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Prof. Ms.

Josailton Fernandes de
Mendonça
 Apresentar e refletir acerca das teorias
clássicas da verdade:
◦ A teoria da correspondência;
◦ As teorias epistêmicas: pragmatistas e coerentistas;
◦ A teoria semântica de Alfred Tarski.
 Perguntar o que é verdade é, para muitos,
excessivamente profundo. Exige como tal
reflexões laboriosas e jamais conclusivas. É
uma daquelas questões que caracterizariam o
empreendimento filosófico desde as suas
origens. Para alguns filósofos a questão de
saber o que é a verdade pode ser respondida
sob condições muito específicas de análise
do conceito “Verdade”.
 Apresentaremos as três análises clássicas do
conceito de verdade na filosofia. Estas
análises são consideradas clássicas não
somente porque estão na origem das
discussões sobre o tema, mas também,
porque são teses fundamentais ou nucleares
nos principais programas epistemológicos e
metafísicos contemporâneos.
 O tema será abordado da seguinte forma:
◦ Introdução: Delimitação, distinções e portadores de
verdade.
◦ Teoria da correspondência: Tese da congruência ou
similaridade e tese a da correlação, objeções a
teoria.
◦ Teorias epistêmicas: tese pragmatista (Charles
Peirce), tese instrumentalista (William James) e e o
coerentismo (Brand Blanshard). Objeções.
◦ Teoria semântica de Alfred Tarski.
 Critérios de identificação da verdade:
◦ método ou regras que se usa para discernir entre
as crenças ou afirmações que atendem as
condições que definem a verdade
 Condições de definição da verdade:
◦ o que torna uma crença ou afirmação verdadeiro.
 O relativismo
◦ São os critérios usados para se determinar ou
identificar o verdadeiro que constitui, na realidade,
a verdade propriamente dita.
◦ O relativismo elimina a distinção entre definição e
critérios de identificação da verdade;
◦ Os critérios identificação do verdadeiro são
relativos. Se as condições de definição da verdade
são os critérios de identificação, então temos a
posição relativista.
 Mas por que fazer a distinção entre condições
de definição da verdade e critérios de
identificação?
◦ Para garantir a possibilidade de estarmos errados
em alguns de nossos juízos.
 Qual é então problema da verdade?
I. È o problema da definição.
II. È o problema dos critérios de identificação.
III. É o problema dos portadores de verdade
 Os portadores de verdade.
◦ O problema dos portadores de verdade é o
problema de se imaginar que tipo de coisas podem
ter valor de verdade, isto é, que tipo de coisas
podem ser verdadeiras ou falsas.
◦ Entre os candidatos estão crenças, proposições,
juízos, asserções, afirmações, teorias, observações,
idéias, atos de pensamento, declarações,
ocorrências de sentenças, tipos de sentenças, atos
de fala.
 Remonta a Platão (Sofista), a Aristóteles
(Metafísica), a Locke (Ensaio do entendimento
humano), e mais recentemente a Russell e a
Austin, está pressuposta na concepção de
verdade de Popper, Davidson e Tarski.
 É a teoria subjacente a máxima aristotélica
seguinte:
 “dizer do que é que não é, ou dizer do que
não é que é, é falso, enquanto dizer do que é
que é, ou do que não é que não é, é
verdadeiro.”.
 O que parece definir a verdade como um
isomorfismo entre pensamento e realidade.
 Verdade do pensamento é a verdade da coisa.
 Mas desde que no pensamento fazemos uma
representação da coisa, como estabelecer
esse isomorfismo?
 O Critério da verdade.
◦ O critério neste caso é a evidência.
 Evidência = è a presença da coisa no espírito.
 A prova empreendida pela demonstração
impõe a evidência.
 Em Descartes essa evidência já não é definida
como a presença da coisa no espírito, mas
representação ou idéia para o sujeito,
caracterizada pela clareza e distinção.
 Como compreender a correspondência entre
pensamento e realidade na modernidade que
descola o critério da verdade para um sujeito
a-substancial e fragmentado?
 É possível garantir ou defender uma definição
correspondentista de verdade na emergência
da intersubjetividade?
 Teoria de Bertrand Russell: Correspondência
como congruência ou similaridade.
◦ Portador de verdade: as crenças
 Uma crença é uma relação entre quatro coisas
diferentes:
◦ O sujeito: pessoa que tem a crença
◦ Objeto 1
◦ Objeto 2
◦ Relação entre os objetos.
 Consideremos a seguinte sentença
◦ Otelo acredita que Desdêmona ama Cássio.
 Trata-se aqui de uma relação entre
◦ Otelo : sujeito
◦ Desdêmona : termo de objeto
◦ Cássio: Termo de objeto
◦ Amar: relação entre objetos
 O que torna a crença verdadeira?
 De acordo com Russell o que torna a crença
verdadeira é uma similaridade entre duas
relações:
◦ R1: relação da crença que liga Otelo, Desdêmona,
Cássio e amar.
◦ R2: uma fato extra–mental que é a relação entre
Desdêmona, Cássio e amar.
 Se existe R2 e tem a mesma direção de R1
então a crença de Otelo é verdadeira.
 Se R2 não existe (ou ao menos um dos
objetos não existe) ou existe mas não tem a
mesma direção pensada por R1 então a
crença de Otelo é falsa.
 Neste sentido R1 corresponde (ou não) a R2.
 Usando recursos da lógica podemos
expressar a teoria da congruência de Russell
como segue:
(c) ( c é verdadeiro ↔ (O)(x)(y)(R)(c= O, x, R , y
& xRy)

 Para alguma crença c, c é verdadeira sse


existir algum O que nela acredite, os objetos
x e y, a relação R, tal que c é a crença
possuída por O de que x tem uma relação R
com Y e x tem a relação R com y.
 Teoria da correspondência como correlação
de Austin
◦ Essa teoria aparece em um artigo publicado por
Austin em 1950, intitulado “Truth”.
 A correlação de que fala a teoria é feita
através de convenções descritivas e
demonstrativas.
 O portador de verdade: os enunciados
 O enunciado é o proferimento de uma
sentença diante de uma audiencia e com
referencia a uma situação determinada. Neste
sentido é um evento histórico.
 Quando um enunciado é verdadeiro?
◦ È verdadeiro se respeita duas ordens de
convenções, a saber:
 Convenções descritivas: correlacionam sentenças
com tipos de situação, encontrada no mundo.
 Convenções demonstrativas: correlacionam
enunciados com situações históricas encontradas
no mundo.
 Um enunciado é verdadeiro quando o estado de
coisa histórico (ou efetivo) com o qual ele é
correlacionado pelas convenções demonstrativas
é do tipo com a qual as sentenças utilizadas para
fazê-lo está correlacionada pelas convenções
descritivas.
 Consideremos por exemplo que um falante
diga,
◦ Estou com fome
 As convenções descritivas correlacionam a
sentença com situações na qual alguém está
com fome e as convenções demonstrativas
correlaciona o enunciado que emprega esta
sentença com uma circunstancia especifica na
qual alguém está com fome.
 Se o enunciado respeita ambas as convenções ele
é verdadeiro, caso contrário é falso.
 Considere por exemplo a sentença
◦ O gato está no tapete
 A sentença descreve um tipo de situação,
segundo as convenções descritas.
 Se eu usar essa sentença para fazer uma
afirmação a respeito de um estado de coisa
presente, então as convenções demonstrativas
correlaciona minha afirmação com aquela estado
de coisa.
 O enunciado obedece as duas convenções, logo é
verdadeiro.
 A tese pragmatista de Charles Peirce.
 Uma proposição é verdadeira sse com ela
concordaria cada um que investigasse o
assunto ao qual ela diz respeito
 “A opinião que está fadada a ser aquela com
a qual por último concordam todos os
investigadores é o que queremos dizer por
verdade”
 Peirce acredita que uma conclusão
consensual não é verdadeira porque foi
atingida pela experimentação ou pelo método
cientifico. Antes, ela é verdadeira porque há
uma acordo universal com relação a ela.
 O método científico e a experimentação são
efetivos na obtenção do consenso.
 O método cientifico vai gerar o consenso
porque está baseado na experiência de uma
realidade objetiva.
 “A concepção da verdade desenvolve-se
gradualmente..., alcançando a idéia da
verdade como completamente imposta à
mente na experiência por uma realidade
independente”.
 Para Peirce a realidade é independente de
toda mente individual.
 “A realidade é independente, não do
pensamento em geral, mas somente do que
você, ou eu, ou qualquer número finito de
homens pode pensar a respeito dela...”
 “Minha teoria social da realidade, a saber, o
que é real é a idéia sobre a qual a
comunidade fundamentalmente se
estabelece”.
 “Não digo que é verdadeiro de forma infalível
que exista uma crença à qual a pessoa
chegaria se ela levasse suas investigações
longe o suficiente. Apenas afirmo que é
somente isso o que eu chamo Verdade. Não
posso saber, de forma infalível, se há
qualquer verdade”.
 (x) (x é verdadeiro ↔ todos os que tiverem
suficientes percepções relevantes foram
compelidos a concordar com x)
 O instrumentalismo de William James.
 James acredita que há mais de um modo em
que uma idéia por concordar com a realidade
de forma a ser verdadeira:
◦ Um modo é sendo uma cópia da realidade
◦ Provando que pode ser útil àqueles que nela
acreditam:
◦ “ Pensamentos verdadeiros são aqueles que os
levam a interação proveitosa com particulares
sensíveis na forma como eles ocorrem, quer eles
copiam de antemão, quer não”.
 “Concordar com a realidade em sentido mais
amplo pode significar que nos colocamos
num contato tão eficaz com ela que podemos
manejá-la ou manejar algo a ela conectado
melhor do que se estivéssemos em
desacordo... Qualquer idéia que nos ajude a
lidar ..., tanto com a realidade quanto com
seus objetos... E que ajuste nossa vida ao
conjunto da realidade é verdadeira”.
 (c) ( c é verdadeiro ↔ (c copia uma parte da
realidade ou a aceitação de c nos ajuda a
manejar objetos ou a comunicação é
facilitada ao se assumir c ou predições
baseadas em c são bem-sucedidas ou c
explica outras ocorrências))
 Exemplo do relógio.
 Um conjunto de duas ou mais crenças é dito
coerente sse,
◦ (i) qualquer membro do conjunto é consistente com
qualquer subconjunto de outros membros;
◦ (ii) cada qual é implicado por todos os outros
tomados como premissas, ou cada um é implicado
por cada um dos outros tomados como premissas.
 Blanshard: “ Pensar em alguma coisa é ter a
coisa, ela mesma, em algum grau dentro da
mente”.
 Assim.
 Se o mundo é coerente provavelmente nossas
crenças são verdadeiras à medida que são
coerentes.
 A coerência das crenças é evidência de sua
verdade.
 (c ) ( c é puramente verdadeiro ↔ c é um
membro de um conjunto consistente de
crenças que juntas fornecem uma imagem
completa do mundo e individualmente
implicam cada um das outras).
 Objeção possível:
 Parece possível haver duas imagens
completas do mundo, cada uma sendo
coerente no sentido requisitado, mas ambas
sendo inconsistente entre si.
 Na teoria a verdade é definida em termos de
consistência das crenças, mas consistência é
definida em termos de verdade.
 O problema do regresso.
 Alfred Tarski (1902-1983) é um dos grandes
lógico-matemáticos do século XX. Por volta
de seus vinte e oito anos inventou a primeira
semântica formal para a lógica dos
predicados quantificados, a lógica de todos
os raciocínios matemáticos. O coração dessa
grande realização é a sua teoria da verdade,
que ele chamou de “concepção semântica da
verdade”.
 Ele chama a verdade de conceito semântico
porque ela pode ser definida em termos de
outros conceitos semânticos, especialmente o
conceito de satisfação.
 Conceitos semânticos como, satisfação,
definição, referência, lidam com relações entre
expressões e objetos.
 A estratégia de Tarski era definir todos os
conceitos semânticos, exceto satisfação, em
termos de verdade. Verdade era definida em
termos de satisfação e satisfação era definida em
termos de conceitos físicos e lógico-matemático.
 Objetivos da teoria
◦ Tarski queria também que sua teoria da verdade
mostrasse como a estrutura gramatical de uma
sentença afeta seu valor de verdade.
◦ A teoria deve ser imune a uma refutação por meio
do paradoxo do mentiroso.
◦ A teoria deve satisfazer a condição de adequação
material.
 Definindo o paradoxo do mentiroso
 Considere a seguinte sentença
◦ (1) Esta sentença é falsa
 Se a sentença (1) é verdadeira então ela é
falsa, porque o que ela diz é que ela é falsa.
Assim, se ela é verdadeira , então é falsa. Mas
se ela é falsa, então é verdadeira, já que ele é
exatamente o que ela diz que é. De qualquer
forma ela é verdadeira e falsa ao mesmo
tempo.
 Observemos que a sentença (1) é
gramaticalmente correta, nem é vaga nem
ambígua, ela é portadora de valor de verdade,
é auto-referente como a sentença (2)
seguinte:
◦ (2) esta sentença tem cinco palavras.
 De acordo com Tarski o paradoxo é um
problema resultante do fato das linguagens
naturais serem o que ele chama de
semanticamente fechadas.
 Uma linguagem semanticamente fechada= É
uma linguagem que contém sua própria
metalinguagem
 Linguagem semanticamente abertas = É
aquela que NÃO pode predicar uma
propriedade semântica de si mesmo.
 A teoria da verdade deve então ser construída
para linguagens semanticamente abertas, isto
é linguagens artificiais, como a linguagem
lógica.
 A esse respeito Tarski então esclarece:
 “Já que concordamos em não usar linguagens
semanticamente fechadas, temos que usar
linguagens diferentes para discutir o problema
da verdade. A primeira é a linguagem na qual se
fala. A definição de verdade que estamos
procurando se aplica as sentenças dessa
linguagem. A segunda é a linguagem sobre a
qual falamos sobre a primeira linguagem, de
modo a construir a definição de verdade para
primeira linguagem. Devemos nos referir a
primeira linguagem como linguagem objeto e a
segunda como metalinguagem.”
 Exigência de satisfazer a condição de
adequação material.
 A condição assevera que simplesmente que
qualquer boa teoria da verdade tem de
implicar todas as sentenças do seguinte
padrão:
◦ “a parede é vermelha” é verdadeira sse a parede é
vermelha.
◦ “Bob correu pelo trajeto” é verdadeira sse Bob
correu pelo trajeto.
 Para todo sentença da linguagem cuja
verdade está sendo explicada, existe uma
equivalência na qual a sentença é
mencionada do lado esquerdo e utilizada no
lado direito. È o famoso “esquema T”
◦ X é verdadeiro sse p.
 Em que X é sentença na linguagem objeto e p
é a sentença da metalinguagem.
 Uma teoria da verdade deve ter como
conseqüência todas as sentenças T.
 Exemplo em uma linguagem simplificada.
 Consideremos uma linguagem muito simples
contendo apenas três sentenças,
◦ A mesa é redonda
◦ O tapete é roxo
◦ Pit ama Jolie
 Queremos uma teoria da verdade que
implique todas as sentenças T seguintes:
◦ “ A mesa é redonda” é verdadeiro sse a mesa é
redonda
◦ “O tapete é roxo” é verdadeiro sse o tapete é roxo
◦ “Pit ama jolie” é verdadeiro sse Pit ama Jolie
 Uma teoria que satisfizesse a condição
anterior é uma conjunção de todas as
sentenças T. Tarski reconhece isso ao dizer
que cada uma das sentenças T são definições
parciais de verdade e uma definição completa
seria uma conjunção lógica de todas elas.
 A conjunção que se segue é exatamente esse
tipo de conjunção:
◦ (s) ( s é verdadeira sse ou (s = “a mesa é redonda” e
a mesa é redonda) ou (s = O tapete é roxo” e o
tapete é roxo) ou (s = “Pit ama jolie” e Pit ama
jolie).
 Mas a definição só funciona porque a
linguagem em questão tem um número finito
de sentenças.
 Em uma linguagem com um número infinito
de sentenças como definimos verdade nessa
linguagem?
◦ Tarski responde que devemos utilizar uma técnica
chamada definição recursiva.
 E como definir verdade para linguagens ainda
mais complexas como a lógica de predicados
quantificados?
 Neste caso é preciso aplicar o conceito de
satisfação para uma seqüência infinita de
objetos.
 E essa técnica já não se aplica para as
linguagens naturais.
Bom, isso é outra
história.
Valeu! Obrigado!

Teoria Semântica de Tarski

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