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Referências
Aula 1
PONTO DE PARTIDA
Nesta aula, você vai estudar a diversidade cultural humana e as relações com a educação. Inicialmente, você
vai refletir sobre o conceito de cultura, seja ele em seu significado antropológico, ou na forma com que
diversos indivíduos e agrupamentos humanos representam a realidade ao longo do tempo. Em seguida, você
verá, com uma abordagem introdutória, as diferentes perspectivas antropológicas sobre o conceito de
cultura: multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo. A ideia é que você perceba, em linhas gerais, o
caráter (e as características) de algumas das principais correntes antropológicas e suas distintas abordagens
Por fim, você vai estudar expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes dos mais diversos
que somos constituídos enquanto humanidade plural. A ideia é que possamos estabelecer conexões entre
diversidade cultural e educação.
Para iniciar os estudos desta aula, vamos apresentar algumas problematizações: à luz dos objetivos propostos
cultura pode ser definido a partir das diferentes perspectivas antropológicas? Quais as relações entre
educação, diversidade e as representações culturais? Com esses questionamentos iniciais, damos as boas-
vindas, estudante, recomendando que você aprofunde seus estudos a partir das referências indicadas neste
material.
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VAMOS COMEÇAR
Iniciando as reflexões sobre educação e diversidade, a partir de agora, você vai estudar as culturas humanas
e suas relações sociais, elemento fundamental para que possamos refletir e analisar o conceito de diversidade
na educação. Como apresentado, o exercício proposto para os estudos desta aula consiste em uma
problematização sobre o conceito de cultura a partir das correntes antropológicas, para que se possa analisá-
las mediante o estudo e aprofundamento dos conceitos elencados com a realidade social em que estamos
inseridos.
perspectivas antropológicas que partem do entendimento de que nós, seres humanos, vivemos em uma
sociedade plural e diversa. A educação está diretamente relacionada à cultura e às diversas possibilidades
com que se realiza nas diferentes sociedades. Assim, nessa perspectiva, devemos reconhecer as diferenças
culturais como fundamento da diversidade com que a vida social se realiza. Perceber as diferenças humanas
como algo normal, nada mais é do que o contínuo exercício de visar o bem viver em sociedade.
portanto, convive social e culturalmente com outros povos. Para os propósitos desses estudos, devemos
renunciar à concepção de cultura no senso comum, ao menos daquelas abordagens que compreendem a
cultura como um termo classificatório de indivíduos e grupos sociais inteiros, de forma generalizante e/ou até
mesmo preconceituosa. Em educação e diversidade, leva-se em consideração as culturas, no plural, bem como
Uma das características do ser humano é a sua capacidade cultural, e isso o distingue de outros seres vivos.
Nesse sentido, podemos afirmar que todos os seres humanos produzem cultura, seja vivenciando o cotidiano
da vida, seja representando a realidade em que se inserem. Na antropologia, sabemos que existem muitas
propósitos desta disciplina, podemos definir, de modo geral, o conceito de cultura como a capacidade da
humanidade como um todo e a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos, de se apropriar dos recursos
A cultura, vista sob esse ângulo, caracteriza-se como a possibilidade do indivíduo, inserido em seu
agrupamento social, de viver o seu dia a dia, compreender a realidade e atribuir significados a ela, planejar,
calcular e transformar a natureza, além de refletir sobre todas as coisas que estão ao nosso redor. A
abordagem antropológica é uma das maneiras de definir cultura a partir de um conjunto de pressupostos
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A antropologia, portanto, é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano e suas relações,
é um termo de origem grega, formado por anthropos (homem, ser humano) e logos (conhecimento). Sendo
uma das ciências sociais, a antropologia nasceu e se desenvolveu ao longo do século XIX, tendo o objetivo de
estudar e conhecer a cultura e a diversidade das manifestações culturais dos diferentes povos no tempo e no
espaço.
A Antropologia é a ciência que busca entender como o ser humano pode levar vidas
outras culturas. Nesse sentido, “devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre
tantas outras, mas não a única” (Oliveira; Costa, 2016, p. 58). Esse é, portanto, o “espírito” que se deve adotar
nos estudos sobre educação e diversidade, tendo em vista as múltiplas possibilidades e pontos de vista com
entendimento do conceito de cultura, que varia de acordo com a perspectiva metodológica adotada.
Evolucionismo social, relativismo cultural, funcionalismo, estruturalismo, entre outras, são exemplos de
algumas das correntes da antropologia. Para os propósitos desses estudos em educação e diversidade, as
noções relacionadas ao conceito de cultura serão realizadas a partir das diferentes perspectivas:
culturas coexistem no interior de um mesmo espaço social, e suas relações podem se dar por aceitação,
podendo ser até híbridos quanto à inclusão do outro na condução política e econômica de uma determinada
sociedade; de tolerância, como o próprio termo define, ou seja, quando as culturas se toleram em uma mesma
sociedade, mesmo que os interesses da cultura dominante prevaleça, mas sem que ocorra a aceitação; ou de
conflitos, quando se percebem manifestações de diversas formas de violência, por meio de ações
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Multiculturalismo é um termo que indica a existência de muitas culturas em uma determinada sociedade. O
Brasil, por exemplo, é um país multicultural, o que se evidencia claramente quando refletimos sobre as
particularidades de nossa formação social, política e econômica, marcadas pela inclusão de diversas etnias e
culturas ao longo da história, e pelo estabelecimento de relações culturais com os povos originários e
autóctones aqui estabelecidos. O contato entre os diferentes povos caracteriza-se por relações de dominação e
de exploração.
base multicultural muito forte, onde as relações interétnicas têm sido uma constante
através de toda sua história, uma história dolorosa e trágica principalmente no que
A formação histórica de nosso país está marcada na eliminação física do “outro” ou por sua escravização ou
no plano das representações e no imaginário social (Moreira; Candau, 2013). É justamente nesse sentido que o
No Brasil, as políticas públicas promulgadas nas últimas décadas vêm tendo o entendimento de que a
democracia e a pluralidade cultural são elementos importantes a serem preservados e valorizados em nosso
país, de acordo com os princípios e os valores humanos. Essa é também a visão que outros países do mundo
têm do Brasil. A educação, em suas diferentes formas, deve caminhar no sentido de oportunizar meios
valorizar e reconhecer as várias culturas diferentes que coexistem no interior de uma mesma sociedade,
como um fator positivo, pois a mistura dessas diferentes culturas, gerou a especificidade e a particularidade
da cultura brasileira.
O etnocentrismo parte da ideia, do ponto de vista de quem observa, em considerar a sua própria etnia no
centro de tudo, ou seja, é a base (conjunto de princípios e valores) pela qual o observador deve olhar as
demais culturas existentes no mundo. Nesse sentido, a própria etnia (povo) e todos os atributos culturais que
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lhes são peculiares devem estar no centro de referência do sujeito observador, especialmente quando se
social. O inglês Edward Tylor, o norte-americano Lewis Morgan e o escocês James Frazer são autores que
apoiam suas teorias nas narrativas de evolução. Essas perspectivas são, portanto, etnocêntricas, pois
entendem que a cultura dos povos “civilizados” dos quais fazem parte, incluindo seus modelos de
desenvolvimento, correspondem à etapa mais evoluída da humanidade, além de ser tomada como centro de
A perspectiva etnocêntrica foi responsável por proporcionar formações sociais desiguais desde o advento da
modernidade. A “postura” etnocêntrica foi a base para o colonialismo, contribuindo com o desenvolvimento
neocolonialismo, pelo qual diversos países da África, Ásia e Oceania foram dominados pelas potências
imperialistas que se desenvolviam no contexto da Segunda Revolução Industrial, tendo suas riquezas
exploradas e expropriadas.
As teorias do evolucionismo social serviam de “justificativa” para a dominação exercida pelos europeus no
contexto do imperialismo. O encontro entre os europeus e as diferentes populações não europeias resultou no
preconceituoso do outro, uma vez que não se reconhece a diferença e todas as dimensões culturais.
Em perspectiva inversa ao evolucionismo, o relativismo cultural toma como referência a ideia de que cada
cultura deve ser analisada a partir dos seus próprios termos. Os olhares, as observações e todas as
possibilidades de percepções de uma cultura diferente devem ser relativas. Esse exame depende
fundamentalmente da forma com que o indivíduo e seu grupo compreendem e enxergam as diferentes
O antropólogo alemão Franz Boas foi quem inaugurou a perspectiva do relativismo cultural e, ao criticar a
compartilhados pelos indivíduos de uma sociedade específica. Enfim, como você pode perceber, existem
diferentes concepções em torno do conceito de cultura, a partir de uma abordagem socioantropológica e das
diversidade, tomam como referência o reconhecimento da própria diversidade cultural humana como fator
indispensável nesse exercício reflexivo. Expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes são
formas de representações culturais da realidade praticadas por diferentes etnias e culturas ao longo do tempo
e do espaço.
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A educação, mecanismo pelo qual a assimilação das práticas culturais é possível, corresponde a um processo
de socialização dos indivíduos, assumindo um papel importante para a vida em sociedade. O sociólogo
francês Émile Durkheim aponta a educação (e a escola) como uma das instituições sociais responsáveis por
“moldar” os indivíduos para a vida em sociedade, de acordo com os pressupostos estabelecidos pela
consciência coletiva de determinada sociedade.
Como podemos perceber, a educação serve para a socialização das pessoas, pois ela reflete o papel social que
cada indivíduo deve representar naquela sociedade, sendo que, assim, todos aprendem que para serem
adultos, alguns para se tornarem homens, mulheres ou mesmo para se tornarem chefes, feiticeiros, músicos,
de acordo com a posição que vão ocupar no grupo (Previtelli; Vieira, 2017). Segundo a perspectiva de
Durkheim, a educação, assim como outras instituições sociais, promove a coesão social. Para o sociólogo, a
As diversas práticas e representações culturais dos indivíduos e grupos sociais coexistem com os diversos
tipos de educação: educação informal, educação formal, educação não formal e educação popular – exemplos
A fim de buscar uma definição para as relações entre cultura e diversidade, os estudos do antropólogo norte-
americano Clifford Geertz e sua perspectiva interpretativa de cultura são importantes para este estudo.
Geertz procurou mostrar como os homens se relacionam entre si tendo por base um comportamento pré-
determinado, sendo que o objetivo da antropologia consiste na compreensão dos significados produzidos pelo
homem.
Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele
mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise, portanto, não
como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência
Segundo Geertz, é necessário compreender o significado de cultura, assumindo-o como uma produção
humana que tem sentido. O conceito de cultura deve ser preciso, não muito amplo, relacionado a uma
dimensão justa (Geertz, 1989). Afinal, cultura, para Geertz, sob a influência de Weber, corresponde a teias de
significado por meio das quais o homem estabelece as relações com a natureza e com outros homens. E isso
forma um conjunto de representações simbólicas que dão significado à vida social, e o modo de viver, de estar
e de interpretar e dar sentido ao mundo nos conduz à cultura (Previtelli; Vieira, 2017).
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dinâmica. A cultura é essa construção na qual nada se perde, isto é, em que as coisas
novas vão se misturando com as antigas. Assim, é a partir da lente da cultura que nos
Compreender a diversidade é entender que cada um de nós pertence a uma cultura. O estranhamento àquilo
a que não estamos acostumados não significa que o outro esteja errado ou que seja ruim (Previtelli; Vieira,
2017), mas nos permite afirmar que ele (o outro) é apenas diferente. Em suma, essa deve ser a postura a ser
adotada nos estudos de educação e diversidade, de modo a reconhecer as diferenças culturais existentes e
valorizá-las.
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VAMOS EXERCITAR
É chegado o momento de encerramento desta aula em que você estudou sobre cultura: um conceito
crenças, valores, tradições e costumes. Essas abordagens estão interrelacionadas com educação, diversidade e
desigualdade.
Você deve se lembrar de nossos questionamentos e problematizações para esta aula: à luz dos objetivos
propostos na disciplina de educação e diversidade, é possível definir um conceito de cultura? Como você pôde
perceber, existem muitas definições sobre o conceito de cultura. Para os propósitos deste estudo, podemos
definir cultura como a capacidade da humanidade como um todo e a cada um dos povos, nações, sociedades e
acordo com o que você estudou, cultura se caracteriza como a possibilidade do indivíduo, inserido em seu
agrupamento social, de viver o seu dia a dia, compreender a realidade e atribuir significados a ela, planejar,
calcular e transformar a natureza, além de refletir sobre todas as coisas que estão ao nosso redor.
Outro questionamento colocado em nossas problematizações é: como o conceito de cultura pode ser definido
a partir das diferentes perspectivas antropológicas? Você estudou que o multiculturalismo parte da premissa
da existência de sociedades multiculturais, pois culturas coexistem no interior de um mesmo espaço social.
etnocentrismo, presente nas chamadas narrativas da evolução, denominadas de evolucionismo social, parte
do ponto de vista de quem observa, em considerar a sua própria etnia no centro de tudo, ou seja, é a base
(conjunto de princípios e valores) pela qual o observador deve olhar as demais culturas existentes no mundo.
Por outro lado, o relativismo cultural toma como referência a perspectiva de que cada cultura deve ser
analisada a partir dos seus próprios termos, ou seja, os olhares, as observações e todas as possibilidades de
Por fim, quais as relações entre educação, diversidade e as representações culturais? Para responder a esse
questionamento, você deve se lembrar de que todo ser humano é um ser cultural e que, portanto, convive
social e culturalmente com outros povos. No entanto, é preciso reconhecer que somos uma cultura possível
entre tantas outras, mas não a única. Em outras palavras, devemos reconhecer e valorizar a diversidade
social cultural e as diversas maneiras de representações culturais existentes em nossa sociedade, ou seja,
Em suma, compreender a diversidade significa aceitar que cada um de nós pertencemos a uma cultura,
independentemente de qualquer estranhamento que uma cultura divergente possa produzir.
Saiba mais
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Sobre o tema da cultura na abordagem antropológica, você pode ler a Aula 5 – Evolucionismo:
Capítulo 1 – Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica, escrito por Vera Maria
Moreira e Vera Maria Candau (orgs.). Esse capítulo oferece elementos para o aprofundamento da
compreensão das relações entre educação e cultura(s), particularmente nas sociedades multiculturais
em que vivemos. Aproveite e faça a leitura dos demais capítulos do livro, também importantes para os
estudos em educação e diversidade. Você encontra esse material acessando a nossa Biblioteca Virtual.
especialmente nas relações que envolvem a escola, recomendamos o filme Entre os muros da escola
(Entre les Murs), dirigido por Laurent Cantent. O filme mostra o choque cultural entre um professor de
Aula 2
IDENTIDADES E DIFERENÇAS
Nos estudos desta aula, trazemos algumas problematizações para pensar na educação e na
diversidade: qual a importância do conceito de identidade para pensar a diferença? Quais os
tipos de identidade? O que significa identidade contrastiva?
PONTO DE PARTIDA
Você vai estudar, nesta aula, as identidades e as diferenças. Em um primeiro momento, à luz das reflexões
trazidas sobre a diversidade social e cultural, cujas reflexões foram abordadas na aula anterior, você vai
explorar os conhecimentos sobre as identidades, do ponto de vista de como elas se constroem, sobretudo a
partir das diferenças que caracterizam os indivíduos em relação aos outros; em meio a esse exercício
reflexivo, o conceito de identidade será contextualizado e apresentado de forma introdutória, bem como
Em seguida, você vai estudar as diferentes possibilidades com que se torna possível compreender o conceito
de identidade, ou seja, em suas perspectivas circunstancial, dinâmica e contrastiva. Por fim, você vai analisar
as identidades e as diferenças sob a perspectiva do conceito de alteridade e sua importância para o constante
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exercício de reconhecimento do outro, ou seja, do mosaico cultural que é a vida em sociedade. Com isso, será
realizada uma mediação em torno dessas questões sobre diversidade, diferenças e identidades, que envolvem
Nos estudos desta aula, trazemos algumas problematizações para pensar na educação e na diversidade: qual
a importância do conceito de identidade para pensar a diferença? Quais os tipos de identidade? O que
alteridade? São nesses e outros questionamentos que esta aula será conduzida. A ideia é que você possa
aprimorar os seus estudos e aprofundar suas leituras e conhecimentos acerca do tema. Desejamos excelentes
estudos!
VAMOS COMEÇAR
Em nosso percurso de estudos sobre educação, diversidade e desigualdade, temos buscado oportunizar
reflexões a respeito das diversidades e das relações com a educação. A ideia é proporcionar uma formação
crítica acerca dos conhecimentos em torno da diversidade, das diferenças e das identidades mediante uma
narrativa dialógica, a partir das problematizações propostas para essas reflexões. Os múltiplos aspectos que
envolvem o conceito de identidade serão abordados. No entanto, é preciso ter o entendimento de que o
conceito de identidade é amplamente complexo, assim como a sua abordagem, o que nos exige fazê-la de
forma interdisciplinar.
identidade e diferença nos permitem lembrar os aspectos definidores que cada pessoa tem em uma
determinada sociedade. Isso tudo, de forma bastante sucinta, está presente em um documento de identidade,
por exemplo, pois é lá que encontramos o nome e o sobrenome, o ano de nascimento, a filiação e a
naturalidade da pessoa. É claro que essas informações não são suficientes para falar de nossas identidades,
mas esses elementos mais formais dizem algo a respeito de nós, embora de forma bastante superficial.
Os estudos sobre identidade são mais profundos e abrangentes do que se pensa, afinal as preocupações em
torno da relevância da identidade social e cultural ganhou maior destaque a partir de conflitos políticos e
culturais que emergiram no mundo no contexto da década de 1960, sobretudo em países como França e
Estados Unidos, por exemplo. Esses movimentos foram protagonizados pela juventude da época.
Em maio de 1968, na França, os jovens estudantes tomaram as ruas de Paris e protagonizaram as lutas por
melhores condições de vida, de forma crítica em relação aos rumos tomados na política pelo Estado. Antes
dessa experiência, as manifestações e lutas sociais eram organizadas pelos sindicatos, ou seja, pela classe
trabalhadora, sendo também inédito nessas lutas o aspecto político e cultural com que as manifestações se
apresentaram. Além disso, o movimento foi liderado por estudantes naquela ocasião.
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Diante desses fenômenos, as ciências sociais passaram a se debruçar de forma mais intensa sobre a questão
das identidades. Certamente, essa é a área do conhecimento que contribuiu para examinar de forma mais
aprofundada esse conceito ante as mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais o mundo estava
passando naquele contexto da segunda metade do século XX, fornecendo instrumentos e ferramentas
explicativas para a questão das identidades e das diferenças. O conceito de identidade, nesse sentido,
reacende o debate paradigmático na sociologia em torno das questões relacionadas a teoria e método,
sobretudo quando se enfatiza o papel do indivíduo e suas relações, em detrimento das classes sociais, e das
No âmbito da sociologia clássica, o método compreensivo de Max Weber toma como ponto de partida o
indivíduo e suas ações sociais. Essa orientação teórico-metodológica de caráter ideográfico aproxima-se dos
interesses do indivíduo, portanto, dos estudos acerca do conceito de identidade. Por outro lado, as
funcionamento das instituições sociais e da sociedade, sendo determinante sobre o conjunto de indivíduos a
partir dos fatos sociais, e de Karl Marx, e seus estudos sobre os conflitos e lutas entre as classes sociais sob as
Alguns autores sinalizavam a passagem da modernidade para a pós-modernidade que a humanidade estaria
vivenciando naquele contexto. Esse período caracteriza-se como uma crítica às metanarrativas nas
explicações sociológicas. O sociólogo francês Alain Touraine afirmou que as lutas sociais que estouravam no
contexto da década de 1970 estavam mais ligadas ao campo político-cultural, em detrimento do material e
econômico que, até então, pautavam os movimentos sociais. Esses movimentos derivam fundamentalmente
dos conflitos em torno do controle dos modelos culturais. Touraine contribuiu para o pensamento sobre o
papel dos novos movimentos sociais, ligados às questões ecológicas, étnico-raciais, de gênero, entre outras.
O conceito de identidade é, então, bastante debatido nas ciências sociais a partir da década de 1970. O termo
identidade ganha maior destaque por causa da fragmentação social e dos conflitos produzidos pelo avanço do
capitalismo e com o aprofundamento de formas diversas de desigualdades, bem como diante da ascensão das
contexto social, a identidade torna-se, portanto, um conceito importante para se pensar nas diferenças.
um processo em construção, que se realiza transitoriamente, mas nunca como algo acabado e determinado. É
possível amalgamar várias identidades no sujeito moderno. Afinal, é a vivência social que contribui com a
construção das identidades das pessoas e dos grupos sociais. Além do mais, precisa-se pensar a identidade e
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Nas ciências sociais, diversos autores contribuíram com os estudos do conceito de identidade. Para os estudos
desta aula, você vai conhecer, em caráter introdutório, as contribuições de Stuart Hall, Zygmunt Bauman,
Em seu livro A identidade cultural na pós-modernidade, o sociólogo jamaicano Stuart Hall sintetiza três
relacionado ao contexto do Renascimento Cultural com o advento do antropocentrismo, que se consolida com
o processo de valorização da razão humana. Tem origem a partir de uma “concepção de pessoa humana
O sujeito sociológico, surgiu “quando o mundo moderno passou a ser observado como um turbilhão
complexo, associado à corrosão da intimidade, à ditadura do tempo e todas outras alegorias que nos lega a
cultura capitalista, o entendimento da identidade muda de feição” (Previtelli; Vieira, 2017, p. 32). Ou seja, esse
tipo de sujeito ocidental emerge no contexto de desenvolvimento do modo de produção capitalista, vinculado
a uma perspectiva de determinação de classe, sendo que as outras identidades estariam subordinadas a essa
estrutura de mundo do qual o sujeito fazia parte. Nesse sentido, segundo Hall, o sujeito não era independente,
ao invés disso, a identidade era formada em relação às “pessoas que lhe atribuíam valores, sentidos e
No sujeito pós-moderno, para Hall, as identidades culturais coexistem nos indivíduos, diante das mudanças
sociais e culturais que o mundo ocidental vivenciava no contexto da década de 1970. Isto é, o sujeito pós-
moderno seria marcado pelas múltiplas identidades pelas quais esses sujeitos são acometidos, ainda que,
muitas vezes, se apresentassem de modo contraditório. Nessa conceituação, acreditava-se que o sujeito tinha
um núcleo, mas também admitia que não era fixo, imutável, pois mantinha um diálogo contínuo com as
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culturas com as quais entrava em contato (Previtelli; Vieira, 2017, p. 32). Essa concepção de identidade
ressaltava as constantes mudanças, contribuindo por tornar o sujeito mais fragmentado, que se constitui de
O sociólogo canadense Erving Goffman parte do entendimento de que a vida social do indivíduo, por
consequência de sua identidade, pode ser entendida como uma representação teatral. Isso quer dizer que a
ação de um indivíduo em relação a outros não tem somente uma finalidade instrumental, ou seja, não tem
somente o objetivo de fazer algo, mas também é condicionada pelo modo como esse sujeito quer aparecer
Como você pode perceber, pensar em identidade nada menos é do que um exercício bastante complexo.
Identidade pode ser compreendida sob diversas perspectivas, e possui características importantes a serem
consideradas em torno de sua análise. Nesses termos, a identidade pode ser circunstancial, dinâmica e
contrastiva.
A identidade circunstancial está relacionada às circunstâncias da vida, assim como o próprio termo define. A
base em fatores externos muitas vezes fora de seu controle. Os fatores externos independem da vontade do
indivíduo, ou seja, correspondem à exterioridade, elemento característico dos fatos sociais, segundo Émile
Durkheim. As identidades circunstanciais incluem elementos, como gênero, etnia, nacionalidade, idade e
classe social. Elas são frequentemente usadas para categorizar e rotular as pessoas, algo semelhante à casca
de um indivíduo, aquilo que se vê em primeiro plano a partir da percepção das outras pessoas. Essas
categorias podem influenciar a forma como somos percebidos pelos outros e como interagimos com os
A identidade dinâmica está sujeita a mudanças ao longo do tempo, é algo fluido, que se adapta segundo as
condicionantes da vida. São mudanças que passamos pela vida e que influenciam a construção de nossa
identidade, como algo dinâmico, em constante mudança. A identidade dinâmica realiza-se em meio às nossas
experiências e interações estabelecidas entre indivíduo e sociedade a partir das condições sociais de
existência, e pode ser moldada por suas reflexões, relações interpessoais, educação e eventos significativos.
A identidade contrastiva está relacionada a algo que diferencia, motivado pelo próprio indivíduo. A
identidade contrastiva é a forma como as pessoas se definem em relação aos outros. É o indivíduo definindo a
si mesmo. Esse conceito tem a ver com a conquista de espaços pela juventude no contexto da década de 1960.
A nossa identidade é construída considerando quem somos em comparação a quem não somos, sendo
ressaltadas as diferenças. Trata-se de perceber as diferenças culturais e sociais, o que pode levar à criação e
constituintes das identidades sociais e culturais. No entanto, isso tudo deve estar relacionado ao contexto
social no qual os indivíduos se inserem, além de levar em consideração as especificidades das diversas
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realidades sociais. Por isso se faz importante e fundamental para os estudos das diferenças e das identidades
Em suma, você pode constatar que o reconhecimento do outro refere-se à capacidade do indivíduo ou seu
grupo em reconhecer a identidade cultural do outro, daquele que é diferente do indivíduo que observa, em
termos identitários, culturais e/ou experienciais. Tem a ver com a aceitação e a valorização da humanidade
Para o sociólogo britânico Anthony Giddens, as influências globalizantes e a simples sensação de ser presa
das maciças ondas de transformação global é perturbadora. Mas importante é o fato de que tal mudança é
também intensa – cada vez mais, atinge as bases da atividade individual e da constituição do eu (Previtelli;
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001) analisa a questão da identidade na modernidade, denominando-
a líquida. Nessa fase, os indivíduos incorporam outros e novos elementos de forma mais fluida, líquida e
flexível se comparado ao contexto histórico anterior, no qual se observava a identidade de forma mais rígida.
A modernidade líquida pauta-se pela liquidez em que nada consegue manter sua forma por muito tempo.
A modernidade líquida é o que caracteriza a sociedade contemporânea, uma época em que tudo o que é
sólido desmancha-se no ar. Nesse contexto em que se observam as identidades, verificam-se mudanças na
concepção de Estado nação no capitalismo, em sua fase globalizada. As mudanças advindas com a
modernidade, de sua fase sólida para a fase líquida, apontam para o fenômeno de não haver mais a
identidade, estudados nesta aula, certamente são importantes e fundamentais, pois nos ajudam a
percebeu que os autores fizeram uma contextualização histórica em torno do conceito de identidade para a
Mesmo com as mudanças advindas com o passar do tempo, que incidem sobre as identidades sociais e
culturais, você pode perceber que as interações sociais são fundamentais para a construção das identidades.
Somos sujeitos sociais e dependemos uns dos outros para a realização da vida em sociedade. Afinal, pode-se
afirmar que há um estado de interdependência entre os seres humanos, uma dependência mútua, que se
realiza de forma recíproca (Barbosa, 2014). Essa interação realizada pelos seres humanos pode ser
denominada alteridade.
[...] eu aprendo, mudo e me transformo com base nas transformações, nas mudanças
essa interação é baseada na nossa percepção e nossa ideia de valor, ideia essa que tem
Perceba a importância das interações na construção das identidades sociais e culturais, independentemente
do contexto histórico em que se analisa a formação das identidades dos indivíduos. Como se pode perceber “a
processo dinâmico de transformação, isso significa que quando o outro muda a sua performance
Você pode compreender que, para pensar nas relações sociais, é preciso ter a sensibilidade para o
reconhecimento do outro, de qualquer forma e em quaisquer das dimensões da vida social e cultural. O
conceito de alteridade, nesse sentido, relaciona-se à ideia de reconhecimento do outro, com as suas diferenças
e particularidades. Isso quer dizer que o exercício da alteridade é significativo para a construção de nossa
própria identidade, ou seja, aquele que pratica a alteridade tem a identidade construída na sua relação com a
de outros.
VAMOS EXERCITAR
Nos estudos desta aula, trouxemos algumas problematizações para pensar nas relações entre educação e
diversidade: qual a importância do conceito de identidade para se pensar a diferença? Você viu que
identidade é relevante e fundamental para pensar nas diferenças socioculturais. É preciso considerar as
características socioculturais de todos os povos que convivem em nossa realidade, assim como pensar nos
povos originários e autóctones, como a população afrodescendente e indígena. Esses são povos originários,
autóctones, que aqui habitavam antes mesmo da chegada dos europeus, realizando o seu próprio modelo de
Quais são os tipos de identidades? O que significa identidade contrastiva? Como você estudou, a identidade
indivíduo inserido em sociedade com base em fatores externos, muitas vezes, fora de seu controle. Já a
identidade dinâmica está sujeita a mudanças ao longo do tempo, é algo fluido, que se adapta segundo as
condicionantes da vida. E a identidade contrastiva está relacionada a algo que difere, como o próprio termo
sugere, motivado pelo próprio indivíduo, ou seja, é a forma como as pessoas se definem em relação aos
outros.
alteridade. Como você estudou, o conceito de alteridade relaciona-se à ideia de reconhecimento do outro, com
as suas diferenças e particularidades. Isso significa dizer que o exercício da alteridade é significativo para a
construção de nossa própria identidade, ou seja, aquele que pratica a alteridade tem a identidade construída
na sua relação com a de outros. Esse conceito é muito importante para pensar nas relações sociais, sendo que,
para isso, é preciso ter a sensibilidade para o reconhecimento do outro, uma vez que somos sujeitos sociais e
dependemos uns dos outros para a realização da vida em sociedade. Há, portanto, um estado de
interdependência entre os seres humanos, uma dependência mútua, que se realiza de forma recíproca.
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Saiba mais
sociedade brasileira, sugerimos que você assista ao documentário O povo brasileiro de Darcy Ribeiro.
Nesse documentário, o antropólogo apresenta aspectos interessantes e sua visão sobre a formação do
sociedade brasileira, sugerimos que você assista ao documentário O povo brasileiro de Darcy Ribeiro.
Nesse documentário, o antropólogo apresenta aspectos interessantes e sua visão sobre a formação do
dirigido por Walter Salles. Esse excelente filme nacional aborda a questão do autoconhecimento, do
Josué. O filme também retrata a questão das diferenças sociais, econômicas e culturais do Brasil.
Aula 3
PONTO DE PARTIDA
Nesta aula, você vai estudar os conceitos de preconceito e discriminação, vai entender as diferenças e as
semelhanças entre eles e as relações com o fenômeno das desigualdades. Em seguida, você vai analisar as
apresentam aos indivíduos. Por fim, você vai estudar sobre exclusão e inclusão, e a necessidade de buscar a
justiça social.
Para os estudos desta aula, algumas questões serão problematizadas: quais as diferenças conceituais entre
preconceito e discriminação? Tomando como base a distribuição desigual de recursos em uma determinada
sociedade, quais as implicações desse fenômeno social? Qual é o papel da educação no combate às formas
diversas de desigualdades? Qual a importância da inclusão, em uma sociedade historicamente marcada pela
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De modo geral, esses são alguns dos questionamentos que nos ajudam a pensar nas relações entre educação,
diversidade e desigualdade. Nesta aula, você está convidado a estudar sobre a formação histórica da
VAMOS COMEÇAR
Para que possamos refletir sobre as diversidades e as desigualdades, devemos sempre nos lembrar de um dos
desse debate parte da relação entre as diversidades e a educação, de modo a contribuir com uma formação
manifestam de diversas formas. Em um regime democrático e preocupado com a justiça social, como o Brasil,
a educação (e a escola) deve ter um olhar atencioso para a questão das diversidades e das diferenças. A
educação, dessa forma, precisa reconhecer e valorizar as diferenças, bem como as diversidades que
influenciam a forma com que somos construímos cotidianamente, enquanto povo brasileiro.
Isso nos exige um constante repensar dos porquês e das razões pelas quais se dão as condições (e
contradições) sociais de onde estamos inseridos papel também da educação, ou seja, constantemente
classes para que possamos compreender o nosso meio, e agir, no sentido de buscar a igualdade das condições
Podemos afirmar que preconceito e discriminação são também expressões das formas diversas de
desigualdades. Apesar de serem conceitos próximos e interligados nas explicações de determinado fenômeno
social, são diferentes, e cada um tem o seu significado particular. Em comum, podemos perceber que ambos
os conceitos representam uma manifestação negativa das relações sociais, podendo desencadear em formas
de violência.
pessoa ou grupo social. Como você pode perceber, preconceitos e discriminações sociais são fenômenos
diferentes, mas estão relacionados. Ideias preconcebidas são comuns, entretanto, quando utilizamos essas
Refletindo as experiências dos seres humanos ao longo do tempo, pode-se afirmar que o preconceito
culturais de identidade e alteridade, e a maneira com que lidamos com a diferença. A discriminação,
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portanto, corresponde à materialização de atos preconceituosos praticados pelos indivíduos, muitas vezes
organizados em coletividade.
De certo modo, tanto os preconceitos quanto as formas de discriminação revelam a maneira com que
ocorrem as manifestações das desigualdades em uma determinada sociedade. Nesse sentido, “entre humanos
também impera a lei do mais forte, permeada por hierarquias, castas, ou divisões, como queiram
denominar”, e os mais aptos nessas relações ganham na luta pela sobrevivência, à custa da vida e do
É fato que cada grupo social acumula experiências de êxitos e fracassos e constrói um
bastante nítidas. Isso revela uma estrutura social desigual e o antagonismo entre as classes sociais, segundo
Marx. A escola que deveria ser a instituição alinhada às mudanças sociais, inserida no contexto do modo de
produção capitalista pautado na lógica do mercado, reproduz as desigualdades e a manutenção do status quo,
de modo que a distribuição desigual de recursos econômicos e de capital cultural, segundo Bourdieu (2002),
faz com que dificilmente as classes populares ascendam, do ponto de vista socioeconômico.
O próximo passo de nossos estudos consiste em buscar compreender e agir, quando dotados de uma mínima
consciência de classe, diante dos porquês desses fenômenos, ou seja, entender as razões e as motivações das
desigualdades. Isso nos leva a problematizar e a refletir sobre a formação de nossa sociedade e a distribuição
das desigualdades. Preconceito e discriminação, nesse sentido, também estão relacionados à distribuição
injustiças sociais. Essas desigualdades estão relacionadas à distribuição desigual de recursos, e podem se
manifestar em suas formas econômica, social, política, étnico-racial, de gênero, educacionais, regionais, entre
outras.
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Refletir sobre a distribuição desigual de riquezas, poder e oportunidades e as relações com a educação nos
leva a buscar entender que a sociedade capitalista da qual fazemos parte, na sua essência, divide-se em
classes sociais. As desigualdades são características das sociedades modernas e pertencem a esse modo de
produção. Marx toma como central em suas análises a questão das classes sociais e as relações entre capital e
trabalho assalariado, para pensar a forma com que as sociedades são regidas. Nesse sentido, a educação
assume um importante papel no preparo da classe trabalhadora para a reprodução do modo de produção
circulação de mercadorias.
Marx explicou as contradições sociais produzidas pelas relações materiais de produção e o fenômeno que dá
origem às desigualdades no capitalismo, utilizando o materialismo histórico dialético como método científico.
classe trabalhadora (classes populares), oprimida no contexto do capitalismo, deveria se organizar e realizar
a revolução social, visando a construção de uma sociedade mais justa entre as classes. As forças produtivas de
uma sociedade são os meios de produção necessários para a realização da vida material dos homens e, nesse
sentido, a relação de produção se configura, no curso da história, pela exploração de uma classe sobre a
outra. Afinal, segundo Marx e Engels, no livro O Manifesto do Partido Comunista, a “história das sociedades é
A organização social pautada na exploração do homem pelo homem se perpetua em um contexto de ascensão
do capitalismo e da hegemonia burguesa, classe detentora dos meios de produção (Sanches; Alencar; Ferreira,
2016, p. 90-91). Essa sociedade apresenta-se de forma conflituosa para Marx, revelando as desigualdades
sociais, pois a classe dominante detém maiores privilégios e oportunidades, ao passo que a classe
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trabalhadora, ou seja, as classes populares, não obtêm as mesmas condições. Nesse contexto em que o
trabalhador aparece como vendedor da sua própria força de trabalho, tornando o trabalho assalariado e a
divisão do trabalho característicos desse período, houve o processo de subordinação do trabalho ao capital.
O modo de produção que compõe a realidade social é regido por leis dialéticas
É justamente nesse sentido que há uma estrutura de poder e de dominação do Estado que se articula
internamente para promover os seus interesses econômicos e o status quo vigente. O Estado, na
Modernidade, está a serviço dos interesses da burguesia, a classe dominante, e isso acentua as desigualdades
sociais e as contradições econômicas. A escola, muitas vezes, contribui por manter e reproduzir essa lógica de
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2004), a pobreza é a negação das escolhas e de
oportunidades básicas e necessárias ao desenvolvimento da vida humana, refletida em: vida curta, falta de
educação, falta de meios materiais, exclusão e falta de liberdade e dignidade (Paula, 2013, p. 27).
O Brasil e sua formação histórica não pode ser entendido como algo isolado do contexto do capitalismo
internacional. Para Caio Prado Junior, é preciso utilizar a categoria marxista de totalidade, de modo que seja
entre as classes remontam a formação histórica e social brasileira. É justamente nesse sentido que a educação
tem um papel fundamental, no exercício de repensar a estrutura educacional e propor mudanças, para
caminharmos para uma sociedade em que as desigualdades e quaisquer formas de injustiça sejam
população brasileira no acesso a condições dignas de vida. Nos constituímos ao longo do período colonial,
caracterizado pelo patriarcalismo, como uma sociedade marcada pela escravidão e dominação racial, que
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As desigualdades provocaram profundas formas de exclusão do povo brasileiro, sendo necessário refletir as
possibilidades de inclusão e de mudança social por meio da educação, de modo a promover a justiça social.
Sabemos que os desafios são enormes para a sociedade brasileira e, além do mais, é preciso considerar que o
desigualdades.
aos direitos humanos universais. Esse processo fez com que essa questão social
Para que possamos trabalhar as diferenças e os processos de exclusão, é preciso analisar as determinações
com que se estrutura a sociedade brasileira. No entanto, a exclusão pode também ser consequência do
fenômeno da pobreza. O excluído é aquele que está à margem da sociedade. Como se pode perceber em nosso
meio social, especialmente no contexto da globalização, existem outras motivações que contribuem para o
processo de exclusão social, “como a perda de emprego, sujeitos pertencentes às minorias sociais como as de
gênero, raciais, religiosas, geracionais, deficientes físicos, pessoas com dificuldades financeiras, favelados,
desapropriados da moradia etc.” (Previtelli; Vieira, 2017, p. 43-44). Atualmente, existem muitos refugiados em
familiar não significou maior autonomia, mas sobrecarga. A segunda (ou terceira)
também pela possibilidade de denúncia e o estímulo a esta). [...] Sobre a mulher negra
de baixa renda paira, pelo menos, uma tríplice discriminação, em que podemos
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Há, portanto, outras variáveis que agregam elementos para a compreensão da desigualdade social (Paula,
2005; Candau, 2013 apud Paula, 2013). No decorrer da formação histórico-social brasileira, povos indígenas
foram expropriados de suas terras diante da investida de grandes latifundiários, com o amparo do Estado
brasileiro. Para que seja possível pensar em justiça social, é preciso reestruturar os modelos educacionais, de
modo que a educação seja um meio possível para a transformação social. Ou seja, é preciso também pensar o
Brasil, o mundo e suas condições à luz dessas questões sociais, de modo a proporcionar a inclusão desses
Mesmo que se reconheça a existência do multiculturalismo, as oportunidades não são distribuídas de forma
equitativa. Basta pensarmos na educação formal, ou seja, na educação proporcionada pela escola, na qual se
demonstra a reprodução dos interesses da classe dominante, segundo Pierre Bourdieu (2002). Em todo caso,
“a escola é um lugar de convivência com a diversidade, por isso ela deveria ser inclusiva, sustentável e
A escola vivencia diariamente a questão da diversidade. É justamente nesse sentido, que entendemos que a
engajamento e o consequente empoderamento dos excluídos e dos grupos minoritários, por meio da
Essa conscientização que a educação pode proporcionar baseia-se na concepção de educação popular, de
acordo com Paulo Freire. A ideia consiste em desenvolver a proposta da pedagogia da autonomia na
educação, de modo que o conhecimento possa libertar a classe oprimida da exploração e da situação de
desigualdade.
A educação popular, proposta por Paulo Freire nos anos de 1960 [...] é baseada na
políticas públicas.
— (Previtelli; Vieira, 2017, p. 47-48)
Enfim, você pode perceber que é preciso pensar em meios de inclusão para o desenvolvimento humano e
democrático, e a escola tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A
educação popular, na perspectiva de Paulo Freire, leva à conscientização e libertação das classes populares. O
reconhecimento do outro e a consideração pela alteridade são valores centrais, e isso representa a promoção
de igualdade de direitos, a luta contra o preconceito e a discriminação, e a criação de espaços para que todas
VAMOS EXERCITAR
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Você estudou nesta aula as relações entre educação, diversidade e desigualdade, e pôde compreender que
exclusão e discriminação são também ocasionadas pelas desigualdades e suas formas diversas de
manifestações: econômica, social, política, étnico-racial, gênero, educacionais, regionais, entre outras.
Algumas problematizações foram colocadas para que você pudesse analisar e refletir nesses estudos.
Quais as diferenças conceituais entre preconceito e discriminação? Você estudou que os preconceitos se
pessoa ou grupo social. Nesse sentido, você viu que as ideias preconcebidas são comuns entre os seres
humanos. Entretanto, quando utilizamos essas noções para tratamentos diferenciados, estamos falando em
Tomando como base a distribuição desigual de recursos numa determinada sociedade, quais as implicações
desse fenômeno social? Qual é o papel da educação no combate às formas diversas de desigualdades? Você
pode perceber que as desigualdades e a distribuição desigual de riquezas ocasionam a pobreza em uma
desenvolvimento da vida humana, refletida em: vida curta, falta de educação, falta de meios materiais,
Nesse sentido, você pode perceber a importância de analisar e refletir sobre a distribuição desigual de
riquezas, poder e oportunidades, e as relações com a educação. Isso nos leva a buscar entender as
características da sociedade capitalista da qual fazemos parte. Primeiramente, você estudou que esse modelo
de sociedade divide-a em classes sociais. Você deve se lembrar das contribuições de Marx para pensar nas
relações entre capital e trabalho assalariado, características da sociedade moderna, e a forma com que as
sociedades são regidas. No atual contexto em que estamos inseridos, você também estudou que essas
desigualdades também estão relacionadas à distribuição desigual de recursos e podem se manifestar em suas
formas econômica, social, política, étnico-racial, de gênero, educacional, regional, entre outras.
Por fim, qual a importância da inclusão, em uma sociedade historicamente marcada pela exclusão, como a
brasileira, para a construção de justiça social? Você estudou que a inclusão é essencial para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária, por isso se faz necessário refletir sobre as possibilidades de inclusão e
mudança social através da educação. Nesse sentido, é preciso reestruturar os modelos educacionais de modo
que a educação seja um meio possível para a transformação social. Em meio a isso, devemos também pensar
o Brasil e o mundo, suas condições à luz dessas questões sociais, para proporcionar a inclusão desses povos
Saiba mais
Para que você aprofunde os conhecimentos sobre racismo, preconceito e discriminação, recomendamos
a leitura dos capítulos Educação infantil – socialização: família, escola e sociedade e Relações étnicas no
Brasil, do livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar: Racismo, preconceito e discriminação na educação
infantil, de Eliane Cavalleiro. O livro reflete as experiências vivenciadas pela autora, ao longo de oito
meses, no cotidiano da realidade de uma escola de educação infantil. Você encontra esse material em
modo de produção capitalista, sugerimos que você assista ao filme Daens, um grito de justiça, dirigido
por Stijn Coninx. O filme aborda as condições miseráveis e degradantes dos trabalhadores de uma
os programas da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI), órgão vinculado ao Ministério
dos Direitos Humanos e da Cidadania. A SNDPI tem como missão formular e coordenar políticas públicas
voltadas para a promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa no Brasil. Para que você possa
aprofundar os seus conhecimentos sobre a inclusão, recomendamos que acesse a página da SNPDI e
Aula 4
PONTO DE PARTIDA
As políticas públicas educacionais voltadas à inclusão e às ações afirmativas são fundamentais no combate às
desigualdades sociais historicamente constituídas em nossa sociedade, portanto é o que você vai estudar na
primeira parte desta aula. Em seguida, você vai estudar e perceber a importância do papel da escola nesse
processo de preparação para uma cidadania global. Por fim, você vai compreender a ideia de
representatividade para uma educação humanista e inclusiva, no constante exercício de repensar a escola,
Para introduzir as reflexões propostas para esta aula, apresentamos alguns questionamentos: qual a
importância das políticas públicas de educação, inclusão e ações afirmativas em uma sociedade como a
brasileira, constituída historicamente pelas formas diversas de desigualdades? Como as escolas podem
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contribuir para uma cidadania global? De que maneira a escola, seus materiais didáticos, currículos e corpo
Sempre que possível, aprofunde os seus conhecimentos, explore a Biblioteca Virtual e faça a leitura das
referências indicadas neste material, entre outros. Organize um planejamento e desenvolva o autoestudo.
VAMOS COMEÇAR
Você vai estudar nesta aula a educação humanista e inclusiva, um dos eixos para refletir sobre as relações
entre educação, diversidade e desigualdade. Nesses estudos, é importante relembrar da concepção de Paulo
Freire sobre a educação popular e relacioná-la a escopo dos objetivos propostos para a disciplina, de pensar
das políticas públicas voltadas para a inclusão social, o respeito à diversidade e as ações afirmativas.
signatário dos valores universais dos direitos humanos, constituídos mediante lutas sociais históricas. Na
Constituição “Cidadã” de 1988, documento que marca o processo de redemocratização do país, após anos de
A construção dos direitos humanos relaciona-se com a perspectiva dos direitos de cidadania: direitos civis,
direitos políticos e direitos sociais, segundo o sociólogo britânico Thomas Marshall . Cidadania é uma
condição que permite àquele que é cidadão participar como igual da discussão política, com uma
reivindicação de que todos participem da “herança comum” da sociedade, da riqueza que ela produz e da
discussão sobre os valores que a sustentam. Observe as características dos direitos de cidadania:
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Direitos civis: aqueles que permitem ao cidadão exercer sua liberdade individual. Por
acreditar na religião que quiser (ou não acreditar em nenhuma), o direito de fazer
acordos e contratos com outros cidadãos e o direito à propriedade. Os direitos civis
formar partidos políticos) e o direito de ser eleito para cargos políticos. Os direitos
século XX, primeiro com a ampliação do direito ao voto para todos os homens e
econômico e uma vida digna, de acordo com o padrão do país e da época. São
T. Marshall identificou três tipos de direitos que formaram a cidadania moderna na Inglaterra. Obviamente
cada país, levando em consideração os avanços e retrocessos em relação à conquista desses direitos, quando
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (1979 apud Oliveira; Costa, 2016) afirma que, no Brasil,
vivemos uma cidadania regulada, ou seja, esses direitos não são previstos em sua totalidade para toda a
população brasileira, especialmente para a população pertencente às classes menos abastadas social e
economicamente. De forma diferente dos países desenvolvidos, “no Brasil, os direitos sociais foram
implementados antes dos direitos civis, que continuavam totalmente precários, e dos direitos políticos que
praticamente deixaram de existir durante o regime autoritário de 1937 a 1945” (Oliveira; Costa, 2016, p. 187).
Em meio à construção desses direitos, é preciso levar em consideração as mudanças sociais e políticas de
nosso país ao longo do século XX. O Art. 6º da Constituição Federal diz que: “São direitos sociais a educação, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (Brasil,
1988). Perceba que a educação é entendida como um dos direitos sociais garantidos pela nossa Constituição e,
nesse sentido, o Estado brasileiro deve reunir esforços junto à sociedade civil para a garantia e manutenção
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A Constituição Federal, em seu Art. 6º, diz que, além de outros direitos elementares, todos os cidadãos têm
direito à educação, e sabemos que a educação transforma realidades. As políticas públicas voltadas à
educação, como a Carta Magna, são ferramentas indispensáveis, que ajudam a construir sociedades mais
É por meio das políticas públicas educacionais que os instrumentos possíveis de correção (e/ou mitigação) de
partes dessas distorções sociais históricas, promovidas pelas contradições entre as classes sociais,
remontando o contexto de formação histórica, social e política brasileira, podem acontecer. A ideia é que, em
conjunto, essas políticas sirvam para o combate de formas de discriminação, de desigualdades diversas em
por governos, com vistas a melhorar o sistema educacional de modo geral, bem como garantir o acesso
equitativo à educação de qualidade. Essas políticas são essenciais para garantias de acesso universal à
educação e cultura, a todas as pessoas, de modo que possam receber uma ação de qualidade, de melhora na
qualidade de ensino, ou de redução (ou mitigação) das formas diversas de desigualdade, e a inclusão de
As políticas de inclusão visam garantir que todos os indivíduos sejam incluídos na sociedade e tem como
participação cidadã. As ações afirmativas são políticas ou práticas que se objetivam por corrigir
desigualdades históricas e promover a inclusão de grupos que foram historicamente marginalizados. As cotas
para o acesso a universidades e concursos públicos são exemplos de políticas de ações afirmativas, pois
orientadores, contribuiu para moldar e preparar os indivíduos para o exercício da cidadania, do ponto de
vista global. Sabemos que muitos problemas enfrentados atualmente pela humanidade em escala global
dependem de ações coordenadas e integradas, envolvendo a participação de pessoas que habitam os quatro
cantos do planeta.
Os desafios para pensar nas possibilidades da cidadania em âmbito global, e na perspectiva dos povos
habitantes do eixo sul do globo, constituídos historicamente através de relações de dominação, são ainda
maiores quando tomamos como referência as epistemologias do Sul, segundo Boaventura de Sousa Santos.
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A turbulência hoje vivida pela constelação dos direitos humanos também permite
direitos humanos à luz das epistemologias do Sul. A primeira diz respeito à tensão
Com isso, pertencendo à realidade dos países do sul global, obviamente que cada país com as suas
particularidades, pode-se perceber a importância da escola na problematização dessas questões que colocam
colonizados.
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No Brasil, com as reformas educacionais vigentes advindas com a BNCC, houve a reorganização dos
ciências humanas. No entanto, sabemos que a escola, em perspectiva voltada aos valores da educação
popular, deve trabalhar as dimensões do conceito de cidadania, proporcionando aos estudantes reflexões e
estudos críticos acerca dos problemas sociais, políticos e ambientais da sociedade em que estão inseridos.
Pensar a sociedade na qual estamos inseridos leva-nos a refletir sobre aspectos múltiplos, determinados em
âmbitos local, nacional e global, ou seja, essas dimensões estão interligadas para uma cidadania geral. Parte-
se da premissa de que as escolas podem contribuir para formar cidadãos conscientes em torno das questões
Por ser a escola o lugar por onde o indivíduo, inserido em uma coletividade diversa, pode conhecer questões
relacionadas à cidadania, essa instituição deve se fazer presente na vida de todos os indivíduos, pois todos
devem ter esse direito garantido. Além disso, a criança e o adolescente não podem ter esse direito cerceado
eventualmente pelos seus responsáveis. Escola, educação e diversidade, portanto, são conceitos inter-
relacionados.
A escola prepara os cidadãos para a vida em sociedade em um contexto de globalização das relações
Ainda sobre educação e diversidade, devemos nos lembrar sempre da proposta da educação em direitos
humanos, direitos inalienáveis a qualquer cidadão. Com isso, espera-se que possa haver o reconhecimento da
diversidade cultural, mediante o exercício da alteridade, da empatia e da tolerância. Ademais, a escola, como
preparação para a cidadania global, deve estar também preocupada com a questão da sustentabilidade e da
conscientização ambiental.
exercício de uma cidadania em âmbito global, leva-nos a pensar em todos os elementos que envolvem o
processo de ensino e aprendizagem no dia a dia. Isto é, do currículo ao livro didático, do corpo docente aos
componentes curriculares, dos órgãos colegiados da escola às instâncias deliberativas da comunidade escolar,
A diversidade presente no conjunto de elementos da escola, que nada mais é que o reflexo da sociedade em
que estamos inseridos, deve ser contemplada pela questão da representatividade diversa e plural da
sociedade brasileira. Isso contribui com a promoção da igualdade de oportunidades na educação, de forma
equitativa e igualitária. Quando os currículos, os materiais didáticos e o corpo docente agem de forma
articulada com a representatividade, a escola torna-se mais inclusiva e democrática. Com isso, contribui para
formar cidadãos conscientes e engajados para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania global.
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Os materiais didáticos são ferramentas indispensáveis, que auxiliam o trabalho do professor na mediação
com os alunos no processo de ensino e aprendizagem. Livros, apostilas, textos, plataformas, aplicativos e
outras ferramentas na web, entre outros, são exemplos de materiais didáticos. Desses materiais,
especialmente os livros didáticos devem estar atualizados com a legislação vigente, como, por exemplo, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei 10.639/03, que torna a história e cultura afro-brasileira
obrigatória, e a Lei 11.645/08, que trata da obrigatoriedade do ensino e cultura dos povos indígenas.
Essas legislações reforçam as identidades sociais e culturais, suas histórias e perspectivas diversas, essenciais
por abordar a diversidade cultural e a diferença com que se constitui a população brasileira. Nesse sentido,
A matriz curricular deve estar alinhada aos documentos e legislação norteadores da educação básica
promulgados desde a Constituição Cidadã de 1988: a Lei de Diretrizes e Bases (1996), que introduz as áreas de
sociologia e de filosofia, indispensáveis para a formação cidadã, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
da Educação Básica (2013), que orientam as instituições de ensino a organizarem seus currículos de acordo
com a região e contexto em que se insere, e a Base Nacional Comum Curricular (2017), exemplos de alguns
dos documentos norteadores para trabalhar a questão da diversidade, da diferença e das identidades em
nossas escolas.
identidades, bem como a legislação e os documentos orientadores para a educação básica. Assim, devem ser
incorporados no currículo e matrizes autores, cientistas, líderes e pensadores de diferentes origens e
Nessa mesma perspectiva, o corpo docente das unidades educacionais deve ser diversificado do ponto de
vista social e cultural. Deve contemplar, ao máximo possível, as características da diversidade cultural e das
identidades, ou seja, as identidades étnico-raciais e culturais nas escolas devem refletir a nossa sociedade. É
interessante que os estudantes se sintam representados pelo corpo docente, bem como em outras situações de
liderança, coordenação ou direção na escola. Isso pode representar uma variedade da diversidade humana,
Podemos perceber, enfim, a necessidade de evidenciar a questão da cidadania e o papel da escola nesse
processo, para que seja possível refletir sobre a necessidade de retomar constantemente as condições e
determinações de nossa formação social e histórica. Para isso, é necessário apontar as contradições e os
conflitos. Veja a importância de um modelo de educação inclusiva a ser adotado pela escola, para que as
formas diversas de desigualdades possam assim ser reduzidas! Afinal, como apontou Wanderley Guilherme
dos Santos, a cidadania no Brasil é uma corrida de obstáculos. Por isso, a educação inclusiva é fundamental,
para que possamos superar esses obstáculos e, algum dia, conquistar todas as dimensões do conceito de
cidadania de forma plena para toda a população brasileira e mundial.
VAMOS EXERCITAR
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Chegamos ao final desta aula e, para isso, devemos nos lembrar dos questionamentos iniciais: qual a
importância das políticas públicas de educação, inclusão e ações afirmativas em uma sociedade como a
brasileira, constituída historicamente pelas formas diversas de desigualdades? Você estudou que, no Brasil, a
construção dos direitos de cidadania se dá de forma diferenciada em relação aos países desenvolvidos. De
acordo com o que aprendemos, “no Brasil, os direitos sociais foram implementados antes dos direitos civis,
que continuavam totalmente precários, e dos direitos políticos que praticamente deixaram de existir durante
o regime autoritário de 1937 a 1945” (Oliveira; Costa, 2016, p. 187) e, se acrescentarmos, durante a ditadura
militar.
Você estudou que as políticas públicas educacionais se caracterizam por programas, estratégias e iniciativas
desenvolvidas por governos para a melhoria do sistema educacional de modo geral. A ideia consiste em
garantir o acesso equitativo à educação de qualidade. Já as políticas de inclusão visam garantir que todos os
indivíduos sejam incluídos na sociedade e têm como objetivos trazer a acessibilidade, o respeito, a
diversidade, o combate à discriminação e desenvolver a participação cidadã. As ações afirmativas, por sua
vez, são políticas ou práticas que objetivam corrigir desigualdades históricas e promover a inclusão de grupos
que foram historicamente marginalizados.
Como as escolas podem contribuir para uma cidadania global? Você aprendeu que a escola, pertencente ao
sul global, é uma instituição bastante importante que contribui com a problematização de questões que
colocam em xeque a lógica do modelo de produção e de sociabilidade adotados no capitalismo. Você percebeu
que pensar a sociedade envolve-nos a refletir sobre aspectos múltiplos determinados em seus âmbitos local,
Você estudou que a escola prepara os cidadãos para a vida em sociedade e em meio a um contexto de
globalização das relações econômicas. A fim de preparar a escola para a cidadania global, é preciso o
estabelecimento de uma proposta multicultural e intercultural de ensino, de uma educação em direitos
humanos, além de a escola estar também preocupada com a questão da sustentabilidade e da conscientização
ambiental.
De que maneira a escola, seus materiais didáticos, currículos e corpo docente contribuem com a
representatividade? Você estudou que, quando currículos, materiais didáticos e corpo docente estão
articulados com a representatividade, a escola torna-se mais inclusiva e democrática. A diversidade presente
no conjunto de elementos da escola deve ser contemplada pela questão da representatividade diversa e
plural de nosso povo, afinal, a escola é reflexo da sociedade. A escola, nessa perspectiva, pode contribuir para
a formação de cidadãos conscientes e engajados para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania
Saiba mais
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Saiba mais! Para aprofundar os seus conhecimentos sobre as políticas públicas de educação, inclusão e
ações afirmativas, sugerimos a leitura do artigo Políticas afirmativas e inclusão: formação continuada e
direitos, de Cristina Miyuki Hashizume e Maria Dolores Fortes Alves. Nesse ensaio, as autoras discutem
as políticas afirmativas e os direitos dos estudantes com deficiência e abordam o histórico das políticas
brasileira.
Aula 5
ENCERRAMENTO DA UNIDADE
PONTO DE CHEGADA
Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta unidade, que é reconhecer um arcabouço teórico-
conceitual sobre a formação das identidades socioculturais e o papel da educação, cooperando com a
afirmação dos direitos humanos, com o reconhecimento e com valorização da diversidade, você deve ter em
mente alguns conceitos socioantropológicos fundamentais para os estudos sobre educação, diversidade e
desigualdade.
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Reconhecer a formação da diversidade sociocultural e valorizar essa diversidade em nosso meio social está
compreendido na competência desta unidade. O conceito de cultura deve ser entendido a partir de uma
perspectiva plural e diversa, ou seja, partindo da concepção de que todo ser humano é um ser cultural e
convive social e culturalmente com outros povos. Ele depende de outros seres humanos para a realização da
sua vida social.
Seres humanos possuem diferenças, assim, em educação e diversidade, a diferença e a diversidade devem ser
respeitadas e preservadas. Nos estudos sobre cultura, existem diferentes definições acerca da forma de
abordar essa qualidade humana. O multiculturalismo parte da ideia de que diferentes culturas coexistem no
vista do observador, levando em consideração a sua própria etnia no centro de tudo; e o relativismo cultural
parte da perspectiva de que cada cultura deve ser analisada de acordo com os seus próprios termos e
predefinições.
Identidade e diferenças
A identidade é um conceito-chave para os estudos das diferenças socioculturais. Reconhecer as identidades
sociais e culturais corresponde à demarcação e estabelecimento das diferenças. A disciplina de educação e
diversidade toma como premissa o reconhecimento das características socioculturais dos povos diversos que
habitam um mesmo lugar.
A sociologia e a antropologia, por sua vez, contribuíram com os estudos sobre identidade. Entre eles, podemos
elencar Stuart Hall (2006) e Zygmunt Bauman (2001): o primeiro indica diferentes características da
identidade a partir do advento da modernidade – sujeito do iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-
moderno. O sujeito pós-moderno, atrelado às mudanças sociais advindas a partir da década de 1970 e
também sob a influência das novas tecnologias de informação e comunicação, estaria sendo influenciado
pelas múltiplas identidades que constituem o perfil dos indivíduos. Isto é, acreditava-se que o sujeito até
possuía um núcleo “cultural”, mas fixo, imutável, pois mantinha um diálogo contínuo com as culturas com as
quais entrava em contato. Para Bauman (2001), a identidade na modernidade torna-se algo líquido, os
indivíduos incorporam outros elementos culturais, de forma mais fluida e flexível, se comparada ao contexto
histórico anterior, marcado pela rigidez. A modernidade líquida, portanto, não consegue preservar a sua
indivíduo inserido em uma sociedade com base em fatores externos, muitas vezes fora de seu controle;
dinâmica, pois está sujeita a mudanças ao longo do tempo, como algo fluido, que se adapta segundo as
condicionantes da vida; e contrastiva, algo motivado pelo próprio indivíduo, ou seja, é a forma como as
pessoas se definem em relação aos outros. Em suma, podemos perceber a importância da alteridade e do
As relações entre educação, diversidade e desigualdades devem ser analisadas de forma crítica, a tomar como
base a formação histórica e social do Brasil. Uma das expressões das diversas formas de desigualdades são as
discriminações praticadas pela não aceitação da diferença. Nesse caso, enquanto estudiosos da disciplina de
de identidade e alteridade, e à maneira com que lidamos com a diferença. As práticas discriminatórias
surgem, na maioria das vezes, motivadas por formas de desigualdades ocasionadas pela distribuição desigual
de recursos, gerando o fenômeno da pobreza. Essas questões são importantes de serem analisadas e
relacionadas com a educação, o que nos leva a entender as características do modo de produção capitalista
em que estamos inseridos, como procurou fazer Karl Marx. Nesse sentido, faz-se necessário refletir sobre as
possibilidades de inclusão que a educação proporciona e, com isso, alcançar a mudança social para uma
desigual de renda, poder e oportunidades, é preciso pensar na redução das formas diversas de desigualdades:
econômica, social, política, étnico-racial, gênero, educacional, regional, entre outras. Sobretudo quando nos
igualitária. Essas políticas caracterizam-se por programas, estratégias e iniciativas desenvolvidas por
governos para a melhoria da educação e da sociedade. As políticas de inclusão visam a garantia de todos a
mediante uma proposta multicultural e intercultural de ensino, preocupada com os direitos humanos, a
sustentabilidade e a conscientização ambiental. Para auxiliar esse processo, você pode perceber a
importância da representatividade nos currículos, materiais didáticos e corpo docente, no qual deve atuar de
forma articulada, contemplando a diversidade plural de nosso povo, e entendendo a escola como reflexo da
sociedade.
Reflita
1. Qual a importância dos conceitos de diversidade sociocultural e de identidade para os estudos em
educação?
2. Quais as relações entre preconceitos e discriminações com a distribuição desigual de recursos, poder e
oportunidades?
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3. Com quais ações é possível desenvolver uma educação mais inclusiva e humanista na escola?
É HORA DE PRATICAR
No estudo de caso desta unidade, imagine-se como um educador de uma escola localizada em uma cidade de
médio porte, constituída pela integração de múltiplas etnias ao longo de sua formação histórica. Nesse
sentido, a escola atende uma população diversificada social e culturalmente, composta por alunos de
diferentes origens étnicas, culturais e socioeconômicas. A escola vem enfrentando muitos desafios
relacionados à questão da diversidade social e cultural, especialmente nos últimos anos, diante do
agravamento de conflitos relacionados à discriminação e à intolerância.
Entre os principais desafios enfrentados pela escola nas questões relacionadas à diversidade social e cultural,
tem-se percebido que a diversidade não é totalmente refletida nos currículos, nas práticas pedagógicas e na
organização dos órgãos colegiados. A escola acaba priorizando a história da cultura da Europa ocidental em
seu currículo, em detrimento de outras formas de saberes e conhecimentos. Quanto às questões relacionadas
à identidade e às diferenças, os estudantes dessa escola têm enfrentado desafios relacionados à expressão de
sua identidade, seja ela étnica, cultural, de gênero ou de orientação sexual. Além disso, houve o aumento do
número de casos de preconceito e/ou discriminação em decorrência da falta de compreensão e respeito pela
diversidade de identidades na comunidade escolar, registrados com maior frequência recentemente na
escola. Outro desafio para a escola é fazer uma abordagem inclusiva e humanista em educação, a fim de
minimizar a marginalização de certos grupos sociais. Por fim, tem-se verificado a falta de recursos no apoio a
Como vimos, são muitos os desafios relacionados à educação e à diversidade. Diante dessa situação, em que
medida você, na condição de educador dessa escola, poderia contribuir com a resolução de alguns desses
desafios colocados, tendo em vista um modelo de educação mais inclusivo, democrático e pautado na
diversidade e na valorização das identidades sociais e culturais? Quais as suas sugestões para a diminuição
(ou erradicação) de casos de preconceito, discriminação e violência que têm acontecido na escola? De que
modo você acredita ser possível desenvolver, articulado com a direção, educadores, órgãos colegiados e
comunidade escolar, um modelo de educação representativa na escola, refletindo a diversidade social e
Para a resolução desse estudo de caso sobre as relações entre educação, diversidade e desigualdade, em que
nos compete reconhecer a formação das identidades socioculturais e o papel da educação com o
reconhecimento da valorização da diversidade, é preciso retomar a importância de compreender a
Retomando a atividade proposta para esta unidade, em que medida você, na condição de educador da fictícia
escola, poderia contribuir com a resolução de alguns dos desafios apresentados, tendo em vista um modelo de
educação mais inclusivo, democrático e pautado na diversidade e na valorização das identidades sociais e
culturais? Quais as suas sugestões para a diminuição (ou erradicação) de casos de preconceito, discriminação
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e violência que têm acontecido na escola? De que modo você acredita ser possível desenvolver, articulado
com a direção, educadores, órgãos colegiados e comunidade escolar, um modelo de educação representativa
na escola, refletindo a diversidade social e cultural daquela sociedade?
Primeiramente, você deve ter em mente que, em educação, não se faz nada sozinho, mas com parcerias e
apoio, envolvendo o maior número de atores sociais na realização de múltiplos projetos. Você pode
contribuir, ajudando a revisar e adaptar os currículos e as matrizes curriculares de acordo com a diversidade
cultural e social dos estudantes demonstrados naquela sociedade. A ideia é que a diversidade seja refletida
nesses documentos orientadores, demonstrando saberes e conhecimentos das mais diversas origens, como a
história e cultura africana, afro-brasileira e indígena. Você também pode contribuir propondo atividades
nosso país, em perspectiva crítica. Além disso, você pode propor o desenvolvimento de ações e programas de
sensibilização que promovam a compreensão, o respeito e a empatia entre os estudantes, professores e
comunidade escolar.
Em conjunto com a direção da escola, os órgãos colegiados e outros educadores, você pode sugerir o
desenvolvimento de ações e atividades formativas sobre práticas pedagógicas inclusivas, enfatizando a
sensibilidade cultural e social. Além disso, você pode sugerir que se aplique a diversidade no corpo docente
da escola, promovendo uma representação mais ampla das diferentes origens e experiências sociais e
culturais. Para os estudantes em situação de vulnerabilidade, você pode sugerir que haja meios de
acolhimento e de orientação educacional, além de recursos pedagógicos que possibilitem a inclusão dos
Com isso, espera-se que o conjunto de ações propostas, envolvendo as colaborações dos demais atores da
escola, promovam uma cultura mais inclusiva e humanista, fazendo com que todos os estudantes se sintam
incluídos naquela realidade educacional. A educação focada em diversidade e igualdade tem o potencial de
promover um ambiente mais justo e igualitário, mediante a perspectiva humanista, por meio de práticas e
políticas que promovam a inclusão e a igualdade entre todos os estudantes.
DÊ O PLAY!
ASSIMILE
Para que você assimile os conteúdos trabalhados durante a jornada desta unidade, inserimos um mapa
mental que retoma os elementos essenciais e suas correlações para trabalhar educação e diversidade na
escola.
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REFERÊNCIAS
Aula 1
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Aula 3
PAULA, C. R. de. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidades. Curitiba: InterSaberes,
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SANTOS, B. de S.; MARTINS, B. S. O pluriverso dos direitos humanos: a diversidade das lutas pela dignidade.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
SANTOS, J. L. O que é cultura. 14. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.
Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
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