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Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Suzana Portuguez Viñas
Santo Ângelo, RS-Brasil
2023
Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas
Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Editoração: Suzana Portuguez Viñas

Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva

1ª edição

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Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Membro da Academia de Ciências de Nova York (EUA), escritor
poeta, historiador
Doutor em Medicina Veterinária
robertoaguilarmss@gmail.com

Suzana Portuguez Viñas


Pedagoga, psicopedagoga, escritora,
editora, agente literária
suzana_vinas@yahoo.com.br

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Dedicatória
ara todos psicomotricistas, pedagogos, psicopedagogos,

P psicólogos e terapeutas. Em especial ao meu querido pai Luiz


Carlos Santos Silva que a Doença de Parkinson levou e a minha
querida sogra Cary Portuguez Viñas, com Doença de Alzheimer.
E jamais esquecendo o trabalho de Cleones Pereira dos Santos,
Jalmires Regina, Claúdia Hosana, Neclea Dantas e Sônia Santos,
dedicados ao bem-estar físico e mental das pessoas.

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Suzana Portuguez Viñas

4
Nunca confunda
movimento com ação.
Ernest Hemingway

Ernest Miller Hemingway (Oak Park, 21 de julho de 1899 —


Ketchum, 2 de julho de 1961) foi um escritor norte-americano.
Trabalhou como correspondente de guerra em Madrid durante
a Guerra Civil Espanhola (1936–1939). Esta experiência
inspirou uma de suas maiores obras, Por Quem os Sinos
Dobram. Em 1953, ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção, e, em
1954, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.

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Apresentação

A
psicomotricidade pode melhorar as habilidades
cognitivas?
A conclusão é que sem o desenvolvimento psicomotor, o
desenvolvimento cognitivo fica gravemente comprometido.
É o que pretendemos demonstar.
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Suzana Portuguez Viñas

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Sumário

Introdução..........................................................................................................8
Preâmbulo: Desempenho cognitivo e psicomotor.......................................10
Capítulo 1 - Sistematização da atividade psicomotora e desenvolvimento
cognitivo...........................................................................................................14
Capítulo 2 - Envelhecimento Psicomotor......................................................21
Capítulo 3 - Idosos e a terapia psicomotora.................................................25
Capítulo 4 - Resiliência, felicidade e funcionalidade em idosos
institucionalizados: a psicomotricidade como resposta.............................29
Capítulo 5 - Neuromotricidade como um novo paradigma..........................33
Capítulo 6 - Efeitos do exercício físico no autismo......................................60
Capítulo 7 - Abordagem neuro-psicomotora em crianças afetadas pelo
autismo.............................................................................................................68
Capítulo 8 - Perfil psicomotor em crianças com autismo: avaliações
clínicas e implicações para a terapia............................................................73
Capítulo 9 - O que é Paralisia Cerebral?.......................................................79
Capítulo 10 - Exercício físico e mobilidade geral em pessoas com Paralisia
Cerebral............................................................................................................88
Capítulo 11 - Paralisia Cerebral: eficácia das intervenções motoras em
crianças ...........................................................................................................90
Capítulo 12 - Aptidão física e exercício para adultos com Paralisia
Cerebral............................................................................................................93
Capítulo 13 - Declínio cognitivo na doença de Parkinson: o quadro
complexo........................................................................................................105
Capítulo 14 - Treinamento aeróbico melhora a função psicomotora em
pacientes com doença de Parkinson...........................................................110
Capítulo 15 - Doença de Alzheimer: da instabilidade do disparo ao
colapso da rede de homeostase..................................................................113
Capítulo 16 - Perda da função motora na doença de Alzheimer pré-
clínica..............................................................................................................118
Capítulo 17 - Exercício nos estágios iniciais e intermediários da
demência........................................................................................................121
Epílogo............................................................................................................126
Bibliografia consultada.................................................................................127

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Introdução

O
transtorno das habilidades motoras, também chamado
de transtorno do desenvolvimento da coordenação e
conhecido em muitos estados e leis de educação
especial como deficiência física, é o comprometimento acentuado
no desenvolvimento da coordenação motora, e o diagnóstico é
feito quando o comprometimento afeta drasticamente o
desempenho acadêmico ou as atividades da vida diária. Esse
diagnóstico pode ser feito se as dificuldades de coordenação não
forem devidas a uma condição médica geral, como paralisia
cerebral, hemiplegia ou distrofia muscular. Com esse distúrbio, as
crianças mais novas podem apresentar falta de jeito e atrasos no
desenvolvimento para andar, engatinhar, sentar, amarrar
cadarços, abotoar camisas e fechar calças. Por outro lado, as
crianças mais velhas podem ter dificuldades em montar quebra-
cabeças, construir brinquedos, coordenação motora ao jogar bola
e dificuldade de coordenação motora com a caligrafia. A
prevalência desse distúrbio é estimada em cerca de 6% das
crianças na faixa etária de 5 a 11 anos, e geralmente é percebida
quando a criança tenta uma tarefa motora.

8
9
Preâmbulo
Desempenho cognitivo e
psicomotor

A
ntes de mergulhar na importância das habilidades
psicomotoras, devemos entender de onde vem o termo
psicomotor. A palavra “psico” determina a atividade
psíquica em duas fases: socioafetiva e cognitiva, por outro lado, a
palavra motora refere-se ao movimento. Portanto, o termo
psicomotor nos fala da relação que se estabelece entre a
atividade psíquica da mente humana com a capacidade de
movimento do corpo.
A compreensão e importância das habilidades psicomotoras nem
sempre foi entendida como tal, pois ao longo dos anos diferentes
autores foram complementando sua definição: A primeira
definição do termo psicomotricidade foi de Piaget onde ele afirma
que a inteligência é construída a partir da atividade motora das
crianças . Nos primeiros anos de vida, até aproximadamente os
sete anos, a educação da criança é psicomotora. Todo
conhecimento e aprendizagem se concentra na ação da criança
sobre o ambiente, os outros e as experiências através de sua
ação e movimento.
A psicomotricidade é um dos aspetos mais importantes no
desenvolvimento da criança, pelo que é necessário trabalhá-la em

10
todas as áreas para a ajudar a adquirir cada vez mais autonomia
nos seus movimentos.
A psicomotricidade é uma área do conhecimento que trata do
estudo e compreensão dos fenômenos relacionados ao
movimento corporal e seu desenvolvimento. A educação
psicomotora é importante porque contribui para o
desenvolvimento integral de meninos e meninas, pois do ponto de
vista psicológico e biológico, os exercícios físicos aceleram as
funções vitais e melhoram o humor.
A psicomotricidade ajuda apenas no esporte ou também no dia a
dia?
As habilidades psicomotoras ajudam o indivíduo a desenvolver
diferentes habilidades, especialmente importantes em seus
primeiros anos de vida:
• Transmitir através de gestos
• Interagir com outras pessoas
• Estimular a capacidade de raciocínio
• Conheçer-se melhor
• Expressar-se com mais eficiência

Como as habilidades psicomotoras ajudam a pessoa?


As habilidades psicomotoras ajudam a pessoa em três aspectos
principais:
1. A Estimulação, na qual a pessoa desenvolve a capacidade de
pensar através do sistema nervoso central, o que fará com que a
pessoa tenha uma maior velocidade de reação.

11
2. A variabilidade que a pessoa terá na execução dos diferentes
movimentos.
3. O desenvolvimento motor que a pessoa terá tanto ao nível da
velocidade gestual, reação e execução.

A identificação das palavras-chave da Psicomotricidade de forma


a apresentar um enquadramento dos principais conceitos
psicomotores resultou da análise das palavras mais significativas
nos diferentes países. Permitiu também melhorar o diálogo
conceptual e o reconhecimento mútuo das semelhanças e
diferenças entre os conceitos de Psicomotricidade nos vários
países.

Conceitos chave da Psicomotricidade


As visões sobre a Psicomotricidade nos diferentes países
apresentam semelhanças fundamentais em todas as nações. A
análise das perspetivas atuais sobre esta visão comum, é
apresentada num modelo gráfico, que sintetiza e destaca os
conceitos chave da visão da Psicomotricidade, centrada numa
perspetiva integrada do Ser Humano e na importância do
movimento numa relação.

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13
Capítulo 1
Sistematização da atividade
psicomotora e
desenvolvimento cognitivo

S
egundo Maite Mas, Lidia Jiménez e Concepció Riera
(2018), da Universitat Autónoma de Barcelona (Masa,
Barcelona, Espanha) e Escola Bressol Can Serra
(Jiménez e Riera, Barcelona, Espanha) diferentes estudos
mostram que o hábito físico e esportivo a prática em idade escolar
promove as capacidades cognitivas. A pesquisa mostrou que as
crianças que praticam esportes regularmente têm um maior
desenvolvimento cognitivo.
Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse em
pesquisas sobre os efeitos da atividade física nas habilidades
cognitivas. Meyer e Kieras (1997) discutem que as habilidades
executivas são alguns dos aspectos cognitivos que mais se
beneficiam da atividade física em crianças. Um estudo recente
indicou que a realização de atividade física sistemática aumentou
significativamente o desempenho atencional em crianças de 15%
a 25% (Moratal et al., 2008). A pesquisa mostrou que a atividade
física regular melhorou as habilidades cognitivas gerais e que as
crianças envolvidas nessas atividades planejadas foram 15%
mais rápidas em tarefas de tempo de reação, enquanto as

14
crianças que praticaram atividade física limitada tiveram 7% a
mais de erros nessas tarefas. O estudo também revelou que as
crianças que praticavam esportes coletivos como futebol,
basquete, handebol ou hóquei tiveram uma melhora de 25% em
sua capacidade de discriminar entre estímulos relevantes e
irrelevantes e de 15% em sua capacidade de discriminar entre
estímulos semelhantes, em comparação com crianças que
praticavam esportes coletivos como futebol, basquete, handebol
ou hóquei. aqueles que praticavam esportes individuais como
natação, corrida ou ciclismo também apontaram que a capacidade
aeróbica está relacionada a um melhor desempenho acadêmico
no ensino fundamental, principalmente em matemática e
habilidades de leitura. Na mesma linha, Hillman et al. (2008)
afirmaram que a atividade física tem um impacto positivo na
cognição ao longo da vida e que esses efeitos são devidos a um
aumento do fluxo sanguíneo no cérebro. O presente estudo
enfoca a educação psicomotora durante o desenvolvimento da
primeira infância, integrando o desenvolvimento corporal, as
emoções e a atividade cognitiva.
A partir da psicomotricidade, os bebês têm a oportunidade de
brincar com objetos e em seu contexto. O conceito
“psicomotricidade” contém o termo “psico”, que se refere à
atividade psicológica nos níveis cognitivo e afetivo, e o termo
“motricidade”, que se refere ao movimento. Assim, a atividade
psicomotora pode ser definida como a faculdade que permite,
facilita e melhora o desenvolvimento físico, psicológico e social
das crianças por meio do movimento (Herrera e Ramírez, 1993).

15
O conceito inclui uma noção evolutiva pela qual há uma interação
entre funções neuromotoras (desenvolvimento motor) e
psicológicas (desenvolvimento cognitivo e afetivo) que ocorrem
durante um processo único e unidirecional onde o corpo da
criança é o principal elemento em contato com o meio ambiente.
A educação psicomotora tem como objetivo o amadurecimento
psicológico da criança.
Como indica Aucouturier (2004), a psicomotricidade é baseada na
experiência de cada pessoa, em relação ao seu corpo, ao
ambiente e ao relacionamento com as pessoas. Diferentes
estudos demonstraram recentemente que um bom
desenvolvimento psicomotor na primeira infância é a base do
desenvolvimento mental posterior. Durante os primeiros anos de
vida, a psicomotricidade desempenha um papel muito importante,
pois promove o desenvolvimento intelectual, afetivo e social da
criança, favorecendo a relação com seu meio e levando em
consideração suas diferenças, necessidades e interesses
individuais.

Salvatierra (1999) considerou que um bom desenvolvimento


psicomotor é um fator preditivo no aparecimento de funções
superiores; um ótimo desenvolvimento psicomotor proporciona um
bom nível de conexões neuronais que permite a aprendizagem,
bem como a exploração através do movimento.

Ramos e cols. (2008) mostraram que o desenvolvimento


psicomotor de 6 a 20 meses é maior para o desenvolvimento
16
mental. Compartilhamos a suposição de que o desenvolvimento
psicomotor é a base do desenvolvimento mental.
Mas e Castellà (2016) mostraram que a psicomotricidade é uma
ferramenta válida que contribui para o desenvolvimento das
crianças e ajuda no aprendizado futuro. O movimento pode
melhorar o desenvolvimento de estruturas cognitivas relacionadas
à atenção, memória, percepção, linguagem e pensamento, o que
ajudará a interpretar conceitos como espaço, tempo e velocidade.
Além disso, seu próprio movimento se torna mais autônomo e
consciente por meio da linguagem e da expressão. Esses
resultados sugerem que sistematizar as experiências corporais
desde os primeiros meses de vida facilita o surgimento de
habilidades motoras e cognitivas e também leva a ampliar a
aquisição de conteúdos emocionais e afetivos. Nessa perspectiva,
vemos a educação psicomotora, quando considerada a partir de
uma perspectiva pedagógica ativa, crítica e flexível, como um
caminho para avanços no desenvolvimento das habilidades
intelectuais, emocionais e sociais das crianças.
Por psicomotricidade entende-se uma prática que permite o
desenvolvimento global de uma pessoa por meio de movimentos
corporais livres e espontâneos e suas interações físicas,
simbólicas e cognitivas com o meio ambiente
A educação infantil contribui para o desenvolvimento emocional,
físico, motor, social e cognitivo, proporcionando-lhes um clima de
confiança e um ambiente acolhedor. Nesta fase, dos 0 aos 6
anos, falamos em desenvolver competências básicas porque as
crianças carecem de elementos de autonomia. Habilidades são as

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habilidades e aptidões que os capacitam a realizar tarefas,
exercícios e atividades. Ao longo da fase de creche, as crianças
desenvolverão algumas habilidades motoras, além de habilidades
cognitivas, emocionais e pessoais. Nesse sentido, a educação
psicomotora possibilita o desenvolvimento dessas capacidades.
Em linha com Salvatierra (1999), os resultados do estudo
confirmam que um bom desenvolvimento psicomotor é um fator
de proteção no estabelecimento de funções superiores. Um bom
desenvolvimento da motricidade garante um bom
desenvolvimento cognitivo mais tarde na infância.
Da mesma forma que Ramos et al. (2008), podemos notar que o
desenvolvimento psicomotor antes dos 20 meses é superior ao
desenvolvimento mental. O desenvolvimento psicomotor é a base
sobre a qual se estabelece o desenvolvimento mental.

A conclusão é que sem o desenvolvimento psicomotor, o


desenvolvimento cognitivo fica gravemente comprometido.

As experiências físicas da criança são a base de sua inteligência.


Neste estudo, conhecimento, pensamento e criatividade são
mostrados como processos físicos, pois são desenvolvidos
quando a criança se move livremente em uma interação física,
simbólica e cognitiva com seu ambiente.
Concordamos com Aucoutourier (2004), que afirma que a
psicomotricidade tem papel fundamental no desenvolvimento
harmonioso da criança. Esses resultados indicam que a atividade

18
psicomotora sempre desempenha um papel no desenvolvimento,
começando no primeiro ano ou mais tarde.
Para concluir, a psicomotricidade é uma atividade necessária na
primeira infância que pode ser usada para identificar problemas
no desenvolvimento de habilidades no período pré-escolar e
problemas de desenvolvimento cognitivo, acadêmico e
socioemocional no período do ensino fundamental. A
psicomotricidade deve ser uma obrigação na fase de educação
infantil (de 1 a 6 anos). É uma atividade divertida e relacional que
contribui para o desenvolvimento ideal da criança.

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20
Capítulo 2
Envelhecimento Psicomotor

U
ma das preocupações mundiais das áreas médicas e
paramédicas contemporâneas é melhorar a qualidade
de vida dos idosos, bem como aumentar sua
expectativa. Isso requer uma compreensão mais profunda dos
desafios, mudanças e questões cognitivas, motoras, psicológicas
e sociais dos idosos. Todos estes aspetos são centrais para a
visão holística psicomotora da pessoa, especificamente do
envelhecimento. Com o envelhecimento, vários processos operam
simultaneamente em diferentes níveis de organização funcional,
resultando em alterações fisiológicas e psicomotoras relacionadas
à idade. Deficiências sensoriais (visão e audição) e de equilíbrio
aumentam o risco de quedas. Além disso, as modificações do
SNC com o envelhecimento são consideradas uma das principais
causas de todas as outras alterações nas habilidades
psicomotoras. A atrofia cerebral (i.e., redução dos volumes
cerebrais particularmente do lobo temporal medial, hipocampo e
córtex entorrinal) redução da substância branca, diminuição da
plasticidade cerebral e aumento da mortalidade das células
cerebrais, juntamente com alterações neuroquímicas no cérebro
interferem nas funções cognitivas, levando a uma redução da
autonomia do idoso. Além disso, uma grande diminuição do
desempenho motor é observada em pessoas mais velhas. Isso

21
está associado às já mencionadas alterações do SNC,
modificações cognitivas e alterações nas estruturas periféricas,
que explicam as dificuldades para realizar as atividades funcionais
da vida diária e aumentam o risco de quedas. O tempo de reação
após um estímulo específico é globalmente aumentado em
idosos, pois eles precisam de mais tempo para analisar um
estímulo e escolher a reação apropriada. A duração do
movimento aumenta ao dar prioridade à precisão do movimento
ao custo de sua velocidade. O declínio na coordenação bimanual
aumenta com a complexidade da tarefa e a frequência do
movimento. Os adultos mais velhos também apresentam uma
maior variabilidade de movimentos.
Portanto, um dos principais papéis do terapeuta psicomotor é
reconhecer o processo de envelhecimento natural, espontâneo e
normal da população, antes de implementar procedimentos
curativos e paliativos eficazes na terapia. No entanto, poucos
estudos sobre o impacto psicomotor do envelhecimento foram
relatados. Isso se deve, em parte, à ausência de instrumentos de
avaliação psicomotora específicos para idosos. A inexistência de
padrões de referência para a população idosa em geral também
evidencia a importância de se estudar as competências
psicomotoras da população geriátrica associada ao declínio físico
ou mental associado a condições específicas como a demência, a
doença de Parkinson ou a doença de Alzheimer. Portanto, com a
maior expectativa de vida em todo o mundo, uma preocupação
crescente foi recentemente associada aos meios de oferecer uma
abordagem precisa do envelhecimento da população.

22
Especialistas médicos e paramédicos (psicológicos, sociais,
psicomotores, ocupacionais, etc.) estão se concentrando no
desenvolvimento de uma abordagem baseada em pesquisa para
cobrir todas as preocupações de saúde e bem-estar das pessoas
idosas. No quadro conceitual psicomotor, a abordagem dos
idosos é semelhante à dos jovens. Baseada numa visão holística
do ser humano, a terapia psicomotora é um complemento e
suporte ao tratamento medicamentoso e farmacológico. Pretende-
se trabalhar as funções motoras, cognitivas, perceptivas,
emocionais e comportamentais perturbadas. Inicia-se com uma
avaliação que visa esclarecer e complementar o diagnóstico
clínico e possibilitar o estudo detalhado dos sintomas
psicomotores quanto à etiologia, desempenho detalhado e
descrição dos processos patológicos. Segue-se a confrontação
dos resultados da avaliação com outras avaliações médicas e
paramédicas de forma a orientar a implementação de um projeto
holístico para o doente. Existem poucas escalas de avaliação
psicomotora validadas com populações idosas e nenhuma
validada no Líbano. Para ultrapassar esta situação, os
profissionais utilizam frequentemente escalas unidimensionais,
como testes de funções cognitivas (por exemplo, o Mini Exame do
Estado Mental, o teste do desenho do Relógio), testes de funções
perceptivas e espaciais (por exemplo, o teste de reconhecimento
facial de Benton) e escalas de equilíbrio (por exemplo, o teste de
reconhecimento facial de Benton). escala de Tinetti). Portanto, a
necessidade de uma ferramenta psicomotora global, detalhada e
específica torna-se uma necessidade.

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Teste de Reconhecimento Facial de Benton (BFRT, do
inglês Benton Facial Recognition Test): é uma tarefa de
papel e caneta tradicionalmente usada para avaliar as
habilidades de percepção facial em condições neurológicas,
clínicas e psiquiátricas. Apesar das críticas aos seus estímulos,
a tarefa possui um procedimento simples e é de rápida
execução.

24
Capítulo 3
Idosos e a terapia
psicomotora

S
egundo Emilie Martin-Chave (2023), Terapeuta
Psicomotora, ao longo da vida, o indivíduo passa por
diversos transtornos: emocionais, fisiológicos, motores e
cognitivos. As funções motoras, imaturas ao nascer, vão
melhorando gradativamente, se estabilizando por um tempo e
depois enfraquecendo com o tempo. Assim, o envelhecimento é
esta fase da vida em que as funções motoras enfraquecem.
Um envelhecimento normal, trouxe gradualmente os idosos para
câmera lenta. Eles param de correr, escalar, pular... As
habilidades motoras são profundamente afetadas. Devido a essa
agitação, a consciência corporal é prejudicada. A desarmonia
entre habilidades intelectuais e habilidades motoras nem sempre
é fácil de lidar. Portanto, a autoconfiança é fortemente perturbada.
Os idosos podem facilmente perder a sua auto-estima e
motivação o que levará a uma diminuição das capacidades
motoras. Este fenômeno é perfeitamente ilustrado com a
síndrome pós-queda. O terapeuta psicomotor está aqui para
intervir de forma a restaurar a autoconfiança e o bem-estar do
idoso permitindo-lhe viver o envelhecimento nas suas melhores
condições e assim manter a sua independência o mais tempo
possível.
25
Infelizmente, o envelhecimento também pode ser um obstáculo
demarcado. Doenças degenerativas, problemas cardíacos,
diabetes, acidente vascular cerebral são frequentemente
vivenciados por idosos. Essas doenças têm consequências
diretas ou indiretas na autonomia da pessoa. A terapia
psicomotora tem o papel de acompanhar o paciente para retardar
esse processo de dependência.

Síndrome pós-queda
Um terço das pessoas com mais de 65 anos e metade das
pessoas com mais de 85 anos são afetadas por quedas. Em mais
de 40% dos casos é o início da dependência.
De qualquer forma, a queda pode ter consequências silenciosas
denominadas “síndrome pós-queda”. Após uma queda, mesmo
que todos os sintomas tenham sido bem curados, o paciente
ainda apresentará problemas de equilíbrio e marcha associados a
distúrbios psicológicos como a depressão.
A queda de um idoso pode trazer repercussões físicas, sociais e
psicológicas. A experiência dos solitários, às vezes durante horas,
deitado acordado com a incapacidade de se levantar pode ser um
evento muito traumático. Portanto, após esse traumatismo, o
paciente pode se sentir envergonhado, inseguro e sem valor.
Após esse evento, observamos regularmente restrições de
atividades, tensões e retraimento em si mesmo. É assim que os
idosos podem acabar em dependência.

26
Um tratamento precoce, ativo e eficaz é essencial. Global e
interdisciplinar, o tratamento permite que o paciente recupere sua
autonomia. As consequências de uma queda podem ser graves,
mas também são reversíveis devido ao tratamento precoce.

Demência
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
“demência é um termo abrangente para várias doenças que
afetam a memória, outras habilidades cognitivas e o
comportamento que interferem significativamente na capacidade
de uma pessoa de manter suas atividades da vida diária. Embora
a idade seja o fator de risco conhecido mais forte para demência,
não é uma parte normal do envelhecimento”.
Muitas pessoas pensam erroneamente que as demências fazem
parte do envelhecimento normal. A demência não é um processo
normal de envelhecimento. Eles degradam profundamente a
qualidade de vida.

Psicomotricidade e idosos
A psicomotricidade desempenha um papel de restaurar a auto-
estima e a consciência corporal para permitir que o paciente se
abra novamente para suas entradas sensoriais, seus sentimentos
e aceite suas forças e fraquezas. O bem-estar está no centro da
sessão. A pessoa deve poder reencontrar um certo prazer de se
movimentar, de poder se localizar, de criar novas relações. O
27
objetivo é ajudar o idoso a reencontrar a harmonia entre mente e
corpo.
O terapeuta utiliza várias atividades: dança, ginástica suave,
movimento passivo, Tai-Chi, atividades de equilíbrio, trabalho no
solo, relaxamento, massagem…

28
Capítulo 4
Resiliência, felicidade e
funcionalidade em idosos
institucionalizados: a
psicomotricidade como
resposta

S
egundo Andreia Sousa Freitas, Maria Paulina Ornelas
Oliveira, Ana Rita Bodas (2019), da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto-Douro (Portugal), o
envelhecimento é um fenómeno natural, inevitável, progressivo e
global[1-3] , caracterizada por um declínio funcional fisiológico,
alterações biopsicossociais e desafios diários que afetam a
adaptação do indivíduo a esta nova fase da vida. Assim, é
importante que o idoso se adapte às adversidades e as supere
para ter uma vida feliz, preenchida por frequentes estados
afetivos positivos.
Um estudo de Andreia Sousa Freitas e colaboradores (2019) teve
como objetivo avaliar a resiliência, felicidade e funcionalidade num
grupo de idosos institucionalizados, bem como apresentar a
Psicomotricidade como proposta de intervenção promotora destes
fatores. Este estudo pretende avaliar a resiliência, a felicidade e a
funcionalidade num grupo de idosos institucionalizados, bem

29
como apresentar a Psicomotricidade como proposta de
intervenção promotora destes fatores.
A amostra foi constituída por 61 idosos (14 do sexo masculino e
47 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 65 e os
99 anos, residentes no Estabelecimento Bela Vista na Ilha da
Madeira (Portugal). 57,4% dos idosos são viúvos, 26,2% são
solteiros, 8,2% são casados e 8,2% são divorciados. 60,7% dos
idosos são alfabetizados (37,7% têm a 4ª série) e 39,3% são
analfabetos. Foi utilizado o Mini-exame do estado mental (MEEM,
do inglês Mini-mental State Examination), o Índice de Barthel (do
inglês Barthel Index) e o Exame Geronto-Psicomotor (EGP ou do
inglês Geronto-Psychomotor Exam) para avaliação da
funcionalidade cognitiva e psicomotora, bem como a Escala de
Resiliência (RS, do inglês Resilience Scale) e a Escala de
Felicidade Subjetiva (SHS, do inglês Subjective Happiness Scale)
para a avaliação dessas construções psicoemocionais.
A amostra apresentou uma resiliência média (𝑥𝑥̅= 106,26, ± DP =
10,07), níveis médios de felicidade (𝑥𝑥̅= 17,67, ± DP = 2,29) e, em
termos funcionais, são "ligeiramente dependentes" (𝑥𝑥̅= 62,05, ±
DP = 16,94). 100% dos idosos apresentaram um perfil psicomotor
abaixo da média de referência para a população portuguesa de
acordo com a sua faixa etária. Propomos um programa quinzenal
de 6 meses de intervenção psicomotora em grupo (60
min/sessão) e em sessões individuais (45 min/sessão), concebido
para responder ao perfil psicomotor da amostra e para melhorar
as competências funcionais e psico-emocional.

30
O programa teve um desenho preventivo e reabilitador/terapêutico
para manter/reverter a capacidade funcional e o sentimento de si
e do outro, através da estimulação psicomotora centrada no
autoconhecimento, na eficácia/harmonia do gesto intencional
ajustado à ação e na o desenvolvimento de estratégias individuais
de enfrentamento. Utilizou a mediação corporal e o uso de
técnicas de terapia expressiva, reeducação gnóstico-práxica,
estimulação cognitiva, adequação comportamental e
socioemocional e treinamento funcional. As emoções positivas
foram trabalhadas por meio da dinâmica lúdica, do estímulo à
tomada de decisão consciente diante dos desafios e do
autofeedback baseado na percepção de competência.

31
32
Capítulo 5
Neuromotricidade como um
novo paradigma

S
egundo Francisco Javier Romero-Naranjo e Eliseo
Andreu-Cabrera (2023), do Departamento de Inovação e
Formação Didática, Faculdade de Educação,
Universidade de Alicante (Romero-Naranjo, Espanha) e
2Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Didática,
Faculdade de Educação, Universidade de Alicante (Andreu-
Cabrera, Espanha), a revisão da narrativa existente mostra a
evolução teórica dos conceitos de motricidade e psicomotricidade,
que levaram a um novo paradigma de movimento chamado
neuromotricidade. Nesta nova abordagem da ação motora, as
funções cognitivas, e principalmente as funções executivas, fazem
parte de sua essência. É por isso que a neuromotricidade, como
disciplina independente da psicomotricidade, propõe um conjunto
de atividades completamente diferente em que a dupla tarefa está
sempre presente. A metodologia de neuromotricidade aplicada
poderia promover a geração de redes neurais por meio de
protocolos de estimulação de complexidade crescente, que por
sua vez melhoram as funções cerebrais.
Entendemos por motricidade a capacidade do sistema nervoso
central de produzir a contração de um músculo. Também é
definida como a capacidade de um corpo se mover ou produzir
33
movimento. No campo da atividade física e das ciências do
esporte, a motricidade refere-se ao estudo dos movimentos
humanos, suas características e significado. A motricidade como
disciplina estuda os movimentos humanos e suas características
cinéticas e cinemáticas. Num mundo em que as tecnologias de
informação e comunicação estão claramente a perturbar os
nossos hábitos, e possivelmente a favorecer um estilo de vida
sedentário (além de uma baixa estimulação cognitiva), é
importante pensar em novos paradigmas que justifiquem outras
formas de se movimentar e ser mais eficazes. A relação entre
movimento, atividade física e funções executivas é uma das linhas
de pesquisa que mais tem se desenvolvido nos últimos anos em
diferentes áreas. Da revisão documental realizada, fica claro que,
no campo motor, o exercício físico é um dos melhores protetores
contra a demência senil, a doença de Alzheimer e a depressão.
Nossos corpos e, portanto, nossos cérebros, foram criados para
se mover. O exercício aumenta a produção de neurotrofinas, uma
proteína responsável por nos ajudar a produzir mais neurônios,
ajudando-nos a ter um cérebro saudável e flexível. É por isso que
cada vez que queremos aprender algo novo, nosso cérebro deve
se modificar e criar novas estruturas, como apontou Santiago
Ramón y Cajal no início do século XX.

Santiago Ramón y Cajal (Petilla de Aragón, Navarra, 1 de maio de 1852 - Madri, 17 de


outubro de 1934) foi um médico e cientista espanhol, especializado em histologia e patologia.
Ele dividiu o Prêmio Nobel de Medicina em 1906 com Camillo Golgi "em reconhecimento ao
seu trabalho sobre a estrutura do sistema nervoso."1 Ele foi um pioneiro na descrição das dez
sinapses que compõem a retina. Através de sua pesquisa sobre os mecanismos que regem a
morfologia e os processos conectivos das células nervosas, ele desenvolveu uma nova e
revolucionária teoria que passou a ser chamada de "doutrina do neurônio", baseada no fato de
que o tecido cerebral é composto de células individuais. Humanista, também como cientista, é
considerado o chefe da chamada Geração dos Sábios. Ele é frequentemente citado como o pai
da neurociência.

34
No processo de aprendizagem de uma nova atividade, o papel
dos neurônios-espelho e a imitação são um pilar fundamental,
pois novas vias sinápticas são criadas com base e guiadas pelo
modelo observado. No entanto, são as funções cognitivas, e
sobretudo as funções executivas, as responsáveis pelo sucesso
desta aprendizagem por diferentes razões. Por um lado, intervém
a observação correta ligada ao canal atencional e, por outro lado,
a escuta ativa é fundamental para poder planejar a resposta a
posteriori. O desenvolvimento psicomotor está ligado à aquisição
de conhecimento por meio da ação motora, que permite a
exploração do ambiente e a aquisição de informações relevantes
para a formação do pensamento. No campo da neuropsiquiatria,
numerosas investigações têm demonstrado a relação entre
distúrbios motores e transtornos mentais. Cérebro e motricidade
tornam-se um binômio essencial no processo de aprendizagem.
O movimento consciente e voluntário e a linguagem, entre outras,
são características que nos distinguem como espécie. Graças ao
corpo e ao movimento, como eixos da ação educativa,
desenvolve-se o nosso cérebro. A interação humana e a
estimulação do ambiente provocam novas conexões nervosas no
indivíduo. Como Pinzón e Moreno. (2020) apontam, "numerosos
estudos comportamentais no nível celular e molecular em animais
mostram efeitos significativos de enriquecimento cerebral em
resposta a estímulos ambientais, implicando níveis aprimorados
de estimulação sensorial, cognitiva e motora por meio da
permanência em ambientes complexos e novos". Pesquisas
recentes concordam que a estimulação precoce e rica, em

35
estágios sensíveis da evolução humana, facilitará a maturação
motora e cognitiva.
A partir das Ciências da Atividade Física e do Esporte, a
polissemia existente nos leva a delimitar termos semelhantes
como motricidade, psicomotricidade ou neuromotricidade. A
neuromotricidade como ciência e a neuromotricidade como
metodologia para o desenvolvimento do cérebro através da
estimulação cognitiva, no âmbito da motricidade humana.
A neurociência estuda a estrutura, função e desenvolvimento do
sistema nervoso, que estabelece as bases para a cognição e o
comportamento. A neurociência cognitiva estuda a complexidade
do funcionamento da mente, os milhões de neurônios, sua
plasticidade e a influência do ambiente nessa rede neural. A
neurociência cognitiva se concentra na análise da atividade
cerebral em relação à psique (consciência), a fim de compreender
o processo biológico que condiciona a aprendizagem e o
comportamento. Por todas estas razões, esta ciência torna-se o
referencial para a investigação do comportamento motor e da
neuromotricidade como disciplina e método de aprendizagem
motora.

Psicomotricidade: uma abordagem


conceitual
O conceito de psicomotricidade foi desenvolvido pela primeira vez
na Alemanha em meados do século XIX por Wilhelm Griesinger, o
fundador da neuropsiquiatria.
36
Wilhelm Griesinger (29 de julho de 1817 - 26 de outubro de
1868) foi um neurologista e psiquiatra alemão nascido em
Stuttgart.

A referência mais antiga ao termo psicomotor é fornecida por


Renard, K. (2019), citando Jean-Michel Lehmans. Este autor
afirma que W. Griesinger (em 1843) usou o termo "psicomotor"
como um sintoma na hipotonia de uma pessoa deprimida. De
acordo com vários estudos, os pesquisadores não concordam
sobre a origem da psicomotricidade, atribuindo sua autoria e
nascimento a diferentes autores e datas diferentes. Durante o
século XIX, o corpo foi estudado a partir do campo da Neurologia,
tentando entender o funcionamento do cérebro e suas estruturas
neuronais. Da mesma forma, a psiquiatria estudou a massa
cinzenta como origem de algumas das patologias do ser humano.
Ernest Dupré (1925), dentro do campo patológico, parece ser
quem cunhou o termo psicomotricidade em seus estudos sobre a
fraqueza motora em populações especiais. Ele estabeleceu
relações entre certas anomalias neurológicas e psíquicas e certos
problemas no desenvolvimento motor. No campo científico e na
perspectiva da psicologia do desenvolvimento, destaca-se como
precursor da psicomotricidade Henri Wallon (em 1925), que
desenvolveu os primeiros métodos de reeducação psicomotora. A
partir de uma orientação psicobiológica, Wallon argumenta que o
movimento é a única expressão e instrumento da psique. Piaget
(1969) afirma que as habilidades motoras intervêm na evolução
da inteligência, em diferentes níveis no desenvolvimento das
37
funções cognitivas. Para este autor, citado por Ruiz-Pérez (1987),
todos os mecanismos cognitivos são baseados na motricidade.
Na escola soviética, Vygotsky e Luria enfatizam a importância do
ambiente social como origem do movimento (sociomotricidade).

Lev Semyonovich Vygotsky (em russo: Лев Семёнович


Выго́тский; em bielorrusso: Леў Сямёнавіч Выго́цкі; 5 de
novembro de 1896 – 11 de junho de 1934) foi um psicólogo
soviético, mais conhecido por seu trabalho sobre o
desenvolvimento psicológico em crianças e por criar a estrutura
histórico-cultural teoria da atividade. Suas principais ideias
incluem:
A Origem Social da Mente: Vygotsky acreditava que as
habilidades mentais e cognitivas humanas não são
determinadas biologicamente, mas sim criadas e moldadas
pelo uso da linguagem e das ferramentas no processo de
interação e construção do ambiente cultural e social.
A Importância da Mediação: Ele via a mediação como a chave
para o desenvolvimento humano, porque leva ao uso de
ferramentas culturais e se torna um caminho para o
desenvolvimento psicológico através do processo de
interiorização.
A Zona de Desenvolvimento Proximal: Vygotsky introduziu o
conceito de ZDP que se refere à lacuna entre o nível atual de
desenvolvimento de uma criança e o nível que ela é capaz de
alcançar com ferramentas fornecidas por outras pessoas com
mais conhecimento.

Alexander Romanovich Luria (russo: Алекса́ндр Рома́нович


Лу́рия; 16 de julho de 1902 - 14 de agosto de 1977) foi um
neuropsicólogo soviético, frequentemente considerado o pai da
neuropsicologia moderna. Ele desenvolveu uma bateria
extensa e original de testes neuropsicológicos durante seu
trabalho clínico com vítimas de lesões cerebrais da Segunda
Guerra Mundial, que ainda são usadas de várias formas. Ele
fez uma análise aprofundada do funcionamento de várias
regiões cerebrais e dos processos integrativos do cérebro em
geral. A magnum opus de Luria, Higher Cortical Functions in
Man (1962), é um livro de psicologia muito usado que foi
traduzido para muitas línguas e que ele complementou com
The Working Brain em 1973.
É menos conhecido que os principais interesses de Luria, antes
da guerra, estavam no campo da pesquisa cultural e
desenvolvimentista em psicologia. Tornou-se famoso por seus
estudos de populações de baixa escolaridade de uzbeques
nômades no SSR uzbeque, argumentando que eles
demonstram desempenho psicológico diferente (e inferior) do
que seus contemporâneos e compatriotas sob as condições
economicamente mais desenvolvidas da agricultura coletiva
38
socialista (o kolkhoz). Ele foi um dos fundadores da Psicologia
Histórico-Cultural e líder do Círculo de Vygotsky, também
conhecido como "Círculo de Vygotsky-Luria". Além de seu
trabalho com Vygotsky, Luria é amplamente conhecido por dois
estudos de caso psicológicos extraordinários: The Mind of a
Mnemonist, sobre Solomon Shereshevsky, que tinha uma
memória altamente avançada; e The Man with a Shattered
World, sobre Lev Zasetsky, um homem com uma grave lesão
cerebral traumática.

Para os autores soviéticos, as habilidades motoras humanas são


fundamentais para o desenvolvimento infantil, que, juntamente
com a linguagem e o pensamento, favorecem a adaptação à
sociedade.
Hoje em dia, a psiconeurologia dispõe de novas técnicas e
tecnologias, avanços da neuroquímica e da neurofarmacologia,
que permitem um diagnóstico e tratamento mais preciso e eficaz.
No campo da educação, segundo estudiosos, os conhecimentos
em psiconeurologia devem ser aplicados na educação e
reeducação de crianças com necessidades especiais. Para isso,
propõe a psicomotricidade como ferramenta.
Pastor-Pradillo (2002) diferencia dois significados do termo
psicomotricidade. Por um lado, como ciência que se interessa
pelo estudo da relação que se estabelece entre o psíquico e o
motor. Por outro, como método ou técnica para alcançar
diferentes objetivos motores. Seja como ciência do movimento,
como metodologia ou como disciplina educativa, reeducativa e
terapêutica, todos os investigadores parecem concordar que a
psicomotricidade desenvolve a competência motora, a capacidade
cognitiva e a inteligência socioefetiva. A psicologia cognitiva

39
passa de um interesse no desempenho motor para um interesse
nos processos internos.
A psicomotricidade compreende o ser humano como um ser
multidimensional (dimensões psicossomáticas) e visa o
desenvolvimento intelectual por meio da utilização do movimento
consciente e voluntário como meio de conhecimento do próprio
corpo, das pessoas e do ambiente. Para Romero-Naranjo (2004)
a psicomotricidade pode ser trabalhada com atividades musicais-
motoras, criando o termo “psicomotricidade rítmica” para aquelas
atividades relacionadas à percussão corporal por meio do método
BAPNE (Salerno et al., 2017).

Método BAPNE: uma nova abordagem e tratamento para


transtornos depressivos. A depressão caracteriza-se por uma
diminuição do tom do humor que se associa, por via de regra, a
um abrandamento (forte ou ligeiro) de algumas funções
cognitivas (atenção, perceção, ideação) e a um declínio da
psicomotricidade. Recentemente alguns estudos mostraram
que a música e o movimento geram efeitos saudáveis em
pacientes deprimidos. O objetivo desta pesquisa é demonstrar
que o método de percussão corporal BAPNE pode ser utilizado
como um possível meio de reabilitação para a depressão. Este
método, eficaz tanto a nível interpessoal como intrapessoal,
promove a estimulação cognitiva, sócio-emocional,
psicomotora e o arranque de todos os lóbulos cerebrais.
Espera-se que seja estimulado o nível de atenção, funções
executivas, capacidade de concentração, autoconfiança,
habilidades visuoespaciais, com consequente melhora da
qualidade de vida do paciente, diminuição do estresse e risco
suicida (Salerno et al. 2017).

A partir das definições de psicomotricidade que foram compiladas,


propomos o seguinte:
* Psicomotricidade como disciplina Ciência que compreende o ser
humano como um ser integral e multidimensional (físico, social,
cognitivo, emocional) e busca seu desenvolvimento harmonioso,

40
integrando o psiquismo e as habilidades motoras conscientes e
voluntárias, para o desenvolvimento cognitivo baseado no
conhecimento de si mesmo próprio corpo, do meio ambiente e de
outros pares.
* A psicomotricidade como método A psicomotricidade é uma
metodologia que, consoante os seus objetivos, pode ser
educativa, reeducativa ou terapêutica, e que se baseia em
técnicas e atividades lúdicas em que o corpo e o movimento são
utilizados como eixo de ação, com com o objetivo de contribuir
para o seu desenvolvimento integral como pessoa.

Neuromotricidade: origem e
evolução
Santiago Ramón y Cajal (em 1906), lançou as bases do
conhecimento sobre o funcionamento do sistema nervoso central
e periférico, com a descoberta das fendas sinápticas (espaço que
separa os neurônios), graças aos mensageiros químicos que
permitem a comunicação entre eles. Segundo o prêmio Nobel
espanhol, o cérebro mantém a capacidade genuína de se
reorganizar ao longo da vida.

Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1906.


O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1906 foi
concedido conjuntamente a Camillo Golgi e Santiago Ramón y
Cajal "em reconhecimento ao seu trabalho sobre a estrutura do
sistema nervoso".

41
Uma especialidade da neurociência cujo objeto é o estudo da
complexa rede neural que organiza e controla o movimento
humano, é a neuromotricidade. Lapierre (1974) no capítulo
Psicomotricidade e Neuromotricidade, aponta que toda educação
motora é essencialmente psicomotora, pois o movimento é o elo
entre o pensamento e a ação. Ele também sustenta que a
psicomotricidade como método educacional possui as
características de consciência e voluntariedade. Além do exposto,
deve-se notar que a comunidade científica atribui a ele a autoria
do termo neuromotricidade, embora apareça apenas como título
do capítulo. Lapierre não fornece uma definição nem como
disciplina nem como método. Porém, em relação ao cérebro e ao
movimento, afirma que entre o psiquismo e a mecânica de um
músculo, existe toda uma estrutura neurológica de transmissão e
regulação, que o autor chama de sistema psiconeuromotor. Com
base nesses princípios, Lapierre (1974) explica detalhadamente
as bases neurofisiológicas essenciais que regem a elaboração e
execução dos movimentos voluntários, automáticos e reflexos.
Por se tratar de uma disciplina relativamente nova, Francisco
Javier Romero-Naranjo e Eliseo Andreu-Cabrera (2023) se
propuseram a estudar a produção científica existente sobre a
neuromotricidade como disciplina ou como método. Eles
descobriram que o termo neuromotricidade oferece poucos
registros.
Segundo Hernando e Useros (2007), a neuromotricidade é a
resposta nervosa dos centros nervosos corticais e subcorticais

42
que ativa os neurônios motores para produzir uma resposta
motora. A definição mais recente de neuromotricidade é fornecida
por Díaz-Jara, especialista em neuropsicologia educacional, em
Martín-Lobo et al. (2015), uma monografia do MECD (Ministério
da Educação, Cultura e Desporto) sobre Processos e
instrumentos de avaliação neuropsicológica educacional.
Define a neuromotricidade como a análise dos aspectos
neurológicos envolvidos no desenvolvimento de um movimento,
sua programação, seu controle e aquisição de seus modelos de
execução.
O Ministério da Educação e Formação Profissional da Espanha
define a neuromotricidade como a ciência que estuda a relação
entre as neurociências e a motricidade, sem esquecer a parte
psicomotora do movimento.
Quanto à neuromotricidade como metodologia, os registros
encontrados não ultrapassam vinte. É um assunto que está se
espalhando, deixando para trás a reeducação motora ou a terapia
motora. O conhecimento do cérebro no século XXI tem um
impacto inequívoco em novos procedimentos que promovem a
estimulação do córtex, a percepção, a programação do
movimento, o controlo motor e a tomada de decisões no domínio
da motricidade.
Por fim, cabe ressaltar que o termo "neuromotricidade" é citado
em pesquisas relacionadas ao desenvolvimento motor e
aprendizagem, bem como em estudos sobre aspectos
neuromotores e cognitivos, principalmente em deficiências ou
distúrbios do desenvolvimento. Ao conduzir uma revisão

43
conceitual da terminologia relacionada à motricidade, focaremos
na neuromotricidade como a disciplina no ápice do trabalho motor.
Na base da pirâmide (Romero-Naranjo, 2020) está a motricidade,
como movimento em si, sem consciência ou voluntariedade.
Seguir-se-ia no segundo passo a psicomotricidade, com as
propriedades amplamente analisadas nas seções anteriores, e
fundamentalmente assimilada como disciplina e método de
movimento consciente com diferentes funções relativas ao
desenvolvimento intelectual por meio da ação motora. Num
terceiro nível, situa-se a neuromotricidade como uma ciência que
estuda a relação entre as neurociências e as habilidades motoras,
sem esquecer a parte psicomotora do movimento.

44
Depois de revisar esses documentos, propomos duas definições:

* Neuromotricidade como ciência Parte da Neurociência que


estuda os processos neurológicos que influenciam a geração e o
domínio das habilidades motoras humanas, e que planejam,
organizam, avaliam e controlam o movimento, a fim de atingir
marcos motores em adaptação ao meio e em função de
estimulação ambiental.
* Neuromotricidade como método A neuromotricidade é a
metodologia educacional e neurorreabilitária dentro do campo
motor, que afeta a estimulação cognitiva e socioemocional, por
meio de um trabalho específico sobre as funções executivas do
cérebro, relacionadas ao aprendizado e habilidades motoras.

Neurotrofinas, atividade física e


neuromotricidade
As neurotrofinas (NTs) são fatores de crescimento expressos no
cérebro e nos tecidos periféricos, que regulam muitos aspectos da
função neuronal, incluindo proliferação de progenitores neurais,
morfologia neuronal, plasticidade sináptica e até morte celular
após lesão.

45
Conforme observado acima, certas doenças neurogenerativas,
como doença de Alzheimer, epilepsia e doença de Parkinson,
estão intimamente relacionadas a déficits de neurotrofinas
(Tuszynski, 2009). González-Abreu e Guerrero-Heredia, (2020)
argumentam que os fatores neurotróficos são moléculas que
regulam a sobrevivência neuronal, a plasticidade do sistema
nervoso e outras funções dos neurônios e células gliais, bem
como alguns tecidos não nervosos. Tuszynski et ai. (2009)
descobriram que o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF),
em ratos e primatas com certas lesões cerebrais, impediu a
destruição de neurônios.

BDNF: O fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), ou


abrineurina, é uma proteína que, em humanos, é codificada
pelo gene BDNF. O BDNF é um membro da família de
neurotrofinas de fatores de crescimento, que estão
relacionados ao fator de crescimento do nervo canônico (NGF),
uma família que também inclui NT-3 e NT-4/NT-5. Fatores
neurotróficos são encontrados no cérebro e na periferia. O
BDNF foi isolado pela primeira vez de um cérebro de porco em
1982 por Yves-Alain Barde e Hans Thoenen. O gene BDNF
fornece instruções para produzir uma proteína encontrada no
cérebro e na medula espinhal chamada fator neurotrófico
derivado do cérebro. Essa proteína promove a sobrevivência
das células nervosas (neurônios), desempenhando um papel
no crescimento, maturação (diferenciação) e manutenção
dessas células.

Ele mostrou os amplos efeitos neuroprotetores da administração


de BDNF em vários modelos. (BDNF) em vários modelos animais,
com benefícios terapêuticos que se estendem ao hipocampo
degenerado. Em camundongos, após o início da doença, eles
mostraram que o BDNF, entre outros efeitos, reverte a perda de
sinapses e restaura o aprendizado e a memória.
46
Em ratos idosos, a infusão de BDNF reverte o declínio cognitivo e,
em primatas idosos, o BDNF reverte a atrofia neuronal e melhora
o declínio cognitivo relacionado à idade. Tuszynski defendeu a
administração terapêutica de BDNF como uma terapia potencial
para a doença de Alzheimer.

Gómez-Pinilla, F. et al. (2002), investigaram possíveis


mecanismos pelos quais o exercício pode promover mudanças na
plasticidade neuronal por meio da modulação de neurotrofinas.
Em sua pesquisa, roedores foram expostos a roda de corrida
voluntária por 3 ou 7 dias (1-2 km por dia), e a medula espinhal
lombar e o músculo sóleo foram avaliados quanto a alterações no
BDNF, seu receptor de transdução de sinal e efetores a jusante
da ação do BDNF na plasticidade sináptica. Como conclusões,
esses pesquisadores afirmaram que o exercício aumentou a
expressão do BDNF e de seu receptor, a sinapsina, entre outros.
Esses resultados indicam que níveis basais de atividade
neuromuscular são necessários para manter níveis normais de
BDNF no sistema neuromuscular e o potencial de
neuroplasticidade.

O exercício voluntário induz um mecanismo mediado por BDNF


que promove a neuroplasticidade.

47
Na ausência de mais pesquisas com instrumentação avançada,
como capacetes para monitorar a função cerebral e ondas
cerebrais, bem como o uso de software especializado para
neuroimagem e análise, propomos aqui nossa "Hipótese do
cérebro ligado" em relação à atividade neuromotora
(Neuromotricidade). A atividade motora e a atividade cerebral
parecem ser a chave para ativar e aumentar os fatores
neurotróficos. Quanto maior a atividade cerebral, maior o número
de neurotrofinas, assim como maior o número de sinapses.
Graças à neuromotricidade, é provável que o cérebro desperte o
maior número de áreas cerebrais, melhorando assim as funções
executivas. Se com a motricidade se trabalham certas áreas do
cérebro e com a psicomotricidade se ampliam essas áreas de
trabalho, graças à neuromotricidade, provavelmente conseguimos
que através de estímulos e desafios de complexidade crescente,
o cérebro utilize o máximo de seu potencial, dependendo das
atividades programadas. Se pudermos traçar um paralelo entre a
feira e o cérebro, enquanto com a motricidade acendem-se
algumas lâmpadas da feira, e com a psicomotricidade acendem-
se algumas atrações da feira, com a neuromotricidade todas as
atrações estão em pleno capacidade e o cérebro é uma explosão
de luzes e mecanismos.

48
Conforme afirmado por Cotman e Engesser (2002), a atividade
física, na forma de corrida voluntária na roda, induz alterações na
expressão gênica cerebral. Como conclusões de suas pesquisas,
eles mostraram que o exercício melhora e aumenta a função
cerebral. Animais que se exercitam apresentaram aumento de
BDNF, molécula que aumenta a sobrevivência neuronal, melhora
o aprendizado e protege contra o declínio cognitivo. Em outra
pesquisa,

Cotman e Berchtold (2002) argumentaram que uma extensa


pesquisa humana sugere que o exercício pode trazer benefícios
para a saúde geral e a função cognitiva, particularmente na
velhice. Especificamente, eles argumentam que o exercício
voluntário pode aumentar os níveis de fator neurotrófico derivado
do cérebro (BDNF) e outros fatores de crescimento, estimular a
neurogênese, aumentar a resistência a lesões cerebrais e
melhorar o aprendizado e o desempenho mental. Para esses
autores, o exercício pode fornecer um meio simples de manter a
função cerebral e promover a plasticidade cerebral.

Segundo Bayona et al. (2011), a plasticidade neural "permite


alterações adaptativas e/ou de reorganização, em condições
normais ou patológicas. A primeira inclui, por exemplo, processos
de aprendizagem condicionados e incondicionados; a segunda
inclui eventos adaptativos e desadaptativos que, em última
instância, acompanham a evolução de distúrbios neurológicos
estabelecidos doenças".
49
Pinzón e Moreno. (2020) afirmam que por meio de protocolos de
exercícios, com duração, intensidade e sequência clinicamente
significativas, foi demonstrada a eficácia da atividade física em
favorecer a plasticidade cerebral nos processos de
envelhecimento neural.

Nesse sentido, defendem que o exercício aumenta a capacidade


aeróbica por aumentar o fluxo sanguíneo encefálico, o que
favorece a neurogênese e as conexões sinápticas.

Da mesma forma, a função cognitiva é melhorada, o risco de


patologias neurológicas pode ser reduzido e a taxa de
envelhecimento pode ser retardada.

Ao mesmo tempo, alguns autores argumentam que atividades


rotineiras que não desafiam o cérebro não geram plasticidade
cerebral. As atividades motoras automáticas parecem não gerar
neurotrofinas, daí a importância da estimulação externa e do
ambiente. O movimento e um ambiente rico em estímulos criam
cérebros ricos em sinapses (plasticidade cerebral). Em outras
palavras, o exercício físico aeróbico e a assunção de novos
desafios em novas situações (experiências psicomotoras
voluntárias, diferentes e não automáticas) geram novos neurônios
e novas aprendizagens de todos os tipos, especialmente
estruturação espaço-temporal. Da mesma forma, atividades

50
neuromotoras (variadas e de complexidade crescente) ativam e
conectam essas redes neurais, melhorando funções cognitivas
superiores.

Um programa neuromotor que desenvolva a motricidade global e


fina, com uma grande variedade de atividades e com tempos de
execução adequados à idade da criança, provocará alterações a
nível cerebral, nomeadamente ao nível da plasticidade neuronal.
Isso terá um impacto positivo nas funções cognitivas dos
praticantes.

Neuromotricidade: protocolo de
ação
As atividades neuromotoras são desenhadas em uma progressão
de dificuldade psicomotora para trabalhar as seguintes funções
executivas de acordo com o Método BAPNE: Velocidade de
processamento: reflete a quantidade de informação que pode ser
processada por unidade de tempo ou mesmo a velocidade com
que uma série de operações podem ser realizadas, mas também
o tempo que decorre desde o aparecimento do estímulo até a
execução de uma resposta. Pode ser visual (letras e números),
auditivo (linguagem e canto) e movimento. Trabalhamos com as
"Placas Cognitivas BAPNE", o Clap Change, através de estruturas
de pergunta/resposta de texto oral rítmico e melódico,

51
verbalizando operações matemáticas e movendo-se em diferentes
"metros horizontais" (figuras geométricas) no espaço.
Memória de trabalho: é a capacidade de registrar, codificar,
manter e manipular informações por um intervalo de tempo muito
específico, a fim de manter um senso de unidade da atividade
cognitiva. Em vários tipos de atividades usando repetições
variadas e combinando novas estruturas rítmicas tanto
verbalmente quanto com percussão corporal.
Fluência verbal: relacionada aos processos que realizam as
estratégias adequadas para buscar informações e responder
adequadamente no menor tempo possível. Funciona através da
capacidade de improvisar verbalmente dentro de certas estruturas
fornecidas pelo professor. Está relacionado à dupla tarefa, pois é
realizado ao mesmo tempo em que se move em certas figuras
geométricas.
Dupla tarefa: a capacidade de realizar duas tarefas
completamente diferentes simultaneamente e prestar igual
atenção a ambas constantemente. Envolve trabalhar em paralelo
em uma tarefa visual e uma tarefa visuoespacial. No BAPNE
todas as atividades apresentam dupla tarefa, pois o objetivo é
tornar os membros inferiores independentes dos membros
superiores com diferentes movimentos e a voz (falada ou
cantada).
Controle de inibição ou interferência: é a capacidade de inibir
ou controlar respostas impulsivas, interferências ou distrações
durante a execução de uma tarefa. Pode ser trabalhado nos
níveis motor, atencional e comportamental. Múltiplas atividades

52
relacionadas com melodias psicomotoras, cânone, círculos
concêntricos e reação inversa.
Flexibilidade cognitiva: é a capacidade de fazer mudanças no
que foi planejado anteriormente e, assim, adaptar-se às
circunstâncias do nosso ambiente. O professor fornece
constantemente indicações que modificam o movimento psicom
Planejamento: é a capacidade de gerar objetivos, desenvolver
planos de ação para alcançá-los e escolher o mais adequado com
base na antecipação das consequências. Ao receber indicações
sobre o que fazer a seguir, o participante desenvolve planos de
ação para alcançá-lo.otor.
Tomada de decisão: é o processo de fazer uma escolha entre
várias escolhas possíveis com base nas necessidades, avaliando
os resultados e consequências de cada uma delas. Funciona
principalmente com Clap Change e Handsball Change.
Ramificação: é a capacidade de organizar e realizar três tarefas
simultaneamente de forma otimizada, intercalando-as e sabendo
onde cada uma delas está em um determinado momento. Quando
os membros inferiores se movem para realizar uma figura
geométrica, os membros superiores realizam Handsball Change e
a voz entoa, por exemplo, na 1ª batida C, na 3ª batida E e na 4ª
batida G, sendo essas tarefas alteradas quase continuamente
pelo professor, modificando a sequência psicomotora.

Metodologia para promover


neurogênese endógena
53
Metodologias inspiradas no século XIX, ensinadas por
professores do século XX, para alunos do século XXI merecem
uma revisão do paradigma educacional. Não podemos pensar em
neuromotricidade usando as mesmas atividades clássicas da
psicomotricidade. Portanto, um dos objetivos deste artigo é
diferenciar claramente os conceitos de motricidade,
psicomotricidade e neuromotricidade em nível conceitual e
prático. Com base nessa justificativa teórica, fornecemos
exemplos que implicam um aumento na complexidade da
execução. Para a correta execução dessas atividades, um
conhecimento básico de neuropsicologia é essencial para todos
os professores, onde a ligação entre cérebro, corpo e mente deve
estar sempre presente. O conhecimento das alterações físicas e
funcionais do envelhecimento, principalmente a nível cerebral,
pode contribuir para a implementação de ações efetivas pelo
especialista em Neuromotricidade. Este profissional deve
conhecer o funcionamento do cérebro para poder realizar uma
intervenção adaptada às características evolutivas e
necessidades do indivíduo.

Neuromotricidade
O método BAPNE é um exemplo de protocolo para promover a
plasticidade cerebral, que pode estimular o amadurecimento do
cérebro, reparar lesões neurodegenerativas ou promover o
envelhecimento normal do cérebro. O método BAPNE oferece
mais de 800 atividades baseadas na neuromotricidade, nas quais
54
a dupla tarefa está sempre presente. Uma atividade típica é
mostrada abaixo. Leia a placa na direção indicada pelo professor
(cima-baixo; baixo-cima; direita-esquerda; esquerda-direita). O
quadrado é chamado TA e o triângulo é chamado KI.

55
A mesma atividade pode ser variada, mas em posição bípede, em
pé e movendo-se em um quadrado ou outra figura geométrica. As
variações são muitas e as possibilidades de trabalhar na dupla
tarefa são muito variadas. Outro exemplo diferente seria realizar o
movimento das mãos com a bola descrito acima (sentado ou em
pé) e realizar algumas atividades como as seguintes:
A. Perguntar conceitos de geografia, por exemplo, qual é a capital
da França?
B. Dizer opostos. Doce - Salgado.
C. Traduzir para outro idioma. Silla - Cadeira .
D. Repetição de palavras onomatopaicas. Repetição normal ou
invertida.
E. Memorizar dígitos, memorizar números, memorizar nomes de
notas musicais, memorizar nomes próprios ou nomes de objetos.
F. Realizar testes aritméticos. Divisão, adição, subtração,
multiplicação.

Conclusões
O objetivo deste capítulo é apresentar os diferentes significados
dos termos motricidade, psicomotricidade e neuromotricidade.
Nos últimos anos, o conhecimento e a investigação sobre o
cérebro têm proporcionado novos canais de desenvolvimento,
assumindo especial relevância a neuromotricidade. No que diz
respeito ao controlo motor, é essencial conhecer, a nível
neuropsicológico, os princípios da coordenação motora ligados às
funções cognitivas e às funções executivas. Consideramos
56
fundamental que o educador tenha uma base ampla de
conhecimentos sobre o cérebro, pois toda ação educativa tem
efeito direto sobre esse órgão. O conhecimento neuropsicológico
e neurocientífico facilitará o processo de desenvolvimento do
aluno e melhorará as metodologias de intervenção
psicopedagógica. A título de conclusão, gostaríamos de defender
que a neuromotricidade, como ciência e como método, tornou-se,
no século XXI, um núcleo comum entre a neurociência e as
Ciências da Atividade Física e do Desporto, com uma visão
transversal a outras disciplinas .

57
58
59
Capítulo 6
Efeitos do exercício físico
no autismo

S
egundo Michelle Sowa e Ruud Meulenbroek (2012), do
Donders Institute for Brain, Cognition and Behavior,
Radboud University Nijmegen (Holanda), é consenso
geral que o exercício físico regular promove a saúde física e
mental, mas quais são os benefícios em pessoas com espectro
autista Transtornos (TEA)? Esta meta-análise avalia 16 estudos
comportamentais relatando um total de 133 crianças e adultos
com várias variantes da síndrome que receberam atividades
físicas estruturadas em um contexto individual ou em grupo. Os
efeitos nas deficiências motoras e sociais, dois dos três grupos de
sintomas primários do TEA, foram normalizados para permitir uma
avaliação quantitativa. Todos os programas de atividade
produziram progressos significativos nas medidas avaliadas, mas
os programas individuais provocaram melhorias significativamente
maiores do que as intervenções em grupo no domínio motor e,
mais surpreendentemente, também no domínio social. Embora os
tamanhos gerais da amostra tenham sido pequenos, os
resultados combinados permitem a conclusão provisória de que,
em termos de desempenho motor e habilidades sociais, crianças
e adultos com TEA se beneficiam mais de intervenções de
60
exercícios individuais. Mais pesquisas sobre o impacto das
intervenções individuais e em grupo sobre os déficits de
comunicação em particular, bem como estudos avaliando a
extensão em que os efeitos do exercício dependem da gravidade
dos sintomas do TEA são necessários.

Com uma prevalência geral de 0,3–1,0%, os Transtornos do


Espectro do Autismo (TEA), anteriormente também chamados de
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (PDD), cobrem uma

61
ampla gama de condições neuropsicológicas que afetam o
funcionamento individual e social. No Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o TEA inclui o
autismo clássico, a síndrome de Asperger, o transtorno de Rett, o
transtorno desintegrativo da infância e o transtorno invasivo do
desenvolvimento – não de outra forma. Embora as manifestações
clínicas difiram fortemente por indivíduo e faixa etária, as pessoas
diagnosticadas com TEA apresentam principalmente sintomas em
três áreas, ou seja, deficiências na interação social, habilidades
de comunicação e desempenho motor.
As dificuldades com as interações sociais que as pessoas com
TEA experimentam referem-se principalmente à falta de
compreensão do comportamento dos outros, resultante da
incapacidade de interpretar, considerar ou reagir adequadamente
aos sinais sociais e emocionais dos outros, conforme
comunicados por meio do contato visual e expressões faciais.
Geralmente, essas deficiências nas habilidades de comunicação
não-verbal são referidas como falta de "teoria da mente", o que
implica uma capacidade limitada de anotar e entender os
sentimentos, planos e intenções dos outros (Vandereijcken et al .,
2008). Habilidades sociais reduzidas também levam a uma menor
imitação do comportamento dos pais, afetando negativamente as
interações (tanto na comunicação quanto nos vínculos) com
cuidadores e pares. Quase metade de todas as crianças autistas
não consegue desenvolver habilidades de linguagem verbal
adequadas e, portanto, permanecem mutistas. Em outros, o
desenvolvimento da linguagem é retardado e apresenta várias

62
anormalidades. A terceira área em que as pessoas com TEA
apresentam problemas é o domínio das habilidades motoras.
Aqui, coordenação motora limitada, deficiências no funcionamento
motor fino e grosso e movimentos repetitivos e estereotipados são
comuns. Exemplos dos últimos sintomas são acenar com as mãos
quando excitado ou posturas extraordinárias em situações
estressantes. Problemas adicionais na manutenção do equilíbrio e
no planejamento do movimento também são observados.
A gama de sintomas que as pessoas com TEA podem apresentar
exige que os tratamentos abordem múltiplas deficiências
simultaneamente, enquanto são adaptados às necessidades
individuais, o que torna indispensável o conhecimento de
intervenções específicas para TEA que tenham um impacto
positivo geral. Antes de descrevermos os potenciais efeitos
benéficos do exercício físico e analisarmos os efeitos relatados,
vamos primeiro delinear os objetivos dos tratamentos padrão de
TEA (ver, por exemplo, Clark et al., 2006; Delano, 2007).

Tratamento padrão do TEA


O tratamento de TEA é tipicamente destinado a estimular a
cognição, a linguagem e o desenvolvimento social enquanto tenta
suprimir ou eliminar padrões comportamentais desadaptativos,
como rigidez e movimentos estereotipados (Vandereijcken et al.,
2006). O tratamento geralmente aborda sintomas secundários,
como hiperatividade, agressividade, “ataques de raiva” e
mudanças repentinas de humor. Pesquisas recentes mostraram
63
que o tratamento padrão do TEA é razoavelmente eficaz para
cada uma das três áreas problemáticas principais (Vismara e
Rogers, 2010) e, às vezes, até mesmo melhorias fora desses
grupos de sintomas primários são relatadas. Intervenções em
grupo precoces, por exemplo, demonstraram melhorar o nível de
inteligência de crianças com TEA (Mayes e Calhoun, 2003). Mas
as atividades esportivas contribuem ou melhoram os resultados
do tratamento padrão? E se sim, como?

Exercício físico e TEA


Apesar do relativo sucesso dos tratamentos padrão do TEA, nas
últimas duas décadas o interesse nos efeitos potencialmente
benéficos do exercício físico tem crescido. A pesquisa sistemática
nesta área ainda é relativamente escassa e baseada
principalmente em pequenos grupos de participantes. A imagem
geral que emergiu dos resultados disponíveis até 1998 é que o
exercício físico não só melhora a condição física, mas também
reduz os padrões de comportamento desadaptativos de pessoas
com TEA. Comparando crianças com desenvolvimento típico com
crianças com TEA, Pan (2008) conclui que, em geral, o último
grupo mostra menos atividade. Também Hildebrandt et al. (2010)
afirmaram que as pessoas com TEA constituem um grupo de
risco especial devido ao seu estilo de vida sedentário, uma vez
que aumenta os riscos de doenças cardíacas, diabetes e
obesidade (World Health Organization [WHO] 2002 ou
Organização Mundial da Saúde [OMS]).
64
Como o exercício físico provou ser um meio eficaz para prevenir
esses problemas na população em geral, é provável que também
seja eficaz na população com TEA. De fato, Pitetti et al. (2007)
mostraram que um programa de caminhada não apenas melhorou
a condição física, mas também reduziu o índice de IMC de dez
adolescentes com autismo grave. Mais importante, quanto aos
efeitos benéficos assumidos nos três domínios problemáticos
primários do TEA (Massion, 2006), descobriu-se que, além de
melhorar o equilíbrio e a flexibilidade (Yilmaz et al., 2004), o
exercício aeróbico também reduziu o padrões comportamentais
estereotipados de crianças com TEA (Yilmaz et al., 2004), bem
como seus comportamentos de autoestimulação. Outros estudos
relataram efeitos positivos no comportamento social (Pan, 2010),
habilidades de comunicação, envolvimento acadêmico e
habilidades sensoriais. Em suma, uma triagem global da literatura
relevante sugere que o exercício físico é uma abordagem sensata
para abordar uma variedade de problemas associados ao TEA.
Mas a literatura existente suporta esta conclusão
quantitativamente? E talvez possamos derivar recomendações
mais refinadas das descobertas sobre o tipo de esporte e
intervenções de exercícios mais adequados no tratamento do
TEA?

Esporte e exercício: intervenção


individual versus grupo

65
Lamentavelmente, ainda não existem estudos sobre TEA que
tenham sistematicamente comparado os efeitos do exercício físico
em termos de intervenções individuais e em grupo. Ao categorizar
os estudos relevantes em nossa meta-análise em intervenções
individuais e em grupo, tentamos preencher essa lacuna. Uma
das vantagens de tratar pessoas com TEA individualmente é a
possibilidade de adequar o programa às necessidades específicas
do indivíduo. Além disso, as intervenções individuais podem evitar
que as pessoas com TEA se sintam incompreendidas pelos
membros do grupo (Pan, 2009), uma vez que as dificuldades na
comunicação não-verbal podem resultar em problemas de
comunicação com colegas de equipe ou adversários. Além disso,
eventos imprevisíveis durante atividades esportivas em grupo
tendem a aumentar consideravelmente os níveis de estresse.
Embora as abordagens individuais evitem todos esses efeitos
adversos, particularmente para pessoas com TEA, as
intervenções em grupo também podem ter vantagens. Nos
esportes coletivos, os jogadores apoiam uns aos outros e as
atividades em grupo facilitam o comportamento social e as
habilidades de comunicação, como Walker et al. (2010)
mostraram: depois de frequentar um “Acampamento de
Tratamento de Verão” por quatro semanas, as habilidades sociais
e de comunicação de crianças com TEA melhoraram.
Com base nos efeitos relatados do exercício físico no TEA
descritos acima, esperávamos que nossa meta-análise mostrasse
intervenções individuais para melhorar principalmente as

66
habilidades motoras e intervenções em grupo para promover
habilidades sociais e de comunicação.
Vários pesquisadores desenvolveram programas que usam a
atividade física para beneficiar crianças com autismo. Richmond
(2000) encontrou uma diminuição na estereotipia depois que
crianças com autismo participaram de sessões de jogging e
arremesso de bola. Da mesma forma, Levinson e Reid (1993)
descobriram que a atividade vigorosa reduz o comportamento
estereotipado em crianças com autismo. Além disso, O'Connor e
colegas (2000) desenvolveram métodos eficazes de exercício que
permitem que crianças com autismo permaneçam envolvidas no
processo de desenvolvimento. O objetivo deste capítulo foi
examinar a atividade física apropriada para crianças com autismo
e sua eficácia em lidar com os déficits associados ao TEA.

67
Capítulo 7
Abordagem neuro-
psicomotora em crianças
afetadas pelo autismo

S
egundo Mariarosaria Caliendo e colaboradores (2021), o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido
reconhecido como um problema de saúde pública global
caracterizado por déficits de comunicação social, interesses
estereotipados e comportamentos restritos ou repetitivos. De
acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-5), foi classificado como um
transtorno do neurodesenvolvimento. Até o momento, foi relatado
um aumento global dramático da prevalência de TEA nas últimas
décadas, com uma taxa média de prevalência de 62 por 10.000
crianças. Dado seu início precoce, a carga complexa de
deficiências relacionadas (incluindo comorbidades psiquiátricas) e
a falta de cura atual, há necessidade de programas de
intervenção precoce. Além disso, o impacto do TEA sobrecarrega
a vida dos pacientes, afetando também a vida de seus familiares
e cuidadores. Portanto, as crianças com TEA podem tirar proveito
de um diagnóstico precoce e de um manejo rigoroso para
melhorar os resultados reabilitativos.

68
As principais características subjacentes ao diagnóstico de TEA
(como déficit persistente de comunicação social e interação social
em múltiplos contextos, e padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesses ou atividades) podem ter vários graus
de gravidade e ser ainda agravados pela presença de problemas
médicos (incluindo epilepsia, sono e problemas gastrointestinais,
deficiência intelectual/cognitiva e, em algumas crianças, presença
de comportamentos desafiadores desadaptativos, como
hiperatividade, ansiedade, irritabilidade, automutilação e
agressão). O tratamento eficaz para crianças com TEA deve
envolver uma abordagem interdisciplinar, que deve incluir uma
combinação de intervenções educacionais, terapias
psicológicas/comportamentais, fonoaudiologia, terapia
ocupacional/fisioterapia e tratamentos médicos (por exemplo,
psicofarmacologia).
Dada a complexidade dessa condição, na qual aspectos médicos,
psicológicos, sociais, educacionais e até mesmo éticos e
existenciais precisam ser cuidadosamente equilibrados, diferentes
abordagens diagnósticas e reabilitadoras têm sido propostas. No
entanto, não há consenso em relação a essa variedade de
tratamentos.
Dentre as opções terapêuticas do TEA, o tratamento
neuropsicomotor, comumente utilizado na Itália, faz parte dessas
abordagens. Tem sido referido como psicomotricidade em outros
países europeus e também é conhecido como ludoterapia. Nos
Estados Unidos, um tratamento semelhante pode ser
representado na terapia de desenvolvimento.

69
Abordagem psicomotora
Comumente, a abordagem psicomotora é uma
expressão/denominação utilizada para indicar uma abordagem
europeia de educação, prevenção e terapia, que foi desenvolvida
por Aucouturier e Lapierre. Essa abordagem se concentra no
desenvolvimento de como as crianças processam informações
por meio do movimento durante as sessões de brincadeira.
Especificamente, propõe os seguintes objetivos: favorecer o
aparecimento de sinalizadores sociais (contato visual, olhar de
referência, sorriso, etc.), aumentar os tempos de atenção, facilitar
um uso mais adequado dos objetos, estimular a comunicação,
enriquecer o vocabulário, e desencorajar certos comportamentos
(hiperatividade, estereótipos motores, comportamentos
autolesivos, etc.). Nesse quadro, o brincar ganhou notável
significado terapêutico por representar uma ferramenta que
potencializa de forma natural o funcionamento cognitivo de
crianças com TEA.
Esta terapia representa uma intervenção que se enquadra na área
de desenvolvimento potencial da criança para apoiar e fortalecer
as suas áreas funcionais, e requer um setting mental específico
que assenta numa abordagem global da criança, considerada na
sua singularidade e globalidade.

70
Todas as crianças afetadas pelo TEA apresentam estilos
interativos, características funcionais, psicomotoras e cognitivas; a
intervenção neuropsicomotora deve assim responder a estas
necessidades diversificadas através de uma abordagem
altamente individualizada.

A intervenção apoia a ação espontânea da criança e o brincar nas


suas várias formas, que são os enquadramentos essenciais que
dão sentido à experiência da criança. Além disso, a
psicomotricidade pode ser considerada uma terapia segura e
eficaz para muitos distúrbios do neurodesenvolvimento.
Existem evidências sobre a eficácia e viabilidade da terapia
neuropsicomotora para crianças com TEA.
Os achados parecem apoiar uma melhora significativa global em
traços específicos após seis meses de tratamento
neuropsicomotor em crianças com TEA, exceto para o domínio da
linguagem, que provavelmente requer não apenas uma
abordagem mais específica, mas também uma duração mais
longa da terapia. Isso pode ser devido à ação indireta natural da
abordagem neuropsicomotora sobre a linguagem e as habilidades
pragmáticas.
Os resultados sugerem um efeito positivo da abordagem
psicomotora em crianças com TEA. A abordagem
neuropsicomotora representa uma opção terapêutica não intrusiva
para as famílias, relativamente económica, adaptável à clínica ou
ao domicílio e a grupos ou indivíduos. Em particular, esta
abordagem terapêutica pode ser considerada adaptada para
71
crianças, levando a uma grande adaptabilidade que se adapta
bem às características particulares do distúrbio.
Conforme observado “a criança é ação, brincadeira e emoção” e
todas essas características são protegidas e fortalecidas na
terapia neuropsicomotora.

72
Capítulo 8
Perfil psicomotor em
crianças com autismo:
avaliações clínicas e
implicações para a terapia

S
egundo Magda Di Renzo, Bianchi di Castelbianco F,
Elena Vanadia, Lidia Racinaro e Monica Rea (2017), do
Institute of Ortofonologia (IdO) (Roma, Itália), embora a
dimensão psicomotora desempenhe um papel importante na
produção desses padrões estereotipados de comportamento e
movimentos atípicos, como o andar na ponta dos pés, descritos
nos critérios do DSM-5 para TEA, não tem sido amplamente
explorado e poucos estudos têm focado na semiologia dos
distúrbios motores em crianças autistas. A literatura tem trazido
elementos heterogêneos neste contexto, sem um consenso real
sobre a eficácia da terapia psicomotora, visto que a atenção ao
corpo muitas vezes tem sido obscurecida em favor de uma
avaliação centrada principalmente nos aspectos comportamentais
e cognitivos do TEA.

73
Considerando o início precoce do transtorno e a centralidade da
dimensão corporal no desenvolvimento emocional e cognitivo da
criança, acreditamos que é muito importante definir possíveis
características do perfil psicomotor em crianças autistas para
melhor direcionar a intervenção terapêutica que , se mediado pelo
corpo, principalmente na infância e adolescência, tem mostrado
excelentes resultados.

A identificação cada vez mais precoce daqueles comportamentos


considerados de risco para a estruturação de um transtorno
autista requer uma atenção especial ao corpo e à forma como a
criança tenta se adaptar ao meio, mesmo com as limitações
impostas por sua doença.

A construção do esquema corporal é, de fato, profundamente


prejudicada por alterações sensoriais e falta de sintonia com o
cuidador, por vezes determinadas pela pouca proatividade e
responsividade da criança, causando assim maiores interferências
nos componentes afetivos e cognitivos do desenvolvimento.

A rigidez corporal poderá ser, neste sentido, a primeira


manifestação dos processos de pensamento e relacionais
subsequentes, constituindo assim um preditor precoce das
dificuldades e potencialidades presentes.
Para além da previsibilidade, no entanto, consideramos
fundamental compreender que tipo de organização a criança

74
possui, utilizando ou recusando o corpo do outro, inibindo ou
enfatizando a sua iniciativa motora de não confronto com o meio,
enrijecendo os esquemas corporais para evitar o contacto com
objetos ou o congelamento da função de ajustamento para evitar
uma troca fluida de informações com o mundo não pode estar
presente em crianças com manifestações sintomáticas graves) e
um indicador para a individualização do projeto terapêutico. Nessa
perspectiva, a rigidez que caracteriza o funcionamento da criança
autista pode ser identificada já nas fases iniciais do
desenvolvimento por meio de uma observação cuidadosa de seu
corpo.
Os resultados do estudo de Magda Di Renzo e colaboradores
(2017) confirmam o quanto em crianças com TEA a gravidade dos
sintomas e o comprometimento das funções cognitivas estão
relacionados às suas dificuldades em usar seu corpo em relação
ao outro; portanto, aumentando os escores de gravidade dos
sintomas encontramos mais problemas no uso do corpo, na
organização espacial e atenta nas brincadeiras, na comunicação
e nos comportamentos motores.
Dentro do perfil psicomotor, eles encontraram a presença de
postura incomum principalmente em crianças com TEA e embora
sejam particularmente em relação ao outro; portanto, aumentando
os escores de gravidade dos sintomas encontraram mais
problemas no uso do corpo, na organização espacial e atenta nas
brincadeiras, na comunicação e nos comportamentos motores.
Dentro do perfil psicomotor, encontraram a presença de postura
incomum principalmente em crianças com TEA.

75
Outro aspecto especialmente comprometido é aquele ligado ao
uso do corpo na relação. De facto, as crianças com PEA grave
têm muito mais dificuldades no uso do seu corpo e dos outros,
bem como no diálogo tónico que está na capacidade de modular a
postura corporal de forma a entrar em contacto com os outros. É
importante ressaltar, porém, que mesmo as crianças que após 2-4
anos de terapia não mais preenchem os critérios diagnósticos
para autismo, continuam apresentando dificuldades na relação
com o corpo.
As dificuldades de regulação e controlo do movimento corporal,
avaliadas através da deteção da Agitação Fisiomotora, são
semelhantes nas crianças, independentemente da gravidade da
sintomatologia. Novamente, quando você vai analisar uma função
regulatória mais complexa, como a Iniciativa Motora, vemos que
em quase todas as crianças com TEA grave essa habilidade está
quase ausente, e mesmo em crianças cujos sintomas não são
detectáveis, dificuldades nessa área ainda não desapareceram
completamente.
Por fim, quando o corpo é utilizado para funções simbólicas, como
o jogo representativo e a imitação de gestos significativos do
outro, encontramos muitas dificuldades no grupo de crianças com
sintomas mais graves, naquela com TEA leve e também naquela
sem sintomas.
Outro fator a considerar na avaliação e intervenção terapêutica
que se torna de primordial importância durante a intervenção
terapêutica é a capacidade da criança autista para processar,
elaborar e integrar estímulos sensoriais. A percepção é um

76
fenômeno complexo por meio do qual as experiências assumem
significado e se enquadram em representações mentais que
constituem os "mapas individuais do mundo", fundamentais para
finalizar, planejar e modular qualquer ato, sequência ou padrão
motor. Mesmo a gestão das interferências, tanto em termos
sensoriais como neuropsicológicos, é muitas vezes uma função
deficiente no autismo e só uma intervenção que tenha em conta
este aspecto, em primeiro lugar as experiências corporais, que
são as primeiras mas também as mais persistentes, pode aspirar
ao aquisição de novas competências que serão generalizadas nos
diferentes contextos de vida da criança. A nível cerebral e, em
particular, pré-frontal, a cognição, a motivação e a emoção estão
estreitamente interligadas; particularmente a área pré-frontal
dorsolateral estaria particularmente envolvida na abstração e
planejamento de ações, a área orbitofrontal estaria envolvida na
regulação emocional e tomada de decisão, a área cingulada
anterior (especialmente na parte dorsal) estaria envolvida no
controle da motivação e interferência estímulos. O sistema límbico
elabora as emoções e as manifestações vegetativas que as
acompanham, e está envolvido nos processos de memória,
regulando assim a função cognitiva e os comportamentos
motores.
Se a experiência sensório-perceptiva for atípica, incómoda e por
vezes dolorosa, as memórias que ficarão armazenadas estarão
também associadas a uma conotação emocional negativa, pelo
que também outras circunstâncias novas mas semelhantes serão
vividas com dificuldade e agitação pela criança autista.

77
Os neurônios-espelho, inicialmente localizados no nível parietal,
mas hoje também reconhecidos no giro pré-central, no giro frontal
inferior do córtex pré-motor dorsal, são uma classe de neurônios
que são ativados seletivamente tanto quando uma ação é
realizada quanto quando é observado em outra pessoa (em
particular de membros da mesma espécie). Extensas pesquisas
têm sido feitas sobre sua evolução e sua relação com a
linguagem, justamente porque nos humanos os neurônios-
espelho são encontrados próximos à área de Broca. A hipótese
de que a linguagem humana evoluiu através da informação
transmitida com performances gestuais e, finalmente, o sistema
de espelhos foi capaz de compreender e codificar/decodificar é
considerada cientificamente válida e sustenta a discussão do
presente estudo, em particular que compreender as intenções dos
outros e aprender através da imitação enraizada no
desenvolvimento emocional e físico, pelo que é a partir daí que
em muitos casos se deve iniciar a intervenção terapêutica de
forma a ativar os mecanismos extintos ou a pôr em marcha
competências não alcançadas.
A nosso ver, portanto, esses achados estimulam um maior
aprofundamento na área psicomotora para garantir maior
complexidade no diagnóstico e, sobretudo, promover condutas
terapêuticas que possam responder com eficácia às dificuldades
da criança.

78
Capítulo 9
O que é Paralisia Cerebral?

A
paralisia cerebral pode afetar a postura, o equilíbrio e a
capacidade de se mover, se comunicar, comer, dormir e
aprender de uma pessoa.
As partes do corpo afetadas pela paralisia cerebral, o nível de
gravidade e a combinação dos sintomas podem diferir para cada
pessoa. Por exemplo, uma pessoa pode ter uma fraqueza em
uma das mãos e achar desafiadoras tarefas como escrever ou
amarrar cadarços. Outra pessoa pode ter pouco ou nenhum
controle sobre seus movimentos ou fala e requer assistência 24
horas por dia.
As pessoas com paralisia cerebral podem experimentar
movimentos descontrolados ou imprevisíveis, os músculos podem
ficar rígidos, fracos ou tensos e, em alguns casos, as pessoas têm
movimentos instáveis ou tremores. Pessoas com paralisia
cerebral grave também podem ter dificuldades para engolir,
respirar, controlar a cabeça e o pescoço, controlar a bexiga e os
intestinos, comer e ter problemas dentários e digestivos.

Tipos de Paralisia Cerebral


Os médicos classificam a PC de acordo com o principal tipo de
distúrbio do movimento envolvido. Dependendo de quais áreas do
79
cérebro são afetadas, um ou mais dos seguintes distúrbios do
movimento podem ocorrer:
• Músculos rígidos (espasticidade).
• Movimentos incontroláveis (discinesia).
• Falta de equilíbrio e coordenação (ataxia).

Existem quatro tipos principais de CP:

Paralisia Cerebral Espástica


O tipo mais comum de PC é a PC espástica. A PC espástica afeta
cerca de 80% das pessoas com PC.
Pessoas com PC espástica têm aumento do tônus muscular. Isso
significa que seus músculos estão rígidos e, como resultado, seus
movimentos podem ser desajeitados. A PC espástica geralmente
é descrita por quais partes do corpo são afetadas:
• Diplegia/diparesia espástica ― Nesse tipo de PC, a rigidez
muscular ocorre principalmente nas pernas, com os braços menos
80
afetados ou nada afetados. As pessoas com diplegia espástica
podem ter dificuldade para andar porque os músculos tensos do
quadril e das pernas fazem com que as pernas se juntem, vire
para dentro e cruze os joelhos (também conhecido como tesoura).
• Hemiplegia/hemiparesia espástica – Este tipo de PC afeta
apenas um lado do corpo de uma pessoa; geralmente o braço é
mais afetado do que a perna.
• Tetraplegia/quadriparesia espástica ― A quadriplegia
espástica é a forma mais grave de PC espástica e afeta todos os
quatro membros, o tronco e a face. As pessoas com quadriparesia
espástica geralmente não conseguem andar e muitas vezes têm
outras deficiências de desenvolvimento, como deficiência
intelectual; convulsões; ou problemas de visão, audição ou fala.

Paralisia Cerebral Discinética (também


inclui paralisia cerebral atetóide,
coreoatetóide e distônica)
Pessoas com PC discinética têm problemas para controlar o
movimento de suas mãos, braços, pés e pernas, dificultando
sentar e andar. Os movimentos são incontroláveis e podem ser
lentos e contorcidos ou rápidos e espasmódicos. Às vezes, o
rosto e a língua são afetados e a pessoa tem dificuldade para
sugar, engolir e falar. Uma pessoa com PC discinética tem tônus
muscular que pode mudar (variando de muito apertado a muito
solto) não apenas de um dia para o outro, mas até mesmo
durante um único dia.
81
Paralisia Cerebral Atáxica
Pessoas com PC atáxica têm problemas de equilíbrio e
coordenação. Eles podem ser instáveis quando andam. Eles
podem ter dificuldade com movimentos rápidos ou movimentos
que precisam de muito controle, como escrever. Eles podem ter
dificuldade em controlar suas mãos ou braços quando tentam
pegar alguma coisa.

Paralisia Cerebral Mista


Algumas pessoas apresentam sintomas de mais de um tipo de
PC. O tipo mais comum de PC mista é a PC espástica-discinética.

Sinais precoces
Os sinais de PC variam muito porque existem muitos tipos e
níveis diferentes de deficiência. O principal sinal de que uma
criança pode ter PC é um atraso em alcançar marcos motores ou
de movimento (como rolar, sentar, ficar de pé ou andar). A seguir
estão alguns outros sinais de possível PC. É importante observar
que algumas crianças sem PC também podem apresentar alguns
desses sinais.

82
Em um bebê com menos de 6 meses
de idade
• A cabeça dele fica lenta quando você o pega enquanto ele está
deitado de costas
• Ele se sente rígido.
• Ele se sente mole.
• Quando segurado em seus braços, ele parece estender demais
as costas e o pescoço, agindo constantemente como se estivesse
se afastando de você.
• Quando você o pega, suas pernas ficam rígidas e se cruzam ou
se movem em tesoura.

Em um bebê com mais de 6 meses de


idade
• Ela não rola em nenhuma direção.
• Ela não consegue juntar as mãos.
• Ela tem dificuldade em levar as mãos à boca.
• Ela estende a mão apenas com uma mão enquanto mantém a
outra fechada.

Em um bebê com mais de 10 meses de


idade

83
• Ele rasteja de maneira desequilibrada, empurrando com uma
mão e perna enquanto arrasta a mão e a perna opostas
• Ele se move sobre as nádegas ou pula de joelhos, mas não
engatinha de quatro

Informe o médico ou a enfermeira do seu filho se notar algum


destes sinais. Saiba mais sobre os marcos de desenvolvimento
que as crianças devem atingir desde o nascimento até os 5 anos
de idade.

Triagem e diagnóstico
Diagnosticar a PC em idade precoce é importante para o bem-
estar das crianças e de suas famílias. O diagnóstico de PC pode
levar várias etapas:

Monitoramento do desenvolvimento
O monitoramento do desenvolvimento (também chamado de
vigilância) significa acompanhar o crescimento e o
desenvolvimento de uma criança ao longo do tempo. Se alguma
preocupação sobre o desenvolvimento da criança for levantada
durante o monitoramento, um teste de triagem de
desenvolvimento deve ser realizado o mais rápido possível.

Triagem de desenvolvimento
84
Durante a triagem de desenvolvimento, um pequeno teste é
aplicado para verificar se a criança apresenta atrasos específicos
no desenvolvimento, como atrasos motores ou de movimento. Se
os resultados do teste de triagem forem motivo de preocupação, o
médico fará encaminhamentos para avaliações médicas e de
desenvolvimento.

Avaliações médicas e de
desenvolvimento
O objetivo de uma avaliação do desenvolvimento é diagnosticar o
tipo específico de distúrbio que afeta uma criança. Saiba mais
sobre triagem e diagnóstico.

Tratamentos e serviços de
intervenção
Não há cura para a PC, mas o tratamento pode melhorar a vida
de quem tem a doença. É importante iniciar um programa de
tratamento o mais cedo possível.
Depois que o diagnóstico de PC é feito, uma equipe de
profissionais de saúde trabalha com a criança e a família para
desenvolver um plano para ajudar a criança a atingir todo o seu
potencial. Os tratamentos comuns incluem medicamentos;
cirurgia; aparelho ortodôntico; e terapia física, ocupacional e
fonoaudiológica. Nenhum tratamento é o melhor para todas as

85
crianças com PC. Antes de decidir sobre um plano de tratamento,
é importante conversar com o médico da criança para entender
todos os riscos e benefícios.

Serviços de intervenção
Tanto a intervenção precoce quanto os serviços em idade escolar
estão disponíveis por meio da lei de educação especial de nosso
país. Mesmo que seu filho não tenha sido diagnosticado com PC,
ele ou ela pode ser elegível para os serviços da APAE.

Causas e fatores de risco


A PC é causada pelo desenvolvimento anormal do cérebro ou
dano ao cérebro em desenvolvimento que afeta a capacidade da
criança de controlar seus músculos. Existem várias causas
possíveis para o desenvolvimento anormal ou dano. As pessoas
costumavam pensar que a PC era causada principalmente pela
falta de oxigênio durante o processo de nascimento. Agora, os
cientistas acham que isso causa apenas um pequeno número de
casos de paralisia cerebral.
O desenvolvimento anormal do cérebro ou dano que leva à PC
pode acontecer antes do nascimento, durante o nascimento,
dentro de um mês após o nascimento ou durante os primeiros
anos de vida de uma criança, enquanto o cérebro ainda está se
desenvolvendo. A PC relacionada ao desenvolvimento anormal do
cérebro ou dano que ocorreu antes ou durante o nascimento é
86
chamada de PC congênita. A maioria das PC (85%-90%) é
congênita. Em muitos casos, a causa específica não é conhecida.
Uma pequena porcentagem de PC é causada por
desenvolvimento anormal do cérebro ou dano que ocorre mais de
28 dias após o nascimento. Isso é chamado de PC adquirida e
geralmente está associado a uma infecção (como meningite) ou
traumatismo craniano.

Se você está preocupado


Se você acha que seu filho não está atingindo os marcos de
movimento ou pode ter PC, entre em contato com seu médico ou
enfermeira e compartilhe suas preocupações.
Se você ou seu médico ainda estiverem preocupados, peça um
encaminhamento para um especialista que possa fazer uma
avaliação mais aprofundada de seu filho e auxiliá-lo no
diagnóstico.
Ao mesmo tempo, ligue para o sistema público de educação
infantil do seu estado para solicitar uma avaliação gratuita para
saber se seu filho se qualifica para os serviços de intervenção.

87
Capítulo 10
Exercício físico e
mobilidade geral em
pessoas com Paralisia
Cerebral

S
egundo Alberto J. Molina-Cantero e colaboradores (2021)
do Departamento de Tecnología Electrónica, E.T.S.I.
Informática, Campus de Reina Mercedes, Universidad de
Sevilla (Espanha) e Asociación Sevillana de Paralisis Cerebral
(ASPACE) (Sevilla, Espanha) O comportamento sedentário (CS
ou SB do Inglês Sedentary Behavior) é um problema comum que
pode causar problemas de saúde em pessoas com paralisia
cerebral (PC, ou CP do inglês Cerebral Palsy). Quando
adicionado a uma redução progressiva das funções motoras ao
longo do tempo, o SB pode levar a maiores porcentagens de
gordura corporal, rigidez muscular e problemas de saúde
associados nessa população. A atividade física regular (RPA)
pode prevenir a perda de habilidades motoras e reduzir os riscos
à saúde.
As pessoas com PC apresentam altas taxas de epilepsia,
hipertensão, diabetes, acidentes vasculares cerebrais e,
consequentemente, têm taxas de mortalidade mais elevadas do
que a população em geral. O exercício físico aumenta a
88
capacidade cardiorrespiratória e pode atenuar o efeito que outras
doenças que afetam os sistemas circulatório e digestivo produzem
neste grupo. Para tratar as anormalidades de movimento e
postura em crianças com PC, diferentes abordagens reabilitativas
têm sido aplicadas, incluindo técnicas de neurodesenvolvimento
como hidroterapia, treinamento de tarefas motoras grossas,
equoterapia, treinamento em esteira (com/sem suporte de peso
corporal) e realidade virtual, entre outros. Em centros
especializados, pessoas com PC podem receber fisioterapia para
melhorar sua independência e participação social. Na maioria dos
casos, o tempo previsto nesses centros não atinge as
recomendações da OMS para o exercício. Assim, é importante
fornecer a essas pessoas soluções tecnológicas adequadas e
acessíveis para que possam continuar realizando exercícios
físicos de acordo com as orientações do fisioterapeuta de forma
mais autônoma, mas ainda adaptada às suas capacidades
motoras

89
Capítulo 11
Paralisia Cerebral: eficácia
das intervenções motoras
em crianças

O
objetivo deste capítulo de revisão da literatura, em
relação aos tipos de programas de exercícios com foco
na aptidão cardiovascular (capacidade aeróbica e
anaeróbica) e/ou força muscular de membros inferiores em
crianças com paralisia cerebral (PC), foi abordar as seguintes
questões: (1) o que programas de exercícios com foco na força
muscular, condicionamento cardiovascular ou uma combinação
são estudados, e quais são os efeitos desses programas de
exercícios em crianças com PC? (2) Quais são as medidas de
resultados que foram usadas para avaliar os efeitos dos
programas de exercícios? (3) Qual é a qualidade metodológica
dos estudos?
A paralisia cerebral (PC) descreve um grupo de distúrbios do
desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitação
da atividade, que são atribuídos a distúrbios não progressivos que
ocorreram no cérebro fetal ou infantil em desenvolvimento.
Os distúrbios motores da PC são frequentemente acompanhados
por distúrbios de sensação, cognição, comunicação, percepção
e/ou comportamento e/ou por um distúrbio convulsivo. Devido às

90
deficiências, muitas crianças e adolescentes2 com PC têm pelo
menos dificuldade em atividades como andar de forma
independente, subir escadas, correr ou navegar com segurança
em terrenos irregulares. (O termo infância geralmente se refere ao
período de 2 a 12 anos de idade, e adolescência refere-se ao
período de 13 a 21 anos de idade.2 Nesta revisão, crianças e
adolescentes são referidos como crianças.) Melhorando a
capacidade de uma pessoa para andar ou realizar outras
atividades funcionais são frequentemente os principais objetivos
terapêuticos para crianças com PC.
Segundo Verschuren e colaboradores (2007), do Centro de
Excelência, Centro de Reabilitação “De Hoogstraat” (Utrecht,
Holanda), o exercício refere-se a atividades estruturadas
planejadas envolvendo movimentos repetidos dos músculos
esqueléticos que resultam em gasto de energia e buscam
melhorar ou manter níveis de aptidão física acima da intensidade
das atividades da vida diária.5 O exercício em crianças com PC
tem sido frequentemente evitado devido à preocupação com o
efeito negativo de tal esforço na espasticidade muscular e nos
padrões de movimento das crianças.
Vários fatores contribuíram para uma recente mudança de
perspectiva sobre o uso de exercícios em crianças com PC.
Estudos avaliando o efeito do exercício em crianças com PC não
relataram efeitos adversos nos padrões de movimento,
flexibilidade ou espasticidade. Essas descobertas influenciaram a
prática atual.

91
A maioria dos programas de exercícios para crianças com PC é
projetada principalmente para os membros inferiores. As funções
mais comuns da extremidade inferior tendem a ser atividades
motoras grossas que envolvem movimentos repetitivos,
recíprocos e coordenados de ambas as extremidades para se
mover no espaço e que muitas vezes requerem pouco esforço
consciente uma vez em andamento. Tem havido um interesse
crescente em desenvolver e implementar programas de exercícios
que melhorem a aptidão cardiovascular (capacidade aeróbica e
anaeróbica) e/ou a força muscular dos membros inferiores de
crianças com PC.
A partir de uma avaliação crítica dos dados atualmente
disponíveis, parece que as crianças com PC podem se beneficiar
de programas de exercícios aprimorados que se concentram na
força muscular das extremidades inferiores, aptidão
cardiovascular ou uma combinação. As medidas de resultado
usadas na maioria dos estudos não eram específicas de
intervenção e frequentemente focavam na função e estrutura do
corpo e no nível de atividade. Portanto, apesar de ser capaz de
aumentar a força muscular e a capacidade aeróbica, são
necessárias mais evidências para determinar se o treinamento
pode trazer melhorias substanciais ou sustentadas na atividade
diária, no nível de participação, na autocompetência ou na
qualidade de vida.

92
Capítulo 12
Aptidão física e exercício
para adultos com Paralisia
Cerebral

D
e acordo com a Academia Americana de Paralisia
Cerebral e Medicina do Desenvolvimento (AACPDM,
American Academy for Cerebral Palsy and
Developmental Medicine, 2023), a aptidão física é um estado
geral de saúde que resulta na sua capacidade de realizar tarefas
diárias sem ficar muito cansado. As áreas de condicionamento
físico abordadas aqui são:
• A aptidão muscular, que inclui força e resistência, é a
capacidade dos músculos de exercer uma força, como levantar
um objeto pesado e sustentar uma atividade.
• Aptidão cardiorrespiratória, que é a capacidade do coração e
dos pulmões de absorver oxigênio e distribuí-lo a todas as partes
do corpo, permitindo que você participe de atividades físicas por
um longo período de tempo.
• Flexibilidade ou Amplitude de Movimento Articular (ADM ou
ROM, do inglês Range of Motion), que é o movimento disponível
em qualquer articulação única ou grupo de articulações e é parte
integrante do movimento eficiente e prevenção de lesões.

93
Todos precisam de condicionamento físico – incluindo pessoas
com deficiência física, como paralisia cerebral. A aptidão muscular
e cardiorrespiratória, bem como a ADM articular completa, podem
ser alcançadas por meio de exercícios regulares.

Por que exercício?


Níveis crescentes de aptidão muscular, aptidão cardiorrespiratória
e ADM articular foram associados a:
• Melhora da capacidade funcional e mobilidade.
• Risco reduzido de depressão e melhor qualidade de vida.
• Manutenção do peso saudável.
• Risco reduzido de osteoporose (ossos fracos que aumentam o
risco de fratura).
• Menor incidência de diabetes tipo 2.
• Risco reduzido de quedas e lesões relacionadas.
• Dor nas costas reduzida.
• Menor risco de hipertensão, doença cardiovascular, acidente
vascular cerebral e ataque cardíaco.

O que é recomendado?
O American College of Sports Medicine recomenda que os
adultos façam pelo menos 150 minutos por semana de exercícios
cardiorrespiratórios de intensidade moderada (uma atividade em

94
que o coração trabalha muito mais do que o normal) e
fortalecimento muscular pelo menos 2 dias por semana.

Não há evidências que sugiram que esses requisitos devam ser


diferentes para pessoas com paralisia cerebral.
Muitas pessoas com paralisia cerebral são muito inativas
fisicamente e essas recomendações podem ser bastante difíceis
de alcançar. Alguns exercícios podem não ser possíveis,
dependendo da gravidade da paralisia cerebral. A boa notícia é
que muitos benefícios para a saúde podem ser alcançados
fazendo menos do que as recomendações. Estar em forma e se
exercitar não deve ser considerado tudo ou nada. Comece
pequeno, familiarize-se com os exercícios aeróbicos e de
resistência e progrida gradualmente o tempo, a frequência e a
intensidade do exercício. É melhor seguir um programa do que
não fazer nada, simplesmente porque você não consegue atingir
os níveis recomendados.

Como eu faço isso?


Os músculos ficam mais fortes quando são desafiados a trabalhar
mais do que durante a atividade diária normal. Como seu coração
também é um músculo, a aptidão cardiorrespiratória aprimorada
95
ocorre quando seu coração precisa trabalhar mais do que o
normal durante períodos de tempo. Há fortes evidências de que
adultos com paralisia cerebral podem melhorar a aptidão
muscular, a aptidão cardiorrespiratória e a ADM articular com
exercícios. Adultos com paralisia cerebral podem ter que começar
em um nível mais baixo e aumentar lentamente a quantidade de
tempo ou a intensidade do exercício. Você pode precisar
modificar a atividade para atender às suas necessidades
individuais e habilidades físicas. Permita tempo adequado para
aquecer com alongamento suave. Após o exercício, continue se
movendo em um ritmo mais lento para resfriar os músculos e a
frequência cardíaca até os níveis de repouso.

Começando
1. Antes de iniciar um programa de exercícios, consulte um
médico ou profissional de saúde. Peça ao profissional que revise
seus medicamentos, pois alguns deles podem afetar a resposta
do seu corpo ao exercício.
2. Encontre um ambiente que você goste. O exercício pode ser
feito sozinho em casa, mas algumas pessoas aproveitam os
benefícios sociais de uma aula em grupo ou se exercitando com
um “amigo”. Contacte o seu centro de fitness local ou faculdade
comunitária para ginásios acessíveis, ou consulte a lista de
recursos abaixo para sugestões.
3. Defina uma meta razoável e tente cumpri-la. Todos nós temos
dificuldade em arranjar tempo para nos exercitarmos, mas a
96
maioria das pessoas descobre que, depois de começar a se
exercitar, fica mais fácil encontrar tempo.
4. Comece devagar e aumente gradualmente a intensidade do
exercício. Nas primeiras vezes, você pode não conseguir fazer
atividades aeróbicas por mais de 2 a 5 minutos. Isso está ok. Não
desanime. Lembre-se, fazer algo é muito melhor do que não fazer
nada!

Dicas para força e resistência


muscular
• O fortalecimento acontece com resistências mais altas, não mais
repetições. Tente fazer um exercício com no máximo 10
repetições. Se você pode fazer 15 repetições ou mais, é muito
fácil. Torne-o mais difícil adicionando gradualmente mais
resistência ou peso. Para melhorar a força e resistência muscular,
aumente gradualmente o número de vezes que você faz cada
exercício. Comece com 1 série e, com o tempo, aumente para 2-4
séries por exercício.
• Os músculos precisam de descanso. Os programas de
exercícios podem ser projetados para atingir diferentes grupos
musculares (pernas, ombros) em dias separados ou todos os
grupos musculares em uma única sessão. Independentemente da
sua preferência, é muito importante ter pelo menos um dia de
descanso entre o fortalecimento de um determinado grupo
muscular.

97
Dicas sobre aptidão cardiorespiratória
• O objetivo é se exercitar na frequência cardíaca desejada. Sua
zona-alvo de frequência cardíaca é de 40 a 85% de sua
frequência cardíaca máxima. • Primeiro, calcule sua frequência
cardíaca máxima. Isso é 220 menos sua idade (por exemplo, a
frequência cardíaca máxima de uma pessoa de 48 anos é 220 –
48 = 172) • Em seguida, calcule sua frequência cardíaca alvo.
Multiplique sua frequência cardíaca máxima pela porcentagem
desejada. Com uma frequência cardíaca máxima de 172, sua
zona alvo de frequência cardíaca de 40 a 85% é de 70 a 149
batimentos/minuto. Comece em 40%. Aumente lentamente sua
meta de frequência cardíaca.
• Verifique se você está se exercitando em sua zona-alvo.
Durante o exercício, tome seu pulso por 10 segundos e
multiplique o número por 6. Você está “na zona”? Se sua
frequência cardíaca estiver muito baixa, tente trabalhar um pouco
mais. Se estiver muito alto, diminua um pouco a velocidade.
• A duração é importante. A duração mínima recomendada para
melhorar a aptidão cardiorrespiratória é de 10 minutos. No
entanto, o exercício aeróbico também pode ser projetado para
incluir sessões mais curtas de exercícios de maior intensidade,
simplesmente completando intervalos repetidos de descanso e
trabalho iguais. Por exemplo, você pode completar 5 a 10
repetições de 1 ou 2 minutos de exercícios vigorosos, seguidos de
1 a 2 minutos de descanso.

98
Dicas sobre flexibilidade/alcance de
movimento da junta
• Alongamento e flexibilidade podem ocorrer durante o exercício
de fortalecimento muscular. É um equívoco comum pensar que a
única maneira de melhorar a flexibilidade é através do
alongamento ou da prática de ioga. Na verdade, a ADM articular
pode ser muito melhorada simplesmente usando uma amplitude
completa durante os exercícios normais de resistência.
• Alongue-se antes e depois do exercício. Alongamentos simples
podem ser realizados como um elemento de aquecimento antes
do treinamento aeróbico e de força. No entanto, assim que
terminar o exercício, seus músculos e articulações estarão
aquecidos e preparados para fazer alguns alongamentos eficazes.
• Use alongamentos dinâmicos. É importante lembrar que a
amplitude de movimento articular não é determinada apenas pelo
comprimento do músculo, mas também pela força muscular.
Tente contrair os músculos em toda a amplitude de movimento
durante os exercícios. Isso fortalecerá os músculos nas
amplitudes finais de movimento, onde eles são mais fracos e
propensos a lesões. Isso não apenas melhorará a função do
músculo, mas também ajudará a proteger a articulação e o
músculo contra lesões.

Saúde e segurança

99
• Espere alguma dor muscular leve por até 48 horas após o início
de um programa de fortalecimento, especialmente após exercícios
em que seu músculo está se alongando, como abaixar um peso,
descer escadas ou agachar.
• Vista-se apropriadamente. Use roupas confortáveis que não
restrinjam a atividade. Se você optar por andar de bicicleta ao ar
livre, use um capacete.
• Ouça seu corpo. Tontura, dor no peito, dificuldade para respirar,
fadiga excessiva ou fraqueza súbita, náusea e dores musculares
ou articulares moderadas a graves são sinais de perigo
importantes. Pare de se exercitar. Procure o conselho de um
médico ou profissional de saúde antes de retomar o exercício.

Exercícios e atividades sugeridas


• Ande de bicicleta estacionária para condicionamento
cardiorrespiratório. Se você tiver problemas para manter o pé nos
pedais, tente usar um envoltório Ace ou uma pulseira de borracha
100
para mantê-los no lugar. Ou consulte a seção “Recursos” abaixo
para modificações no pedal. Se puder, ande de bicicleta ou triciclo
adaptado. Existem muitos modelos de triciclos adaptados
disponíveis para todos os tamanhos e necessidades. E não se
esqueça do capacete!

• Se você tiver problemas para usar as pernas, use um


exercitador de braço. Esses dispositivos, chamados de
ergômetros de membros superiores, são como bicicletas para a
parte superior do corpo com alças ou são colocados sobre uma
mesa.
• Use faixas de exercícios. Estes estão disponíveis
comercialmente em diferentes capacidades elásticas ou
resistências. Eles podem ser usados para fortalecer os músculos
em pé, deitado e sentado em uma cadeira.
• Suba as escadas. Isso pode ser uma atividade fortalecedora e
cardiorrespiratória. Use o corrimão, se necessário, por segurança.
• Nade ou faça outros exercícios aquáticos. A água oferece

101
grande resistência em todas as direções, e a flutuabilidade torna
muitas atividades mais fáceis do que em terra.
• Entre em contato com a faculdade comunitária local. Muitas
faculdades comunitárias oferecem aulas de exercícios e
programas de exercícios adaptativos.
• Participe de uma aula de esportes adaptados, ioga e dança ou
ginástica. Muitas atividades e organizações oferecem versões
adaptadas de seus programas. E a maioria dos instrutores fica
mais do que feliz em incluir pessoas com deficiências físicas em
suas aulas.
• Seja seu próprio advogado. Ninguém conhece suas habilidades
melhor do que você. Se você estiver tendo problemas para fazer
um exercício ou equipamento específico, pergunte se há alguma
modificação que possa ajudá-lo a obter resultados semelhantes.
Use o bom senso ao selecionar atividades ou equipamentos. O
exercício deve ser divertido e desafiador, não perigoso.

102
Estimule e aconselhe a atividade e o esporte em pessoas com
deficiência.

103
104
Capítulo 13
Declínio cognitivo na
doença de Parkinson: o
quadro complexo

S
egundo Roberta Biundo, Luca Weis e Angelo Antonini
(2016), do Departamento de Doença de Parkinson e
Distúrbios do Movimento, Hospital de Reabilitação
“IRCCS, San Camillo” (Veneza-Lido, Itália), o diagnóstico da
doença de Parkinson (DP) baseia-se na presença de sintomas
motores específicos, como bradicinesia, tremor em repouso,
rigidez, manifestações assimétricas e boa resposta à levodopa.
Os pacientes com DP também apresentam várias características
não motoras, muitas vezes precedendo os sinais motores por
muitos anos, com impacto negativo na qualidade de vida,
aumento da sobrecarga do cuidador e custos econômicos anuais
(estimados em ~ 14 milhões na Europa). Em particular, o manejo
do comprometimento cognitivo é uma área de interesse clínico
crescente, devido às suas manifestações heterogêneas e ao risco
de demência.
Considerando que até 80% dos pacientes com DP após 15 a 20
anos de doença evoluíram para demência, há uma necessidade
urgente de identificar biomarcadores precoces para estabelecer
tratamentos eficazes e monitorar a deterioração cognitiva. No

105
entanto, a presença de fisiopatologia subjacente heterogênea e
fenótipo neuropsicológico torna difícil definir um modelo único que
explique todo o quadro cognitivo. De fato, a neuropatologia da DP
demonstra degeneração do tipo corpo de Lewy em estruturas
corticais e límbicas, coexistindo patologia de Alzheimer
(emaranhado neurofibrilar e placas senis), bem como lesões
microvasculares com envolvimento de estruturas subcorticais. Um
estudo post-mortem mostrou que apenas 38% dos pacientes com
DP com demência (PDD) apresentavam patologia “pura” ou
exclusiva de corpos de Lewy, enquanto 59% apresentavam
corpos de Lewy combinados e placas β-amilóides, e 3% corpos
de Lewy concomitantes, β- placas amiloides e emaranhados
neurofibrilares. Além disso, existe uma relação positiva
significativa entre a deposição cortical de β-amilóide e
comprometimento cognitivo, e o acúmulo de β-amilóide é
detectado em um terço da DP não demente.11 Em contraste,
apenas alguns estudos de neuropatologia estão disponíveis em
Parkinson com comprometimento cognitivo leve (PD-MCI), mas os
resultados são heterogêneos.
Além disso, a coexistência de patologias sobrepostas nem
sempre coincide com as manifestações clínicas devido à
distribuição cerebral variada de depósitos anormais de proteínas.
Esse quadro complexo ocorre no contexto de múltiplas
deficiências de neurotransmissores (incluindo dopamina,
noradrenalina, serotonina e acetilcolina) e presença de genes que
aumentam o risco de demência (como a mutação ɑ-sinucleína
(SNCA), o alelo apolipoproteína ε4 (APOE4), e a proteína tau

106
associada a microtúbulos (MAPT) H1 haplótipo7). Por fim, uma
abordagem baseada apenas nos sintomas clínicos seria
insuficiente para definir o ambiente cognitivo da DP, dada a baixa
sensibilidade das diretrizes de diagnóstico publicadas na
literatura.
Esta revisão delineia as questões mais importantes relacionadas
à natureza dos déficits neuropsicológicos.

Déficit cognitivo na DP: a abordagem


clínica baseada na neuropsicologia
Após uma controvérsia inicial sobre a presença de déficits
cognitivos, o comprometimento cognitivo da DP e a demência
estão agora bem documentados e listados entre os sintomas não
motores mais prevalentes e incapacitantes. Inicialmente (1980-
1990), os déficits cognitivos eram considerados de natureza
executiva devido à depleção de dopamina nas vias nigro-
estriatais. Esta hipótese foi confirmada por vários estudos que
mostram prejuízo na memória de trabalho,
planejamento/sequenciamento (como no então teste da Torre de
Londres), troca de tarefas (como no teste Wisconsin Card Sort),
processo de inibição de resposta (como na tarefa Stroop),
recuperação da memória, fluência verbal, bem como muitos
aspectos da cognição motora (como velocidade psicomotora).
Podem ser detectados em pacientes precocemente não tratados,
ou mesmo na fase pré-motora e piorar com a progressão da
doença. Além disso, evidências sugerem assimetria espaço-
107
temporal da depleção de dopamina no nível estriado
caracterizada por um envolvimento precoce do circuito pré-frontal
dorsolateral estendendo-se progressivamente para a via orbito-
frontal envolvida na aprendizagem baseada em recompensa.
Isso explica o efeito não linear na cognição das drogas
dopaminérgicas. De acordo com a "hipótese da overdose de
dopamina", os medicamentos dopaminérgicos podem melhorar as
funções executivas relacionadas ao córtex pré-frontal dorsolateral,
mas sobredosam a porção intacta com efeito prejudicial nas
funções executivas relacionadas ao córtex orbito-frontal, como
tarefas de tomada de decisão e aprendizagem reversa. Além
disso, como o tratamento com levodopa restaura apenas
parcialmente os déficits cognitivos, é evidente que uma proporção
do comprometimento não foi relacionada à dopamina e sistemas
de neurotransmissores como acetilcolina, noradrenalina e
serotonina estão envolvidos na cognição.
Mais especificamente, isso diz respeito a problemas de atenção
específicos (como vigilância prejudicada com nível flutuante de
alerta), déficits de memória (com recuperação de recordação livre
mais proeminente no estágio inicial da doença e um componente
de armazenamento adicional presente na memória PDD) e visão
sutil -deficiências espaciais e perceptivas (dificuldades com a
percepção do espaço pessoal extra e em reconhecer objetos com
base em sua forma).
Questões não resolvidas dizem respeito à natureza, dissociação e
progressão da linguagem e deficiências semânticas,
particularmente habilidades sintáticas, verbais de ação e

108
semânticas de ação. Alguns autores postulam que esses déficits
são epifenômenos de disfunção executiva ou comprometimento
da atenção seletiva ou mesmo déficits de memória de trabalho,
enquanto outros mostraram a presença de déficits linguísticos
específicos (nomeação de ações) sem defeitos executivos
simultâneos.26 Curiosamente, um estudo recente encontrou
déficits linguísticos em DP. Em particular, a nomeação de ações e
a associação de ações foram interrompidas na ausência de
déficits executivos, sugerindo um defeito sui generis presente
desde os estágios iniciais da doença.

109
Capítulo 14
Treinamento aeróbico
melhora a função
psicomotora em pacientes
com doença de Parkinson
e acordo com Jarosław Marusiak e colaborador (2019),

D da University School of Physical Education in Wroclaw:


Wrocław, (Baixa Silésia, Polônia), a
Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa progressiva
doença de

caracterizada pela depleção de dopamina (DA) devido à


degeneração de neurônios dopaminérgicos na substância negra
pars compacta. A DP afeta a função motora e cognitiva
secundária às estruturas neurais dependentes de DA
compartilhadas. O tratamento padrão-ouro para a doença de
Parkinson é a farmacoterapia de reposição de DA, que não
interrompe o processo neurodegenerativo e tem efeitos colaterais
negativos. De acordo com relatos anteriores sobre modelos
animais de parkinsonismo, o exercício de alta intensidade induz
alterações comportamentais e neuroplásticas, incluindo uma
melhora na função terminal DA no sistema nervoso central (SNC).
Esses achados foram parcialmente traduzidos para estudos em
humanos, potencialmente revelando os mecanismos básicos

110
subjacentes a numerosos relatos de melhorias motoras e
cognitivas induzidas por exercícios em pacientes com DP.

A maioria dos estudos em humanos aplicou treinamento intensivo


contínuo. No entanto, em estudos anteriores, o treinamento
intervalado demonstrou ser mais agradável e eficaz do que
programas de exercícios contínuos em uma população sem DP
(adultos saudáveis e pacientes cardiológicos adultos). O
treinamento intervalado aeróbico de intensidade moderada (AIT,
do inglês Aerobic Interval Training) tem o potencial de induzir
alterações neuroplásticas benéficas no SNC em indivíduos
treinados com DP.
Nesses estudos, foi demonstrado o aumento induzido por AIT no
fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). No entanto, os
efeitos benéficos da AIT de intensidade moderada realizada em
um cicloergômetro sobre os sintomas e aspectos cognitivos
específicos (função executiva) e motores (controle motor bimanual
automático) de comportamentos psicomotores em pacientes com
DP não foram estabelecidos. Portanto, no estudo atual, nossos
resultados primários foram medidas automáticas de controle
motor bimanual e a avaliação psicológica das funções cognitivas.
Assim, em nossos pacientes com DP, testamos o desempenho de
uma tarefa de coordenação motora bimanual anti-fase, porque
essa tarefa foi previamente relatada como sendo fortemente
dependente da função dopaminérgica.
Para as avaliações da função cognitiva psicológica, escolhemos
principalmente os testes de função executiva, ou seja, o teste de

111
trilha (TMT, do inglês Trail Making Test) e o Stroop Test (ST) ,
porque o desempenho nesses testes está relacionado a redes
neuronais estriatocorticais dependentes de DA e déficits de
função executiva em PD. Esses déficits incluem memória de
trabalho, planejamento e controle inibitório, bem como memória
episódica e funcionamento visuoespacial. Esses déficits da função
executiva aparecem anos antes dos sintomas motores cardinais
permitirem o diagnóstico clínico (estágio prodrômico da doença) e
pioram na demência da DP.
Oito semanas de treinamento intervalado aeróbico de intensidade
moderada por indivíduos com doença de Parkinson melhoraram
os comportamentos psicomotores, conforme refletido pelo
controle motor bimanual, função executiva e sinais neurológicos
da DP

112
Capítulo 15
Doença de Alzheimer: da
instabilidade do disparo ao
colapso da rede de
homeostase

D
e acordo com Samuel Frere e Inna Slutsky (2018), do
Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade
de Medicina Sackler, Universidade de Tel Aviv (Tel Aviv,
Israel) e Escola de Neurociência Sagol, Universidade de Tel Aviv
(Tel Aviv, Israel), a doença de Alzheimer (DA) começa com
deficiências cognitivas puras e progride gradualmente para a
degeneração de circuitos cerebrais específicos. Embora
numerosos fatores que iniciam a DA tenham sido extensivamente
estudados, os princípios comuns subjacentes à transição de
déficits cognitivos para perda neuronal permanecem
desconhecidos. Aqui descrevemos uma rede homeostática
integrada e conservada evolutivamente (IHN, do inglês Integrated
Homeostatic Network) que permite a estabilidade funcional dos
circuitos neurais centrais e salvaguardas da neurodegeneração.
A doença de Alzheimer (DA), a forma mais frequente de demência
tardia, constitui um distúrbio cerebral em várias etapas,
começando com deficiências cognitivas puras, enquanto as

113
funções motoras e sensoriais permanecem normais. Com o
tempo, progride gradualmente para a degeneração neuronal
maciça em áreas específicas do cérebro, como o hipocampo, o
córtex mediotemporal adjacente e estruturas neocorticais
adicionais. Embora os déficits iniciais na DA abranjam vários
domínios cognitivos, incluindo velocidade psicomotora, fluência
semântica, função executiva e habilidades visuoespaciais, os
déficits de memória episódica apresentam as disfunções precoces
mais pronunciadas e consistentes.
Desde a época de Descartes, na virada do século XVII, cientistas
e filósofos têm procurado o correlato físico de pensamentos e
memórias. O mecanismo da memória continua sendo um dos
grandes problemas não resolvidos da biologia. Durante os últimos
60 anos, evidências crescentes indicam que as mudanças
dependentes da experiência na transmissão sináptica e nos
diagramas de fiação, fenômenos chamados coletivamente de
plasticidade sináptica, fundamentam a base celular da
computação neural, aprendizado e memória. As sinapses - as
unidades elementares de transferência de informações - codificam
e armazenam novas informações em resposta às mudanças
ambientais por meio da reorganização funcional e estrutural.
Embora a plasticidade sináptica seja crucial para o refinamento de
circuitos neurais e armazenamento de informações, sozinha é
improvável que seja responsável pelo funcionamento estável das
redes neurais. Os circuitos neurais precisam alcançar um
compromisso contínuo entre regimes operacionais estáveis, por
um lado, e adaptações plásticas a mudanças ambientais

114
imprevisíveis e estocásticas, por outro lado. Prevê-se que o
desequilíbrio entre estabilidade e plasticidade resulte em função
prejudicada dos circuitos neurais. De fato, atividades aberrantes
nos circuitos hipocampais e corticais e numerosas disfunções na
plasticidade sináptica e neuronal foram amplamente
documentadas na pesquisa da DA. Estudos de fMRI de alta
resolução sugerem que alterações funcionais na atividade do
córtex entorrinal lateral ocorrem já nos estágios pré-clínicos da
DA, enquanto permanece relativamente intacto durante o
envelhecimento cognitivo. Durante a progressão da doença,
alterações funcionais na atividade do hipocampo tornam-se
evidentes em pacientes amnésticos com comprometimento
cognitivo leve (CCL ou do inglês MCI, Mild Cognitive Impairment),
que apresentam maior risco de evoluir para demência da DA.
Decifrar os principais mecanismos subjacentes às disfunções dos
circuitos é crucial para entender a base elementar da perda de
memória na DA.
A partir da descrição de Alois Alzheimer do cérebro de Auguste D.
em 1907, os cientistas estão procurando as entidades
moleculares que estão na origem dos déficits cognitivos. Os
eventos iniciais na cascata molecular que eventualmente levam
aos sintomas clínicos da DA ainda permanecem controversos. O
acúmulo de amiloide-b (Ab) em placas senis e Tau
hiperfosforilada em emaranhados neurofibrilares são as marcas
histopatológicas bem conhecidas da DA. Extensos estudos de
biomarcadores e imagens em portadores das formas raras de DA
familiar (fAD) indicam que as placas Ab começam a se formar no

115
cérebro 15 a 25 anos antes do início do declínio cognitivo e do
desenvolvimento da patologia Tau. De acordo com a hipótese da
cascata amilóide, Ab representa o principal gatilho da patologia da
DA. Após repetidas falhas da terapêutica direcionada a Ab, a
busca por gatilhos e condutores alternativos de DA começou. Foi
proposto que Ab não desempenha um papel proeminente nos
estágios sintomáticos da doença e que a patologia Tau constitui o
principal motor da neurodegeneração. No entanto, discrepâncias
espaciais e temporais entre o aparecimento de placas amilóides,
emaranhados de Tau, perda neuronal e demência clínica colocam
algumas dúvidas sobre o papel superior proposto de Aβ no
desenvolvimento da patologia de Tau e na progressão da DA.
Além disso, o período prodrômico da DA e o papel do Aβ no início
de sintomas clínicos variáveis permanecem obscuros mesmo em
casos de DA, onde o papel do Aβ é claramente estabelecido por
causa de mutações causadoras em três genes, proteína
precursora amilóide (APP), presenilina 1 ( PSEN1) e presenilina 2
(PSEN2).
Muitas revisões recentes excelentes enfatizam a complexidade,
como especificidade do tipo de célula e não linearidade, da DA.
No entanto, se identificarmos os nós essenciais da rede de
homeostase que são independentes dos gatilhos iniciais da
doença, podemos desenvolver diretrizes generalizadas que
ajudarão a ganhar alguma confiança em nossa capacidade de
lidar com a neurodegeneração nas próximas décadas.
Compreender os princípios básicos do disparo da homeostase em
circuitos neurais, determinar as ligações recíprocas entre a

116
atividade de pico e os distintos módulos homeostáticos celulares e
identificar o maquinário homeostático central permitirá o
progresso futuro na resposta às seguintes questões pendentes:
ᵜ Circuitos com funções diferentes exibem princípios
homeostáticos semelhantes ou distintos?
ᵜ Como a organização funcional dos circuitos regula seu espaço
de solução e limites de estabilidade?
ᵜ Quais são os links e a hierarquia entre a homeostase de disparo
e os módulos?

117
Capítulo 16
Perda da função motora na
doença de Alzheimer pré-
clínica

D
e acordo com Aron S Buchman e David A Bennett
(2011), Rush Alzheimer's Disease Center, Rush
University Medical Center (Chicago, EUA) e
Departamento de Ciências Neurológicas, Rush University Medical
Center (Chicago, EUA), evidências acumuladas sugerem que a
doença de Alzheimer ( AD) tem uma longa fase pré-clínica,
durante a qual sua patologia característica se acumula e a função
do paciente diminui, mas os sintomas são insuficientes para
justificar um diagnóstico clínico de demência. Tem havido relatos
crescentes de sintomas não cognitivos, incluindo perda da função
motora, associados ao incidente de DA.
AD pré-clínica
Embora um consenso geral sobre os diagnósticos clínicos e
patológicos da DA tenha surgido em meados da década de 1980,
evidências acumuladas na década seguinte sugeriram que a DA
clínica se desenvolve ao longo dos anos, período durante o qual
muitos indivíduos podem apresentar comprometimento cognitivo
leve (MCI). insuficiente para um diagnóstico clínico de demência.
Além disso, estudos post-mortem sugerem que alguns indivíduos

118
mais velhos com evidências generalizadas de patologia da DA
podem não ter demência durante sua vida. Estudos recentes de
imagem cerebral ante-mortem de amilóide estendem esses
achados post-mortem transversais, fornecendo evidências de que
a patologia da DA se acumula bem antes do diagnóstico clínico de
demência. Assim, os dados ante-mortem e post-mortem dão
suporte à noção de que a DA tem um período pré-clínico, durante
o qual sua neuropatologia característica se acumula e a função
cognitiva diminui, mas os sintomas são insuficientes para justificar
um diagnóstico clínico de DA.
Evidências convergentes sugerem que os processos
fisiopatológicos que eventualmente levam à DA começam anos,
senão décadas, antes do diagnóstico clínico de demência da DA,
caracterizando precisamente a síndrome clínica emergente
durante o estágio pré-clínico da DA. O reconhecimento de que
vários sintomas não cognitivos, como comprometimento motor,
preveem o desenvolvimento subsequente de DA sugere que
comportamentos não cognitivos podem servir como marcadores
fenotípicos de DA pré-clínica.

Evidência de uma causa comum


para o declínio cognitivo e motor
A associação entre declínio cognitivo e motor, bem como os
relatos acumulados de que eles compartilham fatores de risco
semelhantes para o declínio, sugerem que pode haver outros
fatores comuns que levam ao declínio cognitivo e motor. Por
119
exemplo, a patologia da DA é um exemplo de neuropatologia
comum, como corpos de Lewy e infartos, que podem contribuir
para a perda da função cognitiva e motora em indivíduos mais
velhos. Alternativamente, é provável que existam outros
processos e vias que não agem através de neuropatologias
conhecidas para causar declínio cognitivo e motor. Por exemplo, a
função motora pode ser um proxy para o nível de atividade física
e baixos níveis de atividade física podem levar à redução da
atividade nas vias centrais, como as que envolvem o BDNF, o que
pode afetar tanto a função cognitiva quanto a motora.

Evidência de reserva neural


Embora haja evidências acumuladas de que a patologia da DA
pode ser responsável por sintomas cognitivos e motores durante a
DA pré-clínica, estudos post-mortem sugerem que a extensão das
alterações histopatológicas da DA na autópsia nem sempre se
correlaciona com o grau de comprometimento clínico. Isso sugere
que existem fatores, como fatores experienciais e psicossociais,
que podem aumentar a capacidade do cérebro de tolerar a
patologia da DA sem manifestar comprometimento funcional. Mais
trabalhos são necessários para esclarecer quais fatores de risco
podem servir como amortecedores e contrariar a contribuição da
patologia da DA para a perda da função cognitiva e motora.

120
Capítulo 17
Exercício nos estágios
iniciais e intermediários da
demência

S
egundo a Alzheimer Society (EUA, 2023), existem muitas
oportunidades adequadas de exercício que podem ser
benéficas para pessoas nos estágios iniciais ou
intermediários da demência.
A comunidade local ou os centros esportivos geralmente
oferecem uma variedade de sessões organizadas de exercícios e
atividades físicas, como jogos de bola, exercícios sentados, tai
chi, música e dança, boliche ou natação. Você pode usar um
orçamento pessoal, na forma de um pagamento direto de sua
autoridade local para pagar por isso. Algumas dessas atividades
podem ser modificadas e realizadas em casa. Caminhar,
jardinagem e tarefas domésticas também são boas formas de
atividade física diária.
As pessoas nos estágios iniciais da demência podem não ter
novas dificuldades nos esportes e outras atividades físicas de que
gostam. Eles devem ser encorajados a continuar essas atividades
sempre que possível

121
Qual é a quantidade certa de
atividade nos estágios iniciais e
intermediários da demência?
Não há uma resposta definitiva para essa pergunta e a
quantidade certa de exercício varia de pessoa para pessoa. O
Departamento de Saúde recomenda 150 minutos de atividade
física moderadamente extenuante por semana. Isso equivale a 30
minutos de atividade por dia, durante pelo menos cinco dias por
semana. Isso pode ser dividido em sessões mais curtas ao longo
do dia, com cada sessão durando no mínimo 10 minutos. Por
exemplo, pode ser uma caminhada de 15 minutos até as lojas
locais e, à tarde, tarefas domésticas ou de jardinagem.

Tipos de exercício para pessoas


com demência
Abaixo estão alguns exemplos dos tipos de exercício que uma
pessoa pode realizar. Esta não é uma lista exaustiva - qualquer
forma de exercício pode trazer benefícios.

Jardinagem
A jardinagem é uma atividade física que oferece uma
oportunidade de sair ao ar livre e é apreciada por muitas pessoas.
O nível de atividade pode variar de acordo com as habilidades de
122
alguém. Pode ser algo que exija menos esforço, como capinar ou
podar, ou uma atividade mais extenuante, como rastelar ou cortar
grama. Essas atividades podem ajudar a fortalecer os músculos
do corpo e melhorar a respiração. A jardinagem pode ser uma
atividade agradável para pessoas em todos os estágios da
demência.

Boliche de interior (in door)


Algumas pessoas podem manter suas habilidades de boliche ou
continuar a participar de outros jogos de bola e, portanto, podem
desfrutar de boliche. Alguns centros de lazer locais oferecem
sessões de boliche indoor, ou conjuntos podem ser adquiridos em
lojas de brinquedos ou esportes.

Dança
A dança pode variar desde chás dançantes e sessões de casal ou
grupo até movimentos mais improvisados envolvendo fitas, balões
ou bolas. A dança também pode ser feita na posição sentada.
Esta é uma atividade muito social e uma maneira agradável de
participar do exercício. Pode aumentar a força e a flexibilidade,
ajudar a manter-se estável e ágil e reduzir o estresse.

Exercícios sentado

123
Pessoas com demência podem se beneficiar de um programa
regular de sessões de exercícios sentados em casa ou com um
grupo em uma aula local. Muitas vezes, é uma boa ideia ver
esses exercícios demonstrados pelo menos uma vez por um
instrutor ou em um vídeo. Esses exercícios visam construir ou
manter a força muscular e o equilíbrio e são menos extenuantes
do que os exercícios em pé. Eles podem fazer parte de um
programa em desenvolvimento, com o número de repetições de
cada exercício aumentado ao longo do tempo. Alguns exemplos
de exercícios sentados incluem:
• Marchando
• Virar a parte superior do corpo de um lado para o outro
• Levantando os calcanhares e os dedos dos pés
• Levantar os braços em direção ao teto
• Levantar o braço e a perna opostos
• Dobrar as pernas
• Bater palmas sob as pernas
• Pedalar as pernas
• Fazendo círculos com os braços
• Praticando a passagem da posição sentada para a posição em
pé.

Natação
A natação, sob supervisão, é uma boa atividade para pessoas
com demência. Muitas pessoas acham a sensação de estar na
água reconfortante e calmante. Alguns estudos também
124
mostraram que a natação pode melhorar o equilíbrio e reduzir o
risco de quedas em idosos.

Tai Chi/Qigong
Tai Chi e Gigong são formas suaves de artes marciais chinesas
que combinam movimentos físicos simples e meditação, com o
objetivo de melhorar o equilíbrio e a saúde. Os movimentos se
concentram em uma série de exercícios integrados. Essas formas
de exercício se concentram no equilíbrio e na estabilidade, que
são importantes para manter a agilidade e podem reduzir o risco
de quedas.

Andar
Caminhar combina com todas as habilidades. É gratuito, não
precisa de equipamentos especializados e pode ser feito em
qualquer lugar. A distância e o tempo gastos na caminhada
podem variar de acordo com os níveis de condicionamento físico.
Alguns centros de lazer locais e outras organizações organizam
caminhadas em grupo, apoiadas por um líder de caminhada, de
várias durações, podendo ser também uma atividade social.

125
Epílogo

A
conclusão é que sem o desenvolvimento psicomotor, o
desenvolvimento cognitivo fica gravemente
comprometido em todas as idades.

126
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