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ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico

ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA

Volume VI

Vitae Editora
Anápolis (GO), 2021
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E-book transcrito a partir da aula do Professor Edson Luiz

Professor no Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico. Graduado


em Farmácia pela Universidade Estadual de Londrina. Aperfeiçoamento em Farmacologia
na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Fisiologia pela Universi-
dade Federal do Paraná (UFPR). Mestrado em Fisiologia na Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Doutoramento em Ciências Médico-Cirúrgicas na Universidade Federal do Ceará
(UFC). Professor de Graduação – Farmácia. Professor de Pós-graduação- Farmácia Clínica e
Prescrição Farmacêutica.

EXPEDIENTE:
Autor: ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico
Revisão Técnica: Farmacêutica Me. Juliana Cardoso
Produção: Vitae Editora
Edição: Egle Leonardi e Jemima Bispo
Colaboraram nesta edição: Erika Di Pardi e Janaina Araújo
Diagramação: Cynara Miralha

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ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA

PACIENTES GERIÁTRICOS
O Farmacêutico e o Paciente Geriátrico

Uma pergunta importante a se fazer é: qual deve ser a relação entre o profissional farmacêutico
e o paciente geriátrico?

ENVELHECIMENTO
Após a fase da pediatria, associada à criança, e a fase da hebiatria, associada ao adoles-
cente/ jovem adulto, inicia-se a fase da geriatria, associada ao envelhecimento.

Deve-se lembrar o significado do envelhecimento ao longo do tempo. Trata-se do


momento em que o indivíduo alcança uma idade superior a 65 anos, a partir da qual, inicia-se
a chamada ‘terceira idade’ e a pessoa é considerada idosa.

O envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível,


universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os
membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao
estresse do meio ambiente e, portanto, aumente a possibilidade de morte.

IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO
A atuação do farmacêutico tem influência positiva na adesão ao tratamento e na minimi-
zação de erros quanto à administração dos medicamentos, já que esse profissional reafirma
as orientações quanto ao uso suscitado pelos prescritores e avalia os aspectos farmacêuticos
e farmacológicos que possam representar um dano em potencial para o idoso.

Cabe ao profissional fazer uma avaliação marcante dos aspectos farmacêuticos e dos
aspectos farmacológicos.

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A atenção farmacêutica é uma modalidade de exercício profissional em que o farmacêutico
assume um papel ativo em benefício do paciente, ajudando o prescritor na seleção apropriada
e na dispensação dos medicamentos, tomando, dessa forma, a responsabilidade direta na
colaboração com outros profissionais de saúde e com os pacientes para alcançar o resultado
terapêutico desejado.

Observa-se que há uma tríade entre: paciente, outros profissionais e farmacêuticos.


Assim, orienta-se o paciente para que ele alcance a adesão e tenha resultados positivos na
farmacoterapia.

DESAFIOS DA FARMACOTERAPIA GERIÁTRICA

O profissional farmacêutico tem um grande desafio quando está diante do paciente


geriátrico, os quais são:
• Conhecer os aspectos fisiológicos e farmacológicos do envelhecimento;
• Ter um conhecimento enriquecido sobre as relações que o medicamento possui com o
paciente. Dependência – redução da capacidade funcional;
• Conhecer a prevalência de diferentes doenças crônicas que acometem o paciente com
idade avançada e lembrar que se trata de um indivíduo ‘polifarmácia’;
• Adesão ao tratamento.

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CHECKLIST DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO IDOSO
Quando o profissional iniciar o atendimento a um idoso, deve fazer um checklist, pois,
dessa forma, o idoso permitirá que o farmacêutico oriente o trabalho dele até que toda a
atenção farmacêutica tenha sido estabelecida.

Para isso, deve-se:

• Levar em consideração as alterações fisiológicas, comuns ao envelhecimento, e as alterações


farmacocinéticas e farmacodinâmicas, a fim de escolher o medicamento mais adequado.

• Identificar e monitorar o uso de medicamentos potencialmente inapropriados. Muitas


vezes, o paciente precisa de um medicamento e ele faz parte da classe dos medicamentos
inapropriados ao idoso. Nesse caso, o farmacêutico pode acompanhar e monitorar o uso do
determinado fármaco. No primeiro sinal de evento adverso, deve ser solicitado ao prescritor
a modificação da prescrição para evitar que aquela condição de evento adverso continue.

• Identificar as deficiências sensoriais e motoras que podem contribuir para a não adesão
ao tratamento, ou erros de administração e, a partir disso, desenvolver mecanismos que o
auxilie ou propor a troca desses medicamentos junto à equipe médica. Muitas vezes, o paciente
tem dificuldade de visualização, tremores corporais e alterações motoras que dificultam até
mesmo a deglutição do medicamento. Por isso, a identificação dessas dificuldades motoras
irá auxiliar o paciente na adesão ao tratamento, evitando a ocorrência dos erros de administração.
Nesse sentido, o profissional poderá desenvolver mecanismos que possam auxiliar
o paciente a ter ciência do medicamento e do horário que vai utilizar. Muitas vezes, um
trabalho muito simples de uma tabela, com cores ou figuras diferentes indicando qual é o
medicamento, pode orientar o paciente.

• Identificar a real necessidade de cada medicamento prescrito, evitando o uso de


medicamentos desnecessários. Muitas vezes, a prescrição é feita por profissionais diferentes
que não se comunicam, por isso, há riscos da ocorrência de interações medicamentosas,
a partir da qual surge um evento adverso.

• Conhecer os seus hábitos e costumes, de modo a incluir o uso de medicamentos em sua


rotina de maneira saudável. Exemplo: o paciente tem mais hábitos noturnos do que diurnos
e o medicamento precisa ser usado adequadamente. Por isso, ele acaba tendo um sono mais
intenso durante o dia, dorme um pouco mais e acaba perdendo o horário da administração
daquele medicamento.

• Estimular a independência e a importância do autocuidado. Há uma orientação sempre


vinculada ao cuidado limitado e ao autocuidado. O cuidado limitado envolve uma equipe
médica que inclui não apenas o profissional médico, mas outros profissionais que atuam
participando da manutenção da vida e cura do paciente e está relacionado à área de trauma,
em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), locais nos quais o paciente não tem o autocuidado,
por isso, depende de outros para manter suas características fisiológicas. Além disso,
pacientes psiquiátricos também possuem cuidado limitado à atuação de outros profissionais.
Os demais pacientes (a maioria dos idosos) têm um cuidado que deve ser compartilhado.
Dentro desse contexto, insere-se o autocuidado. Desde que o paciente tenha condições
motoras, cognitivas e consiga executar suas tarefas diárias, ele precisa ser orientado em
relação ao autocuidado. Exemplo: se for para tomar o medicamento às 10h da manhã,

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deve-se orientar para que tome o remédio nesse horário. Caso contrário, sua pressão pode
aumentar, bem como a glicemia. Com isso, haverá consequências do uso incorreto do
medicamento ou da adesão. Ainda é possível que o paciente tenha uma série de elementos
que não permita que consiga realizar o tratamento da forma correta, porém, o farmacêutico
não deve deixar de estimulá-lo a executar essa tarefa.

• Educar o indivíduo com relação aos seus problemas de saúde, à importância do


tratamento e à mudança de hábitos de vida. O paciente deve ter ciência da condição na qual
se encontra e que ela pode agravar, caso não siga as orientações dadas previamente.

Após todos esses aspectos, é necessário elaborar um plano de acompanhamento farmaco-


terapêutico com foco na adesão ao tratamento farmacológico.

Diante da elaboração do plano de acompanhamento, o farmacêutico tem a tarefa de orientar


o paciente. É satisfatório quando a orientação é adotada pelo paciente e os resultados fisiológicos
aparecem por meio de avaliações clínicas e exames laboratoriais, de modo que, o cuidado
estabelecido faça com que o paciente mantenha, por exemplo, a sua pressão arterial sistêmica,
o colesterol (HDL) em valores normais, redução do LDL, redução dos triglicerídeos, redução
da hemoglobina glicada, redução da glicação das proteínas, manutenção da glicemia dentro
das condições normais, ganho de massa corporal (o indivíduo ganha mais massa magra) ou
diminuição (ele deixou o sedentarismo ao fazer caminhadas), melhora da qualidade de vida
e mudança no perfil da dieta. Para alcançar esses resultados, é necessário ter um plano de
acompanhamento que envolva:
• Elaboração da caixa organizadora para armazenamento (medicamentos separados por
horário), na qual o paciente geriátrico distribua os medicamentos de acordo com o horário
apropriado para cada um deles. Nessa caixa de armazenamento, deve ser sinalizada uma
quantidade específica do medicamento a ser administrada diariamente.
• Elaboração de tabela de orientação farmacêutica para a utilização do medicamento de
modo correto;
• Apresentação de aulas didáticas sobre hipertensão, diabetes, insulinoterapia e hiperco-
lesterolemia, suas complicações e tratamento;
• Orientação quanto ao uso correto das doses de insulina (demonstração prática),
por meios educativos.

Exemplos de caixas para armazenamento:

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Observa-se que as caixas representam um ambiente próprio para a recepção dos medica-
mentos, diariamente administrados, contém a indicação de cores e o horário de administração,
auxiliando o paciente a aderir ao tratamento.

O plano de acompanhamento ainda envolve:

• Aconselhamento farmacêutico sobre a importância da mudança de hábitos de vida,


com base na prática de atividades físicas e em uma alimentação adequada e saudável;

• Aconselhamento sobre a importância do automonitoramento (valores diários de glicemia e PA);

• Acompanhamento da adesão pela contagem mensal de comprimidos na consulta


farmacêutica. Exemplo: caso o paciente precise administrar sete unidades durante sete dias
(sendo uma por dia) e, analisando a caixinha, observa-se que uma ou duas unidades permanecem
lá, o paciente não está aderindo ao tratamento;

• Abordagem pessoal com o médico prescritor;

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS E FARMACOCINÉTICAS EM GERIATRIA


O processo de desenvolvimento do envelhecimento é marcado por importantes alterações
de cunho farmacocinéticos advindos de alterações fisiológicas.

Ao analisar a tabela acima, percebe-se que indivíduos acima dos 60 anos possuem uma
porcentagem de água corporal em torno de 53% em comparação com os adultos jovens,
que têm em torno de 61%. Já a massa muscular sofre um decréscimo para 12% em idosos. A
gordura corporal, no gênero feminino e masculino, sofre um acréscimo, porém, no gênero
feminino o acréscimo é maior. Os níveis de albumina sérica, responsáveis pelo transporte de
substâncias, sofrem um decréscimo que provoca o aumento da fração livre. A massa renal

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sofre uma redução para 80% em comparação ao adulto jovem e o fluxo sanguíneo hepático
declina em quase 40%, ficando em torno de 60%.

Na tabela abaixo, percebe-se que as alterações em termos farmacocinéticos são nítidas:

ABSORÇÃO
O paciente geriátrico apresenta redução do número de células intestinais, aumento do
tempo de esvaziamento gástrico, redução do trânsito intestinal e aumento de pH gástrico.
Esses fatores dos pacientes geriátricos se assemelham aos fatores do corpo de um paciente
pediátrico.

DISTRIBUIÇÃO
O paciente geriátrico apresenta aumento da gordura corporal, redução da água corporal,
redução da massa corporal e redução da albumina sérica. Nesse caso, os dados não se
assemelham aos de um paciente pediátrico. Também é possível perceber que há uma maior
possibilidade de ocorrer uma maior fração livre de fármacos, podendo deflagrar importantes
eventos adversos.

BIODISTRIBUIÇÃO
O paciente geriátrico apresenta redução da massa hepática, redução do fluxo sanguíneo,
redução da atividade citocromo P450 e do metabolismo de primeira passagem.

ELIMINAÇÃO
Redução da massa renal, redução no número de glomérulos, redução da taxa de filtração
glomerular e do fluxo sanguíneo renal.

Diante de um paciente, no transcorrer do envelhecimento, é possível perceber:

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Também é possível perceber que, ao longo da vida, ocorre:

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