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Três diferentes tipos de conhecimento

Conhecimento por
familiaridade ou contato

Acesso direto ao objeto
Por experiência

Por percepção
Conhecimento como
habilidade ou competência

 Eu sei como andar de bicicleta

 Eu sei usar o computador


Conhecimento
Proposicional

 Conhecimento de que alguma proposição é
verdadeira.
 Eu sei que a lua é o satélite natural da terra.
 Eu sei que ovos são proteínas
 Eu que 53+3=56
 Eu sei que a contradição lógica não pode ocorrer
 De modo geral: Eu sei que P
 P representa uma proposição.
Conhecimento
Proposicional

 Na filosofia sempre se tratou do conhecimento
proposicional. Sendo este conhecimento sempre
alvo de tratamento privilegiado em detrimento
dos outros.
 Há muitos tipos de conhecimento proposicional,
na medida em que podemos conhecer imensas
proposições. A questão que se põe é o que é que
faz de todo esse conhecimento aquilo que é, o que
é que todos têm em comum?
Conhecimento proposicional

 Resposta fenomenológica de Edmund Husserl (séc.
XIX)
Fenomenologia do conhecimento
Fenómeno = o que aparece à
consciência e pode ser descrito.

Como é que se apresenta o fenómeno do conhecimento


à consciência nas suas caraterísticas essenciais?
Fenômeno do conhecimento
Husserl

No conhecimento há sempre um sujeito e um
objeto.
Sujeito e objeto são opostos/separados
 A relação sujeito/objeto é uma correlação
 As posições na relação são irreversíveis .
Fenômeno do conhecimento
Husserl

 Do ponto de vista do sujeito o conhecimento consiste em
3 etapas: o sujeito sai da sua esfera, entra na esfera do
objeto e capta as suas características, o sujeito retorna a
si com uma imagem do objeto
 Do ponto de vista do objeto, o conhecimento apresenta-
se como uma transferência de propriedades para a
imagem
 Por isso, na relação de conhecimento, o objeto é o
determinante e o sujeito o determinado
 Fenomenologicamente, o conhecimento é a apreensão, por
parte de um sujeito, das caraterísticas de um objeto através de
uma imagem.
Resposta tradicional: Platão

 Problema (retomando): o que é que faz de todo esse
conhecimento aquilo que é? O que é que todos têm em comum?
 Resposta de Platão (Teeteto, Menon)
“O conhecimento é uma crença verdadeira justificada”
Trata-se da definição tripartida.
Crença
Verdade
Justificação : Razão???
Conhecimento como CVJ

 De acordo com a definição platônica há três critérios
que são necessários e suficientes para S conhecer
P (P é um proposição)

 S acredita que P (critério psicológico)


 P é verdade (critério ontológico)
 S justifica racionalmente P (critério epistemológico)
Conhecimento como
CVJ

 Nestes termos o conhecimento é construído com base na
crença – para saber P, temos que acreditar que P.
 O problema é que as crenças são subjetivas enquanto o
conhecimento exige objetividade. Dai que a crença
somente se traduz em conhecimento se certas condições
forem satisfeitas, uma dessas condições é a verdade.
 Mas será isso suficiente??
Conhecimento como
CVJ

 Considere a seguinte situação:
Se um homem teve um palpite acertado ("Eu diria que é o
sete de ouros"), mas não sabe realmente; e outro homem sabe,
mas não diz, e não precisa adivinhar; o que é que o segundo
homem tem (se assim podemos dizer) que falta ao primeiro?
Pode-se dizer, é claro, que o segundo homem tem a prova
evidente e que o primeiro não a tem, ou que algo é
evidente para um que não é para o outro. Mas o que é prova
evidente e como decidiremos, em qualquer caso
determinado, se temos ou não prova?
Conhecimento como CVJ

 O problema da justificação:
Em que consiste a justificação é uma questão
altamente controversa. Em geral toma-se a
justificação como boas razões para pensar que nossas
crenças são verdadeiras.
 Boas razões = provas (?); explicação racional (??).
 Que provas? Empíricas? A priori?
 Temos que aprofundar a análise dessa definição.
Elementos constitutivos do
conhecimento

 A noção de Crença
 Uma crença (ou convicção ou opinião) é também uma
relação entre o sujeito que tem a crença e o objeto
dessa crença.
 Por «crença» os filósofos não querem dizer
unicamente a fé religiosa, mas sim qualquer tipo de
convicção que uma pessoa possa ter.
 Exemplo: S acredita que Aristóteles foi um filósofo;
 R acredita que a Terra é maior do que a Lua.
Elementos constitutivos do
conhecimento

 Crença e conhecimento
 Muitos filósofos defendem que todo o conhecimento
envolve uma crença. Mas considere os seguintes
exemplos:
 • Sei que a Terra é redonda, mas não acredito nisso.
 • Não acredito em bruxas, mas que as há, há!
 Estas afirmações parecem, num certo sentido, contraditórias.
Parece impossível saber algo sem acreditar no que se sabe.
 Por este motivo, diz-se que a crença é uma condição necessária
para o conhecimento: sem crença não há conhecimento.
Elementos constitutivos do
conhecimento

 Eis então aquilo que descobrimos até agora acerca da
natureza do conhecimento:
 A crença é uma condição necessária para o conhecimento.
 Por exemplo, se o João souber que a neve é branca, então
acredita que a neve é branca.
 Mas será a crença uma condição suficiente para
conhecimento?
 Evidentemente que não, pois as pessoas podem acreditar
em coisas que não podem saber, nomeadamente,
falsidades.
 Uma pessoa pode acreditar que existem fadas, por exemplo, mas
não pode saber que existem fadas, porque não há fadas.
Elementos constitutivos do
conhecimento

A crença não é uma condição suficiente
para o conhecimento.
Como a crença é uma condição
necessária mas não suficiente para o
conhecimento, a crença e o
conhecimento não são equivalentes.
Saber e acreditar são coisas distintas.
Elementos constitutivos do
conhecimento

 outras condições necessárias porque em muitos casos um
conjunto de condições necessárias acaba por ser um condição
suficiente.
 Por exemplo, uma condição necessária para ser um ser
humano é ser um hominídeo. Mas não é uma condição
suficiente, dado que muitos hominídeos não são seres
humanos.
 Outra condição necessária para ser um ser humano é ser
racional; mas também não é suficiente, dado que poderão
existir seres racionais extraterrestres, por exemplo, e eles não
serão seres humanos.
 Mas se juntarmos as duas condições necessárias, obtemos uma
condição suficiente, pois basta ser racional e um hominídeo
para ser um ser humano.
Elementos constitutivos do conhecimento
Conhecimento e verdade

O conhecimento é factivo, ou seja, não se pode conhecer falsidades.
 Dizer que não se pode conhecer falsidades não é o mesmo que dizer que não se
pode saber que algo é falso. As duas coisas são distintas.
 Vejamos os seguintes exemplos:
1. A Mariana sabe que é falso que o céu é verde.
2. A Mariana sabe que o céu é verde.
 1 e 2 são muito diferentes. O exemplo 1 não viola a factividade do
 conhecimento. Mas o exemplo 2 viola a factividade do conhecimento:
 a Mariana não pode saber que o céu é verde, pois o céu não é verde.
 Dizer que o conhecimento é factivo é apenas dizer que sem verdade não há
conhecimento.
 A verdade é uma condição necessária para o conhecimento.
Crença e ilusão

 Não se deve confundir as seguintes duas coisas: pensar
que se sabe algo e saber realmente algo.
 Se de facto soubermos algo, então temos a garantia de
que isso que sabemos é verdade. Mas podemos pensar
que sabemos algo sem o sabermos de facto. Por
exemplo, no tempo de Ptolomeu pensava-se que a Terra
estava imóvel no centro do universo. E as pessoas
estavam tão seguras disso que pensavam que sabiam
que a Terra estava imóvel no centro do universo.
Crença e ilusão

O que torna uma crença verdadeira ou
falsa não é a força da nossa convicção
nessa crença. Por mais que estejamos
firmemente convencidos de que a Terra
é redonda, o que faz essa crença ser
verdadeira é a redondeza da Terra, e
não a força da nossa convicção.
Crença e ilusão

A verdade ou falsidade de uma crença depende sempre de algo que
está fora da própria crença. Se eu acredito que Carlos I morreu no
cadafalso, acredito em verdade, não por causa de qualquer
qualidade intrínseca da minha crença, que possa ser descoberta
examinando apenas a crença, mas por causa de um acontecimento
histórico que se deu há dois séculos e meio. Se eu acredito que
Carlos I morreu na cama, acredito falsamente: nenhum grau de
vivacidade da minha crença, ou cuidado na formação da crença,
impede que seja falsa, uma vez mais por causa do que aconteceu há
muito tempo, e não por causa de qualquer propriedade intrínseca da
minha crença. Logo, apesar de a verdade e a falsidade serem
propriedades das crenças, são propriedades que dependem das
relações das crenças com outras coisas, e não de qualquer qualidade
interna das crenças.
 Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia, 1912
Conhecimento e justificação

 Para haver conhecimento, não basta termos uma
crença verdadeira; a nossa crença tem de estar
justificada. Eis, portanto, a terceira condição para o
conhecimento:
A justificação é uma condição necessária para o
conhecimento
Ter justificação para acreditar em algo é ter boas razões
a favor da verdade dessa crença.
Conhecimento e justificação

 Exemplo:
Alguém que acredite que o planeta Marte é vermelho
porque sonhou com isso, não tem justificação para
acreditar em tal coisa. Contudo, se essa pessoa acredita
que Marte é vermelho porque leu um livro sobre Marte,
e não tem razões para duvidar da credibilidade do
livro, então tem justificação para acreditar que o
planeta é vermelho.
Uma crença está justificada quando há boas razões a
favor da sua verdade.
Conhecimento e justificação

 Justificar e ter justificação
 Apesar de para uma crença estar justificada ser
preciso haver boas razões a favor da sua verdade,
não é necessário que a pessoa em causa saiba
explicar corretamente que razões são essas.
 Afinal, a maioria de nós tem justificação para
acreditar que dois mais dois são quatro, mas quase
ninguém é capaz de explicar corretamente a
justificação que apoia essa crença.
Conhecimento e justificação

 Justificação e verdade
 Ter justificação para acreditar em algo não garante que a
nossa crença seja verdadeira.
 Por exemplo, o Boecio pode ter boas razões para
acreditar que no geocentrismo, pois as observações de
Ticho Brahe havia confirmado os cálculos de Ptolomeu e
a tese geocêntrica era conforme a Bíblia. Mas pode
ocorrer que os cálculos estivessem errados, houvesse
explicações mais consistes para resolução dos problemas
que o geocentrismo não conseguia resolver sem ele
soubesse.
Conhecimento e justificação

 Ter justificação para acreditar em algo não garante a
verdade dessa crença; apenas mostra que há boas
razões a seu favor. Quando há boas razões a favor da
verdade de uma crença, é racional ter essa crença,
mesmo que seja falsa.
 Assim, também podemos não ter justificação para
acreditar em certas verdades. Por exemplo, mesmo que
seja verdade que há fadas, não há boas razões para
acreditar nisso. Ou seja, não há uma justificação para
acreditar na existência de fadas, mesmo que haja fadas.
 A crença justificada não é suficiente para o
conhecimento.
Um contraexemplo à teoria

 Imaginemos que o João vai a uma festa onde se encontrava a Ana.
Imaginemos ainda o seguinte:
A. O João acredita que a Ana tem Primeiros Analíticos na mochila.
 Imaginemos também que a crença do João está justificada. Por
exemplo, suponhamos que a Ana lhe tinha dito que ia levar o livro
para a festa e que ele sabe que a Ana não tem razões para
 mentir sobre esta banalidade. Portanto, o João não só acredita que
a Ana tem Primeiros Analíticos na mochila, como a sua crença está
justificada:
B. A crença do João de que a Ana tem Primeiros Analíticos na mochila
está justificada.
Um contraexemplo à teoria

 Agora vem a parte substancial do argumento:
Imaginemos que a Ana decide não levar Primeiros
Analíticos para a festa, pois já levava a mochila muito
carregada. Imagine--se também que, com a pressa, a
Ana se esquece de tirar o livro da mochila e que sem
querer acaba por o levar consigo para a festa. Portanto,
a Ana tem de facto levar Primeiros Analíticos mochila,
pelo que a crença do João não só está justificada como é
verdadeira.
C. A crença do João de que a Ana tem Primeiros Analíticos
na mochila é verdadeira
Um contraexemplo à teoria

 Isto significa que, dado A, B e C,
João tem uma crença verdadeira justificada.
E, logo, de acordo com a definição tradicional de
conhecimento,
João sabe que a Ana tem Primeiros Analíticos na mochila.
Mas será que o João sabe tal coisa? Afinal de contas, a Ana
tinha mudado de ideias e só o levou o livro na mochila
porque se esqueceu de o tirar, pelo que a crença do João é
verdadeira – mas por mera sorte. E uma crença que só é
verdadeira por sorte não pode ser conhecimento.
Outro contraexemplo

 Imagine-se que a Maria vai a passar de carro por uma fazenda e vê o que
lhe parece ser uma ovelha. A Maria passa assim a acreditar que há ovelhas
naquela fazenda, e tem boas razões para acreditar nisso. Imagine-se
também que, de fato, é verdade que a fazenda tem ovelhas. Assim:
D. A Maria tem uma crença verdadeira justificada de que há ovelhas na
fazenda.
 Agora imagine-se que, de fato, aquilo que a Maria tinha visto não era uma
ovelha mas um cão muito peludo e de uma raça rara que ao longe parece
uma ovelha. A Maria continua a ter justificação para acreditar que há
ovelhas na fazenda, pois ao ver aquilo que lhe pareceu uma ovelha, tem
boas razões para acreditar que há ovelhas na fazenda. Mas será que ela
sabe que há ovelhas na fazenda? Não. Afinal aquilo que a Maria viu não é
de fato uma ovelha mas um cão, pelo que é por mera sorte que a sua crença
é verdadeira.
Conclusão

 Tanto o exemplo do João como o da Maria mostram que
é possível ter crenças verdadeiras justificadas que não
são conhecimento. E isto contradiz a definição
tradicional de conhecimento.
 Logo, a definição tradicional de conhecimento está
errada. Ou seja:

A crença verdadeira justificada não é suficiente para o


conhecimento.
Fontes do conhecimento

 Conhecimento a priori
 Conhecimento em que a experiência não tem o papel
justificador.
 Exemplos: verdades matemáticas simples: 5 + 7= 12
 Verdades captadas por definição: “todos os solteiros são
homens não casados”
 Afirmações metafísicas: “tudo que há tem uma causa”,
“do nada nada pode vir”.
 Verdades éticas: “o homicídio é errado”, “A liberdade é
um bem fundamental para o homem.”
Fontes do conhecimento

 Conhecimento a posteriori
 Conhecimento justificado pela experiência.
 Exemplos: que o fogo queima, que as plantas realizam
fotossíntese, que o sol gera em torno da terra, etc..
 O conhecimento a posteriori é de natureza
contingente – é da forma que é, mas pode ou poderia
ser diferente.
 O conhecimento a priori é de natureza necessária – é
da forma que é em todos os mundos possíveis.
 Mundos Possíveis: situações alternativas.
Fontes do conhecimento

 O conhecimento a priori é logicamente analítico –
não é informativo ou muito pouco informativo.
 O conhecimento a posteriori é logicamente sintético –
transmite informação, diz algo novo.
 A distinção a priori/a posteriori é epistemológica
 A distinção necessário/contingente é ontológica
 A distinção analítico/sintético é lógica.
Para discutir

 1) O que é diretamente evidente é conhecido a
priori?
 2) O que pode ser conhecido com evidência direta?
 3) Todo conhecimento a priori é analítico? È possível
verdades analíticas mas não necessárias? Considere a
frase “Eu estou aqui agora”, é analítica ou sintética?
É contingente ou necessária?
 4) Dê um exemplo de uma verdade necessária mas
que não é conhecida a priori?
Origem do conhecimento

 O Racionalismo
 Defesa da razão como única fonte do conhecimento.
 Mantém que as fontes do verdadeiro conhecimento
encontram-se não na experiência, mas na razão.
 Seus principais expoentes foram Descartes e Leibniz.
Origem do conhecimento
DESCARTES

 Descartes pensa que as crenças básicas, nas quais se
funda todo o conhecimento, em nada dependem dos
sentidos.
 Sem as crenças básicas racionais, Descartes pensa
que não pode haver justificação para aceitar as
impressões dos sentidos.
 o cogito é a primeira certeza a qual, juntamente com a
garantia do bom funcionamento das nossas
faculdades racionais, que só Deus pode
proporcionar, permite-nos, pensa Descartes,
construir todo o edifício do conhecimento
Origem do conhecimento
DESCARTES

 Fundacionismo cartesiano: Descartes procura um
fundamento e uma justificação infalível para o
conhecimento.
 De acordo com o fundacionismo, há dois tipos de
crenças: as básicas e as não básicas.
 Uma crença é básica quando se justifica a si mesma.
 Uma crença é não básica se é justificada por outras
crenças.
 Fundamento – Pensamento
 Justificação – Racional
Para Descartes as mente é em si mesma
INFALÍVEL.
O que produz erros são fatores outros como
PRECONCEITOS, PAIXÕES, INFLUÊNCIAS
DA EDUCAÇÃO, IMPACIÊNCIA, PRESSA... Que
cegam a mente.
Ele quer então estabelecer um conjunto de
REGRAS direcionadoras da mente,
Regras essas que pressupõem as OPERAÇÕES
NATURAIS DA MENTE.
Mas primeiro, quais são essas operações?
As operações da mente são duas:

INTUIÇÃO e DEDUÇÃO
1) INTUIÇÃO:
“A intuição é uma concepção completamente livre de
dúvida, que aparece à mente clara e atenta, nascendo
apenas da luz da razão.”
É resultado de
uma VISÃO INTELECTUAL TÃO CLARA E
DISTINTA QUE NÃO DEIXA ESPAÇO PARA A
DÚVIDA.
2) A DEDUÇÃO: é a inferência necessária, a partir de
verdades intuitivas, de outros fatos conhecidos com
certeza.

A intuição é requerida mesmo na dedução, pois precisamos


ver clara e distintamente a verdade de um passo do
argumento para a outra.

(ele também tenta reduzir dedução à intuição... o que fica


difícil com relação a verdades remotas.)
..........................
Note que embora intuição e dedução sejam modos de obter
conhecimento, elas não são o MÉTODO. O MÉTODO
consiste em REGRAS PARA EMPREGAR CORRETAMENTE
ESSES DOIS MODOS DE SE OBTER CONHECIMENTO,
essas duas OPERAÇÕES DA MENTE.
Seu racionalismo encontra reforço na TEORIA DAS
IDÉIAS INATAS:
Para Descartes nossas almas já contém certos germes de
verdade, idéias nelas implantadas pela natureza ou Deus.
TODAS AS IDÉIAS CLARAS E DISTINTAS SÃO
INATAS.
A IDÉIA DE DEUS, por exemplo, é INATA.
Não que um bebê a tenha, mas que a mente tem a
POTENCIALIDADE de produzi-la no curso da
experiência. A experiência sensível fornece a OCASIÃO
para a sua formação.
As idéias claras e distintas são diferentes das idéias
ADVENTÍCIAS, realmente advindas da experiência.
Teoria do conhecimento de
Leibniz
Para Leibniz o cogito é a primeira verdade evidente de
fato e o princípio da não-contradição é a primeira
verdade da razão.

Tipos de conhecimento:
OBSCURO: quando não é suficiente para
reconhecer a coisa representada.
CLARO: quando tem fundamento suficiente para
reconhecer a coisa representada.
CLARO E CONFUSO: quando não se consegue
enumerar separadamente as caracteristicas
suficientes
CLARO E DISTINTO: quando se consegue fazer
isso, distinguindo o que há de ESSENCIAL no
objeto.
Todo conhecimento simbólico pressupõe o
conhecimento intuitivo e se funda nesse:
Por exemplo, se tenho a noção de um quiliógono
(polígono de 1000 lados), isso se funda nas
noções intuitivas de unidade e linha.
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Leibniz discorda da tese de Locke de que todo


conhecimento deriva da experiência.
É o conhecimento das verdades necessárias,
proveniente da reflexão, que distingue os homens
dos animais.
Idéias como a de unidade, substância e duração
nos são inatas, mas são VIRTUALMENTE INATAS,
como a estátua oculta no bloco de mármore.
“Creio que todos os conhecimentos da
alma vêm do seu íntimo, e não dos
sentidos, embora os últimos nos dêem
ocasião de tomar consciência deles.”

As idéias são objetos internos, a alma age


diretamente sobre elas, os objetos externos
agem indiretamente sobre elas, só Deus é
objeto externo direto...
E a alma é um MICROCOSMO, com idéias distintas
de deus e confusas do universo...
Substância:

Não captamos as qualidades isoladas (cor, calor,


brilho...) apoiadas em uma base desconhecida,
mas originariamente UM CONCRETUM QUE SE
NOS APRESENTA SOB VÁRIOS ASPECTOS.
OU seja: a mesma realidade que se apresenta sob
vários aspectos, um mesmo sujeito de vários
predicados.

O critério para saber se temos uma idéia


não é IMAGINÁ-LA, mas ver o que podemos
EXTRAIR DELA.
Ex: não posso imaginar um polígono de mil lados, mas
posso extrair verdades matemáticas disso, logo, tenho
uma idéia dele!
A substância é a ESSÊNCIA ESPECÍFICA de uma
coisa, estando ligada as noções universais, que
são significados de termos gerais. As noções
UNIVERSAIS não são a soma das idéias
particulares, mas exprimem um MODO
ORIGINARIAMENTE UNIVERSAL de se apreender
as coisas. Até os nomes próprios como „Brutus‟ tem
origem geral, referindo-se ao caráter de um indivíduo.

A ABSTRAÇÃO NÃO É A SEPARAÇÃO DE UM


CARÁTER INDIVIDUAL DE OUTROS, MAS UM
MODO ORIGINÁRIO DE APREENDER O
INDIVÍDUO.
A criança não começa tendo idéias particulares,
mas gerais, tanto que a mãe pode ser substituida
por algo parecido...
Origem do conhecimento

 O empirismo
Perspectiva epistemológica defendida por filósofos como Locke,
Berkeley e Hume, segundo a qual todo o nosso conhecimento
substancial tem origem na experiência
.
Origem do conhecimento
John Locke


Locke (1632-1704) foi o iniciador do movimento chamado de
EMPIRISMO INGLÊS
 Devido ao seu empirismo ele se opõe ao inatismo:
 A teoria segundo a qual já nascemos com certos
conhecimentos...

 Locke acredita que sequer princípios lógicos como o da


identidade são inatos (a mente ao nascermos é uma folha de
papel em branco a ser preenchida pela experiência).

 Nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu!
MATERIAL DO CONHECIMENTO:

IDÉIA = “eu uso para expressar tudo aquilo que


pode ser entendido por imagem, noção, espécie
ou tudo aquilo em torno do qual o espírito pode
ser utilizado para pensar”.
Em suma:
Para Locke,

IDÉIA = qualquer CONTEÚDO


COGNITIVO,
que é “aquilo que se encontra na mente enquanto a
pessoa pensa”
O poder fora da mente que produz as idéias Locke
chama de QUALIDADES
Todas as idéias derivam-se da EXPERIÊNCIA,
Que pode ser:

EXTERNA: idéias de sensação,


como sons, cores, extensões,
figuras, movimentos...

ou

INTERNA: idéias de reflexão,


como da percepção, do querer,
do prazer...
O Poder fora da mente que produz as idéias é chamado por
Locke de QUALIDADES
Podem ser de dois tipos:
1) QUALIDADES PRIMÁRIAS dos corpos, que sempre se
encontram neles: solidez, extensão, figura, número,
movimento e repouso.
As idéias de qualidades primárias são OBJETIVAS (são tal
qual elas mesmas)
1) QUALIDADES SECUNDÁRIAS nada mais são do que
poderes de várias combinações das qualidades primárias:
cor, sabor, odor etc.
As idéias de qualidades secundárias são parcialmente
SUBJETIVAS (não são como elas mesmas), pois não se
assemelham exatamente às qualidades que estão nos
corpos, embora sejam por eles produzidas.
Problema: colocado por Berkeley:
A mente não conhece as qualidades imediatamente, mas através
do VÉU DAS IDÉIAS,
Assim, temos um MURO, uma TELA entre nós e as coisas, e
nosso acesso direto é apenas a esse muro...
............................................................................................
Lowe propõe entendermos o véu das idéias como uma JANELA,
UMA PONTE PARA A REALIDADE!
O conhecimento das coisas que transcendem ao sujeito precisa
ser mediado, e as idéias servem como MÉTODO DE EXPLICAR
ESSE ACESSO.
Logo, a intermediação das idéias não é defeito, mas virtude do
sistema de Locke
Nossa mente não é capaz de produzir idéias
simples:
Tudo o que ela é capaz de fazer é combiná-las
produzindo idéias compostas e separar idéias de
idéias compostas.
Produtos da imaginação, por exemplo,
o Cíclope,
um unicórnio,
Pégaso,
nada mais são do que combinações de idéias já
pré-existentes pela mente!
As fases do processo cognitivo são as de
INTUIÇÃO, SÍNTESE, ANÁLISE E COMPARAÇÃO.
Eis como isso se dá:
1) a INTUIÇÃO de idéias simples, que reproduzem
qualidades primárias (que requerem vários
sentidos, como a forma, a solidez) e secundárias
(que requerem um só sentido, como cores e
sons).
2) Depois há a SÍNTESE, através da qual idéias
simples se combinam para formar idéias
complexas.
Com isso obtemos as idéias de coisas
particulares, por exemplo, vermelho, arredondado,
sólido, textura aveludada... uma rosa.
3) A seguir temos a ABSTRAÇÃO.
Locke explica a formação de IDÉIAS GERAIS pelo
processo de abstração, que é a separação de uma idéia
de um grupo variável de idéias retirados de exemplares.
Por exemplo: diversos seres humanos, uns gordos,
outros magros, uns brancos, outros amarelos, outros
calvos etc.
Abstrai-se daí, o conceito de HOMEM e o de MULHER.
Depois abstrai-se o conceito de SER HUMANO.
Depois abstrai-se o conceito de MAMÍFERO
Depois abstrai-se o conceito de SER VIVO...
Não existindo em si mesmas, mas na dependência
das substâncias, existem as IDÉIAS DE MODOS.
Exemplos: gratidão, homicídio...
4) O processo de CONFRONTO das idéias entre si e
da COMPARAÇÃO que o intelecto faz entre elas, faz
com que nasçam as assim chamadas IDÉIAS DE
RELAÇÃO. Há inúmeras maneiras pelas quais
podemos relacionar idéias entre si, mas algumas
são mais importantes, ex: comparando idéia de
causa com a idéia de efeito se chega à idéia
relacional de CAUSALIDADE, assim também com a
idéia de IDENTIDADE.
Por resultarem de comparação, as relações não são
propriedades das coisas, mas simples seres da
razão!
Idéia de SUBSTÂNCIA
Grande número de idéias simples sempre juntas... em um
exemplar.
Grande número de idéias simples sempre juntas... em um
segundo exemplar
O mesmo em um terceiro exemplar...

Mas o NOME é sempre o mesmo: coelho, ouro,


água, homem...
Daí nos iludimos pensando que esse nome
corresponde a uma mesma idéia, a de
substância, como sendo a BASE das qualidades.
Mas é uma PSEUDO-IDÉIA...
JUIZO = UMA CONEXÃO DE IDÉIAS
“Parece-me que o conhecimento nada mais é do que
a percepção da conexão e da concordância ou
então da discordância e do contraste entre as
nossas idéias”.

CONHECIMENTO (Df) = percepção de uma


CONCORDÂNCIA ou DISCORDÂNCIA entre
idéias.
Esse tipo de concordância-discordância pode ser de quatro espécies:
1) IDENTIDADE E DIVERSIDADE,
2) RELAÇÃO,
3) COEXISTÊNCIA E CONEXÃO NECESSÁRIA
4) EXISTÊNCIA REAL.
Percepção da relação entre idéias pode ser

1)IMEDIATA, quando a mente percebe a


concordância/discordância das idéias
imediatamente.
Isso dá o CONHECIMENTO INTUITIVO:
Exs: “O branco não é preto”,
“Círculo não é triângulo”,
“3 > 2”,
“1 + 2 = 3”.
“É claro e certo, dessas intuições
dependendo toda a certeza de nosso
conhecimento”
Ou então ela será

2) MEDIATA, quando a mente percebe a


concordância/discordância entre idéias através de
passagens intermediárias,
Que nada mais são do que o PENSAR ou
RACIOCINAR.
Disso temos o CONHECIMENTO
DEMONSTRATIVO.

Exemplos são os teoremas da geometria


Note-se que o conhecimento demonstrativo parte de nexos
que são conhecimentos intuitivos, disso retirando a sua
certeza!

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