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1. Qual é a definição tradicional do conhecimento? Inclua o contraexemplo de Gettier.

O conhecimento tradicionalmente pode ser traduzido como a relação entre um sujeito- que
conhece, e um objeto- que é conhecido. A sua origem provém da razão (racionalismo) e da
experiência (empirismo).

Com a obra Teeteto de Platão, a definição de conhecimento viu-se tripartida, estabelecendo três
condições necessárias e suficientes (quando apresentadas em simultâneo) para o conhecimento: a
crença, a verdade e a justificação. O que significa que o conhecimento implica uma crença
verdadeira justificada. “Acreditar em algo que seja verdadeiro e ter motivos explicativos para apoiar
essa crença.”

Apesar da justificação apresentada, Gettier considera que a definição tradicional do conhecimento


apresenta condições necessárias mas não suficientes para definir conhecimento.

2. Apresente as perspetivas acerca do conhecimento (dogmatismo e ceticismo).

Enquanto que o dogmatismo é uma corrente filosófica que se fundamenta nas verdades absolutas,
isto é, consiste em acreditar em algo determinadamente e de forma submissa, sem questionar a sua
veracidade (as coisas eram consideradas credíveis sem qualquer contestação, porque eram
fundamentadas em “princípios”. Afirmavam a sua veracidade sem discussões e análises que
aprofundassem o assunto); o ceticismo é a corrente filosófica que põe em causa tudo o que
sabemos, e se possuímos conhecimento de alguma coisa.

O ceticismo pode ser dividido em dois pontos: o ceticismo radical, que põe em causa qualquer
possibilidade de toda e qualquer espécie de conhecimento; e o ceticismo moderado, no qual os
céticos reduzem o seu ceticismo a determinados pontos do conhecimento.

Os céticos radicais antigos apoiavam a suspensão do juízo (não afirmar nem negar nada acerca da
realidade) em relação a tudo e qualquer assunto.

3. Qual foi a origem do conhecimento empirista e racionalista? (priori e posteriori)

O racionalismo entende que o conhecimento humano surge partindo da razão, que podemos saber a
partir do pensamento (conhecimento a priori (ex: matemática, lógica)); já o empirismo parte da
premissa de que todo o conhecimento ocorre a partir da experiência sensorial, empírica,
(conhecimento a posteriori (ex: biologia, história)).

4. O que é a suspensão do juízo, segundo os céticos?

A suspensão do juízo é a atitude adotada pelos céticos radicais que defendem que não podemos
afirmar nem negar nada acerca da realidade.

5. Apresenta e explica dois argumentos para a suspensão do juízo.

Um argumento utilizado para recorrer à suspensão do juízo é a regressão infinita da justificação: é


sempre legítimo pedir uma justificação para uma crença, uma vez que essa justificação também se
baseará noutra crença, facilmente entramos numa cadeia de justificações, e o seu problema é que
podem simplesmente regredir infinitamente de justificação em justificação, sem nunca chegarmos a
justificar devidamente alguma coisa.

Outro argumento utilizado é a ilusão dos sentidos, que, simplificadamente, não confia na veracidade
dos nossos sentidos, pois estes já nos enganaram, impossibilitando-nos de confiar neles outra vez,
podendo cair no erro de nos enganarem.
(Também pode ser referida a fragilidade percetiva, que nos diz que cada um vê a realidade de
maneiras muito particulares/singulares, podendo a mente humana ser enganada por um conjunto
de ilusões percetivas (ex: ilusões de ótica).)

6. Explicita o que um fundacionalista defende.

Os fundacionalistas defendem que existem crenças básicas e que o conhecimento é possível, ou


seja, que nem todas as crenças se baseiam noutras podendo existir crenças básicas que formam a
“base do edifício do conhecimento”. Para clarificar isso, apresentam dois tipos de crenças: as
crenças básicas (que são de tal forma evidentes que não precisam de ser justificadas por outras
crenças; justificam-se por si só); e as crenças não-básicas (estas não são autoevidentes, por isso
precisam de se basear noutras crenças para comprovarem a sua veracidade).

7. Qual foi o objetivo de Descartes? O que foi e para que serviu o projeto cartesiano?

Descartes procurou arduamente uma maneira de responder ao “desafio” do ceticismo, tendo como
objetivo principal encontrar pelo menos uma crença que fosse absolutamente certa e indubitável,
desenvolvendo, então, o racionalismo cartesiano.

O seu projeto baseava-se na dúvida (conhecida como dúvida metódica), questionando tudo o que
pudesse questionar, e verificar o que resiste a este processo. Esta dúvida era utilizada como um
meio para atingir um fim (o conhecimento), de modo a provar a insustentabilidade do próprio
ceticismo.

Sendo assim, concluímos que não se trata de uma suspensão do juízo, mas a decisão de considerar
tudo o que fosse minimamente duvidoso- provisoriamente falso.

8. Quais são as quatro características da dúvida cartesiana?

A dúvida cartesiana é metódica (usada como um meio para alcançar um fim), universal (aplica-se a
tudo que suscite a mínima dúvida, provisória (a dúvida prevalece até ser encontrada a primeira
certeza (que será o cogito), (e) hiperbólica (é uma dúvida exagerada).

9. Descartes examinava cada crença isoladamente? Justifique a sua resposta.

Descartes não analisava cada crença isoladamente (tarefa que seria interminável), mas rejeitava
qualquer crença que suscitasse qualquer tipo de dúvida, tal como todas as crenças que se
encontrassem enraizadas a essa.

Os argumentos utilizados por Descartes são conhecidos como “razões para duvidar”, sendo estas: as
ilusões dos sentidos- os sentidos são enganadores, tal como nos enganam uma vez, podem-nos
enganar várias vezes; a indistinção vigília-sono- que põe em causa a fragilidade da nossa perceção,
pois acontece várias vezes de acreditarmos que estamos a experienciar algo, quando na verdade
estamos a sonhar; os erros de raciocínio- onde cita que a mente humana já errou até nos raciocínios
mais básicos, e que estamos sempre expostos a que possa acontecer outra vez; a hipótese do génio
maligno- onde Descartes põe em causa a existência de um génio enganador extremamente
poderoso, que nos pode estar a manipular este tempo todo; (e finalmente) o cogito- penso, logo
existo.

10. Refuta as razões para duvidar de Descartes.

A ilusão dos sentidos- realmente por vezes os nossos sentidos enganam-nos, mas isso não justifica
nunca confiar-mos neles, uma vez que eu maior parte dos casos podemos resolver as situações de
ilusão recorrendo aos próprios sentidos (como aproximarmo-nos de um objeto para o ver melhor).
A indistinção vigília-sono- independentemente de estarmos a dormir ou acordados, as ideias inatas/
verdades a priori da geometria e aritmética (como o sabermos que “2+3=5”) são à prova deste
argumento, pois mostram-se verdadeiras em ambos os cenários.

Os erros de raciocínio- mesmo assim, podemos saber coisas elementares, como que um quadrado
possui quatro lados.

(não faz muito sentido, mas...) A hipótese do Génio Maligno- para um génio maligno me manipular,
eu tenho de existir, por isso- penso, logo existo.

Desenvolvimento:

11. Explicite a importância do cogito na teoria cartesiana. Concorda com este estatuto?
Fundamente.

O cogito mostrou ser a 1ª verdade, isto é, a crença básica que não precisa ser justificada por base
noutras crenças, e, por conseguinte, pode estabelecer-se como a primeira evidência, a “base do
edifício”, por mais extremas que as nossas dúvidas possam ser, teremos sempre uma certeza: que
existimos (conhecimento a priori). Para além disso, foi apresentado juntamente o critério da
verdade (só se aceitaria algo como verdadeiro se se apresentasse de forma clara e distinta como o
cogito se apresentou pela primeira vez) e a crença fundacional.

O cogito foi importante pois Descartes provou a existência de um ser pensante, e que é
essencialmente uma substância pensantes, na qual a alma/mente diverge e existe
independentemente do corpo, concluindo, então, que a alma/mente é de natureza imaterial, e
distinta do corpo, que é de natureza física.

Surgiram, juntamente, três tipos de ideias que caracterizam a dúvida cartesiana: adventícias, que
têm origem na experiência (ex: mesa, cadeira, calor); factícias, que surgem da imaginação (ex:
unicórnios, sereias); e inatas, que já nasceram connosco e têm origem na razão (ex: números, formas
geométricas, a verdade, Deus).

12. Explicite as provas para a existência de Deus apresentadas por Descartes. Fundamente em
relação ao estatuto atribuído a Deus. Concorda com este estatuto? Fundamente.

As provas apresentadas para a existência de Deus foram:

- Ideia de ser perfeito (pôr Deus na equação torna o conceito/a teoria frágil).
- Causa da ideia de perfeição tem origem no Ser Perfeito- Deus- ele deixou-nos uma marca (a
marca impressa (explicar a marca impressa)).
- Causa do ser imperfeito só pode ter origem no ser perfeito. O ser perfeito não pode ter
origem no ser imperfeito.

Assim, provada a existência de Deus, ele garante que:

- Podemos confiar nas nossas ideias claras e distintas atuais e passadas.


- Podemos confiar nos nossos raciocínios apoiados em premissas claras e distintas.
- Deus (é uma ideia clara e distinta) garante, Ele próprio, a clareza e a distinção de ideias.
- (Podemos construir com segurança o “edifício do conhecimento”; podemos deduzir muitas
outras verdades).

Provada a existência de Deus e afastada a hipótese do Génio Maligno, Descartes considera que
podemos conhecer:
- As verdades matemáticas. (as verdades da geometria e da aritmética são absolutamente
certas e seguras, pois Deus não permitiria que um ser maléfico nos induzisse em erro)
- Coisas materiais/A experiência sensível (mundo/realidade não é ilusória- as sensações que
temos dos objetos são provocadas por esses objetos).

Assim, Descartes acredita que o conhecimento é possível e que Deus garante a clareza e a distinção
das nossas ideias sem estas serem afastadas por qualquer outro ser metafísica.

OU

As provas para a existência de Deus:

- Ideia de ser perfeito (pôr Deus na equação torna o conceito/a teoria frágil).
- Causa da ideia de perfeição tem origem no Ser Perfeito- Deus- ele deixou-nos uma marca (a
marca impressa).
- Causa do ser imperfeito só pode ter origem no ser perfeito. O ser perfeito não pode ter
origem no ser imperfeito.

Assim, comprovada a existência de Deus, podemos concluir as seguintes premissas:

1. Posso confiar naquilo que concebo de forma clara e distinta se, e só se, Deus existe e não é
enganador;

2. Deus existe e não é enganador;

3. Logo, posso confiar naquilo que concebo de forma clara e distinta.

A existência de Deus é uma condição simultaneamente necessária e suficiente para que possamos
confiar nas nossas ideias claras e distintas.

Assim, Descartes acredita que o conhecimento é possível e que Deus garante a clareza e a distinção
das nossas ideias sem estas serem afastadas por qualquer outro ser metafísica.

Eu concordo com alguns críticos, que consideram que Descartes comete a chamada falácia da
circularidade ou da petição de princípio; devido ao facto de apenas considerarmos como verdadeiro
tudo aquilo que se apresenta ao intelecto de forma clara e distinta.

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