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PRÁTICA CLÍNICA
Ivonete Batista de Araújo — Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Professora do Curso de Farmácia da UFRN.
Lúcia de Araújo Costa Beisl Noblat — Doutora em Medicina e Saúde pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Professora do Curso de Farmácia da UFBA.
INTRODUÇÃO
As interações medicamentosas estão entre as principais causas de erro de medicação em países desenvolvidos.
Devido à politerapia, os idosos são mais vulneráveis, com uma prevalência de 20 a 40%. Ainda existem distorções
quanto aos conceitos e à interpretação dessas interações.
Os objetivos desse artigo são corrigir as distorções de conceitos e fornecer uma visão geral sobre a interpretação da
efetividade das interações medicamentosas quando utilizadas com objetivo terapêutico, bem como dos riscos
decorrentes dessas interações que podem comprometer a segurança do paciente.
Para tanto, requer investigação abrangente e permanente sobre as interações e interferências de alimentos,
suplementos dietéticos, fitoterápicos, plantas medicinais e medicamentos prescritos ou utilizados na automedicação.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
CONCEITOS E DEFINIÇÃO
As interações medicamentosas estão entre as principais causas de erro de medicação em países desenvolvidos, e,
devido à politerapia, os idosos são os mais vulneráveis, apresentando prevalência de interações medicamentosas
na ordem de 20 a 40%.1
As referidas interações medicamentosas são decorrentes da interferência entre dois (ou mais) medicamentos ou
entre medicamentos e alimentos ou suplementos dietéticos e, também, entre medicamentos e condição clínica do
paciente, conforme a Figura 1.2,3
Figura 1 — Interferência entre medicamentos, medicamentos e alimentos ou suplementos dietéticos, fitoterápicos ou plantas
medicinais e, também, entre medicamentos e condição clínica do paciente.
Fonte: Adaptada de United States (2018)2
Merece destaque o crescente uso de fitoterápicos e plantas medicinais como opção complementar de tratamento e a
venda de suplementos dietéticos à base de ervas. Esses produtos possuem constituintes que podem causar
interações medicamentosas com alto risco para o usuário.4
Os desfechos clínicos significativos e desejados decorrem da estreita relação entre os efeitos dos medicamentos, a
dieta e o estilo de vida dos pacientes. Além de produzir os referidos efeitos subterapêuticos ou as reações adversas
decorrentes do aumento de efeitos, simulando uma superdose, podem acarretar alterações em resultados de exames
clínicos laboratoriais. Também, podem produzir um efeito novo ainda desconhecido e comprometer o estado
nutricional do paciente.3,5
LEMBRAR
A incidência das interações medicamentosas depende da singularidade biológica, bem como das doenças e de suas
comorbidades por alterarem a suscetibilidade dos pacientes para tais efeitos.3,5
Os conceitos e as definições sobre interações medicamentosas para identificar tais fenômenos foram descritos há
mais de 50 anos, mas, durante o desenvolvimento das atividades clínicas integradas com diferentes profissionais,
alguns farmacêuticos observaram que esses conceitos ainda não estão totalmente elucidados e muitas vezes são mal
interpretados. A clareza sobre o significado desses fenômenos torna-se imprescindível para a correta identificação,
notificação e intervenção, visando elevar o nível do cuidado prestado ao paciente.
As interações medicamentosas são as alterações do efeito dos medicamentos que se manifestam in vivo no corpo
do paciente.2
Por isso, está incorreto interpretar como interação medicamentosa a potenciação de efeitos decorrentes da
associação de isoniazida, rifampicina e pirazinamida, por exemplo, que atinge a célula bacteriana para aumentar a
efetividade dos tuberculostáticos e dificultar o aparecimento de resistência. Porém, a mesma associação de
tuberculostáticos pode causar interação medicamentosa quando um deles aumenta o risco de hepatotoxicidade de
outro produzindo alterações nas provas de função hepática do paciente.
ATIVIDADES
1. Sobre os conceitos e as definições sobre interações medicamentosas, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) As interações medicamentosas são as alterações do efeito dos medicamentos que se manifestam in vivo no corpo
do paciente.
( ) É correto interpretar como interação medicamentosa a potenciação de efeitos decorrentes da associação de
isoniazida, rifampicina e pirazinamida, por exemplo.
( ) As referidas interações medicamentosas são decorrentes da interferência entre dois (ou mais) medicamentos ou
entre medicamentos e alimentos ou suplementos dietéticos.
A) F — V — V — V.
B) V — F — F — V.
C) V — F — V — V.
D) V — V — V — F.
Resposta no final do artigo
CLASSIFICAÇÃO
Por convenção, as interfências medicamentosas são categorizadas em interações medicamentosas
farmacocinéticas e farmacodinâmicas, e interações farmacêuticas ou incompatibilidade farmacêutica. 7
■ subaditividade (inibição);
■ simples aditividade (somação), quando o efeito da combinação é consistente com as potências
individuais;
■ quando dois ou mais medicamentos são administrados em combinação, em que o efeito pode
ser superaditivo (potenciação), isto é, eles podem demonstrar efeito acima do esperado de suas
potências e eficiências individuais.
As consequências finais não são estabelecidas, mas presume-se que aumentam o potencial de
irritação das veias.7 Ainda, a presença dessas partículas nas soluções IVs pode aumentar o risco de
complicações graves e danos em diferentes órgãos, podendo aumentar a morbidade em pacientes
críticos, em particular durante a nutrição parenteral total prolongada. 9
Ensaios clínicos randomizados e controlados com uma população maior de pacientes são necessários
para confirmar o prognóstico deletério da contaminação por partículas e para avaliar o efeito
preventivo da filtração pela linha com filtro e a estratégia de múltiplas linhas sobre a morbidade.9
A precipitação nem sempre é visível. Toda a precipitação visível não é instantânea nem persistente.10
Existem três causas principais para alguns precipitados não serem visíveis:10
A precipitação pode não ser evidente ou instantaneamente completa, como evidenciado pelo
crescimento dos cristais após a filtração ou pelo amadurecimento de Ostwald (consiste no crescimento
do raio da gotícula e na diminuição do número total das gotículas dispersas) de CaHPO4 supersaturado
na nutrição parenteral por 2 semanas e o atraso no aparecimento de cristais de fenitoína nas
diluições da injeção de fenitoína de sódio.10
A interação medicamento-exame é outro tipo de interação que está representada pelas interferências
de medicamentos nos exames laboratoriais que estão envolvidas em uma importante fonte de erros
de laboratório, podendo comprometer tanto o diagnóstico quanto o acompanhamento de pacientes,
pois esses testes de laboratório são cada vez mais importantes para uma tomada de decisão na
clínica.11 Alguns exemplos serão apresentados ao final deste artigo.
ATIVIDADES
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a III e a IV.
C) Apenas a I, a II e a III.
D) Apenas a I, a III e a IV.
Resposta no final do artigo
A) em raras situações.
B) antes que os medicamentos sejam administrados aos pacientes.
C) durante a administração de medicamentos aos pacientes.
D) nas misturas por via oral (VO).
Resposta no final do artigo
Indice de risco
A - nenhuma interação conhecida
B - Nenhuma ação necessária
C - Monitorar a terapia
D - Considerar possível modificação da Terapia
X - Evitar a combinação
Descrição das possíveis ações
B Os agentes especificados podem interagir entre si, mas há pouca ou nenhuma evidência de
preocupação clínica resultante de seu uso concomitante
D Uma avaliação específica do paciente deve ser realizada para determinar se os benefícios da terapia
concomitante superam os riscos. Ações específicas devem ser tomadas para obter os benefícios e
minimizar a toxicidade resultante do uso concomitante dos agentes. Essas ações podem incluir
monitoramento agressivo, mudanças empíricas de dosagem ou escolha de agentes alternativos.
X Os riscos associados ao uso concomitante dos agentes geralmente superam os benefícios. Esses
agentes são geralmente contra-indicados.
Vários estudos demonstraram que os médicos conhecem apenas uma minoria de interações
medicamentosas graves. Várias interações medicamentosas podem ser detectadas por programas
(software) de alerta que são usados em todo o mundo, e muitas deles estão integrados ao suporte a
decisões clínicas.12
5. Uma avaliação específica do paciente deve ser realizada para determinar se os benefícios da terapia
concomitante superam os riscos. Essa ação sugere índice de risco
A) B.
B) C.
C) D.
D) X.
Resposta no final do artigo
6. Sobre as ações indicadas para monitorar a terapia (índice C), assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Os ajustes de dosagem de um ou ambos os agentes podem ser necessários em uma minoria de pacientes.
( ) Os benefícios do uso concomitante desses dois medicamentos geralmente superam os riscos.
( ) Há pouca evidência de preocupação clínica resultante de uso concomitante de medicamentos.
( ) Um plano de monitoramento apropriado deve ser implementado para identificar potenciais efeitos negativos.
CONTEXTUALIZAÇÃO
O breve referencial teórico, anteriormente apresentado, servirá para esclarecer as marcantes controvérsias sobre os
conceitos, unificar as terminologias e uniformizar a documentação para alinhar os bancos de dados e facilitar o
intercâmbio de conhecimento sobre as interações medicamentosas entre os profissionais de saúde comprometidos
com os avanços terapêuticos voltados para o cuidado com os usuários de medicamentos.
A academia também deve utilizar esse conhecimento na formação de novos profissionais, contextualizando ensino,
pesquisa e extensão. O conteúdo apresentado a seguir abordará sobre a classificação das interações
medicamentosas documentadas nos principais portais (Micromedex e Up to Date) e detectadas durante experiências
vividas por farmacêuticos nos diferentes cenários de atuação profissional.
Antes de notificar uma interação medicamentosa, torna-se prudente desenvolver raciocínio clínico para esclarecer as
possíveis causas multifatoriais (doença de base, singularidade biológica, medicamentos envolvidos, hábitos
alimentares, condicionamento físico e fatores ambientais) que podem induzir o aparecimento da reação observada.
Diversas condutas devem ser adotas para prevenir o aparecimento e minimizar ou evitar os riscos
decorrentes das interações medicamentosas, como:
■ monitoração de efeitos;
■ redução de doses;
■ alteração de intervalos posológicos;
■ substituição ou suspensão de medicamentos;
■ aferição do nível plasmático de medicamentos com faixa terapêutica estreita
INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS
NA ABSORÇÃO
São fatores predisponentes que podem causar elevação ou diminuição da biodisponibilidade: modificação do pH
gástrico; formação de quelato; alteração da motilidade gastrointestinal ou interferência em proteínas de transporte tais
como glicoproteína P; administração concomitante com agentes com grande superfície sobre a qual o fármaco pode
ser adsorvido; os medicamentos podem sofrer alterações importantes na absorção induzidas por dietas ricas em
gordura, proteína e fibras.3
Os medicamentos podem sofrer alterações importantes na absorção induzidas por dietas ricas em gordura, proteína
e fibras.3
Caso Clínico 1
MSC mulher de 45 anos de idade contraiu uma infecção urinária alta (pielonefrite) e foi a Farmácia Comunitária com
uma prescrição de ciprofloxacino 500 mg, VO, 12/12h para usar durante 10 dias.
Sem apresentar prescrição, pediu um frasco de magnésio /alumínio (Mylanta Plus). A administração concomitante de
ciprofloxacina oral com o hidróxido de magnésio e alumínio deve ser evitada (Risco C). A ciprofloxacina pode ser
tomada duas horas antes ou seis horas depois de tomar um antiácido.
NA DISTRIBUIÇÃO
O principal fator predisponente para a ocorrência de interação em nível de distribuição é a competição pela ligação a
proteína plasmática. Além da afinidade pela proteína é necessário que um dos medicamentos tenha o poder de
deslocar outro previamente ligado e aumentar a fração livre deste.
Caso Clínico 2
CBS homem de 54 anos foi acometido por fibrilação atrial, há 6 meses em uso profilático de varfarina, VO 5mg /dia,
com International nomalized ratio [INR] dentro da faixa 2,0 a 3,0.
O paciente também fazia uso de ácido acetilsalicílico (Somalgin), VO, 100 mg/dia. Por equívoco adquiriu e usou o
Somalgin de 500 mg. Como sentiu cefaleia repetiu a dose como analgésico. Após 24 horas, apresentou várias
equimoses nos braços e pernas. O paciente procurou uma UBS e relatou a ocorrência.
Essa é uma interação medicamentosa amplamente conhecida (Risco D). Sabe-se que o ácido acetilsalicilico desloca
a varfarina da ligação às proteínas plasmáticas, alterando seu o volume de distribuição por aumentar a fração livre,
podendo aumentar o efeito anticoagulante de forma exagerada. Esse caso requer um raciocínio clínico bem elaborado
por conter outros mecanismos com potencial para desenvolver desfechos clínicos relevantes que serão abordados
em interações farmacodinâmicas. Que conduta adotar para contornar esse episódio hemorrágico?
Em torno de 75% dos medicamentos usados na prática clínica são metabolizados pela via do sistema enzimático do
citocromo 450 (CYP). Os CYPs humanos fundamentais para o metabolismo de fármacos, tanto no fígado quanto no
intestino, são: CYP1A, CYP2A, CYP2B, CYP2B, CYP2C (CYP2C8/9, 15%), CYP2D (CYP2D6, 25%) e CYP3A
(CYP3A4, 50%).
A apresentação dos percentuais em ordem crescente indica a frequência com que as subfamílias do CYP se envolvem
na metabolização de fármacos. Essas interações, podem ocorrer por indução ou inibição enzimática quando um
fármaco estimula ou retarda as isoenzimas envolvidas no metabolismo de outro, podendo ocorrer ↓ ou ↑ de efeitos,
respectivamente.
LEMBRAR
Cada isoenzima possui certa seletividade quanto aos possíveis produtos (medicamentos ou outras substâncias) a
serem induzidos ou inibidos.
Caso Clínico 3
MDC mulher de 55 anos de idade com de diabetes melito tipo 2 em uso de glibenclamida foi acometida por um quadro
de Transtorno Afetivo Bipolar-TAB e, por isso, passou a usar oxcarbamazepina. Uma semana após o uso
concomitante a paciente começou a apresentar hiperglicemia o que foi atribuído a uma interação medicamentosa já
que oxcarbamazepina é um indutor do CYP e glibenclamida se metaboliza por meio do CYP. A justificativa é
procedente?
NA EXCREÇÃO
As interações que ocorrem em nível de excreção são decorrentes das interferências entre os medicamentos na
secreção e na reabsorção tubular um do outro.
Caso Clínico 4
KQR menina de 4 anos de idade ingeriu 60 comprimidos de ácido acetilsalicílico 100mg e desenvolveu intoxicação
salicílica. Após 4 horas, foi atendida num hospital público em situação emergência. Para acelerar a excreção do ácido
acetilsalicílico foi administrado uma solução de bicarbonato de sódio IV. Qual o fundamento da Conduta?
INTERAÇÕES FARMACODINÂMICAS
MESMO RECEPTOR
O agonista desenvolve uma atividade intrínseca decorrente de sua ligação com o receptor; com exemplo de agonista
temos a epinefrina é uma catecolamina simpatomimética que atua nos receptores alfa e beta adrenérgicos. O
propranolol é um bloqueador inespecífico alfa e beta adrenérgicos. O uso concomitante de epinefrina e propranolol
pode causar hipertensão, bradicardia, resistência à epinefrina na anafilaxia.
Caso Clinico 5
ISC mulher com choque séptico refratário à fluidoterapia está em tratamento com dobutamina e norepinefrina; com
objetivo terapêutico, essa associação é bastante utilizada nas unidades de terapia intensivas (Risco C). Sabe-se que
administração concomitante de simpatomiméticos, requer cautela devido à possibilidade de somação de efeitos por
afinidades em nível de mesmo receptor. O que deve ser monitorado para prevenir desfechos indesejados?
Caso Clínico 6
JBD homem de 24 anos de idade fez um transplante de válvula mitral, há 2 anos em uso profilático de varfarina 5mg
VO, 24h, com INR dentro da faixa 2,5 a 3,5. Desenvolveu um abcesso dentário e foi prescrito amoxicilina/clavulonato
500mg VO, 8/8h por 7 dias. No segundo dia de uso do antibiótico foi submetido a uma exodontia. O paciente
apresentou um episódio de sangramento de difícil controle (Risco D). A amoxicilina destrói a flora bacteriana produtora
de vitamina K que é a substância mediadora da ação da varfarina; com isso, o antibiótico pode potenciar o efeito do
anticoagulante. O que foi negligenciado para evitar esse grave desfecho?
CBS homem de 54 anos foi acometido por fibrilação atrial, há 6 meses em uso profilático de varfarina, VO 5mg /dia,
com INR dentro da faixa 2,0 a 3,0. Também fazia uso de ácido acetilsalicílico (Somalgin), VO, 100 mg/dia. Por
equívoco adquiriu e usou o Somalgin de 500 mg. Como sentiu cefaleia repetiu a dose como analgésico após 24 horas,
apresentou várias equimoses nos braços e pernas. O paciente procurou uma UBS e relatou a ocorrência.
Apesar de ocorrer, com relativa frequência, o uso simultâneo de varfarina e de ácido acetilsalicílico 100mg/dose diária,
essa indicação pode ser considerada como duplicidade de fármacos. O ácido acetilsalicílico se liga irreversivelmente
na COX da plaqueta para inibir a agregação plaquetária. Como possui meia-vida plasmática em torno de 3h, torna-se
desprezível a competição pelas proteínas plasmáticas e o efeito farmacológico resultante da interação é uma
somação (Risco C). Portanto, o efeito da varfarina + o efeito do ácido acetilsalicílico = soma dos efeitos individuais.
Com a segunda dose de ácido acetilsalicílico 500mg, 2 vezes ao dia, além do efeito antiagregante plaquetário, houve
competição pelas proteínas plasmáticas, aumentando a fração livre da varfarina resultando numa potenciação do
efeito anticoagulate (Risco D). Nesse caso, o efeito da varfarina + o efeito do ácido acetilsalicílico > soma dos efeitos
individuais. Diante do exposto, está correto afirmar que a severidade do desfecho depende:
GCM 58 anos, hipertenso, apresentou dor articular cônica em uso continuo de nifedipino e cetoprofeno. Após 6 meses
de uso concomitante, começou a apresentar dificuldade para controlar a pressão arterial. O cetoprofeno foi suspenso
e a pressão ficou sobre controle. Por insistência do paciente, o cetoprofeno foi reintroduzido e o descontrole da
pressão arterial voltou a ocorrer. Após afastar outras causas, ficou confirmado que se tratava de uma interação
farmacodinâmica por inibição de efeito farmacológico (Risco C). Isso foi decorrente de:
As informações sobre a interação com alimentos e medicamentos nem sempre estão disponíveis convenientemente.
É um problema difícil e complexo de determinar com precisão os efeitos de alimentos e nutrientes juntos com aqueles
de um determinado medicamento. Os profissionais especialmente médicos e farmacêuticos e pacientes precisam se
tornarem mais informados sobre interações medicamentosas e alimentares.3
Caso Clínico 8
AMG, 63 anos, hipertenso, sedentário, em uso de enalapril 20mg12/12h dia e clopidogrel 75mg/dia. Em sua dieta
foi prescrito 1 colheres de sobremesa de flocos de chia três vezes ao dia, distribuídos no café da manhã, almoço e
jantar, podendo alternar a chia pela linhaça ou gergelim. Os referidos produtos naturais possuem constituintes com
propriedades antiagregante plaquetário (Risco D). O paciente apresentou equimoses nos braços e pernas, além de
epistaxe. A conduta mais correta, nesse caso, seria fazer um exame para determinar o índice de agregação
plaquetária, o que geralmente não é realizado. Que ação pode ser adotada nesse caso?
(A) administrar vitamina K
(B) reduzir a dose de clopidogrel
(C) Suspender a dieta
(D) Suspender dieta e clopidogrel
Resposta no final do artigo
Quando um medicamento interage na condição clínica de um paciente o efeito resultante pode ser uma reação
adversa com evidentes alterações (in vivo) de exames de laboratório.
Para exemplificar, será abordado o complexo diagnóstico diferencial do Lúpus Induzido por Fármacos (LIF). Vários
tipos de fámacos podem desencadear o Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), podendo evidenciar o LES idiopático
clinicamente silencioso, induzindo crises de LES ou, na maioria dos casos, desenvolver síndromes semelhantes ao
lúpus. Essas condições chamadas de Lúpus Induzido por Fármacos (LIF), geralmente apresentam apenas algumas
das manifestações do LES, se manifestam de forma abrupta e tendem a desaparecer após a retirada do fármaco
indutor.3
No Quadro 2 estão apresentados os principais achados sorológicos e hematológicos utilizados no diagnóstico e
acompanhamento clínico de pacientes com LIF ou LES idiopático. O LIF não é uma reação idiossincráticas ou
alérgicas típica de fármacos, mas resulta de um processo mais complexo de quebra da autotolerância induzida por
fármacos, que geralmente requer exposição prolongada ao agente causador (geralmente vários meses) para se
desenvolver.13
Quadro 2 Principais achados encontrados no LIF e no LES idiopático
Segundo uma revisão sistemática Izzo e colaboradores,4 a avaliação da segurança e efetividade dos medicamentos
à base de plantas continua a ser problemática, em virtude dos seguintes fatores apresentados do Quadro 3.
Quadro 3- Fatores que devem ser considerados para elevar a qualidade das pesquisas clínicas envolvendo
fitoterápicos e plantas medicinais
1 Uso de métodos inadequados ou inconsistentes;
2 Várias ervas são associadas com eventos adversos graves, envolvendo interações erva-fármaco, em
particular a Erva de São João;
3 Muitos estudos clínicos foram realizados sem o rigor suficiente e detalhadamente documentados; portanto,
os resultados devem ser interpretados com cautela;
4 Para a pesquisa de qualidade neste campo é necessário estabelecer, firmemente, a efetividade e
segurança de muitos produtos à base de plantas;
5 Os produtos à base de plantas administrados aos pacientes devem ser caracterizados quimicamente, se
possível, padronizado e de qualidade conhecida;
6 Os estudos clínicos devem estar de acordo com o padrões descritos nas normas consolidadas das
diretrizes para ensaio clínico, revisão sistemática e meta-análise.
Fonte: Adaptado de Izzo e colaboradores(2016)4
Caso Clínico 11
SRJ, uma senhora 45 anos fazia uso de ginkgo biloba há anos, não informou a dose, segundo ela para melhorar a
memória; pretendia fazer uma cirurgia estética de abdome. Durante a realização dos exames preparatórios, verificou-
se uma alteração no coagulograma sem causa aparente. A cirurgia foi adiada repetidas vezes (Risco C). Procurou
vários hematologistas que atribuíram a causa idiopática. Um farmacêutico sugeriu a suspensão da ginkgo biloba; a
senhora apesar de incrédula, pois afirmava que não havia efeitos adversos, resolveu suspender o fitoterápico e houve
resolutividade do caso, cujo exame foi repetido em 30 dias. Diante desse fato, conclui-se que a ginkgo biloba pode:
As informações sobre esse tipo de interferência ainda são bastante limitadas; por isso requer especial atenção da
equipe multiprofissional de saúde. No quadro 3 a seguir, estão apenas alguns exemplos descritos no artigo de Yao e
colaboradores.11
Tinidazol e o metronidazol podem produzir modificações na detrminação de AST, ALT, Desidrogenase Lática e
triglicerídeos por potencial interferência no método analítico devido à semelhança dos picos de absorção NADH e
tinidazol ou metronidazol*. Essa informação não está documentada no DAILYMED do FDA.
(https://dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/).
Cefoxitina interfere com a dosagem de creatinina pelo método colorimétrico da reação de Jaffé.
Telavancina (antibiótico) altera as provas utilizadas para: o Tempo de Protrombina (TP), Razão Normalizada
Internacional (RNI), Tempo de Tromboplastina Parcial ativado (TTPa), e Tempo de Coagulação Ativado (TCA); a
telavancina liga-se às superfícies dos fosfolipídios artificiais adicionadas aos testes de rotina de anticoagulação,
interferindo assim na capacidade dos complexos de coagulação se reunirem na superfície dos fosfolipídios e
promoverem a coagulação in vitro.
Nitroglicerina e Isossorbida alteram a dosagem de Colesterol pela reação de cores pelo método zlatkis zak.
Mesna pode alterar o teste da Creatinina fosfoquinase (CPK) por interferir com o composto tiol, (por exemplo, N-
acetilcisteína) para reativação CPK.
Diatrizoato de sódio ou meglumina interferem no método de determinação de fibrinogênio; fatores V, VII e VIII;
agregação de plaquetas; cálcio sérico; contagens de glóbulos vermelhos e leucócitos. O desenvolvimento de
turbidez compromete o ensaio.
Edetato dissódico pode alterar a dosagem de cálcio por Interferir no método do oxalato
* Essa informação não está documentada no Dailymed da Food and Drug Administration (https://dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/).
AST: aspartato aminotransferase; ALT: alanino aminotransferase; NADH: hidreto de dinucleotídeo adenina nicotinamida;
TP: Tempo de Protrombina; RNI: Razão Normalizada Internacional; TTPa: Tempo de Tromboplastina Parcial ativado; TCA:
Tempo de Coagulação Ativado; CPK: Creatinina fosfoquinase.
Fonte: Yao e colaboradores (2017).11
Existem dois tipos de interação de medicamentos e exame de laboratório: quando o medicamento interage com a
condição clínica do paciente e altera (in vivo) as provas laboratoriais e quando interfere (in vitro) na determinação do
exame, podendo induzir resultados falsos. Qual a primeira atitude que deve ser adotada para evitar o tratamento do
exame em vez do paciente?
Conclusão
As estratégias para prevenir e minimizar os riscos decorrentes das interações são pouco efetivas. As interações
potencialmente perigosas ainda são pouco documentadas. Portanto, há necessidade inadiável de projetos de
investigação permanente e abrangente envolvendo equipes multiprofissionais sobre as interações e interferências de
alimentos, bebidas, suplementos dietéticos, ervas, fitoterápicos e medicamentos prescritos ou utilizados na
automedicação. Sem dúvida, o farmacêutico é o principal ator desse cenário.
Araújo IB, Noblat LACB. Interpretação de interações medicamentosas na prática clínica. In: Associação Brasileira de Ciências
Farmacêuticas; Pereira LRL, Farias MR, Castro MS, organizadores. PROFARMA Programa de Atualização em Ciências
Farmacêuticas: da Assistência Farmacêutica à Farmácia Clínica: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2019. p. 9–58.
(Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).