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E CULTURA
Priscila Farfan
Barroso
Revisão técnica:
Guilherme Marin
Bacharel em Filosofia
Mestre em Sociologia da Educação
ISBN 978-85-9502-184-6
CDU 31
Introdução
A cultura permite o acúmulo de saberes compartilhado entre os seus
membros ao longo do tempo. Esses saberes, no entanto, perpassam por
aprendizagens na própria cultura e do contato dela com as outras. Assim,
cada vez mais fica evidente que a grande maioria das culturas existentes
não estão, totalmente, isoladas e não sobrevivem sozinhas.
Neste capítulo, você vai aprender o que são os processos culturais e
como eles se relacionam com o cotidiano da sociedade em que vivemos.
Para começar, você deve lembrar que cultura não é só o conhecimento
que se aprende na escola, e que, a todo momento, estamos vivenciando
culturas de diversas ordens, seja em casa, seja na igreja, seja na rua, etc.
Deste modo, queremos dizer que o que é produzido pela cultura não
é algo único e fechado, pelo contrário, está em constante modificação
não só pelo passar do tempo, mas também pelo contato entre culturas.
muitos povos indígenas não vivem mais isolados, e, mesmo morando longe
dos grandes centros urbanos, alguns têm, em suas aldeias, televisão, celular,
computador, etc. Por isso, é preciso considerar que as culturas são dinâmicas
e os processos culturais pelos quais cada uma vivencia e constrói sua história
na humanidade (Figura 1).
temente, impactam o modo de vida dos entes envolvidos. Essas trocas culturais
podem ser parciais ou mesmo totais, de modo que o contato implica aceitação ou
resistência em relação aos traços e aspectos culturais do(s) outro(s), assimilando
padrões culturais e deixando de lado outros que não lhe fazem sentido. Assim,
um estrangeiro que more no Brasil há anos pode saber falar muito bem o por-
tuguês, mas continua torcedor do seu time de coração da Europa, utiliza trajes
de acordo com o país de origem e tem hábitos que para nós são considerados
estranhos, mas que para ele fazem parte do seu cotidiano.
cias que as sociedades causam umas nas outras e, por isso, tornam-se objeto
de estudo dos cientistas sociais.
Logo, foram criados conceitos, principalmente por sociólogos norte-ame-
ricanos, a partir do estudo das diferenças culturais e dinâmicas dos povos,
possibilitando o estudo das mudanças culturais nas sociedades complexas.
Essas mudanças culturais também acontecem por conta das relações de poder
que se dão no contato entre as culturas. Nesse sentido, também devemos
lembrar das relações de poder entre as culturas que incidem, direta e indire-
tamente, no modo como ocorrem as trocas culturais. Por exemplo, um grupo
dominante pode obrigar ou coagir para que o grupo dominado deixe de lado
hábitos representativos de sua cultura e adquira novos.
De qualquer modo, os encontros entre sociedades permitem que as pró-
prias sociedades avaliem os modos como elas realizam suas atividades, as
ferramentas que utilizam para facilitar suas vidas e os valores considerados
chaves para manutenção de seu grupo. Vamos, então, ver um pouco mais sobre
os processos culturais que podemos identificar nas sociedades.
Difusão cultural
Difundir remete a ideia de propagar-se. Logo, podemos dizer que difusão cul-
tural é “um fenômeno que explica como um padrão cultural ou uma invenção
são transmitidos de uma sociedade a outra, mesmo não havendo o contato direto
entre elas” (COSTA, 2010, p. 227). Esse conceito busca compreender como um
elemento cultural se difunde através das culturas ainda que não haja proximidade
constante e direta entre elas. Ou seja, ao longo dos tempos, algumas sociedades
podem se aproximar e se afastar de outros povos, carregando os elementos cul-
turais trocados adiante, ainda que depois se afastem em definitivo. Com isso, é
possível questionarmos como certos aspectos culturais se difundiram em outras
culturas, tais quais o uso do fogo, o ato de cozer os alimentos, a utilização de
ferramentas semelhantes, o culto às entidades entre outras atividades e mani-
pulação de objetos que são recorrentes em diversas culturas.
Essas ideias fundaram a proposta teórica do difusionismo cultural, que
visava explicar a diversidade das culturas por meio da difusão de elementos
culturais, contrapondo-se a noções evolucionistas, que explicavam o fato
de recorrências culturais em regiões afastadas, por meio de um processo de
evolução da humanidade, que passaria por estágios e etapas semelhantes.
Cabe dizer que a difusão de elementos culturais pode ocorrer sem amea-
çar as culturas que as influenciam, pois, como as relações mantidas não são
contínuas, dificilmente vão substituir os traços culturais já existentes. Essa
Processos culturais: difusão cultural, aculturação e endoculturação 63
adoção de um novo hábito cultural pode se dar por imitação ou por empréstimos
entre as culturas, que estão em contato de modo pacífico. Entretanto, como
este é um processo consciente e inconsciente, alguns hábitos e modos de vida
são copiados parcialmente, sendo readaptados nas culturas que a recebem.
Aculturação
O intercâmbio dos elementos culturais intenso entre sociedades próximas
e íntimas podem resultar em uma nova cultura. Logo, consideramos que a
aculturação “é fusão de duas culturas diferentes que, entrando em contato
contínuo, originam mudanças nos padrões de cultura de ambos os grupos”
(MARCONI, PRESOTTO, 2010, p. 45).
Nesse sentido, a interferência de hábitos e elementos culturais pode trans-
formar a cultura receptora, uma vez que se sugere a modificação de certos
padrões culturais, como língua, valores e comportamentos, a partir desse
contato. Essa troca pode ser recíproca, mas não necessariamente. Ela também
pode variar de acordo com a intensidade, pois pode absorver somente parte
dos traços culturais ou absorvê-los totalmente, como vamos ver adiante nas
especificidades dos processos de aculturação.
A assimilação, conforme Marconi e Presotto (2010), considera um momento
da aculturação em que a vivência entre grupos de forma próxima e contínua
em um mesmo local estabelece vínculos e trocas dos hábitos de vida, chegando
a certa “solidariedade cultural”. Ao mesmo tempo, se essa proximidade se
der em termos de dominação de uma cultura por outra, pode ser que a cultura
dominada seja obrigada, pela força ou não, a substituir seus ritos, crenças,
comportamentos e tradições por aquilo que a cultura dominante impõe.
Ao mesmo tempo, esse é um processo longo e complexo que modifica o
modo de pensar, de agir, de sentir e de viver em uma sociedade, que vai se
acomodando aos poucos em meio a cultura e faz com que os indivíduos par-
tilhem outros valores e atitudes diferentes das suas de origem. Com o contato
cultural, ao longo do tempo, a assimilação vai permitindo a integração entre
as sociedades e a vivência comum entre elas.
De certa forma, é possível considerar que a assimilação permite uma
homogeneização de certos elementos culturais presentes, se contrapondo a he-
terogeneidade dos diferentes comportamentos e formas de viver das diferentes
culturas existentes. No entanto, não é sempre que esse processo acontece de
modo pacífico, e a resistência dos povos pode reforçar a heterogeneidade dos
aspectos culturais específicos de cada sociedade, legitimando suas identidades
locais. Nesse sentido, para além da integração entre os povos, observa-se a
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https://goo.gl/afL902
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Endoculturação
Quando você nasce, a cultura já está disponível para vivenciá-la. E é nesse
sentido que você vai aprendendo, absorvendo e, por conseguinte, dissemi-
nando cultura. Para analisar esse processo, vamos nos valer do conceito de
endoculturação. Segundo Marconi e Presotto (2010, p. 47):
https://goo.gl/r7bdsw
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