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---Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva---

Estrutura do ato de conhecer


O que é conhecimento?
Gnosiologia
O conhecimento pode ser entendido como uma
relação entre um sujeito (aquele que conhece) e um objeto Disciplina filosófica
(aquilo que é conhecido). A palavra objeto não deve ser que estuda o conhecer que
entendida como algo físico, mas como uma porção do real estuda o conhecimento,
(físico ou não). Sendo assim os nossos próprios estados procurando esclarecer e
mentais podem construir-se como um objeto de analisar criticamente
conhecimento. problemas relativos, por
exemplo, às origens, às
fontes, à possibilidade, aos
fundamentos e aos
fundamentos e aos limites
do conhecimento.
Tipos de conhecimento

Conhecimento por contacto Conhecimento prático


Contacto proposicional

O sujeito está em Consiste numa Aquilo que sujeito


contacto direto, atividade (saber conhece é uma
através dos seus fazer) proposição
sentidos com o verdadeira acerca
objeto conhecido. do mundo (saber
que)

Dos três tipos de conhecimento, apenas o conhecimento proposicional


é diretamente transmissível. Isto porque, quando alguém tem um conhecimento
proposicional, e o transmite a outra pessoa, essa fica a saber o mesmo
conhecimento. Já no conhecimento por contacto e o conhecimento prático não
acontece isso. Quando um individuo conhece algo por contacto, por muito que
o descreva a outra pessoa, essa não fica com o mesmo conhecimento. O
mesmo se aplica ao conhecimento prático. Por muito que se ensine alguém a
fazer alguma coisa, essa pessoa não pode dizer que sabe fazer, sem nunca o
ter feito.

Teoria tradicional do conhecimento


São necessários 3 requisitos para afirmar que se tem conhecimento:

 Crença: quando alguém afirma que conhece uma proposição


tem de acreditar nela. A palavra “crença” deve ser entendida
como sinónimo de convicção ou opinião e não de crença
religiosa;
Se S sabe que p, então S acredita que p.

 Verdade: visto que não se pode conhecer falsidades, para além


da crença, também a verdade parece ser uma condição
necessária para o conhecimento.
Se S sabe que p, então p é verdadeira

 Justificação: por muito bem justificadas que estejam as nossas


crenças elas podem vir a revelar-se falsas. Isto acontece porque
o conceito de justificação não é um conceito descritivo (não se
limita a dizer como as coisas são), mas sim um conceito
normativo (diz como as coisas devem ser). Isto significa que,
sempre que temos boas razões para acreditar numa dada
proposição, temos o dever de acreditar nela.

Se S sabe que p, então S tem uma justificação para


acreditar em p

Visto que esta definição estabelece que existem três condições


necessárias e suficientes para o conhecimento, também é designada como
definição tripartida de conhecimento.

Objeções à definição tripartida de conhecimento

Edmund Gettier apresentou contraexemplos à definição tradicional


de conhecimento, mostrando que era possível termos uma crença verdadeira
justificada e aina não termos conhecimento, no caso de a nossa justificação
não se basear nos aspetos relevantes da realidade. Estes contraexemplos
também ficaram conhecidos por Casos de Gettier.

Análise comparativa de teorias explicativas do conhecimento

Problema da possibilidade de conhecimento: Será o conhecimento


possível?

A resposta cética

A palavra “cético” em filosofia aplica-se a quem desafia a nossa


pretensão de que sabemos com certeza seja o que for, ponto em causa a
possibilidade de conhecimento.
Os céticos antigos consideravam que, uma vez que as pretensões se
podem revelar injustificadas, o melhor a fizer é suspender o juízo, isto é,
abster-se de considerar que sabiam que o que quer que seja é absolutamente
verdadeiro ou falso.

Existem céticos radicais que poem em causa a possibilidade de toda e


qualquer espécie de conhecimento, e há céticos mais moderados que cingem
o se ceticismo a certos tipos ou domínios de conhecimento.

Aqueles que se limitam a refutar toda e qualquer tentativa de demostrar


que sabemos alguma coisa incluem-se no chamado ceticismo negativo.

Aqueles que consideram que o conhecimento não é possível,


defendendo esta ideia com argumentos são os representantes do ceticismo
positivo.

O argumento da regressão infinita

É sempre pedida uma justificação para cada uma das nossas crenças
e, uma vez que essa justificação consiste numa outra crença que também
precisa de ser justificada. Assim, rapidamente se instala uma cadeia de
justificações. No entanto, uma vez que novas crenças serão invocadas para a
justificar as próprias justificações, caímos num encadeamento de crenças
que se justificam umas as outras.

O problema das cadeias de justificações pode ser formulado através de


um trilema destrutivo. Em lógica formal, chama-se “trilema destrutivo” a uma
forma argumentativa em que se assume a existência de três (e apenas três)
possibilidades alternativas (p, q e r). uma vez que todas elas implicam a
negação de uma quarta proposição (s), conclui-se validamente que essa
negação é verdadeira.

Posto de outra forma, um trilema destrutivo é um argumento com a


seguinte forma logica:

Ou p, ou q ou r.
Se p, então não s.
Se q, então não s.
Se r, então não s.
Logo, não s.

Neste caso em concreto, o trilema afirma que a partir do momento em


que a partir do momento em que uma cadeia de justificações se começa a
desenrolar existem apenas três alternativas:
1) Ou essa cadeia de justificações termina arbitrariamente numa
crença injustificada (o equivalente ao “porque sim”);
2) Ou volta-se sobre si própria de um modo viciosamente circular-
uma das justificações é sustentada por uma crença situada num
qualquer ponto anterior da cadeia;
3) Ou regride infinitamente – justificamos a primeira crença com
outra, e essa com outra crença, e assim infinitamente.
Objeções ao ceticismo

O ceticismo é insustentável

Alguns autores caracterizam o ceticismo como uma posição


autorrefutante, isto é, algo que se refuta a si mesmo e demonstra a sua
própria falsidade. É simplesmente contraditório afirmar que se sabe que o
conhecimento não é possível. Isto porque se o conhecimento fosse
verdadeiramente impossível nem isso se poderia saber.
O cético pode facilmente eliminar o carater aparentemente contraditório
da sua perspetiva afirmando que não se compromete com uma afirmação que
não se compromete com uma afirmação substantiva como esta, limitando-se a
suspender o juízo, acerca de todos os assuntos.

Bertrand Russell defende que, embora possamos ter razões para


suspender a crença, em relação a este ou àquele assunto, é implausível
pensarmos que temos razões para colocar em suspenso todas as nossas
crenças em simultâneo. Defende também que o ceticismo extremo é uma
posição insustentável de um ponto de vista racional.

Para além desta dificuldade teórica, há quem considere que o


ceticismo extremo é uma perspetiva insustentável devido às suas implicações
práticas. David Hume defende que se puséssemos constantemente em causa
ideias que no dia a dia assumimos como verdadeiras, poderíamos acabar por
nos sentir incapazes de tomar qualquer decisão ou de fazer fosse o que
fosse (exemplo: será que o chão vai desaparecer?).

O ceticismo pode ser então entendido como uma atitude preventiva


que desafia a nossa pretensão de que sabemos de tudo aquilo que julgamos
saber.

Objeção funcionalista

Os funcionalistas rejeitam a primeira premissa do argumento cético


(regressão infinita). Para estes, nem todas as nossas crenças se justificam com
base noutras, pois existem crenças que são tao evidentes, que podemos
considerar que se justificam a si mesmas.
Assim, para os funcionalistas, existem dois tipos de crenças:
 Crenças básicas ou funcionais: são tao evidentes que se
podem justificar a si mesmas;
 Crenças não-básicas: não são autoevidentes, portanto
necessitam de outras crenças para se justificarem.

As crenças básicas podem justificar as crenças não-básicas. Por


isso, embora as crenças não-básicas possam dar origem a uma cadeia de
justificações, essa cadeia não está definitivamente fracassada.
Assim, para os funcionalistas, o trilema subjacente ao argumento cético
é um falso trilema, pois existe um desfecho alternativo para as cadeias de
justificação: podem desembocar numa crença que se justifica a si própria.

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