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Segundo uma tradicional conceção epistemológica, conhecimento é uma crença

verdadeira justificada. Essa ideia pressupõe que as seguintes três condições devam ser
satisfeitas para que tenhamos conhecimento. Podemos dizer que S conhece que p se e
somente se: P é verdadeira, S crê que P e S está justificado em acreditar que P.
Contudo, há vários problemas na possibilidade do conhecimento, sendo um deles o
ceticismo. Os ceticistas não são apenas pessoas que duvidam de algo, mas sim, quem
testa a nossa certeza de saber seja o que for, deste modo, colocam em causa a
possibilidade do conhecimento. Um argumento a favor do ceticismo são as crianças na
idade dos porquês, demonstrando assim que é legítimo pedir uma justificação para todas
as nossas crenças. Tendo em conta que teremos de utilizar crenças nossas nas
justificações de outras crenças, caímos numa cadeia de crenças que se justificam umas
ás outras e, por isso, podemos regredir infinitamente sem chegar a justificar nada. Isto
introduz e explica o argumento da regressão infinita (crucial a favor do ceticismo).
Este argumento pode ser formulado da seguinte forma:
1. As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças;
2. Se as nossas crenças se justificam com base noutras crenças, sempre que
tentamos justificar uma crença caímos numa regressão infinita da justificação;
3. Se sempre que tentamos justificar uma crença caímos numa regressão infinita de
justificação, então nunca temos crenças justificadas;
4. Se nunca temos crenças justificadas, não há conhecimento;
5. Logo, não há conhecimento.
Como é habitual, surgem várias respostas ao desafio colocado pelo ceticismo, sendo
uma delas o fundacionalismo, cuja ideia principal é rejeitar o argumento 1 da regressão
infinita. Por isto, os fundacionalistas surgiram com duas ideias de crença: a crença
básica, que é autoevidente, ou seja, justifica-se a si mesma e a crença não-básica que
não é autoevidente e justifica-se com base noutras crenças.
Alguns fundacionalistas intitulam-se como racionalistas também pois acreditam que
estas crenças provêm da razão, ou seja, à priori, independentes das experiências dos
sentidos. Outros, no entanto, consideram-se empiristas, pois para eles, as crenças
básicas vêm das experiências no mundo exterior, logo, são à posteriori.
Outra resposta ao ceticismo é-nos dada por René Descartes, que queria encontrar pelo
menos uma crença que fosse completa e absolutamente verdadeira. Descartes usou
como método a dúvida de tudo o que nos pareça possível e imaginário (processo
denominado por dúvida metódica). A dúvida metódica é usada como meio para atingir o
fim de provar o conhecimento e a insustabilidade do ceticismo, ou seja, tudo o que nos
pareça minimamente duvidoso deve ser considerado falso. Chama-se a esta dúvida
também hiperbólica, por levar o caso ao extremo.
Descartes reuniu um conjunto de razões para duvidar, sendo elas: as ilusões dos
sentidos, a indistinção vigília-sono, erros de raciocínio, a hipótese do génio maligno e o
cogito.
As ilusões dos sentidos surgem pois a maioria das nossas crenças provém dos nossos
sentidos, mas os mesmos enganam-nos por várias vezes e isso pode pôr em causa a sua
veracidade no total. Um dos exemplos das ilusões dos sentidos é a ilusão de ótica.
Outra razão que o leva a duvidar do ceticismo é a indistinção vigília-sono. Este
argumento reforça o da ilusão dos sentidos e diz-nos que não podemos, muitas vezes,
distinguir o sonha da realidade e acabamos por achar que estamos a viver algo quando,
na verdade, estamos apenas a sonhar.
Surgem também erros de raciocínio, em que, por muito precisas que a geometria e a
matemática possam ser, há sempre a hipótese de cometermos erros em raciocínios
simples como 2+2=4. Estes erros podem dever-se a uma série de razões, dentro ou fora
do nosso alcance.
Como Descartes é extremamente hiperbólico, propõe a existência de um génio maligno,
que nos leva às nossas crenças. Esta hipótese pode-nos parecer pouco possível, mas,
enquanto não for excluída, não podemos afirmar que as nossa crenças não são
maquinações de esse Génio Maligno e, por isso, não possuímos crenças, logo, não
possuímos conhecimento.
René Descartes dá a entender que o argumento anterior não é muito forte e que pode
levar à indução de que nada sabemos. Com isto, Descartes diz que independentemente
de quanto o génio maligno se esforce para nos enganar, nunca nos convencerá de que
não existimos, expondo a prova do cogito, (da famosa frase “cogito ergo sum”). Com
isto sabemos que o conhecimento é possível devido à nossa existência.
É possível imaginar que não temos corpo, e por isso, que somos um ser pensante e
conclui-se que mente/alma é diferente de corpo. Isto leva-nos á definição de dualismo
mente-corpo, que defende que há duas realidades completamente diferentes, o corpo
(físico) e a mente (imaterial).
Descartes apresenta-nos o critério da verdade que diz que só devemos considerar
verdadeiro o que concebemos de forma clara e distinta. Na sua mente haviam três tipos
de ideias principais, as ideias adventícias, as factícias e as inatas.
Na mente de Descartes há uma ideia que sobressai das outras: a ideia de Deus, ou de um
ser perfeito não enganador. Este tenta provar a existência Dele através do argumento da
marca por exemplo. Este argumento diz que a ideia de Deus nos é inata e que a posse
dessa ideia nos é suficiente para que Deus exista.
Como podemos perceber, Deus desempenha um papel fundamental no racionalismo
cartesiano e este diz-nos que como concebemos a sua ideia de forma clara e distinta, Ele
existe, e é indispensável para confiarmos em tudo o que concebemos do mesmo modo.
Isto dá-nos uma nova visão da matemática, pois se há um Deus perfeito, este não nos
permite cometer erros de cálculo nem raciocínio. A experiência sensível passa a ser
sempre plausível pois se há ilusão, Deus é enganador e isso é mentira. Também o
problema da vigília e do sono desvanece pois quer vivamos o sonho, quer vivamos a
realidade, sabemos que é verdade.
Todo este raciocínio trás muitas objeções, tais como: “Se Deus é assim tão perfeito
assim, porque erramos?” e a objeção á hipótese do génio maligno proposta por Moore,
que considera esta ideia extrema e que, com ele, Descartes estava a estabelecer limites
muito altos para o conhecimento.
Há ainda a objeção ao cogito, pois, segundo Hume, a existência do pensamento é mais
evidente do que a existência de um Eu. A objeção ao dualismo cartesiano pois Descartes
não faz total separação de mente e corpo. A objeção ao argumento da marca pois a ideia
de Deus pode ser factícia tal como a ideia de Super Homem. Por fim há a objeção ao
círculo cartesiano pois para além da prova do cógito, Descartes não consegue provar
mais nada sem cair numa petição de princípio.

Carolina Paiva Moreira, nº9 11º4

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