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e Distribuidora Educacional S.A.
Sanches, Wilson
S194p Povo, cultura e religião / Wilson Sanches, Thiago
Rodrigo da Silva, Edison Lucas Fabricio, Guilherme
Cantieri Bordonal. – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2014.
192 p.
ISBN 978-85-68075-40-1
CDD 291
Seção 1: Povo
Nesta seção analisaremos os aspectos que estruturam
a formação dos diferentes povos.
Seção 2: Cultura
Apresentaremos a cultura como o resultado das pre-
missas fornecidas pelas religiões. O estudo da cultura
está muito presente nas pesquisas historiográficas,
pois, com a modernidade, o multiculturalismo ga-
nhou muita força e é tema de muitos debates.
Introdução ao estudo
Estamos diante de uma grande tarefa: debater elementos que estão pre-
sentes no nosso cotidiano e que fazem parte de nós de maneira intrínseca,
ou seja, debater questões sobre povo, cultura e religião. Trata-se da junção de
três termos dotados de grande potência discursiva. Eles carregam um amplo
universo de valores, fornecendo inúmeras possibilidades de interpretações.
Não são simples palavras; são monumentos construídos no decorrer do tempo.
Dotados de amplitude, há de se ter sagacidade para percorrer esses caminhos
tortuosos que já foram explorados por outros historiadores, pois foram muitos
os discursos que buscaram legitimidade fazendo uso de práticas exercidas nos
territórios do “Povo”, da “Cultura” e da “Religião”.
Os três termos são usados com frequência nos debates historiográficos e,
muitas vezes, de maneira automática, são lançados sem que se faça uma análise
pormenorizada deles. São termos que estão no uso corrente do nosso ofício.
Não se pretende, com essa disciplina, encerrar o debate sobre as implicações
que envolvem esses temas, mas simplesmente proporcionar uma análise crítica
de como esses termos foram construídos na História do Ocidente e de como
exercem uma força muito grande na constituição do pensamento moderno e
pós-moderno. A junção desses conceitos pode fornecer a caracterização que
se tem do homem no mundo contemporâneo. A análise desse processo possi-
bilitará a compreensão da formação do Humanismo — como a possibilidade
da formação de homens exemplares.
Seção 1 Povo
Você já ouviu falar que “a voz do povo é a voz de Deus”? Este ditado po-
pular apareceu com Tito Lívio, no original em latim “vox populi, vox Dei”. O
ditado subsistiu aos anos, mas e a ideia de povo? Será que continua a mesma?
Quando você ouve alguém falar que “tal povo é assim...”, ou “determinado
povo deixou sua marca na história” ou, ainda, “que povo sem cultura”, quais são
as coisas que vêm à sua mente? Para responder a estas questões discutiremos,
nesta seção, a definição de povo. Mas não é uma coisa simples definir “povo”?
De maneira alguma! Nossa preocupação e fazer a definição de povo de forma
que esta definição possa servir de ferramentas necessárias e introdutórias para
desenvolvermos as discussões no decorrer das demais unidades.
Atividades de aprendizagem
Leia atentamente o texto:
Em diversas partes do planeta existem nações reivindicando a formação
de um território (Estado próprio), pois elas habitam países em que a na-
ção predominante é outra. Esses grupos, compostos por indivíduos que
apresentam características históricas, religiosas, culturais, valores sociais,
Atividades de aprendizagem
A criação do Estado foi fundamental, segundo Elias (1997), para a
formação do povo alemão. E, no caso do Brasil, nós nos constituímos
enquanto povo a partir da formação do Estado, ou foram outros os
elementos importantes para a formação do povo brasileiro? Construa
um texto argumentativo sobre a formação do povo brasileiro. O texto
deverá ter no máximo 15 e no mínimo 10 linhas.
Utilize o texto a seguir (uma entrevista de Darcy Ribeiro) como
material de apoio:
Meu livro mostra por que caminhos e como nós viemos, criando
aquilo que eu chamo de Nova Roma. Roma com boa justificação...
Seção 2 Cultura
Você tem cultura? Qual povo é mais culto? São perguntas que para alguns
podem parecer estranhas, mas para outros são extremamente normais. Mas
afinal, o que você responderia? Quando falamos de cultura, sobre do que
estamos falando? Falamos de algum tipo de refinamento, de conhecimento,
de comportamento? Poderíamos falar sobre a cultura do brasileiro de uma
maneira geral ou teríamos que falar de cultura em termos particulares, uma
cultura para cada região do país, ou ainda uma cultura para cada município,
ou teríamos cidades cada vez mais complexas que em seu interior há um
grande número de culturas diferentes? Afinal o que é este emaranhado de
coisas, gestos, conhecimentos, valores que chamamos de cultura e como ele
altera a nossa vida cotidiana?
Essas várias questões mostram a complexidade que o tema CULTURA pode
assumir em um debate. Aqui; temos que nos preocupar em pensar a cultura
como um termo sociológico, um termo muito caro a todas as ciências sociais
que tornam o nosso objeto de estudo muito interessante. Mas vários cuidados
são necessários para lidarmos com esse termo.
O termo cultura nem sempre foi utilizado da mesma maneira pelas socie-
dades, e nem sempre foi utilizado da mesma maneira pelas Ciências Sociais.
Por isso, faremos uma recuperação das suas diversas acepções.
O termo “cultura” deriva da palavra latina colere. A partir dos séculos XVIII
e XIX, ele ganhou conotações diferentes daquelas empregadas pelos romanos
da Antiguidade. Até então, esse termo era usado para se referir ao cuidado de
plantas, de animais e ao trato agrário; “cultura” era a arte de se cultivar algo
ligado à natureza. Entretanto, na Alemanha do século XVIII, este conceito passa
a ganhar vínculos com a educação, criando a expectativa de que o homem
era capaz de ser aprimorado. Na Alemanha setecentista, a cultura começou
a ser o território para a formação (Bildung) e melhoramento do homem. Esse
empreendimento feito pelos alemães será fundamental para todos os desdo-
bramentos culturais que aconteceram nos demais séculos da história alemã.
O estudo desses termos não pode ser feito de maneira fixa, mas procurando
sempre visualizar os movimentos ocorridos nos diferentes processos históricos.
Do século XVIII para o século XIX, há uma grande mudança no significado do
termo “cultura”. No século XVIII, ele era usado para marcar uma distância
dos valores burgueses dos valores da política e, assim, adquiria um status de
Figura 1.1 Mudança da concepção de Bildung do século XVIII para o século XIX
FORMAÇÃO
(BILDUNG)
Atividades de aprendizagem
Até que ponto podemos perceber a ligação da produção artística nacional —
filmes, peças de teatro, projetos musicais, espetáculos de dança etc. — com os
incentivos dados pelo Estado? Faça uma pesquisa em sua região e verifique
os incentivos dados localmente para as artes.
Seção 3 Religião
“Religião não se discute!” Você já deve ter ouvido este dito popular várias
vezes, no entanto, ele não encerra uma verdade. Por que religião não se discute?
Porque estamos falando da fé de cada um, e isso é um assunto particular. Mas
será que é tão particular assim? Vejamos: uma religião possui um corpo social,
portanto, nós podemos investigar e discutir, do ponto de vista acadêmico. A
questão fundamental aqui é perceber que a discussão da religião tem em vista
articular este conceito com os conceitos de povo e religião. Aqui não discuti-
remos a fé, esta, sim, privada, mas a religião enquanto organismo social capaz
de ser conhecido pelo intelecto humano.
O conceito de “religião” pode ser entendido como um conjunto de cren-
ças compartilhado entre um determinado grupo social que mantém relações
com alguma ordem metafísica. Todo estudo direcionado para uma religião
deve levar em consideração o concreto e o abstrato da prática estudada. É
impossível estabelecer qualquer discurso acerca do estudo das religiões antes
de fazer dois movimentos: primeiramente, um estudo sobre os aspectos sociais
em que a religião surgiu e os movimentos que ela exerceu dentro do contexto
estudado. Depois de feito isso, levar em consideração os próprios elementos
que constituem o conjunto de crenças dessa religião.
Você percebeu que nosso intuito é estudar aquilo que é objetivo na religião,
ou seja, seu contexto histórico e o conjunto de crenças que possui?
Há de se ter, portanto, certa sagacidade para analisar as características das
crenças — práticas ligadas à metafísica — e as características das técnicas —
práticas ligadas ao real — que constituem cada religião, como salienta Abbag-
nano (2007, p. 997-998):
Além disso, na definição proposta, convém sublinhar a
diferença entre crença na garantia sobrenatural e as téc-
nicas que permitem obter ou conservar tal garantia. Por
Atividades de aprendizagem
Leia atentamente o texto a seguir:
O Estado Laico e a Democracia
A Constituição brasileira de 1824 estabelecia em seu artigo 5º: “A Religião
Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas
as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular
em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo”.
A atual Constituição não repete tal disposição, nem institui qualquer
outra religião como sendo a oficial do Estado. Ademais estabeleceu em
seu artigo 19, I, o seguinte: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: I — estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada,
na forma da lei, a colaboração de interesse público.”
Com base nesta disposição, o Estado brasileiro foi caracterizado como
laico, palavra que, conforme o dicionário Aurélio, é sinônimo de leigo
e antônimo de clérigo (sacerdote católico), pessoa que faz parte da pró-
pria estrutura da Igreja. Neste conceito, Estado leigo se difere de Estado
Então, neste momento, que tal pensarmos sobre a diferença entre os termos
“religião” e “tradição”? Para auxiliar nossa análise, leremos um pequeno frag-
mento do texto A renovação do interesse pela tradição, de Whitaal N. Perry
(2008, p. 15):
A Religião, tomada com o actual sentido da palavra não
pode ser considerada como o equivalente de Tradição,
2. Toda religião se afirma como necessária. Seria muito estranho nós es-
cutarmos um sacerdote ou um praticante de uma religião dizer que as
práticas que moldam a sua fé são feitas gratuitamente e não apresentam
nenhum valor significativo.
3. As religiões afirmam a capacidade do transcendente em mudar o ho-
mem e ao mesmo tempo a impossibilidade do homem em alterar o
transcendente. Tornando mais claro: Deus pode modificar o homem,
mas o homem não pode modificar Deus!
4. As religiões sempre oferecem uma resposta para algumas dúvidas inte-
lectuais do homem, como: O que é o bem? O que nos espera depois
da morte? O que é a Justiça?
5. Toda religião possui uma simbologia capaz de religar o finito ao infinito.
Essas são as características básicas que formam as religiões. Para compre-
endermos as religiões, é muito importante que se tenha a distinção entre o
infinito e o finito. Muito dos erros cometidos pelos estudiosos das religiões
está vinculado à incapacidade de perceber a diferença entre essas duas ordens.
Vamos entendê-las?
O infinito é a ordem não criada. Ele é o próprio absoluto, ou seja, não está
condicionado a nada. Ele não tem começo, meio e fim. Ele é sempre presente,
logo, não está sujeito às determinações temporais. O plano finito é a ordem
criada, faz parte de uma série de existências relativas. Tudo o que existe no
plano finito está numa relação de dependência com outros elementos também
finitos. Para que ele exista é necessário que outras coisas também existam e
possibilitem sua existência.
É bom que saibamos que é uma impossibilidade a ordem finita compreen-
der a ordem infinita em sua totalidade. Sendo assim, como o homem — que
pertence à ordem finita — é capaz de saber algo sobre Deus — que é a própria
ordem infinita? Para realizar essa transição, esse contato, as religiões fazem uso
dos símbolos. Os símbolos usados pelas religiões funcionam como pontes de
ligação entre o transcendente e o imanente. Por isso, é de fundamental impor-
tância compreendê-los para que se saiba do que as religiões estão falando. Mas,
afinal, por que as religiões possuem símbolos e práticas muitas vezes diferentes
e contraditórios entre si?
Para tentar responder a esse questionamento, vamos recorrer ao uso de uma
metáfora para exemplificar melhor nossa explicação: imagine que você precisa
realizar uma viagem da cidade de São Paulo para a cidade do Rio de Janeiro.
Sabemos que podemos realizar esse trajeto de várias maneiras diferentes. De
carro, de bicicleta, de avião, de helicóptero, de ônibus ou até mesmo a pé. Cada
meio de realizar o trajeto apresenta algumas vantagens e desvantagens. Uns
podem preferir a privacidade de viajar com seu próprio carro, outros gostariam
de ganhar tempo e preferem o avião, algumas pessoas têm medo de avião,
enfim, as possibilidades são inúmeras. O fato essencial é: todos eles sairão de
São Paulo e chegarão ao Rio de Janeiro. A teoria defendida por Frithjof Schuon
se assemelha com a metáfora apresentada. Todas as religiões se apresentam
como caminhos que religam o homem ao absoluto. Logo, todas elas, apesar
de suas divergências e diferenças, nos remetem ao mesmo plano.
Se todas as religiões, dentro da perspectiva de Schuon, nos levam ao mesmo
local, podemos então pegar alguns aspectos do cristianismo que achamos
pertinentes e misturar com doutrinas budistas
e algumas práticas islâmicas, ou seja, fazermos
Para saber mais um “mix” das religiões? Isso para Schuon seria
Livro emblemático da antropologia um grande erro. Assim como é impossível ir-
é a obra de James George Frazer mos de carro e helicóptero ao mesmo tempo
intitulado O Ramo de ouro (1982).
de São Paulo ao Rio de Janeiro, também é
O autor aborda uma enorme diver-
impossível chegarmos ao absoluto fragmen-
sidade de mitos, lendas e relatos
de magia e religião, dos mais dife- tando as religiões. Elas são formas integrais e
rentes povos do mundo, deba- perfeitas dadas pelo transcendente para religar
tendo a questão principal do “deus o homem à ordem superior. Muitas vezes, a
imolado”. historiografia desconsidera esses aspectos.
Outro importante fator que merece nossa
atenção nas estruturas das religiões é a diferença entre esoterismo e exoterismo.
Vamos defini-los?
Esoterismo são as práticas internas das religiões direcionadas somente a
um grupo de iniciados. Exoterismo são as práticas exteriores realizadas pelas
religiões, como explica René Guénon:
De todas as doutrinas tradicionais, a do Islão é talvez
aquela onde a distinção entre as suas duas partes comple-
mentares — as quais podemos designar por exoterismo e
esoterismo — é mais acentuada. Estas são, de acordo com
a terminologia árabe, as-chari’ah (com o significado literal
de a “grande estrada”), comum a todos, e al-haqiqah (a
“verdade” interior), reservada à elite, não por virtude de
qualquer decisão arbitrária, mas devido à própria natureza
Fique ligado!
Nesta unidade você aprendeu que:
A palavra “povo” tem origem no latim: populus. Ela pode ter por definição:
união de indivíduos que compartilham entre si crenças, práticas e símbolos
estabelecendo um sentimento de unidade e de identidade social.
Norbert Elias e Nicola Abbagnano nos ajudam, com seus estudos, a
perceber uma moderna definição de povo.
Que o termo “cultura” possui duas interpretações distintas. Primeira-
mente, podemos entendê-la como um processo de formação individual,
no qual o sujeito é preparado e educado para acumular determinadas
informações que ampliam a sua visão de mundo. Em um segundo mo-
mento, também podemos entender a cultura como um sentido coletivo,
no qual essas marcas de individualização são colocadas de lado para
darem lugar ao sentido coletivo de um povo.
O termo “religião” pode ser entendido como um conjunto de crenças
compartilhado entre um determinado grupo social que mantém relações
com alguma ordem metafísica.
O processo de formação das religiões passa por algumas fases. Todas
as religiões possuem uma revelação da ordem metafísica. Essas revela-
ções se somam a determinados eventos históricos. Estes, por sua vez,
são fatores que moldam as práticas posteriores das religiões. Os ritos
religiosos são oportunidades dadas pelas religiões para que os fiéis,
ao praticarem o rito, relembrem e experimentem os principais eventos
que formaram sua religião. A permanência desses eventos na história
forma o que chamamos de tradição. São justamente as “tradições” que
possuem a potência de formarem civilizações.
Uma das formas que o historiador utiliza para estudar uma época é
recolher depoimentos de pessoas que viveram experiências no pas-
sado. O depoimento anterior pode estar identificado por um tipo de
memória ligado a um contexto histórico. Observamos por esse de-
poimento o contato direto entre dois povos: o brasileiro e o italiano.
Sobre a relação do estudo da História com o estudo das relações de
formação dos povos assinale a alternativa correta:
a) A História pode utilizar-se dos aspectos sociais para produzir
pesquisas que estudem a formação e relação de diferentes povos.
b) A História é sempre oficial, sendo assim, torna-se impossível re-
lacionarmos num estudo povo e história.
c) A História nunca é oficial, o que impossibilita o estudo da forma-
ção dos povos pela história.
d) A História é fruto do social e de acordo com o que vimos no tre-
cho citado, é somente uma construção discursiva da cidadania
italiana.
e) A História apresenta-se como uma excelente ferramenta de estudo
para a formação e integração de diferentes povos.
3. Leia o texto a seguir e responda à questão proposta:
Em 1992, por ocasião dos 500 anos de viagem de
Colombo, houve intenso e extenso debate nas Amé-
ricas e na Europa sobre o vocabulário adequado para
descrever a chegada dos europeus ao continente.
Uma crítica devastadora foi então feita ao uso da
palavra descobrimento, por representar um insupor-
tável etnocentrismo europeu. [...] Sete anos depois,
o Brasil entra na febre dos 500 anos. No entanto, nas
celebrações oficiais e oficiosas, nas reportagens da
mídia, nas exposições, nos seminários acadêmicos,
a terminologia empregada para descrever a chegada
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
4. O Sermão da Montanha é visto aqui como o texto que melhor ex-
prime o cerne da mensagem do Novo Testamento e como uma síntese
perfeita da tradição cristã. Pode-se ler toda a Bíblia, do Gênesis ao
Apocalipse, mas dificilmente se encontrará algo que supere a sabe-
doria do Sermão. O texto concentra o maior número de doutrinas
e conselhos espirituais perenes e universais de toda a Escritura. Boa
parte de tudo aquilo que o leitor da Bíblia dela se recorda deriva do
Sermão. Ninguém menos que Santo Agostinho (2002) chamou-o “re-
gra perfeita” da vida virtuosa. Fonte de instruções espirituais e morais,
o Sermão da Montanha é encarado como a quintessência mesma do
Cristianismo.
Conceito Definição
I. Povo a) Um processo de formação individual, no qual o sujeito
II. Cultura é preparado e educado para acumular determinadas in-
III. Religião formações que ampliam a sua visão de mundo, o termo
IV. Tradição pode adquirir um sentido coletivo, no qual essas marcas
V. Modernidade de individualização são colocadas de lado.
b) Comunidade humana caracterizada pela vontade dos
indivíduos que a compõem de viver sob a mesma orde-
nação jurídica.
c) Conjunto de crenças compartilhado entre um determi-
nado grupo social que mantém relações com alguma
ordem metafísica.
d) “Aquilo que está separado do transcendente, dos prin-
cípios imutáveis que, na realidade, governam todas as
coisas e que são dados a conhecer ao homem através da
revelação no seu sentido mais universal”.
e) Designa esses mesmos princípios imutáveis, a sophia pe-
rennis ou sabedoria primordial, os quais estão fundados
no transcendente.
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Introdução ao estudo
A religião é um dos temas polêmicos da humanidade. Pois a mesma é consi-
derada de diversas formas pelos mais diferentes indivíduos. Alguns consideram
a religião uma simples forma da legitimação da exploração humana, como
apontava o pensamento marxista. Para Marx ou para muitos dos intelectuais que
eram ligados ao seu sistema de pensamento, a religião era um dos aparelhos da
ideologia do Estado, e que servia para manter a classe trabalhadora subordinada
aos interesses dos burgueses (ALTHUSSER, 1981). Uma máxima marxista conhe-
cida é a da religião como o “ópio do povo”, isto é, como uma droga a acalmar
as massas. Outros vislumbravam na religião sentimentos infantis, como para o
positivismo de Auguste Comte (SELL, 2001). Segundo este intelectual, três seriam
os estágios do desenvolvimento humano: o metafísico (religioso), o filosófico e
o científico, correspondendo à infância, adolescência e maturidade da espécie
humana. Todavia, mesmo com estes e outros intelectuais, como Nietzsche e
Freud, que apontavam na religião um tema menor, os estudos sobre as questões
religiosas se fazem presentes no campo das ciências humanas.
A importância do estudo das religiões se justifica pela relevância que os
valores propostos pelas diferentes formas de fé têm nas atitudes dos indivíduos
e das sociedades. Em nome de Deus pessoas agem com ações de solidariedade
e bondade, entregando-se a causas nobres e ações humanitárias. Todavia, em
nome do mesmo Deus, no presente e no passado, muitas guerras são legitimadas
por discursos religiosos, como as cruzadas medievais ou as contemporâneas
Guerras Contra o Terror (CARDOSO et al., 2004, p. 77). Todavia, independen-
temente das polêmicas a respeito da religião ser um bem ou mal aos homens,
compreender os comportamentos individuais advindos de crenças religiosas é
importante para entendermos diversos eventos históricos.
A compreensão acadêmica dos fenômenos religiosos é uma das importan-
tes questões levantadas pelas ciências humanas, com diferentes respostas e
metodologias ao estudo. Pois, em grande parte, podemos compreender que as
mais diferentes culturas humanas possuem aspectos religiosos. Como se trata
de uma dimensão das vivências humanas, a religião se pauta como um dos
temas clássicos das ciências humanas e sociais.
Até o século XIX, praticamente apenas os teólogos se preocupavam com o
estudo da questão religiosa. Porém, com o desenvolvimento das ciências hu-
Uma das questões básicas para a compreensão social dos ritos religiosos
são as diversas funções socais que os mesmos desempenham. A possibilidade
de legitimar as hierarquias sociais, ao mesmo tempo explicar os fenômenos
naturais e possibilitar uma forma dos homens e mulheres lidarem com a morte.
O fim da vida, por vezes, é um dos elementos que mais se envolvem com as
religiões. Temos as religiões que acreditam em reencarnação e diversas formas
de contatos dos vivos com os mortos, e também uma total negação da possi-
bilidade de contato com os mortos.
Uma das primeiras classificações que se podem utilizar como possibilidade
de compreensão do fenômeno religioso é a diferenciação entre o politeísmo e
o monoteísmo. Uma visão eurocêntrica e ocidentalizada da história das reli
giões, presente em alguns clássicos da antropologia e sociologia que estudaram
o tema, apresenta o politeísmo de um modo inferior ao monoteísmo. Isto é, a
crença em vários deuses como uma posição de inferioridade à crença em um
único Deus. Ou pior, o monoteísmo como uma “evolução do politeísmo”. Po-
rém, como observaremos, em todos os tempos, crenças politeístas e monoteístas
conviveram. Mesmo entre as crenças que se afirmam monoteístas, por vezes, a
crença em um único deus é sociologicamente profundamente questionada. Um
exemplo de questionamento foi realizado pelo intelectual alemão Max Weber,
um pioneiro estudioso acadêmico das religiões, que no capítulo “Sociologia da
Religião” do livro Economia e Sociedade, afirmou:
Rigorosamente “monoteístas são, no fundo, apenas o ju-
daísmo e o islamismo. A concepção do ser ou dos seres
divinos, tanto no hinduísmo como no cristianismo, repre-
senta um disfarce teológico importante e peculiar — o da
salvação pela encarnação de um Deus — se opunha ao
monoteísmo restrito (WEBER, 2004, p. 289).
Pois, nas religiões africanas temos a presença das oferendas, como uma
das formas de se conquistar as benesses dos deuses. O que se pode afirmar
é que tanto as religiões europeias quanto as religiões africanas possuem
especificidades, mas ambas podem com justiça ser consideradas religiões,
porque têm a mesma função primordial de religar os homens a deus. O que
podemos dizer é que a compreensão de deus difere nas religiões monoteístas
daquelas politeístas.
O politeísmo é (como definição de senso comum) a crença em vários
deuses. E, em grande parte, se relaciona a uma simbologia mental em relação
à natureza. Isto é, para o pensamento ocidental existe uma diferença entre o
mundo real e o mundo das ideias, e uma igual diferenciação entre o que é
tipicamente humano e o que é pertencente à natureza. Porém, em algumas
tribos na América do Sul, ou nas religiões orientais, da qual o hinduísmo é um
exemplo, a relação dos homens com a natureza é de total integração. Isto ocorre
porque as religiões politeístas tendem, nas suas mais variadas manifestações,
a apresentar uma visão circular do tempo.
Por tempo circular, podemos compreender uma noção de que a vida
ou as coisas não têm fim. Isto é, tudo se renova e volta a ser. Em relação à
vida ela sempre volta a existir. Portanto, um corpo que deixa de ter vida irá
voltar um dia a se reencarnar e nascer, para dar curso a uma nova existên-
cia. Por vezes, algumas religiões acreditam que os seres humanos apenas
reencarnam como seres humanos. Outras acreditam que os seres humanos
podem reencarnar como animais ou mesmo como plantas. Os indígenas
das terras baixas sul-americanas, por exemplo, acreditam que todos os seres
vivos são apenas uma mesma forma de vida, com funções, com “roupagens”
diferentes. Por isso, é comum vermos uma mulher indígena amamentando
um animalzinho, como um filhote de anta ou um veadinho. Tal percepção
da natureza é de profunda relação com os mitos que formam as ideias re-
ligiosas destes grupos sociais.
Portanto, podemos compreender que o politeísmo, além de ser uma crença
em vários deuses, se relaciona também com uma noção de tempo histórico e a
um tipo específico de relação com a natureza e a sociedade. Pois, em grande
parte das culturas politeístas, existem deuses específicos que se relacionam aos
aspectos naturais ou sociais. Alguns exemplos podem nos esclarecer esta ques-
tão: diferentes culturas possuem deuses do mar: Yam, para os fenícios, Poseidon,
para os gregos, ou Iemanjá, para o candomblé. Também as funções sociais ou
realizações humanas, como a guerra, possuem seus deuses, como Ares, para
os gregos, Marte para os romanos e Ogum, para os ritos afro-brasileiros. A este
conjunto de deuses ao qual se presta culto chamamos panteão.
O monoteísmo, por sua vez, é, para o senso comum, uma das formas de
religião que acredita em um único Deus. A primeira religião monoteísta da
História foi o zoroastrismo, um culto religioso elaborado por Zoroastro, um
líder religioso do Império Persa. Também no Egito Antigo, tivemos uma tenta-
tiva de monoteísmo com Ammenófis IV, que tentou programar o culto ao “deus
Sol” Akenaton, mas não prosperou. Entretanto, das religiões monoteístas da
Antiguidade, a mais lembrada é o monoteísmo de “Jeová”, o “Deus de Israel’”.
O monoteísmo também pode ser vinculado a um personagem histórico
específico: Abraão. Pois, a religião judaica surge com um chamado que
Jeová fez a Abraão, na localidade de Harã, onde Abrão se encontrava após
acompanhar seu pai Terá na saída da cidade de Ur dos caldeus para Harã
(Gênesis, Capítulos 11 e 12). Abraão teve uma promessa, que seria pai de
uma numerosa nação, que seria composta por sua esposa, Sara. Porém,
Abraão também teve um filho com a escrava egípcia Agar. Sara foi mãe de
Isaque, que gerou o povo judeu. Por sua vez, Agar gerou Ismael, que gerou
o povo islâmico.
O monoteísmo tem como principal modificação cultural, se o compararmos
com o politeísmo, a compreensão em relação ao tempo. Pois, para os politeístas
é considerado circular, e passou a ser considerado linear. Isto é, ao invés de
considerar que tudo retorna a ser vida, de outra forma, através de reencarnações,
o monoteísmo tende a considerar que o tempo tem início meio e fim, cujo final
será a eternidade, quando o tempo não mais existirá.
As religiões podem ser divididas de diversos modos, sendo cinco as prin-
cipais religiões mundiais: o islamismo e o cristianismo (de base judaica), o
budismo, o confucionismo e o hinduísmo (religiões orientais). O carisma de
uma liderança e os acólitos (os seguidores) são as principais características das
maiores religiões mundiais. Dentre estas, as de base judaica são tipicamente
monoteístas, e as orientais, tipicamente politeístas. As religiões, independente
de serem expressões das sensibilidades humanas, expressam através do poli-
teísmo e do monoteísmo, possuem algumas características comuns, como a
presença de sacerdotes, milagres, profetas, rituais e delimitações de crenças
(WEBER, 2004).
medieval eram judeus. Após a Reforma Protestante, o lucro, por exemplo, não
foi considerado pecaminoso pelos reformadores Lutero e Calvino.
Um dos dados que revelam a amplitude social das religiões está simboli-
zado nas bandeiras de alguns países que possuem símbolos religiosos (Figuras
2.1 a 2.3).
Figura 2.1 Bandeira de Israel possui a estrela de David, símbolo da religião judaica
Figura 2.3 A bandeira inglesa possui uma cruz, símbolo cristão associado a São
Jorge
Atividades de aprendizagem
1. Um dos preconceitos ocidentais na análise acadêmica (sócio-antro-
pológica) das religiões universais é considerar o monoteísmo como
uma evolução do politeísmo. Em relação a esta problemática, analise
as sentenças a seguir relacionadas e assinale com um “X” a alternativa
correta.
( ) Considerar o politeísmo e o monoteísmo como iguais é um mero
relativismo cultural sem fundamento, pois os povos politeístas, na
maior parcela do tempo histórico, foram dominados por povos
monoteístas.
( ) Considerar o politeísmo e o monoteísmo como iguais é ter
uma compreensão ampla da história universal, não reduzindo
a história da humanidade à história europeia, haja vista que
a maior parcela das religiões orientais e africanas apresentam
características politeístas.
( ) Considerar o politeísmo e monoteísmo como iguais é assumir
uma postura marxista cultural, haja vista que para o marxismo a
religião é “o ópio do povo”, uma mera legitimação da exploração
das classes dominantes sobre as dominadas. Independente ser
a expressão religiosa ser monoteísta ou politeísta sua função é a
mesma: legitimar a exploração.
( ) Considerar a religião politeísta como inferior, e a religião mono-
teísta como mais desenvolvida é ter uma ampla visão da história
universal. Isto porque observamos, ao longo da história, uma
dominação do homem branco europeu sobre os demais povos.
2. Segundo Max Weber, judaísmo e islamismo podem ser consideradas
religiões monoteístas de maneira rigorosa, excluindo desta classifica-
ção o cristianismo. Por que a religião que teve Jesus como fundador
não foi considerada monoteísta por este sociólogo das religiões?
( ) Para Max Weber, o cristianismo não é restritamente monoteísta
pela encarnação de Jesus, o que formou a teologia da trindade
(pai, filho e espírito santo).
( ) Para Max Weber, o cristianismo não é monoteísta devido à in-
terseção dos santos, presente no catolicismo romano.
( ) Para Max Weber, o cristianismo não é monoteísta devido à
teologia mariana desenvolvida pela Igreja Católica Ortodoxa
Bizantina, em especial pelos Concílios de Niceia.
( ) Para Max Weber, o cristianismo não é uma religião revelada, mas
sim se classifica nos ritos animistas, como uma forma de magia,
devido a rituais, como expresso na consubstanciação luterana.
um Deus que é só amor poderia ter também sido o criador do mal. A este
problema ontológico, após convertido, Agostinho respondeu com sua visão
sobre o mal, comparando o bem à presença de luz, o mal à sombra, e Deus
a uma totalidade que englobaria tanto a luminosidade quanto a escuridão.
Estas e outras questões de seu pensamento após convertido são verdadeiros
paradigmas da teologia ocidental. Porém, trata-se de uma conversão tardia
e difícil.
A conversão de um filho rebelde às palavras eternas do senhor Jesus eram
os pedidos das orações de Mônica, segundo muitos biógrafos. Orações que
foram atendidas, porém aos olhos humanos muito tarde: apenas aos 32 anos
de idade, quando Agostinho, após uma noite de profundo vazio existencial,
leu as sagradas escrituras após uma cantilena de uma criança que dizia: toma
e lê (AGOSTINHO, 1984).
A sua conversão também contou com um amplo apoio dado pelo bispo
Ambrósio de Milão, que demonstrou a Agostinho a superioridade da doutrina
cristã sobre as demais correntes filosóficas que à época o seduziram, como o
neoplatonismo de Plotino e o maniqueísmo do Bispo Fausto. O maniqueísmo
foi uma seita inventada no interior do Império Romano nos primeiros séculos
da era cristã que dizia existirem duas forças, representadas pelo sumo bem e
pelo sumo mal. Uma doutrina de pensamento rejeitada por Agostinho. Porém,
o platonismo foi uma influência constante, mesmo após a sua conversão ao
cristianismo. Em especial o platônico Plotino, um intelectual que buscou apro-
fundar as perspectivas de Platão sobre as especulações da filosofia, foi grande
influência sobre a teologia agostiniana.
evangelho) a toda tribo, nação e raça, como apontam os escritos dos Atos dos
Apóstolos e as cartas de Paulo (OLSON, 2001).
Os pelagianos, por sua vez, seguiam os ditames intelectuais de Pelágio, autor
que a história da teologia cristã classificou como herético. Pelágio foi um líder
da teologia cristã, que afirmava uma doutrina próxima ao ideal de justificação
pelas obras. Por isso, Agostinho de Hipona aponta uma posição radicalmente
contrária, apontando a justificação pela fé. Por justificação se compreende a
ideia cristã na qual o ser humano é considerado membro de um mundo de
pecado, originário de Adão e Eva, quando comeram a fruta da árvore proibida
e assim introduziram o pecado no mundo. Portanto, a ação redentora de Cristo,
possibilita a redenção daqueles que forem obedientes aos seus ensinamentos.
A paruosia, isto é, o retorno de Jesus Cristo para a Terra, é outro tema polêmico
no qual as ideias agostinianas não se sustentam em uma relação direta com as sagra-
das escrituras, mas sim em uma relação com a filosofia grega. Pois, para os judeus,
não existia uma separação entre imanente e transcendente, isto é, ente o corpo e a
alma. Agostinho se utiliza deste pensamento grego para se opor aos milenaristas,
que observam no breve retorno de Jesus a solução para os problemas humanos.
sucessor de Pedro, que por sua vez era um discípulo de Cristo. Jesus era, segundo
a Carta aos Hebreus, um sacerdote da Ordem de Melquisedeque, personagem
bíblico do Antigo Testamento. Este obscuro personagem bíblico é descrito como
Rei de Salém e Sacerdote do Deus Altíssimo. Neste sentido, para os agostinia-
nos, o papa era tanto sacerdote quanto rei. Por isso, o Vaticano poderia ter as
prerrogativas de um reino, como um banco, um exército, cobrar impostos e ter
a honra social dos chefes de Estado, como declarar a guerra (ROMANO, 1989).
Mesmo entre os que questionaram o poder papal, há cinco séculos, o prestígio
agostiniano se manteve. Martinho Lutero e João Calvino, aos escritos agostinianos
recorreram como uma possibilidade de reflexão para a configuração dos ideais
que até o presente pautam as igrejas protestantes de todo o mundo: a infalibilidade
bíblica, o sacerdócio de todos os crentes e a salvação pela fé. Os dois principais
nomes da Reforma possuíam uma profunda relação com as ideias agostinianas.
Martinho Lutero (Figura 2.5), homem que em 31 de outubro de 1517 foi o res-
ponsável pela corajosa atitude de expor suas 95 teses na capela de Wittenberg,
cujo teor criticava o catolicismo medieval, foi por muitos anos monge da Ordem
de Santo Agostinho. Nas Institutas da Religião Cristã, João Calvino se apresenta
suas influências das ideias do Bispo de Hipona, ao citar várias vezes Agostinho
como uma autoridade teológica a sedimentar seus pensamentos no seu principal
livro teológico, as Institutas da Religião Cristã (OLSON, 2001).
passagens das sagradas escrituras, era utilizada como discurso legitimador dos
mais diversos posicionamentos acadêmicos. Dois referenciais da Antiguidade
eram utilizados para se afirmar a forma geográfica terrestre: Crates de Malo (160
a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). O primeiro sistema de pensamento afirmava
que a terra era formada por quatro ilhas. A vastidão oceânica impossibilitaria o
contato entre elas. A inspiração aristotélica foi presente em João de Sacroboso,
que dividia o mundo em duas regiões: a do éter e a dos elementos. A região dos
elementos se dividia em quatro partes. A Terra era o centro do mundo, situada
no centro de todas as coisas. Todavia, as duas maiores autoridades medievais
em relação à vida humana ser presente em todos os pontos da Terra eram os
teólogos patrísticos Lactâncio e Agostinho (RANDLES, 1994).
Agostinho teve uma grande importância para a formulação de diversas ideias
em relação aos distintos aspectos da compreensão da natureza. A observação
e o conhecimento humano sobre o processo de funcionamento dos distintos
aspectos da vida natural é um dos mistérios que envolvem a humanidade nos
seus milênios de vida sobre a Terra. Mistério que aguça a curiosidade de muitos
indivíduos a tentar observar o processo de funcionamento da natureza. Outra
curiosidade milenar é a geografia. O que existe no mundo além do que nossas
vistas alcançam... A astronomia também se configura como uma das curiosi-
dades principais dos seres humanos.
Vivemos em um tempo na história humana em que convivemos com uma
avalanche de informações científicas. Porém, não temos estas informações
nos séculos iniciais do cristianismo constantiniano. Assim, não temos como
julgar o pensamento agostiniano do ponto de vista de uma evolução científica
que ocorreu mil anos após. Porém, podemos raciocinar sobre sua afirmação,
exposta em A Cidade de Deus:
Quanto à fábula dos antípodas, quer dizer, de homens cujos
pés pisam o reverso de nossas pegadas na parte oposta da
terra, onde o Sol nasce, quando se oculta de nossos olhos,
não há razão que nos obrigue a dar-lhe crédito. Tal opinião
não se funda em testemunhos históricos, mas em meras con-
jecturas e raciocínios aparentes, baseados em estar a terra
suspensa na redondeza do céu e o mundo estar ocupando o
mesmo lugar, ínfimo e médio (AGOSTINHO, 1984, p. 231).
A existência dos antípodas, isto é, a ideia de que haveria vida fora dos limi-
tes do mar Mediterrâneo, foi considerada uma fábula pelo intelectual cristão.
Portanto, o posicionamento de Agostinho de Hipona em relação aos antípodas
Nesta passagem bíblica, podemos aferir que Deus está assentado sobre a
redondeza da Terra. Isto nos indica que as sagradas escrituras afirmam ser nosso
planeta de formas arredondadas. Também admirando as maravilhas da glória
Todavia, temos, no século XIX, uma separação entre ciência e fé. Pois foi
o tempo no qual as verdades bíblicas foram duramente questionadas por inte-
lectuais materialistas. A Bíblia foi um livro duramente questionado nos últimos
séculos no Ocidente. Freud, Marx e Nietzsche são vozes citadas por intelectuais
universitários que na atualidade os utilizam como autoridades para questionar
as verdades bíblicas. Porém, o maior intelectual citado contra a Bíblia é Charles
Darwin. Autor do livro A origem das espécies, este autor é utilizado como voz que
corrobora a ideia de que a Bíblia é apenas um relato mítico, pois a verdade é que
o homem não foi feito das mãos de Deus, mas de um longo processo evolutivo,
no qual todos os primatas teriam descendido de um ancestral comum. Como
nota interessante, a formação universitária de Darwin foi a teologia.
Estes questionamentos científicos à Bíblia causaram grande polêmica no meio
cristão, tanto católico quanto protestante. As polêmicas darwinistas, marxistas e
freudianas geraram algumas reações. Uma das primeiras foi a denominada teolo-
gia liberal, que buscava casar os descobrimentos científicos com a religião cristã.
Antes mesmo dos questionamentos das ciências da natureza à Bíblia, as
reflexões dos teólogos protestantes ao livro sagrado já tinham passado por um
elevado grau de sofisticação. Este grau de sofisticação teve como um dos mar-
cos o desenvolvimento do método hermenêutico por Friedrich Schleiermacher,
teólogo pietista alemão que buscou elaborar uma tentativa de método científico
para interpretar as sagradas escrituras. Os teólogos liberais, inspirados também
em Kant, em livros como A religião nos limites da simples razão, buscaram
casar as verdades científicas com as verdades da fé. Assim como para muitos
Atividades de aprendizagem
1. A importância do pensamento religioso extrapola os limites cons-
critos dos seguidores de determinadas crenças. Em relação à cultura
ocidental, um pensador a extrapolar os limites cronológicos de seu
tempo foi Santo Agostinho. Em relação ao seu pensamento, responda
as duas questões relacionadas a seguir.
Sobre a importância de Santo Agostinho para a formulação do pen-
samento ocidental, assinale a alternativa correta.
( ) Santo Agostinho foi o formulador principal da teologia da liber-
tação, sendo seu livro principal de título Igreja carisma e poder.
( ) Santo Agostinho foi o formulador principal da teologia patrística,
sendo suas obras principais Da trindade, As confissões e A cidade
de Deus.
( ) Santo Agostinho foi um teólogo do século XVII, autor de obras
importantes para o cristianismo reformado, em especial o magistral
livro As institutas da religião cristã.
( ) Santo Agostinho foi um dos principais teólogos do pensamento
ocidental, em especial pela sua influência árabe.
2. Sobre a importância de Agostinho para a compreensão ocidental dos
fenômenos da natureza, assinale a alternativa correta.
( ) Santo Agostinho afirmava que a Terra não era o centro do universo.
( ) Santo Agostinho afirmava que não existiam antípodas.
( ) Santo Agostinho afirmava que a Terra era fruto do evolucionismo.
( ) Santo Agostinho afirmava que os antípodas eram verdadeiros.
eles sejam um para que o mundo creia”. Um dos frutos deste encontro foi o
objetivo de fundar uma instituição internacional que pudesse representar as
igrejas cristãs em seus objetivos comuns. Assim, em 1948, surgiu o CMI — Con-
selho Mundial de Igrejas, em um congresso na cidade holandesa de Amsterdã.
Contando com 147 igrejas de todo o mundo cristão protestante e ortodoxo,
este conselho possibilitou uma melhor representatividade das igrejas ante os
desafios do cristianismo no pós-guerra (CUNHA, 2010).
Em relação à participação católica romana na promoção do ecumenismo,
a mesma se comportou, a princípio, como uma opositora. O papa Pio XI pu-
blicou, em 1928 a encíclica Mortalium ânimos, na qual reafirmava que a
única igreja verdadeira era a Católica Apostólica Romana. O posicionamento
da Igreja Romana foi alterado com o pontificado de João XXIII que criou o
Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos, buscando diálogo com as
igrejas cristãs católicas ortodoxas e protestantes.
Na encíclica Pacem in terris, afirmou Sua Santidade:
As linhas doutrinais aqui traçadas brota da própria na-
tureza das coisas e, o mais das vezes, tecem `esfera do
direito natural. A aplicação delas oferece, por conse-
guinte, aos católicos vasto campo de colaboração, tanto
com cristãos separados desta sé apostólica, como com
pessoas sem nenhuma fé cristã, nas quais, no entanto,
está presente a luz da razão e operante honradez natural
(JOÃO XXIII, 2004, p. 77-78).
militar de 1964, o qual as altas cúpulas das igrejas cristãs abertamente apoia-
ram e grande parte dos jovens rechaçou, esfriou as relações que levariam ao
maior ecumenismo. Com o declínio da ditadura militar, e quando as hierar-
quias eclesiásticas passaram a criticar de forma explícita as torturas que uma
parcela da população estava sofrendo, as
relações ecumênicas entre os cristãos passa-
ram a ser maiores. Um grande símbolo do ecu- Para saber mais
menismo no Brasil ocorreu em um culto
Uma das principais instituições ca-
ecumênico realizado na catedral da Sé, em São tólicas a pesquisar a história da
Paulo, na qual o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, igreja e a pautar suas análises em
o reverendo presbiteriano Jaime Wright e o uma perspectiva ecumênica é o
rabino Henri Sobel, oraram e rezaram pelas Cehila, Comissão de estudos da
almas do operário Manoel Fiel Filho e do História da Igreja na América La-
jornalista Wladimir Herzog, torturados até a tina. Sua homepage é <http://
www.cehila.org/>
morte nos porões dos quartéis da repressão
política em São Paulo.
O ecumenismo também foi um mote das teologias de libertação na América
Latina, com o Cehila. O Centro de História da Igreja na América Latina e no
Caribe, com a presença de historiadores eclesiásticos abertos ao diálogo, como
Riolando Azzi e Oscar Beozo. Todavia, as denominações protestantes históricas
(com exceção da igreja luterana) se retiraram desta instituição. A reclamação
dos metodistas se revela pelo fato de os católicos considerarem as igrejas pro-
testantes como seitas. Um importante nome da teologia da libertação formulada
pelos protestantes no Brasil, o reverendo Rubem Alves foi excluído pelo frei
Betto dos debates da teologia da libertação, acusando o pastor presbiteriano em
questão de ser conivente com o imperialismo por ter feito sua tese nos Estados
Unidos. Esta relação de desconfiança mútua prova que os conservadores cató-
licos tinham errado seu diagnóstico, de uma protestantização do catolicismo,
pois as relações entre a teologia protestante e a católica na América Latina não
se mostrou possível.
Atividades de aprendizagem
1. Os conceitos possuem uma grande importância para uma compre-
ensão científica do mundo que nos rodeia. As ciências da religião, a
história das religiões, a antropologia e a sociologia religiosa buscam
aprimorar seus arsenais conceituais para melhor explicar o fenômeno
religioso. Assim compreendendo, analise as sentenças a seguir, e
assinale a alternativa correta:
O que podemos compreender por ecumenismo?
( ) Uma tentativa de congregação e união entre as diferentes deno-
minações da religião cristã.
( ) Uma tentativa de congregação de diferentes crenças humanas
e de diferentes povos.
( ) Uma expressão máxima das disputas religiosas entre as distintas
religiões monoteístas.
( ) Uma forma de mediação das disputas entre os diferentes pontos
de vista entre as religiões de matriz africana e indígena com a
Igreja Católica.
2. Qual é a diferença entre ecumenismo e o diálogo inter-religioso?
( ) Ecumenismo é restrito ao cristianismo, e o diálogo inter-religioso
envolve outras crenças, como umbandistas, judeus e muçulmanos.
( ) Ecumenismo se refere às perspectivas da igreja católica, e o
diálogo inter-religioso ocorre entre os membros das religiões
protestantes, com destaque para as seitas batistas de origem
norte-americana.
Fique ligado!
A compreensão do fenômeno religioso é de incomensurável importância
para o estudo da história e das demais ciências humanas. Assim, temos
uma possibilidade de melhor compreensão de diversas ações dos indi-
víduos ao longo dos tempos. Pois muitas ações são baseadas em valores
religiosos.
Na primeira seção o acadêmico pode observar a tipologia das religiões.
Isto é, temos basicamente duas grandes formas de expressão do sentimento
religioso: o monoteísmo e o politeísmo. Pode-se também observar que o
mundo possui cinco grandes religiões mundiais, cada uma com sua his-
tória e dilemas internos. São elas o cristianismo e o islamismo (de base
judaica), além do confucionismo, do hinduísmo e do budismo.
Na segunda seção acompanhamos a importância do pensamento de
Santo Agostinho para a compreensão do pensamento do homem ociden-
tal. Podemos também compreender que, a partir do século XIX, a com-
preensão agostiniana de Deus continua prestigiada na cultura ocidental.
Porém, sua compreensão sobre a natureza é refutada com a descoberta
de vida nos antípodas, o que abre margem para modelos científicos para
a explicação do universo, na qual O discurso do método, de René Des-
cartes, é paradigmático.
Por fim, na terceira seção, podemos contemplar a diferença entre laici-
dade, o sincretismo, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. A laicidade
é um tipo de relação entre a religião e o estado. O sincretismo é a simbiose
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Editora UnB / São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
Objetivos de aprendizagem:
Compreender a formação histórica do judaísmo.
Conhecer a história do povo judeu e o papel da religião na sua
trajetória histórica.
Conhecer as principais doutrinas e divisões do judaísmo.
Analisar o contexto de surgimento do cristianismo.
Debater a formação da ortodoxia cristã.
Analisar os diversos cismas da cristandade, os processos de reforma
e expansão pelo mundo.
Conhecer o contexto de surgimento do islamismo.
Compreender a ascensão do profeta Maomé e seu papel na for-
mulação da doutrina islâmica.
Compreender o cotidiano islâmico, sua rotina de oração, os pilares
de sua fé e os princípios da observância.
Seção 1: Judaísmo
Aborda os contextos histórico e cultural da religião
hebraica e sua influência sobre as demais religiões,
bem como sobre a história da humanidade.
Seção 2: Cristianismo
Relata a evolução do cristianismo ao longo da histó-
ria, suas diferentes nuances e características.
Introdução ao estudo
Caro(a) acadêmico(a), nesta unidade vamos estudar a história das três prin-
cipais religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Nas páginas
seguintes você encontrará uma narrativa sucinta e breve do assunto, pois tais
religiões existem há milênios e está longe de nossos objetivos esgotar tais dis-
cussões e abordagens.
Veremos que o judaísmo, embora seja atualmente a religião minoritária no
mundo, já foi a mais antiga tradição religiosa monoteísta, sendo fornecedora de
vários elementos para o cristianismo e para o islamismo. Desta forma, veremos
como se deu o processo de formação do judaísmo, seus líderes, a doutrina, a
formação do cânon e as divisões que o judaísmo sofreu ao longo de sua história.
Nesta unidade também buscaremos situar a formação histórica do cristia-
nismo, e como uma simples seita judaica, como era visto na época, se transfor-
mou na maior religião do mundo. Veremos como a longa história do cristianismo
foi marcada por perseguições em seu início e como posteriormente se afirmou
como religião de Estado, como formou seu corpo doutrinário, a importância
dos concílios neste processo e como se fragmentou em várias denominações
a partir dos cismas, especialmente a partir da Reforma Protestante.
Por último, veremos como se formou a religião monoteísta mais jovem, o
islamismo. Buscaremos compreender o papel do profeta Maomé na formação da
doutrina islâmica, como ocorreu a expansão do islã pelo mundo, o surgimento
e fragmentação de diversas facções após a morte do profeta Maomé. Também
buscaremos compreender como é o cotidiano da vida religiosa muçulmana,
os pilares de sua fé e os princípios de observância.
Seção 1 Judaísmo
Nesta seção estudaremos a história do judaísmo, hoje uma religião
minoritária no mundo, mas de grande importância e influência na própria
formação do cristianismo e islamismo. O judaísmo, também chamado de
uma das “religiões do livro”, é a mais antiga tradição religiosa monoteísta.
Nesta seção veremos como seu o processo de formação do judaísmo, seus
líderes, a doutrina, a formação do cânon e as divisões que o judaísmo sofreu
ao longo de sua história.
invejado por seus irmãos, foi vendido como escravo para o Egito sem o co-
nhecimento do seu pai. No Egito teria se tornado um importante governador.
Grandes dificuldades econômicas fizeram com que os filhos de Jacó fossem ao
Egito para comprar alimentos e estes reconheceram José. Houve uma reconci-
liação de José com seus irmãos e seu pai, que passaram a residir no Egito. Com
o passar dos anos a situação política do Egito mudou e os descendentes de
José, na época conhecidos como hebreus, passam a ser tratados como escravos
(BÍBLIA SAGRADA, 2002, p. 69).
O relato bíblico mencionado, ainda que não possa ser realmente compro-
vado, é plausível. José é um personagem histórico passível de existência. Há
muitos paralelos entre os costumes relatados no livro de Gênesis e os docu-
mentos egípcios. E é possível aferir que não seria impossível um não egípcio
chegar ao posto de governador (grão-vizir) no período dominado pelos hicsos,
povo vindo da Ásia. O mesmo se pode dizer da escravidão dos hebreus no
Egito. Fontes egípcias comprovam a utilização de escravos (hapirus/hebreus)
em construções no delta do Nilo por Ramsés II. Ainda em relação à presença
de hebreus no Egito e sua saída, há o testemunho da “Estela de Merneptah”,
registro escrito do faraó que sucedeu Ramsés II, que atesta a presença israelita
na Palestina no século XIII a.C., o que nos possibilita pensarmos o êxodo ocor-
rendo próximo ao ano de 1250 a.C.
prometida. Os hebreus passam por várias situações belicosas com os povos que
já habitavam a região da Palestina, com destaque para os filisteus. Vejamos o
que dizem Eliade e Couliano sobre este período.
O povo judeu surge na história depois do ano 2000
a.C.[...] Segundo a Bíblia, os ancestrais de Israel che-
garam ao Egito como homens livres, mas depois foram
escravizados. Milhares saíram de lá em cerca de 1260
a.C., acompanhando o profeta Moisés, cujo nome é de
origem egípcia. Instalaram-se em Canaã e lá formaram
doze tribos (ELIADE; COULIANO, 1999, p. 215).
Embora a Bíblia relate que a terra foi tomada por meio de vários conflitos
bélicos, não há concordância entre os historiadores neste ponto. Todavia, há
concordância em relação ao surgimento de uma monarquia entre as tribos.
Uma primeira forma de governo teria sido a dos juízes, anciões sábios que
mediavam os conflitos e julgavam as causas do povo. Mas por volta de 1050,
teria sido nomeado o primeiro rei de Israel, Saul, para unir o povo no combate
aos filisteus. Após a morte de Saul, Davi foi designado rei.
O reinado de Davi foi um dos mais importantes para a história dos judeus,
ele se tornou um símbolo do judaísmo. Davi conquistou muitas vitórias sobre
os povos adversários e transformou Jerusalém em centro religioso, dando um
lugar definitivo para a Arca da Aliança, símbolo máximo da presença divina
no culto judaico.
A sucessão do trono de Davi, após sua morte, foi realizada com Salomão
(c. 961-922 a.C.). O reinado de Salomão, segundo a tradição bíblica, foi
um dos mais esplendorosos da História. No seu governo foi construído
finalmente um suntuoso templo para a Arca da Aliança. Depois da morte
de Salomão, o Estado dividiu-se em reino do Norte (Israel) e reino do Sul
(Judeia). Em 722 a.C., Israel foi invadido e conquistado pelo Império Assírio.
Em 587 a.C., seria a vez do reino do sul, isto é, Judeia, o imperador babilônico
Nabucodonosor invadiu com seu exército Jerusalém, destruiu a cidade, seu
templo, saqueou suas riquezas e levou o povo cativo. O povo judeu levado
cativo para a Babilônia permaneceu por cerca de 70 anos no exílio. O fim do
exílio ocorreu quando Ciro, rei da Pérsia conquistou o Império Babilônico em
539 a.C. e gradativamente permitiu o retorno dos judeus, a reconstrução dos
muros de Jerusalém e a construção do segundo templo.
No ano de 140 a.C., Simão, o último macabeu, foi aclamado Sumo Sacer-
dote e governador, já sob o domínio do Império Romano. Neste período já havia
vários grupos políticos contrários à dominação romana, entre eles, os zelotas ou
sicários. No ano 66 da era cristã iniciou-se uma revolta popular liderada pelos
zelotas contra os romanos. A Judeia foi tomada pelos exércitos de Vespasiano e
seu filho Tito, futuros imperadores romanos. Jerusalém foi saqueada e teve seu
Festa das Semanas, também conhecida como Pentecostes (Shavuot). Além dela,
ainda existem a Hanukká (Dedicatória) ou Festa da Inauguração, que relembra a
consagração do templo em 165 a.C., após as guerras dos Macabeus; há também
a Yom Ha’Atzmaut (Festa do Dia da Independência) e a Simchat Torá (“alegrar-
-se com a Torá”), que marca a conclusão do ciclo anual de leituras da Torá.
Atividades de aprendizagem
o longo de sua história, o judaísmo desenvolveu uma série de cele-
A
brações. As chamadas festas judaicas são expressões da cultura e da
religiosidade do povo. Elabore um pequeno texto sobre a festa “Pessach”
(Páscoa).
Atividades de aprendizagem
pós os diversos conflitos que ocorreram durante governo romano de
A
ocupação na Palestina, inicia-se a chamada diáspora judaica. Os judeus
se espalham por diversas partes do mundo e criam expressões muito
peculiares do judaísmo, sendo o judaísmo sefardita e o asquenazita os
exemplos mais interessantes. Escreva um breve texto descrevendo seu
contexto de surgimento e suas características.
Seção 2 Cristianismo
O cristianismo é atualmente a maior religião em número de seguidores no
mundo. Todavia, nem sempre foi assim, o cristianismo começou como uma prá-
tica religiosa marginal e até perseguida no Império Romano, quer por judeus ou
mesmo por romanos. O passar dos séculos fez do cristianismo uma das religiões
mais poderosas do mundo, mas também fez com que, aos poucos, surgissem
as dissidências, os cismas e as rupturas, dando origem a outras denominações
cristãs. Nas páginas seguintes veremos como essa história se constituiu.
Iniciemos pela história de Jesus Cristo. Nas fontes históricas de seu tempo,
quase nenhuma informação é dada sobre Jesus, a tal ponto que nos meios
acadêmicos, durante algum tempo, chegou-se a duvidar de sua real existência,
considerando-o um mito. Atualmente, essa ideia foi rejeitada e os textos de
Flávio Josefo, Suetônio, Tácito e Plínio, o Jovem, contribuíram, ainda que de
forma esparsa, para atestar a existência de Cristo.
As maiores informações que temos a respeito da vida de Jesus e de sua breve
atuação são descritas nos Evangelhos. Sabemos que ele foi um profeta judeu de
Nazaré, na região da Galileia, Palestina. Ele teria nascido no início da era que
levou seu nome e crucificado na primavera do ano 33. O Jesus dos Evangelhos
é filho de Maria, esposa de um carpinteiro chamado José.
Jesus nasceu em Nazaré. O ano de nascimento não pode
mais ser determinado com exatidão. [os evangelhos de]
Mateus e Lucas concordam sobre o fato de que Jesus
nasceu quando Herodes, o Grande, ainda vivia. Esse
rei faleceu em 41. As demais informações contidas nas
narrativas de infância (censo em Lc, estrela em Mt) nada
acrescentam para a cronologia. Lucas confunde vários
eventos históricos entre si. A estrela pode remontar, é
verdade, a fenômenos celestes reais, mas na narrativa de
Mt é símbolo para a condução divina, i. e., sua órbita
não é passível de ser explorada astronomicamente (BULL,
2009, p. 187).
As próximas referências são aos seus trinta anos de idade. Nessa época, Jesus foi
ser batizado por João Batista e começou seu ministério de pregação e milagres.
Os pais de Jesus eram Maria e José. Permanece incerto
se José realmente era descendente de Davi. Jesus tinha
ainda quatro irmãos e (pelo menos) duas irmãs (cf. Mc 6.3;
lCo9.5; Jo 2.12; 7.1-9). José era “carpinteiro”. Esse ofício
foi também aprendido por Jesus (Mc 6.3). Sendo que a de-
signação da profissão deve ser — como costumeiramente
na antiguidade — tomada em sentido abrangente. Hoje
falar-se-ia preferencialmente de um “construtor artesão”.
Segundo Lc 3.23, Jesus tinha cerca de 30 anos quando
deu início à sua atividade pública. Essa informação sobre
a idade geralmente é considerada confiável, pois combina
com o provável ano da morte e com a suposição de que
Jesus tenha exercido atividade pública por mais ou me-
nos só um ano. É provável que Jesus tenha se associado
inicialmente a João Batista. Apontam para isso o seu
batismo e a notícia transmitida em João de que entre os
discípulos de Jesus encontravam-se antigos discípulos de
João (Jo 1.37). É possível que inicialmente também Jesus
tenha praticado o batismo de arrependimento (cf. Jo 3.22,
26) (BULL, 2009, p. 188).
Segundo o relato bíblico, o ministério de Jesus foi breve. Nesses anos, Jesus
fez muitos milagres, manteve relações com pessoas marginalizadas, pessoas
consideradas impuras, como os leprosos, não aceitas pelo judaísmo, os sama-
ritanos e até com os zelotes, um grupo político judeu que insurgia-se contra a
ocupação romana da Palestina. A atividade de Jesus concentrou-se na região da
Galileia. É pouco provável que Jesus atuasse em território não judaico. Por suas
parábolas, que empregavam ilustrações rurais e do mundo dos pequenos agricul-
tores e pescadores, podemos inferir que ele não atuou em cidades helenísticas.
Nos evangelhos, reiteradamente é relatado que Jesus pre-
gou e curou em sinagogas. Essa imagem de sua atuação
provavelmente não é histórica, pois não está comprovada,
nem arqueológica nem epigraficamente, a existência de
sinagogas no tempo de Jesus na Galileia. Os evangelistas
retroprojetaram aqui as condições do seu tempo para o
tempo de Jesus. Jesus deve ter atuado, sobretudo, em
casas privadas e ao ar livre (BULL, 2009, p. 188).
Ao que tudo indica, Jesus era solteiro e renunciou a bens materiais. Na re-
gião onde atuava, conseguiu reunir um grupo de adeptos que compartilhavam
esse ideal de vida itinerante. Existe uma controvérsia se esse círculo de adeptos
de fato era de doze discípulos ou se o seguimento destes doze foi uma leitura
posterior, feita pelos evangelistas a fim de simbolizar que a mensagem cristã
era para todo Israel, simbolizado no conjunto das 12 tribos.
Esse aspecto itinerante e carismático do movimento de Jesus tem sido
enfatizado nos estudos sociológicos. Gerd Theissen é um dos estudiosos que
tem buscado caracterizar esses movimentos religiosos descritos na Bíblia à
partir de categorias sociológicas. Vejamos como ele descreve o movimento
de Jesus.
Jesus não fundou primordialmente comunidades locais, e
sim suscitou um movimento de carismáticos andarilhos.
As figuras marcantes dos primórdios do cristianismo foram
apóstolos, profetas e discípulos itinerantes, que andavam
de uma localidade a outra, podendo contar ali com o
apoio de pequenos grupos de simpatizantes. Tais grupos
de simpatizantes permaneciam no quadro organizativo
do judaísmo. Encarnavam menos claramente o novo do
cristianismo primitivo, pois estavam vinculados às velhas
estruturas por múltiplos laços e obrigações. Portadores do
que mais tarde veio a ser o cristianismo autônomo eram,
porém, carismáticos itinerantes apátridas (THEISSEN,
1989, p. 16).
Uma das questões mais importantes do cristianismo é saber quem foi Jesus.
À primeira vista, essa pergunta parece banal. Os discípulos acreditavam que
ele era o Messias, ou seja, alguém ungido ou consagrado, em grego christos.
Mas tem sido difícil determinar como Jesus lidava com a própria imagem. Em
muitas passagens, ele utiliza o título de “Filho do Homem” como referência
ao cumprimento de profecias do Antigo Testamento. Todavia, não há dúvidas
que ele agia como “Filho de Deus”, que veio para conduzir os pecadores ao
arrependimento e ao reino de Deus. Nos evangelhos, nas passagens que tra-
tam da crucificação, temos a imagem de Jesus como “Jesus de Nazaré Rei dos
Judeus”, inscrição colocada sobre sua cruz. O significado dessa inscrição é
complexo: pode apontar para um escárnio dos romanos em relação à crença
de Jesus ser um messias e, ao mesmo tempo, um líder político do povo judeu,
embora grande parte da sociedade judaica, especialmente os líderes religiosos,
não compactuasse com essa ideia. Para os discípulos, Jesus é o filho de Deus e
nem a morte conseguiu detê-lo; ele ressuscitou depois de três dias. Para grande
parte da população judaica, Jesus era apenas mais um profeta de uma nova seita
judaica. Será o apóstolo Paulo que colocará a ressurreição de Jesus no centro
de seus escritos e fará com que o cristianismo deixe de ser apenas mais uma
seita judaica para se tornar uma nova religião. Como veremos adiante, Paulo
foi fundamental nos primeiros anos da igreja cristã.
Atividades de aprendizagem
urante certo tempo o cristianismo foi confundido como apenas mais
D
uma seita judaica. Entre os próprios seguidores de Jesus não havia clareza
da relação com o judaísmo. Escreva um pequeno texto sobre as disputas
ocorridas no interior da igreja sobre a herança judaica e como o cristia-
nismo se emancipou do judaísmo.
Atividades de aprendizagem
m dos problemas mais pontuais da história do cristianismo é lidar com
U
o chamado Jesus histórico. Durante certo tempo, Jesus chegou a ser
considerado um mito. Descreva quais os problemas que os historiadores
enfrentam para debater a questão da historicidade de Jesus.
a ordem dos beneditinos. Estes espaços dos mosteiros, dedicados à vida ascética,
também eram os poucos lugares onde se cultivava a vida intelectual.
A partir do século VI, grande parte dos territórios cristãos são conquistados
pelos muçulmanos. Somente no século XI a Península Ibérica será paulatina-
mente reconquistada. A retomada de Toledo pelos cristãos provoca grande
euforia nos meios intelectuais católicos. A cultura árabe fascinava a todos os
monges que ali chegavam. É realizado um
[...] lento e monumental trabalho de transpor a cultura
árabe e, através dela, a Antiguidade greco-romana para
o latim. [...] a tradução para o latim de mais de setenta
obras de medicina, ciência e filosofia em árabe. Por meio
da atividade dos tradutores, a Europa cristã descobre e
adota a filosofia de que se tornará o fundamento da nova
filosofia escolástica, propagada principalmente por Al-
berto Magno (1193-1280) e Tomás de Aquino (1225-1274)
(ELIADE; COULIANO, 1999, p. 110).
Seção 3 Islamismo
Nesta última seção da unidade, veremos um pouco da história do islã, uma
das “religiões do livro” mais jovem. Nosso objetivo é compreender como se
formou esta religião monoteísta, e a partir de qual contexto histórico. Dessa
forma, buscaremos compreender o papel do profeta Maomé na formação da
doutrina islâmica, como ocorreu a expansão do islã pelo mundo, o surgimento
e fragmentação de diversas facções após a morte do profeta Maomé. Também
buscaremos compreender como é o cotidiano da vida religiosa muçulmana,
os pilares de sua fé e os princípios de observância.
A palavra islã deriva de “aslama”, que significa “submeter-se” ou “sub-
missão (a Deus)”, já a palavra muslim (muçulmano), significa “aquele que
se submete a Deus”. Entre as religiões monoteístas, o islã é uma das mais
importantes e a segunda em número de fiéis. Atualmente, está presente em
todos os continentes. Todavia, predomina no Oriente Médio, nas regiões da
Turquia e arredores, no norte da Índia, região da Caxemira, onde se localiza
o Paquistão, e ainda no sul da Ásia, Indonésia, e nas regiões norte e leste da
África, com relevância para países como Egito, Argélia, Tunísia, Marrocos,
e outros. O islamismo também possui um grande número de adeptos nos
Estados Unidos e na Europa. No Oriente Médio ele é minoritário somente
em Israel. Embora existam muçulmanos não árabes, o islamismo tem uma
relação muito estreita com a cultura árabe, seu lugar de origem. Acredita-se
que exista mais de um bilhão de muçulmanos no mundo e que o islamismo
seja a religião que mais cresce atualmente.
A região da Arábia será o local de nascimento do islã, no século VII. Antes
do surgimento do islã, o território era marcado pelo politeísmo, influenciado
principalmente pelo judaísmo, cristianismo, pelas religiões greco-romanas, e a
religião astral que cultuava Vênus, o Sol e a Lua. Nesse contexto, acreditava-se
na existência de espíritos onipresentes, que poderiam ser malignos ou benignos,
chamados “djins”. Alá (Deus) era cultuado junto às grandes deusas árabes. Meca
era uma reconhecida cidade comercial e um grande centro religioso. Nesse
período, as celebrações, peregrinações e jejuns eram as principais práticas
religiosas. “No século VI d.C., Meca (Makka), com seu santuário da Caaba em
torno do famoso meteorito negro, já era o centro religioso da Arábia Central e
uma importante cidade comercial” (ELIADE; COULIANO, 1999, p. 192).
Maomé foi o líder religioso que alterou tal estado de coisas; seu aparecimento
e sua atividade diminuem o politeísmo e fazem surgir a religião monoteísta que
mais cresce no mundo. Vejamos um pouco de vida a partir deste momento.
Maomé é oriundo de uma família de comerciantes de Meca (família dos Hashi-
mitas, tribo dos Curaixitas), tendo nascido próximo ao ano 570. Empobrecido
depois da morte dos pais e avós, Maomé também se tornou comerciante. Quando
tinha 25 anos, casou-se com sua empregadora, na época uma mulher viúva e
rica, com idade de quarenta anos, chamada Cadija. Foi por volta do ano de 610
que Maomé começou a ter visões e revelações, quando realizava suas orações
em cavernas próximas à cidade de Meca. A atividade comercial de Maomé o
colocou em contato com as várias caravanas que cruzavam o deserto da Ará-
bia e traziam consigo crenças religiosas monoteístas. Certamente Maomé teve
influência desses povos monoteístas e, cada vez mais satisfeito com a situação
religiosa de Meca, passou a pregar o monoteísmo. Segundo a tradição, Maomé
teria recebido as revelações contidas no Alcorão do anjo Gabriel. No início,
houve sangrentos conflitos entre Meca de Medina, cidade para onde foi Maomé.
Segundo a tradição, o arcanjo Gabriel apareceu-lhe e
mostrou-lhe um livro, convidando-o a ler (Iqra’!,“Lê!”).
Maomé desculpou-se várias vezes por não saber ler, mas
o anjo insistiu e o profeta ou apóstolo (rasul) de Deus
conseguiu ler sem dificuldade. Deus revelou-lhe, como
aos profetas de Israel, a incomparável grandeza divina
e a pequenez dos mortais em geral e dos habitantes de
Meca em particular. Durante certo tempo, Maomé só
falou sobre suas revelações e sobre sua missão profética
às pessoas de sua intimidade, mas o círculo de fiéis foi
ficando cada vez maior e a frequência às reuniões cada
vez mais constante. Ao fim de três anos, Maomé come-
çou a pregar publicamente sua mensagem monoteísta,
encontrando mais oposição que aprovação, de tal sorte
que os membros de seu clã tiveram de dar-lhe proteção
(ELIADE; COULIANO, 1999, p. 192).
Nos anos que se seguiram, Maomé teve várias revelações, que mais tarde iriam
constituir o Alcorão. Nesses primeiros anos de formação da doutrina islâmica,
Maomé conquistou muitos adeptos, mas também muitos adversários. Maomé
foi acusado de charlatanismo e de ser disseminador de mentiras; sua vida corria
perigo e ele teve que fugir de Meca para Medina, onde encontrou abrigo junto
aos líderes do clã desta cidade, onde inclusive havia grande número de judeus.
Para Medina, começaram a afluir seus adeptos no ano de 622. Esse acon-
tecimento ficou conhecido como
[...] Hijra, “Emigração” (Hégira), marca o início da era
islâmica. Mas a transposição para os anos da era cristã
não é feita simplesmente pela adição de 622 ao ano da
Hégira, pois o calendário religioso islâmico é lunar e só
tem trezentos e cinquenta e quatro dias. Nos dez anos que
passou exilado em Medina, Maomé continuou a receber
revelações. Ao lado de suas palavras e ações (Hadíth), que
também fazem parte da tradição), essas revelações, fixadas
por escrito, constituem o conjunto do código da vida muçul-
mana. Durante esse período, o governo da vida religiosa de
seus partidários continuou ocupando Maomé, que também
empreendeu numerosas expedições punitivas contra seus
inimigos de Medina e em especial de Meca, cujas caravanas
ele tomava de assalto. Essas ações levaram a uma guerra
entre as duas cidades, durante a qual foram entabuladas
conversações com vistas à conversão dos habitantes de
Meca. Finalmente, Maomé e seu exército ocuparam Meca,
que se tornou o centro de orientação para a prece (qiblah)
e lugar de peregrinação (hadj) de todos os muçulmanos.
Depois de transformar o islamismo numa força temível,
Maomé morreu em Medina, em 632, sem deixar herdeiro
masculino (ELIADE; COULIANO, 1999, p. 192).
Atividades de aprendizagem
O islã é a segunda maior religião monoteísta do mundo e a religião que
mais cresce atualmente, com adeptos em todos os continentes. Mas o iní-
cio da religião muçulmana foi bastante complexo, com muitas resistências.
Elabore um pequeno texto falando do contexto histórico em que surgiu o
islamismo e do papel do profeta Maomé neste processo.
Data dessa época o início das disputas entre sunitas e xiitas, sendo os su-
nitas os grupo majoritário e os xiitas o minoritário. Após a morte de Maomé,
em 632, Ali, genro do profeta, casado com sua filha Fátima, reivindicava a
posição de califa. A maioria da comunidade muçulmana não achou prudente
Ali ser o sucessor, pois era muito jovem e inexperiente para a importância da
função. Os partidários de Ali, os xiitas (“partidários”, de shiat ‘Ali, “partido de
Ali”), que entendiam que somente Ali era o legítimo sucessor de Maomé. Os
xiitas não reconheciam os três primeiros califas que governaram após a morte
de Maomé, pois entendiam ser ilegítimos. Para os xiitas “o califa não deve ser
apenas curaixita, mas também hashimita e fatímida, ou seja, não apenas da
tribo do profeta, mas também de sua família e filho legítimo do casamento de
Fátima com Talib” (ELIADE; COULIANO, 1999, p. 196).
No ano de 656, Otmã é morto por um grupo de xiitas. Ali não renega o
assassinato e é eleito califa. Mesmo com a forte resistência do clã dos omíadas,
mesquitas não possuem altares, pois as celebrações não têm caráter sacrificial,
como nas igrejas cristãs; também não há lugares onde são depositados os livros
sagrados, como nas sinagogas judaicas. A mesquita deve ser simples e possuir
apenas o mihrabe o púlpito ou tribuna, de onde se pronuncia o sermão. Todavia,
as mesquitas são lugares sagrados e não raro podem ser utilizadas para abrigar
um túmulo de um mestre ou mesmo relíquias do profeta Maomé.
As orações podem ser feitas em qualquer lugar, desde que o fiel esteja
orientado para a cidade de Meca. Por esse motivo, os muçulmanos possuem
seus tapetes de oração, quase sempre existe uma bússola no tapete que serve
de orientação para que o fiel descubra a direção de Meca. O local de oração
deve estar limpo, por isso os muçulmanos tiram os sapatos antes do ritual.
O papel de Maomé foi fundamental também para as estruturas sociais em
que o islamismo foi implantado. A tradição islâmica preza pela justiça social,
a usura é proibida e as relações familiares passam a ser regulamentadas pelo
Alcorão, as relações entre os pais e os filhos, entre os cônjuges. A condição das
mulheres melhora sob o islamismo, elas passam a ter direito sobre a metade
da herança recebida pelos homens. Por outro lado, há que se reconhecer a
permanência do patriarcado no islã. No Alcorão é fixado em quatro o número
de mulheres permitidas, mas a recomendação é de apenas uma.
Outro mês que tem grande relevância para os muçulmanos é Dhu AL Hijjaah
o
(12 ), pois neste mês ocorrem tradicionalmente as peregrinações até Meca.
Nesta celebração os fiéis buscam chegar até a Caaba (pedra negra no centro de
Meca) e andar em torno dela. Além disso, buscam visitar os túmulos de Agar
e Ismael e o poço de Zamzam, neste ritual percorrem a distância entre dois
túmulos em memória de Agar em busca de água. Segundo a tradição, Ismael,
filho de Abraão, teria se tornado o pai de todos os árabes quando Abraão e
Sara (sua esposa) resolvem abandonar Agar (escrava e concubina de Abraão) no
deserto. Segundo a tradição, através de um milagre Ismael foi salvo e ganhou
a promessa de ser pai de um grande povo.
O islamismo xiita tem suas próprias festas, sendo a mais importante a Ashura
(10 do mês Muharram), comemoração que lembra o martírio de Hussein.
Hussein era neto de Maomé e foi morto pelas mãos de Yiazid, juntamente
com inúmeras crianças e mulheres que foram massacradas. Yiazid era filho de
Muawya, que já havia combatido Ali, genro de Maomé e pai de Hussein. Nos
dias de luto em memória de Hussein são entoadas canções e representações
dramáticas do conflito. Muitas vezes tais celebrações acabam em conflitos
sanguinários e em procissões de flagelantes, embora o autoflagelo seja proibido
no Alcorão. Os xiitas ainda costumam comemorar os aniversários dos Imãs,
o aniversário de Ali (genro de Maomé) e o aniversário de Maomé, no mês de
Rajab (7o mês). O aniversário de Maomé é celebrado por todos os muçulmanos.
Atividades de aprendizagem
Na atualidade, não é raro ouvirmos nos noticiários manchetes sobre
conflitos entre xiitas e sunitas. Deduzimos que são grupos antagônicos.
A partir de seus estudos nesta unidade sobre o islamismo, disserte sobre
o surgimento das diferenças entre xiitas e sunitas.
Fique ligado!
Nesta unidade estudamos sobre:
A formação histórica do judaísmo, iniciando pela trajetória histó-
rica do povo judeu.
O papel da religião na vida do povo judeu, nas festas, no cotidiano
familiar.
Conhecemos as principais doutrinas e divisões do judaísmo depois
da diáspora.
Analisamos o contexto de surgimento do cristianismo e sua eman-
cipação do judaísmo.
Debatemos como se deu a formação da ortodoxia cristã através
dos concílios.
Analisamos o surgimento da Inquisição e os principais cismas da
cristandade, com destaque para a Reforma Protestante.
Conhecemos também o contexto histórico de surgimento do isla-
mismo marcado pelo politeísmo.
Compreendemos a ascensão do profeta Maomé e seu papel na
formulação da doutrina islâmica, através do Alcorão.
Compreendemos o cotidiano islâmico, sua rotina de oração, os
pilares de sua fé e os princípios da observância.
Referências
AZRIA, Régine. O judaísmo. São Paulo: Edusc, 2000.
ALCORÃO. Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/zip/alcorao.pdf>. Acesso em: 30
mar. 2014.
BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Edição Pastoral, 2002.
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003.
BULL, Klaus-Michael. Panorama do Novo Testamento: história, contexto, teologia. São
Leopoldo: Sinodal, 2009.
ELIADE, Mircea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CROSSAN, J. D. O Jesus histórico: a vida de um camponês judeu do Mediterrâneo. Rio de
Janeiro: Imago, 1994.
DREHER, M. N. A Igreja no Império Romano. São Leopoldo: Sinodal, 1993.
DREHER, M. N. A crise e a renovação da Igreja no período da Reforma. São Leopoldo:
Sinodal, 1994.
DREHER, M. N. A Igreja no mundo medieval. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1996.
HADDAD, Jamil Almansur. O que é islamismo. São Paulo: Brasiliense, 2000.
JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Obra Completa. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
THIESSEN, Gerd. Sociologia do movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1989.
THEISSEN, G.; MERZ, A. O Jesus histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2002.
VERMES, G. Jesus, o judeu: uma leitura dos evangelhos, feita por um historiador. São Paulo:
Loyola, 1990.
Seção 1: Hinduísmo
Nesta seção, estudaremos os principais aspectos do
hinduísmo. Você já ouviu falar nessa religião? Está
lembrado de algum livro, filme ou novela que abor-
dou alguns aspectos dessa tradição? Saiba que ela
é uma das práticas religiosas mais antigas da huma-
nidade e que ainda é muito praticada na Índia. No
mundo ocidental ela não se faz tão presente, mas
no Oriente se apresenta como a principal base da
estrutura civilizacional. Vamos conhecê-la?
Seção 3: Taoismo
Nesta seção, veremos de que maneira nasceu o
taoísmo. Você verá que essa religião apresenta
características muito diferentes das práticas semí-
ticas — judaísmo, cristianismo e islamismo. Mesmo
assim, é possível encontrarmos pontos de contato
entre essas diferenças, principalmente nos aspectos
da vida espiritual.
Seção 4: Xintoísmo
Nesta última seção da nossa unidade, veremos al-
guns aspectos sobre o xintoísmo. Você verá que,
assim como o taoísmo, o xintoísmo é também muito
diferente das tradições semíticas. Trata-se de uma
religião que possui uma ligação muito forte com a
natureza e nos fornece ensinamentos muito ricos
sobre o homem. Vamos estudá-la?
Introdução ao estudo
Olá, caro(a) aluno(a). Nesta unidade estudaremos os principais aspectos de
algumas religiões orientais: hinduísmo, budismo, taoísmo e xintoísmo. Veremos
quais são os pontos centrais dessas religiões e de que maneira elas respondem
a determinadas perguntas fundamentais. Cada religião apresenta suas especi-
ficidades e não conseguiremos esgotá-las, mas daremos um panorama geral
para que você entenda como elas interpretam o homem, o mundo e o plano
metafísico. Vamos iniciar um caminho, e você poderá completá-lo no decorrer
de sua formação.
Antes de começarmos a exposição dos conteúdos selecionados, acreditamos
que é necessário esclarecer alguns pontos. Com isso, pretendemos facilitar
nosso acesso ao conteúdo das demais seções. A principal dificuldade que
encontramos para estudarmos as tradições orientais é conseguir compreen-
der a mentalidade do homem oriental. De que maneira as tradições orientais
entendem seus objetos? Em suas análises predominam aspectos qualitativos
ou quantitativos? É possível traduzirmos com precisão os termos empregados
pelas línguas orientais? Sem esses entendimentos, torna-se impossível o estudo
do Oriente.
Não são poucos os exemplos de estudiosos acadêmicos que se aventura-
ram nessas veredas e produziram perspectivas contraditórias. Vemos que seus
estudos falam muito mais sobre o Ocidente do que sobre o Oriente, visto que
expressam somente análises imprecisas dos ocidentais acerca dos orientais.
Logo, entendemos que esses estudos não podem nos servir de base. René
Guénon apontou um posicionamento fundamental que devemos ter para en-
tendermos outras religiões:
Este é o único modo de estudar as doutrinas que pode ser
aproveitável; para compreendê-las, é preciso, por assim
dizer, estudá-las “de dentro”, enquanto os orientalistas
sempre se limitaram a considerá-las “de fora” (GUÉNON,
2009, p. 40).
Portanto, o estudioso precisa estar atento e saber que para se compreender uma
religião é necessário observá-la pelas premissas fornecidas por ela. Não podemos
utilizar um método que seja totalmente contrário aos fundamentos da tradição
estudada. O que fazer diante desse quadro? Não é possível desenvolvermos nosso
estudo? Acalme-se, apesar das dificuldades nem tudo está perdido! No século XX,
Seção 1 Hinduísmo
Nesta primeira seção, nós estudaremos os conceitos básicos da tradição
hindu. A tradição hindu se apresenta como originária de povos vindos do
noroeste da Índia há cerca de 2.500 anos a.C. As escrituras sagradas hindus
são os Vedas. Eles foram ouvidos por sete sábios diferentes. Estão divididos em
dois modos:
Desse modo, entendemos que o hindu é aquele que está inserido numa
determinada tradição e que respeita e responde aos seus preceitos de maneira
obediente e adequada. Não se trata, portanto, de uma mera hereditariedade,
de uma adesão gratuita ou de um comportamento social. Para ser hindu é ne-
cessário participar de modo efetivo de uma tradição.
René Guénon faz uma separação entre o que é tradição metafísica e o que
é religião. Os ensinamentos apreendidos pela tradição hindu não se limitam a
uma prática religiosa ou às determinações sociais, visto que tratam de ensina-
mentos que transcendem a ordem imanente. Essa antropovisão é a base para
quase todos os aspectos presentes na civilização hindu. Podemos afirmar que o
hinduísmo possui um núcleo. Essa centralidade oferece uma resposta para uma
pergunta fundamental: “Quem sou eu”? O grande pesquisador das tradições
orientais, Heinrich Zimmer, nos apresentou uma análise muito precisa no tre-
cho selecionado: “A principal finalidade do pensamento indiano é desvendar
e integrar na consciência o que as forças da vida recusaram e ocultaram, não
é explorar e descrever o mundo visível” (ZIMMER, 2003, p. 20).
Entendemos, desse modo, que o ponto central do hinduísmo está na tentativa
de estabelecer uma ligação (re-ligação) direta da consciência individual que foi
perdida com o absoluto — que é o próprio fundamento dessa individualidade.
O mundo sensível não é tido como importante, mas a consciência individual
Mas, afinal, quem sou eu? Como o hinduísmo pode responder esse ques-
tionamento? A resposta hindu para essa pergunta é simples, rápida e precisa,
mas ao mesmo tempo muito complexa: “Você é o absoluto”! Contudo, nós não
conhecemos a nossa própria natureza. A realidade de nosso ser está encoberta.
É preciso retirar esse véu para o “despertar” pleno de nossa consciência. Para
se tornar um ser humano em determinado momento você teve que esquecer
que era o próprio absoluto. É preciso retomar essa consciência para se religar
ao absoluto. O hinduísmo afirma que em algum momento você se percebeu
como ser e não poderá esquecer essa percepção. O hinduísmo apresenta uma
preocupação em retomar a consciência dessa individualidade perdida, como
nos mostra Zimmer:
A filosofia indiana, por milhares de anos, tem-se esfor-
çado em conhecer este Eu adamantino e efetivar seu
conhecimento na vida humana. E esta permanente inquie-
tação é responsável pela suprema e contínua renovação
da imperturbabilidade que penetra as terríveis histórias
do mundo oriental [...] (ZIMMER, 2003, p. 20-21).
O primeiro ponto que chama nossa atenção na citação é a ligação entre a tra-
dição e a metafísica. Guénon se preocupou em deixar claro para nós que o centro
da civilização hindu está na relação com a metafísica. Isso pode ser um pouco
complicado de se entender para um ocidental, pois a religião tornou-se um dos
aspectos sociais e não o princípio ordenador de todo corpo social e existencial
do Ocidente. Contudo, no Oriente hindu, os parâmetros metafísicos fornecem as
bases de interpretação da existência cósmica e social dos indivíduos. Sendo assim,
todas as relações sociais na vida de um praticante do hinduísmo são pautadas por
parâmetros dados por sua prática religiosa. E de que modo esses ensinamentos
são transmitidos na tradição hindu? Basicamente possuímos duas grandes fontes:
as escrituras sagradas e a transmissão oral. Vamos conhecê-las um pouco mais?
As palavras contidas nas escrituras sagradas, assim como as demais expres-
sões formais adequadas, são símbolos de transmissão desses conhecimentos
milenares. Os símbolos são elementos presentes em todas as tradições religiosas.
As escrituras sagradas do hinduísmo são os Vedas. Eles são a reunião de quatro
livros que fornecem a base da metafísica hindu:
O nome Veda, cujo sentido próprio acabamos de indi-
car, é aplicado de um modo geral a todos os escritos
fundamentais da tradição hindu; sabe-se aliás, que esses
escritos são divididos em quatro compilações que trazem
os nomes respectivos de Rig-Veda, Yajur-Veda, Sâma-Veda
e Atharva-Veda (GUÉNON, 2009, p. 119).
Mas o Oriente não mantém apreço somente pelas escrituras. Outros ele-
mentos fazem parte e dão um significado especial para suas práticas. Você se
arrisca em dizer quais são elas, caro aluno? Vamos conferir? Além das escrituras,
temos também o uso de símbolos que auxiliam essa prática:
Na Índia, em particular, uma imagem simbólica que re-
presenta um ou outro dos “atributos divinos” chamada
Pratika, não é absolutamente um “ídolo”, já que nunca
foi tomada por outra coisa além do que é realmente, um
suporte de meditação e um meio auxiliar de realização,
cada um podendo aliás, se ligar de preferências aos sím-
Atividades de aprendizagem
1. Sabemos que, das comunidades primitivas às contemporâneas, as
práticas religiosas são fenômenos estruturantes das civilizações
que integram o universo cultural e simbólico das comunidades. De
acordo com o que estudamos e com seus conhecimentos históricos,
responda: é possível relacionar a crença religiosa e a vida cotidiana,
concretizada por meio de símbolos?
Seção 2 Budismo
O budismo é considerado uma religião ou uma filosofia muito peculiar. Essa
prática nasceu com os ensinamentos de Siddhartha Gautama. Para compreendê-la
um pouco melhor, é preciso que saibamos um pouco mais da vida do Buda. Ele
nasceu por volta VI e IV a.C. no continente indiano. Logo ao nascer, seu pai, um
poderoso rei, recebeu a visita de um importante astrólogo que descreveu dois ca-
minhos possíveis para a vida do recém-nascido: ou se tornaria um grande rei como
seu pai, ou se tornaria um homem de vida espiritual exemplar. Para ele se tornar
um rei, era necessário que não conhecesse as dores e o sofrimento do mundo.
Sendo assim, seu pai cuidou de sua criação com muita atenção, não dei-
xando que saísse das muralhas do castelo e recebesse notícias desagradáveis.
Tudo era ordenado de modo que o menino não tomasse contato com os males
do mundo. Cuidou de sua educação até atingir a idade adulta. Os servos do
castelo eram treinados e selecionados para servirem de maneira adequada às
necessidades do príncipe.
Por volta dos trinta anos, Siddhartha resolveu realizar pequenas incursões
para fora do castelo. Seu pai cuidou de preparar as redondezas para que ele
não tomasse contato com os males. Mas, mesmo assim, isso não foi possível.
Algumas passagens marcaram profundamente a vida dele. Nessas breves saídas
encontrou um velho, um doente, um morto e um monge mendicante. A figura de
um velho era uma novidade, visto que, no interior do castelo, ele tomou contato
somente com pessoas belas e jovens. O doente despertou sua percepção para a
fragilidade humana. A morte foi talvez o momento mais chocante. Esses encon-
tros colocaram o jovem príncipe num estado de meditação profundo. Ao pensar
nesses encontros, ele se questionava: de que valeria a vida se existem a velhice,
a doença e a morte? Todos os bens que possuía eram efêmeros, finitos e passa-
geiros? O verdadeiro sentido da vida deveria estar na apreensão de algo eterno.
* “Desde a época em que Buda era vivo se tinham formulado muitas questões de disciplina, e as deci-
sões do Mestre foram os fundamentos da regra (vinaya) da vida do monge-mendicante no que concer-
ne à habitação, às roupas, à alimentação, à conduta, à manutenção, à admissão e à expulsão. Tomada
em seu conjunto, a comunidade contava com relativamente poucos mestres graduados (asekho) e um
bem maior de discípulos noviços (sekko)” (COOMARASWAMY, 1961, p. 26-27).
* “Entretanto o número dos discípulos tinha crescido consideravelmente: eram diversos grupos de monges-
-mendicantes (Bhikhu) ou de Exilados (Prabbajita) que daí por diante em lugar de errarem continu-
amente, residiam geralmente nos conventos oferecidos à Comunidade por ricos zeladores leigos”
(COOMARASWAMY, 1961, p. 26).
que esses ensinamentos são tão complexos como Zimmer nos descreve? Seria
um pouco de exagero?
Para entendermos um pouco mais esse ponto obscuro e central do budismo
vamos analisar um pequeno trecho de um livro de um dos principais mestres
espirituais budistas do século XX. Seu nome é Daisetsu Suzuki, e em seu livro
Viver o zen ele nos contou uma pequena história da tradição budista sobre
a busca da iluminação espiritual. Suzuki é um dos grandes responsáveis por
tentar explicar as tradições budistas para o mundo ocidental. Portanto, para nós,
historiadores, suas obras se apresentam como uma excelente porta de entrada
para a compreensão do budismo. Leia-a a seguir:
Um monje jardinero se acercó al maestro expressando
su deseo de ser iluminado por el zen y el maestro le
respondió: “Vuelve cuando no haya nadie alrededor y
entonces te responderé”. Al día seguiente advirtió que no
había nadie cerca y volvió a implorar leal maestro que
le revellara el secreto. El maestro respondió entonces:
“Acercate más” y, cuando el obediente monje lo hizo, el
maestro le susurró al oído: “El zen es algo que no puede
expresarse con palavras” (SUZUKI, 2009, p. 22)*.
* Nossa tradução: Um monge jardineiro se aproximou do mestre expressando seu desejo de ser ilumi-
nado pelo zen e o mestre lhe respondeu: “Volte quando não houver nada em volta e então lhe res-
ponderei”. No dia seguinte advertiu que não havia nada por perto e voltou a implorar ao mestre para
revelar-lhe o segredo. O mestre respondeu então: “Aproxime-se mais” e, quando o obediente monge
fez isso, o mestre sussurrou ao ouvido: “O zen é algo que não pode expressar-se com palavras”.
produziu muito livros que expressam essa conexão. A leitura atenta de sua
obra se apresenta para nós como uma excelente oportunidade para compreen
dermos o budismo.
Atividades de aprendizagem
1. Leia o texto e as alternativas a seguir e assinale aquela que apresenta
informações corretas sobre a prática do budismo:
Entretanto o número dos discípulos tinha crescido
consideravelmente: eram diversos grupos de mon-
ges-mendicantes (Bhikhu) ou de Exilados (Prabbajita)
que daí por diante em lugar de errarem continua
mente, residiam geralmente nos conventos ofe-
recidos à Comunidade por ricos zeladores leigos
(COOMARASWAMY, 1961, p. 26).
Seção 3 Taoísmo
Esta prática religiosa apresenta como fundamento a vida em harmonia
com o Tao. A palavra “Tao” significa o caminho, a via ou o princípio de tudo
o que existe. Cabe, portanto, ao praticante do taoísmo entrar em contato com
essa força e tomar posse de sua natureza própria. Não conseguimos localizar
historicamente o nascimento do taoísmo, visto que, segundo sua própria tradi-
ção, o taoísmo está fundamentado em conhecimentos imemoriáveis que foram
transmitidos oralmente por muitas tradições.
A citação nos apresenta mais um elemento que chama nossa atenção. Existe
no taoísmo a prática exotérica, que por definição, está vinculada às práticas
populares, públicas, festivas e abertas aos praticantes de maneira geral. Mas
não podemos nos esquecer de que o taoísmo possui também uma camada mais
profunda em suas práticas. O esoterismo é fundamental para a manutenção
de muitos conhecimentos milenares da tradição chinesa. Contudo, o contato
com esses temas torna-se um pouco complicado para o pesquisador que não
possui uma ligação direta com algum mestre espiritual taoista.
Atividades de aprendizagem
1. Leia o texto a seguir e assinale a alternativa correta sobre o taoísmo:
Lao-Tsé é tido como o “pai” do taoísmo, assim como
Hermes é o “pai” do hermetismo. O que se aceita
usualmente como “taoísmo” não vem a ser exata-
mente, ou unicamente, o conteúdo do Tao-Te-King.
Entende-se por este termo um animismo xamânico
e uma magia tradicional, pré-histórico, que não
abandona nunca nenhum povo, constituindo-se no
potencial de crença religiosa básica que se torna
mais evidente em épocas de dissolução da civiliza-
ção. Quando a civilização se recristaliza numa nova
fase, o animismo volta a segundo plano, bem ou mal
compreendido pela nova forma religiosa, o novo
arquétipo espiritual dominante (LIMA, 2009, p. 9).
Seção 4 Xintoísmo
O xintoísmo é uma prática religiosa que nasceu e é praticada majorita-
riamente no Japão. Apresenta como fundamento básico o culto a Kami — ao
espírito, à essência, à natureza e a divindade. Trata-se de espíritos ligados às
forças da natureza como a água, o fogo, o vento, a terra, a montanha e outros
elementos naturais. Os Kami também podem se referir aos espíritos de homens
exemplares da tradição japonesa. O entendimento desses aspectos do xintoísmo
fornece bons estudos para o historiador compreender a dicotomia dessa socie-
dade que tanto cultua a natureza e que ao mesmo tempo nos últimos séculos
experimentou um avanço tecnológico e industrial muito grande.
Os ensinamentos contidos no xintoísmo estão vinculados à sabedoria
de tempos remotos que foram transmitidos oralmente e que, assim como o
taoísmo e o hinduísmo, não conseguimos encontrar uma data de sua fundação.
Por se tratarem de religiões que se apresentam como ligadas às estruturas da
natureza, o fato de não encontrarmos autores, ou portadores dessa doutrina
não promove nenhum demérito. Essa é uma característica que você deve ter
percebido, caro aluno, que encontramos em todas as tradições orientais que
estudamos em nossa unidade. Muitas vezes, o método do historiador tende a
desprezar esses elementos, pois prefere manter sua atenção em documentos
datados, carimbados, com autores definidos de biografia precisa. Contudo,
podemos entender que o estudo dessas religiões de características tão próprias
se apresenta como um desafio instigante para reelaborarmos nossos métodos,
pesquisas e domínios do campo historiográfico.
Durante sua história, a prática do xintoísmo foi um pouco prejudicada no
Japão, principalmente depois do século VI d.C., com a expansão do budismo.
Muitas vezes, é bom salientarmos, encontramos concepções doutrinais muito
parecidas entre esses dois campos religiosos. Durante a relação entre essas duas
religiões tivemos uma alternância entre período de paz e de disputas acirradas.
É comum encontrarmos no Japão a celebração de festas xintoístas quando
uma criança nasce e a celebração fúnebre baseada no budismo exercida pelo
mesmo praticante. O que para nós pode parecer uma contradição, para eles é
um simples aspecto de uma mesma verdade contemplada.
A palavra “Shinto” significa essencialmente “Caminho dos deuses”. Isso
indica que essa é uma religião que se apresenta como uma via de acesso a uma
Atividades de aprendizagem
1. Sabemos que o xintoísmo é uma importante prática religiosa e filosó-
fica da tradição japonesa. Dentre as alternativas a seguir, qual delas
apresenta informações precisas sobre a prática do xintoísmo:
a) O xintoísmo é uma religião muito praticada por ateus no Ocidente,
visto que, para praticá-la não se faz necessário acreditar em nada
metafísico, bastando acreditar nos componentes físicos e químicos
dos seres como afirma a tradição milenar japonesa.
b) O xintoísmo exerceu forte influência sobre as tradições monote-
ístas — judaísmo, cristianismo e islamismo — fornecendo-lhes
um conceito preciso de organização e exploração dos recursos
naturais de maneira eficaz.
c) O xintoísmo é uma religião que nasceu no Japão e apresenta uma
ligação muito forte na observação de elementos da natureza e na
adoração dos Kami.
d) Depois dos ataques de Hiroshima e Nagazaki, a religião xintoísta
perdeu sua eficácia, visto que, muito japoneses ficaram desilu-
didos com sua religião e para não perder essa prática o governo
japonês transformou-a em uma obrigatoriedade estatal.
e) Podemos entender o xintoísmo como uma ramificação do hinduísmo,
pois, as duas religiões seguem os mesmos livros sagrados.
2. Sabemos que as tradições religiosas se apresentam como um propício
campo de pesquisa para o historiador. Sendo assim, podemos afirmar
que o xintoísmo é:
Fique ligado!
Nesta unidade, desenvolvemos importantes conceitos sobre as práticas
das religiões orientais. Primeiro, vimos com René Guénon apontamentos
que indicavam algumas dificuldades conceituais e metodológicas para
iniciarmos com segurança nosso estudo. Vimos como o hinduísmo é uma
prática complexa com escritos tradicionais que nos reportam a conhe-
cimentos imemoriáveis que se mantêm no tempo. Esses conhecimentos
são práticas religiosas que regulamentam as estruturas sociais da Índia. O
budismo foi colocado como uma prática de ascese espiritual iniciada por
Buda que encontrou rapidamente uma série de seguidores. Vimos como o
budismo saiu da Índia e influenciou de maneira direta a tradição religiosa
no Japão. Analisamos, também, os preceitos básicos do taoísmo e a sua
importância para a formação cultural da China. Por fim, vimos como a
prática do xintoísmo procura ligar o homem aos elementos fundamentais
da natureza e assim colocá-lo diante das forças que constituem o universo.
Referências
COOMARASWAMY, Ananda. O pensamento vivo de Buda. São Paulo: Livraria Martins Editora,
1961.
GUÉNON, René. Introdução geral ao estudo das doutrinas hindus. São Paulo: IRGET, 2009.
GUÉNON, René. O homem e seu devir segundo o Vedanta. São Paulo: IRGET, 2013.
LAO-TSÉ. Tao-Te-King: O livro do sentido da vida. São Paulo: Hemus, 2009.
LIMA, Norberto de Paula. Apresentação. In: LAO-TSÉ. Tao-Te-King. São Paulo: Hemus, 2009.
SUZUKI, Daisetsu T. Vivirel Zen. Barcelona: Kairós, 2009.
ZIMMER, Heinrich. Filosofias da Índia. São Paulo: Palas Athena, 2003.
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