Você está na página 1de 5

Filosofia

Conhecimento e justificação

O ato de conhecer envolve um sujeito e um objeto, o primeiro e o que conhece, o


segundo e o que se deixa conhecer. O conhecimento e, portanto, aquilo que acontece
quando um sujeito apreende um objeto. Sem a presença de um desses elementos o
conhecimento era impossível.

Diferentes tipos de conhecimento:


Qual o objetivo de Descrição Exemplo
conhecimento?
Conhecimento Coisas concretas, É um “saber por Conheço os Açores.
direto ou de pessoas, lugares. testemunho
coisas direto”.
Conhecimento Factos, proposiçoes É um “saber Sei que os Açores
proposicional ou verdadeiras que…”. sao um
de verdades arquipelago com
nove ilhas.
Conhecimento Habilidades, açoes, É um “saber Sei falar com
prático ou atividades. fazer…”. sotaque açoriano.
performativo

A definição tradicional do conhecimento:


“O conhecimento consiste em crenças verdadeiras justificadas.” – Platao
Tres condiçoes necessarias para o conhecimento:
Crença → Certeza do sujeito de que algo corresponde a realidade (S acredita que P).
Verdade → Condiçao necessaria para estabelecer a correspondencia de uma
proposiçao com a realidade (P e verdadeiro).
Justificaçao → Fundamentos sobre os quais uma proposiçao e sustentada (S esta
justificado a acreditar que P).
S → Sujeito
P→ Conhecimento proposicional
O conhecimento tem de se basear em crenças verdadeiras, se estas forem falsas entao
era impossível justificar a crença. Se uma destas condiçoes nao for satisfeita nao
estamos perante um conhecimento.

Critica de Gettier
Ésta definiçao de conhecimento como crença verdadeira justificada aparentemente
solida e consistente foi durante muito tempo aceite, contudo existem contraexemplos
que sugerem que ter uma crença justificada nao e suficiente para termos
conhecimento.
O primeiro contraexemplo enunciado por Gettier e o seguinte: Smith pede um
trabalho, mas tem a crença justificada de que «Jones conseguira o trabalho». Tambem
tem a crença justificada de que «Jones tem 10 moedas na sua carteira». Portanto, Smith
conclui que «o homem que conseguira o trabalho tem dez moedas na sua carteira».
Ao final Jones nao consegue o trabalho, pois o dao a Smith. Sem impedimento, Smith
descobre ao abrir a sua carteira que tem 10 moedas dentro dela. Assim, a crença de
que «o homem que conseguira o trabalho tem dez moedas na sua carteira» estava
justificada e e verdadeira. Mas isto nao parece que seja conhecimento.
A justificaçao e a condiçao que tem gerado mais discussao, nomeadamente sobre o que
e exatamente uma justificaçao apropriada.

Duas fontes de justificação


Os racionalistas defendem que a principal fonte de justificaçao e a razao (a capacidade
de pensar) e os empiristas defendem que a principal fonte de justificaçao e a
experiencia (o que resulta dos sentidos). Os ceticos discordam de ambos, pois pensam
que nenhuma fonte e satisfatoria e, portanto, que nenhuma justificaçao e apropriada.

Racionalismo Émpirismo Ceticismo


A fonte fundamental do A fonte fundamental do Nenhuma fonte e confiavel
conhecimento e a razao conhecimento e a
experiencia
O que descobrimos O que descobrimos pelos Nem a razao, nem os
pensando ou raciocinando sentidos (visao, audiçao, sentidos nos permitem
apenas paladar, olfato, tato) saber seja o que for
Quando sabemos algo Quando usamos os Temos muitas crenças,
apenas pelo pensamento, sentidos para saber algo mas nenhuma delas
diz se que e conhecimento diz-se que e conhecimento merece ser considerada
a priori a posteriori conhecimento

Para afirmar que nenhuma justificaçao e apropriada os ceticos utilizam 3 argumentos:


1. O argumento da divergencia de opinioes
2. O argumento da ilusao dos sentidos
3. O argumento da regressao infinita da justificaçao
O primeiro começa por destacar o facto de as pessoas, mesmo os especialistas numa
dada materia – medicos, juristas, economistas -, defenderem opinioes divergentes, ou
ate contrarias, acerca da mesma coisa. Ora, se algumas dessas opinioes estivesse
apropriadamente sustentada, nao haveria boas razoes para alguem discordar dela. Mas
as pessoas continuam a apresentar razoes para discordar. Portanto, nenhuma opiniao
esta apropriadamente justificada.
O segundo argumento tem em conta que nem todas as crenças sao uma questao de
opiniao. Ha muitas outras que se baseiam nos nossos sentidos – no que vemos,
ouvimos, tocamos, etc. Mas e um facto que os nossos sentidos nos enganam
frequentemente, dando origem a ilusoes percetivas – ilusoes oticas, auditivas, tateis,
etc. Portanto, os nossos sentidos nao sao fiaveis e tambem nao podem ser uma fonte
apropriada de justificaçao.
O terceiro argumento baseia-se no facto de, segundo os celticos, procuramos sempre
justificar umas crenças com outras crenças. Nesse caso quando justificamos uma
crença com outra, a que usamos como justificaçao tera, tambem ela. De ser justificada
por outra, caso contrario seria injustificada. Isso leva-nos a recuar de umas crenças
para outra, de justificaçao em justificaçao, infinitamente. Mas, se esse processo
justificatorio nao tem fim, entao nao havera ponto de apoio algum, e nenhuma crença
estara apropriadamente justificada
Argumento geral do ceticismo
“Para o conhecimento ser possível as crenças tem que ter uma justificaçao apropriada.
Mas nenhuma crença tem justificaçao apropriada
Logo, o conhecimento nao e possível.”
P= O conhecimento e possível
Q = As crenças tem justificaçao apropriada
P→Q
Q
...  P
Distinção dos ceticismos
1. “Nem posso saber que nada sei.” (Pirro)
Impossibilita qualquer grau de conhecimento

2. “So sei que nada sei” (Socrates)


Consciencia da ignorancia

1. Ceticismo radical
Corresponde a forma mais antiga de ceticismo, sendo representada pela celebre
frase de Pirro, filosofo da antiguidade classica que afirmou que nem podia saber que
nada sabia.
Ésta posiçao inviabiliza em absoluto qualquer tipo de conhecimento remetendo o
homem para a suspensao de qualquer juízo em relaçao a realidade. Ora, essa atitude e
bastante criticavel pois o que esperamos do homem e o exercício da racionalidade que
passa pela possibilidade de emitir juízos sobre a realidade.

2. Ceticismo metódico
Ésta forma de ceticismo distingue-se da anterior porque a duvida nao e utilizada
como um fim em si mesmo, mas antes como um meio para atingir a verdade; o
questionamento e a humildade intelectual de aceitar que aquilo que sabemos num
dado momento pode ampliado ou mesmo corrigido e o que deve caracterizar o espírito
de qualquer investigador.
O ceticismo metodico e aquele que admite nao que devemos suspender os juízos a
cerca de tudo, mas antes apresentar uma perspetiva critica sobre os argumentos,
distinguindo a verdade da falsidade.
Críticas ao ceticismo
- O argumento geral do ceticismo vai contra as nossas convicçoes;
- No argumento de divergência de opinião os ceticos apenas consideram um tipo
de conhecimento – o conhecimento subjetivo;
- No argumento da ilusão dos sentidos os ceticos apenas tomam como referencia o
conhecimento a posteriori (provem da experiencia);
- O paradoxo do cético:
Os ceticos ao afirmarem que o conhecimento nao e possível entram em contradiçao
porque assumem que este pressuposto e indiscutível e nao o justificam. Assim sendo,
partem de uma crença que nao avaliam e que tomam, de certa maneira, como o
conhecimento.
“Nao e possível o conhecimento” → Crença que nao e justificada, mas e assumida como
verdade. (paradoxo do cetico).

Fundacionalismo
Fundaciolistas → Tentam defender uma posiçao contraria aos ceticos (mostrar que
existe conhecimento).
O fundacionalismo e a perspetiva filosofica que concebe o conhecimento como uma
estrutura que assenta em fundamentos solidos. Ao contrario dos ceticos, os
fundacionalistas consideram que existem determinadas crenças que nao necessitam
de uma justificaçao adicional e sera a partir desses fundamentos certos e indubitaveis
e o conhecimento se ergue.
A estrategia central do fundacionalismo passa por introduzir uma distinçao entre dois
tipos de crenças: as crenças basicas e as crenças nao basicas.

Crenças básicas
Chamamos crenças basicas aquelas que nao necessitam de uma justificaçao
fornecida por outras crenças, porque se justificam a si mesmas.
Os fundacionalistas consideram que as crenças basicas sao:
- Infalíveis, porque nao podem estar erradas
- Incorrigiveis, porque nao podem ser refutadas
- Indubitaveis, porque nao podem ser postas em duvida.
“O triangulo e uma figura com 3 lados”
Ésta proposiçao e:
1. Infalível – Nao podem apresentar um argumento contrario
2. Incorrigível – Porque e absolutamente certa
3. Indubitavel – Porque e uma certeza absoluta
Qual a importância das crenças básicas?
As crenças basicas sao aquelas que nao necessitam de uma justificaçao fornecida por
outras crenças e por isso podem suportar todo o sistema do saber.
Éssas crenças sao importantes porque permitem evitar o argumento cetico da
regressao infinita da justificaçao. Ao tomarmos como crenças basicas determinados
conhecimentos evitamos cair no ceticismo radical e sobretudo na suspensao do juízo a
cerca da realidade. Assim sendo podemos tomar como autoevidentes determinadas
crenças e conhecer e agir sore a realidade com base em criterios objetivos e
partilhados por todos os seres racionais.

Crenças não básicas


As crenças nao basicas sao aquelas que carecem de serem justificadas por outras
crenças e nao se justificam a si mesmas. So as crenças basicas permitem evitar o
argumento da regressao infinita da justificaçao, tal como e apresentado pelos ceticos.

Você também pode gostar