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Este resumo – não passa precisamente disso – e, portanto, não dispensa a leitura da
bibliografia que abaixo indicarei e que fora recomendada pelo regente desta unidade
curricular. Assim, com o intuito de ajudar os demais estudantes, segue-se este documento
que poderá servir de auxílio ao vosso estudo.
O presente documento poderá conter erros ou imprecisões e, por isso, não me
responsabilizo por estes, sendo que, como referi, este deverá servir como complemento ao
estudo e nunca como base - base essa que deverá ser a leitura das obras recomendadas.
Bibliografia:
- Direito do Trabalho e Ideologia, Manuel Carlos Palomeque Lopez, Tradução: António José
Moreira
- Direito do Trabalho, 19ª Edição, António Monteiro Fernandes
3º Ano – 2º Semestre
Direito do Trabalho
Capítulo I – Introdução
1
Normalmente, o contrato de trabalho.
2
A retribuição.
2
Direito do Trabalho
pessoa, o agente programa a sua atividade, recorre aos meios necessários, socorrendo-se
eventualmente a outras pessoas, fornecendo, por fim, o resultado pretendido (v.g., o
advogado). Nestes casos, o agente dispõe da sua aptidão profissional de acordo com o seu
critério, trabalhando com autonomia; noutras ocasiões, o mesmo indivíduo poderá aplicar
as suas aptidões numa atividade organizada e dirigida por outra: pelo beneficiário do
trabalho, deixando o agente de ser responsável pela obtenção do resultado desejado. O
trabalho é dependente, uma vez que é dirigido por outra pessoa e o trabalhador se integra
em organização alheia3.
Fora do escopo do Direito do Trabalho, situa-se o estatuto dos trabalhadores da função
pública, regulado pelo Direito Administrativo.
O ramo em estudo regula, assim, relações jurídico-privadas de trabalho livre, dependente
e subordinado4.
Quando alguém transmite a outrem a disponibilidade da sua aptidão laboral, está não só a
assumir o compromisso de trabalhar, mas também o de se submeter a vontade alheia. Deste
modo, compromete-se a proceder em conformidade com as ordens, instruções, etc. que da
outra pessoa emanem – falamos em trabalho subordinado.
Os frutos do trabalho são originariamente distribuídos a pessoa diversa do trabalhador – e,
assim falamos de trabalho por conta alheia. O resultado e o risco da sua frustração escapam,
igualmente, desde a sua origem ao trabalhador.
Para Monteiro Fernandes, o “elemento-chave” destas relações é a
subordinação/dependência.
À prestação de trabalho corresponde, como dissemos, um título jurídico próprio – o
contrato de trabalho, do qual decorre que uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a
autoridade destas (artigo 11º CT).
No âmbito destas relações, existe um contraente que se encontra inevitavelmente numa
posição mais débil: o trabalhador. Pelo que o Direito do Trabalho vem, na medida do
possível, atenuar essa fragilidade, pretendendo instaurar uma paridade entre as partes.
O ordenamento jurídico-laboral apresenta-se como o signo da proteção do trabalhador e
como um limite à autonomia privada individual, na medida em que, com recurso a normas
imperativas, estipula desde aspetos pré-contratuais até aspetos pós-contratuais que as
partes não poderão contrariar.
Para além do que ficou dito, o Direito do Trabalho cobre também as relações coletivas que
se estabelecem entre organizações de trabalhadores e empregadores, organizados ou não5.
Ao Direito do Trabalho são reconhecidas várias funções, pelo que será delas que nos iremos
ocupar neste momento.
3
O trabalho juridicamente subordinado.
4
Direito do Trabalho como a ordenação jurídica do trabalho assalariado ou prestado por conta de
outrem – in Direito do Trabalho e Ideologia, Manuel Palomeque Lopez, página 15.
5
Reflexo do reconhecimento da liberdade sindical.
3
Direito do Trabalho
4
Direito do Trabalho
6
Locatio condutio operarum – o locator obriga-se perante o conductor a prestar-lhe certos serviços,
durante determinado tempo, mediante retribuição.
7
Que foi construindo a sua imagem, prestígio e poder ao longo da Idade Média.
5
Direito do Trabalho
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Reitere-se, em troca de salário (por isso, assalariado).
9
Denominada na época por questão social.
6
Direito do Trabalho
panorama laboral, era urgente que se apresentassem novas soluções que tutelassem os
direitos da classe operária.
Neste sentido, a resposta a este estado de coisas chegou através de uma dupla via: a
organização e mobilização do proletariado industrial a partir da “consciência de classe”, que
representa uma ideia de autotutela coletiva dos próprios trabalhadores face à sua injusta
situação; a intervenção do Estado através de uma legislação protetora do trabalho
assalariado (legislação operária).
A noção de movimento operário é composta por vários elementos, cuja ideia é a seguinte:
apelando à consciência de classe, unir os membros da classe operária contra o domínio da
classe burguesa, através de organizações políticas e sindicais. Esta mobilização operária
ficou historicamente marcada numa dupla manifestação: no ludismo ou anti-maquinismo –
conjunto de atuações violentas de sabotagem e destruição de meios de produção, máquinas
ou fábricas inteiras; na constituição de organizações de classe, para lutar diretamente
contra o sistema capitalista na sua vertente política (partidos operários) e económica
(sindicatos).
Todo este desenrolar de acontecimentos, mas, nomeadamente, a acentuada exploração da
classe trabalhadora, fez emergir a necessidade de intervenção do Estado, através do seu
poder legislativo. Ao contrário da ideologia liberalista, houve lugar a um fenómeno
contrário: o da intervenção do Estado nas relações de produção. O Estado do laissez-faire é
forçado a acordar para não deixar cair o poder nas ruas.
Com esta intervenção visou-se estabelecer limites à fixação das condições de trabalho por
parte do empresário e, por outro lado, consagrar um núcleo protetor da posição da classe
do proletariado.
Este movimento legislativo veio intervir nos domínios onde a exploração dos trabalhadores
mais se fazia sentir e, assim, limitando o trabalho das mulheres e menores10, reduzindo os
tempos de trabalho, estabelecendo salários mínimos e exigindo condições mínimas de
segurança e higiene no trabalho.
Estavam, então, dados os primeiros passos para a consagração de um verdadeiro Direito
operário. Ao longo de sucessivos anos, este caminho foi se desenvolvendo – com maior ou
menos dificuldade -, tendo acabado por ficar marcado por outros avanços: falamos da
criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da consequente
“internacionalização” da legislação laboral11.
Deste modo, ia-se edificando um verdadeiro sistema protetor dos direitos dos
trabalhadores. A nível constitucional12, mas não só, encontram-se plasmados direitos
fundamentais, como a liberdade sindical, o direito à greve e outros, com um cariz mais
individual, como o estabelecimento de descanso semanal, a duração das jornadas laborais,
a estipulação de um salário mínimo, etc.
10
As mulheres eram vistas como a “mão de obra mais dócil e mais barata”. A exploração das mulheres e
dos menores era hedionda.
11
Neste contexto, cumpre enfatizar a importância do Tratado de Versalhes (1919). Mais tarde, em 1944,
a Declaração de Filadélfia veio reiterar a ideia veiculada pelo referido Tratado: a Internacionalização do
Direito do Trabalho.
12
Como sucede entre nós.
7
Direito do Trabalho
Donde, podemos concluir que o Direito do Trabalho acabaria por construir-se à volta de um
propósito maior: a proteção do trabalhador (o contraente débil)13, sendo essa a sua
principal razão de ser.
13
É a ideia de proteção do contraente débil que está em causa. Esta é a causa das coisas; esta é a razão
primeira do surgimento do Direito do Trabalho; esta é a carga axiológica deste ramo do Direito, este é o
seu ADN, o seu legado histórico.
8
Direito do Trabalho
concerne ao despedimento. Desta forma, limitou-se o poder patronal, uma vez que privado
do seu instrumento principal – o despedimento14 – ficava mais fragilizado).
As décadas de 70 e 80 ficaram marcadas pelo esforço pela “constitucionalização” do
ordenamento laboral; entre os finais dos anos 80 e inícios dos anos 90 o Direito do Trabalho
adotou o caminho da flexibilidade, fundado pelos ideais liberais-económicos.
O movimento legislativo do qual temos vindo a dar conta levou, em 2003, à elaboração de
um Código do Trabalho. Este surgiu com o intuito de reorganizar o Direito do Trabalho
português que se via “mergulhado” em leis avulsas e em imprecisões semânticas e
gramaticais, o que dificultava a aplicação das normas; visou, também, o congelamento da
contratação coletiva.
Por fim, referir que ao Código de 2003 sucederam as reformas laborais de 2009, 2011 e
2014, fruto da conjetura económico-social que se instalou no nosso país em 2008 (falamos,
nomeadamente, do desemprego).
O Direito do Trabalho é dos poucos ramos de direito em que é necessária a intervenção dos
representantes dos trabalhadores na atividade de produção legislativa – fala-se, neste
contexto, de Direito do Trabalho Concertado.
Na expressão de António Moreira, estamos num típico ambiente de diálogo social, do
“toma lá, dá cá”. Ou seja, são concedidos direitos em troca de contrapartidas, mas sempre
respeitando a ideia de concertação e diálogo, característica da produção legislativa no
âmbito laboral.
Na elaboração das leis de trabalho, a Constituição institucionaliza um certo tipo de
participação das comissões de trabalhadores (artigo 54º, nº4, alínea d)) e das associações
sindicais (artigo 56º, nº2, alínea a)).
Esta participação é regulada pelos artigos 469º e seguintes do Código de Trabalho: ora, as
leis ordinárias são previamente publicadas para que as entidades referidas tenham
oportunidade para se pronunciarem sobre o seu conteúdo, devendo as suas opiniões ser
tidas em conta, ainda que não sejam vinculativas (artigo 475º, nº1 CT) – e aqui reside, então,
a ideia de concertação entre o poder legislativo estadual e as entidades representantes dos
trabalhadores.
Com isto, visou-se impedir uma produção legislativa “surpresa”, abrindo espaço para um
debate social no procedimento legislativo.
Esta participação engloba três momentos: publicação de projetos e propostas de diplomas,
com estipulação de prazo para apreciação pública, que não será inferior a 30 dias (em regra)
– artigo 473º CT; o anúncio nos temos do artigo 472º, nº3 CT; a indicação dos resultados da
apreciação pública (artigo 473º CT).
14
Não obstante motivo grave e objetivo.
9
Direito do Trabalho
O artigo 470ºCT vem impor a participação das organizações dos trabalhadores e dos
empregadores, impedindo a adoção de qualquer ato legislativo que não haja sido submetido
à sua apreciação. Caso este imperativo seja desrespeitado, estaremos (eventualmente)
perante uma inconstitucionalidade formal.
Por outro lado, podemos ter uma concertação social. Esta traduz-se numa mera
possibilidade (artigo 471º CT e artigo 56º, nº2 CRP). Todavia, entre nós, há muito que esta
é obrigatória, então: à Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) devem ser
apresentados, para apreciação, todos os projetos legislativos do Governo em matéria sócio-
laboral. Esta participação acontece no próprio processo da elaboração dos diplomas pelo
Governo; difere, no entanto, da participação (acima descrita), na medida em que já não
resulta de imperativos, mas de compromissos políticos. O seu não cumprimento resultará
em sanções políticas, mas não afetará em qualquer caso a validade jurídicas dos diplomas.
A concertação é somente aplicável aos processos de decisão do Governo (em relação às leis
da Assembleia da República, os resultados da concertação realizada na fase de elaboração
são tomadas como meras expressões da iniciativa do Governo); ao contrário da apreciação
pública, este é um processo “fechado” de negociação, em que apenas participam certas
organizações – as confederações sindicais e patronais com assento na CPCS -,
independentemente da natureza e amplitude dos interesses em jogo.
O direito do trabalho foi bem tratado no Estado Novo, no que diz respeito ao direito
individual do trabalho. Durante o período de Salazar, se o direito individual evoluiu no seio
europeu, o direito coletivo (associações sindicais, greves e contratação coletiva) foi alvo de
um total esquecimento.
Não se apadrinhava o que era coletivo, mas apenas o que era individual. O que era coletivo
era banido. O Estado era a esquadra da polícia. Os movimentos sindicais foram proibidos,
bem como as greves. Portugal encontrava-se muito atrasado em relação aos países
autoritários15.
Chegados ao 25 de abril, havia que consagrar na Constituição aquilo que havia sido
esquecido no campo dos direitos liberdades e garantias (artigo 18º CRP). Para tanto,
procedeu-se à laboralização - em sede de direitos fundamentais, visou-se tutelar a posição
tipicamente mais débil do trabalhador, mas, por outro lado, garantir, em sede de segurança
no emprego, a proteção do empregador (o artigo 13º16 conjugado com o artigo 53º
15
Espanha, Itália, etc.
16
Este artigo terá sempre de ser tido em conta no que concerne à matéria dos “direitos, liberdades e
garantias” já que consagra um seu princípio basilar: o Princípio da Igualdade (baseia-se na ideia de que
devemos tratar por igual o que é, pela sua natureza, igual; tratando o que é diferente, aquilo que é
diferente).
10
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17
A greve deve ser precedida de um aviso prévio e deve ser decretada pela associação sindical.
11
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12
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Por outro lado, se atentarmos ao disposto no artigo 554º CT, parece-nos que este artigo
vem afastar esta classificação, estabelecendo outro critério, nomeadamente um que tem
por base o volume de negócios das empresas.
Dito isto, passemos à análise dos exemplos presentes ao longo do Código:
Artigo 228º CT – nomeadamente as alíneas a) e b) em que é estabelecido um regime
diferente conforme se trate de micro ou pequena empresa, ou média ou grande empresa.
O trabalho suplementar só pode ser prestado quando a empresa tenha de fazer face a
acréscimo eventual e transitório de trabalho e não se justifique para tal a admissão de novo
trabalhador (artigo 227º CT).
Por sua vez, o artigo 228º, nº2 CT demonstra a confiança que o legislador deposita nos
instrumentos de regulação coletiva de trabalho (bem como o nº3).
O nº5 do artigo 228º estabelece que a violação do disposto nos nº1 e nº2 constitui delito
contraobrigacional. No entanto, nada dispõe quanto à violação do nº3, consubstanciando
esta uma situação de desaplicação do Direito do Trabalho.
Artigo 217º, nº2 CT – trata da alteração do horário de trabalho, relevando a classificação
das empresas quanto ao número de trabalhadores.
Artigo 241º, nº3 CT – quanto à marcação do período de férias nas pequenas e médias
empresas.
Artigo 358º CT – normalmente, por força dos artigos 328º e 351º CT, não é possível
estabelecer uma sanção ao trabalhador sem que lhe seja garantido o contraditório; e,
tratando.se da aplicação de uma sanção punitiva mais grave, o legislador impõe todo um
processo disciplinar (artigos 352º e seguintes CT). No entanto, atento à qualificação da
empresa quanto ao número de trabalhadores, as exigências poderão ser diferentes.
Artigo 317º, nº3, alínea d) CT – apenas faz referências às pequenas e médias empresas.
Artigo 392º, nº1 CT – só se refere às microempresas.
Capítulo IV – As Fontes
No âmbito do Direito do Trabalho, podemos entender fontes num sentido restrito ou num
sentido mais amplo.
Assim, ao lado das fontes em sentido técnico, assumem relevo outras (que, no entanto,
podem escapar ao caráter de normas): as cláusulas contratuais gerais, quando o contrato
de trabalho seja celebrado por adesão (artigo 105º CT); os atos organizativos e diretivos do
13
Direito do Trabalho
- Espécies de Fontes:
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Direito do Trabalho
a 57º CRP, 58º, 59º e 63º CRP devem ser interpretados e integrados segundo a DUDH); o
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos; e o Pacto Internacional sobre os
Direitos Económicos, Sociais e Culturais.
No quadro do Conselho da Europa, referimos a Convenção Europeia dos Direito do Homem
(proíbe no artigo 4º a escravatura; consagra a liberdade sindical; e reconhece um nível
jurisdicional. Todavia, a vocação “normativa” que dela constam referentes ao Direito do
Trabalho é escassa); a Carta Social Europeia (apenas considerada com caráter doutrinário.
A ratificação da referida Carta pelo estado português obriga-o a proceder em conformidade
com o artigo 4º).
As maiores fontes internacionais do Direito do Trabalho Português são as convenções
celebradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dependendo do grau de
vinculação, as convenções são recebidas automaticamente pelo ordenamento jurídico
português (artigo 8º, nº2 CRP) – assim, ratificados pelo Estado e publicados no Diário da
República, as convenções passam a integrar o ordenamento jurídico interno
independentemente de transposição do seu conteúdo para a lei ordinária interna (são três
os requisitos: vigência na ordem internacional; ratificação; publicação).
A ordem jurídica europeia – falamos da União Europeia -, nomeadamente através do
Tratado de Funcionamento da União Europeia (TFUE) pretendeu, entre outras finalidades,
promover o emprego. Esta finalidade, bem como as outras, são prosseguidas através da
emanação de regulamentos e diretivas.
18
De entre estes ter-se-ão de destacar as convenções coletivas de trabalho (é-lhes reconhecido um
caráter normativo).
15
Direito do Trabalho
16
Direito do Trabalho
Usos laborais
O artigo 1º CT consagra os usos laborais como fonte, desde que estes não contrariem o
Princípio da Boa Fé. O que caracteriza as referidas práticas é a repetição, a continuidade,
sendo-lhe estranha a “convicção generalizada de juridicidade” – própria do costume como
fonte de direito.
Existindo usos, os contratos de trabalho passam a estar “sujeitos” a estes, não podendo
afastar-se do padrão que eles definem. Deste modo, os usos são soluções obrigatórias para
os contraentes, às quais não se poderá sobrepor a vontade deles. Os usos surgem, assim,
como limitação à liberdade de estipulação das partes (ao lado da lei e das convenções
coletivas).
Por isso, existem usos vinculantes, isto é, práticas generalizadas que são suscetíveis,
nomeadamente pela expetativa de continuidade que geram, de fundamentar obrigações de
conduta das partes. Ora, esta possibilidade depende de condições objetivas: a generalidade
– não pode tratar-se de práticas individuais, mas antes práticas adotadas para a coletividade
dos trabalhadores; a fixidez – deve manter sempre as suas características; a constância –
deve ser repetida; e a incondicionalidade – a inexistência de indicações que obriguem a
autonomizar cada uma das ocorrências de tais práticas.
E, claro, dependerá sempre da sua conformidade com a lei e com as convenções coletivas,
na medida em que uma prática ilegal nunca poderá ascender ao estatuto que lhe é
reconhecido pelo artigo 1º CTº
Os usos devem, igualmente, respeitar a boa fé, que é o fundamento do seu caráter
vinculativo. Para que a prática se considere vinculante é necessário que seja constante. No
entanto, não existe um critério que nos permita fixar um tempo mínimo para que o uso se
torne relevante. Deve, então, atender-se às circunstâncias de cada caso concreto.
Por fim, cumpre destacar a polivalência dos usos: os usos interpretativos, os usos
integradores19 e os usos laborais autónomos (que parecem ser o principal alvo do artigo 1º
CT, tornando-se em padrões de comportamento exigíveis. Estes são factos conformadores
19
Cf. artigo 3º do Código Civil
17
Direito do Trabalho
das relações de trabalho no seio de uma empresa sem, no entanto, constituírem uma fonte
“intencional” deste ramo do direito).
Fontes internacionais vs. Fontes internas: com ressalva para o texto constitucional, as
fontes internacionais prevalecem sobre as fontes internas, por força do artigo 8º, nº2 CRP.
Ora, o disposto no artigo 3º, nº4 CT é um dos muitos exemplos que constam do Código que
representam a desconfiança com que o legislador olha o contrato individual de trabalho.
Este só poderá afastar outras fontes normativas se estabelecer condições mais favoráveis,
caso contrário sucumbirá perante convenções coletivas de trabalho ou perante a lei. Na
verdade, e não nos esqueçamos, aquando da celebração de um contrato de trabalho
existem sempre uma parte mais frágil/débil – o trabalhador, pelo que não existem um
equilíbrio entre a vontade dos contraentes.
Outros exemplos poderiam ser apontados: vejamos o disposto no artigo 155º, nº2 e nº3 CT
– o legislador concede ao trabalhador a oportunidade de, no prazo de 7 dias, fazer cessar o
contrato, por meio de comunicação20. Estamos perante um direito de arrependimento do
trabalhador21.
Por outro lado, o legislador confia no processo de concertação e participação que precede
uma convenção coletiva de trabalho, já que estas, em todo o caso, resultarão de acordo
entre partes.
20
Dar o dito por não dito.
21
O mesmo sucede nos artigos 350º, nº1 CT; 397º, nº1 CT; 402º, nº1 CT.
18
Direito do Trabalho
22
Vulgo contrato de trabalho.
23
Pelo qual se interessa o Direito do Trabalho, disciplinando-o.
24
Exemplo disso são as estruturas de socorro nos aeroportos – nem sempre entram em efetiva atuação,
estando limitadas a situações em que possam entrar em atividade em sentido próprio. No entanto,
ainda que tal não suceda, não se poderá falar em incumprimento da obrigação contratual, já que, pelo
19
Direito do Trabalho
Dito isto, atividade deve entender-se no sentido de: colocar e manter a sua força de
trabalho disponível para a entidade patronal, em certos termos e dentro de certos limites
qualitativos e quantitativos, enquanto o contrato vigorar (cf. Artigo 197º, nº1). Ademais,
pelo contrato dispõe o trabalhador das suas aptidões profissionais e pessoais, em
contrapartida de uma retribuição económica, admitindo, no entanto, que seja o
empregador a fixar, através do contrato, os termos em que a prestação de trabalho será
efetuada.
Não se deve confundir a atividade com o resultado que o empregador espera alcançar com
a prestação laboral. Donde, o trabalhador não suporta o risco de a finalidade visada pela sua
entidade patronal se vier a frustrar. A verificação do resultado pretendido releva para
efeitos de execução do contrato, na determinação da prestação devida pelo trabalhador,
mas não poderá ser tida em consideração na averiguação do cumprimento ou
incumprimento contratual.
Dependendo da atividade visada pelo contrato de trabalho, pode ser admitida a prática de
atos jurídicos, em nome ou por conta do empregador. Desde logo, é também o que parece
resultar do artigo 115º, nº3 CT, concedendo-se ao trabalhador poderes de representação
para a prática de determinados atos que sejam implícitos à atividade a desempenhar e que
conste do contrato de trabalho.
Conforme dissemos, a finalidade que o empregador visa alcançar com a atividade do
trabalhador poderá ser importante para se definir a forma como este desenvolverá a sua
prestação. Com o contrato, o trabalhador obriga-se não só a despender a sua força
mecânica, mas também a, conhecendo o fim pretendido pela entidade patronal, atuar em
conformidade com este. Esta imposição decorre do artigo 126º, que se refere à boa fé no
cumprimento das obrigações laborais, pelo que os trabalhadores não deverão executar a
sua atividade de modo a contrariar ou impossibilitar o resultado pretendido pelo
empregador, desde que este seja ou possa ser conhecido.
Para além do que ficou dito, resulta do artigo 128º, nº1, alínea c) que o trabalhador fica
obrigado a realizar o trabalho com zelo e diligência (pelo que fica afastada a possibilidade
de ser feita uma greve de zelo).
Temos vindo a falar de diligência, sem, no entanto, darmos uma concreta noção deste
conceito. Ora, cumpre agora fazê-lo: grau de esforço exigível para determinar e executar a
conduta que representa o cumprimento de um dever. A diligência requerida, elemento
integrante da conduta, deve ser determinado caso a caso (artigo 487º do Código Civil), tendo
como ponto de partida a figura do bom pai de família.
O desprezo pelo grau de exigência exigível consubstancia, por força do artigo 351º, nº2, al.
d), um fundamento ao despedimento por justa causa e ao levantamento de processos
disciplinares. Não se confunda isto com a diminuição das aptidões e capacidades
decorrentes do envelhecimento, da perda de capacidade física ou mental, já que estas
situações não se traduzem na diminuição de diligência na execução do trabalho mas que,
ainda assim, poderão servir de fundamento ao despedimento (artigo 375º, nº2).
menos, se exige a atenção face a uma eventual situação que careça da sua intervenção e, quando assim
for, prontidão na sua atuação.
20
Direito do Trabalho
Muitas vezes, não é fácil identificar relações de trabalho subordinado e esta questão é tanto
mais relevante quando percebemos que só estas interessam ao Direito de Trabalho,
deixando todas as outras à sua margem26.
25
Dizemos que, nestes casos, não existe uma subordinação técnica.
26
Que, enfim, se terão de sujeitar às regras gerais do Direito Privado.
21
Direito do Trabalho
As presunções, conforme dispõe o artigo 34º do Código Civil, permitem-nos que tiremos
ilações “de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido”. Ora, no âmbito laboral,
estas podem surgir a propósito de dois problemas: o da consideração de existência de um
contrato de trabalho em situações que não se fundam em manifestações expressas de
vontade das partes; e o da qualificação laboral de outras situações, em que as declarações
das partes, ou outros elementos indicativos, apontem para a identificação de outro tipo
contratual.
Do artigo 110º do Código do Trabalho decorre a regra da liberdade de forma dos contratos
do trabalho, salvo as situações em que a lei o exige29. No entanto, o julgador não está livre
de se pronunciar sobre a existência da relação contratual e da sua qualificação, pelo que,
para tanto, se servirá da função presuntiva associada ao artigo 11º CT - isto é, verificados os
elementos subjacentes ao referido preceito, poder-se-á, recorrendo à via presuntiva,
identificar um contrato de trabalho30 (presunção judicial – artigo 351º do CC).
Por outro lado, e a par da presunção judicial, existem as presunções legais (artigo 350º do
CC) – nestas situações, é a própria lei que liga à verificação de certos factos uma conclusão
sobre factos desconhecidos; esta poderá ser provisória ou definitiva, ressalvando-se sempre
a possibilidade de prova em contrário (ou seja, provando-se que o trabalho não é
subordinado como se presumira, mas autónomo).
Entre nós, o artigo 12º CT vem estabelecer uma verdadeira presunção legal. Partindo do
pressuposto da existência de subordinação (“na relação entre uma pessoa que preste uma
27
Dada a sua proximidade enquanto figuras jurídicas parecem confundir-se, pelo que é essencial
proceder à sua distinção. Distinção esta que se consegue fazer, desde logo, com referência ao objeto –
que é distinto – dos tipos contratuais em apreço.
28
Como vimos infra.
29
Questão que abordaremos aquando do estudo dos contratos de trabalho “atípicos”.
30
Inferindo-se a verificação de outros elementos, adquiridos por presunção.
22
Direito do Trabalho
atividade e outra ou outras que dela beneficiam”) e verificadas algumas (pelo menos, duas)
das características que enumeraremos, poder-se-á presumir a existência de um contrato
de trabalho: a atividade seja realizada em local pertencente ao seu beneficiário ou por ele
determinado (alínea a)); os equipamentos e instrumentos de trabalho utilizados pertençam
ao beneficiário da atividade (alínea b)); o prestador da atividade observe horas de início e
de termo da prestação determinadas pelo beneficiário da mesma (alínea c)); seja paga, com
determinada periodicidade, uma quantia certa ao prestador de atividade, como
contrapartida da mesma (alínea d)); o prestador de atividade desempenhe funções de
direção ou chefia na estrutura orgânica da empresa (alínea e)).
Assim, verificadas algumas destas circunstâncias, caberá ao empregador provar a existência
de uma situação de trabalho por conta própria, ou autónomo. Caso consiga prová-lo, fica
afastada a aplicação do Direito do Trabalho, aplicando-se as disposições gerais do direito
civil, nomeadamente no que concerne ao contrato de prestação de serviços (artigos 1152º
e seguintes do Código Civil).
31
Vulgo salário mínimo.
23
Direito do Trabalho
Conforme estudámos, aos contratos podem ser aditadas cláusulas acessórias, possibilidade
que decorre do Princípio da Liberdade Contratual e, nomeadamente, dentro deste, da
liberdade de estipulação35 conferida às partes – neste caso, do contrato de trabalho.
Das cláusulas acessórias destacam-se, no seio do contrato de trabalho, a condição36 e o
termo37. Aliás, esta última reveste uma importância tão acentuada neste domínio que,
conforme veremos, levou à consideração de uma modalidade “atípica” de contrato que, em
sede própria, estudaremos com o devido detalhe.
Quanto à condição, apelando à noção civilística, podemos defini-la da seguinte forma: um
acontecimento futuro e incerto a cuja verificação as partes subordinaram a produção ou
resolução de efeitos jurídicos. Se as partes tiverem subordinado à sua verificação a produção
de efeitos jurídicos, então estaremos perante uma condição suspensiva38; se, pelo
32
Neste contexto, veja-se o sentido do artigo 295º, nº1 CT e do artigo 255º CT.
33
Ou de execução duradoura.
34
Por razões de estabilidade ou segurança do emprego.
35
Traduz-se na faculdade concebida às partes de poderem estabelecer os efeitos jurídicos que querem
ver produzidos e, outrossim, estabelecer o conteúdo dos contratos. – In Apontamentos de Teoria Geral
das Obrigações.
36
Cf. Artigo 270º do Código Civil.
37
Cf. Artigo 278º do Código Civil.
38
Para que fiquemos, de facto, elucidados quanto ao que aqui se trata, recorro a um exemplo de
Monteiro Fernandes. Assim: um empresário teatral contrata um ator para desempenhar certo papel
numa peça, se para ela obter financiamento; enquanto este não surgir, a eficácia do contrato fica
suspensa.
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Direito do Trabalho
contrário, as partes subordinarem à sua verificação a resolução dos efeitos jurídicos, será
esta uma condição resolutiva39.
No domínio laboral, e no que respeita aos contratos de trabalho, é unânime a
admissibilidade das condições suspensivas, na medida em que esta possibilidade tem,
inclusive, assento legal no artigo 135º do CT. Por outro lado, relativamente à suscetibilidade
de serem aditadas cláusulas resolutivas aos contratos de trabalho, a questão já levanta mais
problemas. É que, em primeiro lugar, estamos perante uma lacuna – a lei nem o admite nem
o proíbe -, pelo que caberá recorrer aos meios tradicionais para procedermos à sua
integração. O argumento mais forte e que vai no sentido negativo – e, assim, na proibição
de aditação destas cláusulas -, resulta da própria letra da lei. De facto, o artigo 135º CT ao
admitir que os contratos sejam celebrados a termo e condição suspensivos, não considera
a condição resolutiva; por outro lado, a exceção feita ao termo resolutivo – artigo 140º, nº1
– deixa, mais uma vez, de parte a admissibilidade destas cláusulas. Donde, poderemos
concluir que nem a título excecional estas poderão considerar-se e, por conseguinte,
admitir-se.
Assim sendo, e como defende Monteiro Fernandes, é forçoso reconhecer, à luz do direito
positivo, que o contrato de trabalho não suporta condição resolutiva.
Quanto ao termo, o legislador admitiu esta possibilidade, que consta do artigo 135º CT –
nomeadamente, a admissibilidade do contrato a termo suspensivo. No que toca à
possibilidade de se aditar um termo resolutivo ao contrato, é verdade que o legislador o
admitiu, no entanto, mostrando-lhe algumas reservas (é alvo até de um regime próprio –
artigos 139º e seguintes CT). Este, como veremos daqui a pouco, só pode ser celebrado em
situações excecionais (e até contadas) – cf. artigo 140º CT -, uma vez que a contratação a
termo resolutivo coloca o trabalhador numa posição (mais) frágil e porque é sempre
preferível a contratação por duração indeterminada (fica mais acautelada a posição do
trabalhador).
A falta de capacidade dos sujeitos e a inidoneidade do objeto, além de outros vícios que
tenham afetado a formação do contrato40, refletem-se sobre a sua validade, podendo torná-
lo nulo ou anulável.
Dessa forma, e consoante a gravidade do vício, estaremos perante um caso de nulidade
(artigo 286º do CC) ou de anulabilidade (artigo 287º do CC), estando-lhe associados a
produção dos efeitos prescritos no artigo 289º, nº1 – e, por isso, declarado nulo ou anulável
o contrato, ter-se-á que devolver tudo o que houver sido prestado ou, não sendo possível a
sua restituição em espécie, o valor correspondente.
O regime consagrado para o contrato de trabalho consagra, no entanto, algumas
particularidades – artigos 122º e 123º do Código do Trabalho. As soluções apresentadas
39
Mais uma vez, recorro a um exemplo de Monteiro Fernandes: um operário adoece gravemente e
deixa o serviço por essa razão; a entidade recruta outro para o substituir, ficando entendido que este
contrato cessará se e quando o primeiro puder regressar ao trabalho.
40
Como sejam os vícios na formação da vontade e a divergência entre a vontade e declaração – artigos
240º e seguintes do Código Civil.
25
Direito do Trabalho
pelo nosso legislador têm influência alemã, fazendo funcionar os efeitos da invalidade
somente para o futuro.
Assim, entre nós, o contrato de trabalho declarado nulo ou anulável: produz os seus efeitos
como se fosse válido em relação ao tempo em que esteve em execução (artigo 122º, nº1 CT);
produzem efeitos, nos termos do respetivo regime legal, os atos extintivos41 praticados
naquele período; se o contrato for celebrado com estipulação de termo, as consequências
normais da aposição de tal cláusula no respeitante ao regime de cessação do vínculo deixam
de se produzir, substituindo-se-lhes os regimes de despedimento ilícito ou da denúncia pelo
trabalhador sem aviso prévio; produzem efeitos os atos modificativos inválidos desde que
não afetem as garantias do trabalhador (artigo 122º, nº2 CT).
A nulidade ou anulação parcial não determina a invalidade de todo o contrato de trabalho,
salvo quando se mostre que as partes não teriam contratado sem a parte viciada (artigo
121º, nº1 CT).
41
Maxime despedimento, mútuo acordo, etc.
42
“Atípicos” pelo facto de merecerem um tratamento específico.
43
Exemplo paradigmático é o do contrato a termo.
44
Lembremo-nos de que este se traduz num acontecimento futuro, mas certo.
26
Direito do Trabalho
isto, não queremos dizer que a contratação a termo é a regra – porquanto a regra é e
continuará a ser a contratação por tempo indeterminado (por várias razões mas,
nomeadamente, pelas normas que restringem a contratação por tempo determinado) -,
mas, de facto, tem sido uma modalidade de contratação cada vez mais utilizada pelos
empregadores.
O regime do contrato de trabalho a termo encontra-se consagrado nos artigos 139º e
seguintes do Código do Trabalho.
Do estudo da unidade curricular de Teoria Geral do Negócio Jurídico, sabemos que a figura
do termo se subdivide em termo certo do termo incerto. O termo é certo quando se trata
de um momento ou acontecimento que seguramente ocorrerá em momento rigorosamente
determinado45; é incerto quando se trata de um evento que seguramente ocorrerá, mas em
momento indeterminado46.
A contratação a termo só é lícita se, antes de mais, se verificarem, em concreto, dois
pressupostos: que a celebração do contrato nestes moldes vise a satisfação de
necessidades temporárias da empresa (objetivamente determinadas pela entidade
empregadora); e apenas pelo período estritamente necessário à satisfação dessas
necessidades (artigo 140º, nº1 CT). Ora, neste sentido, o legislador veio dizer quais são os
motivos que consubstanciam uma necessidade temporária da empresa, estando estes
elencados no nº2, principalmente (repare-se que o elenco deste preceito não é taxativo –
mas meramente exemplificativo -, algo que resulta do vocábulo “nomeadamente” utilizado
na redação do artigo), mas também no nº4. A este propósito, diga-se que o nº2 e o nº4
consagram hipóteses em que é admitida a contratação a termo certo; donde, para se
contratar a termo incerto deve ter-se como fundamento uma das hipóteses previstas no
nº3, uma vez que este elenco é taxativo (só nesses casos se poderá contratar a termo
incerto).
No entender de António J. Moreira, o artigo 140º, nº2, alínea b) CT consubstancia um
incentivo à litigiosidade judicial, na medida em que o empregador só poderá contratar um
trabalhador, apondo uma cláusula de termo, se houver uma ação pendente para apurar a
licitude do despedimento. De outra forma, e conforme diz o nº2 do referido artigo, não
haverá “necessidade temporária” e, por conseguinte, um motivo que justifique a
contratação nestes moldes (o motivo justificativo).
De qualquer forma, caberá sempre ao empregador provar os factos que levaram à
contratação a termo (nº5 do artigo 140º CT), solução que se entende na medida em que é
este que tem interesse em contratar a termo.
O legislador visou, portanto, restringir a admissibilidade de contratação a termo, porquanto
(e já o dissemos) a posição do trabalhador por tempo determinado é ainda mais frágil (o
vínculo laboral é precário). À aversão a esta modalidade de contratação, contrapõe-se o
endeusamento da modalidade-regra: o contrato por tempo indeterminado – isto porque a
cessação do contrato não se verifica pelo atingir de um prazo ou pela verificação de um
evento que, apesar de certo, não se sabe quando se irá verificar.
45
Exemplo: acesso à maioridade de um indivíduo.
46
Exemplo: a morte de um indivíduo (incerto quanto à sua verificação).
27
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47
A indicação dos factos que integram o motivo justificativo é de uma singular importância. Não basta
que do contrato conste o motivo justificativo – v.g., o acréscimo excecional de atividade da empresa -, é
ainda necessário que se aponham os factos que o integram (v.g., uma fábrica de sapatos que se depara
com uma encomenda que envolve a produção de 100 000 pares de sapatos por dia), sob pena de o
contrato se considerar celebrado sem termo (como, aliás, já referimos) – artigo 147º, nº1, alínea c) in
fine.
28
Direito do Trabalho
48
Ou, melhor dito, prorrogado.
29
Direito do Trabalho
regra da renovabilidade limitada dos contratos a termo (artigo 149º, nº4 CT)49. Na verdade,
atendendo à prossecução dos seus interesses enquanto empregadores, estes poderiam
defraudar o disposto por aquela regra (o contrato não pode ser renovado por mais de três
vezes), recorrendo à celebração de sucessivos (novos) contratos a termo com o mesmo ou
com outro trabalhador. Assim, celebrando sucessivos contratos diversos com (por exemplo)
o mesmo trabalhador, quando cessasse o precedente, não se estaria a violar o disposto
naquela norma.
Para evitar este logro, o legislador impôs que entre a celebração de contratos sob esta
modalidade – entre o trabalhador e uma mesma entidade empregadora - haja um hiato
temporal que não deve ser inferior a um terço da duração do contrato precedente,
incluindo renovações (143º, nº1 CT).
Para que alcancemos a abrangência deste impedimento, tomemos em consideração o
seguinte exemplo: A, entidade empregadora, celebrou com B um contrato a termo (certo)
por um período de seis meses. Findo esse prazo, o contrato (porque as partes não se
opuseram a tal) renovou-se por igual período. Poderá a entidade empregadora celebrar um
novo contrato a termo com o mesmo trabalhador, B? O alcance do artigo 143º CT é
precisamente impedir que este tipo de situações se verifique; segundo esta norma, A não
poderá contratar (diga-se, a termo) novamente com B, podendo apenas, caso o queira, fazê-
lo decorridos 4 meses (duração inicial do contrato a termo – seis meses; período da
renovação – seis meses; período total – 12 meses; 1/3 de 12 meses – 4 meses).
Neste enquadramento, defende Monteiro Fernandes, que o artigo 143º CT não visou
apenas proibir esta prática quando se pretenda celebrar novo contrato a termo com o
mesmo trabalhador, mas, também, quando se trate da admissão de novo trabalhador. Isto
porque – adianta -, se não fosse este o logro do legislador, então bastaria para proibir esta
espiral de contratação a termo o disposto no artigo 129º, nº1, alínea J) CT.
Contudo, a aplicação deste preceito implica que se verifiquem alguns requisitos
(cumulativos): que a celebração do contrato a termo se deva a razão não imputável ao
trabalhador (resulta expresso do artigo 143º, nº1, 1ª parte CT); inexistência de um período
de espera equivalente a um terço da duração do contrato anterior (incluindo renovações);
e esta proibição só vale para o preenchimento do mesmo posto de trabalho50.
Excecionalmente, esta regra não vigorará – falamos, nomeadamente, dos casos a que se
refere o nº2 do artigo 143º CT: a) nova ausência do trabalhador substituído, quando o
contrato de trabalho a termo tenha sido celebrado para a sua substituição; b) acréscimo
excecional da atividade da empresa, após a cessação do contrato; c) atividade sazonal. Ainda
assim, as exceções não se esgotam nestas hipóteses porque, conforme referimos, aquele
regime só opera nos casos em que o vínculo não tenha cessado por facto imputável ao
trabalhador; donde, a contrario, o regime não operará quando o primitivo vínculo tenha
cessado por facto imputável àquele (por decisão unilateral ou razões disciplinares).
49
António José Moreira, neste sentido, fala da existência de um período de nojo.
50
Daí que se entenda o ponto de vista de Monteiro Fernandes – ora, admitir-se a possibilidade de
contratar a termo outro trabalhador para ocupar o mesmo posto de trabalho acabaria, indiretamente,
por se traduzir numa violação do disposto no artigo 149º, nº4 CT. Poder-se-ia sempre contratar a termo,
ainda que não com um mesmo trabalhador, com um trabalhador diverso, o que, por certo, frustraria o
espírito da lei.
30
Direito do Trabalho
51
Mais uma vez, fica evidenciada a preferência do legislador pela modalidade de contratação por tempo
indeterminado.
52
Neutraliza-se a cláusula de termo.
53
Falamos, por exemplo, da hipótese de o empregador subordinar a cessação do contrato a termo por
sua decisão unilateral; ou incumbido o empregador da prova dos factos que integram o motivo
justificativo (artigo 140º, nº5), este não os consiga provar.
31
Direito do Trabalho
Dito isto, e antes de passarmos à análise do regime da cessação dos contratos a termo,
cumpre fazer (outras) breves considerações.
Em primeiro lugar, parece-nos que o artigo 145º CT consagra uma espécie de direito de
preferência. Isto porque, no período de 30 dias após a cessação do contrato, o trabalhador
goza de preferência na celebração de contrato sem termo, com o que isto importa,
nomeadamente, o facto de o empregador, caso pretenda admitir novo trabalhador por
tempo indeterminado, estar obrigado a fazer prevalecer a posição do anterior trabalhador
a termo. Isto funciona quando o recrutamento seja externo e se destine ao exercício de
funções idênticas exercidas pelo antigo trabalhador (a termo). A violação deste direito de
preferência obriga o empregador a indemnizar o trabalhador no valor correspondente a três
meses da retribuição base, para além de que constitui uma contraordenação grave.
Em segundo, o artigo 142º CT vem admitir, excecionalmente, que o contrato a termo seja
celebrado por período inferior a seis meses. Atividades sazonais – como as agrícolas -,
exigem, em determinada altura do ano, mais trabalhadores para fazer face às suas
necessidades. O legislador, reconhecendo essa necessidade, veio possibilitar a contratação
a termo por período não superior a 35 dias (afastando, inclusive, a necessidade de o
contrato seguir forma escrita). Ainda assim, estabelece uma limitação que se prende com a
impossibilidade de empregador e trabalhador contratarem por mais de 70 dias de trabalho
no mesmo ano civil (os 70 dias facilmente se preencherão com uma única renovação por
igual período (35 dias) do contrato a termo).
Por seu turno, o artigo 146º CT estabelece um Princípio de Igualdade (de Tratamento). Isto
implica que os trabalhadores a termo estão vinculados aos mesmos deveres e gozam dos
mesmos direitos que os trabalhadores por tempo indeterminado.
O artigo 144º CT refere-se ao dever de o empregador comunicar à comissão de
trabalhadores e à associação sindical em que o trabalhador (contratado) esteja filiado, no
prazo de cinco dias úteis, a celebração do contrato a termo, bem como o motivo justificativo
sobre o qual assenta esse vínculo contratual54.
54
Este está adstrito a outros deveres, mas remetemos para a lei (e sua leitura).
32
Direito do Trabalho
Por remissão de uma norma do regime da pré-reforma (artigo 322º, nº1, alínea a) CT, é
importante que atentemos o disposto no artigo 348º CT. O que sucede nestas situações é o
seguinte: quando ambas as partes tenham conhecimento da reforma do trabalhador por
velhice, o contrato celebrado por tempo indeterminado converter-se-á ope legis num
contrato celebrado a termo. Aplicar-se-lhe-á, nesse caso, o regime do contrato a termo
resolutivo (artigos 139º e seguintes CT), com as especificidades previstas naquele preceito.
Isto é, é dispensada a redução do contrato a escrito; o contrato vigora pelo prazo de seis
meses, renovando-se por períodos iguais e sucessivos, sem sujeição a limites máximos; a
caducidade fica sujeita a um aviso prévio de 60 ou 15 dias, consoante a iniciativa pertença
ao empregador ou ao trabalhador; a caducidade não determina o pagamento de qualquer
compensação ao trabalhador.
O nº3 do artigo 348º CT consagra uma cláusula de extensibilidade do regime supracitado.
Na verdade, ao abrigo desta norma, aquele regime aplica-se igualmente aos trabalhadores
que tenham 70 anos e ainda não tenham atingido reforma (por motivos de idade) 55.
Se o contrato tiver duração inferior a 6 meses, o período de férias é calculado à razão de
dois dias úteis de férias por cada mês (artigo 239º, nº4 CT).
55
Neste sentido, fala-se numa medida de flexibilização interna da saída da empresa (a ideia que lhe
subjaz é a de uma saída mais ou menos prolongada, sem que isso importe uma desvinculação radical).
33
Direito do Trabalho
estivesse em serviço efetivo; tem, igualmente, direito a férias regendo, neste sentido, o
regime geral disposto nos artigos 238º e seguintes CT. Ainda assim, quando o contrato a
termo seja celebrado por prazo inferior a seis meses (o que é admitido pelo artigo 148º, nº2
CT e nos casos prescritos pelo artigo 142º CT), aplica-se o regime especial disposto no nº4
do artigo 239º CT, tendo o trabalhador a termo direito a dois dias úteis
56
Cisão do empregador.
34
Direito do Trabalho
57
Relativa no sentido de não ser só esta que responderá pelos créditos e contribuições supracitados.
58
Quanto ao exercício e licenciamento, DL n.º 260/2009, de 25/9.
35
Direito do Trabalho
59
Para efeitos da contratação com fundamento na alínea f) do nº2 do artigo 140º CT, é apenas
considerado acréscimo excecional de atividade da empresa a que se protele por um período que tenha a
duração até 12 meses.
60
Uma vez que já o analisámos supra, para lá remetemos – pp. 30-31.
36
Direito do Trabalho
A par do que sucede para os contratos a termo, o contrato de utilização não pode exceder
o período estritamente necessário à satisfação da necessidade do utilizador (nº3 do artigo
175º CT). Ademais, está vedada à entidade utilizadora a possibilidade de socorrer-se de
trabalhador que haja anteriormente pertencido aos seus quadros (de recursos humanos),
se o vínculo cessou em virtude de despedimento coletivo ou por extinção de posto de
trabalho (nº4 do mesmo preceito).
No artigo 176º, mais uma vez, fica comprovada e evidenciada a identidade do regime do
contrato de utilização de trabalho temporário com o que vigora para o contrato a termo:
incumbe ao utilizador a prova dos factos que justificam a celebração do contrato de
utilização de trabalho temporário (norma que tem o seu paralelo no artigo 140º, nº5 CT).
Os contratos que sejam celebrados sem que se verifique um dos fundamentos previstos no
artigo 175º, nº1 CT são nulos, considerando-se celebrados por tempo indeterminado – e,
assim, o trabalhador e o utilizador ficam vinculados por um contrato sem termo (sem
prejuízo do trabalhador poder optar pelo pagamento de uma indemnização – cf. artigo 173º,
nº6 CT). Ora, pretendeu o legislador punir a má utilização do contrato de trabalho
temporário, ficando manifestada, mais uma vez, a adoração pelo contrato por duração
indeterminada.
A validade deste contrato está dependente da verificação de forma escrita (artigo 177º, nº1
CT) e da aposição no papel de todos os elementos previstos no mesmo preceito, na medida
em que, desrespeitada a forma ou não constando do contrato um dos elementos, este é
nulo. Donde, o trabalho prestado pelo trabalhador ao utilizador ter-se-á como fundado num
contrato sem termo (artigo 177º, nº5 e nº6 CT).
Podendo ser celebrado por termo certo ou incerto, este não poderá subsistir, em regra, por
mais de dois anos; ou de seis meses ou 12 meses, respetivamente, quando fundado na
alínea a), nº1 do artigo 175º CT ou acréscimo excecional da atividade da empresa.
Tendo cessado o contrato de utilização e, ainda assim, o trabalhador ter continuado ao
serviço do utilizador por 10 dias, considera-se que o trabalhão passa a ser prestado ao
utilizador com base em contrato de trabalho por duração indeterminada (artigo 178º, nº4
CT) – de resto, com o devido paralelismo, idêntico ao que estipula o artigo 147º, nº2, alínea
c) CT.
Por seu turno, o artigo 179º CT vem proibir, caso se tenha completado a duração máxima
de contrato de utilização de trabalho temporário, a sucessão no mesmo posto de trabalho
de (outro) trabalhador temporário ou de trabalhador contratado a termo durante um hiato
temporal de um terço de duração do contrato que haja cessado, incluindo renovações (por
se ter atingido a sua duração máxima)61. A ratio desta norma passa pela limitação da
contratação a termo ou a título temporário, para que a exceção não se torne regra; regra
essa que é (e deve ser), já sabemos, a contratação por tempo indeterminado.
A regra, neste enquadramento, é de facto a contratação a termo certo ou incerto. Com isto
não queremos dizer que este é o cenário desejável, antes pelo contrário; afirmamos que é
a regra porque, do que ficou dito, concluímos que, no seio da contratação temporária e,
61
Não obstante das exceções previstas no nº2 do mesmo preceito.
37
Direito do Trabalho
62
O que pode suceder quando o trabalhador seja portador de qualificações raras, por exemplo.
63
Vimos que esta solução consagra alguns problemas, sobretudo de imediação.
38
Direito do Trabalho
Posto isto, cumpre, por fim, referir o regime disposto no artigo 173º CT. Dissemos que, para
que seja possível a uma empresa dedicar-se à cedência de trabalhadores a utilizadores, é
necessário que seja concedida uma licença (Decreto-Lei n.º 260/2009, de 25 de setembro),
concedido por entidade competente para o efeito.
Ora, se uma empresa de trabalho temporário não for titular desta licença, não pode
celebrar contratos de utilização (ou outros, com trabalhadores ou utilizadores – quais
sejam). Donde, os contratos que, ainda assim, sejam celebrados são nulos, sendo
considerados, outrossim, celebrados por tempo indeterminado.
Fica, também, vedada a possibilidade de empresas de trabalho temporário celebrarem
contratos entre si com o logro de ceder um trabalhador a um terceiro (v.g., a empresa A
cede um trabalhador a empresa B que, por sua vez, o cede à empresa C). A consequência
para os contratos celebrados com este intuito é a nulidade.
Finalmente, se uma ETT ceder um trabalhador a uma entidade utilizadora sem, no entanto,
ter com este celebrado um contrato de trabalho temporário (ou outro, por tempo
indeterminado), considera-se que o trabalho é prestado ao utilizador em regime de contrato
sem termo.
64
Note-se que, sendo a caução insuficiente para o pagamento dos créditos solicitados, o primeiro a ser
pago será o crédito do trabalhador temporário relativo à retribuição (artigo 191º, nº6, alínea a) CT).
39
Direito do Trabalho
Contrato de Trabalhador
Trabalho
Temporário
ETT
Prestação de
Trabalho
Contrato de
Utilização Utilizador
40
Direito do Trabalho
41
Direito do Trabalho
(e, em bom rigor, nem disso) de um aviso prévio por escrito, com a antecedência mínima de
30 ou 60 dias, consoante a comissão haja durado por um período não superior a dois anos
ou superior a este. A falta de aviso prévio não obsta, no entanto, à cessação da comissão de
serviço, constituindo apenas a parte faltosa na obrigação de indemnizar a contraparte pelo
período em falta (artigo. 163º, nº2 CT). Com esta indemnização, e até porque é essa a
finalidade do artigo 401º CT, visa-se recuperar a situação económica se verificaria se a
comissão fosse cumprida até ao fim.
Mais uma vez nos deparamos com uma solução que se encontra desligada da ideia
constitucional de segurança no emprego65. A constitucionalidade desta norma (artigo 163º
CT), chegou a ser alvo de fiscalização preventiva, tendo o Tribunal Constitucional se
pronunciado pela constitucionalidade desta. Entendeu que a cessação de funções que
envolvam uma relação de confiança justificam um regime diverso, desligado das
preocupações que são apanágio do Direito do Trabalho – quais sejam, nomeadamente a
tutela da posição do trabalhador.
A celebração de um contrato para exercício de funções ou cargos em comissão de serviço
está sujeito a forma escrita (afastando-se a aplicação do regime-regra – cf. artigo 110º CT).
O incumprimento desta exigência legal por parte do empregador, traz-lhe consequências
nefastas que se traduzem na não consideração do exercício das funções em comissão de
serviço (artigo 162º, nº2 e nº3 CT). Donde, as funções confiadas ao trabalhador são-no de
forma definitiva e a título irreversível, não se aplicando as normas que se referem à cessação
da comissão (artigo 163º CT) – perde-se o caráter transitório e reversível, características da
comissão de serviço; com o que isso importa, nomeadamente o facto de o empregador não
poder fazer cessar o contrato mediante comunicação prévia, por escrito, ao trabalhador. À
mesma solução levará a não aposição no contrato da indicação do cargo ou funções a
desempenhar, com menção expressa do regime de comissão de serviço (artigo 162º, nº2,
alínea b) CT).
Por outro lado, a falta de menção dos elementos a que se referem as alíneas c) e d), nº3 do
artigo 162º CT, não influencia a validade formal do contrato celebrado. As consequências
que lhe estão associadas são as dispostas nas alíneas a) e c), do nº1 do artigo 164º CT.
E, aqui chegados, afigura-se-nos de uma considerável importância analisar o preceituado
pelo artigo 164º, nº1, alínea b) CT. De acordo com esta norma, se o empregador fizer cessar
a comissão de serviço interna, é concedido ao trabalhador o direito de resolver, de forma
definitiva, o contrato que o liga à empresa (falamos do contrato que lhe instituiu as funções
que primitivamente ocupava). Por outras palavras, caso o empregador destitua o
trabalhador das funções lhe confiou a título de comissão de serviço, este poderá
desvincular-se do contrato que o liga à sua entidade empregadora. Esta solução, no
entender de António José Moreira é, no mínimo, contestável; a verdade é que, não obstante
se ter feito cessar a comissão de serviço, o trabalhador tem o seu emprego garantido.
Donde, não parece fazer sentido, apenas porque o empregador deixou de confiar no
trabalhador para o exercício daquelas funções, conceder-se o direito de resolver o contrato,
uma vez que tal atenta contra a segurança no emprego e, inclusivamente, contra o próprio
65
António J. Moreira entende que este preceito põe em causa o disposto no artigo 53º CRP.
42
Direito do Trabalho
trabalhador66, pelo que dever-se-á afastar a solução consagrada nesta disposição (através
de uma interpretação corretiva da norma).
66
É que, ademais, tratando-se de um caso de despedimento voluntário, o trabalhador não terá direito a
ser indemnizado e ficará numa situação de desemprego.
67
Note-se que o trabalhador continua adstrito ao dever de lealdade – artigo 128º, nº1, alínea f) CT.
43
Direito do Trabalho
uma atividade remunerada no período de inatividade, a antecedência não deve ser inferior
a 20 dias (artigo 159º, nº1 e nº3 CT).
Ademais, o trabalhador tem direito, durante o período de inatividade, a uma compensação
retributiva paga pelo empregador, com uma periodicidade igual à da retribuição (mensal),
cujo valor pode estar estipulado em instrumento de regulamentação coletiva de trabalho
ou, na sua falta, de 20% da retribuição base (artigo 160º, nº2 CT). Se o trabalhador exercer
outra atividade remunerada durante o período de inatividade, terá direito a essa mesma
compensação retributiva mas, desta feita, deduzida do montante que aufere em sede de
retribuição (artigo 161º, nº3 CT).
Relativamente aos períodos de atividade, o trabalhador intermitente terá, pois, direito a
uma retribuição, aplicando-se o regime geral.
68
Part-time. Chamamos a atenção para o facto desta denominação não dever ser empregada em
momentos de avaliação, sejam estes escritos ou orais. Apenas a utilizaremos por ser mais prático.
44
Direito do Trabalho
69
Ainda que se trate de acordo novatório entre empregador e trabalhador. Estes acordos são
celebrados com trabalhador que já integra o quadro da empresa, procedendo-se à alteração do regime
contratual, nomeadamente no que concerne ao período de trabalho.
70
Vigora quanto à retribuição o Princípio da Proporcionalidade.
45
Direito do Trabalho
A este regime subjaz a ideia de flexibilização das relações laborais. Nesse sentido, é possível
que o trabalhador a tempo parcial passe a prestar a sua atividade a tempo inteiro e vice-
versa, mediante acordo com o empregador – é desta possibilidade que nos dá conta o artigo
155º, nº1 CT. Por seu turno, o nº2 do mesmo preceito vem consagrar uma espécie de direito
de arrependimento, consubstanciado na possibilidade de o trabalhador poder fazer cessar
o acordo mediante comunicação escrita ao empregador, tendo para o efeito sete dias após
a sua celebração (sem embargo do disposto no nº3).
O empregador está adstrito aos deveres especificados no artigo 203º CT (bem como aos
dispostos no artigo 127º CT).
Por fim, assinale-se que, em caso de acidente de trabalho, as prestações devidas ao
trabalhador são calculadas com base na retribuição que lhe corresponderia a tempo
inteiro71.
71
Solução que se percebe porque o acidente de trabalho não afeta apenas a capacidade de trabalho
para aquela atividade desempenhada a tempo parcial, mas também para qualquer outra atividade que
o trabalhador pudesse exercer no período normal de trabalho, diminuindo-lhe a capacidade de ganho
durante todo o tempo possível de desempenho da correspondente atividade profissional.
72
Não obstante a exigência feita por este preceito, tem entendido a doutrina e a jurisprudência que
para que opere o regime da pluralidade de empregadores basta que se verifique a existência de uma
relação societária entre vários empregadores ou existência de estruturas organizativas comuns e que se
prove que o trabalhador presta, em regime de subordinação, serviço a todos ou vários dos
empregadores envolvidos. Assim, dispensa-se a exigência formal imposta pelo nº2.
73
Nomeadamente a Segurança Social.
46
Direito do Trabalho
101º, nº3 CT. Esta parece ser a norma que, de facto, tutela e assegura devidamente a
posição jurídica do trabalhador e dos seus créditos.
Dissolvendo-se o grupo empresarial em causa e, por conseguinte, cessando a coligação
societária em que ele se fundava, o contrato de trabalho não cessa, ficando o trabalhador
vinculado ao empregador “principal” (artigo 101º, nº4 CT). O contrato com pluralidade de
empregador converte-se num contrato de trabalho comum; por outro lado, pode suceder
que se celebre um contrato com pluralidade de trabalhadores sem que, em concreto, se
encontrem verificados os requisitos a que se reporta o nº1 do artigo 101º CT. Nesse caso,
visando a lei proteger a continuidade do emprego, abstém-se de atingir o contrato com uma
invalidade, concedendo ao trabalhador a possibilidade de escolher a que empregador
prefere ficar vinculado (artigo 101º, nº5 CT).
O próprio artigo 11º CT, do qual consta a noção de contrato de trabalho, consagra
expressamente a possibilidade de o trabalho ser prestado a vários empregadores quando
se refere a (uma pessoas singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade
a outra ou) outras pessoas.
74
Nessa medida, não é um contrato de trabalho standard, uma vez que, não exigindo uma prestação
presencial, é um instrumento de flexibilização das relações laborais.
75
Ao abrigo do artigo 168º, nº1 CT, na falta de estipulação no contrato, os instrumentos de informação
e de comunicação utilizados pelo trabalhador presumem-se propriedade do empregador. Donde, o
teletrabalhador está adstrito a um dever de custódia destes instrumentos, conforme preceitua o artigo
168º, nº2; aliás, não pode, em princípio, servir-se deles para fim diverso da prestação da sua atividade.
47
Direito do Trabalho
76
Por outro lado, também tem o dever de evitar o isolamento do trabalhador – artigo 169º, nº3 CT.
77
Modificação do conteúdo contratual.
78
Nestas situações, a duração inicial do contrato não pode exceder três anos, por força do artigo 167º,
nº1 CT, a menos que exista prazo diferente em instrumento de regulação coletiva de trabalho.
79
Não se trata de um direito de arrependimento porque o empregador também pode denunciar o
contrato.
48
Direito do Trabalho
possa opor, desde que a atividade desempenhada possa ser prestada em teletrabalho. Isto
sucede, nomeadamente, nos casos de violência doméstica e resulta do artigo 195º CT ex vi
do artigo 166º, nº2 e 4 CT, e nos casos previstos no nº3 do artigo 166º.
Posto isto, importa referir que o artigo 166º, nº3 CT impõe forma escrita para a celebração
desta modalidade de contrato. Ainda assim, trata-se de uma formalidade ad probationem e
não ad substantiam, na medida em que, conforme preceitua o nº7 do mesmo preceito, esta
é exigida apenas para prova de estipulação do regime de teletrabalho. Donde, a sua
inobservância não irá afetar a validade do contrato.
Dito tudo isto, resta-nos fazer uma referência à questão do subsídio de refeição. Afinal, os
trabalhadores em regime de teletrabalho têm, ou não, direito ao subsídio de refeição?
Neste contexto, é difícil encontrarmos uma solução unânime. Vários são os pontos de vista
e estes são fundamentados através de diversificados argumentos, pelo que apenas
abordaremos, em traços gerais e superficiais, esta querela.
O subsídio de refeição tem como finalidade compensar o trabalhador por uma despesa que
não faria se não estivesse a trabalhar fora de casa. Ou seja, trabalhando fora de casa, o
trabalhador, de um modo geral, irá fazer a sua refeição num restaurante (eventualmente),
o que terá um custo. Este custo é o que o subsídio de refeição visa cobrir.
Dito isto, poderíamos afirmar que, trabalhando no seu domicílio, o trabalhador em regime
de teletrabalho, fazendo a sua refeição em casa, não irá ter qualquer custo de refeição. Pelo
que não se vislumbra razão para se atribuir o subsídio de refeição.
Ainda assim, teremos de observar o disposto no artigo 169º CT quanto ao Princípio da
Igualdade de Tratamento. Na verdade, se os teletrabalhadores gozam dos mesmos direitos
e deveres dos demais trabalhadores, então, sendo a estes últimos atribuído subsídio de
refeição, também este terá de ser atribuído àqueles.
Concluindo, esta é uma situação non liquet, pelo que deve ser analisada caso a caso.
Face à situação epidemiológica do novo Coronavírus – Covid 19, foi aprovado um decreto-
lei que veio estabelecer uma alteração ao regime de teletrabalho, pelo que importa dar
notícia desta e contextualizá-la, de modo a perceber qual o ponto do regime constante do
Código do Trabalho que foi derrogado excecionalmente por esta alteração.
DECRETO-LEI Nº 10-A/2020
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Direito do Trabalho
DECRETO-LEI Nº 2-A/2020
Ora, esta norma afasta-se e estabelece solução diversa à consagrada no artigo 166º, nº1
CT. Quando se tratasse de teletrabalho interno, para que o trabalhador passasse a exercer
a sua prestação laboral ao abrigo dessa modalidade, seria sempre necessário que houvesse
um acordo entre este e o empregador – o acordo novatório80.
Dos artigos 29º e 6º dos respetivos decretos-lei, o teletrabalho poderá ser determinado
unilateralmente pelo empregador ou requerida pelo trabalhador, sem acordo das partes,
desde que compatível com as funções exercidas. Donde, para que tal suceda não é
necessário o acordo entre as partes, já que é, inclusivamente, obrigatória a sua adoção. É,
aliás, um regime excecional que veio reforçar o teletrabalho, em ordem a prover pela saúde
pública.
80
Sem embargo do disposto no artigo 166º, nº2 e nº3 CT.
81
Pode resultar de um obstáculo na esfera pessoal do trabalhador (uma doença, por exemplo) como do
facto de a empresa não querer ou não poder receber a prestação de trabalho (a empresa encerra para
renovação do equipamento, por exemplo).
82
A impossibilidade definitiva leva à cessação do contrato de trabalho por caducidade (artigo 343º CT).
83
Sendo imputável ao trabalhador, pela conjugação dos artigos 801º do CC e 351º CT, poderia levar ao
despedimento por justa causa.
84
Cf. artigo 790º do Código Civil.
85
Cf. artigo 411º do Código Civil.
50
Direito do Trabalho
vigência do contrato de trabalho, do que impor a cessação da sua vigência. Ora, visa-se a
sobrevivência do vínculo até que este não possa sobreviver mais (até ao limite extremo da
sua provável utilidade para as partes).
A suspensão do contrato não serve só para cobrir estas situações. Em situações de crises
empresariais graves, surge com o intuito de impedir a destruição de empregos86.
Para além destes casos, o empregador e o trabalhador poderão acordar na suspensão do
contrato de trabalho, donde não poderemos falar, aqui, de impossibilidade da prestação,
mas de uma modificação convencional do contrato, através da qual as partes utilizam este
instrumento para alcançar fins úteis.
Posto isto, cumpre analisar os efeitos jurídicos que derivam da suspensão do contrato de
trabalho:
a) Conservação do vínculo – o primeiro efeito que decorre da suspensão do contrato, é a
manutenção da sua vigência, embora num estado de inexecução temporária (artigo
295º, nº1 CT). Todavia, não fica impossibilitada a cessação nos termos gerais (artigo
295º, nº3 CT), pelo que qualquer das partes poderá fazer cessar o contrato, desde que
se verifiquem os requisitos da respetiva modalidade extintiva utilizada, e desde que o
fundamento não seja o mesmo que fundamentou a suspensão. O vínculo não se irá
desfazer pela causa que serviu de fundamento à suspensão, sendo certo que poderá
cessar com fundamento numa qualquer outra causa justificativa.
b) Conservação da antiguidade – a contagem da antiguidade prossegue87, uma vez que a
suspensão não determina a quebra da “continuidade” da relação laboral. Os efeitos
ligados às diuturnidades, promoções automáticas, mudanças de escalão retributivo,
etc. produzem-se na mesma, ainda que o trabalhador não esteja “ativo” (artigo 295º,
nº2 CT). É que, ademais, o contrato não cessa a sua vigência.
c) Permanência de deveres acessórios – com a celebração do contrato, tanto o
trabalhador como o empregador assumem deveres acessórios, intrinsecamente ligados
à ideia de “pertença à empresa” (artigo 295º, nº1 CT). Tal como a antiguidade, a
prestação destes deveres acessórios não se relaciona nem pressupõe diretamente a
execução do contrato. Implica, antes, que este se encontra vigente e que, por isso,
permaneça. Ora, dentro destes deveres acessórios que continuam a ser devidos,
destacamos os que decorrem do dever de lealdade: nomeadamente, o trabalhador não
poderá praticar atos que prejudiquem a entidade patronal88. Caso este imperativo seja
desrespeitado, o trabalhador poderá ser alvo de um processo disciplinar (artigos 329º,
330º, 352º e seguintes CT) e, eventualmente, poderá levar a uma situação de
despedimento por justa causa.
d) Paralisação dos efeitos do contrato condicionados pela possibilidade da prestação de
trabalho efetivo – desde logo, com a suspensão do contrato de trabalho, fica
igualmente suspensa a prestação da obrigação principal por parte do trabalhador: a
prestação de trabalho (artigo 295º, nº1 CT).
86
Lay off.
87
Ideia ligada à “pertença à empresa”.
88
Como divulgar o know-how, concorrer com a empresa, contribuir para o descrédito dos seus
produtos, etc.
51
Direito do Trabalho
Mas, por outro lado, mantêm-se os “direitos, deveres e garantias” que não
pressuponham a efetiva prestação de trabalho: assim, a obrigação de retribuição
continua a existir, não sendo afetada pela suspensão do contrato, a menos que esta
derive de causa imputável ao trabalhador ou, outrossim, a uma crise empresarial,
situações que levam à substituição da retribuição por uma compensação retributiva. No
que concerne ao direito a férias, temos de distinguir várias potencias circunstâncias:
ora, em regra, o direito a férias mantém-se, tendo o trabalhador, não obstante, a
situação de suspensão do seu contrato, direito a gozar férias em relação a esse ano,
como se tivesse estado em serviço efetivo anteriormente (artigo 240º, nº1 CT), sem
prejuízo do disposto no artigo 239º, nº6 CT; se, por outro lado, o período de suspensão
iniciar-se antes das férias do trabalhador, por ele protelar-se e só em momento
posterior ao término destas cessar, o período de férias ficará, em princípio, inutilizado
e irrecuperável; nas situações de crise empresarial, o artigo 306º CT vem salvaguardar
o direito a férias, ficcionando o período de suspensão89 como um período em que o
trabalho foi efetivamente prestado em “condições normais”. O legislador pretendeu
salvaguardar este direito do trabalhador, na medida em que este é completamente
alheio ao motivo que levou à suspensão do seu contrato de trabalho e, por isso, não
seria sensato prejudicá-lo.
89
Ou de redução da atividade.
90
Por outras palavras, deve tratar-se de um impedimento não culposo.
91
Por motivo de doença, acidente ou obrigação militar, por exemplo.
52
Direito do Trabalho
temporária92. Certo é que a estipulação de um limite só terá relevância quanto aos casos
em que o impedimento não é determinado por via legal (como é o caso da obrigação
militar), pelo que, nessas hipóteses, dever-se-á ter em conta o critério da ponderação dos
interesses em vista dos quais as partes se vincularam, ou seja, tendo em consideração a
conservação ou a perda da utilidade das prestações contratuais após a cessação do
impedimento.
Conforme foi dito, a impossibilidade não pode ser imputável, a título de culpa93, ao
trabalhador, já que, se assim for, a não prestação de trabalho justificará a aplicação do
regime disposto no Código Civil: artigo 801º. Todavia, haverá casos em que o trabalhador
provoca o impedimento, mas este já levaria à suspensão por força da lei: falamos dos casos
em que o trabalhador assume, por exemplo, a função de deputado. A lei faz prevalecer o
exercício destas funções94 em relação às contratualmente assumidas (artigo 296º, nº5 CT).
Ao trabalhador é, ainda, facultada a possibilidade de suspender o contrato de trabalho
unilateralmente, mas desde que tenha como fundamento a falta de pagamento total ou
parcial da retribuição devida. Desse modo, o trabalhador terá acesso ao subsídio de
desemprego (artigo 325º, nº2 CT) – Artigo 25º da Lei nº 105/2009, de 14/9.
Quanto à retribuição, por força do artigo 309º CT, esta continuará a ser devida. Esta norma
vem contrariar a “regra” da suspensão do crédito retributivo, fundada na ideia de que não
havendo trabalho não há salário.
92
E a partir do qual se pode considerar definitiva.
93
Culpa graduada no dolo – exige-se intencionalidade.
94
Tendo em conta o interesse público.
95
Impossibilidade voluntária.
96
Por exemplo, um incêndio que destrua grande parte das instalações da empresa.
53
Direito do Trabalho
(artigo 61º, nº1 CRP) – o empresário pode decidir sem qualquer constrangimento se, em
virtude de um incêndio que destrua grande parte das instalações da sua empresa, quer
reconstruir o estabelecimento e, por conseguinte, reabri-lo ou se o encerra definitivamente.
Quando tal suceda, dispõe o artigo 309º CT que, ao trabalhador afetado pela suspensão do
contrato, apenas é devido 75% da retribuição normal (nº1, alínea a)). Esta solução deve ser
vista pelo empregador como um incentivo a que a situação seja temporária e não definitiva,
visando-se a manutenção dos vínculos contratuais com os trabalhadores; outrossim, a
aplicação do Princípio da Responsabilização do Empregador poderia agravar o risco de o
impedimento temporário se transformar em definitivo.
A cessação da impossibilidade, nestas ocasiões, depende objetivamente de uma atitude
positiva do empregador.
Por outro lado, o encerramento da empresa pode ser determinado pelo empregador. Aqui,
o artigo 309º, nº1, alínea b) CT oferece-nos um conceito demasiado lato, pelo que teremos
de concretizar em que hipóteses é que esta situação poderá suceder: o empregador, por
meio de uma declaração unilateral, poderá determinar o encerramento da empresa e, neste
âmbito, podem ser várias as motivações – apontamos, a título exemplificativo, a
substituição dos equipamentos, a diminuição das encomendas, etc.; poderá ser
determinado por uma entidade pública competente, nomeadamente quando no seio da
empresa se pratiquem atos que contrariem a saúde pública (por exemplo). Nestas situações,
o encerramento deriva, indiretamente, de um ato da vontade do empregador, pelas práticas
levadas a cabo no seio empresarial.
Em qualquer caso, ainda que consideremos a amplitude do preceito disposto no artigo
309º, nº1, alínea b) CT, teremos de articulá-lo com a disposição constitucional seguinte: o
artigo 57º CRP, a respeito da proibição do locaute. Ora, sem entrar em grandes
desenvolvimentos, cumpre dizer, prima facie, o que é o locaute – qualquer paralisação total
ou parcial da empresa ou a interdição do acesso a locais de trabalho a alguns ou à totalidade
dos trabalhadores e, ainda, a recusa em fornecer trabalho, condições e instrumentos de
trabalho que determine ou possa determinar a paralisação de todos ou alguns setores da
empresa, desde que, em qualquer caso, vise atingir finalidades alheias à normal atividade
da empresa, por decisão unilateral do empregador; em seguida, cumpre referir o
procedimento previsto nos artigo 311º e 312º CT – o empregador é obrigado a comunicar a
estrutura representativa dos trabalhadores dos motivos que levaram ao encerramento. E
obriga-se o empregador â prestação de uma caução que cubra o pagamento das
retribuições em mora, caso existam, e das retribuições referentes ao período de
encerramento e de compensações por despedimento.
Todas estas disposições (nas quais incluímos o artigo 313º CT) visam afastar o locaute, em
conformidade ao que dita o artigo 57º CRP. O empregador não poderá, sem mais, encerrar
a empresa tendo, para tanto, de invocar um motivo determinado ou determinável, sob pena
de tal encerramento ser considerado locaute.
Dito isto, importa perceber o que sucede quanto aos salários. Neste seio, conforme
preceitua o artigo 309º, nº1, alínea b) CT, são devidos aos trabalhadores a totalidade das
suas retribuições, inclusivamente o subsídio de refeição bem como as comissões ou
54
Direito do Trabalho
participações nas vendas (cf. artigo 261º CT), sem prejuízo do disposto no artigo 309º, nº2
CT.
A cessação da impossibilidade ocorrerá mediante um comportamento declarativo da
entidade patronal, que torne conhecida a impossibilidade ou a sua conversão em definitiva,
produzindo, após a referida comunicação, os efeitos inerentes à cessação – nomeadamente,
a reativação da prestação laboral ou, sendo caso disso, a caducidade do contrato (artigo
310º CT).
O lay off trata-se de uma forma atípica de suspensão do contrato de trabalho por razões
ligadas à empresa, encontrando-se consagrada nos artigos 298º e seguintes do CT.
O empregador poderá suspender os contratos de trabalho, desde que se observem as
exigências processuais dos artigos 299º e 300º CT e desde que tal medida se mostre
indispensável para assegurar a viabilidade da empresa e a manutenção dos postos de
trabalho (artigo 298º, nº1 CT).
Dito isto, podemos apontar várias características que fundamentam o caráter atípico desta
modalidade: não pressupõe a impossibilidade material da prestação de trabalho (a empresa
pode continuar em funcionamento); a lei adota o regime que vigora para a impossibilidade
respeitante à pessoa do trabalhador: cessação do crédito remuneratório, sendo substituído
por uma prestação de caráter misto, a compensação retributiva (artigo 305º, nº3 CT).
Para acorrer a situações de crise empresarial, o legislador consagrou dois expedientes: por
um lado, a redução da atividade (e, portanto, dos horários normais de trabalho) e, por outro,
a suspensão dos contratos de trabalho (artigo 298º, nº1 CT).
Os trabalhadores abrangidos pelo lay off ficam parcial ou totalmente inativos na empresa
porque o empregador considera dispensável ou excedentária a sua prestação, podendo,
ainda assim, exercer atividade profissional fora da empresa97 (artigo 305º, nº1, alínea c) CT),
desde que a comunique ao empregador (artigo 304º, nº1, alínea b) CT).
A existência desta modalidade de suspensão tem de ser vista como um instrumento de
segurança do emprego (artigo 303º, nº2 CT), uma vez que impossibilita a cessação dos
contratos de trabalho durante a execução destas medidas e mesmo durante um
determinado prazo após o término da sua aplicação (30 ou 60 dias após a sua cessação,
conforme as medidas tenham sido aplicadas por um prazo inferior ou igual a seis meses, ou
por tempo superior). No entanto, esta regra comporta exceções e, por isso, não impede a
cessação da comissão de serviço, a cessação de contrato a termo, ou despedimento
disciplinar.
Nestas circunstâncias, a situação económica dos trabalhadores é atendida por meio de uma
compensação retributiva (artigo 305º, nº1, alínea a) e nº3 CT), tendo esta um limite mínimo
(a retribuição mínima mensal garantida para o setor) e um limite máximo (o triplo dessa
retribuição mínima mensal garantida para o setor). Assim, o trabalhador receberá um
97
A retribuição que possa auferir nesta empresa será deduzida na compensação retributiva que lhe
caberá.
55
Direito do Trabalho
Face à situação epidemiológica provocada pelo novo Coronavírus – Covid 19, foi aprovado
um regime de lay off simplificado, que visa evitar a burocracia e a morosidade deste tipo de
processos. É deste que, neste momento, daremos conta.
Em primeiro lugar, importa precisar quais foram as motivações que levaram à adoção de
um regime de lay off simplificado. Para tanto, iremos recorrer ao preâmbulo do referido
decreto-lei:
98
Este prazo reflete, ainda, a pouca confiança do legislador no alcance em acordos neste contexto.
99
Do empregador à entidade representativa dos trabalhadores.
56
Direito do Trabalho
Dito isto, importa perceber em que é que consiste o referido regime e de que forma se
processará, precisando, na medida do possível, em que aspetos difere do regime de lay off
(“normal”, constante do CT).
O Decreto-Lei n.º 10-G/2020 veio estabelecer, como dissemos, algumas especificidades em
relação ao regime geral, derrogando excecionalmente, algumas das suas normas. Ainda
assim, no concernente ao regime da redução do período normal de trabalho e ao regime de
suspensão do contrato por facto respeitante ao empregador, o decreto-lei remete para o
Código de Trabalho, valendo o disposto nessa legislação (artigo 2º, nº2 CT).
Conforme resulta do artigo 3º, nº1 do decreto-lei, para que este regime possa ser aplicado
é necessário que se verifique algum dos seguintes critérios: a paragem total da atividade da
empresa ou estabelecimento que resulte da interrupção das cadeias de abastecimento
globais, da suspensão ou cancelamento de encomendas (nº1, alínea a)); ou a quebra
abrupta e acentuada de, pelo menos, 40% da faturação, nos 60 dias anteriores ao pedido
junto da segurança social com referência ao período homólogo ou, para quem tenha
iniciado atividade há menos de 12 meses, à media desse período (nº1, alínea b)).
Estes critérios são alternativos100. No entanto, o segundo critério é o que oferece mais
garantias de diferimento porque mais objetiva e é baseada em prova documental101, o que
confere menos discricionariedade.
Ora, é então necessário pedir à Contabilidade que confirme se estão reunidas as condições
da alínea a) ou da alínea b). Com a apresentação da certidão e com base na informação que
dela consta, irá ser ponderado o início do processo e será apresentado um pedido.
Em relação ao procedimento que permite às empresas ser abrangidas pelo regime de lay
off, cumpre-nos, em primeiro lugar, referir que as formalidades previstas no decreto-lei em
pouco se afasta do regime estabelecido no Código de Trabalho – nomeadamente, nos artigo
299º e 300º. Ora, se o logro passava pela simplificação deste processo, parece-nos que tal
100
Apenas tem de se verificar um deles para que o regime possa ser aplicável.
101
Mediante declaração do empregador conjuntamente com certidão do contabilista certificado da
empresa (…).
57
Direito do Trabalho
não foi (pelo menos) eficazmente conseguido. É esta a nossa opinião, porquanto o artigo 4º,
nº2 do Decreto-Lei, vem impor que o empregador que pretenda aderir ao lay off
simplificado, tem de ouvir os delegados sindicais ou a comissão de trabalhadores. Esta
mesma exigência resulta do regime consagrado no CT, pelo que não se afasta
(aparentemente) a fase de negociação a que se refere o artigo 300º, nº1. Por outro lado,
impõe-se a apresentação de uma certidão de contabilista devidamente credenciado da qual
conste a situação económico-financeira da empresa que lugre ser abrangida pelo regime.
Em que medida o lay off se afigura simplificado, na verdade, não sabemos; certo é que, pelo
menos, este regime excecional não vem falar de prazos (nomeadamente, o de cinco dias
atinente à fase de negociação), donde, acreditamos que, ainda que seja necessária a audição
dos delegados sindicais e das comissões de trabalhadores, a negociação não seja a sua
motivação.
À Segurança Social deverá comunicar-se a decisão, devendo esta ser elaborada por meio
de comunicação que contenha os seguintes elementos: todas as comunicações individuais
dirigidas aos trabalhadores a informar da intenção de lay off; declaração do empregador,
que deverá acompanhar a certidão contabilística e ser compatível com o conteúdo da
mesma; certidão do contabilista certificado da empresa (atestando que a empresa se
encontra numa posição em que pode pedir este apoio).
Além das empresas que se vejam abrangidas por alguma destas previsões, têm legitimidade
para recorrer aquelas cujo encerramento foi decretado pelo estado (cf. Decreto-Lei n.º 2-
A/2020).
Quanto aos salários dos trabalhadores102, estes terão direito a dois terços da retribuição
ilíquida, com um limite mínimo103 no valor da retribuição mensal mínima garantida104
correspondente ao seu período normal de trabalho e máximo de três retribuições, sendo
que 70% deste montante será suportado pela Segurança Social e 30% pelo empregador.
Contudo, num primeiro momento, deverá ser o empregador a satisfazer este montante,
acabando por, posteriormente, ser reembolsado pela Segurança Social (nos 70% que lhe
compete) – artigo 305º, nº3 e nº4 CT ex vi artigo 6º, nº4 do decreto-lei.
Conforme resulta do artigo 11º do DL, a entidade empregadora fica isenta do pagamento
das contribuições devidas à Segurança Social; bem como do pagamento da Taxa Social Única
(TSU).
As entidades que beneficiarem deste apoio não podem proceder ao despedimento de
trabalhador abrangido por estas medidas, durante o tempo em que estas estiverem a ser
aplicadas nem, outrossim, poderão fazê-lo nos 60 dias subsequentes à cessação da aplicação
das mesmas. Isto sem prejuízo do despedimento por motivo disciplinar e, portanto, fundado
em justa causa (artigos 98º e 328º e seguintes CT).
A duração deste apoio é de um mês, podendo excecionalmente ser prorrogado por um
período máximo de três meses.
102
Que terão de continuar a descontar para a Segurança Social, numa percentagem de 11%.
Exemplificando: o trabalhador que aufira a retribuição mensal mínima garantida – 635 euros -, terá de
descontar o valor de 69,85 euros.
103
E máximo de, abstratamente, 1905 euros.
104
No valor de 635 euros (Decreto-Lei n.º 167/2019, de 21 de novembro).
58
Direito do Trabalho
59
Direito do Trabalho
se-á como uma medida que visa obstar ao encerramento definitivo da empresa, uma vez
que vê reduzido os seus encargos no que concerne às retribuições dos seus trabalhadores.
Ficam, assim, abordados os traços essenciais deste regime, sendo certo que o maior já ficou
dito em sede da análise da suspensão dos contratos de trabalho – na verdade, o Código do
Trabalho não autonomiza nenhuma destas hipóteses, tratando-as conjuntamente (sem
embargo das especificidades que revestem cada uma das situações).
Subcapítulo V – Pré-Reforma
105
Esta reversibilidade está, aliás, prevista de forma expressa na alínea b), nº1 do artigo 322º CT.
60
Direito do Trabalho
indemnização (equivalente ao valor das prestações a título de pré-reforma que auferiria até
à idade legal de reforma por velhice – cf. artigo 322º, nº2 CT) (nº3).
Tudo (ou quase tudo) dito, importa, enfim, referirmo-nos ao regime disposto no artigo 348º
CT. Tratando-se de contrato por tempo indeterminado, este irá converter-se ope legis num
contrato a termo quando o trabalhador permaneça ao serviço decorridos 30 dias do
conhecimento, por ambas as partes, da reforma do trabalhador por velhice.
Cessando a pré-reforma com a reforma do trabalhador por velhice, ainda que este continue
ao serviço da entidade empregadora, a referida conversão ope legis confere ao empregador
a possibilidade de se desvincular do trabalhador (que em razão da sua avançada idade já
não é tão produtivo), sem necessidade de, para tanto, invocar justa causa.
Nesta medida, podemos concluir que a pré-reforma é uma medida de flexibilização de
saída da empresa do trabalhador.
Por outro lado, a pré-reforma permite que o trabalhador se desligue progressivamente da
atividade que exerce na empresa, facilitando a transição da idade ativa para o regime de
aposentação.
61
Direito do Trabalho
Posto isto, pronunciar-nos-emos de forma breve em relação aos pressupostos que devem
estar verificados para a celebração do vínculo laboral.
Primeiramente, analisaremos os pressupostos subjetivos – atinentes às partes.
No concernente à capacidade jurídica, deve dizer-se que, em princípio, apenas as pessoas
físicas e singulares (excluídas estão as pessoas coletivas), com 16 anos ou mais, podem
suportar os direitos e obrigações que provêm do vínculo laboral – artigo 68º, nº2. Donde, a
capacidade não é originária, sendo apenas adquirida quando se perfaça a idade
mencionada. Contudo, excecionalmente, um menor de 16 anos, desde que haja concluído
a escolaridade obrigatória, pode ser admitido para um “trabalho leve”, cujo alcance (ainda
que não determinado) se encontra no artigo 68º, nº3.
62
Direito do Trabalho
63
Direito do Trabalho
grávidas, puérperas ou lactantes (artigo 62º, nº5); por outro lado, os menores também se
encontram impedidos de prestar determinadas atividades (artigo 68º).
Sem embargo da sua importância, o contrato de trabalho regula apenas uma pequena
parte da disciplina por que se há de reger a relação laboral. É que, em grande medida, a sua
disciplina consta já de lei ou de convenção coletiva de trabalho. Nesse sentido, o legislador
não considerou ser necessário impor às partes (em regra), a celebração do contrato de
trabalho por escrito, tendo este um caráter consensual.
64
Direito do Trabalho
65
Direito do Trabalho
Regra geral, o período experimental tem a duração de 90 dias; para os casos previstos na
alínea b) do artigo 112º, a duração deste período é de 180 dias; e, para os trabalhadores
que exerçam cargos de direção ou quadro superior, este período estende-se a 240 dias.
Para os contratos de trabalho a termo foi estipulado um regime especial, disposto no artigo
112º, nº2. Quando estes contratos tenham a duração igual ou superior a seis meses, este
período é de 30 dias; se o contrato a termo certo for celebrado por uma duração inferior a
seis meses ou se se tratar de contrato a termo incerto cuja duração previsível não ultrapasse
esse limite (seis meses), então a duração do período experimental é de 15 dias.
Ademais, este período é reduzido ou excluído imperativamente nos casos prescritos do
artigo 112º, nº4 – nomeadamente, quando o mesmo trabalhador já se haja encontrado ao
serviço do mesmo empregador. Neste caso, presume-se que a entidade empregadora já
conhece o trabalhador, pelo que, assim sendo, não faria sentido estar a conceder um
segundo período experimental quando as partes já se conhecem.
Na prática, esta figura permite que as partes se façam desvincular do contrato, sem se
encontrarem subordinados aos condicionalismos e restrições de que essa desvinculação é
dotada no regime dito geral. Dispõe o artigo 114º, nº1, a possibilidade de qualquer das
partes denunciar, durante este período, o contrato sem necessidade de aviso prévio e
invocação de justa causa, nem direito a indemnização.
A exigência de aviso prévio apenas existe para os casos em que o período experimental
dure mais de 60 dias – cf. artigo 114º, nº2 e nº3; e o seu desrespeito importa o pagamento
da retribuição correspondente ao aviso prévio em falta.
Contudo, note-se que apesar de ser livre a desvinculação, isto não importa que não haja
um limite que a esta possibilidade. A lei presume que a denúncia do contrato se fundamenta
na inadaptação do trabalhador ou nas inconveniências das condições de trabalho
concedidas pela empresa. Quando tal pretensão se funde em motivos arbitrários, deve
convocar-se o abuso de direito (artigo 334º), em nome da tutela do próprio artigo 53º CRP
e, por conseguinte, da segurança no emprego.
Note-se que este regime é supletivo, valendo se a vontade das partes não for contrária à
sua vigência; donde, poderá ser afastado no seu todo ou apenas em parte – cf. artigos 111º,
nº3 e 114º, nº1.
Do momento da celebração do contrato até ao início da execução da prestação de trabalho
pode mediar um hiato temporal mais ou menos longo, pelo que o legislador veio estipular
que o período experimental apenas se começa a contar desde o início da execução da
prestação; solução que se percebe tendo em conta que só a partir dessa data é que, tanto
empregador e trabalhador, poderão avaliar os seus interesses na manutenção do vínculo
contratual (artigo 113º, nº1).
66
Direito do Trabalho
trabalha e, por outro, investe na sua formação académica. E, tendo isso em consideração,
para não desincentivar o trabalhador de estudar, veio-lhe conceder alguns privilégios que
não reconhece a outros trabalhadores, atribuindo-lhe um estatuto especial. Este, encontra-
se previsto nos artigos 89º e seguintes e na Lei n.º 105/2009, de 14 de setembro, e dele nos
ocuparemos neste instante.
Dispõe a lei que se considera trabalhador-estudante o que frequente qualquer nível de
educação escolar, bem como o curso de pós-graduação, mestrado ou doutoramento em
instituição de ensino, ou ainda curso de formação profissional ou programa de ocupação
temporária de jovens com duração igual ou superior a seis meses.
Dito isto, podemos concluir que, qualquer um de nós, estudantes, se encetarmos uma
relação laboral durante o período em que estejamos a tirar a licenciatura em Direito,
podemos beneficiar deste estatuto.
O horário de trabalho, quando não individualmente contratado, é definido pelo
empregador (artigo 212º, nº1). Ora, quando se trate de trabalhador-estudante, o
empregador deve ter o cuidado de ajustar o horário, sempre que possível, de modo a
possibilitar aquele a frequentar as aulas e a sua deslocação para o estabelecimento de
ensino. Quando tal não se vislumbre possível, o trabalhador-estudante tem direito a
dispensa106 de trabalho para frequência de aulas, se assim o exigir o horário escolar, sem
perda de direitos e conta como efetiva prestação de trabalho (artigo 90º).
Em momento de prestação de prova de avaliação, o trabalhador-estudante pode faltar
justificadamente no dia de prova e no dia imediatamente anterior, sendo certo que, em
todo o caso, não as faltas não podem exceder quatro dias por disciplina em cada ano letivo
(artigo 91º).
Por outro lado, tem direito a marcar o período de férias de acordo com as suas necessidades
escolares, podendo gozar até 15 dias de férias interpoladas, desde que isso seja compatível
com as exigências do funcionamento da empresa (artigo 92º).
Para que o trabalhador-estudante possa, então, gozar, deste estatuto é necessário que o
comprove perante o empregador, apresentado igualmente o horário das atividades
educativas a frequentar; e, para que lhe possa ser atribuído o estatuto pelo estabelecimento
de ensino, o estudante deve fazer prova da sua condição de trabalhador.
Segundo a lei n.º 105/2009, de 14 de setembro, o trabalhador-estudante não se encontra
sujeito à frequência de um número mínimo de disciplinas de determinado curso, em graus
de ensino em que isso seja possível, nem ao regime de prescrição ou que implique mudança
de estabelecimento de ensino; a qualquer disposição legal que faça depender o
aproveitamento escolar de frequência de um número mínimo de aulas por disciplina; a
limitação de número de exames a realizar em época de recurso.
Este estatuto cessa, no entanto, se o trabalhador-estudante não tiver aproveitamento
escolar no ano letivo anterior (artigo 89º, nº2). Nesse contexto, considera-se
aproveitamento escolar a transição de ano ou a aprovação ou progressão em, pelo menos,
metade das disciplinas em que o trabalhador-estudante esteja matriculado (artigo 94º, nº4),
sem prejuízo do disposto no nº5 do mesmo artigo.
106
A dispensa tem as limitações a que se refere o nº3 do artigo 90º.
67
Direito do Trabalho
Como é de fácil de apreensão, o local de trabalho traduz-se no sítio onde deve ser prestada
a atividade contratada (ou executada). Daí que este se trate de um elemento essencial e
delimitador da prestação de trabalho, podendo, inclusive, ser decisivo na opção do
trabalhador em aceitar ou não a proposta. É, em todo o caso, objeto de acordo entre as
partes, ressalvados os casos em que a contratação resulta da adesão do trabalhador (caso
em que, conforme vimos, não existe a negociação dos elementos do contrato entre as
partes).
O local de trabalho é, então, a “dimensão espacial” da subordinação jurídica, devendo ser
conformado pelo empregador. Do ponto de vista de ambas as partes, trata-se de um
elemento essencial: para o empregador, porque em função deste organiza todo o processo
produtivo, e para o trabalhador, uma vez que este influencia decisivamente a organização
da sua vida pessoal e familiar.
É, ademais, um conceito relativo, uma vez que tanto se lhe pode atribuir a amplitude de um
local preciso, como de um país. Isto irá influenciar, como veremos, na qualificação da
mudança de um local para o outro, sem que, no entanto, isso prefigure uma transferência
do trabalhador (cf. artigo 194º).
A identificação do local de trabalho é determinante para a produção de alguns efeitos:
desde logo, é lá que o trabalhador deve prestar a sua atividade; depois, em princípio, o
trabalhador não pode ser transferido do local de trabalho – artigo 129º, nº1, alínea f) -,
valendo o Princípio da Proibição da Transferência. O intuito do legislador foi preservar a
estabilidade da vida familiar e social do trabalhador; segundo o artigo 277º, nº1 a
retribuição deve ser paga no local de trabalho; os acidentes de trabalho são os que ocorrem
no local e no tempo do trabalho; entre outros.
Neste contexto, vale o Princípio da Inamovibilidade (artigo 129º, nº1, alínea f)), segundo o
qual o empregador está proibido de transferir o trabalhador para local diferente do
contratado. Todavia, este princípio sofre alguns desvios – situações que o referido preceito
salvaguarda; o Código do Trabalho prevê, em algumas disposições, a possibilidade deste
local ser alterado, o que pode suceder, também, por força de uma convenção coletiva. Por
outro lado, a mudança deste local pode ser alvo de acordo (que não precisa de ser escrito)
entre as partes, pelo que também, nesse caso, é legítima.
Se, prima facie, o legislador deu primazia à tutela dos interesses do trabalhador –
nomeadamente, salvaguardando a conciliação entre a sua vida profissional e particular -,
68
Direito do Trabalho
107
Defende António Moreira que o trabalhador se encontra dispensado de aviso prévio, sem qualquer
direito a compensação.
108
A averiguação da existência de juízo prévio implica um juízo (concreto) de probabilidade – isto é,
avaliando a situação e condições concretas em que vive o trabalhador, se é provável que da
transferência resulte prejuízos sérios. Este juízo depende da confrontação das implicações que derivam
da alteração unilateral do contrato de trabalho com as condições de vida do trabalhador. E, neste caso,
cabendo a sua alegação ao trabalhador, também este se encontra incumbido de o provar – artigo 342º,
nº1 CC.
69
Direito do Trabalho
Capítulo X – Obrigações
109
O desrespeito pela forma escrita leva à invalidade da ordem de transferência e, consequentemente,
à dispensa do trabalhador de a cumprir.
70
Direito do Trabalho
poder disciplinar daquele; algo que resulta, de certa forma, do artigo 116º. No entanto, a
subordinação a estes poderes reconhecidos â entidade empregadora, não prejudica a
autonomia técnica do trabalhador (em regra). Parte-se do pressuposto (e bem) de que o
trabalhador saberá melhor do que o empregador, quais são as técnicas a empregar no
exercício da atividade para que foi contratado, não estando adstrito às ordens daquele que
versem sobre a forma como este deve atuar e proceder no seu desempenho.
A categoria consubstancia um âmbito genérico de funções e tarefas que o trabalhador se
propõe exercer. Dentro desta, há de caber, pelo menos, uma função principal, sem prejuízo
de outras que assumam um caráter acessório ou secundário. A atribuição de categoria ao
trabalhador é obrigatória, até porque a partir dela se determinam inúmeros aspetos, tais
como o estatuto salariar, o patamar da sua carreira profissional, entre outros. Em suma, é
essencial para a determinação dos direitos, garantias e expetativas que o trabalhador pode
ter, com base no seu trabalho.
Em geral, o trabalhador deve exercer funções correspondentes à categoria em que se
insere, devendo o empregador atribuir-lhe, dentro do que foi acordado, as funções mais
adequadas às suas aptidões e qualificação profissional (artigo 118º, nº1).
A mudança da categoria do trabalhador para uma categoria inferior é, em regra, proibida –
funcionando o Princípio da Irreversibilidade da Carreira. A carreira profissional do
trabalhador deve progredir com o arrecadar de experiência e à medida que vai
desempenhando a sua atividade. Contudo, excecionalmente, e com fundamento em
necessidade premente do trabalhador ou do empregador, e mediante acordo, o trabalhador
pode ver a sua categoria mudar para uma inferior, sendo certo que se impõe a necessidade
de autorização da inspeção do trabalho, no caso dessa mudança determinar a diminuição
da retribuição (artigo 119º; artigos 129º, nº1, alíneas d) e e)).
Por outro lado, também a promoção do trabalhador para uma categoria superior carece do
seu consentimento. É que, não-raro, a promoção implica o exercício de funções diferentes
das contratadas e das suas responsabilidades na empresa. Daí que o trabalhador possa não
estar na predisposição de a aceitar, ainda que tal possa implicar o aumento da remuneração.
Estamos no domínio da consensualidade, podendo o trabalhador opor-se a tal promoção.
Questão diversa é a das promoções automáticas. Estas não levantam problema de maior
porquanto apenas envolvem o aumento da retribuição, o que, por certo, sendo benéfico
para o trabalhador e não importando a assunção de mais responsabilidades e o exercício de
novas funções, não carece do consentimento deste.
A atividade contratada extravasa, muitas vezes, os limites da categoria que foi (e é)
atribuída ao trabalhador; e nisso não há nada de errado, a categoria não tem um caráter
delimitador, visando somente a atribuição de um determinado estatuto profissional ao
trabalhador. Vale, neste contexto, um princípio da realidade, do qual deriva a prevalência
das funções efetivamente exercidas pelo trabalhador sobre as designadas na categoria.
Não-raras vezes, o trabalhador exerce, no seio empresarial, funções diferentes das que
foram designadas categorialmente, situação que desperta a necessidade do controlo judicial
da classificação profissional dos trabalhadores, dada pelo empregador110.
110
Pode suceder, por exemplo, que um ajudante de cozinha esteja a exercer, de forma efetiva, a função
de cozinheiro. Ora, nesse caso, o trabalhador está, desde logo, a ser prejudicado pelo empregador, uma
71
Direito do Trabalho
Em nenhum caso, quando se trate de uma remissão para categoria constante de convenção
coletiva de trabalho, pode a entidade empregadora exigir que o trabalhador exerça funções
que não tenham correspondência na categoria para que se remeteu.
Note-se que a atribuição de categoria pode ser feita nos termos do regulamento interno de
uma empresa (cf. artigo 99º). E este pode estabelecer regras remuneratórias diversas (mais
favoráveis do que as estabelecidas em convenção coletiva de trabalho) e classificações de
funções distintas das que constam dos instrumentos de regulamentação coletiva. De modo
geral, e não obstante as restrições que se impõe a tal possibilidade, a empresa pode
estabelecer a sua própria disciplina, atendendo aos seus interesses.
vez que, sendo cozinheiro uma categoria superior àquela que foi contratada, confere o direito ao
trabalhador a uma remuneração mais alta. Daí que, com vista a tutelar os interesses dos trabalhadores,
a classificação da categoria dos trabalhadores pelo empregador esteja sujeita a controlo externo.
Diga-se, neste sentido, que as convenções coletivas de trabalho tipificam, normalmente, o leque de
funções que se encontram abrangidas por uma determinada categoria.
72
Direito do Trabalho
Ora, o empregador pode exigir do trabalhador atividades que sejam “conexas” ou “afins à
atividade principal (contratada). Com afinidade, quer-se significar que entre a atividade
contratada e a exercida (acessoriamente), exista uma relação de semelhança; isto é, que se
encontrem compreendidas no mesmo grau ou carreira profissional (artigo 118º, nº2 e nº3).
Por outro lado, podem encontrar-se funcionalmente ligadas, se exista uma proximidade
lógico-funcional entre as duas atividades, ou seja, que convivam como segmentos de um
determinado “processo”. Para que tal possa suceder, o trabalhador deve possuir
qualificações para tal e o exercício dessas funções não pode importar uma desvalorização
profissional. Se o exercício de funções acessórias exigir especial qualificação, a entidade
empregadora deverá investir na formação do trabalhador (que, aliás, tem esse direito) cuja
duração não pode ser inferior a 10 horas anuais (artigo 118º, nº4).
Enquanto o exercício destas atividades se mantiver, o trabalhador tem direito à
remuneração que lhes corresponde, que é, por certo, mais elevada, na medida em que tal
não pode envolver (como se disse) uma desvalorização profissional deste. No entanto, não
é concedido o direito à reclassificação (da categoria), a menos que esta seja expressamente
estipulada – cf. artigo 120º, nº5.
Posto isto, resta-nos analisar o regime do artigo 120º - o direito de variação da atividade. O
âmbito deste instrumento de flexibilização é mais lato/largo, uma vez que não se reduz à
prática de atividades acessórias não abrangidas pela categoria ou atividade contratada;
implica, antes, o exercício de tarefas ou funções que se situem fora do objeto do contrato.
Para que este opere, é necessário que se verifiquem determinados requisitos: o interesse
da empresa deve exigi-lo; esta variação da posição do trabalhador deve ser transitória – isto
porque, caso contrário, estaríamos perante uma mudança de categoria; não implicar uma
modificação substancial da posição do trabalhador – isto não contende com o exercício de
atividades de categoria inferior, uma vez que a lei admite essa possibilidade
(excecionalmente)111. Impõe-se que a variação – entre a atividade contratada e a atividade
agora exercida – seja insuscetível de provocar desprestígio do trabalhador ou de afetar a
sua dignidade profissional; o trabalhador deve ser tratado de forma mais favorável
(nomeadamente, em termos remuneratórios); e que tal resulte de uma decisão unilateral
do empregador, com indicação do motivo e da duração da variação.
Verificados estes requisitos, o trabalhador deve obedecer à ordem emanada pelo
empregador, na medida em que se encontra subordinado ao poder de direção deste, sob
pena de responder disciplinarmente pela recusa.
Caso a variação importe o exercício de atividades de categoria inferior, o trabalhador não
pode ver a sua retribuição ser diminuída (artigos 129º, nº1, alínea d) e artigo 120, nº4); no
entanto, em todo o caso, o trabalhador não goza, mais uma vez, de um direito à
reclassificação – isto é, não adquire a categoria correspondente às funções
temporariamente exercidas.
111
Variação in peius.
73
Direito do Trabalho
Iniciando, mais uma vez, com referência à noção disposta no artigo 11º, dela resulta que o
trabalhador presta a sua atividade a outra pessoa, mediante retribuição. Se assim é, está
bom de ver que a retribuição o “outro lado” da prestação da atividade, é, se quisermos, a
sua contraprestação.
A retribuição é, aliás, o principal motivo que fará o trabalhador celebrar um qualquer
contrato de trabalho, na medida em que carece do montante retributivo para fazer face às
suas despesas, para prover ao seu sustento e ao da sua família.
Nos termos do artigo 258º, a retribuição é a prestação a que, nos termos do contrato, das
normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em contrapartida do trabalho
que presta112. Esta, por sua vez, ainda que não seja muito usual, pode ser satisfeita em
espécie (com bens diferentes de dinheiro); não obstante a regra ser a do cumprimento em
dinheiro. Em todo o caso, importa referir que retribuição tem de ser entendido num sentido
amplo, de forma a abranger a própria retribuição base e outras prestações regulares e
periódicas feitas.
Dada a essencialidade de que se reveste esta prestação do empregador, não só para o
trabalhador, mas também porque se trata de um elemento cuja existência é essencial no
panorama de uma relação laboral, existem alguns princípios dignos de nota que importa
referir. Desde logo, o artigo 59º, nº1, alínea a) CRP consagra um Princípio da Igualdade, com
o que isto quer significar que todos os trabalhadores têm direito a uma retribuição e, por
outro lado, que trabalho igual salário igual (o próprio artigo 270º CT tem uma redação
idêntica à deste preceito constitucional).
No artigo 129º, nº1, alínea d) CT encontra-se vertido o Princípio da Irredutibilidade da
Retribuição. Quer este significar a impossibilidade de o empregador determinar
unilateralmente a redução da retribuição, esta que nem por convenção (leia-se, entre as
partes no contrato de trabalho) pode operar. Na verdade, a anuência do trabalhador
afigura-se irrelevante, uma vez que, posteriormente, não obstante ter aceitado a redução
da sua retribuição, poderá reclamar as diferenças salariais que do acordo advierem.
Também aqui funciona o grande princípio civilístico do pacta sunt servanda (artigo 406º,
nº1 do Código Civil), segundo o qual os contratos devem ser pontualmente cumpridos, com
o que isso importa a impossibilidade de serem alterados unilateralmente por uma das
partes.
Não podemos, no entanto, olvidarmo-nos de que todos os princípios são, em determinados
casos (ditos excecionais) derrogados. E também este princípio (qual seja, o da
irredutibilidade da retribuição) é excecionado em determinados casos que, diga-se, o artigo
129º, nº1, d) reconhece (salvo nos casos previstos neste Código). São eles: na passagem da
prestação de trabalho a tempo completo para tempo parcial (artigo 155º, nº1 CT) – nada
impede que as partes acordem na diminuição da retribuição; suspensão de contratos de
trabalho (artigos 294º e seguintes); variação in peius (ou seja, para categoria inferior – artigo
112
Por força do nº3, presume-se constituir retribuição toda a prestação do empregador ao trabalhador.
Contudo, porque se trata de uma presunção relativa (ou iuris tantum) admite prova em contrário nos
termos gerais.
74
Direito do Trabalho
119º), sendo certo que nesta hipótese, caso implique a diminuição da retribuição, esta deve
ser autorizada pela Autoridade para as Condições de Trabalho.
A retribuição é obrigatória e deve ser prestada de forma periódica e regular. Na verdade, o
pagamento de certo valor, de forma repetida, gera no trabalhador a convicção que esse
montante continuará a ser pago, com a mesma regularidade, pelo que este também
adequará os seus níveis de consumo à medida da prestação retributiva que auferirá, cujo
pagamento incumbe ao empregador.
Quando a prestação retributiva se efetive em espécie, esta deve destinar-se à satisfação de
necessidades pessoas do trabalhador ou da sua família (artigo 259º). Nada impede que a
retribuição seja prestada numa parte em dinheiro, e noutra em espécie – é o que sugere o
nº2 do artigo 259º.
Não se consideram retribuição, as prestações elencadas no artigo 260º, sendo estas,
nomeadamente, prémios ou gratificações pelos resultados obtidos. Trata-se de prestações
que visam recompensar os trabalhadores pelo seu bom desempenho e produtividade; mas
também não se considera retribuição, as importâncias recebidas pelo trabalhador, com vista
a cobrir as suas despesas de transporte ou custos de deslocação. Note-se que, se as
gratificações tiverem sido objeto de contratualização, estas consideram-se retribuição (nº3,
alínea a) do referido preceito).
A retribuição pode assumir diferentes modalidades: certa, variável ou mista. É certa se
calculada em função do tempo de trabalho; é variável quando calculada em razão da média
dos montantes das prestações correspondentes aos últimos 12 meses, ou ao tempo de
execução de contrato que tenha durado menos tempo; se for mista, terá uma parte certa e
o parte variável (artigo 261º).
O trabalhador tem direito ao subsídio de Natal, cujo montante será igual a um mês de
retribuição, e que deve ser pago até ao dia 15 de dezembro de cada ano (artigo 263º); tem,
também, direito a retribuição no período de férias, bem como a um subsídio – artigo 264º.
Conforme ficou dito, a retribuição mensal não pode situar-se abaixo de um limite mínimo
legalmente imposto – atualmente, esse limite traduz-se no montante de 635,00 euros
(retribuição mensal mínima garantida, vulgo salário mínimo), e é imposto pelo Decreto-Lei
n.º 167/2019, de 21 de novembro. Excecionalmente, este limite pode ser reduzido,
nomeadamente nos casos previstos no artigo 275º.
Dito isto, finalmente, cumpre-nos dar notícia de como, onde e quando a retribuição se
efetiva.
Forma de cumprimento – indo ao encontro do que já referimos anteriormente, a prestação
retributiva tanto pode ser satisfeita em dinheiro ou em espécie, se tal tiver sido acordado
(cf. artigo 276º). Quando esta seja satisfeita em dinheiro – o que é a regra -, pode ser paga
através de cheque, vale postal ou depósito à ordem do trabalhador (sendo esta última forma
o meio mais usual).
Lugar do cumprimento – alertámos, aquando do estudo do local de trabalho, que a sua
determinação era relevante para vários efeitos. Ora, este é precisamente um deles: a
retribuição deve ser paga no local de trabalho, a menos que outro seja o local acordado.
Certamente que, quando a prestação seja efetivada por depósito à ordem do trabalhador,
não está em causa a aplicação desta regra (mas já estará se for paga através de cheque).
75
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76
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77
Direito do Trabalho
113
In ob. cit., p. 500.
78
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114
In ob. cit., p. 523.
79
Direito do Trabalho
num período que tenha a duração mínima de sete horas e máxima de onze, compreendendo
o intervalo entre as 00h e as 5h (artigos 223º e seguintes).
O trabalhador noturno terá direito a uma remuneração acrescida calculada nos termos do
artigo 266º.
Como sabemos, a prestação de trabalho não se protela no tempo de forma contínua, uma
vez que existem direitos (constitucionalmente reconhecidos) que impõe a descontinuidade
dessa prestação, em virtude do direito a intervalo de descanso, a férias, a descanso semanal
obrigatório, entre outros.
E, assim, nem o empregador pode exigir a prestação contínua de trabalho ao trabalhador,
nem este pode prestá-la, ainda que seja essa a sua vontade. Isto porque a lei lhe confere
80
Direito do Trabalho
direitos que, muitas vezes, são irrenunciáveis e que visam tutelar direitos de natureza
superior, como é o direito à integridade física (que, decerto, se poria em causa se o
trabalhador trabalhasse oito horas por dia sem intervalo para descansar ou sete dias por
semana, sem um único dia de descanso semanal).
Neste enquadramento, surge-nos, desde logo, o intervalo de descanso (artigo 213º CT).
Trata-se de um direito subjetivo do trabalhador que lhe confere a possibilidade de exigir um
intervalo para descansar, diariamente, de duração não inferior a uma hora nem superior a
duas, de modo a que a sua jornada laboral diária não seja prestada in toto de forma
consecutiva. Excecionalmente, este intervalo poderá ser alvo de redução ou exclusão, desde
que se verifiquem os pressupostos do nº3 do referido preceito e, outrossim, tal se mostre
favorável ao interesse do trabalhador ou se justifique pelas condições particulares de
trabalho de certas atividades.
Tem o trabalhador direito a um descanso diário, isto é, a um período de descanso de onze
horas entre jornadas laborais diárias consecutivas (artigo 214º), sem prejuízo dos casos em
que tal não se aplica (nomeadamente, os dispostos no nº2).
Do artigo 232º resulta, por sua vez, o direito do trabalhador a, pelo menos, um dia de
descanso por semana – o descanso semanal. Em regra, este dia será o domingo, sendo certo
que se os trabalhadores prestarem atividade numa das situações previstas pelo nº2, este
dia poderá ser distinto. Neste contexto, o artigo 233º vem estabelecer a regra da cumulação
do descanso semanal e do descanso diário – ou seja, devem ser gozados de forma contínua.
Existem, depois, feriados que são obrigatórios – os dispostos no artigo 234º -, e outros que,
por seu turno, são facultativos (artigo 235º). Com o que isto importa o facto de, quando
obrigatórios, as atividades que não são admitidas aos domingos serem obrigadas a encerrar
ou a suspender a laboração (artigo 236º, nº1).
Subcapítulo I – Férias
115
In ob. cit., 552.
81
Direito do Trabalho
116
Período de garantia. Exemplo: o trabalhador admitido a 1 de outubro de 2019, só vê o seu direito a
férias vencer no dia 1 de abril de 2020. Os 6 dias úteis de férias a que terá direito (dois por mês até
dezembro), têm, no entanto, de ser gozados até dia 30 de junho (artigo 239º, nº2). O direito do
trabalhador a férias correspondentes ao ano de 2020 vencem-se no dia 1 de janeiro, donde resultará a
acumulação de 28 dias de férias (22 dias úteis (2016) e 6 dias úteis (2015)). Este montante é aceite pelo
nº3.
82
Direito do Trabalho
Subcapítulo II – Faltas
Dado o pendor objetivo destes regimes, achamos que ao aluno interessará essencialmente
perceber qual a sua dinâmica, sem entrar em grandes devaneios doutrinais, pelo que
incidiremos, essencialmente, no conteúdo normativo destes.
Faltas é um conceito que utilizamos frequentemente no nosso dia-a-dia, ao qual
associamos a ideia de ausência de alguém do sítio onde deveria estar num determinado
momento. E, sabemos também, que as faltas podem estar justificadas ou injustificadas,
consoante haja ou não um motivo plausível, do qual se tenha dado conhecimento à entidade
a quem interessa conhecê-lo.
No domínio jurídico-laboral, falta considera-se a ausência do trabalhador do local em que
devia desempenhar a atividade durante o período normal de trabalho diário (artigo 248º,
nº1). E, também aqui, a falta pode ser justificada ou injustificada.
Neste sentido, a lei veio estabelecer quais as faltas que se consideram justificadas – artigo
249º, nº2: as dadas, 15 dias seguidos, por altura do casamento (licença de casamento); a
motivada por falecimento de cônjuge, parente ou afim, nos termos do artigo 251º; a
motivada pela prestação de prova em estabelecimento de ensino, nos termos do artigo 91º;
a motivada por impossibilidade de prestar trabalho devido a facto não imputável ao
trabalhador, mediante declaração que a ateste; a motivada pela prestação de assistência
inadiável e imprescindível a filho, a neto ou a membro do agregado familiar de trabalhador;
entre outras (remetemos para redação legal).
No entanto, não é necessário que o motivo justificativo da falta seja um dos elencados no
preceito referido; é ainda fundamental que o trabalhador faça prova deste e a comunique.
Sendo a falta previsível, o trabalhador deve comunicá-la ao empregador, fazendo constar
da comunicação o motivo justificativo, com a antecedência de cinco dias. Se, no entanto, a
ausência não for previsível e, por isso, não se poder respeitar a antecedência referida, o
trabalhador deve comunicá-la à entidade empregadora, assim que seja possível (artigo
253º, nº1 e nº2). Não havendo comunicação, a falta considera-se injustificada (nº5 do
mesmo artigo).
Por outro lado, o empregador pode exigir ao trabalhador que faça prova do facto invocado
para a justificação, em prazo razoável, desde que o requeira nos 15 dias seguintes à
comunicação da ausência (artigo 254º, nº1). A prova de declaração de doença é feita através
de declaração de estabelecimento hospitalar, ou centro de saúde ou atestado médico. Mais
uma vez, o desrespeito por esta imposição, determina que a ausência seja considerada
injustificada (nº5).
As faltas justificadas não afetam quaisquer direitos do trabalhador, e mesmo quando
determine a perda da retribuição correspondente ao período da ausência, a lei só o admite
quando o salário seja substituído por um sucedâneo (artigo 255º).
Mas são já atribuídos efeitos diferentes à falta injustificada (artigo 256º), solução que
facilmente se compreende, na medida em que o trabalhador não tinha um motivo
justificativo para faltar ou, tendo-o, não o comunicou ou não fez prova deste. Tendo isto em
consideração, a lei determina que as faltas injustificadas constituem uma violação do dever
de assiduidade e determinam a perda da retribuição do período de ausência (não sendo o
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Direito do Trabalho
salário substituído por um sucedâneo) que, por conseguinte, não é contado para a
antiguidade do trabalhador.
Em caso de atraso injustificado, o empregador pode não aceitar a prestação de trabalho
durante todo o período normal de trabalho, se este for superior a 60 minutos; se o atraso
for superior a 30 minutos, o empregador pode não aceitar a prestação de trabalho durante
essa parte do período normal de trabalho. Donde, a contrario, se o atraso, ainda que
injustificado, for inferior ou igual a 30 minutos, o empregador tem de aceitar a prestação de
trabalho (artigo 256º, nº4).
Em caso de falta injustificada, o trabalhador pode optar por substituir a perda de retribuição
pela renúncia a dias de férias em igual número, mediante declaração expressa comunicada
ao empregador, ou por prestação de trabalho em acréscimo ao período normal (artigo
257º).
Nas situações mais graves, as faltas não justificadas poderão levar ao acionamento do poder
disciplinar, podendo, inclusive, determinar o despedimento com justa causa por facto
imputável ao trabalhador – cf. artigo 351º, nº2, alínea g).
Este poder, grosso modo, prende-se com a possibilidade de o empregador emanar regras,
independentemente de quais sejam os meios que utilize, de forma a regular e a estipular a
disciplina segundo a qual a empresa, nomeadamente na pessoa dos trabalhadores, se há de
guiar e reger.
No entanto, ainda que as regras sejam, naturalmente, gerais e abstratas, abrangendo, em
princípio, todos os trabalhadores, para que possam produzir os seus efeitos, é necessário
que sejam levadas ao conhecimento dos trabalhadores, porque têm uma natureza recetícia.
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Direito do Trabalho
85
Direito do Trabalho
nesta altura, consiste na definição dos termos em que o trabalho deve ser prestado (artigo
97º).
Mas, como dissemos, este poder tem uma intensidade variável. Se o trabalhador se
encontrar numa situação de subordinação técnica, ver-se-á obrigado a acatar as ordens ou
instruções do empregador sobre a forma como a sua atividade deve ser prestada, isto é, as
técnicas e condutas que devem ser empregues no exercício de determinada função ou
tarefa.
Se, todavia, o trabalhador gozar de autonomia técnica, então o poder consagrado no artigo
97º deve ser entendido num sentido mais restrito, até porque, desde logo, ficam excluídas
ordens ou instruções cujo conteúdo verse sobre técnicas a empregar. Neste caso, o poder
do empregador limita-se à definição do tempo e do local do trabalho – traduzido,
nomeadamente, na elaboração do horário de trabalho (artigo 212º, nº1).
As refrações deste poder podem, ainda, ver-se na possibilidade de alterar temporariamente
a atividade contratada (artigo 120º CT); na faculdade de “impor” a prestação de trabalho
suplementar (artigo 227º CT); no poder de alterar o horário de trabalho (artigo 217º CT) –
só não poderá ser modificado pelo empregador, o horário individualmente acordado (nº4);
transferir o trabalhador para outro local de trabalho, à luz do artigo 194º CT (nesta época
de emergência, tem sido utilizado com alguma abundância).
Por último, mas não menos importante, cumpre-nos analisar o poder judicial do
empregador, o poder de controlo que este exerce sobre os seus trabalhadores e que, em
situações extremas, poderá levar ao despedimento.
Dispõe o artigo 98º que o empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador ao seu
serviço, enquanto vigorar o contrato de trabalho.
A lei reconhece o poder do empregador atuar sobre um trabalhador, quando este adote
uma conduta contrária à que deveria adotar e, nessa medida, inadequada à efetivação do
contrato – as infrações disciplinares.
Assim, e perante um comportamento abusivo e/ou censurável do trabalhador, o
empregador pode, por via punitiva, reagir com o intuito de intimar o autor do
comportamento inadequado a proceder em conformidade com as regras da disciplina da
empresa.
Saber o que é uma infração disciplinar é algo que não se pode determinar abstratamente.
Poderíamos dar casos de condutas que, por certo, não teríamos dúvidas em afirmar que se
traduzem em infrações disciplinares, mas esta tarefa não é sempre assim tão evidente e
clara, pelo que, não-raras vezes, é necessário fazer-se uma ponderação concreta, avaliando
o comportamento do trabalhador e a sua conformidade com a disciplina que vigora no seio
de uma empresa. Daí que a lei não estabeleça qualquer elenco de infrações disciplinares,
pois entende que só em concreto, e atendendo às vicissitudes de cada situação, é que se
pode averiguar a inconformidade de um comportamento.
Naturalmente que tudo o que for objeto de contratação entre as partes, encontra-se dentro
do domínio do poder disciplinar do empregador. Se o trabalhador assume uma dada
86
Direito do Trabalho
responsabilidade, tê-la-á de cumprir, até porque, além do mais, os compromissos são para
se honrar e, em concreto, os contratos são para ser pontualmente cumpridos (pacta sunt
servanda). No entanto, outras condutas extralaborais poderão ser alvo do poder disciplinar,
nomeadamente se violarem o dever de lealdade a que os trabalhadores se encontrem
adstritos. Tal sucederá quando um trabalhador, fora do exercício da atividade laboral que
presta à entidade patronal, toma atitudes capaz de aniquilar o interesse do seu empregador;
neste sentido, imagine-se uma loja que se dedica à comercialização de produtos naturais,
em que o trabalhador, no seu tempo livre, contacta com os clientes a dizer para não
comprarem mais certos produtos porque diz não terem qualquer efeito. Neste caso, o
trabalhador, provocando o descrédito da sua entidade patronal, está a violar o dever de
lealdade (artigo 128º, nº1, alínea f)), pelo que poderá ser alvo de uma ação disciplinar.
Ademais, o trabalhador, mesmo fora do exercício da sua atividade, encontra-se adstrita ao
dever de tratar o seu empregador (ou superior hierárquico) com urbanidade e respeito, pelo
que qualquer conduta que viole tal imposição, poderá ser alvo de um procedimento
disciplinar (artigo 128º, nº1, alínea a)).
As sanções disciplinares encontram-se previstas no artigo 328º do Código do Trabalho, o
que não prejudica a possibilidade de outras serem criadas ou constarem de instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho, desde que não prejudiquem os direitos e garantias do
trabalhador (cf. artigo 129º CT).
Das que se encontram previstas da lei, daremos agora conta: a repreensão – pressupõe um
ato revestido de certa solenidade, praticado perante outros trabalhadores, de forma oral
(não é escrita); a repreensão escrita – como facilmente se depreende, esta sanção é, ao
contrário da precedente, alvo de registo; a sanção pecuniária – esta é efetivada através do
desconto do montante no salário do trabalhador, ficando obrigado, de certa forma, à
prestação de trabalho gratuito. Contudo, esta não poderá exceder um terço da retribuição
diária e, em cada ano civil, a retribuição correspondente a 30 dias; a perda de dias de férias
– esta sanção nunca pode pôr em causa o gozo de 20 dias de férias; a suspensão do trabalho
com perda da retribuição e de antiguidade – o empregador retém o valor da retribuição. A
suspensão não pode exceder 30 dias por cada infração e, em cada ano civil, o total de 90
dias117; o despedimento sem indemnização ou compensação – a infração disciplinar ao
despedimento por justa causa, nos termos do artigo 351º118.
Do que ficou fito, conclui-se que as sanções estão sistematicamente ordenadas em razão
da sua gravidade, começando pela mais leve (a repreensão) e terminando com a mais grave
(o despedimento sem indemnização ou compensação).
Além dos limites que nos referimos, o empregador deverá respeitar uma ideia de
proporcionalidade na aplicação da sanção. Por outras palavras, e conforme resulta do artigo
330º, nº1, a sanção disciplinar deve ser proporcional à gravidade da infração e à
culpabilidade da infração, não se podendo aplica mais de uma pela mesma infração. A
sanção deve ser aplicada no prazo de três meses subsequentes à prolação da decisão que
ordene a sua aplicação (nº2), sob pena de caducidade.
117
Sanções disciplinares conservatórias.
118
Sanção disciplinar expulsiva.
87
Direito do Trabalho
119
O Estatuto Jurídico do Trabalhador Protegido traduz-se no conjunto de normas que, atento às
qualidades especiais de alguns trabalhadores, lhes conferem uma posição especial. Por outras palavras,
existem trabalhadores que, por se encontrarem em circunstâncias diversas dos demais, merecem uma
tutela mais forte por parte da lei, sendo titulares de alguns direitos e até garantias de que grande parte
dos trabalhadores não gozam. Sejam eles os trabalhadores membros de uma estrutura de
representação coletiva (cf. artigos como o 410, nº3, o 411º, o 466º, entre outros), as grávidas, as
puérperas ou lactantes (cf. artigo 63º), o trabalhador-estudante, etc.
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Direito do Trabalho
incongruência entre o vertido no artigo 331º, nº1, alínea c) e o disposto no artigo 410º, nº3 –
ambos do CT.
Do artigo 331º, nº1, al. c) resulta que é vedado ao empregador aplicar uma sanção, fundando
tal aplicação no facto de um trabalhador exercer ou candidatar-se ao exercício de funções em
estrutura de representação coletiva de trabalhadores. E, portanto, não estão abrangidos os
trabalhadores que já hajam exercido funções dessa natureza. Existe, pois, uma projeção
presente e futura.
Por seu turno, do artigo 410º, nº3 (com o qual devemos concatenar o preceito anterior, já
perceberemos porquê) resulta que, em matéria de despedimento, encontram-se tuteladas as
posições dos trabalhadores que hajam já exercido funções dessa natureza (sindical). Pelo que,
ao contrário do preceito anterior, vislumbra-se, aqui, uma projeção passada.
Donde, não parece que esta incongruência favoreça uma harmonia legislativa, pelo que se deve
considerar que, através de uma interpretação corretiva da alínea c), nº1, do artigo 331º, as
sanções assumem um caráter abusivo quando se fundem no facto dos trabalhadores já
houverem exercido funções de representação coletiva.
Quando haja lugar à aplicação da decisão mais grave, o despedimento disciplinar por justa
causa, em virtude facto imputável ao trabalhador (artigo 328º, nº1, alínea f)), o
procedimento que lhe precede está adstrito a exigências formais mais apertadas,
revestindo-se de outra solenidade; o que se percebe, tendo em conta que a aplicação da
sanção levará à desvinculação do trabalhador da entidade empregadora.
Em termos genéricos, constitui justa causa de despedimento, o comportamento culposo
(recte doloso) do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e
praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho – artigo 351º, nº1. Neste
sentido, o nº2 do preceito referido vem estabelecer um elenco exemplificativo (o que
resulta do vocábulo “nomeadamente”) dos comportamentos do trabalhador que
constituem justa causa de despedimento.
Neste contexto, para o exercício do direito de punir continuam a valer os prazos que
referimos anterior e que resultam do artigo 329º. O procedimento, em regra, inicia-se com
a nota de culpa. No entanto, se para a fundamentar for necessária uma investigação, é esta
precedida de um inquérito (artigo 352º) – desde que ocorra nos 30 dias seguintes à suspeita
de comportamentos irregulares - o que, em todo o caso, fará interromper os prazos
prescricionários e de caducidade a que nos referimos. Nos 30 dias subsequentes à conclusão
desta fase, a nota de culpa deve ser notificada (cf. artigo 353º, nº3).
Quando não for necessária a existência da fase de inquérito, o empregador deve comunicar,
por escrito, ao trabalhador a intenção de proceder ao seu despedimento, juntando a nota
de culpa120 com a descrição circunstanciada dos factos que lhe são imputados (subjaz a ideia
de que o trabalhador deve saber o que está a ser acusado) – artigo 353º, nº1.
120
A notificação da nota de culpa é condição de licitude do despedimento – cf. artigo 382º, nº2.
89
Direito do Trabalho
Antevemos, com relativa facilidade, que este é um tema que, no âmbito das relações
jurídico-laborais, se reveste de natureza particularmente sensível, uma vez que, ainda que
outros motivos se pudessem invocar, as faz cessar. E, assim sendo, o legislador muniu-se de
algumas preocupações especiais, consagrando soluções e regimes que visam reduzir, ao
máximo, a possibilidade de desvinculação dos contratos de trabalho, sem, no entanto,
descurar ou impossibilitar essa realidade.
O trabalhador baseia todo o seu modo de vida e da sua família, o seu estatuto social, as
suas possibilidades económicas no vínculo contratual que o liga ao empregador. Donde,
existem expetativas que este vai criando e mantendo, à medida que se protela o vínculo,
que, por isso, carecem de tutela – mais do que as expetativas e interesses de que o
empregador possa ser titular; isto porque, e aliás, como é característica das relações deste
caráter, também aqui sobressai a posição mais frágil ocupada pelo trabalhador.
Uma vez despedido, o trabalhador, atento a razões de idade, qualificação (v.g.), poderá
encontrar dificuldades em celebrar um novo vínculo laboral, pelo que, também por esta
razão, é essencial que se proteja a continuidade dos vínculos.
O empregador, quando a cessação do vínculo não tenha sido promovida por si, poderá
naturalmente sofrer outras consequências – por hipótese, a perda de um trabalhador com
121
Pode o trabalhador impugnar esta suspensão preventiva através de uma providência cautelar.
90
Direito do Trabalho
122
Ob. cit., 640.
123
Note-se que falamos de indemnizações quando a cessação do contrato de trabalho se afigure ilícita; e
falamos de compensações quando a rutura do vínculo laboral resulte de conduta lícita.
124
O empregador pode denunciar o contrato sem necessidade de invocar uma justificação (artigo 114º,
nº1), tal como o trabalhador, sendo que este, conforme veremos, o poderá fazer noutras ocasiões.
125
Caso em que, como vimos, o trabalhador não permanece na empresa, a menos que esta seja ou
esteja acordada.
126
Nas quais se integram as previstas no artigo 391º CT – caso em que, não obstante se tratar de um
despedimento ilícito, o trabalhador opta por uma indemnização em substituição da reintegração da
empresa (cf. artigo 389º, nº1, alínea b)); e no artigo 392º - apesar de a cessação do contrato de trabalho
consubstanciar um despedimento ilícito, o empregador (em casos contados) pode requerer
judicialmente que o tribunal exclua a reintegração do trabalhador na empresa, desde que invoque
factos e circunstâncias que a torne gravemente onerosa para o funcionamento da empresa (nº1).
Contudo, tal não poderá ser aplicado sempre que a ilicitude do despedimento de funde em motivo
discriminatório (nº2). E, assim sendo, se o tribunal deferir a pretensão do empregador, o trabalhador
tem direito a uma indemnização calculada nos termos do nº3 do preceito supracitado.
91
Direito do Trabalho
Subcapítulo I – Revogação
127
Porque o elenco do artigo 351º, nº2 não é, mais uma vez, exaustivo (nomeadamente).
92
Direito do Trabalho
fundou-se em erro, este acordo padece de um vício que, sendo essencial, poderá levar à sua
anulação (artigo 254º do Código Civil).
A revogação e, por conseguinte, a extinção dos efeitos do vínculo laboral poderão remontar
à data da celebração do acordo ou ser diferidos para momento posterior, o que resulta
implícito do nº3 do artigo 349º. Ao contrário do que costuma suceder ao abrigo de outras
modalidades, e porque neste caso nos situamos perante um acordo revogatório, não há, a
menos que se estipule, lugar a uma compensação em resulta da cessação do contrato de
trabalho. Contudo, é normal que a estipulação de tal contrapartida suceda, na medida em
que a revogação tutela, em regra, interesses de que é titular o empregador que, por isso, a
propõe ao trabalhador. E, por supuesto, o trabalhador, em princípio, não acederá a tal
pretensão, sem que lhe seja concedida essa contrapartida (nº5128).
Naturalmente que se o acordo de revogação for proposto pelo trabalhador, não será (salvo
casos raríssimos) estipulada qualquer compensação, até porque este só o proporá se tiver
devidamente acautelada a sua situação (nomeadamente, quando tenha em mãos a
possibilidade de exercer funções noutra empresa).
A lei concede ao trabalhador a possibilidade de fazer cessar o acordo de revogação
mediante comunicação escrita dirigida ao empregador, desde que efetuada até ao sétimo
dia seguinte à data da sua celebração e, outrossim, aquele ponha à disposição deste a
totalidade das compensações pecuniárias (se forem acordadas) pagas em cumprimento do
referido acordo (artigo 350º, nº1 e nº3). Todavia, esta faculdade encontra-se vedada ao
trabalhador quando o acordo esteja devidamente datado e as assinaturas que dele constem
sejam objeto de reconhecimento notarial presencial (nº4).
Subcapítulo II – Caducidade
128
Devemos notar que este preceito consagra uma presunção iuris tantum, já que o trabalhador pode
demonstrar que os créditos de que é titular em relação ao empregador, não foram tidos em conta na
estipulação da compensação. A lei presume que sim, admitindo, no entanto, prova em contrário.
93
Direito do Trabalho
129
Analisaremos, em seguida, esta alínea b) do artigo 343º-
94
Direito do Trabalho
sua atividade. No entanto, também pode suceder que o empregador fique impossibilitado
de receber tal prestação, em virtude da morte do empregador, da extinção da pessoa
coletiva ou encerramento da empresa (artigo 346º) ou da insolvência da empresa (artigo
347º).
Ora, da morte do empregador pode resultar a cessação do contrato de trabalho por
caducidade, se o sucessor daquele não continuar a atividade para que o trabalhador foi
contratado, ou se não houver a transmissão da empresa ou estabelecimento (nº1); a
extinção da pessoa coletiva empregadora, importa a caducidade do contrato do trabalho se,
mais uma vez, não se der a transmissão da empresa ou do estabelecimento (nº2); também
o encerramento total e definitivo determina a caducidade, sendo certo que, neste caso, é
necessário seguir o procedimento previsto no artigo 360º e seguintes (disposto para o
despedimento coletivo). Ainda assim, no caso de microempresa, parece que basta que se
informe os trabalhadores do encerramento (nº4), com respeito pelo preceituado no artigo
363º, nº1 e nº2. Caducando o contrato de trabalho, o trabalhador tem direito a uma
compensação calculada nos termos do artigo 366º (ex vi nº5 do artigo 346º).
A declaração judicial de insolvência não implica de per si a cessação do contrato de trabalho,
devendo o administrador (de insolvência) continuar a satisfazer as obrigações para com os
trabalhadores enquanto o estabelecimento não for definitivamente encerrado (artigo 347º,
nº1). Caso a colaboração de um dado trabalhador se afigure dispensável, o administrador
pode fazer cessar o vínculo laboral. Em todo o caso, a sua cessação deverá ser precedida do
procedimento a que se referem os artigos 360º e seguintes, não obstante de em caso de
microempresa bastar a comunicação aos trabalhadores (a par do que já referimos
anteriormente para a cessação do contrato de trabalho em resultado do encerramento
definitivo da empresa), culminando no pagamento de uma compensação pecuniária.
Posto isto, falta analisar a causa de caducidade a que se refere a alínea c) do artigo 343º -
reforma do trabalhador, por velhice ou invalidez.
A cessação do contrato de trabalho através de caducidade fundada na reforma do
trabalhador só opera se obedecer a determinados requisitos, de entre os quais se destaca a
necessidade do conhecimento por ambas as partes da reforma por velhice (artigo 348º,
nº1). Naturalmente, sendo o empregador um terceiro face à relação jurídica estabelecida
entre o trabalhador reformado e a instituição da segurança social, muitas vezes não tem
conhecimento da reforma deste, pelo que o trabalhador, requerente da pensão de reforma,
deve, à luz dos artigos 126º, nº1 e 106º, nº2, informar o seu empregador.
Porque a reforma do trabalhador não hipoteca nem inutiliza a continuidade da vigência do
contrato de trabalho, não se produzem, de forma imediata, os efeitos extintivos. A lei não
fixa um prazo para a cessação do contrato de trabalho mas, através da confrontação com o
artigo 348º, nº1, esta, sendo caso disso, há de suceder nos 30 dias subsequentes ao
conhecimento, por ambas as partes, da reforma do trabalhador. Contudo, e no seguimento
desta ordem de ideias, a lei não veda às partes a possibilidade de, mediante acordo, o
trabalhador continuar ao serviço do empregador (qualquer que seja o motivo) para lá dos
30 dias referidos. A verificar-se esta hipótese, opera-se a conversão do contrato num
contrato de trabalho a termo que, por força do mencionado preceito, sucede ope legis.
95
Direito do Trabalho
Subtítulo I – Denúncia
96
Direito do Trabalho
despedimento parte de si e, à partida, este não terá de procurar um substituto para o(s)
trabalhador(es)130.
Assinale-se que o trabalhador pode revogar a denúncia do contrato, salvo se a sua
assinatura tiver sido objeto de reconhecimento notarial presencial, até ao sétimo dia
seguinte em que a mesma chegar ao poder do empregador, mediante comunicação escrita
dirigida a este (artigo 402º).
Na eventualidade de o trabalhador não respeitar o aviso prévio a que está adstrito, fica
obrigado a indemnizar o empregador ao abrigo do artigo 401º.
Subtítulo II – Resolução
Ao contrário do que sucede na denúncia, para que o trabalhador possa fazer cessar o
contrato de trabalho através da resolução, é necessário que invoque justa causa (artigo
394º). Não é, contudo, exigido que esta se revista de uma natureza de ultima ratio, isto é,
apenas se admitindo que o trabalhador a ela recorra quando se encontre em situações
extremas, bastando que a permanência do vínculo contratual lhe cause perturbações
graves.
A justa causa pode ser imputável ao empregador (justa causa subjetiva) mas também pode
não o ser (justa causa objetiva), conforme esta se traduza num comportamento culposo do
empregador ou, pelo contrário, se trate de um motivo ao qual é completamente alheio. O
nº2 do artigo 394º vem estabelecer um elenco exemplificativo (nomeadamente) de
comportamentos que, sendo imputáveis ao empregador, são considerados justa causa de
resolução do contrato pelo trabalhador, de entre os quais destacamos o vertido na alínea a)
– falta culposa do pagamento pontual da retribuição. Quanto a este preceito, tem firmado
a doutrina e a jurisprudência que se considera culposa a atuação do empregador que,
estando com dificuldades de tesouraria, não opte por fazer qualquer coisa para debelar tal
panorama e, assim, de alguma forma, conseguir cumprir com o pagamento da retribuição.
O nº5, por seu turno, vem considerar culposa a falta de pagamento pontual da retribuição
que se prolongue por período superior a 60 dias, ou quando o empregador, a pedido do
trabalhador declare por escrito a previsão de não pagamento da retribuição em falta, até
ao termo daquele prazo. Tem-se entendido que, quando o trabalhador vise socorrer-se de
tal norma para fundar a sua pretensão, fica exonerada de provar a culpa do empregador, na
medida em que a lei já o dá como dado adquirido.
Outros comportamentos, não duvidamos, são da inteira responsabilidade do empregador
e, na realidade, não hão de poder verificar-se sem a culpa deste; falamos, por exemplo, das
sanções abusivas (artigo 331º) e ofensa à integridade física ou moral.
Já não são imputáveis ao trabalhador, as circunstâncias a que se refere o nº3. E esta
distinção entre causas subjetivas ou objetivas reveste-se de enorme importância, uma vez
que, no primeiro caso, o trabalhador terá direito a uma indemnização (fundada em
comportamentos ilícitos do trabalhador), o que no segundo caso já não sucederá – é o que
resulta expressa ou implicitamente do artigo 396º.
130
Na prática, o que sucede é uma antecipação da cessação do contrato, porque, em qualquer caso,
este iria cessar.
97
Direito do Trabalho
Trataremos, nesta sede, de um assunto que, atento às referências que temos vindo a fazer,
quase não se justificaria dar-lhe um tratamento autónomo. Ainda assim, e para que
percebamos o alcance do que agora se trata, optámos por desenvolvê-lo em separado,
sempre com o cuidado de não entrarmos em repetição porque, de facto, há pontos nos
quais já tocamos em momento anterior.
O trabalhador, ainda que não funde a sua pretensão em motivo justificativo (justa causa)
ou não proceda em conformidade com as formalidades que lhe são impostas, consegue
sempre alcançar o seu logro principal – a desvinculação do vínculo laboral.
O que sucede e, de resto, conforme dispõe o artigo 399º para a resolução infundada e o
artigo 401º para a preterição do aviso prévio na denúncia, é que o trabalhador fica vinculado
ao dever de indemnizar a entidade empregadora pelos prejuízos que lhe causar e que
imediatamente resultem da cessação do contrato de trabalho.
Por vezes, a entidade empregadora compromete-se a investir na formação profissional do
trabalhador, comprometendo-se este a ficar ao seu serviço por um período mínimo (o
denominado pacto de permanência a que se refere o artigo 401º, in fine). Quando a
denúncia ocorra e produza efeitos antes do termo do período convencionado, o trabalhador
fica obrigado a restituir a “soma das importâncias despendidas” com a sua formação.
O abandono do trabalho acaba, na sua substância, por consubstanciar uma rutura irregular
do contrato por parte do trabalhador. Para que possa ser convocada pelo empregador, é
imperioso que se verifiquem dois requisitos: a ausência do trabalhador do serviço, desde
que acompanhada de factos que, com toda a probabilidade, revelam a intenção de não o
retomar. A lei não exige que esta ausência se verifique durante um determinado arco
temporal, podendo operar independentemente da sua projeção espácio-temporal. Ora, isto
importa a possibilidade de o empregador, tendo notícia de que um trabalhador seu se
encontra ao serviço de outra empresa durante o período em que se deveria encontrar ao
seu serviço, convocar a figura extintiva do abandono do trabalho, vertida no artigo 403º.
Isto porque, neste caso, o trabalhador se ausentou do serviço e, cumulativamente, o facto
de se apresentar ao serviço de outra empresa, denota, com toda a probabilidade, a intenção
de não o retomar.
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Direito do Trabalho
Contudo, para que o empregador possa invocar o abandono e, desse modo, associar-lhe os
efeitos prescritos para a denúncia sem aviso prévio (cf. artigo 401º, ex vi nº5), é fundamental
que comunique ao trabalhador os factos constitutivos do abandono, por carta registada com
aviso de receção para a última morada conhecida deste (nº3, artigo 403º).
Situações haverá em que, não sendo concludentes os factos que acompanham a ausência,
o empregador poderá presumir o abandono do trabalho (nº2). Isto poderá suceder quando
o trabalhador se ausente do serviço durante 10 dias seguidos, sem que o empregador seja
informado da ausência. Trata-se de uma presunção iuris tantum que, por isso, poderá ser
afastada pelo trabalhador mediante a prova dos factos que o levaram a ausentar-se e,
outrossim, a impossibilitá-lo de entrar em contacto com o empregador, em tempo devido,
para lhe comunicar a ausência (vencendo, aqui, uma mesma lógica que subjaz ao regime
das faltas e, concretamente, ao artigo 253º).
A extinção do contrato de trabalho por abandono do trabalho, opera, quando estejamos
no campo de aplicação do nº1 do artigo 403º, no momento do envio da carta registada; na
verdade, o trabalhador pode ter mudado de residência sem que atualize esses dados ou
pode voluntariamente furtar-se à receção da carta enviada. No entanto, assim não será se
funcionar a presunção de abandono de trabalho consagrada no nº2, porquanto se admite
ao trabalhador a possibilidade de, mediante a prova dos factos que levaram à sua ausência
e à impossibilidade de a comunicar ao empregador, a vir afastar; daí que, nestas ocasiões,
o envio de per si não tenha um efeito extintivo.
Desde o regime consagrado pela LCT até ao regime que hoje consta do Código do Trabalho,
mediaram largos anos, que caracterizados por contextos político-económico distintos,
levaram, em certos momentos, a reformas no panorama jurídico-laboral. Sem, no entanto,
nos ocuparmos dessas reformas e da evolução de que elas são espelho, cumpre-nos
(porque, ademais, é isso que nos interessa) referir e analisar o regime vigente.
Atualmente, o Código do Trabalho consagra as seguintes modalidades de despedimento131:
despedimento por facto imputável ao trabalhador – de resto, já analisámos com algum
cuidado esta modalidade, onde nos referimos, em traços gerais, ao procedimento que deve
preceder o despedimento como sanção disciplinar; despedimento coletivo; despedimento
por extinção do posto de trabalho; despedimento por inadaptação; resolução pelo
trabalhador; denúncia pelo trabalhador. A par destas, não podemos olvidar a possibilidade
de o tribunal, em caso de despedimento ilícito, decidir pela não reintegração do trabalhador
na empresa, o que configura uma resolução judiciária do contrato de trabalho (artigo 392º).
Antes de avançarmos, importa, porém, fazer duas considerações, uma de natureza
substancial e outra de natureza processual. Foi-se progressivamente excluindo a
possibilidade de o empregador despedir um trabalhador sem necessidade de invocação de
um motivo justificativo e plausível. Hoje, e sem embargo de isso poder suceder em alguns
casos (ainda que reduzidos), é consagrado um princípio de proibição do despedimento sem
131
O despedimento resulta, obviamente, da iniciativa do empregador.
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Direito do Trabalho
justa causa (artigo 338º)132, com o que isso implica a impossibilidade de o empregador se
desvincular de um contrato ad nutum, isto é, sem invocar um motivo que o justifique. Por
outro lado, qualquer despedimento (qual seja a modalidade) deve ser – e para que seja lícito
tem de o ser – precedido de um procedimento. Estas exigências processuais podem ser mais
evidentes e rígidas nuns casos do que noutros, assumindo maior preponderância
relativamente ao despedimento por facto imputável ao trabalhador.
Através da suspensão do despedimento, qualquer trabalhador pode, tendo sido despedido
ao abrigo de uma qualquer modalidade, opor-se provisoriamente à eficácia da decisão do
despedimento, enquanto se afere, através de ação intentada com essa finalidade, sobre a
sua licitude ou ilicitude (artigo 386º). Grosso modo, o que esta providência cautelar133
permite é que os efeitos do vínculo laboral se mantenham, nomeadamente no concernente
à retribuição que continua a ser devida, já que a prestação laboral foi dispensada pelo
empregador.
Não raro sucede que os trabalhadores são despedidos de forma ilícita, o que lhes pode
causar danos patrimoniais e não patrimoniais, da mais diversa ordem e que, em princípio,
têm de ser indemnizados pelo empregador (que promoveu o correspetivo despedimento) –
estamos perante o despedimento ilícito. A ilicitude do despedimento averigua-se
judicialmente, mediante a proposição de uma ação judicial com essa finalidade,
pronunciando-se, por fim, o tribunal pela licitude ou ilicitude daquele (artigo 387º).
A ilicitude do despedimento pode derivar de várias causas, nomeadamente: da preterição
de uma qualquer formalidade, da improcedência do motivo justificativo (da justa causa), ou
se se fundar em motivos discriminatórios (artigo 381º CT). Convocando-se um destes
motivos, o tribunal terá de se pronunciar pela ilicitude do despedimento em apreço, o que
dará origem às seguintes consequências: o trabalhador terá direito a ser indemnizado por
todos os danos causados, patrimoniais e não patrimoniais e deve ser reintegrado (seja essa
a sua vontade) no mesmo estabelecimento da empresa, com a categoria e antiguidade
respetivas (artigo 389º, nº1)134. No entanto, como tivemos oportunidade de referir em
momento anterior, o trabalhador pode optar por uma indemnização em substituição da
reintegração (artigo 391º) e, a requerimento do empregador, pode suceder que o tribunal
exclua a reintegração, nos termos do artigo 392º135. Ora, operando um destes cenários, não
se poderá aplicar a alínea b), nº1 do artigo 389º, o que o preceito de forma expressa acaba
por dizer.
Além da indemnização, o trabalhador tem direito a uma compensação correspondente às
retribuições que deixar de auferir desde o despedimento até ao trânsito em julgado da
decisão do tribunal que declare a ilicitude do despedimento (artigo 390º, nº1) – trata-se de
um direito aos salários de tramitação (ou salários intercalares) que, em todo o caso, não
132
Já o desenvolvemos supra.
133
Regulado nos artigos 34º a 40º do Código de Processo do Trabalho.
134
Note-se que o legislador pretendeu garantir o estatuto do trabalhador – com a manutenção da
categoria e da antiguidade -, mas já não a posição funcional que ocupava antes da cessação ilícita do
vínculo, podendo o empregador incumbi-lo do exercício de outra função.
135
Para tanto, é imperioso que invoque factos e circunstâncias que tornem o regresso do trabalhador
gravemente prejudicial e perturbador do funcionamento da empresa.
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136
Note-se que não é suscetível de provocar a ilicitude as meras irregularidades a que se refere o nº2 do
artigo 389º.
137
Caso de aplicação do Direito do Trabalho, atento ao critério disposto no artigo 100º CT.
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atividade, o que de per si já se afigura um tanto ou quanto oneroso. Ainda que a lei não o
admite expressamente, e por forma a evitar alguns abusos que, em certos casos poder-se-
iam protelar de forma mais ou menos longa no tempo (desde a emissão da nota de culpa –
ou, eventualmente, antes -, até à decisão), admite-se o recurso à via judicial para se
impugnar tal medida adotada unilateralmente pelo empregador. Nesse caso, o tribunal
deverá ponderar objetivamente sobre a adequação dessa medida e, sendo estas
injustificada – isto é, não se afigurando inconveniente a presença do trabalhador -, poderá
qualificar-se como abuso de direito.
Neste subtítulo (bem como no subsequente) estará em causa uma modalidade de cessação
de contrato de trabalho que se funda na existência de justa causa objetiva (objetiva porque,
desta feita, o facto que origina a pretensão de fazer cessar o contrato não é imputável ao
trabalhador). E, às características próprias da justa causa patentes nesta modalidade,
cumulam-se algumas próprias do despedimento coletivo que, a seu tempo, teremos
oportunidade de analisar, ainda que, quando tal se impuser, nos debruçaremos sobre elas
de um modo superficial.
Dita o artigo 367º, nº1 que se considera despedimento por extinção de posto de trabalho
a cessação de contrato de trabalho promovida pelo empregador e fundamentada nessa
extinção, quando esta seja devida a motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos,
relativos à empresa. Dito isto, é legítimo questionarmo-nos sobre o que são, para estes
efeitos, considerados motivos de mercados, estruturais ou tecnológicos, cuja resposta nos
vem a ser dada pelo artigo 359º, nº2. Vislumbrar-se-ia de pouca utilidade, transcrevermos
para aqui a redação da referida norma, no entanto não podermos alhear-nos ao facto de,
neste momento, nos poder parecer que esta modalidade de despedimento e despedimento
coletivo, em grande medida, coincidem. Essa observação não é, de todo, descabida mas,
conforme estudaremos, estas modalidades operam mediante pressupostos diferentes –
nomeadamente, de cariz quantitativo (no sentido em que mais adiante lhe impregnaremos).
A admissibilidade da cessação de contrato de trabalho por extinção de posto de trabalho
está subordinada à verificação de alguns requisitos. Senão vejamos: antes de mais, já o
dissemos, o empregador tem de fundar a sua pretensão em motivos de mercado, estruturais
ou tecnológicos (definidos nos termos do artigo 359º, nº2); os motivos indicados não sejam
devidos a conduta culposa de nenhum das partes (seja do empregador ou do trabalhador);
seja praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho (subjaz a este requisito
uma ideia de inexigibilidade)138; não existam, na empresa, contratos de trabalho a termo
para tarefas correspondentes às do posto de trabalho extinto; não seja aplicável o
despedimento coletivo – resulta, é claro, a exteriorização da natureza subsidiária ou
supletiva que o legislador ousou dar a esta modalidade de cessação de contrato de trabalho.
Ou seja, só opera se não estivermos perante uma hipótese em que se aplique o
despedimento coletivo (o que, não raro, pode suceder).
138
E é-lhe (ao empregador) inexigível que faça subsistir o vínculo quando não disponha de outro
compatível com a categoria profissional do trabalhador.
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105
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Por outro lado, e porque assim o dita o artigo 372º, o trabalhador terá, durante o aviso
prévio, um direito a crédito de horas correspondente a dois dias de trabalho por semana
(artigo 364º, nº1) e pode, outrossim, fazer cessar o contrato mediante denúncia com um
aviso prévio reduzido de apenas três dias (artigo 365º).
A ratio do aviso prévio em benefício do trabalhador é conceder-lhe a oportunidade de
procurar um novo emprego e, de preferência, que o consiga durante o período em que
aquele vigore.
Resta-nos, por fim, fazer referência à ilicitude de despedimento por extinção de posto de
trabalho, cujo regime se encontra vertido no artigo 384º CT. As causas que podem
determinar a ilicitude da cessação do vínculo através desta modalidade são várias e, por
isso, falaremos daquelas que ainda não abordámos (é que, não esqueçamos, existe um
regime comum, já abordado, de ilicitude – cf. artigo 381º, com as respetivas consequências
dispostas no artigo 389º): não se verifique um dos requisitos consagrados no nº1 do artigo
368º (cumulativos); o empregador desrespeite os critérios hierarquizados, cuja aplicação
deve respeitar a ordem de precedência pela qual foram redigidos no nº2 do artigo 368º; o
empregador não proceda às comunicações impostas pelo artigo 369º; e ter desrespeitado
o disposto no artigo 368º, nº5 (e o artigo 371º, nº4).
Todas estas causas são suscetíveis de determinar a ilicitude de despedimento, com o que
isso importa a aplicação das consequências prescritas no artigo 389º.
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O que, em todo o caso, deve provar.
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140
Cf. artigo 359º, nº2 CT.
141
Este exemplo permite-nos concluir, em princípio, pela inevitabilidade da cessação dos contratos. No
entanto, nem sempre assim é pelo que, não raro, dada a margem de decisão de que gozam os
empregadores, poderão verificar-se despedimentos coletivos que, antolhando-se injustificados, são
inatacáveis.
109
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de trabalho (artigo 368º, nº2) podem ser definidos pelo empregador, sendo certo que, em
todo o caso, estes não poderão ser discriminatórios (cf. artigo 53º CRP e artigo 381º, alínea
a) CT). Segue-se, nos cinco dias posteriores à comunicação feita pelo empregador, uma fase
de negociação e de informações que, diga-se, também deve ser este a promovê-la (artigo
361º, nº1 CT). O logro desta fase é que, através de cedências mútuas, se possa acordar outra
solução diversa da do despedimento (inicialmente pretendido)142. De entre as soluções
possíveis, podem as partes acordar na suspensão dos contratos de trabalho (cf. artigos 298º
e seguintes, sem prejuízo do disposto no nº2 do artigo 361º), na redução dos períodos
normais de trabalho, na reconversão ou reclassificação profissional ou na reforma
antecipada ou pré-reforma – estamos, é claro, a falar de uma negociação entre a entidade
empregadora e, porventura, a comissão de trabalhadores143.
Partilhamos, porque achamos oportuno fazê-lo, a citação de Monteiro Fernandes144 no
concernente ao objetivo a que se vota a fase de negociação: a obtenção de “um acordo
sobre a dimensão e efeitos das medidas a aplicar e, bem assim, de outras medidas que
reduzam o número de trabalhadores a despedir”.
A lei impõe, nesta fase de negociação, a coadjuvação do serviço competente do ministério
responsável pela área laboral no controlo da legalidade e na promoção do acordo entre as
partes, tendo em conta o seu interesse (artigo 362º, nº1). Contudo, a esta entidade está
vedada uma intervenção decisiva, preponderante e, mais do que isso, vinculativa no
resultado. Tudo se passa entre a comissão representativa dos trabalhadores (qual seja) e a
entidade empregadora, cabendo a estas partes a negociação dos termos do acordo sendo
este possível, já que, por sempre, será na sua esfera jurídica (naturalmente, dos
trabalhadores, ainda que em sua representação atue um órgão) que se irão repercutir os
efeitos daquele.
Não havendo comissão representativa dos trabalhadores, esta fase de negociação e de
informações não pode existir, pelo que, nesse cenário, deve, desde logo, o empregador
comunicar a sua intenção a cada um dos trabalhadores (artigo 360º, nº3), podendo
proceder de imediato à elaboração da decisão final nos 15 dias posteriores à data da
comunicação inicial (artigo 363º, nº1).
Alcançado ou não o logro a que se vota a fase de negociação, deve o empregador dar conta
da sua decisão, comunicando-a a cada um dos trabalhadores afetados, no prazo de 15 dias
a contar nos termos do artigo 363º, nº1. Esta comunicação deverá ser feita, no mínimo, com
uma antecedência de 15 dias e, no máximo, de 75 dias, consoante a antiguidade do
trabalhador, relativamente à data em que pretenda fazer cessar o contrato de trabalho.
(data essa que, em todo o caso, deve constar da comunicação escrita da decisão).
O desrespeito pelos prazos legais de aviso prévio, prejudica a cessação do vínculo na data
pretendida pelo empregador. Dita o nº4 que, nesse caso, o contrato só cessa findo o período
de aviso prévio legalmente imposto, estando o empregador obrigado a pagar a retribuição
correspondente a esse lapso temporal. Ademais, durante este período cada trabalhador
142
Mais uma vez se encontra patente a natureza de ultima ratio do despedimento.
143
No entanto, a aplicação das medidas a que se referem as alíneas c) e d) do nº1 do artigo 361º
depende do acordo do trabalhador.
144
In ob. cit., 775.
110
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tem direito a um crédito de horas correspondente a dois dias de trabalho por semana (artigo
364º, nº1)145, podendo, inclusive, fazer cessar o vínculo laboral mediante denúncia com a
antecedência mínima de três dias úteis, sem perda do direito à retribuição (artigo 365º).
No respeitante à compensação (diz-se compensação porque, à partida, esta deriva de uma
cessação lícita do contrato de trabalho pelo empregador), o trabalhador tem direito a uma
prestação pecuniária que corresponda a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por
cada ano completo de antiguidade, cujo cálculo deve ser feito com respeito pelo nº2 (do
artigo 366º). Mais uma vez, o pagamento desta compensação até ao final do aviso prévio
(bem como o dos créditos vencidos e os que se tornem exigíveis em virtude da cessação do
vínculo) é conditio da licitude do despedimento – artigo 383º, alínea c).
Digno de nota afigura-se o conteúdo que consta do artigo 366º, nº4. É que resulta
inequivocamente deste preceito que se presume que o trabalhador aceita o despedimento
quando recebe do empregador a totalidade da compensação. Ora, trata-se de uma
presunção relativa – iuris tantum – que, por isso, pode ser ilidida (nos termos gerais)
mediante prova em contrário, admitindo-o o nº5. Mas o conteúdo deste último preceito
reduz-se, na verdade, às hipóteses em que o trabalhador, não aceitando o despedimento,
mas tendo aceitado a compensação na sua totalidade, queira intentar uma ação de
impugnação fundada na ilicitude daquele. Pois que, só entregando ou pondo à disposição
do empregador a totalidade da compensação, é que este poderá impugnar judicialmente o
despedimento. Ora, na linha de António José Moreira e de Monteiro Fernandes146, parece-
nos que esta norma não é, de todo, feliz; atento à situação de afogo económico em que o
trabalhador se encontre após o despedimento, pode ver-se na necessidade de gastar o
montante que lhe foi atribuído a título compensatório. Tal irá constituí-lo na impossibilidade
de restituir a compensação o que, por conseguinte, impossibilita a instauração de ação de
impugnação de despedimento, se só mais tarde este der conta da ilicitude de que se revestiu
aquele. Pois, bem, assim sendo, outro cenário não se poderá vislumbrar que não seja o da
prevalência da ilicitude que, em certa medida, acaba por ser patrocinado pelo vertido no
nº4 e nº5 do artigo 366º.
Também o despedimento coletivo pode ser ilícito, bastando que (não obstante os
fundamentos gerais dispostos no artigo 381º) se verifique, concretamente, um dos
fundamentos que se encontram especificamente previstos para esta modalidade no artigo
383º.
A ilicitude do despedimento coletivo só pode ser apreciada por tribunal judicial (artigo
388º), tendo o interessado seis meses a contar da data da cessação do contrato para propor
a respetiva ação.
Em todo o caso, também aqui e enquanto não seja tomada uma decisão sobre a licitude ou
ilicitude, o trabalhador pode requerer a suspensão preventiva do despedimento, devendo o
tribunal julgar procedente a sua pretensão, caso se encontrem reunidos os pressupostos
atinentes à admissibilidade das providências cautelares (vertidos no CPC) e, também, de
145
A ratio deste direito é conceder a possibilidade de, durante dois dias por semana, o trabalhador ir
procurar um novo emprego, sem que isso implique a perda da retribuição.
146
Ob cit., 781.
111
Direito do Trabalho
alguns que possam ser exigidos pelo Código de Processo de Trabalho – compreendidos entre
os artigos 34º a 40º.
Conhecido de todos nós é o direito de greve que, de certa forma, foi objeto de estudo –
ainda que abordado superficialmente – na unidade curricular de Direitos Fundamentais. Na
verdade, com assento constitucional no artigo 57º CRP que, sistematicamente se situa
abrangido pelo Título II da lei fundamental, este direito consubstancia um dos direitos,
liberdades e garantias, em específico dos trabalhadores.
Poder-se-ia equacionar erradamente, mas partindo do pressuposto que a greve não é
compatível com a prestação da atividade do trabalhador, que o seu exercício poderia
legitimar o empregador a fazer cessar os contratos de trabalho dos trabalhadores que a ela
adiram. Em princípio, o empregador não tem esse direito, consagrando a legislação laboral,
no artigo 536º, nº1 que a greve implica apenas a suspensão do vínculo laboral, com o que
isso importa algumas consequências dignas de nota, das quais adiante nos ocuparemos.
Por ora, cumpre-nos evidenciar e dissecar o substrato e o filão axiológico, a razão de ser do
direito de greve, para depois, oportunamente, nos ocuparmos das consequências/efeitos
que do exercício deste direito advêm.
O direito de greve (ou à greve) não se traduz numa mera liberdade, mas num verdadeiro
direito, na medida em que a abstenção de trabalho por parte do trabalhador pressuposto
daquela, prevalece sobre os interesses do empregador e, por isso, por ele tem de ser
suportada. Contudo, é preciso entendermos este desenho em termos restritivos, uma vez
que nem toda a paralisação de trabalho se afigura lícita; aliás, só será lícita a paralisação
resultante do direito de greve que se funde na reivindicação de pretensões (regalias,
direitos) que, direta ou indiretamente, se repercutam na relação jurídico-laboral
estabelecida pelo respetivo trabalhador com o seu empregador.
Em causa está, então, um direito de todos os trabalhadores, o que resulta do artigo 530º,
nº1, mas que também já resultava da concatenação/articulação do artigo 57º CRP com o
artigo 13º CRP – Princípio da Igualdade. Ademais, o nº2 do preceito constitucional referido
retira ao legislador a possibilidade de vir limitar o exercício deste direito por parte dos
trabalhadores.
A titularidade deste direito pertence a cada trabalhador individualmente considerado,
ainda que a greve se apresente como um direito de exercício coletivo, implicando a
participação de um grupo de trabalhadores, em princípio, pertencentes à mesma classe
profissional.
A greve pressupõe – já o dissemos – a abstenção da prestação da atividade contratada pelo
trabalhador. Mas não se trata de uma qualquer abstenção, e com isto queremos significar
que esta deve ser total e absoluta, ou seja, o trabalhador recusa pura e simplesmente a
prestar a atividade prometida para que, dessa forma, através de uma espécie de
reclamação, consiga – coletivamente, conjuntamente com outros trabalhadores – alcançar
o logro a que se vota a greve à qual este decidiu aderir. Por isso, excluídos deste escopo se
112
Direito do Trabalho
113
Direito do Trabalho
aviso. Pelo contrário, cessando a greve em momento anterior ao estipulado, não existe
nenhuma outra formalidade à qual se deva dar provimento, uma vez que o término precoce
da greve consubstancia um menor prejuízo para os seus destinatários, quais sejam: a
entidade empregadora e os utentes de bens e serviços fornecidos pela empresa.
Durante a greve, o empregador não pode substituir os grevistas por pessoas que, à data do
aviso prévio, não trabalhavam no respetivo estabelecimento ou serviço, nem pode, desde
dessa data, admitir trabalhadores para aquele fim (artigo 535º). Desde logo, exclui-se o
recrutamento de novos trabalhadores e, atento ao disposto no nº2 vedada também se
encontra a possibilidade de se recorrer a uma empresa para a prossecução da tarefa a que
está afeto um trabalhador grevista, salvo se for necessário para assegurar os serviços
mínimos. Em regra, é inadmissível a substituição dos trabalhadores que hajam aderido à
greve147.
Com o pré-aviso, qualquer trabalhador que se possa considerar abrangido pelo âmbito da
greve pode, por via da adesão, exercer esse seu direito.
A adesão à greve é uma faculdade atribuída a cada trabalhador individualmente
considerado de nela participar. In extremis, poderá suceder que uma greve seja convocada
e porque nenhum trabalhador quis aderir, não chega a consumar-se. Daí que, ainda que não
se possa negar o seu caráter coletivo, esta revela, por certo, uma feição individualista, uma
vez que não se efetivará se os trabalhadores, ao abrigo da sua capacidade de
autodeterminação, não aderirem a ela.
Ora, questão que deve ser agora abordada é a de saber como pode o empregador ter
conhecimento da adesão à greve por partes dos seus trabalhadores. Neste contexto, temos
de distinguir dois grupos: os trabalhadores filiados no sindicato declarante da paralisação –
quanto a estes, parece que a mera abstenção da prestação de trabalho é bastante para que
o empregador reconheça a sua adesão; e os trabalhadores membros de sindicatos não
declarantes de greve e os trabalhadores não sindicalizados – quanto a estes, impõe-se-lhes
que demonstrem a sua vontade em aderir à greve e, assim sendo, que, por meio de
comunicação ao empregador, lhe levem o conhecimento da sua pretensão.
Precisamente para evitar que uma greve declarada não chegue a efetivar-se por falta de
adesão, a lei veio admitir os piquetes de greve (artigo 533º). De modo a persuadir os
trabalhadores a aderirem à greve, podem as associações sindicais ou a comissão de greve
desenvolver atividades que, em todo o caso, se traduzam em meios pacíficos. Donde, todos
os meios não pacíficos não adotados nesta atividade de persuasão se consideram excluídos
do escopo desta norma, sendo ilícitos; é que, além do mais, deve sempre respeitar-se a
liberdade de trabalho dos não aderentes.
O termo da greve opera, em conformidade com o preceituado pelo artigo 539º, por acordo
das partes, por deliberação de entidade que a tenha declarado ou no final do período para
o qual foi declarada (o que contende, neste último caso, com a aposição de uma data de
termo no aviso prévio que, sabemos nós, não é obrigatória). Enquanto a greve não terminar,
os trabalhadores estarão abrangidos pelo regime da suspensão dos contratos de trabalho
147
Como ensina Monteiro Fernandes, A lei pretende assim obviar ao “esvaziamento” do direito de greve
por expedientes destinados a manter a laboração sem significativo acréscimo de encargos – in ob. cit.,
1066.
114
Direito do Trabalho
(artigo 536º, nº1), mas se esta terminar e os trabalhadores continuarem sem prestar a
atividade contratada, não comparecendo no local de trabalho, deixarão de estar protegidos
pelo direito de greve, aplicando-se o regime das faltas injustificadas (o que pode
desencadear uma atuação disciplinar que, inclusive, pode determinar o despedimento por
facto imputável ao trabalhador – artigo 351º, nº2, alínea g) e artigo 541º).
Um dos principais – se não o principal – efeito da greve é, sem dúvida, a suspensão dos
contratos de trabalho dos trabalhadores aderentes (artigo 536º). Contudo, não se trata de
uma aplicação no todo idêntica do regime vertido nos artigos 294º e seguintes; desde logo
porque a suspensão por facto respeitante ao trabalhador (artigo 296º) impõe que a causa
em apreço não seja imputável ao trabalhador, o que no contexto da adesão à greve não
sucede. É que o trabalhador recusa prestar o trabalho e adere à greve, o que consubstancia
um ato volitivo da sua parte, o que lhe é imputável. Por outro lado, também a suspensão do
contrato de trabalho tal como é considerada nos seus termos gerais pressupõe que a
atividade não seja prestada durante um hiato temporal mais ou menos prolongado, o que,
em caso de greve, dificilmente ocorrerá – esta, em regra, estender-se-á durante umas horas
ou dias.
A suspensão do contrato implica, tal como é consagrada no artigo 536º, a suspensão da
retribuição e dos deveres de assiduidade e de subordinação (cf. artigo 128º, nº1, alínea b)
e nº2). Contudo, mantêm-se outros direitos, deveres e garantias, nomeadamente, os que
não pressuponham a efetiva prestação do trabalho – referimo-nos, porque se reveste de
maior relevância, ao dever de lealdade (cf. artigo 128º, nº1, alínea f) CT) que, sendo
desrespeitado, poderá legitimar o empregador a atuar disciplinarmente (poder disciplinar).
O nº3 do artigo 536º vem, por seu turno, estabelecer que, durante a suspensão, se continua
a contar a antiguidade – o que é relevante, mormente no cálculo da compensação ou
indemnização devida em caso de despedimento.
Atendendo ao disposto no artigo 540º é proibido ao empregador praticar atos que
impliquem a coação, prejuízo ou discriminação de trabalhador por motivo de adesão ou não
a greve. Pretendeu o legislador evitar futuras retaliações por parte da entidade
empregadora, considerando nulos todos os atos que se subsumam na previsão normativa
deste preceito.
Adiantámos que a ilicitude da greve pode, em situações contadas, resultar das suas
motivações, já que na maioria das vezes este juízo deriva da violação de formalidades
procedimentais a adotar para o adequado exercício do direito à greve. Afiançamos, pois,
que poderão determinar a ilicitude da greve, por exemplo, a utilização de meios violentos
em piquetes, não coadunáveis com os meios pacíficos a que se refere o artigo 533º; o
desrespeito pelo prazo de pré aviso que a lei impõe; a declaração da greve resulte de quem
não tem legitimidade para tal nos termos do artigo 531º.
Pois, bem, ao trabalhador que aderir a greve ilícita é aplicável o regime das faltas
injustificadas (cf. artigo 256º)148, podendo inclusivamente ter de indemnizar o empregador
pelos prejuízos que lhe possa ter causado a sua ausência (artigo 541º).
148
Deve, em todo o caso, provar o empregador que os trabalhadores conheciam da ilicitude da greve.
115
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149
“Limites externos” do direito de greve.
150
O que sendo desrespeitado poderá inclusive determinar a ilicitude da greve.
116
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151
Ob. cit., 1092-1093.
117
Direito do Trabalho
Índice
Capítulo I – Introdução ................................................................................................................. 2
Subcapítulo I – Funções do Direito do Trabalho.......................................................................... 3
Capítulo II – Formação e Evolução do Direito do Trabalho ......................................................... 5
Subcapítulo I – A Evolução do Direito do Trabalho em Portugal ................................................ 8
Capítulo III – “Características” do Direito do Trabalho ............................................................... 9
Subcapítulo I – Direito do Trabalho Concertado ou Pluralmente Pactuado .............................. 9
Subcapítulo II – Laboralização da Constituição ou Constituição do Direito do Trabalho ........ 10
Subcapítulo III – Desadministrativização e Desaplicação do Direito do Trabalho ................... 12
Capítulo IV – As Fontes ............................................................................................................... 13
Subcapítulo I – A Hierarquia das Fontes .................................................................................... 18
Capítulo V – O Contrato de Trabalho ......................................................................................... 19
Subcapítulo I – Elementos do Contrato de Trabalho................................................................. 19
Subcapítulo II – Diferenciação do Contrato de Trabalho .......................................................... 21
Subcapítulo III – As Presunções de Existência de um Contrato de Trabalho............................ 22
Subcapítulo IV – As “Situações Equiparadas” ao Trabalho Juridicamente Subordinado ......... 23
Subcapítulo V – Caracterização Jurídica do Contrato de Trabalho ........................................... 24
Subcapítulo VI – As Cláusulas Acessórias .................................................................................. 24
Subcapítulo VII – A Invalidade do Contrato de Trabalho .......................................................... 25
Capítulo VI – Contratos de Trabalho “Atípicos” ........................................................................ 26
Subcapítulo I – Contrato a Termo (Resolutivo) ......................................................................... 26
Subcapítulo II – O Trabalho Temporário.................................................................................... 34
Subcapítulo III – Contrato de Trabalho em Comissão de Serviço ............................................. 40
Subcapítulo IV – Contrato de Trabalho Intermitente................................................................ 43
Subcapítulo V – Contrato de Trabalho a Tempo Parcial ........................................................... 44
Subcapítulo VI – Contrato de Trabalho com Pluralidade de Trabalhadores ............................ 46
Subcapítulo VII – Contrato de Trabalho Subordinado à Distância (Teletrabalho) ................... 47
Capítulo VII – Suspensão do Contrato de Trabalho e a Redução de Atividade ........................ 50
Subcapítulo I – Suspensão do Contrato de Trabalho por Causa Ligada ao Trabalhador ......... 52
Subcapítulo II – Suspensão do Contrato de Trabalho por Facto Ligado à Empresa ................. 53
Subcapítulo III – Suspensão de Contratos de Trabalho em Situações de Crise Empresarial (lay
off) ............................................................................................................................................... 55
Subcapítulo IV – A Redução da Atividade.................................................................................. 59
Subcapítulo V – Pré-Reforma ..................................................................................................... 60
Capítulo VIII – Formação do Contrato de Trabalho ................................................................... 61
Subcapítulo I – Formas de Celebração do Contrato de Trabalho ............................................. 64
118
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