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ELABORAÇÃO

Thais Teles de Souza


Doutora em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Farmácia Clínica pela
Universidade Federal do Paraná – UFPR;
Professora Adjunta do Departamento de Ciências Farmacêutica DCF/CCS da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB;
Coordenadora da Liga Acadêmica de Farmácia Clínica de Cuidado
Farmacêutico da Universidade Federal da Paraíba – UFPB;
Consultora Ad hoc do Conselho Federal de Farmácia;

Walleri Christini Torelli Reis


Doutora em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Farmácia Clínica pela
Universidade Federal do Paraná – UFPR;
Professora Adjunta do Departamento de Ciências Farmacêutica DCF/CCS da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB;
Coordenadora do Ambulatório de Cuidado Farmacêutico da Universidade
Federal da Paraíba – UFPB;
Consultora Ad hoc do Conselho Federal de Farmácia;

Vinícius Soares Ribeiro


Graduando em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB;
Bolsista de iniciação cientifica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq;
Membro fundador da Liga Acadêmica de Farmácia Clínica e Cuidado
Farmacêutico da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

Este material didático foi elaborado como suporte teórico para o curso online de
Serviços Farmacêuticos direcionados ao paciente, família e comunidade
promovido pela Liga Acadêmica de Farmácia Clínica e Cuidado Farmacêutico
LAFARCLIN-UFPB, qualquer reprodução (total ou parcial) deste conteúdo sem
a prévia autorização, é proibida.
SUMÁRIO

CAPÍTULO I – ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: DA GESTÃO 04


LOGÍSTICA A GESTÃO CLÍNICA........................................................
REFERÊNCIAS..................................................................................... 09
CAPÍTULO II – MORBIMORTALIDADE RELACIONADA A 10
MEDICAMENTOS.................................................................................
REFERÊNCIAS..................................................................................... 26
CÁPITULO III – ARÉA DA FARMÁCIA CLÍNICA E O MODELO DE 32
PRÁTICA DO CUIDADO FARMACÊUTICO.........................................
REFERÊNCIAS..................................................................................... 45
Diversos autores questionam que uma profissão ou atividade só é
legítima se atender a uma demanda ou necessidade social (1–3). Bem como,
todo profissional tem como princípio de atuação resolver problemas complexos,
que exigem avaliação, interpretação e definição, baseadas em conhecimentos e
habilidades técnico-científicos e na capacidade de interpretar a realidade(4).
Quando se realiza uma análise dos sistemas de saúde, nota-se a
existência de uma lacuna entre o benefício potencial dos medicamentos e o seu
real valor terapêutico. Os medicamentos representam atualmente na prática
clínica um recurso essencial aos serviços de saúde em diferentes culturas ao
redor do mundo por serem empregados na cura, diagnóstico, prevenção e
controle de várias doenças, sendo a sua utilização considerada uma das formas
mais comuns de tratamento. Entretanto, o potencial benéfico dos medicamentos
nem sempre é atingido pois há uma diferença importante entre a eficácia e
segurança comprovada por ensaios clínicos controlados e a real efetividade e
segurança na prática, considerando a individualidade do paciente e a
especificidade de cada situação, pois o resultado de um tratamento está ligado
à Interrelação de diversos eventos, atores e condições, de forma complexa e
nem sempre previsível(5).
De acordo com a Resolução nº 338, de 6 de maio de 2004, do Conselho
Nacional de Saúde, que aprovou a Política Nacional de Assistência
Farmacêutica, Assistência Farmacêutica (AF) é o “conjunto de ações voltadas à
promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva,
tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso
racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de
medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição,
distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços,

4
acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de
resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (6–8).
O farmacêutico tem suas atribuições orientadas dentro do ciclo da
assistência farmacêutica (AF), que por sua vez é um conjunto de ações e de
serviços que visa assegurar assistência terapêutica integral e a promoção, a
proteção e a recuperação da saúde nos estabelecimentos públicos e privados
que desempenhem as atividades farmacêuticas, conforme conceitua a Lei
13021/14 (9). Compreendem-se como componentes da AF a gestão técnica da
assistência farmacêutica e a gestão clínica do medicamento. Como demonstra
a Figura 1.

Figura 1. Modelo lógico-conceitual da assistência farmacêutica integrada ao


processo de cuidado em saúde.
Fonte: Correr, Otuki, Soler, 2011 (10).

Adicionalmente, garantir o acesso a medicamentos não é suficiente para


alcançar os melhores resultados terapêuticos, pois além dos problemas
logísticos relacionados ao tratamento, os estudos demonstram alta prevalência
de problemas relacionados a farmacoterapia, incluindo inefetividade, reação
adversa a medicamentos, intoxicações medicamentosas, problemas na seleção

5
e prescrição dos medicamentos, baixa adesão ao tratamento, problemas na
qualidade do medicamento ou no monitoramento do paciente (5,10,11)
A morbimortalidade relacionada a medicamentos é um relevante
problema de saúde pública e a principal necessidade social que precisa ser
atendida pelo profissional farmacêutico, que pode atuar em conjunto com o
paciente, seu cuidador e os demais profissionais de saúde envolvidos, no intuito
de identificar, resolver e prevenir problemas relacionados à farmacoterapia, por
meio da realização de diferentes intervenções sobre a saúde, os tratamentos
farmacológicos e não farmacológicos, o monitoramento, o autocuidado e os
encaminhamentos a outros profissionais e serviços de saúde (10–12).
O farmacêutico, apesar de representar um profissional estratégico para
o sistema de saúde, é, nesta conjuntura e de forma geral, subutilizado (9,13,14).
Os estabelecimentos farmacêuticos, pela capilaridade e distribuição geográfica,
e o farmacêutico, pela sua competência e disponibilidade, representam, muitas
vezes, a primeira possibilidade de acesso das pessoas ao cuidado em saúde.
Mudar a forma de promover o cuidado à saúde das pessoas e otimizar as
contribuições potenciais de cada profissional desafiam a sustentabilidade desses
sistemas (13).
A farmacoterapia é considerada ideal ou ótima quando o paciente faz
uso de todos os medicamentos que necessita tratando todas as suas condições
de saúde e fatores de risco, quando o paciente não faz uso de nenhum
medicamento desnecessário, inapropriado ou contraindicado, quando o paciente
compreende, concorda e cumpri o tratamento farmacológico e não
farmacológico, quando é alcançada a meta terapêutica obtendo sucesso na
prevenção de doenças, no controle das condições de saúde, na cura de
problemas, na normalização de parâmetros laboratoriais e/ou alívio de sintomas
são alcançados conforme esperado (5,15).
As quatro dimensões da farmacoterapia (necessidade, adesão,
efetividade e segurança) permitem ao farmacêutico avaliar os medicamentos em
uso pelo paciente em toda sua complexidade e o conduzirão à detecção de
riscos ou problemas relacionados à farmacoterapia manifestados. As quatro
dimensões devem ser sistematicamente avaliadas exatamente na ordem em que
se apresentam. É comum aos farmacêuticos entender a necessidade da
farmacoterapia e a adesão terapêutica como dimensões ligadas ao processo do
6
uso dos medicamentos. Por outro lado, a efetividade e segurança são expressão
dos efeitos da farmacoterapia sobre o estado de saúde do paciente, refletindo-
se em desfechos de saúde (10). A Figura 2 traz um esquema que facilita a
visualização do processo de raciocínio clínico do farmacêutico em relação à
farmacoterapia.

Figura 2: Dimensões da Farmacoterapia Ideal


Fonte: Correr, Otuki, 2013

Para realizar uma adequada revisão da farmacoterapia, o farmacêutico


deve possuir uma base sólida de conhecimento em farmacoterapia e sobre o
manejo de condições agudas e crônicas. O caráter generalista da prática
farmacêutica faz com que a atualização e a educação permanente sejam parte
do seu cotidiano. É fundamental possuir acesso a boas fontes de informação
sobre medicamentos e às diretrizes clínicas. Boas fontes de informação terciária
sobre medicamentos são livros e compêndios que possuam informação
atualizada, completa, confiável e aplicável (10).

7
No Brasil, há consenso de que os bulários normalmente encontrados nas
farmácias não atendem às condições necessárias e não tem qualidade suficiente
para a prática da atenção farmacêutica. Diretrizes Clínicas são documentos de
orientação da conduta profissional baseados nas melhores evidências
científicas, normalmente elaborados por entidades médicas e científicas. Uma
boa prática clínica deve se basear nas necessidades específicas dos pacientes,
nas melhores evidências disponíveis e na experiência do profissional para a
tomada de decisões que maximizem as chances de benefícios ao paciente (10).
Nesse contexto, surge a necessidade de ampliar a Assistência
Farmacêutica para além da Gestão logística de medicamentos e dar
continuidade ao processo de cuidado após dispensação do medicamento,
acompanhando seu processo de uso, os resultados em saúde e a qualidade de
vida do paciente (5,10). Desta forma, as atividades do farmacêutico podem estar
voltadas ao medicamento (gestão técnica do medicamento) ou ao paciente
(gestão clínica do medicamento).
As atividades voltadas ao medicamento incluem a gestão logística, a
manipulação magistral, o controle de qualidade dos produtos e a gestão
financeira ou de pessoas. As atividades da gestão clínica visam a melhoria do
processo de uso de medicamentos ou a obtenção de resultados terapêuticos
definidos, voltados à manutenção ou melhoria da qualidade de vida e saúde da
população. A gestão clínica do medicamento se insere na área da Farmácia
Clínica e se concretiza por meio da realização de serviços farmacêuticos
diretamente destinados ao paciente, à família e à comunidade, os quais são
embasados no modelo de prática do Cuidado farmacêutico (2,5,10).

8
REFERÊNCIAS

1. CIPOLLE, R.J.; STRAND L. M. Pharmaceutical care practice: the patient-centered


approach to medication management. 3a. New York: Third Edition, editor. 2012. 697 p.
2. Conselho Federal de Farmácia. Serviços farmacêuticos diretamente destinados ao
paciente, à família e à comunidade: contextualização e arcabouço conceitual. De BCF,
CFF F–, editors. 2016. 200 p.
3. Hepler CD, Strand LM. Opportunities and responsibilities in pharmaceutical care. Am J
Hosp Pharm. 1990;47(3):533–43.
4. Brasil M da S. Caderno 1: Serviços Farmacêuticos na Atenção Básica à Saude. Vol. 1,
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica. 2014. 108 p.
5. Correr CJ, Otuki MF, Soler O. Assistência farmacêutica integrada ao processo de
cuidado em saúde: gestão clínica do medicamento. Rev Pan-Amazônica Saúde.
2011;2(3):41–9.
6. Vieira FS. Assistência farmacêutica no sistema público de saúde no Brasil. Rev Panam
Salud Pública. 2010;27(2):149–56.
7. de Oliveira LCF, Assis MMA, Barboni AR. Assistência farmacêutica no sistema único de
saúde: Da política nacional de medicamentos à atenção básica à saúde. Cienc e Saude
Coletiva. 2010;15(SUPPL. 3):3561–7.
8. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 338, de 6 de maio de 2004. Aprova a
Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Brasília: Diário Oficial da União, n.96, 20
de maio de 2004.; 2004.
9. Brasil. Lei n.13.021, de 8 de agosto de 2014: Dispõe sobre o exercício e a fiscalização
das atividades farmacêuticas. Diário Of da União. 2014;4–7.
10. CORRER, C. J.; OTUKI MF. A prática farmacêutica na farmácia comunitária. Artmed
PA, editor. 2013. 454 p.
11. Souza TT De. Morbidade E Mortalidade Relacionadas a Medicamentos : Revisão
Sistemática E Meta-Análise De Estudos Observacionais. Univ Fed do Paraná. 2013;
12. Souza TT. Desenvolvimento de modelos de serviços de cuidado farmacêutico a
pacientes polimedicados. Univ Fed do Paraná. 2017;343 p.
13. Conselho Federal de Farmácia. Resolução no 585, de 29 de agosto de 2013.
Regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências. Brasilia:
Diário Oficial da União, Poder Executivo; 2013. Seção 1, p. 186.
14. Brasil. Conselho Federal de Farmácia. Resolução n o. 586, de 29 de agosto de 2013,
que regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências. Diário Of da União, Pod
Exec Brasília, DF. 2013;(Seção 1):136–8.
15. Righi AW, Schmidt AS, Venturini JC. Qualidade em serviços públicos de saúde: uma
avaliação da estratégia saúde da família. Rev Produção Online. 2010;10(3):649.

9
Os medicamentos são utilizados com intuito de prover a cura ou tornar
mais lento o processo de evolução das doenças, buscando reduzir os sintomas
e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mesmo com muitos esforços para
promover o uso racional de medicamentos, os problemas relacionados ao uso
indiscriminado de medicamentos persistem. Estudos demonstram a gravidade
da situação no que se refere às consequências do uso irracional dos
medicamentos, como o grande número de reações adversas a medicamentos
(1,2), intoxicações por medicamentos (3,4), baixa adesão ao tratamento (5,6),
problemas relacionados a medicamentos (7,8), eventos adversos a
medicamentos (9,10).
A elevada incidência de morbimortalidade relacionada a medicamentos
pode ser prevenida ou amenizada por uma reorganização da forma como os
medicamentos são gerenciados pelos serviços de saúde. Um novo enfoque por
parte da assistência farmacêutica e equipe de saúde, mais voltado para a gestão
clínica da farmacoterapia e dos desfechos em saúde, se faz necessário para o
alcance efetivo do uso racional dos medicamentos (11,12).
Atualmente, existe uma grande diversidade de termos e definições
ligadas à segurança do paciente relacionada aos medicamentos, sendo os mais
utilizados: eventos adversos a medicamentos, reações adversas a
medicamentos, erros de medicação, intoxicações medicamentosas, problemas
relacionados a medicamentos, resultados negativos associados ao uso de
medicamentos, interações medicamentosas, medicamento inapropriado,
medicamento desnecessário, redução abrupta de dose, não adesão ao
tratamento e falha terapêutica. Várias definições e classificações têm sido
propostas por muitos autores e instituições, entretanto, os termos expressos não
são usados de maneira uniforme na literatura e as definições recomendadas
10
para um único termo variam entre diferentes autores (13–15). Por conseguinte,
torna-se difícil a síntese, a interpretação e a comparação dos resultados dos
estudos e a análise da magnitude do problema referente ao uso de
medicamentos.

Problemas relacionados a medicamentos e resultados negativos


associados a medicamentos

O termo “problema relacionado a medicamento” (PRM) surgiu como


tentativa de descrever e classificar todos os problemas ocasionados pelo uso,
ou falta de uso, de medicamentos clinicamente necessários. Entretanto,
atualmente existe uma grande variedade de termos e definições utilizados como
sinônimos e uma diversidade de classificações utilizadas como ferramentas na
prática clínica do farmacêutico (14,16,17).
O primeiro trabalho propondo uma classificação sistemática de PRM foi
realizado por Strand e colaboradores (1990), os quais definiram PRM como
sendo “uma experiência indesejável do paciente que envolve a farmacoterapia e
que interfere real ou potencialmente nos resultados desejados para o paciente”.
Tais autores propuseram uma classificação que constava de oito categorias de
PRMs (PRM 1: necessidade de um tratamento farmacológico; PRM 2: tratamento
farmacológico desnecessário; PRM 3: medicamento em dose, frequência ou
duração inferior à necessária; PRM 4: medicamento em dose, frequência ou
duração superior à necessária; PRM 5: medicamento provoca Reação Adversa
ao Medicamento - RAM; PRM 6: interação fármaco-fármaco, fármaco-alimento
ou fármaco-testes de laboratório; PRM 7: paciente não cumpre o tratamento e
PRM 8: medicamento inadequado) (18).
Mais tarde, os mesmos autores alteraram o conceito de PRM, definindo-
o como sendo “qualquer evento indesejável experimentado pelo paciente, que
envolve ou se suspeita que envolva um tratamento farmacológico e que interfere
real ou potencialmente com o resultado desejado para o paciente” e propuseram
uma segunda classificação com sete categorias, incluindo problemas de
indicação (necessidade de um tratamento farmacológico adicional; tratamento
farmacológico desnecessário), efetividade (medicamento inadequado;
medicamento em dose, frequência ou duração inferior à necessária), segurança

11
(medicamento em dose, frequência ou duração superior à necessária;
medicamento provocando RAM) e adesão (paciente não adere ao tratamento)
(17,19).
Baseando-se nos trabalhos de Strand e colaboradores, a Sociedade
Americana de Farmacêuticos Hospitalares (American Society of Hospital
Pharmacists - ASHP) publicou uma declaração na qual PRM foi definido como
sendo “um evento ou circunstância que envolve terapia medicamentosa que
realmente ou potencialmente interfere com um resultado ótimo para um paciente
específico”. Tal sociedade sugeriu que existem, pelo menos, as seguintes
categorias de PRMs: indicação não tratada; seleção de medicamento
inadequado; dosagem subterapêutica; falha para receber o medicamento;
sobredosagem; reações adversas a medicamentos; interações
medicamentosas; e uso de medicação sem indicação (20,21).
Em 2002, ocorreu o segundo Consenso de Granada sobre PRMs, no qual
os PRMs passaram a ser definidos como sendo “problemas de saúde,
entendidos como resultados negativos, resultantes da farmacoterapia que,
produzidos por diversas causas, conduzem a não obtenção do objetivo
terapêutico ou ao aparecimento de efeitos indesejados”. O segundo consenso
atualizou a classificação de PRMs, a qual passou a constar dos seguintes PRMs:
indicação (paciente tem um problema de saúde por não receber um
medicamento necessário; paciente tem um problema de saúde por receber um
medicamento desnecessário), efetividade (inefetividade não quantitativa;
inefetividade quantitativa) e segurança (insegurança não quantitativa;
insegurança quantitativa) (22).
Os conceitos de causas (processos) e resultados da farmacoterapia são
ainda objeto de grande discussão e confusão conceitual, decorrentes em grande
parte da denominação imprecisa para os “efeitos negativos associados aos
medicamentos”. Em 2005, Fernández-Llimós e colaboradores publicaram um
artigo sugerindo que o termo PRM tem sido amplamente utilizado na literatura,
mas nem sempre representa o mesmo conceito, havendo uma grande mistura
entre o processo e os resultados. Em seguida, o Fórum de Atenção
Farmacêutica, em 2006, propôs um novo termo: resultado negativo associado a
medicamentos (RNM) e, baseando-se nos resultados desse Fórum, o Comitê de
Consenso publicou em 2007 o Terceiro Consenso de Granada (23,24).
12
Desta forma, o termo problema relacionado a medicamentos (PRM) foi
alterado para resultado negativo associado a medicamentos (RNM), no intuito
de diferenciar os problemas ocorridos no processo de uso dos medicamentos
das falhas nos resultados da farmacoterapia. RNM é definido como “um
resultado de saúde não adequado ao objetivo da farmacoterapia e associado ao
uso ou à falha no uso de medicamentos”. E PRM passou a ser definido como
“situação em que o processo de uso dos medicamentos pode causar o
aparecimento de um RNM” (23).
Sendo assim, foi proposta uma classificação de seis RNMs, a qual inclui
problemas de necessidade (problema de saúde não tratado e efeito de um
medicamento desnecessário), efetividade (inefetividade quantitativa e não
quantitativa) e segurança (insegurança quantitativa e não quantitativa).
Adicionalmente uma nova lista de PRMs foi sugerida e inclui problemas como
administração incorreta do medicamento, características pessoais, conservação
inadequada, contraindicação, dose, frequência ou duração inadequada,
duplicidade, erro de dispensação, erro de prescrição, não adesão à terapia,
interações, outros problemas de saúde que afetam o tratamento, probabilidade
de efeitos adversos, problema de saúde insuficientemente tratado e outros (23).
A Rede Europeia de Seguimento farmacoterapêutico (Pharmaceutical
Care Network Europe - PCNE) define PRM como sendo “um evento ou
circunstância que envolve a farmacoterapia e que interfere, real ou
potencialmente, nos resultados de saúde desejados”. Nessa classificação, a
PCNE define as causas, os problemas, as intervenções e os resultados das
intervenções. A classificação básica possui quatro domínios primários para os
problemas (efetividade do tratamento; reações adversas; custos do tratamento;
outros), oito para causas (seleção do medicamento; forma do medicamento;
dose; duração do tratamento; processo de uso / administração; logística;
paciente; outros), cinco para intervenções (ao nível médico; ao nível do paciente
ou responsável; ao nível do medicamento; outros) e quatro para os resultados
da intervenção (resultado desconhecido; problema totalmente resolvido;
problema parcialmente resolvido; problema não resolvido) (PCNE).
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), PRMs
podem ser ocasionados por diferentes causas, tais como: as relacionadas ao

13
sistema de saúde, ao paciente e seus aspectos biopsicosociais, aos profissionais
de saúde e ao medicamento (25).
O termo PRM é muito usado no meio farmacêutico, apesar de não possuir
o mesmo reconhecimento científico do termo Evento Adverso a medicamento -
EAM. Muitos estudos utilizam as classificações de PRMs como forma de
operacionalizar os serviços clínicos do farmacêutico, que visam a prevenção e
redução da morbimortalidade relacionada a medicamentos, garantindo uma
farmacoterapia necessária, efetiva e segura e contribuindo para melhorar a
qualidade de vida dos pacientes (14,26).

Evento adverso a medicamento

Evento adverso a medicamento (EAM) é definido como qualquer injúria


ou dano causado ao paciente pela intervenção médica relacionada aos
medicamentos, provocado pela utilização adequada, inadequada, ou pela falta
de acesso àqueles fármacos clinicamente necessários e que pode resultar em
diferentes desfechos, incluindo o agravamento de um problema de saúde
existente, a ausência de melhora esperada no estado de saúde, o surgimento de
uma nova patologia, a mudança de uma função orgânica, ou uma resposta
nociva devido ao uso de medicamentos (27,28).
Os EAMs podem ser evitáveis (preveníveis) ou inevitáveis (não
preveníveis). Os eventos adversos evitáveis são aqueles associados a erros de
medicação e não teriam ocorrido se o paciente tivesse recebido padrões
adequados de assistência apropriada. Os eventos adversos inevitáveis são
geralmente associados às reações adversas a medicamentos e não resultam de
erros, mas refletem o risco inerente aos medicamentos. Um exemplo de evento
adverso passível de prevenção é o desenvolvimento de uma reação alérgica
após a administração de ampicilina a um paciente que, sabidamente, possui
alergia à penicilina. Por outro lado, um exemplo de evento adverso não evitável
seria a manifestação de reação alérgica após a administração de ampicilina a
um paciente que não possua histórico de alergia aos medicamentos (29,30).
Os eventos adversos a medicamentos potenciais são erros de medicação
que possuem potencial para causar eventos adversos, mas não ocasionaram,
seja por acaso (por exemplo, o paciente recebeu um medicamento

14
contraindicado, mas não teve um evento adverso) ou porque foram interceptados
(por exemplo, uma overdose potencial letal foi estabelecida, mas foi identificada
antes da administração do medicamento) ou corrigidos (por exemplo, uma
overdose ocorreu ao administrar o medicamento, mas foi descoberta em tempo
suficiente para obter resposta com um antídoto) (31,32).

Erro de medicação

Erro de medicação (EM) inclui qualquer desvio dos padrões normais de


atendimento adequado para o momento da terapia medicamentosa, enquanto o
medicamento se encontra sob o controle do profissional de saúde, do paciente
ou do consumidor e que pode, de fato ou potencialmente, ser a causa de um
evento adverso para o paciente. Por definição, um erro de medicação é sempre
evitável, porque evidencia o que deveria ter sido feito durante a terapia
medicamentosa, podendo estar relacionado a um ou vários estágios do processo
de uso de medicamentos, tais como: prescrição, dispensação, preparação,
armazenamento, distribuição, administração, monitorização, assim como suas
interfaces, como a comunicação e a transcrição. O EM é uma questão
multiprofissional e as circunstâncias que o envolve são multifatoriais, não se
limitando apenas a uma categoria profissional (33,34).
Os erros podem trazer danos e prejuízos diversos ao paciente, desde o
aumento do tempo de permanência em uma instituição hospitalar e necessidade
de intervenções diagnósticas e terapêuticas, até consequências trágicas, como
a morte. Observou-se que 39% dos EM ocorrem durante a prescrição, 12% na
transcrição, 11% na dispensação e 38% durante a administração dos
medicamentos, sendo que enfermeiros e farmacêuticos interceptam 86% dos
EM, enquanto apenas 2% são interceptados pelos pacientes (35).

Reação adversa a medicamento

Reação adversa a medicamento (RAM) é definida como qualquer efeito


prejudicial ou indesejável, não intencional, resultante da administração de um
medicamento em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia,

15
diagnóstico e tratamento de doenças ou modificação de funções fisiológicas
(27,36). As RAMs podem ocasionar desde consequências de pouca relevância
clínica ao paciente até prejuízos graves como hospitalização, incapacitação ou
morte. Reação adversa grave a medicamentos é qualquer reação adversa que
conduza à morte, coloque a vida em perigo, requeira a hospitalização ou o
prolongamento da hospitalização, provoque uma deficiência persistente ou
significativa incapacidade (37–39).
A letalidade por RAM pode alcançar 5% dos indivíduos acometidos
e cerca da metade (49,5%) das mortes e 61% das hospitalizações por RAM
ocorrem em pacientes com mais de 60 anos (BMA, 2006) Estima-se que a taxa
de mortalidade devido a reações adversas a medicamentos, na população geral,
é em torno de 0,15% (40). No Brasil, identificou-se a ocorrência de 25,9% de
RAMs em pacientes admitidos num hospital terciário, sendo que em 19,1% a
reação foi a causa da admissão e 80,8% ocorreu durante a permanência
hospitalar (CAMARGO, 2005). Santos e Coelho (2004) demonstraram que a
incidência média de RAM em crianças hospitalizadas é de 10,1%, sendo destas
4,4 a 27,9% consideradas graves. Além disso, RAMs foram a causa de admissão
hospitalar em 2,09% dos casos e 12% das RAMs em crianças hospitalizadas e
39% das que causaram hospitalização foram fatais ou colocaram em risco a vida
dos pacientes (41).
Existem diversas classificações para RAM, muitas delas
consideradas simplistas e insuficientes. O Quadro 1 apresenta as principais
classificações das RAM.
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DE RAM
Karch & Lasagna
• Definida: Segue uma razoável sequência cronológica e uma resposta padrão conhecida
para o medicamento suspeito e é confirmada pela melhora ao suspender o medicamento e
reaparecimento ao repetir a exposição.
• Provável: Segue uma razoável sequência cronológica e uma resposta padrão conhecida
para o medicamento suspeito e não pode ser explicada pelas características conhecidas do
estado clínico do paciente.
• Possível: Segue uma razoável sequência cronológica e uma resposta padrão conhecida
para o medicamento suspeito, mas pode ter sido produzida pelo estado clínico do paciente
ou outras terapêuticas concomitantes.

16
• Condicional: Segue uma razoável sequência cronológica, não segue uma resposta
padrão conhecida para o medicamento suspeito e não pode ser explicada pelas
características clínicas conhecidas.
• Duvidosa: Não segue os critérios acima.
Uppsala Monitoring Centre
• Muito frequente: >10%
• Frequente: > 1% e < 10%
• Infrequente: > 0,1% e < 1%
• Rara: > 0,01% e < 0,1%
• Muito rara: <0,01%
Naranjo & Busto
• Leve: Não requer tratamentos específicos e não é necessária a suspensão do fármaco.
• Moderada: Exige modificação da terapêutica medicamentosa, apesar de não ser
necessária a suspensão do fármaco agressor. Pode prolongar a hospitalização e exigir
tratamento específico.
• Grave: Potencialmente fatal, requer a interrupção da administração do medicamento e
tratamento específico da reação adversa, requer hospitalização ou prolonga a estadia de
pacientes já internados.
• Letal: Contribui direta ou indiretamente para a morte do paciente.
Rang & Dale
• Superdosagem relativa: Quando um fármaco é administrado em doses terapêuticas, mas
suas concentrações são superiores às habituais.
• Efeito colateral: Inerente à própria ação farmacológica do medicamento, porém, o
aparecimento é indesejável no momento de sua aplicação.
• Efeito secundário: Ocorre devido não à ação farmacológica principal do medicamento,
mas como consequência do efeito buscado.
• Idiossincrasia: Reações nocivas, às vezes fatais, que ocorrem em uma minoria dos
indivíduos. Definida como uma sensibilidade peculiar a um determinado produto, motivada
pela estrutura singular de algum sistema enzimático.
• Hipersensibilidade alérgica: Para sua produção é necessária a sensibilização prévia do
indivíduo e a mediação de algum mecanismo imunitário. Trata-se de reação de intensidade
não relacionada com a dose administrada.
• Tolerância: Fenômeno pelo qual a administração repetida, contínua ou crônica de um
fármaco na mesma dose, diminui progressivamente a intensidade dos efeitos
farmacológicos, sendo necessário aumentar gradualmente a dose para poder manter os
efeitos na mesma intensidade.
Rawlins & Thomas
• Tipo A (Previsíveis): Relacionadas com a dose. Resultam de uma ação ou efeito
farmacológico exagerado. Englobam reações produzidas por efeitos colaterais e

17
secundários, superdosagem relativa, citotoxicidade, interações medicamentosas e
características da forma farmacêutica empregada.
• Tipo B (Imprevisíveis): Não relacionadas com a dose. Resultavam de um efeito aberrante,
sendo também chamadas de reações bizarras. Englobam as reações de hipersensibilidade,
idiossincrasia, intolerância e aquelas decorrentes de alterações na formulação.
Wills & Brown
• Tipo A: Relacionadas com a dose do medicamento e podem ser previsíveis com o
conhecimento do mecanismo de ação do fármaco ou excipiente.
• Tipo B: Farmacologicamente previsíveis, envolvem interação do micro-organismo com o
hospedeiro e desaparecem com a retirada do medicamento.
• Tipo C: Causadas por características químicas e pela concentração do agente agressor
e não pelo efeito farmacológico do fármaco.
• Tipo D: Acontecem em consequência do método de administração do fármaco ou pela
natureza física da preparação (formulação). Se for retirada o fármaco ou alterada a
formulação cessa a reação adversa.
• Tipo E: Caracterizam-se por manifestações de retirada, ocorrem após a suspensão do
fármaco ou redução da dose, a reintrodução do fármaco pode melhorar o sintoma e são
farmacologicamente previsíveis.
• Tipo F: Ocorrem somente em indivíduos susceptíveis, são geneticamente determinadas
e desaparecem com a retirada do medicamento.
• Tipo G: Genotóxicas, causadas por fármacos que promovem danos genéticos
irreversíveis.
• Tipo H: Decorrentes da ativação do sistema imune, não são farmacologicamente
previsíveis, não são relacionadas à dose e desaparecem com a retirada do fármaco.
• Tipo U (não classificadas): Possuem mecanismos não entendidos e não se enquadram
nas demais categorias até que se saiba mais sobre elas.
Edwards & Aronson
• Tipo A: Relacionadas à dose. Causadas por aumento da dose. Ex: Efeitos tóxicos,
superdosagem relativa e efeitos colaterais.
• Tipo B: Não relacionadas com a dose. Chamadas de Bizarras. Ex: Reações imunológicas,
intolerância e idiossincráticas.
• Tipo C: Relacionado à dose e ao tempo de uso. Relacionada ao efeito cumulativo do
fármaco. Ex: Teratogênese.
• Tipo D: Relacionado ao tempo de uso. Também conhecidas como tardias. Ex: Síndrome
de abstinência à opiáceos e Carcinogênese.
• Tipo E: Síndromes de retirada do medicamento. Ex: Isquemia miocárdica.
• Tipo F: Produzem falha terapêutica inesperada. São frequentemente causadas por
interação medicamentosa.
Grahame- Smith & Aronson

18
• Relacionadas com a dose: Previsíveis e geralmente resultam de efeito farmacológico
excessivo. Ex: Intoxicação por digoxina em pacientes com doença renal.
• Não relacionadas com a dose: Quando os medicamentos induzem processos
imunológicos e farmacogenéticos. Ex: Choque anafilático em decorrência do uso de
penicilinas.
• Relacionados ao tempo ou suspensão do uso: Envolvem alterações adaptativas e efeito
rebote, que se manifestam após suspensão súbita do uso de medicamentos. Ex: Tolerância
associada a narcóticos.
• Efeitos tardios: São os casos de carcinogênese, comprometimento da fertilidade,
teratogênese e outros efeitos prejudiciais de manifestação tardia. Ex: Desenvolvimento de
hipotireoidismo pelo uso prolongado de iodo radioativo para tratar hipertireoidismo.
Aronson & Ferner
• Todas as reações são dependentes de dose e podem ser divididas em: Efeitos tóxicos
(ocorrem em doses supraterapêuticas), Efeitos colaterais (ocorrem em doses terapêuticas) e
Reações de hipersuscetibilidade (ocorrem em doses subterapêuticas em pacientes
suscetíveis). Além disso, as reações são subdivididas em:
• Dependentes do tempo: Dependem da duração do curso de tratamento. Subdividas em:
Rápida; Após a primeira dose; Imediata; Intermediária; Tardia e Atrasada.
• Independentes do tempo: Não dependem da duração do curso de tratamento e podem
ocorrer em qualquer momento do tratamento.
Quadro 1. Principais classificações de reações adversas a medicamentos
encontradas na literatura.

Overdose e intoxicação por medicamentos

Entende-se por intoxicação, a exposição de um indivíduo, por ingestão,


injeção ou inalação, a uma ou mais substâncias que têm um elevado potencial
para causar dano (42). Uma intoxicação por medicamentos pode ser acidental,
devendo-se a fenômenos como a automedicação, erros de dose, confusão entre
medicamentos e ingestão involuntária (43) ou intencional, com a finalidade de
satisfazer determinado grau de dependência e tolerância a determinado
fármaco, com objetivo terapêutico, de forma a aliviar um elevado grau de dor ou
ansiedade, ou no intuito de cometer suicídio (35).
No que se refere ao período de exposição, distinguem-se três formas de
intoxicação. A intoxicação aguda, que se deve a exposições de curta duração,
ocorrendo uma absorção rápida do tóxico, o qual foi administrado em uma ou
múltiplas doses, conduzindo a efeitos que se manifestam com rapidez,
resultando em morte, caso a intervenção curativa não seja imediata. A
19
intoxicação subaguda, que está relacionada com o aparecimento dos sintomas
relacionado com a absorção do agente, podendo dever-se a exposições
frequentes ou repetidas em um período de vários dias ou semanas antes que
apareçam os sintomas. Por fim, a intoxicação crônica, que resulta de uma
exposição repetida ao tóxico durante um longo período de tempo, podendo
resultar ou de um efeito cumulativo no organismo, ocorrendo um aumento da
concentração nos tecidos que, a determinado limite, origina lesões orgânicas; ou
exposições sucessivas sem ocorrência de acumulação (43). As intoxicações por
medicamentos enquadram-se, na grande maioria dos casos, nas intoxicações
agudas, que em situações extremas, são fatais. Este tipo de intoxicação tem tido
particular relevância, sendo encarado como um problema de saúde pública (44).
Os eventos toxicológicos estão entre as estatísticas mais citadas no que
diz respeito à internação e mortalidade induzida por medicamentos. Ainda que
as causas mais comuns de intoxicação sejam acidentais e tentativas de suicídio,
os medicamentos vêm ocupando há anos o primeiro lugar no Brasil, entre todos
os tipos de agentes tóxicos e as maiores taxas de mortalidade por intoxicação
(45). Observou-se que 26,5% das intoxicações são causadas por medicamentos
e 17,4% dos óbitos por intoxicação são provocados por intoxicação por
medicamentos (46).

Interação medicamentosa

Interação medicamentosa (IM) é definida como uma resposta


farmacológica, toxicológica, clínica ou laboratorial causada pela combinação do
medicamento com outros medicamentos, alimentos, substâncias químicas ou
doenças, podendo resultar na alteração dos resultados de exames laboratoriais,
no aumento ou diminuição da efetividade terapêutica ou ainda no aparecimento
de efeitos adversos (47).
IMs são baseadas em processos bioquímicos que podem incluir
modificações na farmacocinética dos medicamentos (alterações na absorção
distribuição, metabolismo e excreção), mudanças nas propriedades
farmacodinâmicas (alterações no efeito do mecanismo de ação) e interações
físico-químicas (alterações por meio de mecanismos físicos ou químicos) (48).

20
A IM pode desencadear efeitos benéficos ou indesejáveis. As
interações benéficas podem ser abordagens terapêuticas fundamentais em
certas patologias. Como por exemplo, no tratamento da Hipertensão Arterial
Severa no qual são utilizados medicamentos com mecanismos de ação
diferentes, promovendo redução mais eficiente da pressão sanguínea(49).
Entretanto, as IMs podem desencadear o aparecimento de desfechos negativos
como: surgimento de EAMs graves, baixa tolerabilidade, piora aparente da
doença em tratamento, sintomas que mimetizam ou levam ao diagnóstico
errôneo de uma nova doença e baixa efetividade (50). Portanto, as IMs devem
ser analisadas individualmente considerando suas consequências, sempre
avaliando a relação risco-benefício para o paciente.

Medicação inapropriada

O medicamento é considerado inapropriado quando o risco da sua


utilização é superior ao potencial benefício (relação risco-benefício inaceitável),
podendo originar problemas evitáveis (51–53). Os idosos são o grupo etário com
maior risco de medicação inapropriada (MI), uma vez que utilizam maior
quantidade de medicamentos, possuem múltiplas comorbidades e detém
alterações fisiológicas que modificam a farmacodinâmica e a farmacocinética
dos fármacos, com alto risco de descompensação biológica (54,55).

Omissão de tratamento indicado / Problema de saúde não tratado

É importante que todos os problemas de saúde de um paciente que


necessitam de tratamento farmacológico estejam devidamente tratados com
medicamentos (16,35). Omissão de tratamento indicado (OT) diz respeito à falta
de prescrição de um medicamento necessário, omissão na transcrição, omissão
na dispensação ou omissão na administração de um medicamento necessário
(35).
Um dos fatores associados à omissão do tratamento é a inércia
terapêutica, problema decorrente de falhas no processo de iniciação ou
continuação do tratamento, quando necessário para o paciente. A inércia
terapêutica é um fenômeno comum na gestão médica de pacientes

21
assintomáticos com doenças crônicas e um dos principais determinantes do
insucesso no tratamento (56).

Medicamento desnecessário

Todo medicamento utilizado pelo paciente deve ser necessário e visar a


profilaxia, a cura ou controle de uma doença ou ter a função paliativa. O paciente
pode desenvolver um problema por causa da utilização de um medicamento
desnecessário. Esse problema pode ocorrer pelo uso de uma terapia
medicamentosa não indicada no momento ou pelo uso de dois ou mais
medicamentos para uma condição que requer o uso de apenas um (duplicidade
terapêutica). O uso desnecessário, assim como a utilização de medicamentos
em situações inadequadas, expõe os pacientes a riscos de eventos adversos,
constituindo-se uma significativa causa de morbimortalidade (16,57).
Um dos principais fatores que contribuem para o uso de medicamentos
desnecessários é a automedicação. De acordo com a Organização Mundial de
Saúde, automedicação é a escolha e o uso de medicamentos isentos de
prescrição para tratar sintomas ou problemas de saúde. O ato de consumir
medicamentos sem orientação médica aliado a falta de conhecimento e ao uso
indiscriminado e indevido de medicamentos, resulta em grande problema de
saúde pública. O crescimento e propagação da automedicação apresentam-se
como um sério problema de saúde no mundo, sendo que, especificamente no
Brasil, cerca de 35% dos medicamentos são consumidos por meio da prática da
automedicação. Entre os fatores contribuintes desta prática destacam-se a
grande variedade de medicamentos isentos de prescrição vendidos sem
restrição em farmácias, a falta ou má qualidade da assistência de saúde, a
dificuldade em obter consulta no sistema público de saúde e a propaganda
irresponsável (58).
É importante destacar que, apesar dos inúmeros riscos advindos da
automedicação, se realizada de forma racional a automedicação contribui para
que as pessoas tenham um maior compromisso na administração de sua própria
saúde, assim como contribuir para a redução nos gastos com os sistemas de

22
saúde, uma vez que o indivíduo, com certa responsabilidade, pode identificar
situações nas quais o mesmo teria conhecimento suficiente para utilizar um
medicamento por conta própria, de forma eficaz e segura. Nesse contexto,
destaca-se também o papel do farmacêutico, visto que as informações
fornecidas por esse profissional ao paciente são essenciais para o uso racional
de medicamentos.

Redução abrupta de dose e interrupção de tratamento

Muitos tratamentos não devem ser interrompidos abruptamente e sem


aconselhamento e supervisão de um profissional de saúde. A redução abrupta
de dose ou interrupção de um tratamento pode ocasionar problemas sérios como
a síndrome de abstinência e o efeito rebote. A síndrome de abstinência é um
conjunto de sintomas que pode ocorrer após a descontinuação ou redução
abrupta de dose de determinadas substâncias utilizadas por longos períodos,
podendo ocorrer com diversas classes de medicamentos, tais como
antipsicóticos, antidepressivos, benzodiazepínicos, barbitúricos, opiáceos,
anfetaminas, estabilizadores de humor e betabloqueadores (59-80).
O uso prolongado de medicamentos que modificam a disponibilidade de
neurotransmissores nas sinapses pode causar alterações na atividade de alguns
receptores, ativando-os de forma exagerada, inativando-os ou tornando-os
insensíveis temporariamente, de modo que o corpo se ajusta à presença
constante dessas substâncias, alterando a produção ou liberação de
neurotransmissores, e quando o tratamento é interrompido e a quantidade do
neurotransmissor disponível na sinapse regressa ao estado normal, existe
quantidade alterada de receptores para ligar-se a eles, ocasionando a síndrome
de abstinência (59-80).

Não adesão ao tratamento

A adesão ao tratamento tem sido definida como a extensão na qual o


comportamento do paciente coincide com as recomendações do médico ou de
outros profissionais de saúde. Para Leite e Vasconcellos (2003), a adesão é
compreendida como a utilização dos medicamentos prescritos ou outros

23
procedimentos em pelo menos 80% de seu total, observando horários, doses e
tempo de tratamento (81-85).
Existem algumas divergências no que diz respeito à terminologia a ser
utilizada no contexto da adesão ao tratamento na língua inglesa. Os termos mais
utilizados são compliance, adherence e concordance. O termo compliance
implica em uma visão do paciente tendo papel passivo na tomada de decisão,
sem autonomia para decidir se segue ou não um tratamento. Por essa razão,
esse termo foi muito criticado. O termo adherence pressupõe um esforço
voluntário do paciente para seguir o tratamento prescrito. O paciente passa a ser
entendido como sujeito ativo, que participa e assume responsabilidades sobre
seu tratamento. O termo concordance sugere que os desejos, os medos, as
crenças e as preferências do paciente sejam levadas em consideração na
tomada de decisão, sendo isto imprescindível para que ocorra adesão ao
tratamento (83-90).
Entre os fatores que podem influenciar a adesão ao tratamento
encontram-se: o acesso aos medicamentos, a complexidade do regime
terapêutico, o conhecimento sobre o tratamento e sobre a doença, a experiência
de medicação, as condições socioeconômicas, religiosas e culturais, a
percepção do paciente sobre seu estado de saúde e seu tratamento e a relação
entre o paciente e o profissional de saúde (83-90).

Falha terapêutica / Inefetividade terapêutica

Falha Terapêutica (FT) ou Inefetividade terapêutica diz respeito à redução


ou falta do efeito esperado do medicamento. Geralmente, a FT é ocasionada
devido a não adesão ao tratamento, subdosagem terapêutica, interações
medicamentosas, uso de medicamentos vencidos, perda de potência por má
armazenagem, preparo, misturas e diluições indevidas, desvios de qualidade do
medicamento, alterações farmacocinéticas, tolerância, resistência ao
tratamento, variabilidade genética e outros fatores de difícil determinação (14,
91, 91).
Além de estarem indicados, os medicamentos precisam ser efetivos no
alcance das metas estabelecidas. É preciso que o paciente responda bem ao
medicamento e que este esteja em sua dose e frequência adequadas ao

24
paciente. Quando o paciente recebe um medicamento apropriadamente
indicado, porém que não alcança as metas terapêuticas estipuladas, pode ser
que esteja ocorrendo um problema de inefetividade terapêutica (91, 92, 93).
A resistência bacteriana por exemplo, é uma preocupação mundial, sendo
um assunto amplamente estudado em todos os gêneros bacterianos. Tal
resistência é definida como a capacidade do micro-organismo de interromper um
determinado agente antimicrobiano de atuar sobre ele, resultando assim em
tratamentos ineficazes, infecções persistentes e a possibilidade de transmitir
essa característica a outros micro-organismos . A resistência bacteriana ocorre
quando a bactéria adquire genes que permitem a interferência no mecanismo de
ação do antibiótico por mutação espontânea de DNA ou por transformação e
transferência de plasmídeos. Isto se deve a quatro fatores básicos: prescrição
arbitrária de antibióticos; uso abusivo ou inadequado destes fármacos;
globalização, facilitando a transmissão de patógenos resistentes de um país a
outro, através de viajantes infectados com estas cepas; falta de um sistema
global de vigilância epidemiológica da resistência bacteriana aos antibióticos .Em
vista disto, a Coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos
Controlados (CSGPC) publicou, no Diário Oficial da União, a Resolução-RDC nº
44, de 26 de outubro de 2010, que dispõe sobre o controle no Brasil de
medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos, de
uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação (94 – 111).

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2010. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas
como antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação e dá
outras providências..

31
Diante do impacto clínico, humanístico e econômico da
morbimortalidade relacionada a medicamentos, discutida no Capítulo 2, é
necessário realizar uma reorganização da forma como os medicamentos são
gerenciados pelos serviços de saúde. De modo a dar um novo enfoque à
assistência farmacêutica e à farmácia clínica, sendo mais voltado para a gestão
clínica da farmacoterapia e dos desfechos em saúde, para se alcançar o efetivo
uso racional dos medicamentos e a segurança dos pacientes. Para tanto, torna-
se necessário diagnosticar a situação e conhecer a verdadeira magnitude do
problema, identificando o tipo e a prevalência do dano, as consequências para o
paciente, as características próprias do indivíduo, os fatores contribuintes e
atenuantes, as consequências organizacionais e as ações de melhoria
necessárias para redução dos riscos (1).
O Sistema Único de Saúde, por meio da assistência farmacêutica, tem o
dever de garantir o acesso e promover o uso racional dos medicamentos, e
desde 1998, está regulamentada a Política Nacional de Medicamentos, a qual
visa garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a
promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados
essenciais (2)
O termo Farmácia Clínica surgiu na década de 60, nos Estados Unidos,
atendendo a necessidade de denominar os serviços clínicos desempenhados
por farmacêuticos hospitalares a fim de otimizar a farmacoterapia e garantir a
segurança do paciente (3). Por meio de tal prática, o farmacêutico, antes gestor,
passou a explorar seu potencial clínico, voltando-se para o conhecimento da
farmacoterapia e busca da prevenção e resolução dos danos ocasionados por
medicamentos em conjunto com a equipe de saúde (3–6).

32
Na visão contemporânea a Farmácia Clínica, de maneira mais ampla, se
refere a “área da farmácia, voltada à ciência e à prática do uso racional de
medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma
a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças”,
portanto contempla a filosofia da atenção farmacêutica (3,5). Este novo conceito,
adotado pelo Conselho Federal de Farmácia, amplia a ideia primária de “uma
série de atividades de um grupo profissional” para uma área de atuação
profissional, o que contribui para aplicação dessa definição em outros ambientes
de cuidado, e desenvolvimento de novos conhecimentos(5).
A farmácia clínica é a área que tem por objetivo promover o cuidado em
saúde ao paciente no contexto interprofissional, identificar, resolver e prevenir
problemas relacionados a farmacoterapia, ocasionando cura, controle, melhora
e/ou prevenção de doenças e fatores de risco. Com isso, pode-se potencializar
a terapia medicamentosa e promover segurança ao usuário. Essa prática clínica
é baseada no modelo de prática do Cuidado farmacêutico, que une as
competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) do farmacêutico com a
experiência em saber discernir o que é importante para quem necessita do
cuidado a fim de aprimorar os resultados da terapia, no âmbito da necessidade,
adesão, efetividade e segurança (1,5).
A Farmácia Clínica é a área da farmácia na qual os farmacêuticos
desenvolvem o modelo de prática do Cuidado Farmacêutico, com visão holística
e centrada no paciente, fornecendo assistência ao paciente, otimizando a sua
farmacoterapia, promovendo saúde, prevenindo e tratando doenças e buscando
melhorias nos resultados em saúde e qualidade de vida da população (5).
Já o termo Pharmaceutical Care surgiu no final da década de 80, a fim
de suprir a necessidade de conceituação das atividades clínicas desenvolvidas
por farmacêuticos junto ao paciente, no ambiente ambulatorial, a fim de garantir
uma farmacoterapia racional e melhorar os desfechos em saúde como um todo,
responsabilidade profissional no cuidado aos pacientes. Posteriormente, Hepler
& Strand (1990) conceituaram Pharmaceutical Care como: “a provisão
responsável da farmacoterapia com o propósito de obter resultados definidos
que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”(4).
A filosofia do Pharmaceutical Care inclui diversos elementos, incluindo a
afirmação de uma necessidade social, o enfoque centrado no paciente, o
33
desenvolvimento e a manutenção de uma relação terapêutica com o paciente, e
a descrição das responsabilidades concretas do profissional. A primeira
premissa filosófica é que a responsabilidade essencial do farmacêutico nesta
prática é garantir que toda a terapia medicamentosa do paciente seja
apropriadamente indicada para tratar seus problemas de saúde, que os
medicamentos que o mesmo utiliza sejam os mais efetivos disponíveis e os mais
seguros possíveis e que o paciente esteja disposto e seja capaz de utilizá-los
como recomendado(7).
Alguns autores denominam o cuidado farmacêutico como um modelo de
prática que orienta a provisão de diferentes serviços farmacêuticos direcionados
ao paciente, à família e à comunidade. A opção por esta denominação para a
descrição deste modelo de prática deveu-se à similaridade com outras
profissões da saúde (cuidados de enfermagem, cuidado fisioterápico e cuidado
nutricional), bem como devido ao significado da própria palavra. Segundo o
dicionário Michaelis (2014) a palavra cuidado é tida como: “pensado, meditado,
refletido (...), bem trabalhado, bem feito, apurado, (...), interesse, zelo, desvelo,
diligência, solicitude, atenção (...), conta, incumbência, responsabilidade. Mas
devido a divergências na tradução, quando esse termo foi trazido para o Brasil,
foi denominado “Atenção Farmacêutica”, embora a palavra “atenção” não
conseguir ser correspondente a todas as atribuições que esse modelo de prática
propõe. O termo Atenção Farmacêutica é definido pelo Consenso Brasileiro de
Atenção Farmacêutica como(8).
Modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto
da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes,
valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e corresponsabilidades na prevenção de
doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma
integrada à equipe de saúde. É a interação direta do
farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia
racional e a obtenção de resultados definidos e
mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de
vida. Esta interação também deve envolver as concepções
dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades

34
biopsicossociais, sob a óptica da integralidade das ações
de saúde (8).

Neste conceito, o termo atenção farmacêutica está inserida no contexto


da Farmacêutica, definida como (9):
Conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e
recuperação da saúde, tanto individual como coletivo,
tendo o medicamento como insumo essencial e visando o
acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a
pesquisa, o desenvolvimento e a produção de
medicamentos e insumos, bem como a sua seleção,
programação, aquisição, distribuição, dispensação,
garantia da qualidade dos produtos e serviços,
acompanhamento e avaliação de sua utilização, na
perspectiva da obtenção de resultados concretos e da
melhoria da qualidade de vida da população(9).

O termo atenção farmacêutica também tem sido utilizado como tradução


do termo internacionalmente consagrado Pharmaceutical Care. Mas existe
discordância de alguns autores em relação à tradução e linguística deste termo
(5). Diante destas discussões, o termo cuidado farmacêutico tem sido adotado
como:
Modelo de prática que orienta a provisão de diferentes
serviços farmacêuticos diretamente destinados ao
paciente, à família e à comunidade, visando à prevenção e
resolução de problemas da farmacoterapia, ao uso racional
e ótimo dos medicamentos, à promoção, à proteção e à
recuperação da saúde, bem como à prevenção de doenças
e de outros problemas de saúde(5).

De acordo com a série cuidado farmacêutico na atenção básica, o


cuidado farmacêutico constitui(10).
Ação integrada do farmacêutico com a equipe de saúde,
centrada no usuário, para promoção, proteção e
35
recuperação da saúde e prevenção de agravos. Visa à
educação em saúde e à promoção do uso racional de
medicamentos prescritos e não prescritos, de terapias
complementares, por meio dos serviços da clínica
farmacêutica e das atividades técnico-pedagógicas
voltadas ao indivíduo, à família, à comunidade e à equipe
de saúde (10).

Por meio do Cuidado Farmacêutico é possível avaliar o paciente de


forma holística, analisando seu perfil, história clínica e farmacoterapêutica,
identificando problemas relacionados a farmacoterapia e definindo plano de
cuidado para prevenir e resolver tais problemas, a fim de alcançar as metas e
objetivos estabelecidos para o tratamento, melhorar os resultados em saúde e a
qualidade de vida dos pacientes. O farmacêutico avalia desde a seleção e
prescrição do tratamento do paciente, sua adesão ao tratamento farmacológico
e não farmacológico, e os resultados terapêuticos em termos de efetividade e
segurança. A avaliação inclui tanto os medicamentos prescritos, como os não
prescritos, assim como terapias e práticas integrativas e complementares.
Estudos demonstram que o cuidado farmacêutico tem efeitos promotores de
saúde, além de proporcionar benefícios financeiros e ter um impacto positivo na
qualidade de vida (1,11,12).
Sendo a farmácia clínica a área de farmácia na qual os farmacêuticos
fornecem assistência ao paciente, otimizando a sua farmacoterapia e
promovendo assim a sua saúde e a melhora da qualidade de vida. A sua prática
está voltada para o atendimento farmacêutico, preocupando-se com uma
orientação atenciosa ao paciente com conhecimento, experiência e julgamento
terapêuticos especializados com o objetivo de garantir a necessidade, adesão,
segurança e efetividade do tratamento. Por meio do modelo de prática do
Cuidado Farmacêutico são realizados diferentes serviços farmacêuticos
direcionados ao paciente, à família e à comunidade. Tais serviços são
necessários e de competência exclusiva do farmacêutico, por ele possuir
conhecimento profundo dos medicamentos e, portanto, ser o profissional
qualificado para avaliar a farmacoterapia do paciente (13).

36
Alguns autores utilizam o termo serviços farmacêuticos clínicos ou
serviços farmacêuticos cognitivos, Roberts et al. (2003) definem os serviços
farmacêuticos cognitivos como “serviços oferecidos pelos farmacêuticos nos
quais utilizam seu conhecimento e perícia a fim de melhorar a farmacoterapia e
a gestão da patologia, mediante a interação com o paciente ou com outro
profissional da saúde, quando necessário” (14). Outra definição é dada por
Gastelurrutia et al. (2005), afirmando que os serviços cognitivos do farmacêutico
“são serviços orientados ao paciente e realizados por farmacêuticos que,
exigindo conhecimentos específicos, têm por objetivo melhorar o processo de
uso dos medicamentos e/ou os resultados da farmacoterapia”(15).
Diante da grande divergência na nomenclatura dos termos utilizados
para denominar os serviços farmacêuticos, o Conselho Federal de Farmácia
elaborou um documento para harmonização dos conceitos dos Serviços
diretamente relacionados ao paciente, à família e à comunidade (5). De acordo
com este documento, os serviços são conceituados como apresentado no
Quadro 1.
Os serviços Farmacêutico direcionados ao paciente, família e
comunidade são desenvolvidos de acordo com o modelo de prática da Cuidado
Farmacêutico e incluem: Educação em saúde, Rastreamento em saúde,
Dispensação de medicamentos, Manejo de problemas de saúde autolimitados,
Monitorização terapêutica, Revisão da farmacoterapia, Conciliação de
medicamentos, Gestão da condição de saúde, e Acompanhamento
farmacoterapêutico (5). Tais serviços tem por finalidade melhorar o processo de
uso dos medicamentos e/ou os resultados da farmacoterapia, mediante a
interação com o paciente e com outros profissionais da saúde .

Quadro 1. Serviços diretamente relacionados ao paciente, à família e à


comunidade
Nome do Termos relacionados Conceito
serviço
Rastreamento Triagem, screening, rastreo, “Serviço que possibilita a identificação provável
em saúde tamizaje, cribado de doença ou condição de saúde, em pessoas
assintomáticas ou sob risco de desenvolvê-las,
pela realização de procedimentos, exames ou

37
aplicação de instrumentos de entrevista
validados, com subsequente orientação e
encaminhamento do paciente a outro
profissional ou serviço de saúde para
diagnóstico e tratamento”.
Educação em Educação higiênica, educação “Serviço que compreende diferentes
saúde sanitária, orientação sanitária, estratégias educativas, as quais integram os
educação para a saúde, health saberes popular e científico, de modo a
education; hygiene education; contribuir para aumentar conhecimentos,
sanitary education; educación para desenvolver habilidades e atitudes sobre os
la salud e educación em salud, problemas de saúde e seus tratamentos. Tem
campaña sanitária, educación como objetivo a autonomia dos pacientes e o
sanitária. comprometimento de todos (pacientes,
profissionais, gestores e cuidadores) com a
promoção da saúde, prevenção e controle de
doenças, e melhoria da qualidade de vida.
Envolve, ainda, ações de mobilização da
comunidade com o compromisso pela
cidadania”
Dispensação Dispensação orientada, “Serviço proporcionado pelo farmacêutico,
dispensação ativa, dispensação geralmente em cumprimento a uma prescrição
clínica, dispensação especializada, de profissional habilitado. Envolve a análise dos
dispensa, redispensação, aspectos técnicos e legais do receituário, a
dispensing, pharmaceutical realização de intervenções, a entrega de
dispensing, dispensación. medicamentos e de outros produtos para a
saúde ao paciente ou ao cuidador, a orientação
sobre seu uso adequado e seguro, seus
benefícios, sua conservação e descarte, com o
objetivo de garantir a segurança do paciente, o
acesso e a utilização adequados”
Manejo de Indicação farmacêutica, “Serviço pelo qual o farmacêutico acolhe uma
problema de automedicação assistida, demanda relativa a problema de saúde
saúde automedicação responsável, autolimitado, identifica a necessidade de
autolimitado indicación farmacéutica, saúde, prescreve e orienta quanto a medidas
automedicación responsable, não farmacológicas, medicamentos e outros
management of minor illness e produtos com finalidade terapêutica, cuja
responsible self medication. dispensação não exija prescrição médica e,
quando necessário, encaminha o paciente a
outro profissional ou serviço de saúde”

38
Monitorização Monitoramento de medicamentos, “Serviço que compreende a mensuração e a
terapêutica de serviço de farmacocinética clínica, interpretação dos níveis séricos de fármacos,
medicamentos monitoréo de drogas, monitoréo com o objetivo de determinar as doses
terapéutico de drogas, therapeutic individualizadas necessárias para a obtenção
drug monitoring, drug monitoring. de concentrações plasmáticas efetivas e
seguras”
Conciliação de Reconciliação, medication “Serviço pelo qual o farmacêutico elabora uma
medicamentos reconciliation, reconciliación de los lista precisa de todos os medicamentos (nome
medicamentos, conciliación de la ou formulação, concentração/dinamização,
medicación e conciliación forma farmacêutica, dose, via de administração
farmacoterapéutica. e frequência de uso, duração do tratamento)
utilizados pelo paciente, conciliando as
informações do prontuário, da prescrição, do
paciente, de cuidadores, entre outras. Este
serviço é geralmente prestado quando o
paciente transita pelos diferentes níveis de
atenção ou por distintos serviços de saúde,
com o objetivo de diminuir as discrepâncias não
intencionais”
Revisão da revisão dos medicamentos, revisão “Serviço pelo qual o farmacêutico faz uma
farmacoterapia da medicação, revisão da análise estruturada e crítica sobre os
terapêutica, revisão do tratamento medicamentos utilizados pelo paciente, com os
farmacológico, revisão do regime objetivos de minimizar a ocorrência de
terapêutico, revisão do uso de problemas relacionados à farmacoterapia,
medicamentos, revisão da melhorar a adesão ao tratamento e os
prescrição, medication review, resultados terapêuticos, bem como reduzir o
medicines use review, brown bag desperdício de recursos”
review, drug regimen review, home
medicines review, medication
therapy review, medication
management review, residencial
medication management review,
revision del uso de la medicación,
revisión de la medicación, revisión
sistemática de medicación, revisión
del uso de los medicamentos,
revisión de la farmacoterapia,
revisión del botiquín.

39
Gestão da Gestão da doença, gestão da “Serviço pelo qual se realiza o gerenciamento
condição de condição de saúde, gerenciamento de determinada condição de saúde, já
saúde da doença, gerenciamento da estabelecida, ou de fator de risco, por meio de
condição de saúde, disease um conjunto de intervenções gerenciais,
management, manejo de la educacionais e no cuidado, com o objetivo de
enfermedad, gerenciamento clínico, alcançar bons resultados clínicos, reduzir riscos
gestión de la enfermedad. e contribuir para a melhoria da eficiência e da
qualidade da atenção à saúde”.
Acompanham Seguimento farmacoterapêutico, “Serviço pelo qual o farmacêutico realiza o
ento gestão da terapêutica, gestão da gerenciamento da farmacoterapia, por meio da
farmacoterapê terapia medicamentosa, análise das condições de saúde, dos fatores de
utico gerenciamento da terapia risco e do tratamento do paciente, da
medicamentosa, gestão da implantação de um conjunto de intervenções
farmacoterapia, serviço de gerenciais, educacionais e do
gerenciamento integral da acompanhamento do paciente, com o objetivo
farmacoterapia, manejo da principal de prevenir e resolver problemas da
farmacoterapia, medicines farmacoterapia, a fim de alcançar bons
management, pharmacotherapeutic resultados clínicos, reduzir os riscos, e
follow up, medication management, contribuir para a melhoria da eficiência e da
drug therapy management e qualidade da atenção à saúde. Inclui, ainda,
seguimiento farmacoterapéutico atividades de prevenção e proteção da saúde”
Fonte: Conselho Federal de Farmácia, 2016(5); Souza, 2017.

Avanços importantes têm ocorrido no Brasil nas resoluções referentes à


pauta clínica, com destaque à publicação das resoluções do Conselho Federal
de Farmácia nº 585 de agosto de 2013, que regulamenta as atribuições clínicas
do farmacêutico e dá outras providências, e nº 586 de agosto de 2013, que regula
a prescrição farmacêutica e dá outras providências (16,17). Desde então, a
implantação e a avaliação de serviços baseados no modelo de prática do
cuidado farmacêutico passaram a ser expandidas e estimuladas como uma
estratégia para melhorar a saúde e a qualidade de vida da população (18).
No que diz respeito ao processo de cuidado ao paciente, que orienta o
método clínico de Cuidado Farmacêutico, o mesmo é baseado no método clínico
do médico Laurence Weed, que aprimorou o método clínico para resolução de
problemas e o sistema de registro em prontuário conhecido como SOAP (dados
subjetivos, objetivos, avaliação e plano) e que definiu a ação do profissional em
quatro dimensões: coleta de dados, identificação de problemas, definição de um

40
plano de cuidado, e seguimento do paciente para avaliação dos resultados
(5,16,17,19).
O processo de cuidado ao paciente é uma abordagem sistemática
aplicável aos diferentes serviços de cuidado farmacêutico nos diferentes pontos
de atenção à saúde e envolve as etapas de coleta e organização dos dados do
paciente, identificação de problemas relacionados a farmacoterapia, elaboração
de plano de cuidado em conjunto com o paciente e seguimento individual do
paciente (Figura 1)(6).

Figura 1. Método Clínico de Cuidado Farmacêutico.

Fonte: Correr, Otuki, 2013 (6).

41
O farmacêutico realizará as atividades relacionadas ao processo de
cuidado durante a consulta farmacêutica. O termo consulta farmacêutica é
definido como (5):
Episódio de contato entre o farmacêutico e o paciente, com
a finalidade de obter os melhores resultados com a
farmacoterapia, promover o uso racional de medicamentos
e de outras tecnologias em saúde. Objetiva, ainda, a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a prevenção
de doenças e de outras condições, por meio da execução
de serviços e de procedimentos farmacêuticos (5).

Para garantir um farmacoterapia ideal, o cuidado farmacêutico dispõe de


alguns serviços cuja execução será feita pelo farmacêutico, orientando-o de
forma a identificar os problemas do paciente e desenvolver uma linha de
tratamento conforme avança a consulta, além de coordenar outros profissionais
da saúde para alcançar um resultado ainda mais satisfatório e promover a saúde
ao usuário.
O cuidado farmacêutico busca atender aos critérios de necessidade,
adesão terapêutica, efetividade e segurança do paciente, realizando a
orientação para os medicamentos que o usuário realmente precisa, promovendo
a adesão do mesmo para a farmacoterapia de modo a otimizá-la, reduzindo ao
mínimo ideal e avaliando a efetividade do tratamento e segurança do paciente.
Sendo assim, o profissional farmacêutico tem um papel de importante na
decisão da escolha da terapêutica, como também na prática da
farmacovigilância e do cuidado farmacêutico. Neste cenário, o farmacêutico
clínico se apresenta como o especialista no uso de medicamentos e seu foco
deve ser proporcionar a máxima segurança do paciente com bons resultados
através do uso racional de medicamentos (20).
O cuidado farmacêutico trata-se de um modelo de prática que atua como
peça chave para a identificação, prevenção e resolução dos problemas
relacionados a farmacoterapia, promoção do uso racional e ótimo dos
medicamentos, a promoção, proteção e recuperação da saúde, a prevenção de
doenças e de outros agravos, a melhoria da saúde, segurança e qualidade de
vida dos pacientes (5).

42
O serviço de cuidado farmacêutico é uma dimensão plurifacetada dentro
da prática de farmácia. Ele é efetuado por farmacêuticos e tem como objetivo
principal atender as necessidades de saúde dos pacientes, da família e da
comunidade, para otimizar o processo de uso de medicamentos, os resultados
de saúde e consequentemente melhorar a qualidade de vida, por intermédio de
ações pactuadas com o paciente, seus cuidadores e com a equipe de saúde
(5,10,21).
Os serviços de Cuidado Farmacêutico, integrados em um contexto de
multi e interprofissionalidade representam uma “inovação” em relação ao
cuidado tradicional. A realização desses serviços apresenta potencial direto para
a melhora dos desfechos em saúde de diferentes populações, em especial para
portadores de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e
diabetes. Além disso, considerando o envelhecimento populacional, o aumento
da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, e o consequente uso
crônicos de medicamentos, os idosos representam uma população de interesse
ímpar, no que tange ao cuidado farmacêutico. Os serviços de Cuidado
Farmacêutico voltados a essa população podem proporcionar benefícios em
desfechos clínicos, humanísticos e econômicos. Porém, para que sejam efetivos,
é necessário delinear as atividades e os processos, padronizar os componentes,
ferramentas e instrumentos a serem utilizados e qualificar os profissionais e
discentes envolvidos que devem dispor de competências específicas para sua
realização, tais como conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas ao
desenvolvimento de serviços de rastreamento em saúde, educação em saúde,
revisão da farmacoterapia, manejo de problemas de saúde autolimitados,
monitorização terapêutica, conciliação de medicamentos, gestão da doença e
acompanhamento farmacoterapêutico voltados para a população idosa.
Também é importante avaliar a qualidade dos serviços, visando oferecer uma
perspectiva sobre adequabilidade, reprodutibilidade e efetividade do serviço.
Com esse processo é possível identificar fatores modificáveis que permitam
melhorar a qualidade dos atendimentos (22–24).
Os diversos estudos existentes que avaliam o impacto do cuidado
farmacêutico, evidencia os benefícios resultados das intervenções
farmacêuticas, na adesão ao tratamento, na diminuição de problemas
relacionados a farmacoterapia, aumento da qualidade de vida e satisfação dos
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pacientes e redução de custos causados por morbidade e mortalidade
relacionados aos medicamentos, pondo em foco a atenção farmacêutica e o
farmacêutico clínico como pontes e atuantes diretos na construção de
estratégias que otimizem os sistemas de saúde quanto a questão paciente e
farmacoterapia (12,25).
Considerando a necessidade da atuação do farmacêutico como
participante ativo, em contato com o paciente, e trabalhando junto com a equipe
multiprofissional para o acompanhamento dos pacientes ambulatoriais, e entre
outras coisas no seu papel de indutor e qualificador dos profissionais de saúde
e usuários no que concerne às práticas de cuidado referentes à gestão clínica
de medicamentos, sendo assim, o presente Curso tem como principal objetivo
desenvolver as competências clínicas necessárias para o desenvolvimento do
modelo de prática Cuidado Farmacêutico e dos Serviços diretamente destinados
ao paciente, à família e à comunidade.

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