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ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico

ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA

Volume II

Vitae Editora
Anápolis (GO), 2021

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E-book transcrito da aula do professor André Schmidt Suaiden

Professor no Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico na área


de Farmacologia e Farmácia Clínica. Graduação em Farmácia pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP). Especialista em Atenção Farmacêutica. Formação Farmácia Clínica.
Mestrado em Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Doutorando
em Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Desenvolve pesquisa
relacionada à asma, farmácia clínica (acompanhamento farmacoterapêutico, semiologia
farmacêutica e clínica farmacêutica no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Facul-
dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/INCOR). Membro titular da comissão
de ética (CEUA-USP). Coordenador Geral do Curso de Verão em Farmacologia do Instituto
de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Membro da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Te-
rapêutica Experimental (SBFTE). Membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária
(SBFC). Membro da Comissão Assessora de Farmácia do Conselho Regional de Farmácia do
Estado de São Paulo (CRF-SP). Membro da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas
(ABCF). Membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica (SBFC).

EXPEDIENTE:
Autor: ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico
Revisão Técnica: Farmacêutica Me. Juliana Cardoso
Produção: Vitae Editora
Edição: Egle Leonardi e Jemima Bispo
Colaboraram nesta edição: Erika Di Pardi e Janaina Araújo
Diagramação: Cynara Miralha

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ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA

GERIATRIA
A Organização Mundial da Saúde (OMS), com base em fatores socioeconômicos, considera
idoso todos os indivíduos com 65 anos ou mais. Em países com expectativa de vida mais
baixa, pode-se reduzir para 60 anos.

Convém ressalta que o grupo dos muitos idosos é o que mais cresce proporcionalmente
no país.

Classificação:
• Idosos jovens: 60 – 69 anos;
• Idoso velhos: 70 – 79 anos;
• Muito Idoso: 80 anos ou mais.
O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural da diminuição
progressiva da reserva funcional – senescência. No entanto, em condições de sobrecarga,
como em casos de doenças ou estresse, pode ocasionar uma condição patológica, que
requeira assistência – senilidade.

O progressivo envelhecimento populacional foi responsável por uma nítida mudança


no perfil de morbidade dos pacientes. As doenças infecciosas, que antes matavam a popu-
lação, deram lugar às doenças crônicas.

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No gráfico abaixo, é possível observar a distribuição etária da população, entre 2000
e 2040:

A administração de medicamentos pode gerar reações indesejadas nesta população.


A polifarmácia, a duração do tratamento e a complexidade dos regimes podem contri-
buir para tal fato, mostrando que, quanto maior o número de utilização de medicamento,
maior a porcentagem de chances de uma reação adversa ao medicamento.

É frequente a prescrição de medicamentos com finalidade de corrigir efeitos colaterais


provenientes de outros agentes administrados anteriormente. Trata-se da cascata iatrogênica,
que pode levar a uma cadeia de reações indesejáveis gerando uma cascata iatrogênica.

Um exemplo: se a pessoa receber um inibidor de enzima conversora de angiotensina


para hipertensão, ao ir ao médico, pode ocorrer os seguintes passos:

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Os medicamentos mais utilizados por idosos são os fármacos que atuam no sistema
cardiovascular, considerados, junto com fármacos do sistema nervoso central, antibióticos
e anti-inflamatório, os maiores agentes iatrogênicos.

A reconciliação medicamentosa no paciente idoso requer atenção especial do farmacêutico.


O idoso utiliza muitos medicamentos de forma contínua.

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Ao verificar a lista de medicamentos de uso contínuo do paciente na farmácia, o
farmacêutico pode avaliar suas comorbidades e condições clínicas atuais, correlacionando
com a prescrição. Em ambiente hospitalar, alguns medicamentos de uso contínuo serão
descontinuados até a recuperação ou a estabilização da condição aguda do paciente.

Por exemplo, um paciente hipertenso internado com sepse não receberá seus anti-hipertensivos
até sua estabilização. E o farmacêutico contribui para o monitoramento.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA
No atendimento de um idoso, o farmacêutico deve estar preparado para ouvi-lo, levando
em conta suas informações, discutir com ele sobre seu tratamento e estado de saúde.
Em alguns casos, o acompanhante pode querer tomar o lugar do paciente durante a
entrevista, respondendo por ele todas as perguntas. Cabe ao farmacêutico intervir e garantir
o direito do paciente. Não raro, ocorrem divergências entre acompanhante e paciente durante
uma consulta, podendo o farmacêutico controlar a situação e buscar um consenso. A presença
do acompanhante tem que ser autorizada pelo paciente.

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A anamnese sempre será a base para os cuidados de um paciente. A relação farma-
cêutico paciente surge durante essa etapa. Caso seja bem conduzida, a relação cresce e se
fortalece, caso contrário, o paciente vai se afastando do farmacêutico. É a relação amistosa
que faz com que o indivíduo siga as orientações do farmacêutico, como modificar estilo de
vida, aderir ao tratamento ou mesmo fazer exercício físico. Quando se consegue despertar
a confiança no paciente, ocorre a chamada Aliança Terapêutica.

INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARELHOS


Em deficientes idosos, é fundamental fazer o Interrogatório sobre Diversos Aparelhos
(ISDA), capaz de avaliar:

A partir do ISDA, é possível fazer uma conduta com os passos para uma medicação
segura.

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Caso o paciente seja analfabeto, é preciso fazer tabelas, como na imagem abaixo, para
que não haja confusão na hora de tomar os medicamentos.

Caixinhas coloridas, com sinalizações do horário, também são boas opções para facilitar
pacientes analfabetos.

Além disso, a própria prescrição pode conter tirinhas com cores para que o paciente
saiba exatamente o horário em que o indivíduo deve tomar a medicação.

TROMBOEMBOLISMO
Existem algumas abordagens terapêuticas para pacientes idosos, como o Tromboem-
bolismo (TEV). Em pacientes maiores que 55 anos, considerados alto risco para TEV, é
preciso avaliar a função renal e coagulograma.
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ÚLCERA DE ESTRESSE
Muitos pacientes utilizam inibidores de bomba de prótons ou antagonistas de recep-
tores de H2, como a Ranitidina, sem indicação específica. O farmacêutico deve avaliar a
necessidade, observando perda óssea.

MOTIVOS QUE LEVAM OS PACIENTES A SEREM INTERNADOS


Pneumonia:

O envelhecimento favorece aparecimento de infecções do trato respiratório:


- Redução mobilidade da caixa torácica e elasticidade pulmonar;
- Diminuição da pressão máxima de inspiração e expiração;
- Diminuição da mobilidade dos cílios da árvore respiratória;
O envelhecimento do sistema imune (imunossenescência):

- Predisposição do idoso a processos infeciosos.

O farmacêutico clínico participa do tratamento dos idosos, internados com pneumonia,


avaliando indicação dos antibióticos, cultura, função renal e ajuste de dose.

Devido à associação entre gripe e pneumonia, recomenda-se a vacinação anual.

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU)


As pessoas idosas têm maiores prevalências de ITU, devido a fatores que compõem a
urina (aumento de pH, menor concentração ureia, menor ingestão de líquidos), alterações do
epitélio vesical e esvaziamento vesical incompleto. Tais alterações necessitam de anti-
bioticoterapia, no entanto, esses antibióticos necessitam atingir a concentração plasmática.
Ainda é necessário fazer exames de urina para cultura e antibiograma e avaliar distúrbios
hidroeletrolíticos.

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DELIRIUM
O Delirium leva grande parte das internações de idosos. Trata-se de um estado confes-
sional agudo, caracterizado pelo comprometimento agudo das funções cognitivas (memória,
atenção, linguagem, reconhecimento pessoal e localização temporaespacial) desenvolvidos
em horas dias ou semanas.

Os tratamentos com medidas não farmacológicas estão relacionados à adequação


ambiental (presença de calendário, relógio, janela, iluminação, adequada familiaridade,
ambiente tranquilo) e orientação dos familiares.

Já os tratamentos farmacológicos, pode ser feito por meio de:


• Benzodiazepínicos (efeitos paradoxais): medo, angústia, insônia e boca seca);
• Neurolépticos: são os mais adequados, como Haloperidol, Risperidona (1 a 4mg/dia),
Olanzapina (2,5 a 10mg/dia).
• Levopromazina e clorpromazina: não são aconselháveis, por terem efeito antico-
linérgico importante (boca seca, taquicardia, vertigem, retenção urinária, pressão baixa).

FRATURAS
As principais causas de fraturas ocorrem por meio da osteoporose e quedas. A diminuição
da densidade mineral óssea (DMO) nos idosos explica o aumento de risco de fraturas.

Os idosos se beneficiam muito mais com a diminuição do risco do que com o uso
de medicamentos que atuam na remodelação óssea.

Medidas higiênico dietéticas são de baixo custo e muitas vezes suficientes, como parar
de fumar, diminuir ingestão alcóolica, substituir medicamentos que possam induzir
metabolismo ósseo, aumentar ingestão de cálcio e exercício físico.

É recomendado que se evite medicamentos que possam ocasionar quedas (benzodia-


zepínicos, anti-histamínico), além de medicamentos que interferem na incidência de fraturas
(vértebras, terapia de reposição hormonal, corticoides).

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia recomenda a manutenção de níveis de vitamina


D superior a 30ng/dL. (doses diárias de 1.000 a 2.000 UI).

No aprazamento, os Benzodiazepínicos e depressores do SNC devem ser administrados


a noite, quando o idoso está pronto para dormir, para que não aumente a chance de queda.

Lembrando que é imprescindível olhar de perto as interações medicamentosas em idosos,


principalmente as inapropriadas:

⮚Antagonistas de receptores alfa 1 (Clonidina) com diuréticos de alça (furosemida),


provoca incontinência urinária em mulheres;

⮚Uso concomitante de três ou mais drogas que atuam no sistema nervoso central,
devido a maior risco de queda.

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ATUALIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE BEERS AGS 2019, PARA MEDICAÇÕES
POTENCIALMENTE INAPROPRIADAS EM IDOSOS
https://www.sbgg-sp.com.br/atualizacao-dos-criterios-de-beers-ags-2019-para-
-medicacoes-potencialmente-inapropriadas-em-idosos/

MONITORAMENTO
Na avaliação de farmacoterapia do paciente, pode ser necessário o monitoramento
de nível sérico de fármaco.
• Exames como TGP e TGO;
• Função renal (ureia e creatinina);
• Níveis séricos de fármacos;
• Tempo de protrombina;
• Glicemia de jejum, série lipídica.
O farmacêutico pode avaliar os sinais vitais desses pacientes.

PECULIARIDADE NO EXAME FÍSICO


Modificações decorrentes do envelhecimento:

A pele se torna flácida, formando pregas, em virtude da redução das glândulas sudoríparas
(cútis romboidal).

Surgem manchas hipercrônicas (melanose senil).

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As unhas passam a crescer lentamente, tornando-se espessas e curvas (onicogrifose).

EQUILÍBRIO E MOBILIDADE
Para avaliar o equilíbrio utiliza-se o Teste de Robmberg. De olhos abertos ou fechados,
é pedido para o paciente sustentar o peso do seu corpo pelos calcanhares e as pontas dos
pés.

Outro teste utilizado é o Get up and go test, em que o profissional pede ao paciente
para caminhar três metros e voltar dez segundos. Caso ele demore mais de 30 segundos,
evidencia-se o risco de queda.

FUNÇÃO COGNITIVA
Existem testes que avaliam a função cognitiva, sendo esse um pequeno exame do estado
mental em que a pontuação varia até 30 pontos. Valor abaixo de 24 indica comprometi-
mento cognitivo (demência) – 24 a 26 são considerados limítrofes. É importante salientar
que necessita de pelo menos oito anos de escolaridade para obter a pontuação.

Para pacientes analfabetos ou com menos de oito anos de escolaridade utiliza-se o questio-
nário resumido (miniexame do estado mental):

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Resultado:
• 0 a 2: estado mental intacto;
• 3 a 4: dano intelectual leve;
• 5 a 7: dano intelectual moderado;
• 8 a 10: dano intelectual grave.

CONDIÇÕES EMOCIONAIS
Para avaliar as condições emocionais utiliza-se o teste denominado Escala Geriátrica
de Yessage:
• Normal: até 5;
• Depressão: 7 ou mais;
• Depressão grave: 11 ou mais.

AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA)


Desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o objetivo da AGA
é investigar a independência e a dependência nas tarefas do dia a dia.

Existe ainda uma Escala de Depressão Geriátrica (GDS), capaz de sinalizar se o paciente
idoso está em estado de suspeita de depressão. Com o resultado em mãos, é possível fazer
o encaminhamento para o médico.

Outro teste muito utilizado é o questionário de Amorinsky, em que o farmacêutico vai


conversar com o paciente utilizando “sim” ou “não”.

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CICLO DO ENVELHECIMENTO

PARA PENSAR
“A redefinição dos modelos de cuidados prestados por farmacêuticos não irá acontecer
se nós simplesmente continuarmos fazendo o mesmo que temos feito e investido nossos
escassos recursos da mesma forma. É hora de sermos ousados e contundentes em nossas
ações. Precisamos de uma revolução na maneira de pensar a prática farmacêutica, que nos
coloque na vanguarda dos cuidados ao paciente”- Henry R Manasse.

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