Você está na página 1de 15

1

ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico

ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA


André Schmidt Suaiden
Volume I

Vitae Editora
Anápolis (GO), 2021

2
Professor André Schmidt Suaiden

Professor no Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico na área


de Farmacologia e Farmácia Clínica. Graduação em Farmácia pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP). Especialista em Atenção Farmacêutica. Formação Farmácia Clínica.
Mestrado em Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Doutorando
em Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Desenvolve pesquisa
relacionada à asma, farmácia clínica (acompanhamento farmacoterapêutico, semiologia
farmacêutica e clínica farmacêutica no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Facul-
dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/INCOR). Membro titular da comissão
de ética (CEUA-USP). Coordenador Geral do Curso de Verão em Farmacologia do Instituto
de Ciências Biomédicas (ICB/USP). Membro da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Te-
rapêutica Experimental (SBFTE). Membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária
(SBFC). Membro da Comissão Assessora de Farmácia do Conselho Regional de Farmácia do
Estado de São Paulo (CRF-SP). Membro da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas
(ABCF). Membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica (SBFC).

EXPEDIENTE:
Autor: ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico
Revisão Técnica: Farmacêutica Me. Juliana Cardoso
Produção: Vitae Editora
Edição: Egle Leonardi e Jemima Bispo
Colaboraram nesta edição: Erika Di Pardi e Janaina Araújo
Diagramação: Cynara Miralha

3
ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PEDIATRIA, HERBIATRIA E GERIATRIA
Por André Schmidt Suaiden

INTRODUÇÃO
O uso de medicamentos por populações especiais como crianças, adolescentes e idosos
pode proporcionar respostas diferentes daquelas previstas em indivíduos adultos. Essas
diferenças se dão por conta das particularidades biológicas que caracterizam os pacientes.

A atuação farmacêutica no processo de cuidado primário à saúde proporciona grande


contribuição à qualidade de vida, promovendo o uso racional de medicamentos e otimizando
os resultados da farmacoterapia. Nesse sentido, a elaboração de um planejamento específico
de cuidado a esses pacientes permite não somente atingir os objetivos terapêuticos como
também minimizar possíveis problemas decorrentes do uso de medicamentos.

FARMÁCIAS NO BRASIL
A farmácia não é um simples comércio, mas sim um estabelecimento de saúde.

Pesquisas apontam que mais de 36 milhões de brasileiros têm hipertensão crônica e apenas
50% foram diagnosticados. No caso de diabetes, quase metade dos portadores nem imaginam
que têm a doença. Dois terços dos brasileiros não sabem que possuem alto índice de colesterol.
O Brasil também é um dos países com maior diagnóstico de asma, mas, às vezes, o farma-
cêutico não repassa as informações corretas para esse paciente. Metade dos brasileiros com
depressão também não se atentaram para a doença. O hábito de fumar desponta como
outro índice alarmante, capaz de matar 6 milhões de pessoas por ano, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS). E esses são apenas alguns exemplos do cenário.

Nesse contexto, a farmácia, por ser um estabelecimento de saúde, pode contribuir para
a rastreabilidade, screening (triagem) e adesão ao tratamento desses pacientes.

As resoluções 585/13 e 586/2013 fazem as atribuições clínicas do farmacêutico, norteando


o que profissional deve ou não fazer no estabelecimento.
4
PEDIATRIA
A pediatria é dividida em:
• Neonatologia(0-28d);
• Puericultura(1m-10a);
• Hebiatria (10a-20a).
Segundo Bisson (2007), está comprovado que o trabalho do farmacêutico aumenta a adesão
aos tratamentos farmacoterapêuticos e diminui custos nos sistemas de saúde, ao monitorar
reações adversas e interações medicamentosas, ajudando a melhorar a qualidade de vida
dos pacientes.

O farmacêutico tem o papel fundamental de estimular o paciente a melhorar seus hábitos


diários, auxiliando no processo terapêutico.

Quando se trata de pacientes pediátricos, o farmacêutico encontra diversas dificuldades,


já que é praticamente ausente, para quase todos os fármacos, o estudo direcionado espe-
cificamente para crianças.

No passado, as doses utilizadas em crianças eram além do necessário, já que eram baseadas
em estudos conduzidos por adultos. Informações escassas levaram a desastres terapêuticos, como
a morte de vários neonatos decorrentes do uso de Cloranfenicol, por exemplo (STORPIRTIS
et al., 2008).

Uma unidade pediátrica, em geral, recebe crianças de diferentes idades e diferentes variações
de massa corpórea (0,5kg a 5kg) ou um lactente de 3 kg e um jovem de obeso de 200Kg.

A Curva de Gauss indica que os estudos de fármacos (farmacocinética, farmacodinâmica)


são feitos principalmente por adultos jovens, deixando de lado duas extremidades, como
crianças e idosos.

5
Com relação aos aspectos farmacocinéticos, há uma grande variedade fisiológica, pois a
pediatria atende crianças nascidas com menos de 36 semanas, com imaturidade anatômica
e funcional envolvidos na farmacocinética, até adolescentes com composição e funções de
órgãos de adulto.

A farmacocinética é diferente em pacientes pediátricos e pacientes idosos. Ela é representada


por quatro letras ADME.

- Absorção;
- Distribuição;
- Metabolismo;
- Excreção.
Essas respostas variam de acordo com idade, sexo, estado da doença e etapas do
desenvolvimento.

ABSORÇÃO
Crianças apresentam esvaziamento gástrico mais lento nos primeiros dias de vida e se
aproximam dos valores de adultos entre 6 e 8 meses.
• Fármacos absorvidos no estômago podem ter sua concentração aumentada, enquanto
os absorvidos no intestino podem ser retardados.
• pH gástrico é menos ácido nas crianças até os dois anos, quanto maior o pH, menor
a biodisponibilidade e menor a concentração do medicamento, podendo ser necessária a
administração de doses mais elevadas para obtenção do efeito.
• No recém-nascido, o peristaltismo é irregular e mais lento, aumentando o tempo de
absorção podendo levar a um aumento nas concentrações e com risco de doses usuais serem
tóxicas;
• Diarreia pode diminuir a absorção.

6
DISTRIBUIÇÃO
A concentração de água em um indivíduo jovem é diferente de um indivíduo idoso.
Um bebê pode ter cerca de 90% de água em seu corpo, enquanto um idoso pode ter apenas
50%. Isso depende da distribuição, que leva em conta a idade e a composição corpórea da
criança e do idoso.

• Assim, medicamentos hidrossolúveis podem levar a uma maior diluição e menor


concentração, além da necessidade de doses adicionais.
• A quantidade de gordura também varia com a idade: 14% em recém-nascido a 24,5%
em um ano de idade, afetando a distribuição e os medicamentos lipossolúveis.

BIOTRANSFORMAÇÃO
A biotransformação depende da função hepática, sendo que as crianças têm maior
capacidade de metabolização hepática.

EXCREÇÃO
A excreção em crianças tem maior filtragem glomerular. Após três anos de idade, ocorre
a maturação da função da secreção e reabsorção tubular.

É necessário prestar a atenção tanto no rótulo de um medicamento como na bula, uma


vez que boa parte dos medicamentos é sugerida para crianças acima de dois anos de idade.
• Todas essas diferenças da farmacocinética na criança dependem também das disfunções
patológicas;
• Sazonalidade (patologias respiratórias nas estações de outono/inverno) e aumento
das infecções virais.
Nesse cenário, a farmácia pode optar por um calendário de oportunidades. O farmacêutico
pode, inclusive, fazer vacinação, caso tenha um bom curso.

7
IATROGENIA
Hoje em dia, todos os serviços de saúde buscam minimizar a iatrogenia. Trata-se de uma
doença provocada pelo uso errôneo de medicamentos ou por um tratamento médico incorreto.
Os erros mais frequentes em hospitais estão relacionados ao processo de medicações,
particularmente em crianças. Estima-se que os erros com medicamentos em crianças são
três vezes maiores que em adultos.

Pesquisa realizada pelo ICTQ mostrou que o Brasil é um dos países que mais pratica a
automedicação, sendo os analgésicos um dos medicamentos que estão em primeiro lugar.
Na prática, percebe-se que, algumas vezes, a mãe observa que o filho está com dor de
garganta, febre e reutiliza um medicamento já prescrito anteriormente, ou que foi repassado
de algum conhecido.

Um artigo sobre a automedicação em crianças demonstrou que 16% alteraram a prescrição


médica. E que 63% reutilizaram prescrições antigas. As crianças também foram automedicadas
em 36%. O artigo ainda revela que 57% das automedicações foram para febre, 27% para dor,
4% para gripe e outras porcentagens para cada sistema orgânico. O Paracetamol chegou a
ser um dos medicamentos mais automedicados para esse grupo de pessoas. Deve ser
ressaltado que o Paracetamol pode ser hepatóxico em altas concentrações.

8
9
Existem erros diversos em medicações em crianças. Para evitá-los, os farmacêuticos podem
prescrever as medicações em ml, ao invés de colher ou copinho. Existem também alguns
cálculos que ajudam a fazer uma dosagem correta, como a regra de Clark, a regra de Fried
e a regra de Yang.

Abaixo, constam as três regras capazes de fazer o cálculo de dosagem:

Nessas fórmulas, serão encontradas as dosagens pediátricas (DP). Ressalta-se que a DA


se refere à dosagem do adulto.

No caso da Dipirona, a dosagem do adulto é de 500mg x o peso da criança ÷ 70. A partir


daí, encontra-se a dosagem pediátrica, segundo a regra de Clark.

10
Estima-se que 93% dos erros pediátricos poderiam ser evitados se houvessem farmacêuticos
clínicos nas farmácias e hospitais.

Nos dias de hoje, ainda permanecem escassas tais informações sobre diversos medica-
mentos, dificultando ainda mais o trabalho dos profissionais farmacêuticos.

No mercado americano, apenas 20% dos medicamentos comercializados são aprovados


para a população infantil (STORPIRTIS et al., 2008).

Um outro desafio à prática de atenção farmacêutica no âmbito pediátrico é a falta de


formulações adequadas ao uso infantil dos medicamentos, já que, quando a maioria dos
fármacos são aprovados para adultos, os fabricantes não desenvolvem estudos específicos
para o uso pediátrico.

No Brasil, infelizmente, isso ocorre até mesmo com alguns medicamentos aprovados
para crianças, usando como uma alternativa as formulações de xaropes, suspensões ou
soluções orais.

Na década de 1990, a American Society of Hospital Pharmacists (1994) publicou normas


para a prática de serviços farmacêuticos dirigidos à população pediátrica em qualquer
sistema organizado de saúde, dentre elas, destacam-se:
• Informações antropométricas: peso, altura e superfície corpórea;
• História social: estrutura familiar, local de residência e condições socioeconômicas;
• História pregressa: informações de gestação, nascimento, internações e alimentações;
• Uso off-label: é preciso ter cuidado com a experiência do prescritor sem ser testado
em crianças.
11
O farmacêutico deve calcular o índice de massa corpórea das crianças, por meio de balanças
clínicas, e fazer a utilização de carteirinhas próprias para meninos e meninas. Pode ser feito
o percentil do paciente para o acompanhamento do índice de massa corpórea.

Também é papel do farmacêutico, segundo Bisson (2007), auxiliar a família a administrar


corretamente o medicamento, orientando-a sobre o nome do fármaco, finalidade da
administração, quantidade a ser utilizada, frequência de administração, duração, efeitos
previstos e sinais que possam indicar um efeito secundário do fármaco, devendo sempre
prestar atenção ao grau de compreensão da família, fazendo demonstrações, instruções por
escrito, ajudando a família a ajustar o horário de administração segundo seu ritmo diário e
assegurar-se que a família saiba o que fazer e a quem recorrer em caso de sinais de alarme.

ANTIBIOTICOTERAPIA
Na antibioticoterapia, o papel do farmacêutico clínico é acompanhar culturas, sugerir
escalonamento ou descalonamento, nível sérico e monitorar possíveis reações adversas.

ANTICONVULSIVANTES
A maioria dos anticonvulsivantes são de uso off-label em pediatria, e as associações
naquelas que o paciente apresentam melhores respostas e menos reações adversas.
Acompanhar nível sérico, sugerindo modificações de dose e ver possíveis interações.

INTRODUÇÃO À PEDIATRIA
Pode-se constatar que o principal objetivo na consulta pediátrica é o acompanhamento
em geral do ser. Tal paciente pediátrico precisa ser assistido integralmente, e de modo particular.

12
FATORES RELEVANTES
• Condição emocional da criança;
• Respeito e a atenção.

VANTAGENS DA BOA COMUNICAÇÃO EM PEDIATRIA


• Melhor adesão aos autocuidados;
• Facilidade na compreensão do diagnóstico e do tratamento;
• Satisfação com o serviço;
• Manejo de fatores psicossociais;
• Melhor recordação das explicações;
• Menos retornos ambulatoriais.

RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE
Na relação entre o farmacêutico e o paciente, o paciente deve ser sempre o centro da relação,
independentemente de sua idade ou nível de compreensão. A interação entre o profissional
e uma criança, geralmente, é intermediada pelos responsáveis, mas o foco deve estar no
paciente. Muitas vezes, são os pais que precisam de mais assistência e compreensão.

Na consulta pediátrica, o objetivo é acompanhar o crescimento e desenvolvimento de um


indivíduo, logo, é preciso assisti-lo de modo integral e particular. O farmacêutico deve saber
tratar a criança de forma que consiga sua confiança, buscando agir com doçura e gentileza,
mas atentando-se para as expressões verbais e não verbais. Deve ser observado o relacio-
namento da criança com os pais. É comum que elas precisem de “tradutores” para relatar
suas queixas. É possível verificar ainda se há algum problema relacionado ao crescimento
ou saúde do paciente. Com certa frequência, durante o exame, a criança se mostre intimi-
dada, irritada, com agitação psicomotora ou em choro fraco. É preciso saber conduzir tais
situações.

Existem alguns fatores que podem constranger as crianças, como:


- Não conhecer os profissionais de saúde;
- Medo de incomodar ao fazer perguntas;
- Medo de serem ignoradas, não ouvidas e desacreditadas;
- Dificuldade no contato com os profissionais de saúde;
- Dificuldade em compreender informação complexa sobre o tratamento.

Em uma anamnese pediátrica, geralmente as informações são obtidas por meio da mãe
ou responsável. Deve-se estar atento às crianças, pois é comum que os pais façam suposições
sobre seu estado de saúde. Se possível, tentar compreender os traços psicológicos da mãe
durante a consulta, uma vez que o seu relacionamento com o filho é relevante.

13
HERBIATRIA
A Herbiatria congrega pacientes de 10 a 20 anos de idade. É um período em que ocorrem
intensas transformações biológicas, principalmente relacionadas ao crescimento, desenvolvimento
e maturação sexual. Consequente, as transformações emocionais acompanham essas mudanças.
Esse é o momento em que os jovens se tornam capazes de procriar, começam a buscar sua
identidade adulta, adotam novas relações com a família e grupos, procurando autonomia
e independência rumo à vida adulta.

O farmacêutico pode entrar em contato com escolas e fazer palestras para esse grupo de
pessoas, conversar sobre gravidez na adolescência, métodos contraceptivos, além de temas
como as Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Já ao longo de uma eventual consulta, o profissional deve evitar certas condutas mediante
ao adolescente, sendo elas:

• Falta de privacidade na consulta;


• Estar desatento, excesso de anotações;
• Dirigir-se a mãe;
• Uso de gírias para se aproximar;
• Projeção de sua própria adolescência;
• Assumir papel de juiz;
• Conversar sozinho com a família.

14
ÉTICA E SIGILO FARMACÊUTICO
Essa é uma das diretrizes mais preconizadas pelo Conselho Federal de Farmácia, com
destaque para os seguintes pontos:
• Reconhecer como indivíduo progressivamente capaz;
• Respeitar individualidade e pudor;
• Capaz de avaliar seu problema e solucionar;
• Direito de ser atendido sem os pais;
• Participação da família é desejável;

• Quebra de sigilo deve ser informada e justificada.

No entanto, existem algumas regras de limite de confiabilidade em caso de:


• Suicídio, doenças, fuga de casa;
• Procedimentos, notificação obrigatória - maus tratos;
• Intenção de abortar;
• Gravidez;
• Uso de drogas;
• Anorexia e bulimia nervosa.

15

Você também pode gostar