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SEMIOLOGIA E FARMACOLOGIA

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA ........................................................................... 14
Glossário ..................................................................................................................... 16
FARMACOLOGIA ........................................................................................................ 22
CONFORMAÇÃO E QUÍMICA DOS FÁRMACOS E DOS RECEPTORES............. 23
NÍVEIS DE ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS ............................................................ 25
IMPACTO DA LIGAÇÃO DO FÁRMACO SOBRE O RECEPTOR.......................... 29
EFEITOS DAS MEMBRANAS SOBRE AS INTERAÇÕES FÁRMACO–RECEPTOR
........................................................................................................................................ 31
DETERMINANTES MOLECULARES E CELULARES DA SELETIVIDADE DOS
FÁRMACOS .................................................................................................................. 33
PRINCIPAIS TIPOS DE RECEPTORES DE FÁRMACOS ........................................ 35
CANAIS IÔNICOS TRANSMEMBRANA .................................................................. 36
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 38

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INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, muitos são os


fatores que desencadeiam o uso irracional de medicamentos, entre eles a ca-
rência de conhecimento do usuário e o acesso de muitos medicamentos que não
necessitam de receita médica, permitindo o uso de medicamentos desnecessá-
rios e propiciando uma terapêutica duvidosa.

Grande parte da população por não dispor de assistência médica com


facilidade recorre à automedicação, buscando nas farmácias a resolução para
os seus sintomas mais comuns.

No entanto a automedicação quando feita sem a orientação adequada de


um profissional da saúde pode provocar agravos que seriam minimizados com a
implantação de dispensação ativa, onde o usuário recebe orientação farmacêu-
tica adequada quanto ao uso seguro dos medicamentos, como indicação e forma
correta de administração, os benefícios e riscos de sua utilização minimizando
assim, o ônus sócio econômico nos diferentes níveis de atenção à saúde com
atendimentos devido a agravamentos a saúde.

No ano de 1992, o International Pharmaceutical Federation (FIP), elabo-


rou um documento para padronizar as Boas Práticas de Farmácia, que abrange
atividades para incentivar o autocuidado, incluindo o aconselhamento aos usuá-
rios e, quando apropriado, a indicação de tratamentos medicamentosos, para
aliviar desconfortos e enfermidades leves.

O farmacêutico deve estar atento ao histórico médico do usuário para


dispensar medicamentos seguros, eficazes e de qualidade em colaboração com
os outros profissionais.

A Associação Mundial de Médicos da Família (WONCA) entende que, um


problema de saúde, é qualquer queixa, observação ou fato que o paciente ou o
profissional percebam como um desvio da normalidade e que possa afetar a ca-
pacidade funcional do paciente.

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O farmacêutico é o profissional capaz de identificar, resolver e prevenir
potenciais problemas relacionados a medicamentos (PRMs) com o uso racional
de medicamentos e possíveis intervenções, em um plano terapêutico efetivo e
seguro, através da educação do paciente frente aos medicamentos.

Estes recursos permitem otimizar a terapia medicamentosa, promovendo


o bem-estar e são capazes de reduzir PRMs melhorando a qualidade de vida
dos usuários.

A semiologia farmacêutica é a aplicação dos conhecimentos previamente


adquiridos, no qual o farmacêutico como profissional da saúde utiliza a fim de
resolver distúrbios menores relacionados à farmacoterapia.

Os sinais e sintomas referidos pelo paciente devem ser observados a fim


de esclarecer a natureza da doença e traçar os planos terapêuticos conjuntos
com o paciente e com a equipe de saúde.

Os sinais podem ser percebidos e quantificados, enquanto que os sinto-


mas são e opções humanas e dependem do relato do paciente.

A prática da semiologia farmacêutica é ainda pouco conhecida entre os


profissionais de saúde por isso, é necessário agregar conhecimentos ao currí-
culo do farmacêutico, inserindo desde a graduação a importância de prestar cui-
dados de saúde à sociedade, para que possam assim, implantá-la de forma se-
gura.

Em vista da importância da semiologia farmacêutica e de seu pouco co-


nhecimento e aplicação, foi realizada uma revisão, com o objetivo de identificar
estudos de semiologia farmacêutica em diferentes países, incluindo Brasil.

Um movimento de incentivo à Semiologia Farmacêutica nas instalações


de cuidados primários para atender a população capaz de se “auto cuidar” tem
sido observado, essa mudança vem sendo apoiada por muitos países, para man-
ter capacidade produtiva da população, melhorar a qualidade de vida e diminuir
os custos com os cuidados de saúde, permitindo que os profissionais de saúde
possam se concentrar em problemas mais graves.

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Os termos “autocuidado” e “automedicação responsável” estão intima-
mente relacionados à semiologia farmacêutica.

Em 1998 a Organização Mundial da Saúde – OMS no documento “The


role of pharmacist in self care and self medication” ressalta a importância do far-
macêutico na atenção primaria, auxiliando os pacientes na tomada de decisão
por meio da orientação.

Neste documento o autocuidado é definido como, o que as pessoas fazem


por si mesmas para manter a saúde e prevenir as doenças.

Nestas circunstâncias engloba a automedicação, que por sua vez é a se-


leção e uso de medicamentos para tratamento de enfermidades ou sintomas re-
conhecidos, pelo próprio indivíduo, e se difere da automedicação responsável,
pois nesta, há o consumo de fármacos de venda livre aprovados, que quando
usados como indicados são considerados seguros e eficazes.

A automedicação quando realizada de maneira responsável, é necessária


para complementar as funções dos sistemas de saúde, particularmente para os
países em desenvolvimento.

Em 1986, a Organização Mundial de Saúde já publicava diretrizes para a


avaliação dos medicamentos que poderiam ser empregados na automedicação,
os quais devem ser eficazes, confiáveis, seguros e de emprego fácil e cômodo.

Com a expansão de medicamentos disponíveis sem receita médica, o far-


macêutico assume um papel fundamental no aconselhamento ao paciente. Em
muitos casos os pacientes são capazes de tomar decisões em relação a sua
própria saúde, se este dispor de orientação especializada.

Pessoas querem liberdade para escolher os seus medicamentos e cabe


aos farmacêuticos orientá-los para que elas façam a melhor opção baseadas nas
informações e conselhos referidos pelo farmacêutico.

A anamnese realizada pelo farmacêutico é essencial na prevenção de do-


enças primárias, no tratamento de doenças agudas de rotina e na questão de

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doenças crônicas, para isso é necessário alcançar uma relação fidedigna com o
paciente.

Este é o principal veículo de informações sobre o seu estado de saúde e,


portanto, representa a principal ferramenta utilizada para identificar os sinais e
sintomas apresentados e correlacioná-los com possíveis enfermidades.

Um estudo realizado na Estónia definiu a “doença menor” como um au-


tocuidado que requer uma tomada de decisão, um processo que envolve a auto-
observação, percepção dos sintomas e julgamento da gravidade para a escolha
de um tratamento.

As doenças menores são auto condições limitantes que requerem pouca


ou nenhuma intervenção médica, tais como: resfriados, tosses e indigestão, que
podem ser tratadas com medicamentos isentos de prescrição (MIP).

Apesar de serem considerados relativamente seguros, muitos MIPs tam-


bém são conhecidos por conter agentes farmacológicos com potencial para cau-
sar reações adversas e interações medicamentosas, por isso a sua utilização
exige o mesmo grau de cuidado que os medicamentos vendidos sob prescrição
médica.

No Reino Unido as estatísticas de morbidade sugerem que mais de 40%


das consultas ao clínico geral são para doenças menores que poderiam ser tra-
tados sem aconselhamento médico, mas com uso acompanhado por outros pro-
fissionais da saúde a exemplo dos farmacêuticos.

A política do governo do Reino Unido destaca o papel das farmácias co-


munitárias no apoio seguro e eficaz de autocuidado, elas fornecem conselhos
de saúde em geral e informações específicas sobre os medicamentos isentos de
prescrição.

Na Escócia a implantação de um serviço de atendimento a doenças me-


nores nas farmácias comunitárias tem sido reforçada, permitindo que estes pa-
cientes sejam tratados diretamente na farmácia.

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As campanhas farmacêuticas como, “Escolha o remédio certo” e “per-
gunte ao seu farmacêutico”, foram implementadas para encorajar os pacientes
a solicitar orientações aos farmacêuticos.

Este foi apenas um primeiro passo em uma ampla gama de serviços pres-
tados por esses profissionais, incluindo assistência em doenças menores.

Novas legislações foram então criadas para permitir que os farmacêuti-


cos, (bem como outros profissionais de saúde) possam prescrever certos medi-
camentos para suprir a atenção primaria, baseando-se sempre em protocolos
rígidos, tais protocolos foram introduzidos pelo governo do Reino Unido em
agosto de 2000(17).

Em 2004, foi realizado um trabalho com refugiados asilados no sul de


Londres, que por estarem afastados da atenção básica de saúde recebiam
“tickets” que lhes permitiam ter uma consulta com farmacêutico e troca-los por
medicamentos isentos de prescrição (MIPs) gratuitamente, para tratar de suas
doenças menores.

Este estudo fez um levantamento das doenças mais frequentes nessa re-
gião e os fármacos mais dispensados para essas enfermidades. Indica que é
possível tratar as “doenças menores” com os fármacos de venda livre, evitando
consultas médicas desnecessária.

É importante considerar, que uma pequena parcela desses indivíduos foi


encaminhada para unidade médica.

Em 2007, uma revista americana já apontava uma tendência crescente


para as consultas farmacêuticas e recomendações de MIPs nos cuidados de
saúde, pois o farmacêutico é a pessoa mais próxima ao paciente para aconse-
lhá-lo.

Neste mesmo período uma pesquisa nos Estados Unidos confirmou que
muitos farmacêuticos já estavam oferecendo este valioso serviço profissional.

A pesquisa apontou que produtos isentos de prescrição mais recomenda-


dos por farmacêuticos são os medicamentos para tosse e resfriado, analgésicos,

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anti-inflamatórios, agentes gastrointestinal, antiácidos, suplementos nutricionais
e vitaminas, antifúngicos, medicamentos dermatológicos, produtos oftalmológi-
cos, higiene oral, laxantes, correlatos para primeiros socorros, contraceptivos e
produtos de saúde da mulher.

Para a consolidação da semiologia farmacêutica se faz necessário que o


farmacêutico esteja em constante atualização para adquirir informações sobre
estes produtos em fontes confiáveis, a fim de ajudar os pacientes a tomar deci-
sões seguras sobre suas compras de MIPs.

Sabe-se que no Reino Unido alguns farmacêuticos já estão oferecendo


serviços adicionais, como conselho pró ativo de promoção da saúde, serviços
de informações nas farmácias ou consultas com pacientes individuais.

Os MIP’s devem ser seguros e efetivos, trazendo benefícios a sociedade


quando usado de forma adequada pela automedicação responsável, uma vez
que em busca de qualidade de vida da população consegue tratar suas peque-
nas enfermidades com praticidade e ainda acarreta diminuição de custos para o
indivíduo e para o sistema de saúde.

Em 2009, um levantamento realizado pelo “Guía Terapéutica en Atención


Primaria Basada en la Selección Razonada del Medicamento”, ressaltou a im-
portância da escolha na seleção dos medicamentos, pois novos fármacos são
lançados a cada dia e milhares de artigos com ensaios clínicos estatisticamente
significativos são publicados todos os anos.

A elaboração de um método de prescrição fundamentado no uso racional


de medicamentos, de forma a ordenar as ideias e direcionar os farmacêuticos à
tomada de decisões vem sendo aconselhado pela OMS.

Um estudo realizado no norte da Índia observou que muitos medicamen-


tos que só podem ser comprados com receita médica em países desenvolvidos
são considerados medicamentos isentos de prescrição nos países em desenvol-
vimento.

Na Finlândia os pacientes têm fácil acesso aos medicamentos isentos de


prescrição, em farmácias comunitárias, para tratar suas doenças menores.

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Desde 1983, a Lei de Medicamentos da Finlândia nº 395, § 5 º, 895/96,
delega aos farmacêuticos a oferecer “aconselhamento farmacêutico”, sendo sua
responsabilidade na prestação de terapia medicamentosa, para alcançar resul-
tados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente, assegurando
que o mesmo compreendeu as instruções e advertências de sua medicação.

No Canadá a campanha “drugbenefit program” permite que os membros


das Forças Armadas canadenses recebam medicamentos de venda livre nas
farmácias sem consultar um médico e o farmacêutico é reembolsado pelo custo
da medicação como uma taxa de serviço.

O programa tem sido benéfico para reduzir a carga de trabalho dos médi-
cos em tratamento de doenças menores e minimizar os custos associados com
visitas desnecessárias ao médico.

Em Nottingham, para melhorar o acesso aos medicamentos foi implan-


tado um esquema para atender doenças menores “Pharmacy First Minor Ail-
ments Scheme (PFS)”, em dezembro de 2003, onde as pessoas inscritas no
programa “Primary Care Trust” (PCT) receberam gratuitamente as medicações
para atenção primária.

Na Austrália a prescrição farmacêutica se restringe aos medicamentos


isentos de prescrição.

Estudos realizados em 2011 para explorar as questões da ampliação da


prescrição farmacêutica, concluiu que do ponto de vista dos farmacêuticos e pa-
cientes a prescrição farmacêutica deveria ser ampliada para beneficiar a popu-
lação.

Os farmacêuticos interagem com 80% dos usuários de sistema de saúde


paliativos, sendo eles pacientes ou acompanhantes, o constante aprendizado do
farmacêutico é essencial para garantir um atendimento correto e adequado ao
paciente.

Para isso, sistemas computadorizados, são elaborados para fornecer in-


formações sobre determinadas patologias auxiliando assim o profissional farma-
cêutico.

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A intervenção farmacêutica deve ser realizada em colaboração com o mé-
dico, pois é dele o papel fundamental no diagnóstico.

Dois estudos realizados na Austrália e na Suíça, indicou que os farma-


cêuticos recebem treinamentos para aconselhar e orientar os usuários de medi-
camentos quanto ao uso seguro e correto, promovendo a automedicação res-
ponsável.

Mas na realidade os pacientes se automedicam para diversos sintomas e


muitas vezes as indicações para a escolha do medicamento advêm de familia-
res, amigos e tratamentos prévios, sendo que, a participação do farmacêutico no
processo da automedicação é verificada em apenas alguns casos.

Em 2012 um estudo apresentado por Fletcher e colaboradores demons-


trou que a intervenção do farmacêutico e profissionais de enfermagem na avali-
ação e otimização do uso de fármacos, alcançou melhorias terapêuticas, e o
aconselhamento fornecido por profissionais da saúde em relação ao uso correto
e seguro de fármacos contribui significativamente para a redução das taxas de
morbidade e mortalidade.

No Brasil a RDC n.º 357/2001 aprova o regulamento técnico das “Boas


Práticas de Farmácia”, sequencialmente na Resolução Brasileira - RDC nº
138/2003, os farmacêuticos encontram uma lista de Grupos e Indicação Tera-
pêuticas Especificadas – GITE, esses fármacos podem ser vendidos sem pres-
crição médica. Logo, todos os medicamentos cujos grupos terapêuticos e indi-
cações terapêuticas não estão descritos no GITE são de venda sob prescrição
médica.

A resolução nº 499/2008, do Conselho Federal de Farmácia que dispõe


sobre a prestação de serviços farmacêuticos, em farmácias e drogarias, e dá
outras providências, bem como a Resolução nº 44, de 17 de agosto de 2009 que
dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcio-
namento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de
serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências, são
documentos que auxiliam o farmacêutico para melhor orientar o paciente frente

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à tomada de decisões ao escolher um tratamento, procurando padronizar os ti-
pos de medicamentos usados como primeira escolha para as doenças conside-
radas de transtornos menores, especialmente na atenção primária à saúde.

Ações educativas para todos os farmacêuticos são desenvolvidos pelo


Conselho Federal de Farmácia sendo a maioria oferecida gratuitamente como
os cursos de educação continuada, disponibilizados em Fascículos “Farmácia
Estabelecimento de Saúde", que tratam de temas técnicos de interesse da pro-
fissão farmacêutica.

No Brasil, o farmacêutico ainda não tem atuação destacada no acompa-


nhamento da utilização de medicamentos, na prevenção e promoção da saúde,
e é pouco reconhecido como profissional de saúde tanto pela sociedade quanto
pela equipe de saúde.

Observa-se uma postura passiva dos farmacêuticos perante o principal


serviço que deveria ser oferecido nas farmácias, à orientação quanto ao uso
correto e seguro, contribuindo para o uso racional de medicamentos, prevenindo
agravos à saúde do paciente e a sobrecarga das instituições de saúde.

Ademais, fomenta o questionamento do ato de dispensação ter sido de-


legado aos balconistas, cujo conhecimento técnico é restrito, pelo fato do nível
de escolaridade destes atendentes abrangerem muitas vezes apenas o ensino
médio.

Portanto, a ação do farmacêutico como promotor da saúde e do autocui-


dado e, principalmente, de educador em relação ao uso seguro do medicamento,
deixa a desejar devido à demanda de trabalhos burocráticos nas drogarias, de
modo geral, o principal serviço prestado nas farmácias e drogarias é a dispen-
sação de medicamentos, sendo a qualidade dessa prática considerada abaixo
do padrão, uma vez que os afazeres técnicos toma grande parte da sua carga
horária de trabalho e acabam não fazendo a sua real função que é exercer os
seus conhecimentos sobre medicamentos e assim auxiliar na promoção da sa-
úde.

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Esta omissão pode resultar em agravos à saúde dos usuários de medica-
mentos. Embora estejamos muito aquém dos níveis atingidos por países euro-
peus, Estados Unidos e Canadá, é possível verificar que existe um grande inte-
resse brasileiro, tanto da comunidade acadêmica, como do Conselho Federal de
Farmácia – CFF desse País, no sentido de viabilizar as possibilidades para a
implementação dessa prática.

Ressaltam-se neste debate as dificuldades encontradas, relativas à qua-


lificação dos profissionais, devido à falta de conteúdos curriculares relacionados
à semiologia farmacêutica e farmacoterapia nos cursos de graduação e pós-gra-
duação.

Essas estratégias de aprendizagem ampliam a capacitação para atuação


dos profissionais farmacêuticos.

No Brasil, a inclusão de disciplinas de Semiologia Farmacêutica, Atenção


Farmacêutica e Farmacovigilância é recente em algumas universidades do país,
para promover a capacitação e habilitação desses profissionais, mas há poucos
profissionais aptos a desenvolverem a atividades clínicas, e específicas para o
tratamento de determinados sinais e sintomas.

Com esta formação, o farmacêutico poderá colocar em prática a semiolo-


gia farmacêutica, como um segmento dentro da atenção farmacêutica, que
busca através dos sinais e sintomas dos pacientes investigar a efetividade e se-
gurança de medicamentos em uso ou não, e auxiliá-los na resolução de proble-
mas de saúde relacionados à farmacoterapia.

É necessário um monitoramento desses pacientes, com base na fidedig-


nidade dos mesmos em relação à terapia proposta pelo farmacêutico e a sua
percepção com relação aos sinais e sintomas, pois somente desta forma é pos-
sível avaliar se a terapia proposta pelo profissional está sendo bem-sucedida.

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A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

A semiologia farmacêutica é uma nova prática profissional que visa a


identificação de sinais e sintomas em distúrbios menores para posterior decisão
terapêutica do medicamento isento de prescrição (MIP) mais efetivo e seguro.

A seleção adequada do MIP, sob responsabilidade farmacêutica, tem


como finalidade a promoção da saúde e prevenção de problemas relacionados
com uso de medicamentos.

A semiologia farmacêutica vem sendo encorajada em diferentes países,


entretanto, desafios à sua implementação ainda devem ser superados, como por
exemplo, formação profissional.

Critérios de seleção de medicamentos devem ser conhecidos e pautados


em protocolos clínicos para garantir uso adequado do medicamento.

Sendo a farmácia comunitária uma das portas de acesso da população à


saúde, o desenvolvimento dessa prática contribui para melhor do sistema de sa-
úde do país, ampliando acesso da população e permitindo resolubilidade de
agravos menores na farmácia da comunidade.

A prescrição farmacêutica tornou-se realidade no Brasil, aprovada pela


Resolução Nº 586, de 29 de agosto do ano passado, por unanimidade do Plená-
rio do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Definida como ato pelo qual o farmacêutico seleciona e documenta tera-


pias farmacológicas e não farmacológicas, e outras intervenções relativas ao
cuidado à saúde do paciente, a prescrição farmacêutica surgiu com o objetivo
de promover, proteger e recuperar a saúde, além de prevenir doenças.

A atividade passou a ser uma das atribuições clínicas do farmacêutico e


deve estar focada nas necessidades de saúde do paciente, nas melhores evi-
dências científicas, em princípios éticos e em conformidade com as políticas de
saúde vigentes. Seu exercício deve estar fundamentado em conhecimento e ha-

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bilidades que garantem a autonomia técnica do profissional, como a fisiopatolo-
gia, a comunicação interpessoal, a farmacologia clínica e terapêutica, e a semi-
ologia farmacêutica.

O termo, semiologia farmacêutica foi adaptado da medicina para definir a


aplicação das técnicas e conhecimentos utilizados na identificação de sinais e
sintomas das enfermidades mais frequentes e importantes na prática da atenção
farmacêutica, como os sintomas gerais (dor, náusea, diarreia, vertigem, entre
outros).

A semiologia exige do farmacêutico conhecimento, preparo e disponibili-


dade emocional.

Para a farmacêutica clínica dra. Solange Brícola é importante que o far-


macêutico se capacite em semiologia para ter mais conhecimento na hora de
prescrever.

“O farmacêutico aplica a semiologia para assumir a responsabilidade


junto do paciente sobre o que ele deverá utilizar para se tratar, de acordo com
aquele sintoma ou sinal. Mas ela é uma disciplina, inserida na atenção farma-
cêutica.

O farmacêutico tem de ter capacitação para aplicar a semiologia na prá-


tica. ”

De acordo com ela, existe um limite muito tênue na atuação clínica do


farmacêutico.

“A semiologia não serve para sairmos consultando, fazendo diagnóstico,


mas quando recebemos um paciente, podemos, sim, investigar sintomas e sinais
para identificar qual o melhor Medicamento Isento de Prescrição (MIP) para ele
ou se o seu caso necessita de consulta médica, por exemplo”.

Para evitar essa dúvida, é importante entender o que diz também a Re-
solução Nº 585/2013 do CFF, que estabelece as atribuições clínicas do farma-
cêutico no âmbito individual e coletivo e atuar nos limites dessa norma.

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Glossário
Semiologia - Parte das ciências da saúde relacionada ao estudo dos
sintomas e sinais das doenças

Semiologia Farmacêutica - Aplicação das técnicas e conhecimentos


sobre a investigação de sinais e sintomas para a prática farmacêutica

Sintomas - Referem-se ao que o paciente sente e são descritos por ele


a fim de esclarecer a natureza da doença: dor, náusea, diarreia ou respiração
curta, por exemplo

Sinais - Referem-se aos achados do examinador. Os sinais podem ser


observados e quantificados como, por exemplo, febre, hipertensão arterial, hi-
perglicemia ou alterações na pele

Prescrição - Conjunto de ações documentadas relativas ao cuidado à


saúde, visando à promoção, proteção e recuperação da saúde, e à prevenção
de doenças e outros problemas relacionados

Prescrição farmacêutica - Ato pelo qual o farmacêutico seleciona e do-


cumenta terapias farmacológicas e não farmacológicas e outras intervenções
relativas ao cuidado à saúde do paciente, visando à promoção, proteção e re-
cuperação da saúde, e a prevenção de doenças e outros problemas de saúde

Problema de saúde autolimitado - Enfermidade aguda de baixa gravi-


dade, de breve período de latência, que desencadeia uma reação orgânica a
qual tende a cursar sem danos para o paciente e que pode ser tratada de forma
eficaz e segura com medicamentos e outros produtos com finalidade terapêu-
tica, cuja dispensação não exija prescrição médica, incluindo medicamentos
industrializados e preparações magistrais (alopáticos ou dinamizados), plantas
medicinais, drogas vegetais ou com medidas não farmacológicas

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Grande parte da população por não dispor de assistência médica com
facilidade recorre à automedicação, buscando nas farmácias a resolução para
os seus sintomas mais comuns.

No entanto a automedicação quando feita sem a orientação adequada de


um profissional da saúde pode provocar agravos que seriam minimizados com a
implantação de dispensação ativa, onde o usuário recebe orientação farmacêu-
tica adequada quanto ao uso seguro dos medicamentos, como indicação e forma
correta de administração, os benefícios e riscos de sua utilização minimizando
assim, o ônus sócio econômico nos diferentes níveis de atenção à saúde com
atendimentos devido a agravamentos a saúde.

O farmacêutico deve estar atento ao histórico médico do usuário para


dispensar medicamentos seguros, eficazes e de qualidade em colaboração com
os outros profissionais (MASTROIANNI, 2014).

O farmacêutico é o profissional capaz de identificar, resolver e prevenir


potenciais problemas relacionados a medicamentos (PRMs) com o uso racional
de medicamentos e possíveis intervenções, em um plano terapêutico efetivo e
seguro, através da educação do paciente frente aos medicamentos.

Estes recursos permitem otimizar a terapia medicamentosa, promovendo


o bem-estar e são capazes de reduzir PRMs melhorando a qualidade de vida
dos usuários (PEDROSO, 2014).

A semiologia farmacêutica é a aplicação dos conhecimentos previamente


adquiridos, no qual o farmacêutico como profissional da saúde utiliza a fim de
resolver distúrbios menores relacionados à farmacoterapia (SANTOS, 2014).

Em vista da importância da semiologia farmacêutica e de seu pouco co-


nhecimento e aplicação, foi realizada uma revisão, com o objetivo de identificar
estudos de semiologia farmacêutica, a oferta desta disciplina nas Instituições de
ensino superior tanto públicas quanto privadas e os sintomas que incitam à po-
pulação à pratica da automedicação.

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Dos anos 70, onde a função do farmacêutico começou a ser “remode-
lada”, até 1994, quando foi definida a função do farmacêutico segundo à Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS), chegou-se a definição do papel do farmacêu-
tico: segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) estender o caráter de
beneficiário da Atenção Farmacêutica ao público, em seu conjunto e reconhecer,
ou seja, o farmacêutico como dispensador da atenção sanitária que pode parti-
cipar, ativamente, na prevenção das doenças e da promoção da saúde, junto
com outros membros da equipe sanitária. (OMS, 1994).

Esta que é defendida até os dias atuais. No Brasil, a Atenção farmacêutica


vem sendo discutida e encaminhada junto às instituições de saúde e de educa-
ção; entretanto o aluno, como futuro profissional de saúde, tem o desafio de,
diante da sociedade atual (esta que possui acesso massivo à informação de ma-
neira rápida promovido pela globalização), construir seu conhecimento por meio
da avaliação dos meios de informações disponíveis para saber como abordar e
tratar os seus futuros pacientes (ARAÚJO, et al. 2016).

Para o profissional de saúde, uma formação humanística e ao mesmo


tempo técnica, pode ser concretizada a partir de uma prática associada a um
suporte pedagógico voltado às necessidades da população (NASCIMENTO;
QUEVEDO, 2008).

A disciplina de Assistência farmacêutica já é uma realidade tanto em ins-


tituições públicas quanto particulares, e esta tem por finalidade preparar o estu-
dante de farmácia para a atuação efetiva no ciclo da assistência farmacêutica,
contribuindo para a melhoria das práticas de gestão de medicamentos no Sis-
tema Único de Saúde (SUS), dentro do que preconiza a política nacional de me-
dicamentos. Além disso, proporciona enfoque na prescrição, dispensação e uti-
lização de medicamentos pelos usuários, visando o uso racional de medicamen-
tos (ALVES, et al. 2018).

Já a Semiologia e Semiotêcnica envolvem o estudo e a investigação dos


sinais e sintomas apresentados pelo paciente e avaliado clinicamente, bem
como também a metotização das ações que sucedem ao exame físico – a semi-

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ologia, sendo que ambos há o envolvimento das habilidades que são necessá-
rias para o cuidado de uma grande variedade de pacientes, em bom estado de
saúde e daqueles com doenças brandas e crônicas; buscando satisfazer as ne-
cessidades básicas do indivíduo.

Essa prática profissional tem como base na investigação clínica por meio
dos métodos propedêuticos clássicos que não deve ser confundida com diag-
nóstico, que é uma atividade realizada pelo médico, mas como uma nova ferra-
menta na dispensação ativa de medicamentos de venda livre (ALVES, et al.
2018).

Entretanto a presença da disciplina de semiologia na grade curricular dos


estudantes de farmácia é quase nula.

Fazendo um comparativo rápido o farmacêutico, comparado aos médicos


e outros profissionais da saúde, é o de mais fácil acesso à população, para o
atendimento com o farmacêutico basta dirigir-se à uma farmácia, sem a neces-
sidade de esperar por consultas (ARRUDA, 2019).

No Brasil, recentemente aprovada, a resolução do Conselho Federal de


Farmácia – CFF nº 585 de 29 de agosto de 2013 e nº 586 de 29 de agosto de
2013 vem regulamentar as atribuições clínicas do farmacêutico, bem como, im-
plantar e regulamentar a prescrição farmacêutica.

Este documento autoriza os farmacêuticos a prescreverem medicamen-


tos e outros produtos com finalidade terapêutica, cuja dispensação não exija
prescrição médica, para o tratamento dos transtornos menores (BRASIL, 2013).

Ainda sobre a resolução do Conselho Federal de Farmácia – CFF nº 585


de 29 de agosto de 2013, onde diz que o farmacêutico tem livre direito de realizar
intervenções farmacêuticas, participar e promover discussões de casos clínicos,
de forma integrada com os demais membros da equipe de saúde, prover a con-
sulta farmacêutica em consultório farmacêutico ou em outro ambiente adequado,
que garanta a privacidade do atendimento, fazer a anamnese farmacêutica, bem
como verificar sinais e sintomas, com o propósito de prover cuidado ao paciente;

19
acessar e conhecer as informações constantes no prontuário do paciente, orga-
nizar, interpretar e, se necessário, resumir os dados do paciente, a fim de proce-
der à avaliação farmacêutica, solicitar exames laboratoriais, no âmbito de sua
competência profissional, com a finalidade de monitorar os resultados da farma-
coterapia. (BRASIL, 2013).

Ressalta-se considerar que a prestação de serviços farmacêuticos com


qualidade possivelmente fidelizará os clientes e consequentemente haverá um
maior retorno financeiro aos proprietários (PEDROSO, 2014).

Em alguns países, os farmacêuticos já têm autonomia prescritiva para au-


xiliar os pacientes que buscam nas farmácias os medicamentos isentos de pres-
crição médica, desencadeando o tratamento imediato de seus sinais e sintomas
prevenindo assim uma possível piora do seu quadro clínico.

O farmacêutico desempenha a função de acompanhamento, orientando


e verificando adesão do tratamento dos usuários (RIBEIRO, 2018).

Mesmo com a implantação das resoluções que dão liberdade e incentivo


à prática da clínica feita pelo profissional farmacêutico, estes ainda não têm atu-
ação destacada no acompanhamento da utilização de medicamentos, na pre-
venção e promoção da saúde, e é pouco reconhecido como profissional de sa-
úde tanto pela sociedade quanto pela equipe de saúde.

Observa-se uma postura passiva dos farmacêuticos perante o principal


serviço que deveria ser oferecido nas farmácias, à orientação quanto ao uso
correto e seguro, contribuindo para o uso racional de medicamentos, prevenindo
agravos à saúde do paciente e a sobrecarga das instituições de saúde (PE-
DROSO, 2014).

As dificuldades encontradas, relativas à qualificação dos profissionais, de-


vido à falta de conteúdos curriculares nas instituições de ensino relacionados à
semiologia farmacêutica cursos de graduação.

Essas estratégias de aprendizagem ampliam a capacitação para atuação


dos profissionais farmacêuticos.

20
No Brasil, a inclusão de disciplinas de Semiologia Farmacêutica, Atenção
Farmacêutica e Farmacovigilância é recente em algumas universidades do país,
para promover a capacitação e habilitação desses profissionais, mas há poucos
profissionais aptos a desenvolverem a atividades clínicas, e específicas para o
tratamento de determinados sinais e sintomas (MASTROIANNI, 2014).

Um estudo feito em 2016 mostrou que, a regiões Nordeste, juntamente


com a Centro Oeste, destacaram-se proporcionalmente pela baixa oferta de ser-
viços de orientação terapêutica e seguimento farmacoterapêutico.

Este quadro reflete a carência de profissionais qualificados que atuam nos


estabelecimentos de saúde desenvolvendo atividades clínicas.

O processo de formação destes profissionais, somado a distribuição de


tempo ou carga horária que acaba por fazê-los priorizar as atividades técnico-
gerenciais, tornando a área clínica opcional e não obrigatória (ARAÚJO, 2016).

Diante dos fatos mencionados, percebemos que o profissional farmacêu-


tico tem ganhado cada vez mais espaço na área clínica, e cada vez mais se vê
a necessidade de disciplinas como semiologia farmacêutica e atenção farma-
cêutica.

A carência destas implica em profissionais desatualizados que, num fu-


turo não muito distante, serão colocados à margem.

A capacitação do farmacêutico para o atendimento sobre doenças meno-


res, para beneficiar a população e diminuir custos é, pelo menos do ponto de
vista econômico, vantajoso.

No Brasil, o farmacêutico ainda não tem atuação destacada na prevenção


e promoção de saúde, e é infelizmente, pouco reconhecido como profissional de
saúde tanto pela sociedade quanto pela equipe de saúde.

É notável uma postura passiva dos farmacêuticos perante o principal ser-


viço que deveria ser oferecido nas farmácias desde o momento em que este foi

21
considerado por lei estabelecimento de promoção de saúde, isto, gera sobre-
carga das instituições como os hospitais, unidades de pronto atendimento (UPA),
entre outros.

Portanto, a ação do farmacêutico como promotor da saúde e do autocui-


dado e, principalmente, de educador em relação ao uso seguro do medicamento,
deixa a desejar devido à demanda de trabalhos burocráticos nas drogarias, de
modo geral, o principal serviço prestado nas farmácias e drogarias é a dispen-
sação de medicamentos, sendo a qualidade dessa prática considerada abaixo
do padrão, uma vez que os afazeres técnicos toma grande parte da sua carga
horária de trabalho e acabam não fazendo a sua real função que é exercer os
seus conhecimentos sobre medicamentos e assim auxiliar na promoção da sa-
úde.

FARMACOLOGIA

Por que determinado fármaco afeta a função cardíaca, enquanto outro


altera o equilíbrio da água e dos íons nos rins?

Por que o ciprofloxacino mata efetivamente as bactérias, porém rara-


mente prejudica o paciente?

Essas perguntas podem ser respondidas se examinarmos, em primeiro


lugar, a interação entre determinado fármaco e seu alvo molecular específico e,
em seguida, considerarmos o papel dessa ação dentro de um contexto fisiológico
mais amplo.

Essa discussão fornece uma base conceitual para a ação dos numerosos
fármacos e classes de fármacos considerados neste livro.

22
Embora os fármacos possam, teoricamente, ligar-se a quase qualquer
tipo de alvo tridimensional, a maioria dos fármacos produz seus efeitos deseja-
dos (terapêuticos) através de uma interação seletiva com moléculas-alvo, que
desempenham importantes papéis na função fisiológica e fisiopatológica.

Em muitos casos, a seletividade da ligação do fármaco a determinados


receptores também estabelece os efeitos indesejáveis (adversos) de um fár-
maco.

Em geral, os fármacos são moléculas que interagem com componentes


moleculares específicos de um organismo, produzindo alterações bioquímicas e
fisiológicas dentro desse organismo.

Os receptores de fármacos são macromoléculas que, através de sua liga-


ção a determinado fármaco, medeiam essas alterações bioquímicas e fisiológi-
cas.

CONFORMAÇÃO E QUÍMICA DOS FÁRMACOS E


DOS RECEPTORES

Por que o imatinibe atua especificamente sobre a tirosinocinase do recep-


tor BCR-Abl, e não sobre outras moléculas?

A resposta a essa pergunta e a compreensão da razão pela qual determi-


nado fármaco liga-se a um receptor específico podem ser encontradas na estru-
tura e nas propriedades químicas das duas moléculas.

A presente seção irá discutir os determinantes básicos da estrutura dos


receptores e química da ligação fármaco–receptor.

A discussão aqui prioriza principalmente as interações dos fármacos, que


são pequenas moléculas orgânicas, com receptores-alvo, que consistem princi-
palmente em macromoléculas (especialmente proteínas); entretanto, muitos

23
desses princípios também se aplicam às interações de produtos terapêuticos à
base de proteína com seus alvos moleculares.

Como muitos dos receptores de fármacos humanos e microbianos con-


sistem em proteínas, é conveniente proceder a uma revisão dos quatro principais
níveis de estrutura das proteínas.

Em seu nível mais básico, as proteínas consistem em longas cadeias de


aminoácidos, cujas sequências são determinadas pelas sequências do DNA que
codificam as proteínas.

A sequência de aminoácidos de uma proteína é conhecida como estrutura


primária.

Após a síntese de uma longa cadeia de aminoácidos sobre um ribossomo,


muitos dos aminoácidos começam a interagir com aminoácidos adjacentes na
cadeia polipeptídica.

Essas interações resultam na estrutura secundária da proteína, formando


conformações bem definidas, como hélice, lâminas pregueadas e barril.

Em consequência de sua forma altamente organizada, essas estruturas


com frequência se acondicionam firmemente entre si, definindo ainda mais a
forma global da proteína.

A estrutura terciária resulta da interação dos aminoácidos mais distais en-


tre si ao longo de uma cadeia simples de aminoácidos.

Essas interações incluem a formação de ligações iônicas e a ligação co-


valente de átomos de enxofre para formar pontes de dissulfeto intramoleculares.
Por fim, os polipeptídios podem sofrer oligomerização, formando estruturas mais
complexas.

A conformação que resulta da interação de polipeptídios separados é de-


nominada estrutura quaternária.

24
As diferentes porções que compõem a estrutura de uma proteína geral-
mente apresentam afinidades distintas pela água, e essa característica possui
um efeito adicional sobre a forma da proteína.

Como tanto o meio extracelular quanto o intracelular são compostos pri-


mariamente de água, os segmentos proteicos hidrofóbicos estão frequente-
mente recolhidos no interior da proteína ou protegidos da água pela sua inserção
em membranas de dupla camada lipídica.

Em contrapartida, os segmentos Primária Aminoácidos Hélice alfa Hélice


alfa Lâmina β pregueada Lâmina beta Secundária Terciária Quaternária.

NÍVEIS DE ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS

A estrutura de uma proteína pode ser dividida em quatro níveis de com-


plexidade, conhecidos como estrutura primária, secundária, terciária e quaterná-
ria.

A estrutura primária é determinada pela sequência de aminoácidos que


compõem a cadeia polipeptídica.

A estrutura secundária é determinada pela interação de átomos de hidro-


gênio de carga positiva com átomos de oxigênio de carga negativa em carbonos
da mesma cadeia polipeptídica.

Essas interações resultam em diversos padrões secundários característi-


cos de conformação da proteína, incluindo a hélice e a lâmina pregueada.

A estrutura terciária é determinada por interações de aminoácidos que


estão relativamente distantes no arcabouço da proteína.

Essas interações, que incluem ligações iônicas e ligações de dissulfeto


covalentes (entre outras), conferem às proteínas a sua estrutura tridimensional
característica.

25
A estrutura quaternária é determinada pelas interações de ligação entre
duas ou mais subunidades proteicas independentes.

Uma vez concluído todo esse processo de torção e dobramento, cada


proteína assume uma forma peculiar que determina a sua função, a sua locali-
zação no corpo, a sua relação com as membranas celulares e as interações de
ligação com fármacos e outras moléculas.

O sítio de ligação refere-se ao local onde o fármaco liga-se ao receptor.


Cada sítio de ligação de fármacos possui características químicas singulares,
que são determinadas pelas propriedades específicas dos aminoácidos que
compõem o sítio de ligação.

A estrutura tridimensional, a forma e a reatividade do sítio, bem como a


estrutura inerente, a forma e a reatividade do fármaco, determinam a orientação
do fármaco em relação ao receptor e estabelecem a intensidade de ligação entre
essas moléculas.

A ligação fármaco–receptor resulta de múltiplas interações químicas entre


as duas moléculas, algumas das quais são bastante fracas (como as forças de
van der Waals), enquanto outras são extremamente fortes (como a ligação co-
valente).

A soma total dessas interações proporciona a especificidade da interação


fármaco–receptor global.

A favorabilidade de uma interação fármaco–receptor é designada como


afinidade do fármaco pelo seu sítio de ligação no receptor.

A química do ambiente local onde ocorrem essas interações — como hi-


drofobicidade, hidrofilicidade e pKa dos aminoácidos próximos ao sítio de ligação
— também pode afetar a afinidade da interação fármaco–receptor.

As forças de van der Waals, que resultam da polaridade induzida em uma


molécula em consequência da mudança de densidade de seus elétrons, propor-
cionam uma força fraca de atração para os fármacos e seus receptores.

26
Essa polaridade induzida constitui um componente ubíquo de todas as
interações moleculares.

A ligação de hidrogênio, mediada pela interação entre átomos de polari-


zação positiva (como o hidrogênio fixado ao nitrogênio ou oxigênio) e átomos de
polarização negativa (como o oxigênio, o nitrogênio ou o enxofre), resulta em
ligações de força significativa.

As ligações de hidrogênio produzem lâminas pregueadas e hélices em


sua estrutura.

As interações iônicas, que ocorrem entre átomos de cargas opostas, são


mais fortes do que as ligações de hidrogênio, porém menos intensas do que as
ligações covalentes.

A ligação covalente resulta do compartilhamento de um par de elétrons


entre dois átomos em diferentes moléculas.

As interações covalentes são tão fortes que, na maioria dos casos, são
essencialmente irreversíveis.

Conforme assinalado anteriormente, o ambiente onde ocorre a interação


entre fármacos e receptores também afeta a favorabilidade da ligação.

O efeito hidrofóbico refere-se ao mecanismo pelo qual as propriedades


singulares do solvente universal, a água, intensifica a interação de uma molécula
hidrofóbica com um sítio de ligação hidrofóbico.

A ligação fármaco–receptor raramente é produzida por um único tipo de


interação; na verdade, é uma combinação dessas interações de ligação que pro-
porciona ao fármaco e a seu receptor as forças necessárias para formar um
complexo fármaco–receptor estável.

Em geral, a maioria das interações fármaco–receptor é constituída por


múltiplas forças fracas: uma interação fármaco–receptor típica pode consistir em
10 ou mais interações de van der Waals e em algumas ligações de hidrogênio;

27
as interações iônicas e a ligação covalente são muito menos comuns. Por exem-
plo, o imatinibe estabelece numerosas interações de van der Waals e ligações
de hidrogênio com o sítio de ligação do ATP na BCR-Abl tirosinocinase.

A soma total dessas forças cria uma forte interação (alta afinidade) entre
esse fármaco e seu receptor.

Apesar de serem relativamente raras, as interações covalentes entre um


fármaco e seu receptor representam um caso especial.

Com frequência, a formação de uma ligação covalente é essencialmente


irreversível, e nesses casos o fármaco e o receptor formam um complexo inativo.

Para readquirir a sua atividade, a célula precisa sintetizar uma nova mo-
lécula de receptor para substituir a proteína inativada; por outro lado, a molécula
do fármaco que também faz parte do complexo inativo não está disponível para
inibir outras moléculas do receptor.

Os fármacos que modificam seus receptores-alvo (frequentemente enzi-


mas) através desse mecanismo são algumas vezes denominados substratos sui-
cidas.

A estrutura molecular de um fármaco é que determina as propriedades


físicas e químicas que contribuem para sua ligação específica ao receptor.

Os fatores importantes incluem a hidrofobicidade, o estado de ionização


(pKa), a conformação e a estereoquímica da molécula do fármaco. Todos esses
fatores combinam-se para estabelecer a complementaridade do fármaco com o
sítio de ligação.

As bolsas de ligação dos receptores são altamente específicas, e peque-


nas alterações no fármaco podem ter um acentuado efeito sobre a afinidade da
interação fármaco–receptor.

Por exemplo, a estereoquímica do fármaco possui grande impacto sobre


a força da interação de ligação.

28
A varfarina é sintetizada e administrada como mistura racêmica (uma mis-
tura contendo 50% da molécula dextrógira e 50% da molécula levógira); todavia,
o enantiômero S é quatro vezes mais potente do que o enantiômero R, em vir-
tude de uma interação mais forte da forma S com o seu sítio de ligação na vita-
mina K epóxido redutase.

A estereoquímica também pode afetar a toxicidade nos casos em que um


enantiômero de um fármaco produz o efeito terapêutico desejado, enquanto o
outro enantiômero exerce um efeito tóxico indesejável, talvez em virtude de uma
interação com um segundo receptor ou de seu metabolismo a uma espécie tó-
xica.

Embora seja algumas vezes difícil a síntese e purificação em larga escala


de enantiômeros individuais por laboratórios farmacêuticos, alguns dos fármacos
atualmente comercializados são produzidos como enantiômeros individuais nos
casos em que um dos enantiômeros possui maior eficácia e/ou menor toxicidade
do que a sua imagem especular.

IMPACTO DA LIGAÇÃO DO FÁRMACO SOBRE O


RECEPTOR

De que maneira a ligação do fármaco produz uma alteração bioquímica


e/ou fisiológica no organismo?

No caso dos receptores com atividade enzimática, o sítio de ligação do


fármaco é frequentemente o sítio ativo onde uma transformação enzimática é
catalisada.

Por conseguinte, a atividade catalítica da enzima é inibida por fármacos


que impedem a ligação do substrato ao sítio ou que o modificam de modo cova-
lente.

29
Nos casos em que o sítio de ligação não é o sítio ativo da enzima, os
fármacos podem produzir uma mudança ao impedir a ligação de ligantes endó-
genos às bolsas de ligação de seus receptores.

Entretanto, em numerosas interações fármaco–receptor, a ligação de um


fármaco a seu receptor resulta em uma mudança na conformação do receptor.

A alteração da forma do receptor pode afetar sua função, aumentando,


inclusive, a afinidade do fármaco pelo receptor.

Essa interação é frequentemente designada como adaptação induzida,


visto que a conformação do receptor é modificada de modo a melhorar a quali-
dade da interação de ligação.

O princípio de adaptação induzida sugere que a ligação fármaco–receptor


pode ter profundos efeitos sobre a conformação do receptor.

Ao induzir alterações na conformação do receptor, muitos fármacos não


apenas melhoram a qualidade da interação de ligação, como também alteram a
ação do receptor.

A mudança de forma induzida pelo fármaco é algumas vezes idêntica


àquela produzida pela ligação de um ligante endógeno.

Por exemplo, todos os análogos da insulina administrados de forma exó-


gena estimulam o receptor de insulina na mesma intensidade, apesar de suas
sequências de aminoácidos serem ligeiramente diferentes.

Em outros casos, a ligação do fármaco altera a forma do receptor, tor-


nando-o mais ou menos funcional do que o normal.

Por exemplo, a ligação do imatinibe à BCR-Abl tirosinocinase faz com que


a proteína assuma uma conformação enzimaticamente inativa, inibindo, assim,
a atividade cinase do receptor.

Outra maneira de descrever o princípio de adaptação induzida é conside-


rar o fato de que muitos receptores ocorrem em múltiplos estados de conforma-

30
ção — por exemplo, estado inativo (ou fechado), ativo (ou aberto) e dessensibi-
lizado (ou inativado) — e o fato de que a ligação de um fármaco ao receptor
estabiliza uma ou mais dessas conformações.

EFEITOS DAS MEMBRANAS SOBRE AS INTERA-


ÇÕES FÁRMACO–RECEPTOR
A estrutura do receptor determina não apenas as suas afinidades de liga-
ção para fármacos e ligantes endógenos, mas também a localização da proteína
em relação aos limites celulares, como a membrana plasmática.

Um análogo do imatinibe, um inibidor específico da BCR-Abl tirosinoci-


nase, é mostrado na forma de modelo espacial (azul).

Diagrama detalhado das interações intermoleculares entre o fármaco (na


cor azul) e os resíduos de aminoácidos da proteína BCR-Abl.

As ligações de hidrogênio estão indicadas por linhas tracejadas, enquanto


as interações de van der Waals (indicadas por halos ao redor do nome do ami-
noácido e sua posição na sequência da proteína) são mostradas para nove ami-
noácidos com cadeias laterais hidrofóbicas.

A interação do fármaco (azul) com a proteína BCR-Abl (cinza) inibe a fos-


forilação de uma alça de ativação crítica (formato em fita de cor azul intensa),
impedindo, assim, a atividade catalítica.

Muitos receptores transmembrana apresentam domínios lipofílicos que


estão assentados na membrana e domínios hidrofílicos que residem nos espa-
ços intracelular e extracelular.

Outros receptores de fármacos, incluindo diversos reguladores da trans-


crição (também denominados fatores de transcrição), só possuem domínios hi-
drofílicos e podem residir no citoplasma, no núcleo ou em ambos.

31
Assim como a estrutura do receptor determina a sua localização em rela-
ção à membrana plasmática, a estrutura de um fármaco afeta a sua capacidade
de ter acesso ao receptor.

Por exemplo, os fármacos que são altamente hidrossolúveis têm, com fre-
quência, menos capacidade de atravessar a membrana plasmática e ligar-se a
moléculas-alvo situadas no citoplasma.

Em contrapartida, certos fármacos hidrofílicos que são capazes de atra-


vessar canais transmembrana ou de utilizar outros mecanismos de transporte
podem ter rápido acesso a receptores citoplasmáticos.

Os fármacos que são altamente lipofílicos, como muitos hormônios este-


roides, são capazes de atravessar o ambiente lipídico hidrofóbico da membrana
plasmática sem canais ou transportadores especiais, tendo consequentemente
acesso a alvos intracelulares.

A capacidade dos fármacos de alterar a forma dos receptores faz com


que a ligação de um fármaco a seu receptor sobre a superfície celular possa
afetar funções no interior das células.

Muitos receptores proteicos na superfície celular possuem domínios ex-


tracelulares que estão ligados a moléculas efetoras intracelulares através de do-
mínios do receptor que se estendem pela membrana plasmática.

Em alguns casos, a mudança na forma do domínio extracelular pode al-


terar a conformação dos domínios do receptor que atravessam a membrana e/ou
que são intracelulares, resultando em alteração na função do receptor.

Em outros casos, os fármacos podem estabelecer ligações cruzadas en-


tre os domínios extracelulares de duas moléculas receptoras, formando um com-
plexo receptor dimérico que ativa moléculas efetoras no interior da célula.

Todos esses fatores — estrutura do fármaco e do receptor, forças quími-


cas que influenciam a interação fármaco–receptor, solubilidade do fármaco na
água e na membrana plasmática e função do receptor no seu ambiente celular

32
— conferem especificidade significativa às interações entre fármacos e seus re-
ceptores-alvo.

Este livro apresenta numerosos exemplos de fármacos que podem ter


acesso e ligar-se a receptores de modo a induzir uma mudança de sua confor-
mação, produzindo consequentemente um efeito bioquímico ou fisiológico.

Esse princípio sugere que, uma vez adquirido o conhecimento da estru-


tura de um receptor, pode-se, teoricamente, projetar um fármaco capaz de inter-
romper a atividade deste receptor.

Com efeito, existem, no momento atual, muitas pesquisas em andamento,


que têm por objetivo aumentar a eficácia e reduzir a toxicidade dos fármacos
através de uma alteração da sua estrutura, de modo que possam ligar-se de
modo mais seletivo a seus alvos.

Esse processo, conhecido como planejamento racional de fármacos, pro-


piciou o desenvolvimento de inibidores de protease que afetaram profundamente
a evolução da doença pelo HIV, bem como de agentes antineoplásicos, como o
imatinibe.

DETERMINANTES MOLECULARES E CELULARES


DA SELETIVIDADE DOS FÁRMACOS
Um fármaco ideal é aquele capaz de interagir apenas com um alvo mo-
lecular que produza o efeito terapêutico desejado, mas não com alvos molecu-
lares capazes de provocar efeitos adversos indesejáveis.

Embora esse fármaco ideal ainda não tenha sido descoberto (isto é, todos
os fármacos de uso clínico atual têm o potencial de produzir efeitos adversos,
bem como efeitos terapêuticos), os farmacologistas podem tirar proveito de di-
versos determinantes da seletividade dos fármacos numa tentativa de atingir
essa meta.

33
A seletividade quanto à ação de um fármaco pode ser obtida através de
pelo menos duas categorias de mecanismos:

(1) A especificidade de subtipos de receptores quanto ao tipo


celular e
(2) a especificidade do acoplamento receptor–efetor quanto ao
tipo celular.

Embora numerosos receptores potenciais de fármacos estejam ampla-


mente distribuídos entre diversos tipos de células, alguns receptores são mais
limitados na sua distribuição.

A administração sistêmica de fármacos que interagem com esses recep-


tores localizados pode resultar em efeito terapêutico altamente seletivo.

Por exemplo, os fármacos cujos alvos consistem em processos univer-


sais, como a síntese de DNA, tendem a causar efeitos colaterais tóxicos signifi-
cativos; este é o caso de numerosos agentes quimioterápicos atualmente dispo-
níveis para o tratamento do câncer.

Outros fármacos cujos alvos consistem em processos que se restringem


a determinado tipo de célula, como a produção de ácido no estômago, podem
ter menos efeitos adversos.

O imatinibe é um fármaco extremamente seletivo, visto que a proteína


BCR-Abl não é expressa nas células normais (não-cancerosas).

Em geral, quanto mais restrita a distribuição celular do receptor-alvo de


determinado fármaco, maior a probabilidade de o fármaco ser seletivo.

De forma semelhante, embora muitos tipos diferentes de células possam


expressar o mesmo alvo molecular para determinado fármaco, o efeito desse
fármaco pode diferir nos vários tipos celulares, devido a mecanismos diferenciais
de acoplamento receptor–efetor ou a exigências diferenciais do alvo do fármaco
nos vários tipos de células.

34
Por exemplo, embora os canais de cálcio regulados por voltagem sejam
universalmente expressos no coração, as células marca-passo cardíacas são
relativamente mais sensíveis aos efeitos dos agentes bloqueadores dos canais
de cálcio do que as células musculares ventriculares cardíacas.

Esse efeito diferencial é atribuível ao fato de que a propagação do poten-


cial de ação depende principalmente da ação dos canais de cálcio nas células
marca-passo cardíacas, enquanto os canais de sódio são mais importantes que
os de cálcio nos potenciais de ação das células musculares ventriculares.

Em geral, quanto maior a diferença nos mecanismos de acoplamento re-


ceptor–efetor entre os vários tipos de células que expressam determinado alvo
molecular para um fármaco, mais seletivo tende a ser o fármaco.

PRINCIPAIS TIPOS DE RECEPTORES DE FÁRMA-


COS

Tendo em vista a grande diversidade de moléculas de fármacos, seria,


aparentemente, muito provável que as interações entre fármacos e seus alvos
moleculares fossem igualmente diversas. Isso é apenas parte da verdade.

Com efeito, a maioria das interações fármaco–receptor atualmente eluci-


dadas podem ser classificadas, em sua maioria, em seis grandes grupos. Esses
grupos compreendem as interações entre fármacos e (1) canais iônicos trans-
membrana, (2) receptores transmembrana acoplados a proteínas G intracelula-
res, (3) receptores transmembrana com domínios citosólicos enzimáticos, (4) re-
ceptores intracelulares, incluindo enzimas, reguladores da transcrição e proteí-
nas estruturais, (5) enzimas extracelulares e (6) receptores de adesão de super-
fície celular.

Embora a farmacodinâmica (o estudo dos efeitos dos fármacos sobre o


corpo humano) seja considerada de modo detalhado no próximo capítulo, é con-
veniente citar de modo sucinto as principais relações farmacodinâmicas entre

35
fármacos e seus alvos antes de examinar os mecanismos moleculares das inte-
rações fármaco–receptor.

Os agonistas são moléculas que, através de sua ligação a seus alvos,


produzem uma alteração na atividade desses alvos. Os agonistas integrais li-
gam-se a seus alvos e os ativam até o grau máximo possível.

Por exemplo, a acetilcolina liga-se ao receptor nicotínico de acetilcolina e


induz uma alteração de conformação no canal iônico associado ao receptor, de
um estado não-condutor para um estado totalmente condutor.

Os agonistas parciais produzem uma resposta submáxima através de sua


ligação a seus alvos. Os agonistas inversos causam inativação de alvos consti-
tutivamente ativos.

Os antagonistas inibem a capacidade de ativação (ou inativação) de seus


alvos por agonistas fisiológicos ou farmacológicos.

Os fármacos que bloqueiam diretamente o sítio de ligação de um agonista


fisiológico são denominados antagonistas competitivos.

Os fármacos que se ligam a outros sítios na molécula do alvo e que, por-


tanto, impedem a alteração de conformação necessária para a ativação (ou ina-
tivação) do receptor podem ser antagonistas não-competitivos.

Como o mecanismo de cada interação fármaco–receptor é delineado nas


várias seções que se seguem, convém considerar, em nível estrutural, como po-
dem ser produzidos esses diferentes efeitos farmacodinâmicos.

CANAIS IÔNICOS TRANSMEMBRANA


A passagem de íons e de outras moléculas hidrofílicas através da mem-
brana plasmática é necessária para numerosas funções celulares.

Esses processos são regulados por canais transmembrana especializa-


dos. As funções dos canais iônicos são diversas, incluindo funções fundamentais

36
na neurotransmissão, na condução cardíaca, na contração muscular e na secre-
ção.

Por conseguinte, os fármacos cuja ação é direcionada para os canais iô-


nicos podem exercer impacto significativo sobre as principais funções orgânicas.
São utilizados três mecanismos principais na regulação da atividade dos canais
iônicos transmembrana.

Em alguns canais, a condutância é controlada pela ligação do ligante ao


canal. Em outros canais, essa condutância é regulada por mudanças de volta-
gem através da membrana plasmática.

37
REFERÊNCIAS
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macêutica e os Desafios para sua Consolidação. Revista Eletrônica De
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. Acesso em 26/06/2019.

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