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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Economia e Gestão


Curso de Licenciatura em Gestão Ambiental

Diversidade Cultural: Caso Bairro Muatala

Alberto José Cardoso Chipeua: 81210400

Nampula, Março, 2022


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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Departamento de Economia e Gestão
Curso de Licenciatura em Gestão Ambiental

Diversidade Cultural: Caso Bairro Muatala

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação da UnISCED na cadeira de
Antropologia Cultural.
O Tutor
Hélder Pires Amancio

Alberto José Cardoso Chipeua: 81210400

Nampula, Junho de 2022


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Índice

Introdução...................................................................................................................................3
1. Origem da Diversidade Cultural..........................................................................................4
1.1. Conceito de Cultura.........................................................................................................4
1.1.2. Características da Cultura.............................................................................................5
1.2. Diversidade Cultural........................................................................................................6
1.2.1. Origem da Diversidade Cultural.......................................................................................8
1.3. . Características da diversidade Cultural..........................................................................8
1.3.1. Etnias.................................................................................................................................8
1.3.2. Línguas.........................................................................................................................9
1.3.3. Religiões.......................................................................................................................9
1.4. Diversidade cultural em Moçambique...........................................................................10
1.4.1. Diversidade Cultural na Cidade de Nampula (Bairro Muatala)......................................12
1.5. Identidade Cultural.........................................................................................................13
1.5.1. Identidade Cultural Moçambicana..................................................................................14
1.6. Alteridade Cultural.........................................................................................................16
Conclusão..................................................................................................................................17
Referencias bibliográficas.........................................................................................................18
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Introdução

O presente trabalho tem como tema diversidade cultural: Caso da Cidade de Nampula,
nele iremos abordar especificamente sobre a origem da diversidade cultural, identidade
cultural e alteridade cultural, é de ressaltar que o presente trabalho somente se cinge na
identificação da diversidade cultural do bairro de Muatala, um dos 8 postos administrativos
do Município de Nampula.
De modo geral, são objectivos deste trabalho analisar a diversidade cultural da Cidade
de Nampula em especial no bairro de Muatala. Quanto aos objectivos específicos, foram
definidos os seguintes objectivos; i) descrever a origem da diversidade cultural; ii) identificar
a identidade cultural do Bairro Muatala; iii) discutir sobre a alteridade cultural no bairro
Muatala.
Portanto para atingir os objectivos pré-definidos, a pesquisa é classificada como de
cunho exploratório, de caracter estudo de caso através de observação enriquecida pela
pesquisa bibliográfica.
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1. Origem da Diversidade Cultural

1.1. Conceito de Cultura

Para falarmos em diversidade cultural é necessário primeiramente entender o conceito


de cultura. Conforme citado por (Martinez & IMC, 2006) o vocábulo cultura provém do
princípio passivo do verbo colo, colis, colere, colui, cultum, que significa: cultivar, cuidar, ter
cuidado, prestar atenção. Expressa a relação dinâmica e estável a um lugar. De acordo com
Reis (2011) a primeira definição antropológica de cultura surgiu em 1871:

Originada etimologicamente do latim colere, que significa cultivar, cultura, em um


sentido antropológico mais genérico, define-se como ―aquele todo complexo que
inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos o outros
hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade‖. Essa
definição foi cunhada por Edward B.Tylor, em 1871, e podemos dizer que foi a
primeira definição antropológica do termo. (REIS, 2011, p. 55)apud (Rorigo, 2010)

Portanto para Taylor conforme apontado por Martinez (2010), a cultura é adquirida,
não transmitida biologicamente; o homem adquire a cultura como membro de uma sociedade.
O conceito de cultura foi pesquisado por vários estudiosos e tem entendimento
variado.
Morin (2001) citado por (Rorigo, 2010) concebe que:

A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições,
estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se
reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a
complexidade psicológica e social. Não sociedade humana, arcaica ou moderna,
desprovida de cultura, mas cada cultura é singular. Assim, sempre existe a cultura nas
culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas. (MORIN, 2001, p. 56)
(ibidem)

Na perspectiva de ibidem citando Carrara (2010, p. 23) cultura pode ser definida
como Fenômeno unicamente humano, a cultura se refere à capacidade que os seres humanos
têm de dar significado às suas ações e ao mundo que os rodeia‖. Para o autor a cultura é
compartilhada pelos indivíduos de determinado grupo, não se referindo a um ato individual.
Cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, atribui significados diferentes
a coisas e passagens da vida aparentemente semelhantes.
Já para a UNESCO citado por (Rorigo, 2010) com base no mesmo autor, definiu a
cultura como sendo como o conjunto de traços distintos, espirituais e materiais, intelectuais e
afetivos, que caracterizam uma sociedade ou grupo social.
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Já Casa-Nova (2002) apud (Rorigo, 2010), vê que o termo cultura:

[...] deverá ser entendido como um conceito dinâmico, dialético, composto de


permanências e de mudanças, de estrutura e de agência, onde se conjugam os valores,
as normas, as regras, os símbolos, os rituais, as crenças [...] que tecem os cotidianos
dos sujeitos-atores e que permanecem vivos através da sua transmissão de geração em
geração (a reprodução), com as dinâmicas, as interações, as interrogações, a
capacidade de ‗‗agência humana ‘‘, que estão na origem de novas produções.

Outra concepção de cultura é a que vai ao encontro dos pressupostos defendidos pelo
Materialismo Histórico-dialético, que concebe que existe uma relação imediata entre cultura e
atividade humana. Com isso, a cultura é definida como normas, idéias, valores, que são
determinados historicamente e passados às gerações futuras, sendo que é a partir das relações
sociais e do contexto histórico em que vive um determinado povo que a cultura se transforma.
Conforme assevera Ribeiro (2002):

... a cultura é de domínio coletivo, ou seja, são os padrões culturais que definem,
caracterizam e moldam a vida social do grupo. É a partir dos elementos presentes na
cultura que o grupo adquire uma certa unidade, compartilhando das mesmas crenças,
técnicas, valores etc. ou seja, é por meio desses elementos compartilhados que o
grupo se reconhece enquanto grupo (RIBEIRO, 2005, p. 56) apud (Rorigo, 2010) .

Então a cultura não pode ser entendida como algo estático e natural e sim como uma
produção humana que vai variar de acordo com as manifestações de cada povo, é aí que é
necessário entender o conceito de relativismo cultural para compreendermos que não há uma
cultura melhor, ou mais avançada que outra, e, sim, que há diferentes culturas.
A respeito do relativismo cultural, Mortari (2002) assevera que:

O relativismo cultural é uma nova maneira de se posicionar diante das diferenças


culturais, e isso trouxe uma mudança aos estudos antropológicos. A partir do
momento em que tais estudos procuraram não apenas conhecer de perto os costumes
dos diferentes povos, mas buscam estudá-los para principalmente compreendê-los
conforme os seus próprios valores, começamos a imprimir uma atitude relativizadora.
Isso permitiu conhecer e entender o significado de diferentes costumes para melhor
conviver com aquilo que às vezes nos parece tão estranho e exótico. Relativizar,
portanto, é não transformar a diferença em hierarquia, não valorar os seres humanos
com base em critérios de superioridade e de inferioridade [...] é preciso vê-las sob sua
dimensão de riqueza, o que decorre da diferença (MORTARI, 2002, p. 34) apud
(Rorigo, 2010).

É preciso então adotar uma postura mais relativista, concebendo que há diferentes
culturas e que todas têm valor e podem contribuir para enriquecer o processo de convivência
e construção da sociedade
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1.1.2. Características da Cultura

Com base Martinez (2010) a cultura é caracterizada com base nos seguintes aspectos:
a) a cultura é simbólica;
b) a cultura é social;
c) a cultura é estável;
d) a cultura é seletiva;
e) A cultura é universal e regional;
f) A Cultura é determinante e determinada; e
g) Cultura e subcultura:

1.2. Diversidade Cultural

De acordo com a etimologia, a palavra diversidade deriva do latim diversĭtas,ātis e


significa variedade, multiplicidade, diferença. Conforme visto anteriormente, cultura é o
conjunto de normas, regras, ensinamentos, conhecimentos, crenças, arte, moral, costumes e
hábitos adquiridos pelo homem e perpetuado de geração em geração. Dessa forma,
diversidade cultural nada mais é do que a variedade existente na forma de viver, expressar e
reconhecer tudo aquilo que compreende a cultura de uma comunidade.
Fleuri (2006, p. 500) apontado por (Rorigo, 2010), vai buscar em Bhabha (1998, p.
63), o conceito de diversidade cultural refere-se à cultura como objeto do conhecimento
empírico, reconhecendo conteúdos e costumes culturais pré-dados. A diversidade representa
uma retórica radical da separação de culturas totalizadas, que se fundamentam na utopia de
uma memória mítica de uma identidade coletiva única‖
Neste sentido, quando se fala em diversidade cultural se percebe que a mesma está
relacionada as diferenças culturais existentes entre os seres humanos, que cada grupo tem a
sua cultura, que devem ser respeitadas, pois não há cultura melhor ou pior, boa ou ruim,
existem sim, culturas diferentes
Nas palavras dos Lima (2010) apud (Rorigo, 2010) , a diversidade cultural refere-se
ao grau de diversidade e variação global e em determinadas áreas, onde há interação de
diferentes culturas coexistitárias. Muitos estados e organizações consideram a diversidade
cultural parte do patrimônio comum da humanidade e têm políticas ou atitudes favoráveis a
ela. Ações em prol da diversidade cultural geralmente incluem a preservação e promoção das
culturas existentes.
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A Declaração Universal sobre Diversidade Cultural, adotada pela UNESCO em


novembro de 2001, aborda a diversidade cultural em diversos contextos e o projeto de

Convenção sobre Diversidade Cultural desenvolvido pela Rede Internacional de Políticas


Culturais prevê a cooperação entre as partes em uma série de assuntos desse tipo.
Para a Conferência Mundial como afirma (Rorigo, 2010),

a [...] diversidade cultural é um valioso elemento para o avanço e bem-estar da


humanidade como um todo, e que deve ser valorizada, desfrutada, genuinamente
aceita e adotada como característica permanente de enriquecimento de nossas
sociedades (BRASIL, 2001, p. 6) (Rotigo, op cit).

Desse modo, levando-se em consideração a diversidade cultural como mecanismo de


enriquecimento social, pode-se afirmar que a promoção da diversidade é capaz de contribuir
para a erradicação de preconceitos, para a constituição de uma cultura de paz e de uma
sociedade mais democrática.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), todos têm o
direito de interagir livremente na vida cultural da comunidade, de desfrutar das artes e de
participar do progresso científico e de seus benefícios, pois os direitos econômicos, sociais e
culturais são indispensáveis à dignidade e ao desenvolvimento da personalidade humana.
A diversidade cultural são diferenças culturais que existem entre o ser humano. Há
vários tipos, tais como: a linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições como a
organização da sociedade. A diversidade cultural é algo associado à dinâmica do processo de
aceitação da sociedade. Pessoas que por algumas razões decidem pautar suas vidas por
normas pré-estabelecidas tendem a esquecer suas próprias idiossincrasias (Mistura De
Culturas). Por outras palavras, o todo vigente impõe-se às necessidades individuais.
Sendo assim, neste trabalho, entende-se por diversidade cultural as diferentes crenças
e regras que permeiam o entendimento e as atitudes em relação a gênero, sexualidade, etnia,
religião, classes sociais, necessidades especiais e até mesmo as diferenças físicas que se
fazem presente no cotidiano escolar. Conforme assegura o antropólogo americano Alfred
Kroeber, o homem pode ser considerado um ser predominantemente cultural devido à grande
variedade de maneiras de realizar uma mesma função, ou seja, é o modo diferenciado de
fazer o mesmo que faz com que o homem seja considerado cultural (LARRAIA, 1986).
A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade,
diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes,
também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou
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ainda, na tolerância mútua. A diversidade cultural é complicada de quantificar, mas uma boa
indicação é pensar numa contagem do número de línguas faladas em uma região ou no
mundo como um todo. Através desta medida, há sinais de que podemos estar a atravessar um
período de declínio precipitado na diversidade cultural do mundo. Pesquisa realizada na
década de 1990 por Luã Queiros (Professor Honorário de Linguística na University of Wales,
Bangor) sugeriu que naquela época em média, uma língua caía em desuso a cada duas
semanas. Ele calculou que se a taxa de mortalidade de línguas continuasse até o ano 2100,
mais de 90% dos estilos falados atualmente no mundo serão extintos.

1.2.1. Origem da Diversidade Cultural

Relativamente à origem da diversidade cultural conforme citado por (Furtado, 2014),


há um consenso geral entre os principais antropólogos que o primeiro homem surgiu na
África, há cerca de dois milhões de anos atrás. Desde então, temo-nos espalhado por todo o
mundo, com sucesso em nos adaptarmos às diferentes condições, como por exemplo, as
mudanças climáticas. As muitas sociedades que surgiram separadas por todo o globo diferiam
sensivelmente umas das outras, e muitas dessas diferenças persistem até hoje.
De acordo com essa autora, a diversidade cultural tem sua origem na África, pois,
conforme com vários autores é onde foi na africa onde categoricamente surgiu o homo
sapiens.
Ainda acrestenta, bem como os mais evidentes, as diferenças culturais que existem
entre os povos, como a língua, vestimenta e tradições, também existem variações
significativas na forma como as sociedades organizam-se na sua conceção partilhada da
moralidade e na maneira como interagem no seu ambiente. Joe Nelson, de Stafford Virginia,
tem popularizado a expressão "Cultura e diversidade", enquanto na África, é discutível se
essas diferenças são apenas artefactos decorrentes de padrões de migração humana, ou se elas
representam uma característica evolutiva que é fundamental para o nosso sucesso como uma
espécie. Por analogia com a biodiversidade, que é considerada essencial para a sobrevivência
a longo prazo da vida na Terra. É possível argumentar que a diversidade cultural pode ser
vital para a sobrevivência a longo prazo da humanidade e que a preservação das culturas
indígenas pode ser tão importante para a humanidade como a conservação das espécies e dos
ecossistemas para a vida em geral.
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1.3. . Características da diversidade Cultural

A diversidade cultural se manifesta pela diversidade de linguagem, crenças religiosas,


práticas de gestão da terra, arte, música, estrutura social, seleção de culturas, dieta e todos os
outros atributos da sociedade humana.

1.3.1. Etnias

Uma característica essencial da diversidade cultural é a pluralidade étnica.


Um grupo étnico é composto por pessoas que compartilham uma identidade histórica,
cultural, linguística e religiosa, também por sua forma de vestir, modo de falar e como vivem.
Os principais grupos étnicos do mundo são: Africano, Amerindianos, árabe,
caucasianos, Afro-americanos, australianos, chinês, tibetanos, americanos, Bálticos, coreano,
iraniano-índios, japonês, Esquimo, Aleuts, Mandes, Malayz, polinésias, Mestiços, Europeu,
Saarianos.

1.3.2. Línguas.

Outro dos elementos culturais mais importantes é a linguagem. Com ele, ideias,
sentimentos se expressam e dá homogeneidade à cultura.
Principais línguas do mundo:
 Chinês
 Inglês
 francês
 alemão
 português
 russo
 árabe
 japonês
 italiano

1.3.3. Religiões

A religião é como a língua, um forte vínculo social e distinto de grupos étnicos ou entre
nações.
As principais religiões do mundo:
 cristão (protestantes, católicos, ortodoxos)
 budista
 Confúcio
 Xintoísmo
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 muçulmanos
 Animistas
 Hinduísmo

1.4. Diversidade cultural em Moçambique

Relativamente à diversidade cultural em Moçambique, Dias (2009:57) refere que: ‘‘A


sociedade moçambicana é multilingue, pluri-étnica, multiracial e socialmente estratificada. A
principal característica do património cultural moçambicano é a sua diversidade. As
manifestações e expressões culturais são ricas e plurais, sobretudo as ligadas às camadas
«populares»’
Existem em Moçambique várias formas de organização social, cultural, política e
religiosa; há várias crenças, línguas, costumes, tradições e várias formas de educação. A
principal característica do patrimônio cultural moçambicano é a sua diversidade. As
manifestações e expressões culturais são ricas e plurais, sobretudo as ligadas às camadas
“populares”.
São ao todo 43 idiomas, dos quais se destacam o macua, tsonga (shangaan), sena,
lomwe, chuwabu e o nianja. O tsonga, por exemplo, é falado pela etnia de mesmo nome, que
está espalhada por Moçambique, África do Sul, Zimbábue e Suazilândia. Já a língua nianja,
por sua vez, é falada pela etnia chewa e mais alguns povos próximos a eles, em Zâmbia,
Zimbábue, Moçambique e Malawi, sendo que neste último país ela é oficial.
A língua oficial em Moçambique é a língua portuguesa, mas ela é uma língua
minoritária que foi escolhida para oficial por razões políticas relacionadas com a unidade
nacional e com o fato de não haver à altura da Independência nenhuma língua que estivesse
suficientemente “modernizada” para ser capaz de veicular a Ciência, a Tecnologia e ser capaz
de servir de língua franca em todo o território nacional.
De acordo com dados do INE/ NELIMO (2000, p. 108) apud (Dias, 2010) estão
presentes no país 30 agrupamentos linguísticos. A maior parte das línguas são de origem
bantu, mas também se fala, para além do português, línguas europeias [inglês, Francês,
Espanhol, Italiano, Russo, Alemão], outras línguas africanas [Árabe, Sutho] e línguas
asiáticas [Hindi, Gujurati e Chinês]. O português é falado, como língua materna, por 6% da
população, enquanto as línguas bantu são faladas por 93%. Da população que reside das
zonas urbanas, 55% conhece o português, contra 45% nas zonas rurais. Dos falantes do
português, 61% são homens (a maior parte). As línguas bantu são as que são faladas com
mais frequência [90%] relativamente ao português.
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Figura 1-Diversidade cultural em Moçambique

Fonte: Adaptado de » Diversidade Cultural Moçambicana - Armando Emilio Guebuza


A matriz cultural do povo moçambicano é diversificada. A cultura moçambicana foi
sempre marcada pela miscigenação cultural que advém das migrações bantu e do contato que
estes vão ter com outras civilizações, sobretudo a árabe e a asiática. A colonização
portuguesa [iniciada em 1498] vai trazer influências europeias que vão ser acrescidas pelas
culturas de comunidades imigrantes da Índia e da China que se vão fixar em vários pontos de
Moçambique. Após a Independência, os moçambicanos vão também adquirir valores
culturais, éticos e morais que nos vão ser transmitidos pela política socialista e pelo contato
com “cooperantes” russos, cubanos, búlgaros, norte-coreanos, chineses, alemães [RDA].
A cultura socialista vem a ser amplamente difundida nas escolas por meio do Sistema
Nacional de Educação que tinha como objetivo formar um “Homem Novo”, que significava
“um homem livre do obscurantismo, da superstição e da mentalidade burguesa e colonial, um
homem que assume os valores da sociedade socialista” (MINED, 1985, p. 113). Os valores
éticos e morais do Socialismo encontravam-se enunciados em princípios do comportamento
revolucionário como, por exemplo, a pontualidade; a disciplina e obediência, o asseio e
limpeza; o espírito coletivo e de organização, de iniciativa, de sacrifício e de economia; o
respeito mútuo, pelo trabalho manual, o respeito pelos símbolos nacionais e pelos
responsáveis; a vigilância revolucionária e a prática constante da crítica e autocrítica.
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1.4.1. Diversidade Cultural na Cidade de Nampula (Bairro Muatala)

A cidade de Nampula (Fig. 1), possui uma população de 743125 habitantes (INE,
2019) e uma área de 404 km2. A cidade encontra-se dividida em sete postos administrativos
municipais, sendo a área periférica do posto de Muatala. A cidade de Nampula apresenta
grande diversidade cultural olhando sob ponto de vista das características da diversidade
cultural dadas acima. O bairro de Muatala em especial possui grande diversidade cultural,
olhando sob ponto de vista religiosa, linguística, ética, artística, musical.
Nampula é um distrito de grande diversidade cultural, devido à variedade de línguas
presentes no distrito, que possuem importância regional.

Figura 1-Localização geográfica e divisão administrativa da cidade de Nampula, com


destaque para o posto administrativo de Muatala, nossa área de estudo.
Fonte: Adaptado de Namagalima e Fortes (2020, p. 5)

A diversidade cultural pode ser definida como uma reunião de conceitos como o
universal e o local, entre o nacional e o regional, entre a tradição e a modernidade. Com base,
então neste conceito, é possível ver o universo da diversidade cultural, especificamente, no
bairro Muatala.
No concernente a diversidade cultura no Bairro de Muatala, contatou-se que o bairro
apresenta uma grande diversidade cultural, uma vez que neste bairro foi possível verificar que
há varias religiões professadas pelos moradores (com principal enfase a religião islâmica,
católica, adventista), há muitas diversidade ética seja ela regional (pessoas que vem de outras
províncias, assim como distritos de Nampula) internacional (Congoleses, indianos,
afroamericanos e muitos outros), uma vez com diversidade étnica, há também grave
variedade linguística das lingas bantu, apesar que a língua mais falar ser o macua, outros
grupos etinos falam, suaíle, maconde, Chumbo; Inglês, e até espanhol.
Portanto, a diversidade cultural da cidade de Nampula especificamente no bairro
Muatala é caracterizada como sendo multicultural, multilingue, multiétnica e multirreligioso.
No entanto a Bairro de Mautala é um um bairro habitado por vários grupos étnico-linguísticos
como Makonde, Yao Macua-Lomwe, Ngoni, Nyanja, Thonga e Chopi-Thonga. Embora esses
grupos manifestem expressões culturais diferentes assemelham-se em alguns aspectos como a
prática de rituais mágico-religiosos, o culto aos antepassados entre outros aspectos.
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1.5. Identidade Cultural

A identidade da cultura é bastante discutida dentro das temáticas teóricas em áreas de


ciências sociais, perante a sua diversidade e complexidade, muitos autores relacionam o
avanço das tecnologias como um perigo que pode alterar certas práticas e tradições.
A Identidade Cultural é um conceito das áreas da sociologia e antropologia, que
indica a cultura em que o indivíduo está inserido. Ou seja, a que ele compartilha com outros
membros do grupo, seja tradições, crenças, preferências, dentre outros.
Além disso, determinados fatores de identidade são decisivos para que um grupo faça
parte de tal cultura, por exemplo, a história, o local, a raça, a etnia, o idioma e a crença
religiosa.
O conceito de diversidade cultural está intimamente ligado ao de identidade. Ele
aponta para a variedade de culturas existentes no mundo, as quais foram surgindo pela
interação desenvolvida entre os seres e o meio ambiente.
A identidade se altera de acordo com a forma como o sujeito é apostrofado ou
representado; assim, a identidade não é automática e apresenta-nos três procriações de sujeito
e suas respectivas identidades: o sujeito do iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-
moderno (HALL, 1999). Na linha do pensamento do mesmo autor, o sujeito do iluminismo
refere-se em:

Numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado,


unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro”
consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e
com ele se desenvolvia, ainda permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou
“idêntico”. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa (HALL, 1999, p.
10-11).

O sujeito sociólogo refletia o crescimento da compledidade do mundo moderno e a


conciência do sujeito.

As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em
declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até
aqui visto como um sujeito unificado (HALL, 1999, p. 7).

Por fim, o sujeito pós-moderno que dispõe diferentes identidades com múltiplas
características caracterizando, assim, um meio globalizado.

O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não


são unificadas ao redor de um eu coerente. Dentro de nós há identidades
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contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas


identificações estão sendo continuamente deslocadas (HALL, 1999, p. 13).

A identidade cultural é o conjunto de valores, tradições, símbolos, crenças e modos de


comportamento que funcionam como um elemento coeso dentro de um grupo social e que
atuam como um substrato para os indivíduos que o formam para basear seu sentimento de
pertencimento. No entanto, as culturas não são homogêneas; dentro deles estão grupos ou
subculturas que fazem parte da diversidade dentro deles em resposta aos interesses, códigos,
normas e rituais que esses grupos compartilham dentro da cultura dominante.
Segundo Basílio (2014) citado por Duarte e Maciel (2014) Moçambique é um
mosaico cultural e cada cultura expressa e simboliza a prática de determinado grupo humano.
Os indivíduos representantes de cada cultura também são diferentes uns dos outros em
pensamentos e ações. Por esta razão, o governo de Moçambique reconhecendo a diversidade
cultural existente no país levou a cabo uma reforma curricular em 2003introduzindo uma
componente de currículo local que visa não só reconhecer a diversidade cultural, mas também
integrar as culturas nacionais na escola, concretamente no processo de ensino-aprendizagem.

1.5.1. Identidade Cultural Moçambicana

Moçambique é um país de grande diversidade cultural, e como a maioria dos países


da África, não possui uma identidade específica, apresentando aspectos que o ligam a outros
países vizinhos e mesmo a outros continentes.
Conforme citado por (Manuel, 2018), a identidade da cultura moçambicana é
verificada por meio de certas práticas que são patentes no dia a dia de cada indivíduo, e umas
das características mais comum é diversidade linguística, sem querer deixar de lado a
gastronomia. Além dessas características, é preciso lembrar que todas as culturas têm uma
estrutura própria, todas mudam, todas são dinâmicas. Assim, não é possível falarmos de
povos sem história, porque tal fenômeno significaria a existência de uma cultura que não
passasse por transformações ao longo do tempo.
A identidade cultural moçambicana manifesta-se de várias formas ao longo do
território nacional. A título de exemplo, Rodrigues, Rocha e Nascimento (2009) caracterizam
os hábitos e costumes da população que vive no litoral, concretamente na Ilha de
Moçambique. Nesta parcela do país é notável a ocorrência de um processo de mestiçagem
que a distingue radicalmente do restante território nacional. Aqui é perceptível o entrecruzar
de diferentes legados culturais e uma identidade muito própria, visto que se interceptam as
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culturas muçulmanas e macua, que se misturam com a portuguesa, à indiana e com outras
culturas do índico.
Fernando (1996) refere que sendo a família a base da estrutura política do território
linhageiro ela existe em Moçambique sob duas formas principais de filiação. A norte do rio
Zambeze predomina a filiação matrilinear enquanto a sul do mesmo rio a filiação patrilinear é
a mais expressiva. Martínez (2008) considera a residência como sendo um elemento
importante na organização social do povo macua porque determina o tipo e a intensidade das
relações quotidianas dos indivíduos na comunidade. Sendo assim, o noivo na sociedade
macua vai viver com a família da esposa, pelo que quanto à residência o casamento é
uxoriloca.
A identidade da cultura moçambicana é marcada pela realização de práticas mágico-
religiosas. Segundo Feliciano (1998) para garantir o bom êxito dos processos produtivos
entre os povos Tsonga que vivem na região sul do país é necessário realizar determinados
rituais aos espíritos dos antepassados e certas práticas mágico-religiosas para manter
conjunções térmicas favoráveis. A isto, associa-se o respeito de certas proibições para que os
referidos processos não sejam contrariados por forças adversas (feiticeiros). Em todos os
ciclos agrícolas do povo thonga são praticados vários tipos de rituais, uns para defender as
culturas e outros para provocar as chuvas e a fertilidade, e outros para festejar os primeiros
frutos e a colheita.
Neste âmbito, Wane (2010) defende que a timbila é uma das formas de expressão
cultural moçambicana praticada pelo povo Chope, um dos vários grupos étnicos da região sul
do país. Assim, a timbila é também o nome da dança que acompanha a música das orquestras,
e foi declarado como obra-prima do património oral intangível da humanidade em
2005.Campos (n. d.) defende que a capulana foi incorporada no uso quotidiano pelas
mulheres moçambicanas e é vestida nos eventos sociais como tradicionais. Nas datas festivas
por exemplo utilizam-se capulanas de cores fortes e as amaram com um mucume, que é um
traje especial confeccionado por duas ou mais capulanas. Nas ocasiões fúnebres as capulanas
são de cores escuras e o mucume não é amarado, mas sim utilizado como uma cobertura que
encobre todo o corpo.
Nesta mesma linha, Sousa (2010) afirma que na primeira Conferência Nacional sobre
Cultura (CNC) realizada em Maputo revelou-se que a identidade nacional não deve ser vista
como um modelo único e uniforme para todo o Moçambique, pois a identidade cultural reside
nos elementos comuns a todas as culturas moçambicanas. Sendo assim, a moçambicanidade
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deve ser assumida como aquela que emerge de um longo processo de convivência e aceitação
mútua entre os habitantes de Moçambique através de fenómeno endógenos.
A identidade Cultural do Bairro Muatala, não foge muito da identidade cultural que
o pais apresenta, assim como a província no geral, para este caso em particular, caracteriza-se
por apresentar a família matrilinear, o uso de mucume, o mussiro, e as danças tradicionais o
tufo.

1.6. Alteridade Cultural

Alteridade do latim alteritas é a concepção que parte do pressuposto básico de que


todo o ser humano social interage e é interdependente do outro. Assim, como muitos
antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida
mediante um contato com o outro.
A alteridade expressa e determina a qualidade, estado ou características do outro, ou
seja, aquilo que é diferente daquilo que vivemos. A relação entre o eu e o outro é definida
então pelo conceito de alteridade. No conceito antropológico o eu só pode ser entendido a
partir da interação com o outro.
A alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e
subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras.
Nas ciências sociais, a alteridade cultural prevê a valorização das diferenças e não
aceita o predomínio de uma cultura ou modo de vida sobre outro. Sem hierarquia, é possível
perceber, por exemplo, que uma cultura é estranha para um indivíduo na mesma proporção
que aquele indivíduo é estranho para aquela cultural.
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Conclusão

A pesquisa indica que a diversidade cultural da cidade de Nampula especificamente


no bairro Muatala é caracterizada como sendo multicultural, multilingue, multiétnica e
multirreligioso. No entanto a Bairro de Mautala é um um bairro habitado por vários grupos
étnico-linguísticos como Makonde, Yao Macua-Lomwe, Ngoni, Nyanja, Thonga e Chopi-
Thonga. Embora esses grupos manifestem expressões culturais diferentes assemelham-se em
alguns aspectos como a prática de rituais mágico-religiosos, o culto aos antepassados entre
outros aspectos.

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