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EPISTEMOLOGIA DAS

CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
UM PERCURSO HISTÓRICO
Prof. Doutor José de Barros
OBJECTIVOS E ESTRUTURA
• Compreender a epistemologia e o papel da ciência, sua constituição
histórica e o processo de produção do conhecimento cientifico diante
dos novos paradigmas científicos, dos desafios metodológicos e dos
contextos da contemporaneidade

• Alem disso, através de discussões durante as aulas, desenvolver um


conjunto de conhecimentos abrangendo os elementos de
metodologia de pesquisa de maneira a permitir a elaboração do
projecto de investigação, bem como de trabalhos científicos e
tecnológicos
ESTRUTURA
A partir destes dois objectivos o modulo estrutura-se em dois blocos:
BLOCO 1: EPISTEMOLOGIA, CIENCIA E PRODUCAO DE CONHECIMENTO
• Constituição histórica e os processos de conhecer
• Papel da ciência e do pesquisador
• Novos paradigmas e desafios metodológicos na contemporaneidade

BLOCO 2: ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA A REALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO


• Proposta de itinerário de Investigação
• Relação entre Ciência e Investigação
• Áreas de Conhecimento na Investigação e Pesquisa
• Métodos de investigação
• Investigação científica e características do investigador
ASPECTOS A CONSIDERAR

•DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS


•HISTORIAL E CORRENTES DIVERSAS
•CONTRIBUTO DE ALGUNS EPISTEMOLOGOS DA
CONTEMPORANEIDADE
•IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO EM CN E Mat.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS
• Epistemologia = área da filosofia que estuda o conhecimento cientifico e a
forma como os indivíduos actuam para ampliar os horizontes da ciência.
• Ela ocupa-se fundamentalmente com a origem, a transcendência e a
finalidade do conhecimento.
• A epistemologia trata dos problemas colocados pela ciência. Ela é o estudo
critico dos princípios, hipóteses e resultados das diversas ciências,
destinado a determinar a sua origem lógica, o seu valor e o seu conteúdo.

• A epistemologia é a doutrina dos fundamentos e métodos do


conhecimento científico. Ela procura estabelecer a relação entre a
realidade e a verdade do conhecimento .
DEFINIÇÃO DO CONCEITO
•Epistemologia = Teoria do conhecimento
•Do Grego: Epistem = conhecimento
• Sub-áreas definidas pelas questões colocadas:
1. Problema da definição do conhecimento = analisa a
natureza do conhecimento i. é. pretende saber se há diferença
ou não entre conhecimento, mera opinião e crença. Quer
dizer, pretende compreender o significado do conceito
conhecimento e o que o distingue da mera opinião. Dai a
proposição de que o conhecimento deve ter justificação! É a
indagação subsequente sobre a natureza e estrutura da
justificação.
DEFINICAO DO CONCEITO
• Existem por isso muitas definições sobre o conhecimento por exemplo:
• Contemplar
• Assimilar
• Criar…
• Entre outras …..

• Se um sujeito se acha consciente da sua realidade, ele estará no processo


de conhecer, e o conhecimento será apresentado por uma gama de
representações sobre as quais para ele, não deve haver dúvidas da sua
veracidade
DEFINIÇÃO DO CONCEITO
2. Quais são as fontes do conhecimento?
(órgãos dos sentidos, e memória; testemunho, introspeção e
razão)
=pretende compreender quais são as fontes do
conhecimento e quando podemos usá-las com segurança.

3. Quais são as possibilidades e os limites do conhecimento?


(criticismo = cenários céptico p.ex: realidade virtual)
daí que se questione se podemos ou não confiar na
percepção?
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES TRADIÇÕES)

• QUESTÃO MILENAR DA HUMANIDADE:


• Qual e a origem do universo, do cosmos e da vida?
Tratar do conhecimento humano é falar sobre como as ideias se construíram e
se constroem na nossa mente e de que maneira as verdades foram e são
passadas de geração em geração!
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Primeira tradição - Escolástica (Aristóteles, … 300 A.C.): busca explicar os fenómenos através das categorias

(aristotélicas) nomeadamente: a essência, a quantidade, a qualidade, a relação, o lugar, o tempo, a posição, a acção e

a paixão.

• As palavras chave nesta tradição são a física e a metafísica, isto é, observa o mundo e categoriza-o em mundo

material que nos rodeia e o mundo interior ou espiritual.


• Para se chegar ao conhecimento é necessário um método (Aristóteles, Platão, …).

• Aristóteles: Introduz a argumentação Lógica e interpretação matemática das verdades e da coerência do processo

argumentativo
• Platão: Introduz a Dialética que pressupõe que o conhecimento advém do debate

• Podemos acrescer também o filósofo Epicuro que desenvolveu a Canónica, procurando distinguir entre o verdadeiro e

o falso.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Segunda tradição – Empirismo (Locke, Bacon e seus discípulos 1620) O que não se pode
demonstrar experimentalmente não é objectivo nem verdadeiro. A palavra chave é o
empirismo.
• Empirismo é um movimento filosófico que acredita nas experiências humanas como
únicas responsáveis pela formação das ideias e conceitos existentes no mundo.

• Ele indica que sendo todo o conhecimento fruto da experiência, então ele é uma
consequência dos sentidos. A experiência estabelece o valor, a origem e os
limites do conhecimento.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)

• EMPIRISMO
• O principal teórico do empirismo foi o filósofo inglês John Locke
que defendeu a ideia de que a mente humana é uma "folha em
branco" ou uma "tabula rasa", onde são gravadas impressões
externas. Por isso, não reconhece a existência de ideias natas,
nem do conhecimento universal.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES TRADIÇÕES)

• EMPIRISMO
• Sendo uma teoria que se opõe ao Racionalismo, o empirismo critica a
metafísica. Ou seja, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é
aprendido pela experiência, pela tentativa e erro.
• Etimologicamente, este termo possui uma dupla origem. A palavra pode ter
surgido a partir do latim e também de uma expressão grega, derivando de um
uso mais específico, utilizado para nomear médicos que possuem habilidades
e conhecimentos de experiências práticas e não da instrução da teoria.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES TRADIÇÕES)

• EMPIRISMO
• Além de John Locke, existiram outros autores diversos de destaque na formação do
conceito do empirismo, como Francis Bacon, David Hume e John Stuart Mill.
• Atualmente, o empirismo lógico é conhecido como neopositivismo, criado pelo
círculo de Viena. Dentro do empirismo, existem três linhas empíricas: a integral, a
moderada e a científica.
• Na ciência, o empirismo é utilizado quando falamos no método científico tradicional,
que é originário do empirismo filosófico, que defende que as teorias científicas
devem ser baseadas na observação do mundo, em vez da intuição ou da fé.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• TERCEIRA TRADICAO - O RACIONALISMO
• (Rene-Descartes 1637) Usa o raciocínio seguido da experimentação isto é, o método dedutivo.
Primeiro está o pensamento e depois vem a análise do meio que nos rodeia (eu penso pois eu
existo!)
• O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de
conhecimento relativamente aos sentidos.
• O racionalismo pode ser dividido em diferentes vertentes: a vertente metafísica, que encontra um
caráter racional na realidade e indica que o mundo está ordenado de forma lógica e sujeito a leis; a
vertente epistemológica ou gnosiológica, que contempla a razão como fonte de todo o
conhecimento verdadeiro, sendo independente da experiência; e a vertente ética, que acentua a
relevância da racionalidade, respetivamente, à ação moral.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• O RACIONALISMO
• Como corrente filosófica, o racionalismo nasce com Descartes, e atinge o seu auge em B.
Espinoza, G. W. Leibniz e Ch. Wolff. O racionalismo cartesiano indica que só é possível
chegar ao conhecimento da Verdade através da razão do ser humano.
• Para Descartes, existiam três categorias de ideias: as adventícias, as factícias e as inatas.
• As adventícias representam as ideias que surgem através de dados obtidos pelos nossos
sentidos;
• As factícias são as ideias que têm origem na nossa imaginação;
• E as ideias inatas, que não dependem da experiência e estão dentro de nós desde que
nascemos. Segundo Descartes, conceitos matemáticos e a noção da existência de Deus eram
exemplos de ideias inatas.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• O RACIONALISMO

• Os princípios da razão que tornam possível o conhecimento e o juízo moral são

inatos e convergem na capacidade do conhecimento humano ("lumen naturale").

• A defesa da razão e a preponderância desta corrente filosófica transformou-se na

ideologia do iluminismo francês e, no contexto religioso, criou uma atitude crítica

em relação à revelação, que culminou na defesa de uma religião natural.


HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES TRADIÇÕES)

• QUARTA TRADIÇÃO (Copérnico, Galileu e Kepler, e os filósofos René Descartes e Francis Bacon). Nela
os epistemólogos, passaram a se preocupar não apenas com a determinação dos modos que podem
conduzir a descobertas de conhecimento, mas também com a capacidade de justificar esse
conhecimento como verdadeiro.
• Exemplo: (Galileu 1640) - Valoriza a experiência do empirismo de Bacon e o rigor dedutivo da matemática
cartesiana para chegar a forma lógica e a sistematização segundo a sequência:
• 1. Análise prévia do fenómeno e sua redução as propriedades essenciais, descartando as demais e procurando
variáveis de interesse, limitando o âmbito do até onde se pretende chegar;
• 2. Elaboração de uma hipótese de carácter matemático que una os elementos, estabelecendo relações entre as
variáveis;
• 3. Resolução que corresponde a experimentar para colocar a prova as hipóteses (não se comprovam as hipóteses
mas as suas consequências)
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Galileu foi sem dúvida um marco importante do período renascentista
(considerado por alguns pai da ciência moderna).
• As suas descobertas em mecânica e as teses por si defendidas em astronomia
são os aspectos mais divulgados actualmente de toda a sua vasta obra.
• No entanto, a revolução que as metodologias por si seguidas vieram causar ao
conhecimento científico têm que ser vistas como, pelo menos, tão importantes
quanto o são os resultados a que chegou, por se demonstrarem
metodologicamente revolucionárias para o processo de construção do
conhecimento científico.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Um dos princípios que começou por caracterizar o trabalho de Galileu nos seus estudos
de fenómenos mecânicos foi o da quantificação.
• Na verdade, começou por desenvolver um esforço no sentido de representar as
realidades observadas por unidades mesuráveis.
• Este princípio de necessidade de quantificação tinha como principal objectivo o de
conseguir estabelecer relações matemáticas que, mais tarde, permitiriam estabelecer
leis gerais generalizáveis a casos ou acontecimentos similares.
• No fundo encontra-se já aqui uma das principais influências de Galileu para a
epistemologia, o do método científico de induzir leis tendo por base observações
mesuráveis da realidade.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• A primeira das suas grandes descobertas veio a dar origem à Lei do Pêndulo.

• Galileu começou a observar o lento balouçar de um candeeiro da igreja. Utilizando o pulsar do seu próprio

coração como medida de tempo verificou que a frequência das idas e vindas do candeeiro seria constante.
• Confirmou as suas conclusões mais tarde construindo os seus próprios pêndulos.

• Quais são os aspectos importantes?

• Primeiro é a descoberta da lei do pêndulo;

• Segundo, mas não menos importante, é o facto de esta ter partido da observação de um fenómeno em

particular (o candeeiro na Igreja), quantificada por uma unidade matemática (o tempo entre duas

pulsações), passando pela formulação de uma hipótese e sendo concluída com a experimentação para

confirmar a hipótese. No fundo, todo o método científico moderno.


HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Outro dos assuntos em que Galileu veio marcar um ponto de viragem foi no respeitante à queda
de objectos.
• Ate então, o pensamento Aristotélico defendia que dois objectos com pesos diferentes cairiam a
velocidades também diferentes.
• Todo o pensamento Aristotélico repudiava a observação como método para estabelecer regras.

• Contrapondo-se a esta teoria até então aceite pela generalidade dos estudiosos, Galileu vem
demonstrar que dois corpos com pesos diferentes caem a velocidades iguais, desde que não
esteja envolvido o atrito imposto pelo ar. Novamente, Galileu baseou as suas conclusões em
experiências.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• O grande marco que representou para o conhecimento foi a sua nova maneira de construir o conhecimento.

• Até aí o conhecimento era elaborado através de uma abstração teórica sobre como devia ser o mundo, de
onde se retiravam leis que se admitia poderem ser discordantes das realidades observadas num mundo
imperfeito.

• Com Galileu o conhecimento começa a ser construído ao contrário, com base na observação.

• Assim, da observação de um fenómeno, traduzida por medições matemáticas passar-se-á à elaboração de


teorias e consequente experimentação para a aceitação ou recusa das mesmas.

• Galileu foi assim um marco não só pelas suas descobertas mas pelo processo para a construção do
conhecimento científico.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• QUINTA TRADIÇÃO: Epistemologia contemporânea (Karl Popper, Imre

Lakatos, Thomas Kuhn, Larry Laudan, Stephen Toulmin, Gastón Bachelard, Paul Feyerabend, Mário Bunge,

Humberto Maturana e Ernst Mayr, Piaget, Foucault e Habermas )- Circulo de Viena:


Caracterizado por uma grande tendência ao rigor lógico e um grande
interesse pelo confronto de ideias e pela discussão argumentada,
bem como um grande interesse pelo Tractatus de Wittgenstein (que
aborda o espectro dos temas filosóficos tradicionais: da lógica à filosofia dos valores, da indagação sobre a
estrutura última da realidade à busca do sentido da vida, da teorização sobre a linguagem a uma reflexão

crítica sobre a própria atividade filosófica ).


HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• O Círculo de Viena adoptou uma postura conhecida como neopositivismo ou
positivismo lógico, pregando uma redução do campo de atuação da Filosofia ao
empirismo, a submissão dos dados empíricos à análise lógica e um combate implacável à
metafísica.

• Dessa forma, o intuito era a reformulação da compreensão e da análise do conhecimento


científico.

• Assim, defendiam uma Ciência única, empírica e universal, incontestável, livre de teorias
não científicas, especialmente, da metafísica.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Para atingir a meta de extinguir a metafísica no contexto da ciência, a intenção
era adotar um método que erradicasse os problemas tradicionais das discussões
filosóficas, porque consideravam que esses problemas eram sem sentido por não
serem passíveis de entendimento universal e não dizerem nada a respeito de
fatos observados.
• Para eles, se esses problemas tradicionais da filosofia fizessem sentido, é
porque poderiam ser convertidos em problemas empíricos e, desta maneira,
seriam solucionáveis pela Ciência experimental.
• Segundo o Círculo, a única Ciência capaz de atestar a verdade das teorias seria
a Ciência experimental.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• Nessa perspectiva, os fundamentos do Círculo de Viena convergem para a
concepção de que o conhecimento científico válido é obtido apenas quando os seus
argumentos são previamente fundados, em uma rigorosa análise lógica preliminar e,
posteriormente, são verificados pela experiência.

• Dessa forma, as análises lógicas e experiências passadas fortalecem decisões


acerca de análises lógicas e experiências futuras, e, neste aspecto, o positivismo
lógico funda-se na Indução, processo segundo o qual, por meio de observações de
fatos particulares passados, deduzimos por meio de leis gerais eventos particulares
futuros, ainda não observados.
HISTORIAL EPISTEMOLÓGICO (DIFERENTES
TRADIÇÕES)
• A reflexão e o estudo do processo de formação da Ciência, do
conhecimento científico, bem como o nascimento da Ciência Moderna, o
conceito de epistemologia e os epistemólogos relacionados ao Círculo de
Viena permitem-nos entender melhor sobre a cultura humana, a
construção dos saberes, sobretudo do conhecimento científico.

• Indiscutivelmente a Ciência está alicerçada na cultura humana e, como a


sociedade está em constante transformação, a própria Ciência é também
mutável.

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