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Resumo
Diante da diversidade étnica cultural, coexistente nas escolas da Rede Pública de Ensino,
propomos reflexões sobre os desafios da interculturalidade, frente a escolarização de
alunos indígenas, inseridos em escolas não indígenas. Tendo como embasamento ,
diferentes teóricos da Antropologia e a partir de observações do cotidiano escolar,
buscaremos interpretar, o modelo de educação escolar que se comtempla, pautado no
discurso da interculturalidade, apresentado nas relações sociais e nas práticas
pedagógicas, do Processo de Ensino e Aprendizagem de alunos indígenas, cursando as
séries iniciais do ensino fundamental, em uma escola não indígena, localizadas na zona
urbana da cidade de Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul. Cabe salientar que este
trabalho, tem como referência o Projeto de Pesquisa, que se encontra em
desenvolvimento, no Mestrado em Antropologia Social, na Universidade Federal da
Grande Dourados-MS.
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Introdução
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defendida pelos funcionalistas, perdem de vista o lugar da criança como ator social, como
produtor de significados e não apenas como suporte para a modelagem, pela cultura ou
pela sociedade. A autora evidencia que nas relações socioculturais, as crianças constroem
seus próprios papéis e identidades e que uma investigação antropológica voltada para as
interpretações do conceito de criança, não pode estar dissociada do contexto sociocultural
da criança. Assim, o grande desafio que emerge para uma “antropologia da criança”,
refere-se à possibilidade de interpretar a criança, a partir do seu ponto de vista dela,
inserida em sua realidade social.
11 Colonialidade é um termo que se refere aos padrões de poderes resultantes do colonialismo (Maldonado 2007)
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respiramos a colonialidade na modernidade cotidianamente.
(MALDONADO-TORRES, 2007, P.131).
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Cabe relatar que, enquanto Educadora, tive a oportunidade de trabalhar em uma
escola considerada não indígena, onde estudavam muitos alunos indígenas. Chamou-me
a atenção a forma como os alunos indígenas e não indígenas se relacionavam. Não existia
uma relação de afetividade e socialização em nenhum momento, os alunos formavam
grupos isolados, ou seja, os alunos indígenas somente se agrupavam com indígenas e
alunos não indígenas, se relacionavam, somente entre si.
Frente ao trabalho pedagógico, os professores não conseguiam entender a escrita
dos alunos indígenas, assim, nas atividades propostas como “avaliações de
aprendizagem”, quase sempre os alunos indígenas não alcançavam a média considerada
“satisfatória “, porque não compreendiam os conceitos explicados pelos professores,
somente na língua portuguesa, os alunos indígenas, na maioria das vezes, escreviam
utilizando-se da língua materna e diante disto, os professores não compreendiam a sua
escrita.
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Pesquisar sobre a inserção das crianças indígenas, em escolas não indígenas, nos
remete a fazer uma contextualização social da comunidade em que estas crianças vivem.
A maioria das crianças que estudam nas escolas urbanas, vivem nas aldeias indígenas
Bororó, Jaguapiru e também em áreas de retomadas, em torno da cidade de Dourados.
A Reserva Indígena de Dourados, é formada pelas aldeias Bororó, Jaguapiru e
Panambizinho. É considerada o segundo maior contingente populacional indígenas do
País, com cerca de 18 mil indígenas, ocupando uma área de 3.500 hectares (BENEDETTI,
2013). Neste território vivem indígenas de diferentes etnias: Guarani, Kaiowá e Terena.
Nas aldeias, a divisão de lotes por família é desigual. Poucas famílias, detém uma
grande parte do territorial da reserva indígena, enquanto que a maioria da população
indígena, possuem apenas um pequeno pedaço de terra, somente para moradia, não
havendo espaço para produção de alimentos para a sua sustentabilidade. Devido ao
aumento populacional, os indígenas vivem em condições de vulnerabilidade social, falta
moradia, água tratada, alimentos e também, vagas nas escolas das aldeias para atender a
demanda de alunos indígenas, em fase de escolarização.
Em relação ao contexto educacional, existem na Reserva Indígena, seis escolas
indígenas: Escola Municipal Indígena Tengatuí Maracatu, Escola Municipal Indígena
Araporã, Escola Municipal Indígena Agostinho, Escola Municipal Indígena Ramão
Martins, Escola Municipal Indígena Lacu” y Isnard e Escola Municipal Indígena Pay”
Chiquito. Nestas escolas, estudam alunos de três etnias: Kaiowá, Nhandéva e Terena. São
cerca de 3.500 alunos, matriculados no Ensino Fundamental e Médio. Os professores são
majoritariamente, indígenas, falantes da língua materna. No currículo escolar, são
oferecidas disciplinas da Base Nacional Comum, assim como, disciplinas que atendem as
particularidades da cultura indígena.
Observa-se, que mesmo havendo nas aldeias, diversas escolas indígenas, muitos
alunos indígenas estudam em escolas não indígenas. As famílias indígenas, percorrem
diariamente, cerca de dez ou mais quilômetros de distância, a pé ou de bicicleta, para
levarem seus filhos, em escolas não indígenas, localizadas na zona urbana da cidade.
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Metodologia da Pesquisa
Importante frisar que o método etnográfico será elemento norteador desta pesquisa.
Acreditamos ser possível estabelecermos uma relação dialógica com interlocutores deste
cenário etnográfico, tais como alunos/as indígenas, não indígenas e funcionários da escola
estudada. Pretendemos fazer visitas periódicas para as famílias dos alunos indígenas Guarani e
Kaiowá, com a intenção de nos inteirarmos do cotidiano de tais famílias, permitindo evidenciar
as condições da chegada destes alunos indígenas, na escola urbana.
A relação dialógica e a observação participante serão os propulsores da pesquisa, a fim
de estabelecermos um diálogo entre iguais (pesquisador e pesquisado) para melhor
compreensão dos fenômenos socioculturais que ocorrem no cotidiano escolar.
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modos de interpretação do vivido por um determinado grupo de pessoas em um dado tempo e
espaço.
Considerações Finais
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A partir de algumas hipóteses que vem sendo pesquisadas, observamos que a
escola não leva em consideração as particularidades culturais dos alunos indígenas, eles
são silenciados nas escolas, e consequentemente, são prejudicados no seu Processo de
Ensino e Aprendizagem por diversos fatores, principalmente, porque na escola não
indígena, não se trabalha o bilinguismo e não se respeita as particularidades do modo de
viver indígena
Os professores nas escolas urbanas, não estão capacitados para atender os alunos
indígenas nas suas particularidades, isto dificulta a prática pedagógica, tanto para os
professores, quanto para os alunos, consequentemente, muitos alunos indígenas,
abandonam os estudos ou são reprovados, diversas vezes, no mesmo ano escolar.
As dificuldades encontradas pelas famílias indígenas, para levarem seus filhos
nas escolas não indígenas são muitas, porém, muitas famílias ainda optam em matricular
seus filhos nas escolas urbanas, localizadas fora das reservas ou aldeias indígenas, porque
veem na escola não indígena, uma chance de seus filhos, estarem integrados na sociedade
e a partir do aprendizado da língua portuguesa, terem condições de futuramente, os jovens
indígenas terem condições de terem um emprego e melhores condições de vida.
Neste contexto, o grande desafio que emerge para uma Educação Escolar Intercultural,
da criança indígena e não indígena, refere-se ao adulto ser capaz de compreender e
respeitar a criança levando em consideração, a realidade em que ela vive e convive.
É promover uma comunicação entre os dois universos, o mundo do adulto e o mundo da
criança, que muitas vezes nas escolas e na sociedade, são concebidos como
demasiadamente descontínuos
Assim, olhar criticamente para as condições em que estão colocados os alunos
indígenas na nossa sociedade, tão camuflados, homogeneizados e discriminados,
caracteriza-se, para nós pesquisadores e cidadãos críticos, um ato de reflexão eticamente
voltada para a dignidade humana.
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Referências Bibliográficas
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MINAYO, Maria. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: MINAYO,
Maria. C. S (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
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OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O Trabalho do Antropólogo: Olhar, Ouvir, Escrever. In:
Revista de Antropologia. São Paulo, USP, 1996. V. 39 no 1.
OLIVEIRA, Terezinha, Silva. Olhares que fazem a "diferença": o índio em livros didáticos
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RAMOS, Antônio Dari; KNAPP, Cassio. Interculturalidade efetiva: de que tipo de educação
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