Você está na página 1de 9

Filosofia

O que é conhecer?
-> O objetivo fundamental será o de justificar o conhecimento, dar conta dos fundamentos que o
alicerçam e mostrar a viabilidade do acesso cognitivo ao mundo real.
O problema do conhecimento pode ser considerado um dos temas centrais da Filosofia. Entende-
se a epistemologia como um discurso sobre o conhecimento, no sentido etimológico do termo.»
A epistemologia/gnosiologia é uma das disciplinas centrais da Filosofia: estuda, entre outros, os
problemas da natureza e da possibilidade do conhecimento. (continuação na pág.3)

A definição tradicional de conhecimento


Platão:
-> Platão, num dos seus diálogos mais importantes - Teeteto - apresenta-nos uma proposta de
definição de conhecimento proposicional que assenta na ideia de que há três condições
necessárias para o conhecimento: crença, verdade e justificação. Se parada ou individualmente,
cada uma destas condições não é suficiente para haver conhecimento, mas as três condições
necessárias são, conjuntamente, suficientes para o conhecimento. Esta é a definição tradicional
de conhecimento, também chamada definição tripartida de conhecimento: conhecer é ter crenças
verdadeiras e boas razões, ou justificações, para as sustentar.

Crença: A crença é um estado mental de convicção ou de adesão a algo. Todo o conheci-


mento envolve uma crença. Por exemplo, se sabemos que Lisboa é a capital de Portu-
gal, então acreditamos nisso. Seria contraditório se assim não fosse.
A crença é, desta forma, uma condição necessária para haver conhecimento:
quando eu sei algo, acredito nesse algo. Mas a crença não é uma condição suficiente
para o conhecimento: saber e acreditar são coisas distinta;
Exemplo: Na Antiguidade, por exemplo,acreditava-se que a Terra estava no centro do Universo e a
convicção era tão forte que se pensava que se sabia isso. No entanto, hoje sabemos que estavam
enganados.

Verdade: Para haver conhecimento, as nossas crenças têm de ser verdadeiras. A verdade é uma
condição necessária para haver conhecimento. O conhecimento é factivo, o que significa que não
podemos saber algo que é falso: saber algo implica a verdade daquilo que sabemos. Mas a
crença verdadeira não é uma condição suficiente para o conhecimento;
Exemplo: Imagina que perguntas a alguém que não te conhece quantos animais de estimação
tens e essa pessoa afirma que tens dois. Respondes, espantado, que efetivamente tens um cão e
um gato. Por isso, a crença é verdadeira. Mas terá essa pessoa conhecimento? Não terá sido uma
questão de sorte ou de acaso? O conhecimento não pode ser obtido ao acaso.

Justificação: A justificação é uma condição necessária para o conhecimento. No entanto, a


justificação não é uma condição suficiente para o conhecimento, porque ter boas razões para
acreditar em algo não garante que essa crença seja verdadeira;
Exemplo: Podes ter justificação para acreditar que vai chover - o céu está nublado e escuro, está
vento e a previsão meteorológica afirma-o e, no entanto, essa crença justificada pode revelar-se
falsa e não chover.

- Na definição tradicional ou tripartida de conhecimento, a crença verdadeira justificada é, como


tal, aquilo que define o conhecimento: crença, verdade e justificação tomadas em conjunto são
suficientes para o conhecimento. Se alguém tiver uma crença, se essa crença for verdadeira e, se
além disso, houver boas razões a favor da verdade dessa crença, então essa pessoa tem
conhecimento.
-> Tipos de conhecimento:
- Conhecimento prático/ conhecimento por aptidão/ saber como;
Objeito: atividades ou ações. É relativo à competência para fazer algo;
Exemplo: Saber cozinhar, saber conduzir…
- Conhecimento por contacto:
Objetivo: Realidade concreta. É o conhecimento direto de alguma realidade, pessoas, lugares,
estados mentais etc;
Exemplo: Conhecer pessoalmente o presidente da república, conhecer Madrid, conhecer uma
uma dor por tela experimentado;
- Conhecimento proposicional/saber que:
Objeto: proposições verdadeiras ou pensamentos verdadeiros. É o conhecimento da verdade;
Exemplo: Saber que 3+53=56, saber que Augosto foi o imperador Romano, saber que os ovos
têm proteína;
A crença verdadeira justificada não é condição
suficiente para haverá comnhecimento
Edmund Gettier -> Tese- Ter uma crença verdadeira justificada é condição necessária, mas não é
condição suficiente para o conhecimento.
-Refuta a definição tradicional de conhecimento de Platão, propondo situações hipotéticas em
que as pessoas têm crenças verdadeiras justificadas e, no entanto, não têm conhecimento. Os
contraexemplos de Edmund Gettier mostram que, apesar de a crença em causa ser verdadeira e
estar justificada, a justificação que o sujeito tem para essa crença não se baseia nos aspetos
relevantes da realidade que tornam a sua crença verdadeira.
- Pode haver crenças verdadeiras justificadas sem que tais crenças equivalham a um efeito de
conhecimento. É possível que alguém não possua conhecimento ainda que sejam realizadas as
3 condições: crença, verdade e justificação;
- Pode haver crenças verdadeiras que são justificadas apenas acidentalmente em resultado de
sorte, do acaso ou mera coincidência;

-> A quarta condição necessária para o conhecimento:


Alvin Goldman -> Tese- Conhecer é ter uma crença verdadeira justificada a partir de um
processo fiável de obtenção de crenças (em que o sujeito está causalmente ligado aos aspetos
relevantes da realidade responsáveis pela verdade da crença).
-Segundo Goldman, uma crença verdadeira só pode constituir conhecimento se estiver
justificada e tiver sido adquirida através de uma relação causal entre o sujeito que conhece e os
aspetos da realidade que tornam a sua crença verdadeira.
-> conhecimento- crença, verdade, justificação e fiabilidade

-> O conhecimento é um estado inteiramente mental:


Timothy Williamson -> Tese- O conhecimento é um estado inteiramente mental em que nos
encontramos se os nossos pensamentos representarem corretamente o mundo.
- Não devemos, no entanto, partir do pressuposto de que todos os conceitos são analisáveis
e de que o conhecimento é um estado híbrido suscetível de ser analisado em componentes
mentais e não mentais.

- O conhecimento é, também, em parte, determinado pelo que está no mundo exterior. Por
exemplo, eu não posso saber que o café está quente (não posso estar nesse estado mental) se
ele realmente não estiver quente. O café - essa parte do mundo exterior - constitui em parte o
meu estado mental de saber.
As fontes de justificação do conhecimento

1- Conhecimento a priori: Um conhecimento é a priori se o podemos adquirir recorrendo apenas


ao pensamento e independentemente da experiência;
2- Conhecimento a posteriori: Um conhecimento é a posteriori se só o podermos adquirir pela
experiência;
- Porém, o que está em causa na distinção entre conhecimento a priori e conhecimento a
posteriori é o modo como conhecemos certa proposição e não o modo como adquirimos os
conceitos considerados relevantes para a compreendermos.
Racionalismo(1) e Empirismo(2)
1) Tese- O conhecimento tem um fundamento racional: as crenças básicas provêm da razão.
- Há crenças sobre o mundo que podem ser justificadas a priori.
-> O racionalismo atribui ao conhecimento a priori um papel fundamental desvalorizando o papel
dos sentidos. O primado está na razão, que, por si só, garante a aquisição e justificação do
conhecimento;
- A última análise é dos sentidos, da experiência sensível;
2) Tese- O conhecimento tem um fundamento empírico: as crenças básicas provêm da
experiência.
- O conhecimento a priori não é substancial (sobre o mundo).
-> O empirismo, por sua vez atribuí o papel fundamental a experiencia e aos senti-
dos. Os empiristas enfatizam o conhecimento a posteriori e desvalorizam o conhecimento a priori,
o qual consideram que nada nos diz acerca do mundo.
Fundacionalismo
Segundo o fundacionalismo, todo o conhecimento assenta numa base absolutamente primeira,
originária, que não carece de justificação por se autojustificar a si mesma, pela sua evidência
imediata, pela sua infalibilidade, incorrigibilidade, certeza.
Tese- O conhecimento está fundado em crenças básicas (racionais ou empíricas).

É possível conhecer?
-> Como sabemos que não estamos a sonhar?
- A possibilidade do sonho é o ponto de partida de alguns filósofos céticos, nomeadamente de
Pirro de Elis, para duvidar que as pessoas saibam o que acham que sabem;
- Descartes começa por aceitar esse argumento dos céticos, imaginando, além disso e de forma
ainda mais radical, um deus enganador que manipula os nossos pensamentos;
-> A resposta cética
- O ceticismo é a ideia de que nenhuma fonte de justificação do conhecimento é satisfatória, quer
seja ela a razão, quer seja ela a experiência. O mais sensato é, como tal, suspendermos o juizo-
epoché em vez de supormos que sabemos seja o que for;
- Os céticos não afirmam que nada sabemos - ate porque afirmar isso seria autodestrutivo: o
cético não pode afirmar com segurança que nada sabemos, porque isso entraria em contradição
com a sua postura de dúvida -, mas desafiam a possibilidade de podermos afirmar que temos
conhecimento ao negarem que as nossas crenças estejam devidamente justificadas;
Tese- Não podemos afirmar que temos conhecimento, porque nenhuma fonte de justificação
das nossas crenças é satisfatória.
NOTA: Uma pessoa cética é uma pessoa que está sempre a duvidar de tudo;
-> Razões para a suspensão do juízo
- Uma das principais fontes de informação sobre o ceticismo são os escritos de Sexto Empírico,
nas obras Hipóteses Pirrónicas e Contra os Professores, as quais exerceram uma enorme
influência na emergência da filosofia moderna, nomeadamente em Descartes e Hume.
Epoché: Estado de neutralidade em que nada se afirma e nada se nega (dúvida)-> Suspensão do
juízo
1- Argumento da divergência de opiniões: Se fosse possível justificar as nossas crenças, não
haveria lugar para divergências de opinião.Há divergências de opinião.Logo, é impossível
justificar as nossas crenças.
2- Argumento da ilusão: Tudo o que é uma fonte de justificação segura do conhecimento não nos
engana. Os sentidos enganam-nos. Logo, os sentidos não são uma fonte de justificação segura
de conhecimento.
3- Argumento da regressão infinita da justificação: A justificação de qualquer crença é inferida de
outras crenças. Se a justificação de qualquer crença é inferida de outras crenças, então dá-se
uma regressão infinita. Se há uma regressão infinita, as nossas crenças não estão justificadas.
Logo, as nossas crenças não estão justificadas.
-> Em síntese, estes três argumentos principais dos céticos provam que nenhuma justificação é
adequada para mostrar que não estamos enganados quando julgamos conhecer alguma coisa.
Descartes e a resposta racionalizar
-> O fundacionalismo cartesiano
Descartes é um fundacionalista racionalista. Considera que o conhecimento tem um fundamento
racional e que a razão é a fonte de justificação última das nossas crenças.
O filósofo não ignorou os principais argumentos dos céticos. O seu principal objetivo era
demonstrar que os céticos estavam enganados quando negavam a possibilidade do
conhecimento. Assim, procurou demonstrar que há crenças justificadas e que o conhecimento é
possível.
Preocupava-o, sobretudo, a solidez do conhecimento: queria obter conhecimentos seguros
acerca da natureza da realidade. Considerava que o saber do seu tempo estava assente em
princípios frágeis e em conclusões diferentes e, até, opostas. Como tal, era importante remover
os velhos materiais do edifício do conhecimento, antes de iniciar a construção de um novo
sistema filosófico assente em fundamentos absolutamente seguros e inabaláveis. Precisava, para
isso, de encontrar um ponto de partida sólido, do qual ninguém fosse capaz de duvidar.
Tese- O conhecimento é possível.
- A razão é a principal fonte de justificação das nossas crenças.
-> A duvida metódica
Como fomos crianças antes de sermos homens, e ora julgámos bem ora mal as coi-
sas que se apresentam aos nossos sentidos, quando ainda não tínhamos o pleno uso
da razão, vários juízos precipitados impedem-nos de alcançar o conhecimento da verdade;
Todas as nossas crenças terão de ser submetidas à dúvida e só serão aceites como justificadas
se passarem no teste da dúvida, ou seja, se não conseguirmos encontrar nelas a mais pequena
suspeita de incerteza;
Como o ponto de partida sólido a partir das quais será reconstruído todo o edifício do
conhecimento;
1- É metódica, porque é um meio para alcançar um conhecimento certo e indubitável. É um
instrumento da razão que permite evitar o erro. Obedece a regras evidencia, analise, síntese e
enumeração;
2- É provisória, porque o objetivo não é concluir que tudo é duvidoso, mas que há crenças
indubitáveis. Como tal, é abandonada, uma vez alcançado o objetivo de encontrar crenças
fundacionais. Visa ultrapassar o ceticismo em chegar a primeira certeza;
3- É universal, porque todas as crenças são submetidas à dúvida (a posteriori e a priori). Indica
não só sobre o conhecimento em geral, como também sobre os seus fundamentos e suas raizes;
4- É hiperbólica, porque é exagerada: leva a supor que é falso tudo o que possa levantar a mais
pequena dúvida. Nenhuma realidade é imune à dúvida, nem o próprio sujeito;
-> Submissão das crenças ao teste da dúvida metódica
Descartes decide analisar os princípios fundamentais de cada um dos domínios do
conhecimento, dado que a tarefa de analisar todas as nossas crenças seria interminável. Se esses
princípios se revelarem falsos, também as crenças que neles se baseiam
são rejeitadas.
Primeiro nível de duvida- Os sentidos enganem-nos:
- Se os nossos sentidos nos enganem, ainda que apenas algumas vezes e é um facto
inconstatavel que assim é, então o melhor é não confiarmos neles nunca;
- Manda a prodencia que não confiemos neles,mesmo que algumas das crenças que neles
fundamos ou mesmo que em larga medida possam ser verdadeiras;
- Os sentidos não são fundamentos infalíveis;
Segundo nível da duvida- virgilia e sob o não se podem distinguir:
- Mais uma vez, o exercício da duvida metódica parece dar razão aos céticos; Não é possível
distinguir o sono da virgilia;
- É perfeitamente possível que estejas neste momentos dormir e a sonhar, ainda que acredites
estar acordado. A hipotese de estar sonhar não pode ser rejeitada;
- Os sentidos e a experiência não são fontes verdadeiras indubitáveis;
Terceiro nível da duvida - A possibilidade de um génio maligno:
- Suponhamos propõe Descartes, que existe um ser infinitamente inteligente e poderoso pleno
de maldade, um génio maligno, cujo único propósito é enganar-nos;
- Um tal ser- caso existisse- poderia fazer-nos acreditar em falsidades, poderia divertir-se
fazendo-nos crer que temos um corpo não o tendo ou iludir-nos e relação a cálculos matemáticos
simples como a soma de 2+2:
-> Não,podemos con fiar nos nosso sentidos nem nos poderes da razão enquanto fontes de
conhecimento fiáveis;
- Descartes submete as crenças a priori ao teste da dúvida metódica.
A hipótese do génio maligno é uma experiência mental através da qual Descartes imagina que
existe uma espécie de deus enganador, que se diverte em manipular sistematicamente os nossos
pensamentos sem que nos apercebamos disso. É um génio, porque o seu poder é idêntico ao de
um deus, mas não é um deus, porque é enganador.
Através desta experiência mental, as crenças a priori não passam o teste da dúvida metódica, já
que este génio maligno conseguiria fazer-nos acreditar que são verdadeiras proposições que
podem ser falsas, como uma proposição matemática. Descartes não afirma que o génio maligno
existe mesmo, mas basta a hipótese da sua existência para duvidarmos também destas crenças.
Descartes derrubou, desta forma, todo o edifício do conhecimento do seu tempo.
-> Cogito - 1º certeza de Descartes
- O método cartesiano ( duvida) faz surgir uma primeira certeza invulnerável a duvida: a existência
do sujeito duvida;
- A duvida atua sobre todos os objetos do conhecimento, mas não pode atura sobre a existência
daquele que assim duvida;
- Duvidar é pensar e para penar é preciso existir;
- Seria racionalmente contraditório pensar a não existir;
Este princípio resulta do próprio ato de duvidar: ao duvidar, está a exercer um ato
de pensamento e, ao pensar, tem claramente de existir. A clareza e distinção do cogito
é a prova de que existe enquanto ser pensante (res cogitans)- ser pensante;
O critério de verdade consiste na clareza e distinção das ideias, na evidência.
O critério da clareza e da distinção permite distinguir as ideias verdadeiras das falsas.
NOTA: Desde que Descartes descobriu a 1º justificação/ certeza, para as suas crenças básicas o
mesmo supera o ceticismo;

Você também pode gostar