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Sobre o Livro “Os Caminhos de Epicuro” de Miguel Spinelli.

Por: Juliano Gustavo Ozga.

5- A peleia filosófica entre epicuristas, estóicos e cristãos (pgs. 350-399).


5-1. Os novos tempos da filosofia: o conflito dos dogmatismos.
Tópicos:
1- Conservação da influência epicurista até praticamente meados do século IV d.C.;
2- Membros da Patrística: doutrinadores cristãos eram migrantes de outros movimentos
filosóficos para o cristianismo;
3. Conseqüência: ataque por parte dos filósofos não convertidos contra o
cristianismo, obrigando os convertidos a reordenar filosoficamente as questões da
doutrina cristã;
4. Os textos bíblicos eram modelos de métrica, em modelo ou parâmetro;
5. Efeito: Os doutrinadores da patrística tomaram a filosofia como base para a
teologia, como forma de se defender contra os ataques dos não convertidos.
6- Exemplos de convertidos ao cristianismo que buscaram formação filosófica:
6-1. Tertuliano (155-222): estudou jurisprudência; também a lógica (ou dialética), a
retórica e a oratória;
6-2. Orígenes: estudou na escola neoplatônica de Amônio Sacas, em Alexandria (180-
242);
6-3. Basílio (329-379): estudou por quatro ou cinco anos retórica em Atenas;
7- Problema I: cristianização do filosofar; aplicação da gramática, da lógica e da retórica
à reflexão teológica;
8- Teologia tinha como disciplina principal a exegese bíblica (literal, semântica e
alegórica);
9- Peculiaridade: Os doutrinadores cristãos eram filósofos, e não teólogos; também
reivindicavam o título de helenistas;
10- Ecletismo Romano: entre o cristianismo, estoicismo e epicurismo; subtração e
subversão de noções básicas platônicas e aristotélicas;
11- Método adotado por estóicos, epicuristas e cristãos: “selecionar e recolher o que
ao “bom senso” parecia o melhor e valer-se dele em vista dos próprios interesses e
finalidades” (Tertuliano. Apologia. I, 2, 1); contribuição dos gregos: arcabouço teórico;
contribuição latina: estrutura funcional do império institucional;
12- O filósofo cristão devia seguir a via média;
13- Fenômeno da época: transição entre correntes filosóficas;
14- Exemplo de Justino: 1) Da filosofia ao cristianismo; 2) passagem entre o epicurismo
e estoicismo; 3) associou-se aos peripatéticos; 4) estudou com os pitagóricos; 5) procurou
os platônicos, terminando por se iludir e se converter ao cristianismo;
15- Filósofos como auditores, o que resultou em uma redicção, ou seja, mistura de
estudos, leituras e investigações que se alojam na alma, e posteriormente sofrem mudança
como novo discurso em nossa dicção, sobre outros arranjos e significados próprios;
16- O Labor filosófico: uso de pensamentos alheios, transposição de teses filosóficas,
citações, submeter ao contraditório e ao pensamento crítico;
17- Distinção entre o operar da ciência e da filosofia:
a) Na ciência: “o operar da ciência não se detém em intencionalidades, justo porque o
certo ou o verdadeiro na ciência não tem passado”;
b) Na filosofia: “o dito ou logos dado como verdadeiro vem sempre carregado de umas
quantas dificuldades”;
18- “Verdades” autônomas e independentes do Epicurismo: por haver influência da
filosofia de Demócrito e Platão, Epicuro foi antes de tudo um contraditor, porém no
sentido positivo, filosófico e crítico;
19- Clemente de Alexandria expõe exemplos de plágios da Bíblia cometidos por estóicos,
epicuristas e outras correntes filosóficas:
a) sobre o postulado pitagórico: “a matéria originária do homem”;
b) sobre a recomendação pitagórica de não gravar e usar anéis com efígies de deuses;
c) sobre a justiça pitagórica: “não ultrapasse o julgo”;
d) sobre Platão qualificar “como ateus aqueles que corrompem e sujam o deus que mora
neles”;
e) sobre Platão denomiar “irado ”hybristês” o cavalo da cobiça”;
f) sobre Pitágoras e seus discípulos freqüentarem “com mais assiduidade o
legislador“ (referência a Moisés);
g) sobre a dependência dos símbolos pitagóricos em relação à filosofia bárbara;
20- O epicurismo, o estoicismo e o neoplatonismo foram fontes para o acesso dos
apologistas cristãos à tradição e ao embate de idéias filosóficas;
21- Influência de Platão e suas ideias na apologia cristã: Aristóteles influenciou muito
pouco os mestres da patrística cristã; “os aristotélicos, designados de peripatéticos eram,
identificados com os sofistas”;
22- Concordância entre cristãos e estóicos referente “à idéia de uma religião cósmica,
fundada no pressuposto de um Deus criador e providente, que a tudo governa”;
23- Os Epicuristas defendiam a questão do acaso e da liberdade, nada tirânico e
determinista, onde o homem era dominado por “sua própria natureza, sem qualquer
recurso externo, em total liberdadepara a plena realização de seu destino”;
24- Epicuro defendia a total autonomia natural do homem diante da vida e do destino,
sem imposição de alguma força externa soberana ou da presença contringente dos deuses;
25- Dois efeitos do confronto entre epicuristas, estoicos e cristãos:
1- Solidificação dos ideais práticos da moral cristã;
2- Visibilidade do “teor formal da ética estóica e da epicurista”.

5-2. O êthos em crise: o modo humano de ser em debate.


Conceitos Principais: Função da Filosofia; Conceito de Iatréia; Conceito de
Ataraxía; Autárkeia; Hêdonê; Eushathéia; Phrónêsis;
Tópicos:
1- No campo da filosofia moral, tanto os cristãos, os estóicos e os epicuristas conceberam
uma práxis, como regras prudenciais do bem viver;
2- Gregório de Nazianzo, atual Turquia (330-390): Um dos membros da patrística que
concebia a parte teórica como a mais elevada, mas de acesso difícil; a parte prática ou
ação mais humilde, porém a mais útil;
3- Para Gregório, theoría e práxis não comportavam distinção entre corpo teórico de saber
e um corpo teórico de saber prático; teoria e prática eram concebidas como os princípios
doutrinários do agir cristão;
4- A função da filosofia cristã e do filósofo seria unicamente atender aos ditames da
crença cristã; onde a filosofia prática cristã, como teoria, se constituía de princípios e
regras; como práxis, ela teria que se enquadrar a vivência desses princípios;
5- Kant referindo-se aos estóicos, chamou-os de dogmáticos na filosofia prática e de
dialéticos na teórica, o que também foi caracterizado por Cícero;
6- Kant denominou os estóicos de dialéticos referindo-se ao maior valor que os mesmos
davam ao discurso retórico ao invés do filosófico; e ao priorizar a dialética (lógica
clássica antiga) “se degeneraram em sofistas”;
7- O conceito de verdade (“raciocínio e indução acessível”) do epicurismo refere-se aos
átomos e não ao espiritual e ao sublime;
8- Conceito de Ataraxía: “moderação calma, satisfeita em sua paz e estabilidade, ou em
seu equilíbrio prazerozo”; pode ser exemplificado no seguinte esquema:
a) A fome nos leva ao alimento, mas é o prazer que nos move na alimentação;
b) O prazer desperta a vontade;
c) A vontade aciona o arbítrio;
d) O arbítrio aciona a phrónesis da moderação;
e) Culminando a Ataraxía;
9- O que é e o que produz a filosofia na concepção do cristão Justino de Nablus: “A
filosfia é a ciência do ser (ser da verdade é Deus) e do conhecimento da verdade (a
doutrina cristã); e a recompensa dessa ciência e desse conhecimento é a vida feliz com
Deus”;
10- Conceito de Iatreía (relação entre cristianismo e epicurismo): cura/restabelecimento
de nós mesmos;
11- Conceito de Iatrikê: Medicina, com duplo sentido:
a) sentido próprio relativo à ciência médica, o de arte (téchnê) de identificar a doença e
prover a cura; nesta concepção a filosofia seria então uma saber (epistême e téchnê);
b) sentido figurado: medicamento ou remédio; concepção de fármaco, como remédio a
serviço da cura;
12- Conceito de Hêdonê: A busca por satisfazer o bem viver baseada na natureza
humana (da phisis);
13- Função da Filosofia para Epicuro: “prover a vida feliz, saber os nossos limites e
nossas possibilidades estipuladas pela natureza, os quais cabem a nós conhecer”;
14- Busca da Felicidade através da Filosofia para Epicuro
(conceitos):
I- Autárkeia: cuidado ou amor de si mesmo;
II- Ataraxía: uma moderação calma, estável; seu equilíbrio prazeroso;
III- Hêdonê: “busca da satisfação no bem viver, tendo em conta as determinações da
natureza” do ser de cada um;
IV- Eushatheía: “boa disposição em se manter na Ataraxía.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: SPINELLI, Miguel. Os Caminhos de Epicuro. São


Paulo: Loyola, 2009.

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