Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MERCK
DE
VETERINÁRIA
7ª Edição
7ª Edição
CONSELHO EDITORIAL
Harold E. Amstutz, B. S., D. V. M., DIP. A. C. V. I. M.
James Armour, CBE, PH. D., DR. (H. C.), M. R. C. V. S., F. R. S. E.
Douglas C. Blood, O. B. E., B. V. SC., HON. D. V. SC., F. A. C. V. SC., HON.
L . L. D., HON. ASSOC. R. C. V. S.
Cheryl L. Chrisman, D. V. M., M. S.
Franklin M. Loew, B. S., D. V. M., PH. D., DIP. A. C. L. A. M.
Glenn H. Snoeyenbos, D. V. M .
ROCA
Traduzido do Original
The Merck Veterinary Manual – Seventh Edition
CDD–636.089
96-3646 NLM–SF 745
1997
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
PREFÁCIO
abreviações. Ver página IX para lista daquelas usadas ao longo do texto. Em alguns
capítulos, abreviações adicionais são usadas; estas são inseridas logo após a(s)
palavra(s) a que se refere(m).
Tem sido despendido grande esforço para se atingir a precisão, particularmente
na nomenclatura científica e nas recomendações terapêuticas. Os microrganismos
ou as drogas que poderiam ser conhecidos por outros nomes por alguns leitores são
identificados por estes nomes entre parênteses após os termos mais aceitos ou mais
novos. As recomendações referentes ao uso das drogas são as de vários contri-
buintes: a citação de um remédio específico não constitui uma garantia expressa ou
implícita, nem implica o endosso de qualquer produto em relação a outros pela
Merck & CO., Inc.
Foram feitos todos os esforços para selecionar as drogas ou as preparações
representativas, mas isto não deve ser interpretado como restritivo, de algum modo,
para o julgamento clínico do veterinário na escolha de produtos correlatos ou na
substituição por outros remédios efetivos. Foi dedicada uma atenção especial às
quantidades e doses dos vários agentes citados, mas a experiência pessoal, as
modificações nas formações dos fabricantes ou circunstâncias incomuns podem
tornar desejável ou necessário não seguir estas recomendações. Os Editores não
podem dar nenhuma garantia em relação a estas recomendações. Em todos os
casos, as instruções da bula devem ser consultadas.
A relação veterinário-cliente-paciente é importante em todos os casos, mas
especialmente se as drogas tiverem de ser usadas em dosagens ou em doenças
não citadas na bula. A maioria das drogas está sujeita, atualmente, à regulamentação
governamental. Um objetivo específico destas regulamentações é a proteção da
Saúde Pública, garantindo que é seguro consumir quaisquer produtos comestíveis
dos animais tratados. Isto requer a definição dos momentos específicos para se
interromper a medicação e outras advertências e recomendações que governam o
uso de certos compostos. Algumas drogas não podem ser usadas para tratar
animais que estão produzindo leite ou carne para o consumo humano. Como o
estado regulador de qualquer droga específica está sujeito a mudanças a qualquer
momento e tende variar de país para país, o veterinário deve informar-se detalha-
damente das condições em que estes agentes devem ser usados e das cautelas
recomendadas durante o seu uso.
PARTE II
COM Comportamento ..................................................................... 1085
PARTE III
VPC Valores e Procedimentos Clínicos ........................................ 1131
PARTE IV
ASL Animais Silvestres e de Laboratório ...................................... 1181
PARTE V
MCN Manejo, Criação e Nutrição ................................................... 1317
PARTE VI
FAR Farmacologia ......................................................................... 1565
PARTE VII
AVE Doença Aviárias .................................................................... 1867
PARTE VIII
TOX Toxicologia ............................................................................ 1979
PARTE IX
ZOO Zoonoses ............................................................................... 2109
PARTE X
IND Índice Remissivo ................................................................... 2119
GUIA PARA OS LEITORES
1. O Índice Geral (pág. VII) mostra o título de cada seção do MANUAL e suas
respectivas abreviações.
2. Cada seção inicia-se com seu próprio índice, lista de capítulos e subcapítulos.
3. Na maioria das vezes, o primeiro relato que segue o título do capítulo é uma
definição resumida da condição a ser discutida.
4. Muitas abreviações e símbolos são empregados literalmente para poupar
espaço. (Ver também o Prefácio.)
5. Devido à dificuldade em listar todas as marcas registradas de drogas, em
muitas ocasiões são usados nomes genéricos ou não registrados. Quando
usadas, as marcas registradas são escritas em letras maiúsculas, e em
ocasiões onde isto não se sobressai (por exemplo, no início de uma oração),
são usados entre aspas.
6. Cada cabeço da página à esquerda (páginas de números pares) indica o
título do primeiro capítulo discutido naquela página. Cada cabeço da página
à direita (páginas de números ímpares) indica o título do último capítulo
discutido naquela página.
7. As tabelas resumem dados importantes que aparecem no livro. Uma lista
destas tabelas aparece nas páginas X a XIV.
8. Para se localizar uma discussão específica de uma determinada doença, ou
síndrome, da qual o nome é conhecido, deve-se consultar o Índice Remissivo.
O MANUAL está baseado nos sistemas anatômicos e as condições específicas
são localizadas no sistema que é afetado primariamente. Condições que podem
afetar sistemas diferentes ou mais do que um são discutidas em Afecções Genera-
lizadas (GEN). Entretanto, o Índice Remissivo dá a página específica.
Se você se confrontar com uma síndrome, a disposição das condições nos
sistemas (ver Índice Geral) ajudará a encontrar a discussão, mas se o nome da
condição é conhecido, o Índice Remissivo promoverá um acesso mais fácil à
discussão apropriada, bem como as discussões de outros tópicos, no qual é
mencionado o assunto de principal interesse.
ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
(Ver também GUIAS PARA REFERÊNCIAS RÁPIDAS, pág. 1175 para unidades do SI.)
Título Página
SLC
Classificação das cardiopatias .................................................................... 12
Sinais das cardiopatias ............................................................................... 12
Arritmias e antiarrítmicos ............................................................................ 15
Classificação das anemias ......................................................................... 18
Valores normais dos eritrócitos: algumas séries normais ........................... 20
Principais grupos sangüíneos de interesse clínico ..................................... 35
Diferenciação das microfilárias da Dirofilaria immitis e de
Dipetalonema reconditum ...................................................................... 89
Tripanossomos animais mais importantes transmitidos por
moscas tsé-tsé ....................................................................................... 96
Drogas comumente utilizadas no tratamento das tripanossomíases
em animais domésticos .......................................................................... 98
DIG
Diferenciação entre diarréias do intestino delgado e intestino grosso ........ 113
Fórmulas dentárias ..................................................................................... 135
Erupção dos dentes .................................................................................... 136
Problemas que resultam em malabsorção ................................................. 170
Tratamentos para doenças selecionadas de malabsorção ........................ 175
Distribuição etária das doenças diarréicas dos suínos ............................... 229
Cestóideos de cães e gatos da América do Norte ...................................... 292
Cestóideos de importância em Saúde Pública ........................................... 296
END
Exemplos de hiperfunção primária das glândulas endócrinas .................... 310
NER
Sinais clínicos associados com várias síndromes nervosas periféricas,
cerebrais e da medula espinhal ............................................................. 741
REP
Períodos de gestação ................................................................................. 776
Períodos de incubação ............................................................................... 776
Características do ciclo reprodutivo ............................................................ 777
URN
Dieta caseira para controle e prevenção da síndrome urológica felina ...... 1078
COM
Características de homeostasia comportamental relacionadas à
manutenção ........................................................................................... 1088
Tabelas XI
Título Página
VPC
Instruções para envio de amostras para exame toxicológico ..................... 1133
Exame de sangue periférico para patógenos microscópicos ..................... 1150
Temperatura corporal basal de várias espécies, em relação ao peso ....... 1169
Temperaturas retais .................................................................................... 1170
Freqüências cardíacas ................................................................................ 1170
Freqüências respiratórias em repouso ....................................................... 1170
Volume urinário ........................................................................................... 1170
Índices de referência hematológica ............................................................ 1171
Valores de leucócitos .................................................................................. 1172
Constituintes bioquímicos do soro .............................................................. 1173
Pesos atômicos (aproximados) de alguns elementos comuns ................... 1175
Equivalentes em Celsius-Fahrenheit .......................................................... 1175
Fatores de conversão SI para bioquímica clínica ....................................... 1176
Medidas lineares comparativas .................................................................. 1176
Medidas caseiras (aproximadas) ................................................................ 1177
Equivalentes métricos e farmacêuticos ...................................................... 1177
Prefixos e símbolos do sistema métrico ..................................................... 1177
Pesos e medidas do sistema métrico ......................................................... 1177
Conversões miliequivalente-miligrama ....................................................... 1178
Unidades básicas do sistema métrico do SI ............................................... 1178
Equivalentes em peso para aditivos alimentares ........................................ 1178
Fórmulas de conversão .............................................................................. 1179
ASL
Drogas para o uso em aquacultura ............................................................. 1194
Quantidade máxima de sangue recomendada que pode ser coletada
de espécies aviárias comuns ................................................................. 1212
Quantidades iniciais de fluidos EV para administração em bolo em
espécies aviárias comuns ...................................................................... 1212
Antibióticos recomendados para uso em aves ornamentais ...................... 1214
Antifúngicos para uso em aves ornamentais .............................................. 1216
Outras infecções virais de ratos e camundongos ....................................... 1240
Alguns dados fisiológicos dos animais de laboratório ................................ 1248
Terapêutica de primatas não humanos ...................................................... 1253
Vacinações recomendadas para mamíferos exóticos ................................ 1316
MCN
Avaliação da circunferência escrotal de touros .......................................... 1328
Tabelas XII
Título Página
Título Página
FAR
Concentrações de solutos importantes ....................................................... 1646
Composição dos líquidos parenterais ......................................................... 1658
Tranqüilizantes ou sedativos sem efeitos analgésicos: doses (mg/kg, exceto
quando indicado de outra forma), via e freqüência de administração ... 1696
Tabelas XIV
Título Página
AVE
Microrganismos hematogênicos nas aves domésticas ............................... 1871
Helmintos comuns no trato digestivo das aves domésticas ....................... 1888
TOX
Toxicidade do etilenoglicol .......................................................................... 1999
Plantas tóxicas ornamentais/domésticas para animais de companhia ....... 2012
Micotoxicoses em animais domésticos ....................................................... 2036
Plantas tóxicas da América do Norte temperada ........................................ 2060
ZOO
Zoonoses .................................................................................................... 2109
COLABORADORES
T.R. Cline, B.S ., M.S., PH.D., Professor, Department of Animal Sciences, Purdue
University, West Lafayette, Indiana.
Leroy Coggins, D.V.M., PH.D., Professor and Head, Department of Microbiology,
Pathology and Parasitology, College of Veterinary Medicine, North Carolina State
University, Raleigh, North Carolina.
M.S. Collins, B.SC.(HONS.), Ministry of Agriculture, Fisheries and Food, Central
Veterinary Laboratory, Weybridge, Surrey, England.
Ben H. Colmery III, D.V.M., DIP.A.V.D.C., Ann Arbor, Michigan.
Donal P. Conway, M .S., PH.D., Animal Health Group, Pfizer Inc., New York, New York.
Jim Corbin, PH.D., Professor Emeritus, University of Illinois, Urbana, Illinois.
Charles E. Cornelius, School of Veterinary Medicine, University of California, Davis,
California.
R.E. Corstvet, M.S., PH.D., Professor of Veterinary Microbiology, School of Veterinary
Medicine, Louisiana State University, Baton Rouge, Louisiana.
Susan M. Cotter, D.V.M., DIP.A.C.V.I.M., Professor of Medicine, School of Veterinary
Medicine, Tufts University, North Grafton, Massachusetts.
Geoffrey S. Cottew, M .SC., M .A.S.M., Burleigh Heads, Queensland, Australia.
Morris S. Cover, V.M .D., M .S., PH.D., Foristell, Missouri.
Rick L. Cowell, D.V.M., M.S., DIP.A.C.V.P., Associate Professor, Department of Pathology,
College of Veterinary Medicine, Oklahoma State University, Stillwater, Oklahoma.
Timothy A. Cudd, D.V.M., College of Veterinary Medicine, University of Florida,
Gainesville, Florida.
R.A. Curtis, D.V.M ., M.SC., Professor, Department of Health Management, Atlantic
Veterinary College, University of Prince Edward Island, Charlottetown, P.E.I.,
Canada.
A.J. DaMassa, PH.D., Lecturer, Research Associate, Department of Epidemiology
and Preventive Medicine, School of Veterinary Medicine, University of California,
Davis, California.
R.C.W. Daniel, B.V.SC., M.SC., PH.D., F .A.C.V.SC., Reader, Department of Farm Animal
Medicine and Production, University of Queensland, Queensland, Australia.
A.H. Dardiri, D.V.M., B.V.SC., M .SC., PH.D., Collaborator, U.S. Department of Agriculture,
Agricultural Research Service, Plum Island Animal Disease Center, Southold,
New York.
F. G. Davies, M .A., VET .M.B., M.R.C.V.S., Veterinary Research Laboratory, Ministry of
Agriculture, Nairobi, Kenya.
Richard B. Davis, D.V.M., M.S., Poultry Disease Research Center, Athens, Georgia.
Douglas J. DeBoer, D.V.M., DIP.A.C.V.D., Assistant Professor, Department of Medical
Sciences, School of Veterinary Medicine, University of Wisconsin, Madison,
Wisconsin.
Linda J. DeBowes, D.V.M., M.S., DIP.A.C.V.I.M., Assistant Professor, Department of
Clinical Sciences, College of Veterinary Medicine, Kansas State University,
Manhattan, Kansas.
Dominic L. DeGiusti, PH.D., Professor Emeritus, Department of Immunology and
Microbiology, Wayne State University, School of Medicine, Detroit, Michigan.
Antony James Della-Porta, B.SC., PH.D., C.S.I.R.O., Australian Animal Health
Laboratory, Geelong, Victoria, Australia.
Robert W. Dellers, D.V.M ., PH.D., Wisconsin Animal Health Laboratories, Madison,
Wisconsin.
Colaboradores XX
Julius Fabricant, V.M .D., B.S., M .S., PH.D., Professor Emeritus, Department of Avian
and Aquatic Animal Medicine, New York State College of Veterinary Medicine,
Cornell University, Ithaca, New York.
Aly M. Fadly, D.V.M., PH.D., Veterinary Research Scientist, U.S. Department of
Agriculture, Agricultural Research Service, Avian Disease and Oncology
Laboratory, East Lansing, Michigan.
Alicia M. Faggella, D.V.M ., Director, Intensive Care Unit, Angell Memorial Animal
Hospital, Boston, Massachusetts.
Ronald Fayer, PH.D., Zoonotic Diseases Laboratory, Livestock and Poultry Sciences
Institute, U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service, Beltsville,
Maryland.
John F. Fessler, D.V.M., M.S., Professor of Large Animal Surgery, School of Veterinary
Medicine, Purdue University, West Lafayette, Indiana.
B.D. Firehammer, M.S., Professor, Veterinary Research Laboratory, Montana State
University, Bozeman, Montana.
Robert A. Foster, B.V.SC., PH.D., M. A.C.V.SC., DIP. A.C.V.P., Assistant Professor,
Department of Pathology, Ontario Veterinary College, University of Guelph,
Guelph, Ontario, Canada.
James G. Fox, D.V.M., M.S., Professor and Director, Division of Comparative Medicine,
Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, Massachusetts.
Patricia Thomblison Franks, D.V.M., M.S., Technical Training Manager /Staff Clinician,
Hill’s Pet Products, Topeka, Kansas.
Andrew F. Fraser, M.R.C.V.S., M.V.SC., F.I.BIOL., Professor of Surgery (Veterinary),
Faculty of Medicine, Memorial University, Newfoundland, Canada.
David E. Freeman, M .V .B ., M .R. C.V .S ., PH .D., Assistant Professor of Surgery,
School of Veterinary Medicine, University of Pennsylvania, Kennett Square,
Pennsylvania.
D.B. Galloway, B.V.SC., F.R.V.C.S., M.A.C.V.SC., V.M.D., Department of Veterinary
Clinical Sciences, University of Melbourne, Werribee, Victoria, Australia.
Paul C. Gambardella, V.M .D., M.S., DIP.A.C.V.S ., Director of Surgery, Angell Memorial
Animal Hospital, Boston, Massachusetts.
Jack M. Gaskin, D.V.M., PH.D., Associate Professor, Department of Infectious Disea-
ses, College of Veterinary Medicine, University of Florida, Gainesville, Florida.
Clive C. Gay, D.V.M., M.V.SC., F.A.C.V.SC., Professor, Department of Veterinary Clinical
Medicine and Surgery, Washington State University, Pullman, Washington.
Kirk N. Gelatt, V.M.D., Professor of Comparative Ophthalmology, College of Veterinary
Medicine, University of Florida, Gainesville, Florida.
Jack Gelb, Jr., PH.D., Associate Professor, Department of Animal Science and
Agricultural Biochemistry, College of Agricultural Sciences, University of Delaware,
Newark, Delaware.
E. Paul J. Gibbs, B.V.SC., PH.D., F.R.C.V.S., College of Veterinary Medicine, University
of Florida, Gainesville, Florida.
Charles D. Gibson, D.V.M ., PH.D., Professor, Department of Large Animal Clinical
Sciences, College of Veterinary Medicine, Michigan State University, East
Lansing, Michigan.
Urs Giger, P.D., DR.MED.VET., F.V.H., DIP.A.C.V.I.M., Associate Professor of Medicine
and Medical Genetics, Department of Clinical Studies, School of Veterinary
Medicine, University of Pennsylvania, Philadelphia, Pennsylvania.
Colaboradores XXII
John S. Gilmour, B.V.M. & S., F .R.C.V.S., Moredun Research Institute, Edinburgh,
Scotland.
N.J.L. Gilmour, PH.D., D.SC., B.V.M.S., M.R.C.V.S., Moredun Research Institute, Edinburgh,
Scotland.
Robert D. Glock, D.V.M., PH.D., Director, Veterinary Diagnostic Laboratories, Colorado
State University, Fort Collins, Colorado.
W.L. Goff, M.S., PH.D., Research Microbiologist, Animal Diseases Research Unit,
U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service, Washington State
University, Pullman, Washington.
Robert A. Goodnow, PH.D., Microbiologist, Rochester, New York.
Mark A. Goodwin, D.V.M., M.A.M., PH.D., Veterinary Pathologist, Georgia Poultry
Improvement Association, Georgia Poultry Laboratory, Oakwood, Georgia.
John R. Gorham, D.V.M ., PH.D., Animal Diseases Research Unit, U.S. Department of
Agriculture, Agricultural Research Service, Washington State University, Pullman,
Washington.
Rainer Gothe, D.T.V.M., Professor, Institut for Vergleichende Tropenmedizin und
Parasitologie der University Monchen, Munich, Germany.
R.E. Gough, F.I.M.L.S., M.I.BIOL., Poultry Department, Central Veterinary Laboratory,
Ministry of Agriculture, Fisheries and Food, New Haw, Weybridge, Surrey,
England.
David I. Grant, B.VET.MED., CERT.S.A.D., F.R.C.V.S., Veterinary Director, R.S.P.C.A., Sir
Harold Harmsworth Memorial Animal Hospital, London, England.
Gregory F. Grauer, D.V.M., M.S., DIP.A.C.V.I.M., College of Veterinary Medicine and
Biomedical Sciences, Colorado State University, Ft. Collins, Colorado.
Craig E. Greene, D.V.M ., M.S., Professor, Department of Small Animal Medicine,
College of Veterinary Medicine, University of Georgia, Athens, Georgia.
Paul Greenlee, D.V.M., PH.D., DIP.A.C.V.P., Dallas, Texas.
Paul R. Greenough, F .R.C.V.S., Professor, Department of Anesthesiology, Radiology
and Surgery, Western College of Veterinary Medicine, University of Saskatchewan,
Saskatoon, Saskatchewan, Canada.
Timothy R.C. Greet, B.V.M.S., M.V.M., CERT.E.O., F.R.C.V.S., Beaufort Cottage Stables,
Newmarket, Suffolk, England.
Dee Griffin, M.S., D.V.M., Beef Cattle Veterinarian, University of Nebraska, Great
Plains Veterinary Educational Center, Clay Center, Nebraska.
James E. Grimes, PH.D., Research Associate, Texas Veterinary Medical Diagnostic
Laboratory, College Station, Texas.
T. Keith Grove, D. D.S., M.S., V.M.D., DIP.A.V.D.C., DIP.A.B.P., Veterinary Dental Practice,
Vero Beach, Florida.
Frank S. Guillot, PH.D., Research Leader, Knipling-Bushland U.S. Livestock Insects
Research Laboratory, U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research
Service, Kerrville, Texas.
Donald P. Gustafson, B.SC., D.V.M ., M.S., PH.D., Leo P. Doyle Professor of Virology,
Emeritus, Purdue University, West Lafayette, Indiana.
Borje K. Gustafsson, D.V.M ., PH.D., Dean and Professor, College of Veterinary
Medicine, Washington State University, Pullman, Washington.
Carlton L. Gyles, D.V.M ., PH.D., Professor, Department of Veterinary Microbiology and
Immunology, Ontario Veterinary College, University of Guelph, Guelph, Ontario,
Canada.
Colaboradores XXIII
Arnold F. Kaufmann, D.V.M ., M.S., Acting Chief, Mycotic Diseases Branch, Division of
Bacterial and Mycotic Diseases, Centers for Disease Control, Atlanta, Georgia.
T. S. Kellerman, B.SC.(AGR.), B.V.SC., Veterinary Research Institute, Onderstepoort,
Republic of South Africa.
Conrad J. Kercher, PH.D., C.A.S., Animal Science Department, University of Wyoming,
Laramie, Wyoming.
Ann B. Kier, D.V.M., PH.D., Associate Professor, Departments of Pathology and
Laboratory Animal Medicine, University of Cincinnati Medical Center, Cincinnati,
Ohio.
Robert L. Kilgore, D.V.M., Fayetteville, Arkansas.
Cleon V. Kimberling, D.V.M ., M.P.H., Veterinary Teaching Hospital, Colorado State
University, Fort Collins, Colorado.
John M. King, D.V.M., PH.D., Professor, New York State College of Veterinary
Medicine, Cornell University, Ithaca, New York.
Newton Kingston, B. A., M .SC ., PH .D ., Professor of Parasitology, Department of
Veterinary Sciences, College of Agriculture, University of Wyoming, Laramie,
Wyoming.
Rebecca Kirby, D.V.M., DIP.A.C.V.I.M., A.C.V.E.C.C., Director of Education, Veterinary
Institute of Trauma, Emergency and Critical Care, Animal Emergency Center,
Milwaukee, Wisconsin.
John H. Kirk, D.V.M., Large Animal Surgery and Medicine, College of Veterinary
Medicine, Auburn University, Auburn, Alabama.
Carl E. Kirkpatrick, B.S., V.M .D., PH.D., (Deceased), Urbana, Illinois.
Allan C. Kirkwood, Beer, Seaton, Devon, England.
Mark D. Kittleson, D.V.M., PH.D., Department of Medicine, School of Veterinary
Medicine, University of California, Davis, California.
Thomas R. Klei, PH.D., Professor of Parasitology, Department of Veterinary
Microbiology and Parasitology, School of Veterinary Medicine, Louisiana State
University, Baton Rouge, Louisiana.
Stanley H. Kleven, D.V.M ., PH.D., Professor, Department of Avian Medicine, College
of Veterinary Medicine, University of Georgia, Athens, Georgia.
Donald P. Knowles, Jr., D.V.M., PH.D., Veterinary Medical Officer, U.S. Department of
Agriculture, Agricultural Research Service, Animal Disease Research Unit,
Washington State University, Pullman, Washington.
Deborah T. Kochevar, D.V.M ., PH.D., Department of Veterinary Physiology and
Pharmacology, College of Veterinary Medicine, Texas A & M University, College
Station, Texas.
Erwin M. Kohler, D.V.M., PH.D., Food Animal Health Research Program, Ohio
Agricultural Research and Development Center, Wooster, Ohio.
Loren D. Koller, D.V.M., PH.D., College of Veterinary Medicine, Oregon State University,
Corvallis, Oregon.
Lloyd D. Konyha, D.V.M., M .S., U.S. Department of Agriculture-APHIS, Tampa,
Florida.
Joe N. Kornegay, D.V.M., PH.D., Professor of Neurology, College of Veterinary
Medicine, North Carolina State University, Raleigh, North Carolina.
Alan L. Kraus, D.V.M ., Professor and Chairman, Division of Laboratory Animal
Medicine, Professor of Pathology, and Director of the Vivarium, School of
Medicine and Dentistry, University of Rochester, Rochester, New York.
Colaboradores XXVI
Juan Lubroth, D.V.M., M.S., Comisión México-Estados Unidos para la Prevención de la Fiebre
Aftosa y Otras Enfermedades Exóticas de los Animales, Colonia Polanco, México.
Phil D. Lukert, D.V.M., PH.D., Department of Medical Microbiology, College of
Veterinary Medicine, University of Georgia, Athens, Georgia.
John H. Lumsden, D.V.M., M.SC., DIP.CLIN.PATH., Professor, Department of Pathology,
Ontario Veterinary College, University of Guelph, Guelph, Ontario, Canada.
R.L. Lundvall, D.V.M ., M .S., Professor, Veterinary Clinical Sciences, Veterinary
Teaching Hospital, Iowa State University, Ames, lowa.
George Lust, PH.D., Professor of Physiological Chemistry, New York State College
of Veterinary Medicine, Cornell University, Ithaca, New York.
Eugene T. Lyons, PH.D., Professor, Department of Veterinary Science, Gluck Equine
Research Center, University of Kentucky, Lexington, Kentucky.
Gordon K. Macleod, B.S.A., M.S., PH.D., Professor Emeritus, Department of Animal
and Poultry Science, University of Guelph, Guelph, Ontario, Canada.
Keith T. Maddy, D.V.M., M.P.H., Pesticide Health and Safety Advisor, California
Department of Food and Agriculture, Sacramento, California.
John E. Madigan, D.V.M., M.S., Department of Medicine, School of Veterinary
Medicine, University of California, Davis, California.
J.G. Manns, B .S .A ., M. SC ., PH .D ., University of Saskatchewan, Saskatoon,
Saskatchewan, Canada.
Douglas C. Maplesden, D.V.M., M .S.A., PH.D., Consultant, Fort Lauderdale, Florida.
Reuben J. Mapletoft, D.V.M., M .S., PH.D., Professor, Department of Herd Medicine and
Theriogenology, Western College of Veterinary Medicine, University of
Saskatchewan, Saskatoon, Saskatchewan, Canada.
Richard F. Marsh, D.V.M., PH.D., Professor, Department of Veterinary Science,
University of Wisconsin, Madison, Wisconsin.
A. Edward Marshall, D.V.M., PH.D., Associate Professor, Department of Anatomy and
Histology, College of Veterinary Medicine, Auburn University, Auburn, Alabama.
Charles L. Martin, D.V.M., M .S., Director, Veterinary Teaching Hospital, Professor,
Small Animal Medicine, College of Veterinary Medicine, University of Georgia,
Athens, Georgia.
Sharron L. Martin, D.V.M., M.SC., Professor, Department of Veterinary Clinical
Sciences, Ohio State University, Columbus, Ohio.
William J. Mathey, B.S., V.M .D., PH.D., Nipomo, California.
Carl Patrick McCoy, D.V.M., M .S., DIP.A.B.V.T., Associate Professor, College of Veterinary
Medicine, Mississippi State University, Mississippi State, Mississippi.
Leslie E. McDonald, D.V.M., PH.D., Stillwater, Oklahoma.
J.B. McFerran, PH.D., D.SC., M .R.C.V.S., F.R.AG.S., Professor, Veterinary Research
Laboratories, Stormont, Belfast, Northern Ireland.
C. Wayne Mcllwraith, B.V.SC., M.S., PH.D., M.R.C.V.S., Professor, Department of Clinical
Sciences, College of Veterinary Medicine and Biomedical Sciences, Colorado
State University, Fort Collins, Colorado.
Quintin A. McKellar, B.V.M.S., PH.D., M.R.C.V.S., Acting Head, Department of Veterinary
Pharmacology, University of Glasgow, Bearsden, Glasgow, Scotland.
Pauline E. McNeil, B.V.M .S., PH.D., M .R.C.V.S., Department of Veterinary Pathology,
University of Glasgow Veterinary School, Bearsden, Glasgow, Scotland.
M.S. McNulty, M.V.B., PH.D., M.R.C.V.S., Veterinary Research Laboratories, Stormont,
Belfast, Northern Ireland.
Colaboradores XXVIII
David John Taylor, M.A., PH.D., VET.M.B., M.R.C.V.S., Department of Veterinary Pathology,
University of Glasgow Veterinary School, Bearsden, Glasgow, Scotland.
Stuart M. Taylor, PH.D., B.V.M.S., M.R.C.V.S., Senior Veterinary Research Officer,
Veterinary Research Laboratories, Stormont, Belfast, Northern Ireland.
A.B. Thiermann, D.V.M., PH.D., Deputy Administrator, International Services, Animal
and Plant Health Inspection Service, U.S. Department of Agriculture, Washing-
ton, D.C.
Charles O. Thoen, D.V.M., PH.D., Professor, Department of Microbiology, Immunology
and Preventive Medicine, College of Veterinary Medicine, Iowa State University,
Ames, lowa.
Annette D. Thomas, M.SC., M.A.S.M., Principal Microbiologist, Oonoonba Veterinary
Laboratory, Townsville, Queensland, Australia.
H. Thompson, PH.D., B.V.M.S., M.R.C.V.S., Department of Veterinary Pathology,
University of Glasgow Veterinary School, Bearsden, Glasgow, Scotland.
John R. Thornton, B.V.SC., M.SC., PH.D., Reader in Veterinary Medicine, Department
of Companion Animal Medicine and Surgery, University of Queensland,
Queensland, Australia.
Peter J. Timoney, M .V.B., M.S., PH.D., F .R.C.V.S., Professor, Maxwell H. Gluck Equine
Research Center, Department of Veterinary Science, University of Kentucky,
Lexington, Kentucky.
Ian R. Tizard, B.V.M . & S., PH.D., M.R.C.V.S ., Professor, Department of Veterinary
Pathobiology, College of Veterinary Medicine, Texas A & M University, College
Station, Texas.
Deoki N. Tripathy, B.V. SC. & A.H., PH.D., DIP.A.C.V.M., Professor, Department of
Veterinary Pathobiology, College of Veterinary Medicine, University of Illinois,
Urbana, Illinois.
Leander Tryphonas, D.V.M., PH.D., Ottawa, Ontario, Canada.
Alan Tucker, PH.D., Professor, Department of Physiology, Colorado State University,
Fort Collins, Colorado.
Harold W. Tvedten, D.V.M ., PH.D., DIP.A.C.V.P., Clinical Pathologist, Department of
Pathology, College of Veterinary Medicine, Michigan State University, East
Lansing, Michigan.
David E. Tyler, D.V.M., M.S., PH.D., Professor, Department of Veterinary Pathology,
College of Veterinary Medicine, University of Georgia, Athens, Georgia.
W.J. Tyznik, PH.D., Professor of Animal Science, Ohio State University, Columbus,
Ohio.
Norman R. Underdahl, B.A., M .S., Professor, Lincoln, Nebraska.
Louis van der Heide, D.V.M., PH.D., Department of Pathobiology, University of
Connecticut, Storrs, Connecticut.
Kent R. Van Kampen, D.V.M., PH.D., Chief Executive Officer, Virogenetics Corporation,
Troy, New York.
David C. Van Sickle, D.V.M ., PH.D., Professor and Head, Department of Anatomy,
School of Veterinary Medicine, Purdue University, West Lafayette, Indiana.
John F. Van Vleet, D.V.M ., PH.D., Professor of Veterinary Pathology and Associate
Dean of Academic Affairs, Department of Pathobiology, School of Veterinary
Medicine, Purdue University, West Lafayette, Indiana.
Stanley A. Vezey, D.V.M., Professor, Department of Avian Medicine, College of
Veterinary Medicine, University of Georgia, Athens, Georgia.
Colaboradores XXXVI
Richard L. Wood, D.V.M., PH.D., Veterinary Medical Officer, National Animal Disease
Center, U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service, Ames,
lowa.
Peter R. Woolcock, PH.D., M.SC., B.SC., Senior Research Associate, Cornell University,
Duck Research Laboratory, Eastport, New York.
Loveday O. Wosu, B.VET.MED., M.SC., PH.D., Department of Veterinary Medicine,
University of Nigeria, Nsukka, Nigeria.
Jeffrey D. Wyatt, D.V.M ., Associate Professor, Division of Laboratory Animal Medicine,
and Chief, Clinical Medicine, University of Rochester, School of Medicine and
Dentistry, Rochester, New York.
Richard Yamamoto, M.A., PH.D., Professor of Microbiology, Department of Epidemiology
and Preventive Medicine, School of Veterinary Medicine, University of California,
Davis, California.
G.O. Yang, PH.D., Professor, Chinese Academy of Preventive Medicine, Institute of
Nutrition and Food Hygiene, Beijing, China.
William D.G. Yates, D.V.M ., PH.D., Director, Health of Animals Laboratory, Agriculture
Canada, and Adjunct Professor of Veterinary Pathology, Western College of
Veterinary Medicine, University of Saskatchewan, Saskatoon, Saskatchewan,
Canada.
Juan Manuel L. Zertuche, M.V.Z., College of Veterinary Medicine, University of
Florida, Gainesville, Florida.
Dean R. Zimmerman, PH.D., Professor of Animal Nutrition, Department of Animal
Science, Iowa State University, Ames, lowa.
Gene M. Zinn, D.V.M., PH.D., Veterinary Extension Specialist, University of Illinois,
College of Veterinary Medicine, Simpson, Illinois.
PARTE I
SISTEMAS SANGÜÍNEO, LINFÁTICO E
CARDIOVASCULAR
SISTEMAS SANGÜÍNEO E LINFÁTICO, Introdução .................................. 3
Éritron ..................................................................................................... 3
Sistema Fagocítico .................................................................................. 5
Sistema Imunoespecífico ......................................................................... 6
Trômbon ................................................................................................... 7
SISTEMA CARDIOVASCULAR, Introdução ............................................... 8
Princípios de Terapia ............................................................................... 15
ANEMIA ..................................................................................................... 18
Anemias por Hipofunção da Medula Óssea ............................................ 20
Redução da Produção de Eritrócitos ................................................. 20
Lesão nas Células Precursoras da Medula ................................. 20
Substituição da Medula por Células Atípicas ............................... 20
Anemia Nutricional ....................................................................... 21
Redução da Produção de Hemoglobina ........................................... 21
Síntese de Heme Deficiente ........................................................ 21
Síntese de Globina Deficiente ..................................................... 22
Colapso Medular Imunomediado ....................................................... 22
Tireoidite Auto-imune ................................................................... 22
Drogas .......................................................................................... 22
Infecções Virais com Supressão da Medula ...................................... 22
Anemias por Perda de Eritrócitos Atípicos .............................................. 23
Eritrócitos com Conteúdo Enzimático Deficiente ............................... 23
Anemias Imunomediadas .................................................................. 24
Anemia Hemolítica Auto-imune ................................................... 24
Anemia Hemolítica do Bezerro Neonato ...................................... 25
Anemia Hemolítica do Potro Neonato .......................................... 26
Anemia Hemolítica do Leitão Neonato ........................................ 27
Anemia Hemolítica de Cães e Gatos Neonatos .......................... 28
Anemia Hemolítica por Fragmentação Intravascular ......................... 28
Anemia por Perda de Eritrócitos Normais ................................................ 29
Hemólise ............................................................................................ 29
Hemorragia e Parasitismo ................................................................. 31
Anemia Infecciosa Eqüina ....................................................................... 32
Anemia Infecciosa Felina ......................................................................... 33
GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS ...................... 34
Testes de Tipagem Sangüínea ................................................................ 35
Aplicação da Grupagem Sangüínea ........................................................ 35
Técnicas de Reação Cruzada ............................................................ 36
Transfusão de Sangue ............................................................................. 36
Riscos da Transfusão ........................................................................ 37
LEUCOSE BOVINA (ver GEN) ...................................................................... 472
Sistemas Sangüíneo, Linfático e Cardiovascular 2
Éritron
A função do éritron é carregar oxigênio para os tecidos a uma determinada
pressão que permita sua rápida difusão do sangue para as células em metabo-
lismo. Tudo isso é feito por: 1. uma molécula carreadora (hemoglobina [Hb]); 2.
um veículo (eritrócito) capaz de trazer intacta a molécula carreadora no nível
celular; e 3. um metabolismo gerado para a proteção tanto do veículo quanto da
molécula carreadora a partir da lesão. Qualquer interferência na síntese de
hemoglobina, produção de eritrócitos ou metabolismo dos mesmos causará
distúrbios do éritron.
A hemoglobina (Hb) é uma molécula complexa, cujos principais componentes são
porfirina, heme e globina. Cada molécula é ligada a quatro unidades heme ligadas
a 4 globinas (2 α e 2 β-globinas). Uma vez que cada heme possui uma molécula de
ferro carreadora de oxigênio, cada hemoglobina pode carrear 4 moléculas de
oxigênio para os tecidos. A síntese de heme ocorre enzimaticamente nas mitocôn-
drias e envolve uma série de reações de condensação que requerem fosfato piridoxal
e cobre. O ferro é adicionado na última etapa pela enzima ferroquelatase. Muitas das
Sistemas Sangüíneo e Linfático, Introdução 4
Sistema fagocítico
(Sistema imune não específico)
A principal função dos fagócitos é a de defesa contra microrganismos invasores,
ingerindo-os e destruindo-os; e por isso eles constituem um importante componente
da resposta celular inflamatória. Há 2 tipos de fagócitos: os mononucleares e os
granulócitos. Os fagócitos mononucleares surgem primariamente da medula e são
liberados no sangue como monócitos, onde podem circular por várias horas antes de
entrar nos tecidos, quando se diferenciam em macrófagos teciduais. Granulócitos
possuem um núcleo segmentado e são classificados de acordo com suas caracte-
rísticas cromáticas em basófilos, eosinófilos ou netrófilos. Foram identificados cinco
estágios diferentes no processo de fagocitose : 1. atração do fagócito (quimiotaxia)
aos microrganismos; 2. adesão ao organismo; 3. ingestão; 4. fusão de lisossomos
celulares com os microrganismos ingeridos e morte bacteriana; e 5. digestão.
Além da função fagocítica geral, muitas células possuem outras funções espe-
cializadas. Os monócitos formam um elo com o sistema de imunidade específico,
processando e apresentando antígenos aos linfócitos. Estes também são ligados aos
eritrócitos através de armazenamento e liberação de ferro para a síntese de
hemoglobina. Os eosinófilos, embora exerçam um papel como fagócitos, também
possuem funções mais específicas, como a defesa contra parasitas metazoários e
a modulação de processos inflamatórios. Eles respondem quimiotaticamente à
histamina, complexos imunes e ao fator quimiotático de eosinófilos de anafilaxia, uma
substância liberada pela degranulação de mastócitos. A eosinofilia pode ser obser-
vada em reações alérgicas sistêmicas e doenças parasitárias. Basófilos não são
fagócitos verdadeiros, mas contêm grandes quantidades de histamina além de
outros mediadores da inflamação, e são importantes na progressão normal da
resposta inflamatória aguda. Assim como os eritrócitos, a produção de níveis
sangüíneos de fagócitos é regulada e controlada rigidamente por uma série de
fatores humorais, incluindo fatores estimulantes de colônia e interleucinas. Por outro
lado, diferente da hemácia, que permanece circulando no sangue, o fagócito usa este
compartimento como uma estrada para os tecidos. Conseqüentemente, os níveis
Sistemas Sangüíneo e Linfático, Introdução 6
sangüíneos dessas células podem refletir uma série de circunstâncias nos tecidos,
como inflamação (duração e intensidade) e habilidade da medula óssea em suprir a
demanda tecidual para fagócitos. A sensibilidade com que fagócitos sangüíneos
refletem essas condições varia de espécie para espécie. Respostas anormais de
fagócitos podem resultar em doença. Finalmente, precursores de fagócitos podem
sofrer transformações malignas, resultando em leucemia.
Sistema imunoespecífico
Os linfócitos são responsáveis tanto pela imunidade humoral quanto celular.
Células desses 2 ramos do sistema imune não podem ser diferenciadas morfologi-
camente, porém elas diferem em sua dinâmica de produção e circulação. A
produção de linfócitos nos mamíferos origina-se na medula óssea, e a diferenciação
se faz por 2 vias diferentes. Uma porção dos linfócitos migra para o timo, e lá, sob
influência de hormônios tímicos, diferencia-se em “células T” que são responsáveis
pela imunidade celular. Algumas dessas células T semeiam os órgãos linfóides
secundários (baço e linfonodos). Os linfócitos restantes migram diretamente para os
órgãos linfóides secundários sem passar por modificações no timo e tornam-se
“células B”, que são responsáveis pela imunidade humoral.
Assim, os órgãos linfóides secundários possuem uma população tanto de
linfócitos T como de linfócitos B. Nos linfonodos, os centros foliculares são basica-
mente células B, e as zonas parafoliculares são primariamente células T. No baço,
a maioria dos linfócitos da polpa vermelha são células B, enquanto os linfócitos das
camadas periarteriolares são células T. É essencial para a função imune uma
associação próxima entre células B e T nos órgãos linfóides; a produção de
anticorpos por células B é regulada por células T.
O funcionamento dos linfócitos na imunidade celular tem tanto seus componen-
tes aferentes (receptores) como eferentes (executores). As células T de longa vida
do sangue periférico (que totalizam , 2/3 dos linfócitos circulantes na maioria das
espécies) são receptoras. Respondendo a antígenos aos quais foram previamente
sensibilizadas, elas deixam a circulação e sofrem transformações, tornando-se
células T ativadas, que por sua vez irão levar outras células T a sofrerem transfor-
mações blásticas, tanto local como sistematicamente. A maioria das células T
estimuladas dessa maneira são células executoras e produzem substâncias conhe-
cidas como linfocinas. As linfocinas executoras possuem um largo espectro de
atividades segundo o qual são nomeadas; o fator ativador de macrófagos atrai
macrófagos para as áreas de localização do antígeno; o fator de inibição de
migração evita a saída de macrófagos; as linfotoxinas, produzidas pelas células T
“killer”, são capazes de destruir uma variedade de tipos celulares.
O sistema imuno-humoral é composto por linfócitos B que produzem anticorpos
de diversos tipos; sua ativação é semelhante àquela dos linfócitos T. Quando o
antígeno encontra os linfócitos B sensibilizados, estes sofrem transformações blás-
ticas e se dividem. Linfócitos B ativados diferenciam-se em plasmócitos, a principal
fonte de anticorpos. Portanto, cada linfócito B inicialmente estimulado produz clones
de plasmócitos, todos produzindo o mesmo tipo de anticorpo específico.
As moléculas do anticorpo (imunoglobulinas [Ig]) são divididas em: IgG, IgM,
IgA, IgD e IgE. Nem todos os tipos foram descritos em todas as espécies. Cada
classe de anticorpo possui sua própria característica funcional; por exemplo, IgA
é o principal anticorpo das secreções respiratória e intestinal, enquanto IgG é o
principal anticorpo do sangue circulante e IgE é o principal anticorpo envolvido em
reações alérgicas.
Os anticorpos executam sua função combinando-se com os antígenos espe-
cíficos que estimularam sua produção. Os complexos antígeno-anticorpo podem
Sistemas Sangüíneo e Linfático, Introdução 7
Trômbon
Funcionalmente, as plaquetas formam o tampão hemostático inicial quando
ocorrem hemorragias; elas também são a fonte de fosfolipídios (Fator 3 de plaquetas
[FP3]), que são usados no processo normal de coagulação. As plaquetas têm um
papel importante na resposta inflamatória através da liberação de vários mediado-
res. São produzidas na medula óssea a partir de megacariócitos, cujo controle de
regulação ainda é pouco compreendido. A produção real das plaquetas ocorre com
a invaginação da membrana celular dos megacariócitos, e a formação de canais
citoplasmáticos e ilhotas. As ilhotas citoplasmáticas produzem as plaquetas pela
fragmentação do megacariócito.
Plaquetas maduras circulantes estão densamente cheias de estruturas que
contêm substâncias funcionais, incluindo grânulos densos contendo ATP, difosfato
de adenosina (ADP) e Ca++ , bem como serotonina, lisossomos, glicogênio, mitocôn-
drias e um sistema canalicular intracelular formado pelas invaginações da membra-
na celular externa da plaqueta. Glicogênio e mitocôndrias estão envolvidos na
produção de energia; os grânulos densos contêm as substâncias químicas essen-
ciais necessárias para a regulação e modulação da função plaquetária (e em certo
grau da função inflamatória) através da reação de liberação; e o sistema canalicular
funciona tanto como um sistema de transporte para os componentes do grânulo
quanto como uma fonte de FP3, que são encontrados em altas concentrações no
revestimento da membrana dos canais.
Sistemas Sangüíneo e Linfático, Introdução 8
SISTEMA CARDIOVASCULAR,
INTRODUÇÃO
O sistema cardiovascular é o sistema de transporte que leva oxigênio, substratos,
hormônios e reguladores químicos para todas as células; transporta dióxido de
carbono e outros produtos nocivos do metabolismo das células para os pulmões ou
Sistema Cardiovascular, Introdução 9
rins; e redistribui o calor do corpo para o exterior ou vice-versa. Isto é realizado por
um sistema fechado de vasos que contêm sangue, que por sua vez carrega as
substâncias a serem transportadas. O sangue se move através do sistema devido
a gradientes de pressão produzidos pela ação bombeadora do coração. O ventrículo
esquerdo bombeia o sangue das veias pulmonares (mantendo a pressão venosa
pulmonar baixa) para o interior das artérias sistêmicas (mantendo a pressão arterial
sistêmica alta), enquanto o ventrículo direito bombeia sangue das veias sistêmicas
(mantendo aquela pressão baixa) para o interior das artérias pulmonares (mantendo
aquela pressão alta). Estes gradientes de pressão (altos nas artérias e baixos nas
veias) impulsionam o sangue através das circulações capilares (sistêmicas e
pulmonares), onde as substâncias são trocadas entre o sangue e as células. As
válvulas presentes no coração e nas veias asseguram um fluxo unidirecional.
A quantidade de sangue que o coração bombeia a cada minuto (débito cardíaco)
é o produto da freqüência cardíaca (bpm) pelo volume de sangue bombeado a cada
batimento (volume sistólico). Normalmente, o débito cardíaco é , 100mL/kg peso
corporal/min. Quanto menor o animal (por exemplo, cão versus cavalo), maior o
débito cardíaco/unidade de peso corporal. Durante o exercício, o débito cardíaco
pode aumentar até 10 vezes, principalmente (, 80%) devido a um aumento na
freqüência cardíaca, e um pouco por causa de um aumento do volume sistólico.
Vários parâmetros de funções cardíacas são importantes para a compreensão
das doenças e seu controle. Ritmo cardíaco, contratilidade, pré-carga e pós-carga
são 4 determinantes importantes do desempenho cardíaco que devem ser avalia-
dos em pacientes suspeitos de cardiopatias. O número de bpm é determinado pela
taxa de descarga do nódulo sinoatrial (SA) localizado na junção da veia cava cranial
com o átrio direito. A taxa de descarga e a velocidade de condução são determina-
das pelo equilíbrio entre a atividade eferente β-adrenérgica (aumenta o ritmo
cardíaco) e a atividade eferente vagal (diminui o ritmo cardíaco). Agentes que
mimetizam a atividade β-adrenérgica (por exemplo, adrenalina, isoproterenol) ace-
leram, e agentes que mimetizam atividade eferente vagal (por exemplo, edrofônio,
acetilcolina) desaceleram tanto o ritmo cardíaco como a velocidade de condução.
Agentes bloqueadores β-adrenérgicos (por exemplo, propranolol, atenolol) ou
agentes vagolíticos (por exemplo, atropina, glicopirrolato) diminuem ou aumentam
o ritmo cardíaco e a condução, respectivamente. O ritmo cardíaco de um cão em
repouso é normalmente irregular, aumentando durante a inspiração e diminuindo
durante a expiração, no que é denominado arritmia sinusal respiratória. O ritmo
cardíaco torna-se regular e mais rápido quando em exercício, excitação, febre, dor
ou diversos estados mórbidos.
As cavidades do coração normalmente pulsam em uma seqüência ordenada e
coordenada, na medida em que é determinada pelas suas estimulações elétricas.
Após a descarga do nódulo sinoatrial, o impulso se espalha pelos átrios, cria a onda
P do eletrocardiograma e inicia a contração atrial (sístole atrial). Enquanto a onda
se distribui através dos ventrículos, ela produz o complexo QRS do eletrocardiogra-
ma e inicia a contração ventricular (sístole ventricular). Na diástole, as cavidades do
coração são relaxadas e preenchidas por sangue. O mais fraco elo deste sistema
de condução atrioventricular é o nódulo atrioventricular (AV). Este nódulo possui
condução lenta e às vezes falha nesta condução (bloqueio AV).
A força de contração ventricular depende de 2 aspectos principais: a contratilida-
de do miocárdio (inotropia) e o volume de sangue na cavidade justo antes da
ocorrência da contração (pré-carga). Inotropia é uma propriedade intrínseca do
músculo, mas que aumenta com altos níveis (tanto humorais como neurais) de
catecolaminas, e diminui com o estímulo eferente vagal aumentado e com a maioria
dos estados mórbidos (por exemplo, inflamação do miocárdio, intoxicação por
drogas, miocardiopatias). A pré-carga é determinada pelo volume de sangue
Sistema Cardiovascular, Introdução 10
quase todo o oxigênio que recebe através das artérias coronárias. A única alternativa
de mais oxigênio para o coração (se ele necessita de trabalho aumentado) é através
de um aumento no fluxo sangüíneo coronário. As artérias coronárias, portanto,
dilatam-se em resposta a substâncias vasodilatadoras produzidas pelo metabolismo
do miocárdio. Doenças que estreitam as artérias coronárias (arteriosclerose, ateros-
clerose) limitam severamente a capacidade do miocárdio de encontrar demandas
maiores. A quantidade de oxigênio requerida pelo miocárdio é determinada por 3
fatores: ritmo cardíaco, inotropia e a tensão nas paredes do miocárdio. Ritmos
cardíacos rápidos são deletérios, pois aumentam a demanda de oxigênio miocárdico
enquanto limitam o período de diástole, quando ocorre o preenchimento cardíaco e flui
a maior parte do sangue coronário. Quando o coração se dilata e precisa gerar mais
pressão para ejetar sangue, as paredes do miocárdio tornam-se mais tensas. Em
termos gerais, tensão máxima = pré-carga × pressão sangüínea arterial; e a pressão
máxima é freqüentemente denominada de pós-carga. Uma terapia bem-sucedida das
cardiopatias deve buscar uma desaceleração do coração no caso de taquicardias,
diminuição do tamanho cardíaco no caso de dilatação ou pré-carga aumentada (ou
ambas) e pós-carga reduzida no caso de aumento da pressão arterial.
Para que o sistema cardiovascular funcione adequadamente, o volume e a
pressão sangüíneos devem ser estritamente controlados. Detectores que monitoram
a pressão e o fluxo são distribuídos pelo corpo e mantêm os limites normais através
de reflexos neuro-humorais. Os exemplos incluem os receptores de pressão nas
artérias sistêmicas na região da bifurcação da artéria carotídea e do arco aórtico,
receptores de volume nos átrios com pressão relativamente baixa e receptores de
fluxo no aparelho justaglomerular dos rins. Estes detectores enviam sinais nervosos
ou humorais (ou ambos) para o hipotálamo e para a medula oblonga, que comparam
(integram) o nível detectado com o nível adequado para a função ideal. Uma vez que
é determinada uma discrepância entre o nível detectado e o desejado da variável,
o integrador envia sinais nervosos ou humorais (via vagal e/ou simpática) para o
coração e vasos sangüíneos para que mudem o seu funcionamento e se ajustem aos
níveis desejados da variável. Por exemplo, se a pressão sangüínea é baixa, os
receptores de pressão carotídea e aórtica enviam menos impulsos inibidores
nervosos para o cérebro; este manda impulsos nervosos para o coração que
aumentam o seu ritmo e força de contração, e para as arteríolas que são contraídas.
Todas estas ações elevam a pressão sangüínea arterial sistêmica.
Os diversos controles neuro-hormonais do sistema cardiovascular permitem que
os animais disponham de uma série de necessidades, como exercício e as deman-
das de uma lesão menor, reparação tecidual, inflamação, etc. Os distúrbios do
sistema cardiovascular são “compensados” por estes mecanismos de controle, e os
efeitos compensatórios e suas conseqüências freqüentemente podem ser detecta-
dos como sintomas da doença (por exemplo, taquicardia, pressão sangüínea alta,
distensão venosa jugular, aumento do tamanho do coração e retenção de fluidos).
2. “Shunts”
Esquerda para direita (defeito de septo atrial, defeito de septo ventricular e duto
arterioso patente)
Direita para a esquerda (tetralogia de Fallot, complexo de Eisenmenger)
5. Arritmia
Fibrilação atrial
Bloqueio cardíaco completo
Síncope sinoatrial
Despolarização ventricular prematura
6. Diversos
Desequilíbrio eletrolítico – ácido-base
Dirofilariose
Hipertensão – renal
Hipoadrenocorticismo
Neoplasias (mixoma, quimiodectoma, linfossarcoma)
Pulmonar (cianose, altas altitudes)
Cardiopatia tireotóxica
Traumatismos (acidentes)
Cardiopatia urêmica
PRINCÍPIOS DE TERAPIA
As metas da terapia são regular o ritmo e freqüência cardíacos, restaurar o volume
sangüíneo, reforçar o poder da sístole, mobilizar ou remover edemas fluidos, reduzir
a fração regurgitante e balancear a demanda e oferta de oxigênio do miocárdio.
A escolha da via terapêutica depende de quais são os aspectos do sistema
cardiovascular que estão modificados. Devido a um sistema de ignição falho ou
focos irritativos, ou nos átrios (denominados supraventriculares), ou no tecido
condutível especializado dos ventrículos (denominados ventriculares), o coração
pode bater muito rapidamente para permitir o enchimento da diástole, muito
lentamente ejetar quantidades suficientes de sangue na sístole, ou muito irregular-
mente para fazer ambas as coisas. Tais distúrbios são denominados arritmias.
Agentes que restauram o ritmo cardíaco a uma média normal são chamados
antiarrítmicos (ver TABELA 3). No entanto, os antiarrítmicos podem, na verdade,
provocar ou exagerar as muitas arritmias para as quais eles são dirigidos – um efeito
pró-arrítmico. Portanto, seu potencial para benefício deve ser avaliado em vista do
potencial para dano; o efeito pró-arrítmico de drogas antiarrítmicas pode ser letal.
Outra estratégia importante ao se tratar insuficiências cardíacas é fortalecer os
músculos de ventilação; eles foram enfraquecidos devido à má oxigenação e
necessitam gerar uma tensão maior que a normal para ventilar pulmões congestos
e/ou edematosos. Tanto a aminofilina quanto os digitálicos aumentam a força de
contração do diafragma; portanto exercem seus efeitos benéficos de 2 maneiras (isto
é, fortalecendo tanto o coração quanto o diafragma); a aminofilina provoca também
a broncodilatação das vias aéreas pequenas.
Se houver perda de sangue devida à hemorragia, desidratação ou simplesmente
por seqüestro de sangue por um determinado órgão, diminuirá a quantidade de
sangue que retorna ao coração e, conseqüentemente, a pré-carga. Pela relação de
Frank-Starling, a força de contração e o débito cardíaco enfraquecem. Os agentes
utilizados para restaurar o volume sangüíneo, assegurando uma pré-carga adequa-
da, são o sangue integral, plasma e soluções cristalóides/coloidais.
Devido a defeitos metabólicos (por exemplo, depleção de ATP) ou estruturais
(por exemplo, válvulas falhas e fibrose miocárdica), os ventrículos podem ser
insuficientes para gerar uma contração poderosa o bastante para bombear quanti-
dades adequadas de sangue. Se há sinais (por exemplo, fraqueza, desmaios e
oligúria) resultantes de um fluxo inadequado de sangue para órgãos específicos,
pode-se considerar o animal com insuficiência cardíaca. Pode-se fortalecer o poder
sistólico do músculo cardíaco (contratilidade miocárdica) com inotrópicos positivos
ANEMIA
É uma doença caracterizada fisiologicamente pela insuficiência de hemoglobina
(Hb) circulante e clinicamente por tolerância reduzida a exercício e membranas
mucosas pálidas. Pode ser por produção diminuída, destruição aumentada, ou
perda de hemácias (eritrócitos). Determina-se a terapia de acordo com as 3
situações predominantes. A contagem de células policromáticas (corante de Wright)
ou reticulócitos (corante novo de azul de metileno) é o teste mais informativo para
determinar se a anemia é responsiva (hemólise ou hemorragia) ou não responsiva
(hipoproliferativa). As anemias são classificadas de modo a proporcionar uma base
racional para tratamento.
O diagnóstico laboratorial da anemia se baseia em valores de Hb, hematócrito
e hemácias. A caracterização das anemias é auxiliada ainda pelos índices
hematimétricos: volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular
média (HCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). A
HCM e a CHCM fornecem informações semelhantes, porém a CHCM é conside-
rada mais precisa. Portanto, os 2 índices mais comumente utilizados são o VCM
e a CHCM. Conforme os rubrícitos (precursores de eritrócitos) maturam na
medula óssea, seu volume diminui conforme o conteúdo de hemoglobina aumen-
Anemia nutricional
Tais anemias são devidas a uma redução na produção de eritrócitos e não a uma
redução de síntese de hemoglobina. Ácido fólico e vitamina B 12 são necessários para
a síntese de DNA; em animais deficientes há redução de mitoses eritróides,e
portanto, um número menor de eritrócitos. A doença no homem é macrocítica e
normocrômica, caracterizando-se por eritropoiese ineficiente ou células atípicas que
não são liberadas na circulação. Não há um equivalente exato em animais; entretan-
to, uma deficiência de cobalto (portanto de B12) ocorre com uma pequena redução no
volume sangüíneo, mas sem uma queda marcante na Hb. Foi descoberta recente-
mente uma deficiência de B12 em uma família de cães. Em animais, anemias por
deficiência de ácido fólico são suaves e limitadas àqueles com tumores de crescimen-
to rápido. Anemias por carência de carboidratos são suaves, enquanto deficiência de
proteína causa uma anemia mais grave acompanhada de uma queda no volume
sangüíneo. Tal efeito aparentemente não é específico e deve-se à debilidade geral
e redução da atividade. A recuperação é lenta e as proteínas do plasma são respostas
ao aumento na eritrogênese. Logo, deve haver um aumento no volume do plasma e
piora da anemia por um tempo, mesmo após a administração de dietas adequadas.
A principal causa de anemias nas doenças crônicas é a queda na produção de
eritrócitos, apesar de sempre existir algum aumento de hemólise. As razões para
este tipo de anemia incluem toxemia por abscedação ou uremia, falta de utilização
de ferro e nutrição inadequada. Em hepatopatias crônicas difusas, há uma
detoxificação inadequada de metabólitos normais e alteração no suprimento de
aminoácidos e metabolismo de gordura. Estas mudanças freqüentemente resultam
no aparecimento de eritrócitos-alvo no sangue periférico.
Drogas
Nos seres humanos e outros animais, vários compostos terapêuticos são atual-
mente suspeitos de aumentar o número de reações hematológicas imunomediadas,
normalmente anemias induzidas por hapteno ou trombocitopenias, nas quais os
eritrócitos ou as plaquetas são envolvidos como “espectadores inocentes” (ver
também ANEMIAS IMUNOMEDIADAS, pág. 24). A maioria destes distúrbios parece ser
não regenerativa. Muitas drogas – até 30 ou mais em algumas estimativas – vêm
sendo associadas com estas reações, apesar de uma relação direta de causa-efeito
não ter sido estabelecida. A maior parte destas drogas parece disparar reações
imunológicas apenas em animais suscetíveis geneticamente ou por outras razões
(por exemplo, aqueles com doença imunológica preexistente, tireoidite auto-imune,
ou com histórico familiar destes distúrbios). Entre as drogas associadas com estas
reações estão as sulfonamidas, especialmente quando associadas ao trimetoprim,
e os agentes antiinflamatórios não esteróides quando utilizados por longos períodos.
ANEMIAS I MUNOMEDIADAS
Ver também INFECÇÕES VIRAIS COM SUPRESSÃO DA MEDULA, página 22, ANEMIAS POR
COLAPSO MEDULAR IMUNOMEDIADO, página 22, DOENÇAS ENVOLVENDO ANTICORPOS
CITOTÓXICOS, página 428, e GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS, pági-
na 34.
Os eritrócitos podem se tornar alvos de anticorpos que cobrem suas superfí-
cies e causam sua remoção da circulação pelo sistema reticuloendotelial (SRE).
Esta condição pode ser diagnosticada por um anti-soro reagente específico à
globulina das espécies testadas. A combinação da antiglobulina reagente com a
globulina na membrana celular constitui um teste de Coombs ou antiglobulina
positivo.
A adsorção do vírus ao eritrócito, do mesmo modo que na anemia infecciosa
eqüina (ver pág. 32), pode causar uma crise hemolítica devido à ligação de
anticorpos antivirais aos vírus unidos aos eritrócitos. Estas células são então
destruídas pelo SRE, no que é conhecido como “reação do espectador inocente”.
Do mesmo modo, a adsorção de drogas aos eritrócitos raramente induz hemólises
imunes no homem e animais.
A anemia hemolítica isoimune ocorre naturalmente no cavalo, gato, cão e
porco, e em bezerros e leitões de matrizes vacinadas. Trata-se de uma anemia
aguda na qual os eritrócitos dos recém-nascidos são aglutinados ou hemolisados
por isoanticorpos específicos produzidos por suas matrizes.
Diagnóstico – Costuma ser feito por achados clínicos de uma anemia severa em
bezerros neonatos, cujas matrizes foram vacinadas com vacinas de origem sangüí-
nea. A confirmação é feita pela aglutinação de hemácias do bezerro e touro pelo
colostro e soro materno.
Tratamento – Não se costuma fazer transfusão sangüínea devido à incompatibi-
lidade de sangue do doador. Uma simples transfusão de uma vaca não vacinada ou
transfusão de eritrócitos maternos lavados com solução salina (3 vezes) pode ser
usada para aumentar o hematócrito a 25%. Antibióticos e esteróides podem auxiliar
o tratamento.
Profilaxia – Se houver suspeita de doença, pode-se determinar sua presença se
as vacas possuírem um título contra eritrócitos do touro. Quando for prático, o
colostro de vacas sem título deve ser usado até que as vacas positivas sejam
ordenhadas por 24 a 48h.
sobre as áreas ventrais do corpo; a maioria dos leitões morre neste estágio. A
contagem de hemácias cai de um normal de 4,5 a 5,3 × 106/µL (4,5 a 5,3 × 1012/L)
no nascimento para 1 a 3 × 106/µL (1 a 3 × 1012/L) aos 4 dias de vida. Com o
desenvolver da anemia, anisocitose e policromasia aparecem junto com alguns
rubrícitos circulantes. O VCM aumenta de um normal de 70µm 3 (fL) ao nascimen-
to para 100 a 120µm3 em 1 a 2 semanas de vida e volta ao normal nos
sobreviventes em 4 semanas de idade. Os neutrófilos aumentam para 9 a 10 ×
10 3/µL (9 a 10 × 10 9/L) aos 4 dias de vida, quando os eritrócitos estão mais baixos
e depois voltam ao normal (3 a 4 × 103/µL [3 a 4 × 109 /L]). As plaquetas têm uma
resposta bimodal e caem de 300 × 103/µL(300 × 109/L) ao nascimento para 100
× 103/µL (100 × 10 9/L) no primeiro dia, depois sobem para o normal na primeira
semana; entretanto, ocorre uma severa trombocitopenia após 10 a 14 dias. A
medula óssea é hipoplásica em leitões que morrem, e há ausência de megaca-
riócitos. Os eritrócitos são positivos para Coombs nos primeiros 7 dias e
negativos no 14º dia.
Diagnóstico – Normalmente é feito ao se encontrar anemia, púrpura e icterícia
leve em leitões neonatos. A anemia é inicialmente hemolítica, macrocítica, normocrô-
mica e responsiva; mais tarde torna-se hipoplásica. A confirmação é feita pela
demonstração da aglutinação de eritrócitos e plaquetas do cachaço e do leitão pelo
soro e leite da matriz. A leptospirose pode ser descartada pela demonstração de
trombocitopenia ou pelo título materno.
Tratamento e profilaxia – Não se costuma tentar qualquer tratamento: uma porca
substituta pode ser usada. As porcas não devem reprocriar após terem leitões
afetados.
núria. Ocasionalmente, uma anemia imune pode ser desencadeada pela exposição
ao frio (ver pág. 518) se o anticorpo envolvido for da aglutinina fria ou do tipo IgM.
HEMORRAGIA E PARASITISMO
Perda devida a hemorragia ou parasitismo externos – A hemorragia externa
pode ocorrer em ferimentos, prolapso uterino e lacerações ou trauma cirúrgico,
especialmente descorna e castração. Em hemorragias agudas, há hipovolemia e
hipotensão com hematócrito normal. Em hemorragias crônicas, o hematócrito é
baixo, geralmente com uma medula não responsiva devido à perda de ferro. Num
sangramento agudo, indicam-se fluidos EV e transfusões de sangue para a
reposição do volume sangüíneo, plaquetas e fatores de coagulação. A medula
normalmente é responsiva, e devem-se dar ferro parenteral a 3,4mg/g de Hb (perda
estimada) e hematínicos. Nas anemias por hemorragias crônicas, não há tanta
necessidade de transfusões, a menos que o animal seja acentuadamente anêmico,
especialmente se estiver se mantendo em pé e o sangramento já tiver cessado.
Ferro e hematínicos devem ser dados conforme já visto. Deve-se tomar cuidado no
manejo do animal anêmico, uma vez que o estresse pode ser fatal.
O parasitismo externo pode causar anemia, especialmente em animais jovens.
Em geral, insetos sugadores como os tabanídeos, moscas pretas e mosquitos
causam mais irritação que perda de sangue. Muitas vezes, bezerros podem se
tornar altamente infestados por piolhos, apresentando-se magros, fracos, e leve a
severamente anêmicos. Filhotes de cães e gatos podem desenvolver anemias
graves devido a grandes infestações por piolhos ou pulgas; em áreas endêmicas,
carrapatos sugadores infestam uma grande variedade de hospedeiros. Estas
anemias ocorrem primariamente por perda de sangue; os animais devem ser
tratados com ferro e aplicação de ectoparasiticidas. Bovinos, especialmente, sofrem
de depressão da medula em altas infestações por piolhos, e a recuperação é lenta.
Perda de eritrócitos normais por hemorragia interna ou parasitismo interno
– A hemorragia interna pode ser aguda ou crônica e ocorrer espontaneamente em
defeitos hemostáticos ou como resultado de cirurgias, ferimentos, tumores ou
abscessos e ulcerações no trato GI ou urinário. O diagnóstico costuma ser auxiliado
pela aspiração do tórax, abdome ou do tecido subcutâneo, exceto em coagulopatias
hereditárias, quando não é seguro fazê-lo. Se o sangramento for geral, deve-se
coletar o sangue periférico em tubos com anticoagulante adequado (citrato trissódico)
para análise. Em intoxicações por rodenticidas anticoagulantes ou trevo doce (ver
pág. 2105) e insuficiência hepática, o tempo de ativação da protrombina é baixo. Se
o sangramento GI ou urinário for fraco, porém muito prolongado, poderá haver uma
deficiência de ferro, e o tratamento deverá ser feito como descrito anteriormente (ver
DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS, pág. 63).
Parasitismo interno (ver também pág. 285) – Uma anemia profunda pode ser
causada em cães e gatos em infecções por Ancylostomas. Em casos graves com
colapso, o tratamento anti-helmíntico deve ser precedido por transfusão de sangue.
No parasitismo intestinal, o ferro perdido não é reabsorvido, e em casos crônicos,
o ferro parenteral pode responder melhor que um anti-helmíntico. A medula costuma
ser produtiva se os estoques de ferro não estão esgotados e uma reticulocitose no
sangue periférico é acentuada por uma ocasional poiquilocitose grave. Em ovinos,
a infestação aguda por Haemonchus (ver pág. 251) pode causar morte por anemia
sem debilitação. A diarréia ocorre na maioria dos parasitismos GI de ovinos, exceto
por Haemonchus. Em bezerros ou novilhos, infestação crônica por Ostertagia (ver
pág. 246) causa caquexia, uma anemia com resposta fraca de reticulócitos e,
ocasionalmente, uma poiquilocitose marcante. O ferro deve ser administrado
parenteralmente se houver anemia severa ou se o ferro do soro estiver baixo.
Anemia 32
É uma doença viral dos eqüinos, aguda ou crônica, encontrada onde quer que
existam cavalos. O vírus é semelhante ao lentivírus humano da AIDS , mas não se
conhece caso de infecção no homem.
Epidemiologia e transmissão – Em casos agudos, o vírus encontra-se no
sangue e em todos os tecidos e secreções. Ele persiste em leucócitos de cavalos
infectados por toda a vida e é relativamente estável na presença do soro, porém é
prontamente inativado por desinfetantes comuns que contenham detergentes.
A transmissão se dá por transferência de células sangüíneas de um cavalo
infectado. A inserção e a retirada de uma agulha hipodérmica podem fornecer um
inóculo adequado para transmissão. Em geral, a doença só é detectada esporadi-
camente, mas pode se alastrar em uma forma epidêmica a partir de cavalos
obviamente doentes, quando moscas sugadoras forem abundantes ou se agulhas
ou instrumentos cirúrgicos contaminados forem usados. As éguas podem infectar
seus potros in utero. O período de incubação varia de 1 a 3 semanas, mas podem
se estender por até 3 meses.
Achados clínicos – A doença é caracterizada por febre intermitente, depressão,
fraqueza progressiva, perda de peso, edema e anemia progressiva ou transitória;
tende a se tornar uma infecção inaparente, mas algumas vezes resulta em morte. Em
cavalos ativamente doentes, o hematócrito e a contagem de plaquetas estão diminuí-
dos e a contagem de monócitos aumentada; em infecções crônicas, o sangue pode
conter leucócitos com ferro corável e possuir um nível elevado de gamaglobulinas.
Lesões – Em casos agudos, há esplenomegalia e os linfonodos esplênicos
apresentam-se aumentados. Em casos subagudos ou crônicos, a necropsia revela
mucosas pálidas, emaciação, edema subcutâneo (especialmente ao longo da
parede ventral abdominal e membros), esplenomegalia e linfonodos abdominais
aumentados. Coagulação intravascular com embolia é freqüentemente observada
em casos terminais avançados.
Microscopicamente, há uma proliferação de células reticuloendoteliais em mui-
tos órgãos, e coleções periportal e perissinusoidal de células mononucleares no
fígado com acúmulo de hemossiderina nas células de Kupffer. Infiltração linfóide
perivascular também pode ocorrer em outros órgãos. Glomerulite proliferativa está
presente em alguns cavalos, e há uma deposição glomerular de imunoglobulinas
(IgG) e complemento (C3).
Diagnóstico – O diagnóstico clínico de AIE deve ser confirmado por testes de
“Coggins” ou imunodifusão que são testes sorológicos simples e altamente precisos
para a detecção da infecção. Potros que mamam em éguas infectadas poderão ser,
temporariamente, positivos para este teste, e testes em cavalos recentemente
infectados serão negativos por , 1 semana até a formação de anticorpos.
A AIE deve ser suspeitada em cavalos com histórico de perda de peso acompa-
nhada por febre periódica, ou se vários animais de um grupo desenvolverem
sintomas semelhantes após a introdução de novos animais no rebanho ou morte de
um cavalo no pasto.
Tratamento e controle – Não existe nenhum tratamento específico ou vacina.
Uma terapia geral de suporte deve ajudar em um caso individual, mas um cavalo
infectado, especialmente se estiver apresentando sintomas clínicos da doença,
deve ser visto como uma fonte provável de infecção para outros cavalos. Uma vez
que o diagnóstico tenha sido estabelecido, o animal infectado deve ser afastado dos
outros imediatamente e mantido em isolamento, se não sacrificado. A mosca do
cavalo é um importante vetor, logo a estabulação durante a época das moscas ajuda
na prevenção da expansão da doença.
Anemia 33
O controle de moscas dos estábulos e mosquitos deve ser feito com telas ou por
aerossóis. Equipamentos que possam causar abrasões na pele ou absorver secre-
ções ou excreções devem ser evitados ou desinfetados antes do uso. Agulhas
hipodérmicas e instrumentos cirúrgicos devem ser esterilizados antes de cada uso.
Potros nascidos de éguas infectadas, especialmente se elas mostrarem sintomas
clínicos, devem ser isolados dos outros animais até que se possa estabelecer a
ausência da infecção, com o desaparecimento dos anticorpos maternos.
TRANSFUSÃO DE SANGUE
A necessidade para transfusões de sangue é freqüentemente alta, assim como
para hemorragias ou hemólise aguda. As transfusões são adequadas no tratamento
de anemias crônicas ou agudas, uma vez que haja também um esforço para
encontrar e eliminar a causa da anemia. Animais com distúrbios hemostáticos
freqüentemente precisam de transfusões repetidas, ou de sangue integral, plasma,
ou de preparados de plaquetas. As transfusões de sangue devem ser adminstradas
com cuidado, na medida em que elas têm o potencial para comprometer o receptor.
A diversidade de grupos sangüíneos existentes em animais e a falta de reagentes
para tipagem no mercado tornam difíceis a tipagem e o pareamento, mas não deve
ser motivo para que não se faça o uso clínico de transfusões. Em cavalos e cães,
os antígenos dos grupos sangüíneos mais comumente implicados em incompatibi-
lidade de transfusões são conhecidos, e torna-se possível a diminuição de sensibi-
lização de receptores selecionando-se doadores que não pertençam a tais grupos.
Pode-se fazer uma detecção prévia de sensibilização do receptor com teste de
reação cruzada, que impede a administração de sangue incompatível. Nos EUA, >
99% dos gatos são do grupo sangüíneo A, portanto o risco de transfusão incompa-
tível é pequeno.
Apesar de indicado quando há perda aguda de sangue, o sangue integral
freqüentemente não é o produto ideal a ser administrado. Por exemplo, se for
Grupos Sangüíneos e Transfusões Sangüíneas 37
Riscos da transfusão
Apesar da maioria das discussões sobre riscos de transfusão concentrarem-
se nas reações hemolíticas agudas, estas são raras nos animais domésticos. Os
cães raramente possuem anticorpos pré-formados clinicamente significantes, de
modo que apenas os que receberam transfusões repetidas correm riscos. A
reação hemolítica mais comum em cães que receberam várias transfusões é uma
Grupos Sangüíneos e Transfusões Sangüíneas 38
mente reconhecidas no cão, podendo ocorrer junto com outras anomalias cardíacas.
É herdada como um defeito poligênico em poodles toy e miniaturas.
Fisiopatologia – Durante a sístole, parte do sangue arterial é bombeada através
do duto patente para o sistema pulmonar (“shunt” esquerdo-direito) devido a uma
pressão maior na aorta. Se a resistência pulmonar permanecer baixa, haverá um
aumento de fluxo pelos pulmões, coração esquerdo e aorta ascendente, que constitui
o caminho do “shunt”; estas estruturas aumentam em resposta ao volume de sangue
aumentado que recebem. Se a resistência vascular pulmonar for alta, haverá
hipertensão pulmonar e hipertrofia do ventrículo direito e poderá ocorrer um “shunt”
direito-esquerdo através do duto, mandando sangue venoso para a aorta descen-
dente.
Achados clínicos e tratamento – Um murmúrio contínuo (ver pág. 49) está
presente durante a sístole e diástole no “shunt” esquerdo-direito. O pulso normalmen-
te é típico, distendendo rápida e fortemente a artéria (“pulso de martelo d’água”).
Pode haver evidência eletrocardiográfica de hipertrofia ventricular esquerda e
radiografias torácicas revelam aumento ventricular e atrial esquerdo, sinais da
vascularização pulmonar aumentados e dilatação da aorta ascendente.
Quando houver hipertensão pulmonar com “shunt” direito-esquerdo, o murmúrio
contínuo não estará presente, haverá uma salientação e divisão da segunda bulha
cardíaca, e evidência radiográfica e eletrocardiográfica de hipertrofia ventricular
direita. Normalmente ocorre uma policitemia secundária. As membranas mucosas
visíveis da cabeça normalmente não estão cianóticas, pois o sangue venoso penetra
na aorta após o ponto onde o tronco braquicefálico e a artéria braquial esquerda se
originam. Por esta razão, a anomalia pode permanecer não diagnosticada até que
o cão afetado demonstre fraqueza ou colapso dos membros posteriores, durante
exercício devido ao suprimento inadequado de oxigênio na região.
Recomenda-se a ligadura ou divisão cirúrgica completa do duto arterioso
patente; no entanto, quando há “shunt” direito-esquerdo e a hipertensão pulmonar
é grave, pode ocorrer uma insuficiência ventricular direita após a obliteração do duto
patente.
ESTENOSE AÓRTICA
No cão e suíno, a estenose do trato de saída de fluxo do ventrículo esquerdo é uma
lesão congênita relativamente comum. Foi relatada principalmente em boxers e
pastores alemães e tem ocorrido em agregações familiares nestas 2 raças e em
terras-novas. Sabe-se pouco quanto à prevalência em outras espécies. Na maioria
das vezes, as válvulas não estão primariamente envolvidas, pois o estreitamento
ocorre abaixo delas na forma de um anel fibroso (estenose subaórtica fibrosa).
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 43
ESTENOSE PULMONAR
Nos cães, as estenoses pulmonares valvular, subvalvular e infundibular já foram
descritas. O tipo valvular é a forma mais comum e afeta apenas as válvulas. A
estenose valvular pulmonar é hereditária em beagles.
Fisiopatologia – O distúrbio funcional primário é uma interferência no esva-
ziamento do ventrículo direito que leva ao aumento da pressão sistólica e à
hipertrofia do ventrículo direito. A pressão arterial pulmonar é baixa ou inalterada.
Pode ocorrer uma dilatação pós-estenótica da artéria pulmonar, que produz, em
casos avançados, um aumento arredondado do vaso, lembrando um aneurisma.
Achados clínicos e tratamento – Um murmúrio sistólico áspero em um
crescendo-decrescendo, em geral acompanhado por um tremor, está freqüente-
mente presente, com um ponto de intensidade máxima localizado no terceiro ou
quarto espaço intercostal esquerdo, logo abaixo de uma linha horizontal traçada
à linha do ombro (área pulmonar). A silhueta cardíaca mostra um aumento das
margens atrial e ventricular direita e pode ser vista uma dilatação pós-estenótica
da artéria pulmonar. A gravidade da estenose pode ser calculada pelo gradiente
de pressão na ecocardiografia de Doppler, que registra a velocidade do fluxo
anormal de sangue. Eletrocardiograficamente, um desvio marcante à direita do
eixo elétrico médio costuma ocorrer e produz um ECG típico de um aumento
ventricular direito. É impossível a diferenciação entre uma estenose valvular e
subvalvular sem o auxílio de uma angiocardiografia.
Existe a possibilidade de uma valvulotomia pulmonar para estenose valvular,
entretanto, ela só deve ser considerada em casos graves, uma vez que suas
conseqüências são imprevisíveis. A princípio, em casos do tipo subvalvular, o
infundíbulo deve ser seccionado.
DEFEITOS DO SEPTO
Comunicação interatrial
O forame oval é uma abertura oblíqua no septo interatrial que normalmente
permite a passagem de um fluxo do átrio direito para o esquerdo durante a vida intra-
uterina. Ao nascimento, esta abertura é forçada a se fechar pelo aumento da pressão
no átrio esquerdo, que ocorre no início da respiração. Em cães, o fechamento
anatômico do forame oval é devido à fibrose e ocorre no período pós-natal (dentro
de 1 semana). O fechamento em eqüinos e bovinos é o resultado do colapso da
estrutura vascular no forame oval, que pode permanecer patente por alguns meses
e persistir durante toda a vida. Apesar de ser considerado um defeito anatômico,
este problema não causa anormalidades funcionais, uma vez que a pressão atrial
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 44
esquerda excede a pressão atrial direita. Esta válvula “para um lado só” pode ser
reaberta e permitir um desvio de sangue da direita para a esquerda se a pressão do
átrio direito tornar-se excepcionalmente elevada.
As verdadeiras comunicações no septo interatrial são as que constituem
verdadeiras aberturas. Comunicações do tipo septum secundum são as mais
comuns e ocorrem na porção fina do septo interatrial, ocupada pelo forame oval.
As comunicações do tipo septum primum estão situadas mais abaixo no septo
interatrial e normalmente também implicam as válvulas atrioventriculares.
Fisiopatologia – Quando existe um grande defeito do septo atrial, o sangue
passa do átrio esquerdo para o direito; este sangue adicional deve ser bombeado
como uma carga extra pelo lado direito do coração e, por vezes, causa dilatação ou
hipertrofia desta porção do coração. Como resultado de um grande aumento de fluxo
sangüíneo através do sistema pulmonar, pode ocorrer uma hipertensão pulmonar em
eqüinos e bovinos, seguida por insuficiência cardíaca congestiva. Normalmente, não
há desvio de sangue não oxigenado para circulação sistêmica. Entretanto, pode
aparecer uma fraca cianose, invocando um fluxo sangüíneo inverso do átrio direito
para o esquerdo, particularmente quando há presença de hipertensão pulmonar e
insuficiência cardíaca congestiva, ou quando uma lesão coexistente, como estenose
pulmonar causa um aumento na pressão do átrio direito.
Achados clínicos e tratamento – Um pequeno forame oval patente pode estar
presente sem que haja sintomas clínicos detectáveis. Em grandes comunicações do
septo, podem-se observar dispnéia, palpitação e cianose. Normalmente, pode-se
perceber um murmúrio sistólico áspero sobre a base do coração. A segunda bulha
cardíaca é aumentada em amplitude e pode se desdobrar. O ventrículo direito e a
artéria pulmonar estão aumentados. Sinais de aumento vascular pulmonar podem
estar evidentes em radiografias do tórax. A confirmação do defeito normalmente
requer uma visualização por ecocardiografia ou seguir o fluxo de sangue, através do
septo, por angiografia.
A técnica da parede atrial pode ser usada para correção cirúrgica em cães.
Facilita-se a visualização direta da reparação por um “bypass” do coração ao pulmão.
Comunicação interventricular
Varia em tamanho, desde pequenas aberturas de pouca importância funcional
até quase a ausência total do septo; a maioria ocorre na parte membranosa superior
do septo. Pode ocorrer em combinação com outras anomalias congênitas como duto
arterioso patente, comunicação interatrial e estenoses aórtica e pulmonar.
Fisiopatologia – Pequenas comunicações do septo interventricular levam
sangue do ventrículo esquerdo para o direito com uma força considerável. Entretan-
to, a quantidade de sangue que passa por uma pequena abertura tem pouco ou
nenhum efeito sobre a circulação geral.
Na presença de grandes comunicações sem estenose pulmonar, a direção do
“shunt” depende da resistência relativa do fluxo através do leito vascular intrapulmonar,
comparada com a do leito vascular sistêmico. Em animais jovens, a resistência do
leito vascular intrapulmonar é mais baixa que a resistência na circulação sistêmica
e o “shunt” é inteiramente da esquerda para a direita. Como conseqüência, a carga
do ventrículo direito é aumentada e leva a sua hipertrofia e dilatação, como também
da artéria pulmonar. Subseqüentemente, em eqüinos e bovinos (raramente no cão),
a resistência ao fluxo sangüíneo pulmonar deve aumentar devido a mudanças
obliterativas no leito vascular pulmonar. Em estágios precoces, quando a resistência
pulmonar atingir o nível da resistência sistêmica, pode haver um “shunt” intermitente
em qualquer direção, esquerdo-direito ou direito-esquerdo, mas depois, quando a
resistência pulmonar já ultrapassar o nível sistêmico, o “shunt” direito-esquerdo
predomina e normalmente aparece uma cianose.
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 45
TETRALOGIA DE FALLOT
Esta malformação complexa consiste em estenose pulmonar, normalmente do
tipo subvalvular; comunicação interventricular; dextroposição da aorta, ultrapassan-
do o septo interventricular; e hipertrofia ventricular direita. A tetralogia de Fallot já foi
relatada em cães, bovinos, eqüinos e gatos. É hereditária na raça keeshond.
Fisiopatologia – A combinação da estenose pulmonar e comunicação interven-
tricular é funcionalmente similar àquela de uma grande comunicação interventricular
e hipertensão pulmonar. A obstrução do fluxo de saída do ventrículo direito eleva a
pressão sistólica ventricular, resultando num “shunt” direito-esquerdo através da
comunicação interventricular. O malposicionamento da aorta ultrapassa parcialmen-
te a falha no septo e recebe sangue de ambos os ventrículos, enquanto o fluxo de
sangue pulmonar é diminuído. A mistura de sangue arterial e venoso resulta em
cianose.
Achados clínicos e tratamento – Normalmente há cianose desde o nascimento
e se agrava por exercício, que provoca dispnéia e, freqüentemente, colapso. Pode
haver uma policitemia devida à hipoxemia crônica. Apesar de uma severa deficiên-
cia que acompanha este defeito, sabe-se que muitos cães vivem anos antes de
morrerem de insuficiência cardíaca congestiva ou fenômeno embólico.
Um murmúrio sistólico áspero e alto pode ser melhor ouvido na área pulmonar,
e do segundo ao terceiro espaço intercostal direito, perto da margem esternal. Pode-
se palpar um tremor nestas áreas. A hipertrofia ventricular direita é indicada por um
desvio marcante, à direita do eixo, no eletrocardiograma, acompanhado por grandes
ondas nas derivações precordiais esquerdas. Radiografias torácicas revelam au-
mento do coração direito com marcas de vascularização pulmonar normais ou
diminuídas. Geralmente, a aorta ascendente está dilatada. Os defeitos fundamen-
tais podem ser visualizados por ecocardiografia.
A criação de um duto arterioso artificial (“shunt” Blalock-Taussig) pode aumentar
o fluxo de sangue pulmonar e aliviar, em certo grau, a cianose. É preferível uma
correção completa por alívio da estenose pulmonar bem como o fechamento da
comunicação ventricular, porém isto requer uma cirurgia de coração aberto.
Linfossarcoma e Leucemia Felinos 46
CARDIOPATIAS
Cardiopatias freqüentemente apresentam problemas de diagnóstico, embora
sejam tratadas raramente, exceto em cães e gatos. Os aspectos da cardiopatia, de
interesse primário para os clínicos, são discutidos adiante. As recomendações
quanto ao tratamento são limitadas às condições e espécies nas quais existe
alguma experiência substancial com tratamento (ver também ORIGEM DOS S INTOMAS
DE CARDIOPATIAS, pág. 11).
Exame e diagnóstico – É necessário um exame sistemático para se avaliar o
estado do coração. Este deve incluir a palpação do tórax para detectar frêmitos
(vibrações de baixa freqüência que podem ser sentidas com as pontas dos dedos)
e deslocamento cardíaco, auscultação meticulosa, percussão na área de silêncio
cardíaco, palpação do pulso arterial e exame das pulsações da veia jugular. O
exame radiográfico da silhueta cardíaca para distorções e aumentos é importante
para diagnóstico e prognóstico em pequenos animais, sendo mais esclarecedor do
que a percussão precordial. Deve-se fazer um eletrocardiograma (ECG), quando
possível. Os médicos que não possuem um aparelho para ECG devem solicitar que
seja realizado fora. Em áreas onde podem se encontrar dirofilárias, o sangue deve
ser examinado para microfilárias.
Devemos considerar o quadro de cardiopatia apenas quando encontrarmos um
sintoma confiável, pois muitas outras condições podem simulá-lo. Muitas vezes, os
animais são trazidos ao veterinário com uma queixa de intolerância ao exercício.
Embora isto, por si só, não seja um sintoma confiável, deve-se considerar cardiopa-
tia no diagnóstico diferencial.
Em cães não devemos diagnosticar cardiopatia se não houver pelo menos um
dos seguintes sintomas: 1. murmúrio sistólico Grau III na ausência de anemia; 2.
murmúrio diastólico ou som de preenchimento diastólico provocando um ritmo
galopante; 3. um frêmito precordial palpável; 4. ingurgitamento venoso generaliza-
do; 5. fibrilação atrial ou “flutter”; 6. taquicardia ventricular paroxística; 7. batimentos
ectópicos atriais ou ventriculares com presença consistente e freqüentes; 8.
bloqueio atrioventricular (AV) completo; 9. bloqueio de ramo esquerdo; 10 padrão
eletrocardiográfico de aumento ventricular direito (ver COR PULMONALE, pág. 58); 11.
evidência radiográfica ou ecocardiográfica de grande aumento cardíaco, dilatação
de 1 ou mais compartimentos, ou efusão pericárdica; ou 12. divisão pronunciada e
fixa da segunda bulha cardíaca.
Fibrilação atrial ou “flutter”, bloqueio AV completo, fricção pericárdica, sopros
intensos, frêmitos precordiais e ingurgitamento venoso generalizado são sintomas
confiáveis de cardiopatias em eqüinos e na maior parte das espécies domésticas,
Cardiopatias 48
Arritmias
São distúrbios na freqüência e ritmo cardíacos aumentados, quando houver
anormalidade na formação e/ou propagação do impulso elétrico através do sistema
de condução do coração, ou quando a descarga de foco ectópico irritante assumir
atividade de marca-passo. Podem ocorrer a partir de doenças primárias do miocár-
dio ou ser secundárias a irritabilidade aumentada ou diminuída do miocárdio como
resultado de efeitos tóxico, anóxico ou de drogas, ou desequilíbrio eletrolítico.
Arritmias graves e potencialmente fatais são as maiores complicações em casos de
traumas e também resultam de retorno venoso diminuído nas dilatações gástricas
agudas (ver pág. 281) em cães de grande porte. Este ritmo pode evoluir para uma
grave arritmia que justifique o tratamento com lidocaína EV. Arritmia pode também
ocorrer como resultado da variação normal no tono autonômico do coração. A
arritmia (em todas as espécies, exceto humanos) raramente ocorre como uma
variação fisiológica normal. A arritmia sinusal respiratória é o ritmo de repouso
normal no cão e o segundo grau do bloqueio AV é normal em eqüinos saudáveis e
quietos. Um ECG é necessário para o diagnóstico diferencial de muitas arritmias,
porque as terapias antiarrítmicas dependem do foco de origem e do tipo de ritmo
anormal. Clinicamente, as arritmias podem ser divididas em bradiarritmia, em que
a freqüência cardíaca é bastante lenta e taquiarritmias em que a freqüência cardíaca
é bastante rápida ou irregular. As bradiarritmias incluem bradicardia sinusal,
repouso sinusal, bloqueio sinoatrial, bloqueio AV e despolarizações prematuras. No
cavalo, a fibrilação atrial produz uma taxa irregular, porém não rápida durante o
repouso, enquanto irregular em outras espécies, geralmente produz taquicardia.
Taquicardias patológicas serão sempre suspeitas quando a freqüência cardíaca
estiver elevada, além daquela esperada para a condição clínica do animal.
Bradicardia sinusal – Esta é uma freqüência cardíaca lenta, que pode ser
normal em animais atletas, quando em repouso; mas também ocorre na hipocalce-
mia e com síndromes de pressão intracraniana aumentada. A bradicardia é
considerada presente quando as taxas sinusais em cães são < 45 a 55bpm; em
gatos, < 90bpm; e em cavalos, < 20bpm. Bradicardia também pode ocorrer no
hipotireoidismo, intoxicação digitálica, hipoxia, hipercalemia e insuficiência adreno-
cortical. O tratamento é restrito à correção da causa inicial.
Cardiopatias 51
Hipertrofia cardíaca
Qualquer aumento na resistência sistêmica ou pulmonar, como hipertensão
sistêmica ou cor pulmonale, leva a hipertrofia ventricular esquerda ou direita,
respectivamente. Animais que sofrem de doença pulmonar crônica desenvolvem
uma hipertrofia ventricular direita devido ao aumento da pós-carga no ventrículo
direito. Tanto a hipertrofia ventricular esquerda quanto a direita parecem ser
progressivas, mas a restrição do exercício pode diminuir a progressão. Em eqüinos,
a progressão também pode ser retardada evitando-se a exacerbação da laminite,
no caso da hipertrofia ventricular esquerda, e evitando-se a provocação alérgica de
cor pulmonale (enfisema eqüino) no caso da hipertrofia ventricular direita.
É importante que se evite o estresse metabólico, ambiental, de exercício ou de
transporte nas laminites crônicas para impedir episódios hipertensivos agudos; por
outro lado, é essencial no manejo de cavalos com uma árvore pulmonar sensibili-
zada, que se evitem ambientes empoeirados ou alimentos embolorados. Em cães
e gatos com hipertensão arterial sistêmica devida a um problema renal, a redução
da pressão arterial com anti-hipertensivos pode se mostrar útil.
A hipertrofia cardíaca em resposta a anomalias congênitas, como a estenose
aórtica e pulmônica ou duto arterioso patente e em resposta a doenças adquiridas,
como a dirofilariose em cães, também pode ser reconhecida clinicamente. Em cães,
os critérios de ECG para a hipertrofia ventricular direita estão razoavelmente bem
estabelecidos, enquanto os critérios para hipertrofia ventricular esquerda são muito
menos confiáveis. Nas outras espécies domésticas ainda não foram estabelecidos
critérios de ECG confiáveis para a hipertrofia das câmaras cardíacas.
Cardiopatias 55
Insuficiência cardíaca
Quando uma doença do coração ou outro órgão resultar em uma redução da
reserva cardíaca, o coração pode ser incapaz de atingir os requerimentos do corpo
em todas as circunstâncias. Quando a redução na reserva for tal que a diminuição
da função cardíaca ocorra somente sob condições extremas de exercício, existe um
estado de insuficiência cardíaca relativa. Com o aumento da perda da reserva,
ocorre aumento do grau de severidade, e quando o coração não puder preencher
sua função em termos da atividade do dia a dia, existe insuficiência cardíaca. A
insuficiência cardíaca pode resultar de um problema primário do miocárdio reduzin-
do a eficiência da função miocárdica. Também pode resultar de qualquer fator que
aumente a carga de trabalho do coração, e portanto, diminua a reserva cardíaca. As
causas comuns incluem doenças que produzem um excesso de pressão sobre o
coração, tais como estenose das válvulas de saída ou hipertensão arterial pulmonar
ou sistêmica, e anormalidades que causam uma sobrecarga de volume sobre o
coração, tais como insuficiência valvular, desvios intracardíacos da esquerda para
a direita (defeitos de septos – “shunts”), ou desvios extracardíacos, tais como duto
arterioso patente, ou desvios arteriovenosos periféricos (“shunts” arteriovenosos).
Causas menos comuns de redução da reserva cardíaca e conseqüentemente
insuficiência cardíaca incluem doenças que produzem distúrbios de preenchimento,
tais como efusões pericárdicas e estenose das válvulas AV, bloqueio cardíaco
completo, e redução na reserva arteriovenosa de oxigênio em anemia grave. Em
todas as formas de insuficiência cardíaca crônica geralmente há perda de reserva
de fluxo coronário resultante de hipertrofia ou dilatação cardíaca. A insuficiência
do coração em bombear o sangue adequadamente resulta em um aumento no
volume diastólico final e em uma pressão venosa aumentada. Também ocorre a
retenção de sódio e água, provavelmente como resultado de uma perfusão renal
inadequada e liberação aumentada de renina, que causa elevação da angioten-
sina e, conseqüentemente aumento da sede, vasoconstrição e retenção de sal e
água.
Clinicamente, a insuficiência cardíaca pode ser reconhecida como sediada no
lado esquerdo, no lado direito, ou generalizada. Quatro fases de descompensação
cardíaca são genericamente reconhecidas nos animais domésticos. Fase I, a fase
compensada, é assintomática; a cardiomegalia pode ser o único sintoma. Na Fase
II, alguns sintomas clínicos são observados após o exercício, como tosse e
tolerância reduzida ao exercício. Na Fase III a descompensação está presente
durante atividades mínimas; observamos edema pulmonar ou sintomas radiológi-
cos mais sutis e a intolerância ao exercício é marcante. A Fase IV é o estágio de
franca descompensação, marcado por sintomas associados a baixo débito cardíaco
(como caquexia), complicados por edema pulmonar e grande dispnéia em repouso;
o animal normalmente está em risco de morte súbita. À medida que se desenvolve
uma insuficiência localizada do lado esquerdo, diminuirá a tolerância ao exercí-
cio e ocorrerá dispnéia inadequada após o exercício e excitação. A pressão venosa
pulmonar aumentada resulta inicialmente em congestões pulmonar e bronquial e
em broncoconstrição reflexogênica (asma cardíaca). A tosse repetitiva após o
exercício e especialmente à noite tem sido vista em cães. A tosse é seca e
entrecortada. Ortopnéia com relutância em deitar, inquietação à noite, e ataques
espasmódicos de dispnéia também são comuns. Com uma insuficiência mais
severa, são evidentes o edema pulmonar com dispnéia severa ao repouso e
estertores à auscultação.
A insuficiência cardíaca localizada do lado direito é manifestada por conges-
tão venosa sistêmica. As veias jugulares estão ingurgitadas. Fígado e baço estão
aumentados e podem ser palpáveis em cães. Nos bovinos o fígado pode tornar-se
palpável atrás do arco costal direito, e pode ser aparente à examinação retal no
Cardiopatias 56
Endocárdio
Endocardite, geralmente de origem bacteriana, mais comumente envolve o
endocárdio valvular. Endocardite mural dos átrios ocorre na uremia dos cães.
Endocardite mural aguda de outras causas é ocasionalmente observada à necrop-
sia, mas é raramente detectada clinicamente. Endocardite valvular geralmente
segue um período prolongado de bacteremia subclínica e é com freqüência
secundária a condições, tais como piemia crônica, mastite, metrite e prostatite.
Streptococcus, Erysipelothrix rhusiopathiae e Corynebacterium pyogenes são os
microrganismos mais comumente envolvidos. Nos cavalos, larvas de estrôngilos
migrantes podem produzir tanto endocardite mural como valvular. As válvulas mitral,
tricúspide e aórtica (mas raramente a pulmonar) podem ser afetadas em todas as
espécies. Nos bovinos, a tricúspide é a mais freqüentemente envolvida; nas
outras espécies, endocardite das válvulas aórtica e mitral é mais comum. Indepen-
dentemente da válvula envolvida, o resultado é a contração das bordas livres das
válvulas e insuficiência valvular. Ocasionalmente, estenose de algumas válvulas e
insuficiência de outras ocorrem concomitantemente. Grandes lesões de aspectos
vegetativos são comuns com endocardite envolvendo as válvulas AV. Os achados
clínicos na endocardite se relacionam àqueles de septicemia crônica e embolismo
Cardiopatias 59
outras formas de terapia são indicadas para tratamento e controle em casos severos
à medida que a insuficiência miocárdica se desenvolve (ver INSUFICIÊNCIA CARDÍACA,
anteriormente).
Fibrose valvular crônica ocorre muito menos comumente em outras espécies,
mas lesões na válvula AV são observadas em cavalos idosos e bovinos, as quais
produzem um murmúrio audível, ocasionalmente, resultando em insuficiência
cardíaca clínica.
Cistos hemáticos valvulares ou hematomas são observados em mais de 75%
dos bezerros jovens < 3 semanas de idade. As válvulas AV são mais comumente
afetadas. Estas lesões são também vistas em jovens de outras espécies e seu
significado é desconhecido.
Hemorragias subendocárdicas são vistas na septicemia e toxemia e são
comumente observadas em animais submetidos à sangria ou após eutanásia com
pentobarbital sódico.
Miocárdio
Disfunções miocárdicas podem resultar de doenças miocárdicas primárias ou
podem ser secundárias às influências tóxicas ou metabólicas e a anormalidades
eletrolíticas. Mudanças degenerativas podem ocorrer em cordeiros, bezerros e
potros com doença do músculo branco; em suínos com doença do coração em
amora e hepatose dietética e em cavalos com mioglobinúria paralítica e após
picadas de cobra – particularmente cascavéis.Também ocorrem nas deficiências
graves de ferro, na deficiência de cobre e em intoxicação associada a selênio,
arsênio e ferro injetáveis.
A miocardite pode acompanhar infecções gerais de bactérias, vírus, parasitas e
protozoários em todas as espécies. É comum em doenças septicêmicas e em
infecções piêmicas em animais jovens. Miocardite significante acompanha infecção
com encefalomiocardite, vírus da aftose e vírus da doença da língua azul em animais
jovens. A miocardite pode ocorrer também na anemia infecciosa eqüina, carbúnculo
sintomático, septicemia hemorrágica e doença causada pela S. pullorum . Era uma
freqüente seqüela de infecção por parvovírus em cães jovens, antes da infecção se
tornar estabelecida na população e algumas miocardiopatias crônicas ocorreram
em cães, levando à suposição de que estes animais seriam sobreviventes de uma
miocardite por parvovírus quando filhotes.
Disfunção miocárdica é a causa de morte em envenenamentos com fluoroacetato
de sódio (1.080) e plantas, tais como espirradeira, dedaleira (digital) e Phalaris.
Também ocorre em toxemias agudas, uremia grave, cetoacidose diabética, disfun-
ção adrenocortical e em outras doenças com intenso desequilíbrio eletrolítico,
especialmente aquelas que envolvem potássio ou cálcio.
Infarto do miocárdio é raro em animais domésticos, apesar de ser ocasional-
mente observado em necropsias. Grandes infartos do miocárdio, comuns em
humanos devido à ateriosclerose coronária e obstrução das artérias coronárias
principais, são raros nos animais domésticos. Infartos causados por êmbolos devido
a uma endocardite vegetativa têm causado sintomas clínicos que lembram os do
infarto do miocárdio em humanos. No cão, pequenos focos de necrose miocárdica
em vários estágios de reabsorção e cicatrização são encontrados em associação ao
estreitamento esclerótico de pequenas artérias intramiocárdicas.
Muitas lesões miocárdicas, se extensas o suficiente, produzirão típicas mudan-
ças eletrocardiográficas, como depressão ou elevação do segmento S-T, depressão
da onda T, aumento da duração do QRS, baixa voltagem, registro anormal do
complexo QRS e certas arritmias, tais como fibrilação atrial, batimentos ventricula-
res ectópicos, taquicardia ventricular paroxística e bloqueio AV. Diagnóstico clínico
de miocardite freqüentemente é difícil ou impossível em casos suaves. Os mais
Cardiopatias 61
teriores. Está presente dor aguda com membros posteriores frios e sem tensão
do gastrocnêmio. O pulso femoral pode estar ausente ou variável entre os
membros posteriores. Tromboembolismo pode envolver outras áreas, como
artérias renais, produzindo infartos renais ou, ocasionalmente, doença renal
severa. O tratamento da miocardiopatia hipertrófica nos gatos baseia-se no uso
de diuréticos e inotrópicos negativos. A acepromazina também tem sido utilizada
nos embolismos, para aumentar os vasos sangüíneos colaterais para os mem-
bros. Para ser efetiva, a cirurgia para remover os êmbolos aórticos deve ser
realizada nas primeiras horas, mas geralmente não é mais eficiente que a terapia
medicamentosa conservadora. A aspirina e outros agentes anticoagulantes
podem diminuir a velocidade de formação de trombos perigosos, especialmente
na bifurcação aórtica. Informações recentemente obtidas sugerem que os digitá-
licos podem ser úteis neste tipo de miocardiopatia devido a sua capacidade de
melhorar a função atrial e portanto a pré-carga ventricular esquerda. Sinais
clínicos similares também ocorrem em gatos com a forma de miocardiopatia
dilatada. Uma distinção segura entre miocardiopatia dilatada e hipertrófica pode
ser feita somente por exame das dimensões do ventrículo esquerdo e índice de
contratilidade através da ecocardiografia.
DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS
Defeitos na hemostasia podem ser herdados ou adquiridos. Hemostasia efetiva
requer uma parede de vaso normal, nível normal de fatores da coagulação
sangüínea e número adequado de plaquetas funcionantes. Plaquetas devem aderir-
se à parede do vaso em locais de ruptura e depois ligar-se umas às outras para
formar um tampão hemostático. Este tampão precisa ser fortificado pela incorpora-
ção de fibrina. Uma deficiência na resposta do vaso, atividade plaquetária ou
geração de fibrina levará a uma hemostasia defeituosa.
DISTÚRBIOS HEREDITÁRIOS
Distúrbios hereditários da parede vascular freqüentemente não estão definidos
nos animais domésticos. Doenças do tecido conjuntivo, tais como a síndrome
Ehlers-Danlos no visom, cães e outras espécies podem resultar em trombocitopenia
vascular.
Vários tipos de deficiências da coagulação sangüínea hereditárias são obser-
vados em animais domésticos. Muitas delas são deficiências ou anormalidades
de um único fator, mas também foram relatados defeitos múltiplos de coagulação.
As hemofilias A e B são herdadas como características ligadas ao sexo e
comumente carreadas pela fêmea e manifestam-se clinicamente apenas no
macho, exceto quando machos hemofílicos forem acasalados com fêmeas
portadoras. A hemofilia A é a coagulopatia hereditária grave mais comum. Todos
os outros conhecidos defeitos hereditários da coagulação sangüínea são trans-
mitidos por características autossômicas.
Os defeitos herdados da coagulação sangüínea que têm sido relatados em
animais domésticos incluem: deficiência de Fator I (fibrinogênio) em cães e
cabras; deficiência de Fator II (protrombina) em boxers, otterhounds e cocker
spaniels ingleses; deficiência do Fator VII (proconvertina) em beagles, bulldogs
ingleses, malamutes do Alasca e mestiços; deficiência do Fator VIII (hemofilia
clássica, hemofilia A), coagulopatia herdada grave mais comum que ocorre em
praticamente todas as raças de cães e em cavalos de raça ou mestiços, bovino
hereford e gatos; deficiência do Fator IX (doença de Christmas, hemofilia B) em
16 raças de cães e em british shorthair, himalaios e em gatos siameses;
deficiência do Fator X (fator de Stuart) em cocker spaniels americanos e em um
mestiço; deficiência de Fator XI em springer spaniels ingleses, grandes pirineus,
weimaraners, kerry blue terriers e nos gado holstein; deficiência do fator de
Fletcher (pré-calicreína) em um poodle; deficiência do Fator XII (fator de Hageman)
em gatos, poodles standard e Pointers alemães de pêlo curto. Em mamíferos
marinhos normais, aves e na maioria dos répteis é natural uma deficiência do
Fator XII, mas não como resultado de uma sangria.
A doença de von Willebrand é um defeito hereditário, relativamente comum, e
relatado em 54 raças de cães de raça pura e em mestiços, gatos, coelhos e suínos.
Dobermans pinschers, pastores alemães, retrievers dourados, schnauzers miniatu-
ra, pembroke welsh corgis, terriers escoceses, pastores de sthetland, basset
hounds, poodles standard e terriers manchesters standard têm uma alta prevalência
da doença (10 a 70%) dentro de suas respectivas raças. A doença é caracterizada
por alta morbidade, baixa mortalidade e uma leve a severa discrasia sangüínea que
com freqüência é exacerbada por estresses físico e psicológico bem como por
doença concomitante (hipotireoidismo, infecção por parvovírus, doença auto-
imune). É um traço autossômico com duas formas de expressão genética e clínica:
1. indivíduos homozigotos nascem de pais heterozigotos assintomáticos (portado-
Distúrbios Hemostáticos 64
DISTÚRBIOS ADQUIRIDOS
Podem resultar de diversas causas que afetam componentes específicos do
mecanismo de hemostasia e, exceto em famílias consangüíneas de animais de
companhia e pela doença de von Willebrand, tendem a ser mais comuns em animais
domésticos que os defeitos hereditários. Alterações na parede vascular acompanha-
das por petéquias ocorrem nas mesmas condições que a púrpura eqüina (ver pág.
70) ou em hipoxias da parede vascular devido a circulação precária ou anemia. O
escorbuto (deficiência de vitamina C) em cobaias pode resultar em púrpura vascular.
Distúrbios adquiridos da coagulação sangüínea geralmente envolvem defi-
ciências multifatoriais e podem resultar de síntese defeituosa, utilização exces-
siva ou inibição de um ou mais fatores de coagulação. Certos fatores coagulantes
na circulação sangüínea podem ser deprimidos por agentes na alimentação (ver
I NTOXICAÇÃO POR T REVO DOCE , pág. 2105), por drogas ou por várias doenças,
particularmente aquelas causadoras de dano hepático severo ou moderado .
Rodenticidas anticoagulantes (ver pág. 2089), tais como varfarim e seus compos-
tos mais recentes (brodifacoum, difacinona, clorfacinona) ou dicumarol deprimem a
produção de fatores da coagulação dependentes de vitamina K (Fatores II, VII, IX e
X). Uma vez que o fígado é o maior local de síntese dos fatores de coagulação, o dano
hepático pode resultar em coagulação sangüínea defeituosa. Os baixos níveis de
fatores coagulantes no plasma de animais recém-nascidos podem predispor a
sangramentos. Choque anafilático, hemólise intravascular, necrose tecidual exces-
siva (queimaduras, inflamação, neoplasia, trauma, cirurgia) ou endotoxinas bacteria-
nas podem levar a ativação de plaquetas sangüíneas e fatores de coagulação e
resultam em coagulação intravascular disseminada (CID, pág. 28) e tromboembolis-
mo. O líquido amniótico contém tromboplastinas potentes que podem ser introduzi-
das na circulação materna durante distocias, levando a coagulação intravascular.
Distúrbios Hemostáticos 65
TROMBOCITOPENIA
É uma diminuição no número de plaquetas. As mesmas causas básicas, em
qualquer espécie, levam a este problema, que é a principal causa de sangramento.
Distúrbios Hemostáticos 68
periférica dura de 3 a 4 dias, sendo seguida por uma neutrofilia. Todas as outras
células hematopoiéticas, incluindo os linfócitos, também são cíclicas com o mesmo
intervalo, porém ocorrendo em momentos diferentes ao da fase neutropênica. De-
monstrou-se que os fatores de crescimento hematopoiéticos (por exemplo, eritropoie-
tina) e outros hormônios (por exemplo, cortisol) também possuem um padrão cíclico.
Os filhotes afetados freqüentemente morrem no parto ou durante a primeira
semana, raramente sobrevivendo por mais de 1 ano. Os cães sobreviventes podem
ser raquíticos e fracos e desenvolver graves infecções bacterianas recorrentes duran-
te períodos de neutropenia, caracterizados por febre, septicemia, pneumonia e gas-
troenterite. Também apresentam uma tendência a sangramentos devido a uma
anormalidade na função plaquetária e desenvolvem amiloidose nos rins e outros órgãos.
Todos os cães afetados possuem uma coloração diluída na pelagem, conhecida
como efeito pleiotrópico, com os pelos fenotipicamente negros diluídos a cinza-car-
vão, e os pelos fenotipicamente marrons ou escuros diluídos a cinza-prata. O diagnós-
tico é baseado nos sintomas clínicos e em hemogramas completos repetidos por um
período de 2 semanas. Não foi observado nenhum novo caso na última década.
Um transplante de medula óssea no animal jovem elimina os efeitos da hemato-
poiese cíclica e efetua uma cura clínica. O tratamento com carbonato de lítio, apesar
de em níveis tóxicos, tem abolido a neutropenia recorrente. A administração de
fatores estimulantes de colônia granulócitos/monócitos recombinantes humanos
eliminou temporariamente a hematopoiese cíclica até o cão produzir anticorpos
contra eles.
ANOMALIA DE PELGER-HUËT
É um problema hereditário do homem, coelhos e cães, caracterizado pela
incapacidade de maturação dos granulócitos da forma imatura para a segmentada;
a hereditariedade parece ocorrer por meio de um autossomo dominante. As células,
particularmente os neutrófilos, são hipossegmentadas e a cromatina é condensada;
o leucograma mostra um “pseudodesvio” à esquerda aparente com um número
normal de leucócitos. Esta anomalia é geralmente um achado incidental de labora-
tório; a função dos leucócitos é normal e os heterozigotos não apresentam sintomas
clínicos. Nos coelhos, o estado de homozigose é letal e associado a deformações
esqueléticas e maior suscetibilidade a infecções. A pseudo-anomalia de Pelger-
Huët refere-se à hipossegmentação adquirida dos granulócitos e tem sido relatada
em ratos, cães e bovinos.
LINFADENITE E LINFANGITE
LINFADENITE CASEOSA DAS OVELHAS E CABRAS
É um abscesso caseoso dos linfonodos e órgãos internos causado por
Corynebacterium pseudotuberculosis. A doença ocorre em todo o mundo e é uma
infecção endêmica importante nas regiões onde há grandes criações de ovelhas e
cabras. As perdas econômicas resultam da redução do ganho de peso, capacidade
reprodutiva e produção de leite, bem como da condenação da carcaça e desvalo-
rização do couro. Embora principalmente uma infecção de ovelhas e cabras, a
doença esporádica também ocorre em eqüinos e bovinos (ver adiante) e no búfalo
d’água, ruminantes silvestres, primatas, porcos e aves. A linfadenite regional
raramente é manifestada no homem.
Linfadenite e Linfangite 78
aborto. Os abscessos podem ser amplos, até 20cm de diâmetro antes de romperem-
se e levar meses para curar. Perda de peso, cólica ou ataxia podem ser os sinais de
abscessos internos. As lesões por dermatite são dolorosas e levemente pruríticas
com alopecia, exsudação e ulceração.
A entrada de bactérias ocorre provavelmente através de ferimentos cutâneos,
vetores artrópodes e contato cutâneo pelos fomitos, tal como equipamento aparador
e arreios contaminados. Condições úmidas e não higiênicas predispõem os animais
a infecções, particularmente dos membros inferiores e região ventral. Entretanto, a
doença também ocorre sob excelentes condições de tratamento.
Diagnóstico – O isolamento de C. pseudotuberculosis das lesões é necessário
para confirmação. Em todas as formas de linfangite em cavalos, as amostras para
cultura incluem os aspirados de abscessos, “swabs” de exsudato purulento debaixo
de escaras associadas com foliculite e biópsias em saca-bocado. O diagnóstico
diferencial inclui piodermia, abscessos, linfangite (causada por Staphylococcus
aureus, Rhodococcus equi, Streptococcus ou Dermatophilus ), dermatofitose,
esporotricrose, criptococose eqüina, blastomicose norte-americana e oncocercíase.
Tratamento – A linfangite e as tumefações dos abscessos precoces são tratadas
com envoltórios quentes, cataplasmas ou hidroterapia. Os abscessos são lanceta-
dos e lavados com solução de iodo. Abscessos grandes necessitam de cirurgia. As
lesões cutâneas e os membros grosseiramente contaminados são limpos diaria-
mente com um xampu de iodóforo. As combinações de trimetoprim-sulfa ou
penicilina têm sido usadas como antimicrobianos; entretanto, o tratamento antimi-
crobiano pode prolongar a doença através da maturação dos abscessos retardados.
A dor e a tumefação são aliviadas pela fenilbutazona. O apoio geral e o cuidado de
enfermagem estão indicados. Se o tratamento for bem-sucedido, a tumefação
regride gradualmente em dias ou semanas. Casos graves ou não tratados freqüen-
temente tornam-se crônicos e ocorrem fibrose e induração da pata.
BABESIOSE
É um grupo de doenças de portadores de carrapatos, causadas por
protozoários do gênero Babesia. A babesiose é um problema significante em
animais domésticos e silvestres, onde quer que existam carrapatos vetores
disponíveis, especialmente nos trópicos. As perdas econômicas mais importan-
tes são causadas no gado por B. bovis e por B. bigemia, atuando individual ou
conjuntamente no mesmo grupo de animais. Como estas 2 espécies dividem os
mesmos carrapatos vetores com a Anaplasma marginale (ver anteriormente),
alguns ou todos estes podem se combinar para produzir uma síndrome fatal
conhecida como febre dos carrapatos.
Transmissão e epidemiologia – Em grande escala, as principais espécies
de Babesia são específicas tanto com relação ao hospedeiro como ao vetor.
Desta forma, B. bovis e B. bigemia são encontradas exclusivamente em gado,
e sua distribuição coincide com aquela dos principal carrapato vetor, as Boophilus
spp. Alguns outros carrapatos podem atuar como vetores, e o mecanismo de
transmissão através da picada por moscas pode ocorrer. Nas Américas e na
Austrália, onde as Boophilus spp são os únicos carrapatos vetores, a doença
pode ser controlada através do tratamento acaricida rotineiro do gado para
eliminá-lo. A parte do ciclo de vida que ocorre no carrapato se inicia quando os
piroplasmas (merozoítas), que se encontram dentro dos eritrócitos do animal
infectado, são absorvidos pelo carrapato fêmea durante o seu ingurgitamento
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 84
CITAZOONOSE
É uma doença aguda, causada por protozoários, geralmente fatal, de gatos
domésticos, e ocorre de forma esporádica em áreas de mata densa do sul dos EUA.
Etiologia e transmissão – As características clínicas e histopatológicas asse-
melham-se àquelas produzidas pelas Cytauxzoon spp em várias espécies de
ungulados africanos. A Cytauxzoon felis aparentemente é uma nova espécie cujo
ciclo de vida termina em gatos hospedeiros. Suspeita-se de que os carrapatos do
gênero Ixodid sejam os vetores.
Sinais clínicos e lesões – Após 1 a 3 dias, a anorexia e a depressão são
seguidas por pirexia, ≥ 40°C( ≥104°F), e usualmente por desenvolvimento de anemia
e desidratação ou icterícia, ou ambas. A temperatura corporal cai abaixo do normal,
desenvolve-se dispnéia, e a morte se segue em 1 a 3 dias.
Os achados macroscópicos de necropsia incluem palidez generalizada e fre-
qüentemente icterícia; baço e linfonodos ocasionalmente muito aumentados; con-
gestão das veias mesentéricas; e, algumas vezes, petéquias hemorrágicas nos
pulmões, linfonodos, epicárdio e bexiga urinária. Histologicamente, os esquizontes
aparecem dentro de fagócitos mononucleares (macrófagos) que ocluem os princi-
pais canais venosos do pulmão, linfonodos, baço e outros órgãos.
Diagnóstico – É sugestivo o quadro clínico típico em uma área endêmica. A
demonstração de parasitas eritrocíticos em esfregaços sangüíneos corados por
Wright ou por Giemsa, e de parasitas em fase tecidual dentro de fagócitos mononu-
cleares em esfregaços corados de medula óssea ou baço, confirma o diagnóstico. A
Cytauxzoon sp deve ser diferenciada da Haemobartonella felis (ver pág. 33) que é
menor, mais densa e em forma de corrente, e também da Babesia felis. No caso de
Babesia sp, a fase sangüínea pode parecer idêntica, porém os membros da
Babesiidae não possuem fase tecidual (esquizonte). Em esfregaços sangüíneos
corados, as formas eritrocíticas possuem formato de corpos esféricos a ovais (0,5 a
2,0µ em diâmetro) com núcleo vermelho-escuro a púrpura e um citoplasma azul-
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 87
EPERITROZOONOSE
É uma doença esporádica, febril e hemolítica do gado bovino, suíno, ovino e
de outros mamíferos causada por rickéttsias. Muitas infecções são subclínicas e
a incidência de doença evidente é baixa. Provavelmente a rickéttsia esteja
presente em muitos países e, no caso da Eperythrozoon ovis , as evidências
sorológicas da Nigéria (36%) e Austrália (16,9%) indicam que a incidência de
infecção subclínica é alta; nos EUA, a sorologia indica uma incidência de 15% de
E. suis. Diferentes espécies de parasitas existem em diferentes hospedeiros (por
exemplo, E. suis, E. ovis), e parece que cada um é relativamente hospedeiro-
específico. A transmissão dá-se principalmente pelos piolhos, porém os instru-
mentos cirúrgicos e as agulhas hipodérmicas também têm sido incriminados. Em
casos clínicos, existe um grau variável de anemia hemolítica, febre, anorexia,
fraqueza e icterícia. Muitos casos são leves e transitórios, e costumam ser
secundários a outras condições. Casos mais severos ocorrem em porcos jovens,
e em ovelhas e no gado podem estar associados ao estresse.
Deve ser realizada a diferenciação das anemias nutricionais (ver pág. 21) e
das condições ictero-anêmicas devido a outros agentes infecciosos ou substân-
cias tóxicas. O diagnóstico laboratorial da eperitrozoonose aguda deve ser
realizado pela demonstração de grandes quantidades de rickéttsias em esfrega-
ços de sangue corados por Giemsa. Os parasitas podem ser encontrados livres
no plasma circundando plaquetas ou na superfície dos eritrócitos.
A tetraciclina ou a oxitetraciclina dadas por via IM em doses ≥ 6,6mg/kg de
peso corporal são eficazes em doses únicas contra E. suis . São indicadas drogas
hematínicas (por exemplo,o cacodilato de sódio e a dextrana de ferro) e arseni-
cais (por exemplo, a neoarsfenamina). Se for necessário, a oxitetraciclina dada
oralmente é efetiva no tratamento de rebanhos.
cães com síndrome caval devem ter seus vermes removidos por meio de uma
venotomia jugular emergencial.
Após a terapia adulticida, o exercício deve ser restringido por 4 a 6 semanas. A
anorexia, tosse, dispnéia, e febre atribuíveis a morte dos vermes, trombose e
inflamação podem ocorrer nas primeiras 4 semanas (mais freqüentemente em 10
a 17 dias) após o tratamento. Um tratamento antiinflamatório a curto prazo com
corticosteróides bem como o repouso em gaiola podem ser necessários.
O tratamento microfilaricida deve seguir o tratamento adulticida com intervalo de
3 a 6 semanas. O iodeto de ditiazanina é o único microfilaricida aprovado. A
“American Heartworm Society” recomenda o uso da ivermectina como microfilaricida,
mas esta não é uma utilização aprovada oficialmente. O milbemycin oxime, fention
e o levamisol também são utilizados. Quando há um grande número de microfilárias,
é comum uma reação à sua morte, mas não é provável que seja fatal.
O tratamento preventivo deve ser iniciado logo que possível após o tratamento
de infecções ocultas, ou logo que o tratamento microfilaricida se complete. Devem
ser realizados testes de concentração no final do tratamento microfilaricida, e
também repetidos várias semanas depois para detectar um recrudescimento das
microfilárias.
As medidas preventivas aceitas baseiam-se na administração oral de dietilcarba-
mazina, ivermectina ou milbemycin oxime. Estes compostos impedem o desenvol-
vimento do estágio tecidual da larva, o que impede os parasitas de alcançar o
coração. O DEC deve ser administrado diariamente a partir de 1 mês antes da
estação dos mosquitos até 2 meses depois; a ivermectina e o milbemycin oxime são
administrados uma vez por mês a partir do primeiro mês após o início da estação dos
mosquitos até dentro de 1 mês no final da estação. As regiões com população de
mosquitos constante exigem terapia durante o ano todo. Os produtos preventivos não
devem ser administrados aos cães positivos para microfilárias.
O tratamento em gatos é controverso. Pode ocorrer edema pulmonar agudo e
hemorragia, geralmente culminando com morte, em poucas horas após a primeira
ou segunda injeção de tiacetarsamida, que não é aprovada para uso em gatos. As
infecções subclínicas e aquelas caracterizadas por infiltrado pulmonar intermitente
com síndrome de eosinofilia podem não exigir tratamento adulticida. Há evidências
que infecções experimentais podem ser autolimitantes. Uma terapia sintomática
apropriada, como corticosteróides para tosse e infiltrados pulmonares, deve ser
administrada como indicado.
ESQUISTOSSOMÍASE
(Trematódeos sangüíneos)
TEILERÍASES
É um grupo de doenças de animais causadas por protozoários parasitas do
gênero Theileria, transmitidos por carrapatos. As espécies mais importantes são a
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 93
ocorre após 18 a 24 dias. As lesões post mortem mais notáveis são aumento do
linfonodo o edema pulmonar maciço, a hiperemia e o enfisema. Hemorragias são
comuns nas superfícies serosas e mucosas de muitos órgãos, algumas vezes junto
com áreas óbvias de necrose nos linfonodos e timo. Diferente da babesiose, a anemia
não é o principal sintoma diagnóstico, já que é mínima a divisão dos parasitas nos
eritrócitos e, deste modo, não há destruição maciça deles.
Os animais que se recuperam ficam imunes a desafios subseqüentes com as
mesmas cepas, porém podem ser suscetíveis a algumas cepas heterólogas. A
maioria dos animais recuperados ou imunizados permanece portando a infecção.
Tratamento e controle – As perspectivas de sobrevida do gado com febre da
Costa Oeste ou infestação por T. annulata foram ampliadas pelo desenvolvimento
do parvaquone e seu derivado o buparvaquone, e a demonstração de que o sal
lactato do coccidiostático halofuginona possui ação antiteilerial. A clortetraciclina e
a oxitetraciclina, mesmo administradas em grandes doses e tão precocemente
quanto possível, são relativamente ineficazes. No entanto, a imunização do gado
usando um procedimento de infecção-e-tratamento é prática e vem ganhando
aceitação. Os componentes para este procedimento são um estabilizado
criopreservado da(s) cepa(s) apropriada(s) de Theileria derivadas de carrapatos
infectados e uma dose única de oxitetraciclina de longa ação ou buparvaquone
administrados simultaneamente, ou parvaquone administrado , 8 dias após a
infecção. O gado deve ser imunizado 3 a 4 semanas antes de ser solto em pastos
infectados. A incidência da febre da Costa Oeste pode ser diminuída através de um
controle rígido dos carrapatos, porém em muitas áreas isto significa tratamento
acaricida 2 vezes por semana.
Outras teileríases
As Theileria spp em animais domésticos de grande porte e animais selvagens
estão quase onipresentes em áreas do Velho Mundo infectadas por carrapatos, e,
a não ser no gado bovino, a sua diferenciação dentro das espécies não é clara. As
espécies seguintes são importantes: no gado bovino, a Theileria annulata está
amplamente distribuída na África do Norte, área costeira do Mediterrâneo, Centro-
Oeste, Índia, antiga URSS e Ásia. A causa é teileriose tropical ou mediterrânea
e é transmitida por carrapatos do gênero Hyalomma. A T. annulata pode causar
mortalidade de até 90%, porém existe uma variabilidade considerável na patogeni-
cidade das diferentes cepas. Os sinais característicos incluem a febre e o aumento
dos linfonodos superficiais. Subseqüentemente, o gado perde rapidamente sua
condição física e pode ocorrer hemoglobinúria. Os esquizontes e os piroplasmas
são morfologicamente similares àqueles da T. parva . Os esquizontes possuem um
formato mais comumente arredondado ou oval. Podem ser cultivados in vitro, e as
cepas atenuadas produzidas por passagens seriadas formam a base das vacinas
eficazes usadas em Israel, Irã e antiga URSS.
A Theileria orientalis (sergenti) ocorre no Extremo Oriente e, em menor intensida-
de, na Ásia e sul da antiga URSS, onde pode causar uma síndrome patológica em
associação com a T. annulata. A transmissão é efetuada por carrapatos do gênero
Haemaphysalis , e existem cepas levemente patogênicas do parasita na Europa e na
Australásia onde ocorrem as Haemaphysalis spp. Os piroplasmas são maiores que
aqueles da T. parva e T. annulata, e sua divisão intra-eritrocítica é o mais importante
método de multiplicação. A mortalidade é rara, particularmente no gado indígena,
porém é comum uma anemia crônica progressiva.
A Theileria mutans está presente na África e também tem sido relatada na
América Latina. A transmissão é feita por carrapatos do gênero Amblyomma, e a
multiplicação dá-se comumente por divisão intra-eritrocítica. Os piroplasmas são
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 95
TRIPANOSSOMÍASE
Tripanossomíase transmitida pela mosca tsé-tsé
É um grupo de doenças que afetam todos os animais domésticos, e que são
causadas por protozoários do gênero Trypanosoma. As principais espécies são T.
congolense, T. vivax, T. brucei e T. simiae.
Os principais animais afetados pelos 4 mais importantes tripanossomos transmi-
tidos pela tsé-tsé estão listados na TABELA 8 (adiante). Em ordem de importância,
aquelas que afetam o gado bovino, as ovelhas e as cabras são T. congolense, T.
vivax e T. brucei. Em porcos, a T. simiae é a mais importante. Em cães e gatos, a
T. brucei provavelmente seja a mais importante. É difícil assinalar uma ordem de
importância para cavalos e camelos.
Os tripanossomas que causam a tripanossomíase transmitida por tsé-tsé (doen-
ça do sono) no homem, T. rhodesiense e T. gambiense, se assemelham bastante
a T. brucei dos animais; os isolados de T. brucei de animais são lisados por soro
humano. Existem indicações de que ocorram alterações na resistência ao
soro humano em alguns isolados de T. brucei; portanto, devem ser tomadas as
precauções razoáveis quando se trabalha com estes isolados.
A T ABELA 8 também lista as principais áreas geográficas onde ocorre a
tripanossomíase transmitida pela tsé-tsé. A mosca tsé-tsé está restrita à África,
aproximadamente da latitude 15oN até 29oS.
Transmissão e epidemiologia – A maioria das transmissões por tsé-tsé é cíclica
e começa quando o sangue de um animal infectado por tripanossomo é ingerido pela
mosca. O tripanossomo perde sua capa superficial e multiplica-se na mosca então
readquire uma capa superficial e torna-se infeccioso. A Trypanosoma brucei move-
se do intestino ao proventrículo, à faringe, e eventualmente às glândulas salivares;
o ciclo para T. congolense pára na hipofaringe, e as glândulas salivares não são
envolvidas, o ciclo inteiro paraT. vivax ocorre na probóscide. A forma infecciosa para
o animal, que se encontra na glândula salivar da tsé-tsé, é conhecida como a forma
metacíclica. O ciclo de vida na mosca tsé-tsé pode ser tão curto quanto 1 semana com
T. vivax, ou estender-se por umas poucas semanas como no caso de T. brucei.
As moscas tsé-tsé pertencem ao gênero Glossina , que possui 3 das principais
espécies que habitam em ambientes relativamente distintos: a G. morsitans freqüen-
temente encontra-se em áreas de savana, a G. palpalis prefere áreas ao redor dos rios
e lagos, enquanto a G. fusca vive em áreas de alta floresta. As 3 espécies transmitem
tripanossomos, e todas se alimentam em uma variedade de mamíferos.
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 96
Surra
(Infecção por T. evansi )
Esta afecção é separada das doenças transmitidas pela mosca tsé-tsé, pois
usualmente é transmitida por outras moscas picadoras que se encontram fora da
área das moscas tsé-tsé. É essencialmente uma doença de camelos e cavalos. Está
presente na África do Norte, no Oriente Médio, Ásia, Extremo Oriente e nas
Américas Central e do Sul. A distribuição de T. evansi na África estende-se até as
áreas da tsé-tsé, onde é difícil a diferenciação de T. brucei. Todos os animais
domésticos são suscetíveis, e a doença pode ser fatal particularmente em camelos,
cavalos e cães. Trypanosoma evansi em outros animais parece não ser patogênica,
e estes animais servem como reservatórios da infecção.
A transmissão é feita primariamente por moscas picadoras, provavelmente
resultante das alimentações interrompidas. Alguns animais selvagens são suscetí-
veis à infecção e podem servir como reservatórios.
A patogenia, os sinais clínicos, as lesões, o diagnóstico e o tratamento são
semelhantes àqueles dos tripanossomos transmitidos por tsé-tsé (ver adiante). As
drogas para o tratamento estão listadas na TABELA 9.
Sífilis eqüina
É uma doença venérea crônica freqüente de cavalos, transmitida durante o
coito e causada por T. equiperdum. Foi reconhecida na costa mediterrânea da
Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 98
Doença de Chagas
(Infecção por T. cruzi )
O ciclo de transmissão comum dá-se entre os gambás, tatus, roedores e
carnívoros selvagens, com os percevejos da família Reduviidae servindo como
vetores. A distribuição se dá nas Américas Central e do Sul e em áreas
localizadas no sul dos EUA. A doença de Chagas é de grande importância na
América do Sul. Os animais domésticos podem tornar-se infectados e introduzir
o tripanossomo nas moradias humanas, onde os percevejos estão presentes; o
homem então torna-se infectado pela contaminação de feridas oculares ou por
ingestão de comida infectada com fezes de insetos que contenham tripanosso-
mos. O tripanossomo é patogênico para o homem, e ocasionalmente para cães
e gatos jovens; outros animais domésticos atuam como hospedeiros-reser-
vatórios.
POLICITEMIA
É um aumento relativo ou absoluto do número de eritrócitos circulantes. A
hiperviscosidade sangüínea resultante pode interferir na circulação normal.
Policitemia relativa – A redução do volume plasmático resulta em hemocon-
centração e é a causa mais comum de policitemia em animais domésticos.
Costuma ser um estado transitório devido à desidratação por perda de líquidos
associada a vômitos ou diarréia. O decréscimo de volume plasmático pode ser
Policitemia 100
causa dor e espasmos reflexos dos segmentos intestinais adjacentes. Ela também
estimula a secreção de fluido para o lúmen intestinal, o que exacerba a distensão.
Quando a distensão exceder um ponto crítico, a capacidade de resposta da
musculatura da parede diminui, a dor inicial desaparece e se desenvolve o íleo
paralítico, no qual todo o tono muscular GI é perdido.
A desidratação, o desequilíbrio ácido-básico e eletrolítico e a insuficiência
circulatória são as principais conseqüências da distensão GI. O acúmulo de fluidos
intestinais estimula uma secreção adicional de fluidos e eletrólitos nos segmentos
anteriores do intestino, o que pode piorar as anomalias e levar a choque.
A dor abdominal associada às doenças do trato GI é geralmente causada por
distensão da parede do trato. A contração do intestino por si só não causa dor, porém
o faz por causar distensão direta e reflexa de segmentos vizinhos. Assim, o
espasmo, a contração segmentar exagerada de uma seção do intestino, resultará
na distensão do segmento imediatamente anterior, quando uma onda peristáltica
chegar. Outros fatores que podem causar dor abdominal incluem edema e deficiên-
cia local do suprimento de sangue, por exemplo, embolismo local ou torção do
mesentério.
As doenças específicas causam diarréia por mecanismos característicos e
variados; o reconhecimento destes é útil na compreensão, diagnóstico e terapêutica
das doenças GI. Os principais mecanismos da diarréia são permeabilidade aumen-
tada, hipersecreção e osmose. A hipermobilidade é freqüentemente secundária.
Existe um fluxo contínuo de água e eletrólitos através da mucosa intestinal dos
animais saudáveis. O fluxo secretório (do sangue para o intestino), bem como o fluxo
absorvido (do intestino para o sangue), ocorrem simultaneamente. Em animais
clinicamente normais, o fluxo absorvido excede o fluxo secretório, o que resulta na
absorção líquida. A inflamação dos intestinos pode ser acompanhada por um
aumento no “tamanho do poro” na mucosa, permitindo um fluxo maior através da
membrana (“vazamento”) por redução do gradiente de pressão do sangue para o
lúmen intestinal. Se a quantidade exsudada exceder a capacidade de absorção dos
intestinos, tem-se diarréia. O tamanho do material que vaza através da mucosa
varia, dependendo da magnitude do aumento do tamanho do poro. Grandes
aumentos no tamanho do poro permitirão a exsudação de proteína do plasma,
resultando em enteropatias com perda de proteína (por exemplo, linfangiectasia em
cães, paratuberculose em bovinos, infecções por nematóideos).
A hipersecreção é um efluxo intestinal líquido de fluidos e eletrólitos, que ocorre
independentemente de alterações da permeabilidade, da capacidade de absorção
ou dos gradientes osmóticos gerados de maneira exógena. A colibacilose enterotóxica
é um exemplo de doença diarréica resultante da hipersecreção intestinal: E. coli
enterotoxigênica produz enterotoxinas que estimulam o epitélio das criptas a
secretar fluido além da capacidade absortiva dos intestinos. Os vilos, com suas
capacidades digestiva e absortiva, permanecem intactos. O fluido secretado é
alcalino, isotônico, e livre de exsudatos. Os vilos intactos são benéficos ao animal,
pois a administração oral de um fluido que contém glicose, aminoácidos e sódio é
efetiva, apesar da hipersecreção.
A diarréia osmótica ocorre quando uma absorção inadequada resulta em coleção
de solutos no lúmen intestinal, provocando retenção de água devida à sua atividade
osmótica. Isto ocorre em qualquer distúrbio que resulte em malabsorção ou má-
digestão de nutrientes.
A malabsorção é uma deficiência da digestão e absorção decorrente de algum
defeito nas células digestivas e absortivas vilosas, as quais são células maduras que
revestem os vilos. Vários vírus epiteliotróficos infectam diretamente e destroem as
células epiteliais absortivas vilosas ou seus precursores, por exemplo, coronavírus,
vírus da gastroenterite transmissível dos leitões e rotavírus dos bezerros. Os vírus
Sistema Digestivo, Introdução 112
DOENÇAS INFECCIOSAS
A seguir, estão relacionados alguns patógenos comuns de doenças do trato GI.
Vírus
Bovinos, ovinos e caprinos
Diarréia viral bovina
Rotavírus
Coronavírus
Peste bovina
Febre catarral maligna
Língua azul
Suínos
Gastroenterite transmissível
Rotavírus
Coronavírus
Cavalos
Rotavírus
Cães e gatos
Parvovírus canino
Coronavírus canino
Vírus da panleucopenia felina
Rotavírus felino e canino
Astrovírus felino e canino
Rickéttsias
Cavalos
Ehrlichiose (febre de Potomac)
Cães
Envenenamento pelo salmão
Sistema Digestivo, Introdução 115
Bactérias
Bovinos, ovinos e caprinos
Escherichia coli enterotoxigênica
Salmonella spp
Mycobacterium paratuberculosis
Fusobacterium necrophorum
Clostridium perfringens Tipos B, C e D
Actinobacillus lignieresii
Proteus spp
Pseudomonas spp
Yersinia enterocolitica
Suínos
E. coli enterotoxigênica
Salmonella spp
Treponema hyodysenteriae
Clostridium perfringens Tipo C
Cavalos
E. coli enterotoxigênica
Salmonella spp
Rhodococcus (Corynebacterium) equi
Cães e gatos
Salmonella spp
Yersinia enterocolitica
Campylobacter jejuni
Bacillus piliformis
Clostridium spp
Mycobacterium spp
Protozoários
Bovinos, ovinos e caprinos
Eimeria spp
Cryptosporidium spp
Suínos
Eimeria spp
Isospora suis
Cavalos
Eimeria spp
Cães e gatos
Isospora spp
Sarcocystis spp
Besnoitia spp
Hammondia sp
Toxoplasma sp
Giardia sp
Trichomonas spp
Entamoeba histolytica
Balantidium coli
Fungos
Bovinos e suínos
Candida spp
Sistema Digestivo, Introdução 116
Cavalos
Aspergillus fumigatus
Cães e gatos
Histoplasma capsulatum
Candida albicans
Ficomicetos
Algas
Prototheca spp
Parasitas (helmintos)
Estão relacionados nas discussões referentes a PARASITAS GASTROINTESTINAIS
DOS C AVALOS, página 241, RUMINANTES, página 246, SUÍNOS, página 263 e PEQUENOS
ANIMAIS, página 285.
Como a lista anterior indica, o trato GI está sujeito a infecções por diversos
patógenos, que são a causa principal de perdas econômicas devidas a doenças,
desempenho subótimo e morte. A disseminação destas infecções ocorre pelo
contato direto ou pelas vias fecal e oral. Muitos dos patógenos fazem parte da flora
intestinal normal e a doença só ocorre em conseqüência de um evento estressante,
por exemplo, a salmonelose que ocorre no cavalo após transporte, anestesia
prolongada ou cirurgia. A flora intestinal estabelece-se algumas horas após o
nascimento, daí a grande importância da ingestão precoce do colostro para fornecer
proteção contra septicemias e infecções intestinais.
O diagnóstico etiológico definitivo da doença infecciosa do trato GI depende da
demonstração do patógeno no trato ou nas fezes dos animais afetados. Em
epidemias de rebanho, tais como um surto de diarréia aguda indiferenciada em
bezerros ou leitões recém-nascidos, o melhor meio de se estabelecer um
diagnóstico é selecionar animais não tratados no estágio mais inicial da doença
e submetê-los à necropsia e a detalhado exame microbiológico da flora intestinal.
Quando a necropsia seletiva não for uma opção, uma série diária de amostras
fecais, coletadas cuidadosamente, deve ser submetida ao laboratório, com
requisição para técnicas especiais de cultura, dependendo da doença infecciosa
suspeitada.
fatores anteriores e está, hoje, bem estabelecido que animais levemente parasitados,
sem sinais clínicos de doença, possuem um desempenho menos eficiente, nos
casos de confinamento, produção leiteira ou engorda.
A conversão alimentar no parasitismo leve a moderado é adversamente afetada
tendo como causa primária a redução do apetite e a má utilização da proteína e
energia absorvidas. A qualidade e o tamanho da carcaça também são reduzidos,
resultando em prejuízos financeiros posteriores. Os parasitas internos de animais
de companhia podem causar doenças severas ou prejuízos econômicos e levam a
um aspecto esteticamente indesejável. Além disso, alguns destes parasitas também
podem infectar o homem.
Como o parasitismo é facilmente confundido com outras condições debilitantes,
o diagnóstico depende muito das características sazonais da infecção parasitária do
histórico prévio da fazenda e do exame de fezes, para evidência de oocistos ou ovos
de vermes. Os níveis elevados de pepsinogênio sérico podem ser indicativos de
algumas infecções abomasais, tal como é o nível elevado de enzimas hepáticas no
soro, na infecção hepática por fascícola. Técnicas sorológicas, tais como ELISA e
a produção de anticorpos monoclonais, estão em desenvolvimento; o sorodiagnóstico
está tornando-se mais usado, à medida que a especificidade dos testes aumenta.
Eles são particularmente úteis em animais de companhia, que abrigam parasitas
incriminados em zoonoses.
Avanços da epidemiologia (particularmente no que diz respeito aos fatores que
afetam o desenvolvimento sazonal dos estágios de vida livre e sua sobrevivência),
acoplados à descoberta de anti-helmínticos altamente eficientes e de amplo
espectro, têm feito com que o tratamento e o controle bem-sucedidos de parasitas
gastrointestinais sejam possíveis e práticos. A resposta à terapia é geralmente
rápida e tratamentos simples são suficientes, a menos que ocorra reinfecção ou que
as lesões sejam particularmente severas. O controle profilático em animais de
grande porte é, em geral, alcançado pela integração do manejo das pastagens com
o uso de anti-helmínticos. Os métodos avançados de aplicação de anti-helmínticos,
tais como as técnicas de “pour-on”* ou dispositivos para liberar ou manter os
batimentos também têm auxiliado. As estratégias para evitar parasitismo e perdas
de produção relacionadas são agora parte de qualquer programa moderno de
sanidade de rebanho ou haras. Programas preventivos similares são igualmente
importantes no controle do parasitismo de animais de estimação. Para a estimativa
da carga parasitária interna, ver página 1152. (O controle por vacinação é limitado
a vermes pulmonares: vacinas para bovinos estão disponíveis em vários países
europeus; a vacina contra o verme pulmonar ovino está disponível em algumas
partes do sudeste da Europa, e no Oriente Médio)
níveis terapêuticos, por vários dias, seguido de níveis profiláticos, por um período
cuja duração dependa da pressão da infecção sobre a população. O suprimento de
alimento e água de animais em contato também pode ser medicado, numa tentativa
de impedir a ocorrência de novos casos.
Cavidade oral
Estomatite
Doenças dos dentes e periodonto
Neoplasia
Esôfago
Esofagite traumática
Obstrução esofágica
Megaesôfago
Estômago simples
Gastrite (agentes químicos e físicos, doença inflamatória crônica)
Ulceração
Dilatação e torção
Retenção gástrica
Neoplasia
Estômagos de ruminante
Indigestão simples
Sobrecarga do rúmen (sobrecarga de grãos, acidose láctica ruminal)
Timpanismo ruminal (“bloat”)
Reticuloperitonite traumática e suas seqüelas
Deslocamento esquerdo do abomaso
Distensão direita com ou sem torção do abomaso
Úlcera abomasal
Impactação dietética do abomaso
Intestinos
Diarréia por superalimentação ou dieta indigerível
Inflamação (por exemplo, enterite eosinofílica ou linfocítica-plasmocítica)
Neoplasia
Obstrução
Enterite por envenenamento (sais de cobre, chumbo, arsênio inorgânico, fósforo,
fluoretos, molibdênio, produtos de petróleo, plantas tóxicas, águas salinas e
alcalinas)
Cólicas eqüinas
Dilatação gástrica
Cólica espasmódica
Timpanismo intestinal
Impactação do intestino grosso
Obstrução intestinal aguda
Cólica tromboembólica secundária à arterite mesentérica verminosa
Peritônio
Seqüela de necrose isquêmica do(s) estômago(s) ou intestinos
Perfuração traumática do(s) estômago(s) ou intestinos
Pós-cirúrgica
Tumores ou abscessos
Sistema Digestivo, Introdução 120
PRINCÍPIOS DE TERAPIA
Embora a remoção da causa da doença deva ser o objetivo primário, a parte
principal do tratamento é sintomática e de suporte, visando à atenuação da dor,
corrigindo as anormalidades e facilitando a cura (ver também págs. 1665 e 1681).
Um resumo dos princípios básicos de terapia inclui:
Remoção da causa primária – Agentes antimicrobianos, coccidiostáticos,
antifúngicos, anti-helmínticos, antídotos para venenos e correção cirúrgica de
deslocamentos (ver também pág. 116).
Correção da mobilidade anormal – A correção da mobilidade excessiva ou
deprimida parece racional, porém, freqüentemente, existe incerteza a respeito da
natureza e do grau de mobilidade anormal, e as drogas disponíveis podem não
fornecer resultados consistentes. Existem poucas evidências clínicas para reco-
mendar o uso rotineiro de medicamentos anticolinérgicos ou opiáceos para retardar
o trânsito intestinal. A diminuição do trânsito intestinal pode ser contraprodutiva para
o mecanismo de defesa da diarréia, agindo para evacuar os microrganismos nocivos
e suas toxinas. Em geral, as drogas anticolinérgicas provavelmente são justificadas
apenas como um alívio sintomático de curto prazo para a dor e o tenesmo
associados às doenças inflamatórias do cólon e do reto.
Reposição de fluidos e eletrólitos – Isto é necessário quando a desidratação
e o desequilíbrio ácido-básico e de eletrólitos ocorrerem, como na diarréia, vômito
persistente, obstrução intestinal ou torção do(s) estômago(s), nos quais grandes
quantidades de fluidos e eletrólitos são seqüestradas (ver pág. 1642).
Alívio da distensão – A distensão do trato GI com gases, fluidos ou ingesta pode
ocorrer em qualquer nível, devido a obstrução física ou funcional. A distensão pode
ser atenuada por medicamentos ou sonda estomacal (como no timpanismo em
ruminantes), ou por intervenção cirúrgica, que pode ser necessária (como na
obstrução intestinal aguda ou torção do abomaso em ruminantes, ou do estômago
nos monogástricos).
Alívio da dor abdominal – Podem ser administrados analgésicos para o alívio
da dor abdominal que afeta reflexamente outros sistemas corporais (por exemplo,
colapso cardiovascular), ou quando a dor levar o animal a machucar a si próprio, por
atividades violentas (rolamento, escoiceamento, investidas contra obstáculos). Os
animais tratados com analgésicos devem ser monitorados regularmente para
assegurar que o alívio da dor não forneça uma sensação falsa de segurança; a lesão
pode piorar progressivamente enquanto durar a influência do analgésico.
Reconstituição da flora do rúmen – Em casos de anorexia prolongada ou
indigestão aguda nos ruminantes, a microflora ruminal pode ser seriamente exau-
rida. A flora pode ser reconstituída pela administração oral de suco ruminal de um
animal normal (transfaunação), que contenha bactérias e protozoários do rúmen e
ácidos graxos voláteis.
AMEBÍASE
É uma colite aguda ou crônica caracterizada por uma diarréia persistente ou
disenteria prevalente nas áreas tropicais de todo o mundo. A amebíase é comum no
homem e em primatas não humanos, sendo algumas vezes observada no cão, mas
raramente em outros mamíferos. Várias espécies de amebas ocorrem nos animais,
porém o único patógeno conhecido é a Entamoeba histolytica. O homem é o hospedeiro
natural para esta espécie e é a fonte usual de infecção para os animais domésticos.
Campilobacteriose 121
CAMPILOBACTERIOSE
A campilobacteriose gastrointestinal, causada pela Campylobacter jejuni ou
C. coli, é atualmente reconhecida como causa de diarréia em vários hospedeiros
animais, incluindo cães, gatos, bezerros, ovinos, furões, visom, várias espécies de
animais de laboratório e no homem. Nos humanos é uma das maiores causas
de diarréia. Campylobacter jejuni e C. coli também são recuperadas de fezes de
carreadores assintomáticos (ver também CAMPILOBACTERIOSE G ENITAL DOS OVINA, pág.
792). Os animais domésticos, incluindo cães e gatos (especialmente os recente-
mente adquiridos em abrigos ou canis), e os animais selvagens mantidos em
cativeiro podem servir como fontes de infecção para os humanos. O(s) agente(s)
também é isolado freqüentemente das fezes de galinhas, perus, porcos e outras
espécies.
A doença é cosmopolita e sua prevalência parece estar crescendo conforme as
técnicas de cultura apropriadas para C. jejuni e C. coli são melhoradas e atualizadas.
As manifestações clínicas podem ser mais graves em animais mais jovens. Em
estudos que utilizaram anticorpos monoclonais e policlonais, Campylobacter spp
(provavelmente não C. jejuni) foi associado a ileíte proliferativa em hamsters,
enterite proliferativa dos suínos e colite proliferativa dos furões. Não foi provada
experimentalmente a relação de causa e efeito, no entanto, devido a impossibilidade
de se desenvolver uma cultura de Campylobacter sp intracelular in vitro.
Etiologia – O Campylobacter é uma bactéria Gram-negativa, microaerofílica,
delgada, curva e móvel, com um flagelo polar. A Campylobacter jejuni é rotineira-
mente associada com doenças diarréicas, no entanto, a C. coli, distinguida da C.
jejuni com base na hidrólise do hipurato, é ocasionalmente isolada em animais
diarréicos e rotineiramente obtida de suínos assintomáticos. Mais recentemente, foi
isolada outra Campylobacter intestinal catalase-negativa, a “C. upsaliensis”, de
cães com diarréia, assim como em cães e gatos assintomáticos. O Campylobacter
(Vibrio) sp foi anteriormente associado à disenteria suína, mas hoje em dia reconhe-
Campilobacteriose 122
COCCIDIOSE
É uma invasão, geralmente aguda, com destruição da mucosa intestinal por
protozoários dos gêneros Eimeria, Isospora, Cystoisospora ou Cryptosporidium,
caracterizada por diarréia, febre, inapetência, perda de peso, emaciação e, algumas
vezes, morte. A coccidiose é uma doença séria em bovinos, ovinos, caprinos,
suínos, aves domésticas (ver pág. 1879) e também em coelhos, nos quais o fígado
bem como os intestinos, podem ser afetados (ver pág. 1287). Em cães, gatos e
cavalos é menos freqüentemente diagnosticada, porém pode resultar em enfermi-
dade clínica. Sob modernas condições de criação (criação em gaiolas suspensas),
raramente é um problema no visom. Outras espécies, tanto de hospedeiros quanto
de protozoários, são envolvidas (ver SARCOCISTOSE, pág. 678 e TOXOPLASMOSE,
Coccidiose 124
pág. 441). A coccidíase é a infecção dos animais por coccídios, porém sem sinais
clínicos aparentes. A coccidíase é muito mais comum que a coccidiose e acredita-
se que resulte em baixa eficiência alimentar sob condições de criação intensiva.
Etiologia e epidemiologia – Eimeria, Isospora, Cystoisospora e Cryptosporidium
tipicamente requerem apenas um hospedeiro no qual completam seus ciclos de
vida; Cystoisospora (e outros) podem utilizar um hospedeiro intermediário. A
infecção é o resultado da ingestão de oocistos infectantes, que entram no ambiente
através das fezes de um hospedeiro infectado. Nesta fase, os oocistos de Eimeria,
Isospora e Cystoisospora não são esporulados não sendo, portanto, infectantes.
Sob condições favoráveis de umidade e temperatura, os oocistos esporulam e se
tornam infectantes em alguns dias. Durante a esporulação, o protoplasma amorfo
se transforma em pequenos corpos (esporozoítas) no interior de cistos secundários
(esporocistos) no oocisto. Em Eimeria spp, o oocisto esporulado possui 4 esporocistos,
cada um contendo 2 esporozoítas; em Isospora e Cystoisospora spp, o oocisto
esporulado possui 2 esporócistos contendo 4 esporozoítas cada; em Cryptosporidium,
cada oocisto contém apenas 4 esporozoítas.
Quando o oocisto esporulado é ingerido por um animal suscetível, os esporozóitas
escapam do oocisto, invadem a mucosa intestinal ou as células epiteliais em outros
locais e se desenvolvem intracelularmente em esquizontes multinucleados (tam-
bém denominados merontes). Cada núcleo desenvolve-se em um corpo infectante,
denominado merozoíta; os merozoítas entram em novas células e repetem o
processo. Após um número variável de gerações assexuais, os merozoítas se
desenvolvem em micro (machos) ou macrogametócitos (fêmeas), os quais produ-
zem um único macrogameta ou vários microgametas numa célula do hospedeiro.
Após ser fertilizado por um microgameta, o macrogameta desenvolve-se em um
oocisto. Os oocistos, com suas paredes resistentes, são eliminados nas fezes na
forma não esporulada.
A coccidiose clínica ocorre mais freqüentemente em condições sanitárias inade-
quadas e de superlotação, nutrição deficiente ou após o estresse do desmame,
transporte, mudanças súbitas de alimentação ou severas de clima.
Das numerosas espécies de Eimeria, Isospora ou Cystoisospora que podem
infectar um hospedeiro em particular, nem todas são patogênicas. Infecções
concorrentes com 2 ou mais espécies, algumas das quais podem não ser normal-
mente consideradas patogênicas também influenciam o quadro clínico. Entre as
espécies patogênicas, pode haver cepas de patogenia variável.
A maioria dos animais adquire infecções de níveis variáveis por Eimeria, Isospora
ou Cystoisospora, entre 1 mês e 1 ano de idade; o Cryptosporidium geralmente é
adquirido antes de 1 mês de idade. Animais mais velhos geralmente são resistentes
à doença clínica, porém podem apresentar infecções esporádicas não aparentes.
Tais animais maduros, clinicamente sadios são, em geral, fontes de infecção para
animais jovens suscetíveis.
Achados clínicos – Os estágios assexuado ou sexuado das várias espécies
destroem o epitélio intestinal e, freqüentemente, o tecido conjuntivo subjacente à
mucosa. Isto pode ser acompanhado por hemorragia no lúmen do intestino, inflama-
ção catarral e diarréia. Os sinais podem incluir descarga de sangue, de tecido ou de
ambos, tenesmo e desidratação. Os níveis de eletrólitos e proteínas séricas podem
estar extremamente alterados, porém mudanças na concentração de hemoglobina
ou no hematócrito são observadas apenas em animais severamente afetados.
Diagnóstico – O encontro de número apreciável de oocistos de espécies
patogênicas nas fezes do hospedeiro serve como diagnóstico, porém como a
diarréia pode preceder a eliminação mais pesada de oocistos, por 1 a 2 dias, e pode
continuar após a descarga de oocistos ter retornado a níveis baixos, pode não ser
sempre possível encontrar oocistos em uma única amostra fecal; vários exames
Coccidiose 125
CRIPTOSPORIDIOSE
É uma enterocolite autolimitante, de distribuição cosmopolita, causada pelo
parasita coccídio Cryptosporidium parvum. É comum em ruminantes jovens, particu-
larmente bezerros; um pouco menos comum no homem e suínos, e rara em cães,
gatos e cavalos. Outros criptosporídia causam doenças em répteis e pássaros. Em
bezerros, a doença é caracterizada por perda de peso e diarréia aquosa, é clinicamen-
te indistinguível das muitas outras causas de diarréia de bezerros. A menos que o
sistema imune esteja comprometido, é uma doença autolimitante. Existem muitos
relatos da infecção no homem, adquirida de bezerros clinicamente doentes.
Etiologia e transmissão – Cryptosporidium parvum é um pequeno protozoário
que é transmitido pela rota fecal – oral. Os oocistos eliminados nas fezes são
esporulados e, por isso, prontamente infectantes. O período médio de incubação é
de , 4 dias.
Achados clínicos e lesões – Bezerros de 1 a 3 semanas de idade parecem ser
os mais suscetíveis. Os sinais – anorexia, perda de peso, diarréia e tenesmo –
assemelham-se aos causados por vários outros patógenos entéricos; entretanto,
ocorrem casos assintomáticos. A criptosporidiose não complicada é raramente fatal.
Embora a C. parvum possa infectar virtualmente todo o trato intestinal, o intestino
delgado distal é em geral o mais severamente afetado. A infecção em cavalos é
limitada ao intestino delgado. As lesões macroscópicas podem consistir em hipere-
mia da mucosa intestinal e conteúdo intestinal amarelado. Microscopicamente, a
atrofia dos vilos, discreta a severa, com microrganismos esféricos nas orlas em
escova, é evidente.
Diagnóstico – Os microrganismos podem ser detectados em raspagens da
mucosa do intestino fresco ou por flotação das fezes em soluções de sacarose ou
sulfato de zinco. Devido ao seu pequeno tamanho e transparência, os oocistos
passam facilmente despercebidos. Eles devem ser pesquisados com objetivas de
grande aumento, preferencialmente em iluminação de contraste de fase. Os
oocistos de C. parvum medem , 5µm de diâmetro. Eles devem ser distinguidos
dos oocistos de C. muris (, 6 × 7µm), que infecta o abomaso de bezerros e é
considerada tanto não patogênica quanto responsável pela diarréia leve. Os
esfregaços fecais podem ser fixados com calor e corados por técnica de ácido
resistente. Os oocistos de Cryptosporidium coram-se em vermelho, enquanto as
leveduras, que têm tamanho e forma aproximados aos dos oocistos, ficarão azuis
ou verdes. Os oocistos não são eliminados continuamente, então, amostragens
repetidas podem ser necessárias para encontrá-los. Os bezerros geralmente
eliminam os oocistos por um período máximo de 2 semanas.
Tratamento e controle – Não existe tratamento efetivo específico; entretanto,
uma vez que a doença é autolimitante, apenas uma terapia de suporte, tal como
reidratação, é geralmente suficiente. Os oocistos podem ser mortos no ambiente
com solução de amônia a 5%. Já que a C. parvum possui uma ampla faixa de
hospedeiros, a infecção de outras espécies animais no local deve ser considerada.
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Digestivo 130
Dentes
Número anormal de dentes – Na maioria das espécies, é raro encontrar-se
redução do número de dentes, embora em cães, os molares e os pré-molares
possam não se desenvolver ou nascer. Dentes supranumerários são encontrados
ocasionalmente nas regiões incisiva ou molar dos cavalos; em cães, são geralmente
unilaterais e mais freqüentes na mandíbula superior. Geralmente, eles só são
removidos se causam interferência mecânica na mastigação ou, em cavalos, se são
irritados por um freio. Em cavalos, podem requerer raspagem ou desgaste periódi-
cos para impedir danos aos tecidos moles circunvizinhos.
Irregularidades do desenvolvimento ou da muda dos dentes – A erupção dos
dentes decíduos pode causar problemas transitórios. Algumas vezes, os dentes
decíduos se desprendem prematuramente, deixando uma depressão na gengiva,
circundada por uma margem inflamada que pode causar perda temporária de
condição, por desconforto ao comer. No caso dos dentes pré-molares, a raiz do
dente decíduo pode ser absorvida, porém a coroa pode persistir como uma
cobertura ou “cúpula” para a erupção do dente permanente; estas “cúpulas” são
facilmente removidas por fórceps, caso não se separem espontaneamente. A muda
retardada do dente canino decíduo em cães, é comum.
Anormalidades na posição e direção de determinados dentes – Em cavalos,
esta condição pode ser encontrada na região incisiva. Alguns dentes podem sofrer
rotação em torno de seu eixo maior, ou sobrepor-se aos dentes adjacentes. Em
cães, o terceiro pré-molar superior é o primeiro a sofrer rotação, em raças de focinho
curto. Posteriormente, todos os pré-molares superiores poderão sofrer rotação; os
molares são raramente afetados.
Aposição imperfeita dos dentes – O prognatismo ocorre quando a maxila se
sobrepõe à mandíbula, resultando em aposição imperfeita dos dentes incisivos
superiores e inferiores. O agnatismo (queixo proeminente, mandíbula de buldogue)
é a condição oposta. Se em um potro, qualquer uma das condições for muito
pronunciada, a amamentação é impossível. O tratamento, quando realizável, em
qualquer um dos casos, consiste no desgaste ou aparação dos pontos e projeções
dos dentes não apostos. Deve-se lembrar que as arcadas molares podem conter
projeções anteriores e posteriores, sem caracterizar o prognatismo ou agnatismo.
Ambas as condições ocorrem freqüentemente em cães. Em certas raças (por
exemplo, buldogues, bóxers), a agnatia é uma característica da raça; em outras,
qualquer uma das condições pode resultar em desqualificação em exposições. Já
que estes defeitos podem ter uma base genética, os proprietários devem ser
avisados das implicações da correção cirúrgica que está para ser realizada.
Dentes ectópicos – O melhor exemplo é o cisto dentígero, também denominado
odontoma temporal, por ser freqüentemente localizado no processo mastóideo e
reconhecido por um corrimento contínuo a partir do seio maxilar, ao longo das
bordas do pavilhão auricular. O único tratamento é a remoção cirúrgica da massa
teratomatosa de tecido dentário e da membrana secretória associada.
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Digestivo 132
Dilatação do esôfago
A dilatação esofágica, um aumento generalizado ou regional no calibre do
esôfago, pode ser seguida de retenção alimentar (ver também pág. 208). Pode
resultar de: 1. constrição por fitas de tecido originadas do arco aórtico direito
persistente ou do ligamento arterioso, associada a aorta, artéria pulmonar e base do
coração; 2. paralisia congênita do esôfago torácico ou paralisia similar, em cães
velhos, considerada uma disfunção neuromuscular a partir de toxinas exógenas ou
metabólicas; 3. acalasia, na qual o esôfago terminal não se dilata quando o alimento
aproxima-se da cárdia como resultado de degeneração do plexo neural ou de
espasmos da cárdia. A dilatação secundária do esôfago cervical geralmente se
segue à dilatação esofágica torácica, a menos que sua causa seja removida.
Hérnias abdominais
É uma protrusão dos conteúdos abdominais para a subcútis, através de uma
abertura natural ou anormal na parede corporal. A protrusão através do diafragma
é denominada hérnia diafragmática (ver pág. 862). A herniação como resultado de
um trauma severo que leva ao rompimento da aponeurose abdominal é, freqüente-
mente, denominada de ruptura. Os melhores exemplos de hérnias não traumáticas
são as hérnias umbilical e inguinal ou escrotal, sendo a última meramente uma
extensão da hérnia inguinal.
Em bovinos, a conveniência da correção cirúrgica de uma hérnia umbilical é
discutível. Alguns casos são hereditários, outros possivelmente causados por
tração excessiva de um feto muito grande e corte do cordão umbilical muito próximo
à parede abdominal.
Nas hérnias escrotal ou inguinal, em todas as espécies, a correção cirúrgica
envolve quase que invariavelmente a castração simultânea. A hérnia perineal é
encontrada principalmente em cães adultos e difere dos outros tipos de hérnias
abdominais pelo revestimento peritoneal do saco hernial que está ausente ou é fino
e degenerado. Embora muitos fatores possam ser citados, a causa real da hérnia
perineal é desconhecida. A hérnia femoral (crural) é rara em animais domésticos,
especialmente nos grandes animais.
São reconhecidos 2 tipos de hérnias: redutível e irredutível. O tipo redutível é
caracterizado por um inchaço compressível, elástico, macio, indolor e não inflama-
tório, que pode variar de tamanho de tempos em tempos. O inchaço pode desapa-
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Digestivo 133
Atresia
Nos cavalos a atresia segmental do cólon, que suspeita-se ser um defeito
genético, é rara. Nas vacas, uma pressão no eixo longitudinal do feto em desenvol-
vimento, durante o exame retal de prenhez entre os dias 37 e 41 pode causar a
atresia do cólon. No entanto, no gado holstein parece também haver um padrão
genético, possivelmente um gene autossômico recessivo, responsável por este
defeito. Os bezerros com atresia do cólon eliminam pouco ou nenhum mecônio e
desenvolvem cólica logo após o nascimento.
A aganglionose ileocolônica foi relatada em potros brancos descendentes de
pai e mãe overo. Apesar de os potros parecerem normais ao nascer, logo desenvol-
vem cólica e morrem no segundo dia. Os potros afetados são brancos e possuem
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Digestivo 134
íris azuis. O diagnóstico pode ser confirmado pela falta de gânglios no cólon. Os
defeitos congênitos do reto e ânus geralmente resultam de parada no desenvolvi-
mento embrionário. A atresia anal ocorre quando a membrana dorsal que separa o
reto do ânus não se rompe. Os sintomas clínicos presentes no nascimento incluem
tenesmo, dor e distensão abdominais, retenção das fezes e ausência de abertura
anal. A remoção cirúrgica da membrana é indicada.
Aplasia segmentar (agenesia retal) ocorre quando o reto termina em um fundo
cego, antes de alcançar o ânus. A correção cirúrgica é difícil porque a localização
da parte terminal varia e podem ocorrer danos iatrogênicos aos nervos da área.
Fístula retovaginal
A fístula retovaginal é um trato fistuloso que liga a vagina ao reto; geralmente ocorre
em conjunção com o ânus imperfurado. A passagem das fezes através da vulva ou
sinais de obstrução colônica sugerem sua ocorrência. O diagnóstico pode ser
confirmado por enema de bário, que define a extensão do defeito no interior da vagina.
A identificação da fístula, sua correção cirúrgica e o restabelecimento das estruturas
anatômicas normais são imperativos. O prognóstico geralmente é reservado. Fre-
qüentemente são vistas complicações, tais como incontinências fecal e urinária.
ODONTOLOGIA
DESENVOLVIMENTO DENTÁRIO
A estimativa da idade de um animal pode ser auxiliada pelos tempos de erupção
e aparência dos dentes. O desenvolvimento dentário está sujeito a variações, o que
torna a determinação da idade apenas aproximada. Nos cavalos e bezerros jovens,
os momentos de erupção são critérios valiosos. As fórmulas dentárias decíduas e
permanentes, além do formato e desgaste dos dentes incisivos, também são úteis
na estimativa da idade. Os dentes são designados como incisivos (I), caninos (C),
pré-molares (P) e molares (M); os dentes decíduos são designados Di, Dc e Dp.
3 1 3 3 1 4 3
Porco 2 (Di Dc Dp ) = 28 2 (I C P M ) = 44
3 1 3 3 1 4 3
3 1 3 3 1 4 2
Cão 2 (Di Dc Dp ) = 28 2 (I C P M ) = 42
3 1 3 3 1 4 3
3 1 3 3 1 3 1
Gato 2 (Di Dc Dp ) = 26 2(I C P M ) = 30
3 1 2 3 1 2 1
ODONTOLOGIA, GR AN
Das espécies domésticas de grandes animais comuns, a eqüina é a que
apresenta a maior parte dos problemas dentários. Em muitas cocheiras e hipódro-
mos, a profilaxia dentária de rotina dos cavalos é realizada por leigos. Na suinocultura
industrial, a remoção ou amputação dos dentes caninos decíduos dos leitões e a
amputação das presas dos cachaços reprodutores podem ser parte do manejo
rotineiro. As espécies exóticas também podem apresentar vários problemas dentá-
rios e de mandíbulas, por exemplo, presas impactadas em elefantes jovens, ou
periostite dentária maxilar e actinomicose em cangurus.
A maioria dos grandes animais é herbívora. Uma função dentária eficiente é a
chave para uma boa ingestão de alimentos e manutenção da condição física normal.
Os dentes dos herbívoros evoluíram de modo a compensar as forças que resultam
de um atrito dentário provocado por um pastejo quase contínuo (nos cavalos) ou
ruminação. As forças de desgaste foram equiparadas pelo desenvolvimento do
dente hipsodonte (coroa alta) com erupção contínua de coroa reserva. As arcadas
dentárias (6 dentes faciais nos eqüinos) possuem serrilhas regulares que expõem
as bordas agudas do esmalte para rasgar e triturar a celulose. Ao mesmo tempo, a
natureza quebradiça do esmalte dos dentes é protegida das forças do trabalho
dentário pela dentina e cemento.
Sintomas de doença dentária – Problemas dentários (por exemplo, dentes
quebrados, arcadas dentárias irregulares) são uma causa de base comum de
mau aspecto, perda de condição física ou desempenho reprodutivo ou de
aleitamento ruim (por exemplo, doença da boca quebrada nos ovinos), assim
como de qualquer das queixas seguintes. Os sintomas clássicos de problemas
dentários nos cavalos incluem dificuldade e morosidade na alimentação, e
relutância em beber água gelada. Durante o processo de mastigação, o cavalo
pode parar por alguns momentos e reiniciar a mastigação. Algumas vezes a
cabeça é mantida inclinada para um dos lados, como se o cavalo sentisse dor.
Ocasionalmente, o cavalo pode mascar a comida formando um bolo que deixa
Odontologia 138
retardada ou impactação dos dentes faciais é uma causa comum de osteíte apical
e subseqüente degeneração dentária. Isto afeta particularmente o terceiro dente
facial (quarto pré-molar) tanto na arcada superior como na inferior, sendo uma
seqüela de um grau leve de pouco espaço na arcada dentária. O deslocamento
medial do terceiro dente facial é outra forma de má erupção devida a falta de
espaço.
Irregularidades de desgaste – Com exceção dos suínos, a maioria dos
grandes animais possui um espaço intermandibular que é mais estreito que o
espaço intermaxilar, isto é, anisognático. Nos cavalos, este fato, juntamente com
o movimento naturalmente limitado da mandíbula, resulta no desenvolvimento de
pontas de esmalte nas bordas bucais das arcadas superiores e bordas linguais
nas arcadas inferiores. No gado bovino e ovino, como a articulação temporo-
mandibular permite um movimento lateral maior da mandíbula, estas irregularida-
des não ocorrem. Formas extremas deste problema, no entanto, são também
influenciadas por outras deformidades esqueléticas da face, por exemplo, podem
ocorrer pontas dentárias grandes quando há obliqüidade exagerada das mesas
molares. Isto é comum nos cavalos mais velhos e o tratamento normalmente é
insatisfatório.
As pontas de esmalte são melhor tratadas com uma profilaxia dentária regular
(flutuante) nos cavalos. Isto deve ser realizado duas vezes por ano enquanto a
dentição definitiva está se desenvolvendo; no mesmo momento os “dentes de leite”
que não caíram quando os permanentes surgiram devem ser removidos se
causarem desconforto oral ou ulcerações.
Boca ondulada e boca em escada são irregularidades causadas por desgaste
desigual dos dentes resultante de dor local. Com o tempo, desenvolvem-se doenças
secundárias da gengiva e alvéolo dentário, isto é, periodontite. Estes problemas são
melhor evitados por uma profilaxia dentária de rotina regular.
Periodontite – Em todos os animais, há um certo grau de alteração inflamatória
durante a erupção dos dentes decíduos e permanentes. Se, no entanto, ocorrer a
maloclusão, por qualquer motivo, uma periodontite severa é inevitável. Nos cavalos,
esta é uma seqüela comum de trauma oral, fraturas dentárias, impactações e
principalmente desgaste irregular.
Nos ovinos, a periodontite dos dentes mandibulares rostrais (incisivos) é muitas
vezes chamada de boca quebrada. Algumas vezes a viabilidade de ovinos em
pastejo é afetada drasticamente. Muitos ovinos alimentados no cocho têm uma vida
produtiva que é , 2 anos mais longa que a dos animais em pastejo. Pouco pode ser
feito para alterar o progresso desta doença, apesar de algumas rotinas de manejo
recomendarem profilaxia dentária e restauração da regularidade oclusal dos dentes
incisivos. Isto pode ser feito com a ferramenta de Drummel ou uma grosa de dentes
de lâmina fina.
Degeneração dentária – A infecção pode ser introduzida na cavidade pulpar
dentária por várias rotas. Nos cavalos, a hipoplasia do esmalte dos dentes faciais
superiores pode predispor ao desenvolvimento de cáries, o que leva a uma pulpite
e osteíte apical. Se o dente está rostral ao seio maxilar, desenvolvem-se celulite
local, periostite e periodontite alveolar. Se, no entanto, as raízes e a coroa de
reserva do dente se encontram no interior do seio maxilar, pode ocorrer um
empiema de seio paranasal. As características patológicas dos dentes degene-
rados são inespecíficas; conseqüentemente, a etiologia da infecção apical pode
ser obscura. Muitos casos não são examinados até que a infecção esteja
avançada e as fraturas dentárias podem ser tanto patológicas quanto primárias.
Estes problemas são melhor resolvidos pela extração do dente afetado ou, se a
cirurgia não é economicamente possível, o animal deve ser abatido (por exemplo,
ovinos e bovinos).
Odontologia 140
ODONTOLOGIA, PQ AN
DOENÇA PERIODONTAL
Uma infecção bacteriana do tecido em torno do dente que provoca inflamação da
gengiva, membrana periodontal, cemento e osso alveolar. Por fim, o dente é perdido
devido à degeneração dos tecidos que o suportam. Esta é a maior causa de perda
dentária em cães.
Etiologia – A doença periodontal é provocada por uma grande acumulação de
muitas bactérias diferentes na margem gengival, em parte devida à falta de higiene
oral apropriada. Por um período de semanas, a flora muda de bactérias sem
motilidade, Gram-positivas, coccóides, aeróbicas para bactérias mais móveis,
Gram-negativas, em formato de bastonetes e anaeróbias. A flora importante é
composta por Bacteroides asaccharolyticus, Fusobacterium nucleatum, Actinomyces
viscosus e A. odontolyticus.
Patogenia – Conforme a flora bacteriana local aumenta em massa para 10 a 20
vezes o normal, ocorre a gengivite. A acumulação de produtos do metabolismo
bacteriano aumenta a permeabilidade do epitélio nos desmossomos creviculares
epiteliais e permite que os antígenos façam contato com o tecido conjuntivo. Os
produtos do metabolismo bacteriano incluem sulfeto de hidrogênio, amônia, endo-
toxinas, hialuronidase, sulfatase de condroitina, mucopeptídeos, ácidos lipoteicos,
acetato, butirato, isovalerato e propionato. Estes produtos bacterianos e os meca-
nismos de defesa do hospedeiro provocam necrose tecidual. Os leucócitos polimor-
fonucleares (PMN) migram através do epitélio sulcular e formam uma barreira entre
as bactérias subgengivais e a gengiva. Com o aumento do desafio bacteriano, os
PMN morrem em número crescente liberando produtos de degradação. O sistema
imune produz linfocinas que participam da destruição tecidual, que segue o caminho
do suprimento vascular local. A destruição tecidual acelerada e o reparo inadequado
provocam perda do suporte periodontal. Duas formas de doença periodontal são
reconhecidas: gengivite e periodontite.
Gengivite – Nesta inflamação dos tecidos marginais da gengiva (induzida pela
placa bacteriana e que não afeta o ligamento periodontal ou o osso alveolar), há uma
alteração do rosa-coral da margem gengival para vermelho ou púrpura, aumento de
volume e um exsudato seroso ou purulento no sulco. A gengiva tende a sangrar ao
contato. O hálito fétido é comum. A gengivite é reversível com uma limpeza
apropriada dos dentes, mas se não tratada, pode levar a periodontite.
Periodontite – Um processo inflamatório destrutivo do periodonto induzido e
conduzido pela placa bacteriana que contém bactérias específicas para destruição
da gengiva, ligamento periodontal, osso alveolar e cemento da raiz. Isto normalmen-
te ocorre após anos de placa, cálculo e gengivite, resultando em perda permanente
do suporte dentário. Não é reversível. Há migração apical da ligação epitelial e
reabsorção do osso alveolar de suporte. Os dentes afetados podem mostrar
mobilidade crescente, gengivite concorrente e cálculos subgengivais.
A periodontite é normalmente caracterizada pela hiperplasia da margem
gengival nos cães e recesso do ligamento gengival nos animais de colônia. Os
animais de estimação também demonstram esta tendência; no entanto, a forma-
ção de bolsas infra-ósseas (áreas profundas e isoladas de perda óssea) é mais
comum em animais de estimação do que nos criados em colônias. Os cães
alimentados com dieta sólida apresentam menos problemas devido à ação
mecânica de limpeza da comida. Os dentes caudais apresentam mais problemas
que os rostrais. O maxilar é afetado com mais gravidade que a mandíbula, e as
superfícies bucais possuem mais doenças que as superfícies linguais. A gengivite
freqüentemente torna-se séria , aos 2 anos de idade e, se tratada, resolve-se.
Odontologia 141
HIPERPLASIA GENGIVAL
(Fibromatose gengival, Epúlide fibromatosa, Epúlide)
Ver também página 156.
A hiperplasia gengival é um supercrescimento benigno dos tecidos epitelial e
conjuntivo das gengivas, geralmente originado na região da gengiva marginal. O
tecido é relativamente insensível e resistente, com a densidade do tecido conjuntivo
fibroso. Os crescimentos geralmente possuem uma ampla base de fixação, são da
cor da gengiva normal ou mais pálidos, e podem crescer o suficiente para encobrir
completamente as superfícies de vários dentes. A predisposição a estes tumores
pode existir em raças braquicefálicas, nas quais a afecção é denominada hipertro-
fia gengival familial.
Epúlide é um termo usado para se referir à epúlide de células gigantes ou tumores
da gengiva do cão. Este tumor está geralmente localizado em um único dente. A biópsia
é encorajada para se estabelecer o diagnóstico, tratamento e prognóstico apropriados.
A hiperplasia gengival é mais comum em cães velhos que se apresentam
geralmente assintomáticos. Pêlos, alimentos e resíduos podem ficar retidos entre o
tumor e os dentes, causando irritação e halitose.
A gengivectomia por técnicas eletrocirúrgicas é o tratamento mais satisfatório. A
boca deve ser lavada com solução de cloreto de benzalcônio a 1:1.000 ou
clorexidina a 0,2% diariamente, após a cirurgia, até que haja completa recuperação
clínica (, 2 semanas).
Odontologia 142
DOENÇA ENDODÔNTICA
Hiperemia pulpar – A polpa pode sofrer uma inflamação aguda devido a traumas
ou lesões extensas próximas à mesma (por exemplo, cáries e reabsorção). Como
esta estrutura está totalmente confinada na dentina, o aumento de volume causado
pela inflamação pode resultar em necrose por pressão se a lesão for prolongada. A
gravidade da reação parece ser diretamente proporcional à extensão da lesão.
Portanto, pequenas lesões que provocam hiperemia transitória da polpa podem
resolver-se, restabelecendo-se a polpa saudável.
Os métodos para resolver uma hiperemia aguda da polpa são sedativos por
natureza. A limpeza das cáries e colocação de eugenol óxido de zinco nas reabsorções
e áreas onde localizavam-se as cáries permitem anestesia local e resolução da
hiperemia. Pode ser necessário um período de espera de várias semanas para
estabelecer-se, por radiografia, que o problema não resultou em pulpite.
Pulpite – É uma inflamação irreversível da polpa, com necrose de pressão e
abscedação. Em geral, a cavidade do abscesso é estéril, a não ser que o dente tenha
sido aberto para o ambiente oral por trauma, reabsorção ou cárie. O dente com
pulpite muitas vezes apresenta dor aguda e o animal ressente a manipulação ou
percussão do dente. Estes dentes muitas vezes assumem uma coloração marrom-
avermelhada ou cinza escuro, conforme o sangue é forçado para o interior dos
túbulos de dentina pela morte da polpa e aumento da pressão gasosa na cavidade
pulpar. O tratamento consiste em uma terapia endodôntica e restauração da
estrutura dentária; como alternativa, os dentes que não forem vitais para a oclusão
ou função da dentição, podem ser extraídos.
Lesões periapicais – Um abscesso periapical é uma lesão cavitária na extremi-
dade da raiz provocada por inflamação da polpa. Estas áreas geralmente podem ser
observadas nas radiografias como regiões circulares radiolucentes em torno da
extremidade da raiz. Estes abscessos podem, algumas vezes, ser palpados nas
proeminências ósseas das extremidades das raízes. Os abscessos podem se
estender, por drenagem sob pressão, para o osso adjacente e áreas de tecidos
moles, e sair extra-oralmente espaço de tecidos moles entre as mandíbulas, sob o
olho, ou no vestíbulo bucal. O tratamento consiste em terapia endodôntica (canal da
raiz) no dente associado, sendo que o abscesso e a fístula associada resolvem-se
em algumas semanas. Quando a terapia endodôntica não pode ser realizada, o
dente afetado deve ser extraído.
Os granulomas periapicais possuem uma aparência radiográfica e clinicamente
semelhante aos abscessos periapicais, mas significam uma duração maior do
comprometimento. Estes granulomas geralmente não são infectados e não pos-
suem fístulas associadas. Eles representam uma tentativa incompleta de reparo. O
tratamento envolve endodontia do dente afetado ou extração do mesmo, se a
endodontia não for possível.
CÁRIES DENTÁRIAS
A degeneração dentária é incomum em cães e gatos, possivelmente devido às
diferenças na flora oral e dietas basicamente livres de carboidratos prontamente
fermentáveis. Além disto, o pH ligeiramente ácido da saliva canina torna a boca mais
resistente. Nos cães, as cáries geralmente são observadas sob a forma de
depressões nas superfícies planas do cólon dos dentes molares.
mente, estes dentes podem parecer normais. Os gatos afetados podem hipersalivar
um muco viscoso e hesitar em beber ou mastigar. O diagnóstico precoce é facilitado
passando-se uma sonda fina ao longo do dente sob a gengiva (sob anestesia)
durante a profilaxia dentária anual. Os dentes afetados devem ser restaurados ou
extraídos. Os dentes que apresentam reabsorção na polpa devem receber trata-
mento endodôntico antes da obturação. Estes dentes sem limite apical palpável na
cavidade devem sempre ser radiografados para assegurar-se de que a raiz não foi
gravemente reabsorvida. Se foi, é indicada a extração. As lesões no “cólon” são
comuns em gatos com gengivite persistente apesar das limpezas. Estes gatos
geralmente apresentam estomatites/faringites generalizadas, devendo-se conside-
rar a possibilidade de doença sistêmica. Falhas nos mecanismos normais de defesa
devidas a infecções virais persistentes (por exemplo, vírus da leucemia felina, vírus
da imunodeficiência felina, coronavírus), imunoincompetência hereditária, ou doen-
ça sistêmica debilitante podem explicar as gengivites ou estomatites extraordina-
riamente graves. Extrações de todos os dentes podem ser necessárias em gatos
anoréticos que não respondem à profilaxia repetida.
ANORMALIDADES DE DESENVOLVIMENTO
Maloclusão – A relação inadequada entre os dentes pode resultar de uma
mordida inapropriada devida ao posicionamento inadequado dos dentes na mandí-
bula. Isto ocorre freqüentemente quando os dentes decíduos são mantidos e os
dentes permanentes nascem adjacentes a eles, em vez de diretamente sob os
mesmos; as raízes dos “dentes-de-leite” não são reabsorvidas, levando os dentes
permanentes a assumir uma posição anormal. Outros tipos de maloclusão dentária
estão relacionados a uma proporção inadequada entre o tamanho dos dentes e o
tamanho da mandíbula; isto é, a mandíbula pode ser muito pequena para o tamanho
dos dentes que se desenvolvem nela, o que causa aglomeração e maloclusão
subseqüente. A maloclusão pode ser tratada por extração precoce dos dentes
decíduos retidos, extração seletiva dos dentes permanentes, ou ortodontia. Desta
forma é possível obter uma mordida funcional. As maloclusões esqueléticas
resultam de uma relação anormal entre as arcadas superior e inferior, apesar de
os dentes estarem bem alinhados nas mandíbulas. O tratamento é bem mais
difícil e deve-se tentar antes obter uma mordida funcional, do que uma oclusão
perfeita. Extrações seletivas, ortodontia e, nos casos graves, cirurgia ortognática
podem ser necessárias.
Hipoplasia do esmalte e manchas intrínsecas – Durante o desenvolvimento
do esmalte, febres e deposição de elementos químicos no interior do dente podem
causar dano permanente. Não é necessário tratamento quando a coroa do dente
possui uma integridade estrutural normal. Se o esmalte estiver esburacado e
irregular, podem ser necessárias obturações e coroas para evitar a retenção de
resíduos. A utilização de tetraciclina durante a formação do esmalte dos dentes
permanentes deve ser evitada quando possível.
TRAUMA MAXILOFACIAL
Os dentes fraturados devem ser observados quanto ao dano à polpa. Se as
fraturas estendem-se para a polpa, é necessária a terapia endodôntica, ou a
extração. Fraturas no comprimento que estendem-se até abaixo da margem
gengival podem ser de difícil restauração; se foi perdida uma porção substancial do
dente, o remanescente provavelmente deve ser extraído. Dentes fragmentados,
especialmente os com raízes múltiplas, muitas vezes são deixados para “ver o que
acontece”; a extração geralmente é melhor, devido ao mau resultado em geral. As
técnicas de restauração (coroas, obturações e restaurações compostas) podem
Odontologia 144
PANCREATITE AGUDA
Etiologia – A causa é desconhecida, porém provavelmente envolve etiologia
múltipla. Acredita-se que os fatores nutricionais que contribuem para lesões nas
células acinares pancreáticas incluem obesidade, dietas ricas em gorduras e
hiperlipoproteinemia. As drogas suspeitas de provocar alguns casos de pancreatites
incluem os tiazídeos, furosemida, azatioprina, sulfonamidas, tetraciclina e corticos-
teróides. A manipulação cirúrgica, trauma abdominal grosseiro, doença do trato
biliar, oclusão dos dutos pancreáticos ou biliares e refluxo duodenal foram implica-
dos. Toxoplasmose, peritonite infecciosa felina e panleucopenia foram associadas
à pancreatite felina.
Fisiopatologia – Independentemente do insulto inicial, a isquemia pancreática
é central na patogenia da pancreatite. A gravidade da isquemia determina se uma
inflamação pancreática leve evoluirá para uma pancreatite grave, hemorrágica, com
risco de vida. A lesão às células acinares resulta na ativação e liberação de enzimas
digestivas no interior do interstício pancreático e tecidos circundantes. Ocorrem
autodigestão pancreática, com dano as células endoteliais, edema, isquemia,
hemorragia e necrose. A ativação subseqüente do complemento, aminas vasoativas,
coagulação e fibrinólise amplificam o dano pancreático e o envolvimento de vários
sistemas.
Doenças Exócrinas do Pâncreas 145
NEOPLASIAS PANCREÁTICAS
Os adenocarcinomas acinares ou do epitélio do duto pancreático podem ser
difíceis de diagnosticar. Eles ocorrem em cães mais velhos (média de 10,8 anos) e
são raros em gatos. São altamente malignos e muitas vezes apresentam metásta-
ses muito disseminadas, particularmente no fígado. Os sintomas clínicos são
inespecíficos, podendo incluir perda de peso, anorexia, depressão, vômitos e
icterícia. Dor abdominal e, ocasionalmente, uma massa abdominal anterior são
detectadas. Não existem testes laboratoriais específicos. A atividade plasmática da
lipase e amilase pode estar aumentada. Aumentos acentuados da fosfatase alcalina
e bilirrubina com um aumento menor da ALT (SGPT) são sugestivos de hepatopatia
obstrutiva. O diagnóstico definitivo é feito por laparotomia. O prognóstico é ruim pois
normalmente houve metástase no momento do diagnóstico.
Os tumores funcionais das células das ilhotas do pâncreas são discutidos na
página 325.
DOENÇAS DA BOCA, GR AN
FENDA PALATINA
Esta condição é encontrada ocasionalmente no recém-nascido de todas as
espécies (ver ANOMALIAS CONGÊNITAS, pág. 130).
PALATITE
É uma inflamação transitória do revestimento mucoso do palato duro. A palatite
não é uma doença característica, mas pode ocorrer em cavalos jovens, durante a
erupção dos incisivos permanentes, ou em cavalos de qualquer idade, como
resultado de uma estomatite. A inflamação é autolimitante e não necessita de
tratamento.
Doenças da Boca, Gr An 148
PARALISIA DA LÍNGUA
(Glossoplegia)
É uma perda parcial ou completa da função da língua que pode ser de origem
periférica ou central. A manipulação brusca e tração excessiva da língua durante o
exame dentário pode ser uma causa do tipo periférico. Animais recém-nascidos
podem exibir paralisia da língua após o uso de uma alça obstétrica colocada sobre
a mandíbula e a língua, ou de edema da língua durante distocias quando a cabeça
do feto é comprimida na vagina da mãe. A laceração da língua por vidro quebrado
ou outros objetos contundentes na manjedoura de alimentação, bem como vários
procedimentos cirúrgicos realizados na língua para impedir a auto-sucção, também
causam paralisia da língua. A glossoplegia de origem central pode acompanhar ou
seguir condições, como garrotilho, infecção respiratória superior, meningite, botulismo,
encefalomielite, leucoencefalomalacia ou abscessos cerebrais no cavalo. A língua
afetada unilateralmente está desviada em direção ao lado não afetado; a língua
afetada bilateralmente fica flácida e com freqüência projeta-se através das mandí-
bulas relaxadas. Em casos leves, de origem periférica ou central, a fraqueza
muscular da língua é mais evidente.
A causa mais comum em bovinos é a actinobacilose (ver pág. 382). A paralisia
completa da língua pode estar acompanhada por graus variados de necrose da
ponta, uma condição que tem sido observada em forma de surtos em confinamentos,
possivelmente como resultado de uma infecção viral ou fúngica.
A identificação e remoção da causa ou transferência dos animais para ambientes
livres dos agentes causadores são os procedimentos iniciais de tratamento. Quando
uma doença específica, como o garrotilho ou a actinobacilose, é identificada, o
tratamento específico é indicado. Um acompanhamento cuidadoso, juntamente com
o fornecimento de alimentos bem conservados e livres de toxinas, bem como
suprimento adequado de água potável auxiliarão casos nos quais a recuperação
espontânea é esperada. A paralisia aparente da língua devida a um edema normal-
mente responde à massagem cuidadosa em um curto período. Neonatos imaturos ou
com síndrome do mau ajustamento neonatal (ver pág. 738) podem apresentar
paralisia parcial da língua, geralmente recuperando a função se sobreviverem.
Quando a condição persistir por > 6 semanas, a probabilidade de recuperar a
função normal é pequena.
ESTOMATITE
Existem muitas doenças específicas, nas quais a estomatite é um sinal proemi-
nente. Esta discussão é sobre a inflamação não específica da mucosa da cavidade
Doenças da Boca, Gr An 149
oral, causada por traumas ou irritantes químicos. As causas mais comuns de lesão
traumática são as películas da cevada, capim-rabo-de-raposa, capim-barba-de-
bode, capins lanciformes e alimentos ou plantas infectadas por lagartas pilosas. A
estomatite química origina-se mais comumente do contato oral com as drogas
irritantes, tais como a cantaridina. O consumo de plantas da família das ranunculas
que contêm ranunculina (botão-de-ouro, croco, pulsatila, primavera) ou medicação
prolongada com mercuriais, arsenicais ou iodetos podem ocasionar estomatite.
O primeiro sinal clínico é sialorréia ou, no caso de espículas de plantas, relutância
na permissão para o exame manual da boca. Os animais freqüentemente exibem
evidência de irritação da boca, por exemplo, permanecem com a boca aberta e a
língua pendente ou mastigam com a cabeça virada para o lado. Desenvolvem logo
dificuldade em comer. O exame da cavidade oral e da língua revela áreas locais ou
disseminadas de inflamação aguda; a língua e a mucosa bucal podem ser ulcera-
das. Na estomatite quimicamente induzida, a mucosa bucal pode estar edematosa
e coberta com exsudato catarral. Geralmente, o hálito tem um odor pútrido ou
adocicado. Os linfonodos regionais podem estar aumentados. A actinobacilose
(língua-de-pau), febre aftosa, febre catarral maligna e diarréia viral bovina devem ser
consideradas para o diagnóstico diferencial em bovinos. Doenças epidêmicas, tais
como, língua azul em ruminantes e doença vesicular dos suínos, devem ser levadas
em consideração.
A maioria dos animais recupera-se rápida e tranqüilamente quando a causa é
removida. Tratamento adicional é necessário apenas em casos severos. Se existe
uma inflamação marcada, é aconselhável um tratamento com antibióticos de amplo
espectro. Anti-sépticos suaves, tais como uma solução a 0,5% de peróxido de
hidrogênio, 5% de bicarbonato de sódio ou 1 a 3% de clorato de potássio, usados
para lavagem bucal, podem apressar a recuperação.
Estomatite “micótica”
A estomatite “micótica” dos bovinos era tida anteriormente como uma doença
causada por reação alérgica a fungos e micotoxinas que infectavam as pastagens
ao final do verão e no outono. Testes sorológicos e de isolamento do vírus provaram
que a condição é causada pelo vírus da língua azul (ver pág. 471). A estomatite
vesicular (ver pág. 450) produz uma síndrome semelhante em eqüinos, bovinos,
ovinos e suínos.
Estomatite papular
É uma doença viral suave de bovinos de 1 mês a 2 anos de idade; até 100%
de um rebanho suscetível pode tornar-se afetado. As lesões ocorrem no focinho,
no interior das narinas e na mucosa bucal e consistem de pápulas lisas e
avermelhadas (0,5 a 1cm de diâmetro) que parecem ser ativas por , 1 semana
e, então, regridem. A evidência da cura da lesão pode estar presente por várias
semanas. Não há distúrbios sistêmicos; a doença é importante, principalmente
devido à confusão que pode causar no diagnóstico clínico das várias formas de
estomatite dos bovinos.
DOENÇAS DA BOCA, PQ AN
QUEILITE E DERMATITE DAS PREGAS LABIAIS
É uma inflamação aguda ou crônica dos lábios e pregas labiais.
Etiologia – Feridas, variáveis em severidade, são as lesões labiais mais comuns
nos pequenos animais, resultado de lutas ou mastigação de objetos cortantes.
Espinhos, espículas, carrapichos e espinhas de peixe podem incrustar-se nos lábios
e causar irritação acentuada, ou feridas severas. Irritantes, tais como material
plástico ou plantas podem produzir inflamação dos lábios.
As infecções nos lábios podem ser secundárias a feridas ou corpos estranhos,
ou associadas à inflamação de áreas adjacentes. A extensão direta de uma doença
periodontal severa ou estomatite pode produzir queilite. A lambedura de áreas com
dermatite bacteriana ou de feridas infectadas pode disseminar a infecção para os
lábios e pregas labiais. A inflamação dos lábios também pode ser associada a
infecções parasíticas, doenças cutâneas auto-imunes e neoplasia.
A dermatite das pregas labiais é uma dermatite úmida crônica observada em
raças que possuem lábios superiores pendulares e pregas labiais inferiores (por
exemplo, spaniels, buldogues ingleses e são-bernardos) que acumulam alimentos
e saliva.
Achados clínicos e diagnóstico – Animais com queilite podem coçar ou
esfregar seus lábios, possuem hálito fétido e, ocasionalmente, salivam em excesso
ou têm anorexia. Com a infecção crônica das margens ou pregas labiais, o pêlo ao
redor destas áreas fica descolorido, úmido e aglutinado por exsudato de odor fétido,
espesso, amarelado ou marrom, e recobre a pele hiperêmica, algumas vezes
ulcerada. O animal pode dar patadas em sua boca e salivar excessivamente.
A queilite devida à extensão da infecção da boca ou outra área do corpo em geral
é detectada facilmente por causa da lesão primária.
Tratamento – A queilite normalmente é eliminada com uma limpeza mínima e
antibióticos apropriados se houver infecção bacteriana. As feridas nos lábios devem
Doenças da Boca, Pq An 151
GLOSSITE
É uma inflamação crônica ou aguda da língua devida a agentes infecciosos,
físicos ou químicos; doença metabólica; ou outras causas. As causas locais incluem
irritação por excesso de tártaro e doença periodontal, corpos estranhos (penetran-
tes ou presos sob a língua), ferimentos traumáticos, queimaduras e picadas de
insetos. A glossite é um problema especialmente em cães de pêlo longo que tentam
remover carrapichos de sua pelagem.
Salivação excessiva e relutância em comer são sinais comuns, porém a causa
pode não ser descoberta, a menos que a boca seja examinada detalhadamente. A
periodontite pode causar avermelhamento, inchaço e ocasionalmente, ulceração
das bordas da língua. Uma linha, cordão ou elástico amarrado à lingua pode não
causar uma inflamação em seu dorso, porém a superfície ventral fica sensível,
apresentando irritação crônica ou aguda que é freqüentemente agravada por corpos
estranhos. Espinho de porco-espinho, de plantas e outros materiais estranhos
podem se tornar tão profundamente embebidos que não podem ser palpáveis. As
picadas de insetos causam um inchaço agudo e extenso da língua.
Em casos crônicos de glossite ulcerativa, há presença de uma exsudação fétida,
espessa e marrom e, ocasionalmente, sangramento. O animal, em geral, resiste a
qualquer tentativa de exame da boca.
Os corpos estranhos e dentes quebrados ou doentes devem ser removidos. A
glossite infecciosa deve ser tratada com um antibiótico sistêmico. Em alguns casos,
o debridamento e as lavagens bucais são benéficos. Podem ser necessária a
curetagem lingual se houver material estranho alojado na língua. Podem ser
necessários uma dieta leve e líquidos parenterais. Se o animal está debilitado e
incapaz de alimentar-se por um período prolongado, deve ser considerada a
necessidade de uma sonda inserida por faringostomia ou gastrostomia. A glossite
aguda devida a picadas de insetos pode exigir tratamento de emergência.
Se a glossite é secundária a uma outra condição, a doença primária deve ser
tratada. Os tecidos da língua cicatrizam-se rapidamente após a eliminação da
irritação e infecção.
Q UEIMADURAS DA BOCA
Queimaduras envolvendo a boca são comuns. A língua, lábios, mucosa bucal e
palato são freqüentemente envolvidos com queimaduras elétricas. As lesões podem
ser leves, com desconforto apenas temporário, ou pode ser muito destrutiva com
perda tecidual, formação de cicatriz e subseqüente deformidade a defeitos teci-
duais. A causa mais comum em filhotes de cães é a mastigação de fios elétricos (ver
QUEIMADURAS, pág. 763 e CHOQUE ELÉTRICO, pág. 760).
O proprietário pode ter observado o incidente, fornecendo, assim, um histórico.
O animal hesita em comer ou beber, saliva excessivamente, e ressente-se com o
manuseio de sua boca ou face. Se a destruição tecidual for acentuada, estomatite
gangrenosa ou ulcerativa podem desenvolver-se, com infecções bacterianas se-
cundárias. Se o contato com um composto químico corrosivo for observado e se este
for alcalino, a boca deve ser lavada com soluções leves de vinagre ou suco cítrico.
Se o químico for ácido, pode ser usada uma solução de bicarbonato de sódio.
Lavagens abundantes da boca com água podem auxiliar a remoção de certas
substâncias químicas. Mais comumente, o animal é apresentado muito tempo após
a exposição para a neutralização ser eficiente.
Animais que apresentam uma mucosa oral avermelhada, sem defeitos teciduais,
não requerem tratamentos específicos, além de uma dieta macia ou líquida até que
a lesão tenha cicatrizado. Se o dano tecidual é grave, lavagens freqüentes com
solução salina isotônica mantêm as áreas queimadas livres de restos necróticos e
Doenças da Boca, Pq An 153
ESTOMATITE
É uma inflamação da mucosa oral, que pode ser uma doença primária ou
secundária a uma doença sistêmica. A inflamação pode ser localizada, por exemplo,
gengivite, ou difusa. A natureza e severidade das lesões variam grandemente,
dependendo da etiologia e duração da doença.
Etiologia – Pode ser causada por agentes químicos; neoplasia; deficiência
metabólica, auto-imune ou doenças infecciosas; doença periodontal; trauma; quei-
maduras; ou radioterapia. Estomatite idiopática é o diagnóstico quando não é
possível determinar a causa. Os agentes infecciosos que foram associados à
estomatite, gengivite e ulcerações orais são herpesvírus felino, calicivírus felino,
vírus da leucemia felina, vírus da imunodeficiência felina, vírus da cinomose canina,
Leptospira canicola, L. icterohaemorrhagiae, Nocardia sp e Blastomyces dermatitidis.
A estomatite traumática pode ocorrer após exposição a plantas (espículas vegetais)
ou fibra de vidro para isolamento térmico. Dieffenbachia spp podem causar inflama-
ção oral e úlceras se forem mastigadas. O tálio é o principal metal pesado
responsável por lesões orais; a incidência desta intoxicação é baixa. A uremia pode
provocar estomatites e úlceras orais, sendo que as lesões são normalmente mais
graves em uma crise urêmica aguda. Ulcerações orais recorrentes ocorrem em
collies cinza-prata com hematopoiese cíclica (ver pág. 76).
Achados clínicos – Os sinais variam grandemente com a causa e extensão da
inflamação. Anorexia pode ocorrer especialmente em gatos. Halitose e salivação
excessiva são comuns, e a saliva pode estar tingida com sangue. O animal pode dar
patadas em sua boca e ressentir-se a qualquer tentativa de examinar a cavidade oral
devido à dor. Os linfonodos regionais podem estar aumentados e flácidos.
Tratamento – A periodontite deve ser tratada e controlada; se necessário, os
dentes e raízes dentárias remanescentes devem ser extraídos. Podem ser necessá-
rias radiografias da cavidade oral para localização de todas as raízes, especialmente
em gatos. Devem ser administrados antibióticos de largo espectro se houver infecção
bacteriana primária ou secundária. A realização de culturas das lesões e antibiogramas
é indicada em infecções crônicas ou recorrentes. O tratamento sintomático das
estomatites inclui alterações na dieta, antibióticos, debridamento e cauterização. O
debridamento do tecido necrótico pode promover a cura e ser realizado mecanica-
mente com uma esponja de gaze. O peróxido de hidrogênio (3%) auxilia na limpeza
das lesões e pode acelerar a recuperação. Outras soluções para lavagem bucal que
podem ser utilizadas são violeta gentiana a 1%, permanganato de potássio a 2%, ou
clorexidina a 0,2%. As áreas necróticas e ulceradas podem ser cauterizadas quimi-
camente com uma solução de nitrato de prata a 5%. Os gatos com úlceras orais
idiopáticas crônicas e testes de função de tireóide normais ocasionalmente respon-
dem a suplementação com hormônio da tireóide. Os animais incapazes ou que não
desejam alimentar-se devem receber fluidos parenterais ou subcutâneos para
prevenir a desidratação. A colocação de uma sonda por faringostomia ou gastrosto-
mia deve ser considerada em animais debilitados. A alimentação freqüente com
líquidos palatáveis e, posteriormente, alimentos semi-sólidos encoraja a ingestão.
Estomatite micótica
Uma doença de cães e gatos causada por um supercrescimento de Candida
albicans, caracterizada pelo aparecimento de placas cremosas brancas na língua
ou membranas mucosas. O tecido subjacente muitas vezes está vermelho e
Doenças da Boca, Pq An 154
ulcerado. Pode haver pequenas placas em torno de uma placa principal maior.
Acredita-se que a estomatite micótica está associada a outras doenças orais,
antibioticoterapia longa, ou imunossupressão. A periferia das lesões geralmente
está avermelhada. As lesões podem coalescer conforme a doença progride,
ocorrendo lesões semelhantes na orofaringe e outras junções mucocutâneas. O
diagnóstico diferencial inclui estomatite ulcerativa, e doenças de pele auto-imunes
bolhosas. O diagnóstico pode ser confirmado por cultura do microrganismo a partir
das lesões, ou por identificação das hifas de levedura em biópsias coradas com
ácido periódico Schiff.
Qualquer doença de base local ou sistêmica que afete a cavidade bucal deve ser
tratada. Deve ser administrado cetoconazol (10mg/kg, duas vezes ao dia) até que
se resolvam as lesões, após o que a antibioticoterapia deve ser interrompida. Deve
ser mantido um nível adequado de nutrição. O prognóstico é reservado quando as
doenças predisponentes não podem ser tratadas ou controladas adequadamente.
Estomatite ulcerativa
(Gengivite ulcerativa necrosante aguda, Estomatite ulcerativa necrosante,
Estomatite de Vincent, Boca de trincheira)
É uma doença relativamente incomum dos cães caracterizada por gengivite
intensa além de ulceração e necrose da mucosa oral. Foram sugeridos vários
microrganismos como causa primária. Os bacilos fusiformes e espiroquetas, habi-
tantes normais da boca, foram sugeridos como causadores desta doença após
algum fator predisponente diminuir a resistência da mucosa oral. A Bacteroides
melaninogenicus também foi sugerida como agente causal primário.
Doenças da Boca, Pq An 155
EPÚLIDES
Tumores do ligamento periodontal, as epúlides são os tumores orais benignos
mais comuns nos cães (ver também pág. 141). Os gatos raramente apresentam
tumores orais benignos. Os 3 tipos de epúlides são fibromatoso, ossificante e
acantomatoso.
Estes tumores podem ser observados em cães de qualquer idade, mas geral-
mente são encontrados naqueles > 6 anos. Os bóxers e buldogues ingleses podem
estar predispostos. Os tumores podem estar ulcerados e sangrando. Podem ser
encontradas epúlides solitárias ou múltiplas fibromatosas e ossificantes. Ambas são
não invasivas, mas podem tornar-se extensas e envolver os dentes. Uma epúlide
acantomatosa é um tumor mais agressivo com invasão do tecido local e envolvimen-
to ósseo.
A excisão cirúrgica ampla das epúlides fibromatosas e ossificantes é recomen-
dada se elas causam desconforto. Os crescimentos gengivais devem sofrer bióp-
sias para determinar o prognóstico e comportamento do tumor, pois nem todas as
epúlides se comportam do mesmo modo. As epúlides acantomatosas devem ser
excisadas cirurgicamente. Para evitar as recidivas, a excisão cirúrgica deve remover
todo o osso e tecido mole afetados.
Doenças da Boca, Pq An 156
FÍSTULA PERIANAL
É caracterizada por tratos que drenam exsudato crônico, purulento e malcheiroso
nos tecidos perianais. É mais comum em cães pastor alemão e é também observada
no setter e perdigueiro. Cães com > 7 anos de idade possuem maior risco.
Etiologia e patogenia – A causa não é conhecida. A contaminação, dos folículos
pilosos e glândulas da área anal, por material fecal e secreções do saco anal pode
resultar em necrose, ulceração e inflamação crônica da pele e tecidos perianais. Os
animais afetados podem estar predispostos a problemas generalizados de pele. A
probabilidade de contaminação é maior em cães que possuem a base da cauda
ampla; o hipotireoidismo e baixa competência das células T podem contribuir para
o aumento da suscetibilidade. A presença de dobras anais profundas pode causar
retenção de fezes no interior das glândulas retais e desempenha um papel
fundamental nesta doença. Os tratos fistulosos estão revestidos por tecido inflama-
tório crônico e, freqüentemente, estendem-se ao lúmen do reto e ânus. A infecção
pode se espalhar para as estruturas mais profundas, envolvendo o esfíncter anal
externo e, portanto, deve ser tratada prontamente.
Achados clínicos – Em cães, os sinais incluem mudança de atitude, tenesmo,
disquesia, diminuição do apetite, diarréia, letargia e tentativas de morder e lamber
a área anal. Os sinais em gatos são semelhantes aos dos cães, podendo haver
emaranhamento de pêlos e o hábito de permanecerem sentados em caixas de areia.
Tratamento – O tratamento médico não é efetivo. A cirurgia deve ser seguida por
antibióticos e uma dieta baixa em fibras. Pós-operatoriamente, a área anorretal deve
ser limpa pelo menos diariamente. A amputação da cauda em sua base tem sido
defendida como um adjunto a outras terapias. A incontinência fecal, constrição anal
e reincidência podem complicar a recuperação; a probabilidade de que isto ocorra
aumenta com a severidade da doença inicial.
TUMORES PERIANAIS
Ver TUMORES DE GLÂNDULAS HEPATÓIDES, página 1034 e TUMORES DAS GLÂNDULAS
APÓCRINAS DOS SACOS ANAIS, página 1033.
Doenças do Reto e Ânus 158
HÉRNIA PERINEAL
É a protrusão de um saco hernial revestido pelo peritônio lateralmente entre o
músculo elevador do ânus e o esfíncter anal externo ou músculo coccígeo. Cães
machos intactos, de 6 a 8 anos de idade, apresentam uma incidência desproporcio-
nalmente alta e os das raças welsh corgis e boston terriers, bóxers, collies e
pequinês são altamente suscetíveis.
Etiologia e patogenia – Muitos são os fatores desencadeantes, incluindo
predisposição racial, desequilíbrios hormonais, doença prostática, constipa-
ção crônica, e fraqueza do diafragma pélvico devida a esforços crônicos. A maior
incidência entre machos sexualmente intactos é evidência de que influên-
cias hormonais provavelmente desempenhem um papel primário. A hipertro-
fia prostática, atribuída ao desequilíbrio dos hormônios sexuais, está forte-
mente implicada. Estrogênios e androgênios são citados como agentes causa-
dores.
Achados clínicos e diagnóstico – Os sinais comuns incluem flatulência, dor à
defecação e movimentos intestinais irregulares. Tenesmo e inchaço perineal,
devidos ao desvio retal e subseqüente estrangulação, são característicos. A
herniação pode ser bilateral; mas 2⁄3 dos casos são unilaterais e > 80% destes são
observados do lado direito.
A massa é macia, flutuante e pode ser reduzida com os dedos. Um aumento de
volume firme e doloroso significa estrangulação, que comumente contém a bexiga
ou próstata. A determinação dos conteúdos é feita geralmente pelo exame retal.
Mais de 90% das hérnias perineais contêm um desvio retal que deve ser diferenci-
ado de uma saculação retal ou de um falso divertículo retal.
Tratamento – Raramente a hérnia perineal é uma emergência, exceto quando
a estrangulação da bexiga ocorre e o animal não é capaz de urinar. Se não for
possível realizar a cateterização, a urina deve ser removida por cistocentese e por
tentativa de redução da hérnia. A manutenção de um cateter urinário permanente
pode ser necessária para assegurar a desobstrução da uretra e impedir a recorrên-
cia da obstrução.
A correção cirúrgica é sempre indicada e uma castração concomitante é
recomendada para reduzir a recorrência. Se uma saculação retal estiver presente,
deve ser ressecada ou imbricada. O prognóstico deve ser reservado, dada a alta
incidência de recorrência (10 a 46%) e as complicações pós-operatórias, tais como
infecção, fístulas retocutâneas, fístula do saco anal, lesão dos nervos ciático e
pudendo e prolapso retal.
NEOPLASIAS RETAIS
As neoplasias retais malignas normalmente são adenocarcinomas em cães e
linfossarcomas em gatos. Os adenocarcinomas crescem devagar e são infiltrativos.
Pode ocorrer metástase local ou sistêmica antes de o animal apresentar tenesmo,
disquesia, sangue nas fezes ou diarréia. O tratamento de escolha para os adeno-
carcinomas é o cirúrgico, porém pode ser pouco compensador, pois a metástase
geralmente ocorre antes do diagnóstico. Os gatos com linfossarcoma retal são
tratados medicamente com drogas antineoplásicas.
PÓLIPOS RETAIS
Os pólipos retais adenomatosos são uma doença infreqüente, normalmente
benigna, principalmente em pequenos animais. Quanto maior o pólipo, maior o seu
potencial de malignidade. Os sintomas incluem tenesmo, hematoquezia e diarréia.
O pólipo geralmente é palpável pelo reto, sangrando facilmente com ulcerações de
superfície. Periodicamente, o pólipo pode prolapsar através do orifício anal. A
excisão cirúrgica é normalmente seguida de rápida recuperação clínica e longa
sobrevida. Novos pólipos podem ocorrer após a cirurgia. Deve sempre ser realizada
uma biópsia para diagnóstico histopatológico.
PROLAPSO RETAL
É a protrusão de uma ou mais camadas do reto através do ânus devida a tenesmo
persistente e associada com doenças intestinal, anorretal ou urogenital. O prolapso
pode ser classificado como incompleto, no qual apenas a mucosa retal sofre
eversão, ou completo, no qual todas as camadas retais protraem-se.
Etiologia – O prolapso retal é comum em animais jovens, em associação com
diarréia e tenesmo severos. Fatores causais incluem enterite severa, corpos
estranhos retais, lacerações, divertículos ou saculação, neoplasia do reto ou do
cólon distal, urolitíase, obstrução uretral, cistite, distocia, colite e doença prostática.
Hérnia perineal, ou outra interrupção da inervação normal do esfíncter anal externo,
também pode levar ao prolapso.
O prolapso pode ocorrer em animais de todas as idades e raças e em ambos os
sexos. O prolapso retal é provavelmente o problema GI mais comum em porcos
devido a diarréia ou fraqueza do tecido de sustentação retal na pelve. O prolapso em
bovinos pode estar associado à coccidiose ou raiva; ocasionalmente, “montas”
excessivas em touros jovens e lesão traumática associada podem ser a causa. É
comum em ovinos, especialmente cordeiros em confinamento nos quais rações
altas em concentrado podem causar o prolapso. O uso de estrogênios como
promotores de crescimento, ou exposição acidental a toxinas fúngicas de natureza
estrogênica, também podem predispor grandes animais ao prolapso retal.
Achados clínicos, lesões e diagnóstico – Uma massa alongada e cilíndrica que
protrai-se através do orifício anal é geralmente diagnóstica, porém deve ser feita uma
diferenciação à intussuscepção ileocólica prolapsada pela passagem de uma sonda,
instrumento cego ou o dedo entre a massa prolapsada e a parede retal interna. No
prolapso retal, é impossível inserir-se o instrumento, devido à presença de um fórnix.
São comuns ulceração, inflamação e congestão da mucosa retal. Inicialmente,
há um pequeno segmento inflamado e não ulcerado; depois, a superfície da mucosa
escurece e pode tornar-se congesta e necrótica.
Tratamento: pequenos animais – Identificar e eliminar a causa é de importância
primária. O tratamento inclui a imediata recolocação do tecido prolapsado viável a
sua localização anatômica apropriada ou amputação, se o segmento estiver
necrosado. A redução manual de um prolapso retal pequeno ou incompleto pode ser
Doenças do Reto e Ânus 160
RUPTURAS RETAIS
São separações, rasgões ou rupturas da mucosa retal ou anal, como resultado
de uma laceração imposta ao interior do lúmen. Corpos estranhos, como ossos
pontiagudos, agulhas e outros materiais cortantes têm sido implicados. Feridas por
mordeduras e, em grandes animais, traumas produzidos durante a palpação retal,
são causas comuns. A ruptura pode envolver apenas as camadas superficiais do
reto (ruptura parcial) ou atingir todas as camadas (ruptura completa).
Achados clínicos e diagnóstico – Constipação e relutância em defecar são
geralmente atribuídas à dor. O diagnóstico é baseado no tenesmo e na hemorragia,
na mudança de cor do períneo e na inspeção do reto e ânus; sangue fresco
encontrado em uma luva ou em fezes após o exame retal é boa evidência de uma
ruptura retal. O edema pode estar presente quando a lesão é persistente. A
integridade do esfíncter anal externo deve ser cuidadosamente avaliada.
Tratamento – Em todas as espécies, o tratamento deve ser imediatamente
iniciado. A área anorretal deve ser completamente limpa e devem ser administrados
antibióticos sistêmicos de amplo espectro. Podem ser administrados fluidos EV e
flunixin meglumina para prevenção ou tratamento do choque séptico e endotóxico.
Nos pequenos animais, após o debridamento, as lacerações podem ser suturadas
através do orifício anal, por laparotomia, ou através de uma combinação de ambas
as técnicas, dependendo da localização e do grau da laceração. Pós-operatoria-
mente devem ser administrados antibióticos e amolecedores fecais.
Em bovinos e eqüinos, uma perfuração acidental durante o exame retal exige
tratamento imediato para reduzir o risco de peritonite e morte. As rupturas retais nos
eqüinos foram classificadas de acordo com as camadas de tecido penetradas. As
rupturas de Grau I envolvem mucosa ou submucosa; as rupturas de Grau II implicam
Úlceras Gastrointestinais 161
ÚLCERAS GASTROINTESTINAIS
Em cães e gatos, a ulceração gástrica pode ocorrer espontânea ou secundaria-
mente a ingestão de comida estragada ou corpos estranhos, administração de
drogas antiinflamatórias esteroidais ou não esteroidais, uremia, ou neoplasia (tumor
mastocitário, gastrinoma). Foi relatada a ulceração por estresse. Os antagonistas do
receptor de histamina Tipo 2 (cimetidina, ranitidina, famotidina) e o sucralfato
tiveram sua eficácia relatada no controle das úlceras gástricas de cães e gatos. A
cimetidina tem sido eficaz no controle da gastrite urêmica. Os antiácidos são úteis,
porém precisam ser administrados freqüentemente.
As úlceras gástricas são importantes nos suínos, e as úlceras abomasais (ver
pág. 187) em bovinos adultos e bezerros jovens parecem estar aumentando em
importância. Nestas espécies, as úlceras jovens parecem estar associadas às
práticas de alimentação e ao estresse da alta produção e criação confinada, apesar
de as causas ainda não terem sido determinadas.
recumbência dorsal. A maioria dos potros com sintomas dolorosos apresenta lesões
na mucosa glandular ou duodeno. A diarréia foi associada a lesões na mucosa
escamosa. A ulceração gástrica causa mau aspecto e fezes cronicamente moles em
potros desmamados. Potros com ptialismo intenso e/ou refluxo nasal provavelmen-
te apresentam uma obstrução ao esvaziamento gástrico. Os potros com UGD
perfurada apresentam desconforto abdominal e podem estar em choque. A ulcera-
ção gástrica em animais adultos causa perda do apetite, perda de peso e mau estado
físico, desconforto abdominal e/ou alterações de atitude.
Diagnóstico e tratamento – A endoscopia é o meio diagnóstico mais preciso nos
potros e cavalos adultos. A radiografia pode auxiliar o diagnóstico em alguns casos
de potros, podendo ser utilizado o contraste de bário para avaliar o esvaziamento
gástrico. A análise de sangue oculto nas fezes pode diagnosticar sangramento
gástrico em potros jovens, mas é pouco sensível em potros mais velhos e adultos.
Na maioria dos casos, os valores de laboratório não refletem a presença de
ulceração gástrica. Podem ocorrer aumentos nas células e proteína do líquido
abdominal de potros com úlceras perfuradas.
Os antagonistas dos receptores Tipo 2 de histamina, a cimetidina e a ranitidina,
são eficazes no tratamento das UGDs em potros e adultos. Foi sugerido o sucralfato
para o tratamento da ulceração gástrica glandular e da ulceração duodenal. Os
antiácidos parecem aliviar os sintomas clínicos, mas devem ser administrados
freqüentemente para curar as úlceras. A cirurgia é necessária para a correção da
obstrução ao esvaziamento gastroduodenal.
GIARDÍASE
É uma protozoonose entérica crônica que ocorre em todo o mundo no homem,
na maioria dos animais domésticos e em muitos pássaros. A infecção é comum em
cães e gatos, algumas vezes observada em ruminantes, e raramente em eqüinos
e suínos. Tem sido suposto, mas não provado, que o Giardia que infecta animais
domésticos pode infectar o homem.
Etiologia e transmissão – Os protozoários flagelados (trofozoítas) do gênero
Giardia habitam a superfície da mucosa do intestino delgado, onde se multiplicam
por divisão binária. A transmissão ocorre no estágio de cisto e pela rota fecal–oral.
Os períodos de incubação e pré-patente geralmente variam de 5 a 14 dias. As
classificações iniciais designavam diferentes espécies de Giardia para vários
hospedeiros; é consenso que todas as espécies que infectam mamíferos (exceto
alguns roedores) são morfologicamente similares.
Achados clínicos – Infecções por Giardia em cães e gatos podem não ser
aparentes, ou produzir perda de peso, diarréia crônica e/ou esteatorréia que pode
ser contínua ou intermitente, particularmente em cãezinhos e gatinhos. Bezerros
com giardíase clínica têm sido relatados. As fezes geralmente são moles,
malformadas, pálidas e contêm muco. A diarréia aquosa é rara em casos
descomplicados. A giardíase deve ser diferenciada de outras causas de malabsor-
ção de nutrientes (por exemplo, insuficiência pancreática exócrina [ver pág. 146] e
malabsorção intestinal [ver pág. 169]). Os achados clínicos laboratoriais são
geralmente normais. Lesões intestinais macroscópicas são raramente vistas, em-
bora lesões microscópicas, constituídas de atrofia de vilos e enterócitos cubóides,
possam estar presentes.
Diagnóstico – O estágio de trofozoíta, piriforme e móvel (em média 3 × 10 ×
15µm) pode ser ocasionalmente observado em esfregaços salinos de fezes muito
soltas ou aquosas. Os cistos (em média 10 × 14µm) são melhor detectados em fezes
concentradas por sulfato de zinco (gravidade específica 1,18) e submetidas à
técnica de flotação centrífuga. Os meios de flotação com cloreto de sódio, sacarose
Giardíase 164
e nitrato de sódio são muito hipertônicos, resultando em severa distorção dos cistos.
Os cistos corados com iodo auxiliam a identificação. Se existe suspeita de giardíase,
vários exames fecais podem ser necessários porque os parasitas são excretados
intermitentemente. Em cães, a aspiração duodenal para detecção de trofozoítas é
útil; entretanto, em gatos, o Giardia é mais prevalente no intestino delgado meso a
inferior. Um teste ELISA que detecta antígeno do Giardia nas fezes é disponível.
Tratamento – Não existem drogas aprovadas para o tratamento da giardíase em
animais. Quinacrina HCl (6,6mg/kg, VO, duas vezes ao dia, por 5 ou 6 dias) é efetiva
em cães com giardíase, porém os efeitos colaterais (por exemplo, êmese e urina
escura) são comuns. Metronidazol (25mg/kg, VO, duas vezes ao dia, por 5 a 7 dias)
é mais caro, sendo porém geralmente bem tolerado. O metronidazol é também
efetivo em gatos (10 a 25mg/kg, VO, duas vezes ao dia, por 5 dias) assim como a
furazolidona (4mg/kg, VO, duas vezes ao dia, por 5 dias). A furazolidona é menos
onerosa que o metronidazol e pode ser mais facilmente administrada, pois é
fornecida na forma de suspensão. Os cães também podem ser tratados com
tinidazol (44mg/kg, VO, diariamente por 3 dias). Os bezerros podem ser tratados
com quinacrina HCl (1mg/kg, VO, duas vezes ao dia por 7 dias), ipronidazol
(10mg/kg, duas vezes ao dia por 5 dias), ou dimetridazol (50mg/kg, diariamente por
5 dias). Os cavalos podem ser tratados com metronidazol (5mg/kg, VO, três vezes
ao dia por 10 dias).
DOENÇAS HEPÁTICAS
Etiologia – Algumas das causas mais comuns de doenças hepatobiliares nas
diferentes espécies animais são as seguintes:
Bovinos – Envenenamento por alcalóides de pirrolizadina, peste negra
(Clostridium novyi Tipo B), intoxicação por ferro devida a hematínicos injetáveis,
intoxicação por cobre devida a suplementos injetáveis, intoxicação por zinco,
aflatoxicose, envenenamento por algas azuis-verdes (Microcystis aeruginosa),
envenenamento por Kochia scoparia (“fireweed”), intoxicação por larva de
Lophyrotoma interrupta (“sawfly”), intoxicação por ração de arenque, neoplasia
hepática, colangiohepatite crônica, colelitíase, fotossensibilização hepatógena (vá-
rias plantas e fungos), abscessos hepáticos secundários a rumenite (Fusobacterium
necrophorum e Corynebacterium pyogenes) , fasciolíase, lupinose micótica
(Phomopsis sp que cresce nas sementes de tremosso), hemoglobinúria bacilar
(Clostridium haemolyticum, C. novyi Tipo D), lipidose hepática secundária a cetose,
e hepatite bacteriana secundária a septicemia.
Ovinos – Envenenamento por alcalóide de pirrolizidina, intoxicação por zinco,
intoxicação por cobre de suplementos injetáveis, aflatoxicose, envenenamento por
algas azuis-verdes (Microcystis aeruginosa), peste negra, neoplasia hepática,
abscessos hepáticos secundários a rumenite (Fusobacterium necrophorum e
Corynebacterium pyogenes), fasciolíase, lupinose micótica ( Phomopsis sp que
cresce nas sementes de tremosso), hemoglobinúria bacilar ( Clostridium
haemolyticum, C. novyi Tipo D), lipidose hepática secundária a cetose, doença do
fígado branco (deficiência de cobalto/vitamina B 12), fotossensibilidade hereditária e
icterícia em ovinos southdown, e síndrome semelhante à de Dubin-Johnson nos
ovinos corriedale.
Suínos – Peste negra, hepatose dietética (deficiência de vitamina E/selênio),
aflatoxicose, intoxicação por carvão mineral, intoxicação por cianamida, intoxicação
por algas azuis-verdes, fotossensibilização hepatógena (plantas e fungos), migra-
ção de ascarídeos (larvas) através do fígado, oclusão do duto biliar por ascarídeos
(adultos), lupinose micótica, toxicose por gossipol, e hepatite bacteriana secundária
a septicemia (Salmonella spp).
Eqüinos – Envenenamento por alcalóide de pirrolizidina, peste negra, doença de
Tizzer (Bacillus piliformis), intoxicação por ferro de hematínicos injetáveis em potros,
rinopneumonite neonatal, colangite, cirrose biliar (trevo híbrido, Trifolium hybridum,
e outras causas), colelitíase, doença de Theiler (insuficiência hepática aguda dos
eqüinos secundária à utilização de biológicos de origem equina), carcinoma hepá-
tico, aflatoxicose, hiperbilirrubinemia de jejum, fotossensibilização hepatógena
(várias plantas e fungos), hiperlipemia/lipidose hepática, leucoencefalomalacia
eqüina (envenenamento por milho embolorado, Fusarium moniliforme), e hepatite
bacteriana secundária a septicemia.
Gatos – Lipidose hepática idiopática, síndrome de colangite–colângio-hepatite,
oclusão do duto biliar comum (tumores, colélitos), síndrome da bile com sedimentos,
endotoxemia (hepatopatia tóxica), peritonite infecciosa felina, infecções ocasionais
com Toxoplasma, intoxicação por acetaminofenol, neoplasia (linfossarcoma, doen-
ça mieloproliferativa, adenocarcinoma do duto biliar) e anomalias vasculares
portossistêmicas.
Cães – Hepatite infecciosa canina; hepatite por leptospira; infecções ocasionais
por Toxoplasma, Neospora caninum, Salmonella ; anormalidades vasculares do
sistema porta; hepatite ativa crônica idiopática; hepatite lobular dissecante; hepatite
ativa crônica relacionada com a raça (dobermans pinschers, west highland white
terriers [possivelmente uma doença de reserva de cobre], bedlington terriers
Doenças Hepáticas 166
SÍNDROMES DE MALABSORÇÃO
As funções principais do intestino delgado incluem a mistura e propulsão do
conteúdo luminal, absorção de água e íons, digestão e absorção de nutrientes e
secreção de hormônios. A digestão e absorção dos nutrientes ocorrem em 3 fases
seqüenciais: digestão intraluminal, digestão e absorção mucosais e liberação dos
nutrientes para a circulação. Muitas doenças do trato GI causam malabsorção
crônica por interferirem nestes processos. As síndromes de malabsorção em cães
foram estudadas detalhadamente; no entanto, o diagnóstico básico e os princípios
terapêuticos são relevantes para outras espécies.
Fisiologia – O processo digestivo normal converte os nutrientes da dieta em
formas que podem cruzar a membrana com microvilos (em escova) das células
epiteliais absortivas do intestino, ou enterócitos. Muitos carboidratos da dieta são os
polissacarídeos amido e glicogênio, e os dissacarídeos sacarose e lactose. A
digestão intraluminal inicial do amido e glicogênio envolve a hidrólise pela amilase
pancreática obtendo os oligossacarídeos maltose, maltotriose e dextrinas α-limite.
Os oligossacarídeos e os dissacarídeos ingeridos são novamente hidrolisados para
monossacarídeos por enzimas localizadas na borda em escova das células epite-
liais intestinais. Os produtos finais da hidrólise mucosal (glicose, galactose e frutose)
Síndromes de Malabsorção 170
PERITONITE
É uma inflamação do peritônio que pode ser aguda ou crônica, local ou difusa,
na maioria das vezes secundária a uma contaminação da cavidade peritoneal.
Etiologia – A peritonite primária é infreqüente. Pode ser causada por agentes
infecciosos como o vírus da peritonite infecciosa felina (ver pág. 502), Nocardia spp,
ou Mycobacterium spp. O acesso à cavidade peritoneal ocorre geralmente por via
hematogênica. A progressão de uma peritonite primária tende a ser crônica (dias a
semanas).
A peritonite secundária é freqüentemente aguda, resultando em doença sistêmi-
ca rápida e progressiva. Está, na maioria das vezes, associada a uma perfuração
GI ou deiscência de sutura de ferida visceral, ou a uma perfuração de outra víscera
infectada (por exemplo, abscesso prostático ou hepático, piometria). As lesões
abdominais penetrantes podem lacerar vísceras ou inocular a cavidade peritoneal
com material estranho e microrganismos. A peritonite pode também ocorrer secun-
dariamente a irritantes químicos (por exemplo, bile, urina) e a outras doenças que
permitam migração transmural de bactérias (por exemplo, neoplasia, isquemia
Peritonite 176
PARALISIA FARÍNGEA
É uma desordem de origem periférica ou central que ocorre mais freqüentemente
como um sinal de encefalite e é de significância clínica especial na raiva em bovinos
e cães. É também um importante sinal na encefalomielite. É observada em muitas
intoxicações, por exemplo, botulismo e envenenamento crônico pelo chumbo no
cavalo, provavelmente em algumas intoxicações fúngicas, bem como na paralisia
geral da paresia puerperal. A paralisia periférica é infreqüente e pode ser resultante
de lesões do nervo glossofaríngeo, compressão por tumores ou abscessos, ou
lesões decorrentes de fraturas da base do crânio. A paralisia faríngea no cavalo,
devida à infecção por Aspergillus e por erosão da parede das bolsas guturais (ver
pág. 895) é relativamente comum (ver também FARINGITE, pág. 872).
Achados clínicos – O animal perde subitamente sua capacidade de engolir;
partículas de alimento e saliva escorrem pela boca e nariz, e sons de gorgolejo
emanam da faringe. Se o interior da faringe for palpado, não são produzidas
contrações musculares. Estes animais morrem de pneumonia por aspiração ou
exaustão. Os sintomas de paralisia faríngea de origem central são parcial ou
completamente mascarados por outros sinais da doença primária. O diagnóstico
rápido da doença primária com freqüência faz com que a paralisia faríngea passe
despercebida.
Diagnóstico – É importante saber que em animais, especialmente cães e
bovinos, com paralisia faríngea, a raiva é uma das possíveis causas, que devem ser
consideradas antes de se iniciar o exame físico. É principalmente importante
determinar se a origem da paralisia é central ou periférica. A passagem de uma
sonda estomacal é suficiente para se diferenciar a paralisia periférica de uma
obstrução esofágica. A presença de corpos estranhos na boca do cavalo pode levar
a erros no diagnóstico. Espigas de milho e galhos podem se alojar entre as arcadas
superiores dos dentes faciais.
O prognóstico é sempre reservado. Quando a paralisia é de origem central, ele
depende do processo primário; quando periférica, depende da possibilidade de
remoção da causa. Existe sempre o risco de pneumonia por aspiração.
Tratamento – Não há tratamento para paralisia local, a não ser esforços para
remoção da causa da paralisia e não se devem tentá-los antes da realização de um
exame completo. Na paralisia de origem periférica, ou naquela presente na
encefalomielite eqüina, o animal deve ser alimentado e hidratado por sonda
estomacal. O controle da desidratação pode salvar a vida do animal. Fazer com que
o animal abaixe a cabeça, o máximo possível, auxiliará na drenagem dos fluidos
acumulados e ajudará na prevenção de pneumonia por inalação.
Salmonelose 178
SALMONELOSE
É uma doença que ocorre em todos os animais, causada por muitas espécies de
salmonelas e clinicamente caracterizada por uma ou mais das 3 síndromes
principais – septicemia, enterite aguda e enterite crônica. O animal portador,
clinicamente sadio, é um problema sério em todas as espécies hospedeiras. A
doença ocorre em todo o mundo e sua incidência aumenta com a intensificação da
produção do rebanho. Bezerros jovens, leitões, cordeiros e potros são suscetíveis
e geralmente desenvolvem a forma septicêmica (ver DIARRÉIA EM RUMINANTES
NEONATOS, pág. 217 e DOENÇAS DIARRÉICAS EM POTROS, pág. 225). Bovinos, ovinos
e cavalos adultos desenvolvem comumente enterite aguda e enterite crônica pode
ocorrer em leitões em crescimento e ocasionalmente em bovinos (ver também
DOENÇAS ENTÉRICAS EM BOVINOS, pág. 216, EM SUÍNOS, pág. 229, em OVINOS E
CAPRINOS, pág. 217, EM EQÜINOS, pág. 221 e EM CÃES e GATOS, pág. 279). A incidência
da salmonelose no homem tem aumentado nos últimos anos e os animais são
incriminados como reservatório principal. A transmissão para o homem ocorre via
água de beber, leite, carne e ovos contaminados; e comidas como misturas
empastadas que utilizam ingredientes contaminados; suínos e aves domésticas (ver
pág. 1935) são também importantes fontes de infecção.
Etiologia e epidemiologia – Conquanto muitas outras espécies possam causar
a doença, as Salmonella spp mais comuns são: em bovinos – S. typhimurium, S.
dublin e S. newport; em ovinos e caprinos – S. typhimurium, S. dublin, S. anatum e
S. montevideo; em porcos – S. typhimurium e S. choleraesuis; em cavalos – S.
typhimurium, S. anatum, S. newport, S. enteritidis e S. arizonae. Embora os padrões
clínicos não sejam distintos, as diferentes espécies de Salmonella tendem a diferir
em sua epidemiologia. O perfil plasmídio e o padrão de drogas resistentes são
algumas vezes marcadores úteis para estudos epidemiológicos. As fezes dos
animais infectados podem contaminar alimentos e água, leite, carnes frescas e
processadas em abatedouros, produtos de origem animal e vegetal utilizados como
fertilizantes ou ingredientes alimentares, pastagens e pradarias, e muitos materiais
inertes. Os microrganismos podem sobreviver por meses em áreas úmidas e
quentes, como baias de suínos em terminação, ou em canaletas d’água. Roedores
e pássaros selvagens são também fontes de infecção. A prevalência da infecção
varia entre espécies e países, sendo muito maior que a incidência de doença clínica
que é comumente precipitada por fatores estressantes, tais como privação súbita de
alimento, transporte, seca, superlotação, parto recente e administração de algumas
drogas. A doença é comum em cavalos hospitalizados que tenham sido submetidos
a procedimentos cirúrgicos prolongados. Os agentes antimicrobianos orais são
algumas vezes fatores de risco para esta doença.
A rota usual de infecção é a oral e, após a infecção, o microrganismo se multiplica
no intestino e causa enterite. A penetração de bactérias na lâmina própria e a
produção de citotoxina e enterotoxina provavelmente contribuem com a lesão
intestinal e diarréia. A septicemia pode se seguir com subseqüente localização no
cérebro e meninges, útero gestante, porções distais dos membros e extremidades
das orelhas e cauda, o que pode resultar respectivamente, em meningoencefalite,
aborto, osteíte e grangrena seca dos pés, cauda e orelhas. O microrganismo,
freqüentemente, também se localiza na vesícula biliar e linfonodos mesentéricos, e
os sobreviventes eliminam-no intermitentemente nas fezes.
Os bezerros raramente se tornam portadores, porém quase todos os animais
adultos o são, por períodos variáveis – até 10 semanas em ovinos e bovinos, até 14
meses em cavalos. Bovinos adultos infectados com S. dublin excretam o microrga-
nismo por anos. A infecção pode persistir nos linfonodos ou amígdalas, sem a
Salmonelose 179
presença de salmonelas nas fezes. Como portador latente, o animal pode estar
eliminando o microrganismo, ou mesmo tornar-se um caso clínico, sob estresse. Um
portador passivo contrai a infecção do ambiente, porém não sofre invasão, se
retirado do ambiente, deixando de ser um portador.
Bovinos e ovinos – Em bezerros e cordeiros, a doença é geralmente endêmica
em uma determinada fazenda, com surtos explosivos esporádicos. No bovino
adulto, a infecção subclínica com surtos ocasionais no rebanho pode ocorrer.
Agentes estressantes que precipitam a doença clínica incluem privação de água e
alimento, transporte demorado, parição recente e promiscuidade e superlotação de
animais confinados.
Porcos – Surtos de salmonelose septicêmica em suínos são raros e, quando
ocorrem, a infecção geralmente é introduzida por um porco infectado, recentemente
adquirido. A aquisição de porcos para engorda de rebanhos livres de salmonela e
o uso do sistema “all-in/all-out” em unidades comerciais de terminação e a integra-
ção vertical de produtores de suínos são efetivos para evitar a exposição à doença.
Cavalos – Muitos cavalos podem ser portadores. Em adultos, a maioria dos
casos ocorre logo após o estresse de cirurgia ou transporte, especialmente após a
compra, quando o animal sofre privação de alimento ou água e é superalimentado
quando chega ao destino. A salmonelose em cavalos hospitalizados por outras
causas é um problema sério em clínicas de eqüinos e haras. Nessas circunstâncias,
os portadores são constantemente reintroduzidos, o ambiente fica persistentemen-
te contaminado e um grande número de cavalos vulneráveis fica em risco. A
salmonelose septicêmica é também comum em potros; pode ser endêmica em uma
determinada propriedade ou ocorrer em surtos.
Achados clínicos – A septicemia é a síndrome usual em bezerros, cordeiros,
potros e leitões recém-nascidos e, como surto, pode ocorrer em leitões com até 6
meses de idade. A doença é aguda, com depressão acentuada e febre freqüente
(40,5 a 41,5°C) e a morte ocorre em 24 a 48h. Em porcos, uma descoloração
vermelho-escura a púrpura da pele é comum, especialmente nas orelhas e abdome
ventral. Podem ocorrer sinais nervosos em bezerros e porcos; os porcos podem
também sofrer de pneumonia. Neste caso, a taxa de mortalidade pode alcançar
100%.
A enterite aguda é a forma comum em adultos e pode também ocorrer em
bezerros geralmente ≥ 1 semana de idade. Inicialmente, há febre (40,5 a 41,5°C)
seguida por severa diarréia aquosa, algumas vezes, disenteria e, freqüentemente,
tenesmo. Em um surto em um rebanho, o aparecimento da diarréia pode levar várias
horas, período no qual a febre pode desaparecer. As fezes variam consideravelmen-
te: podem ter um odor pútrido e conter muco, fibrina e mesmo fragmentos de
membrana mucosa e em alguns casos, grandes coágulos sangüíneos. O exame
retal causa severo desconforto, tenesmo e comumente disenteria. Dor abdominal é
comum e severa no cavalo. Os cavalos afetados ficam severamente desidratados
e podem morrer 24h após o aparecimento da diarréia; a taxa de mortalidade pode
atingir 100%. Leucopenia e neutropenia acentuadas são características da doença
aguda no cavalo.
A enterite subaguda pode ocorrer em cavalos e ovinos adultos, em fazendas
onde a doença é endêmica. Os sinais incluem febre baixa (39 a 40°C), fezes moles,
inapetência e certa desidratação. Pode haver uma alta incidência de abortamentos
em vacas e ovelhas, algumas ovelhas morrem após o abortamento e uma alta taxa
de mortalidade, devida à enterite, é vista em cordeiros com menos de algumas
semanas de idade. Em bovinos, os primeiros sinais podem ser febre e abortamento,
seguidos por vários dias de diarréia.
A enterite crônica é a forma comum em porcos e bovinos adultos. Há diarréia
persistente, emaciação severa, febre intermitente e fraca resposta ao tratamento.
Salmonelose 180
As fezes são escassas e podem ser normais ou conter muco, estrias ou sangue. Em
porcos em crescimento, a constrição retal pode ser uma seqüela, se a parte terminal
do reto estiver envolvida. Os porcos afetados são anoréticos; perdem peso; seu
abdome se distende grosseiramente. A lesão é óbvia à palpação digital e à
necropsia.
Cães e gatos raramente desenvolvem septicemia por salmonela, embora sejam
relatados surtos em filhotes. Cães e gatos podem atuar, entretanto, como portado-
res assintomáticos e muitos dos tipos importantes de salmonela de outros mamífe-
ros domésticos e do homem são isolados deles.
Várias espécies de Salmonella spp aparecem em raposas, especialmente nos
filhotes e produzem enterite superaguda. O furão e outros carnívoros de zoológicos
podem ser afetados. Alimento contaminado é freqüentemente a fonte de infecção.
Vários roedores, por exemplo, cobaias, hâmsters, ratos, camundongos e coelhos
são suscetíveis (ver ASL, pág. 1181). Os roedores comumente atuam como fonte
de infecção nas fazendas onde a doença é endêmica. Tartarugas de estimação são
uma fonte comum de infecção para o homem, porém os riscos têm sido eliminados
pela restrição do comércio de tartarugas.
Diagnóstico – Depende dos sinais clínicos e do exame laboratorial das fezes,
dos tecidos de animais afetados, dos alimentos (incluindo todos os suplementos
minerais utilizados), da água e das fezes de roedores e pássaros selvagens que
vivem nas instalações. As síndromes clínicas são geralmente características, porém
devem ser diferenciadas de outras doenças similares. Em bovinos: colibacilose
entérica, coccidiose, criptosporidiose, forma alimentar da rinotraqueíte infecciosa
bovina, diarréia viral bovina, enterite hemorrágica por Clostridium perfringens dos
Tipos B e C, envenenamento por arsênio, deficiência secundária de cobre
(molibdenose), disenteria de inverno, paratuberculose, ostertagíase e diarréia
dietética. Em suínos: colibacilose entérica dos suínos neonatos e desmamados,
disenteria suína, campilobacteriose, e septicemias comuns dos suínos em cresci-
mento que incluem erisipela, cólera suína e pasteurelose. Em ovinos: colibacilose
entérica, septicemias por pasteurela ou Haemophilus sp, e coccidiose. Em cavalos:
septicemia por Escherichia coli, Actinobacillus equuli e estreptococos, e doença da
colite X.
As lesões são aquelas de septicemias ou de enterite fibrinonecrótica. Técnicas
de cultivo que envolvam a supressão fecal de E. coli são geralmente necessárias e
várias culturas fecais diárias podem ser requeridas para se isolar o microrganismo.
Culturas de sangue de animais com septicemia podem ser gratificantes, mas são
caras. Testes sorológicos são de difícil interpretação.
Tratamento – Embora o tratamento precoce da salmonelase septicêmica seja
muito útil, existem consideráveis controvérsias a respeito do uso de agentes
antimicrobianos para salmonelose entérica. Acredita-se que os antibióticos orais
possam alterar, de forma deletéria, a microflora intestinal, interferir no antagonismo
competitivo e prolongar o período de “eliminação” do microrganismo. Existe também
preocupação com o fato de que cepas de salmonelas resistentes aos antibióticos,
selecionadas por antibióticos orais possam, por sua vez, infectar o homem. Os
antibióticos de amplo espectro são utilizados parenteralmente para tratar a septice-
mia. Uma mistura de trimetoprim e sulfadiazina é efetiva para o tratamento da
salmonelose em bezerros. A ampicilina também pode ser útil para o tratamento da
salmonelose septicêmica, em todas as espécies. O tratamento deve ser contínuo e
diário, por até 6 dias. A medicacão oral deverá ser ministrada na água de beber, pois
os animais afetados ficam sedentos, devido à desidratação e porque o apetite está
geralmente diminuído. Uma fluidoterapia para corrigir o desequilíbrio ácido-básico
e a desidratação é necessária. Bezerros, bovinos adultos e cavalos necessitam de
grandes quantidades de fluidos. Antibioticoterapia e a lise do microrganismo liberam
Salmonelose 181
Salmonelose em bezerros
Embora as salmonelas possam infectar bovinos mais velhos (ver anteriormente),
a maioria dos casos ocorre em bezerros > 1 semana de idade. O quadro clínico em
bezerros jovens é determinado pelo nível de imunidade materna transferida (como
na colibacilose) e da virulência de determinada salmonela. Os bezerros ficam lentos,
febris e geralmente anoréticos. Podem existir invasão sistêmica e também diarréia,
que varia de quantidades aumentadas de fezes pastosas a líquidas, marrons ou
amarelas até disenteria com odor fétido característico. A perda de peso é acentuada.
À necropsia, existem algumas petéquias e o intestino está mais congesto do que na
colibacilose. A salmonela pode ser isolada dos tecidos.
A terapia é geralmente sem sucesso. A profilaxia depende da prevenção do
contato com os microrganismos causadores. A vacinação é de pouco ou nenhum
valor.
Doença de Tyzzer 182
DOENÇA DE TYZZER
(Infecção por Bacillus piliformis)
DISTÚRBIOS ABOMASAIS
Os distúrbios abomasais incluem deslocamento do abomaso para a esquerda ou
para a direita (DAE; DAD), vólvulo abomasal, úlceras, e impactação. O deslocamen-
to ou o vólvulo abomasal ocorrem comumente em vacas de leite, particularmente as
de alta produção, mas também ocorrem em touros, bezerros e pequenos ruminan-
tes. São raros em bovinos de corte. As úlceras são observadas em bovinos de leite
Distúrbios Abomasais 184
ÚLCERAS ABOMASAIS
É uma doença de bovinos adultos e bezerros com várias manifestações
diferentes.
Etiologia e patogenia – Exceto pelo linfossarcoma do abomaso e pelas erosões
na mucosa abomasal que ocorrem nas doenças virais como a diarréia viral bovina,
peste bovina, e na febre catarral maligna bovina, as causas de ulceração abomasal
ainda não são bem compreendidas. Foram sugeridas diversas causas. Apesar de
a doença ocorrer em qualquer momento durante a lactação, as úlceras abomasais
são comuns em vacas leiteiras maduras de alta produção nas primeiras 6 semanas
após o parto, o que levou à especulação de que a causa seria uma combinação de
estresse do parto, começo de lactação e ração rica em grãos.
A doença aguda ocorre em bovinos de corte e leite após qualquer estresse
prolongado, como transporte ou doença, e em bovinos confinados que recebem
ração muito concentrada. As úlceras abomasais podem surgir associadas a distúr-
bios abomasais (deslocamento, vólvulo, ou impactação), linfoma, indigestão vagal,
ou problemas sépticos, ou parecem não estar relacionadas a outra doença.
As úlceras abomasais são comuns em bezerros amamentados manualmente
após serem desmamados do leite ou substituto e iniciarem a ingestão de forragem.
A maioria destas úlceras são subclínicas e não hemorrágicas. Podem ser causadas
pelo consumo de alimento seco. Ocasionalmente, bezerros alimentados com leite
< 2 semanas de idade são afetados por úlceras abomasais agudas hemorrágicas
que podem perfurar-se e causar morte rápida. Bezerros de corte bem nutridos e em
amamentação, com 2 a 4 meses de idade, podem ser afetados por úlceras
abomasais agudas quando soltos no pasto, no verão. Os tricobezoares abomasais
são comuns nestes bezerros, porém não é certo se as bolas de pêlo iniciaram a
úlcera ou se desenvolveram-se após a úlcera. Também são observadas úlceras e
erosões abomasais em bezerros com problemas sépticos, como enterite.
Achados clínicos – A síndrome varia dependendo se a ulceração é complicada
por hemorragia ou perfuração, e da intensidade da hemorragia ou da peritonite que
ocorre.
Um sistema de classificação é baseado na profundidade de penetração, ou no
grau de hemorragia ou peritonite provocado pela úlcera: Tipo I é uma erosão ou
úlcera sem hemorragia, Tipo II é hemorrágica, Tipo III é perfurada com peritonite
localizada aguda, e Tipo IV é perfurada com peritonite aguda difusa. Pode haver uma
única úlcera ou várias úlceras agudas e crônicas.
Os bovinos com úlceras abomasais sanguinolentas podem estar assintomáticos
exceto por sangue oculto intermitente nas fezes, ou podem morrer agudamente de
hemorragia maciça. Os sintomas clínicos comuns incluem leve dor abdominal,
ranger de dentes, anorexia de início súbito, taquicardia (90 a 100/min) e sangue
oculto nas fezes ou melena, que podem ser intermitentes. Os sintomas de perda
sangüínea ocorrem nas grandes hemorragias, incluindo taquicardia (100 a 140/min),
membranas mucosas pálidas, pulso fraco, extremidades frias, respiração curta e
rápida, e melena. Os sintomas mais graves incluem estase ruminal aguda, dor
abdominal generalizada com relutância em mover-se e um gemido ou grunhido
audível a cada respiração, fraqueza, e desidratação. Conforme o problema progride,
a temperatura corporal cai e o animal fica recumbente, morrendo em 6 a 8h.
Distúrbios Abomasais 188
de corte prenhes, que aumentam sua ingestão alimentar durante os dias extrema-
mente frios, numa tentativa de alcançar suas necessidades aumentadas. A doença
também ocorre em bovinos confinados, alimentados com uma variedade de rações
mistas, que contêm forragem picada ou triturada (palha, feno) e grãos de cereais,
e em vacas leiteiras no último estágio de prenhez, em dietas similares.
Etiologia – Considera-se como causa o consumo de quantidades excessivas de
forragens, que sejam baixas em proteína e energia digestíveis. A impactação com
areia pode ocorrer se bovinos pastejarem em solos arenosos ou se forem alimen-
tados com restos de culturas sujas, ou que contenha areia. Quando forragem inteira,
sem quantidades suficientes de grãos, é fornecida em dias extremamente frios, os
bovinos não ingerirão quantidades suficientes para satisfazer suas necessidades de
energia; deste modo, a forragem deve ser fornecida picada. A forragem picada é
comumente misturada com grãos, mas não em quantidades suficientes para
alcançar os requisitos energéticos. Assim, bovinos comerão mais desta mistura de
forragem de grãos picada, do que da forragem inteira, pois as partículas menores
passam através do antro cardíaco mais rapidamente, porém a impactação do
abomaso, omaso e rúmen pode ocorrer, dada a indigestibilidade relativa da forragem.
Os surtos podem afetar até 15% de todas as vacas prenhes, em determinadas
fazendas onde a temperatura ambiente caia até –26 ou menos por vários dias.
Patogenia – A forragem picada e os alimentos firmemente triturados passam
através do antro cardíaco mais rapidamente do que a forragem inteira e, talvez nesta
situação, a combinação da baixa digestibilidade do abomaso e ingestão excessiva,
leve ao acúmulo excessivo nos antros cardíacos e abomaso. Quando grandes
quantidades de areia são ingeridas, omaso, abomaso, intestino grosso e ceco
podem tornar-se impactados. A areia que se acumula no abomaso causa atonia
abomasal e dilatação crônica. Uma vez que a impactação do abomaso ocorreu, a
obstrução subaguda do trato GI superior desenvolve-se. Íons de hidrogênio e cloreto
são continuamente secretados no abomaso, a despeito da impactação, e resultam
em atonia abomasal e alcalose com hipocloremia. Graus variados de desidratação
ocorrem, pois os fluidos não se movem através do abomaso para serem absorvidos
no duodeno. Os íons potássio são também seqüestrados no abomaso, resultando
em hipocalemia. Ocorrem desidratação, alcalose, desequilíbrio de eletrólitos e
inanição progressiva. A impactação do abomaso pode ser severa o suficiente para
causar atonia abomasal irreversível.
Achados clínicos e lesões – Anorexia completa, fezes escassas, distensão
moderada do abdome, perda de peso, fraqueza e prostração são geralmente os
sintomas iniciais. A temperatura corporal é geralmente normal, porém pode ser
subnormal durante as épocas frias. Uma descarga nasal mucosa usualmente se
acumula nas narinas externas e no focinho; o focinho comumente está seco e
rachado, devido a deficiência do animal em lamber suas narinas e aos efeitos da
desidratação. A freqüência cardíaca pode estar aumentada e uma desidratação
suave é comum.
O rúmen está, em geral, atônico e cheio de conteúdo seco, mas pode conter
excesso de líquido, se o gado é alimentado com alimento finamente triturado. O pH
do líquido ruminal está geralmente normal (6,5 a 7). A atividade protozoária no rúmen
varia de normal a acentuadamente reduzida, com redução no número e atividade dos
microrganismos, demonstrados ao exame microscópico em pequeno aumento. O
abomaso impactado está geralmente no quadrante inferior direito no assoalho do
abdome. Em garrotes em confinamento e novilhas não prenhes, o abomaso e omaso
impactados podem ser facilmente palpáveis ao exame retal, mas pode não ser em
animais prenhes. A palpação profunda e a percussão forte do flanco direito podem
evocar um “grunhido”, como é comum na reticuloperitonite traumática aguda, prova-
velmente devido a distensão do abomaso e estiramento de sua serosa.
Distúrbios Abomasais 191
TIMPANISMO EM RUMINANTES
(Timpanismo ruminal)
através da mesma, que pode ser deixada no lugar até que o animal retorne ao
normal, geralmente após algumas horas.
Quando a vida do animal não está imediatamente ameaçada, a passagem de um
tubo estomacal do maior calibre possível é recomendada. Algumas tentativas
devem ser feitas para limpar o tubo por sopros e movimentos para trás e para frente,
na tentativa de encontrar grandes quantidades de gás do rúmen que possam ser
liberadas. No timpanismo espumoso, pode ser impossível reduzir a pressão com a
sonda e um agente antiespumante deve ser administrado enquanto a sonda estiver
no lugar. Em todos os casos nos quais o timpanismo não for rapidamente revertido
com o agente antiespumante, o animal deverá ser observado cuidadosamente nas
próximas horas para determinar se o tratamento obteve sucesso ou se uma terapia
alternativa será necessária.
Uma grande variedade de agentes antiespumantes é efetiva, incluindo óleos
vegetais (por exemplo, amendoim, milho e soja) e óleos minerais (parafinas), em
doses de 80 a 250mL. O sulfossuccinato sódico de dioctil, um surfactante, é
normalmente incorporado a um desses óleos; vendidos como remédios antitimpâ-
nicos, só surtem efeito se administrados no início.
Controle: timpanismo em pastagem – A prevenção do timpanismo em pasta-
gem pode ser difícil. As técnicas de manejo que têm sido utilizadas incluem
fornecimento feno antes de se soltar o gado no pasto, mantendo a dominância de
gramíneas no mesmo, ou utilização do pastejo em faixas para restringir a ingestão.
Para o feno ser eficaz, ele precisa compor pelo menos um terço da dieta. A
alimentação com feno ou pastejo em faixas pode ser confiável apenas quando o
pasto é apenas moderadamente perigoso, mas estes métodos são menos confiá-
veis quando o pasto está no estágio pré-floração e o potencial de timpanismo é alto.
Os pastos maduros têm menor probabilidade de causar timpanismo que os imaturos
ou em rápido crescimento.
O único método satisfatório disponível para prevenção do timpanismo em
pastagem é a administração estratégica de agentes antiespumantes. Eles têm sido
efetivos nos países de exploração extensiva, como a Austrália e a Nova Zelândia.
O método mais seguro é encharcar duas vezes ao dia, por exemplo, no momento
da ordenha, com agente antiespumante. A pulverização do agente sobre o pasto
com forte timpanismo é igualmente eficaz, desde que se garanta que os animais
tenham acesso somente ao pasto tratado. Este método é ideal para o sistema de
pastejo controlado mas não para o pastejo incontrolado. Os agentes antiespumantes
podem ser adicionados ao suplemento alimentar ou à água, mas o sucesso deste
método depende de uma ingestão individual adequada. Os agentes também podem
ser incorporados em blocos ou pincelados nos flancos dos animais, de onde podem
ser lambidos durante o dia. Estes métodos são devastadores e alguns animais não
lamberão e assim não estarão protegidos.
Agentes antiespumantes disponíveis incluem óleos, gorduras e surfactantes não
iônicos sintéticos. Os óleos e as gorduras são administrados na quantidade de 60 a
120mL/cabeça/dia; doses de até 240mL são indicadas durante períodos mais perigo-
sos. O poloxaleno, um polímero sintético, é um dos mais efetivos surfactantes não
iônicos e ministrado em 10 a 20g/cabeça/dia e até 40g em situações de alto risco. Ele
pode ser adicionado à água, às misturas de grãos e aos blocos de sais minerais.
Detergentes de álcool etoxilato têm igual efeito e são mais palatáveis que o poloxaleno.
O último objetivo no controle deve ser o desenvolvimento de uma pastagem que
permita uma alta produção, mas com uma pequena incidência de timpanismo. As
pesquisas atuais centram-se no desenvolvimento de variedades de leguminosas que
possuam baixo potencial timpanizador. Em bases práticas, o uso de pastos de trevo
e gramíneas, em quantidades iguais, chega bem perto desse objetivo. Alternativa-
mente, animais com pai ou mãe propenso a timpanismo não devem ser mantidos
Diarréia Viral Bovina, Complexo de Doenças das Mucosas 199
As lesões orais estão presentes em , 75% dos casos clínicos quando a diarréia
se inicia. Tipicamente, há um avermelhado difuso na mucosa oral e, posteriormente,
manchas puntiformes na mucosa que aumentam, tornando-se erosões epiteliais
rasas de 1 a 2cm. Os locais de erosão incluem os palatos duro e mole, dorso e
laterais da língua, gengivas e comissuras da boca. Nos casos iniciais, as papilas das
bochechas estão hiperêmicas e suas pontas descamam, deixando papilas encurta-
das e rombas, conforme a doença progride.
Sintomas adicionais ocorrem esporadicamente em animais isolados. Esses
incluem corrimento nasal mucopurulento, narinas externas hiperêmicas incrustradas,
erosões da faixa coronária e fenda interdigital, e opacidade corneal. Em alguns
surtos, as lesões orais e a diarréia são mínimas, e os sintomas proeminentes podem
sugerir doenças respiratórias. (Os sintomas respiratórios podem ser causados pela
atividade de outros agentes microbianos, e a infecção por DVB foi implicada no
“complexo da febre de transporte”). A leucopenia com linfocitose relativa é comum
no início da doença. Pode ocorrer leucocitose com infecções bacterianas secundá-
rias. O animal que ocasionalmente sobrevive à doença aguda normalmente está tão
debilitado que é economicamente inviável.
A infecção durante a prenhez pode resultar em morte embrionária ou aborto,
nascimento de bezerros pequenos e fracos, ou bezerros com infecção congênita.
Esta infecção muitas vezes é clinicamente inaparente na mãe; os efeitos no feto
variam com a cepa do vírus e com a idade e imunocompetência do feto. A morte fetal
com reabsorção ou mumificação, ou aborto pode ocorrer após a infecção no período
inicial a médio da gestação, até , 120 dias. Quando uma boa parte das matrizes são
suscetíveis, a evidência inicial da DVB pode ser infertilidade ou uma série de
abortos. A infecção no meio da gestação (, 120 a 150 dias) pode resultar em
bezerros com defeitos congênitos. Estes defeitos incluem hipoplasia cerebelar,
catarata, degeneração da retina, microftalmia, hipoplasia dos tratos óticos,
hidrocefalia, e pelagem espessa e crespa. A infecção congênita por DVB pode ser
um fator na síndrome do “bezerro fraco”. A doença mucosal aguda pode ser
provocada em bezerros de 1 ano ou bovinos adultos com infecção congênita quando
são expostos a cepas citopáticas de vírus da DVB antigenicamente relacionadas ou
antigenicamente diferentes ou por vários fatores desconhecidos. A síndrome da
doença mucosal ocorre como descrita anteriormente para a DVB grave, mas é
invariavelmente fatal. Quando a infecção (com o vírus da DVB citopático ou não
citopático) na matriz ocorre no final da gestação (>150 dias), pode ocorrer infecção
fetal com formação de anticorpos, mas não há efeitos adversos no feto.
Lesões – As lesões macroscópicas estão primariamente confinadas ao trato
alimentar. Microscopicamente, focos de células epiteliais degeneradas compõem
as lesões básicas. Estas desenvolvem-se em conseqüência do edema e da
vasculite que ocorrem imediatamente abaixo das superfícies epiteliais, resultando
em erosões do esôfago, pré-estômagos, abomaso e intestino. A necrose epitelial é
mais proeminente na doença das mucosas, na qual a ulceração é marcada,
especialmente nas áreas oronasais. A enterite catarral pode ser severa nas formas
mais crônicas da doença.
Ocorre necrose dos tecidos linfóides, particularmente naqueles associados ao
intestino. Na doença crônica das mucosas, a hemorragia resulta em focos necróticos
vermelho-escuros no íleo correspondendo às placas de Peyer afetadas. Microscopi-
camente, a destruição do revestimento epitelial de criptas de Lieberkühn no intestino
delgado inferior, ceco e cólon é uma lesão característica. Animais com esse tipo de
doença morrem com uma infecção sistêmica febril e colapso circulatório.
Diagnóstico – Como a peste bovina e a febre catarral maligna podem causar
síndromes parecidas, o diagnóstico das doenças semelhantes à DVB é muito
importante. Casos severos de infecção pela DVB geralmente podem ser diagnos-
Cólica em Eqüinos 201
ticados com base no histórico, achados clínicos e lesões post mortem . Infelizmente,
na maioria dos casos, os sinais clínicos são menos óbvios e chegar a um diagnóstico
preciso pode ser difícil. Dada a prevalência da infecção na população bovina em
geral, uma única titulação sérica positiva não é de significância diagnóstica;
amostras séricas pareadas devem ser tomadas para demonstrar uma seroconversão
ou uma titulação aumentada. Amostras clínicas (material lesado, sangue e secre-
ções nasofaríngeas e oculares) ou de necropsia (baço, linfonodos mesentéricos e
placas de Peyer) devem ser submetidas ao isolamento do vírus ou exame de
imunofluorescência indireta. O diagnóstico de aborto e a infecção congênita
associados à DVB requerem exames laboratoriais. Amostras apropriadas devem
ser submetidas à histologia e ao isolamento do vírus, junto com amostras de soro
coletadas antes da secreção do colostro. O diagnóstico em bovinos persistentemen-
te infectados requer isolamento do vírus do sangue, soro ou couro de boi.
Controle – Não existe tratamento específico para DVB, mas uma terapia de
suporte é recomendada. Vacinas de vírus vivo modificado e de vírus inativado estão
disponíveis e podem conferir proteção significativa. Em geral, as vacinas são
aplicadas aos 6 a 10 meses de idade, quando a imunidade pelo colostro cessar; os
fabricantes das vacinas recomendam um esquema de vacinação que deve ser
rigidamente seguido. Existem evidências de que a vacinação de bovinos persisten-
temente infectados e imunotolerantes com uma vacina de vírus de DVB citopático
atenuado pode resultar em doença severa da mucosa; no entanto, isto nem sempre
ocorre e estes animais podem desenvolver anticorpos neutralizantes para o vírus da
vacina. As vacinas inativadas para DVB também encontram-se disponíveis e seu
uso pode eliminar os problemas algumas vezes atribuídos ao uso de vacinas
atenuadas. Como os animais com infecção persistente podem agir como uma fonte
contínua de infecção no interior do rebanho, em teoria, eles devem ser detectados
e eliminados. No entanto, isto é caro, pois exige uma avaliação sorológica do
rebanho e isolamento do vírus a partir do sangue dos animais soronegativos. O uso
de sondas de ácido nucléico (genes) para detectar o vírus da DVB em amostras de
couro bovino pode reduzir o custo do teste. Ovelhas prenhes não devem ser
misturadas ao gado bovino, pois a infecção pelo vírus da DVB pode resultar na
doença da fronteira (ver pág. 403).
CÓLICA EM EQÜINOS
Trata-se de uma síndrome potencialmente fatal, manifestada por início de
peragudo a crônico, dor abdominal de leve a intensa e depressão.
Etiologia e patogenia – A dor visceral geralmente emana de uma desordem no
trato GI, mas algumas anormalidades no trato urogenital podem causar sintomas
idênticos. Outros problemas que devem ser considerados são as causas de dores
abdominais parietais (por exemplo, peritonite, torção uterina, pielonefrite) ou os de
sintomas que imitam dor abdominal (por exemplo, miosite generalizada ou tetania,
laminite, ou pleurisia). Inúmeros processos patológicos que causam alteração (ou
parada) no fluxo da ingesta, que resultem em distensão luminal gástrica e/ou
intestinal, inchaço mural, isquemia ou infarto transmural, ou inflamação crônica ou
aguda do intestino (devido a enterites infecciosas ou problemas ulcerativos das
mucosas) podem causar sintomas de dor abdominal em grau variável. As principais
causas estão divididas em obstruções simples (funcionais) ou estrangulantes.
As práticas incorretas de manejo, como rápidas alterações na dieta (um “acidente
alimentar”), podem causar uma mudança no pH da ingesta, uma alteração na flora
Cólica em Eqüinos 202
A dor causada por uma lesão no trato urogenital é infreqüente, sendo mais típica
em éguas pré- ou pós-parturientes. As lesões uterinas primárias (por exemplo, uma
ruptura de vaso uterino pré-parto, ou perfuração da parede durante o parto) podem
resultar em dor abdominal de moderada a intensa. Uma doença renal pélvica ou
cortical, apesar de rara, pode causar leves sintomas de cólica, normalmente em
adultos. Doenças do trato inferior, na maioria das vezes urolitíases, causam
hematúria e dor abdominal associada, geralmente em machos. A ruptura espontâ-
nea da bexiga pode ocorrer nos primeiros dias de vida dos potros machos.
A obstrução no fluxo de ingesta com acúmulo de líquido e gás, resultando em
distensão da víscera, é a causa da dor nos problemas obstrutivos simples. O tecido
isquêmico é, por si só, extremamente doloroso até que ocorra morte tecidual. Ambos
os componentes contribuem para os sintomas de cólica nos casos de obstrução por
estrangulamento.
A obstrução no fluxo da ingesta, devido a obstrução simples ou por estrangulamen-
to, infarto regional, ou enterite inflamatória, invariavelmente altera a seqüência normal
da secreção de fluidos no trato do intestino delgado e a reabsorção no ceco e cólon,
resultando em uma perda de volume circulatório. A rapidez da perda de líquido na
circulação e a hemoconcentração resultante e eventual síndrome do choque hipovo-
lêmico são geralmente determinadas pela localização da lesão ao longo do trato e
pela quantidade de tecido afetada pelo dano. As obstruções do trato superior
impedem a reabsorção cecal de secreções GI induzindo, portanto, um rápido início
de hipovolemia, enquanto as lesões distais ao ceco geralmente demoram para
provocar um choque cardiovascular (com exceção do vólvulo do cólon). A magnitude
da lesão, por exemplo, vólvulo mesentérico completo do intestino delgado ou vólvulo
completo do cólon, acelera o início do choque hipovolêmico devido à perda conside-
rável de sangue para o tecido estrangulado, assim como devido à interferência na
recuperação de fluidos secretórios GI. As alterações na flora luminal devido à estase
do fluxo de ingesta e à liberação de endotoxinas Gram-negativas resultantes
compõem o efeito da hipovolemia na dinâmica do líquido cardiovascular.
A causa da morte em casos graves é o choque cardiovascular, por si só ou
combinado à endotoxemia Gram-negativa. A maioria das causas é complicada pela
perda total de líquidos da circulação.
Achados clínicos e diagnóstico – A avaliação e a interpretação de todos os
achados físicos e laboratoriais devem ser consideradas, estando-se consciente de
que o cavalo pode já estar em, ou eventualmente atingir, choque cardiovascular. A
manifestação de dor é variável, independentemente do problema causador, apesar
de os sintomas geralmente estarem correlacionados com a intensidade da lesão ao
trato GI. Uma dor intensa e contínua deve ser interpretada como risco potencial à vida.
Na maioria dos casos, qualquer que seja a causa, os sintomas iniciais são
semelhantes, variando em intensidade. O animal pode demonstrar desconforto por
um ou vários dos sintomas a seguir: cavar, coicear o abdome, deitar-se e levantar-se,
rolar, olhar para o flanco e apresentar posturas anormais, por exemplo, sentar como
cão, adotar postura de “cavalete”, ou deitar-se em decúbito dorsal. Os surtos de dor
podem ser intermitentes (e subagudos), especialmente nos casos tratáveis por
medicamentos e inicialmente no curso de casos mais graves. Durante os surtos de
dor intensa, a atividade violenta pode resultar em traumas auto-infligidos. Outros
sintomas correlacionados à dor, por exemplo, sudorese, taquicardia, hiperpnéia e
policitemia relativa, podem ser indicações iniciais de choque cardiovascular iminente.
O estado cardiovascular do cavalo deve ser avaliado no primeiro exame e nos
exames subseqüentes (se forem necessários), pois os choques hipovolêmico e
endotóxico são seqüelas eventuais da perda de volume circulatório e obstrução do
fluxo de ingesta. Deve ser sempre coletada uma pequena amostra de sangue para
a realização do hematócrito e medida da proteína total. A leitura inicial é importante
Cólica em Eqüinos 204
A distensão gástrica pode ser primária, porém, na maioria das vezes, é secun-
dária à obstrução do intestino delgado e, por vezes, à obstrução do duodeno devido
a intenso timpanismo do intestino grosso. Isto causa sintomas de desconforto
intenso e não é palpável. A passagem da sonda nasogástrica pode permitir a
descompressão gástrica espontânea, o que normalmente alivia os sintomas clíni-
cos. O volume de líquido retirado deve ser notado. Sua coloração varia conforme o
último alimento ingerido, porém um líquido verde e malcheiroso é típico. O pH do
líquido deve ser fortemente ácido; o líquido alcalino é típico com uma obstrução na
porção proximal do intestino delgado e/ou íleo. Pode ser observado sangue no
refluxo gástrico nas gastrites primárias (úlceras), duodenojejunites proximais, ou
obstruções por estrangulamento do intestino delgado proximal. A distensão secun-
dária à sobrecarga de grãos é difícil de aliviar pela sonda nasogástrica. O vômito ou
regurgitação nasogástrica espontânea é geralmente acompanhado por sintomas
dramáticos de dor imediatamente antes da ruptura gástrica.
A abdominocentese na linha ventral média é importante para o diagnóstico. A
amostra deve ser coletada sem contaminação por sangue periférico utilizando-se
uma cânula romba. As enterites, obstruções simples, deslocamentos, ou pequenas
lesões infartadas provocam poucas alterações no líquido peritoneal. Uma obstrução
intestinal estrangulante causa diapedese hemorrágica de hemácias na cavidade
peritoneal. Concomitantemente, a inflamação aguda provoca uma exsudação
variável de leucócitos e proteína. Deste modo, o líquido é obtido prontamente, com
coloração alterada e turvo (em proporção ao número e tipo de células presentes).
Podem estar presentes hemácias citologicamente livres ou fagocitadas, enquanto
os neutrófilos geralmente são as células nucleadas predominantes. Podem também
estar presentes macrófagos e células mesoteliais.
A concentração de lactato no líquido peritoneal aumenta em proporção ao grau
e à quantidade de isquemia intestinal. Na necrose completa de parede intestinal são
observadas bactérias fagocitadas e/ou livres, normalmente indicando um prognós-
tico ruim. A diferenciação de uma peritonite séptica primária (sem necrose intestinal)
pode ser difícil. A presença de microrganismos misturados, além de sangue e fibras
vegetais, é patognomônica de uma ruptura aguda de víscera. A enterocentese
acidental pode ser distinguida de uma ruptura de víscera pelo fato de as bactérias
não estarem fagocitadas, possível presença de ciliados, e morfologia de leucócitos
normal; em um intestino rompido, algumas bactérias podem estar fagocitadas e
muitos leucócitos estão acentuadamente degenerados.
A concentração sangüínea de bilirrubina não conjugada pode aumentar em
muitos casos de cólica; no entanto, nas colelitíases, tanto a concentração de
bilirrubina não conjugada como a de bilirrubina conjugada estão aumentadas.
Conseqüentemente, na colelitíase, o cavalo pode apresentar mucosas, esclera,
plasma, e líquido peritoneal ictéricos, com bilirrubinúria e aumento nas atividades da
fosfatase alcalina e γ-glutamiltransferase séricas.
Tratamento – A analgesia e/ou sedação leve devem ser utilizadas conforme
necessário para permitir um exame completo e apropriado e/ou tratamento ou
terapia medicamentosos para choque. Os cavalos que demonstram sinais vitais
consistentes com choque hipovolêmico (incluindo freqüência cardíaca >80/min)
devem receber um cateter EV jugular, iniciando-se a terapia de reposição de volume
líquido EV, baseada na avaliação clínica do grau de desidratação. Deve ser passada
uma sonda nasogástrica para pesquisar e aliviar o timpanismo gástrico e distensão
por líquidos. As impactações leves podem ser dispersadas com óleo mineral (2 a 4L
para um adulto) ou sulfossuccinato sódico de dioctil (7,5 a 30 g) via sonda naso-
gástrica. O sulfato de magnésio (0,5 a 1 g/kg de peso corporal por sonda nasogástrica)
age como um catártico osmótico, sendo útil em algumas cólicas por areia. A
reposição de líquido EV além das necessidades diárias de manutenção (super-
Cólica em Eqüinos 206
Cólicas em potros
Várias lesões (ver anteriormente) são observadas em cavalos jovens com
cólicas, embora com menor freqüência geral. A cólica e a distensão abdominal nos
primeiros dias de vida são geralmente causadas por ruptura da bexiga, porém o
vólvulo do intestino delgado ou cólon é infreqüentemente observado. Novamente,
a manifestação de dor é o sintoma clínico discriminatório. Em potros jovens, a causa
mais comum de cólica que exige terapia cirúrgica é a intussuscepção jejunal.
A retenção de mecônio é uma causa comum de impactação do cólon maior em
recém-nascidos, particularmente em potros. Os sintomas iniciais são drámaticos,
mas as recorrências dos ciclos de dor podem ser evidentes e, por não haver
passagem fecal, as fezes são escassas, duras e recobertas por muco. Os casos
severos podem requerer o uso de fórceps cego ou, sobretudo se a retenção for maior
no trato, até de cirurgia para remoção da massa impactada. Usualmente, no entanto,
apenas enemas introduzidos cuidadosamente por um tubo flexível longo serão
suficientes. É recomendado administrar, em intervalos de , 4h, água com pequena
quantidade de sabão, ou água contendo um agente redutor da tensão superficial.
Também podem ser úteis pequenas doses, VO, de óleo mineral, aos mesmos
intervalos. Muitos acham aconselhável administrar um enema suave para todos os
potros após o nascimento e até quando persistir a passagem do mecônio.
DOENÇAS DO ESÔFAGO, GR AN
IMPACTAÇÃO
É uma obstrução do esôfago por massa alimentar ou corpos estranhos.
Etiologia – Cavalos engasgam muito freqüentemente ao comerem, muito
avidamente, grãos secos e, com menos freqüência, espiga de milho, batata ou um
bolo de feno e, por vezes, com pílulas medicinais. A impactação no cavalo
freqüentemente é uma complicação de estenose ou diverticulose, bem como de
uma esofagite. Os ruminantes, geralmente engasgam com objetos sólidos, como
maçãs, pêras, beterrabas, ameixas, batatas, nabos ou espigas de milho. Em raras
ocasiões, os bovinos engasgam com objetos estranhos obtidos no alimento. Em
grandes animais, a obstrução ocorre mais freqüentemente na porção cervical do que
na porção torácica do esôfago.
Achados clínicos: cavalos – O cavalo afetado exibe ansiedade, pescoço
arqueado e ânsia de vômito. A salivação é profusa e o alimento e a saliva são
regurgitados pelas narinas. A tosse é pronunciada e o animal pode bater as patas
no solo, deitar-se e mostrar outros sinais de aflição. O leite sai pelas narinas, nos
potros em amamentação, numa tentativa de engolir, e este sinal deve ser diferen-
ciado daquele causado pela fenda do palato. Após , 1h, os esforços espasmódicos
ou forçados de engolir tornam-se menos freqüentes e o animal pode ficar quieto.
Bovinos – O timpanismo (ver pág. 195) e a salivação são sinais característicos.
O grau do timpanismo varia com a extensão da estenose esofágica e com o período
de tempo no qual ela existe. Movimentos mastigatórios, protrusão da língua,
extensão da cabeça e do pescoço, dispnéia, grunhidos e tosse são freqüentemente
observados.
Diagnóstico – O diagnóstico é feito a partir do histórico e dos sintomas visíveis.
Um objeto causando a obstrução do esôfago cervical pode ser localizado pela
palpação externa ou passagem de uma sonda estomacal. As obstruções torácicas
podem ser diagnosticadas pela passagem cuidadosa de uma sonda estomacal.
Doenças do Esôfago, Gr An 208
ESPASMO ESOFÁGICO
(Esofagismo)
É um problema que ocorre mais comumente em cavalos jovens. Apesar de sua
etiologia exata não ser conhecida, ele tem sido observado em potros lactentes
Doenças do Esôfago, Gr An 209
ESTENOSE ESOFÁGICA
Etiologia – A estenose pode ser causada por tecido cicatricial ou por compres-
são. A formação de tecidos cicatriciais no cavalo pode ser conseqüência das
obstruções esofágicas que causam danos à parede ou irritação desta pelo manuseio
bruto, na tentativa de remoção da obstrução. Cavalos velhos podem desenvolver
uma estenose da porção terminal do esôfago devido à fibrose da parede muscular.
Em raras ocasiões, químicos cáusticos podem causar esofagite e subseqüente
cicatrização. A compressão do esôfago ocorre ocasionalmente em bovinos com
linfossarcoma e a partir de aderências e reticulite traumática próximas ao hiato
esofágico. A compressão do esôfago por arco aórtico direito persistente (ver
pág. 42) é também relatada. Em ovinos, a compressão por linfadenite caseosa
(ver pág. 77), envolvendo os linfonodos mediastinais, é uma causa rara. Em
cavalos, a estenose é freqüentemente acompanhada por um divertículo ou este
pode causar estenose.
Achados clínicos – A estenose em cavalos resulta em ocorrências repetidas de
engasgo. A obstrução repetida leva a enfraquecimento das paredes e eventual
dilatação. Os sinais clínicos de impactação, descritos anteriormente, ocorrem
intermitentemente. A água é ingerida sem dificuldade. Os animais afetados cronica-
mente tendem a permanecer magros. O gado afligido tende a ter timpanismo crônico
e pode ter uma tendência a engasgar.
Diagnóstico – Em animais de grande porte, o engasgo habitual sugere estenose
e divertículo esofágico. Sondas estomacais de diâmetro crescente revelam o
estreitamento. Podem ser utilizadas sondas de diâmetro gradualmente maiores
para se determinar o grau da estenose. Radiografia por contraste pode ser usada
no caso de impactação cervical para se avaliar a área envolvida.
Tratamento – Uma alimentação à base de misturas finas e feno picado ajudará
a prevenir a obstrução, porém este procedimento é apenas paliativo e a eutanásia
deve ser considerada. Em alguns casos, o uso de “bougienage” (alargamento
forçoso da estenose por uma sonda com ponta cônica) foi eficaz. O procedimento
é realizado em várias ocasiões, resultando em rompimento do tecido conjuntivo
fibroso e restauração do lúmen esofágico. Se a causa primária é um divertículo, pode
ser possível corrigi-la cirurgicamente.
Doenças do Esôfago, Gr An 210
ESOFAGITE
É raramente diagnosticada como uma entidade clínica em grandes animais.
Pode ocorrer ocasionalmente em cavalos como uma seqüela de trauma causado
por corpos estranhos ou pelo uso descuidado de sondas estomacais; produtos
químicos irritantes podem infreqüentemente estar envolvidos. A esofagite em
potros, e ocasionalmente em cavalos adultos, resulta de refluxo gastroesofágico,
que ocorre secundariamente a uma obstrução ao esvaziamento estomacal. No
gado, esta condição pode ser secundária às doenças infecciosas, tais como diarréia
viral bovina, rinotraqueíte bovina infecciosa ou febre catarral maligna.
Em casos severos, disfagia, salivação, espasmos da musculatura esofágica e
cervical, vômitos e extensão da cabeça e do pescoço podem ser vistos.
A abstenção de água e alimentos por 2 dias geralmente alivia esta condição.
Eletrólitos, metampirona e corticosteróides devem ser administrados como uma
terapia de suporte e para controlar os espasmos. A água pode então ser oferecida
e se tolerada, misturas umedecidas podem ser administradas. Sulfonamidas ou
antibióticos podem ser usados para controlar a infecção.
PARACERATOSE RUMINAL
É uma doença dos bovinos e ovinos caracterizada pelo endurecimento e
aumento das papilas do rúmen e que ocorre mais comumente em animais alimen-
tados com ração alta em concentrado no período de terminação. Também ocorre em
bovinos alimentados com rações peletizadas à base de alfafa tratadas pelo calor.
Não parece estar relacionada à ingestão de antibióticos ou de concentrados
proteicos. A incidência em um grupo pode ser de até 40%. Acredita-se que as lesões
sejam causadas pela diminuição do pH e pelo aumento da concentração de ácidos
graxos voláteis no suco ruminal (ver também INDIGESTÃO “S IMPLES”, adiante). As
lesões geralmente não ocorrem em bovinos alimentados com grãos inteiros não
processados (naqueles animais em que o ganho de peso é rápido ), o que pode estar
relacionado ao pH mais alto e à maior concentração de ácido acético comparada
com a dos ácidos graxos voláteis de cadeia longa no suco ruminal.
Muitas das papilas encontram-se aumentadas e endurecidas e várias podem-se
aderir umas às outras para formar placas. As papilas do saco ventral anterior são as
mais comumente afetadas. Nos bovinos, o teto do saco dorsal pode mostrar focos
múltiplos de paraceratose, cada foco medindo de 2 a 3cm2 em área. Nos ovinos, as
Distúrbios Digestivos do Rúmen 214
I NDIGESTÃO “SIMPLES”
(Indigestão alimentar discreta)
É um pequeno distúrbio na função gastrointestinal dos ruminantes que ocorre
comumente em bovinos e, raramente, em ovinos. É geralmente relacionado a
mudanças na qualidade ou quantidade da dieta.
Etiologia – Quase todos os fatores da dieta que podem alterar o ambiente do
rúmen podem causar indigestão simples. A doença é comum em bovinos leiteiros
de corte alimentados manualmente por causa da variabilidade na qualidade e
quantidade dos alimentos oferecidos. Bovinos leiteiros podem, repentinamente,
comer excessivas quantidades de alimentos palatáveis, tais como milho ou silagem
de gramíneas; bovinos de corte podem comer excessivas quantidades de forragens
de baixa qualidade relativamente indigeríveis durante o inverno. Durante os perío-
dos de seca, bovinos e ovinos podem ser forçados a comer grandes quantidades de
palha de baixa qualidade, cana ou resíduos de culturas. Uma mudança repentina na
alimentação, usando-se alimentos congelados ou estragados, introduzindo-se uréia
na ração, colocando-se os bovinos em pastagens novas de grãos de cereal, ou o
consumo das placentas, pelas vacas parturientes podem também resultar em
indigestão simples. Certo grau de indigestão simples é comum em bovinos confina-
dos que tenham sido introduzidos em uma ração alta em grãos.
A indigestão simples é primariamente uma atonia ruminal e pode ser conseqüên-
cia de uma repentina mudança no pH do conteúdo ruminal, causada por uma
fermentação excessiva ou putrefação dos alimentos ingeridos. A simples acumula-
ção de quantidades excessivas de alimentos, relativamente indigeríveis, pode
fisicamente prejudicar a função do rúmen por 24 a 48h.
Achados clínicos – Os sintomas dependem do tipo de animal afetado e da causa
do distúrbio. Bovinos leiteiros com indigestão simples, devido a um consumo
exagerado de silagem, são anoréticos e sua produção leiteira diminui moderada-
mente. O rúmen está geralmente cheio, firme e fofo; as contrações primárias estão
ausentes mas as contrações secundárias podem estar presentes. A temperatura, o
pulso e a respiração são normais. As fezes mostram uma consistência normal a
firme, porém em quantidades reduzidas. A recuperação espontânea geralmente
ocorre em 24 a 48h.
A indigestão simples por alimentação excessiva com grãos resulta em anorexia
e estase ruminal; o rúmen não se encontra necessariamente cheio e pode conter
quantidade excessiva de fluidos. As fezes são, em geral, moles e fétidas. Os animais
afetados estão espertos e alertas e, usualmente, começam a comer dentro de 24h.
Um mal-estar mais severo causado pela mesma indigestão está descrito na
discussão de sobrecarga por grãos (ver anteriormente).
Diagnóstico – É baseado grandemente na eliminação de outras possibilida-
des e no histórico de uma mudança na natureza ou quantidade da dieta. Reações
Distúrbios Digestivos do Rúmen 215
INDIGESTÃO VAGAL
As lesões que envolvem a inervação vagal dos pré-estômagos e abomaso
causam graus variáveis de paralisia destes órgãos e síndromes caracterizadas pelo
atraso da passagem da ingesta, distensão do abdome, anorexia e produção de
fezes moles e pastosas em pequenas quantidades. A condição é comum em
bovinos e foi relatada em ovinos. Em bovinos, a reticuloperitonite traumática (ver
pág. 269) é a causa mais comum de lesões do nervo vago. Em alguns casos, a lesão
do nervo vago não pode ser demonstrada. Os danos aos receptores de tensão,
situados na parede direita do retículo e que controlam reflexamente a atividade
vagal, podem explicar tais casos. É comum ao final da gestação, porém pode ocorrer
em vacas não prenhes. O aparecimento é insidioso e a maioria dos bovinos pode
ficar doente por vários dias ou semanas, até que eles sejam examinados pelo
veterinário. A temperatura é geralmente normal; a freqüência cardíaca pode ser
menor que a normal nos estágios iniciais, porém posteriormente varia de 84 a
100/min. O rúmen está geralmente distendido com fluido e pode estar atônico ou
hipermóvel. Isto pode ser confirmado pela palpação retal, exceto nos casos de
prenhez avançada quando a palpação do órgão é dificultada. A auscultação do
flanco esquerdo pode revelar sons ressonantes similares aos ouvidos nos casos de
deslocamento esquerdo do abomaso. O abomaso pode estar impactado e palpável
externamente através da parede abdominal atrás do arco costal direito ou do lado
direito no assoalho ventral do abdome. Em geral o reto está vazio, exceto por um
muco pegajoso. A maioria dos bovinos afetados morre de inanição secundária,
desidratação e desequilíbrios ácido-básico e de eletrólitos.
A resposta ao tratamento é insatisfatória. As vacas de maior valor que estejam
perto da parição (1 a 2 semanas) podem ser mantidas em terapia fluídica EV
contínua, utilizando-se eletrólitos balanceados e glicose. A rumenotomia fornece
alívio apenas temporário e o uso de catárticos, estimulantes GI e substâncias
lubrificantes não traz resultados. A terapia fluídica e a lavagem do rúmen com uma
sonda estomacal de grande diâmetro são indicadas. O parto pode ser induzido nas
vacas prenhes de mais de 8 meses (ver INDUÇÃO DO ABORTO E DO PARTO, pág. 786).
Doenças Entéricas em Ruminantes 216
enterotoxinas que induzem hipersecreção, mas estas ainda não foram identificadas
quimicamente. Além da produção de enterotoxinas específicas, as bactérias tam-
bém podem induzir diarréia secundariamente devido à ação hipersecretória de
diversos produtos da inflamação. As salmonelas geralmente provocam septicemia,
além da diarréia. A C. perfringens patogênica produz toxinas necrosantes.
Os vírus geralmente provocam uma diarréia malabsortiva por destruição das
células absortivas da mucosa, encurtando assim os vilos intestinais. O mecanismo
pelo qual os criptosporídeos provocam a diarréia não é completamente entendido,
mas parece possuir um componente malabsortivo.
Os substitutos lácteos malformulados provocam diarréia por dois mecanismos,
ambos associados à malabsorção. Produtos vegetais (especialmente soja) são
comumente utilizados como fontes de proteína na manufatura dos substitutos
lácteos. Dependendo do grau de refinamento, estes produtos podem conter carboi-
dratos que são indigeríveis para os bezerros neonatos. Estes carboidratos não são
absorvidos no intestino delgado e podem contribuir para a diarréia pela fermentação
colônica. Além disso, a maior parte dos bezerros <3 semanas de idade parece ter
uma reação alérgica às proteínas da soja, o que resulta em atrofia vilosa, levando
a uma diarréia que é provavelmente malabsortiva.
Achados clínicos – Os principais sinais são diarréia, desidratação, fraqueza
profunda e morte em 1 a vários dias após o aparecimento. Geralmente, é difícil fazer
um diagnóstico etiológico definitivo baseado apenas nos achados clínicos. Entretan-
to, pela consideração do histórico, idade dos animais e sintomas clínicos, um
diagnóstico presumível pode ser possível.
A diarréia por E. coli enterotoxigênica (que possui K99) ocorre em bezerros < 3
a 5 dias de idade, raramente após. O início é repentino. Há eliminação profusa de
fezes líquidas e os bezerros rapidamente ficam deprimidos e em decúbito. O colapso
circulatório e a morte podem ocorrer em 12 a 24h. A temperatura corporal pode estar
elevada, mas geralmente está normal ou subnormal. A resposta à terapia com
fluidos e eletrólitos geralmente é boa, se administrada precocemente. A diarréia
causada por Salmonella spp normalmente não ocorre em bezerros <14 dias de
idade. É caracterizada por fezes fétidas, com sangue, fibrina e grande quantidade
de muco; a febre é comum. Os bezerros com salmonelose em geral perdem peso
rapidamente e muitas vezes morrem apesar da terapia vigorosa. A enterotoxemia
hemorrágica por C. perfringens Tipo B ou C é caracterizada por um início agudo de
depressão, fraqueza, diarréia sanguinolenta, dor abdominal e morte em poucas
horas. Normalmente ocorre em bezerros vigorosos de apenas alguns dias de idade,
com bom apetite e fonte de leite disponível. Os bezerros afetados por C. perfringens
geralmente morrem antes que possa ser instituído um tratamento.
A diarréia por rotavírus, coronavírus e outros vírus normalmente ocorre em
bezerros de 5 a 15 dias de idade. Os bezerros afetados ficam apenas moderada-
mente deprimidos e muitas vezes continuam mamando ou bebendo leite. As fezes
são volumosas, de moles a líquidas, e muitas vezes contêm grandes quantidades
de muco. A diarréia normalmente persiste por 3 a vários dias, sendo que alguns
casos de diarréia por coronavírus tornam-se crônicos. Os casos de diarréia viral que
não são complicados por outros patógenos geralmente respondem em poucos dias
à terapia com fluidos e eletrólitos bem como suporte nutricional adequado.
A criptosporidiose ocorre em bezerros de 5 a 35 dias de idade, sendo caracteri-
zada por diarréia persistente que não responde à terapia. A diarréia devida apenas
às Cryptosporidium spp é geralmente leve e autolimitante, apesar de a gravidade
poder estar relacionada ao estado geral do bezerro e à intensidade de exposição ao
microrganismo. As infecções combinadas de criptosporídeos, rota e/ou coronavírus
são comuns, resultando em diarréia persistente que muitas vezes é caracterizada
por emaciação e morte.
Doenças Entéricas em Ruminantes 220
Salmonelose
As manifestações clínicas variam de assintomáticas (portadores) até diarréia
aguda intensa. A doença, na maioria das vezes, ocorre esporadicamente, mas pode
tornar-se uma epidemia, dependendo da virulência do sorótipo específico. A
infecção pode ocorrer via contaminação da comida ou água, ou por contato com
animais que estão eliminando ativamente a bactéria. O estresse parece ter um papel
importante na patogenia; um histórico de cirurgia, transporte e doença concorrente
muitas vezes precede a diarréia em 2 a 7 dias. Salmonella typhimurium, S.
enteritidis, S. agona, S. anatum, S. heidelberg, e S. newport são os sorótipos mais
comuns associados à diarréia em adultos. A identificação do sorótipo pode auxiliar
na obtenção de um prognóstico preciso. Alguns sorótipos, por exemplo, S.
typhimurium, parecem ser mais patogênicos que outros.
Achados clínicos – Três formas foram reconhecidas em cavalos adultos. A
primeira é o portador assintomático, que pode ou não estar eliminando ativamente
o microrganismo, mas tem o potencial de transmiti-lo para os animais suscetíveis.
Se estressado, o portador pode também desenvolver a doença clínica. Várias
culturas fecais podem ser necessárias para identificar esta forma, pois o microrga-
nismo é eliminado intermitentemente e em pequeno número.
A segunda forma é uma doença leve, com sintomas de depressão, febre,
anorexia e fezes moles, porém não aquosas. Os cavalos apresentam uma neutro-
penia absoluta. A doença clínica pode durar de 4 a 5 dias e normalmente é
autolimitante. Pode ser feita a cultura de salmonelas a partir das fezes. Os animais
recuperados podem continuar excretando o microrganismo em suas fezes por
algumas semanas; portanto recomenda-se o isolamento e desinfecção completa da
área contaminada.
A terceira forma é a mais comum, caracterizando-se por um início agudo de
depressão intensa, anorexia, neutropenia profunda e, freqüentemente, dor abdomi-
nal. A diarréia ocorre em 6 a 24h. As fezes são liquefeitas, fétidas, podendo conter
elementos da mucosa e, raramente, sangue vivo. Estes animais desidratam-se
rapidamente. A acidose e perda de eletrólitos (Na +, K+, Cl–) ocorre conforme a
condição se deteriora. A salmonelose grave é também uma enteropppatia com
perda de proteínas. Os níveis plasmáticos de proteína podem ficar perigosamente
baixos após alguns dias de diarréia. Ocasionalmente estes animais sofrem bacte-
remia. Se não tratada, esta forma é normalmente fatal.
Diagnóstico – É feito sobre os sintomas clínicos, neutropenia intensa e cultura
positiva de fezes ou sangue. O cultivo de pequenas quantidades de fezes tem sido
mais bem-sucedido na identificação dos portadores que o cultivo de “swabs” retais.
Como as salmonelas não podem ser consistentemente obtidas em culturas de
animais que as estão eliminando ativamente, é necessário utilizar várias amostras
coletadas em momentos diferentes. A cultura adicional de biópsias de mucosa retal
aumenta a probabilidade de isolamento do microrganismo. As amostras devem ser
colocadas em caldo de selenito no momento da coleta para minimizar o crescimento
de outras bactérias fermentadoras de lactose.
Tratamento – O tratamento da forma grave de salmonelose é baseado na
reposição EV de líquidos e eletrólitos. Uma solução balanceada de eletrólitos, por
exemplo, lactato de Ringer, é boa para reposição de volume. Como o líquido está
sendo secretado ativamente para o lúmen intestinal, podem ser necessários
Doenças Entéricas em Eqüinos 223
mais de 1 ano. Por estas razões, a interpretação clínica dos resultados da titulação
pode não ser válida com base em casos individuais.
O isolamento da E. risticii é o método mais acurado de diagnóstico, porém é
difícil. Raramente, o microrganismo causador pode ser observado no interior de
monócitos em esfregaços sangüíneos corados por Giemsa ou Wright.
Tratamento – O regime terapêutico para a febre eqüina de Potomac é semelhan-
te ao da salmonelose aguda, que é o diagnóstico diferencial principal. Deve incluir
fluidoterapia EV agressiva e reposição de eletrólitos. A Ehrlichia risticii parece ser
mais sensível à oxitetraciclina tanto nos estudos in vitro quanto nos in vivo.
Clostridiose
Clostridium perfringens do Tipo A, pela produção de enterotoxinas, pode causar
diarréia aguda e toxemia nos eqüinos. A incidência é esporádica, podendo ser
afetados cavalos de todas as idades. O prognóstico depende da intensidade da
intoxicação.
Os sintomas são semelhantes aos outros casos de diarréia aquosa peraguda a
aguda. A depressão, a desidratação e a alteração na cor das membranas mucosas
são evidentes. A freqüência cardíaca pode ser > 100 batidas/min. A leucopenia pode
ser seguida de leucocitose. Uma elevação no AST (SGOT) indica dano hepático,
que pode ser confirmado pela biópsia.
Os achados de necropsia incluem tifilite e colite hemorrágica ou necrosante. O
intestino delgado também pode estar afetado. A degeneração do miocárdio pode ser
evidente microscopicamente. Hiperemia, edema, hemorragia e superinflação pul-
monares são observados consistentemente. A cultura fecal e a quantificação das
bactérias são necessárias para a confirmação. Uma contagem de 102 ou mais
unidades formadoras de colônias de C. perfringens/g de fezes é considerada
diagnóstica. Este microrganismo raramente é isolado de fezes normais.
A terapia de suporte (EV) com uma solução balanceada de eletrólitos é importan-
te. Na Suécia, os animais afetados são tratados com um produto lácteo que é
produzido a partir de uma cepa produtora de ácido láctico de estreptococos; isto
parece ser eficaz, apesar de a ação farmacológica ser desconhecida. Foi relatado
algum sucesso terapêutico com a utilização de antitoxina Tipos C e D para C.
perfringens, 250mL diluídos em 2L de solução de lactato de Ringer e administrados
lentamente por via EV. Uma vez que o animal se recuperou da fase aguda da
doença, deve ser repousado por pelo menos 1 mês para permitir que uma possível
lesão do miocárdio se cure.
Colite-X
É uma doença peraguda, fatal, de etiologia desconhecida e caracterizada por
início súbito de diarréia aquosa profusa e desenvolvimento de choque hipovolêmico.
Muitos cavalos afetados têm histórico de estresse.
Clinicamente, pode haver um breve período febril, porém a temperatura logo
retorna ao normal ou subnormal. A taquipnéia, taquicardia e depressão marcante
estão presentes. Desenvolve-se uma diarréia explosiva, seguida de desidratação
extrema. O choque hipovolêmico e, provavelmente, o endotóxico são manifestados
em tempo de preenchimento capilar ruim, membranas mucosas arroxeadas e
extremidades frias. A morte pode ocorrer em 3h do início ou, nos casos menos
agudos, em 24 a 48h. A maioria dos cavalos permanece em pé até o estágio terminal.
Na necropsia, há um edema e hemorragia acentuados na parede do cólon maior e
ceco, e o conteúdo intestinal é liquefeito e tingido de sangue.
Tipicamente, o hematócrito é > 65%, mesmo logo após o início. O leucograma
varia de normal a neutropenia com desvio à direita degenerativo. A acidose
Doenças Entéricas em Eqüinos 225
Parasitismo
Tanto os grandes estrôngilos quanto os pequenos foram incriminados como
causa da diarréia crônica (ver PARASITAS GASTROINTESTINAIS DOS CAVALOS, pág. 241).
A giardíase (ver pág. 163) é relatada como sendo uma causa possível de diarréia
intermitente em cavalos.
Doença infiltrativa
Qualquer processo que cause espessamento das paredes do cólon maior pode
interferir na absorção de água, resultando assim em diarréia crônica. Isto inclui
neoplasias, inflamação e formação de cicatrizes devidas a uma colite aguda
anterior. O exame retal pode ajudar a detectar uma neoplasia. A biópsia retal pode
ser benéfica no diagnóstico, mas uma biópsia de cólon, obtida cirurgicamente, é
mais confiável.
Diarréia bacteriana
A enterite/colite bacteriana em potros neonatos é muitas vezes um componente
da septicemia neonatal. Os microrganismos que podem estar envolvidos incluem a
Salmonella, Escherichia coli e a Klebsiella. São necessários terapia antimicrobiana
intensiva, correção de desequilíbrios de fluido e eletrolíticos e cuidados de enferma-
gem. Como a maioria dos potros afetados pode não ter recebido colostro adequado,
as transfusões de plasma podem ser indicadas (ver SEPTICEMIA NOS POTROS, pág.
457).
Uma diarréia hemorrágica aguda e fulminante com alta mortalidade que ocorre
em potros jovens está associada a Clostridium perfringens dos Tipos B e C. As
infecções podem ser esporádicas ou disseminadas em uma fazenda. A depressão
intensa e a rápida deterioração do estado cadiovascular são seguidas de morte em
24 a 48h. Na necropsia encontra-se uma hemorragia intraluminal e necrose extensa
de mucosa do intestino delgado.
Outras bactérias que foram associadas às diarréias de potros são Bacteroides
fragilis, Clostridium difficile e Rhodococcus (Corynebacterium) equi. As duas primei-
ras ocorrem em potros < 2 semanas de idade e exigem tratamento de suporte
intensivo. Apesar de a R. equi ser primariamente uma infecção respiratória, podem
ser observadas enterites agudas e crônicas; a diarréia é observada em potros de 1
a 4 meses de idade. O diagnóstico é mais fácil se há pneumonia. A bactéria pode
ser cultivada a partir de lavado traqueal. A cultura fecal positiva não é útil, pois a R.
equi é normalmente encontrada nas fezes de potros saudáveis. A eritromicina
combinada à rifampina é o tratamento de escolha.
Diarréia viral
O rotavírus é a principal causa de diarréia em potros. É altamente contagioso
e pode atingir todos os potros em uma fazenda em 3 a 5 dias. A doença é
caracterizada por depressão, anorexia e diarréia aquosa profusa. Normalmente
é observada em potros < 2 meses de idade, afetando mais gravemente os mais
jovens. A diarréia normalmente dura de 4 a 7 dias, apesar de poder persistir por
semanas.
O vírus destrói os enterócitos absortivos no intestino delgado, o que causa
malabsorção. Há também uma deficiência de lactase, o que resulta na passagem
da lactose para o intestino grosso, induzindo uma diarréia osmótica.
O diagnóstico é realizado pela identificação do vírus nas fezes por microscopia
eletrônica ou ELISA. O teste de ELISA é rápido e conveniente.
O tratamento geralmente é de suporte. A utilização de um preparado comercial
de lactase adicionado ao leite pode auxiliar os potros com infecção persistente.
Causas variadas
Pode ocorrer uma diarréia nutricional por superalimentação, como quando o
potro é reunido à mãe após um período de separação; e por nutrição imprópria, como
quando potros órfãos são alimentados com leite de vaca, ou potros que recebem
Doenças Entéricas em Eqüinos 227
sacarose. A intolerância à lactose em potros foi relatada, porém é rara e pode ser
determinada pelos testes de desafio à tolerância à lactose. A diarréia em potros pode
também estar associada à Strongyloides westeri e à criptosporidiose. Pode ser
observada uma doença intestinal em potros árabes com síndrome de imunodefi-
ciência combinada.
Neoplasia gastrointestinal
O carcinoma de células escamosas do estômago e a forma alimentar de
linfossarcoma são as formas mais comuns de neoplasia GI nos eqüinos. A perda de
peso crônica pode ser a única queixa. Uma diarréia crônica e hipoalbuminemia
podem ser observadas em cavalos nos quais o linfossarcoma se infiltrou na parede
intestinal.
Como a incidência de neoplasias GI é baixa, as outras causas de perda de peso
devem ser investigadas primeiro. O diagnóstico geralmente é realizado por exclusão
destas outras causas e pela necropsia. O carcinoma de células escamosas do
estômago pode ser diagnosticado por gastroscopia; é necessário um endoscópio de
fibra óptica de 2 a 3m para examinar-se a mucosa gástrica de cavalos adultos. No
linfossarcoma, a palpação retal pode detectar linfonodos aumentados ou intestino
espessado. Uma laparotomia exploratória, com biópsia intestinal, pode fornecer um
diagnóstico definitivo.
Não há tratamento específico disponível para neoplasia GI em eqüinos. O
prognóstico é grave.
Enterite proximal
(Enterite anterior, Duodenite-jejunite)
É uma síndrome caracterizada por dor abdominal de moderada a intensa, íleo e
distensão gástrica. Os cavalos afetados geralmente estão taquicárdicos e podem
apresentar um leve aumetno na temperatura corporal. Se não tratados, estes
animais desenvolvem choque e, possivelmente, ruptura gástrica. O hematócrito e
a proteína sérica podem estar aumentados, indicando uma desidratação. O
leucograma periférico varia entre os casos. As amostras de paracentese abdominal
geralmente apresentam uma contagem normal de leucócitos, mas os níveis de
proteína peritoneal freqüentemente são > 3g/dL.
Esta síndrome deve ser diferenciada da obstrução do intestino delgado, com a
qual possui muitos sintomas clínicos em comum. Diferenças importantes são
notadas na palpação retal e na resposta ao esvaziamento gástrico. Na obstrução do
intestino delgado, a palpação retal geralmente revela alças de intestino delgado
muito distendidas; na enterite proximal, pode ser sentido um intestino delgado
levemente distendido ou espessado, mas o reto também pode estar normal.
A passagem da sonda nasogástrica, em ambas as síndromes, pode resultar em
grandes quantidades de refluxo gástrico. Os cavalos com enterite proximal ficam
muito aliviados após este procedimento, enquanto os cavalos com obstrução no
intestino delgado continuam a piorar.
Os cavalos com enterite proximal podem continuar apresentando refluxo de
grandes quantidades de líquido para o estômago por vários dias. O tratamento inclui
descompressão nasogástrica repetida ou contínua. Devido ao grande volume de
fluido perdido, 40 a 60L de fluidos EV podem ser necessários diariamente. Drogas
antiinflamatórias não esteróides podem ser necessárias para aliviar a dor e fornecer
proteção contra as endotoxinas. Apesar de não ter sido identificado nenhum agente
etiológico, a antibioticoterapia de amplo espectro pode ser útil.
As complicações possíveis incluem pneumonia por aspiração e laminite. O
prognóstico é reservado, mas com cuidados intensivos, muitos destes animais
sobrevivem.
Doenças Entéricas em Suínos 229
DOENÇA DO EDEMA
(Enterotoxemia por E. coli)
É um distúrbio neurológico agudo e altamente fatal (ver pág. 723) que ocorre
geralmente de 5 dias a 2 semanas após o desmame, ocasião em que pode ser
acompanhado por diarréia.
COLIBACILOSE ENTÉRICA
É uma doença comum dos leitões neonatos, em amamentação e desmamados,
causada pela infecção do intestino delgado por cepas enterotoxigênicas de E. coli.
Etiologia e patogenia – Certas cepas de E. coli possuem fímbrias ou pêlos que
permitem sua aderência e colonização nas células do epitélio absortivo do jejuno e
íleo. Os três tipos antigênicos de pêlos associados com a patogenicidade são K88,
K99, 987P e F41. As cepas patogênicas produzem enterotoxinas que promovem o
aumento da secreção de líquido e eletrólitos para o interior do lúmen intestinal,
resultando em diarréia, desidratação e acidose. A infecção neonatal é comumente
causada por cepas K88 e 987P, enquanto a colibacilose pós-desmame é quase
sempre devida a cepas K88.
Achados clínicos – Diarréia profusa aquosa com desidratação rápida, acidose
e morte é comum. Raramente, os leitões sofrem colapso e morrem, antes de haver
perda de líquidos.
Doenças Entéricas em Suínos 231
SALMONELOSE ENTÉRICA
Salmonelas enteropatogênicas causam inflamação e necrose dos intestinos
delgado e grosso, resultando em diarréia que pode estar acompanhada de sepse
generalizada. Todas as idades são suscetíveis, porém a doença é mais comum em
suínos desmamados e em crescimento-término.
Etiologia e patogenia – Salmonella choleraesuis var. kunzendorf é a espécie
mais comum de salmonela que afeta os suínos. Algumas vezes, produz enterocolite
necrosante, porém mais comumente é uma doenca septicêmica caracterizada por
hepatite, pneumonia e vasculite cerebral. S. typhimurium, S. typhisuis e uma
variedade de outras espécies afetam primariamente o trato GI. A infecção do
intestino resulta numa inflamação necrótica e não supurativa da mucosa e submucosa
do íleo, ceco e cólon; freqüentemente a mucosa está ulcerada. Geralmente, há
extensão para os linfonodos regionais e, ocasionalmente, septicemia generalizada.
As fontes de infecção incluem suínos portadores, roedores e alimentos contamina-
dos (ver também SALMONELOSE, pág. 178).
Achados clínicos – Os leitões em amamentação podem desenvolver diarréia,
porém geralmente sucumbem à septicemia generalizada. Poucos desmamados ou
em crescimento-término são febris e apresentam fezes líquidas que podem ser
amarelas ou conter restos necróticos.
Lesões – Os porcos infectados por S. typhimurium possuem cólon e íleo
inflamados, discretamente espessos e geralmente com restos necróticos na super-
fície da mucosa. Os linfonodos mesentéricos estão aumentados e, algumas vezes,
vermelhos. A ulceração da mucosa pode ou não ser evidente. Uma pequena
quantidade de hemorragia pode ser observada nos casos agudos. Ocasionalmente,
podem se desenvolver constrições retais (ver adiante). Outras salmonelas ente-
ropatogênicas, com exceção da S. typhisuis, produzem lesões semelhantes às da
S. typhimurium, porém menos severas. As lesões da enterite por S. typhisuis são
distintas, tipicamente manifestadas como úlceras redondas (botonosas) e amarelas
no cólon, ceco e menos comumente no íleo.
Diagnóstico – A cultura de amostras fecais ou da mucosa intestinal em um meio
seletivo pode revelar o microrganismo; entretanto, Salmonella spp são freqüente-
Doenças Entéricas em Suínos 232
PARASITOSE
Ver também páginas 123, 129 e 263.
Ascaris suum – É o nematóideo intestinal mais comum dos suínos. Os vermes
adultos do intestino reduzem a eficiência alimentar e as infecções severas causam
emaciação. A migração larval incita inflamação no fígado e pulmões.
Doenças Entéricas em Suínos 233
CONSTRIÇÃO RETAL
Nos porcos em crescimento, as constrições retais são seqüelas de prolapsos
retais gravemente traumatizados (ver pág. 159) ou infecções que interferem com a
irrigação sangüínea retal. A primeira causa resulta em casos esporádicos; a última
pode ser epidêmica. Uma das causas pode ser a infecção por Salmonella typhimurium
(ver anteriormente), provocando uma proctite ulcerativa que cicatriza de modo que
Doenças Entéricas em Suínos 236
DISENTERIA SUÍNA
(Diarréia sanguinolenta)
É uma doença diarréica muco-hemorrágica comum em suínos, que afeta o
intestino grosso.
Etiologia e patogenia – O agente causador essencial é a Treponema
hyodysenteriae, um espiroqueta anaeróbico que produz uma hemolisina, apesar de
outros microrganismos poderem contribuir para a gravidade das lesões. Ela prolifera
no intestino grosso, provocando a degeneração e inflamação da mucosa superficial,
hipersecreção de muco pelo epitélio mucosal e pontos multifocais de sangramento
na superfície da mucosa. O microrganismo não penetra além da mucosa intestinal.
A capacidade diminuída da mucosa para reabsorver secreções endógenas do
intestino delgado não afetado resulta em diarréia.
Achados clínicos – Os primeiros sintomas são anorexia parcial com ou sem
febre e a eliminação de fezes moles. O curso é variável. Alguns animais morrem
peragudamente. Mais freqüentemente, desenvolve-se uma diarréia mucóide com
estrias de sangue, progredindo para uma diarréia aquosa muco-hemorrágica. Após
varios dias, as fezes ficam marrons e contêm estrias de fibrina e debris. Os porcos
com diarréia ficam desidratados, profundamente fracos, magros e emaciados.
Lesões – As lesões difusas confinam-se ao ceco, cólon espiral e reto. A mucosa
afetada está recoberta por uma camada de muco acinzentado ou transparente,
muitas vezes com estrias de sangue em suspensão, nos estágios iniciais; uma
mistura de sangue, fibrina e debris necróticos nos casos mais avançados; e debris
amarelados e necróticos no final da doença.
Diagnóstico – Os sintomas clínicos e os achados de necropsia são normalmente
suficientes para um diagnóstico presuntivo. A confirmação é baseada na demons-
tração das lesões histológicas típicas no intestino grosso e no isolamento da T.
hyodysenteriae por cultura anaeróbica. As doenças concomitantes não são inco-
muns. O diagnóstico diferencial inclui enterites proliferativas, salmoneloses e
infecções intensas por vermes capilares.
Tratamento e controle – O uso terapêutico de antibacterianos é eficaz se
iniciado precocemente. A medicação na água é preferida no início. Como as cepas
resistentes a drogas são prevalentes, é essencial que se escolha uma droga à qual
o microrganismo seja sensível. Bacitracina, carbadox, lincomicina, nitroimidazóis,
tiamulina e virginiamicina são utilizadas comumente. A doença pode ser erradicada
das instalações infectadas por um programa persistente e cuidadosamente plane-
Doenças Entéricas em Suínos 238
jado que inclui o tratamento dos porcos portadores com drogas bactericidas e
limpeza e desinfecção completa das instalações vazias.
GASTROENTERITE TRANSMISSÍVEL
É uma doença viral comum do intestino delgado que causa vômito e diarréia
profusa em porcos de todas as idades.
Etiologia e patogenia – O coronavírus causador infecta e destrói as células
epiteliais dos vilos do jejuno e íleo, resultando em atrofia severa do vilo, malabsor-
ção, diarréia osmótica e desidratação. O período de incubação é de cerca de 18h.
A disseminação da infecção pelo ar ou contato é rápida. Os porcos recuperados
podem portar o vírus em seu trato respiratório por 4 meses ou mais. As epidemias
mais severas ocorrem comumente durante os meses de inverno em virtude da maior
sobrevida do vírus em baixas temperaturas.
Achados clínicos – Em rebanhos não imunes, o vômito é, com freqüência, o
sinal inicial; este é seguido por diarréia aquosa profusa, desidratação e sede
excessiva. As fezes dos leitões em amamentação freqüentemente contêm leite não
digerido. A mortalidade é de cerca de 100% em leitões com menos de 1 semana de
idade, enquanto porcos com mais de 1 mês raramente morrem. As porcas gestantes
ocasionalmente abortam e as lactantes freqüentemente exibem vômito, diarréia e
agalactose. A diarréia nos leitões lactentes que sobrevivem continua por , 5 dias,
porém os leitões maiores podem ter diarréia por um período menor.
Em grandes rebanhos com GET endêmica, os sinais clínicos são variáveis,
dependendo do nível de imunidade e magnitude da exposição. A imunidade
lactogênica é geralmente suficiente para proteger os leitões de até 4 a 5 dias de
idade. Com o decréscimo do nível de anticorpos na secreção mamária, a infecção
e a doença do leite podem ocorrer. Dependendo do nível da imunidade e exposição,
a diarréia pode ser suave em algumas leitegadas, porém severa em outras. Se a
proteção passiva é suficiente para proteger os leitões durante o período de
amamentação, a diarréia desenvolve-se freqüentemente durante os primeiros dias
após o desmame.
Lesões – Os leitões que morrem de GET estão severamente desidratados e a
pele está suja com fezes líquidas. O estômago pode estar vazio, porém geralmente
contém leite. O intestino delgado tem paredes finas e todo o intestino contém um
líquido aquoso esverdeado ou amarelo com restos de leite não digerido. Os leitões
mais velhos mostram poucas lesões visíveis, exceto o cólon que contém mais
líquido que fezes formadas. A atrofia dos vilos pode ser observada pelo exame da
mucosa do intestino delgado com o auxílio de lupas de mão.
Diagnóstico – Os sinais clínicos na forma epidêmica geralmente justificam um
diagnóstico presumível. Na forma endêmica suave, são necessários procedimentos
de laboratório. Exame histológico e imunofluorescência do intestino delgado de-
monstram lesões típicas e a presença do antígeno GET viral, confirmando as
evidências. Em alguns surtos, a encefalomielite por coronavírus (ver, pág. 469) pode
provocar sintomas semelhantes.
Tratamento e controle – Não existe tratamento específico. O aumento da
temperatura das maternidades para minimizar as perdas de calor corporal e o
fornecimento de soluções de eletrólito para combater a desidratação são úteis. O
desmame de leitões mais velhos que já estão se alimentando no cocho pode reduzir
a mortalidade.
A imunidade protetora é dependente da presença do anticorpo no intestino
delgado. A proteção passiva dos leitões é fornecida pela amamentação contínua em
porcas imunes. A imunidade protetora ativa desenvolve-se após a GET da mucosa
intestinal. A injeção parenteral de porcas com vacinas contra GET incita a produção
Gastrite, Gr An 239
GASTRITE, GR AN
(Gastrite catarral)
podem apresentam fêmeas secas ou ovos. Pode ser utilizado o celofane adesivo em
torno do períneo, ou a raspagem da área com um depressor de língua para coletar
ovos para o exame microscópico.
A maioria das drogas de amplo espectro recomendadas para os estrôngilos (ver
adiante) é eficaz contra os oxiúros.
PARASITAS GASTROINTESTINAIS DE
RUMINANTES
PARASITAS GASTROINTESTINAIS DE BOVINOS
Infecções por Haemonchus, Ostertagia e Trichostrongylus
Os vermes estomacais dos bovinos mais comuns são Haemonchus placei
(verme capilar, verme estomacal grande, verme arame), Ostertagia ostertagi (verme
estomacal médio ou marrom) e Trichostrongylus axei (verme estomacal pequeno).
Em alguns países tropicais ocorre a Mecistocirrus digitatus, um grande verme de até
40mm de comprimento. O Haemonchus placei é principalmente um parasita de
regiões tropicais, ao passo que o O. ostertagi e, em menor grau o T. axei preferem
climas temperados. Os machos adultos de Haemonchus chegam a 18mm de
comprimento e as fêmeas atingem até 30mm. Os adultos de Ostertagia medem 6
a 9mm de comprimento e os Trichostrongylus, aproximadamente 5mm.
Os ciclos de vida pré-parasitária dos três grupos são geralmente semelhantes.
Com temperaturas favoráveis, as larvas eclodem pouco depois dos ovos terem sido
expelidos nas fezes e alcançam o estágio infectante em , 2 semanas sob
temperaturas ideais (24°C). O desenvolvimento para o estágio infectante é retarda-
do durante o clima frio. Em áreas com estreita variação diária de temperatura, os
meses com uma temperatura máxima média de 18ºC e com índice pluviométrico
superior a 5cm são propícios para o desenvolvimento das fases de vida livre de H.
placei, mas onde ocorrem variações, a temperatura média mínima de 10°C é um
padrão mais exato. As formas pré-parasitárias de O. ostertagi e T. axei desenvol-
vem-se e sobrevivem melhor em condições mais frias, mas seus limites máximos de
sobrevivência são menores. Se a temperatura for desfavorável ou existirem condi-
ções adversas, as larvas infectantes podem permanecer dormentes nas fezes por
semanas até que as condições sejam novamente favoráveis, depois do que um
grande número de larvas infectantes surge.
O período pré-patente de O. ostertagi é normalmente de 18 a 25 dias. As larvas
ingeridas penetram o lúmen das glândulas abomasais e fazem a muda no quarto dia;
elas permanecem ali durante o período pré-patente, crescendo e sofrendo uma última
muda antes de saírem para o lúmen do abomaso como adultos jovens. A presença
de larvas nas glândulas gástricas causa hiperplasia celular e resulta na formação de
nódulos, esparsos ou confluentes. Severa lise de células epiteliais pode ocorrer
quando a larva emerge. Neste momento, as células parietais são substituídas por
células não diferenciadas que se dividem rapidamente. Como conseqüência, em
infecções severas, o pH do abomaso sobe de 2,0 para mais de 6,0. A gastroenteropatia
com perda proteica é resultante e, juntamente com a anorexia e a digestão dificultada
de proteínas, leva a hipoproteinemia e perda de peso. A diarréia é constante. A doença
resultante de infecções recentes é definida como ostertagíase Tipo I e, neste caso,
a maior parte dos vermes presentes é adulta e há reação positiva aos tratamentos anti-
Parasitas Gastrointestinais de Ruminantes 247
tes aos de H. placei e, freqüentemente, são agrupados a estes nos exames fecais
de rotina. O ciclo de vida é direto. As larvas penetram na parede inferior do intestino
delgado, 3 a 6m, mas também no ceco e cólon, onde permanecem por 5 a 10 dias
e, então, retornam ao lúmen como larvas de quarto estágio. O período pré-patente
em animais suscetíveis é de aproximadamente 6 semanas. Entretanto, nas
reinfecções subseqüentes, as larvas ficam retidas por algum tempo e muitas delas
podem nunca retornar ao lúmen (encistamento no hospedeiro).
Os animais jovens sofrem o efeito dos vermes adultos, enquanto nos animais
mais velhos o efeito dos nódulos é mais importante. A infecção causa anorexia;
diarréia escura e fétida severa e constante; perda de peso; e morte. Em animais mais
velhos e resistentes, os nódulos que envolvem as larvas calcificam-se, reduzindo
assim a mobilidade do intestino. A estenose ou a intussuscepção ocorrem ocasio-
nalmente. Os nódulos podem ser palpados pelo reto e os vermes e nódulos podem
facilmente ser observados à necropsia.
Para diagnóstico, tratamento e controle, ver página 254.
Tricostrongilose intestinal
O ciclo de vida do Trichostrongylus intestinal (T. colubriformis, T. vitrinus, T.
rugatus) é direto; as larvas desenvolvem-se enterradas superficialmente nas criptas
da mucosa e tornam-se formas adultas e poedeiras de ovos, em 18 a 21 dias.
Anorexia, diarréia persistente e perda de peso são os principais sintomas. Ocorre
atrofia dos vilos que resulta em digestão prejudicada e malabsorção; ocorre perda
de proteína pela mucosa lesada. Não há lesões diagnósticas e uma contagem total
dos vermes deve ser realizada para comprovar a infecção e avaliá-la.
Para diagnóstico, tratamento e controle, ver página 254.
Nematodirus são difíceis de serem vistos exceto pelos seus movimentos no líquido
da ingesta. As infecções clinicamente importantes destes gêneros podem ser
facilmente despercebidas e o conteúdo total de todas as lavagens deve ser
ministrado num volume conhecido, e deve ser realizada uma contagem de vermes
para que a gravidade da infecção possa ser avaliada. Amostras medidas de
conteúdo GI e raspagens da mucosa devem ser examinadas microscopicamente
(pequeno aumento). Os nematóideos menores podem ser corados (5min) com uma
solução forte de iodo. Depois que a ingesta e os tecidos são descorados com
tiossulfato de sódio a 5%, os pequenos nematóideos ficam facilmente visíveis. A
significância do número de vermes presentes varia de acordo com as espécies dos
vermes e dos hospedeiros, por exemplo, em cordeiros, a presença de apenas 100
vermes Haemonchus poderá ser de importância clínica, enquanto provavelmente
seriam necessários de 5.000 a 10.000 vermes Ostertagia para terem a mesma
importância. Quando os animais apresentam diarréia por alguns dias, os vermes
podem estar sendo expelidos, e o tipo e a gravidade das lesões macroscópicas
também podem ser de considerável utilidade no diagnóstico.
Causas multifatoriais devem ser consideradas na avaliação dos achados clíni-
cos, laboratoriais e de necropsia. Infecções parasíticas mistas são a regra. A febre
de transporte, distúrbios GI ligados à nutrição, salmonelose, paratuberculose,
diarréia viral, deficiência de microelementos, fasciolose, vermes pulmonares, etc.
devem ser considerados ao se fazer um diagnóstico diferencial.
O diagnóstico da ostertagiose no gado durante o período de inibição larval (pré-
Tipo II) apresenta problemas técnicos, particularmente para a criação industrial de
corte nos EUA. A contagem de ovos nas fezes e a análise do pepsinogênio plasmático
não fornecem informações úteis, e os métodos imunológicos de detecção de larvas
inibidas ainda não foram desenvolvidos. Os fatores que predispõem à inibição devem
ser considerados, incluindo a origem geográfica do gado, época do ano ou estação
da chegada, idade do gado, histórico prévio de pastejo e manejo, condições
prevalentes do tempo durante o último período de pastejo e prevalência de O.
ostertagi na região de origem.
A informação referente a estes fatores normalmente não é disponível para o gado
de corte. Se chegaram após uma primavera pastando no sul, ou outono pastando
no norte dos EUA, podem ter um grande número de larvas inibidas. Bezerros mais
leves provenientes de áreas de alta prevalência do parasita também podem ter este
problema. Está se tornando mais aceito que uma das causas significativas de
doença clínica ou problemas na eficiência alimentar do gado de engorda é o
parasitismo, possivelmente ostertagiose. É aconselhável que o gado recebido de
uma área suspeita em uma época do ano suspeita seja prontamente tratado com um
anti-helmíntico eficiente contra as larvas inibidas.
Fasciola hepatica
(Trematódeo hepático comum)
Etiologia – Fasciola hepatica (30 × 12mm e formato de folha) tem uma larga
distribuição mundial e uma grande faixa de hospedeiros. Economicamente impor-
tantes, as infecções ocorrem em bovinos e ovinos com três formas: crônica,
raramente fatal em bovinos, mas freqüentemente fatal em ovelhas; subaguda ou
aguda, principalmente em ovelhas e freqüentemente fatal; e em conjunto com a
“doença negra”, quase exclusivamente em ovinos e geralmente fatal.
Os ovos expelidos nas fezes desenvolvem-se nos miracídios em aproximada-
mente 2 a 4 semanas, dependendo da temperatura e eclosão na água. Os miracídios
infectam caramujos limineídeos, nos quais ocorre multiplicação e desenvolvimento
através dos estágios de esporocistos, rédias (algumas vezes rédias filhas) e
cercárias. Após aproximadamente 2 meses (ou mais, em baixas temperaturas) as
cercárias saem dos caracóis e se encistam na vegetação aquática. Os caracóis
podem aumentar o período, dada a hibernação durante o inverno. As cercárias
encistadas (metacercárias) podem permanecer viáveis por muitos meses, a não ser
que elas se dessequem.
Após a ingestão pelo hospedeiro, geralmente com a forragem, os trematódeos
jovens são liberados no duodeno, penetram a parede intestinal e entram na
cavidade peritoneal. Os trematódeos jovens penetram a cápsula hepática e vagam
pelo parênquima por várias semanas, crescendo e destruindo os tecidos. Eles
penetram os dutos biliares, tornam-se maduros e começam a produzir ovos. O
período pré-patente é geralmente de 2 a 3 meses, dependendo da carga de
trematódeos. O trematódeo adulto pode viver nos dutos biliares dos ovinos por anos;
a maioria é emitida pelo bovino em 5 a 6 meses. As infecções pré-natais têm sido
descritas em bovinos.
Achados clínicos – A fasciolose em ruminantes varia em gravidade de uma
doença devastadora em ovinos a uma infecção assintomática em bovinos. O curso
geralmente é determinado pelo número de metacercárias ingeridas em um curto
período. Em ovinos, a fasciolose aguda ocorre sazonalmente e é manifestada por
um abdome distendido e dolorido, anemia e morte repentina. As mortes podem
ocorrer dentro de 6 semanas após a infecção. A síndrome aguda deve ser
diferenciada da “doença negra”, hepatite necrótica infecciosa (HNI, ver pág. 394).
Infecções por Trematódeos em Ruminantes 260
Fasciola gigantica
(Trematódeo hepático gigante)
Fasciola gigantica tem a forma semelhante à da F. hepatica, mas é maior (75mm)
e com limites claramente definidos. Ocorre em climas mais quentes (Ásia, África) em
bovinos e bufalinos, nos quais é responsável pela fasciolose crônica; e em ovinos,
nos quais a doença é freqüentemente aguda e fatal. O ciclo de vida é similar ao da
F. hepatica, exceto pelas espécies de caramujos hospedeiros intermediários. A
patologia da infecção, os procedimentos para diagnóstico e as medidas de controle
são semelhantes aos da F. hepatica.
Fascioloides magna
(Grande trematódeo hepático americano, Trematódeo hepático gigante)
A Fascioloides magna tem até 100mm de comprimento, é espessa e oval;
distingue-se das Fasciola spp pela falta de um cone projetante anterior. Ocorre em
ruminantes domésticos e silvestres; os veados são os hospedeiros normais. O ciclo
de vida assemelha-se ao das Fasciola spp.
O ciclo de vida não se completa nos bovinos. Neste hospedeiro, a patogenicidade
é baixa e as perdas estão resumidas em condenações do fígado. Em ovinos e
caprinos, alguns parasitas podem provocar a morte, devido à incapacidade do
hospedeiro de limitar a migração dos trematódeos no parênquima hepático. Em
veados, há pouca reação tecidual e os parasitas estão envolvidos por finos cistos
fibrosos que se comunicam com os dutos biliares. Em bovinos, a F. magna causa
reação tecidual severa, resultando em encapsulamento de paredes espessas que
não se comunicam com os dutos biliares. Em ovinos, os encapsulamentos não se
desenvolvem e os parasitas migram no fígado e em outros órgãos, causando graves
lesões. À secção, os fígados infectados de bovinos, ovinos, e veados mostram
caminhos tortuosos negros, formados pelas migrações dos trematódeos jovens.
Enquanto os ovos de F. magna assemelham-se aos da F. hepatica, este aspecto
é de uso limitado; desde que os ovos geralmente não ocorram em bovinos. A
recuperação de parasitas à necropsia e a diferenciação entre F. hepatica e F.
gigantica é necessária, para um diagnóstico definitivo. Quando ruminantes domés-
ticos e veados compartilham a mesma pastagem, a presença da doença devido à
F. magna deve ser considerada. Infecções mistas com F. hepatica ocorrem em
bovinos.
Oxiclozanida tem sido apontada como efetiva contra F. magna em veados de
cauda branca, e rafoxanida tem sido usada com sucesso contra as infecções
naturais em bovinos. Albendazol (7,5mg/kg), clorsulon (15mg/kg) e closantel
(15mg/kg) têm demonstrado eficácia contra os trematódeos de ovinos. Atualmente
nenhum produto é aprovado para uso contra esses trematódeos nos EUA. Os
Infecções por Trematódeos em Ruminantes 262
veados são necessários para que o ciclo de vida se complete; se eles forem
excluídos das áreas de pastagem de bovinos e ovinos, pode-se propiciar um
controle efetivo. O controle do hospedeiro intermediário (caracóis limneídeos) pode
ser possível, desde que tenham sido identificados na região e que a natureza do seu
hábitat tenha sido examinada.
Dicrocoelium dendriticum
(Trematódeo lanceiforme, Pequeno trematódeo hepático)
O trematódeo lanceiforme é delgado e tem 6 a 10mm de comprimento. Tem uma
grande distribuição em muitos países e infecta uma grande variedade de hospedei-
ros finais, incluindo os ruminantes domésticos. Outra espécie, D. hospes, é comum
na África. O primeiro hospedeiro intermediário é um caracol terrestre (Cionella
lubrica, nos EUA) do qual as cercárias emergem e ficam agregadas em uma massa
de muco viscoso (bola-viscosa). As cercárias são ingeridas por um segundo
hospedeiro intermediário, que são formigas (Formica fusca, nos EUA), e encistam-
se na cavidade abdominal. Uma ou duas metacercárias no gânglio subesofágico da
formiga causam comportamento anormal, fazendo com que formigas se fixem na
pastagem, o que aumenta a probabilidade de sua ingestão pelo hospedeiro
definitivo. Os trematódeos jovens migram para o fígado, via duto biliar, e iniciam a
oviposição em aproximadamente 10 a 12 semanas após a infecção.
Não há imunidade aparente e grande número de parasitas pode-se acumular (até
50.000 trematódeos em uma ovelha adulta). Ocorre cirrose e os dutos biliares
podem estar espessos e distendidos. As perdas econômicas são devidas primaria-
mente à condenação dos fígados. Sinais clínicos não são óbvios, mas podem ser
vistos em infecções maciças. Os ovos são muito pequenos (40 × 25µm), assimétri-
cos, marrom-amarelados e contêm miracídios.
O ciclo de vida complexo torna difícil o combate aos hospedeiros intermediários,
a não ser que as agregações de caracóis e formigas possam ser localizadas e
eliminadas. Contra os trematódeos, hetolina (19 a 22mg/kg), albendazol (20mg/kg),
fenbendazol (50mg/kg), netobimin (20mg/kg) e praziquantel (50mg/kg) têm 90% de
eficácia ou mais já relatada, mas seu uso não é aprovado em todos os países.
Eurytrema spp
(Trematódeo pancreático)
O trematódeo tem 8 a 16mm de comprimento, 6mm de largura e um corpo
espesso. É um parasita de dutos pancreáticos e, ocasionalmente, de dutos biliares
de ovinos, suínos e bovinos no Brasil e Ásia. Três espécies, E. pancreaticum, E.
coelomaticum e E. ovis são reconhecidas. Os primeiros hospedeiros intermediários
são caracóis terrestres (Bradybaena spp), e as carcárias encistam-se em gafanho-
tos (Conocephalus spp), que é o segundo hospedeiro intermediário. Após a ingestão
de um gafanhoto, os trematódeos imaturos são liberados e migram para o duto
pancreático, onde amadurcecem e produzem ovos em aproximadamente 11 a 14
semanas.
Não há sintomas clínicos evidentes. Os ovos semelhantes aos de Dicrocoelium
podem ser demonstrados nas fezes. As infecções leves causam inflamação
proliferativa dos dutos pancreáticos, que podem se tornar aumentados e ocluídos.
Em infecções maciças ocorrem lesões degenerativas, fibrosas e necróticas. As
perdas relatadas são devidas à condenação do pâncreas, mas a patogenia sugere
uma perda adicional da produção.
Como no caso do Dicrocoelium, o controle de hospedeiros intermediários pode
ser impraticável. O tratamento com praziquantel (20mg/kg, por 2 dias) tem sido
relatado como eficaz.
Parasitas Gastrointestinais de Suínos 263
Paranfístomos
(Anfístomos, Trematódeos ruminais, Trematódeos cônicos)
Há numerosas espécies (Paramphistomum, Calicophoron, Cotylophoron) em
ruminantes em todo o mundo. Os parasitas adultos tem forma de pêra, são rosados
ou vermelhos, com até 15mm de comprimento e ligam-se ao revestimento do rúmen.
Formas imaturas aparecem no duodeno e têm 1 a 3mm de comprimento.
Ovos são eliminados nas fezes e os miracídios eclodem na água, infectando
caracóis planorbídeos ou bulinídeos. O desenvolvimento no caracol é semelhante
ao da Fasciola hepatica, com o caramujo emitindo cercárias que se encistam na
pastagem. No hospedeiro ruminante, os trematódeos jovens excistam e permane-
cem no intestino delgado por 3 a 5 semanas, migrando posteriormente através do
retículo para o rúmen. Os ovos são produzidos 7 a 14 semanas após a infecção.
Os trematódeos adultos não causam doença evidente e podem ser encontrados
em grande número. Os parasitas imaturos prendem-se no duodeno e, às vezes, à
mucosa do íleo por meio de uma grande ventosa posterior e causam severa enterite,
possivelmente com necrose e hemorragia. Os animais afetados apresentam anore-
xia, polidipsia, prostração e diarréia severa. Grande mortalidade pode ocorrer,
especialmente em bovinos e ovinos jovens. Animais mais velhos podem desenvol-
ver resistência à reinfecção, mas podem continuar a abrigar numerosos trematódeos
adultos.
Os ovos grandes, claros e operculados são facilmente reconhecidos, mas na
paranfistomíase aguda pode não haver ovos nas fezes. A ocorrência já é conhecida
na área, e o exame de fezes diarréicas pode revelar trematódeos imaturos, muitos dos
quais são expelidos nestes casos. O diagnóstico é comumente feito na necropsia.
O caracol hospedeiro pode ser combatido como descrito no controle da fascioliose
(ver pág. 261). Os trematódeos imaturos, em ovinos, são suscetíveis à niclosamida,
niclofolan, bitional, oxiclozanida e rafoxanida, mas o resorantel e a oxiclozanida são
considerados os anti-helmínticos de escolha, com uma eficácia superior a 90% e
atividade contra os trematódeos ruminais adultos e imaturos nos bovinos e ovinos.
Nem todos estes compostos têm seu uso aprovado em todos os países.
PARASITAS GASTROINTESTINAIS
DE SUÍNOS
Queda da imunidade no período periparto em porcas – Durante este período
(2 semanas antes do parto a 6 semanas após), há uma queda da imunidade das
matrizes e, se infectadas por estrôngilos, um aumento marcante nas contagens de
ovos fecais ocorre. No desmame, há um decréscimo abrupto na eliminação de ovos
e muitos vermes, principalmente Oesophagostomum, são eliminados. Este fenôme-
no é considerado epidemiologicamente importante, pois o ambiente dos leitões fica
contaminado.
Controle de vermes – Além dos preceitos higiênicos básicos nas pocilgas, que
devem ser enfatizados, o controle geralmente baseia-se em anti-helmínticos. Os
produtos adicionados à ração incluem os benzimidazóis, levamisol e diclorvos. Um
programa anti-helmíntico simples é o seguinte: tratar as matrizes e marrãs , 10 dias
antes da cobertura e novamente antes do parto; tratar os porcos desmamados e em
engorda antes de entrarem em instalações limpas; tratar os cachaços a intervalos
de 6 meses. Alternativamente, uma injeção de ivermectina, que também é efetiva
contra piolhos e carrapatos, pode ser dada em um programa similar.
Parasitas Gastrointestinais de Suínos 264
Os sintomas não são específicos; o diagnóstico ante mortem é difícil, uma vez
que os ovos não flutuam com segurança em soluções salinas. O local de fixação
pode ter um centro necrótico circundado por uma zona de inflamação. Estas lesões
geralmente podem ser vistas através da serosa. O rostelo pode perfurar a parede
intestinal e causar peritonite e morte.
O levamisol é efetivo para o tratamento. O controle depende de se evitar o uso
de lotes ou de pastagens completamente contaminados.
Trata-se de uma doença dos rebanhos intensivos de ovinos no Reino Unido que
pode causar graves perdas em carneiros neonatos. Ocorre mais freqüentemente
em ovinos com 12 a 72h de vida. A morbidade em um rebanho pode ser de até 30%
e, se não tratada, a maioria dos animais afetados morre. Um problema aparente-
mente semelhante pode ocorrer em ovinos mais velhos, mas quase certamente
possui etiologia diferente.
Etiologia – A doença foi induzida em ovinos pela infecção oral com uma
variedade de cepas de Escherichia coli que, na maioria das situações, se esperaria
serem não patogênicas. Acredita-se que a rápida multiplicação destas bactérias no
intestino resulte na produção de endotoxinas que provocam a doença. A passagem
de bactérias ingeridas oralmente para o intestino foi facilitada pela falta de acidez do
abomaso dos ovinos neonatos; a multiplicação acelerada no intestino foi acentuada
pela motilidade diminuída, característica das primeiras 48h de vida. Além disto, a E.
coli é comumenta obtida em casos de campo. Outras bactérias podem estar
envolvidas. Apesar da aparente etiologia bacteriana, não há evidências de contágio.
O problema é mais comum em gêmeos ou trigêmeos, em cordeiros de ovelhas em
más condições e em cordeiros de ovelhas muito jovens ou muito velhas. A ingestão
de uma quantidade adequada de colostro (50mL/kg) na primeira hora de vida reduz
consideravelmente a suscetibilidade.
Achados clínicos e patogenia – Os sintomas iniciais incluem apatia, perda de
reflexo de sucção, lacrimejamento e salivação excessiva (sialorréia). Em poucas
horas, o abomaso fica distendido por gás e a mobilidade intestinal está deprimida
ou ausente. O aumento de pressão no abdome pode prejudicar a respiração.
Desenvolve-se bacteremia. Se não tratada, a morte ocorre em 12 a 24h por
hipoglicemia, hipotermia e toxemia.
Lesões – Nos estágios iniciais, há inflamação do intestino delgado ou grosso, ou
ambos. Em casos fatais, o abomaso está aumentado e pode conter quantidade
copiosa de fluido, os intestinos estão inflamados, há sinal de toxemia e as reservas
de gordura estão exauridas.
Diagnóstico – Um diagnóstico seguro só pode ser feito pelo exame clínico de
cordeiros nos estágios iniciais da condição, antes que os efeitos secundários da
inanição, toxemia e timpanismo abdominal sobrevenham. O diagnóstico diferencial
diferencial inclui inanição primária e enterite infecciosa.
Reticuloperitonite Traumática 269
RETICULOPERITONITE TRAUMÁTICA
(Gastrite traumática, Doença das ferragens)
DISENTERIA DE INVERNO
(Curso do inverno)
COLITE
Trata-se de uma causa comum de diarréia aguda ou crônica em cães e gatos,
caracterizada por inflamação do cólon.
Etiologia e patogenia – A colite aguda pode ocorrer após ingestão de lixo ou
outro material estranho irritante. Uma diarréia crônica do intestino grosso pode
resultar de: doenças inflamatórias do intestino grosso (linfocíticas-plasmocíticas,
histiocíticas ulcerativas, eosinofílicas, granulomatosas, supurativas), ou parasitá-
rias (Trichuris, Giardia, Ancylostoma, Uncinaria, Entamoeba histolytica, Balantidium
coli), infecciosas (Histoplasma capsulatum, Salmonella, Campylobacter, Yersinia
enterocolitica, Prototheca, Clostridium difficile), não inflamatórias (síndrome do
intestino irritável, inversão cecal, intussuscepção ileocólica, secundária a distúrbios
malassimilatórios do intestino delgado), ou neoplásicas (pólipos, leiomioma, adeno-
carcinoma, linfossarcoma, leiomiossarcoma, plasmacitoma, tumor de mastócitos).
A diarréia crônica pode também acompanhar distúrbios metabólicos como uremia,
hipoadrenocorticismo, hipotireoidismo e pancreatite recorrente.
A colite resulta em mobilidade alterada do cólon, menor absorção de água e
eletrólitos e excesso de secreções. A perda das contrações rítmicas segmentares
normais permite que o peristaltismo mova as fezes de forma mais rápida aboralmente.
A maior sensibilidade ao reflexo de defecação resulta em maior freqüência desta.
O tenesmo resulta de uma estimulação direta do reflexo de defecação pelo processo
inflamatório. A absorção prejudicada de sódio e água resulta em maior volume fecal.
A irritação da mucosa estimula a secreção de muco. O desnudamento do epitélio
superficial pode provocar ulceração e hemorragia, resultando em sangue fresco nas
fezes.
Achados clínicos – Os sintomas da colite aguda são um início súbito de diarréia
aquosa, algumas vezes sanguinolenta e mucóide, e vômitos ocasionais. O animal
pode estar deprimido, desidratado, febril e com dor abdominal. O exame retal pode
revelar fezes sanguinolentas e material estranho, por exemplo, ossos, plástico,
madeira ou papel-alumínio.
Os animais com colite crônica defecam com maior freqüência, mas eliminam um
volume pequeno de fezes a cada vez. A defecação é muitas vezes associada a uma
sensação de urgência, podendo haver tenesmo. As fezes podem estar semiformadas
ou líquidas; sangue fresco e muco podem estar presentes. Perda de peso, vômitos,
letargia e anorexia são infreqüentes. O exame físico normalmente nada revela, a
não ser pela perda de peso nos casos graves. A palpação abdominal pode revelar
uma massa abdominal, linfadenopatia sublombar, ou espessamento do cólon. O
exame retal pode revelar o caráter das fezes, mucosa retal áspera e enrugada,
massa ou estreitamento retal.
Diagnóstico – Os sintomas são indicativos de colite (ver também: EXAME DO
TRATO GI, pág. 113). Os exames laboratoriais de rotina podem descartar outras
causas de diarréia crônica, por exemplo, doenças não inflamatórias do cólon. Os
exames repetidos de flotação fecal e esfregaços diretos em solução salina podem
ser necessários para identificar ou descartar causas parasitárias; deve ser realizada
cultura das fezes em busca de bactérias patogênicas. A protoscopia, normalmente
realizada após um jejum de 24 a 48h, ou a endoscopia são úteis. Devem ser
administrados enemas com água morna ou uma com uma solução oral de lavagem
GI que contenha polietilenoglicol antes do exame. A sedação ou anestesia geral é
geralmente desejável. A mucosa normal do cólon é facilmente distendida por ar, lisa,
brilhante, rosa-pálida e possui vasos submucosos visíveis. Os animais com doença
no cólon apresentam uma granulosidade aumentada na mucosa, não permitindo a
visualização dos vasos submucosos. A mucosa pode estar excessivamente friável
Colite 274
e sangrar após o contato com o endoscópio. A parede do cólon pode estar menos
distensível que o normal. Podem ser observados erosões, úlceras, hemorragias,
parasitas, constrições, tumores e excesso de muco. A biópsia de mucosa é
necessária para o diagnóstico definitivo. Um enema de bário pode ser útil quando
há suspeita de uma intussuscepção cecocólica ou ileocólica, constritura ou neo-
plasia.
Tratamento – Se possível, o tratamento deve ser dirigido à causa primária. A
colite aguda inespecífica deve ser tratada sintomaticamente com líquidos e antibió-
ticos parenterais. Os antiespasmódicos (propantelina, difenoxilato, imodium, codeí-
na) podem ser administrados se houver tenesmo ou dor abdominal. O animal deve
jejuar 24 a 48h para repouso do intestino.
O manejo da dieta é um dos passos mais importantes no tratamento da colite
crônica. Pequenas e múltiplas refeições de uma dieta leve e hipoalergênica, por
exemplo, arroz misturado com ricota, ou uma dieta hipolergênica comercial, são
inicialmente administradas. Se houver suspeita de uma alergia alimentar, pode ser
necessária uma dieta de eliminação para determinar o antígeno em questão. Os
animais que respondem bem a uma dieta hipoalergênica podem eventualmente
voltar a uma ração comercial normal. Para os animais que apresentam uma resposta
parcial ao manejo dietético, pode ser adicionada fibra à dieta, na forma de farelo de
trigo ou psílio.
Os antimicrobianos úteis na colite crônica incluem a sulfassalazina, tilosina e o
metronidazol. Os modificadores de mobilidade podem ser utilizados durante a
exacerbação aguda da diarréia e quando acredita-se que o problema é relacionado
ao estresse (por exemplo, síndrome do intestino irritável). Os modificadores de
mobilidade incluem as drogas anticolinérgicas (brometo de propantelina, isopro-
pamida/proclorperazina), analgésicos narcóticos (tintura de ópio, paregórico, codeí-
na, loperamida, difenoxilato), e combinações de depressores do SNC e anties-
pasmódicos (clordiazepóxido/clidínio, isopropamida/proclorperazina). As drogas
imunossupressivas como a prednisona ou a azatioprina podem ser úteis em animais
refratários a outras terapias medicamentosas.
CONSTIPAÇÃO/OBSTIPAÇÃO
Constipação é uma doença na qual os movimentos intestinais são infreqüentes
ou ausentes: as fezes são excessivamente duras ou ressecadas, havendo um
volume fecal reduzido e tenesmo. A obstipação é o estado de constipação intratável
no qual a defecação tornou-se impossível. A obstipação não corrigida pode levar ao
megacólon, uma condição de dilatação extrema do cólon com impactação fecal.
Etiologia – Ambos os problemas podem resultar da ingestão de ossos, material
estranho ou pêlos; alteração dos padrões normais de defecação devido a alteração
no ambiente; lesões anorretais dolorosas (saculite anal, constrituras retais, fístulas
perianais, tumores retais); obstrução intraluminal ou extraluminal (corpo estranho,
hérnia perineal, divertículo retal, fratura pélvica, aumento de volume prostático,
pseudocoprostase, ou um tumor colônico, retal, anal, pélvico ou prostático); doença
neurogênica (doença na medula espinhal, disfunção neuromuscular congênita);
doença metabólica e endócrina (hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipocalemia);
induzida por drogas (anticolinérgicos, sulfato de bário, diuréticos, opiáceos); e
anomalias congênitas (ânus imperfurado).
Achados clínicos – O tenesmo, normalmente precedendo a defecação, é
notado na constipação crônica. Fezes duras e quebradiças ocasionalmente man-
Gastroenterite por Coronavírus 275
chadas de sangue podem ser eliminadas. Fezes macias de pequeno diâmetro (em
“forma de fita”) são sugestivas de uma lesão constritiva. Se a constipação persistir,
o animal fica deprimido, inapetente, fraco, desidratado, podendo vomitar ocasional-
mente. Fezes aquosas, marrons e pútridas podem ser eliminadas quando o fluido
passa em torno da massa fecal endurecida. A palpação abdominal revela fezes
endurecidas no cólon. Um cólon grandemente aumentado e impactado com fezes
pode ser diagnóstico para megacólon. O exame digital do reto é ressentido.
Diagnóstico – Um histórico de defecação difícil, dolorosa ou infreqüente e a
palpação da massa fecal impactada no cólon são patognomônicos. As radiografias
abdominais simples revelam um cólon distendido. Devido às dificuldades técnicas
na realização de um enema de bário, a proctoscopia/endoscopia do cólon é
preferida para visualização de massas obstrutivas ou estreitamentos. A celiotomia
exploratória pode ser necessária para uma avaliação acurada.
Tratamento e controle – Nas constipações simples, um enema (água morna ou
solução salina), pequenas quantidades de lubrificante ou surfactante (óleo mineral,
sulfossuccinato sódico de dioctil [DSS]) administrados VO, ou supositórios (bisacodil,
DSS) são eficazes. Em animais gravemente constipados, o equilíbrio fluido e
eletrolítico deve ser restabelecido por meio da administração EV de uma solução
balanceada. O tratamento pode então prosseguir com laxantes orais (bisacodil),
surfactantes (DSS), enemas e/ou remoção manual do material fecal impactado sob
anestesia geral. Os laxantes surfactantes, como o DSS, podem também ser
adicionados ao líquido do enema. Pode ser necessária a quebra manual delicada
da massa ou, em casos mais graves, manipulação cuidadosa com fórceps. A
remoção diária de porções de uma impactação persistente permitirá tratamento
medicamentoso entre as manipulações. A cirurgia pode ser necessária em casos
refratários aos enemas e quebra mecânica. Os enemas de retenção de fosfato de
sódio não devem ser utilizados em cães pequenos com constipação de moderada
a grave, ou em gatos; eles foram associados a hiperfosfatemia, hipernatremia,
hipocalcemia e morte. O tratamento bem-sucedido a longo prazo exige a identifica-
ção e remoção ou atenuação da causa subjacente. O manejo a longo prazo inclui
alteração na dieta e medicação. O farelo de trigo ou psílio pode ser misturado na
comida. Os laxantes surfactantes (por exemplo, DSS) ou lubrificantes (por exemplo,
óleo mineral) ou preparados comerciais mais palatáveis de petrolato-vitaminas são
úteis quando administrados rotineiramente.
A impactação persistente em gatos pode levar ao megacólon; pode ser neces-
sária a colectomia subtotal ou total.
DOENÇA DO ESÔFAGO, PQ AN
ACALASIA CRICOFARÍNGEA
É uma doença de causa desconhecida caracterizada pelo relaxamento inade-
quado do músculo cricofaríngeo, que leva a uma relativa inabilidade do animal para
deglutir alimentos ou líquidos. Ocorre principalmente em filhotes jovens e ocasional-
mente em cães de meia-idade. Tentativas repetidas de engolir são seguidas por
náuseas e regurgitação; a pneumonia por aspiração é uma complicação comum.
Um diagnóstico preciso requer observação fluoroscópica da deglutição após a
administração oral de um material contrastante (sozinho ou misturado com alimen-
to). O funcionamento anormal (perda do relaxamento) do músculo cricofaríngeo
resulta na retenção do bário na região posterior da faringe.
O tratamento consiste em miotomia cricofaríngea; a deglutição normal ocorre
imediatamente após a cirurgia. A pneumonia por aspiração, se presente, deve ser
tratada agressivamente com antibióticos sistêmicos, baseados em cultura e antibi-
ograma, quando possível.
Doença do Esôfago, Pq An 277
DILATAÇÃO DO ESÔFAGO
(Megaesôfago)
A dilatação esofágica em animais jovens pode ser resultado de uma anomalia de
anel vascular ou devida a uma causa desconhecida. O megaesôfago idiopático pode
ocorrer também em cães adultos, e o esôfago pode-se dilatar secundariamente a
doenças sistêmicas, como a miastenia grave, lúpus eritematoso sistêmico, polimio-
site, cinomose, hipoadrenocorticismo, intoxicação por metais pesados, hipotireoi-
dismo, neoplasia no SNC, ou trauma. A dilatação esofágica foi provocada experi-
mentalmente por meio da administração crônica de inibidores da colinesterase;
pode também ocorrer anteriormente a um estreitamento esofágico, neoplasia ou
compressão extra-esofágica.
O sintoma principal é a regurgitação. Um filhote com megaesôfago congênito
caracteristicamente começa a regurgitar quando começa a comer alimentos sólidos.
Inicialmente, a regurgitação ocorre logo após a deglutição; conforme o problema
progride, o esôfago aumenta e a comida é retida por mais tempo. Os filhotes
afetados geralmente têm aspecto pior e são menores que seus irmãos. Uma
pressão aplicada no abdome pode provocar aumento de volume do esôfago na
entrada do tórax. A pneumonia por aspiração é uma complicação comum, e os
sintomas associados são febre, tosse e corrimento nasal. Os adultos com
megaesôfago regurgitam e, geralmente, perdem peso. Os sintomas respiratórios
podem predominar, com pouco ou nenhum histórico de regurgitação. As radiogra-
fias torácicas revelam ar, líquido ou comida no esôfago dilatado. O esôfago torácico
normalmente está dilatado de maneira uniforme, podendo haver um grande desvio
ventral anterior ao coração. O esôfago cervical pode também estar dilatado.
Estreitamentos, corpos estranhos ou um anel vascular anormal devem ser descar-
tados com um esofagograma ou uma esofagoscopia.
Nos cães adultos, as doenças associadas (por exemplo, miastenia grave) devem
ser tratadas. A cirurgia é indicada para a anomalia do anel vascular. O tratamento
medicamentoso é indicado para o megaesôfago congênito ou idiopático adquirido. A
consistência da dieta que melhor previne a regurgitação varia em cada cão; uma pasta
mole funciona bem em muitos, mas alguns se dão melhor com comida seca. Prefere-
se um esquema de alimentação com várias pequenas refeições. A alimentação com
um prato elevado (que force o animal a comer com os membros anteriores mais altos
que os posteriores) ou segurar-se o cão em pé por 10 a 15min após a refeição permite
que a gravidade auxilie a passagem do alimento para o estômago. A cirurgia na junção
gastroesofágica normalmente não melhora os sintomas de um megaesôfago idiopá-
tico; o prognóstico geral é ruim, e muitos morrem de pneumonia por aspiração.
ESTENOSE ESOFÁGICA
(Estreitamento esofágico)
O estreitamento patológico do lúmen pode ocorrer após trauma, esofagite,
cirurgia, ou invasão por tumor. A maioria das estenoses ocorre na entrada torácica.
Os tumores esofágicos são raros, mas a associação do sarcoma esofágico e da
infecção por Spirocerca lupi (ver pág. 285) exige consideração nas áreas onde o
parasita é prevalente.
Os sintomas clínicos são semelhantes aos associados a corpos estranhos. A
radiografia contrastada pode mostrar dilatação do esôfago anterior à estenose. Um
esofagograma é importante para avaliar o número de estenoses, seu comprimento
e localização.
O tratamento com dilatação através de um cateter com balão inflável tem tido
sucesso; a “bougienage” é outra técnica disponível, porém mais traumática. A
Doença do Esôfago, Pq An 278
ESOFAGITE
A inflamação do esôfago, um problema mais freqüente em cães que em gatos,
é normalmente causada por refluxo gástrico. A esofagite por refluxo gástrico está
associada a anestesia, drogas que diminuem o tono do esfíncter esofágico inferior
(por exemplo, atropina, acepromazina) e vômitos agudos ou crônicos. Outras
causas incluem trauma devido a ingestão ou alojamento de corpos estranhos,
ingestão de substâncias cáusticas ou irritantes, ou complicações de megaesôfago.
A cardioplastia, irritação causada por instrumentos ou sondas de faringostomia,
neoplasmas e infecção por Spirocerca lupi (ver pág. 285) podem também causar
esofagite. O calicivírus em gatos raramente causa esofagite.
A regurgitação é o sintoma clássico de doença esofágica; no entanto, uma
esofagite leve pode não apresentar sintomas clínicos associados. A esofagite
moderada a intensa pode ser dolorosa, resultando em depressão e anorexia. Outros
sintomas são disfagia, salivação excessiva, tentativas repetidas de engolir, e
extensão da cabeça e pescoço.
A endoscopia permite a visualização de corpos estranhos esofágicos e avaliação
diretta dos danos ao esôfago. As radiografias simples e esofagogramas são de
pouco ou nenhum benefício no diagnóstico da esofagite. A fluoroscopia pode ser
utilizada para identificar a mobilidade diminuída, secundária à inflamação esofágica.
A avaliação histopatológica de uma biópsia em saca-bocado confirmará o diagnós-
tico clínico, sendo essencial nos raros casos que não apresentam patologia visível
macroscopicamente.
A esofagite leve normalmente não necessita de tratamento. Se existem sintomas
clínicos, a terapia medicamentosa deve ser iniciada. Os bloqueadores dos recepto-
res de H2 (por exemplo, cimetidina, ranitidina) diminuem a produção de ácido
gástrico. A metoclopramida aumenta o tono do esfíncter esofágico inferior e as
contrações esofágicas.
Deve ser oferecida uma alimentação macia, pobre em gordura, 3 a 4 vezes ao
dia. Se a esofagite é grave, pode ser utilizada uma sonda de gastrostomia para
descansar o esôfago. Nas esofagites intensas, a administração de glicocorticóides
por 2 a 3 semanas pode diminuir a probabilidade de formação de estreitamentos.
Normalmente é administrado um antibiótico de amplo espectro para evitar compli-
cações bacterianas.
ENTERITE
Trata-se de uma inflamação aguda ou crônica do intestino delgado. As enterites
podem existir como uma doença isolada, afetando apenas o intestino delgado, ou
mais comumente, como parte de um processo mais generalizado que afeta o
estômago ou cólon.
Etiologia – A enterite aguda é causada por vários distúrbios, incluindo exageros
na dieta ou intolerância a alimentos específicos (por exemplo, glúten), parasitas
intestinais, agentes infecciosos (virais, bacterianos, fúngios), drogas e toxinas. Em
geral, a enterite causada por parasitas, medicamentos, ou ingestão de alimentos
estragados ou contaminados tende a ser leve e autolimitante; as doenças infeccio-
sas são mais graves e com risco de vida. As causas específicas da enterite crônica
são menos definidas; as síndromes reconhecidas incluem enterite linfocítica-
plasmocítica, enterite eosinofílica, atrofia vilosa, enteropatia de sensibilidade ao
trigo, enteropatia imunoproliferativa dos Basenjis, supercrescimento bacteriano no
intestino delgado, linfangiectasia e linfossarcoma. Estes problemas freqüentemente
causam malabsorção intestinal (ver pág. 169).
A enterite é muitas vezes causada por parasitas intestinais, especialmente
Ancylostoma caninum, Giardia canis e coccídeos. As infecções virais são uma
causa importante de enterite aguda, grave ou fatal em cães e gatos. Os vírus
entéricos caninos incluem parvo-, corona-, rota-, astro- e o vírus da cinomose. O
parvo- (panleucopenia), o corona- e o rotavírus felino, assim como os vírus da
peritonite infecciosa felina, leucemia felina e imunodeficiência felina podem provo-
Enterite 280
DILATAÇÃO-VÓLVULO GÁSTRICOS
(DVG, Torsão gástrica, Timpanismo)
gástricos (DVG) é uma emergência com risco de vida que se inicia como uma
alteração mecânica da anatomia normal e progride para uma grave doença
metabólica. A DVG foi identificada primariamente em raças grandes e gigantes de
cães (com tórax profundo), mas foi relatada em raças menores como o dachshund,
e em outras espécies.
Etiologia e patogenia – A DVG tem sido associada a várias causas possíveis.
Em cães, estas causas incluem anatomia (cães grandes com tórax profundo e
estômagos pendulares sujeitos ao alongamento crônico dos ligamentos
hepatogástrico e hepatoduodenal), exercício paraprandial, e predisposição heredi-
tária. Os fatores adicionais associados à DVG são dietas baseadas em cereais
versus em carne, disfunção pilórica, e níveis séricos elevados de gastrina. Não está
claro se a anormalidade primária é a dilatação gástrica como resultado de retenção
gástrica, ou vólvulo gástrico resultante de lassidão dos ligamentos gástricos. Pelo
menos em alguns casos, o vólvulo está presente antes da dilatação.
A ingestão de comida e água, e a aerofagia iniciam a dilatação gástrica. O
exercício vigoroso ou alteração da posição corporal parecem complicar o processo.
O vólvulo gástrico impede o vômito efetivo, mas ainda permite que o ar seja engolido
(e a sonda orogástrica pode ser passada). O piloro também está obstruído. A
dilatação gástrica leva a um aumento da pressão intra-abdominal, o que reduz
significativamente o fluxo sangüíneo venoso na veia cava caudal e sistema portal.
O débito cardíaco diminui devido ao menor retorno venoso. Conforme a dilatação e
o vólvulo progridem, o fluxo arterial gástrico pode ficar comprometido. A estase
sangüínea e a hipoxia tecidual resultam em seqüestro de fluido e acúmulo de
endotoxina nos órgãos esplâncnicos. A hipotensão arterial causa diminuição do
fluxo sangüíneo coronário, com hipoxia do miocárdio. Deste modo, as formas de
choque cardiogênico, hipovolêmico e endotóxico contribuem para os desarranjos
fisiológicos observados na DVG. As complicações adicionais incluem a produção de
um fator depressor do miocárdio pelo pâncreas hipóxico, hipoxemia devida à
redução da amplitude do movimento diafragmático (hipoventilação) e alteração da
troca de gás pulmonar, múltiplas anormalidades ácido-básicas e coagulação
intravascular disseminada (CID).
Achados clínicos e diagnóstico – O histórico é variável. A dilatação gástrica
simples pode ter ocorrido anteriormente. A dilatação gástrica aguda simples não
pode ser diferenciada da dilatação com vólvulo apenas pelo exame físico. Início
agudo de inquetação, desconforto abdominal, dor epigástrica localizada, ânsias e
ptialismo excessivo são relatados com freqüência. A porção cranial do abdome está
marcantemente distendida e timpânica à percussão. A passagem de uma sonda
orogástrica não descarta o vólvulo. As radiografias evidenciam um estômago
grande, cheio de gás. A vista em decúbito lateral direito muitas vezes mostra o
deslocamento do piloro cheio de gás dorsocranialmente e para a esquerda da região
fúndica. O bário pode também ser utilizado para avaliar a posição do estômago. A
esplenomegalia e distensão do intestino delgado por gás podem também ser
observadas. O vólvulo gástrico pode também ser identificado na laparotomia.
Conforme o problema piora, desenvolvem-se choque e depressão acentuada. A
dispnéia e taquipnéia são comuns. Não ocorrem formas crônicas de dilatação
gástrica e vólvulo gástrico.
Lesões – O estômago está aumentado e atônico. O vólvulo gástrico geralmente
ocorre no sentido horário, quando observado da vista cranial para a caudal. O
aumento de volume e alteração da coloração dos órgãos esplâncnicos é comum. A
parede gástrica, ao longo da grande curvatura, muitas vezes está comprometida,
variando de hiperêmica à enegrecida. Os danos à mucosa gástrica são freqüente-
mente severos. A distensão e necrose da parede gástrica ocasionalmente resultam
em perfuração gástrica e peritonite.
Dilatação-Vólvulo Gástricos 283
estar atento aos sintomas iniciais de DVG, evitar exercícios vigorosos 1h pré-
prandial e 2h pós-prandiais, e evitar mudanças abruptas na dieta.
GASTRITE
É uma inflamação discreta com erosões superficiais da mucosa gástrica causada
por excesso de alimento, ingestão de comida estragada ou material indigerível (por
exemplo, ossos, pêlo, papel, brinquedos), administração de drogas irritantes (por
exemplo, aspirina) ou como uma seqüela da torção gástrica. A gastrite está também
associada com doenças infecciosas (por exemplo, cinomose, hepatite viral,
leptospirose e pielonefrite), insuficiência renal crônica, pancreatite aguda e parasi-
tas gastrointestinais. Ingestão de cáusticos, arsênico, mercúrio, chumbo, tálio ou
fenol pode provocar gastrite corrosiva aguda.
A gastrite subaguda ocorre quando a gastrite aguda é impropriamente tratada ou
quando a ingestão crônica de materiais irritantes continua. Vômito crônico pode
também estar presente na neoplasia gástrica, gastrite hipertrófica ou gastrite infiltrativa.
Achados clínicos – Vômito, abatimento e dor abdominal são os sinais principais.
Os animais podem exibir sede excessiva, mas vomitam logo após a ingestão de
água. Se a lesão mucosa for extensa, os vômitos podem ser repetitivos a despeito
da ingestão de comida. Se os agentes corrosivos causarem gastrite, o vômito
poderá conter sangue e fragmentos da mucosa gástrica. Os animais podem recusar
o alimento ou exibir um apetite “depravado” (lamber concreto, mastigar lixo). A dor
pode-se manifestar por inquietação e objeção à palpação do abdome anterior. Os
animais podem assumir uma posição curvada ou estirar-se sobre uma superfície
fria. Quando a gastrite é grave, freqüentemente uma enterite a acompanha. A
gastrite subaguda manifesta-se por vômito continuado, perda de peso, desidratação
e desequilíbrio eletrolítico.
Diagnóstico – Na maioria dos casos de gastrite aguda, o diagnóstico é baseado
no histórico, sintomas clínicos e resposta à terapia. Se os sintomas persistirem, a
radiografia gástrica pode revelar a presença de corpos estranhos ou anormalidades
na posição ou contorno do estômago. Como é difícil visualizar úlceras e neoplasmas
em radiografias simples, ela pode ser necessária para distender o estômago com
técnicas de contraste médio ou duplo. A hipertrofia das pregas gástricas não é um
achado radiográfico constante. A avaliação endoscópica e histopatológica de
biópsias mucosas fornecem um diagnóstico mais confiável.
Tratamento – Na gastrite aguda, a ração deve ser suspensa por pelo menos 24h.
O consumo de água deve ser controlado, fornecendo-se ao animal cubos de gelo
para lamber, se o vômito for persistente. Se a gastrite for secundária corpos
estranhos, torção gástrica, ou uma lesão similar, a causa básica deve ser corrigida.
Se as perdas hídricas forem significantes, a terapia com fluidos parenterais deve ser
instituída, para compensar a desidratação e o desequilíbrio eletrolítico. Como os
vômitos prolongados podem causar alcalose metabólica, hipocalemia e hipocloremia,
os exames laboratoriais apropriados devem ser utilizados nos casos graves.
A meperidina pode ser utilizada nos casos de gastrite corrosiva para minimizar
a dor. Um antiemético agindo centralmente (por exemplo, clorpromazina ou
proclorperazina) pode ser necessário até que uma terapia específica para doenças
de base se torne eficaz. Se um veneno foi ingerido, um emético (por exemplo,
apomorfina) deve ser administrado logo após a ingestão, a menos que a substância
engolida seja corrosiva. Para intoxicação, o antídoto deve ser administrado
imediamente, ou lavagem GI ou gástrica pode ser utilizada para remover o material
estranho irritante do estômago.
Parasitas Gastrointestinais, PQ AN 285
PARASITAS GASTROINTESTINAIS, PQ AN
INFECÇÃO POR SPIROCERCA LUPI
(Verminose esofágica)
Spirocerca lupi adultas são vermes vermelhos e brilhantes de 40mm (macho) a
70mm (fêmea) de comprimento, geralmente localizados dentro de nódulos nas
paredes esofágica, gástrica ou aórtica. A infecção é encontrada nas áreas do
sudeste dos EUA e também nas regiões tropicais de todo o mundo. Os cães são
infectados ao comer um hospedeiro intermediário (geralmente besouro do esterco)
ou um hospedeiro transportador (por exemplo, galinhas, répteis ou roedores). A
larva migra através da parede da aorta torácica, onde permanece geralmente por
cerca de 3 meses. Os ovos são eliminados nas fezes aproximadamente 5 a 6 meses
após a infecção.
Achados clínicos – A maioria dos cães com infecção por S. lupi não mostra
qualquer sinal clínico. Quando a lesão esofágica é muito grande, como geralmente
o é quando se torna neoplásica, o cachorro tem dificuldade em engolir e pode
vomitar repetidamente após tentar comer. Tais cães salivam profusamente e
eventualmente ficam magros. Estes sinais clínicos, sobretudo se acompanhados
por espondilite ou aumento de volume das extremidades característico de uma
osteopatia, são fortemente sugestivos de espirocercose com neoplasia associada,
particularmente nas regiões onde o parasita é prevalente. Ocasionalmente, um
cachorro morrerá de repente, como resultado de hemorragia na cavidade torácica,
após a ruptura da aorta danificada pelos vermes em desenvolvimento.
Lesões – As lesões características são aneurisma da aorta torácica, granulomas
reativos de tamanhos variados ao redor dos vermes, e freqüentemente, mas não
sempre, espondilite ossificante deformante das vértebras torácicas posteriores.
Sarcoma esofágico, comumente com metástases, está às vezes associado (apa-
rentemente de forma causal) com infecção por S. lupi, sobretudo em raças de caça.
Cães com sarcomas relacionados à espirocercose, com freqüência, desenvolvem
osteopatia pulmonar hipertrófica (ver pág. 589).
Diagnóstico – Pode ser feito pela demonstração dos ovos alongados caracte-
rísticos contendo a larva no exame fecal (ver pág. 1152), embora os ovos sejam
evacuados esporadicamente em fezes e freqüentemente perdidos. Uma gastroscopia
ocasionalmente pode revelar um nódulo ou um verme adulto. Um diagnóstico
provável pode ser feito por exame radiográfico, quando se revelam densas massas
no esôfago. O bário ajuda a definir a lesão.
Muitas infecções não são diagnosticadas até à necropsia. Os granulomas variam
grandemente de tamanho e localização no esôfago, mas em geral são bastamte
característicos para o diagnóstico, mesmo se os vermes não estiverem mais
presentes. Vermes e granulomas podem estar presentes no pulmão, traquéia,
mediastino, parede do estômago ou outra localização abdominal. Os aneurismas
cicatrizados da aorta persistem por toda a vida do cachorro e são diagnósticos de
Dilatação-Vólvulo Gástricos 286
ESTRONGILOIDOSE
O Strongyloides stercoralis é um pequeno e fraco nematóideo que, quando
adulto, penetra a mucosa da metade anterior do intestino delgado de cães. Os
vermes são quase transparentes, mas é possível vê-los sem ajuda de uma lupa à
necropsia. Geralmente as infecções são associadas a abrigos quentes, úmidos,
fechados e insalubres. Algumas evidências sugerem que as espécies encontradas
no cachorro são idênticas àquelas encontradas no homem. Outras espécies em
cães incluem S. planiceps e S. fuelleborni; a S. cati e a S. tumefaciens são
encontradas nos gatos.
Os vermes parasitas são todos fêmeas. Os ovos embrionam-se rapidamente e
muitas larvas eclodem antes de os ovos serem eliminados nas fezes. Sob condições
apropriadas de calor e umidade, o desenvolvimento extracorporal é rápido. O
terceiro estágio larval pode ser alcançado em pouco mais de 1 dia. Algumas destas
larvas desenvolvem-se em larvas filariformes infectantes; outras desenvolvem-se
em vermes de vida livre que se acasalam e produzem progênie similar àquela da
fêmea parasita. As larvas filariformes penetram a pele, mas também podem
contaminar um hospedeiro através da mucosa oral. A transmissão pelo colostro é
altamente suspeita, mas não definitivamente provada. A progênie pode ser elimina-
da nas fezes, 7 a 10 dias após infecção.
Parasitas Gastrointestinais, Pq An 287
ASCARÍASE
Os grandes helmínticos cilíndricos (nematóideos ascarídeos) de cachorros e
gatos são comumente encontrados, especialmente em cachorrinhos e gatinhos.
Das três espécies, Toxocara canis, Toxascaris leonina e Toxocara cati , a mais
importante é T. canis, não somente porque as larvas podem migrar no homem, mas
porque as infecções fatais podem ocorrer em filhotes de cachorro. T. leonina ocorre
mais freqüentemente em cães adultos e, menos freqüentemente, em gatos. Estas
espécies também ocorrem nos carnívoros selvagens.
Em cãezinhos, o modo usual de infecção com T. canis é a transferência trans-
placentária; se os filhotes < 6 semanas de idade ingerirem os ovos embrionários, as
larvas eclodidas, ao alcançar os pulmões são expelidas pela tosse e engolidas,
maturando em adultos capazes de colocar ovos no intestino delgado. Entretanto,
quando ovos infectivos de T. canis são engolidos por cachorros mais velhos, as larvas
eclodem, penetram a mucosa intestinal e migram para o fígado, pulmões, músculos,
tecido conectivo, rins e muitos outros tecidos. Na cadela prenhe, estas larvas hiber-
nantes são mobilizadas e migram para o feto em desenvolvimento e, eventualmente,
alcançam o intestino dentro de 1 semana logo após o nascimento. Algumas larvas
migram para a glândula mamária, de forma que o cachorrinho pode ser reinfectado
pelo leite. Durante este período perinatal, a imunidade da cadela à infecção por
ascarídeo é parcialmente suprimida e grande número de ovos pode ser eliminado.
As larvas dos nematóides ascarídeos podem migrar pelos tecidos de vários
animais, fornecendo assim uma fonte alternativa de infecção, particularmente para
gatos e carnívoros selvagens. Esta migração também ocorre se os ovos forem
engolidos pelo homem. A maioria das infecções humanas é assintomática, porém
febre, eosinofilia persistente e hepatomegalia (algumas vezes com comprometi-
mento pulmonar) podem ocorrer, provocando uma doença conhecida como larva
migrante visceral. Raramente, a larva pode alojar-se na retina, causando prejuízo
à visão (larva migrante ocular).
Dilatação-Vólvulo Gástricos 288
Os ciclos de vida da T. cati e da T. leonina são similares, exceto pelo fato de que,
na primeira, não ocorre infecção pré-natal, enquanto na segunda, a migração é
restrita à parede intestinal, de forma que não ocorre transmissão pré-natal nem
transmamária.
Achados clínicos e lesões – A primeira indicação de infecção nos animais
jovens é a falta de crescimento e a perda da condição física. Animais infectados
têm pêlos eriçados e são freqüentemente “barrigudos”. Vermes podem ser
vomitados e comumente evacuados nas fezes. Nos primeiros estágios, podem
ocorrer lesões pulmonares devido à migração das larvas; estas podem-se
complicar com pneumonite bacteriana, de modo que dificuldade respiratória de
gravidade variada pode sobrevir. Diarréia com excesso de muco pode ser
evidente.
Nas infecções graves em cachorrinhos, são comuns pneumonia verminótica,
ascite, degeneração gordurosa do fígado e enterite mucóide. Granulomas
corticorrenais contendo larvas são observados com freqüência em cães novos.
Diagnóstico – A infecção em cães e gatos é diagnosticada pela detecção de
ovos nas fezes. É importante distinguir os ovos esféricos e de casca irregular de
Toxocara spp do ovo oval de casca lisa de T. leonina, devido à importância dos
primeiros em saúde pública.
Tratamento – Os sais de piperazina ainda são largamente utilizados. Os
compostos de maior espectro incluem diclorvos, febantel, fenbendazol, flubendazol,
mebendazol, nitroscanato, oxfendazol e pamoato de pirantel. A dietilcarbamazina e
a ditiazanina também são empregadas.
Controle – Os ovos no solo e as larvas somáticas das cadelas são os
reservatórios principais de infecção. A transmissão perinatal de infecção é
grandemente reduzida por doses diárias de febendazol administradas às cadelas
do 40º dia de gestação até o 14º dia após o parto. Se isto não for feito, para
minimizar a saída de ovos, os filhotes devem ser tratados tão cedo quanto
possível; idealmente, o tratamento deve ser iniciado 2 semanas após o nascimen-
to e repetido a intervalos de 2 a 3 semanas até os 3 meses de idade. As cadelas
em lactação devem ser tratadas nos mesmos dias. Os programas profiláticos para
vermes cardíacos que utilizam estirilpirídio ou oxibendazol combinado à
dietilcarbamazina também ajudam a controlar a infecção intestinal por ascarídeos.
Como os ovos aderem-se às patas, pêlos, pele e outras superfícies, além de se
misturarem ao solo e à poeira, a higiene rigorosa deve ser observada pelas
pessoas, particularmente crianças, expostas a animais ou ambientes potencial-
mente contaminados.
ANCILOSTOMÍASE
Ancylostoma caninum é a principal causa de ancilostomíase canina na maioria
das áreas tropicais e subtropicais do mundo. O A. tubaeforme de gatos tem uma
distribuição similar, porém mais esparsa. O A. braziliense de gatos e cães está
esparsamente distribuída da Flórida à Carolina do Norte, nos EUA. Uncinaria
stenocephala é o principal ancilóstomo canino das regiões mais frias e é o único no
Canadá e na orla nordeste dos EUA, onde é primeiramente um parasita da raposa.
Os machos de A. caninum têm aproximadamente 12mm de comprimento; as
fêmeas, 15mm; as outras espécies são um pouco menores. As larvas infectantes
dos ancilóstomos caninos, particularmente de A. braziliense, podem penetrar e
migrar sob a pele do homem, causando a larva migrante cutânea.*
* N. do T. – Bicho-geográfico.
Parasitas Gastrointestinais, Pq An 289
TABELA 7 (Cont.) – Cestóideos de Cães e Gatos na América do Norte (Em ordem de importância)
Hospedeiro intermediário Características para o diagnóstico
Cestóideo a Hospedeiro definitivo e órgãos invadidosb dos vermes adultos Observações
Mesocestoides spp Muitos canídeos selva- O histórico de vida completo Estróbilos com 10cm de comprimento Relatadas em cães e gatos
gens, felídeos, muste- é desconhecido; suspeita- e 2 a 5mm de largura. Escólice com do meio-oeste e oeste; em
lídeos; outros animais, se de artrópode como hos- quatro sugadores, porém sem animais selvagens de to-
incluindo cão e gato pedeiro intermediário; tetra- rostelos ou ganchos. Poro genital das as partes dos EUA e
tiridia juvenil na cavidade ventral na linha média do verme. Canadá; provavelmente cos-
abdominal e em outros Segmentos grávidos com órgãos mopolitas
lugares de vários mamífe- parauterinos
ros, aves e répteis; conhe-
cem-se tetratiridias na ca-
vidade do corpo dos cães
que podem entrar no intes-
tino através da parede in-
testinal
Taenia multiceps Cão, lobo, coiote e ra- Ovinos, caprinos e outros Estróbilos de 40 a 100cm de compri- Rara em carnívoros domésti-
posa ruminantes domésticos ou mento e de 5mm de largura máxima. cos do oeste da América do
selvagens, raramente o Escólice com quatro sugadores e 22 Norte; mais comum em ani-
homem. Geralmente no a 32 ganchos em fila dupla; ganchos mais selvagens; provavel-
cérebro e medula espinhal maiores com 150 a 170µm, ganchos mente cosmopolita
menores com 90 a 130µm de com-
primento. Vagina com curva reflexa
próxima ao canal excretório lateral.
De 9 a 26 ramos laterais no útero
grávido
Taenia serialis Coiote, lobo, cão, rapo- Coelho, lebre, esquilo, rara- Estróbilos de 20 a 72cm de compri- Primariamente em canídeos
sa mente o homem; no teci- mento e de 3 a 5mm em largura. De selvagens; considerada por
do conjuntivo subcutâneo 26 a 32 ganchos em fila dupla; gan- algumas autoridades como
ou retroperitônio chos maiores de 110 a 175µm, gan- uma forma não distinta de
chos menores de 68 a 120µm de T. multiceps
comprimento. Vagina com curva re-
flexa próxima ao canal excretório
lateral. De 20 a 25 ramos laterais no
útero grávido
Parasitas Gastrointestinais, Pq An 295
DIG
Parasitas Gastrointestinais, Pq An 296
* Infecções humanas por metacestóideos de Taenia crassiceps, T. multiceps, T. serialis, Mesocestoides sp e outros cestóideos ocorrem raramente.
** Uma vez que várias espécies de Diphyllobothrium infectam o homem na América do Norte, não é prudente referir-se a todas essas infecções como devidas
a D. latum.
Parasitas Gastrointestinais, Pq An 297
Distomíase hepática
Trematódeos nos dutos e vesícula biliares causam fibrose discreta a severa.
Muitas espécies de trematódeos distomatódeos têm sido relatadas no fígado de
cães e gatos em muitas partes do mundo. Infecções suaves podem passar
despercebidas; porém, quando a infecção é grave, os cães podem desenvolver
fraqueza progressiva, terminando em completa exaustão, coma e morte. Os
seguintes são alguns destes trematódeos mais comumente encontrados.
Opisthorchis tenuicollis (felineus) é parasita dos dutos biliar e pancreático bem
como intestino delgado de cães e gatos na Europa Oriental e partes da Ásia. O.
viverrini ocorre em cães e também em gatos domésticos e selvagens no sudeste da
Dilatação-Vólvulo Gástricos 298
Ásia. Eles são pequenos (9 × 2mm) e alongados. Seu ciclo de vida inclui certas
lesmas (Bithynia sp) e certos peixes ciprinídeos como hospedeiros intermediários.
Uma espécie relatada, Clonorchis sinensis, o trematódeo do fígado do homem
oriental, também tem sido encontrada nos dutos biliar e pancreático de cães, gatos
e outros animais. Ela é maior que as Opisthorchis spp. Os ovos operculados destes
parasitas podem ser identificados nas fezes de animais contaminados.
A presença, por longo tempo, destes trematódeos no duto biliar causa espessa-
mento adenomatoso e fibrose de sua parede. Carcinomas do fígado ou pâncreas
têm sido observados nos casos crônicos e graves.
Platynosomum fastosum (conicum) é um pequeno trematódeo (6 × 2mm)
encontrado nos dutos biliares de felinos no sudoeste dos EUA, Porto Rico e outras
ilhas no Caribe, América do Sul, algumas ilhas do Pacífico e partes da África. Seu
ciclo de vida inclui o caramujo Sublima octona como hospedeiro intermediário e
certos lagartos como hospedeiro intermediário e certos lagartos como hospedeiros
paratênicos. Gatos adquirem o parasita ao se alimentarem de lagartos infectados.
Nos casos suaves, sinais crônicos vagos de debilidade podem ser observados.
Infecções graves, porém, podem causar a síndrome de “envenenamento pelo
lagarto” caracterizada por anorexia, vômito persistente, diarréia e icterícia, levando
à morte. Tratamentos com praziquantel e nitroscanato têm sido utilizados com
algum sucesso.
Metorchis albidus e M. conjunctus são dois trematódeos miúdos (5 × 1,5mm) que
têm sido encontrados nos dutos biliares e vesícula biliar de cães, gatos e outros
carnívoros na América do Norte, Europa e União Soviética. Raramente causam
quaisquer sinais clínicos reconhecíveis. O ciclo de vida inclui certas lesmas de água
corrente e peixes ciprinídeos como hospedeiros intermediários. Seus ovos são
pequenos (27 × 15µm).
GASTROENTERITE HEMORRÁGICA
É uma síndrome caracterizada por início agudo de vômitos, colapso, diarréia
sanguinolenta, curso rápido e morte dos animais não tratados.
Etiologia – A causa é desconhecida; no entanto, a cultura do conteúdo intestinal
dos cães afetados revelou grande número de Clostridium perfringens, o que sugere
que este microrganismo (ou suas toxinas) é a causa primária. Além disto, sintomas
clínicos semelhantes foram observados em modelos experimentais de choque
endotóxico, anafilaxia, e doença intestinal imunomediada em cães. Não há nenhu-
ma evidência direta de que estes mecanismos sejam operantes na gastroenterite
hemorrágica (GEH). As raças toy e miniatura estão predispostas, particularmente
schnauzers e poodles toy, apesar de todas as raças poderem ser afetadas.
Achados clínicos – Choque repentino, colapso parcial, vômitos e disenteria,
esta última freqüentemente com consistência de “geléia” e odor característico, são
os sintomas mais comuns. A temperatura retal é normal ou abaixo do normal. A dor
abdominal geralmente está ausente. A hemoconcentração não é refletida pela
perda de turgor cutâneo.
Os contrastes de bário podem passar vagarosamente, ou não passam; o abdome
em tais cães demonstra a existência de íleo paralítico no intestino delgado. O
aumento do hematócrito, da contagem de hemácias e da concentração de hemoglo-
bina é característico da doença. A contagem de leucócitos pode ser baixa, normal
ou elevada. Na maioria dos casos, a contagem de plaquetas é baixa ou abaixo do
normal. Um hematócrito >70% é sinal de doença grave.
Parvovirose 299
DOENÇAS ENTÉRICAS DO
RECÉM-NASCIDO
Embora o gatinho e o cachorrinho obtenham uma pequena porção de sua
imunidade materna transferida transplacentariamente, o colostro é a fonte mais
importante. Contanto que os filhotes mamem, tão logo seja possível após o
nascimento e certamente em 8h de idade, a doença entérica neonatal infecciosa, em
geral, não constitui um problema. Porém, uma reação ao leite da mãe, ou a
quaisquer agentes terapêuticos que esta recebeu e que são eliminados no leite,
pode causar diarréia. Antibióticos eliminados no leite da mãe podem afetar adver-
samente o desenvolvimento normal da microflora intestinal do recém-nascido. A
maioria dos casos de diarréia responde à terapia de suporte com fluidos e eletrólitos.
Os antibióticos (ampicilina, trimetoprim/sulfa, cefalotina) devem ser administrados
parenteralmente nos casos de diarréia sanguinolenta, pois a barreira sangue-
mucosa pode estar rompida, havendo risco de que a infecção se torne sistêmica.
PARVOVIROSE
Trata-se de uma enterite de início agudo, com morbidade e mortalidade variáveis,
causada por um parvovírus que foi reconhecido inicialmente em 1978; hoje é
encontrado em todo o mundo. Apesar de cães de todas as idades serem afetados,
os filhotes parecem ser mais suscetíveis. Apenas os membros da Canidae (cães,
lobos, coiotes) são sabidamente suscetíveis à infecção natural.
Etiologia e patogenia – O parvovírus canino, um vírus DNA de fita única não
envolto, é intimamente relacionado ao vírus da panleucopenia felina, vírus da
enterite do visom, e parvovírus do raccoon. Uma solução de hipocloreto de sódio
(água sanitária) é um desinfetante eficaz após o material orgânico, como fezes, ter
sido removido, porém o vírus é bastante resistente no ambiente; ele permanece
viável fora do hospedeiro por anos. A ingestão de material fecal de animais
Parvovirose 300
DOENÇAS SALIVARES, PQ AN
PTIALISMO
(Sialose)
Trata-se da hipersecreção de saliva caracterizada por baba profusa. O
pseudoptialismo ocorre quando há uma quantidade normal de saliva, mas um
aumento da baba devido à disfagia. O ptialismo e o pseudoptialismo serão
discutidos em conjunto como ptialismo.
O ptialismo pode resultar de: 1. drogas, por exemplo, organofosfatos ou venenos;
2. irritação ou inflamação local associada a estomatite, glossite (especialmente em
gatos), corpos estranhos ou neoplasmas orais, lesões, ou outros defeitos da
mucosa; 3. doenças infecciosas, por exemplo, raiva, forma nervosa da cinomose,
ou outros distúrbios convulsivos; 4. enjôo de movimento, medo, nervosismo e
excitação; 5. relutância a engolir devido a irritação do esôfago ou estimulação dos
receptores GI com gastrite ou enterite; 6. mucocele salivar sublingual; 7. amigdalite;
8. administração de medicamentos em algumas espécies (especialmente gatos); 9.
defeitos de conformação; 10. distúrbios metabólicos, por exemplo, encefalopatia
hepática, uremia; 11. abscessos ou outro bloqueio inflamatório ou distúrbio da
glândula salivar.
A possibilidade de raiva deve ser eliminada antes do exame.
A causa subjacente, local ou sistêmica, deve ser determinada e tratada. Para o
tratamento de envenenamentos, ver TOXICOLOGIA, página 1979. Para tratar estomatites
e glossites, ver DOENÇAS DA BOCA, PQ AN, pág.150. Os sedativos, drogas antienjôo
de movimento, ou tranqüilizantes podem ser úteis nos distúrbios reflexos e nervo-
sos. Se necessário, um agente anticolinérgico pode ser administrado para suprimir
a salivação até que a causa seja determinada.
Uma dermatite úmida e aguda dos lábios e face pode-se desenvolver se a pele
não for mantida tão seca quanto possível. A limpeza com uma solução diluída de
clorexidina pode ser útil. Se uma piodermia superficial (ver, pág. 1003) se desen-
volver, pode ser aplicado um creme antibiótico tópico.
FÍSTULA SALIVAR
É um problema raro seguindo trauma das glândulas mandibular, zigomática ou
salivares sublinguais. Os ferimentos da glândula parótida são mais prováveis a
desenvolver uma fístula. Um trato drenante descarregando saliva das glândulas é
causado mais comumente por uma ferida que penetra a glândula, ruptura espontânea
de abcessos da glândula ou cirurgia anterior na área com ruptura iatrogênica. As
fístulas da glândula parótida podem ocorrer seguindo uma ressecção da orelha
lateral. O fluxo constante de saliva previne a cicatrização e desenvolve-se uma fístula.
O histórico de lesão na área da glândula, a localização da fístula e a natureza da
descarga são característicos. Uma fístula salivar deve ser diferenciada de um seio
de drenagem (devido à penetração de um corpo estranho) na região do pescoço ou
de seios originários de defeitos congênitos.
A completa remoção cirúrgica da glândula e do trato fistuloso é o único tratamento
satisfatório.
MUCOCELE SALIVAR
(Sialocele)
Trata-se de um acúmulo de saliva mucóide no interior do tecido, que foi formado
após dano ao duto ou glândula salivar. Este é o problema mais comum nas glândulas
salivares de cães e gatos. Apesar de qualquer glândula salivar poder ser afetada,
a glândula sublingual é mais comumente envolvida. Normalmente a saliva é
coletada na região intermandibular ou cervical cranial (mucocele cervical). Pode
também ser coletada nos tecidos sublinguais ou no assoalho da boca (rânula). Um
local menos comum é a parede faríngea.
A causa pode ser bloqueio traumático ou inflamatório, ou ruptura do duto das
glândulas salivares sublingual, mandibular, parótida ou zigomática. Normalmente a
causa não é determinada.
Os sintomas dependem do local de acúmulo da saliva. Na fase aguda de uma
mucocele cervical, a área está inchada e dolorida. Freqüentemente este estágio não
é observado pelo proprietário, e o primeiro sintoma notado pode ser uma massa
flutuante não dolorosa, que aumenta lentamente na região cervical. Uma rânula
pode não ser observada até que seja traumatizada e sangre. Uma mucocele
faríngea pode obstruir as vias aéreas resultando em desconforto respiratório que
varia de moderado a intenso.
Uma mucocele é detectável como uma massa macia, flutuante e indolor que deve
ser diferenciada de abscessos, tumores e outros cistos de retenção do pescoço. A
dor e a febre podem estar presentes se a mucocele tornar-se infectada. Uma
mucocele salivar geralmente pode ser diagnosticada por palpação e aspiração da
saliva dourada, ou tinta de sangue, característica. Normalmente, a palpação
cuidadosa, com o animal em decúbito dorsal, pode determinar o lado afetado; se
não, a sialografia pode ser útil.
A cirurgia é recomendada para remover a glândula salivar afetada e seu duto, o
que geralmente compreende a remoção do complexo glandular mandibular-
sublingual. As mucoceles cervicais podem ser tratadas com drenagem periódica, se
a cirurgia não for uma opção possível. A drenagem, marsupialização, ou remoção
da glândula têm sido recomendadas para o tratamento de rânulas e mucoceles
faríngeas.
SIALADENITE
(Inflamação da glândula salivar)
A inflamação aguda ou crônica da glândula salivar pode estar associada a
formação de mucocele ou abscessos da cabeça e pescoço. Pode também ocorrer
como uma entidade em separado.
A causa pode ser trauma, geralmente por feridas penetrantes como mordidas, ou
infecção da glândula salivar ou tecido circundante. A sialadenite como componente
de doenças sistêmicas foi relatada na raiva, cinomose, e com o paramixovírus que
causa caxumba em humanos.
Os sintomas incluem febre, depressão e glândulas salivares inchadas e dolori-
das. A ruptura de uma glândula abscedada descarrega pus no tecido circundante ou
na boca. A ruptura através da pele pode provocar a formação de uma fístula salivar.
O inchaço da glândula parótida é mais proeminente abaixo da orelha, o inchaço da
glândula mandibular ocorre no ângulo da mandíbula e o inchaço da glândula
zigomática é imediatamente caudal ao olho. O comprometimento da glândula
Obstrução do Intestino Delgado, Pq An 303
XEROSTOMIA
(Aptialismo)
É uma secreção salivar diminuída, caracterizada por boca seca; incomum em
cães e gatos.
Secreção salivar diminuída pode resultar da utilização de certas drogas (por
exemplo, atropina), de extrema desidratação, de pirexia ou anestesia. É observada
em alguns cães com ceratoconjuntivite seca e pode ser imunomediada. Ocasional-
mente, a secreção salivar diminuída é devida a doenças da glândula salivar.
A determinação e tratamento de qualquer causa primária é de suma importância.
Colutórios fisiologicamente balanceados aliviam o desconforto que resulta da
xerostomia. Líquidos podem ser administrados para corrigir a desidratação, se
presente.
que são transportados pelo sangue para influenciar a atividade funcional das
células-alvo em outro local do corpo. Outras populações de células preocupam-se
com a degradação do hormônio, depois de este ter exercido suas funções fisiológi-
cas. A degradação é realizada pelas peptidases da superfície da célula por meio das
enzimas dos lisossomos, depois de serem englobados pelas células, ou pela
excreção na bile ou urina, após a conjugação com glicuronídio ou sulfato.
As glândulas endócrinas são pequenas quando comparadas a outros órgãos do
corpo; são ricamente supridas pelo sangue e existe uma relação anatômica muito
íntima entre as células endócrinas e a rede de capilares.
TIPOS DE HORMÔNIOS
Hormônios polipeptídeos – O sítio primário de ação para os hormônios
polipeptídeos é a superfície externa da membrana plasmática das células-alvo, que
contêm receptores proteicos para o hormônio. Esses hormônios são hidrossolú-
veis, têm uma meia-vida curta no sangue (usualmente medida em minutos) e
geralmente não possuem proteínas carreadoras específicas no plasma. Os hormô-
nios receptores realizam 2 funções-chave: 1. eles reconhecem as diminutas quan-
tidades de hormônio ativo, ligando-o ao sítio receptor para formar um complexo
hormônio-receptor reversível; e 2. eles carregam a mensagem para o interior da
célula-alvo. A magnitude deste sinal depende da concentração do hormônio, da afi-
nidade do receptor para com este e da concentração de receptores na célula-alvo.
Uma vez atingido o receptor, os hormônios polipeptídeos transmitem o seu sinal
através da membrana celular e causam uma segunda mensagem, freqüentemente
um monofosfato de adenosina cíclica (AMPc), para ser liberada no interior da célula.
Esta segunda mensagem geralmente tem efeitos únicos para a célula, pois as
células-alvo têm funções muito específicas.
Células que produzem hormônio polipeptídeo têm um retículo endoplasmático
bem desenvolvido com muitos ribossomos fixos onde o hormônio se une, e um
proeminente complexo de Golgi para estocá-los dentro de grânulos para armazena-
mento intracelular e transporte. Grânulos secretórios são únicos para hormônios
polipeptídeos e para células endócrinas secretoras de catecolaminas e são munidos
de um mecanismo para armazenamento intracelular de quantidades substanciais
de hormônio ativo pré-formado. O hormônio sintetizado em excesso pelo organismo
é degradado pela fusão dos grânulos que contêm hormônios com os lisossomos.
Hormônios esteróides – Células secretoras de hormônio esteróide são carac-
terizadas pela presença de corpúsculos lipídicos no citoplasma, que contêm co-
lesterol e outras moléculas precursoras. Uma biossíntese contínua é necessária
para manter a taxa de secreção de hormônios esteróides normal.
Hormônios esteróides têm uma meia-vida longa no sangue (tipicamente medida
em horas) e alta afinidade por ligações reversíveis, ligando-se a proteínas especí-
ficas no plasma. Eles são lipossolúveis, o que facilita o seu transporte através da
membrana celular; seu sítio primário de ação é o núcleo das células-alvo.
Catecolaminas e iodotironina – Esses hormônios são derivados de tirosina.
Eles incluem as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) secretadas pela medula
adrenal e as iodotironinas (tireoxina, triiodotironina) produzidas pela glândula
tireóide. As catecolaminas apresentam mecanismos de ação similares aos dos
hormônios polipeptídeos, enquanto as iodotironinas têm características mais inti-
mamente parecidas com as dos hormônios esteróides.
GLÂNDULAS ADRENAIS
As glândulas adrenais dos mamíferos estão localizadas perto do pólo cranial dos
rins e consistem de 2 porções distintas que diferem na morfologia, função e origem.
Devido à sua íntima relação estrutural, o córtex externo e a medula interna da
glândula adrenal são considerados partes de um único órgão.
CÓRTEX ADRENAL
O córtex adrenal é subdividido em 3 camadas ou zonas, embora a delimitação
entre as zonas freqüentemente não seja distinta. A zona glomerular (multiforme) é
a camada externa cortical. Ela é responsável pela secreção de hormônios minera-
locorticóides. A zona fasciculada, camada do meio, compreende , 70% do córtex
e é composta por células que contêm abundantes lipídios citoplasmáticos e hor-
mônios glicocorticóides. A zona reticular contém os 15% restantes do córtex; esta
camada interna é responsável pela secreção de esteróides sexuais pela glândula
adrenal.
Os mineralocorticóides, dos quais o mais potente na natureza é a aldosterona,
são esteróides adrenais cujo principal efeito é no transporte de íons pelas células
epiteliais, resultando em perda de potássio e conservação de sódio. As glândulas
sudoríparas e as “bombas” de eletrólitos controladas enzimaticamente nas células
epiteliais do túbulo renal respondem aos mineralocorticóides conservando o sódio
e o cloro e excretando o potássio. No túbulo distal contornado dos néfrons dos ma-
míferos, um mecanismo de troca de cátions reabsorve sódio do filtrado glomerular
e secreta potássio para o lúmen. Essas reações são aceleradas pelos mineralo-
Glândulas Adrenais 315
Hiperadrenocorticismo
(Excesso de cortisol, Síndrome de Cushing, Doença de Cushing)
Os sinais clínicos e lesões associados com hiperadrenocorticismo resultam
primariamente da elevação crônica do cortisol. O excesso de cortisol é uma das
endocrinopatias mais freqüentes em cães adultos e idosos, mas é raro em outros
animais domésticos. Cães afetados desenvolvem um espectro de distúrbios funcio-
nais e lesões conseqüentes aos efeitos combinados da gliconeogênese, lipólise,
catabolismo proteico e efeitos antiinflamatórios dos hormônios glicocorticóides em
muitos sistemas orgânicos. A doença é insidiosa e lentamente progressiva.
Etiologia e patogenia – A elevação dos níveis de cortisol circulante em cães
pode resultar de um dos vários mecanismos patogênicos; o mais comum é um
adenoma corticotrófico funcional (secretor de ACTH) da glândula hipofisária (pars
distalis ou pars intermedia), que causa hipertrofia e hiperplasia bilaterais do córtex
adrenal. O hipercortisolismo associado com hiperplasia idiopática do córtex adrenal
ocorre mais freqüentemente em poodles que em outras raças. O córtex de ambas
as adrenais é consideravelmente espessado. Neoplasias funcionais da adrenal
são a causa menos freqüente da síndrome do excesso de cortisol nos cães
semelhante à síndrome de Cushing (10 a 15% dos casos). Muitos dos sinais e lesões
do hiperadrenocorticismo que ocorrem naturalmente podem ser induzidos pela
administração diária e prolongada de grandes doses de corticosteróides para o
tratamento de outras doenças. Para distinguirem-se os mecanismos patogênicos
que podem resultar na síndrome do excesso de cortisol, devem-se avaliar os níveis
Glândulas Adrenais 316
Hipoadrenocorticismo
(Doença de Addison)
Uma deficiência em hormônios adrenocorticais tem sido comumente observada
em cães jovens e de meia-idade e ocasionalmente em cavalos. A causa da insu-
ficiência primária adrenocortical usualmente não é conhecida, embora a maioria dos
casos provavelmente resulte de um processo auto-imune. Outras causas podem ser
a destruição da glândula adrenal por doenças granulomatosas tumores metastáti-
cos, hemorragia, infarto ou superdosagem de mitotano.
Achados clínicos – Muitos dos distúrbios funcionais da insuficiência adrenal
crônica não são altamente específicos e incluem episódios recorrentes de gas-
troenterite, uma perda lenta e progressiva da condição corporal e deficiência para
responder apropriadamente ao estresse. Embora o hipoadrenocorticismo ocorra em
cães de qualquer raça, sexo ou idade, a insuficiência adrenocortical idiopática ocorre
mais freqüentemente em adultos jovens. Isto pode estar relacionado à sua suspeita
patogênica imunomediada.
Uma redução na secreção de aldosterona, o principal mineralocorticóide, resulta
em alterações marcantes nos níveis séricos de potássio, sódio e cloro. A excreção
renal de potássio é reduzida, o que resulta em progressivo aumento nos níveis séricos
de potássio, e uma quantidade menor de sódio e cloro é reabsorvida pelos túbulos
renais, o que leva ao declínio dos seus níveis sangüíneos. A hipercalemia severa
causa uma arritmia cardíaca com alterações no ECG. Em alguns cães, desenvolve-
se uma bradicardia pronunciada (freqüência cardíaca ≤ 50/min), que não é responsiva
a exercícios e predispõe a fraqueza ou colapso circulatório após mínimo esforço.
Embora o desenvolvimento dos sinais clínicos freqüentemente seja insidioso e
não seja facilmente perceptível, ele geralmente leva ao colapso circulatório agudo
e evidência de insuficiência renal. Uma progressiva diminuição no volume sangüíneo
contribui para hipotensão, fraqueza e miocardia. O colapso circulatório periférico
pode resultar da hemoconcentração progressiva. O aumento da excreção de água
pelos rins, devido à diminuição da reabsorção de sódio e cloro, resulta em desidra-
tação progressiva e hemoconcentração. Êmese, diarréia e anorexia são comuns e
contribuem para a deterioração do animal. A perda de peso é freqüentemente severa.
Uma produção diminuída de glicocorticóides resulta em vários distúrbios funcio-
nais característicos. Gliconeogênese diminuída e aumento da sensibilidade à
insulina contribuem para o desenvolvimento de uma hipoglicemia moderada. A
hiperpigmentação da pele ocorre em alguns cães devido à perda de “feedback”
negativo da hipófise e ao aumento da liberação de ACTH (e possivelmente de
hormônio estimulante de melanócitos). Os níveis de cortisol plasmático em cães
com hipoadrenocorticismo variam de 0,1 a 1,5µg/dL e ocorre pequeno ou nenhum
aumento nos níveis de cortisol sangüíneo após a administração de ACTH.
Lesões – A lesão mais freqüentemente observada em cães com hipoadreno-
corticismo é a atrofia adrenocortical idiopática bilateral, na qual todas as camadas
do córtex estão acentuadamente reduzidas em espessura. O córtex adrenal é
reduzido para um décimo ou menos de sua espessura normal e consiste primaria-
mente da cápsula adrenal. A medula adrenal é relativamente mais proeminente e,
com a cápsula, compõe o tamanho da glândula adrenal remanescente.
Todas as 3 zonas do córtex adrenal estão envolvidas, incluindo a zona glome-
rulosa (a qual não está sob controle do ACTH), mas não têm sido observadas lesões
hipofisárias evidentes em cães com atrofia idiopática do córtex adrenal.
Glândulas Adrenais 320
tamanho do cão. Eletrólitos séricos deverão ser monitorados semanalmente até que
a dose adequada seja determinada. Comprimidos de sal (NaCl) (1 a 5g) deverão ser
dados 1 vez por dia. Alguns cães requerem também tratamento oral com glicocor-
ticóide diariamente, até o animal mostrar uma aparência melhor. A dose de acetato
de cortisona é 1 a 2mg/kg de peso corporal e de prednisolona, 0,2 a 0,4mg/kg. Cães
com hipoadrenocorticismo crônico devem ser reexaminados a cada 3 a 6 meses.
O tratamento em cavalos com a doença deve seguir a mesma orientação:
reposição agressiva de fluidos, esteróides e glicose, se necessário, na crise adrenal.
Terapia de suporte e repouso são indicados nos casos de doença crônica de
Addison.
MEDULA ADRENAL
A medula adrenal, embora aparentemente não seja essencial à vida, tem um
papel importante na resposta ao estresse ou à hipoglicemia. Ela secreta adrenalina
e noradrenalina, a qual aumenta o rendimento cardíaco, eleva a pressão e a glicose
sangüíneas e reduz a atividade GI.
Feocromocitomas podem-se desenvolver em animais domésticos, mais fre-
qüentemente em bovinos e cães. Estes secretam adrenalina e/ou noradrenalina e
têm causado aumento da taxa cardíaca, edema e aumento do coração nos poucos
casos relatados. Outros tumores, como neuroblastomas e ganglioneuromas, po-
dem-se desenvolver na medula a partir de células do sistema nervoso simpático.
Tumores podem-se desenvolver em qualquer outro local, seja por invasão direta,
seja por invasão metastática (ver também pág. 347).
PÂNCREAS
A função endócrina do pâncreas é realizada por pequenos grupos de células
(ilhotas de Langerhans), que são completamente circundadas por células acinares
(exócrinas) que produzem enzimas digestivas. Existe uma estreita relação entre as
porções endócrina e exócrina do pâncreas (ver pág. 144) durante o desenvolvimen-
to. Evidências sugerem que as ilhotas, as células acinares e os dutos se desenvol-
vem a partir de uma célula precursora multipotencial.
Ilhotas pancreáticas de animais normais contêm células α, β e δ, cada uma das
quais sintetiza um único hormônio polipeptídeo. Células β são células secretórias
predominantes e sintetizam insulina; as células α são menos numerosas que as β
e secretam glucagon, e as células δ secretam somatostatina. Células F estão
presentes nas ilhotas dos processos uncinados de cães, mas não em todas as
espécies animais.
As ilhotas pancreáticas funcionam como órgãos microendócrinos discretos, e
estão embutidas por todo o pâncreas com uma característica padrão de inter-
relação celular para garantir um equilíbrio hormonal apropriado. Em algumas
espécies, as células β secretoras de insulina, que representam 60 a 70% da
população das ilhotas, estão localizadas em uma massa central relativamente
homogênea. As células α produtoras de glucagon estão primariamente localizadas
na periferia da ilhota num invólucro externo. As células δ secretoras de somatosta-
tina estão entremeadas entre a camada externa das células α e o núcleo interno das
células β. Vasos aferentes e nervos entram na ilhota nesta região tricelular
periférica. A íntima relação anatômica das células α, β e δ nesta região cortical
heterogênea pode funcionar como um “sensor de glicose local”, permitindo uma
Pâncreas 322
DIABETES MELITO
É um distúrbio crônico do metabolismo de carboidratos devido a uma deficiência
relativa ou absoluta de insulina. O diabetes melito é uma endocrinopatia comum em
cães (incidência relatada de 1:200). A maioria dos casos de diabetes espontâneo
ocorre em cães adultos, cerca de duas vezes mais freqüentes em fêmeas que em
machos. A incidência parece ser maior em certos cães de pequeno porte, como
poodles miniaturas, dachschunds, schnauzers, terriers cairn e beagles, mas qual-
quer raça pode ser afetada.
Etiologia e patogenia – Os mecanismos patogênicos responsáveis pela menor
disponibilidade de insulina são múltiplos, mas geralmente ocorre destruição das
ilhotas secundariamente à pancreatite severa ou por degeneração seletiva das
células da ilhota. Em cães, as ilhotas pancreáticas quase sempre são destruídas
secundariamente a uma doença inflamatória do pâncreas exócrino. Pancreatite
recidivante crônica com perda progressiva de células exócrinas e endócrinas e sua
substituição por tecido conjuntivo fibroso é uma causa freqüente de diabetes melito;
o pâncreas torna-se firme, multinodular, e freqüentemente com áreas dispersas de
hemorragia e necrose. Posteriormente no curso da doença, uma tênue banda
fibrosa ou nódulo próximo ao duodeno e estômago pode ser a única coisa que restou
do pâncreas. Infiltrações seletivas das ilhotas com amilóide, glicogênio e colágeno
com destruição das células da ilhota são causas menos freqüentes de diabetes
melito em cães que em gatos. Em outros casos, várias células β estão diminuídas,
vacuolizadas, e, se o processo for crônico, é difícil de se achar as ilhotas. Resistência
à insulina e diabetes melito secundário também são observados em muitos cães
com hiperadrenocorticismo e a administração crônica de glicocorticóides ou proges-
togênio pode predispor ao diabetes melito. A obesidade também é um fator
predisponente à resistência à insulina em cães e gatos.
Gatos com diabetes melito geralmente apresentam lesões degenerativas espe-
cíficas localizadas seletivamente nas ilhotas de Langerhans, enquanto a porção
remanescente do pâncreas parece estar normal. A deposição seletiva de amilóide
nas ilhotas, com alterações degenerativas nas células α e β, é a lesão pancreática
mais comum em gatos com diabetes; entretanto, depósitos de amilóide dispersos
nas ilhotas pancreáticas ocorrem em muitos gatos sem o desenvolvimento dos
sinais clínicos de diabetes melito. Outra lesão comum das ilhotas em gatos é a
degeneração vacuolar hidrópica das células α e β. A área citoplasmática das células
β é expandida pela acumulação maciça de glicogênio, o qual desloca as organelas
secretórias para a periferia das células β. Esta lesão seletiva das ilhotas tem sido
observada em gatos resistentes a grandes doses de insulina exógena. Degenera-
ção vacuolar com acúmulo de glicogênio em gatos parece se desenvolver nas
células β como resposta a uma superestimulação crônica (exaustão) devido à
resistência à insulina. Gatos obesos são particularmente propensos a este fenô-
meno.
A infecção com certos vírus pode causar lesão seletiva na ilhota ou pancreatite,
e tem sido implicada como responsável em certos casos pelo rápido desenvolvimen-
to de diabetes melito. A degeneração seletiva e a necrose das células β são
acompanhadas pela infiltração de linfócitos e macrófagos nas ilhotas. Estresse,
obesidade e administração de corticosteróides ou progestogênios podem aumentar
a severidade dos sinais clínicos.
Achados clínicos – O início do diabetes é freqüentemente insidioso e o curso
clínico é crônico. Os sinais freqüentemente associados com diabetes melito em cães
incluem polidipsia, poliúria, aumento do consumo alimentar mas com perda de peso,
catarata bilateral e fraqueza. Os distúrbios no metabolismo hídrico desenvolvem-se
primariamente devido a uma diurese osmótica. Em cães com hiperglicemia persis-
Pâncreas 324
GLÂNDULAS PARATIREÓIDES
As glândulas paratireóides secretam o hormônio paratireóideo (PTH, parator-
mônio), que aumenta os níveis séricos de cálcio (Ca) e potencializa a excreção renal
de fósforo (P). Os níveis de íon de cálcio regulam a liberação de calcitonina (CT,
tirocalcitonina) de uma segunda população de células endócrinas na tireóide, a qual
favorece a homeostasia do cálcio. O paratormônio mantém concentrações de cálcio
ionizado no fluido extracelular por aumento da reabsorção óssea, absorção GI de
cálcio na presença de vitamina D e redução da excreção urinária de cálcio. A
secreção do paratormônio é regulada por alterações na concentração sangüínea
de cálcio.
Como o metabolismo aberrante de Ca e P é refletido no sistema esquelético,
síndromes específicas estão presentes nesta seção (ver DISTROFIAS ASSOCIADAS AO
CÁLCIO, F ÓSFORO E VITAMINA D, pág. 578 e também HIPERCALCEMIA HUMORAL M ALIGNA,
pág. 343).
Glândulas Paratireóides 328
Hormônio paratireóideo
O PTH é sintetizado e estocado nas células principais das glândulas paratireói-
des. A síntese é regulada por um mecanismo de “feedback” que envolve o nível de
Ca sangüíneo (e, em menor grau, o magnésio). Além disso, aminas biológicas,
peptídeos, esteróides e várias classes de drogas podem influenciar a secreção de
PTH.
A função primária do PTH é controlar a concentração de cálcio no fluido
extracelular, o qual funciona na mudança de posição da função padrão de transfe-
rência de cálcio para dentro e para fora do osso, reabsorção nos rins e absorção a
partir do trato gastrointestinal. O efeito nos rins é o mais rápido e causa reabsorção
de cálcio e excreção de fósforo. O mais importante efeito inicial do PTH no osso é
a mobilização do cálcio do osso para o fluido extracelular; posteriormente, a
formação óssea é incrementada. O PTH não afeta diretamente a absorção de cálcio
do intestino; em vez disso, é preferencialmente mediado de forma indireta pela
regulação da síntese de um metabólito ativo de vitamina D.
Calcitonina
(CT, Tirocalcitonina)
É um hormônio polipeptídeo secretado pelas células parafoliculares da tireóide
em mamíferos e por um tecido ultimobranquial em aves e outras espécies de
submamíferos.
A concentração do íon de cálcio nos fluidos extracelulares é o principal estímulo
para a secreção de calcitonina pelas células C. Ela é secretada continuamente sob
condições de normocalcemia, mas em condições de hipercalcemia sua taxa de
secreção é aumentada notavelmente por uma rápida descarga do hormônio
armazenado nas células C para os capilares interfoliculares. Hiperplasia de células
C ocorre em resposta a uma hipercalcemia prolongada. Quando o cálcio sangüíneo
é baixo, o estímulo para a secreção de calcitonina é diminuído e numerosos grânulos
secretórios acumulam-se no citoplasma das células C. O armazenamento de
grandes quantidades de hormônio pré-formado nas células C e a liberação rápida
em resposta a elevações moderadas de cálcio sangüíneo provavelmente refletem
o papel fisiológico da calcitonina como um hormônio de “emergência” para a
proteção contra o desenvolvimento de hipercalcemia. A secreção de calcitonina é
Hipófise 329
Colecalciferol
(Vitamina D)
O terceiro hormônio mais importante, envolvido na regulação do metabolismo do
cálcio e na remodelação do esqueleto, é o colecalciferol ou vitamina D3. Embora
esse composto tenha sido, por muito tempo, classificado como vitamina, evidências
recentes sugerem que ele possa igualmente ser considerado como um hormônio.
O colecalciferol é ingerido em pequenas quantidades, mas, em adição, é sintetizado
na epiderme a partir de uma molécula percursora (7-desidrocolesterol) por meio de
uma forma intermediária da pré-vitamina D 3. Esta reação é catalisada por radiação
ultravioleta.
A vitamina D deve ser metabolicamente ativada antes de poder exercer suas
funções fisiológicas. O primeiro metabólito do colecalciferol é produzido no fígado
e transportado para os rins, onde sofre posterior hidroxilação sob a influência de
uma enzima nas células do túbulo proximal contornado para criar uma forma
biologicamente ativa (hormonal) o 1,25-diidroxicolecalciferol. Esta conversão nos
rins é autolimitante no metabolismo da vitamina D e é parcialmente responsável pela
demora entre a administração da mesma e o aparecimento de seus efeitos
biológicos. O hormônio paratireóideo e as condições que estimulam sua secreção,
bem como o baixo teor de fósforo no sangue, aumentam a formação do metabólito
ativo da vitamina D. Altos níveis de fósforo no sangue têm efeito oposto. Sob certas
condições, prolactina, estradiol, lactógeno placentário e possivelmente somatotrofina
têm um efeito estimulante similar. O aumento da secreção desses hormônios,
isoladamente ou em combinação, parece ser importante na eficiente adaptação às
importantes demandas de cálcio da gestação, lactação e crescimento.
HIPÓFISE
A hipófise (glândula pituitária) possui 2 partes distintas, a neuro-hipófise (lobo
posterior) e a adeno-hipófise (lobo anterior).
Adeno-hipófise – Em adultos, a hipófise é completamente separada da cavida-
de oral. A adeno-hipófise, que circunda a pars nervosa do sistema neuro-hipofisário
em graus variáveis nas diferentes espécies, consiste de 3 porções, a saber, a pars
Hipófise 330
DIABETES INSÍPIDO
É um distúrbio que ocorre devido à reduzida secreção de hormônio antidiurético
(ADH), ou devido à incapacidade das células-alvo nos rins, que não dispõem do
mecanismo necessário para responder à secreção normal ou elevada dos níveis
hormonais circulantes. Isto ocorre em cães, gatos, ratos de laboratório e raramente
em outros animais.
Etiologia – A forma hipofisária de diabetes insípido (DI) desenvolve-se como
resultado da compressão e destruição da pars nervosa, do pendúnculo infundibular
ou do núcleo supra-óptico no hipotálamo. As lesões responsáveis por este rompi-
mento na síntese ou secreção do ADH no diabetes insípido hipofisário incluem
grandes neoplasias hipofisárias (endocrinologicamente ativas ou inativas), um cisto
que se expande dorsalmente ou um granuloma inflamatório e uma lesão craniana
traumática, com hemorragia e proliferação glial no sistema neuro-hipofisário.
Hipófise 336
Tratamento – A poliúria deve ser controlada. Podem ser usadas 2 drogas: tanato
de vasopressina em meio oleoso (2 a 5u, pela via IM, segundo a necessidade,
usualmente a cada 2 a 4 dias) e acetato de desmopressina, um análogo sintético do
ADH. A dose inicial deste último é de duas gotas aplicadas nas mucosas nasais ou
conjuntivais; ela é gradualmente aumentada até se atingir uma dose mínima eficaz.
O efeito máximo usualmente ocorrerá 2 a 6h depois e perdurará por 10 a 12h. Não
se deve restringir a água. O tratamento deve ser efetuado 1 a 2 vezes/dia, durante
toda a vida do animal.
TIREÓIDE
Todos os vertebrados possuem glândula tireóide. Em mamíferos, ela geralmente
é bilobada e localizada caudalmente à laringe, adjacente à superfície lateral da
traquéia. Os 2 lobos podem ser conectados por um istmo fibroso (por exemplo, em
ruminantes e eqüinos) ou por um istmo de conexão que pode ser indistinguível (por
exemplo, em cães e gatos). A glândula é extremamente vascularizada. Em aves, é
encontrada dentro da cavidade torácica; ambos os lobos localizam-se próximos à
siringe, adjacentes à artéria carótida e próximos à origem da artéria vertebral.
O tecido acessório ou ectópico da tireóide é relativamente comum na maioria das
espécies, principalmente em cães e gatos. Ele pode estar localizado em qualquer
lugar, da laringe ao diafragma, e pode ser responsável pela manutenção da função
normal da tireóide após uma tireoidectomia. Além disso, esse tecido ocasionalmen-
te é sítio de hiperplasia ou neoplasia.
Fisiologia – Os hormônios tireóideos são os únicos compostos orgânicos
iodados do corpo. Tireoxina (T4) é o principal produto secretório da glândula tireóide
normal. Entretanto, a glândula também secreta 3,5,3’-triiodotironina (T3), T 3 reversa
e outros metabólitos deioidados. A triiodotironina é , 3 a 5 vezes mais potente que
a T4, enquanto a T3 reversa é tiromimeticamente inativa.
Embora toda a T4 seja secretada pela tireóide, uma quantidade considerável de
T3 é derivada de T4; por isso, a T4 tem sido chamada de pró-hormônio. Sua ativação
à T3 mais potente é um passo regulado individualmente por tecidos periféricos.
Secreções de hormônio tireóideo são reguladas primariamente por “feedback”
negativo, por meio de uma resposta coordenada do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide;
o hormônio liberador de tireotrofina (TRH) une-se à célula tireotrófica na hipófise e
estimula a secreção de tireotrofina (hormônio estimulador da tireóide, TSH), que se une
à membrana celular folicular e estimula a síntese e a secreção de hormônio tireóideo.
Hormônios tireóideos são compostos lipofílicos, insolúveis em água, que se
unem às proteínas plasmáticas (proteína unida à tireoxina, pré-albumina unida à
tireoxina [transtiretina] e albumina). A principal função das proteínas ligadas ao
hormônio tireóideo provavelmente é promover uma reserva de hormônio no plasma
e liberá-lo nos tecidos. Em um animal eutireóideo normal, , 0,1% da T4 total sérica
está livre (não unida a proteínas ligadas ao hormônio tireóideo provavelmente), ao
passo que , 1% da T3 circulante está livre. A maioria das evidências sugere que as
frações de T4 livre circulante e T3 livre determinam a quantidade de hormônio que
está disponível para entrar nos tecidos.
Ação dos hormônios tireóideos – Os hormônios tireóideos agem em muitos
processos celulares diferentes; entretanto, nenhuma reação isolada ou evento
metabólico pode ser comparado com sua ação. Embora T 4 e T3 tenham atividades
metabólicas intrínsecas, T3 é 3 a 5 vezes mais potente em unir-se a receptores
nucleares e similarmente mais potente em estimular o consumo de oxigênio.
Tireóide 338
HIPOTIREOIDISMO
A produção e a secreção diminuídas de hormônios tireóideos resultam em
diminuição da taxa metabólica. Este distúrbio é mais comum em cães, mas também
se desenvolve raramente em outras espécies, inclusive em gatos e em grandes
animais domésticos.
Etiologia – Embora uma disfunção em qualquer local do eixo hipotálamo-hipófise-
tireóide possa resultar em deficiência de hormônio tireóideo, > 95% dos casos
clínicos de hipotireoidismo canino parecem resultar da destruição da própria tireóide
(hipotireoidismo primário). As 2 causas mais comuns de hipotireoidismo primário
que se inicia em cães adultos incluem a tireoidite linfocítica e a atrofia idiopática da
tireóide. A tireoidite linfocítica, provavelmente imunomediada, é caracteriza-
da histologicamente por uma infiltração difusa da glândula por linfócitos, plasmóci-
tos e macrófagos e resulta em destruição progressiva dos folículos e fibrose
secundária. A atrofia idiopática da glândula tireóide é caracterizada histologicamen-
te por perda do parênquima tireóideo e substituição por tecido adiposo (ver também
TIREOIDITE AUTO-IMUNE, pág. 523).
Em cães, a causa mais comum de hipotireoidismo secundário é a destruição de
tireotrofos hipofisários e a ocupação do espaço por um tumor em expansão. Devido
à natureza não seletiva, que resulta em atrofia compressiva e substituição do tecido
hipofisário por estes grandes tumores, geralmente também ocorrem deficiências de
outros hormônios hipofisários (um ou mais).
Outras formas raras de hipotireoidismo canino incluem destruição neoplásica do
tecido tireóideo e hipotireoidismo congênito (ou juvenil). O hipotireoidismo primário
congênito pode resultar de uma das várias formas de disgenesia tireóidea (por
exemplo, atireose, hipoplasia tireóidea) ou de disormonogenesia (geralmente uma
incapacidade herdada para organificar iodeto). Hipotireoidismo secundário congê-
nito tem sido documentado apenas em pastores alemães com nanismo hipofisário
associado à bolsa de Rathke cística. Entretanto, o grau de deficiência de TSH
nesses cães é variável e os sinais clínicos em geral são causados primariamente por
uma deficiência de hormônio de crescimento ( em vez de hormônio tireóideo).
Em gatos, o hipotireoidismo iatrogênico é causado principalmente pelo trata-
mento de um hipertireoidismo com radioiodo, tiroidectomia ou pelo uso de uma
droga antitireóide.
Achados clínicos – Embora o início seja variável, o hipotireoidismo é mais
comum em cães com 4 a 10 anos de idade. Geralmente os animais afetados
Tireóide 339
pertencem a raças de porte médio a grande; as raças toy e miniatura raramente são
afetadas. Raças relatadas como predispostas incluem golden retriever, doberman
pinscher, setter irlandês, schnauzer miniatura, dachshund, cocker spaniel e terrier
airedale. Parece não haver prediletação sexual, mas fêmeas castradas apresentam
um risco maior de desenvolver hipotireoidismo que fêmeas não castradas.
Uma deficiência de hormônio tireóideo afeta a função de todos os sistemas
orgânicos, e como resultado, os sinais clínicos são difusos, variáveis, com frequência
inespecíficos e raramente patognomônicos. Embora o distúrbio seja altamente
sugestivo, o superdiagnóstico deve ser feito com cautela, porque muitas doenças,
principalmente as da pele, podem ser diagnosticadas erroneamente como hipoti-
reoidismo.
Muitos dos sinais clínicos associados ao hipotireoidismo canino estão diretamen-
te relacionados com diminuição do metabolismo celular. Isto resulta no desenvolvi-
mento de apatia, letargia, intolerância ao exercício e ganho de peso sem um
correspondente aumento de apetite. Obesidade moderada a marcante desenvolve-
se em alguns cães. Dificuldades em manter a temperatura corporal podem levar à
hipotermia franca; o cão hipotireóideo “clássico” procura locais quentes. Alterações
na pele e pelagem são comuns; pêlo áspero, excessiva queda de pelame e
crescimento retardado do mesmo geralmente são as alterações dermatológicas
iniciais. O adelgaçamento não prurítico do pêlo ou alopecia (em geral bilateralmente
simétrica na distribuiçâo), podendo envolver a porção ventral e lateral do tronco, a
superfície caudal das coxas, o dorso da cauda, a região cervical ventral e o dorso
do nariz, ocorre em aproximadamente dois terços dos cães com hipotireoidismo.
Como o adelgaçamento do pêlo ou a alopecia às vezes estão associados com
hiperpigmentação, eles freqüentemente iniciam-se sobre pontos de apoio. Ocasio-
nalmente, observa-se piodermia secundária (que pode produzir purido).
Nos casos moderados a severos, observa-se espessamento da pele secundário
ao acúmulo de glicosaminoglicanos (principalmente ácido hialurônico) na derme.
Em tais casos, o mixedema é mais comum na fronte e face, resultando em uma
aparência inchada e no aparecimento de pregas cutâneas acima dos olhos. Este
edema, associado às dobras cutâneas acima das pálpebras, dá a alguns cães uma
expressão facial “trágica". Estas alterações têm sido descritas no trato GI, coração
e músculos esqueléticos.
Em cães intactos, o hipotireoidismo pode causar vários distúrbios reprodutivos:
em fêmeas, insuficiência no anestro ou ciclo esporádico, infertilidade, aborto ou
ninhada com pouca sobrevivência; e em machos, diminuição da libido, atrofia
testicular, hipospermia ou infertilidade.
Coma por mixedema, uma síndrome rara, é a expressão extrema do hipotireoi-
dismo severo. O curso pode-se desenvolver rapidamente; a letargia progride para
estupor e posteriormente coma. Os sinais comuns de hipotireoidismo (por exemplo,
perda de pêlo) estão geralmente presentes, mas outros sinais de hipoventilação,
hipotensão, bradicardia e hipotermia profunda são geralmente observados.
Durante o período fetal e nos primeiros meses de vida, os hormônios tireóideos são
cruciais para o crescimento e o desenvolvimento do esqueleto e do SNC. Portanto,
além dos sinais bem reconhecidos do hipotireoidismo com início na vida adulta,
nanismo desproporcional e desenvolvimento mental prejudicado (cretinismo) são
sinais proeminentes de hipotireoidismo congênito de início juvenil. No hipotireoidismo
congênito primário, o aumento da glândula tireóide (bócio) também pode ser detec-
tado, dependendo da causa do hipotireoidismo. Sinais radiográficos de disgenesia
epifisária (superdesenvolvimento das epífises por todos os ossos longos), encurta-
mento dos corpos vertebrais e retardamento do fechamento das epífises são comuns.
Em cães com hipopituitarismo congênito (nanismo hipofisário), pode haver graus
variáveis de deficiência gonadal, tireóidea e adrenocortical, mas os sinais clínicos
Tireóide 340
HIPERTIREOIDISMO
A secreção excessiva dos hormônios tireóideos, tireoxina (T4 ) e triiodotironina (T3),
resulta em sinais que refletem uma taxa metabólica aumentada e produzem o hiper-
tireoidismo clínico. Esta desordem é observada com maior freqüência no gato de
idade madura a velho, embora também se desenvolva, ainda que raras vezes, no cão.
A causa mais comum de hipertireoidismo felino é o adenoma tireóideo funcional
(hiperplasia adenomatosa); em , 70% dos casos, ambos os lobos da tireóide estão
aumentados. O carcinoma tireóideo, a causa primária de hipertireoidismo no cão, é
raro em gatos (1 a 2% dos casos de hipertireoidismo).
Achados clínicos e diagnóstico – Os sinais mais comuns de hipertireoidismo
incluem perda de peso, hiperexcitabilidade, aumento de apetite, polidipsia, poliúria e
aumento palpável da glândula tireóide. Os sinais gastrointestinais também são co-
muns e podem incluir vômito, diarréia e aumento do volume das fezes. Sinais cardio-
vasculares podem incluir taquicardia, sopros sistólicos, dispnéia, cardiomegalia e
insuficiência cardíaca congestiva. Dos gatos hipertiróideos, , 10% apresentam sinais
apáticos (por exemplo, anorexia, letargia e depressão); perda de peso é comum.
Concentrações séricas elevadas de T4 e T 3 confirmam o diagnóstico; entretanto,
são subjetivas para um amplo grau de variação, e mais de uma mensuração basal
pode ser necessária.
Tratamento – O hipertireoidismo espontâneo pode ser tratado por tireoidectomia,
terapia por radioiodo ou administração crônica de uma droga antitireóidea. Nos casos
dos tumores tireóideos unilaterais, a hemitireoidectomia corrige o estado hipertiróideo
e, normalmente, não é necessária a administração suplementar de tireoxina. Nos
animais com tumores tireóideos bilaterais, é indicada a tireoidectomia completa, mas
com preservação da função paratireóidea para evitar hipocalcemia pós-operatória. A
tireoidectomia completa deve ser seguida pela administração de tireoxina suplemen-
tar que deve ser iniciada 1 a 2 dias após a cirurgia. Se não se desenvolver hipo-
paratireoidismo iatrogênico, também se indica o tratamento com vitamina D e cálcio.
Hipercalcemia Humoral Maligna 343
TUMORES DE TECIDOS
NEUROENDÓCRINOS
Tecidos neuroendócrinos derivados da crista neural embrionária estão ampla-
mente dispersos por todo o corpo. Nos mamíferos, eles encontram-se no centro da
glândula adrenal e estão relacionados com a síntese e secreção de catecolaminas
hormonais (adrenalina e noradrenalina). As células C da glândula tireóide dos
mamíferos também são derivadas da crista neural e durante o início do desenvol-
vimento embrionário são incorporadas à última bolsa faríngea (ultimobranquial), que
subseqüentemente se funde com cada um dos lobos da tireóide. As células C estão
relacionadas com a biossíntese de calcitonina, um hormônio envolvido na regulação
da homeostase do cálcio e no turnover esquelético.
Os tumores desenvolvem-se ocasionalmente a partir das células neuroendócrinas
na medula adrenal, tireóide e corpos da carótida e aorta. Eles têm importância clínica
pela ruptura física dos tecidos normais adjacentes pela massa tumoral e possivel-
mente pelo excesso de secreção autônoma do hormônio.
MEDULA ADRENAL
Hiperplasia da medula adrenal – A hiperplasia medular difusa ou nodular
parece preceder o desenvolvimento de feocromocitoma em touros com tumores de
Tumores de Tecidos Neuroendócrinos 347
ÓRGÃOS QUIMIORRECEPTORES
Barômetros sensitivos das alterações de dióxido de carbono e oxigênio e do pH
sangüíneo ajudam na regulação da respiração e da circulação. Embora os tecidos
quimiorreceptores pareçam ser amplamente distribuídos no corpo, os tumores se
desenvolvem principalmente nos corpos aórticos e carótideos, mais freqüentemente
no primeiro em animais e no último no homem. Estes tumores ocorrem primariamente
em cães e raramente em gatos e bovinos. Raças de cães braquicefálicos, como boxer
e terrier boston, são predispostas a tumores dos corpos aórticos e carotídeos.
Tumores de corpos aórticos aparecem mais freqüentemente como massas
únicas ou nódulos múltiplos dentro do saco pericárdico próximo à base do coração.
Tumores de Tecidos Neuroendócrinos 349
OFTALMOLOGIA
EXAME FÍSICO DO OLHO
O exame ocular inicial deve avaliar a simetria, conformação e lesões macroscó-
picas; o olho deve ser observado a menos de 1m, com boa iluminação e com mínima
Oftalmologia 352
PÁLPEBRAS
Anormalidades conformacionais
Entrópio – É uma inversão total ou parcial das margens palpebrais que pode
envolver uma ou ambas as pálpebras e os cantos. O entrópio geralmente está
associado a um defeito hereditário da pálpebra em muitas raças caninas e ovinas,
à formação de cicatriz ou a um severo blefarospasmo devido a dor ocular ou
periocular. A inversão dos cílios ou dos pêlos faciais cria um desconforto adicional,
irritações conjuntival e corneal, e se prolongada, causa cicatrizes na córnea,
pigmentação e talvez ulceração. O entrópio espástico precoce pode ser revertido
se: 1. a causa inicial for removida; ou 2. a dor for aliviada com eversão dos pêlos
palpebrais para fora do olho com suturas em colchoeiro na pálpebra, injeções (por
exemplo, de penicilina procaína) na pálpebra adjacente ao entrópio, ou por bloqueio
do nervo palpebral. O entrópio estabelecido pode requerer correção cirúrgica.
Ectrópio – É uma pálpebra frouxa, de margem evertida, geralmente com uma
grande fissura palpebral; é um defeito de conformação bilateral comum em várias
raças caninas; a contração de cicatrizes na pálpebra ou paralisia do nervo facial
podem produzir ectrópio unilateral em qualquer espécie. A exposição conjuntival
resultante leva a uma conjuntivite crônica ou recorrente por irritantes ambientais ou
infecção bacteriana. As preparações tópicas de antibiótico-corticosteróide podem
controlar temporariamente as infecções periódicas, mas a correção cirúrgica é
indicada em muitos casos. Os casos moderados podem ser controlados por
lavagens periódicas repetidas com soluções descongestionantes suaves.
Lagoftalmia – A incapacidade de fechar as pálpebras e proteger a córnea do
ressecamento e de traumatismos pode ser o resultado de órbitas de pouca
profundidade, exoftalmia devida a uma lesão orbital que ocupa espaço, ou paralisia
do nervo facial. Lesão da córnea, pigmentação e ulceração são resultados gerais de
lagoftalmia. A não ser que a causa possa ser corrigida, a terapia consiste em
lubrificantes tópicos e redução cirúrgica ou fechamento da(s) fissura(s) permanente
ou temporariamente, dependendo da causa. Pregas cutâneas nasais excessivas e
pêlos faciais podem agravar o dano causado pela lagoftalmia.
Anormalidades dos cílios – Cílios maldirecionados na margem palpebral
podem produzir epífora ou lesão corneal e ulceração. Em muitos casos, cílios
anômalos são muito finos e não produzem sinais clínicos nem lesão. Entretanto,
cílios maldirecionados que penetram através da conjuntiva palpebral são capazes
Oftalmologia 353
Inflamação
A blefarite (inflamação das pálpebras) pode resultar da extensão de uma dermatite
generalizada, de conjuntivite ou infecções locais, ou de irritantes, tais como óleos
vegetativos ou exposição solar. As pálpebras podem ser o sítio original do comprome-
timento por agentes que progridem para uma dermatite generalizada. Dermatófitos,
Demodex canis , e bactérias, tais como os estafilococos, estão freqüentemente
envolvidos. A junção mucocutânea da pele e conjuntiva pode ser o sítio de doenças
imunomediadas como o pênfigo. Infecções glandulares locais podem ser agudas ou
crônicas (hordéolo e calázio). Na blefarite generalizada, é freqüentemente indicada
a terapia sistêmica além do tratamento tópico. Terapia de suporte com compressas
quentes e freqüente limpeza é comumente indicada em casos agudos. Se as
preparações não oftálmicas podem ser usadas para tratar as pálpebras, indica-se
cautela na aplicação para evitar-se a irritação da córnea. Esfregaços de pele,
culturas e biópsias podem ser necessárias para se chegar a um diagnóstico correto.
APARELHO LACRIMAL
Hipertrofia e prolapso da glândula da terceira pálpebra (olho de cereja) são
comuns em cães jovens. Em estágios agudos, a grande massa vermelha incha, há
protrusão da margem da terceira pálpebra e uma secreção mucopurulenta. Embora
a tumefação possa retroceder por curtos períodos, ela eventualmente permanece
prolapsada, mas raramente produz sinais desfavoráveis nos estágios crônicos.
Visto que é uma glândula lacrimal importante, deve ser preservada por uma sutura
de apoio à borda orbital, ou por excisão parcial. A excisão completa pode resultar
em uma ceratoconjuntivite seca (ver adiante).
Dacriocistite é uma inflamação do saco lacrimal normalmente causada por
obstrução do duto nasolacrimal proximal por debris inflamatórios, corpos estranhos,
ou massas que pressionam sobre o duto. Produz lacrimejamento (epífora) e
conjuntivite secundária refratária ao tratamento.
Abscedação do saco lacrimal pode ocorrer. A irrigação do duto nasolacrimal
revelará uma obstrução do duto ou refluxo de secreção mucopurulenta do orifício,
ou ambos. Radiografias do crânio após injeção de contraste dentro do duto podem
ser necessárias para estabelecer o sítio e a causa da obstrução. O tratamento
consiste na manutenção da abertura do duto e instilação de soluções antibióticas
tópicas. Pode ser necessária a implantação de um tubo de polietileno no duto para
manter a abertura.
Atresia dos orifícios lacrimais é uma causa de epífora no cão e no gato,
enquanto a atresia do extremo nasal do duto nasolacrimal é uma causa de
dacriocistite em eqüinos e bovinos jovens. A terapia consiste em abrir cirurgicamen-
te o orifício e manter sua abertura.
Ceratoconjuntivite seca (CCS) é devida a uma deficiência de lágrimas e
geralmente resulta em uma conjuntivite mucopurulenta e cicatrizes e úlceras da
córnea. A síndrome é comum em cães, nos quais está freqüentemente associada
à adenite auto-imune. Cinomose, tratamento crônico com sulfonamidas e trauma-
tismos são causas pouco freqüentes de CCS. A doença é infreqüente em gatos e
rara em cavalos. O tratamento tópico consiste em lágrimas artificiais, e combinações
de antibiótico-esteróide se não houver ulceração. Os lacrimogêneos, tais como a
pilocarpina misturada à ração podem ser úteis (para um cão de 10 a 15kg, iniciar com
2 a 4 gotas de policarpina a 2%, duas vezes ao dia). Ciclosporina tópica a 2%
Oftalmologia 354
(embora não esteja disponível comercialmente como preparação tópica) dada duas
vezes ao dia aumenta a produção de lágrima em muitos cães. Os agentes
mucolíticos, por exemplo, a acetilcisteína a 10%, lisam o excesso de muco e
restauram a capacidade de difusão de outros agentes tópicos. Em casos de CCS
crônica, a terapia médica é inadequada para controlar a progressão das cicatrizes
da córnea e é indicado o transplante do duto parotídeo.
CONJUNTIVA
Hemorragia subconjuntival pode surgir de um trauma ou de discrasias sangüí-
neas; não requer terapia, mas é um sinal que merece ser examinado para determinar
se alterações intra-oculares mais importantes ocorreram. Se não há evidências ou
história definitiva de trauma, então o exame sistêmico é indicado para se determinar
a causa da hemorragia espontânea.
Quemose ou edema conjuntival ocorre em algum grau em todas as conjuntivites,
mas os exemplos mais dramáticos são vistos nas reações alérgicas, trauma e picada
de insetos. A última é tratada com corticosteróides tópicos e normalmente resolve-
se rapidamente. É indicada a terapia específica para o agente etiológico.
Conjuntivite é uma doença comum em todos os animais domésticos e os agentes
etiológicos podem variar de infecciosos a irritantes ambientais. Os sinais de conjun-
tivite são hiperemia, quemose, secreção ocular, hiperplasia folicular e um leve
desconforto ocular. A aparência da conjuntiva geralmente não é distinta o suficiente
para sugerir o agente etiológico, e o diagnóstico específico depende do histórico,
exame físico, esfregaços da conjuntivite e cultura, teste de lágrima de Schirmer e, às
vezes, biópsia. Conjuntivite unilateral indica condição isolada de um olho, tal como
corpo estranho, dacriocistite ou CCS (ver adiante). No gato, o micoplasma e
aChlamydia cati podem produzir conjuntivite que começa em um olho e torna-se
bilateral após , 1semana. O diagnóstico específico é feito pela demonstração de
inclusões ou do agente infeccioso em esfregaços conjuntivais. A conjuntivite bilateral
é comum em uma variedade de infecções virais em todas as espécies. O herpesvírus
produz conjuntivite no gato, na vaca, no cavalo e no porco e passageiramente no cão.
Secreção purulenta indica um componente bacteriano, mas este pode ser oportunis-
ta devido à debilidade da superfície da membrana mucosa. Os irritantes ambientais
e alérgenos são causas comuns de conjuntivite em todas as espécies. Se está
presente exsudato mucopurulento, é indicada a antibioticoterapia, mas esta pode
não ser curativa se outros fatores predisponentes estão envolvidos. Fatores mecâ-
nicos, tais como corpos estranhos, irritantes ambientais e defeitos de conformação
devem ser removidos ou corrigidos. A tetraciclina tópica é indicada para o tratamento
de infecções causadas por Chlamydia; preparações antivirais tópicas, tais como
idoxuridina, são indicadas para as infecções por herpesvírus.
CÓRNEA
Ceratite superficial é comum em todas as espécies e é caracterizada por
vascularização e opacificação da córnea, que podem ser devidas a edema, infiltrado
celular, pigmentação ou fibroplasia. Se a ulceração está presente, dor evidenciada
por epífora e blefarospasmo é um sinal notável. Ceratite unilateral é freqüentemente
de origem traumática. Fatores mecânicos, tais como defeitos de conformação
palpebral e corpos estranhos, devem sempre ser eliminados, bem como suas
possíveis causas, visto que a melhora não ocorrerá até que os transtornos sejam
resolvidos. Ceratite ulcerativa pode ser complicada por uma invasão secundária por
bactérias e, nos cavalos, por fungos saprófitas. Ceratite superficial bilateral pode ser
imunomediada ou associada à ausência de lágrimas, defeitos conformacionais e
agentes infecciosos.
Oftalmologia 355
ÚVEA ANTERIOR
Membranas pupilares persistentes são remanescentes de uma rede vascular
congênita que preencheu a região pupilar. A persistência de filamentos pigmentados
que cruzam a pupila de uma área da íris a outra, ou para a lente ou córnea, não é rara
no cão e ocorre eventualmente em outras espécies. No basenji, a condição é herdada.
Oftalmologia 356
GLAUCOMA
É um conjunto de sintomas que se manifesta pelo aumento da pressão intra-ocular
que lesa a retina e o nervo óptico. Os sinais que o acompanham são: pupila dilatada,
fixa ou de reação lenta; injeção conjuntival seletiva; edema corneal e rigidez do globo.
O estiramento do globo ocular pode resultar no deslocamento das lentes e no rompi-
mento da membrana de Descemet. A dor normalmente é manifestada por mudanças
no comportamento em vez de blefarospasmo. A condição é classificada como primá-
ria ou secundária conforme o ângulo de abertura da câmara anterior esteja aberto ou
obstruído (fechado). Os glaucomas primários, dos quais se suspeita terem predis-
posição genética, eventualmente tornam-se bilaterais; o glaucoma primário com ângulo
aberto em beagles é hereditário e associado a um gene autossômico recessivo. O
cocker spaniel americano e o basset hound também são comumente afetados. Os
glaucomas secundários estão associados a doenças intra-oculares adquiridas que
interferem no escoamento do humor aquoso. Inflamação intra-ocular é a causa mais
comum, mas neoplasias, hifema e deslocamento das lentes são causas adicionais.
Visto que a alta pressão intra-ocular pode lesar permanentemente os olhos em
poucos dias, o glaucoma agudo deve ser tratado como uma emergência. A terapia
Oftalmologia 357
LENTE
Catarata é uma opacidade da lente ou de sua cápsula, e deve ser diferenciada
do aumento normal na densidade nuclear (esclerose nuclear) que ocorre em
animais mais velhos. As cataratas são classificadas geralmente pela sua idade de
início (congênita, juvenil ou senil), localização, causa, grau de opacificação (inci-
piente, imatura, madura e hipermadura) e forma. A maioria das cataratas pode ser
detectada por dilatação da pupila e exame da região pupilar contra a retroiluminação
do fundo de olho. Os cães sofrem de catarata (freqüentemente hereditária) mais
comumente que outras espécies. Outros agentes etiológicos são o diabetes melito,
desnutrição, inflamação e traumatismo. No gato e no cavalo, a maioria das cataratas
é secundária a inflamações. Em geral, a única terapia para cataratas que são
severas o suficiente para provocar cegueira é a remoção cirúrgica do cristalino.
Cataratas juvenis podem ser reabsorvidas o suficiente até haver recuperação da
visão; cataratas congênitas nucleares podem melhorar com o crescimento das
lentes. Animais com cataratas imaturas (incompletas) podem se beneficiar com atropi-
na 2 a 3 vezes por semana, que permite visão ao redor de uma densa zona central.
Deslocamento da lente é visto em todas as espécies, mas é comum como um
defeito hereditário primário em várias raças de cães terrier. O deslocamento
completo da câmara anterior produz sinais agudos e, freqüentemente, é acompa-
nhado por glaucoma e edema de córnea. O tratamento é a remoção cirúrgica.O
deslocamento posterior na cavidade vítrea é assintomático ou associado a inflama-
ção ocular ou glaucoma. As lentes subluxadas são reconhecidas por uma afacia
crescente e tremor da íris (iridodonese). A decisão pela remoção das lentes
subluxadas é baseada na severidade dos sinais e no julgamento próprio quanto ao
papel que a lente desempenha na produção dos mesmos. O deslocamento das
lentes também pode ser causado por traumatismos, estiramento do globo e
variações zonulares degenerativas com cataratas crônicas.
FUNDO DE OLHO
Doenças do fundo de olho (retina, coróide e disco óptico) podem ser isoladas no
olho ou podem ser manifestações de doenças sistêmicas. As anormalidades
herdadas podem ser congênitas ou aparecer tardiamente, e são importantes na
patogenia das retinopatias nos cães. Traumatismo, distúrbios metabólicos, infec-
ções sistêmicas, neoplasias, discrasias sangüíneas e deficiências nutricionais são
possíveis causas primárias de retinopatias em todas espécies.
Retinopatias hereditárias
Anomalia ocular do cão collie é um defeito congênito, recessivamente herda-
do, com expressão variável. A lesão básica é uma área de hipoplasia coriorretinal
lateral ao disco óptico. Os cães afetados mais severamente terão lesões
colobomatosas adicionais da papila ou região peripapilar e destacamento da retina.
A tortuosidade vascular da retina é comum e pode ocorrer hemorragia intra-ocular.
Oftalmologia 358
Coriorretinite
A coriorretinite freqüentemente é uma manifestação de uma doença infecciosa
sistêmica; ela é importante como indício de diagnóstico e como prognosticador
da função visual. A menos que as lesões sejam generalizadas ou envolvam o
nervo óptico, elas freqüentemente são “silenciosas”. As cicatrizes podem ser
diferenciadas das lesões ativas pela turvação e bordas maldefinidas das
últimas. A coriorretinite pode estar presente na cinomose canina, micoses
sistêmicas, prototecose, toxoplasmose, tuberculose, septicemias bacterianas,
peritonite infecciosa felina, meningoencefalite tromboembólica, febre catarral
maligna, cólera suína, leptospirose eqüina e oncocerquíase. A terapia geralmente
é direcionada à doença sistêmica.
ÓRBITA
Os sinais de celulite orbital são dor aguda ao abrir a boca, prolapso unilateral
da membrana nictante, deslocamento adiante do globo ocular e conjuntivite. A
ceratite pode se desenvolver a partir de lagoftalmia (ver pág. 352). A condição é vista
Oncologia Oftálmica 359
PROLAPSO DO OLHO
O prolapso agudo do olho é um resultado de traumatismos, sendo mais comum
em cães e gatos. Deve-se tentar repor o globo se a condição física do animal permitir
a indução de anestesia geral. O canto lateral é incisado e o globo manualmente
recolocado. As suturas das pálpebras e membrana nictante previnem recidivas. A
lesão traumática é tratada por via sistêmica. O prognóstico para a recuperação da
visão é ruim, mas bom para a manutenção do globo.
ONCOLOGIA OFTÁLMICA
O olho e as estruturas associadas a ele podem desenvolver neoplasias de
diferentes tecidos dentro da órbita;eles também podem ser sítios de metás-
tases.Neoplasias oftálmicas variam em freqüência e importância nas diferentes
espécies.
trusão cutânea). Durante este estágio benigno é estimado que , 30% dos casos
podem regredir espontaneamente. O tumor pode tornar-se bastante grande, sem
invadir o globo, pois a invasão do olho e da órbita e metástases de linfonodos regionais
são estágios mais avançados da doença. O diagnóstico geralmente é feito pela
aparência clínica típica, mas a confirmação rápida pode ser feita por exame citológico
de impressão dos esfregaços. A invasão intra-ocular do tumor deve ser diferenciada
de olhos severamente perturbados após traumatismo e ceratoconjuntivite infecciosa.
Carcinomas de células escamosas têm respondido ao tratamento médico,
excisão, crioterapia, hipertermia, radioterapia e imunoterapia. Tanto a crioterapia
quanto a hipertermia têm produzido excelentes resultados a curto prazo, mas a
recidiva no mesmo local ou em local diferente é , 25%.
Para lesões avançadas confinadas ao globo ocular, a enucleação é recomenda-
da. Quando tecidos adjacentes também são afetados, deve-se realizar a exentera-
ção (remoção do globo e de todo o conteúdo orbitário). A imunoterapia ainda é
experimental e a regressão do tumor pode ser temporária. A radioterapia não é
praticada no campo, mas pode ser uma opção para animais valiosos internados.
Proprietários de gado com problemas devem ser advertidos quanto ao fator
hereditário, e os animais afetados e seus descendentes devem ser descartados
para diminuir a incidência.
mente raros e têm origem em sítios distantes. Outras neoplasias como o tumor
venéreo transmissível e o hemangiossarcoma podem metastatizar para a úvea
anterior. Linfossarcoma é o tumor ocular secundário mais freqüente e geralmente
manifesta-se como uveíte anterior e glaucoma secundário.
UVEÍTE EQÜINA
(Oftalmia periódica, Iridociclite recidivante, Cegueira noturna)
VERMES OCULARES
(Telazíase)
CERATOCONJUNTIVITE INFECCIOSA
(Oftalmia infecciosa, Conjuntivite )
SURDEZ
A surdez adquirida pode ocorrer devido à oclusão bilateral dos canais auditivos
externos, como na otite externa crônica, ou porque houve destruição do ouvido
médio ou interno. Outras causas de surdez são traumatismo do osso temporal
petroso, ruídos de alta potência (por exemplo, disparo de canhão), condições
desmielinizantes, drogas ototóxicas (por exemplo, antibióticos aminoglicosídios
[gentamicina, canamicina, neomicina, estreptomicina] ou salicilatos), neoplasias do
ouvido ou cérebro, e idade avançada. A surdez unilateral e/ou perda parcial da
audição é possível em alguns dos casos anteriores.
A surdez congênita ocorre a partir de uma característica hereditária ou de um dano
no desenvolvimento do feto (devido a um agente tóxico ou viral). Um gene autossô-
mico em gatos provoca pelagem branca, olhos azuis e surdez; é dominante, com
completa expressão na produção de pêlos brancos e expressão incompleta para
surdez e íris azul. A surdez é, neste caso, devida a alterações degenerativas
cocleossaculares que ocorrem na primeira semana de vida. A pelagem merle e a
branca estão associadas à surdez congênita em cães e em outros animais. As raças
comumente afetadas incluem dálmata, heeler australiano, setter inglês, shepherd
australiano, boston terrier, old english sheepdog, great dane e boxer. A lista das raças
afetadas sofre alterações com o tempo devido à popularidade racial e à eliminação
do problema pela seleção genética; por exemplo, o cocker spaniel apresentava
com freqüência surdez hereditária, o que não é mais comum nessa raça.
O diagnóstico requer observação cuidadosa da resposta do animal ao som. É
importante considerar a descrição do proprietário em relação ao comportamento do
animal e realizar uma anamnese apropriada. A resposta aos estímulos visuais, táteis
e olfatórios deve ser diferenciada da resposta ao som. Em animais jovens ou animais
mantidos em grupos, a surdez pode ser difícil de se detectar, pois o indivíduo
suspeito seguirá a resposta dos outros integrantes do grupo. Se o animal for
observado individualmente após uma idade em que as respostas aos estímulos
auditivos são perceptíveis (, 3 a 4 semanas para cães e gatos), a surdez poderá
ser detectada. O sinal primário é a deficiência para responder ao estímulo auditivo.
Um exemplo disso é a dificuldade para acordar o cão com a produção de ruídos ou
dificuldade para alertá-lo com relação a uma fonte sonora. Outros sinais incluem
comportamento incomum, como latido excessivo, voz anormal, hiperatividade,
confusão quando são dados comandos vocais e perda dos movimentos reflexos de
alerta e atenção das pinas. Um animal que gradualmente foi se tornando surdo,
como um cão idoso, pode não responder ao meio ambiente e ao chamado do
proprietário. A surdez unilateral é difícil de ser detectada, exceto pela observação
Surdez 370
Hematoma auricular
É uma tumefação preenchida por líquido que se desenvolve na superfície
côncava da pina em cães, gatos e suínos. As lesões podem se desenvolver como
resultado da ruptura de vasos sangüíneos dentro da pina, devido aos meneios de
cabeça ou ao ato de coçar a orelha com a pata em virtude do prurido auricular.
Ocorre mais comumente em cães com pinas pedunculares. Também tem sido
proposto que as lesões resultam de uma doença auto-imune dos tecidos das pinas
em vez de trauma pinal. Em suínos, sarna sarcóptica, pediculose e alimento digerido
nas orelhas (comedores cheios) têm sido implicados como causas de meneios de
cabeça que levam aos hematomas aurais. Mordidas de outros suínos também
podem ser uma causa (ver também SÍNDROME NECRÓTICA DA ORELHA, adiante).
O tratamento é cirúrgico para permitir a drenagem e o debridamento. Causas de
base de desconforto ótico, como doenças parasitárias e hipersensibilidade, devem
ser identificadas e tratadas para prevenir a recidiva.
arranhões. Nos casos mais severos, crostas marrons, espessas e úmidas cobrem
as úlceras profundas. Na maioria dos casos severos, há extensa necrose.
O diagnóstico é feito pela aparência das orelhas afetadas.
Controle – Tintura de iodo aplicada topicamente 2 vezes ao dia, por 7 dias, tem
reduzido a incidência e a severidade da doença. Drogas antibacterianas administra-
das na alimentação são eficazes em alguns casos, mas não trazem benefícios em
outros. A falta de eficácia pode ser devida à resistência à droga. Em casos nos quais
os agentes antibacterianos são ineficazes, devem-se colher as amostras
assepticamente a partir da porção mais profunda da lesão ulcerativa, fazer a cultura
e determinar sua sensibilidade antimicrobiana. Os acontecimentos traumatizantes
devem ser minimizados. Fatores de manejo (ventilação, localização e funcionamen-
to dos bebedouros, projeto dos boxes, tamanho do grupo e mistura) e os fatores
nutricionais (ingestão de sal e proteína) têm sido sugeridos como contribuintes para
incidência de mordidas nas orelhas (ver também INTERAÇÃO MANEJO-DOENÇA:
SUÍNOS, pág. 1358).
OTITE EXTERNA
É uma inflamação aguda ou crônica do epitélio do meato auditivo externo, às
vezes envolvendo a pina, e se caracteriza por eritema, aumento da descamação do
epitélio e graus variados de dor e prurido. É a doença mais comum do canal auditivo
de cães e gatos, tendo geralmente uma etiologia multifatorial. É rara em grandes
animais e ocasionalmente observada em coelhos, sendo geralmente devida ao
ácaro Psoroptes cuniculi.
Etiologia – Determinando-se se a causa é primária, predisponente ou perpetuante,
pode-se fornecer um prognóstico mais acurado e formular um plano terapêutico
seguro e específico.
Causas primárias – Fatores internos e externos podem induzir diretamente
inflamação e prurido no canal auditivo externo. Fatores externos geralmente são
identificados com facilidade, e se prontamente removidos, freqüentemente resultam
em cura. Entretanto, infelizmente, muitos casos refratários são devidos a causas
primárias decorrentes de problemas metabólicos de vida longa. Causas primárias
incluem parasitas, corpos estranhos, hipersensibilidade, distúrbios da ceratinização
e doenças auto-imunes.
Causas predisponentes – Pequenas mudanças no microclima ótico podem al-
terar o delicado balanço das secreções normais e da microflora, resultando
em infecções oportunistas. Estas causas incluem conformação, maceração do
canal auditivo, erros de tratamento, doenças auriculares obstrutivas, pirexia e
doença sistêmica.
Fatores perpetuantes – Uma vez que o ambiente do canal auditivo foi alterado
por uma combinação de fatores primários e predisponentes, podem ocorrer infec-
ções oportunistas e alterações patológicas, que impedem a resolução da doença.
Estes fatores incluem bactérias, leveduras, otite média e alterações patológicas
progressivas.
Achados clínicos e diagnóstico – A menos que todas as causas sejam
identificadas e tratadas, podem-se esperar recidivas. Alterações patológicas crôni-
cas nas orelhas podem também ser reflexo de uma doença cutânea ou sistêmica
generalizada.
Uma história dermatológica completa pode fornecer muitas informações e pode
ser sugestiva de outros problemas, por exemplo, hipersensibilidade ou distúrbios de
ceratinização. Os sinais são importantes; certas raças de cães são predispostas a
distúrbios conformacionais do canal auditivo, hipersensibilidade e distúrbios de
ceratinização.
Doenças da Orelha Externa 373
nas e micóticas nos canais auditivos úmidos. Cortar os pêlos do interior da pina e
ao redor do meato auditivo externo e do canal auditivo aumenta a ventilação e
diminui a umidade das orelhas.
Deve-se suspeitar de otite média nos casos de otite externa purulenta severa ou
quando a membrana timpânica tiver sido perfurada por um objeto estranho, ou tiver
sido rompida devido a uma otite externa crônica. O diagnóstico pode ser confirmado
por edema, descoloração ou ruptura da membrana timpânica. Presença de fluido na
cavidade timpânica ou alterações escleróticas da bula timpânica podem ser detec-
tadas radiograficamente. Exame citológico (coloração de Gram e Wright), cultura e
antibiograma do exsudato podem ser benéficos.
Deve-se suspeitar fortemente de otite interna quando os sinais vestibulares
anteriormente mencionados estiverem presentes. O exame otoscópico e as radio-
grafias da bula timpânica podem confirmar uma otite média concomitante.
Tratamento e prognóstico – Devido à possibilidade de diminuição da acuidade
auditiva e lesão do aparato vestibular, deve-se instituir uma terapia antibacteriana
sistêmica de longa duração (3 a 6 semanas), assim que for feito o diagnóstico.
Cloranfenicol, ampicilina, combinações de sulfa-trimetoprim ou tetraciclina devem
ser usados até que se saiba o resultado dos testes de sensibilidade bacteriana. Se
o tímpano está rompido, a cavidade timpânica deve ser cuidadosamente lavada
usando-se um otoscópio, uma pinça longa em forma de jacaré e jatos de solução
salina. Pequenas perfurações da membrana irão cicatrizar. Se houver otite externa
associada, esta deverá ser tratada cuidadosamente. Além disso, doses antiinflama-
tórias de glicocorticóides usados nos primeiros 5 a 7 dias de tratamento poderão
diminuir as alterações inflamatórias nos nervos vestibulococlear, facial ou simpático.
No caso de otite média e interna em que a orelha externa apresenta-se normal
e limpa, mas com uma membrana timpânica edematosa ou descolorida, pode ser
vantajoso realizar-se uma incisão no tímpano para permitir a cultura do fluido, aliviar
a pressão (e portanto a dor) e permitir a remoção do exsudato inflamatório, o qual
pode causar uma deficiência auditiva permanente. A terapia antibiótica sistêmica
baseada no teste de sensibilidade deve ser continuada por 3 a 4 semanas e
possivelmente ≥ 6 semanas na otite interna. No caso de otite média crônica com
alterações radiográficas de osteomielite ou presença de fluido na bula timpânica,
pode ser necessária uma osteotomia.
A otite média com uma membrana timpânica intacta responde bem à terapia
antibiótica sistêmica, mas quando há otite externa crônica e uma membrana
timpânica rompida, as chances de sucesso no tratamento são reduzidas. Quando
houver déficits nos nervos facial e simpático, estes podem persistir mesmo depois
que a infecção tiver sido debelada. A otite interna geralmente responde bem a uma
terapia antibiótica a longo prazo, mas alguns déficits neurológicos (como incoorde-
nação, meneios de cabeça e surdez) podem persistir por toda a vida do animal. Os
animais que se recuperam de uma otite interna devem passar por um tempo de
adaptação a algumas deficiências neurológicas persistentes.
AFECÇÕES GENERALIZADAS
AFECÇÕES GENERALIZADAS DE MAIS DE UMA ESPÉCIE
ACTINOBACILOSE ....................................................................................... 382
ACTINOMICOSE ........................................................................................... 383
Nos Bovinos ............................................................................................. 383
Nas Outras Espécies ............................................................................... 384
AMILOIDOSE ................................................................................................ 385
CARBÚNCULO ............................................................................................. 385
BABESIOSE (ver SLC) .................................................................................. 083
BESNOITIOSE ............................................................................................... 388
CLOSTRIDIOSE ............................................................................................ 389
Hemoglobinúria Bacilar ............................................................................ 389
Cabeça Grande ........................................................................................ 390
Carbúnculo Sintomático ........................................................................... 391
Enterotoxemias ........................................................................................ 392
C. perfringens dos Tipos B e C .......................................................... 392
C. perfringens do Tipo D .................................................................... 393
Hepatite Necrótica Infecciosa .................................................................. 394
Edema Maligno ........................................................................................ 395
Botulismo ................................................................................................. 396
Tétano ...................................................................................................... 398
ANOMALIAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIAS ......................................... 400
Doença de Akabane ................................................................................ 402
Doença da Fronteira ................................................................................ 403
ERISIPELA .................................................................................................... 405
Erisipela Suína ......................................................................................... 405
Poliartrite Não Supurativa nos Cordeiros ................................................. 407
Claudicação Pós-banho de Imersão nos Ovinos ..................................... 408
FEBRE AFTOSA ........................................................................................... 408
INFECÇÕES FÚNGICAS (SISTÊMICAS) ..................................................... 411
Aspergilose .............................................................................................. 412
Candidíase ............................................................................................... 413
Cromomicose ........................................................................................... 414
Coccidioidomicose ................................................................................... 415
Criptococose ............................................................................................ 416
Entomoftoromicose .................................................................................. 417
Linfangite Epizoótica ................................................................................ 418
Geotricose ................................................................................................ 418
Histoplasmose .......................................................................................... 419
Mucormicose ............................................................................................ 420
Micetomas ................................................................................................ 421
Blastomicose Norte-americana ................................................................ 421
Oomicose ................................................................................................. 422
Afecções Generalizadas 380
ACTINOBACILOSE
É uma doença que afeta mais freqüentemente os tecidos moles e os linfonodos,
embora também possa envolver as estruturas ósseas por extensão direta; é
semelhante à actinomicose (ver adiante). As várias espécies de agentes causado-
res estão relacionadas com as várias espécies hospedeiras e com as suas
características bioquímicas. Actinobacillus lignieresii (bovinos e ovinos), A. equuli e
A. suis (eqüinos e suínos, especialmente os animais jovens), A. capsulatus (coelhos
– artrite) e A. (Haemophilus) pleuropneumoniae (suínos – pleuropneumonia). A
Actinobacillus seminis (carneiros – epididimite) pode não se constituir em um
membro válido do gênero.
Nos bovinos, a actinobacilose clássica afeta geralmente a língua (“língua-de-
pau”), o rúmen e o retículo e, menos freqüentemente, outros tecidos, tais como os
músculos esqueléticos e o fígado. Os pequenos abscessos com uma proliferação
difusa e extensa do tecido conjuntivo constituem uma característica de destaque. O
alastramento por meio do sistema linfático e a invasão dos linfonodos locais ajudam
a distinguir a infecção por A. lignieresii de uma actinomicose. Nos ovinos, a
actinobacilose é uma doença purulenta da pele, dos linfonodos, dos pulmões e dos
tecidos moles da cabeça e do pescoço. A epididimite é comum nos carneiros. Nos
suínos, têm-se descrito septicemia, lesões articulares supurativas, endocardite,
osteomielite, pneumonia e infecções das glândulas mamárias e dos tecidos moles
da cabeça. Nos potros, ocorrem septicemia e infecções incapacitantes, especial-
mente nas articulações.
O pus proveniente das lesões pode conter grânulos branco-acinzentados ou
“rosetas” < 1mm de diâmetro, que são menores que os “grânulos sulfurosos” da
actinomicose. Tais grânulos, que são encontrados apenas nas lesões dos bovinos
Actinomicose 383
ACTINOMICOSE
É uma doença granulomatosa, supurativa, crônica e local ou sistêmica que
afeta uma larga variedade de animais domésticos e, raramente, animais silves-
tres. Os agentes causadores incluem a Actinomyces bovis, a A. viscosus (isolada
primeiramente a partir de placas gengivais de hamsters com periodontopatias,
mas hoje conhecida como um patógeno importante de cães, e em menor grau, de
suínos e caprinos), a A. hordeovulneris e a A. suis . Ainda não se decidiu a
classificação taxonômica exata dessa última espécie. Isolou-se a Actinomyces
bovis apenas a partir de infecções bovinas. Ocasionalmente, podem-se isolar
tipos predominantemente humanos, tais como a A. israelii, a partir de lesões em
outros animais. Têm-se isolado várias espécies ( A. denticolens, A. howellii e A.
slackii) a partir da placa dentária bovina, mas não se determinou o seu potencial
patogênico.
AMILOIDOSE
Amilóide é o nome dado a determinadas proteínas depositadas nos tecidos como
resultado de uma inflamação crônica ou de um tumor em uma célula plasmática
(mieloma) (ver também pág. 1066). Todas as proteínas amilóides consistem de
lâminas β-pregueadas de aminoácidos, uma estrutura que os torna quase totalmen-
te refratários à decomposição enzimática; conseqüentemente, ao se depositarem
nos tecidos, não são removidos. Existem 2 proteínas amilóides principais. Uma,
chamada AA, é liberada a partir dos hepatócitos sob a influência da interleucina-1.
Como a interleucina-1 liberada por macrófagos estimulados, as infecções crônicas
levam a um prolongamento da produção de interleucina-1 e a uma liberação do
excesso de AA dos hepatócitos. A segunda, a AL, é composta de cadeias leves de
imunoglobulinas parcialmente degradadas produzidas pelas células plasmáticas
malignas. Ocorrem vários outros tipos menores nos animais idosos e em determi-
nadas doenças metabólicas. Por isso, o amilóide se deposita nos tecidos nos
animais que tenham infecções crônicas, tais como artrite, reticulite traumática ou
osteomielite, e nos animais com mielomas ou outras gamopatias monoclonais.
A doença é causada pela substituição das células normais por depósitos de
amilóide, principalmente no fígado, baço, cérebro e rins. Devido a essa deposição
difusa e ao seu início insidioso, a amiloidose torna-se difícil de se diagnosticar
clinicamente, embora ela seja freqüentemente observada na necropsia. Se, no
entanto, ela danificar os glomérulos e os túbulos renais, podem se tornar aparentes
sinais clínicos de insuficiência renal. Deve-se suspeitar de amiloidose se ocorrer uma
insuficiência renal em animais com infecções ou inflamações crônicas. A amiloidose
do fígado leva a sinais de insuficiência hepática. Não há tratamento efetivo.
CARBÚNCULO
(Febre esplênica, Carbúnculo, Pústula maligna)
BESNOITIOSE
É uma doença por protozoários da pele, do tecido subcutâneo, dos vasos
sangüíneos, das membranas mucosas e de outros tecidos.
Etiologia e transmissão – O agente causador da dermatopatia nos bovinos é
a Besnoitia besnoiti, e o causador nos eqüinos e nos asininos a B. bennetti. Tem-
se descrito a Besnoitia jellisoni e a B. wallacei nos roedores; a B. tarandi nas renas;
a B. darlingi nos lagartos, nos gambás e nas cobras; e a B. sauriana nos lagartos.
Têm-se isolado cepas viscerotrópicas da B. besnoiti nos antílopes africanos; e
encontrou-se uma Besnoitia sp não identificada nos caprinos. Tem-se descrito a
Besnoitia besnoiti no sul da Europa, África, Ásia e América do Sul, mas não se tem
descrito nos bovinos da América do Norte. Esses microrganismos semelhantes ao
Toxoplasma se multiplicam nas células endoteliais, nas células histiocíticas e em
outras células, e produzem grandes cistos característicos de parede espessa,
repletos de bradizoítas.
No caso de B. besnoiti, B. wallacei e B. darlingi, descreveu-se a transmissão
cíclica experimental dos estágios sexuais intestinais, em um hospedeiro definitivo,
o gato. Em estudos subseqüentes, não se confirmou a transmissão da B. besnoiti
dos bovinos para os gatos. As moscas mordedoras ou os carrapatos podem
transmitir a B. besnoiti mecanicamente a partir de bovinos cronicamente infectados;
pode-se transmitir algumas Besnoitia spp artificialmente a hospedeiros adequados
por meio da inoculação com agulha em tecidos que contenham cistos.
Achados clínicos – Os bovinos infectados freqüentemente não apresentam
nenhum sinal clínico além dos poucos cistos na conjuntiva escleral. A enfermidade
começa com uma febre seguida de anasarca. Também se observam inapetência,
fotofobia, rinite, inchaço das glândulas linfáticas e orquite. A anasarca dá lugar a uma
esclerodermatite. A pele se torna dura, espessa e enrugada, e desenvolve racha-
duras que permitem que se desenvolvam uma infecção bacteriana secundária e
uma miíase; a movimentação torna-se dolorosa. Ocorre perda de pêlos e de
epiderme. Os animais severamente afetados ficam emaciados. Aparecem cistos na
conjuntiva escleral e na mucosa nasal. Embora a mortalidade seja baixa, a
convalescença é lenta nos casos severos. Os touros severamente afetados podem
se tornar permanentemente estéreis. Os animais afetados permanecem como
carreadores por toda a vida.
Os sinais em equinos são similares aos dos bovinos.
Profilaxia e tratamento – Em alguns países, imunizam-se os bovinos com uma
vacina viva adaptada de cultura de tecidos. Devem-se isolar os animais afetados e
Clostridiose 389
CLOSTRIDIOSE
Os membros do gênero Clostridium são microrganismos em forma de basto-
nete, formadores de esporos, anaeróbios e relativamente grandes. Os esporos
são ovais, algumas vezes esféricos, e são centrais, subterminais ou terminais
quanto à sua posição. As formas vegetativas dos clostrídios nos fluidos teciduais
dos animais infectados ocorrem solitariamente, em pares ou raramente em
cadeias. A diferenciação das várias espécies patogênicas e relacionadas se
baseia nas características de cultura, na forma e na posição do esporo e na
especificidade sorológica da toxina ou dos antígenos somáticos. Os hábitats
naturais dos microrganismos são o solo e o trato intestinal dos animais, inclusive
do homem. Os animais suscetíveis podem adquirir cepas patogênicas tanto por
meio da contaminação de ferimentos como por meio da ingestão. As doenças
assim produzidas constituem uma constante ameaça à criação bem-sucedida de
animais domésticos em muitas partes do mundo.
Podem-se dividir as clostridioses em 2 categorias: 1. aquelas nas quais os
microrganismos invadem ativamente e se reproduzem nos tecidos do hospedei-
ro, com a produção de toxinas que potencializam o alastramento da infecção e
são responsáveis pela morte, e que são algumas vezes referidas como grupo
da gangrena gasosa; e 2. clostridioses caracterizadas pela toxemia resultante
da absorção das toxinas produzidas pelos organismos dentro do sistema
digestivo (as enterotoxemias), no tecido desvitalizado (tétano) ou no alimento
ou na carniça, externamente ao corpo (botulismo). Caso se tente o tratamento
do primeiro grupo, indicam-se grandes doses de antibióticos para o estabeleci-
mento de níveis efetivos no centro do tecido necrótico onde se encontram os
clostrídios.
HEMOGLOBINÚRIA BACILAR
(Doença da Água Vermelha)
É uma doença toxêmica, aguda, infecciosa, primariamente dos bovinos e
causada pela Clostridium haemolyticum (C. novyi do Tipo D). Tem sido encontrada
nos ovinos e raramente nos cães. Ela ocorre na parte ocidental dos EUA, ao longo
do Golfo do México, na Venezuela, no Chile, na Grã-Bretanha, na Turquia e
provavelmente em outras partes do mundo.
Etiologia – A espécie Clostridium haemolyticum é um microrganismo originá-
rio do solo que pode ser encontrado naturalmente no trato alimentar dos bovinos.
Pode sobreviver por longos períodos no solo contaminado ou nos ossos de
carcaças de animais que tenham sido infectados. Após a ingestão, os esporos
latentes se alojam finalmente no fígado. O período de incubação é extremamente
variável, e o início depende da ocorrência de um local de anaerobiose no fígado.
Tal foco de germinação é mais freqüentemente causado por uma infecção por
fascíolas, e muito menos freqüentemente por um alto teor de nitratos na dieta, por
uma perfuração acidental do fígado, por uma biópsia do fígado ou por qualquer
outra causa de necrose localizada. Ao ocorrerem condições favoráveis de
anaerobiose, os esporos germinam e as células vegetativas resultantes se
Clostridiose 390
multiplicam e produzem toxina β (fosfolipase C), que causa uma anemia hemo-
lítica aguda.
Achados clínicos – Podem-se encontrar bovinos mortos sem sinais premonitórios.
Geralmente, ocorre um início súbito de depressão severa, febre, dor abdominal,
dispnéia, disenteria e hemoglobinúria. Encontram-se presentes graus variáveis de
anemia e de icterícia. Pode ocorrer edema na carne do peito. Os níveis de
hemoglobina e hemácias são muito baixos. A duração dos sinais clínicos varia de
, 12h nas vacas prenhes a , 3 a 4 dias nos outros bovinos. A mortalidade nos
animais não tratados é de , 95%. Alguns bovinos sofrem ataques subclínicos da
doença e subseqüentemente agem como portadores imunes.
Lesões – Após a morte, estabelece-se o rigor mortis mais rapidamente que o
comum. Encontram-se presentes desidratação, anemia e, algumas vezes, edema
subcutâneo. Surge um fluido sanguinolento nas cavidades abdominal e torácica.
Não se afetam macroscopicamente os pulmões, e a traquéia contém uma espuma
sanguinolenta com hemorragias na mucosa. O intestino delgado, e ocasionalmente
o grosso, tornam-se hemorrágicos e o seu conteúdo se constitui freqüentemente de
sangue livre ou coagulado. Um infarto anêmico no fígado torna-se virtualmente
patognomônico; esse infarto fica ligeiramente elevado, mais claro na coloração que
o tecido circundante e delimitado por uma zona de congestão vermelho-azulada . Os
rins ficam escuros, friáveis e geralmente salpicados com petéquias. A bexiga
contém urina vermelho-arroxeada.
Diagnóstico – O quadro clínico geral geralmente permite um diagnóstico. O sinal
mais notável consiste em uma urina típica com coloração de vinho do Porto, e que
forma espuma livremente quando evacuada ou quando agitada. A presença do
infarto hepático típico é suficiente para um diagnóstico presuntivo. O tamanho e a
consistência normais do baço servem para excluir o carbúnculo e a anaplasmose.
Devem-se também considerar o envenenamento por samambaia e a leptospirose.
Pode-se confirmar bacteriologicamente o diagnóstico por meio do isolamento da
C. haemolyticum a partir do infarto hepático, mas a cultura do microrganismo é
difícil. Pode-se obter um diagnóstico rápido e acurado através da demonstração do
microrganismo no tecido hepático por meio de um teste de imunofluorescência, ou
da demonstração da toxina no fluido na cavidade peritoneal ou em um extrato salino
do infarto.
Controle – Torna-se essencial o tratamento inicial com penicilina ou com
antibióticos de largo espectro. O hemograma completo e a fluidoterapia também
são úteis.
A bacterina de Clostridium haemolyticum preparada a partir de culturas comple-
tas confere uma imunidade por , 6 meses. Nas áreas onde a doença é sazonal, uma
dose pré-sazonal se torna geralmente adequada; onde a doença ocorre por todo o
ano, torna-se necessária uma imunização semi-anual. Devem-se imunizar os
bovinos que estiverem em contato com animais de áreas onde essa doença for
endêmica, já que estes podem ser portadores.
CABEÇA G RANDE
É uma doença infecciosa, aguda, causada pela Clostridium novyi, pela C. sordellii
ou raramente pela C. chauvoei, e caracterizada por um inchaço edematoso, não
hemorrágico e não gasoso da cabeça, face e pescoço dos carneiros jovens. Essa
infecção se inicia nos carneiros jovens por meio das cabeçadas contínuas que dão
entre si. Os tecidos subcutâneos golpeados e feridos propiciam condições adequa-
das para o crescimento de clostrídios patogênicos, e as soluções de continuidade
na pele oferecem uma oportunidade para sua entrada. O tratamento consiste em
penicilina ou antibióticos de largo espectro.
Clostridiose 391
CARBÚNCULO SINTOMÁTICO
É uma doença febril e aguda dos bovinos e dos ovinos, causada pela Clostridium
chauvoei (feseri) e caracterizada por um inchaço enfisematoso, geralmente nos
músculos volumosos. Encontra-se a doença mundialmente.
Etiologia – A Clostridium chauvoei ocorre naturalmente no trato intestinal dos
animais. Ela pode permanecer viável no solo provavelmente por muitos anos,
embora não cresça ativamente. Ocorrem surtos de carbúnculo sintomático nos
bovinos nas fazendas em que tenham ocorrido escavações recentes, o que
sugere que distúrbios do solo possam ativar os esporos latentes. Os microrganis-
mos são provavelmente ingeridos, passam através da parede do trato digestivo
e, após ganharem acesso à corrente sangüínea, se depositam nos músculos e
nos outros tecidos.
Nos bovinos, a infecção do carbúnculo sintomático é endógena, ao contrário
do edema maligno (ver adiante). As lesões se desenvolvem sem qualquer história
de ferimentos, embora possam se precipitar equimoses em alguns casos.
Comumente, os animais que contraem o carbúnculo sintomático são de raças de
corte, estão com saúde excelente, ganham peso e são geralmente os melhores
animais do seu grupo. Ocorrem surtos quando se encontram alguns novos casos
a cada dia por vários dias. A maioria dos casos ocorre nos bovinos de 6 meses
a 2 anos de idade, mas também pode afetar bezerros viçosos de 6 meses de idade
e bovinos de 10 a 12 anos de idade. A doença ocorre geralmente no verão e no
outono e é incomum durante o inverno. Nos ovinos, a doença não se restringe aos
jovens, e a maioria dos casos segue alguma forma de lesão tal como os cortes
de tosquia, corte de cauda, de descorna ou de castração. O carbúnculo sintomá-
tico endógeno nos ovinos é incomum nos EUA; é muito mais comum na Nova
Zelândia, onde se observa o carbúnculo sintomático mais freqüentemente nos
ovinos do que nos bovinos.
Achados clínicos e lesões – Geralmente, o início é súbito e podem-se encontrar
alguns bovinos mortos sem sinais premonitórios. São comuns claudicações agudas
e uma depressão acentuada. Inicialmente, ocorre febre, mas no momento em que
os sinais clínicos se tornam óbvios, a temperatura pode estar normal ou subnormal.
Os inchaços crepitantes e edematosos característicos se desenvolvem no quadril,
ombro, peito, dorso, pescoço ou em qualquer lugar. Primeiramente, o inchaço é
pequeno, quente e doloroso. À medida que a doença progride rapidamente, o
inchaço aumenta, ocorre crepitação à palpação e a pele se torna fria e insensível à
medida que o suprimento sangüíneo diminui na área. Os sinais gerais incluem
prostração e tremores. Ocorre morte em 12 a 48h. Em alguns bovinos, as lesões se
restringem ao miocárdio e ao diafragma, sem evidências ante mortem confiáveis da
lesão localizada.
Diagnóstico – Uma doença febril e rapidamente fatal em bovinos jovens bem-
nutridos, particularmente nos de raça de corte, e com inchaços crepitantes nos
músculos volumosos sugere um carbúnculo sintomático. O músculo afetado fica de
vermelho-escuro a negro, seco e esponjoso, apresenta um odor adocicado e se
encontra infiltrado com pequenas bolhas, mas com pouco edema. Podem-se
encontrar lesões em qualquer músculo, mesmo na língua ou no diafragma. Nos
ovinos, como as lesões do tipo de ocorrência espontânea são freqüentemente
pequenas e profundas, pode-se não observá-las. Ocasionalmente, as alterações
teciduais causadas por C. septicum, C. novyi, C. sordellii e C. perfringens podem
lembrar as alterações do carbúnculo sintomático; às vezes, podem-se isolar tanto
a C. septicum como a C. chauvoei a partir das lesões de carbúnculo sintomático,
particularmente quando se examinar a carcaça ≥ 24h após a morte, o que
proporciona tempo para uma invasão post mortem dos tecidos por parte da
Clostridiose 392
ENTEROTOXEMIAS
(Infecção por Clostridium perfringens )
A Clostridium perfringens se encontra largamente distribuída no solo e no trato
alimentar dos animais, e se caracteriza por sua capacidade de produção de
exotoxinas potentes, algumas das quais são responsáveis por enterotoxemias
específicas. Identificaram-se 6 Tipos (A, B, C, D, E e F) com base nas toxinas
produzidas, mas apenas 3 (B, C e D) são importantes. No entanto, suspeita-se que
o Tipo A, embora presente no intestino de muitos animais clinicamente normais, seja
a causa da enterite hemorrágica em bovinos, eqüinos e ovinos.
Enterotoxemia do Tipo D
(Doença do rim polposo, Doença da superingestão)
É uma enterotoxemia dos ovinos, menos freqüentemente dos caprinos e rara-
mente dos bovinos. É a enterotoxemia clássica dos ovinos. É mundial quanto à sua
distribuição e pode ocorrer em animais de qualquer idade. É mais comum nos
jovens, ou nos cordeiros < 2 semanas de idade ou nos cordeiros desmamados em
rebanhos de engorda com dieta rica em carboidratos ou, menos freqüentemente,
com o pastejo de capim viçoso. Tem-se suspeitado da doença em bezerros de corte
bem nutridos que estejam mamando em vacas de alta produção que estejam
pastando capim viçoso, e na síndrome da morte súbita nos bovinos em engorda,
mas ainda faltam evidências laboratoriais de suporte para a última suspeita.
Etiologia – O agente causador é o C. perfringens do Tipo D. No entanto, os
fatores predisponentes também são essenciais; o mais comum desses fatores é a
ingestão de quantidades excessivas de alimento ou de leite nos cordeiros muito
jovens, e de grãos nos cordeiros em rebanhos de engorda. Nos cordeiros jovens, a
doença geralmente se restringe aos cordeiros filhos únicos, pois raramente uma
ovelha com gêmeos dá leite suficiente para permitir que uma enterotoxemia se
desenvolva. No rebanho de engorda, a doença geralmente ocorre nos cordeiros
com dietas ricas em grãos. À medida que o consumo de amido aumenta, ele
proporciona um meio adequado para o crescimento das bactérias causadoras, que
produzem a toxina ε. Um efeito importante da toxina é causar danos vasculares,
particularmente nos capilares do cérebro. Muitos ovinos carreiam cepas de
C. perfringens do Tipo D como parte da microflora normal do intestino, e servem
como fonte de microrganismos para infectarem o recém-nascido. A maioria de tais
carreadores apresenta uma antitoxina não vacinal em seus soros.
Achados clínicos – Geralmente, as mortes súbitas nos cordeiros melhor
condicionados constituem a primeira indicação de enterotoxemia. Em alguns casos,
ocorrem excitação, incoordenação e convulsões antes da morte. O opistótono, a
andadura em círculos e a extensão da cabeça em direção a pontos fixos constituem
sinais comuns do envolvimento do SNC; freqüentemente, observa-se hiperglicemia
ou glicosúria. Pode ou não se desenvolver diarréia. Ocasionalmente, afetam-se
ovinos adultos; eles apresentam fraqueza, incoordenação e convulsões, e morrem
dentro de 24h. Os bezerros agudamente afetados e não encontrados mortos
apresentam mania, convulsões, cegueira e morte em poucas horas. Os bezerros
subagudamente afetados ficam apáticos por uns poucos dias e podem se recuperar.
Nos caprinos, observam-se diarréia e sinais nervosos, e ocorre morte em várias
semanas.
Clostridiose 394
EDEMA MALIGNO
É uma toxemia aguda e geralmente fatal dos bovinos, eqüinos, ovinos,
caprinos e suínos, e geralmente causada pela Clostridium septicum , freqüente-
mente acompanhada por outras espécies clostridianas. Não é incomum uma
infecção semelhante no homem. A doença ocorre mundialmente. Os outros
clostrídios implicados nas infecções de ferimentos incluem C. chauvoei ,
C. perfringens, C. novyi e C. sordellii.
Etiologia – A Clostridium septicum se encontra no solo e no conteúdo intestinal
dos animais (inclusive do homem) por todo o mundo. A infecção ocorre geralmente
por meio da contaminação dos ferimentos que contenham tecido desvitalizado, terra
ou algum outro debilitante do tecido. Os ferimentos causados por acidente, castra-
ção, corte de cauda, vacinação não higiênica e parto podem se tornar infectados.
Achados clínicos e diagnóstico – Os sinais gerais, tais como a anorexia, a
intoxicação e a febre alta, bem como as lesões locais, se desenvolvem dentro de
poucas horas a poucos dias após a lesão predisponente. As lesões locais correspon-
dem a inchaços macios que deixam marcas sob pressão e se estendem rapidamente
devido à formação de grandes quantidades de exsudato que infiltram os tecidos
subcutâneo e conjuntivo IM das áreas afetadas. Os músculos em tais áreas tornam-
se marrom-escuros a negros. O acúmulo de gases é incomum. Ocorre um edema
severo da cabeça dos carneiros após a infecção dos ferimentos infligidos por uma
luta. O edema maligno associado com as lacerações da vulva no parto se caracteriza
pelo edema acentuado da vulva, por uma toxemia severa e por morte em 24 a 48h.
A semelhança com o carbúnculo sintomático (ver anteriormente) é acentuada, e
a diferenciação feita na necropsia não é confiável; a confirmação laboratorial é o único
procedimento seguro. Os eqüinos e os suínos são suscetíveis ao edema maligno,
Clostridiose 396
BOTULISMO
(Lamziekte)
É uma paralisia motora rapidamente fatal e causada pela ingestão da toxina da
Clostridium botulinum; o microrganismo prolifera no tecido animal em decomposi-
ção e algumas vezes no material vegetal.
Etiologia – O botulismo é uma intoxicação, e não uma infecção, e resulta da
ingestão da toxina no alimento. Existem 8 tipos e subtipos de C. botulinum,
diferenciados quanto à especificidade sorológica das toxinas: A, B, C α, Cβ, D, E, F
e G. Os Tipos A, B e E são os de maior importância no botulismo humano; o Cα em
patos selvagens, faisões e galinhas; o Cβ em visons, bovinos e eqüinos; e o D nos
bovinos. Sabe-se que o Tipo F causou apenas 2 surtos, ambos no homem. Não se
sabe se o Tipo G, que foi isolado no solo da Argentina, já esteve envolvido em algum
surto de botulismo tanto no homem como nos outros animais. A fonte comum da
toxina são as carcaças em decomposição ou os materiais vegetais, tais como os
grãos, o feno, o capim em decomposição e a silagem estragada. As toxinas de todos
os tipos possuem a mesma ação farmacológica.
Não se conhece com exatidão a incidência do botulismo nos animais, mas ela é
relativamente baixa em bovinos e eqüinos, provavelmente mais freqüente nas
galinhas, e alta nas aves aquáticas silvestres. Na maioria dos anos, perdem-se
provavelmente 10.000 a 50.000 aves, com as perdas alcançando 1 milhão ou mais
durante os grandes surtos no oeste dos EUA. A maioria das aves afetadas são os
patos, embora os mergulhões, os mergansos, os gansos e as gaivotas também
sejam suscetíveis (ver também BOTULISMO [AVE], pág. 1949). Cães, gatos e suínos
são comparativamente resistentes a todos os tipos de toxina botulínica administra-
dos pela boca.
A maior parte do botulismo nos bovinos ocorre na África do Sul, onde uma
combinação de agricultura extensiva, deficiência de fósforo no solo e C. botulinum
do Tipo D nos animais cria condições ideais para a doença. Os bovinos deficientes
em fósforo mastigam qualquer osso que acompanhe as sobras de carne que eles
encontram no pasto; se esses ossos forem provenientes de um animal carreador de
Clostridiose 397
TÉTANO
É uma toxemia causada por uma neurotoxina específica produzida pela Clostridium
tetani no tecido necrótico. Quase todos os mamíferos são suscetíveis a esta doença,
embora os gatos pareçam ser mais resistentes que qualquer outro mamífero
doméstico ou de laboratório. As aves são muito resistentes; a dose letal para os
pombos e as galinhas é 10.000 a 300.000 vezes maior (com base no peso corporal)
do que a para os eqüinos. Os eqüinos são os mais sensíveis de todas as espécies,
com a possível exceção da humana. Embora o tétano apresente uma distribuição
mundial, existem algumas áreas, tais como a seção setentrional das Montanhas
Rochosas nos EUA, onde raramente se encontra o microrganismo no solo e onde
praticamente se desconhece o tétano. Em geral, a ocorrência da C. tetani no solo
e a incidência do tétano no homem e nos eqüinos são mais altas nas partes mais
quentes dos vários continentes.
Etiologia e patogenia – Encontra-se a Clostridium tetani, um anaeróbio com
esporos esféricos e terminais, no solo e nos tratos intestinais. Na maioria dos casos,
ela se introduz nos tecidos por meio dos ferimentos, particularmente dos ferimentos
profundos por perfuração, que proporcionam um ambiente anaeróbico adequado.
Entretanto, freqüentemente nos ovinos, e algumas vezes nas outras espécies, o
tétano se segue ao corte da cauda ou à castração. Algumas vezes, não se torna
possível o encontro do ponto de entrada, já que a própria lesão pode ser pequena
ou estar cicatrizada.
Os esporos da C. tetani são incapazes de crescer em um tecido normal, ou mesmo
em ferimentos se o tecido permanecer no potencial de oxidorredução do sangue
circulante. Ocorrem condições adequadas para a multiplicação quando uma peque-
na quantidade de terra ou um corpo estranho causam necrose tecidual. As bactérias
permanecem localizadas no tecido necrótico no local original da infecção e se
multiplicam. À medida que as células bacterianas passam por autólise, libera-se uma
Clostridiose 399
DOENÇA DE AKABANE
É uma doença viral transmitida por insetos que causa anormalidades congênitas
do SNC nos ruminantes. Foi descrita na Austrália, China, Israel, Japão, Coréia e
África do Sul; encontraram-se anticorpos contra ela no Chipre. A doença clínica
afeta os fetos de bovinos, ovinos e caprinos. Demonstrou-se sorologicamente uma
infecção assintomática em eqüinos, bufalinos, veados e cães (mas não no homem
ou nos suínos) nas áreas endêmicas.
Etiologia, transmissão e epidemiologia – O agente causador, o vírus de
Akabane, é um membro do sorogrupo Simbu dos Bunyaviridae. Foi isolado a partir
de mosquitos e Culicoides na Austrália, Japão e Quênia. Também foi isolado a partir
do sangue de bovinos-sentinela saudáveis e de fetos de ovelhas que se
soroconverteram naturalmente. Reproduziu-se a doença experimentalmente.
O vírus de Akabane é comum em muitas áreas tropicais e subtropicais entre
, 35°N e 35°S. Nessas áreas endêmicas, os herbívoros são picados pelos vetores,
tornam-se infectados em uma idade precoce e desenvolvem uma imunidade sólida
no momento da reprodução; logo, raramente se observam anormalidades congêni-
tas. No entanto, se por qualquer razão, tal como um verão úmido e extenso, o vetor
(e portanto o vírus) se alastrar para novas áreas, podem-se esperar surtos de
infecção congênita. Esses surtos geralmente ocorrem nos limites setentrionais e
meridionais da distribuição normal dos insetos-vetores, ou nas áreas de maior
altitude. Semelhantemente, os ruminantes prenhes de áreas livres da doença que
foram transportados para áreas infectadas pelo vírus ficam em risco.
Achados clínicos e lesões – A patogenia e os sinais clínicos dependem da
espécie do animal e do momento da infecção. Os bezerros infectados no final da
prenhez podem nascer vivos, mas incapazes de ficar em pé, ou ficarem incoordenados
ou ainda demonstrarem uma encefalomielite disseminada na necropsia. Os bezer-
ros infectados precocemente (durante o segundo trimestre) apresentam uma
fixação rígida dos membros, geralmente em flexão (artrogripose) e algumas vezes
também torcicolo, cifose e escoliose com atrofia muscular neurogênica associada
devida à perda dos neurônios motores espinhais. (Esses bezerros geralmente
causam distocia.) Os bezerros afetados precocemente (no final do primeiro trimes-
tre) nascem geralmente vivos, mas andam mal e ficam deprimidos e cegos. Esses
Anomalias Congênitas e Hereditárias 403
DOENÇA DA FRONTEIRA
(“Doença do pêlo despenteado”)
A doença da fronteira (Grã-Bretanha) ou doença do pêlo despenteado (Austrália
e Nova Zelândia) é um distúrbio congênito dos cordeiros, caracterizado por um baixo
peso ao nascimento e uma baixa viabilidade, uma má conformação, tremores e um
pelame excessivamente espesso ao nascimento em raças de pelame normalmente
uniforme. Também podem-se afetar os cabritos, e uma afecção semelhante
também ocorre ocasionalmente nos bezerros. Reconheceu-se a doença na maioria
das áreas criadoras de ovinos do mundo, inclusive no oeste dos EUA.
Etiologia, patogenia e epidemiologia – A doença da fronteira (DF) é causada
pela infecção do feto no início da prenhez com um pestivírus (Togaviridae)
intimamente relacionado ou idêntico ao vírus da diarréia viral bovina/complexo da
doença das mucosas (ver pág. 199). Os cordeiros sobreviventes tornam-se persis-
tentemente virêmicos, e o vírus se encontra presente em suas excreções e
secreções, incluindo o sêmen. Os ruminantes, e possivelmente também os suínos,
podem se infectar facilmente pelo contato com esses excretores persistentes ou
com ovinos agudamente infectados. As infecções agudas nos animais imunocom-
petentes são geralmente transitórias e subclínicas, e resultam na imunidade ao
desafio com cepas homólogas, mas não heterólogas, do vírus.
Os vírus adquiridos no início da prenhez por animais não expostos anteriormente
atravessam a placenta e invadem o feto. Ocorre placentite 10 a 30 dias após a
infecção e pode-se causar morte fetal com expulsão, reabsorção ou mumificação.
Pode ocorrer aborto em qualquer estágio da prenhez, e pode-se não notá-lo já que
há pouco mal-estar materno.
Nas prenhezes mantidas, o vírus se distribui largamente pelos tecidos fetais, mas
as alterações patológicas tornam-se mais óbvias na pele, esqueleto e SNC. Podem
nascer cordeiros afetados 2 a 3 dias mais cedo, e muitos deles morrem antes ou
Anomalias Congênitas e Hereditárias 404
ERISIPELA
A Erysipelothrix rhusiopathiae (insidiosa) apresenta uma distribuição muito
difundida e é capaz de viver em água, solo, matéria orgânica em decomposição, limo
dos corpos dos peixes e nas carcaças, mesmo após o processamento. Essa
bactéria possui um período de sobrevivência variável no solo, mas geralmente não
> 35 dias; no entanto, os suínos carreadores (ou outros hospedeiros) podem causar
recontaminação. Esse agente causa a erisipela suína em suas várias formas; a
artrite não supurativa nos cordeiros e menos freqüentemente nos bezerros e nos
cabritos; a claudicação pós-banho de imersão nos ovinos; incomumente, mal das
juntas (ver pág. 608); e uma septicemia aguda nos perus, patos, e ocasionalmente,
nos gansos e em outras aves (ver pág. 1904); No homem, a infecção geralmente é
localizada sendo denominada erisipelóide. (Não se deve confundi-la com a erisipela
no homem, uma celulite superficial causada pelos estreptococos β-hemolíticos do
Grupo A.)
Na doença aguda, a E. rhusiopathiae geralmente ocorre como um bastonete
Gram-positivo pequeno, de , 1 a 2µm de comprimento. Nas lesões crônicas e nas
culturas velhas, freqüentemente aparece como uma mistura de filamentos e
bastonetes com até 20µm de comprimento. É resistente a determinados anti-
sépticos comumente utilizados, tais como formaldeído, fenol, peróxido de hidrogê-
nio (água oxigenada) e álcool, mas é facilmente destruído pela soda cáustica e pelos
hipocloretos. É muito sensível à penicilina e um pouco menos às tetraciclinas. As
muitas cepas variam acentuadamente quanto à patogenicidade.
ERISIPELA SUÍNA
É uma doença infecciosa principalmente dos suínos em crescimento, comum em
muitas áreas do mundo. Embora a erisipela suína septicêmica aguda cause a morte,
as maiores perdas econômicas ocorrem provavelmente a partir das formas crônicas
e não fatais da doença.
Etiologia – Nas fazendas onde o microrganismo é endêmico, os suínos ficam
expostos naturalmente à E. rhusiopathiae quando jovens; os seus anticorpos
maternos proporcionam um grau de imunidade ativa sem a doença constatável. O
microrganismo é excretado pelos animais infectados e sobrevive por curtos perío-
dos na maioria dos solos. Os animais recuperados e os cronicamente infectados
podem se tornar portadores do microrganismo, possivelmente por toda a vida.
Acreditava-se que a Erysipelothrix rhusiopathiae causasse uma reação alérgica nas
articulações dos suínos sensibilizados, o que resultaria em lesões crônicas e
estéreis semelhantes às observadas na artrite reumatóide no homem; hoje, porém,
questiona-se essa crença.
Achados clínicos – A septicemia aguda, a forma cutânea (subaguda), a artrite
crônica e a endocardite vegetativa podem ocorrer em seqüência ou separadamente.
Os suínos com septicemia aguda podem morrer subitamente sem sinais prévios.
Isso ocorre mais freqüentemente nos suínos em terminação (45 a 90kg). Os animais
agudamente infectados ficam febris (40 a 42°C), andam rigidamente sobre seus
dedos e deitam sobre seus esternos mais separadamente do que se amontoando
em grupos. Eles guincham melancolicamente quando manipulados e podem
transferir seu peso de pé para pé quando ficam de pé. A descoloração da pele pode
variar de um eritema muito disseminado e de uma descoloração arroxeada das
orelhas, focinho e abdome, até lesões cutâneas em forma de diamante em quase
qualquer parte do corpo, mas particularmente nas partes laterais e dorsais. As
lesões podem ocorrer como áreas rosadas ou arroxeadas claras de tamanhos
variáveis, que se tornam elevadas e firmes ao toque com 2 a 3 dias de enfermidade.
Erisipela 406
Elas podem desaparecer ou progredir para um tipo mais crônico de lesão, tal como
a doença da pele de diamante. Se não forem tratadas, podem ocorrer necrose e
separação de grandes áreas de pele, mas mais comumente, as pontas das orelhas
e a cauda podem se tornar necróticas e desprendidas.
A doença clínica geralmente é esporádica, e afeta indivíduos ou pequenos
grupos, mas algumas vezes ocorrem grandes surtos. A mortalidade é de 0 a 100%
e pode ocorrer morte em até 6 dias após os primeiros sinais da enfermidade. As
porcas prenhes agudamente afetadas podem abortar, provavelmente devido à
febre, e as porcas em aleitamento podem demonstrar agalactia. Os animais não-
tratados podem desenvolver artrite crônica ou endocardite valvular vegetativa; tais
lesões também podem ocorrer nos suínos sem nenhum sinal prévio de septicemia.
A endocardite valvular é mais comum nos suínos adultos ou jovens e se manifesta
freqüentemente por morte súbita, geralmente por embolismo. A artrite crônica, a
forma mais comum da infecção crônica, produz claudicação suave a severa; as
articulações afetadas podem ser difíceis de detectar, mas tendem a se tornar
visivelmente aumentadas e firmes. A mortalidade nos casos crônicos é baixa, mas
a velocidade de crescimento fica retardada.
Lesões – Na infecção aguda, além das lesões cutâneas, os linfonodos ficam
geralmente aumentados e congestos, o baço incha e os pulmões ficam edematosos
e congestos. Podem-se encontrar petéquias nos rins, coração e ocasionalmente em
qualquer lugar.
Nos casos de endocardite valvular, podem ocorrer embolismos e infartos. A
artrite pode envolver articulações de uma ou mais pernas, ou as articulações
intervertebrais; o aumento das articulações é proliferativo, mas não supurativo,
e formam-se pontas de tecido de granulação na cavidade articular. Nos casos
crônicos, pode haver erosão da cartilagem articular, e pode resultar uma anqui-
lose.
Diagnóstico – A erisipela aguda é difícil de diagnosticar nos suínos que
apresentarem apenas febre, pouco apetite e apatia; no entanto, como a erisipela
responde extremamente bem à penicilina, uma melhora acentuada dentro de 24h
confirma o diagnóstico. As típicas lesões cutâneas em forma de diamante são
diagnósticas. A artrite e a endocardite são difíceis de se diagnosticar no animal vivo,
uma vez que outros agentes podem causar síndromes semelhantes (ver CLAUDICA-
ÇÃO EM SUÍNOS, pág. 642). À necropsia, a demonstração do microrganismo em
esfregaços corados ou em culturas confirma o diagnóstico, embora nos casos de
artrite crônica, possa-se não cultivar os microrganismos. Pode-se isolar o microrga-
nismo facilmente em placas de ágar sangue a partir do baço, rins e ossos longos de
suínos agudamente doentes (e a partir de amígdalas e de outros linfonodos de
muitos indivíduos aparentemente normais). A sorologia pode se provar duvidosa,
embora um título em elevação em um teste de aglutinação (com controles) seja útil,
assim como um teste de fixação de complemento.
Profilaxia e tratamento – Utilizam-se bacterinas mortas ou, em alguns países,
cepas imunizantes de culturas vivas de baixa virulência para suínos. A bacterina
absorvida em hidróxido de alumínio e morta em formalina confere uma imunidade
que, na maioria dos casos, protege o suíno em crescimento da doença aguda até
que ele atinja a idade de mercado. Também se utiliza uma vacina oral de baixa
virulência. Deve-se vacinar o rebanho reprodutivo jovem, inclusive os cachaços,
duas vezes no intervalo recomendado, e depois revaciná-lo a cada 6 meses ou após
cada leitegada. Não se aconselha a vacinação de animais exageradamente pre-
nhes.
A vacinação aumenta o nível de imunidade, mas não proporciona uma proteção
completa. Podem ocorrer casos agudos após o estresse, e pode-se não proporcio-
nar proteção contra as formas artrítica ou cardíaca da doença. Ocorre variação
Erisipela 407
antigênica entre as cepas bacterianas, tanto que a vacina pode não ser igualmente
efetiva contra todas as cepas violentas.
Se ocorrerem casos agudos repentinamente em um rebanho não vacinado,
pode-se administrar um anti-soro (se estiver disponível) para os suínos em contato,
ou pode-se administrar a eles penicilina ou tetraciclinas. A penicilina é a droga de es-
colha nos suínos agudamente afetados, e tem sido utilizada intercorrentemente com
o anti-soro. O tratamento da infecção crônica é inefetivo, e devem-se descartar
tais animais.
A eliminação dos portadores, uma boa higiene e um programa de vacinação
regular devem ser efetivos, mesmo nos rebanhos que tiverem apresentado proble-
mas sérios e recidivantes.
FEBRE AFTOSA
É uma infecção viral aguda e altamente contagiosa dos animais de cascos
fendidos domésticos e silvestres. A morbidade e a mortalidade são maiores nos
jovens. Inicialmente, se caracteriza por lesões vesiculares; subseqüentemente, por
erosões do epitélio da boca, narinas, focinho, pés, tetas, úbere e pilares ruminais.
Os hospedeiros naturais são bovinos, suínos, ovinos, caprinos, bufalinos, bisões,
veados, antílopes, javalis, renas, lhamas, camuras, alpacas, vicunhas, girafas,
elefantes, cervos-nobres, camelos, capivaras, toupeiras, ratos-silvestres-aquáti-
cos, ratos e ouriços. Experimentalmente, pode-se transmitir o vírus da febre aftosa
(FA) (VFA) para camundongos, cobaias, coelhos, hamsters, ovos de galinha
embrionados, galinhas, chinchilas, ratões-do-banhado, ursos-cinzentos, tatus e
caititus. Os eqüinos são resistentes. O vírus se replica quando inoculado em
macacos, tartarugas, sapos e cobras, mas essas espécies normalmente não
desenvolvem lesões.
A FA é endêmica na Ásia, África, em partes da Europa e na maior parte da
América do Sul. Américas do Norte e Central, Caribe, Austrália, Nova Zelândia e
Febre Aftosa 409
INFECÇÕES FÚNGICAS
(Micoses)
A maioria dos agentes das micoses sistêmicas existe como saprófitas no solo, na
vegetação em decomposição e no estrume e nos tecidos animais ceratinizados. O
reservatório do solo corresponde à fonte primária da maioria das infecções, que
podem ser adquiridas por inalação, ingestão ou introdução traumática dos elemen-
tos fúngicos (ver também DERMATOFITOSE, pág. 954).
Os fungos patogênicos estabelecem a infecção em hospedeiros aparentemente
normais, e consideram-se tais doenças, como histoplasmose, coccidioidomicose e
blastomicose como micoses sistêmicas primárias. Os fungos oportunistas geral-
mente exigem um hospedeiro que esteja debilitado (por exemplo, estresses tais
como cativeiro, acidose metabólica, má nutrição ou uma neoplasia) para estabele-
cer uma infecção. A exposição prolongada a antimicrobianos ou substâncias
imunossupressoras parece aumentar a probabilidade de infecção por parte dos
fungos oportunistas que causam doenças tais como aspergilose, mucormicose,
criptococose e candidíase, que podem ser focais ou sistêmicas. Tem-se descrito a
criptococose em animais aparentemente normais; nesses casos, é possível que se
tenha desprezado algum defeito sutil do hospedeiro (possivelmente na imunidade
mediada por células).
Os achados clínicos e as lesões macroscópicas não são definitivamente diagnós-
ticos de micoses sistêmicas; exigem-se estudos microscópicos ou culturais ou
ambos. A identificação do fungo e da reação tecidual por meio de um exame
microscópico dos exsudatos e do material de biópsia é adequada para o diagnóstico
de histoplasmose, criptococose, blastomicose, coccidioidomicose e rinosporidiose.
Outras doenças, tais a candidíase, aspergilose e mucormicose, exigem tanto o
isolamento cultural como a avaliação microscópica para um diagnóstico definitivo.
Infecções Fúngicas 412
ASPERGILOSE
É uma doença induzida por vários Aspergillus spp, especialmente a A.
fumigatus. É encontrada mundialmente em quase todos os animais domésticos
e aves assim como em muitas espécies silvestres. É primariamente uma
infecção respiratória que pode se tornar generalizada; no entanto, a predileção
tecidual varia entre as espécies animais. As formas mais comuns são infecções
pulmonares em aves domésticas e outras aves, aborto micótico em bovinos,
micose da bolsa gutural em eqüinos e infecções nos tecidos nasais e paranasais
de cães. Têm-se descrito formas pulmonares e intestinais nos gatos domésticos,
com a maioria dos casos intestinais sendo associada com a enterite infecciosa
felina.
Achados clínicos e lesões – Nas aves, a aspergilose (ver pág. 1956) é
primariamente broncopulmonar, com dispnéia, respiração ofegante e polipnéia
acompanhadas por sonolência, anorexia e emaciação. Observam-se torcicolos e
distúrbios de equilíbrio quando a infecção se dissemina para o cérebro. Ocorrem
nódulos amarelos de tamanho e consistência variáveis ou lesões em placa nas vias
respiratórias, pulmões, sacos aéreos ou membranas das cavidades corporais.
Podem-se encontrar fungos de crescimento semelhante a pêlos nas paredes
espessadas dos sacos aéreos. As outras espécies com aspergilose broncopulmo-
nar podem apresentar lesões nodulares nos pulmões, ou uma pneumonia aguda
acompanhada por um fluido serossanguinolento na cavidade pleural e por uma
pleurite fibrinosa.
Nos ruminantes, a aspergilose pode ser assintomática, ocorrer em uma forma
broncopulmonar ou causar placentite e aborto. A pneumonia micótica pode ser
rapidamente fatal. Os sinais incluem pirexia; respiração estertorosa, superficial e
rápida; descargas nasais e uma tosse úmida. Os pulmões ficam firmes, pesados e
mosqueados, e não sofrem colapso. Na pneumonia micótica aguda a crônica, os
pulmões contêm múltiplos granulomas discretos e a doença lembra macroscopica-
mente uma tuberculose.
Na ausência de pneumonia, as vacas infectadas geralmente não apresentam
nenhum sinal exceto o aborto; aborta-se um feto morto entre o sexto e o nono meses,
e retêm-se as membranas fetais. Encontram-se lesões no útero, nas membranas
fetais e freqüentemente na pele fetal. No útero, as áreas intercarunculares ficam
macroscopicamente espessadas, coriáceas e vermelho-escuras a castanhas, e
contêm focos elevados ou erodidos, cobertos por uma pseudomembrana aderente
cinza-amarelada. As carúnculas maternas ficam vermelho-escuras a castanhas, e
os cotilédones fetais aderentes ficam acentuadamente espessados. As lesões
cutâneas nos fetos abortados consistem em focos discretos, macios, elevados e
avermelhados a cinzentos, que lembram uma tinha.
Infecções Fúngicas 413
CANDIDÍASE
É uma doença mucocutânea localizada, distribuída mundialmente em vários
animais, e causada por espécies de fungo semelhante a uma levedura, Candida
spp, mais comumente a C. albicans. O fungo é um habitante comum da mucosa oral
e é parte da flora do trato gastrointestinal. O microrganismo infecta mais freqüente-
mente as aves (ver pág. 1893), nas quais envolve mucosa oral, esôfago e papo. As
infecções são raras em cães, gatos e eqüinos. No entanto, considera-se o Candida
spp uma causa da mastite e do aborto bovinos, e descrevem-se infecções vaginais,
cutâneas, gastrointestinais e orais na maioria dos animais domésticos e nos
primatas não humanos. Pode ocorrer a disseminação para os outros órgãos. As
infecções são mais comuns nos animais jovens, e freqüentemente se seguem a
alguma causa predisponente ou fator debilitante, tal como a má nutrição ou uma
terapia antibacteriana ou imunossupressora extensa.
Achados clínicos e lesões – Os sinais são variáveis e inespecíficos e podem
estar associados mais com as situações primárias ou predisponentes do que com
a própria candidíase. Os bezerros com candidíase pré-estomacal apresentam
diarréia aquosa, anorexia e desidratação, com progressão gradual para prostração
e morte. Os pintos afetados ficam apáticos e apresentam uma redução do consumo
Infecções Fúngicas 414
CROMOMICOSE
É uma infecção cutânea ou subcutânea crônica causada por um entre vários
gêneros e espécies de fungos negros ou castanhos da família Dematiaceae.
Podem-se agrupar as infecções em síndromes clinicopatológicas: cromomicose
superficial, cromoblastomicose e cromo-hifomicose (feo-hifomicose). Não se des-
creveu a cromomicose superficial, infecção do estrato córneo por fungos pigmenta-
dos, nos animais domésticos. A cromoblastomicose se caracteriza pela presença de
formas septadas esféricas do fungo (células muriformes) na derme. Na cromo-
hifomicose, as formas fúngicas pigmentadas são hifas sem células muriformes
óbvias. Também se têm associado os fungos dematiáceos com os micetomas (ver
pág. 421).
Os fungos da cromomicose são microrganismos saprofíticos, largamente distri-
buídos e encontrados no solo, água e matéria vegetal em decomposição. Pode
resultar infecção da implantação fúngica no tecido no local do ferimento. A lista de
patógenos descritos aumenta rapidamente; os aspectos taxonômicos dos fungos
causadores estão em constante modificação.
Achados clínicos e lesões – Tem-se descrito a cromo-hifomicose em vacas,
gatos, eqüinos e cães, nos quais se isolaram fungos tais como Bipolaris spicifera
(Drechslera spiciferum ), Exophiala jeanselmi e Phialophora verrucosa . Encon-
tram-se massas subcutâneas com aumento de tamanho lento na cabeça, mucosa
nasal, membros e peito. Os nódulos podem ulcerar e apresentar tratos fistulosos
drenantes. Esses piogranulomas contêm hifas septadas e pigmentadas com
aumentos irregulares e formas semelhantes a leveduras, com brotos e paredes
finas, e com alguns fungos clamidosporos. Tem-se isolado a Xylophypha bantiana
(Cladosporium trichoides ) a partir de lesões mais profundas (SNC e rins) em
gatos e cães.
Também se tem descrito a cromomicose que envolve tanto tecidos cutâneos
como mais profundos em sapos, jabutis, lagostas e várias espécies de peixes – os
fungos causadores mais comuns são Cladosporium spp, Exophiala spp (por
Infecções Fúngicas 415
COCCIDIOIDOMICOSE
É uma infecção não contagiosa e originária da poeira, causada pelo fungo
dimórfico Coccidioides immitis. As infecções se limitam às regiões áridas do
sudoeste dos EUA e às áreas semelhantes do México e das Américas Central e
do Sul. Embora muitas espécies de animais (inclusive o homem) sejam suscetí-
veis, apenas os cães são afetados significativamente. Ruminantes e suínos
podem apresentar infecções subclínicas com lesões restritas aos focos nos
pulmões e nos linfonodos do tórax. A inalação dos esporos fúngicos corresponde
ao único modo de infecção estabelecido, e podem-se transmitir os esporos por
partículas de pó. A maioria das infecções bovinas são contraídas nos rebanhos
de engorda poeirentos.
Achados clínicos e lesões – A doença varia de inaparente ou benigna (bovinos,
ovinos, suínos, cães e gatos) a progressiva, disseminada e fatal (cães, primatas não
humanos e raramente gatos e o homem). A coccidioidomicose primariamente é uma
doença respiratória crônica, mas as infecções caninas se disseminam a vários
tecidos, incluindo os olhos e os ossos. Conseqüentemente, os sinais clínicos podem
variar enormemente, dependendo do envolvimento dos órgãos e da severidade da
infecção. Os cães com doença disseminada podem apresentar tosse crônica,
anorexia, caquexia, claudicação, aumento das articulações, febre e diarréia intermi-
tente. Pode ocorrer disseminação para a pele com ulceração drenante, mas a
infecção primária por meio da pele é rara.
As lesões macroscópicas podem se limitar aos pulmões, mediastino e linfonodos
do tórax, ou se disseminar para vários órgãos. As lesões são nódulos discretos e de
tamanho variável, com uma superfície de corte, branco-acinzentada e firme e que
lembra a da tuberculose. Os nódulos são piogranulomas compostos de células
gigantes e epitelióides, e o centro de alguns focos pode conter exsudato purulento
e microrganismos fúngicos. Algumas lesões podem apresentar focos mineralizados.
Infecções Fúngicas 416
CRIPTOCOCOSE
É uma doença fúngica sistêmica que pode afetar pulmões, SNC e pele,
particularmente na face e pescoço de gatos e cães. O fungo causal, a
Cryptococcus neoformans (teleomorfo: a Filobasidiella neoformans ), existe no
ambiente e nos tecidos em forma de levedura. Embora a infecção ocorra
mundialmente, não há áreas endêmicas conhecidas, veterinárias ou humanas.
O fungo é encontrado no solo e estrume dos galináceos, em especialmente em
dejetos de pombos. A transmissão se dá por inalação dos esporos ou por
contaminação dos ferimentos. Nos dejetos aviários, pode ocorrer uma forma
não encapsulada tão pequena quanto 1µm, que pode ser inalada nas porções
mais profundas dos pulmões. A criptococose é mais comum em cães e gatos,
mas também ocorre em bovinos, eqüinos, ovinos, caprinos, aves e animais
silvestres. No homem, muitos casos se encontram associados com uma
resposta imunomediada por células defeituosa; provavelmente, o mesmo vale
para os animais inferiores.
Achados clínicos e lesões – A infecção se torna freqüentemente dissemina-
da, e os sinais inespecíficos e variáveis dependem do envolvimento dos órgãos.
As lesões são comuns nos pulmões, SNC e regiões faciais, especialmente nas
mucosas oral e nasal, mas também podem ocorrer na mucosa faríngea e nos
seios craniais. Essas lesões se acompanham por tosse, espirros, descargas
oculares e nasais e pela presença de massas em expansão. Com a infecção do
SNC, os sinais incluem ataxia, alterações no comportamento, andadura em
círculos, disfunção locomotora e cegueira, as últimas devidas a lesões no cérebro
ou nos globos oculares ou em ambos. As lesões cutâneas são nodulares,
geralmente ulceradas e acompanhadas pelo inchaço dos tecidos moles. Tem-se
encontrado a criptococose bovina apenas nos casos de mastite, e muitas vacas
em um rebanho podem estar infectadas. As vacas infectadas apresentam
anorexia, diminuição do fluxo de leite, inchaço e firmeza dos quartos afetados e
aumento dos linfonodos supramamários. O leite pode se tornar viscoso, mucóide
e branco-acinzentado, ou pode ficar aquoso com flocos. A doença nos eqüinos
consiste quase invariavelmente é uma enfermidade respiratória com crescimen-
tos obstrutivos nas cavidades nasais.
As lesões na pele, pulmões e SNC são em geral grosseiramente viscosas, líticas
e císticas e observam-se microscopicamente vários blastosporos criptocócicos. As
Infecções Fúngicas 417
ENTOMOFTOROMICOSE
(Basidiobolomicose, Conidiobolomicose)
É primariamente uma infecção da mucosa nasal e tecido subcutâneo dos eqüinos
e raramente dos outros animais, causada por Conidiobolus coronatus (Entomophthora
coronata) ou Basidiobolus ranarum (haptosporus). Esses fungos comuns se encon-
tram presentes no solo e na vegetação em decomposição e, no caso dos basidiobolos,
nos tratos gastrointestinais de anfíbios, répteis e macródeos. A Conidiobolus
coronatus é um importante patógeno dos insetos. Descreveu-se uma infecção na
qual as lesões granulomatosas ulcerativas continham núcleos de tecido necrótico
(cancros).
Achados clínicos e lesões – Os granulomas ulcerativos da membrana mucosa
das narinas ou da boca, ou os crescimentos nodulares da mucosa nasal e dos lábios
causados pela C. coronatus podem causar bloqueio mecânico, resultando em
dispnéia e descarga nasal. As lesões causadas por B. ranarum são nódulos
grandes, geralmente únicos, circulares, ulcerativos e pruriginosos da região supe-
rior do corpo. Os tratos fistulosos drenam um fluido serossanguinolento a partir das
lesões, que se encontram freqüentemente traumatizadas. A extensão aos linfono-
dos regionais resulta em inchaço dos nódulos e desenvolvimento de focos necróticos
amarelados. As lesões podem conter um núcleo central, amarelado e cremoso de
tecido necrótico. A basidiobolomicose disseminada é rara, mas foi descrita em cães
e em um mandril.
Nos tecidos excisados ou nas amostras de necropsia, uma derme fibrótica
espessada apresenta áreas branco-cremosas ou avermelhadas disseminadas. As
lesões, que contêm formas hifais, um infiltrado abundante de eosinófilos e áreas
sequestradas de necrose, apresentam características histológicas de granulomas
infecciosos.
Infecções Fúngicas 418
LINFANGITE EPIZOÓTICA
É uma doença granulomatosa e crônica da pele, vasos linfáticos e linfonodos dos
membros e do pescoço dos Equidae, causada pelo fungo dimórfico Histoplasma
farciminosum. A doença ocorre nas áreas do Oriente e do Mediterrâneo, mas é
desconhecida nos EUA. O fungo forma micélios na natureza e leveduras nos tecidos,
e possui uma fase saprófita no solo. A infecção é adquirida provavelmente pela
infecção de um ferimento ou pela transmissão por insetos sugadores de sangue.
Achados clínicos e lesões – Clinicamente, a doença se caracteriza por nódulos
cutâneos livremente móveis. Esses nódulos se originam dos vasos e nódulos
linfáticos superficiais infectados, e tendem a ulcerar e passar por períodos alterna-
dos de drenagem e fechamento. Os linfonodos afetados aumentam de volume e
endurecem. A pele que recobre os nódulos pode se espessar, endurecer e se fundir
com os tecidos subjacentes. As lesões também podem se fazer presentes nos
pulmões, conjuntiva, córnea, mucosa nasal e outros órgãos. Os nódulos são
piogranulomas que apresentam uma cápsula fibrosa grossa e contêm pus cremoso
e espesso e os microrganismos causadores.
Diagnóstico – As características clínicas são altamente sugestivas, e pode-se
confirmar o diagnóstico por meio do exame microscópico dos exsudatos e dos
espécimes de biópsia. As formas de levedura do microrganismo distendem o
citoplasma dos macrófagos e aparecem nos cortes em H/E como corpúsculos ovais
ou globosos de 3 a 4µm, com um corpúsculo basofílico central circundado por uma
zona não corada. O microrganismo lembra muito a H. capsulatum.
Tratamento – Não se conhece nenhum tratamento completamente satisfatório.
Pode-se utilizar a excisão cirúrgica das lesões combinada com drogas antifúngicas
(anfotericina B).
GEOTRICOSE
É uma micose rara devida a uma infecção por Geotrichum candidum, um
saprófita comum do solo e da matéria orgânica em decomposição. O microrganismo
causa uma doença sistêmica em cães, aborto e mastite bovinos, nódulos caseosos
nos linfonodos de suínos, e tem sido isolado a partir de fezes de animais com
enterite, de lesões cutâneas em vários animais e aves e do sistema respiratório de
eqüinos, pingüins, galinhas e do homem.
Infecções Fúngicas 419
HISTOPLASMOSE
É uma doença granulomatosa, disseminada, não contagiosa e crônica do
homem e dos outros animais, causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum.
O fungo habita o solo, onde se reproduz assexuadamente; encontra-se comumente
no solo que contém estrume de morcegos e aves. Produz crescimento miceliano no
solo e em culturas a temperatura ambiente; cresce em forma de levedura nos tecidos
e nas culturas, a 37°C.
Encontra-se a histoplasmose por todo o mundo. As áreas endêmicas nos EUA
incluem os vales dos rios Mississipi e Ohio e a cadeia dos montes Apalaches.
Descreveu-se a infecção em muitas espécies animais, mas a doença é incomum a
rara em todos os animais, menos em cães e gatos. A infecção ocorre comumente
por meio da contaminação por aerossol do trato respiratório (raramente oral), e
pulmões e linfonodos do peito são os locais da infecção primária. Os microrganis-
mos entram na circulação sangüínea a partir de um foco primário e se disseminam
por todo o organismo; podem se localizar no olho e produzir coriorretinite ou
endoftalmite.
Achados clínicos e lesões – Os sinais variam e são inespecíficos, refletindo o
envolvimento dos vários órgãos. Muitos cães apresentam um curso prolongado de
perda de peso a emaciação, tosse crônica, diarréia persistente, febre, anemia,
hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia e ulceração gastrointestinal e
nasofaríngea. Também se tem descrito nos cães uma dificuldade respiratória
obstrutiva devida a uma linfadenopatia traqueobrônquica. A disseminação pode
envolver a pele, na qual se desenvolvem lesões nodulares exsudativas e ulceradas.
A histoplasmose aguda pode ser fatal após 2 a 5 semanas.
As lesões macroscópicas incluem aumento do fígado, baço e linfonodos
mesentéricos; ascite; nódulos amarelo-esbranquiçados de tamanhos variados nos
pulmões; e aumento dos linfonodos brônquicos. O fígado aumentado pode apresen-
tar focos de inflamação granulomatosa dispersos, múltiplos, amarelo-pálidos e de
forma irregular. Os focos pálidos podem se fazer presentes no miocárdio, e o
intestino delgado pode apresentar paredes acinzentadas e espessadas e ulceração
da mucosa.
Diagnóstico – Devem-se considerar a histoplasmose e outras infecções fúngi-
cas quando os sinais clínicos incluem distúrbios respiratórios, diarréia, aumento dos
Infecções Fúngicas 420
MUCORMICOSE
É uma categoria de infecções por fungos da ordem Mucorales, gêneros Mucor,
Absidia, Rhizopus e Mortierella. O termotolerante mais patogênico Mucor spp hoje
é classificado em um “novo” gênero, o Rhizomucor . Esses fungos monomórficos
comuns são habitantes normais do solo, estrume e vegetação apodrecida. As
infecções são freqüentemente oportunistas e secundárias a distúrbios tais como a
acidose metabólica e a imunossupressão. Os fungos causam lesões granulomato-
sas nos vários órgãos das várias espécies, incluindo bovinos, suínos, ovinos,
eqüinos, cães, gatos, vários animais silvestres (incluindo primatas não-humanos,
roedores e aves) e homem. As lesões podem ser focais, envolvendo superfície
corporal, linfonodos e porções do trato gastrointestinal; ou a doença pode se
disseminar com lesões em vários órgãos. A mucormicose é particularmente impor-
tante como causa de placentite e aborto nos Bovidae.
Achados clínicos e lesões – Os sinais são geralmente inespecíficos e refletem
o envolvimento dos órgãos. Alguns animais com lesões focais ou disseminadas
podem ser assintomáticos. Outros, com pneumonia, podem apresentar respiração
estertorosa, superficial e rápida; descarga nasal; efusão pleural e pleurite. A
mucormicose sistêmica pode causar anorexia, pirexia e diarréia persistente; têm-se
seguido distúrbios neurológicos após o envolvimento cerebral.
As lesões nodulares nos linfonodos, fígado, pulmões e rins (suínos e bovinos)
são brancas a amareladas e sólidas a cavitárias. Nos bovinos mais velhos os
linfonodos afetados parecem tuberculosos: os nódulos são amarelados, grosseira-
mente aumentados, caseocalcificados e fibróticos. Em outra forma da doença,
encontram-se úlceras circulares a ovais nos pré-estômagos e abomaso dos bovinos
e no trato gastrointestinal dos suínos.
Diagnóstico – O diagnóstico ante mortem é incomum; muitos casos são
assintomáticos ou os sinais são inespecíficos. Pode-se diagnosticar a mucormicose
microscopicamente por meio da demonstração de hifas irregulares, não septadas,
ramificadas e largas (10 a 20µm de largura) e da reação tecidual esperada, com
invasão arterial, trombose e necrose. Podem-se identificar os fungos em cortes
teciduais por meio de técnicas de imunofluorescência, que utilizam antiglobulinas
fluoresceínicas específicas para cada gênero dos Mucorales. Exigem-se estudos
culturais para a identificação da espécie de fungo infectante, e deve-se isolar o
mesmo fungo a partir de várias amostras da carcaça. A sorologia é útil no diagnóstico
do aborto bovino causado por Mortierella wolfii.
Tratamento – Pode-se combinar a excisão cirúrgica das lesões superficiais
focais com a administração local de anfotericina B. No entanto, não se conhece
nenhum tratamento completamente satisfatório.
Infecções Fúngicas 421
M ICETOMAS
Dois tipos diferentes de micróbios – actinomicetos e fungos – causam
tumores granulomatosos no tecido subcutâneo, que podem se espalhar
localmente para envolver o osso. Os agentes causadores dos micetomas
eumicóticos (fúngicos) incluem vários fungos geofílicos saprofíticos, incluindo
Acremonium spp, Curvularia geniculata, Madurella grisea e Scedosporium
( Monosporium ) apiospermum (o estado assexual da Pseudallescheria
[ Petriellidium, Allescheria ] boydii ).
Nas lesões, os micélios fúngicos proliferam e se organizam em agregados
conhecidos como grânulos ou grãos. Nesses grânulos, o micélio fica compacto
e freqüentemente bizarro e distorcido em sua forma. Os clamidosporos são
freqüentes, especialmente na periferia, e o micélio pode ou não se incrustar
em uma substância amorfa semelhante a cimento. Histologicamente, os
grânulos ficam freqüentemente circundados por depósitos eosinofílicos. Os
grânulos podem ter várias cores e tamanhos, dependendo da espécie de
fungo envolvida.
Os casos confirmados de micetomas em não humanos são raros. O cão é a
vítima principal do dematiáceo C. geniculata, o principal agente etiológico. A
Scedosporium apiospermum pode ser um agente causal subestimado. O
tratamento primariamente é limitado à cirurgia; a quimioterapia com drogas não
tem sido efetiva.
BLASTOMICOSE NORTE-AMERICANA
É uma doença causada pelo fungo dimórfico Blastomyces dermatitidis, caracte-
rizada por lesões piogranulomatosas em vários tecidos. É mais comum no homem
e nos cães, mas também é descrita em gatos e eqüinos e em espécies tão
largamente divergentes quanto o leão africano, o golfinho-de-nariz-de-garrafa e o
leão-marinho. Parece não ser uma doença de bovinos, ovinos ou suínos. A
blastomicose geralmente se limita à América do Norte, e a maioria dos casos ocorreu
no sistema do rio Mississipi e ao redor dos Grandes Lagos. A sua patogenia não está
claramente definida, mas a porta de entrada primária é o trato respiratório por meio
da inalação de esporos a partir de um local de crescimento fúngico saprofítico. As
lesões cutâneas podem resultar de uma entrada primária através da pele, ou, mais
comumente, por disseminação de um foco pulmonar.
Achados clínicos e lesões – Os sinais variam com o envolvimento dos órgãos
e são inespecíficos. A emaciação pode ser acompanhada por tosse, anorexia,
dispnéia, febre e exsudato nasal. Podem ocorrer pequenas pústulas cutâneas
recobertas com escaras amareladas ou nódulos subcutâneos. Os piogranulomas
subcutâneos, freqüentemente múltiplos, se ulceram através da pele e descarregam
um exsudato purulento. Comumente, os linfonodos brônquicos ficam enormemente
aumentados e aparecem nas radiografias como massas densas. Na blastomicose
torácica, os padrões radiográficos predominantes são os de densidades intersticiais
nodulares e de um padrão pulmonar misto. Podem ocorrer hematúria, noctúria e
disúria com tenesmo, com blastomicose urogenital. Nos cães, os sinais óbvios
podem ser oftálmicos.
As lesões macroscópicas consistem de algumas a numerosas áreas de conso-
lidação pulmonar cinzentas a amareladas, firmes, irregulares e de tamanho variável
e de nódulos nos pulmões e nos linfonodos do tórax. A disseminação pode resultar
em lesões nodulares em vários órgãos, mas especialmente na pele, olho e osso. As
lesões cutâneas correspondem a pápulas únicas ou múltiplas, ou a piogranulomas
nodulares drenantes crônicos.
Infecções Fúngicas 422
OOMICOSE
É uma doença causada por fungos da classe Oomycetes. Os microrganismos de
importância veterinária incluem várias espécies de Saprolegnia e de Achyla (por
exemplo, S. diclina ), que são os agentes comuns das micoses cutâneas nos peixes,
e a Pythium insidiosum (Hyphomyces destruens), a causa da dermatomicose dos
eqüinos (“bursatti”, câncer do pântano e sanguessugas). Também se tem isolado o
Pythium spp, que alguns consideram que não seja um fungo, a partir de casos de
micose cutânea, oral ou gastrointestinal em cães, e lesões pulmonares em um
eqüino. Também se tem descrito a doença natural nos bovinos (cutânea) e no
homem, e provavelmente em gatos e ovinos. A pitiose, como se tem chamado a
doença, é uma doença comum dos animais domésticos em alguns países tropicais
e subtropicais do mundo.
Achados clínicos e lesões – Nos eqüinos, as lesões correspondem a nódulos
grandes, grosseiramente circulares, granulomatosos, ulcerados e fistulados, ou a
inchaços subcutâneos com massas ou núcleos necróticos amarelo-acinzentados.
As lesões são pruriginosas, drenam um exsudato mucossanguinolento, ficam
freqüentemente autotraumatizadas e contêm “coágulos” amarelados e irregular-
mente ramificados, tanto livres no interior de seios como firmemente presos ao
tecido circundante. O trato sinusal contém material sanguinolento espesso a
mucopurulento. As lesões são mais comuns nas pernas (especialmente na parte
mais inferior dos membros), abdome, peito e genitália. A distribuição das lesões é
atribuível à natureza aquática do microrganismo.
As amostras removidas na cirurgia ou na necropsia consistem de tecido fibroso
com áreas de necrose focais, firmes e irregularmente espaçadas que variam em
tamanho e cor. Microscopicamente, as alterações variam de focos de inflamação
exsudativa aguda com eosinófilos numerosos a uma reação granulomatosa com
áreas seqüestradas de necrose e com uma estrutura de hifas com paredes
espessas, ramificações e ligeiramente irregulares quanto à largura.
Diagnóstico – As lesões da oomicose eqüina são semelhantes às da
entomoftoromicose (ver pág. 417) e podem ser confundidas com a habronemíase
cutânea (ver pág. 976). Na oomicose, os núcleos necróticos são distintos do tecido
circundante e destaca-se uma descarga soropurulenta a partir dos tratos sinusais.
As lesões contêm hifas irregulares, ramificadas, algumas vezes septadas e de 4 a
8µm de diâmetro.
Infecções Fúngicas 423
PECILOMICOSE
É uma micose sistêmica (principalmente pulmonar), causada pelo Paecilomyces
spp e descrita no homem e em vários animais inferiores, especialmente os com
temperaturas corporais mais baixas. A infecção nos répteis e anfíbios cativos é
provável e razoavelmente comum e os outros hospedeiros incluem – cães, eqüinos,
gatos (granuloma nasal) e caprinos (mastite). Os fungos causadores mais importan-
tes são P. lilacinus e P. variotii. Os fungos, geralmente considerados não patogêni-
cos, se encontram largamente distribuídos no solo e na matéria orgânica em
decomposição. A infecção geralmente é secundária a debilitação, imunossupres-
são e/ou alteração da flora microbiana normal por meio da administração prolonga-
da de antibióticos.
Achados clínicos e lesões – Os sinais variam e são inespecíficos, mas podem
refletir o envolvimento tecidual ou visceral. Os órgãos envolvidos ficam aumentados
e contêm nódulos branco-acinzentados elevados. Nos casos disseminados, encon-
tram-se lesões granulomatosas (focos múltiplos e pálidos) que contêm pseudo-hifas
septadas (2 a 3µm de diâmetro), conídios ovais e esporos de paredes finas,
esféricos a ovais (3 a 6µm), em muitos tecidos (por exemplo, pulmões), as quais
estão intimamente associadas com arteríolas de tamanho pequeno a médio.
Diagnóstico – Podem-se confundir as lesões macroscópicas com as das outras
micoses sistêmicas. No entanto, hifas septadas, conídios e esporos desse fungo
diferem dos fungos patogênicos comuns, tais como o Aspergillus sp e os fungos da
mucormicose. Pode-se obter o diagnóstico a partir do isolamento do fungo em
cultura de amostras de lesões múltiplas. No caso da maioria das espécies, o
crescimento pode se encontrar ausente ou restrito a 37°C, mas pode ser bom a 5
a 30°C.
Tratamento – Não se descreveu nenhum regime de tratamento. O Paecilomyces
spp varia enormemente quanto à sensibilidade aos agentes antifúngicos – a
P. lilacinus parece ser altamente resistente à anfotericina B e à flucitosina, mas
sensível ao cetoconazol, enquanto a P. variotii é sensível às primeiras 2 drogas.
PENICILIOSE
As infecções com Penicillium spp são raras nos animais domésticos, mas já se
isolou o agente a partir de um caso de dermatose felina, de uma celulite orbital e de
uma sinusite com pneumonia em outro gato, de uma patologia destrutiva invasiva
dos tecidos nasais em cães e de uma doença sistêmica nos ratos-de-bambu (nesses
casos, o fungo era a P. marneffei) no sudoeste da Ásia. O Penicillium spp se encontra
largamente distribuído na natureza e se encontra nos solos, grãos e vários alimentos
e rações.
Achados clínicos e lesões – Os cães com peniciliose nasal apresentam
espirros crônicos e uma descarga nasal aguda a crônica, que varia de hemorrágica
intermitente a mucopurulenta ou mucóide intermitente ou contínua. Os achados
radiográficos incluem áreas de destruição dos turbinados com aumento da
radiotransparência. Macroscopicamente, a mucosa nasal apresenta focos de ne-
crose e de ulceração; microscopicamente, as hifas fúngicas podem formar um
revestimento fosco e espesso sobre uma mucosa intacta adjacente a esses focos.
Infecções Fúngicas 424
RINOSPORIDIOSE
É uma infecção piogranulomatosa, não fatal, crônica, primariamente da mucosa
nasal e ocasionalmente da pele dos Equidae, bovinos, cães e aves aquáticas,
causada pelo fungo Rhinosporidium seeberi. Incomum na América do Norte, é
observada mais freqüentemente na Índia, África e América do Sul. Não se tem
cultivado o microrganismo e desconhece-se o seu hábitat natural. Um traumatismo
pode predispor à infecção, que não é considerada transmissível.
Achados clínicos e lesões – A infecção da mucosa nasal se caracteriza por
crescimentos polipóides que podem ser macios, rosados, friáveis, lobulados com
superfícies ásperas e grandes o suficiente para ocluírem as passagens nasais. As
lesões cutâneas podem ser únicas ou múltiplas, sésseis ou pedunculadas. Os
pólipos nasais e as lesões cutâneas possuem um componente inflamatório
fibromixóide granulomatoso e contêm o microrganismo fúngico.
Diagnóstico – Pode-se confundir a rinosporidiose com outras lesões granuloma-
tosas da mucosa nasal e da pele, incluindo aspergilose, entomoftoromicose,
“granuloma nasal” e criptococose. A demonstração microscópica das esférulas
(esporângios) de R. seeberi nas amostras de biópsia confirma o diagnóstico. Essas
esférulas podem ser numerosas, variar em tamanho (até 300µm), apresentar
paredes espessas e ácido-periódicas positivas ao teste de Schiff e conter endosporos
de 4 a 19µm de diâmetro. Os estágios de desenvolvimento de tamanho variável e
sem esporos se distribuem por toda a lesão.
Tratamento – Considera-se padrão a excisão cirúrgica das lesões, mas a
recidiva não é incomum.
ESPOROTRICOSE
É uma doença granulomatosa crônica incomum e esporádica do homem e de
vários animais domésticos e de laboratório, causada pela Sporothrix (Sporotrichum)
schenckii. Esse fungo dimórfico se distribui mundialmente e é um saprófita encon-
trado em matéria vegetal (por exemplo, palha e musgo esfagno), excrementos
animais e solo. A infecção ocorre quando os esporos conseguem entrar por meio de
ferimentos cutâneos.
Achados clínicos e lesões – Cabeça, tórax, orelhas, nariz e membros dos
animais afetados apresentam nódulos cutâneos firmes, elevados e algumas vezes
crostosos e alopécicos, que se disseminam ao longo dos vasos e dos nódulos
linfáticos. As lesões superficiais ulceram e descarregam um exsudato vermelho-
amarronzado. A infecção pode, em raras ocasiões, se tornar generalizada, com
lesões nas vísceras torácicas e abdominais e no cérebro e nos olhos. Pode-se obter
um exsudato inodoro e amarelo-cremoso a partir da incisão dos nódulos. Têm-se
descrito vários casos nos eqüinos, que lembram a linfangite epizoótica (ver pág.
418). Microscopicamente, os nódulos são lesões piogranulomatosas compostas de
macrófagos, células gigantes e vários outros tipos de células, incluindo neutrófilos.
Leptospirose 425
LEPTOSPIROSE
É uma doença contagiosa dos animais, inclusive o homem, causada pela
infecção por vários sorotipos leptospiróticos imunologicamente distintos, a
maioria dos quais considerados como subgrupos da Leptospira interrogans. As
infecções podem ser assintomáticas ou resultar em várias situações patológi-
cas, incluindo febre, icterícia, hemoglobinúria, infertilidade, aborto e morte.
Após a infecção aguda, as leptospiras se localizam freqüentemente nos rins ou
nos órgãos reprodutivos e são eliminadas na urina, algumas vezes em
grande quantidade por meses ou anos. A doença se origina freqüentemente na
água, já que os microrganismos sobrevivem na água de superfície por períodos
extensos.
A infecção é freqüentemente adquirida por meio do contato da pele ou da
membrana mucosa com urina, e em menor parte, por meio do consumo de alimento
ou da água contaminados por urina. As infecções podem se estabelecer facilmente
por meio da conjuntiva, da mucosa vaginal ou das abrasões cutâneas. Caso se
introduza um animal eliminador em um rebanho anteriormente livre da doença, as
leptospiras se disseminam rapidamente e podem ocorrer abortos e natimortos, a
maior parte desses freqüentemente durante a metade ou o último trimestre da
gestação. Os sinais clínicos podem ser severos, suaves ou inaparentes. Geralmente,
a recuperação dos sinais agudos se encontra associada com o surgimento dos
anticorpos circulantes e o desaparecimento das leptospiras do sangue. Os abortos
leptospiróticos podem ser seguidos por retenção das membranas fetais, e pode-
se prejudicar a fertilidade. Os surtos patológicos nos rebanhos pequenos são
geralmente autolimitantes. No entanto, o controle das infecções endêmicas nos
grandes rebanhos geralmente exige imunização, quimioterapia, proteção do
rebanho contra águas de superfície e limitação do contato com roedores e outros
portadores silvestres.
De > 175 sorotipos leptospiróticos patogênicos antigenicamente distintos, isola-
ram-se apenas 7 a partir dos animais domésticos nos EUA, embora se tenham
isolado outros a partir dos animais silvestres. A imunidade cruzada entre os
sorotipos é apenas moderada, e têm-se descrito infecções duplas e até triplas. Os
Leptospirose 426
LISTERIOSE
(Listerelose, Doença da andadura em círculos)
DOENÇA DE LYME
(Borreliose)
MELIOIDOSE
É uma infecção bacteriana caracterizada por lesões supurativas ou caseosas nos
linfonodos e vísceras. Macroscopicamente, as lesões não têm características espe-
cíficas; microscopicamente, ocorre uma resposta granulomatosa e purulenta mista.
Etiologia e epidemiologia – É causada pela Pseudomonas pseudomallei
(Bacillus whitmori, Loefflerella pseudomallei, Malleomyces pseudomallei), um baci-
lo Gram-negativo, oval e móvel, com uma coloração bipolar. Os microrganismos se
encontram nas lesões e descargas, por exemplo, o muco nasal quando se infecta
o trato respiratório, e a urina quando se envolvem os rins. Acredita-se que
originalmente se restrinja à água e aos solos úmidos nas áreas tropical e subtropical.
Tem-se isolado a P. pseudomallei de regiões temperadas (sudoeste da Austrália e
França). A infecção se transmite aparentemente mais a partir do ambiente do que
de animal para animal. Os surtos que originam infecções provenientes do solo
ocorrem primariamente durante ou após chuvas pesadas ou inundações em regiões
com alta umidade ou temperatura. O microrganismo é um patógeno oportunista,
especialmente em hospedeiros imunologicamente deprimidos. Pode-se matá-lo
facilmente por calor, mas ele pode sobreviver por muitos meses no solo e na água.
Têm-se descrito infecções em ovinos, caprinos, suínos, bovinos, eqüinos, cães,
aves, golfinhos, peixes tropicais, vários animais silvestres e no homem. Em laborató-
rio, os hamsters, as cobaias e os coelhos são altamente suscetíveis. Como se reconhece
freqüentemente a melioidose em primatas importados para pesquisa, é provável que
a doença também possa ocorrer em primatas vendidos como animais de estimação.
Achados clínicos – Os sinais variam com o local das lesões; devido a isso, tem-
se denominado a melioidose como uma doença “mímica”. Os diagnósticos diferen-
ciais incluem pneumonia, tuberculose, cólera, malária e várias artrítides. Em
animais domésticos, é geralmente crônica e progressiva. Em ovinos e caprinos,
abscessos pulmonares são comuns e a pneumonia torna-se evidente. Ocorre
descarga nasal caso se ulcere o septo nasal. Algumas vezes, afetam-se as
articulações e o animal fica aleijado. Os sinais de encefalite podem estar associados
com microabscessos no SNC. Pode ocorrer mastite nos caprinos, e pode-se isolar
a P. pseudomallei a partir do leite.
Tem-se descrito a melioidose nos eqüinos como distúrbios nervosos e respira-
tórios ou cólicas e diarréia. Em suínos, abscessos no baço são comumente
encontrados no abate. Tem-se encontrado freqüentemente um ou mais abscessos
infectados em ovinos, caprinos e suínos clinicamente normais. Ocorre morte
quando os abscessos são extensos ou quando se envolve um órgão vital.
Melioidose 436
NEOSPOROSE
É uma infecção por protozoário recentemente reconhecida de cães, e experi-
mentalmente, de roedores e gatos.
Etiologia – A espécie Neospora caninum é um parasita intracelular obrigatório
que era anteriormente confundido com a Toxoplasma gondii. Conhece-se apenas
os estágios assexuais, e eles lembram a T. gondii. Desconhece-se o ciclo vital
completo da N. caninum, mas ela pode ser transmitida transplacentariamente nos
cães, e pode afetar as ninhadas subseqüentes. Os taquizoítos possuem 5 a 7 × 1
a 5µm, dependendo do estágio da divisão. Dividem-se por endodiogenia. Encon-
tram-se taquizoítos em miócitos, neurônios, células dérmicas, macrófagos e em
outras células. Localizam-se com freqüência diretamente no citoplasma da célula
hospedeira sem um vacúolo. Cistos teciduais de até 100µm de diâmetro são
encontrados nos neurônios; a parede do cisto é amorfa e tem até 4µm de espessura.
Os cistos não têm septos e contêm bradizoítos delgados, de 7 × 1,5µm.
Achados clínicos – Afetam-se tanto cãezinhos como cães mais idosos. Nem
todos os filhotes de uma ninhada são afetados. A maioria das infecções severas
ocorre nos filhotes jovens, e torna-se tipicamente evidente como uma paralisia
ascendente dos membros, particularmente dos membros posteriores. A paralisia é
freqüentemente progressiva e resulta em uma contratura rígida dos músculos dos
membros afetados. Em alguns cães, observam-se apenas os sinais nervosos. A
síndrome da polirradiculoneuromiosite parece típica da neosporose. Também
podem ocorrer dermatite ulcerativa, hepatite, pneumonia e encefalite.
Lesões – Encefalomielite não supurativa, polirradiculoneurite, miosite necrosante
aguda, flebite, necrose hepática multifocal/coagulativa e atrofia dos músculos são
os achados predominantes.
Diagnóstico – Elevam-se os níveis de CPK, AST(SGOT) e ALT(SGPT). Ocasio-
nalmente, observam-se parasitas nas amostras de biópsia. Um teste de imuno-
Nocardiose 437
NOCARDIOSE
É uma infecção crônica resultante de microrganismos originários do solo do
gênero Nocardia, e caracterizada por lesões nodulares granulomatosas, purulentas
e generalizadas. Os agentes etiológicos são N. asteroides, N. brasiliensis e
N. otitidis-caviarum (caviae). Essa infecção parece afetar mais freqüentemente
bovinos, embora também se observe a doença em cães, eqüinos, gatos, ovinos,
caprinos e aves, bem como em peixes e vários animais silvestres e cativos, incluindo
mamíferos marinhos. O quadro histológico de supuração e granulação é acentua-
damente semelhante em diferentes espécies animais, nos diferentes locais anatô-
micos e com as várias nocárdias patogênicas. O debate ainda cerca a classificação
taxonômica da N. farcinica, aparentemente uma quimera de micobactérias e
nocárdias verdadeiras. A Nocardia asteroides é hoje a espécie-tipo do gênero.
Achados clínicos – Cães – Os sinais incluem febre, dor, claudicação,
dispnéia, empiema, aumento do abdome, linfadenite e abscessos flutuantes
nas glândulas salivares ou no tecido subcutâneo. Observam-se freqüentemente
nas extremidades inchaços granulomatosos que lembram lesões actinomicóticas.
Os abscessos superficiais se rompem e drenam pus que contém flocos de tecido
necrótico. Os pulmões e os linfonodos brônquicos quase sempre contêm lesões
supurativas e granulomatosas. Observam-se microcolônias bem definidas nos
exsudatos pleurais.
Bovinos – A mastite é a infecção nocardiana predominante entre as descritas
nos bovinos. A enfermidade sistêmica – febre prolongada, anorexia, emaciação,
aumento do lacrimejamento e da salivação – pode ou não se tornar evidente. As
glândulas mamárias afetadas podem ficar aumentadas de volume e firmes. O
exsudato viscoso e esbranquiçado contém coágulos sangüíneos discretos e peque-
nos (1µm) grumos (microcolônias) esbranquiçados de bactérias. Nunca se encon-
tram presentes grânulos sulfurosos. Freqüentemente, formam-se pequenos seios
de drenagem; casos severos, a glândula pode romper. Pode ocorrer metástase nos
pulmões e nos linfonodos supramamários. Também se têm descrito mormo bovino
(uma linfadenite e uma linfangite purulentas), abortamento e infecções pulmonares
e generalizadas. Mas tanto as nocárdias verdadeiras como as micobactérias (por
exemplo, a Mycobacterium farcinogenes) parecem capazes de induzir o mormo
bovino.
Diagnóstico – Deve-se suspeitar de nocardiose nos cães com doença pulmonar
inexplicada, com nódulos subcutâneos e nas glândulas salivares ou com absces-
sos. As radiografias torácicas revelam nódulos macios, não calcificados e difusos
em vários lobos dos pulmões.
Para propósitos diagnósticos, coletam-se pus, esputo ou uma amostra de biópsia
a partir da lesão, e preparam-se, secam-se, coram-se por Gram e examinam-se os
esfregaços sob imersão em óleo. Os microrganismos aparecem como formas
bacilares e filamentosas ramificadas, finas (≤ 1µm), Gram-positivas e em forma de
contas. Possuem um determinado grau de ácido-resistência, mas são difíceis de
serem demonstrados em material fixo por formalina. Os Nocardia spp são facilmente
Nocardiose 438
PESTE BUBÔNICA
É uma doença que afeta principalmente o sistema linfático e os pulmões,
causada pela Yersinia ( Pasteurella) pestis . Embora a peste bubônica seja um
flagelo histórico do homem, roedores silvestres e coelhos, casos associados
com gatos e cachorros são hoje reconhecidos como riscos para o homem. Uma
infecção experimental em 5 gatos resultou em uma enfermidade aguda dentro
de 24 a 48h em todos eles. A febre chegou a 41°C, e 3 dos 5 morreram (no
quarto, no sexto e no vigésimo dias). A temperatura dos 2 sobreviventes
retornou ao normal no sexto dia. Os 10 cães infectados experimentalmente
apresentaram sinais transitórios de enfermidade, com uma febre que chegou a
40,5°C, persistindo por 72h; mas todos se recuperaram e ficaram clinicamente
normais no sétimo dia após a exposição.
Existem focos endêmicos de peste bubônica silvestre no oeste dos EUA e em
várias outras áreas do mundo. As pulgas são os vetores que constituem os meios
primários de alastramento da Y. pestis a partir desses reservatórios, embora o
contato com as carcaças de coelho infectadas seja uma fonte de infecção importante
para o homem durante o inverno.
Nas áreas endêmicas, deve-se suspeitar da peste bubônica nos gatos, bem
como nos Felidae silvestres (por exemplo, os linces-vermelhos) que exibirem
febre, pneumonia e linfadenite. Pode-se confirmar o diagnóstico por cultura
sangüínea ou por teste de imunofluorescência do aspirado do linfonodo. Como
a peste bubônica nos gatos pode ser com freqüência rapidamente letal, deve-
se iniciar a terapia imediatamente. Estreptomicina e tetraciclina em combinação
são efetivas e, com base nos casos humanos, devem ser continuadas por ≥ 5
dias após a temperatura retornar ao normal para se evitar recidivas. A prevenção
envolve a eliminação do contato com os roedores ou coelhos silvestres infectados
e com suas pulgas.
Febre Q 439
FEBRE Q
É uma infecção rickettsial, geralmente inaparente, mas capaz de causar
abortos em ovinos, caprinos e bovinos, e uma doença semelhante à influenza
no homem, que pode resultar em endocardite crônica. O risco de infecção é
enormemente aumentado em pessoas (veterinários, criadores de gado, traba-
lhadores de matadouro e pessoal de laboratório) em ocupações que os colocam
em contato direto ou indireto com ovinos, caprinos ou bovinos parturientes e
infectados, ou com produtos (lã ou couro) de animais infectados. Têm ocorrido
vários episódios de febre Q no pessoal e nos pacientes humanos em instituições
médicas em que se utilizaram ovinos latentemente infectados para pesquisa. A
infecção humana foi aparentemente adquirida por meio da inalação de agentes
infecciosos presentes no ar.
Etiologia e epidemiologia – O microrganismo causador, a Coxiella burnetii, se
distribui mundialmente e tem sido encontrado em vários mamíferos domésticos e
silvestres, artrópodes e aves. Bovinos domésticos, ovinos, caprinos, cães e gatos
são suscetíveis à infecção, e encontra-se a doença na maioria das áreas onde se
mantêm bovinos, ovinos e caprinos. Os carrapatos ixodídeos e argasídeos podem
ser reservatórios do microrganismo.
A epidemiologia é complexa porque existem 2 padrões principais de trans-
missão; em um deles, o microrganismo circula entre animais silvestres e seus
ectoparasitas, principalmente os carrapatos; o outro ocorre nos ruminantes
domésticos, independentemente do ciclo dos animais silvestres. O microrganis-
mo se dissemina por meio do leite, placentas e descargas pós-parto infectados,
o que proporciona fontes de infecção em potencial para o homem e outros
animais.
A Coxiella burnetii pode sobreviver semanas a anos no ambiente, e pode se
espalhar por meio da aerossolização das partículas infectantes, por contato
direto ou por ingestão das descargas reprodutivas ou do leite. Com base em
evidências epidemiológicas, pode ocorrer transmissão por carrapatos entre os
ruminantes domésticos. O modo de transmissão mais importante dos ruminantes
domésticos para o homem é a transmissão aérea das partículas de pó a partir
de fluidos reprodutivos dessecados; no entanto, também estão envolvidos os
procedimentos obstétricos e o leite cru. A pasteurização a altas temperaturas
mata efetivamente o microrganismo. Os carrapatos podem transmitir ocasional-
mente a doença ao homem.
Achados clínicos e diagnóstico – A infecção é geralmente subclínica, mas
pode causar anorexia e abortos em ovinos e caprinos. Estudos recentes
implicam a C. burnetii como causa de infertilidade e abortamento esporádico em
bovinos. Uma vez que um ruminante doméstico se infecte, o microrganismo
pode se localizar nas glândulas mamárias, linfonodos supramamários, placenta
e útero, a partir dos quais pode eliminá-lo nos partos e lactações subseqüentes.
As lesões macroscópicas são inespecíficas nos ruminantes domésticos. realiza-
se mais comumente o teste de fixação de complemento, mas os testes de
aglutinação e de imunofluorescência e a microscopia de tecidos corados também
podem ser diagnósticos. A recuperação do microrganismo representa uma ameaça
para o pessoal de laboratório. Nos ruminantes domésticos, um diagnóstico
diferencial deve incluir agentes infecciosos e não infecciosos que causam abortos.
Tratamento e controle – Uma vacina para os animais, embora ainda não
disponível atualmente nos EUA, evitou a infecção quando administrada em ovinos
e bovinos não infectados. A tetraciclina é a droga de escolha para o tratamento, mas
não é tão efetiva como no tratamento das outras rickettsioses. A segregação dos
Febre Q 440
ENFERMIDADE DA TRANSPIRAÇÃO
É uma toxicose aguda, febril, e proveniente de carrapatos, caracterizada princi-
palmente por um eczema úmido e profuso e uma hiperemia da pele e das
membranas mucosas visíveis. É essencialmente uma doença de bezerros jovens,
embora adultos também sejam suscetíveis. Infectaram-se experimentalmente ovi-
nos, suínos, caprinos e um cão. Essa doença ocorre nas porções oriental, central
e meridional da África e provavelmente no Sri Lanka e no sul da Índia.
Etiologia – A causa é uma toxina epiteliotrófica produzida por fêmeas de
determinadas linhagens da Hyalomma truncatum. A toxina se desenvolve no
carrapato, e não no hospedeiro vertebrado. O potencial de produção de toxina fica
retido nos carrapatos por 20 gerações, e possivelmente mais. As tentativas de
transmissão experimental entre animais afetados e normais, por contato ou por
inoculações de sangue, não obtiveram sucesso.
Os períodos graduais de infestação de um hospedeiro suscetível por carrapatos
“infectados” possuem efeitos diferentes no hospedeiro. Um período muito curto não
tem nenhum efeito; o animal permanece suscetível. Um período longo o suficiente
para produzir uma reação pode conferir imunidade, mas se a exposição for > 5 dias,
podem resultar sinais clínicos severos e morte. A recuperação confere uma
imunidade durável, que pode durar ≥ 4 anos. Descreveram-se também outras
formas intimamente relacionadas de toxicoses por H. truncatum.
Achados clínicos, lesões e diagnóstico – Após um período de incubação de
4 a 11 dias, os sinais aparecem subitamente e incluem hipertermia, anorexia, apatia,
corrimentos ocular e nasal, hiperemia das membranas mucosas visíveis, salivação,
necrose da mucosa oral e hiperestesia. Mais tarde, as pálpebras se mantêm unidas.
Sente-se a pele quente, e logo se desenvolve uma dermatite úmida, começando na
base das orelhas, axilas, virilha e períneo, e se estendendo pelo corpo inteiro. O pêlo
fica emaranhado, e podem-se observar gotas de umidade nele. A pele se torna
extremamente sensível e emite um odor azedo. Mais tarde, podem-se arrancar
facilmente os pêlos e a epiderme, expondo ferimentos úmidos e avermelhados. As
pontas das orelhas e da cauda podem necrosar e cair. Finalmente, a pele se torna
dura e rachada, e predisposta a infecções secundárias ou a uma infestação por
bicheira. O animal fica sensível à manipulação, exibe dor quando se movimenta e
procura a sombra.
O curso freqüentemente é rápido e pode ocorrer morte dentro de poucos dias.
Nos casos menos agudos, o curso fica mais prolongado e pode ocorrer recuperação.
A mortalidade nos bezerros afetados é de 30 a 70% sob condições naturais. A
morbidade nas áreas endêmicas é de , 10%. A severidade da infecção é
influenciada pelo número de carrapatos, bem como pelo período de tempo em que
permanecem no hospedeiro.
Além das lesões cutâneas descritas anteriormente, encontram-se emaciação,
desidratação, estomatite difteróide, faringite, laringite, esofagite, vaginite ou
postite, edema e hiperemia dos pulmões, atrofia do baço e congestão do fígado,
rins e meninges.
Para o diagnóstico, torna-se essencial a determinação da presença do vetor.
Ocorre tipicamente uma hiperemia generalizada com conseqüente descamação
Toxoplasmose 441
das camadas superficiais das membranas mucosas dos tratos respiratório superior,
gastrointestinal e genital externo, e uma dermatite úmida profusa, seguida por uma
descamação superficial da pele.
Profilaxia e tratamento – O controle da infestação de carrapatos constitui a
única medida profilática efetiva. Indicam-se a remoção dos carrapatos, o tratamento
sintomático e bons cuidados. Os antibióticos não nefrotóxicos e os agentes
antiinflamatórios são úteis para combater a infecção secundária. Pode-se utilizar
soro imune para um bom efeito como um tratamento específico.
TOXOPLASMOSE
A Toxoplasma gondii é um protozoário que infecta a maioria das espécies de
animais de sangue quente, incluindo as aves e o homem, na maior parte do
mundo.
Etiologia – O ciclo vital inteiro se completa no epitélio do intestino delgado dos
membros da família dos gatos; os estágios assexuais e sexuais se desenvolvem
endogenamente, e os oocistos são eliminados nas fezes. Três formas ou estágios
de T. gondii podem iniciar a infecção em gatos e outros vertebrados: 1. o trofozoíto
ou taquizoíto é a forma ativamente proliferativa observada nas infecções dissemi-
nadas agudas, e pode estar presente no sangue, urina, lágrima, saliva, sêmen, fezes
ou fluidos corporais, e em uma larga variedade de tecidos. Possui uma forma de lua
crescente, 4 a 8 × 2,4µm, e se cora bem com Giemsa. Sobrevive no ambiente ou nos
tecidos de um animal morto por apenas agumas horas; 2. o cistozoíto ou bradizoíto
é a forma dormente do Toxoplasma e está presente nas infecções congênitas e
adquiridas, crônicas ou assintomáticas. Encontra-se em cistos, principalmente no
cérebro, olho, fígado e musculatura cardíaca e esquelética. Os cistos individuais
possuem 50 a 150µm de diâmetro, e cada um tem uma parede cística elástica e
argirofílica que contém muitas centenas de zoítos ácido-periódicos-Schiff-positivos
bastante comprimidos. Essa forma pode sobreviver nos tecidos por vários dias após
a morte, mas é facilmente destruída pelo cozimento ≥ 66°C; 3. o oocisto é expelido
nas fezes de gatos suscetíveis após a ingestão de qualquer das 3 formas infectantes
(taquizoítos, bradizoítos e oocistos). Após a ingestão dos bradizoítos encistados do
Toxoplasma, os oocistos (10 × 12µm) aparecem nas fezes após 4 a 5 dias e
continuam a ser excretados, freqüentemente em números enormes, por 3 a 20 dias.
Esses oocistos esporulam em 2 a 4 dias e tornam-se então infectivos para
virtualmente todos os vertebrados. Os oocistos são resistentes e podem sobreviver
> 1 ano sob condições favoráveis. São destruídos por calor seco a 70°C, água
fervente, iodo forte e soluções de amônia fortes.
Achados clínicos – A maioria das infecções por Toxoplasma é latente ou
assintomática. Os altos títulos de IgG sérica são comuns em ovinos, suínos e gatos;
são menos comuns em cães e eqüinos; e até menos comuns em bovinos. A infecção
clínica é relativamente incomum na maioria das espécies, mas observam-se casos
esporádicos e epidemias ocasionais, particularmente em animais jovens e
estressados, e têm-se descrito surtos de infecção congênita. Geralmente, a infec-
ção clínica passa por um curso semelhante na maioria das espécies. Nos jovens, a
infecção geralmente é aguda e generalizada; nos adultos, se associa freqüentemen-
te apenas com o envolvimento crônico do SNC. Nos animais jovens, particularmente
em cãezinhos, gatinhos e leitões, os sinais incluem febre, anorexia, tosse, dispnéia,
diarréia, icterícia e disfunção do SNC. As lesões incluem pneumonite, linfadenite,
hepatite, miocardite e encefalomielite.
Toxoplasmose 442
TUBERCULOSE
É uma doença infecciosa causada por bacilos ácido-resistentes do gênero
Mycobacterium. Embora seja comumente definida como uma doença crônica e
debilitante, a TB ocasionalmente assume um curso agudo e rapidamente progres-
sivo. A doença afeta praticamente todas as espécies de vertebrados, e antes de se
adotar medidas de controle, era uma doença importante do homem e dos animais
domésticos. Os sinais e lesões são geralmente semelhantes nas várias espécies.
Etiologia – Reconhecem-se 3 tipos principais de bacilos tuberculosos: o huma-
no, o bovino e o aviário; respectivamente, M. tuberculosis, M. bovis e complexo da
M. avium (M. avium-intracellulare-scrofulaceum). Os 3 tipos diferem em caracterís-
ticas culturais e patogenicidade. Os 2 tipos mamíferos são mais intimamente
relacionados entre si do que o tipo aviário. Reconhecem-se mais de 30 sorotipos do
complexo da M. avium; no entanto, apenas os sorotipos 1 e 2 são patogênicos para
as aves (ver também pág. 1941).
Todos os 3 tipos podem produzir infecção em espécies hospedeiras além das
suas próprias. A Mycobacterium tuberculosis é mais específica; raramente produz
uma doença progressiva nos animais inferiores além dos primatas não humanos, e
ocasionalmente em cães e papagaios. O complexo da Mycobacterium avium
(sorotipos 1 e 2) constitui a única espécie de conseqüência nas aves, mas também
Tuberculose 444
é patogênico para suínos, bovinos, ovinos, visons, cães, gatos e alguns animais de
sangue frio. A Mycobacterium bovis pode causar uma doença progressiva na
maioria dos vertebrados de sangue quente, inclusive no homem. As outras
micobactérias além dos bacilos tuberculosos (ver pág. 447) são raramente isoladas
de animais domésticos e exóticos.
Patogenia – A doença começa com a formação de um foco primário, que no
homem e nos bovinos, se localiza geralmente em um pulmão, e nas aves, quase
sempre no trato intestinal. Nos mamíferos, a drenagem linfática a partir do foco
primário leva à formação de lesões caseosas em linfonodos adjacentes; essas
lesões, junto com o foco primário, são conhecidas como “complexo primário”. Esse
complexo primário raramente se cura nos animais, mas pode progredir lenta ou
rapidamente.
Quando a lesão se localiza, resulta em uma massa granulomatosa e semelhante
a um tumor, chamada de tubérculo. O crescimento contínuo dos microrganismos
causa o aumento de volume do granuloma com subseqüente necrose central,
caseamento e uma tendência à mineralização. Nos mamíferos, os tubérculos
podem ficar envolvidos por um tecido conjuntivo denso e fibroso, e assim se
interrompe a doença. O alastramento linfatogênico e hematogênico dos bacilos a
partir dos focos primários resulta em tubérculos em outros órgãos e tecidos, cujo
número e extensão se relacionam com o número de bacilos circulantes. Essas
lesões generalizadas podem se encapsular e permanecer pequenas por longos
períodos, geralmente não causando nenhum sinal clínico detectável; no entanto,
uma forma aguda de generalização, conhecida como TB miliar, com freqüência é
rapidamente fatal.
Achados clínicos – Os sinais dependem da extensão e da localização das
lesões. Os linfonodos superficiais aumentados fornecem um sinal diagnóstico útil;
no entanto, as lesões nos linfonodos profundos possuem pouco ou nenhum valor no
estabelecimento de um diagnóstico clínico. Os sinais gerais são fraqueza, anorexia,
dispnéia, emaciação e um baixo grau de febre flutuante. Nas infecções por M. bovis
em mamíferos, envolvem-se geralmente os órgãos torácicos. Ao se envolver
extensivamente os pulmões, torna-se comum uma tosse curta, repetida e intermi-
tente. O sinal principal de TB consiste comumente em uma emaciação ou
definhamento crônico, que ocorrem apesar da boa nutrição e dos cuidados. Nos
suínos, as lesões devidas à M. avium são mais freqüentemente observadas nos
linfonodos associados com o trato gastrointestinal; porém, ocorre uma doença
generalizada.
Diagnóstico – O diagnóstico clínico torna-se geralmente possível somente após
a doença se encontrar avançada. A maioria dos animais infectados se torna
eliminadora dos bacilos tuberculosos nesse momento e se constituem em uma
ameaça aos outros animais. Utiliza-se a radiografia nos primatas não humanos e
nos pequenos animais domésticos. Nos grandes animais domésticos, o método
mais confiável e prático de obtenção de um diagnóstico por tentativa consiste em um
teste cutâneo de tuberculina. Os animais infectados com micobactérias desenvol-
vem uma reação de hipersensibilidade retardada, caracterizada por inflamação e
inchaço, onde se injetou intradermicamente a tuberculina.
Os animais infectados tanto com a M. bovis como com a M. tuberculosis reagem
quase que igualmente a uma tuberculina preparada a partir de uma cultura de um
desses microrganismos. Como aves e mamíferos com TB aviária reagem menos ou
não reagem à tuberculina mamífera, deve-se utilizar a tuberculina aviária nesses
casos.
A dose utilizada em um teste intradérmico de tuberculina é de 0,1mL (0,1mg de
proteína) nos mamíferos e 0,05mL nas galinhas. Nos mamíferos maiores nos EUA,
geralmente injeta-se a tuberculina em uma dobra de pele próxima à base da cauda
Tuberculose 445
TULAREMIA
É uma septicemia bacteriana que afeta > 100 espécies de mamíferos silvestres
e domésticos, aves, répteis e peixes, bem como o homem. O animal doméstico
Tularemia 449
ESTOMATITE VESICULAR
É uma doença viral caracterizada por febre e vesículas nas membranas mucosas
da boca, epitélio da língua, tetas, solas dos pés, coroa do casco e ocasionalmente
de outras partes do corpo. Bovinos, eqüinos e suínos são naturalmente suscetíveis;
ovinos e caprinos se infectam ocasionalmente. Os agentes apresentam uma larga
variação de hospedeiros, incluindo, veados, linces-vermelhos, guaxinins e maca-
cos; muitos roedores e animais de sangue frio têm sido infectados experimentalmen-
te. Tem ocorrido uma doença semelhante à gripe nas pessoas que trabalham com
animais infectados ou com o vírus. Confirmou-se a estomatite vesicular apenas nas
Américas do Norte e do Sul.
Etiologia e epidemiologia – Os vírus em forma de bastão pertencem ao grupo
dos rabdovírus, cujos membros parasitam não só mamíferos, como também peixes,
insetos e plantas – uma diversidade de hospedeiros desconhecida para qualquer
outro grupo de vírus.
Há 2 sorotipos distintos: o Nova Jérsei e o Indiana, com 3 subtipos do último. Não
há imunidade cruzada entre os 2 sorotipos ou entre os vírus da estomatite vesicular,
febre aftosa, exantema vesicular e enfermidade vesicular suína. Ela não é tão
contagiosa quanto a febre aftosa. Em um rebanho, até 90% dos animais apresentam
sinais clínicos, e quase todos desenvolvem anticorpos. O vírus se encontra em
abundância no fluido vesicular claro e nos invólucros vesiculares; torna-se mais
infectivo quando as vesículas se rompem ou logo depois disso. No entanto, as
lesões podem ficar inócuas 5 ou 6 dias mais tarde.
A estomatite vesicular geralmente ocorre epidemicamente nas regiões tempera-
das e endemicamente nas regiões mais quentes. Os vetores insetos e o movimento
dos animais são provavelmente responsáveis por seu alastramento. O sorotipo
Indiana é transmitido pelos flebotomíneos mosquitos-pólvora. A doença pode se
espalhar rapidamente, afetando freqüentemente muitos animais em 1 semana. Nas
regiões endêmicas, ela ocorre durante a estação quente, freqüentemente durante ou
no final da estação chuvosa. Também se torna provável uma fase persistente do vírus.
Desconhece-se a rota primária de infecção, mas ela pode ser através da pele ou
do trato respiratório. Ocorrem lesões generalizadas, mas a viremia é incomum.
Enfermidade Eqüina Africana 451
EHRLICHIOSE EQÜINA
É uma doença sazonal, não contagiosa e infecciosa, observada principalmente no
norte da Califórnia, mas também reconhecida no Colorado, Illinois, Flórida, Arkansas,
Washington e Pensilvânia (ver também FEBRE EQÜINA DE POTOMAC, pág. 223).
Etiologia – O agente rickettsial causador, a Ehrlichia equi, lembra os agentes
etiológicos da febre originária dos carrapatos e da febre petequial bovina. A Ehrlichia
equi está presente nos vacúolos citoplasmáticos dos neutrófilos e, ocasionalmente,
dos eosinófilos durante o estado agudo. Os esfregaços sangüíneos, corados por
Giemsa ou por Wright-Leishman, revelam um ou mais agregados vagos (mórulas ou
corpúsculos de inclusão, com 1,5 a 5µm de diâmetro) de microrganismos
cocobacilares, cocóides cinza-azulados a azul-escuros ou pleomórficos, no interior
do citoplasma dos neutrófilos. Vetor, reservatório, período de incubação e modo de
transmissão da E. equi são desconhecidos, embora se suspeite da transmissão por
carrapatos. Pode-se transmitir experimentalmente a infecção a eqüinos suscetíveis
através do sangue completo; a incubação é de 1 a 2 semanas.
Ehrlichiose Eqüina 454
MORMO
(Farcino)
ENCEFALOMIOCARDITE VIRAL
É uma infecção do homem e de outros animais, principalmente suínos e primatas
não humanos, causada pelo grupo EMC dos picornavírus. Embora a infecção
Encefalomiocardite Viral 460
subclínica seja comum em muitas espécies, nos suínos têm ocorrido mais freqüen-
temente morte esporádica ou epidemias. Os vírus da EMC causam um enfermidade
pequena nos humanos; os casos humanos individuais esporádicos, particularmente
nos adolescentes, se manifestam como uma meningite asséptica, uma doença
semelhante à poliomielite ou a síndrome de Guillain-Barré.
Epidemiologia – Os estudos sorológicos indicam que os vírus da EMC ocorrem
mundialmente. As descrições da doença nos suínos provêm das Américas, Australásia
e África do Sul. Os roedores, principalmente os ratos, são os principais reservatórios
assintomáticos. Os surtos da doença se associam geralmente a um aumento do
contato com roedores ou seus excrementos. Nos EUA, tem-se demonstrado a
suscetibilidade de vários animais de zoológico, incluindo orangotangos, chimpan-
zés, babuínos, macacos-de-rabo-de-porco, lêmures, lhamas, preguiças, determi-
nadas espécies de antílopes, rinocerontes-negros e elefantes-africanos através da
recuperação do vírus a partir de animais que morrem com achados histológicos e
macroscópicos compatíveis. Tem-se isolado o vírus da EMC a partir de fetos e de
leitões natimortos, o que indica que pode ocorrer infecção transplacentária.
Achados clínicos, lesões e diagnóstico – A maioria dos animais afetados é
encontrada morta ou morre subitamente quando excitada por manipulação ou por
outros meios. Um breve período de depressão, inapetência, ataxia, vômito ou
dispnéia pode preceder a morte. Os achados clínicos são compatíveis com uma
insuficiência cardíaca aguda.
Podem estar presentes lesões de insuficiência cardíaca aguda, incluindo aumen-
to do fígado, edema pulmonar, edema mesentérico e ascite. O coração geralmente
se dilata, principalmente no lado direito. O miocárdio ventricular apresenta freqüen-
temente, áreas esbranquiçadas múltiplas e discretas ou zonas pálidas mal-defini-
das. Histologicamente, a necrose do miocárdio com uma infiltração por parte dos
linfócitos e dos macrófagos, se encontra tipicamente presente. Não se encontram
vasculite e endocardite.
Devem-se diferenciar as lesões macroscópicas das lesões da deficiência de
selênio/vitamina E, dos infartos cardíacos devidos a êmbolos sépticos, da forma
cardíaca da febre aftosa e do edema intestinal. Nos casos agudos, pode-se
recuperar o vírus a partir de muitos órgãos, mas especialmente do coração e baço.
Os anticorpos são detectáveis 5 a 7 dias após a infecção.
Controle – Não se encontram vacinas comercialmente disponíveis, mas está se
utilizando uma vacina aditivada, morta e experimental para a proteção dos animais
de zoológico nos EUA. Indica-se o controle de roedores. O vírus é relativamente
estável no ambiente, e são úteis os desinfetantes à base de cloro, iodo ou aldeído.
DOENÇA DE GLÄSSER
(Polisserosite suína, Poliartrite infecciosa)
CÓLERA SUÍNA
(Febre suína, Febre suína clássica)
É uma doença viral altamente contagiosa dos suínos. A doença, devida a cepas
virais virulentas, apresenta um início súbito, e afeta suínos de todas as idades com
altas morbidade e mortalidade, embora adultos sejam menos afetados. As cepas
menos virulentas causam uma doença crônica ou suave, insuficiência reprodutiva
e perdas neonatais. Também pode ocorrer uma infecção inaparente.
A cólera suína é endêmica em muitos países sul-americanos, africanos e
asiáticos. Encontra-se ausente no Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e foi erradicada
nos EUA e em vários países europeus.
Etiologia e patogenia – A causa é um pestivírus da família Togaviridae. Ele
possui alguns antígenos em comum com o vírus da diarréia viral bovina (VDVB),
mas os testes de neutralização os distinguem como espécies separadas. As
cepas do vírus da cólera suína são hospedeiras específicas sob condições
naturais; geralmente, formam um grupo antigênico mais compacto que as cepas
do VDVB, mas as variantes sorológicas, de virulência e antigenicidade baixas,
podem causar dificuldades diagnósticas. O vírus se replica em culturas celulares
de origem suína, e a maioria das cepas não produz efeito citopático. Nas pocilgas,
os excrementos e a cama podem permanecer contaminados por dias a semanas,
dependendo principalmente das temperaturas prevalecentes. O vírus sobrevive
na carne suína por ≥ 4 anos, e em carnes congeladas ou carcaças preservadas
por 3 a 6 meses ou mais.
Cólera Suína 462
grande porcentagem dos casos fatais agudos. Nos casos crônicos, as lesões
inflamatórias hemorrágicas quase sempre se encontram ausentes, mas ocorre
geralmente um esgotamento generalizado do tecido linfóide. A infecção transpla-
centária pode produzir desmielinogênese central, hipoplasia cerebelar, microencefalia
e hipoplasia pulmonar.
Diagnóstico – A história, sinais clínicos e lesões macroscópicas sustentam um
diagnóstico por tentativa nos surtos agudos. Petequiação muito disseminada,
envolvendo laringe, bexiga e rins; infartação esplênica; “úlceras em botão”; eritema
cutâneo e pneumonia são fortemente indicativos. Leucopenia e trombocitopenia
são achados freqüentes, mas deve-se determinar a contagem de leucócitos em ≥ 6
suínos.
O diagnóstico diferencial inclui febre suína africana, salmonelose septicêmica,
pasteurelose, estreptococose, leptospirose, erisipela, púrpura, envenenamento
cumarínico e doença do coração de amora. Os sinais nervosos da cólera suína não
podem ser diferenciados dos devidos às outras encefalites, ou dos de alguns
distúrbios nervosos não infecciosos. A confirmação do diagnóstico em qualquer de
suas formas clínicas exige métodos laboratoriais.
O diagnóstico laboratorial se baseia atualmente no exame direto por meio da
imunofluorescência (para o antígeno viral) dos tecidos frescos (preferivelmente
enviados em gelo) e das culturas celulares. Os tecidos preferidos são amígdalas,
linfonodos faríngeos, baço, rins e íleo distal. Também se pode utilizar a
imunoperoxidase para a classificação do antígeno. Podem-se utilizar anticorpos
monoclonais para distinguir a cólera suína dos outros isolados de pestivírus. A
detecção sorológica do anticorpo para a cólera suína e a sua diferenciação do
anticorpo para o VDVB se baseiam nos testes de neutralização ou no ELISA. O
exame histológico do cérebro tem sido um adjuvante diagnóstico útil. As contagens
de leucócitos e trombócitos podem ser úteis, e podem-se tentar o isolamento viral
ou experimentos de transmissão animal. Nos países onde há uma política legal para
o controle da cólera suína, devem-se notificar os casos suspeitos imediatamente às
autoridades reguladoras.
Tratamento e controle – O soro hiperimune é o único tratamento disponível e
pode ser efetivo nos estágios iniciais da doença ou para a proteção dos animais em
contato. O controle se faz essencialmente por meio de erradicação ou vacinação.
A erradicação por meio do abate de todos os suínos em contato e da eliminação das
carcaças tem obtido sucesso. Desinfectam-se as instalações infectadas, e estas
não são repovoadas por um certo período. Controla-se rigidamente a movimentação
de suínos nas áreas infectadas. Nos países com uma política de erradicação,
regula-se rigidamente a alimentação com restos alimentares. Nos países onde a
doença é endêmica, empregam-se principalmente vacinas de vírus atenuados.
Embora a vacinação possa reduzir a prevalência da doença endêmica, deve-se
interrompê-la ao se introduzir a erradicação por meio do abate, e proibi-la nas áreas
“oficialmente” livres da doença.
INFECÇÕES ESTREPTOCÓCICAS
DOS SUÍNOS
INFECÇÕES POR STREPTOCOCCUS SUIS
A Streptococcus suis (Grupo D de Lancefield) é uma causa comum de meningite
e artrite nas grandes fazendas intensivas de suínos; em alguns países, inclusive nos
Infecções Estreptocócicas dos Suínos 464
suínos (EVS, ver pág. 469) e às da estomatite vesicular (ver pág. 450), mas os suínos
não emagrecem, e as lesões se curam rapidamente. Têm-se descrito sinais
nervosos, mas estes são raramente observados no campo. A doença não causa
perdas severas de produção, mas possui uma grande importância econômica
porque deve ser diferenciada da FA, a erradicação é cara e freqüentemente se
impõem embargos à carne suína proveniente de nações não livres da DVS.
Embora já tenha ocorrido a infecção em trabalhadores de laboratório, e o vírus
possa estar presente em ovinos e bovinos, supõe-se que os suínos sejam os únicos
hospedeiros naturais. A doença foi identificada primeiro na Itália em 1966 e subse-
qüentemente em Hong Kong, no Japão e em vários países da Europa Ocidental. Ela
foi erradicada em alguns países (por exemplo, Grã-Bretanha e Suíça).
Etiologia – O agente causador é um enterovírus da família Picornaviridae. É
transmitido por contato direto ou indireto ou pela alimentação com carne suína ou
seus subprodutos infectados. A infecção dá origem a uma viremia e a vesículas
generalizadas que contêm grande quantidade do vírus.
Achados clínicos e diagnóstico – Os sinais primários são lesões vesiculares
na boca, lábios ou focinho, e nos pés, especialmente na coroa do casco. As lesões
podem ser suaves ou inaparentes, especialmente quando os suínos forem mantidos
sobre camas macias.
O diagnóstico se baseia em testes laboratoriais nas amostras epiteliais ou no soro.
A fixação de complemento e o ELISA são os testes de escolha, mas também se exige
freqüentemente a passagem em uma cultura de tecido suíno. Também se utilizam a
soroneutralização e a difusão em ágar gel. A diferenciação das outras doenças
vesiculares depende da fixação de complemento, do ELISA, da suscetibilidade das
culturas teciduais, da variação da suscetibilidade ao pH e da microscopia eletrônica.
Controle – Os países livres da doença podem permanecer assim por meio da
proibição da importação de suínos e de subprodutos de carne suína, ou por meio da
garantia de que os subprodutos de carne suína estejam tratados (por calor ou por
outro meio) para matar o vírus. Deve-se relatar qualquer surto suspeito às autorida-
des apropriadas. Se a doença aparecer, as medidas de controle importantes são o
cozimento completo (de acordo com as regras) de todos os restos alimentares, e o
controle da movimentação dos suínos. O vírus permanece infectivo por longos
períodos; conseqüentemente, a desinfecção das propriedades, dos caminhões e do
equipamento deve ser completa. Os desinfetantes mais efetivos são as bases
fortes, embora se possam utilizar os hipocloritos ou os iodóforos que contenham ácido
quando não se encontrar presente material orgânico.
TRIQUINELOSE
É uma doença parasitária de importância para a saúde pública. As infecções
humanas se estabelecem por meio do consumo de carne infectada insuficientemen-
te cozida, geralmente de suíno ou de urso, embora também se tenham implicado
outras espécies. Ocorrem infecções naturais nos carnívoros silvestres; ela também
tem sido encontrada em eqüinos, ratos, castores, gambás, morsas, baleias e aves
consumidoras de carne. A maioria dos mamíferos é suscetível.
Etiologia e epidemiologia – Reconhecem-se hoje várias espécies ou subespécies
do nematóideo causador. Como eles possuem poucas diferenças morfológicas,
utilizam-se na diferenciação outras características, tais como o isolamento reprodutivo,
a infectividade a determinados hospedeiros e a resistência a baixas temperaturas.
Atualmente utiliza-se uma nomenclatura trinomial para diferenciá-los: Trichinella
Triquinelose 468
É uma doença viral dos suínos jovens, caracterizada por vômito, constipação e
anorexia que resulta tanto em morte rápida como em emaciação crônica (doença do
vômito e da emaciação). Durante alguns surtos, também se podem observar
distúrbios motores devidos a uma encefalomielite aguda (encefalomielite
hemaglutinante).
Etiologia e epidemiologia – O coronavírus causador, o vírus da encefalomielite
hemaglutinante (VEH), é de um tipo antigênico único, e cresce em vários tipos de
Doença do Vômito e da Emaciação 470
culturas de células suínas, nas quais causa a formação de sincícios. Esse vírus
aglutina as hemácias de várias espécies animais. Os suínos são os únicos
hospedeiros naturais. O vírus se espalha por meio de aerossol.
A infecção parece ser muito difundida na América do Norte, Europa Ocidental e
Austrália. Ela geralmente permanece subclínica. O vírus é endêmico na maioria dos
rebanhos reprodutivos, e existe uma imunidade de rebanho. As porcas imunes
transferem os anticorpos maternos para as suas ninhadas, que ficam protegidas até
que desenvolvam resistência com a idade; conseqüentemente, os surtos clínicos
tornam-se raros. No entanto, se o vírus entrar em um rebanho suscetível com leitões
neonatais, a morbidade e a mortalidade podem ser altas.
Patogenia – A replicação acontece primeiro na mucosa nasal, amígdalas,
pulmões e em uma quantidade muito limitada, no intestino delgado. A partir desses
locais de entrada, o vírus invade núcleos definidos da medula oblonga, através do
sistema nervoso periférico e se espalha subseqüentemente para todo o tronco
cerebral, e possivelmente para o cérebro e o cerebelo. Acredita-se que o vômito seja
causado pela replicação viral no gânglio sensorial vagal. A emaciação se deve ao
vômito e ao esvaziamento retardado do estômago, que resulta das lesões
induzidas pelo vírus no plexo intramural. A infecção dos neurônios cerebrais e
cerebelares pode causar distúrbios motores que são, entretanto, raramente
observados durante um surto.
Achados clínicos e lesões – Ambas as síndromes clínicas, as formas de DVE
e encefalítica, se confinam quase que exclusivamente aos suínos com < 4 semanas
de idade. A forma de DVE possui um período de incubação de 4 a 7 dias. Observam-
se esforços de vômito e vômitos repetidos. Os suínos começam a mamar mas logo
param, afastam-se da porca e vomitam o leite que ingeriram. Eles mergulham suas
bocas nas tigelas de água mas bebem pouco, o que possivelmente um indicativo de
paralisia faríngea. O vômito persistente resulta em um rápido declínio da condição
do animal. Os suínos neonatos ficam desidratados, cianóticos e comatosos, e
morrem. Os suínos mais velhos, porém, continuam a vomitar, embora menos
freqüentemente do que no estágio inicial da doença. Eles perdem o apetite e ficam
emaciados. Pode-se desenvolver uma grande distensão do abdome cranial. Esse
estado de “emaciação” pode persistir 1 a 6 semanas até que os suínos morram de
inanição. A mortalidade aproxima-se de 100% dentro da ninhada, e os sobreviven-
tes tornam-se permanentemente subdesenvolvidos.
A forma de encefalomielite também se inicia com vômito, geralmente 4 a 7 dias
após o nascimento. O vômito continua intermitentemente por 1 a 2 dias, mas
raramente é severo e não resulta em desidratação. Depois de 1 a 3 dias, observam-
se tremores musculares generalizados e hiperestesia. Os suínos tendem a andar
para três, terminando freqüentemente em uma posição de “cão-sentado”. Eles se
enfraquecem logo, tornam-se incapazes de crescer e “remam” com seus membros.
Também ocorrem cegueira, opistótono e nistagmo. Após alguns dias ficam dispnéi-
cos e comatosos, e morrem.
Do início ao desaparecimento, um surto em uma fazenda dura 2 a 3 semanas.
O desaparecimento da doença coincide com o desenvolvimento da imunidade em
porcas adiantadamente prenhes, o que protege conseqüentemente os suínos por
meio dos anticorpos maternos.
Nos suínos cronicamente afetados, observam-se caquexia e distensão abdomi-
nal. Os seus estômagos ficam dilatados e cheios de gases. Microscopicamente,
encontram-se embainhamento perivascular, gliose e degeneração neuronal na
medula em 70 a 100% dos suínos com sinais nervosos, e em 20 a 60% dos suínos
que apresentam a síndrome da DVE. Observa-se regularmente uma neurite dos
gânglios sensoriais periféricos, particularmente dos gânglios trigeminais. Encon-
tram-se uma degeneração dos gânglios da parede estomacal e um embainhamento
Língua Azul 471
LÍNGUA-AZUL
É uma doença viral, transmitida por insetos e não contagiosa de ovinos, bovinos,
caprinos e ruminantes silvestres. A doença ocorre largamente no continente
africano e em menor extensão na América do Norte, Ásia e Europa. Isolou-se o vírus
a partir de insetos picadores (Culicoides spp) e de bovinos na Austrália; no entanto,
não há evidências clínicas de que a língua-azul exista nos ruminantes desse
continente. Existem evidências sorológicas de uma infecção muito disseminada nos
ruminantes do Caribe e de alguns países das Américas Central e do Sul, mas não
se confirmou a doença clínica.
Etiologia e transmissão – O vírus da língua-azul é um orbivírus da família
Reoviridae; identificaram-se 24 sorotipos antigênicos no mundo, 5 deles nos
EUA. Sob condições naturais, o vírus é transmitido biologicamente pelo Culicoides
spp. Os bovinos são um importante reservatório para ovinos e outros ruminantes
suscetíveis; algumas espécies de ruminantes silvestres também podem ser
reservatórios.
Achados clínicos – O período normal de incubação nos ovinos é de 5 a 10 dias.
Os sinais clínicos, em seqüência de surgimento, incluem: dispnéia com ofegação;
hiperemia do focinho, lábios e orelhas; pirexia (até 42°C); depressão; e inflamação,
ulceração, erosão e necrose da mucosa da boca, especialmente do coxim dental.
Os sinais que podem aparecer, dependendo da severidade da doença incluem o
inchaço e, menos freqüentemente, a cianose da língua, uma claudicação devida a
uma coronite, torcicolo, vômito, pneumonia, conjuntivite e ocasionalmente, alopecia.
A língua-azul nos ovinos dos EUA é muito mais suave do que nos da África, com
mortalidades de 0 a 30%. Os bovinos se encontram com freqüência inaparentemente
infectados, mas alguns podem desenvolver sinais clínicos semelhantes aos dos
Língua Azul 472
LEUCOSE BOVINA
(Linfossarcoma, Linfoma maligno, Leucemia)
A maioria dos caprinos se infecta enquanto jovem, porta o vírus por toda a vida
e desenvolve a doença meses ou anos mais tarde devido a fatores ainda
indefinidos.
Achados clínicos – Geralmente se observa a leucoencefalomielite nos cabritos
com 2 a 4 meses de idade; ela pode se desenvolver nos adultos, se bem que mais
insidiosamente. A doença geralmente começa com a incapacidade do cabrito aduzir
uma ou ambas as patas traseiras, progride freqüentemente para uma paralisia
ascendente e termina com ataques e morte. Antes dos ataques, o cabrito se
encontra afebril, alerta e capaz de comer e beber. Nem sempre ocorre morte, mas
a regressão da paralisia é rara.
A artrite geralmente apresenta um longo curso clínico, mas são comuns
exacerbações agudas de dor, claudicação e inchaço das articulações. Ela afeta
mais freqüentemente os adultos, mas também pode ser vista aos 4 meses de idade.
A má condição física é típica nos casos crônicos. Embora possa-se afetar qualquer
articulação, envolvem-se mais comumente carpos, jarretes, patelas, cotovelos,
ombros e bolsas. As células do fluido sinovial tornam-se predominantemente
mononucleares durante todos os estágios (menos os mais agudos) da doença. A
radiografia dos casos crônicos revela a mineralização dos tecidos moles ao redor
das articulações e das bolsas.
Lesões – Os cabritos com a forma encefalítica podem apresentar áreas castanho-
claras macroscopicamente visíveis no interior da substância branca do cérebro e da
medula espinhal, mas a histologia se torna necessária para se demonstrar adequa-
damente as bainhas perivasculares características, a desmielinização e a malacia.
À necropsia de um caprino com a forma artrítica, a carcaça se encontra freqüentemente
em más condições devido à inapetência ou à incapacidade de comer nos estágios
finais da doença. As articulações e as bolsas se encontram aumentadas devido ao
excesso de produção de fluido sinovial, à proliferação de tecido conjuntivo fibroso,
aos infiltrados celulares inflamatórios e aos restos necróticos. As articulações
abertas revelam membranas sinoviais castanhas e espessadas; necrose do tecido
conjuntivo; e um material cor de giz que se constitui em fosfato de cálcio. A mastite
se caracteriza por um úbere firme e difusamente inchado. A firmeza se deve a
infiltrações difusas a peridutais densas de linfócitos, células plasmáticas e histiócitos.
Tem-se associado a pneumonia intersticial que afeta os lobos cranioventrais com a
infecção pelo VAEC.
Diagnóstico – O diagnóstico da forma encefalítica da AEC se baseia nos achados
clínicos e post mortem. A histologia se torna freqüentemente necessária para um
diagnóstico definitivo. A precipitação do anticorpo contra o vírus indica provavelmen-
te uma infecção persistente, mas não patognomônica, de qualquer forma da doença,
pois encefalite, artrite, mastite ou pneumonia podem ter outras causas nos animais
soropositivos. O diagnóstico diferencial inclui várias encefalites bacterianas e para-
sitárias, ataxia enzoótica (curvatura da espinha), toxicoses e traumatismo.
O diagnóstico da AEC se baseia numa história de artrite crônica que resiste a
qualquer forma de tratamento, e nos achados de necropsia. Os achados soropositivos
são úteis, mas deve-se considerá-los apenas como adjuvantes do diagnóstico. O
diagnóstico diferencial inclui enfermidade articular dos caprinos jovens, traumatis-
mos, desequilíbrios minerais, poliartrite clamidiana, artrite micoplasmal e erisipela.
O diagnóstico da mastite e da pneumonia da AEC se baseia nos achados clínicos
e post mortem. Os diagnósticos diferenciais incluem causas bacterianas (na
mastite) e causas virais ou bacterianas (na pneumonia).
Tratamento e controle – O curso da forma encefalítica não pode ser alterado por
qualquer terapia conhecida. As medidas paliativas podem ser úteis em todas as
formas da doença, e tem-se recomendado a fenilbutazona para reduzir a dor e a
inflamação na forma artrítica.
Febre Efêmera 477
Pode-se reduzir a taxa de infecção dos caprinos recém-nascidos em > 90% por
meio da remoção dos cabritos das cabras infectadas à medida que passam pelo
canal de nascimento, oferecendo-se a eles um colostro aquecido a 56°C por 1h,
pasteurizando-se o leite e criando-os isolados dos caprinos infectados. Podem-se
utilizar testes sorológicos, tais como a imunodifusão em ágar gel, para monitorar a
infecção.
FEBRE EFÊMERA
(Enfermidade de 3 dias)
A doença só pode ser transmitida dos bovinos infectados para os suscetíveis por
meio de uma inoculação EV; apenas os 0,005mL de sangue coletados durante o
estágio febril tornam-se infectivos. Embora se recupere o vírus de algumas espécies
de Culicoides e de mosquito (anofelinos e culicinos) coletados no campo, não se
provaram os vetores durante as epidemias principais. Não ocorre transmissão por
contato ou por fomitos, e o vírus não parece persistir nos bovinos recuperados. A
maioria dos bovinos recuperados apresenta uma imunidade por toda a vida.
A prevalência, extensão e severidade da doença variam de ano para ano, e
ocorrem epidemias periodicamente. Durante as epidemias, o início é rápido,
afetando-se muitos animais dentro de dias ou em 2 a 3 semanas. A doença é mais
prevalecente na estação úmida nos trópicos e no verão e no início do outono nos
subtrópicos ou nas regiões temperadas (quando as condições favorecem a multipli-
cação dos artrópodes picadores), e desaparece abruptamente no inverno. A
morbidade pode ser tão alta quanto 50 a 80%, mas a mortalidade global geralmente
é de 1 a 2%, embora ela seja maior nos bovinos bem condicionados.
Sinais clínicos, lesões e diagnóstico – Os sinais, que ocorrem subitamente e
variam em severidade, incluem uma febre bifásica ou polifásica, tremores, inapetência,
lacrimejamento, descarga nasal serosa, salivação, dispnéia, atelectasia, atonia dos
pré-estômagos, depressão, rigidez e claudicação, e uma diminuição súbita na
produção de leite. Os bovinos afetados podem ficar em decúbito e paralisados por
8h a ≥ 1 semana. As lesões incluem uma polisserosite que afeta as superfícies
articular, pleural e peritoneal; um pouco de edema pulmonar; e atelectasia. Após a
recuperação, a produção de leite freqüentemente falha em retornar aos níveis
normais até a próxima lactação. Ocorre abortamento, com perda total da lactação
da estação, em , 5% das vacas prenhes de 8 a 9 meses. Touros, outros bovinos
pesados e vacas leiteiras de produção pesada são os mais severamente afetados,
mas mesmo assim, ocorre geralmente uma recuperação espontânea dentro de
alguns dias.
Em uma epidemia, o diagnóstico se baseia quase que inteiramente nos sinais
clínicos. A confirmação se faz por sorologia, e raramente por isolamento viral. Todos
os casos clínicos apresentam neutrofilia com formas de associação.
Tratamento e controle – O repouso completo é o tratamento mais efetivo. As
drogas antiinflamatórias administradas no início e em doses repetidas por 2 a 3 dias
são efetivas. Deve-se evitar a administração oral a menos que o reflexo de
deglutição esteja funcional. Tratam-se os sinais de hipocalcemia como na febre do
leite. As vacinas de vírus atenuados parecem ser efetivas, mas só devem ser usadas
nas áreas endêmicas. As vacinas de vírus inativados não produziram uma proteção
a longo prazo contra o desafio experimental com o vírus virulento, e não podem
garantir uma imunidade permanente.
ÁGUA NO CORAÇÃO
(Caudriose)
suscetíveis. Não se descreveu a doença nos gamos, o que sugere que sejam
resistentes. Os ruminantes suscetíveis são os “hospedeiros finais”, que desen-
volvem a FCM clínica após um período de incubação de 3 semanas a 6 meses.
Em tais animais, o vírus se encontra associado às células, e a transmissão lateral
torna-se rara.
Patogenia – A hipótese atual mais plausível consiste em que o desenvolvimento
da doença depende da infecção de grandes linfócitos granulares e imunorreguladores,
com uma atividade de “matador natural” (MN). A reação normal à FCM possui as
características de uma hiperplasia dos linfócitos T, com uma resposta policlonal que
resulta da desregulação dos linfócitos T. Sugeriu-se que o processo necrosante da
fase terminal da doença seja um fenômeno auto-imune que se manifesta por meio
da expressão de uma atividade semelhante à de MN de determinadas células do
sistema imune.
Achados clínicos – A FCM pode assumir formas agudas (especialmente nos
veados), subagudas (“cabeça e olhos”) ou crônicas. Podem-se observar os casos
agudos como mortes súbitas, mas geralmente, a morte é precedida por febre,
depressão, aumento dos linfonodos, descargas oculares e nasais serosas, erosões
das papilas bucais, oftalmia e diarréia (algumas vezes hemorrágica). Os veados
podem apresentar hemorragia intestinal proeminente e evidências de coagulação
intravascular disseminada (ver pág. 28). Também pode se encontrar presente uma
dispnéia. A morte ocorre em 1 a 3 dias. A síndrome “cabeça e olhos” é a forma mais
comum nos bovinos. Os sinais adicionais incluem lesões inflamatórias e erosivas na
mucosa do trato respiratório superior, que levam a uma descarga nasal mucopuru-
lenta profusa com incrustação do focinho, ulceração da mucosa oral, salivação e
conjuntivite mucopurulenta com opacidade da córnea, que começa na junção
corneoscleral e progride centripetamente. Pode-se encontrar presente um hipópio.
Podem ocorrer um exantema irregular com embaraçamento dos pêlos, e ulceração
do períneo, vulva, coroa do casco, pele interdigital e tetas. Alguns animais apresen-
tam sinais no SNC, tais como excitabilidade, hiperestesia e tremores musculares.
Ocasionalmente, estes sinais podem progredir para convulsões ou para uma
agressividade sugestiva de raiva. O curso da forma de “cabeça e olhos” pode durar
até 2 semanas. Na FCM crônica, desenvolve-se inanição. A recuperação é rara. O
hemograma pode mostrar linfocitose, seguida por linfopenia. Pode ocorrer neutro-
filia se os danos teciduais forem extensos.
Lesões – As lesões são muito disseminadas e afetam geralmente todos os
órgãos, mas a sua severidade e natureza variam consideravelmente. As principais
alterações que caracterizam a FCM são necrose epitelial (gastrointestinal, respira-
tória ou urinária) associada com uma inflamação linfóide mucosa e/ou dérmica,
linfoproliferação, infiltração intersticial de tecidos não linfóides e vasculite. Nos
veados, a hemorragia no lúmen do íleo, ceco e cólon pode se tornar proeminente,
junto com equimoses na serosa colônica. A maioria dos linfonodos fica hiperplásica,
com o desenvolvimento proeminente do paracórtex, mas podem ocorrer terminal-
mente hemorragia e necrose. Uma característica proeminente é a infiltração
intersticial dos órgãos por parte dos linfócitos, especialmente do coração, fígado,
glândulas adrenais, meninges, espaços perivasculares do SNC, e rins. Nos rins,
pode-se detectar macroscopicamente essa infiltração como focos esbranquiçados
e elevados embaixo da cápsula. Podem ocorrer lesões vasculares na maioria dos
sistemas do corpo e estas podem variar em intensidade desde uma infiltração suave
da adventícia por parte dos linfócitos até lesões transmurais que compreendem
necrose fibrinóide, infiltração linfóide e ocasionalmente, trombose. Nos casos
crônicos, as alterações proliferativas nas paredes dos vasos afetados podem levar
aos seu aumento e proeminência. A rede admirável é o tecido de escolha para a
demonstração das lesões vasculares.
Febre Catarral Maligna 482
PARATUBERCULOSE
(Doença de Johne)
PASTEURELOSE DE OVINOS
Existem 2 síndromes distintas, dependendo do biótipo da Pasteurella haemolytica
envolvido (a P. multocida raramente causa uma doença endêmica, pelo menos nos
climas temperados). As cepas do biótipo A (12 sorotipos) causam pneumonia em
rebanhos e esporadicamente em indivíduos, bem como infecções septicêmicas nos
cordeiros jovens. As cepas do biótipo T (4 sorotipos) causam doença superaguda
com uma patogenia diferente. Isolam-se cepas não tipificáveis em , 10% dos casos.
Tem-se descrito uma pasteurelose pneumônica na maioria dos principais países
criadores de ovinos. A distribuição do biótipo T não é clara, mas ocorre no Reino
Unido, EUA e Hungria.
PASTEURELOSE SISTÊMICA
A forma sistêmica da pasteurelose é causada pelas cepas do biótipo T, que são
carreadas nas amígdalas, se espalham para e se multiplicam nos pulmões, e se
espalham posteriormente para outros órgãos. Conhece-se pouco a epidemiologia.
Pasteurelose de Ovinos 486
confere uma proteção contra a doença natural por , 1 ano. Também se tem utilizado
com sucesso uma vacina de cultura celular de PB para a imunização contra a PPR.
É uma doença viral dos animais (inclusive o homem), originária dos mosquitos,
caracterizada por um período de incubação curto, febre, hepatite, abortamento e
morte nos animais jovens. Afeta-se a maioria dos animais domésticos, exceto
suínos, cobaias, coelhos e galinhas. Cordeiros jovens, cabritos, bezerros e cãezinhos
são altamente suscetíveis. Os ovinos e o homem são mais suscetíveis que bovinos
e cães. Ocorrem morbidade e mortalidade significativas em ovinos, bovinos e no
homem. Tem-se diagnosticado a doença em muitos países africanos; ocorreram
surtos recentes no Egito, Senegal e Mauritânia.
Etiologia e epidemiologia – O agente causador é um flebovírus da família
Bunyaviridae; esse vírus fica rapidamente inativado em um pH de < 6,2. Têm
ocorrido epidemias explosivas em intervalos de 5 a 15 anos, e elas se associam
normalmente com períodos de chuvas fortes em áreas geralmente secas. Nos
períodos interepidêmicos, acredita-se que o vírus se encontre em ovos dormentes
do mosquito Aedes lineatopennis no solo seco das depressões do pasto (dambos).
Com as chuvas adequadas, os mosquitos infectados se desenvolvem e infectam os
ruminantes, o que dissemina o vírus. Muitas espécies de mosquitos espalham o
vírus. O homem também pode se infectar facilmente por meio de aerossóis
provenientes dos animais infectados e seus tecidos, de fetos abortados e dos
procedimentos de laboratório, e tem o potencial de transmitir a doença (por meio dos
mosquitos) para outros animais em áreas não infectadas.
Achados clínicos – O período de incubação em ovinos e bovinos é de 12 a 96h.
Em cordeiros jovens, cabritos, bezerros e cãezinhos, o início é rápido, com uma
febre de 40 a 41,5°C, apatia, anorexia, fraqueza e morte. Nos cordeiros < 1 semana
de idade, a mortalidade pode ser > 90% em 36h; em cordeiros e bezerros > 1 semana
de idade, ela é de , 20%. Em ovinos adultos, pode haver febre, apatia, anorexia,
andadura insegura, vômito, descarga nasal mucopurulenta, diarréia e abortamento,
ou o aborto pode ser o único sinal; a mortalidade raramente é > 30%. Em bovinos
adultos, pode haver febre, anorexia, salivação, queda na produção de leite,
abortamento e diarréia, ou o aborto pode ser o único sinal; a mortalidade geralmente
< 10%.
Lesões – A lesão primária em todas as espécies é uma necrose hepática focal,
que pode ou não ser macroscopicamente visível. Os cordeiros que morrem da
doença apresentam fígados aumentados, macios, friáveis, marrom-amarelados a
vermelho-escuros com focos necróticos acinzentados e petéquias. Ocorrem hemor-
ragias serosas, viscerais e cutâneas muito disseminadas. Ovinos e bovinos adultos
podem apresentar focos necróticos pálidos e difusos no fígado; hemorragias
viscerais e serosas; e enterite hemorrágica. Nos cordeiros, ocorre uma necrose de
coagulação difusa nos hepatócitos. Têm-se observado corpúsculos de inclusão
intranucleares. Em ovinos e bovinos adultos, as áreas focais de necrose hepática
são menores e em menor número que nos cordeiros.
Diagnóstico – Deve-se suspeitar da febre do Vale do Rift quando o padrão
epidemiológico incluir: período de incubação curto, alta mortalidade nos animais < 1
semana de idade (particularmente cordeiros, bezerros, cabritos e cãezinhos), mal-
estar e abortos em ovinos e bovinos, lesões hepáticas, doença hemorrágica ou
Peste Bovina 489
PESTE BOVINA
(Praga bovina)
É uma doença dos animais de casco fendido, caracterizada por febre, estomatite
necrótica, gastroenterite, necrose linfóide e alta mortalidade. Na forma epidêmica,
constitui-se na peste mais letal conhecida entre os bovinos. A suscetibilidade varia
entre as espécies: é alta em búfalos africanos, girafas, Suidae silvestres,
Tragelaphinae e nas raças de bovinos, tais como a Ankole, a das Ilhas do Canal e
a preta japonesa; moderada em gnus e zebus da África Oriental; e suave nas
gazelas e nos pequenos ruminantes domésticos. A peste bovina é subclínica nos
suínos europeus e nos hipopótamos. É endêmica na Índia e na África. A falta de
controle nos países fronteiriços levou recentemente a epidemias no oeste, leste e
norte da África; no Oriente Próximo; e em partes da Ásia.
Etiologia, epidemiologia e patogenia – O agente infeccioso é um morbilivírus,
intimamente relacionado aos vírus da peste dos pequenos ruminantes (ver pág.
486), da cinomose (ver pág. 494) e do sarampo. As cepas do vírus variam
acentuadamente no tipo de hospedeiro e na virulência. O soro proveniente de
bovinos recuperados ou vacinados reage cruzadamente com todas as cepas nos
testes de neutralização, mas têm-se demonstrado diferenças antigênicas menores.
O vírus se encontra presente em pequenas quantidades nas secreções nasais
1 a 2 dias antes da febre; os níveis estão altos nas secreções e excreções durante
a primeira semana da doença clínica e diminuem rapidamente à medida que o
animal desenvolve anticorpos e começa a se recuperar. A transmissão requer um
contato direto ou indireto próximo; a infecção ocorre através da nasofaringe. O vírus
é frágil e rapidamente inativado pelo calor e pela luz, mas permanece viável por
longos períodos nos tecidos resfriados ou congelados. Não existe estado de
portador; o vírus se mantém por meio de transmissão contínua entre os animais
suscetíveis. Nas áreas endêmicas, os bovinos jovens se infectam após a imunidade
maternal desaparecer e antes de a imunidade vacinal começar, com possíveis ciclos
auxiliares ovinos, caprinos e ungulados silvestres. Nas áreas epidêmicas, o vírus
infecta a maioria dos animais suscetíveis e tende a se limitar, a menos que a
população fique grande o suficiente para sustentar uma endemicidade.
Após o crescimento primário nos linfonodos associados com a nasofaringe, o
vírus se prolifera por todo o tecido linfóide e se espalha por meio do sangue para as
mucosas dos tratos gastrointestinal e respiratório superior. A citopatologia viral causa
Peste Bovina 490
danos teciduais. Os antígenos virais induzem uma resposta imune potente que
controla a infecção e permite a recuperação se o dano tecidual não for muito severo.
Achados clínicos – Febre, anorexia e depressão se seguem a um período de
incubação de 3 a 15 dias; uma descarga oculonasal se desenvolve 1 a 2 dias mais
tarde. Dentro de 2 a 3 dias, aparecem lesões necróticas puntiformes (que aumentam
rapidamente para formar placas caseosas) na gengiva, mucosa bucal e língua.
Freqüentemente afetam-se os palatos duro e mole. A descarga oculonasal se torna
mucopurulenta, e o focinho se resseca e racha. A diarréia, que é o sinal clínico final,
pode ser aquosa e conter sangue, muco e uma membrana mucosa. Os animais
apresentam dor abdominal severa, sede e dispnéia, e podem morrer de desidrata-
ção. A convalescença é prolongada e pode ser complicada por infecções intercor-
rentes devidas a imunossupressão. Nas áreas endêmicas, a morbidade é baixa e
os sinais clínicos são freqüentemente suaves, enquanto nas epidêmicas, a morbi-
dade é freqüentemente de 100% e a mortalidade de até 90%.
Lesões – As alterações patológicas macroscópicas se tornam evidentes por todo
o trato gastrointestinal e respiratório superior, tanto as áreas de necrose e erosão
como as de congestão e hemorragia, as últimas causando as clássicas “estrias de
zebra” no reto. Os linfonodos podem ficar aumentados e edematosos, com focos
necróticos esbranquiçados nas placas de Peyer. O exame histológico revela
necrose linfóide e epitelial com sincícios virais e inclusões intracitoplasmáticas.
Diagnóstico – Os achados clínicos e patológicos podem ser suficientes para o
diagnóstico nas áreas endêmicas e após a confirmação laboratorial inicial de uma
epidemia. Nas áreas onde a doença for incomum ou ausente, devem-se utilizar
testes laboratoriais para diferenciá-la da diarréia viral bovina em particular, e da
febre da costa leste, febre aftosa, rinotraqueíte infecciosa em bovinos e febre
catarral maligna. O isolamento do vírus e a detecção de antígenos virais específicos
nos tecidos afetados constituem os testes padrão, e é útil a demonstração da
elevação dos títulos de anticorpos. Os testes rápidos e simples para a detecção de
antígenos (imunodifusão ou imunoeletroforese contrária) são valiosos no campo.
Devem-se coletar as amostras para laboratório a partir dos animais durante os
estágios iniciais da doença clínica, preferivelmente antes do início da diarréia.
Devem-se coletar assepticamente sangue completo, tecido linfóide, baço e lesões
intestinais e transportá-los rapidamente a 4°C ou em gelo.
Controle – Geralmente não se tenta o tratamento, mas os cuidados médicos com
fluidoterapia de suporte e antibioticoterapia podem ajudar na recuperação dos
animais valiosos. A imunidade ativa dura geralmente por toda a vida; a imunidade
maternal dura por 6 a 11 meses. O controle nas áreas endêmicas se faz por
imunização de todos os bovinos e bufalinos domésticos > 1 ano de idade com uma
vacina de cultura celular atenuada. Nessas áreas, controlam-se os surtos por meio
de quarentena e “vacinação em grupo” e algumas vezes, por meio do abate. Nas
áreas epidêmicas, controla-se melhor a doença por meio do abate e da quarentena.
O controle da movimentação dos animais torna-se imprescindível, já que a maioria
dos surtos se deve à introdução de bovinos infectados. Os países livres da doença
e os que fazem fronteira com as áreas endêmicas devem ficar extremamente
vigilantes ou vacinar os animais como precaução.
DOENÇA DE WESSELSBRON
É uma infecção viral e originária dos carrapatos artrópodes, de ovinos, bovinos,
caprinos, eqüinos e suínos. Também já se isolou o vírus a partir do homem. Os
ovinos são os mais severamente afetados; os sinais incluem febre, depressão,
anorexia, abortamento e morte. A mortalidade é alta em cordeiros recém-nascidos
e ovelhas prenhes. Os achados post mortem incluem hepatite, hepatomegalia,
icterícia, congestão hepática e edema subcutâneo. As lesões histológicas incluem
necrose dos hepatócitos, proliferação das células de Kupffer e infiltração de
leucócitos nas tríades portais.
A epidemiologia é semelhante à da febre do Vale do Rift (FVR, ver pág. 488), mas
os 2 vírus não são relacionados e não existe proteção cruzada. O vírus de
Wesselsbron, um flavivírus, se distribui largamente nas partes mais quentes e
úmidas da África. A infecção é comum, mas a doença é rara. Os surtos da doença
se limitam aos países no sul da África. A transmissão se faz por várias espécies de
mosquitos Aedes. Também pode ocorrer transmissão mecânica por meio de
moscas picadoras.
Pode-se isolar o vírus por meio da inoculação intracerebral de camundongos
recém-nascidos. Os camundongos desmamados não são suscetíveis ao vírus de
Wesselsbron (como são ao vírus da FVR). Para o diagnóstico, utilizam-se comu-
mente inibição da hemaglutinação, fixação de complemento e a neutralização viral.
O controle envolve o uso de uma vacina de vírus atenuados, mas devido a
possíveis efeitos teratogênicos, não se recomenda a vacinação das ovelhas
prenhes. Freqüentemente, combina-se essa vacina com a vacina contra a FVR.
Também se pode tentar o controle por meio do controle dos vetores mosquitos.
CINOMOSE CANINA
(Doença dos coxins ásperos)
É uma doença viral sistêmica e altamente contagiosa dos cães que é observada
mundialmente; caracteriza-se por febre difásica, leucopenia, catarro respiratório e
gastrointestinal, e freqüentemente, complicações pneumônicas e neurológicas. A
doença ocorre nos Canidae (cães, raposas e lobos), Mustelidae (por exemplo, furão,
vison e cangambá), a maioria dos Procyonidae (por exemplo, o aguaxinim e o quati)
e alguns Viveridae (por exemplo, o binturongue). Embora já se tenha especulado
que o vírus da cinomose canina cause uma esclerose múltipla no homem, não há
evidências de suporte. Tem-se manifestado uma preocupação injustificada com o
contato humano com os cães vacinados com a vacina contra o sarampo. Utiliza-se
o vírus do sarampo atenuado para proteger os cães contra a cinomose, mas eles não
eliminam o vírus após a vacinação.
Etiologia e patogenia – A cinomose canina é causada por um paramixovírus
intimamente relacionado com os vírus do sarampo e da peste bovina. O vírus é
sensível aos solventes lipídicos e à maioria dos desinfetantes, e é instável fora do
hospedeiro. A principal rota de infecção consiste na secreção de gotículas por meio
de aerossol a partir dos animais infectados. Alguns cães infectados podem eliminar
o vírus por vários meses.
A replicação do vírus ocorre inicialmente no tecido linfático do trato respiratório.
Uma viremia associada a células resulta na infecção de todos os órgãos linfáticos,
seguida de uma infecção dos epitélios respiratório, gastrointestinal e urogenital,
bem como do SNC. A doença ocorre após a replicação do vírus nesses órgãos.
Cinomose Canina 495
ma-se melhor o diagnóstico clínico por meio das lesões histológicas e/ou por meio
do ensaio de imunofluorescência do antígeno viral nos tecidos. Nos animais vivos,
podem-se examinar com esses procedimentos os epitélios conjuntival, traqueal,
vaginal ou outros ou o sobrenadante do sangue. Essas amostras ficam geralmente
negativas quando os anticorpos circulantes se encontram presentes no cão doente.
Pode-se então fazer o diagnóstico por meio da demonstração da IgM específica do
vírus.
Tratamento – Os tratamentos se direcionam à limitação da invasão bacteriana
secundária, suporte do equilíbrio hídrico e bem-estar global do cão, e controle das
manifestações nervosas. Esse tratamento inclui antibióticos, soluções eletrolíticas,
hidrolisados proteicos, suplementos dietéticos, antipiréticos, preparações nasais,
analgésicos e anticonvulsivantes. Nenhum tratamento é específico ou bem-sucedi-
do uniformemente. Tornam-se essenciais os bons cuidados médicos, e apesar do
cuidado intensivo, alguns cães falham em ter alguma recuperação satisfatória.
Embora os tratamentos para a coréia e as outras manifestações neurológicas da
cinomose geralmente não obtenham sucesso, os antiespasmódicos e os sedativos
podem reduzir a severidade dos sinais.
Profilaxia – A imunização bem-sucedida dos cãezinhos com as vacinas de vírus
vivos modificados da cinomose canina depende da ausência de um anticorpo
materno interferente. Pode-se prever, a partir de uma nomografia, a idade em que
os cãezinhos podem ser imunizados, caso se conheça o título de anticorpos séricos
da mãe; esse serviço se encontra disponível em muitos laboratórios diagnósticos.
Alternativamente, podem-se vacinar os cãezinhos com a vacina do vírus vivo
modificado com 6 semanas de idade e a intervalos de 2 a 4 semanas até as 16
semanas de idade. Encontram-se disponíveis uma vacina de vírus vivo modificado
contra o sarampo e uma combinação da vacina de vírus vivo modificado do sarampo
e da vacina de vírus vivo modificado da cinomose canina. Devem-se administrar
intramuscularmente essas vacinas. Deve-se administrar a vacina contra o sarampo
ou a combinação aos cãezinhos com 6 a 7 semanas de idade. O vírus do sarampo
induz a imunidade ao VCC na presença do anticorpo materno contra a cinomose.
O cãozinho vacinado dessa forma deve receber uma vacina de vírus vivo modificado
contra a cinomose quando tiver 12 a 16 semanas de idade. Encontram-se disponí-
veis muitas variedades da vacina atenuada contra a cinomose e devem-se utilizá-
las de acordo com as instruções do fabricante. Sugere-se a revacinação anual.
HERPESVIROSE CANINA
É uma infecção viral, fatal e mundial dos cãezinhos. O vírus também pode estar
associado com uma vaginite vesicular nas cadelas adultas. Sabe-se que apenas os
membros dos Canidae (cães, lobos e coiotes) são suscetíveis.
Etiologia – A doença é causada por um DNA-herpesvírus canino envelopado
(HVC), que é sensível aos solventes lipídicos e à maioria dos desinfetantes. É
relativamente instável fora do hospedeiro.
A transmissão ocorre geralmente por contato entre os cãezinhos suscetíveis e as
secreções vaginais ou oronasais infectadas da sua mãe ou as secreções oronasais
dos cães que se permitir que entrem em contato com os cãezinhos durante as
primeiras 3 semanas de vida. Pode ocorrer uma transmissão in utero.
A infecção dos cãezinhos recém-nascidos suscetíveis resulta na replicação do
HVC nas células de superfície da mucosa nasal, faringe e amígdalas, seguida pela
viremia e pela invasão viral dos órgãos viscerais.
Doenças Rickettsiais Caninas 497
Achados clínicos – A morte devida à infecção pelo HVC geralmente ocorre com
1 a 3 semanas de idade, mas ocasionalmente também ocorre nos cãezinhos com
até 1 mês de idade; a morte torna-se rara nos cãezinhos com 6 meses. Tipicamente,
o início é súbito e a morte ocorre após uma enfermidade de ≤ 24h. Os cães mais
idosos expostos a ou experimentalmente inoculados com o HVC podem desenvol-
ver uma rinite suave ou uma vaginite vesicular. Alguns investigadores ligaram o HVC
a abortamentos, natimortos e infertilidade. Existem poucas evidências da associa-
ção do HVC com a traqueobronquite infecciosa.
Lesões – As lesões características consistem de uma necrose focal dissemi-
nada e de hemorragias. As lesões mais acentuadas são observadas nos pul-
mões, porção cortical dos rins, glândulas adrenais, fígado e trato gastrointestinal.
Todos os linfonodos ficam aumentados e hiperêmicos, e o baço incha. Também
podem ocorrer lesões no SNC. A lesão histológica básica é a necrose com
hemorragia no parênquima adjacente. Mais freqüentemente não há reação
inflamatória. Corpúsculos de inclusão intranucleares, basofílicos, pequenos e
únicos são mais comuns em áreas de necrose nos pulmões, fígado e rins.
Ocasionalmente, eles ocorrem como corpúsculos tenuemente acidofílicos, loca-
lizados no interior do espaço nuclear.
Diagnóstico – Pode-se confundir a infecção com o HVC com a hepatite
infecciosa canina (ver pág. 505), mas ela não se acompanha por uma vesícula biliar
espessada e edematosa, freqüentemente associada com a última doença. Áreas
focais de necrose e hemorragia, especialmente as que ocorrem nos rins, a
distinguem da hepatite e da toxoplasmose. O HVC causa uma doença séria apenas
nos cãezinhos muito jovens. A morte rápida e as lesões características a distinguem
da cinomose canina (ver anteriormente). Pode-se isolar o vírus a partir dos pulmões
frescos, fígado, rins e baço por meio de técnicas de cultura de células. Devem-se
enviar ao laboratório os tecidos refrigerados, mas não congelados.
Controle – Não se encontra disponível nenhuma vacina. As cadelas infectadas
desenvolvem anticorpos, e as ninhadas subseqüentes à primeira ninhada infectada
recebem anticorpos maternos no colostro. Os cãezinhos que recebem os anticorpos
maternos podem se infectar com os vírus, mas esses não resultam em doença.
A remoção dos cãezinhos das cadelas afetadas por meio de uma cirurgia
cesariana e a sua criação em isolamento evitam mortes sob condições experimen-
tais. No entanto, observam-se infecções mesmo em cãezinhos nascidos em
cesariana. Podem-se reduzir as mortes ao se criar os cãezinhos infectados em
incubadoras a temperaturas elevadas (35°C, 50% de umidade relativa). Devem-se
administrar uma terapia de suporte e uma fluidoterapia adequadas aos cãezinhos
criados dessa forma. O prognóstico dos cãezinhos que sobreviverem às infecções
neonatais pelo HVC é reservado, pois os danos aos órgãos linfóides, rins e fígado
podem ser irreparáveis.
parece ser para a vida inteira; portanto, não se devem atribuir episódios recidivantes
de febre do carrapato à FMMR.
Tratamento – As tetraciclinas a 22mg/kg, VO, três vezes ao dia por 2 semanas
são efetivas. Pode se tornar necessária a terapia de suporte para a desidratação e
a diátese hemorrágica. Devido às alterações na integridade vascular, aconselham-
se taxas conservativas de administração de fluidos. Não há tratamento profilático.
PANLEUCOPENIA FELINA
(Enterite infecciosa felina, Cinomose felina, Agranulocitose felina)
É uma doença viral altamente contagiosa dos gatos, caracterizada por início
súbito, pirexia, anorexia, depressão, desidratação, vômito e diarréia, leucopenia
profunda, hipotermia no final da doença e alta mortalidade.
Etiologia e epidemiologia – O parvovírus causador ataca todos os membros da
família dos gatos (Felidae) e o guaxinim, o quati e o jupará da família dos guaxinins
(Procyonidae) e a civeta-das-palmeiras da família das civetas (Viverridae). O vírus
é íntima e antigenicamente relacionado com o parvovírus canino do Tipo 2 e
antigenicamente idêntico ao vírus da enterite do visom. A maioria dos gatos errantes
fica exposta ao vírus durante o seu primeiro ano de vida. O vírus pode ser eliminado
na urina e nas fezes por até 6 semanas após a recuperação, e está presente em todas
as secreções e excreções dos animais afetados. A infecção se espalha por contato
direto ou fomitos. O vírus pode sobreviver por anos em um ambiente contaminado,
mas pode ser destruído por uma diluição de alvejante caseiro (hipoclorito de sódio).
O vírus exige células em divisão ativa para uma replicação efetiva. Os tecidos que
sofrem uma atividade mitótica mais rápida são danificados mais severamente.
Achados clínicos, lesões e diagnóstico – O período de incubação é de 2 a 10
dias. Com o início da pirexia, o animal se torna anorético, deprimido e fraco. Podem
ocorrer diarréia e vômito 1 a 2 dias após a elevação inicial da temperatura. Ocorre
uma desidratação extrema rapidamente, embora os gatos afetados pareçam
sedentos. Desenvolve-se uma leucopenia imediatamente antes do início da pirexia.
Nos casos mais agudos, a leucopenia se deve a uma neutropenia absoluta. Os gatos
severamente afetados podem apresentar uma linfopenia absoluta. A contagem de
leucócitos total de < 2.000 células/µL indica um prognóstico ruim. Pode ocorrer uma
leucocitose gradual, caracterizada por um desvio acentuado à esquerda e muitos
neutrófilos imaturos bizarros. O curso da doença raramente é > 5 a 7 dias. Os
gatinhos com panleucopenia superaguda podem morrer dentro de 12h do início dos
sinais clínicos. A mortalidade é alta, especialmente nos gatos jovens; descrevem-
se perdas de 60 a 90%. A infecção dos gatinhos in utero ou durante o período
neonatal destrói a camada granular externa do cerebelo, que se manifesta por
incoordenação, que se nota primeiro quando os gatinhos começam a andar (ataxia
cerebelar felina). As infecções suaves ou subclínicas são comuns em alguns surtos,
especialmente nos gatos adultos não vacinados.
A desidratação e a emaciação são severas exceto nos casos superagudos em
que as alterações macroscópicas podem ser insignificantes. As primeiras altera-
ções são hiperplasia, edema e necrose dos linfonodos mesentéricos e do timo. A
medula óssea pode aparecer semifluida e gordurosa. A parede intestinal fica
geralmente espessada e túrgida; existe gás em algumas alas intestinais. A super-
fície serosa das áreas severamente afetadas pode ficar hiperêmica, com hemorra-
gias equimóticas ou petequiais. As criptas intestinais ficam geralmente dilatadas e
contêm restos que consistem de células epiteliais necróticas desprendidas. Podem
Hepatite Infecciosa Canina 505
LEISHMANIOSE VISCERAL
É uma doença por protozoário, crônica e finalmente fatal, do homem, dos cães
e de determinados roedores, caracterizada por febre intermitente, hepatomegalia,
esplenomegalia, linfadenopatia, anemia e hiperproteinemia.
A infecção nos cães é prevalecente no Brasil, China e região do Mediterrâneo,
e descreveu-se um foco em Oklahoma, EUA. Os gatos se infectam raramente e não
apresentam sinais de doença visceral, embora ocasionalmente apresentem úlceras
cutâneas devidas à infecção com o Leishmania spp dermotrópico.
Etiologia e transmissão – A Leishmania donovani é o agente causador no
Hemisfério Oriental, e a L. chagasi no Hemisfério Ocidental. Os parasitas são
transmitidos como promastigotos pela picada de várias espécies de mosquitos
flebotomíneos (mosquitos-pólvora). Nos hospedeiros mamíferos, os promastigotos
são engolidos pelos macrófagos, no interior dos quais se transformam e se dividem
como amastigotos.
Achados clínicos e diagnóstico – Podem-se encontrar os amastigotos nos
macrófagos em quase qualquer tecido do corpo, mas os órgãos mais severamente
afetados são medula óssea, baço, fígado e linfonodos. Os 3 últimos aumentam
devido à hiperplasia linfóide. Nos cães, o período de incubação pode ser de meses
ou anos. Os sinais incluem caquexia, alopecia, onicogrifose, linfadenopatia, hepa-
Leishmaniose Visceral 508
MECANISMOS IMUNOPATOLÓGICOS
As respostas imunes normais são vitais na proteção do hospedeiro contra a
invasão de microrganismos, tecidos e substâncias estranhas. Entretanto, sob
certas circunstâncias, estas respostas normalmente protetoras, podem ter
efeito deletério sobre o hospedeiro; todas estas respostas adversas são
chamadas alérgicas ou de hipersensibilidade. As doenças auto-imunes ocorrem
como resultado da lesão tecidual causada pela reação imune específica do
hospedeiro a seus próprios tecidos. Há quatro situações em que o sistema
imune do hospedeiro danifica seus próprios tecidos: 1. Tipo I ou anafilática; 2.
Tipo II ou citotóxica; 3. Tipo III ou imunomediada e 4. Tipo IV ou mediada por
células. Além das quatro categorias clássicas de hipersensibilidade, podem
ocorrer outras desórdens do sistema imune, incluindo imunodeficiências, tumo-
res e gamopatias (ver págs. 523 a 529).
REAÇÕES DO TIPO I
(Anafilaxia)
São causadas por mediadores químicos farmacologicamente ativos liberados
de basófilos ou mastócitos. Os mediadores incluem histamina, leucotrienos, pros-
taglandinas, bradicininas e fatores quimiotácticos de eosinófilos. A liberação de
mediadores químicos pelos mastócitos acontece quando o antígeno (alérgeno) une-
se às molélulas específicas de anticorpos (reaginas) que estão presentes sobre a
membrana dos mastócitos.
Os anticorpos que medeiam as reações do Tipo I normalmente são da classe de
imunoglobulinas (Ig) E e menos comumente IgG. Estes anticorpos são produzidos
principalmente pelo tecido linfóide associado à mucosa. Os anticorpos IgE também
Mecanismos Imunopatológicos 511
REAÇÕES DO TIPO II
(Citotoxicidade mediada por anticorpo)
As reações citotóxicas ocorrem como resultado da ligação de anticorpos IgG, IgM
ou IgA a antígenos na superfície das células do organismo ou associadas a
estruturas (receptores mioneurais, substância cimentante intracelular, etc.). O
complemento também pode participar da reação. Muitos tipos de células podem ser
danificados, mas as células sangüíneas parecem ser, particularmente suscetíveis
a lise imunomediada e fagocitose.
Está ainda obscuro por que um animal produz “auto-anticorpos” que reagem
contra seus próprios tecidos. Cogita-se que células clones produtoras de auto-
anticorpos são normalmente produzidas durante o tempo de vida de um animal,
mas estas são suprimidas pelos linfócitos. Em alguns distúrbios “auto-imunes”
parece haver uma deficiência de linfócitos supressores. Os linfócitos supressores
são importantes na regulação da resposta imune normal e uma de suas funções
é suprimir a produção de auto-anticorpos. Há fortes evidências de que muitas
desordens auto-imunes tenham uma predisposição genética. Fatores externos
(por exemplo, infecções virais) podem iniciar a produção de auto-anticorpos,
mas estes fatores são importantes apenas no caso de indivíduos geneticamente
predispostos.
Infecções virais agudas podem induzir alterações transitórias na imunorregulação
talvez pela destruição dos linfócitos T supressores, ou pela alteração do equilíbrio
relativo das diversas subpopulações de linfócitos reguladores, permitindo assim a
formação de auto-anticorpos. A anemia hemolítica auto-imune pós-viral e a trombo-
citopenia são observadas em pessoas e, ocasionalmente, em cães. Infecções virais
crônicas, tais como as infecções com o vírus da leucemia felina (VLF) e vírus da
imunodeficiência felina, também podem ser associadas a uma incidência mais
elevada do que o esperado de fenômenos auto-imunes. Da mesma forma, doenças
do sistema linfóide, em particular neoplasias linforreticulares, podem alterar a
imunorregulação normal. Fenômenos auto-imunes em tais casos freqüentemente
precedem outros sinais de tumor.
Alguns antígenos teciduais são profundamente escondidos na membrana celular
ou em outras áreas inacessíveis às células linfóides do hospedeiro. Devido à
natureza afastada destes antígenos, o sistema imune do hospedeiro pode não
reconhecê-los como “próprios” durante o desenvolvimento embrionário. Se estes
antígenos são desmascarados ou liberados após a vida embrionária, o hospedeiro
Mecanismos Imunopatológicos 512
REAÇÕES DO TIPO IV
(Reações imunes mediadas por células, Hipersensibilidade tardia)
O exemplo mais familiar é a reação induzida pela tuberculina na pele de
indivíduos sensibilizados, pela injeção intradérmica de uma proteína derivada da
micobactéria. A reação cutânea ocorre como resultado da interação de linfócitos
derivados do timo, com o antígeno sensibilizante. A reação tecidual é um resultado
de linfocinas elaboradas pelos linfócitos sensibilizados. As linfocinas podem ser
citotóxicas às células-alvo específicas, ativam macrófagos tornando-os citotóxicos,
inibem a movimentação dos macrófagos para fora da área e causam a transforma-
ção de pequenos linfócitos em grandes células blásticas basofílicas. Este tipo de
reação focaliza a atividade macrofágica no local de invasão do antígeno e, portanto,
é extremamente efetiva no combate a várias infecções microbianas. Também é
importante na destruição de alguns tumores e tecidos estranhos enxertados. Uma
reação Tipo IV persistente e descontrolada, geralmente a patógenos intracelulares
ou material estranho, pode causar granulomas extensos.
Anafilaxia sistêmica
(Reações anafiláticas generalizadas)
O choque anafilático ocorre em animais sensibilizados após a injeção parente-
ral de vacinas ou drogas, ingestão de alimentos ou após picadas de insetos. Os
sinais clínicos ocorrem alguns segundos após a entrada do alérgeno na circulação.
Este período latente é o tempo requerido para o alérgeno ligar-se aos mastócitos
sensibilizados e para que os mediadores vasoativos sejam liberados. No homem e
na maioria dos animais domésticos, os pulmões são o órgão-alvo primário e a
vascularização mesentérica portal é secundária; o inverso ocorre em cães. A
degranulação de mastócitos na vasculatura pulmonar causa constrição das vias
aéreas bronquiais ou das veias pulmonares e acúmulo de sangue no leito vascular
pulmonar, o que resulta em dispnéia severa. A degranulação de mastócitos na
vasculatura portossistêmica causa dilatação venosa e acúmulo de sangue no
intestino e no fígado, o que resulta em choque, agitação, cólica, náusea, hipersalivação,
dispnéia, cianose, e nos casos severos, morte.
O choque anafilático é tratado com uma injeção EV de adrenalina para neutralizar
a constrição bronquial e vasodilatação mesentérica portal. Pode ser necessário
suporte auxiliar de pressão sangüínea e respiração. Devido ao início hiperagudo dos
sinais, os anti-histamínicos são de pequeno benefício terapêutico. Os anti-
histamínicos são mais efetivos no tratamento de infecções urticariformes e edema
facial conjuntival, mas mesmo nestes casos eles são mais eficazes se usados para
prevenir ataques em animais que tenham predisposição alérgica conhecida.
Reações urticariformes (urticária ou placas angiodematosas) da pele, tecido
subcutâneo, edema agudo dos lábios, conjuntiva e pele da face (edema angioneurótico
facial conjuntival) são manifestações menos severas de uma reação alérgica
sistêmica. Urticária é a última reação severa e raramente está associada com outras
anormalidades clínicas. O edema facial conjuntival é mais severo e pode estar
associado com anafilaxia sistêmica leve a moderadamente severa. Estas reações
em geral se seguem à administração de vacinas ou drogas, ingestão de certos
ingredientes alimentares ou a picada de insetos (ver SARNA EM CAVALOS, pág. 974;
DERMATITE pág. 951 e URTICÁRIA pág. 1051). Reações urticariformes e edema facial
conjuntival ocorrem na maioria das espécies e em geral resolvem-se espontanea-
mente dentro de 24h.
A alergia a leite ocorre ocasionalmente em vacas e menos freqüentemente em
éguas, quando atraso da ordenha ou rápido desmame aumenta a pressão
intramamária a ponto dos componentes do leite, notadamente a caseína, terem
acesso à circulação; estas proteínas “estranhas” induzem uma hipersensibilidade
do Tipo I que pode ser localizada ou sistêmica. A recuperação é imediata desde que
a glândula seja esvaziada.
tam ANA detectáveis. O diagnóstico do LES deve ser baseado na síndrome clínica
inteira e não apenas na presença ou ausência de ANA.
O LES normalmente pode ser tratado com glicocorticóides. Inicialmente, eles são
usados em elevadas doses diárias e, quando ocorre a remissão, é usada a terapia
em baixas doses em dias alternados. O tratamento com drogas deve ser continuado
por pelo menos 2 a 3 meses após todos os sinais clínicos terem desaparecido. A
ciclofosfamida ou a azatioprina ou ambas são usadas em combinação com glicocor-
ticóides em animais com LES que sejam difíceis de controlar somente com
glicocorticóides.
A vasculite mediada por imunocomplexos é comum em animais, principalmente
cães e eqüinos. As lesões são mais prevalecentes na derme das porções distais dos
membros e membranas mucosas da boca, principalmente o palato e a língua (cães)
e o lábio (eqüinos). O envolvimento do nariz, orelhas, pálpebras, córnea e ânus é
menos comum. As lesões iniciais são áreas avermelhadas que crescem rapidamen-
te das erosões superficiais. Uma crosta forma-se rapidamente sobre as erosões
dérmicas. Edema dos membros é comum em eqüinos e um sinal igualmente
resplandecente porém menos freqüente em cães. A vasculite é um sinal do LES em
alguns animais, mas mais freqüentemente é idiopática. Vasculite induzida por
drogas tem sido bem reconhecida em cães. A vasculite é detectada pelo exame
histopatológico e imuno-histopatológico de biópsias superficiais e profundas, obti-
das das margens das lesões.
A vasculite é tratada pela retirada das drogas ofensivas (se estas forem implicadas na
causa) ou pela terapia com drogas imunossupressoras. Os glicocorticóides usados
isoladamente ou associados com outros agentes, tais como azatioprina ou ciclofos-
famida, são normalmente usados para tratar casos não induzidos por drogas (ver
também PERIARTERITE NODOSA, adiante).
A púrpura hemorrágica de eqüinos é uma forma de púrpura não trombocitopê-
nica (ver pág. 70), que freqüentemente é uma seqüela de infecção respiratória
precoce por Streptococcus equi; é mediada por complexos imunes de IgA e antígeno
estreptocócico M nas membranas basais vasculares.
A uveíte anterior (ver pág. 356) freqüentemente envolve reações mediadas por
imunocomplexos. Uma uveíte com freqüência ocorre no estágio de recuperação da
hepatite infecciosa canina (ver pág. 505). Esta é decorrente da reação dos
anticorpos séricos com as células endoteliais da úvea que contêm o adenovírus
canino I. Similarmente, a uveíte eqüina (ver pág. 363) ou uveíte anterior de eqüinos
pode estar associada a reações imunológicas aoLeptospira ou Onchocerca spp.
A uveíte causada pelas infecções de Toxoplasma e vírus da PIF também tem base
imunológica.
A artrite reumatóide canina (ver também ARTRITE E PROBLEMAS RELACIONADOS,
Pq An, pág. 568) se manifesta inicialmente como uma claudicação alterada com
aumento de volume dos tecidos moles ao redor da articulação envolvida. Dentro de
semanas ou meses a doença localiza-se nas articulações individuais e desenvol-
vem-se alterações radiográficas características. As alterações radiográficas preco-
ces consistem de aumento de volume de tecidos moles e uma perda de densidade
trabecular óssea na área da articulação. Áreas radiotransparentes semelhantes a
cistos são com freqüência observadas no osso subcondral. A lesão proeminente é
uma erosão progressiva da cartilagem e osso subcondral na área da junção sinovial,
que resulta em perda da cartilagem articular e colapso do espaço articular.
Freqüentemente ocorrem deformidades angulares e a luxação da articulação é uma
seqüela freqüente. As deformidades ocorrem mais freqüentemente nas articulações
cárpicas, társicas e falângeas e, menos freqüentemente, nas articulações do
cotovelo e joelho. As alterações do líquido sinovial indicam uma sinovite inflamatória
estéril com elevada contagem de células totais e uma alta proporção de neutrófilos
Entidades Doentias Específicas de Natureza Imunopatológica 522
está elevada. A lesão é uma arterite, primariamente dos vasos meníngeos, mas
ocasionalmente de outros órgãos. A doença freqüentemente é autolimpante após
vários meses; as crises tornam-se mais brandas e menos freqüentes. A terapia com
glicocorticóides reduz a severidade das crises. Em alguns animais, a doença torna-
se crônica e parcialmente amenizável com a terapia.
Uma forma mais severa deste tipo de meningite foi relatada em uma ninhada de
bernese mountain. A doença nessa ninhada foi um tanto cíclica, mas a resolução
nos períodos intermediários foi menor que no caso de beagles, pointers e boxers.
Anormalidades no líquido cerebroespinhal assemelham-se às da doença em outras
raças. A condição foi menos autolimitante e requereu terapia com altas doses de
glicocorticóides para manter os animais de uma forma confortável.
Uma síndrome de meningite, freqüentemente associada com poliartrite, é vista
em akitas com 12 semanas de idade. Os animais mostram picos febris severos (mas
um tanto cíclicos), depressão, rigidez e dor cervicais bem como rigidez generaliza-
da. Animais afetados apresentam uma taxa de crescimento menor e freqüentemen-
te parecem baldados. A doença responde pobremente a glicocorticóides e à
combinação de uma terapia imunossupressiva; a maioria dos animais são sacrifica-
dos quando adultos jovens. Em akitas idosos, é observada uma forma mais branda
e mais responsiva a drogas, a qual pode estar associada ao pênfigo foliáceo, uveíte
e tireoidite linfocítica plasmacítica.
IMUNODEFICIÊNCIAS
Deficiências de fagocitose – A fagocitose é uma característica essencial do
sistema imune do hospedeiro. Os fagócitos são encontrados ao redor das membra-
nas mucosas e pele bem como na corrente sangüínea, baço, linfonodos, meninges,
membranas sinoviais, medula óssea e ao redor dos vasos sangüíneos ao longo do
corpo. Os fagócitos estão nos tecidos (histiócitos, macrófagos sinoviais, células de
Kupffer , etc.) ou no sangue (leucócitos polimorfonucleares, monócitos). A fagocito-
se envolve o reconhecimento pelo fagócito de materiais estranhos, nocivos ou
danosos, quimiotaxia de fagócitos para o material, aderência do material à membra-
na plasmática do fagócito, incorporação do material a uma vesícula pinocitótica,
formação de um fagossomo e ativação da cadeia respiratória e enzimas lisossomais
no fagossomo. Deficiências na fagocitose podem envolver defeitos congênitos ou
adquiridos em quaisquer destas fases ou no número disponível de fagócitos. Os
fagócitos têm receptores de imunoglobulinas e de complemento em suas superfí-
cies que auxiliam no “engolimento” (opsonização) do material estranho coberto com
anticorpos específicos (opsoninas) ou complemento, ou ambos.
Deficiências no processo fagocitário manifestam-se freqüentemente pelo au-
mento de suscetibilidade a infecções bacterianas da pele, sistema respiratório e
trato gastrointestinal, que respondem pobremente a antibióticos. As deficiências
fagocitárias adquiridas incluem desordens que levam a depressões leucocitárias
profundas e crônicas. Infecções com vírus da leucemia felina, infecção com o vírus
da panleucopenia felina, infecção com o vírus da imunodeficiência felina, pancito-
penia canina tropical, granulocitopenias idiopáticas, granulocitopenias induzidas
por drogas (drogas anticancerígenas, estrogênios, anticonvulsivantes, sulfonami-
das, etc.) e distúrbios mieloproliferativos são algumas condições que podem
desenvolver infecções secundárias como complicação com risco de vida.
Um decréscimo cíclico de todos os elementos celulares, mais notadamente
neutrófilos, ocorre no sangue periférico, baixando a resistência a infecções de collies
cinza e mestiços de collie (ver HEMATOPOIESE CÍCLICA EM CÃES C OLLIE C INZA, pág. 76).
Anormalidades congênitas que levam à fagocitose prejudicada são bem docu-
mentadas nos homens. Deficiências de opsoninas, de fatores de complemento,
habilidades quimiotáticas, mieloperoxidase e ativação em enzimas lisossômicas
têm sido reconhecidas, mas não em outros animais além do homem. Doenças
granulomatosas crônicas têm sido reconhecidas como um defeito ligado ao cromos-
somo X em alguns cães setter irlandeses (síndrome granulocitopática canina).
Algumas famílias de weimaraners sofrem de septicemias bacterianas (geralmente
manifestadas por infecções ósseas e articulares) em filhotes. A causa de base para
este fenômeno é desconhecida; alguns dos animais afetados têm níveis abaixo do
Entidades Doentias Específicas de Natureza Imunopatológica 525
GAMOPATIAS
São patologias em que os níveis de imunoglobulinas séricas estão grandemente
aumentados. Podem ser classificadas em policlonais, que envolvem um aumento
em todas as principais classes de imunoglobulinas ou monoclonais, se envolverem
apenas uma única imunoglobulina homogênea.
Gamopatias policlonais em animais são observadas em piodermites crônicas;
infecções fúngicas, bacterianas, virais crônicas; doenças granulomatosas;
abcedação; parasitoses crônicas, riquetisioses crônicas, como a pancitopenia
canina tropical (PCT); doenças imunológicas crônicas, como o lúpus eritematoso
sistêmico, artrite reumatóide e miosite; ou em neoplasia. Elas também podem ser
idiopáticas. Em alguns animais, a gamopatia pode parecer inicialmente ser mono-
clonal, devido à predominância de uma classe de imunoglobulina (geralmente IgG).
Exemplos desse fenômeno têm sido observados em gatos com peritonite infecciosa
felina não efusiva e cães com PCT crônica.
Gamopatias monoclonais são caracterizadas pela presença no soro de uma
proteína de imunoglobulina homogênea. As classes de imunoglobulinas não envol-
vidas, normalmente estão diminuídas. Gamopatias monoclonais são benignas (isto
é, associadas com uma doença de base) ou podem estar associadas com tumores
secretores de imunoglobulina. No homem, gamopatias benignas podem se tornar
malignas com o decorrer do tempo; em outros animais, são raras e não estão
associadas com um tumor demonstrável ou doença clínica.
Tumores que secretam anticorpos monoclonais originam-se de plasmócitos
(mieloma) ou linfoblastos (linfossarcoma). Mielomas de plasmócitos podem secre-
tar proteínas intactas de qualquer classe de imunoglobulina ou subunidades de
imunoglobulinas (cadeia leve ou pesada). Proteínas de mielomas em cães em geral
são do Tipo IgG ou IgA e menos comumente do Tipo IgM. Mielomas do Tipo IgA são
particularmente comuns em doberman pinschers. Imunoglobulinas monoclonais
produzidas pelo linfossarcoma são freqüentemente da classe IgM, independente-
mente da espécie. Proteínas de mielomas em gatos e eqüinos em geral são IgG e
menos comumente IgM, IgG (T) (eqüinos) ou IgA.
Os sinais clínicos dependem da localização e da severidade da neoplasia
primária e da quantidade e do tipo da imunoglobulina secretada. Mielomas de
plasmócitos freqüentemente se desenvolvem nas cavidades medulares dos ossos
chatos do crânio, costela, pelve e vértebras. Fraturas patológicas dos ossos lesados
podem levar a distúrbios do SNC ou espinhais, ou dor e claudicação. Os linfossarcomas
envolvem, freqüentemente, os órgãos parenquimatosos;portanto, os sinais clínicos
são mais diversos.
Clinicamente, a doença mais evidente pode resultar da presença da própria
proteína monoclonal. A amiloidose (ver pág. 385) pode ocorrer como resultado do
Entidades Doentias Específicas de Natureza Imunopatológica 530
sinais clínicos dentro das primeiras semanas ou meses de vida. Estas doenças são
progressivas e geralmente fatais, e não há tratamento específico atualmente para
qualquer uma delas. As gangliosidoses, GM1 e GM2, ocorrem em gatas siamesas,
korat e naquelas sem raça definida; em cães beagle, pointer alemão de pêlo curto
e spaniel japonês. A esfingomielinose ocorre em gatos siameses e naqueles sem
raça definida. A lipofuscinose ceróide ocorre em setters ingleses, cocker spaniels,
dachshunds, chihuahuas, salukis e em gatos domésticos. A manosidose ocorre em
gatos persas em sem raça definida. A glicogenose do Tipo II ocorre em cães lapland
e a do Tipo III em pastores alemães. A leucodistrofia de células globóides (de
Krabbe) ocorre em cairn terriers, west highland white terriers, bluetick hounds,
beagles, poodles, lulus da Pomerânia e basset hounds. A mucopolissacaridose do
Tipo VI, uma doença primariamente associada a laminite, ocorre em gatos siame-
ses; o Tipo I ocorre em cães e gatos. Doenças associadas a leucopenia e anemia
incluem deficiência de piruvatocinase em basenjis e beagles; deficiência de
fosfofrutocinase em springer spaniels ingleses. Os eqüinos não possuem doenças
metabólicas documentadas, exceto a metemoglobinemia possivelmente congênita
e tremores episódicos.
Em animais de grande porte, a quantidade deste tipo de doença é pequena, e a
daquelas que ocorrem possui baixa incidência. A mais comum provavelmente é a
manosidose em bovinos angus, galloway e murray grey; e de caprinos. Outras
doenças identificadas que se manifestam por sinais neurológicos e que provavel-
mente são hereditárias são as gangliosidoses GM1 e GM2 em bovinos e suínos,
respectivamente; a lipofuscinose ceróide em ovinos; as glicogenoses generalizadas
em bovinos e ovinos; a citrulinemia e a uropatia em xarope de bordo em bovinos; e
a leucodistrofia de células globóides em ovinos.
Outras doenças hereditárias nas quais ocorrem erros metabólicos básicos de
tecidos específicos são: bócio em ovinos e caprinos, paraceratose hereditária
(edema) em bovinos, osteogênese imperfeita em ovinos e caprinos, e possivelmen-
te miocardiopatia de bovinos, as hipotricoses, bezerros alopécicos, fotossensibiliza-
ção de ovinos, dermatose vegetante, síndrome do estresse em suínos,
dermatosparaxia e síndrome de Ehlers-Danlos em bovinos. Muitos outros defeitos
hereditários, principalmente aqueles relacionados ao crescimento anormal de
colágeno, cartilagem e osso, provavelmente também se devem a erros metabólicos
básicos de tecidos estruturais.
TEMPERATURA CORPORAL
Nos animais homeotérmicos, a função celular normal depende de uma tempera-
tura corporal relativamente constante. Esta temperatura corresponde à soma entre
o calor produzido e o calor perdido ou conservado, e é regulada por um mecanismo
central do hipotálamo que ativa as atividades fisiológicas e comportamentais. A
produção de calor é aumentada por tremor, termogênese não tremular, exercício,
ingestão de alimento, taxa metabólica e secreção de certos hormônios. Em
herbívoros, a fermentação bacteriana no trato GI representa uma fonte adicional de
calor. A conservação do calor resulta da vasoconstrição periférica e de respostas
comportamentais que reduzam a área superficial a partir da qual o calor possa ser
perdido. Animais expostos ao calor excessivo procuram um ambiente mais frio, onde
a perda de calor possa ser acelerada.
O calor é perdido por radiação, condução e vaporização da água pelas vias
respiratórias e pela pele; pequenas quantidades são perdidas nas fezes e na urina.
Temperatura Corporal 534
As perdas são aceleradas pela área superficial maior, pelo ambiente mais frio, pela
vasodilatação periférica, pelo arfar e pelo suor. O pêlo reduz a capacidade de perder
calor, então animais muito peludos e aqueles com pelame escuro são vulneráveis
a altas temperaturas. Os ruminantes possuem um mecanismo de sudorese limitado;
portanto, a perda de calor por evaporação é ineficiente.
Em animais de sangue quente ou homeotérmicos, a temperatura corporal real
varia de espécie para espécie e às vezes entre indivíduos da mesma espécie (ver
TABELAS 3 e 4, págs. 1169 e 1170); a temperatura normal pode variar de 35° a 43°C.
Partes periféricas do corpo possuem temperaturas diferentes, em grande parte
devido à temperatura ambiente e à quantidade de insulação. A temperatura retal é
representativa da temperatura corporal, a qual varia menos. A temperatura basal
pode ser obtida pela manhã, após um período de descanso, sem excitar o animal.
Variação normal – A temperatura corporal de animais sadios está sujeita a
variações diurnas leves. A temperatura eleva-se durante o dia e cai durante a noite.
Grandes animais, como eqüinos, bovinos e elefantes, apresentam pequenas varia-
ções diurnas (, 0,5°C). Certos animais, por exemplo, os camelos, que são adapta-
dos a grandes variações na temperatura ambiente e a uma disponibilidade restrita de
água, apresentam flutuações diurnas na temperatura corporal, chegando até 5°C.
A hipertermia em vários graus pode resultar de esforço, excitação ou exposição
prolongada a ambientes quentes ou úmidos. A hipertermia devida à reduzida perda
de calor pode afetar seriamente as funções normais, por exemplo, vacas sujeitas a
temperaturas ambientais excessivamente altas reduzem a ingestão de alimento e
perdem peso, e a produção láctea cai. A perda de calor está associada à perda de
água. Têm sido demonstrados efeitos teratogênicos em embriões cujas mães foram
sujeitas à hipertermia durante a gestação. Quando não há água disponível, a
desidratação leva à inibição da sudorese; isto pode levar à hipertermia, que pode ser
tratada prontamente pela administração de água (ver HIPERTERMIA MALIGNA , pág. 541).
Variações sazonais na temperatura corporal estão relacionadas ao estresse ambi-
ental e ao ciclo reprodutivo. No inverno, a temperatura retal pode estar 1°C abaixo dos
níveis no verão. Antes da ovulação, a temperatura basal pode estar , 0,5°C abaixo do
nível dos dias anteriores. Durante o estro, o nível é um tanto mais alto. Está um pouco
acima do normal durante a primeira metade da gestação. Animais jovens possuem
temperaturas mais instáveis que os idosos, com flutuações diurnas um tanto maiores.
A febre é produzida por pirógeno químico, viral ou bacteriano. É o resultado de
um “reajuste” dos mecanismos de termorregulação para funcionar acima dos níveis
normais. Em muitos animais, as prostaglandinas são responsáveis por este reajus-
te; isto explica a efetividade da aspirina na redução da febre. Imediatamente após
o nascimento, os neonatos não apresentam febre durante uma infecção, mas dentro
de poucos dias, animais jovens respondem à infecção com uma febre muito maior
do que a dos animais maduros. Em animais idosos, mesmo infecções severas
produzem pouca ou nenhuma alteração na temperatura corporal. Na febre diurna,
que pode indicar infecção crônica, a temperatura pode elevar-se por vários graus
durante o dia e retornar ao normal à noite. Muitas infecções causam febre por
indução de produção de pirógenos endógenos (interleucina-1) a partir dos leucóci-
tos polimorfonucleares, que constituem um mecanismo de defesa. Estes pirógenos
atravessam a barreira hematoencefálica para ajustar os centros de termorregulação
no cérebro. Nas infecções agudas, a temperatura pode permanecer vários graus
acima do normal por alguns dias, às vezes com uma flutuação diurna sobreposta.
A febre reincidente de algumas infecções crônicas (por exemplo, brucelose)
caracteriza-se por vários dias de temperatura corporal elevada, seguidos por vários
dias de temperatura normal.
Um calafrio geralmente é o mensageiro de um episódio febril e representa um
período de produção e conservação de calor. O episódio começa com extrema
Porfiria Eritropoiética Congênita 535
Esta doença de vacas obesas que pariram recentemente tem muito em comum
com a toxemia da prenhez (ver pág. 549), estando geralmente associada a ela;
entretanto, suas epidemiologias são diferentes. A doença do fígado gordo aparece
preferencialmente após a parição e normalmente em vacas alimentadas de forma
inadequada, isto é, seu aporte é planejado para ser maior do que a sua demanda
nutricional para lactação. Devido às vacas estarem realmente num balanço energé-
tico negativo durante a súbita demanda de energia após a parição, há alta
mobilização de gordura dos depósitos corporais, resultando em deposição hepática.
Apenas vacas obesas desenvolvem a doença. Clinicamente, há cetonúria severa,
anorexia, fraqueza, decúbito e, finalmente, taquicardia e coma. A morte em 7 a 10
dias é o desfecho usual. Nenhum tratamento específico pode ser recomendado. As
medidas gerais de suporte são geralmente adotadas: forragens de alta qualidade e
palatáveis; injeção de anabolizantes esteróides; infusão EV de soluções eletrolíticas
combinadas ou glicose, ou ambas; insulinas; e transferência de bolo alimentar ou
infusão intra-ruminal de grandes volumes de suco de rúmen de outros animais. Os
resultados são pobres. Devido ao fato desta ser uma doença de vacas de alta
produção em rebanhos intensivamente manejados, a prevenção é uma prioridade.
Deve-se evitar a obesidade e tratar assiduamente a periparturiente.
semanas dá boa prevenção a curto prazo contra tetania das pastagens sob
condições climáticas adequadas.
Animais que acabaram de sair da estação fria devem ser protegidos do frio e do
vento e providos de suplementação alimentar. A fertilização com nitrogênio e potás-
sio reduz o conteúdo e o aproveitamento do magnésio das pastagens e deve ser
evitada na primavera antes do primeiro acesso dos animais à pastagem. Os bovinos
e ovinos devem ter acesso ao feno ou à pastagem seca. Modificar a data de parição
das vacas que não estiverem no início da lactação, quando o inverno for rigoroso,
é uma medida efetiva de prevenção, mas pode ser economicamente impraticável.
CETOSE NO GADO
(Acetonemia, Cetonemia)
Trata-se de uma doença metabólica de vacas lactantes que ocorre desde alguns
dias a algumas semanas após a parição. É caracterizada por hipoglicemia, cetonemia,
cetonúria, inapetência, letargia ou excitabilidade, perda de peso, diminuição da
produção leiteira e, ocasionalmente, incoordenação. Na maioria das áreas, a inci-
dência é maior nas vacas de alta produção que estão sendo alimentadas no estábulo.
Etiologia – Qualquer fator que cause redução no aporte ou absorção dos
precursores de carboidratos da dieta pode causar cetose primária. Embora, teorica-
mente, os fatores que afetam o metabolismo dos carboidratos absorvidos possam
similarmente causar hipoglicemia e cetose primária, nenhum deles foi identificado.
A teoria de que a causa primária de cetose é a disfunção do córtex adrenal não foi
substanciada. A cetose é comumente secundária à depressão do apetite resultante
de doenças primárias como metrite, mastite e deslocamento do abomaso.
A hipótese de deficiência de carboidratos é baseada na observação de que, das
várias formas de carboidratos ingeridas pelos ruminantes, poucas são absorvidas
como glicose. As principais fontes de energia do animal são os ácidos acético,
propiônico e butírico produzidos pela fermentação microbiana no rúmen; destes, o
ácido propiônico é geralmente aceito como o maior precursor de carboidratos e o
único a ter propriedades anticetogênicas. Se isto ocorrer, a vaca lactante recebe
pouco ou nenhum excesso de carboidrato além daquele requisitado para a síntese
de lactose secretada no leite. Um aporte calórico inadequado pode ocorrer quando
a comida é insuficiente ou desagradável, ou quando o balanço de substâncias
cetogênicas e anticetogênicas na dieta é perturbado, por exemplo, pela administra-
Cetose no Gado 539
HIPERTERMIA MALIGNA
(Síndrome do estresse porcino [SEP], Carne de porco pálida, mole e
exsudativa [PME], Necrose do músculo dorsal, Miopatia do transporte)
pelo CO2, apnéia e morte. A temperatura corporal pode aumentar em até 1°C (a cada
5 a 7min) e pode alcançar até 45°C antes da morte.
Após a morte, o rigor mortis se desenvolve em poucos minutos. A temperatura
muscular está elevada e o alto nível de ácido láctico causa um baixo pH muscular
(≤ 5); entretanto, o pH muscular aumenta rapidamente, conforme o corpo esfria. Os
músculos do dorso, coxas, quadril e ombros são os mais freqüentemente afetados.
Músculos com alta porção de fibras do Tipo 2, como o semitendinoso e o psoas, são
extensivamente mais afetados e devem ser examinados macroscópica e histologi-
camente à necropsia. Os músculos afetados de um animal que morre com quadro
agudo, são pálidos, úmidos, e liberam fluidos à necropsia. Episódios repetidos
podem produzir focos secos e escuros nos músculos afetados. As alterações
histológicas nos músculos não são específicas e podem incluir uma variação no
diâmetro das fibras musculares seccionadas transversalmente e degeneração hialina.
Diagnóstico – Um histórico de estresse ou exposição a drogas estressantes e
suscetibilidade genética são importantes considerações, juntamente com sinais
clínicos semelhantes a choque agudo, tremor muscular, aumento rápido na tempe-
ratura, taquipnéia e rigidez. O pH sangüíneo está diminuído (< 6) e os níveis de lactato
e piruvato sangüíneos estão aumentados. Os níveis de ácido láctico sangüíneo
podem atingir 425mg/dL. A pressão parcial de CO2 está elevada no sangue arterial
e o consumo de oxigênio está aumentado. A concentração de catecolaminas
plasmáticas está aumentada e é responsável pela hiperglicemia concorrente. As
principais mudanças eletrolíticas plasmáticas são os aumentos de potássio e fosfato.
Diagnósticos diferenciais incluem: 1. insolação, que é devida a confinamento ou
exercício forçado em ambientes quentes; 2. tetania hipocalcêmica (puerperal) com
contrações musculares e aumento de temperatura corporal; 3. miopatia de captura
em animais selvagens (quando esta é um diagnóstico diferencial); e 4. azotúria ou
síndrome paralítica, caracterizada pela mioglobinúria, que se desenvolve em
seguida a exercícios em cavalos, bovinos de tração, ovelhas e galgos de corrida.
A SEP, HM e PME são consideradas por alguns como uma única síndrome e por
outros como 3 síndromes. Evidências experimentais demonstraram que estas
síndromes são clinicamente similares e todas são geneticamente determinadas.
Entretanto, genes diferentes parecem controlar a suscetibilidade a estressantes
específicos; por exemplo, todos os porcos que desenvolvem PME não parecem
suscetíveis ao estresse da anestesia por halotano. A suscetibilidade aos diferentes
estressantes pode ser o fator principal na diferenciação das 3 síndromes.
Tratamento – Uma vez que a hipertermia maligna é determinada geneticamente,
uma seleção de criações, em função da suscetibilidade, é essencial; entretanto,
características desejáveis geneticamente controladas, como desenvolvimento mus-
cular e taxas de crescimento, devem ser mantidas. Vários testes de seleção têm sido
utilizados. No teste de desafio ao halotano, os suínos são expostos à anestesia por
halotano (3 a 6% v/v) durante , 5min e os níveis séricos de creatinina fosfoquinase
(CPK) pré e pós-anestésicos são medidos; um aumento de 20 a 100 vezes é
encontrado em porcos suscetíveis. Evidências recentes indicam uma combinação
de halotano e succinilcolina produzindo maior sensibilidade à detectação de
hipertermia maligna. Outro teste utilizado é o do exercício, no qual um aumento de
creatinina fosfoquinase após exercício indica suscetibilidade à hipertermia maligna.
A resistência (e suscetibilidade) à hipertermia maligna também tem sido associada
a certos grupos sangüíneos e à fragilidade osmótica das hemácias.
O tratamento da HM consiste na remoção do animal dos possíveis estresses ou
anestésico inalatório, administração EV de tranqüilizantes, fluidoterapia com bicar-
bonato para corrigir a acidose láctica, resfriamento superficial e hiperventilação com
oxigênio. Um relaxante muscular intracelular experimental, o dantroleno (um deri-
vado de fenitoína) tem demostrado experimentalmente inibir e controlar episódios
Obesidade 543
OBESIDADE
O acúmulo de gordura ocorre quando há um desequilíbrio entre as calorias
ingeridas e as perdidas. A obesidade ocorre quando o peso corporal é ≥ 15% acima
do considerado ótimo (ver a seção MCN, pág. 1317, sobre requerimentos nutricionais
de várias espécies; ver também APETITE, pág. 1323, e COMPORTAMENTO, pág. 1085).
Etiologia – A principal causa é o excesso de alimentação combinado com o
exercício inadequado. É o distúrbio nutricional mais comum em cães, sendo que a
incidência aumenta com a idade (acima de 50%), provavelmente devido à redução
da taxa metabólica basal e da atividade física. É mais comum em fêmeas que em
machos, e em cães castrados que em não castrados de ambos os sexos. Algumas
raças de cães tendem a ser mais obesas, incluindo labradores, dachshunds e
beagles. Cães alimentados com comida caseira, restos de comida e petiscos
apresentam uma tendência maior à obesidade quando comparados aos animais
que se alimentam exclusivamente de rações comerciais. Ao contrário dos cães, os
gatos conseguem regular melhor a ingestão de alimentos de acordo com a
necessidade calórica, e a obesidade é menos comum. Entretanto, o número de
gatos obesos parece estar aumentando em freqüência, provavelmente devido ao
aumento do sabor das rações comerciais para gatos. Condições patológicas que
podem estar associadas à obesidade incluem hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo,
diabetes melito e insulinoma.
O ponto no qual o acúmulo de gordura em comidas de animais se torna excessivo
é um tanto subjetivo. É, invariavelmente, o resultado de padrões alimentares
anormais impostos aos animais.
Achados clínicos – A espessura da camada de gordura que cobre a caixa
torácica é o melhor indicador da obesidade quando não se sabe qual é o peso
corporal ótimo do animal. Normalmente, as costelas podem ser sentidas com
facilidade, mas não vistas, enquanto as costelas não podem ser facilmente palpadas
nos animais obesos. Abdome pendular, andar bamboleante e inatividade são outros
sintomas de alguns animais obesos. A obesidade pode predispor a muitos problemas
incluindo distúrbios locomotores ou articulares, dispnéia e fadiga, lipidose hepática,
eficiência reprodutiva diminuída, distocia e aumento do risco anestésico e cirúrgico.
Tratamento – O consumo calórico deve ser reduzido e um programa de
exercícios regulares deve ser desenvolvido para gastar energia e possivelmente
reduzir o apetite. A ingestão calórica diária deveria ser reduzida para , 60 a 70%
daquela requerida para manutenção. Isto pode ser realizado mais efetivamente com
uma nutrição completa, mas com baixa caloria e alta concentração de fibra. Dietas
caseiras ou comerciais são preferíveis à alimentação em quantidades menores da
dieta normal. Pequenas refeições podem ser ministradas freqüentemente durante
o dia; petiscos e restos de comida devem ser eliminados. A taxa de perda de peso
deve ser de , 3% por semana durante as primeiras 6 semanas e menor posterior-
mente. O progresso deve ser monitorado por pesagem semanal e devem-se fazer
modificações dietéticas se necessário. A monitoração freqüente também entusias-
ma o proprietário a continuar com o programa.
Uma redução dramática do peso pode ser realizada em cães quando a ingestão
de alimento é quase que completamente restrita. Isto não deve ser realizado em
gatos obesos. Idealmente, o animal deve ser hospitalizado durante este período e
Obesidade 544
É uma doença afebril de vacas leiteiras idosas que ocorre mais comumente
durante ou logo após a parição e manifesta-se por colapso circulatório, paresia
generalizada e depressão.
Etiologia – A doença geralmente está associada com o súbito início da lactação
profusa; é uma hipocalcemia aguda, na qual os níveis séricos de cálcio estão abaixo
do normal (, 10mg/dL), podendo chegar até 3 a 7mg/dL (média 5mg/dL). A
concentração sérica de magnésio pode estar dimuída e resultar em tetania, ou
elevada e resultar em paralisia flácida e sonolência. A doença pode ocorrer em
vacas de qualquer idade, porém é mais comum em vacas leiteiras de 5 a 9 anos de
idade. Há uma incidência maior na raça jersey.
Achados clínicos e diagnóstico – A paresia parturiente geralmente ocorre em
72h após a parição, mas ocasionalmente antes, durante, ou mesmo alguns meses
após. A doença é algumas vezes a causa de distocia que se origina de esforços
expulsivos inadequados, e o prolapso do útero pode ser uma complicação.
No início da doença, a vaca pode exibir alguma instabilidade ao andar. Mais
freqüentemente, ela é incapaz de se levantar, sendo encontrada deitada sobre
o esterno; a cabeça pode estar deslocada para um lado ou virada para o flanco.
Os olhos são embaçados e fixos e as pupilas dilatadas. A anorexia é completa,
o focinho tende a ser seco e as extremidades são frias. A freqüência do pulso
geralmente é elevada e a temperatura é normal ou subnormal. O trato gastroin-
testinal se torna atônico com defecação suprimida e ânus relaxado. Se o
tratamento é adiado por muitas horas, a apatia dá origem ao coma, que se torna
progressivamente mais profundo, levando à morte. Com o coma próximo, o
animal assume decúbito lateral, o qual predispõe a timpanismo, regurgitação e
pneumonia por aspiração. O tratamento nos estágios iniciais é melhor sucedido
e poucas recaídas ocorrem. Animais afetados no momento ou algumas horas
após a parição parecem desenvolver sinais graves mais rapidamente do que
aqueles que são acometidos em outros períodos. Diagnósticos diferenciais
incluem metrite, mastite coliforme, tetania das pastagens, indigestão aguda,
gastrite traumática, luxações coxofemorais, paralisia do nervo obturador, linfos-
sarcoma, compressão espinhal e fratura da pelve. Algumas destas doenças, em
adição à pneumonia por aspiração e à miopatia degenerativa, podem também
ocorrer concomitantemente com a paresia da parturiente ou como complicações
(ver também V ACA C AÍDA, pág. 669).
Tratamento – Os esforços são dirigidos no sentido de restaurar o nível sérico de
cálcio ao seu patamar normal, o que deve ser feito o mais cedo possível para evitar
danos nervosos e musculares e decúbito. Isto é facilitado pela supervisão intensa
das vacas que pariram nas 72h precedentes. Borogliconato de cálcio é mais
comumente usado (250 a 500mL, 25% de solução), preferivelmente por injeção EV,
Paresia da Parturiente em Ovelhas 545
EXAUSTÃO FÍSICA
Ocorre por uma série complexa de eventos metabólicos que acometem um
indivíduo quando o mesmo ultrapassa o seu limite de resistência. (É diferente da
fadiga, a qual pode ser considerada como um cansaço extremo dentro do limite
normal do indivíduo.) Ocorre mais freqüentemente em animais forçados a exercícios
físicos prolongados, na maioria das vezes sob condições ambientais severas.
Eqüinos utilizados em enduros e maratonas são os mais comumente afetados.
Fisiopatologia – No início do exercício, o corpo responde ao aumento da
demanda metabólica, aumentando o suprimento de oxigênio para os músculos
locomotores, os quais sintetizam ATP para a produção de energia. Se a intensidade
dos exercícios for mantida em níveis aeróbicos, esta pode ser mantida durante
períodos consideráveis. Quando a intensidade dos exercícios aumenta acima do limi-
te aeróbico suportável, a energia é produzida anaerobicamente e a fadiga se instala
com rapidez. O calor é sempre produzido, não importando se a energia é produzida
por via aeróbica ou anaeróbica. No cavalo normal, este calor é dissipado pela
evaporação do suor. Se os elementos perdidos pelo suor durante o exercício
prolongado não forem substituídos, principalmente sob alta temperatura e umidade
ambientais, ocorrerão distúrbios metabólicos associados à exaustão.
É difícil medir-se a perda de fluidos; entretanto, alterações no peso corporal
fornecem um bom indicador quantitativo sob circunstâncias prevalentes. Os sinais
clínicos de desidratação tornam-se aparentes quando 4 a 5% do peso corporal é
perdido e os sinais são severos quando há perda de , 10%. As concentrações de
potássio e de cloreto são maiores no suor que no plasma; portanto perdem-se mais
rapidamente que o sódio. O cloreto é mais importante e sua perda resulta em
alcalose conforme o organismo conserva os íons de bicarbonato para compensar
o ânion perdido.
As alterações na composição plasmática que ocorrem durante os enduros
variam com a duração da corrida, temperatura e umidade ambientais, vigor da
Exaustão Física 547
apesar da temperatura retal poder ser enganosa se o reto estiver dilatado por ar
devido a uma diminuição do tono do esfíncter anal. O reflexo do esfíncter anal pode
estar ausente.
Taquicardia e taquipnéia persistentes são evidentes. Uma respiração superficial
e mais rápida que a taxa cardíaca pode causar uma troca gasosa ineficiente. Ritmo
diafragmático agitado, arritmias, murmúrios e pulso jugular evidente podem ser
sinais adcionais de insuficiência dos sistemas cardiovascular e pulmonar na
tentativa de restabelecer a função normal.
O achado clínico mais evidente é a desidratação, que se reflete pela perda da
elasticidade cutânea, enoftalmia e membranas mucosas secas. Estas alterações
indicam uma perda de 7 a 10% do peso corporal, podendo chegar a até 30 a 40L de
água. Esta perda é complicada pelo desequilíbrio eletrolítico severo que se segue.
Fadiga, fraqueza, tremores, cansaço, rigidez, dor e possivelmente paralisia são os
sinais musculares habituais.
Se não for administrada uma terapia de suporte apropriada com fluidos e
eletrólitos, pode ocorrer insuficiência renal por exaustão, disfunção hepática,
rabdomiólise e mesmo laminite. O desenvolvimento desses problemas é detectado
por altas concentrações plasmáticas de creatinina, uréia, CPK e AST(SGOT) por
vários dias após a corrida. A redução do fluxo e a concentração urinária ocorrem
durante o curso da corrida, retornando ao normal com a restauração da hidratação.
Virtualmente, não há nenhuma alteração na composição da urina entre cavalos
normais e exaustos,exceto quando há sangue na urina em animais com mioglobinúria.
“Flutter” diafragmático sincronizado (“soluços”) – Freqüentemente rela-
cionado ao estresse atlético e não raro visto em corridas de enduro, isto também ocorre
em outras condições, incluindo pressão traumática no nervo frênico, êmese persis-
tente, desequilíbrio eletrolítico e estados de hipocalcemia, como na paresia da
parturiente. As 3 alterações fisiopatológicas comuns são alcalose (geralmente
metabólica), hipocalcemia e desequilíbrio eletrolítico. Os cavalos podem ser retira-
dos durante o enduro devido a este problema, quando eles estão provavelmente
alcalóticos, normocalcêmicos e em graus variáveis de desidratação. Eles encontram-
se quase com certeza cansados, mas não necessariamente exaustos. Qualquer que
seja a causa específica, o mecanismo que leva ao “flutter” diafragmático sincroni-
zado é provavelmente uma estimulação do nervo frênico pela descarga elétrica
cardíaca. O diafragma se contrai simultaneamente com o batimento cardíaco.
Tratamento e prevenção – Os cavalos se manterão hidratados, dentro de limites
razoáveis, se um suprimento hídrico adequado for fornecido a intervalos freqüentes
durante a corrida. Beber pequenas quantidades de água a intervalos regulares é
melhor do que beber grandes quantidades ocasionalmente. Suplementar a água com
sal ou eletrólitos também é vantajoso. Se ocorrerem a desidratação e a exaustão,
deve-se imediatamente restabelecer o volume hídrico corporal e o equilíbrio eletro-
lítico. Os cavalos que estão prontos para beber podem ser tratados com uma solução
eletrolítica balanceada por via oral e depois devem ter acesso à água à vontade.
Como resultado da perda de eletrólitos e das concentrações plasmáticas (por
exemplo, baixo nível de sódio), o animal poderá não ter sede, devendo ser tratado
por gavagem até que a mesma retorne. Nos cavalos afetados severamente, pode ser
necessário um tratamento inicial EV para restaurar a hidratação rapidamente; a
terapia de manutenção é depois mantida por via oral. Quando complicada pelo
“flutter” diafragmático sincronizado e se a hipocalcemia fizer parte do desequilíbrio
metabólico, a administração de borogliconato de cálcio é importante para bloquear
os “soluços”. Geralmente, a simples correção da alcalose interrompe os “soluços”. Se
houver evidência de mioglobinúria, deve-se administrar uma fluidoterapia rigorosa
para aumentar a diurese substancial a fim de reduzir o grau da lesão tubular renal
provocada pela mioglobina filtrada. Se houver sinais clínicos de dor, podem-se
Toxemia da Prenhez em Vacas 549
HEMOGLOBINÚRIA PÓS-PARTO
Trata-se primariamente de uma doença de vacas de alta produção leiteira que
ocorre 2 a 4 semanas após o parto. É caracterizada por hemólise intravascular,
hemoglobinúria e anemia.
A causa é desconhecida. A doença é rara em animais de corte ou em animais
< 3 anos; é incomum num período > 4 semanas após o parto. A incidência é geralmen-
te baixa, porém até 50% dos animais afetados podem morrer. Dietas com alta
quantidade de plantas crucíferas (colza ou couve) ou polpa de beterraba, e alimenta-
ção prolongada com dietas deficientes em fósforo são fatores predisponentes. Na
América do Norte, a doença pode ocorrer após longa estabulação. Acredita-se que a
hemoglobinúria seja associada à hipofosfatemia devido aos níveis séricos de fósforo
sempre subnormais (0,8 a 1,4mg/dL) em vacas agudamente doentes. Na Nova
Zelândia, a deficiência nutricional de cobre é a causa mais comum, embora a deficiên-
cia de selênio também possa ser responsável. A explicação mais plausível para estas
observações de campo é que os agentes hemolíticos ocorrem na pastagem, bem
como na colza, nabo e outras plantas crucíferas, e que o estado de hipofosfatemia ou
hipocuprose confere às hemácias maior suscetibilidade a estas hemolisinas.
A hemólise EV rápida leva a hemoglobinúria, palidez acentuada e pulso rápido.
Desidratação, fraqueza e marcante queda na produção do leite são sinais proemi-
nentes. A temperatura pode ser elevada a 39,5°C. Uma certa angústia respiratória
pode ser observada. A hemólise intravascular continua por 3 a 5 dias, e em vacas
que se recuperam, o retorno ao normal é vagaroso. A icterícia pode ocorrer em
estágios tardios. Sem tratamento, a morte é freqüente.
A transfusão de largas quantidades de sangue total pode ser o único tratamento
efetivo de animais severamente afetados. Nos casos menos graves, 60g de fosfato
de ácido sódico em 300mL de água destilada podem ser administrados endoveno-
samente, seguidos por injeções subcutâneas a cada 12h ou por doses orais diárias
da mesma quantidade de fosfato. Se injetado subcutaneamente, o fosfato de ácido
sódico deve ser bem distribuído para evitar necrose tecidual. Farinha de osso deve
ser adicionada à ração. É importante evitar a deficiência de cobre ou fósforo na dieta
e prevenir o acesso das vacas a plantas que obviamente contêm hemolisinas.
contrações musculares (das orelhas, ao redor dos olhos e talvez de outras partes),
posturas incomuns, ranger dos dentes, perda progressiva de reflexos, cegueira,
ataxia e, finalmente, decúbito esternal, coma e morte.
Os testes laboratoriais geralmente revelam hipoglicemia nos estágios iniciais,
com normoglicemia ou hiperglicemia na fase final, e hipercetonemia. A acidose e
elevação do nitrogênio não proteico sangüíneo são achados concomitantes variá-
veis. Achados de necropsia incluem fígados de aspecto gorduroso, indistingüíveis
daqueles achados algumas vezes em ovelhas aparentemente sadias, subalimentadas
e perto da parição. As glândulas adrenais podem estar aumentadas, hiperêmicas ou
acinzentadas. Alterações pulmonares estão associadas ao decúbito.
A hipocalcemia aguda antes da parição é o principal diagnóstico diferencial.
Nesta, a duração é curta (a morte ocorre em 24h), e usualmente há uma resposta
acentuada, imediata e persistente à terapia com cálcio EV.
Tratamento – Uma vez que sinais avançados se desenvolvem, nenhum trata-
mento é altamente eficaz. A mortalidade dos casos não tratados é de , 80%. Com
o diagnóstico precoce, que pode ser obtido por movimentação cuidadosa do
rebanho, particularmente quando a doença foi induzida por um jejum relativamente
súbito, o glicerol ou o propilenoglicol (120mL em 2 vezes ao dia por VO) reduzem
a mortalidade. Os melhores resultados são obtidos com a combinação de um desses
medicamentos com um esteróide anabólico e fluidoterapia para controlar a acidose,
mas mesmo assim a mortalidade pode ser de aproximadamente 50%. A cesariana
ou a indução do aborto no início do curso da doença geralmente leva à recuperação
e, se próximo ao parto, a cria pode ser salva. Deve-se providenciar alimentação
palatável, água e proteção contra os extremos climáticos. Duas vezes ao dia,
alimentação forçada com pastagem seca, finamente moída, administrada pelo tubo
gástrico, pode ser uma prática válida, especialmente com animais valiosos; o
tratamento deve ser continuado até que o apetite retorne.
Profilaxia – No início da prenhez, a obesidade deve ser evitada, e um suplemen-
to bom e adequado deve ser administrado nas últimas 6 semanas. A suplementação
alimentar depende da condição da pastagem e do peso das ovelhas. Quando as
pastagens se tornam ruins, uma suplementação em quantidade maior pode ser
necessária. Se uma alimentação adequada não estiver disponível para todo o
rebanho ao final da prenhez, casos prematuros podem ser identificados por um
manejo cuidadoso. Estes indivíduos podem ser separados do rebanho e receber
cuidados especiais e boa alimentação, porém qualquer interrupção do aporte
alimentar deve ser evitada.
Quando a doença ocorre em ovelhas obesas em boas pastagens, talvez
associada a problemas nos membros, uma caminhada leve por 30min pode prevenir
o desenvolvimento de casos incipientes a partir da elevação da glicose sangüínea
por um período. Quando a suplementação alimentar pode ser provida como
profilaxia, é importante prevenir a hiperalimentação, a qual pode causar acidose
láctica e laminite. Ambas as doenças são possíveis se os grãos estiverem
disponíveisad lib.
TETANIA PUERPERAL
(Eclâmpsia)
TETANIA DO TRANSPORTE EM
RUMINANTES
(Doença da estrada de ferro, Mal-estar da estrada de ferro, Cambaleios)
SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO,
INTRODUÇÃO
O sistema musculoesquelético é composto pelos ossos e músculos estria-
dos do corpo, além das articulações, tendões e ligamentos que unem os
componentes deste aparelho. Suas funções primárias são sustentar a estru-
tura do corpo, efetuar seus movimentos e, em algumas situações, oferecer
proteção a certas estruturas vitais, como por exemplo, cérebro, olhos e vísceras.
Ele também fornece o sistema de armazenamento principal para cálcio e fósforo,
e contém uma importante porção de tecido hematopoiético. Distúrbios de sis-
temas inter-relacionados, por exemplo, sistemas nervoso, circulatório, enzimáti-
co e integumentar, podem afetar o funcionamento do sistema musculoesque-
lético.
Sistema Musculoesquelético, Introdução 560
BURSITE
Trata-se de uma reação inflamatória no interior de uma bolsa que pode variar de
inflamação leve à sépsis. É mais comum e importante nos eqüinos. Pode também ser
classificada como verdadeira ou adquirida. A bursite verdadeira é uma inflamação em
uma bolsa congênita ou natural (abaixo da fáscia profunda), por exemplo, bursite
trocantérica e bursite supra-espinhosa (fístula na cernelha). A bursite adquirida é o
desenvolvimento de uma bolsa subcutânea onde previamente não havia uma e/ou
inflamação desta bolsa, por exemplo, cordilheira sobre o processo do olecrânio
(higroma do codilho), e bursite sobre a tuberosidade calcânea (higroma do jarrete).
A sinovite pode se manifestar como uma inflamação aguda ou crônica. Os
exemplos de bursite aguda incluem a bursite bicipital e trocantérica nos estágios
iniciais. É geralmente caracterizada por inchaço, calor e dor locais. As bursites
crônicas geralmente se desenvolvem em associação a traumas repetidos, fibrose
e outras alterações crônicas, por exemplo, higroma do codilho, higroma do jarrete e
higroma carpal. O líquido bursal excessivo se acumula e a parede da bolsa é
espessada por tecido fibroso. Podem se formar faixas fibrosas ou um septo no interior
da cavidade bursal, geralmente desenvolvendo-se um espessamento subcutâneo
generalizado. Estes aumentos de volume bursais desenvolvem-se como inchaços
frios e indolores e, se não forem muito grandes, não interferem severamente na
função. A bursite séptica é mais grave, estando associada à dor e claudicação. A
infecção de uma bolsa pode ser hematogênica ou decorrente de penetração direta.
A dor na bursite aguda pode ser aliviada pela aplicação de bolsas frias, aspiração
do conteúdo e medicação intrabursal. As injeções repetidas podem resultar em
infecção. O tratamento da bursite crônica é cirúrgico. Os casos de bursite infectada
exigem tratamento com antibióticos sistêmicos, assim como drenagem local.
sido reconhecida desde então, no oeste dos EUA, Austrália e Nova Zelândia. A
doença foi identificada em bezerros dos EUA, Austrália e Áustria; e em porcos da
Áustria, Bulgária e EUA.
Etiologia e epidemiologia – As cepas do agente etiológico, Chlamydia psittaci,
isoladas das articulações afetadas de ovinos e carneiros são idênticas, mas os
antígenos específicos das cepas em sua parede celular são distinguidos daqueles
que causam abortos em ovinos e bovinos (ver pág. 788).
O trato GI é muito importante na patogenia da poliartrite por clamídia. A doença
foi reproduzida experimentalmente por inoculação oral. Como as clamídias podem
ser obtidas normalmente em fezes de bezerros e cordeiros clinicamente normais, é
mais provável que o parasita e o trato GI do hospedeiro freqüentemente mante-
nham-se em equilíbrio. Quando há um desvio em favor das clamídias, ocorrem uma
infecção sistêmica e uma clamidemia; o local final de replicação é a membrana
sinovial. O trato GI também foi infectado após inoculações intra-articulares experi-
mentais. As clamídias são excretadas nas fezes e urina, sendo transmitidas via
ingestão ou, em alguns casos, inalação.
Achados clínicos – A poliartrite por clamídia é observada em cordeiros em
regime de pasto e em criações intensivas de engorda. A morbidade pode girar em
torno de 5 a 75%. A temperatura retal afetada varia de 39 a 41,5°C. Podem ocorrer
graus variáveis de rigidez, claudicação, anorexia e conjuntivite concomitante (ver
pág. 354). Os ovinos afetados encontram-se deprimidos, relutam a mover-se e,
freqüentemente, hesitam em ficar em pé ou apoiar-se sobre um ou mais membros,
mas eles podem disfarçar a rigidez após um exercício forçado. A elevada incidência
da doença em ovinos em regime de pasto ocorre entre o final do verão e início do
inverno.
A doença pode afetar bovinos de todas as idades, mas os bezerros de 4 a 30 dias
de idade são atingidos com maior gravidade. Estes bezerros podem apresentar
febre, atividade reduzida e, em geral, é necessário carregá-los até a mãe e sustentá-
los enquanto mamam. Eles invariavelmente têm diarréia, que pode ser grave, e
assumem uma posição encurvada quando de pé. As articulações dos membros
geralmente estão edemaciadas e sensíveis à palpação. O envolvimento do umbigo
e sinais neurológicos não são observados.
A poliartrite por clamídia pode ser detectada tanto em porcos mais velhos
quanto em leitões novos. Os leitões acometidos tornam-se febris e anoréticos
e podem desenvolver catarro nasal, dificuldades respiratórias e conjuntivite.
Esta condição não é claramente diferenciada de outras infecções que levam os
suínos à polisserosite e à artrite.
Lesões – As alterações teciduais mais notáveis estão nas articulações. Em
cordeiros o aumento nas articulações não é freqüentemente notado, mas em casos
crônicos avançados, pode ser notado um ligeiro alargamento de soldra, jarrete e
codilho. Nos bezerros afetados, um edema periarticular subcutâneo ao longo das
bainhas dos tendões e sacos sinoviais flutuantes, preenchidos por fluido contribuem
para o aumento das articulações. A maioria das articulações afetadas de cordeiros
ou bezerros contém bastante fluido sinovial túrbido e de coloração amarelo-
acinzentada. Flocos e placas de fibrina no espaço articular afetado podem aderir
firmemente às membranas sinoviais. As cápsulas articulares estão espessadas. A
cartilagem articular está lisa e não estão presentes erosões ou evidências de
alterações compensatórias em suas margens. As bainhas tendíneas de cordeiros
e bezerros gravemente afetados podem estar distendidas e conter um exsudato
cremoso amarelo-acinzentado. Os músculos vizinhos estão hiperêmicos e edema-
ciados, com petéquias em seus planos fasciais associados.
Diagnóstico – A história e o exame cuidadoso das alterações patológicas nas
articulações e em outros órgãos podem ser de grande valor diagnóstico. O exame
Artrite e Problemas Correlatos, Gr An 567
TENDINITE
(Tendão arqueado)
É a inflamação aguda ou crônica do tendão, com graus variáveis de ruptura das
fibras tendíneas. Esta doença é vista mais comumente em cavalos usados em
trabalho intenso, particularmente cavalos de corrida. Os tendões flexores são
freqüentemente mais envolvidos que os extensores, e aqueles das patas dianteiras
mais do que das traseiras. Destes, o tendão flexor superficial é mais envolvido na
“tendinite” comum dos cavalos de corrida. A lesão primária é uma ruptura das fibras
tendíneas associada a hemorragia e ao edema.
Etiologia – A tendinite geralmente surge após exercício pesado. As causas mais
comuns incluem superextensão do tendão sem um treinamento apropriado, conti-
nuidade dos trabalhos após o início dos primeiros sinais de sensibilidade, fadiga e
trabalho árduo em pistas de superfície irregular. Ferragem inadequada também
pode causar tendinite. Uma conformação e treinamento insatisfatórios também
podem resultar em colapso tendíneo.
Achados clínicos – Durante o estágio agudo, o cavalo tem grave claudicação
e as estruturas envolvidas estão quentes, doloridas e edemaciadas. Nos casos
crônicos, há fibrose com espessamento e aderências na área peritendínea. O
cavalo com tendinite crônica pode apresentar-se normal enquanto caminha ou trota,
mas sofre recidiva sob trabalho pesado. A ultra-sonografia melhorou bastante a
definição do problema, revelando muitos defeitos e lesões que não são detectáveis,
ou que pelo menos são difíceis de detectar, pela palpação.
Tratamento – A tendinite é melhor tratada no estágio inicial e agudo. O cavalo
deve ser confinado à cocheira e o inchaço e inflamação tratados agressivamente
com compressas frias e agentes antiinflamatórios sistêmicos. Deve ser utilizado
algum suporte ou imobilização, dependendo do grau de dano sofrido pelo tendão.
As injeções intratendíneas de corticosteróides são contra-indicadas. O cavalo deve
retornar gradualmente ao regime de exercícios para tentar reduzir o grau de
formação de adesões. A desmotomia do ligamento acessório (“check”) superior tem
Artrite e Problemas Correlatos, Gr An 568
TENOSSINOVITE
Trata-se da inflamação da membrana sinovial e, geralmente, da camada
fibrosa da bainha tendínea. O problema é caracterizado pela distensão da bainha
tendínea devido à efusão sinovial, possuindo diferentes causas e manifestações
clínicas. Os vários tipos de tenossinovites incluem a idiopática, aguda, crônica e
séptica (infecciosa).
A sinovite idiopática é a distensão sinovial da bainha tendínea em animais jovens,
cuja causa é incerta. A tenossinovite aguda e crônica ocorre devido a trauma. A
tenossinovite séptica pode estar associada a ferimentos penetrantes, extensão
local de infecção ou infecção hematogênica.
Há vários graus de distensão sinovial da bainha tendínea e de claudicação,
dependendo da gravidade. Os cavalos estão acentuadamente mancos na
tenossinovite séptica. A tenossinovite crônica é comum nos cavalos na bainha
társica do jarrete e na bainha digital. Estas 2 entidades devem ser diferenciadas do
esparavão mole e da efusão sinovial do boleto.
Os casos agudos podem ser tratados sintomaticamente com compressas frias,
drogas antiinflamatórias não esteróides e repouso. A aplicação de contra-irritantes
e ligas tem sido utilizada nos casos mais crônicos. A radioterapia é útil. A tenossinovite
séptica requer antibióticos sistêmicos e drenagem. Se desenvolverem-se adesões
entre a bainha tendínea e o tendão, normalmente há claudicação e efusão persis-
tentes.
BURSITE
As bolsas sobre as articulações podem inflamar-se, especialmente nas raças de
cães de grande porte. As cavidades das bolsas são sacos de tecido conjuntivo
alinhados com a membrana sinovial localizada entre os tendões e osso. A inflama-
ção freqüentemente desaparece com repouso, aplicação de compressas de gelo
triturado ou aspiração do fluido. O local deve ser protegido de traumatismos maiores.
É necessário certificar-se da esterilidade do líquido da bolsa inflamada, antes da
administração de corticosteróides. Se a bursite é séptica, podem-se injetar antibió-
ticos diretamente dentro da bolsa.
Artrite e Problemas Relacionados, Pq An 569
DISPLASIA COXOFEMORAL
A displasia coxofemoral (DCF) é uma doença do desenvolvimento dos cães,
na qual a instabilidade articular devido à desconformidade da cabeça do fêmur
e do acetábulo permite movimentação excessiva da cabeça do fêmur.
Etiologia – A causa é desconhecida. A displasia coxofemoral é comum em raças
grandes, porém também ocorre nas menores. Machos e fêmeas são afetados com
igual freqüência. O padrão de herança sugere que é poligênica. A DCF é uma doença
complexa, também influenciada por estresses ambientais, que resultam em
modelagem articular anormal, cujo estágio final é uma osteoartrite (OA) secundá-
ria. O desenvolvimento da doença não depende do grau de inclinação da cabeça
do fêmur em relação à diáfise do fêmur, ou do grau de rotação da cabeça do fêmur
em torno do mesmo. No entanto, as anormalidades nestes ângulos muitas vezes
coexistem com a DCF, podendo ter um papel importante na progressão dos
sintomas clínicos. Pais com articulações “normais” podem ter filhotes displásicos.
No entanto, é mais provável que nasçam cães saudáveis de pais com articulações
normais. A seleção de cães por características desejáveis, por exemplo, bom
temperamento ou maior tamanho, pode resultar na seleção de animais suscetíveis
à DCF. Muitos filhotes de cães com DCF também tornam-se displásicos.
Achados clínicos – A diminuição da atividade e evidências de dor articular
muitas vezes são observadas entre 4 meses e 1 ano de idade. Cães jovens apresen-
tam um andar balouçante e inseguro; os membros posteriores são movidos para
frente com os jarretes deslocados lateralmente, colocando mais peso nos membros
anteriores e tentando forçar a cabeça do fêmur para o interior do acetábulo. Os cães
muitas vezes correm com ambos os membros posteriores movendo-se juntos
(galope de coelho) e têm dificuldade de levantar-se quando sentados ou deitados.
As escadas são difíceis de subir e o cão pode ganir ou morder quando a articulação
afetada é manipulada. A doença é progressiva e freqüentemente paralisante, mas
alguns cães sentem pouco desconforto, apesar das alterações anormais nas suas
articulações. A atividade intensa pode agravar o problema e revelar sintomas de
doença em animais anteriormente considerados não afetados.
A articulação coxofemoral fica danificada, inflamada e enfraquecida, o que
finalmente resulta em grave OA secundária. A quantidade de fluido sinovial aumenta
e o ligamento redondo fica inchado, esticado, rompendo-se eventualmente. A
cartilagem articular que recobre as extremidades ósseas opostas, normalmente lisa,
fica desgastada e a cápsula articular torna-se cronicamente inflamada e espessada.
Os músculos da articulação coxofemoral (garupa) ficam fracos e atrofiam-se.
Diagnóstico – O diagnóstico pode ser estabelecido por radiografia sob anes-
tesia geral ou sedação profunda. O animal é colocado em decúbito dorsal, com
ambos os membros posteriores completamente estendidos e as soldras rotacionadas
medialmente. Na articulação “normal”, a cabeça do fêmur se adapta ao acetábulo; na
articulação displásica, há mais espaço evidente entre os ossos. O deslocamento da
cabeça do fêmur é o marco da doença. Na maioria dos cães, se a radiografia revelar
que a região dorsal do acetábulo sombreia < 50% da cabeça do fêmur, a articulação
estará subluxada. Se o centro da cabeça do fêmur estiver diretamente abaixo da
borda acetabular, a intensidade da DCF será “moderada”; se estiver mais deslocada,
é “grave”. O deslocamento da cabeça do fêmur (por exemplo, lassidão articular) pode
também ser revelado ao tirar-se uma radiografia pélvica com um objeto sólido entre
os fêmures e pressionando-se as soldras medialmente; os fêmures devem estar
perpendiculares à mesa. Muitas vezes, o acetábulo parece raso e os osteófitos são
evidentes. As alterações características podem não ser detectadas até que os
animais estejam com 2 anos de idade.
Tratamento e prevenção – Caminhadas, natação, ou corridas moderadas são
benéficas, porém saltos e corridas prolongadas devem ser evitados. A aspirina
Artrite e Problemas Relacionados, Pq An 570
tamponada pode aliviar a dor, mas a aspirina e outras medicações não impedem as
alterações destrutivas na articulação. Os suplementos nutricionais não se mostra-
ram benéficos. Foram desenvolvidos procedimentos cirúrgicos para tratamento de
cães com dor e claudicação, porém a função normal da articulação não foi comple-
tamente restituída.
A ocorrência de DCF pode ser reduzida pela seleção (radiográfica) de modo a
cruzar apenas os animais livres da doença. Um método melhor é selecionar os cães
para acasalamento com base no desempenho da família e testes de progênie.
O desenvolvimento da doença é retardado e sua severidade diminuída quando
a taxa de crescimento dos filhotes é restringida. O oposto também é verdadeiro,
isto é, a displasia pode ser acelerada pelo aumento da taxa de crescimento nos
primeiros 4 meses de idade. Os cães que carregam os genes indesejáveis podem
ser identificados por esse procedimento. A estratégia consiste em “forçar” a
expressão da DCF em cães considerados como reprodutores através de dieta e,
possivelmente, outras práticas de manejo. O procedimento também pode revelar
o potencial para doença em pais aparentemente saudáveis. Excluindo-se os
animais displásicos e potencialmente displásicos da reprodução, a freqüência dos
filhotes livres de displasia deve aumentar.
ARTROPATIAS IMUNOMEDIADAS
Nos cães, existem 2 tipos de artropatias sistêmicas imunomediadas, ambas
inflamatórias, purulentas e não infecciosas. Nas artrites reumatóides (AR) – tipo
erosivo – há destruição da cartilagem articular e, nos casos graves, até do osso
subcondral. No lúpus eritematoso sistêmico (LES) – tipo não erosivo – a destrui-
ção da cartilagem articular não é uma característica principal. A causa inicial é
desconhecida em ambos os tipos. O LES afeta principalmente as raças médias
e grandes, enquanto a AR é mais comum nas raças pequenas e “toy”. A
comparação de testes de patologia clínica e achados radiológicos ajuda a
diferenciar os 2 problemas. Não existe cura conhecida; o melhor que pode ser
feito nestas doenças é mantê-las em remissão com uma combinação de
terapias, exercícios, dieta e controle do peso durante toda a vida.
OSTEOARTRITE
(OA, Doença articular degenerativa)
A osteoartrite (OA) é uma doença articular comum, que, dependendo da
etiologia, pode afetar animais de todas as idades. Pode ser classificada como
primária, sendo também chamada de artrite de desgaste dos animais idosos; ou
secundária, significando que é causada por um agente infeccioso (artrite séptica),
uma partícula óssea intra-articular móvel, um processo ancôneo desunido, uma
fratura mal-alinhada ou uma doença de desenvolvimento, como a displasia
coxofemoral. A OA é diferente da artrite reumatóide (AR), a qual é uma doença
inflamatória, crônica e sistêmica, que resulta em destruição progressiva das
articulações sinoviais. Na OA, a cartilagem articular é afetada inicialmente. A
cartilagem hialina normalmente lisa, brilhante e flexível começa a rachar e fibrilar.
As lesões são geralmente de condromalacia devido à necrose condrocítica e à
liberação de enzimas degradativas das células, que resultam em destruição
matricial. Os produtos liberados estimulam a membrana sinovial, resultando em
uma sinovite que ajuda a aumentar a degradação da cartilagem articular, provocan-
do uma dor articular constante. Devido à dor, a articulação é poupada, os músculos
em torno atrofiam-se, a cápsula articular se espessa, podendo ocorrer efusão inicial.
Com a perda da cartilagem articular, os componentes ósseos da articulação
articulam-se uns contra os outros (eburnação), resultando em formação de apoios
Artrite e Problemas Relacionados, Pq An 571
ESPONDILOSE DEFORMANTE
É uma osteoartrite degenerativa da coluna, particularmente da área lombar,
caracterizada pelo desenvolvimento de osteófitos nas extremidades e próximo às
bordas ventrais da vértebra. Uma condição semelhante afeta a região lombossacra.
Artropatia degenerativa dos processos articulares acompanha as lesões patológi-
cas da coluna anterior. A doença geralmente ocorre como uma doença crônica e
progressiva de cães idosos, particularmente encontrada em raças grandes. A
alteração degenerativa do anel fibroso é uma das causas conhecidas; o núcleo
pulposo representa um papel menos importante na patogenia. A maioria dos cães
com espondilose deformante não revela nenhum sinal clínico, a menos que os
osteófitos exerçam pressão sobre as raízes dos nervos. A dor torna-se evidente e
os cães afetados são relutantes a se mover com a liberdade característica.
Radiograficamente, os osteófitos apresentam superfícies ventral ou lateral oblíqua
e lisa , que se confundem com o córtex do corpo vertebral. Os espaços dos discos
podem estar com a largura normal. Um ou vários pares de vértebras podem estar
envolvidos. O tratamento é indicado somente na presença de dor. A aspirina, isola-
damente ou em conjunto com esteróides, pode ser benéfica (ver também págs. 707 e
1698).
Artrite e Problemas Relacionados, Pq An 572
ARTRITE SUPURATIVA
(Artrite séptica)
Esta condição é geralmente causada pela introdução de infecções em uma
articulação por traumatismo. A articulação fica edemaciada, quente, dolorida e
a temperatura corporal é elevada. Ocorre claudicação acentuada. O exame
clínico pode revelar um ferimento que leva ao interior da articulação ou a uma
descarga mucóide da articulação composta de pus e líquido sinovial. O pus na
cavidade articular pode ter um efeito lítico sobre a cartilagem
articular e pode ocorrer destruição óssea subcondral.
Se a aspiração do líquido sinovial não tiver sucesso, pode ser necessária a
drenagem cirúrgica da articulação. Devem ser feitos cultura e antibiograma do
fluido. Os antibióticos apropriados devem ser usados tanto de forma local quanto
sistêmica por várias semanas. A injeção intra-sinovial de antibióticos freqüentemen-
te ajuda no encurtamento da fase inflamatória aguda.
ARACNOMELIA E A RTROGRIPOSE
A síndrome da aracnomelia e astrogripose (SAA), que ocorre em bezerros
pardos suíços, apresenta as principais lesões no sistema musculoesquelético. A
maioria dos bezerros com SAA estão mortos ao nascer ou morrem em horas. Os
membros são longos, delgados e curvos. Os músculos estão atrofiados. As
articulações cárpica, do jarrete e do boleto geralmente apresentam contraturas.
As malformações adicionais são braquignatia, crânio curto, cifoscoliose e aneuris-
mas de vasos. O defeito é hereditário como um simples autossômico recessivo.
MIOPATIAS CONGÊNITAS
Síndrome do quarto traseiro assimétrico em suínos
É um distúrbio, que se descrito em vários países europeus torna aparente
quando os suínos atingem , 30kg de peso corporal e se manifesta pela atrofia dos
músculos da coxa do membro posterior direito ou esquerdo. Algumas evidências
sugerem um complexo hereditário para a doença.
Atrofia parda
(Xantose, Lipofuscinose)
Os músculos esqueléticos e o miocárdio do gado leiteiro com esta condição
apresentam uma coloração de pardo-amarelada a bronze. Os masseteres e o
diafragma são mais freqüentemente afetados. Não é produzida nenhuma
doença clínica. Microscopicamente, notam-se grânulos de pigmento pardo
acumulados sobre o sarcolema ou no centro das fibras musculares. Há presunção
de uma causa genética, visto que certas raças (por exemplo, ayrshire) são mais
predispostas a esta condição que outras.
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Musculoesquelético 574
Esteatose muscular
Esta condição, em que as fibras musculares são substituídas por gordura, é
observada ocasionalmente em bovinos e suínos no momento do abate, não produz
nenhuma doença clínica e a causa é desconhecida. As lesões macroscópicas são
áreas pálidas simétricas nos músculos afetados, especialmente do dorso, pescoço
e membros superiores. Microscopicamente muitas fibras musculares são substitu-
ídas por tecido adiposo.
Leitões cambaios
(Pernas encurvadas, Hipoplasia miofibrilar)
É uma condição de neonatos em que as patas traseiras são “espalhadas” para
os lados ou estendidas para frente. Suínos tratados apropriadamente, em geral, se
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Musculoesquelético 575
DISCONDROPLASIA
Bovinos – A discondroplasia de origem genética ocorre na maioria das raças de
bovinos. As formas variam da chamada forma letal “Bulldog” Dexter, a qual é
invariavelmente natimorta, até aqueles animais que são tão pouco afetados que o
diagnóstico somente por inspeção visual não é confiável.
Os anões braquicefálicos, muito comuns entre bovinos hereford na década de
50, foram amplamente eliminados através da seleção genética. Eles são caracteri-
zados por perfil curto, chanfro abaulado, prognatismo, abdome distendido e pernas
curtas. Têm aproximadamente metade do tamanho normal. Os anões
dolicocefálicos são muito encontrados nos bovinos da raça angus e apresentam
a mesma conformação corporal geral que os anões braquicefálicos, mas esses têm
cabeça longa e não têm nem chanfro abaulado nem prognatismo. Os bezerros de
perfil curto são freqüentemente denominados anões “resfolegantes”, devido à sua
respiração laboriosa e audível. Ambos os tipos são de baixa viabilidade e suscetíveis
à timpanite. Suas carcaças são indesejáveis e eles são raramente mantidos na
criação, salvo por razões experimentais.
Vários experimentos de acasalamento indicam que anões braquicefálicos e
dolicocefálicos e vários tipos de animais “compactos” são parte de um mesmo
complexo genético que também pode incluir a forma letal de Dexter. Tipos
análogos de anões também ocorrem em outras raças. Atualmente, poucos
animais deste tipo são usados em reprodução. No início acreditava-se que um
simples gene autossômico recessivo, com penetrância completa, era responsá-
vel pelo nanismo braquicefálico e isto ainda parece ser o caso quando os
cruzamentos são confinados em compactos. Entretanto, quando os cruzamentos
são confinados entre não portadores da moléstia, a proporção entre anões e não
anões é de , 15:1, de tal modo que implicam-se os genes recessivos a dois loci.
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Musculoesquelético 577
Atualmente, entretanto, não há uma única hipótese genética que sirva para
todos os tipos de discondroplasia.
Cães – Em cães, ocorrem discondroplasias dos esqueletos apendicular e axial.
A primeira é relatada em poodles e scottish terriers e a segunda em malamutes do
Alaska, basset hounds, dachshunds, poodles e scottish terriers. Em algumas raças
(bassets, dachshunds, pequinês) os caracteres discondroplásicos apendiculares
são uma importante característica do tipo racial. Em malamutes, a condição é
acompanhada por anemia.
PERNA FLÁCIDA
É uma condição hereditária dos bovinos da raça jersey, aparentemente contro-
lada por um simples gene recessivo. Alguns bezerros afetados nascem mortos. Os
que sobrevivem parecem normais ao nascimento, mas são incapazes de manter-se
de pé; eles podem esforçar-se para isto, mas não conseguem devido à formação
incompleta de músculos, ligamentos, tendões e articulações. As articulações da
região escapular e pélvica podem estar “giradas” para alguma direção sem que os
animais apresentem desconforto aparente. O diagnóstico é feito com base nos
sinais, achados de necropsia e identificação dos animais portadores.
Não há tratamento, mas o pai e a mãe de cada um dos animais afetados devem
ser relatados à associação de criadores e à central de inseminação para que os
animais portadores possam ser identificados.
OSTEOGÊNESE I MPERFEITA
É um defeito ósseo generalizado, hereditário de bovinos, cães e gatos, caracte-
rizado por extrema fragilidade dos ossos e lassidão articular. Os ossos longos são
delgados e possuem córtices pouco espessos. Calos e fraturas recentes podem
estar presentes. A esclera dos olhos pode ser azulada.
O STEOPETROSE
É uma doença rara que parece ser herdada de forma simples, autossômica e
recessiva em bovinos angus e hereford. Também é observada em cães, potros e
Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Musculoesquelético 578
bezerros simmental. Em média, os bezerros angus afetados são abortados com 263
dias de gestação. Os bezerros afetados possuem uma mandíbula inferior curta e
quase imóvel. Os dentes molares estão impactados. Os ossos longos são frágeis.
Não há diferença de densidade entre as áreas do córtex e da medula dos ossos
longos. O diagnóstico é confirmado pela bissecção longitudinal dos ossos longos.
Não se encontram cavidades medulares; as diáfises dos ossos longos estão
preenchidas com um tampão ósseo. Deste modo, a osteopetrose é caracterizada
por um osso sólido que não é reabsorvido ou remodelado.
POLIDACTILIA
Trata-se de um defeito genético de bovinos, ovinos, suínos e, ocasionalmente,
de eqüinos. Na sua forma genética e mais comum, afeta ambos os membros
anteriores, simetricamente. O segundo dígito está desenvolvido, mas os dígitos
rudimentares mediais estão ausentes. Os dígitos dos posteriores podem estar
fundidos, causando polissindactilia. Algumas vezes apenas um membro está
afetado; ainda mais incomum é a ocorrência de polidactilia em todos os 4. A
polidactilia dos bovinos parece ser poligênica, com um gene dominante em um locus
e um homozigoto recessivo em outro.
SINDACTILIA
(Casco de mula)
É a fusão parcial ou completa de um ou mais dígitos da pata. Relatado em
numerosas raças de bovinos, ela é mais prevalente em holsteins. É uma herança
autossômica recessiva simples. As patas dianteiras são afetadas com mais
freqüência, mas uma ou todas as 4 patas podem estar completa ou parcialmente
sindáctilas. Os animais afetados andam de forma lenta, apresentam marcha
altamente interrompida e dificultosa se as 4 patas forem atingidas. A sindactilia
pode estar associada à suscetibilidade a hipertermia.
Não há tratamento. O pai e a mãe de cada um dos animais afetados devem ser
relatados à associação de criadores e à central de inseminação para que os animais
portadores possam ser identificados.
HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO
O hormônio da paratireóide (PTH) é produzido em excesso por uma lesão
funcional autônoma na glândula paratireóide. Esta doença é encontrada com
pouca freqüência em cães idosos e não parece ser uma seqüela de
hiperparatireoidismo secundário crônico (ver adiante). O mecanismo de controle
normal para a secreção de PTH pela concentração do cálcio sangüíneo é perdido
no hiperparatireoidismo primário e a paratireóide produz hormônio em excesso a
despeito do cálcio sangüíneo elevado.
O hormônio da paratireóide atua nas células dos túbulos renais, inicialmente para
promover a excreção de fósforo e retenção de cálcio. Um aumento prolongado da
secreção de PTH resulta na reabsorção óssea osteocítica e osteoclástica acelera-
da. O mineral é removido do esqueleto e substituído por tecido conjuntivo fibroso
imaturo. A osteodistrofia fibrosa é generalizada por todo o esqueleto, mas é
acentuada em certas áreas, tais como o osso esponjoso do crânio. Os níveis
elevados de PTH também inibem a reabsorção tubular renal de fósforo.
A lesão na glândula paratireóide em cães é em geral um adenoma ou, ocasional-
mente, um carcinoma, composto na sua maior parte por células principais ativas. Os
adenomas são usualmente únicos, levemente vermelho-acastanhados e localiza-
dos na região cervical próxima, mas num ponto delimitado, da glândula tireóide.
Raramente, eles podem estar presentes no mediastino anterior, próximo à base do
coração.
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 580
ções são tidas como decorrentes da liberação de cálcio e fósforo para o sangue, a
partir de áreas de destruição óssea com índices acima da capacidade de filtração
dos rins e intestinos. O envolvimento ósseo é mais restritamente localizado na área
da metástase. A osteólise associada à metástase tumoral resulta não somente da
ruptura física do osso pela proliferação de células neoplásicas, mas também
da produção local de substâncias humorais que estimulam a reabsorção óssea, tais
como prostaglandinas e interleucina-1.
A hiperplasia primária da paratireóide foi descrita em filhotes de pastor alemão
associada a hipercalcemia, hipofosfatemia, aumento da imunorreatividade ao PTH
e aumento do “clearance” fracional de fósforo inorgânico na urina. Os sintomas
clínicos incluem crescimento retardado, fraqueza, poliúria, polidipsia e uma redução
difusa na densidade óssea. A infusão EV de cálcio não suprime a secreção
autônoma de PTH pela hiperplasia difusa de células principais em todas as
paratireóides. As lesões incluem hiperplasia nodular de células C da tireóide e uma
mineralização difusa dos pulmões, rins e mucosa gástrica. A doença é herdada
como um autossômico recessivo.
A hipercalcemia também pode ser associada a lesões osteolíticas multifocais
associadas a êmbolos sépticos, imobilização completa, osteossarcoma, hipoadre-
nocorticismo (doença de Addison), hipocalcitoninismo devido a uma lesão destru-
tiva da tireóide, doença renal crônica, hemoconcentração ou hiperproteinemia. A
hipercalcemia é ocasionalmente detectada em animais desidratados, mas em geral
é suave. Ela é atribuída à contração do volume de líquido que resulta em
hiperproteinemia e elevação da concentração de cálcio ionizado e não ionizado. A
hipercalcemia desaparece rapidamente após a fluidoterapia.
Tratamento – O objetivo do tratamento é eliminar a fonte de produção excessiva
de PTH. Deve-se tentar a identificação de todas as 4 paratireóides antes de excisar
algum tecido. Adenomas simples ou múltiplos devem ser removidos totalmente. Se
todas as paratireóides identificáveis na região cervical parecerem normais ou forem
de tamanho pequeno, e o diagnóstico tiver sido estabelecido com razoável certeza,
a exploração cirúrgica do tórax, próximo à base do coração, pode ser necessária
para se localizar a neoplasia paratireóidea.
A remoção cirúrgica da lesão funcional da paratireóide resulta numa rápida
diminuição dos níveis de PTH circulante, devido à meia-vida do PTH no plasma ser
< 15min. Visto que os níveis plasmáticos de cálcio em pacientes com a doença
óssea patente podem diminuir rapidamente e tornar-se subnormais 12 a 24h após
a cirurgia, eles devem ser monitorados com grande freqüência. A hipocalcemia pós-
operatória (≤ 5mg/dL) pode ser resultante de: 1. depressão da atividade secretória
das células principais, devido à supressão pela hipercalcemia crônica ou lesão ao
tecido paratireóideo restante durante a cirurgia; 2. decréscimo abrupto na reabsor-
ção óssea devido à redução nos níveis de PTH; e 3. mineralização acelerada da
matriz osteóide formada pelos osteoblastos hiperplásicos, anteriormente impedida
de se mineralizar pelos níveis elevados de PTH. A infusão do gliconato de cálcio para
manter o cálcio sérico entre 7,5 e 9mg/dL, associada a uma alimentação rica em
cálcio e suplementação de vitamina D, corrigirá estas sérias complicações pós-
operatórias. Se a hipercalcemia persistir por ≥ 1 semana após a cirurgia ou retornar
após uma melhora inicial, deve-se suspeitar da presença de um segundo adenoma
ou metástase de um carcinoma.
HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO
Hiperparatireoidismo nutricional
(Osteodistrofia fibrosa)
É um aumento da secreção de PTH como um mecanismo compensatório
induzido por desequilíbrio nutricional. Em geral, os animais em crescimento são
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 582
mais gravemente afetados, porque sua necessidade de cálcio é mais elevada. Uma
grande porção de distrofias esqueléticas diagnosticadas, como raquitismo e osteo-
gênese imperfeita, em filhotes de cães e gatos é uma manifestação do hiperpara-
tireoidismo nutricional.
Etiologia e patogenia – Desequilíbrios minerais dietéticos de importância
etiológica são: 1. baixo teor de cálcio (a maioria dos grãos) ou cálcio indisponível
(plantas ricas em oxalatos, tais como Setaria sphacelata, Cenchrus ciliaris e
Panicum maximum); 2. fósforo em excesso, com cálcio normal ou baixo (carne ou
vísceras); e 3. quantidades inadequadas de colecalciferol (vitamina D3) em primatas
do Novo Mundo. O resultado final significante é a hipocalcemia, que resulta na
estimulação da paratireóide.
Uma dieta pobre em cálcio falha no suprimento diário requerido, desenvolven-
do a hipocalcemia, mesmo que grandes porções do cálcio ingerido sejam absor-
vidas. A ingestão excessiva de fósforo resulta no aumento da absorção e elevação
do fósforo sangüíneo. A hiperfosfatemia não estimula diretamente a glândula
paratireóide, mas o faz indiretamente pela sua habilidade em baixar o cálcio
sangüíneo.
A doença desenvolve-se quase sempre em cãezinhos e gatinhos que se
alimentam predominantemente com carne bovina (ver também NUTRIÇÃO: CÃES e
GATOS, págs. 1458 e 1409).
Achados clínicos – Gatinhos alimentados exclusivamente com coração bovino
desenvolvem distúrbios locomotores com 4 semanas de idade, embora o conteúdo
de proteína digestiva seja alto (> 50% da base de peso) e a gordura promova o
crescimento rápido, os animais pareçam bem nutridos e seu pêlo brilhante. Os sinais
clínicos predominantes são relutância para se movimentar, claudicação posterior e
ataxia. Os gatinhos freqüentemente ficam de pé com um desvio característico da
pata. A doença esquelética torna-se progressivamente mais grave após 5 a 14
semanas. Os gatinhos tornam-se quietos e relutantes em brincar e assumem uma
posição sentada ou em decúbito esternal com os membros posteriores em abdução.
As atividades normais podem resultar no aparecimento súbito de claudicação grave
devido a fraturas incompletas ou por dobramento de um ou mais ossos.
A claudicação é o distúrbio funcional inicial em cães em crescimento e pode variar
de uma leve coxeadura até a incapacidade de andar. Os ossos ficam dolorosos à
palpação e as fraturas por dobramento de ossos longos e vértebras são comuns. Em
cães adultos, os sinais clínicos geralmente são relatados como a reabsorção dos
ossos da mandíbula. A reabsorção, estimulada pelo PTH, do osso alveolar resulta
em afrouxamento e subseqüente perda dos dentes, com recuo da gengiva e
exposição parcial da raiz em casos avançados.
Em cavalos, o hiperparatireoidismo nutricional é conhecido como doença do
rolão, doença de Miller e macrocrania. A dieta de cavalos “bem alimentados” é
freqüentemente muito alta em grãos e baixa em forragem, o que leva a uma ingestão
elevada de fósforo e baixa de cálcio. Várias das claudicações obscuras de cavalos
têm sido atribuídas ao hiperparatireoidismo nutricional. As alterações patológicas
são similares àquelas em outras espécies, mas os ossos da cabeça são particular-
mente afetados nos casos graves e as fraturas macroscópicas e microscópicas do
osso subcondral, com conseqüente degeneração da cartilagem articular e dilacera-
ção dos ligamentos de inserção periosteal, são uma influência dominante nos sinais
clínicos.
O hiperparatireoidismo nutricional é raro em bovinos e ovinos, mas é visto
ocasionalmente em rebanhos de engorda intensiva. Nestas espécies, a fibroplasia
medular não é uma característica da condição. A osteoporose é a lesão dominante,
mas a “cara inchada” pode ocorrer em caprinos. As deformidades ósseas em
animais recuperados podem causar constipação ou distocia.
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 583
HIPOPARATIREOIDISMO
É um distúrbio metabólico em que quantidades subnormais de PTH (hormônio da
paratireóide) são secretadas ou no qual o hormônio secretado é incapaz de interagir
normalmente com as células-alvo. Tem sido reconhecido primariamente em cães,
em particular em raças pequenas, tais como schnauzers miniatura, mas outras
raças podem ser afetadas.
Etiologia e patogenia – Uma variedade de mecanismos patogênicos pode
resultar em secreção inadequada de PTH. A glândula paratireóide pode ser lesada
ou inadvertidamente removida durante cirurgia de tireóide. Após a lesão à glândula
paratireóide ou ao seu suprimento vascular, há freqüentemente regeneração
adequada do parênquima funcional e subseqüente desaparecimento dos sinais
clínicos.
O hipoparatireoidismo idiopático em cães adultos geralmente é o resultado de
uma paratireoidite linfocítica difusa, que provoca extensa degeneração das células
principais e substituição por tecido conjuntivo fibroso. Outras causas possíveis de
hipoparatireoidismo incluem destruição da paratireóide por uma neoplasia primária
ou metastática, na área cervical anterior, e a atrofia da paratireóide associada a uma
hipercalcemia duradoura. A presença de numerosas partículas de vírus da cinomose
nas células principais da glândula paratireóide pode contribuir para o baixo nível de
cálcio sangüíneo em certos cães com esta doença. A agenesia da paratireóide é
uma causa rara de hipoparatireoidismo congênito em cãezinhos. Certos casos de
hipoparatireoidismo idiopático com as paratireóides histologicamente normais em
animais (incluindo o homem) podem ser decorrentes da ausência de enzimas
específicas nas células principais, que convertem a molécula de pró-PTH em PTH
biologicamente ativo, secretado pela glândula. Outros casos podem se desenvolver
por meio de um mecanismo imunomediado, já que a destruição similar de parênqui-
ma secretório e a infiltração linfocítica foram produzidas experimentalmente em
cães, por injeções repetidas de emulsões de tecidos paratireóideos.
Pseudo-hipoparatireoidismo é uma variante que ocorre em homens, mas é
incerta a sua ocorrência em outros animais. As células-alvo no rim e ossos são
incapazes de responder a quantidades normais ou elevadas de PTH e uma grave
hipocalcemia desenvolve-se, mesmo que as glândulas paratireóides estejam
hiperplásicas.
Achados clínicos e lesões – Os distúrbios funcionais e as manifestações
clínicas do hipoparatireoidismo, primariamente, são o resultado do aumento da
excitabilidade neuromuscular e tetania. A reabsorção óssea é diminuída por causa
da ausência de PTH e da diminuição progressiva dos níveis de cálcio sangüíneo (4
a 6mg/dL). Os cães afetados ficam inquietos, nervosos e atáxicos, com enfraque-
cimento e tremores intermitentes de grupos individuais de músculos que progridem
para tetania generalizada e ataques convulsivos. Os níveis sangüíneos de fósforo
estão substancialmente elevados, devido ao aumento da reabsorção tubulorrenal.
Nos estágios iniciais da paratireoidite linfocítica imunomediada em cães, há
infiltração da glândula com linfócitos e plasmócitos, e hiperplasia nodular regenera-
tiva das células principais restantes. Mais tarde, a glândula paratireóide é substi-
tuída por linfócitos, fibroblastos e capilares com células principais viáveis apenas
ocasionalmente.
Diagnóstico – É baseado nos sinais clínicos de elevação da excitabilidade
neuromuscular, hipocalcemia grave e quase sempre hiperfosfatemia num animal
não parturiente, e na resposta à terapia. Alguns dos sinais (por exemplo, tetania) e
dados laboratoriais (por exemplo, hipocalcemia) são similares àqueles da tetania
puerperal (ver pág. 551). Entretanto, a tetania puerperal usualmente é acompanha-
da por hipofosfatemia e por uma concentração de glicose em níveis abaixo do
normal ou na faixa normal – baixa como resultado da intensa atividade muscular
associada à tetania.
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 586
RAQUITISMO
É uma doença de animais em crescimento, caracterizada pela interferência na
mineralização, com conseqüente reabsorção normal da cartilagem dos discos de
crescimento e interferência na mineralização da matriz óssea. São afetados de forma
mais severa os discos de crescimento dos ossos, que crescem mais rapidamente.
Etiologia – A ingestão ou absorção deficiente, ou ambas, de vitamina D ou
fósforo, ou de ambos, são as causas mais freqüentes. Em animais mantidos dentro
de casa, a deficiência de vitamina D é um fator importante; animais de pastoreio são
mais suscetíveis à deficiência de fósforo. O metabolismo anormal da vitamina D (que
ocorre, por exemplo, na uremia ou deficiências bioquímicas hereditárias) deve ser
considerado em animais raquíticos com dietas aparentemente normais e dietas de
composição imprópria. A falha na absorção de vitamina D pode ser causada por
esteatorréia. A vitamina D endogênica é produzida na epiderme pela ação da luz
ultravioleta sobre um precursor. A vitamina D exógena é absorvida da dieta ou por
uma injeção local.
Achados clínicos e diagnóstico – Em casos graves, há claudicação associada
ao alargamento das extremidades dos ossos de crescimento rápido, e deformidades
nos ossos longos de sustentação. A claudicação e o aumento de volume das
articulações são decorrentes, na maioria dos casos, da poliartrite crônica e, em cães
jovens de grande porte, da osteodistrofia hipertrófica. A radiografia dos ossos
raquíticos apresenta discos de crescimento largos e desmineralização óssea. A
desmineralização no hiperparatireoidismo nutricional é acompanhada pelo cresci-
mento normal dos discos.
O alargamento dos discos de crescimento, devido à falha na reabsorção carti-
laginosa, não é patognomônico do raquitismo. Ele ocorre em certas condrodispla-
sias hereditárias e qualquer fator que interfira na vascularização metafisária
normal ou na invasão sinusoidal da cartilagem, ou em ambos os casos pode causar o
alargamento dos discos. Este ponto deve ser considerado quando as radiografias de
uma única articulação são interpretadas. No animal raquítico, o cálcio sangüíneo
multiplicado pelo fósforo sangüíneo (em mg/dL) é geralmente < 30. Esta é uma
técnica auxiliar de diagnóstico se o soro for coletado antes da terapia ou correção
dietética. A confirmação do diagnóstico em casos brandos requer o exame histoló-
gico dos discos de crescimento ativos. Já que o animal raquítico pode ser hipocalcêmi-
co, as mudanças histológicas do hiperparatireoidismo podem estar presentes.
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 587
CALCINOSE ENZOÓTICA
(Enteque seco, Enteque ossificante, Espichamento, Espichação, Doença de
perda de Manchester, Doença de Naalehu, “Weidektankheit”)
É uma doença complexa de ruminantes e cavalos, causada por envenenamento
com plantas tóxicas ou desequilíbrio mineral e caracterizada pela extensa calcifi-
cação dos tecidos moles. A prevalência da doença em bovinos varia largamente, de
10% a índices tão elevados quanto 50% em áreas da Argentina, Brasil, Papua-Nova
Guiné, Jamaica, Havaí e Baviera. Ela é considerada a causa de até 60% da
mortalidade e atinge 17% dos ovinos do sul do Brasil e Mattewara (Índia), respecti-
vamente. A incidência em qualquer outra parte (Austrália, Israel, África do Sul e sul
dos EUA) é menos documentada e em muitas áreas é rara ou inexistente.
Etiologia e patogenia – As causas conhecidas caem em 2 categorias: envene-
namento por plantas e desequilíbrios minerais no solo. A primeira é provavelmente
a mais importante. Cestrum diurnum (jasmim selvagem, jasmim “day-blooming”, rei-
do-dia), Trisetum flavescens (golden oats or yellow oat grass), Nierembergia
veitehii, Solanum esuriale, S. torvum e S. malacoxylon (glaucophyllum) contêm 1α,
25-diidroxicolecalciferol (calcitriol) glicosídio ou uma substância que mimetiza sua
ação calcinogênica. Recentes estudos revelaram que a S. malacoxylon tem o
sistema enzimático necessário para a síntese de calcitriol da vitamina D3. Não
existem evidências concretas incriminando outras plantas.
O desequilíbrio de minerais em certos solos da Índia, Havaí, Áustria e, possivel-
mente, em qualquer outra parte é considerado o principal fator etiológico; o
desequilíbrio dietético mineral pode contribuir para a calcificação, associada,
sobretudo, a plantas tóxicas. Excesso de cálcio ou fósforo, deficiência absoluta ou
condicionada de magnésio e deficiência do potássio e nitrogênio têm sido incrimi-
nados ou suspeitados.
A osteodistrofia em touros, após a ingestão excessiva e prolongada de cálcio, é
condição similar à anterior. A calcificação do sistema cardiovascular, associada ao
envelhecimento e a doenças caquéticas como a tuberculose, não possui esta
semelhança. A vitamina D3 em excesso e a ingestão normal ou excessiva de cálcio
induzem à calcificação aórtica e à aterosclerose em ruminantes.
Normalmente, a conversão de 25-hidroxicolecalciferol (calcifediol) para calcitriol
no rim é controlada por um mecanismo de “feedback”. O fator semelhante ao
calcitriol nas folhas das plantas desvia este “feedback” e mais cálcio do que pode ser
fisiologicamente acumulado é absorvido. Hipercalcemia promove a produção de
calcitonina, calcinose e osteoporose.
Alterações no cálcio, fósforo e magnésio plasmáticos são diferentes em diferen-
tes espécies. Cavalos desenvolvem hiperfosfatemia; o cálcio plasmático mantém-
se normal, mas sobe com doses excessivas de calcitriol. Freqüentemente, tanto o
cálcio sérico como o fósforo inorgânico estão elevados em bovinos. A hipomagne-
semia também pode estar presente.
Achados clínicos – A doença é progressiva e crônica estendendo-se por
semanas ou meses. Os primeiros sinais são um andar rígido e doloroso, mais
pronunciado quando o animal movimenta-se após repouso prolongado. Os mem-
bros dianteiros são os mais afetados e alguns animais até mesmo andam ou pastam
Distrofias Associadas ao Cálcio, Fósforo e Vitamina D 588
sobre seus joelhos. Quando de pé, os membros dianteiros curvam-se para frente,
já que a articulação não pode estender-se completamente. O animal desloca o peso
para a parte dianteira dos cascos ou alternadamente para cada membro
dianteiro, o que diminui o estresse sobre o carpo, que está espessada e dolorida.
As articulações distais tornam-se anormalmente retas. Quando os animais afetados
são forçados a andar, sua marcha é desajeitada, rígida e lenta, os passos são curtos
e, após uma pequena distância, a respiração torna-se superficial e diafragmática. As
narinas ficam dilatadas e a cabeça e o pescoço ficam distendidos. Vários graus de
murmúrio cardíaco são detectáveis, geralmente, como uma segunda bulha desdo-
brada ou indefinida; estes são exagerados após o exercício. O ritmo do pulso é
aumentado após um exercício corriqueiro. O pulso jugular é proeminente em alguns
casos.
Com o progresso da doença, o animal perde peso e torna-se fraco e apático. O
pelame torna-se eriçado, opaco e desbotado, particularmente em bovinos. Há perda
de musculatura, proeminência do esqueleto, abdome dobrado, cifose e base da
cauda em relevo. A função ovariana está deteriorada. O apetite usualmente não é
atingido, mas, algumas vezes, torna-se depravado. A calcificação dos vasos é
palpável ao exame retal.
A osteodistrofia é observada na calcinose decorrente da intoxicação por Trisetum
flavescens e Cestrum diurnum em bovinos bávaros e eqüinos da Flórida, respecti-
vamente. Cavalos gravemente afetados param com os membros anteriores um
tanto abduzidos e luxados caudalmente nas articulações da escápula. Os tendões
flexores, particularmente os ligamentos suspensores, estão doloridos. As articula-
ções do boleto estão hiperestendidas em graus variáveis.
Lesões – Ocorrem degeneração e calcificação dos tecidos moles, com emacia-
ção e quantidades variáveis, mas excessivas, de fluido nas cavidades torácica e
abdominal e no saco pericárdico. O sistema cardiovascular é o primeiro a ser
envolvido, seguido pelos pulmões, rins e tendões. O coração e a aorta apresentam
efeitos mais marcantes. O coração esquerdo é mais afetado que o direito. Em casos
extremos, os focos de calcificação são vistos nas válvulas e na corda tendínea.
Placas brancas elevadas, de tamanho e forma irregulares, são vistas na superfície
luminal; em casos avançados, isto ocorre ao longo do comprimento da aorta e de
seus ramos principais. Depósitos minerais ocorrem na pleura; na superfície e na
borda dos lobos pulmonares diafragmáticos e apicais, na artéria e pelve renais e nos
ligamentos e tendões, particularmente os dos membros anteriores. Ocorrem
engrossamento capsular e erosão irregular da superfície articular da cartilagem e
articulações, especialmente dos joelhos e jarrete.
As evidências histológicas básicas são necrose e calcificação do tecido conjun-
tivo, seguidas pela proliferação celular na área afetada.
Diagnóstico – É geralmente baseado no histórico, sinais e lesões, mas pode ser
difícil em estágios precoces. O raio-X e a eletrocardiografia podem ajudar no
diagnóstico.
Controle – A remoção do(s) fator(es) causal(is) é essencial, mas quando a
doença está associada ao conteúdo mineral do solo, o controle pode ser difícil.
Mudanças de pastagem, forragem e ambiente podem trazer a melhora clínica e
ainda diminuir o depósito mineral dos tecidos moles. Experimentalmente, a adminis-
tração oral diária de 15g de hidróxido de alumínio previne o desenvolvimento de
calcinose em ovinos que consumiram Trisetum flavescens.
Claudicação, Princípios Gerais 589
OSTEOPATIA HIPERTRÓFICA
(Doença de Marie)
Diagnóstico
O diagnóstico da claudicação requer uma investigação cuidadosa e sistemática
para se definir precisamente a localização e a causa do problema. A claudicação pode
ser evidente durante o repouso, durante a progressão ou através de exame manual
Claudicação, Princípios Gerais 591
que incluem movimento passivo (isto é, testes com pinças de casco ou martelo em
eqüinos). Há vários meios auxiliares sofisticados para o diagnóstico, mas não há
substituto para a perspicácia clínica, experiência, palpação e um bom conhecimento
prático de anatomia. Mesmo com tudo isto, claudicações obscuras (por exemplo,
lesões musculoligamentosas e problemas relacionados ao dorso) poderão desafiar
um diagnóstico definitivo.
Queixa inicial e histórico – Um histórico completo e objetivo devem ser obtido
antes de se iniciar o exame físico. O tipo e a idade do animal e a quantidade de
exercício que ele vem efetuando fornecem pistas diagnósticas importantes. Por
exemplo, puros-sangues jovens alimentados com ração rica em grãos são propen-
sos a uma miopatia de esforço ou rabdomiólise de baixo grau (paralisia). Cavalos
de salto idosos são mais predispostos a doença do navicular e exostoses
interfalângeas. A laminite é muito comum em pôneis obesos que pastejam sobre
forragens tenras. Nos bovinos, uma dieta rica está ligada não apenas à alta
produção, mas também a laminite e outros problemas digitais. Historicamente, a
maioria dos casos de claudicação nos membros dianteiros envolve o casco,
enquanto o jarrete é a região freqüentemente afetada dos membros posteriores,
mas, em vista da predominância atual de cavalos leves, a maioria dos casos de
claudicações anteriores surge do boleto para baixo. Entretanto, nos puros-sangues
de corrida e raças padrão em treinamento, o carpo é freqüentemente envolvido.
Doenças ortopédicas do desenvolvimento, tais como osteocondrite dissecante,
podem ser generalizadas, afetando qualquer articulação ou osso do corpo; elas são
comuns tanto em animais de companhia como em animais de fazenda.
Perguntas a respeito do início e duração da claudicação, da existência de uma
causa incitante (por exemplo, perfuração do casco, coice ou queda), de quando o
animal foi ferrado pela última vez (por exemplo, perfuração por um cravo), se algum
tratamento prévio foi efetuado e que efeito ele pode ter tido, podem ser úteis na
definição do problema particular da claudicação em questão. O tipo de repouso (isto é,
cocheiras ou pasto) assim como qualquer alteração na claudicação quando o animal
é exercitado (isto é, ao se aquecer a claudicação desaparece) devem ser determi-
nados. Nos eqüinos, os tropeços podem ser uma característica de uma claudica-
ção específica (por exemplo, doença do navicular) ou causados por um problema
neurológico.
Exame em repouso – O exame físico deve sempre se iniciar com uma
inspeção visual do cavalo. Defeitos de conformação (por exemplo, joelhos de
bezerro, jarretes de foice) devem ser observados e registrados como possíveis
predisposições. As falhas na conformação devem ser consideradas, mas com
muito aumento de volume crônico (por exemplo, sobreossos), elas podem não ser
associadas com a causa primária da claudicação. Similarmente, ferimentos antigos,
cicatrizes ou aumento de volume podem ou não ser relevantes. O comportamento
geral pode indicar se o animal sente alguma dor (por exemplo, transpiração,
escavação do solo, apoio de uma das patas em pinça ou proteção de um dos
membros). A posição anormal pode sugerir um problema particular (por exemplo,
a postura típica de laminite, luxação da patela ou paralisia do radial). Mobilidade
ou posição anormais de parte de um membro pode indicar um tendão rompido
ou um osso fraturado. A adução ou abdução de um membro pode também ser
notada em claudicações da anca ou da soldra respectivamente.
Exame ao exercício – Após uma inspeção visual do animal em repouso, ele deve
ser observado em movimento. A maioria das claudicações é mais evidente durante
um trote lento sobre piso duro e plano. O animal deve ser trotado em linha reta, indo
e vindo em direção ao clínico. É importante que o redeador mantenha o cavalo com
a rédea frouxa para não restringir os movimentos da cabeça. Inicialmente, o
examinador deve olhar as orelhas e a anca, pela ordem, para detectar um balançar
da cabeça ou elevação da anca. Atenção também deve ser dirigida para o eixo do
Claudicação, Princípios Gerais 592
corpo, a fim de determinar se este eixo está na mesma linha e direção do movimento.
Subseqüentemente, deve-se verificar se as patas são levadas em linha reta ou se
são aduzidas, abduzidas ou movidas de forma semicircular, enquanto se movimen-
tam. Finalmente, a ação também deve ser observada pelo lado, para identificar
variações no comprimento do passo e restrição na flexão articular.
Claudicação do membro dianteiro – A cabeça é elevada quando o membro
manco apóia-se no solo e a baixa quando este está suspenso. Em eqüinos, som
produzido por cada casco, quando bate no solo, também pode dar uma
indicação quanto ao membro claudicante. Se há claudicação bilateral de igual
gravidade, um balançar da cabeça pode não ser aparente, mas a ação de frente
será afetada com uma redução no comprimento do passo. Se, entretanto, a
claudicação for de gravidade desigual, um balançar da cabeça estará presente
como na claudicação unilateral. Em tais casos, o membro menos afetado é
possivelmente mal observado. Além disso, se o membro com claudicação
evidente for submetido ao bloqueio anestésico para desensibilizar a área
dolorida, a aparente cura daquele membro e o movimento persistente da cabeça
indicarão que o outro membro também claudicará.
Claudicação do membro traseiro – Em geral, a garupa do lado afetado fica
elevada quando o membro manco está em sustentação. O grau de elevação da
garupa varia conforme a fonte e gravidade da claudicação. Quando ambos os
membros posteriores estão claudicantes, há enrijecimento e restrição da marcha,
como acontece nos problemas de dorso. Quando a pata afetada for claramente
identificada, devem-se avaliar os seguintes pontos: grau de flexão das articulações,
comprimento do passo, presença de adução ou abdução do membro, colocação do
casco e apoio do pé e altura a que os jarretes são elevados.
O cavalo deve, então, ser virado num círculo apertado em ambas as direções.
Dificuldade em se virar sobre uma pata claudicante ou dolorida pode, freqüentemen-
te, demonstrar enrijecimento tanto no pescoço, quanto no dorso ou quartos
traseiros. Fazendo-se o animal dar alguns passos para trás podem-se também
realçar alguns tipos de claudicação (por exemplo, danos vertebrais e harpejamento).
Em eqüinos, claudicações suaves (por exemplo, esparavão) freqüentemente
podem ser demonstradas pelo troteamento do animal num círculo de cerca de 4 a 5m
com uma rédea longa. Nestas circunstâncias, a claudicação é agravada quando o
membro afetado está do lado de dentro do círculo. O efeito que a flexão forçada ou,
em alguns casos, a extensão tem sobre o grau de claudicação (por exemplo, teste do
esparavão)deve ser sistematicamente avaliado, tentando-se manter as articulações
individuais ou regiões dos membros dobradas ao máximo, por , 60s e, então, forçar
o animal a trotar para a avaliação da claudicação. Os testes de flexão são particular-
mente favoráveis em cavalos com claudicação leve. É importante comparar o efeito
sobre o membro oposto de todos os testes de flexão.
Se o grau ou local da claudicação ainda não estiver claro, o animal deve ser
puxado, montado ou dirigido (atrelado) por , 20min. O peso adicional do cavaleiro,
algumas vezes, acentua a claudicação. Alguns casos ainda devem ser examinados
correndo ou no ritmo máximo, para serem diagnosticados efetivamente. Após este
tipo de exercício, o cavalo deve descansar por , 30min e ser reexaminado.
O exame físico do membro claudicante deve ser iniciado pela pata, e anormali-
dades do casco (por exemplo, anéis de laminite, fissuras, talões contraídos) e o
estado das ferraduras notados. O calor detectado no casco ou faixa coronária pode
ser avaliado por comparação com o membro oposto. Todas as estruturas identificá-
veis devem ser gentil, mas meticulosamente, palpadas, tanto com a pata apoiada
sobre o solo como elevada. A ferradura deve ser removida e o casco totalmente
limpo e inspecionado quanto a fissuras, desgaste irregular ou secreções. Freqüen-
temente é necessário aparar o casco para auxiliar o exame. O casco pode ter a
Claudicação, Princípios Gerais 593
CLAUDICAÇÃO EM BOVINOS
A claudicação é uma causa significante de redução do desempenho em bovinos
de corte e leiteiro. A redução é apresentada como diminuição da eficácia alimentar
e da ingestão de alimentos, perda de peso corporal, diminuição leiteira, redução da
atividade sexual, fertilidade e, em alguns casos, longevidade.
Recentes progressos na criação, alimentação e manejo têm contribuído para um
aumento da incidência de claudicação. A seleção baseada em características
conformacionais pode ser contraprodutiva para a eficiência funcional. Destacam-se
entre estas características a ausência de angulação nos membros; os tendões,
ligamentos e músculos auxiliem na absorção de traumas e estresses nos membros.
Acredita-se que a alimentação com alto teor de energia e deficiente em fibras de
boa qualidade causa a formação de um extrato córneo mais mole que o normal nos
cascos, que se erodem, desintegram e são mais facilmente traumatizados que aos
cascos normais. Crescimento rápido em animais < 18 meses de idade, exercício
inadequado e estresse psicossomático podem exacerbar os fatores predisponentes
de claudicação. Certos tipos de piso, ardósia ou concreto, e o desenho dos bretes
e currais podem contribuir para estresses de manejo. A aparação regular dos cascos
e o pedilúvio são aspectos positivos do manejo. As claudicações dos bovinos devem
ser estudadas através de uma perspectiva epidemiológica; um histórico completo do
rebanho deve ser considerado.
Como a maioria das doenças, o tratamento bem-sucedido, a prevenção e o
controle dependem de um diagnóstico preciso. A observação à distância com o
animal parado e movimentando-se revela informações importantes. Postura e andar
anormais não devem ser confundidos com defeitos conformacionais. O clínico deve
estar familiarizado com as mudanças físicas adquiridas no sistema musculoes-
quelético, por exemplo, inchaços dos membros, reações inflamatórias em torno da
região digital e distorções ou defeitos dos cascos. A palpação e auscultação de uma
articulação podem ser úteis. A palpação retal é apropriada se há suspeita de
anormalidade pélvica (ver também DOENÇAS DA C OLUNA E M EDULA E SPINHAIS,
pág. 705).
Visto que , 90% das lesões que causam claudicações estão localizadas nas
patas, deve ser dada especial atenção a esta área mesmo que a causa pareça se
Claudicação em Bovinos 596
PARALISIA DO PARTO
(“Paralisia do obturador”)
A paresia ou paralisia dos músculos adutor e caudal da coxa, nos membros
posteriores, é provocada por danos intrapélvicos primários sobre o ramo ventral do
nervo espinhal L6, o principal contribuidor dos nervos ciáticos e obturador. Pode
também ocorrer o dano direto do nervo obturador. Estas lesões são freqüentemente
associadas à distocia.
Os sinais são paralisia, paresia ou ataxia dos membros posteriores (um ou
ambos). A condição é mais comum na vaca, mas outras espécies também podem
ser afetadas. A lesão do nervo ocorre quando o feto insinua-se no canal pélvico por
um período extenso ou quando um feto grande é forçado através deste canal. Há
quase sempre algum grau de paresia dos membros posteriores, ataxia ou paralisia
nas vacas quanto o bezerro fica preso ao canal pélvico por >1h; o nível de gravidade
varia, desde pequena dificuldade em levantar-se, durante alguns dias, até a
paralisia permanente.
A paresia ou paralisia dos músculos dos membros posteriores resulta em ataxia
ou incapacidade em se manter em pé. A flexão do boleto pode ser notada junto à
ataxia. O animal pode deitar-se sobre o esterno com os membros posteriores em
abdução exagerada ou colocados paralelos ao corpo. Geralmente, após alguns
dias, a vaca é capaz de “engatinhar” e, depois, de levantar-se e andar com passos
curtos e irregulares, mas caindo freqüentemente com as articulações dos boletos
flexionadas e os membros abduzidos. Os animais paralisados têm vivacidade e
estão alertas, ao contrário dos animais com outras doenças pós-parto, tais como
febre do leite, mastite aguda ou metrite. A condição deve ser diferenciada de
fraturas, trauma muscular, tumores e abscessos que envolvam os nervos
pélvicos e a medula espinhal posterior. Os animais paralisados podem desenvolver
dentro de 6h miopatias isquêmicas por compressão, comuns nas “vacas caídas”,
sobre os músculos da coxa. O perigo de miopatia isquêmica pode ser reduzido
virando-se a vaca de um lado para o outro a cada 2h e utilizando-se uma cama
macia.
A história e os sinais permitem o diagnóstico na maior parte dos casos. Se a vaca
não estiver alerta o bastante, a cuidadosa administração de gliconato de cálcio pode
descartar a febre do leite (ver pág. 544). Ver também VACA CAÍDA, página 669, para
outras possibilidades de diagnóstico e tratamento.
Claudicação em Bovinos 597
ARTROPATIA DEGENERATIVA
(Doença articular degenerativa, Osteoartrite)
É uma condição não específica que afeta sobretudo as articulações coxofemoral
e femorotibial. É caracterizada por degeneração da cartilagem articular e eburnação
do osso subcondral, efusão articular, fibrose com calcificação da cápsula articular
e osteófitos.
É provável que várias causas e fatores predisponentes influenciem o desen-
volvimento, idade do início e gravidade da condição. Há uma disposição
hereditária para artropatia degenerativa. Certas conformações, por exemplo,
jarrete reto em touros de corte, são incriminadas. A instabilidade articular após
traumas é uma causa comum. Os fatores nutricionais envolvidos em alguns
casos são as rações ricas em fósforo e pobres em cálcio, as quais, provavel-
mente, influenciam na resistência do osso subcondral. Deficiência de cobre ou
intoxicação por fluoreto também pode atuar por caminhos similares. A tração
forçada no parto de um bezerro que se apresenta de garupa pode comprometer
o suprimento sangüíneo para a articulação coxofemoral, podendo resultar em
artrite. O papel da infecção é obscuro. A artrite infecciosa em bezerros, usual-
mente produz mudanças graves no jarrete, mas a artropatia degenerativa
raramente envolve essa articulação.
Touros alimentados com uma dieta rica em grãos podem se tornar mancos tão
precocemente como em 6 a 12 meses, mas a maioria dos casos é constatada
inicialmente entre 1 e 2 anos. A claudicação é de instalação gradual e usualmente
afeta as articulações coxofemorais de ambos os lados. O envolvimento da soldra é
raro. Os sinais progridem concomitantemente com a degeneração da cartilagem e
desenvolvimento de osteófitos. A claudicação que chega à incapacitação, com
crepitação da articulação degenerada, pode se desenvolver em poucos meses;
entretanto, a correlação entre alterações patológicas e sinais clínicos é pobre. As
alterações iniciais ocorrem no acetábulo e sobre a superfície dorsomedial da cabeça
do fêmur.
Claudicação em Bovinos 598
DERMATITE VERRUCOSA
(Verrucosa granulosa)
É uma lesão proliferativa que envolve a pele anterior e posterior do espaço
interdigital, quase sempre na pata traseira. Em geral, só um animal é afetado,
mas, em raras ocasiões, ela pode tornar-se um problema de rebanho, normalmente
se o lote é maltratado. Numerosas bactérias têm sido isoladas das lesões; quando
elas se tornam um problema de rebanho, um vírus pode ser considerado o agente
causal.
Inicialmente, há uma irritação crônica da pele, devido às condições precárias do
lote, seguida pela proliferação das células epidérmicas e subposição de tecido
conjuntivo fibroso. As lesões histológicas incluem dermatite, hiperceratose e
papilomas. Uma massa com aspecto de couve-flor surge e, eventualmente, pode
invadir o espaço interdigital. A massa, gradativamente, aumenta de tamanho e
torna-se enrugada na superfície, com projeções digitiformes ou ciliares. Lesões
similares podem também aparecer abaixo dos dígitos acessórios. A claudicação é
somente leve até após vários meses, quando a lesão torna-se maior e desgastada.
A localização e a superfície rugosa e com aspecto ciliar ajudam a diferenciar esta
condição da dermatite vegetativa interdigital (ver anteriormente).
A remoção cirúrgica e a cauterização do tecido subjacente com tricloreto de
antimônio ou sulfato de cobre são o tratamento preferencial. A criocirurgia da lesão
também é efetiva. Quando muitos animais são afetados em um rebanho, o uso de
uma vacina comercial ou autógena pode ser indicado.
LUXAÇÕES
Luxação coxofemoral e lesões da soldra são freqüentemente resultado de
manutenção de vacas em estro com o rebanho, sobre uma superfície escorregadia.
Os touros que servem vacas neste ambiente e vacas que montam outras vacas
podem causar danos nestas articulações. A correção de uma luxação proximal da
articulação coxofemoral é possível, desde que a cabeça do fêmur e a borda do
acetábulo não tenham sido fraturadas. A correção de lesões da soldra tem
encontrado sucesso limitado em vacas e touros.
A luxação do boleto ocorre freqüentemente em bovinos jovens que tentam cruzar
o “mata-burro” (grelha de metal que é colocada sobre um fosso e que substitui a
porteira). O uso de um tranqüilizante ou anestesia leve, facilita a recolocação das
estruturas deslocadas. A imobilização com fibra de vidro acolchoada, posta no local
por 3 semanas, normalmente promove uma recuperação satisfatória.
Claudicação em Bovinos 599
ERGOTISMO
É uma doença de bovinos e outros animais de produção resultante da ingestão
contínua de esclerócitos do fungo parasita Claviceps purpurea. A claudicação é o
primeiro sintoma (ver também pág. 2040).
FRATURAS
Apesar de as fraturas ósseas ocorrerem em bovinos de todas as idades, elas são
mais comuns em animais < 1 ano de idade. Os procedimentos apropriados podem
ser economicamente justificados nesta faixa etária, desde que não existam articu-
lações envolvidas. As técnicas de fixação externa e/ou a tala de Thomas podem ser
utilizadas com sucesso. Em casos selecionados, a transfixação percutânea ou
fixação interna podem ser tentadas.
As fraturas dos ossos longos principais dos bovinos adultos normalmente não
são tratadas. As fraturas das tuberosidades coxais podem ocorrer quando o gado
é tocado rapidamente por passagens estreitas. Nesses casos, espículas ósseas
podem perfurar a pele ou podem ocorrer distorções feias do flanco. As fraturas das
falanges proximal e intermediária podem ser consideradas para tratamento em
bovinos adultos jovens e mansos.
A fratura da falange distal é relativamente comum em bovinos adultos. O início
da claudicação é rápido e a dor geralmente é intensa. Se o dígito medial for
envolvido, o animal pode buscar alívio da dor cruzando suas patas. A recuperação
natural é prolongada e, devido ao fato de a maioria destas fraturas ocorrer na
articulação interfalângea distal, pode se iniciar uma artrite debilitante no local da
fratura. Se esta lesão for tratada, o dígito saudável deve ser elevado por um bloco
de madeira e o dígito afetado, preso em flexão de encontro ao bloco utilizando-se
adesivo de metil metacrilato.
O risco de fraturas é minimizado se as causas mais comuns forem evitadas.
Superfícies escorregadias são perigosas, especialmente para animais no cio. As
passagens estreitas não devem ser utilizadas por vários animais ao mesmo tempo.
Fissuras verticais
(Fissura ungular longitudinal, Fendas na parede do casco)
Estas fissuras ocorrem na superfície dorsal e dorsoabaxial da parede do casco.
O ressecamento do casco que precede o aparecimento deste problema é causado
por perda de água pelo tecido córneo do casco, que ocorre na ausência do perioplo.
O perioplo é o extrato externo a prova d’água do casco, que diminui com a idade e
é perdido por abrasão mecânica em solos arenosos. Alguns acreditam que a
nutrição inadequada (deficiência de zinco) está implicada na etiologia.
Podem ocorrer grandes fissuras em todos os 8 dígitos sem nenhum sintoma de
claudicação. Fissuras muito pequenas que envolvem apenas a faixa coronária
podem ser um problema muito maior. O tecido córneo da faixa coronária é mole e
flexível. Conforme o animal se move, as pressões criadas podem abrir a fissura o
suficiente para permitir que a infecção atinja as estruturas subjacentes. A seqüela
mais grave é uma infecção na articulação interfalângea distal. Como uma pequena
fissura pode ser facilmente camuflada, especialmente por barro, a palpação da faixa
coronária deve ser um procedimento de rotina.
As fissuras grandes raramente requerem atenção, mas o cuidado cosmético
ocasional é necessário. Nestes casos, o tecido córneo quebrado deve ser removido
e a fissura preenchida com metil metacrilato. Os grampos também são úteis. A
extremidade proximal da fissura pode ser fechada com um ferro quente. A perda de
água do extrato córneo do casco pode ser diminuída aplicando-se uma camada
espessa de óleo ou verniz na parede do casco.
Em uma pequena fissura séptica na faixa coronária, uma pequena porção do
tecido córneo sobre o abscesso deve ser removida e um pó antibiótico aplicado
sobre o ferimento subjacente. Um pequeno curativo de gaze deve ser colocado
sobre a ferida, preso firmemente por uma bandagem adesiva de 2,5cm em torno
da faixa coronária.
Fissuras horizontais
(Fissura ungular horizontal)
Estas fissuras ocorrem primariamente em gado leiteiro adulto após um episódio
de laminite. A continuidade da parede do casco é perdida num plano paralelo à
coroa do casco. Em geral, todas as 8 unhas são atingidas. A condição
freqüentemente ocorre após uma grave doença sistêmica que é acompanhada por
Claudicação em Bovinos 602
LAMINITE
(Aguamento, Pododermatite asséptica difusa [PAD])
Muitas lesões dos cascos estão associadas à laminite, que compromete a
qualidade do extrato córneo do casco e o deixa suscetível a danos e erosão. A forma
crônica da laminite é chamada de casco achinelado. A causa principal da laminite
é a ingestão massiva de alimento rico em energia (aguda) ou ingestão continuada
de altos níveis de carboidratos (subaguda ou subclínica) (ver também SOBRECARGA
DE GRÃOS, pág. 210).
As vacas leiteiras geralmente mostram os primeiros sintomas de laminite subclí-
nica imediatamente após o parto. A deterioração da qualidade do casco predispõe
a lesões tais como doença da linha branca, úlceras de sola e erosões nos talões. A
sola também se desgasta mais rapidamente, o que a torna mais suscetível a traumas.
Garrotes em engorda podem também ser afetados por laminite aguda ou
subclínica. Esta última é de pouca importância econômica.
Touros de corte em teste de engorda e novilhas leiteiras de reposição são
altamente suscetíveis à laminite subclínica. Este problema não é clinicamente
evidente de imediato, porém causa alterações patológicas nos cascos que são
altamente contraprodutivas. Considera-se que o problema seja resultante de
acidose láctica, que faz com que as endotoxinas vasoativas sejam liberadas por
microrganismos Gram-negativos. As alterações patológicas na microcirculação do
cório causam danos irreversíveis. Estão sendo investigadas etiologias alternativas,
por exemplo, o papel do fator de crescimento epidérmico. Está claro que a laminite
subclínica tem uma etiologia mais complexa do que se acreditava originalmente. Os
estresses de manejo, assim como o exercício limitado, foram implicados.
Na laminite aguda, geralmente há um histórico de ingestão exagerada de grãos.
Os animais relutam em se mover e apresentam diarréia. A postura pode ser
característica, com todos os 4 membros sob o corpo, ou com os anteriores e
posteriores estendidos para a frente. O animal pode tentar andar sobre os joelhos.
O cruzar das patas ou pisar em linha são indicativos de que apenas as unhas mediais
estão afetadas. Na laminite crônica, os cascos são longos e virados para cima nas
pinças; há presença de sulcos profundos. Na laminite subaguda não há alterações
do andar ou postura. O extrato córneo do casco é mole, manchado de sangüe, e
possui uma aparência amarelo-fosca. A alta incidência de claudicação no meio da
lactação e a presença de lesões na linha branca e úlceras de sola confirmam o
diagnóstico no rebanho.
Para o tratamento dos casos agudos, ver SOBRECARGA DE G RÃOS, página 210. A
aparação do casco longo dos casos crônicos é, na melhor das hipóteses, paliativa
Claudicação em Bovinos 603
PODODERMATITES
Podridão dos cascos
(Pododermatite infecciosa, Necrobacilose interdigital)
Apresenta-se como maior causa de claudicações em bovinos de corte e leite de
toda as idades.
Etiologia – A Fusobacterium necrophorum tem sido considerada a bactéria
responsável por esta doença, embora seja difícil produzir evidências conclusivas.
Mais recentemente a Bacteroides nodosus e a B. melaninogenicus também foram
incriminadas. A doença ocorre durante o ano todo, mas tende a ser mais prevalente
durante as estações úmidas. Entretanto, ela tem sido observada durante o tempo
seco, quando o terreno está firme e o bovino entra em contato com áreas lamacentas
ou quando é forçado a atravessar terreno arado recentemente. Provavelmente, o
terreno duro e seco predispõe o tecido interdigital e os talões a ferimentos. Desde
que ocorra uma solução de continuidade na pele, os microrganismos infectam
prontamente a ferida. Uma ou mais patas podem ser afetadas num determinado
instante.
Achados clínicos e diagnóstico – Edema e eritema simétricos da região
interdigital, sem evidência de corpos estranhos, indicam esta condição. A claudi-
cação é severa, a temperatura do corpo é elevada e a lactação pode cessar.
Eventualmente, ocorre necrose e surgem fissuras longitudinais, revelando uma
descarga purulenta, de odor pútrido e uma massa central de tecido necrótico.
Quando a massa central de tecido necrótico é removida ou desprende-se, a cura,
normalmente, progride com rapidez. Em alguns casos, a infecção invade estruturas
profundas e desenvolve-se uma artrite supurativa.
Tratamento – O tratamento sistêmico ou local com antibióticos e sulfonamidas
parece encurtar o curso da doença. Outros procedimentos que podem acelerar a
recuperação são limpeza dos cascos, aplicação de curativos protetores, amarração
das unhas unidas e remoção da massa necrótica interdigital. Para o tratamento e
Claudicação em Bovinos 604
Ulceração da sola
(Pododermatite circunscrita)
A úlcera da sola, uma das causas mais comuns de claudicação no gado, é
causada por pressão mecânica no centro da sola, na junção da sola com o talão.
Neste ponto, o processo proximal da falange distal está próximo da face interna da
sola. Portanto, qualquer processo que permita à sola curvar-se sob pressão leva a
uma necrose de pressão nesta área. Quando danificado, o cório pára de produzir
tecido córneo, ocorrendo a formação de tecido de granulação; o desgaste excessivo
da sola e/ou a laminite subclínica diminuem a resistência da sola. A aparação dos
cascos que remova muita parede abaxial leva à transferência do apoio do peso da
parede para o centro da sola. Se os talões estiverem completamente erodidos, o
apoio do peso é transferido para a frente, podendo resultar em úlcera. Um acúmulo
excessivo de tecido córneo no centro da sola, ou permitir que o animal ande em
superfície pedregosa, leva a traumas na área.
A ulceração é observada na união dos terços médio e posterior da sola,,1,25cm
da borda axial. A maioria das lesões é encontrada nas unhas laterais dos membros
posteriores, e a lesão tende a ser bilateral. O animal freqüentemente fica com as
patas afetadas estendidas para trás. As unhas mediais dos anteriores são algumas
vezes afetadas. Em alguns casos, a úlcera pode não ser encontrada até que a sola
que a recobre seja retirada. A lesão de granulação típica tem normalmente 1,25cm
de diâmetro.
A aparação corretiva do casco é um primeiro passo apropriado; o tecido
degenerado deve ser cuidadosamente removido a partir da circunferência da lesão,
Claudicação em Bovinos 605
sem destruir nenhuma sola normal. Um bloco de madeira ou bota de borracha deve
ser colocado no dígito sadio. O tecido de granulação não precisa ser removido nem
é necessária a colocação de curativo; uma faixa é contra-indicada.
PARESIA ESPÁSTICA
(“Elso heel”)
Esta condição espástica hereditária é vista em muitas raças, mas parece ser
mais comum nas raças holandesa e angus. Ela surge primeiro em uma ou ambas
as patas traseiras num período entre 3 meses e 2 anos. Eventualmente, ambos os
membros traseiros podem tornar-se afetados, mesmo que, inicialmente, apenas um
apresente sinais. A causa não é conhecida. Evidências recentes demonstram que
a doença não é transmitida como uma característica recessiva simples. O líquido
cerebroespinhal contém uma quantidade reduzida de fósforo, cálcio e ácido
homovanílico, o mais importante metabólito da dopamina neurotransmissora. AST
(SGOT) é baixa e a fosfatase alcalina é elevada.
É caracterizada pelo esticamento dos músculos gastrocnêmio e flexor superfi-
cial. As articulações do jarrete e da soldra são mantidas em extensão completa e o
calcâneo é puxado em aposição à porção distal da tíbia. Esta relação anatômica
resulta em um membro excessivamente reto distalmente e em um jarrete pequeno
e de aparência fraca. Tremulações musculares são evidentes no membro afetado
quando o animal é forçado a se mover. O membro afetado parece ser mais curto e
não pode tocar o solo, mas balança como um pêndulo quando o animal anda ou
corre. São freqüentemente notados o dorso arqueado e a base da cauda elevada.
O diagnóstico diferencial se faz pela idade em que surgem os primeiros sinais, pelo
envolvimento unilateral do início das manifestações e pelo deslocamento dorsal da
tuberosidade calcânea, identificando patologias como síndrome espástica, gonite,
luxação dorsal da patela e paralisia posterior progressiva.
Relaxantes musculares podem oferecer alívio temporário. A tenotomia do tendão
do músculo gastrocnêmio e a tenotomia parcial ou completa do tendão flexor
superficial, 8 a 12cm dorsalmente à tuberosidade calcânea, têm tido bons resultados
em alguns casos. A neurectomia tibial produz melhores resultados, mas não há
Claudicação em Bovinos 606
SÍNDROME ESPÁSTICA
(Cãibra)
São os espasmos tônicos, intermitentes e bilaterais de grupos de músculos
esqueléticos em animais idosos em pé, que afetam primariamente bovinos leiteiros
(ver também, pág. 715). Embora com freqüência a causa seja considerada uma
característica autossômica recessiva simples com penetrância incompleta, ela é
mais provavelmente herdada através de um mecanismo genético múltiplo. O início
da síndrome parece ser dependente e modificado por fatores tais como dor,
posição em pé, medo e excitação.
Os primeiros sinais surgem quando os animais atingem ≥ 3 anos. Inicialmente
muito suaves, os sinais tornam-se progressivamente mais graves durante um
período de anos. Iniciam-se como um leve espasmo muscular, que surge após o
animal efetuar um movimento brusco, andar sobre superfície escorregadia ou
tornar-se excitado. Os sinais são ausentes em animais em repouso. O espasmo de
um ou ambos os membros posteriores dura vários minutos. Animais muito afetados
levantam a cabeça e a viram para o lado, o que parece aliviar o ataque agudo. Eles
podem elevar um membro dianteiro e estender as patas traseiras posteriormente.
As patas traseiras ocasionalmente podem ser flexionadas uma de cada vez.
Eventualmente, a contração espástica dos músculos se estende para todo o corpo.
Estes ataques graves podem vir de modo intermitente em intervalos semanais ou
mensais. Como os ataques severos tornam-se mais freqüentes e persistentes por
longos períodos, faz-se necessário o abate ou a eutanásia.
É mais freqüentemente confundida com tétano (ver pág. 398) e paresia espástica
(ver anteriormente). A ausência de sinais enquanto o animal está em repouso
diferencia a doença do tétano. A história de um início gradual em animais com , 3
anos ou mais, além dos sinais, é suficiente para diferenciar esta síndrome da paresia
espástica.
Não há tratamento definitivo. Relaxantes musculares e depressores do SNC
trazem somente recuperação mínima e temporária.
CLAUDICAÇÃO EM CAPRINOS
A anormalidade do andar é um sintoma comum a muitas doenças e problemas.
O histórico completo é importante para o diagnóstico, o qual deve incluir incidência
e duração no rebanho, nutrição, alterações na alimentação, método de criação e
introdução recente de animais no rebanho (ver também INTERAÇÃO MANEJO-DOENÇA:
CAPRINOS, pág. 1350).
O casco da(s) pata(s) afetada(s) deve ser examinado, e o excesso de material
córneo removido para deixar uma superfície plana de apoio do peso. Se o casco não
foi aparado por um longo período ou os caprinos permaneceram em piso macio ou
cama, o material córneo comumente cresce excessivamente a partir das paredes,
pinças e talões, dobrando-se sobre a sola. Com descuido grave, cascos semelhan-
tes a “tamancos holandeses” (pinças alongadas) podem fazer com que o animal
ande sobre os talões. Durante a aparação dos cascos, devem-se notar qualquer
Claudicação em Caprinos 607
porção de casco que esteja anormalmente espessada, galeria nos talões ou sola,
desgaste anormal de uma unha ou odor anormal ou necrótico.
Após a aparação, a pata deve ser lavada com escova e inspecionada em busca
de ferimentos perfurantes, corpos estranhos (por exemplo, pedras ou espinhos na
região interdigital), ou pus proveniente da drenagem de um abscesso – especial-
mente na coroa.
O resto do membro deve ser cuidadosamente palpado, incluindo ossos, tendões e
músculos. Qualquer atrofia muscular ou restrição de movimento deve ser notada. As
articulações devem também ser examinadas quanto a calor, aumento de volume ou dor.
Se o exame clínico não for suficiente para o diagnóstico definitivo, pode ser
necessária a coleta asséptica de líquido articular da articulação afetada (geralmen-
te o carpo) para coloração por Gram, cultura e antibiograma.
Se o líquido articular contiver apenas pus, ou bactérias Gram-positivas, isto indica
mal das juntas (infecção articular inespecífica); apenas fibrina sugere mal das juntas
ou Chlamydia sp; fibrina e pus combinados sugerem Mycoplasma spp; um líquido
claro ou turvo com muitas células mononucleares sugere o vírus da AEC (ver
pág. 475) ou Erysipelothrix sp. Uma amostra de sangue também pode ser útil. No mal
das juntas ou erisipela, a contagem de leucócitos é alta, com neutrofilia. Na laminite,
o número de eosinófilos pode ser normal ou elevado. Os níveis sangüíneos de cálcio,
fósforo e vitamina D podem auxiliar no diagnóstico de epifisite, embora estes muitas
vezes retornem ao normal antes de o animal afetado ser examinado. Se houver
suspeita de AEC, podem ser realizadas titulações; no entanto, podem ocorrer falsos-
negativos durante estresse intenso, e títulos positivos podem ser coincidentes com
claudicação por outra causa, se a incidência sorológica for alta no rebanho de origem.
As radiografias podem ser úteis. Na epifisite, os discos de crescimento devem ser
observados; há também desvios laterais do rádio e, ocasionalmente, adelgaçamento
do osso. Na infecção pelo vírus da AEC, o aumento de volume inicial dos tecidos
moles em torno da articulação afetada é seguido por depósitos de cálcio no tecido
periarticular inchado, cápsula articular, ligamentos, tendões, bainhas tendíneas e,
finalmente, ventres musculares. As últimas alterações consistem de leve produção
de osteófitos periarticulares, esquírolas articulares e extensões grosseiras do osso
periarticular proximal e distalmente.
Alguns dos problemas mais importantes que causam claudicação em caprinos
serão discutidos adiante. Ver também ÍNDICE, página 555.
Epifisite
(Membros curvos)
Trata-se de um desequilíbrio cálcio: fósforo em cordeiros jovens de crescimento
rápido, mais freqüente em machos que em fêmeas; e em cabras novas no estágio final
da sua primeira prenhez ou no estágio inicial da sua primeira lactação. Estas cabritas
são jovens (por exemplo, 12 meses), ou muito leiteiras, ou estão prenhes de gêmeos
ou trigêmeos. A epifisite algumas vezes é complicada pelo raquitismo (ver pág. 586).
Achados clínicos e diagnóstico – A epifisite inicia-se com a deformação
lateral ou medial de um ou ambos os rádios. As alterações posteriores podem
consistir do desvio lateral dos dígitos anteriores ou posteriores; claudicação e
relutância em andar; dorso curvado; e aumento de volume macio e doloroso nas
articulações cárpica, metacarpofalângea, társica, e metatarsofalângea. O diagnóstico
pode ser confirmado por radiografias.
Os problemas que têm sido incriminados como causa incluem: excesso de cálcio
na dieta com a razão cálcio:fósforo > 1,4:1 (geralmente > 1,8:1), ingestão de proteína
em excesso (tem causado epifisite em outras espécies), excesso de ferro na dieta
(reduziu os níveis séricos de fósforo em ovelhas através da diminuição da formação
dos metabólitos da vitamina D), carência de vitamina D causada por ausência de sol
Claudicação em Caprinos 608
Deficiência de cobre
Isto pode causar problemas semelhantes aos dos bovinos (ver págs. 1453 e 720).
Podridão dos cascos/dermatite interdigital
Os dois problemas são graves em caprinos e outras espécies (ver págs. 603 e 653).
Laminite
(Aguamento)
Trata-se de um problema cosmopolita. A incidência em caprinos é menor do que
em gado de leite e cavalos. As causas predisponentes incluem superalimentação ou
acesso súbito a concentrados, dietas ricas em grãos e pobres em forragem, e/ou
dietas de alta proteína. A laminite pode também ocorrer como complicação de
infecções agudas como mastite, metrite ou pneumonia, especialmente após o parto.
Claudicação em Caprinos 610
Quando grave, o animal afetado claudica, reluta em se mover, tem febre e todas
as 4 patas estão quentes ao toque. Ao se tocar a coroa do casco o animal revela dor
intensa e reage. Nos casos um pouco menos graves, apenas os membros anteriores
são afetados. A laminite pode tornar-se crônica se a fase inicial não for diagnosticada
e tratada com sucesso. O início é insidioso, mas eventualmente o cabrito é
observado andando sobre os joelhos, com deformidade tipo “treno” nos cascos
(cascos achinelados, com as pinças apontando para cima).
Na laminite aguda, o problema primário, quando houver, deve ser tratado
prontamente. A laminite é tratada com anti-histamínicos, EV, 3 vezes/dia. Após as
primeiras 12h os corticosteróides são úteis; no entanto, seu uso é contra-indicado
em cabras prenhes. Analgésicos (por exemplo, fenilbutazona 2 a 4mg/kg, flunixina
meglumina 1,1mg/kg ou aspirina 30 a 100mg/kg ) diários e duchas ou imersão das
patas afetadas são úteis. A laminite crônica com cascos deformados é tratada pela
aparação vigorosa rotineira dos cascos.
Micoplasmose
Ver também páginas 796 e 913. Cabritos infectados com Mycoplasma mycoides
subsp mycoides (variante de colônias grandes [CG]) podem demonstrar claudica-
ção grave com várias articulações inchadas e quentes, perda de peso, pirexia e
pelagem ruim. Alguns apresentam diarréia e outros têm aumento dos ruídos
pulmonares e freqüência respiratória. Os cabritos afetados geralmente têm 2 a 4
semanas de idade. Foram relatadas taxas de morbidade e mortalidade de 90 e 30%,
respectivamente.
Trauma/dor
Os caprinos, em geral, são criaturas muito ágeis, porém se assustados, podem
tentar saltos impossíveis, com fraturas ou outros traumas conseqüentes. Os
piquetes destinados a caprinos manejados infreqüentemente devem ter barreiras
visuais além de físicas. Felizmente, a maior parte das fraturas distais dos membros
cura-se rapidamente com imobilização externa normal. A tosquia de caprinos
angorás é uma fonte de problemas potenciais, por exemplo, quando a máquina de
tosquia corta o tendão de Aqüiles. Os procedimentos ortopédicos indicados para
cães grandes podem ser utilizados.
Algumas injeções IM podem causar problemas; por exemplo, vacinas clostrídicas
mistas podem causar grave inchaço de tecidos moles e claudicação por ≥ 48h, e as
drogas irritantes podem danificar nervos em torno causando claudicação. Em
alguns casos de mastite grave, especialmente a gangrenosa, há uma claudicação
do membro posterior no lado afetado. A cabra muda seu andar devido à dor e
inchaço do úbere afetado. Aspirina, fenilbutazona e flunixina meglumina são os
analgésicos sugeridos.
CLAUDICAÇÃO EM EQÜINOS
Ver também CLAUDICAÇÃO, PRINCÍPIOS GERAIS, página 589.
PROBLEMAS DA PATA
Cisto ósseo na terceira falange
A presença de um cisto ósseo grande na terceira falange produz uma claudica-
ção crônica grave que não responde à medicação antiinflamatória. Esta condição
incomum pode ser vista em qualquer casco, mas está mais freqüente nos membros
posteriores. Aparentemente não há nenhuma predisposição etária, racial ou sexual.
Presume-se ser de origem traumática e não parte da síndrome de osteocondrose.
Uma desmineralização cística pode acompanhar os abscessos subsolares prolon-
gados. O cisto pode comunicar-se com a articulação falângea distal. Cistos múltiplos
estão algumas vezes presentes e podem progredir em tamanho e, eventualmente,
preencher grande parte da terceira falange. O diagnóstico é confirmado pelo
bloqueio do nervo volar e radiografia. O diagnóstico diferencial inclui ceratoma,
doença navicular, osteíte pedal e abscessos da terceira falange. O tratamento
cirúrgico nem sempre tem sucesso devido ao local e tamanho da lesão. A fratura
secundária da falange distal pode ocorrer devido ao enfraquecimento progressivo
do osso. Alguns cavalos retornam ao seu desempenho antigo anterior e outros são
destinados a usos alternativos, como reprodução.
Contusões na sola
Contusões na superfície volar da pata normalmente ocorrem pelas lesões diretas
causadas por pedras, pisos irregulares ou outros traumas. A ferração deficiente,
especialmente em animais com quartela baixa ou laminite, predispõe à contusão
normalmente ao longo da periferia da sola. A contusão pode ou não ser associada
à claudicação, mas se ela tornar-se crônica, a área afetada pode se tornar infectada.
Contusões persistentes de sola, não responsivas, podem levantar a suspeita de
osteíte pedal.
Há um tipo específico de “contusão” que ocorre na sola, no ângulo entre a parede
e a barra da ranilha. É mais comum nas patas dianteiras, no quarto interior e
normalmente está associada com uma ferração deficiente na qual a parte posterior
de uma ferradura foi impropriamente colocada ou deixada por muito tempo, causan-
do pressão na sola. Ferraduras que tenham sido ajustadas muito fechadas nos
quartos também podem causar este tipo de contusão. Também pode ser predisposta
pela conformação imperfeita da pata, tal como paredes retas que tendem a virar
em direção aos quartos ou patas encasteladas. Outras causas incluem o corte
excessivo da sola (que expõe os tecidos sensíveis à contusão) ou negligência
quanto ao comprimento dos cascos, permitindo que se tornem longos e irregulares.
As contusões são descritas como “secas”, quando existem somente pequenas
alterações inflamatórias; como “úmidas”, quando há excesso de exsudato inflama-
tório; e como “supurativas”, quando tornam-se infectadas secundariamente.
Quando a pata for elevada e a superfície da sola estiver livre de sujeira e material
córneo solto, nota-se uma descoloração vermelha ou amarelo-avermelhada. Uma
claudicação do tipo sustentação é o sinal mais precoce, mas a claudicação não está
sempre presente. Batendo-se de forma leve com um pequeno martelo sobre a área
ou aplicando-se pressão com uma pinça de casco, normalmente provoca-se
desconforto. Se houver contaminação, a dor será pronunciada quando for aplicada
a pressão; e se não for prontamente tratada, um canal purulento poderá estender-
se através da coroa do casco e produzir uma cavidade supurada.
Claudicação em Eqüinos 612
Cancro na ranilha
É uma hipertrofia crônica e supuração aparente dos tecidos produtores córneos
do casco, que envolve a ranilha e a sola. A causa é desconhecida. Esta condição
é primariamente uma doença dos cavalos pesados de tração, raramente vista hoje
em dia, embora em certos estábulos de cavalos leves no sul dos EUA haja
ocorrências freqüentes. A doença é mais freqüentemente encontrada nos membros
posteriores e quando é detectada está em estágio avançado. A ranilha pode parecer
intacta, mas tem uma aparência gasta e oleosa. O tecido córneo da ranilha
desprende-se facilmente, revelando o cório intumescido e fétido, coberto por um
exsudato caseoso. A superfície do cório é irregular com um crescimento vegetativo
característico. A doença pode estender-se para a sola e até para a parede, não
apresentando tendência à cura.
O prognóstico é reservado. O tratamento deve ser radical e intensivo. Todo o
tecido córneo solto e o tecido afetado devem ser removidos, e deve ser feito um
curativo com anti-séptico ou antibiótico diariamente. É necessário que se mantenha
um ambiente limpo e seco para que ocorra a cura, o que pode levar semanas ou
meses. Os materiais à prova d’água e botas plásticas são utilizados para este
propósito. Se o cavalo não claudicar, poderá voltar ao trabalho durante o período de
cicatrização, utilizando uma ferradura especial, com uma placa removível na sola
para proteger o curativo.
Talões contraídos
É uma condição vista principalmente em patas dianteiras de cavalos leves. Pode
ser causada por ferração incorreta que traciona os quartos, impedindo a expansão
do casco e a pressão adequada da ranilha. É predisposta por cascos ressecados,
pelo uso excessivo da grosa e pelo corte das barras. Pode seguir o uso de uma
ferradura que imobiliza o casco, como as usadas para a fratura da terceira falange.
A ranilha é estreita e encolhida, as barras podem estar curvadas ou quase
paralelas uma em relação à outra e os quartos e talões são marcantemente
contraídos e fechados. O casco córneo é seco e pesado. A claudicação é evidente
quando o cavalo é trabalhado em velocidade. O comprimento do passo é encurtado
e pode ser notado calor ao redor dos talões e dos quartos.
O prognóstico é reservado; a recuperação nos casos avançados leva 6 a 12
meses. Os fatores mais importantes no tratamento são umidificar os cascos e
promover expansão. Isso pode ser conseguido imergindo-se as patas em água
diariamente por 10 a 14 dias e realizando-se, a seguir, uma ferração corretiva. Os
produtos para cascos ressecados que contêm óleos ou ceras devem ser utilizados
com cautela, pois podem impedir a entrada de água no casco. As ferraduras tipo
Claudicação em Eqüinos 613
“slipper” com não mais de 3 cravos de cada lado promovem a expansão do casco.
Os clipes (barbetas) nos quartos ou o quarto cravo devem ser evitados.
O adelgaçamento com a grosa da parede do casco na região dos quartos logo
abaixo da faixa coronária, ou sulcos paralelos à coroa, feitos 2cm abaixo da coroa
desde os talões até metade do caminho para a pinça, auxiliam na expansão dos
talões. O segundo e o terceiro sulcos devem ser feitos com 1,2cm de distância e
paralelos ao primeiro. Conforme o casco cresce, o procedimento pode ter de ser
repetido até que os talões se expandam para a conformação normal.
Cavalos mais velhos (> 3 anos) têm muito menos prognósticos favoráveis, e a
inserção de um parafuso osseocortical através do local da fratura é indicada,
usando-se a técnica da compressão interfragmentária. Entretanto, a infecção é um
freqüente fator de complicação da cirurgia. Muitas fraturas cicatrizam na presença
de infecção, mas o parafuso deve ser removido numa segunda cirurgia para a
completa restituição do cavalo ao trabalho. A neurectomia digital palmar de cavalos
de corrida com fraturas alares tem sido utilizada para permitir que eles retornem à
competição sem a demora exigida para a cura completa.
Ceratoma
(Cerafilocele)
É a hipertrofia córnea na face interna da parede, normalmente na região da pinça.
Acredita-se que isso acompanhe um processo inflamatório crônico da matriz
laminar, causado por “cravos mal colocados”, lesão mecânica à parede ou à coroa
do casco ou após grosamento do último. Freqüentemente, a doença não é
evidenciável até que o crescimento esteja bem avançado. O exame da superfície
palmar mostra que o crescimento, comumente em formato cilíndrico, expandiu-se
empurrando a linha branca para o centro da sola. A atrofia pela pressão sobre a
terceira falange normalmente segue os casos graves. A remoção cirúrgica da massa
é indicada. Em casos leves, a ferração corretiva pode trazer algum alívio temporário.
O prognóstico deve ser reservado.
Laminite
(Aguamento, Febre nas patas)
Tradicionalmente definida como uma inflamação ou edema da lâmina sensitiva
da pata, a laminite agora está sendo considerada como uma isquemia transitória
associada a uma coagulopatia que leva à interrupção e degeneração da união entre
as lâminas córneas e sensitivas. Em casos refratários, a rotação da falange distal
torna-se uma seqüela comum, que pode progredir para a perfuração da sola. A
doença é a manifestação local de um distúrbio metabólico generalizado e os
problemas do casco podem ser classificados de modo geral como agudos, subagu-
dos ou crônicos. Pode ocorrer nas patas dianteiras, em todas as 4 patas ou,
ocasionalmente, só nas traseiras. A laminite biomecânica pode ocorrer numa única
pata, normalmente como complicação de uma claudicação grave ou doença
ortopédica no membro contralateral.
Etiologia – As causas mais comuns de laminite são a ingestão excessiva de
carboidratos (“superdosagem de grãos”); pastagem de forragens tenras, especial-
mente por parte de pôneis; e exercício excessivo e concussões num cavalo não
adaptado a esta prática. Também pode ser secundária a metrite pós-parição,
endotoxemia, cólica e enterite, ou administração de dose excessiva de corticoste-
róides ou algum outro medicamento. O risco é elevado em pôneis e em cavalos
despreparados que se encontram com o peso acima do adequado. Há uma alta
incidência das formas aguda e subaguda durante a época de crescimento da
forragem.
A alteração inicial na laminite aguda é a isquemia das vênulas e arteríolas
lamelares. O sangue arterial é então “desviado” para as vias de retorno venoso de
muitos vasos sangüíneos anastomóticos da pata (especialmente na banda coro-
nária) e desvia a circulação do cório causando estagnação do sangue, congestão
funcional e tromboembolismo dos leitos capilares. A necrose laminar contribui para
a rotação.
Estes distúrbios na circulação da pata, que inicialmente são reversíveis, prova-
velmente causam dor evidente. Se, por outro lado, a condição torna-se prolongada
Claudicação em Eqüinos 615
Doença navicular
(Podotroclose, Podotroclite)
Essencialmente, é uma condição degenerativa crônica da bolsa e do osso
naviculares que envolve danos na superfície flexora do osso e no tendão flexor
digital profundo adjacente, com formação de osteófitos sobre as bordas proximal e
lateral do osso. Conseqüentemente, esta é uma síndrome de patogenia complexa,
ao invés de uma entidade patológica específica. É primariamente uma doença das
patas dianteiras e essencialmente desconhecida em pôneis e jumentos.
Etiologia – A causa exata é desconhecida; todavia, sugere-se que a trombose
arterial e necrose isquêmica dentro do osso navicular estejam envolvidas. Consi-
dera-se que seja uma doença do cavalo de sela maduro, mas foram observadas
evidências radiográficas em cavalos de 3 anos de idade. Pode ser parcialmente
hereditária; certamente está associada com conformação vertical da pata dianteira.
A conformação da pata, nos casos crônicos, torna-se anormal; fica encastelada e
contraída, com uma ranilha pequena. A ferração inadequada que inibe a ação da
ranilha e dos quartos pode ser um fator contribuinte. A concussão entre o tendão
flexor e o osso navicular pode causar uma bursite local que leva a hiperemia e
rarefação óssea com alteração resultante na superfície flexora do osso.
Achados clínicos e diagnóstico – Normalmente, a doença possui um início
insidioso. A(s) pata(s) afetada(s) chama(m) atenção, inicialmente, pela atitude
do animal quando em repouso. O cavalo alivia a pressão do tendão flexor
profundo na área dolorida, apoiando o casco em pinça, ou avançando a pata
afetada e tirando os talões do solo. Se ambas as patas dianteiras estiverem
afetadas, eles são colocados “em pinça” alternadamente. Uma claudicação
intermitente se manifesta precocemente no curso da doença. O passo é
encurtado, e pode haver uma tendência a tropeços. O teste de flexão, que
envolve a porção distal dos membros anteriores, normalmente provoca uma
exacerbação transitória da claudicação. Pode haver sensibilidade nos músculos
braquiocefálicos secundária às alterações da postura e passo, causando a
queixa freqüente de “manqueira de paleta”.
O diagnóstico clínico é óbvio se for empreendido um histórico completo e um
exame físico cuidadoso. Isto é conseguido pela observação do apoio em pinça. A
claudicação pode ser eliminada pelo bloqueio nervoso digital palmar. Radiografias
revelam lesões degenerativas no osso com uma alteração no formato dos chama-
dos canais vasculares do formato triangular fino normal para um formato de cantil
invertido ou triangular. Estas lesões podem resultar da doença navicular ou do
envelhecimento natural, e devem ser interpretadas sob a luz do histórico e dos sinais
clínicos.
Claudicação em Eqüinos 618
Osteíte podal
Trata-se de uma inflamação das estruturas sensíveis da face volar das patas
dianteiras, associada a osteíte e desmineralização da terceira falange. Concussões
repetidas, laminite, calos persistentes, contusões crônicas da sola são fatores que
têm sido implicados como causa. É comum em cavalos de performance e, normal-
mente, está associada ao trabalho em pista dura. As claudicações podem não ser
óbvias, porque normalmente os dois dianteiros estão afetados. Pode haver um
movimento enrijecido ou arrastado dos membros anteriores com sintomas de
desconforto na região dos cascos. A percussão e a pressão da pinça no casco
normalmente revelam sensibilidade sobre toda a sola. A radiografia é auxiliar no
diagnóstico e na diferenciação de uma possível doença navicular.
O tratamento envolve repouso prolongado, medicação antiinflamatória e ferra-
ção cuidadosa para aliviar a pressão da sola. O prognóstico é reservado, mas a vida
útil de muitos cavalos pode ser estendida pelo manejo apropriado.
Doença piramidal
(Doença do processo extensor, Pé de contra forte)
Esta condição costuma ser classificada como um tipo de exostose interfalângea
(ver pág. 623). Ela surge a partir de uma periostite induzida traumaticamente ou a
partir de uma fratura por avulsão do processo extensor da terceira falange,
decorrente da tensão excessiva na inserção do tendão. A íntima associação do
processo extensor com a articulação falângea distal significa que a artrite secundá-
ria é uma complicação provável. Casos precoces podem manifestar calor e dor à
pressão. Em geral, está presente um aumento de volume na região da pinça
exatamente acima da banda coronária que resulta em aparência de “pé de contra
forte”. A medicação antiinflamatória sistêmica pode ser benéfica no tratamento. A
cirurgia tem sido usada com sucesso para fraturas por avulsão.
claudicação pode ou não estar presente; ela pode ser grave e associada à celulite
generalizada do membro. Como a condição é progressiva, há espessamento e
endurecimento da pele na região afetada, com rápida hipertrofia do tecido fibroso
subcutâneo.
O tratamento persistente e agressivo normalmente é bem-sucedido. Ele consiste
em remoção do pêlo, lavagem regular e limpeza com água aquecida e sabão para
remoção do exsudato, secagem e aplicação de um curativo adstringente. Se
surgirem lesões granulomatosas, elas deverão ser cauterizadas. A celulite requer
antibioticoterapia sistêmica e profilaxia contra o tétano.
Talões cortados
É um grave desequilíbrio adquirido da pata com assimetria dos talões. O
desequilíbrio resulta no contato de um lado dos talões com o solo antes do que seu
par, originando uma força cortante nos bulbos do talão, crescimento assimétrico da
pinça e grave contração dos talões. Há sensibilidade crônica dos talões, indistinguí-
vel daquela que surge na doença navicular. A pata assimétrica deve ser observada
cuidadosamente de todos os ângulos, e a marcha observada em passadas lentas
para detectar o apoio do peso anormal e o estresse cortante na região do sulco
central. Fendas do casco, fissuras profundas entre os bulbos do talão e podridão da
ranilha freqüentemente acompanham o problema. Pode haver um diagnóstico
concomitante de doença navicular.
São requeridos o corte e a ferração corretivos para restaurar o alinhamento
apropriado dos talões e o equilíbrio da pata. É usada uma ferradura com barra, com
uma barra diagonal de reforço para suportar o quarto e o talão afetados. São
necessários vários ajustes da ferradura antes de a melhora ser evidente. O
prognóstico é bom em casos sem complicações, se as medidas corretivas forem
aplicadas consistentemente até que ocorra novo crescimento do casco.
Podridão da ranilha
É uma degeneração da ranilha com infecção bacteriana secundária que
começa nos sulcos colateral e central. A condição é resultado de manejo e
higiene inadequados, que permitem aos cavalos ficarem em condições úmidas
por períodos prolongados, e falhas na limpeza regular dos cascos. É mais
comum nas patas posteriores. O sulco afetado fica úmido e contém uma descarga
negra e espessa que exala um odor fétido característico. Estes sinais isolados
são suficientes para se fazer o diagnóstico.
O tratamento deve iniciar pelo fornecimento de um local seco e limpo. Deve-se
fazer a limpeza do casco com a remoção de todo o tecido macerado. Loções
adstringentes, utilizadas na limpeza diária do casco, podem ajudar na recuperação
após a remoção do tecido afetado. O uso de uma ferradura com barra, após o
processo da doença ter sido bloqueado, pode ajudar na regeneração da ranilha. O
prognóstico é normalmente favorável, mas se o cório da ranilha tiver sido danificado,
todo o tecido afetado da ranilha deve ser removido.
Exostose do boleto
(Ossículos, Periostite e artrite serosa da articulação do boleto)
É uma inflamação, normalmente bilateral, do periósteo na superfície dorsal da
epífise distal metacárpica principal e na cápsula associada à articulação do boleto.
A extremidade proximal da primeira falange pode também estar envolvida. Por isso,
esta condição constitui uma forma de periostite e artrite serosa que pode progredir
para uma doença articular degenerativa. A causa determinante é o esforço violento
e o trauma repetido do treinamento duro em animais jovens. Tem sido reconhecida
como um risco ocupacional dos puros-sangues jovens.
O animal afetado move-se com uma andadura curta e picada. A palpação e a
flexão da articulação do boleto produzem dor e o exame revela um aumento de
volume mole, quente e sensível na frente e, algumas vezes, na lateral da articulação
do boleto. A radiografia nos estágios iniciais pode não apresentar nenhuma
evidência da neoformação óssea, sendo estes casos chamados de “exostoses
verdes”. Mais tarde, a entesopatia na área de ligamento da cápsula articular do
boleto ao metacarpo principal e à primeira falange podem ser vistas. Isto é sucedido
pela progressiva neo-ossificação ou formação de esporão, o qual pode quebrar e
surgir como “esquírola articular”.
O repouso é muito importante e pode ser curativo para casos iniciais. A inflamação
pode ser aliviada pela aplicação de compressas frias por vários dias. Agentes
antiinflamatórios sistêmicos, tais como fenilbutazona, também podem ser usados.
Alguns preferem a injeção intra-articular de corticosteróide; entretanto, esta e outras
Claudicação em Eqüinos 624
Exostose interfalângea
É uma periostite ou osteoartrite que leva a exostoses, envolvendo a primeira ou
segunda falange. A condição pode resultar de deficiências de conformação, ferração
imprópria e concussões repetidas devido ao trabalho em solos duros. Pode se seguir
a trauma e infecção, especialmente em ferimentos provocados por arame de cerca.
Em cavalos leves, a tração violenta dos ligamentos e a inserção tendínea na região
da quartela são os mais freqüentes fatores causais. Ela pode ser uma parte da
síndrome de osteocondrose (ver pág. 673) em cavalos jovens de desenvolvimento
rápido.
Há uma aparência característica em forma de sino na região da quartela. A
claudicação decorrente da periostite é vista inicialmente. Uma vez que tenha
ocorrido proliferação óssea, a claudicação pode desaparecer, particularmente
se a superfície articular não estiver envolvida. Por outro lado, a claudicação
normalmente persiste se a superfície articular for envolvida e pode progredir para
anquilose.
O diagnóstico clínico desta exostose é baseado na visualização e palpação de
tecidos moles espessados e neoproliferação óssea na região da quartela. Em geral,
o grau de movimento articular está restrito e há dor na flexão forçada das superfícies
articulares envolvidas. O bloqueio nervoso regional identifica a quartela como o sítio
da dor. A radiografia confirma o diagnóstico.
O repouso completo é o mais importante requisito. O tratamento com aplicações
frias e adstringentes e a radioterapia em estágios iniciais podem ser benéficos. A
medicação antiinflamatória pode aliviar os sinais clínicos de claudicação. A artrode-
se cirúrgica da articulação da quartela é curativa e é usada com sucesso para
restituir o rendimento dos cavalos jovens com osteocondrose.
Sesamoidite
Os ossos sesamóides são mantidos em posição pelo ligamento suspensor
proximal e por uma série de ligamentos sesamóides distais. Devido ao grande
estresse sofrido pelo boleto durante o exercício rápido, pode ocorrer o rompimento
na inserção de alguns destes ligamentos, o que resulta na sesamoidite.
Embora os sinais clínicos sejam similares, são menos graves que aqueles
decorrentes da fratura dos sesamóides. Dependendo da extensão dos danos, pode
haver vários graus de claudicação e aumento de volume. A redução da velocidade
pode ser a única manifestação de claudicação. A dor e o calor podem ser evidentes
à palpação e à flexão da articulação do boleto. Evidências radiográficas da
sesamoidite incluem a neoproliferação óssea periosteal, e/ou lesões osteolíticas,
particularmente na superfície abaxial do sesamóide afetado e linhas radiolucentes
(similares às linhas de fratura, exceto por não haver separação de fragmento)
correndo obliquamente através do osso. Essas linhas são proeminentes canais
vasculares. Posicionamentos radiográficos oblíquos são essenciais para diagnós-
tico e avaliação acurados.
A despeito de uma variedade de regimes de tratamento, o prognóstico para
cavalos com sesamoidite reservado a ruim. Mesmo após 9 a 12 meses de repouso,
Claudicação em Eqüinos 625
Sinovite vilonodular
É uma inflamação da membrana sinovial da face dorsoproximal da articulação do
boleto dos membros anteriores. A causa é desconhecida. A idade dos animais
afetados é de 2 a 18 anos, com incidência um pouco maior em machos. Tem-se
registrado envolvimento bilateral. Os nódulos intra-articulares são normalmente
ligados por uma haste ampla à porção dorsal da bolsa dorsoproximal da articulação
do boleto. Os nódulos são firmes e branco-acinzentados e podem ser circunscritos
ou lobulados. Lesões ósseas erosivas estão tipicamente associadas com a massa e,
em alguns casos, podem estender-se para a erosão da superfície articular. Micros-
copicamente, as lesões consistem de um estroma denso e bem colagenizado,
circunscrito pelas células sinoviais. A vascularização é proeminente e são ocasional-
mente vistas alterações hialinas no estroma e metaplasia óssea.
O diagnóstico pode ser suspeitado à palpação e confirmado radiograficamente
e o tratamento é feito pela excisão cirúrgica da lesão. Massas menores são
amenizáveis à artroscopia. A radioterapia parece ajudar a prevenir recidivas após
a excisão cirúrgica.
CONDIÇÕES DO CARPO
Canela dolorida
(Fratura em forma de pires)
É uma periostite na superfície cranial do osso metacárpico ou metatársico
principal. A condição é vista com maior freqüência nos membros anteriores de
puros-sangues jovens (2 anos) em treinamento e em campanha. É muito menos
freqüente em cavalos de raças padrão.
Esta condição é genericamente induzida por concussões em cavalos jovens,
cujos ossos não estão completamente condicionados. Acredita-se que as
microfraturas (isto é, fraturas de estresse) estejam envolvidas. Em alguns casos, ela
progride para uma fratura em forma de pires cortical ou mesmo fratura longitudinal
incompleta. Em casos pouco graves, a condição está associada somente à
formação de hematoma subperiostal e espessamento da face superficial do córtex.
Há edema doloroso e quente na superfície cranial do osso afetado. O cavalo fica
normalmente manco no início, seu passo é curto e a gravidade desta claudicação
aumenta com o exercício.
Claudicação em Eqüinos 626
Higroma cárpico
É um aumento de volume proeminente, cheio de líquido na face dorsal do carpo
quando um trauma repetido causa uma bursite local (ver HIGROMA DO CODILHO E
JARRETE, pág. 564). Em alguns casos, desenvolve-se uma tenossinovite do exten-
sor carporradial ou extensor digital comum ou, ocasionalmente, uma sinovite da
articulação carporradial ou intercarpal, que são visualizadas indistintamente. O
animal geralmente não claudica, mas em casos graves, pode haver alguma restrição
na amplitude da flexão articular. O tratamento conservador de simples retirada de
fluido e injeção de corticosteróide é raramente eficaz; o aumento de volume retorna
rapidamente. É necessário abrir a lesão cirurgicamente, inserir um dreno por até 3
semanas e colocar uma bandagem compressiva no membro. Em algumas circuns-
tâncias, é necessário dissecar o revestimento bursal para prevenir recidivas
contínuas.
Carpite
(Dor na soldra)
É uma inflamação aguda ou crônica das cápsulas articulares e estruturas
associadas do carpo. Em casos crônicos, podem desenvolver-se exostoses
(entesopatia). A forma aguda é comum em puros-sangues em treinamento. A
condição é normalmente atribuída à concussão de treinamentos pesados, sobretu-
do em cavalos imaturos ou despreparados. A lesão da face dorsal do carpo é uma
causa comum, especialmente em animais de caça e saltadores. Alguns casos são
o resultado de fraturas em lasca não detectadas ou osteíte/esclerose de um dos
ossos cárpicos. Se a conformação for ruim, a condição pode surgir sem qualquer
história evidente de trauma ou lesão.
A claudicação inicial e aumento de volume do carpo podem consistir da distensão
da cápsula articular e de estruturas sinoviais relacionadas, ou ser um aumento de
volume verdadeiro de tecidos moles. Os casos crônicos podem desenvolver exosto-
ses extensas na porção distal do rádio ou nas superfícies dorsais de algum dos ossos
cárpicos, normalmente os ossos radiais ou o terceiro cárpico. O diagnóstico é normal-
mente simples; entretanto, é necessário ter em mente a possibilidade de uma fratura
cárpica de base. A radiografia, em todas as posições, deve ser um método de rotina
na avaliação destes casos. A vista tangencial (“sunrise”) é importante na detecção da
osteíte/esclerose, particularmente no terceiro osso cárpico. A artroscopia é utilizada
na avaliação da cartilagem articular quando há ausência de alterações ósseas.
O repouso é o melhor tratamento e o prognóstico para casos agudos é bom, se
for providenciada a exclusão do trabalho por parte do animal. A dor pode ser aliviada
pela aspiração do excesso de fluido da articulação e a injeção intra-articular de um
corticosteróide, mas o repouso adequado é essencial. Se necessário, este proce-
dimento pode ser repetido após 4 ou 5 dias. O ácido hialurônico intra-articular ou os
glicosaminoglicanos polissulfatados têm recebido ampla aceitação neste problema.
A presença de fraturas em lasca ou alterações ósseas degenerativas é uma
indicação para a avaliação artroscópica e cirurgia. O tratamento antiinflamatório,
combinado com o treinamento contínuo e corridas, acelera o processo degenerativo
na articulação. O prognóstico é baseado na eficácia do tratamento e no grau das
alterações ósseas.
Claudicação em Eqüinos 627
Exostose
(Desmite interóssea)
Esta condição envolve primariamente o ligamento interósseo entre o terceiro
e o segundo ossos metacárpicos (com menor freqüência os metatársicos). A
reação é uma periostite com a produção de novo osso (exostose) ao longo do
osso envolvido. Trauma, decorrente de concussão ou lesão, esforço decorrente de
treinamento excessivo (especialmente nos cavalos imaturos), falha na conforma-
ção ou ferração imprópria podem contribuir para o desenvolvimento de exosto-
ses.
A exostose envolve mais freqüentemente os ossos metacárpicos rudimentares
médios. É observada a claudicação somente quando as exostoses estão se
formando e é mais freqüentemente vista em cavalos jovens. A claudicação é mais
pronunciada após o animal ter sido trabalhado. Nos estágios iniciais não há edema
visível, mas a palpação profunda pode revelar um doloroso aumento de volume
subperiosteal local. Nos estágios finais surge um crescimento calcificado. Após a
calcificação, desaparece a claudicação, exceto em casos raros nos quais o
crescimento atinge o ligamento suspensor ou a articulação carpometacárpica.
Radiograficamente, é necessário diferenciar a exostose da fratura do metacarpo ou
metatarso acessórios.
É indicado o repouso completo. O uso local de esteróides atrasa o processo
de consolidação e está contra-indicado. Na clínica de puros-sangues, tem certa
tradição o uso de ponta de fogo no esparavão, com o intuito de acelerar a
ossificação do ligamento interósseo. Entretanto, na maioria dos casos, os
tratamentos irritativos são contra-indicados. Se a invasão da exostose vai de
encontro ao ligamento suspensor, então a remoção cirúrgica é algumas vezes
necessária.
Bursite bicipital
É uma inflamação da bolsa localizada entre o tendão do bíceps e o sulco bicipital
do úmero. A causa usual é o trauma direto da extremidade da escápula.
Essencialmente, a condição produz uma claudicação de impulso com o en-
curtamento da fase anterior. O animal pode tropeçar porque a pinça não está
suficientemente elevada para livrar-se do solo. Em casos graves, uma claudicação
de apoio pode também estar presente; o animal repousa o membro numa posição
semifletida característica. A extensão forçada do membro normalmente causa uma
reação de dor. A pressão digital profunda sobre a bolsa e o tendão do bíceps pode
causar uma resposta de dor. A ultra-sonografia pode demonstrar o excesso de
líquido e lesões associadas ao tendão do bíceps. As radiografias podem ser úteis
em casos crônicos nos quais a calcificação da bolsa é uma seqüela comum.
O repouso prolongado é indicado (> 6 meses), particularmente em casos agudos.
Injeções de ácido hialurônico ou esteróides dentro da da bolsa podem ter sucesso.
A fenilbutazona e a administração oral de esteróides também podem ser úteis. O
prognóstico é reservado.
Fraturas do codilho
As fraturas do codilho não são lesões ortopédicas incomuns em cavalos, sendo
mais freqüente a fratura da ulna. Elas ocorrem em qualquer idade como resultado
de coice ou queda. Em potros (< 12 meses), elas envolvem o disco fisário do
olecrânio. O surgimento da claudicação é súbito e há dor e aumento de volume no
codilho. A fratura é normalmente transversa, estendendo-se através da incisura
semilunar e é freqüentemente articular. O olecrânio está deslocado pela tração do
tendão de inserção do tríceps; o codilho está baixado e não pode ser estendido,
produzindo sinais similares àqueles da paralisia do nervo radial. O carpo e o boleto
estão flexionados com o apoio da pinça no solo. O diagnóstico deve ser confirmado
radiograficamente.
O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. Em fraturas não articulares e
não deslocadas, o entalamento da perna inteira e o repouso em estábulo têm
apresentado sucesso. Em outros tipos, a redução por abertura e fixação interna por
placa ou banda de tensão é o método de escolha. O prognóstico é favorável com o
tratamento apropriado.
Claudicação em Eqüinos 630
Fraturas da escápula
Fraturas da escápula distal (tuberosidade escapular) e úmero proximal (tubero-
sidade lateral) são as fraturas mais comuns. Elas normalmente resultam de quedas
ou coices. A claudicação é grave e de aparecimento súbito. Há, com freqüência,
muito aumento de volume local de tecidos moles e formação de hematomas. O
diagnóstico é confirmado radiograficamente. O tratamento conservador pelo repou-
so prolongado em estábulo freqüentemente resultará em melhora. O tratamento
cirúrgico pode ter sucesso em casos selecionados. Exceto nos casos tratados
cirurgicamente, ambos os tipos de fratura curam-se por união fibrosa. O envolvimen-
to articular leva a um prognóstico desfavorável.
Atrofia da escápula
(Deslocamento da escápula, Pescoço achatado)
É a atrofia dos músculos supra e infra-espinhoso nos cavalos. Esta atrofia é de
2 tipos: por desuso e neurogênica. A atrofia por desuso, que algumas vezes envolve
também o tríceps, segue qualquer lesão da perna ou pata que leve à diminuição
prolongada do uso do membro. A atrofia neurogênica é decorrente de dano ao nervo
supra-escapular, que inerva os músculos supra e infra-espinhoso. Pôneis de pólo
são ocasionalmente afetados devido às colisões durante competições.
Achados clínicos e diagnóstico – Se o trauma não é evidente, pode haver
ausência de dor e dificuldade em se detectar a claudicação até que ocorra a atrofia.
Se a lesão é evidente, há usualmente alguma dificuldade em estender-se a
escápula. Com a ocorrência de atrofia, há a formação de uma depressão de cada
lado da espinha da escápula, especialmente na área infra-espinhosa, resultando em
proeminência da espinha. Já que os tendões de inserção dos 2 músculos
afetados atuam como ligamentos colaterais laterais para a articulação umeros-
capular, a atrofia destes músculos leva a um afrouxamento desta articulação.
Segue-se a abdução da escápula que, em casos graves, é diagnosticada erronea-
mente como uma luxação. O membro afetado, quando avançado, descreve um
curso semicircular e, quando o peso é apoiado sobre a perna, a articulação da
escápula move-se lateralmente. Em repouso, junto com a abdução da escápula, há
aparentemente abdução das porções inferiores do membro.
Tratamento e prognóstico – O tratamento da atrofia por desuso consiste na
remoção da causa da deficiência de uso do membro. Para a atrofia neurogênica a
massagem com linimentos estimulantes ou com um vibrador elétrico pode ser
benéfica. Contrações musculares rítmicas pelo faradismo têm “mantido vivo o
músculo afetado”, até que ocorra a regeneração do nervo. Baseando-se no sucesso
em um limitado número de casos, a liberação cirúrgica do nervo supra-escapular da
compressão por tecido cicatricial, através de retirada de um fragmento da superfície
rostral da escápula, tem sido recomendada. Para obtenção de melhores resultados,
a cirurgia deve ser realizada antes que a instabilidade e mobilidade lateral da
articulação da paleta estejam avançadas.
O prognóstico da atrofia por desuso depende da remoção da causa primária. Na
atrofia neurogênica, o prognóstico é reservado. Em casos brandos, deve-se esperar
que o paciente se recupere em 6 a 8 semanas, mas quando o dano ao nervo for
grave, a recuperação espontânea pode levar muitos meses, se esta ocorrer
totalmente. Estes casos são candidatos à liberação cirúrgica do nervo. Se a lesão
ao nervo tiver sido muito grave, a recuperação é improvável.
CONDIÇÕES DO TARSO
Ver também FRATURAS DOS OSSOS METACÁRPICO E METATÁRSICO ACESSÓRIOS,
página 627.
Claudicação em Eqüinos 631
Hidrartrose társica
(Inflamação flutuante do jarrete)
Trata-se de uma sinovite crônica da articulação tibiotársica caracterizada pela
distensão da cápsula articular. Falhas na conformação podem levar ao en-
fraquecimento da articulação do jarrete e ao aumento da produção de sinóvia.
Nesses casos, ambos os membros são afetados. Os casos unilaterais parecem ser
mais uma seqüela de alguma entorse ou algum problema intra-articular de base,
como uma osteocondrose.
O cavalo normalmente não claudica, a menos que a condição seja complicada
por envolvimento ósseo. A distensão primária da cápsula articular está na superfície
dorsomedial do jarrete, enquanto um pequeno aumento de volume ocorre em cada
lado do aspecto caudal proximal. A hidrartrose társica sem complicações raramente
interfere na utilidade do animal, mas constitui uma marca feia e torna necessário o
exame radiográfico da articulação. O aparecimento e o desaparecimento espontâ-
neos da distensão podem ocorrer em animais desmamados e de 1 ano.
O excesso de líquido dentro da cápsula articular pode ser aspirado. Corticoste-
róides intra-articulares fornecem alívio variável e transitório. Se necessário, o
procedimento pode ser repetido 3 semanas mais tarde. A artroscopia deve ser feita
quando se suspeitar do envolvimento ostecondral. A condição tende a recidivar,
especialmente se uma das causas contribuintes for a deficiência de conformação.
Esparavão ósseo
É a osteoartrite ou osteíte que envolve a articulação do jarrete, normalmente nas
articulações intertársica distal e tarsometatársica e, ocasionalmente, na articulação
intertársica proximal. As lesões envolvem doença articular degenerativa, particular-
mente na face craniomedial do jarrete, com neoproliferação óssea periarticular,
levando eventualmente à anquilose. Embora a condição normalmente cause
claudicação, esta pode ser obscurecida se as lesões forem bilaterais. Entre as
teorias avançadas para explicar esta condição, pode-se citar falha na conformação
do jarrete, concussão excessiva e desequilíbrio mineral. Todas as raças podem ser
afetadas, mas ela é mais prevalente em animais de raças padrão e quarto de milha.
O cavalo claudicante tende a arrastar a pinça. O movimento anterior do casco é
encurtado e a ação do jarrete é diminuída. A claudicação às vezes é contínua desde
que as lesões ósseas envolvam as superfícies articulares. O talão torna-se alonga-
do. Os cavalos de raças padrão desenvolvem sensibilidade na musculatura glútea
(a chamada bursite trocantérica) secundária ao esparavão. Em casos avançados,
a proliferação óssea é freqüentemente visível na face craniomedial distal do jarrete
(isto é, sede do esparavão). Quando em pé, o cavalo pode repousar a pinça sobre
o solo com o talão levemente erguido. A claudicação intensa em geral desaparece
com o exercício e retorna após o cavalo ter repousado. O teste do esparavão
(movimentando-se o animal a trote após a flexão forçada da articulação afetada por
1 a 2min) pode ser uma ajuda importante para o diagnóstico, mas não é específico
para esta condição ou mesmo para esta articulação. No chamado esparavão oculto,
não há exostose visível ou radiográfica. A anestesia local das articulações társicas
individualmente é necessária para localizar o sítio exato da dor responsável pela
claudicação.
A doença é autolimitante, terminando com a anquilose espontânea da(s)
articulação(ões) afetada(s) e um retorno ao estado sadio. Nos estágios iniciais, a
injeção intra-articular de corticosteróides e/ou hialuronato de sódio pode ser
benéfica. A administração de drogas antiinflamatórias não esteróides (por exemplo,
fenilbutazona) pode eliminar ou reduzir os sinais clínicos. O trabalho do cavalo após
este tratamento visa promover a anquilose e a resolução da claudicação. A
Claudicação em Eqüinos 632
Alifate
Caracteriza-se por um espessamento ou encurvamento do ligamento társico
plantar devido a um esforço violento. Inflamação e espessamento deste ligamento
podem ocorrer após queda, escorregão, salto ou arrancada. É mais usual em cavalos
de raças padrão nos quais a conformação ruim do jarrete é um fator predisponente.
Há um espessamento sobre a superfície caudal do osso tarsofibular, , 10cm
abaixo da ponta do jarrete. Essa condição é facilmente verificada quando o animal
é observado de lado. Um alifate recentemente formado é associado com inflamação
aguda e claudicação. O cavalo em pé protege a perna com a elevação do talão. Em
casos crônicos, não há normalmente nenhuma claudicação ou dor.
Se a condição é decorrente de inflamação aguda, indicam-se compressas frias
e repouso. Pouco pode ser feito para sanar o problema quando esse é secundário
à deficiência de conformação. Felizmente, o problema parece ser autolimitante, sem
efeitos permanentes no desempenho do animal.
Fratura do tarso
As fraturas do jarrete ocorrem como resultado de traumatismos, ou como uma
complicação secundária de doença articular degenerativa. O jarrete é uma arti-
culação complexa que abrange 8 ossos. Como no carpo, uma vasta gama de locais
e tipos de fratura pode ocorrer. O diagnóstico específico pode depender de um
exame radiográfico cuidadoso.
Algumas das fraturas mais comuns envolvem lascas do osso tibiotársico e do
maléolo medial ou lateral da tíbia. Fraturas em placa (“slab”) do osso central társico
e terceiro osso társico também são encontradas, particularmente em cavalos de
raças padrão. Já que estas freqüentemente são muito pequenas e podem causar
claudicação, é importante o uso de anestesia local para identificar-se positivamente
o local da claudicação. Em muitas circunstâncias, um período de repouso (3 a 6
meses) é tudo o que é necessário para a recuperação completa, embora com
grandes fragmentos, possa ser mais indicada a remoção cirúrgica. A articulação
tibiotársica é tratável pelo exame e cirurgia artroscópicos, sendo as áreas acessíveis
mais envolvidas. As fraturas em placa são passíveis de fixação por parafusos “lag”
(compressão interfragmentária).
Claudicação em Eqüinos 633
durante o tempo quente. Embora o mal das ancas seja visto como uma situação não
saudável, ele não atrapalha materialmente a capacidade do cavalo para o trabalho,
exceto nos casos graves, nos quais as concussões constantes levam a complica-
ções secundárias. A condição pode também tornar o animal incapaz para os esportes
eqüestres (por exemplo, adestramento).
O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, mas pode ser confirmado pela
eletromiografia. Se houver dúvida, o animal deve ser observado enquanto caminha
para trás no estábulo, após exercício pesado de 1 ou 2 dias. O harpejamento falso
surge, algumas vezes, como resultado de alguma irritação temporária nas partes
inferiores da área da quartela ou mesmo de uma lesão dolorosa na pata. Os casos
ocasionais de fixação ascendente momentânea da patela podem exibir uma
andadura semelhante à do mal das ancas.
Quando se suspeita de intoxicação, a remoção do animal para outra área pode ser
todo o tratamento necessário. Muitos desses casos podem aparentemente se resta-
belecer de forma espontânea. Em casos crônicos, os melhores resultados têm sido
obtidos pela tenectomia do tendão extensor digital lateral, incluindo a remoção de
uma porção do músculo. A melhora pode ainda não ser evidente por volta de 2 a 3
semanas após a cirurgia. O prognóstico após a cirurgia deve ser reservado, porque
nem todos os casos respondem. Isto não é surpresa, uma vez que se trata de um
axonopatia distal. Outros métodos de tratamento incluem altas doses de tiamina e
fenitoína.
CONDIÇÕES DA SOLDRA
Fraturas da soldra
As fraturas graves da articulação da soldra, que envolvem o fêmur distal ou a tíbia
proximal, são incomuns. Os danos associados à articulação femorotibial, ligamen-
tos e meniscos e o marcante aumento de volume dos tecidos moles fazem com que
o tratamento em cavalos adultos seja difícil ou impossível.
As fraturas da patela normalmente causam claudicação e aumento de volume
muito menos graves. A radiografia é necessária para se confirmar o diagnóstico. As
fraturas da patela podem responder ao tratamento conservador ou, se envolver um
grande fragmento ósseo, pode requerer reparo cirúrgico. Fraturas da crista da tíbia
também podem ocorrer ocasionalmente e requerem reparo cirúrgico.
Gonite
É uma inflamação da soldra que leva à doença degenerativa articular. Esta
articulação é complexa e a condição pode ser precipitada por causas múltiplas:
osteocondrose, fixação ascendente persistente da patela, lesões aos ligamentos
Claudicação em Eqüinos 635
Luxação patelar
O deslocamento verdadeiro da patela é incomum nos cavalos (ver também pág.
675). Quando ele ocorre é normalmente uma lesão séria, e a luxação patelar é logo
aparente. Em algumas raças, ocorre uma forma congênita de luxação lateral similar
àquela vista em pequenos cães. O problema mais freqüente que envolve a patela
é a fixação ascendente ou aprisionamento do ligamento patelar medial sobre a
porção proximal da crista troclear medial do fêmur. Em algumas raças de pôneis,
pode haver uma predisposição hereditária para a condição, mas ela também é vista
em animais imaturos com fraco desenvolvimento muscular, principalmente da coxa.
Pode ser uni ou bilateral. Os sinais clássicos são os de um “travamento” intermitente
do membro em extensão, seguido por um súbito movimento abrupto ou hiperflexão
quando o ligamento patelar se liberta da crista troclear medial. Os sinais são mais
freqüentemente vistos após um período de imobilidade (por exemplo, passada uma
noite no estábulo ou após uma viagem em reboque). Entretanto, os sinais clínicos
são freqüentemente muito menos dramáticos, o que torna o diagnóstico difícil. Pode
simplesmente haver uma falha de impulsão do membro posterior, associada a uma
ação patelar abrupta.
Em muitos casos pode haver cura, apenas com uma melhora geral do estado
e aumento do tono muscular do quarto traseiro. Em casos mais graves e persistentes,
é indicada a desmotomia do ligamento patelar medial. A desmotomia foi comumente
empregada no passado, porém atualmente está em descrédito. Acredita-se que após
a cirurgia ocorra uma fragmentação da extremidade distal da patela e osteocondrose,
particularmente quando o exercício pós-operatório é iniciado precocemente. Quando
a cirurgia é realizada, o repouso deve ser suficiente (por exemplo, 4 a 6 semanas) para
permitir cicatrização completa antes de se recomeçar o treinamento.
patogenia não está completamente compreendida, mas pode surgir após trauma-
tismo na cartilagem articular ou como resultado de uma lesão de osteocondrite.
Parece surgir no ponto de sustentação de peso; os locais mais comuns são o côndilo
medial do fêmur, a terceira falange, a escápula, o boleto e o carpo.
Na soldra, os cistos são freqüentemente vistos em puros-sangues jovens (1 a 2
anos); em geral, os sinais de claudicação são inicialmente notados no começo da
doma ou do treinamento. Embora a distensão articular femoropatelar seja caracte-
rística, estas lesões císticas podem causar claudicações muito graves sem disten-
são articular ou sinais palpáveis de dor, que são facilmente diagnosticadas por meio
de radiografias. Alguns cavalos respondem a um período de repouso de 4 a 6 meses
e melhoram quando medicados com fenilbutazona. Quando este tratamento conser-
vador falha, particularmente em animais mais velhos, é indicada a cirurgia. Esta
envolve a abertura e curetagem do revestimento dos cistos e tamponamento do
espaço com um enxerto ósseo autógeno. Devido aos resultados favoráveis, alguns
recomendam a cirurgia antes do tratamento mais conservador. Tanto a artrotomia
quanto a artroscopia são utilizadas.
CONDIÇÕES COXOFEMORAIS
Coxite
(Osteoartrite coxofemoral)
É a inflamação da articulação coxofemoral que leva à osteoartrite. Muitos casos
são de origem traumática, ocorrendo secundariamente a quedas ou estando em
recumbência no estábulo; entretanto a ruptura da borda do acetábulo ou fraturas
através deste, e a localização de uma infecção sistêmica, particularmente a pios-
septicemia em animais jovens, têm ocorrido.
São notadas claudicações de apoio e de impulso. Em casos graves, a perna pode
ser arrastada. Em casos menos graves, a marcha é ondulante, isto é, o quarto
afetado é elevado quando o peso é deslocado sobre a perna. O membro é avançado
de modo semicircular, com a fase anterior do passo encurtada. A pinça pode estar
gasta por causa do arrastamento. O animal freqüentemente pára com a perna
parcialmente flexionada, a soldra volta-se para fora e a ponta do jarrete volta-se para
dentro. Em casos crônicos, ocorre a atrofia dos músculos do quarto. A palpação retal
pode revelar um aumento de volume sobre o acetábulo, particularmente se tiver
ocorrido uma fratura através dele. A radiografia da articulação pode confirmar o
diagnóstico.
O prognóstico é pobre, indica-se repouso e, em casos leves, esteróides intra-
articulares podem aliviar a claudicação temporariamente. A fenilbutazona é útil,
porém muitos casos são excessivamente dolorosos para que a droga possa ter ação
benéfica.
relutância para suportar peso. O fêmur está virado para fora e o trocanter maior está
mais proeminente do que de costume.
A recolocação da articulação coxofemoral pode ser tentada sob anestesia geral,
mas os resultados a longo prazo são usualmente ruins.
Fratura da pelve
A fratura da pelve pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais prevalente nos
cavalos de 6 meses a 2 anos de idade. Quase todas as partes da cintura pélvica
podem ser envolvidas. O local e a extensão dos tecidos moles danificados podem
afetar o último prognóstico. Há aparecimento súbito de claudicação do membro
posterior com dor considerável. Inicialmente, pode ser difícil observar a crepita-
ção. Geralmente é possível confirmar-se uma fratura pélvica pelo exame retal,
especialmente se os fragmentos são deslocados. Se a claudicação não for muito
grave, mas houver suspeita de uma fratura, é melhor repousar o animal por 4 a
6 semanas antes de administrar um anestésico geral para se efetuar o exame
radiográfico.
Em casos mais crônicos, a claudicação pode estar associada à atrofia dos
músculos glúteos. As radiografias podem demonstrar o local e auxiliar no prognóstico.
Fraturas da tuberosidade da coxa, asa do ílio, tuberosidade isquiática e diáfise do
ísquio trazem um prognóstico esperançoso, particularmente em animais jovens.
Repouso de 9 a 12 meses é, em geral, o único tratamento necessário. Fraturas do
acetábulo, diáfise do ílio e púbis têm um prognóstico muito mais reservado.
Bursite trocantérica
É uma inflamação do tendão do músculo glúteo médio da bolsa, entre este tendão
e o trocanter maior, ou da cartilagem do trocanter maior. Na maioria das vezes, esta
condição é encontrada em cavalos de raças padrão, nos quais a bursite e a miosite
glútea são secundárias a problema no jarrete.
O peso é apoiado sobre a parede medial da pata, de tal forma que está é mais
gasta do que a parede lateral. O passo do membro afetado está encurtado e a perna
está virada para dentro. O cavalo tende a deslocar o peso dos quartos traseiros para
o lado sadio. Em casos crônicos, os músculos entre os ângulos interno e externo do
ílio estão atrofiados, dando à anca uma aparência plana. A dor é evidente quando
se faz pressão sobre o trocanter maior.
Se a inflamação é aguda, o animal deve permanecer em repouso e receber
compressas quentes sobre a área afetada. Injeções de corticosteróides dentro da
bolsa podem aliviar a inflamação temporariamente. Em casos crônicos, a injeção de
1mL de solução de Lugol a 5%, diluída em partes iguais de água destilada dentro
ou ao redor da bolsa, traz bons resultados como um contra-irritante.
CONDIÇÕES DO DORSO
Fraturas
Fraturas múltiplas dos ápices dos processos espinhosos dorsais de T4-10 são,
algumas vezes, observadas em cavalos jovens que tenham escorregado ou caído
de costas. As pontas dos ápices e os centros de ossificação são fraturados e
deslocados lateralmente. Após a dor inicial e a reação local terem diminuído, estes
animais têm uma recuperação satisfatória. Em geral, não há efeito permanente no
desempenho do animal, mas um aumento persistente de volume sobre a cernelha
pode requerer uma sela especial. Ocasionalmente, outras fraturas de processos
espinhosos individuais ocorrem e sua presença pode ser confirmada pela radiogra-
fia. Nestes casos, os sinais clínicos são variáveis.
Claudicação em Eqüinos 638
Fraturas dos corpos vertebrais são mais sérias. Há, freqüentemente, uma
história de queda feia que se assemelha a um salto mortal e resulta numa
paraplegia completa ou parcial, decorrente de danos à medula espinhal. O
prognóstico é grave.
Espondilose ossificante
São lesões espondilíticas, que afetam os corpos vertebrais, do meio para trás do
tórax, pouco comuns em animais em serviço. Entretanto, quando elas ocorrem,
provocam sérios efeitos clínicos e pouco pode ser feito no que diz respeito a um
tratamento permanente para manter o animal em trabalho.
Lesões osteoartríticas dos processos transversos e articulares das vértebras
lombares são mais comuns, especialmente em cavalos idosos. Por outro lado, elas
parecem causar poucos inconvenientes para o animal, porque esta parte da espinha
é mantida particularmente rígida, mesmo quando o animal está saltando.
Distensão sacroilíaca
(Subluxação sacroilíaca, Distensão sacroilíaca, Artrose sacroilíaca, Saliência de
caçador)
A distensão aguda e grave dos ligamentos sacroilíacos está associada a uma
história de lesão e dor intensa na região pélvica ou sacroilíaca, freqüentemente com
claudicação marcante dos membros posteriores. A distensão sacroilíaca subaguda
ou crônica é uma lesão de baixo grau que causa uma sensibilidade dorsal típica. Ela
representa a cura incompleta ou recidiva de uma distensão aguda. Pode haver um
histórico de mau desempenho com uma claudicação intermitente e, freqüentemen-
te, falseante dos membros posteriores. Esta claudicação pode estar associada a
alguma restrição na ação dos membros posteriores e ao arrastamento da pinça de
um ou de ambos os cascos. Há, em geral, proeminência ou assimetria da tuberosi-
dade sacral. A palpação retal ajuda na identificação da crepitação ou alteração da
região sacroilíaca.
Esta síndrome é usual em cavalos de raças padrão e de salto e caça, e tem sido
confundida com problemas crônicos da soldra. Em geral há uma fraca musculação
da massa glútea e, quando esta é observada por trás, pode-se detectar certa
assimetria dos quartos. Isto pode ser causado pela inclinação ou rotação da pelve,
perda muscular em um dos quartos, ou ambos. A cauda pode ser mantida levemente
deslocada para o lado. Nos estágios iniciais a dor pode ser evidenciada quando é
aplicada pressão na linha média, em frente à tuberosidade coxal, normalmente
havendo relutância em ventrofletir o dorso. Se estes casos são diagnosticados
precocemente e o animal repousa tempo suficiente para a completa cicatrização dos
ligamentos danificados, ele normalmente pode recuperar-se dentro de 6 a 9 meses.
Entretanto, de raças padrão geralmente não competem bem. Casos crônicos
continuam a apresentar baixo desempenho a despeito do repouso e da medicação
antiinflamatória.
CONDIÇÕES DIVERSAS
Deformidades de flexão
(Tendões contraídos, Pata de mula, Emboletamento)
É uma síndrome de distúrbios do tendão flexor, associada a alterações posturais
e podais, claudicação e debilidade. Há causas congênitas e adquiridas. O
malposicionamento no útero, lesões teratogênicas (ver ARTROGRIPOSE, pág. 574) e
defeitos genéticos têm sido implicados ou comprovados como causadores de
contração dos membros em potros recém-nascidos. A dor crônica é a causa mais
comum da contratura adquirida dos tendões. A dor pode surgir de fisites, osteocon-
drose, osteoartrite ou ferimento dos tecidos moles e infecções e pode induzir a
retirada reflexa do membro, com o encurtamento das unidades musculotendíneas.
Os flexores são mais robustos que os extensores, então, o paciente anda sobre suas
pinças ou apóia-se sobre os boletos. Erros nutricionais referentes a problemas
associados ao crescimento ósseo (isto é, osteocondrose e fisite, ver anteriormente)
estão intimamente relacionados à síndrome e devem ser cuidados como uma parte
do tratamento (ver também, pág. 575).
Achados clínicos – Potros recém-nascidos exibem um vasto espectro de
envolvimento. Alguns não podem ficar em pé; outros tentam andar sobre o dorso
de seus boletos. Outros podem ficar em pé, mas apóiam-se sobre os boletos ou
carpos. Um potro pode melhorar espontaneamente, embora outro, aparentemente
normal ao nascimento, possa tornar-se progressivamente pior. Lactentes e desma-
mados de 3 a 12 meses de idade podem exibir um rápido ataque e passar a andar
sobre suas pinças com os talões desencostados do solo. Um ataque lento é carac-
Claudicação em Eqüinos 640
Miopatia calcificante
(Miopatia fibrótica)
É uma condição incomum que ocorre principalmente em quartos de milha em
trabalho, como resultado de traumatismo aos músculos semimembranoso, semi-
tendíneo e bíceps femoral. Normalmente é unilateral e envolve fibrose progressiva
com aderências locais do músculo afetado que, eventualmente, se calcificam. A
forma de andar é característica; a fase anterior do passo é convulsiva e o pé é
lançado para trás a uma curta distância até ser recolocado sobre o solo. A ação
é apreciavelmente diferente daquelas do mal das ancas e da fixação da patela. O
endurecimento dos músculos também pode ser palpado em alguns casos. A
radiografia e a ultra-sonografia ajudam a estabelecer o grau de envolvimento. O
tratamento envolve uma cirurgia para incisar o ligamento medial do músculo
semitendíneo na região da soldra. Os resultados obtidos em um número limitado de
casos são encorajadores. De outra forma, o prognóstico é desfavorável.
Osteocondrose
(Osteocondrite dissecante [OCD], Discondroplasia)
É uma doença metabólica de maturação da cartilagem e de ossificação endo-
condral defeituosa, que resulta numa síndrome de defeitos ósseos e articulares (ver
também pág. 673). As causas incluem o crescimento acelerado, traumatismo à
cartilagem, desnutrição e desequilíbrios minerais, incluindo sinais de deficiências
Claudicação em Eqüinos 641
Fisite
(Epifisite, Displasia da cartilagem fisária, Displasia do disco de crescimento)
A fisite envolve um aumento de volume ao redor do disco de crescimento de
certos ossos longos em animais jovens. Pode ser um componente da osteocondro-
se. As causas sugeridas incluem desnutrição, defeitos conformacionais, falhas no
crescimento do casco, compressão do disco de crescimento e toxicose. A hipótese
mais aceitável até agora parece ser a teoria da compressão. Por outro lado, as
Claudicação em Eqüinos 642
CLAUDICAÇÃO EM SUÍNOS
Os distúrbios locomotores estão se tornando comuns em suínos, provavelmente
devido à tendência a aumentar a produção confinando-os intensivamente, principal-
mente quando são utilizados pisos com frestas ou perfurados. A claudicação pode
resultar na falha em alcançar peso de mercado, rendimento reduzido e condenações
parciais ou totais da carcaça ao abate. Também podem ocorrer sérias perdas na
criação de reprodutores e a relação de seleção varrão/marrãs pode ser comprome-
tida. Distúrbios locomotores em porcas podem ser a grande causa de refugos.
Perdas adicionais surgem de: 1. custo de reposição; 2. aumento no número de
porcas necessárias para manter a produção; 3. aumento da mortalidade antes do
desmame, resultante da menor agilidade das porcas; e 4. fraco desempenho
reprodutivo devido à redução da média de parição das porcas do rebanho. Em
machos, já que os animais claudicantes são inábeis para a reprodução, as perdas
incluem: 1. custo adicional de reposição (de outro modo os varrões de boa saúde
seriam usados em excesso); 2. redução do tamanho da leitegada e taxa de
concepção; e 3. mais varrões têm de ser mantidos.
O sistema locomotor envolve músculos, ossos, articulações, tendões, ligamen-
tos e unhas, todos coordenados pelos sistemas nervosos central e periférico. A
disfunção de qualquer área pode resultar em claudicação. Somente as anormalida-
des comuns que afetam o sistema esquelético e patas serão detalhadas aqui, e
estas precisam ser diferenciadas das claudicações resultantes de anormalidades
neuromusculares.
Claudicação em Suínos 643
córneo danificado e o tecido córneo produzido pelo cório inflamado é mais poroso
e pouco resistente aos danos. Tecido córneo pigmentado parece conter mais
componentes minerais que o tecido córneo não pigmentado e a incidência das
lesões nas patas é mais alta no último, possivelmente porque ele é mais mole.
Superfície do piso – Animais estabulados sobre pisos artificiais desenvolvem
mais lesões podais. O piso ideal deve prover tração adequada, não ser abrasivo e
ser confortável para o animal se deitar, ser autolimpante ou de fácil limpeza, durável
e barato. Muitos pisos, embora satisfaçam alguns destes critérios, têm uma
deficiência importante; é difícil produzir uma superfície não abrasiva que não seja
escorregadia. O concreto tem sido usado em grande quantidade em todas as fases
de produção, na forma de pisos sólidos, parcialmente laminados, ou completamente
formados por lâminas de concreto. Infelizmente, as superfícies de concreto variam
tremendamente, primeiro devido às diferenças de composição, condições de
disposição e acabamento; segundo devido a fatores que precipitam o desgaste
excessivo do piso e dos cascos.
O concreto recentemente derramado ou “verde” pode produzir maior incidência
de lesões que superfícies amadurecidas. Acabamentos rugosos e pisos de concreto
sólido gasto, com agregados cortantes expostos, aumentam o risco de lesões na
pata e membro. O concreto laminado com bordas cortantes ou lascadas é mais
traumático para cascos e membros, quando comparado com as lâminas de bordas
arredondadas. Pisos parcialmente laminados causam menos lesões no casco do
que os completamente laminados. A largura das lâminas também influencia na
incidência de lesões nos suínos em crescimento e terminação: lâminas de concreto
de 20cm produzem menos lesões podais do que aquelas com 13cm.
Experimentos para se determinar o melhor traçado, modelo e composição das
lâminas para o piso da pocilga têm tido resultados equívocos. Pisos de madeira
podem produzir uma menor incidência de lesões podais do que os de concreto, mas
eles são menos duráveis. Ripas de plástico ou alumínio parecem predispor a lesões
mais graves de talão e sola, enquanto pisos de concreto ou laminares de aço
favorecem as fissuras na parede da pata. Painéis metálicos revestidos de plástico
são menos abrasivos, especialmente para os joelhos dos neonatos. Muitas das
críticas vistas anteriormente aplicam-se a várias formas de pisos de metal perfurado
ou trançado. Devem-se tomar muito cuidado com o acabamento, tamanho dos vãos
e o assentamento de tais pisos. Devem-se também levar em consideração a limpeza
e desinfecção destes pisos.
Nutrição – A nutrição é responsável por uma parte da incidência de podridão das
patas. Os suínos alimentados com soro de leite ou leite desnatado podem ter uma
alta incidência à podridão dos cascos, enquanto os alimentados com restos ou
lavagem são, provavelmente, menos suscetíveis. A suplementação com biotina,
200µg/kg em dietas não baseadas em milho, pode produzir uma redução na inci-
dência de lesões podais em porcas ou ajudar a prevenir seu desenvolvimento. Dietas
que contêm milho (amarelo) como base são consideradas possuidoras de índices
adequados de biotina, mas a suplementação ainda poderia provar ser benéfica.
Achados clínicos e diagnóstico – Uma claudicação que não suporta peso,
unilateral, que pode resultar de uma lesão de casco com subseqüente laminite ou de
uma laminite traumática sem nenhuma evidência de lesão do casco. O casco deve
ser limpo e palpado. A pressão digital pode ajudar na localização da área de dor.
Tratamento e controle – A terapia normalmente envolve o tratamento das
infecções secundárias. Agentes quimioterápicos tópicos, tais como pomada antibió-
tica, solução de formalina e sulfato de cobre, têm sido usados em surtos de podridão
das patas. Grandes doses intramusculares de penicilina procaína (6 milhões de UI)
são cogitados como efetivas. Pode ser benéfico colocar-se os animais num cercado
forrado, com cama ou livre de sujeira. As lesões da pata podem melhorar se os
Claudicação em Suínos 645
Laminite
A inflamação do cório da pata, infecciosa ou não infecciosa, pode resultar em
claudicação. Doenças sistêmicas, tais como febre pós-parto e intoxicação por
mercúrio, podem resultar em laminite. A superalimentação também tem sido implica-
da. Já que a laminite não é o principal sinal clínico de uma doença sistêmica, a
freqüência com que as 2 são associadas é desconhecida. Talvez a forma mais
comum de laminite seja a observada em porcas com febre pós-parto ou mastite. A
claudicação é normalmente observada nos membros anteriores, embora todos os 4
membros possam ser afetados. Calor e dor podem ser evidentes nos cascos e pode
ser detectado um pulso digital se o boleto for palpado. Ao exame do corte histológico,
hiperemia, hemorragia e dilatação dos linfáticos são observadas no extrato vas-
cular. Na base das lâminas são vistas trombose e inflamações supurativas. O
tratamento é normalmente dirigido à doença sistêmica primária, mas corticoste-
róides ou anti-histamínicos podem ser usados para diminuir a inflamação do cório.
A laminite com ou sem infecção é um problema comum em animais criados em
pisos artificiais. O traumatismo do casco, que produz hemorragia e inflamação no
cório, é uma causa não infecciosa comum; a hemorragia é particularmente óbvia em
animais com tecido córneo não pigmentado.
ARTRÍTIDES INFECCIOSAS
Artrite por micoplasma
A Mycoplasma hyosynoviae é um habitante primitivo comum da nasofaringe e
pode produzir sinovite aguda e subseqüente claudicação em porcos de 10 a 30
semanas de idade, mas é mais comum em animais acima desta faixa etária.
Achados clínicos – Os sinais clínicos podem ser precedidos por alterações do
manejo, tais como transporte, mistura de ninhadas e marcação. O fato de os leitões
caminharem em lotes sujos após chuva pesada também pode precipitar um surto.
A sinovite decorrente de M. hyosynoviae pode ser secundária à osteoartrite. Os
indivíduos afetados estão normalmente afebris e relutam em se levantar. As
articulações mais comumente afetadas incluem a soldra, codilho, carpo e tarso, mas
as claudicações dos membros posteriores são mais comuns. Quando os membros
anteriores são afetados, os animais deslocam o seu peso para os membros
posteriores, flexionam o carpo e estendem o codilho. O envolvimento do membro
posterior é caracterizado por uma tentativa de deslocar o peso para os membros
anteriores. O animal tem dificuldade em ficar em pé, com uma postura de pernas
rígidas, alternando o peso do corpo de um membro posterior para o outro repetida-
mente, e flexiona freqüentemente o membro afetado. Imediatamente após o animal
ficar em pé, ele pode caminhar de forma rígida, mas em geral caminha normalmente
após exercício forçado. Pode ser observada a cifose. A distensão articular pode ser
visível e palpável quando o carpo e o tarso estão envolvidos, mas é difícil detectar
a distensão de outras articulações. Uma diminuição da claudicação normalmente
ocorre , 1 semana após o início e os sinais clínicos continuam diminuindo até que
a recuperação esteja completa. A morbidade é variável (1 a 50%) e a mortalidade
é baixa.
A Mycoplasma hyosynoviae foi isolada recentemente das lesões de bursite
adventícia dos jarretes, mas não está claro se ele está envolvido com o desenvol-
vimento destas bolsas.
Diagnóstico e lesões – As membranas sinoviais são hiperplásicas, edematosas
e hiperêmicas. Há líquido articular serossanguinolento em excesso, mas as super-
fícies periarticulares e articulares não estão afetadas. O diagnóstico é baseado no
histórico, sinais e lesões; uma sinovite aguda, não febril e não supurativa num porco
de 12 a 24 semanas de idade é altamente sugestiva. O diagnóstico é confirmado
pelo isolamento do microrganismo e pela sorologia.
Tratamento e controle – A M. hyosynoviae é sensível a tilosina, lincomicina e
tiamulina parenterais. Uma injeção de corticosteróides aos primeiros sinais da
doença reduz a gravidade da claudicação. A identificação e correção de fatores
predisponentes são os melhores meios de prevenção: experimentalmente, a
vacinação tem se mostrado efetiva.
Osteoartrite e osteocondrose
A osteoartrite também denominada artropatia, artrose, poliartrose, doença
articular degenerativa e osteoartrose, é uma causa de claudicação em suínos
adultos jovens e animais idosos.
Patogenia – O exame microbiológico tem falhado na revelação de agentes
infecciosos. As alterações histológicas na cartilagem articular, osso subcondral e
membrana sinovial, confirmaram o que se suspeitava.
A osteoartrite em suínos é geralmente secundária à osteocondrose (ver também
pág. 673). A osteocondrose em suínos, geralmente refere-se a uma falha focal na
ossificação endocondral e nas cartilagens epifisária e fisária. Esta é provavelmente
uma designação errônea, já que a osteocondrose implica degeneração e necrose
do osso e cartilagem de um centro de ossificação. A osteonecrose não é observada
em lesões precoces, mas esclerose e fibrose da medula óssea podem ser observa-
das em estágios tardios. A condronecrose é mais comumente observada no
complexo articular epifisário e só ocasionalmente observada na cartilagem fisária.
A incidência e gravidade da osteocondrose não podem ser relacionadas a anorma-
lidades do aparelho locomotor em suínos abaixo do peso de mercado. As claudica-
ções desenvolvem-se quando uma área do complexo cartilaginoso articular epifisá-
rio, enfraquecida pela osteocondrose, separa-se do osso subcondral associado.
A osteoartrite e a osteocondrose têm sido relatadas em muitas articulações
sinoviais dos membros do esqueleto axial. Há uma predileção por certas articula-
Claudicação em Suínos 650
Fraturas
A fratura óssea pode ocorrer em suínos de qualquer idade. Estas fraturas em
neonatos são causadas principalmente pelas porcas. As fraturas nos animais adul-
tos podem ser associadas a traumatismos severos, diretos na criação ou no transpor-
te. Como resultado da osteomalacia, as porcas e marrãs não raramente desenvol-
vem fraturas proximais do fêmur ou vertebrais após o desmame de grandes ninha-
das. Estas fraturas são mais comuns em porcas que amamentaram em boxes
individuais e foram misturadas com outras porcas no desmame. Suínos afetados
devem ser abatidos.
CLAUDICAÇÃO EM OVINOS
Uma série de doenças sistêmicas pode causar claudicações em ovinos. As
condições mais comuns, listadas por grupos etários, geralmente afetados, são:
cordeiros – mal das juntas, tétano, doença do músculo branco, ataxia enzoótica
(deficiência de cobre), poliartrite (por Chlamydia), raquitismo, intoxicação por
plantas tóxicas (por exemplo “sneezeweed”), éctima contagioso (estomatite ulcerosa);
adultos – mastite, epididimite, desequilíbrios de minerais e microelementos; qual-
quer idade – erisipela (uma das mais importantes, ver pág. 405), laminite, língua
azul, dermatose ulcerativa, febre aftosa e dermatofilose. Informações adicionais no
diagnóstico diferencial, tratamento e prevenção podem ser encontradas nos tópicos
específicos (ver também ARTRITE E PROBLEMAS CORRELATOS, GR AN, pág. 562;
DOENÇAS DA COLUNA e MEDULA ESPINHAIS, pág. 705; ANOMALIAS CONGÊNITAS e
HEREDITÁRIAS DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO, pág. 572 e MIOPATIAS, pág. 659).
Muitas claudicações são decorrentes de lesões. Os princípios gerais de trata-
mento e prevenção destas lesões para ovinos são os mesmos utilizados para outras
espécies.
Além das doenças que afetam também outras partes do corpo, há um grupo de
infecções específicas das patas. São decorrentes de infecções mistas com combi-
nação de bactérias, incluindo Fusobacterium necrophorum . A pele entre as unhas
é local primário de invasão, mas isto normalmente não ocorre quando o extrato
córneo está seco e intacto. As causas predisponentes são os danos causados pela
água, macerações, queimaduras pelo frio ou traumatismo mecânico. A penetração
epidérmica por F. necrophorum e Corynebacterium pyogenes induz uma condição
transitória, a dermatite interdigital ovina (DIO); quando há invasão concorrente pela
Bacteroides (Fusiformis) nodosus, surge a podridão dos cascos. Esta pode ser
benigna ou virulenta, dependendo da linhagem de B. nodosus envolvida. Quando a
invasão dérmica e subdérmica pela F. necrophorum e C. pyogenes envolve a
articulação interfalângea distal, a doença que se desenvolve é o abscesso podal. A
infecção da matriz do casco com estes microrganismos resulta em laminite séptica.
A partir de agora, segue-se a descrição destas 5 condições distintas, mas relacionadas.
ABSCESSO PODAL
(Necrose bulbar infecciosa, Abscesso do talão)
O abscesso podal é uma infecção necrosante ou purulenta que envolve a
articulação interfalângea distal. A incidência é normalmente esporádica, porém até
15% dos carneiros ou ovelhas em gestação adiantada podem ser afetados.
Os 2 microrganismos mais consistentemente encontrados nos casos de absces-
so podal são Fusobacterium necrophorum e Corynebacterium pyogenes. De forma
geral, os abscessos podais desenvolvem-se como uma complicação da DIO (ver
pág. 656) pela extensão do processo necrótico para dentro do tecido subcutâneo e
dali para a articulação interfalângea distal. Esta articulação é vulnerável a infecções
na face interdigital, onde a cápsula articular projeta-se acima da borda coronária,
pelas bolsas dorsal e volar. Nestes 2 locais, a cápsula articular é protegida somente
pela pele interdigital e por uma quantidade mínima de tecido subcutâneo.
Casos esporádicos podem também originar-se após a penetração de objetos
cortantes ou desbastes pouco cuidadosos dos cascos.
Abscessos desenvolvem-se mais freqüentemente quando o solo e as pastagens
estão úmidos. Os carneiros, particularmente em seu primeiro inverno e as ovelhas no
final da gestação são mais comumente afetados. A doença causa uma claudicação
aguda, normalmente restrita a uma só pata. Em estágios precoces, pode ser possível
extrair-se o material necrosado através do canal aberto na pele interdigital, responsá-
Claudicação em Ovinos 653
vel pela invasão bacteriana. Mais tarde, a cavidade do abscesso pode estender-se e
estourar em um ou mais pontos acima da coroa. Em , 50% dos casos, há movimento
exagerado do dígito afetado, o que evidencia o rompimento dos ligamentos sobre a
articulação interfalângea distal. Em tais casos, parece que pode haver deslocamento
do dígito durante a locomoção e deformidades permanentes.
Claudicação aguda, aumento de volume de um dos dígitos e descarga cavitária,
distinguem o abscesso podal da podridão dos cascos. A radiografia é usada para
ajudar a determinar a extensão do dano articular.
Uma vez que se estabeleceu a infecção na articulação, o tratamento tem valor
limitado. A terapia deve ser dirigida para a manutenção da integridade dos ligamen-
tos articulares, pela drenagem dos abscessos, bandagens para reduzir o estresse
sobre os ligamentos e pelo ataque à infecção bacteriana com antibióticos e
sulfonamidas.
Embora o prognóstico para a completa recuperação do abscesso podal seja ruim,
em muitos casos a cicatrização suficiente da pata, para permitir a locomoção
adequada após um período de , 2 meses, pode ocorrer.
O controle depende da prevenção das condições que causam a DIO e também
do tratamento da condição tão breve quanto ela apareça. Embora as vacinas de
Fusobacterium necrophorum sejam usadas, elas não têm tido resultados inteira-
mente satisfatórios.
FIBROMA INTERDIGITAL
Trata-se de uma massa de tecido fibroso entre as pinças; pode assemelhar-se
a um papiloma, e se não for removido, cresce para cima entre as primeiras falanges,
podendo causar claudicação intensa. Se detectado precocemente, a remoção
cirúrgica (criocirurgia e eletrocautério) é bem-sucedida.
LAMINITE SÉPTICA
(Supuração lamelar, Abscesso da pinça)
É uma infecção bacteriana aguda da matriz laminar do casco, normalmente
restrita à pinça e parede abaxial. A doença é esporádica e a etiologia variável, mas
casos decorrentes da Fusobacterium necrophorum e Corynebacterium pyogenes,
normalmente são mais graves e extensos que aqueles que envolvem estreptococos
ou outros microrganismos. A infecção provavelmente penetra através de fissuras
entre a parede e a sola e através de fraturas verticais e horizontais do tecido córneo.
Algumas vezes, é favorecida pela retenção de lama e fezes, por supercrescimento
do casco ou pela separação da parede após laminite.
A parte da frente da pata é mais comumente afetada. A claudicação é grave e o
dígito afetado está quente e sensível. Pode haver uma cavidade acima da lesão na
região da coroa. Os ovinos afetados normalmente se recuperam rapidamente após
o desbaste do tecido córneo para promover a drenagem.
MIOPATIAS
As miopatias são doenças que produzem dano primário, às fibras musculoesque-
léticas, excluindo aquelas de origem inflamatória e aquelas secundárias a lesões
neurais. Muitos exemplos de miopatia ocorrem em animais e alguns, tais como as
Miopatias 660
MIOPATIAS NUTRICIONAIS
As miopatias mais comuns e mais importantes economicamente nos animais
domésticos são aquelas que têm sua origem na deficiência de selênio ou vitamina
E ou de ambos. Caracteristicamente, estas são doenças agudas que, com maior,
mas não com exclusividade, afetam animais jovens em idade de amamentação. Os
sinais clínicos variam enormemente, dependendo da distribuição e gravidade do
dano muscular. Freqüentemente, estes incluem rigidez ou incapacidade para ficar
em pé como resultado de danos simétricos ao cinturão muscular ou aos grandes
músculos dos membros. Complicações, tais como inabilidade em mamar ou
broncopneumonia, podem levar a prostração e morte dentro de poucos dias a , 1
semana após o início dos sintomas. Falha cardíaca aguda é freqüentemente a causa
determinante da morte, especialmente em bezerros.
As lesões no coração ou no músculo esquelético variam de áreas levemente
descoloridas difusas até estrias ou manchas brancas bem definidas e são quase
sempre simétricas e bilaterais. Muitos músculos podem ser envolvidos, mas as
lesões macroscópicas são mais comuns no coração ou nos grandes músculos do
cinturão escapular, dorso e coxas; os músculos do diafragma e língua também
podem ser afetados. Exemplos têm sido descritos na maioria dos animais domés-
ticos e de laboratório, sob uma variedade de nomes, incluindo distrofia muscular,
doença do músculo branco (DMB), distrofia muscular nutricional (DMN), doença do
cordeiro rígido, mieloencefalopatia degenerativa em eqüinos, paralisia da última
lactação, carne branca, carne de peixe, degeneração cerácea, mioglobinúria
paralítica e miopatia sensível a selênio.
Alterações patológicas em outros tecidos ocorrem freqüentemente em associa-
ção a algumas miopatias. Estas incluem necrose do fígado, edema subcutâneo e
pulmonar com exsudação para dentro das cavidades corporais, esteatite, ulceração
gástrica, necrose pancreática, miopatia da moela, anemia lipofuscinose intestinal,
degeneração testicular, morte e reabsorção embrionária, encefalomalacia, e outras
lesões no sistema nervoso. Em alguns casos, as lesões em outros tecidos predo-
minam ou parecem constituir a patologia única: por exemplo, diátese exsudativa (ver
págs. 1543 e 1545) e encefalomalacia em pintos (ver pág. 1545); necroses cardíaca,
hepática, muscular e renal em camundongos; necrose hepática dietética em ratos;
e talvez necrose hepática maciça em ovinos. Alguns relatos atribuem um papel
Miopatias 661
fígado, que tem uma aparência de noz-moscada característica, causada pelos focos
irregulares de necrose do parênquima e hemorragia. Lesões focais de necrose do
miocárdio e, menos freqüentemente, mionecrose esquelética podem ser aparentes.
As lesões agudas podem apresentar-se sob a forma de lóbulos difusos avermelhados
e inchados, e edema da parede da vesícula biliar.
Muitos suínos que morrem por deficiência de selênio/vitamina E apresentam
ulceração esofagogástrica ou alterações pré-ulcerativas.
Diagnóstico – A história e os achados macroscópicos da necropsia são
normalmente distinguíveis, mas histologia para demonstrar lesões cardíacas e
musculoesqueléticas específicas pode ser necessária. Os diagnósticos diferenciais
para DCA incluem doenças septicêmicas agudas (por exemplo, salmonelose,
erisipela, e estreptococose), pericardite, polisserosite e doença do edema. Para a
HD, envenenamento por betume e toxicose por gossipol devem também ser
consideradas e, em porcos com lesões acentuadas na musculatura esquelética, a
síndrome do estresse porcino deve ser considerada. Como em outras espécies com
deficiência de vitamina E/selênio, casos subclínicos podem ser identificados pela
diminuição dos níveis de selênio, vitamina E de glutationa peroxidase no soro e nos
tecidos e pelo aumento dos níveis de CPK e AST (SGOT) no soro.
Prevenção e tratamento – As rações podem ser suplementadas com selênio ou
vitamina E ou com ambos, como se faz com os ruminantes. Os suínos afetados e
seus companheiros de rebanho devem ser tratados com injeções de selênio e
vitamina E para elevar rapidamente os níveis teciduais. A injeção em porcas no final
da gestação aumenta os níveis teciduais em leitões recém-nascidos.
MIOPATIAS TÓXICAS
Ver também INTOXICAÇÃO POR FERRO EM LEITÕES RECÉM-NASCIDOS, página 2028.
Toxicidade ionófora
Monensina, lasalocida, salinomicina e narasina podem causar miopatias. Ca-
valos são altamente suscetíveis e relatos de intoxicação também existem para
bovinos, ovinos, suínos, cães, galinhas, perus e galinhas-d’angola. A intoxicação é
geralmente resultado da exposição a premix não diluídos ou de erros de mistura. A
toxicidade pode ser potencializada por vários antibióticos e sulfonamidas acres-
centadas à ração em combinação aos ionóforos. Os cavalos e bovinos afetados
podem desenvolver anorexia, falhas cardíacas com taquicardia, dispnéia, diarréia,
enrijecimento, enfraquecimento muscular e mioglobinúria. À necropsia, estão
presentes áreas pálidas de necrose miocárdica e congestão pulmonar, geralmente
Miopatias 666
MIOPATIAS DE ESFORÇO
Azotúria e síndrome da paralisia ou “cording-up” dos cavalos
(Mioglobinúria paralítica, Rabdomiólise de esforço)
A síndrome da paralisia ou “cording-up” é considerada uma forma suave de
azotúria e, portanto, tem uma etiologia similar. Os termos são usados principalmente
para cavalos leves e para raças mais pesadas, respectivamente; ambos estão
associados com miopatia esquelética (ver também EXAUSTÃO FÍSICA, pág. 546).
Etiologia – A causa destas entidades é desconhecida. São, em geral, direta-
mente relacionadas ao exercício forçado após um período de repouso durante o qual
a alimentação não tenha sido restrita, porém a doença já foi observada em cavalos
no pasto. A causa parece estar relacionada mais ao excesso do consumo total de
alimentos energéticos do que especificamente ao conteúdo de carboidratos da
dieta, como já foi suspeitado.
Achados clínicos – Na síndrome da paralisia e na azotúria, os primeiros
sinais são sudorese profusa, estremecimento e pulso rápido, seguidos de
fraqueza dos membros traseiros, que resulta em enrijecimento da andadura e
relutância em mover-se e, em casos graves, mioglobinúria. Na azotúria, a doença
rapidamente progride para o decúbito, freqüentemente com sinais nervosos.
Atividades séricas elevadas de AST (SGOT) e creatinina fosfoquinase (CPK) são
indicadores úteis para verificar a extensão do dano muscular. O prognóstico
depende da extensão do dano muscular e é bom para aqueles animais que
permanecem em pé. Ele também é razoavelmente bom para aqueles animais que
deitam devido à perda de função de seus quartos traseiros, desde que eles fiquem
sossegados e bem acomodados e que o pulso retorne ao normal em 24h.
Entretanto, os sobreviventes, algumas vezes, sofrem de claudicação e atrofia
muscular prolongada ou, ocasionalmente, permanente.
O prognóstico é ruim para animais nervosos, inquietos e que, em decúbito,
continuam a se debater e não são acalmados por sedativos ou tranqüilizantes. É
igualmente ruim para aqueles que são forçados a continuar movimentando-se após
os sinais tornarem-se aparentes. É também um mau sinal após 24h, o paciente
apresentar progressiva incapacidade em apoiar-se sobre seu esterno e manter-se
naquela posição. Um pulso fraco ou irregular é um sinal ainda mais desfavorável.
Lesões – Estão presentes extensas áreas pálidas de mionecrose, especialmen-
te nos músculos da coxa, pelve e lombo. Os músculos geralmente estão úmidos e
Miopatias 667
escuros, mas áreas pálidas de necrose miocárdica e aumento de volume dos rins,
com córtex marrom e faixas marrom-avermelhadas na medula também podem ser
observados. A urina marrom reflete a mioglobinúria. Estudos microscópicos revelam
degeneração hialina, mionecrose e nefrose mioglobinúrica. Calcificações normal-
mente não aparecem.
Tratamento – O bom manejo é importante. O paciente deve ser mantido o mais
quieto possível, e devem ser feitas tentativas para manter-se o animal em pé.
Atenção especial deve ser dada para o conforto do cavalo e precauções devem ser
tomadas contra o desenvolvimento das úlceras de decúbito. Os indivíduos nervo-
sos, inquietos ou aqueles que apresentam evidências de dor, devem receber
sedativos, tais como hidrato de cloral ou tranqüilizantes. Se as condições indicarem
um período de decúbito, deve ser indicado um laxante oleoso. Purgantes de ação
rápida, tais como arecolina e fisostigmina, não devem ser usados.
Quando os sinais são leves, sem nenhum histórico prévio de ocorrência e com
as atividades enzimáticas séricas sem elevação significante, pode ser suficiente
somente a tranqüilização moderada. Cavalos mais severamente afetados não
devem ser movimentados, mas devem ser mantidos num lugar protegido. Eles
devem ser friccionados a seco e cobertos de acordo com o tempo. Injeções de
selênio e vitamina E parecem ter resultados favoráveis em muitos casos, no entanto,
não foi encontrada nenhuma evidência de deficiência de base de selênio/vitamina
E nos cavalos afetados.
MIOPATIAS DIVERSAS
Miopatia isquêmica
A trombose da artéria ilíaca em cavalos resulta em necrose isquêmica extensa
da musculatura do membro posterior. Em bovinos, a necrose maciça da musculatura
da coxa pode estar presente na “vaca caída” (ver pág. 669) e é, provavelmente,
decorrente do efeito de isquemia e trauma físico associado ao decúbito prolongado
e ao esforço fracassado para se levantar.
Miopatias 668
Polimiosite em cães
Os cães afetados podem apresentar músculos rijos e doloridos e atrofia mus-
cular, ser intolerantes ao exercício, e apresentar disfagia devido ao comprometi-
mento dos músculos esofágicos e laríngeos. A doença, que ocorre em cães adultos
de raças grandes, pode se desenvolver de forma aguda ou apresentar um curso
lento e progressivo; suspeita-se que seja imunomediada. O diagnóstico é confirma-
do por biópsias musculares que mostram infiltrações focais de linfócitos e células
plasmáticas com necrose concomitante de fibras musculares. A maioria dos casos
responde à terapia com corticosteróides.
PARESIA NEUROMUSCULAR OU
ESQUELÉTICA EM VACAS APÓS
DECÚBITO PROLONGADO
(Vaca caída)
vivas, alertas e podem comer e ruminar, embora seu apetite esteja normalmente
diminuído. Não há outras anormalidades clínicas, mas, quando forçadas a se
levantar, elas nem o tentam ou fazem tentativas fracassadas. Em alguns casos, esta
tentativa frustrada é associada à incapacidade do animal de estender os boletos e
flexionar os jarretes. Esta é uma indicação de provável dano ao nervo ciático ou a
seu ramo peroneal, sofrido enquanto a vaca esteve em decúbito pela paresia
puerperal. O exame clínico não revela grave necrose nervosa ou muscular na coxa.
A velocidade de condução nervosa entre o sulco ciático (ísquio) e a face lateral da
soldra pode ser medida para confirmar a lesão. A velocidade normal de condução
do nervo fibulociático é de 80 a 110m/s. Um nervo ciático danificado apresenta
condução mais lenta (< 50m/s).
Os níveis séricos de cálcio, magnésio e fósforo inorgânico estão normalmente
abaixo do normal após o tratamento adequado para a hipocalcemia inicial. As
enzimas séricas ( AST [SGOT], CPK) estão marcantemente elevadas dentro de 12
a 36h devido à necrose isquêmica muscular.
Tratamento – Há pouco suporte experimental para qualquer dos tratamentos
que têm sido sugeridos. Estes incluem a administração de fósforo, potássio, ACTH,
corticosteróides e anti-histamínicos. Cálcio adicional deve ser dado somente com
muito cuidado, para vacas em decúbito, se elas não apresentarem outros sinais de
hipocalcemia. A boa enfermagem é o melhor tratamento; a vaca em decúbito deve
ser removida rapidamente (e com cuidado) para uma área com cama profunda e
macia e com um bom apoio para as patas (ou no exterior ou sobre pacotes de
estrume seco). Muitas vacas podem, então, mover-se de um lado para o outro;
aquelas que não o conseguem devem ser viradas a cada 2 a 4h. Seus membros
posteriores devem ser flexionados, estendidos e massageados. Enfermagem
adequada e alimentação cuidadosa são essenciais para a boa recuperação. A
maioria das vacas afetadas tenta levantar-se em 1 semana; aquelas que se mantêm
em decúbito por 2 semanas, sem melhora, são incapazes de se levantar para
sempre, mas, se tratados com suficiente atenção, alguns destes casos aparente-
mente perdidos podem se recuperar. Em vacas paréticas (fracas) ou atáxicas, pode
ser notado um apoio temporário sobre o boleto, decorrente de lesões do ciático na
coxa ou dano do nervo peroneal lateral à soldra.
Deve-se tomar muito cuidado se for usada aparelhagem para suspender vacas
grandes; ela pode ser mais danosa do que benéfica pela adição de lesões
musculares. Tipóias são menos propensas a causar lesões adicionais, embora
sejam mais difíceis de usar. Tipóias (ou outras “aparelhagens”) podem ser de grande
ajuda se usadas com cuidado, 1 vez por dia. Se estas não forem usadas, a vaca deve
ser estimulada a levantar-se diariamente – algumas aparentemente não percebem
que se recuperaram. Deve ser mantido bom apoio para a pata a fim de se minimizar
os escorregões. Se uma superfície escorregadia for inevitável, podem ser úteis
sacos de estopa atados sobre as patas ou atá-las juntas com uma corda ou correia
com 1m de comprimento.
Se o ambiente e os cuidados forem inadequados, deve ser considerado o
sacrifício, por razões humanitárias.
Controle – A prevenção e o pronto tratamento da paresia parturiente são os
melhores meios para evitar esta condição. Os tratadores devem aprender a
reconhecer precocemente os sinais clínicos da febre do leite para que as vacas
possam ser tratadas antes do decúbito. As vacas que são propensas à paresia
parturiente devem parir ao ar livre ou em um estábulo com areia e palha ou numa
boa cama de pacotes de estrume. Elas devem ficar em uma destas áreas pelo
menos 4 dias antes e 4 dias após a parição.
Osteíte 671
OSTEÍTE
É a inflamação da medula óssea (osteomielite), osso cortical e periósteo
(periostite), em geral causada por bactérias, ocasionalmente por fungos e raramen-
te por corpos estranhos migratórios ou reação eletrolítica a implantes metálicos.
Etiologia e patogenia – Para produzir a osteíte infecciosa são necessárias
necrose tecidual e presença de um agente infeccioso. Muitos casos são secundários
a trauma, com ou sem fratura, e a cirurgias ortopédicas. Estafilococos, estreptoco-
cos e coliformes usualmente são os responsáveis. Os microrganismos podem
chegar via hematogênica ou pela extensão direta. A osteíte hematogênica é rara,
especialmente em adultos e pequenos animais. Há envolvimento das metáfises
epífises após a bacteremia em potros (Salmonella spp, Escherichia coli) e bezerros
(Corynebacterium [Actinomyces] pyogenes). A localização metafisária e epifisária
é favorecida pela circulação sinusoidal da porção esponjosa. Lesões vertebrais
ocorrem em suínos (Brucella suis) e bezerros (C. pyogenes). A localização vertebral
é permitida pela conexão entre os seios venosos medulares vertebrais e as grandes
veias do abdome e tórax. O Nocardia spp causa, ocasionalmente, osteíte vertebral
toracolombar em cães com infecções intratorácicas.
Em áreas endêmicas, as micoses sistêmicas, coccidioidomicoses (Américas do
Sul e Central, Arizona, Califórnia, Texas) e blastomicoses (África, estados atlânticos
centrais, bacias do Mississipi-Ohio, margem norte de Ontário e Manitoba) freqüen-
temente causam osteíte hematogênica em cães.
Osteíte por extensão direta do microrganismo pode seguir ferimentos de morde-
dura em cães e gatos (Pasteurella spp, anaeróbios orais); corpos estranhos perfu-
rantes, artrite crônica e úlceras de decúbito em grandes animais; e doenças dentárias
em todas as espécies (ver também ACTINOMICOSE, pág. 383). O último exemplo é
decorrente da drenagem linfática periodontal para dentro do osso adjacente.
Achados clínicos e diagnóstico – Dor, aumento de volume de tecidos moles,
elevação da temperatura corporal e, freqüentemente, depressão e anorexia carac-
terizam a osteomielite precoce. Pode se notar leucocitose com desvio à esquerda
e um aumento da taxa de sedimentação. O animal pode estar relutante em usar o
membro.
Se a infecção espalhar-se para uma articulação, ela pode se tornar edemaciada
e dolorosa. Na osteíte crônica, podem-se desenvolver aumento de volume flutuante
ou fístulas que, posteriormente, vêm a drenar. Amostras devem ser coletadas para
cultura e teste de sensibilidade, microscopia dos exsudatos e exames histológicos.
Estas devem ser obtidas profundamente de dentro da lesão, usando-se a exposição
cirúrgica se necessário. Amostras de biópsia devem ser extraídas para evitar as
reações periosteais não específicas.
A radiografia é essencial para se definir a extensão da doença e a resposta ao
tratamento. Em osteomielite precoce pode haver ausência de alterações radiográ-
ficas. Lesões ósseas podem ser visíveis primeiro em , 2 semanas, pelo surgimento
do aumento da densidade medular e espessamento irregular da superfície perios-
teal. Mais tarde, uma extensa neo-ossificação periosteal pode desenvolver-se em
reação à ruptura circulatória e exsudação inflamatória na medula. Raramente,
grandes volumes de ossos desvitalizados (seqüestros) são visíveis quando tornam-
se isolados em pus pelo invólucro vivo.
Em cães, a osteomielite aguda deve ser distinguida radiograficamente de outras
causas de dor óssea, tal como osteopatia hipertrófica e panosteíte. A osteomielite
crônica com reação periosteal deve ser confirmada por biópsia. O carcinoma de
célula escamosa digital é freqüentemente complicado pela osteíte em pequenos
animais e em todas as espécies, a proliferação periosteal é uma resposta não
específica para muitos insultos, incluindo neoplasias e traumatismos.
Osteíte 672
PANOSTEÍTE CANINA
(Osteomielite juvenil, Panosteíte eosinofílica, Panostose, Enostose)
Trata-se de uma doença caracterizada por uma claudicação intermitente e que
muda de membro, com remissão espontânea, que afeta principalmente cães
machos e jovens (5 a 12 meses) de raças grandes e gigantes, porém cães menores
ou mais velhos também podem ser afetados.
A etiologia é desconhecida. As causas sugeridas incluem alérgenos, hiperestro-
genismo, estresse e agentes infecciosos. Aproximadamente 75% dos casos envol-
vem cães pastores alemães, e , 66% são machos; portanto, fatores genéticos e
hormonais podem ser predisponentes.
A doença se desenvolve como uma área localizada de degeneração granular da
medula óssea adiposa, seguida de edema e proliferação fibrovascular medular,
normalmente próxima da artéria nutriente de um osso longo. Posteriormente, o
tecido fibrovascular se ossifica. O tecido proliferativo pode ocupar a maior parte da
cavidade medular diafisária e, se envolver o endósteo, ocorre uma proliferação
periosteal secundária. Com a remissão, o osso medular e periosteal é reabsorvido,
porém, nos casos crônicos, os ossos longos afetados tornam-se cúbicos, devido à
remodelação repetida.
Uma claudicação que varia de leve a intensa, com dor óssea que tende a ser
intermitente e mudar de membro, é típica. A palpação firme dos ossos longos no
membro afetado pode evidenciar dor. Alguns cães podem estar febris e anoréticos
nos estágios iniciais. Raramente, pode estar presente uma amigdalite. Os ossos
longos, especialmente dos membros anteriores, são afetados com maior freqüên-
cia. O envolvimento ósseo múltiplo ocorre em , 50% dos cães. A remissão espon-
tânea e a exacerbação dos sintomas ocorrem, mas normalmente a doença de um
osso se resolve em 3 meses. Em cães mais velhos, a doença torna-se mais lenta.
Osteocondrose 673
OSTEOCONDROSE
Trata-se de um distúrbio na calcificação endocondral algumas vezes classificado
de condrodisplasia. Pode implicar na separação da cartilagem articular imatura do
osso epifisário subjacente (algumas vezes dissecando-se completamente livre e
flutuando na cavidade sinovial – osteocondrite dissecante), ou pode resultar na
retenção dos núcleos piramidais da cartilagem fisária, projetando-se na metáfise
(por exemplo, osteocondrite em suínos). Muitas vezes estas 2 lesões ocorrem
simultaneamente no mesmo osso. A doença ocorre durante o crescimento máximo,
quando os estresses biomecânicos são maiores no esqueleto imaturo (4 a 8 meses
em cães, 36 a 54kg em suínos). É mais comum nas raças grandes e gigantes de
cães, porcos de crescimento rápido, cavalos, perus e frangos.
OSTEOCONDRITE DISSECANTE
Uma área focal de cartilagem articular imatura torna-se espessada e contém um
número diminuído de condrócitos, que estão desorganizados. A matriz na área basal
desta região torna-se condromalácica e acelular. Há uma separação da cartilagem
articular imatura do osso trabecular subjacente. A fratura condral estende-se
horizontal e verticalmente formando um retalho. O líquido sinovial penetra no espaço
medular subjacente, podendo formar cistos subcondrais (normalmente apenas em
grandes animais). O retalho de cartilagem imatura pode soltar-se completamente
(esquírola articular), ou pode se prender novamente, por ossificação endocondral,
ao osso subjacente, especialmente em suínos, resultando em uma superfície
articular enrugada. Isto ocorre apenas se a articulação é repousada ou protegida,
o que permite o restabelecimento da circulação necessária para a ossificação
endocondral. Se o retalho for arrancado pela movimentação articular, pode ser
moído em fragmentos menores durante a locomoção e desaparecer, enquanto
placas maiores podem prender-se à membrana sinovial, tornar-se vascularizadas
e ossificar. O defeito articular resultante, com o tempo, é preenchido por fibrocar-
tilagem.
Etiologia – A causa exata é desconhecida. O trauma causado por estresses
biomecânicos excessivos em áreas focais tem sido incriminado. Em suínos, lesões
complementares na cartilagem articular imatura e na cartilagem fisária adjacente
não são incomuns. A hereditariedade das características predisponentes (taxa de
Osteocondrose 674
DISPLASIA DO CODILHO
Há 3 condições, que afetam a articulação do codilho canino, que podem ser
consideradas como displasia: a não união do processo ancôneo, a fragmentação do
processo coronóide medial e a não união do epicôndilo medial do úmero; todas
resultam em osteoartrite secundária (OA, ver pág. 570).
Não união do processo ancôneo (NUPA) – A NUPA, que ocorre nas mesmas
raças da OCD (ver anteriormente), é a separação do centro de ossificação do
processo ancôneo da metáfise proximal da ulna. A fusão deve se completar por volta
dos 5 a 6 meses de idade. Postula-se que a fratura resulte de um desequilíbrio
biomecânico da força e movimento no codilho em crescimento rápido. Inicialmente,
o processo ancôneo está conectado à ulna por uma ponte de tecido fibroso, que se
fragmenta formando uma pseudo-artrose, e o codilho torna-se instável. A lassidão
articular provoca danos à cartilagem articular, resultando em uma OA secundária.
A base hereditária tem sido acusada, mas não foi provada.
Desenvolve-se um ataque insidioso de claudicação entre 4 e 8 meses de idade;
entretanto alguns casos bilaterais podem não ser detectados até que os cães tenham
> 1 ano de idade. Os codilhos afetados podem desviar-se lateralmente e a amplitude
de movimentação da articulação é restrita. Casos avançados têm sinais de osteoar-
Luxação Patelar 675
trite, efusão articular e crepitação. Os sinais clínicos são sugestivos, mas o diagnós-
tico é confirmado pelo exame radiográfico. Uma radiografia lateral da articulação do
codilho, na posição flexionada, deve permitir a visualização do processo não unido.
Ambos os codilhos devem ser examinados porque a condição pode ser bilateral.
A remoção cirúrgica na NUPA logo após o diagnóstico ter sido estabelecido é o
tratamento de escolha. A osteoartrite pode ocorrer, mas em menor grau. A atividade
do animal é marcantemente melhorada com a cirurgia.
Fragmentação do processo coronóide medial – A FPCM é um problema do
compartimento medial do codilho canino, no qual o processo coronóide não se une,
parcial ou totalmente, à diáfise ulnar, não se tornando, portanto, parte da superfície
articular do sulco troclear. Isto resulta em instabilidade articular, irritação e, final-
mente, OA. Este problema e a osteocondrose do côndilo medial do úmero são
considerados as 2 causas mais comuns de OA no codilho canino. O exame
radiográfico da articulação antes da osteoartrite pode revelar os fragmentos se-
parados. O diagnóstico é confirmado por artrotomia e remoção dos fragmentos as
quais podem diminuir a gravidade dos sinais clínicos. Por outro lado, a osteoartrite
resultante pode continuar a ser uma causa de claudicação intermitente.
Não união do epicôndilo medial do úmero – A NUEMU resulta de um distúrbio
na fusão endocondral da epífise do epicôndilo medial do úmero com a extremidade
distal do osso. A causa exata é desconhecida, mas como os flexores digitais e
carpais originam-se no aspecto ventral desta estrutura, isto pode representar uma
avulsão epifisária. Isto ocorre em cães jovens (6 a 8 meses) de raças grandes,
resultando em dor à flexão do codilho ou à palpação digital profunda, sendo
acompanhada por aumento de volume dos tecidos moles. Radiograficamente, são
observadas estruturas radiodensas caudal e distalmente à área do epicôndilo
medial. O tratamento relatado tem sido a excisão cirúrgica; no entanto, se for uma
avulsão epifisária, a refixação pareceria mais apropriada. A OA é o acompanha-
mento habitual; a gravidade e o momento de início deste problema dependem da
rapidez de diagnóstico e do grau de dano tecidual no momento da cirurgia.
LUXAÇÃO PATELAR
Em grandes animais, a luxação patelar ocorre como 3 síndromes clínicas: 1. uma
hipoplasia ou malformação congênita da crista troclear, vista em bezerros, cordeiros
e potros neonatos. Não tem sido provada uma base hereditária para esta condição,
apesar de o problema ter sido observado em éguas e em seus potros; 2. uma
destruição progressiva da crista troclear lateral, resultante da osteocondrite dis-
secante, vista em animais jovens de crescimento rápido; 3. luxação em qualquer
idade devida a traumatismo e ruptura dos ligamentos patelares.
Em pequenos animais, a luxação patelar é observada tipicamente em raças de
cães “toy” e miniatura, nos quais ela deve ser considerada uma doença hereditária.
Geralmente é considerada congênita, já que as condições que a predispõem estão
presentes ao nascimento. É caracterizada pela epifisiólise e por uma diminuição da
anteversão do colo do fêmur. Os sinais estão presentes intermitentemente. Em
animais idosos, a condição pode surgir agudamente como resultado de um trauma-
tismo pequeno, devido à piora da dor na doença articular degenerativa, ou como
resultado de um esgotamento dos tecidos moles. A luxação em raças grandes e
gigantes, também chamada de geno valgo, é vista nas mesmas raças que são
afetadas pela displasia coxofemoral. Nestes casos, ela é geralmente bilateral e
surge dos 5 aos 6 meses de idade.
Luxação Patelar 676
SARCOCISTOSE
(Sarcosporidiose)
Organização
O sistema evoluiu a partir de reflexos simples, envolvendo 2 ou 3 neurônios como
mecanismo básico, por exemplo, o reflexo patelar e os demais reflexos de retração.
Esses reflexos são modificados com o aumento dos níveis de variação e integração
das informações sensoriais (aferentes) que passam a partir dos membros, olhos,
língua, nariz, orelhas ou sistema vestibular, através da medula espinhal e/ou do
tronco encefálico primitivo, cerebelo, tálamo e hemisférios cerebrais. As conexões
entre as áreas do sistema nervoso são chamadas tratos.
Os comandos motores (eferentes) são modificados em uma hierarquia
semelhante: hemisférios cerebrais, núcleos basais, tronco encefálico e medula
espinhal. Quanto mais evoluída a espécie, maior a habilidade para diversificar
e aprender suas respostas a um estímulo. Em animais, esta capacidade é
normalmente considerada como inteligência. Características humanas de inte-
ligência (solução de problemas abstratos e avaliação do futuro) são sustentadas
Sistema Nervoso, Introdução 683
pela “associação” de áreas dos hemisférios cerebrais, que entre as espécies não
humanas são bem desenvolvidos somente nos macacos mais evoluídos. O
estado de alerta e o sono consistem em interações do tronco encefálico com o
cérebro. A consciência (o que nós sabemos nós sentimos) é de origem cerebral,
principalmente em áreas “associadas”. Felizmente, a maioria dos dados senso-
riais e de controle motor não necessita nem envolve consciência, por exemplo,
movimentos intestinais, controle dos esfíncteres e regulação da freqüência
cardíaca.
O cerebelo é o centro principal da coordenação do sistema nervoso, e o
hipotálamo é o responsável pelo mais alto controle do sistema nervoso visceral
(simpático e parassimpático) e hormônios. Uma combinação de estruturas
cerebrais está envolvida com as emoções e o comportamento, incluindo as partes
do cérebro e hipotálamo mais primitivas.
Desta maneira, as atividades sensorial, motora, de coordenação, visceral,
intelectual, emocional e comportamental são consideravelmente independentes
umas das outras. Uma doença pode danificar severamente uma função, embora
tenha pequeno efeito sobre as outras.
Função
O sistema nervoso central (SNC) compreende o cérebro e a medula; o
sistema nervoso periférico (SNP) os nervos cranianos e espinhais. Nervos
espinhais e cranianos contêm axônios de neurônios motores inferiores (NMI) de
vários tamanhos que conduzem às musculaturas esquelética e lisa. A perda de
NMI leva a paralisia flácida, perda dos reflexos e rápida atrofia dos músculos
esqueléticos. Todos os outros neurônios motores no SNC são chamados
neurônios motores superiores (NMS), e podem afetar os músculos somente via
NMI, a via final comum para os músculos. A perda de NMS leva a paralisia
espástica (tônica), reflexos exagerados e a uma lenta atrofia por desuso dos
músculos esqueléticos enervados pelo NMI afetado. As perdas parcial e
completa da função motora voluntária são denominadas paresia e paralisia,
respectivamente.
Fibras sensoriais nos nervos espinhais medeiam o sentido de posição cons-
ciente (propriocepção consciente [PC]) e do tato, via cérebro; e propriocepção
subconsciente, via cerebelo; assim como as sensações de dor, calor e frio. Assim,
pode haver analgesia (perda de dor) sem que haja perda completa de todas as
sensações (anestesia), perda de PC sem perda do impulso cerebelar e vice-
versa. Os nervos cranianos medeiam as funções sensoriais especializadas,
como o olfato, paladar, visão, audição e equilíbrio, assim como várias atividades
motoras, viscerais e de tato.
Os tratos espinhais ascendente e descendente associados com as funções
motoras e sensoriais têm sido denominados tradicionalmente como tratos longos.
A lesão nesses tratos causa tipicamente uma paralisia de NMS e uma perda da PC
ou da sensação de dor nos membros e no tronco caudal à lesão. Ao contrário, a lesão
de fibras semelhantes nos nervos periféricos produz sinais sensoriais segmentares
(perda focal da sensação de dor ou da função reflexa) e paralisia de NMI em apenas
alguns músculos de um membro.
As unidades do sistema nervoso geralmente funcionam pela modificação da
atividade elétrica existente ou inerente de outros tratos; por exemplo, os NMI têm
uma velocidade de disparo elétrico natural em resposta a um estímulo em seu
músculo, a qual é suprimida por muitos NMS (por exemplo, cerebrais), mas
aumentada por outros NMS (por exemplo, vestibulares).
O tempo de chegada e o seqüenciamento de dados sensoriais são importantes,
especialmente na coordenação de movimentos. O cerebelo é informado da maioria
Sistema Nervoso, Introdução 684
dos comandos dos NMS dirigidos aos NMI e adquire coordenação através da
comparação do comando original com os dados proprioceptivos, que resultam nos
movimentos musculares. Qualquer lesão, inflamatória ou compressiva, pode atra-
sar a chegada de informações no cerebelo. A ataxia resultante, a hipermetria, ou o
tremor podem ser tão severos como se ocorresse destruição física do cerebelo ou
de seus tratos. O equilíbrio é coordenado adicionalmente pelo sistema vestibular,
com informações inicialmente captadas por receptores localizados no labirinto do
ouvido interno (periférico) e então direcionadas aos núcleos vestibulares no tronco
cerebral (central). Lesões periféricas e centrais podem ser distinguidas, pois outras
alterações cerebrais evidentes (depressão, deficiências em nervos cranianos,
perda da PC fraqueza) acompanham as últimas.
Os neurotransmissores são substâncias químicas que retransmitem os
impulsos elétricos (dados) através de uma fenda sináptica para o próximo
neurônio. As sinopses químicas proporcionam várias vantagens evolutivas em
relação às sinapses elétricas simples quanto ao processamento dos dados e à
complexidade das respostas possíveis. Os neurotransmissores são excitatórios
(por exemplo, os glutamatos) ou inibitórios (por exemplo, o ácido δ-aminobutírico
[GABA]) e podem envolver os hormônios circulantes (por exemplo, a noradrena-
lina) ou também ser utilizados em outras funções corporais (por exemplo, a
serotonina na inflamação local). As substâncias químicas, as toxinas, os anticor-
pos ou as enzimas que destroem, mimetizam, potencializam ou bloqueiam os
efeitos desses neurotransmissores podem produzir alterações disseminadas ou
locais no sistema nervoso (por exemplo, a atropina, os organofosfatos, a estric-
nina e a toxina tetânica).
Deste modo, processos patológicos podem afetar a duração, excitação, inibição
e transmissão dos dados elétricos no sistema nervoso, assim como causar danos
físicos ao organismo. Alterações fisiológicas podem não ser detectadas pela
microscopia óptica ou mesmo pela microscopia eletrônica.
PRINCÍPIOS DE DIAGNÓSTICO
Os passos clássicos no diagnóstico incluem a localização da lesão e a determi-
nação do seu caráter (irritativo ou destrutivo) e da sua causa. Isso se encaixa bem
com o sistema de registros médicos orientado por problema, mas enfatiza a
Sistema Nervoso, Introdução 686
ANAMNESE
Doenças neurológicas tendem a ter predileção por espécies, idade, raça e, ocasio-
nalmente, sexo. As queixas primárias de problemas neurológicos incluem freqüente-
mente alterações comportamentais, ataques convulsivos, tremores, deficiências de
nervos cranianos, ataxia e paresia ou paralisia de um ou mais membros. Informações
sobre o início, curso e duração da queixa principal podem ser utilizadas para determi-
nar os mecanismos patológicos mais prováveis. Distúrbios congênitos e familiais são
mais comumente vistos ao nascimento ou dentro de 1ano e meio de idade e podem ser
Sistema Nervoso, Introdução 688
Avaliação da cabeça
A consciência, postura da cabeça, coordenação e função dos nervos cranianos
são observadas durante a avaliação da cabeça. Sinais anormais são resultantes de
lesões acima do nível do forame magno no cérebro, no tronco cerebral (diencefálo,
mesencéfalo, ponte ou medula oblonga) ou no cerebelo. Demência, andadura com-
pulsiva ou outras anormalidades comportamentais são freqüentemente devidas a
lesões no cérebro ou diencéfalo. A depressão, o semicoma ou o coma podem se dever
a lesões no cérebro, no diencéfalo ou mesencéfalo. Ataques são devidos ao envolvi-
mento do cérebro ou diencéfalo. Uma rotação da cabeça ou um movimento circular
compulsivo, sem inclinação, são também associados a lesão cerebral ou diencefálica,
no lado correspondente àquele para o qual o animal se volta. Uma inclinação verda-
deira da cabeça é conseqüente à patologia no sistema vestibular. Coordenação
anormal da cabeça, meneios e tremores resultam de disfunção cerebelar.
Os nervos cranianos estão localizados em sítios específicos ao longo do tronco
cerebral e é simples testá-los. Sinais anormais são produzidos por lesões dos
nervos cranianos, periféricos ou do tronco encefálico. Se uma lesão do tronco
Sistema Nervoso, Introdução 689
Avaliação da marcha
A marcha é observada enquanto o animal anda, trota, galopa, anda em círculos,
anda de lado e recua. Em grandes animais, a deambulação para cima e para baixo
em uma rampa, enquanto vendados, pode acentuar muito discretamente defeitos à
marcha. A avaliação da marcha é especialmente importante em animais de grande
porte, uma vez que as reações posturais são difíceis de serem obtidas devido ao
tamanho, e os reflexos espinhais normalmente não são testados, a não ser que os
animais estejam deitados. Em pequenos animais, podem ser detectadas alterações
discretas através do teste da reação postural nos membros (nas próximas 2 partes
do exame, ver a seguir). Nos pequenos animais, também se observa a andadura ou
o ficar em pé sobre um lado. Animais com lesões no córtex cerebral e diencéfalo em
geral têm um andar relativamente normal, mas podem andar em círculos compul-
sivamente. Animais com lesões no mesencéfalo, ponte e medula oblonga têm
paresia ou paralisia dos membros com deficiências freqüentemente mais severas
no lado da lesão. Lesões cerebelares produzem ataxia e dismetria. A disfunção
vestibular causa uma queda, um rolamento ou uma andadura em círculos no mesmo
lado. Se nenhuma anormalidade é encontrada no exame da cabeça, mas a marcha
apresenta-se anormal, é mais provável que a lesão esteja na medula espinhal, nos
nervos periféricos ou nos músculos.
LÍQUIDO CEREBROESPINHAL
A pressão e a composição do líquido cerebroespinhal (LCE) podem ajudar
adicionalmente na determinação do mecanismo dos distúrbios do SNC. A técnica
de coleta é simples e segura com a prática. A análise do LCE requer um equipamento
especial mínimo, mas devem-se realizar a contagem de células e a identificação
dentro de 30min após a coleta. A análise do LCE geralmente se torna necessária
para detectar as infecções no SNC. Pode-se realizar a coleta através da punção da
cisterna cerebelomedular nos pequenos animais, ou do espaço subaracnóideo da
junção lombossacral nos grandes animais. As elevações da pressão para mais de
170mm H2O nos pequenos animais indica uma lesão que ocupa o espaço ou um
defeito na drenagem do LCE no interior do sistema venoso. A elevação das
proteínas se associa freqüentemente com a encefalite, a meningite, a neoplasia ou
a compressão da medula espinhal. A elevação do teor celular sugere uma inflama-
Sistema Nervoso, Introdução 694
PATOLOGIA CLÍNICA
As causas metabólicas das anormalidades comportamentais e ataques
convulsivos incluem hipoglicemia, encefalopatia hepática, encefalopatia urêmica,
hipocalcemia, hipomagnesemia e síndromes hiperosmolar e hiposmolar. Glicose
sérica, enzimas hepáticas, uréia sangüínea, ácidos biliares, amônia sérica e
eletrólitos devem ser avaliados para detectar a maioria das disfunções metabólicas.
As determinações da colinesterase e chumbo séricos são inestimáveis para o
diagnóstico de intoxicação aguda por organofosfatos e chumbo, respectivamente.
RADIOGRAFIA
Radiografias simples do crânio e da coluna vertebral são úteis na detecção de
fratura, subluxação, infecção ou neoplasia das estruturas ósseas. Na maioria dos
casos, as infecções ou neoplasias do cérebro e da medula espinhal apresentam
radiografias simples normais. Utiliza-se a mielografia para a detecção de lesões
espinhais compressivas, incluindo os discos intervertebrais protraídos ou herniados
e os tumores na medula espinhal. A angiografia cerebral, a pneumoventriculografia,
a tomografia computadorizada e a obtenção de imagens por ressonância magnética
são outras técnicas diagnósticas utilizadas para avaliar animais com neuropatias.
PRINCÍPIOS DE TERAPIA
Ver também SISTEMA NERVOSO, FAR página 1693.
O objetivo da terapia cirúrgica consiste na redução da compressão dos nervos,
do cérebro ou da medula espinhal. Isso se realiza melhor tão logo quanto possível
após a lesão, já que uma compressão prolongada pode causar um dano irreversível.
O inchaço cerebral devido a edema é medicamente descomprimido com combi-
nações de diuréticos metabólicos (por exemplo, furosemida, 1mg/kg, duas vezes ao
dia), diuréticos osmóticos (por exemplo, manitol, 0,25 a 1g/kg, três vezes ao dia),
grandes doses “estabilizadoras de membrana” de glicocorticóides (por exemplo,
prednisolona, 30 a 50mg/kg, ou a dexametasona, 2 a 4mg/kg quatro vezes ao dia),
dimetilsulfóxido (DMSO) e oxigenação adequada. A anestesia profunda e a oxige-
nação hiperbárica não têm sido efetivas experimentalmente, mas várias antipros-
taglandinas específicas podem se tornar disponíveis para bloquear o vasoespasmo
arterial no cérebro.
Podem-se utilizar os glicocorticóides, a fenilbutazona, o DMSO e vários outros
antiinflamatórios quando houver uma inflamação não infecciosa (por exemplo, uma
Sistema Nervoso, Introdução 695
sonoterapia pode ajudar os músculos a manter e a melhorar a função, mas isso não
é terapêutico no caso das lesões do SNC.
Os dispositivos que permitem movimentos, tais como andadores, são efetivos
para cães e gatos com paresia posterior mas não resolvem o problema da
incontinência. Outras poucas reabilitações têm sido tentadas em animais.
A terapia específica para ataques depende da causa, por exemplo, antibióticos
para meningite infecciosa; cálcio EDTA para intoxicação por chumbo; gliconato de
cálcio para hipocalcemia; glicose para hipoglicemia. Podem-se usar anticonvulsi-
vantes para auxiliar no tratamento de tais patologias, mas seu uso primário é no
controle da epilepsia. Fenobarbital, primidona, diazepam, valproato, parametadiona,
fenitoína, e compostos do tipo progesterona podem aumentar o limiar das células
cerebrais aos ataques e retardar a disseminação de atividade elétrica anormal entre
as células. Destas drogas, o fenobarbital aparece como sendo o mais efetivo para
controle, a longo prazo, de ataques em cães e gatos. O diazepam é o mais útil no
estado epiléptico. O estrogênio baixa o limiar ao ataque provocado por qualquer
excitação, estresse ou irritação; conseqüentemente, a neutralização da epilepsia é
aconselhável. As doses de anticonvulsivantes variam tremendamente entre as
espécies e podem ser metabolizadas diferentemente (em especial a fenitoína). Por
isso, a medida dos níveis séricos é aconselhável.
Terapia comportamental – O treinamento e a educação do proprietário são os
tratamentos mais necessários para muitos animais-problema, mas os hormônios, a
castração, os anticonvulsivantes e os tranqüilizantes podem ajudar. As drogas
específicas direcionadas ao metabolismo dos neurotransmissores podem se tornar
melhor compreendidas e novas drogas podem se tornar disponíveis. Os tratamen-
tos cirúrgicos, por exemplo, a lobotomia pré-frontal e o lesionamento focal do
cérebro, são raramente efetivos. A dose oral de colina parece ter um efeito
temporário (semanas) nos animais mais “senis”.
Fraqueza episódica – Muitas doenças sistêmicas e neurológicas podem causar
fraqueza ou intolerância ao exercício. Uma destas patologias, a miastenia grave,
pode ser tratada especificamente com potencializadores da acetilcolina ou
parassimpatomiméticos, tais como edrofônio (EV, curta duração), fisostigmina e
neostigmina (IM ou VO). Estes agentes ajudam na manutenção da transmissão
sináptica neuromuscular (efeitos nicotínicos), mas alguns também estimulam sinapses
muscarínicas (excesso de salivação). A atropina, um bloqueador da acetilcolina,
previne efeitos muscarínicos indesejáveis mas não afeta as sinapses nicotínicas.
Defeitos cerebrais
A agenesia do corpo caloso ausência de todo ou de parte do corpo caloso,
têm sido descrita raramente nos animais domésticos, e desconhece-se sua
causa.
A anencefalia, o não fechamento da porção cranial do tubo neural e conseqüen-
temente falha no desenvolvimento cranial, tem sido descrita em bovinos. Sua causa
é desconhecida. A hipófise pode estar ausente, e sua ausência é provavelmente
responsável pelo prolongamento da gestação de alguns bezerros com anencefalia.
Defeitos associados incluem fissura do palato, ausência da cauda, atresia do ânus
e fontanela aberta.
A arrinencefalia (ausência do rinencéfalo) é uma deformidade rara nos bovinos,
caracterizada pela ausência uni ou bilateral dos bulbos, do trato ou dos nervos
olfatórios. Uma prenhez prolongada pode acompanhar a afecção. As raças envol-
vidas são a simmental, a gurnsey e a angus. Desconhece-se a causa da deformi-
dade, embora já se tenha presumido que fosse uma mutação letal dominante.
A craniosquise (fissura no esqueleto cranial) geralmente se associa com a
herniação das meninges e partes do cérebro.
A ciclopia e a cebocefalia são defeitos severos que envolvem o crânio bem
como o esqueleto facial. Nos cordeiros, a causa consiste na ingestão da planta de
pasto Veractrum californicum (ver pág. 2067).
A exencefalia é a exposição ou a protrusão completa do cérebro a partir de um
grande crânio defeituoso (acrania). O defeito é raro e desconhece-se a causa.
A hidranencefalia é uma ausência completa ou quase completa dos hemisférios
cerebrais em um crânio de conformação normal. O espaço é preenchido com LCE
envolvido por um tecido cerebral delgado membranoso e meninges. A síndrome
congênita de hidranencefalia, com ou sem artrogripose, ocorre esporadicamente ou
como uma epidemia nos bezerros. Os sinais clínicos principais são cegueira,
incoordenação e artropatia. As outras alterações patológicas observadas são a
hipoplasia cerebelar, a atrofia muscular, a fissura do palato, a escoliose e a espinha
bífida. Podem ocorrer aborto, natimortalidade ou nascimentos prematuros. Têm-se
identificado várias causas, incluindo a hipertemia e os vírus da febre efêmera, da
encefalite japonesa, da língua azul e da doença de Akabane.
A hidrocefalia (um acúmulo excessivo de fluido no interior do sistema ventricular)
é comum nos bovinos e em outros animais domésticos. Os bezerros com hidrocefalia
interna (ver também pág. 574) podem nascer mortos ou morrer em poucos dias. Em
muitas raças de bovinos, esse defeito parece ser hereditário como uma doença
recessiva autossômica simples. Nos bezerros hereford e shorthorn, a hidrocefalia é
acompanhada por uma estenose do aqueduto, uma hipoplasia cerebelar, uma
miopatia, anomalias oculares múltiplas, descolamento e displasia da retina, catarata,
microftalmia e persistência das membranas pupilares. A hidrocefalia varia conside-
ravelmente; podem-se envolver um ou ambos ventrículos laterais, pode-se dilatar o
terceiro ventrículo e a porção anterior do aqueduto e o quarto ventrículo pode-se
manter normal. Nos bezerros hereford, podem ocorrer um retorcimento dorsal e uma
compressão lateral do mesencéfalo com uma estenose da parte média do aqueduto
Doenças Congênitas e Hereditárias do SNC 700
O espasmo letal (espasticidade neonatal letal) tem sido descrito nos bovinos
jérsei e hereford como uma doença autossômica recessiva simples.
A manosidade (originalmente descrita como pseudolipidose) no angus, no
cinzento de Murray, no galloway, possivelmente em algumas outras raças, se deve
a uma deficiência da enzima manosidase e é uma doença autossômica recessiva
simples. Clinicamente, ocorrem ataxia, tremor na cabeça, agressão e falha no
crescimento. Também podem ocorrer abortos e mortes neonatais. A maioria dos
bezerros afetados morre dentro do primeiro ano, algumas vezes imediatamente
após o nascimento. A vacuolização dos neurônios, dos macrófagos, das células
reticuloendoteliais dos linfonodos e das células pancreáticas exócrinas é típica. Os
bezerros afetados (homozigóticos) apresentam uma deficiência absoluta de α-
manosidase, e os heterozigotos são parcialmente deficientes. Conseqüentemente,
pode-se controlar a manosidose através da identificação e da eliminação dos
heterozigotos com base em testes bioquímicos.
A doença da urina em xarope de bordo é uma aminoacidúria nos bezerros
hereford mochos e possivelmente também naqueles com chifres. Os bezerros
afetados apresentam uma neuropatia severa na primeira semana de vida. Eles
ficam entorpecidos, assumem o decúbito em 2 a 4 dias e finalmente apresentam
opistótono. As lesões histológicas severas consistem de um estado esponjoso.
A paresia espástica ocorre em muitas raças de bovinos e se caracteriza por uma
contratura espástica dos músculos e por uma extensão da soldra e do tarso de uma
ou de ambas as pernas traseiras. Ela tem sido chamada de “contração do tendão
de Aquiles”, “jarrete reto” e “calcanhar de Elso” (ver também CLAUDICAÇÃO EM
BOVINOS, pág. 595). A espasticidade afeta os músculos gastrocnêmio e flexor
superficial e os tendões e, em alguns casos, os músculos bíceps femoral,
semitendinoso, semimembranoso, quadríceps e abdutor. É uma doença progressi-
va e varia quanto à severidade e ao período de início; é geralmente observada
primeiro nos bezerros de 3 a 6 meses de idade.
As radiografias dos jarretes afetados se caracterizam por um aumento no ângulo
da articulação, uma osteoporose, uma exostose da linha epifisária da tíbia, uma
curvatura e uma exostose do perfil dorsal do calcâneo e um alargamento da linha
epifisária deste. A(s) influência(s) genética(s), bem como os fatores ambientais,
interage(m) para exprimir a paresia espástica. Não se devem utilizar os touros
afetados para o acasalamento.
Em bovinos > 3 anos de idade, observa-se uma síndrome espástica (síndrome
espática periódica ou remitente, espasticidade neuromuscular com cãibra, paralisia
posterior progressiva, estiramento ou cãibra de estábulo), caracterizada por contra-
ções musculares espásticas e súbitas de uma ou de ambas as pernas traseiras (ver
também págs. 605 e 606).
distúrbio cerebelar é o principal sinal clínico. Ocorre morte 2 a 3 meses após o início
dos sinais. O teor de proteína total de 80mg/dL no LCE equivale ao normal de
27,5mg. Grandes células globóides se distribuem por toda a substância branca da
medula espinhal e do cérebro.
O comportamento alucinatório no spaniel king Charles se caracteriza por uma
“captura de moscas” persistente na ausência de estímulos (insetos voadores).
A ataxia hereditária (uma doença recessiva autossômica simples) aparece em
fox terriers de 2 a 4 meses de idade. A progressão é rápida, depois se retarda, mas
a ataxia geral progride até que o cão fique incapaz de andar. As lesões histológicas
incluem a desmielinização bilateral das colunas dorsolateral e ventromedial da
medula espinhal. A ataxia nos Jack Russel terriers é clinicamente semelhante.
A hipoplasia e a degeneração cerebelares hereditárias, descritas em airedales
de 12 semanas de idade, se manifestam por sinais de ataxia e hipermetria.
Ocorreram ausência e degeneração das células de Purkinje, bem como uma
cromatólise dos neurônios nos núcleos cerebelares centrais.
A idiotia amaurótica juvenil em um setter inglês, mais provavelmente herdada
como uma doença recessiva, se caracterizou pela redução da visão e por embota-
mento, manifestados quando o cão tinha 12 a 15 meses de idade. Por volta dos 18
meses, apareceram espasmos musculares e, finalmente, os ataques progrediram
para espasmos tonicoclônicos severos. Os achados patológicos macroscópicos
incluíram o aumento de volume dos linfonodos e uma atrofia do cérebro. Histologi-
camente, observaram-se grânulos lipídicos nos neurônios, no coração, nos pul-
mões, no fígado e no trato gastrointestinal.
A abiotrofia neuronal nos lapões suecos, herdada como uma doença recessiva
autossômica simples, se caracteriza por um início súbito de fraqueza tanto nos
membros anteriores como nos posteriores, quando os cães atingem de 5 a 7 semanas
de idade. Ela progride para tetraplegia, atrofia dos membros e flexão articular. Histo-
logicamente, observam-se uma cromatólise periférica central, um encolhimento do
corpo celular, uma neurofagia e uma degeneração axonal e mielínica.
Uma osteopatia neurotrópica em pointers de 3 a 9 meses de idade, considerada
hereditária, se caracterizou por uma roedura das unhas, uma automutilação e uma
baixa sensibilidade nas partes distais dos membros. Os cortes da medula espinhal
revelaram uma desmielinização e uma degeneração vacuolar da substância branca.
A paralisia dos membros posteriores dos cruzamentos de são bernado ×
dogue alemão e de dogue alemão × bloodhound se desenvolveu quando os cães
tinham 3 meses de idade. Acreditava-se que a morte dos neurônios simpáticos
motores e pré-ganglionares na medula espinhal fosse hereditária.
A tetania recorrente nos terriers escoceses, também denominada cãibra
escocesa e geralmente observada primeiro com , 1 ano de idade, se caracteriza
inicialmente pelo arqueamento do dorso seguido por uma andadura com pernas
rígidas devido à superflexão dos membros posteriores e à abdução dos membros
anteriores. Observam-se os sinais, que podem resultar de um metabolismo anormal
da serotonina, quando os cães se excitam ou se exercitam arduamente e reduzem
o ritmo com o descanso. É uma doença recessiva autossômica simples.
O disrafismo espinhal nos cães weimaraners é um distúrbio hereditário,
embora a forma de hereditariedade ainda não seja clara. Os sinais clínicos principais
incluem uma andadura em pequenos pulos, uma postura encurvada, uma abdução
de um membro e uma propriocepção anormal nas pernas posteriores quando os
cães atingem 4 a 6 semanas de idade. A doença não é progressiva. As medulas
espinhais apresentam duplicação, ausência e malformação do canal central;
afinamento e ausência da substância cinzenta central; e áreas de substância
cinzenta ectópicas no sulco mediano ventral. Nos cães mais velhos, pode-se
desenvolver uma siringomielia (cavitação da medula espinhal).
Doenças Congênitas e Hereditárias do SNC 704
Nos airedale terriers, ocorre uma afecção de tremores permanente nos quartos
traseiros e na cauda, geralmente após os cães atingirem no mínimo 6 meses de idade.
CÃES E GATOS
Distúrbios congênitos
A subluxação atlantoaxial é uma instabilidade da articulação atlantoaxial que
resulta da separação, ausência ou malformação do processo odontóide (dente). Ela
pode produzir deficiências neurológicas agudas e severas devido à flexão excessiva
da articulação. É mais comum nos cães < 1 ano de idade, mas pode ocorrer em
animais mais velhos como resultado de um traumatismo. Também tem sido descrita
nos gatos. Os sinais clínicos variam de uma rigidez e uma dor cervicais, através de
uma tetraparesia espástica, até uma tetraplegia. Os sinais podem ocorrer aguda-
mente ou se desenvolver lentamente por vários meses. O diagnóstico se baseia nos
achados radiográficos. O prognóstico é reservado. Torna-se obrigatória a descom-
pressão cirúrgica com a estabilização da luxação.
A malformação - má articulação cervical (síndrome do cambaleio) representa
uma malformação das vértebras cervicais inferiores, que resulta em graus variáveis
de compressão da medula espinhal. A doença se caracteriza radiograficamente pelo
deslocamento da face craniodorsal da vértebra para o interior do canal vertebral, pela
estenose do orifício cranial do forame vertebral e, algumas vezes, pela malformação
das faces craniodorsal ou cranioventral do corpo vertebral. Ocorre nos eqüinos (ver
SÍNDROME DO CAMBALEIO EQÜINO, pág. 717) e em várias raças de cães, porém mais
comumente nos dogues alemães mais jovens (<1 ano) e nos dobermans pinschers
mais velhos (> 5 anos). Existem relatos isolados em outras raças, incluindo o borzói,
o ridgeback rodesiano, o old english sheepdog, o setter irlandês, o fox terrier, o boxer,
o chow-chow, o weimaraner, o retriever dourado e o cão montanhês dos Pireneus.
Desconhece-se a causa, embora possam-se implicar as rápidas velocidades de
crescimento e nutrição, os fatores mecânicos e a genética. Os sinais tendem a ser
progressivos e variar de uma paraparesia suave a uma tetraplegia. Os quartos
posteriores se incluem desajeitadamente enquanto andam. Precisa-se diferenciar
esse distúrbio das esqueletopatias, tais como a displasia coxofemoral, a osteocondro-
se dissecante e a osteodistrofia hipertrófica, e da aproximação excessiva dos joelhos,
das neoplasias da medula espinhal cervical e das protrusões dos discos intervertebrais
nos cães mais idosos. As alterações da medula espinhal consistem em graus
variáveis de necrose e desmielinização no nível da lesão. O diagnóstico se baseia nos
sinais clínicos, na raça e na radiografia. Os estudos de contraste espinhal tornam-se
essenciais para o estabelecimento de um diagnóstico preciso. O prognóstico depen-
de da severidade do defeito e da idade do cão. Os cães jovens ocasionalmente se
recusam espontaneamente. Nos outros, uma terapia com corticosteróides pode
ajudar. Nos casos severos, o prognóstico é ruim, mesmo com uma cirurgia
descompressiva e estabilizadora. Nos basset hounds < 6 meses de idade ocorre uma
malformação possivelmente hereditária das vértebras C2-3; nesses animais pode-se
aliviar com sucesso a compressão da medula espinhal através de uma cirurgia.
Os seios dermóides são defeitos do tubo neural que resultam de uma separação
incompleta da pele e do tubo neural durante o desenvolvimento embrionário. A
afecção é mais comum nos cães ridgeback rodesianos, mas podem-se afetar outras
raças. Os sinais clínicos podem ocorrer quando o seio se comunica com a dura-
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 707
Doenças degenerativas
Os cistos aracnóides foram descritos esporadicamente em cães de 1 a 10 anos
de idade. Esses cistos se caracterizam por lesões cavitárias na linha média dorsal
que resultam em uma compressão da medula espinhal. Recentemente, têm-se
observado síndromes clínicas cervicais e toracolombares. O diagnóstico se faz pela
mielografia. A excisão cirúrgica se torna o tratamento de escolha.
A mielopatia degenerativa é uma doença que ocorre mais freqüentemente nos
pastores alemães, e ocasionalmente nas outras raças grandes de cães, geralmente
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 709
> 5 anos de idade. Suspeita-se de uma base hereditária. Também ocorre uma doença
semelhante nos gatos. Desconhecem-se a causa e a patogenia, mas ela não está
relacionada a discopatia, espondilose deformante ou ossificação dural. Patologica-
mente, encontram-se as alterações mais severas na medula espinhal torácica, e
estas caracterizam-se pela degeneração da substância branca. O início da doença
é insidioso. Os sinais clínicos incluem uma fraqueza e um apoio progressivos nos
nós dos dedos das patas dos membros posteriores, e uma ataxia no tronco. Alguns
cães apresentam uma depressão do reflexo patelar. O diagnóstico se baseia na
idade, na raça e na síndrome clínica. Os testes auxiliares, inclusive a radiografia e a
mielografia, ficam normais. O prognósticos é ruim. Não há tratamento.
A ossificação dural é um distúrbio degenerativo dos cães que se caracteriza
pela formação de placas ósseas na superfície interior da dura-máter. Essas
placas ocorrem em > 60% dos cães > 2 anos de idade e são mais comuns nas
áreas cervical e lombar. Geralmente, constitui uma afecção radiograficamente
detectada como um achado incidental. Caracteriza-se por sombras lineares
radiopacas e delgadas no interior do canal vertebral, especialmente no local dos
forames intervertebrais.
Os êmbolos fibrocartilaginosos, que se acredita surgirem dos discos
intervertebrais, resultam em uma necrose isquêmica da medula espinhal. Esse
distúrbio ocorre em cães imaturos e adultos, especialmente nas raças maiores,
e nos gatos. O infartamento no nível da medula espinhal lombossacral e
cervicotorácica resulta na necrose das células do corno ventral. O início dos
sinais clínicos é tipicamente superagudo (em segundos), com a paralisia de um
ou mais membros, dependendo do nível do infartamento da medula espinhal. Os
locais mais comuns são os segmentos medulares lombares e cervicais. Tipica-
mente, os animais afetados não manifestam dor. O diagnóstico se baseia na
rapidez do início e nos achados radiográficos/mielográficos normais. O LCE pode
apresentar um aumento das proteínas e uma elevação da contagem de neutró-
filos dentro de poucas horas após o início clínico. O prognóstico é reservado.
Qualquer melhora deve-se tornar aparente em 1 a 2 semanas. Os corticosterói-
des (1mg/kg duas vezes ao dia) podem ser benéficos para a redução do edema
da medula durante as primeiras 24h. Nos grandes animais, têm-se descrito
êmbolos fibrocartilaginosos nos segmentos cervicais baixos dos eqüinos e nos
segmentos lombares baixos de uma porca.
A discopatia intervertebral constitui um dos distúrbios neurológicos mais
comuns; ela resulta de uma protrusão do material discal para o interior do canal
vertebral com subseqüente compressão da medula espinhal ou das raízes dos
nervos espinhais, ou de ambas. Ocorre em todas as raças de cães, mas é comum
nos dachshunds, nos beagles, nos pequineses, nos poodles, nos cocker spaniels,
nos shih tzus e nos corgis galeses, de 3 a 7 anos de idade. Acredita-se que o risco
de ocorrência nos dachshunds seja 10 a 12 vezes maior que o de todas as outras
raças combinadas. A doença é rara nos gatos. Os locais mais comuns são as regiões
toracolombar (85%) e cervical (15%). Os sinais clínicos da discopatia cervical se
caracterizam por dor e espasmos cervicais e tetraparesia. A tetraplegia é incomum.
Os cães podem assumir uma postura com o nariz mantido próximo ao chão e o dorso
arqueado. No caso da doença toracolombar, os cães podem apresentar paresia ou
paraplegia. A função dos membros anteriores permanece normal. A pressão digital
na espinha, no nível da protrusão do disco, geralmente dispara a dor. Os animais
ficam geralmente incontinentes, Como resultado de uma protrusão violenta e aguda
do material de um disco toracolombar, pode-se desenvolver uma mielomacia difusa
progressiva em uma pequena porcentagem dos cães, e causar paralisia ascendente
e descendente. À medida que a afecção progride, os membros anteriores e
posteriores podem-se tornar flácidos. Os animais afetados morrem de paralisia
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 710
refletir tanto um processo patológico de massa focal como um multifocal difuso; eles
podem incluir ataques, depressão, desorientação, andadura em círculos, ataxia,
prostração, paresia dos membros posteriores, paraplegia, anisocoria, dilatação
pupilar e cegueira. Podem-se demonstrar os microrganismos no LCE, que é
pleocítico (células mononucleares e polimorfonucleares) e apresenta um aumento no
nível de proteínas. No caso da criptococose, podem-se encontrar presentes
eosinófilos. O prognóstico para os animais com envolvimento do SNC é ruim, mesmo
quando tratados com anfotericina B.
Têm-se descrito outros agentes micóticos que produzem esporadicamente
infecções no SNC. Esses agentes incluem Cladosporium trichoides, Paecilomyces
sp, Flavobacterium meningosepticum, Geotrichum candidum e Aspergillus sp (ver
também INFECÇÕES FÚNGICAS, pág. 411).
A osteomielite-discoespondilite é um distúrbio inflamatório dos corpos verte-
brais e discos intervertebrais associados. É comum nos cães jovens a adultos de
meia-idade, geralmente das raças maiores. Os cães machos afetados superam as
cadelas afetadas em , 2:1. Também tem sido descrita nos gatos. A afecção pode
ocorrer após um traumatismo iatrogênico da coluna vertebral (por exemplo, a
curetagem de um disco), uma migração de um corpo estranho, ou mais comumente,
êmbolos sépticos de origem sangüínea. Na maioria dos casos, não se estabeleceu
a origem da infecção. Os locais possíveis incluem o trato urinário, a pele, a gengiva
e as válvulas cardíacas. Os microrganismos identificados incluem Staphylococcus
aureus, Brucella canis, Nocardia sp, Streptococcus canis e Corynebacterium
diphtheroides. Os sinais clínicos, que refletem o grau de proliferação óssea e
compressão da medula espinhal, variam de uma hiperestesia espinhal sutil a uma
paresia/paralisia severa. Os animais afetados podem ficar deprimidos, anoréticos e
febris. O diagnóstico se baseia nos achados radiográficos que podem incluir lise
óssea (especialmente nas áreas vertebrais adjacentes ao disco), proliferação,
esclerose vertebral, encurtamento dos corpos vertebrais e estreitamento dos
espaços dos discos intervertebrais. Os locais comuns de discoespondilite incluem
as vértebras torácicas e lombares e a articulação lombossacral. O prognóstico é
geralmente favorável com uma antibioticoterapia a longo prazo. As cefalosporinas
são efetivas na maioria dos casos em pequenos animais. A curetagem vertebral
pode acelerar a resolução clínica. Em animais com compressão da medula espinhal,
exigem-se uma descompressão e uma imobilização da vértebra.
A polirradiculoneurite (paralisia do coonhound) é uma neuropatia comum dos
cães, que ocorre especialmente nas raças caçadoras de guaxinins. Porém, pode
ocorrer uma afecção semelhante nos cães sem nenhuma exposição possível a
guaxinins. A patogenia não é clara. Uma mordedura de guaxinim tem sido um
antecedente compatível e suspeita-se de uma base imunológica.
Os sinais clínicos aparecem freqüentemente em 7 a 11 dias após um encontro
com um guaxinim. O início se caracteriza por fraqueza e hiporreflexia dos membros
posteriores. A paralisia progride rapidamente, e resulta em uma tetraplegia simétrica
flácida. Nos animais severamente afetados pode ocorrer fraqueza facial e dispnéia.
A paralisia dura de várias semanas até 2 a 3 meses. O prognóstico é geralmente
favorável com um tratamento sintomático e uma terapia de suporte; no entanto, a
proteção contra futuros ataques tem vida curta ou é inexistente. Pode ocorrer morte
a partir de uma paralisia respiratória.
O tétano (ver pág. 398) é causado pela toxina da Clostridium tetani. A suscetibilida-
de varia acentuadamente entre as espécies. Os sinais clínicos são geralmente
observados em 5 a 10 dias de infecção. Esses sinais incluem rigidez da andadura com
uma espasticidade extensora em todos os membros, dispnéia, espasmos dos mús-
culos mastigatórios e faríngeos (que resultam em trismo e disfagia), elevação da
cauda e contração dos músculos faciais (o que concede uma expressão zombeteira).
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 714
Neoplasia
A neoplasia da medula espinhal nos cães e nos gatos ocorre menos freqüente-
mente que a neoplasias do sistema nervoso (ver pág. 738).
Distúrbios nutricionais
Os distúrbios nutricionais que afetam a coluna ou a medula espinhal são
incomuns nos cães e nos gatos, exceto quanto à hipervitaminose A e à ataxia dos
hounds. A hipervitaminose A ocorre nos gatos alimentados predominantemente
com uma dieta de fígado. A vitamina A em excesso resulta em hipertrofia óssea e
em espondilose anquilosante das vértebras cervicais. Os sinais clínicos incluem um
“sentar como canguru”, incapacidade para mover a cabeça ou o pescoço, dor e
claudicação do membro anterior. O diagnóstico e faz por radiografia. O prognóstico
é reservado a ruim. As alterações na dieta podem deter uma progressão adicional,
mas não reduzem significativamente a espondilose que já se encontra presente.
Tem-se observado a ataxia dos hounds nos foxhounds, nos harriers e nos beagles
na Grã-Bretanha. Os animais afetados geralmente têm de 2 a 6 anos de idade.
Ocorre uma degeneração walleriana severa na medula espinhal. Os sinais clínicos
incluem fraqueza nos membros posteriores, ataxia e hipermetria. O curso clínico
pode ser de 6 a 18 meses. A função do membro anterior permanece normal. Tem-
se implicado um fator dietético, pois o distúrbio está associado à alimentação com
o bucho (o pré-estômago dos bovinos e dos ovinos).
Traumatismo espinhal
Essa afecção é comum nos cães e nos gatos, e é mais freqüentemente causada
por automóveis, quedas, lutas ou ferimentos a bala. As fraturas e luxações espinhais
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 715
podem ocorrer em qualquer nível mas são mais freqüentes na junção toracolombar,
uma área que compreende segmentos espinhais móveis e estáveis. As lesões da
medula espinhal resultantes se caracterizam patologicamente por graus variáveis
de isquemia, edema, necrose hemorrágica, degeneração neuronal, desmieliniza-
ção e malacia focal. O edema localizado pode resultar em um inchaço acentuado da
medula. Os sinais clínicos geralmente ocorrem imediatamente, e não são geralmen-
te progressivos. A lesão da medula espinhal toracolombar severa nos cães resulta
em paraplegia e hiperextensão dos membros anteriores (síndrome de Schiff-
Sherrington). A radiografia geralmente mostra fraturas e luxações óbvias da coluna
vertebral. Indica-se uma descompressão cirúrgica, uma redução e uma estabiliza-
ção imediatas da vértebra, frequentemente combinadas com uma terapia com
corticosteróides (dexametasona 2 a 4mg/kg. EV, repetida a intervalos de 6 a 8h). O
prognóstico é reservado. Os animais que apresentam uma perda da sensação de
dor apresentam um prognóstico ruim.
Os eqüinos são propensos a fraturas sacrais após quedas enquanto trabalham
como transporte de carga, e a traumatismos cervicais associados com trancos
violentos pelo cabresto. Os bovinos são suscetíveis a fraturas lombossacrais por
acidentes de acasalamento. As vértebras dos bezerros, dos potros ou dos suínos
com deficiência de cálcio podem ficar mais suscetíveis a fraturas.
Doenças de armazenamento
Ver também DOENÇAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIAS DO SNC, página 697.
São doenças raras que resultam de defeitos enzimáticos geneticamente determi-
nados, com os subseqüentes acúmulo e armazenamento de substratos no interior do
sistema nervoso. Pode-se observar uma paraparesia progressiva nos animais com 3
a 4 meses de idade. Os sinais de doença cerebral também são freqüentes. As doenças
de armazenamento que produzem sinais na medula espinhal nos cães e nos gatos
incluem a gangliosidose, a esfingomielinose, a leucodistrofia das células globóides e
a mucopolissacaridose. Essas doenças são geralmente fatais. Não há tratamento.
BOVINOS
A osteomielite vertebral, a raiva, a degeneração axonal no gado suíço castanho
e o traumatismo espinhal encontram-se mencionados na discussão centrada nos
cães e nos gatos (ver anteriormente). A seguir, discutem-se as doenças adicionais
da medula e da coluna espinhais nos bovinos.
A subluxação atlantoaxial bovina e a compressão da medula cervical secundá-
ria ocorrem nos bovinos holstein e nos cruzados entre o nascimento e 1 ano de idade.
O dente é pequeno ou se encontra ausente, e o eixo se desloca ventralmente ao atlas.
O atlas e os ossos occipitais podem-se fundir. Os sinais clínicos variam de paresia a
tetraplegia.
A poliomielomalacia simétrica focal foi descrita em um rebanho puro-sangue
de bovinos ayrshire. Os animais afetados são normais ao nascerem, mas se tornam
fracos nos quartos posteriores e paraplégicos em 10 dias; também podem-se
envolver os membros anteriores. Ocorre uma atrofia muscular, e os reflexos
espinhais se encontram reduzidos ou ausentes. As lesões parecem se restringir à
medula espinhal e se caracterizam por necrose (malacia) dos cornos ventrais com
acúmulo de fagócitos de lipídios. As áreas da medula que parecem ser suscetíveis
são os alargamentos cervicais e lombares. Desconhece-se a causa da afecção, mas
os fatores genéticos podem exercer um papel. Não há tratamento.
A meningoencefalomielite rinotraqueíte infecciosa bovina é causada por um
herpesvírus que raramente causa doença no SNC nos bovinos. Os sinais incluem
depressão, ataxia, cegueira, ataques e morte (ver também pág. 884).
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 716
Algumas vezes apenas a ataxia e a paralisia dos membros posteriores podem ser
vistas. Não há tratamento.
O distúrbio mielínico do gado charolês é um distúrbio neurológico progres-
sivo, caracterizado por placas múltiplas de mielina anormal por toda a substância
branca do SNC. Ele foi descrito na Grã-Bretanha, na França e no Canadá.
Acredita-se que seja familial, e o processo patológico sugere um desarranjo
básico dos oligodendrócitos – as células formadoras de mielina. Os sinais clínicos
são reconhecidos pela primeira vez aos 8 a 24 meses de idade, e progridem de
uma ligeira ataxia nos membros posteriores a um decúbito em 1 a 2 anos.
A mielodisplasia é uma malformação congênita devida ao desenvolvimento
defeituoso de qualquer parte da medula espinhal antes de uma diferenciação
completa das substâncias branca e cinzenta. Pode ocorrer esporadicamente em
bezerros nascidos com uma ataxia moderada a severa dos membros posteriores e
uma paresia espástica não progressiva. Alguns animais manifestam uma andadura
dos membros posteriores na forma de “saltitar-de-coelho”. Uma malformação da
coluna vertebral pode acompanhar a anomalia da medula espinhal.
A neoplasia da medula e da coluna espinhais nos bovinos geralmente se restringe
ao espaço epidural. O linfossarcoma (ver pág. 391) pode-se desenvolver freqüente-
mente no espaço epidural em qualquer nível espinhal e produzir sinais clínicos
referentes à área comprimida da medula espinhal. Uma elevação do título de anticor-
pos contra o vírus da leucemia bovina pode sugerir essa doença, que pode envolver
outros sistemas corporais. O neurofibroma dos nervos espinhais pode-se estender
ocasionalmente para o interior do canal vertebral e comprimir a medula espinhal.
A intoxicação por organofosfato nos bovinos pode causar uma paraparesia (ver
INTOXICAÇÃO POR HALOXONA NOS OVINOS, a seguir, e a discussão na seção TOX, página 2058).
Migração parasitária (ver também pág. 729) – As larvas da Hypoderma bovis
(a mosca da hipodermose bovina [ver pág. 944] migram através do espaço epidural
dos bovinos, geralmente durante o período de julho a outubro; elas têm sido
implicadas no desenvolvimento de paraparesia e ataxia dos membros posteriores
nos bovinos tratados de hipodermose. Os outros distúrbios parasitários que podem
causar sinais clínicos semelhantes nos bovinos incluem a Coenurus cerebralis e a
Parelaphostrongylus tenuis.
A mieloencefalopatia degenerativa progressiva (síndrome do tecelão, pág.
701) é hereditária nos bovinos suíços castanhos.
A paresia espástica (paralisia espástica bovina, calcanhar de Elso) é comum nos
bezerros leiteiros e de corte jovens (1 a 9 meses de idade), especialmente entre os
que ainda estão mamando (ver também pág. 605). A causa não é clara; no entanto,
suspeita-se de um desequilíbrio de neurotransmissores. Os sinais se caracterizam
por espasmos trêmulos e progressivos do gastrocnêmio e dos músculos flexores
digitais. Os sinais são geralmente assimétricos, inicialmente com o membro afetado
balançando como um pêndulo quando o animal se move. A tenotomia do tendão
gastrocnêmio e a neurectomia tibial têm-se mostrado benéficas em alguns casos.
A síndrome espástica (ver pág. 606), também conhecida como espasticidade
periódica, cãibra ou estiramento, é mais comum nos bovinos holstein e guernsey,
geralmente de 3 a 7 anos de idade. Acredita-se que a síndrome seja hereditária. Os
sinais se caracterizam por episódios de extensão dos membros posteriores que
duram de alguns segundos a vários minutos; eles geralmente ocorrem quando o
animal está se levantando para ficar em pé, ou em um movimento súbito após um
período de relaxamento. Ocorrem espasmos musculares extensores das costas e
dos quartos posteriores com uma extensão caudal dos membros posteriores e uma
dificuldade para se mover. Os sinais são geralmente permanentes e podem
progredir até o ponto em que o animal não pode ficar em pé. As lesões são
inconsistentes e não há tratamento. O prognóstico é reservado.
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 717
EQÜINOS
O traumatismo espinhal, o tétano, a ostemielite vertebral e os êmbolos
fibrocartilaginosos encontram-se mencionados nas discussões centradas nos cães
e nos gatos (ver anteriormente). A seguir discutem-se as doenças adicionais da
coluna e da medula espinhais nos eqüinos.
A hematomielia aguda tem sido descrita em alguns eqüinos após uma anestesia
em decúbito dorsal. Ocorre uma hemorragia muito disseminada na substância
cinzenta da medula espinhal. Os animais afetados permanecem paralisados.
Acredita-se que a malformação atlantooccipital seja um distúrbio reces-
sivamente hereditário nos potros árabes de ambos os sexos. Geralmente, o atlas se
encontra fundido com o osso occipital e o eixo se desloca ventralmente. O forame
do atlas pode-se reduzir acentuadamente. Os sinais de compressão da medula
cervical cranial podem-se encontrar presentes no nascimento e causar paresia e
ataxia severas ou tetraparesia e incapacidade de ficar de pé. Ao se mover a cabeça,
pode ocorrer um estalo audível no local da malformação. O diagnóstico se confirma
por radiografia. O prognóstico é de reservado a ruim. Tem-se descrito um distúrbio
semelhante nos bovinos holstein.
A malformação - má articulação cervical ou a mielopatia estenótica cervi-
cal (também conhecida como síndrome do cambaleio e ataxia sensorial
eqüina) é um distúrbio vertebral que afeta os eqüinos, geralmente nos primeiros
1 a 2 anos de vida. A incidência é mais alta nos puros-sangues; os sinais são
freqüentemente notados nos potros desmamados ou naqueles de 1 ano de idade.
A estenose do canal vertebral, que envolve mais freqüentemente C5-7, resulta em
uma mielopatia compressiva focal. A desmielinização é a principal alteração
patológica. Manifestam-se uma ataxia e uma paresia acentuadas dos membros
posteriores. Os membros anteriores podem ficar espásticos. O diagnóstico se faz
por radiografia e/ou mielografia. O prognóstico é reservado. A artrodese cirúrgica
pode obter sucesso.
A encefalopatia degenerativa é um distúrbio neurológico lentamente progres-
sivo dos eqüinos e das zebras jovens (do nascimento aos 3 anos de idade).
Desconhece-se a causa; no entanto, é possível que tanto a predisposição genética
quanto os fatores nutricionais (por exemplo, a vitamina E) contribuam para a doença.
As lesões consistem de áreas bilateralmente simétricas de degeneração mielínica
difusa, estendendo-se dos segmentos medulares cervicais aos lombares, especial-
mente nos funículos laterais e ventrais. Na medula espinhal também se podem
observar uma distrofia neuroaxonal, uma perda das células nervosas e um acúmulo
de pigmento. Os sinais clínicos geralmente começam nos membros posteriores e
progridem para envolver os membros anteriores. Os sinais se caracterizam por
ataxia, espasticidade e paresia simétricas. Clinicamente, pode não ser possível se
diferenciar essa doença da mielopatia estenótica cervical. Todos os testes auxiliares
ficam normais. Descreveu-se uma síndrome semelhante em eqüinos morgan e em
cavalos de Przewalski cativos selvagens da Mongólia.
A mieloencefalopatia pelo herpesvírus eqüino do Tipo 1 é uma doença dos
eqüinos (adultos e potros) que ocasionalmente acompanha surtos de abortamento
e doenças respiratórias (ver também pág. 889). A síndrome neurológica pode ocorrer
como a única enfermidade na fazenda. Podem-se afetar todas as idades de animais,
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 718
SUÍNOS
A osteomielite vertebral, a raiva e os êmbolos fibrocartilaginosos encontram-se
mencionados nas discussões centradas nos cães e nos gatos (ver anteriormente). A
seguir discutem-se as doenças adicionais da coluna e da medula espinhais nos
suínos.
O envenenamento por ácido arsanílico (ver pág. 1988) se deve a uma
superdosagem de rações alimentares com promotores de crescimento arsenicais
orgânicos. Os sinais clínicos podem progredir de uma ataxia dos membros poste-
riores e uma paresia até uma tetraparesia. Os animais afetados podem assumir uma
posição de “sentar como cão”. A retirada precoce do arsenical pode resultar em uma
recuperação espontânea completa. As lesões no sistema nervoso se caracterizam
por uma degeneração mielínica e axonal nos nervos periféricos, em ambos os
nervos ópticos e nos tratos ópticos.
A mielopatia nutricional é um distúrbio da medula espinhal rapidamente
progressivo dos suínos jovens com 3 e meio a 6 meses de idade. Os sinais clínicos
progridem de uma paresia dos membros posteriores para uma paraplegia. A lesão
na medula espinhal consiste de uma desmielinização bilateral simétrica. A causa é
uma deficiência de cobre. Podem ocorrer sinais clínicos semelhantes em suínos de
3 meses de idade alimentados somente com leite, como resultado de uma deficiên-
cia de vitamina A (ver também págs. 22 e 1522).
A migração parasitária através da medula espinhal por parte do verme renal dos
suínos ,Stephanurus dentalus (ver pág. 1059), pode produzir uma ataxia e uma paresia
dos membros posteriores. O início dos sinais clínicos é agudo. Geralmente, afetam-se
os suínos individualmente. A afecção ocorre especialmente no sudeste dos EUA.
Não se conhece nenhum tratamento efetivo. A Ascaris suum pode causar sinais
semelhantes.
A poliomielomalacia, que ocorre nos suínos de 5 semanas a 5 meses de idade,
pode ocorrer como um surto em vários suínos. Os sinais clínicos ocorrem subita-
mente e incluem ataxia, paresia e perda dos reflexos dos 4 membros, e incapacidade
para ficar em pé. Encontram-se presentes lesões degenerativas na substância
cinzenta da medula espinhal, especialmente nos segmentos cervicais e lombar. A
doença pode estar relacionada com a deficiência de nicotinamida.
A encefalomielite enteroviral suína (ver pág. 746), também chamada de
doença de Teschen, doença de Talfan, poliomielite suína e paresia enzoótica
benigna, é mais comum em suínos lactentes, desmamados ou no início do
crescimento. Esse enterovírus tem uma predileção pela substância cinzenta da
medula espinhal, na qual causa degeneração neuronal, proliferação das células
Doenças da Coluna e da Medula Espinhais 720
OVINOS E CAPRINOS
A raiva e a osteomielite vertebral encontram-se mencionadas nas discussões
centradas nos cães e nos gatos (ver anteriormente). A seguir discutem-se as
doenças adicionais da coluna e da medula espinhais nos ovinos e nos caprinos.
Recentemente se descreveu uma mielopatia necrosante aguda nos cordeiros
de 8 a 12 semanas de idade. Os sinais clínicos variaram de uma ataxia dos membros
posteriores a uma paralisia. As alterações na medula incluíram uma necrose focal
na substância branca e um inchaço axonal. Acreditava-se que a causa da lesão
fosse os êmbolos fibrocartilaginosos.
A intoxicação por haloxona pode ocorrer após uma exposição ao anti-
helmíntico organofosforado de haloxona. Os sinais clínicos ocorrem geralmente em
3 a 5 semanas após a exposição, e se caracterizam por uma paraparesia e uma
ataxia espásticas simétricas. Os membros posteriores ficam parcialmente flexionados,
freqüentemente com a superfície dorsal do casco no chão. Os sinais geralmente
permanecem estáticos. Podem-se encontrar presentes axônios inchados na medu-
la espinhal lombar e no nervo ciático. O prognóstico é reservado (ver também
INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS, pág. 2022).
A migração parasitária através da medula espinhal dos ovinos está freqüente-
mente associada com o verme meníngeo do veado-da-Virgínia (Parelaphostrongylus
tenuis [ver pág. 732]). Os sinais são abruptos em seu início e podem variar de uma
paresia e uma ataxia dos membros posteriores a uma tetraparesia. Os animais
afetados apresentam uma história de pastejo em pastos que tenham sido expostos
ao veado-da-Virgínia. O curso clínico é variável, freqüentemente relacionado com
a rota migratória do parasita. Os sinais podem progredir, permanecer estáticos ou
melhorar. O LCE se encontra freqüentemente anormal, com elevação dos níveis de
proteína e uma pleocitose mononuclear e eosinofílica. Recomenda-se o tratamento
com a dietilcarbamazina, o levamisol ou o tiabendazol. O prognóstico é reservado.
As larvas da Setaria digitata e da Coenurus cerebralis (larvas da cenurose) que se
localizam na medula espinhal podem causar sinais semelhantes.
O encurvamento da coluna, também conhecido como ataxia enzoótica (ver
pág. 1453), é uma neuropatia nos ovinos e nos caprinos, que está associada com
a deficiência de cobre da mãe e dos filhotes. As lesões na medula espinhal e no
tronco cerebral se caracterizam por uma deficiência de mielina e uma degeneração
neuronal. Os sinais iniciais observados do nascimento aos 3 a 4 meses de idade
incluem ataxia e paresia dos membros posteriores que geralmente progridem para
uma tetraparesia. O tratamento com sulfato de cobre pode resultar em uma melhora
acentuada.
A leucoencefalomielite viral dos caprinos é uma doença altamente infecciosa,
causada por um retrovírus não oncogênico do grupo dos lentivírus. As lesões se
caracterizam por uma desmielinização difusa e alterações granulomatosas inflama-
tórias disseminadas que envolvem freqüentemente a substância cinzenta. Esse
vírus também pode produzir uma pneumotite intersticial e uma artrite (ver pág. 475).
Disautonomia 721
DISAUTONOMIA
DISAUTONOMIA CANINA
Documentaram-se cinco casos na Grã-Bretanha e na Noruega. Além disso,
ocorreram três casos em cães de origem norte-americana. Observaram-se disúria
e perda do reflexo anal em cada cão, junto com outros sinais típicos da disautonomia
felina. As características histopatológicas eram semelhantes àquelas observadas
nos distúrbios eqüino e felino (ver a seguir).
DISAUTONOMIA FELINA
(Síndrome de Key-Gaskell)
É uma afecção recentemente reconhecida dos gatos domésticos, caracterizada
pela disfunção do sistema nervoso autônomo. Todas as raças e idades parecem ser
suscetíveis. Os primeiros casos forma descritos no início de 1982 na Grã-Bretanha.
A afecção se tornou muito disseminada, porém mais tarde declinou em incidência
e severidade. Também registraram-se casos em outros países europeus, na Nova
Zelândia, nos Emirados Árabes Unidos e na Venezuela. Nos últimos anos, descre-
veram-se cinco casos nos EUA, e dois não se originaram na Grã-Bretanha. O
distúrbio parece afetar a biossíntese proteica neuronal, mas desconhece-se a
etiologia. A enfermidade do capim dos eqüinos e a disautonomia canina (ver
anteriormente) parecem ser semelhantes à síndrome felina.
Achados clínicos e lesões – Os gatos afetados exibem inicialmente depressão
e anorexia, freqüentemente com sinais de infecção do trato respiratório superior ou
de diarréia transitória. As características mais explícitas aparecem em vários dias,
embora em alguns gatos o início possa ser superagudo, enquanto outros podem
apresentar um mal-estar vago por algumas semanas. Os sinais mais comuns
incluem pupilas dilatadas não responsivas, focinho seco, redução da secreção
lacrimal, disfunção esofágica com regurgitação e constipação. As outras caracterís-
ticas incluem mucosa oral seca, prolapso da membrana nictante, bradicardia,
anisocoria e incontinência urinária ou fecal. Esses sinais refletem uma disfunção
tanto simpática como parassimpática. Os sinais não autônomos incluem deficiência
proprioceptiva da perna traseira e arreflexia anal ocasionais. Quando medidos, as
catecolaminas plasmáticas ou seus metabólitos urinários se encontram reduzidos.
A necropsia pode exibir megaesôfago, membranas mucosas secas, bexiga atôni-
ca e acúmulo de fezes no reto. Nos gatos recentemente doentes, observa-se uma
degeneração do tipo cromatolítica nos neurônios por todo o sistema nervoso autôno-
mo, e em menor grau em determinados neurônios não autônomos. Os casos crônicos
exibem um esgotamento acentuado dos neurônios nos gânglios autônomos.
Diagnóstico – O diagnóstico definitivo depende do exame histopatológico dos
gânglios autônomos. A confirmação clínica pode ser auxiliada por uma radiografia
de contraste do esôfago e uma demonstração de redução da secreção lacrimal
(< 5mm/min, quando medida pelo teste de lágrima de Schirmer). A pilocarpina
(0,1%) aplicada na córnea de um gato afetado causa uma miose profunda dentro de
10 a 15min, mas não tem efeito num gato normal. Uma infecção pelo vírus da
leucemia felina (VLF) (ver pág. 46) pode causar tanto anisocoria como incontinência
urinária, mas os gatos com disautonomia felina geralmente apresentam outros
sinais clínicos distintos e são negativos quanto ao VLF.
Doença do Edema 723
DOENÇA DO EDEMA
(Enterotoxemia por E. coli)
ENCEFALOMIELITE EQÜINA
(Encefalite eqüina)
PARALISIA FACIAL
A paralisia facial é comum nos cães, especialmente nos cocker spaniels. O nervo
facial é particularmente vulnerável a danos em seu curso através do ouvido médio e
onde seus ramos se dividem mais superficialmente nos nervos auriculopalpebral e
bacias dorsal e ventral, que inervam os músculos da expressão facial (orelhas,
pálpebras, bochechas, lábios e nariz). A maioria das paralisias faciais nos cães
Paralisia Facial 727
ocorre como uma síndrome idiopática que pode ser transitória ou permanente. A
segunda causa mais comum é a deterioração inflamatória a partir de uma otite
média/interna crônica. O nervo também é suscetível a um traumatismo cirúrgico
durante uma ablação do canal auditivo externo e uma osteotomia da bula timpânica.
Os neoplasmas e os processos inflamatórios no ângulo cerebelomedular ou no
interior da medula rostral (onde se localiza o núcleo facial) podem causar uma
paralisia facial. Os gatos são predispostos a carcinomas das células escamosas e
adenocarcinomas do canal auditivo, que se espalham freqüentemente para afetar o
nervo facial. A paralisia facial nos cães se associa ocasionalmente com o hipotireoi-
dismo, os tumores hipofisários, a miastenia grave e a polineurite devida a paralisia
do coonhound ou síndromes idiopáticas. Os eqüinos comumente sofrem paralisia
facial a partir de um traumatismo de pressão nos ramos superficiais do nervo facial,
à medida que eles atravessam a mandíbula. A encefalomielite por protozoário e a
neurite da cauda eqüina são neuropatias centrais e periféricas, respectivamente, nas
quais pode-se observar uma paralisia facial uni ou bilateral (ver [ambas] pág. 718).
O traumatismo agudo da cabeça (que causa fraturas e hemorragias no osso temporal
pétreo), a otite/ interna, as infecções da bolsa gutural e as lesões osteoproliferativas na
articulação do osso estiloióide com o osso temporal constituem outras causas da
paralisia facial nos eqüinos. Nos ruminantes, a listeriose é uma causa clássica
de paralisia facial. Os abscessos cerebrais, a meningite fibrinosa basilar e a otite
supurativa/média também são causas comuns nos suínos, nos bovinos e nos caprinos.
Achados clínicos – A paralisia facial unilateral total se caracteriza pela ausência
do reflexo palpebral, pela imobilidade e pela flacidez dos músculos de expressão
facial com o subseqüente desvio do nariz em direção ao lado normal. Nos cães e nos
gatos, a fissura palpebral se abre largamente e, em resposta ao teste de ameaça,
o animal pode retrair o globo e mover rapidamente a terceira pálpebra ao invés de
piscar. Os sinais de ceratite de exposição podem ocorrer em conjunto com a
paralisia facial devido à incapacidade para piscar ou mover rapidamente a terceira
pálpebra para lubrificar a córnea. A ceratite seca também pode ocorrer se houver
uma perda da produção de lágrimas devido a um dano nas fibras parassimpáticas
no nervo facial. Nos bovinos e nos eqüinos, a pálpebra superior pode pender
ligeiramente devido à atonia do músculo frontal. A lesão do ramo auriculopalpebral,
à medida que ele atravessa o arco zigomático, causa a paralisia de apenas uma
orelha e uma pálpebra.
Dependendo do local e do grau da lesão do nervo, a paralisia facial pode ser total
ou parcial. Nos eqüinos, por exemplo, o dano nos ramos bucais pode resultar apenas
em um ligeiro desvio do nariz e na flacidez dos lábios, mas tornam-se comuns a
salivação de líquidos e a impactação do alimento na área inervada pelo ramo bucal
da boca no lado afetado. A narina também pode falhar em dilatar ativamente na
inspiração. Pode-se localizar freqüentemente o local do dano nervoso subjacente no
ouvido interno através do distúrbio vestibular intercorrente, manifestado por inclina-
ção da cabeça, nistagmo e incoordenação nos estágios agudos. As lesões do tronco
cerebral próximas ao núcleo facial podem causar sinais bilaterais. Além disso, a
fraqueza dos membros e outras deficiências nos nervos cranianos podem ajudar a
diferenciar uma doença central de lesões periféricas.
Tratamento – Dependendo da severidade da lesão, a neurite traumática e
idiopática do nervo facial freqüentemente se resolve espontaneamente em algumas
semanas. Os corticosteróides são úteis para o controle do edema e da inflamação
agudos, particularmente se utilizados dentro de 24h após a lesão. Devem-se tratar
vigorosamente as infecções com a droga apropriada. As pomadas oftálmicas
protetoras ou o fechamento cirúrgico se tornam necessários para impedir a ceratite
quando se paralisam as pálpebras. Com a deterioração dos lábios preênseis dos
eqüinos, tornam-se necessárias rações úmidas volumosas e recipientes fundos de
Paralisia Facial 728
HEMOFILOSE
(Meningoencefalite tromboembólica, METE)
CESTÓIDEOS
Cenurose – A Taenia (Multiceps) multiceps é um parasita intestinal dos canídeos
(especialmente dos cães, das raposas e dos chacais) e do homem. Os hospedeiros
intermediários são os ovinos, os caprinos, os veados, os antílopes, as camurças, os
coelhos, as lebres, os eqüinos e, menos comumente, os bovinos, que adquirem os
ovos enquanto pastam. Algumas oncosferas alcançam o cérebro e se desenvolvem
em centros (antes conhecido como Coenurus cerebralis ) através da germinação
endógena dos escólices. A invasão e o desenvolvimento iniciais das oncosferas
podem ser responsáveis pela meningoencefalite supurativa aguda. O cenuro
completamente desenvolvido pode ter 5 a 6cm de diâmetro e causar um aumento
da pressão intracranial que resulta em ataxia, hipermetria, cegueira, desvio da
cabeça, cambaleios e paralisia. A afecção clínica é comumente conhecida como
modorra, cambaleio ou resistência. Nos ovinos, a palpação do crânio caudalmen-
te aos botões dos cornos pode revelar uma rarefação; a cirurgia para a remoção do
cisto, incluindo sua parede, possui uma chance razoável de sucesso e se justifica
nos animais de valor. Não se devem alimentar os cães associados à vida doméstica
com as cabeças dos animais afetados e devem se vermifugá-los regularmente
(especialmente se estiverem associados com ovinos).
Cisticercose – A Taenia solium é um parasita intestinal do homem. Os cisticercos
(antes considerados como um parasita separado, a Cysticercus cellulosae) ocorrem
na carne dos suínos, mas também podem-se desenvolver no homem e nos cães que
ingerirem os ovos. Eles se localizam comumente nas meninges e no interior do
neurópilo, e podem causar convulsões e distúrbios locomotores.
Hidatidose – A Echinococcus granulosus é um parasita dos cães e dos lobos. Os
ovos são ingeridos por herbívoros domésticos e silvestres, por exemplo, os ovinos, os
bovinos e os alces. Após eclodirem, as oncosferas invadem o sistema circulatório e se
alojam em várias partes do corpo (especialmente no fígado e nos pulmões). Elas se
desenvolvem em grandes cistos (os cistos hidáticos) que germinam escólices endoge-
namente. Raramente se descrevem cistos hidáticos no SNC dos animais, inclusive do
homem, no qual produzem sinais e sintomas semelhantes aos dos tumores cerebrais.
Uma espécie relacionada, um parasita das raposas (a E. multilocularis), utiliza o
rato silvestre aquático como hospedeiro intermediário. Raramente se encontra
esse parasita no cérebro do homem, no qual o cisto hidático não produz escólices.
Como mencionado anteriormente (no caso da cenurose), a cirurgia pode ser útil.
Patologias do SNC Causadas por Helmintos e Larvas de Insetos 731
LARVAS DE I NSETOS
A miíase que envolve o SNC é muito incomum, exceto no casos da Hypoderma
bovis, cujas larvas se desenvolvem normalmente em buracos entre o periósteo e a
dura-máter antes de migrarem para o tecido subcutâneo do dorso. Os sinais
neurológicos (que variam de uma andadura insegura, rígida e transitória a uma
paralisia) podem ocorrer em bovinos que tenham recebido inseticidas sistêmicos,
quando as larvas se encontram presentes no canal espinhal (ver pág. 944).
Raramente se descreve a penetração das larvas da Oestrus ovis (a berne nasal
dos ovinos [ver pág. 917]) no osso etmoidal e o alcance destas ao cérebro anterior.
Entretanto, é possível que outros fatores facilitem a entrada das larvas no cérebro.
Os bernes podem se mover rapidamente após a morte do hospedeiro e migrar
para tecido distantes do local de origem.
NEMATÓIDEOS
Ascaridoidea
Ascaridose – As larvas de alguns vermes cilíndricos ascarídeos (incluindo
Baylisascaris spp dos mustelídeos e Toxocara canis dos cães e dos gatos) podem
invadir o SNC, bem como outros tecidos dos cães-da-pradaria, dos coelhos, dos
camundongos, dos castores, dos cães e do homem. Essas larvas são aparentemen-
te transportadas para vários tecidos através do sistema arterial. As larvas se tornam
ativas no interior do neurópilo, e as larvas de algumas espécies, por exemplo, de B.
columnaris, crescem acentuadamente e podem causar um traumatismo tecidual
considerável; tais infecções geralmente resultam em distúrbios neurológicos que
podem levar à morte do hospedeiro.
Filarioidea
Eleoforose – A Elaeophora schneideri (um filarióideo das artérias carótidas e dos
seus ramos) é comum no veado-orelhudo, principalmente no oeste da América do
Norte. As microfilárias se acumulam na pele da região cefálica; os vetores são espécies
de Tabanidae. As larvas se desenvolvem nas artérias das leptomeninges antes de
migrarem para as carótidas. A infecção é geralmente silenciosa no hospedeiro normal.
Nos veados-nobres, nos alces, nos veados-da-Virgínia, nos ovinos e nos
caprinos, os vermes no interior das artérias causam degeneração e perda do
endotélio e acúmulo de proteínas plasmáticas e plaquetas sobre e no interior da
túnica íntima. A trombose, a infiltração da túnica íntima e a proliferação fibroblástica
podem resultar finalmente na oclusão e na necrose isquêmica dos tecidos associa-
dos. As lesões necróticas associadas oclusão das artérias leptomeníngeas são
comumente encontradas no cérebro. Os sinais neurológicos incluem cegueira,
desvio da cabeça, andadura em círculos, ataxia e paralisia (ver também pág. 977).
Setariose – A Setaria digitata é um parasita comum da cavidade peritoneal dos
bovinos na Ásia. As microfilárias ocorrem no sangue; os mosquitos são os vetores.
A infecção parece ser silenciosa nos bovinos. Desconhecem-se os detalhes do
desenvolvimento no hospedeiro normal. Nos eqüinos, nos caprinos e nos ovinos, os
vermes em desenvolvimento invadem o SNC e causam fraqueza motora, ataxia,
claudicação, pendência das orelhas ou das pálpebras e paralisia lombar. As lesões
incluem malacia focal e degeneração dos cilindros axiais e da bainhas de mielina em
todas as regiões do SNC.
Tem-se descrito a Setaria cervi (Elaphostrongylus altaica ) nas leptomeninges
dos veados na Europa e na Rússia, freqüentemente em associação com E. cervi .
Também tem-se encontrado Setaria sp no SNC dos eqüinos. O significado desses
achados é obscuro.
Patologias do SNC Causadas por Helmintos e Larvas de Insetos 732
Metastrongiloidea
Angiostrongilose – Angiostrongylus cantonensis é um parasita comum das
artérias pulmonares dos ratos no sudeste da Ásia e no sul do Pacífico. Os
gastrópodes terrestres são os hospedeiros intermediários. As larvas invadem o
cérebro e se desenvolvem no parênquima neural por , 2 semanas, quando entram
no espaço subaracnóideo e migram, , 1 mês após a infecção, para as artérias
pulmonares através do sistema venoso. Os sinais neurológicos são raros nos ratos
com infecções leves a moderadas, mas nas infecções agudas, podem ocorrer
andadura em círculos, canibalismo e paraplegia. Nas regiões endêmicas, as
pessoas adquirem freqüentemente a infecção.
Elafostrongilose – A Elaphostrongylus cervi (rangiferi) é um parasita comum da
musculatura esquelética do Rangifer e das Cervus spp (rena e veado-nobre) na
região holártica, especialmente na Eurásia. É transmitido por gastrópodes terrestres
e se desenvolve aparentemente por um período no SNC, antes de migrar para os
músculos. A infecção está associada com fraqueza lombar, paresia e paralisia nos
cervídeos na Suécia e na Rússia.
Parelafostrongilose – A Parelaphostrongylus (Pneumostrongylus) tenuis
ocorre normalmente no espaço subdural e nos seios venosos do crânio do veado-
da-Virgínia no leste da América do Norte. Os ovos alcançam os pulmões através
do sangue venoso e se desenvolvem em larvas, que deixam a árvore brônquica
e saem com as fezes. As larvas infectantes, adquiridas de caramujos e lesmas
terrestres à medida que o veado se alimenta, invadem a medula espinhal e se
desenvolvem por várias semanas nos cornos dorsais da substância cinzenta;
depois, elas invadem e amadurecem no espaço subdural. A infecção é geralmen-
te silenciosa no veado-da-Virgínia.
A Parelaphostrongylus tenuis invade o SNC de vários cervídeos silvestres (alce,
rena e veado-nobre), antílopes, ovinos e caprinos. Nesses hospedeiros, o parasita
produz um traumatismo considerável no SNC. ALém disso, os ovos depositados no
tecido neural provocam reações inflamatórias acentuadas. Os sinais clínicos
consistem de fraqueza lombar, ataxia, claudicação, rigidez, andadura em círculos,
posições anormais da cabeça e paralisia. Os sinais variam quanto ao início e ao tipo
nos animais individuais. As remissões temporárias são típicas.
Escriabingilose – A Skrjabingylus nasicola e a S. chitwoodorum são encontra-
das nos seios frontais dos mustelídeos, especialmente dos visons, das doninhas e
dos cangambás. As larvas adquiridas dos gastrópodes terrestres se desenvolvem
por um tempo na parede intestinal, e depois migram para a medula espinhal. Elas
se movem pelas leptomeninges até o cérebro e ao longo dos tratos olfatórios para
a placa cribiforme, na qual elas penetram para alcançar os seios frontais. A presença
delas nas leptomeninges provoca hemorragias e leptomeningite. Nas infecções
agudas, alguns vermes subadultos invadem o cérebro e causam sinais neurológi-
cos, incluindo paralisia.
Rhabditoidea
Micronemose – Micronema deletrix é um nematóideo cefalobídeo de vida livre
que foi descrito no SNC dos eqüinos e do homem. Ele pode atingir o SNC através
de ferimentos contaminados pelo solo que contém os vermes, ou através de
abscessos nas cavidades oral e nasal. O nematóideo se multiplica no SNC e é
altamente destruidor de tecidos neurais, o que causa a morte do hospedeiro.
Nematóideos variados
Têm-se descrito larvas migratórias de estrôngilos (talvez a Strongylus vulgaris)
no SNC dos eqüinos; o fenômeno parece ser raro. As larvas da Stephanurus
Louping Ill 733
TREMATÓDEOS
Paragonimíase – Têm-se descrito raramente os adultos e os ovos de Paragonimus
westermani no SNC do homem, dos cães, dos gatos e dos ratos (os últimos 3 foram
induzidos experimentalmente).
Esquistossomose – Os esquistossomos depositam normalmente seus ovos nos
pequenos vasos do intestino e da bexiga, a partir dos quais são eliminados nas fezes ou
na urina. Alguns ovos, porém, entram na circulação geral e podem alcançar o SNC, onde
encapsulam. Tem-se observado essa afecção no homem e em alguns outros animais.
Tronglotremíase – A Troglotrema acutum habita os seios frontais e etmoidais
das raposas e dos mustelídeos na Europa, Uma osteíte rarefativa pode resultar
disso e permitir que os microrganismos alcancem a cavidade cranial, levando a uma
meningite purulenta fatal.
“LOUPING ILL”
(Encefalomielite ovina)
É uma doença viral aguda e transmitida por carrapatos que atinge o SNC,
variando de inaparente a fatal. Ela afeta primariamente os ovinos, mas os
bovinos, os caprinos, os eqüinos, os cães, os suínos, os veados-nobres, as
corças, os tetrazes-vermelhos e o homem também podem-se infectar; o homem
pode-se infectar através das mordeduras de carrapatos ou da exposição a tecidos
ou instrumentos infectados. A doença ocorre por todos os pastos de colina
acidentados das Ilhas Britânicas onde quer que o carrapato-vetor ( Ixodes ricinus)
seja prevalente. Na Noruega, na Espanha, na Turquia e na Bulgária ocorreram
recentemente doenças de ovinos indistinguíveis da “louping ill” e causadas por
vírus que não foram diferenciados do vírus dessa última, o que sugere que a
afecção possa não se restringir às Ilhas Britânicas.
Etiologia e transmissão – O vírus pertence à família Flaviviridae e é parte de um
complexo de vírus antigênico e intimamente relacionado e distribuído por todas as
regiões temperadas do norte (conhecido como encefalite originária dos carrapatos)
e que se encontra primariamente associado com a doença no homem. A infecção
é transmitida transestadialmente pelo carrapato-hospedeiro; parece que não ocorre
transmissão transovariana. Nos ovinos, a mortalidade varia de 60% no rebanho
recém-introduzido a 5 a 10% nos animais previamente expostos. Nas fazendas
onde a doença é endêmica, as perdas se confinam principalmente aos animais < 2
Louping Ill 734
anos de idade; os adultos tendem a ficar imunes como resultado de uma infecção
anterior, e os cordeiros ficam protegidos, em sua primeira temporada, pelos
anticorpos colostrais. No entanto, quando a doença aparece pela primeira vez, ou
após um intervalo de vários anos, ovinos de todas as idades se tornam suscetíveis.
A mortalidade é variável nas outras espécies, mas tende a ser alta no tetraz-
vermelho. Apenas os ovinos e os tetrazes parecem ser capazes de passar a infecção
para o carrapato-vetor. A infecção também pode espalhar-se através do contato
com instrumentos ou tecidos contaminados. Os caprinos lactantes infectados
podem excretar altos títulos do vírus em seus leites, o que pode causar uma infecção
fatal em seus cabritos e se tornar um risco de saúde potencial ao homem.
Patogenia, achados clínicos e lesões – O curso da infecção é semelhante em
todas as espécies, e varia apenas na intensidade da viremia e na freqüência com que
se desenvolvem os sinais clínicos. Após a inoculação por um carrapato infectado, o
vírus se replica inicialmente nos tecidos linfóides, o que dá origem a uma viremia que
dura 1 a 5 dias. Só os indivíduos que desenvolvem altos títulos podem transferir o
vírus aos carrapatos. Durante a viremia, pode ocorrer uma reação febril, mas os
sinais clínicos explícitos se encontram geralmente ausentes até que o vírus entre no
SNC e comece a replicação, mesmo que a resposta imune tenha eliminado o vírus
dos tecidos extraneuronais. A extensão do dano neuronal conseqüente à replicação
viral determina a severidade dos sinais, a partir da ausência aparente de disfunção
neurológica. As lesões histológicas podem-se encontrar presentes caso se desen-
volvam ou não os sinais. Os sinais incluem tremores musculares finos, mordiscação
nervosa, ataxia (particularmente dos membros posteriores), fraqueza e colapso;
pode ocorrer morte 1 a 3 dias após o início dos sinais. Também podem ocorrer mortes
superagudas. Em alguns animais recuperados, pode persistir uma paresia residual
ou um torcicolo. Todos os animais individuais ficam solidamente imunes.
A severidade da doença clínica nos animais recentemente infectados com a
Cytoecetes phagocytophila (a causa da febre oriunda dos carrapatos [ver pág. 490])
aumenta acentuadamente, presumivelmente devido ao efeito imunossupressor
desse microrganismo. A patologia acompanhante pode ser complexa, e ser respon-
sável pela alta mortalidade experimentada ao se introduzir rebanhos não contami-
nados em um pasto infestado por carrapatos.
Não se encontra presente nenhuma lesão macroscópica específica, embora
possa se desenvolver uma pneumonia secundária. O exame histológico do SNC
geralmente exibe uma polioencefalomielite não supurativa, com lesões predominan-
tes no tronco cerebral.
Diagnóstico – A doença ocorre normalmente apenas nos animais que tenham
tido acesso a um pasto infectado por carrapatos; porém, o quadro clínico variável
necessita da diferenciação de outras afecções que causem uma disfunção locomo-
tora ou neurológica. A confirmação se faz pelo exame histológico do cérebro, pelo
isolamento do vírus a partir do tecido do SNC e por sorologia. Devem-se fixar o
cérebro e o tronco cerebral em solução de formaldeído (10% em solução salina)
tanto quanto possível, e examinar os cortes quanto às lesões características, que
podem ser úteis na obtenção de um diagnóstico presuntivo; o diagnóstico definitivo
requer o isolamento do vírus. Deve-se coletar assepticamente o tronco cerebral
(1cm3) em uma solução salina de glicerol a 50% para o isolamento do vírus através
da inoculação em camundongos ou em cultura tecidual, e para a subseqüente
identificação através de testes de imunofluorescência ou de neutralização com
anticorpos específicos. A mensuração dos anticorpos soroneutralizantes e dos
inibidores da hemaglutinação (IH) também pode ser útil para a obtenção de um
diagnóstico e para estudos. A presença do anticorpo IgM nos bovinos e nos ovinos,
diagnosticada pelo teste de IH, fornece uma boa evidência de que a infecção tenha
ocorrido nos 10 dias anteriores.
Meningite e Encefalite 735
MENINGITE E ENCEFALITE
Na maioria das espécies, a meningite tende a ocorrer em associação com ou
secundariamente a uma encefalite. No entanto, os sinais de meningismo podem
preceder a fase encefalítica em determinadas infecções. Nos cães, reconhecem-
se várias síndromes, nas quais os sinais meníngeos predominam por todo o curso
da doença. As causas da meningite e da encefalite (além das bactérias) incluem os
vírus, os fungos, os protozoários, a migração parasitária, os agentes químicos e as
doenças imunomediadas.
Etiologia e patogenia – A meningoencefalite bacteriana afeta freqüentemente
os animais de fazenda neonatos como uma seqüela de uma septicemia causada
pela Escherichia coli ou por estreptococos; a infecção por Actinobacilus equuli é uma
causa importante nos potros. A falha na transferência passiva das imunoglobulinas
é o único fator mais importante predispondo neonatos a uma onfaloflebite e/ou uma
enterite com o alastramento hematogênico subseqüente da infecção para o SNC.
Nos animais mais velhos ou adultos, entidades patológicas bem-reconhecidas, tais
como a meningoencefalite tromboembólica (METE [Haemophilus somnus]) dos
bovinos, a doença de Glässer dos suínos (H. parasuis) e a septicemia por H. agni
nos cordeiros em engorda também causam a meningoencefalite pela rota hemato-
gênica. A listeriose (Listeria monocytogenes), que é comum nos bovinos, nos ovinos
e nos caprinos, é um exemplo de uma meningoencefalite multifocal no tronco
cerebral que sobe para o SNC através dos nervos cranianos. A Pasteurella
haemolytica e a P. multocida, que geralmente causa uma pneumonia fibrinosa e
uma septicemia hemorrágica nos ruminantes, produzem ocasionalmente uma
leptomeningite fibrinopurulenta localizada. Também se descreveu uma meningoen-
cefalite devida à P. haemolytica nos eqüinos, nos asininos e nas mulas. As
Actinomyces, as Cryptococus e as Streptococcus spp são causas esporádicas de
meningite nos eqüinos adultos.
Em qualquer espécie, pode ocorrer uma extensão direta das infecções bacteria-
nas ou micóticas para o SNC a partir de sinusite, otite média ou interna, osteomielite
vertebral, discoespondilite, ou mordedura ou ferimentos traumáticos profundos
adjacentes à cabeça ou à espinha. As infecções iatrogênicas se tornam possíveis
a partir de instrumentos cirúrgicos ou agulhas espinhais contaminados. Também
podem surgir abscessos cerebrais a partir de uma infecção direta ou por um
embolismo séptico dos vasos cerebrais. Acredita-se que os abscessos hipofisários
nos ruminantes se originem de uma invasão bacteriana no plexo sangüíneo ao redor
da hipófise. Nos abscessos cerebrais crônicos, pode-se desenvolver uma
leptomeningite fibrinosa adjacente ou ocasionalmente difusa. Embora menos
comumente que nos animais de fazenda, os cães podem desenvolver uma menin-
Meningite e Encefalite 736
SÍNDROME DO MAL-AJUSTAMENTO
NEONATAL
(SMN, Potros convulsivos, Idiotas, Errantes, Ladradores)
É uma afecção não infecciosa dos potros, caracterizada por distúrbios com-
portamentais graves. Os potros afetados podem parecer normais ao nascimento
e o parto não é complicado. Os primeiros sinais, que geralmente aparecem em
24h, incluem perda de afinidades pela égua e perda do reflexo de mamar. À
medida que a afecção progride, aparecem hiperexcitabilidade, bruxismo, ceguei-
ra aparente, vagar sem direção e clono. Os potros emitem freqüentemente ruídos
de “latidos” durante o estágio errante, e aqueles suavemente afetados podem
exibir somente os sinais relacionados com o estágio errante. Opistótono e rigidez
extensora, perda do reflexo de endireitamento, decúbito e, finalmente, estado
comatoso se seguem nessa ordem. Hipoxia e acidose acompanham as altera-
ções comportamentais.
Desconhece-se a causa exata da SMN; as possibilidades incluem distúrbio
vascular cerebral que pode resultar em edema e hemorragia, traumatismo cranial
ou torácico ou hipoxia e aumento da pressão intracranial durante o parto. O
diagnóstico diferencial inclui prematuridade, dismaturidade, traumatismo cranial
agudo, hidrocefalia congênita e meningite séptica.
O tratamento é de suporte e sintomático. Torna-se essencial a manutenção da
temperatura corporal normal, do equilíbrio ácido-básico, dos níveis ideais de fluido
corporal e da nutrição adequada e o auxílio à ventilação e o impedimento de uma
infecção secundária. O controle químico das convulsões se torna freqüentemente
necessário (barbituratos, fenitoína, diazepam ou primidona).
O prognóstico é bom, se não for complicado por uma septicemia. A sobrevivência
é > 50% com o tratamento apropriado. Se o potro se recuperar, as funções
neurológicas retornam na ordem reversa em que foram perdidas.
Nos cães, a maioria dos ependimomas parece se situar nos ventrículos laterais
e no terceiro ventrículo. Cerca de 50 a 60% dos papilomas do plexo coróide ocorrem
no quarto ventrículo, e o restante com igual incidência nos ventrículos laterais e no
terceiro ventrículo.
Nos gatos, os meningiomas (freqüentemente múltiplos) são os tumores cerebrais
primários mais comumente descritos; , 70 a 75% ocorre nos gatos com mais de 9
anos de idade.
Tumores na medula espinhal – Os tumores mais comuns da medula espinhal
nos cães são os tumores ósseos malignos, primários e extradurais, e os tumores
metástaticos nos ossos e nos tecidos moles. A metástase na medula espinhal é
incomum nos animais, embora se tenha descrito uma incidência de 16% nos cães.
Os blastomas da medula espinhal são tumores extramedulares com uma predileção
pelo segmentos medulares T10-L3. São observados nos cães jovens, e mais
freqüentemente nos pastores alemães. A maioria dos meningiomas espinhais nos
cães se situa na região cervical, enquanto os astrocitomas tendem a se localizar nos
segmentos cervicais inferiores e nos torácicos superiores. Os linfossarcomas
epidurais são os tumores espinhais mais comuns nos gatos, nos suínos e nos
bovinos.
Tumores dos nervos periféricos – Os tumores do sistema nervoso periférico
(SNP) são mais freqüentes que os tumores do SNC nos eqüinos e nos bovinos. O
neurofibroma é o tumor do SNP mais freqüentemente observado nos bovinos.
Incomuns nos cães, os tumores da bainhas nervosas envolvem principalmente as
raízes do plexo braquial e do V nervo craniano. Os linfossarcomas podem ocorrer
nas raízes nervosas ou nos nervos dos cães, dos gatos, dos eqüinos e dos bovinos.
Achados clínicos – Os sinais associados com as várias síndromes cerebrais,
da medula espinhal e dos nervos periféricos se encontram exibidos na TABELA 1. Os
sinais clínicos podem ser agudos ou insidiosos no início, e progredir rápida ou
lentamente. Os cães com tumores intramedulares geralmente não parecem ter uma
longa história de dor obscura como os cães com outros tipos de tumores na medula
espinhal/nervos periféricos. Talvez isso se deva a uma falta de compressão da raiz
nervosa e/ou a uma ausência de destruição óssea. Os sinais, incluindo o início da
paresia/paralisia, tendem a se desenvolver rapidamente nos tumores espinhais
intramedulares. Os sinais neurológicos que forem inicialmente assimétricos podem-
se tornar, de forma rápida, bilateralmente simétricos.
Pode ocorrer uma síndrome paraneoplásica (redução ou ausência de reflexos
espinhais, atrofia muscular, redução do tono) nos animais com neoplasmas malig-
nos que podem ou não se metastatizar no SNC.
Diagnóstico – O diagnóstico se baseia na idade, na raça, nos sinais clínicos, na
análise do LCE e na radiografia. Nos tumores profundamente localizados, a análise
do LCE fica freqüentemente normal. Ocasionalmente, a concentração da proteína
pode-se elevar suave a moderadamente. Quando se envolvem as meninges, o LCE
apresenta tipicamente uma pleocitose neutrofílica com uma elevação da concentra-
ção proteica. Raramente se observam células tumorais na neoplasia primária do
SNC.
Os estudos radiológicos comuns incluem a radiografia em filme de pesquisa e a
mielografia. No caso dos tumores cerebrais, a ventriculografia, a venografia do seio
cerebral e a angiografia cerebral estão sendo substituídas por técnicas de obtenção
de imagens mais precisas e mais seguras, tais como a cintilografia, a tomografia
computadorizada (TC) e a obtenção de imagens por ressonância magnética. A
radiografia em filme de pesquisa pode detectar a proliferação, a lise ou a luminosidade
do osso secundário aos neoplasmas. Devido à calcificação no tumor, os meningiomas
intracraniais podem ficar radiopacos; pode-se observar um aumento ou uma
redução na densidade do crânio no local do tumor nos gatos.
Neoplasias do Sistema Nervoso 741
POLIOENCEFALOMALACIA
(PEM, Necrose cerebroespinhal)
atinge 100% em 3 a 4 dias. A morbidade nos bovinos engorda é geralmente < 5%,
mas nos bezerros de 3 a 5 meses de idade, ela pode ser de até 50%. Nos ovinos,
o curso clínico tende a ser mais rápido.
Nos animais afetados em < 24h as lesões macroscópicas são sutis. O amarelamento
cortical simétrico característico dos lobos frontal, occipital e parietal é melhor observado
nos animais que sobrevivem por 2 a 3 dias. A herniação occipital subtentorial e a
conização do cerebelo em direção ao interior do forame magno criam necrose focal e
lesões hemorrágicas. O cérebro perde o turgor normal. Após 24h de doença clínica, sob
luz ultravioleta, a 365nm na escuridão, as zonas de necrose no córtex e nas estruturas
cerebrais profundas fluorescem em amarelo-azulado. As lesões histológicas incluem
uma necrose cortical laminar com neurônios encolhidos, eosinofílicos e com “parada
metabólica”; uma vacuolização esponjosa fina do neurópilo; e ocasionalmente, peque-
nas hemorragias perivasculares. A severidade de hipertrofia capilar e da atividade dos
macrófagos nos tecidos necróticos depende progressivamente do tempo.
Diagnóstico – Nos animais vivos, um ensaio de transcetolase das hemácias e
tiaminase fecal ou ruminal e a resposta à terapia com tiamina constituem procedi-
mentos diagnósticos úteis. A tiaminase fecal nos animais neurologicamente normais
que apresentam níveis sangüíneos de tiamina < 50nmol/L pode indicar uma
inadequação subclínica à tiamina, associada com um ganho deficiente de peso. A
elevação do piruvato e do lactato sangüíneos é sugestiva, mas propende a uma
elevação errônea devido a um esforço muscular. Nos animais mortos, a fluorescên-
cia cortical macroscópica e as lesões cerebrais histológicas características são
confirmatórias. Os níveis de tiamina no cérebro, no fígado e no coração ficam baixos.
O envenenamento subagudo por chumbo, sal e a intoxicação com água também são
capazes de causar áreas de degeneração cortical com um padrão histológico que
pode ser difícil de distinguir daquele da PEM.
O diagnóstico diferencial nos bovinos e nos ovinos inclui o envenenamento agudo
por chumbo, a intoxicação com nitrofurano, a hipomagnesemia, a deficiência de
vitamina A, a intoxicação com organoclorato, a meningoencefalite tromboembólica
(METE) infecciosa, o abscesso cerebral e a enterotoxemia clostrídica do Tipo D.
Tratamento – A PEM é uma condição de emergência; uma vez que os neurônios
estão morrendo aos milhões, deve-se iniciar uma terapia imediatamente após o
aparecimento dos sinais. O cloridrato de tiamina, a 10 a 15mg/kg EV ou IM, assegura
uma rápida reativação dos complexos enzimáticos deficientes. A tiamina parenteral
em excesso é rapidamente perdida na urina. A continuação do antagonismo e a
destruição da tiamina derivada do trato gastrointestinal podem necessitar tratamen-
tos repetidos em taxas de dosagem mais baixas (2 a 10mg/kg, duas ou quatro vezes
ao dia por 3 dias). Nos animais de valor, a dexametasona (1 a 2mg/50kg, IM por 3
dias) e o gotejamento EV de manitol podem minimizar o inchaço cerebral e facilitar
a recuperação. A rapidez da recuperação se relaciona diretamente com a velocida-
de do diagnóstico e da terapia. Freqüentemente se conseguem a recuperação da
visão e a restauração da função normal, mas isso pode exigir 2 a 3 semanas de
convalescença. Como outros animais no rebanho ou no lote se encontram em risco
devem-se reduzir o concentrado e a silagem de milho na dieta e fornecer uma
forragem adicional de qualidade por 5 dias antes do retorno gradual às rações mais
ricas em energia. A tiamina parenteral e a alteração dietética constituem a profilaxia
preferida. Contra-indica-se a tiamina dietética suplementar, pois pode estimular
posteriormente os microrganismos tiaminolíticos no intestino. No entanto, pode-se
conseguir uma profilaxia oral ou uma terapia de suporte através da administração
do dissulfeto propilítico de tiamina ou do dissulfeto tetrafurfurílico de tiamina, que são
menos solúveis. Essas substâncias não são destruídas pela tiaminase do Tipo I e
são facilmente absorvidas a partir do trato gastrointestinal.
Encefalomielite Enteroviral Suína 746
PSEUDO-RAIVA
(Doença de Aujeszky, Sarna raivosa)
É uma infecção viral, primariamente dos suínos, que afeta o SNC. A variação
de hospedeiros é ampla, embora a infecção seja fatal virtualmente em todos os
animais que se infectam, exceto nos suínos. O homem, os macacos, os chimpan-
zés, os pecilotermos e os insetos são resistentes à infecção. O vírus pode
sobreviver na superfície corporal das moscas domésticas, que podem servir
como fontes de vírus. Descreveu-se a pseudo-raiva nos EUA, nas Américas,
Central e do Sul, na Europa, na Índia, no sudeste da Ásia, em Taiwan, no Japão,
nos países do norte da África e na Nova Zelândia. Não foi detectada no Canadá
ou na Austrália.
Etiologia, epidemiologia e patogenia – O herpesvírus causador tem uma fita
dupla de DNA e um envelope lipoproteico. Existem pelo menos 5 glicoproteínas que
se projetam do envelope. O vírus persiste em um estado latente nos neurônios
ganglionares em uma alta porcentagem dos suínos infectados. Existem muitas
cepas de vírus e estas variam de aparentemente virulentas nos suínos a altamente
virulentas.
O suíno é o hospedeiro primário e o único reservatório conhecido. Os suínos
excretam grandes quantidades de vírus na saliva e nas secreções nasais por até 2
semanas após a infecção primária, e excretam pequenas quantidades apenas
raramente na urina ou nas fezes. Os suínos podem-se manter infectados latente-
mente pela vida inteira e podem eliminar o vírus por até 1 semana se estiverem
suficientemente estressados. Embora a sobrevivência no ambiente dependa da
temperatura, da umidade e do meio, o vírus geralmente não sobrevive > 2 semanas
fora do suíno vivo. A maioria dos animais se infecta por contato direto com os suínos
que estão eliminando o vírus. A infecção por ingestão de tecido contaminado ou por
inalação de aerossol contaminado é menos comum, embora a transmissão por
aerossol a distâncias significativas pareça ocorrer realmente.
A patogenia e a manifestação da doença são semelhantes em todas as espécies
suscetíveis. O vírus chega às vias oronasais e inicia a infecção nas células epiteliais;
ele viaja para o cérebro no axoplasma dos nervos craniais e, simultaneamente,
Pseudo-raiva 748
suínos vacinados também eliminam o vírus após uma infecção por cepas de campo,
embora em concentrações menores e por períodos mais curtos do que os suínos
infectados não vacinados. Encontram-se disponíveis vacinas geneticamente altera-
das; o acompanhamento com testes sorológicos permite que os suínos vacinados
sejam diferenciados dos suínos infectados com o vírus da cepa de campo. Cada um
desses testes é projetado para ser utilizado em conjunto com uma vacina específica.
Para se manter um rebanho livre do vírus da pseudo-raiva deve-se: 1. acrescen-
tar apenas suínos soronegativos ao rebanho; 2. evitar a visita a instalações
infectadas e proibir o acesso público à instalação dos suínos; 3. manter os animais
silvestres, particularmente os suínos selvagens e os animais desgarrados, longe do
rebanho; e 4. evitar a utilização de equipamento de outras propriedades. No caso
de um surto, o isolamento dos suínos não infectados pode eliminar o alastramento
dentro do rebanho.
RAIVA
É uma encefalomielite viral aguda que afeta todos os animais de sangue quente.
A taxa de mortalidade é próxima a 100%. Embora a raiva ocorra por todo o mundo,
alguns países se encontram livres da doença devido a programas bem-sucedidos
de erradicação, ou em virtude de sua condição insular ou do emprego de regulamen-
tos rigorosos de quarentena.
Etiologia e epidemiologia – Dos 4 sorotipos de lissavírus atualmente reconhe-
cidos, o sorotipo 1 é responsável pela raiva clássica dos animais terrestres. Os
sorotipos 2, 3 e 4 são vírus relacionados à raiva, que possuem diferenças antigênicas
e epidemiológicas com relação à própria. Os vírus da raiva, recentemente identifi-
cados nos morcegos europeus, são atualmente classificados com o sorotipo 4.
A espécie animal predominante na qual a raiva se mantém varia nas diferentes
partes do mundo. A raiva canina predomina na África, na Ásia, na América Latina
e no Oriente Médio. Na América do Norte e na Europa, onde a raiva canina foi
efetivamente controlada, a doença se mantém nas espécies silvestres. Na América
do Norte, as raivas no cangambá, no gaxinim e na raposa são (cada uma)
encontradas em regiões geográficas razoavelmente distintas, embora ocorra uma
certa sobreposição na distribuição. Também podem-se detectar essas diferenças
na distribuição como diferenças nas cepas virais por tipificação com anticorpos
monoclonais, com uma cepa “associada ao cangambá” ou “associada ao guaxinim”
predominando em uma determinada região. A raiva nos morcegos se distribui por
todos os EUA, e a tipificação com anticorpos monoclonais pode diferenciar os vírus
da raiva de origem nos morcegos daqueles de origem nos animais silvestres
terrestres. Na Europa, predomina a raiva nas raposas. Em determinadas partes do
norte da Europa, a raiva no cão-guaxinim assume uma preocupação crescente, e
parece que hoje a raiva nos morcegos serôdios pode-se encontrar largamente
distribuída na Europa. O morcego-vampiro é um reservatório importante no México,
nas Américas Central e do Sul e em partes do Caribe, e constitui a origem dos surtos
nos bovinos. Outras espécies silvestres podem exercer um papel importante na
manutenção da raiva em determinadas áreas, incluindo os mangustos no Caribe e
no sul da África, os chacais em determinadas partes da África e os lobos em partes
do norte da Europa.
Transmissão e patogenia – A transmissão se dá geralmente através da
mordedura de um animal raivoso, por meio da saliva rica em vírus. Menos
comumente, pode-se introduzir o vírus em cortes ou ferimentos existentes na pele,
Raiva 750
“SCRAPIE”
(“Tremblante du mouton”, “Rida”)
FRIO
HIPOTERMIA
É uma grande queda na temperatura corporal que resulta de uma exposição a um
frio extremo, a um efeito de drogas ou a uma falha dos mecanismos de regulação
da temperatura interna. Nos endotérmicos, a hipotermia pode ser classificada como
leve, moderada ou intensa quando a temperatura corporal for de 30 a 32°C, 22 a
25°C ou 0 a 8°C, respectivamente. O prognóstico varia de acordo com o caso.
A hipotermia nos neonatos (especialmente nos leitões e nos cordeiros) é uma
causa importante de morte. A suscetibilidade é maior durante as suas primeiras 48h.
As correntes de ar e lâmpadas infravermelhas falhas ou malposicionadas são as
causas principais nos leitões; um tempo inclemente e o pelame úmido do nascimen-
to são as causas principais nos cordeiros. Os leitões com frio podem se aglomerar
próximos à porca, o que aumenta o risco de morte por esmagamento. O tremor, a
redução da capacidade e do instinto de mamar, e a queima de calorias para a
manutenção do calor em vez do crescimento e da energia levam à morte por meio
da síndrome de hipotermia/inanição.
O reaquecimento e a manutenção da temperatura corporal normal podem ser
obtidos externa ou internamente. No aquecimento externo ou superficial, aquece-
se a superfície corporal por meio de uma imersão em água morna, cobertores, um
quarto quente, bolsas de água quente, etc. Pode-se evitar o choque durante o
reaquecimento através de um aquecimento lento, se possível. Nos casos mais
críticos, quando o reaquecimento rápido é importante, uma diálise peritoneal com
o dialisado pré-aquecido em 50 a 55°C proporciona um método excelente de aque-
cimento interno ou central. Os neonatos exigem não somente um aquecimento
como também uma atenção cuidadosa às necessidades nutricionais.
Frio 760
CHOQUE ELÉTRICO
ATINGIMENTO POR RAIO E ELETROCUSSÃO
A lesão ou a morte de um animal devidas a correntes elétricas de alta voltagem
podem resultar de um raio, de fios de transmissão caídos, de circuitos elétricos
falhos ou da mastigação de um fio elétrico (ver também CHOQUE E LÉTRICO, PQ AN,
pág. 769). O atingimento por raio é sazonal e tende a ser geograficamente restrito.
Determinados tipos de árvores, especialmente as altas e com sistemas de raízes
que se espalham bem por debaixo da superfície do solo, tendem a ser mais fre-
qüentemente atingidos por um raio que outros. A eletrificação de tais raízes carrega
uma área superficial larga, particularmente quando o solo já se encontra úmido; a
passagem de raízes carregadas por baixo de uma poça de água rasa faz com que
ela se eletrifique. Uma tubulação de cerâmica pode espalhar uma carga elétrica
sobre um campo inteiro. Os fios de transmissão caídos também podem eletrificar
uma poça de água. Existem diferenças na condutividade do solo; a argila, a areia,
o barro, o mármore e o giz (em ordem decrescente) são bons condutores, enquanto
que o solo rochoso não o é.
A eletrocussão acidental dos animais de fazenda geralmente ocorre como
resultado de uma fiação falha. A eletrificação de uma tubulação de água ou de leite,
ou de uma guarnição metálica ou de uma grade de proteção pode resultar em uma
Choque Elétrico 761
distribuição disseminada de uma corrente elétrica por todo o estábulo (ver também
VOLTAGEM LIVRE NO ABRIGO ANIMAL, adiante).
A morte por choque elétrico geralmente resulta de uma parada cardíaca ou
respiratória; a passagem de uma corrente através do coração geralmente produz
uma fibrilação ventricular; o envolvimento do SNC pode afetar os centros respirató-
rios ou outros centros vitais.
Achados clínicos – Podem ocorrer vários graus de choque elétrico. Na maioria
dos casos de atingimento por raio, a morte é instantânea e o animal cai sem esforço.
Ocasionalmente, o animal fica inconsciente, mas pode se recuperar em alguns
minutos a várias horas; os sinais nervosos residuais, por exemplo, a depressão, a
paraplegia e a hiperestesia cutânea podem persistir por dias ou semanas, ou ficar
permanentes. Ocorrem marcas de chamuscamento na carcaça, danos no ambiente
imediato, ou ambos, em , 90% dos casos de atingimento por raio, mas são menos
prováveis de serem encontrados se o animal for eletrocutado por fica em pé sobre
o solo eletrificado. As marcas de chamuscamento tendem a ser lineares e são mais
comumente encontradas nos lados mediais das pernas, embora raramente possa-
se afetar uma boa parte do corpo. Por baixo das marcas de chamuscamento, é
comum uma congestão capilar; o padrão ramificado característico do atingimento por
raio pode ser visualizado melhor no lado dérmico da pele através de extravasamentos
subcutâneos de sangue. As marcas de chamuscamento são difíceis de se encontrar
nos animais recuperados. Os animais menores, tais como os suínos, que entram em
contato com tigelas de água ou guarnições eletrificadas podem ser mortos instanta-
neamente ou ser atirados contra o cercado com a força do choque.
Diagnóstico – A história de uma tempestade recente pode confundir; o achado
de um animal morto ou lesado sob uma árvore ou próximo a uma cerca só é
significativo se se encontrarem evidências de uma queimadura de tronco recente,
de uma divisão de postes da cerca, de uma solda do arame, etc. O rigor mortis se
desenvolve e passa rapidamente. A distensão post mortem do rúmen ocorre
rapidamente e deve ser diferenciada de um timpanismo em ruminantes ante mortem
(ver pág. 195); em ambas as situações, o sangue tende a se coagular lentamente
ou a não se coagular em absoluto. As mucosas do trato respiratório superior
(incluindo os turbinados e os seios) ficam congestas e hemorrágicas; as hemorra-
gias traqueais lineares são comuns, mas os pulmões não ficam comprimidos como
no caso do timpanismo. Todas as outras vísceras ficam congestas e podem-se
encontrar petéquias e equimoses em muitos órgãos. Devido à distensão ruminal
post mortem, o sangue fracamente coagulado se move passivamente para a
periferia do corpo, resultando em um extravasamento post mortem de sangue nos
músculos e nos linfonodos superficiais da cabeça, do pescoço e dos membros
torácicos e, em uma menor extensão, nos quartos traseiros. Provavelmente, a
melhor indicação da morte instantânea é a presença de feno ou de outro alimento
na boca do animal; as evidências de suporte incluem a presença de uma ingesta
normal (especialmente no rúmen), uma falta de ingesta espumosa (timpanismo
espumoso), uma ausência de uma distensão da vesícula biliar e uma presença de
fezes normais no trato inferior e ocasionalmente no solo por trás do animal.
Ocasionalmente ocorrem fraturas ósseas.
Tratamento – Os animais que sobreviverem podem exigir uma terapia de
suporte e sintomática.
CALOR
QUEIMADURAS
É a destruição do epitélio ou dos tecidos mais profundos por meio de calor direto,
de calor radiante, de chamas, de uma fricção, de eletricidade ou de produtos
químicos corrosivos.
Etiologia – As queimaduras térmicas resultam de uma escaldadura com líquidos
quentes, de um contato com objetos quentes ou de uma exposição a chamas ou
calor radiante. Os suínos, os cães (especialmente as raças “sem pêlos”) e os ovinos
tosquiados rentemente podem sofrer queimaduras de calor radiante (queimaduras
de sol). As queimaduras resultantes de uma fricção são mais freqüentemente
causadas por um esfregamento de cordas ásperas contra a pele durante a conten-
ção de grandes animais, ou por um arrastamento ou um esfregamento da pele ao
longo do calçamento nos pequenos animais atropelados por veículos a motor. Nos
Calor 764
HIPERTERMIA
(Exaustão pelo calor, Cãibra pelo calor, Ataque de calor, Insolação)
É uma elevação na temperatura corporal até ou além do ponto de regulação
fisiológica, geralmente secundária a uma alta temperatura ambiental, uma alta
umidade e uma ventilação inadequada. A exposição aos raios diretos do sol pode
contribuir.
Todos os animais domésticos são suscetíveis à insolação. Os cães confinados
a alojamentos fechados em tempo quente, e os bovinos, eqüinos ou outros animais
de criação que estiverem sendo conduzidos em grande número ou transportados
em tempo quente são mais comumente afetados. Os fatores predisponentes
incluem o esforço físico, a obesidade e a estagnação do ar.
Doença das Altas Montanhas 765
É uma doença não infecciosa dos bovinos caracterizada pelos sinais clínicos e
lesões da insuficiência cardíaca congestiva (CHF). Ela afeta as áreas de montanhas
altas do oeste dos EUA e da América do Sul (geralmente acima de 2.200m) e foi
relatada em determinadas outras áreas montanhosas do mundo. A síndrome
também pode ocorrer nos ovinos e veados sob estresse extremo. Uma doença
semelhante possui importância clínica nas galinhas nos Andes. A incidência nos
bovinos em risco é de 0,5 a 5%, mas geralmente é < 2%. A ocorrência depende da
altitude, mas não exclusivamente. Os bovinos recém-introduzidos tendem a ser
mais suscetíveis que os bovinos nativos. Nas áreas na América do Norte onde os
bovinos passam o verão e o outono pastando em altas altitudes e retornam a
elevações mais baixas no final do outono, a doença geralmente se manifesta após
estar em uma alta altitude por ≥ 2 meses. Nas áreas onde os bovinos vivem o ano
inteiro em altas altitudes, a incidência da doença é maior no inverno ou no início da
primavera, presumivelmente devido ao estresse do clima invernal. Ela afeta ambos
os sexos, todas as idades e provavelmente a maioria das raças – mas não
necessariamente de forma equivalente. É mais comum, por exemplo, nos bovinos
< 1 ano de idade e nos garrotes.
Doença das Altas Montanhas 766
ENFERMIDADE DO TRANSPORTE
É uma afecção caracterizada por náuseas, manifestadas como uma salivação
excessiva e vômito, e outros sinais geralmente referíveis a uma estimulação do
sistema nervoso autônomo. É geralmente observada durante uma viagem por terra,
mar ou ar. Podem-se afetar o homem e muitos animais domésticos. O principal
mecanismo causador envolve a estimulação do aparelho vestibular no ouvido
interno, que possui conexões com o centro emético no tronco cerebral. O medo do
veículo pode constituir um fator contributivo nos cães e nos gatos (os sinais típicos
podem ser observados em um veículo estacionado).
Os sinais importantes são a salivação e o vômito. Os animais podem bocejar,
gemer e apresentar sinais de desconforto ou apreensão; os indivíduos severamente
afetados também podem ter diarréia. Os sinais geralmente desaparecem quando o
movimento veicular cessa.
A enfermidade do transporte às vezes pode ser superada através do condiciona-
mento do animal para viajar. Se não, têm-se utilizado algumas drogas ataráticas e
antináuseas nos cães, com bons resultados. Os anti-histamínicos (tais como o
cloridrato de difenidramina, o dimenidrinato e o cloridrato de prometazina) impedem
a enfermidade do transporte, proporcionam uma sedação e inibem o enjôo. Os
derivados fenotiazínicos de ação central (tais como a trietilperazina, a clorpromazina,
a proclorperazina e o maleato de acepromazina) possuem efeitos antieméticos, bem
como sedativos. Também se tem utilizado o fenobarbital para produzir um efeito
sedativo geral. A administração oral de uma dessas drogas várias horas antes da
partida deve reduzir ou eliminar os sinais da enfermidade do transporte (ver também
DROGAS QUE AFETAM AS FUNÇÕES GÁSTRICAS, pág. 1668).
TRAUMATISMO, PQ AN
Os automóveis, outros animais, objetos afiados, tiros, impactos abruptos ou
quedas podem causar traumatismos nos pequenos animais. As lesões induzidas
Traumatismo, Pq An 768
AFOGAMENTO
As fatalidades resultam de eventos fisiopatológicos complexos que diferem de
acordo com a composição do líquido. A hipoxia é o achado mais consistente, sendo
mais severa quando se inala a água marinha. A terapia inicial envolve uniformemen-
te uma limpeza e uma sucção das vias aéreas, uma reposição criteriosa de fluido e
eletrólitos e um suporte do sistema cardiovascular.
A avaliação e o prognóstico se baseiam no exame físico, na análise gasosa
sangüínea arterial, radiografias e na resposta à terapia. As radiografias iniciais podem
se encontrar normais, e alterações só ser detectadas na análise gasosa sangüínea
arterial. As alterações radiográficas típicas incluem padrões alveolares ventrocaudais
com componentes intersticiais e brônquicos que progridem com o tempo.
O suporte mecânico de ventilação é freqüentemente necessário no “quase
afogamento” em águas frescas e marinhas. A pressão de ventilação positiva e/ou
a pressão expiratória final positiva intermitentes são com freqüência as modalidades
de escolha. A resposta à ventilação mecânica é determinada pelos gases sangüí-
neos. O uso profilático de antibióticos é controverso; alguns defendem seu uso
apenas quando infecção secundária tiver sido documentada.
O quase afogamento em água fresca resulta em grandes quantidades de líquido
hipotônico entrando nos pulmões e sendo rapidamente absorvidas na corrente
sangüínea. Ocorrem uma hipervolemia e uma hemodiluição que são associadas à
hemólise das hemácias. A fibrilação ventricular pode resultar da diluição dos
eletrólitos e da Hb, e de uma anoxia associada. O tratamento se orienta em direção
à ventilação e à oxigenação de suporte, estabilizando o sistema cardiovascular,
promovendo uma perfusão renal e uma eliminação dos fluidos excessivos, estabe-
lecendo um equilíbrio eletrolítico normal e impedindo uma pneumonia. As transfu-
sões de troca proporcionam um meio possível de restabelecimento do volume
sangüíneo normal e do equilíbrio eletrolítico. Pode-se realizar uma diálise peritoneal
para remover a água excessiva.
Traumatismo, Pq An 769
CHOQUE ELÉTRICO
Ver também página 760. Nos cãezinhos e gatinhos, isso geralmente resulta da
mastigação de fios elétricos. A severidade do problema varia com a voltagem e o
trajeto da corrente através do corpo. Os sinais mais comuns são os danos teciduais
(queimaduras, necrose), as disritmias cardíacas e o edema pulmonar agudo. À
medida que a eletricidade atravessa a pele e a mucosa, a energia se converte em
calor; ocorre uma necrose de coagulação nos locais de entrada e saída, e dentro do
músculo estriado através do qual a eletricidade passa. Os ferimentos do palato, dos
lábios e da língua são freqüentes, e podem exigir um debridamento, uma antibiotico-
terapia e uma alimentação com sonda nasogástrica temporária para se desviar da
cavidade oral.
As disritmias cardíacas são secundárias a alterações eletrofisiológicas dentro do
coração, produzidas pela corrente elétrica. Pode ocorrer qualquer arritmia, porém
as mais comuns são a taquicardia ventricular, a fibrilação ventricular e os distúrbios
de condução atrioventriculares. O tratamento é sintomático, utilizando-se drogas
antiarrítmicas ou uma desfibrilação conforme o indicado. Indica-se uma administra-
ção de fluido cuidadosa para se evitar um colapso cardíaco.
O edema pulmonar, com a dispnéia e a cianose resultantes, constitui uma
seqüela comum nos pequenos animais. Geralmente, é severo, e o início se dá dentro
de 12h da lesão. O vazamento de fluido a partir dos capilares pulmonares destruí-
dos, a insuficiência cardíaca ou os mecanismos neurogênicos podem contribuir para
o edema. As anormalidades radiográficas envolvem caracteristicamente os campos
pulmonares dorsocaudais, que mostram um padrão intersticial e alveolar misto.
Exigem-se uma oxigenioterapia e uma administração de fluido criteriosa. A furose-
mida, os broncodilatadores e os corticosteróides podem ser benéficos no início do
curso do tratamento. Se o animal descompensar, pode se tornar necessária uma
ventilação mecânica. Se for necessário, podem-se utilizar baixas doses de oximorfona
(0,025 a 0,05mg/kg) ou de morfina para reduzir a ansiedade.
Apatia, coma, choque hipovolêmico, convulsões ou morte constituem complica-
ções possíveis. Pode ocorrer uma necrose focal nos nervos, no cordão espinhal e
no cérebro. A necrose tubular renal é possível no caso de uma insuficiência renal
aguda.
TRAUMATISMO TORÁCICO
O traumatismo no tórax pode levar a uma interferência que ameace a vida com
a oxigenação. Deve-se fazer o diagnóstico rapidamente e se instituir um tratamento
apropriado. Os diferenciais primários a se considerar são as lesões da parede
torácica (por exemplo, o tórax móvel), o pneumotórax, o hemotórax, as contusões
pulmonares e a hérnia diafragmática. O diagnóstico do traumatismo torácico se
baseia na história e no exame físico, incluindo uma auscultação, uma percussão e
uma palpação. Faz-se uma radiografia após a estabilização inicial.
O tratamento médico inclui oxigênio por meio de uma máscara facial ou de um
cateter nasal, fluidos e outras medicações apropriadas para o suporte e a estabili-
zação cardiopulmonares.
Traumatismo, Pq An 770
FERIMENTOS
Os ferimentos podem resultar em uma perda de continuidade e de função, em dor
e em uma hemorragia. O tratamento de ferimento básico incorpora os procedimen-
tos para se evitar uma contaminação posterior, remover resíduos, debridar tecidos,
proporcionar uma drenagem, promover uma vascularização e permitir um eventual
fechamento do ferimento.
As ataduras de compressão constituem uma medida de primeiros socorros para
controlar o sangramento. Uma vez que as ataduras estejam embebidas com
sangue, colocam-se curativos adicionais sobre elas em vez de removê-las e
substituí-las. Só se devem utilizar garrotes quando as ataduras de pressão forem
ineficazes. Posteriormente, ligam-se ou coagulam-se os vasos sangrantes.
Uma vez controlado o sangramento, cobre-se o ferimento com um lubrificante
hidrossolúvel estéril, enquanto se depila e se limpa com um sabão germicida a pele
ao redor. Aplica-se então um curativo estéril com uma pomada antibiótica, uma
solução de povidona-iodo a 0,5% ou de clorexidina a 0,5 a 1%, até que se estabilize
o animal. Podem-se infiltrar o ferimentos limpos pequenos com anestésicos locais
para um debridamento.
Pode-se exigir uma sedação narcótica ou uma anestesia geral no caso do
tratamento de um ferimento mais comprometido. Devem-se lavar completamente os
restos com uma solução salina estéril morna. Devem-se excisar o tecido inviável e
os materiais estranhos que permanecerem após a lavagem. Se o ferimento for
extenso ou profundo, pode-se fazer o debridamento em estágios. As lesões de
arrancamento requerem trocas de atadura úmida para seca pelo menos diariamente
até que se faça presente um leito de granulação saudável. Podem-se deixar abertos
os ferimentos contaminados sob curativos estéreis, e colocam-se drenos se não se
puder fechar o espaço morto. Os ferimentos abdominais abertos requerem uma
passagem de atadura cuidadosa. Devem-se trocar as ataduras abdominais úmidas
imediatamente para evitar uma contaminação.
O fechamento final dos ferimentos se dá por meio de um fechamento primário,
um fechamento primário retardado, um fechamento secundário ou uma cicatrização
por segunda intenção. O fechamento primário é apropriado para um ferimento limpo
Traumatismo, Pq An 772
FENÔMENOS REPRODUTIVOS
As características cronológicas e fisiológicas do ciclo reprodutivo nas várias
espécies se encontram resumidas nas tabelas seguintes.
GÔNADAS
Ambos os sexos possuem um par de gônadas, cujas funções principais são
a gametogênese e a esteroidogênese. Ambas as funções são reguladas prima-
riamente pelas gonadotrofinas liberadas pela hipófise anterior, sob a influência
do hipotálamo. Este último é mediado por um peptídeo, o hormônio liberador
de gonadotrofina (GnRH); a secreção e a liberação do GnRH são governadas
por estímulos do SNC e um mecanismo de “feedback”, por hormônios produzi-
dos por outros órgãos endócrinos como as gônadas, a hipófise, a tireóide e as
adrenais.
Ovários – As gônadas femininas intra-abdominais variam em tamanho e
localização dependendo da espécie. Apenas as da vaca e as da égua podem
ser examinadas diretamente por palpação retal. Uma vez que se atinja a
puberdade (ver T ABELA 3) e um animal comece a ciclar, alteram-se o tamanho
e a forma dos ovários por meio de estruturas funcionais cíclicas, isto é, os
corpos lúteos (CL) e os folículos. De acordo com um conceito simplificado, o
hormônio folículo-estimulante (FSH), é responsável pelo desenvolvimento
do(s) folículo(s) e pela síntese de estrogênios por parte das células tecais. Uma
vez que se atinja um determinado nível de estrogênio, libera-se o hormônio
luteinizante (LH) nas espécies de ovulação espontânea. Esse pico de LH
precede a ovulação, que é seguida pelo desenvolvimento do CL. O aumento do
número de células lúteas ocorre paralelo a uma elevação na progesterona
sérica. Nas fêmeas poliéstricas sazonais e poliéstricas não prenhes (ver T ABELA
3), a vida funcional e morfológica do CL é terminada pela prostaglandina
endogenosa (PG)F 2α proveniente do útero. À medida que o CL regride, desen-
volve(m)-se novo(s) folículo(s) ovulatório(s), que completa(m) o ciclo estral.
Podem-se monitorar as alterações hormonais durante o ciclo estral por radioi-
munoensaio e ELISA dos hormônios no sangue, no leite ou nos outros fluidos
corporais. A ciclagem estral continua após a puberdade, a menos que seja inter-
rompida pela prenhez, e em algumas espécies, pela estação ou pela lactação
durante o período pós-parto imediato. A ciclagem também é bloqueada pelas
afecções patológicas dos ovários (por exemplo, atrofia nutricional e estressante
e cistos ovarianos) e pelas doenças uterinas (por exemplo, piometria e endometrite
severa), que podem resultar em um CL persistente. Os estrogênios e a
progesterona, os principais hormônios gonadais, atuam localmente, afetam os
órgãos-alvo tais como o trato genital tubular, e regulam a liberação de gonado-
Sistema Reprodutivo, Introdução 776
Eqüina 10 – 24 (18) me- Poliéstrico sazonal Muito variável, 6 dias (2 – 10) Dura poucos dias; 4 – 14 dias (9) Ocorre ovulação dupla em ,
ses no início da prima- , 21 dias (19 deve-se acasalar a 20% dos períodos estrais,
vera – 26) intervalos de 2 dias mas os gêmeos raramente
progridem até o termo
Ovina 7 – 12 (9) me- Poliéstrico sazonal, 16 1⁄2 dias (14 – 24 – 48h 18 – 20h após o início Próximo outono Ovulação perto do final do
ses início do outono 20) do estro estro
até inverno. Esta-
ções prolonga-
das nos dorsets e
nos merinos
Suína 4 – 9 (7) meses Poliéstrico, o ano 21 dias (16 – 2 – 3 dias , 24h após o início do 4 – 10 dias após o des- Ovulação usualmente , 40h
todo 24) estro mame após o começo do estro
Caprina 4 – 8 (5) meses Poliéstrico sazonal, 18 – 21 dias 2 – 3 dias Diariamente durante o Próximo outono Muitos intersexos nascem em
do início do outo- (19) estro linhagens mochas
no até o fim do
inverno
(Continua)
Sistema Reprodutivo, Introdução 778
Raposa 10 meses Monestro de de- 2 – 4 dias Próximo inverno Ovulação usualmente no pri-
zembro a março, meiro ou segundo dia de
mas sobretudo do receptividade. Óvulo solto
fim de janeiro a fe- antes da expulsão do pri-
vereiro meiro corpo polar. Nenhum
sangramento do proestro
Visom 10 meses Ovulação provoca- Ondas de folí- 2 dias Ovulação induzida Próxima primavera A ovulação começa 36 – 48h
da. Poliestro sa- culos em in- após o coito, que deve du-
zonal da metade tervalos de 7 rar ≥ 30min
de fevereiro ao iní- – 10 dias
cio de abril
Sistema Reprodutivo, Introdução 779
Chinchila 400 – 600g (6 Poliestro intenso de 30 – 50 dias Vagina perfura- Acasala na segunda 2 – 48h. Ovulação na
– 81⁄ 2 meses) novembro a maio (41) da 1⁄ 2 – 6 dias noite, raramente na segunda noite
durante o es- terceira
tro; acasala-
mento à noite
Ratão-do-ba- 5 a 8 meses Poliéstrico 24 – 29 dias 2 a 4 dias 48h
nhado
Coelho 5 a 9 meses. Va- Ovulação provoca- Ciclos estrais ir- Até 1 mês Quando a vulva fica au- Imediatamente, mas os Nos EUA, não acasala bem
ria de 4 a 12 da. Acasala mais regulares mentada de volume blastocistos morrem no verão. Ovulação 101⁄2 h
meses na ou menos o ano e hiperêmica se a coelha amamen- após o coito. A pseudopre-
maioria das ra- todo; pode apre- tar uma grande ninha- nhez dura 14 – 16 dias
ças sentar anestro sa- da
zonal
Macaco 3 anos Poliéstrico o ano 27 – 28 dias , 3 dias Perto da ovulação 10 Após o desmame dos A menstruação dura 4 – 6
rhesus todo; tendência (23 – 33) – 13 dias do ciclo filhotes anteriores dias; a ovulação, geralmen-
(Macaca para ciclos anovu- te , 13 dias após o início
mulatta) latórios no verão
norte-americano
Rato 37 a 67 dias, Poliéstrico o ano 4 – 5 dias , 14h (12 – 18) Perto da ovulação Dentro de 24h Ovulação logo após a meia-
varia confor- todo geralmente, noite. A estimulação cervi-
me a linha- inicia-se em cal causa pseudoprenhez
gem; com- , 7h da noite que dura por 12 – 14 dias
primento do
corpo na pu-
berdade de
148 – 150mm
Camundongo 35 dias (28 a Poliéstrico o ano Geralmente 4 Algumas horas Fêmea mais receptiva Dentro de 24h Ovulação logo após a meia-
49) todo ou 5 dias a partir das durante as primeiras noite. A estimulação da cér-
10h da noite 3h vix causa pseudoprenhez
que dura 10 – 12 dias
(Continua)
Sistema Reprodutivo, Introdução 780
Hâmster 4 – 6 semanas Poliéstrico o 4 – 5 dias 12h, uma noite Meio do estro Após o desmame Ovulação 8 – 12h após o início
ano todo. Poucas do estro. A pseudoprenhez
prenhezes no in- dura 7 – 13 dias
verno
Gerbilo da 9 a 12 semanas Poliéstrico 4 a 6 dias 12 – 15h Meio do estro 1 a 3 dias Ovulação espontânea 6 a 10h
Mongólia após o cruzamento
* Muitas vacas normais ovulam logo em 8 a 12 dias após o parto, com ou sem sinais detectáveis de estro.
Sistema Reprodutivo, Introdução 781
Nos anos recentes, o homem tem assumido mais e mais responsabilidade para
determinados aspectos da reprodução, tais como a observação do estro, a preser-
vação do sêmen e a inseminação; cada ponto de interferência é uma fonte potencial
de erro. Conseqüentemente, devem-se considerar os erros humanos, que são
detectados ou descartados pela avaliação do desempenho com a ênfase principal
nas técnicas e nos procedimentos, e sua adequação e qualidade.
Têm-se desenvolvido métodos diagnósticos para testar a sanidade anatômica e
funcional de ambos os sexos. Esses métodos variam do exame clínico sustentado
por auxílios diagnósticos tais como a endoscopia e a ultra-sonografia, até testes
laboratoriais incluindo ensaios hormonais, microbiologia, citologia, sorologia, exa-
me citogenético, avaliação do sêmen, etc.
A escolha dos métodos de exame é determinada pela espécie e pelo tamanho
do animal. As decisões com relação ao tipo e à extensão dos testes de laboratório
se baseiam na história e na informação obtidas durante o curso do exame. O plano
diagnóstico deve fornecer evidências para o estabelecimento do papel da fêmea, do
macho e do criador em cada caso de falha reprodutiva. Os problemas reprodutivos
raramente são acompanhados por sinais alarmantes de doença. Além disso, existe
um intervalo entre a ocorrência da falha e a sua manifestação aparente. Os
exemplos incluem os intervalos entre um serviço sem sucesso e o retorno ao estro
ou uma falha em parir. Este período de atraso pode permitir uma recuperação do
animal e assim o exame pode produzir resultados negativos. A interpretação dos
resultados também deve levar em conta as diferenças entre as espécies, e naquelas
com um padrão reprodutivo sazonal, a infertilidade pode ser fisiológica durante
determinados períodos do ano.
PRINCÍPIOS DE TERAPIA
(Ver também MANEJO DA REPRODUÇÃO, pág. 1367.) As demandas crescentes pela
eficiência de produção, junto com as alterações ambientais (por exemplo, o
alojamento e os sistemas de manejo) e, em muitos casos, com a erradicação de
sucesso de infecções específicas (por exemplo, a brucelose, a tuberculose e a
campilobacteriose), causaram uma modificação nas estratégias terapêuticas nas
várias espécies domésticas. Especialmente nos animais de consumo alimentar, e
em até certo grau nos eqüinos, o método terapêutico de escolha consiste fre-
qüentemente de uma combinação de agentes farmacológicos e da correção dos
problemas de manejo. Os tratamentos com base no rebanho também se tornaram
mais importantes, especialmente à luz da necessidade de uma efetividade de custo
(por exemplo, o aumento do uso de agentes farmacológicos no manejo reprodutivo
tal como a sincronização do estro, a superovulação, a indução do parto e o tratamento
do anestro e do subestro). As outras tendências terapêuticas nos animais de con-
sumo alimentar são o resultado de um aumento no conhecimento dos possíveis
riscos dos resíduos antimicrobianos e hormonais nos tecidos e no leite; as alterna-
tivas a uma antibioticoterapia justificam uma atenção aumentada.
Nos animais pequenos, a alteração da estratégia terapêutica não é tão evidente
quanto nos animais grandes. O animal individual ainda permanece em foco, e o
ambiente dessas espécies não passa pelas mesmas alterações como no caso dos
animais grandes. Porém, as técnicas diagnósticas e os tratamentos se tornaram
mais sofisticados. Uma terapia mais eficiente pode propagar uma predisposição
hereditária para uma redução da fertilidade por cura de doenças que antes eram
autolimitantes; deve-se considerar isso sempre que se lidar com problemas de
fertilidade.
Controle farmacológico da reprodução – O controle do ciclo estral – mais
comumente a sincronização do estro – geralmente se baseia em agentes que agem
diretamente nos ovários (por exemplo, o FSH, o LH ou as preparações com efeitos
Sistema Reprodutivo, Introdução 784
ABORTO, GR AN
Muitos abortos nos bovinos e nos ovinos resultam de uma infecção que alcança
o feto através da circulação materna. O primeiro passo consiste na identificação da
causa do aborto para que se possam tomar as medidas preventivas. Porém, o
diagnóstico da causa é difícil e só se faz um diagnóstico positivo em , 25% dos casos.
Discutem-se as infecções importantes que podem levar ao aborto em seus
respectivos tópicos (ver M ANEJO DA R EPRODUÇÃO: BOVINOS – CAUSAS DO A BORTO, pág.
1374, e DOS EQÜINOS – A BORTO, pág. 1386).
Nos ovinos nos EUA, a causa mais comum de aborto é a campilobacteriose. Os
outros agentes associados com o aborto nos ovinos incluem: a Toxoplasma gondii,
o vírus da língua azul, a Brucella ovis, as clamídias, as leptospiras, a Listeria
monocytogenes e as Salmonella spp. Semelhantemente, as doenças infecciosas
importantes que causam aborto nos suínos (ver adiante) incluem brucelose, a
leptospirose, a pseudo-raiva e a parvovirose.
Aborto, Gr An 786
tiva se deve apenas raramente a uma doença única. Evita-se a maioria dos
problemas por meio de um bom manejo e uma boa criação, e uma boa manutenção
de registros. Torna-se crítica uma coleta cuidadosa de uma informação retrospec-
tiva (ver MANEJO DA REPRODUÇÃO: SUÍNOS, pág. 1387).
A seguir, listam-se algumas causas específicas de aborto ou de outras falhas
reprodutivas. Podem-se localizar as discussões gerais das doenças específicas por
meio do ÍNDICE.
Parvovírus – O vírus está presente na maioria das populações de suínos. A
imunidade materna persiste nas marrãs até a maturidade sexual, e pode impedi-
las de se tornarem naturalmente imunes. Elas podem ficar expostas perto do
período de acasalamento e experimentar uma falha reprodutiva. A reabsorção fetal
precoce e o retorno irregular ao estro são mais comuns. Podem-se observar redu-
ção no tamanho da ninhada, abortamento e aumento no número de múmias. O
diagnóstico se baseia melhor nos registros e no envio dos fetos mumificados ao
laboratório diagnóstico.
Pseudo-raiva – Os problemas reprodutivos podem incluir abortos, natimortos,
múmias e suínos fracos. Em um rebanho infectado recentemente, os outros sinais
podem incluir febre e sinais nervosos e respiratórios. Podem-se utilizar vários testes
laboratoriais diferentes para a confirmação, dependendo do tipo de amostras
disponível. As evidências de uma falha reprodutiva podem ser sutis em um rebanho
cronicamente infectado.
Outros vírus – Outros vírus (por exemplo, o enterovírus e o vírus da gripe) podem
contribuir para a falha reprodutiva. Para a sua identificação exige-se uma investi-
gação diagnóstica completa.
Brucelose – Uma doença incomum e rigidamente monitorada, é transmissível
ao homem e é o objetivo dos regulamentos que governam a movimentação do lote
reprodutor. A brucelose é a única doença venérea dos suínos. Todos os criadores
de lote reprodutor devem manter um atestado de testes regulares e de isenção da
doença. Ela pode causar abortos ou outras falhas, e é diagnosticada por testes
laboratoriais, primariamente a sorologia das porcas.
Leptospirose – A epidemiologia da doença é complexa, sendo uma das causas
mais comuns da falha reprodutiva. Existem várias fontes potenciais dos sorotipos
infecciosos, e estes podem resultar em um número qualquer de manifestações
clínicas, incluindo os abortamentos. A avaliação completa pode incluir a sorologia,
mas torna-se difícil o diagnóstico específico sem uma investigação completa.
Outras infecções bacterianas – Vários patógenos bacterianos podem induzir
a infertilidade e o abortamento: qualquer microrganismo que produzir uma resposta
febril pode resultar em abortamento. As perdas resultantes são geralmente esporá-
dicas e o diagnóstico pode ser difícil.
Micotoxinas – Os bolores podem produzir toxinas (geralmente nos grãos
alimentares) que podem induzir abortos. O início súbito de uma recusa ao alimento,
de diarréia ou de abortos pode justificar a consideração das micotoxinas. Geralmen-
te, existe uma causa insidiosa da redução da eficiência reprodutiva. Deve-se
conduzir um estudo epidemiológico completo tão logo quanto possível. O suporte
laboratorial pode ser útil, mas o alimento afetado não se encontra freqüentemente
disponível para avaliação. Essa é uma razão do valor de um programa regular para
a amostragem e a retenção do alimento.
Monóxido de carbono – Várias influências ambientais, tais como as tempera-
turas ambientes severas, podem ter efeitos sutis na reprodução. Nas instalações
com má ventilação e certos tipos de aquecedores geradores de monóxido de
carbono, os acúmulos deste último podem causar abortos múltiplos e risco aos
tratadores. A amostragem do ar e a avaliação diagnóstica dos suínos abortados
podem resultar em um diagnóstico relativamente imediato.
Aborto, Gr An 788
ABORTAMENTO CLAMIDIANO
BOVINOS
Têm-se identificado as clamídias como causas do aborto nos bovinos na América
do Norte, na Europa, na África e na Ásia. Nos EUA, têm-se diagnosticado aborta-
mentos clamidianos no Colorado, no Arizona, na Califórnia, em Utah, no Wisconsin,
no Wyoming, em Montana e no Texas.
Etiologia e epidemiologia – Os abortos são causados pelas cepas do Imunotipo
1 da Chlamydia psittaci (ver também ABORTAMENTO ENZOÓTICO NOS OVINOS E NOS
CAPRINOS, adiante). As cepas do Imunotipo 1 representam o único imunotipo
recuperado a partir das placentas e dos fetos abortados das vacas, e elas também
são isoladas freqüentemente a partir de vacas com infecções intestinais subclínicas.
Uma entidade separada conhecida como abortamento bovino epizoótico ou
abortamento do contraforte (ver adiante), que já se pensou ser causada por uma
infecção clamidiana, encontra-se hoje associada com um agente borreliano trans-
mitido pelo carrapato de casca mole Ornithodoros coriaceus. Têm-se isolado os
agentes clamidianos a partir de abortamentos bovinos nos contrafortes californianos,
onde se sabe que o carrapato ocorre, bem como em áreas onde ele não ocorre. A
transmissão do agente do abortamento induzido por clamídias depende não de
vetores, mas da via fecal–oral. As infecções intestinais subclínicas (ver pág. 137)
são comuns nos bovinos, e têm-se induzido experimentalmente abortamentos com
tais isolados intestinais. As infecções clamidianas genitais dos touros causam uma
síndrome de vesiculite seminal, na qual o sêmen contém clamídias. As novilhas
inseminadas com tal sêmen não concebem porque uma endometrite induzida pela
clamídia impede a nidação do embrião e resulta em esterilidade. A infertilidade
torna-se um problema nos rebanhos com touros afetados, mas não se têm descrito
abortamentos em tais rebanhos.
Achados clínicos e lesões – Os abortamentos ocorrem geralmente sem sinais
anteriores. Eles são freqüentemente esporádicos na natureza, mas até 20% das
vacas têm abortado em um dado rebanho. As vacas de todas as idades são
suscetíveis; podem ocorrer abortos logo no quinto mês, embora a maioria ocorra
durante o último trimestre. Também podem nascer natimortos e bezerros fracos.
Podem-se reter as placentas e uma endometrite pode resultar em dificuldades de
reacasalamento.
Uma lesão consistente e significativa é a placentite severa, que pode ser
localizada. O epitélio trofoblástico torna-se necrótico, especialmente nas áreas inter
e periplacentomais. Pode-se encontrar presente um exsudato fibrinopurulento entre
o endométrio e o córion. O córion intercotiledonário pode ter uma consistência
gelatinosa (edematosa) ou coriácea.
As lesões no feto variam consideravelmente dependendo do estágio da infecção.
Essas lesões podem ser mínimas se a infecção permanecer localizada na placenta
e o aborto for simplesmente um resultado de hipoxia fetal que ocorre antes da
clamidemia fetal. Se o feto se infectar com as clamídias, podem-se observar então
lesões tais como necrose focal, vasculite e outras reações inflamatórias em vários
Aborto, Gr An 789
experimentalmente a doença tanto por inoculação oral como por parenteral. Não
há evidências de transmissão mediada por artrópodes. Os carneiros podem ter
infecções nos órgãos genitais e eliminar clamídias no sêmen que contém leucócitos
abundantes. Reduz-se a taxa de concepção das ovelhas acasaladas com tais
carneiros. As ovelhas receptivas se infectam e a infecção persiste. Após a concep-
ção e o desenvolvimento placentário e fetal com respostas imunes associadas,
ocorrem as fases clamidêmicas; o agente invade a placenta e o feto e segue-se o
aborto. Ocasionalmente, será infectado apenas um cordeiro entre um par de
gêmeos. Até 30% das ovelhas prenhes podem abortar quando a infecção for recém-
introduzida em um rebanho, embora ocorram perdas menores ano após ano entre
as ovelhas de 1 ano e as mais jovens nos rebanhos endemicamente infectados.
Achados clínicos – Tornam-se característicos o abortamento, a natimortalidade
ou o parto prematuro no último mês de gestação. Retém-se a placenta em uma peque-
na porção dos abortos. Os fetos mortos podem-se manter no interior do útero, e algu-
mas vezes se mumificam antes de serem expulsos. Tais ovelhas emaciam-se rapi-
damente e podem morrer. Afora esses casos, a doença possui pouco efeito na mãe.
Lesões – Os fetos abortados se encontram bem preservados e podem estar
recobertos por um material floculento e com cor-de-barro. Podem-se detectar as
petéquias no tecido subcutâneo durante a esfola, e os linfonodos se encontram
aumentados e edematosos. A placentite é o achado mais consistente, com uma
porção variável de cotilédones necróticas e um espessamento granular e viscoso do
córion intercotiledonário. As margens das lesões ficam hiperêmicas. As outras
partes da placenta podem parecer normais.
Diagnóstico – A assistência laboratorial torna-se essencial na diferenciação do
abortamento clamidiano dos abortos devidos a outras causas infecciosas. Os
corpúsculos elementares clamidianos aparecem como pintas avermelhadas, pe-
quenas e únicas ou agregadas em decalques corados por Gimenez. As criossecções
das cotilédones afetadas ou dos tecidos intercotiledonários contêm corpúsculos
elementares avermelhados em inclusões citoplasmáticas. A imunofluorescência
revela (com uma especificidade imunológica) os antígenos clamidianos nas amos-
tras placentárias. O isolamento e a identificação das clamídias causadoras consti-
tuem um diagnóstico conclusivo, mas consomem muito tempo e possuem pouco
valor em um surto. Eleva-se significativamente o nível de anticorpos contra antíge-
nos clamidianos após o aborto. Podem-se detectar os anticorpos no soro fetal. Os
testes de escolha são o ELISA ou o teste de imunofluorescência por inclusão
indireta, que detecta principalmente os anticorpos contra os antígenos clamidianos
proteicos. O teste de fixação de complemento utilizado anteriormente detecta
apenas os anticorpos contra os antígenos específicos do gênero.
Pode-se diferenciar o aborto devido à Campylobacter sp por meio do exame dos
decalques e da cultura bacteriana. A Brucella ovis e a Coxiella burnetii causam
síndromes semelhantes e podem ser diferenciadas por citologia esfoliativa ou
cultura.
Tratamento e controle – Reduziram-se significativamente os abortos nas
ovelhas suscetíveis por meio de 2 injeções (com intervalo de 2 semanas) de uma
preparação de longa ação de oxitetraciclina no meio da gestação. Recomenda-se
uma terapia de tetraciclina nos neonatos infectados e nas fêmeas que abortaram.
Porém, ainda não se estabeleceram doses eficazes.
Uma vacina de vírus mortos forneceu uma boa proteção quando administrada
antes do acasalamento ou no início da gestação; deve-se repeti-la a intervalos de
3 anos ou menos. Entretanto, ela não é completamente efetiva e pode ainda ocorrer
a eliminação do microrganismo em um rebanho vacinado. O isolamento das ovelhas
abortantes por 2 a 3 semanas, a remoção de todas as placentas e a higienização das
áreas reduzem o risco para o resto do rebanho.
Aborto, Gr An 791
SÍNDROME DE AGALACTIA
PORCAS
A agalactia constitui uma falha total na produção ou na descida do leite. É
incomum nas porcas; no entanto, não é hipogalactia ou insuficiência lactacional (ver
adiante) e ocorre em porcas individuais ou em surtos de rebanho. Várias afecções
das glândulas mamárias são tão devastadoras para os leitões (devido à agalactia
ou à hipogalactia [ver pág. 1322]) que se tornam essenciais um diagnóstico e uma
terapia imediatos ou uma adoção cruzada com outra porca.
Como a porca pode apresentar agalactia ou hipogalactia em uma ou mais
glândulas, os leitões individuais que escolherem e se “fixarem” em uma única
glândula às 24h de idade poderão sofrer enquanto seus irmãos de ninhada se
manterão normais. Isso ocorre comumente como resultado de uma mastite bacte-
riana em uma única glândula sem nenhum sinal clínico óbvio na porca, mas com
conseqüências severas para o leitão “fixado” à glândula.
Numa outra infecção, as tetas individuais podem estar obstruídas ou não existir;
em qualquer caso, a causa mais comum é a necrose da teta, que é uma conseqüên-
cia de trauma nas tetas em pisos ásperos (geralmente de concreto) dentro dos
primeiros dias de vida. Pode-se afetar um número variável de glândulas em porções
variáveis das leitoas. O trauma e a inflamação levam à ablação da teta ou à oclusão
do duto, que podem causar “tetas cegas” na vida posterior. Pode-se evitar isso por
meio da alteração da superfície dos pisos dos engradados de parto do concreto para
um dos materiais plásticos disponíveis.
Uma afecção freqüentemente referida pelos fazendeiros como “úbere áspero” é
extremamente comum. As evidências circunstanciais sugerem que ela esteja
associada geralmente com o aumento da produção de leite e, por várias razões, com
uma falha dos leitões para consumir todo o leite disponível, por exemplo, quando os
leitões se debilitam por diarréia ou friagem. A afecção é autolimitante: a porca
responde ao produzir menos leite, com a perda potencial do crescimento subse-
qüente nos leitões. Não se deve confundir o “úbere áspero” com uma insuficiência
lactacional. Afora a relutância a dar de mamar, as porcas com “úbere áspero” não
apresentam nenhum dos outros sinais clínicos de hipogalactia. Semelhantemente,
não se deve confundir a hipogalactia com a mastite bacteriana na qual, nos casos
severos que envolvem muitas glândulas e infecções por estafilococos ou por
Klebsiella, as porcas podem morrer.
O diagnóstico é feito em grande parte por um exame clínico cuidadoso.
seco, mas ocorre uma certa redução no número de microrganismos viáveis, o que
pode resultar em resultados falsos-negativos.
Algumas vezes examinam-se os touros e as vacas quanto à campilobacteriose
antes de exportá-los ou vendê-los; exige-se um mínimo de 3 culturas negativas,
provenientes de amostras coletadas em intervalos ≥ 5 dias, para uma certeza
razoável de isenção da infecção.
2. Colorações imunofluorescentes. O exame imunofluorescente dos mucos
prepucial e cervicovaginal complementa a cultura, e o uso de ambos os procedimen-
tos identifica um número ligeiramente mais alto de animais infectados que um dos
procedimentos sozinho. Também se utiliza a imunofluorescência após uma incuba-
ção do meio de enriquecimento de transporte. Uma desvantagem da imunofluores-
cência é a incapacidade de distinção entre a C. venerealis e a C. fetus.
3. Sorologia. Tem-se utilizado o teste de aglutinação do muco vaginal como um
teste de rebanho, mas ele possui um valor limitado na detecção da infecção em
animais individuais. Podem não aparecer anticorpos até que o animal se encontre
infectado por vários meses, e alguns animais se tornam rapidamente negativos. Não
se tem utilizado extensivamente o teste ELISA, mas os resultados preliminares
indicam que ele seja mais sensível e que detecte os anticorpos mais cedo que o teste
de aglutinação.
Os testes de fixação de complemento e aglutinação do soro sangüíneo possuem
um valor limitado porque a maioria das vacas desenvolve apenas títulos baixos e
algumas novilhas virgens e livres da doença desenvolvem títulos, presumivelmen-
te devido ao contato com microrganismos que dividem antígenos com as Campylo-
bacter spp.
Tratamento e controle – As medidas de controle se baseiam na suposição de
que a transmissão ocorra somente no coito e de que os portadores se encontrem
presentes no rebanho. A infecção se restringe aos tratos genitais de ambos os
sexos, e as respostas imunes sistêmicas não se desenvolvem naturalmente. Após
a infecção, a maioria das vacas desenvolve uma imunidade local que limpa as
bactérias das trompas de Falópio e do útero dentro de 3 meses. Pode então ocorrer
uma prenhez, embora a vagina possa permanecer infectada por vários meses ou por
uma ou mais prenhezes bem-sucedidas. Acredita-se que a persistência da infecção
se deva à capacidade das bactérias para alterar os antígenos de superfície expostos
às defesas imunes do hospedeiro durante o curso da infecção. As vacas convales-
centes podem desenvolver uma infecção vaginal novamente quando em exposição
a touros infectados, mas desenvolvem uma resposta anamnésica que impede a
infecção do útero e permite a concepção. Ainda não se identificou uma imunidade
natural nos touros; alguns touros permanecem infectados por toda a vida a menos
que sejam tratados ou vacinados.
Geralmente se realizam as medidas de controle na preparação para a próxima
estação de acasalamento. O descarte das vacas receptivas não eliminará a infecção
no rebanho devido às portadoras prenhes, e deve-se considerar a sua manutenção,
pois o desenvolvimento da imunidade resultará em uma fertilidade razoavelmente
boa. Devem-se vacinar todos os animais tão logo quanto possível após o diagnós-
tico, e novamente em 6 a 8 semanas; deve-se administrar uma vacinação de reforço
, 1 mês antes do início do acasalamento. O intervalo entre as vacinações não deve
ser < 4 semanas.
A vacinação das vacas infectadas acelera a eliminação da infecção em certo
grau, mas o efeito pode ser mínimo em uma infecção bem estabelecida. No entanto,
a vacinação melhora dramaticamente a fertilidade das vacas infectadas, embora
permaneçam algumas portadoras vaginais. A vacinação dos touros pode curar a
infecção e prevenir a infecção permanente, mas em um experimento, necessitou-
se de 3 vacinações para a eliminação da infecção de todos os touros. Os touros
Tricomoníase Bovina 801
vacinados podem transmitir infecções por poucas horas após acasalarem com uma
vaca infectada. Existe uma certa indicação de que a duplicação da dosagem da
vacina utilizada para as vacas possa ser melhor para os touros.
A inseminação artificial pode impedir o alastramento da infecção. Obtém-se o
sêmen preferivelmente a partir de touros não infectados, e dilui-se o mesmo em 1:25;
adicionam-se 500u de penicilina e 0,5mg de diidrostreptomicina por mL de sêmen
diluído. Deve-se manter o sêmen tratado em 4,4°C por ≥ 6h antes do uso. Devem-
se incluir procedimentos de detecção por calor e inseminação para eliminar qual-
quer possibilidade de transmissão entre as vacas.
Embora o tratamento antibiótico das vacas infectadas tenha dado resultados
variáveis e seja praticado raramente, o tratamento dos touros geralmente é efetivo, e em
algumas circunstâncias pode até ser apropriado. Pode-se utilizar um tratamento local
ou sistêmico, ou ambos. No touro, administram-se uma injeção s.c. (25mg/kg) e uma
infusão prepucial (10mL) de 50% de diidrostreptomicina aquosa; mantém-se fechado
o orifício prepucial e massageia-se o exterior da bainha por 1min antes de se liberar o
orifício. Aconselham-se 2 ou 3 tratamentos em intervalos de 48h. Tem-se observado a
ulceração da mucosa peniana, de importância não identificada, em alguns touros após
o tratamento local.
Deve-se praticar a vacinação nos rebanhos limpos em risco devido ao potencial
de mistura dos bovinos durante o acasalamento, ou quando animais não virgens
forem adicionados ao rebanho. Embora as recomendações dos fabricantes de va-
cinas variem, o seguinte programa de vacinação se baseia em resultados de pes-
quisa. Devem-se vacinar as vacas e os touros não vacinados anteriormente por 2
vezes em um intervalo ≥ 4 semanas, com a última vacinação sendo administrada em
≤ 1 mês antes do início do acasalamento. Exigem-se vacinações de reforço anuais
(porque a maioria dos animais vacinados não desenvolve uma resposta anamnésica
durante a exposição à infecção) e devem-se administrá-las antes do acasalamento.
As vacinações de reforço administradas em um período considerável antes do
acasalamento (por exemplo, na época do exame da prenhez) possuem um certo
valor, mas não são efetivas como se fossem administradas imediatamente antes do
acasalamento.
TRICOMONÍASE BOVINA
É uma doença venérea dos bovinos, causada por um protozoário e caracteriza-
da por morte fetal precoce e infertilidade associada com intervalos entre partos
enormemente estendidos. A distribuição é mundial.
Etiologia e epidemiologia – O protozoário piriforme causador (a Tritrichomonas
[Trichomonas] foetus) tem comumente 10 a 15 × 5 a 10µm, mas há um pleomorfismo
considerável, e os microrganismos cultivados em meios artificiais tendem a se tornar
esféricos. Na extremidade anterior do microrganismo, existem 3 flagelos com aproxima-
damente o mesmo tamanho do parasita. Uma membrana ondulante se estende pelo
comprimento do tricomônada e é margeada por um filamento marginal que continua além
da membrana como um flagelo posterior. Alguns microrganismos podem sobreviver aos
procedimentos de refrigeração utilizados para o armazenamento do sêmen, mas eles
não sobrevivem ao ressecamento ou às altas temperaturas.
Encontra-se o microrganismo apenas no trato genital da vaca e do touro. Mais de
90% das vacas podem ser infectadas quando cobertas por um touro doente. Pode
ocorrer transmissão por meio da inseminação artificial (IA); logo, deve-se utilizar
apenas o sêmen proveniente de touros sabidamente não infectados. Pode-se
presumir que a transmissão ocorra somente durante o coito e que a maioria dos
Tricomoníase Bovina 802
UBEROPATIAS BOVINAS
Ver também MASTITE, página 831 e PSEUDOVARÍOLA BOVINA, página 997.
DOENÇAS TRAUMÁTICAS
Podem-se limpar os ferimentos superficiais do úbere e das tetas com
soluções anti-sépticas adequadas e tratá-los como ferimentos abertos com a,
aplicação freqüente de pós ou sprays anti-sépticos. Se as tetas estão envolvidas
uma fita adesiva pode acelerar a cicatrização. Devem-se tratar os ferimentos que
envolverem o orifício da teta com cremes anti-sépticos e enfaixá-los duas vezes ao
dia para prevenir infecções do úbere. Pode resultar uma hemorragia severa que
exija uma compressão e um ligamento imediatos a partir dos ferimentos que
romperem uma grande veia láctica.
Devem-se limpar e suturar sob anestesia local (com contenção física ou química)
e imediatamente (dentro de 6h) os ferimentos mais profundos do úbere e das
tetas para promover uma cicatrização de primeira intenção. Quando o ferimento
envolver a cisterna da teta, pode-se tornar necessária a inserção de uma cânula de
auto-retenção da teta com uma tampa removível na mesma pelas primeiras 24h
para impedir o vazamento de leite através do ferimento (o que retardaria ou impediria
a cicatrização) e para auxiliar na ordenha. Os cuidados posteriores incluem a infusão
do quarto afetado com preparações antibióticas e a manutenção de altos níveis
sangüíneos de antibióticos por terapia parenteral.
Os abscessos do úbere podem ser secundários a ferimentos, a uma mastite
avançada, a hematomas infectados ou contusões severas. Devem-se incisá-los e
drená-los quando estiverem crônicos e próximos à superfície do úbere. Deve-se
enfaixar o ferimento por 2 dias com uma gaze que contenha um contra-irritante (por
exemplo, uma solução alcoólica de iodo a 2,5%) e lavá-lo diariamente após isso com
uma solução anti-séptica.
A “mancha negra”, a “escara negra” ou o “tripé” da teta podem causar
necrose, formação de escaras e um espessamento fibroso do orifício e do esfíncter
da teta, e podem levar a uma estenose desta (ver adiante). Eles respondem
freqüentemente a aplicações regulares de uma pomada de corticosteróide-antibió-
tico nos estágios iniciais. Os surtos podem-se dever a uma função defeituosa da
máquina desta ordenha, especialmente a uma pulsação defeituosa, a um revesti-
mento muito fino ou a um nível excessivamente alto de vácuo e superordenha. Tais
Uberopatias Bovinas 806
ACNE DO ÚBERE
É uma doença das vacas leiteiras caracterizada por pústulas na pele do úbere e das
tetas, freqüentemente próximas à base da mesma. Ela tende a se espalhar em alguns
rebanhos. Geralmente podem-se isolar estafilococos a partir das pústulas. Um fator
predisponente pode consistir no excesso de “formigamento” da teteira na ordenha
associado com um prolongamento do intervalo entre a cessação do fluxo de leite e a
remoção da teteira. Devem-se cortar os pêlos da área afetada, lavar a pele completa-
mente com clorexidina (5.000ppm) ou um iodóforo (10.000ppm), e aplicar uma
pomada antibacteriana (tal como a clorexidina ou o sulfatiazol) duas vezes ao dia após
a ordenha. O uso de soluções de clorexidina ou de iodóforos para lavar o úbere e os
banhos de imersão da teta pós-ordenha ajudam a impedir o alastramento da doença.
BRUCELOSE
É uma doença contagiosa que afeta primariamente os bovinos, os suínos, os
ovinos, os caprinos e os cães, causada pelas bactérias do gênero Brucella e
caracterizada por abortamento e, em menor grau, orquite e infecção das glândulas
sexuais acessórias nos machos. A doença é prevalente na maior parte do mundo. A
brucelose afeta ocasionalmente os eqüinos. A doença no homem, freqüentemente
referida como febre ondulante, é um sério problema de saúde pública.
OVARIOPATIA CÍSTICA
Entre os animais domésticos, a ovariopatia cística é mais comum nos bovinos,
particularmente nas raças leiteiras, mas também ocorre esporadicamente nos cães
(ver pág. 821), nos gatos e nos suínos. Ocasionalmente, encontram-se grandes
folículos múltiplos em um ou em ambos os ovários da égua, primariamente durante as
fases de transição do outono ou primavera do ciclo reprodutivo. A sua aparência, no
entanto, não é acompanhada do quadro clínico e das aberrações comportamentais
típicas da doença nos bovinos. Os cistos ovarianos nos bovinos podem ser de 3 tipos:
folicular, lúteo ou corpo lúteo (CL) cístico. Ao contrário dos outros, o CL cístico surge
após a ovulação. Considera-se um CL cístico como um estágio normal ou uma
variação do desenvolvimento do CL, já que é encontrado na ciclagem normal e em
vacas prenhes sem sinais concorrentes de infertilidade. O CL cístico possui uma área
central mais macia e mais polposa (devido à presença de um fluido ou de um coágulo
sangüíneo em degeneração) do que o CL típico, e é mais freqüentemente detectado
, 1 semana após o estro, quando a estrutura se encontra próxima do final da fase do
corpo hemorrágico, ou seja, da fase de desenvolvimento. O CL cístico, assim como o
típico, pode ou não apresentar uma coroa ou papila de ovulação no ápice da
estrutura. Não se deve considerar a sua ausência como diagnóstica da afecção
cística, pois 10 a 20% do CL normal e funcional não desenvolve essa característica.
A discussão a seguir se limita às 2 formas patológicas de ovariopatia cística bovina, os
cistos foliculares e os cistos lúteos. Embora etiológica e patogeneticamente relaciona-
das, as suas diferenças clínicas justificam a descrição em separado.
rios nos animais geneticamente predispostos seja mais comumente uma deficiência
relativa na liberação do hormônio luteinizante (LH) no estro. Isso pode ser um reflexo
da falha da liberação hipotalâmica do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH).
Sabe-se que um outro mecanismo que existe em algumas vacas com cistos
corresponde a uma deficiência de receptores de LH e de hormônio folículo-
estimulante (FSH) nos folículos em desenvolvimento.
Durante o proestro normal, a regressão do CL coincide com o desenvolvimento
de um folículo selecionado, enquanto se inibe o crescimento de quaisquer folículos
adicionais. Nos animais que estejam desenvolvendo uma ovariopatia cística, a
ovulação não ocorre. Além do mais, na ausência de um efeito inibidor de um LH
adequado, vários folículos (incluindo os que não ovulam) podem crescer e formar
cistos múltiplos tanto bi como unilateralmente. Macroscopicamente, os cistos
lembram folículos aumentados, variando em tamanho do normal a 5 a 6cm de
diâmetro. O tamanho e a forma de um ovário afetado dependem do número e do
tamanho dos cistos presentes. O ovário cístico é pelo menos inicialmente capaz de
uma esteroidogênese, e os seus produtos variam de estrogênios a progesterona e
a androgênios. A ação dos vários hormônios produzidos é responsável pelas
alterações observadas no trato genital bem como pela conformação do corpo e
comportamento geral.
Achados clínicos – As aberrações comportamentais variam do estro freqüente
e intermitente com um impulso monossexual exagerado a um comportamento
semelhante ao de um touro, incluindo a monta, o arranhamento do chão com as
patas e o bramido. Esse comportamento é acompanhado freqüentemente pela
masculinização da cabeça e do pescoço. Nos casos crônicos, torna-se comum o
relaxamento da vulva, do períneo e dos ligamentos pélvicos grandes, o que faz com
que a extremidade da cabeça se eleve. A maioria dos animais afetados apresenta
esses sinais, mas outros podem ficar sexualmente quiescentes. Essa variação se
deve à duração da doença e à natureza do hormônio secretado pelo ovário doente.
Os ovários afetados ficam geralmente aumentados de volume e arredondados, mas
o seu tamanho varia, dependendo do número e do tamanho dos cistos. A sua
superfície fica lisa, elevada e com estruturas semelhantes a vesículas, particular-
mente quando os cistos excedem os 2,5 a 3cm de diâmetro. Freqüentemente, os
cistos são multiplicados e podem exceder 2,5cm de diâmetro. Sob a influência dos
hormônios produzidos pelo ovário cístico e/ou da falta dos hormônios normalmente
presentes durante os ciclos estrais, o útero passa por alterações palpáveis, que por
sua vez variam com a duração da afecção cística. Conseqüentemente, durante a
primeira semana, a parede uterina fica espessada e edematosa como uma extensão
do edema pós-estral normal. No final da semana, a parede uterina assume uma
textura semelhante à de uma esponja. Nos casos crônicos, são comuns a atrofia e
a atonia da parede uterina. Menos comumente, os cornos uterinos são encurtados
acentuadamente, mas por outro lado parecem normais. É comum um certo grau de
descarga vaginal mucóide a mucopurulenta. A hidrometria (o útero de parede
extremamente fina e preenchido por fluido) ocorre raramente.
Diagnóstico – Os cistos múltiplos e maiores são facilmente identificados por
palpação retal. A história, a conformação e as alterações uterinas (quando presen-
tes) fornecem evidências diagnósticas suplementares. As características da palpa-
ção do útero são úteis para a diferenciação entre um cisto folicular único e um folículo
de Graaf maduro. Somente a vaca no estro apresenta um útero espiralado e
extremamente túrgido.
Prognóstico – De um ponto de vista, a doença responde facilmente ao
tratamento, seja ele mecânico (ruptura manual) ou hormonal. A taxa de sucesso da
ruptura manual, quando medida em termos de concepções dentro de 24 dias, é
, 50%; a hormonioterapia (ver anteriormente) parece obter ligeiramente mais
Ovariopatia Cística 818
DISTÚRBIOS DA FÊMEA
Metrite aguda
A infecção aguda do útero é geralmente um distúrbio pós-parto que pode ser
associado a um aborto, uma infecção fetal, uma retenção de placenta, uma manipu-
lação obstétrica ou com uma infecção ascendente após um parto aparentemente
normal. A metrite ocorre incomumente após o acasalamento. A Escherichia coli é a
bactéria mais comum isolada a partir do útero infectado; os estreptococos, os
estafilococos e outras bactérias são isolados menos freqüentemente.
Os animais com metrite ficam geralmente muito doentes, com febre, letargia e
inapetência. Geralmente, encontra-se uma descarga vaginal purulenta e fétida. A
fêmea pode rejeitar o seu filhote. Deve-se considerar a metrite aguda em qualquer
animal no pós-parto com sinais de enfermidade sistêmica ou de uma descarga
vaginal anormal. Um útero flácido e grande pode-se tornar palpável. Devem-se tirar
radiografias para se determinar se houve retenção de fetos. O hemograma pode
apresentar uma leucocitose com um desvio à esquerda.
A terapia inclui o tratamento de suporte, os fluidos EV e os antibióticos bacteri-
cidas de amplo espectro, preferivelmente aqueles efetivos contra a E. coli. A
prostaglandina F2α (0,1 a 0,25mg/kg de peso corporal, s.c., por 2 a 3 dias) ou a
ocitocina (5 a 20u nas cadelas, 2 a 5u nas gatas, IM) podem ajudar a evacuar o
conteúdo uterino. Indica-se uma ovário-histerectomia após a estabilização inicial se
o animal estiver extremamente doente ou se uma futura reprodução não for
importante. Senão, deve-se considerá-la um procedimento facultativo para ser
realizado ao se cessar a lactação.
Distocia
Um nascimento difícil pode resultar de defeitos no miométrio, anormalidades
metabólicas tais como hipocalcemia, diâmetro pélvico inadequado, dilatação insu-
ficiente do canal de nascimento, deficiência hormonal fetal (deficiência corticoste-
róide fetal), tamanho demasiadamente grande do feto, morte fetal ou apresentação
fetal anormal.
Deve-se considerar a distocia em qualquer uma das seguintes situações: um
animal com uma história anterior de uma distocia ou de uma obstrução do trato
reprodutivo; nenhum parto dentro de 24h após a queda da temperatura retal (para
< 37,7°C); 1 a 2h de contrações abdominais fortes sem a passagem de um cãozinho
ou de um gatinho; 1 a 2h de trabalho de parto ativo sem o nascimento dos cãezinhos/
gatinhos subseqüentes; o período de repouso durante um trabalho de parto ativo
excede 4 a 6h; a cadela ou a gata está em dor óbvia (gritos e lambedura ou
mordedura da vulva); há uma descarga vaginal negra, purulenta ou hemorrágica; há
sinais de enfermidade sistêmica; ou a gestação se prolonga.
Para se permitir uma terapia racional, devem-se determinar a causa da distocia
(obstrutiva versus não obstrutiva) e as condições do animal avaliado. Torna-se
desejável uma história completa quanto aos partos anteriores, aos traumatismos
pélvicos e às datas de acasalamento. Deve-se examinar o animal quanto a sinais
de uma enfermidade sistêmica que, se estiver presente, pode exigir uma cirurgia
cesariana imediata. A descarga vaginal normal no parto possui uma cor verde-
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 821
escura; uma cor anormal característica exige uma atenção imediata. Deve-se
realizar um exame vaginal estéril para se avaliar o grau de dilatação cervical, a
desobstrução do canal de nascimento e a posição e a apresentação do(s) feto(s).
Pode-se utilizar a radiografia ou a ultra-sonografia para determinar a presença dos
fetos, seu tamanho, número, posição e viabilidade.
Pode-se considerar o manejo médico quando as condições da fêmea e dos fetos
estiverem estáveis, quando houver uma posição e uma apresentação fetais apro-
priadas e quando não houver obstrução. Pode-se administrar a ocitocina IM (3 a 20u
nas cadelas, 2 a 5u nas gatas) em até 3 vezes a intervalos de 30min, com ou sem
gliconato de cálcio a 10% (3 a 5mL, EV lentamente, 1 vez) na tentativa de promover
as contrações uterinas. Se não se seguir nenhuma resposta, deve-se realizar uma
cirurgia cesariana.
Pode-se utilizar (cuidadosamente) o fórceps para remover os fetos mortos ou
facilitar o nascimento dos fetos mal-apresentados ou parcialmente nascidos.
Devem-se realizar uma manipulação gentil e uma lubrificação adequada para se
evitar danos ou morte dos fetos vivos. A episiotomia pode ser útil.
Indica-se a cirurgia no caso de uma distocia obstrutiva (se essa distocia for
acompanhada por um choque ou uma enfermidade sistêmica), no caso de uma
inércia uterina primária (caso se prolongue o trabalho ativo de parto) e/ou o manejo
médico falhe.
Mastite
É um processo inflamatório séptico ou não séptico que envolve uma ou mais
glândulas mamárias e que geralmente ocorre durante a lactação. Pode ocorrer uma
mastite séptica por infecção ascendente a partir dos mamilos, por ferimentos
penetrantes ou por alastramento hematogênico. Os estafilococos e os estreptoco-
cos são as bactérias mais comuns isoladas do leite. Geralmente não se encontra a
fonte de infecção. As glândulas mamárias afetadas ficam geralmente inchadas,
quentes e doloridas. O leite das glândulas afetadas pode ficar hemorrágico ou
purulento, pode apresentar um pH alcalino e ser freqüentemente mais viscoso que
o leite normal. A cadela/gata pode ou não apresentar sinais de enfermidade tais
como febre, apatia, inapetência e rejeição do filhote.
O diagnóstico se faz facilmente a partir da história e do exame físico. Deve-se
avaliar o leite de cada glândula em qualquer cadela ou gata no pós-parto com sinais
de enfermidade sistêmica. Antes de se iniciar a terapia, deve-se coletar uma
amostra do leite para uma cultura bacteriana e um exame de sensibilidade. O fluido
pode ser obtido também para cultura por meio da aspiração com uma agulha fina.
Devem-se escolher os antibióticos bactericidas de amplo espectro com base nos
testes de sensibilidade, e com o conhecimento de que eles passarão no leite para
o filhote. Durante a lactação, devem-se evitar antibióticos tais como a tetraciclina,
o cloranfenicol ou os aminoglicosídios, a menos que os neonatos estejam desma-
mados. As compressas quentes nas glândulas afetadas encorajam a drenagem e
parecem aliviar o desconforto. Deve-se lancetar, drenar, lavar e tratar uma glândula
mamária abscedada como um ferimento aberto.
As mastites não sépticas ocorrem mais comumente no desmame. A(s) glândula(s)
afetada(s) fica(m) quente(s), inchada(s) e dolorida(s) ao toque, mas o animal fica
alerta e saudável. Devem-se aplicar localmente compressas quentes 4 a 6 vezes
diariamente na fêmea lactante com uma mastite não séptica, e devem-se encorajar
os filhotes a mamarem nessas glândulas. Quando ocorre uma galactostasia no
desmame, pode-se diminuir a lactação por meio da redução do consumo de
alimento e de água da fêmea. Não se devem estimular as glândulas mamárias
durante essa época. Devem-se fornecer água e alimento apropriados para os
filhotes.
Piometria
É um distúrbio diestral que se caracteriza por um endométrio uterino anormal com
uma infecção bacteriana secundária. Na cadela normal, os corpos lúteos produzem
progesterona por 9 a 12 semanas após a ovulação em cada ciclo estral. Se não
ocorrer uma prenhez após a indução da ovulação em uma gata, a expectativa de
vida dos corpos lúteos é de , 45 dias.
Etiologia – A progesterona promove o crescimento endometrial enquanto reduz
a atividade do miométrio. Finalmente, desenvolve-se uma hiperplasia endometrial
cística e um acúmulo de secreções uterinas. A progesterona também pode inibir a
resposta leucocitária à infecção bacteriana. As bactérias da flora vaginal normal são
a fonte mais provável de contaminação uterina. A Escherichia coli é a bactéria mais
comum isolada nos casos de piometria, embora também se tenham isolado o
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 823
Pode-se utilizar uma terapia médica com a prostaglandina (PG) F 2α nos animais
que se pretender acasalar no futuro, embora a PG não seja aprovada nos EUA para
uso nos gatos ou nos cães. A PG causa a contração do miométrio, o relaxamento
da cérvix e a expulsão do exsudato uterino e em doses terapêuticas não causa
luteólise nos cães ou nos gatos. Provavelmente, não se deve utilizar a PG nos
animais > 8 anos de idade ou naqueles que não são pretendidos para acasalamento.
A demora antes de uma melhora clínica e os muitos efeitos colaterais da PGF2α
impedem o seu uso em um animal severamente enfermo. Também se deve utilizá-
la com cuidado em uma cadela ou gata com uma piometria de cérvix fechada, devido
ao aumento do risco de uma ruptura uterina. Deve-se excluir a prenhez, pois a PG
pode induzir um aborto.
Na cadela e na gata, deve-se utilizar apenas a PGF2α de ocorrência natural
(0,25mg/kg de peso corporal, s.c., uma vez por dia, durante 5 dias). Os análogos
sintéticos (por exemplo, o cloprostenol, o fluprostenol e o prostaleno) são muito mais
potentes que a PGF2α natural, mas ainda não foram avaliados para uso nos cães ou
nos gatos. Devem ser administrados, por ≥ 2 semanas, antibióticos bactericidas e
de amplo espectro, escolhidos com base na cultura e nos testes de sensibilidade.
Os outros efeitos da PGF2α incluem inquietação, ofegação, hipersalivação, andadu-
ra de um lado para o outro, dor abdominal, taquicardia, vômito e defecação. Nos
gatos, também se podem observar vocalização e comportamento de limpeza
intenso. Essas reações desaparecem dentro de 2h da injeção. A DL50 da PGF2α nos
cães é de 5,13mg/kg de peso corporal. Uma ataxia severa, um distúrbio respiratório
e tremores musculares podem ser observados nas gatas que recebem 5mg/kg. Se
ocorrerem efeitos colaterais severos, fluidos EV em taxas apropriadas são indicados
para o tratamento de choque. A evacuação uterina após uma injeção é variável.
Deve-se reexaminar o animal 2 semanas após o fim da terapia médica. Se ainda
se encontrar presente uma descarga vulvar mucopurulenta ou sanguinolenta ou um
aumento de volume uterino, pode-se repetir a terapia com PGF2α, utilizando-se o
mesmo procedimento; no entanto, o prognóstico para a recuperação é muito pior.
Prognóstico – Geralmente, o prognóstico é bom para um animal que passe por
uma ovário-histerectomia. Após a terapia médica, o prognóstico para uma resolução
inicial da piometria é bom se a cérvix estiver aberta, mas reservado a ruim se ela
estiver fechada. Dos animais que respondem, até 90% das cadelas e 70% das gatas
com uma piometria de cérvix aberta podem ser férteis. Descreveu-se que somente
50% das cadelas com uma piometria de cérvix fechada podem retornar à fertilidade.
A recidiva é provável: das cadelas tratadas medicamente quanto à piometria, 70%
apresentaram recorrência dentro de 2 anos. Recomenda-se que o animal se acasale
no próximo e em cada ciclo subseqüente, até que se consiga o número desejado de
cãezinhos ou gatinhos, e depois seja castrado.
Hiperplasia vaginal
É uma proliferação da mucosa vaginal, que geralmente se origina do assoalho
da vagina anterior ao orifício uretral. Ocorre durante o proestro e o estro, como
resultado de um estímulo estrogênico. O sinal mais comum corresponde a uma
massa que protrai da vulva, inicialmente lisa e brilhante; com uma exposição
prolongada, a superfície se torna seca e desenvolvem-se fissuras, de modo que a
massa assume uma aparência semelhante à da língua. Pode-se encontrar presente
uma ligeira descarga vaginal. Embora o tecido hiperplásico se origine próximo ao
orifício uretral, a disúria é incomum. A hiperplasia vaginal interfere na cópula. A
relutância ao acasalamento pode-se constituir no único sinal clínico, se o tecido
hiperplásico estiver contido na cripta vaginal. A hiperplasia vaginal se resolve
espontaneamente à medida que diminuem os níveis de estrogênio. O diagnóstico
é feito por meio da história (estágio do ciclo estral) e do exame da vagina. Se a
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 825
Vaginite
A inflamação da vagina pode ocorrer nas cadelas pré-púberes ou adultas,
intactas ou castradas. É rara nas gatas. A vaginite geralmente se deve a uma
infecção bacteriana, que pode ser secundária a anormalidades conformacionais,
tais como as estenoses vestibulovaginais. As infecções virais (herpes), os corpos
estranhos vaginais, as neoplasias, a hiperplasia da vagina, os esteróides androgê-
nicos (por exemplo, a mibolerona) ou as condições intersexuais também podem
causar uma vaginite.
O sinal clínico mais comum corresponde a uma descarga vulvar. Também se
podem observar a lambedura da vulva, a atração dos machos e uma micção
freqüente. Não se encontram presentes sinais de enfermidade sistêmica, nem
existem anormalidades no hemograma ou no perfil bioquímico. A ausência dessas
alterações ajuda a diferenciar a vaginite da piometria de cérvix aberta, o diagnóstico
diferencial mais importante. A avaliação diagnóstica deve incluir um exame digital
da vagina, uma vaginoscopia, uma citologia e uma cultura do exsudato e, se
necessário, radiografias ou uma ultra-sonografia abdominais para a avaliação do
útero. Pode-se obter uma cultura vaginal anterior utilizando-se um “swab” de cultura
protegido. A vagina contém uma flora bacteriana normal; portanto, devem-se
interpretar cuidadosamente os resultados da cultura. Um crescimento forte, espe-
cialmente de um único microrganismo, provavelmente é mais significativo do que um
crescimento ligeiro de vários microrganismos.
Devem-se corrigir os fatores predisponentes, tais como o material estranho ou as
anormalidades anatômicas. A infecção bacteriana pode responder a um tratamento
local (duchas vaginais). Nas infecções persistentes, antibióticos bactericidas sistê-
micos e de amplo espectro podem ser necessários. Os animais pré-púberes
freqüentemente não exigem tratamento porque a vaginite quase sempre se resolve
com o primeiro estro. Por esta razão, pode ser sábio o retardamento da ovário-
histerectomia facultativa nos animais afetados até o seu primeiro ciclo estral.
DISTÚRBIOS DO MACHO
Para uma discussão das prostatopatias, ver página 842.
Orquite aguda/epididimite
A inflamação ou infecção aguda dos testículos e/ou do epidídimo pode ser
causada por um trauma, uma infecção (fúngica, bacteriana ou viral) ou uma torção
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 826
testicular. Os sinais clínicos incluem dor e inchaço dos testículos, epidídimos e/ou
escroto. Pode haver ferimentos ou tratos de drenagem na pele escrotal.
Deve-se palpar cuidadosamente o conteúdo escrotal (incluindo o duto deferente
e o plexo pampiniforme) para evidências de torções, material estranho ou lesões
focais dos testículos ou do epidídimo. Deve-se coletar o sêmen para a citologia em
um animal com uma orquiepididimite aguda. Um aspirado com uma agulha fina dos
testículos ou dos epidídimos envolvidos fornece o material para a citologia e a
cultura. Deve-se realizar um teste de aglutinação rápida em lâmina para Brucella
canis.
Se a manutenção da fertilidade do cão não for importante, a castração e
antibióticos bactericidas de amplo espectro por 7 a 10 dias consistem no tratamento
de escolha. As lesões da pele escrotal são tratadas apropriadamente. Se a fer-
tilidade é importante, a terapia para a orquite bacteriana consiste em antibióticos
bactericidas de amplo espectro. Os agentes antifúngicos são indicados para as
infecções fúngicas. Além disso, os agentes antiinflamatórios (por exemplo, a pred-
nisona [0,5mg/kg, diariamente] ou a aspirina [10mg/kg, duas vezes ao dia]) e a
hipotermia local (por exemplo, compressas de água fria) podem reduzir o dano
testicular causado pelo inchaço e pela hipertermia locais.
O prognóstico para a manutenção da fertilidade é reservado apesar da terapia
agressiva, devido ao potencial para um dano irreversível no epitélio germinativo,
uma degeneração tubular, um desenvolvimento de orquite imunomediada ou um
bloqueio do sistema de dutos com restos necróticos e tecido fibroso. Estas seqüelas
podem levar meses para ocorrer. Não há tratamento de sucesso para a infecção por
B. canis. Todos os agentes antifúngicos interferem na espermatogênese, direta ou
indiretamente. O dano isquêmico causado pela torção testicular se torna irreversível
dentro de horas.
Orquite crônica/epididimite
A orquiepididimite crônica pode-se desenvolver como uma seqüela da síndrome
aguda, ou pode surgir sem nenhuma história anterior de inflamação testicular. As
causas possíveis incluem as da orquiepididimite aguda, da orquite/epididimite
imunomediada, da neoplasia e da formação de uma espermatocele ou de um
granuloma. A apresentação clínica comum é a infertilidade; a maioria dos animais
é, por outro lado, assintomática. O exame físico pode revelar uma atrofia e uma
fibrose testiculares. A palpação do epidídimo pode revelar um endurecimento ou um
aumento de volume. Os tumores podem ser palpáveis.
Os testes diagnósticos devem incluir o exame citológico do sêmen com uma
cultura bacteriana e micoplasmal e um teste de aglutinação rápida em lâmina para
Brucella canis. Uma aspiração com agulha fina, especialmente das lesões focais,
freqüentemente é útil. Podem-se realizar uma biópsia testicular para histopatologia
e uma cultura bacteriana quando se tiverem esgotado os testes diagnósticos menos
invasivos.
O tratamento é difícil porque freqüentemente não se conhece a causa básica.
Se as culturas bacterianas forem positivas, devem ser administrados antibióticos
sistêmicos apropriados por ≥ 3 semanas. Se a histopatologia for sugestiva de um
processo imunomediado (uma infiltração plasmocítica, linfocítica), pode-se indi-
car o tratamento com drogas imunossupressoras (por exemplo, a prednisona, a
1mg/kg de peso corporal, duas vezes ao dia). No entanto, como um resultado dos
efeitos inibitórios no eixo hipotalâmico–hipofisário–gonadal, os glicocorticóides
podem causar uma atrofia testicular e uma infertilidade. O prognóstico para o
retorno da fertilidade é grave. O tratamento para a neoplasia testicular é a cas-
tração.
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 827
Balanopostite
A inflamação da cavidade prepucial é comum nos cães. A balanopostite suave,
que resulta em uma descarga prepucial mucopurulenta ligeira, se encontra presente
em muitos cães adultos e possui pouca importância clínica. Traumatismo, lacera-
ções, neoplasia, corpos estranhos ou fimose podem resultar no desenvolvimento de
uma balanopostite severa. A balanopostite é rara nos gatos.
Os sinais incluem uma descarga prepucial mucopurulenta, o inchaço do prepúcio
e possivelmente dor. Devem-se examinar o pênis e o prepúcio completamente
quanto aos fatores predisponentes básicos. As culturas bacterianas da cavidade
prepucial, embora algumas vezes difíceis de interpretar devido à flora normal, são
úteis na identificação de microrganismos incomuns ou de sensibilidades antibióticas
nos casos refratários.
O tratamento inclui a correção de quaisquer fatores predisponentes, a limpeza e
a lavagem completa da cavidade prepucial com um anti-séptico suave (por exemplo,
uma ducha de povidona-iodo) ou com uma solução salina estéril e a infusão de uma
pomada antibiótica na cavidade prepucial por 7 a 10 dias. Deve-se combinar isso
com 7 a 10 dias de antibióticos sistêmicos de amplo espectro, caso se encontre
presente uma enfermidade sistêmica. A recidiva da balanopostite suave é comum,
apesar da terapia. A castração pode ser útil.
Parafimose
A incapacidade de retrair completamente o pênis na cavidade prepucial ocorre
geralmente após a ereção e o desenvolvimento de uma fimose funcional. É
observada mais freqüentemente após uma coleta de sêmen ou coito. A pele no
orifício prepucial torna-se invertida e prejudica a drenagem venosa do pênis. As
outras causas incluem uma fimose suave, objetos estranhos ao redor do pênis, um
traumatismo ou uma balanopostite crônica. Deve-se diferenciar a parafimose do
priapismo, do prepúcio congenitamente encurtado, da deformidade congênita da
abertura do pênis ou da paralisia dos músculos refratores deste.
A parafimose é uma emergência médica. O pênis exposto se torna edematoso,
ressecado e dolorido. Se não for tratada, pode-se desenvolver uma ulceração, uma
necrose isquêmica e/ou uma gangrena. Se for reconhecida precocemente, antes de
se desenvolver o edema severo e a dor, a parafimose é tratada facilmente. Desliza-
se gentilmente o prepúcio em uma direção posterior e expõe-se posteriormente o
pênis – isto everte a pele no orifício prepucial; depois o prepúcio geralmente desliza
facilmente pelo pênis. No caso da parafimose devida a outras causas ou de duração
mais longa, exige-se uma sedação ou uma anestesia geral. Pode ser necessária a
excisão da pele prepucial para se examinar completamente a cavidade do prepúcio,
remover o material restritivo e aliviar a obstrução venosa. Após o restabelecimento
da circulação, o banho do pênis exposto em soluções frias ou hipertônicas pode
ajudar também na redução do inchaço. Recoloca-se então o pênis na cavidade
prepucial e fecha-se a incisão. Se a uretra estiver danificada, pode-se necessitar de
um cateter urinário interno para impedir a formação de uma estenose. Se a necrose
ou a gangrena for severa, podem ser necessárias a amputação do pênis e do
prepúcio e a castração.
Fimose
É uma incapacidade congênita ou adquirida de protrair o pênis através de um
orifício prepucial anormalmente pequeno. Pode-se desenvolver devido a uma infla-
mação, uma neoplasia, um edema ou uma fibrose após um traumatismo, uma
irritação ou uma infecção. Os sinais clínicos são variáveis. Geralmente, não se nota
o problema até que o cão tente cruzar e seja incapaz de copular. O diagnóstico se
Doenças do Sistema Reprodutivo, Pq An 828
TUMORES MAMÁRIOS
A freqüência da neoplasia mamária nas diferentes espécies varia em um grau
surpreendente. O cão é de longe a espécie doméstica mais freqüentemente afetada.
A prevalência nos cães é de , 3 vezes a das mulheres; , 50% de todos os tumores
na cadela são tumores mamários. No gatos, a prevalência dos tumores linfóides e
cutâneos é mais alta. Os tumores mamários são raros nas vacas, nas éguas, nas
cabras, nas ovelhas e nas porcas. Existem diferenças tanto no comportamento
biológico como na histologia dos tumores mamários nos gatos e nos cães. Embora
ambos sejam animais de estimação domésticos e possuam uma dieta, um ambiente
e uma expectativa de vida semelhantes, a prevalência é mais alta nos cães; no
entanto, somente , 45% desses tumores são malignos nos cães, enquanto , 90%
deles são malignos nos gatos. Os cães apresentam um número muito mais alto de
tumores mistos e complexos que os gatos.
Etiologia – Desconhece-se a causa dos tumores mamários em qualquer espécie
exceto nos camundongos, nos quais um oncornavírus é o causador em determina-
das linhas isogênicas. Os hormônios exercem um papel importante na hiperplasia e
na neoplasia do tecido mamário, mas desconhece-se o mecanismo exato. Os
trabalhos recentes nos animais demonstraram receptores de estrogênios e/ou de
progesterona nas células tumorais mamárias, o que pode influenciar a patogenia de
uma neoplasia mamária induzida por hormônios, bem como a resposta a uma
hormonioterapia.
Têm-se identificado efeitos genéticos e nutricionais na neoplasia mamária nos
camundongos e em algumas pessoas, mas não nos cães e nos gatos. De um ponto
de vista prático, todos os tumores mamários devem ser considerados potencialmen-
Tumores Mamários 830
MASTITE, GR AN
É a inflamação da glândula mamária, que quase sempre se deve aos efeitos de
uma infecção por patógenos bacterianos ou micóticos. Embora possua maior
importância econômica nas vacas leiteiras, ela pode afetar outras espécies e é
tratada em grande parte da mesma maneira em cada uma delas. A seguir,
apresentam-se separadamente notas breves acerca da mastite nas ovelhas, nas
cabras, nas porcas e nas éguas (ver também as discussões em INTERAÇÕES MANEJO–
DOENÇA na seção MCN.)
Os fatores que predispõem à infecção no interior da glândula são a higiene
precária na ordenha, as falhas na ordenhadeira, o manejo deficiente da ordenha, as
lesões nas tetas, os ferimentos nas tetas e as populações ambientais de patógenos.
A infecção é diagnosticada por meio da cultura e da identificação do patógeno a
partir de uma amostra de leite coletada assepticamente. A mastite é detectada por
sinais clínicos ou resultados de testes projetados para detectarem aumentos no
número de leucócitos no leite (nos casos subclínicos). Nos casos clínicos, um
diagnóstico provisório geralmente se baseia nos sinais e no conhecimento dos
patógenos predominantes no rebanho, mas deve-se confirmá-lo por meio de uma
cultura. Utilizam-se os testes de sensibilidade nos isolados para determinar ou
confirmar a adequação dos antibióticos utilizados na terapia.
Os 4 tipos clínicos da mastite são: 1. superaguda – o inchaço, o calor, a dor e a
secreção anormal na glândula são acompanhados de febre e outros sinais de um
distúrbio sistêmico, tais como uma depressão acentuada, um pulso rápido e fraco,
um afundamento dos olhos, fraqueza e anorexia completa; 2. aguda – as alterações
na glândula são semelhantes às anteriores, mas a febre, a anorexia e a depressão
são leves a moderadas; 3. subaguda – não há alterações sistêmicas e as alterações
na glândula e na sua secreção são menos acentuadas; e 4. subclínica – a reação
Mastite, Gr An 832
14cm, da extremidade do tubo até o ponto mais baixo da queda). Os tubos curtos
impedem a massagem adequada e permitem a congestão da extremidade da teta.
g) A remoção inadequada do conjunto. Deve-se liberar primeiro o vácuo e remover
as teteiras logo após a vaca ter completado a ordenha, para se evitar a superordenha.
h) O estímulo inadequado antes da aplicação do conjunto de teteiras.
2. Observar e corrigir a higiene da ordenha. Um sistema de higiene recomendado
consiste em: a) Ordenhar completa e inicialmente 1 a 2 jatos de leite. b) Lavar as
tetas em água corrente limpa ou higienizada e secá-las com toalhas de papel
descartáveis. c) Banhar as tetas em imersão no final da ordenha em uma solução
de hipocloreto (4% de cloro disponível), uma solução de clorexidina (a 0,5%), uma
solução de iodóforo (5.000 a 10.000ppm de iodo) ou um outro banho de imersão
efetivo. d) Os ordenhadores devem usar luvas de borracha e desinfetar suas mãos
quando passarem de vaca para vaca, especialmente em situações de surto. e) Para
controlar a mastite coliforme, banhar as tetas em imersão antes da ordenha em
2.500 a 5.000ppm de iodóforo e secá-las com uma toalha. Banhar as tetas em
imersão continuamente após a ordenha, mas utilizar um banho de imersão com
hipocloreto para evitar níveis volumosos de iodo no leite que excedam os limites
aceitáveis.
3. Detectar as vacas infectadas por meio de TMC (ver pág. 832) repetidos ou de
culturas e contagens de células. Cultivar todos os casos clínicos. Isolar as vacas
infectadas e ordenhá-las por último. Ordenhar primeiro as novilhas limpas, depois
as vacas recentemente tratadas e finalmente as vacas infectadas.
4. Tratar as infecções clínicas à medida que elas ocorrem e as infecções
subclínicas na secagem (especialmente as infecções por Str. aureus e estrep-
tocócicas). Podem-se tratar as vacas portadoras de infecções por Str. agalactiae
durante a lactação com um grau razoável de sucesso. Tratar todos os quartos na
secagem com uma infusão antibiótica de longa ação apropriada.
5. Descartar todas as vacas que apresentarem 3 a 5 ou mais ataques clínicos
de mastite durante a lactação, que tenham falhado em responder a uma terapia
repetida (incluindo a terapia da vaca seca) ou apresentarem contagens de células
somáticas persistentemente altas.
6. Examinar todas as introduções ao rebanho por meio da palpação do úbere, da
cultura e do TMC da secreção de todos os quartos.
7. Controlar as rachaduras e as fissuras das tetas e a pseudovaríola bovina por
meio de medidas apropriadas, já que elas podem predispor a uma alta incidência de
mastite.
8. Manter o interesse e a consciência do proprietário quanto ao problema da
mastite por meio de discussões regulares dos resultados da cultura e da contagem
de células (ou do TMC) de amostras mensais do tanque de volume, de amostras pré-
tratamento preservadas de todos os casos clínicos e de análises mensais das
contagens de células somáticas dos registros do rebanho e dos animais em trata-
mento.
de mastite nos caprinos (ver também pág. 796). O último agente também causa
septicemia, poliartrite, pneumonia e encefalite, junto com uma doença séria e
mortalidade nos cabritos lactentes. Também se tem descrito a Mycoplasma capricolum
como causadora de uma mastite severa nos caprinos e de uma infecção nos
cabritos. As cabras geralmente se recuperam em , 4 semanas.
Como nas vacas, os microrganismos Gram-negativos causam infecções intermi-
tentes que podem ser severas, mas que são geralmente autolimitantes. A
Corynebacterium pyogenes produz algumas vezes abscessos nodulares múltiplos.
Os programas para diagnóstico, controle e tratamento da mastite bacteriana nos
caprinos são semelhantes aos das vacas. A higiene da ordenha e do ambiente
precisa ser boa para reduzir a prevalência e o alastramento da infecção. Os caprinos
cronicamente infectados devem ser descartados assim como os caprinos com
infecções por M. mycoides mycoides e os que não se recuperarem de infecções por
M. putrefaciens ou M. capricolum.
METRITE, GR AN
É a inflamação das camadas muscular e endometrial do útero. Quase sempre
ocorre uma metrite aguda após um parto anormal ou uma contaminação uterina
grosseira. O retardamento da involução uterina é um fator predisponente importan-
te. Ela é acompanhada freqüentemente pela retenção da placenta (ver pág. 346).
Os contaminantes entram no útero durante o parto e estabelecem a infecção,
especialmente em associação com o estresse causado por uma distocia, um
abortamento, uma doença sistêmica intercorrente ou má nutrição. Comumente,
ocorre uma descarga fétida a partir do útero. Nos animais severamente afetados, o
útero fica atônico e nas vacas e nas éguas podem-se acumular vários litros de fluido.
Os sinais sistêmicos incluem febre, anorexia, depressão e, nas éguas, toxemia e
laminite. O útero pode ficar inchado e tão frágil que se deve ter cuidado ao examiná-
lo. A manipulação do útero por meio da palpação retal pode causar uma perimetrite.
O tratamento deve ser tanto sistêmico quanto local com antimicrobianos de
amplo espectro. Os tratamentos sistêmicos (indicados quando se encontram
presentes sinais sistêmicos) incluem trimetoprim com sulfadoxina, tetraciclinas,
ampicilina (especialmente quando também se encontrar presente uma infecção do
trato urinário) e penicilina. A evacuação do conteúdo uterino é essencial antes do
tratamento local. A ocitocina é geralmente efetiva dentro de 48h de parto. Deve-se
utilizar um sifão se houver uma resposta fraca.
No caso do tratamento local do útero pós-parto das vacas, alguns medicamentos
em concentrações prováveis de serem atingidas no útero são inefetivos contra as
bactérias comuns (por exemplo, a Corynebacterium pyogenes ). Algumas drogas ou
seus veículos omitem respostas inflamatórias severas no endométrio. O ambiente
anaeróbico do útero pós-parto pode ser insatisfatório para algumas drogas (por
Metrite, Gr An 840
cesariana. Os bezerros vivos nascidos por meio de uma cirurgia cesariana são
hipoglicêmicos e apresentam uma síndrome semelhante a um hipoadrenocorticismo.
Uma terapia contínua de suporte e com corticosteróides pode manter esses
bezerros vivos, mas não é prática.
Uma segunda forma de gestação prolongada, que ocorre nos bovinos guernsey
e vermelho e branco suecos, se deve a uma aplasia da hipófise e a uma ausência de
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) suficiente para estimular a liberação de
glicocorticóides. As características desses fetos incluem uma suspensão do cresci-
mento com , 7 meses de gestação, deformação dos membros, alopecia e hidrocefalia,
anencefalia ou ciclopia. As adrenais também podem ficar hipoplásicas ou se
encontrar ausentes. Esses fetos podem viver in utero por longos períodos, e têm-se
descrito gestações de até 18 meses. O parto ocorre após a morte do feto.
Tem-se associado uma outra forma de gestação prolongada nos bovinos
holstein com a herniação cerebral (marca de Catlin) no feto. Tal feto continua a
crescer in utero e pode-se iniciar o parto 20 a 60 dias mais tarde, resultando em
uma distocia devida a um feto maior que o normal. As características desses fetos
incluem uma herniação cerebral, uma inclinação da testa e uma redução da
cavidade cranial. A hipoplasia das adrenais ou a aplasia da hipófise também tem
sido descrita.
A ingestão da Veratrum californicum por parte da ovelha entre o 14º e o 30º dias
de gestação interfere no desenvolvimento do SNC (ver pág. 699) e resulta em
deformidades severas da cabeça e da face, ciclopia, hipoplasia ou aplasia da
hipófise e gestação prolongada . Esses fetos continuam a crescer in utero até os 230
dias e podem resultar na morte da ovelha se não forem removidos por meio de uma
cirurgia cesariana. A Veratrum album, encontrada na Europa, pode causar uma
afecção semelhante no feto quando ingerida pelos bovinos.
Tem-se descrito uma gestação prolongada associada a fetos gigantes nos
ovinos karakul. Acredita-se que esses ovinos consumam um arbusto (Salsola
tuberculata) que inibe os fatores liberadores hipotalâmicos fetais. As ovelhas
afetadas não desenvolvem um aumento de volume do úbere pré-parturiente normal.
Os fetos apresentam hipófises pequenas e adrenais hipoplásicas.
Nos casos de gestação prolongada, pode-se induzir o parto por meio de uma
injeção IM de glicocorticóides. Análogos das prostaglandinas ou combinações
destas e glicocorticóides também podem ser utilizados (ver também FALHA DA
FUNÇÃO ENDÓCRINA FETAL, pág. 313).
PROSTATOPATIAS
Incomuns a raras nas outras espécies, as prostatopatias são comuns nos
cães. Elas incluem a hiperplasia prostática benigna, a prostatite bacteriana, os
abscessos prostáticos, os cistos prostáticos e paraprostáticos e a neoplasia
prostática; todos apresentam sinais clínicos semelhantes porque todos causam
o aumento de volume ou a inflamação prostática. Os sinais mais comuns
incluem o tenesmo, o gotejamento de sangue do pênis, a hematúria e as
infecções recidivantes do trato urinário. Os sinais inespecíficos adicionais (tais
como a febre, a indisposição e a dor abdominal caudal) se encontram freqüen-
temente presentes com as infecções bacterianas e as neoplasias. O adenocar-
cinoma prostático com metástases vertebrais pélvicas e lombares pode causar
anormalidades na andadura. O aumento de volume prostático pode interferir
mecanicamente como nos outros órgãos abdominais. As prostatopatias podem
Prostatopatias 843
CÁLCULOS
Quando ocorrem (raramente) cálculos prostáticos, também existem geralmente
outras prostatopatias. Os cálculos prostáticos radiopacos raramente são achados
incidentais nas radiografias abdominais.
NEOPLASIAS
O adenocarcinoma é a neoplasia mais comum da próstata. O carcinoma das
células de transição que surge na bexiga ocasionalmente invade a próstata. A
castração não é protetora contra o futuro desenvolvimento de uma neoplasia
prostática nos cães.
Os sinais clínicos da neoplasia prostática são semelhantes aos das outras
prostatopatias. Podem-se encontrar presentes dor e febre. Se a neoplasia se infiltrar
na uretra, uma disúria ou uma obstrução uretral torna-se provável. O adenocarcino-
ma prostático se metastatiza nos linfonodos regionais, nas vértebras lombares e nos
ossos da pelve. O alastramento para locais distantes (tais como os pulmões) é
incomum até o final do curso da doença. As metástases ocorrem freqüentemente
antes que se realize o diagnóstico. Sempre que uma prostatopatia causar uma
obstrução uretral nos cães, a neoplasia deve receber a mais alta consideração. Da
mesma forma, uma prostatomegalia em um cão anteriormente castrado é altamente
sugestiva de uma neoplasia. O diagnóstico se faz por meio de uma biópsia.
Não há tratamento efetivo. Recomenda-se uma consulta com um oncologista
veterinário.
PROSTATITE
A inflamação da glândula prostática é geralmente supurativa e pode resultar em
abscessos. Ela pode se associar com uma hiperplasia prostática (ver anteriormen-
te). Vários microrganismos têm sido incriminados. A infecção pode ser hematogênica
ou ascendente a partir da uretra. Como o fluido prostático normalmente reflui para
o interior da bexiga, a infecção do trato urinário freqüentemente acompanha a
infecção prostática.
Os sinais lembram os da hiperplasia prostática. Além disso, são comuns
indisposição, dor e febre. Podem ocorrer desidratação, septicemia e choque nos
casos severos de prostatite bacteriana aguda ou de abscessos prostáticos.
Os achados históricos, físicos e radiográficos sugerem uma prostatite bacteriana
aguda e abscessos. Uma neutrofilia com um desvio à esquerda, uma monocitose e/ou
leucócitos tóxicos podem ser observados. A ultra-sonografia apresenta áreas hipoecóicas
compatíveis com bolsas de fluido. Obtém-se idealmente o material prostático por meio
da ejaculação, de uma massagem prostática ou de uma aspiração com agulha fina para
exame citológico e para cultura e testes de sensibilidade. A massagem de uma próstata
agudamente infectada pode liberar microrganismos no sangue e causar uma bactere-
mia/septicemia. Por essa razão, outros métodos são preferidos. A aspiração com
agulha fina pode liberar microrganismos na cavidade peritoneal. Os cães com prostatite
bacteriana aguda ou abscessos podem ficar relutantes à ejaculação. A urinálise exibe
uma hematúria, uma piúria e uma bacteriúria. Deve-se enviar a urina para cultura e teste
de sensibilidade. Freqüentemente, a urina e o material prostático produzem os mesmos
microrganismos.
A prostatite bacteriana crônica pode não causar nenhum sinal clínico, exceto uma
infecção recidivante do trato urinário. As anormalidades físicas podem-se limitar ao
trato urinário. O tamanho e a forma prostáticos podem ficar normais. Os cães com
prostatite bacteriana crônica ficam geralmente propensos à ejaculação. O fluido
prostático e a urina devem ser enviados para exames citológico e microbiológico.
Também se pode utilizar a massagem prostática ou a aspiração com agulha fina
para a obtenção de amostras.
No caso de desidratação ou choque indica-se a fluidoterapia. Os antibióticos
devem ser selecionados com base no teste de sensibilidade e administrados por 1
a 2 semanas. Os abscessos prostáticos grandes são melhor tratados por meio de
uma drenagem cirúrgica. Pode-se considerar a castração após o controle da
infecção. Devem-se cultivar novamente a urina e/ou o fluido prostático após a
antibioticoterapia e 2 a 4 semanas mais tarde, para se certificar de que a infecção
foi resolvida.
A prostatite bacteriana crônica pode ser difícil de se resolver. A antibioticoterapia
deve continuar por ≥ 4 semanas. As culturas devem ser repetidas durante, e por
vários meses após a antibioticoterapia, para se verificar se a resistência ou uma
infecção persistente se desenvolve. Os benefícios da castração para o tratamento
da prostatite bacteriana crônica são incertos; no entanto, parece razoável que a
involução prostática após a castração ajudaria pelo menos a impedir a recidiva da
infecção.
Retenção da Placenta, Gr An 846
RETENÇÃO DA PLACENTA, GR AN
VACAS
As membranas fetais são normalmente expulsas dentro de 12h do parto;
considera-se retardada a expulsão que ocorrer 12 a 24h após o parto, e consideram-
se retidas as membranas que não forem expulsas dentro de 24h. A incidência da
retenção de placenta após um parto normal é de 3 a 12%. Após nascimentos
anormais, ou quando o trato reprodutivo se encontra infectado, 20 a 50% das vacas
podem ser afetadas.
Na expulsão placentária normal, os placentomas começam a se soltar durante
o final da prenhez. A colagenização dos tecidos conjuntivos maternos e fetais no
placentoma constitui a principal alteração. Durante o parto, as alterações na pressão
uterina, a alteração no fluxo sangüíneo e o achatamento do placentoma contribuem
para a expulsão imediata. A retenção pode-se relacionar com os placentomas
imaturos, como no nascimento prematuro ou no aborto; com a placentite ou a
inflamação cotiledonária, como nas infecções bacterianas ou micóticas; com o
edema dos vilos coriônicos devido a qualquer causa; e com a atonia uterina ou o
retardamento da involução. As doenças específicas associadas com o aborto (por
exemplo, a brucelose) são causas importantes da retenção da placenta. Também
se reconhecem várias etiologias metabólicas e nutricionais.
Geralmente, observam-se membranas descoloridas e em degeneração pendu-
radas a partir da vulva após 24h. Ocasionalmente, elas podem persistir dentro do
trato e causar uma descarga de odor fétido. Freqüentemente, não há enfermidade
sistêmica, mas a produção de leite e o apetite podem ser reduzidos. Pode ocorrer
um envolvimento sistêmico quando o útero fica atônico ou traumatizado. O fecha-
mento da cérvix antes da expulsão das membranas pode precipitar uma metrite
severa com sinais sistêmicos.
Tem-se substituído a remoção manual tradicional da placenta retida por um
método mais conservativo, que é menos traumático e geralmente menos complica-
do. Nas vacas que não apresentarem sinais de doença sistêmica, uma tração gentil
diária nas membranas será geralmente suficiente para causar a expulsão em
poucos dias. Deve-se remover o tecido em excesso para evitar-se uma contamina-
ção grosseira posterior do trato. Os exames e os tratamentos locais devem ser
realizados com uma higiene exemplar.
Quando se notam sinais de enfermidade sistêmica, indica-se uma terapia intra-
uterina. As tetraciclinas são a melhor escolha devido à produção de penicilinase ser
característica da flora típica associada com a metrite nas vacas (o que torna a
penicilina ineficiente), ao envolvimento das bactérias anaeróbicas limitar a efetividade
dos aminoglicosídios e aos restos teciduais no útero das vacas afetadas inativarem
as sulfonamidas. Não se provou que a terapia anti-séptica seja benéfica. Os
antibióticos sistêmicos devem ser administrados, quando houver febre ou trauma ou
necrose do trato.
Aconselha-se um exame de acompanhamento em 10 a 20 dias para se determi-
nar se está presente uma metrite residual numa tentativa de redução do intervalo de
partos.
ÉGUAS
A placenta normalmente é expulsa dentro de 3h do parto, mas pode-se retardá-
la em até 8 a 12h sem seqüelas inconvenientes. A retenção além disso é incomum
e tende a se associar com uma infecção, uma distocia ou uma atonia uterina. Os
casos não complicados podem ser tratados por meio da administração de ocitocina,
Postite e Vulvite Ulcerativas 847
tanto em pequenas doses IM repetidas (20 a 30u) como por gotejamento EV lento
de 50 a 100u por 1 a 2h. Pode-se notar um desconforto associado com a contração
uterina.
Como as bactérias se multiplicam logaritmicamente após 8h, torna-se prudente
o início de uma antibioticoterapia local e sistêmica quando a retenção excede o seu
tempo. Sempre que se medicar ou explorar manualmente o útero, são imperativas
a higiene e a suavidade. Pode-se combinar a exploração com a administração local
de um medicamento para se reduzir o número de vezes de invasão uterina. A
manipulação cuidadosa das membranas pode resultar em sua separação, mas em
nenhum caso se justifica a extração vigorosa.
As complicações mais sérias da retenção da placenta nas éguas são a metrite,
a septicemia e a laminite. Para minimizá-las, torna-se útil a lavagem uterina com
grandes volumes de água ou de solução salina mornas.
OUTRAS ESPÉCIES
Nas ovelhas e nas cabras, geralmente são utilizados tratamentos local e
sistêmico para prevenção de infecções e uma tração gentil das membranas. A
placenta retida é geralmente expulsa dentro de 2 a 10 dias.
Nas porcas, os sinais de enfermidade sistêmica e uma descarga purulenta que
contém pequenos pedaços de membrana indicam um caso incomum de retenção
de placenta. Se observada precocemente, uma ocitocina pode ajudar. Indica-se um
tratamento intensivo para combater a infecção.
baixo dos jarretes do animal afetado. Nas porcas, ocorre uma exceção, na qual
pode-se reverter um corno enquanto os leitões não nascidos no outro corno
impedem um prolapso posterior.
Nas vacas, o tratamento envolve a remoção da placenta (se ainda estiver presa)
e a limpeza completa da superfície endometrial. Retorna-se então o útero para a sua
posição normal por um de vários métodos. Primeiro, deve-se administrar uma
anestesia epidural. Se a vaca ficar de pé, deve-se limpar o útero, elevá-lo ao nível
da vulva sobre uma bandeja (ou por meio de uma maca segura por 2 assistentes)
e então recolocá-lo por meio da aplicação de uma pressão anterior firme, começan-
do na porção cervical e progredindo gradualmente para o ápice. Uma vez recolo-
cado o útero, deve-se inserir a mão na extremidade de ambos os cornos uterinos
para se certificar de que não haja uma invaginação remanescente. Se a vaca ficar
em decúbito, deve-se posicioná-la com os quartos posteriores elevados para
movimentá-la para uma área inclinada ou para colocá-la em decúbito esternal com
as patas traseiras estendidas para trás.
Um método alternativo envolve a elevação dos quartos posteriores com algum
tipo de elevador preso às patas anteriores, colocando assim a vaca em decúbito
dorsal. Recoloca-se o útero como indicado anteriormente. Nas porcas e nos
pequenos animais, pode-se conseguir a reposição por meio da manipulação simul-
tânea do útero, a partir do exterior com uma mão e por uma incisão abdominal com
a outra. Indica-se a ressecção do útero prolapsado nos casos de longa posição em
pé em que ocorreu necrose tecidual. Uma vez que o útero esteja em sua posição
normal, antibióticos são colocados no mesmo, administra-se ocitocina e faz-se uma
sutura de Caslick na vulva. As infusões de solução salina estéril e morna podem
ajudar a evitar a recidiva.
O prognóstico depende do grau de lesão e de contaminação do útero. A
reposição imediata de um útero limpo e minimamente traumatizado permite um
prognóstico favorável. Não há tendência da afecção para recidivar nos partos
subseqüentes. As complicações tendem a se desenvolver quando ocorrem lacera-
ção, necrose e infecção, ou quando se retarda o tratamento. O choque, a hemorragia
e o tromboembolismo são seqüelas comuns de um prolapso prolongado e requerem
uma terapia de suporte agressiva. Em alguns casos, a bexiga e os intestinos podem-
se prolapsar no útero evertido. Isso requer uma recolocação cuidadosa antes da
recolocação do útero. Pode-se drenar a bexiga com um cateter ou uma agulha
através da parede uterina. A elevação dos quartos posteriores e a pressão no útero,
ajudam na reposição da bexiga e dos intestinos. Pode-se tornar necessária a incisão
do útero para se recolocarem esses órgãos.
Na vaca, a amputação do útero severamente traumatizado ou necrótico pode ser
o único meio de salvação do animal. O tratamento de suporte e a antibioticoterapia
são indicados.
VAGINITE E VULVITE, GR AN
A contusão ou a laceração da vagina e da vulva resulta freqüentemente de um
parto. Infreqüentemente, uma vaginite traumática pode resultar de uma lesão
maliciosa, de uma cobertura por parte de um touro grande e vigoroso ou de um
prolapso da vagina (ver anteriormente). A vagina inflamada fica dolorosa e edema-
tosa, e há freqüentemente um exsudato fétido, que indica uma infecção bacteriana.
As lacerações vaginais se limitam geralmente à área retroperitoneal e são comuns
uma celulite com um edema acompanhante, uma necrose e uma descarga fétida,
freqüentemente com uma metrite aguda acompanhante. Podem ocorrer tenesmo e
um inchaço da vulva. O grau de depressão, anorexia e febre depende da severidade
da infecção. Ocasionalmente se estabelece um edema maligno (ver pág. 395) no
tecido lesado.
O exame e o tratamento devem ser realizados com uma mão enluvada, bem
lubrificada e limpa para se minimizar a dor e a distensão. Se as membranas fetais
forem retidas, elas devem ser removidas, caso isto possa ser feito rápida e
facilmente. Como a metrite (ver pág. 839) geralmente se encontra presente, deve-
se tratá-la. Os antibióticos colocados no útero escapam através da vagina e ajudam
no tratamento da infecção lá presente. Preparações antibióticas oleosas podem ser
colocadas na vagina com um cateter. Os animais com vaginite severa devem ser
tratados por meio de sulfonamidas ou antibióticos parenterais. O tenesmo na
vaginite traumática geralmente é transitório ou causado pelo exame; deve-se
controlá-lo por meio de uma anestesia epidural. As alterações inflamatórias geral-
mente impedem o prolapso nesses casos.
A vaginite granular é caracterizada por nódulos esféricos, a , 1mm de diâmetro
na mucosa vulvar dos bovinos. Pode ocorrer uma hiperplasia semelhante nos
folículos linfáticos do pênis do touro. Ela consiste em uma resposta hiperplásica
inespecífica do tecido linfático dessas áreas a um irritante ou a um antígeno. A
vulvovaginite infecciosa pustular (VIP, ver pág. 884) é uma doença na qual pode
ocorrer uma hiperplasia após a recuperação de uma infecção aguda. Nos outros
casos, desconhece-se freqüentemente o estímulo da hiperplasia. Não se indica o
tratamento das fêmeas, e a afecção regride espontaneamente em várias semanas
a vários meses. Afetam-se mais freqüentemente os animais jovens, pois estes
experimentam uma maior exposição a novos antígenos. Nas fêmeas, a afecção não
se relaciona com a fertilidade, embora o agente predisponente possa influenciar
esta última.
A vaginite mucopurulenta (algumas vezes com uma cervicite, uma endometrite
e uma balanopostite associada nos touros) é difícil de se definir etiologicamente. Às
vezes, envolvem-se claramente os vírus, incluindo o herpesvírus da VIP e o vírus da
“Epivag” na África do Sul. As bactérias, tais como os estreptococos, os coliformes,
as corinebactérias e os micoplasmas, se encontram freqüentemente presentes. Em
alguns rebanhos ocorrem surtos após a cobertura; freqüentemente, não existem
infecções mais profundas associadas e não se prejudica a fertilidade. Postula-se
uma etiologia viral. A Haemophilus somnus (ver pág. 728) pode exercer um papel,
já que tem sido freqüentemente isolada a partir de rebanhos afetados. A recupera-
ção espontânea é comum. Quando há infertilidade, o tratamento com antibióticos
freqüentemente não compensa. Indica-se a suspensão da cobertura natural e o uso
de inseminação artificial.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
SISTEMA RESPIRATÓRIO, Introdução ...................................................... 854
Princípios Terapêuticos ........................................................................... 859
PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO .................................................................. 860
PNEUMONIA POR CLAMÍDIA ...................................................................... 861
HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA .......................................................................... 862
DOENÇAS DA LARINGE .............................................................................. 863
Paralisia da Laringe ................................................................................. 864
PNEUMONIA HIPOSTÁTICA ........................................................................ 865
INFECÇÃO VERMINÓTICA PULMONAR .................................................... 865
PNEUMONIA MICÓTICA .............................................................................. 870
NECROBACILOSE ........................................................................................ 871
Difteria dos Bezerros ............................................................................... 871
FARINGITE .................................................................................................... 872
ENFISEMA PULMONAR ............................................................................... 874
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DOS BOVINOS ............................................ 874
Complexo de Doenças Respiratórias dos Bovinos .................................. 874
Introdução .......................................................................................... 874
Pneumonia Bovina Induzida por Vírus ............................................... 875
Vírus Parainfluenza-3 .................................................................. 875
Vírus Respiratório Bovino Sincicial .............................................. 875
Pasteurelose Pneumônica ................................................................. 876
Enfisema Pulmonar Bovino Agudo e Edema ........................................... 878
Pneumonia Intersticial Atípica (Doença do Pulmão do Fazendeiro) ........ 879
Pleuropneumonia Contagiosa Bovina ...................................................... 880
Pneumonia Enzoótica em Bezerros ......................................................... 882
Septicemia Hemorrágica .......................................................................... 883
Rinotraqueíte Infecciosa em Bovinos, Vulvovaginite Infecciosa
Pustular e Síndromes Associadas ..................................................... 884
Síndrome do Edema Traqueal do Gado de Engorda .............................. 886
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DOS EQÜINOS ............................................ 887
Introdução ................................................................................................ 887
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (Asma) ......................................... 888
Infecção pelo Herpesvírus Eqüino Tipo 1 ................................................ 889
Infecção por Outros Herpesvírus ....................................................... 892
Influenza Eqüina ...................................................................................... 893
Hemorragia Pulmonar Induzida pelo Exercício ........................................ 894
Doenças das Bolsas Guturais .................................................................. 895
Empiema ............................................................................................ 895
Micose das Bolsas Guturais .............................................................. 895
Timpanismo das Bolsas Guturais ...................................................... 896
Hemiplegia Laríngea (Ronco) .................................................................. 896
Pleurite ..................................................................................................... 898
Abscedação Pulmonar em Potros por Rhodococcus equi ....................... 899
Garrotilho ................................................................................................. 901
Sistema Respiratório 854
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS
(Ver também pág. 1698.) A doença respiratória freqüentemente é caracterizada
por produção anormal de secreções e exsudatos e por uma reduzida capacidade de
removê-los. O objetivo primário é reduzir o volume e a viscosidade das secreções
e facilitar a sua remoção. Isso pode ser efetuado pelo controle da infecção,
modificando as secreções e, quando possível, melhorando a drenagem postural e
removendo o material mecanicamente. Métodos terapêuticos incluem alteração do
ar inspirado, administração de expectorantes, antitussivos, broncodilatadores, anti-
microbianos, diuréticos e outras drogas.
A hidratação deve ser mantida. A inalação de ar umidificado pode facilitar a
remoção das secreções das vias aéreas. Os expectorantes às vezes são usados na
tentativa de liquefazer estas secreções. Entretanto eles devem ser administrados
em associação a uma terapia respiratória auxiliar, como melhora da drenagem
postural, exercícios leves, e percussão torácica, que (em associação com a tosse)
aumenta a expectoração e a remoção das secreções. O valor dos expectorantes nas
dosagens tradicionais é questionável. A remoção mecânica, por aspiração, das
secreções viscosas e pegajosas, pode ser necessária nos casos severos de
obstrução das vias aéreas.
Agentes antitussivos são indicados para aliviar o desconforto associado à tosse
não produtiva, mas são contra-indicados nos casos de secreção mucosa excessiva
das vias aéreas. Produtos que contêm atropina também são contra-indicados, pelo
menos em teoria, porque este agente aumenta a viscosidade das secreções das
vias aéreas.
A maior resistência oferecida pelas vias aéreas, causada pela contração dos
músculos lisos dos brônquios, pode ser aliviada com o uso de broncodilatadores, os
quais são indicados em animais portadores de doenças asmáticas e de doença
respiratória crônica. Metilxantinas, como a teofilina e a aminofilina, são broncodila-
tadores efetivos em todas as espécies, com exceção dos bovinos. Isoproterenol,
clenbuterol e adrenalina em geral também são efetivos; o cromoglicato de sódio é
usado em eqüinos para o tratamento de doenças das pequenas vias aéreas (por
exemplo, asma). O uso de corticosteróides é justificado nos casos alérgicos. As anti-
histaminas podem ser usadas para aliviar a broncoconstrição causada pela libera-
ção de histamina. O broncospasmo também pode ser significantemente reduzido
pela remoção dos fatores irritantes, utilizando-se sedativos leves ou reduzindo-se
os períodos de excitação.
Em casos de infecções bacterianas, a terapia antimicrobiana deve ser instituída.
O objetivo básico é selecionar o agente mais efetivo contra um microrganismo
específico, ou o agente menos tóxico das várias alternativas. Cultura e teste de
Sistema Respiratório, Introdução 860
sensibilidade de secreções das vias aéreas, embora não infalíveis, são os melhores
métodos para determinação da antibioticoterapia apropriada. O conhecimento de
penetração tecidual e das características farmacocinéticas dos agentes antimicro-
bianos também é importante. Os seguintes agentes provaram ser eficientes nas
espécies relacionadas: bovinos – oxitetraciclina, eritromicina, penicilinas e sulfona-
midas; ovinos e caprinos – oxitetraciclina, penicilinas e sulfonamidas; suínos –
lincomicina, espectinomicina, penicilinas e sulfonamidas; cães e gatos – cefalospo-
rina, cloranfenicol, eritromicina, lincomicina, clindamicina, penicilinas, sulfonamidas
e tetraciclinas; eqüinos – penicilinas, sulfonamidas e tetraciclinas, sendo estas
últimas utilizadas com cautela devido ao ocasional efeito colateral de diarréia
severa. Aminoglicosídios são úteis, mas podem ser nefrotóxicos. Trimetoprim
geralmente associado à sulfonamida é útil na terapia respiratória na maioria das
espécies, mas nos EUA não está licenciado para uso em animais de produção.
Novas drogas como a enrofloxacina (aprovada em pequenos mas não em grandes
animais nos EUA) e o ceftiofur podem ser eficazes. Antibióticos de amplo espectro
devem ser usados se a bactéria específica não foi identificada e, uma vez iniciado,
o curso completo da terapia deve ser terminado. Agentes antimicrobianos múltiplos
devem ser usados apenas com o total conhecimento do potencial de interação das
drogas. Devido ao acúmulo de resíduos na carne dos animais de produção, os
veterinários devem utilizar estes produtos adequadamente e avisar os produtores.
A hipoxemia causada pela maioria dos distúrbios pulmonares geralmente pode ser
corrigida pela administração de oxigênio. Entretanto, a administração contínua de
altas concentrações aumenta a tendência à atelectasia de reabsorção regional; isto
agrava a hipoxemia e pode causar pneumonite. A hipoxemia freqüentemente é acom-
panhada por graus variáveis de hipercapnia e acidemia. Intubação endotraqueal e
ventilação mecânica podem ser necessárias em animais com insuficiência respirató-
ria aguda ou em animais comatosos ou apnéicos. As determinações de gases
sangüíneos arteriais e do pH, quando viáveis, são extremamente válidas no tratamento.
Em casos de edema pulmonar, o uso de diuréticos pode ser indicado. Os
diuréticos osmóticos têm uma ação mínima na diurese. Um efeito diurético profundo
pode ser produzido com inibidores da anidrase carbônica (por exemplo, acetazola-
mida) e com diúréticos de curva ativa (por exemplo, furosemida).
uma seqüela rara das muito mais comuns conjuntivite e rinite por clamídia. A clamídia
também tem sido isolada em raras ocasiões de amostras de leitões e potros
pneumônicos. O principal sinal clínico da clamidiose zoonótica no homem é a pneu-
monia, geralmente transmitida por pássaros (ver também pág. 1900).
Etiologia e epidemiologia – O agente causal é a Chlamydia psittaci. Alguns
isolados respiratórios de bezerros têm característica de Imunotipos 1 e 6, e são
semelhantes às cepas coletadas de infecções intestinais ou produtos de aborto de
bovinos e ovinos. O Imunotipo 6 foi coletado de pulmões pneumônicos de bezerros
e suínos. Assim, o trato GI deve ser considerado como um sítio importante na
patogenia das infecções intestinais por clamídias (ver também pág. 164) e como um
reservatório natural e fonte de microrganismos. A pneumonia por clamídia afeta
bezerros tanto sob condições de pastagem como em fazendas de leite. A doença
em ovinos é mais freqüentemente observada em cordeiros de carne de diferentes
locais reunidos em pastos de alimentação ou irrigados. Cordeiros estressados sob
condições de lavoura freqüentemente são sujeitos a várias infecções bacterianas
secundárias, que podem resultar em taxas de mortalidade e morbidade mais altas
que as observadas em casos de clamidiose respiratória não complicada.
Achados clínicos e lesões – Bezerros com pneumonia por clamídia freqüente-
mente estão febris, letárgicos, com uma descarga nasal serosa e posteriormente
mucopurulenta, tosse seca entrecortada e dispnéia. Bezerros recém-desmamados
são afetados mais freqüentemente, mas bovinos mais velhos podem apresentar
sinais. Cordeiros e cabritos apresentam sinais semelhantes.
A lesão pulmonar aguda caracteriza-se por uma pneumonia intersticial lobular.
As porções ântero-ventrais dos pulmões estão consolidadas, mas nos casos
severos, lobos inteiros podem estar envolvidos. A tosse seca ocorre devido à
traqueíte. Alterações pulmonares microscópicas são típicas de broncopneumonia
exsudativa com uma bronquiolite proliferativa e exsudativa.
Diagnóstico – Nem os sinais clínicos, nem as lesões permitem que seja feito um
diagnóstico presuntivo de pneumonia por clamídia; eles não são suficientemente
diferentes dos observados no complexo da doença respiratória bovina/ovina com
suas etiologias múltiplas. O diagnóstico requer isolamento da clamídia dos tecidos
afetados em uma cultura de tecidos ou embrião de galinha. Um aumento nos títulos
de anticorpos, utilizando ELISA, no soro coletado durante os estágios agudo e
convalescente da doença, pode ser um auxílio diagnóstico. Anticorpos IgG2 predo-
minantes são induzidos por infecções por clamídia em bovinos. Clamidiose subclí-
nica não é incomum.
Profilaxia e tratamento – Vacinas não estão disponíveis. Vários agentes
antimicrobianos como penicilina, eritromicina, tilosina e tetraciclinas podem interfe-
rir na multiplicação do agente, mas a tetraciclina geralmente é a droga de escolha.
O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível. Injeções de oxitetraciclina na
dose de 25 a 50mg/kg, diariamente durante 5 a 7 dias, são recomendadas.
HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA
É uma quebra na continuidade do diafragma, com protrusão de vísceras
abdominais no tórax.
Etiologia – A causa geralmente é traumática, embora defeitos congênitos do
diafragma possam resultar em herniação, como observado na hérnia peritonioperi-
cárdica. Em pequenos animais, o atropelamento é uma causa comum, enquanto em
grandes animais, devem-se considerar queda e parto. A prevalência em búfalos
Doenças da Laringe 863
DOENÇAS DA LARINGE
Laringite é a inflamação da mucosa ou das cartilagens da laringe, podendo ser
secundária a uma infecção do trato respiratório superior. Pode-se desenvolver pela
irritação direta provocada pela inalação de poeira, fumaça ou gases irritantes;
corpos estranhos; ou pelo trauma da intubação ou pelo excesso de vocalização. A
laringite pode acompanhar traqueobronquites infecciosas e cinomose em cães;
rinotraqueíte infecciosa e calicivirose em gatos; rinotraqueíte infecciosa e difteria de
bezerros em bovinos; garrotilho; infecção por herpesvírus do Tipo 1; arterite viral;
bronquite infecciosa em eqüinos; infecções por Fusobacterium necrophorum ou
Corynebacterium pyogenes em ovinos e influenza em suínos.
Edema da mucosa e da submucosa geralmente faz parte da laringite; e se for
severo, a glote pode ser significativamente obstruída. Entretanto, o edema também
pode resultar de alergia, inalação de irritantes ou cirurgia na área. A intubação para
a anestesia pode provocar edema de laringe, principalmente quando realizada com
uma indução inadequada ou com técnicas precárias. Cães braquicefálicos e obe-
sos e aqueles com paralisia da laringe (ver adiante) desenvolvem edema da laringe
e laringite, devido ao severo arfar ou ao esforço respiratório durante a excitação ou
hipertermia. Em bovinos, o edema da laringe tem sido observado na febre carbun-
cular, urticária e em enfermidades séricas. Em suínos, pode ocorrer como parte da
doença do edema. Em eqüinos, bovinos e ovinos, o edema da laringe pode levar à
condropatia aritenóidea.
Doenças da Laringe 864
PNEUMONIA HIPOSTÁTICA
É uma condição decorrente da falha do sangue ao passar prontamente através
das estruturas vasculares dos pulmões, o que pode levar à transferência do fluido
do espaço vascular para o pulmonar. Essa condição é devida à congestão passiva
dos pulmões e é vista mais comumente em animais velhos ou debilitados. Ela é
comumente secundária a alguma outra doença, por exemplo, insuficiência cardíaca
congestiva. Animais com paralisia ou que estejam se recuperando de anestesia,
algumas vezes, desenvolvem pneumonia hipostática no caso de não terem se
movimentado regularmente.
Qualquer doença primária deve ser diagnosticada e tratada. A tosse nem sempre
é um sinal proeminente, mas com o desenrolar do processo, dispnéia e cianose se
tornam aparentes. Infecção bacteriana secundária é comum. Radiografias revelam
densidade aumentada do pulmão e o espaço mediastinal pode estar deslocado no
lado que sofreu atelectasia.
A posição na qual o paciente se deita deve ser mudada de hora em hora. O
exercício deve ser encorajado se for compatível com a condição do paciente. Se
for possível determinar a causa primária, terapia específica, por exemplo, digitá-
licos para insuficiência cardíaca congestiva ou clorotiazida para edema, poderá
ser instituída.
Narcóticos e sedativos devem ser utilizados ao mínimo para encorajar movimen-
tos e evitar que o reflexo de tosse seja deprimido. A manutenção de hidratação
adequada é importante, mas não deve ser exagerada: a super-hidratação pode
aumentar a congestão.
PNEUMONIA MICÓTICA
É uma inflamação crônica dos pulmões causada por fungos ou leveduras (tem
sido costumeiro incluir aqui as infecções pulmonares causadas por Actinomyces e
Actinobacillus spp).
Etiologia – Cryptococcus, Histoplasma, Coccidioides, Blastomyces e Aspergillus
spp, juntamente com outros fungos e leveduras, têm sido incriminados como
agentes causadores dessa condição em animais domésticos (ver INFECçõES FúN-
GICAS, pág. 411). Os tecidos e secreções das passagens respiratórias são um
excelente ambiente para esses microrganismos. Infecções fúngicas são freqüen-
temente concomitantes com infecções bacterianas. Acredita-se que a fonte da
maioria das infecções seja o solo e não a transferência horizontal de outros ani-
mais. Considerando-se a alta taxa de exposição a estes patógenos em certas
circunstâncias, existem questões não resolvidas com relação à epidemiologia dessa
condição, incluindo suscetibilidade individual, toxigenicidade dos microrganismos,
papel da imunidade e doença concomitante.
Achados clínicos e lesões – Uma tosse curta e úmida é característica, porém a
condição é mais de debilidade geral. Como em outros tipos de pneumonia, uma
descarga nasal fina e mucóide pode estar presente. À medida que a doença progride,
dispnéia, emaciação e uma fraqueza generalizada se tornam progressivamente
evidentes. A respiração torna-se abdominal, semelhante àquela observada em
hérnias diafragmáticas. À auscultação, sons respiratórios ásperos são ouvidos. Em
casos avançados, os sons respiratórios normais estão diminuídos ou quase inaudíveis.
Necrobacilose 871
NECROBACILOSE
O termo necrobacilose é usado para descrever qualquer doença ou lesão com
a qual Fusobacterium necrophorum (Sphaerophorus necrophorus) esteja associa-
da. Estão incluídos difteria dos bezerros (ver adiante), rinite necrótica dos suínos
(ver pág. 907), podridão dos cascos nos bovinos (ver pág. 603), abscesso podal dos
ovinos (ver pág. 652), necrose pós-parto da vagina e útero, necrose focal do fígado
de bovinos e ovinos, inflamação da coroa dos cascos de eqüinos (ver pág. 619) e
outras numerosas lesões necróticas em ruminantes e, menos comumente, suínos,
eqüinos, aves e coelhos. O microrganismo é provavelmente um invasor secundário
mais do que propriamente uma causa primária, sendo usualmente parte de infecção
mista. Contudo, sua exotoxina necrosante indubitavelmente tem um papel na
produção das lesões características. F. necrophorum faz parte da flora normal da
boca, intestino, e trato genital de muitos herbívoros e onívoros, e está disseminada
no meio ambiente. Admite-se que ela tenha acesso ao corpo através de ferimentos
da pele ou das membranas mucosas.
FARINGITE
É a inflamação das paredes da nasofaringe ou da orofaringe.
Etiologia – A faringite pode acompanhar infecções do trato respiratório superior;
resultar de lesão física, química ou traumática; ou se desenvolver a partir da extensão
de doenças inflamatórias das estruturas adjacentes. A submucosa da faringe de todas
as espécies contém generosos depósitos de tecidos linfóides, os quais nos animais
imaturos tendem a se tornar hiperplásicos. Nos jovens cavalos de corrida, a hiperpla-
sia linfóide faríngea (HLF) é um achado comum na endoscopia, mas tende a se
agravar devido a infecções virais ou partículas de poeira, principalmente quando o
cavalo estiver em pleno treinamento. HLF é considerada por alguns autores como a
causa de obstrução das vias aéreas superiores, mas evidências recentes sugerem
que ela possui pequeno impacto no desempenho do animal. Freqüentemente torna-
se crônica, caracterizando-se por nódulos nas paredes da faringe e nas suas
reentrâncias que contêm massas de linfócitos. Ela melhora com o descanso, mas
freqüentemente recidiva quando o treinamento recomeça. HLF geralmente desapa-
rece espontaneamente aos 3 anos. Trauma na faringe pode resultar de corpos
estranhos ou de uso de instrumentos não especializados, por exemplo “balling guns”.
Faringite 873
ENFISEMA PULMONAR
As 2 principais formas de enfisema ocorrem nos pulmões. Enfisema alveolar
(em eqüinos, chamado “asma eqüina” ou doença pulmonar obstrutiva crônica, ver
pág. 888) é o aumento permanente dos espaços alveolares, acompanhado de
ruptura do septo alveolar. Enfisema intersticial é a presença de ar dentro das áreas
interlobulares, subpleurais e intersticiais do pulmão. O enfisema deve ser distingui-
do da hiperinflação simples do alvéolo, a qual é um achado post mortem comum, que
ocorre temporariamente, secundário à obstrução da saída do ar.
O enfisema é uma doença importante no homem; em outros animais, ele quase
sempre é secundário a outro processo patológico pulmonar. A patogenia não é
totalmente conhecida, mas sugerem-se pelo menos 2 possibilidades: 1. pode
ocorrer devido à degradação e ao enfraquecimento do interstício pelas enzimas
proteolíticas, principalmente a elastase, liberadas pelas células inflamatórias; 2.
mais comumente, a doença se desenvolve secundariamente a uma bronquite ou
bronquiolite crônica que levam a uma obstrução das vias aéreas na expiração, mas
ainda permitem que o ar entre no alvéolo na inspiração, ou através dos poros
comunicantes nas paredes alveolares.
O enfisema intersticial é mais comum em bovinos e suínos, devido ao septo inter-
lobular bem desenvolvido dos seus pulmões. Em bovinos, enfisema intersticial
severo pode ser acompanhado por enfisema subcutâneo sobre o dorso, quando o
ar passa ao longo dos planos fasciais, dos pulmões através do mediastino e abertura
torácica para a subcútis do dorso. Enfisema intersticial freqüentemente acompanha
dispnéia severa em bovinos, principalmente na pneumonia intersticial aguda (atípi-
ca) (ver EPBA, pág. 878). Graus mais leves de enfisema podem preceder a morte,
se houver um esforço prolongado e uma respiração exagerada. Estas alterações
agônicas devem ser diferenciadas de lesões ante mortem.
PASTEURELOSE PNEUMÔNICA
(Febre da viagem, Febre do transporte)
Todas as idades são suscetíveis, porém a doença respiratória grave associada
com Pasteurella spp geralmente ocorre em animais jovens após viagens; conse-
qüentemente, é chamada com freqüência de febre do transporte (ver também
SEPTICEMIA HEMORRÁGICA, adiante). Entretanto, outras formas de estresse combina-
Doenças Respiratórias dos Bovinos 877
das com a exposição simultânea a um ou mais dos inúmeros vírus e bactérias podem
também resultar em pneumonia.
Etiologia – Pasteurella haemolytica é o agente mais freqüentemente isolado dos
pulmões de animais infectados. Entretanto, P. multocida, assim como uma varieda-
de de outras bactérias, também pode causar pneumonia. Na maioria dos casos,
estas Pasteurella spp citadas são habitantes do trato respiratório superior de
animais sadios; em condições normais, elas permanecem confinadas ao trato
respiratório superior, especialmente nas criptas das amígdalas. Após estresse ou
infecção viral (ver anteriormente), há um rápido aumento na taxa de replicação das
bactérias, que resulta em colonização bacteriana do pulmão. A taxa aumentada de
crescimento bacteriano e colonização do pulmão pode ser decorrente de alterações
anatômicas e ambientais do trato respiratório, bem como de uma supressão do
mecanismo de defesa do hospedeiro. A doença é mais comum em gado confinado
dentro das primeiras semanas de entrada no confinamento. Em alguns casos, até
50% dos animais podem requerer tratamento, e 1 a 10% de mortalidade é comum.
Achados clínicos – O gado afetado encontra-se deprimido, anorético, tem febre
(40 a 41°C) e uma descarga nasal serosa a mucopurulenta com respiração rápida
e de pouca profundidade e, muitas vezes, tosse quando se movimenta. Em casos
graves, há pleurite; a respiração é irregular e os animais podem grunhir na expiração
e, eventualmente, se recusar a levantar. A auscultação pulmonar pode revelar
estertores úmidos, atrito pleural e crepitação. Quando a consolidação pulmonar
progride, os sons pulmonares podem estar diminuídos. O curso da doença pode ser
encurtado se o tratamento for iniciado precocemente, mas pode-se tornar crônico
se atrasado; os animais podem-se tornar debilitados e morrer dentro de poucas
semanas ou meses depois.
Lesões – À necropsia, as porções ântero-ventrais do pulmão estão vermelho-
escuras, distendidas, duras e, muitas vezes, cobertas por fibrina. Aderências entre
as superfícies adjacentes são comuns. Além disso, um exsudato pleural serofibrinoso
está presente. Na superfície de corte, a fibrina está evidente entre os lóbulos, e áreas
de necrose estão dispersas por todo o lobo. À medida que a doença progride, essas
áreas necróticas tornam-se demarcadas por um contorno branco. Culturas puras de
P. haemolytica podem ser isoladas da maioria dos casos; estas estão associadas
à pleuropneumonia fibrinosa com trombose extensiva dos linfáticos intersticiais,
envolvimento marcante dos macrófagos e focos de necrose pulmonar, mas com
poucos sinais de inflamação das vias aéreas. Em contraste, infecções por P.
multocida estão associadas com bronquite supurativa e broncopneumonia, exsu-
dação mínima com fibrina, e menos trombose dos linfáticos. Esses achados podem
ser úteis na diferenciação das infecções. Embora acredite-se que os vírus predis-
ponham os animais à superinfecção bacteriana, o vírus e suas lesões geralmente
desaparecem antes que as mortes possam ocorrer.
Tratamento – Para obter melhores resultados, o gado afetado deve ser tratado
logo. Os animais devem ser identificados, isolados e tratados com antibacterianos
de amplo espectro. A menos que drogas de longa duração sejam usadas, o
tratamento deve ser repetido por no mínimo 3 a 4 dias. Falha no tratamento pode
ocorrer se ele for iniciado tardiamente, ou se os microrganismos forem resistentes
ao antibiótico escolhido. Medicação em massa no alimento ou na água geralmente
é de valor limitado na medida em que animais doentes não comem nem bebem o
suficiente para produzir níveis inibitórios de antibiótico no sangue.
Controle – O manejo é a chave para o controle da doença respiratória bovina.
Os bezerros devem ser imunizados contra os principais patógenos virais antes do
desmame e do transporte (ver PNEUMONIA ENZOÓTICA EM BEZERROS, adiante). O valor
das bacterinas de Pasteurella ainda não foi determinado; alguns relatos indicam que
elas podem até exacerbar a doença. Entretanto, testes de campo de vacinas mais
Doenças Respiratórias dos Bovinos 878
SEPTICEMIA HEMORRÁGICA
É uma pasteurelose aguda que acomete principalmente bovinos e búfalos e
freqüentemente atinge proporções epidêmicas. O único surto verdadeiro nas Amé-
ricas do Norte ocorreu em um bisão no Yellowstone National Park. Não foi confirmada
a ocorrência nas Américas Central e do Sul. A septicemia hemorrágica (SH) é a
principal doença de bovinos e búfalos no sul e leste da Ásia, África e de alguns países
do sul da Europa e do Oriente Médio. Embora possa ocorrer em qualquer época do
ano, as piores epidemias ocorrem durante a estação chuvosa. É mais comum em
búfalos utilizados no cultivo de arroz nos vales e deltas dos rios do sudeste da Ásia.
Acredita-se que os búfalos sejam mais suscetíveis que os bovinos. Existem
relatos de SH em eqüinos, suínos, veados, bisões, camelos, elefantes e iaques. É
provável que bovinos e búfalos selvagens sejam suscetíveis. A administração de
20.000 bactérias por via subcutânea pode levar a óbito um búfalo suscetível. Coelhos
e camundongos de laboratório são altamente suscetíveis à infecção experimental.
Etiologia – SH é causada por 1 dos 2 sorotipos de Pasteurella multocida,
designados B:2 e E:2. O sorotipo E:2 foi isolado apenas na África; o B:2 provoca a
doença em qualquer lugar e tem sido isolado no Egito e Sudão.Pasteurella multocida
é um parasita extracelular e a imunidade é primariamente humoral. SH é essenci-
almente uma endotoxemia.
Aproximadamente 5% dos bovinos ou búfalos podem carrear o sorotipo poten-
cialmente patogênico na nasofaringe. Existe a hipótese de que, sob estresse, os
portadores podem-se tornar doentes e disseminar microrganismos virulentos (via
saliva e descarga nasal), pelo contato direto e indireto, aos animais suscetíveis. Os
surtos podem causar enormes perdas em algumas regiões. As maiores perdas
ocorrem durante as chuvas no sudeste da Ásia, e acredita-se que os microrganis-
mos, que podem sobreviver durante horas e provavelmente dias no solo úmido e na
água, são amplamente transmitidos nesse período.
Achados clínicos – A maioria dos casos são agudos ou hiperagudos, resultando
em morte dentro de 8 a 24h após o início. Devido ao curso clínico curto, os sinais
clínicos podem não ser observados. Os primeiros sinais são apatia, relutância a se
mover, febre, salivação e descarga nasal serosa. O edema freqüentemente é
observado, iniciando-se na garganta e disseminando-se para a região parotídea,
pescoço e peito. As membranas mucosas tornam-se congestas; há dificuldade
respiratória e geralmente o animal vem a óbito dentro de horas. Ocasionalmente isso
demora dias para acontecer. A recuperação é rara. Parece não haver a forma crônica.
Lesões – As alterações mais evidentes nos animais afetados são edema,
hemorragias disseminadas e hiperemia geral. Na maioria dos casos ocorre edema
na cabeça, pescoço e região peitoral. A incisão das áreas edematosas revela um
fluido seroso claro ou cor de palha. O edema também é encontrado na musculatura,
e as hemorragias petequiais na subserosa, as quais são encontradas por todo o
animal, são particularmente características. Um fluido tingido de sangue freqüente-
Doenças Respiratórias dos Bovinos 884
mumente se mantém num estado latente que pode ser reativado periodicamente
após transporte, doença concorrente, estresse ou tratamento com corticosteróides.
Animais com infecções latentes geralmente não apresentam sinais clínicos como
resultado da reativação viral, mas eles servem como uma fonte de infecção para
outros animais suscetíveis e, assim, perpetuam a doença no rebanho.
Etiologia e epidemiologia – Apesar de existirem diferenças de cepas dentro
do Grupo HVB-1, há pouca associação com síndromes particulares; todas as formas
da doença podem ser causadas pelo mesmo isolado, sob condições apropriadas. O
vírus pode ser isolado das secreções nasal, ocular e vaginal, e do sêmen e de lavados
prepuciais.
A forma respiratória é mais prevalente em condições de confinamento, nas
quais muitos animais são aglomerados ou transportados. Isso permite rápida
disseminação do vírus, de alguns animais portadores para animais suscetíveis.
Freqüentemente, a infecção viral pura não é ameaçadora à vida do animal, mas a
infecção concorrente por bactérias (mais comumente Pasteurella spp) aumenta a
severidade da doença respiratória com o subseqüente desenvolvimento de pneu-
monia e possivelmente a morte.
As infecções genitais ocorrem em touros (balanopostite infecciosa pustular
[BIP]) e vacas (vulvovaginite infecciosa pustular [VIP]) dentro de 1 a 3 dias após o
acasalamento ou contato íntimo com um animal infectado. A transmissão pode
ocorrer na ausência de lesões visíveis; touros infectados subclinicamente podem
também transmitir a infecção através da inseminação artificial.
Achados clínicos – O período de incubação para as formas respiratória e genital
geralmente é de 2 a 6 dias. Na forma respiratória, o animal pode estar deprimido,
anorético, apresentar febre de 40 a 42oC, uma descarga nasal e narinas altamente
inflamadas (“nariz vermelho”). O exame cuidadoso demonstra inúmeras úlceras ou
pápulas na mucosa nasal. Nesse período, o animal pode exibir dispnéia, respiração
bucal e salivação excessiva. Muitos animais também exibem conjuntivite e, em
casos leves, esta pode ser a única evidência da infecção por HVB-1. Se a infecção
bacteriana concorrente não ocorrer, os animais geralmente se recuperam sem
tratamento 4 a 5 dias após ocorrer o pico da temperatura e sinais respiratórios.
Abortos ocorrem independentemente da severidade ou forma da doença. Eles
podem ocorrer em até 90 dias após a infecção; conseqüentemente, pode ser difícil
relacioná-los com infecção por HVB-1, principalmente se a doença for leve ou
subclínica. Abortos geralmente ocorrem na segunda metade da gestação. Mortali-
dade embrionária precoce e retorno ao cio também podem ocorrer.
Nas infecções genitais de vacas, os primeiros sinais são micção freqüente,
elevação da cauda e uma leve descarga vaginal. A vulva encontra-se edemaciada,
e pequenas pápulas e posteriormente erosões e úlceras estarão presentes na
superfície mucosa. Se infecções bacterianas secundárias não ocorrerem, o animal
recupera-se em 10 a 14 dias. Se ocorrer infecção bacteriana, pode haver inflamação
do útero e infertilidade transitória com descarga vaginal purulenta por várias
semanas. Em touros, ocorrem lesões similares no pênis e prepúcio.
A infecção pelo HVB-1 pode ser severa em bezerros jovens. Pirexia, descargas
ocular e nasal, dispnéia, diarréia, incoordenação e eventualmente convulsões e
morte podem ocorrer num curto período após a infecção viral generalizada. Foi
isolada uma cepa de HVB-1, que pode causar encefalite em adultos e jovens.
Lesões – A extensão das lesões depende do tempo em que o animal é examinado
após a infecção primária e da extensão das complicações bacterianas secundárias.
Nas infecções por rinotraqueíte infecciosa em bovinos (RIB) não complicadas, a
maioria das lesões é restrita ao trato respiratório superior e à traquéia. Hemorragias
petequiais a ecmóticas podem ser encontradas nas membranas mucosas da
cavidade nasal e dos seios paranasais. Áreas focais de necrose se desenvolvem no
nariz, faringe, laringe e traquéia. As lesões podem coalescer e formar placas.
Doenças Respiratórias dos Bovinos 886
A causa é desconhecida. Até esta data nenhum agente infeccioso foi incriminado.
Embora ela ocorra durante o ano todo, é mais comum no verão. Pode haver uma
relação entre poeira do ar, taxa/profundidade da respiração e incidência, mas
raramente mais que 1 ou 2 animais são envolvidos em um determinado dia ou em
um curral. Parece ser um estado subclínico que pode se iniciar devido ao movimento
e ao exercício.
Geralmente, o primeiro sinal é um ruído inspiratório gutural alto, mesmo antes de
qualquer sinal de dispnéia. Com o tempo, e principalmente se o animal se
movimenta, a dificuldade respiratória piora e o animal pode-se tornar agitado ou
hostil. Se as lesões forem profundas na árvore traqueal, um pequeno som é
produzido e os sintomas são facilmente observados. O animal torna-se cianótico e
tipicamente entra em colapso e morre em < 24h.
Mais freqüentemente, as lesões se estendem da região mesocervical para a
entrada torácica, podendo atingir a bifurcação da traquéia. Lesões leves a modera-
das têm sido observadas no momento do abate, em animais aparentemente
normais. Nos casos fatais, a lesão é completamente obstrutiva e freqüentemente
acompanhada por hemorragia.
O diagnóstico diferencial inclui abscessos traqueais, laringite necrótica e outras
causas de espessamento da membrana dorsal da traquéia – as quais geralmente
são menos obstrutivas.
Corticosteróides, se administrados cedo – antes de a temperatura corporal atingir
40oC – e com uma manipulação mínima para não estressar o animal, podem ser
curativos. É importante manter o animal quieto e tranqüilo. Penicilina (22.000u/kg
por peso corporal) tem sido efetiva quando administrada a tempo, mas não deve ser
usada se o abate for realizado dentro de 1 mês. As respostas aos diuréticos têm sido
mínimas, e as antiprostaglandinas ainda não foram bem avaliadas.
exantema coital eqüino (ver pág. 828), uma doença benigna e exantematosa
progenital.
INFLUENZA EQÜINA
Trata-se de uma doença respiratória aguda, altamente contagiosa e febril.
Etiologia e epidemiologia – Dois vírus de influenza imunologicamente diferen-
tes têm sido encontrados em populações eqüinas de todo o mundo exceto na
Austrália e Nova Zelândia. O ortomixovírus A/Equi-1, embora provavelmente
presente por décadas, não tem sido isolado desde 1980; o ortomixovírus A/Equi-2
foi reconhecido primeiro em 1963 como causa de epidemias disseminadas, depois
disso, o vírus se tornou endêmico em muitos países. A endemicidade é mantida por
casos clínicos esporádicos e por uma infecção leve ou inaparente nos eqüinos
suscetíveis que são constantemente introduzidos na população ao nascimento, pela
diminuição da imunidade ou pelo movimento de outras áreas ou países. Não se sabe
se existe um estado de portador. A conseqüência clínica após uma exposição viral
depende muito da condição imunológica; em animais suscetíveis ela pode variar de
uma infecção leve e inaparente a uma doença severa que raramente é fatal, exceto
em cavalos jovens, velhos ou de outro modo debilitados e em burros. A transmissão
ocorre pela via respiratória através do contato com secreções respiratórias infectan-
tes. A epidemia se instala quando um ou mais eqüinos agudamente infectados são
introduzidos em um grupo suscetível reunidos para show, leilão, treinamento ou
corrida. O resultado epidemiológico depende das características antigênicas do
vírus circulante e do estado imune de uma determinada população eqüina no
momento da exposição ao vírus e possivelmente da infecção por este. Exposições
naturais freqüentes ou vacinações regulares podem ter contribuído para o grau de
flutuação antigênica que tem ocorrido com certas cepas de A/Equi-2 em algumas
partes do mundo. Novos mutantes do vírus devem-se desenvolver com antigenicidade
que difere significantemente das cepas em circulação, então podem-se esperar
surtos de disseminação da doença.
Achados clínicos e lesões – O período de incubação geralmente é de 1 a 3 dias,
mas pode ser de 18h a 5 dias ou, raramente, 7 dias. O início é abrupto com febre de
42oC, geralmente durando < 3 dias nas infecções não complicadas. A tosse
geralmente seca, áspera e improdutiva é um achado significante; é observada no
início do curso da doença e pode persistir por várias semanas, principalmente se
sobrevier infecção bacteriana. A descarga nasal, embora inicialmente serosa e em
pequena quantidade, torna-se geralmente profusa e mucopurulenta posteriormente
na presença de uma infecção estreptocócica sobreposta. Depressão, anorexia e
fraqueza são freqüentes. Descarga lacrimal, aumento de volume dos linfonodos da
cabeça, edema dos membros, rigidez, laminite, dispnéia expiratória e pneumonia às
vezes estão presentes. Eqüinos medianamente afetados recuperam-se inevitavel-
mente em 2 a 3 semanas; os animais severamente afetados podem convalescer por
até 6 meses. A recuperação da tosse e das seqüelas incapacitantes da doença é
acelerada pela completa restrição de atividades físicas árduas.
O risco de complicações causadas por infecções bacterianas secundárias, como
por exemplo, pneumonia, pleurite, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva
crônica (asma), é minimizado pela restrição ao exercício, controle de poeira, boa
ventilação e boas condições de higiene.
Geralmente não são observadas lesões, mas pneumonia intersticial, pleurite,
bronquite, peribronquite, perivasculite e miocardite intersticial podem ser observa-
das nos casos fatais.
Diagnóstico – A assistência laboratorial geralmente é necessária para diferen-
ciar influenza de rinopneumonite eqüina viral, arterite eqüina viral e outras infecções
Doenças Respiratórias dos Eqüinos 894
causada pela erosão fúngica tanto nas paredes da artéria carótida interna como nos
ramos da artéria carótida externa. A hemorragia é usualmente espontânea e grave,
e repetidos ataques podem preceder um episódio fatal. Disfagia, síndrome de
Horner, hemiplegia laríngea e deslocamento dorsal do palato mole podem-se
desenvolver em resposta ao dano causado pelo fungo aos nervos craniais e
simpáticos da bolsa gutural afetada. O prognóstico para recuperação de eqüinos
que tenham desenvolvido disfagia decorrente dessa doença é ruim. O diagnóstico
pode ser feito por endoscopia . Soluções contendo um agente antifúngico devem ser
aplicadas diretamente nos tecidos afetados por infusão através do tubo de biópsia
de um endoscópio. A remoção cirúrgica da lesão é eficaz, mas não é recomendada
a menos que as artérias atingidas estejam obstruídas. A hemorragia pode ser
prevenida pela obliteração das artérias afetadas ao longo do seu curso através da
bolsa gutural, por meio de cateteres com ponta de balão. A administração de
agentes antifúngicos por VO e pelas rotas sistêmicas geralmente não é recomen-
dada devido aos gastos e aos potenciais efeitos tóxicos dessas drogas.
HEMIPLEGIA LARÍNGEA
(Ronco, Neuropatia laríngea recidivante)
É uma paresia ou paralisia permanente da cartilagem aritenóide esquerda e da
prega vocal, que se manifesta clinicamente por intolerância ao exercício e ruído
respiratório anormal, primariamente um estridor inspiratório (assovio ou ronco)
durante o exercício. Envolvimento do lado direito e bilateral (paraplegia laríngea) é
raro.
Etiologia e patogenia – É uma axonopatia distal, geralmente congênita (e
provavelmente hereditária), que afeta os nervos laríngeos recorrentes e possivel-
mente os nervos peroneais e fibras longas do SNC. A causa da degeneração axonal
é desconhecida. A perda progressiva das grandes fibras mielinizadas na porção
distal dos nervos laríngeos recorrentes resulta em atrofia neurogênica dos múscu-
los laríngeos intrínsecos, exceto o músculo cricotireóideo, que é inervado pelo nervo
laríngeo cranial. Inicialmente, os músculos adutores, principalmente o músculo
cricoaritenóide lateral, são afetados e os sinais clínicos tornam-se evidentes com o
envolvimento do adutor principal, o músculo cricoaritenóide dorsal. O nervo recor-
rente esquerdo parece ser envolvido mais comumente devido ao seu comprimento
maior, e ao envolvimento inicial do músculo cricoaritenóide lateral devido à distribui-
ção das fibras maiores deste músculo. Causas menos comuns incluem trauma
Doenças Respiratórias dos Eqüinos 897
PLEURITE
(Pleurisia, Pleuropneumonia)
É uma inflamação aguda ou crônica das membranas pleurais, caracterizada por
sinais relacionados a dor e efusão pleurais.
Etiologia e patogenia – A efusão pleural pode ser idiopática, mas geralmente
está associada com pneumonia, abscesso pulmonar, ferimentos torácicos penetran-
tes, ruptura esofágica, neoplasia ou peritonite. Na América do Norte, a pleuropneu-
monia é a causa mais comum de efusão pleural, principalmente em cavalos de
corrida. O estresse associado com transporte, exercício, cirurgia, anestesia e
infecção respiratória viral recente é considerado um importante fator predisponente.
Microrganismos podem ser isolados em , 2 de 3 cavalos com efusão pleural
parapneumônica. Microrganismos típicos incluem Streptococcus zooepidemicus,
Escherichia coli, Pasteurella spp, Klebsiella spp, Rhodococcus (Corynebacterium)
equi e anaeróbios como Bacteroides e Clostridium spp. Mycoplasma felis e outras
Mycoplasma spp também têm sido isoladas. Em certas regiões secas e poluídas,
infecções pulmonares com Coccidioides immitis e Nocardia spp têm sido associa-
das com efusão pleural.
Achados clínicos e diagnóstico – Os primeiros sinais incluem febre, inapetência,
depressão, posição dobrada dos cotovelos, relutância a se mover e edema subcu-
tâneo do tórax ventral e membros. Um recuo em resposta à percussão torácica
indica dor pleural. Freqüentemente os cavalos com pleurite parecem ter cólicas. Nos
casos crônicos freqüentemente há anorexia, perda de peso, febre intermitente,
esforço respiratório anormal; e nos cavalos com efusão estéril ou neoplásica,
tolerância reduzida ao exercício.
O diagnóstico definitivo requer a detecção da efusão pleural e a coleta de amostras
do fluido pleural para avaliação macroscópica e citológica, coloração de Gram e
cultura. O exame citológico permite a diferenciação de causas infecciosas de neoplá-
sicas e de outras causas não infecciosas de efusão pleural. Se o fluido estiver
presente em ambas as cavidades pleurais, devem-se avaliar amostras de ambos os
lados do pulmão, pois as características do fluido e dos microrganismos podem ser
diferentes. Já que quase um terço dos cavalos com pleuropneumonia possui efusão
pleural estéril, recomendam-se citologia e cultura para microrganismos anaeróbicos
(incluindo Mycoplasma spp) e aeróbicos, a partir do aspirado transtraqueal. Um odor
fétido da respiração ou do fluido pleural é fortemente sugestivo de infecção por
anaeróbicos.
A ultra-sonografia é útil para estimar a quantidade de fluido pleural e para
verificar o grau de loculação. Bolhas de gás dentro do fluido são indicativas de
infecção anaeróbica. A radiografia é de valor limitado até que a cavidade pleural
seja drenada. As radiografias freqüentemente confirmam patologias pulmonares
coexistentes e são úteis para monitorar a resolução de lesões pneumônicas
depois de a efusão ser resolvida.
Doenças Respiratórias dos Eqüinos 899
GARROTILHO
(Cinomose)
É uma doença infecciosa transmissível e cosmopolita dos Equidae, caracteriza-
da por inflamação do trato respiratório superior e, mais freqüentemente, por
abscedação dos linfonodos adjacentes.
Doenças Respiratórias dos Eqüinos 902
RINITE ATRÓFICA
É uma doença de suínos caracterizada por espirros, seguidos por atrofia dos
ossos turbinados que pode ser acompanhada por distorção do septo nasal e
encurtamento ou deformação do maxilar superior.
Etiologia – A etiologia é complexa e envolve no mínimo 2 microrganismos.
Várias infecções, como rinite por corpo de inclusão, pseudo-raiva e agentes não
infecciosos podem causar espirros e lacrimejamento, geralmente sem causar rinite
atrófica. A Bordetella bronchiseptica tem sido implicada como a causa principal. Esta
bactéria não é hospedeiro-específica, embora cepas que causam rinite atrófica
geralmente sejam isoladas apenas de suínos. Cães, gatos, roedores e outras
espécies podem albergar a B. bronchiseptica por longos períodos, mas o seu papel
na disseminação da rinite atrófica em suínos é incerto. Certas cepas toxigênicas de
Pasteurella multocida freqüentemente agem com a B. bronchiseptica, causando
atrofia permanente dos turbinados e distorção nasal. Devido ao fato de que ambos
os microrganismos podem causar rinite atrófica, a doença foi dividida em 2 formas:
rinite atrófica regressiva, devida à B. bronchiseptica, é leve, transitória e provavel-
mente não afeta o crescimento e o desenvolvimento do animal; rinite atrófica pro-
gressiva, causada pela P. multocida toxigênica, é severa, permanente e geralmen-
te resulta em taxa de crescimento baixa.
Surtos da doença geralmente ocorrem após a introdução de suínos ou mistura
de suínos de fontes diferentes. Os leitões podem ser afetados em qualquer idade,
principalmente com a P. multocida, que pode infectar animais maduros. Super-
população, ventilação inadequada, mistura e movimentação de animais e outras
doenças concomitantes são fatores importantes que contribuem para a intensifica-
ção da doença.
Doenças Respiratórias dos Suínos 905
RINITE NECRÓTICA
(Nariz de touro)
É uma doença incomum e esporádica de suínos jovens, caracterizada por
supuração e necrose do focinho, aparecendo a partir de ferimentos das mucosas
oral ou nasal. Existe confusão na literatura devido ao uso da designação incorreta
“nariz de touro” para também descrever rinite atrófica (ver anteriormente).
Etiologia – Fusobacterium necrophorum é comumente isolada das lesões e,
indubitavelmente, contribui para a doença, mas muitos outros tipos de microrganis-
Doenças Respiratórias dos Suínos 908
mos estão freqüentemente presentes. Eles ganham acesso através do dano no céu
da boca, muitas vezes como resultado do corte muito curto de dentes caninos ou o
uso de tosquiadeiras muito afiadas.
Achados clínicos e lesões – Os sinais incluem aumento de deformidade da
face, ocasionalmente hemorragia, obstrução nasal, espirro, descarga nasal de
cheiro pútrido, algumas vezes envolvimento dos olhos com lacrimejamento e
descarga purulenta, perda de apetite, e emaciação. Geralmente, só 1ou 2 suínos
são afetados no rebanho.
Usualmente o aumento de volume facial é duro, mas a incisão revela uma massa
de tecido necrótico rosa-acinzentada, de cheiro pútrido ou restos teciduais verde-
acinzentados, dependendo da duração da lesão. Os ossos nasais e faciais se
envolvem no processo e, como conseqüência, a deformidade facial pode ser
marcante.
Diagnóstico – A rinite necrótica é prontamente diferenciada da rinite atrófica pelo
aspecto protuberante de distorção facial observada na primeira. A rinite atrófica não
causa outro aumento que não aquele devido ao desvio do focinho para cima ou para
o lado. O caráter do exsudato e a sua localização dentro do tecido do focinho ou face
são característicos do “nariz de touro”.
Profilaxia e tratamento – A prevenção é direcionada no sentido de evitar lesões
à boca e ao focinho, bem como melhorar o saneamento. Quando a doença ocorre
repetidamente, o dente canino deve ser seccionado cuidadosamente.
Se a condição for avançada, é duvidosa a recomendação do tratamento. A
intervenção cirúrgica prematura e o uso de compressas na cavidade com sulfona-
mida ou tintura de iodo podem ser úteis. Em suínos jovens, sulfametazina adminis-
trada oralmente é de valia.
PASTEURELOSE
A pasteurelose é mais comumente observada em suínos como uma complicação
da pneumonia por micoplasma (ver anteriormente), embora a influenza suína,
doença de Aujeszky, Bordetella bronchiseptica ou Actinobacillus (Haemophilus)
pleuropneumoniae também possam causar alterações nos pulmões, causando a
doença provocada por Pasteurella spp. O agente causal geralmente é a Pasteurella
multocida. Ela produz uma broncopneumonia exsudativa, às vezes com pericardite
e pleurite. Uma pneumonia primária, esporádica e fibrinosa devida a pasteurelas
sem conexão epidemiológica com pneumonia por micoplasma ou por outros
agentes também pode ocorrer em suínos. Nas formas primária e secundária, lesões
torácicas crônicas e poliartrites tendem a se desenvolver. O diagnóstico é baseado
nos achados de necropsia e isolamento de Pasteurella das lesões. Cepas não
toxigênicas do Tipo A capsular são os isolados predominantes nos casos de
pneumonia. Cepas toxigênicas de P. multocida na presença de Bordetella
bronchiseptica estão associadas com a rinite atrófica (ver anteriormente).
Pasteurelose septicêmica e meningite ocasionalmente ocorrem em leitões. P.
haemolytica tem sido isolada de fetos abortados. A septicemia também ocorre em
suínos adultos. Não existem lesões características e a patogenia é obscura. Cepas
suínas de P. haemolytica são freqüentemente atípicas e não pertencem aos
sorotipos ovinos e bovinos comuns. Entretanto, alguns surtos no Reino Unido têm
sido associados com íntimo contato com ovinos.
O controle da forma pneumônica secundária da doença geralmente é baseado
na prevenção ou controle da pneumonia por micoplasma. Uma terapia precoce e
vigorosa com antibióticos ou antibióticos associados com sulfonamidas é indicada
para todas as formas da doença, no intuito de prevenir seqüelas crônicas. Um
aumento na resistência a alguns antibióticos tem sido notado entre as pasteurelas.
Doenças Respiratórias dos Suínos 909
PLEUROPNEUMONIA
É uma doença respiratória severa e contagiosa, primariamente de suínos jovens
(com até 6 meses), embora em um surto inicial os adultos possam ser afetados. Tem
um início súbito, curso curto, morbidade e mortalidade altas. Ocorre em todo o
mundo e parece estar aumentando em incidência, embora alguns relatos sugiram
que a severidade esteja declinando em países onde ela já se estabeleceu há muito
tempo.
Etiologia – O microrganismo causal é a Actinobacillus (Haemophilus)
pleuropneumoniae. A transmissão se dá por aerossol e muitos suínos recuperados
são carreadores. Os sinais clínicos se desenvolvem dentro de 4 a 12h em infecções
experimentais.
Achados clínicos – O aparecimento é súbito e, em rebanhos que não tenham
sido anteriormente infectados, a disseminação é rápida. Alguns suínos podem ser
encontrados mortos sem terem exibido sinais clínicos. A dificuldade respiratória é
grave; há “soluços” e, às vezes, uma descarga nasal e oral espumosa e sanguino-
lenta. Temperaturas de até 41,5°C, anorexia, e relutância à movimentação são
sinais típicos.
Apesar de ser primariamente uma doença de suínos em crescimento, adultos
podem sofrer abortos ou infecções fatais. O curso é tipicamente de 1 a 2 dias. A
morbidade pode alcançar 50% e, em casos não tratados, a mortalidade é alta. Os
sobreviventes geralmente têm taxas de crescimento reduzidas e tosse persistente.
Uma vez estabelecida no rebanho, a doença pode ser evidente apenas como
uma diminuição na taxa de crescimento e pleurite no abatedouro, embora possam
ocorrer formas agudas. Entretanto, lesões severas podem não estar acompanhadas
de sinais clínicos igualmente severos e mortes no transporte ou condenação da
carcaça podem ocorrer. São comuns infecções concomitantes com micoplasma,
pasteurela ou com vírus da influenza suína.
Lesões – Pleurite fibrinosa e pericardite podem ser severas. Nos casos agudos,
os pulmões estão escuros e edemaciados, com sangue e fluido vertendo da
superfície de corte. Coágulos hemorrágicos, ou mesmo necróticos, de todos os
tamanhos podem estar presentes. A traquéia pode conter muita espuma tingida com
sangue. Nos casos crônicos, as lesões são mais organizadas e localizadas. Lesões
extratorácicas são raras, embora haja relatos de osteomielite relacionada.
Diagnóstico – O surto explosivo é sugestivo e, combinado com sinais clínicos
e lesões macroscópicas, justifica freqüentemente a tentativa de diagnóstico. Infec-
ções simultâneas, por exemplo, por pasteurela, podem complicar o diagnóstico. Em
rebanhos que tenham sido expostos e que tenham desenvolvido no mínimo um grau
de imunidade, o padrão pode ser menos distinto. Muitos testes sorológicos têm sido
usados para ajudar a confirmar o diagnóstico ou detectar os portadores, mas os
resultados nem sempre são claros. Um diagnóstico definitivo depende do isolamen-
to e identificação de A. pleuropneumoniae.
Tratamento e controle – A rapidez do aparecimento e a persistência da infecção
nos rebanhos tornam o tratamento difícil. Canamicina, espiramicina, tetraciclinas,
trimetoprim, penicilinas sintéticas, tilosinas e sulfonamidas têm sido usados. O
primeiro tratamento deve ser parenteral, seguido de medicação na alimentação ou
na água,o que pode proteger os suínos em contato.
Devido ao fato de os sobreviventes freqüentemente se tornarem portadores, o
controle é difícil, embora bons resultados estejam sendo conseguidos por algumas
vacinas. O manejo “all-in”/“all-out”, redução dos estoques quando possível e boa
ventilação são recomendados. Se possível, reposições devem ser feitas de reba-
nhos livres do microrganismo. Se a doença se mostrar difícil de controlar, a repopulação
do rebanho deve ser considerada.
Doenças Respiratórias dos Suínos 910
INFLUENZA SUÍNA
(Gripe suína, “Hog flu”)
Experimentalmente, é uma doença respiratória aguda, altamente contagiosa, que
pode resultar da infecção por um vírus da influenza do Tipo A. Entretanto, no campo
existem cepas de virulências variáveis e a manifestação clínica pode ser determinada
por microrganismos secundários. Os suínos são os principais hospedeiros do vírus
da influenza suína (SIV) clássica. (Infecções no homem têm sido relatadas, mas
cepas suínas de influenza A parecem não se disseminar em populações humanas).
A doença ocorre comumente no meio-oeste dos EUA, ocasionalmente em outros
estados; no México, Canadá e América do Sul; na Europa, do Reino Unido até a
antiga União Soviética, e da Suécia à Itália; no Quênia; e no Japão, Taiwan, e outras
partes do leste asiático. Parece estar ausente na Austrália.
Etiologia – O vírus da influenza suína é um ortomixovírus RNA da influenza do
Grupo A com antígeno hemaglutinante H1 e antígeno neuraminidase N1 (por
exemplo, H1N1) e também H3N2 e seus recombinantes. Vírus da influenza B e C
têm sido isolados de suínos, mas não podem causar a doença clássica. A infecção
clássica do Tipo A com isolados de virulência branda pode favorecer a reprodução
do vírus da pseudo-raiva (ver pág. 747), de Haemophilus parasuis e Actinobacillus
(H. pleuropneumoniae) (ver anteriormente) ou Mycoplasma hyopneumoniae (ver
anteriormente), alguns dos quais podem complicar os surtos. A mistura de suínos
portadores e não imunes é um fator predisponente importante. O vírus provavelmen-
te não sobrevive fora de células vivas por > 2 semanas, exceto em condições frias.
Ele é prontamente inativado por desinfetantes.
Dentro de uma área infectada, surtos ocorrem mais comumente no outono ou
inverno, muitas vezes no início de tempo particularmente frio na América do Norte.
Nas áreas mais quentes do mundo, a infecção pode ocorrer em qualquer época.
Usualmente, um surto é precedido por 1 ou 2 casos individuais e depois se
dissemina rapidamente dentro de um rebanho, sobretudo por infecção aérea e
transmissão de suíno para suíno. O vírus sobrevive em suínos portadores por até
3 meses e pode ser demonstrado em animais não afetados entre os surtos. Em um
rebanho com anticorpos positivos para a doença, os surtos da infecção recorrem
quando a imunidade diminui. Até 40% dos rebanhos podem conter suínos com
anticorpos positivos. Suínos portadores geralmente são responsáveis pela introdu-
ção da influenza suína em rebanhos e países não infectados anteriormente.
Patogenia – Há um espectro de virulência de leve a agudo, mas na forma aguda
clássica, o vírus multiplica-se no epitélio bronquial dentro de 16h da infecção e causa
necrose focal do mesmo, atelectasia focal e hiperemia extensa do pulmão. Exsudato
bronquial e atelectasia disseminada, vista macroscopicamente como lesões da cor
de ameixa, que afetam lóbulos individuais dos lobos apical e intermediário, ocorrem
após 24h. As lesões continuam a se desenvolver até 72h depois da infecção, após
o que torna-se mais difícil demonstrar o vírus. Hiperplasia epiteliobronquial, neutró-
filos no exsudato e necrose coagulativa de alguns alvéolos ocorrem e são acompa-
nhados por lesões nos lobos diafragmáticos. Pneumonia intersticial, células mono-
nucleares no exsudato e hiperplasia bronquial ocorrem na lesão restabelecida e
a maioria dos vírus desaparece no nono dia. Perdas na reprodução associadas com
surtos primários parecem ser secundárias na medida em que vírus não têm sido
isolados.
Achados clínicos – Um surto agudo clássico é caracterizado pelo aparecimento
súbito e rápida disseminação através do rebanho inteiro, freqüentemente dentro de
1 a 3 dias. Os sinais principais são depressão, febre (42,2°C), anorexia, tosse,
dispnéia, fraqueza, prostração, e uma descarga mucosa dos olhos e nariz. A
mortalidade é geralmente de , 1 a 4%. O curso patente da doença usualmente varia
Doenças Respiratórias dos Ovinos e Caprinos 911
PNEUMONIA PROGRESSIVA
(“Maedi-Visna”, “Zwoegersiekte”)
É uma doença viral progressiva e crônica de caprinos e ovinos. Em ovinos, o vírus
afeta principalmente pulmões e úbere, mas o SNC e as articulações também podem
ser afetados. A doença tem sido relatada nas Américas do Norte e do Sul, Europa,
África e Ásia. A doença em ovinos nunca foi encontrada na Austrália e na Nova
Zelândia, embora seja prevalente em caprinos nesses países.
Etiologia – O vírus RNA causal (um lentivírus), que persiste nos leucócitos de
ovinos infectados, na presença de resposta imune humoral e mediada por células,
é detectável por vários testes sorológicos. Anticorpos neutralizantes aparecem mais
lentamente que outros anticorpos e, em geral, vários meses após a infecção.
Ovelhas sorologicamente positivas devem ser consideradas infectadas e capazes
de transmitir o vírus. Estima-se que a transmissão ocorra habitualmente através da
ingestão de colostro ou leite que contenham o vírus, ou pela inalação de gotículas
de aerossóis. Acredita-se que ocorra infecção intra-uterina com pouca freqüência.
Todas as raças de ovinos parecem ser suscetíveis, embora ovinos border leicester
pareçam mais suscetíveis. As práticas de manejo podem influenciar as taxas de
morbidade.
Uma síndrome que acomete caprinos, conhecida como artrite e encefalite
caprinas (ver pág. 475), é causada por um retrovírus proximamente relacionado.
Achados clínicos – Os sinais raramente ocorrem em ovelhas < 2 anos e são
mais comuns naquelas > 4 anos de idade. A doença progride lentamente, com
aumento dos problemas respiratórios ( “maedi” ou “zwoegersiekte”) como o principal
sinal. Tosse e exsudato bronquial são raramente evidentes. Ovinos afetados podem
morrer de pneumonia secundária causada por Pasteurella. Uma mastite não
inflamatória endurecida é comum. Outras, porém mais raras, formas da doença
produzidas por esse vírus são encefalite e artrite. Todas são infecções de progres-
são lenta. Na forma encefalítica (conhecida como visna), ataxia, tremores muscu-
lares, ou movimentos circulares progridem para paresia e, eventualmente, para
paralisia completa.
Uma doença neurológica aguda é de ocorrência freqüente em cabritos de 1 a 6
meses de idade em fazendas onde há uma alta incidência de artrite em lactentes.
Diferente da doença artrítica progressiva lenta em adultos, os cabritos infectados
apresentam sinais de ataxia no primeiro mês de idade, que podem progredir para
paralisia dentro de 2 meses.
Lesões – As lesões macroscópicas de pneumonia progressiva são restritas aos
pulmões e linfonodos associados. Os pulmões não colapsam quando o tórax é
aberto e são anormalmente firmes e pesados (2 a 4 vezes o peso normal). As
primeiras alterações no pulmão podem ser difíceis de se detectar, mas no final da
doença, os pulmões estão mosqueados por áreas consolidadas de coloração cinza
e marrom. Os linfonodos mediastinais e traqueobronquiais estão aumentados e
edematosos. Pneumonia intersticial, hiperplasia linfóide perivascular e peribron-
quial, e hipertrofia do músculo liso são observadas por todo o pulmão. Lesões no
SNC, quando ocorrem, são de meningoleucoencefalite com desmielinização secun-
dária. Todas as lesões são progressivas e resultam da resposta imunocelular do
hospedeiro e não diretamente do dano causado pelo vírus.
Doenças Respiratórias dos Ovinos e Caprinos 916
ADENOMATOSE PULMONAR
(“Jaagsiekte”)
É uma neoplasia viral contagiosa dos pulmões dos ovinos e mais raramente dos
caprinos. A doença tem sido relatada na Europa, Ásia, África, e Américas do Sul e
do Norte.
Etiologia – Os exsudatos respiratórios dos ovinos afetados são infectantes. O
agente causal não foi estabelecido, embora um retrovírus tenha sido identificado no
tumor e nos fluidos. Um herpesvírus também foi isolado do tumor, mas parece não
ter um papel na etiologia da doença. A transmissão natural parece ocorrer geralmen-
te pela via respiratória. O contato íntimo, por exemplo, pelo cocho de ração, pode
favorecer a disseminação do vírus.
Achados clínicos – O período de incubação após infecção natural se estende por
meses, de modo que os sinais clínicos da doença geralmente se tornam eviden-
tes quando os ovinos têm de 3 a 4 anos de idade. Os tumores produzem sinais clínicos
quando se tornam suficientemente grandes ou numerosos a ponto de interferirem na
respiração. Ovinos afetados perdem peso e mostram aumento na dificuldade respi-
ratória. Estertores úmidos podem ser ouvidos mesmo sem o uso de um estetoscópio.
A tosse não é proeminente. O abaixamento forçado da cabeça muitas vezes faz com
que muco espumoso escorra das narinas. A doença clínica termina fatalmente após
dias ou semanas, algumas vezes devido à pasteurelose secundária.
Lesões – Os tumores estão restritos aos pulmões e raramente aos linfonodos
associados. Variam de nódulos pequenos a áreas consolidadas extensas envolven-
do as partes ventrais de ≥ 1 lobo. Esses são firmes, acinzentados, lisos e nitidamente
demarcados. Quantidades copiosas de um líquido branco e espumoso estão
presentes nas vias aéreas. Alterações histológicas são causadas por proliferação
descontrolada de pneumócitos do Tipo II em disposição colunar e células semelhan-
tes nos bronquíolos.
Diagnóstico – Não existem testes sorológicos ou bioquímicos disponíveis
capazes de identificar com segurança os ovinos afetados antes que sinais clínicos
se desenvolvam. Embora vários carneiros num rebanho possam estar afetados,
usualmente uma única ovelha é notada num determinado momento. A idade da
ovelha, os estertores úmidos, e a evidência de volumes anormais de fluido respira-
tório num ovino sem febre auxiliam o diagnóstico. Entretanto, tais casos podem ser
complicados por uma pneumonia terminal causada por Pasteurella, e o exame
histológico é muitas vezes essencial para confirmar a presença de tecido tumoral.
Controle – O tratamento não é prático e o controle em rebanhos nos quais a
doença sabidamente ocorre deve ser baseado na redução de aglomerações e na
Doenças Respiratórias dos Ovinos e Caprinos 917
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS
DOS PEQUENOS ANIMAIS
INTRODUÇÃO
Doenças respiratórias ocorrem freqüentemente em cães e gatos. Apesar de
sinais clínicos, como tosse e dispnéia, usualmente serem atribuídos a problemas
primários no trato respiratório, eles podem advir de desordens de outros sistemas,
por exemplo, insuficiência cardíaca congestiva.
Tanto animais jovens como idosos correm um grande risco de desenvolver
doença respiratória. Ao nascimento, os sistemas respiratório e imune são incomple-
tamente desenvolvidos; isto facilita a introdução e a disseminação de patógenos
dentro dos pulmões, podendo ocorrer edema alveolar. Em animais idosos, alte-
rações degenerativas crônicas que destroem a depuração mucociliar normal e a
barreira imunológica podem tornar os pulmões mais vulneráveis aos patógenos
aéreos e às partículas tóxicas.
Uma flora variável de microrganismos comensais indígenas ( Pasteurella
multocida, Bordetella bronchiseptica, estreptococos e bactérias coliformes) normal-
mente reside nas passagens nasais de cães e gatos, nasofaringe, traquéia superior
e intermitentemente nos pulmões, sem causar sinais clínicos. Infecções oportunis-
tas podem ocorrer por estas bactérias, quando os mecanismos respiratórios de
defesa são comprometidos por: 1. infecção por um patógeno primário, como o vírus
da cinomose, da parainfluenza, adenovírus canino do Tipo 2 em cães e vírus da
rinotraqueíte ou da calicivirose em gatos; 2. outros insultos como inalação de fumaça
ou gases nocivos; ou 3. doenças como insuficiência cardíaca congestiva e neoplasia
pulmonar. Infecções bacterianas secundárias complicam o manejo das infecções
respiratórias virais de cães e gatos. Os patógenos podem continuar a residir no trato
respiratório de animais convalescentes. Quando estressados, estes animais podem
ter recidivas; eles também podem agir como fonte de infecção para outros. Práticas
de manejo inadequadas, como superpopulação, estão freqüentemente associadas
com condições higiênicas e ambientais impróprias, o que resulta em estresse e
aumento da incidência e severidade das infecções. Condições que favorecem a
disseminação da infecção freqüentemente ocorrem em gatis, canis, “pet shops”,
pensões, etc.
Anormalidades congênitas, como narinas estenóticas, alongamento do palato
mole e estenose traqueal, podem causar disfunção respiratória. Massas neoplási-
cas e alterações degenerativas das vias aéreas, como paralisia da laringe (ver
pág. 864) e colapso traqueal, podem resultar em dispnéia ou em outras manifesta-
ções clínicas de doença respiratória.
Colapso traqueal é mais comum em raças miniaturas e toys, e raro em gatos.
A etiologia é desconhecida. Os animais afetados apresentam uma tosse crônica e
dispnéia inspiratória ou expiratória. Freqüentemente eles são obesos e apresentam
doença pulmonar ou cardiovascular concomitante. Perda de peso (se o animal for
obeso) é uma parte importante do manejo. Outras medidas incluem restrição ao
exercício, redução da excitação e do estresse e terapia médica com antitussivos,
antibióticos e broncodilatadores.
PNEUMONITE ALÉRGICA
É uma reação de hipersensibilidade aguda ou crônica dos pulmões e das
pequenas vias aéreas.
Etiologia – Uma etiologia de base raramente é determinada nas reações de
hipersensibilidade pulmonar em cães e gatos. Hipersensibilidade do Tipo I ou
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 919
TREMATÓDEOS PULMONARES
(Paragonimus kellicotti, P. westermani)
Estes parasitas geralmente são encontrados em cistos, primariamente nos
pulmões de cães, gatos e de vários outros animais domésticos e silvestres. Eles
também têm sido encontrados raramente em outras vísceras ou no cérebro. A
infecção é mais comum na China, sudeste da Ásia e América do Norte. Paragonimus
westermani é um parasita do homem e de outros animais na China e em outros
países no Extremo Oriente.
Os adultos são volumosos, vermelho-acastanhados, ovais e medem , 14 × 7mm.
Os ovos são pardo-dourados, ovais e distintamente operculados, medindo , 100 ×
60µm. Os ovos atravessam a parede do cisto, são expectorados, ingeridos e pas-
sam com as fezes. O ciclo de vida inclui vários caramujos como primeiro hospe-
deiro intermediário e lagostas ou caranguejos como segundo hospedeiro intermediá-
rio. Cães e gatos tornam-se infectados ao comer lagosta ou caranguejos crus conten-
do a cercária encistada. Após penetrar na parede intestinal e vaguear na cavidade peri-
toneal, o parasita jovem passa através do diafragma aos pulmões, onde se estabelece.
Animais infectados podem ter uma tosse crônica, profunda e intermitente;
eventualmente se tornam fracos e letárgicos, embora muitas infecções passem
despercebidas. O diagnóstico é realizado através do achado de ovos característicos
nas fezes ou esputo. A localização nos pulmões é assegurada através de radiogra-
fia. Infecções aberrantes podem ser determinadas através de testes sorológicos.
A administração diária de bitional por 1 semana ou em dias alternados por 1 mês
é um tratamento eficaz. Fenbendazol ou albendazol dados diariamente por 2 e 3
semanas, respectivamente, também são tratamentos úteis para reduzir o número de
ovos depositados e, eventualmente, para matar os parasitas.
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 923
NEMATÓIDEOS PULMONARES
Ver também INFECÇÃO VERMINÓTICA PULMONAR , página 865.
Aelurostrongylus abstrusus
Este nematóideo, o verme pulmonar mais comum em gatos, é encontrado em
muitas partes do mundo, incluindo os EUA, Europa e Austrália. Eles são parasitas
pequenos (machos 7mm, fêmeas 10mm), profundamente alojados nos tecidos
pulmonares. Os ovos são forçados a entrar nos dutos alveolares e alvéolos
adjacentes, onde formam pequenos nódulos. Eles encontram-se dentro desses
nódulos. Uma vez que a larva escapa, ela é tossida, deglutida e passa nas fezes.
As larvas observadas nas fezes de animais infectados são enroladas, têm uma
cauda ondulada com uma espinha e têm < 400µm de comprimento. O ciclo de vida
inclui caramujos ou lesmas como primeiros hospedeiros intermediários e rãs,
lagartos, pássaros ou roedores como vetores das larvas encistadas. Quando um
desses hospedeiros de transporte é ingerido, a larva migra do estômago para os
pulmões via cavidades peritoneal e torácica. Ela atinge os pulmões dentro de 24h
e as larvas são observadas nas fezes em , 1 mês.
Embora a prevalência dessa infecção possa ser alta, os sinais diagnósticos e
clínicos estão muitas vezes ausentes. Debilidade crônica, tosse, dispnéia e estertores
pulmonares podem ser observados. Os pulmões usualmente possuem nódulos
sólidos de coloração cinza e em relevo, com 1 a 10mm de diâmetro; doença alveolar
generalizada tem sido observada em condições crônicas. O tratamento é difícil e
muitas vezes não é necessário, mas o levamisol e outros anti-helmínticos mais
modernos podem ser eficazes.
Capillaria aerophila
Mesmo sendo um parasita usual dos seios frontais, traquéia, brônquios e
raramente das cavidades nasais de raposas, a C. aerophila é encontrada em cães
e em outros carnívoros. Elas têm de 25 a 35mm de comprimento. As fêmeas
produzem ovos com tampões bipolares semelhantes àqueles de Trichuris, entretan-
to suas cascas são de coloração pálida a esverdeada e corroídas. Os ovos são
depositados nos pulmões, tossidos e engolidos, passando nas fezes. Eles podem
ser identificados nos lavados traqueais ou flotação fecal. O ciclo de vida é direto; os
cães tornam-se infectados através do consumo de alimentos ou água contaminados
com ovos larvados. Após a eclosão nos intestinos, as larvas chegam aos pulmões
e brônquios via sistema circulatório. Elas amadurecem , 40 dias após a infecção.
Os sinais clínicos incluem tosse, espirros e descarga nasal. O tratamento pode ser
tentado com a administração contínua de levamisol ou fenbendazol.
Filaroides spp
Esses vermes traqueais que parasitam cães são usualmente encontrados em
nódulos de paredes finas ao redor da bifurcação bronquial. Eles têm sido encontra-
dos nos EUA, África do Sul, Nova Zelândia, Índia, Grã-Bretanha, França e Austrália.
Os machos têm , 5mm de comprimento e as fêmeas de 10 a 15mm de comprimento.
O ciclo de vida é direto e a cadela infectada pode transmitir as larvas na sua saliva
para os filhotes ao lambê-los e limpá-los. Após a ingestão, as larvas passam para
a corrente sangüínea e são carreadas para os pulmões e brônquios.
Uma tosse persistente e seca é o sinal clínico mais comum. A tosse pode,
posteriormente, se tornar severa com dificuldade respiratória. O diagnóstico pode
ser concluído através do achado de larvas nas fezes, mas como essas larvas são
letárgicas e em número pequeno, a broncoscopia é o melhor método. A excisão
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 924
PNEUMONIA
É uma inflamação aguda ou crônica dos pulmões e brônquios, caracterizada por
distúrbio na respiração e hipoxemia, e complicada pelos efeitos sistêmicos de toxinas
associadas. A causa usual é uma infecção viral primária do trato respiratório inferior.
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 927
RINITE E SINUSITE
É uma inflamação aguda ou crônica das membranas mucosas do nariz e seios
nasais.
Etiologia – Uma infecção viral é a causa mais comum de rinite/sinusite aguda em
cães e gatos. Rinotraqueíte viral felina (RVF), calicivírus felino (CVF), cinomose
canina, adenovírus canino Tipos 1 e 2 e parainfluenza canina são mais freqüente-
mente incriminados. Estados crônicos ocorrem em RVF e CVF, com secreção
intermitente associada ao estresse. Rinite/sinusite bacteriana freqüentemente é
uma complicação secundária. A rinite bacteriana primária em cães pode ocorrer
devido a infecção por Bordetella bronchiseptica ou Pasteurella multocida.
Rinite/sinusite alérgica é uma atopia pouco definida que ocorre sazonalmente em
associação com a produção de pólen; e de forma perene, provavelmente
em associação a poeira doméstica e mofo. Aspiração de fumaça, inalação de gases
irritantes ou a presença de corpos estranhos nas passagens nasais também podem
causar rinite aguda.
A rinite crônica ocorre mais comumente devido à infecção bacteriana, seguida de
inflamação ou trauma, corpos estranhos, neoplasias ou infecção micótica. Em
gatos, rinossinusite crônica é uma seqüela freqüente de infecções virais agudas da
mucosa nasal e seios, que resulta em alterações epitelial e glandular hiperplásicas.
Rinite e/ou sinusite podem ocorrer quando um abscesso da raiz dentária apical se
estende para o recesso maxilar. A rinossinusite micótica pode ser causada por
Cryptococcus neoformans, Aspergillus spp e Penicillium spp. Os gatos são mais
freqüentemente afetados por Cryptococcus sp que os cães, entretanto a aspergilose
é freqüente em cães e rara em gatos.
Achados clínicos e diagnóstico – A rinite aguda é caracterizada por uma ou
mais descargas nasais, espirros, prurido nasal, estertor respiratório, respiração com
a boca aberta ou dispnéia inspiratória. Lacrimejamento e conjuntivite freqüentemen-
te acompanham inflamação das passagens respiratórias superiores. Os tecidos
afetados geralmente estão hiperêmicos e edemaciados. A descarga nasal é serosa,
mas torna-se mucóide como resultado de uma infecção bacteriana secundária. Se
células inflamatórias se infiltrarem na mucosa, a descarga pode-se tornar mucopu-
rulenta. O espirro, numa tentativa de limpar as vias aéreas superiores de secreções
ou exsudatos, é observado mais freqüentemente em rinites agudas e tende a ser
intermitente na rinite crônica. Também pode ser observado o reflexo de aspiração
(“espirro reverso”), um curto episódio paroxístico de esforço inspiratório, na tentativa
de limpar a nasofaringe de material obstrutivo. Estertores respiratórios, respiração
com a boca aberta e dispnéia inspiratória ocorrem quando as passagens nasais são
estreitadas devido a mucosa inflamada, elementos glandulares e secreções. Uma
descarga nasal unilateral aguda, possivelmente acompanhada de prurido nasal,
sugere a presença de corpo estranho. Suspeita-se de doença neoplásica ou
micótica quando existir uma descarga nasal crônica inicialmente unilateral, mas que
se torna bilateral, ou por alterações no caráter da secreção nasal de mucopurulenta
a serossanguinolenta ou hemorrágica.
O diagnóstico é baseado na história, exame físico, achados radiográficos e
eliminação de outras causas de descarga nasal e espirros.
Tratamento – Nos casos moderados ou agudos, o tratamento de suporte pode
ser efetivo. Casos severos de rinossinusite em gatos adultos e filhotes podem
necessitar de fluidos parenterais, para prevenir a desidratação, e de um suporte
nutricional via tubo nasogástrico, para manter o peso. A rinossinusite bacteriana
secundária crônica pode ser tratada com quimioterapia antimicrobiana durante 3
a 6 semanas, com base na sensibilidade do(s) microrganismo(s) predominante(s)
identificado(s). O uso intermitente de descongestionantes nasais vasoconstrito-
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 929
AMIGDALITE
Etiologia – A amigdalite é comum em cães e rara em gatos. Em cães, pode
ocorrer como uma doença primária, freqüentemente em raças pequenas. Também
pode ser secundária a distúrbios nasais, orais ou faríngeos (por exemplo, fenda
palatina); êmese crônica ou regurgitação (por exemplo, devido a megaesôfago);
tosse crônica (por exemplo, bronquite). A amigdalite crônica pode ocorrer em cães
braquicefálicos, em associação com faringite, que acompanha alongamento do
palato mole e mucosa faríngea excessiva. Acredita-se que a amigdalite crônica
em animais jovens represente a maturação dos mecanismos de defesa farín-
geos.
Escherichia coli, Staphylococcus aureus e estreptococos hemolíticos são as
bactérias patogênicas mais freqüentemente isoladas das amígdalas afetadas.
Fibras vegetais ou outros corpos estranhos que se alojam na fossa da amígdala
podem produzir uma inflamação unilateral localizada ou um abscesso periamig-
dalino. Outros agentes físicos e químicos podem causar irritação da orofaringe e em
uma ou ambas as amígdalas. A amigdalite também pode acompanhar massas
amigdalinas neoplásicas, devidas a trauma físico ou infecção bacteriana secun-
dária.
Achados clínicos e diagnóstico – A amigdalite nem sempre é acompanhada
de sinais clínicos óbvios. Febre e indisposição são raras, a menos que haja uma
infecção sistêmica. Ânsia, seguida de tosse curta e leve, pode resultar na expulsão
de pequenas quantidades de muco. Inapetência, apatia, salivação e disfagia são
observadas na amigdalite severa.
O aumento das amígdalas pode variar da protrusão das criptas para uma massa
de tamanho suficiente para causar disfagia ou ruído inspiratório. Um exsudato
séptico supurativo pode rodear a amígdala, a qual pode estar avermelhada, com
pequenos focos ou placas necróticos. A amigdalite pode ser um sinal de doença
inflamatória regional ou generalizada; dessa forma, a amigdalite primária deve ser
diagnosticada após a exclusão das doenças de base. Carcinomas de células
escamosas, melanona maligno e linfossarcoma comumente ocorrem nas amígda-
las dos cães e devem ser distinguidos de amigdalite. Linfossarcoma amigdalino
geralmente resulta em aumento bilateral simétrico, enquanto neoplasias não
linfóides são normalmente unilaterais.
Tratamento – A administração sistêmica imediata de antibióticos é indicada no
caso de amigdalite bacteriana. As penicilinas freqüentemente são efetivas, mas nos
casos refratários, cultura e teste de sensibilidade podem ser necessários. Analgé-
sicos moderados são apropriados; no caso de irritação faríngea severa, uma dieta
pastosa palatável é recomendada por alguns dias, até que a disfagia seja resolvida.
A administração parenteral de fluidos é necessária nos animais que são incapazes
de se alimentar pela boca.
A amigdalectomia raramente é necessária no caso de amigdalite primária
crônica, mas fornece alívio permanente. Outras indicações para a amigdalectomia
incluem aumento das amígdalas, que interfira no fluxo de ar (por exemplo, em raças
braquicefálicas) e neoplasias amigdalinas.
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 930
TRAQUEOBRONQUITE
É uma inflamação aguda ou crônica da traquéia e das vias aéreas brônquicas.
A bronquite pode-se estender dos bronquíolos para o parênquima pulmonar. A tra-
queobronquite pode ser primária ou secundária, dependendo do agente etiológico.
Etiologia – Traqueobronquite infecciosa canina (tosse dos canis, ver adiante) é
freqüentemente um resultado de infecções virais do sistema respiratório. Outras
causas de traqueobronquite incluem parasitas, como por exemplo, Aelurostrongylus
abstrusus (gatos e cães), Capillaria aerophila (cães), Crenosoma vulpis (cães) e
Filaroides osleri (cães).
A traqueíte pode ser secundária a doenças da orofaringe ou à tosse crônica
relacionada a doença cardíaca ou a doença pulmonar não cardíaca. Outras causas
incluem aspiração de fumaça e exposição a gases químicos nocivos. A exacerbação
da bronquite crônica que afeta cães de meia-idade e idosos pode ser conseqüência
de alterações súbitas no tempo ou de outros fatores ambientais estressantes. Asma
brônquica foi diagnosticada em gatos, mas é rara. Corpos estranhos nas vias aéreas
e anormalidades de desenvolvimento, como deformidades laríngeas, podem pre-
dispor à bronquite. A bronquiectasia pode ocorrer como último estágio de bron-
quite crônica em cães. O reconhecimento da traqueobronquite como uma sín-
drome secundária freqüente subjaz à importância do diagnóstico e ao controle de
uma doença primária associada.
Achados clínicos – Espasmos de tosse são os sinais proeminentes. Estes são
mais graves após repouso ou uma mudança do meio ambiente, ou no início do
exercício. À auscultação, os sons respiratórios podem estar essencialmente nor-
mais. Em casos avançados, estertores sonoros são audíveis. A temperatura está
levemente elevada. O estágio agudo da bronquite passa em 2 a 3 dias; a tosse,
entretanto, pode persistir por 2 a 3 semanas. É difícil diferenciar bronquite grave de
pneumonia; a primeira freqüentemente se estende para o parênquima pulmonar,
resultando em pneumonia. Asma brônquica em felinos pode resultar em cianose e
dispnéia, e é acompanhada de eosinofilia.
Lesões – Durante os estágios inflamatórios agudo e subagudo, as vias aéreas
estão repletas de um exsudato espumoso, seroso ou mucopurulento. Em bronquites
crônicas, elas contêm excessiva quantidade de muco viscoso. Nessas condições, o
revestimento epitelial está espessado e opaco, um resultado de fibrose difusa,
edema e infiltração de células mononucleares. Há ainda hipertrofia e hiperplasia das
glândulas mucosas e células caliciformes da região da traquéia e brônquio. O ato de
tossir indica uma tentativa de remover o acúmulo de muco e exsudato das vias
respiratórias.
Diagnóstico – O diagnóstico é feito com base na anamnese e sinais clínicos, e
pela eliminação de outras causas de tosse. Em bronquites crônicas, radiografias do
tórax podem mostrar um aumento nos locais de demarcação linear e peribronquial.
A broncoscopia revela epitélio inflamado e com muco, e muitas vezes secreção
mucopurulenta nos brônquios. Além disso, o procedimento permite coleção de
biópsia e amostra de “swab” para pesquisa in vitro. O lavado bronquial é um auxílio
diagnóstico adicional que pode demonstrar os agentes causais ou respostas
celulares significantes, por exemplo, eosinófilos.
Tratamento – Nos casos moderados ou agudos, a terapia de suporte pode ser
efetiva; entretanto é indicado o tratamento de doenças concomitantes. Repouso,
ambiente aquecido e higiene apropriada são importantes. Quimioterapia anti-
microbiana de amplo espectro é indicada para o tratamento da tosse. Tosse
produtiva e persistente é melhor controlada por expectorantes que contenham
codeína ou antitussivos similares. Animais refratários à terapia médica conservativa
devem ser radiografados, tanto no tórax quanto na traquéia cervical; e devem-se
Doenças Respiratórias dos Pequenos Animais 931
PELE, INTRODUÇÃO
A pele representa o limite anatômico, e o principal órgão de comunicação entre
o animal e seu ambiente. É o órgão mais extenso do corpo, constituindo 12 a 24%
do peso do animal, dependendo da idade. É um órgão extremamente heterogêneo,
Pele, Introdução 936
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS
Existem dificuldades particulares para a prática e o entendimento da derma-
toterapia. O modo de ação de muitas drogas usadas em dermatologia é desconhe-
cido (por exemplo, o alcatrão e o enxofre são extremamente usados com muito
sucesso, mas sem o conhecimento dos mecanismos moleculares envolvidos);
existem poucos estudos mais aprofundados.
A influência de outros sistemas no tegumento freqüentemente exige que o
tratamento seja interno, bem como tópico, por exemplo, é irracional tratar uma
dermatose devida ao hipotireoidismo pela aplicação externa de medicamentos, em
vez de administrar hormônio tireóideo. Medidas tópicas adequadamente seleciona-
das podem ser a melhor forma de tratamento se a causa for desconhecida ou incerta.
A escolha do medicamento tópico a ser usado é determinada pelas características
morfológicas, pelo estágio e local da erupção. Uma dermatose deve ser classificada
como aguda ou crônica, seca ou exsudativa, infectada ou não infectada, superficial
ou profunda, e deve ser tratada adequadamente.
Medicamentos tópicos são escolhidos para produzir efeitos específicos de
acordo com o caráter das lesões. É melhor usar poucos remédios bem conhecidos
em vez de ser confundido pelo oceano de drogas dermatológicas disponíveis. Um
remédio pode prejudicar em vez de ajudar; no caso de dúvida, comece com o agente
mais brando e indiferenciado; quando usar um novo medicamento, observe o efeito
em uma pequena área antes de aplicá-lo em uma área maior; não mude para um
novo remédio à medida que a dermatose melhore satisfatoriamente com o uso de
algum composto mais antigo. Quando um remédio for prejudicial a um paciente, pare
de usá-lo e tente encontrar a causa da indisposição. A ação dos remédios tópicos
dependerá freqüentemente do modo de aplicação e de remoção. Devem ser dadas
instruções adequadas ao cliente e freqüentemente uma demonstração da maneira
correta do uso, incluindo aplicação e remoção de cada preparação. A certeza do
diagnóstico é necessária para um tratamento apropriado. Dependendo dessa
certeza, a terapia tópica em muitas dermatoses é muito importante no manejo
terapêutico do paciente.
A terapia tópica é valiosa ou mais aplicável nas seguintes situações: 1. quando
o diagnóstico definitivo não pode ser feito, ou ainda não foi feito; 2. quando um
adjuvante ao tratamento sistêmico irá acelerar a recuperação; 3. quando a experiên-
Testes Alérgicos 941
cia indica que a terapia tópica será tão bem-sucedida quanto o tratamento sistêmico
(ver também ANTI-SÉPTICOS E DESINFETANTES, pág. 1850).
ACANTOSE NIGRICANTE
É um termo descritivo de uma síndrome clínica com múltiplas etiologias de base
potenciais. Ela ocorre em cães, particularmente dachshunds. As causas potenciais
são muitas, e mais que uma pode ser encontrada em um mesmo animal. As
principais causas incluem traumatismo mecânico por fricção (principalmente em
animais obesos), alergia inalatória, alergia alimentar, alergia de contato, piodermia,
hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, e dermatoses relacionadas ao hormônio
sexual. Alguns casos são idiopáticos e podem ser hereditários.
As lesões consistem em graus variáveis de eritema axilar simétrico, alopecia,
hiperpigmentação, espessamento e liquenificação da pele. Os sinais podem progre-
dir até envolver a face medial dos membros anteriores, região ventral do pescoço,
tórax e abdome. A superfície da pele afetada freqüentemente apresenta uma textura
cerosa ou untuosa. Pode haver prurido.
Fatores que provocam ou contribuem para o aparecimento da doença devem ser
identificados. Uma avaliação completa inclui: biópsia de pele, testes alérgicos, dieta
hipoalergênica, avaliação tireóidea e adrenal, e outros testes apropriados para o
animal em questão. O diagnóstico de acantose nigricante idiopática é firmado pela
exclusão de todas as causas conhecidas.
Muitas terapias têm sido preconizadas e o sucesso variável obtido com cada uma
delas reflete provavelmente as multietiologias de base da doença. O tratamento
deve ser específico quando possível. Melatonina (1u/cão, s.c., uma vez ao dia
durante 3 dias, e depois quando necessário) tem sido preconizada para casos
idiopáticos, mas raramente é efetiva e a sua obtenção é difícil. Vitamina E (dL-α-
acetato de tocoferol) na dose de 200UI, via oral, duas vezes por dia, por 1 a 2 meses
é benéfica em alguns casos idiopáticos. A terapia tópica com xampus anti-
seborréicos e a redução do peso de animais obesos são úteis.
TESTES ALÉRGICOS
Testes para o diagnóstico de dermatites alérgicas em animais incluem o teste
cutâneo intradérmico e testes sorológicos in vitro, como o teste radioalergossorvente
ou ELISA. Eles são usados principalmente para a detecção da alergia a substâncias
inaladas; seu uso em alergia alimentar é controvertido.
Teste cutâneo intradérmico – O teste cutâneo intradérmico (TCID) é o teste
mais comumente usado e o melhor caracterizado. É usado em cães e gatos para o
diagnóstico da dermatite alérgica a inalantes (atopia ou dermatite atópica) e
dermatite alérgica a pulgas; em eqüinos é usado para o diagnóstico da urticária
relacionada com agentes inalantes, e da hipersensibilidade a insetos. O TCID
baseia-se na presença de mastócitos sensibilizados na pele. Quando um alérgeno
ofensor é injetado intradermicamente, estas células se degranulam e liberam
mediadores químicos da inflamação. O resultado é um vergão e eritema no local da
aplicação se o animal for alérgico. O TCID requer experiência e o investimento em
materiais, sendo realizado freqüentemente por especialistas.
Testes Alérgicos 942
ALOPECIA
(Atriquia, Calvície)
HIPODERMOSE – BERNE
(Dermatobia hominis e Hipoderma spp)
DERMATOBIA HOMINIS
A mosca do berne tropical ou “torsalo” é um dos parasitas mais importantes de
bovinos na América Latina e está distribuída entre o sul do México e o norte da
Argentina. Os estágios larvais são encontrados em muitos hospedeiros: bovinos,
ovinos, caprinos, suínos, bufalinos, cães, gatos, coelhos e no homem. Bovinos e
cães são as espécies mais comumente infectadas.
Ciclo de vida – A mosca adulta mede 12 a 15mm de comprimento; sua vida é
curta, com cerca de 4 dias em média. A mosca adulta fixa seus ovos nos diferentes
tipos de insetos (quarenta e nove espécies de insetos [mosquitos e moscas em sua
maioria] são descritos como vetores de D. hominis na América Latina) que os
transmitem para os hospedeiros mamíferos, nos quais virão a eclodir à medida que
os insetos se alimentam. As larvas migram sob a pele do animal alguns minutos após
a eclosão e permanecem no tecido subcutâneo por 39 a 50 dias. Durante este
período, as larvas crescem e produzem cistos com um orifício através do qual
respiram. Quando madura, a larva deixa o hospedeiro e cai ao chão, entoca-se, e
torna-se pupa. O período de pupa dura de 32 a 43 dias, ao final deste período as
moscas emergem como adultas. O ciclo de vida completo requer de 78 a 117 dias.
A penetração da pele pelas larvas é acompanhada por dor severa, inflamação
local e formação gradual de pus. O couro é condenado ao abate, e a produção do
leite e da carne é reduzida.
Tratamento e controle – Diferentes inseticidas sistêmicos em várias formula-
ções são viáveis para o tratamento. Inseticidas organofosforados, como diclorvos e
fention são usados na América Latina, como spray ou produtos tópicos; triclorfon é
viável como produto injetável, spray ou oral, a ivermectina pode ser administrada por
via subcutânea ou “pour-on”.
HYPODERMA SPP
Duas espécies de Hypoderma, H. bovis e H. lineatum, são parasitas importantes
de bovinos. Elas são encontradas entre 25 e 60° de latitude no Hemisfério Norte e
ocorrem em mais de 50 países da América do Norte, Europa, África e Ásia. Na
América do Norte, H. lineatum, uma larva de gado comum, é encontrada no Canadá,
EUA e norte do México; H. bovis, uma larva de bovinos do norte, é geralmente
encontrada ao norte do paralelo 35°. A ocorrência no gado bovino e no bisão
americano é comum. Há também relatos de larvas de Hypoderma spp em cavalos,
ovinos, caprinos e no homem.
Ciclo de vida – Os Hypoderma (moscas de calcanhar) adultos são moscas
pilosas com ,15mm de comprimento. Durante o final da primavera ou início do
verão, elas depositam seus ovos na pelagem do gado, particularmente na região
mais baixa das pernas. Em 3 a 7 dias, os ovos eclodem e o primeiro estágio larval
emerge; movem-se através do pêlo, penetram na pele. Aparentemente, estas larvas
locomovem-se quase que exclusivamente através do tecido conjuntivo. Elas secre-
Hipodermose – Berne 945
DERMATOPATIAS CONGÊNITAS E
HEREDITÁRIAS
Defeitos congênitos envolvendo a pele e seus anexos não são raros, e a maioria
possui uma causa genética.
O albinismo é classificado como parcial, incompleto ou completo. O albinismo
parcial é caracterizado por uma íris que é azul e branca centralmente e marrom
perifericamente, e por uma cor de pelagem que é, geralmente, característica da raça
ou mais diluída. Animais com albinismo incompleto, que é herdado como um
autossomo dominante, podem ter defeitos congênitos oculares da túnica coróide e
hipoplasia dos tecidos fibrosos e celulares de coróide.
A síndrome de Chédiak-Higashi (ver pág. 76), caracterizada por albinismo
parcial, é uma herança recessiva e os animais afetados apresentam anormalidade
de membranas de organelas em vários tipos celulares e a suscetibilidade às
infecções é maior. Os albinos completos possuem pelagem toda branca, a íris é
branca a rósea mas a túnica coróide é normal. O albinismo completo é uma herança
autossômica simples e recessiva.
Uma deficiência de coloração albinótica em gado angus, a hipopigmentação
oculocutânea, é herdada como uma característica autossômica simples e recessiva.
A pelagem marrom é observada sobre toda a superfície corporal e focinho, cascos
e bolsa escrotal também são de coloração marrom. A superfície da pele é marrom
a cinza e isto é particularmente notório na pele lisa ao redor das pálpebras, orelhas,
focinho, ânus e vulva. A característica mais aparente envolve a cor da íris: a cor preta
da íris é substituída por uma íris luminosa, geralmente de 2 cores, dando uma
aparência duplamente anelada. As pupilas sempre aparecem constritas à luz do dia
e, à distância, os olhos parecem brancos. O fundo ocular é despigmentado.
A fragilidade da pele, semelhante à síndrome de Ehlers-Danlos no homem, é
caracterizada por extrema fragilidade da pele, afrouxamento das articulações,
fragilidade cutânea e retardo na cicatrização de ferimentos cutâneos. O tecido
colágeno do corpo revela fragmentação e desorganização das fibras e maturação
deficiente. A pele dos bezerros afetados contém 12% a menos de proteína e 36%
a menos de glicina do que a pele normal. O defeito tem sido identificado nas raças
middle e high belgas, hereford, simmental, charolês e black pied alemão.
A epiteliogênese imperfeita é herdada como uma característica autossômica
simples recessiva e ocorre em bezerros das raças holstein, ayrshire, jersey,
shorthorn e angus. Bezerros holstein apresentam extensos defeitos epiteliais e
distais às articulações cárpica e társica, e uma ou mais patas defeituosas. Além
disso, focinho, narinas, língua, palato duro e bochechas apresentam defeitos
epiteliais. As orelhas são deformadas por margens enroladas e adesões nas
superfícies de contato. Bezerros ayrshire apresentam lesões similares, mas em
menor extensão e sem defeitos nas patas ou chifres. Bezerros da raça jersey
apresentam extensos defeitos epiteliais na cavidade bucal e sobre o corpo e pernas.
Eles também apresentam graves defeitos, como braquignatia inferior e atresia anal.
Bezerros das raças shorthorn e angus apresentam grandes defeitos epiteliais distais
Dermatopatias Congênitas e Hereditárias 948
ÉCTIMA CONTAGIOSO
(Dermatite pustular contagiosa, Úlcera da boca)
CUTEREBROSE, PQ AN
É a presença da larva da mosca Cuterebra spp (ordem Diptera, família
Cuterebridae), na subcútis de um coelho ou roedor. Os Cuterebra adultos não são
parasitas e são observados raramente. As fêmeas depositam ovos dentro ou
próximo aos ninhos, ou ao longo do hábitat dos hospedeiros normais. A larva
infectante, que se desenvolve dentro dos ovos, eclode em resposta ao calor de um
hospedeiro nas proximidades. Embora, em geral, a larva penetre no hospedeiro por
via bucal e nasal, outras aberturas corporais podem ser utilizadas, como as
lacerações cutâneas. Após a penetração na pele, elas migram a vários locais no
tecido subcutâneo nos diferentes hospedeiros. A rota da migração é variável. A larva
pode alcançar 25mm de comprimento e 10mm de diâmetro. As espículas cuticulares
pretas dão à larva completamente desenvolvida uma coloração escura. O desenvol-
vimento larval perdura , 1 mês, após o qual a larva sai para pupar no solo. A duração
do estágio de pupa varia consideravelmente, dependendo dos fatores ambientais e
latência no inverno. As moscas adultas que depositam 5 a 15 ovos por local, podem
depositar > 2.000 ovos.
Um abscesso subcutâneo de parede espessa e tamanho variável forma-se ao
redor da larva em desenvolvimento. Pode haver secreção de pus do orifício de
respiração feita na pele pelo parasita. É possível ocorrer migração larval anormal,
incluindo invasão do cérebro com distúrbios nervosos fatais.
Cuterebra são parasitas acidentais daqueles hospedeiros incomuns que fazem
contato com os ovos. Cães e gatos podem se tornar infestados, provavelmente por
explorarem tocas de roedores ou outros ninhos de ovos. As lesões são encontradas
mais freqüentemente sob a pele do pescoço e do peito durante o final do verão e
início do outono. A lambedura constante da área peitoral é freqüentemente o sinal
clínico mais evidente nos gatos.
Dermatite 951
Em raras ocasiões, cães e gatos podem se infestar com Hypoderma spp ou, mais
comumente, com Dermatobia hominis, nas áreas onde ela está presente.
A lesão não deve ser comprimida, posto que a ruptura do parasita pode resultar
em anafilaxia. O orifício de respiração feito através da pele pelo parasita deve ser
aumentado cirurgicamente para permitir a remoção cuidadosa da larva. A lesão é
então tratada como qualquer abscesso com a lavagem e instilação de preparações
antibióticas.
DERMATITE
A dermatite pode ser produzida por uma série de agentes, incluindo irritantes
externos, queimaduras, alérgenos, trauma e infecções bacterianas, virais, parasitá-
rias ou fúngicas. A dermatite pode estar associada a uma doença intercorrente
interna ou sistêmica e fatores hereditários também podem estar envolvidos. As
alergias (ver pág. 513) formam um importante grupo de fatores etiológicos, especial-
mente em pequenos animais.
O sinal mais comum é o prurido, seguido por lesões na pele que progridem de
edema e eritema para pápulas, vesículas, exsudação e descamação ou escaras.
Pode ocorrer infecção secundária. À medida que a doença se torna crônica, o
eritema diminui e as pápulas também, mas as lesões ficam mais secas e a pele pode
desenvolver fissuras. Os sintomas podem variar consideravelmente, de acordo com
a espécie afetada e com o agente causal.
É vital determinar a causa de base da dermatite, pois as medidas paliativas
raramente efetuam uma cura. Deve ser feita uma anamnese completa, anotando a
progressão da doença (pruriginosa? sazonal?), o meio ambiente, alimento, exposi-
ção e envolvimento com outros animais ou pessoas, e qualquer tratamento feito
anteriormente. O exame físico deve definir as áreas afetadas; por exemplo,
generalizado, tronco, face, membranas mucosas, etc. Testes diagnósticos, como
raspado de pele para detecção de ectoparasitas, cultura de pele para detecção de
bactérias e fungos, biópsia de pele, avaliação endócrina, dieta hipoalergênica ou
teste cutâneo intradérmico devem ser empregados, quando indicado.
Até ser diagnosticada a causa da dermatite, ou naqueles casos de dermatite idiopá-
tica, podem ser usadas ambas as terapias paliativas tópica e sistêmica. A pelagem
das áreas afetadas e circundantes deve ser aparada. A dermatite úmida aguda pode
ser tratada com solução adstringente (por exemplo, solução de Burow) ou uma loção
ou creme corticosteróide oclusiva mínima. A dermatite seca crônica geralmente será
auxiliada pela aplicação de uma pomada corticosteróide. Para remover escaras ou
crostas, pode ser usado um xampu com alcatrão e enxofre, ou enxofre e ácido
salicílico. Produtos à base de alcatrão são contra-indicados para gatos.
Infelizmente, a terapia tópica é freqüentemente lambida ou retirada pelo animal;
a terapia sistêmica com doses antiinflamatórias de corticosteróides é geralmente a
melhor alternativa. Para uma ação rápida, deve-se usar droga via oral (prednisona,
prednisolona). A dose inicial é 1mg/kg, VO, uma vez ao dia; esta deve ser diminuída
para a dose mais baixa possível em dias alternados, para a supressão dos sintomas.
Antes de usar corticosteróides tópicos ou sistêmicos, qualquer etiologia infecciosa
deve ser eliminada.
Aparelhos restritivos (grilhões, colares elisabetanos) e sedativos devem ser
usados somente como último recurso na terapia de prurido. Eles contribuem pouco
para o conforto do animal ou para o diagnóstico da doença.
Dermatofilose 952
DERMATOFILOSE
(Infecção por Dermatophilus, Estreptotricose cutânea, Lã encaroçada)
DERMATOFITOSE
(Tinha)
DERMATOFITOSE EM BOVINOS
A Trichophyton verrucosum é geralmente o agente causal da dermatofitose em
bovinos, mas outras Trichophyton spp podem ser, ocasionalmente, isoladas. A
patologia é mais comum em bezerros. Após uma incubação de 2 a 4 semanas, os
pêlos da área infectada caem ou quebram-se, e em 2 a 3 meses, observam-se
placas crostosas, redondas, ligeiramente circunscritas, espessas, branco-acin-
zentadas e elevadas na superfície da pele. As lesões expandem-se em direção à
periferia e podem alcançar 5 a 10cm de diâmetro. Os locais prediletos incluem a
cabeça, pescoço e períneo. Se não tratadas, as lesões podem se generalizar
Dermatofitose 956
sobretudo nos filhotes. O prurido geralmente não está presente, e uma piodermia
secundária é rara. A dermatofitose é mais comum durante o inverno em animais
estabulados, mas pode ocorrer em qualquer época do ano. Um diagnóstico
presuntivo pode ser baseado nos sinais clínicos típicos, e confirmado então por
cultura.
Para o tratamento, muitas medicações tópicas são aparentemente efetivas.
Como a recuperação espontânea é comum, a principal vantagem da terapia tópica
é prevenir a progressão das lesões existentes e limitar a difusão do material infectivo
para outros animais. As crostas espessas devem ser removidas delicadamente com
uma escova e sabão suave e o material contaminado queimado. Uma terapia tópica
efetiva inclui banhos ou pulverizações com cal sufurada a 0,5%, hipocloreto de sódio
a 0,5% (1:10 cloro alvejante), solução de clorexidina a 0,5%, povidona-iodo a 1% ou
Captan 1:300. Estas medicações são aplicadas em toda a superfície corporal dos
animais afetados diariamente durante 5 dias, depois semanalmente até que a
infecção seja controlada. Lesões individuais também podem ser tratadas regular-
mente com uma suspensão a 5% de tiabendazol em dimetilsulfóxido. Na Europa
utiliza-se uma vacina fúngica atenuada, a qual garante uma profilaxia efetiva; ela
não está disponível nos EUA e no Canadá.
DERMATOFITOSE EM EQÜINOS
A Trichophyton equinum é a causa primária de dermatofitose em eqüinos,
embora a Microsporum equinum (freqüentemente confundida com M. canis) seja
importante em alguns locais; T. mentagrophytes, M. canis, e M. gypseum são
encontradas ocasionalmente. Os sinais clínicos consistem de uma ou mais áreas de
alopecia. Eritema, descamação e formação de crostas freqüentemente estão
presentes, mas variam de intensidade. As lesões iniciais podem se assemelhar à
urticária, depois progridem para alopecia e formação de crostas em poucos dias. O
diagnóstico é confirmado por cultura. O diagnóstico diferencial inclui dermatofilose
e foliculite bacteriana. A transmissão por fomitos contaminados, como selas e
arreios é especialmente comum.
O tratamento bem-sucedido requer medicação do animal e descontaminação do
ambiente. O ideal é isolar os animais afetados. O tratamento tópico consiste na
aplicação pelo corpo inteiro de um rinse com um agente antifúngico (ver anterior-
mente [BOVINOS] para recomendações) diariamente por 5 a 7 dias, depois sema-
nalmente até a cura. O rinse pode ser precedido por um xampu com povidona-iodo,
se desejado. As ferramentas e utensílios de cavalariça devem ser desinfetados
freqüentemente e não devem ser utilizados em animais hígidos após a utilização nos
animais infectados.
OUTRAS DERMATOSES
Vários distúrbios sistêmicos produzem lesões variadas na pele. Normalmente, as
lesões não são inflamatórias, e a alopecia é comum. Em alguns casos, as alterações
cutâneas são características de uma doença em particular. No entanto, a dermato-
se, não está, com freqüência, notadamente associada com a doença de base e deve
ser cuidadosamente diferenciada dos distúrbios cutâneos primários. Algumas
destas dermatoses secundárias serão mencionadas brevemente adiante, e tam-
bém estão descritas nos capítulos específicos sobre os distúrbios.
A dermatose pode estar associada a deficiências nutricionais, especialmente de
proteínas, gorduras, minerais, algumas vitaminas e microelementos. Entretanto, é
raro observarmos dermatose em cães e gatos que são alimentados com dietas
balanceadas, devido à boa nutrição proporcionada pelas rações. Os huskies
siberianos, e ocasionalmente outras raças, podem desenvolver uma doença seme-
lhante à paraceratose suína e requerem quantidades adicionais de zinco em suas
dietas (220mg de sulfato de zinco; a cada 12 a 24h). A dermatose responsiva ao
zinco também tem sido relatada em bovinos, ovinos e caprinos e está associada com
uma necessidade individual mais alta, não com uma deficiência dietética.
A dermatite é observada algumas vezes, no curso de distúrbios crônicos de
órgãos internos, como nefrite, hepatite ou piometria, e distúrbios dos sacos anais.
O envenenamento por sulfato de tálio (veneno de rato), esporão do centeio,
mercúrio e iodetos pode causar várias alterações cutâneas. Hiperceratose em
bovinos pode ser causada pela toxicidade a naftalenos clorados.
Nos cães, a dermatose pode aparecer como resultado de uma disfunção
endócrina. Nos machos, com tumor das células de Sertoli, podem ser observados
alopecia bilateral e prurido ocasional com erupções papulares. As cadelas intactas
com desequilíbrio hormonal geralmente apresentam ginecomastia, prurido, eviden-
ciam erupção papular e ciclo estral freqüente. As lesões de pele de ambos os
distúrbios podem se iniciar na região inguinal e do flanco e progredir cranialmente.
A dermatose decorrente de castração é rara em cães e gatos; quando isso ocorre,
é geralmente não pruriginosa, com alopecia discreta nas regiões perineal ou
inguinal. Entretanto, a alopecia endócrina felina é observada principalmente em
gatos machos castrados. É caracterizada por um adelgaçamento do pêlo, bilateral,
simétrico e difuso, que se inicia nas regiões perineal e genital. A etiologia é
desconhecida, mas geralmente responde à hormonioterapia.
As dermatoses também têm sido observadas na hipofunção da tireóide. As
lesões de pele são caracterizadas pela diminuição do crescimento piloso e alopecia
simétrica bilateral. A pele do paciente com hipotireoidismo é seca, escamosa,
espessada e pregueada. Acantose e distúrbios seborréicos também podem ocorrer.
Em raros casos, desenvolve-se mixedema cutâneo.
A produção deficiente de hormônios hipofisários raramente causa dermatoses.
O hipofisarismo é caracterizado pela queda de pêlos, especialmente nas regiões
axilar e do tórax lateral e abdome. O hiperadrenocorticismo também se manifesta
por meio de alterações cutâneas, tais como hiperpigmentação, alopecia, seborréia,
calcinose cutânea e piodermia secundária. No diabetes melito podem ocorrer
prurido e infecção secundária.
O tratamento de todas estas afecções depende de um diagnóstico etiológico
específico. Uma vez este estabelecido e controlado, as lesões de pele, geralmente,
necessitam apenas de tratamento sintomático (por exemplo, controle do prurido) até
que estes desapareçam com a resolução da doença primária (ver também SISTEMA
ENDÓCRINO, pág. 307).
Complexo do Granuloma Eosinofílico 959
A dermatite nasal dos cães deve ser considerada como um sinal clínico de muitas
doenças. As lesões podem afetar o septo nasal, o plano nasal ou ambos. Na
piodermia, na dermatofitose e na demodicose, as regiões com pêlo do focinho são
afetadas. No lúpus ou pênfigo, o focinho inteiro freqüentemente apresenta crostas,
com ocasional exsudação serosa ou ulceração. No lúpus sistêmico e discóide, e
ocasionalmente no pênfigo e no linfoma cutâneo, o plano nasal apresenta-se
despigmentado, eritematoso e eventualmente pode ulcerar. O eczema nasal devido
à radiação solar é uma doença rara, quase sempre diagnosticada erroneamente
como uma variante do lúpus. Na dermatite solar nasal, as áreas não pigmentadas
do plano nasal são afetadas primeiramente, e ocasionalmente o septo nasal pode
tornar-se inflamado e às vezes ulcerado. As lesões são piores no verão, embora o
lúpus e o pênfigo possam também apresentar esta variação sazonal. Algumas das
doenças citadas podem afetar a região periocular (ver também LÚPUS ERITEMATOSO
SISTÊMICO, pág. 520 e PÊNFIGO, pág. 519).
O tratamento depende da etiologia. O diagnóstico deve incluir raspado de pele,
culturas bacteriana e fúngica e biópsias, tanto para exame histopatológico quanto
para testes imunológicos. Uma vez que o diagnóstico de dermatite solar nasal seja
confirmado, a utilização de uma loção corticosteróide tópica (valerato de betametasona
a 0,1%) é útil na redução da inflamação. Deve-se restringir severamente a exposição
do cão à luz solar. Protetores solares tópicos podem ser efetivos, mas precisam ser
aplicados no mínimo duas vezes ao dia.
EPIDERMITE EXSUDATIVA
(“Doença do porco seboso”)
PULGAS
As pulgas são ectoparasitas comuns sugadores de sangue, principalmente de
cães e gatos, que podem causar prurido e conseqüentemente problemas derma-
tológicos severos. As 2 espécies mais comumente encontradas que infestam proprie-
dades domésticas, a Ctenocephalides felis e a menos prevalecente, C. canis,
alimentam-se em cães, gatos e no homem. Pulex irritans, considerada a “pulga do
homem”, também se alimenta em cães e gatos. As pulgas requerem calor e umidade
para completarem seu ciclo de vida; em regiões de clima temperado, elas podem ser
apenas um problema sazonal de verão, mas em zonas mais tropicais ou áreas
aquecidas da casa, infestações perenes sérias são freqüentes. As pulgas também
agem como hospedeiros intermediários de uma tênia comum, a Dipylidium caninum,
e podem transmitir o parasita filarial, Dipetalonema reconditum. A transmissão de
outras doenças pela pulga comum de cães e gatos não é reconhecida correntemente.
As pulgas de cães e gatos não são conhecidas como transmissoras de doenças
ao homem, mas a sua capacidade de se alimentar de sangue humano indica que
elas são indesejáveis do ponto de vista da saúde humana. Adicionalmente, cães e
gatos podem servir de portadores temporários de outras espécies de pulgas, que
podem transmitir outras doenças (ver PESTE BUBÔNICA, pág. 438). A urticária papular
e lesões de pele pruriginosas múltiplas, causadas por picadas de pulga, são muito
comuns, tanto em crianças quanto em adultos, e podem ser os primeiros sintomas
noticiáveis de infestação por pulgas nos animais de estimação da família.
Etiologia e epidemiologia – As pulgas adultas podem saltar longas distâncias
e fixam-se facilmente aos animais nos ambientes infestados. Uma irritação pequena
pode ser causada por seu movimento na superfície da pele e pela perfuração da
epiderme. O maior problema é a freqüente indução de hipersensibilidade alérgica
por secreções salivares das pulgas.
Em um ambiente úmido, as pulgas podem sobreviver fora do hospedeiro por até
7 meses, sem um repasto sangüíneo. Quando presas a um hospedeiro, elas se
alimentam vorazmente, porém digerindo apenas uma pequena porcentagem do
sangue ingerido, sendo o restante excretado como pequenos grumos de fezes
negras. A alimentação estimula a postura de ovos enquanto no hospedeiro, e as
pulgas fêmeas adultas produzirão várias centenas de ovos durante seu tempo de
vida. Os pequenos ovos brancos não aderem à pele ou ao pêlo, mas caem
livremente do hospedeiro para contaminar a cama, chão, tapetes e o ambiente
externo. As larvas ápodes que emergem dos ovos são virtualmente invisíveis a olho
nu. Elas se alimentam ativamente de restos proteicos locais, particularmente fezes
de sangue seco de pulgas adultas. As larvas pupam e as pulgas adultas emergirão
mais tarde dos pequeninos casulos. O ciclo de vida inteiro da pulga é completado
em , 3 semanas sob condições ambientais favoráveis.
As pulgas podem se reproduzir rapidamente em populações epidêmicas durante
poucos meses quentes. As famílias proprietárias de animais de estimação que
experimentam infestações severas são quase sempre abaladas pelo maciço
número de pulgas adultas, que facilmente picam a pele humana e podem tornar as
propriedades quase inabitáveis.
Patogenia – As pulgas alimentam-se rapidamente picando a epiderme e
sugando o sangue de capilares cutâneos danificados. Várias picadas para alimen-
tação podem ser feitas num mesmo lugar e dentro de poucos minutos. Várias
pulgas podem causar centenas de penetrações de pele individuais e num breve
período. Os hospedeiros que não se tornam hipersensíveis aos antígenos salivares
de pulga podem experimentar pequena ou nenhuma reação cutânea às picadas;
entretanto, muitos indivíduos desenvolvem, eventualmente, hipersensibilidade alér-
Pulgas 963
gica às pulgas (dermatite alérgica à pulga [DAP]) e podem exibir tanto urticária
pustular imediata quanto lesões inflamatórias retardadas, que são intensamente
pruriginosas. Muitos dos danos resultantes na pele são então causados por prurido
que provoca mordidas e outros ferimentos auto-infligidos. A severidade dos sinais
clínicos está mais relacionada com o grau de hipersensibilidade do que com o
número de pulgas existentes. No caso de alta sensibilidade individual, poucas
pulgas podem causar doença severa, e a duração dos sinais clínicos pode persistir
por muitos dias. Existe uma variação individual com relação à sensibilidade aos
alérgenos da pulga; em cães isto depende em parte de uma exposição prévia a
picadas de pulgas – a exposição intermitente leva a uma hipersensibilidade maior
que a provocada por uma exposição contínua. As reações cutâneas decorrentes de
alergia a picada de pulga são menos documentadas em gatos.
Achados clínicos – O prurido é geralmente o primeiro sinal de infestação por
pulgas em cães e gatos, quase sempre na ausência de quaisquer lesões dermato-
lógicas evidentes. As lesões são mais comuns na região lombossacra, dorso da
cauda, regiões medial e caudal dos membros posteriores, regiões abdominal e
inguinal. O esfregar constante pode não causar muitos danos significativos à pele,
mas freqüentemente incomoda os proprietários de animais de estimação. Ocasio-
nalmente, um gato (ou um cão) pode estar infestado mas assintomático. Devido ao
fato de que números massivos de pulgas podem retirar quantidades significativas
de sangue de pequenos animais, é comum a anemia em infestações pesadas.
Lesões – Uma grande variedade de lesões de pele pode se desenvolver em
animais hipersensíveis. A evidência clássica de hipersensibilidade a pulgas é a
presença de alopecia dorsal com dermatite exsudativa inflamatória, particularmente
próximo à base da cauda. Os cães cronicamente afetados podem desenvolver
acentuada perda de pêlo e hiperceratose ou “pele de elefante”. Manchas de
dermatite úmida aguda ou “pintas quentes” podem aparecer em cães quando a pele
estiver danificada por prurido ou mordeduras auto-infligidas, embora as pulgas nem
sempre provoquem esta reação. Gatos com infestação crônica podem não apresen-
tar lesões ou prurido, ou podem desenvolver dermatite miliar (“doença do gato
sarnento”), com pápulas e crostas múltiplas, pequenas e salientes, principalmente
no dorso. Entretanto, estas lesões nem sempre estão relacionadas às pulgas, e o
grau de prurido pode variar. Além disso, as pulgas podem ser responsáveis por um
excesso de higiene (lambedura) e têm sido implicadas no complexo granuloma
eosinofílico.
Diagnóstico – Embora não sejam achadas no animal, as pulgas adultas são
visíveis, particularmente se uma lente de aumento iluminada for usada. Um auxílio
diagnóstico é o “teste do papel molhado”: uma folha de papel branca e plana é
completamente umedecida e mantida embaixo do animal, enquanto a pelagem
dorsal é rapidamente penteada com os dedos. Qualquer “resíduo fecal de pulga” que
for deslocado produzirá uma mancha de sangue castanho-avermelhada visível no
papel. Nem sempre é fácil provar que o prurido ou a dermatite exsudativa estão
sendo causados por pulgas; entretanto, elas são a causa mais comum destes sinais
e é razoável começar-se o tratamento inseticida.
A severidade de uma infestação por pulgas em uma família não pode ser
totalmente avaliada pelo exame dos animais residentes; os proprietários também
têm que ser questionados para se saber se a pele humana está sendo picada e quais
áreas ou cômodos são os mais utilizados pelos animais e, por isso, os que devem
estar mais infestados.
O diagnóstico diferencial da dermatite alérgica a pulga inclui atopia, alergia
alimentar, desordens seborréicas, piodermia, dermatofitose, e escabiose canina.
Um teste intradérmico positivo com antígenos de pulga comerciais confirma o
diagnóstico e auxilia na educação do proprietário, mas nem todos os cães com DAP
Pulgas 964
A resistência das pulgas a certos produtos químicos tem sido descrita, mas
geralmente é usada como uma desculpa para um controle epidemiológico inade-
quado.
O tratamento efetivo da DAP depende da erradicação das pulgas juntamente
com outras medidas apropriadas para o controle da piodermia secundária, seborréia
ou dermatite piotraumática. Como medida temporária para providenciar alívio para
o prurido, enquanto o controle de pulgas estiver no início, podem-se usar drogas
corticosteróides de curta duração (por exemplo, prednisolona na dose de 0,5 a
1mg/kg, uma vez por dia durante 4 a 7 dias, depois em manhãs alternadas [em cães
– em gatos, em tardes alternadas] por mais 10 dias). Não há justificativas para o uso
repetido de corticosteróides injetáveis de longa duração para controlar a DAP em
cães, já que isso pode levar ao hiperadrenocorticismo iatrogênico. Tentativas de
hipossensibilizar animais com preparações de antígenos de pulga comerciais
raramente são bem-sucedidas.
MOSCAS E MOSQUITOS
MOSCAS
Borrachudos e Piuns
Os borrachudos, também conhecidos como piuns, são membros da família
Simuliidae, ordem Diptera. Eles são caracterizados por tórax fortemente arqueado,
um aumento acentuado nas veias alares anteriores, e a ausência de olhos simples.
Algumas espécies são > 5mm de comprimento. Eles variam em cor de cinza, oliva
e negro. Apenas as fêmeas alimentam-se de sangue e suas peças bucais incluem
estiletes perfuradores parecidos com espadas. As antenas consistem de 9 a 12
segmentos. Os olhos da fêmea são distintamente separados; os do macho, com
raras exceções, são contíguos acima das antenas. Os palpos têm 5 segmentos.
Embora existam > de 1.000 espécies de Simuliidae, apenas algumas são conside-
radas importantes como pragas. Os borrachudos alimentam-se de todos os animais
economicamente exploráveis, animais selvagens, pássaros e o homem.
Os Simuliidae estão distribuídos por todo o mundo em áreas onde as condições
permitam o desenvolvimento das formas imaturas. Os borrachudos freqüentemente
aparecem em enxames onde correntes de água velozes e fortes proporcionem água
bem aerada para o desenvolvimento das larvas. As larvas quase sempre são
encontradas em água corrente; as torrentes rasas de montanhas são os lugares
favoritos para procriação. Algumas espécies, incluindo algumas notáveis pragas,
procriam em rios maiores; outras vivem em correntes temporárias ou semiperma-
nentes. Os borrachudos são particularmente abundantes nas zonas temperadas e
subárticas do norte, mas muitas espécies ocorrem nos trópicos e subtrópicos onde
outros fatores que não temperaturas sazonais afetam os seus padrões de desenvol-
vimento e abundância.
As larvas prendem-se às rochas ou a outros objetos sólidos (por exemplo, os
lados e estruturas de concreto caídas em canais de irrigação, represas de concreto)
em rios, algumas vezes aderindo à vegetação aquática ou emergente.
Os borrachudos possuem 1 a 6 gerações por ano, dependendo da espécie e das
condições climáticas. A atividade das fêmeas adultas pode durar de 2 a 3 semanas
até 3 meses. O néctar das flores providencia os carboidratos para a energia de vôo,
tanto das fêmeas quanto dos machos, porém as fêmeas geralmente exigem sangue
para o desenvolvimento ovariano.
Moscas e Mosquitos 966
Moscas de búfalo
A Haematobia irritans exigua é semelhante à mosca dos chifres, H. irritans, no
tamanho e aparência, e nos hábitos de procriação e alimentação. A mosca do búfalo
é uma praga primária de bovinos e bufalinos, mas ocasionalmente pode se alimentar
em cavalos, ovinos ou animais silvestres. Distribui-se por todo o norte da Austrália
e Nova Guiné, e é encontrada em partes do sul, sudeste e leste da Ásia e Oceania,
mas não se estende à Nova Zelândia. O seu desenvolvimento é semelhante ao da
mosca dos chifres; a adulta deixa o animal hospedeiro apenas enquanto põe ovos
em estrume fresco, onde se dá o desenvolvimento. O ciclo de vida pode levar 7 a
10 dias, dependendo da temperatura.
Moscas e Mosquitos 968
Moscas da face
A Musca autumnalis é semelhante em aparência à mosca doméstica comum e
ocorre em bovinos em pastoreio por todo o sul do Canadá e maioria dos EUA. As
peças bucais consistem em labelos de absorção e existem 4 faixas longitudinais no
abdome. Pode ser diferenciada da mosca doméstica pela proximidade e ângulos
das margens interiores dos olhos e pela coloração distinta da face e do abdome.
Os bovinos são os hospedeiros principais da mosca da face nos EUA, mas ela
também se alimenta em eqüinos e, possivelmente, ovinos e caprinos. É uma praga
para os bovinos em pasto, e procria apenas em fezes bovinas frescas em situações
de pastoreio. Não se desenvolve em situações de engorda e, assim, não é uma
praga em bovinos confinados. Os ovos são postos em estrume fresco e eclodem em
, 1 dia. A larva amarelada exige 2 a 4 dias para se desenvolver e quando madura
deixa o estrume para pupar no solo ao redor. O ciclo de vida completo do ovo ao
adulto requer 12 a 20 dias, dependendo das condições climáticas. Durante o
inverno, o adulto inativo se refugia em construções e outros lugares protetores.
As moscas da face quase sempre ocorrem em grande número ao redor dos olhos
e do focinho dos animais de produção. As fêmeas alimentam-se de secreções
faciais, como fluidos lacrimais, muco nasal e saliva para obter proteína para o
desenvolvimento do ovo. Também se alimentam em outras fontes, como sangue de
feridas e leite na face de bezerros. As moscas da face possuem espinhos ásperos
e pequenos (dentes prestômicos) nas suas peças bucais absorvedoras. Conse-
qüentemente, apenas algumas moscas são suficientes para causar irritação e
danos mecânicos ao tecido ocular do seu hospedeiro. A atividade alimentar das
moscas da face intensifica a transmissão da Moraxella bovis, o principal agente
etiológico da ceratoconjuntivite infecciosa bovina. As moscas da face também
servem de vetores para os vermes oculares nematóideos das Thelazia spp, e são
vetores naturais do nematóideo dos bovinos, Parafilaria bovicola.
O controle das moscas da face é difícil. Muitos esforços têm sido feitos usando-
se vários inseticidas e técnicas de aplicação, como sacos de pó, sprays
de nebulização, formulações para esfregar e inseticidas, além de reguladores de
crescimento de insetos, como aditivos alimentares. Em sua maioria, estes esforços
proporcionaram um controle pouco satisfatório. A introdução de brincos impregna-
dos de inseticidas providencia um controle um pouco melhor. Entretanto, com a
maioria destes dispositivos, reduções sazonais de moscas da face de apenas 70
a 80% têm sido alcançadas, até com 2 brincos instalados por animal, um em cada
orelha.
para os animais domésticos e o homem porque é atraída para a boca, nariz, orelhas,
olhos e feridas para se alimentar de secreções. Ao contrário de outras Hydrotaea
spp, a H. irritans produz uma geração a cada ano com 3 estágios larvais metamór-
ficos. Os ovos depositados no fim do verão eclodem no segundo estágio larval
metamórfico dentro de poucos dias. Este estágio saprófago dura um curto
período antes de desenvolver o terceiro estágio principal, o qual é predatório para
outras larvas de insetos. Durante o inverno ocorre um estágio larval tardio. As
moscas adultas são mais ativas do início de junho até o fim de setembro e são
comuns na vizinhança de moitas e bosques nos quais se abrigam entre períodos
de alimentação.
Na Grã-Bretanha, os ovinos são principalmente afetados. Grandes enxames,
atraídos pelo movimento de animais, congregam-se para alimentar-se de
secreções dos olhos e nariz, e de restos celulares na base do chifre em crescimento.
Para aliviar a irritação persistente, os ovinos esfregam e arranham suas cabeças,
o que resulta na formação de feridas em carne viva ou “cabeças quebradas”,
especialmente no topo da cabeça. As moscas, atraídas pelo sangue, pousam nestas
lesões auto-infligidas e aumentam as bordas por sua atividade de alimentação.
Ovinos de todas as idades ficam envolvidos, mas as raças com chifres e sem lã na
cabeça são mais severamente afetadas.
As moscas da cabeça também atacam o homem, veados, cavalos, bovinos e
coelhos. Embora nenhuma lesão correspondente à “cabeça quebrada” se desenvol-
va nos bovinos, a associação entre a ocorrência de mastite de verão (devida à
Corynebacterium pyogenes) e a atividade sazonal de moscas da cabeça é muito
próxima, especialmente na Dinamarca. As moscas da cabeça podem também estar
envolvidas na disseminação da mixomatose em coelhos.
O desenvolvimento, emergência e congregação da praga, a qual ocorre fora de
áreas de fazenda, impossibilitam os métodos tradicionais de controle com spray
inseticida em lugares de procriação e hábitats de descanso generalizados. O
controle no ponto de contato entre os insetos adultos que se alimentam e os
hospedeiros mamíferos é também de limitado valor. Com ovinos, a retenção de
compostos organofosforados ou derivados de piretrina nas áreas suscetíveis da
cabeça é de curta duração e, portanto, necessita de reaplicações impraticáveis em
animais de vida livre. O uso de brincos com inseticidas nos bovinos diminui a
incidência de mastite de verão, presumivelmente por redução de transmissão por
mosca da cabeça.
A remoção de animais de produção de lugares infestados durante a estação de
moscas é o único meio completamente eficiente para se evitar danos. O abrigo
de ovinos, uma vez que tenham aparecido “cabeças quebradas”, é o único método de
sucesso em impedir futuros danos por estas moscas.
Moscas do chifre
A Haematobia irritans é uma importante praga em bovinos, encontrada na maioria
das regiões produtoras de carne do mundo. Populações deste parasita são comuns
na Europa, África do Norte, Ásia Menor e Américas. Na América do Norte, a mosca
do chifre é encontrada onde quer que ocorram bovinos. Entretanto, ela ocorre em
números muito maiores e por períodos mais longos no sul e sudoeste dos EUA.
As moscas do chifre têm a cor e a aparência gerais das moscas de estábulo, mas
têm apenas quase metade do tamanho e são mais delgadas. O seu aparelho bucal
perfurador/sugador, tipo baioneta, é também semelhante na aparência e posição.
As moscas do chifre são quase exclusivamente pragas de bovinos e se reproduzem
apenas em fezes bovinas, mas se alimentam em cavalos, ovinos, caprinos e animais
silvestres.
Moscas e Mosquitos 970
práticas de manejo de estrume seco forem adotadas, devem ser feitos esforços extras
para reduzir ao mínimo a umidade do estrume. Se uma cova de estrume líquido for
utilizada, não se deve permitir que o mesmo se acumule acima da linha da água, seja
flutuando, seja aderindo nas paredes, já que é um local ideal para a produção de
moscas. Os inseticidas devem ser considerados como complementares às medidas
de saneamento e manejo destinadas à prevenção de procriação de moscas. Os
sprays residuais fornecem um controle de até 2 a 4 semanas com apenas um
tratamento, podendo ser aplicados em superfícies de descanso das moscas. Sprays,
nebulizações ou defumações com efeito rápido, mas sem ação residual, podem ser
usados para redução imediata de altas quantidades de moscas adultas. Outras
medidas de controle de moscas adultas, como o uso de faixas de resina inseticida ou
o uso de várias iscas de moscas, podem ser adotadas. Estas medidas são mais úteis
como complementos a outras práticas de controle de moscas. Os larvicidas também
podem ser aplicados diretamente às fontes de procriação de moscas; entretanto, isto
deve ser considerado apenas para os focos de reprodução não eliminados por
práticas normais de saneamento anteriormente adotadas.
Moscas de estábulo
A Stomoxys calcitrans tem aproximadamente o mesmo tamanho e aparência
geral de uma mosca doméstica. Sua cor é cinza-acastanhada, a mais externa das
4 faixas torácicas é interrompida, e o abdome tem uma aparência em forma de
xadrez. Ela possui uma probóscide em forma de agulha que é retraída para repouso
abaixo da parte anterior da sua face. As asas, quando em repouso, são largas nas
pontas. Acredita-se que esta seja a espécie mais cosmopolita do mundo.
A mosca de estábulo alimenta-se na maioria dos animais de sangue quente.
Geralmente é encontrada nas vizinhanças de estábulos ou áreas de pastoreio;
entretanto, pode também ser encontrada alimentando-se em animais em outras
situações de confinamento. As formas imaturas se desenvolvem na matéria orgâ-
nica em decomposição, incluindo recortes de grama e algas ao longo de praias. No
meio-oeste dos EUA, as larvas podem ser encontradas em áreas úmidas, próximas
a margens de montes de feno e covas de silagem. Em lugares onde os bovinos
alimentam-se de feno, a procriação pode ocorrer no limite da área de alimentação
onde o feno se mistura com urina e fezes. O ciclo de vida no campo pode ser
completado em 2 a 3 semanas e os adultos podem viver 3 a 4 semanas ou mais.
As moscas de estábulo podem ser um problema em muitas áreas dos EUA, mas
são predominantes em áreas de engorda por confinamento do meio-oeste. O dano
infligido ao bovino é causado pela picada dolorosa e também pela perda de sangue,
e a irritação leva os animais a se tornarem menos eficientes na conversão de
alimento em carne ou leite. A mosca de estábulo pode também ser um vetor
mecânico do carbúnculo ou do mal das cadeiras, e é um hospedeiro intermediário
de Habronema microstoma, um nematóideo parasita de cavalos.
As moscas de estábulo são difíceis de controlar por meio de tratamento de animais,
já que elas geralmente alimentam-se apenas uma ou duas vezes por dia, por curtos
períodos. Vários inseticidas aprovados podem ser administrados em spray, onde as
moscas possam estar repousando, por exemplo, em celeiros ou fileiras de cercas. A
consideração principal no controle de moscas de estábulo é o saneamento, o qual
pode ser responsável por até 90% do controle. Áreas ao longo de fileiras de cercas,
sob montes de alimentos, ou onde quer que estrume, fezes ou matéria em decompo-
sição possam se acumular, devem ser mantidas limpas, já que proporcionam o meio
para o desenvolvimento das moscas. Se procedimentos de bom saneamento forem
praticados, o controle químico, provavelmente será menos necessário; sem sanea-
mento, as medidas de controle químico provavelmente falharão.
Moscas e Mosquitos 973
banhos ou sprays, este método pode ser vantajoso para rebanhos menores, já que
é econômico e não requer uma instalação permanente.
Formulações tópicas ou “pour-on” de piretróides mais novos são de fácil apli-
cação e muito efetivas.
A pulverização forçada é um método que se ajusta bem às práticas de manejo
na época da tosquia. É rápida e econômica, e evita que os animais fiquem molhados.
Vários tipos de equipamento para pulverização são disponíveis comercialmente (ver
também PARASITICIDAS EXTERNOS, pág. 1811).
M OSQUITOS
Aproximadamente 3.000 espécies de mosquitos foram descritas ao redor do
mundo, com , 150 delas na América do Norte de clima temperado. Os mosquitos
são os mais proeminentes dos numerosos tipos de artrópodes sugadores de
sangue. São encontrados desde os pântanos salgados das planícies costeiras até
as piscinas de neve a 4.300m de altitude até 1.100m abaixo do nível do mar, nas
minas de ouro da Índia. Todos os animais de produção, cães, animais silvestres e
o homem estão sujeitos ao ataque.
Os gêneros importantes incluem Aedes, Anopheles, Culex , Culiseta e Psorophora.
Os mosquitos põem seus ovos tanto diretamente na superfície de água parada
quanto no caso da maioria das Aedes e Psorophora spp, em um substrato com solo
úmido, onde eles eclodem após um aguaceiro de uma irrigação, chuva, derretimento
de neve, etc. As larvas e pupas são também conhecidas como “wigglers” e
“tumblers”, respectivamente, são aquáticas, e ocorrem em uma grande variedade
de hábitats, desde lagos e pântanos permanentes até pastos irrigados, buracos de
árvore e até grupos de contêineres artificiais que contenham água. Algumas
espécies apresentam várias gerações por ano, e a alternância de períodos secos e
úmidos devido à chuva ou à irrigação revela-as em enormes quantidades. Os
hábitos de vôo dos adultos variam com a espécie; algumas Aedes spp são tidas
como migrando vários quilômetros a partir de seu hábitat larval aquático. As Aedes
e Psorophora spp geralmente passam o inverno no estágio de ovo, enquanto as
Anopheles, Culex e Culiseta spp, geralmente, passam o inverno no estágio adulto.
A Psorophora columbiae é uma grave praga, tanto de animais de produção quanto
de pessoas em áreas de plantação de arroz do Arkansas e Luisiana. A Culex tarsalis,
um vetor importante da encefalite eqüina ocidental, é encontrada nos estados do
oeste, centro e sul dos EUA. Aedes vexans é uma importante espécie nociva
encontrada nos estados do meio-oeste, e certas espécies do gênero Mansonia são
graves pragas de animais de produção da Flórida. A Aedes albopictus é uma espécie
asiática recente, que poderá se tornar um importante vetor de doença.
Os prejuízos que os mosquitos infligem aos animais de produção consistem
principalmente em grave incômodo, perda de sangue e transmissão de várias
doenças. Além disso, as toxinas injetadas no momento da picada podem causar
efeitos sistêmicos. Várias doenças, incluindo a encefalomielite eqüina e dirofilariose
canina, são transmitidas. Na América Central e na América do Sul, o adulto da
mosca do berne, Dermatobia hominis (ver pág. 944) fixa seus ovos em espécies de
mosquitos do gênero Psorophora, os quais os transmitem aos hospedeiros mamí-
feros quando se alimentam. Casos de transmissão aparente da bouba aviária por
mosquitos também têm sido relatados.
Tratamento e controle – O pecuarista deve tentar eliminar ou reduzir áreas em
suas terras que abriguem larvas de mosquitos. O controle de áreas de mosquito
geralmente envolve a cooperação de muitos indivíduos e pode ser realizado com
sucesso apenas com pessoal especializado com equipamento apropriado. Além da
Moscas e Mosquitos 976
HELMINTOS DA PELE
HABRONEMÍASE CUTÂNEA
(Feridas de verão)
É uma doença da pele de eqüinos em parte por larvas de vermes estomacais (ver
pág. 242). Quando as larvas emergem de moscas, que se alimentam em feridas
preexistentes ou em áreas úmidas da genitália e olhos, elas migram para o interior
e irritam o tecido, causando uma reação granulomatosa. A lesão torna-se crônica e
a cura é retardada. O diagnóstico é baseado no achado de granulomas na pele,
marrom-avermelhados e oleosos, que não curam e que contêm material calcificado,
amarelo, do tamanho de grão de arroz. As larvas, reconhecidas por protuberâncias
espinhosas em suas caudas, podem algumas vezes, ser demonstradas em raspa-
dos das lesões. Muitos tratamentos diferentes têm sido utilizados, a maioria dos
quais com maus resultados. O tratamento sintomático, que inclui o uso de repelentes
de insetos, pode ser de utilidade, e os organofosforados, aplicados topicamente na
superfície raspada da lesão podem matar larvas. A remoção cirúrgica ou cauteriza-
ção do tecido de granulação excessivo podem ser necessárias. O tratamento com
ivermectina (200µg/kg) tem sido eficiente, e embora possa haver exacerbação
temporária das lesões (presumivelmente em reação à morte das larvas), a cura
espontânea pode ser aguardada. O controle de moscas-hospedeiro e a coleta e
manejo regular do estrume, aliados à terapia anti-helmíntica regular, podem ajudar
a reduzir a incidência de habronemíase cutânea.
ELEOFOROSE
(Dermatose filarial, Cegueira de olhos claros, Cabeça ferida)
Elaeophora schneideri é um parasita do veado orelhudo e do veado de cauda
negra, encontrada nas montanhas do oeste e sudoeste dos EUA; ela também tem
sido encontrada em veados de rabo branco nas regiões sul e sudeste. Os parasitas
adultos têm 60 a 120mm de comprimento e normalmente são encontrados na
carótida comum ou nas artérias maxilares internas. As microfilárias de , 275µm de
comprimento e 15 a 17µm de espessura, normalmente encontram-se em capilares
cutâneos na fronte e na face. O desenvolvimento nos hospedeiros intermediários,
mutucas dos gêneros Tabanus e Hybomitra, requer , 2 semanas. Larvas infectivas
invadem o hospedeiro à medida que as mutucas se alimentam, migram para as
artérias leptomeníngeas e transformam-se em adultas imaturas em , 3 semanas.
Estes adultos jovens migram contra a corrente sangüínea e se estabelecem nas
artérias carotídeas comuns, onde continuam o seu crescimento. Os parasitas
atingem a maturidade sexual em , 6 meses e começam a produzir microfilárias. O
tempo de vida dos adultos é de 3 a 4 anos.
Achados clínicos – A doença clínica não tem sido relatada no veado orelhudo
e no veado de cauda negra; portanto, eles são considerados hospedeiros definitivos
normais. Quando as mutucas transmitem as larvas infecciosas ao alce europeu, alce
americano, ovino doméstico, caprino doméstico, veado-sika e possivelmente ao
veado de cauda branca, desenvolvem-se nas artérias leptomeníngeas e causam
necrose isquêmica do tecido cerebral, resultando em cegueira, dano cerebral e
morte súbita. A cegueira nestes animais é caracterizada pela ausência de opacidade
no meio refratário do olho, daí o nome popular de cegueira de “olhos claros”.
Os ovinos e caprinos domésticos, sobretudo cordeiros, cabritos e filhotes com um
ano de idade, podem morrer repentinamente 3 a 5 semanas após a infestação. A
morte é geralmente precedida pela falta de coordenação e pelo andar em círculos
e, freqüentemente, por convulsões e opistótono. Numerosos trombos ocorrem nas
artérias cerebral e leptomeníngea. Um ou mais adultos jovens de E. schneideri
acompanham cada trombo. Se o ovino ou caprino sobreviver a uma infestação
precoce, 6 a 10 meses mais tarde desenvolverá uma dermatite sanguinolenta no
topo da cabeça, testa ou face, daí o nome popular de “cabeça ferida”. As lesões
ocasionalmente ocorrem nas pernas, abdome e patas. Estas lesões são conse-
qüentes à dermatite alérgica em resposta às microfilárias alojadas nos capilares. As
lesões persistem, com períodos de cura incompleta ou intermitente, por , 3 anos,
Helmintos da Pele 978
ONCOCERCÍASE
O status taxonômico das 3 espécies de Onchocerca atualmente reconhecidas e
de outras espécies reconhecidas anteriormente está sob discussão. A Onchocerca
cervicalis ocorre no ligamento da nuca e possivelmente em outros locais do
organismo dos eqüinos. Nos bovinos, a O. gutturosa localiza-se no ligamento da
nuca e a O. lienalis no ligamento gastroesplênico. Os adultos estão associados ao
tecido conjuntivo, são muito finos e variam em comprimento de 3 a 60cm. As
microfilárias são encontradas na derme e em raras ocasiões circulando no sangue
periférico. As microfilárias não apresentam bainha e possuem 200 a 250µm de
comprimento, com uma cauda curta e pontiaguda. Os hospedeiros intermediários
da O. cervicalis são as Culicoides spp. As Simulium spp servem como hospedeiro
intermediário para O. gutturosa e O. lienalis.
Achados clínicos – A Onchocerca cervicalis tem sido associada ao mal de
cernelha, mal da nuca, dermatite e uveíte em cavalos (ver também VERMES
OCULARES DE GRANDES E PEQUENOS ANIMAIS, pág. 365). Entretanto, devido à presença
comum de grande número destes parasitas em cavalos sem estas manifestações,
existe alguma discussão sobre o seu papel na patogenia destas afecções.
Os adultos, no ligamento da nuca, induzem reações inflamatórias que variam de
necrose edematosa aguda a alterações granulomatosas crônicas, resultando em
fibrose e mineralização acentuadas. Os nódulos mineralizados são mais comuns
em cavalos mais velhos. Embora as lesões ocorram nestas áreas, presumivelmente
associadas a parasitas mortos, atualmente aceita-se que o mal da cernelha e o mal
da nuca não estejam associados a infestações por O. cervicalis.
As microfilárias concentram-se na pele da linha média ventral. Um grande
número pode ser encontrado em cavalos sem dermatite, assim como em cavalos
com dermatite da face, pescoço, peito, cernelha, pernas anteriores e abdome. Estas
lesões quase sempre incluem áreas de escamas, crostas, ulceração, alopecia e
despigmentação, e podem ser pruriginosas. A dermatite pode estar associada a
uma reação imunológica à morte de microfilárias. Embora a patogenia destas lesões
não esteja suficientemente clara, o tratamento com drogas microfilaricidas melhora
dramaticamente estas condições. Reações alérgicas a picadas de pequenas
moscas podem produzir lesões semelhantes ou exacerbar dermatites associadas
a microfilárias. Conseqüentemente, o diagnóstico da dermatite associada ao
Onchocerca pode se basear na sensibilidade ao tratamento microfilaricida.
Helmintos da Pele 979
As microfilárias também se acumulam nos olhos dos cavalos, embora nem todos
concordem que haja uma associação clara entre a uveíte eqüina (ver pág. 363), ou
outras lesões oculares em cavalos, com as microfilárias.
Diagnóstico – O método mais eficiente é a biópsia de pele. A biópsia de pele
inteira com ≥ 6mm é preferível. O tecido é macerado em solução salina isotônica e
deixado por várias horas. As microfilárias concentram-se e coram-se com o novo
azul de metileno após a remoção dos pedaços de pele. As microfilárias podem ser
diferenciadas microscopicamente das Setaria spp, as quais ocorrem no sangue de
bovinos e eqüinos pela presença de uma bainha ao redor dos Setaria (ver também
SARNA DOCE EM CAVALOS, pág. 974).
Tratamento – Nenhum tratamento é eficaz contra os parasitas adultos. A
ivermectina (200µg/kg) é altamente eficaz (> 99%) contra os microfilárias e produz
acentuada melhora clínica nos cavalos com dermatite oncocercótica. Uma pequena
porção de cavalos infestados com O. cervicalis reage ao tratamento com um
marcado edema da linha média ventral 1 a 3 dias após o tratamento. Lesões
oculares também têm sido relatadas. Estas reações normalmente resolvem-se
espontaneamente, porém um tratamento sintomático pode ser necessário.
PARAFILARIOSE
Parafilaria bovicola
Trata-se de um parasita filarial de bovinos, que causa lesões subcutâneas que
lembram equimoses. Também tem sido relatado no búfalo indiano (Bubalus bubalis).
O verme é esbranquiçado; as fêmeas adultas têm 50 a 65mm de comprimento, e os
machos 30 a 35mm. Ocorrem na Ásia (Filipinas, Japão, antiga Rússia, Paquistão,
Índia), Europa (Bulgária, Romênia, França, Suécia) e África (Marrocos, Tunísia,
Ruanda, Burundi, África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zimbábue). Um espécime foi
descoberto no Canadá em um touro importado da França, mas parece não ter se
estabelecido no continente americano, e não foi relatado na Austrália.
A parafilariose tem sido responsável por uma considerável perda econômica
para as indústrias de carne bovina da África do Sul e Suécia, apesar das suas
diferenças climáticas. A doença ocorre primariamente em bovinos nas savanas do
sul da África, porém na Suécia está emergindo como um problema em bovinos na
primavera após a volta ao pasto depois do confinamento do inverno.
Os únicos sintomas externos da infestação nos bovinos são hemorragias cutâneas
focais (“pontos de sangramento”), que podem exsudar algumas horas antes de
coagular e secar na pelagem emaranhada. Os pontos de sangramento são induzidos
pelo verme fêmea, o qual causa a formação de um pequeno nódulo, perfura a pele e
ovipõe no sangue gotejante de uma ferida central. Os pequeninos ovos contêm o
primeiro estágio larval (microfilárias) do parasita. Tanto no Hemisfério Norte quanto no
Sul, os pontos de sangramento são acentuadamente sazonais, sendo muito comuns
na primavera e nos primeiros meses de verão. A maioria dos pontos de sangramento
ocorre ao longo do dorso do animal, particularmente nos quartos anteriores.
Os hospedeiros invertebrados são as moscas da face do gênero Musca (subgênero
Eumusca), as quais ingerem os ovos quando se alimentam nos pontos de sangra-
mento. A Musca autumnalis foi identificada como hospedeiro na Suécia, a M. lusoria
e a M. xanthomelas na África do Sul, e a M. vitripennis na Ásia. O desenvolvimento
até o terceiro estágio de larva infectante requer 10 a 12 dias no corpo da mosca. A
transmissão ao gado provavelmente ocorre quando as moscas alimentam-se nas
feridas, nos pontos de sangramento de Parafilaria, ou nas secreções oculares.
Devido ao sangramento sazonal e à presença de nódulos cutâneos, infestações
severas por P. bovicola foram relatadas como reduzindo a produtividade de bois de
trabalho na Índia; entretanto, a maior importância do Parafilaria é nos países
Helmintos da Pele 980
ESTEFANOFILARIOSE
(Dermatite filarial dos bovinos)
A Stephanophilaria stilesi é um pequeno parasita filarial responsável por uma
dermatite circunscrita ao longo da linha média ventral de bovinos. O parasita foi
descrito por todo o território dos EUA, mas é mais comum nas regiões oeste e
sudoeste. Os vermes adultos têm 3 a 6mm de comprimento e geralmente são
encontrados na derme, justamente abaixo da camada epidérmica. As microfilárias
têm 50µm de comprimento e estão encerradas em uma membrana vitelina semi-
rígida e esférica. O hospedeiro intermediário da S. stilesi é a fêmea da mosca do
chifre Haematobia irritans (ver pág. 969). As moscas do chifre alimentam-se na
lesão ingerindo microfilárias que se desenvolvem até o terceiro estágio de larva
infectante em 2 a 3 semanas. As larvas infectantes são introduzidas na pele quando
as moscas do chifre se alimentam.
A dermatite desenvolve-se ao longo da linha média ventral, geralmente entre
o peito e o umbigo. Com a exposição repetida, a lesão espalha-se e quase sempre
envolve a pele posterior ao umbigo. Lesões ativas são cobertas com exsudato
seroso ou sanguinolento, enquanto lesões crônicas são lisas, secas e desprovi-
das de pêlos. Hiperceratose e paraceratose ocorrem na epiderme da área
parasitada.
Helmintos da Pele 982
HIGROMA
É uma falsa bolsa que aparece sobre proeminências ósseas e pontos de pressão,
principalmente em cães de raças grandes. O trauma repetido devido ao cão deitar
em superfícies duras produz uma resposta inflamatória, que resulta em uma
cavidade de parede densa, preenchida por líquido. Um aumento de volume de
consistência flutuante, macio e indolor desenvolve-se sobre pontos de pressão,
principalmente o olecrânio. Se permanecer por muito tempo, uma inflamação severa
pode se desenvolver, e ulceração, infecção e fístulas podem estar presentes. A
bolsa contém um líquido claro, amarelo a vermelho.
Se diagnosticado precocemente e se ainda estiver pequeno, o higroma pode ser
controlado clinicamente, por meio de uma aspiração asséptica com agulha e
prevenção de traumas. Camas macias ou acolchoados sobre pontos de pressão são
fundamentais para impedir traumas futuros. Se o processo for crônico, indicam-se
a drenagem cirúrgica, nivelamento e colocação de drenos de Penrose. Em áreas
com ulceração severa podem ser necessárias a excisão completa e a cirurgia
reconstrutiva. O uso de corticosteróides dentro do higroma é altamente controverso.
“CISTOS” INTERDIGITAIS
Nódulos (não cistos verdadeiros) multiformes e inflamados envolvem o tecido
interdigital de cães. Histologicamente, eles representam áreas de furunculose. As
opiniões diferem quanto à sua etiologia. As causas mais prováveis são corpos
estranhos, por exemplo, pêlos encravados, barbas de espiga e grãos de areia
(reações granulomatosas); e infecções bacterianas, principalmente estafilocócicas
(reações supurativas). A hipersensibilidade ao contato ou alérgenos bacterianos
também pode ter um papel. Os ácaros Demodex quase sempre podem ser obtidos
na área interdigital e podem ser um fator etiológico. Os cistos são comuns em cães
confinados a áreas de chão batido. Parece que a irritação e o trauma constantes,
isolados ou em combinação com os agentes anteriores, são fatores significativos.
Em seu estágio inicial, a lesão interdigital se parece com uma pequena pápula,
porém mais tarde progride para um nódulo. O último geralmente tem 1 a 2cm de
diâmetro, é roxo-avermelhado, brilhante, flutuante e pode se romper quando
palpado e exsudar um material sanguinolento. Pode haver nódulos únicos ou
múltiplos em uma ou mais patas. Os nódulos causados por corpos estranhos são
geralmente solitários e quase sempre ocorrem em uma pata dianteira. Uma recaída
Sarna 983
não é comum nestes casos. Se causados por infecção bacteriana, pode haver vários
nódulos com novas lesões se desenvolvendo enquanto outras se curam. A dor pode
ou não ser aparente, mas é mais comum nos nódulos que estejam quase se
rompendo e que contenham corpos estranhos.
Os granulomas por corpo estranho podem responder à aplicação de calor úmido
por 15 a 20min, 3 a 4 vezes por dia, e remoção do objeto estranho. Uma a duas
semanas são exigidas para que a lesão se cure. Se os banhos quentes das patas
não forem eficazes, a excisão cirúrgica é a abordagem mais prática.
As lesões bacterianas são tratadas sistematicamente com antibióticos selecio-
nados de acordo com os resultados de cultura e sensibilidade. Altas doses e
tratamento prolongado por até 6 a 8 semanas podem ser exigidos. Pode ser
necessário que as lesões sejam incisadas cirurgicamente e debridadas. Curativos
com antibióticos podem então ser aplicados por vários dias, seguidos por embebeção
ou lavagem com soluções anti-sépticas, por exemplo, clorexidina. A terapia com
bacterinas estafilocócicas também foi utilizada com sucesso.
As lesões que ocorrem em cães confinados geralmente são recorrentes, a menos
que o cão seja removido do ambiente predisponente.
SARNA
É uma doença cutânea contagiosa, causada por uma das várias espécies de
ácaros, que podem ser transmitidas quando larvas, ninfas ou fêmeas fertilizadas
são transferidas para animais suscetíveis diretamente pelo contato com animais
doentes, ou indiretamente por fomito ou ambiente contaminado. Os animais infesta-
dos sofrem alopecia e prurido com intensa irritação e hipersensibilidade, o que pode
levar à debilitação e possivelmente à morte. O período de incubação é de 2 a 6
semanas, dependendo do número de ácaros transferidos, do local de transferência
e da suscetibilidade do hospedeiro. Os estágios de desenvolvimento incluem ovo,
larva (3 pares de patas), ninfa (1 ou 2 pares), e adulto (4 pares). Ninfas e adultos são
sexualmente dimórficos. Duas a 3 semanas podem ser exigidas para completar o
ciclo de vida, que ocorre inteiramente no hospedeiro. Embora sejam hospedei-
ros específicos, alguns ácaros de sarna são considerados raças biológicas e
não espécies distintas, e infestação – ao menos temporária – pode ocorrer em outras
espécies de hospedeiros, incluindo o homem em contato com hospedeiros infestados.
SARNA EM BOVINOS
(Sarna de cocheira)
A identificação do tipo de sarna presente e sua diferenciação das outras
dermatoses é obtida pela recuperação de ácaros em raspados de pele. Às vezes,
a sarna e as dermatofitoses ocorrem ao mesmo tempo em rebanhos ou indivíduos.
As lesões escabióticas (Sarcoptes scabiei var. bovis) aparecem primeiro na
cabeça e no pescoço e então se espalham para outras partes. Algumas vezes, as
lesões aparecem na região perineal e entre as coxas. A irritação e erupções de pele
são semelhantes às dos cavalos (ver adiante). São caracterizadas por uma
aparência crostosa e escamosa; a pele engrossa e forma grandes pregas. As lesões
podem se curar espontaneamente durante o verão, sobretudo quando os animais
são mantidos no pasto.
A escabiose comum ou a sarna psoróptica dos bovinos (Psoroptes ovis), é uma
doença notificável e quarentenável, e, quando suspeita, deve ser relatada imediata-
Sarna 984
mente aos escritórios oficiais. Os proprietários não devem tentar tratar o gado
infestado; isto deve ser feito pelos escritórios oficiais. A doença está presente no gado
de corte de pasto ou engorda dos estados centrais e ocidentais dos EUA, com o maior
número de surtos descrito no Texas, Novo México, Oklahoma, Kansas, Colorado e
Nebraska. Aparece primeiro na cernelha e logo difunde-se ao longo do pescoço e
dorso, cobre os ombros e o peito até o abdome e flancos. Grandes quantidades de
ácaros desenvolvem-se quando o próprio tratador está limitado, bem como em
bovinos presos em postes. Em casos severos, as lesões podem recobrir quase o
corpo inteiro. Mortes em bezerros e animais de um ano não tratados são comuns. O
curso é geralmente crônico, mas pode ser agudo em animais mais jovens, sobretudo
durante os meses de inverno; o prognóstico é favorável se o tratamento for aplicado.
Os bovinos infestados devem ser imersos, e não tratados com spray.
Quatro banhos de imersão são aprovados nos EUA: toxafeno, 0,5 a 0,6% (com
período de pausa exigido de 28 dias antes do abate); coumafos 0,3% (sem exigência
de período de pausa); fosmet 0,20 a 0,25% (com um período de pausa exigido de
21 dias antes do abate); e cal sufurada quente (2% de polissulfetos de cálcio
aquecidos a 35 a 40,5°C) sem exigência de período de pausa. Dependendo do
produto utilizado (as instruções do fabricante devem ser verificadas), o regulamento
prevê 2 banhos de imersão em animais infestados em intervalos de 7 a 14 dias.
Apenas a cal sufurada quente é registrada para o uso em vacas leiteiras em lactação
(um banho de imersão, sem período de pausa).
A ivermectina aplicada subcutaneamente, na dose de 200µg/kg de peso corpo-
ral, é aprovada para o controle de sarnas psoróptica e sarcóptica (exceto em gado
leiteiro em lactação). Embora um tratamento seja eficiente, o bovino tratado deve ser
isolado por 2 semanas dos bovinos desprotegidos.
A sarna corióptica (Chorioptes bovis ) é o tipo mais comum de sarna em bovinos
nos EUA. As áreas da quartela das pernas são os locais prediletos deste ácaro. Uma
grande parte do gado pode estar infestada sem exibir os sintomas clínicos. As lesões
começam normalmente nas pernas, por isso a doença é chamada de “sarna de
perna”. A base da cauda freqüentemente é afetada e, se não tratada, a afecção pode
se espalhar para outras partes do corpo. Os bovinos podem ser tratados com
crotoxifos aplicados como um spray a 0,25% em altas pressões até umedecer
completamente o animal, incluindo as pernas e as ancas. Banhos de imersão e
sprays que contenham 0,06% de lindane também são eficazes, onde o uso desta
droga for permitido. Os banhos de imersão permitidos para escabiose psoróptica
bovina são eficazes contra o Chorioptes. Os banhos com cal sufurada são eficientes
se o curso completo de 6 tratamentos for dado a intervalos de 7 a 10 dias. A
ivermectina aplicada topicamente na dose de 500µg/kg de peso corporal é efetiva
contra a sarna corióptica (não deve ser usada em vacas em lactação).
A sarna demodética (Demodex bovis) é transferida da vaca ao bezerro durante
o aleitamento e pode causar consideráveis danos ao couro. As lesões podem ser
aparentes no pescoço, peito, ombros e face de bovinos leiteiros jovens, mas são
raramente visíveis ou palpáveis no gado de corte. Em casos raros, as lesões podem
aparecer por toda a superfície do corpo. Aproximadamente 90% do couro que tenha
sido desprovido de pêlos antes de ser curtido contém manchas devidas a ácaros
demodéticos. Primeiro, pápulas e nódulos pequenos se desenvolvem; algumas
vezes, possuem uma cor avermelhada e um material branco e grosso, de consistên-
cia cerosa pode ser extraído deles. Este material contém numerosos ácaros. Em
casos raros, os nódulos são preenchidos com pus e podem coalescer, formando
abscessos cobertos com pequenas escamas. Em alguns casos, as lesões cutâneas
consistem de crostas grossas e a pele engrossa e forma pregas pesadas. O curso
de sarna demodética bovina geralmente é suave, mas pode se estender por muitos
meses. A recuperação é geralmente espontânea. Não há tratamento satisfatório.
Sarna 985
As infestações por ácaro de sarna (Psorergates bos ) têm sido relatadas nos
EUA e Canadá. Alopecia e descamação podem ocorrer, mas as lesões não são
crostosas. Os ácaros são minúsculos e difíceis de serem coletados. O acaricida de
escolha é a cal sufurada na forma de spray ou banhos de imersão aplicados duas
vezes, com 2 semanas de intervalo.
SARNA EM CAVALOS
A sarna sarcóptica (Sarcoptes scabiei var. equi) é o tipo mais severo de sarna.
As lesões iniciais aparecem na cabeça, pescoço e ombros. As regiões protegidas
por pêlos longos e as partes mais baixas das extremidades geralmente não são
envolvidas. O primeiro sinal é um intenso prurido. Pequenas pápulas e vesículas
desenvolvem-se em uma dermatite aguda; a escamação aumenta rapidamente,
seguida pela formação de crostas. As manchas sem pêlos e com crostas aumentam
e a pele engrossa, formando pregas, principalmente na região do pescoço. Em
casos avançados, as lesões podem-se estender por todo o corpo, levando a
Sarna 988
SARNA EM SUÍNOS
A sarna sarcóptica (Sarcoptes scabiei var. suis) é a única forma de alguma
importância nos suínos. As lesões geralmente começam na cabeça, especialmente
nas orelhas e então difundem-se pelo corpo, cauda e pernas. O prurido é geralmente
intenso e associado ao desenvolvimento de uma reação de hipersensibilidade aos
ácaros. Quando a hipersensibilidade diminui, geralmente após vários meses, a pele
seca, áspera e espessada está coberta por crostas acinzentadas formando grandes
dobras. Raspados de pele profundos devem ser examinados já que os suínos
também são acometidos por outros tipos de doença de pele, incluindo dermatofitose.
O prurido é freqüentemente melhor indicador de infestação que o isolamento do
ácaro, principalmente em porcas e leitões lactentes. A administração de spray com
lindane na concentração de 0,05 a 0,1% ou malation a 0,05% é eficiente; solução de
clordane a 0,25% também tem sido usada. (O uso de alguns ou todos estes produtos
em animais de produção para consumo é proibido em alguns países.) A ivermectina,
na dose de 300µg/kg de peso corporal, s.c., também é eficiente.
A sarna demodética também ocorre nos suínos, causando lesões de pele
semelhantes às observadas em outros grandes animais. Não há tratamento confiável.
PARACERATOSE
É uma deficiência nutricional que acomete leitões de 6 a 16 semanas de idade,
e caracteriza-se por lesões das camadas superficiais da epiderme. É um distúrbio
metabólico resultante de uma deficiência relativa de zinco (ver também pág. 1521)
e de um excesso de cálcio na dieta.
Os sintomas estão restritos à pele, embora nos casos severos se possam observar
letargia e anorexia brandas e uma diminuição na taxa de crescimento. Se houver
prurido, este é discreto. As lesões externas estão distribuídas simetricamente em
áreas com ceratinização excessiva e anormal da epiderme com a formação de crostas
córneas e fissuras. Pontos ou pápulas marrons são vistos primeiramente nas áreas
ventrolaterais do abdome, parte interna das coxas e na quartela, boleto, jarrete e
cauda, unindo-se para envolver áreas maiores até o corpo inteiro estar recoberto. A
lesão é córnea e seca e em geral é facilmente removida. Ocasionalmente, ocorre
infecção secundária das lesões e as fissuras tornam-se repletas com um exsudato
escuro e mucoso e detritos, que podem lembrar uma epidermite exsudativa (ver pág.
961); no entanto, está última ocorre em leitões mais jovens.
Resultados altamente satisfatórios podem ser obtidos pelo ajuste na ingestão de
cálcio e zinco. O nível de cálcio na dieta dos suínos em crescimento deve ser mantido
entre 0,65 e 0,75% e uma suplementação de 50ppm de zinco (equivalente à adição
de 200mg/kg de sulfato ou carbonato de zinco por tonelada). A correção da
deficiência leva a uma rápida recuperação.
PEDICULOSE
(Infestação por piolhos)
sugadores ocorrem apenas nos mamíferos, mas os piolhos picadores são encon-
trados tanto nos mamíferos quanto nas aves (ver ECTOPARASITISMO NAS AVES
DOMÉSTICAS, pág. 1621).
Etiologia – Os piolhos dos animais domésticos demonstram um alto grau de
especificidade de hospedeiro. Os bovinos são comumente infestados pelo piolho
picador bovino, Damalinia (Bovicola) bovis, e por 3 espécies de Anoplura; o piolho
bovino de nariz curto, Haematopinus eurysternus ; o piolho bovino de nariz longo,
Linognathus vituli; e o piolho bovino azul pequeno, Solenopotes capillatus. Nos
trópicos, o piolho da ponta da cauda, H. quadripertusus, não é incomum (Flórida e
Costa do Golfo nos EUA). O pilho do búfalo indiano doméstico, H. tuberculatus, pode
infestar temporariamente os bovinos.
Os cavalos podem albergar 2 espécies de piolho, o piolho picador eqüino,
Damalinia (Bovicola) equi e o piolho sugador eqüino, Haematopinus asini. Os
suínos são comumente infestados com o piolho suíno, Haematopinus suis, o qual
é muito grande (, 5 a 6mm).
Os ovinos podem-se tornar infestados com o piolho picador ovino, Damalinia
(Bovicola) ovis, e 3 espécies de piolho sugador: o piolho das patas dos ovinos,
Linognathus pedalis; o piolho do corpo, L. ovillus; e o piolho ovino africano, L.
africanus. Os caprinos albergam várias espécies de piolhos, sendo os mais comuns
o piolho picador caprino, Damalinia (Bovicola) caprae e o piolho sugador caprino,
Linognathus stenopsis. Dois outros Mallophaga, D. limbata e D. crassipes, também
são freqüentemente encontrados.
Cães podem ser infestados com Linognathus setosus (Anoplura), Trichodectes
canis e ocasionalmente Heterodoxus spiniger . A Felicola subrostrata (Mallophaga)
parasita gatos.
Os piolhos são insetos achatados, ápteros, com geralmente 1 a 2mm de
comprimento. Suas pernas são adaptadas para agarrar-se em cabelos e penas. Os
Anoplura são sugadores de sangue. Os estiletes bucais são retraídos dentro da
cabeça quando não estão em uso. Os Mallophaga têm mandíbulas ventrais
mastigadoras e vivem em produtos epidérmicos; algumas espécies alimentam-se
de sangue e exsudatos, quando disponíveis.
Os ovos dos piolhos ficam colados aos pêlos, e são pálidos, translúcidos e
subovais. As ninfas dos piolhos (3 estágios) são menores que os adultos, mas por
outro lado assemelham-se com eles em hábitos e aparência. Aproximadamente 3
a 4 semanas são necessárias para completar uma geração, mas isso varia com a
espécie.
Achados clínicos e diagnóstico – A pediculose é manifestada por prurido e
irritação dérmica com os conseqüentes coçar, esfregar e mordiscar das áreas
infestadas. Uma aparência descuidada generalizada, pelame áspero e produção
diminuída em animais de fazenda são comuns. Em infestações severas, pode haver
perda de pêlo e escarificação local. A infestação extrema por piolhos sugadores
pode causar anemia. Nos ovinos e caprinos, o esfregar e o coçar quase sempre
resultam em fibras quebradas, as quais dão ao velo uma aparência “esgarçada”.
Nos cães, o pelame torna-se áspero e seco e, se os piolhos forem numerosos, o pêlo
pode ficar emaranhado. Os piolhos sugadores causam pequenos ferimentos que
podem-se tornar infectados. O constante vagar na superfície da pele e tanto a
perfuração quanto a mordedura da mesma causam nervosismo nos hospedeiros.
O diagnóstico deve ser baseado na presença de piolhos. O pêlo deve ser
separado e devem-se examinar a pele e a porção proximal do pelame sob luz forte.
O pêlo de grandes animais deve ser separado na face, pescoço, orelhas, linha
dorsal, barbela, ancas, base e ponta da cauda. Cabeça, pernas, pés e escroto não
devem ser esquecidos, particularmente nos ovinos. Em pequenos animais, os ovos
(lêndeas) presos são facilmente vistos. Ocasionalmente, quando o pêlo está
Pediculose 992
emaranhado, os piolhos podem ser vistos quando o volume for separado. Os piolhos
picadores são ativos e podem ser vistos movendo-se entre os pêlos, enquanto os
piolhos sugadores geralmente se movem muito lentamente e são quase sempre
encontrados com as peças bucais imersas na pele.
A pediculose nos animais de produção é mais prevalente durante o inverno; a
severidade é acentuadamente reduzida com a aproximação do verão. Infestações,
principalmente de piolhos sugadores, podem-se tornar severas. Em rebanhos
leiteiros, novilhas, vacas secas e touros podem escapar de um diagnóstico precoce
e sofrer mais severamente. Bezerros jovens podem morrer. O tratamento efetivo
resulta em rápida melhora.
A transmissão geralmente ocorre por contato com o hospedeiro. Os piolhos
caídos ou arrancados do hospedeiro morrem em poucos dias, mas os ovos livres
podem continuar a eclodir por um período de 2 a 3 semanas em clima quente.
Portanto, as propriedades recentemente desocupadas por animais infestados
devem ser desinfetadas antes de serem usadas por um plantel novo.
Tratamento – O controle de piolhos geralmente exige a aplicação de inseticidas
eficientes (ver também PARASITICIDAS EXTERNOS, pág. 1811), mas os produtos
disponíveis são grandemente influenciados pela legislação local. Em muitas partes
do mundo, inseticidas organoclorados não estão disponíveis para o uso em
rebanhos, e nos EUA alguns inseticidas são aprovados apenas em certos estados.
Quando os animais de produção são banhados ou tratados com spray é impor-
tante seguir com cuidado as instruções do fabricante, particularmente em ovinos,
cujo velo age peneirando e retendo gotículas de emulsões e partículas da suspensão.
Estas práticas estão sendo atualmente substituídas por preparações “pour-on” e
spray de baixo volume para a aplicação de inseticidas piretróides.
As tolerâncias nulas ou muito baixas aos pesticidas no leite limitam o número de
inseticidas que podem ser usados em vacas e cabras leiteiras. Compostos efetivos
incluem o crotoxifos mais diclorvos, e permetrina. Adicionalmente, o gado leiteiro
pode ser tratado com coumafos, fenvalerato e estirofos. Cabras que não estejam em
lactação podem ser tratadas também com coumafos, dioxation ou fenvalerato.
Bovinos, ovinos e suínos de corte podem ser tratados com coumafos a 0,06%,
dioxation a 0,15%, malation a 0,5%, metoxiclor, fenvalerato, permetrina, crotoxifos,
crotoxifos mais diclorvos ou ivermectina (para piolhos sugadores). Fosmet, estirofos,
estirofos mais diclorvos, lindane e amitraz podem ser usados em bovinos de corte;
spray de diazinon a 0,03% é efetivo contra piolhos em ovinos. Embora a rotenona
não deva ser usada em suínos, é segura para uso em outros animais quando as
normas correntes permitem.
O banho de imersão ou o tratamento completo com spray proporcionam uma
excelente cobertura, e geralmente 2 tratamentos com 2 semanas de intervalo
controlam efetivamente os piolhos. Um tratamento eficiente com spray requer
embebição do pêlo à pele; 12L podem ser necessários para tratar animais de grande
porte e de pêlo longo. O banho de imersão promove consistentemente a maior
cobertura, mas o número de formulações que podem ser aplicadas por este método
é limitado.
Outros métodos além do banho de imersão ou spray, por exemplo, o “pour-on”,
podem ser desejáveis do ponto de vista da redução do estresse do animal ou
também dos indivíduos que fazem a aplicação. Vários inseticidas sistêmicos
aprovados para o controle de bernes bovinos promovem um bom controle de
piolhos; entretanto devem-se tomar precauções para evitar reações hospedeiro-
parasita (ver HIPODERMOSE–BERNE, pág. 944). As formulações “pour-on” de fention
controlam as infestações de piolho em gado leiteiro não lactante, gado de corte e
suínos. O clorpirifos aplicado em um único ponto nas costas do animal provê um
controle de piolhos de longa duração em gado de corte, gado leiteiro não lactante
Fotossensibilização 993
FOTOSSENSIBILIZAÇÃO
É uma condição na qual a pele levemente pigmentada é hiper-reativa à luz solar,
devido a um agente fotodinâmico na pele. Moléculas de agentes fotossensibilizan-
tes são energizadas pela luz. Quando a molécula retorna ao estado menos
energizado, a energia liberada é transferida para moléculas receptoras que rapida-
mente iniciam reações químicas nos componentes da pele. A lesão tecidual
provavelmente resulta da produção de oxigênio reativo intermediário ou de altera-
ções da permeabilidade da membrana celular. A fotossensibilização difere da
queimadura solar, na qual a pele levemente pigmentada lentamente torna-se
inflamada após a exposição aos raios ultravioleta.
A fotossensibilização ocorre em todo o mundo e pode afetar algumas espécies,
porém é mais comum em bovinos e ovinos.
Etiologia – A fotossensibilização pode ser classificada como primária, secundá-
ria (hepatogênica) ou como formação aberrante ou imperfeita de pigmento. Ver
Fotossensibilização 994
VARÍOLAS
São viroses agudas que acometem o homem, pássaros e animais, com exceção
dos cães. Tipicamente, ocorrem lesões difusas na pele e mucosas que progridem de
máculas para pápulas, vesículas e pústulas antes de formar crostas e cicatrizar. A
maioria das lesões contém múltiplas inclusões intracitoplasmáticas que representam
o local de replicação viral nas células infectadas. Em algumas poxviroses a formação
de vesículas não é clinicamente evidente, mas ao exame histológico podem-se
observar microvesículas e, às vezes, as lesões proliferativas são características.
A infecção é adquirida por via aerógena ou através da pele (por exemplo, varíola
ovina). Em alguns casos (por exemplo, varíola das aves, varíola suína), o vírus é
transmitido mecanicamente por artrópodes picadores. A infecção pode ser seguida
por lesões generalizadas (por exemplo, varíola ovina) ou permanecer localizada
(pseudovaríola bovina). A imunização contra poxviroses é praticada utilizando-se
cepas do vírus de baixa virulência, sendo um exemplo clássico a erradicação total
da varíola no homem pela imunização com cepas de vírus de vacínia vivo. A origem
deste vírus é obscura.
Os poxvírus podem ser classificados de acordo com suas propriedades
fisicoquímicas e biológicas. Imunologicamente, os vírus da varíola humana, varíola
bovina, símia, etc. estão intimamente relacionados ao vírus da vacínia. Os poxvírus
aviários, os vírus mixoma e alguns outros poxvírus (por exemplo, varíola suína) são
espécie-específicos. Os vírus do éctima contagioso, da pseudovaríola bovina e da
estomatite papular bovina são parapoxvírus.
Na Europa, infecções de pele localizadas, exceto em alguns casos de doenças
generalizadas fatais, têm sido relatadas em felinos (guepardos, leões e gatos
domésticos – ver adiante).
VARÍOLA BOVINA
É uma doença branda e eruptiva de vacas leiteiras, nas quais as lesões ocorrem
no úbere e nas tetas. Já foi considerada comum, é agora extremamente rara e
relatada somente na Europa Ocidental (ver também INFECÇÃO POR POXVÍRUS EM
GATOS, adiante).
O vírus da varíola bovina está relacionado íntima e antigenicamente ao vírus da
varíola humana e ao da vacínia. Na verdade, os 2 primeiros podem ser diferenciados
somente por técnicas laboratoriais sofisticadas. Antes de a vacinação contra varíola
Varíolas 997
humana ser abandonada, algumas erupções em vacas eram devidas à infecção por
vacínia de pessoas recentemente vacinadas.
A doença transmite-se por contato durante a ordenha. Depois de um período
incubação de 3 a 7 dias, durante o qual as vacas podem estar discretamente febris,
aparecem pápulas nas tetas e úbere. As vesículas podem não ser evidentes ou
podem romper-se rapidamente, deixando áreas com lesões ulceradas, em carne
viva, que formam crostas. As lesões cicatrizam em 1 mês. A maioria das vacas em
um rebanho leiteiro pode ser afetada e as lesões, acompanhadas por febre, podem
ocorrer nas mãos, braços ou no rosto dos ordenhadores se estes não estiverem
vacinados contra varíola.
A varíola bovina ou infecção por vacínia pode ser confundida com mamilite por
herpes bovino; devido à semelhança na aparência das lesões, é necessária a
confirmação laboratorial. A pseudovaríola bovina é uma doença mais branda.
As medidas de prevenção na transmissão dentro de um rebanho devem estar
baseadas no isolamento e higiene.
PSEUDOVARÍOLA BOVINA
(Nódulos dos ordenhadores, Paravacínia)
É uma infecção branda e comum do úbere e tetas de vacas, causada por um
parapoxvírus, que é de distribuição cosmopolita. O vírus da pseudovaríola bovina está
relacionado ao éctima contagioso (ver pág. 949) e à estomatite papular bovina (ver
pág. 149). Estes parapoxvírus diferem morfologicamente do vírus da vacínia e de
outros poxvírus. Eles possuem uma variedade limitada de hospedeiros e não se
propagam em ovos férteis. Crescem em alguns tipos de cultura celular, embora
relativamente pouco.
As lesões iniciam-se como pequenas pápulas vermelhas nas tetas ou úbere.
Estas podem ser seguidas rapidamente por lesões crostosas, ou podem-se desen-
volver pequenas vesículas ou pústulas antes da formação de crosta. As crostas
podem ser abundantes, mas podem ser removidas sem causar dor. Ocorre
granulação abaixo das crostas, resultando em uma lesão elevada que cicatriza no
centro, deixando pequenas crostas com característica de ferradura ou um anel
circular. Este estágio é alcançado em , 7 a 12 dias. Algumas lesões persistem por
vários meses, dando às tetas afetadas um aspecto áspero, podendo se formar
escaras adicionais. A infecção transmite-se lentamente no rebanho leiteiro e uma
porcentagem variável de vacas apresenta lesões em qualquer época. O gado pode
apresentar recidivas nas lactações subseqüentes.
As lesões crostosas podem ser confundidas com papilomas ou lesões traumá-
ticas das tetas e úbere. Estas escaras examinadas ao microscópio eletrônico
freqüentemente denotam partículas virais características.
O controle da infecção dentro do rebanho é difícil, mas depende essencialmente
de medidas higiênicas, como a limpeza da teta com anti-sépticos, para destruir o
vírus e prevenir a transmissão. Parece desenvolver-se uma pequena imunidade.
O homem pode infectar-se; as lesões não são dolorosas, mas são pruriginosas,
com nódulos vermelho-púrpura que estão presentes, geralmente, nos dedos ou
mãos. Estas lesões causam pouco transtorno e desaparecem após várias semanas.
DERMATOPATIA GRANULOMATOSA
É uma doença infecciosa, eruptiva e ocasionalmente fatal dos bovinos caracte-
rizada por nódulos na pele e outras partes do corpo. A infecção secundária
freqüentemente agrava a condição. Tradicionalmente, ocorre no sul e no leste da
África, mas recentemente estendeu-se ao nordeste do continente até a região oeste
africana (subsaariana).
Varíolas 998
mas podem ser utilizadas, se disponíveis. A desinfecção das propriedades pode ser
realizada com alvejantes de hipocloreto ou detergentes. À temperatura ambiente, os
poxvírus podem ser relativamente resistentes, e nas crostas secas podem perma-
necer infectantes por meses.
VARÍOLA SUÍNA
É uma infecção aguda, freqüentemente branda, caracterizada por erupções na
pele e que afeta somente os suínos. A doença está presente nos EUA, particular-
mente no centro-oeste, e tem sido relatada em todos os continentes, embora a
incidência seja geralmente baixa.
Historicamente, em algumas erupções o vírus da vacínia estava envolvido, mas
atualmente, o vírus da varíola suína parece ser a única causa. A doença descrita
aqui é causada por este último. O vírus da varíola suína distingue-se dos outros
poxvírus e não protege contra infecção pelo vírus da vacínia. Cresce em cultura de
células de suínos, mas não cresce em ovos embrionados. É relativamente estável
ao calor e sobrevive por , 10 dias a 37°C.
Varíolas 1002
PRURIDO
(Coceira)
PIODERMIA
(Dermatite piogênica, Acne, Piodermia secundária)
LESÕES DORSAIS
(“Collar galls”)
A área situada abaixo da sela nos cavalos de montaria (ou a área da cernelha
naqueles montados com arreios) é, com freqüência, um local de lesões da pele e
mais profundamente dos tecidos moles e ósseo. Os sinais clínicos variam de acordo
com a profundidade da lesão e das complicações causadas por infecção secundá-
ria. Os ferimentos que afetam somente a pele caracterizam-se por alterações
inflamatórias que variam de eritemas, até pápulas, vesículas, pústulas e finalmente
necrose. Freqüentemente, a condição inicia-se como uma inflamação aguda dos
folículos pilosos e progride para uma foliculite purulenta. As áreas afetadas apresen-
tam alopecia, e estão edemaciadas, inchadas, quentes e doloridas. O exsudato
seroso ou purulento seca e forma crostas. As lesões avançadas são denominadas
“galls”. Nos casos em que há maiores danos na pele e nos tecidos subjacentes,
podem se desenvolver abscessos. Eles caracterizam-se por serem inchaços
quentes, flutuantes, sensíveis à palpação e dos quais pode ser aspirado um
exsudato purulento ou serossanguinolento. Os danos severos à pele e ao tecido
subcutâneo ou aos mais profundos resultam em necrose seca ou úmida. As lesões
lombares crônicas são caracterizadas por uma foliculite profunda (nódulos de
Bicheira 1005
BICHEIRA
A bicheira é o nome dado à infestação por larvas de uma mosca, a Cochliomyia
(Callitroga) hominivorax (ordem Diptera, família Calliphoridae), que é um parasita
obrigatório causador de miíase. A fêmea da mosca da bicheira deposita seus ovos
em ferimentos, cortes, mordeduras, umbigo de recém-nascidos e outros locais na
pele de todos os animas de sangue quente. A C. hominivorax está distribuída por
toda a região neo-ártica e neotropical no Hemisfério Ocidental. Como resultado de
programas de erradicação maciça internacionais, federais e estaduais, populações
sobreviventes de C. hominivarox não são mais encontradas nos EUA e no México;
relatos isolados de infestações são freqüentemente registrados para importação de
animais infectados de locais onde a bicheira ainda prevalece. Populações sobrevi-
ventes são encontradas nas Américas Central e do Sul e certas ilhas do Caribe.
Outra espécie de mosca da bicheira, a mosca da bicheira do “velho mundo”,
Chrysomyia bezziana, é encontrada na África e sul da Ásia, incluindo a Papua-Nova
Guiné.
Etiologia, epidemiologia e patogenia – A mosca da bicheira, semelhante em
aparência a outras moscas varejeiras, deposita 200 a 400 ovos em fileiras, que se
sobrepõem como telhas em uma massa na borda do ferimento. Depois de 12 a 21h,
as larvas saem dos ovos, se insinuam para dentro do ferimento e escavam o tecido.
As larvas alimentam-se dos fluidos dos ferimentos e tecidos vivos e completam o seu
crescimento em 5 a 7 dias. As larvas crescidas que saem da ferida caem no chão
e escavam o solo para pupar. O período pupar varia de 7 dias a 2 meses,
dependendo da temperatura. Temperaturas de congelamento ou mínimas (8°C)
matam as pupas. Os adultos acasalam-se com 3 a 4 dias de idade e as fêmeas
grávidas estão prontas para ovipôr , ao 6 dias de idade. No tempo quente, o ciclo
de vida pode ser completado em 21 dias. Apenas moscas fêmeas alimentam-se e
ovipõem em feridas; machos e fêmeas virgens mais jovens agrupam-se para
acasalar na vegetação, principalmente em vegetação florida.
A miíase da bicheira é difundida pelo movimento de animais infestados e por
migração da mosca. As larvas possuem ganchos bucais pontiagudos e afiados, que
dilaceram o tecido vivo.
Achados clínicos e diagnóstico – Os ferimentos recém-infestados contêm
larvas da bicheira de uma única idade; os ferimentos mais velhos e maiores
podem conter larvas de várias idades e freqüentemente de espécies diferentes de
Bicheira 1006
centenas de ovos em vários lotes (um lote por vez) e alimentam-se entre as
oviposições.
O peculiar gênero argasídeo Otobius será discutido na página 1023.
Parasitismo ixodídeo – Os Ixodidae totalizam mais de 650 espécies (contra
aproximadamente 155 espécies de argasídeos), ocupam muito mais hábitats e
nichos que os argasídeos e parasitam um número maior de vertebrados em uma
maior variedade de ambientes. Mais que 600 espécies de ixodídeos têm um ciclo de
vida de 3 hospedeiros; outros têm um ciclo de 2 hospedeiros e alguns têm um ciclo
de 1 hospedeiro. Cada estágio de desenvolvimento pós-embrionário ixodídeo
(larva, ninfa, adulto) alimenta-se apenas uma vez, se não for por um período de
vários dias. Machos e fêmeas da maioria das espécies que parasitam animais de
produção acasalam-se enquanto no hospedeiro, embora alguns se acasalem fora
do hospedeiro, no chão ou em buracos. Os machos consomem menos alimento que
as fêmeas, mas permanecem por mais tempo no hospedeiro e podem se acasalar
com várias fêmeas. Durante as épocas de inatividade, poucas ou nenhuma das
fêmeas são encontradas alimentando-se, mesmo que os machos ainda estejam
presos aos hospedeiros. A atividade da população larval ou ninfal geralmente
alcança o pico durante as estações de “descanso” dos adultos, embora em algumas
espécies haja mais ou menos uma sobreposição na dinâmica sazonal de imaturos
e adultos.
O macho ixodídeo torna-se sexualmente maduro apenas após começar a se
alimentar, acasalando-se depois disso com uma fêmea que esteja se alimentando.
Apenas o pós-acasalamento faz com que a fêmea se torne repleta e completamente
madura sexualmente. Ela então se destaca, cai, e por um período de alguns dias,
deposita um único lote de numerosos ovos no ou perto do solo, geralmente em
frestas ou debaixo de pedras ou restos. Dependendo da espécie e da quantidade
de alimentação de uma fêmea, o lote geralmente totaliza 1.000 a 4.000, porém pode
ser > 12.000 ovos. A fêmea morre após a oviposição. Notavelmente, os ixodídeos
(exceto as espécies de 1 hospedeiro) gastam ≥ 90% de seu tempo de vida fora do
hospedeiro, um fato de extrema importância no planejamento de medidas de controle.
O processo de alimentação de vários dias progride lentamente; a forma de balão
característica das larvas, ninfas e fêmeas ingurgitadas desenvolve-se apenas
durante a metade final do dia de alimentação e é seguida pelo destacamento. O
momento de queda em certas horas do dia ou da noite é governado por um ritmo
circadiano intimamente associado ao ciclo de atividade do hospedeiro principal.
Também é vital saber se os imaturos de uma espécie de ixodídeo alimentam-se
na mesma espécie de hospedeiro que os adultos parasitam, ou em vertebrados
menores. Onde os hospedeiros menores aceitáveis são escassos, os imaturos de
algumas espécies de ixodídeos podem alimentar-se nos mesmos animais de
produção hospedeiros que os adultos; os imaturos de outras espécies raramente ou
nunca o fazem.
A proximidade de hospedeiros aceitáveis, gradientes de temperatura do ar e
umidade atmosférica durante os períodos de “descanso” e “procura de hospedeiro”
estão entre os numerosos fatores que regulam o desenvolvimento de cada estágio
e, no caso das fêmeas, oviposição.
Ixodídeos de 3 hospedeiros – A maioria das espécies de ixodídeos tem um ciclo
de 3 hospedeiros. As larvas recém-eclodidas procuram um hospedeiro apropriado,
geralmente através da vegetação, alimentam-se por vários dias, caem e mudam
para ninfas, as quais repetem estas atividades e mudam para adultos. Das espécies
de 3 hospedeiros que parasitam animais de produção, algumas apresentam
imaturos e adultos que parasitam o mesmo tipo de hospedeiro; estes, quase sempre
desenvolvem enormes densidades populacionais. O sucesso das espécies de
ixodídeos que requerem hospedeiros de tamanho menor para os imaturos depende
Infestação por Carrapatos 1010
IXODIDAE I MPORTANTES
Amblyomma spp
Os carrapatos do gênero Amblyomma são grandes parasitas de 3 hospedeiros.
Têm olhos e peças bucais fortes e alongadas e são mais ou menos brilhantemente
ornamentados, e estão confinados geralmente aos trópicos e subtrópicos. Os
adultos e imaturos de 37 das 102 espécies conhecidas neste gênero parasitam
répteis, os quais junto às aves que se alimentam no solo, são freqüentemente
hospedeiros de carrapatos imaturos de gênero Amblyomma que se adaptaram, no
estágio adulto, para parasitar mamíferos. Suas longas peças bucais fazem com que
os carrapatos do gênero Amblyomma sejam especialmente difíceis de serem
removidos manualmente e, com freqüência, causam sérios ferimentos que podem
se tornar secundariamente infectados por bactérias ou larvas da bicheira.
A maioria, se não todos, dos carrapatos do gênero Amblyomma que parasitam
animais de produção são reservatórios e vetores da Cowdria ruminantium, o agente
rickettsial responsável pela “água no coração” (ver pág. 478). Certos carrapatos do
gênero Amblyomma americano que parasitam animais de produção são vetores
provados ou potenciais deste agente.
A Amblyomma americanum , o carrapato estrela solitária, é abundante no sul dos
EUA, do Texas e Missouri até a Costa Atlântica e se distribui para o norte até New
Jersey. Também é uma praga famosa no México e Américas Central e do Sul.
Infestação por Carrapatos 1011
Boophilus decoloratus, que se distribui do sul da África até o Saara está sendo
substituída na parte sudeste desta área pela B. microplus. Nas zonas mais úmidas
da África Ocidental, a B. annulatus mistura-se ou é totalmente substituída pela B.
geigyi. Populações dispersas da B. geigyi ocorrem no extremo leste e no sul e centro
do Sudão. No Sri Lanka, uma espécie não denominada infesta bovinos e búfalos
domésticos e também veados selvagens. O único Boophilus restrito a ovinos e
caprinos (e ocasionalmente eqüinos) é a B. kohlsi da Síria, Iraque, Israel, Jordânia,
oeste da Arábia Saudita e Iêmen. Boophilus microplus e B. annulatus são importan-
tes vetores da Babesia bigemina, B. bovis e Anaplasma marginale. A Boophilus
decoloratus é um vetor eficiente da Babesia bigemina e A. marginale não transmite
a B. bovis.
Dermacentor spp
Dezenove das 30 espécies de Dermacentor spp habitam zonas temperadas. Das
11 espécies tropicais, apenas a D. nitens é de maior importância em medicina
veterinária; as outras podem transmitir infecções zoonóticas e os adultos podem ser
comuns na natureza em suínos, veados e antílopes. Os imaturos infestam principal-
mente roedores e também lagomorfos. Os Dermacentor spp que estão em áreas
frias (e a D. nitens na América tropical) possuem ciclos de vida especializados e
dinâmica de atividade sazonal, cada um dos quais tendo que ser considerado
separadamente. Por outro lado, o ciclo de vida do Dermacentor é do padrão típico
de 3 hospedeiros.
A Dermacentor (Anocentor) nitens, um carrapato eqüino tropical de 1 hospedeiro,
originalmente parasitava veados (Mazama) nas florestas do norte da América do
Sul. Com a introdução dos Equidae e outros animais de produção neste hábitat,
adaptaram-se a estes animais. Passando toda a sua vida parasitária no interior das
orelhas do hospedeiro, este parasita facilmente se espalhou por atividades huma-
nas para outras áreas das Américas, incluindo Flórida e Texas. Além das cavidades
auditivas, cada estágio ativo pode infestar as vias nasais e a crina, o abdome ventral
e a área perianal. A Dermacentor nitens transmite a Babesia caballi transovariana-
mente a sucessivas gerações, e é importante à indústria de corrida de cavalos.
Outra espécie americana de 1 hospedeiro, a D. albipictus, o carrapato de inverno
ou do alce, distribui-se do Canadá e norte dos EUA até o oeste dos EUA e México.
Uma “forma” amarronzada, algumas vezes chamada D. nigrolineatus , distribui-se
do Novo México a sul e leste dos EUA e provavelmente é uma verdadeira
subespécie, se não for uma espécie por si só. O período de alimentação larva-ninfa-
adulto em um único hospedeiro (alce, veado, uapiti, ou bovinos ou cavalos
domésticos) estende-se do outono à primavera. Os hospedeiros severamente
infestados podem morrer. A Dermacentor albipictus causa a quase sempre fatal
“doença do alce fantasma” no Canadá e é um vetor secundário do vírus da febre por
carrapato do Colorado.
As outras 6 espécies de Dermacentor spp americanos têm ciclos de vida de 3
hospedeiros. O carrapato do mato das Montanhas Rochosas, D. andersoni, ocorre
do lado oeste de Nebraska até as montanhas ocidentais (Cascatas e Serras
Nevadas), no norte do Novo México e Arizona e no oeste do Canadá. O carrapato
canino americano, D. variabilis, ocorre no oeste das Cascatas e Serras Nevadas, no
México, de Nebraska ao Atlântico e no leste do Canadá. Ambas as espécies
produzem a paralisia por carrapato nos animais de produção, animais silvestres e
no homem. São os principais vetores da Rickettsia rickettsii, o agente da febre
maculosa das Montanhas Rochosas. A Dermacentor andersoni é também o vetor
principal do vírus da febre por carrapato do Colorado e transmite o vírus de
Powassan, a Anaplasma marginale e os agentes da tularemia e febre Q. A
D. variabilis transmite o vírus de Sawgrass e a A. marginale. Os adultos de ambas
Infestação por Carrapatos 1014
Haemaphysalis spp
Poucas das 155 espécies de Haemaphysalis parasitam animais de produção,
mas as que o fazem são economicamente importantes na Eurásia, África, Austrália
e Nova Zelândia. Alguns parasitas hemafisalinos de veados silvestres, antílopes e
bovinos adaptaram-se aos bovinos domésticos e um pouco menos a ovinos e
caprinos. Outros, originalmente específicos para vários carneiros e cabras selva-
gens, adaptaram-se principalmente às raças domésticas destes animais. Algumas
espécies africanas que se adaptaram a carnívoros, agora parasitam cães domés-
ticos. Os imaturos das espécies que parasitam animais de produção geralmente se
alimentam em vertebrados de menor tamanho, porém existem algumas exceções
dignas de nota. Todos os Haemaphysalis spp têm um ciclo de vida de 3 hospedeiros
e são pequenos (os adultos não alimentados têm < 4,5mm de comprimento),
amarronzados ou avermelhados e sem olhos. A maioria tem peças bucais muito
curtas. Diferentes espécies produzem paralisia por carrapatos e são vetores dos
agentes causadores da febre Q, tularemia, brucelose e Theileria orientalis, T. ovis,
Babesia major, B. motasi, B. canis, Anaplasma masaeterum, etc.
A Haemaphysalis punctata é largamente distribuída onde ovinos, caprinos e
bovinos se alimentam em certas florestas abertas e pastos com arbustos do
sudoeste da Ásia (Irã e antiga URSS), à maior parte da Europa, incluindo o sul da
Escandinávia e Bretanha. Os imaturos infestam pássaros, ouriços, roedores e
Infestação por Carrapatos 1015
Hyalomma spp
Os carrapatos do gênero Hyalomma são quase sempre os mais abundantes
carrapatos parasitas de animais de produção, incluindo camelos, em terras baixas
e biótopos de altitude média quentes, áridos e semi-áridos, geralmente agrestes, os
com longas estações secas, da Ásia central e do sudoeste até o sul da Europa e sul
da África. Pelo menos 15 das 30 espécies conhecidas de Hyalomma spp são
importantes vetores de agentes infecciosos aos animais de produção e homem. O
ciclo de vida de 3 hospedeiros predomina neste gênero, mas algumas espécies têm
Infestação por Carrapatos 1016
Ixodes spp
O gênero Ixodes, o maior gênero da família Ixodidae, contém , 220 espécies e
é altamente especializado, tanto estrutural quanto biologicamente. Tanto quanto se
sabe, todas as espécies de Ixodes spp têm um ciclo de vida de 3 hospedeiros. Quase
todas as espécies habitam zonas de florestas tropicais ou temperadas ou pastagens
florestais ou com arbustos; poucos são adaptados a áreas úmidas em semidesertos
ou a colônias de nidificação de aves marinhas em regiões árticas ou subantárticas.
Os hospedeiros são uma grande variedade de aves e mamíferos e alguns répteis.
A maioria das espécies parasita hospedeiros escavadores ou animais que retornam
regularmente a cavernas, covas, ou colônias de nidificação arbóreas ou terrestres.
As poucas Ixodes spp que parasitam artiodáctilos ou perissodáctilos errantes são
excepcionalmente adaptáveis; também parasitam animais de produção e são
Infestação por Carrapatos 1018
Margaropus spp
Intimamente relacionadas aos Boophilus, as 3 espécies de Margaropus spp,
altamente especializadas, com pernas que lembram contas de rosário, e com 1
hospedeiro, estão restritas a áreas limitadas da África. Margaropus reidi e M. wileyi
são encontradas em girafas no Sudão, e no Quênia e Tanzânia, respectivamente.
Margaropus wileyi é também um parasita de zebras e gnus e a M. winthemi, que se
alimenta no inverno, também parasita zebras, cavalos e, menos freqüentemente,
outros animais de produção, além de antílopes, estando confinada às montanhas da
África do Sul e podendo contribuir para a perda de condições durante o inverno.
Nosomma sp
Os adultos da única espécie deste gênero, a N. monstrosum, parasitam particu-
larmente búfalos domésticos e selvagens, e também o homem, animais de produção
e silvestres, na maior parte da Índia, terras baixas do Nepal, Bangladesh, Tailândia e
Laos. Os imaturos parasitam principalmente roedores murídeos.
Rhipicephalus spp
As espécies de Rhipicephalus ocorrem na Eurásia e norte da África (15 espécies)
e na África subsaariana (, 55 espécies). Os adultos da maioria das espécies
parasitam artiodáctilos, perissodáctilos ou carnívoros silvestres e domésticos. Os
imaturos alimentam-se principalmente em mamíferos menores; entretanto, algu-
mas das espécies que parasitam roedores e hiraxes, e algumas das espécies que
parasitam artiodáctilos, alimentam-se no mesmo hospedeiro que os adultos. O ciclo
de vida deste carrapato é tipicamente de 3 hospedeiros, mas na zona climática do
Mediterrâneo (verão longo e quente com baixa pluviosidade), a R. bursa tem um
ciclo de 2 hospedeiros. Na África subsaariana, com longas estações secas, R.
evertsi e R. glabroscutatum também têm ciclos de 2 hospedeiros.
Várias espécies africanas de Rhipicephalus spp abundantes e economicamente
importantes têm sido por muito tempo difíceis de se identificar ou incorretamente
identificadas. A taxonomia destes grupos está atualmente sendo revisada. Quando
esta revisão for completada, numerosos conceitos de espécies familiares serão
mudados. As “áreas-problema” estão indicadas adiante.
A Ásia tropical é o lar de 5 Rhipicephalus spp; os adultos de 2 espécies parasitam
animais domésticos. A Rhipicephalus haemaphysaloides infesta todos os tipos de
animais de produção, antílopes, veados, carnívoros e lebres silvestres no sudeste
continental da Ásia (também Taiwan e Filipinas), indo para o oeste em direção à
Índia, Sri Lanka, Nepal, Paquistão e oeste do Afeganistão. A Rhipicephalus pilans
infesta animais de produção e silvestres na Indonésia e Bornéu. Os imaturos de
ambas as espécies alimentam-se principalmente em roedores e também em
musaranhos, lebres e pequenos carnívoros.
Da Europa central ao Casaquistão, R. rossicus, R. schulzei e R. pumilio possuem
importância veterinária e médica. No sudoeste da Europa, a R. pusillus infesta cães,
assim como o coelho europeu, a raposa e o porco silvestre. A Rhipicephalus
turanicus, como é atualmente conhecida, distribui-se da China, sul da antiga URSS,
Índia, sul da Europa e África até a África do Sul. Um membro do taxonomicamente
difícil grupo da R. sanguineus, a “ R. turanicus” e suas várias populações, as quais
podem representar várias espécies, requer estudos adicionais sobre sua capacida-
de vetorial.
Uma espécie de 2 hospedeiros facilmente reconhecida, a R. bursa, distribui-se
do oeste do Mediterrâneo europeu ao Irã e Casaquistão. Os adultos e imaturos
parasitam animais de produção, lebres, veados, ovinos e caprinos selvagens, além
Infestação por Carrapatos 1020
ARGASIDAE IMPORTANTES
Argas spp
A maioria das 56 espécies de Argas spp conhecidas são específicas de pássaros
ou morcegos; algumas parasitam mamíferos silvestres terrestres ou a tartaruga
gigante das Galápagos. As espécies de importância na transmissão de Aegyptianella
pullorum e Borrelia anserina às aves domésticas são A. persicus (muitas áreas
tropicais e subtropicais do mundo), A. arboreus (maior parte da África, incluindo o
Egito), A. africolumbae (África tropical), A. walkerae (sul da África) e A. miniatus
(Américas Central e do Sul). Outras espécies que infestam aves domésticas
parecem transmitir tanto a A. pullorum quanto a B. anserina. A paralisia por
carrapatos é causada por alimentação por A. persicus, A. arboreus, A. walkerae, A.
miniatus, A. radiatus e A. sanchezi (EUA). Estes e outros Argas spp podem causar
grande irritação quando se alimentam no homem.
Ornithodoros spp
Poucas das , 100 espécies de Ornithodoros spp têm contato com animais de
produção. A maioria habita nichos protegidos em buracos, cavernas, covas,
rochedos e colônias de pássaros. Entre as que parasitam animais de produção,
O. savignyi e O. coriaceus são excepcionais por terem olhos e por descansarem
logo abaixo ou acima do nível do solo debaixo da sombra de árvores, onde os
animais de produção e de caça descansam e dormem. A Ornithodoros savignyi, o
“tampan” de areia, vive em áreas semi-áridas da Namíbia à Índia e Sri Lanka e é
quase sempre muito abundante. O homem e os animais de produção parasitados
sofrem severa irritação e toxicose por mordidas e “tampan” da areia e paralisia e
morte de animais são registradas. A Ornithodoros coriaceus, o “pajaroello” dos
hábitats de cerrados de carvalhos em encostas do norte da Califórnia até Chiapias
(no México), ocupa camas de veado debaixo de árvores e é famosa pela irritação
que provoca em veados, bovinos e no homem. O aborto bovino epizoótico parece
ser transmitido apenas pela O. coriaceus. A Ornithodoros guerneyi abriga-se no solo
Infestação por Carrapatos 1023
Otobius spp
A Otobius megnini é extremamente especializada biológica e estruturalmente, e
infesta os canais auriculares de antilocabras, ovinos das montanhas, veados
Infestação por Carrapatos 1024
CONTROLE DE C ARRAPATOS
O controle de carrapatos é praticado em várias circunstâncias, envolvendo
diferentes espécies de carrapato e de hospedeiros. As principais razões para se fazer
este controle são proteger os hospedeiros da irritação e evitar perdas na produção,
formação de lesões que possam se tornar secundariamente infectadas, danos ao
couro e úbere, toxicose, paralisia, e sobretudo, a infecção por vários agentes
patológicos. O controle também previne a disseminação das espécies dos carrapatos
e das doenças por elas transmitidas para áreas, regiões ou continentes não afetados.
Controle cultural e biológico – Estas medidas podem ser direcionadas tanto
contra os estágios de carrapatos não parasitários fora do hospedeiro, quanto contra
os estágios parasitários no hospedeiro. Os estágios não parasitários da maioria das
espécies de carrapatos, ixodídeos ou argasídeos, possuem requerimentos especí-
ficos em termos de microclima e estão restritos a micro-hábitats particulares dentro
de ecossistemas não habitados por seus hospedeiros. A destruição desses micro-
hábitats reduz o número de carrapatos. Alterações no ambiente pela remoção de
certos tipos de vegetação têm sido realizadas para o controle da Amblyomma
americanum em áreas de lazer no sudeste dos EUA e no controle da Ixodes
rubicundus na África do Sul. O controle de carrapatos argasídeos, como Argas
persicus e A. walkerae em aves, pode ser conseguido pela eliminação de fendas
existentes em paredes e poleiros, as quais servem de abrigo para os estágios não
parasitários.
A população de carrapatos pode também ser reduzida pela remoção de “hospe-
deiros alternativos” ou hospedeiros de um estágio particular do ciclo de vida. Esta
medida tem sido sugerida para o controle de ixodídeos de 3 hospedeiros, como
Rhipicephalus appendiculatus, Amblyomma hebraeum e Ixodes rubicundus na
África, e Hyalomma spp no sudeste da Europa e Ásia.
A rotação de pastagem ou o revezamento de pastos tem sido usada no controle
do carrapato ixodídeo de 1 hospedeiro, a Boophilus microplus na Austrália. Este
método pode também ser aplicado para outros carrapatos de 1 hospedeiro, nos
quais a duração do período de revezamento é determinada pelo tempo de vida
relativamente curto da larva não parasitária. Entretanto, possui pouca aplicação
para carrapatos ixodídeos de vários hospedeiros ou argasídeos, devido ao longo
período de sobrevivência em jejum de ninfas e adultos.
Predadores, incluindo aves, roedores, musaranhos, formigas e aranhas, em
algumas áreas desempenham um papel importante na redução do número de
Infestação por Carrapatos 1025
Nevos epidérmicos são raras proliferações que têm sido identificadas apenas em
cães, mais freqüentemente nos jovens. Macroscopicamente, eles geralmente apare-
cem como manchas, placas ou pápulas pigmentadas, hiperceratóticas, quase sem-
pre com um padrão linear indefinido. Embora sejam benignos, sua aparência é
desagradável, e a hiperceratose extensa favorece uma infecção bacteriana secundá-
ria. Lesões localizadas podem ser excisadas; as lesões maiores podem ser inoperáveis
e controláveis apenas com o uso de xampus ceratolíticos tópicos e emolientes.
Papilomas congênitos de potros são raros, e provavelmente são um defeito de
desenvolvimento e não um resultado de infecção por papilomavírus. Eles ocorrem
em qualquer porção do corpo, mas são mais comuns na cabeça. Animais puros-
sangues podem ser predispostos. Presentes na ocasião do nascimento, as lesões
(freqüentemente com vários centímetros de diâmetro) são alopécicas, pedunculadas
e exofíticas, com uma superfície papilada, assemelhando-se a uma couve-flor. Eles
são benignos e a excisão é curativa.
Disceratomas verrucosos são neoplasias benignas e raras, que acometem
cães; seu aspecto sugere origem de folículo piloso. Macroscopicamente, são
pápulas verrucosas com um centro umbilicado ceratótico. A excisão é curativa.
em cães são mais comuns no tronco e nos gatos costumam ocorrer na cabeça,
geralmente em animais > 5 anos de idade. Eles aparecem como nódulos encapsu-
lados (1 a 5cm de diâmetro), palpáveis na derme e na gordura subcutânea. Eles
tendem a se ulcerar e freqüentemente drenam um material caseoso, granular,
amarelo e denso. Consistem de múltiplas estruturas císticas preenchidas por
ceratina. A excisão é curativa. Animais que desenvolvem um tumor podem desen-
volver outros posteriormente.
Pilomatricomas (tumores de matriz pilosa, epiteliomas calcificantes [de Malherbe])
são neoplasias benignas de folículos pilosos compostas de todos os elementos do
folículo piloso; entretanto, ao contrário do tricoepitelioma, predomina o componente
da matriz. Eles são mais comuns no tronco de cães adultos, geralmente de kerry blue
terriers, poodles, bedlington terriers e schnauzers, e são raros em gatos. Macrosco-
picamente, eles são indistingüíveis dos tricoepiteliomas, porém, seu conteúdo
cístico quase sempre é granuloso devido à mineralização. A cirurgia é o tratamento
de escolha. Assim como com os tricoepiteliomas, os cães que desenvolvem uma
lesão, quase sempre desenvolvem outras posteriormente.
Pilomatricomas malignos (neoplasias epiteliais malignas com diferenciação do
folículo piloso) são raros e têm sido identificados quase que exclusivamente em
cães, geralmente nos idosos. Macroscopicamente, eles se caracterizam como
tumores multinodulares ou solitários, que têm a aparência de pilomatricomas e
recorrem após a tentativa de excisão completa. Eles freqüentemente metastatizam
para drenar os linfonodos e órgãos internos, especialmente os pulmões. Cirurgia
radical é recomendada. Não se sabe se eles são responsivos a radiação ou
quimioterapia.
PAPILOMATOSE
(Verrugas)
Papilomas múltiplos da pele ou de superfícies mucosas geralmente são vistos em
animais mais jovens, e são causados por vírus; papilomas únicos são mais
Tumores da Pele e de Tecidos Moles 1036
isso não está provado. As lesões podem ser solitárias ou múltiplas, podendo ocorrer
na face ou genitália. Para papilomas em coelhos, ver página 1291. Papilomatoses
cutâneas, transmissíveis têm sido relatadas em macacos, mas a especificidade não
foi estabelecida.
Um fibroma cutâneo ocorre em veados orelhudos de cauda branca e de cauda
preta, e em antílopes, alces e caribus. É causado por um papilomavírus encontrado
apenas no epitélio que recobre o tumor e assemelha-se ao papilomavírus bovino.
Tratamento e controle – A papilomatose infecciosa é uma doença autolimitante,
embora a duração das verrugas varie consideravelmente. Muitos tratamentos têm
sido defendidos sem se provar a sua eficácia. A remoção cirúrgica é recomendada
se as verrugas forem muito desagradáveis. Entretanto, se a cirurgia for feita no
estágio inicial de desenvolvimento das verrugas, pode haver recidiva e estímulo do
crescimento; dessa forma, elas devem ser removidas quando próximas ao seu
tamanho máximo ou quando estiverem em regressão. Os animais afetados podem
ser isolados dos suscetíveis, porém com o período de incubação longo, muitos
animais são expostos antes que o problema seja diagnosticado.
A maioria das vacinas tem apresentado sucesso limitado como um preventivo
para bovinos, mas não para tratamento. Como as verrugas virais são em sua maioria
espécie específicas, não há nenhum mérito no uso de uma vacina derivada de
uma espécie em outra.
Quando a doença for um problema de rebanho, ela pode ser controlada pela
vacinação com uma suspensão do tecido na área das verrugas, em que o vírus foi
morto com formalina. Vacinas autógenas podem ser mais efetivas que as disponí-
veis comercialmente. Pode ser necessário que se inicie a vacinação prematuramen-
te em bezerros com 4 a 6 semanas de idade, com uma dose de , 0,4mL,
intradermicamente em 2 locais. A vacinação é repetida em 4 a 6 semanas e com 1
ano de idade. A imunidade se desenvolve em algumas semanas, mas não está
relacionada com nenhum mecanismo envolvido na regressão espontânea. Se a
exposição ao vírus ocorrer antes da vacinação, a imunidade pode se desenvolver
muito tarde para prevenir o aparecimento das verrugas. Um programa de vacinação
deve ter efeito durante , 3 a 6 meses antes de seu valor preventivo estar evidente.
A vacinação deve ser continuada por ≥ 1 ano após a última verruga ter desaparecido,
pois as instalações podem ainda estar contaminadas. Baias, balaústres e outros
materiais inertes podem ser desinfetados pela fumigação com formaldeído.
benignos são relativamente avasculares, enquanto que a maioria dos malignos são
hipervasculares.
A excisão é o tratamento de escolha; a excisão ampla ou amputação deve ser
feita quando anatomicamente viável, pois estes sarcomas freqüentemente se
infiltram ao longo dos planos fasciais, tornando difícil se determinar pelo exame
macroscópico, as margens periféricas do tumor. A melhor, se não a única, oportu-
nidade para se remover totalmente o sarcoma de célula “fuso” é durante a primeira
tentativa cirúrgica; os tumores que recidivam possuem um potencial maior para se
metastatizar, e o tempo entre a recidiva tende a ser mais curto a cada tentativa
subseqüente de excisão. Além disso, muitos tumores de tecido mole possuem
uma “pseudocápsula”, a qual em um exame macroscópico dá a impressão de uma
completa encapsulação; estes tumores não devem ser desencapsulados, pois as
células neoplásicas estão quase sempre presentes no tecido conjuntivo pericapsular.
Exceto para os sarcóides eqüinos, normalmente a criocirurgia não é usada para
estes tumores, já que a maioria, principalmente os fibrossarcomas, possui membra-
nas celulares espessas, tornando-os resistentes ao congelamento. Os sarcomas
geralmente não respondem bem às doses convencionais de radiação, embora
tenha-se relatado que doses mais altas tenham controlado , 50% dos casos
durante 1 ano. “Debulking” cirúrgico seguido pela radiação também é uma opção
para um controle local. Embora a quimioterapia tenha sido efetiva no tratamento de
tumores semelhantes no homem, não se conhece nenhum protocolo quimiotera-
pêutico de valor para o tratamento desses tumores em outros animais.
Sarcóides eqüinos são as neoplasias mais freqüentemente reconhecidas em
eqüinos. Sua etiologia é indefinida, mas provavelmente eles são causados por um
papilomavírus diferente do encontrado em bovinos. Há evidência de predisposição
familiar, e eles podem ser transmitidos por contato direto, via vetores artrópodes ou
via fomitos, por exemplo, escovas e agulhas contaminadas. Eles se desenvolvem
em eqüinos, burros ou mulas, mais comumente nos animais < 4 anos de idade. Os
sarcóides podem aparecer em qualquer região do corpo, e até 84% dos animais
afetados apresentam múltiplas lesões. Os locais mais comuns variam com a área
geográfica: no Reino Unido, o pênis parece ser o local mais comum, enquanto no
noroeste dos EUA, os membros são afetados mais freqüentemente. Sarcóides são
altamente variáveis em aparência, e 4 aspectos são reconhecidos: 1. verrucosos,
que podem ser confundidos com papilomas escamosos ou carcinomas de células
escamosas; 2. fibroblásticos, que podem ser confundidos com tecido de granulação
ou fibromas; 3. sésseis ou planos, que podem ser confundidos com verrugas planas;
e 4. verrucosos e fibroblásticos mistos, que podem ser confundidos com fibropa-
pilomas. Eles devem ser considerados sarcomas de malignidade intermediária; eles
não metastatizam, mas comumente recidivam. A criocirurgia (após “debulking”
cirúrgico das lesões maiores) é o tratamento de escolha. Tem sido relatada taxa de
1 ano de remissão em , 90% dos casos. Além disso, lesões não tratadas também
podem regredir espontaneamente, embora ≥ 50% dos sarcóides eqüinos recidivem
após a cirurgia apenas. A radioterapia usando irídio pode ser de valor quando as
lesões estiverem presentes em locais em que não seja possível a criocirurgia ou a
excisão. A imunoterapia com inoculações de Bacillus Calmette-Guerin (BCG)
permanece controversa; têm sido relatados bons resultados e anafilaxia fatal.
Recomenda-se a administração de meglumina flunixina e prednisolona 30min antes
da inoculação de BCG. Sarcóides inoculados com BCG podem levar vários meses
para regredir totalmente. Finalmente, esta forma de terapia não deve ser usada
quando os animais tratados puderem ter contato com bovinos, pois a BCG pode
induzir uma reação de tuberculina positiva nos bovinos.
Fibromatose (fibromatose agressiva, desmóides extra-abdominais, tumores
desmóides, fibrossarcomas de baixo grau, fasciítes nodulares) é uma proliferação
Tumores da Pele e de Tecidos Moles 1040
Tumores fibro-histiocíticos
Tumores mesenquimais e pleomórficos, compostos por células histiocíticas e
fibroblastos (freqüentemente presentes como células gigantes multinucleadas);
estas lesões benignas permanecem pouco definidas em medicina veterinária. Uma
lesão chamada histiocitoma fibroso canino (episcleroceratite granulomatosa
nodular, fasciíte nodular, ceratoconjuntivite proliferativa, granuloma conjuntival,
granuloma do collie) é reconhecida na junção episcleral e na córnea de collies jovens
e de meia-idade (2 a 4 anos de idade), mas as características histológicas são mais
sugestivas de uma resposta inflamatória granulomatosa que de uma neoplasia.
Como é de se esperar em um processo inflamatório não infeccioso, este geralmente
é responsivo a injeções sublesionais de 10 a 40mg de metilprednisolona.
Histiocitomas fibrosos malignos (tumores de células gigantes extra-esquelé-
ticos, tumores de células gigantes de partes moles, dermatofibrossarcomas) são
incomuns na pele e tecidos moles de gatos, eqüinos e mulas. Eles têm sido descritos
em cães, mas permanecem pouco definidos nesta espécie. Em gatos, histiocitomas
fibrosos malignos são mais comuns nas extremidades distais ou regiões ventral e
Tumores da Pele e de Tecidos Moles 1041
cervical de animais idosos. Em eqüinos e mulas, eles têm sido descritos como
tumores de células gigantes de partes moles. Eles aparecem em eqüinos de 3 a 12
anos de idade. São inchaços firmes, nodulares a difusos, de coloração branca na
superfície de corte, com hemorragia variável. Histiocitomas fibrosos malignos são
sarcomas de malignidade intermediária. Eles são localmente invasivos e tendem a
recidivar após tentativas de excisão completa, mas raramente metastatizam. A
excisão radical é recomendada.
Tumores vasculares
Hemangiomas da pele e tecidos moles são proliferações benignas que asseme-
lham-se intimamente a vasos sangüíneos. Permanece indefinido se eles realmente
são neoplasias, nevos ou malformações vasculares, e não existe critério para a sua
separação. Eles são mais comumente identificados em cães, ocasionalmente em
gatos e eqüinos, raramente em bovinos e suínos e excepcionalmente em outros
animais. Tem-se sugerido que as raças caninas de maior risco são os bóxers,
scottish terriers, airedales e kerry blue terriers. Em eqüinos, eles são mais comuns
nas extremidades distais de animais < 1 ano de idade. Em bovinos, eles ocorrem em
animais mais velhos ou como lesões congênitas. O gado leiteiro é predisposto a
hemangiomas disseminados (angiomatose) na pele e em órgãos internos. Em
suínos, estas lesões geralmente ocorrem na pele escrotal ou perineal de yorkshire,
berkshire e, menos comumente, em javalis chester white. Nas 2 primeiras raças,
acredita-se que a doença seja transmitida geneticamente. Hemangiomas são
nódulos únicos a múltiplos, circunscritos, freqüentemente compressivos, com
coloração vermelha a preta. A epiderme de revestimento pode não estar afetada, ou
pode estar ulcerada ou papilada, principalmente em eqüinos e bovinos.
Quando as hemácias são esparsas ou ausentes, aplica-se o termo linfangioma.
Hemangiomas presentes apenas na derme superficial e que induzem hiperplasia
epidérmica são conhecidos como angioceratomas.
Tumores da Pele e de Tecidos Moles 1043
URTICÁRIA
(Erupções cutâneas por urtigas)
A doença ocorre em todos os animais domésticos, mas com maior freqüência nos
eqüinos (ver também “SARNA DOCE”, pág. 974). A urticária alérgica pode ser exógena
ou endógena. A urticária exógena pode ser produzida por produtos tóxicos irritantes
do pêlo de urtiga, da picada de insetos, ou medicações e pode ocorrer com maior
freqüência no verão. Alguns produtos químicos, como o ácido carbólico, terebentina,
dissulfato de carbono, ou óleo bruto, também podem causar a patologia. Fatores não
imunológicos, como pressão, luz solar, calor, exercício, estresse físico, e anorma-
lidades genéticas podem precipitar ou intensificar a urticária.
Os animais sensíveis, particularmente os cães de pêlo curto e os cavalos de raça
pura, também podem exibir um fenômeno denominado dermografismo, no qual a
fricção ou chicotada (o atrito) produz lesões urticariformes na pele. Não tem
significância clínica.
A urticária endógena ou “sintomática” pode-se desenvolver após a inalação ou
absorção de alérgenos e tem sido mais observada em eqüinos e cães (ver DERMATITE
ATÓPICA, pág. 516). Nos eqüinos, tem sido observada no curso das alterações
gastrointestinais, particularmente na constipação severa ou na inflamação da mucosa
intestinal. Uma única forma de urticária tem sido descrita, principalmente em bovinos
jersey e guernsey, que se tornam sensibilizados pela caseína do seu leite (ver também
pág. 514). Ocorre em casos de retenção ou ingurgitamento do leite no úbere. A
urticária tem sido observada em cadelas durante o estro. Em eqüinos jovens, cães e
suínos, a urticária tem sido associada com parasitas intestinais. O edema
angioneurótico é uma variante da urticária com risco de vida, no qual há edema
subcutâneo difuso, freqüentemente localizado na cabeça, membros ou períneo.
Achados clínicos – O vinco na pele ou as placas aparecem em alguns minutos
ou horas após exposição ao agente causativo. Nos casos graves, as erupções
cutâneas são precedidas de febre, perda de apetite ou apatia. Os cavalos tornam-
se excitados e inquietos. As lesões na pele são circulares, achatadas e elevadas,
com 1 a 20cm de diâmetro, e podem ser suavemente deprimidas no centro. Elas
podem se desenvolver em qualquer parte do corpo, mas ocorrem principalmente no
dorso, flanco, pescoço, pálpebras e membros posteriores. Em casos avançados,
podem ser encontradas nas membranas mucosas da boca, nariz, conjuntiva, reto
e vagina. Comumente, as lesões desaparecem tão rapidamente quanto surgem,
geralmente em algumas horas.
Nos ovinos, as lesões geralmente são observadas somente no úbere e nas áreas
do abdome onde não há pêlos. Em suínos, as erupções têm sido observadas ao redor
dos olhos, no focinho, abdome e entre os membros posteriores, tanto quanto no dorso.
Em geral, o prognóstico da urticária nos animais é favorável. Um resultado fatal
é raro, e ocorre devido a uma reação anafilática ou associado a um angioedema
envolvendo as vias respiratórias.
A urticária crônica é um desafio diagnóstico. Todos os alérgenos em um meio
devem ser considerados causas potenciais, e deve-se instituir, se possível, a
eliminação da exposição dos animais a estes agentes.
Tratamento – A urticária aguda em geral desaparece espontaneamente. Os
adrenocorticosteróides de ação rápida, como succinato sódico de hidrocortisona,
succinato sódico de prednisolona ou o hemissuccinato são úteis. Dexametasona
(0,1mg/kg) tem sido útil em cães, gatos e eqüinos. Anti-histaminas são de valor
questionável, e podem induzir urticária se administradas endovenosamente. Adre-
nalina pode ser dada em situações em que o animal corra perigo de vida. As lesões
desaparecem de imediato, mas retornarão rapidamente se o alérgeno não for
eliminado. Normalmente, não é necessário o tratamento local das lesões. Em casos
especialmente severos, podem-se aplicar compressas frias de água, vinagre ou
álcool (70%).
SISTEMA URINÁRIO
SISTEMA URINÁRIO, Introdução ................................................................ 1053
Princípios da Terapia ............................................................................... 1054
ANOMALIAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIAS
DO SISTEMA URINÁRIO ........................................................................ 1056
DOENÇAS INFECCIOSAS DO SISTEMA URINÁRIO, PQ AN .................... 1057
Cistite ..................................................................................................... 1057
Pielonefrite ............................................................................................... 1058
Nefrite Intersticial ..................................................................................... 1059
Infecção por Capillaria plica ..................................................................... 1059
Infecção por Verme Renal Gigante no Visom e no Cão .......................... 1059
DOENÇAS INFECCIOSAS DO SISTEMA URINÁRIO, GR AN .................... 1060
Cistite e Pielonefrite Bovinas ................................................................... 1060
Cistite Suína ............................................................................................. 1061
Estefanurose ............................................................................................ 1062
DOENÇAS NÃO INFECCIOSAS DO SISTEMA URINÁRIO, PQ AN ........... 1063
Insuficiência Renal ................................................................................... 1063
Insuficiência Renal Crônica ............................................................... 1063
Insuficiência Renal Aguda ................................................................. 1064
Uropatia Obstrutiva .................................................................................. 1065
Glomerulopatia ......................................................................................... 1066
Defeitos Tubulares Renais ....................................................................... 1067
Doenças Neoplásicas .............................................................................. 1068
Tumores Renais ................................................................................. 1068
Tumores do Trato Urinário Inferior ..................................................... 1069
Distúrbios da Micção ................................................................................ 1070
Urolitíase .................................................................................................. 1072
Urolitíase Canina ............................................................................... 1074
Urolitíase e Síndrome Urológica Felinas ........................................... 1077
DOENÇAS NÃO INFECCIOSAS DO SISTEMA URINÁRIO, GR AN ........... 1079
Urolitíase .................................................................................................. 1079
Urolitíase em Ruminantes .................................................................. 1079
Urolitíase em Eqüinos ........................................................................ 1082
Uroperitônio em Potros ............................................................................ 1083
PRINCÍPIOS DA TERAPIA
Ver também página 1706.
As doenças do sistema urinário podem ocorrer secundariamente a uma varie-
dade de processos patológicos que podem ocorrer em qualquer lugar do sistema.
Sistema Urinário, Introdução 1055
uma urina pouco saturada, dependendo do tipo de urólito, pelo uso de dieta ou
de medicação específica. Uma dieta pobre em minerais tem sido efetiva no
controle de cálculos de estruvita. Outros tipos de urólitos, os chamados cálculos
metabólicos, incluindo cistina, urato e oxalato de cálcio, requerem tratamento
médico específico.
Defeitos tubulares renais podem ser tratados especificamente, dependendo da
perda ou da retenção de um determinado soluto, por exemplo, o defeito no ácido
úrico resultando em cálculos de urato responde ao tratamento com alopurinol.
Algumas formas de defeitos tubulares, por exemplo, glicosúria renal, podem não
requerer tratamento. A acidose tubular renal pode requerer uma terapia com
bicarbonato, dependendo da forma de acidose.
CISTITE
Os sinais são polaciúria, hematúria e disúria, alguns animais podem interromper
o treinamento caseiro. A hematúria pode ser mais evidente no final da micção. A
parede da bexiga pode estar espessada ou dolorida. As infecções podem ser
assintomáticas e detectadas acidentalmente durante uma urinálise de rotina.
Diagnóstico – A anamnese e os achados físicos podem ser sugestivos, mas não
são suficientes para se estabelecer um diagnóstico. Devem-se realizar a urinálise
e a cultura da urina obtida por meio de uma técnica de coleta estéril. Prefere-se a
cistocentese à cateterização, devido à obtenção de uma amostra estéril. A urinálise
em uma infecção típica do trato urinário revela uma quantidade elevada de
hemoglobina e de proteína e números aumentados de hemácias, leucócitos e
bactérias; o pH pode estar alcalino, principalmente se a infecção for causada por
bactérias urease-positivas como Staphylococcus ou Proteus spp. As infecções
fúngicas são geralmente diagnosticadas pela observação de elementos fúngicos no
sedimento urinário; a confirmação é feita pela cultura fúngica.
Doenças Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1058
PIELONEFRITE
Uma pielonefrite aguda pode causar sinais sistêmicos como febre, anorexia,
depressão, vômito e dor à palpação renal. Uma pielonefrite crônica pode ser
subclínica, causar febre intermitente, anorexia e depressão, ou resultar em uremia
se houver grande destruição de tecido renal. A diminuição da capacidade para
concentrar urina pode levar a polidipsia e poliúria. Uma cistite concomitante pode
causar sinais de doença do trato urinário inferior.
Diagnóstico – A história e os sinais físicos podem ser sugestivos de uma
pielonefrite aguda, mas normalmente não são úteis em infecções crônicas. Concen-
trações elevadas de uréia e creatinina podem estar presentes, assim como outras
anormalidades laboratoriais associadas com insuficiência renal. A urinálise, na
maioria dos casos, é condizente com uma infecção bacteriana (ver CISTITE, anterior-
mente) e produz uma cultura bacteriana positiva. Bactérias ou leucócitos na urina
são fortemente sugestivos de pielonefrite. A urinálise é normal e a cultura urinária
é negativa nos poucos animais nos quais a infecção é localizada no parênquima
renal.
Doenças Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1059
NEFRITE INTERSTICIAL
A nefrite intersticial aguda em cães pode ser causada pela leptospirose (ver
pág. 428). Outras causas específicas de nefrite intersticial aguda ou crônica são
raramente identificadas. Polaquiúria, hematúria, emagrecimento e dor podem ser
causados por verminose renal (ver a seguir).
CISTITE SUÍNA
Embora menos caracterizada que a pielonefrite bovina (ver, anteriormente), esta
condição é ocasionalmente um sério problema, em particular se o estresse é
Doenças Infecciosas do Sistema Urinário, Gr An 1062
ESTEFANUROSE
Etiologia – Os adultos do verme renal suíno, Stephanurus dentatus (20 a 45mm
de comprimento e , 2mm de diâmetro), são encontrados nos rins, paredes dos
ureteres e na gordura perirrenal. Este verme é largamente distribuído, em particular
em áreas tropicais e subtropicais, e é primariamente um parasita de animais criados
em áreas externas. As larvas eclodem com rapidez após a eliminação dos ovos na
urina; elas atingem o estágio infectante em mais ou menos 3 a 5 dias e são
suscetíveis ao frio, à dissecação e à luz solar. Em geral são ingeridas, mas podem
penetrar pela pele, e a minhoca pode servir como um hospedeiro paratênico.
Infecções transdérmicas têm sido relatadas. As larvas dirigem-se para o fígado e,
após migração extensa através do tecido hepático por 3 meses ou mais, perfuram
a cápsula e penetram na cavidade abdominal. A larva instala-se no rim ou próxima
deste órgão e, ocasionalmente, em outros tecidos ou órgãos. Infecções manifesta-
das em animais com menos de 5 meses de idade foram adquiridas por transmissão
pré-natal.
Achados clínicos e diagnóstico – Infecções experimentais maciças por ver-
mes renais mostraram ter um efeito adverso no desenvolvimento. Pleurite e
peritonite são comuns. A principal perda econômica consiste na condenação de
tecidos e órgãos afetados vermes migratórios. As lesões mais severas geralmente
são as do fígado, o qual apresenta cirrose, formação cicatricial, trombose extensa
dos vasos portais e um grau variável de necrose. Danos pulmonares e renais
também são comuns.
Quando os vermes estão no rim ou no ureter, ou estão próximos a eles sob a
forma de cistos que se abrem no interior do último, os ovos podem ser detectados
na urina. Infecções pré-patentes são difícies de diagnosticar e um diagnóstico
definitivo depende da demonstração dos vermes ou lesões à necropsia.
Controle – Práticas de controle eficientes são indicadas em áreas onde a
ocorrência do verme é conhecida. Devido ao longo período pré-patente, o controle
pode ser atingido com um programa de criação “apenas de marrãs”: as leitoas
mais velhas são colocadas com leitoas jovens de rebanhos limpos e somente as
marrãs são criadas e, então, vendidas após o desmame, desta maneira não se
permite desenvolvimento de infecção persistente. A erradicação dentro de 2 anos
tem sido relatada. A higiene rigorosa das instalações internas ou externas, inclusive
provisão de uma proteção de concreto abaixo dos comedouros, também reduzirá o
problema significantemente.
Ivermectrina (300µg/kg) e fenbendazol (3mg/kg/dia por 3 dias) são efetivos
contra Stephanurus sp. Experimentalmente, o levamisol (8mg/kg) foi eficiente na
interrupção da produção de ovos em 4 dias, e a urina permaneceu livre de ovos pelas
6 semanas seguintes.
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1063
UROPATIA OBSTRUTIVA
Mesmo que os rins sejam capazes de funcionar normalmente, uma obstrução do
fluxo urinário em qualquer ponto abaixo do nível dos rins conduz ao acúmulo de
restos metabólicos e insuficiência renal aguda. A obstrução da uretra por urólitos em
cães e por plugs cristalinos e mucoproteínas em gatos é a causa mais comum,
embora tumores ou coágulos sangüíneos presentes na uretra ou ureteres também
possam ser responsáveis.
A hidronefrose é caracterizada pela dilatação da pelve renal como resultado de
obstrução parcial ou completa do fluxo urinário de um ou ambos os rins. Quando
a obstrução é aguda, completa e bilateral, ocorrem alterações menos extensas nos
rins por causa de seu período de sobrevivência pequeno. Na obstrução unilateral ou
parcial, o animal sobrevive o bastante para ter atrofia severa por pressão do
parênquima renal e dilatação cística do órgão afetado. Hidroureter é um acompa-
nhamento freqüente e observado quando a obstrução ocorre num ponto mais baixo
do trato. A pressão hidrostática aumentada resulta em atrofia do parênquima renal
funcional. As papilas da medula desaparecem primeiro; a seguir, o córtex pode
igualmente atrofiar. O rim afetado torna-se eventualmente uma bolsa disfuncional,
grosseiramente dilatada, preenchida por urina ou fluido seroso.
Achados clínicos – Os animais com obstrução uretral terão estrangúria e,
freqüentemente, hematúria; podem ter sensibilidade abdominal evidente, especial-
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1066
GLOMERULOPATIA
Animais com glomerulopatia primária podem ter alterações clínicas e laborato-
riais um pouco diferentes que aqueles com doença intersticial. A lesão na membrana
basal glomerular resulta em albuminúria, a qual pode levar à hipoalbuminemia. Os
animais podem exibir sinais mais relacionados à hipoalbuminemia que à uremia.
Glomerulopatias são menos comuns em gatos que em cães, embora incomuns em
ambas as espécies. Nenhuma predisposição por idade, sexo ou raça tem sido
relatada.
Glomerulonefrite é uma doença imunomediada caracterizada pela deposição
ou formação in situ de imunocomplexos na parede capilar glomerular, a qual incita,
então, alterações inflamatórias (ver também pág. 520). Em gatos, está freqüente-
mente associada com a infecção pelo vírus da leucemia felina; em alguns cães, está
associada com adenovírus, piometria, neoplasia, lúpus eritematoso sistêmico (LES)
e dirofilariose. A glomerulonefrite membranoproliferativa tem sido relatada em um
grupo de doberman pinschers jovens, sugerindo uma doença familial, e em uma
família de samoiedas com uma doença glomerular hereditária dominante associada
ao cromossomo X.
Amiloidose é o nome dado a qualquer uma das várias glicoproteínas fibrilares
quimicamente neutras que podem estar depositadas em tecidos e interferir na
função normal do órgão (ver também AMILOIDOSE, pág. 385). Todas estas proteínas
são depositadas numa conformação de folha β-pregueada, a qual resulta num
aspecto único e propriedades químicas do amilóide. Em cães, o amilóide é
geralmente depositado nos glomérulos; em gatos, é encontrado com maior freqüên-
cia no interstício medular.
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1067
Glicosúria renal
Geralmente é um defeito congênito na porção do túbulo contornado proximal que
absorve a glicose, resultando em glicosúria, apesar de a glicemia estar normal. Os
animais afetados podem ser assintomáticos, ter polidipsia/poliúria, ou apresentar
infecções do trato urinário recidivantes, devido à utilização da glicose pelas
bactérias. O diagnóstico é feito pela demonstração de uma glicosúria persistente,
com uma glicemia normal e pela não identificação de nenhuma outra anormalidade
renal. Apesar de não existir nenhum tratamento disponível, a doença não é
progressiva.
DOENÇAS NEOPLÁSICAS
Tumores renais
Tumores renais são incomuns; em cães representam 0,6 a 1,7% de todos os
tumores. Os tumores benignos são raros, em geral são achados incidentais nas
necropsias e não possuem significância clínica. Adenomas, lipomas, fibromas e
papilomas têm sido relatados.
Os tumores renais malignos primários (exceto os nefroblastomas) são mais
comuns em animais de idade média a avançada; nenhuma predileção racial foi
encontrada. O tumor renal maligno primário mais comum é o adenocarcinoma, que
se origina do epitélio tubular renal. Geralmente, é unilateral, localizado em um pólo
renal, bem delimitado, com coloração amarelada, branca ou acinzentada. O
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1069
DISTÚRBIOS DA MICÇÃO
Os distúrbios da micção podem resultar de disfunção de qualquer um dos
componentes que controlam a micção. Incontinência urinária é a falha do controle
voluntário do esfíncter uretral, com constante ou intermitente passagem inconscien-
te de urina; isto pode ser uma falha do armazenamento da urina ou uma desordem
no esvaziamento da mesma, e pode ter uma origem neurológica ou não. A principal
incontinência de origem não neurológica é atribuída à deficiência de hormônios
sexuais em animais castrados, principalmente fêmeas, e pode ocorrer como uma
seqüela da ovário-histerectomia.
Animais com incontinência podem deixar uma poça de urina onde se deitam ou
gotejar urina enquanto caminham. Os pêlos ao redor da vulva ou do prepúcio podem
ficar molhados, e pode ocorrer dermatite perivulvar ou periprepucial como resultado
da ação irritante da urina.
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1071
propantelina (cães – <20kg, 7,5mg/dia; > 20kg, 15mg/dia; gatos – 7,5mg a cada
72h). Drogas colinérgicas, tais como o betanecol, são empregadas em animais com
atonia do detrusor. A obstrução funcional é tratada com drogas simpatolíticas (por
exemplo, a fenoxibenzamina, 2,5 a 10mg, 1 a 3 vezes/dia); pode ser também
necessário o uso de drogas colinérgicas.
As obstruções mecânicas devem ser resolvidas por cateterização e retropulsão
do material que está causando a obstrução na bexiga, ou por meio de cirurgia. Os
animais com atonia do detrusor por superdistensão, mas sem lesões neurológicas,
terão benefícios com a descompressão vesical por meio da fixação de uma sonda
urinária colocada na bexiga por 3 a 7 dias. Aqueles com atonia neurogênica
geralmente não respondem ao tratamento medicamentoso e exigem um esvazia-
mento manual da bexiga ou cateterização várias vezes por dia.
UROLITÍASE
É uma condição associada com a presença de cálculos ou com quantidades
excessivas de cristais no trato urinário. A subseqüente irritação da mucosa resulta
na eliminação freqüente de urina com sangue, na obstrução do trato urinário ou em
ambos. A doença possui muitos nomes, incluindo cálculos urinários, pedras na
bexiga, pedras nos rins, doença do trato urinário inferior, e em gatos, síndrome
urológica felina (SUF). A urolitíase é comum em cães e gatos; a incidência é de 2,8%
de todos os cães e 10% dos gatos hospitalizados. Urólitos grandes são comuns em
cães, enquanto nos gatos, os urólitos em geral são partículas semelhantes a areia
ou cristais microscópicos. A incidência é aproximadamente igual em ambos os
sexos de ambas as espécies, mas os sinais clínicos diferem devido às diferenças
anatômicas.
Em todas as espécies animais, os cálculos são constituídos de cerca de 20
substâncias cristalinas, representando diferentes formas de minerais de fosfato,
oxalato, urato, cistina, carbonato e sílica. Os elementos e radicais constituintes
podem ser identificados por análise química e combinação precisa dos cristais por
cristalografia óptica e cristalografia por raio-X. Contudo, em muitos casos, uma
análise do cálculo é desnecessária, visto que o tipo mais provavelmente presente
pode ser determinado a partir da espécie, idade, sexo, raça, dieta ou outros dados
clinicamente disponíveis. Em casos recidivantes, uma análise quantitativa e não
qualitativa do cálculo deverá ser conduzida.
Os mecanismos envolvidos na formação efetiva do cálculo não estão bem
entendidos. Existem 3 teorias principais: a hipótese matriz, na qual a matriz inor-
gânica proteica é enfatizada como iniciadora da formação do urólito; a hipótese
cristalização-inibidor, na qual a importância de inibidores orgânicos e inorgânicos
da cristalização é enfatizada; e a hipótese precipitação-cristalização, na qual a
importância da supersaturação de um sal é enfatizada. Independentemente destes
ou de outros mecanismos, os cálculos não podem ser produzidos sem: 1. uma
concentração suficientemente alta de constituintes formadores do cálculo na urina;
2. tempo adequado no trato urinário; e 3. para estruvita (magnésio-amônio-fosfato),
cistina ou cálculos de urato, um pH favorável para a cristalização. Qualquer aspecto
que acentue um destes fatores predispõe à formação do urólito. Estes fatores são
influenciados por infecção do trato urinário, dieta, absorção intestinal, volume
urinário, freqüência de micção e genética. A importância de cada um destes na
causa ou predisposição à urolitíase, ou de modo oposto, na prevenção desta, varia
nas diferentes espécies e com os diferentes tipos de urólito. Os fatores envolvidos
na urolitíase de determinadas espécies por certos tipos de cálculos estão bem
documentados: cálculos de cistina e urato dos cães possuem origem metabólica; os
cálculos de estruvita de cães estão freqüentemente associados a infecções do trato
urinário por bactérias produtoras de urease.
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1073
O diagnóstico pode não ser difícil, mas desde que cálculos múltiplos estejam
freqüentemente presentes por todo o trato urinário, um exame radiográfico completo
do trato é indicado. Urinálise, urocultura e antibiograma são muito úteis na determi-
nação do tipo de urólito presente.
Urolitíase canina
As raças predispostas são o schnauzer miniatura, dachshund, dálmata, pug,
bulldog, welsh corgi, basset hound, beagle e terriers. Cães com 2 a 10 anos de idade
são os mais acometidos. A maioria dos urólitos ocorre na uretra; os cálculos renais
respondem por apenas 2 a 8% dos casos, e os cálculos ureterais são raros.
Estimativas de recidiva após o tratamento têm variado de 12 a 75%, mas variam
consideravelmente com a raça, o tipo de urólito e o tratamento. Os urólitos de cães
são constituídos de uma substância química predominante, que em geral identifica
o cálculo nos tipos de 1 a 4: 1. estruvita, (fosfato-magnésio-amônio), com ou sem
fosfato de cálcio (às vezes chamado de fosfato duplo ou triplo, dependendo do
número de cátions presentes); 2. urato, composto de urato-amônio; 3. cistina,
consistindo do aminoácido de cistina; ou 4. oxalato, consistindo de oxalato de cálcio,
magnésio ou amônio. Na maioria dos casos, o tipo de urólito pode ser determinado
como descrito na FIGURA 1. Outros tipos raros consistem de dióxido de silício, fosfato
de cálcio, ou carbonato e xantina. Os urólitos de silicato ocorrem mais comumente
em cães pastores alemães e outras raças de maior porte. Geralmente possuem
espículos que dão a eles o aspecto de pedrinhas usadas em jogos infantis
(“children's jacks”) e são às vezes referidos como “jack stones”.
Uma concomitante infecção do trato urinário (ITU) varia com o tipo de urólito: 50
a 97% de urólitos de estruvita, 3 a 80% de urólitos de urato, e 0 a 50% de urólitos
de cistina; e pode estar presente em cães com urólitos de carbonato ou silicato, mas
raramente naqueles com urólitos de oxalato. Contudo, com todos os urólitos que não
são de fosfato, uma infecção do trato urinário ocorre geralmente como um resultado
dos urólitos e não desempenha um papel na causa ou predisposição de sua
formação; ao contrário, na maioria dos cães com urólitos de estruvita, uma infecção
do trato urinário é importante na indução ou predisposição de sua formação. As
bactérias mais comumente envolvidas são Staphylococcus ou Proteus spp urease-
positivos. A enzima urease aumenta a hidrólise da uréia, a qual eleva o pH urinário
e a quantidade de íons livres de amônio e fosfato para a formação de estruvita.
Os cálculos de urato ocorrem primariamente em dálmatas, mas podem ser
encontrados em outras raças, particularmente se a função hepática está comprome-
tida. A função hepática diminuída prejudica a conversão de amônia em uréia e ácido
úrico em alantoína, resultando em um aumento na excreção urinária de ambos.
Assim, a formação de urólitos de urato de amônio é aumentada. Os dálmatas são
particularmente suscetíveis à formação de urólitos de urato porque, ao contrário dos
outros cães, apresentam pouca quantidade de enzima hepática (uricase) que
converte ácido úrico em alantoína. Todavia, quase 25% dos urólitos ocorridos em
dálmatas são de estruvita.
Os urólitos de cistina ocorrem devido a uma deficiência hereditária na reabsorção
tubular renal de cistina e lisina. A única conseqüência conhecida do aumento dos
níveis urinários destes aminoácidos é a formação de urólitos de cistina. Embora esta
deficiência ocorra tanto no homem como na mulher, em cães ela é ligada ao sexo
e ocorre somente em machos; os animais afetados devem ser afastados da re-
produção. A concentração urinária de cistina ou lisina relativa a creatinina pode
ser mensurada para identificar cães com esta deficiência. Uma concentração de
cistina urinária > 75mg/g de creatinina ou uma concentração de lisina > 25mg/g
de creatinina em cães que não estejam em jejum é indicativa de suscetibilidade à
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Pq An 1075
Cão
Fêmea Macho
80 a 97% são
ESTRUVITAS
< 1 ano > 1 anos Previamente
Dálmatas Não
de idade de idade ocorrido
▼
Desvio portossistêmico Sim Não
Infecção do trato
urinário devida a Sim Não Sim
Staphylococcus
ou Proteus spp
Alimentar com a mesma OXALATO ESTRUVITA
dieta geralmente ▼
Sim Não consumida
Não Alimentar com
ESTRUVITA Se previamente Sim esta dieta
ocorrido, se não o
mesmo anterior
Cristais de Cristais de Cristais de Cristais de
estruvita oxalato urato cistina
Basset, bulldog
chiuaua, terrier
irlandês ou yorkshire
Sim Não pH urinário
após >12h
Incidência em machos adultos fixo
excreção fecal de água, a qual diminui a produção urinária. A densidade calórica inferior
da ração e o consumo maior pelo gato favorecem o aumento do aporte de magnésio e
reduzem o volume urinário e, conseqüentemente, concentram o magnésio urinário.
Algumas rações secas para o gato são mais altas em digestibilidade e conteúdo calórico
e mais baixas em fibra e magnésio que a maioria das rações enlatadas e portanto são
menos prováveis na indução da urolitíase. Miligramas de magnésio por 100kcal são o
melhor caminho para avaliar as diferentes comidas felinas.
Tratamento – A terapia à base de fluidos e eletrólitos deve ser instituída e a
obstrução removida, como descrito para o cão (ver adiante). Os sinais clínicos na
maioria dos casos, se devidos a obstrução uretral ou cistite, que resultam comu-
mente em polaciúria e hematúria, são conseqüentes a cálculos e cristais no trato
urinário. Para minimizar estes sinais, o cálculo deve ser removido; uma dieta cal-
culolítica é o melhor método, sendo também o preferido pela maioria dos proprie-
tários. Desde que uma dieta contenha ≤ 15mg de magnésio/100kcal e na ausência
de infecção do trato urinário mantenha o pH urinário ≤ 6,0, isso leva à dissolução de
todos os urólitos. Embora na maioria dos casos mesmo os cálculos maiores não
sejam tão visíveis radiograficamente depois de 1 mês nesta dieta, é recomendado
que ela seja mantida por 2 a 3 meses. A administração de acidificantes urinários é
contra-indicada, assim como a administração suplementar de sal, pois isso aumen-
ta a ingestão de água e o volume urinário. O consumo de suplementos vitamínico-
minerais ou de qualquer outra ração reduzirá ou não promoverá a dissolução dos
cálculos. A infecção do trato urinário geralmente não ocorre, mas, se presente,
deverá ser tratada como descrito para o cão (ver pág. 1056).
Prevenção – A urolitíase afeta 1 a 10% de todos os gatos e recidiva em 50 a 70%
daqueles previamente afetados e alimentados regularmente com rações comerciais.
Contudo, tanto a ocorrência como a recidiva podem ser prevenidas na maioria dos
animais, fornecendo-se somente dietas que contenham < 20mg de magnésio/100kcal
e que não aumentem o pH urinário para > 6,4. Estas podem ser compradas comercial-
mente ou podem ser preparadas a partir de rações caseiras (ver TABELA 1, adiante).
Uretrostomia perineal, aumento no consumo de sal para elevar a produção
urinária ou fornecimento de um acidificante urinário não evitarão recidiva em muitos
casos se o regime dietético não for instituído e serão desnecessários quando uma
dieta hipomagnésica e não alcalinizante for consumida. O fornecimento contínuo de
uma dieta calculolítica é necessário em casos raros que recidivam mesmo com
dietas preventivas.
Urolitíase em ruminantes
A formação de cálculos no trato urinário de bovinos, ovinos e caprinos é
primariamente uma doença metabólica. Esta patologia é comum em ruminantes,
incomum em eqüinos e rara em suínos. A oclusão da uretra por cálculos causa
retenção urinária, dor abdominal, distensão e ruptura da uretra ou bexiga, com morte
por uremia ou septicemia secundária. A urolitíase é uma importante patologia de
animais destinados à engorda, contudo um número significante de casos também
ocorre em animais adultos de reprodução. A urolitíase clínica é vista mais freqüen-
temente durante os meses de inverno em novilhos e carneiros castrados criados
com ração abundante, ou em pasto de inverno onde as condições climáticas severas
ocorrem com consumo limitado de água, especialmente de água que possa ter um
conteúdo mineral elevado.
A urolitíase não tem uma distribuição geográfica específica e os diferentes tipos
de cálculos refletem a distribuição mineral da alimentação. Os cálculos desenvol-
vem-se em machos e fêmeas similarmente, mas a urolitíase ocorre principalmente
em machos devido às diferenças anatômicas e hormonais. A urolitíase pode ocorrer
numa variedade de condições ambientais e em animais de todas as idades.
Etiologia e patogenia – A incidência nos EUA é maior em bezerros, cordeiros
ou cabritos que foram submetidos à castração em uma idade precoce e são
alimentados com uma dieta rica em grãos com uma proporção mais ou menos de
1:1 de cálcio para fósforo ou uma dieta rica em magnésio. A urolitíase em ruminantes
geralmente possui uma origem nutricional, os cálculos de estruvita estão associa-
dos com dietas ricas em grãos de cereais, e os cálculos de sílica com o pastejo em
solos ricos nessa substância.
Em condições de pasto seco, onde a pastagem ou cereais fenados constituem
a dieta básica, cálculos de silicato são comumente formados. As dietas ricas em
cálcio, por exemplo, o trevo subterrâneo, produzem cálculos de calcita. Plantas, tais
como o Halogeton ou as extremidades da beterraba doce comum, ricas em oxalato,
podem contribuir na formação de cálculos de calcita ou “weddelite”. A análise
do núcleo dos cálculos anteriormente mencionados sugere que a precipitação do
mineral específico envolvido inicie a formação de cálculo. O cálculo mais comum em
animais destinados à engorda que recebem rações ricas em concentrado com
composição mineral precariamente balanceada (alta em fósforo e baixa em cálcio)
é o tipo estruvita, contendo fosfatos de cálcio, de magnésio e de amônio. Nestes
casos, mucoproteína, cilindros celulares ou células epiteliais podem estar envolvidos
na formação de cálculo. A formação de cristais a partir de compostos na urina
normalmente ocorre como conseqüência de fatores fisicoquímicos, como alterações
na concentração e pH da urina. Muitos componentes da urina são mantidos em
suspensão coloidal; a ruptura deste equilíbrio resulta em precipitação destes compo-
nentes. As mucoproteínas e os mucopolissacarídios contribuem para a formação de
urólitos de carbonato de cálcio, sílica, fosfato de amônio e magnésio e fosfato de
magnésio, e podem ser o principal responsável pela formação de urólitos.
A composição mineral da água, em conjunto com o desequilíbrio de mineral da
dieta, provavelmente contribui mais para o início da formação do cálculo do que para
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Gr An 1080
a redução no consumo da própria água; o consumo de água limitado não provou ser
calculogênico.
A castração de machos jovens retira a influência hormonal necessária para o
desenvolvimento completo do pênis e da uretra. Os cálculos variam em tamanho e
forma, de um material pequeno, liso e granular às pedras grandes e multinucleadas.
Quando eliminados, estes cálculos não causam problema na fêmea, mas podem
irritar a mucosa delicada da uretra de machos jovens. A flexura sigmóide em bois,
e além desta estrutura o processo uretral em carneiros e bodes são os sítios mais
comuns para o cálculo se localizar. A irritação neste sítio de localização causa
inflamação e restrição, e oclui a uretra. Com o passar do tempo, pode aumentar a
constrição da uretra que já é pouco desenvolvida.
Achados clínicos – O primeiro sinal clínico tanto da oclusão parcial quanto da
completa é a disúria, manifestada por desconforto abdominal. Os animais tornam-
se inquietos, contorcem-se, golpeiam o abdome e fazem tentativas freqüentes de
micção. Em carneiros e bodes, as tentativas de micção são acompanhadas por
movimentos rápidos da cauda. Em novilhos, a cauda apresenta-se elevada e a
pulsação apenas da uretra ventral ao reto é freqüentemente observada. Em
novilhos, o prolapso retal pode ser uma seqüela do esforço.
Antes da oclusão completa, a urina pode gotejar pela uretra, secando nos pêlos
prepuciais e levando a depósitos minerais. Se a condição não for corrigida, o animal
se isolará, recusará beber ou comer, se tornará urêmico e morrerá. O curso da
patologia pode levar de 5 a 7 dias.
Lesões – Em casos de ruptura uretral, os tecidos circundantes estarão hemor-
rágicos e necróticos e a urina infiltrar-se-á no tecido subcutâneo. A abertura da uretra
poderá exibir ≥ 1 cálculo; pode ser necessária a dissecação da uretra para localizar
a oclusão. Em casos de ruptura da bexiga, a cavidade abdominal estará preenchida
pela urina.
Diagnóstico – No princípio, os sinais clínicos promovem um diagnóstico,
embora possam ser confundidos com cólica aguda devido a outro tipo de dor
abdominal ou a infecções do trato urinário, devendo ser excluídos por um exame
físico cuidadoso. A indigestão, o consumo de grandes quantidades de água gelada,
estase ou obstrução do trato GI, enterites primárias, úlceras abomasais, conccidiose
e outras desordens abdominais podem causar sensibilidade abdominal. A hipersen-
sibilidade na região da flexura sigmóide pode ser evidente, e a palpação profunda
pode localizar a dilatação resultante da obstrução. Um exame do processo uretral
em carneiros ou bodes pode identificar o cálculo oclusor. Se os sinais clínicos iniciais
não ocorrerem, o animal poderá mostrar apenas depressão e anorexia com edema
subcutâneo ao longo do pênis com preenchimento do abdome por urina. A distensão
abdominal devida à presença de urina deve ser diferenciada de timpanismo ruminal,
peritonite difusa, tumores da cavidade peritoneal e obstruções do trato GI. O
balotamento permite detecção do fluido, e observando-se o animal por trás, o
abdome mostra-se periforme. A confirmação é obtida pelo exame do fluido abdomi-
nal coletado por paracentese. O edema subcutâneo ao longo do prepúcio e abdome
ventral devido à ruptura da uretra deve ser diferenciado de lesão traumática,
abscessos subcutâneos e hérnias umbilicais ou ventrais. Em animais reprodutores,
lacerações do prepúcio, com conseqüente prolapso e infecção deste, e hematoma
do pênis devem também ser diferenciados. Nestes casos, os níveis elevados de
creatinina sérica ou um aumento do uréico nitrogênio sangüíneo auxiliarão no
diagnóstico diferencial.
Tratamento e controle – A intervenção cirúrgica no caso de urolitíase em
novilhos é economicamente possível; contudo, o valor de um carneiro castrado pode
limitar o procedimento cirúrgico que simplesmente extirpa o processo uretral com
tesoura. O procedimento cirúrgico para cálculos localizados na região da flexura
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Gr An 1081
Urolitíase em eqüinos
Trata-se de uma condição metabólica incomum em eqüinos que determina si-
nais de disúria e cólica e é caracterizada pela formação de cálculo, que envolvem
primariamente a bexiga. Embora seja diagnosticada onde quer que os cavalos
sejam criados, as variações na distribuição de minerais e seus desequilíbrio
(refletidos nas forragens, concentrados e água) podem influenciar a incidência
de urolitíase e o tipo de cálculo formado. Aproximadamente 99% dos casos de
urolitíase em eqüinos são devidos a cálculos císticos, mais comumente diagnosti-
cados em machos adultos; na maioria dos casos ocorre em animais castrados. As
diferenças anatômicas entre os sexos provavelmente justificam a variação na
incidência. A uretra do macho é comprida e sinuosa e há constrição do arco isquiá-
tico. As obstruções podem ocorrer em qualquer lugar, mas são mais freqüentes no
ponto da entrada pélvica.
Etiologia – A etiologia específica dos cálculos urinários é desconhecida. Dois
tipos quimicamente semelhantes (carbonato de cálcio) ocorrem: um cálculo áspero,
espiculado e com projeções de firmeza moderada e, em menor freqüência, um
cálculo mais firme e liso.
A urina eqüina normal contém quantidades significantes de cristais e mucopro-
teínas que podem funcionar como uma substância ligadora dos cristais de
carbonato de cálcio. Caracteristicamente, a urina eqüina tem um pH alcalino, o
qual, junto com o conteúdo mineral elevado, pode favorecer a cristalização e a
precipitação mineral. O núcleo para a formação do cálculo pode ser células
epiteliais descamadas ou grumos de mucos. As influências alimentares, tais
como rações concentradas ricas em fósforo e pobres em cálcio, que predispo-
nham à formação de cálculo em ruminantes, não foram estabelecidas em
eqüinos.
Achados clínicos – Os sinais clínicos da urolitíase dependem da localização do
cálculo. A maioria dos cálculos está localizada na bexiga e causa sinais de disúria,
hematúria, estrangúria e polaciúria. A hematúria ocorre mais freqüentemente após
exercício ou no final da micção; outro sinal físico inclui uma posição de esforço
durante a micção. Esta posição pode ser mantida por algum tempo após a micção
e pode ser acompanhada por esforços e gemidos audíveis. A fêmea pode gotejar
urina, a qual irritará o períneo; animais castrados e garanhões podem protrair o
pênis com gotejamento intermitente de urina. A oclusão uretral geralmente é
acompanhada por inquietação, vários graus de cólica e tentativas freqüentes de
urinar. A bexiga encontra-se distendida às palpação retal. Na maioria dos casos
fatais, um único urólito grande, ocasionalmente com urólitos menores, é encon-
trado na bexiga; menos freqüentemente, o urólito pode ser encontrado localizado
no colo da bexiga ou arco isquiático. Raramente são encontrados cálculos na pelve
renal.
Diagnóstico – A anamnese e os sinais clínicos permitem uma tentativa de
diagnóstico. A confirmação pode ser feita por uma combinação de palpação retal,
cistoscopia e cateterização. A localização de uma massa ovóide firme no e
próxima ao colo da bexiga pela palpação retal pode ser o único procedimento
necessário. Se a bexiga estiver distendida, uma cateterização facilitará a palpa-
ção; isso também poderá eliminar as estenoses uretrais e a impactação de
esmegma do seio uretral ou localizará o urólito. A cistoscopia utilizando unidade
de fibra óptica flexível contribuirá muito no diagnóstico e avaliação do prognós-
tico.
Tratamento – Na maioria dos casos, os cálculos vesicais devem ser removidos
cirurgicamente e um bom pós-operatório cuidadoso é necessário. Antibióticos,
diuréticos e acidificantes urinários podem contribuir na recuperação.
Doenças Não Infecciosas do Sistema Urinário, Gr An 1083
UROPERITÔNIO EM POTROS
(Ruptura da bexiga)
O uroperitônio ocorre em potros neonatos como um resultado da saída de urina
através das rupturas na parede dorsal ou ventral da bexiga ou através do úraco. A
ruptura pode resultar desde um trauma do parto a uma distensão na bexiga, mas
geralmente não há história de nascimento difícil ou anormal; algumas anomalias
podem ser congênitas. A condição é muito mais prevalente em machos.
Geralmente, os sinais clínicos manifestam-se no segundo ou terceiro dia de vida
e aumentam com severidade durante vários dias. Há prostração associada a uma
progressiva redução das mamadas. O potro assume posição de urinar freqüente-
mente, mas há eliminação de apenas pequenas quantidades de urina. Entretanto,
o uroperitônio pode estar presente em potros que parecem urinar normalmente.
Podem ser observadas taquicardia e taquipnéia. Com a evolução, ocorre aumento
na distensão abdominal. Uma onda de fluido algumas vezes pode ser detectada por
rechaço. Alguns potros observam periodicamente o flanco. A paracentese abdomi-
nal fornece um fluido amarelo-pálido transparente com baixa densidade específica
e contagem celular.
As maiores alterações na bioquímica sangüínea são hipercalemia, hiponatre-
mia e hipocloremia. A uréia e a creatinina sérica podem estar normais ou elevadas.
Um diagnóstico positivo pode ser feito comparando-se os níveis de creatinina: no
uroperitônio, a creatinina do líquido peritoneal é no mínimo 2 vezes o valor da
creatinina sérica. Outro teste diagnóstico simples é a injeção 10mL de uma solução
de azul de metileno no interior da bexiga, via cateter urinário, e a observação do
corante no líquido peritoneal coletado por paracentese abdominal 15min depois. O
diagnóstico diferencial inclui retenção de mecônio, septicemia e síndrome do mal-
ajustamento neonatal (ver pág. 738).
O tratamento é feito por cirurgia corretiva. Devido à hipercalemia e à hiponatre-
mia, arritmias cardíacas são comuns quando potros com uroperitôneo são aneste-
siados. Desequilíbrios de fluidos e eletrólitos devem ser corrigidos antes da
anestesia. Alta concentração de potássio sérico pode ser corrigida pela administra-
ção EV de salina normal, bicarbonato de sódio e dextrose a 5%. Nos casos severos
de hipercalemia pode ser necessária também a administração de insulina ou a
diálise peritoneal.
PARTE II
COMPORTAMENTO
MANUTENÇÃO ............................................................................................. 1086
Geral .................................................................................................. 1086
Reação ............................................................................................... 1087
Variedades de Comportamento Reativo .................................................. 1089
Comportamento Reflexo .................................................................... 1089
Comunicação e Vocalização .............................................................. 1089
Reatividade Submissa e Preventiva .................................................. 1089
Reatividade Agonística ...................................................................... 1090
Ingestão ............................................................................................. 1091
Cuidado Corporal ............................................................................... 1092
Movimento .......................................................................................... 1093
Comportamento Exploratório ............................................................. 1093
Comportamento Territorial ................................................................. 1094
Descanso e Sono ............................................................................... 1095
Associação ......................................................................................... 1095
Aspectos de Sanidade da Manutenção ............................................. 1096
COMPORTAMENTO SOCIAL E AFILIAÇÃO ............................................... 1097
RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE O HOMEM E OS ANIMAIS .......................... 1098
COMPORTAMENTO SOCIAL DAS ESPÉCIES ........................................... 1099
Comportamento Social dos Cães ............................................................ 1099
Comportamento do Filhote ................................................................ 1100
Comportamento Social dos Gatos ........................................................... 1101
Comportamento Social dos Grandes Animais ......................................... 1102
Comportamento Social das Galinhas ...................................................... 1102
Comportamento Social dos Perus Domésticos ....................................... 1103
Comportamento Social dos Patos ........................................................... 1104
COMPORTAMENTO REPRODUTIVO .......................................................... 1104
Fêmea ..................................................................................................... 1104
Macho ..................................................................................................... 1105
Comportamento Coital ............................................................................. 1106
Características do Comportamento Reprodutivo em Aves Domésticas .. 1108
ESTRESSE COMPORTAMENTAL ............................................................... 1108
Controle de Síndromes Comportamentais ............................................... 1114
Síndromes .......................................................................................... 1115
SANIDADE ANIMAL ..................................................................................... 1126
Introdução ................................................................................................ 1126
Características ......................................................................................... 1127
Objetivos .................................................................................................. 1129
Comportamento 1086
COMPORTAMENTO
MANUTENÇÃO
Muito organizado, o comportamento “padrão” é reconhecido em animais domés-
ticos e de laboratório como parte importante de sua programação genética relacio-
nada à manutenção. Ações cinéticas, ingestivas e reativas inerentes representam
atividade comportamental importante; estas incluem reação, ingestão, cuidado
corporal, movimento, exploração, territorialismo, descanso e associação. Podem
ser expressas regularmente, ou de acordo com a necessidade das circunstâncias,
ou ainda, podem-se sobrepor a fim de serem expressas simultaneamente, ou de
serem substituídas de acordo com as exigências de bem-estar. Esta interação
de várias modalidades etiológicas como método principal de integração entre o
animal e o ambiente pode ser descrita como um ecossistema.
O comportamento de manutenção, muito do qual é geneticamente determinado,
é motivo de trabalho, um fator biológico de suma importância como meio de tática
de existência. A homeostasia comportamental, assim como a física, determina a
aptidão biológica do animal no ambiente ao qual ele tem de se adaptar. Assim, o
comportamento típico de uma espécie contribui para a aptidão biológica de forma
que tais aptidões e produtividade estejam em considerável associação.
A maior parte da produção animal é baseada em manutenção. Por exemplo, a
produtividade depende do comportamento ingestivo e de autopreservação eficien-
tes: a seleção para o crescimento pode ser baseada grandememente na seleção de
comportamento ingestivo. O comportamento de produção, entretanto, não é isolado;
o comportamento é uma seqüência de componentes. Os comportamentos espacial
e social inatos representam outras atividades comportamentais importantes, que
podem ser vistas como necessidades etológicas adicionais no interesse da integri-
dade funcional do animal e sua harmonia com as circunstâncias da domesticação.
Geral
Várias formas de comportamento de manutenção servem a vários propósitos. As
reações são usadas pelos animais como precauções de segurança, formas de
expressão e manifestação de sua presença, estado e intenção hipotética. São
formas importantes de comunicação entre animais, a base de um estado equilibrado
de entendimento. Grande parte do comportamento de consumação, logicamente,
relaciona-se à manutenção. O movimento é um componente importante do estímulo
equilibrado que um animal exige. A liberdade substancial de movimento, o uso do
ambiente e a associação com os outros são claramente exigidos para produzir uma
variedade de atividades comportamentais incluídas nos comportamentos de manu-
tenção.
Os comportamentos de manutenção devem ser restritos a um certo grau em
sistemas protetores de criação, por exemplo, o comportamento ingestivo é inibido
em ungulados, os quais são geneticamente codificados para pastar e procurar
alimento, ao passo que o confinamento proíbe tal comportamento. A criação
restritiva também reduz a atividade afiliativa e, como resultado, os animais confina-
dos não podem sempre expressar harmoniosamente um comportamento social
organizado. Uma vez que alimento e abrigo são providenciados, os animais não
requerem o uso de todos os comportamentos de manutenção que não são, ou
podem não ser, exibidos nestas circunstâncias; entretanto, estes ainda devem ser
reconhecidos em produção animal desde que surja a questão se tais comportamen-
tos normais podem ser “inibidos” quando a sua manifestação é bloqueada, e então
ser expressos em momentos inapropriados.
Comportamento 1087
Reação
O comportamento reativo é uma classe primária de atividades utilizadas pelos
animais para mantê-los em harmonia com o seu ambiente e ajustá-los a mudanças
ambientais súbitas que são efetiva ou potencialmente prejudiciais. Estão incluídos
o comportamento reflexo, a comunicação, as reações preventiva e submissa e o
comportamento agonístico. Todos se relacionam às muitas circunstâncias rotineiras
como parte do manejo normal de animais de fazenda.
As formas de comportamento que são um resultado de animais associados a
outros são variadas, e mostram o substrato das atividades sociais na vida em
rebanho. Devido ao fato do confinamento reduzir a oportunidade para atividades
sociais, os de animais confinados não podem ser capazes de expressar seu
altamente organizado comportamento social normal; daí, tal oportunidade ser um
componente importante da saúde animal.
A sensação de movimento é uma exigência importante de animais para a
manutenção de um relacionamento funcional com o seu ambiente. O esforço
muscular que acompanha o movimento voluntário é hoje considerado como uma
exigência sensorial de função animal. O sistema sensorial cinético responde ao
estresse mecânico devido à gravidade agindo no corpo de acordo com mudanças
no movimento e posição. Este é um componente do arsenal de estímulos para que
o animal crie uma mistura de sensações.
O fenômeno total de reatividade é um comportamento estímulo-dependente e
portanto funciona como uma chave importante através da operação dos sentidos.
Os órgãos dos sentidos detectam estímulos específicos e gerais e os transferem,
aos receptores internos no sistema nervoso; quando devidamente sensibilizado,
direcionado e acionado, o comportamento reativo aparece como resposta motora.
O movimento resultante abrange várias formas, da atividade reflexa no nível da
medula espinhal, até toda uma série de ações conativas com informação sensorial
processada no nível cortical. As ações conscientes estão envolvidas em muitas
reações ambientais, tais como a escolha de comida e abrigo.
Muito da reatividade é influenciado pelo sistema nervoso autônomo. Os efeitos
comportamentais principais de estimulação simpática relacionam-se aos estados
de medo ou raiva, e preparam o animal para “lutar ou fugir”. Alterações fisiológicas
específicas resultantes da estimulação simpática incluem pressão sangüínea e
batimentos cardíacos aumentados, expansão dos tubos brônquicos e supressão da
atividade gastrointestinal, tudo isso assegurando boa oxigenação da musculatura
Comportamento 1088
para ação instantânea. O sistema nervoso autônomo também age como integrador
comportamental; todo o seu papel se resume na modulação e elaboração da
intensidade das respostas comportamentais, em geral, e comportamento emocional
em particular.
Comportamento reflexo
Muitas formas de comportamento reativo ocorrem como simples reflexos, por
exemplo, extensão ou retração de um membro em resposta à dor local. A reação
à dor, junto com a sensação (de alguma forma), pode estabelecer a base do
sofrimento. Os reflexos dos membros têm funções protetoras ou posturais. A
evacuação reflexa (envolvendo defecação ou micção súbitas) é comum, por
exemplo, em bovinos e ovinos seguindo-se a uma invasão de seu espaço
individual. Os esforços reflexos de fuga são prontamente vistos em animais postos
subitamente em contenção fechada. A vocalização reativa ocorre imediatamente
após a separação de pares formados e em outras formas de rompimento de grupo.
Os reflexos de orientação podem ser negativos, como quando os bovinos direcionam
seus quartos traseiros em direção à chuva em curso. O papel homeostático da
reatividade coletivamente compreende uma grande variedade de comportamen-
tos que ocorrem como respostas reativas.
Comunicação e vocalização
Sons vocais, individual e coletivamente, podem ser de considerável uso nos
ajustes dos animais às suas circunstâncias. A comunicação, que usa linguagem
corporal e fonação em vários graus, é uma característica importante de reatividade.
A vocalização, particularmente em reatividade social, é uma característica de
comunicação; por exemplo, sinais vocais ocorrem como trocas entre mãe e neonato,
entre macho e fêmea reprodutores, e por indivíduos ligados quando separados. À
medida que a reatividade aumenta, as vocalizações tendem a aumentar em volume,
quantidade e complexidade. Sons vocais graves freqüentemente acompanham
exibições de ameaça de machos adultos. Muitas vocalizações são incorporadas em
respostas relacionadas com alarme e ameaça.
Como característica principal de suas associações grupais, cães, ovinos, bovi-
nos e eqüinos mantêm contato visual. Os suínos usam mais comunicação auditiva
com congêneres, enquanto gatos usam tanto contato visual como auditivo.
A reação preventiva mais notável é a fuga, que pode ser socialmente controlada
ou descontrolada. Quando a fuga do rebanho é controlada, os animais fogem em sua
ordem normal de viagem, na qual uma fêmea da alta posição hierárquica é
geralmente a líder. Quando ocorre pânico, há uma fuga descontrolada e desorga-
nizada. A prontidão de fuga em eqüinos evoluiu como uma tática de sobrevivência
vital.
As reações preventivas entre indivíduos podem ser passivas ou ativas em
resposta à aproximação ameaçadora. A prevenção de uma relação de agressão na
forma de submissão social tem posturas características em cada espécie. Podem
variar da forma mais comum, um leve abaixamento de cabeça com desvio contrário
ao estímulo, até a exibição grosseira de submissão hipotônica na qual o animal
assume posição de repouso e nega-se a se levantar. Este último comportamento é
uma condição confundível quando uma doença intercorrente leva à prostração. O
reconhecimento de reações submissas é essencial no manejo de qualquer rebanho
doente ou “abaixador”, para assegurar que sua saúde receba consideração apro-
priada. A inércia geral, ou submissão, é uma característica comum, constituída por
um nível anormalmente baixo de reatividade a estímulos que geralmente levam a
alguma alteração de posição ou postura.
Reatividade agonística
O comportamento agressivo é quase sempre observado quando grupos de
animais são formados pela primeira vez. A produção de leite, o ganho de peso e
outras respostas fisiológicas podem ser afetados por vários dias durante as
interações sociais agressivas resultantes. Embora os ovinos raramente exibam
dominação social explícita, os machos competem no início de cada estação de
reprodução e podem exibir cabeçadas agressivas se as condições de criação
intensiva aumentarem a competição por comida, espaço ou área de descanso. As
cabeçadas em bovinos e ovinos, mordeduras de pescoço ou chutes em eqüinos,
olhares fixos e rosnados em cães, golpes em gatos, e empurrões e mordeduras em
suínos são atividades agonísticas comuns. A retaliação, prevenção, fuga e submis-
são são reatividades dependentes.
Luta – A reatividade típica de uma espécie é notável na forma de luta. Muitos
cães, gatos e eqüinos- problema são considerados imprevisíveis, sobretudo quando
agressivos, por exemplo, “mordedores de medrosos”. Sua resposta a um alarme ou
ameaça pode ser fuga (ou tentativa de fuga) ou ataque, dependendo grandemente
de seu temperamento, condicionamento e da situação específica. Todo o rebanho
reage a ameaças a distâncias estabelecidas, que variam com a reação potencial, o
indivíduo e as distâncias “críticas”, quando as áreas invisivelmente cercadas são
ameaçadoramente invadidas. Cada uma destas distâncias é o ponto no qual a dada
distância entre o animal e o sujeito que avança esteja tão reduzida que o animal
atingido possa reagir. Em distância de fuga, o animal fugirá do intruso se possível.
Se, entretanto, o intruso que se aproxima alcançar a distância crítica, o animal mais
provavelmente atacará. A distância individual circunda imediatamente o animal e é
reservada para conhecidos especiais. Estas distâncias variam de acordo com o
temperamento, experiência, treinamento domesticado, competição, alojamento,
alimentação, etc., inerentes ao animal.
A luta é mais intensa quando os adultos são colocados juntos pela primeira vez.
Se uma porca estranha for introduzida em um grupo estabelecido, o comportamento
agressivo coletivo do grupo direcionado ao estranho provavelmente irá resultar em
grave lesão física. Demonstrações de luta entre vacas não duram normalmente mais
do que alguns minutos, mas podem-se prolongar se os animais forem igualmente
correspondidos. Neste caso, o animal ao ser atacado por um lado vira-se paralela-
mente ao outro e empurra sua cabeça (e chifres) à região do flanco inferior do outro.
Comportamento 1091
Esta aproximação de flanco quase sempre interrompe a luta por vários minutos
antes de a ação ser recomeçada. Quando um animal se submete, ele se vira; se
nenhum se submete, a luta pode continuar até ambos se cansarem.
Simulação de luta – Como uma característica de reatividade social, a “simula-
ção de luta” é observada como uma variante do brinquedo (ver pág. 1093). A forma
é de alguma maneira ritualizada, e ocorre em todas as espécies de animais de
criação quando estão agrupados. A atividade inicial é de solicitação, na qual o animal
que se aproxima vai de encontro ao animal associado com engraçados movimentos
de cabeça. A fase seguinte é geralmente uma luta na qual um empurra ou aplica o
peso sobre o outro; é comum os animais andarem em círculos. Tais movimentos
circulares são característicos do comportamento de simulação de luta em potros,
bezerros e leitõezinhos. As simulações de luta geralmente terminam sem conse-
qüência e não levam a vingança ou perseguição. A luta limitada pode ocorrer quando
animais novos brigam por autodeterminação na hierarquia social e de denominação
do rebanho.
Ingestão
O comportamento ingestivo inclui os atos de comer e beber, preferências
alimentares, padrões diários de alimentação e as mecânicas de apreensão, masti-
gação, consumo, e algumas vezes, estocagem de comida. Muitas espécies têm
suas próprias características de ingestão. Os animais em aleitamento tateiam com
o focinho sobre as tetas e sugam o leite. Os ruminantes adultos ingerem grandes
quantidades de vegetação com mastigação mínima, mas este material é sujeitado
a nova mastigação algumas horas após, durante a ruminação. Os animais carnívo-
ros têm tipicamente dentes caninos bem-desenvolvidos que facilitam o rasgamento
da carne; o consumo é rápido com mastigação mínima. Os eqüinos e suínos usam
molares para mastigação, antes da deglutição. Os roedores tipicamente roem e
despedaçam a comida com seus dentes incisivos. O consumo instantâneo é visto
em uma grande variedade de espécies, incluindo muitas aves (ato de bicar) e
répteis; o objeto levado à boca deve ser apropriado tanto em aparência como em
tamanho para consumo.
O comportamento alimentar é composto por várias características associadas:
1. necessidades metabólicas (por exemplo, as fêmeas em lactação exibem uma
exigência aumentada); 2. exigências quantitativas de apetite (quantidade necessá-
ria para os ruminantes); 3. ritmo diurno de alimentação (os gatos freqüentemente
comem à noite); 4. seletividade de alimentos preferidos (os gatos e outras espécies
podem adquirir preferências alimentares enquanto jovens); 5. consumo de fluidos
(aumentado em condições de baixa umidade ou alta temperatura); 6. exigências
digestivas (coprofagia por parte do filhote pode estabelecer a microflora intestinal);
7. competição com associados (a competição pode aumentar o consumo, enquanto
os dominantes podem fazer com que os subordinados comam menos); 8. mecânica
de alimentação (os cães engolem, os suínos “fossam”, os roedores mordiscam);
9. técnicas de procura de alimento (os ungulados pastam grandes áreas, os
carnívoros caçam , as aves ciscam); e 10. esquemas diários de atividade geral
(os herbívoros têm picos diurnos, os roedores e gatos são noturnos, os eqüinos
geralmente são contínuos).
O comportamento alimentar é fortemente influenciado por padrões e preferên-
cias adquiridos, palatabilidade dos alimentos, o ambiente no qual a alimentação
ocorre, e as associações sociais de alimentação. A herança do comportamento
alimentar também deve ser considerada. Padrões espécie-específicos são her-
dados, embora os componentes específicos possam ter contribuições genéticas
e ambientais – como cada uma delas afeta os centros de fome e saciedade no
cérebro ainda é obscuro.
Comportamento 1092
Cuidado corporal
O comportamento de cuidado corporal está sob seu próprio controle nervoso,
embora a motivação seja necessária para que se assegure que as necessidades
sejam supridas. A predominância de qualquer comportamento adquirido é sempre
temporária e pode ser substituída por comportamentos de maior importância (por
exemplo, autopreservação).
Características componentes do cuidado corporal – O cuidado com o corpo
é um sistema permanente de comportamento envolvido em manutenção. Quatro
categorias principais podem ser reconhecidas: 1. higiene da pele; 2. termorregula-
ção; 3. procura de conforto; e 4. eliminação. A coçadura, a sacudida e a lambedura
são freqüentemente reconhecidas como “arrumação”, o principal tipo de comporta-
mento de cuidado com o corpo. O propósito primário de tal comportamento é de
higiene apropriada da pele e do pelame (ou penas). Atividades de auto-arrumação
são quase sempre breves e freqüentemente variadas em forma, mas coletivamente
representam uma porção significativa da manutenção. A arrumação mútua entre
animais intimamente associados é também digna de nota.
A “arrumação” pode envolver ferramentas naturais como dentes ou pés, ou
auxílios ambientais como ramos de árvores ou lama. Poeira ou material seco que
tenha se instalado no pelame pode ser facilmente desalojado por uma sacudida
vigorosa; isto também remove restos naturais de pele. As aves praticam o compor-
tamento de limpeza e de banhos de poeira pelas mesmas razões.
Na termorregulação, sob condições naturais, os animais procuram abrigo, áreas
de descanso secas, sombras e formas de se refrescarem ou de se aquecerem. Os
animais usam o chão em várias atividades deliberadas direcionadas ao efeito
corporal. Antes de escolherem um local no qual se deitar, eles podem arranhar a
superfície da área pretendida. Depois disso, eles quase sempre giram seus corpos
ao redor da cama pretendida antes de se deitar. Podem também esfregar-se na
superfície do chão e rolar sobre suas costas, torcendo-se e virando-se de várias
formas (por exemplo, eqüinos e cães). Os cães podem esfregar seus corpos em
substâncias fétidas, as quais aumentam grandemente o odor corporal individual.
Sob condições de calor, alguns animais podem criar poças de lama se nenhuma
estiver disponível. Tais poças de lama permitem que a superfície do corpo seja
refrescada tanto por meio de irradiação como de evaporação, ou podem permitir que
a lama forme uma camada protetora na pele. Os comportamentos de procura de
conforto estão associados também com outras situações, tais como coçadura para
aliviar uma coceira e achar um lugar confortável para descansar.
Quando é fornecido espaço suficiente, os animais, exceto possivelmente os
ruminantes, normalmente evacuam de forma a assegurar que os locais de descanso
não sejam sujos. Quando evacuando, os animais adotam posturas espécie-
específicas que ajudam a manter a cauda e os membros posteriores limpos. Além
do mais, muitas espécies usam urina (por exemplo, borrifos de urina pelos gatos)
como um marcador olfatório para indicar um território, deixando uma mensagem
identificável, ou ajudando na “publicidade” reprodutiva.
Cuidado corporal na doença – Na doença, a automanutenção torna-se diminuí-
da ou é impedida, e a homeostasia é perdida; o comportamento de cuidado corporal
é marcadamente reduzido, e os animais com doenças persistentes têm uma
Comportamento 1093
Movimento
O movimento é vital para animais de vida livre para encontrar comida e abrigo.
A forma na qual os animais se empenham voluntariamente em atividades não
específicas indica que o comportamento de movimento tem sua própria motiva-
ção. A deprivação intensa de oportunidade cinética resulta em comportamento
anormal – mesmo a falta de exercício apropriado pode causar problemas. Os
exemplos incluem várias formas de atividade de “movimentos bucais” anormais.
Embora os animais afetados possam permanecer em más condições físicas,
suas alterações comportamentais indicam manejo insatisfatório de um ponto de
vista de saúde.
Brincadeiras – Alguns comportamentos nos animais existem na forma de puro
movimento sem propósito óbvio. Os animais exigem movimento para se exercitar,
o que ajuda a manter saudáveis os sistemas musculoesquelético e cardiovascular.
A necessidade de exercício é maior nos animais jovens, e eles se empenham em
um comportamento mais puramente cinético na forma de brincadeira. Os animais
jovens brincam melhor se tiverem outros semelhantes como companhia, pois a
maior parte das brincadeiras exige contato social. Embora isto não seja um
comportamento social verdadeiro, as atividades espécie-específicas exploram a
disponibilidade dos animais associados como fontes de estímulo, as quais ajudam
o desenvolvimento do sistema nervoso e da coordenação motora, e o seqüenciamento
de padrões de comportamento (ver também SIMULAÇÃO DE LUTA, pág. 1091).
Atividades cinéticas gerais – Em geral, a cinesia inclui muitas formas espécie-
específicas como saltos, corridas, disparadas, escavações, escaladas, nados,
agitações de braço, espreguiçamento e arranhão em um substrato. O último é um
notável comportamento normal de gatos. Os animais se espreguiçam de várias
formas, inclusive extensão da cabeça e pescoço, arqueamento do pescoço,
estreitamento do dorso e extensão dos membros (tanto anteriores como posterio-
res, quase sempre um par após o outro). Os membros anteriores podem ser
estendidos sozinhos ou juntos, como quando o animal abaixa o seu tronco até o
chão, enquanto as pernas traseiras estão superestendidas. Os membros posterio-
res podem ser espreguiçados conforme o animal empurra o tronco para a frente de
tal forma que finalmente os dedos das patas posteriores sejam arrastados junto ao
chão por uma curta distância. Os membros posteriores individualmente podem ser
superestendidos um após o outro, mais comumente logo após o animal ter levantado
depois do descanso.
Nas aves domésticas, muito da atividade cinética ocorre na forma de bicadas e
andaduras. As aves também realizam atividades de espreguiçamento rotineiras, por
exemplo, extensão vigorosa de uma asa após a outra é comum. Quase sempre,
quando uma asa é superestendida em uma direção traseira, a perna do mesmo lado
também é estendida para trás. O batimento das asas representa outra forma de
exercício, embora muitas formas de engaiolamento o evitem.
Comportamento exploratório
Os animais normalmente exibem uma forte motivação para explorar e investigar
seu ambiente. Esta atividade diminui uma vez que o ambiente tenha se tornado
familiar, mas reaparece quando há alguma mudança ou novidade no ambiente. Esta
Comportamento 1094
Comportamento territorial
O espaço disponível influencia as atividades animais. Existem dois tipos gerais
de espaço: 1. o espaço real é tido como território para prover limites adequados
dentro dos quais o animal possa praticar as atividades necessárias para viver; 2. o
espaço “individual” é estabelecido para propósitos de autoproteção, autodetermina-
ção e autocuidado. Algumas formas de comportamento se relacionam conjunta-
mente ao território propriamente dito e ao espaço individual (pessoal). Muito do
comportamento social relaciona-se ao espaço conquistado, determinando a posse
do espaço e realizando privilégios espaciais. A agressividade é um componente
comum dos métodos territoriais.
Território – Uma área que é ativamente defendida, um território pode ser estabe-
lecido para um propósito específico, por exemplo, reprodução, ou pode ser usado
para atividades gerais diárias. Nem todas as espécies usam territórios e algumas
podem somente usá-los para propósitos específicos ou em certas épocas do ano.
Espaço individual – A necessidade espacial mínima e mais básica é um espaço
suficiente para um animal deitar-se, ficar em pé, virar-se, limpar-se e espreguiçar-
se. Isto pode ser definido como espaço primário, e apenas associados íntimos são
permitidos dentro dele. Este espaço básico tem que estipular uma bolha imaginária
de espaço ao redor do animal e será defendido.
O espaço adicional que se relaciona à atividade completa do indivíduo pode ser
definido como espaço secundário. Este é necessário para permitir atividades tais
como prevenção contra um vizinho; alteração radical na posição, direção ou
locação; e movimentação.
Incorporado à exigência espacial secundária está o espaço social, a distância
mínima que um animal adulto rotineiramente mantém entre ele mesmo e outros
Comportamento 1095
Descanso e sono
O sono ocupa muito tempo do animal. Os animais mais evoluídos apresentam
tipos de sono que correspondem aos do homem, embora as características do sono
de uma espécie possam ser bastante distintas. O descanso e o sono permitem
restauração do estado fisiológico. Durante o sono, ocorre recuperação metabólica
em curto espaço de tempo. Durante o descanso, o corpo pratica conservação
máxima de energia. Na prática de tal conservação, o descanso é usado mais
taticamente que o sono.
Diferentes espécies têm necessidades diferentes para quantidades de sono.
Tipicamente, os animais predadores dormem menos e dividem o sono em numero-
sas e pequenas frações. Se esses animais vivem em grupos, o descanso em turnos
é uma tática de sobrevivência que permite vigilância para avisar membros em
descanso ou adormecidos.
Formas de sono – O sono verdadeiro ocorre em duas formas, “sono cerebral”
e “sono corporal”. No sono cerebral, há uma emissão de ondas elétricas lentas; por
esta razão, é geralmente definido como “sono de ondas lentas” – e é uma forma
particularmente silenciosa de sono. No sono corporal, algumas correntes elétricas
do cérebro são do mesmo padrão que as que ocorrem quando o animal está
acordado. Devido a esse paradoxo, esta forma é também definida como “sono
paradoxal”. Devido aos olhos se moverem freqüentemente de forma rápida por
detrás de pálpebras fechadas, esta forma de sono é também conhecida com “sono
de movimento rápido dos olhos” (REM — “rapid eyes movement”). É nesta fase que
uma pessoa sonha e os cães vocalizam ou movimentam seus pés.
Descanso – Todas as espécies de animais domésticos gastam muito tempo
descansando, durante o qual o animal pode ficar sonolento, ou simplesmente deitar-
se inerte mas desperto. As posições de descanso variam de ficar em pé (por
exemplo, no caso do eqüino) a decúbito lateral ou esternal, ou uma combinação na
qual a parte dianteira fica em decúbito esternal e a traseira em decúbito lateral. O
decúbito lateral é exigido para sono REM, a menos que o animal possa se escorar
em alguma coisa.
Associação
Os animais que vivem em grupos fechados sob circunstâncias naturais são
definidos como animais sociais. As interações sociais são importantes na autode-
terminação e na estabilidade social. Por esta razão, os animais de rebanho mantidos
Comportamento 1096
Comportamento do filhote
Treinamento familiar – Até que os filhotes comecem a ingerir alimentos sólidos,
com , 3 semanas, a cadela os mantém limpos, lambendo-os e ingerindo seus
excrementos. Após isto, os filhotes evitarão sujar sua cama saindo para urinar e
defecar; porém não usarão áreas específicas até , a oitava semana. Os filhotes
devem ser mantidos sob rigorosa supervisão a partir da idade de 7 semanas a fim de
se impedir que utilizem áreas impróprias. Eles podem ser amarrados em uma correia
curta, mantidos em um engradado pequeno ou confinados a um quarto entre saídas
ao quintal, e podem em breve ser liberados em um quarto após terem estado do lado
de fora. Devem ter acesso a áreas de toalete após despertarem, comerem ou se
tornarem ativos. Caso se queira eliminar as incursões externas quando adulto, é
melhor treinar o filhote dessa forma; a maioria dos cães não realiza facilmente a
transição entre papel e grama.
Desenvolvimento social – Existe uma variação considerável no comportamen-
to de cães de diferentes raças e linhagens. Temperamento e “treinabilidade”,
geralmente citados como fatores importantes quando se escolhe um filhote, não são
facilmente acessíveis em tenra idade. Uma vez que a idade mais adequada para se
Comportamento 1101
subnormais dão pequenos piados quando sua penugem úmida seca e perdem
contato com a casca do ovo. O contato com uma galinha choca ou outro objeto
aquecido impede estes piados. Os pintinhos recentemente chocados são atraídos
para a galinha por calor, contato, pressão e movimentos corporais; esta atração é
maior no dia da eclosão. Eles aprendem a comer, ciscar, beber e evitar inimigos na
companhia da mãe.
Em pintinhos, o período mais sensível para fixação à mãe é entre 9 a 20h após
a eclosão, e o medo é demonstrado a partir do terceiro dia. A ligação à mãe depende
primariamente do som de sua voz e aparência. Quando a penugem começa a
desaparecer de suas cabeças, os pintinhos são rejeitados pela galinha. Ela os bica
e a ninhada começa a se dispersar e tornar-se mais independente.
Galinhas e galos apresentam hierarquias de bicagem separadas, sendo as dos
galos menos estável. A hierarquia de dominância é vista mais claramente na
competição por alimento ou parceiros sexuais, e as galinhas subordinadas podem
ficar com tão pouca comida que a produção é afetada. Em um plantel mantido em
estado de desorganização social por motivo de remoção e substituição, as aves
comem menos, podem perder peso ou crescer pouco e tendem a botar menos ovos.
Alimentação e água adicionais colocadas em cochos distribuídos pelo galinheiro
permitem que as galinhas subordinadas se alimentem sem serem molestadas, e um
número adequado de ninhos dará melhores condições a essas aves para a
ovoposição. Grupos > 80 aves tendem a se separar em 2 grupos distintos, e pelo
menos 2 hierarquias de bicagem separadas parecem se estabelecer.
Comportamento de plantel – O agrupamento é a base da organização do
plantel. Um pintinho criado isoladamente tende a permanecer fora do plantel e
apresenta uma conversão alimentar menor que as aves deste. A formação de um
plantel adulto depende de tolerância mútua. Os estranhos são atacados e são
integrados ao plantel apenas gradualmente. Os novos integrantes são geralmente
relegados a baixas posições na ordem social.
da atividade. Sinais visuais e vocais são utilizados pelos pais e pelos peruzinhos
para manter contato até ≥ 8 semanas de idade. Brigas são raras até os 3 meses de
idade, mas aumentam até que se atinja o pico aos 5 meses, quando a ordem social
é estabelecida.
COMPORTAMENTO REPRODUTIVO
FÊMEA
O estado de acasalamento das fêmeas obviamente possui fatores fisiológicos e
comportamentais. O termo estro é freqüentemente reservado para descrever componen-
tes comportamentais e não fisiológicos. Os ovários podem passar por mudanças asso-
ciadas com o estro sem que a fêmea apresente sinais de comportamento estral.
Comportamento 1105
MACHO
A libido no animal macho se desenvolve na puberdade e persiste, em certos
níveis, por toda a vida do animal. Ela depende da produção de testosterona e sua
manifestação é determinada por características herdadas. Pode ser alterada como
conseqüência de ações físicas ou inibida como resultado de situações adversas. Sob
condições naturais, um macho de baixa libido deixa pouca prole, porém em situações
domésticas, uma baixa libido pode ser perpetuada. Evidências experimentais e
circunstanciais indicam certa base genética para a libido. A nutrição exerce uma
influência leve; entretanto, um alto padrão nutricional pode inibir a produção de
testosterona em alguns machos jovens, enquanto uma subnutrição intensa pode
prejudicar a libido.
Desde que não haja correlação significante entre comportamento sexual e
qualidade do sêmen, uma avaliação adequada da habilidade de procriação do
reprodutor deve assegurar ambos os fatores.
Comportamento 1106
COMPORTAMENTO COITAL
“Disposição” para o coito é freqüentemente observada nos machos que
cortejam as fêmeas imediatamente antes e durante o estro. A livre associação
dos parceiros para o acasalamento pode estabelecer uma aliança temporária
(“ligação coital”), que facilita a repetição do acasalamento e assegura condições
ideais para fertilização. Algumas formas de cutucões ocorrem no comportamento
pré-coital na maioria dos ungulados. Ao empurrar os quartos traseiros da fêmea,
o macho é capaz de sentir se ela se afasta, como no proestro, ou se aceita. Este
é um comportamento comum nos touros. Os garanhões testam o estro na égua,
cheirando mordendo e beliscando regiões do corpo, desde os quartos traseiros
até o pescoço da égua.
Uma das funções da corte é orientar o macho a encontrar maneiras de realizar
a penetração. A monta apropriada é parcialmente adquirida pelo aprendizado. Os
machos normalmente montam em fêmeas de sua própria espécie, porém
garanhões podem montar em jumentas e jumentos podem montar em éguas
(resultando em mulas). Ocasionalmente, caprinos e ovinos poderão se acasalar.
Mais raramente pode ocorrer a monta de éguas por touros, novilhas por garanhões,
e várias espécies por cães. Um afeiçoamento inadequado na infância é geralmen-
te a base para tais relacionamentos. A corte também permite ao macho conseguir
uma ereção completa, de forma que um período longo de corte é muito importante
em espécies com pênis vascular, ao contrário das espécies que possuem pênis
fibroelástico.
A fase de acasalamento do comportamento sexual masculino compreende vários
componentes comportamentais. Incluem-se entre eles a monta, abraços, investidas
pélvicas, penetração e ejaculação. As “montas falsas”, pelos machos, ocorrem se
não se conseguir a penetração e se forem necessárias mais de uma tentativa para
se conseguir o acasalamento; por exemplo, nos garanhões, 2 ou 3 montas falsas são
antes de se conseguir o acasalamento. No touros, carneiros e bodes, a penetração
consiste de uma única investida pélvica, seguida por desmonta. Nos garanhões, há
um longo período de investida pélvica antes da ejaculação. Os suínos têm uma fase
de acasalamento relativamente longa, com a ejaculação durando até 20min. O
acasalamento em gatos ocorre muito rapidamente; assim que o gato retira seu pênis,
as espículas penianas estimulam o epitélio vaginal, fazendo com que a gata se vire
e ataque o gato. Nos cães, ocorre um “engate” durante a penetração à medida que
a musculatura vulvovaginal se retesa atrás do bulbo do pênis. Este engate é mantido
por 10 a 30min, mesmo que o macho desmonte e passe um membro posterior por
sobre o dorso da fêmea, de forma que fique de costas para ela.
A fase pós-acasalamento inclui a desmonta, a limpeza genital em algumas
espécies, e um período refratário em que não há interesse em fêmeas no estro. Um
rápido retorno à presteza de acasalamento é visto em machos que receberam a
oportunidade de acasalar com uma nova fêmea.
As fêmeas normalmente são cobertas várias vezes durante cada período
estral. A freqüência é influenciada por vários fatores, incluindo o número de
fêmeas no cio, machos competidores, serviços anteriores e o grau de receptividade
nas fêmeas no cio. Quando existe competição entre as ovelhas por um número
limitado de carneiros, as mais velhas geralmente conseguem obter maior número
de montas que as mais jovens.
Comportamento 1107
TABELA 2 – Coito, Gr An
Tempo de reação Comportamento pré-coital Modo de Duração da penetração Repetição dos
do macho do macho penetração e local da inseminação acasalamentos
Eqüinos Cheira a região genital. De 1 a 4 montas. Várias 1min, intracervical Os cruzamentos são geral-
5min em média Reflexo olfatório genital. oscilações pélvicas. Fase mente arranjados de
Morde a região da garu- inativa terminal modo a permitir 2 a 4 ser-
pa. Pênis ereto viços por estro
Bovinos Cheira a vulva. Reflexo ol- Investida pélvica única com- 5 a 10s, intravaginal Os touros ao ar livre servi-
Geralmente 2min fatório genital. Alinhamen- binada com reflexo de rão às vacas 3 a 10 vezes
Média de 12min to. Lambe o quarto trasei- “abraço” no período de estro
Média para raças de corte ro
20min
Suínos Aproxima-se da porca dan- Pequenas protrusões do 9min, intra-uterina Muitos cachaços servirão às
1 a 10min do uma série de grunhi- pênis espiral repetidas até porcas 3 a 7 vezes por
dos. Cheira a vulva vigo- que a penetração ocorra. período de estro
rosamente. “Mastiga” rui- Oscilações pélvicas se-
dosamente a mandíbula guidas de fase sonolenta
e espuma pela boca
Ovinos Cheira a vulva. Reflexo ol- Investida pélvica única mui- 5s, intravaginal Os carneiros algumas vezes
De 30s a 5min fatório genital. Arranha to rápida, com “abraço” servirão à ovelha em estro
com as patas dianteiras. dos membros anteriores várias vezes. Alguns car-
Balindo, dá patadas com neiros adultos servirão a
as patas dianteiras e rápi- cada ovelha apenas 1 vez
dos abraços. Reflexo ol-
fatório genital
Comportamento 1108
ESTRESSE COMPORTAMENTAL
O controle exercido pelo homem sobre os animais domésticos continua a
aumentar, e novas fases de criação intensiva continuam a ser implementadas.
Existe um aumento de demanda pública por veterinários para avaliar condições de
manejo e sanidade do grande número de animais mantidos em condições intensivas
Comportamento 1109
feita; ele ficará frustado, estressado ou mesmo sentirá dor? Argumenta-se freqüen-
temente que suínos que tiveram experiências prévias de chafurdação dela necessi-
tarão; a necessidade seria a mesma em um porco que nunca a experimentou? Estas
áreas são difíceis de pesquisar, embora sejam matérias de constantes debates.
O veterinário pode responder apenas intuitivamente. Um determinado ambiente
fechado pode ser particularmente restritivo e permitir apenas algumas poucas
oportunidades de limpeza, espreguiçamento, exibição ou mesmo contato social
com os membros deste confinamento. Com possibilidades limitadas para ativida-
des, algumas espécies tendem a adotar anormalidades orais. Os suínos têm uma
profunda necessidade de fossar ou roçar a boca em alguns materiais. Quanto mais
característica de uma espécie for a resposta comportamental que foi frustada, mais
provavelmente uma necessidade etológica não estará sendo suprida. O debate está
ligado à importância das necessidades comportamentais dos animais e seu relacio-
namento com a sanidade animal. Pode-se acreditar que as muitas necessidades
comportamentais não sejam essenciais, porém, se preenchidas, ou se substituídas
por alternativas, o animal pode-se desenvolver melhor. Estudos demonstram que
bons cuidados na infância, comunicação com animais estabulados, etc. possuem
Comportamento 1112
Ingestão dos ovos Aves (galinhas) (em Quebra das cascas dos ovos por bica-
camas) das e ingestão do conteúdo
Síndromes
Volteadura a esmo – Reconhecida como desordem comportamental de animais
enjaulados ou confinados, é comum em eqüinos que tenham sido mantidos por muito
tempo em baias. O animal fica em uma posição, mas volteia de lado a lado ou pode
balançar-se para trás e para frente. Uma vez adquirida, a volteadura a esmo é
extremamente difícil de controlar, e acredita-se que a anomalia possa ser induzida
em outros eqüinos em um estábulo por associação. Até certo ponto, pode ser
controlada amarrando-se o eqüino com cordas atravessadas de forma a limitar o
movimento lateral de sua cabeça. Grilhões nos membros anteriores também tendem
a limitar o movimento em um estábulo. Sem exercício, porém, o problema raramente
é controlado. Teoricamente, os animais afetados devem ser retirados para pastejo,
mas quando isso não for possível, devido à falta de espaço, um exercício reforçado
pode ser feito através da cavalgadura, disparadas ou uso de exercitador mecânico.
Agitação das patas – O controle da agitação das patas é difícil, particularmente
porque a causa é desconhecida. Já que ocorre mais freqüentemente em eqüinos
confinados e isolados, pode ser aliviada retirando-se o animal afetado para pastejo
com outros eqüinos. Grilhões ou correntes para evitar coice podem ser usados em
eqüinos problemáticos com pouco sucesso.
Andadura estereotipada – Nos eqüinos, ela é definida como “marcha de
cocheira”. É um comportamento comum em animais de circo e zoológico que
estejam confinados a pequenos espaços. Também ocorre em cães que tenham sido
mantidos em canis por longo tempo e em aves. No caso das aves, parece ser
induzida por aves frustradas que estejam não só esfomeadas, mas também em
estado de grande expectativa. As aves afetadas tipicamente mostram movimentos
de andadura repetitivos, ocupando toda a extensão de um lado do galinheiro ou
gaiola. Uma vez que a condição tenha-se transformado em comportamento estabe-
lecido em um eqüino ou ave, não pode ser controlada sem liberdade ambiental.
Sacudidela da cabeça – É mais comum em aves engaioladas que em galinhas
criadas no chão. É também vista quando a proporção de reposição das aves é
aumentada. É reduzida quando as aves são transferidas a um ambiente novo em um
galinheiro de maior espaço. Os eqüinos e animais de zoológico também podem exibir
sacudidela da cabeça.
Inclinação da cabeça – Várias formas desta anomalia comportamental em
eqüinos, a qual é semelhante à sacudidela de cabeça, ocorrem como comportamen-
to estereotipado. Uma vez estabelecida a condição, o controle é difícil. Um par de
antolhos bem pesados pode distrair um eqüino nesta prática. Se o comportamento
estiver começando, deve-se ter cuidado com dentadas.
Esfregadura da cabeça – É algumas vezes observada em suínos ou bovinos
sujeitos a confinamento crônico em baias solitárias e estreitas. O controle deste
comportamento (como de outras ações estereotipadas somáticas semelhantes)
parece exigir alívio do confinamento crônico.
Comportamento 1116
aviso, como voltar as orelhas para trás, retrair os lábios e mostrar os dentes, embora
alguns possam usar este comportamento apenas como um ato brincalhão. As
tentativas de mordedura geralmente são súbitas. O amordaçamento é um controle
eficiente. A punição a cada ocorrência também pode ajudar.
Coice e ataque – Os animais que exibem comportamento de coice anômalo são
considerados como hiper-reativos em temperamento. O empinamento e o ataque
com as patas dianteiras são hábitos perigosos de alguns eqüinos, mais comumente
de garanhões e eqüinos desorientados, e o golpe com um membro dianteiro pode
ser feito sem empinamento. Outros eqüinos escoiceiam com um dos dois membros
traseiros e podem mirar alvos específicos ou apenas procurar alvos aleatórios. O
controle do coice habitual é difícil. O condicionamento negativo pode ser tentado por
métodos que inflijam dor ao animal quando este escoicear, mas o sucesso depende
de ter cada coice punido com um método que seja doloroso o suficiente para que o
animal pare. Grilhões e correntes anticoice têm sido utilizados. Os animais implica-
dos devem ser manejados com cuidado.
Refugo (sobressalto/aversão) – O refugo é mais notável em eqüinos, mas pode
ocorrer em outros animais de criação. O controle, quando julgado necessário, pode
ser parcialmente alcançado pela provisão de um animal para companhia em um
cercado, por exemplo. O refugo é geralmente resultado de um objeto se movendo
muito rapidamente para que o eqüino consiga focalizá-lo; a reação instintiva que se
segue é a fuga. Os eqüinos que tendem a refugar são quase sempre aparelhados
com “antolhos” nas rédeas, um auxílio comum usado durante a cavalgada, já que
o refugo a qualquer momento pode ser perigoso.
Imobilidade tônica – O reconhecimento da imobilidade tônica anômala (inércia
submissa) ou discinesia tônica, é essencial no manejo racional do animal de criação
prostrado ou “caído”, de qualquer espécie. Corresponde ao clássico comportamento
exibido pelo gambá, no qual a catalepsia é um mecanismo instintivo para não
estimular as respostas persecutórias dos predadores. Alguns acreditam que, em
alguns casos, a vaca caída (ver pág. 669) possa ser um exemplo de “imobilidade
tônica” ou catalepsia. Em tais casos, a condição não constitui muito uma incapaci-
dade para se levantar, mas sim uma forte relutância a tentar se levantar. A relutância
não só simula um estado corporal patológico como logo estabelece um. É possível
que o controle da “imobilidade tônica” em animais resida no contexto do diagnóstico
diferencial.
Atividade oral patológica – Uma síndrome genérica complexa e importante que
compreende uma variedade de manifestações de comportamento bucal excessivas
e anormalmente orientadas (ver também pág. 1093). A maioria das formas desta
síndrome está associada a circunstâncias combinadas de contenção crônica,
hipoestimulação e talvez energia excedente.
Mordedura de coelho – Um “mordedor comedor” agarra a lateral da manjedoura
(cocho) ou algum outro acessório conveniente com os dentes incisivos. Os incisivos
superiores são quase sempre usados sozinhos. O animal pressiona os dentes para
baixo e comprime a mandíbula; o palato mole é forçado a se abrir. A deglutição de
ar também pode ocorrer. Os eqüinos quase sempre desenvolvem o problema
quando já são mastigadores de madeira (ver pág. 1121). (“Deglutição de Vento” [ver
pág. 1121] é uma forma mais intensa desta condição. Não exige um lugar de
descanso para os dentes.)
A melhor abordagem é assegurar exercício e pastejo adequados para o eqüino.
Embora isso freqüentemente obtenha sucesso, os proprietários podem querer uma
solução mais simples, o que dificulta o controle. A medida mais comum consiste em
prender uma correia ao redor da garganta, suficientemente apertada para fazer com
que o arqueamento do pescoço se torne desconfortável. Alguns tipos dessas
correias têm uma “peça de garganta” de metal que possui um orifício no qual se
Comportamento 1119
encaixa a traquéia, e que permite que o aparelho seja usado sem o perigo de afetar
a respiração. Tais correias geralmente precisam ser removidas durante a alimenta-
ção. Existem outros aparelhos preventivos, mas geralmente são dolorosos para o
animal. Os mordedores podem parar com o hábito se forem alojados em um cubículo
avulso com paredes lisas e alimentados a partir de um cocho que seja removido tão
logo a alimentação tenha-se consumado; entretanto, outros comportamentos este-
reotipados podem aparecer. A cirurgia para seccionar alguns músculos da garganta
essenciais para o comportamento é algumas vezes realizada como último recurso
(ver AEROFAGIA, pág. 1121). Antagonistas narcóticos têm-se constituído em promessa
para ajudar esses animais.
Puxamento da língua – Nesta condição, o eqüino afetado repetidamente
permite que sua língua fique pendurada para fora da boca, quase sempre dobrando-
se longitudinalmente sobre si mesma, por períodos consideráveis. O eqüino pode
ou não encolher sua língua. Os métodos de controle variam desde dor na língua
causada por cabresto até a contenção da língua. A amputação da ponta da língua
tem sido usada, porém não deve ser considerada ética.
Afinamento do cocho (lambedura) – Alguns eqüinos sujeitos a confinamento
crônico colocam o corpo da língua vagarosa mas repetidamente ao redor da lateral
de alguma parte da cocheira. Em alguns casos, a provisão de um bloco de sal para
lamber parece aliviar o hábito, o qual pode indicar uma necessidade ou que o
excesso de sal inibe o problema. Ocasionalmente, cães, gatos (geralmente positi-
vos para leucemia felina) e cavalos lambem objetos por razões inexplicadas. O
nervosismo pode fazer com que os eqüinos lambam seus tratadores, quase sempre
enquanto estão sendo exibidos.
Enrolamento da língua – O equivalente bovino do puxamento da língua em
eqüinos, que consiste em movimentos irregulares de língua no interior ou exterior
da boca. A língua é tipicamente exposta e enrolada para trás dentro de uma boca
aberta ou em direção às narinas num exagero do normal. Pode também ocorrer
deglutição de ar. As tentativas de controle têm tido sucesso apenas parcial. Correias
para deglutição de vento ou a inserção de um anel de metal através do freio da língua
têm sido tentados. Em alguns casos, alcançou-se o sucesso por meio da provisão
de misturas de sal. A liberdade de movimentos e exercícios forçados também são
sugeridos. O enrolamento da língua pode ser aprendido pela observação de animais
problemáticos, e alguns indivíduos podem herdar a tendência.
Mordedura da cauda – A mordedura da cauda em suínos tem atraído muita
atenção. Várias condições são suspeitas de predisposição, incluindo tipo de raça
(por exemplo, landrace), denso agrupamento de suínos em crescimento rápido de
, 45kg de peso corporal, espaço de cocho insuficiente, disponibilidade insuficiente
de bebida e componentes ambientais adversos (altos índices de barulho, gases
nocivos, umidade, temperatura). A combinação destes outros fatores leva a inqui-
etação dentro do grupo, o que evidentemente cria irritabilidade, superexcitabilidade,
e atividade aumentada. Afora esses fatores aparentemente estimuladores, o
agrupamento intensivo em chiqueiros pequenos consiste em um ambiente empo-
brecido, com pouca oportunidade para atividades mais variadas.
A amputação da metade distal da cauda tem-se tornado uma prática de controle
padrão na indústria suína contemporânea. A parte remanescente da cauda fica
suficientemente sensível, a ponto de os suínos reagirem efetivamente quando uma
tentativa de mordedura da cauda for feita.
Os animais que mordem caudas devem ser mantidos juntos, já que geralmente
essa medida reduz a mordedura recíproca da cauda. Outras formas potenciais de
estresse também devem ser assinaladas. Os fatores atmosféricos dentro de uma
construção devem receber atenção. O chiqueiro de suínos em crescimento deve ser
subpovoado quando o grupo for formado pela primeira vez, ou transportado para
Comportamento 1120
pela debicagem, que envolve a remoção da parte anterior (6mm) do bico superior.
Embora isso não elimine completamente a bicagem agressiva ou previna o desen-
volvimento de hierarquia de bicagem, as aves debicadas são menos capazes de
arrancar penas. Outro método de controle consiste em limitar a visão das aves pelo
escurecimento dos galinheiros e alteração da luz para uma coloração avermelhada,
usando-se de lâmpadas infravermelhas ou pintando-se os painéis das janelas de
vermelho. A visão de cada ave pode ser restrita pela fixação de anéis de alumínio
no bico superior ou aplicação de “cegantes”, embora o uso destes artifícios seja
proibido em alguns países. Onde os cegantes podem ser empregados, o arrancamento
das penas é mínimo.
Comportamento ingestivo anômalo – O comportamento ingestivo anômalo é
exprimido por várias manifestações. No passado, acreditava-se que esses animais
teriam deficiências nutricionais e portanto estes recebiam aditivos na alimentação
(por exemplo, sangue, farinha de carne, farinha de osso e farinha de chifre) na
tentativa de diminuir a desordem. O conhecimento atual, no que tange às causas
desta anomalia, ainda é incompleto. Em alguns casos, isto pode ser devido a
deficiências nutricionais, mas em outros se torna claro que a prática alimentar não é
uma causa contribuinte. O confinamento restritivo funciona como agente estressante.
Aerofagia – Esta anormalidade comportamental de eqüinos pode ser distinguida
em 2 formas diferentes, a saber, do afinamento de cocho (ver pág. 1119) e
deglutição de vento pura. Em ambas as formas, ingere-se ar anormalmente, por
deglutição. Na deglutição de vento pura, o eqüino balança sua cabeça e pescoço
várias vezes antes de fazer um esforço de ingestão. Então vira sua cabeça para
cima, abre sua boca, toma ar, levanta a língua e contrai a musculatura da faringe de
modo que o ar seja forçosamente engolido quando o pescoço é flexionado. O som
característico de deglutição de ar pode ocorrer quando um pouco do ar for expulso
ou engolido. A ação é praticada repetidamente.
Como conseqüência de aerofagia persistente, a musculatura da garganta sofre
hipertrofia devido ao uso excessivo. Também pode ocorrer o timpanismo de
estômago; esse por sua vez, pode levar à formação de catarro gastrointestinal e
episódios de cólica. A ingestão de alimento pode diminuir consideravelmente, e
estes eqüinos passam a apresentar baixa alimentar.
O controle da mastigação de cocho, deglutição de vento, afinamento de cocho
e puxamento da língua é tentado com vários métodos. Os eqüinos afetados quase
sempre melhoram com abundância de trabalho e exercício. Nos estágios iniciais, a
deglutição de vento pode ser desestimulada pela remoção de todos os objetos
aproximadamente à altura da boca que possam ser roídos, sugados ou lambidos.
As bordas de cochos, comedouros e manjedouras podem ser recobertas com metal.
Aversão de gosto também pode ser usada, assim como a provisão de bastante feno.
Um método comum de prevenção de aerofagia é o caso de uma correia para
engolidor de vento, a qual é amarrada firmemente ao redor da garganta, e tem uma
peça em forma de coração de couro grosso que se situa entre os ângulos das
mandíbulas com uma extremidade pontiaguda projetando-se em direção à área
faríngea. Com este aparelho no lugar certo, são causados dificuldade e desconforto
aparente ao eqüino quando seu pescoço é flexionado na tentativa de engolir vento.
Alguns eqüinos continuam a prática apesar do aparelho e finalmente adquirem
ferimentos de pressão quando a correia é pressionada.
Vários métodos cirúrgicos têm sido tentados para deter a aerofagia; entretanto,
geralmente são menos que satisfatórios. A prevenção funciona melhor.
Lignofagia (mastigação de madeira) – A mastigação e ingestão de madeira
não é incomum em eqüinos em alojamentos restritivos ou paddocks; de todas as
etopatias orais eqüinas, a mastigação de madeira é a mais comum. Não está restrita
a eqüinos estabulados, e pode ser observada em eqüinos mantidos em cercados
Comportamento 1122
proteína à ração. Desde que fatores nutricionais são suspeitos em qualquer animal,
a avaliação cuidadosa da dieta é importante. Os arranjos espaciais são outros
métodos racionais de controle.
Ingestão anômala de leite (galactofagia) – Uma anomalia comportamental na
qual os animais “mamam” em outros que não sejam suas mães naturais ou adotivas
(ver também pág. 1120). Os bovinos que “mamam” em seus companheiros de
rebanho caracteristicamente escolhem o mesmo animal em lactação, o que leva a
um arranjo pareado. Tais pares algumas vezes mamam-se mutuamente, tanto
simultânea quanto alternadamente.
A anomalia pode estar relacionada a uma predisposição hereditária em alguns
casos; entretanto, está relacionada à forma de criação em muitos outros, e pode
aumentar em freqüência como resultado de imitação. Ao contrário do bezerro jovem,
a galactofagia no adulto é mais comum em sistemas de criação extensiva.
O rebanho deve ser extensivamente inspecionado quando um caso de “ama-
mentação cruzada” adulta estiver sendo suspeito. Por estes meios, os animais
envolvidos podem ser determinados e a disseminação endêmica por mímica pode
ser detida. Como medida preventiva, uma maior quantidade de feno pode ser
incluída à dieta, preferivelmente durante períodos em que o tédio esteja sendo
favorecido. Desde que se suspeite da hereditariedade do problema, pode não ser
conveniente cruzar animais que exibam a desordem quando adultos.
No passado, o controle foi tentado pela utilização de aparelhos com dentes
pontiagudos para a região facial e nasal do animal que “mama” para assegurar uma
reação aversiva em qualquer animal que dele se aproxime. Infelizmente, alguns
desses aparelhos podem atrapalhar a alimentação natural do animal afetado. Da
mesma forma, se o animal afetado for persistente, pode infligir ferimentos em outros.
Um aparelho elétrico preso à testa que dispara choques elétricos ao usuário quando
o circuito é fechado por pressão facial tem tido resultados. Uma vez que o choque
é recebido pelo animal que mama este método é mais apropriado que aqueles em
que o estímulo aversivo é direcionado ao animal-alvo no ato de mamar. Em alguns
casos, o animal afetado deve ser separado ou descartado.
Ingestão de terra (geofagia) – Eqüinos, bovinos, e algumas vezes cães e gatos
podem ingerir terra ou outro material estranho. O comportamento está relacionado
à pica (ver adiante). Tais animais são suscetíveis a disfunções gastrointestinais. A
condição pode ser resultado de dietas deficientes em minerais. Sabe-se que as
deficiências de fósforo e ferro são responsáveis em alguns casos, mas as deficiên-
cias nutricionais não são observadas em outros animais afetados. Os gatinhos
tipicamente exibem o comportamento em poucos dias, após o início do uso de
caixas de areia para defecação.
O controle deve levar em consideração a possibilidade de deficiência mineral.
Além disso, os animais afetados podem ser examinados para verificação de anemia
e de carga parasitária, e um tratamento apropriado deve ser providenciado quando
indicado. Como acontece com outras síndromes orais relacionadas, os eqüinos
afetados devem ser exercitados mais rigorosamente.
Hiperfagia (empanturramento) – Alguns animais são extremamente vorazes e
comedores rápidos, alguns podem engasgar no meio da deglutição de seu alimento.
Muitos foram nutricionalmente privados quando jovens. Outros estiveram em dieta. Já
que o alimento não é completamente mastigado, desordens gastrointestinais ocorrem
em alguns eqüinos. Quando esses animais ganham acesso a grandes quantidades
de comida, consomem volumes excessivos; isto pode levar a problemas gastrointes-
tinais sérios e possivelmente fatais (ver também SOBRECARGA DE G RÃOS, pág. 210).
O controle da hiperfagia envolve alimentação tática. Pequenas quantidades de
alimento podem ser fornecidas. O espalhamento de grãos em uma camada fina no
cocho e a colocação de grandes pedras lisas no fundo do cocho são métodos usados
Comportamento 1124
para fazer com que os grãos fiquem difíceis de serem consumidos rapidamente
pelos eqüinos. O suplemento de grãos em vários horários diferentes no dia pode ser
de ajuda. A alimentação com feno antes dos grãos é muito útil. É muito importante
evitar o acesso a grandes quantidades de grãos altamente energéticos.
Polidipsia nervosa – Excesso de líquidos é encontrado em várias espécies
quando em confinamento intensivo; o consumo de água geralmente é de 2 a 4 vezes
normal. A polidipsia nervosa é vista em alguns eqüinos que são isolados e
confinados em cocheiras com água fornecida à vontade. Alguns eqüinos consomem
, 140L por dia, ou , 3 a 4 vezes a quantidade normal. Isso pode-se espalhar por
um período de tempo ou se concentrar dentro de 2 a 3h. A polidipsia também pode
ser secundária a um consumo excessivo de sal, comum em eqüinos estabulados.
A poliúria pode ser a primeira indicação da anomalia.
A polidipsia não aparenta se fixar firmemente no comportamento do animal, e
permite ser controlada por manejo apropriado, que inclui o fornecimento de água
racionada. Desde que o “entediamento” é um fator contribuinte, o hábito pode ser
controlado e interrompido por aumento no nível regular de exercícios. A polidipsia
em outros animais mantidos em confinamento pode ser aparentemente controlada
por uma alteração apropriada na forma de criação.
Pica – Um apetite depravado exibido por animais que procuram material
estranho para ingestão. A condição é muito aparente em animais que tendem a
comer e mastigar lã, roupas, ossos velhos e madeira. A lambedura ou ingestão de
lã por gatos pode ter um componente genético desde que ocorra quase exclusiva-
mente em siameses e mestiços desta raça.
Deficiências nutricionais, por exemplo, de fósforo, devem ser corrigidas se
existirem. Os gatos que comem ou lambem lã devem ser examinados para aferição
de baixos níveis de hormônios tireóideos. Geralmente, mesmo assim, o problema
é controlado pela prevenção de acesso a objetos preferidos, limitando o acesso a 1
ou 2 itens, ou usando aversão ao gosto para quebrar o padrão.
Ingestão de cama – Os animais confinados estão sujeitos a comerem suas
camas mesmo após terem sido sujas. Quase todos os eqüinos estabulados comem
camas sujas de vez em quando, mas com alguns isso é habitual. Os gatinhos
também comem cama ou sujeira por alguns dias antes de alterações na evacuação
do reflexo anogenital se auto-iniciarem. O hábito se desenvolve em eqüinos e aves,
mesmo quando comida adequada for disponível. Geralmente, a ingestão de cama
visa partículas e maravalhas de madeira, tanto que pode representar, em algum
grau, um apetite por celulose.
A ingestão de cama em galinhas e perus é mais comum quando estes são criados
em cama de madeira ou maravalha, com incidência maior em plantéis que não
tenham espaço suficiente para comer no comedouro. Desde que a incidência é mais
alta em algumas raças e linhagens de aves que em outras, pode haver uma
predisposição genética. A condição pode ser diminuída em muitas aves pelo
suprimento de saibro em abundância.
Para controlar a ingestão de cama em aves, deve haver espaço abundante para
se comer no comedouro, tanto que as aves em posições baixas dentro da ordem
hierárquica possam encontrar espaço seguro no mesmo. Nos eqüinos, o controle
exige avaliação do alimento para assegurar quantidade, qualidade e variedade
adequadas. A alimentação e o exercício devem ser mantidos em um esquema
preciso. Os eqüinos com cargas parasitárias devem receber tratamento apropriado.
Ingestão das penas – Intimamente relacionada à bicagem das penas (ver
pág. 1120) e ao canibalismo (ver BICAGEM CORPORAL, adiante) em galinhas. A
bicagem de penas marca o início do comportamento canibal em muitos casos. Na
ingestão das penas, as aves arrancam as penas de locais preferidos das outras
como a cauda e a ponta da asa. Embora mais comum em adultos, a bicagem das
Comportamento 1125
penas ocorre em todas as idades desde pintos de um dia até aves idosas. Já que
o problema é relacionado a uma alimentação errônea, o controle é direcionado a
uma alimentação e nutrição corrigidas. A alimentação feita exclusivamente com
rações específicas pode interferir nas atividades envolvidas em ciscagem de
alimento e resultar em volume alimentar insuficiente; assim, com a privação destes
comportamentos introduz-se a ingestão das penas. A terapia pode incluir a mistura
de grãos ao alimento para aumentar a ciscagem; o volume pode ser aumentado pela
adição de sabugos de milho e forragem verde à dieta.
Ingestão de ovos – Um hábito encontrado em pequenos plantéis de galinhas
mantidas em galinheiros que parece ocorrer igualmente entre plantéis submeti-
dos a ninho fundo e a piso de tela aramada. O comportamento começa com uma
ave bicando um ovo até ele se quebrar. O conteúdo é então parcialmente
ingerido. Quando uma ave adquire este hábito, é provável que aumente a prática
e que outras aves também possam desenvolver o problema. Quando quantida-
des significativas de casca de ovo são comidas, isso pode indicar que a dieta das
aves afetadas seja deficiente em saibro. O controle envolve a eliminação de aves
afetadas, mas pode ser difícil a identificação em um plantel grande. Um corante
alimentar concentrado pode ser injetado dentro de um ovo para ser deixado no
chão; a ave que comer esse ovo ficará marcada pela coloração na cabeça. O
saibro deve ser providenciado em longos comedouros de forma que todas as aves
possam ocasionalmente ter acesso a ele. Até certo ponto, os problemas dessa
natureza popularizaram a introdução do engaiolamento em série algumas déca-
das atrás. O engaiolamento pode ainda ser considerado como um método de
controle desta condição em pequenos plantéis sem acesso a passeios externos.
As aves com acesso ao ar livre podem sair regularmente ao meio-dia, pois
durante esse horário o período de pôr ovos já terminou.
Bicagem corporal – Em diferentes formas, isso ocorre como vício comporta-
mental em aves sob manejo intensivo. Em contraste à bicagem (ver pág. 1120),
o bico é usado na bicagem corporal para ações combinadas de perfuração e
depenamento. A ingestão de partes arrancadas também ocorre. Esta é uma
forma de canibalismo que aparece em galinhas domésticas, outras aves galiná-
ceas (por exemplo, perus, faisões, codornas) e patos. A bicagem corporal é
freqüentemente dirigida a ferimentos abertos quando as penas já estão arrancadas.
A bicagem dos dígitos ou costas é mais comum em aves mais jovens. A bicagem
do ânus ocorre em todas as idades mas é mais séria em poedeiras, enquanto
a bicagem da cabeça é observada em aves engaioladas mais velhas.
A prevenção e o controle apropriados da bicagem corporal exigem a oportu-
nidade de fuga espacial para aves subordinadas na hierarquia de bicagem. A
debicagem é o método de controle mais comum, mesmo que ela só atinja o
problema e não a causa.
Ingestão de urina – Este problema tem sido relatado em alguns rebanhos
leiteiros na Grã-Bretanha e na França. Evidentemente é praticada durante o
inverno por vacas confinadas a sistemas de cubículos e currais comunais onde
o piso de concreto permite a formação de poças de urina. Uma vaca pode beber
dessas poças, ou algumas vezes diretamente de uma vaca que esteja urinando.
O problema se torna evidente quando os bebedouros estão muito próximos uns
dos outros ou são insuficientes em número de forma que as vacas dominantes
evitam que algumas subordinadas se aproximem dos bebedouros ou cochos de
sal apropriados. Quando a disponibilidade de água e sal é uniformemente
distribuída em currais bovinos, o problema desaparece. O comportamento
também cessa quando o bovino tem acesso ao pastejo.
Sanidade Animal 1126
SANIDADE ANIMAL
INTRODUÇÃO
O bem-estar dos animais é uma responsabilidade primária dos veterinários. Eles
são chamados a diagnosticar e tratar doenças animais, desenvolver programas de
medicina preventiva e executar uma variedade de regulamentos relacionados a
higiene e controle epidêmico. Também auxiliam os criadores a preservar padrões
éticos na indústria ou em casa.
Existem várias definições de sanidade, porém do ponto de vista prático, deve-se
perguntar: “Os métodos gerais de manejo e criação adotados impõem um pouco de
estresse (em sua conotação negativa) nos animais desta espécie nesta idade, peso,
estágio de desenvolvimento, etc?” O estresse pode ser medido por vários índices
fisiológicos e pelo comportamento apresentado pelo(s) animai(s). A partir dessas
informações que as decisões sobre o manejo devem ser tomadas.
Outras questões importantes, também envolvidas com a sanidade animal,
são: 1. se o homem tem o direito de domesticar e utilizar outros animais para
alimentação, matéria-prima, pesquisa, tração, esporte e companhia; 2. se a
intervenção humana deve organizar criações ideais pelo equilíbrio da situação
ideal com práticas diárias na indústria animal; 3. se o cuidado e o controle
abrangentes do sofrimento em animais, sob várias condições de manejo, são
uma responsabilidade essencial; 4. se a saúde animal geral requer consideração
para que se encontrem importantes necessidades físicas, sociais e etológicas
dos animais; 5. se a sanidade animal e seus custos se transferirão à sociedade
como um todo e não apenas aos criadores (um retorno econômico adequado está
implícito em qualquer fazenda). Existe também a pressão da sociedade por
alimentos baratos, o que implica aumentos na intensificação da indústria animal;
entretanto, existe a crescente pressão dos habitantes de áreas urbanas por uma
melhor sanidade dos animais de criação, freqüentemente tendo perspectivas que
não são realísticas ou naturais para a espécie envolvida. A personificação dos
animais pode ser um problema. Se os proprietários dos animais se indisporem e
se tornarem cínicos, um grande sofrimento poderá cair sobre milhares de animais
em sistemas de produção em larga escala ou sobre o consumidor a longo prazo.
Em outros dois campos, os veterinários podem auxiliar no bem-estar do
animal. Eles devem encorajar os criadores a selecionar animais com caracte-
rísticas e temperamentos desejáveis a uma criação em larga escala intensiva. A
reprodução seletiva é lenta — porém importante, pois a população mundial
deverá estar bem alimentada no futuro. O segundo é encorajar os criadores e
tratadores a pré-condicionar seus animais para futuras mudanças. Manter ani-
mais não familiares em currais adjacentes antes de misturá-los em um único
grupo poderia reduzir brigas sociais subseqüentes. A familiarização da vaca com
a sala de ordenha antes de colocá-la juntamente com o bezerro é outro exemplo
de como o manejo precoce e o condicionamento cuidadosos do animal podem
gerar dividendos na produção e sanidade.
O desenvolvimento dos regulamentos de sanidade, as formas que estes
deveriam assumir e como deveriam ser policiados são também preocupações
importantes dos veterinários. O aspecto mais positivo disto é o encorajamento da
maneira pela qual os animais são tratados. Pode-se aplicar a legislação em casos
extremos de crueldade, porém no grau atual de sanidade de animais urbanos e
rurais, os códigos são mais flexíveis para que programas de cuidados preventivos
sejam integrados. A legislação é insuficiente para provocar mudanças na mente
do criador e reordenar suas motivações básicas.
Sanidade Animal 1127
CARACTERÍSTICAS
A sanidade animal é caracterizada por componentes definitivos derivados de suas
ligações racionais com a ética, forma de criação e saúde do animal. São eles: 1. uso
ético do animal; 2. padrões de criação e produção que encontrem um nível atingível;
3. provisão de cuidado veterinário; 4. controle do sofrimento para o bem-estar do
animal; e 5. manejo ecológico. Com estes 5 fatores, a sanidade animal pode ser
incorporada a um conceito unificado.
Como uma disciplina composta e global, a sanidade animal tem uma relevância
imediata à medicina veterinária, à pesquisa animal, à criação animal e à etologia
animal aplicada. Como resultado, a sanidade animal é multidisciplinar. Seus princí-
pios racionais utilizam essas ciências colaterais e são substancialmente científicos,
devido aos seus relacionamentos. Na prática, está envolvida em todas as esferas da
indústria animal e traz consigo comandos éticos e reguladores.
Como acontece com outras disciplinas científicas aplicadas, a sanidade deve
estabelecer objetivos práticos. O objetivo principal é a prevenção e alívio do
sofrimento. O sofrimento pertence ao domínio clínico e assim sendo se torna a base
de muitos assuntos clínicos, os quais respondem por que muitas considerações de
sanidade estão incluídas no conhecimento veterinário.
Em situações acompanhadas de dor, angústia, ou medo, certas manifestações
comportamentais constituem evidência inequívoca de sofrimento (ver também
pág. 1129). Vocalizações intensas, agressividade, tremores, comportamento
depressivo passivo e comportamento agitado são expressões externas de estados
mentais e refletem estados de sofrimento. É importante reconhecer um relaciona-
mento entre comportamento e sanidade animais. As principais características da
sanidade animal providenciam sua estrutura definitiva como se vê adiante.
Uso ético do animal – Mesmo dentro de regiões, nações e culturas, as opiniões
das modalidades de uso animal que podem ser consideradas éticas (ou permissíveis)
são freqüentemente polarizadas nos extremos de natureza humanitária e utilitária.
Em geral, o grosso da opinião veterinária não está dividido em extremos polarizados.
As atitudes culturais relacionadas ao uso aceitável de animais podem ter sido
derivadas da história ou da religião prevalentes em uma dada comunidade. De
qualquer forma, um pacto comunitário se desenvolve sobre o que pode ser feito com
e para os animais usados para alimento, vestuário, recreação e trabalho. Entretanto,
os assuntos éticos não são baseados em bases subjetivas, emotivas e religiosas
totalmente sem a observação de princípios objetivos.
Padrões de criação e produção – Os padrões de criação animal são ensinados
aos estudantes de medicina veterinária e agronomia. Mesmo padrões normalmente
aceitáveis podem quase sempre ser melhorados. A forma de criação que resulta em
altos níveis de morbidade e mortalidade no plantel ou rebanho é provavelmente
reconhecida como deficiente. Padrões deficientes podem resultar de ignorância,
erros grosseiros ou negligência deliberada. Um objetivo de sanidade animal consiste
em retificar e eliminar padrões deficientes de criação, sejam para animais de
produção, de estimação, de laboratório ou animais silvestres cativos.
Para assegurar um equilíbrio entre o ideal e o básico, algum sistema de vigilância
pode ser necessário. Esse pode-se constituir em uma força reguladora de inspetores,
ou de uma sociedade voluntária reconhecida pela comunidade como sendo legítima
Sanidade Animal 1128
OBJETIVOS
A sanidade animal tem dois objetivos principais: evitar ou reduzir o sofrimento e
promover o bem-estar.
Sofrimento – A prevenção e alívio do sofrimento são obviamente os objetivos
principais na obtenção de sanidade animal. Submissão a uma imposição ou
resistência a uma condição que seja dolorosa, angustiante ou prejudicial correspon-
dem ao significado geral de sofrimento. A resistência sugere um elemento de
continuidade. Em medicina veterinária, sanidade serve como um termo de significa-
do extenso que cobre todos os componentes provavelmente afetivos que possam
coexistir com qualquer situação nociva.
Um alto grau de julgamento clínico e etológico é necessário para avaliação
qualitativa do sofrimento animal. Entretanto, um sistema simples de classificação
pode ser utilizado tal como nas formas aguda, subaguda ou crônica. A cronicidade
pode somar-se à intensidade do sofrimento, porém o sofrimento agudo que provoca
alterações no comportamento pode também ser intenso, se estiver aliado a dor
intensa. O sofrimento subagudo tipicamente assume uma forma transitória, embora
a recidiva freqüente possa fazer com que essa forma adquira importância real,
dependendo do grau de alteração no comportamento associado.
As condições fisiopatológicas normalmente exibem evidências imediatas de
sofrimento animal. Numerosas afecções clínicas, incluindo processos patológicos
e incidentes traumáticos, se tornam aparentes inicialmente por meio de um conjunto
de indicadores comportamentais de sofrimento. De fato, a alteração comportamen-
tal é a característica mais provável de apontar o nível de sofrimento. Tais alterações
acontecem quando atividades homeostáticas são completamente detidas e substi-
tuídas por demonstrações de dor ou comportamento aberrante persistente.
Quando acontece o sofrimento, comportamentos de manutenção sistêmicos,
como alimentação, limpeza, ou afiliação, são quase sempre substituídos por
agitação, depressão, isolamento, anorexia, etc. Alterações significativas em com-
portamento acontecem e incluem formas incomuns de conduta, movimentos corpo-
rais deficientes, atividades reduzidas e perda de apetite. Tais sinais são usados para
propósitos diagnósticos quando os animais doentes ou feridos são avaliados. Eles
ajudam a determinar a natureza e a extensão da disfunção do animal e também o
Sanidade Animal 1130
PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS
LABORATORIAIS
Numerosos testes laboratoriais podem ser feitos em um laboratório em clínica
particular, inclusive muitos que anteriormente tinham de ser enviados a um labora-
tório externo. Uma vez que as pessoas realizam estes testes quase sempre sem o
mínimo treinamento técnico, é essencial que os procedimentos de controle de
qualidade sejam rigorosos. Entretanto, o tempo e o cuidado que devem ser dedica-
dos ao controle de qualidade impedem o teste doméstico em muitos casos. Também
podem ocorrer erros não apenas nos procedimentos genuínos de teste, mas também
na coleta e manipulação de amostras e transcrição de resultados.
Os laboratórios comerciais oferecem uma grande variedade de análises bioquí-
micas acuradas e baratas. Ver anteriormente sobre manipulação de amostras; o
laboratório diagnóstico deve ser questionado acerca de instruções específicas
antes do envio de amostras para análise.
BIOQUÍMICA
As determinações bioquímicas do sangue (ver TABELA 10, pág. 1174) podem
auxiliar na confirmação dos diagnósticos clínicos. Uma bateria de testes de triagem
pode também sugerir soluções para problemas diagnósticos diferenciais. A seleção
de testes deve ser sempre baseada em fundamentos clínicos. Correntemente, uma
regra prática e econômica é o uso de laboratórios comerciais quando > 3 testes por
animal forem necessários. Laboratórios privados podem executar perfis bioquími-
cos de 12 a 20 testes em equipamentos automáticos com maior facilidade e
considerável diminuição no custo do exame. A disponibilidade de laboratórios
privados e o tempo gasto para se receber os resultados freqüentemente apresentam
problemas com referência a emergências inevitáveis (noites e feriados). Assim
sendo, uma triagem bioquímica sangüínea em laboratório próprio é desejável,
senão necessária. A aquisição de analisador bioquímico automático ou semi-
automático, o qual permite um perfil bioquímico de 12 a 20 testes, implica na
contratação de um técnico experiente para operá-lo. Métodos secos de análise
bioquímica podem fornecer bons resultados para a análise bioquímica de rotina e
para a determinação de enzimas e eletrólitos. Valores precisos de eletrólitos são
determinados com maior eficiência com um sistema específico de elétrodos para
íons. O uso de soro-controle conhecido como um procedimento de controle de
qualidade assegura a precisão de qualquer sistema de análise bioquímica sangüínea.
Para análise bioquímica sangüínea, uma centrífuga é essencial para a separa-
ção das células sangüíneas do soro ou plasma. As amostras de soro ou plasma são
exigidas para ensaio bioquímico e sorológico ao contrário do sangue completo
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1138
Glicemia
Um mL de sangue total coletado após 12h de jejum pode ser usado para análise
de níveis de glicemia > 100mg/dL por meio de 2 testes simples, visuais, colorimétricos
e semiquantitativos. O Dextrotest* é feito com 2 comprimidos reagentes e envolve
um filtrado fervido. Os níveis glicêmicos de 100, 150 e 200mg/dL podem ser
estimados pela comparação da mudança de cores com uma escala que acompanha
o kit. Uma determinação mais rápida pode ser obtida com tiras de glicoxidase e
sangue completo. Uma mudança positiva de cor visual ocorre com níveis altos de
glicose, sugestivos de diabetes melito (≥ 200mg/dL) em cães e gatos. A cetoacidose,
que pode acompanhar o diabetes melito, é detectável com um comprimido reagente
(“Acetest”*), que pode ser usado com soro, leite ou urina. Diluições dobradas de soro
cetoacidótico produzem uma alteração de cor no comprimido que varia de lavanda
a violeta dentro de 30s.
A determinação de hipoglicemia requer métodos específicos para medir acurada-
mente os níveis de glicose. Esses métodos são usados nos vários sistemas automá-
ticos de análise. Novamente, a amostra de escolha é o soro límpido que tenha sido
obtido após 12h de jejum e separado das células sangüíneas dentro de 30min.
A atividade enzimática proteolítica pancreática pode ser testada por uma simples
tira de filme radiográfico e os resultados são verificados com um tubo-teste contendo
gelatina. As fezes são adicionadas a 9mL de solução de bicarbonato de sódio a 5%
até se alcançar um volume total de 10mL. A ponta de uma tira de filme radiográfico
não processado é imersa na suspensão de fezes, a qual é incubada a 37,5°C por
1h ou por 2h e meia à temperatura ambiente; a tira de filme é então lavada com água
de torneira e examinada para determinar se a emulsão de gelatina foi digerida. A
tripsina fecal de cães normais produz uma área clara na porção do filme que foi
submersa (teste positivo). Ao contrário, a emulsão de gelatina persiste com uma
marca d’água, no caso de insuficiência pancreática, caracterizada pela ausência de
tripsina fecal. Um teste mais sensível de tubo com gelatina deve ser requerido
quando o teste do filme for positivo, pois as proteases intestinais podem clarear a
emulsão do filme em 25% dos testes (resultados falsos-positivos). Dois mL de
gelatina a 7,5% são adicionados a cada um dos 2 tubos e liquefeitos pelo
aquecimento a 37°C. Dois mL da suspensão fecal em solução de bicarbonato de
sódio a 5% são adicionados a um dos tubos com gelatina e 2mL de solução pura de
bicarbonato de sódio a 5% são adicionados ao outro como controle. O conteúdo de
cada tubo é misturado e incubado a 37°C por 1h (ou 2h e meia à temperatura
ambiente) e então refrigerado por 20min. A formação de um gel no tubo contendo
a suspensão fecal indica uma deficiência de tripsina, que é associada à insuficiência
pancreática crônica.
A função das ilhotas pancreáticas está comprometida em 50% dos cães com
insuficiência pancreática crônica. A hiperglicemia e a glicosúria são manifestações
resultantes do diabetes melito (ver pág. 323).
MICROBIOLOGIA CLÍNICA
A coleta de amostras para a identificação de patógenos bacterianos e/ou
determinação de sensibilidade a antibióticos deve ser feita antes de se iniciar o
tratamento. O intervalo de tempo mínimo no qual a identificação e o teste de
sensibilidade podem ser efetuados é o mesmo que se requer para o crescimento
na cultura bacteriana, o que invalida a vantagem do ensaio doméstico em áreas
urbanas onde os laboratórios diagnósticos são próximos. Os detalhes que um
laboratório diagnóstico independente pode providenciar na confirmação de uma
infecção clínica podem não ter valor. Ao contrário, as capacidades mínimas do
laboratório doméstico devem incluir preparação de esfregaços corados e não
corados, inoculação de cultura (caldo de tioglicolato) ou meio de transporte, testes
preliminares para sensibilidade a antibióticos e coleta de amostras séricas.
Culturas
A cultura para a identificação de bactérias patogênicas e determinação de
sensibilidade a antibióticos requer um estoque de meios de cultura, reagentes,
equipamentos e pessoal experimentado; quatro culturas por dia são o volume
mínimo para justificar as despesas e o tempo gasto. Os kits disponíveis no comércio
podem ser usados para uma identificação presuntiva de até 18 patógenos aeróbicos
e para a determinação de suas sensibilidades frente a antibióticos. A coleta do
“swab” ou da amostra per se deve ser cuidadosa e a assepsia deve ser mantida até
o recebimento no laboratório.
A cultura pode também ser iniciada em meio apropriado, tal como caldo de
tioglicolato, o qual permitirá o crescimento de bactérias tanto aeróbicas quanto
anaeróbicas. A cultura de amostras do trato gastrointestinal pode ser iniciada
em um meio seletivo tal como ágar de MacConkey. Ágar com infusão cérebro-
coração e ágar sangue são dois exemplos de meios usados para cultivos
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1142
CITOLOGIA
A citologia pode ser usada como um método de baixo custo na obtenção de um
diagnóstico definitivo. Inflamação, neoplasia e agentes patogênicos específicos
podem ser diferenciados usando-se procedimentos rotineiros de citologia. Ideal-
mente, as amostras citológicas devem compreender uma camada celular grossa
para permitir coloração e visualização adequadas.
Uma agulha de calibre 22 encaixada em uma seringa de 6mL pode ser usada
para mostrar vários tecidos com desconforto mínimo ao animal. Para aspirar o
tecido, a agulha é direcionada dentro da massa e aplica-se sucção com a seringa.
A agulha é redirecionada uma ou duas vezes, com o cuidado de manter sua ponta
dentro do tecido. O êmbolo da seringa é gentilmente liberado antes que a agulha
seja retirada. Quase sempre, o tecido não está visível dentro do corpo da seringa,
mas o material diagnóstico está dentro da agulha. A agulha deve ser mantida sobre
uma lâmina de vidro à medida que a seringa é removida e preenchida com ar. A
seringa é recolocada e a amostra dentro da agulha é gentilmente expulsa sobre a
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1143
lâmina. Uma segunda lâmina é usada para espalhar a amostra para se fazer um
esfregaço. Se as lâminas forem coradas com corantes do tipo Romanowsky, elas
são secadas ao ar; se forem coradas pelo método tricrômico, são colocadas
imediatamente em metanol.
As amostras de biópsia podem também ser usadas para citologia. Uma superfície
recentemente cortada da amostra de biópsia deve ser seca em uma toalha de papel
limpa. Esta superfície é então gentilmente decalcada em uma lâmina de vidro limpa.
Vários decalques podem ser feitos na mesma lâmina. Amostras citológicas devem
ser protegidas de formalina e seus gases. O formaldeído altera as características
corantes do tipo Romanowsky e dificulta a capacidade diagnóstica.
As amostras fluidas devem ser coletadas em tubos com EDTA para evitar a
formação de coágulos, que podem preencher as células, e avaliadas por contagem
de células e mensuração da proteína. Os esfregaços devem ser feitos o quanto antes
após a coleta. É usada uma técnica semelhante àquela usada para fazer esfregaços
sangüíneos. Em amostras com poucas células, pode ser melhor concentrar a
amostra antes de fazer um esfregaço.
A citologia é útil para diferenciar lesões inflamatórias de lesões neoplásicas. O
agente etiológico de lesões inflamatórias, assim como os componentes celulares da
inflamação, pode ser identificado em uma amostra citológica. Lesões inflamatórias
agudas são geralmente caracterizadas por uma grande população de neutrófilos
com poucos macrófagos e linfócitos. A inflamação crônica tende a ter macrófagos
gigantes, plasmócitos e alguns neutrófilos. Podem ser necessários corantes espe-
ciais para ajudar a identificar microrganismos infecciosos como fungos ou bactérias.
Citologicamente, a neoplasia pode ser categorizada em 3 grupos básicos:
tumores epitelioglandulares, tumores de tecido de sustentação, e um grupo variado
algumas vezes referido como tumores de células redondas. As células do grupo
epitelioglandular tendem a esfoliar em grupos. As células de tumores malignos
tendem a variar em tamanho, forma e proporção núcleo–citoplasma. Os núcleos
podem ser grandes com nucléolos proeminentes. Figuras mitóticas bizarras e,
ocasionalmente, formações glandulares podem ser vistas.
As células malignas de tumores de tecido de sustentação dividem muitas de suas
características citoplasmáticas. As células desses tumores são muito menos prováveis
de esfoliar e em geral esfoliam individualmente quando o fazem. As células geralmente
são ovóides ou em forma de fuso, com variação de tamanho discreta a acentuada. As
células quase sempre parecem “delicadas” com membranas mal definidas.
A citologia é muito útil quando se avaliam as neoplasias variadas. Essas incluem
linfomas, mastocitomas, histiocitomas, tumor venéreo transmissível e melanomas.
Os linfomas são reconhecidos por uma população claramente uniforme de grandes
linfócitos imaturos. Muitos têm nucléolos proeminentes e são classificados como
linfoblastos. Os linfomas podem ser diagnosticados a partir de aspirados não só de
linfonodos, como também do fígado, rim ou outros órgãos.
Os mastocitomas são facilmente reconhecidos pela grande população de células
com núcleos azuis-claros e numerosos grânulos corados metacromaticamente no
citoplasma. Os grânulos são tão numerosos que podem esconder o núcleo. Alguns
corantes rápidos não coram adequadamente os grânulos, permitindo visualização
fácil dos núcleos.
Os histiocitomas podem esfoliar bem ou precariamente. As células redondas a
ovais variam levemente em tamanho. O citoplasma é azul-pálido e moderadamente
abundante. Os linfócitos podem ser espalhados e aumentar de número assim que o
tumor comece a regredir espontaneamente.
O tumor venéreo transmissível pode ocorrer em outros lugares além da área
urogenital. As células esfoliam prontamente e são claramente grandes, variando
levemente em tamanho. São comuns as figuras mitóticas.
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1144
Análise de fluidos
Os fluidos corporais podem ser analisados para auxílio diagnóstico. O fluido
normalmente encontrado nas cavidades corporais é caracteristicamente pobre em
proteínas e contém poucas células. Acredita-se ser um ultrafiltrado de plasma, e as
células do revestimento mesotelial podem regular o fluxo de fluido. Ao se avaliarem
amostras fluidas, vários parâmetros devem ser examinados. Já que os fluidos
corporais normais têm um baixo conteúdo proteico (< 3g/dL), um aumento sugere um
processo inflamatório. Os fluidos com baixo conteúdo proteico são transudatos; os
que apresentam proteína aumentada são exsudatos. Quando há um discreto
aumento no número de células e na quantidade de proteínas, trata-se de um
transudato modificado. As diferenças entre um transudato modificado e um exsudato
não são sempre óbvias.
Os transudatos podem resultar de estase venosa, hipoalbuminemia ou obstrução
linfática. O conteúdo proteico é < 3g/dL e pode ser estimado pela utilização de um
refractômetro (densidade específica ≤ 1,015). Há geralmente poucas células (< 500
células nucleadas/µL). Os esfregaços devem ser feitos a partir do sedimento de uma
amostra centrifugada. As células são tipicamente mesoteliais e ocasionalmente
inflamatórias. As células mesoteliais desprendidas podem proliferar no fluido. Já que
as células mesoteliais reativas não se dividem completamente, elas geralmente
ocorrem em grupos de múltiplos de 2. O citoplasma é abundante com núcleos
localizados centralmente. As células inflamatórias vistas em transudatos têm a
morfologia de leucócitos periféricos.
Os transudatos modificados têm um aumento discreto na proteína (3 a 5g/dL) e
densidade específica (1,018 a 1,030). A contagem de células nucleadas aumenta um
pouco, mas ainda é < 5.000/µL, e a maioria delas são células mesoteliais reativas.
Alguns dos grupos de células podem exibir figuras mitóticas e devem ser diferencia-
dos das células mesoteliais. Células inflamatórias, primariamente neutrófilos, tam-
bém podem ser encontradas no transudato modificado.
Os exsudatos são acúmulos de fluido que têm alto conteúdo proteico (> 4g/dL)
e contagem de células > 5.000/µL. As células variam com a causa de efusão. As
efusões quilosas resultam do escoamento de linfa nas cavidades corporais. Elas
têm um alto conteúdo lipídico e classicamente parecem leite. A maioria das
células corresponde a pequenos linfócitos maduros.
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1145
Técnicas de coloração
Exsudatos, transudatos, aspirações por agulha hipodérmica, decalque de teci-
dos, sangue, fezes e sedimento urinário podem ser avaliados microscopicamente
em esfregaços corados ou não. Os corantes podem ser utilizados como auxílio na
identificação de bactérias, tipos de inflamação e neoplasias.
Coloração de Gram – Este corante separa as bactérias em 2 grupos taxonômi-
cos: microrganismos Gram-positivos, como os cocos, os quais se coram de violeta
ou preto, e os microrganismos Gram-negativos, como os coliformes e pseudomonas
que aparecem róseos. Um esfregaço moderadamente fino da amostra-teste é fixado
rapidamente por aquecimento em chama e secado ao ar. O esfregaço fixado é
coberto com violeta genciana por 1min, lavado com água e coberto com lugol
(iodeto) por 1min. Descolore-se o mesmo então por 5 a 10s com álcool-acetona,
lava-se novamente com água e colora-se com safranina ou fucsina básica por 1min.
Depois de enxaguado em água, o esfregaço é seco antes do exame ao microscópio
sob objetiva de imersão. Além de diferenciar as 2 categorias bacterianas, todos os
fungos coram-se de azul-escuro, e os núcleos das células brancas, de rosa.
Esfregaços límpidos não corados – Podem ser observados em preparações
límpidas não coradas em lâminas: fungos de dermatomicoses, ácaros de sarna,
bolor e estruturas granulares amarelas (grânulos de enxofre ou fungos raiados, os
quais caracterizam o pus produzido por actinomicetos, actinobacilos e estafiloco-
cos). Uma lâmina de bisturi é usada na coleta de pêlos e crostas de pele da periferia
de lesões recentes por raspagem na camada coriônica da pele. Na pesquisa de
ácaros, o raspado deve ser profundo até que haja sangramento dos capilares. Os
restos de tecidos purulentos ou necróticos contêm fungos patogênicos e “grânulos
de enxofre”. O material coletado é colocado em uma lâmina e algumas gotas de
solução de hidróxido de sódio em 10 a 40% são adicionadas, cobrindo-se em
seguida com uma lamínula. A clarificação da amostra ocorre em 30min podendo ser
acelerada pelo aquecimento brando por 5min. Uma objetiva de pequeno aumento
é usada para exame das áreas contendo pêlos e células epiteliais em uma única
camada fina. Sob objetiva de grande aumento com iluminação reduzida, observa-
remos hifas de fungos e/ou esporos, os quais se encontram dentro ou ao longo da
raiz dos pêlos e células da epiderme, no caso de dermatomicoses. A coloração de
Gram e culturas podem ser usadas para a identificação específica de estruturas
granulares, e fungos podem ser observados como causas de lesões subcutâneas.
Coloração de Wright – Este corante pode ser encontrado sob a forma líquida e
é usado com tampão de fosfato. A quantidade de corante suficiente é colocada sobre
a lâmina de modo a cobrir o esfregaço, permanecendo sobre ele por 1 a 3min; uma
quantidade igual de tampão de fosfato é cuidadosamente adicionada e misturada
delicadamente por sopro, tendo-se o cuidado para não derramar, até o aparecimen-
to de uma espuma verde-metálica. O tempo ideal de coloração pode variar de 3 a
5min. O corante e a espuma são escorridos e lavados com água destilada e então
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1146
a lâmina é seca ao ar. Um registro permanente da amostra pode ser feito com a
coloração de uma lâmina e um meio de montagem.
Coloração de Giemsa – Soluções-estoques são facilmente obtidas, sendo está-
veis e produzindo bons resultados. O esfregaço é fixado em metanol absoluto por 3 a
5min e seco. O corante é preparado diariamente pela mistura de um volume da
solução-estoque com 15 volumes de água destilada. O esfregaço já fixado e seco é
colocado imediatamente no corante diluído por 30 a 60min, lavado com água destilada
neutra, seco ao ar e examinado. Registros permanentes de parasitas sangüíneos
podem ser feitos pela montagem com lamínula sobre o esfregaço corado.
Corantes para colorações rápidas – Há inúmeros corantes comerciais dispo-
níveis que coram rápida e facilmente. As orientações do fabricante para o uso dos
vários corantes devem ser seguidas. O NAM (novo azul de metileno) é um corante
vital versátil que revela reticulócitos, corpúsculos de Heinz, núcleos, hemoparasitas
e plaquetas, além de outras estruturas. Em contraste com outros corantes, o NAM
não cora glóbulos vermelhos e não pode ser usado como coloração em montagens
permanentes, a menos que um contra-corante seja usado.
HEMATOLOGIA
Testes de coagulação – A hemostasia envolve muitas inter-relações complexas
entre muitos sistemas (ver DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS, pág. 63). O sangue coagula
quando é removido dos vasos normais revestidos por endotélio. A coagulação é
geralmente dividida em 2 sistemas principais, as vias intrínseca e extrínseca, as
quais terminam em uma via comum; isso resulta na formação de um tampão de
fibrina. Testes têm sido desenvolvidos para avaliar tanto o sistema intrínseco quanto
o extrínseco bem como os fatores específicos dentro dos sistemas. Alguns destes
testes são mais bem feitos por laboratórios comerciais. O sangue para os mesmos
requer manipulação especial, e o laboratório deve ser contactado para instruções
específicas. Entretanto, vários testes de coagulação podem ser feitos a domicílio.
Tempo de sangramento – Escolhe-se uma área limpa e não pilosa (nariz,
interior do lábio, interior da orelha) para este teste. Uma picada profunda é feita com
uma lanceta ou uma lâmina de bisturi afiada nº 11. O tempo é observado a partir da
aparição de sangue (sem aplicar pressão). A intervalos de 30s, um filtro de papel
(que não deve tocar a pele) é usado para remover o sangue. Observa-se o tempo
em que o sangramento cessa; para a maioria dos animais domésticos, esse tempo é
de 1 a 5min. O tempo de sangramento é prolongado quando ocorrem defeitos de
plaqueta, fragilidade capilar aumentada e doença de von Willebrand.
Tempo de coagulação ativada (TCA) – Coloca-se sangue completo (2mL) em
um tubo de TCA. Esse tubo contém terra diatomácea, que serve como agente
ativador para encurtar o tempo de coagulação e aumentar a sensibilidade do tempo
de coagulação do sangue completo. A contagem de tempo começa tão logo o
sangue seja colocado no tubo. Após homogeneização, o tubo é incubado a 37°C por
1min. O tubo é avaliado a intervalos de 5s para constatação de coagulação. Isso
normalmente ocorre dentro de 60 a 90s. Trombocitopenia grave (< 10.000 plaque-
tas/µL) e defeitos no sistema intrínseco prolongam o tempo de coagulação.
Fibrinogênio – O fibrinogênio é essencial para a formação do coágulo sangüí-
neo. Sua dosagem é facilmente obtida pela precipitação por calor a partir de uma
amostra de sangue completo contendo um anticoagulante. Dois tubos de VTC são
preenchidos e centrifugados por 10min para a separação do plasma. Os sólidos
totais (mg de proteína/dL) no plasma de um tubo são determinados usando-se um
refratômetro. O outro tubo de VTC centrifugado é imerso em banho-maria a 57°C por
3min para que haja precipitação do fibrinogênio. É então novamente centrifugado e
os sólidos totais remanescentes no plasma são determinados com o refratômetro.
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1147
Esse valor é subtraído do valor obtido do plasma não aquecido e a diferença é igual
à concentração de fibrinogênio em mg/dL. Os valores normais em cães, gatos e
eqüinos são de 200 a 400mg/dL. A média em bovinos é de 450 a 750mg/dL, e
valores mais elevados são uma indicação mais sensível de processos inflamatórios
e neoplasias em bovinos que a contagem total de leucócitos. A hipofibrinogenemia
pode ser congênita ou refletir processos hepáticos avançados, má nutrição,
leucemia granulocítica canina, estado moribundo, coagulação intravascular disse-
minada, etc.
Os tipos de células sangüíneas circulantes variam em número de acordo com o
estado fisiológico normal assim como com as condições patológicas. Essa variação
considerável pode ser influenciada por sexo, idade, nutrição, esforço físico, tempe-
ratura ambiente e ciclos sexual e diurno. Os valores listados na TABELA 8, página
1171, devem ser considerados como guias e não como critérios rígidos.
O número de células sangüíneas também muda em estados patológicos: os
valores de leucócitos aumentam em infecções bacterianas agudas, leucemias
neoplásicas, necrose tecidual, trauma e intoxicação metabólica ou química; no
entanto, estágios extremos das mesmas condições estão associados a valores
diminuídos. Entre os exemplos comuns de alterações diagnósticas no número de
células sangüíneas está o aumento de neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares)
produzido por bactérias piogênicas. Números elevados de monócitos e linfócitos
estão associados a uma resposta imune em um processo inflamatório crônico ou a
caminho da cura. Ao contrário, infecções virais agudas são caracterizadas por
leucopenia. A contagem de eosinófilos aumenta em respostas alérgicas e freqüen-
temente ocorre em associação a infecções por helmintos. As anemias decorrentes
de parasitismo ou desnutrição severas são refletidas por números menores de
hemácias circulantes com menos hemoglobina. Numerosas células sangüíneas
imaturas com morfologia anormal são quase sempre os primeiros indicadores de
uma alteração neoplásica nos tecidos formadores de sangue.
Coleta de amostras sangüíneas – O sangue é coletado por meio de punção
venosa, utilizando-se agulha e seringa estéreis e secas ou por meio de tubos
coletores a vácuo, contendo um anticoagulante (EDTA de potássio). Agulhas
descartáveis, seringas plásticas e tubos coletores facilitam a coleta de sangue, pois
evitam a contaminação química e as infecções iatrogênicas. O tamanho do animal
e a quantidade de sangue requerida determinam o local para a punção venosa.
Geralmente a maior veia acessível é usada. As veias cefálica, jugular, femoral e
coccígea são os locais mais freqüentemente usados para pequenos animais e
herbívoros. A veia cava anterior é o local de escolha para suínos e a veia alar é usada
para os pássaros. As amostras sangüíneas podem ser obtidas em filhotes de cães
e gatos, pelo corte das unhas, próximo ao leito ungueal. O melhor esfregaço para
a contagem diferencial dos leucócitos é feito imediatamente após a coleta, antes de
se expor o sangue a um anticoagulante. Os tubos contendo anticoagulante devem
ser invertidos delicadamente, logo após a coleta do sangue e antes do uso deste
para permitir a mistura uniforme. O EDTA é o anticoagulante de escolha para a
maioria dos procedimentos hematológicos, se estes forem realizados até 6h após
a coleta (quanto antes melhor). Entretanto, o EDTA causa a retração dos glóbulos
vermelhos e interfere na determinação de nitrogênio não proteico, fosfatase alcali-
na, creatinina e poder de combinação do dióxido de carbono. Deve-se ter cuidado
para evitar hemólise durante e após a coleta de sangue, pois esta interferirá em
várias análises bioquímicas.
Hematócrito – O hematócrito é uma avaliação prática e precisa do estado dos
glóbulos vermelhos, considerando a relativa inexatidão das contagens manuais de
leucócitos e o esforço técnico requerido para uma determinação precisa de hemoglo-
bina. O hematócrito é melhor obtido pelo uso de centrífugas para micro-hematócrito.
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1148
tes, podemos agora diagnosticar infecções ocultas por meio de kits que detectam
anticorpos antimicrofilárias por intermédio da imunofluorescência ou por intermédio
de antígenos de vermes adultos por ELISA.
Exame de eritrócitos para patógenos – Esfregaços de sangue de várias
espessuras são feitos em lâminas limpas, variando-se o tamanho da gota de
sangue e alternando-se o ângulo da lâmina espalhadora (ver pág. 1149). Os
esfregaços secos são fixados em álcool absoluto por 2min e corados (ver pág.
1145) com Wright, Giemsa ou novo azul de metileno. Eles são examinados sob
objetiva de imersão para hematozoários, a maioria dos quais está incluída na
T ABELA 2. Os parasitas geralmente aparecem menos refringentes que os artefatos
de técnica.
Exame de fagócitos para patógenos – O sedimento coagulado formado no
sangue centrifugado é fonte de um grande número de fagócitos leucocitários,
incluindo polimorfonucleares e monócitos. O esfregaço desse sedimento, corado
por técnicas semelhantes àquelas usadas para os glóbulos vermelhos, é de grande
valor diagnóstico em histoplasmose, toxoplasmose, leucocitozoonose, erliquiose,
erisipelas septicêmicas, etc.
PARASITOLOGIA
Exame para pesquisa de ectoparasitas
Os animais com dermatoses devem ser avaliados quanto a ectoparasitas. A pele
é examinada para parasitas ou evidências destes, por exemplo, pulgas podem não
ser vistas em um gato ou cão, mas pequenos flocos escuros de excremento podem
estar presentes. Se esses flocos forem colocados sobre papel-toalha molhado,
produzirão um corante vermelho-brilhante.
Algumas vezes a pele deve ser raspada (por exemplo, com uma lâmina de bisturi)
para se achar parasitas. Uma gota de óleo mineral é colocada em uma lâmina de
vidro, correndo-se a lâmina do bisturi sobre o óleo; este retém os fragmentos de pele
na lâmina de vidro. Como alguns dos parasitas (por exemplo, Sarcoptes, Demodex)
vivem em buracos e folículos pilosos, pode ser necessário se raspar a pele até que
uma pequena quantidade de sangue seja obtida.
O material raspado é espalhado na gota de óleo sobre a lâmina, e uma lamínula
deve ser colocada em cima. Toda a área delimitada pela lamínula deve ser
vasculhada sob pequena ampliação. Ocasionalmente, pode ser necessário adicio-
nar 2 a 3 gotas de solução de hidróxido de potássio a 10%. Essa substância limpa
os fragmentos e permite uma melhor visualização.
A correlação entre OPG e a carga parasitária real é quase sempre muito boa em
animais jovens, embora resultados baixos ou negativos possam confundir em
adultos. Geralmente, um resultado > 500 OPG reflete uma infecção moderada, e
>1.000 indica a necessidade de tratamento.
Procedimentos Diagnósticos Laboratoriais 1154
SOROLOGIA
Brucella canis – Uma gota de soro suspeito é necessária para o teste de
aglutinação em lâmina comercial que leva 2min para ser efetuado. A aglutinação
positiva indica infecção presuntiva por B. canis, mas deve ser encaminhada uma
amostra sangüínea para cultura do agente para um diagnóstico positivo preciso, já
que ocorrem reações falsos-positivas (ver também págs. 669 e 1155). Os cães com
resultados positivos deverão ser testados novamente a intervalos de 1 mês se as
culturas sangüíneas forem negativas. Os testes de aglutinação negativos são
geralmente considerados válidos.
Imunidade em potros – A transferência de imunoglobulina G (IgG) pelo colostro
a potros neonatos é medida pelo uso de kits comerciais que utilizam o desenvolvi-
mento de turvação do sulfato de zinco ou imunodifusão radial. Um teste mais rápido,
que usa aglutinação de látex, tem sido desenvolvido para dosagem dos níveis de IgG
por mL de soro ou sangue total, com amostras ≥ 15h após o início do aleitamento.
Os resultados dos testes são obtidos em 10 a 15min e determinados por meio de
comparação visual com tabelas e expressos em mg aproximados de IgG/dL. A
mesma metodologia é usada para medir a concentração de IgG por mL de colostro
na égua. Níveis baixos de IgG em potros predispõem ao desenvolvimento de infecções
sépticas até 4 semanas após o nascimento.
Ensaios imunoenzimáticos
O uso de anticorpos monoclonais em combinação com ensaios imunossorbentes
ligados a enzimas (ELISA), conhecidos também como ensaios imunoenzimáticos,
tem sido explorado devido ao rápido desenvolvimento de novos kits para testes de
diagnóstico. As vantagens dos métodos biotecnológicos são simplicidade, rapidez,
sensibilidade e conveniência. A mais recente vantagem reconhecida inclui a utilidade
tanto em clínicas quanto em fazendas. Atualmente, existem 17 agentes patogênicos
aviários detectáveis pelo método ELISA. A classificação dos agentes aviários
detectáveis inclui 10 vírus, 3 micoplasmas, Chlamydia psittaci, 2 outras bactérias e
Eimeria spp. Em adição aos agentes patogênicos infecciosos, micotoxinas e resí-
duos de drogas também são detectáveis pelo mesmo método.
Vírus da leucemia felina – Juntamente com o linfossarcoma, este vírus é a causa
de várias síndromes clínicas nos gatos, todas associadas com imunossupressão. Os
kits de testes ELISA foram desenvolvidos para a detecção de anticorpos séricos para
os 27 antígenos proteicos grupo-específicos do VLF. Menos de 1mL de soro ou
sangue total é necessário e os resultados são determinados visualmente em curto
tempo, com mínimo esforço. As reações positivas (as quais podem ocorrer em 3%
de todos os gatos) são indicativas de infecções, as quais podem ser transitórias,
latentes ou persistentes. A positividade em uma única amostra deve ser isolada e
testada novamente com um intervalo de 1 mês para se determinar o estado
infeccioso. Uma observação tem sido reportada, sugerindo que 10 a 30% dos gatos
infectados pelo vírus da leucemia sejam negativos tanto para o teste ELISA quanto
para o teste com anticorpos imunofluorescentes.
Níveis de progesterona no leite – Podem ser usados na determinação do estado
reprodutivo em bovinos: o leite é testado em 1h para se diferenciar fase ovariana
folicular (estro) e lútea (prenhez). A concentração de progesterona diminui a
< 5ng/mL durante o estro e aumenta a níveis >10ng/mL durante a gestação. Kits de
ELISA têm sido desenvolvidos para esse teste e os resultados são determinados por
comparação de cor visual para controle. Os resultados obtidos indicam o grande valor
deste teste na detecção do estro.
Diagnóstico por Imagens 1155
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
(TC, Tomografia axial computadorizada, Varredura por TAC)
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
(RM, Ressonância magnética nuclear)
RADIOLOGIA
RADIOGRAFIA
Equipamento – O equipamento básico para se obter uma radiografia satisfatória
compreende um aparelho de raio-X com uma proteção adequada. Para pequenos
animais, sua capacidade deve ser de 100kVp (picos de quilovolt) e 100mA (miliampè-
res). Um aparelho com capacidade maior, em uma instalação fixa bem planejada, é
necessário para uso em grandes animais. Entretanto, uma unidade móvel leve, com
grande mobilidade e bem protegida, com uma capacidade de 85 a 90kVp e 30mA, é
satisfatória para que se obtenham radiografias de extremidades de grandes animais.
Um filtro colocado no feixe útil ≥ 2mm de alumínio e um marcador de tempo que
permita intervalos de 1⁄ 60 de segundo em unidades grandes e 1⁄10 de segundo em
unidades móveis são essenciais.
Todas as unidades devem ser equipadas com um dispositivo limitante de
radiação. Um colimador com obturador de chumbo ajustável e um campo iluminado
limitam efetivamente a radiação primária, reduzindo, dessa maneira, os riscos de
radiação primária e dispersão secundária, aperfeiçoando a técnica radiográfica.
Se a parte a ser radiografada é > 10cm em espessura, o uso de uma grade melhora
a visualização de detalhes. Essa grade deve apresentar uma proporção de 6:1 e 60
linhas/2,5cm, sendo satisfatória para a maioria das necessidades em radiografias de
pequenos e grandes animais. O equipamento adicional deve incluir pelo menos 2
chassis de 25 × 30cm e 2 de 35 × 43cm com écran (anteparo) de alta velocidade,
colgaduras, dispositivos para marcação do filme, paquímetro para medir a espessura
da região radiografada, uma fita para medir a altura da fonte até o piso ou a distância
focal, 2 negatoscópios e implementos de câmara escura. As pessoas envolvidas com
o trabalho radiológico deverão usar roupas protetoras e com insígnias, aventais e
luvas de proteção ≥ 0,5mm de chumbo.
Câmara escura – A câmara escura deve ser à prova de luz e ter superfícies
separadas para o trabalho de montagem de chassis (ambiente seco) e revelação
(ambiente molhado). Deve ter ainda um tanque com 3 compartimentos (revelador,
fixador e de enxágüe) e capacidade para filmes com até 35 × 43cm. A temperatura
das soluções deve ser mantida entre 15,5 e 23°C, de preferência 20°C, em água
corrente ou refrigeração. Como a velocidade de revelação varia com a temperatura
do revelador, a temperatura das soluções deve ser medida antes de as mesmas
serem usadas e, em temperaturas diferentes de 20°C, o tempo de permanência no
tanque deve seguir uma tabela de tempo. As instruções do fabricante devem ser
seguidas, mas como regra geral, o tempo de permanência no revelador é de 5min,
e no fixador é de 10min. Os filmes devem ser lavados por 30min em água corrente
antes de secarem em um ambiente livre de poeira.
Durante o processamento, os filmes devem ser removidos das soluções rapida-
mente e sem permitir que o excesso destas retorne ao tanque. Essa perda de fluido
deve ser reposta por meio do preenchimento com uma solução-estoque, que
mantém a concentração e os níveis do revelador e do fixador. A reposição não pode
Diagnóstico por Imagens 1157
borracha espumosa, peias, sacos de areia, etc., sempre tentando reduzir a exposi-
ção humana. A rotação na posição é algumas vezes necessária, particularmente em
radiografias de tórax, cabeça e pelve.
Sempre que uma articulação for radiografada, a radiação deve ser projetada
diretamente através da superfície articular, a fim de se ter melhor avaliação do espaço
intra-articular e das faces articulares. A radiação deve ser perpendicular ao filme para
minimizar as distorções.
Projeções laterais em pé utilizando-se uma radiação horizontal são úteis na
demonstração de fluidos livres na cavidade torácica ou níveis de fluidos múltiplos e
gás observados em estases intestinais
Interpretação radiográfica – Imediatamente após o processamento, a radiogra-
fia deve ser examinada para a verificação de sua qualidade técnica e um diagnóstico
preliminar pode ser efetuado. Um diagnóstico definitivo deve aguardar um estudo
completo da radiografia seca.
Na avaliação da imagem à procura de alterações patológicas, uma análise
sistemática é feita em cada região anatômica. Alterações grosseiras geralmente
recaem em uma ou mais das seguintes categorias:
Alteração na posição de um órgão ou parte – Estas alterações podem ser o
resultado de uma anomalia congênita, apoio inadequado, deslocamento passivo
por aumento da víscera adjacente ou rotação de víscera, como na torção gástrica.
Alteração no tamanho – O aumento no tamanho de um órgão pode ser uma
indicação de hipertrofia, hiperplasia, neoplasia, anomalia congênita, etc. A redução
no tamanho ocorre em atrofia, hipoplasia, cicatriz, malformação, etc.
Alteração no contorno – As mudanças no contorno podem afetar uma porção
localizada ou a silhueta total do órgão. Podem resultar de malformação, trauma,
cicatrização, perda do tono, neoplasia, necrose, etc.
Alteração na densidade – Aumentos na densidade de tecidos moles, que são
normalmente radioluminescentes, ocorrem devido à calcificação. A mineralização é
comumente indicação de má nutrição ou necrose tecidual. Outros depósitos minerais
densos incluem cálculos renal e vesical, e concreções fecais. A diminuição na
densidade de tecidos moles ocorre geralmente devido à presença anormal de ar ou
gás em tecidos, como em gangrenas, enfisema subcutâneo ou íleo do intestino
delgado.
Na avaliação de estruturas ósseas com diminuição da densidade radiográfica, 2
principais causas devem ser consideradas: distúrbios na mineralização e distúrbios
na formação óssea. A primeira inclui raquitismo e deficiências nutricionais relaciona-
das, enquanto a segunda é definida como osteoporose e pode ser devida a distúrbios
endócrinos, atrofia por desuso, deficiência proteica, etc.
Os aumentos na densidade óssea podem ser o resultado de aumento de
deposição mineral na substância óssea própria (esclerose) ou de proliferação
periosteal. A característica da proliferação óssea periosteal pode ser classificada
como em camadas, em cordão, espiculada ou amorfa e pode ser indicativa da causa.
Alterações produtivas e destrutivas podem ocorrer em um mesmo osso, como na
osteomielite e na neoplasia.
Alteração na arquitetura – O reconhecimento de alteração na arquitetura óssea
requer grande familiaridade com a anatomia normal e suas variações. Quando em
dúvida sobre um achado radiográfico particular, a comparação com uma radiografia
normal de outro membro ou de um animal normal será sempre de grande auxílio.
Alteração no alinhamento ou na função – O alinhamento de ossos e articula-
ções é geralmente demonstrado em radiografias simples; radiografias em situação
de estresse podem algumas vezes ser necessárias para determinar a extensão da
anormalidade. Os fenômenos dinâmicos podem ser estudados por meio de
fluoroscopia.
Diagnóstico por Imagens 1159
FLUOROSCOPIA
A fluoroscopia é um meio excelente para o estudo de fenômenos dinâmicos de um
órgão ou parte dele, mas deve ser utilizada com critério. Infelizmente, as unidades
de diagnóstico na maioria dos hospitais veterinários não são próprias para uma
operação segura de fluoroscopia e, em tais casos, a técnica deve ser evitada. Para
maiores detalhes sobre os padrões de equipamento, deve-se consultar o “Council on
Radiation Protection”, publicação nº 36.
Os olhos do fluoroscopista devem-se adaptar à escuridão por 20min, antes do
exame do animal, e ele deve usar avental e luvas como proteção. Somente pessoas
participantes ativamente dos procedimentos devem permanecer na sala. Se possí-
vel, o animal deve ser anestesiado ou sedado para facilitar o manejo.
As desvantagens inerentes e os riscos da fluoroscopia têm sido superados ou
marcadamente reduzidos pela amplificação da imagem por meio de intensificação
eletrônica; assim sendo, a imagem produzida em um anteparo fluorescente é
detectada por um fotocátodo sensível à luz e o padrão luminoso é convertido em
fotoelétrons de baixa energia. Por meio de aceleração e focagem desses fotoelétrons
contra o anteparo fosforescente, a imagem produzida será acentuadamente mais
brilhante, embora de tamanho reduzido. Essa imagem pode ser vista diretamente
pelo operador ou indiretamente por um monitor de televisão por meio de um sistema
de lentes e espelhos. Essa técnica permite a gravação em videoteipes, películas ou
slides. No entanto, os intensificadores de imagem são onerosos, e o risco de radiação
ao pessoal que os opera é aumentado.
RADIOTERAPIA
Existem poucas unidades de diagnóstico ou de raio-X portáteis usadas na prática
veterinária capazes de liberar com segurança uma dose suficiente de radiação para
terapia. Devido à grande liberação de radiação necessária e ao risco à segurança do
tubo e do operador, é questionável se um clínico geral deve empreender uma
radioterapia de lesões neoplásicas ou mesmo inflamatórias. Uma vez que centros de
radioterapia veterinária têm sido estabelecidos, o clínico geral deve encaminhar os
animais que requeiram esse tipo de terapia a estes especialistas.
ULTRA-SONOGRAFIA
(Ecografia, Sonografia)
É uma técnica que utiliza ondas sonoras indolores e inócuas (freqüências de 2,5 a 10
megahertz [Mhz]) para obter informações sobre estrutura e função de vários órgãos e
sistemas internos. Combinada às informações obtidas a partir do exame físico, dados
laboratoriais e outras técnicas de obtenção de imagens como a radiografia, a ultra-
sonografia tem aplicado as capacidades diagnósticas em todas as espécies de animais.
Os ultra-sonogramas devem ser realizados por indivíduos altamente treinados com
conhecimento extensivo de muitos artefatos ultra-sonográficos e propriedades físicas do
feixe sônico usado para gerar as imagens ultra-sonográficas.
A geração das imagens se baseia no princípio do eco dos pulsos. Um pulso
pequeno de ultra-som é emitido em direção ao animal, e pequenas porções desse
feixe são refletidas de volta quando encontram estruturas de densidade diferentes.
A interface entre tecidos moles e o ar origina um grande eco e não fornece nenhuma
informação além dessa interface. A mesma situação ocorre em uma interface tecido
mole/mineral. No entanto, nas interfaces minerais, uma porção do feixe sônico é
absorvida, o que origina uma sombra acústica que pode ser útil na determinação da
presença de cálculos. Nenhuma evidência de efeitos colaterais biológicos tem sido
demonstrada, provavelmente devido à pequena quantidade de som que entra no
animal e à pequena duração da fase do pulso, quando comparada à fase do eco.
As imagens exibidas em um ultra-sonograma estão quase sempre no módulo de
brilho (B). O brilho da imagem é determinado pela amplitude do eco, a qual por sua
vez é determinada pela diferença na densidade dos dois tecidos adjacentes. A
“varredura no tempo-real” se refere ao fato de que a imagem é atualizada com
tamanha freqüência que se detecta na tela o movimento dos tecidos que estão
sofrendo a varredura. Isso torna a ultra-sonografia particularmente útil para o exame
do coração (ecocardiografia).
Os dois formatos de imagem usados são a varredura setorial e a formação linear.
A formação linear é a mais comumente utilizada nos exames transretais de prenhez
em éguas. A varredura setorial é o instrumento de escolha em todas as outras
aplicações, graças à sua pequena área de contato com a superfície do animal.
Os ultra-sonogramas são geralmente interpretados na hora do exame; no entanto,
podem ser também armazenados em fitas de vídeo, câmeras de multiimagem, ou
filme polaróide.
Varredura abdominal
Já que o estresse pode causar aerofagia, que interfere na geração de imagens
diagnósticas, a ultra-sonografia deve ser realizada antes de outros procedimentos de
rotina. O bário pode interferir na transmissão de som, portanto a sua administração
não deve ser feita antes de uma ultra-sonografia abdominal. Os agentes contrastan-
tes à base de iodo orgânico não têm o mesmo efeito na transmissão do ultra-som e
podem ser usados ao mesmo tempo.
Diagnóstico por Imagens 1161
deve ser anecóico sem evidências de fragmentos flutuando na urina após agitação suave.
Os cálculos císticos aparecem como estruturas ecodensas com sombreamento acústico.
Os tumores são vistos como densidades de tecido presas à parede da bexiga.
A próstata normal é difícil de ser registrada porque se situa no interior do canal
pélvico. Quando afetada patologicamente, sempre se transfere cranialmente para
o abdome caudal, facilitando o registro da imagem. A hipertrofia benigna provoca
aumento simétrico da glândula com ecos uniformes observados através dela.
Cistos, abscessos e tumores podem ser vistos ultra-sonograficamente.
Ecocardiografia
As ecocardiografias Doppler, modo-M e bidimensional têm exercido um impor-
tante papel na capacidade de diagnóstico preciso em cardiologia veterinária. A
estrutura e a função do coração podem ser completamente examinadas sem dor e
sem perfuração. A espessura das paredes da câmara, o grau de contratilidade, o
tamanho da câmara, a estrutura e a amplitude dos movimentos valvulares e o saco
pericárdico são todos visíveis em tempo real. Tanto doenças congênitas quanto
adquiridas são mais precisamente diagnosticadas pelo uso da ecocardioagrafia. A
ecocardiografia Doppler, melhorada pelo mapeamento em cores, é sobretudo uma
ferramenta de pesquisa com pequena vantagem clínica sobre a ecocardiografia
bidimensional no presente momento (ver também pág. 47).
Tendões eqüinos
A avaliação ultra-sonográfica de tendões eqüinos apresenta uma grande capa-
cidade para avaliar a extensão e a natureza de uma lesão em tecido mole. A
capacidade para distinguir as várias causas de inchaço em tecidos moles assim
como para determinar o progresso de terapia por um método não invasivo e
facilmente repetido tem otimizado as capacidades diagnóstica e prognóstica.
Exame ocular
O exame das duas câmaras oculares assim como da área retrobulbar é possível
tanto pelo uso de contato direto com a pálpebra quanto com aparelhos isolados.
Geradores de alta freqüência (5 a 7,5Mhz) são recomendados para essas técnicas.
Sempre que a propriedade dos animais é alterada e eles mudam para outro lugar,
a saúde animal merece consideração séria. O comprador quer assegurar que a saúde
dos animais seja tal que eles possam preencher o propósito para o qual estejam sendo
pretendidos e que não introduzam doença em um novo rebanho. Os oficiais reguladores
de saúde animal querem assegurar que novas doenças não sejam introduzidas em sua
área de jurisdição, ou transferidas de um rebanho para outro. Quando os negócios são
feitos em países estrangeiros, os oficiais federais reguladores de saúde animal querem
assegurar que qualquer tipo de doença, sobretudo as exóticas, se presente no país
exportador, não tenha possibilidade de ser introduzido no país importador.
Os EUA também têm regras de saúde que devem ser cumpridas antes que os
animais possam ser exportados. Estas regras foram desenvolvidas para proteger
negócios estrangeiros assegurando que os animais são saudáveis e que podem-se
juntar aos seus rebanhos com segurança.
As exigências de saúde animal variam com o país, espécie, idade, sexo, uso
pretendido para o animal e exigências específicas do comprador. Assim sendo, não
é possível listar regras específicas que se apliquem a todas as situações; esta
descrição é limitada a algumas exigências gerais para trânsito animal nos EUA. Os
oficiais locais reguladores de saúde animal devem ser contactados para se saber as
regras aplicáveis à situação específica.
Quando se vende gado reprodutor, deve-se certificar de isenção de brucelose e
tuberculose. O certificado, que deve ser assinado pelo vendedor e por um veterinário,
certifica que o mesmo inspecionou os animais e que eles não estão apresentando
sinais de doença infecciosa e/ou comunicável. O estado de prenhez da fêmea em
idade de reprodução é geralmente determinado, e o sêmen é normalmente avaliado
quando se vendem touros em idade de reprodução. Quando se vendem suínos
reprodutores, estes devem ser testados para (e ser considerados livre de) brucelose
e pseudo-raiva. Os eqüinos geralmente podem ser vendidos e transportados para
novas propriedades dentro do mesmo estado nos EUA, sem qualquer teste ou
inspeção veterinária; no entanto, o trânsito interestadual geralmente exige testes
para doenças infecciosas. Um exame detalhado quase sempre é exigido para
animais de corrida ou reprodutores valiosos.
O provável comprador pode insistir em escolher outro veterinário para realizar
uma inspeção adicional.
Ao se fazerem os exames, alguns pontos devem ser enfatizados: 1. o veterinário
está trabalhando para a pessoa que está pagando os honorários e só se comunica
com esta. A pessoa responsável pela compensação do veterinário deve ser
Exame de Animais para Venda 1165
INSPEÇÃO DA CARNE
A inspeção da carne, realizada por indivíduos qualificados, e visando eliminar
carne deteriorada e carne ou seus subprodutos que tenham sido adulterados ou
mal classificados, ajuda a proteger os consumidores contra riscos infecciosos,
tóxicos e físicos que possam comprometer os animais destinados a consumo
alimentar, o ambiente ou os seres humanos. A atividade da inspeção é dividida
em exame ante mortem, post mortem e processamento.
Condenações (gerais)
Não deve haver aprovação, para o uso como alimento, das carcaças que
apresentarem as seguintes anormalidades: 1. contaminação por agentes infeccio-
sos, tóxicos ou físicos perigosos; 2. afecções ou processos patológicos generaliza-
dos, incluindo tumores malignos, que tenham alterado as características normais da
carne, tornando-a não comestível ou suficientemente anormal para não ser consi-
derada apta para o consumo; 3. afecções localizadas que não afetem a sanidade da
carcaça completa devem ser removidas por aparamento das partes afetadas de
forma que a carcaça possa ser aproveitada para alimento.
Considerações especiais – Tuberculose – A carcaça inteira deve ser conde-
nada quando houver evidência de tuberculose: 1. uma lesão ativa; 2. caquexia; 3.
uma lesão em músculo, tecido intermuscular, osso, articulação, órgãos abdominais
(menos o trato gastrointestinal) ou em um linfonodo associado a essas partes; 4.
lesões extensas no tórax ou cavidade abdominal; 5. lesões múltiplas, agudas e
ativamente progressivas; ou 6. lesões cuja natureza ou extensão não indique
localização. Um órgão ou parte dele deve ser condenado quando o próprio ou o seu
linfonodo correspondente apresentar lesão. Quando lesões em suínos estão
localizadas e ocorrem em apenas um ponto primário de infecção, tal como os
linfonodos cervicais, as partes não afetadas são aceitáveis para alimentação, após
a condenação do órgão ou das partes comprometidas. As leis federais e estaduais
Inspeção da Carne 1168
Sanitização do abatedouro
Construções, equipamentos, pessoal e procedimentos operacionais devem asse-
gurar uma carcaça e carne saudáveis e livres de adulteração. Piso, paredes e teto
devem ser construídos com materiais e de maneira que permitam operações sanitá-
rias de limpeza completa. Um amplo reservatório de água quente e fria e materiais de
limpeza devem estar disponíveis convenientemente para o abate, limpeza e higiene
pessoal. Água a 82°C deve estar disponível para a esterilização das ferramentas e
equipamentos após a lavagem. Equipamentos, facas e outros utensílios que tenham
tido contato com carcaças doentes devem ser limpos e esterilizados antes de sua
reutilização. A drenagem através de ralos próprios e o escoamento do esgoto
adequados devem manter o abatedouro em boas condições sanitárias. A ventilação
deve assegurar que as áreas de produtos comestíveis fiquem livres de odores
indesejáveis. Todos os departamentos devem estar livres de moscas, ratos e outras
pragas. A iluminação em todas as áreas deve ser mantida em intensidade adequada
para limpeza e inspeção. O equipamento deve ser feito de materiais tais e construído
de tal forma, que seja pronto e completamente limpo, devendo ter manutenção
apropriada. Recipientes limpos e separados para materiais comestíveis ou não
comestíveis devem ser colocados em locais convenientes. Mesas ou grades devem
ser providenciadas para as cabeças. Os empregados devem usar uniformes limpos.
Pardal Cotovia
Corvo
Cardeal Estorninho
43,3 Chapiam Pombo
Tordo (Em geral, mamíferos muito grandes ou muito
Asa-de-cera pequenos têm temperatura corporal baixa)
Tetraz
Melro Falcão
Garça
Faisão
42,2
Íbis Gavião
Mutum
Pica-pau Pato
Galinha
Atobá Ganso
41,1 Papagaio Cormorão
Gaivota Grou
Torda do mar Peru
Pelicano
Flamingo
Coruja Cisne
Pavão
40,0 Pingüim
Ouriço
Petrel
Macaco
Coelho Guaxinim
Rena
CãoCabra
Emu Carneiro
38,9 Cobaia Porco
Gato Pantera
Morcego frugívoro Casuar
Jaguatirica
Foca Vaca
Chacal Burro
Rato Cavalo
37,7
Tigre
Esquilo terrestre Homem
36,6 Camelo
Cão-da-pradaria
Camundongo
Morcego
Elefante
35,5 Musaranho
0,0045 0,045 0,454 4,5 45 454 4,500
A maioria dos valores laboratoriais é expressa como quantidade/litro, por exemplo, mol/
L, mg/L ou células/L. No Sistema Internacional, se o peso molecular for conhecido, é preferível
expressar a quantidade da substância em mol por litro; isto é, mol/L, mmol/L, µmol/L, nmol/L.
Exemplo: para converter 10,5mg/100mL de Ca em mmol/L
mg/100mL × 10
10,5mg/100mL =
peso molecular
10,5 × 10
= = 2,62mmol/L
40
Libras em galões – Multiplicar a densidade específica do líquido por 8,33 * (peso em libras de
1 galão de água); então, dividir o número de libras pelo resultado, para obter o volume em
galões.
Grãos, dracmas e onças em gramas (ou mL) – 1. Dividir o número de grãos por 15; ou 2.
multiplicar o número de dracmas por 4; ou 3. multiplicar o número de onças por 28,35. O
resultado em cada caso é igual ao número de gramas aproximado (ou mL).
Libras em quilogramas – Dividir o número de libras por 2,2046 ou multiplicar por 0,4536.
* Para 10 galões imperiais.
PARTE IV
ANIMAIS SILVESTRES E DE
LABORATÓRIO
SISTEMAS DE AQUACULTURA .................................................................. 1183
CUIDADOS COM ANIMAIS SILVESTRES ................................................... 1185
DOENÇAS DOS PEIXES .............................................................................. 1191
Doenças Bacterianas ............................................................................... 1195
Doenças Micóticas ................................................................................... 1198
Doenças Parasíticas ................................................................................ 1199
Protozoários Parasitas da Pele e Brânquias ..................................... 1199
Protozoários Parasitas Internos ......................................................... 1201
Helmintíase ........................................................................................ 1203
Copépodes ......................................................................................... 1205
Doenças Virais ......................................................................................... 1205
Doenças Nutricionais ............................................................................... 1207
Doenças Não Infecciosas Variadas ......................................................... 1208
MANEJO E DOENÇAS DE AVES ORNAMENTAIS ..................................... 1209
Doenças Bacterianas ............................................................................... 1213
Doenças Micóticas ................................................................................... 1215
Doenças Parasíticas ................................................................................ 1217
Sistema Tegumentar .......................................................................... 1217
Sistema Respiratório .......................................................................... 1218
Sistema Gastrointestinal .................................................................... 1218
Sistema Hematopoiético .................................................................... 1219
Doenças Virais ......................................................................................... 1220
Neoplasias ............................................................................................... 1223
Doenças Nutricionais ............................................................................... 1224
Intoxicações ............................................................................................. 1225
Lesões Traumáticas ................................................................................. 1226
Doenças de Etiologia Incerta ................................................................... 1226
MANEJO, CRIAÇÃO E DOENÇAS DAS RAPOSAS ................................... 1228
Manejo ..................................................................................................... 1228
Doenças das Raposas ............................................................................. 1228
MANEJO, CRIAÇÃO E DOENÇAS DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO ....... 1230
Manejo e Criação ..................................................................................... 1231
Monitoração da Colônia ........................................................................... 1232
Doenças de Ratos e Camundongos ........................................................ 1233
Doenças Bacterianas ......................................................................... 1233
Doenças Micóticas ............................................................................. 1235
Doenças Parasíticas .......................................................................... 1235
Doenças Virais ................................................................................... 1237
Doenças Não Infecciosas .................................................................. 1239
Doenças de Cobaias ................................................................................ 1242
Doenças de Hamsters ............................................................................. 1245
Doenças de Furões .................................................................................. 1246
Doenças de Primatas Não Humanos ....................................................... 1247
Doenças Bacterianas ......................................................................... 1249
Doenças Micóticas ............................................................................. 1250
Animais Silvestres e de Laboratório 1182
SISTEMAS DE AQUACULTURA
Embora a aquacultura seja uma ciência antiga, ela não tem acompanhado o
desenvolvimento tecnológico dos métodos intensivos de produção vegetal e animal.
Um manejo eficiente de sistemas de aquacultura depende dos mesmos princípios
gerais da agricultura. Para uma produção animal em massa eficiente, esses
princípios incluem a reprodução de animais genética e nutricionalmente padroniza-
dos em um ambiente bem-administrado. O último inclui a manutenção de densida-
des populacionais ideais para cada estágio de produção e programas para prevenir
e controlar doenças específicas de cada espécie de aquacultura.
Ao mesmo tempo em que existem muitas semelhanças, existem também
algumas diferenças importantes entre aquacultura e agricultura. A aquacultura se
baseia mais no ambiente aquático que no terrestre. Exige-se um conhecimento
básico das qualidades da água, no que tange à saúde do animal aquático. A
agricultura tem desenvolvido métodos de manejo padronizados para poucas espé-
cies selecionadas de animais domésticos genética e nutricionalmente definidos
para produção em massa. Ao contrário, os padrões de manejo necessários para
aquacultura estão sendo desenvolvidos apenas recentemente. A aquacultura se
baseia muito em reservas reprodutivas de animais selvagens.
Estão sendo definidos os padrões genéticos, nutricionais e ambientais ideais
para cada uma das muitas espécies candidatas à aquacultura. Muitas dessas
espécies têm ciclos vitais complicados e requerem maior compreensão de sua
fisiologia reprodutiva e estratégias de manejo para produção em massa economi-
camente viável.
Os surtos de doenças sérias não são incomuns na aquacultura: as causas mais
comuns estão relacionadas às alterações físicas e químicas do ambiente aquático. O
ambiente tem de ser constantemente monitorado para se evitar situações perigosas,
por exemplo, esgotamento de oxigênio, hipertermia e hipotermia, e acúmulo de
resíduos metabólicos (por exemplo, amônia e nitritos). O ambiente também pode
estar contaminado por resíduos químicos industriais ou agrícolas. Microrganismos
aquáticos não domésticos podem agir como hospedeiros intermediários ou de trans-
porte, ou vetores de doenças. Os patógenos são difíceis de se manejar no ambiente
aquático devido à constante reciclagem de grupos de animais suscetíveis.
O conhecimento das doenças específicas é necessário para sua prevenção,
controle e erradicação. Uma grande variedade de animais aquáticos, vertebrados
e invertebrados, é produzida em sistemas de aquacultura ou maricultura. O salmão,
a truta, o peixe-gato, a tilápia, a enguia e a carpa são algumas das espécies de peixe
criadas para fins alimentares mais importantes comercialmente. Os peixes tropicais,
ornamentais e para isca também constituem produção importante de aquacultura.
Entre as espécies mais importantes de invertebrados estão os moluscos (ostras,
mariscos, vieiras, haliotes) e os crustáceos (camarões, lagostas, lagostins e pitus).
Embora haja uma grande variação nos ciclos vitais e no manejo de cada espécie
cultivada, todas podem ser divididas nos seguintes estágios de produção: acasala-
mento e incubadora e operações de cultivo.
Operações de acalasamento e incubadora – Há dois tipos de incubadoras.
Uma se baseia no controle artificial do ciclo reprodutivo, no qual o acasalamento e
a desova são regulados para produção de larvas. O outro depende da produção de
óvulos e esperma de adultos não domésticos (por exemplo, camarões e lagostas)
ou da captura de larvas da natureza (por exemplo, enguias).
No primeiro tipo, o acasalamento e a desova podem ser artificialmente induzidos
por meio da regulação da temperatura da água, luz, nutrição e substâncias
químicas. Extratos de pituitária crua e gonadotrofina coriônica humana são injetados
Sistemas de Aquacultura 1184
domésticas. Quando um teste for suspeito ou positivo, podem-se indicar testes diagnós-
ticos adicionais, tais como lavagem gástrica ou brônquica para citologia e cultura.
A tuberculose aviária é um problema crônico em muitas coleções aviárias. As
medidas de controle são difíceis já que os testes ante mortem não são confiáveis. A
higiene intensiva e o descarte das aves expostas ajudam a controlar a doença, mas
não a eliminá-la. Os marsupiais e os primatas jovens também desenvolvem tubercu-
lose aviária quando expostos a aves infectadas ou ambientes contaminados como
em um recinto misto. A doença nos marsupiais geralmente se manifesta por meio de
lesões ósseas e é resistente à maior parte das terapias. A doença nos primatas é
quase sempre benigna, mas causa reações equivocadas de testes de tuberculina.
A vacinação de carnívoros exóticos é essencial devido à sua suscetibilidade a
várias doenças, tais como panleucopenia felina, rinotraqueíte felina, calicivirose
felina, cinomose e parvovirose. No passado, apenas vacinas de vírus inativados
eram recomendadas, porém estudos recentes revelaram que algumas vacinas de
vírus vivos modificados são seguras para o uso em algumas espécies; estudos
adicionais ainda são necessários. A vacinação contra a raiva é potencialmente
controversa e depende de circunstâncias próprias de cada grupo; se a vacina anti-
rábica for indicada, apenas vacinas inativadas deverão ser usadas. Encontram-se
vacinas para outras doenças repartidas entre espécies domésticas e silvestres. A
decisão de vacinar espécies silvestres para doenças menos comuns, para as quais
uma vacina possa ter valor questionável, é feita sobre uma base individual (ver
também VACINAÇÃO DE M AMÍFEROS EXÓTICOS, pág. 1312).
Práticas de manejo – A linha mestra de um programa médico consiste em um
grupo de profissionais qualificados e dedicados que observem os animais diaria-
mente à procura de anormalidades como anorexia, inatividade, fezes anormais e
mudanças no comportamento que possam refletir problemas médicos precoces.
Relatos de excesso de zelo em observações são preferíveis à indiferença. Partindo-
se do fato de que muitas espécies exóticas mascaram instintivamente sinais claros
de doença até que o problema esteja bem avançado, é necessário que os tratadores
fiquem atentos a qualquer coisa, mesmo que pareça apenas alguma mudança
trivial. Fatos passados podem ser úteis ao veterinário quando os tratadores não
notam mudanças sutis devido ao mascaramento.
O recinto do animal deve ser parecido com o seu ambiente natural e melhorar a
visualização por parte do visitante. Muitos mamíferos ou aves saudáveis podem
tolerar uma variação de temperatura bem grande se recebem acesso a sombra e
água em tempo quente e a um abrigo seco e protegido de correntes de ar, com um
local quente e comida suficiente para enfrentar as exigências energéticas aumen-
tadas no inverno. A chave para se conseguir isso é assegurar que cada animal tenha
acesso ao ambiente protegido e que um indivíduo dominante não exclua os outros
do abrigo, alimento ou água. Tal exclusão pode resultar em queimaduras por frio ou
mesmo morte devida à exposição. Os comedouros devem ser projetados para se
evitar contaminação fecal.
Na introdução em novos recintos, são necessários cuidado e planejamento para
que se previnam traumas auto-induzidos em animais assustados, que podem
trombar em barreiras ou paredes de vidro. Barreiras visuais como lonas suspensas
a partir dos cercados ou paredes do recinto, ou o escurecimento das janelas de vidro
com sabão oferecem alguma proteção contra tais acidentes.
Em casos de grandes quantidades de aves ou mamíferos, e especialmente em
exibições mistas, devem-se estabelecer várias áreas de bebida e alimentação em
elevações apropriadas para que se reduzam as lesões e mortes resultantes de
invasões territoriais. O esquema de alimentação é importante; em muitas espécies
é melhor servir pequenas quantidades de alimento o dia inteiro, para que se
obtenham animais mais ativos e uma exibição melhorada.
Cuidados com Animais Silvestres 1188
DOENÇAS BACTERIANAS
As epidemias de doenças bacterianas são comuns em grandes populações
de peixes ornamentais ou comestíveis. A predisposição a tais surtos freqüentemente
está associada à má qualidade da água, carga orgânica do ambiente aquático,
manejo e transporte de peixes, mudanças acentuadas de temperatura, hipoxia e
condições estressantes relacionadas. Altas concentrações de bactérias autóctones
da água são normalmente encontradas em lagos e aquários. Muitas dessas
bactérias aquáticas são patógenos facultativos oportunistas, sendo ativadas por um
ambiente adverso, um hospedeiro debilitado ou um patógeno primário. Por outro
lado, os patógenos bacterianos obrigatórios dos peixes requerem o peixe-hospedei-
ro para replicação e não são aptos a sobreviver sozinhos por muito tempo no
ambiente aquático.
A maioria dos patógenos bacterianos de peixes é de bacilos Gram-negativos
aeróbicos. Um diagnóstico pode ser realizado por meio do isolamento do microrganismo
em cultura pura a partir de tecidos infectados e identificação do agente bacteriano.
Uma das doenças bacterianas mais comuns associada a condições estressantes
do aquário, lago criatório ou água doce é a infecção por Aeromonas hydrophila
(liquefaciens, punctata). As Pseudomonas spp ( P. fluorescens e P. putida) também
constituem-se em patógenos facultativos de peixes de água doce, semelhantes à A.
hydrophila. Todas as espécies de peixes de água doce parecem suscetíveis.
Deficiências nutricionais, lesões traumáticas, parasitismos e variações sazonais de
temperatura acentuadas parecem ser predisponentes. A forma aguda é caracteri-
zada por sinais de infecção septicêmica com avermelhamento externo, enquanto
hemorragias são encontradas no peritônio, parede do corpo e vísceras. O controle
da doença é direcionado para a remoção das causas predisponentes. A oxitetraciclina
administrada na comida (providenciar 60 a 75mg/kg de peso corporal de peixe,
diariamente por 10 dias) é de grande ajuda. A droga deve ser interrompida 21 dias
antes do peixe comestível ser comercializado para consumo humano.
Aeromonas salmonicida é um bacilo Gram-negativo, imóvel, produtor de pigmen-
tos e originalmente descrito como a causa de uma doença septicêmica de salmonídeos
(furunculose) e peixes dourados (doença ulcerosa). Também é um patógeno sério
para muitos outros peixes marinhos e de água doce e pode produzir alta mortalidade.
Nas formas agudas, as hemorragias são encontradas nas nadadeiras, cauda,
músculos, brânquias e órgãos internos. Em formas mais crônicas, áreas focais de
inchaço, hemorragia e necrose tecidual desenvolvem-se nos músculos. Estas lesões
evoluem para abscessos crateriformes surgindo da superfície da pele (furúnculos).
Ocorre necrose de liquefação no baço e nos rins. O diagnóstico é feito pelo
isolamento do microrganismo em cultura pura de tecido infectado e identificação do
agente. Evitar é a prevenção mais eficiente, já que a A. salmonicida é um patógeno
Doenças dos Peixes 1196
DOENÇAS MICÓTICAS
As doenças fúngicas aquáticas são quase sempre consideradas invasoras de
tecido secundárias que acompanham agressões ambientais como ferimentos
traumáticos, má qualidade da água e outros agentes infecciosos. Uma vez que os
fungos tenham invadido tecidos dos peixes com sucesso, eles continuam a crescer,
produzem lesões que aumentam gradualmente e podem levar à morte. Já que
muitos fungos crescem em matéria orgânica em decomposição, eles são muito
comuns no ambiente aquático. As massas de ovas, que geralmente contêm restos
de tecido e outras ovas ou embriões mortos, são especialmente vulneráveis.
Iodóforos de várias concentrações de iodo são usados para evitar infecções
micóticas em ovas de peixes não comestíveis, que podem ser desinfetadas pelo uso
de banho de iodo (100ppm) por 10 a 15min. Esta solução é tóxica para peixes recém-
incubados, e apenas os ovos devem ser tratados. O formaldeído, até 2.000ppm por
15min, pode ser usado para tratar ovas de peixes comestíveis (salmonídeos e
esocídeos) no controle de fungos.
As infecções por Saprolegnia estão entre as infecções fúngicas mais comuns
dos peixes e ovas. Os sinais macroscópicos incluem vegetações branco-acinzentadas,
semelhantes a algodão, que surgem na pele, brânquias, olhos ou nadadeiras,
podendo invadir tecidos mais profundos do corpo. Microscopicamente, a saprolegníase
pode ser reconhecida por esfregaços diretos a partir de tecidos infectados, nos quais
se observam hifas não septadas e micélios. O estágio sexual do fungo pode ser
observado apenas em culturas do microrganismo, sendo necessário para a identifi-
cação específica. A prevenção da doença é dirigida à remoção das causas predis-
ponentes – peixes mortos infectados e material orgânico em putrefação.
O verde-malaquita sem zinco é empregado em banhos, em concentrações de 0,1
a 5,0ppm da água do aquário (≤ 1h), que são relatados como eficientes. Não é
aprovado para o uso em peixes comestíveis, e peixes normais não devem ser
expostos à droga. Os peixes doentes devem ser tratados separadamente em um
ambiente protegido sem a pressão competitiva de peixes normais.
O ictiófono é uma infecção fúngica comum em peixes selvagens e peixes idosos
de aquário ou de viveiros. A doença geralmente é crônica e progressiva. Com
freqüência é detectada na necropsia quando os estágios císticos esféricos caracte-
rísticos são observados microscopicamente nos esfregaços de lesões granulomato-
sas do coração, fígado, baço, rins, pele e músculos. A prevenção é dirigida a remoção
dos peixes infectados e à recusa de rações que contenham o microrganismo.
A branquiomicose é uma doença fúngica do tecido branquial caracterizada por
distúrbios respiratórios e necrose das brânquias. Os agentes causais são
Branchiomyces sanguines e B. demigrams, os quais são patógenos oportunistas
encontrados em material orgânico em decomposição no ambiente aquático. Um
diagnóstico pode ser feito a partir de esfregaços diretos ou cortes histológicos
corados de tecido branquial afetado. A doença é da maior importância em criações
de peixes comestíveis europeus, nos quais uma intensa mortalidade é presenciada.
O verde-malaquita sem zinco tem sido empregado para o tratamento como indicado
anteriormente, mas não é aprovado para peixes comestíveis nos EUA.
Doenças dos Peixes 1199
Muitas outras infecções micóticas menos comuns têm sido relatadas em peixes
(Achlya, Aphanomyces, Dermocystidium, Ichtyosporidium, Basidiobolus, Phoma,
Candida, Cladosporium, Fusarium, Penicillium, Ichthyochytrium spp e outras).
Muitos destes microrganismos têm status questionável como fungos e necessitam
de cultura laboratorial e todo o seu ciclo de vida para um diagnóstico acurado.
DOENÇAS PARASÍTICAS
Todos os principais grupos de parasitas dos animais são encontrados nos peixes,
e peixes selvagens aparentemente saudáveis quase sempre carregam em si uma
carga parasítica pesada. Os parasitas com ciclos de vida diretos são patógenos
importantes em peixes comestíveis e ornamentais; os parasitas com ciclos de vida
indiretos freqüentemente usam peixes como hospedeiros intermediários. O conhe-
cimento de peixes hospedeiros específicos facilita, em muito, a identificação de
parasitas com grande especificidade por hospedeiro e tecido, enquanto outros são
reconhecidos devido a sua ocorrência comum e ausência de especificidade pelo
hospedeiro. O conhecimento das principais características morfológicas dos grupos
mais importantes de parasitas ajuda muito no diagnóstico e no tratamento do
parasitismo. O exame de esfregaços frescos diretos que contêm parasitas vivos
quase sempre corresponde ao diagnóstico.
aquário sem peixes por ≥ 3 dias está seguro. A forma marinha de “ich” é causada
por um ciliado semelhante, Cryptocaryon irritans.
Chilodonella e Brooklynella spp são patógenos de peixes de água doce e marinhos,
respectivamente. A quilodonelíase é comum especialmente em peixes ciprinídeos
(peixes dourados, barbos e espécies relacionadas) e peixes ciprinodontídeos (caudas
de lira, “guppies”, espadas, “platys” e muitas outras espécies comuns de aquário).
Embora a doença seja encontrada virtualmente em todas as espécies de peixes
ornamentais de água doce, as epidemias são mais freqüentemente observadas em
aquários e viveiros lotados. A forma aguda afeta primeiramente as brânquias e é
caracterizada por morte repentina sem nenhum sinal prodrômico. Em formas mais
crônicas pode haver sinais respiratórios, palidez, fraqueza e movimentos de nado
descoordenados. As formas crônicas também são caracterizadas por mudanças de
pele irregulares ou generalizadas, com produção de muco aumentada. Pode ser
diagnosticada rapidamente por meio da demonstração do agente causal em esfrega-
ços frescos diretos de pele descolada ou brânquias. Chilodonella spp (50 a 70µm)
podem ser identificadas por sua motilidade ciliar característica, forma de coração
achatado e suas organelas distintivas (citóstoma em forma de cesto, listrado e protrátil
e fileiras de cílios).
Os peixes infectados devem ser isolados já que permanecem como portadores.
O microrganismo pode ser eliminado do aquário, esvaziando-se o tanque e
permitindo-se que seque completamente. A redução da densidade do grupo de
peixes e o aumento do fluxo de água podem ajudar na prevenção e controle.
A formalina (ver TABELA 1, pág. 1194) é a única droga aprovada para tratamento
de quilodonelíase em peixes comestíveis e incubadoras. Uma droga comumente
usada em peixes ornamentais, porém não aprovada, é a acriflavina a 10ppm na água
por 10h (alguns estabelecimentos comerciais não aprovam seu uso porque ela cora
a água, aquário e objetos dentro do tanque). O sal (NaCl) pode ser usado a
2.000ppm em aquários de água doce por um período indefinido.
Os triconídeos são ciliados peritríquios que incluem vários patógenos de peixes
(Trichodina, Trichodinella, Tripartiella, Vauchomia spp e outras). Estes microrganis-
mos têm de 40 a 100µm de comprimento. Seus corpos podem ser cilíndricos,
hemisféricos ou discóides. Os membros deste grupo são caracterizados por um
disco de atracamento com uma coroa córnea de dentículos na superfície adoral da
ventosa. O patógeno tricodinídeo mais comum em peixes marinhos ou de água doce
é a Trichodina sp. Microscopicamente, possui forma de sino e pode ser observada
nadando livremente em esfregaços diretos de pele e brânquias. Quando fixado aos
tecidos, o Trichodina torna-se achatado à medida que a ventosa adoral comprime
o microrganismo contra a superfície da pele. Se presente em grande número nas
brânquias, pode produzir problemas respiratórios e morte por limitação de superfí-
cies respiratórias, sobretudo com baixa pressão de oxigênio no ambiente aquático.
Aumentando-se a taxa de fluxo de água e a pressão de oxigênio, tende-se a superar
a anoxia. A formalina, a 200ppm na água por 1h, foi aprovada pela FDA para o
tratamento de infestações por tricodinídeos em peixes comestíveis (salmonídeos,
peixes-gato e percas de brânquias azuis). Já que muitos peixes ornamentais são
mais sensíveis à droga, recomendam-se banhos de 1 parte de formalina por 4.000
partes de água por 1h.
A Tetrahymena corlissi é um patógeno protozoário importante, periforme, e
com 10 a 20µm de comprimento, que parasita peixes ornamentais e de lagos. Possui
fileiras longitudinais de cílios e citóstomas insignificantes. Embora o microrganismo
possa ser encontrado em esfregaços diretos da superfície da pele do peixe afetado,
ele é capaz de invadir e reproduzir-se em tecidos musculares profundos e vísceras.
Os surtos da doença estão associados à superpopulação de resíduos nitrogenados
em excesso. Os sinais da doença correspondem ao desenvolvimento progressivo
Doenças dos Peixes 1201
Flagelados
Os dinoflagelados parasíticos, Oodinium e Amylodinium spp, são responsáveis
pelo “veludo, ferrugem, pó de ouro, ou doença do coral” em peixes ornamentais
de água doce ou marinhos, menos comumente em peixes de lagos. Os estágios
patogênicos do microrganismo são algas pigmentadas, fotossintéticas, não flageladas
e imóveis que invadem e se prendem à pele e às brânquias durante toda a sua
existência parasítica. Quando maduros, estes parasitas desenvolvem cistos que
contêm numerosos estágios flagelados, livre-nadantes e pequenos que são capa-
zes de iniciar novas infecções. Se os estágios parasíticos são abundantes nos
tecidos da pele e brânquias, eles podem ser grosseiramente detectados devido à
pigmentação alterada da pele; daí seus nomes populares. A infecção das brânquias
é muito mais séria que a da pele. O progresso da doença pode ser atrasado pelo
abaixamento da temperatura, redução da iluminação e diminuição da carga orgâni-
ca do aquário. Os tratamentos com drogas estão limitados aos peixes ornamentais
(não aprovados para peixes comestíveis), e incluem sulfato de cobre na dose de 0,5
a 1,0ppm na água de aquário. O cobre é extremamente tóxico e as taxas de
solubilidade podem variar em ambientes específicos. Os peixes tratados devem ser
observados cuidadosamente à procura de sinais de intoxicação e o tratamento deve
ser interrompido se estes aparecerem. Ao contrário, o tratamento com azul de
metileno, 5ppm em água de aquário, é relativamente seguro, até para alevinos.
As Ichthyobodo (Costia) spp são alguns dos menores parasitas protozoários
flagelados (, 15 × 5µm) da pele e brânquias. São microrganismos achatados e
periformes com dois flagelos de tamanhos diferentes. Os microrganismos movem-
se num padrão espiral convulsivo e podem ser identificados facilmente no esfregaço
direto da pele ou brânquia doente. A pele afetada quase sempre apresenta uma
descoloração cinza-férrea. Os sinais agudos da costíase são caracterizados por
hipoxia, com o peixe indo rápida e freqüentemente à superfície. Nos casos crônicos,
os peixes parecem fracos e magros e não se alimentam. A doença afeta peixes de
aquário, lacustres e marinhos. O controle da doença pode ser obtido pelo aumento
da taxa de fluxo e oxigenação da água. Um dos tratamentos mais comuns para
peixes de aquário consiste em mergulhos em 500 a 2.000ppm de ácido acético
glacial por 30 a 60s.
Esporozoários
A coccidiose, embora comum em peixes de água doce ou marinhos, raramente
é diagnosticada no peixe vivo. Muitas espécies de peixes são afetadas. Os ciclos
vitais de muitos peixes coccídios são desconhecidos, e alguns envolvem > 1
hospedeiro para completar seu desenvolvimento. Junto com a infecção intestinal, os
órgãos internos também são comumente afetados; oocistos esporulados semelhan-
tes aos de Eimeria e estágios sexuais e assexuais são freqüentemente encontrados
em esfregaços diretos e cortes histológicos dos órgãos internos. A sulfametazina,
na dose de 22 a 24g/100kg de peso de peixe/dia na alimentação por 50 dias a 10°C,
é usada para tratar peixes comestíveis em alguns países (com um período de
resguardo de 21 dias). Para os peixes de aquário, é profilático o uso de 10ppm na
água do aquário uma vez por semana por 2 a 3 semanas.
Os mixosporídeos são parasitas comuns de peixes. Os esporos mixospori-
dianos consistem de 2 válvulas, 1 linha de sutura e de 1 a 4 cápsulas polares
contendo filamentos extensíveis e enrolados e um corpo central infectante
chamado esporoplasma. Algumas evidências sugerem que estes microrganis-
mos tenham ciclos de vida indiretos, utilizando outros microrganismos aquáticos
como anelídeos, para hospedeiros intermediários. Daí, as infecções mixospori-
dianas serem mais comuns e mais patogênicas para peixes selvagens ou peixes
criados em lagos ao ar livre. Os microrganismos tendem a ser específicos para
hospedeiros e tecidos. De acordo com isso, a expressão da doença está
relacionada ao patógeno e ao hospedeiro específicos. A Myxosoma cerebralis,
um patógeno importante de alevinos de salmonídeos, produz deformidades do
esqueleto por infecção das estruturas cartilaginosas. Sinais nervosos e pigmen-
tação anormal acompanham as alterações do esqueleto. Os peixes recuperados
permanecem como portadores e peixes adultos não mostram sinais de doença.
A doença pode ser evitada pela aquisição de um lote não infectado e pela sua
manutenção em um ambiente livre de hospedeiros intermediários. O Ceratomyxa
infecta a musculatura e as vísceras dos salmonídeos.
Muitas espécies de mixosporídeos produzem lesões císticas ou nodulares na
pele, brânquias, músculos ou vísceras dos peixes, dependendo de suas preferên-
cias por tecido ou hospedeiro. O Henneguya é encontrado comumente em lesões
císticas e brancas da pele de peixes-gato dos canais em criações e peixes
ornamentais; é facilmente identificado pelo apêndice “em forma de forquilha” do
esporo observado microscopicamente. Se os lagos forem bem secos e caiados,
a infecção poderá ser eliminada, aparentemente pela redução dos hospedeiros
intermediários. A infecção no aquário pode ser autolimitante na ausência de
hospedeiros intermediários.
A hidropisia renal do peixe dourado é uma infecção mixosporidiana (Sphaerospora
auratus) específica de peixes dourados criados em lagos, caracterizada por degene-
ração renal e ascite. O diagnóstico geralmente é feito pela identificação de esporos
em cortes histológicos do rim. Peixes dourados, criados em lagos e recém-adquiri-
dos, quando colocados em aquário podem mostrar sinais de doença com mortalida-
Doenças dos Peixes 1203
HELMINTÍASE
Os helmintos parasitas são comuns tanto em peixes selvagens quanto em viveiros.
Os peixes servem freqüentemente como hospedeiros intermediários ou paratênicos
para larvas de parasitas de muitos animais, inclusive o homem. Os helmintos parasitas,
com ciclos de vida diretos, são muito importantes para grandes populações, e grandes
cargas parasíticas são comuns em peixes de aquário ou viveiros.
Os trematódeos monogenéticos, que têm ciclos de vida diretos, são parasitas
obrigatórios e comuns, altamente patogênicos, da pele e brânquias dos peixes.
Possuem , 0,1 a 0,8mm de comprimento e são melhor vistos pelo microscópio.
Estes vermes podem ser identificados pelo órgão em gancho característico chama-
do haptor, que é armado com ganchos grandes e pequenos. Peixes de aquário ou
viveiros são suscetíveis a rápidas infestações de parasitas por infecção contínua e
por transferência do verme a outros peixes do tanque ou lago. Embora muitas
espécies tenham hospedeiros específicos, os tipos mais comuns observados em
aquários são menos seletivos. Os dois gêneros mais comuns são Gyrodactylus e
Dactylogyrus: o primeiro dá à luz formas jovens vivas, que podem ser vistas dentro
do corpo do verme adulto e freqüentemente são parasitas da pele; o segundo põe
ovos e é um parasita principalmente das brânquias. Os peixes infectados mostram
hiperatividade e nado errático, quase sempre irrompendo sobre a superfície da água
ou esfregando os lados do corpo contra um objeto no aquário a fim de desalojar os
vermes. Os peixes tornam-se pálidos conforme perdem a cor. Respiram rapidamen-
te e distendem a superfície das brânquias, mostrando brânquias pálidas e inchadas.
Aparecem lesões localizadas da pele com hemorragias e ulcerações espalhadas.
A mortalidade pode ser alta. Para evitar a doença, deve-se impedir a introdução de
Doenças dos Peixes 1204
COPÉPODES
Alguns copépodes, durante estágios específicos de seu complicado ciclo de vida,
são parasitas obrigatórios de peixes. Eles perdem a sua forma de copépode,
inclusive seus apêndices, e tornam-se estruturas em forma de saco ou bastão
especificamente adaptadas para perfurar, prender, alimentar e reproduzir. Grossei-
ramente, eles parecem apêndices semelhantes a farpas ligados à pele ou às
brânquias, nas quais se alimentam de sangue e fluidos teciduais. São capazes de
causar hemorragia, anemia e destruição de tecidos, assim como prover uma porta
de entrada para outros patógenos. Muitas espécies diferentes destes parasitas
podem ser encontradas nos peixes marinhos e de água doce. Os vermes-âncora
(Lernea spp) são normalmente encontrados em uma larga variedade de peixes de
aquário e lagos, incluindo peixes dourados e outros ciprinídeos. As Ergasilus spp
são parasitas comuns das brânquias. Os piolhos dos peixes ( Branchiura) são
próximos aos copépodes parasitas e seus corpos são achatados e adaptados para
movimentos rápidos sobre a superfície da pele. Por meio de ganchos e ventosas,
eles periodicamente se atracam à pele para alimentar-se por inserção da parte
perfurante da boca (estilete) na pele. As Argulus spp são piolhos de peixe comumen-
te encontrados em peixes selvagens, de aquário ou de lagos.
O triclorfon na proporção de 0,25ppm na água do aquário é a droga de escolha
para o tratamento de peixes infestados, mas não é aprovado para o uso em peixes
comestíveis. Peixes infestados não devem ser introduzidos.
DOENÇAS VIRAIS
A virologia dos peixes é uma ciência relativamente recente. As doenças virais de
peixes cultivados economicamente importantes têm recebido a atenção maior.
Enquanto os vírus de animais homeotérmicos mais evoluídos são cultivados em
temperaturas uniformes, os vírus dos peixes têm uma tolerância maior, porém
específica, a temperaturas mais baixas em culturas de células de peixe. Devido à
faixa relativamente definida de temperatura, a variação desta pode proporcionar um
controle, embora quase sempre ela induza meramente uma latência. Em virtude de
muitas doenças virais dos peixes serem geograficamente limitadas, agências
reguladoras e fazendas criatórias de peixes, em áreas livres das doenças, reconhe-
cem-nas como exóticas e exigem garantias dos lotes introduzidos. Muitas doenças
virais produzem alta mortalidade em alevinos e pequena ou nenhuma perda em
adultos, os quais podem se tornar portadores. Por estas razões, a prática de evitar
portadores e a certificação de reposição e lotes SPF são freqüentemente exigidas.
Testes laboratoriais específicos estão disponíveis. As vacinas ainda não estão
comercialmente disponíveis e as drogas não são eficientes. As drogas e os
antibióticos são empregados para o controle de infecções bacterianas secundárias
que, com freqüência, acompanham doenças virais.
Doenças dos Peixes 1206
DOENÇAS NUTRICIONAIS
Embora as diferentes espécies de peixes variem quanto às suas necessidades
alimentares, há uma notável similaridade com vertebrados mais evoluídos no que tange
Doenças dos Peixes 1208
abrir por meio de pancadinhas na mandíbula superior). O papo tem de ser palpado
para que se detectem espessamento ou corpos estranhos (o pássaro deve ser
mantido em posição vertical durante este procedimento). A evidência de vômito pode
ser constatada como muco seco nas penas acima das narinas, na fronte e algumas
vezes nos lados da boca. Uma descarga nasal também tinge as penas acima das
narinas. O esterno deve ser examinado de cima para baixo para que se verifiquem
desvios. As condições do corpo podem ser avaliadas através da palpação dos
músculos peitorais. As aves normais devem ter a musculatura um pouco convexa em
relação à carena do esterno. Recomenda-se a pesagem precisa da ave, o que é
essencial para a monitoração de uma doença. O abdome da maioria das aves em
decúbito dorsal é distintivamente côncavo, e os ossos púbicos são facilmente sentidos
logo à frente do ânus. Examina-se o ânus, e depois os pés, pernas e asas. As fraturas
dos ossos longos proximais (úmero, fêmur) podem ser encontradas mais facilmente
se as articulações forem palpadas enquanto se mover o membro. As penas podem
mascarar inchaço ou descoloração, mas a crepitação e o movimento da fratura
freqüentemente são detectados durante manipulação cuidadosa. O álcool, se aplica-
do com moderação, é útil na visualização de anormalidades normalmente escondidas
pelas penas. O depenamento pode rasgar a pele delicada se não for realizado com
cuidado. O dorso e a glândula uropigial também devem ser examinados.
Procedimentos de rotina – Até recentemente, não se dispunham comercial-
mente de vacinas para aves de estimação. As vacinas para bouba do papagaio (ver
pág. 1222) e doença de Pacheco (ver pág. 1221) foram introduzidas no mercado
americano nos últimos anos.
O corte de asas é um pedido freqüente dos proprietários. Pode ser um auxílio à
domesticação e uma prevenção do extravio de pássaros mantidos fora da gaiola. Os
proprietários devem ser avisados sobre vôos não esperados após o corte das asas,
sobretudo aproveitando-se uma brisa. O corte de todas as penas primárias nas duas
asas é o método mais freqüentemente usado, mas qualquer pena primária que
tenha restado tende a se tornar disforme devido ao uso e à fratura. Pode ser melhor
cortar apenas as 8 penas primárias, da face externa para a interna. Os cortes de asa
unilaterais podem resultar em quedas ou vôos imprevisíveis. As penas em cresci-
mento não devem ser cortadas ou ocorrerá hemorragia. As penas em crescimento
são freqüentemente bicadas ou quebradas pela ave, e a remoção imediata por
depenamento do canhão restante e a aplicação de pressão até o fim do sangramen-
to constituem o melhor tratamento.
O corte de unhas é quase sempre solicitado e geralmente fácil de fazer. O nitrato
de prata ou agentes hemostáticos semelhantes devem estar disponíveis para
aplicação, com pressão, em um leito ungueal hemorrágico. Furadeiras domésticas
e pedaços de lixa são úteis no caso de araras e cacatuas. Também são excelentes
para o corte corretivo do bico, mas devem ser esterilizadas entre cortes diferentes.
Como os pássaros normais raramente precisam de cortes de bico, os pedidos para
tal podem representar uma indicação de patologia.
Muitas aves são anilhadas, tanto para identificação individual como para indicar
uma história de quarentena apropriada. As anilhas apresentam certos riscos para
a ave, mas a remoção também inclui algum risco. Anilhas de aço, retorcidas e
abertas (com uma fenda) são extremamente fortes e exigem geralmente um alicate
padrão. Indica-se precaução para que um pedaço de metal projetado não machuque
o operador ou espectador, e obviamente, precisa-se de cuidado para evitar que se
machuque a ave. As anilhas de alumínio devem ser estabilizadas com coagulantes
e daí cortadas com alicates laterais ou cortadores de grampo.
A hematologia e a bioquímica sérica são especialmente importantes nas aves, já
que o exame físico tende a ser menos revelador que em outros animais. Uma unha
limpa é o local comum de coleta de sangue dos pássaros pequenos (devem-se
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1212
DOENÇAS BACTERIANAS
As Enterobacteriaceae Gram-negativas são patógenos comuns, embora muitas
sejam consideradas oportunistas. Freqüentemente são isoladas e incluem Citrobacter,
Enterobacter, Klebsiella, Proteus e Salmonella spp, Escherichia coli e Serratia
marcescens. Tem-se associado a salmonelose aos papagaios cinzentos africanos
(recentemente estressados). Outros microrganismos Gram-negativos importantes
são Acinetobacter spp , Aeromonas, Pseudomonas, Pasteurella e Mycobacterium
avium e M. tuberculosis. O Pasteurella tem sido relatado como possível agente
septicêmico nas aves atacadas por gatos de estimação ou ratos. A tuberculose
aviária é um problema comum no periquito de bochechas cinzentas e outras espécies
do gênero Brotogeris. Os estafilococos e os estreptococos (sobretudo as cepas
hemolíticas) e ainda as Bacillus spp também podem ser responsáveis por doenças
em psitacídeos. Os estafilococos são quase sempre isolados de lesões cancriformes
em periquitos australianos ou calopsitas. A TABELA 4 enumera alguns antibacterianos
freqüentemente recomendados para aves ornamentais. Porções restantes de
drogas reconstituídas são quase sempre guardadas refrigeradas nas seringas, embora
os períodos de estocagem permissíveis não sejam conhecidos.
A flora gastrointestinal de psitacídeos saudáveis é predominantemente Gram-
positiva (Streptococcus spp e Staphylococcus epidermidis com um número variável de
Bacillus e Lactobacillus spp), porém as bactérias Gram-negativas predominam como
patógenos. As aves estressadas ou doentes eliminam freqüentemente patógenos
potenciais como E. coli, embora o significado clínico exato varie de caso para caso.
Clamidiose
(Psitacose, Ornitose)
É uma zoonose muito difundida e notificável, causada por Chlamydia psittaci. A
doença não está limitada a psitacídeos importados recém-chegados, mas também
é vista em lotes reprodutivos (especialmente periquitos australianos e calopsitas) e
em pássaros vendidos a varejo. As aves podem albergar o microrganismo por anos
antes de desenvolver a doença sob estresse. Sempre que possível, as aves devem
ser obtidas de estabelecimentos de criação sabidamente livres da infecção.
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1214
DOENÇAS MICÓTICAS
Candidíase
A levedura causadora é a Candida albicans. Os pássaros jovens são mais susce-
tíveis, embora os adultos de algumas espécies (sobretudo periquitos) sejam também
afetados freqüentemente. A antibioticoterapia prolongada, deficiência de vitamina A
e alimentação com comida estragada constituem fatores predisponentes. A levedura
é considerada por alguns como parte da flora normal, mas a doença resulta de um
excesso de crescimento fúngico (ver também SAPINHO, pág. 1893).
A infecção geralmente envolve a mucosa do papo; com infecção bacteriana
secundária, é uma causa comum de estase do papo e morte em psitacídeos recém-
nascidos. As aves afetadas tornam-se emaciadas, apresentam peso abaixo do
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1216
Aspergilose
Trata-se de uma doença fúngica sistêmica causada por Aspergillus fumigatus. É
comum em aves de rapina aquáticas e pingüins, mas não em psitacídeos. Quando
ocorre nos últimos, está geralmente associada a mau manejo, estresse, doenças
concorrentes ou anteriores ou imunodeficiência. Ambientes com poeira ou úmidos
ou exposição a comida ou material de ninho embolorados podem aumentar a
incidência. A transmissão é feita por inalação de esporos (ver também pág. 1956).
Em psitacídeos, pode haver dispnéia de início agudo ou uma doença debilitante
crônica, complicada por uma ou mais bactérias patogênicas. Na forma aguda, os
achados podem ser limitados a pequenos tampões caseosos no interior da traquéia
distal ou em pequenas placas em um ou mais sacos aéreos, que também podem
parecer espessados. Em casos crônicos, existe geralmente um crescimento fúngico
visível nos sacos aéreos, quase sempre um crescimento exagerado nas superfícies
serosas dos órgãos vizinhos; outros órgãos também podem estar envolvidos.
O lavado transtraqueal com cultura e citologia, e a laparoscopia permitem chegar
a um diagnóstico. A radiografia pode ajudar num diagnóstico presuntivo. A sorologia
não é confiável. A aspergilose deve ser considerada quando uma doença respira-
tória estiver sendo refratária à terapia, com base em cultura e antibiograma.
O tratamento de casos agudos pode ser compensador, mas o tratamento em
casos crônicos quase sempre não tem sucesso. O debridamento cirúrgico dos sacos
aéreos tem sido descrito. A anfotericina B (EV ou IP) em combinação com flucitosina
ou cetoconazol orais é útil; a nebulização também pode ser empregada. O levamisol
tem sido usado como um imunoestimulante. A TABELA 5 lista alguns antifúngicos
* Para candidíase resistente à nistatina, misturar 0,2mL de HCl 1N, 0,8mL de água e 50mg de
cetoconazol; dosar oralmente 2 vezes ao dia por 14 dias: papagaios reais, 0,05mL;
papagaios da Amazônia, 0,07mL; cacatuas, 0,1mL.
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1217
populares para o uso em aves ornamentais. Tem-se usado uma vacina autógena
com algum sucesso.
DOENÇAS PARASÍTICAS
(Ver também a seção DOENÇAS AVIÁRIAS, pág. 1867.)
Sarna escamosa
As Cnemidocoptes (Knemidocoptes) pilae são muito comuns nos periquitos
australianos e raros nos outros psitacídeos. Os passeriformes também são parasitados
mas apresentam sinais clínicos diferentes. O estresse é necessário para a manifes-
tação da sarna tanto em psitacídeos como em passeriformes.
Nos periquitos australianos, são típicas as crostas proliferativas, porosas e
brancas que envolvem os cantos da boca, ceroma, pálpebras e bico. O bico pode
crescer para fora de uma forma incomum. Nos passeriformes (principalmente o
pintassilgo europeu), formam-se crostas lisas e grandes na superfície plantar dos
dedos (“pé-em-espiga-de-milho”). Os ácaros podem ser obtidos a partir de raspados
faciais nos periquitos australianos; nos passeiriformes, esse procedimento não é
recomendado, pois pode haver hemorragia na base de qualquer crosta grande.
Uma ou 2 injeções de ivermectina a 200µg/kg (0,2µg/g por 1 a 2 semanas
divididos) são geralmente curativas. O óleo mineral, em pequena quantidade, alivia
rapidamente.
Singamose (verme-forquilha)
A Syngamus trachea (ver também pág. 1956) parasita algumas vezes galináceos
e passeriformes; é extremamente raro em aves ornamentais.
Giardíase
É uma protozoonose intestinal, causada por Giardia psitttaci, vista mais freqüen-
temente em calopsitas e periquitos australianos. Diferentemente da doença em
mamíferos, a giardíase em aves pode ser fatal, particularmente em filhotes de
periquito australiano; as aves adultas podem ser portadoras latentes. A transmissão
é presumivelmente direta (ingestão de cistos infectantes).
As calopsitas apresentam intenso depenamento e vocalização e a plumagem
parece oleosa. Os excrementos são esmaecidos, aumentados em volume e fluidos
ou pastosos. Os periquitos australianos têm um apetite voraz, mas se tornam
anoréticos e emaciados e acabam morrendo. As alterações nos seus excrementos
são semelhantes àquelas vistas nas calopsitas.
O exame microscópico de fezes frescas em solução salina pode revelar os
trofozoítas móveis. Desde que a presença de cistos seja variável, aconselham-se
exames em série. Uma gota de solução de iodo de lugol, adicionada à preparação
salina, ajuda na detecção dos cistos.
O ipronidazol (,125mg/L) como única fonte de água de bebida trocado diaria-
mente por 7 a 14 dias é eficiente. O dimetridazol tem sido usado na água de bebida
para tratar grupos de aves (0,02 a 0,04% por 5 dias); os indivíduos podem também
ser intubados (0,05mg/g, a cada 12h em 3 doses).
Tricomoníase
A Trichomonas gallinae (ver também pág. 1893) causa difteria (membranas
diftéricas cobrindo a orofaringe e laterais da boca) nas aves de rapina e cancro nos
columbiformes. É ocasionalmente visto em canários, outros fringilídeos e periquitos
australianos.
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1219
Vermes cilíndricos
Os psitacídeos (sobretudo periquitos australianos e papagaios da Amazônia) são
as espécies mais freqüentemente parasitadas por Ascaridia spp. A transmissão é
direta via ingestão e ovos embrionados.
Os sinais clínicos são perda da condição, fraqueza, emaciação e morte; a
obstrução intestinal é comum em infecções pesadas. O diagnóstico da infecção por
nematódeos intestinais é feito por flotação fecal ou necropsia. O levamisol (13,65%
injetável) a 2mL/L em água de bebida por 3 a 5 dias, repetido em 2 semanas, tem sido
recomendado. Os periquitos australianos podem ser tratados individualmente com
ivermectina (200µg/kg, s.c.) ou mebendazol (sonda, 50mg/kg, VO). Esses tratamen-
tos provavelmente também são eficientes para parasitas como Capillaria (verme do
papo) e Spiroptera (verme da moela), embora estes sejam mais raros.
Cestóideos
A cestoidíase é mais comum em cacatuas, papagaios cinzentos africanos e fringilídeos;
os vermes achatados Raillietina e Hymenolepis spp são os responsáveis. Os ciclos de
vida são indiretos. Os hospedeiros intermediários são mais provavelmente insetos de
vários tipos, minhocas e lesmas. Os sinais clínicos raramente estão presentes, mas
as proglótides algumas vezes são reconhecidas nos excrementos das aves afetadas.
A niclosamida tem sido dada a 250mg/kg por sonda gástrica para psitacídeos,
500mg/kg para fringilídeos e repetida em 10 a 14 dias. O praziquantel é eficiente a
0,85mg/100g de peso corporal. O controle é conseguido por meio da prevenção
contra o contato com hospedeiros intermediários.
Protozoários
Cacatuas importadas, aves de rapina e alguns tipos de passeriformes são os
mais freqüentemente parasitados por hematozoários como Haemoproteus,
Leucocytozoon, Plasmodium e Atoxoplasma spp.
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1220
Filarídeos
Os psitacídeos podem hospedar filárias adultas (Pelecitus spp, Paraprocta sp e
outras) em vários locais (pés, sacos aéreos, cavidades corporais, tecidos conectivos)
e nem sempre exibem sinais de doença. No entanto, em casos de pés, jarretes ou
dedos inchados em espécies sul-americanas, devem-se considerar os filarídeos. As
microfilárias podem ser vistas no sangue tecidual ou periférico.
Recomenda-se o tratamento por meio de remoção cirúrgica e/ou injeção de
ivermectina a 200µg/kg (provavelmente repetida em 2 a 3 semanas).
DOENÇAS VIRAIS
Doença de Newcastle velogênica viscerotrópica
A doença de Newcastle velogênica viscerotrópica (DNVV) (ver pág. 1928),
causada por um paramixovírus, é uma ameaça significante para a indústria de aves
domésticas. Existem várias cepas menos patogênicas dos vírus; uma infecção por
paramixovírus do Grupo 3 tem sido relatada em cacatuas e é suspeita em outras
espécies. Tanto a síndrome de “rodopio” como a de “agitação” têm sido ligadas a
possíveis paramixovírus do Grupo 3 em periquitos terrestres australianos, cacatuas
e fringilídeos. As calopsitas e as cacatuas são altamente suscetíveis aos paramixovírus
em geral; os papagaios da Amazônia e as aratingas o são em menor grau; As araras,
os lóris, os papagaios cinzentos africanos, os fringilídeos e os canários são
relativamente resistentes. A transmissão se faz por aerossóis respiratórios, conta-
minação fecal de comida/água, contato direto com ave(s) infectada(s) e fomitos.
As aves podem ser assintomáticas ou morrer subitamente. Os sinais incluem
depressão, anorexia, perda de peso, espirros, corrimento nasal, dispnéia, conjun-
tivite, diarréia verde-amarelada brilhante, ataxia, meneios de cabeça e opistótono.
Em casos prolongados, paralisia uni ou bilateral de pernas e asas, coréia, torcicolo
e pupilas dilatadas também podem ser observados.
As lesões incluem hepatomegalia, esplenomegalia, hemorragias petequiais ou
equimóticas em superfícies serosas de todas as vísceras e sacos aéreos, saculite
aérea e fluido peritoneal cor de palha excessivo. O diagnóstico é feito por isolamento
do vírus.
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1221
Bouba aviária
As poxviroses mais importantes das aves ornamentais são a bouba dos canários,
a bouba dos papagaios, a bouba dos periquitos e a bouba dos pombos.
Sinais clínicos – Os sinais dependem da suscetibilidade do hospedeiro e da
virulência do vírus. Existem três formas clínicas: 1. cutânea – pápulas discretas,
pústulas ou crostas ásperas na pele (depedendo do estágio de infecção) desenvol-
vem-se em partes do corpo sem penas. A mortalidade é baixa e a infecção
geralmente é autolimitante; 2. diftérica – lesões fibrinonecróticas extensas desenvol-
vem-se nas membranas mucosas da orofaringe, trato respiratório superior e esôfago
(ocasionalmente na conjuntiva). A mortalidade é alta; 3. aguda – o início dos sinais
gerais (incluindo depressão, cianose, anorexia e morte rápida) é repentino. A
transmissão é feita por contato direto com aves ou fômites infectados e os insetos
podem agir como vetores mecânicos.
A bouba dos canários pode ocorrer na forma aguda com sinais respiratórios e
morte em 1 a 3 dias, ou como uma infecção crônica com lesões dérmicas
proliferativas ao redor da boca, olhos, narinas ou pés. O vírus provoca a formação
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1222
NEOPLASIAS
Muitas formas de câncer são comuns em aves de estimação; a mais notável é o
adenocarcinoma renal nos periquitos australianos, uma importante causa de morte
em machos. A claudicação em periquitos australianos machos jovens, com perda
de peso intercorrente e uma massa abdominal palpável, constitui-se em um achado
típico. As fêmeas ocasionalmente desenvolvem tumores renais, porém mais fre-
qüentemente, uma massa em uma ave fêmea corresponde a um tumor ovariano. Os
tumores testiculares também são comuns em periquitos australianos machos e
podem produzir alterações na cor do ceroma.
A claudicação causada por pressão no nervo ciático não é tão comum em
tumores gonadais mas acontece. A constipação e/ou o emplastramento fecal são
vistos em casos avançados. As radiografias são úteis no diagnóstico (moela
deslocada ventralmente). Esses tumores raramente são metastáticos; ocasional-
mente tem-se usado microcirurgia em casos precoces. Os implantes radioativos
(125I) também têm despertado alguma atenção em terapia experimental. A maioria
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1224
DOENÇAS NUTRICIONAIS
Desequilíbrio cálcio/fósforo/vitamina D 3 – As dietas de sementes são bem
conhecidas por seus problemas com o metabolismo de cálcio (Ca) e fósforo (P). As
sementes de girassol, que tendem a ser preferencialmente escolhidas pela maio-
ria dos psitacídeos, são pobres em Ca e ricas em gordura. As fontes de vitamina
D 3 também não estão sempre disponíveis em quantidades suficientes para os
pássaros de estimação que não recebem um suplemento ou dieta variada. A
remoção da semente de girassol e o oferecimento de semente de açafrão, ou
mesmo de semente de girassol descascada, quase sempre promovem a experi-
mentação e a expansão da dieta.
Algumas manifestações bem conhecidas de deficiências minerais em aves de
estimação incluem a retenção do ovo, hipocalcemia aguda (sobretudo em papagaios
cinzentos africanos) e fraturas patológicas/osteoporose. O raquitismo e a “perna-torta”
são freqüentemente vistos nos filhotes (sobretudo rolas, calopsitas e periquitos austra-
lianos) quando os pais não podem supri-los com os nutrientes corretos. A “perna-torta”
também tem sido ligada a fatores genéticos e do substrato.
A retenção do ovo às vezes está relacionada a outros problemas além do consumo
insuficiente de Ca, porém a resposta à terapia com este, em muitos casos, é notável.
A história geralmente indica um colapso agudo ou fraqueza; as fêmeas freqüentemente
descem ao chão da gaiola, ou podem-se apoiar com o bico nas grades da gaiola. Uma
palpação suave geralmente revela um ovo na cavidade abdominal. Se as radiografias
tiverem de ser usadas para o diagnóstico, as injeções de Ca deverão ser aplicadas
primeiramente, pois as aves hipocalcêmicas raramente apresentam ovos bem calcifi-
cados. Recomenda-se a terapia imediata com Ca em qualquer caso, junto com
aumentos na temperatura e umidade. O calor pode ser transferido rapidamente em uma
emergência ao se colocar a ave sobre uma bolsa plástica de água quente.
Após a ave ter-se estabilizado (,1h), pode-se lançar mão de manipulação suave
para tentar-se extrair o ovo. Outro tratamento consiste na aspiração percutânea
seguida de pressão lateral para quebrar o ovo. Raramente ocorre laceração do
oviduto. Recomenda-se terapia de suporte com antibióticos para a maioria das aves
com ovos retidos. Se a ave parece estar em choque, podem-se administrar esteróides.
Administra-se cálcio IM, e s.c. se diluído (0,5 a 1mL/kg de uma solução de 5mg/mL de
gliconato de cálcio + 5mg/mL de lactato de cálcio) e mantido com um suplemento oral.
Também se administra ocitocina em muitos casos (0,01 a 0,1mL, IM).
A hipocalcemia aguda em papagaios cinzentos africanos e calopsitas é ca-
racterizada por fraqueza, tremores e ataques convulsivos. A etiologia exata é
desconhecida, à medida que alguns pássaros parecem ser relativamente bem
nutridos. Entretanto, o Ca parenteral efetua uma melhora imediata, e os níveis
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1225
INTOXICAÇÕES
Ao contrário da crença popular, as mortes por intoxicação por plantas caseiras
e “gases” misteriosos raramente são encontradas na prática clínica. Porém, o
politetrafluoretileno (revestimento de assadeiras) pode liberar um gás letal se as
panelas se superaquecerem. Muito mais comum é a intoxicação por chumbo; as
Manejo e Doenças de Aves Ornamentais 1226
LESÕES TRAUMÁTICAS
As lesões traumáticas em aves ornamentais geralmente são fáceis de se tratar.
Quase sempre se encontram pernas fraturadas em periquitos australianos, e
normalmente envolvem o osso tibiotársico. A sedação com isoflurano e a aplicação
de uma fita de esparadrapo tipo “sanduíche” são eficientes. Os poleiros devem ser
acolchoados para aves que precisem se sustentar em 1 perna só (todas as unhas
devem ser cortadas). O solvente de esparadrapo é útil para remover as talas e
pensos, mas deve ser usado apenas em áreas bem-ventiladas.
As lesões infligidas por gatos são relativamente incomuns, mas sempre justifi-
cam a antibioticoterapia (ver DOENÇAS BACTERIANAS, pág. 1213). A necrose gangrenosa
dos dedos é uma lesão traumática vista em canários e outros fringilídeos. Filamen-
tos ou linhas muito finas podem-se enrolar ao redor dos dedos de adultos e filhotes
no interior do ninho. Necessita-se de hemostasia cuidadosa e de aumento por lupa
para uma remoção segura. As queimaduras são freqüentes em aves com vôo livre
(geralmente afetando os pés), e estão se tornando um problema importante em
papagaios recém-nascidos criados manualmente. A comida aquecida em microon-
das e não misturada antes da alimentação pode produzir queimaduras focais no
papo. Uma terapia cirúrgica conservativa geralmente obtém sucesso.
MANEJO E CRIAÇÃO
Roedores de laboratório, livres de patógenos e doenças e não portadores de
anticorpos indicativos de infecção anterior, são prontamente disponíveis em vendedo-
res comerciais. A procura de tais animais em origens de boa qualidade, o transporte
deles em embalagens esterilizadas e a manutenção dos mesmos em instalações
providas de barreiras físicas e de manejo de agentes infecciosos são medidas efetivas
na prevenção contra a introdução de doenças na colônia.
Entretanto, embora existam colônias de algumas espécies de primatas, livres da
maioria dos agentes que causam doenças infecciosas nessas espécies, a maioria
dos primatas utilizados são capturados na natureza. Por essa razão, devem-se
implementar uma quarentena e um programa de isolamento rigorosos, junto ao
programa seguido nas instalações do importador.
Para o manejo apropriado, os tratadores e os pesquisadores devem ser respon-
sáveis, bem treinados, altamente motivados, sensíveis à saúde e ao bem-estar dos
animais, e diligentes na realização de suas funções e responsabilidades. Devem-se
determinar procedimentos operativos padrão e providenciar treinamento e supervisão
para assegurar um alto nível de cuidado animal, uniforme e consistentemente
aplicado. Os pesquisadores também devem ser treinados apropriadamente em
cuidado e uso humanitários dos animais de laboratório. As instalações de pesquisa
devem possuir condições ambientais cuidadosamente controladas que, junto com
programas de cuidado e uso animal conscientemente aplicados, providenciem as
melhores condições possíveis para se conduzir uma pesquisa.
Alojamento – As gaiolas, cercados ou criatórios devem providenciar 3 espaços
dimensionais adequados para permitir ajustamento postural e comportamento espé-
cie-específico normais. Quando possível, grupos compatíveis de animais devem ser
alojados juntos. Os recintos primários devem ser construídos com materiais duráveis,
ser facilmente limpos e higienizados e projetados para conforto e segurança.
Devem-se controlar cuidadosamente a temperatura, umidade, taxas de ventilação
e condições de iluminação (qualidade, quantidade e fotoperíodo) em todo o tempo.
Em geral, deve-se manter a temperatura entre 19 e 26oC para a maioria dos roedores
e 18 a 29oC para primatas. Dentro dessas faixas, os sistemas devem ser capazes de
manter temperaturas ± 2oC do ponto ideal. Deve-se manter a umidade relativa em 40
a 70% para a maioria dos roedores, 40 a 60% para coelhos e 30 a 70% para primatas,
preferivelmente dentro de 5% do ponto ideal. As taxas de ventilação devem ser de 10
a 15 trocas de ar/h. O ar não deve ser recirculado, a menos que tenha sido tratado para
remover contaminantes gasosos e particulados. A intensidade de iluminação deve ser
distribuída uniformemente e adequada para permitir a inspeção dos animais e a
manutenção da higiene e segurança pessoal, e o mais importante, o bem-estar do
animal. Os ciclos diurnos ou dia:noite, por serem determinados pelas necessidades
de uma dada espécie, devem ser controlados por temporizadores automáticos para
manter a regulação circadiana e neuroendócrina. O microambiente no interior de
certos tipos de gaiola pode ser muito diferente do macroambiente da sala. Necessita-
se de uma pesquisa cuidadosamente conduzida para que se definam as condições
ambientais ideais para cada espécie ou grupo de espécies em gaiola.
Alimentação – O alimento deve ser servido em quantidade adequada, palatável,
livre de contaminantes e nutricionalmente adequado, de acordo com as necessida-
des específicas da espécie. Os alimentos especificamente manufaturados para o
uso em animais de pesquisa são mais prováveis de ser uniformemente constituídos,
livres de contaminantes e de possuir data de fabricação. O alimento deve ser
manufaturado, transportado, armazenado e utilizado de forma que minimize sua
deterioração, contaminação ou infestação. A maioria dos animais pequenos é
alimentada à vontade; os coelhos, carnívoros de laboratório e primatas podem ser
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1232
restritos a quantidades medidas de alimento por dia. Além das dietas preparadas
comercialmente e geralmente peletizadas, podem-se preparar dietas semi-sintéti-
cas ou completamente sintéticas para o uso em certos tipos de pesquisa. Dietas
autoclaváveis ou irradiadas estão disponíveis para roedores e podem ser utilizadas
quando se desejar a esterilização do alimento.
Forração – Os materiais de forração (cama) devem ser não irritantes, absorven-
tes, livres de contaminação química e patógenos e não palatáveis. Devem-se usar
quantidades adequadas para se manter os animais secos e limpos entre as
mudanças de forração ou alojamento. Recomendam-se produtos para forração
feitos com madeira rija e outros materiais que não sejam madeira macia, pois os
produtos feitos com esse material contêm óleos voláteis que podem alterar os
sistemas enzimáticos hepáticos e afetar certos tipos de pesquisa.
Água – Deve-se providenciar água potável e não contaminada em quantidades
adequadas para suprir as necessidades particulares das espécies. Recomendam-
se programas de asseguramento de qualidade que meçam pH, resistência, conteú-
do químico e carga microbiana. Pode-se exigir, sob certas condições experimentais
ou de criação, água altamente purificada, desionizada, acidificada, clorada ou
esterilizada. A água é geralmente servida à vontade em aparelhos manualmente
preenchidos ou automáticos.
Higiene – É obrigatório um nível uniformemente alto de higiene. Os comparti-
mentos de alojamento e o espaço de suporte auxiliar devem ser limpos e sanitizados
tão freqüentemente quanto necessário para manter os animais livres de sujeira,
resíduos e contaminação potencialmente nociva. As gaiolas primárias também
devem ser limpas e sanitizadas tão freqüentemente quanto necessário para manter
os animais limpos e secos. Para roedores em gaiola de piso sólido, geralmente serão
suficientes 1 a 3 mudanças/semana; para os roedores mantidos em gaiolas
suspensas sobre bandejas de excreção, as trocas quinzenais devem ser adequa-
das. Para animais maiores, os excrementos e a cama suja devem ser removidos
diariamente e os alojamentos primários devem ser limpos e sanitizados pelo menos
quinzenalmente. As garrafas de água e outros equipamentos utilizados para servir
alimento ou água devem ser limpos e sanitizados pelo menos semanalmente. Os
equipamentos automáticos de servir água em gaiolas, grades e compartimentos
devem ser drenados, enxaguados e sanitizados a intervalos freqüentes e regulares.
O aquecimento de gaiolas e outros equipamentos a 82,2oC e/ou uso de desinfecção
química apropriada, por exemplo, soluções de hipocloreto, matam bactérias e vírus
patogênicos não formadores de esporos. Todas as gaiolas e outros equipamentos
devem ser enxaguados completamente, seguindo-se o tratamento com detergentes
e/ou desinfetantes.
Controle de pestes – Devem-se instituir programas profissionalmente dirigidos
para prevenir, identificar e erradicar ou controlar insetos ou roedores ferozes ou que
tenham escapado. O uso de pesticidas deve estar geralmente confinado a áreas que
não sejam utilizadas para animais ou estocagem de alimento ou cama. Substâncias
relativamente inertes, como aerogel de sílica ou pó de ácido bórico, são recomen-
dadas e úteis no controle de insetos rastejadores, como por exemplo, baratas.
MONITORAÇÃO DA COLÔNIA
Embora a maioria dos roedores comercialmente criados, alguns coelhos, e
relativamente poucos cães, gatos e primatas possam ser obtidos como animais
SPF, os animais residentes em colônias devem ser monitorados à procura de
doenças naturalmente ocorrentes como uma medida da efetividade do programa de
controle e prevenção. Devem-se informar regularmente os pesquisadores acerca do
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1233
DOENÇAS BACTERIANAS
Infecção por Corynebacterium kutscheri (Pseudotuberculose) – A infecção
por este patógeno oportunista é mais comumente inaparente, mas pode causar
descargas nasais e oculares, dispnéia, artrite ou abscessos na pele. As lesões são
variáveis, porém geralmente incluem abscessos focais no fígado, rins, pulmões,
linfonodos, e, ocasionalmente, artrite purulenta. Os abscessos geralmente se
apresentam como discretos nódulos de coloração cinzento-amarelada com até
15mm de diâmetro. O diagnóstico depende do encontro das lesões características
e do isolamento do microrganismo ou da sorologia (aglutinação ou fixação de
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1234
DOENÇAS MICÓTICAS
Para tinhas, ver TINHAS EM COBAIAS, página 1245. A histoplasmose, a coccidioi-
domicose, a esporotricose, a criptococose e a ficomicose geralmente não causam
problemas significantes em colônias laboratoriais; no entanto, podem interferir
ocasionalmente em dados experimentais de pesquisa, devido ao efeito opressor em
animais cuja resistência tenha sido diminuída pela radiação ou por drogas imunos-
supressoras.
DOENÇAS PARASÍTICAS
Parasitas sangüíneos – Vários parasitas sangüíneos têm sido registrados em
ratos e camundongos. Entre estes se incluem a Plasmodium berghei, a P. vinckei,
a Trypanosoma lewisi, a T. cruzi, a Hepatozoon muris, a Babesia muris, a
Haemobartonella muris (primariamente em ratos) e a Eperythrozoon coccoides
(primariamente em camundongos). Estes microrganismos geralmente não causam
doença clinicamente aparente, a menos que o animal seja esplenectomizado ou
esteja severamente estressado. Os ectoparasitas sugadores de sangue podem
transmitir estes parasitas.
Cestóideos – O verme chato anão (Hymenolepis nana) ocorre no intestino
delgado de ratos e camundongos e é transmissível ao homem. O ciclo de vida pode
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1236
DOENÇAS VIRAIS
Ectromelia (varíola dos camundongos) – É uma doença altamente contagiosa
dos camundongos de laboratório, causada pelo vírus da ectromelia. Pode permanecer
latente ou causar endemia de baixo grau ou epidemia violenta. As linhagens de
camundongos isogênicos variam amplamente em suscetibilidade. Na forma sistêmica
aguda, podem ocorrer mortes sem lesões. Em casos mais crônicos é possível ocorrer
tumefação facial, conjuntivite com exantema secundário e lesões ulcerativas ou
escamosas na cabeça, cauda ou extremidades. Ocasionalmente, as extremidades se
tornam necróticas e caem. Outras lesões incluem necrose focal do fígado, baço,
pâncreas e linfonodos e hemorragias intestinais. Corpúsculos de inclusão citoplasmá-
ticos eosinofílicos podem ser encontrados em hepatócitos, em células acinares
pancreáticas ou em células epidérmicas edemaciadas que se encontrem em áreas de
inflamação cutânea. O diagnóstico é baseado em lesões características, sorologia e
a confirmação da morfologia do poxvírus por microscopia eletrônica.
Ocorrem surtos esporadicamente em colônias de pesquisa, sobretudo as que
são utilizadas em pesquisa imunogenética. Enquanto os animais de criadores
comerciais estão livres do vírus, os camundongos que procederem de outras
colônias dos EUA ou outros países devem ser selecionados criteriosamente para se
evitar ectromelia. Os camundongos recém-chegados devem ser isolados e obser-
vados por 2 a 3 semanas, antes de serem introduzidos à colônia.
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1238
Infecção por vírus Herpesvírus Necrose tímica Inoculação em camundongos Afeta somente recém-nascidos
tímico de recém-nascidos
camundongos
Pneumonia viral Paramixovírus Pneumonia intersticial, edema IH, ELISA. Também pode afetar ratos e hâmsters
de camundongos pulmonar Inoculação em
(PVC) camundongos livres de PVC
Infecção por vírus Papovavírus Tumores experimentais em IH, FC A infecção natural raramente produz
do polioma vários locais tumores
Coronavirose Coronavírus Pneumonia experimental FC, ELISA Ocorre naturalmente em ratos.
dos ratos Reação cruzada com vírus da
sialodacrioadenite
Reovirose Reovírus do Tipo 3 Necrose do fígado, miocárdio, IH, ELISA. Ratos Icterícia, fezes amareladas,
pâncreas. Degeneração também podem apresentar pelame e pele oleosos, sinais
neuronal. Encefalite anticorpos neurológicos em camundongos
Infecção por IH de Parvovírus Lesões cerebelares IH, ELISA Ocorre naturalmente em ratos
Toolan
a Fixação de complemento. b Inibição da hemaglutinação. c Ensaio imunoenzimático. d Imunofluorescência.
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1242
crônicas originadas de lutas. As lutas podem ser prevenidas por meio da separação
dos machos ou, de preferência, pelo agrupamento dos mesmos na época do
desmame em vez de posteriormente.
Mastigação de pêlos (barbeamento) – A alopecia parcial devida à mastigação
de pêlo por companheiros de gaiola é mais comum em camundongos pigmentados.
A primeira indicação de mastigação de pêlos é a perda dos bigodes sensitivos de
alguns dos camundongos. É típico que, em seguida, ocorra alopecia do focinho,
cabeça e dorso médio do tronco. Não há dermatite, mas a pele pode-se tornar
progressivamente pigmentada. Os camundongos mastigadores de uma gaiola
geralmente podem ser identificados como aqueles que possuem bigodes e pelame
normais. Quando os mastigadores de pêlo são retirados da gaiola, o novo cresci-
mento do pêlo nos remanescentes costuma-se completar num período de 60 a 90
dias. Em camundongos pretos, o pêlo novo pode-se apresentar cinzento.
Doenças nutricionais – Existem no comércio rações balanceadas padroni-
zadas para ratos e camundongos. A maioria dos produtores fornecem dietas
separadas para manutenção, reprodução e outros propósitos específicos. As
rações devem ser estocadas apropriadamente, protegidas de contaminação e
servidas dentro de 180 dias após a data de fabricação. Se as colônias estiverem
sendo alimentadas com rações industrializadas frescas e de boa procedência,
torna-se remota a possibilidade de surgirem deficiências nutricionais clinicamen-
te aparentes. Entretanto, se a alimentação por fornecida à vontade por longos
períodos, tanto ratos como camundongos tornar-se-ão obesos, aumentando
desta forma a prevalência ou a gravidade de certas lesões associadas à idade e
reduzindo a longevidade. A alimentação com suplementos vegetais naturais não
é necessária e nem desejável, já que pode estar contaminada por Salmonella
spp, Yersinia spp ou Bacillus piliformis. O controle desses problemas é complexo,
porém a restrição a longo prazo do consumo de calorias, a redução do consumo
de proteínas, ou ambas, podem ser úteis.
Cauda anelada – É uma infecção de ratos e camundongos jovens caracterizada
por constrições anulares e posteriormente por edema, necrose e queda espontânea
da cauda. Em ratos, pode-se produzir esta afecção experimentalmente por meio da
diminuição da umidade relativa ambiental. O controle desta doença pode ser feito
pela manutenção de uma umidade relativa ≥ 50% e pelo alojamento em gaiolas
plásticas de fundo sólido com cama profunda.
DOENÇAS DE COBAIAS
Intoxicação induzida por antibióticos – As cobaias e os hamsters são
altamente suscetíveis aos efeitos tóxicos de muitos antibióticos comumente utiliza-
dos. A intoxicação é resultante do crescimento excessivo de Clostridium difficile e
da subseqüente produção de toxinas. Isto causa enterocolite com diarréia e morte
em 3 a 7 dias. Os antibióticos que possuem um espectro de atividade primariamen-
te dirigido contra microrganismos Gram-positivos (por exemplo, penicilina, lincomi-
cina, eritromicina e tilosina) não devem ser utilizados em cobaias e hamsters. Os
antibióticos de amplo espectro também não devem ser utilizados em cobaias e
hamsters. Os antibióticos de amplo espectro também não devem ser utilizados via
oral devido aos seus efeitos diretos sobre a flora intestinal, mas podem ser usados
parenteralmente com cautela. Pomadas antibióticas de uso tópico também podem
produzir a síndrome se os animais as ingerirem.
Conjuntivite – A conjuntivite é freqüentemente causada por Chlamydia psittaci
em cobaias, embora Salmonella spp, Streptococcus spp, Staphylococcus aureus e
Pasteurella multocida também possam estar envolvidos. Os sinais clínicos incluem
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1243
DOENÇAS DE HAMSTERS
Os hamsters dourados ou sírios (Mesocricetus auratus) são suscetíveis à
infecção por inúmeras bactérias comuns, incluindo os estreptococos, as salmone-
las, as leptospiras, os estafilococos e as pasteurelas. Os sinais clínicos e lesões
são similares àqueles vistos em outros animais. Deve-se utilizar a antibioticotera-
pia cautelosamente, pois os hamsters são altamente suscetíveis à enterocolite
associada aos antibióticos. Para intoxicação por antibióticos, ver o texto em
DOENÇAS DE COBAIAS, página 1242.
Ocasionalmente os hamsters podem ser infectados pela tênia Hymenolepis nana
e o oxiúro Syphacia obvelata (ver DOENÇAS PARASÍTICAS DE RATOS E CAMUNDONGOS,
pág. 1235, para lesões e terapias).
Duas espécies de ácaros demodéticos, Demodex criceti e D. aurati, são comu-
mente encontradas em hamsters, geralmente > 18 meses de idade. Podem resultar
em dermatite e alopecia no dorso e no lombo. O diagnóstico é feito por meio da
identificação dos ácaros em um raspado de pele. A afecção responde ao tratamento
com acaricidas que são utilizados em cães (ver pág. 1816). A aplicação diária de
solução de Ronnel a 4% em propilenoglicol, por várias semanas, tem sido efetiva.
A dermatite de orelhas, face, patas e cauda pode ser causada por Notoedres sp.
Tem-se recomendado a ivermectina a 200µg/kg de peso corporal.
Os hamsters são muito sensíveis à deficiência de vitamina E, que leva à distrofia
da musculatura esquelética. No comércio, existem rações balanceadas, formuladas
especialmente para hamsters; entretanto, eles também se desenvolvem com ra-
ções comerciais destinadas a ratos e camundongos.
A amiloidose é comum em hamsters > 1 ano, e a prevalência aumenta com a
idade. Geralmente é subclínica até que a função renal seja prejudicada devido aos
depósitos de amilóide. Quando ocorre azotemia, os sinais incluem anorexia, pelagem
eriçada, postura encurvada e depressão. Não há nenhum tratamento efetivo.
Tem-se descrito a coriomeningite linfocítica (CML), ocorrendo naturalmente,
em colônias reprodutivas tanto comerciais como de laboratório. Os camundongos
silvestres geralmente servem como reservatórios na natureza, mas os tumores
transplantáveis ou outras linhagens celulares contaminadas com o vírus constituem
a origem dos surtos em laboratório. A doença é geralmente subclínica nos hamsters,
mas grandes quantidades de vírus são eliminadas na urina e podem servir como
fonte de infecções humanas.
Os hamsters são suscetíveis a outros vírus que produzem enfermidade clínica
discreta ou infecção subclínica (ver TABELA 6, OUTRAS INFECÇÕES VIRAIS DE RATOS E
CAMUNDONGOS, pág. 1240).
A ileíte proliferativa é uma doença específica, aparentemente infecciosa e de
etiologia incerta, embora tenha-se relacionado a Campylobacter jejuni. É também
chamada de cauda úmida, enterite regional ou hiperplasia ileal transmissível. É
uma doença endêmica em alguns laboratórios e colônias comerciais e pode atingir
proporções epidêmicas. Os sinais clínicos agudos incluem diarréia (cauda úmida),
desidratação, anorexia, depressão e morte em 48h. Os animais em desmame (3 a
8 semanas de idade) são mais freqüentemente afetados. As lesões incluem ileíte
ou tiflite, ou ambas, e colite com hiperplasia acentuada do epitélio do íleo. Esta
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1246
DOENÇAS DE FURÕES
Os furões devem ser vacinados rotineiramente contra cinomose com vírus vivo
modificado ou somente originado em cultura de tecido de embrião de galinha. As
vacinas de vírus de cinomose vivo modificado, originado em cultura de células de
furão, não devem ser usadas porque induzem doenças vacinais. A vacina com vírus
da cinomose inativado produz imunidade questionável. A vacinação deve começar
a 8 a 10 semanas de idade (4 a 6 semanas, se a mãe não tiver nenhum título) e deve
ser repetida a 10 a 12 semanas, e então a cada 2 a 3 anos. Uma vacina anti-rábica
inativada e de origem murina pode ser administrada s.c. em furões ≥ 3 meses de
idade, e pode ser repetida anualmente. Os furões criados comercialmente são, em
geral, vacinados às 6 a 8 semanas de idade com o toxóide Clostridium botulinum do
Tipo C; porém, os furões de estimação não precisam ser vacinados se receberem
alimentação fresca, como rações felinas ou caninas, enlatadas ou secas. Os furões
não são suscetíveis à panleucopenia felina, à rinotraqueíte felina, à calicivirose felina,
à parvovirose canina, à hepatite infecciosa canina ou à enterite viral do visom sob
condições naturais; logo, a vacinação contra estas doenças não se faz necessária.
Doenças bacterianas – A Staphylococcus aureus causa mastites, dermatites,
abscessos e infecções vulvares durante o estro. A Streptococcus zooepidemicus
causa abscessos, pneumonias, metrites e infecções vulvares. A Escherichia coli
causa mastite, metrite, infecções vulvares, pneumonia e septicemia. Os
Campylobacter spp e os microrganismos semelhantes têm sido associados a colite
proliferativa e úlcera gástrica. O tratamento é o mesmo instituído para cães e gatos.
Os furões também são suscetíveis ao botulismo e às cepas humana, bovina e aviária
da tuberculose. As injeções intradérmicas de tuberculina não são diagnósticas no
caso dos furões.
Cinomose – Os furões são suscetíveis à infecção por vírus da cinomose canina
(VCC). A transmissão é feita por aerossóis e contato direto com secreções
infectadas por VCC. Os animais expostos parecem normais até 7 a 10 dias após a
exposição, quando tornam-se evidentes a anorexia e um exantema no queixo e na
região inguinal; 1 a 2 dias mais tarde, são características as descargas mucopurulentas
nasais e oculares. A condição do animal se deteriora até que ocorra a morte, 12 a
14 dias após a exposição. As terapias antibacteriana e de suporte podem ser úteis,
mas o prognóstico é grave. Os furões que sobreviverem inicialmente podem morrer
da forma neurotrópica da doença, semanas ou meses mais tarde.
Influenza – Os furões são suscetíveis à infecção por vírus de influenza humana.
As pessoas que estejam eliminando o vírus devem usar luvas e máscaras faciais,
quando estiverem manipulando furões. Os furões infectados podem exibir anorexia,
depressão e febre. Os espirros e a descarga nasal purulenta podem acompanhar a
febre por 1 a 2 semanas. Tipicamente, a recuperação é rápida após o abaixamento
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1247
DOENÇAS MICÓTICAS
Ver também INFECÇÕES FÚNGICAS, página 411.
As Microsporum e as Trichophyton spp afetam primatas. Recomenda-se o
tratamento tópico das tinhas com pomadas de ácido undecilênico ou com creme
de tolnaftato a 1%, duas vezes ao dia, por 2 a 3 semanas, ou administração de
griseofulvina (25mg/kg, VO, por 3 a 4 semanas). A Candida sp é um saprófita
comum da pele, tratos gastrointestinal e reprodutivo, e atua como um patógeno
facultativo em condições de debilitação. As úlceras ou placas brancas e salientes
podem ser vistas na língua ou na boca; o fungo também pode atacar as unhas.
As lesões orais têm de ser diferenciadas daquelas produzidas por traumas,
varicelas dos macacos ou herpesviroses. Cremes tópicos que contenham nistatina
são efetivos no tratamento de infecções superficiais. A nistatina oral (200.000u,
quatro vezes ao dia, continuada por 48h após a recuperação clínica) é efetiva no
tratamento da candidíase do trato gastrointestinal. Têm-se descrito a Dermatophilus
congolensis em macacos-da-noite. As lesões papilomatosas são vistas na face
e extremidades. A infecção é transmissível ao homem. A aspergilose pode ocorrer
em várias espécies de primatas, e o microrganismo geralmente é um patógeno
facultativo.
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1251
DOENÇAS PARASÍTICAS
Os primatas recentemente importados albergam numerosos parasitas. Alguns
são comensais; outros podem-se tornar autolimitantes através de rigorosa sani-
tização e bom manejo. Entretanto, alguns podem causar sérias doenças ou
debilitação e devem ser removidos por tratamento específico.
Artrópodes – A acaríase pulmonar (Pneumonyssus sp) é comum em primatas
africanos e asiáticos capturados na natureza, particularmente em macacos rhesus
e babuínos. A infecção é rara em primatas criados em laboratórios. O ciclo de vida
da Pneumonyssus sp não é bem conhecido. A infecção geralmente não produz
doença séria, embora possa causar espirros e tosse. As lesões incluem a dilatação
e a inflamação focal crônica dos bronquíolos terminais. As lesões grosseiras podem
ocasionalmente ser confundidas com o granuloma tuberculoso. A ivermectina
(200µg/kg de peso corporal, s.c.) tem sido usada para tratamento em colônias
reprodutivas fechadas.
Os ácaros da sarna (Psorergates spp, Sarcoptes scabiei) ou os piolhos sugado-
res (Pedicinus obtusus [longiceps]) são observados ocasionalmente e podem
produzir dermatoses. Recomenda-se o tratamento tópico dos animais afetados com
piretrina, repetido após 3 dias, se necessário. A utilização de parasiticidas mais
tóxicos deve ser evitada devido à possibilidade de ingestão durante a limpeza oral
dos pêlos.
Helmintos – O Oesophagostomum pode causar nódulos granulomatosos ca-
racterísticos no intestino grosso, associados ao desenvolvimento das larvas e à
reação imune do hospedeiro. Os nódulos podem-se romper e causar peritonite. Os
Strongyloides e Trichostrongylus são invasivos; os adultos podem causar enterite
e diarréia; as larvas podem causar lesões pulmonares durante a migração. Estes
helmintos, assim como o Trichuris, podem ser tratados efetivamente com tiabendazol
(100mg/kg de peso corporal), administrado VO em intervalos de 2 a 4 semanas. Os
Prosthenorchis são vermes filarídeos, comuns em primatas das Américas Central
e do Sul, que escavam a mucosa da junção ileocecal e, algumas vezes, perfuram
o intestino ou causam obstrução quando presentes em grande número. As baratas
são os hospedeiros intermediários, e a sua eliminação, aliada a higiene rigorosa, é
essencial caso se pretenda controlar a infecção. O Dipetalonema e o Tetrapetalonema
ocorrem na cavidade peritoneal das espécies do Novo Mundo; podem estar
presentes em grande número sem danos aparentes ao hospedeiro. Os Filaroides
são encontrados nos pulmões.
Protozoários – Os primatas podem servir de hospedeiros para várias amebas
intestinais. A Entamoeba histolytica é a principal forma patogênica, tanto em
primatas não humanos como no homem. Em infecções pesadas, pode causar
enterites severas e diarréia, e os cistos podem ser demonstrados em grande número
nas fezes. O Giardia habita a parte superior do intestino delgado e pode causar
diarréia. Recomenda-se o tratamento com metronidazol (50mg/kg, VO, diariamen-
te, por 5 a 10 dias).
Também podem ocorrer parasitas sangüíneos, como Plasmodium, Leishmania
e Trypanosoma spp. Geralmente, existe um equilíbrio entre os parasitas e o
hospedeiro natural, mas podem ocorrer sérias reações a partir de infecções
cruzadas. A transmissão da malária símia para humanos tem ocorrido em áreas
onde o mosquito-vetor apropriado esteja presente. A doença não representa ge-
ralmente problema clínico em colônias de primatas. Algumas espécies de primatas,
como os macacos-da-noite, são excelentes modelos para a pesquisa de malária.
A ocorrência natural de toxoplasmose (T. gondii) tem sido relatada mais freqüen-
temente em primatas centro e sul-americanos do que em primatas africanos ou
asiáticos. Os sinais clínicos da infecção tendem a ser inespecíficos (letargia,
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1252
DOENÇAS VIRAIS
Muitos herpesvírus afetam os primatas; alguns existem sob a forma de infecção
latente ou subclínica em hospedeiros-reservatórios, mas causam doença severa ou
morte quando transmitidos naturalmente para outros hospedeiros. Todos os maca-
cos asiáticos são considerados eliminadores potenciais dos herpesvírus símios
(herpesvírus B). A infecção é geralmente subclínica ou leve (conjuntivite ou
vesículas orais) nas Macaca spp, mas pode causar encefalite e encefalomielite
fatais no homem. A transmissão pode ocorrer por mordida, por contaminação de
uma ferida superficial com saliva infectada, secreção conjuntival, ou por aerossóis.
Os óbitos entre os tratadores de primatas, devidos à encefalite por herpesvírus B,
enfatizam a importância da prevenção de contato direto ou indireto com as
secreções e fluidos corporais dos macacos asiáticos.
Os herpesvírus T (H. tamarinus, H. platyrrhinae) causam leves úlceras linguais
herpéticas e estomatites em micos-de-cheiro (Saimiri sciureus), mas epidemias
fatais têm-se seguido à transmissão natural aos macacos-da-noite (Aotus trivirgatus)
e sagüis (Saguinus spp). O “herpesvirus hominis” (vírus 1 da Herpes simplex)
causa uma infecção leve em homens e em outros determinados primatas, porém
macacos-da-noite, gibões e tupaias ( Tupaia glis) são altamente suscetíveis e
podem morrer; os sinais podem incluir ulcerações da pele ou membranas mucosas,
conjuntivite, meningite ou encefalite.
O homem pode transmitir o vírus da hepatite infecciosa (vírus da hepatite A) aos
chimpanzés. Valores elevados de AST (SGOT) e ALT (SGPT) possuem importância
diagnóstica. Altos níveis de anticorpos contra o vírus da hepatite A têm sido
demonstrados em macacos-da-noite mantidos em laboratório, sugerindo que esta
espécie também seja suscetível à infecção natural.
Visto que não são disponíveis vacinas para proteger o pessoal que trabalha em
colônias de primatas ou os próprios primatas contra as infecções por herpes e
hepatite viral, deve-se evitar a exposição. Isso será melhor realizado com um
cuidadoso treinamento do pessoal em relação ao manejo dos primatas; uso de
roupas protetoras, máscaras ou proteções faciais e luvas; separação dos primatas
em salas espécie-específicas; e atenção restrita em relação aos padrões higiênicos.
Vários outros vírus produzem comumente doença clínica em primatas recen-
temente importados. A rubéola (sarampo) pode assumir proporções epidêmicas. O
vírus causa erupções exantematosas e não pruriginosas no peito e nas porções
baixas do corpo; também pode causar pneumonia intersticial por células gigantes,
rinite e conjuntivite. Não existe tratamento específico. Recomenda-se a vacinação
de macacos rhesus filhotes, outros macacos asiáticos e sagüis com vacina humana
contra sarampo. A varicela dos macacos pode ocorrer em colônias de primatas.
É caracterizada por erupções cutâneas maculopapulares e pústulas variolares. Os
macacos afetados geralmente sobrevivem; após a recuperação, ficam imunes ao
desafio com vírus da vacínia.
A síndrome de imunodeficiência adquirida símia (SIAS) é causada por pelo
menos 4 isolados virais distintos, e nenhum deles foi demonstrado como infectante
do homem. Dois retrovírus do Tipo D e 3 lentivírus diferentes podem produzir um
complexo de doenças relacionadas a imunodeficiência, como micobacteriose
atípica, criptosporidiose intestinal, pneumonia pneumocística e candidíase em co-
lônias de macacos asiáticos, macacos-verdes-africanos e mangabeis fuliginosos.
Há uma grande variação hospedeiro-interespécies, no que tange aos sinais clínicos
e à suscetibilidade de vírus a vírus. A transmissão entre os primatas ocorre via
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1253
DOENÇAS NUTRICIONAIS
Ver também NUTRIÇÃO: ANIMAIS EXÓTICOS E DE ZOOLÓGICO, página 1469.
Todos os primatas de laboratório são suscetíveis à deficiência de vitamina C.
Um animal deficiente em vitamina C geralmente sucumbe às doenças infecciosas
antes do aparecimento dos sinais clínicos da deficiência. As rações comerciais para
macacos contêm vitamina C que permanece estável por 3 meses após a fabricação
e embalagem, se forem estocadas apropriadamente. As frutas cítricas são fontes
suplementares. A administração oral de preparações vitamínicas pediátricas que
contenham ácido ascórbico é prontamente aceita. O consumo diário de vitamina C a
, 4mg/kg de peso corporal previne o escorbuto. Os primatas necessitam de vitamina
D para prevenir o raquitismo e a osteomalacia. Os primatas asiáticos e africanos
podem utilizar a pró-vitamina D2 (em matérias vegetais); os primatas centro e sul-
americanos não podem utilizá-la – precisam de pró-vitamina D3. As proteínas animais
e o óleo de fígado de peixes proporcionam uma fonte adequada de D3, ou então um
mínimo de 1,25UI/g de dieta pode ser adicionado à ração. Na ausência de níveis
adequados de D3, os primatas do Novo Mundo podem desenvolver osteodistrofia
fibrosa (ver pág. 581).
Manejo, Criação e Doenças de Animais de Laboratório 1254
DOENÇAS DIVERSAS
Dilatação gástrica aguda – Ocorre esporadicamente em colônias de primatas e
pode estar associada a restrição de alimentos ou água, e superalimentação ou
superingestão de água acidentais. Os fatores etiológicos podem incluir a fermenta-
ção intragástrica associada à Clostridium perfringens e à função gástrica anormal.
Os achados clínicos são similares àqueles observados em pequenos animais (ver
pág. 281). Esta afecção é quase sempre fatal, a menos que um tratamento de emer-
gência seja administrado. O estômago tem de ser esvaziado e deve haver reposi-
ção hídrica em volume semelhante, com solução de lactato de Ringer administrada
parenteralmente. Geralmente ocorrem choque e desidratação, e isso requer trata-
mento imediato. O esvaziamento periódico do estômago pode ser necessário por
vários dias até que se restaure a função gastrointestinal normal. A perda contínua de
ácido hidroclorídrico pode resultar em alcalose metabólica. Devem ser fornecidos
níveis adequados de sódio, cloreto e potássio via fluidoterapia parenteral.
Trauma – Podem ocorrer ocasionalmente tanto o trauma por agressão de compa-
nheiro de gaiola ou automutilação (mordedura ou arrancamento de pêlos) como a
rarefação dos pêlos devida a alopecia auto-induzida. Atualmente, estão sendo ava-
liadas medidas para se aumentar o bem-estar psicológico dos primatas, por exemplo,
alojamentos grupais, cercados para exercício e brinquedos no interior da gaiola.
DOENÇAS DE ANFÍBIOS
Os anfíbios mais largamente utilizados são rã-leopardo (Rana pipiens), rã-touro
(R. catesbiana), “xenopo-liso” (Xenopus laevis), e “sapo-cururu” (Bufo marinus), as
salamandras (Ambystoma spp), e axolotles mexicanos (Seridon mexicanum). A
maioria dos espécimes de laboratório é capturada na natureza, porém existem
várias colônias de criação. São comuns a má nutrição, o parasitismo e determinadas
doenças bacterianas e virais. O bom manejo e uma alimentação adequada são
elementos-chave na criação de anfíbios para uso laboratorial. No entanto, o
tratamento individual ou em massa dos anfíbios doentes pode ser utilizado seletiva-
mente no manejo de determinadas doenças.
Doenças bacterianas – Microrganismos Gram-negativos e saprofíticos, tais
como Aeromonas hydrophila e Pseudomonas, Proteus e Citrobacter spp, podem
causar a assim chamada síndrome da “perna-vermelha” (septicemia bacteriana).
Os anfíbios recém-recebidos e malnutridos que forem mantidos em água de má
qualidade são particularmente suscetíveis. Os sinais clínicos podem incluir letargia,
emaciação, ulceração da pele, nariz e dedos dos pés, além de hemorragias
cutâneas puntiformes características nas pernas e abdome. As hemorragias tam-
bém podem ocorrer na musculatura esquelética, língua e membrana nictante. Em
casos agudos, estes sinais podem estar ausentes. As evidências histológicas de
infecção sistêmica podem incluir focos inflamatórios ou necróticos no fígado, baço
e outros órgãos celômicos. Pode ser útil o tratamento do tanque com nifurpirinol. O
tratamento individual com oxitetraciclina (150mg/kg de peso corporal, duas vezes ao
dia) ou cloranfenicol (50mg/kg de peso corporal, duas vezes ao dia) pode ser eficaz.
Os antibióticos devem ser administrados em pequenos volumes de água destilada
(0,2mL para uma rã de 30g) por meio de sonda gástrica por ≥ 5 dias consecutivos.
O prognóstico é reservado. A prevenção é melhor alcançada pela manutenção de
condições ótimas de manejo e alojamento, evitação de superlotação e uso de água
filtrada circulante ou de água corrente.
A micobacteriose dos anfíbios ocorre principalmente em animais debilitados
e geralmente não é um problema da colônia. As micobactérias de “água fria” estão
largamente presentes nos ambientes aquáticos, e acredita-se que a porta de
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1255
entrada normal seja a pele. Pode ocorrer uma infecção acidental através de injeções
parenterais não esterilizadas. Os animais afetados podem exibir granulomas
tuberculosos típicos no fígado, rins, baço, pulmões e outros órgãos celômicos. O
tratamento específico não é praticável.
Têm ocorrido infecções por Chlamydia psittaci em Xenopus laevis. As rãs afe-
tadas morrem de forma superaguda ou exibem letargia, desequilíbrio, despigmen-
tação cutânea, petéquias e edema. Histologicamente, podem ser identificados cor-
púsculos de inclusão intracitoplasmáticos basofílicos nas células de revestimento
dos sinusóides hepáticos e esplênicos. A antibioticoterapia, da mesma forma como
foi descrita para outras doenças bacterianas de anfíbios, pode ser eficaz.
Doenças parasíticas e micóticas – Os helmintos parasitas, protozoários e os
ectoparasitas são comuns em anfíbios capturados na natureza, porém as cargas
parasíticas pesadas são nocivas. Acredita-se que a administração de tiabendazol
aos anfíbios via sonda gástrica e a prevenção da reinfestação através da desinfec-
ção ou substituição do substrato sejam eficazes. As reações inflamatórias ao
parasitismo são quase sempre imperceptíveis. Os animais criados em laboratório
possuem uma incidência de helmintos extraordinariamente baixa em relação
àqueles coletados no campo. A carga parasítica dos anfíbios coletados na natureza
pode ser marcadamente reduzida pela manutenção de boas condições de manejo
e nutrição no laboratório.
A Fonsecaea sp e a Cladosporium sp estão entre os gêneros de fungos septados,
pigmentados de marrom, que causam a cromomicose. Os fungos são patógenos
oportunistas comuns. As lesões macro e microscópicas são similares àquelas da
micobacteriose, mas são diferenciadas pela presença de formas fúngicas pigmen-
tadas. A higiene adequada dos tanques de contenção, a boa nutrição e a manuten-
ção da homeostasia ambiental contribuem na prevenção de infecção.
Doenças virais – Os adenocarcinomas renais (tumor de Lucké) são relativa-
mente comuns em Rana pipiens capturadas na natureza, no centro-norte e nordeste
dos EUA. Poucas rãs portadoras de tumores são encontradas no verão, já que a
replicação viral depende da temperatura. As partículas virais e os corpúsculos de
inclusão são observados quando as rãs estão em hibernação, em 5 a 10 oC. São
comuns as metástases do tumor no fígado, pulmões e outros órgãos; tanto os
tumores primários como os metastáticos podem-se tornar muito grandes. Não existe
tratamento. Essa neoplasia é um modelo de câncer induzido por herpesvírus.
Doenças nutricionais – A manutenção laboratorial a longo prazo da maioria dos
anfíbios requer o uso de alimentos vivos. O raquitismo é um exemplo da deficiência
nutricional que pode ocorrer nas rãs (Rana spp). Os anfíbios devem ser alimentados
com alimento vivo, como grilos, tatuzinhos, tenébrios ou moscas, como parte de uma
dieta balanceada que inclua ração comercial de cão ou macaco. Uma forma de
suplementar uma dieta natural consiste no revestimento dos insetos com prepara-
ções multivitamínicas pulverizadas, que incluam vitamina D e cálcio.
CRIAÇÃO
A regra geral para a manutenção de mamíferos marinhos no cativeiro é a
reprodução de seu ambiente natural da forma mais próxima possível. A maioria dos
cetáceos vive em hábitats marinhos, embora algumas espécies migrem para água
doce, e algumas estejam adaptadas a hábitats fluviais. As focas de Baikal se
adaptaram completamente à água doce. Os cetáceos marinhos devem ser mantidos
em água com salinidade de 25 a 35g/L. Preferivelmente, essa água “salgada” deve
consistir em sais marinhos balanceados, embora animais cativos tenham sobrevi-
vido por longos períodos, aparentemente com saúde, em soluções simples de
cloreto de sódio. O pH da água do meio do oceano é 8 a 8,3; a água para os cetáceos
marinhos cativos deve ser mantida tão próxima desse valor quanto possível. Os
cetáceos de água doce também requerem água semelhante à do seu hábitat. Nos
EUA, o “Ato de Proteção dos Mamíferos Marinhos” especifica que a contagem de
bactérias coliformes na água dos mamíferos marinhos cativos tem de ser ≤ 1.000
NMP (número mais provável por 100mL).
A variação da tolerância de temperatura de cada espécie de cetáceo pode ser
relativamente grande, mas a variação da temperatura ideal é menor. As exigências
de temperatura devem ser avaliadas cuidadosamente para qualquer cetáceo em
cativeiro. Os animais mantidos nos extremos de sua variação de tolerância de
temperatura são mais suscetíveis a doenças ambientais e infecciosas. Combina-
ções inapropriadas de animais em exposição podem resultar em situações nas
quais uma ou todas as espécies estejam mantidas em temperaturas que ponham em
risco seu bem-estar, mas não a sua sobrevivência imediata.
A boa qualidade do ar, sobretudo em instalações fechadas (10 a 20 mudanças
de ar/h), é tão importante quanto a boa qualidade da água. Requisições de foto-
período, intensidade e espectro da luz, tolerâncias de som e exigências de dis-
tâncias de vôo não estão bem-estabelecidos para qualquer cetáceo. Variam
indubitavelmente entre as espécies com hábitats largamente diversos e entre
indivíduos. Os extremos em qualquer um desses fatores devem ser considerados
nocivos na ausência de dados específicos para a espécie em questão.
A maioria dos pinípedes vive em hábitats marinhos. Suas exigências ambientais
são semelhantes às dos cetáceos, mas os pinípedes podem-se “arrastar” em terra
seca. Embora os pinípedes cativos possam ser mantidos em água doce desde que
se forneça sal adicional em sua dieta, preferem-se tanques de água salgada que
preencham as especificações listadas anteriormente para os cetáceos. A maioria
dos pinípedes obtém suas necessidades metabólicas de água a partir do alimento
e não exige acesso a água doce se receber peixes com alto teor gorduroso.
Entretanto, é comum a prática de se permitir o acesso de pinípedes à água doce.
A maioria dos pinípedes é muito mais tolerante a temperaturas frias que ao calor
excessivo. As considerações acerca dos cetáceos são igualmente válidas para os
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1257
CONTENÇÃO
Os mamíferos marinhos têm de ser contidos para exames detalhados. Os
cetáceos e pinípedes treinados podem aprender comportamentos que facilitem o
exame e a coleta de amostras diagnósticas. Para esses animais, a presença de
tratadores familiares é importante.
No caso de procedimentos complexos ou de animais não treinados, a forma
mais segura para se conter um cetáceo corresponde à sua remoção da água. Os
alojamentos devem permitir a drenagem de água, de forma que os cetáceos pos-
sam ser capturados sem o uso de redes. À medida que o animal começa a perder
a flutuabilidade com a drenagem da água, ele deve ser colocado sobre grossas
almofadas de espuma, para minimizar o debatimento e as lesões. As redes são uma
alternativa para cercar ou capturar pequenos cetáceos mantidos em cercados
marinhos ou encontrados na natureza; entretanto, exige-se pessoal experiente para
minimizar os riscos de afogamento ou ferimento do animal ou dos tratadores. Os
cetáceos enredados são colocados em espuma ou macas especialmente projetadas,
que possam ser suspensas acima do nível do oceano para suportar e conter o
animal.
A contenção de cetáceos em espuma depende do procedimento a ser realizado
e do animal. Os pequenos cetáceos (golfinhos) podem quase sempre ser contidos
através do peso de 3 ou 4 tratadores – uma pessoa controla o pedúnculo da na-
dadeira da cauda e as outras aplicam peso sobre o corpo do animal. As nadadeiras
peitorais devem ser colocadas junto ao animal em uma posição fisiológica que evite
dano permanente. Nos cetáceos maiores (baleias), a poderosa nadadeira caudal
pode precisar ser segura com uma alça sobre o corpo da cauda.
A captura de pinípedes é geralmente mais fácil em chão seco; as espécies
menores podem ser capturadas na água com puçás, mas os animais maiores não
devem ser enredados na água. Eles têm de ser induzidos a sair da água ou retirados
da mesma, ou ainda, a água deve ser drenada de seu tanque. Em terra, os puçás
podem ser usados nos animais maiores, mas redes de carga, anteparos de madeira
e “cambões” também podem ser úteis. Uma vez capturadas, as focas menores
podem ser contidas para alguns procedimentos por um tratador experiente, sen-
tando no dorso da foca e segurando sua cabeça. Os pinípedes maiores ou os
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1258
ANESTESIA
Os tranqüilizantes, sedativos e anestésicos devem ser usados apenas por
pessoal experiente. As adaptações fisiológicas ao mergulho e aos ambientes
marinhos tornam difícil a anestesia geral de cetáceos e pinípedes. As drogas
anestésicas comumente utilizadas nos outros animais quase sempre apresentam
margens estreitas de segurança ou causam reações inesperadas em mamíferos
marinhos. Exigem-se máquinas anestésicas e respiradores especializados para
cetáceos. Os sirênios raramente exigem anestesia geral ou tranqüilização para
tratamento. As lontras-marinhas podem ser sedadas com diazepam (0,2mg/kg de
peso corporal) ou tiletamina-zolazepam (1mg/kg). Anestesia cirúrgica pode ser
obtida com altas doses de tiletamina-zolazepam (2mg/kg) ou com halotano e óxido
nitroso. Os ursos polares são rotineiramente imobilizados com etorfina, tiletamina-
zolazepam e outras drogas IM. A dose necessária é altamente dependente do
animal e do ambiente.
DOENÇAS BACTERIANAS
Actinomicetos – A nocardiose ( Nocardia spp) é comumente descrita em mamí-
feros marinhos debilitados. Tem sido diagnosticada no baleote, na toninha, na orca,
na falsa-orca, no golfinho-fiandeiro e na foca-leopardo. Também têm-se diagnostica-
do infecções devidas a Actinomyces spp nos golfinhos-nariz-de-garrafa. Não se tem
descrito tratamento de sucesso, mas o tratamento de escolha poderia ser a terapia com
sulfonamidas, exceto nas orcas, nas quais elas são contra-indicadas.
Miosite clostridiana – Tem-se descrito uma miosite severa devida a infecções
por Clostridium spp em orcas, baleotes, golfinhos-nariz-de-garrafa, leões-marinhos
da Califórnia e manatis. Provavelmente, todos os mamíferos marinhos são susce-
tíveis. A doença é caracterizada por inchaço agudo, necrose muscular e acúmulo de
gás nos tecidos afetados, acompanhados por uma leucocitose grave. Se não trata-
da, pode ser fatal. O diagnóstico se baseia na detecção de bacilos Gram-positivos
nos aspirados das lesões e se confirma por cultura anaeróbia e identificação do
microrganismo. O tratamento inclui antibióticos locais e sistêmicos, drenagem
cirúrgica das áreas abscedadas e lavagem com água oxigenada. Bacterinas
clostridianas inativadas, comercialmente disponíveis, são utilizadas rotineiramente
em algumas instalações, embora sua eficácia em mamíferos marinhos não tenha
sido estudada.
Pneumonia – Acredita-se que a pneumonia seja a causa principal de morte em
mamíferos marinhos cativos. Não é comum em ursos polares. A maioria dos casos
de pneumonia em mamíferos marinhos possui envolvimento bacteriano significan-
te, e a maioria dos microrganismos cultivados a partir das espécies terrestres foi
identificada em mamíferos marinhos. A doença pode ser considerada como resul-
tado de manejo precário. Os mamíferos marinhos necessitam de boa qualidade de
ar, incluindo altas taxas de troca de ar na superfície da água em instalações
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1259
DOENÇAS MICÓTICAS
Os mamíferos marinhos cativos parecem particularmente propensos a infecções
fúngicas. Não há evidência definitiva de transmissão horizontal da maioria dos
fungos; eles parecem ser secundários a estresse, comprometimento ambiental ou
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1261
DOENÇAS PARASÍTICAS
Os mamíferos marinhos são suscetíveis a todos os grupos principais de para-
sitas, inclusive vários nematóideos, trematódeos, cestóideos, ácaros, piolhos e
acantocéfalos. É limitada a experiência clínica com muitos deles, enquanto outros
são comumente vistos em espécimes recentemente capturados.
Acaríase – Os ácaros nasais e pulmonares são encontrados em focídeos e
otarídeos. Os ácaros pulmonares causam tosses ruidosas. Os ácaros nasais
causam descargas nasais mas aparentemente pouco desconforto. O diagnóstico
é feito por identificação do ácaro nas secreções nasais ou esputo. Os ciclos de
vida desses ácaros são desconhecidos. As infecções têm sido liquidadas rapida-
mente com 2 injeções de ivermectina (200µg/kg) com intervalo de 2 semanas. O
tratamento dos animais infectados elimina o problema em recintos de cativeiro
sem tratamento ambiental. Os ácaros têm sido associados a grandes lesões
ásperas na região da laringe dos cetáceos, mas o seu significado ou tratamento
totais são desconhecidos.
A sarna demodética tem sido diagnosticada nos leões-marinhos da Califórnia.
Ocorrem lesões alopécicas e não pruriginosas com hiperceratose, escamação e
escoriação nas nadadeiras e outras superfícies do corpo que tenham contato com
o substrato. O diagnóstico é feito por raspados profundos de pele e identificação do
ácaro. Nos casos crônicos, a infecção bacteriana secundária resulta em piodermia.
O tratamento é o mesmo que em cachorros. Os fatores predisponentes nos
pinípedes são desconhecidos. A doença não é facilmente transmitida entre animais
em contato.
São comuns pesadas infestações de piolhos sugadores em pinípedes selva-
gens e podem causar anemia severa. Os piolhos podem ser vistos a olho nu e são
facilmente transmitidos. São altamente sensíveis a inseticidas com hidrocarboneto
clorado. A rotenona em pó também é eficiente. O animal afetado tem de ser
removido da água, secado antes de se aplicar o pó, e mantido fora da água ≥ 12h.
O tratamento deve ser repetido em 10 a 12 dias. Os animais em cativeiro podem ficar
livres dos parasitas, desde que se evite que novas fontes de infestação sejam in-
troduzidas.
Vermes pulmonares – Os vermes pulmonares são comuns em todos os
pinípedes. Os leões-marinhos são parasitados por Parafilaroides decorus, enquan-
to as focas verdadeiras são geralmente parasitadas por Otostrongylus circumlitus.
O último parasita também tem sido encontrado no coração de alguns focídeos;
entretanto, ele não produz microfilaremia. Existem pelo menos 4 espécies de
vermes pulmonares em vários hospedeiros cetáceos.
A infecção por vermes pulmonares pode ser diagnosticada por exame de fezes
ou de muco bronquial. Anorexia, tosse e, algumas vezes, muco manchado de
sangue são os primeiros sinais de parasitismo pulmonar. O tratamento da infecção
por P. decorus consiste na administração intratraqueal de agentes mucolíticos, de
antibióticos para tratar qualquer pneumonia bacteriana intercorrente, e de fosfato de
levamisol (15mg/kg) diariamente por 5 dias. O tratamento de O. circumlitus tem
consistido na administração intratraqueal de fosfato de levamisol (5mg/kg) diaria-
mente por 5 dias. É provável que os vermes pulmonares dos cetáceos também
sejam suscetíveis ao levamisol e à ivermectina.
As infecções por vermes pulmonares quase sempre permanecem assintomáti-
cas por longos períodos; quando um animal fica debilitado por outras razões, podem
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1263
marinhos causem doença clínica no homem, mas a exposição forte pode resultar na
neutralização de anticorpos, e o isolamento recente de calicivírus em um primata
clinicamente doente indica que esses vírus devem ser manipulados com cuidado.
Herpesvírus – Os herpesvírus têm sido isolados em focas comuns (Phoca
vitulina) recém-nascidas, 1 leão-marinho da Califórnia (Zalophus californianus) e
1 foca cinzenta (Halichoerus grypus ). Têm-se demonstrado partículas semelhantes
a herpesvírus em lesões de pele de belugas (Delphinapterus leucas ). Lesões
semelhantes a herpesvírus ocorrem em uma grande variedade de outros pinípedes
e cetáceos.
As focas comuns apresentam descargas nasais, inflamação da mucosa oral,
vômitos, diarréia e febre seguidos de tosse, pneumonia, anorexia e letargia que
podem resultar em morte dentro de 1 a 6 dias. A morbidade pode atingir 100% em
focas estressadas em condições de lotação; a mortalidade é de , 50%. O período
de incubação parece ser de 10 a 14 dias.
No leão-marinho da Califórnia e na foca cinzenta, o sinal primário da infecção se
constitui em áreas de alopecia circunscritas e recorrentes de , 0,5cm de diâmetro.
Pode ocorrer doença sistêmica, incluindo pneumonia. As lesões herpéticas nas
belugas são geralmente circulares, com até 2cm de diâmetro, e podem parecer
levemente achatadas com uma aparência de escudo ou ser elevadas e proliferati-
vas. Os centros de algumas lesões são necróticos ou podem conter crescimentos
verrucosos. As infecções sistêmicas não foram documentadas nas baleias.
Os achados de necropsia incluem pneumonia intersticial, hepatomegalia com
necrose de coagulação maciça, e pequenas erosões da mucosa oral e pele. As
inclusões intranucleares podem ser vistas em biópsias de lesões de pele iniciais.
Nas focas, a pneumonia intersticial causada pelo herpesvírus tem de ser distinguida
da pneumonia bronquial causada pelo vírus da influenza. Outros microrganismos
infecciosos, por exemplo, bactérias e parasitas, podem complicar a pneumonia
por herpesvírus. A hepatite por herpesvírus tem de ser diferenciada da hepatite por
adenovírus, que apresenta corpúsculos de inclusão intranucleares.
Na infecção sistêmica, a terapia é de suporte. Em uma epidemia registrada, o
aciclovir oral não eliminou a infecção, mas aparentou ter diminuído significativa-
mente os sinais clínicos em infecções primárias. A vacinação com 1mL de vacina
contra poliovírus trivalente para controlar recrudescência de lesões suspeitadas
por herpesvírus tem sido usada com algum sucesso; embora reduza a gravidade de
recrudescência em focas, há um potencial risco de saúde pública, já que o poliovírus
vivo pode ser transmitido após a vacinação. O estresse e a imunossupressão estão
associados com a recrusdescência de infecções latentes. Não há evidências de que
os herpesvírus dos pinípedes ou cetáceos sejam zoonóticos.
Vírus da influenza – Dois vírus de influenza A diferentes foram isolados de focas
comuns ( Phoca vitulina) encalhadas e 2 outros subtipos foram isolados de um
baleote (Globicephala melaena) encalhado. A infecção é provavelmente comum. Os
sinais clínicos nas focas são dramáticos; mesmo animais bem-nutridos tornam-se
fracos, incoordenados e dispnéicos, com descarga nasal sanguinolenta ou esbran-
quiçada ocasional. São comuns os pescoços inchados devidos ao aprisionamento
fascial do ar que escapou pela entrada do tórax. O único baleote afetado apresentou
manipulação difícil, estava extremamente emaciado e descamava a pele. O período
de incubação durante epidemia é ≤ 3 dias. Provavelmente, muitos fatores contri-
buem para a natureza explosiva da epidemia em focas comuns. As altas densidades
populacionais e a temperatura alta inoportuna contribuem para a alta mortalidade.
Nas focas, a pneumonia se caracterizou por bronquite e bronquiolite necrosantes
e alveolite hemorrágica. No baleote, os pulmões estavam hemorrágicos e um nódulo
hilar enormemente aumentado. Para o diagnóstico diferencial, ver HERPESVÍRUS,
anteriormente.
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1266
Vírus variados – Uma foca anelada da Noruega foi ferida e apareceu confusa;
sua condição geral se deteriorou nos 5 dias seguintes, e ela se tornou agressiva.
Confirmou-se raiva por exame de imunofluorescência do cérebro. Na época, havia
uma epidemia de raiva nas raposas da área.
O único retrovírus identificado até hoje em um mamífero marinho foi um
espumavírus isolado de lesões de pele recorrentes de um leão-marinho da Califórnia
que morreu subseqüentemente de pneumonia por Pasteurella, complicada por
herpesvírus.
Um enterovírus de patogenicidade desconhecida foi isolado a partir de um “swab”
retal de uma baleia cinzenta da Califórnia. Foram encontrados anticorpos, não
associados com doença, contra o vírus da influenza humana (após desafio) e vírus
da poliomielite, em Tursiops truncatus.
Uma enterite grave e vômitos em uma beluga cativa foram sugestivos de enterite
por parvovírus. A morte foi rápida; entretanto, nenhum vírus foi isolado.
DOENÇAS AMBIENTAIS
Edema corneal – A opacidade corneal ocorre freqüentemente nos pinípedes
cativos mantidos tanto em água doce como salgada; também é observada em
cetáceos cativos, mas é rara em animais selvagens. Pode ser devida a vários pro-
blemas ambientais. Os casos transitórios podem ser causados pela simples mu-
dança de um animal da água doce para a salgada ou vice-versa. A falta de sombra
e a iluminação brilhante excessiva têm sido implicadas. Condições não higiênicas
da água com grandes cargas bacterianas e superutilização de desinfetantes oxi-
dativos também têm sido associadas à doença. As deficiências nutricionais têm sido
sugeridas como causa, mas a resposta à suplementação de vitamina C ou A não tem
sido dramática. A afecção geralmente é autolimitante se a agressão latente à córnea
for removida.
Úlceras corneais – Ocorrem freqüentemente em pinípedes e cetáceos cativos.
Podem ser seqüelas de casos não resolvidos ou não tratados de edema corneal, ou
iniciadas por trauma direto. O diagnóstico é feito por observação dos defeitos
epiteliais em córneas coradas com fluoresceína. As lesões pequenas podem ser
tratadas topicamente em animais treinados. Em animais não treinados, as injeções
subconjuntivais de antibióticos e esteróides são necessárias. As lesões extensas
se beneficiam pela proteção por sutura das pálpebras. As úlceras ou lacerações
profundas, em risco de erodir a membrana de Descemet, devem ser estabilizadas
com um esparadrapo fino de metilacrilato. Como no edema de córnea, a cura de
sucesso e a prevenção de recidiva dependem da remoção da causa de base.
Corpos estranhos – Muitos mamíferos marinhos cativos desenvolvem o vício de
engolir objetos caídos em seus tanques. Nos cetáceos, a abertura do segundo
compartimento do estômago é pequena, e os objetos estranhos permanecem no
primeiro compartimento. Nos pinípedes, o piloro pequeno evita a passagem da
maioria dos corpos estranhos. Freqüentemente, não há evidência de sinais clínicos.
De vez em quando, podem-se observar anorexia, regurgitação ou letargia. Entretan-
to, os corpos estranhos gástricos devem ser considerados um risco para o animal
e todos os esforços devem ser feitos para evitar a sua ingestão ou para remover os
que já foram ingeridos. Objetos afiados podem causar perfuração gástrica. Outros
objetos, inclusive moedas, podem iniciar ulceração, que culminará em perfuração.
O diagnóstico é quase sempre feito pela observação do animal engolindo um objeto.
Os animais menores podem ser radiografados, e os pequenos cetáceos podem ser
palpados via esôfago para confirmar a presença de corpos estranhos. Às vezes, os
animais regurgitam corpos estranhos; no entanto, geralmente indica-se remoção
assistida. A remoção de objetos é geralmente melhor realizada através de gas-
Manejo, Criação e Doenças dos Mamíferos Marinhos 1268
NEOPLASIAS
Os tumores nos mamíferos marinhos não são freqüentes e são de pouca
conseqüência, com exceção do linfoma maligno nas focas comuns, no qual pode
haver transmissão horizontal em uma população fechada. Uma grande variedade
de tumores tem sido descrita nos mamíferos marinhos.
ninho não deve ser pintada ou tratada com preservativos. Feno do pântano sem
barba de espiga e macio, palha cortada, lascas e maravalhas de madeira comum ou
de lei constituem material para confecção de ninho aceitável. As caixas-ninho
devem ser limpas e o material do ninho reposto quando necessário, especialmente
antes de a fêmea parir, e durante o tempo frio.
Usam-se galpões por todo o ano. Eles devem permitir a entrada de luz natural
suficiente para suprir as horas normais de luz diurna, e deve haver bastante
circulação de ar nos meses mais quentes.
A alimentação do visom pode ser fornecida, tanto como um mingau úmido
colocado no topo da tela de arame, como uma ração peletizada, seca, preparada
comercialmente e colocada em comedouros. Durante os períodos de desmame e
pós-desmame, a alimentação é fornecida em bandejas de comida colocadas no
chão do cercado para filhotes pequenos que não podem alcançar o topo. Água
fresca deve sempre estar disponível. Recipientes de bebida fixados no lado de fora
do cercado, com uma canelata que entre no mesmo, são comumente usados. Um
sistema automático de fornecimento de água, com bicos de mamadeira ou bóias
flutuantes, é usado em galpões, desde que a temperatura permita.
Instalações para estocagem fria são necessárias para congelar e estocar a parte
de carne da ração. Descongela-se um fornecimento diário de derivados de peixe e
carne, adiciona-se um cereal comercial e mistura-se a ração combinada com água
até se alcançar uma consistência que permita sua permanência na tela do cercado
sem cair. Rações previamente misturadas podem ser entregues diariamente,
prontas para alimentação, ou podem ficar em blocos congelados que sejam
descongelados quando necessário. Rações peletizadas secas são usadas em
algumas fazendas durante parte ou por todo o ano (ver também NUTRIÇÃO: VISONS,
pág. 1506).
O sacrifício com retirada da pele geralmente é feito em novembro ou dezembro.
O monóxido de carbono consiste na maneira mais humanitária de se matar o visom.
Os fazendeiros geralmente mantêm um macho para cada 5 fêmeas reproduto-
ras. Os visons são reprodutores sazonais com atividade sexual controlada por
períodos de aumento de luz do dia. Luzes artificiais nos galpões têm de ser usadas
com cuidado, já que podem inadvertidamente afetar o fotoperíodo e interferir no ciclo
reprodutivo normal. No Hemisfério Norte, a estação de monta começa no fim de
fevereiro ao início de março, e dura , 4 semanas. O acasalamento deve ocorrer
dentro de 1h depois de a fêmea ter sido colocada no cercado do macho. Se ocorrer
uma briga, eles devem ser separados. A ovulação é induzida pelo coito. As fêmeas
acasaladas antes do meio de março são geralmente acasaladas de novo após 7 a
8 dias, quase sempre com um acasalamento adicional no dia seguinte; logo, as
fêmeas podem ser acasaladas 2 a 3 vezes. Sabe-se que óvulos de 2 acasalamentos
podem formar a mesma ninhada. A implantação dos óvulos fertilizados é retardada,
tanto que o período aparente de gestação varia entre 40 e 75 dias.
Os visons têm uma ninhada por ano de 1 a 12 filhotes (média de 4). A maioria
nasce durante a última semana de abril e as primeiras 2 semanas de maio. Os
filhotes são cegos, pelados e pesam , 10g ao nascer, porém crescem rapidamente
durante todo o verão*, alcançando um peso de , 800g (fêmeas) ou 1.600g (machos)
em outubro. Os filhotes são desmamados com , 6 a 8 semanas de idade, podem
ser separados logo depois disso e domiciliados em cercados individuais. Os visons
adultos são extremamente ágeis, fortes e manhosos. A manipulação requer o uso
de luvas de couro especiais ou gaiolas de captura de arame.
DOENÇAS BACTERIANAS
Botulismo – O botulismo (ver pág. 396) ocasionalmente causa pesadas perdas
em visons não vacinados, os quais consomem comida que contém toxina do Tipo
C. Geralmente, muitos visons são encontrados mortos dentro de 24h de exposição
à toxina, enquanto outros apresentam graus variados de paralisia e dispnéia. Os
achados post mortem não são específicos e estão relacionados à morte por paralisia
respiratória. O diagnóstico é confirmado por inoculação de soro ou tecido filtrado do
visom afetado em camundongos. O imunotipo da toxina de botulismo é Tipo C em
quase todos os surtos.
O alimento tóxico deve ser removido, e as rações ou ingredientes estocados
devem ser examinados à procura da toxina. O visom recuperado não está imune a
um desafio posterior. Recomenda-se a vacinação anual de filhotes e reprodutores
com toxóide de botulismo (Tipo C) para prevenir surtos.
Pneumonia hemorrágica – A Pseudomonas aeruginosa pode resultar em
sérias perdas. Visons de todas as idades são afetados, particularmente durante o
estresse da muda de outono. São geralmente encontrados mortos sem nenhum
sintoma prodrômico. Um exsudato nasal sanguinolento pode ser observado no
momento da morte. As lesões macroscópicas incluem uma pneumonia hemorrágica
severa com inchaço e consolidação de 1 ou mais lobos pulmonares. O tratamento
envolve vacinação imediata de todo o plantel ou uma “zona-tampão” de animais ao
redor do foco de infecção com uma bacterina de Pseudomonas e administração de
sulfatiazol sódico (410mg/kg de alimento úmido misturado) e uma quantidade
equivalente de bicarbonato de sódio por 1 semana como tratamento do plantel.
Deve-se ter cuidado com a dosagem, já que as sulfonamidas são potencialmente
tóxicas para o visom. Este deve ter água em abundância. As bacterinas de
Pseudomonas são disponíveis para vacinação em fazendas.
Tuberculose – Os visons, particularmente os tipos aleutianos, são suscetíveis
à infecção por bacilos das tuberculoses humana, bovina e aviária. A infecção
geralmente é de origem alimentar e a doença tem-se tornado endêmica em algumas
fazendas. Os sinais incluem perda de peso e, em alguns casos, distensão abdomi-
nal. Os visons afetados acham-se severamente emaciados e apresentam baço e
linfonodos aumentados. Pode haver envolvimento miliar dos pulmões, fígado, e
outros órgãos. O diagnóstico é confirmado por identificação de microrganismos
intracelulares ácido-resistentes em esfregaços de tecidos afetados. Não há trata-
mento e o controle consiste no descarte dos visons visivelmente afetados e
alimentação com produtos de carne de fábricas inspecionadas. Os testes de
tuberculina são geralmente ineficientes para detectar visons infectados.
Infecções urinárias e urolitíase – As infecções do trato urinário, comumente
chamadas de “bexiga arroxeada”, causam sérias perdas em fêmeas no fim da
primavera (durante prenhez e lactação) e em machos no fim do verão e outono
(durante os períodos de desenvolvimento rápido e crescimento de pêlos). Vários
fatores predisponentes têm sido sugeridos: contaminação de comida, gaiolas ou
caixas-ninho por bactérias patogênicas; menor consumo de água; ou maior consu-
mo mineral.
Os visons podem morrer sem apresentar sinais ou podem ter dificuldade em
urinar, urinar apenas um filete e, ocasionalmente, apresentar hematúria. Os acha-
dos post mortem macroscópicos incluem cistite hemorrágica aguda, pielonefrite, ou
ambas, geralmente associadas a cálculos (fosfato de amônio-magnésio) na bexiga
ou rins. Uma grande variedade de microrganismos, incluindo estafilococos, coliformes
e Proteus sp, tem sido isolada.
Em surtos graves, devem-se realizar culturas e antibiogramas, e adicionar a
medicação ao alimento. A boa higiene para reduzir a contaminação ambiental, o
Manejo, Criação e Doenças dos Visons 1274
DOENÇAS NUTRICIONAIS
A esteatite (doença da gordura amarela, ver pág. 664) ocorre em visons jovens,
de crescimento rápido, como resultado de um excesso de ácidos graxos insaturados
rançosos ou de deficiência de vitamina E na dieta. Os visons afetados podem ser
encontrados mortos, ou podem exibir ligeiros distúrbios locomotores seguidos por
morte. Os achados de necropsia incluem gordura subcutânea ou interna, edema-
tosa e amarelada, que contém um pigmento ácido-resistente. O controle consiste na
remoção da fonte de gorduras rançosas e estocagem apropriada de alimento. Pode-
se administrar vitamina E estabilizada no alimento (15mg/visom) por 2 semanas, e
devem-se injetar parenteralmente 10 a 20mg de vitamina E por vários dias nos
Manejo, Criação e Doenças dos Visons 1277
INTOXICAÇÃO
O envenenamento por chumbo pode ocorrer no visom que tenha ingerido tintas
que contenham chumbo, a partir do arame da tela ou de outro equipamento. O visom
afetado perde peso gradualmente e morre dentro de 1 a 2 meses com sinais clínicos
uniformes, como gastroenterite ou distúrbios do SNC. O indivíduo pode ser tratado
com cálcio EDTA como um agente quelante. Todas as fontes de chumbo devem ser
removidas.
Os inseticidas (menos piretro, butóxido de piperonil e rotenona) podem ser
altamente tóxicos ao visom. Mesmo os inseticidas entre parênteses não devem
ser utilizados em visons com menos de 8 semanas de idade, ou onde estes visons
Manejo, Criação e Doenças dos Visons 1278
possam ter contato com eles (por exemplo, caixas-ninho). Os outros inseticidas
devem ser evitados sempre que possível.
Os conservantes de madeira (fenóis clorados, cresóis) causam mortalidade de
filhotes nas primeiras 3 semanas de vida e, ocasionalmente, de animais mais velhos.
Não devem ser usados onde o visom possa mastigar a madeira tratada (cercados,
caixas-ninho ou cama dos ninhos). As maravalhas, utilizadas como cama de caixas-
ninho, não devem conter conservantes de madeira.
Os produtos que contêm dietilestilbestrol causam insuficiência reprodutiva
e alta incidência de infecções no trato urinário do visom, e não devem ser incluídos
na ração. Similarmente, as glândulas tireóide e paratireóide, incluídas em sobras
de carne servidas ao visom, podem resultar em insuficiência reprodutiva, se
presentes em níveis altos.
Os hidrocarbonetos organoclorados e bifenilpoliclorados (BPC) contidos na
ração têm causado insuficiência reprodutiva nos visons. O visom parece ser in-
tensamente sensível aos bifenilpolibromados (BPB); 1ppm na ração tem provo-
cado diminuição do tamanho da ninhada e da viabilidade dos filhotes.
DMNA – No passado, a adição de nitrato de sódio, como conservante para
aumentar o tempo útil de refeições de arenque, resultou na formação de dimetil-
nitrosamina (DMNA), a qual é hepatotóxica para o visom. Provoca degeneração
hepática, ascite e extensa hemorragia interna.
A sulfaquinoxalina perturba os mecanismos normais de coagulação sangüí-
nea dos visons e causa extensas hemorragias internas, que resultam em sérias
perdas. A estreptomicina é tóxica para os visons.
DOENÇAS DIVERSAS
O arrancamento de pêlo e a mordedura de cauda são vícios comuns do visom,
e podem estar relacionados a padrões de comportamento anormais do cativeiro. O
arrancamento de pêlos diminui o valor da pele e a mordedura de cauda freqüente-
mente resulta em hemorragia fatal. Não existe tratamento eficiente: todos os visons
que demonstrarem estes vícios devem ser esfolados.
A incontinência urinária (doença da barriga molhada) é uma afecção não fatal
que geralmente afeta os machos obesos no final do verão e outono. É caracterizada
pela micção de um filete de urina e hiperemia da pele ao redor do orifício urinário.
Como as áreas afetadas do pelame têm de ser descartadas, a afecção assume
importância econômica. A causa é desconhecida, mas pelo menos 3 fatores,
incluindo linhagem genética, altos níveis de gordura dietética e obesidade, parecem
ter a maior influência na incidência. Os animais afetados devem receber um amplo
suprimento de água.
A inanição e o excesso de frio causam morte em visons alimentados com
gordura inadequada ou servidos de refeições muito pequenas durante o inverno e
começo da primavera. Os visons afetados se tornam magros e podem correr até que
tenham um colapso e morram, ou podem ser encontrados mortos em suas gaiolas.
Tais mortes geralmente ocorrem após uma diminuição repentina na temperatura
ambiente, especialmente no início da primavera, quando os visons estão chegando
à época de procriação. A necropsia revela emaciação e ausência de gordura
corporal, em alguns casos, acompanhadas por lipidose hepática e ulceração
gástrica. Esta doença de manejo tem de ser diferenciada de doenças infecciosas.
A diarréia cinzenta nos visons lembra clinicamente a necrose pancreática
crônica nos cães, e é caracterizada por um apetite voraz e pela eliminação de
grandes quantidades de fezes fétidas e cinzentas. O visom afetado parece morrer
de inanição. Nenhuma anormalidade pancreática, vírus, bactéria ou parasita tem
sido demonstrado como causa. O tratamento é de valor questionável.
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1279
torna todos os cantos acessíveis. As gaiolas devem ser construídas com arame
soldado de 2,5 × 5cm para o teto e lados e com arame soldado de 1,25 × 2,5cm para
os pisos. As divisórias das gaiolas podem ser feitas do mesmo material que o teto
e os lados ou com um tipo de arame chamado “salva-crias”, no qual a dimensão da
tela (2,5 × 5cm) é progressivamente reduzida para 1,25 × 5cm. Isso evita que os
coelhos neonatos, nascidos sobre o arame, rastejem de uma gaiola para outra.
Durante sua fabricação, o arame pode ser galvanizado antes ou depois da
soldadura; o primeiro tipo é mais caro, porém sua duração é consideravelmente
maior. Deve ser evitado o uso de madeira na construção de gaiolas, pois este
material pode ser mastigado e não pode ser higienizado adequadamente.
A gaiola deve estar equipada com um recipiente para alimentos granulados e um
sistema de bebedouros. Os recipientes para alimento são melhor construídos com
uma chapa de metal com orifícios ou uma tela no fundo para remoção de “pó”
(pequenas partículas de alimento quebrado). Nas coelheiras grandes, são usados
sistemas de bebedouros automáticos, formados por uma série de tubos conectados
com válvulas individuais para beber água em cada gaiola. Os coelhos quase sempre
mastigam a válvula de beber água e finalmente a destroem, a menos que seja feita
de aço inoxidável ou possua uma peça central inoxidável. Preferem-se garrafas com
tubos restritivos de quantidade de água, mas potes de barro e latas também são
usados nas coelheiras pequenas. A contaminação dos potes de barro ou lata
abertos precisa ser monitorada com cuidado; seus efeitos podem ser diminuídos
através da lavagem e desinfecção diária dos recipientes.
As caixas-ninho devem ser construídas de tal forma que possam ser facilmente
colocadas na gaiola e mais tarde removidas para limpeza e desinfecção entre as
camas. A desinfecção da caixa-ninho por duas vezes, uma antes da limpeza e
novamente logo após colocá-la na gaiola, ajuda a reduzir a incidência da doença.
A caixa deve ser grande o suficiente para evitar a lotação, mas pequena o bastante
para manter os filhotes aquecidos. O tamanho padrão da caixa-ninho para coelhos
de tamanho médio é de 40 × 25 × 20cm. As caixas-ninho de madeira parecem
funcionar melhor, mas as de arame soldado com revestimento de papelão descar-
tável estão se tornando populares. O material para a cama do ninho, que consiste
de palha, maravalhas de madeira ou cana-de-açúcar cortadas em tiras, serve bem
tanto para tempo quente como frio.
Lote reprodutor – A seleção de animais reprodutores é vital para uma boa
reprodução. O potencial genético individual do macho e da fêmea contribui para a
produção global da coelheira. Os animais reprodutores de boa qualidade são
obtidos de criadores conhecidos por seu êxito na reprodução. Os tipos de animais
reprodutores que devem ser selecionados dependem do propósito do criador:
carne, lã ou exibição. As melhores raças para carne são as brancas da Nova
Zelândia e da Califórnia. As raças comuns para lã são os coelhos angorá ingleses,
alemães e franceses. Para exibição de coelhos, a “American Rabbit Breeders
Association” reconhece , 40 raças.
Reprodução – As raças de coelhos do tamanho médio chegam à maturidade
sexual aos 4 a 4,5 meses, as raças gigantes aos 6 a 9 meses e as raças pequenas,
como o anão polonês e o holandês, aos 3,5 a 4 meses de idade. A coelha apresenta
ovulação induzida, mas, ao contrário da crença popular, as coelhas possuem um
ciclo de receptividade de acasalamento; são receptivas para o acasalamento em
, 14 de cada 16 dias. O grau de receptividade do acasalamento é indicado pela cor
do orifício vaginal e pela quantidade de umidade presente nos lábios da vagina. O
ciclo de cor vaginal varia de um rosa-esbranquiçado pálido a um roxo-avermelhado.
Uma coelha é mais receptiva quando a vagina estiver roxa e úmida. As coelhas que
não estão receptivas apresentam uma cor vaginal rosa-esbranquiçada com pouca
ou nenhuma umidade. Muitos criadores testam reproduzir a coelha 16 dias após o
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1281
Listeriose
É uma doença septicêmica esporádica, caracterizada por morte e/ou abortos
repentinos. A má criação e o estresse podem ser importantes na origem da
doença. Os sinais clínicos são variáveis e não específicos e incluem anorexia,
depressão e perda de peso. Em contraste com a doença nos gados bovino e ovino,
a listeriose raramente afeta o SNC dos coelhos, porém se espalha para o fígado,
baço e útero grávido por meio do sangue. À necropsia, o fígado apresenta con-
sistentemente focos múltiplos, branco-acinzentados e puntiformes. Já que o diagnós-
tico ante mortem é raramente feito, raras vezes se tenta o tratamento. O agente
causal é a Listeria monocytogenes, que pode infestar muitos animais, incluindo o
homem.
Estafilococose
A infecção por Staphylococcus aureus é comum nos animais, incluindo o homem.
Nos coelhos domésticos e selvagens, se manifesta como uma septicemia fatal em
coelhos jovens (geralmente na caixa-ninho) ou como inflamação supurativa de
coelhos mais velhos envolvendo aproximadamente qualquer órgão ou tecido, quase
sempre a pele ou as glândulas mamárias. O microrganismo é transmitido por con-
tato direto ou por aerossol, porém se trata de um comensal da pele de distribuição
universal. Os coelhos podem ser colonizados mas exibem pouca ou nenhuma
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1285
Mastite
(Mamas azuladas)
É uma doença comum nas coelheiras comerciais e ocasionalmente vista em
criações menores. Afeta coelhas lactentes e pode-se disseminar por toda a
coelheira se não existir boa higiene. A mastite pode-se transformar em septicemia
e matar rapidamente a coelha. Geralmente é causada por estafilococos, mas
também se têm isolado estreptococos e outras bactérias. As glândulas mamárias se
tornam quentes, avermelhadas e inchadas; mais tarde, podem-se apresentar
cianóticas, de onde se deriva seu nome comum. A coelha não vai comer, mas pode
precisar de água. Quase sempre se nota febre ≥ 40,5oC. A afecção pode ser tratada
com penicilina por injeção parenteral. Se o tratamento for instituído no início da
infecção (no primeiro dia em que a fêmea deixa de comer), a coelha pode ser salva
com danos limitados a 1 a 2 glândulas mamárias. No caso de perder > 2 glândulas,
pode não ser econômico manter a coelha. Na medida em que a penicilina geralmen-
te causa diarréia em coelhos em virtude do conseqüente desequilíbrio microbiano
no trato gastrointestinal, as coelhas devem ser tratadas apenas após a ração
peletizada ter sido substituída por feno ou alguma outra dieta rica em fibra. As crias
não devem ser levadas a outra coelha, já que transmitem a infecção à mãe adotiva.
Pode-se tentar a criação manual de filhotes infectados, mas é difícil. A incidência
pode ser reduzida se as caixas-ninho forem higienizadas tanto antes como depois
do uso.
Treponematose
(Proctopatia, Sífilis, Espiroquetose)
É uma doença venérea específica dos coelhos domésticos, caracterizada pelo
aparecimento de áreas desnudas ou cobertas de crostas ao redor dos órgãos
genitais externos, e causada pelo espiroqueta Treponema cuniculi. Ocorre em
ambos os sexos e é transmitida pelo coito e da mãe para a ninhada. Não é
transmissível para outros animais domésticos, nem para o homem. Formam-se
vesículas ou úlceras pequenas que, finalmente, se cobrem com uma crosta grossa.
Em geral, estas lesões se limitam à região genital, mas também podem envolver os
lábios e pálpebras. Os animais infectados não devem ser acasalados. O diagnóstico
depende da detecção das lesões nos órgãos genitais e da observação dos
espiroquetas em microscopia de campo escuro. A queimadura de gaiola (ver
adiante) é um problema de diagnóstico.
É necessária a administração de 3 injeções s.c. de penicilina G benzatina-
penicilina procaína (42.000UI/kg de peso corporal) em intervalos semanais para
eliminar a treponematose de um plantel. Todos os coelhos têm de ser tratados,
mesmo que não haja lesões. Geralmente, as lesões se curam em 10 a 14 dias e os
animais recuperados podem-se acasalar, sem o perigo de transmitir a infecção. Um
dos efeitos colaterais potenciais do tratamento com penicilina é diarréia e a
possibilidade de um surto de enterite, devido à proliferação de bactérias Gram-
negativas no intestino. Os coelhos tratados com penicilina devem ser transferidos
para cama de feno e tratados com antidiarréicos imediatamente, se for necessário.
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1286
Enteropatia
A doença entérica é a principal causa de morte em coelhos jovens. Anteriormen-
te, a maioria das doenças diarréicas incluía-se sob a classificação de complexo
entérico, ou era simplesmente chamada de enterite mucóide. Mais recentemente,
começaram a ser delineadas doenças específicas.
A enterotoxemia é uma doença diarréica explosiva, primariamente de coelhos
de 4 a 8 semanas de vida. Ocasionalmente, afeta os animais adultos e os jovens.
Os sinais incluem letargia, pelame áspero, área perineal coberta de materiais fe-
cais marrom-esverdeados e morte em 48h. Quase sempre, o coelho parece normal
à noite e está morto na manhã seguinte. A necropsia revela lesões típicas de
enterotoxemia, ou seja, distensão intestinal por fluidos e petéquias na superfície
serosa. A Clostridium spiroforme é uma causa reconhecida, que produz uma toxina
iota. Pouco se sabe sobre a transmissão do microrganismo; pressume-se que seja
um comensal normalmente presente. O tipo de dieta parece ser um fator no de-
senvolvimento da doença. Uma incidência menor de enterotoxemia é observada
quando se usa uma dieta mais rica em fibras. Devido à rapidez com que ocorre a
morte, raramente se tenta um tratamento. A lincomicina e antibióticos relacionados
induzem a enterotoxemia relacionada com o Clostridium (por exemplo, C. difficile),
em virtude de seu efeito seletivo sobre as bactérias Gram-positivas normais, e são
contra-indicados nos coelhos. Essas diarréias mimetizam acentuadamente aque-
las que ocorrem naturalmente e são descritas anteriormente como enterotoxemia.
A alimentação com feno ou palha é quase sempre útil. A redução da quantidade de
alimento ajuda na prevenção. A mudança para um novo tipo de alimento também
pode ajudar. O diagnóstico depende da história, sinais e lesões.
A enteropatia mucóide é uma doença diarréica de coelhos de qualquer idade.
Embora a etiologia ainda seja enormemente desconhecida, ela resulta basica-
mente de constipação. A impactação do ceco ou porção terminal do intestino del-
gado, ou de ambos, é um achado comum de necropsia. Isso, conjuntamente com
a observação de muco gelatinoso no cólon, é quase patognomônico. Os sinais
clínicos consistem de fezes gelatinosas ou cobertas de muco, anorexia, letargia,
temperatura subnormal, desidratação, pelame áspero e, quase sempre, abdome
inchado devido ao excesso de água no estômago. A área perineal está quase sem-
pre coberta de muco e fezes. A impactação pode ser palpada através da parede
abdominal nos coelhos jovens. A doença é crônica em natureza, os coelhos podem
viver por ≥ 1 semana. O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos e nos achados de
necropsia. O tratamento não tem muito êxito. Às vezes, é benéfica a reidratação com
eletrólitos. A mudança da fórmula dietética geralmente previne a afecção.
A doença de Tyzzer (ver págs. 182 e 1235), causada pela Bacillus piliformis, tem
sido reconhecida como causa de diarréia severa e morte em coelhos de 6 a 12
semanas. Caracteriza-se por diarréia profusa, anorexia, desidratação, letargia e
morte dentro de 1 a 3 dias. As lesões consistem em enterite necrótica junto a
necrose focal no fígado e coração. A infecção ocorre por ingestão e está associada
à pouca higiene e ao estresse. O diagnóstico é feito histologicamente; corantes
especiais (por exemplo, Giemsa ou prata) mostram a bactéria intracelular caracte-
rística. A cultura não é prática porque a bactéria não cresce em meios artificiais.
Nenhum caso foi descrito no homem, mas a doença afeta outras espécies de
animais.
Salmonelose
Embora não seja comum em coelhos, o número de relatos está aumentando.
Pode ser caracterizada por septicemia e morte rápida, porém é mais freqüentemen-
te assintomática. O agente causal mais comum é a Salmonella typhimurium ou S.
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1287
Tinha
(Dermatofitose)
É uma doença incomum de coelhos domésticos, geralmente associada a más
condições de criação. As lesões geralmente aparecem primeiro na cabeça e po-
dem-se espalhar para qualquer área da pele. As áreas afetadas são circulares,
elevadas, avermelhadas e cobertas de material esbranquiçado, farináceo e escamoso.
A causa mais comum é a Trichophyton mentagrophytes, var. granulare, que também
afeta o homem, cobaias, camundongos e ratos. Como os coelhos com infecções
ativas são infecciosos para o homem e outros animais, eles devem ser isolados e
tratados ou sacrificados. Pode-se obter um grau de controle através da aplicação
de enxofre em pó em todas as caixas-ninho antes da parição, ou pelo uso de agentes
tópicos, como os que contêm ésteres salicílico e benzóico de propilenoglicol,
soluções aquosas de caprilato de sódio, e tinturas que contenham ácidos tâni-
co, benzóico e salicílico. A griseofulvina, na dose individual de 25mg/kg de peso
corporal, diariamente durante 2 semanas, ou misturada com o alimento na propor-
ção de 825mg/kg de alimento, é eficiente, mas não é aprovada para o uso em
coelhos; não deve ser usada em animais destinados ao consumo humano.
Doenças diversas
A tuberculose e a tularemia são infecções incomuns de coelhos, sendo atualmen-
te de grande interesse histórico. As infecções micóticas sistêmicas são raras,
embora já se tenham-se descrito casos isolados.
DOENÇAS PARASÍTICAS
Coccidiose
É uma doença por protozoário comum e mundial dos coelhos. Os animais que se
recuperam freqüentemente se tornam portadores. Existem 2 formas anatômicas: a
hepática, causada pela Eimeria stiedae, e a intestinal, cuja causa pode ser E.
magna, E. irresidua, E. media, E. perforans ou outras Eimeria spp. Tanto a forma
hepática quanto a intestinal são transmitidas pela ingestão de oocistos esporulados,
geralmente em alimentos ou águas contaminados.
Coccidiose hepática – A gravidade da doença depende do número de oocistos
ingeridos. Pode haver infecção sem sinais aparentes ou, em raras ocasiões, a morte
pode-se seguir a um curto curso de doença. Os coelhos jovens são mais suscetíveis.
Os animais afetados podem apresentar anorexia e um pelame áspero. Os coelhos
em crescimento podem falhar ao obter ganhos de peso normais, mas a afecção é
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1288
Nosematose
A Encephalitozoon (Nosema) cuniculi causa uma protozoonose amplamente
disseminada em coelhos e, às vezes, em camundongos, cobaias, ratos e cães.
Geralmente não se observam sinais clínicos. É levemente contagiosa em uma
coelheira e acredita-se que se espalhe na caixa-ninho, de coelhas portadoras para
os filhotes lactentes. À necropsia, as lesões mais significativas são cicatrizes nos
rins. As lesões microscópicas consistem em granulomas focais e pseudocistos no
cérebro e nos rins. Às vezes, observa-se severa nefrite intersticial focal. O diagnós-
tico é feito por identificação das lesões (pseudocistos) e observação dos microrga-
nismos quando corados com corantes especiais. Vários testes sorológicos e
dérmicos são úteis na seleção de coelhos, à procura de anticorpos para o microrga-
nismo. Não se tem tentado o tratamento. A prevenção está ligada à boa higiene, e
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1290
Oxiúros
O oxiúro dos coelhos, Passalurus ambiguus, geralmente não apresenta signi-
ficado clínico, mas quase sempre transtorna os proprietários. O parasita é comum
em muitas coelheiras e se distribui mundialmente. Não é transmissível ao homem.
A transmissão se faz por ingestão de alimento ou água contaminados. O verme
adulto habita o ceco ou cólon anterior. O diagnóstico é feito pela observação dos
vermes adultos durante a necropsia, ou pelo achado de ovos no exame das fezes.
Os tratamentos isolados não são muito eficazes, já que o ciclo de vida é direto e a
reinfecção é comum. O tratamento de coelhos de estimação com citrato de pipe-
razina (3g/L) em água, por períodos alternados de 2 semanas, é eficaz. Experi-
mentalmente, a ivermectina representa promessa no tratamento de oxiúros.
DOENÇAS VIRAIS
Os vírus não são causas importantes de doença clínica em coelhos nos EUA. As
viroses aqui listadas incluem os fibromas infecciosos, papilomatose, varicela dos
coelhos, mixomatose e herpesvirose (vírus III). Recentemente, houve especulação
acerca do possível papel dos vírus nos surtos de enterite nas coelheiras. Sugeriu-se
a rotavirose, mas os relatos são preliminares e inconclusivos.
Os fibromas infecciosos dos coelhos-cauda-de-algodão (Sylvilagus) são com-
postos de tecido conjuntivo e consistem em sua maior parte de fibroblastos e seus
derivados. Estão localizados mais abaixo do que no interior da pele, no que diferem
dos papilomas. Ocorrem naturalmente 2 síndromes principais de tumores fibróticos
infecciosos: as lesões areolares frouxas da mixomatose infecciosa e o fibroma de
Shope. Ambas são virais e restritas aos coelhos.
Mixomatose infecciosa
A mixomatose é uma doença fatal de todas as raças de coelhos domésticos e da
Oryctolagus cuniculus (o coelho selvagem europeu). Os coelhos-cauda-de-algodão
(Sylvilagus) e as lebres-americanas são muito resistentes. Todos os outros mamí-
feros são refratários. O vírus da mixomatose, um membro do grupo dos poxvírus, é
transmitido por mosquitos, mutucas e por contato direto. Várias cepas são
patogênicas.
Nos EUA, a mixomatose está enormemente restrita à zona costeira da Califór-
nia e Oregon, onde raramente ocorrem epidemias. Estas áreas representam a
distribuição geográfica do coelho do mato da Califórnia (Sylvilagus bachmani), que
é o reservatório da infecção. As perdas podem alcançar 25 a 90% nas coelheiras.
Todas as idades são suscetíveis, embora os jovens com até 1 mês de idade pareçam
ser mais resistentes que os adultos.
O primeiro sinal característico é a conjuntivite, que se acentua rapidamente e é
acompanhada por uma descarga ocular leitosa. O animal apresenta-se apático e
anorético e a temperatura alcança freqüentemente 42 oC. Nos surtos agudos, alguns
animais podem morrer dentro de 48h após os sinais aparecerem. Os que sobrevi-
vem se tornam progressivamente deprimidos e desenvolvem pelame áspero; as
pálpebras, nariz, lábios e orelhas se tornam edematosos, o que resulta em uma
aparência inchada da cabeça. Nas fêmeas, a vulva se torna inflamada e edematosa;
nos machos, o escroto se avoluma. Um sinal característico neste estágio é o
abaixamento das orelhas edematosas. Invariavelmente se observa descarga nasal
purulenta, a respiração se torna forçada e o animal entra em coma pouco antes da
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1291
Fibroma de Shope
O fibroma de Shope ocorre sob condições naturais apenas no coelho-cauda-de-
algodão, embora o coelho doméstico também possa ser infectado, através da
inoculação de material que contenha o vírus. A doença pode ocorrer nos coelhos
domésticos em regiões onde seja endêmica nos coelhos silvestres e onde as
práticas de criação permitam o contato com vetores artrópodes.
A causa deste tumor, que ocorre nas pernas, nos pés e orelhas, é um vírus de
fibroma que pertence ao grupo dos poxvírus. A primeira lesão observada em um
coelho infectado é um ligeiro espessamento do tecido subcutâneo, seguido pelo
desenvolvimento de uma tumefação macia e claramente demarcada. Estes tumores
podem persistir por vários meses antes de regredir, deixando o coelho essencial-
mente normal. Não se têm desenvolvido medidas de controle para esta enfermida-
de, já que ela é de pouca importância para os coelhos domésticos.
Papilomatose
Dois tipos de papilomas infecciosos são reconhecidos nos coelhos domésticos
nos EUA. O mais importante clinicamente, e de maior incidência, é causado pelo
vírus do papiloma oral (papovavírus). As lesões consistem de pequenos nódulos ou
verrugas pedunculados, branco-acinzentados, na superfície inferior da língua ou no
assoalho da boca (vírus do papiloma oral). O segundo tipo, produzido pelo vírus do
papiloma de Shope, e caracterizado por verrugas córneas no pescoço, ombros,
orelhas ou abdome, é primariamente uma enfermidade natural dos coelhos-cauda-
de-algodão. O vírus do papiloma de Shope é transmitido por vetores artrópodes. O
vírus do papiloma oral é diferente do vírus do papiloma de Shope (o qual também
distingue-se do vírus do fibroma de Shope). Os tumores dérmicos, produzidos pelo
vírus do papiloma de Shope, nunca ocorrem na boca. Nenhum tipo de papilomatose
é tratado.
geralmente considerada como herdada, os coelhos com essa afecção não devem
acasalar. Porém, os coelhos jovens podem danificar seus dentes incisivos ao puxar
o arame da gaiola, o que resulta em desalinhamento e possivelmente maloclusão,
graças ao crescimento dos dentes. Esta afecção não pode ser diferenciada da
maloclusão genética, e esses coelhos também devem ser descartados.
Mastigação dos pêlos e “bolas” de pêlos – O coelho limpa-se constantemente
e, quase sempre, o conteúdo do estômago inclui pêlos, que normalmente passam
pelo trato gastrointestinal e são excretados com as fezes. O pêlo ou lã (angorá) se
torna um problema, apenas se quantidades excessivas forem consumidas ou
quando se acumulam no estômago e bloqueam o piloro. Se isso acontecer, o coelho
se torna anorético, perde peso e morre dentro de 3 a 4 semanas. A escovação diária
para remoção dos pêlos soltos evita eficientemente esta afecção. O óleo mineral e
os laxantes não são eficazes na remoção da massa de pêlos. No caso de animais
valiosos, pode-se tentar a remoção cirúrgica.
O suco de abacaxi contém a enzima digestiva bromelaína, e tem sido utilizado
para tratar casos precoces de tricobezoares ou “bolas” de pêlo; um adulto recebe
10mL de suco fresco ou congelado, por meio de uma sonda gástrica ou de agulha
de intubação, diariamente por 3 dias. Tanto o fluido como a enzima ajudam a
dissolver a matriz da “bola” de pêlo. Deve-se oferecer feno ou palha durante o
tratamento. Essa forragem ajuda a transportar as fibras de pêlo pelo trato gastroin-
testinal e a eliminá-las com as fezes.
A mastigação de pêlos causa outro problema em coelhos jovens. Devido à perda
dos pêlos, a pele estraga-se e perde o valor. Este tipo de mastigação de pêlos é
geralmente o resultado de uma dieta deficiente em fibra, que pode ser corrigida
aumentando-se a última ou oferecendo-se feno juntamente com o alimento granu-
lado. Também pode ser útil a adição de óxido de magnésio na dieta, na proporção
de 0,25%. Em alguns casos, a mastigação de pêlos resulta de tédio. A colocação de
distrações na gaiola, por exemplo, latas de refrigerante ou anéis de metal, quase
sempre detém esse vício.
Exaustão pelo calor – Os coelhos são sensíveis ao calor. O tempo quente e úmido,
juntamente com gaiolas malventiladas ou transporte em veículos malventilados pode
levar à morte de muitos coelhos, particularmente coelhas prenhes. Os coelhos
afetados deitam-se de lado e respiram rapidamente. Devem ser imersos em água
fresca. As gaiolas devem ser construídas de maneira que possam ser borrifadas com
água em tempo quente e úmido. Deve-se proporcionar livre acesso à água fresca.
Quando for possível controlar o ambiente, os critérios ideais são: temperatura de 15,5
a 21oC e umidade relativa de 40 a 60%, com 10 a 20 trocas de ar por hora. Preferem-
se gaiolas de arame a sólidas.
Queimadura de gaiola (queimadura por urina) – É uma doença quase sempre
confundida com a treponematose, e que pode ser verdadeiramente diferenciada
apenas devido à ausência de espiroquetas em microscopia de campo escuro e à
ausência de anticorpos contra Treponema cuniculi. Afeta o ânus e os genitais
externos e é causada por pisos de gaiola úmidos e sujos. Os coelhos que carecem
de controle adequado do esfíncter da bexiga gotejam constantemente urina, e
também podem estar afetados. As membranas do ânus e da região genital ficam
inflamadas e fendidas. A região logo se torna secundariamente infectada por
qualquer bactéria patogênica. As crostas amarronzadas recobrem a área e um
exsudato purulento hemorrágico pode estar presente. A manutenção da limpeza e
secura dos pisos de gaiola e a aplicação de nitrofurazona ou de uma pomada
antibiótica nas lesões aceleram a recuperação.
Hidrocefalia – Esta condição, que se observa ocasionalmente em coelhos
neonatos, caracteriza-se por um aumento de volume da cabeça. A parte superior do
crânio parece ter a forma de uma cúpula e a fontanela está mais larga que o normal.
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1295
A maioria dos coelhos afetados nasce morta, mas às vezes eles vivem por várias
semanas. Entretanto, geralmente exibem sinais neurológicos. À necropsia, o
cérebro está aumentado; em seção de corte, os ventrículos estão grandemente
aumentados e preenchidos com líquido cerebroespinhal. A causa da hidrocefalia
tanto pode ser genética como resultante de uma dieta deficiente ou excedente em
vitamina A. Se for resultado de deficiência dietética ou hipervitaminose, observa-se
baixo desempenho reprodutivo (baixa fertilidade, tamanho de ninhada pequeno,
abortos, etc.) no lote reprodutivo.
Um fornecimento correto de vitamina A se torna crítico em um tratamento. Tanto
o soro como o fígado devem ser analisados à procura de vitamina A. Uma deficiência
faz com que o nível sérico de vitamina A desça abaixo do normal (2,6 a 4,2UI/mL).
Em uma intoxicação, o nível sérico pode estar normal, mas a vitamina A hepática
pode estar muito alta (> 4.000UI/g). O tratamento da deficiência envolve o aumento
do teor de caroteno da dieta ou a adição de suplemento de vitamina A. O tratamento
da hipervitaminose A requer a redução da vitamina A na dieta. O controle da
hidrocefalia genética requer o descarte de ambos os pais, já que parece ser de
genética recessiva.
Cetose (toxemia da prenhez) – É um distúrbio raro que pode resultar na morte
de coelhas durante o parto ou 1 a 2 dias antes da parição. Os fatores predisponentes
incluem obesidade e falta de exercícios. A enfermidade é mais comum em coelhas
de primeira ninhada. Os sinais incluem embotamento dos olhos, apatia, anorexia,
distúrbios respiratórios, prostração e morte. A lesão mais significativa é a esteatose
do fígado e rins. A causa provável é a inanição. Por algum motivo ainda não com-
preendido, ocorre anorexia. O corpo mobiliza as gorduras e as transporta para o fíga-
do para serem metabolizadas para gerar energia, causando a esteatose do fígado. O
diagnóstico depende dos sinais clínicos e das lesões de necropsia. As injeções de
fluidos que contenham glicose podem ser úteis na correção da doença. A reprodução
precoce das coelhas jovens, antes que fiquem muito gordas, também é útil.
Envenenamento por asclépia – Este tipo de envenenamento, comunicado
exclusivamente na costa sudoeste dos EUA, é causado pela alimentação com feno
que contenha a vagem pegajosa da asclépia, Asclepias eriocarpa. Algumas vezes
é chamada de “doença da cabeça baixa”, visto que os coelhos afetados desenvol-
vem paralisia dos músculos do pescoço e perda de coordenação. Se o animal não
tiver consumido muita erva e a paralisia não tiver progredido demais, pode-se tentar
o tratamento. A cabeça do coelho fica suspensa, de modo que ele possa beber água
e consumir alimento. Devem-se servir verduras e cenouras. O feno e a cama têm de
estar livres dessa erva para prevenção. O princípio do veneno é um resinóide; o
consumo de , 0,25% do peso do animal, em forma de planta verde, é letal.
Dermatite úmida (papada molhada) – A maioria das coelhas tem uma prega de
pele grossa na região ventral do pescoço. Quando a coelha bebe água, esta pele
pode ficar molhada e encharcada (“baba”), o que leva a uma inflamação. Os fatores
que podem contribuir com esta afecção incluem maloclusão dentária, potes de água
abertos e cama úmida. O pêlo pode-se soltar e a área pode ser infectada ou infes-
tada por moscas. A área quase sempre se torna esverdeada, se for infectada por
Pseudomonas sp. Os sistemas automáticos de bebedouros com válvulas de bebida
geralmente evitam a umidificação da papada. Se recipientes de água abertos forem
usados, estes devem possuir aberturas pequenas e ser colocados em locais
elevados. Uma vez infectada a área, devem-se cortar os pêlos e aplicar talco anti-
séptico. Nos casos severos, podem ser necessários antibióticos parenterais.
Pododermatite ulcerativa (jarretes doloridos) – A doença não envolve o
jarrete, mas sim a região metatársica e, menos comumente, a metacarpofalângea.
A causa é uma pressão na pele, devida à sustentação do peso corporal em gaiolas
com piso de arame, ou trauma à pele devido à prensa dos pés, com infecção
Manejo, Criação e Doenças dos Coelhos 1296
CRIAÇÃO
Os répteis, quando em cativeiro, devem ser mantidos em um ambiente seme-
lhante ao do seu hábitat nativo. As necessidades específicas do ambiente do
cativeiro correspondem a muitas variações naturais (temperatura, chuva, fotoperíodo,
disponibilidade de alimento, etc.) observadas no meio selvagem. Estas necessida-
des precisam de um conhecimento completo da história natural e biologia da
herpetofauna para assegurar uma boa qualidade de vida no cativeiro.
Temperatura – A maioria dos répteis é ectotérmica; o calor gerado pela atividade
metabólica é limitado e eles não possuem mecanismos de controle para retenção
do calor produzido. No entanto, muitos répteis vencem esta aparente deficiência
procurando áreas mais frescas ou quentes para controlar as flutuações diárias da
temperatura corporal. Em seu hábitat, são capazes de manter uma variação
relativamente estreita de temperatura corporal, comparada ao ambiente. Por isso,
a gaiola ou recinto utilizado para alojá-los deve providenciar um gradiente térmico
(dentro da temperatura ótima para cada espécie); o que providencia bem-estar tanto
fisiológico como psicológico. As espécies tropicais geralmente preferem tempera-
turas na faixa de 27 a 38°C; as espécies de clima temperado, 20 a 35oC; as
Manejo, Criação e Doenças dos Répteis 1297
para contenção adequada. A cabeça é envolta com um trapo úmido para obscurecer
a visão da cobra. A área justamente atrás da cabeça é apertada e outros indivíduos,
então, contêm as voltas do corpo.
Os répteis venenosos devem ser manuseados com extrema cautela, apenas por
pessoal experiente e nunca por uma só pessoa. Tubos claros de “plexiglass” com
uma extremidade bloqueada podem ser seguramente usados para o exame e
tratamento de espécies venenosas. Isto é obtido colocando-se o tubo de diâmetro
conveniente (grande o suficiente para a cobra entrar, mas pequeno demais para
mexer a sua cabeça), seguro por um par de pinças ou tenazes, na frente da cobra.
Quando metade da cobra tiver entrado no tubo, a extremidade aberta do tubo e a
cobra são apertadas juntas e seguras como uma unidade. O tipo de contenção
permite exame, administração de medicação e mesmo procedimentos menores de
tratamento.
Os quelônicos são contidos ao se apertar o casco. Várias espécies (tartarugas
mordedoras e tartarugas de casco mole) são mordedoras agressivas e deve-se ter
cuidado.
A contenção de grandes crocodilianos requer imobilização química, embora os
menores possam ser contidos com um laço. O laço é colocado ao redor da cabeça
e o cabo enrolado sobre a pelve; o cabo do laço e pelve são, então, apertados juntos.
Isto evita que o animal se vire. Os olhos são cobertos com um trapo e a boca é
forçadamente fechada e amarrada. Os espécimes > 1,5m de comprimento exigem
2 pessoas para providenciar contenção adequada. Mesmo pequenos crocodilianos
podem infligir sérios ferimentos, tanto com a cauda como com a boca.
ANESTESIA
Apesar de os protocolos para anestesia em répteis terem sido inconsistentes no
passado, pesquisas e experiências clínicas estão trazendo melhores resultados.
Antes da cirurgia pretendida, o animal deve ser aclimatado a uma temperatura
dentro da variação de temperatura preferida, com a indução e a recuperação
acontecendo na mesma temperatura. Os sistemas enzimáticos funcionam melhor
na temperatura ótima e a confiabilidade é melhor alcançada com controle de
temperatura.
Muitas técnicas anestésicas não são apropriadas para uso em répteis. A
hipotermia reduz os movimentos, mas não induz analgesia, sendo portanto inacei-
tável. Os barbitúricos têm sido usados em répteis, mas não são recomendados: a
duração da ação é prolongada e a profundidade de anestesia é difícil de ser alcan-
çada e mantida.
O cloridrato de cetamina pode ser usado para indução de anestesia ou para
procedimentos menores, de curta duração. Os efeitos tranqüilizantes são vistos em
doses mais baixas. Os espécimes menores podem exigir doses proporcional e
ligeiramente mais altas. A quantidade necessária para anestesia varia consideravel-
mente com a espécie. As dosagens de 40 a 100mg/kg são apropriadas para indução,
enquanto 5 a 30mg/kg reduzem a agressividade e retardam reflexos de ataque. A
recuperação ocorre em 2 a 72h, dependendo da dose e temperatura.
A tiletamina-zolazepam pode ser usada para induzir anestesia. Como no caso da
cetamina, o grau de analgesia é quase sempre inadequado para maiores procedi-
mentos. As doses são de 3 a 30mg/kg, IM.
DETERMINAÇÃO DO SEXO
O sexo pode ser determinado em cobras usando-se uma sonda cloacal de
tamanho apropriado. A extremidade da sonda tem de ser lisa e arredondada para
evitar ferir os delicados tecidos cloacais. A sonda lubrificada é inserida na cloaca e
Manejo, Criação e Doenças dos Répteis 1300
NUTRIÇÃO
As exigências nutricionais dos répteis são muito pouco definidas. As pesquisas
na área são limitadas e a maioria das recomendações é empírica. O nível de
macronutrientes, proteínas, carboidratos e gordura na dieta é qualitativamente
similar às exigências dos mamíferos. A taxa metabólica reduzida dos ectotérmicos
permite que se alimentem menos freqüentemente. O comportamento de alimenta-
ção, a digestão e a assimilação estão relacionados à temperatura ambiente e à
ativação dos sistemas de enzimas associados. Umidade, fonte de luz, densidade
populacional e o tipo de comida também afetam o comportamento de alimentação.
Nas tartarugas e em alguns lagartos herbívoros, a cor do alimento contribui para a
aceitação da comida: vermelho e amarelo são as cores preferidas. Alguns répteis
se habituam a certos alimentos e são relutantes a comer outros. Providenciando-se
comida variada a cada refeição, pode-se aliviar o problema.
A qualidade é importante quando se fornecem animais inteiros como alimento.
Peixes-dourados, tenébrios, grilos, larvas de mariposas de cera (Galleria sp),
camundongos ou ratos pretendidos para uso como alimento de répteis devem ser
servidos em uma dieta completa e balanceada para providenciar nutrientes adequa-
dos. Os herbívoros e onívoros também requerem rações balanceadas. Muitas
dietas vegetais são deficientes em calorias, proteína e cálcio. Os insetos e suas
larvas são deficientes em cálcio disponível e exige-se suplementação. Uma técnica
comum de suplementar insetos-“presas” com vitaminas e cálcio é colocá-los em um
saco de plástico com uma pequena quantidade de um suplemento mineral/vitamínico
em pó. Chacoalhando-se o saco, cobrir-se-ão esses insetos com o pó e eles devem
ser imediatamente servidos ao réptil. As limitações desta técnica são: 1. muitos
répteis chacoalham os insetos no processo de ingestão, fazendo com que a maior
parte do pó caia do inseto; e 2. os insetos tratados têm de ser comidos imediatamen-
te, ou o pó cairá do inseto-“presa” no curso de uma locomoção normal. A adição de
cálcio à dieta de grilos e larvas de mariposa de cera, destinados a ser presas para
animais insetívoros, aumenta a sua proporção cálcio:fósforo a um nível mais
aceitável.
O teor de proteína da dieta deve ser de , 18 a 20% para carnívoros e 11 a 12%
para herbívoros. As exigências de aminoácidos são idênticas às dos mamíferos,
com a adição de histidina nos répteis. Níveis inadequados de proteína causam perda
de peso, desgaste muscular, aumento de suscetibilidade a infecções secundárias,
deficiência na reprodução e cicatrização mais lenta após ferimento. Qualquer
Manejo, Criação e Doenças dos Répteis 1301
processo infeccioso não responsivo pode ser resultado de uma deficiência nutricio-
nal primária. A maioria das deficiências nutricionais é observada em espécies
herbívoras com dieta “tipo salada” ou em indivíduos anoréticos. As dietas herbívoras
podem ser suplementadas com brotos de alfafa, brotos de feijão, grãos ou farinha
de soja, invertebrados, ou ração de gato enlatada ou ligeiramente úmida; o abuso
de dietas com altos níveis de proteína preparadas para carnívoros tem sido
responsabilizado pela produção de doenças em jabutis. Os espécimes anoréticos
podem exigir alimentação forçada, alteração ambiental, ou variedade suficiente na
dieta para se identificar o item alimentar preferido.
Os carboidratos não parecem ser essenciais às espécies carnívoras, mas, em
muitos casos, as exigências calóricas podem ser resolvidas com adição de carboi-
dratos à dieta, ou através da gliconeogênese de proteínas dietéticas. Os crocodilianos
parecem incapazes de assimilar certos polissacarídios. Os valores de glicose
sangüínea são variáveis para cada ordem e podem permanecer elevados por até 1
semana após uma refeição. A glicose sangüínea se eleva durante as estações de
acasalamento, sobretudo nos machos.
A hipoglicemia clínica tem sido relatada em crocodilianos cativos. Os sinais
incluem midríase, tremores, opistótono, perda do reflexo de endireitamento e morte.
A superlotação e o estresse com liberação prolongada de compostos adrenérgicos
são tidos como causadores. A hipoglicemia sem sintomas clínicos é normalmente
observada em aligátores durante o inverno.
Em tartarugas gigantes de terra e outras espécies herbívoras, a adição de
forragem na forma de feno tem eliminado diarréias fétidas crônicas. A fibra é exigida
para o funcionamento normal do trato digestivo.
As exigências de ácidos graxos específicos não estão determinadas para répteis,
porém recomenda-se 0,2% de ácido linoléico na dieta. Não se têm descrito
deficiências. Reservas reduzidas nos corpos gordurosos viscerais têm sido associa-
das a um pequeno tamanho de ninhada durante a estação de procriação. Tem-se
descrito aterosclerose; a restrição de colesterol pode ser uma importante conside-
ração dietética a longo prazo nos répteis cativos.
A água é essencial para a hidratação normal. A habilidade das espécies
desérticas para conservar água não é indicativa de redução das necessidades de
consumo. Em várias espécies, a disponibilidade de água reduzida tem resultado em
taxas de crescimento diminuídas, sem alterações aparentes no estado fisiológico
dos animais.
As deficiências minerais são vistas freqüentemente em répteis cativos. Deve-se
adicionar um suplemento vitamínico mineral à dieta de cada réptil cativo; para isso,
muitos dos suplementos comercialmente disponíveis para o uso em aves e peque-
nos mamíferos domésticos são úteis.
Geralmente, recomenda-se uma proporção de cálcio–fósforo (Ca:P) de 1,2:1.
Entretanto, em algumas situações (fêmeas pondo um grande número de ovos
calcários, ou jovens de crescimento rápido), uma proporção Ca:P que alcance 2:1
é mais apropriada. Como fonte de alimento, o músculo esquelético apresenta uma
proporção Ca:P de , 1:25; o músculo cardíaco e o fígado apresentam uma
proporção Ca:P de , 1:44. O exoesqueleto quitinoso de insetos é desprovido de
cálcio. A vitamina D é requisitada para o metabolismo apropriado e equilíbrio de
cálcio. Tem-se recomendado a vitamina D 3 e/ou o acesso a luz ultravioleta, como
fontes dessa vitamina/hormônio. Os tubos fluorescentes “Vitalite”, “Grolux” e “Black
Light” constituem fontes de luz ultravioleta comumente usadas. Estes tubos são
quase sempre usados juntos para répteis. Níveis inadequados de vitamina D ou uma
proporção inapropriada de cálcio–fósforo podem resultar em hiperparatireoidismo
secundário nutricional, osteodistrofia fibrosa, osteomalacia, cálculos císticos, cálcu-
los na cloaca e raquitismo. Podem-se observar fraturas patológicas, deformidades
Manejo, Criação e Doenças dos Répteis 1302
DOENÇAS BACTERIANAS
Observam-se doenças bacterianas em todas as ordens de répteis. São comuns
as infecções oportunistas, causadas por bactérias Gram-negativas. Em todas as
infecções bacterianas ou fúngicas, os estados nutricional e ambiental do animal
devem ser considerados e as deficiências corrigidas. A cultura e a sensibilidade são
características importantes na determinação da terapia apropriada. As culturas
devem ser incubadas a 23°C e 37oC.
O tratamento com antibióticos é melhor realizado por injeção parenteral; o grau
de absorção de drogas pela parede intestinal de animais clinicamente anormais é
variável e a regurgitação é freqüente. Indica-se uma terapia de suporte de vitaminas
múltiplas na maioria das doenças infecciosas. Os fluidos, tais como a mistura em
partes iguais de solução salina normal e dextrose a 5%, podem ser administrados
via injeção intracelômica. A higiene e o controle ambiental aumentam as chances de
sucesso. As temperaturas ambientais devem ser mantidas próximas dos ideais para
que a espécie melhore sua função imunológica. Altas taxas metabólicas podem
necessitar de alimentação forçada de espécimes anoréticos.
Os antibióticos freqüentemente usados incluem: triidrato de ampicilina, IM ou
s.c., numa dose de 5mg/kg diários; penicilina potássica, em 50.000u/kg, IM ou
s.c.; penicilina benzatina com penicilina procaína, 10.000u/kg, IM, a cada 24 a
72h; carbenicilina, 400mg/kg/dia em temperatura corporal constante de 30°C;
ticarcilina, 20mg/kg, IM, diários; e ceftazidima, 20mg/kg, IM a cada 72h em
temperatura corporal constante de 30oC. Tetraciclina, de 25 a 50mg/kg/dia, IM ou
s.c.; clortetraciclina a 200mg/kg/dia, VO; e oxitetraciclina de 6 a 10mg/kg, IM, EV
ou VO têm sido recomendadas para infecções por Arizona e Salmonella spp nos
lagartos e quelônicos. A sulfametazina a 1oz de uma solução a 33% por gal. a
8mL/L de água bebida e a sulfadimetoxina a 30mg/kg, VO no primeiro dia e
15mg/kg/dia por 3 dias também têm sido sugeridas. Também se utiliza o
trimetoprim-sulfadiazina, a 15mg/kg/dia. Para microrganismos Gram-positivos
resistentes à penicilina, podem-se usar a cefalotina sódica, 30mg/kg, IM, diaria-
mente, e a cefaloridina, 7mg/kg, diariamente. O succinato de cloranfenicol é
recomendado para muitas infecções, a 40mg/kg, IM, diariamente, a uma tempe-
ratura corporal constante de 24 oC. A tilosina (25mg/kg, IM, diariamente) e a
lincomicina (6mg/kg, IM, diariamente) podem ser benéficas.
Manejo, Criação e Doenças dos Répteis 1304
DOENÇAS ECTOPARASÍTICAS
Exceto nos espécimes selvagens ou recentemente adquiridos, poucos ectopa-
rasitas são observados. O ácaro Ophionyssus natricis é mundialmente distribuído,
e afeta a maioria das espécies de répteis. Pode ocorrer vitalidade reduzida, e em
infestações pesadas, morte devida a anemia. A pele de animais afetados parece
áspera e, com freqüência, ocorre disecdese. O ácaro é < 1,5mm de comprimento e
é quase sempre encontrado nas proximidades das cápsulas dos olhos. A O. natricis
pode ser associada à transmissão mecânica de Aeromonas hydrophila e resultar em
septicemia ou pneumonia. O tratamento consiste na colocação de tiras de diclorvos
nas proximidades da gaiola por 4 dias. Deve-se evitar o contato direto do animal com
as tiras. As gaiolas podem ser tratadas com spray de solução de triclorfon a 0,1 a
0,2%. Os répteis maiores também podem ser aspergidos com spray desta solução.
Preparações de sílica-gel têm sido recomendadas na forma de pó tópico. Deve-se
ter cuidado quando os espécimes menores forem tratados com preparações de
sílica.
As larvas de ácaros trombiculídeos (micuins) são vistas ocasionalmente, mas
não são consideradas patogênicas.
Os carrapatos ixodídeos são freqüentemente encontrados nos répteis, e infes-
tações pesadas podem resultar em anemia. Os carrapatos argasídeos podem
causar paralisia com degeneração muscular no local da picada. A transmissão do
vírus associado ao papiloma do lagarto verde, de várias hemogregarinas e do verme
filarídeo, Macdonaldius oscheri, tem sido associada aos carrapatos. Os carrapatos
podem ser removidos manualmente.
As sanguessugas têm sido encontradas em várias tartarug