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INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS DE SAÚDE –(ISCISA)

CURSO: LICENCIATURA EM SERVIÇO SOCIAL


DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA CULTURAL
IIº ANO, Iº SEMESTRE

Tema: Trabalho Práctico sobre a cultura

Analise critica das obras Nem pai, nem Mae e O sagrado e O profano

Discente: Emilia Muiambo

Docente: Inácio Manjate

Maputo, Novembro 2022


Indice

Introdução ....................................................................................................................................... 3

1 Contextualização...................................................................................................................... 4

2 Fundamentação teórica ............................................................................................................ 4

2.1 Diversidade cultural: ........................................................................................................ 5

2.2 Dinamismo Cultural e os processos de enculturação, aculturação, desculturação e


inculturação ................................................................................................................................. 6

2.3 Enculturação ..................................................................................................................... 6

2.4 A Aculturação: ................................................................................................................. 7

2.5 A Desculturação ............................................................................................................... 7

2.6 Inculturação ...................................................................................................................... 8

3 Analise das obras Nem Pai, Nem Mãe (crítica do parentesco o caso macua) e o Sagrado e
Profano ............................................................................................................................................ 8

Conclusão...................................................................................................................................... 14

Revisão Bibliografica.................................................................................................................... 15
Introdução

A presente abordagem pretende englobar todo o processo cultural tendo como objetivo central
mostrar que as culturas estão sempre em mudança. Mesmo aquelas culturas que parecem
estabilizadas e inertes, também elas estão em permanente movimento. É nossa intenção traçar as
linhas gerais do comportamento das culturas.Toda cultura poderá ser considerada entre dois
extremos: um estado de estabilidade(funcionamento) e outro de mudança (transformação).Daí
nasce um movimento repetitivo que corresponde ao simples funcionamento, por um lado; e por
outro, o funcionamento se transforma, o que vale dizer, que a própria unidade mudou de forma (a
estrutura social, a organização social mudou)

Para falar de diversidade cultural vamos, primeiramente, discutir e entender melhor o conceito de
cultura a partir do ponto de vista da antropologia, disciplina que tem a cultura – ou as culturas –
como objeto de estudo por excelência. O termo cultura também é utilizado no senso comum e em
outros campos do saber, que não o da antropologia, com significados distintos, sendo frequente o
seu uso para fazer referência ao desenvolvimento intelectual do indivíduo em termos de educação
e instrução escolar. Nesse contexto, uma pessoa considerada instruída pela via da escolarização
seria culta e outra que não tenha recebido instrução escolar, seria inculta. Na antropologia,
entretanto, os termos culto e inculto não são utilizados como parâmetros para discutir o conceito
de cultura, e as culturas não são abordadas ou analisadas a partir de juízos de valor, ou em termos
de superioridade e inferioridade, já que nenhuma cultura é considerada superior ou inferior à outra.
Para o desenvolvimento do nosso argumento, neste texto vamos partir de dois princípios básicos
já reconhecidos pela ciência antropológ

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1 Contextualização

A cultura não é uma herança genética, mas o resultado da inserção do ser humano em determinados
contextos sociais. É a adaptação da pessoa aos diferentesambientes pelos quais passa e vive.
Através da cultura o ser humano é capaz de vencerobstáculos, superar situações complicadas e
modificar o seu habitat, embora talmodificação nem sempre seja a mais favorável para a
humanidade, como podemosperceber actualmente. Desse modo a cultura pode ser definida como
algo adquirido,aprendido e também acumulativo, resultante da experiência de várias gerações.
Porém,enquanto aprendiz o ser humano pode sempre criar, inventar, mudar. Ele não éum simples
receptor, mas também um criador de cultura. Por isso a cultura está sempre em processo de
mudança. Em muitos casos pode até ser modificada com muitarapidez e violência, dependendo
dos processos a que for submetida. Desta forma o serhumano não é somente o produto da cultura,
mas, igualmente, produtor de cultura (LARAIA, 2001).

A cultura, pois, é um termo vasto e complexo, englobando vários aspectos da vida dos grupos
humanos. Não existe ainda um consenso entre antropólogos acerca do que seja a cultura. Afirma-
se que existem mais de 160 definições de cultura. (MARCONI; PRESOTTO, 2006). Por via disso,
não se fala apenas de cultura, mas de culturas. Por causa dessa pluralidade das culturas, tornou-se
difícil, segundo Laplantine, dar uma definição que seja absolutamente satisfatória da cultura. O
exemplo disto é quando, Kroeber, um dos mestres da Antropologia americana, conseguiu
apresentar 50 definições diversas de cultura.

2 Fundamentação teórica

Ao depararmos com formas de viver e de ver o mundo diferentes das nossas, muitas vezes
acabamos emitindo juízos de valor acerca de tais realidades, essa observação nos remete ao que
pode ser chamado de etnocentrismo. Podemos assim conceituar etnocentrismo com:

(...) uma visão de mundo em que o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, visão
segundo a qual todos os outros grupos são pensados e sentidos através de nossos valores, nossos
modelos, nossas defi nições do que seja a existência. No plano intelectual, o etnocentrismo pode

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ser identifi cado na difi culdade de pensarmos a diferença; já no aspecto afetivo, é percebido nos
sentimentos de estranheza, de medo e de hostilidade. (Mortari, 2002, p.32)

O conceito de etnocentrismo está, porém, bastante ligado ao outro conceito objeto de análise desta
seção – o relativismo cultural. Pode-se dizer que seu elo encontra-se no fato de uma posição
relativista servir para libertar o indivíduo das perspectivas deturpadoras do etnocentrismo, ou seja,
ao relativizarmos nossa posição diante das diferenças culturais do outro aceitamos a idéia de que
os indivíduos são resultado de um modo de vida específi co e particular com seus próprios sistemas
de valor e sua cultura.

As culturas são diferentes umas das outras, e nesse sentido o relativismo cultural defende o
pressuposto de que as análises e estudos devem ser sempre relativas a cultura na sua origem, sendo
assim impossível a aplicação de normas e valores absolutos em tais estudos.

Relativizar, portanto, é não transformar a diferença em hierarquia, não valorar aos seres humanos
com base em critérios de superioridade e de inferioridade, ou conceber diferentes culturas sob uma
perspectiva dicotômica de bem e mal; é preciso vê-las sob sua dimensão de riqueza, o que decorre
da diferença. (Mortari, 2002)

Relativizar, porém, não significa tornar tudo relativo. Deve-se olhar, por exemplo, o significado
de um ato não na sua dimensão absoluta, mas no contexto em que o mesmo aconteceu.
Compreender o outro de acordo com os seus próprios valores e não com base nos nossos, perceber
as coisas de forma que se desenvolva uma perspectiva inter-relacional e não como uma via de mão
única. Nesse sentido a relativização cultural deve ser uma via de mão dupla em que o contato e
conhecimento com a cultura ou o modo de ser do “outro” deve nos levar a repensar nossas atitudes
e conceitos, percebendo que os mesmos não são únicos e não devem se tornar a única referência
em nossas vidas, ou “as lentes” da realidade. Desta forma a diferença pode-se tornar uma
alternativa e não uma ameaça e a sociedade se tornar menos hostil e preconceituosa!

2.1 Diversidade cultural:


Cabe lembrar que este é mais um conceito que se faz presente não só em discussões da
Antropologia, como também em outras áreas, especialmente naquelas ligadas às humanidades.

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A importância de se discutir temas como este está justamente na idéia de que as sociedades são
plurais e marcadas pelas diferenças culturais. E também pelas circunstâncias que a realidade atual
nos coloca, diante da globalização em que as distâncias se tornaram cada vez mais curtas, devido
às novas tecnologias de telecomunicação

A cultura, explicita as relações entre homens, a natureza e o processo de sua transformação.


Explicita também as relações dos homens entre si no interior de uma sociedade e entre sociedades
diferentes, e ainda a produção simbólica de valores que dão sentido às relações vividas entre o
homem e a sociedade.

Logo, se a cultura diz respeito aos significados socialmente produzidos, ela pode sobreviver e se
manter sem a sociedade. A sociedade desaparece, mas a cultura que se produziu permanece através
de sua produção remanescente. O oposto, porém, não ocorre: não há sociedade sem cultura, pois a
cultura faz parte da vida social e das relações entre os homens.

2.2 Dinamismo Cultural e os processos de enculturação, aculturação, desculturação e


inculturação
O dinamismo cultural reside na ausência de estaticidade, o que pressupõe que a cultura está em
constante mudança, daí que se conclui, com martinez (2007:59) que a cultura “não é algo acabado
ou definitivo mas sim algo em contínuo aperfeiçoamento”. Nas linhas que seguem, discutiremos
os processos de enculturação, aculturação, desculturação e inculturação que espelham as diversas
facetas do dinamismo cultural.

2.3 Enculturação
A enculturação que também é conhecida como endoculturação de acordo com Martinez (2003:51),
citando Bernardi, é um processo educativo pelo qual os membros de uma cultura se tornam
conscientes e comparticipantes da própria cultura. Herskovits, citado por Martinez (2003: 51), diz
que enculturação são os aspectos da experiência de aprendizagem que distinguem o homem das
outras criaturas e por meio dos quais, inicialmente, e mais tarde na vida consegue ser competente
em sua cultura. É através deste processo que um neonato aprende os caminhos culturais que a sua
sociedade espera que ele seja, ou seja, a partir deste processo que se consegue a adaptação à vida

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social, que o indivíduo se habitua aos modos de vida do seu grupo aprendendo as suas formas de
comportamento

2.4 A Aculturação:
O termo aculturação pode ser usado como sinonimo de socialização, educação ou
condicionamento. Porém, alguns autores preferem usar o termo transculturação em detrimento de
aculturação.

A aculturação também conhecida como transculturação é mais um processo do dinamismo


cultural. Martinez (2007:79) afirma que em Psicologia o termo aculturação é usado no sentido que
na Antropologia se dá ao processo de enculturação. Em Sociologia é usado no sentido de
socialização e na Pedagogia no sentido de educação ou condicionamento. A aculturação teve várias
designações provenientes de autores diversos, podendo-se destacar as seguintes: empréstimo de
culturas, disseminação cultural, transmissão cultural em marcha e processo de mistura de culturas.
Para Ítalo Slignorelli, a aculturação é um processo que conduz um indivíduo a assumir, em tudo
ou em parte, modos de cultura de um outro grupo. Desta definição deve se pressupor o contacto
entre duas culturas, resultando influências e transformações mútuas. Este processo constitui um
dos factores da dinâmica cultural, pois do contacto enter duas culturas, haverão elementos duma
cultura que se irão integrar na outra através de processo de mistura e fusão, surgindo como
resultado uma nova síntese cultural e um novo padrão cultural do comportamento.

2.5 A Desculturação
o termo desculturação deriva de “descultura”, o que por outras palavras significa “falta de
cultura”, porém, não se subentenda que existam indivíduos sem cultura. Trata-se aqui de um nível
sintáctico. Com o termo desculturação, referimo-nos aos aspectos negativos da diâmica cultural,
isto é, a subtracção e/ou destruição em diverso grau do património cultural. A desculturação pode
ser originada por causas internas ou externas. No que concerne às causas internas, podemos dizer
que a desculturação é provocada pela perda da energia de uma determinada cultura, que se
caracteriza pela redução da forças dos indivíduos e da comunidade, que, consequentemente, vai
eliminando a vitalidade dos traços culturais e, a caída em desuso dos mesmos. No que diz respeito
às causas externas podemos notar que a desculturação é provocada pelas crises originadas por
contactos culturais, pois, cada novidade que surge em qualquer sector da vida: económico, político,
religioso, técnico, traz consigo inevitavelmente uma queda de identidade cultural original. Este

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fenómeno acontece de maneira imperceptível e lenta, afectando separadamente os traços culturai
e assim, vai mudando o estilo de vida de uma comunidade.

2.6 Inculturação
É uma palavra composta por: in-cultura-ção; in – significa, dentro de, entrar dentro de alguma
coisa, introduzir, interior; mas também pode significar ausência de alguma coisa, negação,
incultura. O termo inculturação teve a sua origem no mundo religioso quando os padres da África
e da Ásia mostraram que a mensagem evangélica não atingia a essência dos povos. Nestes termos,
verificou-se a necessidade de se buscar um conceito que exprimisse um processo que criasse uma
ligação entre a mensagem cristã e a cultura, tendo surgido primeiramente o termo encarnação, o
qual podia ser usado, por exemplo nos seguintes termos: “O Evangelho precisa de ser encarnado
nas culturas” Simbine Jr (2009:13). Apenas entre 1974 e 1975 é que o vocábulo inculturação
passou a fazer parte do mundo religioso, senso considerado como a “encarnação da vida e da
mensagem cristã em uma área cultural concreta”, não num sentido de mera adaptação de aspectos
religiosos na cultura mas sim que essa mensagem cristã seja um elemento activo e dinâmico,
proporcionando a transformação e recriação da cultura. Pode-se entender a inculturação como um
processo recíproco no qual há introdução de elementos exteriores na cultura e vice-versa como se
pode notar na concepção de João Paulo II, segundo a qual a inculturação é o processo pelo qual
ocorre a “encarnação do evangelho nas culturas e simultaneamente a introdução dos povos com as
suas culturas na comunidade eclesial, transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que
há de bom nas culturas e renovando-as a partir de dentro”.

3 Analise das obras Nem Pai, Nem Mãe (crítica do parentesco o caso macua) e o Sagrado
e Profano

Nem Pai, Nem Mãe


Através de sua análise, Geffray demonstrou como as relações de parentesco que, a princípio,
poderiam parecer restritas ao âmbito privado, na verdade extrapolava a dimensão familiar estando
diretamente ligada à organização social como um todo, em nível político e econômico. As
sociedades macuas daquela época se organizavam através de um sistema de descendência
matrilinear e matrilocal, ou seja, na ocasião de um casamento era o homem que se transferia para
o grupo familiar da esposa e a prole dessa união recebia o “sobrenome”, ou melhor, o nihimo da

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“mãe”, pertencendo à linhagem dela. A argumentação de Geffray indica que dois fatores principais
eram socialmente mobilizados para legitimar o pertencimento das crianças à linhagem feminina:
o crédito alimentador do qual apenas as mulheres desfrutavam e o papel delas na transmissão do
nihimo, isto é, da descendência. Todas as mulheres que compartilhavam com as crianças uma
origem ancestral e que as alimentaram durante a infância eram vistas por elas como “mães”. Uma
dinâmica parecida pode ser observada para a paternidade. Os homens recebiam os seus mahimo
de suas “mães” e não os transmitiam aos seus filhos. Da mesma forma, o crédito alimentador
também lhes era negado (2000).

Percebe-se com essas breves informações que a maternidade e a paternidade, dentro das sociedades
macuas, não eram estabelecidas a partir de critérios biológicos, como acontece no ocidente. Pelo
contrário, eram os vínculos sociais que determinavam essas relações.

Segundo Christian Geffray, nihimo – plural mahimo – era, ao mesmo tempo, “nomes para indicar
a pertença, conceitos para pensar, leis para instituir e, eventualmente constituí-la”. Ainda nas
palavras do autor:

O casamento entre os macuas obedecia a uma série de negociações que só terminavam com o
nascimento da primeira criança. Enquanto isso não acontecia, o casamento não estaria, de fato,
consolidado e, por isso, o casal vivia numa situação relativamente precária: não dispunham de uma
casa e nem mesmo de um terreno próprio para cultivar. Sua sobrevivência dependia, em grande
medida, da bondade dos pais da jovem. O nascimento da criança marcava uma ascenção social. O
jovem casal estaria, a partir de então, autorizado a possuir alguns bens. Mas, ainda assim, as
relações de dependência entre o jovem casal e os pais da moça se mantinham, agora um pouco
mais atenuados. Tanto o homem quanto a mulher trabalhavam em sua terra, mas o homem ainda
precisaria dedicar algumas horas semanais. de trabalho nas terras de sua "sogra", ao passo que a
jovem mulher deveria enviar parte de sua colheita para o celeiro da "mãe". Por outro lado, os
“filhos” que viessem a ter não se alimentavam apenas na sua casa. Pelo contrário, as crianças
circulavam por todos os lares do grupo familiar, alimentando-se em cada um e, principalmente, no
lar da "avó" (GEFFRAY, 2000).

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É aqui que a compreensão do sistema de parentesco se une à necessidade de conhecer os ritos de
iniciação e os ensinamentos transmitidos nesses espaços. Como se sabe, a oralidade constituía a
principal via de transmissão do saber nas sociedades africanas. Por mais que os macuas não fossem
uma sociedade exclusivamente oral, os ritos de iniciação sempre recorriam à linguagem como
forma de instrução. Músicas, danças, narração de histórias, enigmas e provérbios eram formas
privilegiadas de ensinar.

Para além disso, o controle dos casamentos lhes permitia interferir na distribuição das terras. Não
era, contudo, qualquer homem que se encarregava dessas funções. Reforçando a importância da
antiguidade nas relações hierárquicas, geralmente era o “tio”, o “irmão” ou o “neto” mais velho da
decana da linhagem, ou seja, da mulher principal ou, em outras palavras, a “mãe das mães”. Ainda
assim, não era comum que tomassem qualquer decisão nesse sentido sem antes consultá-la.

As terminologias descritas por Geffray em seu estudo do parentesco, mostram que existiam tanto
palavras neutras, isto é, que a priori não faziam distinção de sexo, quanto palavras generificadas.
Essas palavras neutras serviam sim para distinguir entre homens e mulheres anatômicos, mas a
diferenciação só poderia ser estabelecida a partir do locutor ou da locutora, o que dava a elas um
caráter altamente relacional. Essa ideia pode ser reforçada se pensarmos que essas palavras não
distinguiam apenas o sexo biológico, mas também a geração, de forma que um falante, ao usar um
determinado termo, poderia se referir tanto as pessoas mais novas e mais velhas do mesmo sexo,
ou às pessoas mais novas e mais velhas do sexo oposto. Só se poderia entender uma fala sabendo
quem a proferia

Isso leva a concluir pela insuficiência das terminologias do parentesco ocidental e, mais uma vez,
pela necessidade de entender as dinâmicas sociais observadas as palavras “mãe”, “pai,”, “tio”,
“irmão”, “filho”, “filha” e afins foram todas usadas entre aspas, na intenção de marcar uma
diferença. Se nos vimos obrigadas a utilizá-las, foi simplesmente por necessidade didática. Mas é
importante ressaltar que elas não servem para descrever com precisão as relações que se
estabeleciam entre as pessoas nas sociedades macuas daquela época (GEFFRAY, 2000, p. 23-26).
As palavras do parentesco, ao nomearem relações sociais que iam muito além da consanguinidade,
não se limitavam ao espaço doméstico, na verdade, estendiam-se para toda uma área matrimonial.

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O sagrado e Profano
O sagrado pode ser descrito como uma oposição ao profano. Defini-los em bases religiosas, neste
sentido, é buscar resposta a nossa volta, ou seja, nas pessoas, nos rituais, no ambiente social e
cultural a qual ambos se complementam. Isso porque o sagrado e o profano devem se encaixar na
esfera do mundo, porque são dois elementos distintos que regem a estrutura cósmica; ou seja, que
dão significado à existência humana, seja no plano físico imanente, seja no plano subjetivo
transcendental. Eles estão presentes em todas as manifestações humanas e são justamente eles que
fazem com que haja diferença entre as religiões, pois são eles que determinam os rituais, os
símbolos, os templos, os mitos e as crenças.

O que pretende se analisar então são como estas duas “qualidades do ser no mundo” influenciam
a vida religiosa, social e cultural do homem. Para iniciar a analise ira se trabalhar precisamente
três autores, dentre outros tangenciais; que discutem as tipologias do sagrado e do profano: Rudolf
Otto, que busca a sua analise dos elementos na própria essência divina, na natureza irracional, para
explicar a racionalização do sagrado para com a vida humana; Mircea Eliade que ira sistematizar
o sagrado e o profano como um todo, mostrando como os elementos se encaixam na ordem
cósmica do mundo, mesmo fora da essência religiosa; e Emile Durkheim em sua “As formas
elementares da vida religiosa”, onde discute a ordem do sagrado e do profano, mas enfatizando a
ética moral que os mesmos regem sobre a sociedade.Portanto a escolha destes autores está
intimamente ligada pela discussão que os mesmos estabeleceram a respeito do sagrado e do
profano e o que se pretende é fazer um levantamento acerca destes elementos para com o fenômeno
cultural, social e principal.

Apesar de o sagrado e o profano estarem ligados ao dia a dia do ser humano, como a cultura,
política, a economia e a sociedade, eles nasceram com a mais antiga forma observável de
manifestação das crenças humanas: a religião. No entanto, o conceito de religião ainda não
definido nas premissas do tempo, já existia em atuação, através da magia, das crenças místicas,
dos cultos e rituais de veneração e agradecimento. Portanto, o homem as estabeleceu como forma
de suprir sua necessidade existencial.

Após o início da formação dos indivíduos como agentes sociais e coletivos, a adoração faz parte
de uma cultura de sobrevivência, que se inicia como uma forma de agradecimento pelos elementos
sagrados o oferecidos pela natureza ou por algum deus, tais como a chuva, o sol, o fogo e a terra.

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Agradecendo e criando rituais, os homens passam a sentir-se seguros; acreditando que nada a sua
a volta iria se modificar, ou que nos momentos de dificuldades algum ser misterioso iria ajudá-los:
um deus criador e protetor.

A partir da criação dos mitos, da construção de templos, e a personificação de deuses, que, segundo
os homens, fossem capazes de realizar o impossível e despertar a fé, nascem as duas ordens
fundamentais para a existência religiosa: o sagrado e o profano, que são intimamente ligados às
manifestações de adoração.

Segundo, Durkheim as relações de sagrado e profano são avaliadas de acordo com a ordem
religiosa, então estas tipologias devem ser avaliadas de acordo com sua especificidade religiosa;
isso porque o sagrado e o profano não terão a mesma essência no cristianismo, no espiritismo ou
no budismo.

Ao contrario de Durkhein, Eliade acredita que tudo que é criado pelos deuses é sagrado, portanto
impossível de haver no mundo ou na ordem cósmica algo que seja profano. O profano para ele é
o caos-lugar, este desconhecido pelo homem, onde habita as trevas e os demônios, e que, toda
ordem cósmica era antes caótica, mas os deuses a transformaram e os homens em agradecimento
criou os ritos e as crenças para adorar a estes deuses criadores: “O sagrado revela a realidade
absoluta e, ao mesmo tempo, torna possível a orientação, portanto, funda o mundo, no sentido de
que fixa os limites e, assim, estabelece a ordem cósmica”. (ELIADE, 1992, p. 21)

O sagrado e o profano devem ser buscados dentro das manifestações humanas e na essência
construtiva da sociedade cósmica. O homem necessita de se apegar a algo, e é sua vida social que
irá determinar isso e sua identidade carregada de preceitos, nos quais estes serão apreendidos e
repassados pelos pais, pelos avós, etc., que vieram de algum lugar e trazem consigo uma história,
uma crença ou algum mito que podem estar ou não ligados à religião, mas que nem por isso deixa
de se encaixar na esfera sagrada.

O sagrado e o profano são conceitos gerenciados normalmente pela religião, mas em essência, já
existiam desde os primórdios da humanidade, especialmente no que se refere à adoração e repudio,
ou seja, no que faz bem e no que faz mal. Assim, é o homem que atribui a esses elementos valores,
que vão além do religioso, dando suporte moral, cultural e social a uma determinada comunidade.

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O surgimento do sagrado e do profano na ordem do mundo e nas manifestações religiosas, as duas
tipologias significam veneração\aproximação e repudio\separação, no qual o homem religioso
busca para si apenas o contato com o sagrado se afastando do profano

Desse modo, se torna impossível a existência humana longe do sagrado ou do profano, por mais
religioso ou não-religioso que seja o homem, de alguma forma tudo foi criado segundo uma ordem
elementar, e mesmo que este queira se afastar jamais poderá conseguir, pois o mundo é sagrado,
mas o homem em sua capacidade tem o poder de viver segundo os rituais sagrados ou longe deles,
abandonando e se tornando um ser profano ou não religioso.

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Conclusão

Reatualizando a história sagrada, imitando o comportamento divino, o homem instala se e mantém


se junto dos deuses, quer dizer, no real e no significativo. É fácil ver tudo o que separa este modo
de ser no mundo da existência de um homem a religioso. Há antes de tudo o fato de que o homem
a religioso nega a transcendência, aceita a relatividade da “realidade”, e chega até a duvidar do
sentido da existência. As outras grandes culturas do passado também conheceram homens a
religiosos, e não é impossível que esses homens tenham existido até mesmo em níveis arcaicos de
cultura, embora os documentos não os registrem ainda. Mas foi só nas sociedades européias
modernas que o homem a religioso se desenvolveu plenamente.

Conhecer as situações assumidas pelo homem religioso, compreender seu universo espiritual é,
em suma, fazer avançar o conhecimento geral do homem. É verdade que a maior parte das
situações assumidas pelo homem religioso das sociedades primitivas e das civilizações arcaicas há
muito tempo foram ultrapassadas pela História. Mas não desapareceram sem deixar vestígios:
contribuíram para que nos tornássemos aquilo que somos hoje; fazem parte, portanto, da nossa
própria história. A Cultura não é um produto das ações humanas, mas sim, o que produz ou conduz
a estas ações, desenvolvendo uma lógica que lhe é própria, independente dos pensamentos de
indivíduos específi cos. A Cultura deve ser entendida acima dos organismos individuais, sem ser
reduzida a outros fatores não culturais. Estas idéias, fundamentadas no pensamento sociológico de
Émile Durkheim, desenvolvidas nas concepções antropológicas de Marcel Mauss, influenciam as
concepções estruturalistas de Claude Lévi-Strau

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Revisão Bibliografica

GEERTZ, Cliff ord. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro:


Rocco, 2000

BOAS, Franz; Celso Castro (org.). Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004

MASSENZIO, Marcello. A história das religiões na cultura moderna. São Paulo: Hedra, 2005.

MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução.
6ª ed., São Paulo: Atlas, 2006.

MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para estudo.Paulinas Editorial, 5ª


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SANTOS, Armindo dos. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Socal.


Universiadade Aberta, 2002.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo, Brasiliense, 2003.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed., Jorge Zahar Editor, Rio
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