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Definição e origem da Antropologia

1. Antropologia
1.1. Etimologia

O termo Antropologia é composto por dois vocábulos gregos: “anthropos”, significa


homem; e “logia”, estudo, ciência.

1.2. Definição

Antropologia é um conjunto de teorias e diferentes métodos e técnicas de pesquisa que


buscam explicar, compreender ou interpretar as mais diversas práticas dos homens e
mulheres em sociedade.

1.3. Origem da Antropologia

A Antropologia (mais tarde social ou cultural) deu seus primeiros passos


aproximadamente na segunda metade do século XIX, na Europa, da mesma forma que
sua irmã, a Sociologia. Em alguns países como na Franca, não apenas suas histórias se
confundem: muitos cientistas sociais franceses, até hoje, não fazem distinção entre as
duas, utilizando ora uma, ora outra palavra para referir-se a sua área de trabalho.

O facto de ambas começarem no mesmo momento histórico e na mesma região do mundo


não foi uma coincidência, mas resultado de uma série de mudanças sociais, económicas e
politicas, ou para falar como cientista social, de determinado contexto. A Antropologia
tem suas origens históricas, portanto, no processo de expansão do capitalismo, mais
precisamente através do colonialismo e do imperialismo das nações ricas, que estendiam
seus domínios a lugares remotos do mundo.

Esse é um dado importante, pois nao nos deixa esquecer as relações de forca e poder
envolvendo países centrais, como Inglaterra, Franca e Alemanha, e países e regiões
subjugados directa ou indirectamente pelo sistema, como boa parte das culturas aficanas,
asiáticas, indianas e latino-americanas. Como veremos, estes aspectos económicos e
políticos acabaram reflectindo em nocoes e teorias dentro da própria ciência que estava
nascendo. Os primeiros antropólogos, cientistas que buscavam o conhecimento das
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sociedades exóticas, nao colectavam seus dados de modo directo. Eles se baseavam em
informações enviadas por missionários, mercadores, militares e funcionários coloniais.
Como observou o antropólogo francês Francois Laplantine: Uma rede de informações se
instala. São os questionários enviados por pesquisadores das metrópoles (em especial da
Gra-Bretanha) para os quatro cantos do mundo, e cujas respostas constituem os materiais
de reflexão das primeiras grandes obras de Antropologia que se sucederão em ritmo
regular durante toda a segunda metade do seulo XIX.

Existem dois aspectos desta fase inicial da Antropologia que serão úteis para começarmos
a desvendar esta ciência. Alias, nao so desvenda-la, mas inclusive compreender muitas de
nossas próprias ideias sobre sociedade e culturas que nao conhecemos. O primeiro
aspecto é a forte influencia de correntes de pensamento, como o positivismo, o
evolucionismo, e os determinismos geográfico e biológico nas ideias que os primeiros
antropólogos tinham das culturas distantes. O segundo aspecto diz respeito a ausência do
que mais tarde passamos a conhecer por trabalho de campo (fieldwork), ou seja da
presença in loco do pesquisador na cultura estudada, colectando dados e fazendo
observações directas.

1.4. Definição de Antropologia Cultural

Entendemos por Antropologia Cultural o estudo sistemático do homem e de suas


actividades e comportamento.

1.4.1. Objecto material da Antropologia Cultural

O objecto material da Antropologia Cultural é o estudo do homem. Mas é necessário ter


em conta que há mais outras ciências que também se ocupam do homem.

1.4.2. Objecto formal da Antropologia Cultural

A antropologia cultural trata do homem e do seu comportamento como um todo; leva em


conta todos os aspectos da existência humana biológica e cultural, passada e presente,
combinando esses diversos materiais, numa abordagem integrada.
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2. As correntes teóricas da Antropologia


2.1. Evolucionismo
2.1.1. Linhas gerais do evolucionismo

Influenciada pelo darwinismo e pela teoria da evolução das espécies, esta corrente afirma
que a espécie humana evolui lentamente e que se podem classificar todas as sociedades
existentes em função do estádio de desenvolvimento alcançado. É evidente que o
evolucionismo postulava como ideal, ou seja, como estádio terminal da evolução - a
sociedade ocidental, cuja preponderância era assim justificada.

Muitos foram os autores que propuseram esquemas de evolução da humanidade. Tylor


pensava que as religiões evoluíam do animismo para o monoteísmo, passando pelo culto
da natureza e pelo politeísmo.

Eva M. Lakatos sustenta que a história da humanidade passa por ciclos: as culturas
atravessam uma série de estágios sucessivos, voltando ao ponto original e recomeçando o
ciclo (escritos indianos; doutrina budista; doutrina dos estóicos gregos e filósofos
romanos, especialmente Marco Aurélio).

De modo geral, pode se dizer que o germe das teorias evolucionistas que alcançou o seu
auge no século XIX está no próprio método científico e na filosofia que o inspirou. O
iluminismo serviu de base ao crescimento posterior de todas as teorias evolucionistas. O
evolucionismo embora não fosse essa a intenção dos seus seguidores, representou a
manifestação de fé dos estudiosos na capacidade do homem de fazer uma história cada
vez mais grandiosa.

2.1.2. O Evolucionismo Cultural: Representantes

Edward Burnett Tylor (1832-1917), ecólogo inglês, é considerado o pai da Antropologia


por ter sido o primeiro a tentar sistematizar o estudo da cultura. Em 1871 publicou o livro
Primitive Culture, onde procurou, principalmente demonstrar o desenvolvimento da
prática religiosa.
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Não menos importante foi a obra de Lewis Morgan (1818-1881), antropólogo norte-
americano. Ele introduziu o conceito de três idades do homem: 1) selvagem; 2) bárbara;
3) e civil, ié, (a selvajaria, a barbárie e a civilização).

James George Frazer (1854-1941), antropólogo inglês, estudioso da etnologia religiosa.


Postulava três etapas de evolução pelas quais passam todas as sociedades: 1) magia; 2)
religião; 3) e ciência. Segundo ele o homem, nos primórdios, estava dominado pela
magia, que junto com a ciência, considera a natureza como uma série de acontecimentos
que se desenvolvem em ordem invariável sem a intervenção de um agente pessoal. O
mago, como o cientista, supõe a existência de leis da natureza. Cré que conhecendo-as
poderá modifica-las em seu benefício; porem, estas leis não são reais e sim imaginarias.

Saint-Saimon (1760-1825) afirmara em varias obras que há uma sequência evolutiva


através da qual deve passar toda a humanidade, distinguindo três fases da actividade
mental: a conjectural, a semi-conjectural e a positiva.

Augusto Comte (1798-1870) apresentou esquema semelhante. Falava de um estado


primitivo ou teológico, de um intermediário, que denominou de metafísico, e de um
terceiro, baptizado como científico ou positivo. Segundo ele todas as sociedades
atravessam esses três estados.

Outro nome de realce foi Herbert Spencer (1820-1903). Spencer tinha elaborado a
própria teoria da evolução social antes da publicação de Wallace e Darwin, mas ele viu
nas suas contribuições à biologia o apoio paralelo do qual necessitava. A clássica
expressão “sobrevivência dos mais aptos” pertence a Spencer e não a Darwin.

2.1.3. Principais características


a) Amplitude do objecto de estudo

O evolucionismo cultural visava estudar a cultura. O evolucionismo visava explicar os


aspectos comuns a todos os povos e mostrar as regularidades existentes no processo
cultural. Os estudiosos desta teoria aceitavam que a cultura obedecia a uma dinâmica
natural, derivada da própria constituição humana: aquela unidade psíquica do homem que
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permitia que todos os povos mais cedo ou mais tarde evoluíssem em sua cultura. As
mudanças culturais não dependeriam nem do ambiente nem da história.

b) O factor tempo

Os evolucionistas procuraram criar um tempo novo: o tempo cultural, isto é, as fases ou


estágios da evolução.

c) O método comparativo

William Robertson Smith (1846-1894) estudioso escocês, é um dos mais representativos


desta linha de pensamento. Foi ele que iniciou os estudos comparativos das culturas. E foi
o primeiro a usar a recolha de dados (trabalho de campo) unida a actividade teórica.

d) Temas e conceitos principais

Os temas principais desta teoria visam as instituições religiosas, as instituições familiares,


as instituições jurídicas e aspectos da cultura material. Em qualquer dos temas a
preocupação central era demonstrar como a cultura obedece a uma evolução universal e
unilinear. Em resumo, os principais conceitos introduzidos pelos evolucionistas e que
ainda hoje perduram na antropologia são: cultura, sistema de parentesco, evolução
cultural, religião, magia, totemismo, clã, descendência patrilinear ou matrilinear.

2.2. Difusionismo
2.2.1. Linhas gerais do difusionismo

O difusionismo conhecido também por historicismo, engloba várias tendências da


Antropologia Cultural: Difusionismo Inglês, Difusionismo Alemão e Difusionismo norte-
americano. O difusionismo busca uma explicação histórica para explicar as semelhanças
existentes entre as culturas particulares. O difusionismo preocupou-se por tornar os
métodos da Antropologia Cultural mais rigorosos, pelo que desenvolveu a pesquisa de
campo com intensidade considerável. O mais importante era a recolha de dados, mais
tarde viria a elaboração teórica. A palavra historicismo denota uma teoria segundo a qual
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a essência dos fenómenos da sociedade e da cultura consiste no seu carácter dinâmico e


de desenvolvimento. Isto deve ser nitidamente distinto da outra doutrina superficialmente
semelhante. O evolucionismo é uma teoria da natureza mais do que da sociedade e da
cultura. O evolucionismo dá relevo ao fenómeno da invenção, o difusionismo dá relevo
ao fenómeno da difusão e dos contactos entre os povos. Ambos acreditam que a
compreensão do fenómeno “cultura” repousa sobre o seu carácter dinâmico. Os
difusionistas passaram a ver na explicação evolucionista da cultura uma forte marca de
apriorismo, muita especulação e pouca ciência. Uma marca forte do difusionismo foi a
preocupação de tornar os métodos da antropologia cultural mais rigoroso, mais
científicos.

2.2.2. Difusionismo Inglês

O difusionismo inglês surgiu na segunda década do século XX. O seu representante mais
importante foi Grafton Elliot Smith (1871-1937), anatomista, antropólogo e egiptólogo,
de origem inglês, nascido na Austrália. Esta escola de pensamento defendeu a difusão
como principal motor da dinâmica cultural. Foi levada a isso talvez ao verificar quão
difícil é a inovação ou a criação de novos valores culturais. Admite0se a difusão a
difusão, mas nao como única explicação das semelhanças entre as culturas.

2.2.3. Difusionismo Alemão

Os principais representantes do difusionismo alemão, também conhecido por “Escola


Histórica-Cultural de Viena”, são: Fr. Ratzel (1844-1904), antropólogo e geógrafo
alemão, ressaltou a importância da difusão dos empréstimos culturais no
desenvolvimento e mudanças culturais; Leo Frobenius (1873-1938), antropólogo e
explorador alemão, que estudando os contactos culturais antigos, deduz uma origem
cultural comum para as áreas estudadas (África e Oceânia); Fritz Graebner (1877-1934),
antropólogo alemão, definiu o conceito de círculo cultural. O difusionismo alemão
distingue-se do difusionismo inglês pela utilização metodológica de informações seguras.
Em alguns pontos esta escola aproxima-se do evolucionismo: a) O objecto do estudo da
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antropologia é a cultura universal; b) as pesquisas fundamentalmente fazem-se nos


escritórios, pelo que o trabalho de campo é mínimo; c) ainda pode se falar de
antropologia colonial, pois continua em dependência do expansionismo colonial (o
pensamento antropológico em dependência do expansionismo imperial).

2.2.4. Difusionismo norte-americano

O estudioso mais representativo do difusionismo norte-americano é Franz Boas (1858-


1942), antropólogo e linguista norte-americano de origem alemão, especialista nos
estudos sobre usos e costumes dos povos indígenas de América do Norte. Criticou as
teorias apriorísticas do evolucionismo e do difusionismo, sublinhando que toda hipótese
deve se verificar com dados etnográficos certos. No seu método histórico o objecto em
estudo é a cultura na sua singularidade. Os nomes mais expressivos ligados a esta escola
são: Alfredo Louis Kroeber (1876-1960), antropólogo norte americano, discípulo de F.
Boas; Clark Wissler (1870-1947), Paul Radin (1883-1959), E. Sapir, Ruth Benedit (1887-
1947), e Margareth Mead (1901-1978).

Os seguidores desta corrente de pensamento delimitaram o campo de estudo da


antropologia, argumentando que a cultura é complexa para permitir um levantamento
histórico completo e de carácter universal. Razão pela qual, optaram pelo estudo de áreas
delimitadas e, de preferência, pequenas. Desta forma, argumentavam tornar-se mais fácil
e seguro o estudo histórico-cultural. Deu-se preferência aos estudos e pesquisas de
campo, privilegiando as informações e dados primários.
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QUESTIONARIO N° 1

1. Define Antropologia.
2. Define Antropologia Cultural.
3. Diferencie Antropologia da Antropologia Cultural.
4. Fale da origem da Antropologia.
5. Diferencie o objecto material do objecto formal da Antropologia Cultural.
6. Desenvolva duas correntes teóricas da Antropologia, a saber, Evolucionismo e
Difusionismo, especificando as linhas gerais, os representantes e as principais
características.

NB: As respostas do questionário devem ser entregues a docente, em formato físico na aula
seguinte.

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