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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE


RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE MÚSICA

Leandro Tostes Franzoni


Recital de Conclusão de Curso

11 de março de 2021
(https://youtu.be/kOqkeacicOI)
PROGRAMA

HEITOR VILLA-LOBOS (1887 - 1959)

Prelúdio n 1 - Homenagem ao sertanejo brasileiro - Melodia Lírica

Prelúdio n 2 - Homenagem ao Malandro Carioca - Melodia Capadócia -


Melodia Capoeira

Prelúdio n 4 - Homenagem ao Índio Brasileiro

Estudo n 1 - E menor - Anime

Estudo n 8 - C# menor - Modere

Que Heitor Villa-Lobos é o compositor principal do chamado "Novo


Mundo" não é surpresa para ninguém. Dentro de toda sua obra, o conjunto
de peças para violão gera admiração incondicional, são as peças mais
tocadas do repertório de violão do século XX em todo mundo. Entretanto,
poucos ouvintes se dão conta de sua importância dentro do panorama do
violão no séc. XX, e da formidável trajetória estilística que ele conseguiu
traçar no espaço de umas poucas peças que totalizam menos de duas horas
de música.

Se fizermos uma análise do acanhado ambiente que havia para


apreciação do violão no Brasil no início do séc. XX, essa trajetória é
extraordinária, o que responde muito Villa-Lobos confessar no alto de sua
celebridade que o violão era o instrumento de seu coração, amor por um
instrumento que no início da primeira década daquele século seria
inconfessável para um jovem com aspirações de respeitabilidade, pois a
associação do violão com a "malandragem e a escória da sociedade" era
bem conhecida naquele tempo. Os primeiros solistas profissionais do
instrumento, como Américo Jacomino (Canhoto) e João Pernambuco, não
sabiam ler música, violonistas com instrução musical como Quincas
Laranjeiras, por exemplo, eram tão raros que havia até uma mística em
torno desses sujeitos seletos. Villa-Lobos fazia parte dessa elite musical,
conhecia a pouca literatura que havia para o instrumento, foi admitido
dentro dos círculos seresteiros mais por sua habilidade como solista que
pela sua proficiência como "chorão".

Embora a maioria das peças para violão ele tenha escrito na sua
juventude, suas obras de reputação incontestável, que se tornaram clássicos
paradigmáticos do instrumento foram escritas já na fase mais madura do
compositor, que são os Cinco Prelúdios para violão datados de 1940. O
compositor já tinha voltado ao Brasil faziam 10 anos (depois de um longo
tempo que passou entre a Europa e os EUA), ele assumiu posições
profissionais no governo Vargas, assumiu sua vocação de educador, e se
tornou um verdadeiro monumento vivo em poucos anos. Sua poética
apaziguou um pouco alguns dos experimentalismos menos estruturados,
tornou-se um pouco formulaica, mas nos momentos em que deu vazão à
sua via melódica e de ambientação, como nas Bachianas Brasileiras e nos
Cinco Prelúdios para violão, ele nos deu páginas de um fascínio eterno. De
acordo com o especialista Turíbio Santos, o compositor tencionava fazer
pequenos retratos do Brasil de seu tempo em cada prelúdio. Seria então o
Prelúdio n1 uma homenagem ao sertanejo brasileiro, o Prelúdio n2 uma
homenagem ao capadócio, malandro carioca, e à capoeira, o Prelúdio n3
uma homenagem à Bach, o Prelúdio n4 uma homenagem ao índio
brasileiro, e o Prelúdio n5 uma homenagem à vidas social, a vida
cosmopolita da capital, na época o Rio de Janeiro. Se o Prelúdio n3 tem
influências bachianas, o Prelúdio n5 é inspirado em uma valsa de João
Pernambuco, Sonho e Magia, assim o compositor amarra as duas pontas, a
da grande tradição da música clássica, e a da música popular nesse novelo
que é a imaginação de Heitor Villa-Lobos.

Os Prelúdios apresentados nesse recital (Prelúdio n1, Prelúdio n2 e


Prelúdio n4) trabalham com amplas, expressivas e graves melodias
acompanhadas por figurações rítmicas agitadas, que são um traço marcante
na obra de Villa-Lobos, e alguns críticos veem nisso uma saturação visual
da paisagem brasileira, o retrato do homem solitário enfrentando a
imensidão da natureza.

O Prelúdio n1 contém duas partes ( A - B - A); a primeira uma


melodia lírica muito expressiva em E menor, lembrando a eloquência das
modinhas do séc. XIX que ao longo do tempo perduraram nas músicas
seresteiras do país, enquanto a segunda parte é uma homenagem ao
sertanejo brasileiro, não sertanejo nordestino, mas sim ao chamado caipira,
o homem do Brasil rural que contava suas histórias acompanhados de sua
viola de arame (que conhecemos como viola caipira), nessa parte ele inicia
com um arpejo em E maior, uma das afinações mais usadas na viola na
região da paulistania brasileira, chamada de "cebolão", além disso utiliza-se
o recurso de cordas duplas, as duas primeiras cordas do violão, para dar um
efeito de viola mesmo.

O Prelúdio n2 da mesma forma ( A - B - A); a primeira parte em E


maior, uma homenagem ao capadócio, malandro carioca, o compositor
utiliza de glissandos e ritardos para representar o jeito " escorregadio" do
malandro, que finta com graça a os problemas que aparece em sua vida,
enquanto a segunda parte representa uma luta de capoeira com uma
melodia tensa e forte causada pela relação da tônica com a quinta enquanto
há uma saturação com arpejos rápidos como acompanhamento, como se
fossem movimentos do jogo de capoeira.

O Prelúdio n4 em E menor também utilizando do recurso de melodias


na região grave do instrumento, tem um tema na parte A que lembra um
recurso rítmico tribalístico, que para muitos também faz alusão ao "arco e
flecha" o motivo rítmico que sempre se repete como resposta ao arco
melódico que o antecede. Na parte B inicia-se uma melodia também na
região grave acompanhadas por arpejos que dão uma espécie de sensação
de algo que está se movendo como quem foge de algo, um jogo de "gato
atrás de rato" (uma representação de um nativo correndo atrás da caça?),
depois um interlúdio com o mesmo motivo inicial só que feito utilizando-se
o recurso técnico de harmônicos, como um anúncio de rememoração do
tema inicial, um eco imaginário da parte A que retorna para finalização da
peça.

Em 1923, Villa-Lobos foi apresentado ao então personagem


dominante do violão no séc. XX: Andrés Segovia. Esse encontro mudou
totalmente a história do instrumento, pois sem o peso de um grande solista
no ambiente de violão do Brasil da época, não teria sido possível sequer
conceber uma obra tão poderosa e inovadora como os 12 estudos para
violão. Por mais divergências que Villa-Lobos possa ter tido com o
dedicatário, foi sem dúvida o vislumbre das possibilidades latentes do
violão, permitidos pelo extraordinário poder persuasivo de Segovia, que
estimulou Villa-Lobos a escrever uma coleção comparável às grandes
séries de estudos para piano ou violino. Não é exagero dizer que os 12
estudos são um divisor de águas na história do violão; de todos os
compositores que escreveram inspirados por Segovia, Villa-Lobos é o
único que parte de um conhecimento do instrumento em primeira mão para
a realização de uma linguagem individual que incorpora uma luxuriante
paleta harmônica e um compromisso com a inovação do discurso musical.
A obra utiliza um modelo de organização tonal tradicional, utilizando ciclo
de quintas onde cada obra parece conectar com a obra seguinte. Mesmo os
que encaram os 12 estudos como uma única obra em 12 movimentos, não
deixam de citar a evidência do agrupamento de três em três de acordo com
suas características de texturas. Os estudos que apresento nesse recital são
Estudo n1 - E menor - Anime e o Estudo n8 - C# menor - Modere.

No Estudo n1 o autor mostra sua conexão com os grandes ciclos do


passado como o Cravo Bem Temperado de Bach e os Estudos de Chopin ao
escrever uma simples sequência de acordes arpejados, é uma ideia
fascinante em sua simplicidade que dá impressão de uma grande
ressonância causada pela superposição de dois blocos de arpejos.

No Estudo n8, Villa-Lobos na primeira parte da peça utiliza-se de um


motivo melódico (com as notas Si - Sol# - Do# - Fá# - Sol# - Lá - Fá# -
Mi) na tessitura mais grave do instrumento usando trítonos e terças
paralelas como acompanhamento, dando uma ambiência macabra causada
pelas grandes tensões; na segunda parte ele utiliza o mesmo motivo
melódico, com as mesmas notas só que agora dois oitavas mais agudas,
acompanhado com um ritmo de toada em acordes consonantes com notas
de tensão (extensão de acordes), que aliás fica visível no material musical
utilizado, extensões de acordes, escalas pentatônicas, cromatismo, recursos
muito utilizados pela música francesa da virada do séc. XIX para o XX,
sobretudo Debussy, Satie e Ravel, música impressionista ou simbolista,
dependendo das divergências de argumentos.
RAPHAEL RABELLO (1962 - 1995)

Meu Avô (choro)

Raphael Baptista Rabello foi um violonista brasileiro da segunda


metade do séc. XX que influenciou e influencia toda a geração de
violonistas que veio após ele. Sua matriz principal foi o Choro, porém ele
transitou pelo jazz, pela bossa-nova, pela música clássica através de longos
anos com aulas diretas com Radamés Gnttali, da qual integrou anos mais
tarde a camerata carioca organizada sobre a tutela do próprio Gnattali, e até
passeou de forma discreta, entretanto não menos importante, na música
flamenca através de sua amizade direta com Paco de Lucia. Seja qual for a
diretriz violonística a ser seguida, da tradição clássica ao intuitivo popular,
a admiração por ele é unanimidade. Seu senso de equilíbrio entre um
virtuosismo exuberante e uma profundidade musical bem polida, seja como
solista, acompanhador, ou dentro da música de câmara, é assustador e
encantador ao mesmo tempo.
"Ele não tem limitações. Técnica, velocidade, bom gosto harmônico, um artista
completo".

– Dino 7 Cordas sobre Raphael

Ele também foi quem popularizou o violão de sete cordas como


solista, que até então era mais usado no Brasil como instrumento que
acompanhava e fazia contraponto. Apesar de sua passagem curta pela
Terra, deixou um vasto legado contando com mais de 400 gravações, sendo
elas composições, interpretações, solo ou como acompanhador.

"O melhor violonista que eu já ouvi em anos. Ele ultrapassou as limitações técnicas do
violão, e sua música vinha progressivamente de sua alma, diretamente para os corações de
quem o admirava".

– Paco de Lucia
"Raphael Rabello foi simplesmente um dos maiores violonistas que já existiu. Seu nível
de introspecção no potencial do instrumento só foi alcançado, talvez, pelo grande Paco de
Lucia. Ele foi ‘o’ Violonista Brasileiro de nosso tempo, na minha opinião. Sua morte, em uma
idade ainda tão jovem é uma perda incrivelmente dolorosa, não apenas pelo que ele já tinha
feito, e sim pelo que ele poderia vir a fazer."

— Pat Metheny

Raphael Rabello foi um dos mais notáveis violonistas de todos os tempos. A sua
"pegada" era muito expressiva e confiante, com interpretações vibrantes e técnica
exuberante. A contribuição dele foi essencial, deixando uma das mais ricas e memoráveis
páginas na história do violão brasileiro."

— Marco Pereira

A peça que apresento nesse recital chama-se Meu Avô, é um choro (A


- B - A - C - A) em A menor. Tem uma linguagem muito confortável para o
instrumento, devido à tonalidade e o recurso de cordas soltas, porém
Rabello explora muito a técnica de arpejos estendidos com frases muito
rápidas e marcadas, uma característica marcante de suas composições e
interpretações. A peça é uma homenagem ao avô de Raphael, que foi seu
primeiro professor de violão.

EGBERTO GISMONTI (1947)

Água e vinho (arr. para dois violões de Sérgio Assad)

Duo: Leandro Franzoni

Renato Mattiusso

Egberto Gismonti nasceu em Carmo, interior do Rio de Janeiro,


cidade que segundo ele serve de matéria prima para seus devaneios
composicionais. De acordo com ele, há mesmo uma mística nas cidades do
interior brasileiro, como se fossem uma espécie de Macondo, cidade
ficcional para o romance célebre do colombiano Gabriel Garcia Marques,
Cem anos de solidão. O fato é que a vasta obra de Gismonti tem uma
essência que parece realmente ser análoga ao realismo-mágico, começando
pelo fato de Gismonti ser fantasmagórico quando tentamos analisar e
enquadrar suas obras. Não se sabe também se ele é de fato um violonista,
ou um pianista que toca violão; um músico com uma obra imensa, desigual,
difícil de avaliar a partir de um ponto de vista fixo, suas obras vão desde
canções simples até sinfonias, porém elas parecem resistir à análises
baseados em critérios adequados exclusivamente para jazz, ou para música
popular, ou para música clássica, como se cada vez que tentasse enquadra-
lo, ele aparecesse em outro ponto, sobre outro disfarce.

Seja por sua imaginação torrencial, ou pelo perfeito domínio do métier


que lhe permite deixar uma marca profunda nos seus ouvintes, poucos
compositores brasileiros de qualquer gênero desde a geração de Villa-
Lobos e Guarnieri trazem esse selo de grandiosidade, que inventa um
gênero para si mesmo. Filho de pai libanês, devido a zelo pela educação
aristocrática, ele foi estudar piano em um conservatório; entretanto, sua
mãe italiana queria que ele tocasse para ela as músicas de serestas, foi
então que começou a tocar violão como autodidata, pois não havia ensino
formal de violão em sua cidade, assim ele inventou seu próprio método
transcrevendo os estudos de piano para violão, e "tirando de ouvido" discos
inteiros de Baden Powell, estes dois pilares são mais que evidentes no seu
edifício violonístico.

A peça apresentada no recital, Água e Vinho, é originalmente uma


canção, com letra de Geraldo Carneiro. Todavia há um arranjo do próprio
Egberto Gismonti para violão de 10 cordas, e foi através desse arranjo que
Sérgio Assad reescreveu-a para dois violões, para o então Duo Assad
interpretar em um álbum só com músicas de Gismonti.

SÉRGIO ASSAD (1952)

Farewell (para dois violões)

Duo: Leandro Franzoni

Renato Mattiusso
O violão é o filho mais jovem do alaúde, e assim como seu ancestral,
durante muito tempo, os compositores eram também exímios
instrumentistas, pois a mecânica do instrumento era de difícil compreensão
para que não o tocava. Para fazer um apanhado sobre alaúde, vihuela,
guitarra barroca e violão, basta lembrar de Weiss, Murcia, Sanz, Sor,
Giuliani, Tárrega, Barrios, Brouwer, todos eles compositores do
instrumento que dominavam como ninguém. Na primeira metade do séc.
XX no Brasil, existe um panteão de violonistas compositores tão vasto que
era indissociável o intérprete do compositor. Dentro dessa perspectiva, os
compositores que se destacaram, sempre pareceram que cada um
desenvolveu um universo sonoro particular e intransferível que é
frequentemente informado pela fertilização mútua de gêneros. No cenário
contemporâneo, um dos compositores violonista brasileiro mais profícuo
com uma produção voltada para música de concerto é ninguém menos que
Sérgio Assad. Esse que que junto com seu irmão, Odair Assad, formam um
duo com a relevância e unanimidade que só o grande Andrés Segovia
conseguiu como solista, também domina o métier da composição para o
instrumento com grande maestria.

Farewell é parte da trilha do filme japonês Natsu no Niwa, na trilha


que vem com nome também de Summer Garden Suite. A peça aparece na
trilha para dois violões, como apresentamos, porém, integra o filme
aparecendo de novo como violão solo.

EL NOI DE LA MARE - Anônimo

Canção Folclórica Catalã (arr. Miguel Llobet)

Canção popular catalã, uma canção natalina que faz um retrato da ceia
de Natal. El noi de la mare, traduzido como menino da mamãe (filho da
mamãe) foi arranjada para violão solo pelo grande violonista Miguel
Llobet. Porém seu sucesso e difusão dentro do repertório violonístico se
deu porque durante muito tempo, Andrés Segovia a tocava como "bis" em
seus concertos pelo mundo afora.
ISAAC ALBENIZ (1860 - 1909)

Suite Española op. 47

I - Granada (Serenata)

V- Asturias (Leyenda)

Isaac Albeniz foi um compositor, pianista, maestro e dramaturgo


espanhol, nascido no dia 29 de maio de 1860, em Camprodon, na
Catalunha, Espanha. Além de ter sido um virtuoso em seu instrumento, o
piano, Albeniz também é um dos compositores que nos deu um senso
estético a invenção e inovação de sua poética na música espanhola. Mario
de Andrade quando escreveu o ensaio sobre música brasileira em 1928, e
suas preocupações com uma invenção de forjar uma linguagem musical
brasileira, cita Albeniz como exemplo de um fundador da música
espanhola. Desenvolver temas relativos ao folclore de diversas localidades
de um país, uni-los sobre um rigor poético bem fundamentado e ao mesmo
tempo ter um elã imaginativo libertário, na qual radicaliza sem perder o
rigor, talvez seja a receita fundamental para elaborar a música que nos dá
um panorama completo, como espécie de guia turístico de uma nação.

A Espanha é o berço do violão tal qual conhecemos hoje, não digo só


pelo invento de Antonio Torres, mas também pela cultura espanhola que
traz em seu bojo a música flamenca, dos ciganos ou árabes que ocupavam a
península ibérica. Melodias típicas, ritmos e danças são associadas a esse
instrumento. O fato é que, toda a música espanhola, independente do
compositor, parece sempre soar de maneira muito poderosa no violão,
como se o instrumento fosse capaz de roubar a identidade das músicas para
ele. Talvez seja esse o motivo pelo qual as músicas que Albeniz escreveu
para piano, foram imortalizadas nas transcrições para violão. Asturias, por
exemplo, talvez seja uma das músicas mais conhecidas dentro do repertório
de violão. Muitos filmes, guias turísticos sobre a Espanha, sempre toca
Granada no fundo, ou alguma outra obra de Albeniz, mas todas pela voz
do violão.

A Suite Española op. 47 foi originalmente escrita para piano, como a


maioria das peças de Albeniz, por volta 1886 e agrupadas em 1887, em
homenagem à rainha da Espanha. Como muitas das obras de Albeniz para
piano, essas peças retratam diferentes regiões e estilos musicais da
Espanha.

A obra consistia originalmente em quatro peças: Granada, Catalunha,


Sevilha e Cuba. O editor Hofmeister republicou a Suite española em 1912,
após a morte de Albéniz, mas acrescentou Cádiz, Astúrias, Aragão e
Castela. As outras peças foram publicadas em outras edições e por vezes
com títulos diferentes (Astúrias era originalmente o prelúdio da Suite
Chants d'Espagne). As quatro peças que Hofmeister acrescentou não
refletem exatamente a região geográfica a que se referem. Um exemplo
claro disso são as Astúrias (Leyenda), cujos ritmos flamencos andaluzes
pouco têm a ver com a região atlântica das Astúrias. Opus 47, o número
atribuído por Hofmeister, não tem nenhuma relação cronológica com
nenhuma das outras obras de Albéniz, uma vez que os números de opus das
peças foram atribuídos aleatoriamente pelos editores e pelo próprio
Albéniz. Apesar da natureza espúria da Suite española, no entanto, tornou-
se uma das obras para piano mais executadas de Albéniz, uma das
preferidas dos pianistas e do público. Nessas obras, o primeiro título refere-
se à região geográfica retratada, e o título entre parênteses é a forma
musical ou dança daquela região. De Granada na Andaluzia existe uma
Serenata, da Catalunha um Curranda ou Courante, de Sevilla a Sevillanas
e de Cuba (que ainda fazia parte da Espanha na década de 1880) um
Notturno no estilo de uma habanera, de Castela a seguidillas, de Aragão
uma Fantasia ao estilo de uma jota e de Cádiz uma saeta. Este último
exemplo, como Astúrias (Leyenda), é geograficamente impreciso.

Essa suíte é dentro do repertório de violão uma das mais importantes,


foram transcritas por Tárrega, Llobet, Segovia, Bream, Barrueco, e grande
parte dos intérpretes principais do instrumento até hoje.
BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Gustavo Silveira Costa (orientador)

Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro

Profra. Dra. Fátima Graça Monteiro Corvisier

LEANDRO TOSTES FRANZONI

Nascido em Batatais - SP , começou a estudar guitarra elétrica em


2003 de forma autodidata. Ganhador do concurso de guitarra Souza Lima
na categoria guitarra-fusion em 2009. Em 2010 começou a estudar violão,
como autodidata também, e em 2014 ingressou no curso de música na
USP- RP como bacharelado com habilitação em instrumento. Em 2015
integrou a big-band Balaio de Gato sobre a orientação do compositor,
violeiro e maestro José Gustavo Julião de Camargo; fez parte do projeto de
cultura e extensão na EERP para desenvolver atividades musicais com os
idosos. De 2016 a 2018 fez estágio na USP campus de Pirassununga
minstrando aulas de violão em grupo. De 2019 até presente momento além
de recitais solo, integra o Duo Franz Carosia, que conta com o baixo
elétrico de Thales Carosia, na qual interpretam clássicos do jazz com
arranjos próprios, da música brasileira, e com uma pitada de música
flamenca; e o Duo Derby, que conta com o violão de Renato Mattiusso
para o repertório tradicional camerístico para dois violões.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Gustavo Costa, por toda paciência e dedicação,


por ampliar muito minha perspectiva não só referente ao violão, mas com a
música no geral, pelo desvelo de um mundo da qual eu nem fazia ideia que
existia, também pela sua empatia a respeito dos limites sobre as condições
do outro, que além de ter cedido o violão para eu poder realizar o recital,
sempre foi prestativo em tudo que precisei, tornando muito mais acessível
minha graduação, tornando o que poderia ser possível em provável.
Agradeço ao Professor Marcos Câmara e a Professora Fátima Corvisier por
aceitarem o convite de fazer parte dessa banca, e também pelo aprendizado
e desenvolvimento musical e artístico que me proporcionaram, assim como
todo o corpo docente do Departamento de Música. Agradeço a existência
da universidade pública, sobretudo a Universidade de São Paulo, que me
deu todo suporte que precisava para não só me desenvolver como
profissional, mas como cidadão e sujeito no mundo; é um grande privilégio
um sujeito de classe social menos privilegiada como eu poder fazer parte
de um grande centro epistemológico e entrar em contato com várias áreas
da ciência e outros saberes, assim podendo ampliar meu senso crítico, uma
quebra de contingência social que gera uma emancipação intelectual que só
a universidade pública, remando contra a maré, é capaz de realizar.

Agradeço ao Renato Mattiusso, por participar do recital, e também por


todos esses anos de amizade e aprendizado, desenvolvimento de repertório;
à Aízis Morais de Carvalho, pela gravação, edição e revisão, e a todos os
familiares e amigos que me apoiaram nessa jornada.

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