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Farmacovigilância:
qualidade e segurança
da assistência em saúde
Helaine Carneiro Capucho
1621130 - Produzido em Fevereiro/2011
FARMACOVIGILÂNCIA:
QUALIDADE E SEGURANÇA DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE
Uma resolução publicada pela Anvisa, a RDC 02/20102, tornou obrigatória a atividade
de Farmacovigilância em todos os estabelecimentos de saúde, quando determinou que os ES
devem possuir uma sistemática de monitorização e gerenciamento de riscos das tecnologias
em saúde, visando a redução e minimização da ocorrência dos eventos adversos. Dentre as
tecnologias de saúde, inclui-se o medicamento. O gerenciamento de riscos dos medicamentos,
portanto, é sinônimo de Farmacovigilância.
Por outro lado, a maioria destas atividades não está formalizada, principalmente por
dificuldades em se obter estrutura física e disponibilidade de recursos humanos. Entretanto, para
que os riscos potenciais de eventos adversos sejam minimizados deve-se conhecer e controlá-
los, uma vez que são fontes de danos à saúde.
Pelo exposto, este artigo tem como objetivo demonstrar algumas estratégias
de implantação e/ou aprimoramento da atividade de Farmacovigilância como ferramenta de
qualidade para os serviços farmacêuticos nos diferentes estabelecimentos de saúde.
(a) Objetivos: a atividade de Farmacovigilância tem como principal objetivo a segurança dos
usuários dos medicamentos, à medida que pretende não só monitorar eventos adversos,
mas também é função da Farmacovigilância preveni-los, promovendo o uso racional de
medicamentos. Assim, a implantação desta atividade em um ES tem como objetivo prevenir
e monitorar falhas em todo o ciclo dos medicamentos, desde a seleção até a destinação
final, passando por fases importantes da assistência farmacêutica como a aquisição e
dispensação destes produtos. No plano a ser elaborado por cada instituição, deverá ser
considerada a situação atual da atividade de Farmacovigilância para que se possam
estabelecer os objetivos: se existente ou se já realizada, porém requer aprimoramento.
(c) Metodologia: para estabelecer como será este serviço farmacêutico, devem ser
considerados a legislação atual e programas federais, estaduais e municipais existentes
sobre o assunto ou que possuam alguma interface com ele, como é o caso da RDC 02/2010,
da RDC 07/20103 (sobre requisitos mínimos para funcionamento de UTI) e da RDC 04/094
(sobre normas de farmacovigilância para detentores de registros), além da Política Nacional
de Medicamentos e de Assistência Farmacêutica. Basicamente, a metodologia utilizada
em farmacovigilância pode ser dividida em três fases: obtenção da informação (sistema
de notificação e monitorização de eventos adversos e desvios de qualidade), análise e
investigação do caso e tomada de ações preventivas e corretivas.
(c) 1. Obtenção da Informação: países como o Brasil, que ainda não tem como prática
plenamente difundida em seus estabelecimentos de saúde a monitorização da ocorrência
de eventos adversos para a melhoria da segurança do paciente e que, geralmente, não
dispõem de recursos humanos e financeiros para utilizar métodos ativos de detecção
de eventos adversos, podem estabelecer como principal método de identificação desses
eventos o relato voluntário.
Para se estabelecer um sistema de notificações voluntárias, alguns passos devem ser seguidos5:
1. Elaboração do instrumento de notificação: a notificação pode se dar por diferentes meios
- impresso, telefone, fax, intranet, internet. Atualmente, o meio mais utilizado pelos ES é
o meio impresso, contando com um formulário a ser preenchido. O formulário deve ser
de fácil preenchimento e deve apresentar informações claras. A forma de check list tende
a dar velocidade e evitar dúvidas durante o preenchimento da ficha. Além disso, essa
forma facilita a análise da notificação e reduz problemas de grafias ilegíveis. Ainda assim,
a ficha deve conter um espaço para que o notificador descreva o evento adverso e faça
suas observações, sendo, portanto, de livre preenchimento;
Característica Descrição
Notificadores livres de retaliação ou punição por ter
Não punitiva
notificado
Confidencialidade A identificação do notificador nunca é revelada
O sistema de notificação é independente de qualquer
Independente
autoridade com poder para punir
As notificações são avaliadas por especialistas, para
Análise por especialistas que entendam aspectos clínicos e reconheçam as
possíveis causas do evento
As notificações são analisadas rapidamente e as
Agilidade recomendações são prontamente divulgadas para os
interessados, especialmente nos casos graves
As recomendações incidem sobre as mudanças
Foco no sistema nos sistemas, processos ou produtos e não estão
orientadas para o indivíduo
O setor que recebe as notificações dissemina
Sensibilidade as recomendações, e a organização de saúde
compromete-se a implementá-la, sempre que possível
(c) 2. Análise e investigação do relato: à medida que o sistema de relato for fortalecido
e mais de uma notificação for recebida por dia, deve-se fazer uma triagem, determinando a
prioridade da investigação, principalmente pela gravidade do evento adverso ocorrido ou do seu
potencial de causar dano, no caso de desvio de qualidade.
INTERDIÇÃO
AGUARDA
DE LOTE(S)
INDIVIDUAL INSTITUCIONAL
PUBLICAÇÃO SUSPENDE/
DE ALERTA REPROVA MARCA
Fonte: Capucho, H.C. Encontro com Fornecedores de HCFMRP-USP
Dentre outras decisões que são tomadas por este hospital, citam-se a interdição do
um ou mais lotes do produto, suspensão ou reprovação da marca. Este último ocorre sempre que
o problema com o produto notificado seja recorrente, ou seja, tenha ocorrido por diversas vezes,
optando-se pela suspensão ou reprovação da marca do “medicamento-problema”, a fim de
impedir nova aquisição do mesmo, ainda que esta seja uma instituição pública. A lei de licitações
é clara quando diz que se deve adquirir sim ao menor custo, mas também é clara quanto ao
produto apresentar a mesma qualidade que os concorrentes.
(d) Recursos Físicos: os recursos físicos necessários são uma sala8 climatizada de, no
mínimo, 6m2 para uso exclusivo (se compartilhado, este espaço deve ser respeitado para
esta equipe). A sala pode estar localizada na farmácia ou ser independente desta, caso
esteja ligado a outro serviço, como o de Gerenciamento de Riscos. O tamanho da sala
depende do tamanho da equipe de Farmacovigilância e dos horários de escala de trabalho.
(e) Recursos Materiais: são necessários materiais de escritório, computadores com acesso
à internet, fax, telefone com linha interurbana, fontes de informação, tais como livros e
periódicos nacionais e internacionais, armários para arquivos das notificações e outros
documentos, além de armários para guarda temporária de amostras.
(f) Recursos Humanos: os Padrões Mínimos para a Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde8,
para as atividades de farmacovigilância é necessário 1 farmacêutico para cada 250 leitos,
em tempo integral e dedicação exclusiva. O dimensionamento da equipe vai depender da
complexidade do serviço de Farmacovigilância prestado, do sistema de vigilância utilizado e
da legislação vigente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
5. CASSIANI SHB, MIASSO AI, GABRIEL CS, SILVA AE BC, REIS AMM, OLIVEIRA RC, CAPUCHO
H C, TEIXEIRA TCA, CARVALHO REFL. . Hospitais e Medicamentos: impacto na segurança
dos pacientes. 1. ed. São Caetano do Sul: Yendis, 2010. 183 p.
6. WHO. WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY. WHO Draft Guidelines for Adverse Event
Reporting and Learning Systems From information to action. 76 p. 2005.