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1.

Primeiras
Teorias Sociais
1. Primórdios da Sociologia

A sociologia é uma ciência que nasceu em meio a inúmeras


modificações geopolíticas, históricas e científicas. Na Europa,
duas grandes modificações foram responsáveis pelo nascimento
de uma curiosidade sociológica. Primeiramente, a revolução
industrial trouxe uma série de modificações quando ao modo de
viver. Trabalhadores passavam agora a trabalhar conforme o
ritmo de fábricas, distantes da luz do dia, cumprindo uma jornada
de trabalho calculada em horas e recebiam salário em troca.
Estes trabalhadores enfrentaram grandes modificações em suas
condições de vida, pois passaram a viver em grandes
aglomerados urbanos, privados de boas condições de higiene
pública e em más condições de trabalho. Crime, expectativa de
vida, doenças e uma série de flagelos do capitalismo industrial
foram as engrenagens necessárias para criar o movimento
sindical inglês. Este movimento foi o primeiro movimento social
de trabalhadores na era capitalista e sua força permitiu a
conquista de uma série de direitos que melhoravam as
condições de trabalho dos operários ingleses.

O segundo grande movimento que despertou cientistas para


uma busca por compreensão científica da sociedade foi a
revolução francesa. A revolução francesa depôs o absolutismo
mais poderoso da Europa e instaurou um regime democrático
fundado nos valores da liberdade, da fraternidade e da
igualdade. Ao longo do processo de radicalização da revolução,
Napoleão Bonaparte venceu e invadiu as monarquias europeias
instaurando novas formas de governo apoiadas pelas
burguesias nacionais.

Com a modernização da França, a unificação alemã e italiana


ao longo do século XIX, estes países passam a observar a
Inglaterra muito à frente em termos de industrialização. Essa
nova condição leva a um novo fenômeno que ficou conhecido
como imperialismo ou neocolonialismo.
O neocolonialismo consiste em missões que partem de países
industrializados em direção a territórios da África e da Ásia em
busca da introdução de novos mercados consumidores. O
problema deste empreendimento é que os produtos europeus
nem sempre faziam o gosto dessas pessoas e o que deveria ser
uma missão cultural acabou tornando-se uma missão de
colonização militar e cultural. Inúmeros conflitos irrompem em
territórios da Índia, da China, da África do Sul, da Libéria e
Eritréia em função da chegada dos europeus. Os invasores
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destroem modos de produção milenares e equilibrados,
corrompem hábitos ligados à religiosidade, modificam estruturas
sociais fundadas em tradições.

Diante disso um esforço compreensivo passou a ser feito. Afinal,


o contato com o estranho levou a intelectualidade europeia a ter
de elaborar a sua própria identidade por contraste com aqueles
que viviam de modos tão diferentes. Inicialmente, a
compreensão do outro se deu por um esforço teórico que ficou
conhecido como o Evolucionismo Social.

2. Evolucionismo Social

O pensamento dito evolucionista social nasceu antes mesmo da


famosa teoria da evolução das espécies de Darwin. Conceitos
de evolução já existiam com diferentes acepções na ciência
europeia e, nesse caso, alimentaram a nascente antropologia. O
que permite que reunamos essas teorias embaixo do mesmo
guarda-chuva é a sua ideia de que a cultura humana evolui e
passa por diferentes etapas.

2.1. Lewis Morgan

O primeiro pensador que iremos abordar de modo rápido é Lewis


Morgan (1818 – 1881). Morgan foi um antropólogo americano
que fez sua pesquisa de campo em meio aos Iroqueses. Ele
escreveu um livro chamado A Sociedade Antiga que ficou
famoso por sua concepção de evolução em etapas. Nesse livro,
Morgan defende que as formas de parentesco evoluem de
acordo com o progresso tecnológico das organizações
humanas.

As primeiras tribos são de caçadores-coletores na idade da


selvageria. Nesse período as tribos teriam um comportamento
sexual promíscuo. Logo em seguida, com o advento da
agricultura as tribos humanas passariam à barbárie. Aqui a
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sexualidade passaria a ser monogâmica dado que a noção de
bens materiais e terras passariam a interessar ao núcleo familiar.
Por último, as sociedades passariam à forma civilizada onde elas
chegariam ao progresso máximo em uma organização urbana.

Essa teoria é ultrapassada, porém ela serviu enormemente a


outros teóricos que se interessaram por entender as relações
entre vida material e formações de família e parentalidade.

Pode-se afirmar agora, com base em convincente evidência, que


a selvageria precedeu a barbárie em todas as tribos da
humanidade, assim como se sabe que a barbárie precedeu a
civilização. A história da raça humana é uma só - na fonte, na
experiência, no progresso. – Morgan, L. A Sociedade Antiga

2.2. Edward Tylor

Edward Tylor (1832 – 1917) foi um antropólogo britânico que


viajou para o México para estudar as tribos indígenas de lá.
Apesar de nunca ter cursado a universidade, foi condecorado
doutor em Oxford após a escrita de seu famoso livro Cultura
Primitiva.

Tylor irá argumentar que as culturas ao longo da terra tendem a


uma convergência por estarem fundadas em princípios da ação
e do pensamento. Por isso mesmo, cultura será para ele todo o
complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, lei,
costumes, e qualquer outras capacidades e hábitos adquiridos
pelo homem enquanto membro de uma sociedade.

Com essa definição Tylor colocava as tribos das Américas,


África e Ásia dentro de um conceito unificado de humanidade;

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pois, se todos os grupos têm cultura, então é necessário admitir
que há uma unidade psicológica básica a todos os humanos.

Será Tylor que irá identificar o fenômeno do animismo. Para ele,


tribos que iniciavam seu desenvolvimento histórico tendem a
construir formas de religião em que há a crença que entidades
naturais são deuses. O termo animismo vem do latim “anima”
que significa “alma”. Assim, é como se toda a natureza estivesse
possuída por almas que manifestam estados de ânimo.

2.3. Auguste Comte

Auguste Comte (1798 – 1857) foi um filósofo e sociólogo francês


criador da teoria positivista. O positivismo é uma teoria de cunho
liberal que incorpora inúmeros anseios da burguesia francesa do
século XIX. Inspirada em um profundo racionalismo e
cientificismo, o Positivismo nasce de um entendimento do
paradigma científico: a ciência se faz por meio da descrição de
leis.

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Comte irá então organizar um sistema de unidade da ciência
onde a matemática é a ciência base. A física é a ciência que em
primeira instância depende do desenvolvimento da matemática.
Por sua vez, a química é a ciência que depende de conceitos e
da compreensão de fenômenos físicos. Por fim, a biologia seria
a ciência que depende do entendimento da química. E a
sociologia seria a última ciência a receber uma axiomatização.

Para Comte a sociologia era uma espécie de física social que


deveria ter leis de descrição da evolução e do progresso social.
Nesse sentido, era necessário entender quais as leis sociais a
partir da identificação de suas forças motoras. A partir do método
comparativo, Comte chega à conclusão de que o progresso
humano se dá em função do avanço da ciência. Sendo assim,
as sociedades mais atrasadas na história são aquelas que não
elaboraram mecanismos e conceitos para a descoberta
científica, já as mais evoluídas seriam aquelas que se encontram
em pleno desenvolvimento científico.

Comte classifica de estado teológico o primeiro degrau da


escada de evolução social. Nesse estado os homens creditam a
forças divinas os fenômenos da natureza. É um período de
profunda fragilidade e, portanto, de crenças mitológicas e
religiosas. A forma de governo que mais se conforma a esse
período da mentalidade humana é aquela em que homens são
vistos como deuses e governam por meio de teocracias
militaristas. Para superar esse estado é necessário que ocorra a
transição de formas de pensamento mítico para formas de
pensamento racional.

O segundo estado é o metafísico. Neste momento os homens


passam a ter uma compreensão racional da natureza, mas ainda
pré-científica. A grande busca desse período é por essências ou
princípios que guiem o entendimento do mundo natural e do
próprio homem. É nesse período que os homens passam a
especular acerca de princípios morais e éticos que nos ajudem
a forjar leis para governar. Assim, a forma de governo mais
comum aos que atingem esse estado é aquele que dá
centralidade aos juristas e legisladores.

Por fim, o terceiro estado é chamado de positivo. Nesse


momento da história humana a ciência afasta dos homens todas
as formas de pensamento supersticioso e resolve todas as
disputas de valor subjetivo. A ciência passa a ser a principal
ferramenta dos homens no governo tecnocrático e na busca da
paz.

O positivismo tem como pressupostos o progresso, a evolução


e a ciência. Contudo, ao longo do desenvolvimento da teoria
positivista, Comte cada vez mais foi entendendo que sua filosofia
e pensamento social precisavam de um lugar para ser cultuado.
Assim, igrejas positivistas passaram a surgir na França e até
mesmo no Brasil. Aqui, o positivismo foi absorvido por membros
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do exército que adotaram o lema positivista “Amor, Ordem e
Progresso” como sendo a chave de suas decisões políticas.

2.4. Herbert Spencer

Spencer (1820 – 1903) era amigo de Charles Darwin. Sua


contribuição fundamental para o pensamento sociológico está
na teoria do Darwinismo Social. Para ele, tal como a vida
microscópica se organizou por meio de funções que estruturam
os organismos, a vida social deve também ter estruturas
funcionais básicas.

Spencer acreditava que a teoria da sobrevivência do mais


adaptado poderia ser a base de compreensão das sociedades
também. Sendo assim, ele pensou em dois modelos funcionais
de sociedade. Há as sociedades hierárquicas militaristas onde o
sistema é preponderantemente vertical, com pouca
diferenciação e baseado na obediência. E há sociedades
industriais com alta complexidade, diferenciação, voluntarismo e
contratos sociais tácitos.

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