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Análise fenomenológica do conhecimento

A gnosiologia, ou teoria do conhecimento, é uma disciplina filosófica que estuda as relações entre o
sujeito e o objecto, procurando esclarecer e analisar criticamente os problemas que essas relações suscitam,
nomeadamente os problemas relativos à origem, à natureza, à validade e aos limites do conhecimento.

O conhecimento é aquilo que acontece quando um sujeito apreende um objecto. Para que haja
conhecimento, é necessária a existência de dois elementos fundamentais: o sujeito – aquele que conhece – e o
objecto – aquele que é conhecido. Sem a presença de um destes elementos, o conhecimento é impossível.

1. Em todo o conhecimento, um ‘’cognoscente’’ e um ‘’conhecido’’, um sujeito e um objecto


encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição
dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos são
originariamente separados um do outro, transcendentes um em relação ao outro. Estão separados
um do outro, são sempre assim, nunca haverá uma união senão quebra-se o acto de conhecer.
2. Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem deixar de ser sujeito e objecto. O
sujeito só é sujeito em relação a um objecto e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada
um deles apenas é o que é pela sua relação; condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma
correlação. Se se separarem deixam de ser sujeito e objecto. Não existem fora da relação, só são o
que são em função da relação existente.
3. A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é reversível. O facto de desempenhar o
papel de sujeito em relação a um objecto é diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em
relação a um sujeito. No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, intermutáveis; a
sua função é essencialmente diferente. Não se pode alterar a relação: o objecto não pode passar a
sujeito, e vice-versa porque são coisas diferentes as suas funções não são mutáveis no mesmo acto
de conhecimento.
4. Considerada do lado do sujeito, esta ‘’apreensão’’ pode ser descrita como uma saída do sujeito para
fora da sua própria esfera e como uma incursão na esfera do objecto, a qual é, para o sujeito,
transcendente e heterogénea. O sujeito apreende as determinações do objecto e, ao apreendê-las,
introdu-las, falas entrar na sua própria esfera. O sujeito sai da sua esfera e vai para a esfera do
objecto, capta as características, informações do objecto e volta para a sua esfera.
5. O facto de que o sujeito saia de si para apreender o objecto não muda nada neste. O objecto não se
torna por isso imanente. As características do objecto, se bem que sejam apreendidas como que
introduzidas na esfera do sujeito, não são, contudo, deslocadas. Apreender o objecto não significa
fazê-lo entrar no sujeito, mas sim reproduzir neste as determinações do objecto numa construção
que terá um conteúdo idêntico ao do objecto. O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o
sujeito pelo objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transforma pelo acto de conhecimento. No
objecto nada de novo é criado; mas no sujeito nasce a consciência do objecto, com o seu conteúdo, a
imagem do objecto. O objecto nunca se altera no acto de conhecer; o conhecimento é uma
reprodução através de uma imagem, construção que é idêntico ao objecto.

Tipos de conhecimento

Saber-fazer: refere-se ao conhecimento de uma atividade, isto é, à capacidade, aptidão ou competência


para fazer alguma coisa.

Saber-que: refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades. Saber teórico sobre


a realidade.

Conhecimento por contacto: refere-se ao conhecimento direto de alguma realidade, seja de pessoas ou
lugares.
Definição tradicional de conhecimento

Em todo o conhecimento proposicional verifica-se uma relação entre um sujeito e um objeto. Esta relação
é considerada uma crença. A crença é uma atitude de adesão a uma determinada proposição, tomando-a como
verdadeira.

O saber é acreditar naquilo que se sabe. O conhecimento parte de uma convicção do sujeito
relativamente ao objeto. A crença é uma condição necessária do conhecimento. As crenças podem ser
verdadeiras ou falsas.

O conhecimento de verdades tem um contrário, que é o erro. Podemos crer no falso, como no
verdadeiro. Sobre muitos assuntos há opiniões diversas e incompatíveis; algumas das crenças devem ser
erróneas. As crenças erróneas são sustentadas frequentes vezes com tanta energia como as verdadeiras, torna-
se um problema bem difícil o de como distingui-las das verdadeiras. Há três pontos a observar na busca da
natureza da verdade:

Para um conhecimento ser verdadeiro tem de ser uma crença verídica, justificada com base em algo
exterior à crença.

Uma crença falsa não corresponde a qualquer conhecimento, ainda que aquela que a possui julgue deter
o conhecimento.

Ninguém possui o conhecimento se não justificar cabalmente a sua crença. A justificação é também uma
condição necessária do conhecimento.

Assim, o conhecimento é uma opinião verdadeira, fundamentada, justificada: tem de ser provida de
razão, ou seja, de um raciocínio que justifique a opinião.

A crença verdadeira justificada – isto é, acompanhada de razão – equivale ao conhecimento, ao passo


que a crença que não é justificada – ou seja, que é desprovida de razão – se encontra excluída do conhecimento.
Todas as três condições – crença, verdade e justificação – são necessárias para que haja conhecimento.
Consideradas isoladamente, nenhuma delas é suficiente.

Conhecimento a priori e a posteriori

Quando pensamos na multiplicidade de juízos que formulamos, podemos constatar que nem todos têm a
mesma origem. São juízos a priori aqueles juízos cuja verdade é passível de ser conhecida independentemente de
qualquer experiência, tendo, portanto, origem no pensamento ou na razão. Estes juízos são universais – no
sentido em que não admitem qualquer exceção, sendo verdadeiros sempre e em toda a parte – e necessários –
são verdadeiros em quaisquer circunstâncias, e nega-los implicaria entrar em contradição.

Juízos a posteriori são aqueles juízos cuja verdade só pode ser conhecida através da experiência, dos
sentidos. Estes juízos não são estritamente universais – porque admitem exceções, podendo não ser verdadeiros
sempre e em toda a parte – e, não sendo necessários, são contingentes – são verdadeiros, mas poderiam ser
falsos, e nega-los não implica entrar em contradição.

O conhecimento à priori é baseado em juízos a priori, tem a sua fonte ou origem apenas na razão – por
exemplo, Todos os corpos são extensos, A = A, 2+2= 4: não é necessário recorrer à experiência para o saber, é
suficiente pensar no assunto.

O conhecimento a posteriori é baseado em juízos a posteriori, tem a sua origem na experiência, é o


conhecimento empírico – por exemplo, O Sol brilha, A chuva molha, Todos os corpos são pesados.
Se afirmamos que o todo é maior do que as suas partes (juízo a priori), não estamos a dizer nada que já
não esteja implícito no conceito de todo, enquanto que se dissermos que a cadeira é azul (juízo a posteriori),
estamos a afirmar que algo que não está implícito no conceito de cadeira (esta pode ter qualquer cor).

Kant dividiu os juízos em analíticos e sintéticos. Os juízos analíticos são aqueles cujo predicado está
incluído no sujeito, encontrando-se pela simples análise e explicação deste.

Os juízos sintéticos são aqueles cujo predicado não está contido no conceito do sujeito:

Os juízos analíticos são juízos a priori, os juízos sintéticos são juízos a posteriori e a priori. Mas Kant
considera que também existem juízos sintéticos a priori. Trata-se de juízos anteriores à experiência, tendo uma
origem racional, mas que aumentam o nosso conhecimento, uma vez que o predicado não está implícito no
sujeito, são juízos universais e necessários; todos os juízos da matemática.

Ceticismo

O cepticismo afirma que não é possível ao sujeito apreender, de um modo efectivo e rigoroso, o objecto.
Ninguém possui a verdade absoluta.

Ceticismo absoluto ou radical: é impossível ao sujeito apreender o objecto, não havendo, por
conseguinte, qualquer conhecimento verdadeiro.

Ceticismo mitigado: não estabelece a impossibilidade do conhecimento, mas sim a impossibilidade de um


saber rigoroso. Não podemos afirmar se este ou aquele juízo é ou não verdadeiro, apenas podemos dizer se é ou
não provável.

Origem do conhecimento

a) Racionalismo – o racionalismo considera a razão a fonte principal do conhecimento, a fonte do


conhecimento verdadeiro. Só através da razão é que se pode encontrar um conhecimento seguro, o qual
é totalmente independente da experiência sensível. Tal conhecimento só existe quando é logicamente
necessário e universalmente válido. Isto não significa que os racionalistas neguem a existência do
conhecimento empírico. Esse conhecimento existe, mas não pode ser considerado verdadeiro porque é
particular e contingente. – A razão é a origem do conhecimento verdadeiro; as ideias fundamentais do
conhecimento são inatas; o sujeito impõe-se ao objecto através das noções que traz em si.
b) Empirismo – teoria segundo a qual todo o nosso conhecimento provém da experiência. Não existem
ideias, conhecimentos ou princípios inatos. O entendimento assemelha-se a uma página em branco onde,
antes de qualquer experiência, nada se encontra escrito. Nega a existência de conhecimentos inatos,
afirmando que todo o conhecimento humano deriva da experiência. – A experiência é a origem de todo o
nosso conhecimento; todas as ideias têm uma base empírica, até as mais complexas, não existindo ideias
inatas; o objecto impõe-se ao sujeito.

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