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“Contrato trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição,
a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direcção
desta”, lê-se no artigo 1152º do Código Civil. E o art. 1153º do mesmo diploma legal
acrescenta: “o contrato de trabalho está sujeito a de legislação especial”.
As duas normas do Código Civil acima transcritas significam, basicamente, que:
Capítulo II
Noção, Objecto e Características Gerais do Direito do
Trabalho
Imaginemos que uma CCT negoceia um certo assunto (por exemplo, o subsídio
de natal, artigo 263º do Código do Trabalho) e consegue aprovar o que pretende negociar.
O subsídio de natal é disciplinado pela lei de uma forma e por esta CCT de outra. O que
prevalece?
Estamos perante duas normas que concorrem entre si. Em regra, prevalece a que
for hierarquicamente superior. Mas no Direito do Trabalho não funciona assim. Aqui,
tradicionalmente, dizia-se que prevaleceria não a norma hierarquicamente superior, mas
sim a fonte que fosse mais favorável ao trabalhador- Princípio do favor laboratoris.
Hoje em dia, isto tem sido eliminado. Há uma ideia de uma certa flexibilização do DT.
Capítulo IV
Contrato de Trabalho: Noção e Elementos Essenciais
Capítulo V
Algumas Características do Contrato de Trabalho
Capítulo VI
Contrato de Trabalho
Versus Contrato de Prestação de Serviços
A) Problema de Qualificação:
Reside na dificuldade em se saber se, num caso concreto, nos encontramos perante
um contrato de trabalho ou um contrato de prestação de serviço – interessa qualificar o
contrato, conhecendo os elementos contratuais que deve preencher e reconduzi-lo a um
tipo para saber que regime jurídico aplicar.
Capítulo VII
Contratos de Trabalho com Regime Especial
Matéria Facultativa
7.1 Alguns exemplos
Prima facie, poder-se-ia supor que, a partir do momento em que fosse celebrado
um qualquer contrato de trabalho, nos moldes do art. 11º, o mesmo seria regulado pelo
Código do Trabalho. Mas não é assim, como logo se retira do art. 9º deste diploma: “Ao
contrato de trabalho com regime especial aplicam-se as regras gerais deste Código que
sejam compatíveis com a sua especificidade”. Existem, pois, contratos de trabalho com
“regime especial”. É que como vimos, a diversidade normativa constitui hoje, uma das
Aqui temos exemplos de contratos de trabalho “com regime especial”, dado que
o chamado “regime geral”, constante do CT, não se mostra adequado às peculiaridades
da relação de trabalho doméstico, desportivo, etc. Assim sendo, em tudo o não previsto e
tal regime especial, cumpre recorrer, em princípio, ao regime geral enquanto regime
subsidiário. Devemos porém, actuar com bastante cautela neste domínio, pois pode haver
disposições do CT que não se mostrem compatíveis com a especificidade do contrato de
trabalho especial em questão. Ora, como decorre do artigo 9º do CT, só se as normas
codicísticas obtiveram aprovação em tal teste de compatibilidade é que as mesmas serão
subsidiariamente aplicáveis a esse contrato de trabalho com regime especial.
Relação com vocação para perdurar no tempo, relação que preenche, por
completo, a “vida laboral” do cidadão-trabalhador, relação bilateral em que o
trabalhador/homem presta a respectiva actividade em prol de um único sujeito bem
definido, que o remunera e que conforma a sua conduta emitindo as correspondentes
ordens e instruções, relação que se desenvolve num quadro empresarial (fábrica,
estabelecimento comercia, etc.) – eis algumas das características da chamada “relação
laboral típica” ou relação laboral standard. Com efeito, o emprego normal ou típico, é um
emprego permanente, de duração indefinida ou indeterminada, é um emprego em que o
trabalhador labora para quem o retribui, é um emprego a tempo inteiro ou completo, é um
emprego que tem a empresa por palco de execução.
Vivemos numa época de grande dinamismo e numa sociedade altamente volátil,
marcada pelo risco, pela incerteza e pela instabilidade. Sendo cada vez mais numerosos
e significativos os desvios em relação àquela relação laboral standard. Ao lado dos
contratos de duração indeterminada vão crescendo os contratos de trabalho a prazo
(contratos sujeitos a um termo resolutivo), expressão da precariedade laboral. O
“empregador único” parece, amiúde, cindir-se em dois, em virtude da progressiva
expansão da actividade das chamadas “empresas em trabalho temporário”. As figuras do
emprego em part-time e do trabalho intermitente vão-se também disseminando.
Fenómenos como o velho “trabalho no domicílio” ganham nova vitalidade e o jovem
teletrabalho subordinado vai fazendo curso, quiçá lenta mas, decerto, inexoravelmente.
Não devemos, porém, confundir estas diferentes modalidades, e suas
especificidades, coma figura dos contratos de trabalho com regime especial (art. 9.º do
CT), aos quais o Código do Trabalho não se aplica, antes os diplomas especiais.
“Além das situações previstas no n.º 1, pode ser celebrado contrato de trabalho a
termo certo para:
a) Lançamento de nova atividade de duração incerta, bem como início de
laboração de empresa ou de estabelecimento pertencente a empresa com
menos de 750 trabalhadores;
b) Contratação de trabalhador à procura de primeiro emprego, em situação de
desemprego de longa duração ou noutra prevista em legislação especial de
política de emprego.”
Ou seja, para além das situações clássicas, em que o contrato de trabalho surge
como instrumento privilegiado de satisfação de necessidades temporárias, a nossa ordem
jurídica perspectiva esta modalidade contratual como um instrumento de dinamização do
investimento empresarial (al. a)) e como uma medida de fomento do emprego (al. b)), em
ambos os casos dando luz verde para se recorrer ao contrato a termo tendo em vista a
satisfação de necessidades permanentes de trabalho.
A verdade é que, e ao invés do que sugere o n.º 1 do 140.º, o contrato a termo pode
ser celebrado para satisfazer necessidades permanentes das empresas. A uma necessidade
permanente de mão-de-obra, pois, corresponde, licitamente, um contrato a prazo. O juízo
sobre a bondade intrínseca do art. 140.º, n.º 4, do CT arrisca-se assim, a ser muito distinto
de autor para autor.
Independentemente da opinião sobre esta norma, o Doutor Leal Amado diz que é
indiscutível que este artigo 140.º do CT ilustra, de forma cabal, as tensões que
actualmente assolam o Direito do Trabalho. Um direito em que a lógica “social”, clássica,
que pauta os dois primeiros números do preceito – o emprego deve ser estável –, se
B) Requisitos Formais
II. Segundo dispõe o n.º 2 do art. 148.º, o contrato só poderá ser celebrado
por prazo inferior a 6 meses nas situações previstas nas als. a) a g) do n.º
2 do art. 140.º, caso em que a respectiva duração não poderá ser inferior à
prevista para a tarefa ou serviço a realizar. Logo, se o fundamento da
contratação a termo certo for o da al. h) do n.º 2 do art. 140.º, ou se for o
n.º 4 do mesmo preceito, ou ainda se o contrato se basear, tão-só, na
cláusula geral do n.º 1, em todos estes casos encontrará aplicação limite
mínimo de 6 meses de duração, cfr. o art. 148.º, n.º 2. E sendo esta norma
violada, o contrato considerar-se-á celebrado pelo prazo de 6 meses,
Como vimos, o contrato de trabalho a termo institui uma relação juslaboral atípica
devido, justamente à circunstância de essa relação ter, à partida, os dias contados.
Aquando da celebração do contrato, as partes estipulam que o mesmo se extinguirá numa
certa data (termo certo) ou quando se vier a verificar um determinado evento (termo
incerto). É isto que o afasta do contrato sem termo, o contrato standard.
O chamado trabalho temporário analisa-se também num esquema contratual
atípico, mas, dir-se-ia, aqui a atipicidade e o carácter desviante revelam-se de modo mais
ostensivo. É que, com ou sem prazo, a relação laboral tradicional estabelece-se entre dois
sujeitos bem definidos: o trabalhador e o empregador. Ora, no trabalho temporário as
coisas passam-se de outra forma, visto que aqui se assiste a uma relação protagonizada
por três sujeitos. Aqui temos uma dialética mais complexa, entre o trabalhador
temporário, a empresa temporária e o utilizador, dando azo, portanto, a um modelo
tripartido de vínculo laboral que, enquanto tal, foge ao paradigma clássico da relação de
trabalho.
Em certo sentido, o trabalhador temporário arrisca-se a “servir dois amos”, a
empresa que o contrata (mas que não o emprega) e a empresa que o emprega (mas que
não o contratou). Com efeito, este esquema contratual atípico em que se traduz este
fenómeno liga três sujeitos: (o trabalhador temporário, a empresa de trabalho temporário
e a empresa utilizadora) através de dois negócios jurídicos diferentes:
Trata-se de uma modalidade contratual que poderá ser utilizada em empresas que
exerçam “actividade cm descontinuidade ou intensidade variável” e que se caracteriza
pela circunstância de a prestação de trabalho ser “intercalada por um ou mais períodos de
inactividade” (art. 157.º, n.º 1). Trata-se de uma nova modalidade contratual
particularmente afeiçoada à satisfação de certo tipo de necessidades empresariais,
traduzindo-se numa das mais flexíveis formas de emprego conhecidas pelo ordenamento
jus-laboral. Trata-se afinal, de adaptar a prestação de trabalho, de forma elástica, às
variadas e mutáveis exigências produtivas da empresa moderna, as quais, por vezes,
implicam que a períodos de prestação de trabalho se sucedam períodos de inactividade
laboral.
Tendo em conta o disposto nos arts. 158.º a 160.º do Código do Trabalho, afigura-
se que o contrato de trabalho intermitente é genus composto por duas espécies. Em
qualquer espécie de contrato de trabalho intermitente este deverá conter a indicação do
número anual de horas de trabalho ou do número anual de dias de trabalho (art. 158.º,
n.º1, al. b)), o que significa que o volume anual de trabalho, o quantum da prestação
laboral, terá de ser programado pelos sujeitos. Casos haverá, no entanto, em que também
o quando da prestação será previamente definido, isto é, em que as partes estabelecem no
contrato o início e o termo de cada período de trabalho (art. 159.º, n.º1, 1.ª parte), ao passo
que noutros já o quando da prestação não é antecipadamente definido, obrigando-se o
trabalhador a responder às solicitações da entidade empregadora (art. 159.º n.º 1, in fine).
Naqueles casos, o ritmo da intermitência é previsível e está programado no contrato;
nestes casos, pelo contrário, o ritmo da intermitência será imprevisível, pelo que o quando
da prestação dependerá da pertinente convocatória a efectuar pelo empregador.
Assim sendo, poder-se-á concluir que o trabalho intermitente previsto na nossa lei
se desdobra em duas submodalidades: o trabalho alternado e o trabalho à chamada.
Se, como abamos de ver, o contrato de trabalho intermitente não pode ser um
contrato a termo, cabe perguntar se o trabalho intermitente não poderá resultar da
celebração de sucessivos contratos a termo. Basta pensar nas actividades sazonais, as
quais tanto legitimarão a celebração de um contrato a termo (art. 140.º, n.º 2, al. g)) como
de um contrato intermitente (art. 157.º, n.º 1). Com efeito, há actividades sazonais que se
reiteram periodicamente, com uma cadência regular, traduzindo-se em necessidades
empresariais permanentes, conquanto cíclicas. O trabalho sazonal já chegou a ser definido
como “trabalho que é normalmente chamado a repetir-se em cada ano, em data mais ou
menos fixa, em função do ritmo das estações ou dos modos de vida colectivos e que é
efectuado por conta de uma empresa cuja actividade obedece às mesmas variações”.
Ora, assim sendo, parece pertinente perguntar: a partir do momento em que a lei
oferece às partes a figura do contrato de trabalho intermitente, será legítimo, ainda
assim, recorrer ao contrato a termo nestas hipóteses? Será que a emergência desta nova
modalidade contratual não veio retirar algum do espaço de legitimação antes reconhecido
ao contrato a termo? Ou trata-se aqui, apenas, de criar mais um “produto jurídico-laboral”,
A comissão de serviço consiste numa cláusula acessória que poderá ser aposta ao
contrato de trabalho quando em causa esteja um certo tipo de funções a desempenhar pelo
trabalhador, caracterizadas, todas elas, por uma especial relação de confiança
interpessoal.
Oriunda do Direito Administrativo, a figura da comissão de serviço laboral sugere,
desde logo, a ideia de preenchimento transitório de um lugar (note-se: de preenchimento
transitório de um lugar permanente), bem como a de uma deslocação funcional do
trabalhador. O traço mais marcante do respectivo regime jurídico consiste, entretanto, na
circunstância de a comissão de serviço poder cessar, a todo o tempo, por simples
manifestação de vontade de qualquer um dos sujeitos, inclusive do empregador – traço
que, como é evidente, permite rodear o exercício dos correspondentes cargos de um
acentuado grau de flexibilidade.
Que cargos poderão ser exercidos em regime de comissão de serviço? Para que
tipo de funções admite a lei a utilização desta modalidade contratual? Responde o art.
161.º do CT, prevendo três grupos de hipóteses: os cargos de direcção, funções de
secretariado, ou ainda, se tal for previsto por IRCT, outras funções cuja natureza suponha
também especial relação de confiança em relação a titular daqueles cargos e funções de
8.6 O teletrabalho
Capítulo IX
A formação do Contrato de Trabalho
Em princípio, “só pode ser admitido a prestar trabalho o menor que tenha
completado a idade mínima de admissão, tenha concluído a escolaridade
obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de educação e
disponha de capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho.” (art.
68.º, n.º 1, do CT). Aliás, a estreita ligação entre a idade mínima de amissão para
prestar trabalho e o cumprimento da escolaridade obrigatória constitui um
imperativo lógico e decorre diretamente da CRP, nos termos da qual “é proibido,
nos termos da lei, o trabalho de menores em idade escolar” (art. 69.º, n.º 3, da
CRP);
Regra geral, “a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 anos”
(art. 68.º, n.º 2);
Todavia, “o menor com idade inferior a 16 anos que tenha concluído a
escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário
de educação pode prestar trabalhos leves que consistam em tarefas simples e
definidas que, pela sua natureza, pelos esforços físicos ou mentais exigidos ou
pelas condições específicas em que são realizadas, não sejam suscetíveis de o
prejudicar no que respeita à integridade física, segurança e saúde, assiduidade
escolar, participação em programas de orientação ou de formação, capacidade
para beneficiar da instrução ministrada, ou ainda ao seu desenvolvimento físico,
psíquico, moral, intelectual e cultural” (art. 68.º,n.º 3);
Em sentido inverso, “os trabalhos que, pela sua natureza ou pelas condições em
que são prestados, sejam prejudiciais ao desenvolvimento físico, psíquico e moral
dos menores são proibidos ou condicionados por legislação específica” (art. 72.º,
n.º 2).
Capítulo X
Processo de Formação do Contrato
Capítulo XI
Formalismo negocial: o Princípio
da Consensualidade e as suas excepções
Pergunte-se: quando a lei exige a forma escrita para determinado contrato de trabalho,
será que a inobservância daquela implica, em princípio, a nulidade do contrato, cfr. o art. 220.º
do CC? Não, nem sempre. Com efeito, boa parte das situações em que a lei do trabalho exige a
redução do contrato a forma escrita, reconduz-se às chamadas situações dos “contratos de trabalho
atípicos”. Destarte, compreende-se que, não raro, a inobservância da forma escrita determine a
recondução do contrato ao modelo standard: assim, o contrato a termo não reduzido a escrito
considera-se sem termo; não se considera sujeito ao regime de comissão de serviço o acordo não
escrito; o contrato a tempo parcial passa a tempo completo; etc. Casos há, é certo, em que a
inobservância da forma escrita determina a invalidade do contrato de trabalho (pense-se, p. ex.,
no caso dos praticantes desportivos profissionais), mas bem se pode dizer que a regra, no campo
laboral, é outra: recondução da figura em causa à relação de trabalho paradigmática.
Em suma, seja quanto aos requisitos formais estabelecidos, seja quanto à inobservância
da forma legal, o Direito do Trabalho procura dar expressa a um certo princípio de protecção do
trabalhador nestas matérias: por um lado, porque, ao consagrar a regra da consensualidade, a lei
facilita a válida constituição da relação laboral; por outro lado, porque, em regra, a inobservância
da forma requerida para certas declarações negociais não implica a invalidade do contrato, mas
sim a consideração deste como um contrato de trabalho standard – terminando com a
precariedade de muitos dos contratos aos quais esta regra se aplica.
Registe-se ainda que, em ordem a suprir as naturais “insuficiências informativas”
decorrentes do princípio da liberdade de forma, o CT obriga o empregador a prestar ao
trabalhador, por escrito, um conjunto de informações relativas ao contrato de trabalho, nos 60 dias
subsequentes ao início da execução do contrato (arts. 106.º e 107.º). Mas é claro, a violação desta
norma não se repercute na validade do contrato, constitui uma mera contra-ordenação laboral.
Capítulo XIII
O Período Experimental
13.1. Regime Jurídico
O período experimental “corresponde ao tempo inicial de execução do contrato de
trabalho, durante o qual as partes apreciam o interesse na sua manutenção”, conforme
dispõe o art. 111.º, n.º 1, do CT. Trata-se da primeira fase do ciclo vital do contrato, fase
em que o vínculo jurídico-laboral revela ainda uma grande fragilidade, apresentado
escassa consistência e sendo facilmente dissolúvel por qualquer das partes.
O período experimental funciona, na verdade, como uma figura cautelar,
possibilitando uma certificação mútua: o empregador certifica-se de que o trabalhador
possui as aptidões laborais necessárias para o cabal desempenho das funções ajustadas; o
trabalhador certifica-se de que as condições de realização da sua actividade profissional
são as esperadas. Compreende-se por isso que, em princípio, durante o período
experimental qualquer das partes possa denunciar o contrato sem aviso prévio, e sem
necessidade de invocação de justa causa, não havendo lugar a qualquer indemnização (art.
114.º, n.º 1, do CT).
É certo que o n.º 2 do art. 114.º obriga o empregador a conceder ao trabalhador
um aviso prévio de 7 dias, caso decida denunciar o contrato depois de o período
experimental já ter durado mais de 60 dias. E, no caso de tal período já ter durado mais
de 120 dias, o aviso prévio deverá ser 15 dias (n.º 3). Convém notar, em todo o caso, que
É sabido que a relação laboral se analisa numa relação de poder, na qual o trabalho
surge como sujeito juridicamente subordinado e adstrito, entre outros, ao dever de
obediência relativamente às ordens e instruções do empregador. Mas convém reconhecer
que o Direito do Trabalho não tem concedido grande importância à figura do empregador;
este tem sido visto como o outro, a contraparte do trabalhador no contrato, credor da
actividade deste e devedor da remuneração.
É clara a posição de domínio ocupada pelo empregador nesta relação
decompondo-se na seguinte (e tradicional) tríade de poderes patronais: poder directivo,
poder regulamentar e poder disciplinar.
Assim é que, de acordo com o art. 97.º do CT, “compete ao empregador
estabelecer os termos em que o trabalho deve ser prestado, dentro dos limites decorrentes
do contrato e das normas que o regem”. Nesta matéria, o empregador goza, pois, de uma
espécie de poder geral de comando, cabendo no âmbito do poder de direção a faculdade
de determinar a concreta função a exercer pelo trabalhador, o poder de conformar a
prestação laboral e ainda poderes de vigilância e de controlo sobre a actividade
desenvolvida pelo trabalhador em sede de execução contratual.
Por seu turno, o art. 99.º, n.º1 do CT determina que “o empregador pode elaborar
regulamento interno de empresa sobre a organização e disciplina do trabalho”. Trata-se
de mais uma manifestação da posição de domínio ocupada pelo empregador, a faculdade
de fixar, por escrito, as regras sobre a organização e a disciplina do trabalho, no âmbito
da empresa. Ainda que se esteja perante um poder do empregador, a lei procura
“democratizar” o exercício desse poder, reconhecendo aos representantes dos
trabalhadores um direito de audição aquando da elaboração do regulamento interno (n.º
2 do art. 99.º), preocupando-se ainda o legislador com a garantia de uma adequada
publicitação do regulamento interno, de modo a possibilitar o seu pleno conhecimento, a
1
Atente-se que o poder disciplinar pode ser exercido por superior hierárquico do trabalhador, nos termos
estabelecidos por aquele (art. 329.º/4).
Capítulo XVI
O quid da prestação de trabalho: fazer o quê?
16.1 O objeto da prestação de trabalho: a categoria profissional e as funções
desempenhadas pelo trabalhador.
“Cabe às partes determinar por acordo a actividade para que o trabalhador é
contratado”, lê-se no artigo 115.º/1 do CT. Eis o chamado princípio da contratualidade
do objecto. Como foi dito, aquando da celebração do contrato de trabalho as partes devem
acordar num conjunto de tarefas ou serviços concretamente definidos ou
individualizáveis, sob pena de eventual nulidade do contrato por indeterminabilidade do
objecto (art. 280.º do CC). Normalmente, o trabalhador é contratado para exercer um tipo
genérico de actividade, a que corresponde determinada categoria profissional ou
normativa, competindo à convenção coletiva (ou, talvez, ao regulamento interno) a
definição das várias tarefas ou funções que a integram. Daí que o n.º 2 daquele art. 115.º
acrescenta que “a determinação a que se refere o número anterior pode ser feita por
remissão para categoria de IRCT ou de regulamento interno de empresa”.
Aqui chegados, o discurso juslaboral tradicional acrescentava: a categoria
profissional traduz-se, nos termos expostos, numa forma de exprimir o objeto do contrato
de trabalho, num rótulo referenciador da prestação laboral devida, identificando e
delimitando as funções que um trabalhador por ser obrigado a realizar, competindo à
entidade empregadora a escolha, em cada momento, das concretas tarefas a prestar dentro
do tipo genérico prometido; neste sentido, a categoria surgia como uma espécie de
couraça, constituindo um importante limite ao poder de direcção do empregador, sendo
que este seria apenas operado nas funções inerentes à categoria profissional.
Acontece que as categorias constantes das CCT foram-se multiplicando. Assim, a
necessidade de flexibilizar a gestão de mão-de-obra e o discurso da polivalência funcional
acabaram por levar o legislador a desmentir o princípio da contratualidade do objeto do
contrato de trabalho. Com efeito, o art. 118.º/ 2 do CT, logo adverte o intérprete: “A
actividade contratada, ainda que determinada por remissão para categoria profissional de
2
“Por força da lei”
3
“Em virtude da lei”
4
Relaciona-se aqui, intimamente, as chamadas “cláusulas de mobilidade geográfica” que serão mais
atentamente estudadas nas próximas páginas.
Em suma, o n.º1 do art. 411.º do CT, do mesmo passo que circunscreve a tutela
reforçada dos representantes dos trabalhadores às hipóteses de transferência individual,
consagra, quanto a estas hipóteses, a garantia da inamovibilidade em toda a sua extensão:
em qualquer caso, haja ou não prejuízo sério, o trabalhador poderá opor-se à transferência
desejada pela sua entidade empregadora; esta transferência jamais lhe poderá ser imposta,
mas apenas proposta pelo empregador, e só com a anuência do trabalhador-representante
poderá vir a ocorrer.
5
Nos casos do 195.º/2 a suspensão durará até que o trabalhador seja transferido. Mas, nestas situações, em
que não há estabelecimento para o qual o trabalhador possa ser transferido, não se sabe quanto tempo durará
a suspensão do contrato. Dir-se-ia, durará o período que o trabalhador vítima de violência doméstica achar
necessário, mas claro está que as necessidades económicas obrigarão o trabalhador a voltar ao trabalho por
um período, talvez, mais curto do que o desejável.
Capítulo XVIII
O tempo da prestação de trabalho: Trabalhar
quanto e quando?
18.1 Tempo de trabalho e tempo de repouso
Quando celebra um contrato de trabalho, o trabalhador, podemos dize-lo, vende o
seu tempo, parte do seu tempo.
Compreende-se, por isso, que o OJ se preocupe com esse tempo alienado, com
determinar que tempo será esse e quanto tempo será esse. A este propósito, devemos
começar pela CRP: todos os trabalhadores têm direito “ao repouso e aos lazeres, a um
limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso semana e a férias periódicas pagas”,
cfr. o art. 59.º/1/d); e o n.º 2, al. b), do mesmo preceito acrescenta incumbir ao Estado “a
fixação, a nível nacional, dos limites da duração do trabalho”. Trata-se, aliás, de
preocupações que acompanham o Direito do Trabalho desde a sua génese: limitar o tempo
de trabalho, tutelar a saúde, garantir períodos de repouso para o trabalhador, salvaguardar
a sua autodisponibilidade – conciliação esta que surge como um desejo constitucional,
nos termos do art. 59.º/1/b), da CRP, analisando-se num dos deveres a cargo do
empregador na relação laboral (127.º/3, do CT, segundo o qual, “o empregador deve
proporcionar ao trabalhador condições de trabalho que favoreçam a conciliação da
actividade profissional com a vida familiar e pessoal”), enfim, criar e preservar a própria
noção de tempo livre.
Nos termos do artigo 232.º/1 do CT, “o trabalhador tem direito a, pelo menos, um
dia descanso por semana” (descanso semanal obrigatório). Esse dia de descanso semanal
coincidirá, em regra, com o Domingo, mas, tendo em conta que a nova economia funciona
24h sobre 7, a lei não deixa de prever diversos casos em que o descanso semanal pode
deixar de ser gozado ao Domingo (n.º2 do mesmo artigo). Acresce que, por IRCT ou por
contrato de trabalho individual, pode ser instituído um período de descanso semana
complementar (n.º 3), geralmente ao sábado.
6
Em qualquer das suas modalidades, a isenção não prejudica o direito a dia de descanso semanal,
obrigatório ou complementar, a feriado ou a descanso interjornadas diário, como esclarece o 219.º/3.
18.4. Feriados
Feriados são dias em que, pelo seu especial significado, se comemoram
determinados acontecimentos com projecção nacional (ou, em certos casos, local). Ora,
nos termos do art. 236.º/1 do CT, nos “dias considerados como feriado obrigatório, têm
de encerrar ou suspender a laboração todas as atividades que não sejam permitidas aos
domingos”. Daí que, um tanto reflexamente, os respetivos trabalhadores fiquem
exonerados do dever de prestar trabalho. E, conforme o art. 269.º/1, “o trabalhador tem
direito à retribuição correspondente a feriado, sem que o empregador a possa compensar
com trabalho suplementar”.
A lei diz-nos quais são os feriados obrigatórios no art. 234.º/1, mas, acrescenta
que, “mediante legislação específica, determinados feriados obrigatórios pode ser
observados na segunda-feira da semana subsequente” (n.º 3 do art. 234.º).
Além dos feriados obrigatórios, a lei admite que seja observados, a título
facultativo, mais dois dias por ano (em princípio, a terça-feira de Carnaval e o feriado
municipal da localidade), desde que tal se encontre previsto em IRCT ou no contrato de
trabalho (art. 235.º). Note-se que os feriados consagrados na lei (nos arts. 234.º e 235.º)
são-no a título absolutamente imperativo, visto que as fontes inferiores não poderão
estabelecer feriados diferentes desses (236.º/2).
Capítulo XX
O dever de assiduidade e o regime jurídico das faltas
Capítulo XXI
Trabalhar a troco de quê? A retribuição
7
Registe-se que, nos termos do art. 272.º/1, não obstante a retribuição constitua um dos elementos
essenciais do contrato de trabalho, a indeterminação do montante daquela não conduzirá à nulidade deste.
O contrato de trabalho manter-se-á em vigor, acolhendo-se aqui um princípio de conservação do contrato
incompleto e cabendo ao julgador fixar o montante da retribuição, tendo em conta a prática da empresa e
os usos do setor ou locais.
21.3. Modalidades
“A retribuição pode ser certa, variável ou mista, sendo esta constituída por uma
parte certa e outra variável”, conforme se lê no art. 261.º/1 do CT. E é sabido que o critério
distintivo destas várias modalidades de retribuição radica na respetiva unidade de cálculo
ou de medida: a unidade de cálculo da retribuição certa é constituída pelo tempo (a hora,
o dia, a semana, a quinzena, o mês), como prescrever o n.º 2 do art. 261.º; ao passo que a
retribuição variável é calculada com base em critérios diversos da medida temporal,
maxime o rendimento (rendimento do trabalhador individualmente considerado ou de um
de um grupo de trabalhadores) – será o caso do salário à peça, salário à tarefa, das
comissões, etc. A retribuição mista, por sua vez, é constituída por uma parte certa
(calculada em função do tempo) e por uma parte variável (calculada em função do
rendimento).
Importa sublinhar que a retribuição variável, enquanto retribuição exclusivamente
calculada em função do resultado ou do rendimento do trabalho, não é incompatível com
a circunstância de, como vimos supra, o contrato de trabalho ser um negócio jurídico por
fora do qual o trabalhador se compromete, tão-só, a prestar a sua actividade em benefício
i) “É garantida aos trabalhadores uma retribuição mínima mensal, seja qual for a
modalidade praticada8, cujo valor é determinando anualmente por legislação específica,
ouvida a Comissão Permanente da Concertação Social” (art. 273.º/1, do CT). Este
preceito legislativo situa-se na linha do disposto no art. 59.º/2/a), da CRP.
Trata-se, pois, de estabelecer uma retribuição mensal mínima, em ordem a garantir
um rendimento mínimo aos trabalhadores mais desfavorecidos e com menor poder
negocial face aos empregadores. Assim sendo, nada impedirá as fontes juslaborais
inferiores (como a CCT e os contratos individuais de trabalho) de fixar salários mais
elevados, mas já lhes será proibido estabelecer salários inferiores ao mínimo legal.
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Seja qual for a modalidade de retribuição praticada (certa, variável ou mista), o trabalhador não poderá,
em cada mês de trabalho, receber um montante ao inferior ao da retribuição mínima garantida aplicável.
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Sobre a mora do credor, vd. o art. 813.º do CC.
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Sobre os juros de mora devidos pelo empregador que falte culposamente ao cumprimento de prestações
pecuniárias, vd. o art. 323.º/2 do CT.
Capítulo XXII
A suspensão do contrato de trabalho:
O vínculo relaxado
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Em ordem a facilitar o acompanhamento da situação, a lei estabelece que o empregador deverá
informar trimestralmente os trabalhadores da evolução das razoes que justificam o recurso á suspensão da
prestação de trabalho (art.º 307.º/1).
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Casos há em que o trabalhador tem direito a licença sem retribuição sem para formação (art. 317.º/2),
sendo certo que a lei não deixa de conceder ao empregador a faculdade de recusar a licença quando se
verifique o disposto em alguma das alíneas do n.º 3 da referida norma.
Capítulo XXIII
A cessação do contrato de trabalho:
O vínculo dissolvido
2) Defesa: Tendo sido acusado, é lógico que ao trabalhador seja reconhecido a faculdade
de se defender. Nos termos do n.º 1 do art. 355.º “o trabalhador dispõe de 10 dias úteis
para consultar o processo e responder à nota de culpa, deduzindo por escrito os elementos
que considera relevantes para esclarecer os factos e a sua participação nos mesmos,
podendo juntar documentos e solicitar as diligências probatórias que se mostrem
pertinentes para o esclarecimento da verdade”. Trata-se, note-se, de um direito do
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A lei estabelece que o prazo de cinco dias se conta a partir da “data da recepção da comunicação de
despedimento”. Note-se, porém, que esta providência cautelar é um mecanismo do qual o trabalhador pode
lançar mão e todos os tipos de despedimento. No entanto, recorde-se que em sede de despedimento
disciplinar a decisão extintiva do empregador produz efeitos logo que chegam ao poder do trabalhador ou
é dele conhecida (art. 357.º/7), já na hipótese de despedimento baseado em causas objectivas tal decisão
não produz efeitos imediatos, estando sujeito a um prazo mínimo de aviso prévio de duração variável, entre
15 e 75 dias (art. 363.º/1, 371.º/3, e 378.º/2). Assim, significa isto que, neste último grupo de situações, o
respeito pelo prazo estabelecido no art. 386.º implicará que o trabalhador tenha de requerer a suspensão
preventiva do despedimento antes de este produzir os respetivos efeitos extintivos.
Algumas dúvidas suscitam pela redação dada ao artigo 390º/2/a) do CT. A questão
fundamental que se coloca é: quis o legislador referir-se, como fazia na redação anterior
do CT, a todas as atividades laborais que o tenha prestado após o despedimento? As
dúvidas que surgem nesta matéria prendem-se com o facto de autores, como o Dr. Leal
Amado, considerarem que o despedimento terá de ser, de acordo com esta nova redação,
condição suficiente e necessária dos rendimentos auferidos pelo trabalhador a deduzir.
Esta parte da doutrina entende que não devem ser aqui integrados rendimentos obtidos
com novo contrato de trabalho, pois o despedimento não é condição suficiente da
celebração de um novo contrato de trabalho (o trabalhador pode, pois, não optar por
arranjar um novo emprego). Este preceito aplicar-se-ia apenas nas situações em que se
verifica um forte nexo causal entre despedimentos e novos rendimentos, como seria o
caso dos seguros para cobrir perda involuntária do emprego.
Quanto ao artigo 390º/2/c) do CT, o Dr. Leal Amado refere que mereceu fortes
aplausos por parte da doutrina, embora seja evidente as dificuldades, de ordem prática,
que se colocam à sua efetivação. Daí que o tribunal deva notificar a segurança social, sob
pena de este organismo nunca chegar a ter conhecimento do sucedido, pois nem o
trabalhador nem o empregador terão interesse em fazer tal comunicação.
No âmbito das deduções que devem fazer parte integrante do artigo 390º/2/a) do
CT, o Dr. Leal Amado considera que também a “compensação de inatividade” paga ao
trabalhador despedido em cumprimento de um pacto de não concorrência (artigo 136º/2/c
do CT), não pode deixar de ser deduzida no montante dos salários intercalares.
Quanto ao artigo 390º/2/b) do CT, este visa pressionar o trabalhador a propor a
ação judicial. De facto, sendo o trabalhador objeto de um despedimento, ele só tem 60
dias para intentar a respetiva ação de impugnação (artigo 387º/2 e 388º/2 do CT). Este
preceito configura uma espécie de ónus jurídico de segundo grau: além do ónus de
impugnar tempestivamente o despedimento, para que o tribunal possa sindicar a respetiva
conformidade legal, sobre o trabalhador recai ainda o ónus suplementar de propor a ação
no prazo de 30 dias para que não fique sujeito a deduções adicionais, caso o tribunal venha
FIM