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1º ano de Direito Ética CAD
Com o inicio da pandemia COVID-19 em 2020, em Portugal, veio também mais tempo livre no
sentido em que nos encontrávamos em confinamento geral obrigatório. Com mais tempo livre,
já que, por exemplo, as horas despendidas em transportes diariamente para a faculdade
podiam ser agora direcionadas para outras questões. Decidi então, literalmente de um dia
para o outro, criar a CAD, Comunidade de Aficionados de Direito. Com que objetivo? Queria
ligar os estudantes de Direito de todo o país, queria divulgar e criticar as mais recentes notícias
jurídico-políticas, queria levar a cabo iniciativas que aproveitassem a todo e qualquer jurista,
professor, estudante, advogado, etc… Criei o site, a página no Instagram e assim se começou a
erguer o projeto. Entretanto, com as aulas online, pensei também em elaborar apontamentos
semanais e divulgar com os meus colegas, utópico para um trabalho a sós, mas perfeitamente
possível com a entreajuda dos meus colegas porque cada grupo de estudantes faria os
apontamentos semanais de cada cadeira. Porque fazer os apontamentos semanais? A resposta
é extensa, mas simples. Com a “obrigação” de preparar esses mesmos apontamentos, tenho
também um duplo dever de assistir às aulas, de perceber e apontar as mesmas, porque não o
fazendo, falharia comigo e com os restantes colegas com quem me comprometi a partilhar os
apontamentos. Desta forma, dividimos até pelos vários estudantes a tarefa de recolher os
escritos relativos às diversas matérias. É trabalhoso, mas, inevitavelmente, ao preocuparmo-
nos com nos próprios estamos também a ajudar todos os outros alunos. Ou seja, no 1º ano,
começamos apenas a partir de março com os apontamentos semanais, mas no 2º ano, ano
letivo 2020/2021, os apontamentos semanais começaram no inicio e acabaram apenas no fim
do ano letivo! Dito isto, pode conter falhas de escrita ou de direito, foi feito ao longo do tempo
por juristas em formação, entregue semanalmente, portanto, é compreensível e pedimos
também que quando notada alguma falha grave nesse sentido, que nos seja comunicado. Este
projeto ajudou também a impulsionar um ambiente saudável no curso de Direito na nossa
universidade, não que já não o houvesse, mas esta iniciativa só o veio melhorar. Esperamos
ainda que esta iniciativa inspire ad aeternum o maior número de estudantes possíveis, já que
ficou demonstrado que a entreajuda tem efeitos positivos para todos nós. Se tiveres interesse
em colaborar connosco, envia-nos mensagem no Instagram. Somos vários estudantes da
licenciatura em Direito com vontade de mudar, ajudar e com disponibilidade em ser ajudados.
Obrigado a todos aqueles que todos os dias se esforçam por uma comunidade melhor,
saudavelmente competitiva, consciente e dedicada.
Índice:
1.1. Ética..................................................................................................................................2
1.2. Moral................................................................................................................................3
1.3. Deontologia.....................................................................................................................4
1.4. Direito..............................................................................................................................5
1.5. Filosofia............................................................................................................................5
2. A doutrina de Platão: a verdade enquanto fundamento do comportamento ético –
Idealismo platónico.....................................................................................................................6
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1.1. Ética:
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Por outro lado, os costumes levam em si mesmos a outro tipo de práticas mais
transcendentais, que refletem o caráter e o modo de ser das próprias pessoas: o
respeito pela honestidade, a valorização da liberdade, o respeito pelas leis e os
direitos humanos, os quais se relacionam com a natureza social e a essência
espiritual do ser humano. É deste tipo de costumes também referido à moral, de
que trata a ética.
A ética é, assim, um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou
mau, certo ou errado. Pode-se dizer, também, que ética e “filosofia da moral” são
sinónimos.
O ser humano emite juízos de valor em relação a si próprio e aos outros. Através
desses juízos enuncia aquilo que está bem e aquilo que está mal na conduta dos
indivíduos, ao mesmo tempo que expressa aquilo que devia fazer. A ética
estabelece, portanto, os critérios de valorização moral, de liberdade e
responsabilidade individual. Ocupa-se, como referido, da ação humana a partir do
“dever ser”.
Desta forma, a questão de o “dever ser” passa a ser a característica que define e
distingue a ética das restantes disciplinas.
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nos princípios éticos, o individuo toma decisões e orienta as suas ações a partir de
motivações do tipo moral ou legal.
1.2. Moral:
A palavra moral, deriva da palavra latina “more”, que também significa
“costumes”, “hábitos”, conjunto de regras de convívio, num determinado espaço,
numa determinada comunidade, numa determinada sociedade. Deste modo,
moral é a ciência que ensina as regras que se devem seguir para fazer o bem e
evitar o mal.
Enquanto que a ética implica sempre uma reflexão teórica sobre qualquer moral,
uma revisão racional e crítica sobre a validade da conduta humana, a moral é a
aceitação de regras dadas. A ética é uma análise crítica dessas regras.
1.3. Deontologia:
Deontologia, deriva do grego “deon” ou “deontos” /” logos” e, significa, o estudo
dos deveres.
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Mas a ética não se reduz à deontologia. Alguns autores alertam para a necessidade
de ir além do mero cumprimento das normas deontológicas.
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1.4. Direito:
O termo direito provém da palavra latina “directus”, que significa reto, no sentido
de retidão, o certo, o correto, o mais adequado.
Visto sob este prisma, o direito é um conjunto de normas que permitem resolver
os conflitos no seio de uma sociedade, procurando, desta forma, melhorar as
condições sociais ao sugerir e estabelecer regras justas e equitativas de conduta.
1.5. Filosofia:
Filosofia é uma palavra de origem grega, cujo significado literal é “amor à
sabedoria”. A filosofia estuda problemas essenciais da humanidade, procurando a
compreensão da realidade e de como o homem se relaciona com o mundo. Os
problemas estudados pela filosofia são, basicamente, a existência, o
conhecimento, a verdade, os valores morais, a estética, a mente e a linguagem.
O termo filosofia é uma junção das duas palavras gregas “philo” e “sophia”. A
primeira significa amizade, fraternidade, enquanto a segunda significa sabedoria.
Assim, chegamos à definição “amor à sabedoria”, sendo o filósofo aquele que tem
desejo pelo saber. Neste sentido, a filosofia é o estado de espírito daquele que
procura e respeita o conhecimento.
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Podemos dizer também que a filosofia é uma espécie de educação que tem
ultrapassado as fronteiras cognitivas e todos os outros conhecimentos adquiridos
convencionalmente, pois ela nos leva a refletir sobre tudo, a questionar, a debater
e até a oferecer soluções.
Para Platão, a sociedade ética tem de residir na verdade. Como a verdade, por
vezes, entra em confronto com outros valores menos importantes, como a
amizade, é impossível, para o ser humano, construir uma sociedade puramente
ética, uma vez que esta não se ergue à base de leis justas, mas com mentalidades
que privilegiem sempre a verdade em detrimento de outros valores.
Essas mentalidades devem formar-se desde cedo no ser humano, através de uma
educação que incuta o valor de verdade e o seu caráter absoluto e intransigente
nas crianças.
Para Platão, este mundo sensível em que nos movemos é uma cópia do verdadeiro
mundo: o mundo das ideias. Do mundo ideal provém o homem, pela sua alma, e a
ele há-de voltar utilizando as suas forças: inteligência, vontade e entusiasmo.
Segundo o mesmo, todo este mundo é ideal e, ainda que nunca se alcance, há
direito a sonhá-lo. É certo que os homens se comportam de forma enganosa,
grosseira, sem inteligência e desprovidos de virtude, mas isso não significa que seja
o ideal.
Assim, Platão dá-nos uma explicação simples para o facto de as coisas não serem
como deveriam ser: este mundo não é o verdadeiro mundo. Assim sendo, o
platonismo corre o risco de não se preocupar com os reais problemas do género
humano, que não se apresentam com perfis ideais.
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Aristóteles fez o seguinte raciocínio: alguém que pratica o mal, ou está a proceder
involuntariamente ou não está na plena posse das suas faculdades mentais, visto
que o ser humano é inteligente e percebe que os seus atos acarretam sempre
consequências, por isso, agindo inteligentemente, só se pode agir eticamente, caso
contrário sofre-se as inevitáveis e prejudiciais consequências. Ou seja, nenhum ser
humano pode agir conscientemente pretendendo o mal.
Segundo Aristóteles, a ética é a ciência prática do bem e bem é o que todos nós
desejamos, já que ninguém atua pretendendo o mal. Se alguém escolhe algo que é
mal, fá-lo porque o julga um bem.
O estoicismo, que a seu modo sobreviveu até aos nossos dias e continua a ser
reconhecido pelos inúmeros leitores das suas obras, foi fundado por volta de 300
a.C., por Zenão de Cicio. Compartilha com outras escolas contemporâneas a
afirmação do primado do problema moral sobre os problemas teóricos.
Para o estoico, a vida feliz é a vida virtuosa, isto é, viver conforme a Natureza, ou
seja, viver conforme a razão. O essencial é a retidão, proveniente da lei natural, a
lei divina que mede o justo e o injusto. Para viver retamente é preciso lutar contra
as paixões, contra as boas e as más, de modo a que nada inquiete nem perturbe.
Esta doutrina advoga que o homem deve fazer aquilo que lhe dá mais prazer.
Epicuro considera que os homens se compõem de corpo e alma e conclui que os
prazeres da alma (o gozo), são superiores aos prazeres do corpo. A busca pelo
prazer tem de ser regida pela prudência, que há-de encaminhar à tranquilidade
interior.
Na prática, o epicurismo levou quase sempre a esta simples conclusão: é licito tudo
o que produz prazer. Esta seria a substância da ética. A única advertência é que a
busca do prazer se faça sem intranquilidade, com domínio de si mesmo, sem
perturbação. O epicurismo histórico foi também bastante associal e é este aspeto
que o utilitarismo irá procurar corrigir.
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No entanto, ao epicurismo é feita uma crítica, que se debruça com a licitude dos
prazeres. Essa objeção aponta para alguns prazeres que podem não ser lícitos,
como o consumo de estupefacientes. Porém, os epicuristas contra-argumentaram
que tudo o que dá prazer é efetivamente lícito, sem confundir prazer com
satisfação, uma vez que prazer é algo duradouro e incapaz de produzir
consequências negativas, ao contrário da satisfação, momentânea e capaz de
produzir efeitos prejudiciais.
Kant, por outro lado, está de acordo com Hume na sua ideia de que a ética não
tem fundamentos científicos, mas acrescenta que é mais que a simples simpatia ou
hábitos sociais.
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uma ética que dita conteúdos, mas normas formais (“atua de tal modo que possas
querer que essa atuação se converta em lei universal”). Exemplificando: não é
ético roubar, porque o homem não pode querer que essa atuação – o roubo – se
converta em lei universal. Kant é contra todo o prémio, o prémio de uma ação tem
de ser a própria ação. Não basta atuar conforme o dever. Atuar por dever é a
necessidade de cumprir uma ação por respeito à lei.
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Enquanto, em Hume, permanece a ideia de que toda a ação tem um fim prático,
Smith insiste em que, quando aprovamos a conduta de um homem, o fazemos
porque é apropriada e não só porque é útil. Um comportamento apropriado é
bom em si mesmo, para além de ser fonte de felicidade pessoal e de prosperidade
social.
Para Smith, são as regras de conduta que tornam possível a vida em sociedade e a
cooperação. O homem necessita de se integrar num grupo para a sua
sobrevivência e o seu desenvolvimento. Por essa razão, a Natureza dotou a raça
humana de aptidões e qualidades que a induzem à vida em sociedade e, inclusive,
que a movem a procurar o respeito e a aprovação dos outros.
Adam Smith salienta para além das simpatias e das paixões, as virtudes, tanto mais
que, apesar do papel central da simpatia, o sistema moral de Smith é um sistema
repleto de virtudes.
É sabido que Bentham reclama ser o Newton da ciência moral e política; ao mesmo
tempo que pretende converter-se no primeiro “engenheiro social”, através da
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Dito isto importa reconhecer que Mill chegou a demarcar-se das considerações
exclusivamente quantitativas do prazer e felicidade de Bentham, introduzindo no
seu utilitarismo elementos antropológicos novos, próximos do aristotelismo.
Mill vai muito além de Hume, não considera que o dever moral esteja assinalado
fora do homem, nem seja algo inato, nem que se possa ler no seu interior. Ainda
que, quando trata da fundamentação da ética, considere que ela é mais do que a
simpatia: a sua base firme é constituída pelos sentimentos morais da humanidade,
o desejo de estarmos unidos com os nossos semelhantes que já é um poderoso
principio da natureza humana. Mill enfatiza, portanto, os sentimentos de
solidariedade.
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O seu positivismo social não só toma a moral relativa como dá à ciência moral um
fim prático: levar os homens a conhecer e a conformar-se com as leis da existência
social, o que se consegue através da educação.
Como ele próprio nos diz: “a sociedade manda em nós porque é exterior e superior
a nós; a distancia moral que há entre ela e nós converte-a numa autoridade face à
qual a nossa vontade se inclina. Mas sendo, por outro lado, interior a nós, sendo
nós, por isso a amamos.”.
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Dizer que uma ordem social é justa significa que essa ordem regula a conduta
humana de modo satisfatório a todos, ou seja, que todos os homens encontrem
nela a sua felicidade. O anseio por justiça é o eterno anseio do homem pela
felicidade. É a felicidade que o homem não pode encontrar como individuo isolado
e que, portanto, procura em sociedade. A justiça é, portanto, a felicidade social.
Uma ordem justa não é possível mesmo com a suposição de que ela procure
concretizar não a felicidade individual de cada um, mas sim a maior felicidade
possível do maior número possível de indivíduos.
A felicidade que uma ordem social é capaz de assegurar pode ser felicidade apenas
no sentido coletivo, ou seja, a satisfação de certas necessidades, reconhecidas pela
autoridade social, pelo legislador, como necessidades dignas de serem satisfeitas
(ex: necessidades de alimentação, vestuário e moradia).
Mas isto não significa que cada individuo possua o seu próprio sistema de valores.
Na verdade, muitos indivíduos concordam nos seus julgamentos de valor. Um
sistema positivo de valores não é uma criação arbitrária de um individuo isolado,
mas sempre o resultado da influência que os indivíduos exercem uns sobre os
outros dentro de um dado grupo, seja ele família, tribo, classe ou profissão. O facto
de haver certos valores geralmente aceites dentro de cada sociedade não
contradiz, de modo algum, o caráter subjetivo e relativo desses julgamentos de
valor.
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A sua solução seria alcançada pela criação de uma ordem que satisfaça um
interesse em detrimento de outro ou que procure alcançar um compromisso entre
interesses opostos.
Esta perspetiva apresenta o Direito tal como ele é, sem defendê-lo chamando-o
justo. Ou condená-lo denominando-o injusto. Procura o direito real e possível, não
o correto. É, nesse sentido, uma teoria radicalmente realista e empírica.
Se a declaração de que certa conduta corresponde ou não a uma norma leal for
chamada juramento de valor, isto é julgamento objetivo de valor, que deve ser
distinguido de um julgamento subjetivo pelo qual a vontade ou o sentimento do
sujeito que julga é expresso.
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Injusto será quem transgride a lei, quem quer ter mais do que é devido e quem é
mau, logo, justo será quem observa a lei e respeita a igualdade. Nestes termos
entendemos por justo, o que produz e salvaguarda a felicidade, não só a própria
como a felicidade comum.
Assim, verificamos que é nas relações com os outros, em função delas, e até a
partir delas, que devemos encontrar uma noção do que é ou pode ser considerado
justo.
Nesta obra Aristóteles procura indicar um sentido para a definição do que pode ser
considerado correto, quer no comportamento de cada homem consigo próprio,
quer no comportamento por si estabelecido com os outros.
a) Justiça particular:
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b) Justiça política:
Segundo Aristóteles a justiça política tem em vista a autossuficiência das
comunidades entre homens livres e iguais e é também apresentada de duas
formas. Uma é natural e a outra convencional.
1. Justiça natural: é comum a todos os povos e não está dependente da decisão
política particular de cada governo.
2. Justiça convencional: há uma lei particular, ou seja, aquela que foi definida por
cada povo em relação a si mesmo, quer seja escrita ou não escrita e há uma lei
comum, que é definida segundo a natureza. Neste caso, a justiça convencional
é particular de cada povo, devendo respeitar a justiça natural, mas indicando as
especificidades próprias de cada comunidade, como tal interpretadas pelos
respetivos governantes.
Sobre a lei:
De igual modo importa observar que para ele as leis fundadas nos costumes têm
supremacia e referem-se a questões ainda mais importantes do que as leis escritas.
Sobre a justiça:
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a) Justiça particular: é aquela que obriga o homem a fazer o bem em relação a todas
as coisas que se referem a outra pessoa particular.
b) Justiça geral ou legal: obriga o homem ao bem comum, ou seja diz respeito às
relações dos particulares para com a sociedade em que cada um se encontra
inserido e fala-nos das obrigações daqueles para com esta.
1. Justiça geral ou social: aquela que trata das obrigações individuais para com a
sociedade.
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Sobre a lei:
Segundo S. Tomás a lei é uma regra e medida dos nossos atos. O seu objetivo é o
bem comum, e como este pertence e diz respeito a toda a comunidade, a
instituição da lei pertence quer a todo o povo, quer à pessoa pública que tem a
seu cargo a sua governação, devendo ser a intenção de todo o legislador fazer de
bons todos aqueles aos quais a lei é dada.
Para ele existem vários tipos de leis: a lei eterna, a lei natural, a lei humana e a lei
divina.
Lei eterna:
Lei natural:
Esta lei abrange a ordenação de todo o agir humano, incluído o que respeita à
realização da justiça na vida social. Tem o seu fundamento último na lei eterna e
resulta, no fundo, da participação intelectual e racional dos seres humanos nessa
mesma lei.
Lei humana:
O Estado, através dos órgãos a quem compete legislar, não terá, desta maneira,
um poder ilimitado, já que a sua ação se deva encontrar condicionada quer pelo
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A razão para que exista lei é a de que era necessário para a paz e a virtude dos
homens que se instituíssem leis, leis que os conduzissem a prosseguir numa
determinada direção, para que a harmonia, a estabilidade social, e o bem de
todos, não fossem afetados ou postos em causa.
Deste modo, a vontade humana que determina a lei para que tenha força de lei, é
necessário que seja orientada pela razão.
Lei divina:
A lei divina poderá ser considerada a lei positiva de Deus, a lei escrita de Deus, que
se revela e transmite através dos textos do antigo e novo testamento.
Em conclusão:
As normas legais não são, nem podem ser, alheias ou indiferentes aos princípios
de quem as projeta e faz.
S. Tomás de Aquino sabia que o legislador, qualquer que ele seja, ao aprovar uma
lei manifesta as ideias em que se revê e procura através delas estipular o
comportamento daqueles a quem essa lei se destina. E, por isso mesmo, S. Tomás
lembra ao legislador que há uma hierarquia de valores na formação das leis, que
não pode ser ignorada ou esquecida.
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Sobre a justiça:
Santo Agostinho, para quem a justiça é a ideia central que vem desde a fé à
constituição dos Estados, defende que só através dos seus representantes, pode-se
fazer a lei, mas a justiça vem de Deus.
1. Justiça dos homens: pode ser apenas a tradução da vontade dos que dominam,
dos que controlam o poder, e quem em nome do poder definem a ordem e a
forma de a manter. A lei que vigora é desse modo a expressão da ordem
estabelecida, independentemente dos fins a que se propõe.
Onde não houver verdadeira justiça, não pode haver direito, porque não podemos
chamar direito, nem considerar como tal, as iníquas instituições dos homens,
contrariando assim a ideia de que é direito o que é útil a quem mais tiver
influência.
Sólon preocupou-se com a defesa dos direitos individuais e com a submissão à lei.
Para ele a democracia significava, essencialmente, que o detentor do poder servia
a lei e agia de acordo com a lei.
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Fiel a este principio, Sólon pretendia acima de tudo criar uma ordem boa, no
sentido de que esta implicava que a norma da justiça e as suas leis conseguissem
criar uma atmosfera assente na legalidade.
Para Cícero o direito nasce da natureza, sendo assim necessário distinguir o Direito
Universal e as leis, do direito civil.
Cícero acreditava que existia uma lei natural universalmente válida, cuja origem é
da vontade racional divina. Ele admite que é a própria divindade nos homens que
lhe prescreve o bem e lhes proíbe o mal. Estas ideias, que eram tão importantes
para o pensador romano, refletiam o principio de que há um direito natural
universal, pelo que nenhuma legislação que o infrinja merece o nome de lei.
Seguir hoje a ideia de Cícero, pressupõe aceitar que não se pode dar o nome do
Direito a qualquer normação da sociedade através da lei do Estado.
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Aquilo que até agora tem sido proposto como Direito natural ou, o que redunda no
mesmo, como justiça, consiste em fórmulas vazias, como “a cada um o seu”, ou
tautologias sem sentido como o imperativo categórico, ou seja, a doutrina de Kant
de que os atos de alguém devem ser determinados somente por princípios que se
queiram obrigatórios para todos os homens. Contudo, a fórmula “a cada um o seu”
não responde à questão do que é “o seu de cada um”, e o imperativo categórico
não diz quais são os princípios que se deveria desejar que fossem obrigatórios para
todos os homens.
Mas o que é o certo e o que é errado? Trata-se de uma questão decisiva e que
permanece sem resposta.
A resposta a todas estas perguntas deve supostamente ser dada pelo Direito
positivo.
O centro da filosofia de Platão é a sua doutrina das ideias. De acordo com essa
doutrina, o mundo é dividido em duas esferas diferentes: uma é a do mundo
visível, percetível pelos nossos sentidos, o que chamamos realidade; a outra é a do
mundo invisível das ideias. Tudo no mundo visível possui o seu padrão ideal no
outro mundo, o invisível. As coisas que existem neste mundo visível são apenas
cópias imperfeitas das ideias existentes no mundo invisível.
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Este dualismo entre realidade e ideia, entre um mundo imperfeito dos nossos
sentidos e outro perfeito, inacessível à experiência dos nossos sentidos, o dualismo
entre natureza e supranatureza, etc., é um elemento não apenas da filosofia de
Platão, mas, igualmente, um elemento típico de toda a interpretação metafisica. O
propósito dessa metafísica não é explicar racionalmente a realidade, e sim, ao
contrário, aceitá-la ou rejeitá-la emocionalmente.
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Essa ordem coercitiva é idêntica ao Estado. Assim pode-se dizer que o Estado é a
forma perfeita do Direito positivo. O Direito natural é um principio, uma ordem
não-coercitiva, anárquica. Toda a teoria de direito natural, na medida em que
conserva a ideia de uma lei pura de natureza, é necessariamente um anarquismo
ideal; todo o anarquismo, o cristianismo primitivo ao marxismo moderno, é,
fundamentalmente uma teoria de Direito natural.
As normas do Direito positivo são válidas, ou seja, devem ser obedecidas, não
porque derivam da natureza, de Deus ou da razão, de um principio absolutamente
bom, reto ou justo, mas, simplesmente, porque foram criadas de certo modo ou
feitas por certa pessoa.
São normas válidas, e a conduta humana deve-se conformar aos seus conteúdos.
Assim como a validade absoluta das suas normas corresponde à ideia de Direito
natural, a validade meramente hipotética das suas normas corresponde à de
Direito positivo.
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Essa norma individual só pode ser, pelo menos formalmente, uma norma positiva,
porque foi produzida por um ato humano. É obvio que as normas do Direito
natural, idealmente independentes da ação e da volição humanas, requerem, em
última análise, a mediação de atos humanos a fim de cumprirem o seu propósito. A
concretização do direito natural torna-se, assim, dependente do conhecimento e
da vontade dos homens.
Tanto o Direito natural quanto o positivo podem ser reivindicados como sistemas
de normas válidas.
Caso se admita a validade de uma ordem jurídica natural, não se pode, ao mesmo
tempo, admitir a existência de uma ordem jurídica positiva simultaneamente válida
com a mesma esfera de validade.
Vivendo numa época em que, depois de ter conhecido o apogeu durante o século
XIX, o pensamento jurídico positivista entrou em crise sob ameaça do pensamento
irracionalista; e procurando transmitir à ciência do direito maior rigor, coerência e
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Por isso, Kelsen começou por separar radicalmente a realidade social e histórica (o
mundo do ser) das normas (o mundo do dever ser) e considera o direito uma
ordem normativa que pertence à categoria ontológica do dever ser: é um conjunto
de normas consideradas na sua autonomia formal, desligadas do fundamento
normativo que as transcende e da realidade social em que atuam. Não recusa que
atrás de uma norma jurídica esteja um conjunto de valores que o ordenamento
jurídico aceita e juridifica.
A validade de uma norma é conferida por uma norma superior que determina o
seu modo de produção e o órgão competente; por isso uma sentença será válida se
for ditada por um juiz competente num processo que se desenvolva de harmonia
com as leis do procedimento judicial; um regulamento será válido se obedecer a
uma norma legal; e a validade desta funda-se na Constituição.
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4. O advogado pode revelar factos abrangidos pelo segredo profissional, desde que
tal seja absolutamente necessário para a defesa da dignidade, direitos e
interesses legítimos do próprio advogado ou do cliente ou seus representantes,
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6. Ainda que dispensado nos termos do disposto no n.º 4, o advogado pode manter o
segredo profissional.
7. O dever de guardar sigilo quanto aos factos descritos no n.º 1 é extensivo a todas
as pessoas que colaborem com o advogado no exercício da sua atividade
profissional, com a cominação prevista no n.º 5.
8. O advogado deve exigir das pessoas referidas no número anterior, nos termos de
declaração escrita lavrada para o efeito, o cumprimento do dever aí previsto em
momento anterior ao início da colaboração, consistindo em infração disciplinar a
violação daquele dever.”
Existem exceções ao princípio do sigilo profissional. Isso mesmo está definido nos
princípios deontológicos previstos no Estatuto da Ordem dos Advogados,
nomeadamente no nº4, do seu artigo 92º. De acordo com a norma citada, “O
advogado pode revelar factos abrangidos pelo segredo profissional, desde que tal
seja absolutamente necessário para a defesa da dignidade, direitos e interesses
legítimos do próprio advogado ou do cliente ou seus representantes, mediante
prévia autorização do presidente do conselho regional respetivo, com recurso para
o bastonário, nos termos previstos no respetivo regulamento.”
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AGRADECIMENTOS:
Adriana Borges
David Silva
Eduardo Leão
Érica Araújo
Gabriel Pinho
Manuela
Marlene Ferreira
Matilde Campos
Miguel Ledo
Pedro Gomes
Apontamentos realizados por membros da CAD. Pedimos que qualquer erro de escrita ou de
direito verificado seja comunicado a um dos membros para posterior correção.
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