Você está na página 1de 49

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

1. RESUMO:
O presente artigo tem por objetivo problematizar a Psicomotricidade como
recurso de aprendizagem e desenvolvimento para crianças da Educação
infantil. A Psicomotricidade define-se como a ciência que estuda o homem
por meio do seu movimento, integrando funções motoras e psíquicas na
relação entre o mundo externo e interno. Esse estudo irá definir a
Psicomotricidade, demonstrando a sua importância no desenvolvimento de
crianças na educação básica, bem como identificando atividades que
estimulam o desenvolvimento integral dos alunos. A referida pesquisa se
justifica pela necessidade de capacitação docente que atende a educação
infantil na atualidade, trabalhando as dificuldades de aprendizagem,
proporcionado o atendimento de crianças que necessitam de atividades
psicomotoras para o seu desenvolvimento cognitivo, físico e neurológico. A
Psicomotricidade promove no ambiente escolar um ambiente de inclusão e
possibilita o desenvolvimento do conhecimento de forma construtiva,
trabalhando com as crianças o seu desenvolvimento integral dentro do
processo de aprendizagem.

Palavras-chave: Aprendizagem, Desenvolvimento Infantil, Educação


Infantil, Psicopedagogia, Psicomotricidade.

2. INTRODUÇÃO
Em uma sociedade composta pela diversidade e pluralidade, a
Psicomotricidade é uma técnica que tem como estudo o corpo em movimento,
desenvolvendo aspectos cognitivos e motores, desenvolvendo o processo de
aprendizagem de forma contínua e globalizada, centralizando o seu objetivo
em resolver problemas relacionados a disfunções, patologias, educação,
aprendizagem e outros.

É na Educação Infantil onde há a necessidade de trabalhar as áreas da


Psicomotricidade, aproveitando experiências vividas pelas crianças como
meio para o aprofundamento das suas etapas de desenvolvimento, dessa
forma se faz necessário que seja trabalhado com as crianças o processo
atrativo e psicoativo.
É fundamental que haja a compreensão por parte dos educadores sobre os
fenômenos que os envolve, a maneira adequada e efetiva de se trabalhar com
o desenvolvimento da psicomotricidade, principalmente de crianças de
educação infantil e séries iniciais.

A prática psicomotora deve ser entendida como um processo de ajuda que


acompanha a criança em seu próprio percurso maturativo, que vai desde a
expressividade motora e desenvolvimento até o acesso à capacidade de
descentralização.

Dessa forma, com o intuito de destacar a importância da temática proposta,


este estudo trouxe como problemática: “a Psicomotricidade pode ser um
método diferencial se usado na educação para alunos com dificuldades de
aprendizagem?”. Este estudo teve como objetivo geral entender a importância
da Psicomotricidade na Educação Infantil voltada para os alunos com
dificuldades de aprendizagem. Pautado nesse propósito, dividiu-se em três
capítulos os objetivos específicos. No primeiro capítulo, realizou-se uma
análise histórica sobre a Psicomotricidade. No segundo capítulo, objetivou-se
apresentar a relação entre a Psicopedagogia e a Psicomotricidade. No terceiro
capítulo, objetivou-se escrever a utilização da Psicomotricidade na Educação
Infantil.

O estudo foi desenvolvido de acordo com o delineamento de uma pesquisa


bibliográfica com abordagem qualitativa. Segundo Gil (2002), a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros, artigos científicos, teses e dissertações. Foram
utilizados como fontes livros, periódicos, artigos científicos e bases de dados,
considerando como base os autores como Freire, Vygostky, Wallon, entre
outros que contemplaram o tema.

3. REFERENCIAL TEÓRICO / DESENVOLVIMENTO


Estudos recentes abordam que um bom desenvolvimento motor repercute na
vida futura das crianças nos aspectos sociais, intelectuais e culturais. O termo
desenvolvimento motor diz respeito à interação existente entre o
pensamento consciente e inconsciente e os movimentos efetuados pelos
músculos, com o auxílio do sistema nervoso.
O desenvolvimento motor está relacionado às áreas cognitiva e afetiva
do comportamento humano, sendo influenciado por muitos fatores.
Dentre eles destacam os aspectos ambientais, biológicos, familiar,
entre outros. Esse desenvolvimento é a contínua alteração da
motricidade, ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação
entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições
do ambiente. (GALLAHUE, 2005, p. 03).
O desenvolvimento motor é um processo de mudança no comportamento
motor, o qual está relacionado com a idade, tanto na postura quanto no
movimento da criança. Como também observamos que o desenvolvimento
motor apresenta características fundamentais sendo elas, as possibilidades
de nosso corpo agir e expressar-se de forma adequada, a partir da interação
de componentes externos, que é o próprio movimento, e através de elementos
internos, que são todos os processos neurológicos e orgânicos que
executamos para agir.

De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP, 1980):

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem


através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo
interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o
corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É
sustentada por três conhecimentos básicos, o movimento, o intelecto
e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para
uma concepção de movimento organizado e integrado, em função de
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua
individualidade, sua linguagem e sua socialização.
O temo empregado para a concepção de Psicomotricidade é utilizado como
um movimento que resulta na linguagem, individualidade e socialização,
sendo um movimento baseado em experiências vividas pelas pessoas, sendo
um movimento organizado e integrado a educação.

No final do século XIX, a Psicomotricidade nomeou zonas corticais localizadas


além das regiões motoras. A Psicometria nomeou desde o início da fala
humana, onde o homem iniciou sua fala sobre o seu corpo, com o percurso
histórico do corpo, as concepções sobre o “corpo” ou mesmo “um corpo”, se
multiplicaram até os nossos dias, pela própria construção do homem acerca
do corpo e sua entrada no simbólico, no mundo.

A palavra corpo provém de três vertentes: garbhas, que significa


embrião, karpós, que significa fruto, semente e envoltura e; corpo e latim
corpus, que significa tecido de membros, envoltura da alma, embrião do
espírito.
Com a evolução e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se
que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou
sem que a lesão esteja localizada. Foram descobertos os “distúrbios da
atividade gestual”, “da atividade práxica”. Dessa forma, “esquema anátomo-
clínico” que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal,
já não podia explicar alguns fenômenos patológicos.

São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica.


Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma
sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos
patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma
área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez,
a palavra Psicomotricidade, no ano de 1870. (ABP, 2019.p.1)
Ajuriaguerra empenhou-se em compreender a patogénese dos
distúrbios, a partir de uma classificação baseada na sintomatologia e,
em colaboração com Soubiran, elaborou um exame psicomotor que
permitia avaliar esses mesmos distúrbios. Os resultados deste exame
possibilitavam determinar a Reeducação Psicomotora do indivíduo
fundamentada em itens específicos baseados em exercícios que
tinham por objetivo contrariar esses transtornos. (Costa, 2008).
A Psicomotricidade ganhou, a partir de 1947, novas concepções que a
diferenciam mais ainda de outras áreas, buscando a identidade da
motricidade, trazendo a fundamentação teórica de uma especificidade e
autonomia não apenas nas ter o Brasil, a psicomotricidade foi norteada pela
escola francesa, ganhando crescente investigação de fenômenos relacionados
a patologias referentes ao comportamento e debilidades motoras. Durante a
época da primeira guerra mundial, a psiquiatria infantil, a psicologia e a
pedagogia foram influenciadas por esta mesma escola. Na década de 70
diferentes autores contribuíram para que a psicomotricidade fosse definida
como uma motricidade de relação. Até então, ela era definida como “uma
atividade de um organismo total expressando uma personalidade, e a
motricidade, como uma das formas de adaptação ao mundo exterior”. (ALVES,
2007).

A partir dessa data iniciou-se o interesse de um a postura educativa a respeito


do diagnóstico psicomotor, surgindo métodos e técnicas vindas de várias
escolas para a utilização da ação psicomotora, sendo criados cursos de
formação de professores em educação especial, com abordagem de conteúdos
de ações psicomotoras.

A 1ª proposta no Brasil de uma formação específica em um método de


Psicomotricidade parece ter sido iniciada em 1968, com a vinda de Simone
Ramain – Método Ramain.

No Rio as fonoaudiólogas foram pioneiras na atuação psicomotora e em 68 a


Psicomotricidade era introduzida como cadeira na Faculdade de Logopedia
da UFBJ e em 1969 no Instituto Helena Antipoff, já iniciavam a abordagem
psicomotora em áreas distintas como: na educação, reeducação ou
treinamento.

Duas tendências marcaram o desenvolvimento da nova área na década de 70:

• A generalização – qualquer abordagem corporal em educação e


reeducação teria caráter de atuação psicomotora.
• A Metodologização – aplicação de métodos- Picq y Vayer, Le Bouch,
Costallat, Khepart, Hughette Bucher, Orlic e Le Bon Départ.
Em avaliação, tinha os métodos de Ozeretsky, o “bilan” de H. Bucher e Bergé
Lezine.

Cada vez mais a utilização do corpo como instrumento da ação psicomotora


era ampliado por diversas áreas e com a entrada da Psicomotricidade nos
currículos do ensino de 3º grau, em várias capitais do País e a chegada de
Françoise Desobeau (França), convidada para um Seminário sobre “Terapia
Psicomotora”, os rumos se ampliaram aceleradamente, abrindo um viés na
ação psicomotora, que antes supervalorizava a técnica e agora tinha como
prisma à abordagem tônico- emocional, relevando as atividades espontâneas,
o jogo e o simbolismo.
Na década de 70, André Lapierre e Bernard Aucouturier investigaram os
modelos existentes e, a partir deles e com a sua experiência prática,
elaboraram um método que promoveu um distanciamento progressivo da
atitude de “Testador- Reeducador-Reparador”, para se aproximarem da
postura de “compreender o indivíduo e auxiliá-lo”, adotando uma posição
mais terapêutica (Costa, 2008). Abrindo-se assim um espaço significativo no
âmbito educativo que facultou uma pedagogia baseada na descoberta através
do jogo, no desejo de aprender e no movimento espontâneo, onde se deveria
de trabalhar com o que há de positivo na criança, partindo do princípio de que
a melhor forma de auxiliá-la a ultrapassar as suas dificuldades era por meio
das experiências vividas.

Esta nova conceptualização marca o momento em que deixou de existir a


“Reeducação” e tudo passou a ser educação, onde se estimula o
desenvolvimento das potencialidades próprias da criança, estudando formas
de facilitar as aprendizagens, numa relação interativa (Vieira, Batista, &
Lapierre, 2005).

Importa ainda referir o nome do preconizador da psicomotricidade em


Portugal, João dos Santos que, em 1965, realizou os primeiros exames
psicomotores no Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa e que colocava a
vida emocional da criança num paradigma DE triangulação entre corpo,
espaço e conflito (Costa, 2008). Por fim, na última metade do século XX,
destacou-se Pedro Soares Onofre que, desmontando preconceitos e sempre
em defesa da criança, divulgou a Psicomotricidade por todo o país,
preconizando uma metodologia de base fenomenológica, em descoberta,
criatividade e iniciativa, onde privilegiava o relacionamento com a criança
(Costa, 2008).

É ainda de referir o nome de Vítor da Fonseca, na medida em que introduziu


a Psicomotricidade como a integração superior da motricidade, produto de
uma relação inteligível entre a criança e o meio e, em 1975, criou a Bateria
Psicomotora, baseada no modelo de Lúria, propondo também um modelo de
Reabilitação Psicomotora (Fonseca, 2010).

Segundo Lapierre (1989), a Psicomotricidade considera o ser físico e social


em transformação permanente em constante interação com o meio,
modificando-o e modificando-se. Na Psicomotricidade é trabalhada a
globalidade do indivíduo; é uma disciplina que estuda a implicação do corpo,
a vivência corporal, o campo semiótico das palavras e a interação entre os
objetos e o meio para realizar uma atividade.

O desenvolvimento psicomotor acontece num processo conjunto de todos os


aspectos (motor, intelectual, emocional e expressivo), iniciando no
nascimento e completando-se maturacionalmente por volta dos oito anos de
idade.

De acordo com Fonseca (2004, p. 12):

A psicomotricidade constitui uma abordagem multidisciplinar do


corpo e da motricidade humana. Seu objeto é o sujeito humano total e
suas relações com o corpo, sejam elas integradoras, emocionais,
simbólicas ou cognitivas, propondo-se desenvolver faculdades
expressivas do sujeito, nas quais, por esse contexto, assume uma
dimensão educacional e terapêutica original, com objetivos e meios
próprios que se destacam de outras abordagens.
A Psicomotricidade em por objetivo maior fazer do indivíduo um ser de
comunicação, um ser de criação e um ser de pensamento operativo, ou seja, a
Psicomotricidade leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do
corpo e da gestualidade.

Em 1990 foi autorizada e reconhecida pelo MEC a primeira Graduação em


Psicomotricidade, com a duração de quatro (4) anos, no Instituto Brasileiro
de Medicina de Reabilitação (IBMR-RJ).
Segundo Lagrange (Apud OLIVEIRA, 2000, p.22), “a educação psicomotora
não é um treino destinado à automatização, à robotização da criança”.

Para reforçar sua opinião, cita Vayer (Apud OLIVEIRA, 2000, p.34):
Trata-se de uma educação global que, associando os potenciais
intelectuais, afetivos, sociais, motores e psicomotores da criança, lhe
dá segurança, equilíbrio e permite o seu desenvolvimento,
organizando corretamente as suas relações com os diferentes meios
nos quais tem de evoluir.
De Fontaine (Apud OLIVEIRA, 2000, p.35) declara que só poderemos
entender a Psicomotricidade através de uma triangulação corpo, espaço e
tempo. A Psicomotricidade é um caminho, é o desejo de fazer, de querer fazer
e de poder fazer, e que o homem não é exclusivamente um ser motor ou vir a
ser, o homem não é exclusivamente um ser psíquico ou um querer fazer. O
homem é psicomotor, é a articulação do ter, do ser, do querer, do poder ser e
fazer.

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de


base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-
escolares; leva a criança a tomar consciência do seu corpo, da
lateralidade, a situar-se no espaço, há dominar o tempo, a adquirir
habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação
psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida
com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir
quando já estruturadas. (LE BOULCH, 1984, p.235)
Ajuriguerra (Apud FONSECA ,1998, p.332) afirma ser um erro estudar a
psicomotricidade apenas por um prisma do plano motor, sem estar
acompanhada de um plano mental.

Entendemos que, para que ocorra um desenvolvimento global e harmonioso


da criança, o professor deverá estar habilitado, para que possa permitir a
sensibilização, a percepção do próprio corpo, o toque, o renascimento
corporal, a união entre a psique e o corpo, as brincadeiras durante o parque,
brincadeiras realizadas pelas professoras, o correr, o pular, subir, descer,
mexer com a terra, com o barro, andar descalço, perceber diferentes texturas,
manipular objetos de diferentes tamanhos, amassar, rasgar; com certeza, terá
minimizado algumas dificuldades quanto ao seu aprendizado. Pois:
É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos
objetos e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta
descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera
quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver
adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula,
quando o objeto não fizer mais parte de sua simples atividade corporal
indiferenciada. A psicomotricidade não é exclusiva de um método, ou
de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui
uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do
movimento humano. (AJURIAGUERRA, apud FONSECA, 1998 p.332)
O mesmo autor nos relata que, segundo Piaget, “todos os mecanismos
cognitivos assentam na motricidade, tanto mais que esta é o meio (e o
instrumento) facilitador de todas as formas de expressão verbal”.

Em todos os níveis de desenvolvimento das funções cognitivas, desde a


percepção e os esquemas sensório-motores até as operações propriamente
ditas, ocorre interferência da motricidade.

É preciso salientar que, no Brasil, a Psicomotricidade desenvolveu-se pela


vertente da Educação Física. A partir de 1978, a Psicomotricidade começou a
despertar o interesse de professores de Educação Física, Pedagogos e
Psicólogos que utilizavam as práticas corporais na escola como meio de
inovar as aulas de Educação Física das crianças. A psicomotricidade adota
inicialmente o mesmo paradigma da educação física, pois alimenta a vertente
da ginástica ao agrupar famílias de exercícios (equilíbrio, coordenação,
lateralidade, orientação espacial, orientação temporal, ritmo).

O desenvolvimento da psicomotricidade ocorre através de exercícios motores


em que o corpo se desloca e o sujeito percebe as diferentes noções de maneira
interna; exercício sensório-motores ocorre através da manipulação de
objetos, ou seja, quando a criança é capaz de segurar e largar os objetos; nos
exercícios preceptor motores às manipulações são mais sutis e a percepção
visual, muito importante, domina as outras partes. A psicomotricidade busca
oferecer às crianças a livre expressão de seu ser, o estar bem e o sentir-se
bem.
O desenvolvimento da psicomotricidade ocorre através de exercícios motores
em que o corpo se desloca e o sujeito percebe as diferentes noções de maneira
interna; exercícios senso-motores ocorrem através da manipulação de
objetos, ou seja, quando a criança é capaz de segurar e largar os objetos; nos
exercícios preceptor motores às manipulações são mais sutis e a percepção
visual, muito importante, domina as outras partes. A psicomotricidade busca
oferecer às crianças a livre expressão de seu ser, o estar bem e o sentir-se
bem.

Os elementos básicos da Psicomotricidade são: esquema corporal,


lateralidade, estruturação espacial e orientação temporal. Estes elementos
serão agora brevemente considerados

Esquema corporal: é a tomada de consciência total do corpo, em


consequência, a criança passa a indicar e em nomear as partes dele.

O controle, manejo e conhecimento de seu próprio corpo a criança adquire à


medida que processa o seu desenvolvimento, o qual é resultado da ação
recíproca de seu corpo com os elementos de seu dia-a-dia, com as pessoas que
estão presentes na sua vida e com o mundo, onde as ligações afetivas e
emocionais são estabelecidas e vivenciadas, ou seja, as experiências que
possuímos, provenientes do corpo, e as sensações por que passamos levam-
nos a conceituar o esquema corporal. Dessa forma, é através dele que
estabelece contato com a essência do mundo, compromete-se no mundo e
compreende seus semelhantes.

Quando a criança realiza um desenho de figura humana, podemos conhecer a


imagem que ela apresenta de si mesmo.

M. Frosting (1982, p. 78) indica-nos que o correto conhecimento do corpo é


composto por três elementos: imagem corporal, conceito de corpo e esquema
corporal. A autora salienta que caso um dos três aspectos esteja alterado,
altera- se a habilidade da criança para a coordenação olha-o o, para sua
percepção da posição no espaço e para perceber as relações espaciais entre
elas.
Imagem corporal: De Fontaine compara a imagem corporal a um
conhecimento “geográfico” que uma criança possa ter. Através da
interiorização, a criança tornar-se capaz de se situar. É a experiência subjetiva
da percepção de seu próprio corpo e seus sentimentos em relação a ele. Esta
imagem faz-se a partir dos desenhos de pessoas que as crianças fazem, assim
como de suas verbalizações em relação ao corpo.

A imagem corporal inclui a impressão que a pessoa tem de si mesma, por


exemplo: alta ou baixa, gorda ou magra, bonita ou feia e outras.

Conceito corporal: é o conceito intelectual que a pessoa apresenta de seu


corpo. Desenvolve-se mais tarde que a imagem corporal e é adquirida por
aprendizagem consciente. O conhecimento que a criança apresenta das
funções que as diferentes partes do corpo realizam está inserido no conceito
corporal.

Esquema corporal: diferencia-se da imagem e do conceito corporal por ser


inconsciente e diferente em diversos momentos. O esquema regula a posição
dos músculos e partes do corpo em relação mútua, em um momento
particular, e varia de acordo coma posição do corpo.

Oliveira (2000, p.150) destaca que um esquema corporal organizado,


portanto, permite a criança sentir-se bem, na medida em que seu corpo lhe
obedece, em que tem um domínio sobre ele, em que o conhece bem, em que
pode utilizá-lo para alcançar um maior poder cognitivo. Ela deve ter o
domínio do gesto e do instrumento que implica em equilíbrio entre as forças
musculares, domínio de coordenação global, boa coordenação óculo-manual.

O corpo é a referência que o ser humano possui para conhecer e interagir com
o mundo. Assim, servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para a
aprendizagem de conceitos necessários à alfabetização. A criança necessita
viver os conceitos através de seu corpo para depois visualizá-los no objeto.

4. A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL


A Psicomotricidade é uma área que tem como objetivo o desenvolvimento
motor, cognitivo e afetivo, trabalhando o desenvolvimento integral da
criança. Segundo Lê Boliche (2001, p. 25) a Educação Psicomotora auxilia de
forma significativa o processo de desenvolvimento infantil, “a educação
psicomotora deve ser inadaptações, difíceis de corrigir quando já
estruturadas”. O trabalho psicomotor é indispensável para as crianças,
possibilitando uma maior assimilação das aprendizagens escolares.

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem


através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo
interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o
corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É
sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto
e o cognitivo. (GALVÂO, 1995, p. 10).
A Psicomotricidade pode ser definida como uma concepção de movimento
organizado e integrado que trabalha experiências vividas, linguagem e
socialização.

Muitos estudiosos, mesmo de correntes de pensamento diversas,


concordam sobre o fato de que os primeiros anos de vida são
fundamentais para a maturação da criança. De maneira particular, é
opinião compartilhada que já aos três anos todo indivíduo tenha
adquirido as características principais da própria personalidade.
(VECCHIATO, 2003, p. 33).
A psicomotricidade possibilita a criança a livre expressão de sentimentos,
pensamentos, conceitos, ideologias, além do trabalho corporal realizado pela
Psicomotricidade que auxilia nos processos de aprendizagem. Ela procura
superar os obstáculos e prevenir possíveis inadaptações dos alunos.

Toda a ação torna-se possível porque houve uma ação coordenada que
ligou os movimentos em função de um objetivo, ou seja, o gesto
mecânico produz uma ação com objetivo, e só é possível porque houve
a coordenação, que nada mais é que o saber corporal. A essa ligação
entre o saber e a ação denomina-se psicomotricidade (FREIRE, 1989,
p. 122).
O estímulo motor é tão importante que quando ocorrem falhas nesse estímulo
podem acarretar falhas no aprendizado, essas falhas podem ser dificuldades
de leitura e compreensão, que pode acarretar em problemas graves no
processo de alfabetização da criança.

“O termo psicomotricidade se divide em duas partes: a motriz e o psiquismo,


que constituem o processo de desenvolvimento integral da pessoa”. (Fonseca,
2004, p.16). A palavra motriz se refere ao movimento, já pisco determina a
atividade psíquica em duas fases: sócio - afetiva e a fase cognitiva. Em outras
palavras, o que se quer dizer é que na ação da criança se articula toda sua
afetividade, todos seus desejos, mas também todas suas possibilidades de
comunicação e articulação de conceitos.
O enfoque da Psicomotricidade na educação infantil é a reeducação, a terapia
e a educação. A reeducação trata de sintomas como debilidade motora,
atrasos e instabilidades psicomotoras. De acordo com Moirizo (1979)
determinados sintomas desencadeiam outros distúrbios secundários,
caracterizados como relacionais afetivos. A reeducação está relacionada com
a educação, em ambas a relação entre a pessoa tratada e o profissional é muito
importante. De acordo com Conste (1981) “o aspecto relacional e afetivo da
relação terapêutica pode ser o elemento determinante na dinâmica da cura”.
A terapia é usada nos casos onde a criança possui grandes perturbações e cuja
adaptação é de ordem patológica.

Nós deveríamos levar mais longe essa lógica; se a criança tem


deficiências que a impedem de chegar ao cognitivo, é porque o ensino
que recebeu não respeitou as etapas de seu desenvolvimento
psicomotor. Sob o aspecto da prevenção, passaríamos da reeducação à
educação psicomotora. Portanto, torna-se importante estudar as
funções psicomotoras, bem como sua importância para o
desenvolvimento infantil. (LAPIERRE, 2002, p. 25).
Abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas
progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada
indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida por meio de percepções
vivenciadas, com uma intervenção direta em nível cognitivo, motor e
emocional, estruturando o indivíduo como um todo. A educação passa pela
facilitação das condições naturais e prevenção dos distúrbios corporais. Ela
se realiza na escola, na família e no meio social com a participação dos
educadores, dos pais e dos professores em geral (professores de natação, de
atividades aquáticas, judô, balé, ginástica, dança, arte-educadores, etc.).
Dirige-se prioritariamente à criança em condições de frequentar a escola e
sem comprometimentos maiores. Muitos autores citados a seguir enfatizam
essa área de atuação e acredita-se que a base educativa acaba permeando as
outras (reeducação, estimulação e terapia).

A reeducação psicomotora é a ação desenvolvida em indivíduos que sofrem


com perturbações ou distúrbios psicomotores, tendo como objetivo retomar
as vivências anteriores com falhas ou as fases de educação ultrapassadas
inadequadamente em etapas anteriores. Deve começar em tempo hábil em
função da instalação das condutas psicomotoras, diagnosticando as
dificuldades a fim de traçar o programa de reeducação.

Sua atribuição está contida em várias áreas profissionais: pedagogia,


educação física, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia,
arte- educadores, educadores, médicos da especialidade motora ou psíquica,
dentre outros. Mas o mais importante para uma boa reeducação é a
tranquilidade e o intercambio afetivo e presente do reeducador com o
educando.

A meta de uma terapia (psicomotora) não é de transformar uma criança em


um retardor, e sim em um ator: o corpo tem uma posição, ou caso contrário,
está ausente. E, para fazer isto, o terapeuta deve manter sua posição e não se
colocar no lugar da criança (BERGÈS, 1982, p.43).

Através do movimento, como meio terapêutico, procura-se melhorar os


processos de integração, elaboração e realização do mesmo. Percebendo que
o corpo, como afirma Walton (1999, p.56), é instrumento de ação sobre o
mundo, e um instrumento de relação com o outro, a perspectiva de terapia
psicomotora é necessariamente diferente dos métodos tradicionais e das
técnicas clássicas, com as quais não convém confundi-la.

A terapia psicomotora não é uma ginástica corretiva, nem uma rítmica


especializada. É uma nova abordagem dos problemas de motricidade
perturbada, partindo de um aspecto essencial e básico, que auxilia o indivíduo
nas múltiplas ações de adaptação à vida corrente (FONSECA, 1998, p.98). Ela
pretende readaptar a criança à atividade mental que preside à elaboração do
movimento, procura melhorar as estruturas psíquicas pela transmissão,
execução e controle dos movimentos, através de um melhor reconhecimento
espaço-temporal com base numa maior disponibilidade corporal, visa a
integração mental do movimento.

O educador pode estimular a criança interligando as áreas da motricidade,


cognição, afetividade e linguagem e afetividade, buscando as dificuldades que
possam surgir durante o aprendizado.

Para De Meu e Setas (1989, p. 21) A educação psicomotora é indispensável


nas aprendizagens escolares, onde afirmam que “é por essa razão que a
propomos inicialmente à escola materna”.

A educação psicomotora tem como premissa o auxilio dos processos


neurológicos de maturação, trabalhando desde a expressividade motora da
criança até a sua autonomia.

“O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, através da interação


com o meio e de suas próprias realizações”. (Fonseca, 2004, p.19).

A Psicomotricidade desempenha papel fundamental, como o suporte que


ajuda a criança a adquirir o conhecimento do mundo que a rodeia através de
seu corpo, de suas percepções e sensações. Por esse motivo, a educação
psicomotora tem sido enfatizada em várias instituições escolares, aplicada
principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, fase em que as crianças estão descobrindo a si mesmo e o
mundo em que vive.

Especialistas como neuropsiquiatrias, psicólogos, fonoaudiólogos reforçam


cada vez mais a importância da Psicomotricidade no desenvolvimento da
criança nos primeiros anos de vida, compreendendo que esse
desenvolvimento é um momento de aquisições a nível físico e importantes no
universo emocional e intelectual da criança.
Para Lassos (1984) a educação psicomotora envolve e comanda todo o
processo de aprender, tanto na coletividade ou no individual. A própria
psicomotricidade quem auxilia o educando no processo de aprendizagem e
que contribui no processo de apreensão nas atividades escolares, dando a
base para o desenvolvimento intelectual, sendo desenvolvidas, a partir
primeiramente de experiências motoras, exigindo para sua realização o uso
das funções cognitivas, tornando a psicomotricidade um procedimento que
permite e auxilia no desenvolvimento da inteligência humana.

Por esse motivo, alguns psicólogos acreditam que quanto mais cedo começar
o aprendizado das crianças, melhor será o seu desenvolvimento, isto porque
na infância a crianças passa por diversas mudanças físicas, cognitivas e
afetivas que podem ser usadas como experiências no aprendizado. Quanto
mais rápido for estimulado a Psicomotricidade da criança, melhor será o seu
aprendizado. Vygotsky (apud DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p. 56) “[...] postula que
o desenvolvimento da aprendizagem é processo que se influenciam
reciprocamente de modo que, quanto mais aprendizagem, mais
desenvolvimento”.

Sendo assim, instituições de ensino buscam oportunizar, às crianças,


condições de desenvolverem capacidades básicas, aumentar seu potencial
motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como
as intelectuais, como também sanar as dificuldades apresentadas pelos
alunos.

As habilidades dos indivíduos são desenvolvidas através da sua interação com


o meio social em que ele vive, quando mais conhecimento ele tiver, melhor
será o seu desenvolvimento, por isso, a Psicomotricidade é tão importante na
Educação Infantil.

Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998) o trabalho com o movimento deve ocorrer


desde os primeiros anos de vida e se faz necessário o respeito às
especificidades de cada faixa etária, além de respeitar as inúmeras culturas
corporais. Referente aos conteúdos o RCNEI:
Os conteúdos deverão priorizar o desenvolvimento das capacidades
expressivas e instrumentais do movimento, possibilitando a
apropriação corporal pelas crianças de forma que possam agir com
cada vez mais intencionalidade, devendo ser organizadas em um
processo que seja contínuo e integrado. Esse processo envolve
múltiplas experiências corporais, possíveis de serem realizadas pela
criança sozinha ou em situações de interação. Os diferentes espaços e
materiais, os diversos repertórios de cultura corporal expressos em
brincadeiras, jogos, danças, atividades esportivas e outras práticas
sociais são algumas das condições necessárias para que esse processo
ocorra. (BRASIL, 1998, p.29)
O estímulo que a criança recebe quando o professor faz uso da
Psicomotricidade é crucial na prevenção de dificuldades de aprendizagem, se
do fundamental na fase de alfabetização da criança e um precursor no
desenvolvimento de suas habilidades e capacidades de aprofundamento.

Seja qual for à experiência proposta e o método adotado, o educador


deverá levar em consideração as funções psicomotoras (esquema
corporal, lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas
crianças com as quais está trabalhando. Mesmo levando em conta que,
em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora
sempre se encontra associada a outras, o professor deverá estar
consciente do que exatamente está almejando e onde pretende chegar.
(NEGRINE, 1995, p. 25).
Contudo, em se tratando de educação psicomotora é importante ressaltar,
nesse aspecto, que o professor primeiramente precisa conhecer sobre o
desenvolvimento infantil e as funções psicomotoras, para posteriormente
organizar o seu planejamento de aulas. Ele precisa saber qual a dificuldade
apresentada por cada aluno em especial e como a Psicomotricidade pode
atuar para a solução do problema apresentado.

Conforme Fonseca (1995a, p.72) “o enfoque das DA está no indivíduo que não
rende ao nível do que se poderia supor e esperar a partir do seu potencial
intelectual, e por motivo dessa especificidade cognitiva na aprendizagem, ele
tende a revelar fracassos inesperados”.
“A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base
na escola primária. Ela condiciona os aprendizados pré-escolares e escolares;
leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no
espaço, há dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus
gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a
mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir
inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas...”. Baseado na obra
L’ L’éducation par Le mouvement 1966, um decreto ministerial em 1969
introduziu a educação psicomotora como prática semanal de seis horas na
escola primária.

Um projeto de lei alterou a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996,


estabelecendo as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), incluindo o
Art. 62-A, que afirma: “Os conteúdos curriculares da disciplina Educação
Física no ensino infantil, fundamental e médio serão ministrados
exclusivamente por Professores de Educação Física, licenciados em nível
superior”. No mesmo parecer é revelado à preocupação com a Educação Física
Escolar. “Há estudos que revelam que a disciplina, sobretudo na esfera da
Educação Pública, é oferecida de forma muito precária. No entanto, está
comprovado que a Educação Física influencia positivamente o
desenvolvimento da psicomotricidade, da sociabilidade e até do caráter do
jovem”.

Existe a referência dos Parâmetros Curriculares Nacionais do terceiro e


quarto ciclo, para que sejam propostas atividades em grupo, proporcionados
momentos para discussão e elaborações de trabalhos coletivos. Promovem o
favorecimento das potencialidades como indicações de trabalho nas escolas
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998).

Todavia, a intervenção da Psicomotricidade Relacional favorece esta


socialização e a relação entre os alunos, por meio principalmente da
aproximação corporal, estabelecida pela disponibilidade do adulto no setting,
que facilita o contato entre as próprias crianças, como também, com próprio
adulto. Podendo ser usada como ferramenta de intervenção na educação.
Dentre as inúmeras finalidades da educação é imprescindível que os alunos
aprendam a conviver em grupos, respeitem-se e estabeleçam boas relações
de cooperação e produtividade. Nessa perspectiva, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997, p. 63) acordam que “são fundamentais as
situações em que possam aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a
pedir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações
para obter sucesso em uma tarefa conjunta”, afirmando a importância da
aprendizagem desses procedimentos para construção de uma identidade
pessoal e coletiva. O criador da Psicomotricidade Relacional, André Lá Pierre,
acredita “que o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de
toda sensibilidade, afetividade, emoção da relação consigo e com o outro.”
Batista e Lá Pierre (2004).

Sendo assim, as relações Inter e intrapessoais convergem para a construção


do sujeito enquanto pessoa, e sujeito inserido na coletividade como afirma os
Puns.

A função do psicomotricista relacional no setting envolve “a capacidade de


decodificar, intervir e responder de forma a proporcionar possibilidades de
desenvolvimento e evolução em direção à autonomia e socialização.” (Ibid., p.
100) A partir do reconhecimento do desenvolvimento individual e do
processo de socialização, a escola irá potencializar as capacidades dos alunos,
[...] de modo a auxiliá-los a desenvolver, no máximo de sua possibilidade, as
capacidades de ordem cognitiva, afetiva, física, ética, estética e as de relação
interpessoal e de inserção social, ao longo do ensino fundamental (1998). Lá
Pierre e Aucouturier comentam que: A evolução da criança depende de sua
inserção no grupo, de sua aceitação ou de sua rejeição, das possibilidades de
comunicação que ela consegue estabelecer, mas também da estrutura, mais
ou menos patogênica ou que proporcione equilíbrio, do grupo em que convive
e das individualidades que o compõem. (2004, p. 21) Através da
Psicomotricidade Relacional, por meio do jogo espontâneo, é possível
identificar as dificuldades e as facilidades de cada criança a qual se mostra na
sua inteireza na relação que estabelece com os outros, e assim percebê-la e
valorizá-la como única.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram criados com o intuito de
contribuir com o processo educativo respeitando a diversidade comumente
em nosso país e as necessidades de referências comuns a todas as regiões
brasileiras. Tendo em vista, criar condições para construção do conhecimento
em prol dos envolvidos neste processo.

Constituem objetivos fundamentais da República: construir uma sociedade


livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação (artigo 3º da Constituição
Federal).

O fundamento da sociedade democrática é a constituição e o reconhecimento


de sujeitos de direito. Na área educacional, são fundamentos que permitem
orientar, analisar, julgar, criticar as ações pessoais, coletivas e políticas na
direção da democracia. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao propor uma
educação comprometida com a cidadania, elegeram tais princípios para
orientar a educação escolar, sendo eles: Dignidade da pessoa humana -
Implica em respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de
qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas relações
interpessoais, públicas e privadas; Igualdade de direitos - Refere-se à
necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de
exercício de cidadania; Corresponsabilidade pela vida social - Implica em
partilhar com os poderes públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou
não, a responsabilidade pelos destinos da vida coletiva.

O professor precisa ter muito claro qual o caminho a seguir, quais as


necessidades de seus alunos naquela etapa do desenvolvimento, trabalhando
as dificuldades apresentadas de acordo com as necessidades dos alunos,
apesentando uma proposta de ensino viável para cada tipo de situação.

Lá Pierre em relação às dificuldades de aprendizagem menciona:

Nós deveríamos levar mais longe essa lógica; se a criança tem


deficiências que a impedem de chegar ao cognitivo, é porque o ensino
que recebeu não respeitou as etapas de seu desenvolvimento
psicomotor. Sob o aspecto da prevenção, passaríamos da reeducação à
educação psicomotora. Portanto, torna-se importante estudar as
funções psicomotoras, bem como sua importância para o
desenvolvimento infantil. (LAPIERRE, 2002, p. 25).
De acordo com os autores: Bomtempo (1987); Kishimoto (1997); Fundação
Roberto Marinho (1992); Oliveira (1992); Oliveira (2000a); Material IESDE
BRASIL S/A (s/d) e principalmente Wajskop (1999), para cada perturbação
existe uma proposta de reeducação que pode ser trabalhada de forma lúdica.

• Reeducação para perturbações motoras: no caso dos atrasos do


desenvolvimento motor, podem ser utilizados exercícios motores e
sensoriais como jogos de bola, jogos de destreza e de percepção do
esquema corporal.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações seriam músicas, fantoches, quebra-
cabeças com figuras humanas e brincar de circo (equilíbrio).
• Nos grandes déficits motores: (sistema motor) utilizam-se
exercícios de destreza e coordenação, para o esquema corporal utiliza
- se exercícios de conhecimentos das partes do corpo, organizadores da
lateralidade e exercícios preceptor - motores.
• Na lateralidade: utilizam-se exercícios com recurso do espelho e do
conhecimento de esquerda-direita, e no caso de dificuldades da
estruturação espacial os jogos de estruturação espacial.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducações destas perturbações seriam: matizações, músicas e
canções que trabalhem o corpo, artes plásticas (modelagem com
argila, esculturas e massinha).
• Nas perturbações do equilíbrio: podem ser utilizados exercícios de
reconhecimento proprioceptivo, exercícios de impulso e exercícios de
equilíbrio.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducações destas perturbações seriam: músicas, brincar de estátua,
amarelinha, brincar de se equilibrar sobre linhas no chão, jogar
boliche.
• Nas perturbações da coordenação: utilizam-se exercícios de grande
motricidade, de destreza, de coordenação dinâmica, de motricidade
delicada e exercícios motores de pré - escrita.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações seriam jogos de boliche, bola ao
cesto, bola de gude, jogos com tacos, brincar de passar por baixo de
cadeiras, sem encostar, brincar de trem, canções com trabalho
corporal e dramatizações com fantoches.
• No caso das perturbações da sensibilidade: utilizam-se exercícios
de reconhecimento interno e tátil, de tomada de posição, de
coordenação, de equilíbrio, de destreza e exercícios com olhos
vendados.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducações destas perturbações seriam: brincar de cabra-cega,
brincar de adivinhar o quem tem dentro de um saco só pelo tato,
brincar com dominós táteis, dramatizações, andar sobre banco
(brincar de desfile de moda).
• Reeducação para perturbações intelectuais: em se tratando da
reeducação para perturbações intelectuais, utilizam-se exercícios
motores, de memórias, exercícios de reconhecimento e outros
correspondentes à sua idade mental.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seriam: pintura, jogos da memória,
jogos de adivinhações, dramatizações através de canções, brincar de
teatro, contos e histórias.
• Reeducação para perturbações do esquema corporal: para esta
perturbação podem ser utilizados exercícios de grande motricidade, de
orientação espaço- temporal e de aperfeiçoamento dos movimentos.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seriam: brincar com músicas e
danças, de estátua, artes plásticas, brincar de roda, cabra-cega,
canções com trabalho corporal,
• Escravo-de-Jó brincar de se vestir com os olhos vendados, dublar
canções dramatizando e brincar de morto-vivo.
• Reeducação para perturbações da lateralidade: utilizam-se
exercícios de percepção do lado dominante, de eixo simétrico do
corpo, de formação de bonecos, de reconhecimento de esquerda-
direita, de discriminação visual e de educação gráfica.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seriam: artes plásticas (colagens,
recorte, trabalho com miçangas), brincar de roda com canções que
falam de direita e esquerda, brincar de gato e rato, brincar com
espelho, brincar de macaco mandou.
• Reeducação para perturbações da estrutura espacial: utiliza
exercícios de estrutura espacial, de discriminação visual, de educação
da direção gráfica e de topologia.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seria jogos cantados, dança das
cadeiras, boliche, brincar de se rastejar, jogo de loto, jogos de encaixe,
quebra-cabeças, loto de posições, jogo da velha, resta um, artes
plásticas (dobraduras).
• Reeducação para perturbações da orientação espacial: utilizam-
se exercícios de duração dos intervalos, de ritmos, exercícios com
noção de distância.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seriam: adivinhar algo através de
mímicas, brincadeiras com músicas (dança da cadeira, estátua), dona
galinha e seus pintinhos, amarelinha, cantigas de roda e suas
representações dramáticas.
• Reeducação para perturbações do grafismo: utilizam-se exercícios
da coordenação.
• As propostas lúdicas que contribuem e auxiliam na prevenção e
reeducação destas perturbações, seriam: artes plásticas (pintura,
argila, massinha, trabalho com miçangas, rasgar papel, colagens).
• Reeducação para perturbações afetivas: as propostas lúdicas que
contribuem e auxiliam na prevenção e reeducação destas
perturbações, seriam: dramatizações com fantoches, artes plásticas,
histórias, músicas que trabalhem o movimento.
As habilidades que devem ser trabalhadas na Educação Infantil relacionadas
à Psicomotricidade são as seguintes:

• Coordenação Global (zero aos sete anos) - Atividades: rolar, rastejar,


engatinhar, andar, correr; soltar, transpor, dançar e a realização de
jogos imitativos.
• Coordenação Fina e Viso-motoras (dois aos sete anos) - Atividades:
transportar, agrupar, bater, segurar, encaixar, manipular, atar, desatar,
aparafusar, lançar, abotoar, riscar, modelagem, recorte, colagem e
escrita (iniciação do movimento de pinça);
• Imagem Visual (três e meio a sete anos) – Atividades: observação do
corpo no espelho e desenho do próprio corpo.
• Esquema corporal (três e meio a oito anos) - Atividades: auto –
identificação , localização, abstrata corporal, reconhecimento de todas
as partes do corpo.
• Lateralidade (6 a 7 anos) – Atividades: dominância lateral dos três
níveis, olho, mãos e pés.
• Organização Espacial (cinco aos sete anos) observada aos dois anos
como estímulos desta habilidade, mas se consolidaram dos cinco aos
sete anos – Atividades: jogos de identificação de cores, formas,
tamanhos, direcional e de relações espaciais (em cima, em baixo, lado
direito, lado esquerdo, atrás, frente, etc.). Amarelinha, jogos de
comandos, letras e números gigantes para serem observados e
manipulados corporalmente.
• Orientação Temporal (seis aos oito anos) iniciada aos dois anos e
consolida-se dos seis aos oito anos - Atividades: perceber os intervalos
de tempo entre as palavras, rimas musicais, danças cantadas, (servindo
de estímulo, podendo utilizar-se das cirandas, construção de
instrumentos musicais rítmicos (tambor, chocalho, etc.),
acompanhamento dos ritmos musicais com o corpo, trabalho com
sequências sonoras e gráficas).
• Discriminação Visual e Auditiva (quatro aos oito anos) – Atividades:
Jogo de memória com letras e sílabas, dominó de letras e gravuras,
quebram cabeças de letras e palavras, sequências de fatos, leitura de
histórias, escritas espontâneas de palavras, reescritas de histórias,
músicas, etc.

5. CONCLUSÃO
Destaca-se, neste estudo, a importância da Psicomotricidade na Educação
Infantil. Seu foco em atividades motoras promove o desenvolvimento das
crianças, encontrando nas dificuldades apresentadas, oportunidades de
respeitar a diversidade e as limitações de cada indivíduo.

Os professores com alunos com dificuldades psicomotoras devem buscar


atender a demanda proporcionando um ambiente adequado ao
desenvolvimento do estudante, seja auxiliando-o em sua formação,
habilidades, adaptações, emoções, socialização, na compreensão de si e dos
outros. Para tal necessidade, aponta-se uma abordagem que oferece aporte
teórico e prático de grande relevância para entender e intervir sobre o
desempenho do aluno em sala de aula. A Análise do desempenho é uma
abordagem científica que avalia o comportamento por meio da comprovação
da existência de uma estrutura lógica e organizada do comportamento,
demostrando a correlação entre comportamentos e circunstâncias. Dentro
desta perspectiva, que considera as contingências das experiências
anteriores, para traçar as probabilidades de problemas relacionados à
Psicomotricidade ser os responsáveis pelas dificuldades de aprendizados
apresentadas pelas crianças. Por meio da maior compreensão da rotina do
aluno com problemas psicomotores, o professor pode observar o indivíduo e
sua relação com o meio, baseando-se nas virtudes e vulnerabilidades, pontos
fracos e fortes, defeitos e qualidades, objetivando a geração de resultados.
Em contribuição aos professores de aluno com problemas psicomotores se
deparam no dia a dia com atitudes desafiadoras, onde a análise de cada
criança em particular permite ao professore modelar pela consequência
positiva os comportamentos desejados por meio de adição de elementos
sejam ambientais ou motivacionais. Conforme apresentado neste estudo, a
Psicomotricidade é um instrumento de grande valia disponível para
promover o bem-estar das pessoas, considerando seus resultados imediatos
na produção do efeito de prazer, sendo possíveis professores utilizar como
estratégia para alunos com problemas psicomotores, estimulando-os com
maior frequência e fazendo toda diferença na vida deles.

Essas afirmações expressam a importância e relevância cientifica a este


estudo, pautada na ideia de promover resultados significativos na sociedade
em geral, bem como comunidade cientifica, acadêmica e de na práticas para
professores que se apropriarem desta técnica e optarem por usá-la de forma
minuciosa para promoverem as mudanças desejadas nos repertórios
psicomotores, de maneira a produzir transformações significativas na vida de
alunos que possuem dificuldade de aprendizado.

6. REFERÊNCIAS
ABP. Associação Brasileira de Psicomotricidade. Histórico da
Psicomotricidade. Disponível em: Acesso em 01 de dezembro de 2020.
AJURIAGUERRA, J. A escrita infantil: evolução e dificuldades. Trad. de Iria
Maria Rua de Castro Silva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
ALVES, F. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. 1. Ed. Rio de Janeiro:
Wake, 2007.
ARAÚJO, V. C. O jogo no contexto da educação psicomotora. São Paulo:
Cortez, 1998.
BRASIL, 1998. Ministério da Educação e do Desporto. Educação
Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a educação Infantil.
Brasília. Volume Três. Disponível em: . Acesso em: 05 dez. 2020.
BERGÈS, J. Perspectivas sociológicas. Petrópolis: Vozes 1982.
BOMTEMPO, E. Aprendizagem e brinquedo. In: WITTER, G. P.; LOMÔNACO,
J.F. B. (orgs). Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1987.
BOUCH, Jean L. O desenvolvimento psicomotor. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2001.
Costa, J. Um olhar para a criança: Psicomotricidade relacional. Lisboa:
Editores Trilhos 2008.
COSTE, Jean- Claude. A Psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
DE MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade, Educação e Reeducação. Trad.
Ana Maria Inique Galliano; Setsuko Ono (trad.). São Paulo: Manole Ltda., 1984.
FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada – abordagem
psicopedagógico clínica da criança e sua família. Trad. de Iara Rodrigues,
Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física.
São Paulo: Scipione, 1989.
FONSECA, V. Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
FONSECA, V. Contributo para o estudo da Gênese da Psicomotricidade. 3.
Ed. Lisboa: Editora Notícia, 2010.
FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO. Professor da pré-escola. 2ª ed. São Paulo:
Globo, 1992.
GALLAHUE, David L; OZMUN John C. Compreendendo o desenvolvimento
motor de bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. Ed. São Paulo: Forte,
2005.
GALVÃO, I. Henri Walton: uma concepção dialética do desenvolvimento
infantil. 3. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1995.
KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:
Cortez, 1997.
LAPIERRE, A. Da psicomotricidade relacional à análise corporal da
relação. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.
Levine, E. (2000). A Clínica Psicomotora: o corpo na linguagem. Petrópolis:
Vozes.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Coordenação Geral de


Educação Infantil. Referencial Curriculum Nacional para Educação
Infantil. Vol. 3. Brasília: MEC, 1998.
MORIZOT, R. Aspectos Fonoaudiólogos. Jornal Brasileiro de Reabilitação
Verbal, (2) (1), 1989.
NEGRINE, Airton. A coordenação psicomotora e suas aplicações. Porto
Alegre, 1987.
OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: Um estudo em escolas com dificuldade
em leitura e escrita. Tese de Doutorado. Dissertação de Mestrado, Faculdade
de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 1994.
SISTO, F. F. ET al. Atuação psicopedagógico e aprendizagem escolar. Rio
de Janeiro: Vozes, 1996.
SOUZA, R. A. M.; ROJAS J. A dinâmica do trabalho e a organização do espaço na
educação infantil. São Paulo: Editora EDUFMT, 2010.
TRANG-THONG. Estádios e conceito de estádio de
desenvolvimento. Volume1. Goiás: Editora: Afrontamento, 1981.
VAYER, P.. El dialoga corporal. Barcelona: Ed. Científica Médica, 1972.
VECCHIATO, Mauro. A terapia psicomotora. Brasília, DF: Universidade de
Brasília, 2003.
VELASCO, Cassilda Gonçalves. Brincar: O Despertar Psicomotor. Rio de
Janeiro: Sprint, 1996.
VIEIRA, J; Batista, M., & Aperre, A. (2005). Psicomotricidade Relacional: A
teoria de uma prática. Curitiba: Filosofar Editora.
VYGOSTKY, L. A. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1989.
WALLON, H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria,
1995.
WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1995.

Por Shirley R. A. F. Monteiro e Edilania Lopes de Souza


Publicado por: Edilania Lopes de Souza

Este trabalho é teórico e pretende contribuir para o enfoque psicogenético da


Educação Psicomotora, mais precisamente, através da teoria walloniana.
Consideramos a teoria de Wallon bastante fértil para a ciência psicomotora, pois
este autor, ao estudar o desenvolvimento infantil, deu ênfase à motricidade,
encontrando nesta a origem da emoção e da razão. São diversas as temáticas da
psicomotricidade que podem ser abordadas, a partir de Wallon (1925, 1934, 1941),
a exemplo da formação da imagem corporal e dos distúrbios psicomotores; porém
optamos, nesta oportunidade, por refletir sobre os rumos mais gerais que a
Educação Psicomotora tende a assumir, ao adotarmos a psicogenética walloniana
como referência básica.

Pode-se distinguir dois tipos de intervenção em psicomotricidade: a terapêutica e a


educativa. No primeiro âmbito, encontram-se a reeducação psicomotora, a terapia
psicomotora e a clínica psicomotora. No segundo, fala-se em educação
psicomotora, a qual tem um caráter eminentemente preventivo, facilitador do
desenvolvimento do sujeito, em geral, aplicada às crianças em situação escolar.
Busca trabalhar a criança e o grupo em movimento; através da ação espontânea ou
organizada a priori. Beneficia-se a integração de si em relação com o outro e ao
meio em geral.

A reflexão que segue abaixo de Rubem Alves sobre educação é pertinente à


Educação Psicomotora; inclui a corporeidade, o prazer e a vida.

Assim, a inteligência e qualquer Ciência que ela venha a produzir, só podem ser
avaliadas em função de sua relação com a vida. Os corpos ficam mais felizes? Suas
possibilidades de sobrevivência como indivíduos e como espécie aumenta? (Alves,
s/d, p. 21).

A Educação Psicomotora se coloca no sentido de uma educação que não se


restringe apenas ao saber escolar ou então, ao aperfeiçoamento específico da
motricidade, porém, dirige-se à formação da personalidade, à sua expressão e
organização através das atividades humanas de relação, realização e criação. Esta
compreende a educação do ser humano nos seus aspectos corporais, motores,
emocionais, intelectuais e sociais (Carvalho, 1996).

A prática educativa em psicomotricidade tem tido um papel importante na educação


da criança em seu meio escolar, visto ser coadjuvante das aprendizagens escolares
(Nascimento, 1986). Destaca-se ainda sua importância, dada a sua ação preventiva
(Le Boulch, 1987), inclusive a nível da saúde mental.

Esta prática psicomotora é correntemente desenvolvida nas escolas sob designação


"psicomotricidade", que muitas vezes, oculta sua fundamentação, transformando-a
numa prática desregulamentada, ingênua e inócua, muito embora existam diversas
publicações sobre a matéria, como as de Vayer (1977), Lapierre (1977), Cabral,
Lanza e Tejera (1988) entre outras, baseadas em contribuições teóricas diversas,
em geral, psicogenéticas e psicanalíticas.

O exercício da educação psicomotora segundo nosso entendimento, exige um


engajamento mais amplo no sentido da compreensão de homem e na adoção de
uma dada pedagogia. Não pode estar desvinculada, solta como meras atividades a
serem executadas mecanicamente. Ademais, precisa ser fundamentada na
compreensão dos processos de desenvolvimento psicológico.

A Educação Psicomotora para nós está incluída num projeto mais amplo de
educação que considera o conhecimento em relação à vida e que proporciona tanto
a descoberta do mundo exterior, das coisas, do mundo objetivo, quanto a
descoberta do mundo interno, o auto-conhecimento, a auto-organização; sendo
ambos preciosos para o desenvolvimento. Dirige-se à personalidade, à sua
expressão e organização através das atividades humanas de relação, realização e
criação. Compreende aspectos motores (agir), emocionais (sentir) e intelectuais
(pensar) numa dialética interna que se fundamenta nos níveis orgânicos, sociais e
psicológicos do ser humano, em toda sua complexidade.

A Educação Psicomotora, conforme o exposto, é compatível com a teoria


psicogenética de Wallon, na medida em que respeita a complexidade do ser
humano, compreendendo-o em sua multidimensionalidade psíquica, corporal e
social, propondo-se a superar as dicotomias corpo-mente, indivíduo-sociedade e
razão-emoção, heranças da visão cartesiana de homem que perpassa diversas
reflexões ocidentais. Segundo Galvão (1993, p. 33),

O projeto de sua psicogenética é o estudo da pessoa em sua totalidade,


considerando suas relações com o meio (contextuada) e em seus diversos domínios
(integrada). Contrário ao procedimento de se privilegiar um único aspecto no
desenvolvimento da criança, Wallon o estudou em seus domínios afetivo, cognitivo
e motor, procurando mostrar quais são, nos diferentes momentos do
desenvolvimento, os vínculos entre cada um e suas implicações com o todo
representado pela personalidade.

O enfoque psicogenético enfatiza a gênese das funções psicológicas, considerando o


desenvolvimento como uma construção progressiva resultante da inter-relação
indivíduo-meio e que apreende o desenvolvimento através de estágios. É
característica de Wallon, definir o desenvolvimento da pessoa em campos
funcionais. O movimento, a afetividade e a inteligência, constituem a tríade que o
autor toma como referência constante para buscar compreender a construção do
Eu, da personalidade e do homem enquanto ser biológico e social. Foi projeto de H.
Wallon, estudar o homem em sua complexidade, numa perspectiva
multidimensional e integrada. Resultou deste, uma concepção de desenvolvimento
não homogêneo e não linear; visão compatível com a dialética que permeia seu
pensamento. Os estágios, em sua sucessão, aparentam oposição, ou alternância
funcional dos pólos afetivos-emocionais e cognitivos, ora com a predominância de
um, ora de outro campo funcional da atividade infantil. Trata-se de uma espécie de
lei que rege o desenvolvimento, da infância à adolescência.

Henri Wallon nasceu em Paris a 15 de junho de 1879 e faleceu em dezembro de


1962. Foi médico, psicólogo e educador. Sua biografia apresenta o perfil de um
homem que buscou integrar a atividade científica à ação social. Presidiu a Escola-
Nova durante anos e realizou pesquisas numa tentativa de integrar a área
psicológica à neurológica, acrescentando o aspecto social, desenvolvendo uma
verdadeira interdisciplinariedade no estudo do comportamento (Cruz & Pain, 1983;
Galvão, 1995).

Suas pesquisas e observações de centenas de crianças em situação escolar e, em


situação hospitalar, assim como de adultos feridos na guerra, levaram-no a
formular o desenvolvimento em etapas, a saber: vida intra-uterina, nascimento
(impulsiva-emocional); tônico-emocional; sensitivo-motor, fase projetiva;
personalística; escolar ou categorial e puberdade e adolescência.
Conforme dito anteriormente, ocorre uma alternância dos campos funcionais no
decorrer dos estágios entre a afetividade e a cognição. A primeira especialmente
implicada na construção do sujeito predomina nos estágios impulsivo-emocional,
tônico-emocional, personalística e na puberdade e adolescência. Já a cognição
especialmente implicada na construção do mundo, apresenta-se
predominantemente nos estágios sensitivo-motor e escolar ou categorial.

Assim, nos estágios impulsivo-motor, tônico-emocional, personalístico, puberdade e


adolescência, o recurso predominante na relação com o meio é o afetivo-emocional
e o vínculo estabelecido é com o outro. Nos estágios sensitivo-motor e escolar ou
categorial o recurso predominante na relação com o meio é a cognição e o vínculo
preferencial é com o mundo (Brétas, 2000).
Ao longo do desenvolvimento, alternam-se as funções elaborativas de construção
do Eu e do Mundo. Ora, o desenvolvimento, está dimensionando a subjetividade; o
que indica uma orientação centrípeta deste, ora encontra-se dimensionando o
mundo externo, físico, objetivo; o que indica um orientação centrífuga do
desenvolvimento.

A visão de tal processo em Wallon, é dialética; não há soberania entre as


dimensões da pessoa completa por ele concebida. Assim, compreendemos a
alternância funcional como uma qualidade de investimento do sujeito e de suas
elaborações, cujo sentido flui e reflui ora para o eu da pessoa (centrípeto), ora par
o não-eu desta (centrífugo). A afetividade move-se a serviço da cognição e a
cognição move-se a serviço da afetividade e ambos concorrem para a formação da
pessoa. Brétas esclarece este mecanismo construtivo:

Ao fato dos recursos alternarem-se entre si durante o processo, dá-se o nome de


alternância funcional. Essa alternância significa que as aquisições e construções de
cada uma das etapas não se perdem mas vão sendo incorporadas e vão se
integrando, trazendo inúmeras e novas possibilidades para as relações da criança
com o outro e com o mundo físico dos objetos. As funções recentemente adquiridas
têm supremacia sobre as mais antigas mas não as fazem desaparecer, apenas
exercem controle sobre eles, integrando-os. Essa é a chamada integração funcional
(2000, p. 39).

Conforme observa Dantas (1983), na evolução do indivíduo, na visão de Wallon,


constata-se a simultaneidade dos progressos intelectuais e mudanças operadas no
domínio da personalidade. Além do mais, vale ressaltar que para Wallon (1951), o
meio mais importante para a formação da personalidade não é o meio físico, mas o
meio social.

Sob tal perspectiva, compreendemos que a Educação Psicomotora deve visar, antes
de tudo, as funções comunicativas-afetivas-sociais (motricidade de relação) dos
movimentos de seus sujeitos, ou seja, privilegiar a interação educador-educando e
educando-educando em nível psicomotor, através de gestos, atitudes e posturas
que instauram um verdadeiro diálogo corporal apreendido nas formas sensório-
motoras e intuitivo-emocionais.

A primeira função do movimento, apontada por Wallon em sua psicogenética no


estágio tônico-emocional é a de promotora do vínculo social. O autor vê na agitação
e choro do bebê um recurso que mobiliza o adulto emocionalmente a fim de que as
necessidades da criança sejam seguramente atendidas. Este é um mecanismo bem
primitivo do neonato, que dada a imperícia inicial de sua motricidade, apela ao
outro para garantir o elo e os cuidados necessários à sua sobrevivência. É no
contato mãe-bebê que instala-se o diálogo tônico-corporal. Brétas (2000, p. 37)
esclarece o sentido desta; diálogo, visto que a criança se comunica, tônico, porque
é uma comunicação estabelecida a partir do tônus muscular, e não verbal e
emocional, dada a emoção como base estruturante.

Também em Brétas (2000, p. 36) podemos conferir através das palavras de


Wallon, o caráter afetivo dos primeiros gestos do bebê:

Os primeiros gestos que lhe são úteis são, deste modo, gestos de expressão, não
sendo ainda os seus atos susceptíveis de lhe oferecer diretamente alguma das
coisas indispensáveis. Aliás, isso é um modo de expressão que permanece
completamente afetivo, mas cujas variações podem, finalmente, responder a toda a
gama de emoções e, por seu intermédio, a situações variadas das quais a criança
toma assim uma consciência talvez confusa e global, mas veemente (Wallon, 1975,
p. 77).

Esta função do movimento, afetiva, que garante o elo, o vínculo social, ocorre
também em idade posterior, por exemplo, quando a criança imita os gestos de
outras crianças. A atitude imitativa assegura o elo com os iguais, facilitando a
identificação com parceiros. Esta atitude, inicialmente intuitiva, apenas segue o
fluxo rítmico dos movimentos do outro, que porém, logo transbordarão para níveis
de cognição mais elevados, ampliando sua aprendizagem. A imitação, a princípio
vinculante-afetiva propicia a passagem ao cognitivo. Ela é um instrumento de
aprendizagem social. Fonseca (1987) entende a imitação, conjunto de gesto e
símbolo, como um ato pelo qual a criança se integra ativamente aos modelos
sociais. A função vinculante da psicomotricidade, ou como a denominamos,
motricidade de relação, é prioritária no trabalho de Educação Psicomotora; irá
facilitar a inserção da criança no mundo, tanto nos níveis afetivos como cognitivos.
Em primeiro plano, desperta-se a confiança de que suas necessidades serão
atendidas, de que é compreendido e, no segundo, o sentido da pertinência, filiação,
desafios ditados pelo outro que irão aguçar e apelar para o desenvolvimento
cognitivo, para a inteligência.

Desdobramentos especialmente importantes em Psicomotricidade da função


vinculante da motricidade dos sujeitos, que integra a diferenciação eu-outro,
favorecendo a construção da pessoa, de sua identidade em níveis mais básicos
referem-se à organização corporal, são a imagem e o esquema corporal. No
momento, porém, nos restringimos apenas a registrá-los,deixando a sua discussão
para outra oportunidade, dada a complexidade e atenção que este tema merece.

Uma vez "garantidos" os vínculos sociais e afetivos com o educador e com os


parceiros, convém deslocar o eixo da Educação Psicomotora para o mundo dos
objetos, para o qual o movimento, tornado ação do sujeito, será catalisado. Esta irá
favorecer a descoberta e exploração do ambiente físico, definindo assim uma
motricidade de realização, isto é, ação sobre o real. Torna-se, desta feita, possível
a contínua adaptação da criança ao meio cultural produzido pelo homem ao longo
de sua história; o exercício de sua inteligência volta-se para o crescente domínio da
cultura, de sua produção simbólica.

É no período sensitivo-motor (1-2 anos) que Wallon (1941) identifica a orientação


predominante da criança, do seu agir voltado para o mundo objetivo, diz mais
respeito ao mundo físico que ao meio social. Wallon reconhece neste período, a
ocasião em que se integram os diferentes campos sensoriais, de extrema
importância na tomada de consciência pela criança da noção do corpo próprio,
assim como da percepção do mundo exterior. Conforme destaca Dantas (1992),
são os movimentos voluntários ou práxicos, cujo controle ocorre em nível cortical
pelo sistema piramidal, possibilitando a integração dos mecanismos de marcha,
preensão e capacidade de investigação ocular sistemática que caracterizam o
período sensório-motor de exploração do ambiente.

Neste momento, figura de maneira preponderante, a dialética homem versus


mundo; indivíduo versus cultura. Wallon (1959, p. 150) é categórico a este
respeito: não há reação motora ou intelectual que não implique um objeto
fabricado pelas técnicas industriais, pelos costumes, pelos hábitos mentais do meio.
A atividade da criança só pode efetuar-se a propósito e por intermédio de
instrumentos que lhe forneçam tanto o aparato material quanto a linguagem em
uso ao seu redor.

Cabe ao educador envolver os educandos no meio físico-cultural, desafiá-los para


que este seja explorado, descoberto, observado, pesquisado e transformado. É o
momento de aguçar os sentidos dos educandos, de mobilizá-los (fazê-los moverem-
se), de estimular a curiosidade e incentivar a criatividade.

O empreendimento da Educação Psicomotora é alternar sucessivamente a


construção do sujeito da afetividade na relação com outros sujeitos (a base do
acesso ao mundo simbólico) com a construção da realidade pelo sujeito epistêmico
na relação com o real (universo físico, simbólico, conceitual); construções essas
sempre mediadas pelo outro e pela linguagem.

O desenvolvimento da motricidade de relação e a da realização pertencem ao


universo da Educação Psicomotora, conforme nos sugeriu a leitura da psicogenética
de H. Wallon. Trata-se de um trabalho que envolve o sujeito, os outros (entre os
quais a figura do educador destaca-se como mediador) e os objetos (produções
histórico-culturais), que podemos esquematizar como segue abaixo:

O Universo da Educação Psicomotora (base T. Wallon)

Figura 1. Motricidade de Relação, cujo predomínio da ação (psicomotricidade) é de


caráter afetivo, voltado à construção do Eu.
Figura 2. Motricidade de Realização, cujo predomínio da ação (psicomotricidade)
do sujeito é de caráter cognitivo, voltado à construção do Mundo.

Ai situada, a Educação Psicomotora é um processo educativo que por meio do corpo


e do movimento do sujeito, tomados como ação psicomotora deste, dirige-se ao
Outro, às relações sócio-afetivas, priorizando-as por meio da instauração do diálogo
tônico-corporal, do olhar, gestos e posturas, mímicas e imitações entre outros
instrumentos próprios da psicomotricidade (Figura 1). Uma possível ilustração de
jogo que envolve estes elementos e é integrador do ponto de vista do sujeito em
seu grupo são as brincadeiras de roda.

A Educação Psicomotora dirige-se igualmente à cultura, ao seu universo físico e


conceitual, às relações com o meio em que a cognição emerge primordialmente, de
modo que o sujeito possa, ele próprio, descobrir o mundo e produzir no mundo por
meio de manipulação, contato, exploração, construção e desconstrução dos objetos
(Figura 2). Uma possível ilustração deste gênero de atividade que envolve estes
elementos são os jogos de construção tipo pequeno engenheiro que apresenta
tijolinhos para a criança construir castelos, casas, muros e o que mais a sua
imaginação lhe permitir.

Embora possamos falar e identificar momentos de motricidade de relação pura


como é o caso da relação mãe-bebê, ou de enamorados. E, embora possamos falar
e identificar momentos de motricidade de realização pura, como quando utilizamos
corretamente um talher para nos alimentar; em geral, encontramos um misto
destas. Assim, podemos formular que há um diálogo possível entre motricidade de
relação e de realização, do mesmo modo que ocorre interação entre afetividade e
inteligência ou cognição.

Finalizando, em síntese, podemos dizer que a Educação Psicomotora com base na


teoria walloniana, é um processo que acompanha e promove o desenvolvimento da
criança e dos jovens em suas vicissitudes, centralizada em sua atividade e
distribuída em campos funcionais, a saber: a motricidade, a cognição e a
afetividade. À Educação Psicomotora cabe prover os recursos sociais, afetivos,
lingüísticos, culturais, físicos, espaciais, materiais e pedagógicos que permitam ao
sujeito estabelecer uma interação rica com seu meio, mobilizando neste, elementos
para seu desenvolvimento, a parir dos recursos que ela própria dispõe em
determinado momento e, respeitando suas necessidades e tendências que podem
estar orientadas mais para si (centrípetas) e/ou mais para o mundo (centrífugas).
Podemos, mesmo falar em uma primazia da motricidade de relação sobre a
motricidade de realização, destacando-se que no desenrolar da Educação
Psicomotora esta deve atender ao princípio da alternância funcional do
desenvolvimento, conforme concebido por H. Wallon.

Referências

ALVES, R. Histórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Ars Poética,


1985. [ Links ]

BRÉTAS, A. A psicogenética Walloniana: alguns aspectos. In: C. Ferreira


(Org.) Psicomotricidade: da educação infantil à gerontologia. Rio de Janeiro: Lovise,
2000, pp. 33-40.

CABRAL, S.; LANZA, A.; TEJERA, M. Educar vivendo: o corpo e o grupo na escola.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. [ Links ]

CARVALHO, E. M. R. Contribuições da teoria Walloniana à educação psicomotora.


(Monografia de especialização em Psicomotricidade - UNIFOR), 1996. [ Links ]

CRUZ, A. & PAIM, S. Wallon: o tônus muscular e o desenvolvimento psicológico da


criança. Revista do Corpo e da Linguagem. Rio de Janeiro: Icobé, 1983, pp. 117-
122. [ Links ]

DANTAS, H. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon.


In: Y. La Taille (Coord.). Piaget, Vigotsky e Wallon. São Paulo: Summus, 1992, pp.
35-43.

DANTAS, P. Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética. São Paulo: Brasiliense,
1983. [ Links ]

FONSECA, V.; MENDES, N. Escola, escola. Quem és tu? Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987. [ Links ]

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Rio


de Janeiro: Vozes, 1995. [ Links ]

LAPIERRE, A. Educacion psicomotriz, en la escuela maternal: una experiencia com


los pequeños. Barcelona: Científico-Médica, 1977. [ Links ]

LE BOULCH, J. Educação psicomotora. Porto Alegre: Artes Médicas,


1987. [ Links ]

NASCIMENTO, L.; MACHADO, M. T. Psicomotricidade e aprendizagem. Rio de


Janeiro: Enelivros, 1986. [ Links ]

VAYER, P. El niño frente al mundo. In: La edad de los aprendizage escolares.


Barcelona: Científico-Médica, 1977.
WALLON, H. L'enfant turbulent. Paris: Press Universitaires de France, 1984
(Originalmente publicado em 1925). [ Links ]

________. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995


(Originalmente publicado em 1934). [ Links ]

________. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Persona, ed. 70 (s/d), 1968


(Originalmente publicado em 1941). [ Links ]

________. Evolução dialética da personalidade. In: H. Wallon. Objetivos e métodos


da Psicologia. Lisboa: Estampa, 1975 (Originalmente publicado em 1951).

________. Psychologie et education de l'enfant. In: F. Fernandes (Coord.) Henri


Wallon. São Paulo: Ática, 1986 (Originalmente publicado em 1959)

1
Mestre em Psicologia Clínica (PUCCAMP). Professora do Depto. de Psicologia da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Alfabetização e Psicomotricidade: uma
aliança pelo pleno desenvolvimento da
criança
Imprimir ou salvar este artigo como PDF

Vanessa Souza do Sacramento Gomes


Mestranda em Ciências da Educação (Iscecap)

Elizete Brito da Silva Costa


Mestranda em Ciências da Educação (Iscecap)

Claudia Araújo Urbano Barros


Mestranda em Ciências da Educação (Iscecap)

O estudo da psicomotricidade, do desenvolvimento infantil e da alfabetização é


fundamental para a compreensão do processo de formação humana, que
perdurará por toda a vida do indivíduo.

É consenso na literatura e nas teorias de diversos autores das áreas


supramencionadas, assim como em outras, como a psicologia e a neurologia,
que o processo de escolarização pautada nos aspectos primários de aquisição
da leitura e da escrita, quando atrelados à abordagem psicomotora, de forma
adequada, respeitando as fases do desenvolvimento infantil e suas
características, corrobora para o desenvolvimento integral dos alunos e
proporcionam uma condição de vida, na fase adulta destes, com mais sentidos
e significados.

Este estudo lança mão da pesquisa de natureza bibliográfica, conhecida


também como revisão de literatura, que tem características semelhantes à
revisão bibliográfica elaborada por todos os autores para fundamentar seus
estudos; afinal, toda pesquisa científica deve ser iniciada com uma revisão da
literatura para se conhecer o que já foi produzido acerca da temática que se
propõe desenvolver. Todavia, na pesquisa de natureza bibliográfica, os objetivos
são ampliados, pois, objetiva-se comprovar uma ou mais teses, com a reunião
de um acervo de autores e teorias, visando constatar a realidade explícita e
implícita das ações.

O aporte teórico foi elaborado de forma a encadear ideias a partir de tópicos


que elucidam a temática proposta para o estudo. O primeiro tópico descreve as
fases do desenvolvimento infantil, com as contribuições de análises das autoras
sobre a temática, em constante discussão com teóricos da área. O tópico
seguinte aponta o papel da escola no processo de alfabetização, pois este
processo inicia no seio familiar e necessita de direcionamento profissional e
científico para melhor aproveitamento deste processo para o desenvolvimento
infantil. E o tópico a seguir versa sobre a psicomotricidade na escola e sua
importante contribuição como método para o processo de
ensino/aprendizagem de escolares em fase inicial para a aquisição da leitura e
da escrita.

O desenvolvimento infantil
O amadurecimento das crianças é tratado com muita ansiedade por parte dos
pais contemporâneos, que já sabem cada fase do desenvolvimento, o que
acontecerá em cada idade, e este talvez não seja o caminho mais adequado,
conforme explicita Barbosa (2017, p. 55):

Atualmente, modelos de desenvolvimento infantil identificados com a idade tem sido o


grande desespero dos pais que buscam que seus filhos acompanhem o padrão social
imposto e também preocupação de profissionais e autores que, criticamente,
conseguem ver o perigo que estes modelos podem acarretar. A valorização da idade
cronológica, com os marcos de desenvolvimento e os testes aplicados como forma de
ponderar este desenvolvimento, precisa ser revista e questionados sempre.

O desenvolvimento humano, que inicia ainda na fase fetal, deve ser visto pela
óptica de Haywood e Getchel (2014, apud Oliveira, 2015, p. 31):

O desenvolvimento é um processo contínuo de alteração da capacidade funcional, que


é a capacidade de existir para viver, mover-se e trabalhar. Com o avançar da idade, o
desenvolvimento evolui, no entanto, pode ser mais rápido ou mais lento, em diferentes
faixas etárias, e pode ser diferente entre indivíduos da mesma idade. Envolve mudança
sequencial, ou seja, um passo leva para a próxima etapa de forma ordenada e
irreversível. Este processo é cumulativo e resulta tanto das características intrínsecas do
indivíduo quanto da interação com o meio ambiente.

Com vistas a esse contínuo processo de desenvolvimento, Oliveira (2015, p. 33)


descreve que “O marco do desenvolvimento infantil é a resposta a certas
estimulações, de acordo com a faixa etária, a fim de analisar se as aptidões
adquiridas são próprias da idade”. Portanto, se faz necessário compreender as
fases do desenvolvimento para poder intervir de acordo com o potencial de
cada faixa etária.

Para Moreira (2011, p. 115),

o crescimento humano se caracteriza por quatro fases nitidamente distintas:


Fase 1: Crescimento intrauterino, inicia-se na concepção e vai até o nascimento.

Fase 2: Primeira infância, vai do nascimento aos dois anos de idade, aproximadamente,
caracterizando-se por um crescimento incremental, que se inicia no nascimento e
estende-se até um mínimo marco inicial da fase seguinte.

Fase 3: Segunda infância ou intermediária, período de equilíbrio e crescimento


uniforme em que o acréscimo anual de peso se mantém no mesmo nível, desde o
mínimo limítrofe, anteriormente citado, até o início de uma nova fase de crescimento
acelerado.

Fase 4: Adolescência, fase final de crescimento, que se estende mais ou menos dos dez
aos vinte anos de idade. O crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máximo
em torno dos quinze anos e, depois, declina rapidamente até os 20 anos.

O desenvolvimento infantil perpassa pelas fases do desenvolvimento fisiológico


e motor, assim como o desenvolvimento das estruturas cognitivas estudadas
por Piaget e citadas por Cavicchia (2010, p. 3):

Piaget distinguiu quatro grandes períodos no desenvolvimento das estruturas


cognitivas, intimamente relacionados ao desenvolvimento da afetividade e da
socialização da criança: estádio da inteligência sensório-motora (até, aproximadamente,
os 2 anos); estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estádio
da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e estádio da inteligência formal
(a partir, aproximadamente, dos 12 anos).

Portanto, o desenvolvimento infantil será compreendido como a faixa etária que


dura por volta dos 12 primeiros anos da vida da criança e antecede a
adolescência que é considerada a fase final do crescimento, que dará origem ao
início da vida adulta.

O papel da escola no processo de alfabetização


O ambiente escolar desempenha um papel essencial à sociedade, o de socializar
e democratizar a aproximação ao conhecimento e possibilitar a criação de valor
moral e ética nas crianças. A socialização do conhecimento historicamente
construído pelo homem e democratização deste é a base da construção de um
ser consciente, crítico, envolvido e potencialmente transformador de si e da
sociedade. Espera-se da escola e de seus educadores um propósito social, pois,
com a criação da Base Nacional Comum Curricular, este é um dos princípios que
deve nortear o progresso da aprendizagem.

A escola deve ser, para o aluno, um espaço de socialização e fomento da


afetividade. Deve sempre propor objetivos e metodologias que busquem
desenvolver a aprendizagem de seus alunos de forma prazerosa e significativa.
Os currículos devem atender à totalidade das necessidades dos educandos,
levando em conta a iniciação do processo de alfabetização, que permitirá, a
médio e longo prazos, a ressignificação da escolarização, dando sentido ao
processo.

De acordo com Silva (2018, p. 30), “O processo de alfabetização começa antes


de as crianças irem à escola, pois desde cedo elas se depararam com uma
infinidade de símbolos; também, muitos pais ensinam as primeiras letras do
alfabeto e os primeiros números”. Diante deste cenário, a escola é o primeiro
ambiente onde as crianças interagem fora do seu contexto familiar, onde se cria,
por exemplo, um espaço para gerar sua personalidade, criar suas próprias
individualidades e compartilhar opiniões que futuramente possam contribuir
para a melhoria da sociedade.

A alfabetização, por mais que muitas vezes seja compreendida para acontecer na
escola, começa muito antes disso. As leituras de mundo que a criança faz nas relações
que estabelece no contexto em que vive, constituem conhecimentos, sentidos e
significados próprios (Todero, 2017, p. 22).

Quando se fala em escola, se faz necessário pensar em um ambiente agradável


e atrativo para a criança, não apenas como um espaço onde seja obrigatório
que a criança aprenda a ler e a escrever. Muitas salas de aulas ainda são
dispostas de forma tradicional, como mencionado por Guimarães (2008, p. 20),
“O cenário de uma escola costuma ser reconhecido pela presença de cadeiras e
mesas, quadro e giz, murais, ou seja, equipamentos materiais que legitimam a
valorização dos processos de representação (escrita, desenhos e outras marcas
gráficas)”.

Sabe-se que o ambiente também contribui no processo de alfabetização, e esse


processo sendo trabalhado de forma lúdica, onde se estimule a curiosidade e a
leitura se torne prazerosa, tem sido um desafio para educadores, pois tracejar
linhas e cobrir pontinhos não é atividade que fomentem a alfabetização de
forma integral.

O processo de alfabetização é constituído pelas fases de conhecimento das


letras, de conhecimento dos sons de cada letra, da composição silábica e da
fonetização.

A evolução da sociedade passou a exigir o aprendizado da leitura e da escrita,


assim como saber empregá-los, pois há diferenças na forma de escrita e,
consequentemente, da leitura, de instrumentos importantes, como bulas de
remédio, anúncio de jornais e até discursos de políticos. Desta forma, se faz
necessário atrelar ao processo de alfabetização o processo de compreensão e
interpretação.
Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento de
natureza conceitual: precisa compreender não só o que a escrita representa, mas
também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso significa que a
alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção,
memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras. É, antes, um
processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica até
chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português representa a
linguagem, e assim poderem escrever e ler por si mesmas (Brasil, 1998, p. 122).

Uma estratégia para que as crianças associem o processo de alfabetização ao


ambiente no qual estão inseridas é o contato visual dos objetos dispostos,
como livros, revistas, jornais, jogos, e até mesmo embalagens de supermercado.
Outra estratégia que acompanha a anteriormente citada é a consideração dos
conhecimentos prévios das crianças, desenvolvidos no meio familiar e social -
como exemplo, as placas de ônibus, números de telefones, dentre outros.

Durante o processo de alfabetização, é notável a necessidade de fomentar as


habilidades psicomotoras, que serão mais bem estudadas no seguinte tópico,
para um desenvolvimento integral dos alunos.

Para melhor compreensão do processo de alfabetização, é importante destacar


as fases que compõem esse processo, como a fase pictórica, a fase do grafismo
primitivo, a fase pré-silábica, a fase silábica, a fase silábica alfabética e a fase
alfabética.

A fase pictórica, também conhecida como a fase das garatujas, onde a criança
inicia a escrita com rabiscos, geralmente essa fase se inicia bem cedo. Na fase
do grafismo primitivo, a criança utiliza-se de números, letras e símbolos para
representar sua escrita. Já na fase pré-silábica, a criança começa a entender a
diferença entre números, letras e símbolos, começa a compreender que a
formação de palavras acontece através das junções das letras. Na fase silábica, a
criança inicia a escrita utilizando letras, como as vogais, que são muito utilizadas
nos valores sonoros para a formação das palavras. Na fase silábica alfabética, a
criança já consegue realizar a escrita e a formação de palavras já faz sentido. Na
fase alfabética, a criança consegue ler e escrever foneticamente. É nesse
momento que o professor deverá direcionar o processo de alfabetização para a
ortografia e gramática.

Contudo, de acordo com Todero (2017, p. 23),

Para que este processo aconteça, enquanto professores alfabetizadores, precisamos


buscar, através do planejamento, que a aprendizagem das crianças ocorra não de
forma mecânica e linear, mas considerando seus diferentes processos de constituição
do conhecimento e as características individuais que compõem o grupo.
Portanto, o professor alfabetizador que estiver apropriado dos conhecimentos
supramencionados poderá intervir de forma a tornar a alfabetização escolar em
um processo cheio de significados para os alunos.

A Psicomotricidade na escola
A Psicomotricidade é uma tendência pedagógica que surgiu no Brasil na década
de 1970, sendo a primeira a se contrapor às tendências anteriores (Brasil, 1998).

A Educação Psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança,


processando-se por etapas progressivas e específicas conforme o
desenvolvimento geral de cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da
vida por meio de percepções vivenciadas, como uma intervenção direta nos
aspectos cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um
todo.

Portanto, é uma abordagem que compreende a totalidade do aluno e suas


relações consigo e com o mundo que o cerca.

O termo psicomotricidade envolve mais do que apenas o movimento e a


cognição; envolve aspectos superiores, como os citados pela Associação
Brasileira de Psicomotricidade:

A Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do


seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está
relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o
movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado
para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua
linguagem e sua socialização (ABP - Associação Brasileira de Psicomotricidade).

Barros e Barros (2005), em seus estudos, enfocam que a psicomotricidade é


vista como ação educativa integrada e fundamentada na comunicação e nos
movimentos naturais conscientes e espontâneos, melhorando a conduta global
do ser humano.

Em cada fase do desenvolvimento psicomotor, um tipo de aprendizagem é


observado, e as experiências devem ser bem exploradas através de estímulos,
que são imprescindíveis ao desenvolvimento motor e cognitivo das crianças,
pois o objetivo principal da educação psicomotora é contribuir para o
desenvolvimento psicomotor da criança, da qual depende a evolução da sua
personalidade e seu sucesso escolar. Ela é uma preparação para a vida das
crianças (Le Boulch, 1982, apud Porto et al, 1999).
Algumas das principais características do desenvolvimento psicomotor se
observam dos dois aos quatro anos de idade; sinaliza que, nos primeiros anos
de vida, a criança se expressa por gestos, movimentos e uma linguagem a ser
construída.

Aos dois anos: a criança chuta a bola, explora intensamente os brinquedos, faz
traços horizontais, utiliza frases de, pelo menos, quatro palavras, consegue se
vestir e se despir, consegue juntar brinquedos de encaixe, imita movimentos
verticais e horizontais.

Aos três anos: prevalece a vontade de se afirmar, e geralmente, nessa fase, a


criança demonstra interesse em alguns tipos de atividades, como exemplo,
atividades de desenhos e atividades de brincar com outras crianças. Nesta faixa
etária, a criança percebe melhor o espaço, apresenta sinais de domínio do
equilíbrio corporal e da coordenação motora global.

Através do equilíbrio, a criança se movimenta explorando objetivos, ficando de


pé; para isso, são de fundamental importância os estímulos para a postura
bípede, pois, de acordo com Fonseca (2004, p. 67),

a postura bípede deve submeter-se às leis do equilíbrio; para isso, inumeráveis reflexos
posturais de origem filogenética devem intervir assim que o deslocamento e a
flutuação do centro de gravidade se observam, exatamente para provocar mudanças
posturais corretivas, desencadeadas pela ação dos receptores labirínticos, visuais e
somaestésicos.

Aos quatro anos: a criança desenvolve atividades que exigem segurar o lápis;
demonstra afetividade com seus pares; caminha sobre degraus; conhece o
próprio nome completo, seu gênero sexual, idade e endereço; na maioria das
vezes, consegue aguardar a vez.

Durante o processo de desenvolvimento da criança, se faz necessário que


frequente ambientes estimulantes, para que possa vivenciar e fomentar
habilidades diversas. A educação não se limita apenas a ler e a escrever.
Primeiramente, as mãos precisam ser estimuladas com o uso de alguns objetos
até o momento em que será possível o contato seguro e efetivo com o lápis.

A criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade não condicionada, em
que os grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos músculos,
responsáveis por tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a criança
já deve ter, em termos históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com
inúmeros objetos (Fonseca, 1993, p. 89).
Vale destacar que, para o desenvolvimento psicomotor de crianças entre os
quatro e seis anos de idade, deve ser valorizado o processo de aprendizagem,
pois é nessa fase que a criança desenvolve várias habilidades.

No processo de aprendizagem da criança, é imprescindível considerar os


aspectos sociais, cognitivos, físicos e psicomotores, pois as interferências
sofridas pelo indivíduo refletem em suas ações no cotidiano e no contexto
escolar.

Elementos de Psicomotricidade
A Psicomotricidade e seus elementos são fundamentais para o processo de
aprendizagem dos indivíduos em processo de desenvolvimento. Estes
elementos nos ajudam a entender melhor este estudo:

• Esquema corporal é o conhecimento de todo o corpo, onde a criança consegue


identificar todas as partes.
• Coordenação dinâmica geral, em que podem ser trabalhados o equilíbrio e
controle do corpo.
• Coordenação motora fina é o desenvolvimento de realizações de atividades que
exigem o movimento de pinça, como recortar e segurar o lápis.
• Percepções visual, auditiva e tátil, relacionadas aos exercícios que utilizam a
atração visual, a capacidade de diferenciar tipos de sons e a capacidade de
perceber e diferenciar objetos através do tato, respectivamente.
• Lateralidade é o conhecimento e domínio em relação à posição, esquerda,
direita, frente, trás.
• Organização e estruturação estão diretamente ligadas à psicomotricidade de
corpo, espaço e tempo; a criança precisa entender e se organizar dentro deles.
• Estruturação espacial é a adaptação ao meio em que a criança vive, tamanho de
pessoas, de objetos, noções de espaço.
• Estruturação temporal é a percepção de anos, dias, climas quentes e frios.

A psicomotricidade como meio de alfabetização


O desenvolvimento psicomotor torna-se importante no processo de
alfabetização e é essencial na prevenção de problemas de aprendizagem, como
a má concentração, confusão no reconhecimento das palavras, confusão com as
letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização.

A grafia assume um lugar de grande importância no desenvolvimento da


criança e do processo de alfabetização. Segundo Le Boulch (1982, apud Porto et
al., 1999, p. 120):

A evolução do grafismo está relacionada com a evolução perceptiva e com a


compreensão da atividade simbólica. E, então os processos registrados nesse estágio
fazem com que a criança seja capaz de representar, através de signos convencionais,
formas geométricas, letras e de avançar na construção gráfica, viabilizando o processo
de aquisição da linguagem escrita.

As crianças iniciam a escrita com garatujas; com o passar do tempo e com os


estímulos adequados, desenvolvem a coordenação motora necessária,
possibilitando o processo de grafismo. Outro aspecto importante sobre a
aquisição da linguagem escrita é o contexto social em que ela está inserida -
entre a interação de adultos com crianças se constroem concepções de escrita e
suas funções, pois através da socialização, o indivíduo encontra o significado
deste processo.

O lúdico, o corpo e os movimentos são de grande relevância no processo de


ensino e aprendizagem; portanto, os professores e a escola precisam adaptar
seus planejamentos de acordo com as necessidades motoras, analisando cada
criança, por esta ser um ser subjetivo, e que independentemente das fases do
desenvolvimento estudados e propostos pela ciência; cada criança se
desenvolve no seu tempo.

O professor alfabetizador precisa estar atento, pois o corpo e a mente são


indissociáveis para o processo de aquisição da leitura e da escrita, sendo
necessário promover atividades psicomotoras que despertem no aluno a
curiosidade e o gosto pela leitura. Dessa forma, os jogos tornaram-se
ferramentas indispensáveis para pesquisadores, professores e psicólogos com
grande relevância na prática e no desenvolvimento psicomotor das crianças.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil aponta que

os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade


(também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais etc.,
propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. É o
adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o
campo das brincadeiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que organiza
sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos
ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar (Brasil, 1998, p.
28).

Os jogos permitem que esse desenvolvimento da aprendizagem ocorra de


forma lúdica, e várias atividades podem ser utilizadas, como bingo, jogo da
memória, quebra-cabeças, dominó, boliche, alfabeto móvel, atividades de
alinhavo, entre outros. Essas atividades que, para as crianças, tem o atrativo de
brincadeiras, na psicomotricidade, são ferramentas que auxiliam no
desenvolvimento intelectual.
Com a utilização dos jogos e brincadeiras, o professor faz com que seu aluno se
desenvolva de forma coletiva e individual, identificando suas capacidades em
aspectos como cognição, linguagem, motricidade, capacidades sociais e
afetivas.

Ainda levando em conta o brincar no desenvolvimento psicomotor, é possível


citar a BNCC com os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, que são:
conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhece-se; e o brincar está
interligado com os demais. O brincar está inserido e torna-se um direito
primordial na aprendizagem da criança.

A Psicomotricidade está incluída como papel primordial na alfabetização e,


através dela, as crianças conseguem o domínio do corpo e da escrita; portanto,
alfabetizá-las com a valorização da psicomotricidade traz grandes benefícios
para toda a vida escolar do aluno.

Metodologia
Com o intuito de resgatar os estudos de teóricos da área da Psicomotricidade,
do Desenvolvimento Infantil e da Alfabetização e Letramento, este estudo lança
mão da pesquisa de natureza qualitativa, intencionando uma revisão
bibliográfica, pois, segundo Fonseca (2002, apud Gerhardt; Silveira, 2009, p. 37):

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já


analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma
pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre
o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na
pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de
recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual
se procura a resposta.

Quanto à pesquisa de natureza qualitativa, suas características motivaram este


estudo, pois, para Gerhardt e Silveira (2009, p. 32),

as características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização


das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o
local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o
mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos
investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados
os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único
de pesquisa para todas as ciências.

Contudo, se faz necessário observar o disposto em Silva et al. (2019, p. 13), que
mencionam a pesquisa de revisão bibliográfica como “um processo contínuo,
isto é, durante a construção da pesquisa, autores devem sempre buscar novas
fontes de dados para que isso torne o estudo mais embasado”, ou seja,
pesquisas desta natureza requerem constantes atualizações e significativo
embasamento para se tornarem válidas.

Considerações finais
Diante do acervo disposto neste estudo e da união de ideias em prol do
desenvolvimento da temática em questão, é possível inferir que a
Psicomotricidade desempenha papel fundamental para o desenvolvimento
infantil e para a alfabetização de escolares em séries iniciais.

A Psicomotricidade é área de estudos para psicólogos, pedagogos e professores


de Educação Física, e quando utilizada de forma a envolver esses três
profissionais, o fazer pedagógico no contexto escolar resulta em aprendizagem
e desenvolvimento motor de forma significativa.

A leitura e a escrita, como descritas acima, são aprendizagens indispensáveis


não apenas para a vida escolar, mas também para a vida social dos alunos, e
por meio dessas aprendizagens, é possível o acesso aos conhecimentos
historicamente produzidos pelo homem, assim como a imersão destes alunos
na vida social, com a possibilidade de manterem-se informados e se
comunicando com o mundo que os cerca.

Atrelar a aprendizagem da leitura e da escrita ao desenvolvimento motor


infantil é um desafio contemporâneo para os professores das séries iniciais, pois
muito se fala em metodologias ativas nos dias atuais, e a Psicomotricidade
parece uma boa opção para desenvolver o corpo e a mente sem dissociá-los.

A Psicomotricidade pode ser vista como ferramenta para uma alfabetização


significativa, uma vez que a criança aprende brincando e se movimentando, e
aquele jargão “é brincando que se aprende”, começa a fazer sentido.

Mas vale destacar a importância de propostas de intervenção com


Psicomotricidade, aplicadas de forma adequada, levando em consideração os
aspectos psicomotores da criança e a fase de desenvolvimento em que essa se
encontra, pois, ao que parece, quando as propostas de intervenção são
aplicadas de forma inadequada, os prejuízos de desenvolvimento motor e
cognitivo das crianças podem ser irreversíveis quando estiverem na fase adulta.

Referências
ABP – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. O que é
Psicomotricidade. Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-
e-psicomotricidade/. Acesso em: 16 jun. 2020.

BARBOSA, Ana Paula Sampaio. O brincar como possibilidade de desenvolvimento


infantil em acolhimento institucional. Dissertação. Universidade de Brasília,
Brasília, 2017.

BARROS, Daisy; BARROS, Darcymires do Rego. A Psicomotricidade, essência da


aprendizagem do movimento especializado. Informativo G. R. D., ano V, nº 11,
jan./jun. 2005. Disponível
em: http://www.geocities.ws/grdclube/Revista/Psicoess.html. Acesso em: 5 fev.
2020.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF,


1998.

______. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília:


MEC/SEF, 1998.

CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O desenvolvimento da criança nos primeiros


anos de vida. Psicologia do Desenvolvimento. Acervo Digital da Unesp, objeto
educacional. Universidade Estadual Paulista, 2010. Disponível
em: http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/224. Acesso em: 02 jun.
2020.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade, psicologia e pedagogia. São Paulo: Martins


Fontes, 1993.

______. Psicomotricidade – perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed,


2004.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto


Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até seis anos.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

MOREIRA, Lília Maria de Azevedo. Desenvolvimento e crescimento humano: da


concepção à puberdade. In: Algumas abordagens da educação sexual na
deficiência intelectual [online]. 3ª ed. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 113-123.

OLIVEIRA, Natália Rodrigues. Comportamento do sono e desenvolvimento motor


em crianças de 12 a 28 meses. Dissertação, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2015.
PORTO, Chrystiane Maria Veras; CAMURÇA, Ana Cléa Veras Vieira; JARDIM,
Cláudia Helena Santos; MATOS, Vânia Cordeiro de. Um olhar psicomotor sobre
o aprendizado e seus fracassos. Revista RECCS, Fortaleza, nº 11, p. 112-127,
1999.

SILVA, Robson José de Moura; SANTOS, Luciano dos; ALVES, Yara; QUEIROZ,
Jacqueline Fonseca de; LIMA, Iraí Lopes Cabral; GONZAGA, Waldirene Costa
Florêncio; LIMA, Sônia Maria de. O paradoxo da educação brasileira em tempos
líquidos. Revista Científica Semana Acadêmica, Fortaleza, nº 166, 20 de maio de
2019. Disponível em: https://semanaacademica.org.br/node/7686. Acesso em:
16 jun. 2020.

SILVA, Wesley Pereira Nunes da. Alfabetização Científica: perspectivas para as


séries iniciais. Dissertação, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

TODERO, Marissandra. A alfabetização das crianças das classes populares na


escola pública: uma proposta de formação continuada de
professores(as). Dissertação, Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim,
2017.

Publicado em 24 de novembro de 2020

Você também pode gostar