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Filosofia

G NOSIOLOGIA
Gnosiologia: disciplina filosófica que estuda o conhecimento, procurando responder, entre outros, aos problemas da sua origem ou fonte,
da sua possibilidade ou limites e do seu fundamento, natureza ou essência.
Epistemologia: estuda o conhecimento particularmente científico, a evolução ou progresso da Ciência.

CONHECIMENTO

natureza/ essência origem/ fonte possibilidades/ limites

racionalismo
empirismo
realismo idealismo (René dogmatismo ceticismo
Descartes) (David Hume)

conhecimento/ conhecimento/ radical/ moderado/


juízos a ingênuo crítico pirrónico/ mitigado/
juízos a priori
posteriori absoluto controlado

conhecimento
De um modo geral, o conhecimento é aquilo que acontece
quando um sujeito apreende um objeto. Para que exista Quando dizemos que o sujeito apreende o objeto isso não
conhecimento é, portanto, necessário que existam dois elementos: significa que o sujeito capta a sua realidade física ou metafísica,
o sujeito cognoscente (aquele que conhece- função do sujeito) mas sim a sua representação mental, imagem ou ideia.
e o objeto cognoscível (aquilo que é conhecido- função do
objeto). Mas, pode acontecer que o objeto e o sujeito Assim, conhecer um objeto significa que temos sobre ele uma
coincidam- por exemplo, quando uma pessoa (sujeito) conheci a representação, imagem ou ideia.
si mesma (objeto).

tipos de conhecimento
conhecimento prático/ saber fazer: é o conhecimento prático ou verdadeiros. Este tipo de conhecimento é explicativo, justificado
conhecimento de atividades, ligado à nossa capacidade ou e responde à pergunta: Porquê?
aptidão para realizarmos alguma coisa ou tarefa. Podemos
afirmar que este conhecimento é meramente descritivo e conhecimento por contacto/ saber fazer: é o conhecimento
responde à questão: Como? direto de alguma realidade: pessoas, animais, coisas, lugares,
estados mentais, etc.
conhecimento teórico/ proposicional/ factual / saber que: é o
conhecimento que tem por objeto proposições ou pensamentos

analise fenomenologica
A fenomenologia pretende fugir à tentação da interpretação e A análise fenomenológica do conhecimento permite-nos concluir
da explicação, limitando-se a, unicamente à análise descritiva que:
das características essenciais do conhecimento enquanto § O sujeito e o objeto são distintos- existe, pois, uma
fenómeno. A análise fenomenológica do conhecimento não dualidade, ou seja, todo o conhecimento implica um sujeito
pretende resolver os problemas clássicos da teoria do (alguém que conhece) distinto de um objeto (algo a conhecer).
conhecimento, uma vez que a sua função não é interpretativa, § O sujeito e o objeto (elementos do conhecimento) são
mas meramente descritiva. Contudo apresenta-nos com um correlativos- o sujeito só existe em função do objeto e vice-versa,
método que nos conduz à presença do problema, desrevendo- só há um sujeito perante um objeto e um objeto perante um sujeito.
nos o que se passa na consciência na vivência do conhecimento. § A correlação é irreversível. Sujeito e objeto não podem
trocar de lugar, a função do sujeito é conhecer o objeto e a
deste ser conhecido pelo sujeito.
§ Vista pelo lado do sujeito, a apreensão do objeto
apresenta-se como uma saída do sujeito da própria esfera, uma As conclusões desta análise remetem-nos para a ideia do
invasão da esfera do objeto e uma apropriação/ recolha das conhecimento entendido como uma relação de representação:
propriedades ou determinações do objeto antes de regressar a o conhecimento é o ate mediante o qual um sujeito apreende-
si, trazendo uma imagem ou representação do objeto, embora o isto é, representa através de uma imagem- as determinações do
objeto permaneça transcendente ao sujeito (não faz parte do objeto. Sendo pela consciência que o sujeito é capaz de
mesmo). exercer esta faculdade de “representação”, de ter presente na
§ Do ponto de vista do objeto, este transfere para o consciência uma imagem das determinações do objeto mesmo
sujeito essas determinações/ imagem/ representação, embira na sua ausência.
permaneça transcendente.
Críticas ou objeções à análise fenomenológica do
Assim, o sujeito é: conhecimento:
§ Elemento determinado ou recetivo, o sujeito não retira a § Conhecimento não é apenas representar;
imagem que quer- está é determinada pelo objeto. § Não existe uma dualidade / separação entre sujeito e
§ Espontâneo e ativo, ele próprio contribui para a formação objeto;
em si da imagem do objeto, embora circunscritas às § Existe interpretação e interação, excedendo a simples
determinações do objeto. intenção descritiva da Fenomenologia.
Trata-se de uma recetividade ativa.

definicao tradicional
O tipo de conhecimento que de ora em diante trataremos é o sendo todas elas necessárias, e nenhuma, por si só, suficiente:
saber que, ou conhecimento proposicional. No entanto, temos de Crença (doxa), Verdade (altheia), Justificação (logos).
nos perguntar se todas as proposições são necessariamente
conhecimento. Críticas à Definição Tradicional de Conhecimento
Em 1963, Edmund Gettier tomou-se o primeiro autor/pensador a
Tradicionalmente, desde Sócrates, o conhecimento
contestar esta definição tradicional de conhecimento. Segundo
proposicional é definido do seguinte modo:
este autor podem acontecer situações em que temos uma
crença verdadeira e justificado sem que a tal crença
1. Em primeiro lugar o conhecimento é uma crença- a adesão a
corresponda qualquer conhecimento. Podendo acontecer,
uma determinada ideia ou proposição, tomando-a como
por vezes, nós apresentarmos razões/provas/justificações que
verdadeira. Temos de estar convictos na existência dos objetos
apesar de estarem incorretas servem para justificar a veracidade
que conhecemos, e acreditar que os podemos conhecer. Como
de determinadas crenças.
tal, a crença/ convicção é uma condição necessária para o
conhecimento.
Vejamos um (contra)exemplo:
"do café, a televisão vai transmitindo um desafio de futebol entre Portugal
2. No entanto, também se pode acreditar em falsidades (sobre e o Brasil. A Antonieta, que está a estudar para o teste de Filosofia, ouve
muitos assuntos há opiniões diversas e incompatíveis sustentadas, a certa altura um aplauso bastante ruidoso e acredita que a seleção
poe conseguinte, algumas das crenças devem ser erróneas) e, se portuguesa acabou por marcar um golo. A sua crença é verdadeira: de
isso acontecer, não estamos perante conhecimento- o facto, o Cristiano Ronaldo inaugurou o marcador para a equipa de
conhecimento é uma crença, mas nem toda crença é Portugal. Além de verdadeira, a crença está justificada: o aplauso que
conhecimento. se ouve fornece boas razões para pensar que Portugal está a ganhar.
Assim, concluímos que a crença não é uma condição suficiente Todavia, no café não se encontra ninguém, exceto dois indivíduos
brasileiros que ficaram silenciosos diante da ocorrência. Os aplausos
para obter conhecimento, conquanto seja necessária. Então,
tiveram, afinal, origem num bar ali perto, onde não há televisão e onde
não basta acreditarmos numa coisa; é também necessário que está a decorrer um concurso de karaoke. por mera coincidência, o
aquilo em que acreditamos seja verdadeiro. cantor em causa acabou a sua atenção, sendo ruidosamente
aplaudido exatamente no mesmo momento em que o Cristiano Ronaldo
*o verdadeiro e o falso são, de facto, propriedades das crenças e das marcou golo.
asserções; e, por isso, um mundo de pura matéria, não contendo nem Assim, a Antonieta tem uma crença verdadeira e justificada. Mas não se
asserções nem crenças, não teria verdades nem falsidades. pode afirmar que isso seja conhecimento, uma vez que as razões que
justificam a sua crença nada têm a ver com o facto."
3. Porém, dificilmente aceitamos que alguém que tem uma crença
verdadeira por mera sorte, seja alguém com conhecimento. Para Quais as razões que nos podem garantir, de forma absoluta, a
que consideremos existir conhecimento é ainda necessário que veracidade de uma crença?
se seja capaz de justificar/provar a veracidade da crença que Nenhumas. Aquilo que podemos ter é boas razões para justificar
se possui. as nossas crenças, sem que, no entanto, possamos estar
Considera-se que uma crença se encontra justificada se tivermos absolutamente certos de que essas razões, afinal, estejam
boas razões para pensar que ela é verdadeira/ que apoiem ou incorretas.
sustentem seu conteúdo. Os autores que defendiam a imagem geocêntrica do universo,
§ Assim, vemos que tradicionalmente o conhecimento é certamente que apresentavam provas/razões que garantiam a
definido como uma crença verdadeira e justificada. veracidade das suas crenças. Porém, Copérnico destronou essas
razões/provas, apresentando outras que nos confirmavam que,
Deste modo, dizemos que a definição tradicional de afinal, o sistema geocêntrico estava errado. Neste momento
conhecimento é uma definição tripartida, uma vez que ela faz atual, temos boas razões para acreditar na imagem heliocêntrica
depender o conhecimento de três condições fundamentais, do universo, no entanto, fica a pergunta: poderemos nós estar
absolutamente certos que estas provas/razões estão corretas e
que nunca serão substituídas por outras? E que essas outras, por condições suficientes para o mesmo. Aparentemente, é
sua vez, nos garantirão uma outra imagem do universo obrigatório acrescentar mais alguma condição.
considerada verdadeira?
Podemos, inclusive, ir mais longe: embora Gettier não o tenha feito
Nos contraexemplos de Gettier, a justificação, para sustentar uma no célebre artigo, é legítimo questionar se as três condições
determinada crença, não se encontra ligada de maneira referidas são todas elas necessárias para haver conhecimento.
adequada à verdade de tal crença, pelo que a crença é
verdadeira apenas em resultado da sorte ou mera coincidência. Houve várias tentativas de resposta aos problemas suscitados
pelos contraexemplos de Gettier e por outros contraexemplos
Se podemos ter crenças verdadeiras justificadas acidentalmente, similares. Mas nenhuma delas se revelou, ate à data, consensual.
então essas crenças não equivalem a conhecimento. Sendo O problema da definição de conhecimento continua em aberto.
assim, a definição tradicional do conhecimento não apresenta

possibilidade / limites
Perante o que acabamos de ver, eis o que temos: No entanto, apesar desta situação, quando perguntamos:
§ Por um lado, para possuirmos conhecimento, é necessário
que aquilo em que acreditamos seja verdadeiro. 1. E possível conhecer as coisas e a sua realidade?
§ Porém, só consideramos verdadeiro aquilo que conseguimos 2. É possível o sujeito apreender o objeto?
provar, aquilo sobre o que podemos dar garantias, provas. Encontramos duas perspetivas absolutamente diferentes: o
§ No entanto, como é que podemos estar certos que as dogmatismo e ceticismo.
provas, que damos para justificar a verdade de uma coisa,
são provas verdadeiras? * De acordo com o Dogmatismo, conhecimento absoluto e indubitável
é sem dúvida possível, e desde que realizemos análises cuidadas sobre
Dada esta situação, surge no horizonte a hipótese de que talvez, as coisas que investigamos, então poderemos estar seguros acerca do
que conhecemos.
e contrariamente ao que pensamos, o ser humana não possua um Já de acordo com o Ceticismo, parece que nenhuma análise, por mais
conhecimento absolutamente certo sobre o que quer que seja. E cuidada que seja, nos pode garantir esse grau de fiabilidade, de tal
talvez que tudo o que pensamos saber seja uma mera modo que, segundo esta ideologia, o ser humano não pode tomar
construção/ilusão. nenhum dos seus conhecimentos como algo seguro e indubitável.

dogmatismo
Segundo o dogmatismo o sujeito pode conhecer os objetos. No Realismo crítico: defendem que a perceção humana é sempre
entanto, mesmo dentro desta corrente vamos encontrar duas uma interpretação, daí que todo o conhecimento seja uma
posições distintas. construção e não uma cópia exata da realidade. Segundo estes
Realismo ingénuo: o sujeito capta o objeto tal como é na autores, percecionar é já formatar, modificar, e por isso todo o
realidade, sendo o conhecimento um espelho fiel do real. conhecimento é já uma formatação da realidade.

ceticismo
Ao contrário do Dogmatismo, o Ceticismo é uma corrente impossível que nos decidamos por uma ou outra, sendo preciso
filosófica que o sujeito não é capaz de apreender, de um modo suspender o juízo sobre qual é verdadeira e qual é falsa. Se
efetivo e rigoroso, o objeto, o que significa, enfim, que não é existem tais opiniões e crenças divergentes e inconciliáveis, então
possível qualquer tipo de conhecimento. nenhuma delas se encontra adequada e suficientemente
justificada.
No entanto, tal como no Dogmatismo, também aqui vamos
encontrar dois tipos de ceticismo. 3. Nada se justifica por si próprio: para garantir a veracidade de
uma coisa é necessário recorrer a provas; mas para garantir que
Ceticismo absoluto/ radical/ pirrónico: desenvolvido por Pirro, essas provas são verdadeiras temos de recorrer a mais provas; e
autor do século III a.C., o ceticismo absoluto defende que é para garantir que a veracidade das provas que garantem a
impossível possuirmos qualquer conhecimento, uma vez que não veracidade das provas temos de recorrer a mais provas, e assim
existem justificações suficientes para as nossas crenças. Logo, se por diante, numa regressão infinita. Daí que nada seja
não existem justificações suficientes, não devemos fazer juízos absolutamente seguro.
sobre as coisas, pois nunca podemos estar certos que os juízos
são verdadeiros ou falsos. O ceticismo radical ou absoluto pode, de certa maneira, ser
considerado autocontraditório ou autorrefutante pois,
1. O mesmo objeto pode provocar em nós diferentes perceções afirmando que o conhecimento (crenças verdadeiras justificadas)
ou sensações, o que invalida a hipótese de saber corretamente é impossível, exprime um conhecimento (crença verdadeira
a qual perceção, ou sensação corresponde a verdade. Por justificada). Por consequência, considera o conhecimento como
exemplo, temos a perceção que o sol se move, mas também possível de facto e, no entanto, afirma simultaneamente que é
temos a perceção que a terra está parada. impossível.

2. Discordância e divergência de opiniões. É um facto que Ceticismo moderado/ mitigado: o conhecimento não é
existem, mesmo entre os especialistas, opiniões divergentes e absolutamente impossível. Contudo, o seu valor é meramente
inconciliáveis acerca dos mais variados assuntos. Isso torna probabilístico. Nós temos boas razões para acreditar em
algumas coisas, mas essas boas razões só conferem um grau de
maior probabilidade, não nos podendo ser possível afirmar que
conhecemos o real, ou que não conhecemos o real.

fonte / origem
Se admitirmos que o conhecimento impossível, importa averiguar sempre, em toda a parte e em qualquer circunstância, e, não
quais são as fontes de justificação das nossas crenças. sendo necessários, são contingentes - são verdadeiros, mas
poderiam ser falsos, e negá-los não implicaria entrar em
Para haver conhecimento tem de haver crenças verdadeiras e contradição.
boas razões, ou justificações, para as sustentar. O facto de haver
*A expressão "a priori" refere-se ao que é independente da experiência
diferentes formas de justificar as crenças que temos por e anterior a ela (anterioridade lógica e não cronológica). A expressão
verdadeiras remete-nos para o problema das fontes de “a posteriori" refere-se ao que decorre ou depende da experiência, que
conhecimento. é posterior a ela.

Perguntar pelas fontes de conhecimento equivale, então, a Conhecimento a priori: baseia-se nos juízos a priori, tendo a sua
perguntar pelas fontes de justificação das nossas crenças ou fonte ou origem apenas no pensamento ou na razão. É justificado
pela justificação que apresentamos para mostrar que as nossas pela razão e não pela experiência.
crenças são verdadeiras.
Conhecimento a posteriori: baseia-se nos juízos a posteriori,
Verifica-se amplo consenso entre os filósofos no que se refere à tendo a sua fonte ou origem na experiência. É o conhecimento
consideração das principais fontes de conhecimento. São duas: empírico, justificado pela experiência.
a razão (ou o pensamento) e a experiência (ou sentidos). *Dizer que não precisamos da experiência ou dos sentidos para justificar
algumas das nossas crenças não é o mesmo que dizer que não
Juízos a priori: juízos cuja verdade pode ser conhecida precisamos da experiência para adquirir os conceitos envolvidos nessas
independentemente de qualquer experiência, tendo, portanto, crenças. Com efeito, é necessário recorrer à experiência para adquirir
origem no pensamento/ razão humana/ entendimento humano conceitos como "azul" "amarelo", "cor" ou "casaco".
Estes juízos são universais- no sentido em que não admitem A distinção entre conhecimento a priori e conhecimento a
qualquer exceção (constringentes), sendo verdadeiros sempre, posteriori é bastante consensual. Mas há duas doutrinas
em toda a parte e em qualquer circunstância, necessários, e filosóficas que valorizam e privilegiam diferentemente cada um
negá-los implicaria entrar em contradição. desses dois modos de conhecimento, dando mais importância à
Juízos a posteriori: juízos cuja verdade só pode ser conhecida razão e ao conhecimento a priori - o racionalismo - ou à
através da experiência sensível. experiência e ao conhecimento a posteriori - o empirismo.
Estes juízos são particulares/ não são estritamente universais-
porque admitem exceções, podendo não ser verdadeiros

racionalismo
Racionalismo: é a corrente filosófica segundo a qual a origem de conhecimentos inatos. Através de uma reflexão cuidada, todos os
todo o conhecimento necessário e universal, isto é, a origem de sujeitos podem encontrar dentro de si essas ideias e adquirir, assim, um
todo o conhecimento seguro e indubitável se encontra na Razão conhecimento seguro e absoluto.
humana, totalmente independente da experiência sensível (ou Uma vez que estas ideias são inatas, isso significa que o
seja, a priori). conhecimento que delas podemos ter resulta não da experiência
sensorial, mas sim de uma experiência intelectual, de
Segundo estes autores, a Razão humana (ou entendimento) é a pensamento. E por se realizar antes, ou independentemente, da
faculdade intelectual por excelência, e é graças a essa experiência sensorial, dizemos que o conhecimento destas ideias
faculdade que o ser humano é capaz de conhecer a verdadeira inatas é um conhecimento "a priori".
natureza das coisas e do mundo.
Ora, as caraterísticas deste tipo de conhecimento fazem dele um
Normalmente a Razão humana é entendida de um modo conhecimento muito apetecível, uma vez que essas caraterísticas
instrumental, como se ela fosse apenas uma ferramenta que são a necessidade e a universalidade. Isto é, todo o
utilizamos para refletir sobre a informação que recolhemos através conhecimento "a priori" é necessário e universal. É necessário
dos sentidos. No entanto, essa não parece ser a ideia que os pela simples razão de que se o tentássemos negar, entraríamos
racionalistas defendem. De acordo com a sua ideologia, a imediatamente em contradições lógicas; e é universal, pois
Razão humana não é um mero instrumento; digamos que ela manifesta-se verdadeiro em toda a parte e para todos os seres
própria se encontra equipada com um software natural. com uma humanos (não depende de nenhuma situação contextual, nem
espécie de ideias inatas (o que nasce connosco); e são essas admite qualquer exceção).
ideias inatas que encerram em si todo o conhecimento seguro e
indubitável. Assim, para os racionalistas, o conhecimento a priori tem um papel
*Sócrates costumava afirmar que se um homem deseja conhecer todas essencial, proporcionando-nos verdades substanciais, ou
as coisas, então deve começar por se conhecer a si próprio, uma vez seja, verdades que dizem algo acerca do mundo. Este
que todos os seres humanos transportam consigo toda a verdade do conhecimento é obtido por intuição (compreensão direta e
mundo. Ora, de um modo geral esta é a tese defendida por todos os imediata de uma certa verdade) e pelo raciocínio, e a
racionalistas, segundo os quais o ser humano, quando nasce, traz já justificação que ele envolve não depende da nossa
incorporado na sua Razão, ou Entendimento, um conjunto de ideias, ou experiência do mundo.
Partindo dos princípios evidentes da razão, e seguindo um Como exemplo de juízos "a priori", isto é, proposições que
determinado método, será possível construir o conhecimento expressam conhecimentos "a priori", temos todas as
relevante da realidade (conhecimento metafísico e moral, por proposições matemáticas (que não dependem em nada da
exemplo). Existe, portanto, conhecimento a priori acerca do experiência), ou proposições como "todos os corpos são
mundo. extensos" (cuja verdade é estabelecida pelo pensamento e não
Isto não significa que os racionalistas neguem que haja pela experiência).
conhecimento a posteriori. Esse conhecimento existe, mas é na
razão que se encontra o seu fundamento.

empirismo
Ao contrário do Racionalismo, a doutrina empirista não admite a possível. Isto é, a experiência limita duplamente o nosso
existência de quaisquer ideias inatas. De acordo com os autores conhecimento.
que defendem esta corrente filosófica, todo o conhecimento
§ Por um lado, só podemos conhecer realmente aquilo que os
possível tem origem na experiência sensível. Embora a
sentidos podem perceber/captar (o que significa que se
informação recolhida pelos sentidos possa efetivamente ser
existir algo mais que não seja captável sensivelmente, então
tratada e organizada pela razão/entendimento, isso não
nunca seremos capazes de dar conta da sua existência).
significa que a razão/entendimento sejam a fonte, ou a origem,
§ Por outro lado, qualquer certeza que queiramos afirmar
do conhecimento. Sem a informação que os sentidos recolhem,
como tal, tem de ser estritamente comprovada nos limites da
nenhuma informação existiria e, por isso também, nenhum
experiência sensível.
conhecimento.
Ao conhecimento que tem o seu fundamento na experiência
Para estes, a razão não passa de uma folha em branco, vazia, sensível damos o nome de conhecimento "a posteriori"
sem qualquer informação inata. Por sua vez, à medida que o ser (realizam depois, ou dependentemente, da experiência sensorial).
humano vai recolhendo informação sensorial, essa folha vai-se Ora, este conhecimento, que se expressa através de juízos "a
preenchendo. Cabe à razão/entendimento organizar essa posteriori", carateriza-se pelo facto de não ser estritamente
informação, mas não depende dela a sua origem. universal, uma vez que admite exceções (podendo não ser
verdadeiro sempre e em toda a parte), e, consequentemente, ser
A negação, por parte dos empiristas, da existência de contingente (uma vez que a sua negação não implica qualquer
conhecimentos inatos não implica al negação do conhecimento contradição).
a priori. Os empiristas aceitam que há certas verdades que
podem ser conhecidas a priori. No entanto, consideram que Como exemplo de juízos "a posteriori" temos todas as proposições
essas verdades são desinteressantes, triviais, não-instrutivas, que afirmam alguma coisa cujo conhecimento só pode ser
tautológicas e nada nos dizem acerca do mundo; Elas podem comprovado pelos sentidos, como "o Manel é alto", "a chuva
ser adquiridas através da mera compreensão dos conceitos molha", "Paris é a capital de França", etc.
relevantes. não exigindo outro tipo de investigação do mundo
(experiência). *Kant (1724-1804) resolveu este antagonismo entre Racionalismo e
Empirismo. Através do seu programa de uma Filosofia Transcendental, o
§ Se não tivéssemos sentidos nada saberíamos. Daí que a autor demonstrou que a origem de qualquer conhecimento resulta
derradeira primeira e derradeira origem de qualquer sempre do contributo do entendimento humano e dos sentidos. Na
conhecimento se encontre sempre nos sentidos. ausência de qualquer um destes elementos, nenhum conhecimento seria
possível. A informação recolhida pelos sentidos é fundamental; mas essa
Sendo verdade o que os autores do empirismo afirmam, então informação é "cega" e nada nos diz antes de ser processada, ou
isso significa que a experiência sensível é ao mesmo tempo a formatada, pelo entendimento humano. É o entendimento humano que
origem, o fundamento e o limite de qualquer conhecimento transforma a informação bruta em conhecimento.

fundacionalismo
Quando estudámos a Definição Tradicional de Conhecimento, e Para os empiristas, os fundamentos do conhecimento encontram-
mais propriamente a crítica que Gettier lhe dirigiu, deparámo-nos se na experiência. Para os racionalistas, eles encontram-se na
com o problema da regressão infinita da justificação, isto é, razão. Já os céticos radicais consideram que nem a razão nem a
deparámo-nos com o facto de qualquer justificação da experiência justificam adequadamente de modo satisfatório e
veracidade de uma crença precisar, ela mesma, de ser justificada. suficiente, as nossas crenças.
Mas se qualquer justificação precisar, ela mesma, de ser
justificada, isso significa uma regressão sem fim de justificações, de Os fundacionalistas usam uma metáfora arquitetural para desrever
tal modo que nada poderia ser considerado seguro, indubitável a estrutura dos nossos conjuntos de crenças. A superestrutura de
e verdadeiramente justificado. um sistema de crenças recebe a sua justificação de um dado
subconjunto de crenças onde repousam as demais, tal como um
Perante esta situação, e de modo a resolver este problema, edifício é suportado pelas fundações. Essas crenças fundacionais
quer o Racionalismo quer o Empirismo apresentam uma são designadas “crenças básicas” e são vistas como infalíveis
perspetiva fundacionalista, de acordo com a qual todo o (não podem estar erradas), incorrigíveis (não podem ser
conhecimento deve ser concebido como uma estrutura que se refutadas) e indubitáveis (não podem ser postas em dúvida).
ergue e se desenvolve a partir de fundamentos certos, seguros e
indubitáveis (isto é, a partir de justificações de tal modo claras e Crenças não básicas: crenças cuja veracidade se apoia/justifica
evidentes que não precisam, elas mesmas, de ser justificadas). noutras crenças, ou seja, não são autoevidentes.
Crenças básicas: crenças que suportam todo o conhecimento, e problema levantado pelos céticos (desafio cético), ou mesmo
estas caraterizam-se por não necessitarem de ser justificadas por Gettier.
por outras crenças, uma vez que se justificam a si próprias
(autoevidentes). As questões que aqui ficam são:
Que crenças básicas são essas?
Na medida em que crenças básicas justificam a si próprias, elas Onde as encontramos?
evitam a regressão infinita da justificação, resolvendo assim o

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