Você está na página 1de 87

Psicomotricidade e A Psicomotricidade Gerontomotricidade

Motricidade Humana. aplicada à Escola

TRISKEL
Edição 2016

Revista Internacional de Psicomotricidade


TRISKEL - REVISTA INTERNACIONAL DE PSICOMOTRICIDADE
EDITORA Centro de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares em Educação, Saúde e Esporte. (CEPTESE)
TRISKEL - REVISTA INTERNACIONAL DE PSICOMOTRICIDADE
EDITORA
Centro de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares em Educação, Saúde e Esporte.
(CEPTESE)
Mantenedores:
CEC - Centro de Estudos da Criança
Escola de Formação de Psicomotricistas Sistêmicos - Setor de Pós Graduação

Editor: Dra. Rosa M. Prista


Ph. D. Psicologia e Qualidade de Vida
orcid.org/ 0000-0003-2784.2817
rosamprista@gmail.com

Conselho Editorial
Dr. Manuel Sérgio Vieira e Cunha (Portugal)

Dra. Regina Célia Lima Macêdo (Brasil)


orcid.org/0000-0002-6319-7408
regilima.macedo@gmail.com

Dr. Fabio Zoboli (Brasil)


orcid.org/0000-0001-5520-5773
zobolito@gmail.com

Dr. Paulo Gutierres Filho (Brasil)


orcid.org/0000-0001-7753-0825
profgutierres@gmail.com

MsC. Felismar Manoel (Brasil)


orcid.org/0000-0002-0639-0009
felismarmanoel@gmail.com

Dra. Marta Lovisaro (Brasil)


orcid.org/0000-0002-0068-0304
lovisaro@terra.com.br

MsC. Adonis Marcos Lisboa (Brasil)


adonislisboa1969@yahoo.com.br

MsC. Alicia Valsagna


Conselho Editorial: Lic. Alicia Valsagna
(Argentina) aliciavalsagna@gmail.com
orcid.org/000-0003-0564-8378

Dr. Jorge Fernandes (Portugal)


orcid.org/0000-0001-8205-5870
otgef@uevora.pt

Dra Eugenia Trigo ( Colômbia)


etrigoa@gmail.com

Crédito Foto de Capa- Carla Bonomo, New Horizon


Crédito Edição- Wilson C. Monteiro
RED BORDERS
Espaço Teoria Praticada

8
1-O Interesse da investigação
Epistemológica para a Universidade. Para
esclarecer algumas dúvidas...
Manuel Sérgio Vieira e Cunha

2-De Pinóquio à Pessoa. A Construção de


um Escritor
Rosa M. Prista
16
28
3-A Psicomotricidade aplicada à Escola -
Criando a “Floresta Encantada”
Marta Lovisaro

40
4-Da Educação Física à Psicomotricidade
Sistêmica: perspectivas de atuação em
Gerontomotricidade com foco na saúde
coletiva.
Sidirley de Jesus Barreto

54
Espaço Dialógico
Psicomotricidade e Motricidade Humana.
Convergências e Divergências
Entrevista com Eugênia Trigo

Relatório Científico
Dificuldades de adaptação à vida universi-
tária e prejuízos no rendimento acadêmico.
Felismar Manoel, Mônica Manhoni de
62
Paula, Priscila Carreiras Botelho.

Resenhas
1-Psicomotricidade: abordagens emer-
gentes. Paulo Gutierres Filho
2-Psicomotricidade. Que Prática é esta?
76
Regina Célia Lima Macêdo
4 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Com imenso prazer, apresento a Comunidade Cien-


tífica Nacional e Internacional de Psicomotricidade, assim
como os estudiosos da Motricidade Humana, a Revista
TRISKEL - Revista Internacional de Psicomotricidade, com-
posta por rico conjunto de pesquisadores nacionais e inter-
nacionais, e que tem como objetivo documentar as pesquisas
científicas em Psicomotricidade.
A necessidade desta revista no universo acadêmico
se justifica pela carência de documentação das pesquisas no
campo da Psicomotricidade, que possam justificar a riqueza
da prática teorizada e da teoria praticada no fenômeno psi-
comotor.

Compreendemos Psicomotricidade como: “um caminho científico de aplicabilidade no estudo da relação


humana promovendo a aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano com qualidade e harmonia ao mo-
bilizar os recursos internos do sujeito na relação com o mundo. Sua aplicabilidade permite a conscientização do
Ser para a necessidade de um olhar para si e suas relações com os objetos e com os outros. Estabelece a base
do desenvolvimento humano descrevendo etapas e ações educativas para a construção de um
Homem crítico e criativo, assim como mediações clínicas de resgate do potencial quando bloqueado nas rela-
ções sócio-culturais”. Prista (2010)
Possui como objeto de estudo o “fenômeno psicomotor” e em campo mais específico, o estudo da ima-
gem e do esquema corporal. Para atender a esta complexidade, a revista Triskel está ancorada sobre o
Paradigma da Complexidade, refutando as práticas que simplificam o ser humano e o analisam somente sob o
viés dialético. Pretende-se ir além, nas ondulações da transitividade pertinentes a transdisciplinaridade e
desafiar o surgimento de pesquisas, onde a dialogicidade seja concretizada.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

O nome TRISKEL é representado pelo espiral em sentido horário, que simboliza a expansão, os ciclos da
vida, de morte e renascimento. No ano de 2016, os Psicomotricistas do Brasil, em grande movimento buscam o reco-
nhecimento da profissão, fato já instaurado em vários países europeus e latino-americanos. É momento de expurgar
da Psicomotricidade movimentos institucionais e metodológicos que não contemplem a complexidade humana e,
portanto não pertencem ao campo do fenômeno psicomotor, em atos de cuidar que transcendam egos e verdades ir-
refutáveis para a existência do “outro” em sua plenitude. O símbolo triangular mantém um centro que podemos repre-
sentar como o “Ser em sua essência”, interligado a três bases do espiral em sentido horário movimentando os fluxos
tensores universais. Para Felismar Manoel (2016), este movimento se “harmoniza com o conceito filosófico do
ser humano, como ser de abertura, em quatro direções (para si mesmo, para os outros, para o mundo
e para a transcendência);” e continua: “as três espirais apontam, o outro, o mundo, a transcendência
e o si mesmo é o triangulo que oportunizou a figura toda, para as outras três dimensões”.

Segundo Manuel Sérgio (1999), “... a Universidade é o local por excelência onde cultivam as ciências.” Esta
Revista está ancorada no setor de Pós Graduação da Escola de Formação de Psicomotricistas Sistêmicos, e foi cria-
da como um espaço onde se pode pensar o valor da formação acadêmica, propondo traçarmos novos rumos com
aqueles que ensinam e aprendem sobre o “valor cognitivo e humano do tipo de conhecimento que exploram” (id). O
símbolo Triskel refere-se a um antigo símbolo indo-europeu, palavra de origem grega que lembra “três pernas” curva-
das ou correndo em referência ao movimento da vida e do universo.

Isto tudo está de acordo com os modernos conceitos da ciência atual, que tem comprometimento com a
holonomia conforme preceitua Edgar Morin, com a autopoiese como preceitua Maturana, o cérebro dando respaldo
adaptativo a esse novo modelo como preceitua Antônio Damásio e a intencionalidade operante de Merleau Ponty
(1955), gerando os vários movimentos significativos, dialéticos e incessantes corpo-outro, corpo-mundo, corpo-coisa
onde jorra e atualiza o sentido.
É importante considerar que, a ciência moderna não pode pesquisar, produzir conhecimento, só considerando
a dinâmica da dialética, pois essa se limita a avaliar as questões relacionadas com os pólos de opostos, o HOJE exige
de nós empregarmos a dinâmica da DIALÓGICA, que vai além dos polos de opostos e considera um terceiro polo, ou
seja aquilo que resulta das relações entre os opostos, exigindo o emprego da holonomia, em uma produção holística.
6 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Esta Revista em seu momento inaugural está E sócio da Associação Portuguesa de Escritores
contemplada com estudos, ações e pesquisas de e autor e co-autor de quarenta obras cientificas e de inú-
profissionais que permitiram a sua emergência. Ela está meros artigos, em revistas nacionais e internacionais.
homenageando dois grandes companheiros que É professor catedrático convidado aposentado da
partiram em 2016. A professora Henriete Mello, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Téc-
UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro, nica de Lisboa. Foi professor catedrático da
amiga de grandes passos psicomotores na SBP - Universidade Fernando Pessoa e do Instituto Superior da
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, e o professor Maia, e ainda da Faculdade de Educação de Física da
Sidirley de Jesus Barreto, que junto a esta organizadora, Universidade Estadual de Campinas.
sonhava com uma Revista Científica indexada e E sócio fundador da Sociedade Internacional de
dedicada epistemologicamente às pesquisas do Motricidade Humana e da Sociedade Portuguesa de Mo-
fenômeno psicomotor que se apóia sobre os conceitos tricidade Humana. A Dra. Regina Macêdo, exímia pes-
do Ser Humano como ser de abertura, transcendência e quisadora no campo da Biologia realizou seus estudos
transformador do coletivo. de doutoramento na FIOCRUZ-RJ. Funda seus atuais
Para o Conselho editorial foram convidados pes- princípios na Biologia Complexa e tem se
quisadores nacionais e internacionais que possuem uma dedicado aos estudos de Edgar Morin . É diretora de
característica comum a todos: pesquisa do CEPTESE - Centro de Estudos e Pesqui-
o empreendedorismo. sas Transdisciplinares liderando pesquisas no campo das
Vivemos uma crise de valores na Universidade que rompe Neurociências e Motricidade. O Mestre Felismar Mano-
com bases significativas de produção acadêmica sendo el, é fisioterapeuta, mestre em Motricidade Humana, é
a pesquisa um campo desvalorizado, descontextualizado professor da UNIGRANRIO onde lidera pesquisas em
nas reais necessidades coletivas e um campo cada vez Psicomotricidade e Aprendizagem com universitários.
mais árido. Entretanto há professores em nossas institui- É conselheiro presidente da AMOHURJ - Associação
ções - particulares e federais - que desafiam esta crise da Ciência da Motricidade Humana do Rio de Janeiro e
que vem submetendo os jovens pesquisadores a uma Coordenador da Escola de Formação de Psicomotricis-
corrida desenfreada por títulos e esquecendo do real va- tas Sistêmicos. Oferta uma bagagem profunda de ex-
lor da pesquisa - servir com excelência o ser humano periências vivenciais pelas diversas viagens que realizou
na diversidade, na complexidade e no sentido coletivo de em diversos continentes como missionário, conhecendo,
vivermos socialmente. apreciando e se apropriando de culturas
Apresentar esta equipe é um desafio, o Dr. Ma- diversas em estilos, línguas e comportamento. Reafir-
nuel Sérgio Vieira e Cunha, é criador da Motricidade mando a necessidade de revisão paradigmática, Dr. Fá-
Humana, desafiador do cartesianismo: “ Não educamos bio Zoboli e o Mestre Adonis Lisboa ampliam o estudo
físicos, mas Homens! “. A partir deste olhar rediscute da
a Educação Física e busca dar a ela um lugar de valor Psicomotricidade em suas ricas experiências acadêmi-
epistemológico. Seus estudos têm sido sementes para cas.
TRISKEL

muitas outras áreas como a Pedagogia, a Psicologia, a


Fisioterapia, o Turismo, etc.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

O Dr . Fabio Zoboli é professor do Departamento de


Educação Física da Universidade Federal de Sergipe - UFS.
A Dra. Eugênia Trigo, pesquisa-
Tem experiência na área de Educação, com ênfase em dora eminente conduz com maestria vá-
Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: rias investigações no campo da
motricidade fundado no paradigma da
Filosofia e Cultura do Corpo, Epistemologia da Educação Física,
Motricidade Humana e é radical dizendo
Educação Física e Interculturalidade. O Dr. Adonis Lisboa. É que a Psicomotricidade não existe. Base-
docente do Curso de graduação em Educação Física do Cen- ada na Fenomenologia propõe um repen-
sar epistemológico sobre a
tro Universitário de Brusque – UNIFEBE . Docente do Curso
potência adaptativa denominada
de Pós-graduação em Psicomotricidade Relacional do Centro motricidade. Autora de dez obras científi-
Internacional de Análise Relacional . Sua linha de pesquisa se cas marca sua grande preocupação pelo
processo educacional na América Latina.
delineia na Ludicidade e Psicomotricidade . O professor Paulo A Dra Martha Lovisaro é coordenadora
Gutierres é Professor Adjunto da Faculdade de Educação Físi- da Formação Psicomotricidade Heurís-
ca da Universidade de Brasília. É Líder do Grupo de Estudo e tica, pedagoga e psicóloga, professora
aposentada da UERJ -
Pesquisa em Atividade Motora Adaptada, Professor do Progra- Universidade do Estado do Rio de Ja-
ma de Pós Graduação em Educação Física da FEF/UnB com neiro, é pós doutora em Sociologia do
Desporto pela Universidade do Porto em
foco na Psicomotricidade para Populações Especiais. O conta-
Portugal.
to com a MsC Alicia Valsagna de Córdoba amplia nosso olhar Direciona suas pesquisas para o
para os estudos argentinos na relação com la Psicomotricidad. “fenômeno psicomotor”. Na esteira das
profundas palavras de Manuel Sérgio:
É licenciada em Psicomotricidade, professora de educação,
“O Homem, em si e a partir de si, está
docente de cursos e ateliês expressivo-corporais, docente na dotado de uma orientação e de uma ca-
Fundação Gaude em Córdoba onde atua com adultos com pacidade de intercâmbio com o Mundo,
e toda a sua motricidade é uma procura
deficiência visual. Foi professora em Instituto Superior intencional do Mundo que o rodeia... para
Dr. Domingo Cabred, formando psicomotricistas e realizar e realizar-se!” A existência huma-
professores de educação especial. na é infinitamente múltipla e transforma-
dora, num mundo de vínculos, relações e
(En español: El contacto con la Lic. Alicia Valsagna, de Córdoba, conexões relacionais.
amplía nuestro mirar para los estudios argentinos en relación con Assim a Revista Triskel convida
pesquisadores, psicomotricistas e
la Psicomotricidad. Es licenciada en Psicomotricidad, profesora
profissionais das diversas áreas que pos-
de educación,docente de cursos y talleres expresivo-corporales, suem interesse na pesquisa do fenôme-
docente en la Fundación Gaude en Córdoba donde actúa con no psicomotor, para construírem um co-
nhecimento epistemológico, claro, ético e
adultos con deficiencia visual.
que contribua para a evolução planetária
O Dr. Jorge Fernandes é doutor em Ciências da Motri- concretizada em uma
cidade. É professor e coordenador da graduação em Reabilita- sociedade sintonizada nos valores
humanos seja na educação, seja na saú-
ção Psicomotora, professor e diretor do mestrado em Psicomo- de ou no esporte.
tricidade da Universidade de Évora - Portugal. Tem experiência
na área da Reabilitação Psicomotora, Atividade Motora Adap- Dra. Rosa M. Prista, Ph.D.
Líder Editorial
tada e Educação Física, com ênfase em Psicomotricidade, atu- Membro Gestor CEPTESE
ando principalmente nos seguintes temas: Prática Psicomotora
preventiva, educativa e terapêutica.
8 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

O INTERESSE DA INVESTIGAÇÃO
EPISTEMOLÓGICA PARA A
UNIVERSIDADE
Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA

Manuel Sérgio é natural de Lisboa, Portugal. Licenciado em Filosofia, Doutor e Professor agregado em Motricidade
Humana pela Universidade Técnica de Lisboa. Diretor do Curso de Motricidade Humana na Universidade Fernando
Pessoa. O primeiro autor a teorizar o paradigma em que se fundamenta o trabalho científico da Sociedade Portuguesa
de Motricidade Humana (SPMH). Autor de mais de 40 livros, ensaios e poesias.
È sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Motricidade Humana.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
Maria Manuel Araujo Jorge, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pu-
blicou em livro recente, já aqui citado, Da Epistemologia à Biologia, um ensaio intitulado: “O interesse
da investigação epistemológica para a universidade”. O ardor e o investimento da verdade humana que
a autora consagra à aventura da investigação epistemológica, bem merecem que o referido ensaio
seja mais conhecido e reflectido. Passo a transcrever a sua ideia nuclear: “A universidade é o local por
excelência onde se cultivam as ciências (...)”. Num momento em que a universidade traça novos rumos
será talvez oportuno convidar os que nela ensinam e aprendem a reflectir sobre o valor cognitivo e
humano do tipo de conhecimento que exploram. Apesar da sua conflitualidade interna, a investigação
epistemológica poderá dar um contributo para essa reflexão (...). A partir dos anos 60 (...), é sobre tudo
a crença numa ciência dotada de um método racional que será posta em causa. É a obra de Kuhn que
desencadeia tal efeito, ao inserir o sujeito epistêmico no contexto concreto das comunidades onde ope-
ra (...). Kuhn estimula toda uma investigação sociológica das ciências, que se especializará na revelação
dos factores não racionais, por detrás das decisões dos cientistas (...). Isto mostra como a epistemologia
contemporânea parece hoje mais atenta à necessidade da investigação de teor gnosiológico em geral,
ao lado da reflexão propriamente epistemológica sobre o conhecimento científico. Quer assim dizer a
autora que o mundo interior do observador não é completamente independente do mundo objectivo. E
mais ainda: também o tradicional e o irracional se encontram presentes no acto cognoscitivo. Após um
longo divórcio, chegou à altura de voltarem a unir-se Apolo e Dionísio. Não é nosso intuito defender o
casamento entre a ciência e a não ciência Nem o irracionalismo de uma globalização donde emerge
uma aliança incontroversa entre os fundamentalistas do liberalismo econômico e uma tecnocracia la-
nigeramente ao seu serviço. O que se pretende dizer é que a ciência faz-se, através da complexidade
do humano e não de um perfeito acordo entre o racional e o real. Para Hegel, tudo o que é racional
é real e tudo o que é real é racional. Para ele, a História não passa do desenvolvimento do Espírito.

Ora, a universidade, reflexo de uma sociedade onde a ordem e o progresso eram sinal de uma
racionalização sem desvios - a universidade ainda é portadora de um projecto demasiado racionalista
e positivista: racionalismo que se manifesta na construção de uma visão do mundo, a partir de um
único princípio (a Razão); positivismo patente na ausência do estudo e da procura das “causas das
causas” dos fenômenos, atividades consideradas de forte acento metafísico. A representação físico-
-matemática da realidade e da mente espelho dessa mesma realidade; o ideal matemático da uni-
versidade (que incorporar as concepções de Locke acerca dos problemas mentais e o conceito de
substância mental cartesiana): configura um erro categorial, ao analisar e experimentar tudo, “more
geométrico”. No tratado das Paixões da Alma, Descartes refere que as paixões (amor, medo, alegria,
etc.) surgem do impacto particular e confuso que a res extensa provoca, na serena claridade da alma.
A Psicologia, em Descartes, limita as paixões à corporeidade clara e distinta. Desde “A Estrutura do
Comportamento”, Merleau Ponty situa a consciência no corpo e o corpo no mundo. Na sua obra: “O
Visível e o Invisível”, ele afirma: “O meu corpo é feito da mesma carne que o mundo.” Parecem findar
assim as considerações antropológicas que oscilam entre um conhecimento organicista e materialista
do ser corporal e biológico do homem e um saber espiritualista da sua vida psíquica, intelectual e moral.
10 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Nesta conformidade, as ciências, de que os vários Institutos superiores e Faculdades se ocupam, po-
derão ser lidas e desenvolvidas de modo diferente e mais esclarecedor se associar à sua teorização habitual
outras dimensões tais como a Filosofia e a Antropologia do corpo. O intelectualismo dos saberes uni-
versitário há de ponderar a complementaridade entre a razão e as práticas corporais, entre o real e o possível.

Alexandre Koyré, em livro célebre (ÉTUDES NEWTONIENNES, GALLIMARD, Paris, 1968) escre-
veu: “É nisto que consiste a tragédia do espírito moderno que resolve o problema do Universo, mas somente
para substituí-lo por outro: o enigma de si mesmo.” Daqui, a crise do sentido, ou seja, da inteligibilidade e
da orientação. O desabamento das escatologias marxistas; os duros tempos de contestação que assolaram
o cristianismo - terão contribuído também, a seu modo, para certo niilismo amanhecente. Por outro lado, o
racionalismo e o capitalismo dele adveniente; uma política que é técnica, “no sentido filosófico do termo,
isto é, uma busca do aumento dos meios do poder, em detrimento da reflexão sobre as finalidades” (LUC
FERRY, O Homem-Deus ou O Sentido da Vida, ASA, Porto, 1997) - plantaram a incerteza, no cerne mesmo
da axiologia. E assim, ao fim do racionalismo uniformizador e unidimensionalizador, corresponde um mundo
onde se pretende possam conviver, em harmonia, todas as pluralidades e criatividades de carácter huma-
nizante. Está preparada (e prepara), para tanto, a universidade? Quais são, nela, as relações entre Matéria
e Espírito, quero eu dizer: entre Ciência e Cultura? É conhecida a frase de Abel Salazar: “O médico que só
sabe Medicina nem Medicina sabe”. Em muitos cursos universitários, a preocupação obsessiva pelos as-
pectos quantitativos, dando ao mostracismo os aspectos qualitativos; e ainda a ausência de fundamentação
cultural, tendo em conta o cientificismo reinante. Transformam a Universidade em templo de racionalidade
técnico-científica, onde todos os fenômenos se explicam objectivamente, como se os fenômenos biológicos,
ecológicos e socioculturais (e até as ciências da Natureza) não abundassem em questões de ordem metafí-
sica, como muito bem recorda Isabelle Stangers, no seu livro D’ une sciense à autre (SEUIL, PARIS, 1987).

A investigação epistemológica há - de mesmo realçar que a informação-conhecimento das vá-


rias Faculdades ou Institutos Superiores depressa envelhece. A Medicina é um exemplo, entre muitos:
“é evidente (...) que os médicos, após a sua saída das Faculdades, têm de dispor de uma estrutura que
lhes possibilite uma aprendizagem permanente”. Demais, “a maior parte dos nossos conhecimentos so-
bre a ciência médica está obsoleta, cinco anos após a sua introdução no acervo do saber médico”

(DANIEL SERRÃO, “Desafio à Política de Investigação Clínica” in Brotéria, Lisboa, maio-junho de 1994).

E o mesmo poderia dizer, em relação aos restantes cursos universitários, acentuando um diálogo
mais intenso entre a teoria e a prática. Volto a Daniel Serrão, no artigo citado acima “Julio Dinis mostra muito
bem, como o velho João Semana, rico de uma vasta experiência acumulada ao longo dos anos, resolvia os
problemas de seus doentes, sem desmontar sequer da mula, porque os integrava rapidamente em um dos
paradigmas que tinha do para simbolizar e interpretar os desvios da saúde do povo que estava a seu cargo.”

Há quem pense não ser exagerado afirmar que o futuro da sociedade depende do futuro da uni-
TRISKEL

versidade, pois que nesta se “formam” os políticos que hão de governá-la e os especialistas que

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

podem contribuir ao seu desenvolvi- Se tudo é sistêmico, tudo se - Não preciso de Lenine agora.
mento. Mas a visão patricial conduz define pela interdependência, pela Preciso da Bíblia para entender
inevitavelmente à solução parcial. relação, pela complexidade. Os ele- melhor o universo místico dos
Que não se esqueça do diálogo en- mentos de um sistema existem por camponeses. Sem esta compre-
tre a prática e a teoria, entre o saber si, entre si e como uma totalidade ensão, como posso comunicar
abstracto e o saber experimental, sinergética. Paulo Freire, eminente com eles? (Editora Paz e Terra,
em ordem à criação de paradigmas pedagogo brasileiro, relata no seu 1992, p.108). A teorização filo-
que sirvam às coisas e às pessoas livro, Pedagogia da Esperança, o sófica de Lenine não chegava à
concretas. A transição do paradig- seguinte: “Em conversa recente prática revolucionária daqueles
ma newtoniano ao paradigma de com o sociólogo e professor bra- militantes, pois que na panóplia
Heisenberg traduz a passagem de sileiro, Otávio IIanni, da UNICAMP, do humano se encontram parti-
uma visão determinista-mecanicista ouvi dele o relato de alguns de seus cularidades que só parcialmente
a uma visão aberta ao aleatório e ao encontros com jovens militantes coincidem com a teorização de-
incerto. Há, porém, um obscuro fa- de esquerda, um deles na prisão masiada especializada e exclusi-
zer, o mais a sotavento possível da do Recife, em 1963, em que ele, vista. Nenhuma ciência, nenhuma
pompa e circunstância das sessões IIanni, de um lado, não escondia a área curricular existe indepen-
solenes, da prática profissional dos sua emoção ante o que viu e ouviu, dentemente da prática e de um
mestres incensados, bem próxima de outro, sua concordância com a conceito mais vasto de cultura.
do fazer com arte, onde os saberes forma como aqueles militantes res- Temos que criar indisciplinas nos
universitários adquirem o estatuto peitavam a cultura popular e, nela, currículos, começando por criticar
de acto vital. Habituados a aceitar as manifestações de suas crenças a lógica de uma teoria sem prá-
um mundo predefinido, ainda não religiosas. xis (onde englobo também toda
sentimos a necessidade inadiável a pratica sócio-política). “Não é
-De que precisa você?
de repensar os currículos dos vá- o ser-se qualquer coisa, um bom
rios cursos superiores, circunscritos - De uma Bíblia, respondeu. profissional, por exemplo, que
à transmissão de um saber teórico, promove necessariamente a sa-
- Pensava que você me pediria o
desligado da realidade. A prática e bedoria. Mas a sabedoria provém
Que fazer? de Lenine, disse Ianni
a teoria fazem parte da mesma to- de tornarmo-nos pessoas com-
talidade, que é a práxis. A epistemo- pletas, pessoas em que o saber,
logia é, de facto, um espaço teórico. a experiência, a maturidade, a re-
Mas pressupõe um posicionamento flexão entram num relacionamen-
de solidaria atenção à prática. to eminentemente sinergético”.
(RUBEN DE FREITAS CABRAL,
“Gestão escolar em tempo de
mudança”, in Brotéria, fevereiro
de 1995).
12 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

O código deontológico de uma profissão é a cristalização da experiência ética dos seus pro-
fissionais, é a súmula consensual das soluções mais justas, mais sensatas e mais de acordo com o
bem comum. Também aqui a prática é necessária. Mas uma prática, onde o saudável pluralismo da
pós-modernidade não se confunda, por ausência de conhecimento científico, com um senso comum
imediatista, preguiçoso e grosseiro. A propósito: é a ciência contra o senso comum? É evidente que
não, pois que toda a ciência tende a transformar-se em senso comum. Demais, todo o texto (incluindo o
texto do discurso científico) tem o seu contexto. Ora, no contexto está a prática diária do senso comum,
presente mesmo na comunidade científica. A ciência não se faz contra o senso comum, mas no senti-
do democrático de enriquecê-lo e aperfeiçoá-lo. A dialéctica entre o senso comum e o conhecimento
científico é incontornável. Aliás, na práxis, estão um e outro. A Universidade, na “sua tarefa central de
ilustração” (usando as palavras de Ortega y Gasset, no seu livro Missão da Universidade, Seara Nova,
Lisboa, 1946) não pode confundir ilustração com senso comum, mas deve sublinhar que, na produção
do conhecimento, há mais elementos, para além das ciências.

E o que traz a epistemologia de rigor e de vontade de compreensão a uma Faculdade de Mo-


tricidade Humana (FMH)? Num tempo em que, quando se fala de rigor, vem logo à tona o exagero do
economicismo e da modernização (que se confunde com ocidentalização ilimitada) - a epistemologia,
porque filosofia ensina-nos a suspeitar que, por detrás do fenômeno cientifico, há ainda outra realidade
onde se ele fundamenta. “Todo o homem que for dotado de espírito filosófico há- de ter o pressenti-
mento de que, atrás da realidade em que existimos e vivemos se esconde outra muito diferente e que,
por consequência, a primeira não passa de uma aparição da segunda”. (F. NIETZSCHE, a Origem da
Tragédia, Guimarães Editores, 1972). Quem procura a realidade do fundamento último é o filósofo (seja,
ou não seja, filósofo de profissão). E é no discreto sobressalto da busca pelo fundamento que várias
questões se levantam, aqui e agora. Comecemos por esta: se o homem não é um puro ser de razão, den-
tro de um invólucro corpóreo, mas sempre e necessariamente um ser em sua complexidade concreta; se
o rigor da linguagem anuncia rigor na investigação, pois que os conceitos e as proposições das ciências
não se confundem com o conhecimento comum - há mesmo educação física? Uma questão ainda: se
na motricidade humana, em todas as suas variantes, há ruptura com o senso comum (a ruptura é a
condição inicial de todo o trabalho científico) e declaradamente uma prática autônoma, porque não se
verifica a emergência de uma ciência autônoma? Uma questão por fim: por que predomina, nesta área
de estudo, o paradigma positivista, procurando colonizar os estudos sobre o ser humano, com modelos
das ciências da natureza? Será que o nosso pensar ainda é moldado pelo paradigma cartesiano?

Motricidade Humana: para esclarecer algumas dúvidas...

Estrugiu grande risota entre os “sábios” que vão repetindo até ao cansaço aquilo que lhe ensi-
naram (não passam daí), quando publicamente comecei a discordar, com alguma originalidade (passe
TRISKEL

a imodéstia), da Educação Física e do Treino Desportivo que me pareciam ser aceites majoritariamente

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

entre os profissionais destas duas áreas. Já lá vão mais de trinta anos! E recordo com emoção o colorau
doce das críticas de NELSON MENDES, professor do Instituto Nacional de Educação Física (INEF) de
Lisboa, à ginástica tradicional e ainda a publicação do livro de João Paulo S. Medina, A Educação Físi-
ca Cuida Do Corpo... E Mente, em 1983. Tenho verdadeiro horror por fórmulas, cânones de escola e
tiranias da moda. Demais, quando em 6 de Outubro de 1968, pisei, pela primeira vez, o chão lajeado do
INEF, já eu estudara GASTON BACHELARD (1884-1962) e sabia portanto que era também descontí-
nua a História das Ciências, ou melhor: que os momentos mais significativos da história de uma ciência
acontecem com as rupturas ou cortes epistemológicos, onde, respeitando-o embora, se considera
muito do que é Passado um verdadeiro obstáculo epistemológico. Durante a década de 70, com
Louis Althusser, aprenderia depois que o corte deveria ser epistemológico porque era político, ou político
porque era epistemológico. Por isso, quando defendi a minha tese de doutoramento, em 1986, tinha
(tenho) declarados objectivos epistemológicos e políticos. Para mim, conhecer é fundamentalmente
encontrar novas vias de acesso à transformação social!

Em Novembro-Dezembro de 1979, na revista Ludens, do Instituto Superior de Educação Física


da Universidade Técnica de Lisboa, escrevi um artigo intitulado “Prolegómenos a uma nova ciência do
homem”, sucedâneo de uma descoberta por mim efectuada (como sei bem dos meus limites, admito
que outras pessoas o tenham visto antes de mim – só que, por defeito meu, as não conheço) que a
Educação Física nasce do dualismo antropológico cartesiano. A educação do físico, dentro da perspec-
tiva mecanicista do tempo e a educação do espírito decorriam de costas voltadas, ou seja, para sermos
breves, dominava então o “erro de Descartes”. Não foi por acaso que a expressão Educação Física nas-
ceu depois deste filósofo que viveu entre 1596 e 1650. Os gregos, pura e simplesmente, ignoravam-na.
JERÔNIMO MERCURIALIS, na sua De Arte Gymnastica (1569), sustenta que, na Grécia Clássica,
eram três os tipos de ginástica: a militar, a médica e a atlética. A Medicina racionalista destinava-se tam-
bém àquilo que em nós era físico ou matéria tão-só. Por isso, aos médicos lhes chamavam os físicos.
DEMENY (1850-1917), na sua obra Les Bases Scientifiques de l’Éducation Physique define
assim a Educação Física: “O conjunto de meios destinados a ensinar o homem a executar um trabalho
mecânico qualquer, com a maior economia possível, no emprego da força muscular”. O cartesianismo,
endomingado pela ciência positiva, atingia o século XX e, porque se arrogava de voz activa, prepotente,
na Educação Física, de igual modo se assenhoreou do Desporto que passou a reger-se pelos princípios
em que abunda o Discurso do Método. Demais, os tratadistas da especialidade consideravam o Des-
porto um dos aspectos da Educação Física...


E em 1968, quando conheci o INEF mais de perto, até pude gracejar para o Prof. Nelson
Mendes: “Aqui, o Descartes continua vivo!”. Tinha (tenho) por Descartes grande respeito e admira-
ção. Ele é um dos marcos da História da Filosofia. Denunciava, sem quaisquer outras exprobrações,
tão só o referido dualismo antropológico de que a Educação Física é um dos produtos. Até que, no
dealbar da década de 80, da releitura atenta e meticulosa da Fenomenologia da Percepção, de
Maurice Merleau-Ponty, encontro a motricidade como intencionalidade operante, como movi-
mento intencional da pessoa humana. E, a partir daqui, compus a seguinte definição de motricidade:
a energia para o movimento intencional da transcendência (ou da superação). Portanto, para mim
(e neste ponto não estou só) motricidade é mais do que movimento – é movimento intencional
da complexidade humana! É afinal o movimento típico da prática desportiva. Fundamentado na
motricidade humana, criei uma teorização original (porque não é plágio) da Ciência da Motricidade
Humana (CMH), que se desdobra nas especialidades de desporto, dança, ergonomia, educação es-
pecial e reabilitação, actividade motora adaptada, etc. Fundamentado ainda na CMH, como ciência
humana, pus em causa o treino analítico e sugeri a inexistência do preparador físico, no treino, que
seria substituído por um metodólogo do treino, dado que o treino, em todas as circunstâncias, teria
em mente a complexidade humana e não só o físico. Mais tarde, descobri, com alegria, que o actual
treinador do Inter de Milão também assevera que não tem preparador físico, no seu departamento de
futebol. Fui professor de filosofia, não de futebol, de José Mourinho, em 1981! Se alguns dos meus
antigos alunos aplicam ao futebol o conteúdo das lições que me escutaram, tal se deve ao facto de
(como eu acentuava nas aulas) só saber de futebol quem sabe mais do que futebol...

Por fim, como ciência humana (e não me alongo mais sobre o tema), a CMH quer ser um
conhecimento-emancipação, contra a exploração dos poderosos e a tirania do Estado. Sou socialista
e democrata. Sei bem onde levam as democracias sem socialismo e os socialismos sem democracia!
Neste momento em que o neoliberalismo entrou em crise agônica, estou a ressoar o que também já
assumo, sem equívocos, há muitos anos! A motricidade humana é um saber que exige a acção: não
14 propõe apenas um ideal, postula também a procura de meios concretos, para realizá-lo!
TRISKEL
16 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

DE PINÓQUIO À PESSOA:
A CONSTRUÇÃO DE UM LA PERSONA DE PINOCHO:
CONSTRUCCIÓN DE UN
ESCRITOR ESCRITOR reflexiones sistémicos

Reflexões Sistêmicas
RESUMEN
Rosa M. PRISTA * En este artículo se describe
una visión antroposociológica
Psicóloga, CRP 05/7610, Neuropsicóloga (CFP), Psicopedagoga (CRP-05), de este hombre en la base
Psicomotricista com pós-graduação, (UNESA/RJ) e Formação com Françoise filosófica de la formación en
Desobeau (I. Alfred Binet - Paris), Mestre em Psicologia Escolar (UGF/RJ), psicomotricidad sistémica que
Doutora em Psicologia e Qualidade de Vida (IOWA/EUA), Diretora Científica do puede articular la metodología
Centro de Estudos da Criança e Coordenadora da Escola de Formação de Psico- científica propuesto.
motricistas Sistêmicos, Coordenadora da Formação Psicomotricidade Sistêmica, Se analizarán las condiciones
Professora de Pós Graduação-Faculdade de Porto das Águas – SC, Membro necesarias para que la palabra
Titular da ABP - Associação Brasileira de Psicomotricidade. escrita pueda estar constituida
con fluidez, originalidad y elabo-
Atual Coordenadora da Comissão Científica ABP. ración.
La escritura se caracteriza
RESUMO por ser un acto humano y por
O presente artigo de- DE LA Pinokjo Persono lo tanto un acto de complejidad
lineia uma visão antroposso- CONSTRUCTION de verkis- involucrada en el que, la relación
cióloga do Homem presente to sistémica interkonsiligoj con el otro y la inclusión en el
na base filosófica da formação Resumo contexto histórico-cultural. La
em Psicomotricidade Sistêmica Tiu artikolo skizas historia de Pinocho será utiliza-
que possa articular-se a pro- la antroposociologa vizio tiu da y analizada como un len-
posta de metodologia científica. viro en la filozofia bazo de guaje simbólico para el debate
Serão analisadas as la formado en psikomovado temático.
condições necessárias para sistemice kiu povas artiki la
que a palavra escrita pos- proponita scienca metodiko. Palabras clave: Psicomotricidad
sa se constituir com fluência, La necesaj kondicoj sistémica, escritura, Pinocchio
originalidade e elaboração. estos analizita por ke la skri-
Escrever será caracte- bita vorto povas esti kon-
rizado como um ato humano stituitaj kun flueco, origina-
e, portanto um ato de com- leco kaj zorgema preparado.
plexidade que envolve o Eu, Skribo estos karak-
a relação com o outro e a in- terizita kiel homa ago kaj do
serção no contexto histórico- ago de komplekseco implikita
-cultural. A história de Pinó- en la rilato kun la alia, kaj la
quio será utilizada e analisada inkludo en la historia-kultura
enquanto linguagem simbólica kunteksto. La Pinokjo rakonto
para discussão da temática. uzos kaj analizita kiel simbola
TRISKEL

Palavras chaves: Psicomotricidade lingvo por la temo diskutema.


sistêmica, Escrita, Pinóquio

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

A
vivência motora de esta-
dos hipertônicos (quando
vivenciam estados desa-
gradáveis — desconfortos
pela fome, posturas e có-
licas) quando seu corpo se enrijece e
estados hipotônicos (quando vivencia
estados prazerosos — satisfação ali-
mentar e relacional) quando o seu cor-
po se expande, relaxa são as primeiras
expressões afetivas que irão dar forma
a consciência do ser humano. Depen-
dendo da troca com o meio e da forma
como esta ocorre poderemos criar um
terreno fértil ou estéril para a cons-
trução de um sujeito ativo e passivo.
Com o aumento das trocas re- O interesse pelo mundo se
lacionais, o desenvolvimento biopsicoló- altera. Do contato centrado em seu
gico encontra condições de expansão corpo e da mãe passa a visualizar o
e há o favorecimento de diferenciação exterior, as pessoas e os objetos. Or-
eu - não eu. Há ampliação de movi- ganiza-se o eu corporal incorporado
mentos que constituirão coordenações com a descoberta de si, de sua imagem.
que facilitarão o deslocamento da crian- O surgimento do eu psíquico de-

W
ça. A aquisição da marcha e preensão pende da vivência da imitação. Para
são fatores fundamentais. Paralelo ALLON (1930),
surge a função simbólica e a linguagem a imitação é pró-
vem ampliando cada vez mais as re- pria da evolução
lações com o meio. De um contato biológica e neces-
fragmentado a criança passa a utilizar sária para a cons-
o contato de corpo inteiro com o meio. tituição de uma totalidade psicomo-
tora. Segundo FONSECA (1982):
É por meio da imitação e do
jogo, os circuitos sensório-motor e per-
ceptivo-motor vão despertando, organi-
zando e organizando-se como estrutura
nervosa em movimento, em formação e
acabamento e cuja expressão concreta e
material se traduz à vista e na prática pela
mielinização das próprias vias nervosas.
A imitação possui vários aspec-
tos necessários ao desenvolvimento hu-
mano: lúdico, de formação e informação.
Através do contato social e do exercí-
cio de imitação, a criança se transfor-
ma em ser social, articulando eu-outro.
18 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

MOTRICIDADE mas a verdadeira estrutu- Segundo WALLON (id): Esta organização assenta
HUMANA: PRIMEIRA ra de relação do Homem A organização do por um lado na função clô-
ESTRUTURA DE com o meio, definindo que movimento encontra-se nica do músculo-encurta-
RELAÇÃO entre este há uma unida- dependente dos múscu- mento e alongamento simul-
de indissolúvel, uma dia- los estriados, aos quais os tâneo das suas miofibrilhas
Falar do Homem lética que favorecerá ou neurologistas chamaram — e por outro na função
é falar de sua mais alta bloqueará o desabrochar músculos de vida de rela- tônica — manutenção de
capacidade, a capacidade da inteligência humana. ção. uma certa tensão muscular
de usar o simbólico, seja que varia com as condições
na linguagem verbal, não fisiológicas do próprio indi-
verbal ou escrita. Falar víduo —com a complexidade
desta capacidade é bus- do gesto e com a afetividade.
car o resgate do ponto A motricidade na
original — a motricidade infância é expressão natu-
humana. ral da afetividade. O recém-
WALLON nascido encontra-se num
(1930) foi o primeiro estado de nebulosidade,
psicólogo a resgatar a pois seu eu é indiscrimina-
importância da motrici- do do ambiente e, portanto
dade na emergência da suas ações são reativas a
consciência, sublinhando todo e qualquer movimen-
a reciprocidade entre os to deste meio. Sua cons-
aspectos da afetividade ciência é indiferenciada.
e da função tônica. Motri-
cidade não é um dado no WALLON (1930) foi o primeiro psicólogo a resgatar a importância da
desenvolvimento humano, motricidade na emergência da consciência...

Abstract

This article outlines a Man’s social-an- The Pinocchio story will be used and ana-
thropologist vision that exists in the philosophi- lyzed as a symbolic language for the thematic
cal basis of Systemic Psychomotor training discussion.
that can articulate the proposed scientific
methodology. I Key word: Systemic Psychomotricity, Writing,
It will analyze the necessary conditions Pinocchio.
for the written word to be established with flu-
ency, originality and elaboration.
Writing will be characterized as a human act,
therefore an complexity act that involves ‘the I’,
TRISKEL

the relationship with others and the historical


and cultural context.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

É necessária a vi- Escrever com originali-


vência do papel de expec- dade é expressar a com-
tador, para alcançar o papel plexidade desta potência. Neste caminhar,
de autor e, portanto de do- UMA BUSCA ANTRO- cabe definir que con-
mínio de si — conquista que POSSOCIOLÓGICA DO cepção de mundo este
só pode se processar numa HOMEM EM artigo abarca, e sem dú-
dialética de estruturação- MOVIMENTO vida rejeitar a visão car-
desestruturação- tesiana que possa surgir
reestruturação. Crises e ao falar em movimento.
conflitos terão que ocor- Indo além do anatômico,
rer e, serão compreen- fisiológico e biomecâni-
didos como movimentos co, passando pela inte-
necessários a evolução da gração corpo-mente e
identidade. Ocorrendo uma ousando superar a dico-
vivência flexível de papéis tomia, é preciso falar de
e ações, a motricidade um movimento-expressão
pode se expressar, num do Ser. É preciso assumir
constante movimento de uma postura sistêmica,
transcendência, onde o compreendendo e acredi-
ser se projeta no espaço, tando que todos os fenô-
imprime a história do am- menos estão interligados.
biente em si e no outro e
constrói a sua própria pos-
sibilidade de fazer a história.
A escrita é a expressão
desta motricidade-potência.
20 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

N
a procura de um sistema
teórico, que pudesse sus- O APRISIONAMENTO DO
tentar esta visão sistêmi- HOMEM: DE PESSOA A
ca encontramos a Motri- PINÓQUIO
cidade Humana, área do
conhecimento criada por Manuel Sérgio A espécie humana vem se sub-
Vieira e Cunha. Este a chama de “A metendo a um drama de aprisionamento,
Nova Ciência do Homem”, porque ques- de submissão e de controle, onde corpo,
tiona a forma simplista como muitas inteligência e desejo são dissociados e
áreas profissionais se referem ao ser a autonomia de pensamento negada.
humano. Procura recolocar o Homem RUBEM ALVES (1984), fala deste
no lugar da complexidade. Segundo aprisionamento através do conto Pi-
MANUEL SÉRGIO (1986) “o Homem é nóquio, que considera uma história-
presença e espaço na História, com o -retrato da realidade da criança; “de-
corpo, desde o corpo e através do corpo.” pois de levar a criança a se identificar
Na ciência da Motricidade Hu- com o boneco de pau, a trama progride
mana, o Homem é definido como um proclamando que é necessário ir à es-
ser eminentemente carente, que está cola para se virar gente.” E continua:
sempre em busca de sua complexida- “Caso contrário o destino inevitável é
de, através da motricidade que implica virar burro, com rabo, orelhas, zurros
na personalização do movimento hu- e tudo mais que pertence à burrice.”
mano. Intencionalmente vai a busca Mas, que escola é esta? A que
de objetivos, de suas escolhas, signifi- transforma crianças em bonecos ou aque-

P
cando seus atos. Busca estar aberto la que mantém a evolução do Homem?
ao mundo, aos outros (a existência é refiro manter o conto ori-
dialógica) e a transcendência, buscan- ginal de Pinóquio, devol-
do ser humanamente cada vez mais. vendo ao Homem a ca-
Nesta possibilidade de refe- pacidade de autonomia,
rendar o Homem, urge a necessida- de potencialidade, de
de de rever a forma como tratamos os crítica, de consciência de seus recur-
alunos, clientes, os amigos, os paren- sos e limites a partir da vivência des-
tes. Falar do desenvolvimento humano te ser, na descoberta de si e do outro.
implica em contradição e dinamismo. Para compreendermos a possi-
Implica em totalidade e complexidade. bilidade de sermos bonecos ou pessoas
Sem dúvida que pensar na é preciso lembrar a psicanalista Aulag-
complexidade do Homem, automatica- nier. Ela nos diz que, quando somos bebê
mente remete a motricidade, remete vivemos uma violência primária, mas ne-
a dialética entre filogenia e ontoge- cessária. A mãe interpreta os sons de
nia como movimentos interdependen- seu filho, outorgando significados. Se-
tes. Toda ação clínica ou educacional gundo AULAGNIER (1979): “violência
recoloca o Homem no lugar de sua primária corresponderia à ousadia de
complexidade, estará não só ajudan- arvorar-se competência para interpretar
do a um ser humano a evoluir, mas as manifestações pulsionais do bebê,
possibilitando a evolução da espécie. interpretar as emissões de sons envol-
TRISKEL

tos em movimentos e ir significando as


emoções que neles estão impregnadas”.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

ALICIA FERNAN- espaço — em construção no dade de garantia e assistên-


DEZ (1992), psicanalista tempo — de uma autonomia cia às mães, que logo tem
argentina comenta sobre de pensamento que redun- que retornar aos empregos,
esta questão: “É violência dará em possíveis e neces- ausência de locais adequa-
contra uma suposta autono- sárias oposições e enfrenta- dos para os bebês ficarem.
mia porque neste momen- mentos com o desejo deles. A existência de creches que
to, é a mãe que pensa pela pouco se preocupam com o
criança, que atribui senti- Nossa sociedade aspecto da evolução huma-
do às suas manifestações.” possui um enquadre bas- na são os primeiros pontos
Este momento na tante contraditório. Teorica- a serem analisados na desti-
vida de todo ser humano é mente foca na autonomia tuição da integridade do ser
fundamental, pois a partir do do ser, na liberdade, na humano. Aos poucos este Ser
desejo da mãe irá constituir- descoberta, na criatividade; aprende a controlar seu dese-
-se um terreno propício para na prática, visualiza-se o jo, a seguir o padrão, a norma.
surgir o desejo do filho, que inverso. Um exemplo típico
sendo respeitado na sua di- A transformação de do nosso cotidiano é obser-
ferença, originalidade poderá pessoa em boneco se faz var uma criança tentando
constituir uma dialética entre desde tenra idade. Na vida subir a escada de um escor-
estes desejos. Constituída intrauterina, o bebê inicia rega. A maioria dos adultos
esta dialética, a palavra po- seu contato com o mundo de não permite a criança exer-
derá surgir com dupla finali- forma energética e viva. Pre- citar suas habilidades psi-
dade: de satisfação pulsional para-se para ser ativo num comotoras e imediatamente
com o desejo de voltar-se mundo de exigências. No segura o corpo da criança
para o outro já que sua pri- Brasil é praticamente nulo e lhe dá o seu movimento...
meira experiência (com a o atendimento pré-natal que Chega a idade de ir
mãe) foi prazerosa, a ten- inclua a preocupação psico- para a escola. Na Educação
dência é buscar novas par- -afetiva e relacional entre Infantil aprende a controlar
cerias, do pai, do professor... mamãe e seu bebê. A indu- a hora de fazer suas neces-
Entretanto se o ção ao parto cesárea é extre- sidades fisiológicas. Não é
processo não ocorrer natu- ma, o apelo a amamentação seu corpo que diz a hora de
ralmente, se o adulto-mãe, é exercida sem levar em con- precisar usar o banheiro, mas
pai, professor não permi- ta o direito da figura mater- o professor, que no apelo de
tir o surgimento do desejo na e o estado emocional da uma falsa ordem, impede este
infantil poderá se consti- mesma (depressão pós parto organismo de se auto-regular.
tuir a violência secundária. — reestruturação da imagem
FERNANDEZ (1992) informa: corporal). A mãe tem que dar
o leite de seu peito, é um
Todo o pai se encontra ante um direito da criança, diz a pro-
duplo desafio: Como construir paganda. Sem negligenciar a
uma escuta paterna/materna importância do leite materno,
que possa esperar, suportar, se faz necessária atenção
descobrir a originalidade e para o tipo relação afetiva
a diferença no enunciado da que se está estruturando.
criança, com o que esperava e O atendimento nos
desejava ouvir, e como ou- hospitais, na maioria dos
torgar sentido às expressões serviços, é desvinculado do
da criança sem apagar o lado humano. A impossibili-
22 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

O
abuso no uso de folhas O RESGATE: DE PINÓQUIO À
mimeografadas com PESSOA — A CONSTRUÇÃO DE
desenhos prontos para UM ESCRITOR
a criança copiar ou pin- Estudos científicos e a prá-
tar na cor determinada, tica diária mostram que todo e qual-
impedem que a coordenação moto- quer ser humano tem a capacidade
ra encontre a organização de um Ser. de se auto-organizar, criar e recriar
Para tal é necessário espaços amplos, seu mundo fazendo a história pesso-
respeito e incentivo. A antecipação al e do coletivo..., desde que as rela-
destes momentos vai prejudicando, in- ções mantidas com este ser favoreçam
terferindo e restringindo funções psi- de alguma forma este desabrochar.

D
coneurológicas essenciais ao Homem. O conto Pinóquio será utili-
esde os primeiros segun- zado de forma que através da lingua-
dos de vida é o movimen- gem simbólica possa se referendar,
to que vai criar os “im- quais são as condições básicas para
puts” necessários para que uma pessoa possa ser autônoma
uma necessidade de or- em seus atos e, portanto com capaci-
ganização sensorial e, por conseguinte dade de se tornar um escritor, um au-
todo o desenvolvimento das estruturas tor, assumindo suas ideias ao mundo.
perceptivas que irão, por sua vez, permi- Pinóquio, o menino-bone-
tir ao Homem ser um animal capaz de co foi criado por Gepeto — o melhor
realizar movimentos para alguma coisa. entalhador das redondezas, isto já traz o
LURIA, (1966) entendimento de que Pinóquio nasceu
Este processo não se encer- num ambiente do fazer e que seu pai era
ra aqui, tende a agravar-se a partir da o melhor naquilo que fazia, enquadran-
alfabetização como se este processo se do um ambiente familiar transformador.
iniciasse aos seis anos. Grande engano!!! Gepeto esculpiu Pinóquio
A leitura do mundo é inscrita primeiro pe- de forma tão bem feita, que pare-
los pais, depois pelos outros adultos que cia um menino e pode externali-
numa relação dialética permite avançar zar para o então boneco de madei-
de oriundos de informações contextuali- ra, o seu desejo de que fosse um
zadas do meio, significadas pelo próprio menino de verdade, projetando assim
sujeito que por sua vez provocam novas um sonho, um desejo de crescimen-
informações e modificações ao meio. to, de crédito para aquilo que produziu.
Chegam o segundo e o terceiro graus O surgimento da fada azul contempla o
e desrespeito as etapas básicas e desejo de Gepeto e transforma o bone-
fundamentais à evolução humana co de pau em menino. Para tal ela diz:
continuam. A conclusão deste pro- “— Boneco de pau, quando eu
cesso é: “Não seja você, não acredi- te tocar, desperta sem medo.
te em você. Faça como todo mundo!” Pois o dom da vida, pre-
sente sem par, eu te concedo.”
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

O nascimento do capaz de fazer escolhas ele dá a luz o menino, ocorre uma prática do fazer para a
menino Pinóquio se faz com responsabilidade. o momento que dois seres prática do pensar, raciocinar
através da figura feminina Ainda neste mo- anteriormente ligados — até o encontro do fazer/pen-
— maternal — que de- mento o grilo falante ven- Pinóquio é feito por Gepe- sar — o uso da inteligência
monstra que é necessário do a dúvida de Pinóquio to — traduz seus desejos e reflexiva.
tocar/afetivizar para surgir mostra que consciência é anseios de ser pai podendo Pinóquio não chega
a VIDA, para energizar e aquela pequena voz que estar frente a frente, como à escola. Aprende na expe-
transformar a tonicidade as pessoas costumam dois seres separados fisica- riência, na dor, na falta de
muscular e sua relação não escutar. E por isso, mente e com a capacidade seu referencial. É nesta falta
com o meio. Do boneco de que o mundo está tão de se comunicar. que ele pode usar todos os
pau surge gradativamente cheio de problemas hoje Da alegria do encontro, seus recursos internos para
um menino que diz: em dia. Pinóquio é recebido resolver situações-proble-
— Eu posso me mexer. — E Nesta fala, o tex- com toda a honra, é significa- mas. Na escola ocupamos
posso falar também! to traz à tona a questão do pelo pai-mãe, seu referen- todos os espaços infantis
Mas apesar de ter da autonomia do sujeito. cial que por algum tempo irá com desejos alheios. Na
todo o movimento neces- O indivíduo interioriza dar significado a seus atos e vida os espaços são preen-
sário, Pinóquio ainda não formas de funcionamento lhe mostrará o mundo para chidos por nossos desejos
era um menino de verdade. psicológico representan- posteriormente lhe permitir na relação com o mundo.
A fada azul lhe deu vida, tes de sua cultura, mas ser diferente e singular. No caminho para a
mas informa que o resto ao tomar estes dados No dia seguinte escola, Pinóquio se desvia
era por conta do próprio como seus os utiliza Pinóquio vai para a escola. impulsionado pelo desejo do
Pinóquio. como forma de interven- Seu pai lhe diz: novo, do desconhecido; ao
— Você vai ter que provar ção no meio. A consci- — “Se você estudar bastante, contrário do desejado pela
que é capaz de ser corajo- ência surge como uma logo vai ser tão esperto e família.
so, sincero, bom, e que não função posterior, após a inteligente quanto qualquer Nesta história há
é egoísta — falou a fada vivência do indivíduo no um deles.” um corte da fase de bebê a
azul — E se você conseguir meio e das informações A entrada na escola menino — momento crucial
tudo isso, um dia, quando que este oferece do cer- e o verdadeiro papel que para a criança absorver os
você acordar, vai perceber to/errado. a escola deveria possuir: valores familiares/culturais.
que já se tornou um menino O encontro Tornar o ser humano um ser Daí ser Pinóquio realmente
de verdade. de Pinóquio e Gepeto capaz de usar suas mais um boneco.
— O mundo é cheio de representa um grande altas habilidades, partindo de
caminhos, alguns difíceis, momento: Do pai/mãe,
outros fáceis até demais.
Você vai ter que esco-
lher qual o certo e qual o
errado.
E na dúvida, a fada
diz que a sua consciência
vai lhe informar o que é
certo ou errado. Na história
o grilo falante entra como
a consciência que surge de
fora do Pinóquio, só sendo
introjetado futuramente
quando Pinóquio será
24 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

N
o desvio do caminho Com enorme dificuldade che-
Pinóquio acaba indo gam ao continente fugindo da perse-
para a Ilha dos Pra- guição. Tudo que Pinóquio desejava
zeres onde é intensi- era estar com seu pai na casinha acon-
ficado a oralidade e chegante, entretanto levava a prova
o fazer o que tinha vontade. de tudo o que fez — orelhas e cauda.
“Eles quebravam todos os vidros que A ausência do pai, a
encontravam e queimavam os livros de casa abandonada o deixou an-
escola. Na verdade, eles faziam tudo sioso. Encontra uma carta, mas
que tinham vontade de fazer, sem pen- não sabe lidar com aqueles sinais.
sar se estavam certos ou não. Comiam O grilo reclama dele não ter ido à escola
o dia inteiro, sem parar, sempre esti- e lê para ele. Gepeto na busca de seu
mulados pelo cocheiro e pelo prefeito.” filho é engolido por uma enorme baleia.
Sem limites, sem referencial materno- Pinóquio fica alegre e o
-paterno que discriminasse o mun- grilo não o entende. Mas sua ale-
do, Pinóquio fez o que todo mundo gria está em saber que seu pai
fazia — vivência social. Entretanto a não morreu. Há tempo de salvá-lo.
ausência de estímulos que per- “Eu estou querendo dizer
mitissem a discriminação de de- que eu vou salvá-lo. Foi por minha
sejos facilitou a manutenção de causa que ele acabou dentro da-
um estado primitivo, aconsciente. quela baleia. E eu vou até o fun-
“As pernas fininhas do grilo do do mar para tirar meu pai de lá.”
começaram a tremer. Só agora é que Pinóquio põe sua vida em risco
ele percebia o significado da Ilha dos para salvar alguém que lhe é muito im-
Prazeres. Então era isso que aconte- portante. Na ausência do outro, Pinó-
cia aos meninos levados e malcriados. quio dá seus primeiros sinais de amadu-
Eles eram transformados em burros.” recimento, dando soluções ao problema.
“Sem consciência, ficavam a mercê O grilo o acompanhou e após di-
do outro, sem condições de recla- versas tentativas lhe disse:
mar, de se opor, foram dominados...” “É melhor a gente voltar, Pinóquio. Nós
Pinóquio sentiu em sua própria nunca vamos encontrar esta baleia...”
pele — vivência motora, o seu trans-
formar e num momento de luci- “Desistir? — perguntou Pinó-
dez própria, clama pelo retorno do quio — Nunca. Nunca vou desistir, não.”
grilo falante — sua consciência. Pinóquio reforça sua identidade, de-
Apesar de necessário vivenciar os pró- termina um projeto, uma busca...
prios desejos, apenas esta vivência não Pinóquio encontra a baleia e também
é suficiente. É necessário avançar e é engolido. Desta vez o grilo falante
o organismo de Pinóquio aciona a ca- não pode ficar com Pinóquio, ele teria
pacidade de auto-organização presente de se cuidar sozinho. O encontro com
em todo ser humano. Acionado a partir o pai mais uma vez afetiviza o contato.
de uma experiência própria, de tensão... A preocupação e o amor estão presen-
tes. O rabo e as orelhas não foram fa-
tos para a repulsa do pai. Ao contrário...
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

— Papai eu... eu também METODOLOGIA dogmas e conceitos Da oposição com o outro, o


tenho um rabo de burro. CIENTÍFICA cristalizados. sujeito se liberta e exercita
— Não faz mal, meu filhi- - O DESAFIO DE A possibilidade de uma seu pensamento de diferen-
nho — disse Gepeto para TRANSFORMAR pessoa se tornar autor de tes formas, questionando as
animar Pinóquio — O que PINÓQUIOS EM qualquer projeto implica na tradições sociais, afirman-
importa agora é que esta- ESCRITORES autonomia de pensamento. do a sua singularidade e
mos juntos. O texto deste artigo descre- responsabilidade no pro-
Na busca de soluções para Metodologia Científica, ve as condições necessá- cesso. Afirma-se o Homem!
saírem da baleia, Pinóquio arte de tornar “Pinóquios” rias para tal e todas estão Homem capaz de ser um su-
discorda do pai e o con- em escritores, tem sido fundadas na possibilidade do jeito cultural, mas não deter-
vence a seguir suas ideias. negligenciada enquanto Homem estar em movimento, minado por este. Utilizando
Apesar do pai desejar fazer um espaço imprescindível buscando, construindo seus as capacidades complexas
de uma forma, Pinóquio na formação do Homem. projetos no e pelo movimento. que o diferencia dos animais
prova que sua forma de Assiste-se em todos os De uma relação indiferen- irracionais, seleciona as in-
pensar pode resolver a campos profissionais ciada, fusional com a figura formações sociais, passando
questão. — da creche à universi- materna ou substituto, à a ações de transformação
— Não vai funcionar, meu dade, a ausência de um crescente diferenciação com calcadas em suas escolhas.
filho... conhecimento científico surgimento do eu, da identi- Neste ponto o Homem se
— Conseguimos. Nós con- que justifique a prática dade e das primeiras formas faz sujeito crítico, com capa-
seguimos papai. Estamos realizada. O exercício de subjetividade, surge um cidade de discriminação dos
livres. Nós conseguimos metodológico se faz sujeito pensante, capaz de estímulos, seguro de seus
sair. presente no campo pro- lidar com as contradições valores e atitudes, assumin-
Na briga com a baleia sua fissional e pessoal, no ato do meio e de se diferenciar do sua própria obra, criando
embarcação se arrebenta de escrever, de visualizar nesta contradição. Abre-se e recriando sua história e a
e todos são atirados con- o mundo, na formação de a possibilidade de interação do coletivo.
tra os rochedos. Pinóquio hipóteses sobre qualquer dialética, fonte inesgotável de A metodologia científi-
fica jogado na areia muito fato, entretanto a prática conhecimentos. ca busca esta evolução.
pálido. Gepeto o encontra e educacional estimula o Utilizando formas, técnicas,
fica muito triste, pois acre- conhecimento imediato, métodos para organizar,
dita que seu filho morreu. superficial que por sua harmonizar, mas marcar
Na mente de Pinóquio sur- vez fecunda a formação presença da criatividade
giram as palavras da Fada de sujeitos acríticos, humana quando solicita a
Azul: corajoso, sincero, passivos, suscetíveis a possibilidade que a escrita
bom, não ser egoísta... seja uma arte, a arte de
Pinóquio acorda e desta escrever ideias com crítica e
vez seu corpo já não é de com visão de conjunto.
madeira, mas de carne e
osso. Era um menino de
verdade!
26 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Propõe ainda a capacidade de vender Propõe-se a possibilitar a criação


uma ideia. Ideia permeada genuina- de obras únicas que dependem do
mente de um ser expressivo e corajoso exercício do autoconhecimento, da vi-
no movimento de expor suas ideias. vência da autonomia, da capacidade de
Mas escrever não é ato mecânico, relacionamento, do uso da capacidade
não se aprende apenas nos livros. É de análise e síntese; depende da
ato humano e, portanto perpassa pelo construção de uma história de vida.
desejo de se abrir e de comunicar ao Assim só se justifica metodologia cien-
mundo seu próprio ser. tífica visando um olhar antropossocioló-
O povo brasileiro caracteristicamente gico, buscando o
criativo vem sendo amputado de desenvolvimento do ser humano
exercer seu potencial humano em (ontogenia) e da espécie (filogenia).
várias etapas da vida: nascimento,
escolaridade, profissionalização. O CONSIDERAÇÕES FINAIS

O
ensino universitário, fatia deste proces- tema desenvolvido marca um
so, encontra-se restrito, castrador da dos tópicos da Formação em
capacidade de inovar. “Psicomotricidade Sistêmica”,
Poucos humanos e recursos materiais que contempla em seu arcabouço
são empregados na tentativa de recolo- filosófico os estudos da Motricidade
car o Homem no seu grau de comple- Humana de Manuel Sérgio. Há uma
xidade. É bem verdade, que alguns pro- preocupação em aprofundar e em
fessores profundamente sensibilizados diferenciar os conceitos epistemológi-
conseguem romper com a incapacidade cos que utilizamos na Psicomotricidade.
de visualizar a totalidade, e perceber o Nesta formação, diferenciamos movi-
Homem e o mundo em transformação. mento da motricidade e é sobre este
Rompem com a fragmentação, com a tópico que edificamos a metodologia.
especialização árida e É preciso ser autor do próprio processo
visualizam a interdependência dos fa- de vida para que a autoria surja. Para
tores. Estes são pessoas que como Pi- isto, a Psicomotricidade Sistêmica se
nóquio foram significados ao longo da propõe a (re) configurar paradigmas na
vida, discriminaram os fatos cotidianos educação, na saúde e no esporte, des-
e foram capazes de vivenciar o vazio e de que, os paradigmas cartesianos se-
o surgimento do conhecimento. jam refutados, e espaços para um olhar
sistêmico sobre a vida possa surgir no
Metodologia Científica é mais que uma cotidiano existencial e dialogicamente
disciplina entre tantas outras, é a arte na prática profissional.
de recolocar o Homem em sua com- Enquanto os espaços educacionais
plexidade. Oferece ferramentas que não se colocarem em movimento de
facilitam o uso das mais altas habili- transformação mais “Pinóquios” serão
dades humanas que constantemente construídos. Esta formação acredita
se transformam. É uma disciplina que no processo de humanização descrita
em sua essência se funda numa visão neste artigo, a partir de uma educa-
antropossociológica. ção psicomotora como direito infantil,
uma psicomotricidade que favorece o
amadurecimento do adolescente e que
TRISKEL

permite a qualificação do adulto em


suas escolhas de vida.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

Referências Bibliográficas

1 - Importância do movimento no desenvolvimento da


criança, segundo Wallon. Textos Ed. do Instituto Antonio
Aurélio da Costa, janeiro de 1977.

2 - ALVES, RUBEM. Estórias de quem gosta de ensinar.


São Paulo: Ed. Cortez, 1984.

3 - LURIA, A.R. Higher Cortical Functions in Man. N. York,


Ed. Basic Books, 1966.

4 - DISNEY, WALT. Pinóquio. U.S.A. — Walt Disney Produc-


tions. Texto baseado na história de Collodi. Ilustrações
adaptadas por A. Dempster.

5 - PRISTA, ROSA M. Superdotados e Psicomotricidade,


um resgate a unidade do Ser. Petrópolis, Ed. Vozes, 1994
— 2a edição.

6 - PRISTA, ROSA M. Superdotados e Psicomotricidade.


A Complexidade Humana em Questão. Rio de Janeiro:
CELD, 2004.

7 - PRISTA, ROSA M. Manuel Sérgio, um Homem em


Movimento. In TRIGO, Eugenia. Pensar y Transformar. Colôm-
bia: Editora Fundación Naturaleza, Planeta y Vida - Instituto
Internacional del Saber, 2015

8 - FERNANDEZ, ALICIA. Inteligência Aprisionada. Porto


Alegre: Editora Artes Médicas, 1992.

9 - AULAGNIER, PIERA. A Violência da Interpretação. Do


Pictograma ao Enunciado. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1979.

10 - SÉRGIO, MANUEL. Para uma Epistemologia da


Motricidade Humana. Almada: Instituto Piaget, 1986.s,
1982.

11 - FONSECA, VITOR& MANDES, NELSON. Escola, escola.


Quem és tu? Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1982.
28 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

A PSICOMOTRICIDADE
La psicomo-
APLICADA NA ESCOLA triz aplikita en
SCHOOL
Resumo
Martha LOVISARO
Psicóloga, Pedagoga, Psicomotricista, Professora Adjunta UERJ, Mestrado em Psico-
Tiu studo celas esplori la efikojn
logia Escolar, Livre Docente em Psicologia Educacional, Pós Doutorado em Sociologia de la apliko de senprecedenca
do Desporto UNI-PORTO, Rio de Janeiro. lovisaro@terra.com.br programo por la disvolvi�o de
Tese de Livre Docência defendida na Universidade do Rio de Janeiro em 1988 com homa psikomovado lertecojn en
o título de Programa Experimental para o desenvolvimento da psicomotricidade em infanoj en a�o de 6 kaj 7, en lego-
crianças de 6 e 7 anos. povo klaso de lernejo en la urbo
de Rio de Janeiro.
Resumo La programo inkludas 30
kunsidoj, kiuj disvolvas de rakonto
O presente estudo visou constatar kreis por �gi, diris kaj spertitaj
os efeitos da aplicação de um progra- de studentoj, partoprenantoj de
ma inédito para o desenvolvimento da psikomovado aktivecoj kiuj akom-
psicomotricidade em crianças de 6 e 7 panas �in kaj la sperta atestanto,
anos, em uma classe de alfabetização kiu permesas, tra la grafikajoj kaj
de determinada escola do município do parola^jo, analizi fekundigo ol
Rio de Janeiro. estis sperto-la kapablo de analizo
Do programa constam 30 sessões,
kaj sintezo, kaj la rilato inter fan-
que se desenvolvem a partir de uma
tazio kaj realeco.
história criada para tal, contada e
La datumoj por elprovanta la
vivenciada pelos alunos, participan-
tes das atividades psicomotoras que a efikecon de la programo rezultis
acompanham e do registro do de la apliko de antaukaj post-
vivenciado, que permite, por meio do testo kun la utilizajo de Imita�o
grafismo e da verbalização, analisar a Teksto Gesto (Berges & Lèzine,
impregnação do que foi experienciado, 1987). Post tio ment statistika,
a capacidade de análise e síntese, e a uzante nonparametric provojn pro
relação entre fantasia e realidade. la kvantative specimeno volumo
Os dados obtidos para a testagem konsistas el 19 studentoj, la rezul-
da eficácia do programa resultaram da toj montris la granda efikeco de la
aplicação do pré e pós-teste, com a uti- programo sur-derivo strukturo de
lização do Teste de Imitação de Gestos la korpo skemo.
de (BERGÈS & LEZINE, 1987). Após
o tratamento estatístico, utilizando-se
testes não paramétricos devido ao vo-
lume quantitativo da amostra compos-
ta de 19 alunos, os resultados obtidos
evidenciaram a grande eficiência do
programa sobre a estruturação do es- Ŝlosilaj vortoj: homa
quema corporal. psikomovado, korpo-eskemo,
lernante.
TRISKEL

Palavras chave: psicomotricidade,


esquema corporal, aprendizagem.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

LA PSICOMOTRICIDAD THE PSYCHOMOTOR APPLIED IN


APLICADA EN LA ESCUELA SCHOOL

Resumen
Abstract
Este estudio tuvo como objetivo
constatar los efectos de la aplica- The present study intends to verify the effects of applica-
ción de un programa sin precedentes tion of an program for the development of psychomotric-
para el desarrollo de las habilidades ity to 6/7-year-old children attending a literacy class in a
motoras en los niños de 6 a 7 años de municipal elementary school in Rio de Janeiro.
edad, en una clase de alfabetización The program was developed in thirty sessions,
de una escuela en la ciudad de Río de coming out from an imaginary tale of adventures told by
Janeiro. the animator-teachers. The students experienced the de-
El programa tiene 30 sesiones, que velopment of the story and could talk part actively in all
se desarrolla a partir de una historia psychomotive activities which accompanied it. From the
creada para esto, contada y experi- register of what was experienced, by means of
mentada por los estudiantes, los parti- spelling and wording, it was possible to study what was
cipantes de las actividades psicomoto- kept in those children, the capacity of analysis and
ras que lo acompañan y el registro del synthesis, besides the relationship between phantasy and
experimentado, lo que permite, através reality.
de los gráficos y la verbalización, ana- The available data for the testing of the program
lizar la impregnación de lo que se vivió, efficiency resulted from the use of pre/post tests
la capacidad de análisis y síntesis, y la supported by BERGÈS-LEZINE’S Gesture Imitation Test
relación entre la fantasía y la realidad. (1975). After statistical treatment using non-parametric
Los datos obtenidos para probar la tests, due to the quantitative volume of the sample (nine-
eficacia del programa se han derivado teen students), the results which were obtained evidenced
de la aplicación de pretest y postest, the great efficacy of the program on the
utilizándose el test de imitación de los structure of body scheme.
gestos (BERGES Y LEZINE, 1987).
Luego del análisis estadístico, utilizan- Keywords: psychomotive, body scheme, learning
do pruebas no paramétricas debido al
volumen cuantitativo de la muestra de
19 estudiantes, los resultados mostra-
ron la gran eficacia del programa en la
estructura del esquema corporal

Palabras-clave: psicomotricidad, la
imagen corporal, el aprendizaje.
30 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

I
ntrodução
espaciais por intermédio do movimento
Os resultados obtidos na edu- corporal e, desta maneira, a motricidade
cação infantil, especialmente os passa a ser a projeção do homem em
relativos à alfabetização, apontam outro mundo, o que está fora dele, sob a
para a necessidade crescente de forma de envolvimento.
uma melhor adequação metodoló- Portanto, as teorias psicomo-
gica no preparo da criança para a aquisi- toras pretendem caminhar da indiferen-
ção do aprendizado da leitura e da escri- ciação à construção de um ego corporal
ta. O sistema de ensino age igualmente e psíquico, capaz de expressar prazer,
em relação às crianças de baixa renda frustração, afeto, enfim, capaz de permi-
que chegam à escola com algumas van- tir ao corpo falar, percorrendo o caminho
tagens de desenvolvimento psicomotor, que levará a uma construção estrutural
mas com sérias deficiências produzidas interior mais efetiva.
por um ambiente restrito e, as crianças Estas questões deixam clara a impor-
de média e alta renda que adentram ao tância de um bom desenvolvimento
espaço escolar contabilizando experiên- psicomotor, especialmente na criança
cias variadas, mas com algumas restri- a ser alfabetizada por todas as carac-
ções de ordem psicomotora, sabendo- terísticas que envolvem esse processo.
-se que em torno da ação psicomotora Assim surge a Floresta Encantada, um
giram as possibilidades de atuação, por programa psicomotor possível de ser
meio do corpo, sobre o psiquismo e as utilizado pelo professor de Educação In-
funções instrumentais da adaptação ao fantil e perfeitamente adaptado para o
meio. ambiente de sala de aula.
As correntes científicas sobre A intenção deste artigo não é a
a gênese do homem circunscrevem-no de descrever o programa de Psicomo-
em um espaço psicofisiológico, psi- tricidade a que se denomina de Floresta
coafetivo e psicossocial que, por si só, Encantada, mesmo porque o mesmo se
oferecem uma ordenação lógica, orga- encontra publicado (LOVISARO, 2011),
nizacional da psicomotricidade, no que mas sim mostrar, por meio da pes-
tange a sua natureza e origem. Assim, quisa aplicada, a eficácia de sua ação
temos a importância da relação do in- quanto ao desenvolvimento das bases
divíduo com seu meio, levando à com- psicomotoras que se configuram no
preensão de que o organismo, para esquema corporal da criança, quando
atualizar-se, submete-se às exigências anteriormente já se tinha constatado a
desta relação que permite à organiza- relação estreita entre esquema corporal
ção primitiva, neurofisiológica, uma evo- e alfabetização, em pesquisa de campo
lução tal que dará acesso a sistemas desenvolvida em quatro turmas de alfa-
muito mais complexos, estruturando-se betização, trabalho de mestrado (LOVI-
os fundamentos do desenvolvimento e SARO, 1982).
da aprendizagem. FONSECA (1983) as- Um aspecto importante para a
sinala que os aspectos psicofisiológicos, compreensão desse esforço em tornar
psicoafetivos e psicossociais são dimen- viável a aplicação de atividades psico-
sionados por fatores espaciais e tempo- motoras nas escolas, em particular, ad-
rais, levando à noção de que a motrici- vém da necessidade da formação do
TRISKEL

dade não está limitada às superfícies conceito de corpo e suas implicações


corporais, pois transcendem os limites nos processos de aprendizagem da

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

criança. A proposta consti- Na aprendiza- é ação que só se processa ção borboleteante, própria
tui uma tentativa de identi- gem, vista como aquisi- por meio desse corpo e desse de um porteiro de hotel”. As-
ficar que psicomotricidade ção acadêmica de conhe- psiquismo. sim é possível entender que
e aprendizagem, represen- cimentos, dirigida assim WALLON (1975) as- a atenção estará circunscrita
tadas pela ação, nada mais para os aspectos educa- sinala, no processo evolutivo entre a distribuição da ativi-
são do que expressões si- cionais, encontra-se, qua- da criança, a importância do dade psíquica, por seus obje-
nônimas. se sempre, referências gesto que, em sua opinião, tivos, e no tempo.
A compreensão quanto aos domínios do torna presente o objeto au- As raízes do desen-
dessa posição requer al- comportamento humano, sente, substituindo-o. volvimento da atenção esta-
gumas observações refe- representadas pela se- Neste programa não riam ligadas a aspectos fi-
rentes às delimitações dos guinte tríade: afetividade, se descarta a função vital da siológicos e a bases afetivas
estudos teóricos sobre a cognição e motricidade. linguagem sempre estimula- ou mnésicas, ordens dinâmi-
aprendizagem e sobre o Esses domínios têm ser- da na expressão linguística cas, baseadas em atitudes
que deve ser entendido por vido de base para ava- e ou corporal, na verbaliza- efetivas ou condicionadas.
ação. liações progressivas dos ção, quando do registro do Dessa forma pode-
WALLON (1975) alunos nas várias fases vivenciado e na ação corporal -se concluir que o ponto cha-
delimita as possibilidades de escolaridade e para o para viver esses processos ve da aprendizagem envolve
em torno da capacidade próprio estabelecimento mentais, porque ela não só questões de ordem motiva-
de aprender, ao assinalar dos objetivos dos conteú- no-meia os objetos existen- cional e a manutenção do
que esse estudo conduz a dos na escola. tes no mundo externo como nível de vigilância, em qual-
uma série de pontos iniciais, Estas três ca- também os abstrai, generaliza -quer ação que se pratique.
que marcariam o instante tegorias classificatórias e relaciona com determinadas As atividades psi-
em que a função se torna não são mutuamente ex- categorias. comotoras devem promover
possível pela existência de clusivas e servem como A atenção é outro sempre situações novas, ca-
estruturas subjacentes, de- forma de organização, aspecto relevante na práti- pazes de manter o nível de
pendentes de uma evolução assinalando uma sínte- ca psicomotora e nas ques- atenção para atingir o eu psí-
mental, que vai do concreto se importante para este tões ligadas às dificuldades quico e toda a engrenagem
ao abstrato. estudo em que aprendi- de aprendizagem. WALLON tão complicada da rede neu-
Ao operacionalizar zagens significam qual- (1941) dá a atenção uma fun- rológica que compõe o corpo
a palavra ação, tomando-a quer que seja o domínio a ção bastante interessante, humano.
como movimento, adapta- ação, entendendo-se que que é a de poder distribuir a A ação, para ocorrer,
ção e mudança, não será o movimento estará sem- atividade psíquica pelos seus necessita não só de estímu-
demasiado assinalar a ob- pre presente em qualquer objetivos e também pelo tem- los externos, como de auto-
servação feita por (LE CA- situação que envolve mu- po, trata-se da focalização matismos ou qualquer outro
MUS, 1986), sobre a frase danças. da consciência e da atenção nome que se queira dar às
de Wallon que diz: “o mo- Em psicomotrici- distribuída. Para este autor a experiências anteriores inte-
vimento é, antes de tudo, a dade, a ação está repre- criança pode enfrentar difi- gradas, que servirão de su-
única expressão e o primei- sentada por um ser total, culdades na escola onde ela porte à ação inteligente.
ro instrumento do psiquis- possuidor de um corpo terá de largar o que faz para
mo.” Além de afirmar que e de uma mente que se se acomodar a outra tarefa,
esta frase nunca foi dita por conectam com o mundo sem misturar elementos es-
ninguém antes de Wallon, exterior, através de ações tranhos. Essa dificuldade é
Le Camus acrescenta que, motoras e de ações psí- resultante de características
após ser escrita por ele, quicas. Corpo e psiquismo psicológicas que só lenta-
nunca ninguém a questio- constituem entidades di- mente, por etapas, atingirá a
nou. ferentes, mas de atuação atenção distribuída, como no
indissociável. Semelhan- exemplo dado por WALLON
temente, a aprendizagem (1941, p.92) ao dizer; “a aten-
32 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

M
etodologia novamente administrado o Teste de Imi-
tação de Gestos a título de pós-teste,
P ro ce dendo visando à comparação dos resultados
ao experimento, foi desta aplicação com aqueles obtidos no
reali-zada uma revisão pré-teste, em que foi usado o mesmo
da literatura especiali- instrumento.
zada para a organiza- O tratamento, metodologica-
ção dos instrumentos e do programa a mente qualificado como pré-experi-
ser aplicado, desenvolvendo-se o traba- mental, utilizou apenas um grupo, com
lho conforme os seguintes itens: aplicação de pré e pós-teste, sendo
conduzido pela professora da turma de
• Organização do programa de- alunos.
nominado A Floresta Encantada para A amostra intencional, cons-
o desenvolvimento da psicomotricidade tituída inicialmente de 25 crianças, foi
em crianças de 6 e 7 anos, na base de reduzida a 19 face ao afastamento de
dados coletados em bibliografia espe- algumas crianças da turma durante a
cializada e na própria experiência da au- aplicação do programa. 10 alunos do
tora do trabalho. sexo masculino e 9 do sexo feminino; 5
• Escolha aleatória, não inten- na idade de 6 anos e 14 na idade de 7
cional, de uma amostra constituída de anos.
25 alunos de uma escola do Município O Teste de Imitação de Gestos
do Rio de Janeiro, considerada pela di- investiga o desenvolvimento neurológi-
reção como frequentada por crianças co e psicológico da criança, através da
provenientes de famílias de nível sócio aquisição do esquema corporal e de
econômico baixo. sua utilização práxica, pela exploração
• Promoção de três sessões, de do conhecimento do corpo, da orienta-
aproximadamente uma hora e meia cada ção corporal e da eficiência postural. A
uma, visando o treinamento de dois pro- primeira parte consta do exame referen-
fessores de primeiro grau da própria es- te à capacidade de imitação de formas
cola, sendo que um deles, o professor simples e direções corporais. A segunda
da turma, ficou encarregado de aplicar parte utiliza a imitação de gestos com-
o programa e o outro professor atuou plexos; movimentos das mãos e de de-
como colaborador nas ativi-dades de- dos e, a terceira parte, trata dos movi-
senvolvidas. mentos contrários do corpo.
• Administração do Teste de Imi- O Programa Psicomotor par-
ta-ção de Gestos de BERGÈS & te de uma proposta motivacional re-
LEZINE (1975), realizado por uma psi- presentada por uma história contada,
cólo-ga, a título de pré-teste às crianças A Floresta Encantada, cujos capítulos
escolhidas. desenrolam-se ao longo das trinta ses-
• A aplicação do Programa sões que o compõem.
Psicomotor Floresta Encantada, inédito As atividades decorrentes dos objetivos
quanto a sua estrutura de aplicação e de cada sessão mantêm ligação com
à história que o anima, ocorreu através a história, representando uma situação
de trinta sessões, com a duração de no- que conduz ao jogo dramatizado.
venta minutos cada uma, três vezes por Cada sessão tem seu objetivo específi-
semana, com supervisão e assistência -co, gerando as atividades propostas.
TRISKEL

da autora.
• No dia imediato ao encerra-
mento da aplicação do programa foi

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
Os objetivos visam propiciando a análise e sín- comprova a íntima relação en- • Em relação ao tes-
desenvolver o esquema tese sobre os acontecimen- tre estruturação do esquema te de Sinais o valor obtido
corporal, através de ati- tos da sessão e o retorno à corporal e a aprendizagem da foi igual a 5, mostrando que
vidades de coordenação realidade, fator importante leitura e da escrita, fato que apenas 5 escores mostraram
motora ampla e específi- em todas as práticas que motivou a organização de um medidas maiores, nas situa-
ca, buscando o equilíbrio envolvem a fantasia. Programa Psicomotor que ções antes e depois da apli-
postural, o domínio sobre Os materiais propostos na pudesse ser aplicado pelo cação do programa.
os movimentos dissociados aplicação do programa sur- professor de Educação Infan- Assim, quanto à
dos membros superiores e giram sempre da preocupa- til, na sua sala de aula, como primeira fase do teste de
inferiores, a inibição de mo- -ção com a simplicidade e instrumento de prevenção das Imitação de Gestos, gestos
vimentos, a lateralidade, o facilitação, tendo em vista, dificuldades de aprendizagem simples, os resultados es-
ritmo, as questões que en- as limitações materiais ob- escolar. tatísticos não apresentaram
volvem o tempo e o espaço servadas na maioria das es- Resultados nenhum progresso no de-
e a exploração da coorde- colas brasileiras. sempenho das crianças após
nação óculo motora. O tratamento es- Os resultados do estu- a aplicação do Programa. O
O objetivo geral tatístico, no que se refere do dos efeitos do Programa que não ocorreu na segunda
do programa psicomotor é à análise quantitativa da Psicomotor aplicado foram e terceira fases do teste, mo-
oferecer ao professor de experiência realizou-se por apresentados em termos da vimentos das mãos e dos de-
Educação Infantil, mais di- meio de três tipos de testes testagem das hipóteses for- dos e movimentos contrários,
retamente aos de classes estatísticos adequados para muladas, conforme o empre- quando os resultados sofre-
de alfabetização, um rol de avaliar a significância da di- -go dos testes t de Student, ram melhoras esta-tísticas
atividades capaz de desen- ferença ocorrida nas avalia- de Wilcoxon e de Sinais, que significativas.
volver os aspectos básicos ções ANTES e DEPOIS do constituem os testes mais in- Para a testagem
psicomotores, necessários tratamento experimental. dicados para a análise de pe- da segunda hipótese nula,
à aquisição da leitura e da Sendo pequena a amostra, quenas amostras. relativa à segunda fase do
escrita representados pela composta apenas por 19 As hipóteses nulas teste – Gestos Complexos –
estruturação do esquema crianças, a fim de garantir do estudo, em número de empregou-se apenas o teste
corporal. conceitos de normalidade, três, anteciparam que não ha- t de Student que alcançou o
O referido programa volta- que indicariam exclusiva- veria diferenças significativas valor + 2,21 superiores aos
-se para uma atuação que mente o teste t de Student entre os resultados obtidos valores encontrados na ta-
pretende atingir os aspec- para diferenças entre mé- pelos alunos nas três fases bela de Valores Críticos de
tos impregnantes da apren- dias, foram aplicados os do teste, depois de submeti- t. O que permite afirmar que
dizagem: motricidade, cog- testes de Wilcoxon para dos ao Programa Psicomotor. houve melhoras estatistica-
nição e afetividade. tratamento de distribuições Na testagem da primeira hi- mente significativas após o
A aplicação da Flo- não parametrizadas e o de pótese nula, relativa à primei- tratamento na segunda fase
resta Encantada se dá em Sinais, também não para- ra fase do teste – gestos sim- do teste.
três tempos: inicialmente métrico. ples, em que se empregaram A terceira hipótese
as crianças ouvem a his- Quanto à análise três testes, foram alcançados nula, sendo testada através
tória, a seguir a história é qualitativa usou-se a obser- os seguintes resultados: do emprego do teste t de
vivida e termina com o re- vação e o relato avaliativo • No teste t de Student Student alcançou um t igual
gistro do vivenciado, este do professor, devendo-se o valor obtido foi + 1,69; me- à + 4,40 também maior do
tem por função mostrar a levar em consideração que nor do que os valores encon- que os valores encontrados
integração dos fatos que o maior interesse foi o de trados na tabela de valores na tabela de valores Críticos
se desenvolveram durante obter resultados quanto à críticos – de t, para 19 graus de t, indicando que houve
a sessão, levando a crian- eficácia do Programa apli- de li-berdade. melhoras estatisticamente
ça a demonstrar o que foi cado, tendo em vista que em • O valor obtido no tes- sig-nificativas após o empre-
mais impregnante por meio trabalho anterior de mes- te de Wilco-xon foi 5, que é go do programa experimen-
do registro gráfico e verbal, trado (LOVISARO, 1982), maior do que o valor da tabela tal na terceira e última fase
estatística. – Movimentos Contrários.
34 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Discussão A evidência de que um núme-


ro bastante significativo da amostra
O objetivo da apresentação desta apresentava um quadro de instabilidade
pesquisa, após sua ocorrência em 1998, psicomotora ou síndrome hipercinética
quando foi apresentada como tese a facilitou a observação de acentuada
uma banca de Livre Docência na Uni- melhora no que poderia ser chamado,
versidade do Estado do Rio de Janeiro, segundo AJURIAGUERRA (1980),
deve-se ao fato que a mesma nunca foi de instabilidade afetivo caracterial, di-
publicada, com exceção do programa retamente relacionada com a situação
psicomotor que foi editado, já agora na do meio no qual essas crianças viviam,
sua segunda edição LOVISARO (2011). ambiente de favela, barracos pequenos,
Esta pesquisa, portanto, deixa poucos cômodos e, portanto, nenhu-
clara a eficiência do programa apresen- ma individualidade, gerando intencio-
tado e constata cientificamente como nalidade e direção na agressividade e
atividades para estruturação do esque- impulsividade. O grupo foi muito difícil
ma corporal podem acontecer de forma quanto aos limites, transgrediam de
eficiente, praticadas por profissionais forma bruta, se batiam e machucavam,
sem formação para tal, e os resultados determinando uma habilidade ao mes-
que oferecem a nível preventivo e de tra- mo tempo sensorial e motora tornando
tamento das dificuldades escolares. dispersa a atenção. A melhora nesse
É interessante ressaltar que a quadro foi gradativa mesmo porque as
primeira fase do teste de Imitação de atividades transcorriam de forma livre
Gestos simples não trouxe nenhum re- expressiva, sem intromissões do adulto,
sultado significativo quando confronta- no fazer da criança. Foi possível notar
do o pré e pós-teste. Isso ocorreu pelo a grande influência da história contada,
fato das propostas serem muito fáceis sua impregnação no agir das crianças
para a idade das crianças da amostra. que, embora mantendo seu padrão de
Atualmente não se está usando os ges- descarga afetivo caracterial, foram se
tos simples para as crianças maiores de integrando cada vez mais à história e à
5 anos. dramatização envolvendo a expressão
Nas fases 2 e 3 em que os corporal.
itens do instrumento utilizado são mais Outra observação relevante
difíceis, verificou-se a grande eficiência aconteceu na evolução do grafismo, a
da Floresta Encantada. comparação dos desenhos iniciais da
Basta observar que na fase 1 figura humana modificou significativa-
apenas 5 crianças alteraram seus es- mente no decorrer das sessões, pelo
cores, enquanto que nas fases 2 e 3, ganho na estruturação do esquema
respectivamente, 9 e 15 crianças mos- corporal e da imagem do corpo próprio.
traram resultados muito superiores no 56% das 19 crianças apresentaram de-
pós teste, quando compara-dos aos ob- fasagens na estruturação do esquema
tidos no pré teste. corporal, fato comprovado na pesquisa
É interessante referir que a ob- de mestrado citada anteriormente, com-
servação sistemática permitiu eviden- posta por cerca de setenta e duas crian-
ciar, paralelamente aos progressos no ças que pertenciam a quatro turmas de
desenvolvimento motor, progressos nas alfabetização, mostrando também que a
áreas emocionais e cognitivas e da pró- má estruturação do esquema corporal
TRISKEL

pria personalidade. não tem ligação com resultados obtidos


em testes de inteligência e sim com os
casos que envolvem a lateralidade nas

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
crianças. Questões espa- tada. A magia de continuidade, quando as crianças adquirem
ço temporais estão ligadas A história proposta a força pela posse da espada dos poderes e do aro encantado,
diretamente, com alto per- é um elemento mobiliza- objetos que pela maldade da bruxa da floresta foram escondidos
centual, nas crianças com dor ao conduzir a criança à na árvore mais alta e assim permitindo que situações maléficas
dificuldades de aprendiza- ação e ao lhe trazer sentido pudessem ocorrer na floresta.
gem. para o seu agir. A magia do sacrifício, quando os dois heróis optam pela
Depreende-se A Floresta Encan- morte do Monstro Verde, que se transfigura, através da ação do
também que a Floresta tada emerge da magia, menino, ao atingi-lo em um ponto frágil com uma pedra, quebran-
Encantada leva a criança a através da expressão de do assim o encantamento, o que o faz chorar copiosamente quan-
ouvir e a criar, a sonhar e a conceitos primitivos e do do atingido, formando um grande lago e ressurgindo como um
construir. A parar, esperar, sincretismo entre as pro- lindo Príncipe das Águas que dessa forma poderá retornar ao seu
iniciar e terminar o que faz. priedades dinâmicas e ob- castelo no fundo do lago.
Estas ações são imprescin- jetivo concretas das coisas, A magia do oráculo, ditada pela Rainha da Floresta ao
díveis na boa escolaridade como também do pensa- dizer que ao voltar a ter a posse da espada dos poderes e do aro

S
inicial. mento e da percepção. encantado a floresta estaria, finalmente, livre de todos e quaisquer
obre o progra- Como dado alta- perigos.
ma psicomo- mente mobilizador do psi- A magia, nesse programa, é utilizada como forma de ex
tor conhecido quismo a história apresen- pressão da criatividade infantil e como elemento dinamizador da
como Floresta tada contém e permite a aprendizagem.
Encantada vivência das magias bási- As forças do bem e do mal, como em todas as histórias ao gos-
A ideia surgiu a cas que estão presentes na to infantil, intercalam-se na narrativa mobilizando os sentimentos
partir da seguinte indaga- composição desse tipo de mais primitivos.
ção: como instrumentalizar narrativa.
o professor de Educação A magia criativa
Infantil ou outro profissional que vem representada pelo
que não tenha conhecimen- pensamento do casal de
tos sobre Psicomotricida- crianças, heróis da história,
de para desenvolver esses sobre o querer tomar para
aspectos que envolvem a si o arco-íris. A possibilida-
consciência do corpo! de de viver essa situação ao
Pensando na prá- respirar as cores e dessa
tica pedagógica, a que o forma vibrar em tons como
professor está habilitado a um arco-íris, o que só foi
desenvolver, uma questão possível porque o arco-íris
surge de imediato: o valor encontrava-se não no céu,
da história infantil, com sua mas dentro de uma gruta
função de grande amplitu- onde ai podia ser tocado.
de, que envolve a aprendiza- A magia de realiza-
gem do conhecimento geral ção com o olho que tudo vê
aos valores morais e éticos (a bola de cristal) e que irá
e pelo simbolismo, imagina- funcionar como um compu-
ção e a ação das metáforas, tador com o skype ligado,
sempre presentes, trazendo permitindo que as crianças
os aportes de ordem tera- possam ver seus pais e sua
pêutica. Considera-se as- casa, aliviando assim as
sim o peso desta ferramen- saudades.
ta pedagógica ainda pouco
utilizada na sua forma con-
36 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

A
importância dessas cinco
magias, que de forma in- Em relação ao processo espon-
variável podem ser encon- tâneo do conhecimento, a história bási-
tradas em todas as histó- ca apresenta inúmeras situações onde
rias infantis, foi explicitada a dúvida está sempre presente, permi-
por WERNER (1965), nos estudos que tindo a ação do papel dos conflitos, que
realizou sobre a psicologia comparada ocupa um lugar de destaque na constru-
do desenvolvimento mental. A histó- ção do movimento projetado a partir das
ria da Floresta Encantada é inédita, foi afirmações, negações e indagações, se-
escrita para o referido programa e não gundo CASTORINA (1988).
houve nenhuma preocupação com as A história é dinâmica e se de-
magias citadas, tendo em vista que a senrola em trinta capítulos compreen-
autora ao escrevê-la não conhecia os dendo as trinta sessões propostas. A
estudos de Werner e, no entanto, elas cada sessão algo novo acontece, moti-
ali foram encontradas. A grande força vando o grupo para o que poderá acon-
do poder terapêutico das histórias in- tecer mais adiante.
fantis e sua potencial capacidade de Após a mobilização inicial, com
reter a atenção da criança ainda em todos sentados em circulo para ouvir a
tenra idade pode estar situado nessas história, o grupo é convidado a viver as
magias e no poder das metáforas que a atividades que acompanham cada ses-
elas se conjugam. Assim como a repe- são a partir da proposta de dramatiza-
tição se faz necessária para a retenção ção da narrativa. Cabe então, ao profes-
do aprendizado, assim também funciona sor ou ao adulto responsável, estimular a
a disposição da criança para as inúme- ação do grupo e a criatividade. Para tal,
ras repetições que deseja ouvir de uma torna-se necessário que o adulto adote
mesma história numa demonstração um comportamento participativo e não
clara da necessidade de descobrir o uma posição de determinador de tare-
que fica nas entrelinhas do relato, o que fas, representada pela presença exter-
faz com que esse relato não seja lido e na à ação e pelo apego aos exercícios
sim contado através das palavras orais, propostos no programa. O adulto deve
quando a comunicação é bem mais en- permitir que a criança crie e possa re-
riquecida pela expressão e pelo afeto do alizar assim o seu projeto para aquele
adulto que, por metáforas, e na maioria momento. As ideias surgem e devem
das vezes, de forma inconsciente, traz ser incentivadas e viabilizadas para a
temas bem compactos como a questão ação nela envolvida. Como um anima-
da morte, da transformação, de gênero, dor plenamente presente, o adulto deve
da sexualidade e outros tantos. procurar o melhor momento para propor
Na Floresta Encantada esses as atividades contidas no programa na
temas estão presentes e são vividos qualidade de um companheiro. As pro-
com intensidade pelas crianças, muito postas da sessão não precisam ser da-
mais porque o fazem com o próprio cor- das em seguida, devendo haver sempre
po, também de forma metafórica e em uma oportunidade para a criança exer-
muitos momentos de maneira incons- cer sua participação ativa, criando em
ciente. Ao acompanhar atentamente a cima do que foi realizado a pedido do
vivência desse processo, isso pode ser adulto.
observado com certa clareza.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
As atividades psi- O objetivo desse momento sua presença, cria possibilida-
comotoras partem de si- é o de estimular o grupo des de ação. Assim, o adulto
tuações concretas da his- para a criação de suas pró- deve partilhar com o grupo
tória básica e de materiais prias propostas de trabalho ou com a criança as ideias
a serem utilizados com a a partir desse contato com que forem surgindo, na qua-
finalidade de atingirem os o dado concreto e, para lidade de um acompanhante
aspectos mais abstratos, isso, é preciso obter cer- ativo, introduzindo no diálogo
referendados pelo pensa- ta atmosfera criativa que e nas atitudes os objetivos
mento e pela estruturação permita alcançar certas e as atividades incluídas na
do campo perceptual. condições como: dar opor- descrição de cada sessão,
O material para via- tunidade e tempo para o que serão realizadas e repe-
bilizar a vivência do conteú- aluno sair da passividade do tidas pelo conjunto, enquanto
do da história será sempre ouvinte, pensar e partir, en- forem necessárias, sempre
apresentado após a narra- fim, para desenvolver suas habilmente submetidas ao
tiva do dia e o adulto esta- ideias a respeito do que interesse e dependentes da
rá sempre incentivando as conseguiu elaborar. reação do grupo.
crianças à manipulação e Para tal, são de grande im- Finalizada a dramati-
ao relacionamento com os portância, o respeito, acei- zação, as crianças retornam
objetos selecionados. Esse tação e confiança no gru- à roda, sentadas para faze-
contato inicial com o dado po e parceiros de trabalho. rem o registro do vivenciado,
concreto servirá de estímulo Para chegar a esse ponto quando serão convidadas
à criação de suas próprias a criança necessita estar para a representação gráfi-
propostas de trabalho. Para estimulada nas suas habi- ca do vivido. Na maioria das
isso é preciso obter certa lidades de reflexão sobre o sessões essa representação
atmosfera criativa que pode tempo: o que já passou o será realizada através do de-
ser sintetizada da seguinte que está por vir e o aqui e senho livre, sem indicação do
forma, segundo ALENCAR agora das situações. Toda que deverá ser desenhado,
(1986): e qualquer ação, desde que trata-se apenas de um con-
•Dar oportunidade e tempo não comprometa pela sub- vite para desenhar o que for
para a criança levantar, pen- versão agressiva, deve ser mais importante naquele mo-
sar e organizar suas ideias. valorizada, nunca havendo mento. A seguir eles deverão
•Criar um ambiente de res- interferência no ato inicia- falar sobre o que desenharam,
peito e aceitação no grupo. do, mesmo que esteja fora externando seus sentimentos
•Estimular na criança a ha- do que foi solicitado, mas se sobre o próprio desenho sem
bilidade reflexiva sobre as apresente como uma ação que o adulto emita seu pare-
ocorrências do passado, do que demanda atenção e cer e, se for necessário, este
futuro e do aqui e agora das não comprometa a integri- poderá solicitar que a crian-
situações. dade do grupo. Em outro ça fale sobre, por exemplo:
•Valorizar a ação das crian- momento, se necessário, a se ela não gostou de alguma

N
ças e do grupo. consígnia será repetida. parte do desenho, qual parte...
O material utilizado na este proces- o que incomoda e assim por
sessão só será apresentado so psicomo- diante. Respeitar ao máximo a
ao grupo após a narrativa e tor o adulto liberdade de expressão gráfi-
o adulto sempre estará in- tem por fun- ca mesmo que esta não tenha
centivando à manipulação ção acom- nada a ver com a sessão, esti-
e ao relacionamento com os panhar a ação do grupo, mulando sempre para que dê
objetos selecionados. como um animador que fa- suas explicações e faça sua
cilita, orienta a ordem e, por autoanálise.
38 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Em outros momentos do pro- Considerações finais Referências Bibliográficas


grama há sugestões de uso de vários
materiais expressivos, como objetos Face aos resultados apresen- 1-BERGÈS & LEZINE. Teste de
para uma construção. O adulto deve se tados e às conclusões do presente es- imitação de gestos. Porto Ale-
sentir livre para apresentar outros recur- tudo fica recomendada a aplicação da gre: Editora Artes Médicas, 1987.
sos, lembrando, no entanto, que a ex- Floresta Encantada; fato que vem acon- 2 - FONSECA, V. Psicomotrici-
pressão gráfica pelo desenho livre deve tecendo não só nas escolas, mas em clí- dade. São Paulo: Livraria Martins
permear mais de 50% das sessões pela nicas onde os atendimentos acontecem Fontes Editora Ltda, 1983.
importância dessa ferramenta pedagó- em menor prazo de tempo, em hospitais 3 - LOVISARO, M. Psicomotri-
gica e terapêutica, como também ava- e consultórios. Psicomotricistas, fonoau- cidade aplicada na escola:
liativa. diólogos, terapeutas ocupacionais utili- guia prático de prevenções das
Outro aspecto importante des- zam muito bem o programa, no entanto, dificuldades de aprendizagem – 2.
se momento é o de tirar a criança da ao ser criada a Floresta Encantada, ela Ed. Rio de Janeiro: WAK Editora,
fantasia vivida durante a dramatização, se fez para os professores, a eles espe- 2011.
ou também o que pode ser reconhecido ra-se o maior emprego. 4 - LOVISARO, M. Esquema cor-
como um teatro pedagógico. A criança A estrutura do programa psi- poral e aprendizagem da lei-
tem muita facilidade para mergulhar na comotor proposto está fundamentada tura e da escrita. Rio de Janeiro:
fantasia. O registro do vivenciado vem a em três ferramentas educacionais: a Universidade Gama Filho, disser-
ser o resgate dessa situação. O dese- contação de história, a mobilização do tação de mestrado, 1982.
nho ou a construção traz para a situação corpo para expressar-se por meio da 5 - WALLON, H. Los Orígenes
concreta e avaliativa da situação vivida. dramatização e o desenho que são fer- Del caráter em El niño. Bue-
Desenhar o que foi mais importante hoje ramentas de domínio pedagógico. As nos Aires: Ediciones Nueva Visión,
é sair do contexto subjetivo para o dado propostas curriculares na Educação 1975.
real. Esse cuidado deve ser respeitado Infantil envolvem exercícios específicos 6 - LE CAMUS, J. O corpo em
para que o grupo não saia da sala ainda de psicomotricidade e, face aos pro- discussão. Porto Alegre: Editora
vivendo as personagens. gressos encontrados com a aplicação Artes Médicas, 1986.
As produções assim obtidas da Floresta Encantada fica evidente que 7 - WALLON, H. A evolução psi-
devem ser guardadas na ordem em que a mesma pode ser utilizada como esse cológica da criança. São Paulo:
foram realizadas, constituindo um ca- recurso que irá propiciar a prevenção e Editorial Andes, traduzido da 3ª
derno que será devolvido ao final das a atenção adequada às dificuldades de edição revisada e aumentada edi-
trinta sessões. Este material é impor- aprendizagem que possam existir, sejam tada em 1941.
tante por ser rico em informações sobre estas decorrentes da estrutura da crian- 8 - AJURIAGUERRA, J. Manual
a evolução da criança. ça, do seu meio físico e ou psicológico de psiquiatria
Estes são, portanto, os passos e outros tantos fatores que a literatura a infantil. Rio de Janeiro: Editora
para o bom desempenho do programa respeito desenvolve. Masson do Brasil, 1980.
na sua aplicação. Este modelo propos- Entenda-se que a escola ne- 9 - WERNER, H. Psicologia
to, que segue com a compilação de uma cessita rever suas ações no mundo comparada Del desarrollo
sessão, em anexo, deixa claro o seu atual, dinâmico e tecnicista. A Floresta mental. Buenos Aires: Editorial
conteúdo, podendo ser enriquecido pelo Encantada é uma ferramenta ajusta- Paidós, 1965.
adulto de acordo com a motivação do da a esse momento em que pouco se 10 - CASTORINA, J.A. Psicolo-
grupo ou individualmente. Trata-se de cuida do corpo: obesidade, cansaço, gia genética. Porto Alegre: Edi-
uma ideia aberta que pode favorecer crianças desatentas, pouco motivadas tora Artes Médicas, 1988.
transformações, acréscimos, desde que pelo ensino tradicional. Espera-se que 11 - ALENCAR, E.S. Psicologia da
as atividades propostas sejam executa- o corpo da criança, suas necessidades criatividade: Porto Alegre, Editora
das. As demais sessões podem ser en- de movimentar-se, seja mais observado. Artes Médicas, 1986.
contradas em Portanto, esta é uma das ferramentas
TRISKEL

LOVISARO (2011). possíveis para minimizar tal situação.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
Anexo 1
mado da floresta?” Aguardará que um perigo deve existir. Quando eu colocar a
Modelo de sessão Sétima Sessão dos alunos se apresente e pedirá que mão no ombro direito de vocês, andem
Equilíbrio corporal e percepção do espaço ele descreva o que se passou no seu para a direita, se eu colocá-la no ombro
A chegada do robô pensamento durante os minutos de si- esquerdo, dirijam-se para a o lado es-
lêncio, e outros mais que queiram falar. querdo. E quando sentirem um toque no
Objetivo: Manter o equilíbrio Prosseguindo, o animador alto da cabeça, parem”.
do corpo, em movimento, com os olhos continua narrando: Assim as crianças andaram por
fechados, e desenvolver a percepção do As crianças adormeceram muito tempo, guiadas pelo Robô amigo.
espaço, fixando as posições: adiante, tranquilas, mas foram acordadas por O animador proporá uma brin-
atrás, direita e esquerda. um ruído estranho (ouve-se o barulho cadeira aos alunos: “Vocês estão lem-
Material: Um chocalho de cha- do chocalho, compassadamente). O brando as ordens do Robô? Vamos ver
pinhas ou algo que faça um ruído metá- som foi se aproximando... Que surpre- se todos entenderam. Sobre a mesa há
lico, para uso do animador, e uma tira de sa! Era um robô que havia chegado e tiras de pano para cada um vendar os
pano para cada aluno, que lhes servirá de que andava de um jeito muito engraça- olhos, mas antes, vou repetir o código
venda para os olhos. do. que foi usado pelo Robô”. O animador
Procedimento: O animador re- O animador poderá interrom- chamará duas crianças e fará a de-
lembrará as brincadeiras das duas crian- per a narrativa e levar os alunos a des- monstração do código. A seguir, expli-
ças com o João Bobo e prosseguirá nar- crever um robô. cará que uma das crianças será o Robô,
rando: Ao se aproximar das crianças, com a missão de dar as ordens ao outro
Depois de muito brincar, as o Robô disse, com aquela voz sempre colega. Depois o comando passará para
crianças sentiram que estavam muito igual e sem expressão: “-Estou aqui a outra criança que, como Robô, orien-
cansadas, e interromperam o brinquedo. para protegê-los. Venham comigo tará a caminhada.
E ficaram muito surpresas porque, de re- conhecer a Floresta Encantada. Vou Nessa sequência de ordens e
pente, o João Bobo desapareceu atrás levá-los a lugares muito bonitos e inte- obediência, invertendo-se sempre o co-
de uma árvore, da mesma forma que ha- ressantes. Mas vocês não poderão ver mando, todos participarão. Aquele que
via aparecido, sem nenhum sinal, sem ne- o caminho que vamos percorrer ago- representa o Robô terá uma dupla fun-
nhum ruído. Nossos heróis pensaram em ra. É preciso que vocês mantenham ção: comandar e, ao mesmo tempo, pro-
correr e procurar o amigo, mas não con- os olhos fechados, senão a Rainha da teger o colega que está com os olhos
seguiam sequer erguer os pés do chão, Floresta irá castigá-los com sua Es- vendados para que não dê encontrões
tão cansados estavam. E deitaram-se na pada dos Poderes, transformando-os nos companheiros ou nos objetos da
grama macia. numa dessas imensas árvores e vocês sala.
Interrompendo, o animador con- nunca mais sairão daqui. Não sejam Ao término das atividades, as
versará com os alunos: “-Vamos imagi- teimosos e não abram os olhos, en- crianças retornam à roda para o registro
nar que estamos todos muito cansados quanto eu não der permissão.” do vivenciado, desenhando sobre o que
como os dois companheiros. Deitem-se, Os dois, assustados, tiveram foi mais significativo e verbalizando, a
e cada um deixe que o corpo, bem à von- uma ideia: Tiraram das mochilas os seguir, sobre o seu desenho.
tade, vá sentindo bem o contato com o lenços que levavam e os amarraram Assim se configuram as demais ses-
chão... De olhos fechados! Em silêncio... nos olhos para não sentirem o desejo sões, no caso apresentado o adulto
Imaginem a grama macia. Pensem nos de olhar o caminho. pode guiar as crianças através apenas
ruídos da floresta... Pensem em tudo que A seguir, o Robô lhes disse: do ruído do chocalho, sempre buscando
se pode ouvir, quando se está assim, dei- “Como vocês não podem ver nem este criar novas possibilidades de agir.
tado com a cabeça apoiada num chão de corpo de lata e nem a direção que va-
terra e grama...” mos seguir, eu lhes indicarei o cami-
Passados dois ou três minutos, o sufi- nho por meio de toques que eu farei
ciente para a concentração das crianças, no corpo de vocês. Prestem atenção
o animador perguntará: “-Alguém de vo- – Quando eu colocar a mão no peito
cês gostaria de dizer o que sentiu en- de vocês, andem para trás, pois algum
quanto imaginava estar deitado no gra-
40 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Sidirley de Jesus BARRETO


DA EDUCAÇÃO FÍSICA À
PSICOMOTRICIDADE
SISTÊMICA: PERSPECTIVAS DE
ATUAÇÃO EM
GERONTOMOTRICIDADE COM
FOCO NA SAÚDE COLETIVA
Coordenador do Colegiado do curso de Educação Física
da Universidade Regional de Blumenau (FURB/2012-16),
Psicomotricista Sistêmico (CEC/RJ-2005), Coordenador
adjunto da Escola de Formação de Psicomotricistas
Sistêmicos; Mestre em Educação: Ensino Superior
(FURB/1997), Mestre em Educação (FURB/2009). E-mail:
yelridis@gmail.com. Conselheiro de honra do NucleRIO -
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Pedagogia Freinet
e Psicomotricidade.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

Resumo
Os primeiros métodos regulares de Educação Física, baseados em princípios
científicos, surgiram no final do século XVIII, com Amoros e Ling. Além do Brasil, vários
países da Europa na década de 60 tiveram sua história influenciada pelas práticas de
Educação Física pelo viés da Psicomotricidade. Inicialmente fundamentadas em ideais
higienistas, depois militares, aos poucos foi associada às práticas esportivas competiti-
vas de rendimento.

Atualmente, à medida que as evidências em relação às necessidades de saúde da população apontam


para a importância da prática de exercícios físicos e psicomotores, renasce a demanda higienista de aprimoramen-
to da saúde coletiva. Este estudo objetiva descrever a mudança de paradigmas recentemente sofrida pela área da
saúde e em particular da Educação Física, a partir das contribuições da Psicomotricidade, no que tange a atuação
na terceira idade. A Saúde Pública teve seu interesse inicial pela prática de exercícios físicos já nas décadas de
50 e 60 do século XX, com estudos associando as doenças cardiovasculares com os níveis de atividade física no
trabalho. Havia, também, os interesses na preparação militar de jovens e na aptidão física relacionada ao desem-
penho para competições esportivas. No Brasil, a partir da década de 80 do século XX, foi iniciada a proposta de
mudança de ênfase da aptidão física voltada ao desempenho para a aptidão física relacionada à saúde, também
com grande repercussão na Educação Física Escolar, principalmente a partir das contribuições de Jean Le Boulch
com a Psicocinética. O paradigma atual ancorado na complexidade proveniente da abordagem holística serviu de
húmus para a sistematização da Psicomotricidade Sistêmica. Esta mudança está consubstanciada na promoção
da saúde e melhoria da qualidade humana, a partir da qual a Psicomotricidade passa a se integrar aos poucos em
equipes multiprofissionais da saúde; tendo foco principal na terceira idade. Em virtude da ampliação no campo de
atuação da área e da mudança de paradigma, identifica-se a necessidade de revisão dos Projetos Pedagógicos
dos cursos da esfera da saúde, no sentido da preparação de profissionais para a ocupação ética, eficiente e cien-
tificamente fundamentada deste novo campo de atuação, a Gerontomotricidade. Este estudo defende também as
contribuições da Psicomotricidade Sistêmica para a atuação em Gerontomotricidade.

Palavras-Chave: Saúde Pública;


Gerontomotricidade; Psicomotricidade
Sistêmica; Currículo.
42 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Resumo
Sidirley de Jesus BARRETO
DE SPORTEDUKO PSICOMOTRIZ
SISTÉMICA: AGANTE EN PERS-
PEKTIVO GERONTOMOTRICITY
TEMIGIS KOLEKTIVA SANO

La unua regula metodojn de fizika edukado, bazita sur sciencaj principoj, aperis en la malfrua dekoka jarcento,
kun Amorós kaj Ling. Krom Brazilo, pluraj landoj en E�ropo en la 60’oj havis lian historion influita de la
praktikoj de Fizika Eduko de emo Psikomovado. Komence fondita sur idealoj higienema, post milita la�grade
estis asociita kun konkurencivaj sportoj praktiko enspezoj. Nuntempe, kiel la evidenteco en rilato al la sano
bezonoj de la lo�antaro punkto al la graveco de la praktiko de fizika kaj psikomovado ekzercoj, renaski�as
higiena peto por plibonigo de publika sano. Tiu studo celas priskribi la �an�on de paradigma �us suferis la sano
kaj en aparta de Fizika Eduko, de la kontribuoj de psikomovado, pri la agado en maljuneco. La Publika Sano
havis lian komencan intereson en fizika ekzerco jam en la 50’oj kaj 60’oj de la dudeka jarcento, kun studoj
asociante kardiovaskulan malsanon kun fizika aktiveco niveloj laboras. Ekzistis anka� la interesojn en la milita
trejnado de junularaj kaj fizika ta�geco rilataj al agado por sportoj konkuroj. En Brazilo, de la 80 de la dudeka
jarcento, la proponita �an�o de emfazo de fizika ta�geco temigis agado por fizika ta�geco kaj sano, anka� kun
granda efiko sur fizika eduko estis komencita, �efe de kontribuoj de Jean Le Boulch kun
psychokinetic. La nuna paradigmo ankrita en komplekseco de la holisma aliro servis humo por la
sistematiza^jo de psikomovadon. Tiu �an�o estas enkorpigita en la promocio de la sano kaj plibonigo de homa
kvalito, el kiuj la psikomovado pasas al integri la�grade en multidisciplina sano teamoj; kun �efa fokuso sur
a�uloj. Pro la ekspansio en la kampo de aktiveco de la areo kaj la paradigma, identigas la bezonon pri revizio
de la Pedagogia Projektoj de sano sfero de kursoj por prepari profesiaj por etikaj okupacio, efika kaj science
bazita tiu nova ludejo, la psikomovado el maljunulo. Tiu studo anka� apogas la kontribuoj de sisteme psiko-
movado por agado en psikomovado el maljunulo.

Slosilvortoj: Publika Sano; psikomovado el maljunulo; Psikomovado sisteme; Kursaro.


TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

DE LA EDUCACIÓN FÍSICA A LA PSICO-


MOTRICIDAD SISTÉMICA: LAS PER-
SPECTIVAS DE ACCIÓN EN LA PSICO-
MOTRICIDAD EN GERIATRÍA

RESUMEN
En Brasil, a partir de los años 80 del siglo XX,
Los primeros métodos regulares de edu- se inició la propuesta de cambio de énfasis de
cación física, basadas en principios científicos, sur- la aptitud física centrada en el desempeño hacia
gieron a finales del siglo XVIII, con Amoros y Ling. la aptitud física relacionada con la salud, también
Además de Brasil, diversos países de Europa en con gran impacto en la educación física escolar,
los años 60 tuvieron su historia influenciada por sobre todo a partir de las contribuciones de Jean
las prácticas de educación física por el sesgo de Le Boulch con la psicocinética. El paradigma ac-
la psicomotricidad. Inicialmente fundada en ideales tual anclado en la complejidad desde el enfoque
higienistas, después militares, gradualmente se holístico sirvió de humus a la sistematización de la
asoció a la práctica de deportes competitivos. psicomotricidad sistémica. Este cambio se manifi-
En la actualidad, a medida que las eviden- esta en la promoción de la salud y la mejora de la
cias con relación a las necessidades de salud de calidad humana, de la que la psicomotricidad se in-
la población apuntan hacia la importancia de la tegra gradualmente en equipos multidisciplinarios
práctica de ejercicios físicos y psicomotores, la de- de salud; con foco principal en las personas de la
manda higienista renace para la mejora de la salud terceira edad. Debido a la expansión en el campo
pública. Este estudio tiene como objetivo describir de la actuación del área y el cambio de paradigma,
el cambio de paradigma recientemente sufrido por se identifica la necesidad de una revisión de los
el área de la salud y, en particular, de la educación proyectos pedagógicos de los cursos de la esfera
física, desde las aportaciones de la psicomotricidad, de la salud con el fin de preparar a los profesio-
con respecto al rendimiento en la vejez. La Salud nales para la ocupación ética, eficiente y cientifi-
Pública tuvo su interés inicial por el ejercicio físico camente fundamentada de este nuevo campo de
ya en los años 50 y 60 del siglo XX, con estudios acción, la psicomotricidad en geriatría. Este estu-
que relacionaban la enfermedad cardiovascular con dio también es compatible con las contribuciones
niveles de actividad física en el trabajo. Había tam- de psicomotricidad sistémica para la actuación en
bién los intereses en el entrenamiento militar de psicomotricidad en geriatria.
los jóvenes y en la aptitud física relacionada con el
desempeño en las competiciones deportivas.
Palabras claves: Salud Pública; Psicomotricidad en Geri-
atría; Psicomotricidad Sistémica; Plan de Estudios.

Ŝlosilvortoj: Publika Sano; gerontomotricity;


Psicomotriz sistémica; Kursaro.
44 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

ABSTRACT
Sidirley de Jesus BARRETO
FROM PHYSICAL EDUCATION
TO SYSTEMIC
PSYCHOMOTRICITY: ACTING
PERSPECTIVES IN
GERONTOMOTRICITY FOCUSED
ON PUBLIC HEALTH

The first regular methods of physical education, based on scientific principles, emerged in the late XVIII
century with Amoros and Ling. In the 60s, besides Brazil, several countries in Europe had them history influ-
enced by Physical Education practices by bias Psychomotricity. Initially based on hygienists ideals, then military
ideals, it was gradually associated with competitive sports practices.
Nowadays, as the evidences show the importance of practicing physical and psychomotor exercises for
population health, they reborn the hygienist demand for public health improvement. This study aims to describe
the paradigm changes that recently happened on health field and, Physical Education in particular, from the
Psychomotor contributions in old age performance. Public Health had its initial interest in physical exercise in
the 50s and 60s with studies associating cardiovascular disease with work’s physical activity levels. There were
also interests in youth and physical military training related to sports competitions performance. In the 80s in
Brazil, the change of physical fitness emphasis propose has began, focused on physical fitness and health
performance, also with great impact on Physical Education, especially after Jean Le Boulch Psychokinetic
contributions. The current paradigm anchored in holistic approach complexity worked as humus to the Sys-
temic Psychomotricity systematization. This change is embodied in the promotion of health and human quality
improvement, from Psychomotricity gradually integration in multidisciplinary health teams - the main focus on
seniors. Due to activity field expansion and paradigm changes, it was identified the need of Pedagogic Projects
revision in health atmosphere courses in order to prepare professionals for ethical occupation, efficient and
scientifically studies in this new working. This study also supports the contributions of Systemic Psychomotricity
for performance in gerontomotricity.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

N
INTRODUÇÃO o período do Brasil cio do século XX, também foram inicia-
Império, houve grande das as aplicações dos conhecimentos
Atuando em Psicomotricidade número de trabalhos sobre exercícios físicos no tratamento
desde a década de 80, observei as mu- sobre EF, matéria ger- de doenças e na recuperação de lesões
danças paradigmáticas que foram ocor- almente escolhida para (NAHAS, 2013). Durante a primeira
rendo ao longo do tempo (LAPIERRE tema, nas teses apresentadas pelos metade do século XX, foi criado o Mé-
e AUCOUTURIER, 1984; THIERS et doutorados nas Escolas de Medicina. todo Pilates (PANELLI e DE MARCO,
al, 1994, etc.), até o encontro com a Psi- Nesta época, a Europa, sobretudo a 2006), que teve repercussão a partir
comotricidade Sistêmica (PRISTA et al, França, estava preocupada em res- dos anos 40, voltado à recuperação de
2010). gatar a energia social de seu povo, soldados acamados, e que ressurgiu a
Tendo por base inicial Neuro- pois devido a Revolução Industrial, poucos anos atrás, remodelado e como
logia, a Psicomotricidade aos poucos os franceses estavam debilitados, in- atividade de condicionamento ou recu-
foi se voltando para a Educação Física dispostos e fisicamente fracos, e isto peração física, e é aplicado por
(EF1), na medida em que a partir do fi- poderia comprometer a supremacia do profissionais de EF e Fisioterapia
nal do século XVIII, houve, mundialmente, país. É a partir desse período que os (PAFFENBARGER et al., 2001;
um conjunto de discussões sobre os pri- ideais higienistas se fortaleceram e PARK, 1997; NAHAS e GARCIA,
meiros métodos regulares de EF, basea- foi iniciada sua influência sobre a EF 2010).
dos em princípios científicos, por exem- (GUIRALDELLI JUNIOR, 2004). Em meados do século XX, a
plo: método Sueco de Ling; método de Em 1851, foi aprovada a lei que incluiu Saúde Pública teve seu interesse volta-
Amoros; método natural de Hebert (DE- a ginástica nos currículos escolares. do para a relação entre a prática de AF
FONTAINE, 1981); método de Démeny; Rui Barbosa preconizou a obrigatorie- eo
método Francês de D’Argy e de Laisné; dade da EF nas escolas primárias de desenvolvimento das condições de
método Alemão (Basedow) de Muths, secundárias (GOIS JUNIOR, 2000). saúde, com estudos pioneiros
Jahn e Spiess; e o método Calistênico A influência militar na área reside nos associando as doenças
de Christina André (RAMOS, 1983). métodos ginásticos, na formação dos cardiovasculares ao nível de AF no
No Brasil, a história da EF pode ser divi- primeiros instrutores, na ênfase na trabalho (MORRIS et al, 1953). Nos
dida em três períodos, do mesmo modo disciplina e dos valores físicos. Isto é anos 50 e 60, havia o interesse da me-
que a sua história política: Brasil Colônia inegável, mas também é inegável que dicina por fatores associados à
(1500-1822), Brasil Império (1822-1889) estes pressupostos de uma EF rotu- crescente prevalência de doenças
e Brasil República (1899 até os nossos lada como militarista tem origem no cardíacas em países industrializados, e
dias) e no Brasil Colônia (GOIS JU- pensamento higienista (SOARES, na EF, continuava dominando o
NIOR, 2000). 1994). interesse na aptidão física relacionada
Na menção de Ramos (1983) e Soares O ideal higienista visava à ao desempenho motor para as
(1994, 2004), as atividades físicas2 no formação de valores morais e disci- competições esportivas ou para a pre-
Brasil Colônia não tinham por objetivo a plinadores, características considera- paração militar de jovens (PAFFEN-
recreação e o lazer, mas eram impostas das militaristas. Não se concebe uma BARGER et al, 2001; NAHAS e
pelas necessidades criadas pelo ambi- divisão temporal entre “higienismo” GARCIA, 2010).
ente próprio, como o arco e flecha, a caça e militarismo, mas se entendermos
e a pesca, a navegação e a canoagem, que a sistematização da EF mod-
a corrida a pé (processo de rápida loco- erna foi uma exigência dos higienis-
1Doravante utilizar-se-á a sigla EF quando
moção em terra), a natação, a equitação tas, que enfatizavam aqueles valores houver referência ao termo Educação Física.
e as danças (rituais). Com a chegada dos (GUIRALDELLI JUNIOR, 2004), 2 Doravante utilizar-se-á a sigla AF quando
houver referência ao termo, Atividade(s)
Jesuítas (1549), iniciou-se a catequiza- pode-se deduzir haver forte associa- Física(s).
ção dos índios, com aulas teóricas pela ção entre o higienismo e o militarismo
manhã e com prática de atividades físi- na gênese do pensamento educacio-Ŝlosilvortoj: Publika Sano; gerontomotricity;
cas naturais à tarde. nal brasileiro. Psicomotriz sistémica; Kursaro.
Durante o final do século XIX e iní-
46 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

O
início do Brasil República diovasculares (FLETCHER et al, 1992). ção e condutas profissionais
foi marcado pela acen- Houve então um interesse crescente e (SILVA et al, 2010; ANDRADE
tuação da preparação multidisciplinar na pesquisa em ativida- et al, 2011; SOUSA e NUNES,
militarista. Os exercícios de física e saúde, e sucederam-se reco- 2016), inclusive pelo viés da
físicos podiam ser en- mendações de pesquisas populacionais Psicomotricidade Sistêmica
contrados apenas no Ginásio Nacional, sobre os benefícios da atividade física (BARRETO e ANGARTEN in
Colégio Militar, Exército, Marinha e nas para prevenção de doenças crônicas GUTIERRES FILHO, 2012.)
Associações Cristãs de Moços. Neste não transmissíveis, como as doenças Há o entendimento de que a
período, foram criados Centros e Es- cardiovasculares, a hipertensão arterial AF adequadamente realiza-
colas militares de EF com objetivo de sistêmica, o câncer, o diabetes, a os- da é determinante para o au-
preparar instrutores e monitores. Essa teoporose e a obesidade (HHS, 1996; mento da longevidade humana
foi uma época onde começou a profis- PATE, 2009), com foco também na de- saudável (BARRETO e SILVA
sionalização da EF. Foi um período mar- nominada terceira idade (BARRETO e et al, 2007), atuando de ma-
cado também por práticas embasadas SILVA et al, 2007). neira efetiva na prevenção e
em métodos de treinamento esportivo, O terceiro milênio trouxe tam- na redução de danos de várias
automatizados, repetitivos e científico- bém uma nova demanda para na área doenças crônicas não trans-
-tecnicista e competitivo (OLIVEIRA, de EF, que passou cada vez mais a con- missíveis. Segundo os auto-
2002). siderar mais cuidadosamente as ques- res consultados uma pessoa
A partir da década de 1980, tões relacionadas com atividade física sedentária provavelmente, vai
foi iniciada a proposta de mudança de e saúde. Diversos jovens pesquisadores frequentar mais os hospitais,
ênfase da aptidão física voltada ao de- brasileiros da área de EF buscaram na realizar mais exames, mais
sempenho para a aptidão física rela- saúde pública os conhecimentos da Epi- consultas médicas, e tomar
cionada à saúde, também com grande demiologia, e os têm aplicado de forma mais remédios durante sua
repercussão na EF Escolar, tendo por efetiva nos diversos temas relacionados existência, irá faltar mais ao
base as contribuições de Jean Le Boul- à EF. Estudos mais qualificados, com trabalho e, consequentemen-
ch, através do seu método denominado melhor base teórica e abordagens me- te, produzirá menos (NAHAS
de Psicocinética (LE BOULCH, 1986; todológicas apropriadas para pesquisas e GARCIA, 2010; ANDRADE
1987; 1992). Esta proposta soma-se às populacionais têm colaborado para o et al, 2011; SOUSA e NUNES
propostas já existentes, que incluía as crescimento dos estudos em atividade et al, 2016), contra a lógica
medidas de aptidão cardiorrespiratória, física e saúde no Brasil (NAHAS e GAR- capitalista vigente que obje-
força e resistência muscular, flexibili- CIA, 2010; SILVA et al, 2010; NAHAS, tiva o lucro (PITANGA, 2002;
dade e de composição corporal, pois já 2013; SOUSA e NUNES et al, 2016). BAGRICHEVKSY e ESTEVÃO,
surgiu a preocupação com a obesidade A partir deste prenúncio, a EF 2015).
na população. passou a ser incluída na atuação em O desenvolvimento
A EF começava então a utilizar saúde, nos níveis de atenção primária, das condições de vida da po-
os conhecimentos científicos e as evi- secundária e terciária, de caráter inter pulação envolve ações sobre
dências epidemiológicas em suas prá- e transdisciplinar, a despeito de que ela muitas dimensões sociais dife-
ticas, aumentando sua vinculação com já havia tido esta abordagem, no perí- rentes (NAHAS, 2013). Pode
as questões de saúde pública, como o odo da EF higienista (GUIRALDELLI ser incluída a prevenção de en-
aprimoramento da saúde da população JUNIOR, 2004). A inclusão da EF es- fermidades através de ações
e a proteção contra a mortalidade pre- fera da saúde nem sempre tem sido de vacinação, a modificação
coce (PAFFENBARGER et al, 1986; simples, pois, muitas vezes, são iden- de maus hábitos alimentares e
BLAIR et al, 1989; SILVA et al, 2010). tificadas dificuldades no diálogo com de higiene, o estabelecimento
No início dos anos 90, a AF passou a outras formações profissionais e cien- de condições adequadas de
ter status de prioridade na pesquisa em tíficas (AMARAL e PEREIRA, 2009; saneamento básico, a melho-
saúde pública, e o sedentarismo passou BAGRICHVSKY e ESTEVÃO, 2015), ria das condições de trabalho,
TRISKEL

a ser considerado um fator de risco pri- que podem ser sanadas com o empode- o desenvolvimento de AF de
mário e independente para doenças car- ramento advindo de uma melhor forma- lazer, a disponibilização de in-

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
fraestrutura de tratamento e reabilitação (primária, secundária e terciária). O
de enfermidades, e outros mais, como o conhecimento científico desenvolvido
combate ao sedentarismo (BARRETO e na área de EF tem permitido a com-
SILVA et al, 2004; SOUSA e BARRETO, preensão das modificações ocorridas
2004; SOUSA e NUNES et al, 2016). nos organismos quando são subme-
A área de EF pode colaborar de maneira tidos a diferentes condições de práti-
importante com equipes multiprofissio- cas de exercícios físicos, que geram
nais de saúde para reduzir o sedentaris- alterações das condições físicas e de
mo, como fator de risco à saúde da po- saúde (BRUM et al, 2004; DUARTE,
pulação. Nesta direção, a Política Pública 2006). Este conhecimento acumulado
Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) parece delegar aos Profissionais de
destacou, entre as prioridades de ação EF a possibilidade de transitar profis-
até 2011, a indução de AF e práticas sionalmente nas áreas da Educação
corporais (dentre as quais as psicomo- e Saúde, mas que para fazê-lo, deve
toras), como fatores de proteção contra ultrapassar a herança positivista, que
condições de risco à saúde (MALTA et lhe deu certo status científico, mas o
al, 2009), principalmente na denominada alienou de alguns de seu papel social
Terceira Idade (MAZO, LOPES e BENE- (SÉRGIO, 2000).
DETTI, 2001; BARRETO; SILVA et al, De qualquer modo, este co-
2007). nhecimento acumulado constitui a
Tal objetivo poderá ser atingido base para o desenvolvimento de novos
por meio do desenvolvimento de ações paradigmas a serem estabelecidos
educativas, intervindo de forma individu- na área de EF, e em especial duran-
al, familiar e coletiva, na compreensão da te a formação, com o intuito de levar
inter-relação saúde/doença. A partir des- saúde a todas as camadas sociais,
ta premissa, a aptidão física relacionada principalmente àquelas menos favore-
à saúde compreende as dimensões mor- cidas. Portanto, as agências formado-
fológica, funcional-motora, fisiológica, ras deveriam, em nossa compreensão,
comportamental e cognitiva, caracteriza- também se voltar para as ações de
das por pólos favoráveis e desfavoráveis, adequar suas formações acadêmicas
dentro de uma visão em que a relação para promover a saúde e qualidade
saúde/doença deve ser analisada como humana, tendo como um dos focos a
fenômeno de um processo multifatorial Gerontomotricidade.
e contínuo (GUEDES; GUEDES, 1995; Nesse sentido, o objetivo des-
SILVA et al, 2010), fortemente determi- se estudo foi descrever a mudança de
nado pelos estilos de vida adotados pe- paradigma sofrida pela área de EF
las pessoas no que tange ao autocuidado recentemente e apresentar a possível
(LELOUP, 2004; BARRETO e SILVA et necessidade de revisão dos Projetos
al, 2004). Pedagógicos dos Cursos de Gradua-
Diante deste contexto, da ne- ção nessa área, mas também nas de-
cessidade de estabelecimento de hábi- mais profissões da esfera da saúde.
tos coletivos de práticas de atividades
físicas, de definição da PNPS de indução
de atividades físicas, das dificuldades de
diálogos dos Profissionais de EF com ou-
tros da área de saúde (BAGRICHEVKSY
e ESTEVÃO, 2015) surge o desafio da in-
clusão desses profissionais nas equipes
de saúde dos vários níveis de atenção
48 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

PROMOÇÃO DA SAÚDE Na menção de DANTAS E NO- GERONTOMOTRICIDA-


E QUALIDADE HUMANA VAES (2005) e NAHAS (2013), o corpo DE - CONQUISTANDO
humano necessita de certa quantidade UM NOVO CAMPO
A AF associa-se a promoção diária de movimento para sentir-se bem
da saúde, ao bem estar e a melhoria e manter-se saudável, no sentido de que A inclusão dos profis-
da qualidade humana, especialmente a atual negligência das pessoas para a sionais da saúde além da visão
daquelas em processo de envelheci- realização de atividades físicas gera a médica na Estratégia de Saúde
mento, o que envolve dimensões antro- hipocinesia, isto é, a falta/insuficiência da Família (ESF ), estabelecida
pométricas, neuromotoras, metabólicas de movimentos, e os transtornos as- nas Políticas Públicas Brasilei-
e psicológicas (MATSUDO et al, 2000; sociados de saúde. Inclusive, pode ser ras para a área da Saúde, abriu
NAHAS, 2013). De acordo com CARVA- percebido que, entre os critérios de de- um novo campo de trabalho,
LHO et al (1995) e SILVA et al (2010), senvolvimento tecnológico dos equipa- mas também passou a exigir
a AF relacionada à saúde, em termos mentos que fazem parte de nosso co- novas posturas destes profis-
motores, engloba as seguintes capaci- tidiano está a menor exigência possível sionais, pautadas principalmen-
dades físicas: resistência cardiorrespira- de ações motoras para controlá-los, ou te em uma intervenção a partir
tória, força/resistência muscular, flexibi- seja, “à exceção das máquinas especí- de uma relação dialogal com a
lidade e alguns aspectos da composição ficas para exercício físico, os equipa- equipe multiprofissional e com
corporal, salientando a importância dos mentos tecnológicos que necessitam os usuários do Sistema Único
programas de AF direcionados a promo- de menos movimentos humanos e força de Saúde (SUS), o que pressu-
ção a saúde. para serem executados, são melhores põe a observância vigilante da
Neste sentido, a EF como área de do que os concorrentes que exigem ética durante o ciclo vital.
formação e de intervenção, sobretudo mais”. A ESF representa um
do desenvolvimento humano, tem a res- Vemos, portanto, a importância modelo inovador e favorece
ponsabilidade da promoção de estilos do estabelecimento de hábitos ade- sobremaneira a área da Psico-
de vida ativos, em todas as condições e quados de saúde pela população, com motricidade. Além de prevenir a
idades. Os hábitos de realização de AF a maior prática de AF e diminuição do doença, as intervenções, estão
têm como metas, por exemplo, de man- sedentarismo. Entende-se que, do pon- fundamentadas em uma abor-
ter o peso corporal desejável, de forta- to de vista da EF, este objetivo deve ser dagem sistêmica de Educação
lecer o coração e os pulmões, diminuir alcançado pela busca de novos mode- em Saúde, que inclui a alimen-
a pressão arterial, proteger contra ata- los de trabalho, nos quais a atividade tação, moradia, cultura, educa-
ques do coração, contra derrames, oste- psicomotora passe a ser realizada em ção, lazer e AF (BRASIL, 1998;
oporose, diabetes, deve fortalecer mús- condição de bem estar (wellness) e as- BAGRICHEVKSY e ESTEVÃO,
culos esqueléticos, e aliviar ansiedade e sociada a outras dimensões do estilo de 2015).
a depressão, prolongando e melhoran- vida saudável, que incluem a qualidade A ESF consiste em um
do a qualidade humana dos indivíduos da alimentação, dos hábitos de sono e conjunto estruturado de ações
(PAPALIA e OLDS, 2000; SILVA et al, higiene pessoal, do desenvolvimento em nível de atenção primária
2010; NAHAS, 2013). de atividades de lazer, das condições visando à vigilância das con-
Para atingir a redução do nível ergonômicas de trabalho, do respeito dições de saúde, sendo uma
de ansiedade e de estresse, talvez seja às horas de sono, dos baixos níveis de concepção de saúde centrada
interessante que os Profissionais de EF estresse e da qualidade das relações in- na promoção da qualidade hu-
se apropriem dos avanços da Psicomo- terpessoais; tudo isto acarretando alto mana, que se expandiu no país
tricidade (BARRETO, 2010), e atuem no nível de desenvolvimento humano. a partir de 1996, com a opera-
sentido de uma Educação Para o Tempo Tal perspectiva implica no de- cionalização da Norma Opera-
Livre e Lazer (BARRETO e SILVA et al, senvolvimento de um processo educa- cional Básica do SUS (COSTA
2004). Para tanto, deve-se dar escopo a cional da população, que para ser al- NETO, 2000). De acordo com
conscientização da importância da ativi- cançado, exigirá que o psicomotricista essa proposta da ESF, surgiu
TRISKEL

dade física (SILVA et al, 2010; NAHAS, ocupe cada vez mais lugares, além da- necessidade da inclusão de
2013) e psicomotora. queles já tradicionais, tais como: Acade- vários profissionais na equipe
mias, os clubes esportivos, etc.

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
multiprofissional, o que pode auxiliar as Cuidado”, com foco no “Envelhecimen-
ações das equipes de saúde, com be- to Saudável”. Atualmente há a 3ª turma
nefício para a comunidade sob o viés da do mestrado em Saúde Coletiva.
Psicomotricidade. Iniciado o processo de mu-
No que tange às atribuições do dança de ênfase da aptidão física vol-
Profissional de EF dentro das Unidades tada ao desempenho para atividades
da ESF, segundo o CONFEF (2002; psicomotoras, principalmente na ter-
2010), estas são principalmente: a) ativi- ceira idade recomenda-se que as Ins-
dades de reabilitação cardiocirculatória; tituições formadoras de Profissionais
b) relaxamento; c) atividades recreativas; de EF repensem os currículos de gra-
d) dança; e) lazer; f) jogos; g) lutas; h) duação, no sentido de favorecerem os
atividades rítmicas; i) atividades expressi- futuros profissionais para exercerem,
vas; j) avaliações e intervenções ergonô- de maneira competente, a aplicação
micas em vários contextos; k) atividades de AF relacionada à saúde e qualida-
de potencialização de saúde do trabalha- de humana. Além da preparação para
dor; l) exercícios compensatórios; m) e integrar equipes multiprofissionais de
práticas corporais envolvendo toda a co- saúde, como é a proposta da ESF,
munidade, com destaques para hiperten- para exercerem, junto às populações
sos, diabéticos, gestantes e idosos, por de usuários e profissionais do SUS,
serem pessoas que necessitam pronta- atividades de prescrição de exercícios
mente. Percebe-se que as atividades físicos e educação para a prática de
psicomotoras estão contempladas neste AF ao longo da vida (NAHAS, 2013),
leque de possibilidades de intervenção sendo que nossa intervenção e docên-
profissional da EF. cia possuem por foco nos últimos anos
Adicionalmente, os multipro- a Psicomotricidade Sistêmica (PRISTA
fissionais da ESF cuidam da saúde da et al, 2010).
comunidade. Assim sendo, a interven-
ção dos Profissionais de EF pode ser
dirigida a indivíduos e/ou grupos alvo,
de diferentes faixas etárias, portadores
de diferentes condições corporais e/ou
com necessidades de atendimentos es-
peciais, de forma individualizada e/ou em
grupo, que promovam a humanização e
a corresponsabilidade dos beneficiários,
através de uma mudança de comporta-
mento cognitivo.
No âmbito da FURB, esta mu-
dança de ênfase de formação dos Pro-
fissionais de EF vem sendo construída
objetivamente desde 2002 com o envol-
vimento de docentes e discentes desta
área nos projetos das Residências Multi-
profissionais em Saúde da Família entre
2002 e 2008 e a partir de 2008, com
a participação no Pró-Saúde, “Promoção
da Saúde: Fortalecimento da Atenção
Básica”, e do PET-Saúde, “PET-SAÚDE:
Pesquisa e Extensão para a Melhoria do
50

Considerações
Considerando o exposto, torna- necessário o trabalho conjunto de pro-
Finais
-se importante que as instituições forma- fissionais de diferentes formações, e que
doras repensem os Projetos Pedagógicos estes envolvidos criem uma atmosfera
dos cursos da esfera da saúde e neste dialética, para a criação de uma proposta
estudo destacamos principalmente o de trabalho interdisciplinar levando em
Bacharelado em EF, para que os egressos consideração o progressivo aumento dos
exerçam a relação com a saúde e qualida- longevos no nosso país.
de humana e para que possam integrar
as equipes multiprofissionais de saúde,
tendo em conta os aspectos psicomoto-
res. Para que tal perspectiva se realize, é

BATTAGLION NETO (2003) destaca que Essa incerteza existe, segundo Sérgio, pelo
a EF não tem definido seu objeto teórico e de fato da EF se apropriar dos saberes de outras ciências,
conhecimento, estando inserida em diversos podendo ocasionar distanciamentos da esfera psi-
campos de atuação, e não tendo ao certo seu comotora. É preciso uma reestruturação para buscar
objeto específico. Deste modo, para este autor, é subsídios que possibilitem a aproximação entre a
preciso reconhecer qual é a verdadeira identida- teoria e a prática, aproximando a universidade com a
de do profissional de EF, e estabelecer os limites realidade do entorno no qual está inserida, visando à
dos saberes e práticas aplicadas, levando-se em produção de uma práxis transformada e transforma-
consideração a ética. dora.
Entendemos que a Saúde Pública como
campo de formação de profissionais, pode reduzir
estas distorções, dado que esta formação deve ocor-
rer em consonância com as necessidades de saúde
da população, no sentido dos mesmos argumentos
apontados neste estudo superficial referindo-se à
formação dos profissionais da saúde.

TRISKEL 2016
Referências bibliográficas sica com atuação na Saúde 12 - ------------------- et al
Pública (Tese de Doutorado Atividade física e saúde: 18 - FLETCHER, G. F. et al.
1 - AMARAL, S. C. F.; PEREI- em Enfermagem em Saúde orientações básicas sobre Statement on exercise: be-
RA, A.P.C. Reflexões sobre a Pública). Ribeirão Preto: atividade física e saúde para nefits and recommendations
Produção em Políticas Públi- Escola de Enfermagem de profissionais das áreas de for physical activity programs
cas de Educação Física, Es- Ribeirão Preto, USP, 2003. educação e saúde. Brasília, for all Americans.
porte e Lazer. Rev. Bras. Cienc. D.F: Ministério da Educação Circulation, Dallas, v.86, n.1,
Esporte, Campinas, v. 31, n. 1, 8 - BLAIR, S.N. et al Phy- e do Desporto: Ministério da p.340-4, 1992.
p. 41-56, 2009. sical fitness and all-cause Saúde, 1995. 68p, il. (Educa-
mortality: a prospective stu- ção á distância). Programa de 19 - GUEDES, D. P.; GUE-
2 - ANDRADE, M. R. S. de dy of healthy men and wo- Educação e Saúde através do DES, J. E. R. P. Exercício fí-
(org) Formação em Saúde – men. Journal of the Ame- exercício físico e do esporte - sico na promoção da saúde.
Experiências e pesquisas nos rican Medical Association, MEC/MS. Londrina: Midiograf, 1995.
cenários de prática, orientação Chicago, v.262, p.2395-
teórica e pedagógica. Blume- 2401, 1989. 13 - CONFEF. Intervenção do 20 - GUIRALDELLI JÚNIOR,
nau: Edifurb, 2011. Profissional de Educação Fí- P. Educação física progres-
9 - BRASIL MINISTÉRIO sica. Rio de janeiro: CONFEF, sista: a pedagogia crítico-
3 - BARRETO, S. J.; SILVA, C. DA SAÚDE. Saúde da Fa- 2002. -social dos conteúdos e a
A. da Contato – Sentir os sen- mília: Uma estratégia para educação física brasileira. 9.
tidos e a alma – Saúde e lazer a reorientação do modelo 14 - COSTA NETO, M. M. ed. Loyola, São Paulo: 2004.
para o dia-a-dia. Blumenau: assistencial. Brasília: Minis- Caderno de Atenção Básica:
Acadêmica, 2004. tério da Saúde, 1998. Programa de Saúde da Famí- 21 - HHS. U.S.DEPARTMENT
lia. A implantação da unidade OF HEALTH AND HUMAN
4 - --------------- Gerontomo- 10 - BRUM, P. C.; FORJAZ, de Saúde da Família. Minis- SERVICES. Physical activity
tricidade – Condicionamento C. L. M.; TINUCCI, T.; NE- tério da Saúde; Secretaria de and health: a report of the
Físico, consciência corporal e GRÃO, C. E. Adaptações Políticas de Saúde: Brasília, surgeon general. Atlanta:
lazer na longevidade. 1ª reim- agudas e crônicas do exer- 2000. HHS/CDC, 1996.
pressão. Blumenau: Acadêmi- cício físico no sistema car-
ca, 2007. diovascular. Rev. paul. Educ. 15 - DANTAS, E. H. M.; NO- 22 - LE BOULCH, J. Educa-
Fís., São Paulo, v.18, p.21- VAES, J. S. Atividade Física, ção pelo movimento: a psi-
5 - -------------- O Lugar do 31, ago. 2004. Prazer, Wellness e Qualidade cocinética na idade escolar.
Corpo na Universidade. Blume- de Vida. In: Pensando o Corpo 3.ed. Porto Alegre : Artes
nau: Acadêmica, 2010. 11 - CARVALHO, T. Doen- e o Movimento. Rio de Janei- Médicas, 1986.
ças crônico-degenerativas ro: Shape, 2005.
6 - --------------.; no Brasil, Ministério da 23 - ------------------ Rumo
ANGARTEN, V. G. Psico- Saúde – Coordenação de 16 - DEFONTAINE, J. Manual a uma ciência do movimen-
motricidade e Gestação. In: Doenças crônico-degene- de Reeducacion Psicomotriz. to humano. Porto Alegre:
FERNANDES, J. M. G. de A.; rativas. Orientações básicas Barcelona: Editorial Médica y Artes Médicas, 1987.Pe-
GUTIERRES FILHO, P. (org) sobre atividade física e saú- Técnica S/A, 1981. Serv. Saúde v.18 n.1 Bra-
Psicomotricidade: abordagens de para profissionais das sília mar. 2009. Disponível
emergentes. Barueri: Manole, áreas de educação e saúde. 17 - DUARTE, J. A. O para- em http://scielo.iec.pa.gov.
2012. Brasília: Ministério da Saú- doxo do oxigénio, o exercício br/scielo.php?script = sci_
de/Ministério da Educação. físico e a saúde de quem o
7 - BATTAGLION NETO, A. O p. 15-22, 1995. pratica. Rev. Bras. Educ. Fís.
conhecimento e a prática dos Esp., São Paulo, v.20, p.79-81,
acadêmicos da Educação Fí- 2006.
52

28 - MATSUDO, S. M.; 34 - ----------- Atividade Fí- exercises science, 1867-


MATSUO, V. K. R.; BARROS sica, Saúde e Qualidade de 1928. Exerc Sport Sci Rev, v.
NETO, T. L. Efeitos Bené- Vida. 6. ed. Londrina: Midio- 25, p. 137-69, 1997.
ficos da Atividade Física graf, 2013.
na Aptidão Física e Saúde 41 - PATE, R. R. (Ed.). Na-
Mental Durante o Proces- 35 - OLIVEIRA, M. A. T. Educa- tional Physical Activity Plan
so de Envelhecimento. Rev. ção Física Escolar e Ditadura for United States. Journal of
Bras. de Atividade Física e Militar no Brasil (1968-1984): Physical Activity & Health,
Saúde, vol. 5, n. 2, p. 60-76. História e Historiografia. Champaign, v.6, 2009. Sup-
2000. Educ. Pesqui. [On line] vol. 28, plement 2.
n.1, p.51-75. 2002.
29 - MAZO, G. Z.; LOPES, 42 - PITANGA, F. J. G. Epi-
M. A.; BENEDETTI, T. B. 36 - PAFFENBARGER JU- demiologia, Atividade Física
Atividade física e o idoso – NIOR, R. S.; BLAIR, S. N.; e Saúde. Rev. Bras. Ciênc.
Concepção Gerontológica. LEE, I. M. A history of physical Mov. Brasília, v. 10, n. 3, p.
Porto Alegre: Sulina, 2001. activity, cardiovascular heal- 49-54, 2002.
th and longevity: the scientifi
30 - MORIN, E. A cabeça c contributions of Jeremy T. PeServ. Saúde v.18 n.1 Bra-
bem-feita – Repensar a Morris. International Jour- sília mar. 2009. Disponível
reforma, reformar o pen- nal of Epidemiology, London, em http://scielo.iec.pa.gov.
samento. 12. ed. Bertrand v.30, n. 5, p.1184-92, 2001. br/scielo.php?script = sci_
Russel, 2006.
37 - ---------------------.;
31 - MORRIS, J, N. et al Co- HYDE, R.T.; WING, A. L.;
ronary heart-disease and HSIEH, C. C. Physical activity,
physical activity of work. all-cause mortality, and lon-
Lancet, v. 265, n. 6795, p. gevity of college alumni. New
1053-7, 1953. England Journal of Medici-
ne, Boston, v.314, p.605-13,
32 - NAHAS, M. V.; 1986.
CORBIN, C. B. Educação
para a aptidão física e saú- 38 - PANELLI, C.; DE MAR-
de: justificativa e sugestões CO, A. Método Pilates de con-
para a implementação nos dicionamento do corpo: um
programas de educação fí- programa para toda vida. São
sica. Revista Brasileira de Paulo: Phorte, c2006.
Ciência e Movimento, São
Caetano do Sul, v.3, n.8, 39 - PAPALIA, D. E.; OLDS, S.
p.14 – 10. 1992. W. Desenvolvimento Humano.
7. ed. Porto Alegre: Artes Mé-
33 - -----------.; GARCIA, L. dicas Sul, 2000.
M. T. Um pouco de história,
desenvolvimentos recentes 40 - PARK, R. J. High-protein
e perspectivas para a pes- diets, ‘damaged hearts’, and
quisa em atividade física e rowing men: antecedents of
saúde no Brasil. Rev. Bras. modern sports medicine and
Educ. Fís. Esporte, vol. 24, n.
1, p.135-48. 2010.

TRISKEL 2016
43 - PRISTA, R. (org) As For- ecologia humana. Blume-
mações Brasileiras em Psico- nau: Dynamis: revista tec-
motricidade. São Paulo: no-científica, v. 12, n. 49, p.
All Print, 2010. 108-109, 2004.

44 - RODRIGUES, K. F. Pro- 51 - SOUSA, C. A.; NUNES,


cesso coletivo de avaliação: C. R. de O. (org) Estilos de
a experiência da Residência Vida Saudável e Saúde Co-
Multiprofissional em Saúde da letiva. Blumenau: Edifurb,
Família de Blumenau. in: HA- 2016.
DDAD, A. E. (org) Residência
Multiprofissional em Saúde: ex- 52 - THIERS, S. et al Sócio-
periências, avanços e desafios. -Psicomotricidade Ramain-
Brasília: Ministério da Saúde, -Thiers – Uma leitura emo-
2006. cional, corporal e social.
São Paulo: Casa do Psicó-
45 - RAMOS. J. J. Os exercí- logo, 1994.
cios físicos na história e na
arte: do homem primitivo aos
nossos dias. São Paulo: IBRA-
SA, 1983.

46 - SÉRGIO, M. Para uma


Epistemologia da Motricidade
Humana. 3. ed. Lisboa: Com-
pendium, 2000.

47 - SILVA, F. M. da (org) Reco-


mendações sobre condutas e
procedimentos do profissional
de Educação Física na Atenção
Básica à Saúde. Rio de Janei-
ro: CONFEF, 2010.

48 - SOARES, C. L. Educação
Física: raízes europeias e Bra-
sil. Campinas: Editores Asso-
ciados, 1994.

49 - ------------ (org) Corpo e


História. Campinas: Autores
Associados. 2004.

50 - SOUSA, C. A.; BARRETO,


S. J. Saúde coletiva e corpo-
reidade: do exercício físico à
54 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

Espaço
Dialógico

A Revista Triskel, Revista Internacional de Psicomotricidade tem como um de seus objetivos a abertura
de diálogos entre pesquisadores voltados ao estudo do fenômeno psicomotor.
Esta entrevista coloca em questão o conceito motricidade, tão falado na Psicomotricidade, mas que
possui epistemologicamente fontes diferenciadas, quando se trata de estudar a obra da Motricidade Humana
de Manuel Sérgio. Foi convidada a pesquisadora Eugênia Trigo, fundadora da Rede Internacional de Pesqui-
sadores em Motricidade Humana, autora de diversas obras sobre a motricidade. Nasceu na Espanha e reside
na Colômbia desde 2004. Doutora em Filosofia e Ciências da Educação. Foi professora - pesquisadora titular
na Universidad de Coruña (Espanha), no instituto Universitário de Maia ( Portugal), na Universidad del Cauca
( Colômbia) e na Universidad Tecnológica Equinoccial ( Equador). Professora convidada de mais de cinquenta
universidades européias e latinoamericanas. Atualmente dirige o Instituto Internacional del Saber Kon-traste.
Direciona suas pesquisas para temáticas em motricidade humana, criatividade, ludicidade, ciência e
investigação encarnada. Possui uma forma muito peculiar de ser. Traz os traços espanhóis em seu jeito de
apresentar ao mundo reflexões importantíssimas. Eugenia Trigo é direta, estudiosa, empreendedora e acima de
tudo uma pesquisadora incansável.
Para ela, o termo Psicomotricidade contém as sementes do cartesianismo, pois toda motricidade, já é
social, psíquica, relacional....Vale a pena refletir.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
1- Dra. Eugenia Trigo, qual a
ligação de sua formação com
a Psicomotricidade?
Estudié la Psicomotricidad como
una tendencia didáctica dentro de la Edu-
cación Física en los años de mi formación
en esta área. Posteriormente hice varios
cursos de formación con los expertos del
momento (Le Boulch, Lapierre, Aucoutu-
rier) e implementé cursos de formación
de docentes desde esta perspectiva, así
como orienté aulas de infantil y terapia
con niños con algunos “problemas” de
“movilidad”, dislexias y atención.
Este enfoque fue quedando re-
legado a medida que estudiaba filosofía y
conocía la ciencia de la motricidad huma-
na desarrollada por el Dr. Manuel Sérgio.
A partir de ahí, entendí que el
propio concepto de Psicomotricidad es
una redundancia y un cartesianismo, por
lo que lo aparté de mis investigaciones
y acciones en el aula, centrándome des-
de mediados de los años noventa en la
motricidad humana desde la perspectiva Y son sus pilares:
fenomenológica de Merleau-Ponty y Ma- Ética: construcción, no destrucción, ética universal y respeto a las
nuel Sérgio. identidades e individualidades.
Política: compromiso social, ser ciudadano, revolución de los pue-
2- Dra. Eugenia Trigo: Para blos de la tierra en pro de su emancipación.
você o centro de estudo é a Ludismo: autotelismo, aventura de la vida, sentido lúdico de la vida,
motricidade, Defina este con- vivir el momento y el proceso.
ceito na perspectiva de Ma- Inmanencia - trascendencia: del aquí y el ahora al traspaso de los
nuel Sérgio. límites, caminar hacia la experiencia posible, en palabras de Kant.
La motricidad es ... la ENER- Proyectarse y proyectar, compromiso, pertenencia, yo y los otros.
GÍA que nos impulsa a vivir, caminar en Pensamiento complejo: Pensamiento crítico más pensamiento
el más ser, PERCIBIRNOS para así TO- creativo.
MAR CONSCIENCIA de quiénes somos, Acción: todo acto intencionado (interno y externo; observable y no
dónde estamos y hacia dónde vamos y… observable). Implica sensación, pensamiento, intención, emoción,
ACTUAR consciencia y energía.
Es una praxis creadora que nos permite Ecología: humana, mundo, planeta, universo en una relación inter-
ser y estar en el mundo de una manera comunicativa, imposible de separar. Compromiso humano con la
íntegra, lúdica y plena. vida.
56 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

3- Dra. Eugenia Trigo, em um Después de casi 13 años pouco deste estudo e


de seus livros você fala da de vida latinoamericana, y bastantes porquê você o selecio-
importância da expressão in- más si contamos los que he esta- nou em seus estudos.
fantil na constituição de sua do viajando antes de asentarme en Conocí los trabajos
personalidade. Por gentileza, Colombia, no estoy muy segura de de Maturana y Varela en los
desenvolva este aspecto. poder afirmar que “América Latina primeros años de mis visitas
Somos seres corpóreos y es un potencial en la capacidad de a Chile allá por los años 90.
nos construimos en nuestra histori- revisar nuevos paradigmas”. Vi en sus escritos, principios
cidad con los otros y el mundo con En un mundo globalizado en crisis, que casaban con mis
quienes interactuamos. Desde que ¿alguien tiene la opción de “salirse intuiciones sobre el ser y es-
nacemos y, antes dentro del vientre del sistema”? Algún pueblo, región, tar en el mundo de una ma-
materno, estamos en inter-acción país ¿puede entablar un propio sis- nera ética, política y creadora.
para ser-humanos. En esos primeros tema, un mundo al margen de los Entendía que, estos biólogos,
años de ser y estar en el mundo, es “dictámenes” de los poderes habían mudado la manera de
cuando fijamos nuestros valores y financieros que nos dominan? entender la propia Vida y no
principios que nos acompañarán en ¿Tiene América Latina opciones de solamente la vida humana.
la vida. Cuando, los adultos que nos “trasgredir” esos dictados? Y más Eso me dio otras bases para
acompañan, no cumplen su función allá de ello, ¿tiene intenciones de continuar el estudio y funda-
educadora (en toda la amplitud de crear y proponer al mundo otras for- mento de la CMH.
esa palabra), se deja al infante a su mas de vida? No lo estoy viendo. Si Posteriormente,
“libre albedrío”, sin normas, sin lími- excluimos algunas experiencias poco cuando Varela se separa de
tes, sin elementos que le permitan durables en el tiempo (Brasil con Maturana y comienza a inte-
asegurar su posición en el mundo. Lula, Uruguay con Mugica, Ecuador rrelacionar la biología con las
Por el contrario, cuando los adultos con Correo o Perú con Evo Morales), neurociencias, el budismo y
que acompañan al infante, son exce- ¿cuáles son los caminos que vemos los diálogos entre científicos
sivamente restrictivos en la posibili- construir desde estas latitudes? occidentales y el Dalai Lama,
dad de dar opciones para la creación, Y si no se es capaz de mirar otras me di cuenta de cuán poco
el niño tiene pocas posibilidades de maneras de vivir las riquezas (natura- sabíamos, los occidentales,
ir más allá y, o bien se “queda” dete- les) en vez de detenerse en su explo- de toda una tradición en el
nido en los “quehaceres” impuestos tación, ¿qué podemos esperar? ¿En conocimiento y de las otras
o bien, puede desenvolver un exceso dónde está el cambio de paradigma maneras de llegar a los pro-
de “trasgresión” que le hace buscar para un Vivir Bien, un Buen Vivir real pios conocimientos. Comen-
“fuera de casa” ambientes que, a las y no solamente sobre el papel? cé una vía más integrativa,
escondidas, le producen placeres in- Por otro lado, si nos atenemos a la si cabe. Más enactica y más
mediatos (caso de drogas, alcohol, Educación de todos los sujetos lati- coimplicada.
etc.). noamericanos y en el seno de estos
Por ello, los ambientes ricos de edu- países, ¿qué encontramos? Medi-
cación son espacios de libertad y ción de la calidad en fiunción de es-
creación con atención a normas y tándares internacionales que nada
límites que le permitan a los infantes tienen que ver con la real “calidad”
crecer seguros y creativos. de una educación de todos y para
todos para constituir subjetividades,
4-Dra. Eugenia, Sabemos que ciudadanía y progreso social.
a América Latina é um poten-
cial na capacidade de revisar 5-Dra. Eugenia, você gosta
novos paradigmas. Conte um muito dos autores Maturana
TRISKEL

pouco de sua experiência na e Varela e percebo em seus


América Latina e na formação escritos a apropriação de
humana. suas ideias centrais. Fale um

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

6- No Brasil há um movimento para o


reconhecimento da profissão Psico-
motricista.
Qual a mensagem você enviaria aos
profissionais desta área?
Os brasileros gostam de ficar no
cartesianismo? Gostam de continuar a
fragmentar o ser humano? Gostam de manter
os nomes de alguma coisa porque “sempre foi
assim?
Eu diria que estudaram mais, discuti-
ram mais a Motricidad Humana como ciência e
se abram novos caminhos que levem o Brasil
de novo ao lugar que merece como grande
país de ideias e criações.

7-Dra. Eugenia Triga, Como pesquisa-


dora você concorda com a frase:
“Fazer ciência é um acto poético?”
Concordo plenamente. Ver para isso o
meu livro “ciência e investigación encarnada”.
58 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

etrigoa@gmail.com
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

Obras (libros)

26 2016 Trigo, Eugenia. De la Motricidad Humana al Paradigma Vida. Instituto


Internacional del Saber. ISBN: 978-1-326-63408-7.
25 2015 Trigo, Eugenia (cord). Pensar y Transformar: un legado de Manuel Sérgio.
Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-312-88135-8.
24 2015 Montoya, H. & Trigo, E. Motricidad Humana. Aportes a la Educación Física,
la Recreación y el Deporte. Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-312-
89253-8.
23 2014 Trigo, E. Historias motricias. Trasegando el sentido de vida. España-
Colombia: Instituto Internacional del Saber. 2ª edición. ISBN: 978-1-291-88302-2.
22 2013 Aristizábal, M. & Trigo, E. La Formación doctoral en América Latina, ¿más
de lo mismo?, ¿una cuestión pendiente? España-Colombia: Instituto Internacional
del Saber. 2ª edición. ISBN: 978-1-291-68361-1.
21 2013 Trigo, E. Guía didáctica. Seminario de Grado I. Maestría en Literatura
infantil y juvenil. Loja-Ecuador: Universidad Técnica Particular de Loja. ISBN: 978-
9942-08-543-6.
20 2013 Trigo, E. Investigación cualitativa y cuantitativa. Maestría en Literatura
infantil y juvenil. Loja-Ecuador: Universidad Técnica Particular de Loja. ISBN: 978-
9942-08-542-9.
19 2013 Trigo, Bohórquez y Rojas. Procesos creativos en investigación cualitativa
II. España-Colombia: Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-291-49168-5.
18 2013 Trigo, Gil y Pazos. Procesos creativos en investigación cualitaitva I. España-
Colombia: Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-290-49142-5.
17 2011 Trigo, E. Ciencia e investigación encarnada. España-Colombia: Instituto
Internacional del Saber. ISBN: 978-4709-8358-1.
16 2011 Montoya, H. & Trigo, H. Colombia eco-recreativa. Resultados de un proyecto
de investigación. España-Colombia: Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-
4709-5418-5.
15 1010 Trigo, E. & Montoya, H. Motricidad Humana: política, teorías y vivencias.
España-Colombia: Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-4452-7654-0.
14 2010 Sérgio, M.; Trigo, E.; Genú, M.; Toro, S. Motricidad Humana, una mirada
retrospectiva. España-Colombia: Instituto Internacional del Saber. ISBN: 978-1-
4452-2249-3.
60 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

13 2009 Aristizábal, M. & Trigo, E. La Formación doctoral en América Latina, ¿más


de lo mismo?, ¿una cuestión pendiente? España-Colombia: Instituto Internacional
del Saber. ISBN: 978-1-4092-9810-6.
12 2008 Motricidad Humana y Gestión Comunitaria. Colombia: En-acción/Unicauca.
ISBN. 978-958-9451-20-5.
11 2006 Trigo, E. Inteligencia creadora, ludismo y motricidad. Colombia: En-acción/
Unicauca. ISBN. 978-958-732-014-5.
10 2005 Trigo, Hurtado, Jaramillo (comps). Consentido. Colombia: Unicauca. ISBN. 958947580-9
9 2001 Trigo, E. (coordinadora). Motricidad creativa: una forma de investigar. A
Coruña: Universidad.
8 2000 Trigo, E. (coordinadora). Fundamentos de la motricidad. Aspectos teóricos,
prácticos y didácticos. Madrid: Gymnos.
7 2000 De la Piñera, S. y Trigo, E. Manifestaciones de la motricidad. Barcelona: Inde.
6 1999 Trigo y colaboradores. Motricidad y creatividad. Barcelona: Inde.
5 1996 La creatividad lúdico-motriz. Santiago: Tórculo.
4 1995 Castañer, M. y Trigo, E. Globalidad e interdisciplina curricular en la
enseñanza primaria. Propuestas teórico-prácticas . Barcelona: Inde.
3 1995 Castañer, M. y Trigo, E. La interdisciplinariedad en la E.S.O. Propuestas
teórico-prácticas. Barcelona: Inde.
2 1994 Aplicación del juego tradicional en el curriculum de educación física.
Barcelona: Paidotribo.
1 1989 Juegos motores y creatividad. Editorial Paidotribo, Barcelona.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
62 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO À ADAPTO MALFACILAĴOJ


VIDA UNIVERSITÁRIA E PREJUÍZOS VIVO UNIVERSITATO KAJ
PERDOJ EN AKADEMIA
NO RENDIMENTO ACADÊMICO. EFIKECO.
Resumo
Felismar MANOEL1, Mônica Manhoni DE PAULA2 & Priscila
Carreiras BOTELHO3.
La celo de tiu studo estis esplori �cu
Fisioterapeuta, Doutor. 1, Fisioterapeuta 2 e Fisioterapeuta3 da Escola de ekzistas rilato inter la malfacileco de
Ciências da Saúde - Unigranrio. adaptado de universitataj studentoj kaj ilia
Grupo de Pesquisa do Curso de Fisioterapia (Gefisio-Unigranrio) da akademia efikeco. de epidemiologia en-
Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy” Escola de Ciências da keto de la tropezo de la �efa plendoj de la
Saúde - Curso de Fisioterapia – Disciplina Psicomotricidade Clínica Em Duque
studentoj kiuj spertis adapta malfacila�oj
de Caxias, Rio de Janeiro
estis kondukita; aplikanta semi-strukturi-
Resumo ta demandaro por studentoj de la 1-a, 3-a,
5-a kaj 7-a periodoj de la fizikoterapio
O objetivo desta pesquisa foi averiguar se há uma relação Kurso de Unigranrio. La demandaro kon-
entre a dificuldade de adaptação dos alunos universitários e o seu sistas el dek ses variabloj ligantaj la mal-
rendimento acadêmico. Foi realizado um levantamento epidemio- samajn situaciojn spertis en la akademia
lógico da prevalência das principais queixas dos alunos que pas- medio, kaj prezentas kvin kategorioj de
saram por dificuldades adaptativas; aplicando-se um questionário perceptita malfacileco nivelo. Ankora�
semi-estruturado aos discentes do 1°, 3°, 5° e 7° períodos do Curso parto de la instrumento fermita kaj malfer-
de Fisioterapia da Unigranrio. O questionário é composto por de- mita demando: se oni flunked iu disciplino,
zesseis variáveis que apontam as diferentes situações vivenciadas
kaj se jes, la studento devas priskribi kion
no ambiente acadêmico, e apresenta cinco categorias de nível de
estis la fiaskoj. Parta datumoj estis anal-
dificuldade percebida. Faz parte ainda do instrumento uma questão
izitaj uzante priskriba statistiko tra Excel
fechada e aberta referente: se ficou reprovado em alguma disci-
2007 programo, kiun montris la rilaton de
plina, e em caso afirmativo, o aluno deve descrever quais foram
as reprovações. Os dados parciais foram analisados por estatística tiuj prienketitaj volontuloj kaj iliaj niveloj
descritiva através do programa Excel 2007, que mostraram a rela- de respondoj sen ajna conclusive ideon
ção dos voluntários pesquisados e seus níveis de respostas sem �is nun. Datumoj tabeligitajn por establi la
nenhuma ideia conclusiva até o presente momento. Os dados foram korelacio inter la grado de malfacila�o en
tabulados buscando estabelecer a correlação existente entre o grau adapti kaj malalta akademia rendimento
de dificuldade de adaptação e o baixo rendimento acadêmico, de- kaj uzindas fare psicomotriz Subteno Pro-
vendo ser utilizados pela equipe do Programa de Apoio Psicomotor gramo helpantaro Studento (PROAPA)
ao Aluno (PROAPA), para orientar condutas terapêuticas que me- gvidi terapia aliroj kiuj plibonigas kogna
lhorem a capacidade cognitiva e funções executivas dos alunos. kapablo kaj plenumaj funkcioj studentoj.

Palavras chaves: Dificuldades adap- ŝlosilvortoj: adapta malfacilaĵoj;


tativas; Baixo rendimento acadêmico; Malalta akademia efikeco.
Psicomotricidade Clínica e Institucional.
Psikomovado Kliniko kaj
Instituciaj.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
DIFICULTADES DE DIFFICULTIES IN ADAPTING
ADAPTACIÓN A LA VIDA TO UNIVERSITY LIFE AND
UNIVERSITARIA Y UN ME- LOWER SCHOOL
NOR RENDIMIENTO PERFORMANCE.
ESCOLAR.
Abstract
Resumen
The aim of this study was to in-
El objetivo de este estudio fue vestigate whether there is a relationship
investigar si existe una relación entre between the difficulty of adaptation of uni-
la dificultad de adaptación de los estu- versity students and their academic perfor-
diantes universitarios y su rendimiento mance. An epidemiological survey of the
académico; un estudio epidemiológi- main complaints prevalence of the students
co de la prevalencia de las principales who have undergone adaptive difficulties
quejas de los estudiantes que se han was conducted; applying a semi-structured
sometido a las dificultades de adapta- questionnaire to students of the 1st, 3rd, 5th
ción se llevó a cabo; la aplicación de and 7th periods of the Unigranrio Physio-
un cuestionario semi-estructurado para therapy Course. The questionnaire consists
estudiantes de 1º, 3º, 5º y 7º períodos of sixteen variables that link the different
Unigranrio. O cuestionario del curso de situations experienced in the academic en-
fisioterapia consta de dieciséis varia- vironment, and presents five level catego-
bles que enlazan las diferentes situa- ries of perceived difficulty. A closed and a
ciones vividas en el entorno académico, open question still part of the instrument of:
y presenta cinco categorías de nivel de if was flunked in some discipline, and if so,
dificultad percibida. Siendo parte del the student should describe what were the
instrumento de una pregunta cerrada failures. Partial data were analyzed using
y abierta de: si fue suspendido cierta descriptive statistics through Excel 2007
disciplina, y si es así, el estudiante debe program that showed the relationship of
describir cuáles eran los fracasos. Los those surveyed volunteers and their levels of
datos parciales fueron analizados utili- responses without any conclusive idea un-
zando estadística descriptiva a través til now. Data were tabulated in order to es-
Excel programa de 2007 mostró que la tablish the correlation between the degree
relación de esos voluntarios estudiados of difficulty in adapting and low academic
y sus niveles de respuestas sin ningu- performance and should be used by Psy-
na idea concluyentes hasta ahora. Los chomotor Support Program staff to Student
datos fueron tabulados con el fin de es- (PROAPA) to guide therapeutic approaches
tablecer la correlación entre that improve cognitive ability and executive
el grado de dificultad en la adaptación functions from the students.
y bajo rendimiento académico y debe
ser utilizado por el personal del Progra- Key words: Adaptive difficulties; Low aca-
ma de Apoyo al Estudiante Psicomotor demic performance; Clinic and Institutional
(PROAPA) para guiar los enfoques te- Psychomotor.
rapéuticos que mejoran la capacidad learning
cognitiva y las funciones ejecutivas es-
tudiantes.
Palabras clave: las dificultades de
adaptación; bajo rendimiento académi-
co; Clínica Psicomotriz e Institucional.
64 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

I
ntrodução recursos sociais disponí- inclusão integral de cada es- los indivíduos e instituição.
A cada inicio do veis para seu processo de tudante. (DOMINGUES et al, A prática das atividades psi-
ano letivo as universi- adaptação. 2008) comotoras é uma das estra-
dades recebem seus A maior parte Durante a evolução tégias que pode auxiliar no
alunos repletos de dos alunos que estudam humana, as relações sociais aprendizado, pois tais ações
idealizações, com ex- em universidades parti- e os eventos ambientais, fo- favorecem comportamentos
pectativas que sejam de- culares, precisa trabalhar ram possíveis devido à ação e transformações em benefí-
senvolvidas ao longo da para pagar seus estudos, conjunta dos órgãos media- cio da cognição. O movimen-
sua trajetória acadêmica. ou até mesmo para garan- dos pelo Sistema Nervoso to organizado e integrado em
Durante esse processo o tir o seu próprio sustento Central (SNC). Este fenôme- conjunto com experiências
aluno convive com colegas financeiro. Este fator in- no é chamado de plasticidade vividas por cada ser humano
de diferentes culturas e et- fluencia diretamente no neural. Segundo ANDRADE através da sua individualida-
nias que igualitariamente seu desempenho no ensi- e JUNIOR (2005), a Neuro- de, linguagem e interação
deverão ser respeitadas; no aprendizagem. Embora plasticidade é uma proprieda- com o meio favorece a aqui-
convivem com novos mé- as pesquisas demonstrem de natural do sistema nervoso sição de novos conhecimen-
todos de estudos, carência que não há altos níveis de dos indivíduos, caracterizada tos e habilidades (SILVA e
de conhecimentos prévios reprovações, é possível por alterações funcionais e ou BORGES, 2008).
e falta de um suporte psi- constatar que esses alu- morfológicas nos neurônios
cológico, devendo se adap- nos demonstraram uma em resposta a lesões, hor- Por não possuir
tar a esse ambiente, para má qualidade de vida, re- mônios, drogas ou estímulos dados atualizados sobre as
compartilhar as tarefas latando poucas horas de ambientais. Possuindo um dificuldades relatadas pelos
de ensino aprendizagem. sono, múltiplos empregos, papel de fundamental impor- discentes do Curso de Fi-
Pesquisa de FERNANDES pouco tempo para alimen- tância na construção de redes sioterapia, preferiu-se fazer
(2011) constatou que alu- tação, poucas horas para neurais, possibilitando o de- um levantamento epidemio-
nos dos primeiros períodos lazer, e tempo de perma- senvolvimento da capacidade lógico da prevalência das
da sua jornada acadêmica nência maior na universi- cognitiva dos indivíduos. principais queixas desses
apresentavam dificuldades dade devido às alterações A capacidade de alunos que passam por difi-
adaptativas e que tais di- da grade curricular. (CAR- aprender, recordar e esque- culdades adaptativas, sendo
ficuldades influenciavam VALHO, 2004) cer assume uma função de adotado como referencial te-
negativamente no seu ren- As universidades caráter adaptativo dos orga- órico o desenho de pesquisa
dimento acadêmico. através dos núcleos de nismos. Dessa forma, um lo- epidemiológica de ALMEIDA
CARELLI e SAN- apoio pedagógicos bus- cal rico em estímulos propicia FILHO e ROUQUAYROL,
TOS (1999) afirma que as cam encontrar estraté- a aquisição de capacidades (2006).
universidades não devem gias que auxiliem os alu- cerebrais, pois modificam os Este estudo teve
preocupar-se apenas com nos que não conseguem circuitos neurais (LAMBRO- como objetivo buscar conhe-
o rendimento acadêmico um rendimento acadêmi- SO, 2004). cer a realidade adaptativa do
dos estudantes ou com co satisfatório. A maior Segundo HOWLAND e aluno com o ambiente uni-
a necessidade de formar parte dos acadêmicos WANG (2008), definir me- versitário do curso de fisio-
sujeitos altamente qualifi- que procuram esse ser- mória e aprendizado é difícil, terapia da Unigranrio e averi-
cados para maior empre- viço buscam apoio psico- uma vez que são processos guar se há uma relação entre
gabilidade. Antes é preciso lógico, psicopedagógico provenientes de alterações suas dificuldades de adap-
dar oportunidades para e orientação vocacional, comportamentais e influên- tação e os seus respectivos
que esses indivíduos pos- evidenciando a necessi- cias do meio. Pressupõe-se rendimentos acadêmicos.
sam vivenciar um processo dade de ampliação dos então, que a adaptação dos
de transição em diferentes projetos atuantes nos universitários e o seu rendi-
TRISKEL

esferas das suas vidas e aspectos sociais, emo- mento acadêmico, podem ser
aprendam a lidar com os cionais e pedagógicos entendidos como dependente
das instituições, visando à de estratégias adotadas pe-

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL

R
evisão da Literatura ser humano. Em concordância, ALMEI-
A universalização do DA, SOARES e FERREIRA (2001);
acesso à educação no DIAS e FONTAINE (1996); apresentam
Brasil tem aumentado uma discussão acerca dos reais objeti-
significativamente a esco- vos educacionais das instituições, para
laridade, o que colabora que sejam formadoras de conhecimento
com a queda da distância educacional e crescimento humano.
entre as classes sociais. Conforme o Para que essa nova concepção
acesso à educação aumenta, um gran- seja adotada, as universidades devem
de número de discentes que começam a buscar uma metodologia individualizada
cursar o ensino superior depara-se com e acolhedora, de forma que, dê supor-
dificuldades de adaptação à vida univer- te ao aluno desde o seu primeiro ano
sitária (TEIXEIRA et al, 2008; FERRAZ da graduação. Neste período de transi-
e PEREIRA, 2002; ALMEIDA, SOARES ção, entre o final da adolescência e o
e FERREIRA,2001; SANTOS, 2000; começo da fase adulta, o jovem depara-
CUNHA e CARRILHO, 2005; ALMEIDA -se com inúmeras tarefas psicológicas
e SOARES, 2002). normativas, das quais se destaca a se-
Os ingressantes no ensino su- paração dos progenitores, construção
perior sofrem uma carga emocional da personalidade e autonomia (DIAS e
elevada, que poderá ser geradora de FONTAINE, 1996; CUNHA e CARRI-
sentimentos positivos, como bem estar LHO, 2005).
e orgulho, e poderá também favorecer Aos alunos recém-chegados
o aparecimento de pensamentos nega- à universidade requer-se atenção
tivos, devido à ansiedade e o estresse. especial. Para isso é necessário à for-
Pressupõe-se que as experiências po- mulação de projetos que deem suporte
sitivas estão associadas à melhor adap- às necessidades de cada estudante,
tação do universitário no seu ambiente no enfrentamento dos desafios en-
de estudo, o que consequentemente di- contrados na adaptação ao curso, de
minuiria os efeitos do estresse e da an- forma que não gerem consequências
siedade (IMAGINÁRIO e VIEIRA, 2011; negativas no seu rendimento acadê-
ROSSETTI et al, 2012; DIAS e FONTAI- mico. Esses projetos objetivam dar
NE, 1996; ALMEIDA e SOARES, 2002; apoio ao desenvolvimento da persona-
CUNHA e CARRILHO, 2005; FERRAZ lidade e da aprendizagem acadêmica
e PEREIRA, 2002). (DIAS e FONTAINE, 1996; CUNHA e
Segundo CUNHA e CARRI- CARRILHO, 2005; ALMEIDA,
LHO (2005), no mundo globalizado, SOARES e FERREIRA, 2001;
onde as exigências do mercado de ALMEIDA e SOARES, 2002; IMAGI-
trabalho tornam-se cada vez mais se- NÁRIO e VIEIRA, 2011; TEIXEIRA et al,
gregativas, as universidades precisam 2008; FERRAZ e PEREIRA, 2002).
pensar em uma formação integral do
estudante, propiciando oportunidades
para desenvolver as habilidades pes-
soais e pegadógicas. Neste enfoque,
GONÇALVES e CRUZ (1988) afirmam
que as universidades não manifestam
interesse na formação integral dos dis-
centes, pois visam apenas à adoção do
conteúdo programático, esquecendo-se
da formação da personalidade de cada
66 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

M
Pesquisas estão sendo realiza-
das sobre o baixo rendimento acadêmi- etodologia Tamanho da amostra - 54 partic-
co e seus resultados evidenciam que as Foi realizado ipantes (46 sexo feminino e 8 sexo
dificuldades encontradas pelos alunos, um levantamento epi- masculino)
estão relacionadas ao ambiente univer- demiológico da preva- Resultados parciais -Foi realiza-
sitário, nível de exigência das atividades lência das principais do um levantamento epidemiológi-
curriculares, o despreparo pessoal e queixas dos alunos que passam por co da prevalência das principais
social, falta de amparo da instituição e dificuldades adaptativas; aplicando-se queixas dos alunos que passam por
da família (ALMEIDA, SOARES e FER- um questionário semi-estruturado aos dificuldades adaptativas aplicando-
REIRA, 2001; CUNHA e CARRILHO, discentes do 1°, 3°, 5° e 7° período do se um questionário semi-estrutu-
2005; DIAS e FONTAINE, 1996). Curso de Fisioterapia da Unigranrio. rado aos discentes do 1°, 3°, 5° e
Neste contexto, a universidade surge Este questionário verificou o nível de 7° período do Curso de Fisiotera-
como facilitadora para o desenvolvimen- dificuldade percebida dos alunos em: pia da Unigranrio. Os dados foram
to pessoal, social, afetivo e pedagógico Incorporar novos conhecimentos; Man- analisados por estatística descritiva
do discente, afastando da ideia centrada ter focado no mesmo assunto; Lembrar através do programa Excel 2007.
apenas na lógica do rendimento escolar, assunto estudado; Autoconfiança para Ao relacionar situações diversas
adotando então, os critérios de desen- novos desafios; Desenvolver um tema no ambiente acadêmico e o nível
volvimento pessoal (CUNHA e CARRI- ou assunto; Autocontrole diante de ten- de dificuldade percebida por cada
LHO, 2005). sões; Entendimento de temas e ideias; aluno foi possível chegar aos se-
Pesquisas realizadas na área Resolver problemas e tomar decisões; guintes resultados parciais demon-
das neurociências comprovam a efi- Respeito e Valorização de outra pessoa; strados nos gráficos:
cácia das atividades corporais psico- Trabalhar com pessoas diferentes; Res-
motoras para promover respostas da peitar normas éticas; Cumprimento de
plasticidade neural, evidenciando um atribuições; Comunicação oral e escrita;
aumento da performance cognitiva Conduzir pessoas a resolver problemas;
e funcional dos individuos. (KOLB E Encontrar alternativas para resolver
WISHAW, 2002; FERRARI et al; 2001; problemas; Fazer escolha adequada na
BORELLA E SACCHELLI, 2009) busca de soluções. Classificando em
cinco categorias de dificuldade sendo
As atividades físicas leves como as nenhuma - 0, um pouco - 1, regular - 2,
contextualizadas na psicomotricidade bastante - 3 e total - 4. Além disso, foi
clínica e relacional, possibilitam o de- interrogado no questionário, se ficou
senvolvimento da performance indivi- reprovado em alguma disciplina e caso
dual influenciando o aspecto psicológi- afirmativo quais foram as reprovações.
co, produzindo sensação de bem estar Critérios de inclusão - Foram inclu-
e prazer, podendo diminuir a ansiedade ídos os alunos do Bacharelado de Fi-
e a depressão (DORNELES e BENET- sioterapia da Unigranrio que cursam o
TI, 2012). Os benefícios também são 1°, 3°, 5° e 7° períodos - Critérios de
encontrados a nível cerebral uma vez exclusão Foram excluídos os alunos
que há um aumento da vascularização, que utilizam psicofármacos, estejam em
facilitando respostas sinapsogênicas e tratamento de epilepsia e/ou outras do-
em consequência uma melhora consi- enças psiconeurológicas.
derável do aprendizado. (FONSECA,
2008; FERRARI et al; 2001; BORELLA
E SACCHELLI, 2009)
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


Ud exeraessisi. MetueraNulla commy nim alit TITLE 67
TRISKEL 68 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


Ud exeraessisi. MetueraNulla commy nim alit TITLE 69
TRISKEL 70 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


Ud exeraessisi. MetueraNulla commy nim alit TITLE 71
TRISKEL 72 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


Ud exeraessisi. MetueraNulla commy nim alit TITLE 73

Discussão e Conclusão

As situações presentes no cotidiano de um universitário e o seu impacto na vida acadêmica têm sido
tema de várias pesquisas, pois tais dificuldades tem sido motivos de abandono dos estudos em alguns casos,
com a consequente evasão. Estudiosos do assunto, de diferentes áreas de conhecimento, tem se ocupado da
questão e algumas instituições de ensino também tem se voltado para o problema, adotando medidas de resolu-
ção, quer buscando identificação diagnóstica quer adotando medidas de resgate dos potenciais dos alunos que
podem ser dinamizados nos cenários da própria universidade, resultando em melhoras no rendimento acadêmico.
O presente estudo teve a intenção de demonstrar o nexo entre as situações vividas pelos discentes do 1°, 3°, 5°
e 7° período do Curso de Fisioterapia da Unigranrio e o nível de dificuldade percebida por cada aluno. O que se
tem agora é um panorama desse universo da população pesquisada e seus níveis de respostas sem nenhuma
ideia conclusiva final, devendo continuar com pesquisas mais focadas em cada problema encontrado e também
extensiva a todas as turmas dos cursos, para avaliar um universo mais expressivo de alunos, sendo também
esses dados trabalhados, a partir de agora, buscando estabelecer a correlação existente entre o grau de dificul-
dade de adaptação, o baixo rendimento acadêmico e o que se pode fazer a nível de intervenção a favor desse
alunado, usando as práticas psicomotoras nos moldes sistêmicos, tanto no enfoque clínico quanto no enfoque
institucional, tarefas que serão desenvolvidas pelo Programa de Apoio Psicomotor ao Aluno-PROAPA do curso
de fisioterapia, na disciplina de Psicomotricidade Clínica.
74

Referências bibliográficas 6 - CARVALHO, ISABEL NICA MARIA PONTES.


1 - ALMEIDA, LEANDRO CRISTINA DE MOURA. Alu- Adaptação acadêmica e
S; SOARES, ANA PAULA nos trabalhadores de enfer- auto-eficácia em estudantes
C. Questionário de Vivên- magem: Qualidade de Vida universitários do 1° ciclo de
cias Acadêmicas (QVA-r): e Desempenho Acadêmico. estudos. Universidade Fer-
Avaliação do ajustamento Universidade Luterana do nando Pessoa, 2011.
dos estudantes universitá- Brasil, 2004.
rios. Avaliação Psicológica, 12 - FERRARI, ELENICE A.
p. 81-93, 2002. 7 - CUNHA, SIMONE DE MORAES et al. Plastici-
MIGUEZ; CARRILHO, dade Neural: Relações com
2 - ALMEIDA, LEANDRO DENISE MADRUGA. O pro- o Comportamento e Aborda-
S; SOARES, ANA PAULA cesso de adaptação ao ensino gens Experimentais. Psico-
C; FERREIRÁ, JOAQUIM superior e o rendimento aca- logia: Teoria e Pesquisa, Vol.
ARMANDO G. Adaptação, dêmico – Adaptação e rendi- 17 n. 2, p. 187-194 Mai-Ago,
Rendimento e Desenvol- mento acadêmico. Psicologia 2001.
vimento dos Estudantes Escolar e Educacional, Vol. 9,
no Ensino Superior: Cons- N° 2, p. 215-224, 2005. 13 - FERRAZ, M.
trução do Questionário FERNANDA; PEREIRA,
de Vivências Acadêmicas. 8 - DIAS, GRAÇA ANABELA SOUSA. A dinâ-
Universidade do Minho e FIGUEIREDO; FONTAINE, mica da personalidade e o
Coimbra, 2001. ANNE MARIE FONTAINE. homesickness (saudades de
Tarefas desenvolvimentais e casa) dos jovens estudantes
3 - ANDRADE, ANDRÉ bem estar dos jovens: universitários. Psicologia,
LUIZ; JUNIOR, ALFREDO algumas implicações para o Saúde & Doenças, 3 (2),
LOHR. A plasticidade neu- aconselhamento psicológico. p.149-164, 2002.
ral e suas implicações nos Cadernos de Consulta
processos de memória e Psicológica, 12, p. 103-114, 14 - GONÇALVES, ÓSCAR
aprendizagem. RUBS, Curi- 1996. F.; CRUZ, JOSÉ FERNANDO
tiba, v.1, n.3, p.12-16, abril/ A. A organização e imple-
jun, 2005. 9 - DOMINGUES, RENATA mentação de serviços uni-
DE MARCO et al. O Núcleo de versitários de consulta psi-
4 - BORELLA, MARCELLA Apoio ao estudante da Uni- cológica e desenvolvimento
DE PINHO; SACCHELLI, versidade Federal de Santa humano. Revista Portuguesa
TATIANA. Os efeitos da Maria como espaço de inclu- de Educação, 1 (1),p. 127-
prática de atividades moto- são no Ensino Superior. 145, 1998.
ras sobre a neuroplasticida- PONTO DE VISTA, Florianó-
de. Rev. Neurocienc, 17(2): polis, n. 10, p. 65-78, 2008. 15 - FONSECA, VITOR. De-
161-9, 2009. senvolvimento Psicomotor e
10 - DORNELES, LIDIANE Aprendizagem. Porto Alegre:
5 - CARELLI, MARIA JOSÉ RODRIGUES; BENETTI, LU- Artmed, 2008.
GUIMARÃES; SANTOS, CIANA BORBA. A psicomo-
ACÁCIA APARECIDA AN- tricidade como ferramenta da 16 - HOWLAND, JOHN G.;
GELI. Condições temporais aprendizagem. DORNELES & WANG, YU TIAN. Synaptic
e pessoais de estudo em BENETTI, v(8), nº 8, p. 1775 – plasticity in learning and me-
universitários. Universidade 1786, AGO, 2012. mory: stress effects in the hi-
São Francisco, 1999. 11 - FERNANDES, VERO- ppocampus. W.S. Sossin, J.C.
Lacaille, V.F. Castellucci & S.
Belleville (Eds.) Progress in
Brain Research, Vol. 169,
2008.
TRISKEL 2016
17 - IMAGINÁRIO, SUSANA; VIEIRA, Médicas, 1992.

2
LUÍS SÉRGIO. Contributos das vivências
acadêmicas, da integração social e do su- 5 - LELOUP,
porte social no bem-estar subjectivo de J. O corpo e
estudantes da Universidade Algarve. seus símbo-
Internacional Journal of Developmental los – Uma
and Educational Psychology, N° 1, Vol. 3, antropologia
2011. essencial. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 1999.

2
18 - KOLB, BRYAN; WISHAW, IAN Q.
Neurociência do Comportamento. Barue- 6 - ------------
ri: Manole, 2002. Cuidar do Ser
LAMBROSO, PAUL. Aprendizado e me- – Fílon e os
mória. Rev Bras Pisquiatr, 26(3), p. 207- Terapeutas de
210, 2004. Alexandria. 9.
ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

2
19 - ROSSETTI, CLAUDIA BROETTO et
al. Aspectos cognitivos e metacognitivos 7 - MALTA,
do raciocínio de universitários com queixa D. C. et al
de dificuldades de aprendizagem. Revista A política
Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Nacional de
Genéticas, Vol. 4, N° 2, Ago-Dez, 2012. promoção
da saúde e a agenda da
20 - ROUQUAYROL, MARIA ZÉLIA; AL- atividade física no contexto
MEIDA FILHO, NAOMAR. Introdução à do SUS. Epidemiol. Serv.
Epidemiologia. 4. ed. Ed. Guanabara Koo- Saúde v.18 n.1 Brasília
gan, 2006. mar. 2009. Disponível em
http://scielo.iec.pa.gov.
21 - SILVA, ANDRÉIA br/scielo.php?script=sci_
BEATRIZ; BORGES, PATRÍCIA FERREI-
RA BIANCHINI. A importância da psico-
motricidade na educação infantil. Revista
de Pedagogia Perspectivas em Educa-
ção, N° 03 (1), Maio- Agosto, 2008.
22 - TEIXEIRA, MARCO ANTÔNIO PE-
REIRA et al. Adaptação à universidade
em jovens calouros - Adaptação à univer-
sidade.
Revista Semestral da Associação Brasi-
leira de Psicologia Escolar e Educacional
(ABRAPEE), Vol. 12, N° 1, p. 185-202,
Janeiro-Junho, 2008.
arttext&pid=S1679-49742009. Acesso
em 02/05/2012.

2
3 - ------------------ Rumo a
uma ciência do movimento
humano. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987.

4 - ------------------ O de-
senvolvimento psicomotor:
76 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

RESENHAS
FERNANDES, J. & GUTIERRES
FILHO, P. J. B. Psicomotricidade:
abordagens emergentes.
Barueri/SP. Manole, 2012.

Brasília, 23 de Setembro de 2016


Paulo Gutierres Filho¹ e Jorge Fernandes²

¹Doutor em Ciências do Desporto Professor Adjunto da Faculdade de Educação Física da Universidade


de Brasília – FEF/UnB;
Professor do Curso de Pós Graduação em Educação Física da FEF/UnB;
Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Motora Adaptada – FEF/UnB

²Doutor em Ciências da Motricidade Professor e coordenador da graduação em Reabilitação Psicomo-


tora, professor e diretor do mestrado em Psicomotricidade da Universidade de Évora - Portugal. Tema de
investigação: Reabilitação Psicomotora e Prática Psicomotora preventiva, educativa e terapêutica.
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016


TRISKEL
Como o próprio Professor Doutor Vitor da Fonseca Todavia, não podemos olvidar
menciona no prefácio... “o livro que o Professor Doutor Jorge que o livro reforça que os psicomo-
Fernandes e o Professor Doutor Paulo Gutierres Filho or- tricistas devem trilhar um caminho
ganizaram e editaram com alguns colaboradores, sobre Psicomo- que permita consolidar a psicomotri-
tricidade é notável nas suas múltiplas abordagens. Mais do que o cidade como disciplina e profissão, e
título supõe, o presente livro apresenta-nos uma obra com rigor me- para isso, e estando completamente
todológico, habilmente construído e bem perspectivado nos seus de acordo com Juan Mila (2008),
suportes multidisciplinares”. têm de estar desapegados de per-
A presente obra procura integrar de forma coerente e sistê- sonalismos, narcisismos e interesses
mica os contributos, não só, das ciências biomédicas, mas também
economicistas. Deste modo, torna-se
das ciências humanas e de outros domínios que abrangem secân-
imprescindível que os psicomotricis-
cias transdisciplinares, constituindo no seu todo, uma obra multifa-
cetada conteudisticamente e que entende a tas como construtores da psicomotri-
psicomotricidade com uma vocação epistemológica cidade tenham não somente um olhar,
biopsicossocial, pois trilha entre a legitimidade científica da uma escuta e uma linguagem que in-
psicomotricidade e a formação corporal dos psicomotricistas; a psi- tegre os conhecimentos teóricos da
canálise; a psicopedagogia; as neurociências; a semiologia; as per- psicomotricidade, que fundamentam
turbações regulatórias; o diagnóstico e a intervenção; a as diversas abordagens ou media-
hiperatividade; o estress e o equilíbrio postural versátil. ções corporais, mas também que os
O presente livro também apresenta facetas originais da in- fundamentos teóricos da psicomotri-
tervenção psicomotora em vários contextos, do meio aquático, do cidade devem ser assimilados de for-
jogo e da clínica, ecossistema onde a psicomotricidade apresenta ma a permitir aos psicomotricistas a
meios e estratégias de intervenção e interação privilegiados que em liberdade para inovar e utilizar o seu
muito podem facilitar o processo adaptativo do ser humano como próprio estilo de ser psicomotricista
ser sóciohistórico. Além disso, nos seus mais variados capítulos e fazer intervenção psicomotora ade-
apresenta a diversidade da experiência e da vivência, desde o bebê quada aos objetivos e às necessida-
ao idoso, o que é em si, uma originalidade rara na literatura espe-
des específicas da pessoa. Por esta
cializada.
razão, como refere o Prof. Dr. Jorge
Fernandes... Abordagem emergen-
te... em
psicomotricidade... diferentes
psicomotricidades não, diferentes
práticas psicomotoras sim.

Por tudo isto, esta é uma obra de


referência e de grande vulto para o
desenvolvimento científico da psi-
comotricidade.
78 TRISKEL -Revista Internacional de Psicomotricidade

PRISTA, R. (Org.); BARRETO, S.J.


& BUENO, J.M. (Revisão).
Psicomotricidade: que prática é esta? Rio
de Janeiro/RJ. AllPrint Editora, 2016.

Uma das etapas imprescindíveis do reconhecimento da Psicomotricidade como profissão,


passa exatamente pelo ato de reconhecer-se “como” Psicomotricista. A identidade do Psicomo-
tricista desvela-se na multiplicidade das Formações, e mais do que isso, na práxis fundamentada.
Encarna-se e toma corpo, cor e movimento, nuances de uma aquarela que aviva de forma pulsante
o Psicomotricista e sua identidade. Declaremos, pois - sou Psicomotricista! E que possamos afir-
mar com clareza que a tela que pintamos apoia-se em fundamentos sólidos concisos, e que por
isso mesmo, nos permite ousar, criar, sair do ordinário, mergulhar no original. E permanecer em sua
essência Psicomotricista. O livro (Psicomotricista: Que prática é essa?), fala da rica multiplicidade
da psicomotricidade no Brasil e seus mais variados campos de atuação. Nos trás através das For-
mações, uma reflexão a respeito de “que prática é essa?” e mostra um pouco daquilo que somos.
PSICOMOTRICISTAS!

Rio de Janeiro, 29 de Setembro de 2016.


Dra. Regina Célia Lima de Macêdo
(Ph. D. Ciências, Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas); Diretora Científica do CEPTESE/CEC;
Membro do Conselho Editorial da TRISKEL Revista Internacional de Psicomotricidade;
Psicomotricista em formação
TRISKEL

REVISTA CIENTÍFICA INTERNACIONAL • EDIÇÃO 2016

Você também pode gostar