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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA

MARIA ORLANDA NOGUEIRA SANTOS

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO SUDESTE DO PARÁ: AS FORMAS


DE NOTICIAR OS CRIMES DE FEMINICÍDIO NO JORNAL CORREIO DE
CARAJÁS DE 2015 A 2019

MARABÁ – PARÁ
2021
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MARIA ORLANDA NOGUEIRA SANTOS

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO SUDESTE DO PARÁ: AS FORMAS


DE NOTICIAR OS CRIMES DE FEMINICÍDIO NO JORNAL CORREIO DE
CARAJÁS DE 2015 A 2019

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Licenciatura Plena em História da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará como
requisito à obtenção de título a Licenciatura Plena em
História.

Orientadora:
Profa. Dra. Maria Clara Sales Carneiro Sampaio

MARABÁ – PA
2021
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4

Acima de tudo, agradeço a Deus por mais esta realização.

Dedico este trabalho à minha mãe, meu esposo e filhas, por todo
apoio durante o desenvolvimento do mesmo.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por me manter firme durante os momentos difíceis desta


caminhada, à minha amada família, esposo Joceano e filhas Leilanne Camilla e Larissa
pelo apoio e incentivo nesta longa jornada, compreendendo amorosamente a ausência
durante todo o período da graduação e elaboração deste trabalho, acreditando sempre na
vitória. Bem como, em especial à minha querida mãe, Francisca, a qual sempre foi
incentivadora com uma palavra em defesa de que o estudo é a melhor conquista e o melhor
caminho para alcançar outros ideais, além de incentivar-me a nunca desistir.
Agradeço as minhas irmãs amigas, Domingas, Irismar, Antonia, e Natália por
sempre incentivarem a me manter firme.
Agradeço ao meu pai José, irmão José Ribamar e sua esposa Rosirene que sempre
acreditaram na minha vitória. Agradeço à minha sobrinha Maria Eduarda, sempre
disposta a colaborar de alguma forma.
Agradeço à Professora Drª. Maria Clara Sales Carneiro Sampaio, pela orientação
e pelo incentivo à relevante pesquisa, e aos demais professores (as), que contribuíram
diretamente com seus saberes e conhecimentos sistemáticos para a minha formação
acadêmica.
Agradeço as amigas, Luana, Samantha, Mayara, Juliana, Nayana pelo
incondicional apoio e encorajamento durante a graduação.
Agradeço a todos os colegas das turmas 2014 e 2015 com os quais compartilhei
momentos ruins e muitos momentos de grandes trocas na aprendizagem.
Agradeço aos colegas, amigos de trabalho e demais pessoas que de alguma forma
contribuíram com essa caminhada.
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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso pretende realizar um estudo sobre o ativismo feminino
no enfrentamento da violência contra a mulher no âmbito social e doméstico. No primeiro
momento propõe apresentar uma visão historiográfica sobre os movimentos feministas para
libertação da mulher do jugo de opressão e domínio masculino. Conceituar entre outros, o
termo feminicídio, o qual legitima o assassinato da mulher, em razão da condição de ser
mulher, além de fazer considerações a cerca do aumento relevante da violência e assassinatos
cometidos contra a mesma em uma escala nacional e regional, bem como sobre a desigualdade
de gênero gerada pela construção social baseada no patriarcalismo que define a condição
discriminatória da mesma, inferiorizando-a frente a supremacia do homem. Em seguida
almeja analisar a forma como o Jornal Correio de Carajás, estabelecido em Marabá, atuando
há 36 anos e com grande alcance popular, aborda o conceito de feminicídio e noticia o crime
nas matérias jornalísticas divulgadas na região sul e sudeste do Pará, no período de 2015 a
2019, além de extrair do mesmo, relatos de três casos ocorridos na região que tiveram grande
repercussão. E como última etapa do trabalho, e através de uma pesquisa com um grupo de
alunos da Escola E. E. M. Dr. Gaspar Vianna, analisar a concepção destes frente a tal
violência.

Palavras-chave: Ativismo feminino. Violência contra a mulher. Feminicídio.


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.
ABSTRACT

The presente paper aims to contribute to the analysis of women’s activism towards multiple
realities of gender violence is the social and domestic environments. In the first part,
historiographical debates around the origins and the definitions of the concept of feminicide
will be presented. The apparent surge in the number of feminicide cases in Brasil, since the
passing of the legislation in 2015, entails our analysis of how the subject is portrayed in the
36 years old newspaper Correio de Carajás (JCC), as one of the main news outlet of the
southwest region of the Brasilian, state of Pará. Around 3 specific cases of femicide in region
were chosen to be further analyzed interms on how the crime and the victims were portrayed
by the journalists of JCC, between 2015 and 2019. At last, the seraech on the meaning of the
term feminicide among students of the Dr. Gaspar Vianna state high school will also be
described.

Key-words: Women`s activism, gender violence, femicide.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO. ........................................................................................... 10
2. CAPÍTULO I. UM HISTÓRICO DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS E O
RECONHECIMENTO DA CIDADANIA ................................................... 12
2.1 Apresentação do tema da pesquisa ............................................................. 12
2.2 Mulheres, história, o Brasil e o ocidente .....................................................12
2.3 O reconhecimento da Cidadania da Mulher.................................................19
2.4 O Conceito de Femicídio/Feminicídio a partir das Ideias da jurista
Carmen Hein de Campos e da antropóloga Marcela
Lagarde .............................................................................................................22

3. CAPÍTULO II. A ANÁLISE DE 3 (TRÊS) CASOS DE FEMINICÍDIO


NOTICIADOS PELO JORNAL CORREIO DE CARAJÁS (JCC)...............24

3.1 Primeiro caso: Maria Pastora Gonçalves da Silva .....29


3.2 Segundo caso: Andréia do Nascimento Brígido .......................................... 31
3.3 Terceiro caso: Dayse Dyana Sousae Silva .................................................. 34

4. CAPÍTULO III. A EDUCAÇÃO QUE TRANSFORMA ......................... 38


4.1 Justificativa apresentada para intervenção na Escola Estadual de Ensino
Médio Dr. Gaspar Vianna ................................................................................. 43

4.2 Narrativa sobre a intervenção realizada na Escola Estadual De Ensino Médio


Dr. Gaspar Vianna ............................................................................................ 45

4.3 Análise do resultado do questionário de intervenção: amostra de 20 alunos 46

4.3.1 Primeiro momento e segundo momento .................................................. 46

4.3.2 Questões Discursivas .............................................................................. 51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 54

REFERÊNCIAS. ....................................................................................................... 56

Anexo I – Lista de Siglas............................................................................................................60

Apêndice I – Questionário de intervenção sobre feminicídio............................................61


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1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa constitui o trabalho de conclusão do curso de Licenciatura


Plena em História da Faculdade de História (FAHIST) do Instituto de Ciências Humanas
(ICH) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), com título final:
“A violência contra a mulher no Sudeste do Pará: As formas de noticiar os crimes de
feminicídio no jornal Correio de Carajás de 2015 a 2019”. Foi nosso objetivo principal
analisar com maior cuidado 3 (três) casos sobre feminicídio na região do sudeste do
estado do Pará. Procuramos compreender de que forma esses crimes foram noticiados no
jornal Correio de Carajás (doravante referido como JCC), que utilizamos como principal
fonte documental desta pesquisa.
No primeiro capítulo, desta forma, buscou-se compreender a trajetória histórica das
lutas das mulheres pela igualdade de direitos e de oportunidades na sociedade
contemporânea. Através de uma breve análise historiográfica de alguns dos principais
movimentos feministas do Ocidente e do Brasil, procuramos apresentar algumas autoras
importantes que contribuíram para o avanço social das mulheres. No tocante à história
dos movimentos feministas no Brasil, prestamos maior atenção na década de 1960,
reconhecendo a influência internacional que tivemos dos movimentos feministas dos
Estados Unidos e da Europa Ocidental. Para tanto, utilizados historiadoras já consagradas
como Rachel Soihet, entre outras, como a filósofa-política italiana Anna Elisabetta
Galeotti que nos ensina:
“A teoria feminista anglo-americana discutiu amplamente o problema da
cidadania feminina, ao constatar que as sociedades liberal-democráticas não
reconheceram efetivamente as mulheres como cidadãs a pleno título”.
(GALEOTTI apud BONACCHI e GROPPI, 1995, p.235).

Ainda no primeiro capítulo são apresentados os conceitos dos termos Femicídio/


Feminicídio a partir das ideias da jurista Carmem Hein de Campos: “[...] desde uma
perspectiva da teoria e criminologia feministas, às propostas de criminalização do
feminicídio no Brasil e a nova qualificadora incluída no Código Penal”, que estão em
conformidade com os debates conceituais e epistemológicos da antropóloga mexicana
Marcela Lagarde (CAMPOS, 2015, p. 105/106).
No segundo capítulo descreveremos 3 (três) dos casos de feminicídios que
adentraram a cobertura jornalística do destacado JCC, entre os anos de 2015 e 2019. Para
além de uma reflexão sobre os crimes, buscamos entender como são apresentadas, por
exemplo, as motivações que ensejaram os assassinatos e de que forma a linha editorial do
11

JCC abriu espaços para que esses delitos penais fossem justificados. Também foi nosso
objetivo observar como aparecem as mulheres vítimas de feminicídio e se é possível
traçar paralelos entre os três casos.
Para o terceiro e último capítulo, a pesquisa descreverá a intervenção realizada na
Escola de Ensino Médio Dr. Gaspar Viana, a partir da distribuição de questionários sobre
o tema do feminicídio para estudantes cursando o 3º ano do Ensino Médio. Buscamos,
assim, tentar compreender como a forma de noticiar o crime de feminicídio no sul
paraense pode impactar em parte a percepção de gênero desses jovens.
12

2. CAPÍTULO I. UM HISTÓRICO DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS E O


RECONHECIMENTO DA CIDADANIA

2.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA DA PESQUISA


O presente capítulo se propõe a apresentar uma pequena introdução envolvendo
algumas das interpretações historiográficas sobre a agência das mulheres a partir da
perspectiva de alguns movimentos sociais e políticos no Brasil e no Ocidente. Trataremos,
assim, de um pouco da trajetória das lutas pela igualdade e as conquistas de alguns dos
direitos básicos, como direito à participação na vida política, à educação e ao divórcio,
entre outros direitos e conquistas.
Desses movimentos, sempre sobressaíram muitas ativistas importantes que
contribuíram de maneira substancial para as lutas pela igualdade na história no mundo.
Algumas dessas ativistas serão apontadas nos itens a seguir.

2.2. MULHERES, HISTÓRIA, O BRASIL E O OCIDENTE


A historiadora estadunidense, Joan Scott, em seu capítulo História das Mulheres -
para a obra organizada pelo historiador britânico, Peter Burke, A Escrita da História:
Novas Perspectivas agência – nos ensina que: “No reino da política tradicional, as
mulheres tornaram-se um grupo identificável (pela primeira vez desde o movimento
sufragista na virada do século)” (SCOTT, 1992. p. 68). É possível pensar, entretanto, que
a agência e a resistência das mulheres sejam tão antigas quanto às divisões sociais de
gênero.
A história das mulheres apareceu como um campo definível principalmente
nas duas últimas décadas. Apesar das enormes diferenças nos recursos para ela
alocados, em sua representação e em seu lugar no currículo, na posição a ela
concedida pelas universidades e pelas associações disciplinares, parece não
haver mais dúvida de que a história das mulheres é um a prática estabelecida
em muitas partes do mundo. Embora a situação dos Estados Unidos seja única
pelo fato de a história das mulheres ter atingido uma presença visível e
influente na academia, há evidência clara - em artigos e livros, na auto-
identificação dos historiadores que se pode encontrar em conferências
internacionais, e nas redes informais que transmitem as notícias do mundo
intelectual - da participação internacional no movimento da história das
mulheres. (SCOTT, 1992. p. 63).

A produção intelectual das mulheres e a luta por igualdade, da mesma forma,


antecedem o movimento sufragista do início do século XX. Entre os incontáveis exemplos
que poderíamos mencionar, escolhemos o da ativista e intelectual inglesa Mary
Wollstonecraft (1759-1797), cujo trabalho de maior sucesso foi provavelmente; As
Reivindicações dos Direitos das Mulheres, publicado pela primeira vez em 1790.
13

Depois de considerar a página da história e de refletir sobre a realidade atual


com ansiosa solicitude, os mais melancólicos sentimentos de dolorosa
indignação têm deprimido meu espírito, e lamento ver-me obrigada a confessar
que ou a natureza estabeleceu grande diferença entre um homem e outro, ou a
civilização que até agora conhecemos tem sido muito parcial. Repassei vários
livros escritos sobre o tema da educação e, pacientemente, observei a conduta
dos pais e da administração das escolas; qual foi o resultado? Uma profunda
convicção de que a educação negligenciada de meus semelhantes é a principal
causa da miséria que deploro e de que as mulheres, em particular, são tornadas
fracas e infelizes por uma variedade de causas concomitantes, originadas de
uma conclusão precipitada. A conduta e as maneiras das mulheres são, de fato,
a prova evidente de que a mente delas não se encontra em um estado sadio;
pois, tal como as flores plantadas em um solo rico demais, a força e a utilidade
são sacrificadas à beleza, e suas folhas garbosas, após agradarem a um olhar
exigente, murcham e caem do galho, muito antes de atingirem a maturidade.
Atribuo a causa desse florescimento estéril a um sistema de educação falso,
extraído de livros sobre o assunto escritos por homens que, ao considerar as
mulheres mais como fêmeas do que como criaturas humanas, estão mais
ansiosos em torná-las damas sedutoras do que esposas afetuosas e mães
racionais. O entendimento do sexo feminino tem sido tão distorcido por essa
homenagem ilusória que as mulheres civilizadas de nosso século, com raras
exceções, anseiam apenas inspirar amor, quando deveriam nutrir uma ambição
mais nobre e exigir respeito por suas capacidades e virtudes. Não é
possível, contudo, pensar movimento sufragista, o qual foi formado em maioria
por mulheres inglesas com o objetivo de conquistar o direito de votar nas
eleições, tendo como destaque entre tantas os nomes de Emmeline Pankhurst
uma das criadoras deste movimento e a escritora Mary Wollstonecraft, esta,
defendendo em seus livros o direito do voto para as mulheres. É considerada a
fundadora do feminismo, escreveu o livro “Uma reivindicação dos direitos da
mulher”. Esse movimento ganhou força principalmente no Reino Unido e
Estados Unidos. (WOLLSTONECRAFT, 2016, p. 25).

Scott nos mostra, entretanto, que os feminismos nas sociedades ocidentais, contudo,
enquanto conjunto de movimentos sociais, projetos políticos e novas abordagens
epistemológicas ganharam mais força entre as décadas de 60 e 70 do século XX. A
referida pesquisa dá conta que entre os anos 1960 e 1990, as lutas se intensificaram,
geralmente influenciada (e influenciando) outros movimentos que buscavam o
reconhecimento de diversos direitos civis. A historiadora brasileira, Rachel Soihet, em
seu texto Os feminismos latino-americanos e suas múltiplas temporalidades no século
XXI, nos conduz na mesma direção:
“[...] E quase todas as primeiras feministas tiveram uma participação acentuada
nos movimentos que então se desencadeavam. Nos Estados Unidos, atuaram
em favor do movimento dos negros pelos direitos civis e na resistência à guerra
do Vietnã. Na França, o movimento desencadeador dorenascimento feminista
foi a participação no movimento de 1968. No Brasil, feministas acentuam
trajetória idêntica, como Leila Linhares Barsted, que ao referir-se ao Seminário
da ABI, em meados de 1975, do qual decorreu a criação posterior do Centro
da Mulher Brasileira (CMB), afirma que este apresentava uma conotação bem
política, até porque as organizadoras eram mulheres que vinham de militância
política.[...]”. (SOIHET, 2007. p. 414-415).

É importante frisar que o artigo acima, menciona o período como uma importante
fase do cruzamento de informações e dos debates de inclusão de uma maior quantidade
14

de grupos de mulheres, trazendo ainda mais visibilidade para as lutas destas,


principalmente dentro dos processos reflexão sobre o desenvolvimento econômico e de
descolonização. Segundo Soihet, “inúmeras foram as militantes feministas que tiveram
experiência similar, em termos de envolvimento inicial, com lutas contra as desigualdades
sociais e contra o imperialismo”. (SOIHET, 2007. p. 414).
Em termos didáticos, tem-se usado progressivamente mais o agrupamento das lutas
feministas desde o século XIX sob o termo “onda”. Como nos ensina a Professora de
Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Constância Lima Duarte, a primeira onda compreende as lutas dos séculos XIX
e XX:
Quando começa o século XIX, as mulheres brasileiras, em sua grande maioria,
viviam enclausuradas em antigos preconceitos e imersas numa rígida
indigência cultural. Urgia levantar a primeira bandeira, que não podia ser outra
senão o direito básico de aprender a ler e a escrever (então reservado ao sexo
masculino). A primeira legislação autorizando a abertura de escolas públicas
femininas data de 1827, e até então as opções eram uns poucos conventos, que
guardavam as meninas para o casamento, raras escolas particulares nas casas
das professoras, ou o ensino individualizado, todos se ocupando apenas com
as prendas domésticas. E foram aquelas primeiras (e poucas) mulheres que
tiveram uma educação diferenciada, que tomaram para si a tarefa de estender
as benesses do conhecimento às demais companheiras, e abriram escolas,
publicaram livros, enfrentaram a opinião corrente que dizia que mulher não
necessitava saber ler nem escrever (...) O nome que se destaca nesse momento
é o de Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), nascida no Rio Grande
do Norte, que residiu em Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro, antes de se
mudar para a Europa, e que teria sido uma das primeiras mulheres no Brasil a
romper os limites do espaço privado e a publicar textos em jornais da chamada
“grande” imprensa. (DUARTE, 2003. p. 153).

Duarte segue nos explicando que Nísia Floresta, além de publicar, em 1832, o livro
Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, um dos primeiros do tipo no Brasil,
declarou ter traduzido a já referida obra de Wollstonecraft. Floresta (1810-1885) trouxe
para o debate sobre a igualdade de gênero, que se iniciavam no Brasil, as principais
referências teóricas européias:
Seu primeiro livro, intitulado Direitos das mulheres e injustiça dos homens, de
1832, é também o primeiro no Brasil a tratar do direito das mulheres à instrução
e ao trabalho, e a exigir que elas fossem consideradas inteligentes e
merecedoras de respeito. Este livro, inspirado principalmente em Mary
Wollstonecraft (Nísia declarou ter feito uma “tradução livre” de
VindicationsoftheRightsofWoman), mas também nos escritos de Poulain de la
Barre, de Sophie, e nos famosos artigos da “Declaração dos Direitos da Mulher
e da Cidadã”, de Olympe de Gouges, deve, ainda assim, ser considerado o texto
fundante do feminismo brasileiro, pois se trata de uma nova escritura ainda que
inspirado na leitura de outros. Pode também ser lido como uma resposta
brasileira ao texto inglês: nossa autora se colocando em pé de igualdade com a
Wollstonecraft e o pensamento europeu, e cumprindo o importante papel de
elo entre as idéias estrangeiras e a realidade nacional. (DUARTE, 2003, p. 153)
15

Sobre as referências de Floresta, cumpre mencionar que a Declaração dos Direitos


da Mulher e da Cidadã, escrita pela ativista e autora francesa Olympe de Gouges, em
1791, dentre outras obras do tipo, tiveram sempre uma recepção bastante complexa e
permeada por conflitos. A referida declaração e propôs a pensar o papel social
desempenhado pela mulher especificamente do ponto de vista da função pública, partindo
do fundamento da igualdade difundido entre os ideais da Revolução Francesa (1789-
1799). Afinal, toda a prática social foi pautada no princípio do homem sobre todo o resto.
A declaração de De Gouges assume um caráter de “documento excepcional que marca
época na história das ideias”, como afirma a historiadora italiana Ângela Groppi e a
filósofa, também italiana, Gabriela Bonacchi (BONACCHI e GROPPI, 1995, p.12).
Bonacchi e Ângela Groppi ainda ressaltam que a Declaração do homem e do cidadão de
1789, representa momento fundador dos modernos direitos à liberdade e à igualdade, mas
continua excluindo as mulheres:

Não se deve esquecer que é no novo clima criado pelo evento revolucionário
que toma corpo a Declaração dos direitos do homem e do cidadão em 1789,
universalmente reconhecida como momento fundador dos modernos direitos à
liberdade e à liberdade e à igualdade. E é na época da Revolução Francesa que
se prepara a construção concreta e não linear daquele modelo de cidadania que
atravessou o Ocidente europeu nos últimos duzentos anos e do qual as
mulheres permaneceram por muito tempo excluídas. (BONACCHI e GROPPI,
1995, p. 12).

Bonacchi e Groppi continuam enfatizados, em seu trabalho, a questão do problema


da cidadania para as mulheres, mesmo depois da declaração.

Pode-se então partir da Declaração de Olympe de Gouges para tentar colher as


linhas básicas da complicada relação mulheres-igualdade e para extrair do
quadro teórico-prático da revolução Francesa algumas linhas de reflexão mais
geral sobre o problema da cidadania. (BONACCHI e GROPPI, 1995. p. 13).

Em linhas gerais, as autoras continuam afirmando que na pauta das discussões das
mulheres, estas, pretendem os direitos para ambos os sexos, fazendo menção aos dois
lados, masculino e feminino, ao contrário do ideal masculino.
Retomando a trajetória histórica dos movimentos feministas, na luta por igualdade
de direitos, e à luz da assistente social Melanie Cavalcante Marques e da historiadora
Kella Rivetria Lucena Xavier, no artigo “A gênese do movimento feminista e sua
trajetória no Brasil”, publicado em 2018, reiteram que a primeira onda do feminismo
ocidental, em resumo, envolve as lutas das mulheres entre a metade do século XIX e XX
por direitos básicos à educação e à participação política.
16

No Brasil, o movimento feminista surge também com o sufrágio feminino, a


primeira onda do movimento feminista chega ao Brasil no início do século XX,
as sufragistas lutavam pelo direito ao voto e pela sua cidadania. Na
Constituição de 1824, o direito ao voto era concedido apenas para indivíduos
a partir de 25 anos de idade, militares e os casados podiam votar com 21 anos,
além da idade também era estipulado uma renda mínima, porém eram poucos
brasileiros que possuíam essa renda mínima. Em 1891, a constituição brasileira
delimitava, claramente, o impedimento das mulheres como eleitoras e não só
as mulheres, analfabetos, soldados, pessoas menores de 21 anos e pessoas
abaixo da linha de pobreza. (MARQUES e XAVIER, 2018, p. 9-10).

No Brasil, o sufrágio feminino foi conquistado já na Era Vargas, em 1932. Contudo,


foi somente em 1934 que o voto feminino foi incorporado ao texto constitucional como
facultativo e equiparado ao voto dos homens (através do Código Eleitoral em 1965).

Apenas em 24 de fevereiro de 1932 foi dado a concessão do voto feminino no


período do governo de Getúlio Vargas, que marcou o fim da República Velha
e foi quando houve uma reforma na legislação eleitoral. Também foi, nesse
período, que estabeleceram o salário mínimo, as oito horas da jornada de
trabalho regulamentando e também o direito de licença a maternidade.
(MARQUES e XAVIER, 2018, p. 10).

Marques e Xavier, assim, definem que “os anos seguintes ao voto, não foram de
grande desenvolvimento para o movimento feminista, que, somente em 1964, passará por
grandes agregações de conhecimento” (MARQUES e XAVIER, 2018, p, 11). Faz-se
necessário lembrar que 1964 é o ano do inicio da Ditadura Militar no Brasil e, assim,
somente após o final do regime, os movimentos feministas voltam se ampliar e se
fortalecer no campo dos estudos políticos, trazendo a público algumas das questões da
luta ligadas às questões da liberdade sexual, da maternidade e dos direitos de reprodução.
Como veremos mais adiante, a segunda onda do feminismo no Ocidente e no Brasil, se
constrói sob a luta pela igualdade social e pela igualdade de direitos. A partir desse
momento passa-se a questionar muitas das formas de submissão e desigualdade que eram
impostas as mulheres. Dentro deste processo também se cunha uma espécie de ideia de
coletividade, proveniente da força da união das mulheres - enquanto movimento capaz de
provocar alterações reais na sociedade.
A já citada historiadora Raquel Soihet, em seu artigo de 2007, Os feminismos latino-
americanos e suas múltiplas temporalidades no século XXI, parte da memória das
ativistas no Rio de Janeiro entre os anos 1970-80, para descrever como foram as adesões

e manifestações de algumas das feministas que entrevistou para sua pesquisa. Dentre elas
está Hildete Pereira de Melo, que era filiada à ala da esquerda democrática do partido
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que fez oposição ao regime militar entre
1966-1979. A entrevista com Melo mostrou que nas reuniões partidárias que
17

compreendiam um grupo de estudos, a fala era proferida majoritariamente pelos homens.


Tanto Melo como outras colegas frequentemente permaneciam em silêncio, por
encontrarem bastante dificuldades em se colocarem nas discussões conjuntas. Ela afirma
que: “Numa entrevista de componentes dos jornais Nós mulheres e Brasil Mulher de
Pasquim, uma das participantes frisa ‘a importância das mulheres amadurecerem e
aprenderem a ‘falar’, referindo-se a um debate de imprensa independente, o qual foi
monopolizado pelos homens. Hildete revelou-se sensível a essa dificuldade, e propôs um
grupo só de mulheres que iniciou uma discussão sobre a questão das mulheres [...]”. E
em agosto de 1976, Melo levou todo o grupo para o Centro da Mulher Brasileira.
(SOIHET, 2007, p. 416).
No decorrer dos anos 1990, inicia-se a terceira onda do feminismo. Passou-se a
pleitear uma maior liberdade de escolhas em relação a todos os aspectos das vidas das
mulheres. Uma quarta onda foi epistemologicamente proposta recentemente no X
Congresso Latino-Americano de Ciência Política (ALACIP), organizado conjuntamente
pela Associação Latino-Americana de Ciência Política, a Associação Mexicana de
Ciência Política e o Instituto Tecnológico de Monterrey. O referido evento, que durou do
dia 31 de julho a 3 de agosto de 2019, aceitou a apresentação do trabalho “A quartaonda
feminista: Interseccional, digital e coletiva”, de autoria da cientista política Olivia
Cristina Perez, da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e pela socióloga Arlene Martinez
Ricoldi, da Universidade Federal do ABC (UFABC). Perez e Ricoldi, no referido
trabalho, e de acordo com a obra da cientista política Sonia E. Alvarez, da Universidade
de Massachusetts, em especial de um recente artigo denominado Para além da sociedade
civil: reflexões sobre o campo feminista (ALVAREZ, 2014, p. 26-27). Alvarez se refere
ao movimento de terceirização e proliferação de organizações não-governamentais
(ONGs) feministas e de mulheres como determinante para a institucionalização dos
movimentos.
Perez e Ricoldi apresentam ainda, outros marcos da terceira onda:
Alguns marcos dessa terceira onda são a Conferência de Beijing em 1995
(conferência internacional para discutir os direitos das mulheres), assim como
a interlocução entre Estado e sociedade civil possibilitada pelas Conferências
e pelos Conselhos de Direitos. No Brasil, a Eco 1992 e a tenda Planeta Fêmea
simbolizaram o início da eclosão de Organizações Não-Governamentais
feministas, que tem como características a profissionalização e a tecnificação
de suas ações, afinadas com as agendas internacionais do gênero (momento em
que o termo ganha impulso no Brasil). Nessa onda, ONGs que discutiam
questões como raça e diversidade sexual surgem e fazem um trabalho
importante, e pode-se afirmar que imprimem marcas para o que virá a ser a
onda seguinte. (PEREZ e RICOLDI, 2019, p. 7-8).
18

Para Perez e Ricoldi, os acontecimentos dos últimos cinco anos (2015-2019),


constituem a quarta onda, frente à maior presença dos meios de comunicação digitais,
uma vez que geram desmembramentos sociais únicos dentro das lutas feministas. Há uma
maior divulgação e apropriação da ideia do feminismo interseccional, bem como a
organização em forma de coletivos, a qual deverá ser considerada um traço desta quarta
onda feminista no Brasil. (PEREZ e RICOLDI, 2019, p. 8).
Para as já referidas autoras, as novas tecnologias da comunicação representam a
possibilidade de um maior alcance dos movimentos feministas nos dias atuais.
Proporcionando maior divulgação e melhor democratização das ideias, na medida em que
se criam textos e vídeos e que os mesmo podem ser facilmente circulados nas redes sociais
digitais. É comum ver campanhas sobre igualdade de direitos e oportunidades de trabalho
para as mulheres, as quais são criadas por pequenos grupos e divulgadas por muitas
mulheres. Isto possibilita a construção de identidades entre as usuárias nas redes. (PEREZ
e RICOLDI, 2019, p. 9).
As ideias, desta forma, são compartilhadas internacionalmente, diminuindo as
fronteiras entre os movimentos sociais, permitindo que discussões e mobilizações
realizadas em outros países cheguem ao Brasil. Então a quarta onda, através da internet
traz como característica a massificação, diversidade, militância digital e transacional,
limitada apenas pela impossibilidade de acesso da internet. (PEREZ e RICOLDI, 2019,
p.10).
O termo e o debate sobre a interseccionalidade, ou feminismo interseccional,
mencionado anteriormente, é utilizado para definir as várias modalidades de opressão
sofridas por uma mesma mulher devido à raça, classe, comportamento, orientação sexual
e afetividade. Ainda conforme Perez e Ricoldi, o termo vem se popularizando entre as
militantes brasileiras e apresenta uma superação do feminismo branco e de classe média,
bastante acentuada nas ondas anteriores, uma vez que a discussão de gênero em geral
referia-se as mulheres brancas. O termo conjuga elementos identitários como raça,
gênero, classe, sexualidade e deficiência. Ao desconsiderar essas classificações se
projetavam mais desigualdades para as mulheres negras. (PEREZ e RICOLDI, 2019, p.
11).
Perez e Ricoldi, ainda, afirmam que a jurista estadunidense Kimberlé Crenshaw, é
uma das autoras feministas negras mais importantes na divulgação dos termos ligados à
interseccionalidade. É possível identificar dentre as primeiras utilizações do termo em seu
trabalho DemarginalizingtheIntersectionofRaceand Sex: a Black FeministCritique
ofantidiscriminationDoctrine, FeministTheoryandAntiracistPolitics,1 de 1989. (PEREZ e
RICOLDI, 2019, p. 11).
1
Em tradução livre, Desmarginalizando a Intersecção entre Raça e Sexo: Uma Crítica do Feminismo Negro
a uma Doutrina de Discriminação, à Teoria Feminista e as Política Antirracistas.
19

A adoção do olhar interseccional tem permitido que muitos movimentos


feministas adotem a campanha pelo fim da discriminação contra mulheres
negras e/ou contra o ódio direcionado à população LGBT. Nesse sentido, a
abordagem interseccional serve como um parâmetro de justiça, na medida
em que exige que seja considerado o intercruzamento das desigualdades na
inclusão de grupos e garantia de direitos aos mesmos. Ainda que nem todos
os movimentos feministas se denominem interseccionais, a produção de
vertentesdo feminismo expressa o quanto o mesmo está se abrindo para outras
clivagens sociais, além do gênero. Inclusive, as intersecções entre o
movimento feminista, negro e LGBT é bastante presente nos trabalhos que
citam a quarta onda. (PEREZ e RICOLDI, 2019, p. 9-10).

Para além da interseccionalidade, Perez e Ricoldi também apresentam a ideia de


organização dos movimentos feministas em forma de coletivos nesta quarta onda, como
sendo ainda outra característica deste período. Em consonância com o uso das mídias
digitais são perceptíveis modificações organizacionais dentro dos movimentos, se
comparados aos formatos mais comuns na terceira onda. Na terceira onda, a organização
dos movimentos feministas tendia a ser formal, regrada, hierarquizadas e muitas vezes
financiadas pelo estado. Na quarta onda, contudo, as organizações ganham o formato mais
livre dos coletivos, com funcionamento horizontal:
De forma geral, os coletivos feministas ressaltam o caráter horizontal e
autônomo, o que discursivamente denota o afastamento das instituições
parlamentares e seus partidos políticos, embora muitos de seus membros sejam
ligados a partidos políticos. (...) A maior parte dos coletivos feministas é
formado por universitários (70%) que reproduzem e produzem o debate sobre
o gênero, assim como a atuação interseccional, em consonância com os debates
acadêmicos sobre o tema. (PEREZ e RICOLDI, 2019, p. 13-18).

As referidas autoras entendem que há maior autonomia nos formatos tomados pelos
coletivos, uma vez que buscam determinar suas próprias pautas, bem como as demandas
a serem debatidas e disseminadas nas redes sociais.

2.3. O RECONHECIMENTO DA CIDADANIA DA MULHER

Dentre as obras que têm discutido de maneira mais aprofundada os muitos


problemas ligados ao reconhecimento da cidadania das mulheres, acredita-se que, o livro
O Dilema da Cidadania: direitos e deveres das mulheres, publicado pela editora da Unesp
em 1995, merece atenção especial nesta pesquisa. A referida obra foi organizada pelas já
mencionadas Grabriella Bonacchi e Ângela Groppi. Dentre os artigos que consideramos
mais importantes neste livro, está o da filósofa-política italiana, Anna Elisabetta Galeotti,
também já referida no presente capítulo. O capítulo de Galeotti, de nome, Cidadania e
diferença de gênero. O problema da dupla lealdade apresenta alguns aspectos da teoria
feminista anglo-americana, que discute amplamente o problema da cidadania feminina,
20

uma vez que se constatou que as sociedades liberal-democráticas não reconheciam


efetivamente as mulheres como cidadãs a pleno título.
A teoria feminista começou a criticar a política liberal-democrática antes da
teoria. É fácil de fato demonstrar que os Estados liberal-democráticos negaram
por muito tempo a cidadania às mulheres, e depois, quando a reconheceram,
não a realizaram plenamente, no sentido de que atualmente as mulheres voltam
a ser cidadãs de segunda classe. Por outro lado, de fato, ao direito de voto não
correspondeu uma adequada representatividade feminina nos órgãos
legislativos e governamentais. Por outro, a cidadania plena não afetou as
práticas discriminativas e a generalizada subordinação feminina na sociedade,
que só recentemente foram reconhecidas como issues políticos e não apenas
privados, embora este reconhecimento seja pouco sólido e apenas parcial.
(GALEOTTI apud BONACCHI e GROPPI, 1995, p. 237).

Na mesma obra organizada por Bonacchi e Groppi, o artigo da filósofa italiana


Chiara Saraceno, A dependência construída e a interdependência negada. Estruturas de
Gênero da cidadania, também merece atenção especial. Saraceno desenvolve questões
basilares acerca das tensões inerentes ao próprio conceito da cidadania no Ocidente, e o
pensa como a variante liberal-individualista, majoritariamente, cívico-republicana, que:

De fato, as necessidades das mulheres demoraram para ser reconhecidas como


direitos individuais e, ao invés, foram definidas como um limite para a
capacidade de cidadania; e os “deveres” das mulheres foram utilizados como
razão da sua exclusão da própria cidadania. Em particular, a posição das
mulheres em relação à cidadania, a complicada e só parcialmente completa
passagem da exclusão para a inclusão, deixa visível uma série de tensões não
resolvidas na teoria e na prática da cidadania que, de maneira um tanto
simplista, poderiam ser resumidas como tensão entre direitos individuais e
comunitários, portanto também entre estatuto de cidadão e estatuto de membro
de uma comunidade e como tensão entre independência e interdependência.
(SARACENO apud BONACCHI e GROPPI, 1995, p. 206).

Saraceno defende ainda tratar-se de tensões ao mesmo tempo teóricas, e como tais
historicamente recorrentes como polaridade no debate, e políticas só parcialmente
resolvidas. Em grande medida as mulheres foram excluídas da cidadania por vezes
devido à função familiar ou por vezes devido a sua diferença em relação aos iguais, os
homens. E que face às dificuldades da posterior inclusão, não seria tanto ou apenas um
fenômeno de atrasoou de resistência, mas representava oposição constitutiva, construindo
as mulheres como não cidadãs, ou não capazes de cidadania, embora as constituíssem
como esposas e mães de cidadãos e ao mesmo tempo como sujeitos eminentemente
familiares e responsáveis pela unidade familiar. E de certa maneira, a família que é o
lugar primário da reprodução social também como lugar de reprodução das
desigualdades. O artigo reflete sobre a dependência da mulher no seio familiar e traz a
problemática da cidadania como conseqüência de uma construção histórico-social.
Partindo desse meio doméstico, que deveria ser o início do idealde igualdade justa para a
21

mulher que se constitui enquanto cidadã para além da sociedade que a assiste.

Uma cidadania social completa não deve refletir apenas sobre os direitos à
diversidade. Deve refletir também sobre as várias formas de interdependência de
que é entremeada a vida a dois e da qual depende a própria qualidade e
possibilidade de vida individual. Não mencionar algumas dessas formas,
considerando-as óbvias no interior da família e nas relações “privadas”, significa
negá-las como fontes de direitos sociais e como vínculo real à cidadania plena para
que se encarrega delas. Não se trata nem de passar em bloco da dependência
privada para a pública, nem de confiar ao Estado todas as necessidades de
assistência e solidariedade. Trata-se antes de garantir a cada um, juntamente com
direitos individuais de sobrevivência, suficiente autonomia para poder negociar a
satisfação (e a definição) das necessidades, mas também para poder doar a própria
disponibilidade e reconhecer a interdependência dentro das relações de
reciprocidade autêntica e não unilateralmente definidas e esperadas como tais.
(SARACENO apud BONACCHI e GROPPI, 1995, p. 228-229).

A autora se utiliza dos termos “privado” e “público” para definir o lugar social da
mulher diante do ideário masculino, que lhe é conveniente que permaneça no privado, como
meio de permanência pela submissão e a não participação pública. E como ela bem coloca
que “as necessidades das mulheres demoraram para serem reconhecidas como direito
individuais, e ao invés foram definidas como limite para a capacidade da cidadania, e os
‘deveres’ das mulheres foram utilizados como razão da sua exclusão da própria cidadania”.
(SARACENO apud BONACCHI e GROPPI, 1995, p.206).
E por último, não menos importante, o Artigo 1°, inciso II da Constituição Federal de
1988, traz que a cidadania é um dos princípios fundamentais da República, um dos pilares
do Estado brasileiro e não está ligada apenas ao Estado e à sua administração.(BRASIL, CF,
1988). Durante o período escolar aprende-se que a “Cidadania é um conjunto de direitos e
deveres exercidos pelo indivíduo que vive em sociedade”, partindo deste princípio, busca
estabelecer um paralelo com o papel social da mulher diante da temática pesquisada, pois a
mesma é parte integrante desta sociedade.
Considerando parte desta pesquisa, entender a princípio, a trajetória histórica dos
movimentos feministas e relembrar algumas conquistas dos direitos pleiteados pelas
mulheres ao longo dos anos, além de conseguir estabelecer onde a mesma está alocada no
espaço temporal bem como o desenvolvimento do papel social da mulher. E em vistas da
atualidade, entender as razões em que a mesma permanece em situação desprotegida face ao

contínuo de crimes contra a mulher. E que embora, ascensão pública e a vitórias educacionais
e de autonomia, ainda podem ser vítimas da violência feminicida. Portanto, a partir desta
introdução continua com o estudo sobre os conceitos dos termos Femicídio e Feminicídio,
que denomina o crime que culmina em morte de mulher, os quais deverão ser utilizados nos
capítulos seguintes.
22

2.4. O CONCEITO DE FEMICÍDIO/FEMINICÍDIO A PARTIR DAS IDEIAS DA JURISTA


CARMEN HEIN DECAMPOS E DA ANTROPÓLOGA MARCELA LAGARDE.

Mas, afinal, o que é o feminicídio, e por que esse crime ocorre? Fazendo uso da obra
de Campos, em especial do artigo Violência, crime e Segurança Pública - Feminicídio no
Brasil: Uma análise crítico-feminista, será possível fazer um estudo de verificação e
entendimento da conceitualização dada ao termo “Feminicídio”.
Campos coloca que somente a partir dos anos 1990 foram aprovadas reformas legais
tipificando a violência contra as mulheres nos países latino-americanos, especialmente nas
esferas da violência doméstica e familiar. Apenas no ano de 2000 “o conceito de violência
de gênero passa a incluir também a violência feminicida” (CAMPOS, 2015, p. 105).
Então, Campos trata a violência de gênero com base na definição dada pela
antropóloga mexicana Marcela Lagarde:

A violência de gênero é a violência misógina contra as mulheres pelo fato de serem


mulheres, situadas em relações de desigualdade de gênero: opressão, exclusão,
subordinação, discriminação, exploração e marginalização. As mulheres são
vítimas de ameaças, agressões, maus-tratos, lesões e danos misóginos. As
modalidades de violência de gênero são: familiar, na comunidade, institucional e
feminicida. (LAGARDE, apud CAMPOS 2015, p. 105).

Campos afirma que a categoria Femicídio e Feminicídio têm origem na teoria


feminista, e que “o termo femicídio/ femicide foi utilizado em 1976, pela socióloga e ativista
sul-africana Diana Russel, para tratar da morte de mulheres por homens pelo fato de serem
mulheres, sendo uma alternativa feminista ao termo homicídio o qual invisibilizava parte
importante da motivação do crime. O termo foi criado como contraponto à neutralidade do
termo homicídio, o mesmo tem nova releitura por Russel em conjunto com a autora
estadunidense Jane Caputti:

“(...) Como o fim extremo de um continuum de terror contra as mulheres que


incluem uma variedade de abusos físicos e psicológicos, tais como o estupro,
a tortura, a escravidão sexual (particularmente a prostituição), o incesto, o
abuso sexual contra crianças, agressão física e sexual, operações ginecológicas
desnecessárias, assédio sexual, mutilação genital, heterossexualidade forçada,
esterilização forçada, maternidade forçada (pela criminalização do aborto),
cirurgia cosmética e outras cirurgias em nome da beleza. Qualquer dessas
formas de terrorismo que resultem em morte será femicídio. O femicídio
aparece então, como o extremo de um padrão sistemático de violência,
universal e estrutural, fundamentado no poder patriarcal das sociedades
ocidentais”. (CAMPOS, 2015, p. 105).

Entende-se a partir da definição acima que o termo femicídio traduz o extremo da


violência praticada contra a mulher associada a seu gênero. Quanto ao termo feminicídio,
23

Campos afirma que o mesmo tenha sido criado por Lagarde, citada anteriormente, e que
este surge a partir do termo femicídio (femicide) para revelar as mortes de mulheres
ocorridas em um contexto de impunidade e conivência do estado. Ou seja, para que o
feminicídio aconteça devem ocorrer a impunidade, a omissão, a negligência e a
conivência das autoridades do estado, por não estabelecer o mínimo de segurança para a
vida das mulheres. Desta forma Lagarde introduz um elemento político na conceituação,
que significa o estado sendo responsabilizado pela morte de mulheres. (CAMPOS, 2015,
p. 105-106).
Campos afirma ainda, que as duas expressões são sinônimas para as legislações
latino-americanas e para a literatura feminista mais que existem as diferenças conceituais
justificadas anteriormente. Então, a autora decide prosseguir o artigo fazendo uso do
termo feminicídio, uma vez que o mesmo estava disposto nos projetos de Lei que
tramitavam naquele momento no Congresso Nacional e na Lei 13.104/2015 que
introduziu a qualificadora no Código Penal. (CAMPOS, 2015. p. 106). O termo
feminicídio foi utilizado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) na
sentença do caso por ela descrito como “Campo Algodonero”, o qual definia o
feminicídio como homicídios de mulheres por razões de gênero. No tocante à tipificação
do femicídio ou feminicídio nos países da América Latina sob um continuum das leis de
criminalização da violência doméstica e familiar, Campos mostrou que, no Brasil, o tema
esteve sob os cuidados da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) por ter
investigado a violência contra a mulher, apresentando um projeto de lei tipificando o
feminicídio como uma continuidade legislativa iniciada com a Lei Maria da Penha, que
deve se justificar como um ponto de partida e não um ponto de chegada na luta pela
igualdade de gênero e pela universalização dos direitos humanos. (CAMPOS, 2015, p.
106).

3. CAPÍTULO II. A ANÁLISE DE 3 (TRÊS) CASOS DE FEMINICÍDIO


NOTICIADOS PELO JORNAL CORREIO DE CARAJÁS (JCC).

O feminicídio tem se mostrado a cada ano com um número crescente de casos em


meio à sociedade, tendo em vista os dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos - MMFDH, a partir dos números extraídos do Sistema
Integrado de Atendimento à Mulher, que no ano de 2019 foram registrados entre outras
denúncias de violações contra a mulher, 63 casos de feminicídios e 2.075 tentativas de
feminicídios, enquanto que apenas entre janeiro a junho de 2020, foram 36 feminicídios
24

com 2.688 tentativas de feminicídios a nível nacional. (BRASIL. MDH, 2020).


No sudeste paraense o assassinato de mulheres, a falta de compromisso com a vida
humana, neste caso, a vida da mulher, também tem se apresentado crescente e o nível de
violência varia de caso para caso, em menor ou maior grau. O JCC, também compartilha
os dados da violência contra a mulher do Disque denúncia 180 relativo ao Sudeste do
Pará, no qual é divulgado que Marabá e Parauapebas estão liderando em números de
denúncias de violência na região, com dados detalhados mais a frente. (SANTOS,
Correio, p. 4).
Esta pesquisa tem base primária a partir do jornal por ser o mesmo um veículo de
propagação da informação de forma acessível a todo tipo de leitor, além de considerar a
importância dos estudos com uso de fontes, conforme as orientações do livro Fontes
Históricas organizado pela historiadora Karla Bassanezi Pinsky publicado em 2008, o
mesmo apresenta diversos tipos de fontes para desenvolvimento de pesquisas em áreas
afins, e entre eles os estudos de “fontes impressas”, referindo-se aos periódicos de jornais
e revistas:

A própria imprensa tornou-se objeto de estudo em seus aspectos materiais e


intelectuais. Não lhe escapam os significados da profissionalização dos jornais
e revistas, levando em conta o poder que adquiriram no conjunto das mídias.
Analisa os vários tipos de discursos voltados a públicos diversos,
problematizando a identificação imediata e linear entre a narração do
acontecimento e o próprio acontecimento. Os discursos adquirem significados
de muitas formas, inclusive pelos procedimentos tipográficos e de ilustração
que o cercam. A ênfase em certos temas, a linguagem e a natureza do conteúdo
tão pouco se dissociam do público que o jornal ou revista pretende atingir.
(PINSKY, 2008, p. 19).

A historiadora Tânia Regina de Luca, in Pinsky (2008), autora do artigo “Fontes


impressas: História dos, nós e por meio dos periódicos”, ressalta uma pesquisa realizada
entre 1995 e 1996 sobre homicídios, realizada em jornais de quinze estados brasileiros,
que demonstra quão absurdo já era o número de homicídios de mulheres no período,
que hoje se qualificariam como feminicídio, através da coletânea “Primavera já partiu”,
como segue:

A grande imprensa diária brasileira de 15 estados da federação foi vasculhada


entre 1995 e 1996 pelos integrantes do Movimento Nacional dos Direitos
Humanos com os objetivos de coletar as notícias sobre homicídios. O
resultado, no que tange a violência contra as mulheres, é a coletânea Primavera
já partiu, que, ao lado dos muitos dados (aterradores) que fornece
cuidadosamente discriminados e problematizados, traz densas reflexões acerca
das construções dos discursos jornalísticos, sua pretensa neutralidade e
objetividade. (PINSKY, 2008. P. 127).

Diante do panorama midiático que noticia esse tipo de crime e outras tantas
25

informações como canais de comunicações acessíveis a população em geral, foi possível


destacar para esta pesquisa como fonte principal, o “Jornal Correio de Carajás”.
O Jornal “O Correio de Carajás”, popularmente conhecido como Correio, mas que
será referido como JCC no presente trabalho. Trata-se de um jornal impresso e eletrônico,
é brasileiro e circula no sul e sudeste do estado Pará, de propriedade do Grupo Correio,
que tem como editor-chefe o Sr. Patrick Roberto e sede em Marabá. O referido periódico
foi fundado em 15 de janeiro de 1983 pelo jornalista Mascarenhas Carvalho da Luz e teve
como primeiro nome Correio do Tocantins, com tiragem quinzenal. Atualmente tem uma
periodicidade de trissemanário, ou seja, três vezes por semana e está sob a presidência de
Wenderson Azevedo Chamon.
Inicia-se este capítulo fazendo uma análise estatística sobre o aumento do número
de denúncias de violência contra a mulher que tem ocorrido nos últimos anos. O
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos- MMFDH disponibilizou o
serviço “Ligue 180”- Central de Atendimento à Mulher que funciona 24 horas todos os
dias, feriados e fins de semana. E por meio deste, tem divulgado anualmente
levantamentos de dados sobre feminicídio e agressões registrados através de denúncias
das violências que milhares de mulheres são submetidas.
Para se ter uma ideia do quão é assustador o número de casos de violação aos
direitos da mulher, referente aos dados mencionados, foi utilizado amostras de 2018 e
2019, disponibilizados pela Central de atendimento à Mulher (Ligue 180) já mencionado,
a qual divulgou um balanço anual através do Ministério dos Direitos Humanos - MDH.
Em 2018, houve 92.663 denúncias de violações contra mulheres em todo o Brasil e um
total de 46.510 denúncias de violências somente no primeiro semestre de 2019. O que
significa um aumento de 10,93% em relação ao mesmo período de 2018, sendo que
35.769 das denúncias foram sobre violência doméstica e familiar. (BRASIL. MDH,
2020).
Ainda se verificam nesse levantamento os dados por modalidade de crime
ocorrido e apresentados com a seguinte divisão para o ano de 2018, 62.485 foram
denúncias de violência doméstica e familiar, 12.878 de ameaças, 3.209 de violência
psicológica, 3.065 de cárcere privado e 2.317 de violência sexual, 2.075 tentativas de
feminicídio e 63 casos de feminicídio registrados pelo Sistema Integrado de
Atendimento à Mulher.
O JCC também compartilha os dados da violência contra a mulher do Disque
denúncia 180 relativo ao Sudeste do Pará, no qual é divulgado que Marabá e
26

Parauapebas estão liderando em números de denúncias de violência na região. Tina


Santos, repórter do JCC, expõe que no mesmo período referente ao ano de 2018, foram
recebidas 165 denúncias, sendo que 76 chamadas foram de Parauapebas e 73 de
Marabá, Itupiranga 3, São João do Araguaia 3, enquanto que Canaã dos Carajás,
Rondon do Pará, Nova Ipixuna e Jacundá apenas uma denúncia. E de acordo com esses
dados a repórter Tina Santos destaca que foi possível traçar o perfil dos agressores
mediante essas denúncias:

Em 79% dos casos, o autor da violência é o marido e 28% dos agressores estão
sob efeito de álcool ou drogas. Em relação às mulheres agredidas, 37% têm
filhos e a maioria deles também sofrem agressão, sendo que 49% sofrem
violência física, 28% agressão verbal e 12% ameaça de morte, sendo que em
10% dos casos a violência ocorre há mais de um ano. Parte das agressões, 16%
delas, é praticada no período da noite e em 18% dos casos denunciados por
outras pessoas que estavam presentes no momento em que ocorreu a violência.
(SANTOS, Correio, p. 4).

Ou seja, é possível perceber como a violência está culturalmente enraizada em uma


grande parcela da sociedade, que a mulher em muitas situações é vista “como coisa de
alguém” conforme afirma a advogada e professora universitária Aline Amaro Correia em
nota ao JCC como segue um pequeno trecho: (...) enquanto na perspectiva masculina a
mulher configurar apenas como “coisa” de alguém, a violência será perpetuada.
(CORREIA, 2019, p. 2), deixando sub entender que neste sentido a mulher está sujeita a
suportar todas as formas de repressão. E quando esta pretende contrariar as normas sociais
impostas pela dominação do homem, ou não se submete aos caprichos machistas, então
sofre as consequências com castigos físicos, psicológicos e outros tantos. Como bem
explica Campos (2015) a seguir:

Portanto, as condutas pelas quais as feministas identificam o femicídio/


feminicídio revelam as características específicas dessas mortes, isto é, a sua
conformação diferenciada do homicídio. Por exemplo, a existência de
violência sexual, mutilação e desfiguração do corpo da vítima (especialmente
seios, vagina e rosto) desvelam um comportamento misógino. A morte nas (ex)
relações íntimas de afeto demonstra não apenas a vulnerabilidade das mulheres
no interior dessas relações, mas a tentativa de controle e posse absoluta sobre
o corpo feminino que não pode ser entendida como comportamentos
motivados por ciúme ou violenta emoção. Em geral, são crimes premeditados,
originados do machismo culturalmente enraizado na sociedade. Não há perda
de controle ou injusta provocação da vítima, mas uma atitude consciente de
negação do direito à autonomia feminina. O reconhecimento da violenta
emoção nesses casos configura tolerância estatal a crimes machistas e sexistas,
pois não pode haver violenta emoção quando a motivação é impedir a
autodeterminação feminina, conduta tão bem expressa na frase “se não for
minha não será de ninguém”. (CAMPOS, 2015, p. 109).

Em contínua pesquisa ás edições do JCC, no período de 2015 a 2019, foi possível


encontrar muitas matérias acerca de feminicídios, e dentre elas destaca-se uma que
27

apresenta o relato estatístico que em 2018, o Pará teve 19 mil ocorrências de agressão
contra a mulher, conforme dados da Polícia Civil, em todo o estado houve um aumento
de 14% em relação ao ano de 2017 nas ocorrências de violência doméstica. Os casos de
feminicídio cresceram em 20%, e considerando o site de notícias O G1 monitor de
violência em todo o Brasil, o Pará é o 7º estado com mais mulheres vítimas de
homicídios e 8º em número de feminicídios. Ainda que, “apesar de o Pará contar com 17
delegacias especializadas, vítimas relatam a falta de acolhimento no momento das
denúncias, o que propicia os sub registros desse tipo de agressão”. Para melhor entender
sobre o monitor de violência, verificou-se que o G1 é uma parceria entre o Núcleo de
Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o qual teve
início em setembro de 2017 com o objetivo discutir a questão da violência no país e
apontar caminhos para combatê-la juntando linguagem jornalística e acadêmica. (Brasil,
2017).
O feminicídio como já foi conceituado no capítulo I, trazem a memória inúmeras
questões de ordem social, que limitam a vivência feminina em espaços de igualdade com
o sexo oposto. Embora, tendo em mente a ideologia de que a mulher já alcançou posições
elevadas dentro de uma sociedade hierarquicamente construída pelo homem, ainda é um
ser desfavorecido e frágil diante da supremacia imposta por este. O homem continua
mantendo a postura de dominador, perpetuando um sistema de idéias de que todos os
demais seres existentes estão um patamar abaixo dele, gerando o desconforto da
desigualdade entre os sexos.
Este capítulo propõe relatar três casos de feminicídio divulgados pelo Jornal
Correio de Carajás, entre tantos que ocorreram na região Sudeste do Pará, no período de
2015 a 2019. Com a finalidade de analisar como esta fonte apresenta tais notícias e quais
os objetivos propostos nesta divulgação. É importante pensar em que circunstâncias
aparecem a mulher dentro da notícia e como é feita a denúncia do feminicídio.
A delegada de Policicia Federal Luciana Maibashi Gebrin e o Professor Assistente-
doutor de Direito Penal do Departamento de Direito Público da UNESP Paulo César
Corrêa Borges, definem que o “(...) femicídio/ feminicídio decorre de condições
socioculturais históricas (...), fazem um estudo sobre o Femicídio/ feminicídio quanto à
conceitualização e suas tipologias; a tipificação nas legislações ibero-americanas, além
de apresentar considerações a favor e contra a tipificação do feminicídio/feminicídio, em
seu artigo “Violência de gênero: e principalmente, tipificar ou não o
femicídio/feminicídio, do qual se destaca a seguinte definição sobre esta prática de
28

homicídio:
Em suma, o femicídio/ feminicídio decorre de condições socioculturais
históricas, que geram e permitem práticas atentatórias contra a vida, a saúde, a
integridade, a dignidade e a liberdade da mulher, para as quais contribuem não
somente os autores da sociedade (família, matrimônio, comunidade), mas
também o Estado, por meio de sua omissão, ineficácia, negligência na
prevenção, deficiência na investigação, ausência de repressão e de um quadro
legal e político de governo, que favoreça a visibilidade da violência contra as
mulheres e o fim da impunidade, do silêncio e da indiferença social.
(GEBRIN; BORGES, 2014, p. 64).

O respectivo fragmento refere-se entre outras coisas a responsabilidade social sobre


os crimes praticados contra a mulher tanto no seio da família, na relação conjugal como
dentro da comunidade, a qual pertence vítima e autor, frente à omissão do Estado que não
propõe políticas públicas eficientes na prevenção e segurança, e na ausência de uma
atuação que busque coibir ou até mesmo sanar esse problema de saúde pública que tem
perpassado os séculos.
A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) reconheceu a violência doméstica e
familiar contra a mulher como uma violação dos direitos humanos, não podendo ser
injustificada a criminalização das mortes de mulheres (feminicídio). (CAMPOS, 2015, p
110). Enquanto que a Lei 13.104/2015, sancionada no Brasil em 2015, faz a introdução
da qualificadora que aumenta a pena para autores de crimes de homicídio praticado contra
mulheres. Define como feminicídio a morte de mulher por razões de condição do sexo
feminino quando o crime envolver violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição do sexo feminino. (CAMPOS, 2015, p. 108).
Só para lembrar, um detalhe importante que depois da lei Maria da Penha, quando
a vítima faz denúncia de agressão, ela não pode mais retirar a queixa ou desistir da ação,
a menos que seja em uma audiência específica no Poder Judiciário, não mais na delegacia,
pois o agressor passa a ser processado pelo Estado independentemente da vontade da
mulher.
Então, analisando alguns casos divulgados pelo referido Jornal Correio de Carajás,
observa-se que as defesas da mulher são frágeis diante da pouca atuação do Estado, e que
muitas decidem por não denunciar; umas, por não acreditar na ferramenta de proteção
para si, ou pela impunidade do agressor que pode atuar com mais rigor após a denúncia.
Outras denunciam, porém retiram após reatar com seu conjugue/ agressor, uma vez que
não tendo como se manter financeiramente, ou por outras diversas situações, sujeitando-
se a novas agressões.
Os relatos são inúmeros de casos ocorridos no sudeste do Pará. Para o período de
29

2015 a 2019 as histórias que são contadas pelos repórteres em matérias do jornal chocam
e entristecem a população com o rigor e requinte das práticas hediondas de crimes
atentando contra a vida da mulher no seio da própria família. Mulheres que deixam para
trás seus filhos, os quais ficam abandonados à própria sorte, pois quando morre a mãe, o
pai foge ou vai preso deixando um futuro incerto para as crianças, cujo lar foi totalmente
desfeito. Como são os casos que seguem os relatos retirados das páginas do Jornal
Correio de Carajás.

3.1. PRIMEIRO CASO: MARIA PASTORA GONÇALVES DA SILVA

Imagem I – Notícia sobre Feminicídio de Maria Pastora G. da Silva

Fonte: Jornal Correio de Carajás

Primeiro caso analisado de femicídio/ feminicídio é o de Maria Pastora Gonçalves


da Silva. O qual foi divulgado no Jornal Correio de Carajás, na edição nº 2.971 ano
XXXIV referente aos dias 30 de abril a 02 de Maio de 2016, a notícia intitulada “Homem
pode ter enterrado idosa de 75 anos ainda viva” foi escrita pela repórter Luciana Marschall
à página 1 do caderno B. O provável feminicídio da idosa Maria Pastora Gonçalves da
Silva de setenta e cinco anos, pelo próprio companheiro José Farias de Oliveira de 54
anos, que teria usado um composto químico de sais para que pudesse asfixiá-la enquanto
dormia. Em seguida enterrou-a no quintal da casa onde residiam, localizada no núcleo
São Félix da cidade de Marabá. E que provavelmente a mesma ainda estava viva ao ser
30

enterrada, uma vez que o composto utilizado por ele só provoca a perda dos sentidos
letais, mas não a morte de imediato. Informação com friso de que estaria ainda pra ser
confirmada pelos peritos do Instituto Médico Legal (IML), quando da necropsia através
de laudo.
O relato consta que o corpo de Maria Pastora Gonçalves da Silva, foi encontrado
dia 29 de abril, após duas semanas de seu desaparecimento que ocorreu dia 14, e de
forte investigação da equipe do delegado de Polícia Civil Washington Oliveira, o qual,
mediante denúncias das filhas da vítima, apurou informações com testemunhos de
vizinhos do casal que afirmaram ter percebido discussão dos dois na noite anterior ao
desaparecimento da vítima, além de movimentação estranha de José Farias no quintal. O
homem então alegava que a companheira tinha costume de sumir por dia e que os dois
tinham suas chaves podendo sair e retornar quando quisessem. Então, homens do corpo
de bombeiro e do exército seguiram escavando por dois dias, dentro do quintal da casa
do casal conseguindo encontrar o corpo da senhora, sendo então, confirmado o referido
homicídio.
Quando foi intimado a comparecer para depoimento, durante as escavações e por
perceber o cerco se fechando, resolveu fugir, fato que confirmou as suspeitas sobre si. E
somente foi apanhado, em uma fazenda a 39 quilômetros de Marabá. Confessou o crime
ao delegado que o autuou em flagrante por ocultação de cadáver e adulteração de veículo
automotor, uma vez que conduzia veículo com chassi de um e placa de outro. Para esta
edição do jornal o crime de feminicídio qualificado ainda estava pra ser confirmado pela
investigação do Departamento de Homicídios da Polícia Civil.
A matéria do jornal dá conta de transmitir a crueldade demonstrada nos atos do
criminoso pela narrativa da repórter que acompanha a investigação. Além de utilizar um
título que provoca o leitor ao colocar na capa as manchetes da edição com letras grandes
em negrito e imagens para atrair atenção. Da mesma forma dispões o caso na primeira
página do caderno que aborda as matérias policiais. É importante perceber se a intenção
é levar ao conhecimento da sociedade com a finalidade de criar uma forma de repúdio ao
crime de feminicídio, ou apenas pelo sensacionalismo especulativo da notícia, e que
choca a população, mais pouco faz para coibir a onda de assassinatos de mulheres.

O que é necessário para que uma mulher possa ter segurança dentro de seu próprio
lar? Como proteger a mulher de quem ela tanto confia e prima pelo melhor de uma
relação?
31

3.2. SEGUNDO CASO: ANDRÉIA DO NASCIMENTO BRÍGIDO

Imagem II: Notícia do Jornal - feminicídio Andreia

Fonte: Jornal Correio de Carajás

O segundo caso trata-se da morte de Andréia do Nascimento Brígido de 30 anos


que chocou a cidade de Marabá, pelo requinte e crueldade do ato. Reportagem de Nathália
Viegas, foi divulgada, na edição nº 3070 referente ao dia 20 e 21 de dezembro de 2016,
apresentada através de uma denúncia do desaparecimento da mulher de 30 anos, desde o
dia 17 do mesmo mês. Então se iniciam as buscas por informações, uma vez que o marido
Jonair Sousa Franco disse que a esposa teria saído em sua moto para conhecer umas
quitinetes na Folha 12 em companhia de um homem por nome Thiago e não havia
retornado.
No dia 18 a moto foi encontrada pela polícia que abordou um jovem de nome Paulo
Henrique, o qual disse ter comprado a mesma pela internet de alguém que se passou por
irmão de Andreia. E pelas investigações realizadas o mesmo não tinha nenhuma ligação
com o desaparecimento, passando a descrever o suposto irmão de Andreia.
Jonair disse à polícia que a esposa estava tendo contato com um casal de Goiás,
cujo nome da mulher é Liliane e que o esposo desta, mandava mensagens românticas para
Andreia, porém eles (Andreia e Jonair) estavam em uma boa fase e tudo corria muito bem
entre eles. O marido comunicou o desaparecimento da esposa com a qual vivia há 15 anos
e tinha dois filhos menores, um de doze anos e o outro de oito anos.
Então na edição de nº 3071, é informado o achado de um crânio de provável mulher
32

jovem e um capacete com características femininas em um lixão da Folha 11. A mãe de


Andreia, Maria Lopes do Nascimento e a irmã Leandra Brígido foram chamadas para
coletar sangue para análises comparativas relativo ao crânio encontrado. Mais tarde,
mediante denúncias de várias pessoas foram localizados parte de corpo humano
espalhado por alguns pontos da cidade, com várias indicações de que seria de Andreia.
Já na edição 3073 de 26 e 27 de dezembro de 2016, foi confirmado o homicídio de
Andreia que estava desaparecida e as investigações apontam o marido Jonair Sousa
Nascimento como mandante do crime, o qual foi preso imediatamente. E mediante
informação de familiares chegou-se a João Batista Ferreira da Silva e Jurivan Sousa da
Silva os quais foram acusados de serem os executores do crime, por ter sido encontrado
vestígios de sangue na casa de João Batista, bem como parte de um documento de
Andreia.
O corpo da vítima foi esquartejado e os membros espalhados em lugares diferentes
no Bairro Nova Marabá. E a partir dos depoimentos na polícia, sob os cuidados dos
delegados Toni Vargas e Raissa Beleboni, João Batista confessa que realmente cometeu
o crime de homicídio contra Andreia do Nascimento Brígido cumprindo acordo feito com
o esposo para matar e ocultar o corpo. Então os três foram levados ao judiciário para
responderem em juízo como mandante, e executores do referido crime, caracterizado
como feminicídio.
O fato aconteceu em 17 de dezembro de 2016, causando grande indignação popular
e deixou a todos perplexos devido à barbárie e crueldade, empregada no ato, e tendo
repercussão até os dias atuais.
Finalmente na edição 3076 dos dias 07 e 09 de janeiro a polícia civil, chega à
conclusão das investigações do caso Andreia mediante a prisão do terceiro participante
no crime, o pintor Jurivan Sousa da Silva, o Baixinho. O mesmo, nega participação, mais
é apontado por João Batista como um dos ajudantes na ocultação do cadáver.
O “crime foi motivado por ciúme” segundo consta na matéria de Luciana Marschall
na mesma edição cujas investigações da Polícia Civil, que o crime começou a ser
planejado na primeira semana de dezembro em encontro casual de Jonair e João Batista.
Tendo Jonair afirmado que Andreia estava tendo relacionamentos extraconjugais e que
havia colocado uma pessoa para segui-la, descobrindo até o local dos encontros. Sendo o
valor acertado para a execução do crime R$-5 mil, incluindo já a moto da vítima.
O pretexto usado para atrair Andreia ao local do crime foi justamente uma ideia
planejada por João Batista, com a criação de um “casal fictício” para se aproximar da
33

vítima por meio do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, para convencê-la a


cuidar de umas quitinetes pra eles.
Em maio de 2017, sete meses depois acontece uma audiência para ouvir os
depoimentos dos acusados e de testemunhas do caso. E para surpresa de todos, após um
julgamento de mais de 16 horas, resultou apenas na condenação de João Batista, tendo
sido absolvido Jonair e Jurivan. Para quem acompanha o caso, resultado não foi dos mais
condizentes com a justiça, uma vez que o provável responsável pelo crime ficar impune.
No entanto, o Ministério Público, manifestou-se afirmando que irá pedir a reabertura do
caso.
Um acontecimento chocante e observado pelo repórter Chagas Filho, e que
“Também chamou a atenção o fato de que 15 dias antes do julgamento, a mãe e um irmão
de Andreia fizeram uma verdadeira campanha pela inocência de Jonair, marido da vítima
e apontado como mandante” (Caderno B. p. 1). E que segundo a mãe, os verdadeiros
assassinos continuarão livres caso Jonair seja condenado. Outro ponto bastante
impressionante e curioso é o fato de que a mãe de Andréia, no entanto, declarou à
imprensa que Jonair (o marido da vítima) não teria coragem de fazer mal algum à sua
filha, acreditando piamente não ser ele o mandante e sim uma das testemunhas que
provavelmente seria amante de sua filha e que teria escrito uma carta ameaçando a vítima
ainda em vida, cujo trecho afirma “(...)dizendo que se Andreia não ficasse com ele, não
ficaria com mais ninguém” (Cad. B-p 1).
Essa frase faz parte do repertório de um grupo de homens que não aceitam perder
uma mulher, no caso de Andreia, mesmo esta sendo comprometida com outro. E se
utilizando disto, se acha no direito de ceifar-lhe a vida para não tê-la. Como entender o
que se passa na cabeça de alguém que entende que deve cometer tal atrocidade? O simples
fato de não controlar seus atos e instintos violentos, trazendo dor e revolta à população.
34

3.3. TERCEIRO CASO: DAYSE DYANA SOUSAE SILVA

Imagem III – Caso Dayse Dyana Sousa e Silva

FONTE: Jornal Correio de Carajás

O caso de Dayse Dyana Sousa e Silva de 35 anos, que em 31 de Março de 2019,


teria sido jogada pela janela do segundo andar onde residia em situação marital com
Diógenes dos Santos Samaritano, o qual é agente do DETRAN e único suspeito de ter
cometido o crime de homicídio/ ou feminicídio. O Jornal “O correio de Carajás” número
3417 e edição 30010 p.08 cadernos B-1 dos dias 02 e 03 de abril de 2019, anunciou a
notícia com o seguinte título: “Mulher teria sido jogada da janela pelo marido”,
narrando os fatos do crime, conforme laudo da perícia no corpo que constatou que
Dayse foi agredida pelo companheiro, e quando já estava desacordada foi jogada pela
janela, e pelo histórico de violência de Diógenes apontam para mais um caso de
feminicídio na região.
De acordo com as informações contidas na matéria de Chagas Filho e Tina Santos
sobre o caso, o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, dispõe de um prazo legal
de 10 dias para confeccionar um laudo com as causas da morte de Dayse Dyana Sousa e
Silva. No entanto, “(...)a equipe que realizou a perícia está absolutamente convencida de
que não houve suicídio, ela foi assassinada”. Enquanto, “Diógenes e sua defesa sustentam
a tese de que a vítima se atirou pela janela(...)”.
O Perito Pablo do Centro de Perícias Cinentíficas - CPC, ouvido pelo jornal o
Correio, relata que ao chegar à residência do casal encontrou uma cena repleta de sinais
35

de luta corporal, com muito sangue e sinal de muita violência e vestígios de que a
vítima tinha sido atingida com um objeto contundente, além de o corpo apresentar
várias lesões indicando que a mesma havia sido atingida antes da queda. O delegado
Gabriel Henrique responsável pelas investigações, complementa as informações do
perito afirmando que foram encontradas facas escondidas embaixo do tapete, cortinas e
toalhas sujas de sangue, o que praticamente confirma ter havido briga e agressão física.
A matéria dar conta de que Dayse havia se separado de Diógenes em período
recente e teria voltado pra Marabá com sua mãe, a qual teria ingressado um pedido de
divórcio e pedido de medida protetiva pra filha, uma vez que a relação entre os dois era
muito conturbada. Como a vítima tinha o filho ainda bebê e que pedia muito pela presença
do pai, uma vez que era muito apegado a ele, então ela resolveu reatar na tentativa de
reconstruir o casamento, inclusive levando ele a participar de uma célula pra casais na
igreja que frequentava. Embora, não surtindo o efeito esperado por ela. Dayse havia
retornado para convivência com o marido em Parauapebas na casa do casal, onde morreu
pelas mãos dele.
A repercussão do acontecimento chocou a população das duas cidades e região, por
se tratar de pessoas conhecidas, ela filha de uma advogada e professora de Marabá. E ele,
que já havia trabalhado como agente do DMTU e DMTT e atualmente do DETRAN em
Parauapebas, possui um histórico de servidor público, bastante manchado, respondendo
a processo por corrupção e outros por agressão contra Dayse, inclusive condenado em um
deles.
Situações que reforçam as suspeitas sobre o agente Samaritano, foi o fato de que
não solicitou socorro e nem chamou a polícia no ato do “suposto suicídio”, fugiu do local
levando o filho do casal. Segundo apurou a equipe de reportagem junto aos familiares as
agressões começaram logo durante a lua de mel com uma surra de toalhas dada por ele
para não deixar marcas, e as agressões era sempre constante, inclusive em tempo uma
destas brigas chegou a quebrar o braço dela, o que a levou a denunciá-lo por agressão no
Ministério Público, indo embora.

Na matéria seguinte, narrada pela repórter Luciana Marschall, p. 2 do Caderno B,


referente à mesma edição, sobre o caso da Dayse Diana, afirma-se que a vítima vivia um
verdadeiro terror nas mãos de Diógenes, segundo consta nos relatos feitos pela Dayse
durante as denúncias efetuadas no Ministério Público desde agressões físicas, ameaças de
morte dela e de seus familiares, além de ter sido forçada a manter relações sexuais contra
sua vontade, confisco de parte de seu salário entre outras formas de maus tratos. Tudo
36

isso representa agressão e violência contra mulher em face da sujeição do indivíduo a


vontade do outro.

O tema utilizado pelo Jornal Correio de Carajás, “Mulher teria sido jogada da janela
pelo marido” demonstra a intenção dos autores de chamar a atenção do leitor para a
matéria ao apresentar a chamada da notícia na primeira página por se tratar de um crime
hediondo e mais, é um crime contra a mulher. Ao observar a composição da matéria, as
informações são chocantes por si só, em se tratando da perda brutal de uma vida. Porém,
com relação às imagens utilizadas percebe-se que houve certo respeito com a vítima, ao
preservá-la da exposição de seu corpo, e também com o leitor. tomando alguns cuidados
ao relatar a notícia. No entanto, os relatos das agressões pelos quais a Dayse passou, criam
uma comoção geral, e ao voltar as lembranças da notícia e a repercussão, as pessoas
demonstravam um enorme pesar e ficam chocadas com tamanha crueldade, e ainda pelo
desconforto da sensação de insegurança e abandono social.
A Dayse Diana representava nas imagens do jornal, uma moça bem apessoada,
branca e com certeza foi educada para um nível de vida com conforto e respeito. E no seu
caminho encontrou alguém que não soube valorizar sua vida, destruindo os sonhos de um
casamento pelo menos bom. Interrompeu o desabrochar de uma mãe em potencial
tirando-lhe a chance de criar e educar ela própria o seu filho.
Após esses relatos, observa-se que os crimes estão acontecendo em todos os meios
sociais para todas as idades, independente da cor, raça ou a classe social, ou mesmo o
grau de instrução das mulheres, nada tem diminuído ou refreado a ação violenta de muitos
homens. Esta teoria entra em conformidade com o texto escrito pela Advogada e
professora Universitária Aline Amaro Correia, publicado no referido jornal sob o título
“A violência não escolhe classe social”.

Em apenas um minuto, na mídia virtual, foi noticiado três casos de violência


contra a mulher, prática antiga...que hoje, pelo fácil acesso à informação vem
sendo anunciada de forma alarmante. Uma mulher chicoteada com fio elétrico;
outra esganada com a coleira do cachorro; uma terceira assassinada com o filho
no colo. A violência é democrática, não escolhe classe social, profissão,
fenótipo, genótipo das vítimas, nem coordenadas geográficas para a sua
incidência. Ela dilacera, arrasa, corrói, machuca e envergonha a espécie
humana, que obstante toda a evolução civilizatória, ainda encontra indivíduos
que não percebem a mulher como sujeito. Não é a rigidez da norma ou a sua
efetiva coercitividade que anunciarão novos tempos a esse triste quadro, pois
enquanto na perspectiva masculina a mulher configurar como “coisa” de
alguém, a violência será perpetuada. Também não é somente atributo da
sapiência do “sexo frágil” embalar os seus meninos com canções e
ensinamentos que, desde pequeninos os remetem ao respeito pelas mulheres,
mas também é imprescindível, nessa construção, a participação dos homens
sensatos. Assim, os pequenos e atentos meninos certamente compreenderão
37

que as mulheres, desde as que os alimentam em seus seios, as suas irmãs e,


futuramente, aquelas que os receberão em seus leitos, e eles, são centelhas da
mesma inspiração e energia divinas, iguais na essência! (CORREIA, Cad. A,
Correio p.2).

É importante pensar uma forma de desconstruir essa imagem em que a mulher foi
colocada à margem da sociedade para os homens ou outros que a vêem como objeto. Pois
para além do objeto, da propriedade, e de possuir um belo corpo ou rosto, ela precisa ser
reconhecida com indivíduo com identidade própria a qual deve ser empoderada e elevada
a uma posição que imponha respeito do seu companheiro, das pessoas que a circundam.
Ressalta-se o que as histórias destas mulheres acima relatadas, têm em comum,
além do fato de serem mulheres, é o de se encontrarem em um mundo em que os homens
de suas relações íntimas sentiram-se superiores a elas, puderam subjugá-las e dominá-las,
para além de terem sido privadas da vida. É importante pensar que em todo o mundo,
muitas mulheres sofrem situações semelhantes, de agressão, de humilhação e até mesmo
encarceramento por seus parceiros ou em situação de abuso sexual, podendo ter suas vidas
ceifadas dependendo apenas da boa vontade do seu captor. A mulher tem a face da
vulnerabilidade, que exige mais segurança, atenção do Estado e o desenvolvimento
econômico de inclusão, bem como da democracia social que lhe permita um papel
inclusivo e participativo em pé de igualdade com o homem.
Então o que fazer para dar um basta nesta situação de violência contra a mulher? É
aí, que a atenção retorna para a forma como é constituída a sociedade, observando que
papel a mulher ocupa neste meio atualmente, como se dá a orientação sexual das crianças,
buscando formas para modificar a visão sobre a mulher.
Portanto, é neste sentido que o terceiro capítulo do referido Trabalho de Conclusão
de Curso será construído. Buscando compreender como ocorre a percepção dos alunos da
escola, na qual foi realizado o estágio supervisionado e desenvolvido atividade prática de
intervenção em sala de aula sobre a violência contra a mulher e dos crimes noticiados no
jornal Correio. Além tentar entender a ideia formada por meio da sociedade em geral
manifestada pela intervenção das reportagens quanto à crescente onda de violência
cometida contra a mulher e quais as perspectivas de mudança conceitual em favor da
mesma.
Também se percebe a necessidade de suscitar uma discussão acerca de movimentos
de empoderamento da mulher, através da educação das crianças no meio escolar,
principalmente. Objetivando uma mudança, embora que em longo prazo, quanto à forma
de olhar o papel social que tem a mulher em seu meio.
38

4. CAPÍTULO III. A EDUCAÇÃO QUE TRANSFORMA

O presente capítulo tem como base a experiência de intervenção realizada na Escola


Estadual de Ensino Médio Dr. Gaspar Vianna (EEEMDGV), no município de Marabá,
no sudeste do estado do Pará, como parte das atividades ligadas à disciplina de nome
Estágio IV. Trata-se de uma disciplina obrigatória do Curso de Licenciatura em História
ofertado pela Faculdade de História (FAHIST) do Instituto de Ciências Humanas (ICH)
da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
A intervenção que se descreverá e analisará adiante, ocorreu no mês de maio de
2019. Tendo em vista a escolha do tema do presente trabalho de conclusão de curso
(TCC), buscou-se integrar as atividades desenvolvidas nas disciplinas de estágio com a
temática de gênero e, em especial, no tocante a problemática dos crimes cometidos contra
a mulher (por conta da questão gênero), como é o caso do crime de feminicídio. Nosso
objetivo foi o de procurar entender algumas das formas como os jovens percebiam as
notícias que tratam de violência contra as mulheres através das redes sociais e,
particularmente, na cobertura jornalística do Jornal Correio de Carajás (doravante
referido como JCC).
Partimos do pressuposto de que entender como se enxerga a violência contra a
mulher pode nos permitir pensar soluções educativas que incentivem o respeito pelas
mulheres no sudeste paraense e na sociedade brasileira como um todo. Tal reflexão nos
permite, também, colocar o gênero como uma variável na construção de planos de
educação para que se possam buscar mudanças efetivas na cultura de estereótipos
discriminatórios que ainda percebemos na cultura escolar. Acreditamos que a sala de aula
das escolas se configura como um espaço importante para a construção de uma visão mais
igualitária sobre as mulheres. As historiadoras Maria Auxiliadora Moreira dos Santos
Schmidt e Tânia Maria F. Braga Garcia nos mostram a questão da formação da
consciência histórica de discentes e docentes no cotidiano da sala de aula:

[...] assumir o primeiro princípio da Didática da história torna necessário que


professores e alunos busquem a renovação dos conteúdos, a construção de
problematizações históricas, a apreensão de várias histórias lidas a partir de
distintos sujeitos históricos, das histórias silenciadas, histórias que não tiveram
acesso à História. Assim, busca-se recuperar a vivência pessoal e coletiva de
alunos e professores e vê-los como participantes da realidade histórica, a qual
deve ser analisada e retrabalhada, com objetivos de convertê-la em
conhecimento histórico, em autoconhecimento, uma vez que desta maneira, os
sujeitos podem inserir-se a partir de um pertencimento, numa ordem de
vivências múltiplas e contrapostas na unidade e diversidade do real
(SCHMIDT e GARCIA, 2005, p. 299-300).
39

Schmidt e Garcia, destarte, nos apontam como a educação precisa cumprir com seu
papel social, que é a formação do aluno para o pleno exercício da cidadania,
possibilitando-o desenvolver o conhecimento da realidade que o cerca e fazer a
interpretação necessária para reconstruir as histórias dentro do seu contexto social.
(SCHMIDT e GARCIA, 2005, p. 300).
O contexto social desta pesquisa foi o da EEEMDGV que, segundo o Projeto
Político Pedagógico (2009), da instituição (disponível para consulta na secretaria), foi
fundada em 21 de Abril de 1985. Começou-se com apenas 3 (três) salas de aulas em um
prédio provisório. Atualmente esse prédio faz parte da Unidade I do Campus Sede da
UNIFESSPA, no núcleo da Nova Marabá, em Marabá (PA). Em 1986, contudo, a
EEEMDGV foi transferida para outro prédio, onde permaneceu até metade do ano de
2018. Atualmente a EEEMDGV funciona novamente em um prédio provisório na Folha
30 – também na Nova Marabá - em razão de problemas estruturais do edifício permanente
na Folha 16. Faz-se importante mencionar que a EEEMDGV também possui um anexo
na Folha 33, no mesmo núcleo urbano, que de acordo com o Projeto Político
Pedagógico (2009): “foi a primeira escola dentro da história da Educação de Marabá a
implantar um colegiado, Conselho Escolar, a primeira a organizar e realizar eleição para
diretor e a criar um Grêmio Estudantil” (PPP, EEEMDGV, 2009, p. 7).

Nos primeiros anos letivos, a EEEMDGV funcionava em três turnos. Atualmente


está em fase de adequação para o regime integral referente à primeira, à segunda e à
terceira série do Ensino Médio, comportando cerca de 500 (quinhentos) alunos. A escola
atende também uma turma do Projeto Mundiar com 36 (trinta e seis) alunos das três séries
do Ensino Médio. O projeto se desenvolve em 18 meses e é voltado para jovens que estão
com idade fora do período considerado padrão para cursar o ensino médio. Por fim, a
EEEMDGV também atende 5 (cinco) alunos da educação especial e conta com 65
funcionários em exercício, conforme informações colhidas junto a servidores na
secretaria da mesma.

Como mencionado anteriormente, já vínhamos desenvolvendo pesquisas sobre


variadas questões de gênero, contudo, o tema do feminicídio apenas se desenhou com o
central ao longo do período que a disciplina de nome Estágio III foi cursada no segundo
semestre do ano de 2018. Como a questão de gênero já estava sendo trabalhada pelo
professor Marcos Leal, responsável pela disciplina de história no 2º ano do ensino
médio na EEEMDGV em conjunto com os temas da Revolução Industrial e da
40

Revolução Francesa, foi possível apreciar na prática escolar do estágio a forma


como se costurou algumas das primeiras lutas das mulheres europeias para conquistar
mais igualdade, bem como melhores condições de trabalho, remuneração e respeito. De
acordo com o excelentíssimo Juiz do Trabalho Marco Aurélio Marsiglia Treviso,
podemos compreender melhor sobre o princípio da igualdade em face ao paradigma do
discursivo que considera apenas a experiência histórica do masculino:

O patriarcalismo induz à construção social do direito e da política instituindo


duas situações: uma visível, que é a chamada igualdade de todos perante a lei;
outra, invisível, que é a efetiva desigualdade. A cultura patriarcal impõe o
reconhecimento de um conjunto de valores, de crenças e de atitudes, de tal
sorte que um determinado grupo humano (o homem) se considera, pela simples
natureza, superior aos demais (à mulher). Do ponto de vista sociológico, o
patriarcalismo constitui a base da exclusão, ou seja, o conjunto de mecanismos
que estão enraizados na estrutura de uma sociedade, a partir dos quais
determinadas pessoas ou grupos são rechaçados ou desprezados de plena
participação na cultura, na economia e na política da própria sociedade em que
vivem. Desde o patriarcalismo, o homem sempre se definiu como um ser
humano privilegiado, dotado de alguma coisa a mais, ignorada pelas mulheres:
sempre foi o “mais” forte, o “mais” inteligente, o “mais” esperto, o “mais”
sábio, o “mais” corajoso, o “mais” responsável, o “mais” criativo ou, até
mesmo, o “mais” racional. Sempre havia, portanto, um plus para justificar a
relação de hierarquia do homem para com as mulheres da sociedade, ou pelo
menos, do marido com a sua própria esposa dentro do lar. (TREVISO, 2008,
p. 22).

Trouxemos o trecho acima para repensar as patriarcalistas da sociedade brasileira,


ainda que no contexto atual já tenhamos avançado mais em relação à igualdade de gênero.
De acordo com Karen Mary Giffin, socióloga e atualmente pesquisadora titular
aposentada da Fundação Oswaldo Cruz em seu artigo Violência de Gênero, Sexualidade
e Saúde, de 1994, a família foi considerada um “... aparelho de guerra, protegida pelo
silêncio...”:
Na medida em que a família é identificada como a principal instituição social
que organiza as relações sexuais entre os gêneros, o controle social é visto
como atuando diretamente sobre o corpo das mulheres, cuja identidade
principal é a de mãe, e cuja sexualidade é socialmente aceita somente na
reprodução de filhos legítimos. (...) Apontando para os direitos legais dos
maridos sobre suas esposas inclusive o direito ao controle pela violência física,
a família é denunciada como aparelho de guerra, protegida pelo silêncio sobre
o que ocorre “entre quatro paredes”. (GILFFIN, 1994, p. 150).

Assim, nesse sentido, o período da Revolução Francesa é um marco importante em


relação às manifestações pela independência e pela autonomia das mulheres que se
somarão às reivindicações futuras dos movimentos feministas e suas conquistas nos
campos dos direitos civis, políticos e sociais (tais como o direito ao voto, ao divórcio, a
41

educação, a igualdade salarial, condições adequadas de trabalho, direitos sexuais e outros


mais).

Após um longo período de opressão e discriminação, a passagem do XIX para


o XX ficou marcada pelo recrudescimento do movimento feminista, o qual
ganharia voz e representatividade política mais tarde em todo o mundo naluta
pelos direitos das mulheres, dentre eles o direito ao voto. Essa luta pela
cidadania não seria fácil, arrastando-se por anos. Prova disso está no fato de
que a participação do voto feminino é um fenômeno também recente para a
história do Brasil. Embora a proclamação da República tenha ocorrido em
1989, foi apenas em 1932 que as mulheres brasileiras puderam votar
efetivamente. (...) Pode-se afirmar que a mulher de hoje tem uma maior
autonomia, liberdade de expressão, bem como emancipou seu corpo, suas
idéias e posicionamentos outrora sufocados. Em outras palavras, a mulher do
século XXI, deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente na
sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades, dando
voz ativa ao seu senso crítico. Deixou de acreditar numa inferioridade natural
da mulher diante da figura masculina nos mais diferentes âmbitos da vida
social, inferioridade esta aceita e assumida muitas vezes mesmo por algumas
mulheres. Hoje as mulheres não ficam apenas restritas ao lar (como donas de
casa), mas comandam escolas, universidades, empresas, cidades e até mesmo
países, a exemplo da presidenta Dilma Roussef, primeira mulher a assumir o
cargo mais importante da República. (RIBEIRO, Brasil, 2020).

Na leitura do Projeto Político Pedagógico da EEEMDGV, também aprendemos


que ela foi uma conquista da luta movida pelas comunidades do núcleo urbano da Nova
Marabá, através de movimentos organizados pela associação de moradores e pela
Associação de Profissionais da Educação, hoje denominado Sindicato dos
Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Pará (SINTEPP).

Essa chama da luta pela implantação da escola continua acesa, tanto que foi a
primeira escola dentro da história da Educação de Marabá a implantar um
colegiado, Conselho Escolar, a primeira a organizar e realizar eleição para
diretor e a criar um Grêmio Estudantil. No convívio desse espaço democrático,
cidadania e educação é que nos faz usar até porque nossas ações são realizadas
coletivamente com as idéias e práticas vindas dos alunos, professores, pais,
direção, corpo técnico, serviços de apoio, havendo sintonia e cumplicidade
desses componentes, porém não acontecendo o apoio governamental. (PPP,
EEEMDGV, 2009, p. 7).

Ou seja, a conexão relativa à citação acima se refere em pensar que muitos dos
ganhos sociais na área de direitos adquiridos na história do Brasil se fizeram e fazem até
hoje, mediante lutas populares e enfrentamentos intelectuais. Como bem escreveu a
socióloga Maria da Glória Marcondes Gohn, acerca dos movimentos sociais:
Na realidade histórica, os movimentos sempre existiram, e cremos que sempre
existirão. Isso porque representam forças sociais organizadas, aglutina as
pessoas não como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo de
atividades e experimentação social, e essas atividades são fontes geradoras de
criatividade e inovações socioculturais. A experiência da qual são portadores
não advém de forças congeladas do passado – embora este tenha importância
crucial ao criar uma memória que, quando resgatada, dá sentido às lutas do
42

presente. A experiência recria-se cotidianamente, na adversidade das


situações que enfrentam. Concordamos com antigas análises de Touraine, em
que afirmava que os movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Eles
expressam energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do
novo que liberte. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e
potencializadas por meio de suas práticas em “fazeres propositivos”. (GOHN,
2011, p. 336).

A busca pela igualdade de gênero permanece. Apesar dos espaços ocupados pelas
mulheres, reconhecemos que elas ainda enfrentam muita desigualdade, como vemos na
reportagem de Mariana Tokarnia da Agência Brasil, divulgada no Jornal o Correio da
Bahia em 08 de março de 2020, sob o título após 7 anos em queda, diferença salarial de
homens e mulheres aumenta, conforme seguem os dados divulgados:

Historicamente, no Brasil, homens ganham mais que mulheres. Após sete anos
de quedas consecutivas, em 2019, houve um aumento da diferença dos salários
de mulheres de 9,2% em relação a 2018. Em 2011, homens com ensino
superior ganhavam, em média, R$ 3.058, enquanto as mulheres com o mesmo
nível de formação ganhavam, em média, R$, 1.865, o que representa uma
diferença de salário de 63,98%. Em 2012, essa diferença começou a cair,
passando de 61,78. Em 2018, chegou a ser 44,7%, com homens ganhando, em
média, R$ 3.752 e, mulheres, R$ 2.593. Em 2019, a diferença aumentou e
passou a ser de 47,24%, com homens ganhando em média R$ 3.946 e,
mulheres, R$ 2.680. Os dados foram compilados para a Agência Brasil pela
Quero Bolsa, plataforma de bolsas e vagas para o ensino superior, com base
nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
(TOKARNIA, Correio 24hs. Bahia. 2020).

A desigualdade econômica, dentre tantas outras sofridas pelas mulheres, concorrem


para a elevação dos índices de violência contra as mulheres, como nos mostra a socióloga
Eva Alterman Blay, em relação à questão do adultério:

No Brasil, sob o pretexto do adultério, o assassinato de mulheres era legítimo


antes da República, Koerner mostra que a relação sexual da mulher, fora do
casamento, constituía adultério - o que no livro V das Ordenações
Filipinaspermitia que o marido matasse a ambos. O Código Criminal de 1830
atenuava o homicídio praticado pelo marido quando houvesse adultério.
Observe-se que, se o marido mantivesse relação constante com outra mulher,
essa situação constituía concubinato e não adultério. Posteriormente, o Código
Civil (1916) alterou estas disposições considerando o adultério de ambos os
cônjuges razão para desquite. (BLAY, 2003, p. 2).

Buscar discutir caminhos para conscientizar estudantes da rede básica a respeito do


feminicídio pressupõe entender como estes mesmos estudantes entendem as
desigualdades sofridas pelas mulheres. Tendo isso em mente, delimitamos os
questionamentos desta pesquisa aos estudantes da 3ª série C, confrontados com notícias
das mídias de comunicação, em especial o JCC, por meio da intervenção feita para a
avaliação da disciplina de nome Estágio IV, cursada no primeiro semestre de 2019.
43

4.1. JUSTIFICATIVA APRESENTADA PARA INTERVENÇÃO NA ESCOLA


ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO DR. GASPAR VIANNA

Pensar nessa proposta de intervenção é pensar uma forma de utilizar as ferramentas


já existentes em favor da desconstrução de estereótipos muitas vezes naturalizados em
relação às mulheres e buscar saber o que os jovens teriam em mente sobre o assunto.
Perguntamo-nos de que forma era percebida as violências noticiadas através dos meios
de comunicação, tanto na televisão como nas redes sociais e jornais? E, por fim, como se
percebeu, em particular, a forma como o JCC narra essas realidades.
Entende-se que a educação transformadora é aquela que pode contribuir para o
desenvolvimento intelectual dos alunos dentro das instituições de ensino, no sentido de
reprimir ações de violência no seio da sociedade, mesmo que em um futuro distante. Por
isso é importante que se pense didaticamente como o docente pode colocar em pauta
discussões de temas da realidade local, como, neste caso, a violência de gênero, uma vez
que a lei com relação à proteção da mulher tem alcance mínimo, como afirma a jurista
Carmem Hein de Campos:
A proposta de criminalização do feminicídio no Brasil insere-se na tendência
observada na América Latina, desde os anos noventa, de reconhecimento da
violência contra mulheres como um delito específico. Essa demanda feminista
é originada da constatação de que a violência baseada no gênero era
naturalizada ou mesmo ignorada pelo direito penal levando à conclusão de que
os direitos humanos das mulheres não eram objeto de proteção adequada. Na
região latino-americana, a partir dos anos noventa, reformas legais foram
aprovadas tipificando a violência contra as mulheres, em especial doméstica e
familiar – leis de primeira geração (VILCHEZ, 2012), na Argentina (2009),
Bolívia (1995), Brasil (2006), Chile (2005), Colômbia (2008), Costa Rica
(2007), Equador (1995), El Salvador (2010), Guatemala (2008), Honduras
(1997), México (2007), Nicarágua (2012), Panamá (2013), Paraguai (2000),
Peru (1997), dentre outros países. (CAMPOS, 2015, p.105).

Os textos analisados anteriormente apontam que a violência contra as mulheres por


razões de gêneros é histórica e tem um caráter estrutural, que se perpetua devido à sua
posição de subordinação na ordem sociocultural patriarcal. Essa relação está baseada em
padrões de dominação, controle e opressão, e induzem à discriminação, através da
exploração e da criação de estereótipos negativos, transmitido de uma geração para outra
e reproduzidos tanto no âmbito público (governo, política, religião, escolas, meios de
comunicação), como no âmbito privado (família, parentes e amigos). Portanto, a partir
dessas condições históricas, é que se naturalizam as formas de discriminação contra as
mulheres, gerando práticas sociais que permitem ataques contra a integridade,
desenvolvimento, saúde, liberdade e vida das mesmas.
44

Em geral, as notícias de violências praticadas contra a mulher são veiculadas em


várias ferramentas de comunicação, bem como nos jornais impressos, escolhidos como
fonte para esta pesquisa, uma vez que apresenta grande importância pela materialidade
da informação e permite ao docente compartilhar em sala com os alunos, para tentar
aproximá-los a fatos da realidade social, promovendo debates e discussões sobre temas
reais da sociedade, apresentando os diversos tipos de relações na comunidade em que se
encontram inseridos:
Fica então evidenciado que o jornal, assim como outras formas de
comunicação e de imprensa tornam-se importantes fontes documentais para o
historiador, pois o discurso da imprensa e sua linguagem não se restringem
apenas a um conjunto de vocabulários, mas também se apresentam como
ferramentas capazes de desvelar o nível básico das relações sociais.
Expressam-se, portanto, através dos jornais, as forças políticas dos grupos que
compõe a sociedade. Dessa forma, pode-se entender que os materiais
impressos não podem ser considerados como instrumentos de comunicação
neutros ou isentos, ao contrário, atendem a diversos interesses econômicos,
políticos e ideológicos, indo muito além da simples informação. (CARNEIRO,
2014, p.7-8).

Por essa força de transmissão de fatos surge a relação do JCC como fonte
documental para pesquisa dos crimes de feminicídio, além de correlacionar com o
ambiente educacional, como ferramenta de informação aos leitores e leitoras. Depois de
pensarmos sobre o meio, fez-se necessário discutir o conteúdo: De que forma é descrita
a situação de violência contra as mulheres? A notícia choca o(a) leitor(a) (ou já se tornou
de alguma forma banal frente ao altíssimo número de crimes noticiados)? Como os(as)
repórteres e jornalistas trabalham a notícia? De que forma são narrados os fatos, motivos
e as análises? O texto publicado pelo JCC tem o objetivo, por exemplo, de constranger os
agressores ou dá maior destaque aos comportamentos das vítimas?
Estas foram as questões que nortearam o início do exercício de reflexão quanto ao
tema entre estudantes da EEEMDGV. Entender o impacto deste tipo de notícia sobre os
alunos e alunas nos permitiu pensar em formas de se abordar didaticamente a
conscientização a respeito da situação que ainda persiste quando se trata do assassinato
de mulheres por conta do gênero. Trata-se, portanto, de uma oportunidade de trabalhar
também a empatia, a solidariedade e a alteridade.
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade
e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996, Art.2º).
45

4.2. NARRATIVA SOBRE A INTERVENÇÃO REALIZADA NA ESCOLA ESTADUAL


DE ENSINO MÉDIO DR. GASPAR VIANNA

A prática interventiva ocorreu no dia 20/05/2019. Os estudantes da 3ª série “C”, do


ensino médio, têm entre 16 e 20 anos, sendo onze jovens do sexo feminino e nove
jovens do sexo masculino, a atividade foi realizada na disciplina de história contando
com a presença do professor Marcos Antonio Leal Alves. Em um primeiro momento,
entregamos um questionário com 7(sete) perguntas, sendo 5(cinco) de cunho objetivo e
duas para serem respondidas de maneira dissertativa. Foi nosso objetivo entender como
os alunos e alunas expressavam seus conhecimentos sobre a questão do gênero e,
particularmente, sobre o feminicídio. Os estudantes tiveram cerca de 10 a 15 minutos
para responderem ao questionário.
Após recolher o questionário respondido, realizou-se uma breve explanação acerca
do tema feminicídio, enfatizando alguns dados estatísticos no que parece ser uma
crescente onda de crimes cometidos contra a mulher noticiados em nível nacional e
regional. Depois, apresentou-se os conceitos do termo femicídio/ feminicídio,
exemplificando alguns casos (fazendo referencia às fontes jornalísticas utilizadas na
presente pesquisa). Também reforçamos alguns dos meios pelos quais os alunos e alunas
podem obter informações corretas sobre o tema. Por fim, nos disponibilizamos para
esclarecer possíveis dúvidas sobre o assunto e para auxiliar no aproveitamento das
discussões desenvolvidas na sala de aula. Seguiu-se para um segundo momento de nova
coleta de informação, distribuindo novamente o questionário aos alunos e alunas, para
que averiguassem se mantinham a mesma percepção das ocorrências do crime de
feminicídio após a explicação ou se mudariam suas respostas.
O professor Marcos Alves esteve presente durante a ação e demonstrou interesse
em trabalhar com a temática com foco na realidade regional, de acordo com os fatos
ocorridos na história recente dos referidos crimes. Indicou, inclusive, que pretendia fazer
uso da ideia com outros temas e programar possíveis rodas de discussões com os
estudantes sobre temas correlatos. A importância de uma roda de conversa sobre o tema
das violências de gênero possibilita um trabalho de conscientização pela educação sobre
os padrões discriminatórios construídos em torno das mulheres, além de proporcionar a
possibilidade dos alunos e alunas exercitarem a capacidade de realizarem leituras críticas
da realidade que os cerca.
Para enfrentar esta cultura machista e patriarcal são necessárias políticas
públicas transversais que atuem modificando a discriminação e a
incompreensão de que os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos.
Modificar a cultura de subordinação de gênero requer uma ação conjugada.
46

Para isso é fundamental estabelecer uma articulação entre os programas dos


Ministérios da Justiça, da Educação, da Saúde, do Planejamento e demais
ministérios. (BLAY, 2003, p. 7).

Quando da aplicação do questionário da pesquisa havia 22 estudantes em sala de


aula. Duas estudantes do sexo femino não responderam ao questionário, uma pela razão
de estar responsável pela filmagem da atividade, e a outra por demontrar desinteresse.
Obtivemos, portanto, respostas de 20 alunos em dois momentos distintos, resultando em
40 questionários.
Como anteriormente citado, o questionário consistia primeiramente em cinco
perguntas objetivas, propondo entender se os alunos compreendiam sobre: 1. ações que
representam violência contra a mulher; 2. razões para que os homens se sintam ainda
superiores às mulheres; 3. Se reconhecem atitudes que contribuem para a vulnerabilidade
da mulher; 4. Se as agressões contra as mulheres podem ser justificadas a ponto de ocorrer
o feminicídio. Os itens do questionário foram seguidos com as seguintes questões
discursivas: O que é feminicídio? E Como o JCC mostra as notícias de crimes contra as
mulheres e o feminicídio (em específico)?
Diante dos dados do crescimento da prática de crimes contra a mulher em nível
nacional e regional, a partir dos dados do Monitor da Violência no site G1, que tem
realizado estudos sobre a crescente onda de crimes divulgados nos últimos meses em
parceria com o núcleo de estudos sobre violência da USP e o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, buscamos entender as razões motivadoras de tal crime e como ele é
processado na região do Sul e Sudeste paraense mediante as notícias do JCC.

4.3. ANÁLISE DO RESULTADO DO QUESTIONÁRIO DE INTERVENÇÃO:


AMOSTRA DE 20 ALUNOS

4.3.1. Primeiro momento e segundo momento

1) Ações que caracterizam violência doméstica:


a) Xingamentos proferidos pelo casal.
b) Ameaças verbais e psicológicas.
c) Agressões físicas que chega a espancamento.
d) Destruição de bens do outro.

Alternativa conforme entendimento pessoal:


1- Apenas as opções b e c representam atos de violência doméstica.
2- Todas as opções correspondem à prática de atos de violência doméstica.
3- Nenhumas das opções caracterizam atos de violência doméstica.
47

RESPOSTA 1º Momento 2º Momento


1 4 4
2 16 16
3 0 0

Ações que representam violência contra a mulher

20
15
10
5
0
Opções be c Todas asopções Nenhumas das opções

1º Momento 2º Momento

Esta primeira questão consistiu em perguntar aos alunos sobre seu entendimento
quanto às ações que representam atos de violência contra a mulher. Dos 20 respondentes,
16 selecionaram tanto no primeiro como no segundo momento, a segunda alternativa,
concordando que todas as opções representavam a violência; 4 deles marcaram a primeira
alternativa, selecionando somente 2 opções como sendo agressão. Os números nos
mostram que estes alunos já detêm conhecimentos sobre essas ações, conforme mostram
a tabela e o gráfico correspondente de análise comparativa.
2) Razão para que o homem se sinta superior à mulher, dentro de uma relação, mesmo
que seja o esposo:
a) Pelo poder econômico.
b) Pela classificação: “sexo frágil” dada à mulher em uma sociedade de raízes
patriarcal.
c) Diz respeito à maneira como o homem foi ou é educado.
d) A mulher deve submissão pelos princípios religiosos.
e) Está relacionado com a educação da mulher face à sociedade que espera por uma
pessoa sempre dócil e submissa.

Alternativa conforme entendimento:


1- As alternativas (b e d) estão corretas.
2- As letras (a, c, e) motiva o homem a se sentir superior à mulher.
3- Nenhuma das alternativas pode ser considerada base para tal sentimento.

RESPOSTA 1º Momento 2º Momento


1 7 3
2 11 10
3 2 7
48

Razão para que o homem se sinta superior à mulher

15
10
5
0
alternativas (b e d) letras (a, c e e) Nenhuma

1º Momento 2º Momento

Nesta segunda questão, 18 dos 20 alunos marcaram no primeiro momento as


alternativas 1 e 2 (referente as opções a, b, c, d e e) e apenas 3 alunos marcaram a
alternativa 3. No segundo momento, 3 alunos marcaram a alternativa 1, dez optaram pela
2, enquanto apenas 7 marcaram alternativa 3. Foi possível perceber que os alunos
mudaram seu entendimento quanto à existência de “razão para o homem se sentir superior
à mulher” após a explanação, mas a maioria mantém um conceito negativo.

3) Ações adotadas por alguns maridos que podem deixar a mulher em estado de
vulnerabilidade caso o casal decida pela separação, uma vez que a mulher, quase sempre
assume a responsabilidade pelos filhos e não tem renda própria. Tais ações possibilitam
a submissão da mulher ao marido:
a) Uso ou apropriação de bens materiais que eram da mulher pelo homem durante a
convivência conjugal.
b) Registros de bens em nome de outros durante a construção familiar, para não dividir
de igual modo entre as partes em caso de separação.
c) Negação de Pensão alimentícia para os filhos.
d) Abandonar emprego formal ou esconder seus ganhos para não ter que pagar pensão
alimentícia.

Alternativa conforme entendimento:

1- Todas as alternativas cooperam para desestabilizar a mulher, sujeitando-a a


situações de dependência e humilhação.
2- Nenhuma das alternativas corresponde à fragilização da mulher.

RESPOSTA 1º Momento 2º Momento


1 17 16
2 3 4
49

Ações adotadas por alguns maridos que podem deixar a mulher


em estado de vulnerabilidade

20
15
10
5
0 Todas as alternativas Nenhuma alternativa
1º Momento 2º Momento

Nesta questão, já no primeiro momento, a maioria dos alunos entendeu que alguns
maridos se apropriam de meios inconvenientes para sujeitar a mulher. E houve apenas
um aluno que mudou sua opção no segundo momento, mas não altera o resultado.
4) Em geral, ou na maioria das vezes, as brigas conjugais giram em torno de:

a) Traições por um ou ambos.


b)Divergências financeiras.
c) Incompatibilidade de gênio.
d) Relações sem diálogos.
e) Esfriamentos sentimentais.

As opções acima são razões justificáveis para que o homem venha agredir ou
mesmo matar a esposa, companheira ou ex-esposa | e ex-companheira?

1- Sim.
2- Não.

RESPOSTA 1ºMomento 2ºMomento


1 19 4
2 1 16

Razões justificáveis para que o homem venha agredir ou


mesmo matar a esposa

20

10

0 Sim Não
1º Momento 2º Momento

No primeiro momento, 19 alunos optaram por marcar a primeira alternativa


correspondente ao sim e apenas 1 aluno marcou a alternativa 2, referente ao não, ou seja
50

99% da turma concordou que as razões apontadas “justificavam o crime de violência


contra a mulher”, e no segundo momento, a segunda alternativa leva vantagem quando
16 alunos alteraram suas respostas ao perceberem que não há razões justificáveis para
agressão à mulher e 4 apenas mantiveram seu entendimento de que há razões para tal,
conforme apontam a tabela e o gráfico referente as amostras.

5) O que pode levar o homem a matar a esposa/ ou companheira?

1- Ciúme.
2- Não aceita perder, por isso não aceita o fim da relação.
3- Não quer mais, mas não admite que ela possa ser feliz com outro.
4- O fascínio do poder por ser o provedor do lar e não pode ser questionado.
5- Nenhuma das alternativas anteriores justifica o ato de matar alguém.

RESPOSTA 1º Momento 2º Momento


1 1 2
2 3 2
3 0 0
4 1 1
5 13 12

O que pode levar o homem a matar a esposa/ ou companheira

15
10
5
0
Ciúme Não aceita Não quer mais Provedor do Nenhuma das
perder lar alternativas

1º Momento 2º Momento

A questão 4, foi reelaborada nesta questão 5, houve algumas variações nas


respostas, porém os alunos no primeiro momento, possibilitaram um resultado
determinante, com a variação de resposta por apenas um aluno no segundo, e
considerando que dois outros marcaram mais de uma opção nos dois momentos, ainda
assim demonstraram entender que por nenhum motivo apresentado, há justificativa na
morte de alguém por outro. A questão apresenta a importância da intolerância sobre o
crime por qualquer motivo.
51

4.3.2. Questões discursivas

6) O que é feminicídio?
As respostas foram classificadas em:

1- Agressão que culmina em morte;


2- Não respondeu;
3- Apenas agressão.

RESPOSTA 1º 2º
Momento Momento
1 16 14
2 1 1
3 3 5

O que é feminicídio?

20
15
10

0 Agressão que Não respondeu Apenas agressão


culmina em morte
1º Momento 2º Momento

A resposta dos alunos para esta questão permite perceber que a maioria tem uma
pré-noção sobre o que é o feminicídio logo no primeiro momento, bem como o quanto a
mesma afeta a sociedade. 16 alunos entenderam que feminicídio são agressões que
culminam em morte de mulheres, 1 aluno não respondeu e 3 entenderam tratar-se apenas
de agressão, isto para o primeiro momento. Já no segundo momento, 14 alunos marcaram
a alternativa 1, 1 aluno não respondeu e 5 optaram pela alternativa 3. No entanto, o
resultado demonstra que quase todos têm noção sobre o crime de feminicídio.

7) Como o Jornal Correio de Carajás mostra a notícia?


As respostas foram classificadas em:

1- Não respondeu;
2- Não atende ao que foi perguntado;
3- Não acessa ao jornal;
3- Descreve as ações de forma a sensibilizar ou chocar o leitor.
52

RESPOSTA 1º Momento 2º Momento


1 11 6
2 6 3
3 2 1
4 1 10

Como o jornal Correio de Carajás mostra a notícia?

12
10
8
6
4
2
0
Não respondeu Não atende ao que Não acessa ao Descreve as ações
foi perguntado jornal de forma a
sensibilizar ou
chocar o leitor

1º Momento 2º Momento

Esta questão permitiu a conclusão de que no primeiro momento da coleta, 11


alunos não responderam como o Jornal Correio de Carajás mostra a notícia, já no
segundo momento, mediante os esclarecimentos, 10 alunos concordaram que a quarta
opção corresponde ao seu entendimento de que o jornal pretende “descrever as ações de
forma a sensibilizar e chocar o leitor”. Enquanto que, 6 alunos no primeiro e 4 no
segundo momento não responderam diretamente à questão, 2 alunos no primeiro
momento e somente 1 no segundo afirmaram não ter acesso ao referido jornal.

As análises das respostas do referido questionário, permitiram verificar que os


alunos percebem a ocorrência dos crimes e suas motivações, entendendo que não são
justificáveis dentro dos quesitos colocados. Vemos que embora alguns entendam o
feminicídio apenas como agressão de parceiros ou ex-parceiros; outros entendem que
feminicídio é a morte de mulheres propriamente praticadas em circunstâncias de conflitos
entre os gêneros e apenas um pequeníssimo número não respondeu, bem como apenas 2
alunos informaram não ler o mencionado jornal. Esses resultados tiveram grande
relevância para a pesquisa sobre o entendimento dos jovens em relação ao assunto dentro
das atualidades na história imediata. Além disso, incitou o docente responsável pela turma
a seguir com esse tipo de trabalho e nos deixa curiosos por mais estudos que discutam
como educar jovens em direção a um possível fim do feminicídio na história das
mulheres.
53

Em parte, “a violência contra a mulher por razões de gêneros é histórica e tem um


caráter estrutural, que se perpetua devido à posição de subordinação na ordem
sociocultural patriarcal” (GEBRIM; BORGES, 2014, p.59). A construção da estrutura
social sobre matizes patriarcais deixaram heranças discriminatórias que contribuíram com
os estereótipos preconceituosos sobre as mulheres. É importante, a partir desta análise,
buscar desenvolver estudos de atualidades através da multidisciplinaridade escolar como
ferramenta de apoio a disciplina de História e de conscientização buscando abrir
possibilidades de mudar a visão social em relação à mulher para as próximas gerações,
desconstruindo a visão sócio patriarcal brasileira em função da valoração do papel da
mulher no meio social, talvez através de palestras, rodas de conversas, debates e outros,
bem como desenvolver projetos para envolver os jovens em atividades educacionais no
sentido de conscientização sobre a importância da mulher no meio social para todos.
54

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso realizado para o curso de


Licenciatura em História objetivou buscar entender alguns dos caminhos que ainda se
concorrem para a manutenção de uma cultura social que mata mulheres pelo simples
fato de serem mulheres. Apresentamos uma breve análise e conceitualização dos termos
gênero e feminicídio à luz de autores e autoras que desenvolveram pesquisas no tema.
Por fim, buscou pensar sobre como se pode discutir o tema em sala de aula, sempre
tendo como motivação uma educação básica transformadora e a formação de cidadãos e
cidadãs com capacidade de fazer leituras sociais críticas.
Nem de longe se pretendeu abranger todos os pontos que compõe o complexo
debate sobre o gênero e sobre o tema do feminicídio. A literatura científica sobre os temas
é já bastante extensa. De qualquer maneira, inserimos alguns dados estatísticos apontados
que minimamente permitiram perceber o panorama da situação como retratada pelos
meios de comunicação. Sempre cabe lembrar que embora estejamos vendo o crescimento
do número de casos de violência contra mulheres denunciados, muitos deles ainda não
chegam ao conhecimento das autoridades, uma vez que as vítimas não conseguem acessar
e confiar nos equipamentos público, ainda rarefeitos, para sua proteção. Através do portal
de Notícias R7, a gerente de pesquisas Vânia Maria Pacheco divulgou sua investigação
sobre a falta de delegacias nas cidades de acordo com o IBGE pela Agência Brasil:
Na maioria das cidades brasileiras, não existe nenhuma Deam (delegacia
especializada no atendimento à mulher). Essa é a realidade de 91,7% dos
municípios de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Além de 90,3% das cidades do país não há nenhum tipo de serviço
especializado no atendimento à vítima de violência sexual. Os dados aparecem
na Munic (Pesquisa de Informações Básicas Municipais e Estaduais), que traz
o perfil dos municípios e estados do país de 2018. “As delegacias
especializadas de atendimento à mulher são equipamentos estaduais. Nós
investigamos, em cada município, se havia alguma Deam. Verificamos que os
estados só implantaram Deams em apenas 8,3% das cidades. Não significa que
não tenha, nessas cidades outro tipo de delegacia que atenda demandas das
mulheres”. O número de municípios que possuem casas-abrigo para mulheres
em situação de violência se manteve estável e continua reduzindo. Oscilou de
2,5% em 2013 para 2,4% em 2018. (PACHECO, 2019).

A pesquisa de Pacheco dá conta ainda, que:

“entre as 3,8 mil cidades que possuem até 20 mil habitantes, apenas nove
possuem este tipo de estrutura. Por outro lado, elas existem em 58,7% dos
municípios com mais de 500 mil habitantes. Segundo o IBGE, as casas-abrigo
propiciaram, em 2018, atendimento a 1.221 mulheres e 1.103 crianças. A
principal atividade ofertada foi o atendimento psicológico individual.
Dependendo da unidade, também há oferta de atendimento jurídico e
creche.(...)
De 2013 para 2018, houve um aumento no número de Planos Estaduais de
55

Políticas para Mulheres. Eles estavam implementados em 15 estados no ano


passado e em 12, há seis anos. No mesmo período, também cresceu, de 12
para 20, o número de unidades da federação com casas- abrigo. A maioria
delas, no entanto, possui apenas uma dessas unidades de abrigamento e os
serviços ofertados são limitados: nem sempre estão assegurados
conjuntamente atendimento psicológico individual, atendimento jurídico e
creche. São Paulo, com 14 delas, é o estado mais estruturado, seguido de Pará e
Pernambuco, ambos com cinco unidades. Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Maranhão não têm casas-abrigo.
(PACHECO, 2019).

Ainda através do Portal R7, a repórter Ana Vinhas em uma matéria publicada em
onze de março de 2020, que segundo a presidente da Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado, Simone Tebet MDB-MS, está para ser votado “um pacote de 11
projetos de lei que vão do combate à violência ao fortalecimento do protagonismo da
mulher na política. As pautas femininas ganharam prioridade no mês de março, quando
se celebra o Dia Internacional da Mulher”.
Diante desses dados, tem-se a ideia de que uma imensa maioria de mulheres não é
atendida ou acompanhada em seus processos de violência doméstica, e muitas sofrem
agressões até culminar em morte, feminicídio. Desta forma, o primeiro capítulo deste
trabalho trouxe algumas indicações teóricas e algumas definições importantes. O segundo
capítulo, por sua vez, teve a função de relatar alguns casos como forma de demonstrar o
tamanho do problema. O terceiro capítulo, por fim, discutiu como se pode colocar a
questão em sala de aula e encontra nesse espaço possibilidades de mudanças.
A pesquisa nos aponta para um caminho em que a educação seja ferramenta de
combate à discriminação e inferiorização da mulher, a partir de esclarecimentos, debates,
valorização da vida humana e respeito como parte de uma orientação sistemática. Projetos
educacionais sejam desenvolvidos, englobando o tema de empoderamento, trabalhando
as questões de humanização e igualdade de gênero, além de trazer possibilidades reais
para o educador de um modo geral, bem como professor da disciplina de História não
devendo abandonar ou esquecer quando realizar o planejamento de sua atuação em sala
de aula.
56

REFERÊNCIAS

BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. Estudos


avançados. Vol. 17 n°49 São Paulo Sept. /Dec.2003. Disponível em: Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142003000300006&script=sci_arttext>.
Acesso em: 25 de out. 2019.

BORGES, Vilmar José; SANTOS, Sônia Maria dos. Ensino, pesquisa e extensão na
formação docente: memórias vivenciadas no estágio supervisionado. Educação Santa
Maria, v. 42, n. 2. p. 361-372. maio/ago. 2017.

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB nº 9394/96, de 20 de dezembro de


1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
Brasília, 1996.

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Marabá. 22 e 23 dez.2016. Edição nº 3071. Ano XXXIV. Caderno B. Polícia. P. 1.
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VIEGAS, Nathália. Macabro. Restos Mortais são encontrados no lixão. Jornal Correio
de Carajás. Marabá. 24 a 26 dez. 2016. Edição nº 3072. Ano XXXIV. Caderno B.
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VIEGAS, Nathália. Mulher some e sua mota é vendida pela internet. Jornal Correio de
Carajás. Marabá. 20 e 21 de dez.2016. Edição nº 3070. Ano XXXIV Caderno B. Polícia.
P. 1. Disponível em <
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o=30201#page/12 >. Acesso em 11 de mai. 2019.

WOLLSTONECRAFT, Mary. “Reivindicação dos direitos das mulheres”. Tradução e


notas de Ivania Pocinho Motta. São Paulo: Edipro/Boitempo, 2016. 422. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n1p375>. Acesso em: 11 de nov.2019.
60

Anexo I – Lista de Siglas

ALACIP – Associação Latino Americana de Ciências Política

CCJ – Comissão de Constituição e Justiça

CIDH – Comissão Interamericana de Direitos Humanos

CPC – Centro de Perícias Científicas

CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

DETRAN – Departamento estadual de Trânsito

DMTT – Departamento Municipal de Trânsito e Transporte

DMTU – Departamento Municipal de Trânsito Urbano

EEEMDGV – Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Gaspar Vianna

FAHIST – Faculdade de História

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICH – Instituto de Ciências Humanas

IML – Instituto Médico Legal

JCC – Jornal Correio de Carajás

MDB – Movimento Democrático Brasileiro

MDH – Ministério dos Direitos Humanos

MMFDH – Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos

ONGs – Organizações Não Governamentais

SINTEPP – Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Pará

UFABC – Universidade Federal do ABC

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFPI – Universidade Federal do Piauí

UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

USP – Universidade de São Paulo


61

Apêndice I – Questionário de intervenção sobre feminicídio

UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE HISTÓRIA

INTERVENÇÃO NA ESCOLA E. E. M. DR. GASPAR VIANNA

Tema: A violência contra a mulher no Sudeste do Pará: as formas de noticiar os crimes de


feminicídio no Jornal o Correio de Carajás de 2015 a 2019.

Questionário:

1 - As ações a seguir caracterizam violência doméstica?


a) Xingamentos proferidos pelo casal.
b) Ameaças verbais e psicológicas.
c) Agressões físicas que chega a espancamento.
d) Destruição de bens do outro.
Marque a alternativa conforme seu entendimento:
( ) Apenas as opções b e c representam atos de violência doméstica.
( ) Todas as opções correspondem à atos de violência doméstica.
( ) Nenhumas das opções caracterizam atos de violência doméstica.

2 - Há uma razão para que o homem se sinta superior à uma mulher, dentro de uma
relação, mesmo que seja o esposo?
a) Pelo poder econômico
b) Pela classificação: “sexo frágil” dada à mulher em uma sociedade de raízes patriarcal.
c) Diz respeito à maneira como o homem foi ou é educado.
d) A mulher deve submissão pelos princípios religiosos.
e) Está relacionado com a educação da mulher face à sociedade que espera por uma pessoa
sempre dócil e submissa.
-Assinale a alternativa correta.
( ) Nenhuma das alternativas.
( ) As alternativas (a, b, c, d, e e), estão corretas.

3 - O que o homem pode fazer que coloca a mulher em estado de vulnerabilidade em caso
de separação, uma vez que a maioria fica responsável pelos filhos e não tem renda própria?
a) Uso ou apropriação de bens materiais que eram da mulher pelo homem durante a
convivência conjugal.
b) Registros de bens em nome de outros durante a construção familiar, para não dividir de
igual modo entre as partes em caso de separação.
c) Negação de Pensão alimentícia para os filhos.
d) Abandonar emprego formal ou esconder seus ganhos para não ter que pagar pensão
alimentícia.
62

Assinale a alternativa correta.


( ) Todas as alternativas cooperam para desestabilizar a mulher.
( ) Nenhuma das alternativas correspondem a fragilidade da mulher.

4 - Em geral, ou na maioria das vezes, as brigas de casal giram em torno de:


a) Traições por um ou ambos;
b) Divergências financeiras;
c ) Relações sem diálogos;
d) Esfriamentos sentimentais.
As opções acima são razões justificáveis para que o homem venha agredir ou mesmo
matar a esposa, companheira ou ex-esposa /ex-companheira.
Sim ( ) Não ( )

5 - O que pode levar o homem a matar a esposa/ ou companheira?


( ) Ciúme
( ) Não aceita perder, por isso não aceita o fim da relação.
( ) Não quer mais, mas não admite que ela possa ser feliz com outro.
( ) O fascínio do poder por ser o provedor do lar e não pode ser questionado.

6 - O combate a desigualdade de gênero na infância pode ser um caminho para garantir


direitos e oportunidades iguais e com isso diminuir as diferenças nas relações familiares?
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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

7 - Com base no seu entendimento, o que é feminicídio?


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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

8 - Descreva a forma como o Jornal Correio de Carajás apresenta as notícias sobre


Feminicídio.
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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
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_________________________________________________________________________

Marabá, Pará, ____de_______________ de 2019.

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