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Principia Mongolica

Ou
Kritik der mongolischen
Vernunft
Análise da Terceira Secção, do 2º capítulo da 2ª parte: Doutrina
transcendental do método, da Crítica da Razão Pura
Quando a crença (considerar algo verdadeiro) é válida para todos aqueles que sejam
dotados de razão o seu princípio é objetivamente suficiente para se lhe chamar convicção
 se a crença não é universal é persuasão
 persuasão = simples aparência, porque um juízo não universal é tido como
objetivo
 "a crença não se pode comunicar" - aquilo que não se pode dizer com
sentido não deve ser dito
 verdade= concordância com o objeto (os juízos de todos os
entendimentos devem encontrar-se de acordo)

aquilo que permite avaliar se a crença é convicção ou persuasão é a possibilidade de


externamente (externismo) a comunicar e a encontrar válida para a razão de todo o
homem
 esta noção é conflituante com a de Wittgenstein?
↳ pois se algo que não pode ser dito com sentido não deve ser dito
então tornar-se-ia impossível, de acordo com esta noção de validação
externa de Kant, confirmar e validar uma crença
concordância de todos os juízos garante, pelo menos, a concordância de todos os sujeitos
com o objeto e desse modo demonstra-se a verdade de juízo
 a persuasão pode subjetivamente não ser distinta da convicção

Descobre-se a realidade privada de um juízo quando se tenta ver se, só vê o


entendimento dos outros com os princípios que nos são válidos, se produzem (sobre
razão alheia) os mesmos efeitos que produzem para nós.
pode-se explicar as causas subjetivas do juízo (as causas que tomamos por objetivas),
sem ter a necessidade da natureza do objeto, enquanto um acontecimento do nosso
espírito.
se algo não gera convicção, é porque não pode ser exprimido como juízo válido para
todos, logo não pode ser afirmado.
 a crença ou a validade do juízo, têm três níveis:
1. opinião
2. fé
3. ciência

OPINIÃO: é uma crença, que tem consciência de ser insuficiente, tanto subjetiva como
objetivamente
FÉ: é uma crença apenas com subjetividade suficiente, é considerada objetivamente
insuficiente
SABER: é uma crença que é suficiente tanto subjetiva como objetivamente

suficiência subjetiva - convicção (para mim)


suficiência objetiva - certeza (para todos)

não se pode ter uma opinião sem possuir qualquer saber, mediante esse saber o juízo
consegue uma ligação com a verdade, essa ligação, sem ser completa, é algo mais do que
uma ficção arbitrária

o princípio de ligação (entre opinião e saber) exige universalidade e necessidade

Na matemática e na moralidade:
deve-se saber ou abster-se de todo o juízo
 nos princípios da moralidade, não se tem o direito de arriscar uma
ação com base na simples opinião de que qualquer coisa é permitida, mas
é preciso sabê-lo
não é possível julgar do ponto de vista simplesmente especulativo, porque os
fundamentos subjetivos da crença não merecem crédito algum nas questões
especulativas, visto não se poderem manter livres da ajuda empírica nem comunicar com
os outros no mesmo grau.

só do ponto de vista prático é que uma crença teoricamente insuficiente pode ser
chamada fé.
este ponto de vista prático é:
 habilidade -fins arbitrários e contingentes
 moralidade -fins absolutamente necessários
FÉ CONTINGENTE: quando não se conhece outras condições para se atingir um fim
FÉ NECESSÁRIA: quando sei de maneira certa que ninguém pode conhecer outras
condições que levem ao fim proposto
FÉ PRAGMÁTICA: uma fé contingente, mas que é fundamental para o emprego real dos
meios para certas ações
a APOSTA: a aposta é o que permite reconhecer se o que alguém afirma é simplesmente
persuasão, ou pelo menos uma convicção subjetiva, isto é, uma fé firme.
a aposta faz refletir e quem não tem convicção suficiente desiste da sua posição.

a crença é puramente teórica porque em relação ao objeto não podemos nada


empreender
FÉ DOUTRINAL: crença em como podemos abranger muitos casos pelo pensamento e
imaginar uma empresa para a qual presumimos ter razões suficientes
↳ há nos julgamentos puramente teóricos algo de análogo aos juízos práticos se
houver meio de provar a certeza da coisa a cuja crença convém a palavra fé e que
podemos esignar fé doutrinal

PARA ADMITIR ALGO APENAS COMO HIPÓTESE:


é se obrigado a, pelo menos, conhecer suficientemente as suas propriedades para não
ter a necessidade de imaginar o seu conceito, mas apenas a sua existência

FÉ: diz respeito à direção que me é dada por uma ideia e à influência subjetiva que exerce
sobre o desenvolvimento dos atos da minha da minha razão e que me confirma nessa
ideia embora não me encontre no estado de a justificar do ponto de vista especulativo.
FÉ MORAL: é um caso diferente de fé pois é necessário que aconteça algo (obedecer à
lei moral)
↳ o fim está inevitavelmente fixado e só há uma condição possível
 (Deus e um mundo futuro: "ninguém conhece outras
condições
que conduzam à mesma unidade dos fins sob a lei moral."

A convicção não é certeza lógica, é certeza moral


e, como repousa sobre princípios subjetivos (o sentimento moral), não devo dizer que "é
moralmente certo que haja um Deus", mas que "estou moralmente certo que há um
Deus".

_______________________________________________________________________
a referência comum a Kant
-"Kant adere um novo caminho ao pensar o conhecimento separadamente"
-Kant introduz na doutrina transcendental do método o conhecimento do
conhecimento

Na teoria da justificação epistémica fala-se habitualmente na epistemologia pós Gettier.


Com Kant já na doutrina transcendental do método vê-se a primeira teoria de justificação
epistémica com base no empírico

Duas vertentes /Kantianas:


- Vertente transcendental
- Vertente empírica (a epistemologia pós-Gettier é somente deste tipo)

se apenas falássemos de uma das vertentes Kantianas, empírico e transcendental, o


revolucionário é Kant reunir as duas vertentes num estudo conjunto formulado por uma
só teoria:
Erkenntnis-Kennen

a relação entre a lógica e epistemologia


foram muitos os autores que estudavam indistintamente a lógica e epistemologia.
quando a lógica se autonomiza no início do séc. XXI a epistemologia revela-se com mais
claridade.

Lógica Transcendental
Lógica Pura (sistemas lógicos, lógica modal, etc)
Lógica Aplicada (teorias da justificação epistémica)

Erkenntnistheorie -teoria do conhecimento

o estatuto do conhecimento, o valor epistêmico


A RELEVÂNCIA DO ESTUDO DE KANT
Von Meinen, Wissen und Glauben
do opinar, do saber e do crer
(da opinião, da ciência e da fé)
Fürwahrhalten- "assentimento", "considerar como verdadeiro", "tomar por verdadeiro”

atitudes proposicionais- atitude do sujeito em relação a um conteúdo de conhecimento

“fundamentos objetivos" e as “causas subjetivas” desse “acontecimento” ou


"incidência", do entendimento "humano a que corresponde o nosso "considerar
verdadeiro"
o conceito de Fürwahrhalten é um processo ativo ao qual somos chamados
constantemente:
 um conjunto de pressupostos dos quais partimos como
sendo verdadeiros e não, a menos que chamados ativamente,
questionamos a sua veracidade.
um conjunto enorme de pressuposições que estão no processo de considerar como
verdadeiro
os objetos só são o que são porque o sujeito tem em si categorias que permitem o
conhecimento
encontrar a universalidade através da singularidade
(evidência espontânea de autoidentificação coletiva)

convicção (Überzeugung) - talvez fundamentos objetivos


persuasão (Überreding) - talvez causas subjetivas

verdade: consentia uni tertio, consentiunt inter se


Aquino: “adequatio rei et intelectos”
consentia uni tertio- consentimento com um terceiro
consentiunt inter se- consentem entre si

fundamentos objetivos e causas subjetivas apontam para a ininterrupta tarefa de ajuizar


a realidade afirmativa ou negativamente

a tarefa inconsciente do juízo

se a realidade fosse apenas fundamentada objetivamente seria inacessível para um


sujeito subjetivo (humano) adquirir qualquer conhecimento do mesmo, se todo o mundo
fosse subjetivo o mundo seria completamente idealizado

Kant absorve tanto um mundo puramente subjetivo como um mundo puramente objetivo

um processo de ajuizamento que vai muito além dos juízos positivos que realizamos no
dia-a-dia a realidade é sempre compreendida já sobre a influência de um subjetivo, sobre
o sujeito, eu.

Persuasão difere de Convicção


a vulnerabilidade cognitiva

O otimismo Kantiano em relação às possibilidades cognitivas e de adaptação cognitiva


humana
Kant enquanto filósofo “excessivamente antropomórfico"

a convicção como o único garante da objetividade

o problema de tomar "causas subjetivas" por "fundamentos objetivos" resultante num


"considerar como verdadeiro ilusório" (trügliche fürwahrhalten):a dificuldade de
reconhecimento disso mesmo.
não há uma completa distinção entre diversos quadros empíricos~
é na interrupção do carácter habitual das coisas que se dá a filosofia é nesse parar que
se dá a filosofia
o "tomar por verdadeiro" perspetivado por Kant como "validade subjetiva do juízo,
relativamente à convicção”, tendo concomitantemente "validade objetiva".
 a exteriorização é permitida pela convicção
"contrariamente à persuasão": o pretenso valor objetivo da
"convicção".
 os três gêneros do considerar como verdadeiro": “opinar”
(Meinen); "crer" (Glauben) e “saber" (Wissen)
quando existe um juízo existe um ser pensante (cogito ergo sum, bitches)

Fürwahrhalten é sempre uma formulação subjetiva feita a partir de um sujeito subjetivo


Objeto - Sujeito
Sujeito - Objeto

Pasternack e a "taxonomia das atitudes preposicionais" de Kant: paralelos na


epistemologia contemporânea

a opinião é apenas um ponto de vista subjetivo sem fundamento algum ou sem


conhecimento fundamentado. Do ponto de vista epistémico as nossas opiniões não valem
nada (enquanto meras opiniões)

Chignel sobre os "méritos epistêmicos" e "méritos não epistêmicos"


mérito epistémico - produz conhecimento
mérito não epistémico - não produz conhecimento

a certeza"(GewiBheit) em contraste com a "convicção", a “certeza" cuja suficiência é


pensada objetivamente: a visão de Willaschek e Watkins de acordo com a qual "a
suficiência subjetiva diz respeito à firmeza do assentimento" ao passo que "a suficiência
objetiva diz respeito ao grau de justificação epistémica ". *
* mas Kant considera tanto a crença, a opinião e o saber enquanto graus de justificação
epistémica
a convicção" tem apenas suficiência meramente subjetiva.
FÜRWAHRHALTEN
PERSUASÃO CONVICÇÃO CERTEZA
OPINAR/OPINIÃO CRENÇA/ CRER SABER

a não arbitrariedade do que é visado opinativamente havendo sempre algum "saber":


noção de “jogo da imaginação"

o campo da "razão pura", tal como o da "moralidade', sendo a priori, não deixa espaço
para a opinião" (Meinung), mas somente para o que é certo, embora o "saber" seja daí
inalcançável: a “crença” (Glaube), enquanto correspondente ao "ter por verdadeiro
teoricamente insuficiente" na sua aplicação prática.

3. A “necessidade" (Notwendigkeit) nas suas modalidades subjetiva e objetiva: o "só


relativamente suficiente” e aquilo que é "absolutamente suficiente e para qualquer um".
a) “o considerar como verdadeiro" visto à luz da distinção entre "crença simplesmente
contingente”, ou "pragmática" e "crença necessária";
b) a "persuasão" determinada contingentemente e o espaço da "convicção subjetiva" ou
"crença firme";
c) restrição ao campo objetual de um “tomar por verdadeiro" que seja "simplesmente
teorético" (bloB theoretisch);
d) o "análogo" judicativa do ponto vista prático "em que a palavra crença corresponde à
consideração como verdadeiro (Fürwahrhaltong)": noção de "crença doutrinal";
e) a "doutrina da existência de Deus" como exemplo.
Forwahchalten
FÜRWAHRHALTEN
PERSUASÃO CONVICÇÃO CERTEZA
OPINAR/OPINIÃO CRENÇA/ CRER SABER

CRENÇA
PRAGMÁTICA NECESSÁRIA DOUTRINAL

"uma crença nunca pode ser verdadeiramente necessária"


f) o seu carácter pressupositório orientador, que excede a mera relação prática, e as
ideias Kantianas ide "teologia da natureza" ou "teologia física";
g) Chignell e a identificação da crença doutrinal, ou teorética, em Kant com uma
"aceitação de certas proposições sintéticas a priori", as quais podem satisfazer o “impulso
metafísico" e isto “sem nos permitir exibir os nossos resultados enquanto
epistemicamente equivalentes ao conhecimento percetual, histórico e científico ".

Méritos epistêmicos
Méritos não epistêmicos - úteis na prática
o processo epistémico inicia-se com a opinião, elemento necessário para tal

PROCESSO TEORÉTICO:
↳ aceitação de certas proposições sintéticas a priori, as quais podem satisfazer o impulso
metafísico e isto "Sem nos permitir exibir os nossos resultados enquanto
epistemicamente equivalentes ao conhecimento percentual histórico e cientificamente

CRENÇA MORAL:
↳o sujeito compromete-se com a sua ação, mas não ligada ao plano epistémico.

crença moral - é uma convicção, não uma certeza

 uma ação moral tem de ter a vontade do sujeito, não poderá ser algo
determinado, desta forma seria retirado a essência da moral

CRENÇA RACIONAL:
↳ fundamentada paradoxalmente em "sentimentos morais" cujo pressuposto é
incontornável

LÓGICA:
↳Distinção entre a "verdade" (não um domínio em si mesmo, uma qualidade de
ajuizamento), enquanto propriedade (ou qualidade) objetiva do conhecimento, e "juízo",
o elemento de ligação "pelo qual algo é representado como verdadeiro" e que, ao
concretizar-se para um "sujeito particular", consiste subjetivamentemente "num tomar
por verdadeiro ".
Juízo
 algo ser representado sujeito como verdadeiro
↳ "o tomar por verdadeiro
 Sujeito
↳perceção

Lógica de Jäsche (int, cap IX)

Plano Antropológico Plano da Realidade


erscheinen (aparecer) ------------------------------------------------ding en sich (coisa em si)
fenómeno
(Erscheining) não
existem, pois é inacessível
o que aparece (ao humano)

OPINIÃO e CRENÇA -> CONTINGÊNCIA (insuficiência)


SABER-> NECESSIDADE
c) formulação diferente na reflexão 2450
↳ "Ao crer pertence não apenas sufficientia subjetivamas também necessidade
subjetiva."
Tipos (Antem) do considerar como verdadeiro
Modos (Modi)
juízos juízos juízos
problemáticos assertórios apolíticos
OPINAR CRER SABER

conhecimento como algo normativo


a normatividade do conhecimento
"1. Diz-se que o conhecimento é geralmente admitido (angenomen), isto é, encontra
aprovação de todos"

A modalidade dos juízos na Primeira Crítica


representado "uma função completamente particular destes", cuja caraterística consiste
em nada contribuir para o conteúdo do juízo: ela perfaz em conjunto com os planos de
"quantidade", "qualidade" e "relação", responsáveis pelo "conteúdo de um juízo", aquilo
a que Kant chama de "tábua "judicativa; do ponto de vista modal, está em questão
unicamente o "valor da cópula em relação ao pensamento geral."

JUÍZO MODAL
I." a alma do humano pode ser imortal" - possível(arbitrário)
II."a alma humana é mortal"-real (verdadeiro)
III."a alma do humano tem de ser mortal"- necessário (certeza)
I.problemático
II.assertório
III.apolítico

LÓGICA MODAL
E
LÓGICA EPISTÉMICA
lógica epistémica
↳ Jaakko Hinfinita
Para, Jaakko Hintinkka, é necessário demarcar a diferença entre juízos modais, ao
contrário da lógica modal, que traduzia (I) e (II) de igual forma
I.) Pap
II.)Bap
III.)Kap

princípio do KK:
Kp → KKp> KKKP (...)
rejeição do princípio KK:
↳problema da regressão infinita
↳+rejeição do princípio KK

certeza (necessária) e incerteza (contingente)


do "tomar por verdadeiro"

os modos de juízo de verdade e falsidade (modi judicci et falsitatis) ou "modos de


considerar como verdadeiro" (modides Fürwahrhaltens) são aí apresentados da seguinte
forma
1.) um conhecimento é geralmente admitido (angenommen), encontra aprovação junto
de todos embora em si não seja ainda certo. Uma marca simplesmente externa, da qual
não se pode inferir ainda certeza.
2.) um conhecimento é estipulado (augemacht), será admitido como uma verdade
universalmente reconhecida
3.) ...
"lógica transcendental” = lógica que explora "os conceitos originariamente puros da
síntese que o entendimento a priori contém em si."
"lógica universal” ou “lógica geral” = divide-se em “lógica pura” e “lógica aplicada”

A lógica pura é antecessora na lógica formal moderna pois não admite senão "princípios
mais altos (ou puros (lauter)) a priori", abstraindo. completamente de qualquer conteúdo,
seja ele "empírico ou transcendental," e recusando qualquer contaminação psicológica
para se constituir cientificamente enquanto "cânone do entendimento”.
A lógica aplicada, aplica-se (e subir sobe-se para cima, já que estamos numa de redundâncias)
às situações concretas em que um sujeito se pode encontrar, para a compreensão das
quais concorre toda uma série de condicionalismos subjetivos ou psicológicos que lhe
retiram cientificidade; os seus "princípios empíricos "não lhe permitem aspirar a ser mais
do que um mero "catártico do entendimento comum"

lógica pura - "cânone do entendimento"


lógica aplicada- "catártico do entendimento comum"

Proposições segundo Kant:


analíticas sintéticas
a priori a priori a posteriori~

na lógica pura as proposições são sempre analíticas, e pretende-se sempre construir um


"cânone do entendimento".

O propósito da filosofia transcendental…


A capacidade de purificação da lógica aplicada fica muito aquém daquilo que está
presente na "crítica da razão pura "no processo de constituição da "ciência"
(Wissenschaft) que Kant denomina “filosofia transcendetal” e que ambiciona alcançar o
estatuto de "organon" dos "princípios da razão pura". Mas como é evidenciado em B 26
e reconhecido em B823, o máximo a que uma “filosofia da razão pura” poderá chegar é a
um “cânone”, que servirá, de modo “apenas negativo”, para uma “determinação dos
limites” (Grenzbestimmung) daquilo que se pode conhecer metafisicamente.

A lógica das lições de lógica


tratar simultaneamente da lógica geral pura e aplicada, mas não versam sobre a filosofia
transcendental, que configura um domínio da investigação que é essencialmente
metafísico já que a meta epistemologia que visa só se pode estabelecer
aprioristicamente.

esta última depende de a assunção do estatuto canónico da lógica geral pura.


Porque há universalidade do conhecimento, que o empreendimento da “lógica
transcendental” pode ser levado a cabo, “a ideia de uma ciência do entendimento pura e
dos conhecimentos racionais (ou da razão) (Vernunofterkenntnisse) mediante a qual
pensamos objetos completamente a priori” e que, nessa base, “determinaria a origem, o
âmbito, e a validade objetiva de tais conhecimento ".

CPR B89
dupla meta epistemologia
1.meta epistemologia da lógica transcendental principalmente metafísica que trabalha
com conceitos sintéticos a priori
2. -meta epistemologia da lógica geral aplicada principalmente empírica que
trabalha com conceitos sintéticos;
-meta epistemologia da lógica geral pura que trabalha com conceitos analíticos;

Kant distingue a "lógica geral" (pura), enquanto "propedêutica de todo o uso do


entendimento em geral", da "Lógica transcendental", em que, na esfera do projeto crítico
"o objeto, ele mesmo, será representado como um objeto do simples entendimento."

a lógica geral aplicada não devia ser chamada de "lógica", na qual consideramos às "coisas
se costumam passar no nosso pensamento, não como se deveriam passar."

o caráter lógico da averiguação epistemológica da parte empírica


meta epistemologia = uma reflexão sobre os métodos de conhecimento e sobre o
carácter dos conhecimentos.

2. A "opinião" enquanto "ajuizar provisório" (vorlaüfige Unteilen) ou "Solo condição


suspensiva provisoriamente" (sub conditione suspensiva adinterim).
a) delineamento da suspeita da verdade a partir da matriz opinativo;
b) reflexão acerca do processo de adiamento do saber na esfera empírica:
repercussões nas ciências cujas metodologias procedam, ainda que em parte,
aposterioristicamente no sentido em que envolvam "conhecimentos empíricos"

Kant exemplifica isso através da física e a psicologia, na primeira é importante salientar a


sua fundamentação matemática, que não faz dela, ainda assim, matemática pura.

Hein van der Berg resume bem o que está em causa ao escrever que "a matemática
fornece fundamentos de cognição a priori de coisas naturais determinadas" e, desse
modo, "compre uma função estritamente epistémica com respeito à física."
c) A matemática, metafísica e a moral tem um estatuto apriorista, estão
fechadas ao domínio opinativo: não pode haver aqui opiniões já que estas nunca
podem formular-se sobre matérias passíveis de conhecimento a priori.

Não abandonamos todas as nossas opiniões para formular um saber ou um crer, a opinião
não serve para nada e no processo de cognição nunca é totalmente abandonada.

d) O fundo que se mantém e proporciona estabilidade cognitiva suficiente ao


Furwahrhalten, o que não implica que à nossa situação seja irreversível ou
cognitivamente invulnerável e que a imagem que temos da realidade não
constitua, numa maior ou menor escala, um sistema de vazios

e) o adiamento do saber que se assume repetidamente como maior inimigo


da efetivação epistémica do opinar, que tende a ser assumido sub conditione
constitutiva.

3. A “crença” e a não contraditoriedade daquilo que asserta: o "tomar por verdadeiro"


na sua dimensão “livre”, determinado aprioristicamente apenas no sentido moral.
a) os "assuntos de crença" (Sachen des Glaubens) não constituem
conhecimentos empíricos;
b) o caso específico da "crença histórica", não considerada por Kant como
uma verdadeira "crença", na medida em que é passível de corresponder a um
"conhecimento".
crença no património geral de "conhecimento empíricos", formando uma "crença
histórica", não foi alvo de conhecimento empírico direto, mas sim indireto.

“um comprometimento” com aquilo que não pode ser empiricamente comprovado

c) indistinção entre o "tomar por verdadeiro" que se estabelece "a partir de


um testemunho" (auf ein Zeuguin) e “através da própria experiência" (durch
eigene Erfahrung): mesmo o conhecimento testemunhal, que não foi adquirido
diretamente, está muito longe de ser algo com que nos comprometemos
livremente, como acontece no caso específico de 'crer"
d) Os "assuntos de crença" não constituem igualmente conhecimentos
racionais, quer do ponto de vista "teorético" (nos campos matemático ou
metafísico), quer do prático (no campo moral), onde é preciso "saber": porque
qualquer domínio de conhecimento a priori está tão vedado à crença como à
opinião.
Inversamente, ninguém acreditará automaticamente em Deus mediante argumentos
ontológicos, quer matemáticos quer filosóficos.
A prova ontológica de Gödel como exemplo
↳a "prova ontológica", inicialmente proposta por S. Anselmo e que vigorou até René
Descartes, é desconstruída, em conjunto com a "prova cosmológica" e a físico-teológica",
perto de final da Doutrina Transcendental dos Elementos.

e) os "assuntos de crença" formulam-se num “considerar como verdadeiro"


enquanto "necessariamente livre" (notewendig frei).

Kant não deixar dívidas quanto a isso quando, num longo esclarecimento em nota,
enuncia "esta crença é a necessidade de aceitar a realidade objetiva de um conceito (do
bem supremo), isto é, a possibilidade do seu objeto, como objeto necessário a priori da
escolha", frisando depois âmbito subjetivo em que se constitui a "validade e inalteridade"
dessa “crença prática”, que, embora nunca possa ter uma aptidão epistémica, "toma o
lugar de um conhecimento."

"eu não sou matematicamente responsável por 2+2=4"


"para ser moralmente responsável, é necessário existir escolha para um indivíduo ser
responsável moralmente."
“mais complexo é a comensurabilidade entre (ii) e (ii’) a (iii) e (iii’)”
f) o não conhecimento específico do “crer”

4. o "saber" na sua dupla fonte empírica (imediata ou testemunha) e racional


a) diferença entrou a "certeza empírica" que é (i) "originária" (originarie
empirica), para mim, e (i) derivada" (derivative empírica) ou "histórica": o seu
carácter, assertórico e a problemática relação que tem com o âmbito da opinião".
b) a "certeza racional" como sendo (ii) do foro matemático (intuitivo) ou (ii')
filosófico discursivo): níveis de evidenciação;
c) o estatuto apolítico ela "certeza racional" conferido pela consciência da
necessidade", equivalente ao "saber" enquanto tal, podendo nós reconhecer isso
"a priori mesmo sem qualquer experiência";
d) a "certeza" concernente a objetos empíricos como podendo revestir-se de
contornos empíricos e racionais;

Ainda que não constituam crenças, os conhecimentos empíricos têm, a exemplo


daquelas, um carácter meramente assertórico - o que permite entender com mais
acuidade a relevância da "crença" no exame que Kant faz do Fürwahrhalten.

5. os regimes (iii) imediato e (iii) mediato da "certeza": os "conhecimentos" que


constituem "algo indemonstrável imediatamente certo" e os que, não tendo em si o
cunho da auto evidência, só obtém tal estatuto graças a uma prova" (Beweis)
a) a origem do conhecimento encontra-se na imediatez;
b) a "demonstração", ou "prova" (Beweis), que acompanha a mediação

É fácil empenhar (i) e (iii) bem como (i’) e (iii')

Se aparentemente posso dispensar quaisquer provas para me certificar da existência do


meu corpo ou daquilo que me rodeia, excluindo que um génio maligno cartesiano me
tenha iludido ou que a minha experiência sensorial seja uma consequência de eu ser um
mero cérebro numa cuba, precisarei sempre da comprovação das proposições do tipo "O
que é hoje Kaliningrado foi outrora Köenisberg", "Tive estes antepassados" ou "Fulano
ganhou a lotaria", encontrando-a em documentos escritos, imagens, informação
transmitida pessoalmente, etc...

Mas por muito confiança que tenha relativamente à validade da aperceção e dos
testemunhos em que se fundam tais certezas empíricas, percebe-se o porquê de, para
Kant, serem assertóricas já que poderiam não ser o caso

Kant deixa isso claro na secção inicial do I capítulo da Doutrina Transcendental do Método
da Crítica da Razão Pura ao afirmar "argumentos empíricos não podem proporcionar
nenhuma prova apolítica"

A relação entre (ii) e (iii) manifesta-se por excelência nos "axiomas", que formam os
"princípios sintéticos à priori dade que são imediatamente certos."

A "geometria pura" (euclidiana), fornece-nos paradigmas disso ciando ele aí o exemplo


de "a linha reta (ser) a mais curta entre dois pontos", à qual vai juntar outros exemplos
provenientes daquilo que denomina peculiarmente "matemática da extensão".

Kant distingue o exercício da geometria, enquanto operando com "axiomas que


concernem propriamente apenas a grandezas (quanta) como tais", do da aritmética, que,
ao incidir sobre a quantidade" (quantias), tem nos seus alicerces "proposições" que,
mesmo sendo "sintéticas e imediatamente certas (indemonstrabilia)", não formam
"nenhuns axiomas propriamente ditos", mas, antes, "fórmulas numéricas", segundo ele,
uma axiomatização neste plano.

Temos, por conseguinte, dois subgéneros do género de relação entre (ii) e (iii): um
axiomático, a que corresponde (ii) – (iii) enquanto tal, e um não axiomático, que se
poderá designar (ii)-(iii)*.
Note-se que ambos permitem uma "certeza matemática" que é "imediata", embora
divirjam no que nos respetivos fundamentos diz respeito.
Um alcance distinto da "clareza matemática" ocorre quando ela é "mediata"

Uma relação (ii) e (iii') patenteia-se naqueles casos em que não se estando perante
qualquer coisa que seja imediatamente

e o que dizer de (ii')?


Kant põe em destaque que, "nunca um princípio sintético" simplesmente com base em
conceitos pode ser “imediatamente certo”. Que é o que expressa a categoria da relação
de "causalidade e dependência (causa efeito)".

O exemplo da demonstração de um teorema. Um teorema não é evidente por si próprio.

evidência por mediação "causalidade e dependência”


portanto (ii’) não admite realmente (iii) apenas (iii’) os princípios filosóficos não podem
dispensar o seu processo dedutivo

6. Provas da "certeza mediata"


a) prova-se diretamente "uma verdade estabelecida a partir dos seus
fundamentos;
b) prova indiretamente, infere-se "a verdade de uma proposição a partir da
falsidade do contrário": observação do método falsificacionista nas ciências

“inferência da melhor explicação” -> o raciocínio por abdução

não se demonstra autenticamente que o fenómeno X é explicado por Y, mas em


contrapartida, que Y se apresenta enquanto explicação de X, sendo a melhor explicação
que se tem para X, pelo que X será provavelmente verdadeira

o raciocínio por adução é muitas vezes associado àquilo que ficou conhecido na
contemporaneidade como "inferencia da melhor explicação."

7. características. das provas indiretas


a) a "oposição "em causa deve constituir-se "contraditoriamente" ou
"diametraliter";
b) insuficiência das proposições "contrariamente opostas" (contrarie
opposite), as quais são ambas passíveis de falsidade
Kant: se queremos que a prova indireta seja válida teremos de alcançar um resultado em
que uma proposição seja colocada perante outra "contraditoriamente te ou
diametroliter", não sendo suficiente que elas sejam "simplesmente contrárias" ou
"contrarie opposita".

O ponto mais relevante da argumentação de Kant neste espaço do capítulo diz respeito
à distinção que estabelece entre "demonstração"(Demonstration) e "prova acromática",
através das quais se alcança, respetivamente, "certeza matemática" e "certeza filosófica".

8. Provas na "certeza matemática" e na "certeza filosófica"


a) a "demonstração" (Demonstration) no plano intuitivo;
b) a "prova acromática" no plano discursivo: especificidade do acromático;

Kant adianta que "(só) uma prova apolítica, na medida em que é intuitiva, pode chamar-
se demonstração".

o filósofo fica limitado aprovas que não são demonstrativas, mas apelativas.

aquilo que está em causa é "considerar de cada vez o geral" in abstracto (mediante
conceitos) ou poder fazê-lo "in concreto (na própria intuição) e contudo mediante a pura
representação a priori".

" provas acionamíticas (discursivas)"-> “objeto em pensamento”


“demonstrações” → prosseguem na intuição do objeto (in der Auschauung des
Gegenstands fortgehen)

9. o termo ciência (Wissenschaff) a exemplo scientia, enquanto inclusivo do conceito de


saber" (Wissen, Scire): sistemas cognoscitivos versus simples agregados tal como se
encontram no "conhecimento comum".

Kant alerta para o perigo da pretensão da filosofia (teórica) em se tornar "ciência", i.e.,
"a suma de um conhecimento como sistema", enquanto se diferencia da "suma de um
conhecimento como simples agregado", a exemplo daquilo que sucede no
"conhecimento comum".

apesar de "tudo o que acontece tem a sua causa" permita a priori formular na experiência
juízos apodíticos com base em princípios, este nunca serão uma evidência
As categorias da relação correspondem a "analogias da experiência", elas têm um
estatuto marcadamente diferente dos axiomas".

10. A duplicidade da "convicção" que pode ter contornos práticos ou lógicos


a) convicções lógicas determinam-se a partir de "fundamentos objetivos":
relações com o "saber";
b) convicções práticas estabelecem-se através de "fundamentos subjetivos",
que numa perspetiva prática, valem de forma objetiva: noção de "crença
racional";
c) nota sobre a força desta "crença relativamente, que Kant considera poder
ser ainda alvo de alegações contrárias,
d) reapreciação da "crença histórica" como tomar por verdadeiro teorético
ou lógico", e não prático, o qual é passível de corresponder a certos
conhecimentos.

Kant salienta, a par da epistemologia do final do séc.XX com a linha responsabilista da


epistemologia, que qualquer "saber empírico histórico ou mediato repousa na
confiabilidade do testemunho" isto porque virtudes intelectuais a "autenticidade",
"competência", "integridade" garantirão que estejamos perante uma nota sobre a força
desta "testemunha irrefutável"
L um grande contributo para o responsabilismo das virtudes foi Linda Zagrebski

a outra linha da epistemologia das virtudes assenta na confiabilidade das virtudes


intelectuais especificamente cognitivas, tais como a introspeção ou a memória

11. a "persuasão", contrária à convicção, delineia-se a partir de uma insuficiência


totalmente subjetiva: recuperação do "opinar"
a) a "persuasão" antecede habitualmente a "convicção": importância do
"refletir" sobre o estatuto epistémico disso com que lidamos, conduzindo a um
"investigar"; "testar" da nossa situação cognoscitiva;
b) a inexpugnabilidade de um fundo persuasivo: a sua falsidade "ao nível da
forma", em que "um conhecimento incerto aparece como certo", mas possível
verdade "ao nível da matéria";
c) diferenciação da "persuasão para a "opinião, que é um conhecimento
incerto na medida em que será tido como incerto": a desatenção enquanto
"saber" aparente e o estatuto autenticamente epistémico do "opinar"

como o "opinar" tem o carácter do auto-apercebimento e como tal tem o estatuto


realmente/autenticamente epistémico

12. a "vontade" não influencia o processo judicativa, não ser por via do entendimento"
a) adiamento ou retenção dos nossos juízos marcados pela
provisoriedade e consequente problematização.
b) noções de "adiamento crítico do juízo" ou "suspensão indagatória"
e "adiamento cético" ou "suspensão cética do juízo": a colocação de
qualquer juízo em "suspensão" quando não há "fundamentos suficientes
para considerar algo como verdadeiro "em oposição à sua colocação "em
dúvida";

Kant afasta-se prontamente de um posicionamento cético radical, em que o juízo é


colocado "em dúvida" indefinidamente, considerando que a tarefa do "verdadeiro
filósofo" consiste em colocar o juízo "em suspenso" apenas até ter condições para
legitimamente "tomar por verdadeiro".
Trata-se de suspender momentaneamente juízo.

c) dificuldades inerentes ao processo suspensivo do juízo


d) da relevância dos "juízos provisórios", entendidos como
"antecipações", para o "meditare" e "investigar".
Antecipações-Antizipationen
Meditar-Mediterem
Investigar-Untersuchen
e) a distinção de Kant entre juízos provisórios e "preconceitos" ou
pré-juízos": estes são juízos provisórios" e "preconceitos" ou "pré-juízos"
(Vorurteile): estes são "juízos provisórios" que se tornam como "princípios"
(Grundsätze) e aquilo que originam é do domínio dos "juízos erróneos"
(irrige Urteile), os quais confundem causas subjetivas com fundamentos
objetivos".
1.Determinar a certeza do conhecimento implica, segundo Kant, o "conhecimento do
provável" que representa uma "aproximação à certeza"
a) a "probabilidade" constitui "um tomar por verdadeiro baseado em
fundamentos insuficiente, os quais apesar disso, tem uma maior relação com
fundamentos suficientes do que o conteúdo"~
b) diferença entre "probabilidade" (Wahrschenlichkeit, probabilitas) e
"plausibilidade" (Scheinbarkeit) ou verosimilhança (verosimilitude): esta estabelece "um
considerar como verdadeiro baseado em fundamentos insuficientes na medida em que
estes são maiores do que fundamentos do contrário
c) o "tomar por verdadeiro "poderá ter forma subjetivo ou objetivo
consoante a fundamentação que tivermos para conhecer algo seja probabilística ou
simplesmente plausível ou verosímil
d) Nos conhecimentos prováveis essa fundamentação tem validade objetiva;
a estimativa é feita em função de um "padrão" ou uma medida"
e) o plausível e a validade simplesmente subjetiva que constitui tal
"quantidade de persuasão": se probabilísticamente temos a possibilidade de "comparar
os fundamentos insuficientes com os suficientes ", funcionando a "certeza" como
princípio norteador, o mesmo acontece na dimensão do plausível, onde, não existindo
qualquer padronização, a comparação é feita "apenas com fundamentos do contrário"
f) a homogeneidade probabilística do nível matemático donde os elementos
são "numeráveis"
g) a heterogeneidade própria da filosofia, que joga com elementos
"ponderáveis" (ponderiert) e consequentemente plausíveis: o "raciocínio
filosófico" não permite "nenhuma relação à certeza, mas apenas de uma
plausibilidade a outra".
h) consequências de "a relação dos fundamentos insuficientes aos
fundamentos suficientes" só pode ser determinada na matemática: a
filosofia deve limitar-se a um discurso plausível originado num
Fürwahrhalten que é suficiente simplesmente subjetiva e praticamente"
i) a propósito do falabilismo de Kant: se em filosofia "a probabilidade não se
deixa estimar face à heterogeneidade dos fundamentos" apenas se poderá
ter estritamente" probabilidade matemática" como "mais do que metade
da certeza"

Kant e Bayes
a influência de Bayes na epistemologia formal
a análise Bayesiana do que se veio a designar probabilidade condicional ou posterior
assenta num teorema que pode ser expresso em notação simplificada por meio da
seguinte equação:
x
uma questão importante, dos princípios Bayesinianos, que nos reaproxima do
enquadramento que Kant faz da probabilidade na Lógica diz respeito ao grau da crença
numa hipótese que forçosamente nunca pode ser nulo ou total se quisermos evitar o
dogmatismo
Um caso típico em que há crença nula em quando uma hipótese em causa constitui, aquilo
que Ikka Niinilvoto descreve como, "uma idealização que se sabe ser falsa", pois isto
implica que "as suas probabilidades anteriores e posteriores sejam zero".
Regra de Cromwell:
“Eu suplico-lhes, na piedade de Cristo, pensem que é possível que estejam enganados.”

no Bayesianismo:
+ conhecimento=+ informação
mais hipóteses consolidadas podem ser apresentadas e as nossas probabilidades serão
cada vez mais fundadas.
existe ainda um debate sobre o tipo de crença que é assumida inicialmente,
nomeadamente se a crença deve ter uma base subjetiva ou objetiva.

2. O papel da "dúvida" (Zweigel), enquanto é "um fundamento contrário ou um simples


obstáculo ao considerar como verdadeiro, que pode ser visto ou subjetiva ou
objetivamente"
a) a dúvida vista subjetivamente do ponto de vista subjetivo, duvidar significa
ter uma indecisão que assenta num "escrúpulo", que constitui "um fundamento
contrário ao considerar como verdadeiro simplesmente válido subjetivamente".
b) a dúvida vista objetivamente: do ponto de vista objetivo, isso representa
uma "objeção", que oferece "um fundamento objetivo para tomar por falso (für
falsch zu halten) um conhecimento tido por verdadeiro ".

As dúvidas da experiência comum dificilmente constituem em verdadeiras objeções,


limitando-se normalmente a mera hesitações.
c) consideração sobre "o modo de pensar cético" na sua oposição ao "modo
de pensar dogmático" ou "pensamento acrítico": a rejeição de ambos em
d) a recusa do "conhecimento assertórico" promovida pelo ceticismo.
e) o "método crítico" moderado, enquanto "mera suspensão do juízo", como
alternativa verdadeira crítica

Kant sustenta, numa antecipação da regra de Cromwell, que nem absoluta desconfiança
nem a absoluta confiança se revelam apropriadas; se são raros os casos em que podemos
conhecer algo dogmaticamente, também a atitude ética, que recusa sem ter um
fundamento "todo o conhecimento assertórico (behauptend)", não apresenta uma
alternativa viável pois impossibilita desde logo qualquer "aproximação à "certeza", sendo
ambas as posturas dogmáticas.
A metodologia crítica não tem aplicação aos conhecimentos que são específicos dos foros
"matemático" ou “empírico”, mas tão-somente ao "conhecimento puramente filosófico".

3. Conceito de hipótese
a) tem natureza probabilística (insusceptibilidade de "certeza apolítica": sendo a
hipótese por definição incerta, o Fürwahrhalten hipotético fundamenta-se numa
pressuposição (Voraussetzung) de suficiência.
b) inferência indutiva e otimização científica: relevância de que "à probabilidade de
uma hipótese pode aumentar e elevar-se a um análogo de certeza."
c) estatuto do "até agora" (bisjetzt) nas ciências da natureza: a impossibilidade da
dimensão hipotética na matemática e na metafísica;
d) o facto de a sua validade ser conferida por aquilo que tem ocorrido "até agora"
não deve impedir que, com o devido espírito crítico, a perspetivamos "como se
fosse totalmente certa "- tanto quanto o pode ser "através da indução"
e) conclusões sobre a meta epistemologia Kantiana

O pensamento de Kant foi absolutamente incontornável no séc. XIX, em que ficou


marcada por clivagens entre idealistas e realistas, e mais tarde um debate entre
psicologistas e anti psicologistas, as quais lançaram a epistemologia do séc.XX.

o naturalismo científico e filosófico que Herman von Helmholtz (neo kantiano, mas
principalmente cientista), que começou a promover de forma influente na segunda
metade do séc. XIX, deu o mote a essas disputas.

filósofos realistas ou naturalistas


L combinar os resultados da análise transcendental com resultados detidos através das
ciências naturais

um Kantianismo naturalizado de Helmholtz


o programa de Helmholtz, altamente influenciada pela teoria epistêmica de Kant,
buscava uma ponte entre as ideias de Kant- que tinham ficado reféns do idealismo
alemão- e os desenvolvimentos científicos da época (evidente na sua principal obra de
teor mais filosófico Manual de ótica Fisiológica 1856-1857)

Não é surpreendente que possa haver referências a um "Kantianismo naturalizado de


Helmholtz" ou a uma "epistemologia naturalizada de Helmholtz" enquanto proposta
percursora da "epistemologia naturalizada" de Quine, um naturalismo contra o qual
Herman Cohen, pai da escola neokantiana de Marburgo, prontamente se insurgiu. Aquilo
que Cohen rejeita na sua obra A Teoria da Experiência de Kant, publicada pela primeira
vez apenas 4 anos a seguir à publicação de von Helmholtz, é muito simplesmente, o
psicologismo do naturalismo, considerando que a aderência de ideias de von Helmholtz
às ideias Kantianas tem uma "ressonância psicológica-metafísica"
Frege foi outro autor que também se insurgiu contra o naturalismo de Helmholtz,
fazendo-lhe duras críticas nas Leis Fundamentais da Aritmética (1903) o alvo concreto de
Frege é o ensaio Contar e Medir, como siderados epistemologicamente, que Helmholtz
publicou em 1887:
"Dificilmente me apareceu algo mais não filosófico do que este ensaio filosófico e
dificilmente o sentido da questão epistemológica foi mais mal compreendida do que aqui."

A circunstância de a "questão epistemológica "aparecer em Frege subordinada aos seus


interesses pelos fundamentos da matemática obscureceu o papel fulcral que
desempenha a filosofia do autor. Frege afirma estar focado na procura pelo "fundamento
(Grundlage) para o ajuizamento da natureza epistemológica (erkenntnisstheoretische
Natur)" dessas leis fundamentais, que no âmbito do seu logicismo correspondem a "leis
lógicas", ele dá um claro sinal de que não é apenas uma questão lógica que está em causa,
subsistindo outra, tão ou mais importante, que é "epistemológica".
Frege opõe aquilo que denomina "leis do ser verdadeiro" (Gesetze des Wahrseins) às "leis
do tomar por verdadeiro" (Gesetze des Fürwahrhaltens) ou "leis naturais do tomar por
verdadeiro humano (Naturgesetze des menschilichen Fürwahrhaltens), enquanto "leis
psicológicas", da "representação" (Vorstellung), as quais, defende, não podem
fundamentar a lógica tal como pretendia Erdmann, que não via nela nenhuma
“objetividade real"

Numa caracterização reminiscente daquela que Cohen fez do trabalho de Helmholtz,


Frege afirma que "Erdmann está atolado num pântano psicológico-metafísico."

Também Husserl vai criticar duramente a conceção psicologista de Edmarn vendo no


"antropologismo" deste uma defesa do "relativismo" aplicável aos planos da "lógica e
doutrina do conhecimento".
Husserl dedica todo o $ 40 a essa matéria, onde procura fazer ver que os nossos
processos cognitivos inevitavelmente subjetivos não inviabilizam um objetivismo que,
longe de ser meramente pressuposto pela própria subjetividade num espírito Kantiano,
decorre já do conteúdo dos juízos que articulamos: 1 (ver texto de Husserl)
Husserl especifica mais adiante em que medida tais fenómenos de conhecimento,
enquanto episódios do nosso Fürwahrhalten ou daquele que seria característico de
quaisquer outras espécies que, possuindo processos mentais, pudessem relacionar-se
diferentemente com realidade, devem ser secundarizadas face à verdade da realidade
ela mesma: 2 (ver texto de Husserl).
A relatividade da verdade que resulta do enfoque psicologista é uma consequência
inaceitável para Husserl, que subscreve o prefácio de Frege às Leis Fundamentais da
Arimética; isto após "a crítica principal que (fez) à posição antipsicologista de Frege na
(sua) Filosofia da Aritmética.
Nas Investigações Filosóficas, de forma análoga a Frege, Husserl considera que os
"princípios lógicos" não são comensuráveis a "vivências psíquicas, atos do tomar por
verdadeiro" (Akte des Fürwahrhaltens), da crença, etc, ou "atos do tomar por verdadeiro
do representar (Vorstellen), etc."
No § 3 dos Fundamentos da Aritmética, a propósito das "distinções entre a priori e a
posteriori, sintético e analítico", Frege esclarece em nota que "não (quer) naturalmente
com isto introduzir um novo sentido, mas apenas acertar o que autores anteriores,
especialmente, Kant, quiseram dizer", ressaltando que tais distinções "não dizem
respeito, (...), ao conteúdo do juizo mas à justificação para a articulação do juízo".

J. Weiner considera não haver descontinuidade no par a priori/a posteriori, mas frisa o
quão importante é compreender "a reinterpretação de Frege da distinção Kantiana
analítico /sintético ", salientando que esta "reinterpretação tem de ser encarada como
mais do que uma emenda menor de um detalhe da epistemologia Kantiana." Segundo
Weiner, para Frege tanto a priori/a posteriori, sintético/analítico têm que ver com
justificação, contudo a verdadeira distinção de Kant analítico /sintético concerne ao
conteúdo, não à justificação, das proposições.
Já J.Conant em Kantianismo de Frege, evoca as mencionadas passagens do § 3 e recorda
que "(u)ma série de comentadores pensou que (essa) formulação deveria ser lida como
um ataque à formulação Kantiana da distinção analítico /sintético", embora, entende "a
intenção de Frege (seja) permanecer fiel no espírito, senão à letra, da filosofia de Kant."
Segundo Conant, Frege está meramente a recuperar que o une a Kant e que corresponde
essencialmente ao anti psicologismo, que ambos defendem a propósito da lógica pura.

O diagnóstico traçado por Weiner será mais judicioso, havendo evidências textuais
bastantes para as divergências que Frege assume relativamente a Kant e que dizem
fundamentalmente respeito à conceção epistemológica deste juízo: 1 (ver texto de
Frege)
Frege não está de lodo a identificar proposições a posteriori com proposições analíticas
Tal como Kant, ele só reconhece a existência de (i) proposições sintéticas a posteriori,
que requerem perceção sensorial; (ii) proposições sintéticas a priori, que são
proporcionadas pela intuição interna, tendo nas proposições de geometria o seu
paradigma, e (iii) proposições analíticas, que, sendo a priori, laboram simplesmente no
pensamento.
Frege critica passagens de Kant que excedem a recusa do carácter intuitivo sintético a
priori da aritmética, que, contrariamente à geometria, Frege considera enquanto a
posteriori
Merece destaque o que é dito noutra nota, ao §27, na qual Frege, lamenta que Kant
tenha indiscriminadamente empregado a palavra "representação" de forma objetiva e
subjetiva, quando a deveria ter usado "apenas num sentido subjetivo", considerando
que, com isso, "ele deu à sua doutrina um colorido muito subjetivo, idealista, e tornou
difícil o atingir do seu verdadeiro ponto de vista", sendo essa "distinção tão justificada
como a (distinção) entre psicologia e lógica".

Essa afirmação é mais importante no contexto dos três princípios norteadores


enunciados nos Fundamentos da Aritmética corresponde ao "separar nitidamente o
psicológico do lógico, o subjetivo do objetivo", referindo Frege logo a seguir que, para o
concretizar "(usou)a palavra "representação" sempre num sentido psicológico e
(distinguiu) as representações dos conceitos e objetos."
Contudo, Kant lançou as bases da lógica para e por muito que tenha promovido, nas
palavras de Westphal, "Um afastamento da lógica geral para uma lógica menos geral ou
especial", procurou estabelecer aprioristicamente os "conceitos puros do entendimento"
na sua "lógica transcendental" visando superar o empirismo de Locke e de Hume com o
expediente da "dedução transcendental".
Isto significa, tão-somente, que esse subjetivismo que Frege torna possível
reconhecer algum "psicologismo no antipsicologismo de Kant”, como
aptamente se lhe referiu Dale Jacquette
 S. Rogove destacou o propósito husserliana da "desantropologização do a
priori ".

É pertinente que Bolzano- cujo objetivismo expresso na teoria das "proposições em si"
(Sätze in sich) e "verdades em si" (Wahrheiten an sich) se assemelha ao que Frege veio a
defender através dos seus pensamentos (Gedanken) e que influenciou manifestamente
Husserl-faça girar muita da sua resistência à filosofia Kantiana justamente em torno dos
modos do Fürwahrhalten.
Segundo Bolzano, o Fürwahrhalten pode gerar basicamente opiniões, quando há pouca
"confiança" (Zuversicht) da parte do sujeito que julga, ou no limite crenças, quando essa
confiança é mais elevada, mas nunca saber, sob pena de este redundar num processo
meramente subjetivo.
Contrariamente a Frege e Bolzano, Kant nunca poderia admitir que algo
tenha o selo da verdade forra do reconhecimento dessa verdade, inclusive
analítica

Frege propõe, o seu objetivismo, com base em três fontes epistêmicas que não são
justificáveis nem injustificáveis, que o foro da verdade seja pensado autonomamente
face ao considerar algo verdadeiro.
Frege enumera as três "fontes de conhecimento" que são dadas na sua confiabilidade a
despeito das suas "perturbações":
"Distingo as seguintes fontes de conhecimento:
1. perceção sensorial;
2. a fonte de conhecimento lógico;
3. fonte de conhecimento geométrico e fonte de conhecimento temporal;
A cada uma destas fontes de conhecimento correspondem perturbações que reduzem o
seu ver.”
Correspondem no fundo (em termos Kantianos):
1. sintético
2. analítico
3. sintético a priori
Segundo Frege, o teorema de Pitágoras, é o que é, revelando-se ou não a
alguém

A "apreensão do conhecimento" é nos imposta e nós podemos ou não reconhecer a


sua verdade. A verdade, permanece incólume perante o nosso acerto ou desacerto

Refere Frege que "o pensamento que expressamos no teorema de Pitágoras é verdadeiro
intemporalmente, verdadeiro independentemente de se alguém o toma por verdadeiro
(für war hält)"

Embora associado à "filosofia continental", Husserl, o que se verifica é as suas


preocupações acompanham as que estão na génese da "filosofia analítica"
vários historiadores do pensamento analítico deserva "como eram similares as
preocupações de Frege e Husserl por volta do séc. XX", salientando que apesar de
estarem não origem de duas tradições divergentes, mas as raízes de ambas as tradições
repousam num conjunto similar de questões.
Relevando o facto de Frege e Husserl! “terem tido interesses convergentes", Sofia
Miguens, sublinha “(a) fundação quer da fenomenologia quer da filosofia analítica está
relacionada com a rejeição do psicologismo e do naturalismo ".
depois de em 1900 publicar um livro sobre Leibniz, Russell ganha destaque enquanto
autor dos Princípios da Matemática publicados em 1903, que inclui a explicação do
célebre paradoxo da classe de todas as classes suscitado por Frege, mas também um
apêndice crítico das teorias daquele e outro em que é formulada uma solução logicista
do paradoxo assente na “teoria dos tipos” (determinar quais os tipos que podem ser
incluídos num determinado conjunto proposicional)

As discussões entre Frege e Russell substituíam agora as que tinham tido lugar entre
Frege e Husserl nos últimos anos do séc. XIX, contribuindo decisivamente para a
afirmação da filosofia analítica.
Os argumentos que Russell apresenta em 1905 no influente artigo Sobre Denotação
constituem importantes reações epistemológicas à base platonista do pensamento de
Frege.

“Über Sinn und Bedentung" (1892) Frege


Sinn- Gedanke, sentido, meaning
Bedentung- Wahrtheitswert, referência, denoting

o Trabalho epistemológica de Russell só se começa a notabilizar em Conhecimento por


Contacto por Descrição, artigo publicado em 1910-11, que foi parcialmente incluído na
obra Os problemas da Filosofia em 1912
uma nova abordagem que parte da teoria das descrições definidas apresentada nesse
artigo de 1905 e que Russell desenvolve numa obra que não finalizará: a Teoria do
Conhecimento, batizada de O manuscrito de 1913.

1. Russell e a pergunta por "o que é que conhecemos quando conhecemos proposições
acerca do "tal e tal" sem conhecermos quem ou o que é o tal e tal", ou seja, "quando o
sujeito é meramente descrito."
a) a importância epistemológica, e não apenas lógica, deste problema
b) as noções de "contacto" (acquaintance) e "descrição" (description)como
antiéticas.
c) o contacto enquanto "relação cognitiva direta" a uma determinada coisa:
situações em que se pode estar "diretamente consciente (aware) do próprio
objeto"
d) a exclusão da relação judicativa desta esfera, reservada apenas à
"apresentação"(presentation): o que está em causa na ideia de que "a relação de
sujeito e objeto" específica do contacto corresponde ao "reverso da relação
objeto e sujeito que constituía apresentação"
e) o contacto como não necessitando de uma apresentação atual: o papel da
memória e daquilo que se sabe sem se pensar nisso
f) a apresentação enfatiza o objeto e não o carácter relacional que é
distintivo do contacto: o materialismo e o idealismo, ou solipsismo, nos extremos
epistemológicos.

2. preservando 'o dualismo do sujeito e objeto "de forma garantir "um fato fundamental
respeitante à cognição.
a) aquilo com o qual estamos relacionados em primeira instância é da ordem
dos "dados dos sentidos" (sense -data), algo face ao qual se estabelece "contacto
direto"
b) conhecimento introspetivo e "consciência de si" (self-consciousness):
estar consciente de que se está consciente de algo
c) noções de "consciência de particulares" e "consciência de universais": o
fenómeno do "conceber" (conceiveng) e “conceito" (concept) a que se acede
nesta última, por diferença relativamente às instâncias particulares disso mesmo
d) o próprio conceito de “consciência” (awareness) como podendo ser algo
do que se passa a estar consciente
e) a peculiaridade das "relações", de cuja "relação universal ela mesma"
nunca estamos conscientes: o caso da preposição "antes" na proposição" Isto esta
"antes daquilo" e no complexo “...

Ideia Central de Russell:


Independência das diferenças entre objetos concretos e abstratos, entre preceitos e
conceitos, o conteúdo último de cada uma dessas experiências pertence à espera da
acquaintance isto não implica que Russell generalize a acquaintance como se não
houvesse nada além desse conhecimento não inferencial.

3. O aparente idealismo de Russell


a) e que maneira "poderíamos conhecer (um determinado) facto acerca de
‘antes’ a não ser que tivéssemos contacto com (o significado de) ‘antes’ e não
apenas com verdadeiros casos particulares de um dado objeto estar antes de
outro lado objeto"?
b) a consciência da particularidade e da universalidade: o universal como
incluindo "todos os objetos dos quais nenhum particular é um constituinte"
c) a tese epistemológica de que os "objetos físicos (enquanto opostos aos
dados dos sentidos) "e as "mentes das outras pessoas" não são apreendidos por
nós sob a forma de um contacto, mas pertencem ao domínio do "conhecimento
por descrição"
d) definição de descrição: o carácter indefinido da "descrição 'ambígua' "
presente em "um tal e tal" e a centralidade da "descrição definida" que constitui
"o tal e tal"
e) o problema fundamental de Russell enquanto atinente à natureza do
nosso conhecimento relativamente a objetos em casos onde sabemos que existe
um objeto a responder a uma desse criação definida embora não estejamos em
contacto (acquainted) com um tal objeto".

na versão de 1912, Russell perspetiva o "contacto por memória" enquanto constituindo


uma "extensão" daquilo que são os "dados por sentido"
 o conhecimento inferencial tem de ter uma base de contato.
Aquilo que Russell defende é que só podemos formar proposições que incidam sobre
coisas com as quais tenhamos ao alguma acquaintance, sendo isso um requisito para
todo o conhecido
Moral da história: as proposições que formamos só podem basear-se naquilo a que
podemos aceder internamente, permita isso formar proposições mais ou menos
adequadas, recusando Russell qualquer processo externista
razão pela qual o nosso conhecimento dos objetos físicos ou das mentes de outras
pessoas não procede por acquaintance, tendo uma natureza descritiva, inferencial, é que
ele envolve já, como acontece em muitos outros conhecimentos, juízos, se bem que estes
se articulem com base nessa relação primordial.

Russell torna isso mais claro na versão incluída em Os Problemas da Filosofia, cujo início
foi reescrito, constituindo um recurso privilegiado para se compreender o Conhecimento
por contacto e Conhecimento por descrição.
a) A distinção entre " conhecimento de coisas" (Knowledge of things) e
"conhecimento de verdades ("Knowledge of Truths)o conhecimento de coisas
como específico da investigação epistemológica divisão deste entre
"conhecimento por contacto "e "conhecimento por descrição": a independência
lógica do primeiro face ao "conhecimento de verdades", ao contrário do sgundo,
que assume "algum conhecimento de verdades como sua fonte e fundamento"
b) o contacto enquanto dispensando a intermediação de "qualquer processo de
inferência ou qualquer conhecimento dever-dados": o fundacionalismo e não-
inferencialismo oposto do não-fundacionalismo e inferencialismo na justificação do
conhecimento.
c) os "dados dos sentidos" não conceptualmente como "coisas com as quais temos
contacto, coisas imediatamente conhecidas por mim como elas são".
d) O nosso conhecimento das coisas na medida em que constituem elegemos físicos
correspondem a um "conhecimento direto" mas a um "conhecimento por
descrição"
e) a paradoxal redução de todo o conhecimento acerca dos objetos a
"conhecimento de verdades", que representa proposicionalmente um
"conhecimento por descrição"
f) reavaliando a "formação" que é proporcionada pelo contacto: ceticismo

Russell não reconhece "nenhum estado mental que estejamos diretamente conscientes
da mesa ", despojados, de conhecimento inferencial, o pressuposto da acquaintance, que
implica uma indubitabilidade dos sense-data, é indispensável para responder à dúvida
cética, repousando aí o rationale na tese principal do texto: "Todo o nosso conhecimento,
tanto conhecimento de coisas como conhecimento de verdades, baseia-se no contacto
como sua fundação."

Racionalismo -> a resposta está na razão


diferente de
idealismo ->só existe fenómenos (não existe a coisa em si)
L potencializar um objetivismo através da anulação total da distinção entre
objetivismo e subjetivismo

Outra particularidade de 1912, é a especificação das "ideias abstratas", ou na linguagem


de Russell, dos "universais" enquanto objetos de acquaintance que "têm um carácter
essencialmente diferente do dos lados dos sentidos e que, por isso, pertencem no foro do
conhecimento de verdades".
Somente se tivermos que a acquaintance está para além dos sense-data é que podemos
"obter qualquer análise toleravelmente adequada do nosso conhecimento"

Russell rejeita principalmente o realismo semântico de Frege, alicerçado numa


intersubjetividade que subsumiria as diversas representações que subjetivamente
fazemos disto ou daquilo num "sentido" ao qual corresponderia objetivamente uma
"denotação" ou "referência"
Para Frege, nem o "Sinn "nem a "Bedentung "deste ou daquele sinal, se pode confundir
com o modo representado esse objeto a partir das minhas vivências individuais, sendo o
"sentido" constituído pelos caracteres mais gerais do sinal, que posso aprender e
comunicar a outrem nos mais diversos contextos, e a" denotação" ou "referência" o
objeto visado, a FCSH enquanto tal.

Dado que aquilo que comunicamos não são somente nomes, mas proposições, Frege vai
introduzir as noções de "pensamento" - que conglomera diferentes Sinne - e "valor de
verdade ", o verdadeiro e o falso, que determinam se a proposição denota ou refere um
estado de coisas

Dummett vincou bem as implicações "não epistêmicas" desse realismo semântico, tendo
preferido adotar uma posição "antirrealista", no seio da qual as condições de verdade
passam a ser condições de assertabilidade enquanto estabelecidas por certa comunidade
linguística para determinada asserção ser realista.
a visão realista de Frege, segundo Dummet, tem implicações "não epistêmicas ".

Russell tem um entendimento diferente do de Frege, afirmando que as frases denotativas


nunca têm qualquer sentido (meaning, Sinne) em si mesmas e não existe nenhum sentido
e apenas às vezes uma denotação (denotation, Bedeutung)

A teoria de acquaintance permitirá a Russell defender que "o pensamento na mente de


uma pessoa que usa um nome próprio corretamente pode geralmente, apenas ser
expresso explicitamente se substituirmos o nome próprio por uma descrição", sendo
relevante que Russell esclareça no seguimento disto que esta não tem um carácter
definitivo visto que "a descrição requerida para expressar o pensamento irá variar em
pessoas diferentes ou na mesma pessoa em alturas diferentes".

não parece possível admitir que "possamos fazer um juízo ou manter uma suposição sem
conhecer aquilo sobre o qual estamos a julgar ou a supor".
Russell já tinha reparado como Kant "que a descrição nas nossas mentes
será provavelmente alguma massa de conhecimento histórico mais ou
menos vaga."

Conhecimento por Contacto e por Descrição


(1910-11/1912)
-Não faz sentido, pois, tomar por obrigatório o requisito do "conhecimento por
descrição" de integrar necessariamente, para recuperar as palavras de Russell,
"constituintes com os quais estamos em contactos" como se isso implicasse um contacto
direto

Kripke sobre Russell:


-Saul Kripike coloca especial enfase numa passagem da parte final desse artigo que
antecipa notoriamente o "princípio epistemológico fundamental"
- Kripke conclui algo que vai ao encontro de CD*-> "Sob as pressões dos requisitos da sua
teoria semântico, a lista de tais entidades torna-se progressivamente mais estreita. Os
nossos princípios enquanto interpretação que favorece uma acquaintance direta
- Kripke interpreta Russell como se este exigisse CD* para nos podermos pronunciar
acerca do Monte Branco, cuja vastidão tornaria, no entanto, impossível ter "contacto
imediato", o que limitaria o carácter epistemológico da acquaintance
-Kripke vê Frege como tendo dependido que o Monte Branco não poderia ser discutível
↳ interpretação problemática

Frege e Russell sobre o Monte Branco


Frege: "a verdade (e o Monte Branco) não é uma parte constituinte do pensamento."
Russell: acha que é Frege que está a reduzir o Monte Branco a uma proposição
psicológica

- "Quando há algo com o qual não temos contacto imediato, mas apenas definição por
frases denotativas, as proposições nas quais esta coisa é introduzida por meio de uma
frase denotativa não contém realmente esta coisa como constituinte"
↳Podemos estabelecer proposições acerca das coisas com as quais não temos
"contacto imediato"

- O ponto fundamental para Russell é que, em todo o caso, aquilo que encapsulamos na
expressão "Monte Branco" é forçosamente algo que pertence à nossa acquaintance-
derivando, e.g. das imagens dos glaciares ou das montanhas cobertas de neve que
conhecemos e que os "constituintes" das proposições que articulamos fazem a ponte
com essas realidades contanto que isso que é articulado seja verdadeiro

A posição de Frege
- A esfera do verdadeiro situa-se fora de qualquer coisa que possamos pensar"
- Se os nossos pensamentos pudessem esgotar a verdade disso ao qual se referem, só
haveria Fürwahrhalten, que Frege entende consistir num processo psicológico e, como
tal subjetivo.
- Não é por haver quem admita que a terra é plana que isso resultará em conhecimento

• A verdade, segundo Frege, é o que é independentemente de haver ou não vida


humana Frege evita que a verdade ou falsidade esteja dependente e presente nisso
mesmo que é articulado

A Posição de Russell
-Russell também procurava uma objetividade, mas não a via no quadro de um
"pensamento";
A recusa de Russell da experiência privada
-Estas passagens tornam manifesto que Russell temem vista CD e não CD*CD visa
superar a privacidade específica de CD*
↳ Recusa da possibilidade de um solipsismo
-Nem a verdade está toda dentro da minha cabeça nem está toda fora dela

A Teoria do Juízo como relação múltipla


- Russell: o “juízo não é uma relação dual da mente a um único objetivo, mas uma
representação múltipla da mente aos vários outros termos com os quais os juízos tem a
ver"
- Juízo estabelece-se da mesma base de relação do contato
- Relação dual: sujeito-objeto

Mente e realidade
- Relação múltipla: Mente e todos outros termos com que a mente se relaciona
-Essa dualidade do sujeito e o objeto apenas se aplica à acquaintance, que é sempre
verdadeira, devendo os nossos juízos pressupô-los, mas nunca pretender equivaler-lhe,
sob pena de não conseguirmos explicar o que acontece nos casos em que ajuizamos
falsamente.
• Russell: conceito da crença "igual ao de juízo" -juízo como uma forma de crença

- Prefiro a palavra crença porque tem definitivamente muito mais a sugestão de um


acontecimento datado particular que possa ser estudado empiricamente pela psicologia

"Notas sobre Lógica" de Wittgenstein


↳são feitas referências àquilo que seria uma "teoria do juízo acertada" ou "teoria do juízo
de Russell", afirmando Wittgenstein que "as questões epistemológicas concernentes à
natureza do juízo e da crença não podem sem uma apreensão correta da forma da
proposição."
-"’A’ julga ‘p’" tem de mostrar que é impossível ajuizar um sem sentido

“Na minha teoria (na de Witt entenda-se), ‘p’ tem o mesmo significado (meaning) que
‘não P’, mas sentido (sense) oposto. O significado é o facto. A teoria do juízo apropriada
tem de tornar impossível julgar sem sentido."

Wittgenstein sobre sentido e referência


" ‘A’(não) está a ditar" refere um único facto, seja ele positivo ou negativo, e é nessa
medida o fundamental para Wittgenstein é que o "sentido" que se imprime às coisas
refira algo em concreto estaremos no domínio do sem-sentido
- Nenhum mecanismo na teoria do juízo de Russell impede os juízos non-sense
- Uma proposição com sentido é falsificavel
- Wittgenstein acredita que o juízo incide sobre aquilo que Russell não queria os
constituintes da proposição
- Wittgenstein insiste no tópico da negação para enfatizar que o conteúdo de uma
proposição só pode ser realmente tomado um todo.
- Não poderia haver nenhuma unidade da proposição se apenas estivéssemos relacionados
com os constituintes de ‘p’ (ou ‘não-p’) (isoladamente).

Ceticismo em Russell?
- Os juízos sem-sentido (permitidos pela teoria dos juízos) podem ter uma consequência
inversa daquela que a teoria da acquaintance tinha aos olhos de Russell, que era obstarao
ceticismo radical;
- Sem outra condição (externisto) que não seja a relação judicativa (internista), estamos
condenados à aceitação do que ‘A’ considere ter sentido, ainda que isso possa envolver
unicamente uma representação subjetiva.

 Wittgenstein não apresenta resposta aos problemas que levanta


 "Sobre proposições: o que são o que significam"

Ludwig Wittgenstein
" O Tratado Lógico-Filosófico, concluído em 1918, só veio à luz do dia graças a Russell.

Schick
-”O resultado da filosofia não são proposições filosóficas" mas o esclarecimento das
proposições"
- Tanto Wittgenstein como os positivistas pretendiam "superar uma tendência metafísica
na filosofia" que gera um discurso "sem sentido"

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