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Disciplina Farmácia Hospitalar

Tema Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica


Professor Joy G. Longhi

Tema 1: Acompanhamento farmacoterapêutico


Define-se Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT) como:
o serviço profissional que tem como objetivo detectar problemas
relacionados com medicamentos (PRM), para prevenir e resolver os
resultados negativos associados à medicação (RNM). Este serviço
implica em compromisso e deve ser disponibilizado de um modo
contínuo, sistemático e documentado, em colaboração com o doente e
com os profissionais do sistema de saúde, com a finalidade de atingir
resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do doente.
(HERNÁNDEZ et al., 2007).

Esse conceito, obviamente, não exclui a responsabilidade dos demais


profissionais atuantes nas equipes multiprofissionais pela busca de resultados
clínicos positivos, cabendo a cada membro a corresponsabilidade pelos
resultados globais alcançados. O AFT consiste no acompanhamento do
tratamento farmacológico dos pacientes, com duas metas principais, segundo
Dáder e Martinez (1999):

garantir que o medicamento alcance o efeito esperado pelo paciente e


pelo médico que o prescreveu;

prevenir ou intervir, de forma precoce, quanto ao surgimento de efeitos


não desejados.

O acompanhamento ou o seguimento farmacoterapêutico é um


instrumento usado para a prática da atenção farmacêutica, no qual o
farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do paciente relacionadas ao
uso de medicamentos mediante a detecção, a prevenção e a resolução de
Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM), de forma continuada,

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sistematizada e documentada, em colaboração com o próprio paciente e com a
equipe multidisciplinar, para alcançar resultados concretos que contribuam com
a melhor qualidade de vida do paciente (ANGONESI; SEVALHO, 2010).
O modelo de acompanhamento farmacoterapêutico mais utilizado por
pesquisadores e farmacêuticos no mundo é o espanhol, denominado Método de
Dáder. Ele propõe um procedimento concreto, no qual se elabora uma avaliação
da situação global do paciente. A partir dessa avaliação, derivam-se as
intervenções farmacêuticas correspondentes, nas quais cada profissional clínico
em conjunto com o paciente e seu médico decidem a conduta em função dos
conhecimentos e condições particulares que afetam cada caso.
Para a realização do cuidado farmacêutico, é necessária a realização do
acompanhamento farmacoterapêutico, em que são identificados os Problemas
Relacionados aos Medicamentos (PRM), que foram definidos como qualquer
evento indesejável experimentado pelo paciente que envolva ou se suspeite que
envolva a farmacoterapia e que interfira, real ou potencialmente, com um
resultado esperado no tratamento desse paciente. A interferência não se
restringe somente a enfermidades e a sintomas, podendo envolver qualquer
problema relacionado com os aspectos psicológicos, fisiológicos, socioculturais
ou econômicos (DÁDER; MUÑOZ; MARTINEZ-MARTINEZ, 2008).
De um modo geral, o AFT baseia-se na obtenção da história
farmacoterapêutica do doente, isto é, nos problemas de saúde que este
apresenta, nos medicamentos que utiliza e na avaliação de seu estado de
situação em determinada data, de forma a identificar e resolver os possíveis
resultados negativos associados à medicação que o doente apresenta. Após
essa identificação, realizam-se as intervenções farmacêuticas necessárias para
que, posteriormente, sejam avaliados os resultados obtidos (MACHUCA;
FERNÁNDEZ-LIMOZ; FAUS, 2005).
Para a realização da intervenção farmacêutica, o farmacêutico, em
conjunto com o paciente e seu médico, decide a ação a tomar em função de seus
conhecimentos e das condições particulares de cada caso (SANTOS et al, 2005).

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Para a Metodologia Dáder (2004), atualmente a mais utilizada no Brasil, o
AFT possui as seguintes fases:
0. Fase prévia (oferta do serviço)
1. Primeira visita (histórico farmacoterapêutico)
2. Estado de situação
3. Fase de estudo
4. Fase de avaliação
5. Plano de atuação
6. Intervenção farmacêutica
7. Resultado da intervenção farmacêutica
8. Novo estado de situação
9. Entrevistas sucessivas

A fase de oferta, de modo geral, ocorre nas farmácias comerciais, uma


vez que, nos hospitais, os pacientes que devem ser acompanhados são definidos
pela equipe que o acompanha. A primeira visita tem como objetivo recolher as
informações sobre todos os medicamentos que o paciente está tomando e
conhecer todos os problemas de saúde a que o paciente se refere.
O estado de situação dispõe resumidamente das informações mais
relevantes na primeira visita, de forma que, a partir desse impresso, seja mais
fácil estudar os medicamentos utilizados ou a serem utilizados, face o estado de
saúde do paciente.
Na fase de estudo, estudam-se todos e cada um dos medicamentos que
o paciente está utilizando, procurando a possível relação com seus problemas
de saúde. Também se estuda cada problema de saúde apresentado. Na fase de
avaliação, procura-se identificar as suspeitas dos resultados negativos
relacionados aos medicamentos e, no plano de atuação, registram-se as
suspeitas de RNM encontradas, priorizam-se e decidem-se as atuações para
resolvê-los. A intervenção farmacêutica representa a penúltima etapa do ciclo do
AFT, que termina na avaliação dos resultados clínicos alcançados pelo paciente.

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Saiba mais sobre o passo a passo do acompanhamento
farmacoterapêutico e a adaptação da metodologia para as atividades
hospitalares, assistindo ao próximo vídeo da professora.
(Vídeo 3 disponível no AVA)
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