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INTRODUÇÃO

À PROFISSÃO:
FARMÁCIA

Daikelly Braghirolli
Daniela Steffens
Liliana Rockenbach
Revisão técnica:
Letícia Hoerbe Andrighetti
Farmacêutica Industrial
Mestre em Ciências

B813i Braghirolli, Daikelly Iglesias


Introdução à profissão : farmácia / Daikelly Iglesias
Braghirolli, Daniela Steffens, Liliana Rockenbach ; [revisão
técnica: Letícia Hoerbe Andrighetti]. – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.
121 p. : il. ; 15,5 x 22,5 cm.


ISBN 978-85-9502-264-5

1. Farmácia. 2. Farmácia – Profissão. I. Steffens, Daniela.


II. Rockenbach, Liliana. III. Título.
CDU 615.1

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052

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UNIDADE 1
Noções gerais da profissão:
definição e histórico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as principais definições aplicadas à profissão farmacêutica.


 Identificar os principais marcos históricos da profissão farmacêutica
no Brasil.
 Reconhecer a profissão farmacêutica no cenário atual.

Introdução
A profissão farmacêutica é milenar e acompanha a história da própria
humanidade. Desde a antiguidade as pessoas procuravam a cura para
doenças. A partir disso, surgiram os primeiros indivíduos interessados na
pesquisa e na busca de substâncias com efeitos medicinais e terapêuticos.
Apesar de não serem identificados como tais, eles foram os primeiros
farmacêuticos. Hoje, o farmacêutico é um profissional com conhecimento
amplo e que na área de fármacos e medicamentos realiza a maior parte
de suas atividades. 
Neste capítulo, você poderá acompanhar a história da profissão far-
macêutica. Vamos conhecer como essa profissão surgiu e evoluiu até
os dias atuais. 

A profissão farmacêutica
O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico
representa o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora.
É o atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às

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12 Noções gerais da profissão: definição e histórico

doenças. É quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite.


O lema do Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir.
Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação
de cor ou raça. O Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por
maiores que sejam a vaidade e o orgulho dos homens, a doença os abate – e
é então que o Farmacêutico os vê. O orgulho humano pode enganar todas as
criaturas: não engana ao Farmacêutico. O Farmacêutico sorri filosoficamente
no fundo do seu laboratório, ao aviar um receita, porque diante das drogas
que manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild
e o do pobre negro da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.
Monteiro Lobato

Segundo os dicionários, o termo farmacêutico é definido como “o profissional


que exerce a profissão da farmácia”, mas na prática, o que é um farmacêutico?
O farmacêutico é um profissional da área da saúde com uma história
bastante antiga. Os farmacêuticos são profissionais habilitados, diplomados
por uma Faculdade de Farmácia, credenciada no Ministério de Educação, que
têm amplo conhecimento sobre fármacos e medicamentos. Conhecem seus
efeitos clínicos, mecanismos de ação, efeitos adversos, contraindicações e
interações. Porém, os farmacêuticos também conhecem o organismo humano,
seu funcionamento, marcadores, enzimas, proteínas. Conhecem as plantas
medicinais.
Como podemos ver, o farmacêutico é um profissional com formação
bastante ampla. Em função disso, ele tem um campo de atuação variado.
O farmacêutico pode atuar nas áreas das análises clínicas e toxicológicas;
áreas de controle e produção de alimentos; educação e saúde pública; práticas
alternativas, como a acupuntura; área de fármacos e medicamentos e na saúde
estética. Essa última é uma área de atuação regulamentada recentemente pelo
Conselho Federal de Farmácia e que vem sendo bastante explorada. O farma-
cêutico que atua nela pode executar diferentes técnicas, como laserterapia,
eletroterapia, radiofrequência estética e cosmetoterapia.
A área de fármacos e medicamentos representa a principal atuação do
profissional farmacêutico, sendo que, no Brasil, ele tem responsabilidade
técnica amparada por lei. O farmacêutico é responsável técnico por drogarias,
indústrias farmacêuticas e farmácias, incluindo farmácias magistrais, hospi-
talares e clínicas, homeopáticas, entre outras. Cabe ao farmacêutico realizar a
dispensação e a produção de medicamentos, prestar informações e promover o
uso adequado dos medicamentos. A atuação clínica dos farmacêuticos tem sido
bastante valorizada pela comunidade e pelos órgãos de saúde e governamentais.

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Essa prática, chamada farmácia clínica, envolve o serviço de atenção farma-


cêutica. Nesse serviço, o farmacêutico interage diretamente com as equipes
multidisciplinares de saúde e com o paciente, visando a obtenção do sucesso
da farmacoterapia, a promoção e a recuperação da saúde. O farmacêutico pode
realizar consultas farmacêuticas, para conhecer o paciente e seu histórico
terapêutico. Nas consultas, o farmacêutico realiza a revisão do receituário,
faz intervenções farmacêuticas e prescreve medicamentos, se necessário. Na
prescrição farmacêutica, o profissional pode incluir medicamentos de venda
livre ao tratamento do indivíduo. A atenção farmacêutica está inserida no
conceito de assistência farmacêutica. A assistência farmacêutica é uma prá-
tica que aborda desde a seleção e aquisição de medicamentos até a chegada
deles ao paciente e seu monitoramento. Essa atividade é requerida em vários
serviços de saúde, por exemplo, nos hospitais. Nesses locais, o farmacêutico
participa ativamente da seleção e programação de medicamentos, do seu
armazenamento, distribuição, dispensação e farmacovigilância. Por meio de
todas essas ações, os farmacêuticos contribuem para a melhora da qualidade
de vida do indivíduo e da sociedade.

Figura 1. Símbolo da Farmácia.


Fonte: Piter Kidanchuk/ Shutterstock.com

Símbolo oficial da Farmácia


A taça com uma serpente a ela enrolada é internacionalmente conhecida como o
símbolo da profissão farmacêutica (Figura 1). Nesse símbolo, a taça representa a cura,
enquanto que a serpente representa o poder, a ciência, a sabedoria e a transmissão do

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conhecimento compreendido de forma sábia. Esse símbolo remonta à antiguidade e


é baseado na mitologia grega, na “lenda do Centauro Chiron”. Essa lenda conta que
Chiron, um centauro e que, ao contrário da maioria dos de sua raça, caracterizados
pela selvageria e violência, ele se dedicava aos conhecimentos da cura. Um dos seus
discípulos era o Deus Asclépio (também chamado Esculápio), ao qual ensinou os
segredos das ervas medicinais. Asclépio se tornou o deus da saúde e tinha como
símbolo um cetro com duas serpentes nele enroladas. Porém, ele não utilizava seu
conhecimento somente para salvar vidas. Ele também usava seu poder para ressuscitar
pessoas. Zeus, descontente com a quebra do ciclo natural da vida, resolveu intervir e
acabou matando Asclépio com um raio. Com a morte de Asclépio, a saúde passou a ser
responsabilidade de sua filha Hygeia ou Hígia, que se tornou, então, a deusa da saúde,
da limpeza (daí a raiz da palavra higiene). Hígia tinha como símbolo uma taça. Com
sua promoção para “Deusa da Saúde”, foi adicionada em sua taça, uma serpente nela
enrolada. Essa serpente é uma representação do legado de seu pai. Assim, o símbolo
de Hígia, da taça com a serpente, se tornou, posteriormente, o símbolo da Farmácia.
Fonte: Brasil (2008).

Um breve histórico da profissão farmacêutica:


seu surgimento
A história da Farmácia é bastante antiga. Desde a época pré-histórica, a huma-
nidade já tinha contato com algumas doenças e buscava remédios para a sua
cura. Apesar da figura do farmacêutico ser mais recente, desde os primórdios, a
prática da farmácia já existia. A trajetória da profissão é cheia de curiosidades.
Vamos acompanhar agora, a evolução do ensino da farmácia e o surgimento
da profissão farmacêutica.
Alguns achados históricos demonstram que já na pré-história, os indivíduos
utilizavam plantas como remédios. Na época, o conhecimento sobre plantas
medicinais era empírico, obtido com base na tentativa e erro. Se após o uso
de determinada planta, os efeitos observados fossem positivos, as plantas
passavam a ser consideradas curativas e o conhecimento popular sobre elas
acabava se propagando. Nesse tempo, as doenças eram explicadas através de
fenômenos sobrenaturais. A causa das doenças era atribuída à presença de
espíritos. Assim, as poções curativas, preparadas por curandeiros, eram vistas
como poções com poderes também sobrenaturais.
À medida que a humanidade foi evoluindo, a prática da farmácia também
obteve avanços. Alguns registros mostram que nos povos egípcios e meso-
potâmicos, na idade antiga, já havia uma certa separação dos métodos de
cura empíricos dos métodos espirituais. Esses dois métodos não competiam

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e eram vistos como complementares. No Egito antigo, já existiam indivíduos


responsáveis pelo preparo e comércio de remédios (século XVI a.C.).
Historiadores indicam que as bases para a profissão médica moderna sur-
giram com a civilização grega. Nesse período, surgiu o conceito de fármaco
ou pharmakon, que pode ter o significado de feitiço, remédio ou veneno.
Os primeiros médicos gregos conseguiram avançar no estudo das causas
naturais das doenças. Contudo, a cura sobrenatural ainda estava presente na
Grécia antiga. Os indivíduos da época, acometidos por alguma doença, ainda
esperavam intervenção da deusa Hygeia, que carregava uma serpente mágica
e uma poção curativa. Nessa época, um médico grego, chamado Hipócrates
(460 – 370 a.C.) foi muito importante para a medicina. Ele foi responsável
por elaborar uma das primeiras explicações racionais para a existência das
doenças, desvinculando o surgimento delas a causas sobrenaturais. Hipócrates
acreditava que as doenças eram causadas por um desequilíbrio dos “humores
corpóreos” e é conhecido, até hoje, como o “Pai da Medicina”. Os médicos
da época, portanto, começaram a trabalhar no princípio de que a boa saúde
dependia do equilíbrio correto entre os quatro humores: bílis negra, sangue,
bílis amarela e fleuma.
A saúde na antiguidade atingiu seu auge com o médico que atuava em
Roma, Galeno (século I d.C.). Galeno é considerado o “Pai da Farmácia”. Ele
criou um sistema em que tentava equilibrar os humores de um indivíduo doente
pelo emprego de misturas de ervas que agiam de forma contrária aos sinais
e sintomas apresentados. Galeno foi o precursor da farmácia tradicional, a
alopatia. Até o hoje, o termo Farmácia Galênica é utilizado como sinônimo
de manipulação farmacêutica.
No final da Idade Média, alguns avanços foram obtidos com o crescimento
da civilização islâmica. Os árabes inicialmente seguiam as escrituras gregas
e à medida que iam adquirindo novos conhecimentos, iam adicionando a
esses documentos. Eles desenvolveram e aprimoraram a apresentação de
determinados medicamentos, tornando-os mais palatáveis.
Durante o Renascimento, os estudos sobre plantas medicinais evoluíram.
Houve o surgimento da imprensa. Isso possibilitou a difusão dos conhecimentos
sobre os medicamentos da época. Alguns livros médicos eram ilustrados com
as figuras das plantas utilizadas, possibilitando que os seus leitores pudessem
reproduzir as informações ali descritas. Nesse período, o cirurgião suíço
Paracelso (1493-1541) também deixou alguns importantes legados para essa
área. Paracelso previu a descoberta de algumas substâncias ativas nas plantas
e desenvolveu o conceito de que as doenças eram ocasionadas por agentes
externos e não por um desequilíbrio dos humores internos.

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Até o século XI, a farmácia e a medicina eram áreas integradas. Somente


no século XII aparecem referências da separação dessas duas áreas. Em 1240,
o imperador romano Frederico II assinou um famoso tratado que tornou a
farmácia e a medicina, profissões independentes. Esse tratado foi assinado
baseado na argumentação de que a prática da farmácia requeria conhecimentos,
habilidades, iniciativas e responsabilidades especiais, com o objetivo de garantir
um cuidado adequado às necessidades medicamentosas das pessoas. Depois
da Itália, a separação entre as profissões ocorreu em vários outros lugares.
Os profissionais da farmácia eram chamados apotecários, ou boticários. Esse
termo era derivado de apotheca, que representava um armazém ou depósito.
No século XVI, os farmacêuticos começaram a pesquisar os princípios
ativos de plantas e de minerais, capazes de curar doenças. No final do século
seguinte, um grande surto de hanseníase se propagou pela França. Isso obri-
gou o rei Luís XIV (1643 – 1715) a tomar várias medidas em saúde pública,
o que resultou em um grande ganho para a área da farmácia. O rei criou um
grande número de farmácias hospitalares no país. Também na França, passa
a ser utilizado o termo “farmacêutico” para os profissionais das farmácias. O
rei Luís XV, em 1777, determinou a substituição do termo “apotecário” por
“farmacêutico”, sendo que, para a obtenção do diploma de farmacêutico, o
indivíduo precisava realizar estudos teóricos e prestar exames práticos.
Nos anos que se seguiram, vários avanços foram realizados na área da far-
mácia e da ciência. A área da botânica evoluiu, alguns medicamentos sintéticos
foram obtidos e os farmacêuticos aprenderam novos métodos de preparo e
manipulação de medicamentos. A partir de 1850, as disciplinas científicas da
farmácia começaram a ganhar mais destaque e a ser profissionalizadas dentro
das faculdades, assim como surgiram empresas de produção de medicamentos.
Após a primeira Guerra Mundial (1914 – 1919), Alexander Fleming des-
cobriu o primeiro antibiótico, gerando grandes avanços na antibioticoterapia
nos anos que se seguiram. No período da segunda Guerra Mundial (1939 –
1945), as pesquisas sobre guerras químicas auxiliaram no descobrimento dos
primeiros medicamentos antineoplásicos. Na década de 50, também foram
descobertos fármacos que revolucionaram o tratamento de doenças graves
ou fatais: vacinas (p. ex.: vacina contra a poliomielite), medicamentos para
doenças cardíacas, contra a tuberculose e antipsicóticos. Na mesma década,
a atenção à segurança dos medicamentos também foi ampliada, iniciando a
chamada “Farmacovigilância”.
Nos últimos tempos, o desenvolvimento de fármacos a partir dos conceitos
baseados na genética, genômica e proteômica tem rompido limites em relação
à farmacoterapia. A informática aplicada à saúde tem feito com que as áreas

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de biotecnologia e tecnologia farmacêutica surjam como ferramentas extre-


mamente importantes para o desenvolvimento de novas formas de tratamentos
terapêuticos.

O farmacêutico comemora sua profissão em duas datas. No dia 20 de janeiro é co-


memorado o Dia do Farmacêutico no Brasil. Essa data foi escolhida em função da
fundação da Associação Brasileira dos Farmacêuticos (ABF) em 20 de janeiro de 1916.
Essa instituição era o maior órgão de representação da profissão na época. No dia 25
de setembro é comemorado o Dia Internacional do Farmacêutico. Esse dia foi escolhido
por uma votação durante o 70º Congresso da Federação Internacional Farmacêutica
(FIP) para unificar essa data comemorativa em todos os países.

O farmacêutico no Brasil
Os farmacêuticos no Brasil, denominados boticários antigamente, surgiram
no período colonial. O primeiro boticário do Brasil foi o português Diogo de
Castro. Ele foi trazido para o país pelo governador geral Thomé de Souza em
1549. Antes disso, as pessoas que aqui habitavam, só tinham contato com
os medicamentos quando imigrações portuguesas, francesas ou espanholas
aportavam no país e traziam consigo algum tripulante com uma botica, con-
tendo drogas e medicamentos. “Botica” era o nome dado a caixas de madeiras,
que continham drogas e medicamentos. As boticas podiam ser transportadas
facilmente de um local para o outro, sendo carregadas pelos boticários ou
transportadas em animais.
Também no período colonial, jesuítas portugueses trazidos para o Brasil
com a finalidade de catequização, instituíram enfermarias e boticas em seus
colégios. Nessas organizações, um jesuíta era responsável por cuidar dos
doentes, e outro por preparar os medicamentos necessários. Sob a direção
dos padres jesuítas, estados, como Bahia, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro
e São Paulo, tiveram importantes boticas.
Em 1640, as boticas no Brasil foram autorizadas a funcionar como comér-
cio. Segundo as ordenações do Reino de Portugal, as boticas deveriam ser
dirigidas por boticários, que eram os responsáveis por realizar a distribuição

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de drogas. Para que o indivíduo se tornasse um boticário, ele deveria obter a


“carta de aprovação” de Coimbra. Na época, muitos boticários eram profis-
sionais empíricos, que possuíam apenas conhecimentos corriqueiros sobre
os medicamentos.
Somente em 1857, as boticas passaram a ser denominadas farmácias. Nesse
ano, foram estabelecidas as condições para que os farmacêuticos pudessem
ter suas farmácias no país.
Durante os tempos do Brasil colônia, o aprendizado como farmacêutico
era dado na prática. Os boticários, após adquirirem experiência nas boticas,
eram submetidos a exames, aplicados pelos “comissários do físico-mor do
Reino”. Em 1808, a família real portuguesa veio para o Brasil. Com isso, várias
mudanças em relação à política, economia, cultura e educação aconteceram.
Neste ano, , foi instituído o Curso Médico no Hospital Militar da Bahia, onde
era ensinada a matéria médica e farmacêutica.
O primeiro curso farmacêutico do país foi criado apenas em 1832 por Dom
Pedro II. Porém, esse curso era ainda vinculado à faculdade de medicina. A
partir desse ano, ficou estabelecido no país que somente poderia “curar, partejar
ou ter uma botica” quem tivesse o título ou fosse aprovado pelas faculdades de
medicina do Rio de Janeiro ou da Bahia. Em 1839, duas escolas de farmácia
foram fundadas, uma em Ouro Preto e outra em São João Del Rei. Essas
escolas eram dedicadas ao ensino da farmácia e da matéria médica.
A definição da profissão farmacêutica no Brasil ocorreu no ano de 1931.
Nesse ano, foi publicado o decreto no 19.606, que aprovou a regulamentação
do exercício da profissão farmacêutica no país. Esse decreto definiu que a
profissão farmacêutica, a partir de então, poderia ser exercida apenas por far-
macêuticos diplomados por institutos de ensino oficiais e também determinou
o que compreendia o exercício da profissão. Esse decreto foi revogado pela
Lei nº 5.991/73, que regulamentou o controle sanitário e comércio de drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos.
Com a publicação do Decreto 85.878, em 1981, um grande marco para a
profissão farmacêutica ocorreu no Brasil. Esse decreto estabeleceu as normas
para o exercício do farmacêutico no país. Ele definiu as atribuições privativas
e exclusivas do farmacêutico e também quais as atribuições poderiam ser
realizadas por outros profissionais. (BRASIL, 1981).

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Nesse link, você terá acesso ao guia da profissão


farmacêutica, elaborado pelo conselho regional de
farmácia do Paraná. Com ele, você poderá conhecer
um pouquinho mais da profissão farmacêutica:

https://goo.gl/dy95sh

O farmacêutico nos dias atuais


Ao longo dos anos, a profissão farmacêutica tem se fortalecido e ocupado
seu espaço dentro da área da saúde e da sociedade. Os farmacêuticos estão
inseridos nas indústrias farmacêuticas e químicas, elaboram novos fármacos
e formas farmacêuticas, participam da vigilância em saúde; controle de quali-
dade de medicamentos; análises clínicas e toxicológicas; pesquisas; gestão de
resíduos; assistência farmacêutica e de diversas outras atividades. No Brasil,
o farmacêutico é enquadrado em 78 áreas de atuação.
O farmacêutico tem importante papel dentro da área da saúde. Ele é o
profissional conhecedor dos medicamentos e fármacos e está habilitado a
resolver problemas relacionados aos mesmos. Em função disso, a profissão
farmacêutica tem ganhado cada vez mais espaço dentro da área clínica. Atu-
almente, a “Farmácia Clínica” tem representado uma grande área de atuação
farmacêutica. O farmacêutico tem participado diretamente das equipes de
saúde, auxiliando na escolha dos medicamentos a serem utilizados pelos
pacientes. Além disso, ele tem tido cada vez mais contato com os pacientes.
No Brasil, as farmácias são reconhecidas como estabelecimentos de saúde e
somente podem “funcionar” na presença de um farmacêutico. O farmacêutico,
por sua vez, tem, entre suas inúmeras funções, o papel de agente da saúde.
Esse profissional também atua clinicamente e é responsável pelo tratamento
e saúde do paciente. Hoje o farmacêutico atende, conhece o paciente, separa
e confere seus medicamentos e o que precisa, presta informações, identifica
possíveis problemas relacionados a tais medicamentos, realiza prescrições e
intervenções farmacêuticas.

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20 Noções gerais da profissão: definição e histórico

Essas práticas farmacêuticas têm sido muito valorizadas por órgãos de


saúdes nacionais e federais pois contribuem para a maior eficácia dos trata-
mentos farmacoterapêuticos.

Uma Unidade de Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, contratou


um farmacêutico e observou durante algum tempo suas ações dentro da equipe de
saúde. A integração desse profissional na unidade de saúde teve efeitos positivos em
diferentes serviços. O farmacêutico reorganizou o gerenciamento de estoque dos
medicamentos. Isso fez com que a falta de medicamentos fosse reduzida em quase
11% na unidade. Esse profissional acompanhou e orientou os demais profissionais para
que os pacientes não ficassem com receituários antigos, utilizando medicamentos
que não precisassem mais. Dessa forma, o farmacêutico contribuiu para a redução de
medicamentos prescritos em pacientes que estavam recebendo acompanhamento
farmacoterapêutico. Ele também participou de um grupo de educação em saúde.
Nesse grupo, orientou técnicos em farmácia e pacientes sobre diferentes assuntos
relacionados ao tratamento medicamentoso. Ele abordou a necessidade do uso de
medicamentos contínuos por pacientes diabéticos e hipertensos. Também abordou
temas como os riscos da automedicação, os cuidados que devem ser tomados com
o armazenamento de medicamentos e os cuidados relacionados à automedicação
em crianças. O farmacêutico também participou do grupo multidisciplinar de con-
trole de tabagismo na unidade. As atuações do farmacêutico nessa equipe de saúde
demonstraram que a presença desse profissional foi importante para a redução dos
problemas relacionados aos medicamentos. Suas atividades contribuíram para que um
maior número de pacientes tivesse acesso aos medicamentos que necessitavam. Além
disso, através das suas intervenções e medidas educativas, o farmacêutico contribuiu
para a promoção do uso racional de medicamentos naquela comunidade.
Fonte: Melo e Castro (2017).

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1. A atuação clínica do farmacêutico a farmácia clínica tem sido cada


tem sido bastante valorizada pelos vez mais valorizada e realizada.
órgãos de saúde e governamentais, Uma atividade realizada pelos
como também, pela sociedade. farmacêuticos, na farmácia clínica,
A integração do farmacêutico está descrita na alternativa:
às equipes multidisciplinares de a) Preparo de medicamentos.
saúde e o seu contato direto com b) Venda de medicamentos.
os pacientes contribui para a c) Seleção de medicamentos.
promoção do uso adequado dos d) Controle de qualidade
medicamentos e o sucesso da de medicamentos.
farmacoterapia. Uma atribuição e) Revisão da farmacoterapia.
clínica do farmacêutico é a atenção 3. Galeno foi um grego, que viveu
farmacêutica. Esse serviço inclui: no século I d.C., em Roma. Ele é
a) A seleção e aquisição considerado o pai da farmácia,
de medicamentos pois desenvolveu sistemas
pelo farmacêutico, no que combatiam as doenças
serviço de saúde. por meio de substâncias que
b) A programação de se opunham diretamente aos
medicamentos, no seus sinais e sintomas. Até hoje,
serviço e saúde. utilizamos o termo Farmácia
c) A promoção do uso racional Galênica. Atualmente, esse
de medicamentos, a nível termo é sinônimo de:
individual e comunitário. a) Indústria farmacêutica.
d) A elaboração de relatórios b) Manipulação farmacêutica.
técnicos sobre os medicamentos c) Farmácia clínica.
utilizados no serviço de saúde. d) Drogaria.
e) A assistência farmacêutica, e) Assistência farmacêutica.
prática que representa 4. Na época do Brasil Colônia, as
uma das maiores atuações farmácias eram conhecidas por
do farmacêutico. boticas e eram dirigidas por
2. Atualmente, o farmacêutico boticários, os precursores da
pode atuar em diversas áreas, atual profissão farmacêutica.
como fármacos e medicamentos, Na época, os boticários
análises clínicas e toxicológicas, recebiam seu aprendizado:
saúde estética, alimentos, a) Nas escolas de farmácia
práticas integrativas e vigilância existentes na Europa.
sanitária. A área de fármacos b) Com comissários portugueses,
e medicamentos representa enviados ao Brasil pela
uma das principais atuações do coroa portuguesa.
profissional da farmácia. Nessa área,

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22 Noções gerais da profissão: definição e histórico

c) Em cursos realizados em b) Com a fundação da primeira


Portugal, com a autorização escola de ensino farmacêutico do
do governador-geral. Brasil e da América, a Escola de
d) Na prática em boticas. Farmácia de Ouro Preto, em 1839.
e) Com os padres jesuítas c) Com o governo de Getúlio
que vieram ao Brasil com Vargas, em 1931, onde foi
intuito de catequização. assinado o Decreto nº 19.606,
5. Antigamente, os estudos da que também dispôs sobre as
farmácia eram vinculados às atribuições do farmacêutico.
faculdades de medicina. No d) Com a vinda dos jesuítas ao
Brasil, a regulamentação da país, que estabeleceram as
profissão farmacêutica ocorreu: primeiras boticas (precursoras
a) Com a vinda da família real das farmácias) em suas escolas.
portuguesa ao país, em 1808, e) Com a criação do conselho
quando mudanças de caráter federal e dos conselhos regionais
educacional ocorreram. de farmácia, em 1960.

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Noções gerais da profissão: definição e histórico 23

BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução nº 471, de 28 de fevereiro de 2008, CFF.


Brasília, DF, 2008. Disponível em: <http://portal.crfsp.org.br/index.php/legislacao-
-sp-1880104235/5219-resolucao-no-471-de-28-de-fevereiro-de-2008-cff.html>. Acesso
em: 14 set. 2017.
BRASIL. Decreto n. 85.878, de 7 de abril de 1981. Estabelece normas para execução da Lei
nº 3.820, de 11 de novembro de 1960, sobre o exercício da profissão de farmacêutico,
e dá outras providências. Brasília, DF, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto/Antigos/D85878.htm>. Acesso em: 14 set. 2017.
BRASIL. Lei n. 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do
Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras
Providências. Brasília, DF, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L5991.htm>. Acesso em: 14 set. 2017.
MELO, D. O.; CASTRO, L. L. C. A contribuição do farmacêutico para a promoção do
acesso e uso racional de medicamentos essenciais no SUS. Ciência & Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 235-244, 2017.

Leituras recomendadas
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