem-estar para o trabalho e a família
(MANOOGIAN et al., 2015).
A área de Estudos sobre Mulheres compreende pesquisas com temas como: entender
a complexidade da identidade de gênero da China no mundo global de trabalho (SUN, 2008),
explorar as interações cotidianas da classe média das mulheres indianas enquanto negociam
espaços de educação, trabalho e casa; e como elas lutam para esculpir uma identidade em meio
à intersecção de gênero e raça política (ANNE; PARAM, 2015), examinar como as mulheres
muçulmanas iranianas que trabalham na mídia de radiodifusão se posicionam em relação à
maternidade e ao trabalho (GHASEMI, 2015), como mães solteiras em Jacarta negociam suas
carreiras morais e carreiras profissionais, que auto-identidades eles adotam por meio dos quais
se consideram diferentes das outras mães (SIMORANGKIR, 2015).
58

Na área de Estudos de Gênero estão presentes trabalhos que abordam as pesquisas


feministas e de gênero sobre a maternidade, avaliando se há, de fato, uma diferença na
importância da maternidade entre mães e não-mães, e por que essa diferença pode existir
(MCQUILLAN et al., 2008), exploram a transição para a maternidade pela primeira vez,
experimentada por uma pequena subamostra de mulheres envolvidas em cuidados profissionais
de crianças pequenas (THOMSON; KEHILY, 2011), e investigam se as pesquisas e as
transformações de tecnologias, comunicação e as práticas têm o potencial de fornecer maior
escolha para o trabalho das mães, expectativas e arranjos do papel de gênero dentro das famílias
(EKINSMYTH, 2014).
Além das áreas de concentração, é necessário compreender os países onde estão sendo
coletados os dados, conforme está disposto na Tabela 4:

TABELA 4 - NÚMERO DE ARTIGOS QUE COLETARAM DADOS POR PAÍS/REGIÃO


País/Região Total
Estados Unidos 10
Não especificado 6
Austrália 3
Brasil 3
Canadá 3
Itália 2
Reino Unido 2
China 1
Espanha 1
Holanda 1
Indonésia 1
Inglaterra 1
Iran 1
Israel 1
Malaysia 1
Nova Zelândia 1
Reino Unido, Estados Unidos e Austrália 1
Sri Lanka 1
Total 40
FONTE: A autora (2019)

Os Estados Unidos têm sido o principal local de coleta de dados para os estudos do
tema identidade, maternidade e trabalho, 25% dos artigos analisados coletaram seus dados
unicamente nos Estados Unidos, local de coleta não especificado compreende 10% dos artigos,
59

Austrália, Brasil e Canadá (em separado) são palco de coleta de dados de 7,5% cada. Pesquisas
internacionais, na Itália e Reino Unido representam 5% cada. Estes dados apontam para a
necessidade de expandir o estudo acerca da identidade, maternidade e trabalho em nível
mundial, diversificando os países e regiões estudados.
A busca realizada em bases de dados nacionais e internacionais demonstra que as
pesquisas acerca da interação entre maternidade, identidade, papéis e trabalho são escassas.
Apesar da maternidade proporcionar mudanças nas mulheres que trabalham e em sua
identidade, este conjunto é pouco estudado na área de estudos organizacionais. Os dados
obtidos demonstram que há poucas publicações sobre o tema identidade, maternidade e
trabalho, e no Brasil, ainda é maior a necessidade de desenvolver estas pesquisas, pois o país
conta com somente 2 das 40 pesquisas publicadas no mundo. As publicações acerca do tema na
última década têm passado por uma curva invertida, diminuindo do ano de 2008 ao ano de 2002,
onde não há artigos publicados sobre o tema, aumentando o número de publicações nos anos
seguintes, mas sem uma constância, variando entre 3 e 7 publicações por ano. Os últimos cinco
anos concentram 67,5% das publicações sobre o tema, mostrando que é um tema em ascensão
nas agendas de pesquisa.
Ao observar os locais de coleta de dados, os Estados Unidos concentram 10 dos 40
artigos analisados, apontando para a necessidade de diversificar os países/regiões de coleta de
dados e expandir as pesquisas em nível mundial o que pode contribuir para a melhora das
condições de vida das mulheres ao redor do mundo.
A fim de conhecer melhor as pesquisas realizadas no Brasil, outras pesquisas foram
realizadas somente em bases nacionais durante os anos 2009 a 2018. Assim foram pesquisados
os seguintes grupos de palavras: “maternidade + identidade + papéis”, “maternidade +
identidade” e “maternidade + trabalho” em bases nacionais nos campos título, resumo e
palavras-chaves. Nestas pesquisas 2.067 (dois mil e setenta e sete) artigos foram filtrados, mas
pertinentes ao tema e às categorias pesquisadas foram 112 (cento e doze), sendo 1.955 (um mil
novecentos e cinquenta e cinco) descartados.
Os artigos que constam como descartados foram retirados da análise por motivos
variados: a noção de papéis presente no artigo se referia ao papel teatral; a palavra trabalho
estava escrita referindo-se ao próprio artigo, não ao trabalho enquanto sinônimo de labor ou
emprego; eram trabalhos voltados a análises biológicas, perfil de pacientes, respostas a
campanhas ou comportamento de pacientes; artigos na área de marketing, de medicina e
antropologia que não comtemplavam o tema. Os resultados estão dispostos na tabela 5:
60

TABELA 5 - RESULTADO RESUMIDO DAS PESQUISAS EM BASES DE DADOS NACIONAIS


Base de dados Total Descartados Total Analisado por base
Spell 5 2 3
Scielo 227 183 44
CAPES 1835 1770 65
Total das bases 2067 1955 112
Quantidade de artigos repetidos 52
Total de artigos analisados sem artigos repetidos 60
FONTE: A autora (2018)

Na base Spell o resultado das três combinações de palavras buscadas em título, resumo
e palavras-chaves foram cinco artigos encontrados, em dois a palavras maternidade referia-se
ao tipo de hospital que estava sendo estudado, por isto, estes dois artigos foram descartados da
análise, então restaram três artigos referentes aos resultados com as palavras: “maternidade +
trabalho”, as demais combinações de palavras não apresentaram resultados.
Na base Scielo foram encontrados 227 (duzentos e vinte e sete) artigos na pesquisa
com as mesmas palavras e nos mesmos campos. Deste total, 183 (cento e oitenta e três) não
eram pertinentes ao tema ou categorias buscadas, resultando em 44 (quarenta e quatro)
pertinentes à pesquisa, 38 (trinta e oito) com a combinação de palavras “maternidade +
trabalho”, 6 (seis) com a combinação de palavras “maternidade + identidade” e 0 (zero)com a
combinação de palavras “maternidade + identidade + papéis”.
Pesquisar na base de dados do portal da CAPES tem diferenças das outras bases de
dados: o limite de dois campos para pesquisa fez ser necessário compilar duas palavras em uma
linha de pesquisa, ficando “Maternidade” na primeira linha e “identidade papéis” na segunda.
Esta base também apresenta resultados que contém as três palavras, mas também resultados que
possuem somente uma ou duas das palavras. Sendo necessário fazer duas verificações, a
primeira se as três palavras constam em algum lugar do artigo, a segunda se o artigo é pertinente
à pesquisa.
Na combinação de palavras “maternidade + trabalho” foram encontrados 1.245 (um
mil duzentos e quarenta e cinco) artigos, destes 1194 (um mil cento e noventa e quatro) não
eram pertinentes ao tema ou categorias analisadas e foram descartados. Resultando em 43
(Quarenta e três) artigos a serem analisados.
A pesquisa com a combinação de palavras “maternidade + identidade” resultou em
421 (quatrocentos e vinte e um) artigos, 404 (quatrocentos e quatro) descartados e 17
(dezessete) para análise. Na pesquisa usando a combinação das palavras “maternidade,
identidade e papéis” surgiram 172 resultados que combinavam as três palavras, duas, ou
61

somente uma. Depois de selecionar os que possuíam as três palavras em algum lugar do artigo
e eram pertinentes ao tema, chegou-se à 8 artigos. Dois destes artigos não tinham a versão
completa disponível na internet, somente resumos, então foram descartados da análise e 6 (seis)
artigos foram analisados. Segue a tabela 6, que compila os resultados encontrados com cada
combinação de palavras nas devidas bases de dados:

TABELA 6- ARTIGOS ANALISADOS POR CONJUNTO DE PALAVRAS


Base Maternidade + identidade + papéis Maternidade + identidade Maternidade + trabalho
Spell 0 0 3
Scielo 0 6 38
CAPES 5 17 43
Total 5 23 84
FONTE: A autora (2018)

A soma de todos os artigos designados para a análise é 139 (cento e trinta e nove), no
entanto, por serem pesquisas com palavras em comum, alguns artigos apareceram em mais de
uma base de dados e em mais de uma combinação de palavras, um total de 64 (sessenta e quatro)
artigos repetidos. Resultando em 75 (setenta e cinco) artigos selecionados dos quais foram
analisados os objetivos e metodologia, conforme disposto nas tabelas a seguir, separando por
conjunto de palavras da pesquisa.
A ordem das tabelas segue a quantidade crescente de artigos encontrados, iniciando
com o resultado do conjunto de palavras “maternidade + identidade + papéis” (tabela 7),
posteriormente “maternidade + identidade” (tabela 8) e em seguida “maternidade + trabalho”
(tabela 9), Como são pesquisas com palavras que coincidem, constam na tabela 7 todos os
artigos analisados da pesquisa “maternidade + identidade + papéis”, na Tabela 8 encontram-se
todos os artigos analisados na pesquisa “maternidade + identidade”, exceto os que já foram
analisados na pesquisa “maternidade + identidade + papéis” (Tabela 7). Na tabela 9 constam os
artigos analisados da pesquisa “maternidade + trabalho” exceto os que já foram analisados nas
pesquisas anteriores.

TABELA 7 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS: “MATERNIDADE


+IDENTIDADE + PAPÉIS”
Ano Citação Título Periódico Objetivo
(TEDESCHI, Por uma história Revista Analisar narrativas femininas,
2018) menor: uma análise Estudos discursos marginalizados e
2018
deleuziana sobre a Feministas invisibilizados pela história
história das mulheres tradicional
(MACHADO, Formas de Comunicação Problematizar as formas de
2017) representação feminina Mídia e representação do feminino que
2017 nos teen chick lits: um Consumo Aparecem na contemporaneidade em
estudo em torno d’o livros voltados para o público
diário da princesa. adolescente, como ocorre, por
62

exemplo, em o diário da princesa


(2000), de Meg Cabot.
(BEZERRA; Estresse ocupacional Ciência & Compreender o estresse ocupacional
MINAYO; em mulheres policiais Saúde em mulheres policiais militares do
CONSTANTINO, Coletiva Rio de Janeiro a partir das percepções
2013) dessas mulheres sobre diferenças de
2013
gênero no trabalho policial relação
entre estresse ocupacional e
problemas de saúde e estratégias para
amenizar o estresse.
(OLIVEIRA et Maternidade e Revista Realizar uma revisão da literatura por
al., 2011) trabalho: uma revisão Interamericana meio dos trabalhos publicados entre
2011
da literatura de Psicologia os anos 2002 e 2009 investigando a
relação entre maternidade e trabalho.
(FABBRO et al., Mulher, maternidade e Investigación Descrever a vivência do trabalho
2010 2010) trabalho acadêmico y Educación acadêmico e da maternidade das
en Enfermeria professoras universitárias.
FONTE: A autora (2018)

A seguir a tabela 8 com os artigos resultantes da pesquisa com as palavras


“maternidade + identidade” e que não constam, também, na tabela 7.

TABELA 8 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS: “MATERNIDADE +


IDENTIDADE”
Ano Citação Título Periódico Objetivo
(OLIVEIRA; Antecedentes do conflito Rege - revista Analisar se há diferenças entre a
LUCAS; trabalho‐família: diferenças de gestão percepção de homens e mulheres
CASADO, entre a percepção de sobre antecedentes organizacionais
2017
2017) homens e mulheres nas relacionados ao conflito trabalho-
melhores empresas para família
você trabalhar
(NOGUEIRA; Maternidade e identidade Interação em Compreender o processo de
NASCIMENTO, em mulheres que perderam psicologia construção e de reconstrução da
2014 2014) filhos: aspectos identidade, naqueles elementos
psicossociais relacionados à maternidade, de
mulheres que perderam filhos
(VARGAS, 'Barrigão à mostra': História, Analisar as imagens e
2012) vicissitudes e valorização ciências, representações acerca da dimensão
do corpo reprodutivo na saúde- reprodutiva do corpo, tendo em
construção das imagens da manguinhos vista as mediações culturais e
gravidez condutas sociais predominantes na
2012
sociedade contemporânea no que
concerne às transformações
culturais e históricas dos valores
relativos à família e à constituição
das identidades sociais.
(PATIAS; "Tem que ser uma escolha Psicologia e Compreender como se constituem
BUAES, 2012) da mulher"! sociedade as identidades femininas de
Representações de mulheres de classe média, casadas,
2012 maternidade em mulheres ou que coabitam com o
não-mães por opção companheiro, e que optaram por
não ter filhos, residentes em cidade
do interior do Rio Grande do Sul
(PINTO; Programa pro-equidade de Revista de Discutir em que medida as ações
2012 MIDLEJ, 2012) gênero: uma discussão administração de implementação do programa
sobre relações entre pública - rap pró-equidade de gênero,
63

Ano Citação Título Periódico Objetivo


homens e mulheres na desenvolvidas na caixa econômica
caixa econômica federal federal (caixa) após a concessão do
“selo pró-equidade de gênero”, têm
melhorado as relações entre
homens e mulheres nessa
instituição financeira
(BARBOSA; Ser mulher hoje: a visão de Psicologia e Melhor compreender as novas
ROCHA- mulheres que não desejam sociedade formas de se conceber a
COUTINHO, ter filhos maternidade, a família e a
2012
2012) identidade feminina, a partir da
visão de mulheres que afirmam
Não desejar ter filhos
(LOUREIRO; Trajetórias profissionais de Revista de Descrever como mulheres
COSTA; mulheres executivas: qual o ciências da executivas percebem o impacto de
2012 FREITAS, preço do sucesso? administração empregabilidade e gênero nas suas
2012) trajetórias profissionais nas
empresas brasileiras.
(MURTA et al., Avaliação de necessidades Psicologia: Avaliar necessidades para um
2011) para a implementação de teoria e programa de transição para a
2011
um programa de transição pesquisa parentalidade, feita em dois
para a parentalidade. estudos
(SIFUENTES; O que a telenovela ensina Revista Refletir sobre o modo como a
RONSINI, sobre ser mulher? famecos - audiência da telenovela constitui a
2011
2011) Reflexões acerca das mídia, cultura identidade feminina de jovens
representações femininas. e tecnologia mulheres de classe popular.
(SANTOS; Mulheres na força aérea Estudos de Investigar como as primeiras
ROCHA- brasileira: um estudo sobre psicologia oficiais aviadoras vivenciam a
COUTINHO, as primeiras oficiais experiência de uma carreira até
2010) aviadoras então vedada a mulheres, como
2010
percebem a hierarquia e as relações
de poder típicas dessa carreira, e
quais os seus projetos profissionais
e pessoais para o futuro.
(CAPPELLE; Mulheres policiais, relações Ram - rev. Compreender o trabalho
MELO, 2010) de poder e de gênero na Adm. operacional feminino na 8ª região
Polícia Militar de Minas Mackenzie da Polícia Militar de Minas Gerais
2010
Gerais (PMMG), um universo
originalmente masculino, à luz das
relações de poder e de gênero.
(GONÇALVES Vivenciando repercussões e Ciencia y Identificar o significado das
CAMACHO et transformações de uma enfermería transformações do período
2010 al., 2010) gestação: perspectivas de gestacional, sob o ponto de vista da
gestantes gestante, que influenciam em sua
identificação como mãe.
(MOREIRA; Mãe é tudo igual? Revista Analisar os enunciados relativos à
NARDI, 2009) Enunciados produzindo estudo maternidade que configuram o que
2009
maternidade(s) feministas chamamos de “norma” da
contemporânea(s). maternidade.
(EMIDIO; Poder feminino e poder Colloquium Compreender a questão do poder
HASHIMOTO, materno: reflexões sobre a humanarum materno e refletir sobre os fatores
2008) construção da identidade que estruturam a relação da mulher
2008 feminina e da maternidade com a maternidade e
posteriormente com seu filho, além
de compreender as formas de poder
estabelecidas nestas relações.
64

FONTE: A autora (2018)

A seguir a tabela 9 com os artigos resultantes da pesquisa com as palavras


“maternidade + trabalho” e que não constam, também, nas tabelas 7 e 8.

TABELA 9 - ARTIGOS ANALISADOS DO CONJUNTO DE PALAVRAS: “MATERNIDADE +


TRABALHO”
Ano Citação Título Periódico Objetivo
(COELHO et Trabalho feminino Texto & Analisar a interface trabalho feminino e
al., 2018) e saúde na voz de contexto - saúde na perspectiva de mulheres
2018 catadoras de enfermagem catadoras de materiais recicláveis e
materiais realizar uma atividade educativa em
recicláveis direção ao seu empoderamento
(FRANÇA; A vida pessoal de Sexualidad, Compreender as relações afetivo-sexuais e
FRANÇA, trabalhadoras do salud y familiares das prostitutas e seus paralelos
2017) sexo: dilemas de sociedad com as de outras mulheres, buscando tirar
2017
mulheres de classes a extraordinariedade da personalidade das
populares trabalhadoras do sexo e de certos aspectos
de sua vida.
(SOUZA; Centralidade do Race: revista Descrever a centralidade do trabalho na
LOPES; trabalho na de perspectiva de mulheres brasileiras, com
HILAL, 2017) perspectiva de administração, nível superior, de diferentes faixas etárias
2017
mulheres em contabilidade (20 a 29 anos, 30 a 39 anos, acima de 40
diferentes faixas e economia, anos) e que trabalham em empresas
etárias privadas na cidade do Rio de Janeiro
(SOLARI, Cuidados y Psicología, Explorar a auto definição das mulheres
2017) subjetivación de conocimiento como cuidadoras e homens (pais) em
género. Un análisis y sociedad relação aos cuidados de filhos
de discurso de las
2017 mujeres que
constituyen
hogares
monoparentales
con hijos pequeños
(MARTÍNEZ; El ejercicio de la Pensamiento Identificar as representações sociais da
SILVA, 2017) maternidad de las americano maternidade (crenças, mitos, imaginários,
mujeres exercício da maternidade) das mulheres
profesionales acadêmicas da universidade autônoma de
2017
académicas de la zacatecas (uaz)
universidad
autónoma de
zacatecas
(PONTES et al., Homoparentalidade Psicologia usp Estudar a dinâmica de famílias
2017) feminina: laço homoparentais compostas por duas
2017 biológico e laço mulheres com filhos que possuem vínculo
afetivo na dinâmica biológico com somente uma delas.
familiar
(CERIBELI; Interrupção Revista Analisar a motivação das mulheres que
SILVA, 2017) voluntária da pensamento decidiram abdicar da carreira para se
carreira em prol da contemporâne dedicarem integralmente à maternidade,
2017
maternidade o em assim como a percepção delas a respeito
administração da experiência que vivenciaram a partir
dessa decisão e suas perspectivas futuras.
(CHACÓN No quiero tener Polis Analisar as principais motivações de um
ONETTO et al., hijos (as)… grupo de mulheres que trabalham acerca
2017
2017) continuidad y da decisão de não ter filhos
cambio en las
65

Ano Citação Título Periódico Objetivo


relaciones de
pareja de mujeres
profesionales
jóvenes
(SOUZA et al., Puerperae bonding Investigación Analisar o grau de vínculo das puérperas
2017) with their children y educación com seus bebês, isoladamente e associado
2017
and labor en enfermería a experiências durante e após o parto.
experiences
(MARQUES; A regulação do Estudos Discutir a ação de vários grupos políticos
MARQUES, trabalho feminino históricos (Rio que se envolveram com a questão do
2016 2016) em um sistema de Janeiro) trabalho feminino – os grupos feministas,
político masculino, os políticos católicos e os integrantes do
Brasil: 1932-1943 governo vargas
(JIMENO, Desafiando la Revista Analisar o papel das técnicas de
2016) institución de la iberoamerican reprodução assistida (art) na configuração
maternidad: a de ciencia de maternidades subversivas do sistema
reapropiaciones tecnología y patriarcal e da instituição da maternidade.
2016
subversivas de las sociedad
tecnologías de
reproducción
asistida(tra)
(DINIZ et al., Desigualdades Saúde e Analisar as mudanças nas desigualdades
2016) sociodemográficas sociedade sociodemográficas e na assistência à
e na assistência à maternidade no sudeste do Brasil, segundo
maternidade entre raça/cor, na última década
puérperas no
2016 sudeste do Brasil
segundo cor da
pele: dados do
inquérito nacional.
Nascer no Brasil
(2011-2012)
(CARVALHO, Sociedade, mulher Revista de Efetuar uma abordagem acerca da
2016) e profissão gestão e trajetória da mulher na sociedade, no
secretariado, mercado de trabalho e a sua relação com a
2016
profissão de secretariado executivo, por
estarem intimamente associadas, mulher e
a respectiva profissão.
(KALIL; Trabalho feminino, Saúde em Abordar a relação entre discursos pró-
AGUIAR, 2016) políticas familiares debate aleitamento materno, trabalho feminino e
e discursos pró- políticas familiares no Brasil, apontando
2016 aleitamento avanços e desafios à equidade de gênero.
materno: avanços e
desafios à equidade
de gênero
(PASINATO, Transição para a Avances en Investigar a transição para a parentalidade
L.; parentalidade e a psicología e a coparentalidade em casais que os filhos
MOSMANN, coparentalidade: latinoamerica ingressaram na escola de educação infantil
C., 2016) casais que os filhos na logo após o término da licença-
2016
ingressaram na maternidade.
escola ao término
da licença-
maternidade
(ALVES et al., When a woman is Ágora: Discutir as indicações de Sigmund Freud e
2016) mother: feminine estudos em Jacques Lacan sobre as idas e vindas do
2016
jouissance in teoria feminino e as posições maternas.
motherhood psicanalítica
(RAMOS; A família e a Revista Apresentar alguns resultados de
2015
RAMOS, 2015) maternidade como Brasileira de investigação qualitativa, relativa a como as
66

Ano Citação Título Periódico Objetivo


referências para ciência representações da política se diferenciam
pensar a política política por gênero e como representações de
gênero e de política se inter-relacionam.
(QUEIROZ et Alocação de tempo Estudos Investigar a alocação de horas de trabalho
al., 2015) em trabalho pelas econômicos pelas mulheres brasileiras usando dados da
2015
mulheres PNAD de 2011
brasileiras
(LANGARO et Experiências de Fractal: revista Compreender de que forma as experiências
al., 2015) parentalidade como de psicologia de parentalidade
fatores geradores Estavam se constituindo em fatores
2015
de sofrimento em geradores de sofrimento em mulheres
mulheres participantes de um projeto de extensão
em saúde mental na grande Florianópolis
(TOMAZ; Feminismo, Galáxia Investigar as narrativas midiáticas que
TOMAZ, 2015) maternidade e constroem as diferentes possibilidades da
mídia: relações infância no contexto brasileiro – uma
2015 historicamente experiência
estreitas em revisão Inegavelmente atravessada, dentre outros
aspectos, pelos ideais de maternidade
circulantes.
(ADRIÁN La creatividad en Desafíos Refletir sobre a maternidade e sua relação
LARA, L., el gobierno de com nossa criatividade no governo de
2015 2015) nuestras vidas: nossas vidas
reflexiones sobre la
maternidad
(BARBOSA et Trabalho feminino Gestão & Analisar as relações entre vida familiar e
al., 2016) no setor offshore produção vida profissional de trabalhadoras offshore
na Bacia de da Bacia de Campos – RJ
Campos – RJ:
percepção das
2016
trabalhadoras e
estratégias usadas
na gestão dos
tempos de vida e
de trabalho
(COSTA, 2014) Conforto, proteção Serviço social Examinar o trabalho e emprego
social e emprego & sociedade domésticos no brasil contemporâneo,
doméstico (brasil e tomando-os na sua função precípua: a
2014
região fluminense, produção do conforto e da proteção social
1960-2000) das casas, uma regularidade de longa
duração histórica.
(BOTELLO; El efecto de la Semestre Analisar o efeito da maternidade sobre os
ALBA, 2014) maternidad sobre económico salários na américa latina, estudando o
2014 los salarios número de crianças e a estrutura de idades
femeninos en dos mesmos.
latinoamérica
(ANSOLEAGA; La maternidad y el Polis Analisar como atores envolvidos na
GODOY, 2013) trabajo en chile: formulação de políticas relacionadas à
2013 discursos actuales maternidade e ao trabalho concebem as
de actores sociales relações entre trabalho e maternidade e as
tensões derivadas dela.
(SILVA; Mulher, tempo e Psicologia & Abordar como mulheres mães, que atuam
UZIEL; trabalho: o sociedade como comissárias de vôo, percebem e
ROTENBERG, cotidiano de organizam suas vidas cotidianas,
2014
2014) mulheres abordando vivências e práticas em relação
comissárias de vôo à organização temporal e espacial do
trabalho na aviação.
67

Ano Citação Título Periódico Objetivo


(LINS et al., O sentido da Estudos de Investigar, nas mulheres entrevistadas, os
2014) maternidade e da psicologia aspectos inconscientes do desejo singular
2014 infertilidade: um pela maternidade e a dificuldade do
discurso singular feminino em lidar com a impossibilidade
de gerar um filho.
(SILVA; Trajetórias de Ciência & Abordar a trajetória acadêmica e
RIBEIRO, mulheres na educação profissional de mulheres na ciência. A
2014) ciência: "ser produção de entrevistas com mulheres
2014
cientista" e "ser cientistas atuantes em universidades
mulher" públicas e numa instituição de pesquisa do
rio grande do sul
(BRASILEIRO A amamentação Revista de Analisar benefícios trabalhistas e fatores
et al., 2012) entre filhos de saúde pública associados à manutenção dos índices de
2012
mulheres amamentação entre mães trabalhadoras
trabalhadoras
(OGIDO; A jovem mãe e o Saúde e Compreender projetos de vida de
SCHOR, 2012) mercado de sociedade adolescentes, que se tornaram mães,
trabalho enquanto participavam do programa, no
2012
período de 2003 a 2008, buscando desvelar
o lugar da vida profissional na trajetória de
vida, antes e depois da maternidade.
(VANALLI; Após a licença Psicologia & Investigar vivências de professoras após o
BARHAM, maternidade: a sociedade retorno da licença maternidade,
2012) percepção de examinando a divisão de tarefas com seus
2012 professoras sobre a cônjuges, satisfação com seu envolvimento
divisão das familiar e o do cônjuge e com sua rede
demandas social de apoio.
familiares
(PÉREZ; Políticas públicas Entramado Melhor compreender as políticas de
DOMÍNGUEZ; para la mujer en integração trabalhista das mulheres no
CORTÉS colombia: la doble mercado de trabalho.
GALLEGO, condición de
2012
2012) madre y
trabajadora en la
legislación del
siglo xx
(ALMEIDA, Working mothers Revista Investigar o significado de maternidade,
2012 2012) and their colombiana de cuidado infantil e trabalho entre 28 mães
multivoiced self psicologia trabalhadoras de diferentes classes sociais.
(ROCHA- Mulheres Economia Entender os investimentos sociais e
COUTINHO; brasileiras em global e psíquicos que as mulheres vêm fazendo
COUTINHO, posições de gestão em sua carreira profissional, se percebem
2011) liderança: novas diferenças nas formas femininas e
perspectivas para masculinas de gerenciamento, quais as
2011
antigos desafios dificuldades por elas encontradas, e pelas
mulheres, de modo geral, para atingir
postos de maior poder e prestígio no
mundo empresarial e para conciliar
carreira e família
(OLARTE; El efecto de la Ensayos sobre Analisar o efeito do número e da estrutura
PEÑA, 2010) maternidad sobre política de idades dos filhos sobre a renda das
2010
los ingresos económica mulheres na Colômbia.
femininos
(CARVALHO Executivas: Rae eletrônica Analisar a percepção das mulheres
NETO; carreira, executivas que chegaram ao topo da
2010 TANURE; maternidade, hierarquia organizacional das grandes
ANDRADE, amores e empresas no brasil sobre os desafios à sua
2010) preconceitos carreira.
68

Ano Citação Título Periódico Objetivo


(BRASILEIRO Impacto do Cadernos de Investigar se mães trabalhadoras formais,
et al., 2010) incentivo ao saúde pública participantes de um programa de incentivo
aleitamento ao aleitamento materno, mantém a
2010 materno entre amamentação por mais tempo do que mães
mulheres que não têm este apoio após o retorno ao
trabalhadoras trabalho.
formais
(GODOY et al., Situação trabalhista Investigación Caracterizar a situação trabalhista de um
2011 2011) da mulher no ciclo y educación grupo de mulheres no ciclo grávido-
grávido-puerperal en enfermería puerperal
(D’ELIA, 2009) Mulher, Psicologia Discutir os desafios enfrentados pela
maternidade e clínica mulher contemporânea na tentativa de
2009
trabalho: dilemas conciliar trabalho e vida familiar
contemporâneos
(OLIVEIRA, Adolescência, Saúde e Investigar o processo de constituição
2008) gravidez e sociedade social do jovem adolescente, como
maternidade: a trabalhador e como indivíduo, a partir de
2008
percepção de si e a suas relações no local de trabalho.
relação com o
trabalho
(BOULD; Women’s work: the Ex aequo Examinar detalhadamente algumas das
GAVRAY, measurement and questões e problemas com os dados
2008) the meaning disponíveis para entender o significado da
2008 atividade econômica de uma mulher e
como os dados foram aplicados às
mulheres, bem como o problema da
comparabilidade entre países.
FONTE: A autora (2019)

Por meio desta compilação, pôde-se perceber que os artigos que tratam da maternidade
e permeiam sua relação com o trabalho, identidade e papéis não abordam esses quatro
elementos ao mesmo tempo. O resultado das buscas nas bases de dados indicou que o tema
maternidade, identidade, papéis e mulher que trabalha pouco foi explorado em nível nacional e
pode ser melhor explorado em pesquisas brasileiras.
Com base nos elementos conceituais aqui expostos, almejou-se conduzir este estudo
segundo os procedimentos metodológicos detalhados a seguir.
69

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta seção trata de dois componentes importantes na realização de uma pesquisa: os


parâmetros filosóficos e os métodos e procedimentos adotados. Após a definição dos
parâmetros, são descritos os passos, métodos, técnicas, quantidade de sujeitos participantes da
pesquisa e a forma de analisar os dados obtidos.

3.1. CONCEPÇÃO ONTOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA

O campo das ciências sociais é amplo e envolve diversas maneiras de observar um


único fenômeno. Por pertencerem ao campo das ciências sociais, as pesquisas em administração
não escapam da variedade de perspectivas e metodologias; de ontologias e a epistemologias. O
estudo desses aspectos da pesquisa faz-se necessário pois existem muitas teorias
organizacionais que são inteiramente diferentes umas das outras, e a orientação do pesquisador
para com seu objeto é moldada por sua posição ontológica e epistemológica. (FURLONG;
MARSH, 2002; SCHERER, 2005)
Segundo Scherer (2005), ontologia e epistemologia estão para responder as perguntas:
Qual é o objetivo da pesquisa e qual deveria ser o objetivo da pesquisa? Quais metodologias e
estratégias explanatórias são e deveriam ser utilizadas pelos pesquisadores para atingir aqueles
objetivos? Furlong e Marsh (2002) comparam epistemologia e ontologia com a pele, quem sabe
do pesquisador, que não pode ser tirada ou mudada facilmente.
A ontologia está relacionada à natureza do mundo, ao “ser” do objeto de pesquisa,
enquanto a epistemologia a possibilidades de conhecimento. Em resumo, a ontologia define o
caráter do objeto de pesquisa e a epistemologia determina a metodologia adequada (SCHERER,
2005)
Realizar pesquisas sob a perspectiva interpretativista traz implicações metodológicas,
pois é necessário que o pesquisador e seu método estejam alinhados com a perspectiva
epistemológica interpretativista.

“(...) no planejamento de um estudo, os pesquisadores precisam pensar por meio das


suposições da concepção filosófica que eles trazem ao estudo, da estratégia da
investigação que está relacionada a essa concepção e dos métodos ou procedimentos
de pesquisa específicos que transformam a abordagem em prática” (CRESWELL,
2010, p. 29)

Para o interpretativismo, nenhum observador pode ser objetivo porque todos vivem no
mundo social e são afetados pela construção social da realidade, todos estão sujeitos a uma
70

dupla hermenêutica: o mundo é interpretado pelos atores e sua interpretação é interpretada pelo
observador. O pesquisador nega a realidade como dada e segue o conceito de que não há uma
essência, tudo é uma constituição social. O fenômeno não é possuidor de uma essência universal
e natural, ele está situado na cultura e tempo. (FURLONG; MARSH, 2002)
Nesta perspectiva, a realidade social, ou a realidade de um indivíduo ou grupo, é a
experimentação significativa de eventos. As pessoas constroem sua experiência de mundo
através de ações que não se limitam ao entendimento individual, elas se tornam mais
significativas num contexto mais amplo (SMIRCICH, 1983)
Aliada a este conceito sobre a realidade, os sujeitos são compreendidos como pessoas
em interação simbólica como as construtoras dos processos organizativos. Esta não é uma
construção voluntariosa com total liberdade, pois estão em um contexto, lugar, que possui
regras próprias, valores, projeto e metas, cuja definição pode ser autônoma ou heterônima. A
construção dos processos também é permeada pela hierarquia, amplitude de poder, caminhos
disponíveis; as interações simbólicas são limitadas pela dimensão técnica disponível e pelo
ambiente socioeconômico e cultural no qual está inserida. (SATO, 2007)
Assim, a forma de conhecimento foca-se na relação sujeito/sujeito e no significado
intersubjetivo. Por isso não é um conhecimento com pretensões universais, mas específico a
pessoas em seus relacionamentos. (SMIRCICH,(1983).
No interpretativismo, nenhum observador pode ser objetivo porque todos vivem no
mundo social e são afetados pela construção social da realidade, todos estão sujeitos a uma
dupla hermenêutica: o mundo é interpretado pelos atores e sua interpretação é interpretada pelo
observador. (FURLONG; MARSH, 2002)
Estudar sob o viés interpretativista requer do pesquisador a busca pelo fazer cotidiano,
pelas interações simbólicas que tem sustentação na cultura, costume e acordos. Ao observar
uma realidade organizada, o pesquisador observa o fluxo de ações e significados, e como estes
“encontram a sua racionalidade interna e singular nos métodos práticos, criados, apropriados e
partilhados pelas pessoas envolvidas”. (SATO, 2007, p. 3)
Além das ações e dos significados, o pesquisador estuda a interpretação deles.
Estudando este conjunto, o pesquisador pode compreender como os sujeitos constroem e dão
significado ao mundo externo e como dão forma a sua natureza como seres humanos.
(SMIRCICH, 1983)
Para que isto seja possível, o pesquisador precisa estar próximo às interações sociais,
dedicar um período para compreender seu objeto de pesquisa. A metodologia deve estar em
consonância com esta ontologia e epistemologia, sendo capaz de auxiliar o pesquisador a
71

compreender os processos que cotidianamente são conduzidos. (SATO, 2007) A fim alcançar
este objetivo, o pesquisador busca estabelecer um relacionamento que conduz à aprendizagem,
de maneira que o ambiente não seja ameaçador para os sujeitos e o ouvir seja efetivo e a atenção
flutuante e livre. (SMIRCICH, 1983)
Apesar das grandes contribuições que a perspectiva interpretativista traz para as
pesquisas em ciências sociais, como qualquer ciência e metodologia, há dificuldades e desafios
a serem superados: a questão da entrada, com o risco de o pesquisador poder ser visto como um
disruptor; e a manutenção do papel do aprendiz, pois, geralmente, lhes é esperado conceder
algumas respostas. O pesquisador não é portador de respostas, é para colocar-se no papel de
aprendiz da perspectiva do grupo sobre a situação. (SMIRCICH, 1983; SATO, 2007)

3.2. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Para a elaboração do problema de pesquisa, buscou-se elaborar perguntas claras e


passíveis de investigação e resposta resultando no problema de pesquisa deste trabalho: Como
a maternidade permeia a constituição identitária e nos papéis de mulheres que trabalham no
setor privado no contexto brasileiro?

3.2.1. Questões de pesquisa

Entender como a maternidade permeia na constituição identitária e nos papéis de


mulheres que trabalham no setor privado envolve a compreensão de outras questões:
Como a maternidade é significada e vivida pelas mulheres que trabalham?
Qual a participação da maternidade na constituição identitária da mulher que
trabalha?
Como o papel de mãe se entrelaça com outros papéis da mulher?
Qual o significado da maternidade no papel de trabalhadora da mulher?
Que formas de apoio estão envolvidas na interação dos papéis de mãe e de
trabalhadora?
Quais sistemas de apoio organizacional estão disponíveis para as trabalhadoras que
são mães e quais as suas repercussões na constituição identitária e nos papéis
dessas mulheres?
72

3.2.2. Definição das categorias analíticas

As categorias temáticas e o percurso empírico são descritos a seguir a fim de


proporcionar indicadores sólidos para o pesquisador detectar sua presença no conteúdo
analisado.
Identidade Individual
DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA: a identidade do indivíduo constitui-se por processos
de identificação e individuação sempre em um contexto de relações de poder. Um conceito
autorreflexivo, que se constitui por processos de identificação simbólica (significado)
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001) com outros desde o grupo primário ao secundário, terciário
e outros grupos (BERGER; LUCKMANN, 2004; BERGER; LUCKMAN, 2006; MEDITSCH,
2010). A identidade é fonte de significado para os próprios atores sociais. Sua construção é
social e sempre ocorre em um contexto de relações de poder (SIMPSON; CARROLL, 2008;
CASTELLS, 2013b) que pode originar de três formas e origens de construção de identidade:
Identidade legitimadora, de resistência ou de projeto (CASTELLS, 2013b). (JACQUES, 2001;
LAPLANCHE; PONTALIS, 2001; BERGER; LUCKMANN, 2004; BERGER; LUCKMAN,
2006; SIMPSON; CARROLL, 2008; MEDITSCH, 2010; CASTELLS, 2013b)
PERCURSO EMPÍRICO: Para compreender a identidade de um indivíduo, é
necessário captar o que faz parte de sua autodefinição, o que responde às perguntas: o que eu
sou? O que me define? Os aspectos da identidade individual serão apreendidos com base na
transcrição da História de Vida das entrevistadas, foram realizadas entrevistas para coletar os
dados necessários à compreensão da constituição identitária das entrevistadas.
Papéis
DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA: São normas estruturadas pelas instituições e
organizações da sociedade que organizam funções e são capazes de influenciar no
comportamento das pessoas. Tem sua constituição por meio de processos intersubjetivos que
perpassam os níveis individual, grupal, organizacional e territorial. Os papéis não são aceitos
de forma irrestrita; pode-se resistir, tentar mudar o papel e seus significados, pois os papéis
sempre são permeados por relações de poder, o que os faz modificáveis e passíveis de crítica.
(BERGER; LUCKMAN, 2006; SIMPSON; CARROLL, 2008; CASTELLS, 2013b)
PERCURSO EMPÍRICO: Os papéis podem ser estudados por meio das tarefas
desempenhadas pelo sujeito. Para compreender os diferentes papéis desempenhados e tarefas
pertinentes a cada papel, os relatos de História de Vida de cada participante serão transcritos e
73

minuciosamente analisados a fim de apreender neles as descrições dos papéis desempenhados


e suas características e significados atribuídos pelas mulheres que contaram suas histórias.

3.2.3. Definição de outros termos relevantes

Identificação
DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA: É “um processo psicológico pelo qual um sujeito
assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou
parcialmente, sob o modelo daquele”. (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 225) O processo
de identificação possibilita que o indivíduo saia da passividade e apreenda objetos externos
geradores de angústia e medo. Em grupos a identificação permite estabelecer um vínculo entre
os membros: surge por meio da percepção de certa comunidade, ou similaridade, com uma
pessoa. Quanto mais significativa a similaridade, maior a possibilidade de estabelecer vínculos.
As várias identificações do sujeito lhe fornecem meios para compreender e conhecer o outro e
a vida coletiva. (FREITAS, 2006)

3.3. DELIMITAÇÃO E DESENHO DA PESQUISA

Este estudo parte de uma concepção ontológica e epistemológica interpretativista, cuja


complexidade e a natureza subjetiva do objeto de estudo demandam uma pesquisa de viés
qualitativo. Os aspectos mencionados e os demais aspectos filosóficos e metodológicos deste
estudo encontram-se resumidos no quadro 3, e serão explorados no decorrer do texto:

QUADRO 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÕES


Aspectos metodológicos Classificação
Concepção epistemológica e ontológica Interpretativista
Quanto a sua abordagem Qualitativa
Delineamento de pesquisa História de vida
Quanto ao ambiente Campo
Quanto ao tempo Transversal com aproximação longitudinal
Sujeitos da pesquisa Mulheres que são mães e trabalham no setor privado
Técnica de coleta de dados Entrevista de História de Vida
Metodologia de análise de dados Análise de narrativa
FONTE: A autora (2018)

3.4. DELINEAMENTOS DA PESQUISA

Por cerca de um século a pesquisa quantitativa dominou o cenário das pesquisas em


ciências sociais, um reflexo da tentativa de enquadrar os novos conhecimentos nos moldes das
ciências naturais, mas o interesse na pesquisa qualitativa aumentou na segunda metade do
74

século XX. Diferentemente da pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa não enumera ou


mede os eventos estudados e sua análise de dados não emprega instrumentos estatísticos. A
pesquisa qualitativa parte de questões e interesses amplos que se definem no decorrer do estudo.
Os dados obtidos não são de natureza numérica, mas de natureza descritiva, geralmente
advindos do contato direto do pesquisador com as pessoas, lugares, processos e situações
estudadas. A pesquisa qualitativa é estruturada por meio do uso de palavras e de questões
abertas. “É um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos
atribuem a um problema social ou humano”. (CRESWELL, 2010, p. 28)
Neste caso, a metodologia qualitativa mostra-se uma boa escolha para o tema estudado,
pois as questões de pesquisa geralmente se orientam para casos ou fenômenos, buscando
imprevistos, bem como relacionamentos esperados. (STAKE, 1995)
Na pesquisa qualitativa há muitas estratégias de investigação; Creswell (2010)
enquadra algumas como as mais importantes: pesquisa narrativa, fenomenologia, etnografia,
estudos de teoria fundamentada, estudo de caso, pesquisa de ação participativa e análise do
discurso.
Nesta pesquisa, o método escolhido é a História de Vida, um método de pesquisa
histórica. Para Nascimento et al. (2013), usar um método de pesquisa histórica vai além de uma
metodologia; a história pode dar acesso a aspectos e dimensões que em outros métodos
passariam despercebidos. O uso de um método de pesquisa histórico para um tema que tem a
mulher como foco é possível porque “o escopo da história transcendeu o público e o político,
não se limitando a homens considerados ilustres, mas passou a abarcar a história da cultura, dos
costumes, das artes, da economia, das mulheres etc. e chegou até o domínio da vida privada”
(NASCIMENTO et al., 2013, p. 260). Debert (1986) ressalta a importância do método História
de Vida para conhecer a versão dos oprimidos e desprivilegiados sobre os acontecimentos.
A área da antropologia foi a primeira a fazer uso do método de História de Vida;
posteriormente este método passou a ser adotado na sociologia, ciência política e história. A
História de Vida ganhou destaque na Escola de Chicago, nos anos 1920, sendo muito utilizado
pelos pesquisadores do departamento de sociologia. Posteriormente ganhou espaço em
diferentes áreas como literatura e educação. Na administração, a metodologia de História de
Vida é menos comum, mas tem ganhado destaque por ser uma metodologia adequada para
pesquisas que pretendem compreender a maneira como o mundo social é criado e relatado. O
referencial teórico interacionista se destaca neste uso e tem usado a História de Vida para
observar a vida de pessoas comuns e compreender características de processos abstratos e
75

estruturas que podem ser captadas. (JONES, 1983; COSTA, 1999; JAIME; GODOY;
ANTONELLO, 2007)
A História de Vida tem forma narrativa, ponto de vista em primeira pessoa e postura
subjetiva e busca “um relato fiel da experiência e interpretação por parte do sujeito no mundo
no qual vive”. (BECKER, 1993, p. 102). Queiroz (1991, p. 6) define História de Vida como
uma representação do “relato de um narrador sobre sua existência através do tempo, tentando
reconstituir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que adquiriu”.
Na História de Vida os fenômenos sociais são compreendidos por meio dos discursos
e narrativas dos atores sociais. Esta metodologia pode contribuir com as pesquisas sob a
perspectiva interpretativista, pois é uma via de acesso às experiências e significações subjetivas
construídas pelos atores sociais. Por meio dele se pode “desenvolver uma estrutura
interpretativa por meio da qual significados da experiência são revelados” (JAIME; GODOY;
ANTONELLO, 2007, p. 5)
A fim de assegurar que o método abranja tudo o que pesquisador deseja conhecer e
que a interpretação do entrevistado seja apresentada de forma honesta, o pesquisador precisa
estar preparado, manter o entrevistado orientado para o tema, questionar os acontecimentos que
exigem aprofundamento e dar maior importância às interpretações do sujeito sobre sua própria
experiência. (BECKER, 1993)
Yow (2005) aponta etapas de preparação pré-entrevista a fim de que o pesquisador
esteja devidamente preparado, estas etapas foram compiladas na figura 2:

FIGURA 2 – ETAPAS PARA PRÉ-ENTREVISTA DE HISTÓRIA DE VIDA.


Programar o
Breve Preparar um
Preparar equipamento Escolher o tempo de
explanação do guia de
de gravação local duração da
projeto entrevista
entrevista

FONTE: Adaptado de Yow (2005)

Neste projeto o equipamento usado para gravação foi um smartphone e sua preparação
antes da entrevista consistiu em: carregar a bateria do aparelho, verificar se há memória
disponível para armazenar o áudio a ser gravado, testar a gravação e conferir se o aparelho está
na bolsa antes de sair para a entrevista.
A explanação acerca do projeto deu-se em dois momentos distintos: a primeira por
meio do whatsapp com seguinte texto: “Boa noite. Meu nome é Lara, sou psicóloga e faço
mestrado na UFPR. A (nome da semente que indicou a entrevistada) lhe indicou para participar
da minha pesquisa. Estou pesquisando como a maternidade permeia a identidade, os papéis e a
76

relação com o trabalho de mulheres que trabalham no setor privado. A pesquisa consiste em 2
ou três entrevistas que seriam realizadas em dia e horário que você tiver disponibilidade. Você
teria disponibilidade para fazer parte da pesquisa?” e a segunda em uma nova explanação antes
de iniciar a entrevista. Na segunda explanação foi explicado o objetivo da pesquisa, como seria
a entrevista: iniciaria com uma pergunta e a entrevistada iria ter fala livre, com o mínimo
possível de participação da pesquisadora. A escolha dos locais para as entrevistas partiu das
próprias entrevistadas. A elas foi dada a opção de uma sala nas dependências do Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná (PPGADM/UFPR) ou
algum local no qual se sentissem mais confortáveis. Três escolheram café e lanchonetes,
somente uma preferiu realizar as entrevistas por telefone. Os locais escolhidos pelas
entrevistadas lhes deixavam à vontade, mas trouxeram percalços devido a interrupções de
outras pessoas e barulhos que dificultaram as transcrições.
O tempo reservado para cada entrevista foi de uma hora, podendo estender-se ou
findar-se antes, dependendo do andamento da entrevista. As entrevistadas foram avisadas da
expectativa de duração de uma hora e possibilidade de extensão de tempo caso elas desejassem.
Cada mulher foi entrevistada duas vezes, a primeira entrevista com duração de cerca de uma
hora, em todas a segunda entrevista foi mais breve, durando cerca de quarenta minutos.
Após estes preparativos, e antes das entrevistas serem realizadas, o guia de entrevista
foi elaborado com os tópicos a serem propostos durante a entrevista. Estes tópicos não
restringiram as entrevistas nem ditaram uma ordem no relato; sua funcionalidade era meramente
de guia para assuntos necessários a serem abordados durante as entrevistas que poderiam
emergir de forma voluntária ou estimulados por meio de perguntas abertas.
Trabalhar com a História de Vida requer alguns cuidados do pesquisador a fim de
evitar situar-se nas oposições: microssocial ou macrossocial, realidade subjetiva versus
realidade objetiva, indivíduo ou sociedade. Também demanda do pesquisador uma
sensibilidade para criar o vínculo com o entrevistado e captar os significados e interpretações;
um preparo para escutar o outro e um nível de maturidade e experiência prévia. (JAIME;
GODOY; ANTONELLO, 2007; FERNANDES, 2010; NASCIMENTO et al., 2013)
Thomson (2000) aconselha preparar-se antes da entrevista, estabelecer uma conexão e
intimidade com o entrevistado, ouvir sem interromper, fazer perguntas abertas, permitir as
pausas e tempos naturais da fala do entrevistado, evitar jargões e frases feitas, não usar tom
investigativo e tentar minimizar o impacto da presença do gravador.
77

3.5. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Após delimitar as questões de estudo e definir os dados relevantes, é necessário


selecionar os sujeitos da pesquisa. Esta escolha não tem cunho de pesquisa amostral, pois não
pretende representatividade do todo nem se propõe a generalizações de resultados. A seleção
das entrevistadas corrobora com as sugestões de Stake (1995): as entrevistadas devem ser de
fácil acesso à pesquisadora e hospitaleiras, receptivas à pesquisa, pois o tempo e acesso para o
trabalho de campo são quase sempre limitados. Neste sentido, os sujeitos desta pesquisa foram
da cidade de Curitiba/PR, pela maior facilidade de acesso da pesquisadora às pessoas que foram
sementes e às mulheres que foram entrevistadas. Na cidade de Curitiba moram cerca de 627.487
mulheres com idade entre 15 e 59 anos. Além disto, a cidade de Curitiba se destaca no Brasil
por ter o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM, de 0,823,
dentre as capitais brasileiras. (IBGE, 2018).
Para investigar o fenômeno e captar as significações dele, optou-se por entrevistar
quem está vivenciando o fenômeno: mulheres brasileiras que trabalham no setor privado na
região Sul do Brasil e possuem pelo menos um filho ou filha com idade abaixo ou igual a 12
anos.
A idade limite para os filhos foi estabelecida aos 12 anos porque durante os 12
primeiros anos de vida a criança precisa de mais auxílio e supervisão de adultos e, por uma
construção social, geralmente a mulher fica incumbida da maioria destas tarefas. Também
durante os primeiros 12 anos de vida do primogênito há o crescimento do gap salarial entre
homens e mulheres que tem filhos. (GATRELL, 2014; SOCRATOUS; GALLOWAY;
KAMENOU-AIGBEKAEN, 2016; WILLIAMS, 2017)
As entrevistadas decorreram de amostragem do tipo bola de neve, por cadeia de
referência. Neste tipo os participantes que já tiveram contato com o pesquisador o encaminham
para outras pessoas que tem potencial e perfil para participar ou contribuir para o estudo.
(SHARAFIZAD, 2018)
A amostragem do tipo bola de neve é não probabilística. Este tipo de amostragem é
útil para estudar grupos ou fenômenos cujas características não são plenamente conhecidas,
quando a pergunta de pesquisa é uma questão delicada, de âmbito privado e quando há o
objetivo de compreender melhor um tema. Para iniciar a cadeia de referência, é necessário pelo
menos um sujeito inicial para a primeira entrevista. Para encontrar pessoas com o perfil
necessário à pesquisa usa-se documentos ou sementes (informantes-chaves), posteriormente é
solicitado às pessoas indicadas pelos informantes-chaves que indiquem outras pessoas de sua
78

rede social com o perfil da pesquisa. Esta solicitação pode ser feita a todos os entrevistados e o
número de pessoas da amostra pode crescer de acordo com a necessidade da pesquisa.
(VINUTO, 2014)
Nesta pesquisa, vizando trazer maior variedade de experiências, foram selecionadas
três sementes, informantes-chaves, que indicaram mulheres a serem entrevistadas denominadas
LR, ML e FOK.A escolha das sementes foi realizada de acordo com as indicações de Sharafizad
(2018) e Vinuto (2014): eram pessoas da rede de contato da pesquisadora que se dispuseram a
indicar mulheres com o perfil necessário para a entrevista. Segue um esquema para ilustrar na
figura 3:

FIGURA 3 - COMO OCORREU A AMOSTRAGEM POR BOLA DE NEVE


Persistente Planejadora
Indicou aceitou Indicou aceitou
Semente 1 - LR
Persistente participar da Planejadora participar da
pesquisa pesquisa

Prioridade
Indicou aceitou
Semente 2 - ML
Prioridade participar da
pesquisa

Guerreira
Indicou aceitou
Semente 3 - FOK Guerreira participar da
pesquisa

FONTE: A autora (2019)

O número de entrevistadas foi determinado pela construção de um corpus: uma escolha


sistemática de um racional alternativo. Diferentemente da amostragem estatística aleatória, a
construção de um corpus tipifica atributos desconhecidos. Para construir um corpus em uma
pesquisa nas ciências sociais, os linguistas sugerem três etapas: seleção preliminar, análise de
variedade e saturação, para delineá-lo, sugerem os quesitos: relevância, homogeneidade e
sincronicidade. (BAUER; AARTS, 2003)
Pelo quesito relevância, seleciona-se os assuntos teoricamente relevantes, que nesta
pesquisa seriam os assuntos pertinentes à maternidade, à mulher brasileira que trabalha, à
identidade e aos papéis. Referente à homogeneidade, recomenda-se não misturar materiais de
substâncias diferentes, a exemplo: juntar transcrições de entrevistas individuais com entrevistas
em dupla. Nesta pesquisa, o material é homogêneo, pois está restrito à transcrição de entrevistas
individuais. (BAUER; AARTS, 2003)
79

O último quesito é a sincronicidade: os materiais devem pertencer ao mesmo ciclo


natural. No caso desta pesquisa, a sincronicidade está presente porque os padrões familiares
podem permanecer estáveis por uma ou duas gerações e o material foi coletado em um espaço
menor que 12 meses, tempo no qual é incomum ter grandes mudanças nos padrões sociais
referentes a fenômenos como a maternidade. As entrevistas foram findadas quando o ponto de
saturação foi atingido: quando a inclusão de novas entrevistadas não acrescentava nada de novo.
(BAUER; AARTS, 2003)
Durante sua pesquisa com mulheres, Debert (1986) refere-se à dificuldade em definir
o ponto de saturação, ressaltando a inquietação que teve durante o desenvolvimento de sua
pesquisa por pensar que sempre poderia ter ido mais a fundo e perceber mais questões, no
entanto o tempo limitado de pesquisa, levou o pesquisador a encerra-la. Para diminuir a
probabilidade de que isto aconteça durante esta pesquisa, foi elaborado um planejamento para
sua execução que destina três meses para a coleta de dados.
Vinuto (2014) também alerta para o fim prematuro da coleta de dados: é preciso
cuidado para definir o ponto de saturação, pois o pesquisador pode encerrar a pesquisa mais
cedo por ter dificuldades para compreender as novas informações, sendo necessário estar atento
às sutilezas do campo para evitar que isto aconteça. Após definir os critérios de seleção e o tipo
de amostra, o próximo passo é a coleta de dados, tema da sessão a seguir.

3.6. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

A técnica de pesquisa é a terceira parte da estrutura metodológica e envolve a forma


de coletar os dados, analisá-los e interpretá-los. A escolha da técnica depende das informações
a serem coletadas ou se a intenção é permitir que as informações surjam dos participantes.
(CRESWELL, 2010)
O método de coleta de dados desta pesquisa é a entrevista. Godoi e Mattos (2006)
destacam três modalidades principais de entrevistas qualitativa: conversacional livre, baseada
em roteiro e padronizada aberta. Na entrevista conversacional livre não há previsão de
perguntas, elas surgem no contexto da interação. Na entrevista baseada em roteiro há uma
preparação prévia de um roteiro, podendo ser em tópicos. Não há uma ordem pré-estabelecida
ou perguntas previamente elaboradas; o entrevistador tem liberdade para ordenar e formular as
perguntas durante a entrevista. Na entrevista padronizada aberta há uma lista de perguntas de
resposta aberta que seguem uma ordem pré-estabelecida que são iguais para todos os
entrevistados.
80

Nesta pesquisa, foram realizadas entrevistas de história de vida e as participantes


foram entrevistadas duas vezes, cada uma, com o objetivo de captar a histórica de vida de cada
mulher. A história de vida é um tipo de narrativa, geralmente resultante de uma solicitação e
pode ter seus dados coletados a partir de entrevistas, autobiografia, entrevista de história real,
cartas ou diários pessoais. Ao formular a história de vida, o entrevistado revela sua compreensão
dos sentidos que atribui aos eventos que vivencia de cunho particular e/ou comunitário e ao
contexto cultural. (GIBBS, 2009)
O relato de história de vida tem características pertinentes a conteúdos biográficos: são
cronológicas, apesar do relato não começar necessariamente pelo início dos fatos narrados;
identificam eventos e atores sociais; temas; planejamento, sorte e outras influências. (GIBBS,
2009)
A entrevista de história de vida começa com uma questão motivadora, no caso desta
pesquisa foi: Como é ser mãe, mulher e trabalhadora? As demais perguntas devem ser sempre
amplas, colocadas em grandes blocos indicando os grandes acontecimentos e seguindo a
sequência cronológica da vida de quem está sendo entrevistado. Neste tipo de entrevista o
entrevistador não contesta o entrevistado, a verdade é o que o entrevistado apresenta, e este tem
o poder de revelar ou ocultar situações e pessoas. (MEIHY, 2000)
O número de entrevistas foi determinado no decorrer do contato com as entrevistadas
e de acordo com o conteúdo obtido durante as entrevistas. Antes das entrevistas, as entrevistadas
assinaram um termo de consentimento livre e esclarecimento autorizando o uso dos dados para
pesquisa cujo modelo encontra-se no apêndice 2. A primeira entrevista com cada mulher
começou com uma sentença motivadora “Como é ser mulher, mãe e trabalhadora?”, Além da
sentença motivadora, durante as entrevistas, as entrevistadas pediram que outras perguntas
fossem elaboradas quando se viam sem conteúdos para relatar. Estas perguntas seguiram os
tópicos do guia e constam na sessão 4 nas sessões que compreendem a transcrição das
entrevistas. As entrevistas seguiram com interrupções pontuais: algumas vezes os trabalhadores
dos locais nos quais as entrevistas foram conduzidas se aproximavam para entregar algo que
foi pedido ou perguntar se havia mais alguma demanda; em três entrevistas foi necessário mudar
de local durante a entrevista para um local mais silencioso do estabelecimento..Isto permitiu
que a entrevistada relate suas experiências e significados. Após a entrevista foi feita a
transcrição e análise do conteúdo que orientou a elaboração de questionamentos das próximas
entrevistas. (MACCALI et al., 2014; CLOSS; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2015)
81

Para melhor andamento da pesquisa, as entrevistas foram gravadas com autorização


dos entrevistados e depois transcritas. A fim de não ser carente de significado, a transcrição não
é neutra pois:

Transcrições impecavelmente neutras podem ser ilegíveis ou inúteis; se a entrevista é


rica em símbolos e sentidos, transcrever exatamente o que foi dito, inclusive ‘o
entrevistado tosse’, mas sem dizer se aquela tosse significa ironia, hesitação ou
nervosismo produz um resultado carente de significado e que não necessariamente se
traduz em fidelidade e credibilidade à pesquisa (NASCIMENTO et al., 2013, p. 282).

Nas transcrições constam os significados e desejos expressados nas falas que vão além
da simples escrita de palavras, pois, conforme Nascimento et al. (2013), a transcrição engloba
os significados intrínsecos nas falas: nervosismos, entonações, raiva, hesitação, dentre outros.
Duas das oito entrevistas foram realizadas por telefone, isto não prejudicou a pesquisa, pois a
gravação das ligações, realizada com autorização da entrevistada, também permite acesso a
entonações, hesitações e expressões outras que transparecem na fala. Compreender as sutilezas
presentes nas falas das entrevistadas requer uma sensibilidade e cuidado no tratamento e análise,
tema da sessão a seguir.

3.7. TÉCNICAS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Por ser uma pesquisa qualitativa de paradigma interpretativista, esta investigação tem
ênfase na interpretação. (STAKE, 1995) Para possibilitá-la, os dados obtidos por meio das
entrevistas foram transcritos e organizados para, posteriormente, serem analisados por meio da
análise de narrativa.
A análise de narrativa compreende a análise de tópicos, conteúdos, estilos e contextos:
visando compreender a estrutura na narrativa, os motivos das escolhas, presenças e ausências,
sentimentos expressos por entonações, pausas e hesitações. A análise tem início com a leitura
e releitura das transcrições, buscando por eventos, experiências, relatos, explicações e
desculpas. Analisou-se a estrutura da narrativa, forma linguística de contar os eventos, interação
entre o entrevistado e o pesquisador (narrador e público), sequência temporal, personagens,
intrigas e imagens. Nesta fase o pesquisador procura por temas comuns e recorrentes. Estes
passos estão compilados na figura 4:
82

FIGURA 4 - PASSO-A-PASSO DA ATIVIDADE ANALÍTICA

Leitura e releitura

Breve resumo
Eventos
Experiências Anotar idéias temáticas e questões estruturais
Identificar
Relatos, características
explicações, Memorandos
fundamentais da Transições entre os
desculpas história temas Marcar
Narrativa Início, meio e fim Diferentes tipos de Ideias que surgirem
transições Estrutura geral da
Temas por etapas história Mini-histórias ou
da biografia subtramas
Contradições
Indicar ligações
entre elementos

FONTE: Adaptado de Gibbs (2009, p. 87–88)

Seguindo os passos descritos acima, foi possível compreender a história das


entrevistadas e alinhar os pontos em comum. Os resultados podem ser vistos na sessão de
apresentação das protagonistas3, tendo em mente que por maior que tenham sido os cuidados e
rigor, esta pesquisa tem suas limitações, que são abordadas na sessão a seguir.

3.8. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

No uso do método de História de Vida há alguns desafios que foram superados. O


primeiro é a falta de experiência da pesquisadora no uso do método História de Vida.
Nascimento et al. (2013) sugerem que para superar esta dificuldade o pesquisador pode treinar,
ser reflexivo, paciente, persistente, ter grande curiosidade e criatividade.
Neste trabalho foram colhidos relatos de diferentes mulheres: o primeiro relato foi
analisado para verificar se a entrevista foi realizada dentro dos moldes metodológicos e, caso
fosse identificado que não se enquadra, teria sido descartada. Nesta pesquisa, a primeira
entrevista seguiu os moldes metodológicos e pôde ser incluída na análise de dados. Todas as
entrevistas seguiram este procedimento e somente após serem validadas metodologicamente,

3
O termo “protagonistas” foi escolhido para referir-se às entrevistadas no sentido destas serem as
personagens entorno das quais gira a história contada, afinal, é a história de suas vidas.
83

foram incorporadas ao conjunto de análise. Isto permitiu um certo treino inicial à pesquisadora
que não prejudicou a pesquisa.
Por limitar-se a pessoas de uma mesma rede social, usar a amostragem do tipo bola de
neve também pode resultar em um limite de variabilidade de narrativas e acesso a
argumentações semelhantes. Isto pode ser amenizado obtendo indicadores-chaves de redes
(sementes) variadas, aumentando a possibilidade de acessar redes e narrativas diversas.
(COSTA, 1999)
O ponto de saturação e o tempo para a realização da pesquisa também foram um
desafio a ser contornado. Como meio de evitar o encerramento da pesquisa mais cedo que o
devido, Vinuto (2014) sugere que o pesquisador deve estar atento às sutilezas do campo e
compreender as novas informações dadas pelos entrevistados para não concluir, erroneamente,
que atingiu o ponto de saturação.
Para que a pesquisa não fosse encerrada antes do ponto de saturação por questões de
limitação temporal, a pesquisa foi realizada de acordo com planejamento prévio e os resultados
do planejamento e execução constam na sessão seguinte.
84

4. APRESENTANDO AS PROTAGONISTAS E SUAS HISTÓRIAS

Assim como o pesquisador precisa aproximar-se dos indivíduos para ouvir sua história
de vida, antes de analisar as histórias contidas nesta pesquisa, é necessário conhecer as
protagonistas dessas histórias. Por fins éticos, os nomes das protagonistas foram omitidos, mas
diferentemente de outras pesquisas, aqui não se pôde simplesmente reduzir a denominação
destas mulheres à abreviatura de seus nomes ou escolher um nome qualquer. Os codinomes
dados às protagonistas foram selecionados da fala delas, características que elas atribuem a si
mesmas, deixando sua denominação o mais pessoal o possível. E na impossibilidade de colocar
fotos das protagonistas, foram escolhidas imagens representativas.
As imagens escolhidas, figuras 5 a 8, são de autoria de Grace Ciao (2017a, 2017b,
2017c, 2018), uma ilustradora Fashion que tornou-se famosa ao postar seu trabalho que mistura
flores com moda. Antes de seguir a carreira, Grace foi persuadida pela família a seguir um ramo
mais tradicional de carreira, formou-se em Administração, mas desenhar sempre foi sua paixão.
Seguindo esta paixão ela começou seu trabalho como ilustradora fashion e hoje é famosa no
mundo inteiro, tendo seu escritório em Singapura. (CIAO, 2016; EVON; GORDON, 2017)
Por esta paixão da ilustradora estar impressa em cada traço das imagens que produz,
suas fotos foram escolhidas para retratar as protagonistas desta pesquisa. No início da
apresentação há alguns dados sobre o perfil de cada protagonista: codinome, idade,
escolaridade, estado civil, nível hierárquico, renda familiar, quantidades de filhos, idade dos
filhos.
As falas foram analisadas de acordo com a ordem que aparecem nos relatos, por isto
há uma variação de temas e o retorno constante a temas já tratados, o que é natural em uma
entrevista de História de Vida. (GIBBS, 2009)
85

4.1. A PERSISTENTE
FIGURA 5 – IMAGEM REPRESENTATIVA
DE "A PERSISTENTE"
Codinome: A Persistente
Idade: 44 anos
Escolaridade: Pós-Graduação
Estado Civil: Casada
Classificação da empresa: Multinacional
Função: Executiva
Renda familiar: de 15 a 20 salários mínimos
Quantidade de filhos: 2 meninos
Idade dos filhos: 12 e 7 anos

4.1.1. Como Persistente conta sua história

O dia marcado para a entrevista era um dia


comum de um ensaio de outono em Curitiba – PR. FONTE: (CIAO, 2017b)

Ensaio de outono porque na região as estações não têm tanta constância nesta cidade: pela
manhã às vezes um frio de inverno que é seguido de um sol de verão ao meio dia, então nesta
cidade o tempo parece ensaiar estações.
O local escolhido por Persistente foi o restaurante de seu irmão. O local estava cheio
e com muito barulho, particularmente na mesa ao lado da nossa, onde um casal conversava
empolgadamente em alto volume. Para tentar diminuir o barulho, pedimos para trocar de mesa
e conseguimos ir para uma área menos barulhenta. Persistente pediu para saber melhor sobre a
pesquisa e sobre a pesquisadora, então ocorreu uma breve explicação sobre os motivos que
levaram à realização da pesquisa, a escolha do tema e como isto se encaixava nos planos de
vida futuros.
Esta conversa prévia denotou um tom de intimismo na entrevista, como se duas amigas
estivessem contando suas histórias uma para a outra, o que propiciou um relaxamento e maior
abertura de Persistente. Ao ser indagada com a pergunta: Como é ser mãe, mulher e
trabalhadora? Persistente começou o relato com um suspiro, como se ali fosse o começo de um
jorrar de lembranças.
Já no início Persistente demonstrou algo que está presente em todo o seu relato: a
sensação de luta, de batalhar para superar as adversidades constantemente em busca do
equilíbrio. Também relata o conflito entre o papel de trabalhadora e de mãe e a necessidade de
fazer arranjos para lidar com as diferentes demandas.
86

Olha, é um desafio, porque é difícil você equilibrar todos os papeis e eu acho que
quanto mais se cresce na carreira mais você tem que abrir mão da maternidade e
quanto melhor mãe você é você tem a tendência de querer abrir mão de outras coisas
e você não consegue. Então a grande dificuldade eu acho que é equilibrar tudo isso.
Eu acho que tudo resume nisso. Ou você cede de um lado, ou você cede do outro. Ou
você desiste de uma coisa de um lado ou desiste do outro. É, você tem uma eterna
sensação de que parece que não dá conta, onde você olha você está devendo alguma
coisa. E é difícil porque são duas funções importantes que você desempenha. É, então
é muito difícil você ver aonde você vai colocar o teu foco, eu acho que a grande
dificuldade é esta. (Persistente)

Após relatar suas dificuldades em conciliar ser mãe e trabalhadora, Persistente destaca
a diferença que o trabalho faz em sua vida e autorrealização.

O bom é que eu vejo que comparando com pessoas que eu vejo que não tem trabalho
fora de casa ou que não seja o próprio negócio, eu vejo que tem uma autorrealização
maior, apesar de toda essa cobrança, você tem uma vida, que apesar, de certa forma é
paralela e que não se contamina com a sua função de mãe e você consegue ser você
mesma. Eu acho que esse é o grande benefício de você ter um trabalho autônomo,
desvinculado da família, desvinculado do marido, desvinculado do negócio próprio,
porque você é você independente das outras funções que você exerce. Pra mim este é
um dos pontos que mais impactam, assim, sabe? Eu adoro trabalhar, eu não sei se...
Já fiquei um tempo sem trabalhar, vivendo não como madame, porque eu nunca tive
dinheiro para ser madame, mas vivendo numa situação, assim, relativamente
tranquila. Eu não consigo... Eu me realizo trabalhando. Eu não conseguiria ser uma
mãe em tempo integral ou não ter destaque na minha profissão. (Persistente)

No entanto, a autorrealização que vem do trabalho tem um preço em seu papel como
mãe:

Ás vezes isso já vira um problema na maternidade, daí eu não consigo, e eu preciso


sair do trabalho para buscar na escola. Eu, agora, tenho um filho de 12 e um de 6, não!
De 7. Então as coisas, depois de tanto tempo, as coisas vão se ajustando e eu, a família
já entendeu o modelo. Família eu digo meu marido, que as crianças se justam de
acordo com o que os pais querem. Então as crianças, me parecem que se ajustam.
(Persistente)

A questão da dificuldade de conciliar horários e compromissos não é a única a ser


superada. A construção social do que é o papel de mulher e de mãe (papel esperado e/ou
transmitido) também interfere na dinâmica familiar.

Mas foi muito difícil no começo, porque eu acho que o homem não está preparado,
ainda para aceitar, para atender e viver esse modelo. Eu acho que a sociedade não está
pronta e o homem não está pronto para isto, para este mundo, que de uma certa forma
é o mundo moderno, assim, a gente, eu fui educada para ser mulher, o homem ser o
homem provedor, a mulher deixa na escola, pega na escola, dar o almoço, deixa a
criança dormir, dar banho... Então o mundo tanto o homem não estão preparados para
esta diferença de viver. (Persistente)
87

Novamente a autorrealização e o preço que Persistente paga por ela aparecem em sua
história:

O que é que tem de bom? O que tem de bom é que eu sou uma pessoa realizada e bem
resolvida por conta disso. Que eu tomei, doeram essas opções, principalmente as que
eu precisei testar porque as pessoas te cobram independente das tuas vidas paralelas.
(Persistente)

As expectativas relacionadas ao papel de mãe e de trabalhadora e o conflito entre estes


papéis retorna a narrativa.

Então independente da tua vida paralela como mãe o negócio te cobra, independente
da tua vida como negócio a tua família te cobra. Então são explicações que elas
explicam, mas não justificam, sabe? Ou justificam, mas não explicam, já não sei te
dizer como, mas as situações se contaminam.
O que é que eu acho de ruim... Eu abri mão de muita coisa, assim eu não vou levar
meus filhos na escola quase nunca, eu raramente vou buscar meus filhos na escola. Já
vivi o modelo que eu ia buscar meus filhos na escola, vivi um estresse daqueles
absurdos, porque tinha que sair cinco e meia do trabalho. Eu não consigo sair cinco e
meia do trabalho, cinco e meia é quase meio da tarde, então eu tinha que sair 6 horas
porque seis e meia era o horário de carro, ai sair seis horas, seu eu sair as seis e dez o
transito já estava um caos, ai sai nervosa, já tinha que ir correndo, parava no sinal
amarelo, apertava a mão na buzina, e daí chegava esbaforida na escola, as vezes eles
estavam muito tempo esperando na portaria ou... Até que chegou... (Persistente)

Este conflito gera uma sensação de falha em relação ao seu papel de mãe:

Eu acho que esta é a atividade. Constantemente eu me sinto uma mãe deficitária, uma
mãe fora do convencional, uma mãe diferente da que eu tive, né, em termos de
atividades, funções... Em alguns pontos uma mãe omissa, porque hoje eu vejo que
meus filhos tem um laço com meu marido diferente do que eles tem comigo, o laço é
forte, mas o laço com ele é forte, mas não é aquele laço que você escuta dizer: “nossa
os filhos não vivem sem a mãe”, “a mãe é referência”, “os filhos quando separam
ficam com a mãe”, sabe essas coisas que a gente escuta que, que se se cresce escutando
isso? O filho é da mãe, que quando separa o filho é da mãe, que o maior amor é da
mãe, eu não vivo muito essa realidade. Eu acho que meus filhos me amam demais, eu
tenho um excelente laço, mas não acredito mais nesses mitos. Ou não acredito ou eu
vivo um modelo que não é esse mito, que ele não concretizou na minha família. Nem
por isso a família é mais ou menos feliz, né? (Persistente)

Apesar de relatar os pontos negativos e as angústias, Persistente atribui estes eventos


às escolhas que fez e faz em sua vida:

Mas essa é a dificuldade que eu encaro no dia a dia. É um pouco triste até, mas por
outro lado é consequência da vida que eu escolhi. Mas por outro lado eu tento ver a
vida assim como ganhos e pesos. Se você ganhar algumas coisas vai perder outras. É,
eu tento ver, assim, na balança final, o que é que está bom, as vezes dá um aperto no
peito de talvez eu não estar tão próxima. (Persistente)
88

As escolhas que faz também refletem na relação com outras mães:

Por exemplo, grupo de mães, eu quase não conheço mãe nenhuma. E eu tenho dois
grupos de mães que eu participo por causa das duas crianças, e tem laços, mas são
mais ou menos superficiais, assim, eu acho que muda um pouco o tipo de assunto que
você está, você está envolvida. Porque como você não está no dia-a-dia você vai
ficando cada vez mais afastada ao invés de estar mais próxima. Esse é o desafio.
(Persistente)

Sua relação com os filhos também não é a que Persistente considera ideal, no modelo
que para ela é tradicional, conforme ela já relatou acima, mas em sua fala há uma tentativa de
mostrar-se conformada com a situação:

Com relação as crianças eu acho que meus filhos são crianças bem resolvidas com
este modelo, assim. Meu marido fica...
E, não tem muito mais o que falar, sabe, mas esse é o desafio. E eu não acho que
crianças gosta mais ou menos dos pais, eu acho que criança gosta diferente do pai do
jeito que gosta da mãe. E na minha casa, além de ser diferente um do outro, é diferente
do modelo tradicional que existe, né? Quando tem um problema na escola, né, caiu,
não sei o que, machucou. Eles ligam para o pai porque as vezes não conseguem falar
com a mãe, porque as vezes eu estou em uma reunião e quando vou ver a ligação já
tocou. (Persistente)

As escolhas de Persistente não refletem somente em seu papel de mãe e de


trabalhadora, também dão o tom ao seu papel de esposa e a sua relação com o marido:

E esse é o, esse é o preço que se paga, na verdade, mas por outro lado eu me sinto uma
mulher bem resolvida, assim, sabe, já sofri muito por esse modelo, por ser assim, mãe
diferente do que a sociedade às vezes busca. Porque eu sou totalmente diferente,
minha família é totalmente diferente, minha família é meio que invertida sabe? Eu não
sou o homem da casa porque eu meio que nem tenho essa pretensão, mas assim, eu
sou mais arremo da família que meu marido. Ele tem o negócio dele, assim, mas não
tem garantia que eu vou conseguir pagar a escola deles, porque as vezes tem, as vezes
não tem. Ele leva na escola, ele busca na escola, agora que eu to com o carro eu
consigo equilibrar mais isso, mas em termos gerais a minha disponibilidade é muito
mais difícil. E o preço é ai porque as pessoas, tinha uma época que eu me preocupava
muito com as pessoas, hoje eu já aprendi a estar bem com o meu modelo. Sabe, porque
ruga é ruim mas traz umas vivencias boas. (Persistente)

Neste ponto, o trabalho aparece com um aspecto diferente da autorrealização de


Persistente, o trabalho também é peça fundamental no sustento e no bem-estar da família:

Então assim, hoje eu vejo que eu não conseguiria ter a vida que eu tenho se eu não
tivesse este padrão de vida, este jeito de viver, eu trabalhando, sabe. Eu não sei se eu
conseguiria colocar meus filhos nessa escola, sabe. (Persistente)
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Mas o trabalho não vem sem desconforto, uma certa dificuldade de desapegar-se que
Persistente deixa clara no seguinte trecho:

É, às vezes a gente cansa porque, pode parecer um preconceito meu, mas as vezes a
mulher não tem tanta, não sei se é força, a palavra, não sei como simplificar essa ideia,
mas as vezes eu acho que a mulher, ela não tem tanta, tanto desprendimento como o
homem. (Persistente)

No entanto Persistente não restringe suas dificuldades ao apego, ela sinaliza uma
cobrança social maior em relação à mulher, diferenças físicas e maior conflito de papéis:

O homem me parece que às vezes ele faz, ele faz aqui, depois ele faz aqui, e ele não
vive dilemas porque os “aquis” diferentes, as vezes se contradizem, e a mulher acaba
sofrendo por causa desses papéis que ela quer performar bem em todos, e ela que ser
a superperfeita, e ela acaba vivendo dilemas, e ela tem situações físicas, porque eu
acho que a mulher ela passa mais estresse do que o homem, a mulher tem funções
físicas, tem TPM, prémenopaus, pósmenopaus, tem préTPM, tem pósTPM, tem tudo
né?
Não é? Fisicamente são reações diferentes e eu acho que isso interfere inclusive na
relação das coisas na personalidade no jeito que as pessoas reagem, então, é, talvez
isto que possibilite a gente ter tantas multifunções, sabe.
Não sei se eu estou certa ou estou errada, mas é mais ou menos como eu vejo, sabe?
(Persistente)

Após estes relatos, a entrevistada mostrou dificuldade em continuar a contar sua


história e pediu que fosse elaborada uma pergunta, então ela foi questionada acerca de sua
carreira: “Me conta sua trajetória de trabalho como se fosse uma história? Desde o primeiro até
agora.”. Persistente começa relatando seu primeiro estágio e ressaltando a importância desta
experiência em sua vida profissional:

Nossa! Eu vou longe então porque tem mais de 20 anos de história. Puxa vida! Eu
comecei como estagiária num grande escritório de advocacia aqui. Na época, isso era
a muito tempo atrás, 20, 24 uns 23 ou 24 anos atrás. Hoje Curitiba, tem um monte de
escritórios, naquela época não tinha. Então os que tinham eram poucos, e os que eram
bons, bons, bons, era poucos ainda.
E eu tive a sorte de bater num escritório que estava precisando de uma vaga. Eu fui
buscar a vaga de primeiro emprego, nunca tinha trabalhado na minha vida. E daí fui
bater no escritório de porta em porta e bati neste. E eles estavam, por sorte, estava
saindo um estagiário e eles falaram: “Olha, tem uma vaga aqui, quer tentar?” fui
conversar com a advogada que era a dona de lá e acabei gostando dela e ela gostando
de mim, eu era uma menina tinha 20 anos, estava no terceiro ano de faculdade. Como
o escritório era um escritório de nome e ela era meio exigente demais. Então assim,
consegui ficar um ano naquele escritório. “Nossa, conseguiu trabalhar com a É*****
um ano, coisa rara, porque ela era uma pessoa muito difícil. Por conta disso acabou
criando uma experiência muito marcante na carreira, não sei se foi pelo escritório ou
pela área, que era tributária que naquela era aquela época quase ninguém queria saber.
E aquilo foi me viabilizando outras coisas. Aí saí de lá depois de um ano, porque ai
ficou difícil o gênio dela e eu queria conhecer outras coisas no trabalho. (Persistente)
90

A trajetória de trabalho de Persistente não foi linear, do primeiro estágio conseguiu um


segundo e depois trabalhou com formaturas:

Aí fui trabalhar com um professor que me chamou para trabalhar na Sanepar. Ele era
diretor jurídico da Sanepar, tinha uma vaga lá para ser assistente. Acabei indo.
Cheguei lá no meu quinto ano de faculdade aí terminou, porque quando você se forma
ou prestava concurso público, não é emprego contratado. Emprego contratado era só
como estagiário. Mas aí terminou o período, me formei não tinha vontade de prestar
concurso aí saí. Daí me formei. Fiquei uns 3 meses procurando, os dois primeiros
meses janeiro e fevereiro trabalhando com formatura, comissão de formatura,
trabalhando com Formaturas, esse tipo de coisa. Daí depois me formei, fiquei mais
três meses esperando e eu comecei meu primeiro emprego num escritório na área de
advocacia tributária, muito influenciada por conta daquela primeira experiência.
(Persistente)

Sua trajetória incluiu um escritório conhecido na região e uma tentativa de


empreendimento por meio de um escritório de advocacia próprio junto com um ex-colega de
trabalho:

Olha, e dois anos, eu acho, depois... Ah, eu fiquei lá uns dois ou três anos. Ah, já faz
tanto tempo que eu não lembro mais as quantidades de tempo, mas depois eu montei
um escritório com um cara meio conhecido, a gente trabalhou junto nesse primeiro
escritório. Ai a gente abriu um escritório junto ai eu vi que eu não era empreendedora.
Que assim, eu não tinha perfil de venda, de cliente. Sabe? E não deu certo, perdi a
amizade, perdi o emprego perdi, foi ruim, assim. (Persistente)

Sem sucesso em seu empreendimento, Persistente voltou a se dedicar a trabalhar no


escritório anterior. No entanto a empresa ficou pequena para suas aspirações:

Aí eu fui chamada para voltar para escritório que era meu primeiro escritório. Aí voltei
para coordenar uma área, e assim eu fiquei acho que uns 4 ou 5 anos.
Ai de lá eu cheguei, no escritório, eu cheguei no topo, mas era um escritório ovo,
assim, cheguei no topo do que eu conseguiria chegar. E eu falei: Gente! Eu preciso
fazer mais na minha vida! (Persistente)

A necessidade de crescimento a fez candidatar-se a um emprego em uma empresa de


grande porte:

Apesar de eu já ter 20 e poucos anos quando eu entrei, 28 ou 27, eu não estava


preparada para este mundo, falando profissionalmente preparada. Nossa! E fiquei lá
dois anos e meio. Nossa! Sofri horrores! Você cresce a duras penas, assim né. E cresce
sem ter sido preparada. Eu era preparada tecnicamente, mas não emocionalmente,
para o que precisa este mundo corporativo. Exige em todos os aspectos. Aí casei no
mesmo ano que eu entrei, casei com o meu marido, que é o atual e aí tava pensando
meio que ir, aí tinha uma vida insana porque era uma empresa tão insalubre quanto o
produto, sabe. (Persistente)
91

Com dificuldades para lidar com o novo ambiente e o marido querendo mudar de país,
Persistente deixou o emprego para acompanha o marido que iria montar um restaurante em seu
país natal:

E daí meu marido queria voltar para país dele, que ele é de Israel. Aí ele foi antes aí
eu fui alguns meses depois fui grávida, fiquei lá dois anos e pouco que foi o período
que eu não trabalhei. Trabalhava com ele, tinha ele eu não trabalhava, então eu era
meio dondoca, assim, não fazia nada. E no segundo ano eu trabalhava, ele abriu um
restaurante daí eu trabalhava com ele. Foi um negócio que eu vi que não dá para
trabalhar com família também. Não tenho esse, hoje talvez eu tivesse um outro olhar
mas naquela época, não estava preparado para isso.

A insatisfação com a situação e a necessidade de dar maior atenção à família fizeram


Persistente retornar ao Brasil e entrar na empresa que trabalha atualmente.

Daí decidi voltar para o Brasil. Não queria mais assim, minha família, o meu pai tava
doente. E eu já não tava gostando do país, com saudade da minha vida profissional
aqui porque eu via que lá não ia seguir para frente daí voltei.
Daí comecei a trabalhar no B***** que é onde eu tô nos últimos 10 anos. (Persistente)

No andar de sua carreira, Persistente encontra-se em um dilema ao gerenciar outras


mulheres que tem filhos.

Entrei como advogada daí depois virei consultora daí depois virei coordenadora e
depois gerente. E daí hoje tô lá numa função executiva e aonde eu vejo mais a
viabilidade ser testada seja por mim seja por terceiros. Porque eu gerencio uma equipe
de 5 mulheres e um homem e quase todas tem filhos, salvo uma que não é casada, as
outras tem filhos pequenos. Então eu vivo este dilema seja por mim ou por elas. Né
que ás vezes é mais difícil ainda porque quando você for você tomar suas próprias
decisões, fala mal, eu tô disposto a fazer isso ou eu não tô disposta a fazer isto. Quando
você gerencia pessoas você sabe o que é necessário, você sabe até onde vai aquela
função, você já passou por isso também e você não tem a decisão que você tenha
função alí de preposto da empresa, você tem que fazer as coisas acontecerem. Então
é um dilema ao quadrado na verdade. Você testa esses teus valores e princípios
normais. Não sei se resumi bem ou muito. (Persistente)

Nesta rotina de trabalho, conflitos e teste, Persistente ressalta como a dor tem sido
constante em sua vida e aprendizado:

No pain no gain. Eu acho que é o lema para tudo. Que no fundo, eu não sei se é
verdade ou não, mas eu acho que assim, todo mundo fala que a gente cresce na dor e
no amor, e eu acho que a gente cresce na dor de verdade, né. Eu não acredito em
crescimento no amor, não acredito. Talvez porque não tenha vivido. Eu acho que
precisa ter amor no meio de tanta dor, mas eu não acho que é no momento de amor
que se cresce.
É, mas eu tô saindo até do campo do desafio, tô olhando na dor mesmo, sabe. Porque
as vezes é um desafio sem dor. Eu acho que para você crescer, para conseguir o
92

máximo, eu acho que é com dor. Tipo, num esforço quase de dor. Algum sofrimento,
assim, sabe, não e uma coisa, meio né, uma coisa... (Persistente)

Apesar da dor que encontrou em seus caminhos, Persistente se define como:

Eu? Persistente, eu acho. Persistente, um pouco teimosa. Acho que uma coisa meio
junto da persistência, né, inclusive. às vezes insegura, me acho uma pessoa às vezes
insegura apesar dos pesares... Acho que persistente é a palavra que mais me define.
Eu sou de desistir pouco, sabe? Coisa assim que eu... No geral, assim, não tenho
muito... (Persistente)

Sobre ser mãe e como isto a mudou, Persistente relata:

Não sei se foi a maternidade que me mudou. Eu não senti aquela coisa que, sabe que
todo mundo fala que quando nasce uma criança nasce uma mãe. Eu não senti que
nasceu uma mãe quando nasceu meu primeiro filho. É uma emoção indescritível de
fato. Tanto é que eu me lembro até hoje do primeiro olhar do meu filho quando nasceu.
Eu me lembro até hoje, assim, está gravado na minha memória. É uma emoção que é
difícil de definir. (Persistente)

Novamente a dor aparece como fator que muda sua vida e como conseguiu manter
seus objetivos pessoais:

Mas, mas eu não sei, assim, o que me fez crescer de verdade não acho que foi a
maternidade. Acho que foram as lambadas que eu levei, sabe? As vezes, as vezes
olhando de ré, assim, eu nem acho que fui uma mãe tão boa assim, sabe? Sempre fui
uma pessoa presente. Sempre pensei muito nos meus filhos, na família, mas eu acho
ne fundo eu nunca desisti do que eu queria em prol dos meus filhos, sabe? (Persistente)

A constância da dor e valorização da mesma como um meio de crescimento se


desdobra em medo de que a dor chegue, quase como uma necessidade de se preparar
constantemente para a dor que virá.

Eu sempre fui muito, às vezes em excesso, tive uma responsabilidade em excesso, um


medo financeiro das coisas darem errado então, eu sempre tinha medo de ser demitida,
eu sempre tinha medo de não ter dinheiro, sabe? Medo de não poder pagar escola.
Então eu acabava, em função disso, cuidando demais do trabalho e menos de casa,
sabe? E dai as coisas foram meio que se autorganizando que meu marido foi pegando
esse papel, sabe? De a mulher da casa, sabe? De colocar a janta, sabe? (Persistente)

Passando da dor, Persistente volta a ressaltar a importância do trabalho e como este


lhe dá uma perspectiva diferente da vida e da impossibilidade de controlar todas as situações.
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Eu acho que é muito bom, eu vejo assim, as mulheres que eu conheço que trabalham,
eu vejo que elas são mais, não sei se bem resolvidas é a palavra, mas eu vejo assim,
elas têm, parece, que problemas mais sob controle, sabe? (Bem Resolvida)

Para Persistente o trabalho é fonte de força e de equilíbrio:

Porque elas veem que você não consegue controlar tudo, elas veem que você está
sempre devendo, mas assim, você acaba se sentindo forte, você tem várias
oportunidades para se sentir forte enquanto ser humano. Você as vezes vai mal no
trabalho, você acaba ficando na tua casa. Você as vezes vai mal na tua casa, porque
as vezes vai, você está de saco cheio daquela casa, da tua família, ou do teu conjunto,
né? Não dá pra gente achar que a vida é perfeita. Você tem o trabalho para compensar.
Então eu acho que você tem mais chances de fazer as coisas, de você se sentir bem. E
por você se sentir bem você consegue fazer com que as coisas sejam melhores em
cada um dos ambientes que você está. É, é a experiencia que eu vejo comigo e com
os outros. Então assim, eu não conheço tanta gente assim, eu não sei dizer se isso é
uma visão minha, real eu seu eu estou viciada no grupo que eu convivo, mas eu vejo
que isso funciona bem, sabe? É... bom, não sei se é isso que você precisava...
(Persistente)

Apesar de anteriormente ter dito que a maternidade não a mudou, Persistente relata
posteriormente como suas escolhas de vida mudaram:

Como você gostaria? Como você quer fazer? Por exemplo. Os filhos te travam. Ou
porque você tem que dar uma vida com um pouco mais de rotina e as vezes viajar o
mundo não é tão compatível. Ou porque você acaba não sendo prioridade na hora das
despesas porque você vai pensar em viajar, em você ou você vai pensar em pensar em
pagar a tua escola? Por exemplo, eu sou casada a 15 anos, meu filho mais velho tem
12. Agora é que eu tô conseguindo para e dizer assim: “bom, agora eu tenho dinheiro
que eu posso tirar um pedacinho pra mim”. Ou para eu viajar ou para eu fazer um
curso, assim, não tem que pensar duas vezes, posso ir num restaurante, vou comer o
que tiver a fim sem ter que escolher o prato do cardápio que se encaixa, sabe? Hoje,
depois de 44 anos, depois de muito tempo trabalhando, depois de uma vida muito
corrida, trabalho a mais de 20 anos. Hoje que depois de ter filhos que eu consigo me
dar ao luxo de fazer este tipo de coisa. Porque é uma... é abrir mão. Né? E você, eu
não imaginava, isso é uma coisa que mudou muito quando eu, quando você vira mãe,
você tinha me perguntado antes e eu não tinha lhe falado, você aprende a equilibrara
quando você é prioridade e quando você não pode ser a prioridade sabe? Que é a maior
parte das vezes. Você poderia investir em joias, não é nem em joias, eu digo, assim,
em batuaques, coisas, sabe? E tava acostumada a ter meu dinheiro para comprar, e
com o filho você vai pensar: comida pro teu filho, escolha pro teu filho, tudo, tudo,
toda a estrutura, e quando você escolhe uma coisa, você vai ver, eu já tinha época que
a gente comia na minha casa pão com café. Nunca tinha comida, comida farta. Tinha
que cuidar das crianças, tinha que, sabe? Tinha outras coisas para alocar o dinheiro.
São coisas que quando você, quando você é um casal ou uma pessoa sozinha sem
filhos você tem dinheiro, você tem mais condições de pensar em você, você tem um
monte de poder ser menos contábil, você sabe que tem e que você pode repor qualquer
problema que aconteça, né? E quando você tem filho as vezes essa segunda
oportunidade não tem, tipo uma escola como aquela que meus filhos estão, não é a
melhor escola, mas ela tem um nível mínimo. Ai a criança por exemplo, meus filhos,
querem sair juntos, brincar, jogar bola com os amigos, a fins, e tal, os coleguinhas,
como é que você, como é que você não vai deixar teu filho com, à mercê desse mundo?
Né? Por exemplo, todo dia, toda semana eles vão lá com o grupinho deles comer lá
no shopping, eles já podem sair da escola para comer. Como é que você vai dizer:
“Não, não vou te dar dinheiro”? então são pequenos grandes, pequenos grandes coisas
94

que você vai ter pensar e ceder porque sei lá, vinte trinta reais que eu tenho que abrir
mão se eu tenho eu não vejo diferença, mas se você não tem, você vai abrir mão de
alguma coisa em prol do teu filho, porque você vive por você e por um alguém. Eu
acho que isso muda muito na maternidade, sabe? A tua vida não te pertence mais
totalmente. Ou a vida que te continua te pertencendo ela te dá mais trabalho de ser
dimensionada junto com a maternidade. Você tem que pensar mais em como o teu
mundo reflete nos outros mundos. Coisa que você não vê quando está sozinho ou
quando você é sozinho sem filho. Você tem o privilégio de poder ser mais
irresponsável e a irresponsabilidade ela tem um preço para todo mundo e ela parece
que custa menos caro quando você não tem filho. (Persistente)

Após a apresentação das falas de Persistente, segue um roteiro com os principais temas
que ela abordou.

4.1.2. Roteiro da história de vida de Persistente

Para resumir e melhor compilar os principais temas e sua ordem na fala de Persistente,
segue um roteiro:
1. Equilíbrio na vida;
2. Trabalho versus maternidade;
3. Trabalho e autorrealização;
4. Ser ela mesma no trabalho;
5. Necessidade de trabalhar;
6. Demandas do trabalho atrapalhando as atividades de mãe;
7. Adaptação do marido e filhos;
8. Dificuldade masculina para lidar com o modelo de mãe atual;
9. Funções tradicionais do homem e da mulher;
10. Autorrealização;
11. Cobrança social;
12. Demanda das funções de mãe e trabalhadora;
13. Abrir mão;
14. Como sente-se em relação ao seu desempenho como mãe;
15. Relação com mulheres do grupo de mães;
16. Relação com os filhos;
17. Função de esposa;
18. Relação com o marido;
19. Trabalho e o padrão de vida;
20. Dificuldade de desprendimento;
21. Cobrança social;
22. Situações físicas próprias da mulher;
23. Trabalho: Primeiro estágio;
24. Segundo estágio;
25. Primeiro trabalho – Organizadora de festas;
26. Segundo trabalho – Escritório de Advocacia;
27. Experiência como empreendedora;
28. Retorno ao emprego anterior;
29. Troca de emprego;
30. Dificuldades no novo trabalho;
31. Mudança de país;
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32. Trabalho com o marido;


33. Retorno ao Brasil;
34. Trajetória na empresa atual;
35. Dilema ao gerenciar outras mulheres;
36. Crescimento pessoal;
37. Função dos desafios em sua vida;
38. Autodefinição;
39. Mudanças;
40. O que a fez crescer;
41. Medos;
42. Mulheres que trabalham;
43. Impossibilidade de controlar tudo;
44. Separação trabalho e casa;
45. Maternidade e mudança.

Ao final da apresentação de todas as protagonistas, os roteiros de todas as protagonistas


foram analisados a fim de encontrar os temas em comum entre todas as entrevistadas. A figura
9 é o produto da análise dos roteiros das quatro protagonistas: Persistente, Planejadora,
Prioridade e Guerreira.

4.2. A PLANEJADORA FIGURA 6 – IMAGEM REPRESENTATIVA


DE "PLANEJADORA"
Codinome: Planejadora
Idade: 42 anos
Escolaridade: Pós-Graduação
Estado Civil: Casada
Classificação da empresa: Multinacional
Função: Engenheira de Alimentos
Renda familiar: 15 a 20 salários mínimos
Quantidade de filhos: 2
Idade dos filhos: 12 e 9 anos

4.2.1. Como Planejadora conta sua história

O contato com Planejadora teve início por whatsapp. Na conversa


FONTE: foi esclarecido o
(CIAO, 2017c)

objetivo da pesquisa, a quantidade de entrevistas e a duração média. Planejadora escolheu um


local perto de sua casa em um horário que lhe era conveniente. O local escolhido foi uma
cafeteria inspirada na cidade de Paris. A entrevistadora chegou antes e ocupou uma mesa no
canto de um dos salões a fim de ter maior privacidade e silêncio.
Planejadora chegou pouco tempo depois, pediu desculpas pelo atraso e explicou que
estava em reunião, ela estava com aparência tranquila e descansada, sentou à mesa e sugeriu
96

que pedíssemos algo para comer. Cada uma fez seu pedido e após a garçonete se afastar a
entrevistada foi esclarecida acerca dos objetivos da pesquisa e foi feita a pergunta inicial: Como
é ser mulher, mãe e trabalhadora?

É desafiador, né!? Bom, assim, eu gosto muito de trabalhar. É uma coisa que eu não
me vejo, eu não me vejo como mulher não trabalhando. Então esta foi uma opção
minha desde muito cedo. Por exemplo, a minha irmã é uma, ela optou por ficar em
casa cuidando das filhas, né. Eu não consigo viver assim, né. Em momentos de muito
estresse ai às vezes eu penso: ai seria bom jogar tudo pro alto e ficar em casa! Mas ai
me dá cinco minutos, eu paro e penso: não, eu ia ser uma pessoa muito infeliz, né.
Mas tem momentos que realmente é, conciliar as coisas é complicado. (Planejadora)

Por iniciativa própria, Planejadora continua sua narrativa falando do início de sua
carreira:

Eu vou começar contando para você do início da minha carreira e que tem a relação
ai com mãe. Eu comecei minha carreira na indústria, já sou engenheira de alimentos.
Sou formada já vai fazer, faz 18 anos e eu comecei trabalhando numa indústria onde
eu trabalhava bem na parte da produção. Então assim, eu tinha horário para entrar mas
não tinha horário para sair. Eu tinha que estar lá era assim, a regra era que tinha que
estar as 7 horas da manhã, tinha que estar lá vestida, pronta para trabalhar. Não tinha
hora para sair. Eu tinha problema que eu não conseguia nem ir em médico ou, sabe,
não tinha flexibilidade nenhuma. (Planejadora)

Os horários de trabalho inflexíveis e a vontade de ser mãe a levaram a procurar outras


oportunidades de emprego.

Eu fiquei oito anos trabalhando lá e comecei a ter vontade de ser mãe, né. E ai eu
falava assim: bom, aqui eu não posso continuar trabalhando se eu for mãe, aqui eu
não vou ter qualidade de vida. Minha vida vai ser muito ruim. E a partir daquele
momento e que eu comecei a identificar isso, eu comecei a abrir meu olho, eu gostava
muito de trabalhar lá, mas comecei a abrir o olho para buscar outras oportunidades.
(Planejadora)

A escolha da nova empresa para trabalhar foi orientada pela vontade de ser mãe.

Eu fui convidada para trabalhar na M*****, que é uma multinacional. E as pessoas


falavam muito: Meus Deus! Como assim!? Você trabalhava numa empresa pequena,
como vai ser isso? Você quer ser mãe e vai para uma multinacional. Assim, eu acho
que vai ser bom porque eu já conhecia assim a história, um pouquinho, falavam de
equilíbrio de vida, assim. Aí eu fui, não deu nem seis meses eu engravidei, assim meio
sem querer. (Planejadora)

Apesar de querer engravidar algum dia e estar se preparando ao procurar um novo


emprego, a gravidez veio como uma boa surpresa, algo esperado, mas numa hora inesperada.
97

Não estava no plano, queria esperar mais, mas engravidei. E no começo, na verdade,
foi bem tranquilo, assim. No estágio de carreira que eu tava, eu estava numa empresa
que eu pude sair, foi aceito muito bem, né, a questão da maternidade. (Planejadora)

O posicionamento do diretor da empresa acerca da maternidade foi fundamental para


que Planejadora escolhesse a multinacional para trabalhar.

Na verdade eu lembro que na entrevista o diretor, ele, claro, eu tinha 30 anos, não
tinha filho ainda, já com tempo de casada ele me falou: “olha, não se preocupe com
essa história de engravidar, acontece, né.” (Planejadora)

Apesar das palavras tranquilizantes do diretor durante a entrevista, Planejadora ainda


ficou com algum receito de como sua maternidade seria vista pela empresa.

E foi assim mesmo, foi bem tranquilo e eu acho que quando você está grávida, está
num momento da empresa, assim, eu acho que a gente fica numa preocupação, fica
preocupada em como vai ser vir e de repente estou ausente. (Planejadora)

Mas a experiência que teve na empresa a fez sentir-se segura e repensar a maternidade
em relação a sua vida laboral.

Mas se você pensar na sua vida de carreira, aquele pedaço é tão curto, é tão pequeno
né, que na verdade não faz realmente uma diferença, né. (Planejadora)

No entanto reconhece que há cobranças internas que dificultam o gerenciamento deste


conflito interno e externo.

Assim, eu acho que é uma coisa que dá, que é gerenciável, mas a mulher acaba se
cobrando, se pondo mais medo. Então no primeiro filho eu fiquei, ainda não existia a
licença maternidade de 6 meses então eu fiquei quatro e tirei mais um mês de férias,
fiquei cinco meses. A volta, assim, claro que eu tinha uma vontade de ficar em casa
com meu pequeno, mas também sabia que tinha que voltar. Ai eu tinha a opção de
voltar por meio período. Ai o que eu comecei a fazer, eu ia a tarde porque eu sabia
que se eu começasse a fazer. Se eu fosse de manhã, não conseguia sair, né. Então eu
ficava de manhã em casa, isso foi por um mês. Então eu ficava de manhã em casa e a
tarde eu ia, ficava só meio período. (Planejadora)

Apesar da compreensão do diretor da empresa, Planejadora sentiu certa pressão da


chefe imediata e como precisou lidar com esta demanda e as limitações e necessidades físicas
referentes ao período em que estava amamentando.

O que acontece, na época eu tinha uma chefe bem demandante, assim, o que eu lembro
de sofrimento é que eu amamentava ainda e o peito ia enchendo, começava a doer e
98

eu tinha que falar para ela assim: “agora deu eu preciso ir para casa”. Então eu acho
que este foi um dos primeiros conflitos que eu tive assim, de ter que lidar com o lado
profissional de que eu queria voltar queria tá inteira mas não podia à tarde porque
tinha até uma restrição física, sentia dor e tudo mais e eu precisava voltar para casa
para amamentar. (Planejadora)

A progressão na carreira trouxa a necessidade de realizar viagens, o que intensificou


as dificuldades em conciliar a maternidade e o trabalho.

Mas os primeiros anos com o filho foram bem tranquilos, na verdade, para mim. Ai
eu tive o segundo filho, e depois eu acho que começou a complicar pra mim porque
enfim, com a mudança de função eu comecei a viajar e tudo mais.
Com as viagens, e eu viajo até hoje, as viagens é mais difícil pra mim, pra lidar, né.
Porque, assim a organização para viagem né, eu vejo que é um desgaste porque eu
quero deixar tudo organizado, tudo estruturado. É questão do lanchinho, e dorme com
quem, organizar a agenda. Este dia fica com a avó, este dia fica com a tia, se é com o
marido. Então eu me cobro isso, de deixar organizado, porque quando viajo eu viajo
a semana toda. Saio domingo e volto só na sexta, né. Então aí pra mim é um desafio.
(Planejadora)

A concentração no trabalho aparece como uma das maneiras de lidar com as


dificuldades:

Então quando eu viajo, para ser bem sincera, eu não me estresso. Eu entro no trabalho,
entro na cabeça, assim, não sou de ligar para as crianças porque eu acho pior pra mim
e para elas, né. Se elas têm vontade de falar comigo elas pedem e eu falo, a gente se
dá super bem, mas a gente estabeleceu um modo de não fica se conectando o tempo
todo. Eu já organizei antes. Depois que eu tô lá, eu tô inteira. Tô na viagem, tô onde
eu tô e aí entrego nas mãos de Deus. E as crianças recebem bem isso. Quando eu volto
é aquela festa, né, sempre. “aí mamãe, tô com saudades!” e tudo mais. Mas eu
consegui lidar bem dessa forma, assim. (Planejadora)

Além da concentração, os horários flexíveis da empresa atual auxiliam a gerenciar


melhor sua vida.

Meus horários, bom, eu tenho assim, eu acho é, é bem flexível. Eu não tenho uma
cobrança de qual horário eu tenho que começar e terminar. Acontece que eu tenho
uma posição que é regional, eu trabalho com a América Latina, então os fusos horários
me atrapalham um pouco. Porque as vezes, dependendo do país que a gente está, tem
assim, as vezes chega a dar três a quatro horas de diferença. Então você tem que estar
disponível as vezes no final do dia. Pra mim já é 8 da noite, as vezes lá no México
ainda é 4 horas da tarde. Então eles estão, ainda, a todo vapor, né. Então eu tenho
assim um horário bem flexível. Quando eu sei que vou ter reunião até mais tarde, as
vezes, né, eu faço alguma coisa no meio. (Planejadora)

O gerenciamento do tempo e o apoio do marido aparecem como estratégias para lidar


com as diferentes demandas.
99

Tem que pegar os meninos na escola. Ai eu deixo o espaço alí no horário de pegar
eles livre, né, pego, volto, e as vezes, eles sabem, o meu marido é professor, ele
trabalha na faculdade e aí... E aí os meninos já sabem, mamãe vai ter que voltar e aí
continuar trabalhando. Ai eu venho de casa, me conecto no computador, né. E aí é
uma loucura. Imitando os filhos: “Posso falar mamãe? Alô?” (Planejadora)

Apesar da flexibilidade de tempo, a empresa demanda resultados que requerem muita


dedicação, o que faz com que não sobre muito tempo para as demais atividades.

E assim, é flexível, mas ao mesmo tempo é demandante. Porque não tem muito janela,
assim, aquela coisa fixa, ah, então você entra num horário. É bom? É bom. Por
exemplo, hoje de manhã eu não queria ver o jogo e ai eu precisava ir no médico e o
médico falou: “Então eu tenho esse horário”. Aí eu aproveito e vou e não tenho que
dar satisfação a ninguém. Então é entrega por resultado, independente do tempo que
você trabalha. Você tem que entregar o que tem que entregar. Se você tiver que
trabalhar 24 h todo dia para isso, paciência. Se eu trabalhar 4 e conseguir, ninguém
vai me cobrar pelas horas que trabalho por dia. (Planejadora)

Nesta vida cheia de compromissos e demandas, Planejadora fala de sua vida em ciclos
e sobre qualidade de vida:

E assim, eu acho que vem os ciclos, e aí com os ciclos eu acho que eu lido com a
relação com os meninos melhor. Tem momentos mais tranquilos no trabalho e tem
momentos mais estressantes. Eu até brinquei com a L*: Ih L*, se sua amiga quer
alguma coisa para saber sobre qualidade de vida esqueça! Porque... Começa a rir
Porque não estou no momento, de qualidade de vida. Porque, assim, eu estou vivendo
um período muito demandante. É um momento que eu tento pensar como passageiro.
Porque eu acho que se eu não pensar assim eu começo a pesar e questionar.
(Planejadora)

Planejadora retorna ao tema da flexibilidade de horário e apesar de poder escolher


trabalhar em casa na maioria das horas, às vezes prefere trabalhar no escritório da empresa.

Mas por horário é, e tanto que eu posso trabalhar alguns dias de casa, se quiser. Não
preciso ir para o escritório. As vezes eu vou porque a internet está muito ruim e eu me
estresso mais ficando aqui em casa do que ir. E com as viagens, que eu não tenho
muita... Claro, eu posso fazer minha agenda, mas as vezes tem coisas que tem que
viajar e ficar vários dias fora. (Planejadora)

Além da concentração, dos horários flexíveis e da gestão do tempo, Planejadora


também conta com o marido.

O que é apoio para você? Ajudar a lidar com tudo isso? Olha, na verdade meu maior
apoio é o meu marido. Eu tenho um marido fora da curva. Olhando os homens e os
maridos das minhas amigas, de irmã, primas, ele é fora da curva. Ele é um homem
que sempre morou sozinho, sempre foi independente, sempre soube se cuidar. Fazer
sua comida, lavar sua roupa, cuidar da casa, deixar organizado. Ele é extremamente
100

organizado, não gosta de bagunça. Risos. Então quem chama atenção da bagunça da
casa é ele. Risos.
Então ele é meu ponto de apoio principal. Ele realmente consegue organizar muito
bem as coisas do dia a dia com as crianças. Ele é quem, na maioria das vezes, busca e
leva para a escola, né. A gente varia um pouco pela agenda dela porque ele dá aula na
P** e aí os horários dele são de manhã e à noite. Varia a cada semestre. Então cada
semestre a gente se adapta pelos horários dele. Então, assim tem semestre como esse
que ele só tem aula bem cedo, que é o dia que eu levo as crianças e segunda e sexta
que eu pego. Nos outros dias ele leva e busca. (Planejadora)

Na divisão de tarefas, Planejadora aponta alguns pontos que o marido pode melhorar:

Vou falar assim, o quê que meu marido não faz bem, que eu acho que não faz bem,
mas eu não cobro porque eu não consigo fazer, é a questão da alimentação,
alimentação saudável. Para mim criança tem que comer saudável, lanchinho com
fruta. Quando às vezes eu acordo e vou tomar banho, quando eu vou na cozinha o
lanche está pronto, das crianças. Você entendeu? Eu penso assim: Deus me livre
reclamar! Imagina! Risos. A pessoa fez! Né, a pessoa pôr o lanchinho, uma
bolachinha, não sei o que, né. Ai de vez enquanto eu vou lá, escondidinha, brinco com
ele, ele vê, e troco uma bolacha por uma frutinha, ponho um iogurtinho, né, e ele dá
uma risada. Não posso de forma alguma reclamar, falar... (Planejadora)

Apesar da divisão de tarefas, o casal ainda precisa de apoio externo:

O que a gente precisa de um suporte adicional é que, como ele dá aula à noite, quando
eu viajo, aí a gente precisa de suporte, e aí a aminha mãe, eu tenho mãe aqui. Ai ela
fica com as crianças e faz essa gestão de leva e trás, às vezes tem que dormir porque
ele chega muito tarde e já passou do horário das crianças dormirem, né.
E ai não tem nem como eles ficarem sozinhos e nem voltarem para casa. Ai eles já
dormem na avó. E ai varia um pouco de semestre a semestre. Por exemplo, segunda-
feira eu já viajo. Viajo de novo. Mas ai eu teria que ir no domingo, na verdade, mas
ai para ficar um dia a menos dormindo na avó, ai a gente já, sabe, aí eu ajusto a data
de ir e voltar, um dia, justo para eles poderem ficarem mais em casa e ficarem mais
tranquilos e manterem a rotinazinha deles. (Planejadora)

Assim como em Persistente, Planejadora relata uma inversão dos papéis com o marido:

Então quando a gente olha friamente, assim a gente tem um pouco papel mais
invertido do que a maioria das famílias tradicionais, onde o homem é mais o provedor
de casa. A gente tem um papel um pouco invertido e ele é uma pessoa que lida super
bem com isso, e acho que eu também. Eu acho que a gente... O pessoal fala assim:
Seu marido lhe ajuda? Não, sou eu quem ajudo ele. Eu tenho muita consciência, sei
como é difícil, como é complicado. Então essa questão, assim, de gestão, tudo o que
eu posso fazer, a gente tá junto. E é o mesmo de educação, de... é... De como agente
junto passa os valores para as crianças, precisa estar alinhado, né. (Planejadora)

Planejadora relata que mudou por causa da maternidade.

Antes, bom, eu era muito mais individualista, quem sabe mais tranquila. Eu fiquei
casada muito tempo sem filho. Era, tipo, você vive sua função, alí, não tem hora, você
101

faz do jeito que você quer. Depois de ser mãe eu acho que você muda no olhar pra
vida, assim, o senso de responsabilidade, né. (Planejadora)

Uma das mudanças foi a maneira como encarava as atitudes de seus próprios pais.

Você começa a entender coisas dos pais, onde, as vezes eu me pego repetindo
comportamentos que eu criticava dos meus pais. Ai eu falo assim: Nooooosa tô
fazendo igual, né. Ou assim: Não, agora eu entendo porque eles faziam, né.
(Planejadora)

A mudança também veio na maneira de observar a vida.

Eu acho que por mais que a gente, é inevitável que a gente muda a maneira de ver a
acaba repetindo umas coisas ou acaba sendo mais crítico, tipo, em alguns pontos de
vista, assim, tipo relação com tudo, relação com droga, né, de como... Aí antes eu:
não, restringir, ficar oferecendo bebida pra criança. Pra criança não, pro adolescente
em casa. Hoje eu já penso: os meninos vão crescer e como é que eu vou lidar com
isso? Risadas.
O que é certo? O quê que não é? Então assim, acho que é muito mais... Hoje eu sou
mais questionadora em algumas coisas pela preocupação deles, como, de como
acertar. E não só do que eu acredito, mas de como fazer, como formá-los e praí eles
terem, poderem fazerem a escolha deles. Como ajudá-los a fazer a escolha certa, que
não dê problemas. (Planejadora)

As relações sociais também não saem imunes das mudanças após a maternidade.

Então, o que mais mudou? Eu acho que assim, relação com amigos muda. Porque
antes você tem uma relação de sair, estar disponível o tempo todo. Quando você tem
filhos, isto muda. Até porque muitos dos meus amigos e minhas amigas eles acabaram
não casando ou não tendo filhos. Então eu acho que esta relação mudou
Não que a amizade muda de carinho, amizade muda na, de quando tá junto, de
frequência, porque são outras realidades. Eu acho até que quando você tem é, aí
começa a criar famílias junto, famílias conseguem até agregar, mas assim, quando
você não tem filhos da mesma idade fica mais difícil de conectar porque os interesses
e os horários são muito diferentes. (Planejadora)

Enquanto a relação com os amigos apresenta um certo distanciamento, a maternidade


estreitou os laços e a convivência familiar.

Então acho que essa, esse tempo, e as vezes quando você tem mais um tempo é de
ficar com a família. De ir ver avó, vô, primos, entendeu? Eu acho que eu virei muito
mais viver com família do que com amigos. (Planejadora)

Sobre maternidade e carreira, Planejadora relata:

Acho que é um pouco, assim, do que a gente falou no começo. As mulheres acabam
ou postergando muito a maternidade, pensando na carreira. Mas é um período, que se
102

você pensar em carreira, é muito pequeno. Eu acho que a gente dá uma freada, se é
uma pessoa que quer se desenvolver, quer crescer na carreira e tudo o mais, ter um
filho dá uma, é um pesinho no freio, assim, né.
Eu quem sabe não senti. A minha relação com a profissão foi bem porque eu me
preparei muito para isto, estava querendo isto. Não veio num momento que eu estava
querendo coisas diferentes, querendo novos desafios, e não podia gerenciar isto. Não,
eu estava num momento que eu consegui lidar, mas eu acho que tem mulheres as vezes
estão querendo crescimento. Vem o filho e ai deve dar um, uma confusão, assim.
(Planejadora)

Novamente a noção de ciclos, de situações passageiras aparece na fala de Planejadora.

Mas eu acho que tem que ter essa noção, assim. Tenha, que tudo passa, tudo se ajeita,
né. É passageiro, ao lado da vida profissional, esse momento de ser mãe e com um
neném pequeno, que é o mais complicado, isso passa. E depois as crianças vão
crescendo, você vai vendo que vão criando identidade. (Planejadora)

Dentre os arranjos para conseguir conciliar maternidade e trabalho, a escola dos filhos
aparece como um auxílio para diminuir os conflitos e dificuldades.

Claro, você vê meu exemplo, meus filhos fazem escola integral, agora desde
pequenininhos eles foram e eu não sofro com isso. Porque eu acho que eles ficam
bem. Eles vão para a escola felizes, eles voltam da escola felizes. Eu não sofro por vê-
los um dia inteiro na escola. Eu acho melhor do que eles ficarem em casa no tablet,
no computador, televisão o dia inteiro, assim, né. Então eu lido bem com isso. Eu vejo
que tem mulheres que não, se culpam “Meu Deus”, eu vejo, assim, cobranças, mais
tias: “Mas eles ficam o dia inteiro na escola?! Coitados! Não podem brincar”
Eles são... Eles voltam com energia, voltam brincando e voltam bem. Não vejo como
um problema, né. Mas tem que saber lidar com isso, ele pode querer, é, assim, acho
que é, a mulher tem que pensar que ela tem que ser mãe, mas tem que continuar sendo
ela, né, ela tem que continuar sendo mulher e ela não precisa parar a vida dela. As
crianças que tem que se adaptar e elas podem se adaptar e viver muito bem, sabe?
Acho que a mulher não deve se culpar; “Não, meu filho não pode ficar o dia inteiro
na escola se não ele vai ser infeliz”. Não necessariamente, né. Eu acho que é uma
questão, assim, tenha, veja, é você que está no comando, é você que consegue, vai ter
que saber administrar, ter jogo de cintura, mas tudo é possível. (Planejadora)

Sobre o tempo para ser mãe, Planejadora aconselha a não postergar a maternidade.

Então, eu acho que não diria ao contrário, assim. E eu falo muito para as meninas,
assim, que trabalham muito comigo, que são mais novas, eu falo: “Olha, não fiquem
esperando muito para ter filho, assim, não esperem para ficar muito mais velha, porque
eles são tão demandantes, a gente tem que ter energia”. Então, assim, no final das
contas eu acho que quanto mais novo tiver filho, minha opinião, mais você consegue
acompanhar e viver aquilo junto, sabe? Porque eu não sei, a gente não sabe como,
parece que põe dois segundos na tomada e recarrega 100%. Então, eu acho que a
mulher não deveria esperar. Porque hoje eu vejo muitas esperando 40 anos para ter,
sabe? Tem mais cedo que isso, até por cabeça e geração é mais tranquilo.
(Planejadora)

Como parte do programar-se para ser mãe, está a escolha do local de trabalho.
103

Eu acho que foi bem, eu acho que foi, é, pelo menos assim, na empresa que eu estava
antes, eu sabia que não ia ser, que ia ser um caos. E eu vivenciei, por exemplo, uma
chefe, que ela assim, com dois meses de neném o diretor chamava ela, e acessava,
queria, sabe, né, ajuda, pedia para voltar. E eu tinha muito medo disso.
Aonde eu trabalhava, aonde, eu né, quando eu tive as crianças, essa parte de licença
maternidade é muito respeitada. Então, assim, durante o momento que eu estava de
licença eu desconectei totalmente do mundo, não senti pressão nenhuma. Antes de
sair, teve a pressão de assim: “então você vai sair, deixa tudo organizado.”
(Planejadora)

A empresa demanda uma organização prévia, mas respeitou a licença maternidade.

“Né, então vamo fazer um planejamento para deixar tudo organizado”. E os meus
dois meninos nasceram antes do tempo. O primeiro foi meio no susto e aí para o
segundo eu me preparei um pouco mais, tentei deixar as coisas organizadas justamente
com medo, e acabou acontecendo a mesma coisa. (Planejadora)

A licença maternidade foi solicitada com uma certa apreensão, mas foi bem respeitada
pelos chefes e pelos colegas. Mas no retorno houve uma demanda de rapidez na adaptação e
uma pressão dos colegas e da chefe imediata para um melhor desempenho.

Então assim, eu senti aquela pressão antes de sair, durante nada. E quando eu voltei,
na verdade é assim, eu senti que quando você volta, você volta total, assim, as pessoas,
não é você que voltou total, são as pessoas que “Ah, agora que você tá aqui, então
você tá aqui”, e ai te demandam, então a adaptação para isso tem que ser rápida,
porque as pessoas já estão “Ah, você teve seu tempo, ficou 5, 6, 7 meses que seja fora
e a gente respeitou, mas agora que você voltou vamo, né...” Então isso eu senti, mas
nunca uma cobrança de dizer assim “Ah você engravidou, né”. Ou “Ai você deixou
de cumprir isso porque você saiu e teve fora”, não, eu acho que, é, e como eu trabalho
numa área, que, digamos 70% é mulher, então é muita mulher, sempre grávida.
Sempre tem isso, então acho que é, não é só da boca pra fora. Mas voltou, volte! Tinha
esse caso, que lhe falei, da minha chefe, que quando eu voltei que eu falava para ela
“Vou embora porque eu tenho que dar de mamar”. Mas assim, eu lembro que eu ficava
brava com ela, que falava “Meu Deus!”, que não tem respeito, mas acho que hoje eu
olha pra trás e entendo, assim, por ela, e era o jeito dela, que ela queria entregar as
coisas, queria fazer, é. Na época foi um pouco difícil, mas hoje eu falo: “Ah, não sei
como eu estaria lidando também, né, ás vezes uma pressão de entrega”. Se por no
lugar, assim. (Planejadora)

Antes mesmo de engravidar, Planejadora já tinha uma imagem do que seria a


maternidade e como seria desempenhar o papel de mãe, no entanto o real não coincidiu com o
imaginado.

Eu acho que quando você, antes de ser mãe, eu só tinha o que era, eu imaginava o
momento mais de cuidar do bebê, do início da maternidade. Eu não tinha muita noção
do todo, (...) eu acho que a preocupação que você mais imagina é: Será que eu vou
conseguir lidar com bebezinho? Será que eu vou fazer crescer saudável, bem? Eu acho
que as minhas preocupações eram essas. Assim, não pensava muito de: “Ah, vou ter
que mudar como pessoa”, não. Quando meu primeiro filho nasceu, ele era
extremamente tranquilo, era um bebê que dormia, só que ele nasceu muito pequeno e
104

eu tinha que, assim, eu era do tipo que eu tinha que acordar pra dar de mamar, porque
ele dormiiiiiia. Era uma tranquilidade. Foi um momento de transformação muito
tranquilo. (Planejadora)

Apesar de dizer que a primeira gravidez foi tranquila, Planejadora relata o sentimento
de angústia e preocupação ligados à saúde do filho e a sua capacidade como mãe

Assim, claro, era difícil de acordar, e tudo mais, eu tinha um pouco de angústia de que
ele não crescia, e se realmente dar mama era o suficiente. Começaram a aparecer
aquelas angústias de: será que eu estou sendo uma boa mãe? Será que estou fazendo
a coisa certa? Será que eu sou capaz mesmo? Né, e ai você vai se pondo a prova e ai
não, eu consigo. (Planejadora)

Enquanto o primeiro filho lhe trouxe uma data de nascimento inesperada, mas um
comportamento tranquilo, Planejadora teve maiores dificuldades nos primeiros meses de vida
do segundo filho, pois o comportamento do bebê a privava do sono e a fez questionar como
seria sua vida se a situação continuasse daquela forma.

Quando veio meu segundo filho, ele era muito bravo, muito bravo. Ele chorava dia e
noite. E ai ele me tirou do prumo, porque eu não dormia. E aquilo foi me deixando
doida. Então, assim eu dormia na poltrona do quarto dele, do lado, porque ele
acordava de hora em hora. Então ele acordava, eu dava assim, balançava um
pouquinho, ele dormia, e ai ele acordava de novo, daí, de 2 em 2 horas eu dava de
mamar, assim. Isso foram por 6 meses. Ai eu já estava ficando bem doida e aí eu entrei
num momento de eu, assim, eu falava assim: Gente! Como que vai ser lidar com essa
criança pelo resto da vida? Será que ele, assim, sempre vai ser assim? Será que ele
nunca vai se acalmar? O que é que vai acontecer? Como é que eu vou lidar com isso?
Aí eu lembro que ia no pediatra e ele era bravo, e o pediatra falava assim: “Calma,
calma que ele vai amadurecer”. E foi passando um ano, passando um mês ele “Calma,
calma que ele vai amadurecer”. “Mas dotô quando é que ele vai amadurecer?”
(Planejadora)

Privada de sono constantemente e esgotada, Planejadora ouvia do médico, da sogra e


de outras pessoas que aquela fase seria passageira. No entanto a fase durou dois anos. E isto fez
Planejadora duvidar de sua capacidade como mãe.

E a minha sogra: “calma que ele vai ser a alegria da casa”. E menina, foi até uns dois
anos ele muito bravo, muito. E ai eu era muito firme com ele. E quando ele foi
crescendo mais ai eu “não, peraí, não é você que manda em mim, sou eu quem manda
em você.” E ele foi amadurecendo e se acalmando, eu hoje é eu que falo, ele é o
xodozinho ele é quem faz carinho, abraça, “mamãe”, ele, né, realmente não sei se
amadureceu, mudou, está sabendo lidar com as coisas dele. Então, assim, por um
momento eu me questionei muito como mãe. Foi bem difícil lidar com tudo isso. Mas
hoje eu vejo, assim, não, as pessoas tinham razão. Era um momento que eu tinha que
ter paciência, né. E hoje ele é um doce. Ele não é uma pessoa tranquilinha, né, ele ás
vezes tem suas... Mas ele é uma graça, uma menino amoroso, né. (Planejadora)
105

Planejadora ressalta que as experiências que teve como mãe aceleraram sua mudança:

Então hoje eu vejo hoje eu como uma pessoa aprendendo no caminho, entendeu?
Como que eu era, como que eu sou? Eu acho que a gente vai mudando todos os dias,
né. A maternidade pode acelerar a mudança, mas quando você está vivendo, tudo o
que você passa de experiência te muda, né. (...) Então eu sou uma pessoa
completamente diferente do que eu era antes. Mas, assim, não sei seu eu tenho para
você uma referência, os meus valores não mudaram. Assim, você começa a questionar
umas coisas, assim, mas o valor, o que eu sou, isso não mudou, isso não. Eu acho que
só fortalece. (Planejadora)

No trabalho de Planejadora há muitas mulheres no mesmo setor, passando por situação


parecidas e também vivendo seus momentos de transformação. Então uma das ações da empresa
é um grupo para discussões de questões ligadas ao feminino no ambiente organizacional:

Pelo menos no trabalho temos várias mulheres assim. (...) É, e na área de pesquisa e
desenvolvimento, majoritariamente somos mulheres. Então, assim, tem homens no
meio, mas nós somos mulheres. E lá nós temos muitas discussões disso, e a mulher
no ambiente de trabalho, né, o empoderamento de mulheres, etc. (Planejadora)

Apesar do apoio organizacional às mulheres, ainda há uma dificuldade em progredir


na carreira que perpassa o conflito entre o papel de mãe e de trabalhadora.

Só que assim, quando a gente tá, quando vê a carreira, a gente vê lá, tem muito mais
mulher, mas a medida que vai subindo na carreira, vão ficando mais homens. Ai vai
diminuindo muito o nível, aí inverte. Nas grandes posições, nas mais altas posições,
tem muito mais homens, essa é um ponto de discussão que a gente leva muito lá. Se
discute assim: o que é que faz isso? Porque a mulher vai bem e ela chega num ponto
que ou não vai mais, ou não cresce, o que é que acontece? E aí são várias as discussões
e teorias, né.
E eu acho que assim, a maioria é realmente a família que barra. O que a gente vê, é
que assim, vai ficando demandante as carreiras e nas famílias a maioria chega um
limite que tem que se optar, ou um ou outro. Porque os dois seguirem numa carreira
e, numa carreira demandante, tudo mais, é muito difícil. Pode acontecer? Pode, mas
eu acho muito difícil. E sempre que tem lá discussões, a gente sempre fala assim; “Ah,
como é que são as mulheres que estão nos cargos de liderança?” A maioria os homens
estão em casa ajudando. Assim, eu não lembro ainda de nenhum caso em que os dois
estão progredindo na carreira e tenham família, tenham filhos. A não ser que os filhos
já sejam grandes, bem mais velhos, que ai não tenha mais essa relação de dependência.
E aí a gente chega assim, realmente. Acaba que a família acaba sendo o bloqueio. As
mulheres acabam por optar, quando chega num momento que vê que vai impactar a
vida dos filhos, aí, ó opta por parar. (Planejadora)

Apesar de relatar que nunca precisou abdicar de crescimento profissional em prol da


família, Planejadora teme que um dia também esteja nesta situação de ter que escolher entre a
família e progredir na carreira.
106

Isso de carreira eu me preocupo, porque eu tenho muita energia, tenho muita vontade,
adoro o que eu faço, mas as vezes eu falo assim: Nossa! Se eu não puser o pé no freio,
eu, assim, eu não sei como vai ficar, porque ai eu vou me dedicando, dedicando... Eu
tenho que por um pé no freio, tenho que dar mais atenção à minha família, assim, né.
Mas é uma coisa que eu fico me policiando. É uma coisa que eu gosto, que vou e, né.
Nunca precisei fazer em algum momento, as acho que em algum momento pode
acontecer. E, bom o caminho para estar preparada, anda não tenho. (Planejadora)

Além das questões de conflitos familiares, Planejadora aponta diferenças subjetivas


entre homens e mulheres em relação à vaidade e ao desejo de poder.

Outra coisa que a gente fala muito e eu acho que tem é a questão da vaidade. Assim,
né, que os homens são mais vaidosos, ou gostam mais do poder. Né, porque eu acho
que, pra mim, carreira, eu tenho que ver um sentido, eu tenho que ver algo que os
valores da empresa têm que estar iguais os seus, você tem que ter um propósito.
Crescer numa carreira porque você pode dar mais, porque você pode ensinar a pessoa,
você pode, que seja uma coisa natural, pra mim isso é gostoso. Agora, a partir do
momento que você quer crescer por poder, isso não me atrai. E eu acho que isso pros
homens, eles atraem mais. Sabe, então essa relação de poder eu acho que faz o homem
subir mais alto e para as mulheres menos. (Planejadora)

Sobre sua própria ambição e vontade de crescer, Planejadora fala:

Então, assim, se você me perguntar hoje, o que eu falaria pra você, assim, olha, eu
gostaria de poder ficar na posição que eu estou hoje por muito mais tempo pra ficar
numa zona de conforto melhor, poder cuidar mais dos meninos, ter tempo para ver
eles crescerem. O que acontece é que a empresa te cobra, sempre tem que estar
crescendo, sempre querendo mais. Né, pelo menos na, aonde eu estou, que é uma
empresa americana. Então esse é um pouco de um dilema, assim, de você falar: “aqui
já tá bom pra mim”. Sabe, eu falo assim, eu já cheguei no ponto de carreira que eu
sonhava chegar. Quando, eu sempre me imaginei, eu já atingi. Então as vezes eu acho
que eu vou entrar numa crise se eu tiver que, por imposição da empresa, continuar
crescendo e não conseguir levar, não conseguir lidar e ter esse equilíbrio pessoal e de
trabalho. Por que pra mim já tá ótimo assim, eu já me sinto realizada, né. Não tenho
muita ambição de quero mais, mais, mais! Eu acho que é um limite aonde você, é, ter
prazer e simplesmente ter poder, ou ser sugado. Assim, né, ai eu acho que essa relação
não pode existir. Você não pode ser uma pessoa que se sinta que está ai só porque
você está, tem que entregar, entregar, entregar e não ter propósito, né. Então eu não
gostaria de ter que precisar crescer. Só tenho que convencer minha chefe a isso.
(Planejadora)

Sobre as mudanças, Planejadora aponta que não foi um período de mudanças só para
ela, o marido também precisou adaptar-se.

Acho que assim, na verdade é para ele foi uma mudança grande também, porque como
eu trabalhava ele também teve que se adaptar, acho que como pai né? E a cuidar dos
filhos fazer papel de cuidar das crianças. (...) graças a Deus ele não é nada machista
então para ele o fato de eu trabalhar e ele tem que cuidar das crianças também é um
supernatural, assim, é uma coisa não existe eu te ajudo e você me ajuda, né? Nós dois
assim, cada um faz a sua parte de só que normalmente cada um faz mis o que gosta,
né? Eu acho que o que a gente teve que aprender juntos foi isso né de assim.
107

É uma demanda diferente também, quando eu trabalhava, mas era só nós dois fazer o
tempo que queria dormir a hora que eu queria, né? Depois além do trabalho como eu
tinha que dar conta aí ele também tinha que dar conta. Aí a gente tem que aprender
acho que nesse sentido né? Como se adaptar e falando de aprendizado assim, ele teve
uma mudança profissional bem grande depois que teve filho mas a mudança dele foi
assim, ele viajava muito ele viajava de carro. (Planejadora)

Assim como Planejadora, seu marido também mudou de trabalho por causa da
paternidade.

Ele viajava todo o sul do Brasil e ele teve vários acidentes porque ele viajava toda
semana, assim fazia tipo mil quilômetros sabe assim, chegava na cidade e quando
nasceu as crianças ele falou assim “eu não quero correr esse risco por causa deles e aí
depois que o V*** já tinha nascido, ele tinha tinha 1 aninho, ele decidiu largar tudo.
E aí ele falou “eu vou procurar outra coisa para fazer”. E aí eu apoiei ele falou assim,
“olha então fica tranquilo, porque se você não conseguir nada eu aguento as pontas
porque eu to trabalhando até você conseguir alguma coisa” e só que assim não deu
uma semana e ele começou a trabalhar na faculdade se incluiu no mercado, né? Eu
acho que foi um desafio e nesse aspecto que trabalhava tudo apoiei “ vai que eu
aguento as pontas, que a gente da um jeito” Mas é isso algo mais agora não me vem
na cabeça, quem sabe se eu for falando outras coisas. (Planejadora)

Planejadora retorna ao tema de como imaginava ser mãe e novamente fala que o real
vai muito além do que se pode imaginar ou planejar.

Aí não da para imaginar mas as pessoas falaram que vai cuidar do bebezinho que vai
chorar que ele vai ser dependente, mas não a gente não consegue imaginar. Se planeja
para uma dificuldade, mas quando vem a realidade assim você falar uau os desafios
são, ne quando te pega, são muito maiores, mas também a compensação assim.
Quando você recebe um sorriso um carinho, né? E aí como já tudo compensa né?
Então antes de ter filho. Eu sabia que eles iam precisar muito de mim, né? Que eu ia
ter que me dedicar, mas não tinha noção do que que era se dedicar não tinha essa
percepção real do que é.
Você ter que formar as pessoas não só cuidar, dar de comer, mas educar, essa noção
do que é educar, não tinha acho que só tem a noção do cuidar não do educar que para
mim é o mais desafiador é mais importante no final das contas. (Planejadora)

No intervalo entre a primeira e a segunda entrevista Planejadora havia recebido uma


proposta para progredir na empresa e relata como sua decisão está pautada, principalmente, no
bem-estar dos filhos e da família.

E aí saiu uma posição para mim que é uma posição digamos que eu vou dar um passo
atrás, mas fico mais sossegada aqui em Curitiba ou. Porém é uma posição que eu sei
que eu não posso ficar muito tempo porque pelo salário que já tenho, não se sustenta
por muito tempo então a possibilidade que me deram era ir pra Argentina, mudar pra
Argentina, e agora estou num dilema assim, o que é melhor na vida ter esse momento
mais de paz na vida e curtir mais as crianças poder aproveitar mais eles né? Ou é
continuar desafios e ter mais segurança fazer eles passarem por uma experiência
também diferente no lugar diferente aprender uma língua uma cultura diferente, né?
108

Nesse momento hoje a decisão, os filhos pesaram muito de assim, o que é o que eu
faço da minha vida, eu acho que eu que eu vou decidir eles vão ser muito fortes nesse
ponto porque quando veio assim a possibilidade falar de mudança uma mudança
maior ter eles assim foi muito mais forte do que se fosse sozinha. Eu já acho que já
tinha tomado a decisão, mas pensando neles de proteção e o que é melhor para eles.
Aí me pegou e aí é um conflito assim é um momento muito de conflito entre escolhas
e pensando neles, né? Não quero.
Priva-los também de outras oportunidades, mas também sei que eles adoram aqui
adoram aqui o Colégio. Os dois não querem mudar e tem a família. Temos alguns tios
ne, então é um misto de sentimentos difícil de lidar. Então o que eu combinei com
meu marido é que a gente vai sentar, conversar bem colocado papel pros e contras,
né? E do que a gente deve fazer né? Se é ficar aqui por um tempo arriscar e esperar
uma outra mudança ou já é ficar esperto, antenada pra outras oportunidades né?
(Planejadora)

Ao ser indagada sobre como seria a vida de trabalho e de mãe se o marido não a
apoiasse, Planejadora ressalta a importância do trabalho em sua vida.

Ai ia ser bem complicado, ia ser bem complicado porque eu já falei isso para você,
eu não consigo me imaginar sem trabalhar. (...) Que isso que eu gosto, né, então se ele
não me apoia-se eu acho que ia ser bem chato nem acho que a gente ia se dar bem
como se dá hoje, eu acho que seria outra vida, outro casal tendo experiências. Eu vejo
na minha irmã e o marido não apoia que ela trabalha faz de tudo para dar errado os
trabalhos que ela arruma, acho que também viveria em conflito. Não sei se sustentaria,
sinceramente acho que afetaria meus valores assim não sei se conseguiria sustentar.
O amor para mim é você aceitar o outro com as coisas que ele gosta né então alguém
que barrasse isso de mim acho que não ia ser bom. (Planejadora)

Sobre sua vida, em geral, Planejadora se mostra satisfeita com sua família e com os
desafios e estímulos do trabalho.

Me sinto realizada por que eu faço o que eu gosto, eu sou sempre desafiada que é uma
coisa que eu também gosto, eu acho que isso traz crescimento e eu tenho experiências
que eu acho que me fortalecem como pessoa.
Eu tenho no trabalho na parte de que eu tenho contato com pessoas de vários lugares
do mundo que isso é uma coisa que eu gosto, eu tenho uma família que se dá bem né
é, que tem seus desafios obvio né e acho que me sinto como uma pessoa também como
um olho tem todos os problemas. (Planejadora)

Além dos filhos e do marido, Planejadora também precisa ajudar os pais que estão
ficando idosos.

Acho que meus pais pelo tempo que tá passando eles ainda, não é que exigem, né?
Mas a medida que vai passando você vai vendo que eles vão ficando cada vez mais
vulneráveis, né? Então de dependência de fazer coisas não. Acho que é uma atenção
emocional que eles estão precisando, né? E aí as vezes claro entra em conflito porque
nem sempre eu consigo dar toda atenção que eu queria mas ao mesmo tempo a minha
mãe sabe da minha forma é que eu não sou daquela filha que liga todos os dias que
toda hora me forço a ligar algumas vezes por semana para saber como é que tá você
tá tudo bem. Fala rapidinho, mas ela me conhece. Ela sabe que eu tô aí, se ela precisar
109

assim como eu sei que ela tá se precisar, né? Mas é a nossa relação é muito respeitosa
em relação a isso, né? (Planejadora)

Neste ponto Planejadora pede por mais uma pergunta e lhe é feito o seguinte
questionamento: Na entrevista passada você disse que mudou de emprego por que queria ser
mãe, como foi a escolha da empresa que você está hoje?

Na verdade eu não escolhi muito assim, eu fui convidada, mas quando eu vi na minha
conta eu trabalhava numa empresa pequena. Onde eu tinha que ser o faz tudo, então
assim eu tinha hora de entrar não tinha hora par sair, eu tinha que entrar as 7 em ponto
e não tinha hora pra sair as vezes eu trabalhava durante a madrugada rodava os turnos
ne, as vezes só saia de manhas as vezes as 3 da manhã então quando eu vi, eu não, é
uma multinacional horário de uma função administrativa não ia ta mais em fábrica,
né? Eu conversei com as pessoas. Tipo assim, eu acho que vou ter mais qualidade de
vida que realmente teve uma mudança da água pro vinho, né? Então eu busquei saber
da empresa se realmente tinha essa qualidade de vida e eles tinham muita fama de
equilíbrio de vida pessoal e do trabalho que era uma coisa que dava muita importância,
flexibilidade de horário e realmente eu não tinha horário tinha as horas que eu
precisava trabalhar mas eu tinha flexibilidade de horário. Então realmente foi eu acho
que melhorou a minha qualidade de vida.
Com o tempo a carga de trabalho foi aumentando então o equilíbrio foi diminuindo.
Mas eu ainda acho comparado às vezes com alguns colegas com alguns amigos que
eu vejo o trabalho em empresas menores, você meio que consegue organizar o seu
horário se você precisar sair um momento você vai resolve, eu faz mais de uma
semana que eu não vou trabalhar no escritório que tava muito pesada semana e ficar
em casa para conseguir pegar os meninos, então não fui e aí ninguém me cobra. Assim
claro que você tem que ir para fazer o networking para conversar. Então foi escolhida
uma empresa que dava esse equilíbrio que eles chamam de work with balance, né o
pessoal e trabalho. (Planejadora)

Em busca do equilíbrio entre família e trabalho, Planejadora dedica tempo para


atividades recreativas com os filhos e nos momentos que pode tira um tempo para sí mesma e
para conviver com as amigas.

(Os filhos) Eles gostam de ir no clube no final de semana para fazer esportes, eles
adoram futebol adoram.
Às vezes tenho preguiça né? Não sei o que que eu faço. Tá bom eu vou junto, mas
sim, se eu não tô afim, aí eu fico lá com eles, mas eu fico no meu livro, nem sempre
dá certo, né? Então eu tenho que tirar esses momentinhos sabe que eles estão
brincando com o pai, dô minha relaxadinha aqui me permito mais ou menos uma hora.
Mas hoje em dia é um pouco isso, só que eu faço no máximo é falar eu vou tomar uma
taça de vinho à noite. (Planejadora)

Estes temas que aparecem na história de Planejadora foram compilados no roteiro a


seguir:
110

4.2.2. Roteiro da história de vida de Planejadora

Para resumir e melhor compilar os principais temas e sua ordem na fala de Planejadora,
segue um roteiro:
1. O trabalho;
2. Dificuldade em conciliar as tarefas de mãe e trabalhadora;
3. Início da carreira;
4. Horários de trabalho;
5. Mudança de emprego;
6. Descoberta da 1ª gravidez;
7. Posicionamento do diretor da empresa atual acerca da maternidade;
8. Receios em relação ao trabalho por estar grávida;
9. Licenças maternidade;
10. Atividades da maternidade em conflito com dedicação ao trabalho;
11. Retorno ao trabalho após a licença maternidade;
12. Atividades da maternidade em conflito com dedicação ao trabalho;
13. Relato da 2ª gravidez;
14. Mudança de cargo no trabalho e viagens recorrentes;
15. Organização familiar para poder viajar;
16. Apoio da mãe e da irmã;
17. Separação trabalho e casa;
18. Horários flexíveis no trabalho;
19. Gestão do tempo;
20. Demandas do trabalho;
21. Ciclos de vida;
22. Qualidade de vida;
23. Local de trabalho e home office;
24. O marido;
25. Divisão dos cuidados com os filhos;
26. Aspectos nos quais o marido pode melhorar;
27. Apoio familiar;
28. Rotina dos filhos;
29. Inversão das funções tradicionais;
30. Mudanças após a maternidade;
31. Mudanças na relação com os pais;
32. Mudanças na maneira como encara a vida;
33. Mudanças nas relações com amigos;
34. Estreitamento dos laços familiares.
35. Maternidade e carreira;
36. Transitoriedade das situações;
37. A escola dos filhos;
38. Momento para engravidar;
39. Mudar de trabalho pensando em ser mãe;
40. Ausência do trabalho para licença maternidade;
41. Retorno ao trabalho;
42. Ser mãe;
43. Como foram os primeiros anos de vida do primogênito;
44. Angústias em ser mãe;
45. Nascimento do filho mais novo;
111

46. Rotina durante os dois primeiros anos de vida do filho mais novo;
47. Maternidade e mudanças na identidade;
48. Ambiente de trabalho;
49. Carreira da mulher e a família;
50. Trabalho e família;
51. Motivações ligadas ao trabalho;
52. Vontade de crescer;
53. Divisão dos cuidados com os filhos;
54. Mudança de trabalho do marido;
55. Maternidade imaginada e maternidade real;
56. Proposta de novo cargo;
57. Preocupação em relação às mudanças que aconteceriam na vida dos filhos;
58. Trabalho como algo central em sua vida;
59. Autorrealização;
60. Auxílio aos pais idosos;
61. Mudanças de emprego;
62. O que determinou a mudança de emprego;
63. Convivência com os filhos;
64. Tempo para si mesma

As entrevistas de Planejadora foram as mais longas dentre as entrevistas realizadas,


por isto seu roteiro tem tantos itens, mas eles podem ser compilados em temas que são comuns
a todas as entrevistadas. Os temas encontrados foram compilados na figura 9 e foram analisados
na sessão de Análise e Discussão de Resultados, sessão 5.
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4.3. PRIORIDADE
FIGURA 7 – IMAGEM REPRESENTATIVA
DE "PRIORIDADE"
Codinome: Prioridade
Idade: 44 anos
Escolaridade: Mestrado
Estado Civil: Casada
Classificação da empresa: Médio porte
Função: Psicóloga Clínica e Professora
Renda familiar:12 a 15 salários mínimos
Quantidade de filhos: 2 filhos
Idade dos filhos: 9 anos (filho) e 14 anos
(filha)

4.3.1. Como Prioridade conta sua história


FONTE: (CIAO, 2017a)
O contato com Prioridade foi por meio de
whatsapp, ela mostrou-se disponível para as entrevistas, num período de dois meses a frente do
planejado no cronograma. Apesar deste contratempo as duas entrevistas foram realizadas por
meio de ligação telefônica. O objetivo da pesquisa foi explicado tanto no contato inicial quanto
antes de iniciar a entrevista.
Ao ser indagada sobre como é ser mulher, mãe e trabalhadora, Prioridade começa
relatando sua jornada até sua situação de trabalho atual. Primeiro fez a faculdade de Psicologia,
após concluir o curso, passou a trabalhar em uma empresa e em uma comunidade terapêutica,
sempre trabalhando como psicóloga clínica. Após concluir a especialização, passou a dar aulas
de psicodrama em cursos de especialização. Sua rotina estava caótica, ao ponto da filha sinalizar
sua ausência em uma conversa:

Outro dia eu perguntei para minha filha: “O que você quer ser quando crescer?” Minha
filha respondeu: “Quero trabalhar bem pouco para ter tempo para ficar com a minha
filha”. Ai nisso eu parei e pensei sobe a minha vida e sobre se valia a pena levar aquela
vida, pensei em quanto a vida estaria passando, os meninos crescendo e eu só
trabalhando. (Prioridade)

Isto fez Prioridade questionar-se sobre suas escolhas de vida. Após conversar com o
marido, Prioridade diminuiu suas horas de trabalho para poder dar mais atenção aos filhos. Ao
falar sobre o como seria a vida se não tivesse sido mãe, Prioridade relata que teria mudado o
rumo da sua vida por completo, desde o país onde moraria até a profissão que estaria exercendo.
113

Na época da faculdade eu até tentei fazer uma extensão do meu curso que tinha que
ser a convite da universidade de lá, acabou que eu mandei toda a documentação falei
com o reitor tudo e não deu certo. Então ele brincando (o marido), “se você tivesse
ido pra lá se você não tivesse ficado em Londrina a gente não teria formado uma
família”, mas não que eu não queira, não quisesse ter a família que eu tenho, mas se
as coisas tivessem tomado outro rumo com certeza a história hoje seria outra né. Teria
ficado mais na área acadêmica, uma outra coisa que me fez pensar nisso, não com
desejo, mas enfim, quando eu converso com algumas amigas que são doutoras, pós-
doutoras eu penso para mim mesma se eu tivesse seguido por essa carreira talvez eu
não tivesse casado não meus filhos, não teria tido o que tenho hoje e não penso que
teria sido uma boa opção. Eu gosto de ter tido a opção pela maternidade, de levar
assim aos tranco e barrancos (...) de fazer as coisas assim cronometradas e com a ajuda
do meu marido consegui fazer dar certo. (Prioridade)

As escolhas profissionais não foram as únicas afetadas pela maternidade, o dia a dia
de Prioridade também requer renúncias, a exemplo, as horas de sono:

Abrir mão, acho que do tempo e do sono, principalmente do sono, quando eu vejo
uma grávida eu falo assim olha sabe quando as pessoas falam pra você dormir, eles
tão falando sério, durma, porque você nunca mais vai dormir igual seu sono nunca
mais vai ser tranquilo amiga, então durma tudo que você puder. (Prioridade)

Prioridade relata que para conciliar seus objetivos profissionais com a maternidade
tem que gerenciar com habilidade seu tempo, aproveitando todas as lacunas de tempo entre seus
compromissos.

(...) pra estudar pra ingressar em mestrado, concurso assim meu filho ta agora com
nove anos mas desde bebê sete horas ele tem o despertador interno e ele acorda. Então
o que que eu fazia, eu acordava 5:30, ai das 5:30 as 7 eu estudava, 7 ele acordava
quando mamava, ele mamava e agora café e tal. Agora eu to estudando de manhã
tranquilo, mas o tempo que acaba ficando um pouco mais escasso, mas a
administração do tempo também é uma coisa que a gente tem que aprender a lidar e
quando a gente consegue articular direitinho você não percebe que isso é uma
dificuldade ou não percebe como dificuldade entendeu? Sendo que eu falei do sono
ne, mas o sono a gente dá um jeito, cochilo aqui e ali. (Prioridade)

Sobre o apoio do marido, Prioridade relata que:

Foi surgindo necessidade né, não sei quando assim exatamente, mas um dia eu vi ele
de calção de banho e falei você tá de calção de banho pra alguma atividade aquática?
E meu marido respondeu: “Não, não é que tá faltando roupa pra vestir”. Assim,
brincadeira, mas como eu te falei tem que ajudar a passar roupa, que ele é bancário
então camisa precisava passar, mas o cuidado das crianças levar pra cima e pra baixo
pro ballet, até teve um episódio que ele já estava meio cansado e falou, não amor essa
atividade do ballet é um horário que dá pra você ir ne que você as antes e tal, dai eu
fui e tinha que dançar ne ainda bem que eu fui. Ai eu fui na atividade dancei com a
meninada e só tinha mulher eu acho que ele já estava sentindo ou minha filha falou o
papai vai ter que dançar. (Prioridade)
114

Não só Prioridade precisou reorganizar seus horários de trabalho, o marido de


Prioridade também negociou alguns arranjos com a empresa em que trabalha para poder dar
conta das tarefas que envolvem a criação dos filhos.

Mas sempre a gente foi se adaptando, como eu te falei ele conseguiu até um horário
diferente pra entrar na agência. Porque como ele é bancário a agência fecha pro
público, mas ela continua aberta, então ele conseguiu que entrasse mais tarde e ficasse
depois com a agencia aberta com o trabalho interno e isso favorecia que eu
conseguisse ministrar na faculdade no turno da manhã. Agora de 2016 pra cá que a
gente tem feito as coisas no horário realmente comercial ne. (Prioridade)

Prioridade volta a citar as escolhas que precisou fazer em relação ao trabalho por
priorizar a criação dos filhos:

Como eu te falei eu priorizei trabalhar em clínica em atendimento, não tô mais muito


dando aula. De manhã no horário que eles tão na escola eu trabalho, de tarde eu tô
com eles e a noite alguns horários estou dando aula e os outros horários eu tô com
eles. (Prioridade)

Mesmo com a diminuição da carga horária de trabalho, a família ainda precisa fazer
ajustes, principalmente quando é necessário que Prioridade viaje a trabalho.

A gente consegue ter mais horários livres, consigo leva-los pra minhas viagens
também, o pessoal fala agora vocês tão de férias, eu falo que não, eles estão de férias,
mas a gente dá um jeito, porque não tendo a viagens agora dá pra fazer alguma coisa
no final de semana. (Prioridade)

Também há esforços para conciliar o tempo em família juntos e as férias:

Nesses 17 anos a gente tirou férias junto duas vezes, das outras vezes a gente
conseguiu conciliar final de semana, três dias, quatro dias, e como ele trabalha no
banco as vezes ele pega um banco de horas, então pega uma sexta ai viaja uma sexta,
sábado, domingo ou pega uma segunda e tem sido assim com ajuda colaboração, faz
comida, dá uma olhada nas crianças, olha a tarefa, as vezes esquece de fazer tarefa,
mas tudo o que acho que em outras casas tem. (Prioridade)

Apesar de relatar estar com um ritmo de vida mais leve que anteriormente, a família
de Prioridade ainda pede que ela diminua as horas trabalhadas, por preocupação com sua saúde.
Mas trabalhar em várias funções é algo que Prioridade descreve como sendo parte de sua
identidade, algo que não consegue mudar.

Olha, primeiro meus familiares, falando principalmente pela minha mãe e minha sogra
elas falam diminui o ritmo, porque elas lembram do período que eu adoeci que
ficamos meio assustados esperando pra saber se o cisto era benigno ou maligno, então
115

o pessoal ainda tá meio apegado aquela história, mas acho que é uma coisa intrincada
assim em mim de não poder fazer pouca coisa, faço várias atividade simultâneas,
quando vejo que o ritmo ta ficando meio pesado assim ai eu abro mão de uma ou de
outra, me faz sofrer um pouco assim. (Prioridade)

Então Prioridade abriu mão de um emprego e diminuiu as horas de trabalho em outro


para poder cuidar melhor de sua saúde.

Eu estava trabalhando num lar de idosos não sei se eu cheguei a falar isso na primeira
parte e pra conseguir preparar melhor as aulas e o esquema de não estar trabalhando
a tarde, tentei reduzir pra 10, de 15 pra 10 horas, gostando muito mas abrindo mão, é
um dos trabalhos que deixei de fazer, quando adoeci também tive que parar de dar
aula na faculdade, já tinha feito qualificação e TCC e eu queria muito estar na banca
mas tive que fazer esse afastamento pra tranquilizar e descobrir de que ordem era
aquele problema e eu vejo que a dor de cabeça era desse cisto e tal, mas quando eu
vejo que eu tenho que deixar um desses trabalhos eu fico pensando sabe quando você
não quer deixar uma coisa sem terminar, já deixei engatilhado ne a coordenadora foi
na banca do TCC mas é uma história que fica sem final, já duas vezes que isso
aconteceu, no meu afastamento das aulas e na saída do lar dos idosos então outra coisa
quando vou me envolver numa atividade vejo se eu vou dar conta se posso me
comprometer com aquilo ali e acabo me botando a meta de cumprir e vou cumprir e
vou fazendo mil coisas. (Prioridade)

Sobre apoio familiar, Prioridade relata:

A postura do meu marido sempre foi de apoio, da minha filha teve aquela fase de eu
ficaria mais em casa não precisa fazer tanta coisa, quando eu volto da aula a noite fala
“Ah de novo aula de noite não pode mudar de horário?”, por que na faculdade a
concentração de horários costuma ser de noite então uma noite pra faculdade e a pós
ocasionalmente a noite, mas nem sempre. (Prioridade)

Apesar do apoio do marido, as demandas dos filhos por mais tempo de convivência
continuam, além disso a sogra também demanda que ela trabalhe menos, pensando que
Prioridade o faz por dinheiro. No entanto Prioridade relata trabalhar por vontade de trabalhar e
para dar uma educação melhor aos filhos.

Então tem noite que eles falam “A gente queria jantar todo mundo junto”, não é um
boicote, não uma vontade de que eu não faça, mas eles preferem quando eu tô com
eles. Já chego a ter comentários assim da minha sogra no sentido de não precisa ficar
rica, tem coisas mais importantes, como se fosse por meta de ganhar mais de ter mais
bem e não é. É porque a gente optou por uma redução por eu sair da coordenação por
exemplo a gente concentrou tudo num carro só, ficou mais apurado, não que nosso
objetivo os dois trabalhando seja ter grande fortuna, muito pelo contrário e a gente
consegue financiar atividades como equitação pro meu filho e ballet pra minha filha,
futebol pro meu filho, são coisas que a gente vê que estão se tornando atividade,
formação, lazer, desenvolvimento, então é um trabalho que você faz com gosto, não
é uma coisa pra pagar dívida, não é dívida entendeu? (Prioridade)
116

Ao ser indagada: então se uma pessoa estivesse preocupada em ser mãe e atrapalhar o
trabalho o que você diria para ela? Prioridade responde:

Falaria para ela olhar as prioridades, porque existem momentos pra tudo na vida, por
exemplo a questão do meu mestrado e doutorado, eu tive a possibilidade de ir pra fora
fazer mestrado no Uruguai só que meu filho tinha dois anos e eu queria ficar dois
meses depois mais dois meses e como eu te falei uma das deslimas era
desenvolvimento, eu falei não posso fazer isso com uma criança de dois anos, é uma
questão de prioridade. Tem que ver o que você tá priorizando no momento, se é
formação, se é profissional, se é pessoal, tem tempo pra tudo na vida. De repente se
você não for aproveitar uma oportunidade de trabalho agora pra ser mãe depois você
busque esse profissional ou tenta depois conciliar quando a criança estiver na escola
como eu fiz com meus filhos, mas pra maternidade natural, assim se a pessoa quer
engravidar ela tem que pensar nisso como o topo da lista de prioridades dela a não ser
que ela tente uma adoção já discutida aqui em casa mais tarde enfim, a gravidez
natural pra própria pessoa fica mais difícil a recuperação tudo ne? O que se deve
analisar é qual a prioridade no momento pra sua vida, mas também esperar a coisas
estabilizarem para depois ter um filho talvez a pessoas não consiga depois, e olha que
conosco foi tarde casei aos 29 e fui mãe aos 36, eu considero tarde, em uma geração
onde aos 23 já estavam casadas. (Prioridade)

Sobre a relação com os filhos, Prioridade relata:

Hoje mais próxima e mais presente que no começo que eu tinha só minha filha. Depois
a gente foi fazendo uma adaptação pra estar mais presente do que inicio de casamento.
Primeiro filho 4 meses, colocar na escolinha que foi o caso dela ne, no caso dele a
gente já esperou colocou com dois anos já fez as coisa diferentes quando acontece
quando se tem mais de um filho a gente vai ajustando corrigindo e errando menos e
assim a referência também melhorou que na época que eu estava na coordenação e ele
ficou doente e tive que deixar ele com minha sogra eu ligava pra perguntar como ele
tava e ele falava: “ah quando você vier pra Curitiba passa na casa da vovó pra comer
um bolo”, e eu estava em Curitiba, então ele tava perdendo as referências de onde eu
estava e hoje não, ele sabe que vai me encontrar sabe meus horários também já tá um
pouquinho maior. Mas aquilo fez a gente tomar a decisão que não, a gente precisa
levar a coisa de um jeito humanamente possível que a gente consiga conciliar tudo
sem o afastamento e foi ai que eu disse não para o mestrado fora. Foi uma opção
acertada a gente tem uma vivência tranquila na escola, consigo ajeitar meus horários
pra estar presente em apresentações e encerramento de semestre coisas que eu gostaria
de ter feito com minha filha, então entrou na minha vida funções e atividades que
permitem que eu tenha flexibilidade. (Prioridade)

Sobre suas gestações, Prioridade relata que a primeira filha foi uma surpresa, ela não
esperava engravidar, mas o segundo filho foi planejado.

Da minha filha a catorze anos eu tava numa comunidade terapêutica onde tínhamos
feito uma oficina com comidas com soja e no outro dia estava passando mal numa
reunião quando acordei em uma ambulância: Como vim parar aqui? “Você deu uma
desmaiada”. Deve ser porque comi muita soa ontem, fiz o exame e estava grávida
então todo mundo passou a chamar ela de sojinha. Do meu filho foi planejado pra
diferença não ser tão grande entre as crianças então já foi bem planejado e antes de
fazer o teste já pensava. (Prioridade)
117

No trabalho as notícias de suas gestações foram bem recebidas, em especial pela


comunidade terapêutica.

Foi muito boa teve o apelido de sojinha, lá na parte administrativa. Quando com quatro
meses ela teve pneumonia, depois de ela ficar boa, se eu precisasse podia levar ela e
deixar lá. O batizado dela foi na comunidade terapêutica, os pacientes cantaram no
batizado. Do meu filho também, só que eu nunca precisei levar ele pro trabalho, já era
a faculdade, como eu fazia meus horários precisava me reportar, era melhor de
conciliar coisas da escola, já com ela era mais difícil já que só podia fazer as coisas
entre um horário e outro de folga. (Prioridade)

Sobre participar da pesquisa, Prioridade relata:

Foi muito bom responder isso foi uma revisão da minha história da minha
maternidade, faz a gente refletir bastante ainda bem que em tempo eu consegui
retomar as rédeas de algumas coisas porque no começo era meio caótico mesmo,
fazendo uma retrospectiva agora pra você eu penso com é que eu conseguia, as coisas
acabam se ajustando a gente aprende com as experiencias de vida e é bom quando a
gente aprende em tempo ainda. (Prioridade)

4.3.2. Roteiro da história de vida de Prioridade

A fim de compreender melhor como se dá a narrativa de Prioridade, segue a seguir um


breve roteiro temático:
1. Estudos e o primeiro emprego;
2. Diminuição da carga horária de trabalho em prol dos filhos;
3. Como teria sido a vida se não fosse mãe;
4. Alterações na rotina devido à maternidade;
5. Gestão do tempo;
6. Apoio do marido;
7. Ajustes nos horários de trabalho do marido;
8. Diminuição das horas de trabalho para conviver com os filhos;
9. Arranjos para conciliar horários e datas;
10. Dificuldade em abrir mão de horas de trabalho;
11. Decisões em prol da saúde;
12. Apoio familiar;
13. Demanda dos filhos por mais tempo de convivência;
14. Diminuição de ganhos financeiros para ter mais tempo para os filhos;
15. Prioridades e decisões relativas a maternidade e trabalho;
16. Relação com os filhos;
17. As gestações;
18. Como as organizações receberam as notícias das gestações;
19. Como foi participar da pesquisa.

O roteiro de Prioridade foi analisado junto com os das outras protagonistas e os


principais temas foram identificados e constam na figura 9.
118

4.4. A GUERREIRA

Codinome: Guerreira
FIGURA 8 – IMAGEM REPRESENTATIVA
Idade: 42 anos DE "GUERREIRA"

Escolaridade: Mestrado
Estado Civil: Divorciada
Classificação da empresa: Médio porte
Função: Professora
Renda familiar: 8 a 10 salários mínimos
Quantidade de filhos: 1 Filha
Idade dos filhos: 8 anos

4.4.1. Como Guerreira conta sua história

O contato com Guerreira se deu por uma amiga em comum. E como2017d)


FONTE: (CIAO, já havíamos tido
um contato prévio em uma atividade, a receptividade à pesquisa foi boa, Guerreira propôs que
nos encontrássemos num restaurante árabe tradicional da cidade. “Você vai amar a esfirra de
lá.” Ela disse ao indicar o local. Ao chegarmos procuramos uma mesa mais reservada, no
entanto poucos minutos após iniciarmos a entrevista uma dupla de idoso senta-se na mesa ao
lado e começa uma conversa acalorada sobre política e futebol. Então foi necessário trocar de
mesa e interromper a entrevista por alguns momentos.
Guerreira começa relatando que ser mãe, mulher e trabalhadora é:

Então é ter vários turnos, 31 dias todos os dias sem sábados e domingos, sem feriados,
sem final de ano, não tem folga. É muito cansativo, é na verdade o tempo inteiro uma
contradição porque você precisa e quer ter tempo para passear com o teu filho, com
minha filha no meu caso. Tenho uma filha de 8 anos, então quero ter tempo para estar
com a minha filha para fazer as coisas com ela, mas daí eu preciso de dinheiro para
fazer as coisas com ela para comprar as coisas para ela dá para sustentar a casa. Daí
eu preciso trabalhar mais horas para conseguir ter mais dinheiro, então eu fico menos
tempo com ela, então é uma sensação de culpa o tempo inteiro não viu, e o mulher a
gente esquece as vezes, é quando sobra, e ainda sendo mestranda, vamos combinar
que né.. (Guerreira)

Ao contar sua história de vida Guerreira começa falando não sobre sua relação com o
trabalho, mas sobre a da sua mãe.

Então, eu nasci aqui em Curitiba, meu pai é militar, minha mãe na época era dona de
casa. Minha mãe assim na época ela trabalhava no banco e na época mulheres casadas
eram proibidas de trabalhar no banco, então ela pediu para sair do banco, ela assinou
um termo porque ela era concursada da Caixa Econômica para casar e daí ela parou
119

de trabalhar e começou a ficar em casa. Daí ela começou a trabalhar com costura,
depois passou em concurso de novo foi trabalhar na Telepar. Então assim ela ficou
muito tempo quando eu era pequena em casa trabalhando, trabalhando com costura.
(Guerreira)

Em seguida sua história passa a ter o foco no pai, na origem dele e na profissão.

Eu sou de uma família de classe média baixa, depois eu acho que foi melhorando um
pouco. Meu pai era uma pessoa muito rigorosa, descendente de alemão militar,
educação muito voltada ao trabalho o tempo inteiro trabalho, tem que trabalhar, tem
que obedecer, né, lá em casa era proibido inclusive falar gíria, né? Não podia falar
nada, não deu, certo nota-se que essa educação não teve frutos. (Guerreira)

A relação de Guerreira com o pai era tensa, sem proximidade ou afeição. Sua ligação
familiar próxima é com a mãe e o irmão mais velho.

Meus pais se separaram quando eu tinha 16 anos, foi uma adolescência bem
complicada, meu pai é muito complexo assim uma pessoa alcoólatra violenta, né?
Então muito difícil assim. Enfim, eles se separaram e então ficou eu, minha mãe e
meu irmão. Tenho um irmão 2 anos mais velho, e agora que lembrei de outra coisa,
eu vou e volto, né? (Guerreira)

Foi a difícil relação com o pai que a fez sair de casa e a impulsionou a procurar o
primeiro trabalho.

Um pouco antes deles se separaram e fugi de casa uma vez, eu fui uma adolescente
que fugiu de casa, porque meu pai era muito bravo e muito violento. Fiquei quase um
ano fora de casa daí resolvi voltar, quando eu voltei falei que só voltava quando eu
conseguisse me sustentar sozinha. E aí com 16 anos eu saí de casa, saí e voltei para
casa e comecei a trabalhar. (Guerreira)

O conhecimento de um programa de computador a levou a conseguir um emprego em


uma empresa estatal, onde deu início à sua trajetória profissional e depois passou a trabalhar
em várias cidades diferentes.

Aí eu fui trabalhar na T***** como cadista desenhava com o AutoCad, eu fui a


segunda pessoa na T**** a desenhar, ninguém fazia isso lá dentro, o curso era
caríssimo assim e ninguém nem sabia o que que era isso na época assim. E daí nunca
mais parei de trabalhar, né? Estou com 42 trabalhando direto. Fiz faculdade de
administração, quando eu estava terminando a faculdade eu falei odeio Curitiba, odeio
esse povo eu quero ir embora daqui. Eu queria viajar trabalhando, trabalhando
viajando, né o tempo inteiro e aí trabalhei, muitos anos viajando, já morei em Niterói,
morei em Recife, morei em Blumenau morei em várias cidades. Até uma hora que eu
cansei e aprendi a gostar de Curitiba e voltei. Daí eu voltei para cá para ficar
trabalhando sempre na área de saúde e trabalhando com hospitais sempre entrar em
Sistemas, mas sempre com sistemas hospitalares, né? (Guerreira)
120

Mesmo tendo voltado a Curitiba, Guerreira conservava a vontade de morar em lugares


diferentes, então preparou-se para morar no Canadá, mas um encontro a fez mudar seus planos:

Daí voltei e comecei a me arrumar para ir embora do Brasil para fazer toda a parte de
imigração para o Canadá e daí eu conheci meu ex-marido. E aí em 8 meses a gente se
juntou, quatro anos depois que estávamos morando juntos a gente resolveu ter filho,
casamos, e faz 2 anos, quase três, aí em fevereiro vai fazer 3 anos que a gente tá
separado. É meu grande amigo, meu melhor amigo, assim um superpai que nem agora
que eu tô nessa correria, e ele tá ficando, eu pedi essa semana para ele ficar com a
minha filha, para conseguir terminar esses 15 dias aí a minha pesquisa, também tem
um resumo, tem algo mais... (Guerreira)

Sobre sua infância e seus sonhos, Guerreira relata como o pai lhe desencorajava a
seguir seus sonhos:

Eu não tenho muitas lembranças da minha infância até os 8 anos, já tá ruim de gravar
e eu chorando aí é que dá errado mesmo. Mas eu não consigo me lembrar de sonhos
da infância, assim lembro que eu sempre fui muito sonhadora, sempre queria fazer
alguma coisa que não tem na haver com o que eu faço hoje, assim uma coisa muito
mais pro lado artístico ou dança, música algo nesse sentido, mas sempre foi muito
tolhido isso, sempre foi tipo assim, “quem, você? Você não, você não tem capacidade
para fazer isso”. Por isso o choro, mas realmente eu tenho algumas partes da minha
infância assim que eu não lembro, uma boa parte assim, eu acho que eu lembro bem
assim depois dos 8 anos, a primeira infância até os 7 anos, eu lembro de muito pouca
coisa, inclusive quando converso com meu irmão que é mais velho. Ele lembra por
exemplo do bolo de primeiro ano de aniversário dele. Eu não lembro das coisas sabe,
mas era muito só nós, eu, minha mãe e meu irmão assim. Tinha os vizinhos, uma coisa
assim para brincar, mas não lembro de grandes coisas assim. (Guerreira)

Apesar das dificuldades no início da vida, Guerreira se define como uma pessoa forte,
que sempre luta:

Como uma titânica. Esses dias um mineiro me deu esse apelido e eu falei, é verdade.
Eu acho que uma pessoa que luta eternamente, mas eu acho que uma coisa bacana,
que com a idade, durante muito tempo eu tinha pena de mim, por isso, agora eu meio
que aceitei isso sabe, tipo é uma oportunidade e acho que eu estou me julgando menos
porque eu já me julguei, isso foi muito mais doído. (Guerreira)

Sobre julgamentos, Guerreira relata os julgamentos que sofre por ser mãe.

Então mesmo é essa coisa da culpa da mãe que não tá o dia inteiro com a filha, que a
sociedade mesmo cobra isso porque ser mãe é uma sociedade que se coloca no outro
lugar as pessoas vivem mais você é a mãe parece que vira um ser assexuado né? Parece
que a sociedade te coloca no outro lugar então, você tem a culpa tua e a culpa que te
jogam né hoje eu já estou conseguindo olhar isso de outras formas sabe e até ver isso
como um aprendizado para minha própria filha, sabe esse mundo colorido de fantasia,
não existe. (Guerreira)
121

Guerreira relata que já compreendeu que este papel comunicado pela sociedade não
condiz com a realidade, e tenta ensinar o máximo possível da realidade para a filha.

Eu nunca tive que sonho de fadinha por exemplo é que às vezes às vezes às mães com
as colegas a minha filha falando disso a princesa eu nunca fui isso e não quero isso
para minha filha também porque a vida não é essa, entendeu, tu pode ser várias coisas
mas não é isso né então acho que todo esse meu ritmo essa coisa é a Guerreira, aquela
mulher que vai, que faz, que acontece que qual que é o leão que eu tenho que matar
hoje aqui então daqui eu vou dar conta não tenho mais medo disso sabe, e ela também
tem que entender isso, que isso faz parte. (Guerreira)

Sobre a relação com o ex-marido e a divisão dos cuidados com a filha, Guerreira fala:

Somos muito amigos e somos muito diferentes, mas nesse ponto a gente tem uma
comunicação muito boa, a gente se ajuda muito então é muito dividido isso sim, ele
tem a forma dele de fazer as coisas e eu tenho a minha por exemplo. Hoje eu fui levar
minha filha para escola, peguei os dois, dei uma carona para ele levar ela para a escola,
porque ele tá sem carro, estava chuviscando eu estava perto: “Para, eu vou passar aí
já vou te dar uma carona” (...). Então a gente está o tempo todo se falando, o tempo
inteiro se ajudando sempre. (Guerreira)

Apesar da boa comunicação, os dois nem sempre concordam em todos os aspectos:

Quando eu cheguei lá, a G*** estava com uma calça que estava rasgada no joelho, se
ela estivesse na minha casa, ela não iria com aquela calça, aí entrou no carro eu falei
“pô filha, você tem outras calças, não tem que estar andando com essa calça rasgada”.
Eu não brigo com ele porque ela já é grande, ela já sabe que ela tem ela outra calça
porque se eu for discutir com ele, na minha casa está fazendo do meu jeito tá na sua
casa faz do seu jeito. (Guerreira)

O respeito mútuo é citado como a maneira de evitar os conflitos com o ex-marido.

A gente respeita muito com relação à isso, se eu quiser que ela esteja do jeito que eu
quero, ela vai estar comigo como ela não está então eu também respeito o jeito dele
contanto que ela esteja bem, então você para ela não é um negócio que pega e que ela
teria condições de resolver e ela não resolveu problema é dela entendeu, mas se tivesse
comigo seria outra forma. Então eu acho que esse respeito da forma de cada um lhe
dar faz uma grande diferença. Meu ex-marido tem uma namorada, às vezes eles vão
lá, as vezes ela chega na minha casa, e o nome do gato dela é Calefas, o Calefas deve
estar sem um pelo naquele corpo dele porque todos os pelos dele estão na roupa da
minha filha, e ela com roupa preta do colégio, parece um pinheirinho de tanto pelo.
Então eu brinco, mas eu estou feliz que tipo ela foi lá no gato ela se divertiu com gato,
entendeu? Então a gente consegue levar de uma forma tranquila. Agora assim eu
cuido, ele cuida, eu levo para escola, ele leva, ele faz almoço, eu faço almoço, os 2
lavam roupa, o tempo inteiro assim, não tem algo que eu faça que ele não faça ou que
ele faça que eu não faço. (Guerreira)

A divisão de tarefas mostra-se bem-sucedida, e Guerreira relata que cada um um tipo


de proximidade na relação com a filha.
122

O que tenho de diferente que pode colocar é que quando ela não está bem ele me
chama, por exemplo, deu uma briga com algum coleguinha na escola ou deu um choro
lá alguma coisa e ela se fecha e não quer contar para ninguém, aí a gente tá “Vem aqui
porque deu alguma coisa que eu não sei o que que é”, às vezes eu consigo resolver
por telefone, mas aí é uma conversa diferente, porque eu tenho uma conversa com ela
e ele tem outra, então a gente conversa, são relações diferentes. Eu acho que sempre
é, pai e mãe são relações diferentes. (Guerreira)

Sobre a gravidez, Guerreira relata

Assim, estava tudo muito programado sim, então 4 anos para chegar no 35, falei hoje
que vai ter filho ou não vai ter, ou vai ter agora ou não vai ter, então decidimos que
vamos ter filho e aí a gente resolveu casar para ter filho. Daí a gente casou, ia passar
na locadora para pegar um filme e ir para casa uma coisa assim só para formalizar e
daí a gente casou com 4 meses, no primeiro mês eu quis descolorir o meu cabelo e
falei, L**** não vou engravidar agora, pintei meu cabelo inteiro de branco muita
química, no mês seguinte engravidei. (Guerreira)

Apesar de uma gravidez esperada, Guerreira ainda teve dificuldades ema creditar na
notícia.

Assim eu fiz todos os testes de todas as marcas de farmácia para eu entender que
aquele negócio tava certo, entendeu? Eu cheguei no médico com o resultado de todos,
o médico falou, bom, você tá grávida, né? Eu falei: “Como assim estou grávida?! Não
estou grávida”. Nisso, nisso o pai do meu filho já tinha chorado, se emocionado três
dias e eu ainda não entendia porque o negócio dizia que faz xixi e fica vermelho e
ficava Rosa tal da faxinha dos exames de farmácia, aí eu falei não, rosa não é
vermelho, então não é. (Guerreira)

Se a notícia da gravidez já gerou um impacto na vida de Guerreira, o processo decorrer


da gestação trouxe um impacto muito maior em sua vida:

Eu achava, assim quando minha filha nasceu eu falava para todo mundo assim, a
sociedade me enganou, na gravidez eu já falava isso, que essa história de tipo, ai que
linda, tá gravida, isso é normal, aí eu falei, gente não é normal, não é normal um ser
estar se desenvolvendo dentro de você. Entende, tipo assim cada vez que eu ficava
nervosa trabalhando, a minha barriga endurecia inteira, aí eu falava, gente normal,
normal, normal essas coisas não são né? Mas foi tipo, trabalhei pra caramba, fiz os
projetos mais importantes minha vida durante a gravidez assim, mas reconhecidos
internacionalmente foi durante a gravidez só que daí quando nasceu eu tive tudo pós-
parto. (Guerreira)

Enquanto a gravidez foi um tempo de inspiração e produção na área profissional, após


o parto a saúde de Guerreira estava comprometida.

Eu tive miopia pós-parto, que eu nem sabia que existia, eu tive síndrome do túnel do
carpo, que as pessoas geralmente tinham na gravidez, eu tive pós-parto, então tive
síndrome do carpo, eu inchei bastante. Com 3 meses eu fui para Colômbia para
123

apresentar artigo, participar de mesa redonda e até que foi bem bacana de certa forma
porque eu tava amamentando eu aprendi a tirar leite na mão como as senhorinhas que
fazem do banco de leite evangélico, elas me ensinaram eu fui para Colômbia tirando
leite, voltei tirando leite e minha filha pegou de volta e o pai dela e ela criaram um
relacionamento por causa desses dias que eu fiquei fora, fiquei fora por 4 dias, mas
eles se entenderam nesses 4 dias ali então é bem bacana. (Guerreira)

Não só as mudanças corporais e na saúde, mas Guerreira também relata mudanças em


sua rotina:

Eu achava que o primeiro mês, eu falava, meu Deus o que eu fiz da minha vida sabe?
Eu achava que era um negócio de outro mundo e eu chegava para minha mãe e
perguntava: “Porque você nunca me contou que era assim?”, e ela me falou que “É
porque a gente esquece”. Como é que se esquece disso!? Porque você não é mais
aquela pessoa de antes, você não sabe o que é, não tem dia, não tem noite, não tem
nada não só tem aquela criança que faz cocô, chora, dorme, né? E você com cirurgia
com os pés doendo com tudo aquilo então até você se entender que aquilo faz parte
de uma rotina, não tem rotina, é o seu dia-a-dia, demora. (Guerreira)

Sobre as dificuldades da gravidez e de ser mãe, Guerreira fala que sente que estas
dificuldades não são relatadas com frequência, que há um tabu sobre o assunto.

Isso não tem nada a ver com amor pela criança, as pessoas confundem muitas vezes
isso com amor, mas eu acho que as pessoas não gostam de falar sobre isso que elas
dizem, a vão achar que eu não amo a criança, não tem absolutamente nada a ver com
isso, né com 3 meses e meio minha filha foi pra creche a primeira vez, e eu falava, vai
ser tranquilo imagina, já fui para Colômbia, voltei, ela ficou sozinha, vai dar tudo
certo voltar a trabalhar com 4 meses fazer a adaptação de 15 dias e vai dar tudo
chuchu. E aí que chegou o tal do dia de deixar na creche, eu chegava na frente
começava a chorar e dava a volta na quadra e respirava, falei, não vou entregar minha
filha lá chorando, né? Porque coitada da criança, ver a mãe chorando entregando, falei,
não quero que ela fique com essa imagem. Na terceira volta que eu tava dando na
quadra, eu liguei para o pai dela e falei: “Você tá almoçando?”, ele falou: “Não estou
só esperando você ligar, eu já sabia que não ia não ia ser fácil. Então eu tô indo aí te
buscar para você ir comigo lá”. Não é fácil esse negócio, eu não conseguir esticar os
braços entregar ela e ele entende que o amor de mãe é a sua expectativa eu te falei, né
a expectativa de ser mãe. (Guerreira)

As diferenças entre a realidade e o sonhado também continuaram no decorrer do


desenvolvimento da filha:

Não sei, eu achava que eu teria mais dificuldade para lidar numa parte de criança que
não interage, mas facilidade numa criança que interage mais com essa parte lúdica de
brincar porque eu sempre fui muito assim e não só isso e não foi nem uma coisa nem
outra, eu acho que a relação quando ela era menor era maior. Hoje ela já tem uma
relação mais estreita com o pai nessa parte lúdica do que comigo, que eu achava que
teria entendeu? Então achava uma coisa diferente e acho que tenho uma companheira,
uma super companheira, as vezes ela vai dar aula comigo, eu achava que minha filha
ia adorar esportes, porque eu adoro. Não, não gosta. Aprender também isso, eu gosto
de acordar muito cedo e eu achava que ela acordaria cedo comigo, que a gente iria
fazer um monte de coisa juntas, não minha filha dorme até tarde, adora dormir até
124

tarde, fico com dó de levantar. Quando ela levanta já fiz um monte de coisa sozinha,
então tudo isso é aprender a lidar com um outro ser, ter individualidade dele.
Características dela e a gente tem que respeitar né? Mas eu achava que iria ser
diferente. (Guerreira)

Guerreira relata como a maternidade é significativa em sua vida:

Que eu respeito muito as pessoas que decidem não ter filhos porque não é fácil
trabalhar, ser mulher, mãe, tudo junto, não é nem um pouco fácil, mas para quem tem
um pouco de vontade, sofra, vai que dá certo. E é muito legal, você faz parte de um
ciclo de ser humano, é assim, eu fui criança, fui filha, fui neta e hoje estamos aí. Então
para mim e parece que eu entendo a vida de uma forma diferente, eu entendo a minha
mãe de uma forma diferente. (Guerreira)

Tornar-se mãe fez Guerreira enxergar a própria mãe com outros olhos, por outra
perspectiva.

Eu acho que eu admiro muito mais e cuido muito mais dela, porque ela passou por
coisa bem mais complexas do que eu e eu acho que eu devo muito a ela, acho que eu
sou o que sou muito por ela, claro que eu devo ao meu pai também, na educação. Mas
assim, a mulher é foda pra caramba, minha mãe fez duas faculdades com a gente
grande já adulto assim, passou em dois concursos públicos. Ela é uma mulher que
construiu tudo sozinha na vida dela. Não sei se eu vou fazer o que ela fez, não sei se
vou chegar na idade dela tendo todas as coisas que ela tem. Hoje eu me vejo de forma
bem diferente, e é um sentimento que por exemplo meu irmão, que por mais que ele
seja pai também, ele vê ela como aquela mãe que eu via antes de ter filho, entendeu?
A minha cunhada já não, minha cunhada depois que teve filho começou a também a
respeitar mais minha mãe, entendeu? Muito mais a minha mãe assim a gente percebe
isso nas relações. O meu irmão não, ele continua naquele mesmo estágio entendeu?
Não sei te explicar exatamente isso assim, mas a mãe você vê a pessoa de outra forma,
assim. (Guerreira)

Além da relação e percepção da própria mãe, a maternidade mudou a relação de


Guerreira com o trabalho:

Eu era muito workaholic, eu tive depressão por estresse, para você ter uma ideia, eu
trabalhava muito, muito, muito. Sempre uma vida bem voltada para o trabalho assim.
Acho que é isso, eu saia bastante, o meu negócio sempre foi praia, não fui muito de
sair assim, mas tive minhas fases de saída também. Meu ex-marido é curador de
performance arte da Bienal aqui, em São Paulo, então eu sempre estava no meio desses
eventos artísticos assim. Foi DJ durante muito tempo a noite, tocou aqui, tocou em
São Paulo, tocava na Europa, então a gente viajava muitas vezes para ver ele tocar,
mas tudo por mais que fosse diversão, você vê que é uma diversão em função do
trabalho né então é diferente você sair e curtir com os meus amigos e você sair porque
vai tocar entendeu, é uma outra história né mas eu acho que eu trabalhava muito mais
e me divertia muito menos do que agora que eu tenho filho e minha filha me ensinou
muito com relação a esse tipo, qualidade de vida por mais que não pareça neste ano,
final de mestrado, do primeiro e segundo aniversário, mas quando eu tô com ela, daí
eu tô com ela né? (Guerreira)
125

Apesar de querer dedicar-se à filha, Guerreira precisa abdicar de algumas horas com a
filha para dar conta de suas tarefas, por isso Guerreira tenta equilibrar o trabalho e o papel de
mãe.

Tem dias que tipo a mãe precisa estudar e ela sabe disso, mas tem hora que agora nós
vamos fazer então alguma coisa a gente entendeu. Se eu não tivesse com ela eu ia
tocar direto trabalhando, isso que iria acontecer provavelmente. (Guerreira)

Guerreira volta a falar de como ser mãe mudou a maneira como se relaciona com outras
mulheres de sua família:

Eu acho que minha relação não só com a minha mãe, mas com as outras mulheres da
minha família mudou também, minha proximidade com minha tia, minha avó que já
é falecida a muitos anos. Minha mãe e minha vó não se davam muito bem, mas eu
sempre fui a netinha querida da minha avó, fui saber disso muito tempo depois que
ela faleceu e hoje eu entendo o quanto era difícil isso para minha mãe, entendo a
posição da minha vó, eu consigo mais ver as mulheres de uma outra forma. Aí você
olha para tua filha e começa a ver aquelas mulheres, a tua família naquela figurinha
ali também, é interessante, vai fazer uma rede assim. São poucos homens na minha
família, por isso que eu não falo muito deles. (Guerreira)

Após falar das mulheres da família, Guerreira se define:

Acho que titânica, uma mulher guerreira, sensível pra caramba, bonita, acho que eu
sou um mulherão. (Guerreira)

Indagada sobre quais são as coisas mais importantes da sua vida, Guerreira responde:

Eu vou dizer minha filha, 5 coisas então, pera aí, acho que a saúde da minha filha, a
felicidade da minha filha, a saúde mental da minha filha que é diferente da Saúde
física, a minha saúde e a minha felicidade. (Guerreira)

Em meio a estas prioridades, o trabalho aparece como fundamental tanto no aspecto


financeiro quanto de autorrealização.

O trabalho é um meio de realização pessoal e é um meio de conseguir recursos para


realizar algumas dessas coisas. Se tivesse herdado uma grande herança, eu acho que
eu iria ser uma estudante. Eu acho que eu não ia conseguir não produzir nada, a
produção faz parte da minha vida. Eu vou te contar uma história. Eu tenho um
ginecologista que cuida de mim a um tempão, ele tem uma religião que não sei bem
qual que é, mas toda vez que eu ia lá ele falava assim “E a sua fé, como está?” , ele
sempre perguntava isso, um dia eu falei para ele assim: “Estou trabalhando muito e
eu vou parar”, eu já tinha minha filha, “eu vou parar de trabalhar porque preciso
diminuir o ritmo, primeiro ano de vida da minha filha” Ele falou assim: “Não faça
isso porque se você fizer vai ficar doente”, eu falei, “Imagina,” ele falou: “Você vai
adoecer, você não pode fazer isso porque você é uma pessoa assim”, “Imagina! Eu
126

nasci para trabalhar pouco e ganhar bastante.” Falei brincando com ele e eu fiquei
bem doente, bem doente sim, emocionalmente assim, eu tive um problema muito sério
de estômago, as pessoas achavam que eu estava com depressão, eu deveria tá.
Comecei a correr e me fez mal, várias patologias juntas. E aí eu me lembrei dele e
voltei lá, falei assim, se lembra que o senhor falou isso, isso e isso, ele falou: “Você
tá brincando que eu te falei isso”. “Você falou então, eu estou aqui”. Assim você nunca
vai conseguir baixar o seu ritmo, você tem que levar isso de uma maneira saudável.
Então eu acho que se eu tivesse todos os recursos, alguma coisa eu iria inventar para
fazer, eu acho que eu não consigo ser uma pessoa que é viver, por exemplo, como eu
tenho amigas que vivem tipo assim, eu vou no salão, daí eu vou sei lá fazer uma
compra e daí eu vou cuidar da minha filha. Eu acho que isso não é meu, mas eu posso
ter e posso estudar também só tá. Sei lá, eu vou, posso estudar em outros países, posso
fazer curso de várias línguas por exemplo, não precisa ser algo dentro de uma
academia por exemplo, entendeu? Mas sem produzir absolutamente nada eu acho
muito difícil, eu tenho que produzir. (Guerreira)

4.4.2. Roteiro da história de vida de Guerreira

Dentre as entrevistadas, Guerreira foi a que mais trouxe seus sentimentos em seus
relatos. Para melhor compreender a maneira como ela relata sua história, segue um roteiro
temático de suas falas:
1. Rotina;
2. Sensação de culpa;
3. Relacionamento com a mãe;
4. Relacionamento com o pai;
5. Relacionamento familiar;
6. Primeiro trabalho;
7. Casamento e gestação;
8. A infância;
9. Autodefinição;
10. Cobrança social;
11. Divisão dos cuidados com a filha;
12. Relação com o ex-marido;
13. Relação com a filha;
14. Decisão de ser mãe;
15. Como soube que estava grávida;
16. Durante a gestação;
17. Pós-parto;
18. Maternidade e mudanças na rotina;
19. Expressar-se sobre a maternidade;
20. Maternidade idealizada e maternidade real;
127

21. Significado da maternidade;


22. Mudanças no relacionamento com a mãe;
23. Mudanças no relacionamento com o trabalho;
24. Equilibro trabalho e maternidade;
25. Mudanças no relacionamento com outras mulheres da família;
26. Autodefinição
27. Prioridades
28. Autorrealização
29. Necessidade de trabalhar.
Analisando os roteiros das quatro entrevistadas (Persistente, Planejadora, Prioridade e
Guerreira), pôde-se detectar os principais temas e subtemas das histórias das protagonistas que
foram organizados na figura 9:

FIGURA 9 – TEMAS DAS HISTÓRIAS DE MÃES TRABALHADORAS

Trabalho Maternidade Identidade

Início A gravidez Autodefinição

Mudanças no
Progressão Mudanças
trabalho

Papéis
Mudanças nos
Autorrealização • Conflito
relacionamentos
• Sobrecarga
• Ambiguidade
Apoio
• Trabalho
• Companheiro
• Família

FONTE: A autora (2019)

Na sessão 5, análise e discussão de resultados os temas e subtemas são usados para


que a análise da pesquisadora possa dialogar com a teoria, mostrando o que as entrevistadas
relataram que se alinha a outras pesquisas e o que distoa.
128
129

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Ao analisar uma história é necessário escolher um ponto de partida da análise, e esta


escolha não é aleatóriaa, perpassa pelos objetivos da pesquisa e pelo crivo da pesquisadora. Por
ser uma pesquisa na área de Ciências Sociais Aplicadas, dentro de um Programa de Pós-
graduação em Administração, o início das análises dá-se pelo trabalho. Além do foco do curso,
o trabalho também é central na vida e identidade de todas as mulheres entrevistadas, portanto,
trata-se de um tópico pertinente para o início das análises.

5.1. O TRABALHO

A figura 10 contém os principais temas relacionados ao Trabalho das protagonistas e


estes serão abordados no decorrer desta sessão: início, progressão, autorrealização.

FIGURA 10 – TEMAS RELACIONADOS AO TRABALHO

Início

Trabalho Progressão

Autorrealização

FONTE: A autora (2019)

O trabalho está presente no início da história de todas as entrevistadas. Ao contarem


suas histórias, não são os anos que são referência, mas a experiência de trabalho que estava
sendo vivida na época. O trabalho organiza essa narrativa, dá a noção de temporalidade e de
sequência na vida. Os principais pontos acerca da carreira das entrevistadas estão resumidos no
quadro 4:

QUADRO 4 – SÍNTESE DOS ASPECTOS DO TRABALHO DAS PROTAGONISTAS


Aspecto Persistente Planejadora Prioridade Guerreira
Primeira Estágio em Engenheira de Comunidade Cadista em uma
experiência de escritório de Alimentos na terapêutica e empresa estatal
trabalho advocacia. produção de uma empresa privada
indústria
Motivo para Conseguir a Não relata Não relata Conseguir
começar a trabalhar primeira independência do
experiência de pai.
trabalho
130

Aspecto Persistente Planejadora Prioridade Guerreira


Motivo da Vontade de crescer Horário de trabalho Questões de saúde Queria viajar e
mudança de com início, mas e necessidade de conhecer outras
emprego sem previsão de passar mais tempo cidades.
fim. com os filhos.
Horários de Flexíveis Fixos Variam de acordo Variam de acordo
trabalho com sua com sua
disponibilidade e as disponibilidade e as
demandas da demandas da
empresa. empresa.
FONTE: A autora (2019)

As histórias contadas seguem a narrativa do trabalho. As entrevistadas contam suas


histórias a partir da primeira experiência de trabalho, exceto Guerreira, que começa pela
trajetória de trabalho da mãe. Em suas narrativas o trabalho está presente de diversas formas:
como uma maneira de organizar o tempo e a rotina, como fonte de recursos materiais, como
fonte de autorrealização.

Então assim, hoje eu vejo que eu não conseguiria ter a vida que eu tenho se eu não
tivesse este padrão de vida, este jeito de viver, eu trabalhando, sabe. Eu não sei se eu
conseguiria colocar meus filhos nessa escola, sabe. (Persistente)

O trabalho é um meio de realização pessoal e é um meio de conseguir recursos para


realizar algumas dessas coisas (...). Então eu acho que se eu tivesse todos os recursos,
alguma coisa eu iria inventar para fazer, eu acho que eu não consigo ser uma pessoa
que é viver, por exemplo, como eu tenho amigas que vivem tipo assim, eu vou no
salão, daí eu vou sei lá fazer uma compra e daí eu vou cuidar da minha filha. Eu acho
que isso não é meu, mas eu posso ter e posso estudar também só tá. Sei lá, eu vou,
posso estudar em outros países, posso fazer curso de várias línguas por exemplo, não
precisa ser algo dentro de uma academia por exemplo, entendeu? Mas sem produzir
absolutamente nada eu acho muito difícil, eu tenho que produzir. (Guerreira)

As mulheres participantes desta pesquisa relatam que o trabalho tem um significado


que vai além do sustento material, o trabalho é fonte de autorrealização e está profundamente
ligado à identidade destas mulheres.

O bom é que eu vejo que comparando com pessoas que eu vejo que não tem trabalho
fora de casa ou que não seja o próprio negócio, eu vejo que tem uma autorrealização
maior, apesar de toda essa cobrança, você tem uma vida, que apesar, de certa forma é
paralela e que não se contamina com a sua função de mãe e você consegue ser você
mesma. Eu acho que esse é o grande benefício de você ter um trabalho autônomo,
desvinculado da família, desvinculado do marido, desvinculado do negócio próprio,
porque você é você independente das outras funções que você exerce. Pra mim este é
um dos pontos que mais impactam, assim, sabe? Eu adoro trabalhar, eu não sei se...
Já fiquei um tempo sem trabalhar, vivendo não como madame, porque eu nunca tive
dinheiro para ser madame, mas vivendo numa situação, assim, relativamente
tranquila. Eu não consigo... Eu me realizo trabalhando. Eu não conseguiria ser uma
mãe em tempo integral ou não ter destaque na minha profissão. (Persistente)
131

Para Morin (2001), há uma relação entre o trabalho, o salário conseguido por meio
deste e a autorrealização. O salário propiciado pelo trabalho, além de atender a necessidades
materiais, pode despertar um sentimento de segurança, possibilitar a autonomia e a
independência. A autora também aponta que o dinheiro ganho por meio do trabalho também
traz respeito de outras pessoas, a preservação da dignidade pessoal perante as mesmas. O
trabalho estrutura o tempo, dá estrutura para organizar sua própria história, e se tem sentido,
permite conviver com pessoas:

O fato de estar em contato com os outros, de manter relações numerosas, e às vezes


intensas, age como um verdadeiro estimulante para si mesmo, não somente para o
desenvolvimento de sua identidade pessoal e social, mas também para o
desenvolvimento de laços de afeição duráveis, procurando por vezes a segurança e a
autonomia pessoal. (MORIN, 2001, p. 17)

Para Persistente, Planejadora e Prioridade, a busca pelo primeiro trabalho está ligada
à vontade de trabalhar, de ganhar experiência. Para Guerreira, além destes significados, o
trabalho aparece como uma maneira de libertar-se de um ambiente familiar conflituoso, de
estabelecer-se como sujeito em meio à dinâmica familiar. Posteriormente o trabalho adquiriu o
significado de mobilidade e conquista de novos horizontes.
As entrevistadas deixaram claro a importância do trabalho em suas vidas. Guerreira
relata que antes de ser mãe era uma workaholic, viciada em trabalho. Mas se para estas mulheres
o trabalho era prioridade, a maternidade fez isto mudar. Após a maternidade as decisões
relacionadas ao trabalho, rotina e recursos financeiros são tomadas sempre pensando no bem-
estar dos filhos.
Na trajetória de Planejadora, a vontade de ser mãe a fez procurar um trabalho com
melhores horários, mais flexibilidade e maior respeito à licença maternidade. O mesmo
aconteceu com o marido de Planejadora que mudou de profissão, pois na profissão anterior o
risco de sofrer algum acidente de trânsito era alto. Para Gross, Spector e Cinamon (2017b) se
as organizações desejam manter o envolvimento e compromisso das mulheres com o local de
trabalho, elas podem criar políticas favoráveis à família, que apoiem a integração entre a vida
profissional e a familiar.
A pesquisa de Von Hippel; Kalokerinos e Zacher (2017) aponta que a alta presença
masculina em cargos de alto escalão e a pequena proporção de mulheres ocupando estes
mesmos cargos leva as trabalhadoras à percepção de que a organização não apoia políticas
favoráveis à família em sua prática cotidiana, levando-as a acreditar que usar arranjos no
trabalho que beneficiem a família seria prejudicial a suas carreiras.
132

Por isto, a flexibilidade de horários, a possibilidade de trabalhar homeoffice, grupos de


empoderamento feminino e os incentivos ao crescimento da mulher na organização são
importantes para ajudar a lidar com o conflito trabalho-família e para o engajamento das
mulheres que trabalham na empresa.
Persistente e Guerreira relatam levar em conta o bem-estar dos filhos em suas decisões
de trabalho, mas não relatam ter precisado abdicar de cargos ou funções nos trabalhos devido à
maternidade. O contrário ocorreu com Prioridade: ela relata ter desistido de um cargo de
coordenadora e ter diminuído as horas de trabalho para ter mais tempo para ficar com a família.
Isto é uma das opções para lidar com o conflito trabalho-família, tema a ser abordado na sessão
5.3 junto com os temas relacionados à identidade.
Apesar de muito importante na vida das protagonistas, o trabalho não é a única
prioridade em suas vidas; por isto, a próxima sessão é dedicada à maternidade.

5.2. MATERNIDADE

Os principais temas presentes nas histórias das entrevistadas acerca da maternidade


são: A gravidez, mudanças no trabalho, mudanças nos relacionamentos apoio do trabalho,
companheiro e família. Estes temas seguem organizados na figura 11:

FIGURA 11 – TEMAS RELACIONADOS À MATERNIDADE


A gravidez

Mudanças no trabalho
Maternidade
Mudanças nos
Trabalho
relacionamentos

Apoio Companheiro

Família

FONTE: A autora (2019)

O quadro 5 apresenta uma síntese dos principais temas ligados à maternidade e como
se apresentam em cada entrevistada.

QUADRO 5 – SÍNTESE DOS ASPECTOS DA MATERNIDADE DAS PROTAGONISTAS


Aspecto Persistente Planejadora Prioridade Guerreira
133

A gravidez Planejada Planejadas, mas os A primeira foi uma Planejada. Teve


filhos nasceram surpresa, a segunda complicações após
antes do previsto. foi planejada. o parto.
Mudanças no Não relata Mudou de trabalho Diminuiu as horas Mudou de trabalho
trabalho de trabalho
Mudanças nos Compreendeu Aproximação com Aproximação com Compreendeu
relacionamentos melhor os pais os pais os pais melhor a mãe
Aproximação da Aproximação da Aproximação de
família família outras mulheres
Distanciamento dos Distanciamento dos que são mães.
amigos amigos
Apoio no trabalho Respeito à licença Respeito à licença Respeito à licença Não relata
maternidade maternidade maternidade
Grupos de Opção de trabalhar
empoderamento meio período após
feminino o retorno
Horários flexíveis
Homeoffice
Apoio do Assume a maioria Assume a maioria Negociou horários Divisão igualitária
companheiro das funções de das funções de de trabalho para de tarefas
cuidados com os cuidados com os poder ajudar a
filhos filhos, mudou de cuidar das crianças
emprego por causa
dos filhos
Apoio de membros Mãe e irmã de Mãe de Planejadora Mãe de Prioridade Não relata
da família Persistente ajudam cuida das crianças ajuda quando
quando é quando Planejadora necessário
necessário viaja
FONTE: A autora (2019)

Persistente, Planejadora e Guerreira tiveram suas primeiras gestações planejadas,


apesar de se descobrirem grávidas mais cedo do que imaginavam. Somente a primeira gestação
de Prioridade foi surpresa. Nenhuma das entrevistadas relata uma mudança brusca em suas
identidades após tornarem-se mães. Isto difere do estudo de Hennekam (2016) no qual os
resultados indicam mudanças nas identidades das entrevistadas já durante a gravidez.

Não sei se foi a maternidade que me mudou. Eu não senti aquela coisa que, sabe que
todo mundo fala que quando nasce uma criança nasce uma mãe. Eu não senti que
nasceu uma mãe quando nasceu meu primeiro filho. É uma emoção indescritível de
fato. Tanto é que eu me lembro até hoje do primeiro olhar do meu filho quando nasceu.
Eu me lembro até hoje, assim, está gravado na minha memória. É uma emoção que é
difícil de definir. (Persistente)

Além de não relatarem mudanças significativas em suas identidades, as entrevistadas


relatam a decepção com o modelo que o imaginário e a mídia divulgam acerca da maternidade
(OLIVEIRA et al., 2011; SIFUENTES; RONSINI, 2011; VARGAS, 2012; MACHADO,
2017):

Eu achava, assim quando minha filha nasceu eu falava para todo mundo assim, a
sociedade me enganou, na gravidez eu já falava isso, que essa história de tipo, ai que
134

linda, tá gravida, isso é normal, aí eu falei, gente não é normal, não é normal um ser
estar se desenvolvendo dentro de você. Entende, tipo assim cada vez que eu ficava
nervosa trabalhando, a minha barriga endurecia inteira, aí eu falava, gente normal,
normal, normal essas coisas não são né? Mas foi tipo, trabalhei pra caramba, fiz os
projetos mais importantes minha vida durante a gravidez assim, mas reconhecidos
internacionalmente foi durante a gravidez só que daí quando nasceu eu tive tudo pós-
parto. (Guerreira)

A pesquisa de Hennekam (2016) identificou temas em suas entrevistas com mulheres


grávidas que também foram identificados nas falas das mulheres que foram entrevistadas nesta
pesquisa: falta de modelos realistas, sentimentos de solidão, insegurança e culpa, bem como a
pressão social sobre como equilibrar a maternidade com o trabalho remunerado.
Além de perceberem a diferença entre o modelo idealizado e o real, o fato de tornarem-
se mães trouxe um aumento nas demandas fora do trabalho, então ao mesmo tempo que tem
sua independência por meio do trabalho, as mulheres também precisam lidar com um aumento
dos conflitos. Em sua pesquisa, Haynes (2008) aponta que instituições sociais, como trabalho
ou maternidade mantêm a possibilidade de emancipação e de alcançar as suas próprias
aspirações, mas ao mesmo tempo criam mecanismos que podem levar à insegurança e à falta
de bem-estar.
Segundo Jonathan (2005) para exercer os múltiplos papéis que por vezes seriam
impostos às mulheres, sem perder de vista o sentimento de autorrealização, seria preciso ter
autonomia e poder de decisão, e gostar profundamente do que se faz.
Essa discussão tão relevante sobre o papel de trabalhadora e mãe foi empreendida
também por autores como Solari (2017), Martinez e Sila (2017), Ceribeli e Silva (2017). A
necessidade e dedicação ao trabalho tem um preço: o tempo com a família. Todas falam que
sentem vontade de ter mais tempo para os filhos e a entrevistada Prioridade reflete isto de
maneira mais intensa ao abrir mão de oportunidades de trabalho e cargos de coordenadoria para
ter mais tempo para os filhos.
As organizações do setor privado podem desenvolver programas e estratégias para
ajudar os funcionários a lidarem melhor com o conflito trabalho-família, principalmente as
mulheres que são mães. A organização e a coordenação de múltiplas atividades com apoio de
várias fontes é fundamental para encontrar o equilíbrio trabalho-família. (GRADY;
MCCARTHY, 2008; BROWN, 2012)
O apoio organizacional é particularmente importante em pontos de crise da carreira,
quando as mulheres têm de tomar a decisão sobre a melhor forma de equilibrar suas vidas
domésticas e de trabalhadoras, principalmente no retorno ao trabalho após a licença-
maternidade. (PARKE, 2012)
135

O estudo de Murtorinne-Lahtinen et al. (2016) sugere horários de trabalho não-


padronizados: as mães de crianças pequenas se beneficiam da regularidade e flexibilidade. Nas
entrevistadas no estudo de Murtorinne-Lahtinen et al. (2016), o fator chave que gerou
experiências positivas foi a capacidade de manter a regularidade e a união, que foi reforçada
por características específicas do trabalho, como autonomia e regularidade, e arranjos bem-
sucedidos de assistência à infância.
Com a inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho, e por estas, não abrirem
mão de muitos aspectos de suas vidas, inclusive da possibilidade de serem mães ou não, as
organizações precisam fornecer políticas concretas de apoio as mulheres, neste sentido Araujo,
Tureta e Araujo (2015) ressaltam a importância dos gerentes de Recursos Humanos
desenvolverem programas de equilíbrio entre o trabalho e o lar que fornecem políticas que se
adaptem às preferências de fronteira do lar de trabalho para aquelas mães que desejam integrar
e segmentar esses domínios. Trabalhar isto nas empresas é importante para que as mulheres
mantenham-se trabalhando e continuem a receber seus salários. Nesta pesquisa, as entrevistadas
relataram as seguintes formas de apoio organizacional: respeito à licença maternidade, grupos
de empoderamento feminino, opção de trabalhar meio período após o retorno, horários flexíveis
e homeoffice.
A maternidade não impediu Persistente, Planejadora e Guerreira de continuarem a
crescer em suas carreiras, e elas atribuem isto à divisão de tarefas com o pai dos filhos. Esta
mudança na postura dos homens também foi observada em outras pesquisas e mostra-se uma
tendência na família moderna que ainda cresce de maneira muito lenta. (HAGELSKAMP et al.,
2011; CASTELLS, 2013b; BAXTER et al., 2015; BERTOLINI et al., 2015; ZAHMACIOGLU;
ATALAY; AKBAS, 2015)

Acho que assim, na verdade é para ele foi uma mudança grande também, porque como
eu trabalhava ele também teve que se adaptar, acho que como pai né? E a cuidar dos
filhos fazer papel de cuidar das crianças. (...) graças a Deus ele não é nada machista
então para ele o fato de eu trabalhar e ele tem que cuidar das crianças também é um
supernatural, assim, é uma coisa não existe eu te ajudo e você me ajuda, né? Nós dois
assim, cada um faz a sua parte de só que normalmente cada um faz mis o que gosta,
né? Eu acho que o que a gente teve que aprender juntos foi isso né de assim.
(Planejadora)

Estes exemplos de arranjos familiares demonstram que os companheiros e ex-


companheiros das entrevistadas escolheram o caminho da renegociação de contrato familiar a
fim de lidar com as mudanças. Para Castells (2013b), esta é a melhor saída e mais sustentável
no decorrer do tempo e essencial para a reconstrução das famílias heterossexuais. Apesar da
136

igualdade entre maternidade e paternidade ser construída num ritmo muito lento, ela é
necessária para que as mulheres possam “ser produzidas não apenas como mães, mas como
mulheres que desejam os homens, e os homens poderão ser criados não só como amantes das
mulheres, mas também como pais de filhos” (CASTELLS, 2013b, p. 27)
Nas 4 histórias de vida ouvidas nesta pesquisa foi possível perceber a presença de uma
construção acerca da maternidade e do que é ser mulher. Esta presença corrobora com a
pesquisa que Ainsworth e Cutcher (2008) fizeram na Austrália, onde chegaram à conclusão de
que há uma construção nacional e cultural acerca da maternidade e do gênero. No Brasil, a
construção social acerca da maternidade atribui à mulher o papel de cuidadora primária da
família, responsável pelo bem-estar e pelas tarefas da casa (FABBRO et al., 2010; OLIVEIRA
et al., 2011; SIFUENTES; RONSINI, 2011; LOUREIRO; COSTA; FREITAS, 2012). Esta
construção da mulher e mãe também pode ser percebida em outros países. (SUN, 2008; ANNE;
PARAM, 2015; MANOOGIAN et al., 2015; WILLIAMS; BERDAHL; VANDELLO, 2016;
GROSS SPECTOR; CINAMON, 2017a)

Então mesmo é essa coisa da culpa da mãe que não tá o dia inteiro com a filha, que a
sociedade mesmo cobra isso porque ser mãe é uma sociedade que se coloca no outro
lugar as pessoas vivem mais você é a mãe parece que vira um ser assexuado né? Parece
que a sociedade te coloca no outro lugar então, você tem a culpa tua e a culpa que te
jogam né hoje eu já estou conseguindo olhar isso de outras formas sabe e até ver isso
como um aprendizado para minha própria filha, sabe esse mundo colorido de fantasia,
não existe. (Guerreira)

Segundo Rocha-Coutinho (2008), existe um processo de “naturalização” das funções


femininas, uma série de características que são demarcadas, como por exemplo, sacrifício,
docilidade, entre outros, todas estas características eram consideradas necessárias para ser uma
“boa” mãe, trazendo-as para serem identificadas com a maternidade e o feminino, e, em vários
graus permanecem até os dias de hoje. Guerreira comenta que não quer transmitir estas
características para a sua filha.

Eu nunca tive que sonho de fadinha por exemplo é que às vezes às vezes às mães com
as colegas a minha filha falando disso a princesa eu nunca fui isso e não quero isso
para minha filha também porque a vida não é essa, entendeu, tu pode ser várias coisas
mas não é isso né então acho que todo esse meu ritmo essa coisa é a Guerreira, aquela
mulher que vai, que faz, que acontece que qual que é o leão que eu tenho que matar
hoje aqui então daqui eu vou dar conta não tenho mais medo disso sabe, e ela também
tem que entender isso, que isso faz parte. (Guerreira)
137

Esta é uma atitude que reflete o tipo primário de identidade, não só de Guerreira, mas
de todas as entrevistadas: identidade de projeto (CASTELLS, 2013b). As análises sobre a
identidade das entrevistadas e seus papéis constam na sessão a seguir.

5.3. IDENTIDADE

No tema identidade, as entrevistadas abordaram aspectos como: autodefinição,


mudanças e papéis. Estes aspectos encontram-se compilados a figura 12:

FIGURA 12 – TEMAS RELACIONADOS À IDENTIDADE


Autodefinição

Identidade Mudanças Conflito

Papéis Sobrecarga

Ambiguidade

FONTE: A autora (2019)

A identidade de projeto planeja um estilo de vida diferente, que se expande e provoca


uma transformação na sociedade. A realização da identidade de uma mulher resulta não só em
sua liberação, mas também de homens e crianças. (CASTELLS, 2013b)
Ao definirem suas identidades, autodefinição, Persistente e Planejadora ressaltam o
papel de trabalhadora como central em suas identidades. Já Guerreira e Prioridade ressaltam o
papel de mãe, mas reconhecem o papel de trabalhadora como fundamental em sua constituição
identitária. (CASTELLS, 2013b) A centralidade do papel de mãe pode ser observada nas
prioridades de Guerreira:

Eu vou dizer minha filha, 5 coisas então, pera aí, acho que a saúde da minha filha, a
felicidade da minha filha, a saúde mental da minha filha que é diferente da Saúde
física, a minha saúde e a minha felicidade. (Guerreira)

Apesar de inicialmente negar que tenha mudado devido à maternidade, Planejadora


deixa claro que o que mudou em sua constituição identitária após tornar-se mãe:

Antes, bom, eu era muito mais individualista, quem sabe mais tranquila. Eu fiquei
casada muito tempo sem filho. Era, tipo, você vive sua função, alí, não tem hora, você
faz do jeito que você quer. Depois de ser mãe eu acho que você muda no olhar pra
vida, assim, o senso de responsabilidade, né. (Planejadora)
138

Estas mudanças também abarcam a maneira como as entrevistadas se relacionam com


os pais e outros membros da família. As entrevistadas relatam entender melhor os pais e
melhorarem o vínculo com a família. No entanto há um afastamento dos amigos. (LANEY et
al., 2014; MAZZUCCHELLI, 2014)

Você começa a entender coisas dos pais, onde, as vezes eu me pego repetindo
comportamentos que eu criticava dos meus pais. Ai eu falo assim: Nooooosa tô
fazendo igual, né. Ou assim: Não, agora eu entendo porque eles faziam, né.
(Planejadora)
Que eu respeito muito as pessoas que decidem não ter filhos porque não é fácil
trabalhar, ser mulher, mãe, tudo junto, não é nem um pouco fácil, mas para quem tem
um pouco de vontade, sofra, vai que dá certo. E é muito legal, você faz parte de um
ciclo de ser humano, é assim, eu fui criança, fui filha, fui neta e hoje estamos aí. Então
para mim e parece que eu entendo a vida de uma forma diferente, eu entendo a minha
mãe de uma forma diferente. (Guerreira)

Apesar do bom relacionamento com a família, as entrevistadas relatam que há uma


cobrança familiar para que elas se enquadrem no que Moreira e Nardi (2009) chamam de
“norma” da maternidade. Guerreira relata que já compreendeu que este papel comunicado pela
sociedade não condiz com a realidade, e tenta ensinar o máximo possível da realidade para a
filha. Cabe ressaltar que as entrevistadas não têm dificuldade em identificarem-se como
mulheres, como possuidoras de uma identidade feminina, mas não se identificam com a
identidade feminina colocada socialmente como desvalorizada. (CHODOROW, 1978;
CASTELLS, 2013b)
As entrevistadas identificam-se com uma identidade feminina de projeto, de mudança
do que é atribuído como o papel da mulher, papel de mãe e de trabalhadora. Para Oliveira et al.
(2011) há uma expectativa de que a mulher consiga conciliar a papel de mãe e de trabalhadora,
como pode ser visto na fala de Persistente:

Então independente da tua vida paralela como mãe o negócio te cobra, independente
da tua vida como negócio a tua família te cobra. Então são explicações que elas
explicam, mas não justificam, sabe? Ou justificam, mas não explicam, já não sei te
dizer como, mas as situações se contaminam. (Persistente)

No entanto ao tornar-se mãe a mulher lida com um aumento no número de estressores


específicos à parentalidade. (MURTA et al., 2011) A entrevistada Persistente deixa isto claro
em sua fala:

Olha, é um desafio, porque é difícil você equilibrar todos os papeis e eu acho que
quanto mais se cresce na carreira mais você tem que abrir mão da maternidade e
quanto melhor mãe você é você tem a tendência de querer abrir mão de outras coisas
139

e você não consegue. Então a grande dificuldade eu acho que é equilibrar tudo isso.
Eu acho que tudo resume nisso. Ou você cede de um lado, ou você cede do outro. Ou
você desiste de uma coisa de um lado ou desiste do outro. É, você tem uma eterna
sensação de que parece que não dá conta, onde você olha você está devendo alguma
coisa. E é difícil porque são duas funções importantes que você desempenha. É, então
é muito difícil você ver aonde você vai colocar o teu foco, eu acho que a grande
dificuldade é esta. (Persistente)

Bertolini et al. (2015) apontam que há uma tensão entre as ideias dominantes acerca
da maternidade que englobam um modelo de maternidade intensiva, e as demandas do mercado
de trabalho. Os autores apontam que as ideias, os planos e as decisões relativas aos cuidados
infantis são altamente marcados pelo gênero, sendo influenciados pelas expectativas dos
parceiros, empregadores e colegas e por uma cultura de trabalho que não é favorável à família.
A nova transição para a parentalidade força as mulheres a redefinir sua identidade e carreira de
maneira altamente feminina. Planejadora deixa clara esta tensão em sua fala:

É desafiador, né!? Bom, assim, eu gosto muito de trabalhar. É uma coisa que eu não
me vejo, eu não me vejo como mulher não trabalhando. Então esta foi uma opção
minha desde muito cedo. Por exemplo, a minha irmã é uma, ela optou por ficar em
casa cuidando das filhas, né. Eu não consigo viver assim, né. Em momentos de muito
estresse ai às vezes eu penso: ai seria bom jogar tudo pro alto e ficar em casa! Mas ai
me dá cinco minutos, eu paro e penso: não, eu ia ser uma pessoa muito infeliz, né.
Mas tem momentos que realmente é, conciliar as coisas é complicado. (Planejadora)

Em meio a estes conflitos, duas entrevistadas, Prioridade e Guerreira, corroboram em


parte com o resultado da pesquisa de Baxter et al. (2015) ao apoiarem a maternidade como o
papel mais importante de suas vidas. Mas contradizem a outra conclusão dos autores: que as
atitudes se tornam mais tradicionais depois que os indivíduos experimentam o nascimento de
seu primeiro filho. Pelo contrário, a chegada da maternidade e a necessidade de conciliá-la com
o trabalho fizerem todas as entrevistadas afastarem-se ainda mais de atitudes tradicionais, nas
quais a mulher é a responsável pelos cuidados dos filhos.

O que é apoio para você? Ajudar a lidar com tudo isso? Olha, na verdade meu maior
apoio é o meu marido. Eu tenho um marido fora da curva. Olhando os homens e os
maridos das minhas amigas, de irmã, primas, ele é fora da curva. Ele é um homem
que sempre morou sozinho, sempre foi independente, sempre soube se cuidar. Fazer
sua comida, lavar sua roupa, cuidar da casa, deixar organizado. Ele é extremamente
organizado, não gosta de bagunça. Risos. Então quem chama atenção da bagunça da
casa é ele. Risos.
Então ele é meu ponto de apoio principal. Ele realmente consegue organizar muito
bem as coisas do dia a dia com as crianças. Ele é quem, na maioria das vezes, busca e
leva para a escola, né. A gente varia um pouco pela agenda dela porque ele dá aula na
P** e aí os horários dele são de manhã e à noite. Varia a cada semestre. Então cada
semestre a gente se adapta pelos horários dele. Então, assim tem semestre como esse
que ele só tem aula bem cedo, que é o dia que eu levo as crianças e segunda e sexta
que eu pego. Nos outros dias ele leva e busca. (Planejadora)
140

Tanto nas entrevistadas que colocaram o papel de mãe como o principal em suas vidas
(Prioridade e Guerreira) quanto nas que o papel de trabalhadora é o principal (Persistente e
Planejadora) há uma negação da identidade tradicional feminina que Castells (2013b, p. 265)
caracteriza: “filhos como objeto de seu instinto maternal; redes de relação femininas, como sua
principal fonte de apoio emocional; homens como objetos eróticos; e homens, como provedores
de família.”. Apesar de ainda contarem com redes de relação femininas para apoio emocional,
como é o caso do apoio maternal, das irmãs, amigas e colegas de trabalho, para estas mulheres
o homem não é o único provedor da família.
Por também serem provedoras, elas enfrentam o conflito trabalho-família, e precisam
abrir mão de momentos compartilhados com os filhos:

O que é que eu acho de ruim... Eu abri mão de muita coisa, assim eu não vou levar
meus filhos na escola quase nunca, eu raramente vou buscar meus filhos na escola. Já
vivi o modelo que eu ia buscar meus filhos na escola, vivi um estresse daqueles
absurdos, porque tinha que sair cinco e meia do trabalho. Eu não consigo sair cinco e
meia do trabalho, cinco e meia é quase meio da tarde, então eu tinha que sair 6 horas
porque seis e meia era o horário de carro, ai sair seis horas, seu eu sair as seis e dez o
transito já estava um caos, ai sai nervosa, já tinha que ir correndo, parava no sinal
amarelo, apertava a mão na buzina, e daí chegava esbaforida na escola, as vezes eles
estavam muito tempo esperando na portaria ou... Até que chegou... (Persistente)

Com maiores cobranças em relação as atividades familiares, as mulheres estão em


posição desvantajosas em relação aos homens. A fim de lidar com isto, as mulheres buscam
estratégias de igualdade de gênero que são importantes para observar e desenvolver uma
política de vida profissional adequada. A conquista do equilíbrio do trabalho/família significa
a realização da igualdade de gênero. (ZAHMACIOGLU; ATALAY; AKBAS, 2015)
Nas entrevistadas, a busca pela igualdade não foi fácil, pois foi preciso uma adaptação
da família inteira, principalmente dos companheiros, como pode ser visto na fala de Persistente:

Mas foi muito difícil no começo, porque eu acho que o homem não está preparado,
ainda para aceitar, para atender e viver esse modelo. Eu acho que a sociedade não está
pronta e o homem não está pronto para isto, para este mundo, que de uma certa forma
é o mundo moderno, assim, a gente, eu fui educada para ser mulher, o homem ser o
homem provedor, a mulher deixa na escola, pega na escola, dar o almoço, deixa a
criança dormir, dar banho... Então o mundo tanto o homem não estão preparados para
esta diferença de viver. (Persistente)

E ainda as entrevistadas relatam viver em constante conflito interno em relação ao


papel de mãe. Simorangkir (2015), ao realizar uma pesquisa com mães solteiras, aponta a culpa
como um sentimento recorrente, pois as entrevistadas na pesquisa de Simorangkir (2015)
afirmam que o maior sacrifício que elas fazem é não passar tempo adequado com seus filhos, o
141

que leva a um sentimento de culpa. No entanto, ser capaz de conduzir suas vidas pessoais e
carreiras profissionais lhes dá uma sensação de completude. Embora suas carreiras profissionais
sejam importantes, a maternidade é sua identidade predominante. Sentimentos de culpa também
podem ser percebidos na fala das entrevistadas nesta pesquisa, a exemplo, Persistente:

Eu acho que esta é a atividade. Constantemente eu me sinto uma mãe deficitária, uma
mãe fora do convencional, uma mãe diferente da que eu tive, né, em termos de
atividades, funções... Em alguns pontos uma mãe omissa, porque hoje eu vejo que
meus filhos tem um laço com meu marido diferente do que eles tem comigo, o laço é
forte, mas o laço com ele é forte, mas não é aquele laço que você escuta dizer: “nossa
os filhos não vivem sem a mãe”, “a mãe é referência”, “os filhos quando separam
ficam com a mãe”, sabe essas coisas que a gente escuta que, que se se cresce escutando
isso? O filho é da mãe, que quando separa o filho é da mãe, que o maior amor é da
mãe, eu não vivo muito essa realidade. Eu acho que meus filhos me amam demais, eu
tenho um excelente laço, mas não acredito mais nesses mitos. Ou não acredito ou eu
vivo um modelo que não é esse mito, que ele não concretizou na minha família. Nem
por isso a família é mais ou menos feliz, né? (Persistente)

Para lidar com as diferentes demandas, as entrevistadas contam com o apoio dos
maridos e ex-maridos e de membros da família: mães, pais e irmãs. Estes apoios ajudam a lidar
com as mudanças ocasionadas pela gravidez: mudanças no corpo, na relação com a mãe e na
maneira como tomam decisões. (OLIVEIRA et al., 2011; CARVALHO, 2016). Planejadora
aponta o apoio do conjugue e da família como essencial para que a mulher possa progredir na
carreira.

E eu acho que assim, a maioria é realmente a família que barra. O que a gente vê, é
que assim, vai ficando demandante as carreiras e nas famílias a maioria chega um
limite que tem que se optar, ou um ou outro. Porque os dois seguirem numa carreira
e, numa carreira demandante, tudo mais, é muito difícil. Pode acontecer? Pode, mas
eu acho muito difícil. E sempre que tem lá discussões, a gente sempre fala assim; “Ah,
como é que são as mulheres que estão nos cargos de liderança?” A maioria os homens
estão em casa ajudando. Assim, eu não lembro ainda de nenhum caso em que os dois
estão progredindo na carreira e tenham família, tenham filhos. A não ser que os filhos
já sejam grandes, bem mais velhos, que ai não tenha mais essa relação de dependência.
E aí a gente chega assim, realmente. Acaba que a família acaba sendo o bloqueio. As
mulheres acabam por optar, quando chega num momento que vê que vai impactar a
vida dos filhos, aí, ó opta por parar. (Planejadora)

Por meio da fala de Planejadora e das demais entrevistadas, pode-se perceber que
mesmo nas entrevistadas que tem o papel de trabalhadora como central, a maternidade permeia
sua constituição identitária, refletindo na maneira como tomam suas decisões no trabalho, na
área financeira e no planejamento de suas vidas. Com as análises realizadas, foi possível chegar
às considerações finais, que constam na sessão seguinte.
142

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que dizer destas mulheres? Que ao mesmo tempo guerreiras em carreira acolhem de
peito aberto e puro amor as pessoas que amam. O que dizer de mulheres que amam, apaixonam-
se e vivem intensamente as diversas faces delas mesmas, uma hora mães, outra trabalhadoras,
esposas, filhas, amigas, mas sempre mulheres, apesar de as vezes esquecerem.
Em cada mulher uma história, em cada história, várias histórias, e ao mesmo tempo
todas compartilhando os mesmos caminhos. Como as Moiras em seu tear, essas mulheres
teceram suas vidas, fio a fio. Para elas a Roda da Fortuna é composta por suas escolhas: ao
colocar um hemisfério da roda para cima, outro teria que ficar abaixo, ao colocar a vida
profissional como principal objetivo, algo teria que ser delegado a segundo plano, ao colocar a
família como prioridade, o trabalho já não poderia ficar no topo da roda. (BULFINCH, 2014)
As mulheres entrevistadas trouxeram histórias ricas, cheias de significados. Cada uma
conta sua história de maneira própria, mas as histórias convergem para experiências similares.
Isto demonstra que todas estão imersas em uma construção de significados que vai além do
próprio indivíduo, são significados construídos e compartilhados socialmente.
Em suas histórias o trabalho orienta a narrativa, dá uma estrutura temporal que ajuda
no contar das histórias. Persistente, Planejadora e Prioridade contam suas histórias a partir do
início de suas trajetórias de trabalho, Guerreira também começa sua história falando de um
trabalho, não o seu próprio trabalho, mas o trabalho da mãe, pois as possibilidades de trabalho
da mãe e seu exemplo refletem na maneira como Guerreira encara o trabalho. Todas veem o
trabalho como uma necessidade que vai além do material: para elas o trabalho significa
autorrealização, possibilidade de serem elas mesmas, uma expressão de suas vidas e escolhas.
O trabalho desempenha papel central na identidade dessas mulheres, é uma referência em suas
identidades; elas não se imaginam sem o trabalho.
Ao vivenciarem a maternidade, estas mulheres passaram por um processo de
reorganização de significados, modificando a constituição de suas identidades. Este processo
não é abrupto, é vivenciado no dia a dia, e por isto as protagonistas tiveram dificuldade em
darem-se conta de como a maternidade modificou a constituição de suas identidades. Estas
modificações ficam aparentes em suas falas.
A maternidade ressignificou a maneira como estas mulheres lidam com tempo,
dinheiro, suas vontades, prioridades, a relação com amigos, familiares: pai, mãe e irmãos,
perspectivas para o futuro e a relação com o trabalho. Se antes suas vidas giravam ao redor de
143

obter sucesso em suas carreiras, somente o planejamento para a maternidade já as fizeram


mudar de trabalho ou reorganizar suas jornadas. Ao chegarem à conclusão que desejavam
tornarem-se mães em um tempo próximo, as ações de adaptação para a chegada dos filhos já
demonstram uma mudança de significados no trabalho. O trabalho que antes era rei e soberano
de seus maiores desejos, passou a ser uma das grandes necessidades, e os recursos e significados
ligados ao trabalho passaram a ser compartilhados com a esfera materna. Após a maternidade
as decisões de trabalho passaram a levar em conta o bem-estar dos filhos, sem deixar de lado a
vontade de progredir no trabalho.
Apesar da vontade de progredir no trabalho continuar, as protagonistas relatam
viverem conflitos entre as demandas do trabalho e as da maternidade, sendo necessário gerir o
tempo de maneira eficaz e contar com o apoio do pai dos filhos, outros membros da família e
negociações de horários com as empresas em que trabalham.
Em suas falas, os companheiros ou ex-companheiros são mencionados como grandes
parceiros nos cuidados familiares e na divisão de tarefas domésticas, algumas relatam o que
seria uma inversão dos papéis tradicionais “ele é a mãe, eu só ajudo” (Persistente).
Nesses trajetos da vida, todas as mulheres relatam que não o fazem sozinhas, este não
é um caminho solitário; pelo contrário, ele é possível porque é percorrido em parceria. E esta
parceria não é necessariamente um companheiro atual, também aparece na figura de um ex-
marido. A parceria e divisão de tarefas e responsabilidades com o pai dos filhos, seja o marido
atual ou ex-marido, aparece na fala de todas as entrevistadas. Se estas mulheres não se encaixam
nos papéis tradicionais de mães, seus maridos e ex-maridos também não se encaixam nos papéis
tradicionais de pais. Elas relatam que para que isto acontecesse foi necessário um ajuste do
casal. Para além da necessidade de ajuste dos casais, as mulheres atribuem a maneira de seus
maridos e ex-maridos serem pais e ao amor que sentem por seus filhos.
Apesar dos desafios e das dificuldades no caminho de conciliar a carreira e a
maternidade, as histórias destas mulheres trazem o frescor da esperança de um mundo que está
mudando, de papéis que estão se diferenciando não somente por demandas no mundo do
trabalho, mas também por demandas afetivas, por amor à família e respeito, por melhor
convivência e respeito mútuo. E o que antes tinha tons de sonho, está mais próximo da realidade.
Narrarem suas vidas por meio da história de vida permitiu a visualização da tapeçaria
da vida destas mulheres sob seus olhares. Algumas vezes observam a tapeçaria pelas lentes do
trabalho, outras pelas lentes da criança que ainda guardam dentro de si, outras pela mulher que
esperam tornarem-se.
144

6.1. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Longe do tema ter sido esgotado neste trabalho, ele pode ser explorado de outras
maneiras e olhares. Ainda no tema da mulher que trabalha no setor privado, a maternidade e
sua identidade, também pode-se estudar as emoções desta vivência, também é possível expandir
a pesquisa para outras regiões do país e para diferentes perfis de mulheres.
Durante esta pesquisa o desempenho dos homens no papel de pai apareceu como
fundamental para o bom andamento da rotina familiar. Então no futuro, pode-se estudar como
se dá esta participação e como isto auxilia os membros da família a lidar com o conflito
trabalho-família. Também pode ser tema de uma pesquisa futura a maneira como os homens
lidam com o conflito trabalho-família em situação de divisão igual de tarefas entre o casal.

6.2. CONTRIBUIÇÕES PARA A SOCIEDADE

É do ventre da mulher que nasce nossa sociedade, é pelos cuidados femininos e


também masculinos que as crianças crescem. Tão importantes na constituição e manutenção da
sociedade, as mulheres têm galgado seus espaços fora do lar. A vivência das mulheres tem
mudado, mas os padrões do imaginário social da mulher não conseguem acompanhar estas
mudanças. Esta pesquisa contribui para conhecer melhor a mulher que é mãe e trabalha, como
ela significa o trabalho e a família e quais arranjos familiares e organizacionais precisa fazer
para dar conta das diversas demandas. Compreendendo estas mulheres, pode-se compreender
como se dão os arranjos familiares na atualidade e assim pode-se pensar projetos públicos e
privados que atendam às necessidades desse tipo de organização familiar.

6.3. CONTRIBUIÇÕES PARA AS ORGANIZAÇÕES

Esta pesquisa permite que as organizações possam conhecer a história de mulheres que
trabalham e são mães, conhecendo como as entrevistadas fazem suas escolhas de trabalho
pensando em suas carreiras e na maternidade, quais ações mais ajudam estas mães a conciliar
trabalho e família. Nesta pesquisa as entrevistadas demonstraram que uma cultura
organizacional que visa ao equilíbrio e à qualidade de vida é um atrativo para a captação e
retenção de talentos, e que os horários flexíveis ajudam a conciliar trabalho e família sem
prejudicar o rendimento destas trabalhadoras. Conhecendo estas trabalhadoras as organizações
podem pensar em ações que as ajudem a manterem-se no trabalho e a gerenciar melhor o
conflito trabalho-família.
145
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162

APÊNDICE 1 – GUIA DE ENTREVISTA

• Trabalho
 Início da carreira
 Objetivos/metas e progressão
• Maternidade
 A gravidez
 Mudanças na rotina
 Mudanças no trabalho
• Apoio
 Trabalho
 Companheiro
 Família
• Identidade
 Autodefinição
 Mudanças
• Papéis
 Conflito
 Sobrecarga
 Ambiguidade
• Família
 Companheiro
 Filhos
 Mãe e pai
 Outros familiares
• Como lidar
 Gestão do tempo
 Apoio
 Cônjuge
 Família
 Trabalho
163

APÊNDICE 2 -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, _________________________________________________________________
___________________________________________________________________________,
CPF:_______________________________________, declaro, por meio deste termo, que
concordei em ser entrevistada e/ou participar na pesquisa de campo intitulada COMO É SER
MULHER, TRABALHADORA E MÃE? UM ESTUDO SOBRE A IDENTIDADE DA
MULHER QUE TRABALHA NO SETOR PRIVADO, desenvolvida por Lara Késsia Martins
Ávila quem poderei contatar /consultar a qualquer momento que julgar necessário por meio do
telefone nº (41) 99730.3582 ou e-mail larakessia@hotmail.com.
Fui informada, ainda, que a pesquisa é orientada pela Profa. Dra. Mariane Lemos a
quem poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário através do telefone
nº (41) 99232.4875 ou e-mail psimari@uol.com.br. Afirmo que aceitei participar por minha
própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a
finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informada dos objetivos
estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é compreender como as mulheres que
trabalham no setor privado têm a sua identidade, e seus papéis permeados pela maternidade.
Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista a ser gravada a partir da
assinatura desta autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela
pesquisadora, sua orientadora e membros auxiliares da pesquisa.
Fui ainda informada que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem
sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos. Atesto recebimento de uma cópia assinada deste
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Curitiba, _______ de ______________________ de ___________

Assinatura da participante: ______________________________


164

APÊNDICE 3 - DECLARAÇÃO ANTI-PLÁGIO

Eu, Lara Késsia Martins Ávila, portadora do documento de identidade nº


2004031025785 e do CPF nº 007.044.183-98, residente e domiciliado à Av. Mal. Humberto de
Alencar Castelo Branco, 954 - Cristo Rei, Curitiba/PR, declaro para todos os fins que o projeto
de dissertação de mestrado intitulado “COMO É SER MULHER, TRABALHADORA E
MÃE? UM ESTUDO SOBRE A IDENTIDADE DA MULHER QUE TRABALHA NO
SETOR PRIVADO.” é resultado da investigação que realizei e de minha integral autoria, em
relação à qual assumo inteira e total responsabilidade, sujeitando-me às penas da lei em caso de
utilização de ideias ou palavras de autoria de outrem, sem a devida identificação ou autorização.

Curitiba, 16 de abril de 2018.

___________________________________________________
Lara Késsia Martins Ávila
165

APÊNDICE 4 -RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PLÁGIO

FIGURA 13 - RELATÓRIO DO PROGRAMA ANTI-PLÁGIO

FONTE: programa CopySpider (2019)

Relatório completo disponível para consulta em:


https://bit.ly/2V4SiWu

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