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ROTEIRO DE ESTUDOS

1) Farmacovigilância: definição, importância, organização e entidades responsáveis.

Definição: A farmacovigilância é a ciência relativa à detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos


efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados a medicamentos (OMS). Os serviços de
farmacovigilância, dentre outras atividades, recebem notificações de efeitos adversos a medicamentos,
feitas pelos diferentes usuários destes produtos, e têm o papel de analisar essas notificações e disparar
ações com o intuito de prevenir, eliminar ou, pelo menos, minimizar riscos de danos à saúde dos pacientes
e dos profissionais. Recentemente, seu campo de atuação foi ampliado para incluir(4):
• produtos fitoterápicos;
• medicamentos tradicionais e complementares;
• hemoterápicos;
• produtos biológicos;
• produtos para a saúde;
• vacinas.

Muitas outras questões também são de relevância para a ciência:


• medicamentos de baixa qualidade;
• erros de medicação;
• notificações de perda de eficácia;
• uso de medicamentos para indicações não aprovadas e para as quais não há base científica
adequada (off lable use);
• notificações de casos de intoxicação aguda e crônica;
• avaliação da mortalidade relacionada a medicamentos;
• abuso e uso indevido de medicamentos;
• interações medicamentosas adversas com substâncias químicas, outros medicamentos e
alimentos.

Os objetivos específicos de farmacovigilância são:


• melhorar o cuidado com o paciente e a segurança em relação ao uso de medicamentos e a todas
as intervenções médicas e paramédicas;
• melhorar a saúde pública e a segurança em relação ao uso de medicamentos;
• contribuir para a avaliação dos benefícios, danos, efetividade e riscos dos medicamentos,
incentivando sua utilização de forma segura, racional e mais efetiva (inclui-se o uso custo-efetivo);
• promover a compreensão, educação e capacitação clínica em farmacovigilância e sua
comunicação efetiva ao público.

Importância: Com a Farmacovigilância podem ser gerados, o conhecimento da situação real em relação ao
uso racional de medicamentos em uma determinada comunidade, detecção de reações adversas mais
frequentes e mais graves em uma região, comparação com a legislação nacional e condução de medidas
internacionais, intervenção no sistema de cuidados através dos agentes de saúde, estudos
farmacoeconômicos para determinar o custo social, número de leitos hospitalares ocupados decorrente de
reações adversas a medicamentos, determinação de incapacidade e perda de tempo envidados pelos
profissionais de laboratório além do custo direto do tratamento necessário. Ainda, determinação das
reações adversas a medicamentos advindas de drogas prescritas e também da automedicação – venda livre
e medicamentos tradicionais caseiros e folclóricos.

Organização: Os eventos adversos podem ser identificados durante a fase de estudo sobre o medicamento
que ocorre antes da comercialização, conhecida como fase clínica. Os testes clínicos com medicamentos
ocorrem em três fases distintas, sendo iniciado com voluntários saudáveis e número limitado de pacientes.
À medida que a segurança do medicamento é estabelecida nesse grupo, buscam-se informações adicionais
em um número maior de indivíduos, incluindo aqueles que apresentam a doença que se quer tratar e outra
grande variedade de problemas clínicos. Contudo, o número de pacientes submetidos aos estudos nas
Fases I a III é limitado e a seleção e tratamento dos pacientes geralmente difere dos métodos utilizados na
prática clínica. Ocorre também exclusão de muitos subgrupos importantes da população e, por
consequência, de potenciais usuários. Outro ponto negativo é que os estudos geralmente são realizados
por um tempo curto, que não corresponde ao tempo total dos tratamentos crônicos.

Os Ensaios clínicos são parâmetros experimentais constituídos pela Fase I, II e III para verificar a eficácia e
segurança dos medicamentos durante a pré-comercialização. Estes ensaios clínicos apresentam limitações
para os estudos pós-comercialização, também chamados de estudos de Fase IV, tais como: a) número de
pacientes e tempo de duração do tratamento reduzido; b) exclusão de pacientes de risco: idosos, grávidas,
crianças, hepatopatas, nefropatas e pacientes polimedicados; c) reações adversas de baixa frequência
podem não ser detectadas; d) monitorização de doses.

Durante a Fase IV, ou fase pós-comercialização, as informações podem ser obtidas através de notificação
voluntária pelos profissionais de saúde. A notificação voluntária é a metodologia universalmente adotada
na farmacovigilância e consiste na coleta e comunicação de reações indesejadas que se manifestam após o
uso dos medicamentos (ANVISA, 2012). Alguns países ainda utilizam resultados de pesquisas realizadas
pelas indústrias e, também, pelas instituições de ensino. Os dados obtidos são úteis, na medida em que
tentam esclarecer os efeitos de uso nas condições clínicas, possibilitando a identificação de algumas
reações adversas, sendo as mais frequentes as reações graves ou letais, de óbvia detecção, ou as que se
desenrolam em curto prazo.

Entidades relacionadas: A equipe do the WHO Quality Assurance and Safety: Medicines (Garantia de
Qualidade e Segurança de Medicamentos da OMS) é responsável por orientação e apoio aos países em
questões de segurança de medicamentos. A equipe é parte do Departamento de Medicamentos Essenciais
e Política de Medicamentos, dentro do conjunto Tecnologia da Saúde e Medicamentos da OMS. O
propósito do departamento é: ajudar a salvar vidas e melhorar a saúde, diminuindo a enorme distância
entre o potencial que os medicamentos essenciais têm a oferecer e a realidade de milhões de pessoas,
particularmente os pobres e desfavorecidos quanto a indisponibilidade, inacessibilidades, insegurança ou
uso indevido de medicamentos.

A OMS trabalha para cumprir essa missão, provendo orientação global sobre medicamentos essenciais e
trabalhando com os países para implementar políticas nacionais de medicamentos. Tais políticas são
elaboradas para assegurar:
• equidade de acesso aos medicamentos essenciais;
• qualidade e segurança de medicamentos;
• uso racional de medicamentos.

O objetivo explícito da equipe do Quality Assurance and Safety: Medicines é: preservar a qualidade,
segurança e eficácia de todos os medicamentos, fortalecendo e pondo em prática padrões regulatórios e
padrões de garantia da qualidade.

A função principal do the Uppsala Monitoring Centre (UMC) é administrar a base de dados internacional
de notificações de RAM recebidas dos centros nacionais. Este centro, sob supervisão de um comitê
internacional, coordena o Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos que tem como
principal objetivo, estabelecer e manter um método efetivo de detectar reações adversas não reveladas
nos ensaios clínicos.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): sistema nacional de farmacovigilância.

Em maio de 2001, foi instituído o Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos (CNMM), através da
Portaria Ministerial. Consiste em uma rede informatizada, integrada e interligada das instâncias de
farmacovigilância local, dos profissionais de saúde, dos órgãos não governamentais e dos centros de
pesquisa e tem como missão montar o fluxo nacional de notificações de suspeitas de Reações Adversas a
Medicamentos (RAM). Tem como objetivo maior, o mesmo do Programa Internacional de Monitoramento:
identificar, precocemente, uma nova reação adversa ou aumentar o conhecimento de uma reação adversa
pouco descrita que tenha uma possível relação de causalidade com os medicamentos comercializados.

A fim de intensificar as notificações de reações adversas, a ANVISA criou a Rede de Hospitais Sentinela que
consiste em uma rede nacional motivada para a notificação de efeitos adversos advindos do uso de
produtos de saúde, com vistas para obter a informação para a regularização do mercado. A Rede Sentinela
foi criada para responder a essa necessidade da ANVISA de obter informação qualificada, enquanto cria um
meio intra-hospitalar favorável ao desenvolvimento de ações de vigilância sanitária em hospitais.

2) Descoberta e desenvolvimento de fármacos.


3) Definições: evento adverso, reação adversa e erros de medicação.

Os eventos adversos são entendidos como agravos à saúde de um usuário ou de um paciente que podem
estar presentes durante o tratamento com um produto farmacêutico, podendo ser erros de medicamentos,
desvio de qualidade dos medicamentos, reações adversas a medicamentos (RAM), interações
medicamentosas e intoxicações.

Reação Adversa a Medicamento (RAM) é qualquer resposta a um fármaco que seja prejudicial, não
intencional, e que ocorra nas doses normalmente utilizadas em seres humanos para profilaxia, diagnóstico
e tratamento de doenças, ou para a modificação de uma função fisiológica. As RAM´s podem ser
classificadas de acordo com a gravidade e causalidade e dependem diretamente dos fatores que
predispõem a essas reações.

Erros de medicação é qualquer evento evitável que, de fato ou potencialmente, pode levar ao uso
inadequado de medicamento. Isso significa que o uso inadequado pode ou não lesar o paciente, e não
importa se o medicamento se encontra sob o controle de profissionais de saúde, do paciente ou do
consumidor. O erro pode estar relacionado à prática profissional, produtos usados na área da Saúde,
procedimentos, problemas de comunicação, incluindo-se prescrição, rótulos, embalagens, nomes,
preparação, dispensação, distribuição, administração, educação, monitoramento e uso de medicamentos.

A possibilidade da prevenção é uma das diferenças marcantes entre as reações adversas e os erros de
medicação. Os erros de medicação são por definição preveníveis.
As causas mais comuns dos erros são as comunicações insuficientes ou inexistentes; ambiguidade nos
nomes dos produtos, semelhanças físicas entre produtos; semelhanças na forma de escrita dos nomes dos
produtos; semelhanças entre a sonoridade dos nomes de produtos e procedimentos; formas de
recomendações de uso, abreviações médicas ou formas de escrita; procedimentos e técnicas inadequadas
ou incorretas; uso indevido pelo paciente pela pouca compreensão do seu uso adequado.

4) Notificação de reações adversas a medicamentos.

Todos os profissionais de saúde devem notificar as RAMs, mesmo quando houver dúvidas quanto à sua
relação com determinado medicamento. A notificação deve ser remetida a instituições de saúde, desde
que a instituição tenha profissional designado especificamente para recebê-la, aos centros de vigilância
locais ou diretamente ao Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos, sediado da Unidade de
Farmacovigilância da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A efetividade do programa de farmacovigilância está diretamente relacionada à participação ativa dos


profissionais de saúde.

5) Classificação das reações adversas a medicações.

Segundo Wills e Brown:


6) Estudo de caso:
JBS, 62 anos, foi hospitalizado em 15/09/2015 em uma unidade de terapia intensiva após intensa
rigidez e dor muscular com incapacidade de locomoção. Na triagem hematológica e bioquímica de rotina
apresentou:
Hemograma normal.
Creatinina de 1,7 mg/ dl (normal < 1,3).  aumento de creatinina no sangue é um sinal de insuficiência
renal. É necessário salientar que a creatinina é apenas um marcador das funções dos rins.
Aspartato aminotransferase (TGO-AST) 45 U/L (normal <38).  é uma enzima presente no fígado e que
normalmente se encontra elevada quando a lesão do fígado é mais crônica, já que está localizada mais
internamente na célula do fígado, como hepatite ou cirrose. No entanto, essa enzima também pode estar
presente no coração, podendo ser utilizada como marcador cardíaco, podendo indicar infarto ou isquemia.
Alanina aminotransferase (ALT ou TGP) 55 U/L (normal < 41).  idem aspartato aminotransferase
(fígado).
Soro creatinaquinase (CK) 1991 U/L (normal < 190).  É uma isoenzima da creatina fosfoquinase (CPK)
que corresponde à enzima liberada pelo músculo cardíaco. Esta enzima eleva-se quando ocorre isquemia
em uma determinada região do músculo cardíaco. A CK catalisa a conversão da creatina e consome
trifosfato de adenosina (ATP) para criar fosfocreatina (PCr) e difosfato de adenosina (ADP).
Proteinúria.
Ao analisar o prontuário deste paciente o médico encontrou que o mesmo tinha hipertensão arterial,
tratada por mais de 10 anos com os medicamentos: Losartana 100 mg/dia e Hidroclorotiazida 25 mg/dia.
Há cerca de 10 dias teve o diagnóstico de hiperlipidemia, sendo prescrito rosuvastatina 40 mg/dia por via
oral. Após internação foi suspensa a estatina e o quadro clínico do paciente resultou em melhora.
Faça uma avaliação das reações adversas encontradas neste paciente seguindo o Algoritmo de Naranjo.
1. +1
2. +2
3. +1
4. 0
5. +2
6. 0
7. 0
8. +1
9. 0
10. +1

Total: 8  provável.

Rosuvastatina: Reações adversas:

Podem ocorrer as seguintes reações adversas:

Reação comum (ocorre entre 1% e 10% dos pacientes que utilizaram este medicamento): dor de cabeça,
mialgia (dores musculares), astenia (sensação geral de fraqueza), prisão de ventre, vertigem, náusea
(enjôo) e dor abdominal.

Reação incomum (ocorre entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizaram este medicamento): prurido
(coceira), exantema (erupção na pele) e urticária (reações alérgicas na pele).

Reação rara (ocorre entre 0,01% e 0,1% dos pacientes que utilizaram este medicamento): miopatia (doença
do sistema muscular, incluindo miosite – inflamação de um músculo), reações alérgicas (incluindo
angioedema – inchaço), rabdomiólise (síndrome causada por danos na musculatura esquelética),
pancreatite (inflamação do pâncreas) e aumento das enzimas do fígado no sangue.
Reação muito rara (ocorre em menos de 0,01% dos pacientes que utilizaram este medicamento): artralgia
(dor nas articulações), icterícia (presença de coloração amarela na pele e nos olhos), hepatite (inflamação
do fígado) e perda de memória.

Frequência desconhecia: depressão e distúrbios do sono (incluindo insônia e pesadelos).

Proteinúria (perda de proteína através da urina) foi observada em um pequeno número de pacientes. Os
eventos adversos faringite (inflamação da faringe) e outros eventos respiratórios como infecções das vias
aéreas superiores, rinite (inflamação da mucosa nasal acompanhada de catarro) e sinusite (inflamação dos
seios nasais), também foram relatados.

*Creatinina: Nossos músculos precisam de energia para exercer suas funções. O combustível que gera essa energia é uma
proteína chamada creatina fosfato, sintetizada a partir das proteínas da nossa alimentação. A creatina fosfato é produzida
no fígado e posteriormente armazenada nas fibras musculares.
O sistema muscular está permanentemente em atividade, mesmo quando se permanece em repouso. Isso significa que
estamos o tempo todo consumindo creatina fosfato. A creatinina é uma espécie de lixo metabólico resultante desse
consumo. Após ser fabricada, ela é lançada na corrente sanguínea e depois eliminada pelos rins.

Referências bibliográficas:

1. Site ANVISA: www.portal.anvisa.gov.br  http://abfmc.net/pdf/RAM_ANVISA.pdf


2. Amorim, M.A.L.; Cardoso, M.A.. A farmacovigilância e sua importância no monitoramento das
reações adversas a medicamentos. Revista Saúde e Desenvolvimento. V.4 n.2. 2013.
3. Mendes, M.C.O. et al. História da Farmacovigilância no Brasil. Ver. Bras. Farm., 89(3): 246-251.
2008.
4. Goodman e Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª edição. Cap. 1: A invenção de
fármacos e a indústria farmacêutica.
5. Golan. Princípios de Farmacologia. 3ª edição. Cap. 49: Descoberta e desenvolvimento pré-clínico de
fármacos.
6. Golan. Princípios de Farmacologia. 3ª edição. Cap. 50: Avaliação clínica e aprovação para regulação
de fármacos.
7. Golan. Princípios de Farmacologia. 3ª edição. Cap. 51: Detecção sistemática de eventos adversos
associados a fármacos.
8. Rang e Dale. Farmacologia. 8ª edição. Cap. 60: Descoberta e desenvolvimento dos fármacos.
9. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/importancia.pdf

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