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Instituto de Administração e Comunicação


Curso de Matemática

Data: 20/10/2017
Tema: PRIMITIVAS OU INTEGRAIS
Objectivos:
 Definir primitiva de uma função.
 Estabelecer as propriedades da primitiva da soma e do produto por constante.

1. INTRODUÇÃO
Em muitos problemas, embora a derivada de uma função seja conhecida, torna-se necessário
determinar a própria função.

É o caso dos seguintes exemplos:


 Um sociólogo que, conhecendo a taxa de crescimento da população, poderá usar tal
dado para prever futuras taxas de crescimento daquela população;
 Um físico que, conhecendo a velocidade de um corpo, será capaz de determinar a
posição futura do corpo;
 Um economista que, conhecendo a taxa de inflação, poderá fazer estimativas de preço,
no futuro;
 Entre outros.

Ao processo de determinação de uma função a partir de sua derivada dá-se o nome de cálculo
das primitivas ou integração.
A primitivação e a integração processam-se de forma análoga.

2. DEFINIÇÃO

Uma função F(x) para a qual F ’ (x) = f(x) para todo x pertencente ao domínio de f é uma
primitiva (ou integral indefinida) de f.
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Exemplo:
1 3
x +5 x +2
1) Mostre que F(x) = 3 é uma primitiva de f(x) = x2 + 5
Solução: F(x) é uma primitiva de f(x) ⇔ F ’ (x) = f(x). Assim, derivando F(x), temos:

F ’ (x) = x2 + 5 = f(x)

3. PRIMITIVA GENÉRICA DE UMA FUNÇÃO


Uma função possui mais de uma primitiva. Por exemplo, F(x) = x 3 é uma primitiva da função
f(x) = 3x2, pois F ’ (x) = 3x2 = f(x). Da mesma forma, G(x) = x 3 + 12 também é uma primitiva
de f(x), pois a derivada da constante 12 é zero e G ’ (x) = 3x2 = f(x).

Em geral, se F for uma primitiva de f, qualquer função obtida ao acrescentarmos uma


constante a F também será uma primitiva de f. Na realidade, podemos obter todas as
primitivas de f somando constantes a qualquer primitiva de f.

Assim, se F e G forem primitivas de f, existe uma constante C tal que: G(x) = F(x) + C

4. INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA

Existe uma explicação geométrica simples para o facto de duas primitivas quaisquer de uma
função diferirem entre si de um valor constante. Se F for uma primitiva de f, então F ’ (x) =
f(x). Isto significa que, para cada valor de x, f(x) é o coeficiente angular da reta tangente ao
gráfico de F(x). Se G for outra primitiva de f, o coeficiente angular de sua reta tangente
também é f(x). Logo, o gráfico de G é “paralelo” ao gráfico de F e pode ser obtido
transladando-se verticalmente o gráfico de F. Assim, existe uma constante k, tal que G(x) =
F(x) + k. A figura a seguir ilustra esta situação para várias primitivas da função f(x) = 3x2.

y = x3 + C

Figura: Alguns exemplos das primitivas de 3x2


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5. NOTAÇÃO DE INTEGRAÇÃO

Costuma-se escrever: ∫ f ( x )dx=F ( x )+C para exprimir o facto de toda primitiva de f(x) ser
da forma F(x) + C.

Por exemplo, para expressar o fato de toda primitiva de 3x2 ser da forma x3 + C, escrevemos:

∫ 3 x 2 dx=x 3 +C

O símbolo ∫ chama-se sinal de integração e indica que queremos encontrar a forma mais
genérica (geral) da primitiva da função que o segue. O sinal de integração lembra um “S”
alongado, que representa “SOMA”. Veremos, uma relação tão importante entre derivadas e
somas, que recebe o nome de Teorema Fundamental do Cálculo.

Na expressão ∫ f ( x) dx = F( x)+ C , a função f(x) a ser integrada denomina-se integrando. A


constante C (não especificada), acrescentada a F(x) a fim de tornar mais genérica a expressão
da primitiva, denomina-se constante de integração.
O símbolo dx que segue o integrando serve para indicar que x é a variável em relação a qual
efectuaremos a integração.

Definição da integral indefinida (ou primitiva) utilizando a notação de integral

∫ f ( x) dx = F( x)+ C ⇔ F ' (x )= f( x), ∀ x ∈ Dom(f )


6. REGRAS DE INTEGRAÇÃO
A integração é a operação inversa da diferenciação. Logo, podemos formular várias regras de
integração partindo das correspondentes (porém no sentido inverso) regras de diferenciação
(derivadas).

6.1 REGRAS DA POTÊNCIA PARA INTEGRAÇÃO


d n
[ x ]=n⋅x n−1
Segundo a regra de potência: dx , ou seja, para derivar uma função potência,
retiramos uma unidade do expoente e multiplicamos o expoente original pela função elevada
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ao novo expoente. Enunciando esta regra no sentido inverso, teremos que, para integrar uma
função potência, devemos aumentar seu expoente de uma unidade e dividir o resultado pela
nova potência.

1
∫ x n dx = n+1⋅x n +1+ k
Segue-se um enunciado mais preciso da regra. Para n≠−1 ,
n
ou seja, para integrar x (n≠−1 ), aumenta-se o expoente de uma unidade, e divide-se a
função elevada ao novo expoente por este novo expoente.

Para comprovar esta regra, basta observar que:


d
dx
1
n+1
x n +1 =
n+1 n
n+1
⋅x =x n
[ ]
Exemplos:
1) Calcule as integrais
3+1 4
x x
∫ x 3 dx= 3+1 +k = +k
4
a)
1 3
1 +1 3
2 2
∫ √ x dx=∫ x dx= x1 + k= x3 +k = 23 x 2 + k
2

+1
b) 2 2
2 5
2 + 1 5
3 3
x x 3
∫x 3
dx= 2
+1
+ k= 5
+k= . x 3 + k
5
c) 3 3

x 0+1 x1
∫ dx=∫ 1 dx=∫ x dx= 0+1 +k = 1 +k =x+ k
0
d)
1 1
1 − +1
− 2 2
∫ √1x dx=∫ x 2
dx=
x
1
+k =
x
1
+ k=2 √ x+ k
− +1
e) 2 2
1
A regra da potência vale para todos os valores de n, à exceção de n = - 1 (caso em que n+ 1 é
indefinido).

6.1.1. Como determinar uma primitiva de x–1


5

1
Precisamos determinar uma função cuja derivada é x . O logaritmo natural ln x é a tal
1
∫ x dx=ln x + k
função, logo . Na realidade, isto só é válido quando x for positivo, pois ln x
não é definido para valores negativos de x. Quando x é negativo, segue-se que ln |x| é a
1 d d -1 1
[ln|x|]= [ln (- x )]= =
primitiva de x , pois, sendo x negativo, |x| = - x e dx dx -x x .

1
Quando x é positivo, segue-se que ln |x| é a primitiva de x , pois sendo x positivo, |x| = x e
d d 1
[ln|x|]= [ln x ]=
dx dx x.
1 1
∫ dx=ln|x|+ k
Assim, a integral de x é dada por: x .

6.2. INTEGRAL DE ex

A integração da função exponencial ex é trivial, pois ex é sua própria derivada. Assim,

∫ e x dx=e x+k
6.3. REGRAS DA CONSTANTE MULTIPLICADA E DA SOMA

É fácil rescrever as regras de derivação para soma e constante multiplicada e transformá-las


em regras de integração para estes casos.

6.3.1 Regra da constante multiplicada para integrais

Para qualquer constante k,

∫ k⋅ f( x) dx=k⋅∫ f (x ) dx
ou seja, a integral de uma constante multiplicada por uma função é igual à constante
multiplicada pela integral da função.
6.3.2. Regra da soma para integrais
6

∫ [ f ( x)+g( x)]dx=∫ f ( x) dx+∫ g( x) dx


ou seja, a integral da soma é a soma de cada uma das integrais.

Exemplo:
1) Calcule as integrais

a) ∫ 5 dx= 5∫ 1dx=5x +k
x3 x3 x
∫ [ x +e ] dx=∫ x dx +∫ e dx= 3 +k 1+e +k 2= 3 +e +k
2 x 2 xx
b)
c)

∫ [ 2 1
] 1 1 1 x3 1
3 e x + − x 2 dx=3∫ e x dx +2∫ dx− ∫ x 2 dx=3 e x +2 ln|x|− ⋅ +k=3 e x +2 ln|x|− x 3 +k
x 2 x 2 2 3 6

Nota: pelo exemplo c, temos que ao invés de adicionarmos uma constante a cada uma das 3
primitivas, basta adicionar apenas uma constante k ao final do resultado encontrado.

6.4 INTEGRAIS DE PRODUTOS E QUOCIENTES

Não existem regras gerais de integração de produtos e quocientes. Ocasionalmente,


conseguiremos exprimir um produto ou um quociente de uma forma integral, com o auxílio
das regras já apresentadas.

Exemplos:
5
∫ 3 x +2x 3 x−5 dx
1) Calcule
3 x 5 + 2 x−5 3 x 5 2 x 5
3
= 3 + 3 − 3 =3 x2 +2 x −2 −5 x−3
Fazendo a divisão indicada, temos: x x x x
Assim,

5 3 −1 −2
∫ 3 x +2x 3 x−5 dx =∫ [ 3 x 2+ 2 x−2−5 x−3 ]dx=3 ∫ x 2 dx +2∫ x −2 dx−5∫ x−3 dx=3⋅ x3 +2⋅−1
x
−5 .
x
−2
+k=

2 5
=x 3 − + 2 +k
x 2x

x 3 −8
∫ x−2 dx
2) Calcule
7

Fazendo a divisão indicada, temos :

x3 -8 | x − 2
3 2 2
-x +2 x x +2 x+4
2x2 −8
-2x 2 +4 x
4 x−8
−4 x+8 x3 −8
=x2 +2 x + 4 2 3
0 ⇒ x −2 , pois ( x−2 ).( x +2 x+4 )=x −8
Assim:

3 3 2
−8 x3 2
∫ xx−2 x 2x
dx =∫ [ x2 +2 x +4 ]dx=∫ x 2 dx +2∫ x dx +4 ∫ 1 dx= +
3 2
+4 x +k =
3
+x +4 x +k

7. APLICAÇÕES
Nos exemplos que se seguem a taxa de variação é conhecida e o objetivo consiste em
calcular a expressão da própria grandeza. Como a taxa de variação é a derivada, calculamos
sua expressão por integração.

7.1. Crescimento Populacional


Exemplo: Estima-se que, daqui a t meses, a população de uma certa cidade variará segundo a

taxa de 2+6 √ t pessoas por mês. A população atual é de 5.000 pessoas. Qual a população
daqui a 9 meses?
Solução:
Seja P(t) a população da cidade daqui a t meses. Então, a derivada de P é a taxa de variação da
população em relação ao tempo, ou seja,
dP
=2+6 √ t
dt

Segue-se que a função população P(t) é uma primitiva de 2+6 √ t , ou seja,

3
dP
P(t )=∫ dt =∫ (2+6 √ t )dt =2 t+ 4 t 2 +k ,
dt para alguma constante k.

Para determinar k, usamos a informação de que a população atual (quando t = 0) é de 5.000,


ou seja:
8

3
2
5 . 000=20+ 40 +k ⇒k =5 . 000 ,
3
2
logo P(t )=2 t +4 t + 5. 000 e a população daqui a 9 meses será:

3
2
P(9 )=2⋅9+4⋅9 +5 . 000=5 . 126
7.2. Economia, administração, ciências contábeis e engenharia de produção

Nas aplicações à economia, se conhecemos a função marginal então podemos usar a


integração indefinida para determinar a função custo total, conforme ilustram os exemplos a
seguir:

Exemplos:
1) Um fabricante calculou que o custo marginal de uma produção de q unidades é de 3q 2 –
60q + 400 reais por unidade. O custo de produção das duas primeiras unidades foi de R$
900,00. Qual será o custo total de produção das cinco primeiras unidades?
Solução:
Vale lembrar que o custo marginal é a derivada da função custo total c(q). Logo,

c’(q) = 3q2 – 60q + 400


e, portanto, c(q) deve ser a primitiva

c (q )=∫ c ' (q )dq=∫ (3 q2 −60 q+400 )dq=q 3 −30 q2 +400 q+k , para alguma constante k.

O valor de k é determinado com base no fato de que c (2) = 900.

Em particular, 900 = (2)3 – 30(2)2 + 400(2) + k ⇒ k = 212

Então, c(q) = q3 – 30q2 + 400q + 212

e o custo de produção das 5 primeiras unidades é de:

C(5) = (5)3 – 30(5)2 + 400(5) + 212 = R$ 1.587,00

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