Você está na página 1de 35

Consultoria e Treinamento em

Medicina do Trabalho Ltda.

Automedicação
Um problema de saúde pública
A auto-medicação
 Os medicamentos servem para aliviar e curar muitas
disfunções e doenças. Paradoxalmente, podem piorar e/ou
gerar disfunções e outros problemas ainda mais graves
para o paciente.

 A automedicação, prática de ingerir


medicamentos por conta e risco próprio,
sem o acompanhamento de um profissional
da saúde, pode agravar os efeitos colaterais
indesejáveis dos medicamentos.
A auto-medicação
 Paracelso, um alquimista que viveu de 1493 a 1541, já
afirmava que “a dose correta é o que diferencia um veneno
de um remédio” .

 Por isso uma dose acima da recomendada, administrada


por via inadequada (via oral, intramuscular, retal...) ou
usada sem indicação, pode transformar um medicamento
em algo perigoso.
Interação Medicamentosa
 Um medicamento pode potencializar a ação de outro.

 Perda de efeitos por ações opostas.

 A ação de um medicamento pode alterar a absorção,


transformação no organismo, ou a excreção de outro
fármaco.
Conseqüências

 Efeitos indesejáveis.

 Enfermidades iatrogênicas (cura


uma enfermidade, provocando
outra).

 Pode mascarar sintomas de


doenças mais graves.
O consumo
 Em países desenvolvidos, o número de medicamentos de
venda livre tem crescido nos últimos tempos, assim como a
disponibilidade desses medicamentos em estabelecimentos
não farmacêuticos.

 Pelo menos 50% das vendas dos medicamentos tradicionais


no mercado brasileiro correspondem a auto-medicação.
O consumo
 No Brasil, 80 milhões de pessoas são adeptas da auto-
medicação.

 A auto-medicação no Brasil é praticada principalmente por


mulheres entre 16 e 45 anos.

 Entre os homens, essa prática é mais freqüente nos


idosos.
O consumo

 Grande parte dos medicamentos


são adquiridos para uso familiar, o
que possibilita problemas como
inadequação, incompletude dos
tratamentos e contaminação
cruzada de pessoas da família
pelo uso de colírios, gotas nasais,
entre outros.
Os mais procurados

Na Tabela encontra-se a distribuição dos


medicamentos por subgrupos ordenados
segundo a freqüência. Foram incluídos
todos os medicamentos que representam
mais de 2,0% do total (agrupados
representam 70,7% do total). Destaca-se
especialmente o subgrupo dos analgésicos,
com 17,3% da freqüência geral.

Paulo Sérgio D. Arrais, et all . Perfil da automedicação


no Brasil, Aspects of self-medication in Brazil Rev.
Saúde Pública vol. 31 no. 1 São Paulo Feb. 1997.
Os mais procurados

Paulo Sérgio D. Arrais, et all . Perfil da automedicação no Brasil, Aspects of self-medication in Brazil Rev.
Saúde Pública vol. 31 no. 1 São Paulo Feb. 1997.
Causas
 A dificuldade de uma boa parte das pessoas em terem
acesso ao atendimento médico ou odontológico.

 Hábito de tentar solucionar os problemas de saúde


corriqueiros tomando por base a opinião de algum conhecido.

 O excesso de propagandas de medicamentos nos principais


meios de comunicação, como televisão e revistas.
É gripe? Tome Benegripe!!!
Tomou Doril, a dor sumiu!!!
Causas
 O não-cumprimento da obrigatoriedade da apresentação
da receita médica.

 A carência de informação e instrução da população em


geral.
Os responsáveis
 O consumidor

 O balconista da farmácia

 A indústria farmacêutica

 As propagandas

 Hábitos culturais
Os responsáveis
 A escolha de medicamentos é baseada principalmente na
recomendação de pessoas leigas (51,0%),

 É relevante a influência de prescrições anteriores (40,0%).

 É possível que a última visita ao médico tenha uma


influencia no perfil dos medicamentos escolhidos.

 Observa-se maior cuidado com a escolha de fármacos para


crianças e idosos (maior taxa de recomendação por
profissionais de saúde).
Motivos da auto-medicação
Agrupando algumas das variáveis
fechadas do presente estudo
observou-se que em 24,3% dos
casos o motivo da procura do
medicamento se relacionava a
sintomas dolorosos (dor de cabeça,
dor muscular, cólica, dismenorréia,
outros) e 21,0% com quadros
viróticos ou infecciosos (infecção
respiratória alta e diarréia).

Paulo Sérgio D. Arrais, et all . Perfil da automedicação


no Brasil, Aspects of self-medication in Brazil Rev.
Saúde Pública vol. 31 no. 1 São Paulo Feb. 1997.
Dipirona
 O uso indiscriminado pode provocar uma
agranulocitose e uma anemia aplásica.

 É proibida a comercialização em muitos países,


como nos EUA, Alemanha e Austrália.

 Pode causar vasculite, que se apresenta como


síndrome de choque.

 Deve ser evitado em casos de suspeita de


dengue.
Hollington, I. ; Haas,M.; Stachon, A .; Zenz, M.; Meier, C. Dipyrone and the risk evaluation of serious blood dyscrasias and
agranulocitosis in postoperative pain treatment: A case-control study. In: Congress of International Association Study of Pain,
293-P270, 2005. Sydnei, Austrália
Paracetamol
 A overdose (acima de 4g de paracetamol/dia)
pode causar insuficiência hepática aguda e
levar à morte.

 O uso concomitante com o álcool, ou mesmo


no período de “ressaca” pode potencializar
este efeito hepatotóxico.

 Nos Estados Unidos, o paracetamol é a


principal causa de morte por intoxicação de
todos os remédios que existem no país.
Antibióticos
 O uso indiscriminado selecionou inúmeras
bactérias resistentes, que são uma das
principais causas de morte por sepse em
todo o mundo.

 Podem propiciar o surgimento de


infecções oportunistas, como por exemplo
a candidíase.

 Podem diminuir o efeito de pílulas


anticoncepcionais.
Antiinflamatórios
 Podem provocar gastrites e úlceras pépticas.

 Estão entre as grandes causas de insuficiência


renal.

 Aumentam o risco em até 40% de ataques


cardíacos, mortes súbitas e derrames
(diclofenaco de sódio).

 Corticoesteróides: possuem efeitos colaterais


sérios como osteoporose, catarata, diabetes,
hipertensão e edema periférico.
Antiinflamatórios
 O uso concomitante com anticoagulante pode modificar o
controle desse remédio e levar à hemorragia.

 Podem trazer graves problemas cardíacos e até alergias


fatais.

 Podem mascarar sinais clínicos de doenças agudas, como


a apendicite.
Pílulas anticoncepcionais
 Aumento do risco de trombose, principalmente se associado
ao cigarro.

 Os anticoncepcionais orais produzem transtornos no


metabolismo da glicose (açúcares). As diabéticas não devem
usar e nas formas latentes da doença (pré-diabetes) os
comprimidos podem evidenciar o diabetes.
Pílulas do dia seguinte

 Se for usado em mais que uma


ocasião, o índice de falha
acumulativo será mais elevado.

 Não deve ser usado para o uso


rotineiro como um contraceptivo.
Laxantes
 O seu uso constante pode causar constipação.

 Frequentemente provoca um desequilíbrio do balanço


eletrolítico, o que leva à retenção líquida ou ao edema.

 Perda líquida excessiva pode causar uma desidratação,


prejudicando as funções normais do organismo.

 Predispõe sangramentos intestinais, acarretando em anemia.


Vitaminas
 O excesso de vit. C pode predispor à formação de
cálculos nos rins.

 O excesso de vit. B6 pode provocar intoxicações


neurológicas, surgindo sintomas como formigamentos
nas mãos e diminuição da audição.

 O excesso de Niacina pode provocar coceira, ondas


de calor, hepatotoxicidade, distúrbios digestivos e
ativação de úlceras pépticas.
Vitaminas
 O excesso de vit. A pode gerar pele seca, áspera e
descamativa, fissuras nos lábios, ceratose folicular,
dores ósseas e articulares, dores de cabeça, tonturas
e náuseas, queda de cabelos, cãibras, lesões
hepáticas, paradas do crescimento e dores ósseas.
Além disso, em mulheres grávidas está associada a
uma maior incidência de defeitos congênitos
específicos das crianças.

 O excesso de vit. D pode provocar alterações ósseas.


Viagra
 Os efeitos colaterais mais freqüentes são: dor de cabeça,
rubor facial, má digestão, congestão nasal, alteração na visão
das cores (azul / verde) e diarréia.

 Não há efeito adicional em homens que não apresentam


disfunção erétil.

 O uso concomitante com nitratos pode levar a uma severa


hipotensão, e até à morte.
Inibidores do apetite
 O Brasil é o primeiro no ranking mundial dos países que
têm maior consumo de inibidores de apetite.

 O usuário de anfetamina fica comumente mais irritável,


agressivo, ansioso. Pode apresentar síndrome do pânico
que é caracterizado por sintomas como: sensação de
morte iminente, falta de ar, sudorese, tremores,
formigamentos, desconforto digestivo, vertigem, sensação
de desmaio, palpitação, ondas de calor ou calafrios e
medo.

 Com o tempo de uso e dose, o usuário de anfetamina


começa a suspeitar de que outros estão tramando contra
ele. A função cerebral passa a ficar seriamente
comprometida, confusa, ocorrendo: paranóias,
compulsões, delírios e até alucinações.
Conclusão
 É ingênua e excessiva a crença da sociedade atual no poder dos
medicamentos, o que contribui para a crescente demanda por
produtos farmacêuticos.

 Com o crescimento da indústria farmacêutica, o medicamento foi


incorporado à dinâmica da sociedade de consumo, tendo sido
afastado de suas finalidades originais, como a prevenção,
diagnóstico e tratamento das enfermidades.

 Todas essas informações reforçam a necessidade de conscientizar


a população sobre o uso adequado de medicamentos e os riscos
inerentes ao seu uso indevido e excessivo.
Referências Bibliográficas
 1. BAÑOS, J.E. et al. La automedicación con analgésicos: estudio en el dolor odontologico. Med. Clín. Barc., 96: 248-
51, 1991. [ Links ]

 2. BARROS, J.A.C. et al. Antibióticos, analgésicos e vitaminas: uso e abuso em Recife-Brasil. Recife, Grupo Recifense
de Defesa do Consumidor de Medicamentos, 1984. [ Links ]

 3. BENFICA, F.S. et al. Avaliação do controle de venda de medicamentos em uma amostra de farmácias em Porto
Alegre - RS. Rev. AMRIGS, 27: 496-9, 1983. [ Links ]

 4. BUKO PHARMA KAMPAGNE. Dypirone: a drug no one needs. Bielefeld, Amsterdam,1989. [ Links ]

 5. CAMPOS, J.M. et al. Prescrição de medicamentos por balconistas de 72 farmácias de Belo Horizonte/MG em maio
de 1983. J. Pediatr., 59: 307-12, 1985. [ Links ]

 6. CAPELLÀ, D. & LAPORTE, J.R. Métodos aplicados en estudios descriptivos de utilización de medicamentos. In:
Laporte, J.R. & Tognoni, G. Principios de epidemiologia del medicamento. 2ª ed. Barcelona, Masson-Salvat, 1994. p.
67-93. [ Links ]

 7. CARLINI, E.A. & MASUR, J. Venda de medicamentos sem receita médica nas farmácias de São Paulo. Rev. Assoc.
Med. Bras., 32:75-8, 1986. [ Links ]

 8. CASTELLS, P.A. Efects indesitjables dels medicaments sobre el fetge detectats durante 6 anys amb el sistema de
notificación voluntária de reaccions adverses a medicaments: la targeta groca. Barcelona, 1990. [Tese de Doutorado -
Faculdad de Medicina - Universitat Autónoma de Barcelona]. [ Links ]

 9. CENTRAL DE MEDICAMENTOS (CEME). Memento terapêutico CEME da Relação Nacional de Medicamentos


Essenciais - RENAME. Brasília, 1989. [ Links ]
Referências Bibliográficas
 10. CHETLEY, A. A health business? World health and the pharmaceutical industry. London, Zed Books, 1990.
[ Links ]

 11. COELHO, H.L.L. et al. Selling abortifacients over the counter in pharmacies in Fortaleza. Lancet, 338: 247, 1991.
[ Links ]

 12. COELHO, H.L.L. et al. Misoprostol: the experience of women in Fortaleza, Brazil. Contraception, 49: 101-10, 1994.
[ Links ]

 13. DELUCIA, R. et al. Consumo de medicamentos, bebidas alcoólicas e cigarros por operários de Cubatão. Rev.
Assoc. Med. Bras., 33: 215-8, 1987. [ Links ]

 14. FRANCO, R.C.S. et al. Consumo de medicamentos com um grupo populacional da área urbana de Salvador-BA.
Rev. Baiana Saúde Pública, 13/14: 113-21, 1986/1987. [ Links ]

 15. HAAK, H. Padrões de consumo de medicamentos em dois povoados da Bahia (Brasil). Rev. Saúde Pública, 23:
143-51, 1989. [ Links ]

 16. HAINES, A. Health care in Brazil. BMJ, 306:503-6, 1993. [ Links ]

 17. INTERNATIONAL AGRANULOCYTOSIS AND APLASTIC ANEMIA STUDY. Risks of agranulocytosis and aplastic
anemia: a first report of their relation to drug use with special reference to analgesics. JAMA, 256: 1749-57, 1986.
[ Links ]

 18. IVANNISSEVICH, A. Os perigos da automedicação. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23, jan., 1994. [ Links ]
Referências Bibliográficas
 19. LAPORTE, J.R. et al. Blood dyscrasias and the relative safety of non-narcotic analgesics. Lancet, 1:809, 1987.
[ Links ]

 20. MANZANO, V. Domine el SPSS/PC+. Madrid, Rama, 1989. [ Links ]

 21. MATA, M. et al. Indicadores de la calidad de la prescripción por patologías crónicas. Aten. Primaria, 7:564-9, 1990.
[ Links ]

 22. MINTZES, B. Consumer-oriented information. In: Bonati, M. & Tognoni, G., ed. Health Information Centres in
Europe: What is their status? How should they develop? Milan, Regional Drug Information Centre/Instituto di Richerche
Farmacologiche "Mario Negri/International Society of Drug Bulletins, 1994. [Report of the workshop held at the Clinical
Research Center for Rare Diseases, Ranica, Bergamo, 1994]. [ Links ]

 23. MORATO, G.S.R. et al. Avaliação da automedicação em amostra da população de Florianópolis. ACM Arqs.
Catarin. Med., 13: 107-9, 1984. [ Links ]

 24. NITSCHKE, C.A.S. et al. Estudo sobre o uso de medicamentos em quatro bairros de Porto Alegre. Rev. Assoc.
Med. RGS, 25: 184-9, 1981. [ Links ]

 25. NORUSIS, M.J. SPSS: statistical data analysis, reference guide. Chicago, SPSS Inc., 1990. [ Links ]

 26. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Uso de medicamentos essenciales. Ginebra, 1988. (OMS - Serie de
Informes Técnicos, 770). [ Links ]
Referências Bibliográficas
 27. PAULO, L.G. & ZANINE A. C. Automedicação no Brasil. Rev. Ass. Med. Bras., 34: 69-75, 1988. [ Links ]

 28. SIERRA, R.M. et al. Botiquines familiares: un estudio epidemiológico. Farmacoterapia, 3: 47-51, 1986.
[ Links ]

 29. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for the medical assessment of drugs for use in self-medication.
Copenhagen, 1986. [ Links ]

 30. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology and Nordic Council on
Medicines. Guidelines for ATC classification. Oslo, 1990.

 31. Paulo Sérgio D. Arrais, et all . Perfil da automedicação no Brasil, Aspects of self-medication in Brazil Rev. Saúde
Pública vol. 31 no. 1 São Paulo Feb. 1997.
OBRIGADO!

Você também pode gostar