Você está na página 1de 36

A identidade de um povo está na sua cultura.

Podemos entender como tudo aquilo que é


construído pelo ser humano. Inclui os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto
de conhecimentos e todo o comportamento etc. Portanto, conhecer e valorizar a nossa cultura
são auto-afirmações do que somos. Do contrário, poderemos ser conduzidos por qualquer
maré que chega. Por exemplo, ser conduzidos pelo fenômeno da globalização (Não
considerado seus valores) que busca homogeneizar as culturas locais a fim de controlar as
nações do mundo com as doutrinas capitalistas. Este processo chama-se aculturação. Quer
dizer, a infusão de uma cultura sobre outra a fim de matar uma.

Já a inculturação, por sua vez, pode ser considerada um fator positivo ou negativo, pois alude a
incorporação de elementos de uma na outra. Falo negativo e positivo, porque o processo pode
dar-se de modo imposto ou partilhado.

Contudo, as gestões públicas não se preocupam muito com os movimentos que mantém a
chama acessa da identidade do povo… Talvez por achar desnecessário manter viva essa
identidade, cujo nascimento vem das classes mais desfavorecidas.

Diante dessa premissa, é certo valorizar a cultura popular, haja vista que ela e tão importante
quanto à literatura, a arte plástica, a arquitetônica etc. Foi através da cultura popular que
pesquisas antropológicas e sociológicas chegaram a diversas características de nossos
antepassados.

Uma das estratégias do capitalismo é apresentar lixos culturais através dos meios de
comunicação de massa e outros meios. Chega até nós através da música, das propagandas
comerciam auditivas e visuais, através da internet, principalmente através da TV, responsável
por criar modismos incoerentes à vida de sofrimento do povo; criar deuses falsos a fim de
ludibriar através da estética. Também, difundindo o estrangeirismo da língua e outros
costumes.

A cultura de massa não pergunta se o povo quer, ela impõe. Por isso, não poderia de
parabenizar o Iphan pelo registro do Bumba-meu-boi como Patrimônio Cultural do Brasil.
Também a governadora Roseana Sarney, que sempre manteve viva a cultura popular
maranhense, valorizando os grupos folclóricos.

Viva a verdadeira identidade de um povo… A sua cultura popular!!!

https://caiohostilio.com/2011/08/31/a-verdadeira-identidade-de-um-povo-esta-na-sua-
cultura/
A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos círculos
teóricos das Ciências Sociais em face de sua complexidade. Entre as
possíveis formas de entendimento da ideia de identidade cultural,
exitem duas concepções distintas que devemos destacar dentro dos
estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções de identidade
são brevemente explicadas por Anthony Giddens, sociólogo
britânico, e nos ajudarão a entender melhor esse conceito.
 Conceito de cultura
Antes de falarmos sobre os diferentes conceitos de identidade cultural,
devemos esclarecer primeiro a ideia geral de cultura e de identidade.
Anoção de cultura faz alusão às características socialmente herdadas
e aprendidas que os indivíduos adquirem a partir de seu convívio
social. Entre essas características, estão a língua, a culinária, o jeito de
se vestir, as crenças religiosas, normas e valores. Esses traços culturais
possuem influência direta sobre a construção de nossas identidades,
uma vez que elas constituem grande parte do conjunto de atributos
que formam o contexto comum entre os indivíduos de uma mesma
sociedade e são parte fundamental da comunicação e da cooperação
entre os sujeitos.
 Conceito de identidade
O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual do
sujeito social, mas que ainda assim é totalmente dependente do âmbito
comum e da convivência social. De forma geral, entende-se por
identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos
que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é
significativo. Esse entendimento é construído a partir de determinadas
fontes de significado que são construídas socialmente, como o gênero,
nacionalidade ou classe social, e que passam a ser usadas pelos
indivíduos como plataforma de construção de sua identidade.
Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções importantes
que devemos entender antes de prosseguirmos. A teoria sociológica
distingue duas apreensões: a identidade social e a autoidentidade.
A identidade social refere-se às características atribuídas a um
indivíduo pelos outros, o que serve como uma espécie de
categorização realizada pelos demais indivíduos para identificar o que
uma pessoa em particular é. Portanto, o título profissional de médico,
por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui uma série de
qualidades predefinidas no contexto social que são atribuídas aos
indivíduos que exercem essa profissão. A partir disso, o sujeito
posiciona-se e é posicionado em seu âmbito social em relação a outros
indivíduos que partilham dos mesmos atributos.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
O conceito de autoidentidade (ou a identidade pessoal) refere-se à
formulação de um sentido único que atribuímos a nós mesmos e à
nossa relação individual que desenvolvemos com o restante do
mundo. A escola teórica do “interacionismo simbólico” é o principal
ponto de apoio para essa ideia, já que parte da noção de que é diante
da interação entre o indivíduo e o mundo exterior que surge a
formação de um sentido de “si mesmo”. Esse diálogo entre mundo
interior do indivíduo e mundo exterior da sociedade molda a
identidade do sujeito que se forma a partir de suas escolhas no
decorrer de sua vida.
 Identidade cultural
Por fim, podemos estabelecer, diante do que já foi esclarecido, que o
conceito de identidade cultural faz alusão à construção identitária de
cada indivíduo em seu contexto cultural. Em outras palavras, a
identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o
mundo exterior e como nos posicionamos em relação a ele. Esse
processo é continuo e perpétuo, o que significa que a identidade de um
sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse sentido, a identidade
cultural preenche os espaços de mediação entre o mundo “interior” e o
mundo “exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo público. Nesse
processo, ao mesmo tempo que projetamos nossas particularidades
sobre o mundo exterior (ações individuais de vontade ou desejo
particular), também internalizamos o mundo exterior (normas, valores,
língua...). É nessa relação que construímos nossas identidades.

Por Lucas Oliveira


Graduado em Sociologia
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou
acadêmico? Veja:
RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Identidade cultural"; Brasil
Escola. Disponível em
<https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm>.
Acesso em 13 de novembro de 2018.
Conceito de alteridade
SOCIOLOGIA
O conceito de alteridade refere-se ao processo de interação e socialização
humana no convívio entre o “eu” e o “outro”.



http://brasilesco.


O contato com o “outro” serve-nos como “espelho” ao evidenciar


nossas diferenças
PUBLICIDADE

A vida social em nosso mundo contemporâneo é bastante agitada,


concorda? Em nossa convivência urbana, em que milhares de pessoas
habitam um mesmo espaço, separadas, muitas vezes, apenas por finas
paredes, mesmo quando não queremos, acabamos por ter que interagir
com os “outros” de alguma forma.

Mesmo sem percebermos ou ainda sem dizer uma única palavra, ao


nos confrontarmos com o estranho, o não familiar, de alguma forma,
nossas condutas, ações e pensamentos moldam-se a partir dessa
interação. Essa interação entre o “eu”, interior e particular a cada um,
e o “outro”, o além de mim, é o que denominamos de alteridade.
Esse conceito parte do pressuposto de que todo indivíduo social é
interdependente dos demais sujeitos de seu contexto social, isto é, o
mundo individual só existe diante do contraste com o mundo do outro.
O antropólogo brasileiro Gilberto Velho elucida: “A noção de outro
ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta
efetiva-se através das dinâmicas socais. Assim sendo a diferença é,
simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão
e conflito.”* Simplificando, Gilberto Velho mostra de que forma
a interação entre a parte íntima e interior do indivíduo e o outro
forma o cerne da vida social. Ao interagirem, os indivíduos reafirmam
o que faz parte de si mesmo e o que faz parte do mundo externo.
Esse processo de diferenciação é parte também da construção da
identidade do sujeito, que se molda a partir da distinção entre “o
que eu sou” e “o que eu não sou”. Esse ponto leva-nos ao problema
fundamental da questão: a impossibilidade da existência do eu-
individual sem o conflito com o diferente, o estranho, o outro.
A ideia da alteridade é tratada por algumas disciplinas distintas, sendo
a Psicologia, a Filosofia e a Antropologia as principais. Emboras suas
abordagens sejam diferentes, o conflito entre o mundo interno e o
mundo externo sempre está em questão.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Para a Psicologia, trata-se do processo de formação psíquica do ser
humano. Lev Semenovitch Vygotsky é um dos autores da psicologia
que se dedicaram ao estudo do complexo processo de formação e do
desenvolvimento humano. A atividade humana no meio social é o
principal impulso que movimenta todo o processo de formação da
psiquê humana. Nesse sentido, o teórico aproximava-se e concordava
em vários aspectos com a teoria marxista acerca do mundo social e
das implicações da ação humana em seu meio. Vygotsky afirmava
isso baseado na ideia de que é pela interação social que o sujeito
constrói-se como indivíduo diante do confronto com o mundo externo.
Em suma, ao distinguirmos aquilo que não somos, também
determinamos aquilo que somos.
Para a Antropologia, a alteridade volta-se para a observação do
contato cultural entre grupos étnicos diferentes e dos conflitos
consequentes que se desenvolveram sob diferentes perspectivas. A
descoberta do “Novo Mundo”, isto é, o início da colonização europeia
nas Américas, parece ser o ponto de partida para os questionamentos
que envolvem a ideia de alteridade. O encontro com o “outro”
é marcado pelo medo e pelo fascínio, pela distinção clara entre o
que é estranho e o que não é. O contraste cultural, de certa forma,
acaba fortalecendo a noção de que “aquilo que sou é diferente daquilo
que não sou”, o que, em outras palavras, significa dizer que o mundo
estranho é um enorme espelho que reflete o que é familiar ao destacar
tudo aquilo que nos é estranho.
Referências: VELHO, G. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea.

8.ed. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2008.

Por Lucas Oliveira


Graduado em Sociologia
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou
acadêmico? Veja:

RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Conceito de alteridade"; Brasil


Escola. Disponível em
<https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conceito-alteridade.htm>.
Acesso em 13 de novembro de 2018.
 ARTIGOS RELACIONADOS
Etnia
SOCIOLOGIA
A etnia refere-se a um grupo social em que a identidade é definida por meio do
compartilhamento de uma língua, cultura, tradições e territórios.



http://brasilesco.


As diferenças étnicas estão estampadas até mesmo nas formas de se


vestir
PUBLICIDADE

Os estudos realizados sobre assuntos como cultura, identidade, raça e


etnia estão em voga e são de grande importância para as disciplinas
vinculadas às Ciências Sociais. Isso acontece, em grande parte, em
virtude do aumento do contato entre grupos étnicos e culturas
diferentes, antes separados pelas barreiras geográficas. O advento da
globalização encurtou distâncias e trouxe para nossa “vizinhança”
culturas, pensamentos, ideias e línguas que, na grande maioria dos
casos, nossos antepassados jamais haviam ouvido falar. Essa
aproximação gerou, ao mesmo tempo, um sentimento de estranheza e
de fascinação pelo exótico e diferente e, assim como tornou nosso
mundo social mais diverso, também serviu de catalizador para um
processo de acentuação das diferenças étnicas desses grupos.

 O que é etnia?
Tudo isso está relacionado com a noção de etnia, que, resumidamente,
pode ser conceituada como o sentimento de pertencer a determinado
grupo com o qual o indivíduo partilha a mesma língua, tradições e
território. Trata-se de características tão marcantes que, de inúmeras
maneiras, acabam tornando-se pontos basilares da construção
identitária do indivíduo, definindo certos aspectos da convivência
social da população que constitui o grupo étnico.
O conceito estende-se às relações de alteridade entre grupos étnicos
diferentes. Esses grupos veem-se de forma diferente dos demais e, ao
mesmo tempo, também são entendidos como grupo distinto por outros
grupos. É nesse ponto que a relação de alteridade insere-se. O
convívio com a diferença torna-se “espelho” que reflete a autoimagem
do grupo ao tornar claro o que lhe é estranho. Nessa perspectiva, a
população de um grupo reconhece-se por meio da constatação de uma
familiaridade linguística, religiosa, de tradições etc. Por esse motivo, a
etnicidade fornece ao sujeito uma ligação direta com o passado por
meio da ideia de continuidade, que é mantida na perpetuação das
tradições e dos sentidos que elas carregam.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)


 Raça e Etnia
Uma importante ressalva que devemos fazer é que o conceito de
etnia é distinto do conceito de raça. Ainda que frequentemente sejam
confundidos, a ideia de raça está ligada a uma concepção biológica,
dando a entender que as diferenças entre grupos étnicos estão ligadas
a predisposições biologicamente inatas. Essa ideia, no entanto, é um
engano e não tem qualquer fundamento científico. Muitas vezes, esse
equívoco acaba alimentando noções preconceituosas acerca de uma ou
outra etnia. A construção de uma etnia é puramente social e baseia-se
nas disposições do grupo e em suas experiências através de sua
história.

Por Lucas Oliveira


Graduado em Sociologia
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou
acadêmico? Veja:

RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Etnia"; Brasil Escola. Disponível


em <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/etnia.htm>. Acesso em
13 de novembro de 2018.
 ARTIGOS RELACIONADOS
SOCIOLOGIARaça e etnia

SOCIOLOGIACultura

SOCIOLOGIASegregação Racial

SOCIOLOGIAConceito de alteridade

SOCIOLOGIAIdentidade cultural

RECOMENDADOS PARA VOCÊ



PLANEJAMENTO

Como montar um plano de estudos para o Enem


VIDEOAULAS
Você sabia que o Brasil Escola também está no Youtube? Assista às
videoaulas gratuitamente!
ENEM
Veja a correção comentada dos dois dias do Enem 2018
VESTIBULAR
Primeira fase do Vestibular 2019 da Unesp acontece nesta quinta-feira. Saiba
tudo sobre a prova!





Me fala de você
Zé Vicente

Vem, me fala tu de liberdade

Dessa igualdade que todos queremos

Desta vida nova que todos buscamos

Desta paz que um dia encontraremos.

Vem me fala tu de tua vida

Dessa amizade mais querida

Dessa ansiedade de amar de novo

Desta tua vida doada ao povo

Vem me fala tu de esperança

Desse novo ser criança

Dessa paz sem ser bonança

Dessa luta pra vencer

Vem me fala de você

A Massa

Raimundo Sodré

A dor da gente é dor de menino acanhado

Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar

Que salta aos olhos, igual a um gemido calado

A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

A dor da gente é dor de menino acanhado


Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar

Que salta aos olhos, igual a um gemido calado

A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

Moinho de homens que nem jerimuns amassados

Mansos meninos domados, massa de medos iguais

Amassando a massa, a mão que amassa a comida

Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

(só percussão)

A dor da gente é dor de menino acanhado

Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar

Que salta aos olhos, igual a um gemido calado

A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

Moinho de homens que nem jerimuns amassados

Mansos meninos domados, massa de medos iguais

Abraçando a massa, a mão que amassa a comida

Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

When I remember of "massa" of manioc (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe (da massa)

Da massa que planta a mandioca, mãe (da massa)

A massa que eu falo é a que passa fome, mãe (da massa)

A massa que planta a mandioca, mãe (da massa)

Quand je me souviens da la masse du manioc, mère (da massa)

Quand je rappele de la masse du manioc, mère (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Lelé, meu amor lelé, no cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!

No cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!

Eu quero, mas não quero (camarão), mulher minha na função (camarão)

Que está livre de um abraço, mas não está de um beliscão!

Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)

Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)

É que o guarda civil não quer a roupa no quarador!


O guarda civil não quer a roupa no quarador!

Meu deus onde vai parar, parar essa massa!

Meu deus onde vai rolar, rolar essa massa!

A Mão da Limpeza

Gilberto Gil

Raça Humana

O branco inventou que o negro

Quando não suja na entrada

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Que mentira danada, ê

Na verdade a mão escrava

Passava a vida limpando

O que o branco sujava, ê

Imagina só
O que o branco sujava, ê

Imagina só

O que o negro penava, ê

Mesmo depois de abolida a escravidão

Negra é a mão

De quem faz a limpeza

Lavando a roupa encardida, esfregando o chão

Negra é a mão

É a mão da pureza

Negra é a vida consumida ao pé do fogão

Negra é a mão

Nos preparando a mesa

Limpando as manchas do mundo com água e sabão

Negra é a mão

De imaculada nobreza

Na verdade a mão escrava

Passava a vida limpando

O que o branco sujava, ê

Imagina só

O que o branco sujava, ê

Imagina só

Eta branco sujão


Alienação

Ilê Aiyê

ALIENAÇÃO

Mario Pam & Sandro Teles

(refrão)

Se você esta a fim de ofender

É só chamá-lo de moreno pode crê

É desrespeito a raça é alienação

Aqui no Ilê Aiyê a preferência é ser chamado de negão

Se você esta a fim de ofender

É só chamá-la de morena pode crê

Você pode até achar que impressiona

Aqui no Ilê Aiyê a preferência é ser chamada de

negona

A consciência é o objetivo principal

Eu quero muito mais

Alem de esporte e carnaval, natural.

Chega de eleger aqueles que tem

Se o poder é muito bom

Eu quero poder também

(refrão)
O sistema tenta desconstruir

lhe afastar de suas origens

Pra que você não possa interagir, construir.

Já passou da hora de acordar

Assumir sua negritude é vital para prosperar

Ser negro não questão de pigmentação

É resistência para ultrapassar a opressão, sem

pressão.

Lutar sempre igualdade e humildade

Vou subir de Ilê Aiyê

E mudar toda cidade

(Refrão)

Ilê de Luz

Ilê Aiyê

Me diz que sou ridículo,me diz que sou ridículo

Nos teus olhos sou mau visto,

Diz até tenho má índole

Mas no fundo tu me achas bonito, lindo!

Lindo Ilê Aiyê...!

Refrão

Negro sempre é vilão


Até meu bem provar que não, que não

É racismo meu? Não

Todo mundo é negro,

De verdade é tão escuro,

Que percebo a menor claridade,

E se eu tiver barreiras?

Pulo não me iludo não,

"Com essa" de classe do mundo,

Sou um filho do mundo,

Um ser vivo de luz

Ilê de luz

A Bola da Vez

Ilê Aiyê

Eu quero saúde e estudar, viver contente

Me formar, trabalhar, ter mais valor

Secretário de estado, ser ministro

Jornalista, engenheiro, senador

Quero cotas iguais, não diferentes

Quero ter meu direito aonde for

Moradia decente pra essa gente

No Brasil ver um negro presidente

Ô ô essa reparação já passou da hora

Não desisto, pois eu sou um negro quilombola

Eles pensam que pode apagar nossa memória

Mas a força do Ilê nos Conduz nessa trajetória


Esse país aqui foi feito por nós

Ninguém vai mudar, nem calar á nossa voz

Direito de ir e voltar, cidadão

Levante a bandeira do gueto negão

A bola da vez Sou a voz, sou Ilê

A bola da vez Sou a voz, sou Ilê

A bola da vez Sou Ilê, bola da vez

Diferentes, Mas Iguais

Ilê Aiyê

DIFERENTES, MAS IGUAIS

Mario Pam e Sandro Teles

Elevar a auto estima é a sua missão

Consciência negra é a sua sina

Fabricando interlocutores de cidadania

Mostrando pra o mundo desigual a covardia

Consciência é o fruto da nossa vitória irmão

O futuro é nosso com certeza

Cantaremos em prosas e versos essa nossa ascensão

Com a força que emana da raça e o poder da canção

Êa Ilê

Êa Êa Ilê

Êa Êa Ilê
Ilê Aiyê

Zumbi...

É o reflexo da nossa luta irmão

Revela o poder da resistência

E o Ilê vem mostrando a força dos seus ideais

Ao clamar que somos diferentes, mas iguais.

Resistência Viva

Ilê Aiyê

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê

você poder ser também

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê

você pode ser meu bem

sou negro forte

vou seguindo o meu caminho

sei que não estou sozinho

ilê vem me guiar

Acendo a chama negra viva da paixão

africana é a nação que conduz o meu cantar

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê


você poder ser também

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê

você pode ser meu bem

Dos Quilombolas,segue a resistência viva

resistente na batida ,na Bahia estendeu

a bandeira da paz,da igualdade social

ilê Aiyê canta o seu ideal

negro de paz e amor

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê

você poder ser também

Vem vem Vem

Eu sou ilê Aiyê

você pode ser meu bem

Nos rufar dos tambores a mercê da negritude

Levantando a galera para no curuzu bailar

eu vou nesse swuinge com a banda aiyê

minha beleza negra não me deixa só

eu vou swuinge com banda aiyê

eu sou ilê não me deixa só

Quem planta preconceito


Racismo, indiferença

Não pode reclamar da violência

Quem planta preconceito

Racismo, indiferença

Não pode reclamar da violência

Quem planta preconceito

Racismo, indiferença

Não pode reclamar da violência

Quem planta preconceito

Racismo, indiferença

Não pode reclamar

Lembra da criança

No sinal pedindo esmola?

Não é problema meu

Fecho o vidro

Vou embora

Lembra aquele banco

Ainda era de dia

Tem preto lá na porta

Avisem a polícia

E os milhões e milhões

Que roubaram do povo

Se foi político ou doutor

Serão soltos de novo

Oooh!

Quem planta preconceito

Racismo, indiferença
Não pode reclamar da violência

Quem planta preconceito

Racismo, indiferença

Não pode reclamar da violência

Quem planta preconceito

Impunidade, indiferença

Não pode… Natiruts

Racismo É Burrice

Gabriel O Pensador

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano

O Atlântico é pequeno pra nos separar

Porque o sangue é mais forte que a água do mar

Racismo, preconceito e discriminação em geral

É uma burrice coletiva sem explicação

Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união

Mas demonstra claramente

Infelizmente

Preconceitos mil

De naturezas diferentes

Mostrando que essa gente

Essa gente do Brasil é muito burra

E não enxerga um palmo à sua frente

Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente

Eliminando da mente todo o preconceito

E não agindo com a burrice estampada no peito


A elite que devia dar um bom exemplo

É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento

Num complexo de superioridade infantil

Ou justificando um sistema de relação servil

E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação

Não tem a união e não vê a solução da questão

Que por incrível que pareça está em nossas mãos

Só precisamos de uma reformulação geral

Uma espécie de lavagem cerebral

Racismo é burrice

Não seja um imbecil

Não seja um ignorante

Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante

O quê que importa se ele é nordestino e você não?

O quê que importa se ele é preto e você é branco

Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços

Se você discorda, então olhe para trás

Olhe a nossa história, os nossos ancestrais

O Brasil colonial não era igual a Portugal

A raiz do meu país era multirracial

Tinha índio, branco, amarelo, preto

Nascemos da mistura, então por que o preconceito?

Barrigas cresceram, o tempo passou

Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor

Uns com a pele clara, outros mais escura


Mas todos viemos da mesma mistura

Então presta atenção nessa sua babaquice

Pois como eu já disse racismo é burrice

Dê a ignorância um ponto final

Faça uma lavagem cerebral

Racismo é burrice

Negro e nordestino constroem seu chão

Trabalhador da construção civil conhecido como peão

No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma
delegacia

É revistado e humilhado por um guarda nojento

Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós

Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói

O preconceito é uma coisa sem sentido

Tire a burrice do peito e me dê ouvidos

Me responda se você discriminaria

O Juiz Lalau ou o PC Farias

Não, você não faria isso não

Você aprendeu que preto é ladrão

Muitos negros roubam, mas muitos são roubados

E cuidado com esse branco aí parado do seu lado

Porque se ele passa fome, sabe como é

Ele rouba e mata um homem

Seja você ou seja o Pelé

Você e o Pelé morreriam igual

Então que morra o preconceito e viva a união racial


Quero ver essa música você aprender e fazer

A lavagem cerebral

Racismo é burrice

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista

É o que pensa que o racismo não existe

O pior cego é o que não quer ver

E o racismo está dentro de você

Porque o racista na verdade é um tremendo babaca

Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca

E desde sempre não pára pra pensar

Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar

E de pai pra filho o racismo passa

Em forma de piadas que teriam bem mais graça

Se não fossem o retrato da nossa ignorância

Transmitindo a discriminação desde a infância

E o que as crianças aprendem brincando

É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando

Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica

Ninguém explica

Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural

Todo mundo que é racista não sabe a razão

Então eu digo meu irmão

Seja do povão ou da elite

Não participe

Pois como eu já disse racismo é burrice


Como eu já disse racismo é burrice

Racismo é burrice

E se você é mais um burro, não me leve a mal

É hora de fazer uma lavagem cerebral

Mas isso é compromisso seu

Eu nem vou me meter

Quem vai lavar a sua mente não sou eu

É você

Eu Só Peço a Deus

Inquérito

"Eu só peço a Deus"

Deixa eu te falar, vim te confessar

Acho que eu também sou poeta e não aprendi a amar

Cruzes que eu já carreguei, cada um com a sua é a lei

Ontem mesmo eu perguntei: "Por que que eu nunca parei? Hein? "

Quer saber o que me move? Quer saber o que me prende?

São correntes sanguíneas, não contas correntes

Não conta com a gente pra assinar seu jornal

Vocês descobriram o Brasil, né? Conta outra Cabral

É um país cordial, carnaval, tudo igual

Preconceito racial mais profundo que o Pré-Sal

Tira os pobre do centro, faz um cartão postal

É o governo trampando, Photoshop social


Bandeirantes, Anhanguera, Raposo, Castelo

São heróis ou algoz? Vai ver o que eles fizeram

Botar o nome desses cara nas estrada é cruel

É o mesmo que Rodovia Hitler em Israel

Também quero a revolução, mas não sou imbecil

Quem não sabe usar um lápis, não vai saber usar um fuzil

Por isso os mic, as Mk e os spray pra mostrar

Quem vai tá preparado pra segurar as AK

Mas vem cá, ó na rua é salve geral e os moleque, sobe os PM

E o rap tenta ser legal, se esvazia e sobe os BPM

E quanto mais as velocidade

Vê-ve-velocidade das batida aumenta

Maior viagem, mas as mensagens

São entendidas em câmera lenta

Nosso esporte predileto ainda é lotar os bares

Esvaziar os lares, mano, nós somos milhares

Miseráveis na arquibancada se matando

E os 22 milionários se divertindo em campo

Violência vicia soldado e eu sei bem (Bem!)

A guerra não é santa nem aqui e nem em Jerusalém

É o Brasil da mistura, miscigenação

Quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão

Eu só peço a Deus!

Questão De Identidade

Wilson Moreira

▼ Links do Artista
Cor
Douglas Camppos
A cor da minha pele
Não te diz quem sou
O meu cabelo crespo
Não te diz quem sou
O que eu visto no corpo
Não te diz quem sou
Quanto eu levo no bolso
Não te diz quem sou
Quem sou

Restos de um passado inesquecido eu sou


Marcado pela mão branca do opressor estou
Lutando em meio ao caos da ignorância vou viver

Restos do Pelourinho pesado e sofrido eu sou


Marcado pelo açoite ao pé do tronco estou
Lutando pela inserção nessa nação que não me vê

Restos do Quilombo perseguido eu sou


Marcado pelo ardor da escravidão estou
Lutando pela aprovação da pele preta sem ceder

Eu sou
O choro
Que chora a cor
Linda cor eu sou

A cor da minha pele


Não te diz quem sou
O meu cabelo crespo
Não te diz quem sou
O que eu visto no corpo
Não te diz quem sou
Quanto eu levo no bolso
Não te diz quem sou
Quem sou

PUBLICIDADE
Basta exclusão, discriminação
Racismo é um império sem chão
Basta a anarquia e a hipocrisia
Que a cor homogênea é padrão
Tire a mão branca, gelada da frente
Que eu quero passar com minha cor
Tire o discurso pesado da boca
Deus não te fez superior
Tire as mazelas que trazes na alma
Sua casca dissemina a dor
Tire a ilusão da escravização
O negro é o seu próprio senhor
Eu sou Mandela, sou Luther King
Sou Bob Marley, Zumbi
Sou Rosa Parks, Elza Soares
Eu luto pra não sucumbir
Mentes fechadas, atrofiadas
Buscando um antídoto a si
Presas no escuro
Em cima do muro
Ferem alguém sem sentir
Fora nazismo, racismo, fascismo
O "ismo" é um grito no abismo
Fora machismo, um podre modismo
Eu quero cantar

A cor da minha pele


Não te diz quem sou
O meu cabelo crespo
Não te diz quem sou
O que eu visto no corpo
Não te diz quem sou
Quanto eu levo no bolso
Não te diz quem sou
Quem sou
LETRA ENVIADA POR ENETHY CUTY

Só você não entendeu

A história está aí

Seu problema é pessoal

Que não assume onde nasceu

Não adianta

Querer mudar

Você nasceu

Neste lugar
Que culpa eu tenho

E agora nega

A sua nacionalidade

Inquieto sonha

Sonhos profundos

Vê se enxerga a realidade

Índio e branco

Sua mistura

Pois eu assumo

A pele escura

Sou Negro banto

Origem África

Soube da história

Dos meus ancestrais

Sofreram tanto

Quanto os seus

Mas mesmo assim, somos todos iguais

A necessidade de pertencer ou necessidade de pertencimento foi definida pelo psicólogo


americano Abraham Maslow. Ele acreditava que as pessoas são seres sociais que têm uma
necessidade de pertencer a um grupo, amar os outros, e ser amados. Ele afirmou ainda que, se
as pessoas não podiam atender a essa necessidade de pertencer, a sua necessidade de auto-
estima não seria capaz de ser satisfeita. Em outras palavras, sem ser aceito como parte do
grupo ou por outros, a auto-estima não se desenvolve adequadamente.

Memória cultural: o vínculo entre passado, presente e futuro

por Flávia Dourado - publicado 23/05/2013 11:45 - última modificação 12/02/2016 10:49
Aleida Assmann e Jan Assmann

Os pesquisadores alemães Aleida e Jan Assmann

À primeira vista, a memória parece uma coisa inerte, presa ao passado — a lembrança de algo
que aconteceu e ficou parado no tempo. Mas um olhar mais cuidadoso revela que a memória
é dinâmica e conecta as três dimensões temporais: ao ser evocada no presente, remete ao
passado, mas sempre tendo em vista o futuro.

Na conferência Memórias Comunicativa e Cultural, os pesquisadores Jan Assmann e Aleida


Assmann, ambos professores da Universidade de Konstanz, Alemanha, abordaram esse caráter
dinâmico da memória. Jan tratou da durabilidade e dos aspectos simbólicos da memória
cultural, enfatizando seu papel na construção de identidades, enquanto Aleida priorizou a
narrativa histórica contemporânea, concentrando-se nos processos mnemônicos ligados à
constituição de novos estados-nação.

O evento, realizado no dia 15 de maio, no IEA, abriu o ciclo de conferências Espaços da


Recordação, que os pesquisadores proferiram no país de 15 a 21 de maio. O ciclo integrou a
programação do Ano da Alemanha no Brasil e foi uma realização da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e do Instituto de Estudos Avançados sobre Mobilidades Sociais e Culturais, com
o apoio do IEA e de outras instituições.

Após passar pelo IEA, Jan e Aleida fizeram conferências na Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Campinas, no dia 16; na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioste),
Cascavel, no dia 17; na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, e na Universidade
Estadual de Londrina (UEL), ambas no dia 20; e na Fundação Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, no dia 21.

Memória Cultural

Jan fez uma distinção entre dois tipos de memória: a comunicativa, relacionada à transmissão
difusa de lembranças no cotidiano, através da oralidade; e a memória cultural — na qual
concentrou sua fala —, referente a lembranças objetivadas e institucionalizadas, que podem
ser armazenadas, repassadas e reincorporadas ao longo das gerações.
A memória cultural é constituída, assim, por heranças simbólicas materializadas em textos,
ritos, monumentos, celebrações, objetos, escrituras sagradas e outros suportes mnemônicos
que funcionam como gatilhos para acionar significados associados ao que passou. Além disso,
remonta ao tempo mítico das origens, cristaliza experiências coletivas do passado e pode
perdurar por milênios. Por isso, pressupõe um conhecimento restrito aos iniciados.

A memória comunicativa, por outro lado, restringe-se ao passado recente, evoca lembranças
pessoais e autobiográficas e é marcada pela durabilidade de curto prazo, de 80 a 110 anos, de
três a quatro gerações. E, por seu caráter informal, não requer especialização por parte de
quem a transmite.

Identidade

Jan destacou as conexões entre memória cultural e identidade. De acordo com ele, a memória
cultural é a "a faculdade que nos permite construir uma imagem narrativa do passado e,
através desse processo, desenvolver uma imagem e uma identidade de nós mesmos".

A memória cultural atua, portanto, preservando a herança simbólica institucionalizada, à qual


os indivíduos recorrem para construir suas próprias identidades e para se afirmarem como
parte de um grupo. Isso é possível porque o ato de rememorar envolve aspectos normativos,
de modo que, "se você quer pertencer a uma comunidade, deve seguir as regras de como
lembrar e do que lembrar", como frisou o pesquisador.

Ele ressaltou que, por funcionar como uma força coletiva unificadora, a memória cultural é
considerada um perigo pelos regimes totalitários. Como exemplo, mencionou o caso da Guerra
da Bósnia, quando a artilharia sérvia destruiu a Biblioteca de Saravejo na tentativa de minar a
memória dos bósnios e de minorias da região.

O objetivo, afirmou, era fazer da cultura uma tábua rasa para que fosse possível começar do
zero uma nova identidade sérvia: "Essa foi a estratégia do regime totalitário para destruir o
passado, porque se a gente controla o presente, a gente controla o passado, e se a gente
controla o passado, a gente controla o futuro".

O passado em foco

Aleida abriu sua conferência chamando atenção para um fenômeno característico das últimas
décadas: a descrença na ideia de futuro e a emergência do passado como preocupação
fundamental. Segundo a pesquisadora, a partir dos anos 1980, a confiança no futuro como
promessa de dias melhores perdeu força e deu lugar à inquietação diante do passado: "A ideia
de progresso está cada vez mais obsoleta e o passado tem invadido a nossa consciência".

Esse fenômeno, destacou, é efeito do período de violência excessiva do século 20 e de novos


problemas enfrentados pela sociedade contemporânea, como a crise ambiental, por exemplo.
Mas advertiu que não se trata de mera nostalgia ou de rejeição dos tempos modernos, uma
vez que a memória cultural está sempre direcionada para o futuro, "lembrando para frente,
por assim dizer".

A memória surge, assim, como um artifício para proteger o passado contra a ação corrosiva do
tempo e para dar subsídios para que os indivíduos entendam o mundo e saibam o que esperar,
"para que não tenham que inventar a roda e começar do zero a cada geração", como explicou
a pesquisadora.

Memória nacional

Tomando por base o conceito de les lieux de mémoire (lugares da memória), elaborado pelo
historiador francês Pierre Nora, Aleida falou sobre as transformações que se operaram na
construção da memória nacional no período pós-Segunda Guerra e pós-Muro de Berlim.

Pensando a partir do caso da França — país que se definiria pelo caráter triunfal de seu povo
—, o conceito de lugares da memória refere-se a objetos simbólicos concretos, como
monumentos, museus e arquivos, ligados a uma autoimagem de heroísmo e de orgulho por
parte das nações.

Mas, para a pesquisadora, esse conceito não se aplica aos novos estados-nação surgidos a
partir de 1945 (pós-colonial) e de 1989 (pós-União Soviética). Diferentemente da França, esses
países não se constituem em torno do triunfo, mas do trauma gerado por eventos passados.
Assim, no momento em que ex-colônias são elevadas à condição de nações livres e definem
uma identidade própria, começa a vigorar uma memória marcada pelo histórico de violência,
escravidão e genocídios.

Segundo Aleida, as nações rememoram essas feridas na tentativa de obter, no presente, um


reconhecimento do sofrimento e dos abusos pelos quais passaram. Esse tipo de memória,
construído sobre episódios traumáticos, se intensifica na década de 1990, quando os
testemunhos das vítimas ganham espaço e são inaugurados diversos museus e memoriais ao
redor do mundo dedicados a eternizar simbolicamente o passado de violações aos direitos
humanos.
O caso de Israel

Ao responder, no debate, uma questão colocada por Helmut Galle, professor do


Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP, sobre a construção de uma memória de trauma em Israel, vinculada ao
holocausto, Aleida ressaltou o intervalo de tempo entre a criação do estado-nação e a
emergência dessa memória.

"Essa memória traumática não foi elaborada imediatamente, mas após um grande período de
latência por uma razão política: havia um novo país a ser construído e um status de
independência a ser conquistado", disse, destacando que a preocupação, naquele momento,
era compor uma memória heroica, e não dar espaço à memória das vítimas.

Jan completou afirmando que o objetivo do estado de Israel imediatamente após sua criação
era o de nunca mais ser vítima, enquanto o da Alemanha era o de nunca mais repetir os crimes
que cometeu na Segunda Guerra. "O reconhecimento das vítimas veio mais tarde. A primeira
ideia era a do 'nunca mais'", frisou.

Riscos e benefícios

Aleida levantou algumas questões sobre os riscos e benefícios da memória cultural derivada de
eventos traumáticos: Essa memória traz à tona um potencial agressivo ou resulta num maior
respeito e diálogo entre vizinhos? Torna uma sociedade mais vingativa ou mais consciente de
seu passado? Faz dos indivíduos cidadãos mais sensíveis ou insensíveis à violação dos direitos
humanos ou à condição das minorias?

A pesquisadora concluiu que a memória cultural não deve ser entendida como uma fixação
patológica com o passado, mas como um back-up, uma espécie de bagagem necessária para
que a sociedade construa seu futuro. Mas, de acordo com ela, essa memória deve ser
inspecionada criticamente, como acontece com qualquer bagagem.

Por isso, afirmou, é preciso tomar cuidado para que o passado negativo, uma vez
transformado em memória, não desperte o revanchismo: "A memória pode ser perigosa e
destrutiva se desenterrar raiva e a vontade de revisar a história".

Conferencistas
Aleida AssmannAleida Assmann é professora de língua inglesa e literatura comparada na
Universidade de Konstanz. É doutora em literatura inglesa pela Universidade de Heidelberg e
em egiptologia pela Universidade de Tübingen. Publicou trabalhos na área de egiptologia,
literatura inglesa e história da comunicação literária, mas desde a década de 60 vem se
dedicando à teoria da memória. Seus estudos concentram-se na memória cultural, com
interesse particular pelas tensões entre as experiências individuais e as lembranças oficiais da
história da Alemanha no período pós-Segunda Guerra.

Jan AssmannJan Assmann é professor honorário de teoria cultural e religiosa na Universidade


de Konstanz. Doutor honoris causa em teologia pela Universidade de Münster, suas
publicações abrangem a área da egiptologia, com foco em interpretações sobre as origens do
monoteísmo, a recepção do Egito na tradição europeia, história da religião, antropologia
histórica e outros temas. Nos últimos anos, tem se voltado para a dimensão da memória
cultural numa escala temporal longínqua, que remonta a mais de 3 mil anos. A partir disso,
busca entender o papel da memória nas disputas entre israelenses e palestinos no Oriente
Médio e entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte.

Problema Social

Seu Jorge

Se eu pudesse eu dava um toque em meu destino

Não seria um peregrino nesse imenso mundo cão

Nem o bom menino que vendeu limão e

Trabalhou na feira pra comprar seu pão

Não aprendia as maldades que essa vida tem

Mataria a minha fome sem ter que roubar ninguém

Juro que nem conhecia a famosa funabem

Onde foi a minha morada desde os tempos de neném

É ruim acordar de madrugada pra vender bala no trem

Se eu pudesse eu tocava em meu destino

Hoje eu seria alguém

Seria eu um intelectual
Mas como não tive chance de ter estudado em colégio legal

Muitos me chamam pivete

Mas poucos me deram um apoio moral

Se eu pudesse eu não seria um problema social

Se eu pudesse eu não seria um problema social

Você também pode gostar