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LISBOA
MARÇO 2023
Voz e Expressão em Biodanza
MESA DE VALIDAÇÃO
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_________________________________________________
Fernanda Pinto (IBF POR 1430)
__________________________________________________
Lúcia Freire de Barros (IBF POR 1121)
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Voz e Expressão em Biodanza
ÍNDICE
Agradecimentos ……………………………………………………………….......…… 4
Resumo …………………………………………………………………...……………. 5
Abstract …………………………………………………………………….…………... 6
Introdução ……………………………………………………………………........…… 8
Capítulo I – Sobre a Voz
1.1. O que é o som? ……………………………..…………….…………….… 12
1.2. Fisiologia da Voz ……………………………….………………………… 14
1.3. Características Acústicas Humanas …………….………………………… 15
1.4. Voz – Emoção e Razão ………………………..………………………….. 16
1.4.1. As Origens ………………………………….……………………….… 16
1.4.2. A Razão ……………………………………….…………..…………... 18
1.4.3. A Emoção ……………………………………….…………………….. 23
1.4.4. Do Instinto ao Sentimento …………………….………………………. 26
1.5. Os Anéis de Tensão e Voz ……………………….……………………….. 30
1.5.1. Principais Conceitos …………………………….…………………….. 31
1.5.1.1 Carater ………………………………………….……………………... 31
1.5.1.2 Couraça Caracterológica ……………………………………………… 31
1.5.1.3 Anéis de Tensão ………………………………………………………. 31
1.5.2. Os Anéis de Tensão, Biodanza e Voz …………………….…………… 32
1.5.2.1. Segmentares ………………………………………………………….. 35
1.6.Teorias sobre a Origem da Linguagem Verbal …………………….……… 38
Capítulo II – Biodanza e Voz
2.1. Principais Instrumentos em Biodanza ……………….……….…………... 46
2.2. Modelo Teórico e Voz ……..…………………………………….……….. 50
2.3. A Voz em Biodanza ……………………………………………….……… 55
2.3.1. A Voz através do Canto ……………………………………….………... 57
2.3.2. A Utilização da Voz nas Sessões de Biodanza ………………….……… 58
2.3.2.1. Exercícios com Utilização da Voz em Biodanza …………….……….. 59
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Voz e Expressão em Biodanza
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Voz e Expressão em Biodanza
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
Aos meus pais, ao meu pai José e à minha mãe Alice, por tudo o que me deixaram, de
material e imaterial, todas as ferramentas de que precisei para criar as minhas próprias.
Ao José Neves, por me ter mostrado que a integração do yin e yang é o caminho.
Às minhas amigas, Lúcia Barros e Susana Pequito, por verem em mim, o que eu ainda
não conseguia.
À Tânia Miguel pela sua permanente presença na minha vida, minha terapeuta, minha
mãe, minha irmã, minha amiga, que confiou mais em mim do que eu própria.
Ao meu grupo, a todas as pessoas que dançaram e continuam a dançar comigo, por todas
as oportunidades, de me tornar cada vez mais eu.
Ao meu maior mestre, Rolando Toro que continua a sustentar as minhas asas e a permitir-
me voar.
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Voz e Expressão em Biodanza
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo fundamental, analisar como a prática de Biodanza,
enquanto sistema de desenvolvimento humano, pode contribuir para a expressão de uma
das faculdades humanas, que é a Voz, e de como a Voz é usada como instrumento para
induzir vivências integradoras, para expressão da identidade.
Começando pela relação entre o meu processo de vida, antes e durante a prática da
Biodanza, de como foi importante, na integração da razão e emoção, que no fundo, é uma
das propostas da Biodanza, a integração dos três centros (sentir, pensar e fazer).
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Voz e Expressão em Biodanza
ABSTRAT
The main objective of this monograph is to analyze how the practice of Biodanza, as a
human development system, can contribute to the expression of one of the human
abilities, which is the voice, and how the voice is used as an instrument to induce
integrative vivencias for the integrated expression of identity.
Starting with the relationship between my life process, before and during the practice of
Biodanza and the importance on the integration of reason and emotion, which is basically
one of the proposals of Biodanza, the integration of the three centers (feeling, thinking,
and doing).
Continuing with the presentation of the Theoretical Model of Biodanza, "rescuing" one
of the main instruments, which is singing (little used by most facilitators), in the induction
of integrative vivencias.
Ending with the importance of the emotional word through the facilitator’s enunciation
and through the sharing (verbal intimacy).
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Voz e Expressão em Biodanza
PRESSÁGIO
Fernando Pessoa
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Voz e Expressão em Biodanza
INTRODUÇÃO
Um gesto visceral saído das entranhas, do mais profundo de mim, não um grito de
desespero, mas um grito de libertação. Um grito que ecoou pelos céus em pleno deserto,
um grito primal, naquele imenso silêncio, um grito a anunciar um novo começo.
Foram precisas várias horas pela noite dentro e madrugada, a subir, sempre a subir, pela
crista da duna, a mais alta ali por perto. A subida da montanha, o esforço, a conexão com
o mistério do deserto… os primeiros raios de luz que se faziam anunciar, o sol que se
fazia anunciar, tudo isso terá deflagrado o grito…
Mas não foram só o deserto e o sol, outro fator… talvez o mais importante e
extraordinário, também a Biodanza na minha vida!
E o mais extraordinário, é que sentia as presenças de outros ali por perto, que tal como
eu, teriam ali acorrido para assistir ao espetáculo sempre mágico, o nascer de mais um
dia. E extraordinário porquê? Porque daquilo que me recordo, durante quase toda a minha
vida, senti medo, pânico diria, de me ouvir a mim própria. Então, só de pensar que outros
me pudessem ouvir… o pânico… o bloqueio, a paralisia acontecia.
Aquele grito, foi o primeiro passo para me aventurar a trilhar um longo caminho que me
trouxe até aqui, a este momento em que me encontro. Um momento em que já não
paraliso. É verdade que o medo de me expressar pela voz, continua a acompanhar-me,
mas apenas caminha ao meu lado, assim posso vê-lo, olhá-lo nos olhos, falar com ele,
aproveitar essa companhia, dançar com ele.
Foi com a Biodanza que me apercebi que não conseguia expressar o que sentia. No
entanto, sentia tanto!
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Voz e Expressão em Biodanza
Fui professora do ensino secundário, durante grande parte da minha vida, e nunca tive
muitos problemas em me expressar através da palavra, com os alunos, com os meus
colegas, em inúmeras reuniões que tive de convocar por diferentes razões, inerentes aos
cargos que desempenhava. Aparentemente, uma incongruência total!
Mas, não era assim! Falar de assuntos exteriores a mim, em que a minha função era
simplificar, sintetizar e transmitir, era fácil, apesar de reconhecer o medo da expressão,
mas era só no início, depois, esquecia-me dele.
Mas, falar de mim, falar do que sentia… perfeitamente impossível quando as emoções
preenchiam tudo, e não deixavam espaço para as pensar. Falar de um mundo interno
imenso, turbulento, caótico… como seria possível, que algo de inteligível, para mim, para
os outros, pudesse ser expresso através da palavra?
Um dia, ainda cedo na minha vida, senti um pânico imenso ao ver um filme, e ao olhar
em redor, apercebi-me que as pessoas mesmo ao meu lado, estavam como eu, em pânico.
Então, nesse momento, decidi não ter mais medo de nada, tudo passou a ser uma ficção.
A partir desse momento, deixei de ver os medos, mas também deixei de ter contato
comigo, com o que sentia… a razão tinha vencido!
Sim, fechei-me no meu mundo, com cores escolhidas por mim, inconscientemente, onde
me sentia protegida, onde nada nem ninguém me pudesse afetar.
Desde 2009, quando conheci pessoalmente Rolando Toro, que ele me acompanha, sempre
sussurrando ao meu ouvido, tal como o fez naquela maratona de escola “tu és uma grande
bailarina”, depois de uma demonstração de uma dança que fiz a seu pedido. Estas palavras
foram a semente, a semente para ganhar coragem, e fazer tudo o que fosse necessário,
para me tornar facilitadora. E foi a dançar, a expressar os potenciais genéticos em cada
linha de vivência, que descobri que o uso da palavra também é um potencial genético,
então… tudo seria possível para mim.
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Voz e Expressão em Biodanza
Nesta fase em que me encontro, só me resta agradecer todas as oportunidades que me têm
sido dadas, não só a Rolando, mas a todos aqueles que me tocaram e incentivaram, para
que este momento chegasse.
É sobre o processo de ganhar voz, de conseguir expressar-me através da voz, mas também
através da linguagem verbal, através da palavra com sentido, não só nos grupos onde
dancei, mas perante o meu grupo, como facilitadora, que gostaria de escrever.
Não é apenas a minha história, é sobretudo, o que eu fiz com a minha história, e como a
Biodanza, me ajudou a tornar-me num ser mais integrado, e assim, a ter a coragem de
expressar um potencial, que ficou condicionado desde muito cedo na minha vida.
Mas, o verbo não foi o princípio, e sim o sentir, e só o sentir pode dar sentido ao verbo.
Assim nasceu esta monografia, não pelo verbo nem pelo sentir, mas pela história do som,
do som como voz, das suas características, das razões culturais que condicionaram o ser
humano, e de como é possível esse descondicionamento, até, às teorias da origem da
linguagem verbal. É sobre tudo isto, que trata o primeiro capítulo.
O segundo capítulo é sobre Biodanza e Voz. Como surgiu a Biodanza, o seu modelo
teórico, tendo o CANTO, a voz, como instrumento para induzir vivências integradoras.
No fundo, a Biodanza como método para resgatar a voz, e também, o uso da voz como
instrumento para induzir vivências integradoras. Apresento também, alguns exercícios
com voz usados nas sessões de Biodanza e em projetos de aprofundamento.
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Voz e Expressão em Biodanza
Sim, a respiração é a função essencial para que o som se faça sentir e ouvir, ou melhor, a
respiração é a função primordial, vital, sem ela a vida não seria possível, mais ou menos
3 minutos sem ar… e a vida pararia.
Muitas teorias existem sobre a origem da vida, que passam pela religião, mitologia,
filosofia, ciência. E, muitas delas, nos remetem para além do planeta Terra.
Muitas delas, limitam-se a iniciar a história da origem da vida, aqui neste planeta, a nossa
casa, um lugar ainda aprazível, com o azul predominante do céu e oceanos, e verde das
florestas e prados.
Mas, como dizia Carl Sagan, a superfície da Terra é a costa do oceano cósmico, e uma
parte do ser humano sabe que o Cosmos é a sua origem.
Sim, somos seres ontocosmológicos, oriundos do Cosmos que é tudo o que se vê e não se
vê, tudo o que existe, existiu ou existirá, que faz parte das nossas memórias, que nos
emociona, que nos faz sentir vivos.
Para além do inexplicável, do mistério, da emoção que nos habita, dessa sensação que
nos faz sentir parte de um oceano cósmico, somos também, hidrogénio, oxigénio,
carbono, cálcio, nitrogénio e fósforo, elementos presentes na matéria, e por isso não temos
apenas um corpo, somos um corpo. Em cada uma das nossas células, estão as memórias
de tudo o que já existiu, existe ou existirá.
Somos pó de estrelas…
E a voz, faz parte dos nossos potenciais genéticos, e que evoluiu ao longo de milhões de
anos, até chegar à voz falada.
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Voz e Expressão em Biodanza
Mas, não poderia começar a falar sobre a voz, sem voltar ao princípio de tudo, à nossa
origem como seres cósmicos, num espaço em que as memórias, são movimento e silêncio.
A história do planeta Terra tem as suas origens no cosmos, da explosão de uma supernova,
uma estrela muito antiga, mais brilhante do que todas as outras, já em final de vida, o caos
acontece, as inúmeras partículas dissipativas, chocam entre si, criam energia.
E é nesse caos, nessa dança cósmica que o planeta Terra toma forma.
Terra ou Gaia, nome de deusa, ser vivo e pulsante, nomeada assim, depois da viagem até
à lua. E do espaço, a visão magnífica de um ser azul pulsante que respira.
Mas, essa dança, fez-se em completo silêncio, porque no espaço, no vazio, o som não é
possível.
Nessa dança cósmica, apenas o movimento tinha lugar, e foi um nascimento silencioso
no espaço vazio.
Nas nossas células estão registadas todas essas memórias, seres cósmicos num caminho
do caos à ordem. E foi o movimento e o silêncio que em primeiro lugar aprendemos.
O som só foi possível na Terra, com o nascimento do ar, resultante das reações químicas
que fizeram evoluir a vida nas suas diferentes formas.
É por isso, que a Terra é sonora. Tudo tem som, desde o mais dissonante ao mais
harmonioso. Tudo é energia e tudo vibra de acordo com o seu próprio timbre.
Para a Física, o som é uma onda longitudinal e mecânica, e por ser mecânica, necessita
de um meio físico para se propagar, o ar entre outros meios, como os líquidos e os sólidos.
Mas, é o ar o meio privilegiado de propagação do som, onde ele é mais lento, devido a
uma maior distância dos átomos que o constituem.
Os sons são percebidos pelos seres humanos, quando incidem sobre o aparelho auditivo,
e são traduzidos em estímulos elétricos, direcionados para o cérebro, que os interpreta.
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Voz e Expressão em Biodanza
O som como fenómeno físico, tem algumas características, em que as principais são:
Altura, Intensidade e Timbre.
A Altura do som está relacionada com a frequência. A frequência de uma onda sonora
mede-se em hz (hertz), que define a sua altura, isto é, quanto maior é a frequência do som,
mais agudo, ou alto, esse som é. Ao contrário, sons de baixas frequências, são chamados
de sons graves ou baixos.
Os seres humanos são capazes de perceber somente sons entre 20hz e 20000hz. Abaixo
de 20hz, são os designados de infrassons, e acima de 20000hz, os ultrassons, só
percebidos por outros animais, como por exemplo o cão ou o gato.
A amplitude da onda sonora define a sua intensidade, ou a quantidade de energia que essa
onda carrega consigo, que também pode ser entendida como o “volume do som”.
O Timbre do som é o que permite distinguir a natureza da sua fonte. Ao ouvir dois sons
com a mesma frequência e intensidade, mas que foram produzidos por instrumentos
diferentes, pode-se facilmente diferenciá-los.
O Timbre é o modo de vibração da onda sonora, e cada fonte sonora possui o seu timbre
característico. Pode-se dizer que o Timbre é a assinatura sonora da fonte.
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Voz e Expressão em Biodanza
Pode-se assim dizer que a voz humana é a sua assinatura sonora, tal como a impressão
digital, não existe mais nenhuma igual.
Mas, o som emitido pelo ser humano, a voz, não é um fenómeno puramente físico, ele é
resultante de um complexo sistema interativo de características, relacionando-se umas,
predominantemente, com aspetos fisiológicos individuais, e outras, com aspetos,
psicológicos, emocionais e culturais.
O corpo humano é um instrumento musical onde os sons são variados, desde os sons
involuntários, resultantes do funcionamento dos órgãos, como o bater do coração ou da
digestão, assim como os voluntários, como o bater palmas, o caminhar, entre outros.
Mas a voz, é a assinatura sonora, única, expressão da identidade.
De um modo geral, nos mecanismos para gerar a voz humana, estão subdivididos em três
partes:
3) Lábios, língua, dentes, palato duro, palato mole e mandíbula, responsáveis pela
articulação.
Os pulmões têm um aspeto esponjoso, uma vez que são compostos de muitas cavidades
pequenas, os alvéolos pulmonares, aos quais chega o ar inspirado, através das vias
pulmonares. Os pulmões são órgãos muito elásticos, capazes de se dilatarem e contraírem,
envoltos por uma membrana delicada, a pleura. Estão localizados, um de cada lado do
coração, protegidos pela caixa torácica, uma estrutura extensível e muito articulada, e que
se pode mover, graças a um conjunto de músculos, os músculos intercostais, os
abdominais, e o diafragma.
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Voz e Expressão em Biodanza
comandados por impulsos nervosos, transmitidos através do nervo vago, permitem que o
ar entre, e encha os pulmões (inspiração), e ao distenderem-se, obrigam o ar a sair, e os
pulmões esvaziam (expiração).
Uma outra parte, também importante, da qual fazem parte, os chamados ressoadores, que
funcionam como uma caixa de ressonância: a faringe (órgão comum aos sistemas
respiratório e digestivo), seios perinasais (cavidades aéreas por onde circula o ar
inspirado) e a boca.
Ao respirar, as pregas vocais, localizadas dentro da laringe, ficam afastadas entre si,
permitindo a entrada e a saída do ar, e é na expiração que a voz é produzida, cria-se a
pressão de ar sob as pregas vocais, fazendo com que elas se aproximem e vibrem. O som
gerado na laringe é ampliado pelas cavidades de ressonância (faringe, seios perinasais e
boca). Os sons da fala são articulados na cavidade bucal, ou seja, pelos articuladores, a
língua, os lábios, os dentes, palato duro, palato mole e mandíbula, modificando o fluxo
de ar vindo dos pulmões e projetando o som para o ambiente.
b) Altura que depende da frequência da vibração das cordas vocais. Quanto mais
rápida é a vibração, mais alto é o som ouvido e mede-se em hz (hertz).
Na classificação tonal da voz, podem-se referir, vozes muito agudas, agudas, normais,
graves e muito graves.
Para cada indivíduo, há uma zona mais ou menos alargada de alturas sonoras, nas quais
se sente confortável durante a emissão vocal. Assim, mediante o local onde parece ser
produzida, pode-se falar de voz palatal (palato), gutural (garganta) e nasal (nariz).
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Voz e Expressão em Biodanza
c) Timbre que permite distinguir duas vozes que falam ou cantam com a mesma
intensidade e a mesma altura.
A vibração nunca existe isolada, ela depende do harmónico fundamental que provoca
vibração nos harmónicos secundários, e o timbre é o resultado da vibração sobreposta de
todos.
1.4.1. As Origens
A primeira fase até aos 3 anos, quando a criança se sente o centro do mundo, depois até
aos sete anos, em que os programas de formatação são implantados, de uma forma
impercetível, porque a criança aprende por identificação, por imitação, por aprendizagem,
e tudo isso fica registado nas suas células, como se fizessem parte do seu ADN. É comum
ouvir pessoas que dizem “eu nunca vou mudar, eu nasci assim, e sempre serei assim”,
tipo Gabriela Cravo e Canela, e preferem continuar a acreditar que essa é a verdade.
Eu sinto que sempre fui orientada na minha vida, no meio do oceano inconsciente, algo
em mim gritava em silêncio, que era possível ser diferente.
Nascida num ambiente, rodeada de ecofatores pouco nutritivos, e apesar disso, até aos 3
anos, fui uma criança alegre, saudável, olhos e faces coloridas, de tal maneira, que as
vizinhas perguntavam à minha mãe, se me pintava. E toda essa exuberância, se expressava
também pela voz, porque falava “pelos cotovelos”, o que se costuma dizer, de quem fala
muito.
Mas, parece que a vida tinha planos diferentes para mim, porque nessa altura, fiquei
gravemente doente, um problema nos pulmões. Nunca soube exatamente o que foi, mas
pelo que me contaram, estive muito perto da morte. Por algum contágio, não se sabendo
muito bem como, mas eu era daquelas crianças que brincava na rua, mexia na terra, ainda
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Voz e Expressão em Biodanza
não existia a fobia da superproteção. Graças ao amor e cuidado da minha mãe, e ao médico
que arriscou um medicamento novo, acabei por ser salva ao fim de um longo ano.
A partir daí, a criança alegre e faladora, tinha desaparecido completamente, e deu lugar a
uma menina tímida, silenciosa em que só a ideia de que alguém pudesse ouvir a sua voz,
a deixava em pânico, a tentar esconder-se dos outros, com a sensação de não existir, ou
seja, a viver num mundo à parte, sentindo-se uma extraterrestre, a fugir de qualquer
relacionamento humano, preferindo os animais e as plantas.
As brincadeiras, eram criadas por mim, com personagens criadas por mim, com quem
interagia e falava, por vezes, em voz alta, quando sabia que ninguém me podia ouvir.
Até ir para a escola, fui uma criança feliz, num mundo criado por mim. Só na escola é
que comecei a aprender a relacionar-me com os outros, a perceber que existia um mundo
que não era o meu, um mundo assustador. Por isso, além dos mecanismos de defesa que
já tinha criado, outros se juntaram, para poder sobreviver. Para esconder a sensibilidade
extrema com que vim a este mundo, tornei-me forte e alegre. Nada me podia atingir,
porque me recusava a sentir qualquer desconforto, e quando isso acontecia ia até à floresta
ou ao alto da montanha, e voltava com a força redobrada, até ter de voltar a fazer o mesmo
novamente.
Apesar de, aparentemente, tudo correr muito bem na minha vida, havia uma sensação de
vazio dentro de mim, como se faltasse algo, com muitas contradições e muitos medos,
imensos medos.
Mas, a normose era muito forte, e apesar de rebelde por dentro, por fora, cumpria todas
as regras, mesmo aquelas com as quais não concordava, sempre fui uma menina bem-
comportada. Isso garantia-me a valorização dos outros, a atenção dos outros, o
reconhecimento dos outros, apesar de sentir que tudo o que fazia era insuficiente.
Felizmente, em adolescente, tinha aquele olhar vazio de quem olha para tudo e não vê
nada, e que me dava a sensação de tudo estar no lugar, porque iria haver um lugar para
mim, apesar do caos interno de não saber quem era, do que gostava de fazer, como poderia
expressar-me no mundo, ou se me iria sentir parte dele.
Essa sensação, e tudo o que os meus pais me deixaram como valores, todos mecanismos
de defesa, ajudaram-me a lidar da melhor maneira possível, com cada situação, e ter agora
a oportunidade de ir aprendendo a expressar os meus potenciais de forma integrada.
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Voz e Expressão em Biodanza
É por isso que costumo dizer que a Biodanza me salvou a vida várias vezes. A primeira
quando a conheci pela primeira vez, e as portas e janelas, começaram a abrir, e depois,
sempre que me deparava com dificuldades, aparentemente maiores do que eu, pensava
em desistir, e nessas alturas, havia sempre um anjo que me dizia, ou fazia algo, para me
aperceber que existiam mais portas e janelas por abrir. E tem sido assim, e cheguei aqui.
Os medos eram tantos, e tão emaranhados que me paralisavam impedindo o caminho para
a concretização dos meus sonhos.
Para não sentir, a razão era a defesa, usando mecanismos de defesa criados por mim.
1.4.2. A Razão
Mas, nem sempre foi assim, nem sempre a razão, a mente racional, dominou a vida das
pessoas. Nas primeiras comunidades, o conhecimento era transmitido através das
histórias contadas em redor da fogueira. Histórias em que as palavras estavam repletas de
emoção, experiências vividas, movimento, aventura. As palavras dançavam transmitindo
a vivência das realidades vividas, e era assim, que as crianças aprendiam.
Tenho consciência como as histórias que li, sempre em silêncio, contribuíram para o meu
carater, as histórias infantis sempre com uma moral no fim, que condicionaram como vivi
os meus relacionamentos, as ideias, teorias, deixadas por diferentes autores, e que
influenciaram toda uma sociedade, e que me influenciaram a mim. Tudo se passava ao
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Voz e Expressão em Biodanza
nível das ideias, a partir de imagens, em que tudo o que prejudicasse o modelo criado, era
rejeitado liminarmente.
Tudo o que vivia, todas as experiências foram vividas a partir de uma imagem criada
pelos diferentes contadores de histórias, e depois, pelas histórias criadas por mim própria
e contadas a mim própria e que insistia em contar aos outros. Mas, havia sempre algo a
estragar-me os planos, as sensações desagradáveis, que eu nem sequer conseguia dar um
nome.
Muitas vezes, ouvia alguém dar conselhos, “Mantém a cabeça fria. Não deixes que as
paixões, as emoções, te estraguem a vida!…” Como resultado, as emoções eram algo a
rejeitar, perfeitamente dispensáveis, e deveríamos sempre usar a razão, ser razoáveis.
Tudo o que aprendemos, tudo o que vamos sendo, na sociedade em que se vive, tem as
suas origens bem lá atrás. Há milénios que pensadores ocidentais e orientais, religiosos
ou não, que contribuíram para esta visão da separação de razão e emoção. E se não se
quiser saber mais, fica-se a pensar que se nasceu assim, como muitas vezes, pensei. Saber
que todas as ideias, as crenças, foram “implantadas” em cada uma das minhas células,
cerca de noventa por cento, torna tudo mais fácil, pois há a esperança de tudo poder ser
diferente.
René Descartes nascido em 1596, foi considerado o primeiro filósofo moderno, e que
defendeu a tese de que a dúvida era o primeiro passo para chegar ao conhecimento. O
corpo é formado por matéria com propriedades comuns a toda a matéria, incitando à
separação do corpo e da alma. “O controlo das inclinações animais através do
pensamento, da razão e da vontade é o que nos torna humanos, segundo As Paixões da
Alma de Descartes” (António Damásio, 1994).
Na escola aprendi muitas coisas, assentes nesta visão, como por exemplo, que os homens
eram superiores aos outros animais e outros seres vivos, apenas porque o mais importante
era a razão, era isso que os tornava superiores a todos, que lhes dava o direito de explorar,
vendo-os como seres inferiores, mesmo os seus semelhantes, estes com dificuldades em
se expressar de acordo com os modelos aceites e instituídos. Foi assim que me senti,
inferior porque não conseguia fazer como os outros, criei a crença de não ser muito
inteligente, a tentar esconder-me, a paralisar ou congelar, quando era solicitada a usar a
palavra. Acreditei na teoria do QI, como medida da inteligência humana, apesar de
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Voz e Expressão em Biodanza
perceber que nesse teste, a avaliação era mais ao nível cultural, mas, tentava evitar fazer
o teste, só de pensar que iria ser baixo e comprovar a crença que tinha de mim mesma.
Só bastante mais tarde, comecei a libertar-me dessa crença, quando Howard Gardner, em
1983, apresenta a teoria das inteligências múltiplas (sete tipos de inteligências:
linguística, lógico/matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica, interpessoal e
intrapessoal, sendo mais tarde, acrescentadas mais duas: naturalista e existencial).
Lembro-me como isso me fez sentir, afinal, eu reconhecia em mim, algumas das
inteligências apresentadas, e isso fez com que me visse de forma diferente, e também, a
forma como comecei a olhar para os outros. No sistema de educação português, foram e
continuam a ser, as inteligências: linguística e lógico/matemática, as consideradas mais
importantes, e que distinguiam os bons dos maus alunos. Um desenvolvimento
essencialmente do hemisfério esquerdo do cérebro, responsável por essas áreas, em
detrimento do hemisfério direito, responsável pela arte, música, dança…
Durante muito tempo, ouvi a frase muito conhecida de Descartes “Penso, logo existo!”, e
o significado para mim, era de que como sinto e não era suposto, e não consigo expressar
o que penso, a voz ficava embargada e ficava em silêncio. Isso fazia com que ficasse em
silêncio a maior parte das vezes, porque só de pensar que alguém me ouvisse e me dissesse
que eu não era gente, até porque já tinha ouvido a expressão de “bicho do mato”, para me
descrever. Sim, o medo de falar, de me ouvir, de ser ouvida, despoletava todos os outros
medos. Eram tantos, baralhando completamente o meu cérebro, tornando-o disfuncional.
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Voz e Expressão em Biodanza
A Teoria do cérebro trino foi elaborada em 1970 pelo neurocientista Paul MacLean, apresentada
em 1990 no seu livro “The Triune Brain in evolution: Role in paleocerebral functions”, que
discute o fato de que nós, humanos/primatas, temos o cérebro dividido em três unidades
funcionais diferentes.
Outro autor com um papel importante, na crença de que a razão era o mais importante, e
que me fazia sentir uma ET, foi Sigmund Freud, nascido em 1856, neurologista e
psiquiatra, formulou os conceitos de id, ego e superego, que compunham a estrutura da
psique. O id é o local da mente onde ficam os nossos impulsos e instintos. O ego é a parte
lógica e racional da psique e é responsável pela tomada de decisões. O superego, por sua
vez, é a parte da psique responsável pela repressão dos impulsos que são contrárias às
normas sociais.
O Ego, a razão, a mente, que toma decisões, tem um papel moderador entre o que é
impulso, instintivo, e o que é aceite pela sociedade, a moral.
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Voz e Expressão em Biodanza
“Toda a felicidade está cercada por uma série de limitações e basta começar a pensar neles
para nos tornarmos infelizes.” (citações e pensamentos de Sigmund Freud)
Dois autores que tiveram um papel importante para reconhecer em mim como as minhas
ações estavam condicionadas pelo ego, e como me traziam infelicidade, foram Wilhelm
Reich, de quem falarei no próximo ponto, e Alexander Lowen seu seguidor.
Segundo Lowen, a neurose é o medo da vida. “A pessoa neurótica tem medo de abrir seu
coração ao amor, teme estender a mão para pedir ou para agredir, amedronta-a ser
plenamente si mesma.” Em termos psicológicos, quando abrimos o coração ao amor,
ficamos vulneráveis ao risco da mágoa; quando estendemos os braços à frente, arriscamo-
nos à rejeição; quando agredimos, há a possibilidade de sermos destruídos.”
Exatamente o que senti durante muitos anos da minha vida, digo senti, mas apenas o grau
de neurose ficou diferente, porque segundo Damásio, seremos neuróticos a vida inteira.
E tudo isto só foi possível depois de ter iniciado a Escola de Biodanza, porque até aí, o
meu comportamento era pautado essencialmente pela razão. Só quando fui convidada a
falar sobre o que sentia, me apercebi que sofria de uma certa alexitimia, a dificuldade em
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Voz e Expressão em Biodanza
reconhecer as emoções e falar delas, e por isso, ficava em silêncio na maior parte das
vezes, e que gera a “ação pela ação” como disse Rolando Toro.
E apesar de ter sido professora durante muitos anos, e nas aulas e no cumprimento de
cargos que desempenhava, havia a exigência de falar para largas audiências, e fazia-o sem
dificuldade, só quando fui solicitada para falar de mim, na Biodanza, do que sentia, é que
me apercebi de como era difícil fazê-lo, e como a tendência era ficar em silêncio. Falar
do exterior, a partir de ideias, conceitos, era fácil, mas falar do sentir, isso era uma coisa
completamente diferente. Lembro-me de sempre ter dificuldade em ler poesia, faltava-
lhe a lógica.
E foram todas as minhas dissociações que me levavam muitas vezes, a evitar a partilha
verbal no início da aula. Mas, foi graças ao método vivencial da Biodanza que me
permitiu continuar, e devagarinho aceder a partes de mim que eu nem sequer sabia que
existiam, inclusive a voz.
1.4.3. A Emoção
Mas, ao fim de um ano, consegui expressar o meu primeiro grito, vindo lá das profundezas
de mim, consegui sair de mim.
E foi ao estudar e entender, que as emoções desempenham uma função biológica, que têm
uma finalidade. E de que emoção e razão, fazem parte de um todo e que em sintonia, pode
levar-nos à felicidade. Permitiu-me aceitar a minha humanidade, a ver o humano nos
outros, a sair mais vezes da minha frente.
Para Daniel Goldman, por exemplo, “as emoções, são essencialmente, impulsos para agir,
planos de instância para enfrentar a vida que a evolução instilou em nós”.
A própria raiz da palavra é motere, do verbo latino “mover”, mais o prefixo “e-“
formando a expressão “mover para”, sugerindo que a tendência para agir está em todas
as emoções.
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Voz e Expressão em Biodanza
Mas, o que mais me fascinou foi entender que as emoções têm uma base biológica.
Segundo António Damásio, “as emoções são conjuntos complicados de respostas
químicas e neurais que formam um padrão; todas as emoções desempenham um papel
regulador que conduz, de uma forma ou de outra, à criação de circunstâncias para o
organismo que manifesta o fenómeno; as emoções dizem respeito à vida de um
organismo, mais precisamente ao seu corpo; a finalidade das emoções é ajudar o
organismo a manter a vida”.
São estas semelhanças, entre culturas e indivíduos diferentes que torna possível as
relações interculturais que permite a arte, a literatura, a música, o cinema, sejam
apreciadas no mundo inteiro.
A importância das emoções na vida de um ser humano foi tema do cinema, num filme
dirigido por Pete Docter (Divertida-Mente, 2015), em que são retratadas as funções de
cada uma das emoções, e de como a sua expressão é importante na vida de uma pessoa.
São consideradas primárias ou inatas, primeiro porque vimos a este mundo, dotados de
todos os mecanismos para que se possam expressar, confirmação feita ao observar que
são comuns a todos os humanos, independentemente da cultura, e também em animais.
Refere ainda que existem outros comportamentos que podem ser considerados emoções,
que são as emoções secundárias ou sociais, tais como a vergonha, o ciúme, a culpa, o
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Voz e Expressão em Biodanza
orgulho. Estas resultantes das interações sociais, e que podem ter variações em função da
cultura, na forma como se expressam.
As emoções podem ser despoletadas de duas formas, pode ser um estímulo externo,
ativando todos os mecanismos biológicos que levam à ação, ou então, através do
pensamento, de memórias, de imagens de situações já vividas.
Mas, fazer parte de uma sociedade, é estar sujeito aos mandatos culturais que provocam
o condicionamento da expressão das emoções, levando a graves dissociações, como o
sentir uma coisa, pensar uma outra, e ter uma atitude que não reflete nem o que se sente,
nem o que se pensa.
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Voz e Expressão em Biodanza
é procurar, criar, os ecofatores ambientais para que se possa desenvolver. Emoção e razão
a caminhar juntas numa dança pulsante, com todas as suas cambiantes, cores e sons.
Este entendimento, permitiu-me afastar de mim, a crença de que herdando os genes dos
meus pais, então teria uma vida idêntica à deles, a mesma forma de me expressar, as
mesmas doenças… foi um alívio saber que eu posso escolher, mudando a crença,
mudando a forma, mudando o ambiente, mudando-me por dentro, e criar uma nova vida.
Não é por acaso que numa sessão de Biodanza, os ecofatores ambientais, são de extrema
importância, para que as vivências, possam ser integradoras, e a identidade se possa
expressar.
Em relação aos instintos, António Damásio (1984) refere que “em geral os impulsos e os
instintos operam diretamente, através da geração, de um determinado modo, quer através
da indução de estados fisiológicos que levam os indivíduos a agir de determinado modo,
de forma consciente ou não. Praticamente todos os comportamentos que resultam de
impulsos ou instintos contribuem para a sobrevivência quer em termos diretos, através da
execução de tarefas de preservação da vida, quer em termos indiretos, através da criação
de condições vantajosas para a sobrevivência ou da diminuição da influência das
condições adversas.”
E acrescenta, “Mas o mecanismo das emoções primárias não descreve toda a gama dos
comportamentos emocionais. Elas constituem, sem dúvida, o mecanismo básico. Creio,
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Voz e Expressão em Biodanza
Muitas vezes, ouvi António Sarpe dizer “antes de tudo, há que ser um bom animal”, e
isso quer dizer, que em Biodanza, resgatar o inato em nós, entrar em contato com o
instinto, a nossa parte biológica, é de extrema importância, são os alicerces de toda a
reconstrução. É a base para que as emoções se expressem, e que sejam elaboradas também
pela mente, um dos objetivos de Rolando Toro, a criação de novos valores, desde que, o
processo comece por cada um de nós. Mudar por dentro é o mesmo que mudar o que está
fora.
Para Rolando, o caminho a percorrer até chegar ao sentimento, começa com toda uma
reaprendizagem das funções originárias da vida, uma reaprendizagem para a saúde, e uma
reeducação afetiva, e é a música, o movimento, o canto, os encontros, os elementos
essenciais para a promoção de vivências, o deflagrar de emoções integradoras, aquelas
que permitem a expansão do ser, e com a repetição, novos registos nas células, devido à
sua cognição e cooperação, novos comportamentos, e os sentimentos tornam-se uma
constante no ser humano. Corpo e mente a funcionar como unidade, num processo sempre
dinâmico.
Os vínculos resgatados em cada ser humano, pela dança, em que o afeto medeia qualquer
relação, permite a criação de sentimentos, como por exemplo, a amizade, o amor, a
solidariedade, o altruísmo.
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Voz e Expressão em Biodanza
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Voz e Expressão em Biodanza
Quando as emoções não são expressas, os sentimentos que nos permitem a conexão
consigo, com o outro, com a totalidade, não são possíveis, e as patologias, associadas,
fazem-se presentes. Por isso, a Biodanza é uma proposta de um caminho em direção à
saúde.
Charles Darwin, na sua obra “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”,
observa que toda a emoção que se expressa, e se repete muitas vezes, ela é reforçada.
Assim, quando uma emoção se expressa com frequência, como a raiva, a pessoa em causa
torna-se raivosa. Assim como se reforça a raiva, o medo, a agressividade, a tendência à
depressão, também se pode estimular, reforçar a expressão da alegria, da bondade, do
erotismo, por exemplo. Expressar emoções não é libertar-se delas, mas reforçar as que
nos permitem expandir, e, as que nos fazem contrair, usá-las como combustível para as
transmutar em outras emoções integradoras, ou criando uma obra de arte.
Porque, segundo Damásio (1984), quando os estados corporais negativos se repetem com
frequência, ou quando se verifica um estado corporal negativo persistente, como sucede
numa depressão, aumenta a proporção de pensamentos suscetíveis de serem associados
às situações negativas, e o estilo de eficiência do raciocínio são afetados.
E à medida que o processo de cada pessoa se faz, que os seus potenciais estão cada vez
mais desenvolvidos e integrados, em que a expressão através do corpo, do movimento,
do gesto, se transforma cada vez mais numa dança semelhante à dança que dançámos no
início de tudo, participando da dança cósmica, também a voz se solta, e a palavra, na
forma de poesia, é uma realidade.
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Voz e Expressão em Biodanza
O som harmonioso de qualquer instrumento musical, como por exemplo uma guitarra,
depende das boas condições dos diferentes elementos que a compõem, um bom corpo,
cordas afinadas… o som ressoa em harmonia, para quem a escuta.
O mesmo acontece com o ser humano, todo ele é um instrumento musical, o som que se
expressa através da voz, depende da integração harmónica dos diferentes elementos:
psicológicos, emocionais, físicos. Somos um corpo, um sistema, unidade de todos os
elementos, e é através dele, que se expressa o que se é, os instintos, as emoções, os
sentimentos, a voz, a palavra.
Um corpo sem tensões, como dizia Wilhelm Reich, é um ser livre. Desta forma, a voz, e
a voz palavra, expressa-se em harmonia, é pura poesia, tem poder de “curar”, tal como
Orfeu, que encantava e curava quem o seguia. Rolando Toro escreveu na sebenta sobre
os “Antecedentes Míticos e Filosóficos de Biodanza”: “Orfeu, músico, cantante, poeta,
recebeu a lira de Apolo. Possuía o poder musical. Suas suaves canções atraiam as bestas
ferozes, influíam sobre árvores e plantas, mitigavam a dor e curavam os homens dos seus
males do corpo e da alma.”
A Biodanza traz essa possibilidade, ao usar o poder de Orfeu através da dança (música-
movimento-vivência), ao despertar o poder da voz, o poder da palavra poética, a palavra
dançada como “prolepse da vivência”, citando o meu querido amigo José Neves, a magia
que se faz corpo. E ao despertar os potenciais inatos, a expressão desses potenciais…
Para vivenciar a magia, é preciso ir às origens, e honrar o conhecimento daqueles que nos
podem inspirar. E Wilhelm Reich deixou um legado importante.
Wilhelm Reich nasceu em 1897, no antigo império austro-húngaro e morreu em 1957 nos
EUA. Psiquiatra e psicanalista, dissidente e rejeitado pelos seus pares, graças às suas
investigações bastante polémicas para a época, terá sido o pioneiro nos estudos dos
fenómenos psicossomáticos.
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Voz e Expressão em Biodanza
1.5.1.1. Carater
Composto por atitudes, padrões consistentes de resposta para várias situações. Estão
incluídas atitudes e valores consistentes, como timidez, agressividade, entre outras, e
atitudes físicas, como postura, movimento do corpo. (Fadiman e Frager, pag.89).
“Reich descobriu que cada atitude de carater tem uma atitude física correspondente e que
o carater do indivíduo é expresso no corpo em termos de rigidez muscular ou couraça
muscular.” (Fadiman e Frager, pag. 93).
A grande contribuição teórica de Reich foi ter chegado à conclusão de que a couraça física
e a psicológica eram essencialmente a mesma coisa, ou seja, são equivalentes na sua
função.
Para Reich, a couraça muscular está organizada em sete anéis principais ou segmentos de
couraça, dos quais fazem parte os músculos e órgãos com funções expressivas
relacionadas. Eles são sete, e estão dispostos na direção Céfalo-caudal (da cabeça até aos
genitais, com semelhanças com os sete chakras). São anéis porque eles fazem um círculo,
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Voz e Expressão em Biodanza
que envolve a parte da frente do corpo, e atrás: olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma,
abdómen e pélvis.
a) Anel Ocular – A couraça dos olhos é expressa por uma imobilidade da testa e uma
expressão vazia dos olhos, que nos veem por detrás de uma rígida máscara. (Fadiman, J.,
Frager, R, p. 97)
b) Anel Oral – o segmento oral inclui os músculos do queixo, garganta e a parte de trás
da cabeça. As expressões emocionais em relação ao chorar, morder, raiva, gritar, sugar,
fazer caretas são inibidas neste anel. (Fadiman, J., Frager, R, p. 97)
d) Anel torácico – este segmento inclui os músculos longos do tórax, os músculos dos
ombros e das omoplatas, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Ele serve para inibir
o riso, a raiva, a tristeza e o desejo. A inibição da respiração é uma forma de inibir toda a
emoção, ocorre em grande parte no tórax. (Fadiman, J., Frager, R, p. 97)
e) Anel diafragmático - este segmento inclui o diafragma, estômago, plexo solar, vários
órgãos internos e músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. (Fadiman, J., Frager,
R, p. 97)
Sem Wilhelm Reich, a Biodanza não teria a força que ela tem, porque uma das funções
da Biodanza, é precisamente a dissolução da couraça caracterológica, para que a
identidade humana se revele. “Se não se fizer esse trabalho, a pessoa pode fazer Biodanza
20 anos, e não mudar nada, a não ser aprender a dançar e a abraçar, daí a importância de
aprofundar o conhecimento de Reich”. (António Sarpe, Formação online “De Reich a
Toro”, 2020)
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Voz e Expressão em Biodanza
A Biodanza está na minha vida, como uma prática regular, há mais de 20 anos, e foi
preciso tornar-me facilitadora para reconhecer os diferentes de níveis de neurose de que
fui tomando consciência ao longo dos últimos anos. Uma das razões que me levaram a
ficar na Biodanza, foi apenas, porque não era necessário falar, apenas dançar, que foi
sempre o que mais gostei de fazer na vida. A dança, desde que me lembro, era a única
coisa que me fazia transcender. Chegava atrasada à partilha vivencial, para não me sentir
“obrigada” a usar a palavra.
Como professora que fui, durante grande parte da minha vida, estava cansada das teorias
muito bonitas, mas, que na prática, não eram operacionalizadas, por diferentes razões,
então, a teoria era uma coisa que sempre “rejeitei”. Só a vivência era importante. Só
quando fiz a Escola de Biodanza, e depois, já como facilitadora, me comecei a apaixonar
pela teoria, ao tomar consciência dos efeitos dos diferentes exercícios, a entendê-los, a
perceber os “truques de magia”.
Tem sido um processo longo, até tomar consciência do efeito dos diferentes exercícios, e
progressivamente, a desmanchar a minha forte armadura, mas, a pouco e pouco, me fui
sentido mais inteira, a funcionar como uma unidade, em que a mente e corpo, funcionam
como um só. E só a partir desse momento a voz começou a fluir, e eu, comecei a sair da
minha frente. E isso, não quer dizer, que deixei de sair completamente da minha frente,
apenas o faço mais vezes. O meio em que vivo, esta sociedade, continua a convidar-me a
usar os mecanismos de defesa que criei para me proteger desde criança, mas agora, olho
para eles como algo que me foi necessário por uma questão de sobrevivência, para
protegerem a criança sensível e frágil dentro de mim.
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Voz e Expressão em Biodanza
Posso dizer, que neste momento, já consigo ter o impulso para expressar o que sinto, o
que sou, expressar as minhas ideias, e não me importar com as possíveis críticas dos
outros. Deixei de me sentir no meio da fogueira, a sentir o olhar crítico ou vazio dos que
estão à minha volta. Já consigo usar a voz, já consigo usar a palavra com sentido, sem a
exigência da “perfeição”, de dizer o que eu achava que os outros quereriam ouvir. Posso
dizer que a neurose é apenas menor.
Segundo Wilhelm Reich, as tensões crónicas servem para bloquear o fluxo de energia
subjacentes às emoções mais intensas. A couraça impede que o individuo experiencie
emoções mais intensas. A couraça impede que o indivíduo experiencie emoções mais
fortes, e, portanto, limita e distorce a expressão dos sentimentos.
Reich opunha-se a qualquer separação do intelecto e corpo. Ele afirmava que o intelecto
é na verdade, uma função biológica, e que ele pode ter uma carga afetiva tão forte quanto
qualquer emoção (Reich 1949)
Para Reich, a linguagem falada opera como um mecanismo de defesa: ela obscurece a
linguagem expressiva do núcleo biológico. Em muitos casos, isto vai tão longe que as
palavras já não expressam nada e a linguagem falada já não é nada mais do que uma
atividade sem sentido dos respetivos músculos (Reich 1949).
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Voz e Expressão em Biodanza
1.5.2.1. Segmentares
a) Segmentar de Pescoço
Lembro-me muito bem de situações em que usei todos esses olhares, e também me lembro
que nessa altura, não sabia que era assim. Também me lembro dos olhares dos outros que
me olhavam, exatamente da mesma forma, e o que mais afetava era mesmo o não olhar,
a indiferença, o não reconhecimento da minha identidade. Aprendi que são apenas
mecanismos de defesa, apenas o que cada um consegue fazer, porque as suas histórias
pessoais assim o exigiam, uma forma de se protegerem. Reconhecer isso em mim, ajuda-
me a aceitar o outro como consegue ser.
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Voz e Expressão em Biodanza
direção apenas, estimular o nervo vago (sistema nervoso parassimpático) para induzir um
estado de semitranse. Vivência de união entre mente e corpo.
Segundo Alexander Lowen, “A voz é uma das principais vias de autoexpressão e sua
qualidade reflete a riqueza e ressonância do ser interior. Quando a voz da pessoa é
limitada por causa de tensões no pescoço e na garganta, sua autoexpressão está restrita e
seu ser, reduzido.”
b) Segmentar de ombros
De olhos fechados, maxilar relaxado, pescoço solto, e o movimento circular da frente para
trás dos ombros, já com um convite para abrir o peito. Um convite à liberdade, a dissolver
tensões que nos fazem sentir ter o mundo às costas, deixar de personificar Atlas (figura
da mitologia grega, conhecido com o globo às costas), e dissolver também os músculos
dorsais, dissolver as tensões provocada por mecanismos de defesa e do sentimento de
opressão.
d) Segmentar de cintura
O segmentar de cintura ou junco, o seu nome poético, fazendo lembrar um junco flexível,
movimento em unidade. É esse o objetivo, integrar a parte superior do corpo com a parte
inferior, para recuperar a unidade do indivíduo frequentemente dissociado ao nível da
cintura, e que envolve um músculo muito importante, o diafragma. Esta dissociação é
típica de neuroses histérica e obsessiva, as quais são consequência da repressão sexual.
Resultado de uma sociedade em que existe uma separação do sagrado e profano.
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Voz e Expressão em Biodanza
e) Segmentar de pélvis
B - Segmentares compostos
Como por exemplo, a “fonação, não pode ser compreendida ou tratada se pensarmos a
boca, a faringe e a laringe, dissociadas entre si. A integração destas áreas é condição
imprescindível para o funcionamento normal desta atividade expressiva.” (Ricardo Rego,
in “Revista Reichiana”, 1993)
Outra função vital, “a respiração não se restringe aos anéis torácico e diafragmático.
Músculos cervicais podem agir na inspiração profunda e na manutenção de um tórax
cronicamente inspirado. Músculos do anel abdominal também têm influência no processo
respiratório, principalmente na expiração. Assim, sendo, a respiração envolve músculos
de pelo menos quatro anéis, e mesmo que haja uma diferenciação entre o bloqueio
torácico e o bloqueio diafragmático, fica difícil separar influência dos músculos cervicais
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Voz e Expressão em Biodanza
sobre o tórax, e a dos músculos abdominais sobre a ação do diafragma.” (Ricardo Rego,
in “Revista Reichiana”, 1993)
Assim, pode-se dizer que as diferentes regiões do corpo humano não são independentes,
mas sim profundamente relacionadas e interligadas.
Todos os exercícios em Biodanza são importantes para que a voz se expresse natural,
livre, espontânea, porque só um corpo livre pode expressar a identidade, em que a voz, a
palavra, se expressa inteira, com sentido, poética, única em cada ser humano. Tem sido a
Biodanza a dar-me todas essas oportunidades, de me sentir cada vez mais inteira, mais
autêntica, e que me tem permitido entrar em contato com a coragem de soltar a voz, e
permitir que a poesia em mim se expresse através das palavras.
A origem da linguagem entre os humanos tem sido tema de discussões académicas desde
séculos, não se conhecendo muito a sua origem ou a idade da linguagem humana.
As abordagens para a origem da linguagem humana, podem ser divididas de acordo com
os seus critérios subjacentes.
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Voz e Expressão em Biodanza
No século XIX, em 1861, Charles Darwin escreveu “Não posso duvidar que a linguagem
deva a sua origem à imitação e modificação, com apoio de sinais e gestos, de vários sons
naturais e instintivos do próprio homem”. No mesmo ano, Max Muller publicou uma lista
especulativa de teorias referentes às origens da linguagem verbal:
3 – Teoria Ding-dong – todas as coisas têm uma ressonância de vibração natural, as quais
ecoaram de alguma forma via homem nas sua primeiras palavras.
5 – Teroria Ta-ta – as palavras terão surgido por movimentos da língua que imitavam
gestos manuais, tornando-se audíveis.
- A “língua das mães” (Fitch, 2004), que sugere que inicialmente eram língua maternas
para comunicação com os filhos biológicos, e depois alargada aos membros adultos da
família. A confiança e cooperação entre os membros da família teria levado à confiança
nos sinais, a palavra.
- A “Teoria do bebé” (Dean Falk, 2009), em que a palavra terá surgido pela necessidade
de acalentar o bebé, através de interações vocais entre mães e recém-nascidos. Nos
humanos, ao contrário dos símios, os recém-nascidos não tinham forma de se agarrar por
falta de pelagem, enquanto as mães desenvolviam as suas atividades, então colocavam os
bebés no solo, e para que se sentissem seguros, não abandonados, terão desenvolvido uma
“linguagem para bebés” – um sistema de comunicação que incluía expressões faciais,
linguagem corporal, toques, risos, carícias, cócegas, e outras formas de contato
igualmente expressivas.
A vida social e linguagem, fenómenos imateriais, não deixa fósseis, o que se torna
impossível uma reconstrução do que terá acontecido, de como terá surgido a linguagem
humana, existem apenas diferentes teorias que tentam explicar o seu aparecimento.
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Voz e Expressão em Biodanza
No entanto, sabe-se com base em registos fósseis, que há 3,5 milhões de anos havia
primatas bípedes que, como nós, tinham um caminhar ereto e possuíam ombros. Mas eles
tinham um cérebro muito menor (aproximadamente um terço de cérebro humano atual).
Sabe-se também que esses primatas viviam em grupos pequenos, como famílias
constituídas de dez a doze indivíduos, que incluíam bebés, crianças e adultos (Maturana,
2002).
Segundo Maturana e Varela, é possível dizer que as mudanças dos hominídeos primitivos,
que proporcionaram o aparecimento da linguagem, estão relacionados com coleta e a
partilha da sua história de animais sociais e de relações interpessoais afetivos estreitas,
associadas ao colher e ao de compartilhar alimentos. Neles coexistem atividades
aparentemente contraditórias, como fazer parte integral de um grupo coeso e, ao mesmo
tempo, afastar-se por períodos mais ou menos longos para colher alimentos e caçar.
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Voz e Expressão em Biodanza
CÂNTICO NEGRO
José Régio
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Voz e Expressão em Biodanza
O meu elevado grau de “normose”, cumprindo todas as normas sociais, não porque
concordasse com elas, mas, o medo das sanções, das consequências, era grande. Claro
que havia aquelas que considerava úteis, mas… a rebeldia interna era enorme.
Rebelde e contestatária em silêncio, de tal forma que o ego não deixava entrar nada, tudo
o que era exterior a mim, era ameaçador.
Foi assim, também, com o conhecimento, tirando os autores que escreviam sobre
aventura, mistério, romance… que “devorava”, todos os outros, que escreviam ensaios,
filosofia, poesia… esses, eram muito sérios e complicados.
Precisava dos autores que me ajudassem a sonhar, viajar, e que me afastassem o mais
possível da realidade, aquela em que a expressão do amor não se manifestava.
Além da dança, a minha outra grande paixão, eram as viagens. Viagens a locais
longínquos, culturas completamente diferentes, locais onde podia sentir as origens
civilizacionais.
A viagens despertaram em mim a paixão pela antropologia, entre muitas mais coisas,
como por exemplo, o respeito pela diversidade. Nesses locais, vivenciava a energia
deixada pelos antepassados, deixada nas pedras, nos monumentos, nos cheiros, nas
comidas, nas gentes… Não era o conhecimento da história, mas a sua vivência, ser
transportada para esses tempos longínquos, e entender, sentir… Só depois de regressar a
casa, os livros me “caíam” nos braços, e lia, e lia, e tudo fazia sentido, a vivência a ganhar
forma, o conhecimento a passar a ser um bocadinho parte de mim.
Parece que, o meu caminho tem sido, quase sempre, da emoção à razão, pelo menos nas
coisas importantes.
Aconteceu o mesmo na minha viagem pela Biodanza, primeiro a vivência, e só mais tarde,
a necessidade do conhecimento.
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Voz e Expressão em Biodanza
E, a aventura, apenas agora começou, e isso, faz-me sonhar, até onde poderei ir?
Insatisfeita com o que me diziam, de que o uso da voz, principalmente, da palavra, não
era uma coisa para todos, só os inteligentes tinham esse dom, fazia-me sentir excluída.
E foi a Biodanza, o caminho para ir descobrindo a verdade. Afinal, trata-se apenas de uma
questão de forma.
Todo o processo de escrita desta monografia, tem-me permitido afastar das crenças sobre
a voz. Afinal, ela é um potencial genético, e se eu me permitir dissolver as rígidas
couraças que criei para me proteger, a expressão da voz, da palavra, também se tornará
algo natural em mim.
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Voz e Expressão em Biodanza
A Biodanza, teve o seu embrião no sonho de Rolando Toro, quando escreveu à sua
mulher, a contar-lhe que gostaria de encontrar uma forma de despertar a musicalidade nas
crianças, as crianças que ensinava na altura, como professor primário.
Mais tarde tornou-se psicólogo e iniciou as suas primeiras experiências usando a dança e
o encontro humano, primeiro com pacientes psiquiátricos, e depois alargando as suas
experimentações a outras pessoas.
Dessas primeiras experiências, nasceu a base do modelo teórico operacional que hoje dá
suporte à Biodanza.
Ao longo dos anos, o Modelo Teórico foi-se ampliando, aproximando-se cada vez mais
da realidade, e foi ganhando consistência com os inúmeros contributos de diversas
ciências: psicologia, antropologia, mitologia, biologia, filosofia, fisiologia… e a poesia,
que uniu todo o conhecimento, num grande poema, e que pode ser vivenciado por todos,
desde as crianças de tenra idade até aos mais idosos.
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Voz e Expressão em Biodanza
GENESIS
Rolando Toro
A MÚSICA
“O universo pode ser percebido como uma sinfonia. Um conjunto de partículas que se
movem formando circuitos atómicos, vórtices infinitesimais ou galáxias e sóis em
movimento. Um orologium de ritmos infinitos, ou, ainda, um magno organismo que se
transforma.” (Rolando Toro, 2002)
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Voz e Expressão em Biodanza
Uma sessão de Biodanza obedece a uma curva orgânica, em que no início da sessão se
propõe o ritmo, músicas que induzem um movimento rítmico, promovendo um impulso
vertical de ação, criando condições fisiológicas, ativando o sistema nervoso simpático,
no sentido de uma expressão máxima, até um limite orgânico, a partir do qual, o corpo
precisa de oxigénio, ar, de harmonização. E nessa altura é o momento de ir diminuindo o
impulso rítmico, usando a melodia, músicas que ativam o sistema nervoso
parassimpático, num movimento melódico, como movimento horizontal fluido, e que cria
união e harmoniza a respiração. A melodia cria o vínculo, a união, a continuidade,
enquanto o ritmo dá o limite. E no final, as músicas propostas são mais rítmicas, com um
rimo idêntico, às músicas com que se iniciou a sessão. A progressividade em toda a sessão
é importante, tanto na fase de ativação como na regressão para manter o efeito
harmonizador.
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Voz e Expressão em Biodanza
O MOVIMENTO
“Os movimentos naturais do ser humano (caminhar, saltar, espreguiçar-se, etc.), os gestos
ligados aos “costumes sociais” (dar a mão, abraçar, embalar, acariciar…) e os gestos
arquetípicos constituem os modelos naturais em que se baseiam os exercícios de
Biodanza. Tais gestos e movimentos, se realizados com uma música que intensifique a
cenestesia estimulada pelas categorias motoras em ação, tornam-se danças, dentro da
conceção original da dança como movimento de vida.” (Rolando Toro, 2002)
Góis (2002) refere que a dança é o movimento do ser visível, estético e expressivo, capaz
de autonomia e vinculação. Cada gesto, cada expressão, revela a vida sucedendo como
singularidade. Olhar e ser olhado, abraçar e ser abraçado, acariciar e ser acariciado,
caminhar, saltar, correr, deitar-se no chão, mover-se com potência e suavidade,
aproximar-se e afastar-se, todos eles vêm de muito longe e é necessário mantê-los
presentes em nossa vida.
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Voz e Expressão em Biodanza
O CANTO
O canto faz parte integrante do conceito de Biodanza, mas com a expansão da Biodanza
para a Europa e depois para todo o mundo, a palavra CANTO foi desaparecendo do
conceito. Muitas vezes li o conceito, sem alusão ao canto, e eu, inclusive, apesar de o
manter, deixei de o referir, apenas porque não me sentia à vontade para falar sobre o
assunto, quanto mais, propor exercícios em que estivesse presente.
Essa dificuldade de propor o Canto, terá levado Rolando Toro a retirar do programa único
de formação, o tema “Semântica Musical II”, em que se trabalhava em profundidade “Os
Sons da Natureza e a Voz Humana”, e que deu origem, mais tarde, à extensão de “Voz e
Biodanza”.
O canto em Biodanza pode promover vivências muito profundas, pois a voz tem um
carater muito regressivo, potenciando a perceção de um sentir de si mesmo muito
diferente.
O que pode ser assustador para a maioria das pessoas, pois a expressão da identidade
através da voz, é altamente desafiante, o que pode levar as pessoas a se condicionarem
ainda mais.
O GRUPO
O grupo em Biodanza tem a função de ser um gerador de vida, e como afirma Rolando
Toro, “a identidade só se revela na presença do outro”. É no grupo que isso é possível, a
expressão da Voz a acontecer nesse “caldeirão mágico”, que é o grupo, onde a música
interna soa e ressoa, conjuntamente com todos, dando lugar a uma ordem: vital, prazerosa,
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Voz e Expressão em Biodanza
afetiva, criativa, harmoniosa. A Voz em Biodanza depende da resposta que o grupo vai
dando aos estímulos que lhe são propostos pelo facilitador (Sérgio Cruz, 2013).
Na sua dimensão cósmica, o ser humano tem a sua origem no “silêncio”. Trazemos do
cosmos o “silêncio”, que permite a escuta de mim e do outro na sua totalidade.
Num passeio à beira-mar, escuto o silêncio, ou seja, escuto o som das ondas a bater nos
rochedos com ferocidade, ou então, quando acariciam a areia dourada; escuto as crianças
que gritam nas suas brincadeiras; escuto uma gaivota que com o seu grito, me chama para
voar com ela. Nesses momentos, faço parte do cosmos.
O primeiro passo, foi a criação do eixo horizontal que pulsa num continuum entre dois
polos, identidade e regressão.
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Voz e Expressão em Biodanza
Posso afirmar que sou uma dessas pessoas, tardiamente a descobrir a Voz como potencial,
e a poder expressá-la, numa continuidade da expressão em cada linha de vivência.
Segundo Rolando Toro, as vivências têm origem numa “vivência oceânica” muito antiga,
e que após o nascimento da criança, essas vivências ocorrem nos primeiros seis meses de
vida, antes do aparecimento da linguagem infantil, e são designadas de protovivências.
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Voz e Expressão em Biodanza
Segundo Rolando Toro, as linhas de vivência são os canais por onde deverá circular a
programação biológica nas suas expressões vivenciais. A elaboração desses impulsos
genéticos resulta em funções cada vez mais diferenciadas, tais como emoções e os
sentimentos, em que, a Voz e a palavra emocionada estão presentes.
- Linha da vitalidade
- Linha da sexualidade
- Linha da criatividade
“Emitir sons, olhar para um lado e para outro, pegar coisas, mover-se por todas as partes,
colocar coisas na boca, sorrir, chorar, são manifestações de uma criança que se expressa
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Voz e Expressão em Biodanza
- Linha da afetividade
A criança leva um longo tempo para amadurecer e alcançar as condições adequadas à sua
autonomia, para defender-se e buscar o próprio alimento, significando isso, uma grande
dependência vital e emocional em relação aos pais ou outros adultos significativos para
ela… a afetividade humana, ou a vivência da afetividade, surge da satisfação das
necessidades mais primárias, para se transformar em expressão humana de carinho,
ternura, amizade, intimidade com o outro, proteção e solidariedade.” (Góis, 2002)
- Linha da transcendência
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Voz e Expressão em Biodanza
Segundo Sérgio Cruz (2013), “Em termos de movimento, a música poderia ser dividida
(didaticamente) em movimento vertical, horizontal e sinuoso. O ritmo trabalha ao nível
da integração rítmico-motora, a melodia trabalha em nível de integração sensitivo motora.
O aspeto afetivo-motor se dá no momento em que o ritmo e a melodia, juntos e
equilibrados, percorrem um movimento rítmico cadenciado, criando um movimento
originário-sinuoso.
Para Sérgio Cruz, esta metodologia, serve para a aplicação da música em Biodanza, assim
como, para o trabalho com a voz, ou seja, deve acontecer a mesma dinâmica:
rítmica/melódica e as diferentes tonalidades do grave ao agudo.
Nas cinco Linhas de Vivência, as músicas utilizadas podem ter adjetivos que promovem,
tanto a expressão através do gesto, como da Voz, dando-lhe tonalidades, de acordo com
as características humanas únicas em cada ser humano. Assim, como por exemplo, na
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Voz e Expressão em Biodanza
A Voz humana tem características idênticas às do som, ela tem intensidade, ou seja, pode
ser fraca ou forte, ela tem altura, ou seja, a frequência pode ser rápida ou alta, tem timbre,
a vibração única de cada ser humano, e tem humor, ou seja, ela pode ser: nervosa,
zangada, espontânea, poética, calma, doce… podendo assumir a maior parte dos adjetivos
atribuídos às músicas.
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Voz e Expressão em Biodanza
Como Rolando Toro afirmou, “a inibição da função repressiva do córtex cerebral sobre a
região límbico-hipotalâmica, permite a libertação da mesma, a expansão dos instintos e a
regulação orgânica.”
Por seu lado, o Homo Sapiens vivia em comunidades com mais de 1000 elementos, o que
terá levado ao desenvolvimento da necessidade de proteção por questões de
sobrevivência. Fazer parte de grupos maiores terá levado o Homo Sapiens a interagir
mais, o que torna o cérebro mais ativo e exige o desenvolvimento da linguagem, pela
necessidade de fazer acordos, construir juntos, desenvolver-se juntos. Terá sido através
da comunicação que o Homo Sapiens terá desenvolvido a linguagem verbal, o que,
aumentava a expectativa de vida dos componentes do grupo, e a sua sobrevivência.
Todos os animais comunicam entre si, através de sons, mas só a espécie Sapiens,
desenvolveu a linguagem através do desenvolvimento cognitivo, sendo o único que detém
a Palavra.
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Voz e Expressão em Biodanza
usando sons e palavras que expressavam coisas diferentes do que o corpo estava a
manifestar.
A Biodanza apresenta-se como um sistema que propõe a unir todas as partes, resgatando
a emoção pela vivência integradora, e em vez de se dizer “eu tenho um corpo”, poder
dizer ”eu sou um corpo”, em que a voz é parte integrante.
Como diz Sérgio Cruz (2012), “O trabalho de integração e liberação da voz em Biodanza
é de importância fundamental: eu o chamo de “movimento vocal”, ou “dança da voz”. Na
proposta integrativa da Biodanza, a voz não pode ser isolada do movimento integrado, da
dança, em que os segmentos pélvico, abdominal, diafragmático, peitoral, cervical e oral
fluem integrados e livres, estendendo-se por ressonância aos braços, mãos, pernas e pés.
O comprometimento com a emoção e com a expressão deve ser total.”
Propor exercícios de voz não é fácil, pois as vivências podem ser muito profundas, levar
a estados de regressão muito profundos, porque não se trata apenas da minha voz, mas
também a ressonância com as vozes dos outros, e isso cria um campo, que muitos
facilitadores, não estariam preparados para lidar com.
Estou apenas no princípio, mas muito entusiasmada, pois o feedback dos alunos tem-me
permitido ganhar mais confiança e ir avançando progressivamente.
Mas, para me iniciar neste tipo de propostas, precisei de anos de vivências, de sentir como
o silêncio é importante, a escuta de mim própria, a escuta do outro, a capacidade de
“desativar” o pensamento lógico, de “desativar” os mecanismos de defesa, e assim, criar
a permissão para que o som se manifestasse, primeiro o som da respiração, suspiros, sons
onomatopaicos, a voz a manifestar-se, um caminho para chegar à palavra emocionada.
Todo o meu processo na Biodanza tem sido de extrema importância para a forma como
me sinto agora.
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Voz e Expressão em Biodanza
“Através da voz, como um som musical ou como uma dança sonora, ou seja, através do
CANTO conseguimos chegar à “vivência”, que é uma vibração de cura, uma pulsação
que penetra e é envolvente e ao mesmo tempo, dissolvente.
O CANTO e a VOZ na Biodanza são movimentos vitais, pura emoção.” (Sérgio Cruz,
2012)
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Voz e Expressão em Biodanza
ser humano desligado dos seus instintos, das suas emoções, em que a voz com sentido
deixou de se manifestar. O ego a controlar tudo o que é natural, instintivo, a “impor a sua
vontade”.
E como refere Sérgio Cruz (2012) … crianças menores de três anos… nelas a Voz é a
total expressão e comunicação, unida ao movimento, aos gritos, ao choro, aos diálogos
pré-verbais, aos sons onomatopaicos. Reconstroem, por assim dizer, a história do ser
humano, no sentido de que as crianças de hoje aprendem a comunicar-se e a relacionar-
se com o outro, com o mundo e com outros seres vivos, desenvolvendo em três ou quatro
anos apenas, o caminho evolutivo que a humanidade fez em milénios.
A Biodanza é um sistema que propõe voltar a fazer esse caminho, utilizando todos os seus
instrumentos e poderes, um caminho de retorno às sensações da criança, e assim poder
resgatar o ser, num processo em que a voz também é resgatada e ao mesmo tempo, usada
para resgatar.
O único cuidado a ter, é fazê-lo de uma forma muito progressiva, começar só quando o
grupo tiver uma matriz estável, em que a afetividade, o vínculo entre os participantes
esteja presente. “A única garantia que se tem ao nível metodológico é a progressividade.”
De todo este processo, posso dizer, que se tem tornado cada vez mais fácil expressar-me
de todas as formas, e em que a voz começa a fazer parte integrante, assim como a voz
falada.
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Voz e Expressão em Biodanza
E porque ainda não existem muitos trabalhos sobre este tema, inspirei-me essencialmente
em Sérgio Cruz, no seu magnífico trabalho com a voz, e também, em algumas
monografias.
Começo por apresentar alguns exercícios, os que estão presentes no catálogo oficial, e
também, alguns outros, apresentados por Sérgio Cruz. (“Revista Pensamento
Biocêntrico”, Pelotas, nº19/2013).
Os seguintes exercícios são executados, sem a indução vivencial de uma música externa,
apenas utilizando a voz, o canto, a fala ou o silêncio (tanto em sala como na natureza):
1 - Coros Rítmicos
O ritmo cresce progressivamente e deve adquirir uma unidade sonora, uma polifonia
sonora, conservando até ao final a mesma matriz rítmica.
Convidam-se os participantes, em roda, que emitam suavemente o som da letra “A”, com
a expiração, de maneira que a voz tenha origem no ventre e não na garganta. Cria-se assim
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Voz e Expressão em Biodanza
uma monofonia que, lentamente, se torna uma polifonia devido às variações de tonalidade
do som de cada um, gerando um coro polifónico. Os olhos devem permanecer fechados.
Este exercício é inspirado nas cerimônias tibetanas. A metáfora poética “cana divina”
alude ao bambu que soa pelo efeito do vento. Não são as canas que soam, mas “alguma
coisa que soa dentro delas”, o AR. Com isso se quer sublinhar a falta de intencionalidade
na emissão da voz. Para os tibetanos “alguma coisa” é a divindade. Em Biodanza é
somente uma metáfora da harmonia cósmica. O objetivo é induzir o estado de transe e de
regressão ao primordial, com a diminuição da perceção do próprio limite corporal, o que
facilita a vivência de fusão com o grupo e com o universo.
Uma outra forma deste coro, consiste em cantar a letra “A” a partir de uma roda onde dois
participantes soltam as mãos, e um deles começa a girar muito lentamente sobre si
mesmo, segurando a mão do companheiro de um só lado, levando ao enrolamento de todo
o grupo numa espiral. Forma-se assim um grupo compacto, que permanece enrolado sem
deslocamento. A formação da espiral tende a acentuar o efeito de transe induzido pelo
exercício.
Uma terceira forma deste coro, pode ser, a partir da primeira forma em que os
participantes estão em roda e emitem o som da palavra ”A”, procurando harmonizar o
volume sem que ninguém domine com a sua própria voz, a dos outros. O som deve ser
profundo e visceral e não deve vir da garganta.
Quando o grupo estiver harmonizado, um dos participantes entra no círculo com os olhos
fechados, e deixar emergir o seu próprio canto, enquanto as outras mantêm uma base
constante. Quando termina, permanece alguns instantes em silêncio e volta para a roda.
Outro participante, ocupa o seu lugar e o processo se reinicia.
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Voz e Expressão em Biodanza
O aluno vai ao centro da roda e, em profunda conexão consigo mesmo, começa a cantar
o próprio nome (diversas vezes), com grande emoção, e procurando ouvir a ressonância
interior da palavra que representa o seu nome/identidade. Este exercício reforça a própria
identidade podendo conduzir ao íntase (estado de consciência intensificada de si mesmo
e de estar vivo.
O grupo forma uma roda de mãos dadas bem fechada, em contato ombro com ombro. Um
voluntário vai ao centro da roda, escolhe um companheiro, ao qual vai cantar o nome,
colocando-se à sua frente, mantendo-se no centro da roda.
7 - Diálogo de Vozes
Um em frente do outro, separados a uma distância média, um por vez, faz uma breve
emissão de voz, que pode constituir uma pequeníssima frase melódica. A tal emissão de
voz, o outro deve responder com total coerência, não a partir do seu ego, mas de
preferência buscando escutar aquilo que o outro diz com sua voz, para perceber dentro de
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Voz e Expressão em Biodanza
si uma resposta harmónica e coerente, que também constitua uma breve frase melódica.
Concomitantemente, cada um começa a caminhar lentamente na direção da voz do outro.
Quando os dois participantes ficam próximos, o exercício é concluído, e troca-se um
abraço.
8 - Poesia-Canção
9 - Poesia-Canção-Dança
Neste exercício são integradas três formas de expressão criativa: a poesia, o canto e a
dança. O participante deve escrever uma poesia utilizando o exercício da Linha da
Criatividade chamado “O poema és tu”. A seguir, cria uma melodia com base na poesia
criada (não há necessidade de usar toda a poesia, mas apenas uma frase cheia de beleza e
significado). Numa terceira fase, o participante dança cantando a poesia que escreveu. É
necessário treinar repetidas vezes até atingir a perfeita integração dos três componentes.
10 - O Poema és tu
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Voz e Expressão em Biodanza
Este exercício tem como objetivo desenvolver a linguagem afetiva e poética, assim como
a capacidade de exaltar a presença do outro.
O exercício faz-se sem música, mas a sua preparação, será com música, e, na conclusão,
será usada a mesma música para indicar o marco inicial da conexão e intimidade e o
marco final do tempo do ritual.
11 - Dança Interior
A "Dança interior" é realizada sem música, dando assim prioridade à conexão profunda
consigo mesmo, a partir dos movimentos cenestésicos induzidos pela escuta profunda de
si mesmo. É uma dança de grande intimidade com características muito pessoais, tanto
na forma como na vivência. Os movimentos são muito lentos e de profunda escuta de si
mesmo. A perceção interna e a profunda conexão com a própria intimidade induzem, na
esfera do silêncio, a perceção da musicalidade e do som interno. Através da redução dos
movimentos voluntários e dos gestos expressivos intencionais, são acentuados os
movimentos cenestésicos que possibilitam o nascimento de uma dança interior. Quando
este exercício é realizado na natureza, a resposta interna é muito maior, já que será
acentuada pela estimulação sensorial e sonora que vem do meio ambiente. No exercício
“Biodanza e Voz” podemos perceber que, pelo fluxo respiratório de cada um, pelo próprio
alento vital e na escuta sensível e silenciosa, experimentamos a vivência intensa e
transcendente do “alento de vida” em todos os seus matizes e possibilidades sonoras.
Uma pessoa recebe, em posição deitada, um banho de som sobre todo seu corpo. O som
é a emissão visceral e o alento de cinco (ou sete) de seus companheiros. Estas pessoas se
conectam com sua capacidade de dar e transformam a sua expressão afetiva em expressão
vocal visceral. A voz é uma vibração, esta vibração leva a intenção real das pessoas e
"envolve" totalmente a pessoa que, num estado de abandono que facilita o transe, se torna
"permeável" e absorve a vibração. Cria-se gradualmente uma harmonia entre todos, e a
perceção da vibração de harmonia tem um efeito harmonizador a um nível orgânico muito
profundo. No final da cerimónia, a pessoa recebe um toque de continente em todo o corpo
e, a seguir, é recebida, sentada, em abraços alternados que lhe dão cada vez mais
identidade. O objetivo é o de induzir um estado de transe profundo por meio da vibração
das vozes sobre o corpo.
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Voz e Expressão em Biodanza
a) Em fase de ativação
1 – Assessita Hum;
2 – Corpo sonoro a dois (jogo ativo/lúdico);
3 – Dança do tigre com liberação do grito;
4 – Dança yang com grito;
5 – Dança yang com grito e deslocamento;
6 – Tocar sons rítmicos (em roda ou a dois);
7 – Grito do gorila;
8 – Grito de identidade;
9 – Salto sinérgico com grito (dois grupos que se confrontam no centro);
10 – Samba, Cananda, Camina, Bumba.
b) Em fase de regressão ou em fase de harmonização
11 – Batismo de luz com canto a três, quatro ou cinco;
12 – Cantando ao sol (na natureza);
13 – Canto à lua (na natureza);
14 – Cantando com a natureza (plantas, árvores, chuva, etc.);
15 – Acariciamento do cabelo a dois (no chão);
16 – Corpo sonoro a dois (em fase regressiva sensível e bem lenta, de forma não
lúdica);
17 – Dança livre e fluida com voz;
18 – Dar e receber continente com canto (dar colo a dois – no chão);
19 – Dar feedback positivo para o outro (acariciar com palavras qualificadoras e
gentis);
20 – Eutonia de dedos a dois com voz;
21 – Grupo de fluidez com canto e carícias;
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Voz e Expressão em Biodanza
Lembro-me das primeiras vezes em que fui convidada a soltar a voz, o primeiro grito,
uma dança yang com grito, e na primeira vez, o som era agudo, saído da garganta, ainda
com o medo de ser ouvido, mas, à medida que a dança ia acontecendo todas as semanas,
a respiração mais profunda, a vida a acontecer dentro de mim, as vezes que repeti o grito,
era sempre diferente, um som cada vez mais grave, até sentir o som a sair bem lá das
profundezas, de dentro de mim com toda a sua potência.
Depois, o grito de identidade, o assumir o meu nome com todo o meu ser, um momento
completamente transformador, a sensação de unidade potente; a sensação de ser, de
pertencer, de existir perante o outro, ao escutar o chamar do meu nome, ou então o escutar
“tu existes!”; as palavras qualificadoras, recebidas numa pequena roda ou num túnel de
carícias, e ficar com a sensação de que tudo é perfeito, dentro e fora de mim; o sopro
sobre o corpo, o som do ar, a sua vibração, a funcionar como alento de vida.
Lembro-me do medo de a voz, não sair doce, harmoniosa, ao cantar o nome do outro… e
depois, começar a sentir que a melodia também faz parte de mim, e a sensibilidade uma
força transformadora.
Depois, outras propostas ainda mais desafiantes, como o uivo do lobo, como um grito de
conexão com o primordial, e também juntar esse uivo com outros uivos, a sensação de
fazer parte de algo maior, de fazer parte de uma comunidade. Um uivo que me deu a
coragem para me expressar através da palavra num discurso coordenado em que as
palavras brotavam com sentido, sem eu saber de onde vinham, palavras que se
transformavam num canto, numa dança.
Lembranças que me recordam as pequenas conquistas, e que me fazem sentir que tudo é
possível. E durante todos estes anos, desde 2009, que as palavras de Rolando continuam
a sussurrar-me ao ouvido “tu és uma grande bailarina”, que me inspiraram, que me deram
o impulso, para entrar na aventura de descobrir a minha identidade como facilitadora.
Estou apenas no início, num processo que acontece em ciclos, ciclos que se fecham, e
outros que se abrem, num continuum.
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Voz e Expressão em Biodanza
Ao reconhecer-me ruído
amei o silêncio
No seu toque encontrei
a música adormecida
Logo soube
que o adormecido era eu
e que esta partitura
habitava minhas células
Agora toco
na orquestra vibrante da vida
pois fiz do meu corpo um instrumento
de corda, de vento e percussão
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Voz e Expressão em Biodanza
AS PALAVRAS
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Eugénio de Andrade
3.1. A Palavra
Quando comecei a ter coragem para usar a palavra, o grupo teve a máxima importância.
Sentir-me escutada, acolhida, aceite na minha condição, foi a possibilidade tornada
realidade. E à medida que ia praticando, a pouco e pouco, fui ganhando condição para
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Voz e Expressão em Biodanza
Depois, chegou o momento de precisar de usar da Palavra, de uma outra forma, já não
para falar de mim própria, mas para apresentar o método, informar das pautas, promover
vivências no grupo, o momento em que me tornei facilitadora ou professora de Biodanza.
Não tem sido um caminho fácil, mas o “Programa António Sarpe”, criado para fornecer
aos facilitadores os recursos, para que, proponham aulas, como um processo estruturado
de aprofundamento dos diferentes níveis de integração, e com as supervisões,
magistralmente orientadas, que me ensinaram como aplicar o método, foram as
ferramentas, que me permitiram trilhar um caminho, em que fui ganhando a confiança de
que precisava.
Então, poder tornar-me jardineira, segundo o conceito deixado por Carl Rogers, aquela
que tem a função de criar um terreno fértil, no qual a semente, com todo o seu potencial
latente possa germinar e crescer, mudou a minha vida completamente.
Ou então, como refere Jean Yves-Leloup, in “Normose”, “Se formos bons jardineiros,
não vamos puxar a planta para que ela possa brotar mais rápido… Uma árvore saudável
não é apenas aquela que expõe seus galhos à luz, se ela não possuir raízes não ficará de
pé.”
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Voz e Expressão em Biodanza
palavra que poderá ser a “prolepse da vivência” (José Neves), ou, as palavras que “abrem
as portas da emoção”. (Andrea Zattar)
O POETA
Nasce timidamente
em voo raso
vivenciando
a inocência adormecida
de dançar com as Palavras
Cezar Wagner
3.2. A Consigna
Segundo Rolando Toro (2002), a qualidade das vivências depende em grande parte das
consignas dadas pelo Facilitador na apresentação da sessão de Biodanza.
A consigna é uma explicação breve que o Facilitador dá ao grupo sobre a dança que se
vai realizar, e consta de quatro elementos, que são os seguintes:
1 – O nome da dança;
4 – A importância dessa dança como fonte de vivência, bem como a sua projeção
existencial.
Como diz Rolando Toro, “uma evolução progressiva para a saúde configura um estilo e
um “sentido” de trabalho que dá tempo ao aluno para assumir suas próprias mudanças…
Não podemos quebrar as defesas, que um indivíduo elaborou através de anos, porque
corremos o risco de deixá-lo sem continente para sua identidade e pôr gravemente em
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Voz e Expressão em Biodanza
A consigna, tem um papel muito importante em todo o processo dos alunos, porque dá
permissão racional para a entrega, e potencia o processo de integração afetivo-motor.
Uma consigna, não pode ser apenas uma explicação de como fazer o exercício, e que não
contem apenas conhecimento científico, ela para ser potencializadora da vivência, precisa
que as palavras sejam vivenciadas, precisam de ser poesia, precisam de dançar, e isso
acontece, quando o facilitador usa a razão e a emoção numa dança que é a “dança da voz”.
As palavras emocionadas que entusiasmam, que dão permissão, que são expressivas, que
são afetivas, porque o facilitador é tudo isso, porque consegue expressar o que está
integrado nele próprio. E quando isso acontece, se não existirem malformações no sistema
fonador, a boa dicção acontece, porque a respiração é profunda, com ritmo, com as pausas
necessárias, e assim, se projeta naturalmente. Com a emoção presente, a voz é colorida,
com variações rítmicas e melódicas, inspirando quem a escuta.
Mas, como diz Rolando Toro, o facilitador não é um super-herói, mas uma pessoa como
qualquer outra, buscando integração e desenvolvimento, e que deve possuir os seguintes
requisitos: afetividade profunda, vocação humanística, espírito aberto ao prazer de viver,
sinceridade e coragem; isto é, um facilitador afetivo, íntegro, poético e pleno de amor.
Através da linguagem poética poderá ocorrer uma síntese vital, criadora, que permite à
pessoa criar uma transmutação profunda.
Ou então, como diz Góis (2002), “A consigna… Esse convite se faz de maneira poética
e afetiva, ou lúdica, com informação filosófica e científica… O convite é feito com
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Voz e Expressão em Biodanza
A partilha vivencial inicia-se, de um modo geral, por uma breve apresentação teórica da
Biodanza, não mais do que 10 ou 15 minutos, em que a função é a de contextualizar
teoricamente, as danças em cada sessão, e também, de informar sobre as pautas de
convivência, de maneira que o processo dos participantes no grupo se faça em harmonia.
A clareza na comunicação e a colocação de limites fazem parte da criação de ecofatores
necessários para que cada um se sinta em segurança.
Segundo Sérgio Cruz, “… a Voz como linguagem assume uma quase estereotipia dentro
da nossa cultura. Além da forte estruturação cognitiva, cortical, no que diz respeito à
palavra, temos praticamente assumido o hábito em nossa cultura de omitir-nos, de não
sermos nós mesmos. Nisto somos especializados (ao nível dissociativo): no falar muito e
não dizer nada, no explicar tantas coisas, mas na prática, não nos envolver, não nos
comprometer.”
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Voz e Expressão em Biodanza
Ao longo do processo que cada um faz em Biodanza, à medida que se vão dissolvendo as
tensões geradas pelas diversas couraças, progressivamente, vai-se dando espaço a uma
expressão mais integrada, também em relação à dança da voz. Assim, o grupo vai abrindo
espaço às partilhas verbais, devido a uma abertura interna ao escutar, mesmo sem que
sejam propostos exercícios de voz.
O papel do facilitador neste espaço é muito importante, o conseguir ser afetivo, assertivo,
claro, simples, na forma como comunica toda a informação.
Existem alguma pautas, que são da maior importância que sejam comunicadas ao grupo,
e que são as seguintes:
- Escuta qualificadora, ou seja, manter-se numa postura recetiva, sem cruzar os braços ou
deitar-se, por exemplo. Escutar não é ouvir apenas com os ouvidos, mas sim, ouvir com
todo o corpo. Isto implica, uma postura corporal, em que as expressões faciais e gestos
revelam empatia e aceitação do outro;
- Falar na primeira pessoa (responsabilizar-se pelas suas vivências, pelas suas escolhas);
- Falar a partir do que se sente, a partir da vivência no grupo (evitar teorizar, dar
justificações, fazer comentários, juízos de valor);
- Dar continente afetivo à pessoa que partilha, manifestando com gestos de solidariedade
e ternura. O conceito de continente afetivo consiste, segundo Rolando Toro, na
manifestação afetiva através do contato;
Este espaço de partilha vivencial em que os alunos se podem expressar pela palavra, é um
espaço que cumpre algumas funções muito importantes:
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Voz e Expressão em Biodanza
3 – Compartilhar com o grupo uma experiência interior. Ainda que esta seja função de
caráter catártico, produz um efeito de profunda conciliação com o mundo (conexão com
o Universo).
O facilitador faz o seu processo de desenvolvimento no grupo, o que lhe permite ser
genuíno, ser autêntico, real, congruente em tudo o que faz, aceitando que, ainda existe
uma imensidão de conhecimento por explorar, aceitando os erros que vai cometendo,
olhando para eles como oportunidades de evoluir.
Claro que estou a falar da minha experiência e do meu processo de desenvolvimento com
a Biodanza, enquanto danço num grupo como aluna e enquanto facilito um grupo, que
me tem dado todas as oportunidades de evoluir em todos os aspetos na minha vida, e ir,
passo a passo, descobrindo a minha identidade com facilitadora.
Ricardo Reis
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Voz e Expressão em Biodanza
Capítulo IV – Questionário
Desde muito cedo que as crianças começam a ser condicionadas em relação à expressão
da voz. Os mandatos culturais, “cala-te, não sabes nada!”, “fala baixo!”, “não sabes
cantar!”, “não grites!”, são alguns exemplos, o que leva, a que, de uma maneira geral, a
dificuldade de se mostrar, de se expressar pela voz, é um medo comum a muita gente,
pelo menos, na sociedade ocidental.
Mesmo aqueles, que falam fluentemente, e para quem os ouve… ninguém diria que
pudessem ter algum problema em se expressar. Mas, não é bem assim…
Responderam a este questionário 73 pessoas de três grupos diferentes, cada um com uma
matriz de cerca de 30 alunos(as), um grupo de aprofundamento, e dois de integração nível
avançado. A escolha destes grupos, teve a ver com o facto de terem mais experiência com
exercícios de voz.
Inicialmente, não estava previsto aplicar os questionários ao meu grupo, por um lado, por
apenas ter uma matriz de 10 pessoas, e porque quando comecei a monografia, ainda não
tinha proposto exercícios com voz. No entanto, isso alterou-se e, apesar, das propostas de
exercícios com voz não terem sido muitas, considero que são relevantes, assim como a
opinião acerca da intimidade verbal. É um grupo com cerca de um ano e meio.
Nas primeiras cinco questões, era possível escolher várias variáveis. Sendo a sexta
questão, de resposta longa.
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Voz e Expressão em Biodanza
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Voz e Expressão em Biodanza
69,9% sentem-se recetivas; 63% sentem-se empáticas; 37% sentem-se vinculadas; 8,2%
sentem-se aborrecidas; 6,8% sentem-se críticas; 1,4% evitam a partilha.
60,3% sentem-se confortáveis; 35,6% sentem-se vinculadas; 9,6% não pensam nisso;
8,2% sentem-se incomodadas; 1,4% sentem-se desafiadas; 1,4% sentem-se críticas.
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Voz e Expressão em Biodanza
Quando as pessoas são convidadas a expressar-se através do canto e escuta a voz do outro,
80% sentem-se confortáveis (80%), e vinculadas (40%).
A maioria das pessoas considera este espaço muito importante, fundamental, essencial,
vital, indispensável, estas foram algumas das palavras utilizadas. Apenas uma pessoa
referiu não ser importante.
Apesar deste espaço ainda apresentar alguns desafios para algumas pessoas, de uma
maneira geral, as opiniões são bastante convergentes.
“É um espaço onde posso expressar o meu sentir, e onde me sinto acolhida, onde as
partilhas dos meus companheiros são vivências que ressoam em mim.”
“Fundamental, ajuda-me a chegar, a ficar presente, mesmo que não partilhe, estou
envolvida e revejo-me nas partilhas.”
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“Para mim a maior parte das vezes é importante ouvir o sentir de cada um, identifico-me
na maioria das vezes com as partilhas e sinto que verbalizam o que me vai na alma e não
consigo verbalizar tão bem quanto os outros. Outras vezes sinto-me irritada porque falam,
falam e não dizem nada.”
“Sem dúvida durante muito tempo desvalorizava este espaço. Por ser desconfortável para
mim partilhar, tinha a comunicação de alguma forma bloqueada. Mas, hoje em dia, sinto
a importância de estar presente e sinto a importância da partilha.”
“Primordial, tão importante como dançar. É um espaço onde aquilo que senti ou sinto, ao
ser partilhado, gera aceitação.”
“É importante. É um espaço de reflexão e onde tenho notícias de mim, mas também dos
outros. Promove o vínculo com o grupo.”
“Fundamental para mim ter um espaço de expressão voluntária onde sei que não vou ser
julgada e também onde posso acolher as partilhas de outros, que são espelho e que fazem
parte de mim.”
“Para mim o espaço de partilha é importante como um momento de ouvir e falar sobre o
que cada um sente.”
As pessoas que responderam, são unânimes em afirmar que este espaço de partilha é
importante porque se sentem vinculadas, escutadas, acolhidas, sentem presença e é onde
podem expressar-se e serem escutadas sem julgamento. Referem que são momentos para
elaboração das vivências, e de crescimento pessoal.
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Voz e Expressão em Biodanza
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mas, o verbo não foi o princípio, e sim o sentir, e só o sentir pode dar sentido ao verbo.”
Foi assim que dei início a esta monografia. Voltar sempre ao princípio, não um caminho
em círculo, mas sim, em espiral.
Por vezes, parece que estou no mesmo local a vivenciar as mesmas coisas, mas depois
percebo que não é bem assim, um pontinho mais acima, num continuum que não tem fim.
Rolando Toro deixou um legado precioso, uma semente que contém o potencial, e se bem
cuidada, nutrida, com todo o amor, ela pode florescer de maneiras, de formas infinitas e
belas.
Encontrei na Biodanza a minha forma. Uma forma de unir o que estava separado e
expressar, sempre consciente, que a espiral é infinita.
TUDO É LINGUAGEM
I
“No princípio era o verbo”
É dizer
o jasmim
falando ao bisonte
…
A palavra oculta
entre o visível e
o invisível
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Voz e Expressão em Biodanza
II
Quem fala desde ti
essas linguagens verdes?
III
As vozes do mundo me despertam
na noite
Alguém me chama desde o mar
desde cidades submersas
Todas as janelas estão abertas
Os cantos estão cheios de vozes
Alguém (a quem posso reconhecer)
me olha no silêncio
Rolando Toro
Foi importante para mim escrever esta monografia, e espero que seja importante também
para aqueles que se atreverem a lê-la. Estou convencida de que a minha história é a
história de muitos mais, pois a voz, é talvez, um dos potenciais mais condicionados na
sociedade ocidental. E as histórias… as histórias são apenas convites…
Conhecer como o sistema Biodanza pode contribuir para que a voz se possa expressar em
cada ser humano, é de um valor inestimável. E depois, o CANTO, utilizado para integrar
emoção, o movimento e a voz, é mais um instrumento poderoso para a expressão da
identidade integrada.
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Voz e Expressão em Biodanza
Pode ser que este trabalho possa sensibilizar mais facilitadores em relação a este tema, e
que se atrevam cada vez mais, à utilização deste potencial.
Eu fiquei!
SER ALGUÉM
Rolando Toro
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Atlas de Fisiologia Humana, (coordenação editorial Anna Yue; tradução Neila Freitas.
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Net Grafia
O Som
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/o-que-som.htm
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/por-que-som-nao-se-propaga-no-
espaco.htm
https://www.youtube.com/watch?v=_TIjaafWpyk
A Voz
https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2019/06/18/noticias-saude,247535/a-voz-e-
resultado-de-caracteristicas-herdadas-e-do-ambiente-em-que-se.shtml
https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/voz
https://pt.slideshare.net/ianschmoeller/tecnica-vocal-afisiologiadavoz-30039966
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=191
https://www.ibpb.com.br/2013/Anatomia_couraca.doc
A Razão
https://criticanarede.com/his_descartes.h
Origem da Linguagem
https://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_linguagem
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-da-linguagem-1-da-torre-de-
babel-a-chomsky.htm
https://www.youtube.com/watch?v=aj-qYpgbvTQ
https://divagacoesligeiras.blogs.sapo.pt/67159.html
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