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Disciplina Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica

Introdução à Farmácia Clínica e à Atenção


Tema
Farmacêutica
Professor Joy G. Longhi

Conversa inicial
A atenção farmacêutica chegou ao topo dos debates em um artigo
publicado em 1990 por Hepler & Strand, que a definiram como “a provisão
responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados
concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”. Desde então, ela
tem sido considerada por muitos autores como a nova missão da profissão
farmacêutica.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o farmacêutico vinha buscando seu
espaço e o resgate de sua profissão, uma vez que seu importante papel junto à
população havia sido extinto desde a produção industrial de medicamentos.
Nesta aula, é possível conhecer as atividades clínicas desempenhadas
pelo farmacêutico atualmente, sua importância na recuperação da saúde e,
ainda, conhecer as atividades realizadas na assistência farmacêutica, de modo
a diferenciá-la da atenção farmacêutica.
(Vídeo 1 disponível no AVA)

Contextualizando
Roberto é um paciente de 31 anos, internado há um mês e meio no
hospital, devido a um acidente de trânsito, no qual sofreu fraturas múltiplas e
traumatismo craniano. Esse paciente é atendido diariamente por uma equipe
multiprofissional empenhada em sua recuperação.
O paciente já reconhece os diversos profissionais da equipe, inclusive o
farmacêutico, que avalia periodicamente as respostas da terapia farmacológica
empregada e avalia sua prescrição médica diariamente. O que talvez Roberto
não saiba é que, além do farmacêutico que o visita, diversas outras atividades

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estão inseridas no processo sob responsabilidade da farmácia, para que o
medicamento utilizado esteja disponível, com a qualidade esperada no momento
em que ele necessita.
Para que isso ocorra, a qual grupo de atividades estamos nos referindo?
(Vídeo 2 disponível no AVA)

Introdução
O exercício profissional do farmacêutico passa, atualmente, pela
concepção clínica de sua atividade, sua integração e colaboração com o restante
da equipe de saúde e cuidado direto com o paciente. A variabilidade enorme de
patologias unida à ampla disponibilidade terapêutica oferece múltiplas
possibilidades de abordagem e resolução de problemas relacionados à
terapêutica (ANDRDADE, 2015).
Para a otimização da terapia medicamentosa, tornam-se muito
importantes a análise da prescrição médica, a anamnese farmacológica, a
monitorização terapêutica, a participação no plano terapêutico, o incentivo na
prescrição de medicamentos padronizados e o desenvolvimento de mecanismos
de notificação de reações adversas, além da avaliação contínua da atenção
farmacêutica prestada aos pacientes (FERRACINI, 2005).

Tema 1: Atenção farmacêutica e farmácia clínica


O código de ética da American Pharmacists Association (AphA), de 1952,
estabelecia que os farmacêuticos não podiam discutir os efeitos terapêuticos dos
medicamentos com os pacientes e que deveriam encaminhá-los ao médico ou
ao dentista, caso houvesse alguma dúvida, acabando de vez com o poder que
os farmacêuticos detinham sobre o uso dos medicamentos.
Assim, os farmacêuticos comunitários se limitaram a comprar e vender
medicamentos, sem poder interferir na terapêutica. Mas os farmacêuticos
hospitalares realizavam outras atividades variadas, como a distribuição dentro
da instituição e a participação na Comissão de Farmácia e Terapêutica. Dessa
forma, eles resistiram à influência da indústria e dos médicos sobre o uso dos

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medicamentos e garantiram à farmácia uma voz na decisão terapêutica (HIGBY,
2002).
Começaram, então, a surgir questionamentos sobre a função social da
farmácia. Esses e outros questionamentos levaram Brodie e Benson a afirmar,
na década de 1960, que os farmacêuticos deveriam ser responsáveis pelo
controle do uso de medicamentos. Surgiu o movimento que resultou num modelo
de prática farmacêutica, aplicado especialmente em hospitais, denominado
farmácia clínica (HIGBY, 2002).
Em 1960, surgiu o primeiro conceito de farmácia clínica, esta seria a
prestação de serviços do farmacêutico ao paciente, ou seja, tratar do paciente
tendo como base principal a terapia farmacológica, seus efeitos adversos e suas
interações indesejáveis (SILVA, 2005). As atividades são voltadas para
maximizar os efeitos da terapêutica e minimizar os riscos e os custos do
tratamento ao paciente (ALMEIDA, 2005).
A partir de então, o conceito de farmácia clínica tem evoluído até incluir
todas as atividades relacionadas ao uso racional e ao seguro do medicamento
(ANGONESI; SEVALHO, 2010). O farmacêutico clínico trabalha promovendo a
saúde, prevenindo e monitorando os eventos adversos, intervindo e contribuindo
na prescrição de medicamentos para a obtenção de resultados clínicos positivos,
otimizando a qualidade de vida dos pacientes, sem perder de vista a questão
econômica relacionada à terapia (ALMEIDA, 2005).
A farmácia clínica propôs a introdução da prestação de serviços
farmacêuticos voltados diretamente ao paciente. Houve uma conscientização de
que os serviços farmacêuticos não resumiriam somente a orientar os pacientes
e, sim, que a intervenção farmacoterapêutica melhoraria a qualidade de vida do
paciente (SILVA, 2005).
A Associação Americana dos Farmacêuticos Hospitalares define farmácia
clínica como:
Ciência da Saúde, cuja responsabilidade é assegurar, mediante a
aplicação de conhecimentos e funções relacionados com o cuidado
aos pacientes, que o uso de medicamentos seja seguro e apropriado e

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que necessita de uma educação especializada e/ou um treinamento
estruturado. (OMS, 1994).

No entanto, em 1990, Hepler e Strand publicaram um trabalho que


influenciaria toda a profissão farmacêutica dos anos seguintes. Embora
reconhecessem a importância da farmácia clínica para a profissionalização da
farmácia, esses autores consideram que algumas de suas definições situavam
o medicamento em primeiro plano em detrimento do paciente. Portanto eles
defendem que os farmacêuticos, além de apoiar a concepção funcional da
farmácia clínica, devem estar preparados para assumir a responsabilidade
sanitária de prevenir a morbimortalidade relacionada com os medicamentos.
Para isso, deverão modificar a sua prática.
A profissão farmacêutica deve ser baseada em uma filosofia apropriada
de prática e uma estrutura organizada que oriente a prática.
Em 1990, a atenção farmacêutica foi descrita como a “prestação
responsável de cuidados integrais relacionados à medicação, que têm como
objetivo principal a melhora da qualidade de vida dos pacientes” (SILVA, 2005).
Representa uma mudança na atividade do profissional farmacêutico elaborada
a partir da farmácia clínica, onde o farmacêutico assume a responsabilidade em
relação ao paciente e, junto com ele e outros profissionais, desenha, implementa
e monitora a conduta terapêutica estabelecida (ALMEIDA, 2005).
Hepler e Strand (1990) defenderam a adoção de um enfoque centrado no
paciente e o desenvolvimento de uma relação terapêutica na qual o paciente e
o profissional trabalhem juntos para resolver os problemas relacionados aos
medicamentos. Esses autores propuseram uma definição para a atenção
farmacêutica, que foi amplamente aceita pelos profissionais no mundo inteiro
como ideia fundamental da profissão de farmácia: provisão responsável do
tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados concretos que
melhorem a qualidade de vida do paciente.
Esses resultados são:
1) a cura da doença;

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2) a redução ou eliminação dos sintomas;
3) a interrupção ou retardamento do processo patológico;
4) a prevenção de uma doença ou dos sintomas.

O princípio da atenção farmacêutica é estabelecer uma relação entre o


farmacêutico e o paciente, que permite um trabalho em comum, com o objetivo
de buscar, identificar, prevenir e resolver os problemas que poderão surgir
durante o tratamento farmacológico desses pacientes (SILVA, 2005).
Segundo a resolução do Conselho Federal de Farmácia n. 357/2001, de
27 de abril de 2001, anexo I, artigo 6º, a definição de atenção farmacêutica é:
um conjunto de prática profissional na qual o paciente é o principal
beneficiário das ações do farmacêutico. A atenção é o compêndio das
atitudes, dos comportamentos, dos compromissos, das inquietudes,
dos valores éticos, das funções, dos conhecimentos, das
responsabilidades e das habilidades do farmacêutico na prestação da
farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos
definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente.

Em 2002, um grupo de profissionais coordenado pela Organização Pan-


Americana da Saúde (OPAS) se reuniu com o objetivo de discutir a
uniformização de termos e conceitos e para a promoção da atenção farmacêutica
no país. Os resultados desses trabalhos foram publicados em um relatório que,
posteriormente, deu origem a uma Proposta de Consenso Brasileiro de Atenção
Farmacêutica.
A atenção farmacêutica refere-se às atividades específicas do
farmacêutico no cuidado do paciente ou usuário do medicamento:
É um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da
Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos,
comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades
na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de
forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do
farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a
obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a
melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver
as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades
biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde.
(OPAS, 2002).

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A prática da atenção farmacêutica envolve macrocomponentes, como a
educação em saúde, a orientação farmacêutica, a dispensação, o atendimento
farmacêutico e o seguimento farmacoterapêutico, além do registro sistemático
das atividades, da mensuração e da avaliação dos resultados (OPAS, 2002)
A atenção farmacêutica mais proativa rejeita a terapêutica de sistemas,
busca a qualidade de vida e demanda que o farmacêutico seja um generalista.
Trata-se de pacto social pelo atendimento e necessita ter base filosófica
sedimentada. O exercício profissional do farmacêutico, hoje, busca a concepção
clínica de sua atividade, além da integração e da colaboração com os membros
da equipe de saúde, cuidando diretamente do paciente (PERETTA, CICCIA
2000).
Na atenção farmacêutica, o profissional se encarrega de reduzir a
morbidade e a mortalidade relacionadas com os medicamentos (ANGONESI;
SEVALHO, 2010). Para isso, é necessário que o profissional utilize em seu
exercício um enfoque centrado no paciente. Isso significa que o paciente deve
ser considerado como pessoa em seu conjunto, com algumas necessidades de
assistência gerais e outras específicas relacionadas com a medicação que
constituem a principal preocupação do profissional (CIPOLLE; STRAND;
MORLEY, 2000).
A atenção farmacêutica baseia-se, principalmente, no acompanhamento
farmacoterapêutico dos pacientes, buscando a obtenção de resultados
terapêuticos desejados por meio da resolução dos problemas
farmacoterapêuticos, procurando-se definir uma atividade clínica para o
farmacêutico, tendo o paciente como ponto de partida para a solução dos seus
problemas com os medicamentos (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000).
Ela é considerada uma ferramenta da farmácia clínica, uma especialidade
da área da saúde relacionada à atividade e ao serviço do farmacêutico clínico
para desenvolver e promover o uso racional de medicamentos. Tal ferramenta
facilita a interação do farmacêutico com o usuário do sistema de saúde,
proporciona um melhor acompanhamento dos pacientes, por meio do manejo da

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farmacoterapia, prevenção e elucidação dos problemas identificados durante
esse seguimento (PEREIRA; FREITAS, 2008).
Os modelos de atenção farmacêutica mais utilizados por pesquisadores e
farmacêuticos no mundo são o espanhol (Método Dáder) e o americano (Modelo
de Minnesota). Entretanto, existem diferenças entre eles, principalmente na
classificação dos problemas farmacoterapêuticos (PEREIRA; FREITAS, 2008).
Para Andrade (2015), o farmacêutico deve ser capaz de orientar o
paciente, a fim de minimizar os efeitos secundários das terapias utilizadas, bem
como determinar os medicamentos que podem interferir na eficácia do
tratamento. Para tanto, deve-se definir um plano de atenção farmacêutica que
contemple os seguintes aspectos:

 O farmacêutico deve estar atento para que, ao longo do tratamento, as


reações adversas aos medicamentos sejam mínimas possíveis;

 Estabelecer uma boa relação entre farmacêutico e paciente é fundamental


para o sucesso do tratamento;

 Coletar, sintetizar e analisar as informações relevantes sobre o paciente;

 Listar e classificar os problemas relatados pelo paciente e identificados na


anamnese;

 Estabelecer o resultado farmacoterapêutico desejado para cada problema


relacionado com o medicamento;

 Disponibilizar informações sobre as alternativas terapêuticas disponíveis;

 Eleger, juntamente com o médico, a melhor solução farmacoterapêutica e


individualizar o regime posológico;

 Desenvolver um plano sistemático de monitorização terapêutica;

 Realizar seguimento do paciente para mensurar o resultado.

Para tanto, o farmacêutico atende o paciente diretamente, avalia e orienta


em relação à farmacoterapia prescrita pelo médico (FURTADO, 2001), por meio

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da análise das suas necessidades relacionadas aos medicamentos e detectando
problemas relacionados a medicamentos (PRMs). Desse modo, consolida a
relação existente entre a prática e o conhecimento teórico na atuação
farmacêutica, promovendo, sobremaneira, saúde, segurança e eficácia
(PERETTA e CICCIA, 2000).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem produzindo uma série de
recomendações internacionais relacionadas aos medicamentos e ao papel do
farmacêutico no sistema de atenção à saúde e, dessa forma, tem contribuído
para a construção conceitual da atenção farmacêutica. Deve-se destacar dois
documentos muito importantes para o contexto dessa discussão: os informes
produzidos pelas reuniões de Nova Délhi, em 1988, e Tóquio, em 1993
(ANGONESI; SEVALHO, 2010).
Em Nova Délhi, ressaltou-se a importância do farmacêutico no sistema de
atenção à saúde, descrevendo as suas funções na equipe de saúde,
especialmente em relação aos seus conhecimentos sobre o manejo e as
propriedades dos medicamentos. O farmacêutico, segundo o grupo reunido,
deve atuar como fonte de informação sobre os medicamentos para a equipe e
os pacientes, sendo o responsável pelo controle do uso racional e seguro do
medicamento. Ou seja, a OMS adota as ideias da farmácia clínica como
diretrizes para a profissão farmacêutica (OMS, 1990).
Na declaração de Tóquio, adota-se um conceito de atenção farmacêutica
reforçando a reorientação do produto para o paciente: um conceito de prática
profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do
farmacêutico. A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, dos
comportamentos, dos compromissos, das inquietudes, dos valores éticos, das
funções, dos conhecimentos, das responsabilidades e das destrezas do
farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar
resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente
(OPAS, 1995).

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O Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou no dia 29 de agosto de
2013 a Resolução n. 585, que regulamenta as atribuições clínicas do
farmacêutico (BRASIL, 2013). A formação clínica do profissional farmacêutico
torna-se decisiva para o futuro da prática de atenção farmacêutica, pois ao
adquirir os conhecimentos de farmácia clínica, o farmacêutico estará apto para
realizar acompanhamento farmacoterapêutico completo e de qualidade,
avaliando os resultados clínico- laboratoriais dos pacientes e interferindo
diretamente na farmacoterapia.
Vale ressaltar que, além do conhecimento de farmácia clínica, a atenção
farmacêutica exige do profissional certa preocupação com as variáveis
qualitativas do processo, principalmente aquelas referentes à qualidade de vida
e satisfação do usuário (PEREIRA; FREITAS, 2008).
Apesar da ampliação e da difusão dos conceitos de atenção farmacêutica,
deve-se ressaltar que esse movimento não substitui a farmácia clínica. A atenção
farmacêutica pode ser descrita como uma prática, ou seja, ferramenta que facilita
a interação do farmacêutico com o usuário do sistema de saúde, facilitando um
melhor acompanhamento dos pacientes, controlando a farmacoterapia,
prevenindo, identificando e solucionando problemas que possam surgir durante
esse processo. Enquanto a farmácia clínica é definida pela Sociedade Europeia
de Farmácia Clínica como: “uma especialidade da área da saúde, que descreve
a atividade e o serviço do farmacêutico clínico para desenvolver e promover o
uso racional e apropriado dos medicamentos e seus derivados” (OMS, 1994).
Saiba mais sobre os termos relacionados à atenção farmacêutica,
assistindo ao próximo vídeo da professora.
(Vídeo 3 disponível no AVA)

Tema 2: Intervenção farmacêutica


Segundo o Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica (2002), a
intervenção farmacêutica é:
um ato planejado, documentado e realizado junto ao usuário e aos
profissionais de saúde, que visa resolver ou prevenir problemas que

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interferem ou podem interferir na farmacoterapia, sendo parte
integrante do processo de acompanhamento/seguimento
farmacoterapêutico.

A intervenção farmacêutica pode ser definida como um ato ou ações que


possam prevenir problemas com medicamentos e otimizar a terapia
medicamentosa para cada paciente, em cooperação com outros profissionais de
saúde (LOCATELLI, 2005).
Para que o farmacêutico possa intervir na prescrição médica, é necessário
que ele tenha uma noção básica de como interpretar estudos clínicos e de como
extrapolar os resultados dos mesmos para a prática clínica diária.
Frequentemente, a farmacoterapia está sujeita a mudanças em decorrência da
introdução de novos fármacos e de descobertas de novas indicações
terapêuticas (FERRACINI, 2005).
A intervenção farmacêutica deve ser feita com precisão e assertividade.
Para tal, o farmacêutico deve ter à sua disposição uma vasta fonte de consulta.
Para realizar a intervenção farmacêutica, o profissional de farmácia deve levar
em consideração fatores nos quais estejam incluídos conhecimentos científicos,
aspectos socioeconômicos e de qualidade de vida. Portanto a intervenção
farmacêutica deve possuir a integração entre a melhor evidência científica
disponível na literatura, a experiência clínica e as preocupações e expectativas
do paciente (FERRACINI, 2005).
Dentro dos sistemas de saúde, o farmacêutico representa uma das
últimas oportunidades de identificar, corrigir ou reduzir possíveis riscos
associados à terapêutica. A intervenção farmacêutica, ao reduzir o número de
eventos adversos, aumenta a qualidade assistencial e diminui custos
hospitalares. Contudo, apesar de se constatar, atualmente, a relevância das
intervenções farmacêuticas para o uso racional de medicamentos, há ainda
carência de relatos sobre estas atividades, sobretudo em grupos especiais de
pacientes (exemplo: grupos polimedicados como idosos e transplantados)
(NUNES et al., 2008).

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Benefícios significativos provenientes da documentação da intervenção
farmacêutica, como o aumento da segurança do medicamento e a redução de
custos, têm sido muito bem demonstrados na literatura sobre o assunto
(LOCATELLI, 2005).
Após a realização das intervenções, o acompanhamento dos desfechos
clínicos durante a monitorização terapêutica, faz-se necessária para
mensuração dos resultados reais das intervenções envolvendo terapias
medicamentosas, podendo ter características econômica (o custo),
comportamentais (as preferências do paciente) e sociais, ou fisiológicos e
clínicos (valores laboratoriais, sinais e sintomas) (CIPOLLE; STRAND;
MORLEY, 2004).
Saiba mais sobre a monitorização terapêutica, assistindo ao próximo
vídeo da professora.
(Vídeo 4 disponível no AVA)

Tema 3: Assistência farmacêutica


No Brasil, as atividades do farmacêutico estão inseridas na assistência
farmacêutica, um conceito cuja construção teve início no final dos anos 1980,
envolvendo todas as atividades relacionadas ao medicamento desde a pesquisa
e a produção até a dispensação de forma cíclica e integrada (ANGONESI;
SEVALHO, 2010).
Segundo a Portaria n. 3.916, de 30 de outubro de 1998, a assistência
farmacêutica é conceituada como um grupo de atividades relacionadas com o
medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma
comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada
uma de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a
segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e
avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre
medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do
paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos.

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De acordo com essa definição, pode-se compreender que a assistência
farmacêutica é ampla, portanto a prática da atenção farmacêutica encontra-se
inserida no contexto da assistência farmacêutica. Essa visualização torna-se
mais evidente quando se observa o ciclo da assistência farmacêutica (PEREIRA;
FREITAS, 2008).
Para que a assistência farmacêutica seja de qualidade, além de recursos
disponíveis e planejamento adequado, devem-se seguir corretamente as etapas
do ciclo, tais como:

 seleção dos medicamentos;

 programação, aquisição, armazenagem, distribuição, prescrição,


dispensação e utilização dos medicamentos.

Dessa forma, pode-se evidenciar que a atenção farmacêutica está


presente na etapa final da assistência farmacêutica, ou seja, no momento da
dispensação e utilização dos medicamentos. Na análise conjuntural da
assistência farmacêutica, podem-se distinguir duas áreas imbricadas, porém
distintas:
a) tecnologia de gestão, que tem como objetivo central garantir o
abastecimento e o acesso aos medicamentos;
b) tecnologia do uso do medicamento, cujo objetivo final é o uso correto e
efetivo dos medicamentos.

A execução da segunda depende da primeira, uma vez que a


disponibilidade do medicamento é fruto da gestão (ARAÚJO; UETA; FREITAS,
2005).

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No vídeo a seguir, a professora vai falar sobre as atividades da assistência
farmacêutica. Não deixe de assistir!
(Vídeo 5 disponível no AVA)

Contextualizando – resposta
Muito bem! Acredito que você já teve tempo suficiente para refletir sobre
o caso apresentado no início dos estudos deste tema. Em relação ao problema
de Roberto, a qual grupo de atividades estamos nos referindo?
a. Atenção farmacêutica.

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b. Assistência farmacêutica.

c. Farmácia clínica.

Feedback:
a. Atenção farmacêutica é o conjunto de ações promovidas por
um farmacêutico, em colaboração com os demais profissionais de saúde,
que visam promover o uso racional dos medicamentos e a manutenção
da efetividade e segurança do tratamento. A atividade em questão visa o
acompanhamento farmacoterapêutico do paciente e a avaliação de
possíveis problemas relacionados a medicamentos, para que possa,
então, intervir sobre estes. No entanto, essa atividade não se relaciona a
seleção, aquisição, armazenagem e dispensação para o paciente

b. Para as atividades descritas, essa representa a melhor opção. Além do


acompanhamento do paciente, a descrição se refere ao suprimento dos
produtos hospitalares, de sua seleção e do acondicionamento até que
seja necessária a utilização. Deve-se lembrar que a farmácia clínica e a
atenção farmacêutica são integrantes do ciclo de assistência
farmacêutica.

c. A farmácia clínica é uma área da farmácia voltada à ciência e à prática do


uso racional de medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado
ao paciente, de forma a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e o
bem-estar e prevenir doenças; no entanto, esta não interfere diretamente
na seleção, na aquisição, na armazenagem e na disponibilização do
medicamento ao paciente.

Finalizando
Nesta aula, pudemos compreender as atividades realizadas pelo
farmacêutico junto ao paciente e como foi a evolução dessas ações. Foram
diferenciados os termos assistência farmacêutica e atenção farmacêutica, sendo
esta última, uma atividade inserida no ciclo da assistência.

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Também foi possível conhecer o Consenso Brasileiro de Atenção
Farmacêutica, o qual define os termos relacionados a essa prática.
(Vídeo 6 disponível no AVA)

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