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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE FARMÁCIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR
DISCIPLINA: FARMACOLOGIA CLÍNICA

GERENCIAMENTO DE ANTIBIÓTICOS NO
AMBIENTE HOSPITALAR
Atuação do farmacêutico

Aluna: Letícia Figueira de Castro


Prof.ª: Sabrina Calil Elias e Carla Valeria Vieira Guilarducci Ferraz

NITERÓI, 2019
GERENCIAMENTO DO USO DE ANTIMICROBIANOS

Os antimicrobianos são a segunda classe de medicamentos mais utilizada em hospitais e

responsável por 20 a 50% das despesas hospitalares com medicamentos. O controle e a

prevenção da disseminação da resistência microbiana aos antimicrobianos pelos

serviços de saúde são impreteríveis nos dias atuais. Nesse aspecto, uma abordagem para

combater esse problema é o desenvolvimento de programas de gerenciamento de uso de

antimicrobianos (NUNES, 2017).

O Programa de Gerenciamento de Uso de Antimicrobianos envolve um conjunto de

ações designadas ao controle do uso desses medicamentos nos serviços de saúde,

englobando desde o diagnóstico, seleção, prescrição e a dispensação adequadas, as boas

práticas de diluição, conservação e administração, auditoria e monitoramento das

prescrições, educação de profissionais e pacientes, adoção de medidas intervencionistas

assegurando resultados terapêuticos ótimos com mínimo risco, além de politicas e

diretrizes (BRASIL, 2017).

O gerenciamento do uso de antimicrobianos tem como objetivo garantir o efeito

fármaco-terapêutico máximo, reduzir eventos adversos (EA), prevenir a seleção e a

disseminação de microrganismos resistentes e diminuir os custos da assistência

(BRASIL, 2019).

O Centers for Disease Control (CDC/EUA) constatou a necessidade de melhoria nos

mecanismos de controle do uso de antimicrobianos por meio de programas de

gerenciamento, como o “Antimicrobial Stewardship Program (ASP)”. O termo

Stewardship, sem tradução específica, se tornou um conceito da gestão clínica, por meio

de uma seleção otimizada da terapia antimicrobiana (NUNES, 2017).


EMBASAMENTO JURIDICO

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 2011, publicou a RDC 20,

substituindo a RDC 44/10. A RDC 20 estabelece os critérios para a prescrição,

dispensação, controle, embalagem e rotulagem de medicamentos à base de substâncias

classificadas como antimicrobianos de uso sob prescrição, isoladas ou em associação.

Dispõe também sobre alguns serviços pertinentes aos farmacêuticos relacionados a

dispensação dos antimicrobianos. A versão original da resolução não faz nenhuma

menção à atuação do farmacêutico e a atual não contempla todos os âmbitos que o

profissional atua, se restringindo apenas a dispensação desses medicamentos (BRASIL,

2011; BRASIL, 2010).

Em dezembro de 2017, a ANVISA publicou a Diretriz Nacional para Elaboração de

Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde que

possui como principal finalidade orientar os profissionais para elaboração e

implementação de programas de gerenciamento do uso de antimicrobianos. Esse

documento enfatiza o papel do farmacêutico clínico (BRASIL, 2017).

“A atuação da farmácia clínica junto ao Programa de Gerenciamento do Uso


de Antimicrobianos é primordial para melhorar os resultados em saúde do
paciente e os indicadores propostos no Programa” (BRASIL, 2017).

O tema infecção hospitalar torna-se objeto de ações governamentais com a publicação

das Portarias Nº 196/83, 930/92 e 2.616/98 do Ministério da Saúde (MS) que normatiza

e regulamenta medidas de prevenção e controle de infecção hospitalar. A Portaria do

M.S nº2616/98 expediu diretrizes e normas para a execução das ações da Comissão de

Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), estabelecendo a participação de membros

consultores e executores, profissionais de nível superior da área da saúde. O serviço da

farmácia está entre os membros consultores (BRASIL, 1998).


O grande problema mundial devido ao surgimento da resistência bacteriana e declínio

da descoberta de novos antibióticos, fez com que, em 2015, o presidente dos Estados

Unidos, Barack Obama, decretasse uma estratégia Nacional de combate às bactérias

resistentes aos antibióticos através da ordem executiva 13676. A ordem estabelece o

prazo de 3 anos para os centros de assistência e serviços médicos cumprirem condições

dos CDC, condições definidas como “Elementos Essenciais de Programas Antibióticos

Hospitalares”. A Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP)

defende que os farmacêuticos assumam papéis proeminentes em programas de gestão

antimicrobiana devido à sua especialização, compreensão e influência sobre o uso de

antimicrobianos. Somado a declaração da ASHP ao documento do CDC “Elementos

essenciais”, ocorre o destaque da importância dos farmacêuticos um programa de

gerenciamento antimicrobiano (NUNES, 2017).

Em julho de 2019, a ANVISA criou o Projeto Stewardship Brasil para Avaliar os

Programas de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Unidade de Terapia

Intensiva Adulto dos Hospitais Brasileiros. A execução do projeto se justifica pela

necessidade de avaliar o panorama nacional para identificar oportunidades de melhoria

e buscar estratégias a fim de promover a implementação desses programas em todos os

hospitais do país (BRASIL, 2019).


ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA CLÍNICA

A Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de

Antimicrobianos em Serviços de Saúde cita algumas das atividades voltadas ao uso de

antimicrobianos desenvolvidas pela farmácia clínica, e que estão listadas a seguir

(BRASIL, 2017):

 Participação no desenvolvimento e atualização de protocolos de indicação e uso;


 Auditoria prospectiva da prescrição após a dispensação inicial pela farmácia;
 Auxílio na detecção e prevenção de interações indesejáveis tais como medicamento-
medicamento, medicamento-alimento, medicamento-nutrição enteral;
 Auxílio na detecção e prevenção de reações adversas e erros de medicação;
 Auxílio na otimização da posologia conforme características clínicas do paciente
(peso, função e hepática, hemodiálise, diálise peritoneal), agente etiológico, sítio
infeccioso e características farmacocinéticas e farmacodinâmicas do medicamento;
 Otimização da forma de preparo (ex.: reconstituição, diluição, forma de
administração via sondas, equipo adequado, velocidade de infusão, tempo total de
infusão para manutenção de estabilidade da solução, compatibilidade);
 Auxílio na monitorização terapêutica e ajuste de dose, de acordo com concentração
plasmática (ex.: vancomicina, aminoglicosídeos);
 Auxílio no processo de descalonamento, ajuste da terapia, terapia sequencial
(conversão de terapia parenteral para oral) e suspensão de tratamento;
 Educação dos profissionais de saúde;
 Notificação de suspeita de reação adversa a medicamentos, erro de medicação,
suspeita de desvio de qualidade ou ineficácia terapêutica;
 Orientação do paciente, especialmente no momento da alta.

Priorizam-se pacientes com maior risco de desenvolver eventos adversos (neonatos,

crianças, idosos, gestantes, nefropatas, hepatopatas, ou pacientes em estado crítico),

vinculando, ou não, este critério de inclusão a um perfil de uso de antimicrobianos

específicos (os de uso restrito, os utilizados para bactérias multirresistentes ou os que

demandam ajuste de dose).


REALIDADE FARMACÊUTICA EM UM HOSPITAL

A gestão dos antimicrobianos é responsabilidade de todos os farmacêuticos,

independentemente do ambiente de prática, contudo, para liderar um programa de

gerenciamento do uso de antimicrobianos não se pode negar a importância dos

farmacêuticos possuírem pós-graduação.

A CCIH do hospital observado dispunha como membro consultor a farmacêutica chefe

da farmácia, que recentemente renunciou ao cargo. Não tendo atualmente representantes

da farmácia.

No Centro de Terapia Intensiva (CTI), a farmacêutica responsável, participante ativa

dos rounds, foi transferida. Suas contribuições eram relevantes, informando o clearance

do pacientes para ajuste de dose dos antimicrobianos. Hoje, o serviço conta apenas com

funcionários técnicos que não possuem ensino superior.

Os farmacêuticos responsáveis pela dispensação relatam participação no gerenciamento

de antimicrobiano ao informar ao médico a quantidade do medicamento no estoque,

para que prescrições sejam atendidas adequadamente. Analisam a prescrição e orientam

ao paciente no momento da alta.

Como observado, o hospital do estudo não possui um programa para gerenciamento dos

antimicrobianos, e as poucas medidas de controle do uso desses medicamentos são

realizadas pela CCIH, que, no momento atual, não possui a presença de um

farmacêutico.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretriz Nacional para
Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde.
2017. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/Diretriz+Nacional+para+Elabora%C3%
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2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Projeto Stewardship
Brasil. Avaliação Nacional dos Programas de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em
Unidade de Terapia Intensiva Adulto dos Hospitais Brasileiros. 2019. Disponível em:
<https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/noticias/163-avaliacao-nacional-
dos-programas-de-gerenciamento-do-uso-de-antimicrobianos-em-utis-adultos-dos-hospitais-
brasileiros>. Acesso em: 07 dez. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2616/1998. Ações de controle de infecção hospitalar.
1998. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html>. Acesso em:
13 Dez. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria no 2.616/
SNVS de 12 de maio de 1998. Expede, na forma dos anexos I, II, III, IV e V diretrizes e normas
para a prevenção e o controle das infecções hospitalares. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html>. Acesso em: 07
dez. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n 20
de 5 de maio de 2011. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias
classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição, isoladas ou em associação.
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf>.
Acesso em: 08 dez. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n 44
de 26 de outubro de 2010. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias
classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação e
dá outras providências. Disponível em:
<http://www.cff.org.br/userfiles/file/noticias/RDC%20ANVISA%20N%C2%BA%20%2044%2
0DE%2026%20DE%20OUTUBRO%20DE%202%20010%20CONTROLE%20DE%20ANTI
MICROBIANOS.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2019.
NUNES, Paula Soares. O papel do farmacêutico no antimicrobial stewardship. São Paulo, 2017.
31p. Monografia (MBA em Gestão em Saúde e Controle de Infecção). Instituto Nacional de
Ensino Superior e Pesquisa, 2017. Disponível em: < https://www.ccih.med.br/wp-
content/uploads/2017/12/Paula-soares.pdf>. Acesso em: 13 Dez. 2019.

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